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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA ÁREA DE CIÊNCIAS DAS HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MIRIAN FOLHA DE ARAÚJO OLIVEIRA GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO: (IN) CONGRUÊNCIAS ENTRE GESTÃO DO FINANCIAMENTO E CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO Joaçaba 2016

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

ÁREA DE CIÊNCIAS DAS HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MIRIAN FOLHA DE ARAÚJO OLIVEIRA

GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO:

(IN) CONGRUÊNCIAS ENTRE GESTÃO DO FINANCIAMENTO E CONSTRUÇÃO

DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO

Joaçaba

2016

MIRIAN FOLHA DE ARAÚJO OLIVEIRA

GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO:

(IN) CONGRUÊNCIAS ENTRE GESTÃO DO FINANCIAMENTO E CONSTRUÇÃO

DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da Universidade do Oeste

de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do

grau Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Elton Luiz Nardi

Joaçaba

2016

O48g Oliveira, Mirian Folha de Araújo

Gestão municipal da educação: (in) congruências entre

gestão do financiamento e construção da qualidade da

educação. / Mirian Folha de Araújo Oliveira. UNOESC, 2016.

151 f.; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Elton Luiz Nardi

Dissertação (Mestrado) – Universidade do Oeste de

Santa Catarina. Programa de Mestrado em Educação,

Joaçaba,SC,2016.

Bibliografia: f. 134 – 149.

1.Politicas Educacionais 2. Gestão Educacional. 2. I.Título

CDD- 370.193

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Alvarito Baratieri – CRB-14º/273

MIRIAN FOLHA DE ARAÚJO OLIVEIRA

GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO:

(IN) CONGRUÊNCIAS ENTRE GESTÃO DO FINANCIAMENTO E CONSTRUÇÃO

DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da Universidade do Oeste

de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do

grau Mestre em Educação.

Aprovada em: 29 de março de 2016.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________

Prof. Dr. Elton Luiz Nardi (Orientador)

Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc)

____________________________________________________________

Profa. Dra. Raimunda Maria da Cunha Ribeiro (Coorientadora)

Universidade Estadual do Piauí (Uespi)

_______________________________________________________________

Profa. Dra. Simone de Fátima Flach

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

______________________________________________________________

Profa. Dra. Marilda Pasqual Schneider

Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc)

“Ninguém escapa ao sonho de voar,

de ultrapassar os limites do espaço onde nasceu,

de ver novos lugares e novas gentes.

Mas saber ver em cada coisa, em cada pessoa,

aquele algo que a define como especial,

como objeto singular,

um amigo é fundamental.

Navegar é preciso,

reconhecer o valor das coisas e das pessoas,

é mais preciso ainda.”

Antoine de Saint Exupèry

À minha mãe

Argemira Alves Folha,

que na ausência do meu pai,

não mediu esforços, os mais íngremes

na criação dos seus filhos

sendo em tudo exemplo de coragem,

fé , amor, perseverança e determinação.

Meu coração bate por eles.

Desde que vieram ao

mundo, pude conhecer

um amor que ultrapassa limites

Marilia, Daniel e Jucile

Aos agregados que me pediram emprestado:

João, Carlinha e Platão.

E aqueles cujo amor não existem palavras

que possam descrever:

Nicolle, Pedro Henrique, Heitor Levi, João Vitor,

Carlos Eduardo e Hadassa.

AGRADECIMENTOS

A Deus que me deu a vida, o sonho, a força e a esperança. "Por isso não temas, pois estou

contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento

com a minha destra fiel. (Isaías 41:10).

Ao meu amado esposo Kim, pela importância que tem em minha vida. Seu companheirismo,

amor, cumplicidade e incentivo foram decisivos na minha alçada rumo ao saber. Obrigada por

abrir mão da minha presença em prol de um sonho maior. Te amo muito!

Ao meu querido Orientador, Professor Elton Luiz Nardi, por me ensinar o que é pesquisa e,

sobretudo, por fazê-lo com competência, sabedoria, humildade, paciência, ética, compromisso

e seriedade na caminhada. Quão difícil foi quando tudo em mim era senso comum. Nesses

momentos, a sua voz suave me dizia: “Mirian, é preciso encontrar o fio condutor”. Mais que

um orientador, encontrei um amigo.

Às Professoras Marilda Pasqual Schneider (Unoesc) e Simone de Fátima Flack (UEPG), pelas

valiosas contribuições, sobretudo no momento da qualificação, e à Professora Raimunda

Maria da Cunha Ribeiro (Uespi), minha coorientadora.

A todos os professores do Programa, em especial aqueles com quem mais convivi e de quem

mais aprendi: Maria Teresa, Ortenila, Luiza, Roque e Luiz Carlos.

À Universidade Estadual do Piauí, em nome do Magnífico Reitor Professor Nouga Cardoso

Batista, pelo constante incentivo. Ao Diretor do Campus em Corrente, Professor Salomão

Mascarenhas Cavalcante e a Assessora Técnica Lidia Valdete pelo apoio incondicional.

À Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), pela bolsa que me

permitiu caminhar em melhores condições.

Aos colegas da Turma XII, que por razões especiais, fruto de uma rica troca de experiências,

agradeço aos amigos Andréia, Beatriz, Cláudia, Edomar, Jonas, Keila, Larissa, Liane, Paula

e Tatiana. Da Turma XIII sou grata pelo carinho especial de Chaiane, Elina, Ilson, e Raquel.

Ao Secretário do Curso, Thiago Vendrame, pela atitude profissional e pela amizade. Sua

presença enaltece o Programa.

Às Secretárias de Educação de Corrente PI, Profa. Maria do Socorro Cavalcanti Barros e de

Joaçaba SC, Profa. Marilde Bittencourt, por abrirem as portas para a realização desta

pesquisa.

Grata à minha preciosa amiga Loredi Campanholo pela caminhada fraterna e momentos de

oração durante todo o meu período aqui no sul, e aos meus manos sanguíneos Áurea,

Aurindo e Aurélio (Tutu) pelo amor incondicional e apoio constante mesmo à distância.

Enfim...

“... ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos.

Amém” I Timóteo 1:17.

RESUMO

A presente dissertação insere-me na Linha de Pesquisa “Educação, Políticas Públicas e

Cidadania” e tem por objetivo analisar a influência de fatores político-institucionais,

econômicos e culturais na gestão da educação operada por governos municipais, de modo a

evidenciar congruências e incongruências entre a gestão do financiamento da educação e a

geração de condições concretas para a construção da qualidade educacional. Com base em

Araújo (2005), Bercovici (2004), Abrucio (1999, 2010), Nardi (2006, 2008, 2011, 2015),

Bordignon (2009), Dourado (2006, 2007, 2009), Dourado, Oliveira Santos (2007), Saviani

(1997, 1998, 2008, 2009, 2011, 2014), Pinto (2002, 2007, 2012, 2013), entre outros, aborda a

questão do federalismo brasileiro, de modo a situar o lugar e a vez do município enquanto

ente federativo, suas incumbências, fragilidades e desafios no âmbito das políticas sociais e,

mais especificamente, das políticas educacionais. Acerca destas, busca enfocar a influência de

fatores político-institucionais, econômicos e culturais na gestão municipal da educação,

nomeadamente no campo do financiamento, e a geração de condições favoráveis à melhoria

da qualidade da educação, com destaque às opções e práticas de gestão da educação na esfera

municipal que implicam na relação positiva entre gestão do financiamento e construção da

qualidade educacional. Em termos teórico-metodológicos, a pesquisa foi orientada por uma

abordagem crítico-dialética de investigação e por pressupostos da pesquisa qualitativa, tendo

em conta o caráter contraditório e multifacetado da realidade. Além de revisão histórico-

conceitual, o estudo contou com exame documental, tendo por alvo documentos legais de

abrangência nacional, consulta a bases de dados nacionais, além de pesquisa de campo em

dois municípios brasileiros situados em regiões distintas do país, onde foram realizadas

entrevistas semiestruturadas com agentes da educação municipal, as quais foram

acompanhadas de uma caracterização geral do município e de um retrato acerca do

financiamento da educação, com foco nas receitas e nos investimentos públicos neste setor.

Os resultados destacam a necessidade de ampliação dos recursos destinados à educação, a

qualificação das práticas de gestão, de modo a torná-las congruentes com as necessidades

locais, e maior transparência na gestão dos recursos públicos. Conclui que o planejamento

pautado nos pressupostos da gestão democrática e de uma qualidade socialmente referenciada,

bem como o protagonismo municipal possibilitado pela condição de ente federativo

constituem fatores que reforçam, no campo da gestão municipal da educação, a congruência

entre gestão do financiamento da educação e geração de condições concretas para a

construção da qualidade. Também, que as incongruências residem especialmente na

insuficiência de recursos e na frágil participação da sociedade civil no controle social.

Palavras-Chave: Políticas educacionais. Município. Gestão educacional. Financiamento da

educação. Qualidade da educação.

ABSTRACT

This study is into the "Education, Public Policy and Citizenship Line" and aims to analyze the

influence of political and institutional, economic and cultural management education operated

by local governments, It shows some congruence and incongruence between education

funding management and specific conditions generation for an educational quality

configuration. It is based on some authors, as: Araujo (2005), Bercovici (2004), Abrucio

(1999, 2010), Nardi (2006, 2008, 2011, 2015), Bordignon (2009), Gold (2006, 2007, 2009),

Gold, Oliveira Santos ( 2007), Saviani (1997, 1998, 2008, 2009, 2011, 2014), Pinto (2002,

2007, 2012, 2013), among others that discourses the issue of Brazilian federalism, in order to

situate the place and time of the municipality while federative entity, its responsibilities,

weaknesses and challenges in the social policies and, more specifically, of educational

policies. Then, it seeks to focus on the influence of political and institutional, economic and

cultural in municipal management education, especially in financing the field, and the

favorable conditions creation for improving the education quality. It give emphasis on options

and management practices education at the municipal level that imply positive relationship

between management of the financing and educational quality construction. By theoretical

and methodological terms, the research was guided by a critical-dialectical approach to

research and assumptions of qualitative research, taking into contradictory account and

multifaceted reality nature. Therefore to historical and conceptual review, this study could

include review of document, targeting legal documents nationwide, refers to national

databases, as well as field research in two Brazilian municipalities located in different regions

of the country. Semistructured interviews were conducted with some municipal education

agents, which were supplemented by a general characterization of municipality and a picture

on the education financing, it could focus on revenue and public investments in this sector.

The results could show the need to increase resources for education, management

qualification practices in order to make them consistent with local needs and greater

transparency on management public resources. I could conclude that guided planning on

democratic management assumptions and socially relevant quality as well as the municipal

leadership made possible by the federal entity status are factors that reinforce. In the

education municipal field management, congruence between education funding management

and generating concrete conditions for the construction quality. I could also conclude that

there are incongruities, especially in the resources lack and weak participation civil society in

social control.

Keywords: Educational Politics. Municipality. Educational Management. Education Funding.

Education Quality.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Financiamento do ensino – Art. 212 da Constituição Federal de

1988 ....................................................................................................

83

Quadro 2 – Financiamento e distribuição de recursos destinados à Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino na vigência da Fundef ...........................

85

Quadro 3 – Financiamento do Ensino na vigência do Fundeb .............................. 88

Quadro 4 – Indicativos constantes nos documentos finais da Conae 2010 e 2014

sobre os temas “qualidade”, “financiamento” e “gestão” da

educação .............................................................................................

94

Mapa 1 – Localização geográfica do município de Corrente PI.......................... 103

Fotografia 1 – Visão panorâmica da cidade Corrente PI ............................................ 104

Mapa 2 – Localização geográfica do município de Joaçaba SC.......................... 110

Fotografia 2 – Visão panorâmica da cidade Joaçaba SC ............................................ 111

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de emancipações político-administrativas de municípios, por

região do país – Anos de 1940 a 2000 .......................................................

46

Tabela 2 – Distribuição por estado dos municípios com denúncias de fraude e má

gestão do Fundef ........................................................................................

54

Tabela 3 – Número de trabalhos levantados, com base em descritores combinados,

com vistas à identificação de fatores de ordem político-institucionais,

econômicos e culturais que implicam a atuação do município na gestão

da educação e do financiamento educacional – 2011 a 2013 ....................

66

Tabela 4 – Evolução da vinculação de recursos de impostos para a educação nas

Constituições Federais do Brasil: 1934 – 1988 .........................................

80

Tabela 5 – Percentuais de distribuição da Receita de Impostos 1980 -1997 por nível

de governo – Brasil ....................................................................................

81

Tabela 6 – Matrícula inicial no Ensino Fundamental por dependência administrativa

– Brasil 1980 – 1997 ..................................................................................

82

Tabela 7 – Posição Mundial do PIB e do PIB per capita em 2008, do IDH em 2006

e do IDE em 2005 do Brasil e de outros países .........................................

90

Tabela 8 – Demonstrativo das matrículas, por dependência administrativa e etapa

da Educação Básica, no município de Corrente PI – 2014 .......................

105

Tabela 9 – Receita do município de Corrente PI por subcategoria econômica – 2010

a 2014 .........................................................................................................

106

Tabela 10 – Despesas por função do governo do município de Corrente PI – 2010 a

2014 ...........................................................................................................

107

Tabela 11 – Total de despesas para efeito de cálculo e percentuais da receita com

impostos investidos em educação pelo município de Corrente PI – 2010

a 2014 .........................................................................................................

109

Tabela 12 – Demonstrativo das matrículas, por dependência administrativa e etapa

da Educação Básica, no município de Joaçaba SC – 2014 .......................

112

Tabela 13 – Receita do município de Joaçaba SC por subcategoria econômica – 2010

a 2014 .........................................................................................................

113

Tabela 14 – Despesas por função do governo do município de Joaçaba SC – 2010 a

2014 ...........................................................................................................

114

Tabela 15 – Despesas em Educação por tipo e componente praticada pelo município

de Joaçaba SC – 2010 a 2014 ....................................................................

115

Tabela 16 – Total de despesas para efeito de cálculo e percentuais da receita com

impostos investidos em educação pelo município Joaçaba SC – 2010 a

2014 ...........................................................................................................

116

LISTA DE SIGLAS

Anpae – Associação Nacional de Política e Administração da Educação

Anped – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

BM – Banco Mundial

CAC – Conselho de Acompanhamento e Controle Social

CAPES – Coordenação de Pessoal de Nível Superior

CAQ – Custo Aluno Qualidade

CAQi – Custo Aluno Qualidade inicial

CEB – Câmara de Educação Básica

CEDS – Comissão Especial de Dinâmica e Sistemática

CF – Constituição Federal

CFE – Conselho Federal de Educação

CME – Conselho Municipal de Educação

CNE – Conselho Nacional de Educação

Conae – Conferência Nacional de Educação

Coned – Congresso Nacional de Educação

Copis – Coordenação de População e Indicadores Sociais

DF – Distrito Federal

DPE – Diretoria de Pesquisas

EC – Emenda Constitucional

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

EJA – Educação de Jovens e Adultos

FMI – Fundo Monetário Internacional

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FNDEP – Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública

FNE – Fórum Nacional de Educação

FPE – Fundo de Participação dos Estados

FPM – Fundo de Participação dos Municípios

Fundeb – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação.

Fundef – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IDE – Índice de Desenvolvimento Educacional

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

INPC – Índice Nacional de Preço ao Consumidor

IOF – Imposto sobre Operações Financeiras

IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados

IPIExp. – Imposto sobre Produtos Industrializados proporcional à Exportação

IPTU – Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana

IPVA – Imposto sobre Proprietários de Veículos automores

IR – Imposto sobre Rendas e Provenientes de qualquer natureza

IRRF – Imposto de Renda Retido na Fonte

ISS – Imposto sobre Serviços de qualquer Natureza

ITBI – Imposto sobre transmissão de bens “intervivos”

ITCD – Imposto sobre transmissão “Causa Mortis” e Doações

ITCMD – Imposto sobre tramitação “Causa Mortis e Doações”

ITR – Imposto Territorial Rural

LC – Lei Complementar

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LDO – Leis de Diretrizes Orçamentárias

LRE – Lei de Responsabilidade Educacional

MDE – Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

MEC – Ministério da Educação e Cultura

MP – Medida provisória

Obeduc – Observatório da Educação

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONU – Organização das Nações Unidas

PAR – Programa de Ações Articuladas

PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola

PDE – Plano de Desenvolvimento Educacional

PEC – Proposta de Emenda à Constituição

PIB – Produto Interno Bruto

PME – Plano Municipal de Educação

PNE – Plano Nacional de Educação

PNEGEB – Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica

PNFCE – Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares

PNUD – Programa Nacional Unidos para o Desenvolvimento

PPGEd – Programa de Pós Graduação em Educação

PRN – Partido da Renovação Nacional

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira

PT – Partido dos Trabalhadores

SNE – Sistema Nacional de Ensino

TCE – Tribunal de Contas do Estado

TCU – Tribunal de Contas da União

Uespi – Universidade Estadual do Piauí

Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância

Unoesc – Universidade do Oeste de Santa Catarina

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 15

1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................. 25

1.1.1 Primeiro desdobramento: fundamentação teórica e contextualização ............... 28

1.1.2 Segundo desdobramento: no rumo da etapa empírica ......................................... 30

1.1.3 Análise dos resultados .............................................................................................. 33

2 FEDERALISMO BRASILEIRO E O MUNICÍPIO .................................................. 37

2.1 ALGUMAS NOTAS INTRODUTÓRIAS .................................................................. 37

2.2 O MUNICÍPIO COMO ENTE FEDERATIVO E SUAS ATUAIS

INCUMBÊNCIAS ........................................................................................................

42

2.2.1 Município e educação pública: fragilidades, desafios e conquistas ..................... 47

2.3 FATORES POLÍTICO-INSTITUCIONAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS:

ELEMENTOS PARA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS NA

GESTÃO DA EDUCAÇÃO ........................................................................................

63

3 QUALIDADE DA EDUCAÇÃO COMO DIREITO E CONQUISTA SOCIAL:

DESAFIOS EMERGENTES .......................................................................................

75

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO .................................... 75

3.2 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE: ENTRE NOVAS

METAS E VELHOS DESAFIOS .................................................................................

80

3.3 GESTÃO DO FINANCIAMENTO E CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE DA

EDUCAÇÃO: ELEMENTOS CONDICIONANTES ..................................................

97

4 GESTÃO LOCAL DO FINANCIAMENTO E MELHORIA DA QUALIDADE

DA EDUCAÇÃO: ELEMENTOS DAS REALIDADES MUNICIPAIS

PESQUISADAS ..............................................................................................................

102

4.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS MUNICÍPIOS PESQUISADOS ......................

102

4.2 GESTÃO DO FINANCIAMENTO E CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE

EDUCACIONAL: A VOZ DOS SUJEITOS LOCAIS ..................................................

117

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 128

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 134

APÊNDICE A – Roteiro mínimo para entrevistas .............................................................. 150

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................................... 151

15

1 INTRODUÇÃO

A história da educação pública no Brasil é marcada por períodos com características

distintas. Inúmeros historiadores têm buscado situar avanços e recuos e, em determinados

momentos, também vislumbrar perspectivas, especialmente quando objetivos traçados não são

alcançados. Esta, aliás, tem sido uma questão recorrente em quase todos os períodos.

No campo legal, a primeira Constituição brasileira, outorgada em 1824, assegurava a

oferta e gratuidade da instrução primária, mas os princípios que orientaram o conteúdo da

Carta não atribuíam firmemente ao Estado a responsabilidade pela educação pública, de modo

que o encargo continuou nas mãos da família e da Igreja. Já a Constituição de 1891, a

primeira do Brasil República, determinou competências aos estados para que legislassem

sobre o ensino primário e secundário e estabeleceu o ensino leigo, suprimindo a marca de uma

religião oficial.

Um avanço no plano legal pode ser apontado com a Constituição de 1934, que dedicou

17 artigos ao tema Educação. Tendo sido fortemente influenciada pelas ideias dos defensores

da Educação Nova, pela primeira vez são estabelecidas regras de financiamento e definidas

vinculações de receitas para a educação. De acordo com o art. 156 dessa Carta Constitucional,

cabia à União e aos municípios aplicar “nunca menos de dez por cento, e os Estados e o

Distrito Federal nunca menos de vinte por cento, da renda resultante dos impostos na

manutenção e no desenvolvimento do sistema educativo” (BRASIL, 1934). Foi também na

Constituição de 1934 que, pela primeira vez, constou a determinação pela existência de um

Plano Nacional de Educação (PNE). Ademais, foi a dura realidade educacional do Brasil,

comparada à de outros países, que desencadeou a necessidade da determinação de um plano

nacional.1

Embora a Carta Magna de 1934 sinalizasse para mudanças significativas no campo

educacional, a outorga da Constituição de 1937 significou um golpe às expectativas de

mudanças. Com esta segunda Constituição do governo Vargas, o dever do Estado para com a

educação foi colocado em segundo plano, tendo sido declarado como direito natural dos pais,

cabendo ao Estado, conforme art. 125, colaborar “de maneira principal ou subsidiária, para

facilitar a sua execução ou suprir as deficiências e lacunas da educação particular.” (BRASIL,

1 Conforme anota Kang (2010), no período de 1870 a 1930 as taxas de matrícula no Brasil eram mais baixas que

as da Argentina, Chile, Costa Rica e México. Em 1930, a taxa costa-riquenha (40,5%) era quase duas vezes

maior que a brasileira (21,5%), enquanto a argentina chegava a ser quase três vezes maior (61,3%). Já nos

Estados Unidos e no Canadá mais de 90% das crianças em idade escolar estavam matriculadas. Para o autor, a

falta de expansão da educação básica no Brasil durante esse período deveu-se a problemas de ação coletiva

derivados da alta desigualdade de riqueza, capital humano e poder político.

16

1937). No campo da prática, as políticas educacionais focalizavam significativamente o

ensino secundário, de cunho humanístico e voltado às elites, e o ensino industrial, devido ao

acelerado processo de industrialização. O resultado disso foi a queda nas matrículas,

revelando a pouca atenção do governo para com o ensino primário, uma situação que, ao

longo do tempo, tem sido recorrente no país, com repercussões na formação dos indivíduos,

pois ao implicar a base formativa escolar as lacunas ali surgidas desfavorecem as condições

para sua atuação consciente no futuro.

Vale pontuar, que ao longo dos oito anos da ditadura Vargas, o governo editou uma

das reformas que se tornaria a mais duradoura no sistema educacional brasileiro, a chamada

Reforma Capanema (1942-1946). Por meio dela foram implantadas as Leis Orgânicas do

Ensino, tendo sido incorporadas algumas das reivindicações contidas no Manifesto dos

Pioneiros da Educação Nova, de 1932, como:

a) gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário; b) planejamento educacional

(Estados, territórios e Distrito Federal deveriam organizar seus sistemas de ensino);

c) recursos para o ensino primário (Fundo Nacional do Ensino Primário) estipulando

a contribuição dos Estados, Distrito Federal e dos municípios; d) referências à

carreira, remuneração, formação e normas para preenchimento de cargos do

magistério e na administração. (BITTAR; BITTAR, 2012, p. 159).

Se, de um lado, a expansão escolar se realizou diante da demanda provocada pela

pressão social, por outro, não veio acompanhada de mudanças mais profundas, tendo a

estrutura da escola permanecido a mesma (ROMANELLI, 1985).

Já no chamado período de redemocratização do país, a Constituição Federal de 1946

retoma o espírito da Carta de 1934 tendo sido recuperado o tema da educação como direito de

todos. Vale assinalar que, pela primeira vez na história constitucional, aparece a expressão

“ensino oficial”. Para o desenvolvimento e manutenção do ensino, a nova Carta fixava a

aplicação de, ao menos, 10% pela União e 20% pelos estados, Distrito Federal e municípios,

da renda resultante de impostos.

Embora a Constituição de 1934 tivesse assinalado a competência privativa da União

de traçar as diretrizes para a educação nacional (art. 5º, inciso XIV), foi somente com a Carta

de 1946 que os debates em torno deste tema resultaram na proposição de uma lei específica da

educação nacional, com base no disposto no art. 15, inciso XV, alínea “d”, que fixava a

competência da União de legislar sobre “diretrizes e bases da educação nacional” (BRASIL,

1946).2 Nascido o projeto e depois de longa tramitação marcada por conflitos ideológicos, a

2 A Constituição de 1937, diferentemente, determinava, no art. 15, inciso IX, a competência da União de fixar as

bases e determinar os quadros da educação nacional.

17

primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) foi aprovada em 20 de

dezembro de 1961 (Lei nº 4.024). Dentre os princípios consagrados na lei, destaca-se o direito

à educação, a obrigatoriedade escolar e a extensão da escolaridade obrigatória nos seguintes

termos: “Art. 2º. A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola” (BRASIL,

1961).

Embora a lei tenha representado um avanço no campo das determinações legais, o dia

a dia da educação pública brasileira seguramente não seguiu o mesmo curso. O país chegou à

década de 1960 com quase 40% de analfabetismo (BRASIL, 2003). Um cenário preocupante

e de largo comprometimento social, que mobilizou, por exemplo, o educador pernambucano

Paulo Freire, com seu revolucionário método de alfabetização de adultos, posto em marcha

para não somente ensinar a ler, mas fornecer ao cidadão as condições para ler e interpretar o

mundo.

Com a ditadura militar instaurada em 1964, a situação vivida pelo país passou a ser de

profunda instabilidade no que diz respeito à segurança e liberdade de opinião. Foi um período

onde se fez presente a força dos militares no cenário político do país que, no entendimento de

Germano (2005), atuaram sempre como “poder moderador” ao longo da República. Não havia

espaço para as decisões democráticas e toda a vida da nação ficou à mercê de manobras que

vinham de “cima para baixo”. Os Atos Institucionais impostos à sociedade pelas Forças

Armadas, sobretudo o Ato Institucional nº 5, impediam toda e qualquer manifestação do

cidadão em busca dos seus direitos. Em nome da “Ordem e do Progresso”, prevalecia o poder

coercitivo; direitos sociais coletivos e individuais foram anulados paralelamente a prisões

arbitrárias, desaparecimento de muitas pessoas, torturas e assassinatos.

De acordo com Germano (2005), a denominada “Revolução de 1964” foi, na verdade,

um retrato da restauração da dominação burguesa, confirmando o que tem se configurado

constantemente na história política de nosso país: “continuidade, restaurações, intervenções

cesaristas, transformismo, exclusão das massas populares, autoritarismo” (p. 53). O alvo da

Ditadura Militar era atingir especialmente as pessoas que, de certa forma, poderiam exercer

alguma influência contrária aos objetivos do regime, força pela qual as reformas educacionais

processadas no período foram inauguradas pelo ensino superior (Lei nº 5.540, de 28 de

novembro de 1968), chegando à educação elementar em 1971, com a Lei nº 5.692, de 11 de

18

agosto de 1971, que criou o 1º e o 2º graus, tornando compulsória a profissionalização neste

último e, neste sentido, contendo a demanda sobre o ensino superior.3

Ainda na linha do tempo, logo após a promulgação da Constituição Federal de 1988,

cabe registrar a apresentação à Câmara dos Deputados, pelo então deputado Octávio Elísio, do

PSDB de Minas Gerais, do projeto de lei fixando as diretrizes e bases da educação nacional,

cujo texto era, integralmente, o apresentado por Demerval Saviani, em 1987, intitulado:

“Contribuição à Elaboração da Nova LDB: um início de conversa” e que contou com amplo

envolvimento da sociedade. Todavia, conforme anota o próprio Saviani (1997, p. 238) sobre o

texto final, aprovado em 1996 depois de cerca de oito anos de tramitação e sob embates e

disputas, “embora [a lei aprovada] não tenha incorporado dispositivos que claramente

apontassem na direção da necessária transformação da deficiente estrutura educacional

brasileira, ela, em si, não impede que isso venha a ocorrer.”

Importa considerar que a Constituição Federal de 1988 deu ênfase à organização do

sistema educacional brasileiro, caracterizado pela divisão de responsabilidades e

competências entre a União, os estados e municípios, o que se aplica também ao

financiamento e à manutenção dos diferentes níveis, etapas e modalidades da educação e do

ensino. No entanto, após oito anos da promulgação da nova Constituição, com a publicação da

Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996, os resultados concretos,

decorrentes da determinação de que 50% dos recursos destinados à manutenção e

desenvolvimento do ensino seriam utilizados para erradicar o analfabetismo, evidenciavam

que não havia motivos para comemoração, pois dados oficiais comprovavam que o combate

ao analfabetismo era insignificante.4

Com essas marcas, entramos na década de 1990 com uma reforma do Estado e da

educação calcada em moldes neoliberais. Desse processo, resultou a aprovação da Emenda

Constitucional (EC) nº 14, de 12 de setembro de 1996, que modificou os artigos 34, 208, 211

e 212 da Constituição Federal, além de ter dado nova redação ao art. 60 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias, segundo a qual, nos dez anos seguintes a

promulgação da emenda, os estados, o Distrito Federal e os Municípios passariam a destinar

“não menos de sessenta por cento dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da

Constituição Federal, à manutenção e ao desenvolvimento do ensino fundamental, com o

3 A desobrigação da obrigatoriedade da profissionalização no 2º grau ocorreu somente em 1982, por meio da Lei

nº 7.044, de 18 de outubro de 1982. 4 Em 1988, eram 17,3 milhões de indivíduos. Em 2006, foram identificados pouco mais de 16 milhões.

19

objetivo de assegurar a universalização de seu atendimento e a remuneração‟ condigna do

magistério.”

Na realidade, o objetivo da EC era dar uma nova forma de saída desses recursos, por

meio de um fundo de natureza contábil, preservando os mesmos percentuais mínimos de

investimentos. Nesse sentido, deu origem à Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996, que

regulamentou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério (Fundef).

Durante sua vigência (1997 a 2006) o Fundo foi criticado pela penalização que

impunha à educação infantil e ao ensino médio, pelo amplo processo de municipalização do

ensino fundamental, pela ineficiência na promoção da valorização do magistério entre outros

aspectos.

A inauguração de um novo Fundo, por força da EC nº 53, de 19 de dezembro de 2006,

o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos

Profissionais da Educação (Fundeb), regulamentado pela Lei nº 11.494, de 20 de junho de

2007, importou em uma alteração significativa em termos de abrangência e de recursos,

quando comparado com o Fundo anterior, posto incluir agora toda a educação básica e

comportar mais recursos, inclusive com o aporte financeiro do Governo Federal.

Como parte da política erigida pela reforma encabeçada na década de 1990, no dia 9

de janeiro de 2001, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, foi

sancionada a Lei nº 10.172, que dispunha sobre a aprovação do PNE para uma década,

documento que, em 1993, havia sido aprovado sob a denominação de Plano Decenal de

Educação, tendo sido resultante da participação do Brasil, em março de 1990, na Conferência

de Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia.5

Com base no argumento que sugeria que muito pouco havia sido desenvolvido dentro

do estabelecido no PNE, em março de 2007, o governo brasileiro lançou o Plano de

Desenvolvimento da Educação (PDE). Segundo Saviani (2009), o PDE não é um plano e não

substitui o PNE, posto tratar-se de uma política pública com um conjunto de medidas e metas

para o país, estabelecido por Decreto.

Na realidade, o PDE foi lançado oficialmente em 24 de abril de 2007

simultaneamente à promulgação do Decreto nº 6.094 que dispõe sobre o Plano de Metas

5 A conferência foi convocada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(Unesco), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Programa das Nações Unidas pra o

Desenvolvimento (PNUD) e o Banco Mundial.

20

Compromisso Todos pela Educação. Nessa mesma linha de considerações é importante

salientar que esse Decreto tornou-se o carro chefe do PDE (SAVIANI, 2009).

Embora o Decreto em questão realce o regime de colaboração entre municípios,

Distrito Federal, estados, famílias e comunidades, é certo que a efetividade dos ambiciosos

objetivos carreados pelo PDE, dentre eles o de “elevar o nível da educação brasileira aos

patamares dos países desenvolvidos” (SAVIANI, 1997), depende de seu alcance no trabalho

efetivo das escolas, âmbito onde legitimamente ocorre a educação de qualidade.

Mais recentemente, em 2014, um novo PNE foi aprovado, tendo sido tema de amplo

debate e mobilização na Conferência Nacional de Educação (Conae), cujo processo culminou

em 2010 com a proposição de indicativos para o novo plano. Com a aprovação desse PNE,

pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, novas metas e estratégias para a educação

brasileira foram delineadas, projetando novas esperanças no horizonte das expectativas para a

educação no país.

Diante da aprovação de um novo PNE, como parte da composição do leque de

medidas legais mencionado até aqui, vale recuperar a análise de Bordignon (2009) acerca das

bases da organização da educação brasileira, por meio da qual chama a atenção para o

necessário desvelamento da sua lógica, possível de ser discutido com base em questões como:

por que temos a organização da educação que temos? Por que há tanta discrepância, conforme

já denunciava Anísio Teixeira, entre o Brasil real e o Brasil oficial? Por que as leis pouco

“pegam” entre nós? Por que o princípio constitucional do regime de colaboração entre os

sistemas de ensino não se efetivou ainda?

É nessa linha de pensamento que Bittar e Bittar (2012, p. 160) também assinalam “um

traço recorrente das políticas educacionais brasileiras: incorporação de princípios

democráticos que não chegam a serem postos em prática.” Isso porque, apesar da quantidade

de dispositivos legais que visam direcionar as práticas da educação pública, a qualidade do

ensino não tem acompanhado os objetivos formalmente proclamados.

Com efeito, trata-se de uma assimetria entre a realidade vivida e as diretrizes

formalizadas, assimetria essa que, segundo Saviani (2008), informa a raiz das dificuldades por

que passa a política educacional no país. As medidas tomadas pelo governo, anota o autor,

“ainda que partam de necessidades reais e respondam com alguma competência a essas

necessidades, padecem de uma incapacidade congênita de resolvê-las. Isto porque a lógica

que as preside as torna presas de um círculo vicioso eivado de paradoxos.” (p. 5). Ademais, é

preciso considerar que as leis são elaboradas em um terreno de disputas e, portanto, refletem o

21

resultado de embates e de defesas sobre posicionamentos diversos, por vezes até

contraditórios.

Essa é uma leitura cujo conteúdo conclusivo tem a ver com a trajetória das políticas

educacionais do país e com as dificuldades apontadas nas análises dos que pesquisam o

desempenho do setor, sendo fortes as evidências de que o país enfrenta vários problemas já

reconhecidos e discutidos ao longo dos anos.

Como parte desse movimento que, a um só tempo, realça desafios e se conforma com

frequentes diminutos efeitos das medidas oficiais adotadas para enfrentá-los, assistimos a

reedições de políticas públicas encabeçadas por um corpo de medidas legais pretensamente

encarregadas de promover as mais importantes soluções. O círculo vicioso, referido por

Saviani (2008), parece-me não só ilustrar essa realidade, mas também permitir concluir que

embora a vasta legislação educacional construída ao longo do tempo realce no teor das suas

prescrições benefícios sociais, políticos, financeiros, educacionais e culturais, as evidências

dão conta que a população frequentemente não usufrui deles, ficando a sensação de que se

trata de um instrumento que pouco se destina a transformar a realidade.

Acerca desse contexto, convém destacar a realidade vivida por uma significativa

parcela de municípios brasileiros após a Constituição Federal de 1988, quando o município

adquiriu o direito de ser um ente federativo com identidade própria e responsabilidades

constitucionalmente definidas, “talvez [...] um dos fenômenos de maior impacto no que se

refere à responsabilidade pela oferta educacional no país.” (PINTO, 2013, p. 25).

Até então, sem maior visibilidade nacional, o município passa a ser detentor de

autonomia político-administrativa acompanhada de uma grande carga de responsabilidades

sobre as quais, frequentemente, ele não consegue dar respostas satisfatórias. No que se refere

ao setor educacional, um dos maiores desafios envolve justamente o campo do financiamento,

campo esse diretamente influente nas condições concretas de oferta e de promoção da

qualidade de ensino.

Reforçam esse quadro de dificuldades, a ausência de um regime de colaboração entre

estados e municípios – principais responsáveis pela oferta da educação básica –, prerrogativa

também advinda da Carta constitucional, o que é agravado por disputas locais frequentemente

atreladas a interesses particularistas, e a conhecida centralização do poder decisório por parte

do governo federal (NARDI, 2006).

Ademais, se de um lado coube aos municípios a organização de seus sistemas próprios

de ensino, elemento relacionado à autonomia da esfera municipal em assuntos educacionais,

por outro, essa medida não significou a superação imediata de fragilidades como as de ordem

22

técnica, frequentemente motivadas por fatores como a falta de pessoal qualificado, sobretudo

em municípios das regiões mais pobres do país. Como se sabe, em razão das incumbências

atribuídas constitucionalmente aos municípios, o que inclui a organização dos sistemas de

ensino, houve importantes repercussões no campo da gestão educacional, seja em

abrangência, seja em complexidade, o que inclui a dimensão do financiamento da educação.

A esse respeito, assinalada a atualidade da observação de Melchior (1987), durante a

constituinte da década de 1980, sobre a necessidade de politização do debate acerca dos

recursos da educação, desafiam-nos questões como a ampliação desses recursos, o pacto

federativo brasileiro e o combate às desigualdades acentuadas do sistema educacional,

questões essas que ganharam espaço na agenda da Conferência Nacional de Educação

(Conae) de 2010, com tom propositivo e de prioridade.

O que está em causa é o fato de o financiamento da educação implicar concretamente a

qualidade da educação, relação que tem motivado, por exemplo, o debate sobre a necessidade

de estabelecimento de um custo-aluno ano. Conforme assinalam Dourado, Oliveira e Santos

(2007, p.17) a compreensão da realidade dos sistemas e as condições objetivas do país

“implica na definição do patamar base para as políticas de financiamento, bem como as

garantias no que concerne a garantia do acesso de qualidade.”

Essa é uma relação que se, por um lado, reforça a perspectiva de que políticas

destinadas à melhoria da qualidade da educação dizem respeito ao financiamento e à gestão

da educação, tanto em nível de sistema como em nível de escola pública de educação básica,

por outro ampliam o desafio na esfera municipal, haja vista a interveniência de fatores de

peso, conforme assinalado, e do contexto social e político em que se manifestam.

Pensando assim e motivada pelo interesse de aprofundar análises sobre contradições e

possibilidades que, no campo da prática, atravessam a relação entre financiamento, qualidade

e gestão da educação na esfera municipal, constitui problema de pesquisa da presente

proposta de investigação: que (in) congruências entre gestão do financiamento da educação e

geração de condições concretas para a construção da qualidade destacam-se no campo da

gestão municipal da educação em regiões distintas do país?

Na esteira dessa problemática, seguem as seguintes questões de pesquisa: quais os

principais problemas enfrentados pelos municípios brasileiros no cumprimento de suas

incumbências constitucionais quanto à oferta da educação básica? Que fatores político-

institucionais, econômicos e culturais têm influenciado a ação de governos municipais no

campo das políticas locais de financiamento da educação? Em que medida a ação dos

governos nesse campo interfere na geração de condições atualmente consideradas necessárias

23

à construção da qualidade da educação básica? Que práticas de gestão municipal da educação

tendem a favorecer uma relação positiva entre financiamento da educação e melhoria da

qualidade da educação básica?

Tendo em vista esse conjunto de questionamentos, orientei-me pelo objetivo geral de

analisar a influência de fatores político-institucionais, econômicos e culturais na gestão da

educação operada por governos municipais, de modo a evidenciar congruências e

incongruências entre a gestão do financiamento da educação e a geração de condições

concretas para a construção da qualidade educacional. Nessa direção, foram traçados os

seguintes objetivos específicos da pesquisa: a) descrever, no contexto das transformações

ocorridas no modelo federativo brasileiro, o papel reservado ao município na oferta da

educação básica; b) levantar fatores político-institucionais, econômicos e culturais que

implicam a atuação do município no setor social e, mais especificamente, na gestão da

educação; c) abordar o tema da qualidade da educação básica na sua relação com o campo do

financiamento e na interface com as recentes políticas educacionais; d) identificar opções e

práticas de gestão da educação na esfera municipal que implicam na relação positiva entre

gestão do financiamento e construção da qualidade educacional; e e) identificar, em práticas

de gestão educacional de municípios de regiões distintas do país, evidências que apontem

maior ou menor pertinência entre essas opções e práticas no campo do financiamento e a

geração de condições favoráveis à melhoria da qualidade da educação.

As opções pelo debate desse tema e de seus desdobramentos têm importante relação

com minha trajetória profissional. Na condição de professora universitária, convivendo

diariamente com o tripé ensino, pesquisa e extensão, reconheci desde cedo a importância do

pesquisador para o desenvolvimento da ciência. Este foi um dos motivos mais fortes que me

levou a buscar um programa de pós-graduação na área da Educação, particularmente, com

foco em políticas públicas.

Em minha experiência docente no curso de Licenciatura em Pedagogia da

Universidade Estadual do Piauí (Uespi) sempre ministrei disciplinas de Políticas Educacionais

e, à medida que aprofundava os estudos, percebia uma significativa distância entre a letra da

lei e o que podemos considerar seus resultados concretos, o que sempre me causou um imenso

descontentamento.

Como educadora, recebi em 1997 o convite para assumir a Secretaria Municipal de

Educação em minha cidade (Corrente, PI), o que julguei ser um privilégio, especialmente em

se tratando de uma cidade de pequeno porte. Já no segundo semestre do ano de 1997

participei de inúmeros encontros promovidos pelo Ministério da Educação (MEC) em

24

diversas capitais brasileiras, muitos deles destinados ao repasse de orientações técnicas para a

implantação do Fundef.

De alguma forma, no contato com a dinâmica cotidiana e o acesso a todo um conjunto

de normas relacionadas à gestão e ao financiamento da educação, passei a ter a sensação de

que o privilégio do primeiro momento dava lugar à frustração. Dois anos após assumir o

cargo e, do meu ponto de vista, tentar fazer o melhor pela educação pública municipal,

renunciei ao posto. Um traço importante para a minha decisão à época foi a falta de

autonomia na gestão da educação, inclusive na gestão dos recursos financeiros.

O descontentamento como professora parecia ser reforçado em outra seara, no

exercício da gestão municipal da educação. Inquietava-me imensamente a questão da

qualidade do ensino nas escolas públicas no nordeste do país, embora sempre regada de

muitos discursos sobre o tema, sobretudo por ocasião das campanhas eleitorais.

Com filhos pequenos e residindo muito distante dos grandes centros, só há pouco

senti-me em condições de buscar formação em nível de Mestrado, escolhendo o Programa de

Pós-Graduação em Educação da Unoesc. A partir de então, e aos poucos, fui tendo a

convicção de que vivia uma travessia, próximo do que Saviani (2007) designa de passagem do

senso comum à consciência filosófica. Ou seja: “Passar de uma concepção fragmentária,

incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecânica, passiva e simplista a uma

concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa e cultivada.” (p.

2).

Assim, fui delineando melhor a proposta de pesquisa6, na dinâmica do diálogo com

meu orientador, meus professores e colegas do PPGEd, em um exercício de “costura”, de

leitura e compreensão das implicações e inter-relações de temas que se entrecruzam na

educação e afiguram, em muito, o que na atualidade desafia as políticas educacionais no país.

Servindo-me das reflexões de Schneider (2014, p. 12), tenho consciência de que nesse

percurso

impõe-se [...] não apenas como necessidade, mas também como prioridade, o

exercício consciente de análise teórica, tanto em relação à perspectiva em que o

trabalho de investigação está inserido, quanto em relação às discussões que

confrontam essa perspectiva com outras e que, portanto, podem ser alternativas a

ela.

6 A presente dissertação articula-se ao projeto de pesquisa em rede intitulado “Mapa da Gestão Democrática do

Ensino Público” (Rede Mapa) – Seção Santa Catarina, do qual participam sete outros estados brasileiros,

dentre os quais o Piauí.

25

Esse é mesmo meu propósito, agora impulsionada por condições, como as acadêmicas,

que me permitem melhor enfrentar as angústias descritas e, serenamente, acreditar no alcance

de respostas, quiçá do encontro de algumas possibilidades.

1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a investigação aqui proposta orientei-me por pressupostos da abordagem crítico-

dialética em pesquisa, que “reconhece a ciência como produto da história, da ação do próprio

homem, que está inserido no movimento das formações sociais” (SOUSA, 2014, p. 2). Nessa

perspectiva, o método é caracterizado pelo “movimento do pensamento por meio da

materialidade histórica da vida dos homens nas relações sociais que eles contraem.” (p.2)

No que refere ao campo da política (e da política educacional), servi-me do

entendimento de Ozga (2000, p. 20) de que a política, mais que produto, é processo

“envolvendo negociação, contestação ou mesmo luta entre diferentes grupos [...]”

favorecendo com que, na investigação, seja possível entrar “nos mecanismos formais do

Governo [...] e o acesso aos desenvolvimentos políticos a um macronível.” (p. 21).

De uma perspectiva crítico-dialética, a pesquisa deve ser vista como um campo

dinâmico em que o próprio investigador constrói e reconstrói pontos de vista e novas atitudes

(OZGA, 2000). Ademais, como anota Frigotto (1997, p. 81), “[...] não é a crítica pela crítica,

o conhecimento pelo conhecimento, mas a crítica e o conhecimento crítico para uma prática

que altere e transforme a realidade anterior [...] Uma reflexão capaz de contribuir para a

transformação da realidade”.

Tenho em conta que uma política pública, como a educacional – e nela o campo do

financiamento da educação – é atravessada por correlações de forças e por contradições. Por

essa razão, desde uma abordagem dialética, os processos de pesquisa para o campo da

educação e, em específico, das políticas educacionais, têm na abordagem materialista

histórica a possibilidade de explicitar complexas mediações que implicam a constituição,

realização e repercussão dessas políticas (SOUSA, 2014), reconhecendo o Estado como arena

de luta de classes, de condensação de uma relação de forças (POULANTZAS, 1975; 1980),

na qual, em razão da separação e individualização dos trabalhadores derivadas do capitalismo

e da produção, busca operar a reintegração do povo em um todo unificado, ao tempo que a

classe operária segue separada e explorada no curso dessa mesma integração.

Enquanto método, esse enfoque teórico, metodológico e analítico visa compreender a

dinâmica e as grandes transformações da história e das sociedades humanas, tendo em conta a

26

condição material do ser humano, o entendimento de que para compreender a existência

humana é necessária a apreensão de seus condicionantes históricos e o pressuposto do

movimento da contradição produzida na própria história.

Reforça a pertinência dessa perspectiva teórica na investigação em política

educacional a ocorrência de amplas transformações econômicas e políticas nas últimas

décadas, em razão das quais foram realizadas profundas reformas nos Estados nacionais à luz

dos pressupostos neoliberais. Significa dizer que, no curso da reforma dos aparelhos dos

Estados nacionais, sucederam-se reformas nas políticas públicas, especialmente no âmbito

educacional, desafiando-nos ao entendimento de conexões, contradições, consequências e

possibilidades em torno desse fenômeno, em boa medida justificado em torno da necessidade

de melhorar a qualidade da educação no país.

Na especificidade do processo de reforma do Estado e da educação no Brasil, entendo

que também é preciso considerar aspectos político-institucionais, econômicos e culturais que

configuram o contexto nacional e que, portanto, exercem influência no traçado e

implementação das políticas educacionais, como em razão de interesses prevalecentes que

informam a cultura política historicamente construída no país. Em se tratando da gestão do

financiamento da educação, campo alvo desta pesquisa, a atenção a essas influências torna-se

ainda mais necessária, especialmente em se tratando de um contexto de complexas relações

entre entes de uma mesma federação.

Desde uma perspectiva qualitativa de pesquisa, a presente proposta se volta à

compreensão da realidade entendendo-a como passo fundamental à construção de vias para a

sua transformação (ZANTEN, 2004). Pensando assim, tenho em vista o fundamento de que

existe “uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito”, uma interdependência viva

entre eles, de modo que o sujeito é parte integrante do processo de conhecimento,

interpretando e atribuindo significado aos fenômenos (CHIZZOTTI, 2003, p. 70).

No seu conjunto, entendo que essas são opções pertinentes à realização da análise aqui

proposta, em torno da influência de fatores político-institucionais, econômicos e culturais na

gestão da educação operada por governos municipais, de modo a evidenciar congruências e

incongruências entre a gestão do financiamento da educação e a geração de condições

concretas para a construção da qualidade educacional.

A meu ver, o olhar atento sobre a influência desses fatores na gestão da educação por

governos municipais, tendo por recorte a gestão do financiamento e sua repercussão na

melhoria da qualidade da educação requer considerar, de um lado, demarcações específicas da

27

figura do município e do seu governo e, de outro, um leque de especificidades que

caracterizam os municípios brasileiros.

Por isso, para delimitação do campo empírico com vistas à constituição de uma

representação, a opção recaiu sobre dois municípios brasileiros, situados em contextos

geográficos e culturais diferentes, embora próximos em alguns aspectos, como é o caso do

porte populacional. Refiro-me aos municípios de Corrente, estado do Piauí, e de Joaçaba,

Santa Catarina.

O primeiro município, da região do extremo sul do Piauí, conta com uma população de

25.927 habitantes e uma rede municipal de ensino composta por 30 escolas de educação

infantil e ensino fundamental, 4.798 alunos (matrícula de 2015) e 320 profissionais da

educação. O segundo, situado na região Oeste Catarinense, possui população de 28.705

habitantes, uma rede composta por 15 escolas de educação infantil e do ensino fundamental,

cuja matrícula em 2015 é 2.818 alunos, com 346 profissionais da educação em exercício.

A escolha desses dois municípios para figurarem como representação de realidades

municipais do país também tem o potencial de oferecer elementos representativos das

diferenças regionais que caracterizam o Brasil. No entanto, as razões dessa escolha são ainda

maiores. Justifico-as pela visão que possuo do primeiro – Corrente, PI –, onde resido e exerço

a profissão de professora há mais de vinte anos, sendo decisiva a leitura que tenho da

realidade e dos desafios locais, muito característicos em municípios da região nordeste do

país, e pelas impressões e evidências que colhi a respeito do segundo município desde o

processo de seleção para ingresso no Mestrado acadêmico em 2014.

Enquanto existem elementos que aproximam os dois municípios em termos de

características, existem outros que os diferenciam largamente.7 É claro, para mim, que a

existência de circunstâncias que produzem as diferenças também passa pelo modo de vida dos

sujeitos históricos, e que este modo de vida, como anotam Franco, Carmo e Medeiros (2013),

está intimamente relacionado às condições concretas de que dispõem as pessoas e à classe

social a que pertencem.

Percebendo essa realidade, também vejo reforçado meu entendimento, na linha da

reflexão de Behring e Boschetti (2008, p. 39), de que “as políticas sociais não podem ser

analisadas somente a partir de sua expressão imediata como fato social isolado. Ao contrário,

devem ser situadas como expressão contraditória da realidade, que é a unidade dialética do

fenômeno e da essência.” Enfim, esses são pressupostos e elementos de análise da realidade a

7 Na seção 4 da dissertação apresento uma caracterização de cada município.

28

ser investigada, de acordo com um processo delineado em dois desdobramentos, conforme

descrevo a seguir.

1.1.1 Primeiro desdobramento: fundamentação teórica e contextualização

Este primeiro desdobramento teve por alvo os três primeiros objetivos da pesquisa. De

base bibliográfica e apoiado por fontes documentais – basicamente de ordem legal –, esse

desdobramento compreendeu aprofundamento e enquadramento teórico-conceitual em torno

das temáticas que compõem o objeto da pesquisa. Nesse sentido, compreendo que a pesquisa

bibliográfica, enquanto caminho metodológico oportuniza bases ao pesquisador para

apreender a realidade e encarar reflexivamente o processo investigativo, pois a razão

reconstrói o movimento do real para depois realizar o caminho de volta até o objeto, caminho

este muito mais rico porque traz consigo novas e múltiplas mediações (PONTES, 1997).

O processo e o conteúdo construídos compreenderam dois blocos interligados: o

primeiro enfocou a figura do município no contexto do federalismo brasileiro e gestão

municipal de políticas sociais, destacadamente a educação; o segundo, em articulação ao

primeiro, voltou-se ao tema da qualidade da educação na interface com a gestão do

financiamento da educação no âmbito municipal.

Quanto ao primeiro bloco, busquei enfocar a questão do município no federalismo

brasileiro com atenção a elementos históricos e ao modelo federativo instaurado pela

Constituição Federal de 1988, o que se deu em diálogo com autores como Araujo (2005),

Arretche (1999), Bercovici (2004), Carvalho (1993) e Rezende (2001). Em continuidade,

abordei sobre o papel e incumbências reservados ao município no campo social e, neste, no

âmbito específico da educação, além da referência a dificuldades e desafios que enfrenta essa

unidade subnacional no desempenho de suas incumbências em educação. Aqui as reflexões

contaram com o aporte de Abrucio (2010), Gomes, Silva e Silva (2005), Nardi (2006), Pinto

(2012), Saviani (2014), Tomio (2002), dentre outros. Por fim, passei a explorar fatores

político-institucionais, econômicos e culturais que implicam na atuação do município, bem

como especificidades dessa implicação no campo da gestão municipal da educação, uma

tarefa que busquei cumprir por meio do levantamento de estudos e pesquisas da área que

oferecem elementos a esse respeito.

Esse levantamento, realizado em torno dos seguintes descritores: educação básica,

financiamento da educação, gestão municipal, gestão educacional, descentralização,

29

autonomia e qualidade, teve por base o Banco de Teses e o Portal de Periódicos8 da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e por período os anos

de 2000 a 2015, embora no caso das teses e dissertações a disponibilidade de acesso tenha

sido restrita aos anos de 2011 a 2012. A busca ocorreu sempre por meio do lançamento

associado de dois descritores, de modo a constituírem uma referência o mais próximo possível

do objeto da pesquisa. Com esse fim, as associações de descritores foram assim estabelecidas:

gestão municipal e qualidade da educação; gestão educacional e qualidade; políticas públicas

e qualidade da educação; financiamento da educação e qualidade; educação básica e

financiamento da educação; políticas públicas e financiamento da educação; educação básica

e descentralização; gestão educacional e autonomia; e, por fim, qualidade da educação e

autonomia. Ao combinar o descritor “qualidade” com outro descritor que não possui o termo

“educação” ou “educacional”, optei por adotar o descritor “qualidade da educação”. Esse

procedimento teve por finalidade abrir o leque de opções temáticas no levantamento.

No segundo bloco, o debate foi dirigido, inicialmente, para o tema da qualidade da

educação básica enquanto meta em destaque nas políticas educacionais das últimas décadas,

assim como sobre condições que vêm sendo consideradas decisivas à promoção dessa

qualidade. Para esse enfoque tomei por referência estudos como os de Bordignon (2009),

Dourado (2006), Dourado, Oliveira e Santos (2007), Oliveira e Araújo (2005), Paro (2007),

Oliveira (2009).

Para fechar o bloco, ainda tendo em conta o tema da qualidade da educação e sobre

condições visando promovê-la, o olhar foi dirigido à gestão educacional, sobretudo no que diz

respeito à relação entre gestão do financiamento e construção da qualidade educacional e às

implicações na ação do município. Contribuíram para esta parte estudos de Azevedo (2001),

Ferreira (2015), Pinto (2002), Souza e Faria (2004), Oliveira (2003), entre outros, além de

elementos obtidos por meio da consulta a documentos oficiais, haja vista constituírem marcos

legais da educação. Dentre estes destaco: Constituição Federal de 1988; Emenda

Constitucional nº 14, de 12 de setembro 1996; Emenda Constitucional nº 53, de 19 de

dezembro de 2006; Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; Lei nº 9.424, de 24 de

dezembro de 1996; Lei nº 10.172 de 09 de janeiro de 2001; Lei nº 11.494, de 20 de junho de

2007; Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007; Resolução FNDE nº 29, de 20 de junho de

2007; Resolução FNDE nº 47, de 25 de abril de 2007; Parecer CNE/CEB nº 8, de 5 de maio

8 Adotei os filtros: “busca por assunto”; “busca avançada”; “artigos” “qualquer idioma”.

30

de 2010; Documento Final Conae 2010; Documento Final Conae 2014; Lei nº 13.005, de 25

de junho de 2014. Assim, foi concluído o primeiro desdobramento da pesquisa.

A fim de identificar opções e práticas de gestão da educação na esfera municipal que

implicam na relação positiva entre gestão do financiamento e construção da qualidade

educacional, também busquei identificar nos mesmos estudos e pesquisas da área, mapeados

no levantamento efetuado junto ao Banco de Teses e o Portal de Periódicos da Capes,

elementos que fossem indicativos dessa relação. Além desses estudos, outros trabalhos

identificados no curso das leituras realizadas durante o Mestrado e em levantamento adicional

realizado na Scientific Electronic Library Online (Scielo) foram considerados para a

identificação das opções e práticas aqui referidas, observado, igualmente, o período de

publicação entre os anos 2000 e 2015.

Acessados os textos, optei por aqueles que possuíam maior aproximação com o objeto

desta pesquisa, sem perder de vista que um trabalho de levantamento bibliográfico, conforme

Silva e outros (2009, p. 4554), “constitui-se em um processo sistemático, exaustivo, coerente,

sensível e criativo”. Como parte desse exercício, desenvolvi uma análise focalizada em um

conjunto de onze trabalhos, cujas temáticas enfocadas aproximam-se do objeto desta

investigação.

De posse dos elementos colhidos dos trabalhos e com apoio nas reflexões constituídas

ao longo dos estudos, foi constituído um conjunto de referências quanto a opções e práticas de

gestão da educação que implicam na relação positiva entre gestão do financiamento municipal

da educação e construção da qualidade educacional, conforme consta na seção 3.3 da

dissertação.

1.1.2 Segundo desdobramento: no rumo da etapa empírica

O mergulho na realidade local, com vistas à realização da etapa empírica da pesquisa

foi guiado pelo proposto no quarto e no quinto objetivos, constituídos em estreita relação e

continuidade com o proposto no terceiro objetivo.

Inicialmente, foi construída uma caracterização geral de cada um dos municípios

pesquisados, em termos geográficos, econômicos, culturais, políticos e sociais, tendo por

fontes os sites do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A essa caracterização

foi juntado um retrato geral acerca do financiamento da educação em cada município, com

foco nas receitas e nos investimentos públicos em educação no período de 2010 a 2014, cujas

31

fontes foram o Tribunal de Contas (TCE) dos dois estados, o Tesouro Nacional e o Fundo

Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Para tanto, foram considerados:

a) a receita tributária por subcategoria econômica, de modo a apontar o total da receita

arrecadada no período;

b) a despesa por função de governo, de modo a apontar o total da despesa realizada no

período;

c) despesas com educação por tipo de componente e valor total;

d) registros do Tribunal de Contas sobre as contas anuais, especificamente quanto à

educação; e

e) síntese dos gastos com educação.

O conjunto de referências mapeado no primeiro desdobramento da pesquisa, dispondo

sobre opções e práticas de gestão da educação na esfera municipal que implicam na relação

positiva entre gestão do financiamento e construção da qualidade educacional, favoreceu o

delineamento de um roteiro mínimo e único para uma rodada de entrevistas semiestruturadas

(Apêndice A),9 as quais foram dirigidas a sujeitos locais de cada um dos municípios

pesquisados, com o propósito de colher elementos, leituras e opiniões quanto a opções e

práticas de gestão da educação na esfera municipal que implicam na relação positiva entre

gestão do financiamento e construção da qualidade educacional. Também com o propósito de

levantar práticas que, em nível local, tenham sido ou são operadas na gestão do financiamento

e que, na leitura dos sujeitos, constituem iniciativas favoráveis à melhoria da qualidade da

educação.

A opção foi pela realização das entrevistas, em cada município, com o Dirigente

Municipal de Educação, o presidente do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

Fundeb, um diretor de escola e um professor de escola de educação básica.

A delimitação desse conjunto de sujeitos levou em consideração um quadro

representativo razoável da educação no município, haja vista incluir representante da

administração pública, do conselho encarregado de exercer o controle social, de profissional

que exerce a gestão da escola, núcleo central da rede de ensino, e representante do corpo

docente, profissional que atua no palco principal da escola: a sala de aula.

No caso do diretor e do professor, a seleção dos representantes ocorreu por meio de

convite formulado pela pesquisadora considerando a escola da rede, localizada na zona

9 Será submetido à consideração e à assinatura dos participantes da pesquisa o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Apêndice B).

32

urbana, com o maior número de alunos matriculados em 2015. No caso do representante de

docentes, o convite foi dirigido a um profissional do magistério com vínculo efetivo,

formação em nível superior e com maior tempo de serviço na mesma instituição. Caso não

tivesse ocorrido a adesão por parte do professor convidado a participar da pesquisa, o convite

seria dirigido a outro profissional do magistério com base nos mesmos critérios.

As entrevistas foram precedidas de visitas aos dirigentes municipais de educação, a

fim de compartilhar com eles os meus objetivos de pesquisa e obter anuência quanto à

realização da pesquisa e aos procedimentos de recolha de dados, inclusive junto às escolas.

A opção pelo recurso da entrevista semiestruturada observa as contribuições de Lüdke

e André (1986). De acordo com as autoras, esse recurso permite construir um clima de

reciprocidade entre quem pergunta e quem responde, não seguindo uma lógica rígida das

questões a serem levantadas pelo entrevistador.

Ademais, é importante lembrar que a entrevista semiestruturada “fornece os dados

básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua

situação. O objetivo é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e

motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos.”

(GASKEL, 2002, p. 65). Afinal,

[o mundo social] é ativamente construído por pessoas em suas vidas cotidianas, mas

não sob condições que elas mesmas estabeleceram. Assume-se que essas

construções constituem a realidade essencial das pessoas, seu mundo vivencial. O

emprego da entrevista qualitativa para mapear e compreender o mundo da vida dos

respondentes é o ponto de entrada para o cientista social que introduz, então,

esquemas interpretativos para compreender as narrativas dos atores em termos mais

conceptuais e abstratos, muitas vezes em relação a outras observações. (BAUER;

GASKEL, 2002, p. 65)

Concluída a etapa de entrevistas, busquei sistematizar o conjunto de informações a fim

de compor um quadro de opções e práticas de gestão da educação em cada um dos

municípios, que implicam na relação positiva entre gestão do financiamento e construção da

qualidade educacional.

Com vistas à identificação de evidências que pudessem apontar maior ou menor

pertinência entre essas opções e práticas no campo do financiamento e a geração de condições

favoráveis à melhoria da qualidade da educação, revisitei alguns dos dados levantados para

fins de caracterização dos municípios.

33

1.1.3 Análise dos resultados

A análise, como um processo integrado às demais fases da pesquisa, compreende o

olhar atento e crítico dos resultados da investigação, buscando delinear conclusões a partir dos

dados concretos, articuladamente com os conhecimentos científicos mais amplos. Nessa

direção, conforme assinala Sousa (2014, p. 2), “a ciência é um produto da história. Um

produto do próprio homem e este inserido no movimento das transformações sociais.” Então,

de acordo com Gamboa (1997, p. 101), a produção científica constitui uma “construção que

serve de mediação entre o homem e a natureza, uma forma desenvolvida da relação ativa

entre o sujeito e o objeto, na qual o homem, como sujeito, veicula a teoria e a prática, o pensar

e o agir, num processo cognitivo-transformador da natureza.”

O que está em causa é o estabelecimento de conexões, mediações e contradições dos

fatos que compõem a problemática investigada (FRIGOTTO, 1997). Por isso, na perspectiva

de totalidade referida por Kosik (2002), devemos buscar o estabelecimento das relações entre

parte e totalidade tendo em conta que para compreender dialeticamente a totalidade, tanto as

partes interagem e se conectam entre si e com o todo, como o todo se constitui na interação

das partes. De acordo com o autor, o conhecimento e a compreensão do todo requer fazer um

detóur: “o concreto se torna compreensível através da mediação do abstrato, o todo através da

mediação da parte.” (p. 36).

Para dar conta desse processo de análise, importa explicitar um conjunto inicial de

categorias orientadoras gerais, categorias estas decorrentes da postura teórica aqui assumida e

da forma como ocorre a aproximação do real investigado, tendo em vista pensar a realidade

considerando, além do princípio da totalidade, o do movimento, da contradição e da passagem

da quantidade para a qualidade. Afinal, são necessários “a crítica e o conhecimento crítico

para uma prática que altere e transforme a realidade anterior no plano do conhecimento e no

plano histórico-social.” (FRIGOTTO, 1997, p. 81). Esse conjunto de categorias está,

inicialmente, assim compreendido:

a) o nacional e local, tendo em vista considerar, em um contexto federativo, as

implicações de um sobre o outro na determinação de políticas e da gestão do público;

b) o instituído e o instituinte, considerando a gestão educacional (e do financiamento

da educação) como campo submetido a normas e rituais, mas também como campo em que

ocorrem interações e encaminhamentos construídos nas relações entre os sujeitos na realidade

concreta, também determinantes da produção do real;

34

c) tendências e forças determinantes, tendo em vista reconhecer a produção da

qualidade como uma construção humana, em um campo de disputas em que operam forças

orientadas para diferentes projetos de educação e de sociedade, tendo o Estado como arena

dessas disputas; e

d) financiamento para a qualidade, que busca abarcar, no plano da realidade e da

dimensão histórica, elementos determinantes do desenvolvimento de congruências e

incongruências entre gestão do financiamento da educação e construção da qualidade, assim

como perspectivas de contraposição com vistas à transformação dessa realidade.

Com essas “lentes”, o procedimento de análise ocorreu em um movimento ascendente

e articulado, considerando os desdobramentos da pesquisa. Nesse sentido, a análise dos

achados de base bibliográfica, presente nos dois desdobramentos da pesquisa, objetivou

fundamentalmente o contato com conhecimentos já produzidos e sinalizações de

tensionamentos na relação destes conhecimentos com a problemática da pesquisa. A atitude

foi, portanto, “o resgate crítico da produção teórica ou do conhecimento já produzido sobre a

problemática em jogo” (FRIGOTTO, 1997, p. 88).

Também como parte do primeiro desdobramento da pesquisa e do “resgate crítico”

aqui referido, a análise documental, na perspectiva qualitativa de pesquisa, ocorreu com vistas

a relacionar tais documentos como peças de circunstâncias sociais, como partes que nos

permitem apreender os fatos sociais na sua relação com o tempo sociocultural

(RICHARDSON, 1999). Nesse sentido, além do conteúdo do documento, busquei perceber e

destacar lugares e momentos em que se situam os documentos consultados, além de seus

atores enquanto sujeitos de uma realidade social. Conforme Pimentel (2001), o documento já

representa, em algum grau, a elaboração de uma interpretação de seu autor e, portanto, não

constitui uma mera descrição objetiva e neutra de fatos.

Como partes do segundo desdobramento, igualmente articuladas entre si e às demais,

os dados colhidos do levantamento aos bancos de dados foram analisados

contextualizadamente, considerando-os elementos que caracterizam as realidades locais na

sua singularidade e, ao mesmo tempo, em seus liames com a totalidade mais ampla da qual

participam. Essa análise assume caráter quanti-qualitativo, com vistas a favorecer a apreensão

da realidade empírica investigada.

Os esforços para estabelecer as conexões, mediações e contradições dos fatos

constituintes da problemática investigada (FRIGOTTO, 1997) compreenderam, ainda, a

análise das entrevistas. Essa análise, a partir da devida sistematização do conteúdo das

entrevistas, foi realizada de modo a se perceber para além dos dados falados.

35

Seguindo as proposições de Gaskell (2002), busquei perceber temas com conteúdo

comum e pelas funções desses temas enquanto representações centrais e periféricas em um

meio social, além de contradições que se apresentam no desenvolvimento das leituras e na

composição das opiniões dos sujeitos. Conforme Minayo (2002), devemos ir além das falas e

dos fatos, ou seja, caminhar na direção do que está explícito para o que é implícito, do

revelado para o velado, do texto para o subtexto. Assim, com base em uma perspectiva

qualitativa de análise do conteúdo das entrevistas, busquei apreender significados presentes na

fala dos sujeitos e na sua relação com o contexto no qual se inserem (FERNANDES, 1991).

Por fim, no entrecruzamento do conjunto de dados e informações, com base no

inventário crítico realizado, busquei construir a síntese analítica da pesquisa. Nesta etapa,

conforme propõe Frigotto (1997), em termos de esquema de trabalho, busquei sintetizar

determinações que explicam o fenômeno investigado, além de implicações na ação concreta

para a transformação da realidade.

Assim, além desta seção que comporta a problematização e os procedimentos

metodológicos, a dissertação conta com outras quatro partes. Na segunda seção é abordado o

tema do federalismo brasileiro, de modo a focalizar o município enquanto ente federativo e

suas atuais incumbências definidas pela Constituição Federal de 1988. Nessa abordagem,

coube também um debate sobre a atuação do município no campo da educação pública com

vistas a tecer reflexões sobre fragilidades, desafios e conquistas, assim como sobre fatores

político-institucionais, econômicos e culturais que implicam sua atuação nesse campo.

A terceira seção da dissertação, na extensão do debate contido na seção anterior, tem

por alvo o tema da qualidade da educação básica na sua relação com o campo do

financiamento e na interface com as recentes políticas educacionais. Nessa direção, enfoca a

qualidade como meta em destaque nas políticas educacionais da atualidade e como direito do

cidadão, bem como explora condições consideradas necessárias à promoção dessa qualidade e

que implicam mais diretamente na atuação do município. Por isso, tem em conta a gestão

municipal da educação e, em relação a ela, a gestão do financiamento da educação local.

A quarta seção versa sobre os resultados da etapa empírica da pesquisa. Aberta com a

caracterização geral dos municípios pesquisados, a seção traz a descrição e análise de opções

e práticas de gestão da educação que, na ótica dos sujeitos locais, implicam na relação

positiva entre gestão do financiamento e construção da qualidade educacional, bem como

elementos que apontem maior ou menor pertinência entre essas opções e práticas no campo

do financiamento e a geração de condições favoráveis à melhoria da qualidade da educação.

36

Por fim, a última seção está destinada às considerações finais, destacadamente à

apresentação de uma síntese conclusiva da pesquisa realizada.

37

2 FEDERALISMO BRASILEIRO E O MUNICÍPIO

Nesta seção abordo temas referentes ao federalismo, bem como desdobramentos em

termos conceituais que nos permitem apontar alguns reveses históricos que contribuíram para

a construção do modelo vigente no país. Além de algumas notas introdutórias que visam

justamente a essa abordagem, na subseção focalizo o município enquanto ente federado e suas

atuais incumbências constitucionais, enfatizando as contribuições trazidas pela Constituição

de 1988. Focalizo, também, o município e a educação pública de modo a apontar e tecer

reflexões sobre fragilidades, desafios e conquistas derivadas da atuação desse ente federativo,

com destaque ao setor educacional, momento em que apresento elementos colhidos de um

levantamento de estudos com a finalidade de identificar fatores político-institucionais,

econômicos e culturais que implicam sua atuação.

2.1 ALGUMAS NOTAS INTRODUTÓRIAS

Seguindo análises de Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004), na cultura política a

expressão Federalismo tem servido para designar dois objetos diferentes: a teoria do Estado

federal; e uma visão global da sociedade. Embora a reflexão que busco fazer neste trabalho

não resida neste aspecto, parece-me importante pontuar minimamente esses dois aspectos de

modo a favorecer a compreensão sobre o modelo de federalismo que experimentamos no

Brasil.

No que se refere ao primeiro objeto – a teoria do Estado Federal –, sobre ele

praticamente não há controvérsias, haja vista que na teoria, tal modelo constitucional tem sido

alvo de muitos estudos que enfocam a sua estrutura e funcionamento em seus aspectos

fundamentais. Contudo, trata-se de um significado redutivo, pois

de um lado o conhecimento de um Estado federal não é completo se não se tomam

em consideração as características da sociedade, que permitam manter e fazer

funcionar as instituições políticas. Portanto, se o Estado federal é um Estado dotado

de características próprias, que o distinguem de outros tipos de Estado, devemos

conjeturar que tenham algum caráter federal os comportamentos daqueles que vivem

nesse Estado. De outro lado, devemos revelar a presença de comportamentos

federalistas também fora de Estados federais [...] (BOBBIO; MATTEUCCI;

PASQUINO, 2004, p. 475).

Nestes termos, segundo os autores, parece haver uma superioridade do segundo modo

de conceber o Estado federal, qual seja, “como uma doutrina social de caráter global como o

liberalismo ou o socialismo, que não se reduz, portanto, ao aspecto institucional, mas

38

comporta uma atitude autônoma para com os valores, a sociedade, o curso da história e assim

por diante.” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2004, p. 475).

Assim sendo, pensar o caso brasileiro requer que consideremos uma tal trajetória

histórica, cuja organização política foi sendo marcada por diferentes regimes, embora

determinados traços aproximavam-se do modelo federativo como o que conhecemos desde o

final do século XIX.

Desde a colonização do Brasil, entre os anos de 1532 e 1534, Portugal optou por

dividir o território em quatorze capitanias hereditárias, imensos lotes de terra em que a Coroa

atribuía responsabilidade de ocupação e colonização a algum membro de sua confiança que, a

partir de então, constituía-se em capitão donatário (PEIXOTO, 2010).

Dessa divisão para fins administrativos, as capitanias foram transformadas em

províncias no ano de 1821. Apesar de a Constituição Imperial de 1824 prever que os governos

das províncias seriam presididos por pessoas nomeadas pelo Imperador, admitia que todo

cidadão detinha o direito de intervir nos negócios da sua localidade, nas Câmaras dos Distritos

e no Conselho Geral da Província. Por outro lado, os Conselhos Gerais das Províncias tinham

competência para aprovar normas específicas para gerir os negócios. Talvez porque fossem

levadas em consideração as desigualdades, a heterogeneidade e a diversidade então existentes

entre as diversas regiões e províncias, criava-se a necessidade de uma política de integração

nacional que pudesse ser compatibilizada com a autonomia que as elites e a sociedade da

época pleiteavam (CARVALHO, 1993).

De algum modo, embora traços como esses possam sugerir tratar-se de uma

progressiva evolução do processo político e administrativo no país, é fato que se trata de uma

visão distorcida da realidade, percebida por alguns como uma obra de inversão, como

escreveu Alceu Amoroso Lima:

Foi-se vendo que pouco a pouco – e até hoje o vemos ainda com surpresa, por vezes

– que o Brasil se formara às avessas começando pelo fim. Tivera Coroa antes de ter

povo. Tivera parlamentarismo antes de ter eleições. Tivera escolas superiores antes

de ter alfabetismo. Tivera bancos antes de ter economias. Tivera salões antes de ter

educação popular. Tivera artistas antes de ter arte. Tivera conceito exterior antes de

ter consciência interna. Fizera empréstimo antes de ter riqueza consolidada. Aspirara

a potência mundial antes de ter a paz e a força exterior. Começara em quase tudo

pelo fim [...] (ARAUJO, 2005, p.306).

Admitindo a tese de Amoroso Lima, é possível dizer que essa inversão pode ser

verificada em muitos aspectos da estrutura administrativa brasileira delineada em diferentes

momentos históricos. Retomemos, pois, alguns desses momentos.

39

Após a abdicação de D. Pedro I ao trono, diante da movimentação das elites agrárias

contra o excessivo centralismo do monarca, foi aprovada em 1834, como decorrência do Ato

Adicional, a Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834, que emendou a Constituição do Império para

criar uma Monarquia representativa. Adaptando princípios federalistas, os Conselhos Gerais

das províncias foram substituídos por Assembleias Legislativas. Com essa mudança

aumentou a descentralização do Estado brasileiro, que garantia às províncias funções

executivas e legislativas. Na visão de alguns historiadores, em face da evidente

descentralização após 1834, surgiu o que poderia ser considerado um “Império Federado.”

Depois, com a Constituição de 1891, veio o estabelecimento da República Federativa

como forma de governo e a regra da união perpétua e indissolúvel dos Estados membros.

Como comenta Bercovici (2004, p. 31):

Proclamada a República, o federalismo foi instituído pelo Decreto nº 1, de 15 de

novembro de 1889. As antigas Províncias foram transformadas em Estados. O

federalismo da Constituição, moldado no federalismo dualista clássico, praticamente

ignorou a cooperação entre União e entes federados.

Com base em Cruz (2012, p. 66), o “federalismo é uma organização política na qual as

atividades do governo são divididas entre governos regionais e governo central, de modo que

cada tipo de governo tem algumas atividades sobre as quais ele toma as decisões finais”.10

Uma assertiva que corrobora o entendimento de que o federalismo brasileiro instituído em

1891 não permitia aos governos subnacionais maior autonomia em decidir assuntos de

interesse regional.

Por essa razão podemos dizer que a Carta de 1891 manteve a obrigação dos Estados

membros de formarem a federação brasileira, independentemente da vontade das populações

locais, prevista no art. 6º dessa Constituição, a possibilidade de intervenção da União nos

entes federados para garantir a manutenção da federação.

É certo que fatores como esses contribuíram para que nos anos de 1930, durante o

período Vargas, fosse acentuada a centralização pelo governo federal, com a restrição da

autonomia administrativa e política dos Estados membros. Lembremos que o Decreto n.º

19.398, de 11 de novembro de 1930, dissolveu o Congresso Nacional e cassou os mandatos de

10

Peruzzo (2012), com base em Ataliba (1980) registra que, para ser considerado um Estado Federal, são

necessárias sete características: a existência de uma Constituição, na qual estejam estabelecidas as

competências dos Estados-membros e da União; o poder constituinte, próprio de cada Estado, que disciplina

toda a matéria de sua esfera de competência; a existência de um território próprio para cada Estado, onde

estarão assentados os cidadãos; a existência de povo próprio; o poder de cada Estado fixado e compatível com

as atribuições da Constituição Federal; a existência, no órgão legislativo da União, da representação

proporcional do povo de cada Estado-membro; e a existência de uma Corte Constitucional, que garanta a

aplicação da Constituição Federal, pois esta é a “expressão da vontade de todos os Estados”.

40

todos os Governadores e Prefeitos, sendo nomeados interventores em cada Estado-membro. O

Decreto também previu a competência dos Interventores Estaduais para nomear os tais

mandatários. Dos atos dos Interventores Estaduais só cabia recurso ao Presidente da

República. Interessante observar que apesar de todo o centralismo, o Decreto n.º 19.398

manteve em vigor as Constituições e as Leis estaduais de reforçar a autonomia financeira dos

Estados-membros e de garantir que a nova Constituição a ser elaborada mantivesse o sistema

federativo.

Já a Constituição de 1937 – outorgada por Getúlio Vargas –, embora tenha mantido a

competência remanescente dos Estados-membros, ampliou as hipóteses de intervenção da

União nos entes federados (art. 21). Se acaso o Estado-membro não fosse capaz de arrecadar

impostos suficientes para a manutenção dos seus serviços, poderia ser transformado em

território da União.

A Constituição de 1946 devolveu formalmente a autonomia administrativa e política

aos estados membros. Isso, no entanto, foi novamente afetado pelo golpe militar de 1964. A

Constituição de 1967 construiu um federalismo meramente nominal, pois a competência da

União ainda era muito forte restando aos Estados federados pouca opção de ir de encontro a

determinações emanadas do poder central.

Do que se viu até aqui, já é possível depreender, ainda que provisoriamente, que a

experiência brasileira em matéria de organização política sempre foi marcada por uma forte

atuação do poder central, o que em muito contribui para o sentimento de dependência nutrido

pelos cidadãos dos estados membros, uma dependência quase natural em relação aos poderes

emanados da União.

A essa altura, importa dizer que o desenvolvimento de uma organização política é

sempre uma tarefa complexa, até porque em todas as nações existem particularidades que

precisam ser levadas em consideração quando se analisa a forma de governo ali presente. A

esse respeito, tomamos a posição de Cruz (2012, p. 68), quando afirma:

Existem condições bem diferenciadas de organização do federalismo entre os países,

assim como condições socioeconômicas, culturais e políticas condicionadas por

inúmeros elementos, como natureza, número de habitantes, extensão dos estados-

membros, diferenças estruturais no desenvolvimento econômico, relação entre

territorialidade e identidade nacional, incluindo estruturas étnico-culturais,

linguísticas e confessionais.

Situado assim o federalismo brasileiro, antes de trazer à tona as muitas alterações

introduzidas pela Constituição de 1988, designada pelo Deputado Constituinte Ulysses

Guimarães como a “Constituição Cidadã”, trago um excerto de um discurso de Rui Barbosa

41

proferido no Senado Federal em 1890, intitulado “Organização das Finanças Republicanas”,

quando já se vislumbrava a instalação do federalismo. Não houvesse a data e o autor desse

discurso devidamente situados, o leitor brasileiro atento à sua história poderia, em princípio,

imaginar tratar-se de um discurso atual. Dizia Rui Barbosa, conforme anota Souza, (2010, p.

3):

Senhores, não somos uma federação de povos até ontem separados, e reunidos de

ontem pra hoje. Pelo contrário, é da união que partimos. Na união nascemos. Na

união se geraram e fecharam os olhos nossos pais. Na união ainda não cessamos de

estar. Para que a união seja a herança de nossa descendência, todos os sacrifícios

serão poucos. A união é talvez, o único benefício sem mescla, que a monarquia nos

assegurou. E um dos mais terríveis argumentos, que a monarquia ameaçada viu

surgir contra si, foi o de que o seu espírito centralizador tendia a dissolver a união

pela reação crescente dos descontentamentos locais. Para não descer abaixo do

Império, a República, a Federação, necessita de começar mostrando-se capaz de

preservar a União, pelo menos tão bem quanto ele. Quando, sob as últimas trevas do

regime extinto, começou a alvorecer entre nós a aspiração federalista, o mais

poderoso espantalho agitado pela realeza contra ela era a desintegração da pátria, a

dissolução da nossa nacionalidade pelo gênio do separatismo inerente, segundo os

seus inimigos, à forma federativa. Esse receio foi o grande embaraço, que obstou por

longo tempo o bom êxito das esperanças republicanas; e, se hoje o rumo de nossos

primeiros passos não desvanecer essas apreensões; se as primeiras medidas adotadas

pelo Congresso não demonstrarem que o mais firme dos nossos propósitos é manter

inteira, incólume, indivisível, sob um forte governo nacional, a grande pátria

brasileira, então a república terá sido a mais dolorosa de todas as decepções para os

amigos do país.

Passados quase 100 anos desse discurso, o país chegou a sua sétima Constituição

Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, situação que pode ser indicativa de uma

instabilidade institucional da nação, também refletida na falta de compromisso dos

representantes eleitos para o Congresso Nacional, cujos discursos, em sua grande maioria,

perderam a seriedade e coerência que demarcaram a posição de Rui Barbosa.

A nova Carta trouxe aos cidadãos brasileiros a certeza de um novo tempo. Resgatou

os princípios federalistas procurando refazer o equilíbrio necessário entre o poder central e os

poderes dos estados e municípios, na perspectiva do Estado democrático de direito. No

entanto, na visão de Nardi (2008, p. 112), “históricas condições políticas mantêm presentes

traços patrimonialistas, capazes de importantes desfavores à expansão local da lógica

democrática.”

Apesar das prerrogativas constitucionais inauguradas pela nova Constituição, tendo

em vista uma melhor qualidade de vida do brasileiro, a maioria da sociedade brasileira

continua, infelizmente, convivendo com as desigualdades sociais há muito presentes na

realidade do país. Essas acentuadas desigualdades são, a meu ver, peças constituintes dos

desfavores referidos por Nardi (2008). E o são por várias razões, como a mencionada por

42

Araújo (2012, p. 51), reportando-se aos indicadores educacionais no país. Segundo este autor,

tais indicadores reforçam a comprovação de que “mais de um século de federalismo não foi

eficiente para uma consistente redução das desigualdades territoriais”, desigualdades estas

que, no entendimento de Bercovici (2004, p. 71) tem passado ao largo das prioridades do país:

No Brasil, a decisão de descentralizar está, irremediavelmente ligada à questão

histórica das desigualdades regionais, que nunca foram encaradas como prioridade

nacional máxima. Desta forma, sem uma real preocupação com as desigualdades

regionais, os efeitos da própria descentralização se tornam limitados. E na questão

das disparidades regionais, o papel da União é fundamental: os entes federados não

podem suprir o planejamento e decisões que exigem visões supra-regionais, nem

têm como obter, isoladamente, grandes recursos.

A esse respeito, também Conciani e Santos (2009) refletem sobre a necessidade e

alcance da descentralização que caracteriza o nosso modelo de federalismo, assinalando que,

em vista da sua formação histórica e o curso das políticas econômicas ditado pelo mundo

globalizado, somos chamados a repensar esse modelo na atualidade, em razão de seu caráter

centralizador.

Pensar em descentralização, desigualdades e disparidades regionais tendo em vista

elementos como os aqui referidos permite-nos, a meu ver, trazer à tona aspectos da história de

um federalismo construído entre avanços e recuos. No entanto, permite-nos também perceber

a afirmação progressiva do município como ente federado chamado à execução de políticas

sociais nas mais diferentes áreas de abrangência, haja vista o curso e a complexidade que vai

assumindo a sociedade brasileira. Por essa razão e na continuidade desse debate passo a

enfocar mais especificamente as responsabilidades e incumbências dos municípios, advindas

da nova Carta Constitucional do final do século XX.

2.2 O MUNICÍPIO COMO ENTE FEDERATIVO E SUAS ATUAIS INCUMBÊNCIAS

De acordo com Tomio (2002), a Constituição Federal de 1988, ao instituir novo

modelo de estrutura federativa, proporcionou aos entes municipais um grau de emancipação

raramente encontrado em outros países. A esse respeito, Abrucio (2010, p. 46) é ainda mais

enfático ao afirmar que “nessa linha o Brasil se tornou uma das pouquíssimas federações no

mundo a dar status de ente federativo aos municípios”, posto terem sido reconhecidos como

membros da federação, agora “em pé de igualdade com os Estados no que diz respeito a

direitos e deveres ditados pelo regime federativo” (REZENDE, 2001, p. 335).

Posicionamentos reforçados por Resendes (2010, p. 247) quando afirma:

43

[...] o município, no sistema federativo brasileiro, é contemplado como peça sui

generes pelo texto constitucional de 1988 que, ao efetuar a repartição de

competências, estabeleceu três ordens governamentais diferentes: a federal, a

estadual e a municipal, inovando o modelo federativo adotado pelos demais Estados

na ordem internacional.

Certamente, essa foi a marca de maior destaque na Constituição de 1988. Embora em

todas as Constituições Federais, com exceção à de 1937, o município era mencionado como

organização política e autônoma; somente com a Carta de 1988 ele é elevado à categoria de

ente federado11

dotado de autonomia e com uma série de incumbências, inclusive no que diz

respeito à proteção dos munícipes por meio da promoção do seu bem estar. Para isso, cabe-lhe

implantar programas voltados para o desenvolvimento do ser humano, tendo por alvo os

diversos setores sociais, sobretudo os da saúde, educação e assistência social.

Desse modo, o setor público foi redefinido, resultando na transferência de novas

funções para as instâncias municipais e estaduais (GOMES; SILVA; SILVA, 2005). A esse

respeito, cabe mencionar o que dispõe o Art. 30 da Constituição Federal, acerca das

competências dos municípios:

Art. 30. Compete aos municípios:

I – legislar sobre assuntos de interesse local;

II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas

rendas sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos

prazos fixados em lei;

IV – criar, organizar e suprimir Distritos, observada a legislação estadual;

V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os

serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem

caráter essencial;

VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,

programas de educação infantil e de ensino fundamental;12

VII – prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços

de atendimento à saúde da população;

VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante

planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;

IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a

legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Os dispositivos legais contidos nesse artigo dão a dimensão da responsabilidade dos

municípios, embora o peso de algumas circunstâncias como, por exemplo, as diferenças

regionais e as disparidades populacionais tornem, muitas vezes, a concretização do teor dessas

incumbências uma tarefa difícil ou mesmo incompleta.

11

Cabe assinalar que as posições a respeito da doutrina do município como ente federativo ainda são dissonantes.

Silva (2006), por exemplo, defende que o município não se enquadra na Federação. Segundo o autor: “Não

existe Federação de Municípios. Existe Federação de Estados.” (p. 302). Por outro lado, como se sabe,

prepondera tese de que o município tem natureza de ente federativo, como se pode verificar em Bastos (1996). 12

Nova redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006.

44

No que tange à estrutura fiscal, é importante destacar que após a Constituição de 1988

a descentralização fiscal passou a ocorrer de forma gradual, de modo que estados e

municípios passassem a contar com maiores percentuais da receita. Cabe observar, no entanto,

que muitos estudos têm demonstrado que a longa tradição de fisiologismo e clientelismo que

acompanha o poder público torna os governos subnacionais altamente permeáveis à influência

das elites locais, implicando no mau uso do dinheiro público (ABRUCIO, 1999).

Diante da nova realidade federativa, coube às Câmaras Municipais a responsabilidade

de elaborar as respectivas Leis Orgânicas a fim de dar cumprimento às novas atribuições dos

municípios. Na elaboração das Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) fez-se necessário

observar com responsabilidade e rigor os preceitos da Constituição Federal consoante às

atribuições de cada ente federado. A LDO representa, justamente, o marco mais significativo

para os municípios, pois é ela que estabelece as bases para a organização política local, além

de possibilitar mudanças significativas no plano institucional. A partir daí o município passou

a ter que dar conta de dois grandes desafios: assumir a política social que até então estava

concentrada na esfera federal; e promover o desenvolvimento local (GOMES; SILVA;

SILVA, 2005).

Podemos dizer que a dinâmica dessa nova organização político-administrativa não

constituiu tarefa fácil aos municípios, uma vez que passaram a lidar com circunstâncias novas,

muitas das quais pouco experimentadas noutros tempos, além de terem de conciliar os

interesses locais com os gerais da federação e de coordenar diversos esforços, muitas vezes

sem condições concretas para empreendê-los. Até porque, conforme assinala Nardi (2008), o

colonialismo do passado brasileiro influenciou a organização do Estado nacional, que herdou

daquele as estruturas sociais e também o conservadorismo.

Cabe destacar, na linha de análise de Abrucio (2010), cinco grandes pilares presentes

na Constituição de 1988: o primeiro é o da busca da universalização das políticas, com o

intuito de obter a garantia plena dos direitos sociais; o segundo é o da democratização da

gestão estatal, tanto no que se refere à participação no plano deliberativo, como no campo do

controle do poder público; o terceiro é o da profissionalização da burocracia, por meio dos

concursos e carreiras públicas, tomada como uma condição essencial para a qualidade na

formulação e implementação das ações governamentais. Os dois últimos pilares interligam-se

e fazem parte da dinâmica federativa: trata-se de uma descentralização, preferencialmente em

prol da municipalização das políticas e a preocupação com a interdependência federativa na

forma de medidas de combate à desigualdade, de preocupações em torno da cooperação

intergovernamental e da definição de um raio importante de ações federais.

45

O conteúdo expresso no primeiro pilar – a universalização das políticas – contribuiu

de maneira significativa para que o município ganhasse o status de ente federativo.

Convivendo ao longo da sua história com as marcantes desigualdades regionais, o país tinha a

consciência de que se não houvesse uma redistribuição de atribuições, seria difícil o

enfrentamento dessas desigualdades. Mas, pensar apenas na redistribuição sem oferecer aos

entes federados as reais condições de atendimento não seria o bastante, sendo esta uma

questão ainda muito presente nos debates sobre o alcance das políticas públicas em nível

municipal, especialmente naqueles com menor força orçamentária.

Um fato sobremodo agravante na questão do cumprimento e alcance das incumbências

atribuídas ao município parece ter sido um aumento exagerado do quadro de emancipações

ocorridas nos últimos tempos. Pequenas localidades com uma população diminuta foram,

segundo essa tese, ascendidas à categoria de município sem apresentar um mínimo de

condições favoráveis ao atendimento das necessidades básicas da população.13

Esse

movimento só foi interrompido com a promulgação da Emenda Constitucional nº 15, de 12 de

setembro de 1996, que alterou a redação do § 4º do art. 18, determinando a necessidade de

uma lei federal para que isso pudesse acontecer.

Uma observação pertinente é que o número de municípios criados variava bastante por

estado, sem que houvesse uma evidente correlação entre essa quantidade e o porte

populacional. Um exemplo claro foi a Lei Complementar nº 1, de 9 de novembro 1967,14

que

exigia o mínimo de cem eleitores locais, mas que depois, em muitos estados, passou a

depender apenas da iniciativa de um parlamentar estadual. A tabela a seguir mostra a

evolução do número de municípios, por regiões do país, da década de 1940 a 2000.

13

Acerca dessa questão existem opiniões divergentes. Há os que defendem a criação de novos municípios

entendendo que a descentralização político-administrativa traz benefícios para a população, enquanto a

corrente contrária argumenta que a criação de novos municípios gera um aumento de despesas com os serviços

das administrações municipais, tanto no poder executivo quanto no legislativo, desproporcional à capacidade

de arrecadação que possuem (FÁVERO, 2004). 14

Essa Lei Complementar foi alterada pela Lei Complementar nº 46, de 21 de agosto de 1984, que passava, na

vigência da Constituição Federal de 1967, a estabelecer os requisitos mínimos de população e renda pública e a

forma de consulta prévia às populações locais para a criação de novos municípios, e dá outras providências.

46

Tabela 1 – Número de emancipações político-administrativas de municípios, por região do país – Anos de 1940

a 200015

REGIÃO

DÉCADAS

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Norte 88 99 120 143 153 298 449

Nordeste 584 609 903 1376 1375 1509 1791

Sudeste 641 845 1085 1410 1410 1432 1668

Sul 181 224 414 717 719 873 1189

Centro Oeste 80 112 244 306 317 379 463

TOTAL 1574 1889 2766 3952 3974 4491 5560

Fonte: elaborado pela autora com base em dados do IBGE.

Perceber esses dados em seu conjunto pode nos auxiliar na compreensão das

dificuldades que passaram a enfrentar muitos dos recém criados municípios para atender as

necessidades de suas comunidades, como as de educação, saúde, saneamento, habitação,

segurança, esporte, lazer, cultura entre outras. Um leque demasiado que pode resultar em

grandes limitações para um número expressivo de municípios que não reúnem condições

suficientes para fazer face às demandas, como a capacidade de arrecadação dos impostos,

embora possam fazer grande diferença na promoção de melhores condições de vida da

população, como demonstrou Peruzzo (2012). A esse respeito, Pinto (2012, p.161) analisa:

[...] de cada R$ 100 arrecadados em tributos no país, o Governo Federal arrecada R$

70; os estados, R$ 25; e os municípios, apenas R$ 5. Portanto, boa parte dos

municípios brasileiros possui uma capacidade mínima de arrecadação, o que

acontece porque os principais tributos municipais (Imposto sobre a Propriedade

Predial e Territorial Urbana – IPTU – e Imposto sobre Serviços de Qualquer

natureza – ISS) só têm um potencial significativo de arrecadação nos de maior porte,

os quais [...] são a minoria. Em resumo, que prefeito de cidade pequena buscará

ampliar a receita de IPTU, sabendo que sofrerá uma forte pressão contrária da classe

média e rica local (à qual ele pertence), com baixo retorno econômico?

Na esteira do pensamento de Pinto (2012), a sinalização de que pesam aos municípios

os efeitos de uma partilha descompassada de recursos e que esta é agravada pelas grandes

diferenças na capacidade de recolha de impostos entre eles, importa dizer que essa

repercussão frequentemente é agravada pela gestão dos recursos, como temos conhecido, por

exemplo, no âmbito da educação. Para adentrarmos um pouco mais nesse debate, na próxima

15

Importa considerar que, em período seguinte ao apontado na Tabela 1, ou seja, entre 2000 a 2015, foram

emancipados somente dez outros municípios.

47

subseção procuro explorar fragilidades, desafios e conquistas no plano da oferta e gestão da

educação pública pelo município.

2.2.1 Município e educação pública: fragilidades, desafios e conquistas

Para responder aos desafios impostos aos municípios em sua fase de ente federativo

autônomo, inaugurada pela Constituição Federal de 1988, é necessário, de imediato, assinalar

a diversidade de condições socioeconômicas que marca o país, com a consciência de que essa

realidade tem sido, ao longo da história do Brasil, um entrave ao alcance de muitos objetivos,

sobretudo na área educacional.

Entendo que um fator determinante para esse entrave é a falta de uma coordenação

federativa das ações, o que inclui, obviamente, as que estão sob a responsabilidade da esfera

municipal, afinal para inúmeros municípios brasileiros tudo foi muito novo em termos de

atribuições.

Araújo (2005) destaca duas razões que explicitam a necessidade dessa coordenação na

ação estatal. A primeira diz respeito às desigualdades (financeiras, técnicas e de gestão) entre

os entes federados na capacidade de prover políticas públicas, com notáveis limitações por

parte dos governos subnacionais. A segunda diz respeito à ausência de mecanismos

constitucionais ou institucionais que regulamentem e estimulem a cooperação, na perspectiva

de que a relação competitiva entre os entes, por meio de seus gestores, seja contraposta pelo

exercício programático da cooperação com efeito nos e entre os sistemas de ensino.

É importante destacar que, por um longo período da história do Brasil, a educação

básica ficou praticamente sob a responsabilidade dos estados16

, com as estatísticas

demonstrando, por exemplo, uma enorme superioridade no número de alunos matriculados no

ensino fundamental das redes estaduais quando em comparação com as redes municipais.17

Mais recentemente, diante dos desafios impostos pela autonomia concedida pela

Constituição Federal de 1988, os municípios empenham-se no desenvolvimento de

mecanismos voltados à oferta de educação de qualidade às suas crianças e adolescentes, um

desafio imenso diante de estatísticas que estampam uma realidade nada animadora. Conforme

16

O processo de descentralização do ensino no Brasil foi iniciado com o Ato Adicional de 1834, quando o poder

central delegou às Assembleias Provinciais, dentre outras competências, a de legislar sobre o ensino público.

(PAIVA, 1997). 17

Dados de 1997 dão conta da grandeza dessas diferenças, tendo em vista o percentual de matrículas do ensino

fundamental nas redes estaduais. Alguns exemplos: Acre, 67,3%; Amazonas, 62,6%; Amapá, 84,4%; Pará,

58,6%; Rondônia, 66,2%; Tocantins, 65,6%; Goiás, 67,1%; Espírito Santo, 69.8%; Minas Gerais, 73,7%; São

Paulo, 81,2%; e Santa Catarina, 62,3% (BRASIL, 1999).

48

dados compilados a partir de resultados de 2011 do Sistema de Avaliação da Educação Básica

(Saeb) e da Prova Brasil, apenas 10,3% dos alunos brasileiros terminam o ensino médio

dominando realmente os conteúdos em matemática - ou seja, quase 90% dos alunos não

aprendem o esperado. Estudos também revelam que mais de 60% dos alunos do 5º ano não

conseguem interpretar textos simples e que cerca de 60% dos alunos do 9º ano não

interpretam textos dissertativos. Fortalece essa imagem dados da Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo os quais, no ranking da

educação de 36 países, o Brasil ocupa a penúltima posição, à frente apenas do México

(OCDE, 2011).

Diante do desafio que sugerem dados como esses, importa assinalar a recente análise

de Pinto (2012) de que, mesmo com a municipalização da educação, praticamente metade dos

municípios ainda não se organizou enquanto sistema de ensino (dependendo, portanto, da

normatização estadual para gerir suas escolas) e que mais de um quinto sequer possui um

Conselho Municipal de Educação (CME). O autor também aponta como fator preocupante o

fato de quase metade dos municípios, incluindo os grandes, declararem não possuir Plano

Municipal de Educação (PME), condição essencial para o planejamento adequado das

condições de oferta e atendimento, embora a recente aprovação do novo PNE tenha

impulsionado tal providência.

Para entender melhor essa ampliação do papel do município no setor educacional e a

própria transformação do cenário em que passa a se situar esse ente federativo, importa

revisitarmos elementos de quatro documentos legais vigentes após a promulgação da

Constituição Federal de 1988, a saber: a) a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – Lei nº 9.394/96; b) o Fundef e, na sequência dele, o Fundeb; e c) os PNE 2001-

2010 e 2014-2024. Vale dizer, conforme escreve Dourado (2007, p. 923), que os princípios

emanados desses documentos precisam se concretizar no âmbito dos sistemas de ensino “de

modo a propiciar elementos para a compreensão dos processos de regulação e financiamento,

bem como os arranjos institucionais que contribuem para a materialidade das políticas de

gestão e organização educacionais no Brasil.”

Com a promulgação da Nova Carta Constitucional ficou implícita a necessidade de

adequação da legislação educacional à nova realidade constitucional, motivo pelo qual (ainda

que não exclusivo), após oito anos de tramitação no Congresso Nacional fora aprovada, em 20

de dezembro de 1996, a nova LDB.

Durante o processo de tramitação e discussão da LDB, o regime de colaboração

figurou como um dos principais temas de debate. Todavia, o texto final resultou em uma lei

49

com a concepção de Estado mínimo (SAVIANI, 1997), quando se limitou a definir um

capítulo denominado “Organização da Educação Nacional”, tendo sido deixado de fora do

texto normas mais específicas de como se daria, de fato, o regime de colaboração e até mesmo

sanções no caso da não efetivação do mesmo.

O sonho de muitos educadores envolvidos na discussão acerca de um Estado-educador

compreendia, em linhas gerais, a garantia, pelo Estado, do acesso e permanência da população

à escola, uma aposta que há muito tem mobilizado lutas em defesa da educação pública no

país. Nunca é demais lembrar que, no ano de 1932, os “Pioneiros da Educação Nova”

lançavam o manifesto em defesa da escola pública, laica, gratuita e de qualidade para todos.

Também que, em 1950, Florestan Fernandes assinara documento com o mesmo objetivo, ou

seja, a defesa da escola pública. Neste caso, estamos falando de um intelectual, militante e

parlamentar que desenvolveu estudos sobre as classes na formação social brasileira

assinalando que a tarefa republicana exigira o protagonismo dos trabalhadores expropriados.

Nesse sentido, seu engajamento a favor de um projeto de nação se deu a partir da ótica dos

que historicamente foram desprovidos do acesso à educação pública (LEHER, 2006).

Como referi, a busca pela escola pública de qualidade tem atravessado diferentes

momentos da história da educação brasileira e neles há muitas evidências de que os objetivos

traçados foram frequentemente atropelados por circunstâncias que os desfavorecem. O

lançamento do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP), ocorrido em Brasília

no ano de 1987, foi essencial para reacender os objetivos que desde a década de 1930 haviam

sido expressos por aqueles que lutaram por uma escola pública laica e de qualidade no país.

Foi a partir dos debates no FNDEP, abertos à participação da sociedade civil, que nasceu a

atual LDB, embora tenham sido dois os projetos que fizeram parte do embrião da lei.

Durante os oito anos de tramitação no legislativo nacional, o projeto de LDB originado

do movimento dos educadores recebeu uma quantidade razoável de emendas, sendo aprovado

o segundo que, lamentavelmente, acolheu menor conjunto de propostas nascidas da sociedade

civil. A aprovação do segundo projeto foi uma demonstração clara do projeto neoliberal de

educação, vinculado às políticas do Banco Mundial para a educação na América Latina e, em

especial, para o Brasil. Conforme registram Mota Junior e Maués (2014, p. 1138), com base

em diversos estudos da área da educação, é na década de 1990 “que se aprofundam as

relações entre este organismo internacional e o governo brasileiro, o que impactou

profundamente os rumos das políticas educacionais adotadas no país desde então.”

O país possuía então uma nova legislação referente às diretrizes educacionais. A nova

lei define, em seu artigo 4º, inciso IX, em consonância com o primeiro parágrafo do Art. 211

50

da Constituição Federal de l988, que o dever do Estado para com a educação escolar pública

será efetivada mediante a garantia, entre outros, de “padrões mínimos de qualidade de ensino,

definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao

desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem” o que implica o atendimento ao

direito à educação em sua expressão máxima, efetivado em todo o território nacional

(FLACH, 2009).

Diante dessa referência, recorro ao pensamento de Oliveira (2005, p.6), segundo o

qual:

nunca houve, de fato, um debate público consistente sobre a melhoria da qualidade

do ensino oferecido pela escola pública brasileira. Os nossos políticos primaram pela

construção de escolas para toda a população, sem que fosse dada a ênfase necessária

na questão da qualidade do ensino a ser oferecido por essas escolas.

Acerca desse quadro normativo também é importante assinalar que a nova LDB

pormenorizou a atuação do município no campo educacional enquanto sistema de ensino,

ainda que tal condição tenha sido referida na Constituição Federal. Observe-se, por exemplo,

o disposto no artigo 11 da citada lei, que versa sobre as incumbências desse ente federativo no

campo da educação, afora uma série de outros dispositivos sobre, por exemplo, a oferta, a

gestão e o financiamento da educação pública.

Na esteira da constituição de novas bases legais para a educação brasileira, também foi

implantado o Fundef. Decorridos oito anos da promulgação da Constituição Federal, fora

promulgada, em 12 de setembro de 1996, a Emenda Constitucional nº 14, que modificou os

artigos 34, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e deu nova redação ao art. 60 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias, que passou a vigorar com o seguinte conteúdo:

Art. 60. Nos dez primeiros anos da promulgação desta emenda, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios destinarão não menos de sessenta por cento dos

recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal, à manutenção e

ao desenvolvimento do ensino fundamental, com o objetivo de assegurar a

universalização de seu atendimento e a remuneração condigna do magistério.

Assim, a Emenda Constitucional deu origem à Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de

1996, que regulamentou o Fundef, fundo implantado nacionalmente em 1º de janeiro de 1998,

quando passou a vigorar uma nova sistemática de redistribuição dos recursos destinados ao

Ensino Fundamental.

O Fundef foi inspirado na orientação de organismos internacionais e conferia

priorização ao ensino fundamental. Apesar da promessa de desenvolver o ensino fundamental

51

e valorizar o magistério, o fundo praticamente não apresentou recursos novos para o sistema

educacional brasileiro como um todo, pois apenas promovia uma redistribuição de recursos

em âmbito estadual, entre o governo estadual e os municípios, considerada uma parte dos

recursos vindos de impostos que já era vinculada à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

(MDE), tendo por base o número de matrículas no ensino fundamental regular das redes de

ensino estadual e municipal.

Na certeza de que a história da educação nos oferece elementos com os quais se pode

compreender melhor os acontecimentos mais recentes, lembro que na década de 1960 o

educador Anísio Teixeira havia apresentado uma proposta de fundo. Árduo defensor da escola

pública e preocupado com o financiamento da educação, o educador apresentou uma proposta

de aplicação de recursos de forma permanente para o ensino primário. Em sua proposta, o

educador definia o volume de recursos a partir do estabelecimento do salário dos professores.

(AMARAL, 2001).

À época, vigorava a Constituição Federal de 1946, que estabelecia a educação como

direito dos brasileiros, o ensino primário obrigatório, sendo o oficial gratuito para todos,

inclusive o ensino ulterior ao primário àqueles que provassem a falta ou insuficiência de

recursos.

Qual seria, então, a diferença entre essas duas propostas? Enquanto o Fundef propunha

uma redistribuição de recursos entre municípios dentro de um mesmo estado, recursos esses já

existentes e, a partir daí, fixar um custo médio anual nacional por aluno, as ideias de Anísio

iam além. Havia na sua proposta uma preocupação com a qualidade do trabalho do professor,

daí sua defesa pela ligação do fundo com o salário do docente. Ademais, na proposta de

Anísio Teixeira os recursos não seriam redistribuídos apenas dentro dos municípios de um

mesmo estado, mas em uma permanente articulação entre União, estados e municípios.

Assim como o Fundef, que prevê a criação de Conselhos de Acompanhamento e

Controle Social (CAC), com a atribuição de supervisionar a aplicação dos recursos, bem

como o Censo Escolar anual, Anísio Teixeira também propunha a criação de conselhos de

educação dos quais fizesse parte pessoas com um alto grau de autonomia administrativa.

Convém destacar que a Lei nº 5.692/71 também estabelecia a vinculação de recursos

financeiros da União para os estados e municípios, visando corrigir diferenças regionais de

desenvolvimento econômico dos entes federados, determinando, inclusive, a criação de um

estatuto em cada sistema de ensino que estruturasse a carreira do magistério de 1º e 2º graus,

conforme fixava o art. 36. O parágrafo 1º do art. 54 da Lei estabelecia:

52

§ 1º A concessão de auxílio federal aos sistemas estaduais de ensino e ao sistema do

Distrito Federal visará a corrigir as diferenças regionais de desenvolvimento

socioeconômico, tendo em vista renda “per capita” e população a ser escolarizada, o

respectivo estatuto do magistério, bem como a remuneração condigna e pontual dos

professores e o progresso quantitativo e qualitativo dos serviços de ensino verificado

no biênio anterior.

Esses elementos nos possibilitam constatar que a engenharia institucional

característica do Fundef não foi totalmente inédita.

Mas, qual a razão de estabelecer aqui esses paralelos? Em boa medida, para ilustrar o

que apontei na introdução deste trabalho recorrendo a Bittar e Bittar (2012, p. 160), para

quem a incorporação de princípios democráticos sem que sejam realmente postos em prática

constitui traço recorrente das políticas educacionais no Brasil.

No caso em tela, temos que o fundo proposto por Anísio Teixeira sequer foi

transformado em lei, mas após 36 anos do lançamento da proposta vemos o governo brasileiro

propor um fundo justamente nos moldes daquele almejado pelo educador, embora com uma

estrutura distante daquela, inclusive quanto ao alcance na valorização do profissional da

educação. Vejamos, pois, sobre a constituição do fundo do final da década de 1990.

Na época, o governo federal anunciava amplamente que a implantação do Fundef seria

a “salvação da pátria”, embora as evidências ao longo da década de vigência do fundo tenham

dado conta de que não foi isso que aconteceu. Dados oficiais comprovam que o Governo

Federal (seja de FHC, seja de Lula) não cumpriu o dispositivo da Lei que estabelecia o

critério de cálculo do valor mínimo nacional, que serviria de base para o cálculo da

complementação federal.

Essa irregularidade, reconhecida no relatório do Grupo de Trabalho criado pelo MEC

em 2003 (BRASIL, 2003), resultou na não participação do Governo Federal na ordem de mais

R$ 12,7 bilhões de 1998 a 2002. Como tal irregularidade continuou entre 2003 a 2006, a

dívida do Governo Federal com o Fundef, alcançou um valor em torno de R$ 30 bilhões até o

final de 2006, posto que, de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), em relatório

sobre as contas da União em 2004 (BRASIL, 2005), a complementação deveria ter sido em

torno de R$ 5 bilhões só em 2004, valor muito distante dos R$ 485 milhões praticados.

Com base nesses dados, a complementação devida só no governo Lula alcançou R$ 20

bilhões, valor que, acrescido aos R$ 12,7 bilhões não aplicados pelo governo de FHC,

totalizariam mais de R$ 30 bilhões (DAVIES, 2006). Uma estatística sinaliza quanto mais o

fundo poderia contribuir para diminuir os efeitos da falta de recursos em muitos municípios,

53

especialmente os da região Nordeste do país, onde muitas vezes os salários dos seus

professores mantinham-se em um patamar próximo a um terço do salário mínimo.

Se, de um lado, muitas foram as lacunas deixadas pelo Fundef – como a prática do

baixo valor mínimo por aluno/ano, a reduzida participação da União no montante do Fundo, a

competição por alunos praticada entre redes estadual e municipais, a ineficiência dos

conselhos de acompanhamento e controle social e, talvez o ponto mais nefrálgico, as

repercussões negativas do fundo na educação infantil e no ensino médio –, de outro, parece-

me importante destacar a contribuição que o fundo trouxe no sentido de amenizar as

estatísticas difíceis da realidade crônica em municípios, sobretudo das regiões Norte e

Nordeste do país, como foi o caso da oportunidade de qualificação dos profissionais da

educação.

Vale lembrar que, de acordo com o parágrafo único do art. 7º da Lei nº 9.424/96, nos

primeiros cinco anos de vigência da lei, 60% dos recursos poderiam ser utilizados para a

qualificação do professor leigo, à época uma figura muito recorrente no Nordeste do país. Já o

art. 9º estabelecia a obrigatoriedade de os sistemas de ensino criarem seus Planos de Cargos e

Salários, do que decorria o fato de garantir ao professor leigo, após sua qualificação, entrar

para o quadro de profissionais dos respectivos sistemas de ensino.

Como sabemos, na fase inicial da implantação do Fundo foi grande a expectativa

quanto a um reforço nas condições de financiamento e, portanto, de melhoria da qualidade da

educação. A Lei nº 9.424/96 parecia estabelecer direcionamento para uma aplicação mais

eficaz dos recursos da educação, o que parecia ser reforçado, por exemplo, com a criação de

conselhos de acompanhamento e controle social do Fundo.

A distribuição dos recursos segundo o quantitativo de matrículas do ano anterior

constituía outro fator com potencial para promover certo equilíbrio no padrão de investimento

nas diferentes regiões e estados do país. Foi neste contexto e no curso de uma adaptação às

novas regras do jogo de financiamento para o ensino fundamental que o município tendeu à

ampliação de sua matrícula nesse nível de ensino, constituindo, ao longo dos anos, o mais

amplo processo de municipalização do ensino assistido até então no país (OLIVEIRA, 1999,

2008; KRAWCZYK; VIEIRA, 2008; NARDI, 2011).

Vale mencionar que, com a implantação do Fundef em janeiro de 1998, o Fundo

Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) enviou correspondência a todos os

prefeitos do país para informar sobre a operacionalização dos recursos do Fundo em conta no

Banco do Brasil e que o gestor desses recursos deveria ser o Secretário de Educação.

54

A esse respeito, tendo em conta a existência de muitos casos de desvios e malversação

de verbas da educação, como frequentemente informam os noticiários do país, vejo que a

retirada do encargo de gestão direta dos recursos por parte dos secretários de educação soa

desfavorável a uma melhor aplicação dos recursos do setor, ainda que tal medida não

constitua necessariamente uma garantia. Inclusive porque é sabido que dirigentes municipais,

quando subservientes a interesses de seus superiores, também contribuem para que

determinadas condutas na gestão da educação sigam na contramão da construção da qualidade

almejada.

A Tabela 2, a título de exemplificação da dimensão dessa problemática, registra a

situação dos estados da federação no que diz respeito a denúncias de fraudes e de má gestão

dos recursos do Fundef.

Tabela 2 – Distribuição por estado dos municípios com denúncias de fraude e má gestão do Fundef no período

de 1998 a 2003

ESTADO MÁ GESTÃO FRAUDE MÁ GESTÃO E/OU

FRAUDE

AC 1% 4% 1%

AL 0% 0% 2%

AM 9% 0% 8%

BA 42% 31% 41%

CE 30% 29% 24%

GO 0% 1% 0%

MA 2% 5% 2%

MG 4% 3% 3%

MS 1% 0% 1%

MT 0% 0% 0%

PA 0% 1% 1%

PB 0% 0% 0%

PE 1% 1% 1%

PI 4% 22% 8%

PR 0% 1% 2%

RJ 0% 1% 0%

RJ 0% 1% 0%

RS 1% 0% 1%

SC 0% 0% 1%

SP 1% 3% 1%

TO 1% 0% 1%

TOTAL 100% 100% 100%

Fonte: adaptada a partir de Sousa Neto (2003).

Conforme os dados da tabela, embora as práticas de má gestão e fraudes sejam

identificadas na massiva maioria dos estados listados, chama a atenção a maior concentração

dessas práticas em três estados do Nordeste – Bahia, Ceará e Piauí, cujos percentuais são os

mais elevados.

55

Conforme analisa Davies (2006, p. 758):

Mesmo nos governos que ganharam com o Fundef, é preciso uma atitude de cautela,

pois, dada a forte tradição patrimonialista e privatista do Estado brasileiro e o baixo

grau de organização, conscientização e mobilização da sociedade brasileira, não há

nenhuma garantia de que os recursos extras trazidos pela complementação e/ou pela

distribuição em âmbito estadual tenham sido canalizados para a melhoria da

remuneração dos profissionais da educação e das condições de ensino.

Finda a vigência do Fundef, em 1º de janeiro de 2007, ocorreu sua substituição pelo

Fundeb. O processo dessa constituição do novo fundo, já no governo Lula, também foi

marcado por muitas críticas ao Fundef, em especial por não atender a educação básica na sua

totalidade. Desde 1994 circulava entre gestores e sindicalistas a ideia de um fundo que fosse

mais completo e que atendesse de forma mais equânime os interesses da educação do país.18

Nessa linha de pensamento, diversos estudiosos, entre eles Lima (2005), referem as

ideias dos Pioneiros da Educação Nova. No documento original, pautado na defesa da escola

pública, obrigatória, laica e gratuita, identificam-se ideias fecundas para a educação brasileira

na atualidade, tendo dado “origem a todas as leis mais fundamentais da educação nacional nos

últimos setenta anos [...] [e inspirado] a elaboração do FUNDEB.” (LIMA, 2005, p. 18).

Ainda na defesa de um fundo que contemplasse toda a educação básica, Didonet

(2005, p. 34) escreve que “a opção por um fundo único para toda a Educação Básica [...] pode

aduzir a seu favor o argumento de que expressa coerência com o conceito de educação

integrada do nascimento ao ensino médio como responsabilidade comum e solidária de todos

os entes da Federação.”

Como o Fundeb fez parte do discurso do ex-presidente Lula em sua campanha na

corrida presidencial, após a sua chegada ao poder todas as lentes foram voltadas para a

concretização desse ideal. Entretanto, somente em 2005 a Câmara e o Senado discutiram o

Projeto de Emenda Constitucional que criaria o novo Fundo, do que resultou a aprovação da

Emenda Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006. Dela decorreu a Medida Provisória

nº 339, de 28 de dezembro de 2006, que regulamentava o art. 60 do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias, que foi substituída pela Lei nº 11.494, 20 de junho de 2007, que

regulamenta o Fundeb.19

18

Em 1999, deputados do Partido dos Trabalhadores (PT) protocolaram uma proposta de Emenda à Constituição

Federal propondo a criação do Fundeb. Contudo, a PEC nº 112 não chegou a ser apreciada pela Câmara dos

Deputados, não tendo havido sequer a designação de comissão especial para tratar do assunto. 19

Também altera a Lei no 10.195, de 14 de fevereiro de 2001; revoga dispositivos das Leis nº 9.424, de 24 de

dezembro de 1996, nº 10.880, de 9 de junho de 2004, e nº 10.845, de 5 de março de 2004; e dá outras

providências.

56

O Fundeb, com vigência até 2020, diferente do Fundo anterior, alcança mais

amplamente a educação básica, pois envolve a educação infantil, o ensino fundamental –

agora com duração de nove anos –, o ensino médio e a Educação de Jovens e Adultos.

Também o percentual de impostos que compõem o Fundo foi aumentado, a partir de 2009,

para 20%.20

A complementação da União também foi alterada, de modo que em 2007 fossem

destinados dois bilhões de reais, em 2008 três bilhões de reais, em 2009 quatro bilhões e meio

de reais e, a partir de 2010, dez por cento do valor total do Fundo, reajustáveis com base no

Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Esses valores oneram os 18% da receita de

impostos da União vinculada à educação, por força do art. 212 da Constituição Federal, em

até 30% do valor da Complementação da União. Para essa participação da União não poderão

ser utilizados recursos do Salário Educação.

Como principais vantagens do Fundeb, destaco as seguintes:

a) aumento do valor do piso salarial, estabelecendo dois pisos diferenciados, sendo um

para os profissionais da educação com formação em nível médio e outro para profissionais

com formação em nível superior.

b) estabelecimento do mínimo de 1/3 da jornada de trabalho a ser dedicada a horas-

atividade que dizem respeito ao preparo das aulas, correções de trabalhos e participação em

reuniões pedagógicas.

c) definição de quem são os profissionais do magistério público, de acordo com a

formação, respeitando a legislação federal que trata da matéria;

d) previsão de atualização do piso salarial a partir de 2009, mediante encaminhamento

ao Congresso Nacional de Projeto de Lei do Poder Executivo. Essa atualização salarial tem

como parâmetro o crescimento do valor anual mínimo por aluno das séries iniciais do ensino

fundamental.

e) determinação de aporte de recursos da União naqueles casos em que os estados e

municípios comprovarem a necessidade de possuir turmas abaixo de 25 alunos, devido à

20

A contribuição de estados, Distrito Federal e municípios foi de 16,66% em 2007, 18,33% em 2008 e 20% a

partir de 2009 sobre: o Fundo de Participação dos Estados (FPE), Fundo de Participação dos Municípios

(FPM), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); Imposto sobre Produtos Industrializados,

proporcional às exportações – IPIexp; Desoneração de Exportações (LC de 87/96). E, ainda, contribuição dos

estados, Distrito Federal e municípios de 6,66% em 2007, 13,33% em 2008 e 20% a partir de 2009 do Imposto

sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD) e do Imposto sobre Propriedade de Veículos

Automotores (IPVA). Também a quota parte de 50% do Imposto Territorial Rural devida aos Municípios

(ITR) e receitas da dívida ativa e de juros e multas, incidentes sobre as fontes acima relacionadas.

57

dispersão geográfica, bem como comprovação da indisponibilidade de garantir o piso com

recursos dos 25% vinculados ao ensino; e

f) obrigatoriedade da elaboração ou adequação dos Planos de Carreira e Remuneração

do Magistério.21

Em vista do conjunto de impostos que compõem o Fundeb, parece-me ser possível

perceber que um dos seus principais objetivos foi mesmo proporcionar a elevação e a

distribuição racional dos investimentos em educação em face de mudanças relacionadas às

fontes financeiras que o formam, ao percentual e ao montante de recursos que o compõem e

ao seu alcance.

Outro ponto a destacar foi a obrigação por parte do Poder Público, atendendo ao

disposto no art. 41 da Medida Provisória n° 339/2006, depois transformada na Lei nº

11.494/2007, de fixar em lei específica o piso salarial nacional para os profissionais do

magistério público22

.

É importante lembrar que existe um consenso de que os professores ganham mal, o

que reforça as defesas pela institucionalização de um piso salarial para estes profissionais. Até

porque as discrepâncias salariais são visíveis em todo o país. Entretanto, essa

institucionalização é difícil de ser construída em âmbito nacional, em função das diferentes

capacidades de arrecadação e de pagamento dos estados e municípios. Existem, inclusive,

propostas que defendem a instituição de pisos regionais, medida que poderia levar a um

“congelamento” das desigualdades regionais existentes no Brasil.23

Do exposto, penso ser importante ter em mente que não haverá ensino de qualidade

para todos, em todas as regiões do Brasil, nas zonas urbanas e rurais, em estados ricos e nos

menos favorecidos economicamente, se não forem ampliados os recursos para o setor

educacional. Ou seja, compreender que o problema do financiamento da educação no Brasil

não se resolve somente por meio da gestão: é imprescindível o aporte de novos recursos. De

acordo com Alves (2006) persiste a sensação de que, apesar da pujança do Brasil, os

investimentos em educação não têm sido suficientes.

21

Cabe lembrar que essa determinação já constava no art. 9º da Lei nº 9.424/96. 22

A Lei de 2007 determina que: “Art. 41. O poder público deverá fixar, em lei específica, até 31 de agosto de

2007, piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica.” A lei

foi aprovada em 2008, passando a vigorar sob o nº 11.738, de 16 de julho. O Supremo Tribunal Federal (STF)

publicou no dia 24/08/2011 a íntegra da decisão na ADIn n° 4167, que questionava a Lei do Piso Salarial

Nacional do Magistério. A decisão final, proferida em abril de 2011, já obrigava todos os entes federados a

estabelecer imediatamente o piso como vencimento inicial das carreiras e a destinar um terço da jornada

docente para atividades de planejamento e preparação pedagógica. 23

Sugestão constante do Documento “Pátria Educadora”, lançado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da

Presidência da República em setembro de 2015.

58

Trazidas essas reflexões, não é difícil compreender o atual contexto no qual se insere o

município brasileiro. Com populações que variam de 2 mil a 800 mil habitantes, as

determinações constitucionais a que estão submetidos são as mesmas. Destaco, pois, duas das

principais limitações dos municípios: a primeira, já mencionada neste trabalho, diz respeito às

desigualdades financeiras, técnicas e de gestão que limitam sua capacidade no momento de

prover as políticas públicas; a segunda, diz respeito à ausência de mecanismos constitucionais

ou institucionais que regulamentem e estimulem a cooperação entre os entes federados no

sentido de sanar as limitações enfrentadas.

Também com o fim de enfrentar desafios como os até aqui referidos, é que se tem

determinada a adoção de planos nacionais de educação, instrumento este que, de acordo com

Saviani (1998, p.3), constitui “a principal medida de política educacional decorrente da

LDB”. Além, disso, anota Neves (2000, p.148), enquanto resultado de um processo de

planejamento educacional, o plano “expressa o estágio de correlação das forças sociais gerais

e, mais especificamente, do campo educacional, no processo de definição de políticas de

educação, em determinada formação social concreta e em determinado momento [...]”

Desde a Constituição Federal de 1988 tivemos dois planos nacionais. O primeiro,

aprovado em 2001, cuja vigência foi no período de 2001 a 2010 (Lei nº 10.172, 9 de janeiro

de 2001) e o segundo, vigente desde julho de 2014 (Lei nº 13.005, 25 de junho de 2014), cujo

processo de aprovação foi antecedido de ampla mobilização da sociedade civil, por meio da

Conae 2010.

A ideia de Plano Nacional de Educação para o país não é recente. À medida que o

quadro social, político e econômico se desenvolvia, ficava mais evidente que a educação

constitui condição fundamental para o desenvolvimento da nação. Apesar de a ideia de PNE

existir desde a Constituição de 1934, a maioria dos ensaios permaneceu letra morta, sendo

apenas intenções sempre ignoradas pelos dirigentes políticos (SAVIANI, 2014).24

O PNE que vigorou a partir de 2001 foi aprovado pela Câmara dos Deputados no dia

14 de junho de 2000. Possuía três eixos: a) a educação como direito individual; b) a educação

como fator de desenvolvimento econômico e social; c) a educação como meio de combate à

pobreza. Os objetivos gerais da educação estabelecidos no Plano eram: a elevação global do

24

O primeiro PNE data de 1962, justamente após a aprovação da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Esse

primeiro plano, com duração de oito anos, não foi proposto na forma de um Projeto de Lei como conhecemos

hoje, mas como uma iniciativa do então Ministério da Educação e Cultura, com aprovação pelo Conselho

Federal de Educação (CFE). Em 1965 o Plano sofreu uma revisão, quando foram introduzidas normas

descentralizadoras e estimuladoras da elaboração de planos estaduais. Em 1966, o Plano passou por uma nova

revisão denominada Plano Complementar de Educação, por meio da qual foram introduzidas importantes

alterações na distribuição dos recursos federais (ALMEIDA, 2007).

59

nível de educação da população; a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis; a

redução das desigualdades sociais e regionais, no tocante ao acesso e à permanência na

educação pública, e a democratização da gestão do ensino público (AGUIAR, 2010).

Esse Plano recebeu críticas de setores convocados pelo MEC para o debate. Exemplo

disso, foi o parecer da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

(Anped) que, apontando a exiguidade do prazo para a manifestação das entidades da

sociedade civil, destacava que o PNE deveria ser formulado por meio de “[...] um processo

participativo e aberto à contribuição de amplos setores da sociedade brasileira” (ANPED,

1997, p. 3). E mais: que o PNE “deve estar referenciado, de maneira explícita, a um projeto

político da sociedade brasileira e, em especial, à contextualização da educação no bojo das

políticas sociais, considerando-se o peso relativo destas no cômputo geral.”

Apesar das muitas críticas, o projeto do Executivo tramitou no Congresso Nacional e o

PNE teve sua aprovação consumada mediante a Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001.

Contudo, é preciso referir que uma outra proposta, delineada a partir de debates levados a

efeito pelos educadores, especialmente no ano de 1997, foi apresentada pela oposição ao

governo em 1998, embora não tenha obtido êxito na tramitação. Neves (2000, p. 167)

sintetiza esse cenário nos seguintes termos:

Na tentativa de resguardarem os fundamentos e as diretrizes da proposta

democrática de massas, rechaçado pela política educacional oficial, as entidades

participantes do I Coned preparavam propostas do que veio a se denominar de

proposta da sociedade civil para o Plano Nacional de Educação, através de

seminários temáticos nacionais, regionais e locais por iniciativa de entidades

sindicais e estudantis, associações acadêmicas e científicas. Por sua vez, o

Ministério da Educação, procurando cumprir o disposto na nova LDB, através do

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), inicia o processo de

elaboração da proposta do Executivo [...]

Conforme a autora, três diferenças entre as duas propostas de plano merecem

destaque: a primeira diz respeito à forma de participação da sociedade civil, tendo o MEC

investido na estratégia de consulta enquanto a proposta da sociedade civil investiu na

definição coletiva de diretrizes e metas; a segunda diferença reside nos objetivos de cada

plano, posto que na proposta do MEC o plano é instrumento com potencial para fortalecer e

impulsionar mudanças já esboçadas pelas políticas educacionais então vigentes, enquanto que

na proposta delineada pela sociedade civil constitui um “referencial de atuação política que

tenha como pressupostos: Educação, Democracia e Qualidade” (NEVES, 2000, p. 168); e

uma terceira diferença reside na composição das forças dos sujeitos políticos coletivos

envolvidos nas discussões e/ou elaboração do plano, já que no caso da elaboração da

60

sociedade, diferente do ocorrido com a proposta do MEC, “houve participação massiva de

entidades representativas de trabalhadores da educação, dos organismos constituídos em

defesa da escola pública, de entidades estudantis, ora coordenando o processo de elaboração

do PNE, ora colaborando ou dando seu apoio [...] (p. 169).

Conforme assinalam autores da área, como Dourado (2014) e Saviani (2008), um dos

aspectos determinantes da não efetivação do Plano Nacional de 2001 foram os vetos ao

financiamento. Com esses vetos, o êxito do PNE ficou comprometido, uma vez que, conforme

Saviani (2008, p. 318), assegurar os recursos financeiros constitui “[...] condição prévia e

necessária de viabilidade de todas as demais” do Plano. Ainda, segundo o autor, sem que “os

recursos sejam assegurados, o Plano todo não passará de uma carta de intenções”. (p. 278).

Para Araújo (2014), soma-se a essa razão a ausência de planos estaduais, distrital e municipais

de educação, posto que em muitas unidades subnacionais a construção não ocorreu.

No que diz respeito, por exemplo, à educação infantil, uma faixa etária completamente

negligenciada pelo poder público, o PNE estabelecia que em um horizonte de dez anos a

demanda da educação infantil poderia ser atendida com qualidade, beneficiando toda criança

que necessitasse e cuja família quisesse ter seus filhos frequentando uma instituição

educacional. Para tanto, seriam imprescindíveis decisões e compromissos políticos dos

governantes em relação às crianças (BRASIL, 2001).

Com relação ao ensino fundamental, o PNE (2001-2011) traçou objetivos que

extrapolavam a sala de aula ao afirmar que além do atendimento pedagógico, a escola teria a

responsabilidade social ampliando o atendimento, especialmente nos municípios com menor

renda. Nesses municípios a atuação iria além do ensino, incluindo a alimentação escolar, o

livro didático e o transporte (BRASIL, 2001).

Embora não exclusivamente, é certo que a experiência vivida em torno do primeiro

plano nacional do pós-Constituição de 1988, constitui importante referência para

compreendermos o início das articulações em torno de um novo Plano para a segunda década

do século XXI. Continuava o grande desafio de se ultrapassar o plano das proposições

informadas pelas metas de modo a alcançar resultados concretos perspectivados por elas.

As discussões para a elaboração do novo Plano tiveram como palco principal a

Conae, cuja realização foi antecedida, no primeiro semestre de 2009, por conferências

municipais e intermunicipais, e, no segundo semestre do mesmo ano, pela realização das

etapas estaduais e do Distrito Federal. Foram espaços democráticos de participação popular a

respeito do tema central “Construindo o Sistema Nacional Articulado: o Plano Nacional de

61

Educação, Diretrizes e Estratégias de Ação.” Desta ampla mobilização, o saldo positivo pode

ser estimado com base em dados da dinâmica do debate oportunizado:

Foram inseridas pelas comissões estaduais e do Distrito Federal, no Sistema de

Relatoria da Conae, 5.300 deliberações em parágrafos, com proposta de emendas ou

novos parágrafos, acrescidos ao documento. As propostas foram sistematizadas, com

base em critérios regimentais, pela Comissão Especial de Dinâmica e Sistematização

(CEDS), em Documento-Base da etapa nacional, com 2057 emendas encaminhadas

para apreciação dos/as delegados/as nas plenárias de eixo. Das seis plenárias de

eixo, realizadas em 30 e 31 de março de 2010, resultaram 694 emendas, aprovadas

pelos delegados/as e encaminhadas para apreciação e para deliberação na plenária

final. Na plenária final da Conferência Nacional de Educação (Conae), foram

aprovadas 677 e o conteúdo resultante de todo esse processo de sistematização está

registrado neste documento. (BRASIL, 2010, p.8).

Esses dados que ilustram o processo de deliberação na Conae parecem-me expressar

também o nível de participação de todos os envolvidos na discussão dos rumos da educação

brasileira, além de confirmar a crítica feita pela Anped por ocasião da aprovação do Plano

anterior, ao afirmar que seria imprescindível uma maior participação e mobilização dos

diferentes setores da sociedade civil. Em um país heterogêneo como o Brasil, não poderia ser

diferente em se tratando da elaboração de um Plano para a nação. O novo PNE passou a

vigorar em 25 de junho de 2014, com vigência até 24 de junho de 2024.

O novo Plano possui vinte metas e para cada uma delas foram definidas estratégias

para viabilizar o atingimento daquelas.

Após a sua aprovação, estados e municípios tiveram o prazo de um ano para

adequarem sua legislação às novas orientações do PNE. De acordo com a Lei nº 13.005, de 24

de junho de 2014, que aprova o PNE 2014-2024, é devido às unidades subnacionais a

aprovação ou adequações de seus planos de educação, conforme se lê no art. 8º:

Art. 8º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar seus

correspondentes planos de educação, ou adequar os planos já aprovados em lei, em

consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas neste PNE, no prazo de

1 (um) ano contado da publicação desta Lei.

Em entrevista à Revista Retratos da Escola, questionado a respeito das fragilidades do

atual Plano, Dermeval Saviani (2014) afirma que o PNE avançou em relação ao anterior, pelo

fato de ter incorporado reivindicações históricas dos educadores. Por outro lado, demonstra

preocupação com o efetivo cumprimento do plano abordando o aspecto do imediatismo

populista dos governos brasileiros, quase sempre colocando em prática uma política

educacional inteiramente à margem dos planos aprovados. Ou seja, o educador deixa claro

62

que o problema não reside necessária ou exclusivamente no conteúdo dos planos, mas

principalmente no seu efetivo cumprimento.

Dois pontos também destacados por Saviani (2014) dizem respeito ao financiamento e

ao magistério. No tocante ao financiamento o autor diz que faltou assegurar claramente os

mecanismos para instituir e colocar em pleno funcionamento o Sistema Nacional de Educação

para absorver todas as crianças e jovens, garantindo-lhes uma educação consistente com o

mesmo padrão de qualidade. Em relação ao magistério, faltou assegurar a criação de uma rede

pública de formação de professores, ancorada nas universidades públicas, como forma de

livrar a educação básica pública da condição de refém do baixo nível das escolas superiores

privadas, onde é, atualmente, formada a grande maioria dos professores da educação básica.

Para Dourado (2014), merece destaque o fato de o plano ter sido aprovado sem vetos,

o que significa uma conquista da sociedade brasileira, pois passou por longa tramitação (mais

de três anos) e expressa os embates ocorridos na sua construção. No entanto, em tom

pessimista – que talvez reflita o pensamento da maioria dos brasileiros envolvidos na área,

acostumados a presenciar legislações que não saem do papel –, o autor entende que só o PNE

não será suficiente para garantir inclusão, particularmente a educacional, que se articula à

prática social mais ampla. O PNE foi um avanço, mas é preciso a participação da sociedade

civil e da sociedade política para fazer valer as metas e diretrizes. Para que não se torne letra

morta, é imprescindível que ganhe materialidade, defende o autor.

O grande desafio que o PNE 2014-2024 traz aos municípios é a tarefa de investir

fortemente na educação infantil. A estrutura física da grande parte dos municípios não permite

o alcance dessa meta sem que escolas sejam construídas. Mais uma vez ganha destaque o

regime de colaboração, que mais do que prescrições precisa se tornar realidade. Como

assinala Araújo (2014, p. 61),

o termo „regime de colaboração‟ aparece 21 vezes no texto da Lei nº 13.005 de 25

de junho de 2014. Porém, é forçoso registrar que após vinte e seis anos de vigência

da Constituição Federal e de sua previsão de materialização de um regime de

colaboração, uma parte das citações ainda ficou no terreno das boas intenções.

Diante dos desafios informados pelas metas do novo PNE – muitos deles diretamente

incidentes nos municípios – e com base em estudos levantados nesta pesquisa, passo a

abordar fatores político-institucionais, econômicos e culturais que implicam a atuação do

município no setor social, mais especificamente na gestão da educação.

63

2.3 FATORES POLÍTICO-INSTITUCIONAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS:

ELEMENTOS PARA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS NA GESTÃO

DA EDUCAÇÃO

A reivindicação de Dourado (2014) à participação da sociedade brasileira para fazer

valer as metas e diretrizes do novo PNE, convida-nos a uma reflexão, ainda que breve, sobre o

perfil assumido pela sociedade nas últimas décadas.

Inicio destacando que a reforma do Estado dos anos de 1990 é recente e as bases que

deram sustentação a ela contribuem para lembrar que o processo de redemocratização na

década de 1980 trouxe mudanças no cenário do país, em especial por ter enfocado aspectos do

Estado federativo brasileiro, como a retomada do processo de eleições diretas e, a partir delas,

o desencadeamento do processo de descentralização das políticas sociais (ARRETCHE,

1999).

Com a explosão do processo de globalização, que alterou as relações sociais em todo o

mundo, o Brasil, na condição de país emergente, tem sido diretamente influenciado por

organismos internacionais no traçado de metas para sua política social. Conforme sintetiza

Ianni (1994, p. 147), o processo da globalização afirma que “as relações, os processos e as

estruturas econômicas, políticas, demográficas, geográficas, históricas, culturais e sociais, que

se desenvolvem em escala mundial, adquirem proeminência sobre as relações, processos e

estruturas que se desenvolvem em escala nacional”.

Considerando os desdobramentos ocorridos na política, vale destacar que o Brasil

começou a viver mais profundamente essa realidade com a eleição de Fernando Collor de

Melo, ilustre desconhecido que se apresentou ao país através de um partido político até então

sem evidência – Partido da Renovação Nacional (PRN) –, mas cujo nome e expectativas

construídas em torno dele impressionavam sobremaneira.

A aposta em mudanças não importando muito a forma como elas aconteçam, levou

muitos brasileiros a abraçarem a plataforma eleitoral do candidato. Em sua campanha,

construída pela mídia e tendo como base o grande capital, prometia de punho cerrado

controlar a inflação, equacionar o problema da dívida externa, retomar o crescimento

econômico e distribuir melhor a renda entre os brasileiros. Além de não cumprir com a

execução do seu plano econômico, ainda teve o seu nome envolvido em corrupção, fato que o

levou a sofrer o primeiro processo de impeachment na histórica política brasileira.

Nos governos de Fernando Collor de Melo, Itamar Franco e, com maior intensidade,

de Fernando Henrique Cardoso, a implantação de novas políticas sociais parecia tornar-se um

64

fenômeno sem par e que traria um ganho significativo para todos. Figurava, neste contexto, o

discurso em torno da igualdade de condições e da melhoria de todos os serviços públicos, o

que concretamente não veio a se confirmar, posto terem despontado mais vigorosamente

políticas cujos benefícios não alcançaram a maior parcela da sociedade, preservadas atenções

aos detentores de maior poder econômico, o que também ter a ver com o fenômeno da

globalização econômica.

Vale ressaltar que as repercussões do fenômeno aqui referido não foram uma

particularidade do Brasil, pois também ocorreram nos demais países da América Latina,

guardadas especificidades dos contextos nacionais. Em comum, podemos dizer que se tratou

de uma clara resposta a uma expansão do capitalismo iniciado na década de 1970, em razão

da crise do capitalismo global ocorrida na mesma década.

Segundo Behring e Boschetti (2008), embora nos anos 1990 o termo “reforma” tenha

sido largamente utilizado pelo governo, o que se assistiu foi uma apropriação inédita e

fortemente ideológica da ideia reformista, destituída de um conteúdo redistributivo, de viés

socialdemocrata e submetida ao uso pragmático, como se qualquer mudança significasse uma

reforma, não importando seu sentido, suas consequências sociais e sua direção sócio-histórica.

Como exemplo das fórmulas apresentadas pelos organismos internacionais, Bueno e

Figueiredo (2012, p. 7), referem a do Banco Mundial:

O Banco Mundial propôs, ainda, que para alcançar a equidade social, torna-se

prioritário e estratégico direcionar esforços para a focalização e eficiência do gasto

social de forma a direcionar melhor os gastos públicos para a população socialmente

vulnerável. A implantação de programas focalizados de proteção social e a

implantação de reformas nos setores da educação, da saúde, da assistência social e

do desenvolvimento urbano e industrial, fazem parte das proposições para o alívio

da pobreza brasileira que, segundo o Banco Mundial, contribuirá para melhorar a

qualidade dos serviços ofertados.

No Brasil, as quatro grandes áreas da reforma dos anos de 1990 foram: educação,

saúde, assistência social e desenvolvimento urbano e industrial. São áreas que, historicamente,

colocam o Brasil em situação desfavorável na comparação com outros países emergentes.

Contudo, o final da década de 1980 havia sido marcado pela alteração, em nível

constitucional, do padrão de política social no país. Na síntese de Carinhato (2008, p. 43),

[...] o novo padrão constitucional de política social caracterizou-se pela

universalização da cobertura, reconhecimentos dos direitos sociais, afirmação do

dever do Estado, subordinação das ações privadas à regulação estatal, em função da

relevância pública das práticas e serviços nessas áreas. A nova formatação da

seguridade social estava subordinada a dois outros componentes: a participação da

sociedade e descentralização político-administrativa.

65

Em atenção à realidade brasileira, Cohn (1998) ressalta o fato de o Brasil ser um país

injusto e desigual, havendo a necessidade de implantação de políticas de combate à pobreza.

Diante desse desafio, a autora refere três obstáculos a serem enfrentados: o primeiro, de

natureza econômica, posto que o êxito do controle inflacionário viabilizado pelo Plano Real

veio acompanhado do aumento da taxa de desemprego, do mercado informal, da redução da

dívida pública e contenção de gastos na área social; o segundo, de natureza política, diz

respeito ao jogo de interesses de cunho particularista no seu perfil conservador e

patrimonialista, herança política que continua sendo acentuada; e o terceiro, de natureza

social, diz respeito à dimensão geográfica e populacional do Brasil, características que

reforçam a singularidade do país e, portanto, suas necessidades em termos de políticas de

combate à pobreza.

Diante desses obstáculos, a autora reconhece que a pobreza e a desigualdade social

assumem uma complexidade tão grande que coloca ao país o desafio urgente da formulação

de um novo projeto de sociedade e de desenvolvimento.

Todavia, tendo em conta o contexto em que emerge a Reforma do Estado brasileiro e,

mais especificamente, sua repercussão no campo educacional, Nardi (2011, p. 47) assinala

que,

desencadeado o processo de reforma do Estado e, por conseguinte, a forma e os

recursos com os quais ele passa a conceber e a implementar as políticas sociais,

passam a ser consolidados novos marcos para a política educacional e para a

instauração de uma nova organização e modelo de gestão do sistema educativo.

(Grifos meus)

É certo que este passou a ser um fator de impacto na atuação das unidades

subnacionais do país no campo social. Tendo em conta esse fator e em face dos objetivos

desta pesquisa, importa agora voltarmos as atenções justamente para outros fatores de ordem

político-institucionais, econômicos e culturais que implicam a atuação do município, com

realce à gestão da educação, em especial no âmbito do financiamento da educação. Consoante

o anunciado na subseção que descreve os procedimentos da pesquisa, busquei levantar esses

fatores em estudos e pesquisas da área que nos oferecem elementos a esse respeito.25

25

Para o levantamento, realizado no Banco de Teses e no Portal de Periódicos da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), adotei os seguintes descritores: educação básica;

financiamento da educação; gestão municipal; gestão educacional; descentralização; autonomia e qualidade. A

estratégia de levantamento compreendeu a associação de dois descritores, de modo a constituírem uma

referência o mais próximo possível do objeto da pesquisa. Especificamente, foram associados os termos

“gestão municipal e qualidade da educação”, “gestão educacional e qualidade”, “financiamento da educação e

qualidade”, “educação básica e financiamento da educação”, “políticas públicas e financiamento da educação”,

“educação básica e descentralização”, “gestão educacional e autonomia” e, por fim, “qualidade da educação e

66

Do levantamento realizado, de acordo com a combinação de descritores adotada,

resultou a localização de 120 trabalhos referentes à temática em debate, dos quais 79 são

dissertações de mestrado, 26 são teses de doutorado e 15 trabalhos são artigos publicados em

periódicos nacionais, conforme consta na Tabela 3.

Tabela 3 – Número de trabalhos levantados, com base em descritores combinados, com vistas à identificação de

fatores de ordem político-institucionais, econômicos e culturais que implicam a atuação do município na gestão

da educação e do financiamento educacional – 2011 a 2013

Descritores combinados Publicação

Tese* Dissertação* Artigos

“gestão municipal” e “qualidade da educação” - 2 1

“gestão educacional” e “qualidade” 6 14 -

“políticas públicas” e “qualidade da educação” 5 21 3

“financiamento da educação” e “qualidade” - 1 1

“educação básica” e “financiamento da educação” 9 15 3

“políticas públicas” e “financiamento da educação” - 5 5

“educação básica” e “descentralização” - 7 -

“gestão educacional” e “autonomia” 2 6 1

“qualidade da educação” e “autonomia” 3 4 1

TOTAIS 25 75 15

*Correspondem exclusivamente à produção de 2011 e 2012.

Fonte: Banco de Teses e o Portal de Periódicos da Capes.

Conforme se observa na Tabela 3, o levantamento relativo ao primeiro bloco de

descritores associados – gestão municipal e qualidade da educação; gestão educacional e

qualidade; e políticas públicas e qualidade da educação – viabilizou a identificação de 37

dissertações, 14 defendidas em 2011 e 23 em 2012, 11 teses de doutorado, sendo três delas

defendidas em 2011 e oito em 2012. Os artigos levantados foram quatro, sendo dois

publicados em 2011 e os demais em 2013 em um total de 52 produções. Desse total de

trabalhos, um conjunto de 12 traz com maior especificidade enfoques em fatores político-

institucionais, econômicos e culturais na atuação dos municípios brasileiros.26

Um dos fatores identificados diz respeito ao planejamento. Como se sabe, desde a

Constituição Federal de 1988, passando pela LDB e o atual PNE, há uma clara orientação

autonomia”. Como se pode verificar, ao combinar o descritor qualidade com outro descritor que não possui o

termo “educação” ou “educacional”, optei por adotar o descritor “qualidade da educação”. 26

Os demais trabalhos trataram temas como: formação continuada de professores (seis trabalhos); avaliação em

larga escala (10 trabalhos); currículo de cursos de licenciatura (três trabalhos); Educação inclusiva (cinco

trabalhos); educação superior (cinco); Educação à distância (quatro trabalhos); reforma administrativa do

Estado (três trabalhos); ensino público x ensino privado (dois trabalhos); e Educação indígena (dois trabalhos).

67

para que seja assumida, pelos sistemas de ensino, uma gestão democrática. Ao analisar o

modelo de planejamento estratégico em educação, Arnaud (2011) conclui que, quando

comparado com o modelo tradicional de gestão, os resultados são surpreendentes. Segundo

argumenta, a democratização da escola contribui não só para o acesso, como também para a

permanência e o sucesso escolar. Vieira (2012), por sua vez, traz evidências de que para

melhorar a qualidade do ensino é preciso rever a gestão educacional, considerando que

impactos expressivos no aprendizado dos alunos perpassam antes o processo de gestão,

enquanto Forno (2012) busca aprofundar o tema por meio de questionamentos como: em que

a gestão democrática influencia a qualidade da educação pública? Se entendermos que a

educação é humanização, e que é base para a transformação da sociedade, o que a gestão

democrática pode contribuir para essa transformação? Nesse sentido, a autora investe na ideia

de que a gestão democrática implica a efetivação de novos processos de organização e gestão

baseados em uma dinâmica que favoreça os processos coletivos e participativos de decisão.

Nessa direção, ao analisar o Programa Nacional Escola de Gestores da Educação

Básica (PNEGEB) no estado do Mato Grosso do Sul, Rosa (2012) reforça a necessidade de

uma gestão democrática, embora conclua, diferentemente de Arnaud (2011) e de Vieira

(2012), que uma proposta inovadora na gestão escolar encontra seus limites nas contradições

de uma sociedade capitalista. Por isso, entende que os sistemas de ensino não podem se

amoldar aos ditames da sociedade capitalista, sob pena de perderem de vista sua principal

missão: conscientização do ser humano em seus múltiplos aspectos.

Bastos (2012), em seu estudo sobre a gestão educacional, conclui que o perfil da

equipe gestora e o foco na gestão pedagógica constituem fatores potenciais para o êxito da

escola, sendo desejável que as escolas desenvolvam intercâmbios a fim de disseminarem boas

práticas. Ademais, a disseminação de boas práticas de gestão tem sido a tônica de um

considerável número de pesquisas realizadas na área de Políticas Educacionais uma vez que o

pesquisador, em contato com realidades distintas, pode contribuir com o olhar de alguém que

não faz parte daquele sistema e, assim, favorecer análises sobre soluções para problemas que

muitas vezes se arrastam por décadas. Na esteira desse pensamento, Melo (2012) acrescenta

que a gestão educacional assentada no trabalho coletivo colabora para a qualidade da

educação quando os resultados passam a ser objeto de diálogo entre os membros da escola.

Mas, como desenvolver uma gestão democrática, como projeto educacional, quando

não são disponibilizados recursos e condições necessários à efetivação desse

empreendimento? A questão da alocação de recursos públicos para a educação, na visão de

Souza (2011), constitui um importante diferencial, especialmente em se tratando da correção

68

das desigualdades. Analisando o perfil de alguns municípios mineiros, o autor constata a

necessidade da criação de políticas públicas específicas que possam corrigir as disparidades e

desigualdades entre os municípios mais carentes. Essa constatação pode significar que os

fundos já instituídos, primeiro o Fundef e depois o Fundeb, não responderam ampla e

suficientemente à questão do enfrentamento às desigualdades regionais, desigualdades estas

ainda muito impactante no país. Um dos motivos estaria situado na ainda frágil participação

efetiva da sociedade civil, que poderia se valer de espaços de participação como os conselhos

de acompanhamento e controle social. Para Silva (2012) e Lima (2011), o aprimoramento

desses conselhos constitui uma via possível e altamente contributiva para o aperfeiçoamento e

o reforço da participação.

Em estudo sobre o PDE, considerando a abrangência assumida pelo Plano e a vasta

produção sobre o tema, Santos (2012) constata que, apesar dos objetivos do PDE estarem

voltados para o fortalecimento da autonomia e qualidade da educação, muitos municípios

desenvolvem seus projetos distanciando-se de suas propostas iniciais. Isso porque, muitas

vezes, o Governo Federal dá mostras de que não realiza um estudo prévio ao estabelecer

políticas educacionais, com o que poderia conhecer a realidade municipal brasileira. Com

certeza, levando-se em consideração a dimensão do país, não se trata de uma tarefa fácil,

embora sem essa leitura qualquer programa tenda a incorrer no problema do descompasso em

relação às necessidades locais.

É também nessa direção que o trabalho de Menezes (2012) se coloca. Ao abordar o

tema da educação infantil e avanços ocorridos nesse âmbito, a autora também destaca o peso

dos entraves e percalços enfrentados nessa etapa da educação básica, sinalizando para um

descompasso entre a ação do governo federal e as demandas dos governos municipais. Para

Ribeiro (2011), apesar dos avanços obtidos com a inclusão da educação infantil pelo Fundeb,

permanecem algumas lacunas como, por exemplo, o frágil quadro de pessoal para atuar na

educação infantil, questão associada à falta de valorização do profissional.

Quanto ao segundo bloco de descritores associados – financiamento da educação e

qualidade; educação básica e financiamento; e políticas públicas e financiamento da educação

–, foram identificadas 39 produções, sendo: nove teses, quatro delas defendidas em 2011 e

cinco em 2012; 21 dissertações, 12 defendidas em 2011 e nove defendidas no ano de 2012; e

nove artigos, um deles publicado em 2002, outro em 2003, dois em 2005, um em 2007, um

em 2011 e outro em 2012, todos com evidente enfoque nos temas da qualidade da educação e

dos fundos contábeis.

69

Nos estudos situados nesse segundo bloco de trabalhos preponderam os seguintes

focos temáticos: educação e o mundo do trabalho; fundos para a educação; estudos

comparados entre Brasil e Portugal; tecnologias educacionais; e assistência social. Do

conjunto identificado, somente alguns trabalhos possuem uma maior relação mais direta com

a presente dissertação – identifiquei 11 trabalhos –, tendo sido possível constatar uma

concentração em temas bastante recorrentes no debate educacional recente.27

Os trabalhos empreendidos por Silva (2011) e Jesus (2011) analisam os conflitos e

confluências nos conselhos de acompanhamento do Fundeb e as limitações impostas e/ou

enfrentadas pelos conselheiros. Os autores apontam como principais causas do fraco

desempenho dos conselhos, a falta de domínio técnico e a frágil cultura de participação da

sociedade civil.

Já Mafassioli (2011), ao tratar do PAR, põe em debate os modelos de gestão

tecnocráticos e verticalizados, herdados da estrutura de Estado brasileiro autoritário e

patrimonialista, o que a leva a defender uma gestão democrática como condição essencial

para efetivação de políticas públicas em educação que almejam a qualidade social.

Outros estudos, como os desenvolvidos por Nascimento (2012) e Santos (2012),

concentram atenção na repercussão do Fundeb, no que diz respeito ao avanço da qualidade na

educação infantil, embora os resultados das pesquisas sejam distintos. Enquanto Santos

(2012) conclui ter havido uma significativa elevação do atendimento e dos investimentos

financeiros para esse nível de ensino, Nascimento (2012) entende que, apesar dos esforços

financeiros empreendidos, os recursos não têm sido suficientes para atingir as metas propostas

pelo PNE, pois os dados do seu estudo confirmam que ainda existem no Brasil muitas

crianças fora da escola. Em 2010, anota a autora, o atendimento de crianças de zero a três

anos chegou a 10% e o de crianças de quatro a seis anos alcançou 60%, embora a meta do

PNE vigente estabelecesse o atingimento de 50% e 80%, respectivamente.

Com enfoque no Fundeb, Frinhani (2011) e Soares (2012) discordam que ele tenha

contribuído para o combate às desigualdades regionais, uma vez que o montante dos recursos

não atende as necessidades de um número significativo de municípios. Essa também é a

leitura de Pupo (2012) e Nascimento (2011) em relação ao fundo anterior, concluindo que o

27

Os demais trabalhos enfocam questões como: valorização profissional (quatro trabalhos); educação superior

(cinco trabalhos); avaliação em larga escala (cinco trabalhos); estudos comparados Brasil x Portugal (um

trabalho); educação para o trabalho (quatro trabalhos); educação brasileira comparada à América Latina (dois

trabalhos); educação de tempo integral (cinco trabalhos); e tecnologias digitais (cinco trabalhos).

70

advento do Fundef não provocou significativas mudanças na composição dos investimentos,

tendo deixado fortes lacunas na formação do professor.

Já Carvalho (2012), em análise da trajetória do Fundef ao Fundeb, reconhece avanços

trazidos pelos Fundos no sentido de garantir aos profissionais do magistério direitos

importantes relacionados à formação inicial e continuada, plano de carreira e melhor

remuneração. No entanto, apesar de reconhecer o aumento significativo de professores com

ensino superior completo, assinala o descompasso entre formação e áreas de atuação.

A reflexão trazida Figueiredo (2012) focaliza o Programa Bolsa Família,

considerando-o um programa que, além de contribuir para corrigir as desigualdades sociais,

melhora o capital humano, pois ao passo que as crianças aumentam suas habilidades

cognitivas, o rendimento individual melhora as possibilidades de aumento de renda e, com

isso, contribui para o desenvolvimento econômico do país.

Em outro estudo, que investe em uma análise sobre a qualidade da educação básica

viabilizada pelo PDE, Amorim (2011) constata que os municípios estão deixando de construir

seu próprio conceito de qualidade por aderirem ao conceito nacional em troca de maior

assistência técnica por parte do MEC, especialmente em termos de financiamento. Para a

autora, apesar dos investimentos na infraestrutura das instituições, os municípios não têm

demonstrado esforço suficiente para melhorar efetivamente a qualidade da educação.

Já Costa (2012), abordando o federalismo após a promulgação da Constituição de

1988, destaca as áreas políticas e econômicas que favoreceram a implantação de novos rumos

e regras para o financiamento da educação básica pública no país. Nesse sentido, busca

compreender são estruturadas as relações entre os entes federados, relacionando as questões

federalistas (políticas e econômicas) com as políticas de fundos contábeis para o

financiamento da educação pública.

No terceiro e último bloco de descritores associados – educação básica e

descentralização; gestão educacional e autonomia; e qualidade da educação e autonomia – o

levantamento viabilizou identificar: 17 dissertações, sendo seis delas defendidas em 2011 e 11

em 2012; cinco teses de doutorado, três defendidas em 2011 e duas em 2012; e dois artigos,

um publicado em 2003 e outro em 2007.

Relativamente a esse bloco, foi possível constatar que os enfoques temáticos se

repetem, mesmo quando alterada a associação de descritores. Do total de trabalhos

identificado nesse bloco, não houve nenhuma produção cujo tema já não tivesse sido tratado

nos estudos anteriormente referidos. Vejamos: Miranda (2012), Oliveira (2011), Wittmann

(2011), Rosa (2012), Souza (2012) e Alves (2012) abordam o tema “gestão educacional”

71

aludindo aspectos como a promoção da qualidade, propostas curriculares e gestão

democrática, a gestão como meio de participação popular, práticas inovadoras de gestão de

dirigentes municipais e os desafios da gestão no contexto de emergência das avaliações

externas; Santos (2011) e Lima (2011) focalizam o papel dos conselhos escolares e sua

importância na gestão da escola, enquanto Santos (2012), Martins (2012) e Valente (2011)

referem o PDE e, por essa via, suas contribuições o desenvolvimento da educação básica. Sete

outros trabalhos levantados têm por alvo temas diversos – diversidade racial (três trabalhos),

tecnologias digitais (um trabalho), valorização profissional (dois trabalhos) e ensino privado

(um trabalho) – cujos enfoques distanciam-se do objeto de análise nesta dissertação.

De modo geral, os estudos aqui referidos constituem uma mostra de análises que nos

oferecem elementos para compreender melhor o leque de fatores político-institucionais,

econômicos e culturais e sua influência na atuação do município no setor social, mais

especificamente, na gestão da educação.

Um desses fatores é o modo como é operado o planejamento, especialmente no

tocante à concepção de planejamento e à observância das especificidades e demandas

informadas pela realidade local. Se entendido como mecanismo da gestão democrática, tem

por pressuposto a promoção da participação na gestão pública de modo a reforçar princípios

democráticos e ampliar o conjunto de instrumentos considerados afins. Ou seja, sendo o

planejamento um fator central para o desenvolvimento da ação educativa local, visando à

qualidade da educação ali almejada, a questão reside na sua qualidade política e técnica do

planejamento, destacadamente quanto à pertinência em relação às necessidades locais, à

coerência com o projeto educacional em desenvolvimento e à observância aos princípios que

embasam o processo educativo e sua gestão no âmbito local. Neste caso, são fortes os

argumentos em defesa de um planejamento pautado nos pressupostos da gestão democrática e

de uma qualidade socialmente referenciada.

Segundo o que nos indicam os trabalhos examinados, a concepção de gestão que

orienta a ação pública local constitui outro fator influente na atuação do município no setor

social, o que inclui a educação. Embora pudéssemos situar o planejamento como parte deste

fator, o que está em foco neste caso é a gestão em sua dimensão ampliada, em vista do seu

papel na efetivação de políticas públicas que almejam a qualidade social. Se, por um lado, a

aposta é na gestão democrática enquanto “processo de aprendizado e de luta política [...] do

repensar das estruturas do poder autoritário que permeiam as relações sociais [...]”

(DOURADO, 2000, p. 79), por outro, trata-se de reconhecer que essas estruturas possuem

raízes profundas e há muito operam no país para preservar interesses particularistas e

72

clientelistas, segundo moldes de uma cultura patrimonialista que se moderniza para se

conservar (IANNI, 2004), os quais encontram terreno fértil nas contradições e nos limites

impostos pelos interesses capitalistas.

Na esteira desse fator, podemos apontar outro: a cultura de participação da sociedade

civil nos assuntos públicos. Ainda que, conforme mencionado, o tratamento dado à esfera

pública no país não tenha viabilizado espaço para sólidas e alargadas experiências de

participação da sociedade no tratamento de questões de interesse público, é preciso

reconhecer que ensaios importantes nessa direção já fazem parte da realidade brasileira,

especialmente a partir dos movimentos pela democratização do país, ocorridos a partir do

final dos anos de 1970.

Contudo, é perceptível que muitas iniciativas construídas até então carecem de

aperfeiçoamento, conforme sugerem estudos como os que enfocam a atuação dos conselhos

de acompanhamento e controle social. E o que nos mostram esses estudos, além de seguirem

apostando nestes espaços como arenas importantes de participação? Frequentemente nos

mostram fragilidades de ordem técnica e política na atuação dos conselheiros, com

repercussões importantes na efetividade do trabalho formalmente atribuído e esperado dessa

instância. Seguem denúncias e lamentos de que membros são escolhidos mais pelo critério de

confiança do poder instituído do que pela competência e efetiva representação dos diferentes

segmentos, de que muitos conselhos são marcados pela alienação de seus membros quando se

trata de acompanhamento e controle social, e de que, enquanto espaços institucionalizados

acabam se tornando instâncias de legitimação de decisões tomadas de forma centralizada.

A disponibilização de recursos financeiros é outro fator determinante na atuação do

município no setor social. No caso da educação, a necessidade de ampliação do montante de

recursos é tema recorrente nos debates e estudos da área, havendo razoável consenso de que

os recursos atualmente disponibilizados não são suficientes para fazer face às necessidades e à

geração de condições que possam repercutir na melhoria da qualidade da educação. Essa foi,

ademais, a tônica da maior parte dos debates travados no âmbito da Conae e do PNE 2014-

2024, especialmente em razão do enxugamento nos investimentos no setor social imposto

pelas políticas neoliberais da década de 1990.

No caso dos municípios, comparativamente aos estados, a repercussão desse fator

parece ser muito maior. Isso porque a maioria dos municípios brasileiros é praticamente

dependente das transferências constitucionais, pois a arrecadação própria de impostos é baixa

e representa muito pouco da receita total. Por outro lado, podemos dizer que a vinculação

constitucional de recursos representa importante garantia de investimentos em educação, pois

73

sem ela as condições de aporte de recursos poderiam ser severamente agravadas. Já sobre as

subvinculações, como a determinada pelo Fundeb, as posições são um pouco menos

consensuais, embora prepondere o reconhecimento do papel equalizador que o mecanismo

desempenha em termos de investimentos em educação básica no âmbito dos estados, e do

país.

Esse debate nos leva ao apontamento de outro fator: as diferenças regionais existentes

no Brasil. Se do ponto de vista cultural nosso país é marcado por uma rica e expressiva

diversidade, do ponto vista social saltam aos olhos as desigualdades alimentadas por

descompassos nos investimentos públicos (o que inclui o planejamento desses investimentos e

das políticas públicas) e agravada por outras condições, como climáticas e de tradição

política, afora os efeitos do próprio processo de acumulação capitalista. Deste ponto de vista,

que nos permite dizer com lamento que somos vários “Brasis” em um único Brasil, as

disparidades regionais constituem um problema de grandes proporções a ser enfrentado no

âmbito da ação do Estado, tendo em vista o imperativo da melhoria de condições de vida para

toda a população do país.

É certo que para esse enfrentamento a Constituição Federal de 1988 foi um passo

fundamental, pois dá base a um conjunto de direitos sociais nunca antes experienciado no

país. Foi com vistas à geração de políticas públicas que pudessem corresponder em

quantidade e qualidade a esses direitos, que entre as medidas inauguradas pelo modelo

federativo cooperativo instaurado pela Carta de 1988 figurou a divisão de responsabilidades e

competências entre os entes federativos, com os municípios sendo elevados à condição de

entes com autonomia político-administrativa. Contudo, temos assistido a uma forte influência

do governo federal no traçado e implementação de políticas sociais locais, reflexo de uma

ação centralizadora que contrasta com o modelo federativo descentralizado que possuímos, o

que inclui os regimes de cooperação e de colaboração que o compõe. Este é, portanto, outro

fator influente na atuação município no setor social, o que inclui a gestão educacional.

Tal fator, conforme nos mostram diversos estudos e análises da área da Educação, nos

leva a outro de grande repercussão. Trata-se da questão do alinhamento das políticas federais

com as demandas municipais. Embora a capacidade financeira de implementação de políticas

públicas pelo governo federal seja inegavelmente superior à capacidade dos municípios, isso

não significa que a abrangência, frequência e enfoque conferido a essas políticas sejam

alinhadas às demandas e prioridades existentes nos municípios. Conforme referido, o maior

alinhamento seria promovido por meio do constante diálogo entre as esferas de governo e por

ações descentralizadas que permitam aos municípios compor localmente estratégias visando

74

ao atendimento de suas necessidades. No entanto, essas são vias que não concordam com

atitudes centralizadoras e políticas desconectadas dos contextos locais e suas necessidades

concretas.

Por fim, sem que se queira esgotar a lista de fatores influentes, destaco o protagonismo

municipal no desenvolvimento local, aqui incluída a disposição pela realização do seu projeto

educacional, fundamentado, por exemplo, em determinada concepção de qualidade. Embora

hoje tenhamos avançado muito no debate sobre uma qualidade socialmente referenciada,

ainda que as políticas educacionais do país careçam de maior sintonia com essa concepção,

não tem sido estranho que muitos municípios abdiquem de seus projetos de educação – ou

mesmo de construí-los –, submetendo-os completamente às intenções e direcionamentos

vindos das esferas federal e estadual. Frequentemente, as motivações desta submissão são

justificadas pelo acesso à assistência financeira, o que retrata os processos indutivos operados

no contexto do federalismo brasileiro, conforme nos mostra Arretche (1999).

Esses são fatores que, à luz dos elementos oferecidos por estudos da área e das

análises com as quais compartilho, permitem-nos perceber melhor as influências sobre a ação

de governos municipais na gestão das políticas sociais, dentre elas as da educação. Daí o

entendimento de que devam ser considerados nas análises sobre desafios e possibilidades no

campo da gestão do financiamento da educação nos municípios, especialmente em se tratando

do reforço de condições necessárias à melhoria da qualidade educacional.

Concordando com Bordignon e Gracindo (2009), para quem a gestão é a principal

responsável por transformar as metas e objetivos educacionais em ações concretas, na

próxima seção passo a abordar opções e práticas de gestão da educação na esfera municipal

que podem contribuir para uma relação positiva entre a gestão do financiamento e a

construção da qualidade educacional.

75

3 QUALIDADE DA EDUCAÇÃO COMO DIREITO E CONQUISTA SOCIAL:

DESAFIOS EMERGENTES

Nesta seção enfoco o tema da qualidade da educação básica na sua relação com o

campo do financiamento e na interface com as recentes políticas educacionais. Para tanto,

inicio abordando a questão da qualidade como meta em destaque nas políticas educacionais da

atualidade e como direito do cidadão. Na sequência, busco situar condições atualmente

julgadas necessárias à promoção dessa qualidade, sinalizando as que implicam mais

diretamente o município e, portanto, a gestão municipal da educação, dentre as quais as

relacionadas ao financiamento.

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO

Parto do pressuposto de que uma análise sobre o tema da qualidade educacional requer

que a educação não seja reduzida à ideia de um serviço ou produto, em que a soma de alguns

ingredientes tidos como imprescindíveis por si resultem em bom desempenho dos estudantes

nas avaliações. Refletir sobre a qualidade, portanto, requer pensá-la na perspectiva da

educação “como direito humano fundamental, direito público e dever do Estado” (BRASIL,

2010, p. 107), direito esse assegurado por um ordenamento legal consistente e válido para

todos os níveis institucionais do Brasil.

Na verdade, qualidade é um termo marcado pela polissemia e imprecisão conceitual,

que tem desafiado os estudiosos a considerá-lo um produto histórico, socialmente construído

e refletor de “posicionamentos políticos e ideológicos orientados por diferentes setores e com

perspectivas diversas”. (SCHNEIDER; NARDI, 2015, p. 30). Inclusive porque, conforme

esclarece Fonseca (2009), o conceito de qualidade educacional interage com os projetos

nacionais de desenvolvimento, que têm como substrato as mudanças na economia mundial.

Em nível nacional, essas garantias legais constam em documentos como a

Constituição Federal de 1988, a LDB de 1996 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei

nº 8.069, de 13 de julho de 1990). Também constam, no âmbito local, nas Constituições

Estaduais e nas Leis Orgânicas dos municípios e, ainda, no microuniverso das escolas, por

meio de seus projetos político-pedagógicos.

Para Cury (2008), tanto quanto um direito, a educação é definida em nosso

ordenamento jurídico como dever: direito do cidadão – dever do Estado. Do direito nascem

prerrogativas próprias das pessoas em virtude das quais elas passam a gozar de algo que lhes

76

pertence como tal. Do dever nascem obrigações que devem ser respeitadas tanto da parte de

quem tem a responsabilidade de efetivar o direito, como o Estado e seus representantes,

quanto da parte de outros sujeitos implicados nessas obrigações. Como alerta Flach (2009, p.

496), a relação entre direito e educação requer “entender o direito enquanto síntese das

relações sócio-históricas que os seres humanos travam enquanto sujeitos de suas existências.”

No arcabouço jurídico está manifesta a garantia ao acesso e à permanência da criança,

do adolescente e do jovem à educação. Mas não somente, pois é necessário que o resultado

dessa conquista seja uma educação de qualidade. Nessa perspectiva, portanto, a educação

possui uma dimensão social, pois visa proporcionar a todos os cidadãos a possibilidade de

desenvolver todo seu potencial, permitindo-lhe a realização pessoal e a convivência com toda

uma cultura historicamente produzida pelo homem, além da inserção no mundo do trabalho.

Daí a importância de pensarmos a qualidade educacional socialmente referenciada, em favor

do que devem operar as políticas públicas. Conforme Oliveira (2009, p. 239):

As políticas educacionais precisam, então, ser pensadas, implementadas e avaliadas

com base na ação de um estado moderno que desenvolve um projeto nacional em

consonância com os interesses da maioria da população. A inclusão social das

camadas menos favorecidas aponta para a necessidade de constituição de um estado

social que atua por meio de políticas públicas, sociais e educacionais que favoreçam

os processos de emancipação desejados (OLIVEIRA, 2009, p. 239).

Ao analisar a educação ao longo da história fica a evidência que ela é uma prática

social que se dá nas relações que os homens estabelecem entre si, em especial nas instituições

de ensino e nos movimentos sociais, e que por essa razão ela é constituinte e constitutiva

dessas mesmas relações (FRIGOTO, 2010). Então, é possível afirmar que na construção do

conhecimento sistematizado não se deve perder de vista a construção das relações sociais, o

que inclui os condicionantes dessa construção.

Na literatura, especialmente no campo das políticas educacionais, diversos temas são

enfocados em torno dessa premissa, de modo a serem destacadas variantes, condições,

desafios e possibilidades que se apresentam em torno do fenômeno educativo enquanto

conquista social. Destacam-se, por exemplo, a educação para a cidadania (PARO, 2007), a

compreensão da sociedade do conhecimento como condição para o exercício da cidadania

(BORDIGNON; GRACINDO, 2009), a repercussão da ausência de valores, de ética e do

domínio de um saber que ajude na construção de uma sociedade solidária na constituição da

crise da escola (MAUÉS, 2009) e a implicação de valores, experiências e posição social dos

sujeitos para constituição de uma educação de qualidade (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2005).

77

Também, argumentos quanto ao enfrentamento das divergências, dos conflitos de interesse e

das relações desiguais de poder, além da defesa pelo estabelecimento de alianças, da partilha

de informações e da integração, cuja construção democraticamente realizada pode trazer

novos sentidos de qualidade educacional (RIBEIRO; RIBEIRO; GUSMÃO, 2005) e a

centralidade das condições político-institucionais para a democratização das escolas (PEPE,

1995).

Enfim, essas são algumas mostras do leque de argumentos que reforçam a ideia de

educação como prática social e que, neste sentido, decorre almejarmos que tal prática ocorra

com qualidade socialmente referenciada, posição com a qual compartilho. No entanto, as

mesmas mostras também suscitam estarmos ante uma realidade marcada por incongruências

entre a educação real e a perspectiva de qualidade social aqui aludida.

Na esteira do debate acerca dessa questão, Oliveira e Araújo (2005, p. 8) referem, por

exemplo, a qualidade com base em três aspectos distintos que têm permeado o histórico da

educação brasileira:

um primeiro, condicionado pela oferta limitada de oportunidades de escolarização;

um segundo, relacionado à ideia de fluxo, definido como número de alunos que

progridem ou não dentro de um determinado sistema de ensino; e, finalmente, a

ideia de qualidade associada à aferição de desempenho, mediante testes em larga

escala.

Já Bordignon e Gracindo (2009), em análise que tem em conta a sociedade brasileira

em suas múltiplas características culturais, regionais, econômicas, sociais e educacionais, bem

como a busca incessante na conquista da qualidade educacional, situam a figura do município

como lócus privilegiado para essa busca, considerando a gestão municipal da educação

[...] como um processo de articulação para o desenvolvimento da Proposta Político-

Pedagógica das escolas de sua jurisdição. Esse processo se fundamenta e é

conduzido segundo uma determinada concepção de educação e de sociedade.

Pensar, pois, um processo educacional e a ação das escolas significa definir um

projeto de cidadania e atribuir uma finalidade à escola que seja congruente com

aquele projeto. Pensar a escola e a construção de seu projeto de vida requer o

estabelecimento de fundamentos sobre os quais se assenta essa construção, ou seja,

definir pressupostos filosóficos, sociais e educacionais. Esses pressupostos, sobre os

quais vamos fundamentar a organização da Proposta Pedagógica das escolas, devem

se constituir a partir a) da análise da questão dos paradigmas; b) da definição da

especificidade da organização escolar; c) da visão clara da finalidade da escola como

construtora da cidadania, que, por sua vez, estabelece a dimensão da qualidade

desejada na educação. (BORDIGNON; GRACINDO, 2009, p. 149).

78

Como se pode constatar, os autores enfatizam o desenvolvimento, pelas escolas da

rede, de um projeto de cidadania, cabendo questionar, portanto, a concepção de saber

consoante com qual projeto e finalidade. Segundo destacam,

ao saber atribui-se um conceito que é mais do que o simples domínio da informação

e da capacidade das operações básicas. Ele reflete o domínio dos fundamentos, dos

processos do aprender, das estruturas do pensamento, que levam ao permanente

aprender a fazer e a reprocessar as informações que fundamentam o saber e o fazer.

(BORDIGNON; GRACINDO, 2009, p. 156)

Embora essas reflexões possam ser consensuais quando se trata de um debate sobre

projetos de educação, é sabido que a forma como são encaradas na realidade concreta dos

sistemas e escolas pode trazer variados resultados, inclusive em direção contrária aos

pressupostos de qualidade aqui sinalizados.

Por razões como essa, ao referir a escola pública na busca da qualidade, Paro (2007, p.

49) ressalta que a estrutura didático-pedagógica constitui condicionante da qualidade do

ensino por ela oferecido: “não só a qualidade que se vê e que é passível de aferição por

exames e provas (apropriação de conhecimentos e informações), mas também (o que é sem

dúvida mais importante) a qualidade que não se vê, ou melhor, a que não é tão facilmente

mensurável por instrumentos quantitativos, ou seja, a formação da personalidade integral do

indivíduo.”

Também na esteira desse pensamento, Nardi e Bastiani (2015, p. 134) anotam:

Embora muitos discursos e documentos oficiais aludam a princípios que se filiam a

uma perspectiva de qualidade social da Educação Básica, o sistema de avaliação da

qualidade segue tendo por base alguns indicadores específicos que, tomados

exclusiva e isoladamente, negligenciam o contributo de outros indicadores caros à

consideração do contexto e das peculiaridades das escolas.

A esse respeito, tendo em vista resultados de pesquisa realizada pelo PPGEd da

Unoesc entre os anos de 2011 e 2014,28

os autores assinalam que, refletindo alguma

contradição, a leitura da repercussão das ações priorizadas pelas escolas pesquisadas, visando

à melhoria da qualidade da educação, segundo o horizonte dos seus objetivos, tende a assumir

maior expressividade do que a busca por melhores índices e indicadores oficiais, ao menos no

plano discursivo.

28

A pesquisa, intitulada “Indicadores de Qualidade do Ensino Fundamental na Mesorregião Oeste de Santa

Catarina: estratégias e ações na rede pública municipal de ensino (2010-2014)”, constituiu projeto vinculado ao

Programa Observatório da Educação (Obeduc), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (Capes).

79

No plano das políticas educacionais, também uma aparente contradição foi se

mostrando ao longo do tempo. Qual seja, uma certa permeabilidade da concepção de

qualidade social no plano discursivo e, em alguma medida, nos documentos oficiais, ao passo

que seguem reforçados e ampliados recursos e medidas concretas relacionadas a uma

perspectiva quantitativista de qualidade, demarcada pela vigência de indicadores e índice de

desenvolvimento educacional. Todavia, embora preponderante, esta perspectiva concorre com

a que aposta na qualidade socialmente referenciada, que encontra lugar nos movimentos da

sociedade civil, especialmente dos educadores, e teve como lugar privilegiado a Conae 2010,

que antecedeu o processo de tramitação do atual PNE.

Muito presente nesse debate sobre a qualidade da educação enquanto direito social é a

questionável transposição do conceito de qualidade segundo pressupostos dos negócios

comerciais para a educação. Conforme Silva (2009), ao avaliarmos a educação enquanto

conquista social não podemos nos limitar às questões que envolvem domínio de

conhecimentos, linguagens e raciocínio lógico. Além desses aspectos próprios da formação

escolar, é pertinente atentar para aqueles que extrapolam a sala de aula, que envolvem a vida

familiar, o ambiente cultural e as condições gerais de atendimento às necessidades básicas dos

indivíduos. Nesse sentido, Dourado e Oliveira (2009, p. 204) assinalam que

essa constatação revela o quadro complexo, relativo ao estabelecimento de

parâmetros de qualidade em um cenário desigual e combinado que caracteriza a

educação brasileira. Esse cenário é fortemente marcado por desigualdades regionais,

estaduais, municipais e locais e por uma grande quantidade de redes e normas nem

sempre articuladas.

Com base nessa leitura, creio ser correto dizer que muitos municípios não têm

conseguido cumprir o seu papel na oferta de uma educação de qualidade, inclusive porque,

conforme sinalizamos neste estudo, a adaptação do sistema educacional brasileiro à nova

ordem global tem sido pautada preponderantemente por uma perspectiva quantitativista de

educação e de avaliação de sua qualidade. Ademais, é possível afirmar que o incremento das

políticas públicas voltadas para o atendimento da educação como direito social é recente se

compararmos com “séculos de omissão e de ocultamento das demandas da sociedade, sendo

suas manifestações muitas vezes tratadas como caso de polícia e de desordem pública.”

(SILVA, 2009, p. 223).

Em suma, não basta a definição de políticas públicas delineadas como peças para

todos os municípios, indistintamente. É devida a consideração das desigualdades existentes no

país, estas que constituem obstáculos para a promoção de condições concretas para uma

80

educação de qualidade para todo o povo brasileiro e que, portanto, tocam a questão dos

investimentos visando à promoção de tais condições.

3.2 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE: ENTRE NOVAS METAS E

VELHOS DESAFIOS

O debate sobre a qualidade da educação enquanto conquista social passa

necessariamente pela questão do financiamento, “elemento estruturante para a organização e o

funcionamento das políticas públicas educacionais e [...] condição necessária para a

universalização do direito à educação pública de qualidade.” (BRASIL, 2010, p. 99). De

modo geral, a pergunta que expressa essa relação necessária pode ser posta, inicialmente, nos

seguintes termos: quanto custa viabilizar essa qualidade?

Visto que o financiamento público é um dos itens fundamentais das políticas públicas

de educação, é recorrente a crítica, especialmente entre os educadores, de que os recursos

financeiros destinados à mesma não são suficientes e, frequentemente, são mal aplicados, o

que inclui neste rol os desvios para outras áreas. Entretanto, é possível constatar que dentre os

profissionais da área muitos desconhecem a arquitetura oficial do financiamento da educação:

de onde vem os recursos, quais os mecanismos de controle e fiscalização e como são

regulados nas diferentes esferas de governo (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012).

Ao recuperarmos traços da história da educação brasileira, no que diz respeito ao

financiamento da educação, podemos perceber, de acordo com a Tabela 4, que nos períodos

democráticos sempre houve a determinação de aplicação de recursos, diferente dos períodos

autoritários quando preponderava a desvinculação. Essa constatação nos oferece o indicativo

de que a educação, como um direito social está estreitamente relacionada ao financiamento,

de modo que a efetividade da política de financiamento é determinante desse direito.

Tabela 4 – Evolução da vinculação de recursos de impostos para a educação nas Constituições Federais do

Brasil: 1934 – 1988

Esfera de

governo

Vinculação de recursos em porcentagem

CF 34

(Art. 139)

CF 37 CF 46

(Art. 169)

CF 67 EC nº

01/69

EC nº

24/83

CF 88

(Art. 212)

União 10 - 10 - - 13 18

Estados e DF 20 - 20 - - 25 25

Municípios 10 - 20 - 20 25 25

Fonte: Adaptado de Menezes (2008).

81

Conforme analisa Rodriguez (2001), após o regime militar, o sistema de

financiamento da educação tem sido reestruturado de acordo com duas lógicas principais: o

aumento e garantia de recursos para a educação pública; e a descentralização do sistema

tributário nacional, de modo a revigorar o sistema federativo. Para o autor, a primeira lógica

dominou os movimentos em defesa de educação pública na década de 1980, com forte

influência no processo constituinte que culminou na Constituição Federal de 1988.

Durante essa época, os níveis de vinculação de recursos de estados e municípios a

serem gastos com desenvolvimento e manutenção do ensino aumentaram de 20 para

25% do total da receita de impostos e transferências, e delimitou-se o que poderia

ser considerado como gastos com Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

(MDE), minimizando uma fonte de desvios de recursos constitucionais do setor

educacional para outros gastos. (RODRIGUEZ, 2001, p. 42).

Quanto à descentralização do sistema tributário nacional, a lógica tendeu a outro

movimento após duas décadas de autoritarismo centralizador da União. A esse respeito,

comenta Rodriguez (2001), essa descentralização financeira vem sendo seguida de perto e de

modo mais problemático pela descentralização de competências entre os entes federativos,

especialmente no tocante ao aparelho responsável pelas políticas de proteção social. “Atingida

neste processo, principalmente pelos efeitos da política de vinculação do gasto, a oferta de

serviços educacionais foi fortemente afetada pela lógica da descentralização fiscal do Estado

brasileiro.” (p. 43).

Tendo em vista essas duas lógicas, o autor refere e problematiza duas

descentralizações demarcadas, respectivamente, nos períodos de 1988-1996 e de 1996-2000.

A primeira, compreendendo a descentralização fiscal para estados e municípios e que

aumentou a disponibilidade de recursos nessas esferas de governo. Neste aspecto, os dados

dão conta de um aumento do percentual de receita dos municípios comparativamente ao

período militar, conforme se pode constatar na Tabela 5.

Tabela 5 – Percentuais de distribuição da Receita de Impostos 1980-1997 por nível de governo - Brasil

Anos Federal Estadual Municipal

1980 69,17 22,19 8,65

1988 62,32 26,92 10,76

1997 56,4 27,5 16,1

Fonte: Adaptado de Rodriguez (2001).

82

Embora tenha ocorrido um aumento significativo da participação dos municípios em

termos de receita, a expansão da oferta do ensino fundamental no período foi tímida,

conforme se pode verificar pelos dados da Tabela 6.

Tabela 6 – Matrícula inicial no Ensino Fundamental por dependência administrativa – Brasil 1980 – 1997

Ano Matrícula por Dependência Administrativa

Total Federal % Estadual % Municipal % Particular %

1980 22.598.254 169.336 0,7 11.928.315 52,8 7.602.527 33,6 2.898.074 12,8

1989 27.557.542 140.983 0,5 15.755.120 57,2 8.218.455 29,8 3.442.984 12,5

1991 29.203.724 95.536 0,3 16.716.816 57,2 8.773.360 30,0 3.618.012 12,4

1996 33.131.270 33.564 0,1 18.468.772 55,7 10.921.037 33,0 3.707.897 11,2

1997 34.229.388 30.569 0,1 18.098.544 52,9 12.436.528 36,3 3.663.747 10,7

Fonte: Adaptado de Mansano Filho, Oliveira e Camargo (1999).

Nesse contexto de tímido crescimento nas matrículas do ensino fundamental e de

aumento da receita, Rodriguez (2001) assinala o fato de ter sido frequente, por parte dos

municípios, a adoção de artifícios contábeis para cumprir as disposições constitucionais de

gasto, explicados em face de “formas de desvio na execução orçamentária dos recursos da

educação para outras atividades dos poderes públicos.” (p. 44). Para o autor, este foi um dos

principais problemas apontados durante a década de 1990, o que também culminou com uma

maior intervenção da União na política educacional do país.

Em face de uma determinada concepção de ação do Estado, a condução e um processo

de descentralização da oferta entre as esferas de governo se deu fundamentalmente por meio

da Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996, e da LDB, que introduziram um

novo cenário de coordenação do processo no país. Conforme analisa Duarte (2005, p. 822),

se, de um lado, a aprovação desses dois documentos conferiu uma melhor definição das

incumbências e a abrangência das instâncias federal, estadual, municipal e dos

estabelecimentos de ensino, de outro, “a atribuição legal de responsabilidades diferenciadas

entre os entes federados explicitou para os estados e municípios os encargos do financiamento

além das possibilidades de estabelecer regulação própria para o seu sistema de ensino [...]”

Essa já é a entrada na segunda descentralização referida pelo autor, demarcada pela

introdução do Fundef. Para Rodriguez (2001), foi justamente a forma fragmentada e

negligente com que os entes federativos enfrentaram a distribuição de recursos entre 1988 e

1995 a responsável pela primeira tensão no sistema educacional com a implantação do Fundo.

Afora isso, há que se apontar os efeitos perversos da priorização do ensino fundamental sobre

as demais etapas da educação básica, como a educação infantil e a educação de jovens e

83

adultos, e o resultado político do Fundef, decorrente da opinião pública nos municípios

quanto à diminuição da oferta da educação infantil e da qualidade do sistema de ensino.

Para um melhor entendimento do mecanismo inaugurado com o Fundef, importa

revisitarmos a arquitetura desse Fundo. Antes, contudo, cabe retomar a determinação quanto à

manutenção e desenvolvimento do ensino, segundo a qual:

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita

resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na

manutenção e desenvolvimento do ensino.

O Quadro 1 sintetiza, com base na Constituição Federal, o sistema de financiamento

do ensino determinado pelo artigo 212:

Quadro 1 – Financiamento do ensino – Art. 212 da Constituição Federal de 1988

Financiamento do Ensino

UNIÃO

Mínimo de 18% dos Impostos na MDE

Rec

eita

Res

ult

ante

de

Imp

ost

os

Imposto sobre Importação (II)

Imposto sobre Exportação (IE)

Imposto sobre Rendas e Provenientes de Qualquer Natureza (IR)

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)

Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)

Imposto sobre Propriedade Territorial Rural (ITR)

ESTADOS

Mínimo de 25% dos Impostos na MDE

Rec

eita

Res

ult

ante

de

Imp

ost

os

Imposto sobre Transmissão “causa mortis” e Doação (ITCD)

Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF)

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação

(ICMS)

Tra

nsf

erên

ci

as

Fundo de Participação dos Estados e DF (FPE)

Desoneração ICMS (LC 87/96)

Cota-Parte IPI Exportação

Cota-Parte IOF Ouro

MUNICÍPIOS

Mínimo de 25% dos Impostos na MDE

Rec

eita

Res

ult

ante

de

Imp

ost

os

Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU)

Imposto sobre Transmissão de Bens “Inter Vivos” (ITBI)

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF)

Imposto Territorial Rural (ITR) (Caso tenha optado por fiscalizar e cobrar, conforme CF, art. 153, § 4º, III)

Tra

nsf

erên

cias

Cota-Parte ITR (Caso tenha optado por fiscalizar e cobrar, conforme CF, art. 153, § 4º, III)

Cota-Parte IPVA

Cota-Parte IOF Ouro

Fundo de Participação dos Municípios (FPM)

Desoneração ICMS (LC 87/96)

Cota-Parte IPI Exportação

Cota-Parte ICMS

84

DISTRITO FEDERAL

Mínimo de 25% dos Impostos na MDE

Rec

eita

Res

ult

ante

de

Imp

ost

os

Imposto sobre Transmissão “causa mortis” e Doação (ITCD)

Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF)

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação

(ICMS)

Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU)

Imposto sobre Transmissão de Bens “Inter Vivos” (ITBI)

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)

ICMS/ISS – Simples

Tra

nsf

erên

cias

Fundo de Participação dos Estados e DF (FPE)

Fundo de Participação dos Municípios (FPM)

Desoneração ICMS (LC 87/96)

Cota-Parte IPI Exportação

Cota-Parte ITR (Considerando que o DF não optou por fiscalizar e cobrar, conforme CF, art. 153, § 4º, III).

Fonte: Brasil (2009).

Descrita a vinculação,29

verifiquemos os detalhes da subvinculação estabelecida pelo

artigo 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, por meio da qual os estados, o

Distrito Federal e os municípios passaram a ter de aplicar, no ensino fundamental, ao menos

60% dos 25% de recursos destinados à educação como um todo, haja vista a alteração deste

artigo pela Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996:

Art. 5° É alterado o artigo 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e

nele são inseridos novos parágrafos, passando o artigo a ter a seguinte redação:

“Art.60. Nos dez primeiros anos da promulgação desta Emenda, os Estados, O

Distrito Federal e os Municípios destinarão não menos de sessenta por cento dos

recursos a que se refere o caput do artigo 212 da Constituição Federal à manutenção

e ao desenvolvimento do ensino fundamental, com o objetivo de assegurar a

universalização de seu atendimento e a remuneração condigna do magistério.

A instituição do Fundef foi, então, providenciada pela Lei nº 9.424, de 24 de dezembro

de 1996, que dispôs sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7º, do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias, e dá outras providências. O Quadro 2 detalha a

composição do referido fundo, na qual fica evidenciada, conforme referido, a priorização do

29

O Salário-Educação constitui fonte adicional de recursos para a educação básica. Resulta da receita de imposto

calculado com base na alíquota de 2,5% sobre o total de remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título,

aos segurados empregados, sendo o montante, após a dedução de 1% em favor do Instituto Nacional do Seguro

Social (INSS), calculado sobre o valor por ele arrecadado, distribuído pelo FNDE, observada, em 90%

(noventa por cento) de seu valor, a arrecadação realizada em cada Estado e no Distrito Federal, em cotas:

federal, correspondente a 1/3 do montante dos recursos, é destinada ao FNDE e aplicada no financiamento de

programas e projetos para a educação básica; e estadual e municipal, correspondente a 2/3 do montante dos

recursos, creditada mensalmente em favor dos estados, do Distrito Federal e dos municípios para o

financiamento de programas, projetos e ações voltadas à educação básica. Esta cota é redistribuída entre os

estados e seus municípios, de forma proporcional ao número de alunos matriculados na educação básica.

85

ensino fundamental e a menor disponibilidade de recursos para atuação dos municípios na

educação infantil e na Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Quadro 2 – Financiamento e distribuição de recursos destinados à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino na

vigência do Fundef

Financiamento do Ensino UNIÃO

Mínimo de 18% dos impostos na MDE

Mínimo 5,4% (30% de 18%) no Ensino Fundamental

Repartição do Percentual

Mínimo na MDE

Rec

eita

res

ult

ante

de

Imp

ost

os

Imposto sobre Importação (II)

Imposto sobre Exportação (IE)

Imposto de Renda e Provento de qualquer natureza (IR) (53%

da arrecadação)

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) (43% da

arrecadação)

Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)

Imposto sobre a Propriedade Territorial (ITR)

Outros impostos

18%

5,4%

Ensino Fundamental

12,6 %

Outras Despesas MDE

ESTADOS

Mínimo de 25% dos impostos / transferências na MDE

Mínimo 15% (60% de 25%) no Ensino Fundamental

Repartição do Percentual

Mínimo na MDE

Rec

eita

res

ult

ante

de

Imp

ost

os

Imposto sobre Transmissão “causa mortis” e Doação

Imposto obre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF)

25%

15%

Ensino Fundamental

10 %

Outras Despesas MDE

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e

Serviços de Transporte Interestadual e

Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)

(75% da arrecadação)

Bas

e d

e cá

lcu

lo

Fu

nd

ef

25%

15% Fundef

(Ensino Fundamental)

Tra

nsf

erên

cias

Fundo de Participação dos Estados e DF (FPE)

Desoneração ICMS (LC 87/96)

Cota-Parte IPI Exportação (75%)

10 %

Outras Despesas MDE

Cota-Parte IOF Ouro

25%

15%

Ensino Fundamental

10 %

Outras Despesas MDE

MUNICÍPIOS

Mínimo de 25% dos impostos / transferências na MDE

Mínimo 15% (60% de 25%) no Ensino Fundamental

Repartição do Percentual

Mínimo na MDE

Rec

eita

resu

ltan

te

de

Imp

ost

os

Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU)

Imposto sobre Transmissão de Bens “inter vivos” (ITBI)

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF)

25%

15%

Ensino Fundamental

Tra

nsf

erên

cias

Cota-Parte ITR

Cota-Parte IPVA

Cota-Parte IOF Ouro

10 %

Outras Despesas MDE

Fundo de Participação dos Municípios (FPM)

Desoneração do ICMS (LC 87/96)

Cota-Parte IPI Exportação

Cota-Parte ICMS

Bas

e d

e

cálc

ulo

Fu

nd

ef

25%

15% Fundef

(Ensino Fundamental)

10 %

Outras Despesas MDE

Fonte: Adaptado de Secretaria do Tesouro Nacional. Disponível em:

http://www.tce.sc.gov.br/site/servicos/indicadores/EDUCACAO_NET_PDF/Fundamentacaolegal.pdf

86

Tendo em vista o mecanismo de financiamento instituído na vigência do Fundef, a

maior concentração de recursos no ensino fundamental foi responsável pela indução à

municipalização (OLIVEIRA, 1999; PINTO, 2007), haja vista que o Fundo trouxe como

consequência a possibilidade de o município ganhar ou perder recursos do seu orçamento, a

depender do número de matrículas no ensino fundamental, fator determinante na partilha dos

recursos do Fundo em cada estado. Tal indução, analisa Oliveira (1999, p. 33), não

considerou, por exemplo, “a questão dos recursos humanos em condições de gerir, com

sucesso, um sistema de ensino.”

De acordo com Pinto (2007), o padrão de divisão de responsabilidades introduzido

pelo Fundef pouco contribuiu para tornar a gestão do sistema mais eficiente e ainda menos

para aumentar a qualidade do ensino.

Em geral, não houve consulta à comunidade escolar e os critérios de decisão foram

essencialmente monetários: de um lado, os estados querendo reduzir seus alunos, de

outro os municípios querendo ampliar suas receitas. A preocupação com a qualidade

esteve, em geral, ausente em boa parte dos convênios de municipalização. (PINTO,

2007, p. 880).

O autor refere, ainda, o rompimento do equilíbrio entre o número de alunos atendidos

e a capacidade financeira dos municípios, sendo tendente o aumento do número de alunos por

turma e, em escolas de pequeno porte, haver o risco de subfinanciamento, especialmente nas

escolas rurais, ainda que não somente (PINTO, 2007).

Ademais o fato de os recursos do Fundef destinarem-se apenas ao ensino fundamental,

deixando de fora a educação infantil, o ensino médio e a EJA, implicou em consequências

nem sempre equacionadas para estas etapas da educação. Como já apontava Davies (1999, p.

17) no início da vigência do Fundo: “Como só as matrículas no ensino fundamental regular

valem para a obtenção de recursos do Fundef, as autoridades tenderão a privilegiar tais

matriculas e deixar de lado as dos demais níveis de ensino.”

Além desses aspectos que contribuem para um panorama deficitário quando se trata

dos recursos oriundos do Fundo na manutenção do ensino público brasileiro, surge ainda a

questão da suficiência ou não dos mesmos. Há aqueles que defendem a ideia de que os

recursos existentes são suficientes para a promoção de uma educação de qualidade para todos,

faltando apenas transparência e responsabilidade na execução. Todavia, em minha trajetória

profissional tenho percebido que essa não tem sido a realidade da grande maioria dos

municípios brasileiros. Na esteira do que dizem Ribeiro, Farenzena e Grabowski (2012, p.

114),

87

não nos aliamos àqueles que dizem que o Brasil conta com suficientes recursos para

a educação, e que os problemas existentes se devem ao desvio de recursos ou à

incompetente gestão destes, o que poderia ser superado com aperfeiçoamento dos

processos de controle e de gestão. O atual potencial de nível de gasto público em

educação, correspondente a mais ou menos 5% do PIB, não permitiria um avanço

significativo no que concerne à expansão ou qualificação da educação escolar [...]

Vale dizer que, embora esses diferentes posicionamentos continuem a disputar espaço

no debate e por dentro do Estado, posto ser este uma arena de luta de classes, de condensação

de uma relação de forças (POULANTZAS, 1975; 1980), temos visto ganhar impulso a ideia

da ampliação dos recursos da educação, como por exemplo as conquistas, ainda que parciais,

decorrentes da Conae 2010 e do PNE 2014-2014, além das disposições constantes no Parecer

CNE/CEB nº 08/2010 a esse respeito.

Embora o Fundef, à época de sua criação, tenha sido considerado pelo Governo

Federal uma medida inovadora de política pública – sem que se perca de vista o fato de o

Fundo fazer parte do amplo processo de redefinição do papel do Estado brasileiro e das

esferas de governo na manutenção e desenvolvimento do ensino –, foram muitas as críticas

dirigidas ao mecanismo ao longo da década de sua existência, conforme sintetizou Nardi

(2008a, p. 105) a partir de alguns estudos:

a ausência de garantias de expansão e de melhoria da rede física escolar

(AZEVEDO, 2002); a ausência do Governo Federal no aporte de recursos

vinculados ao Fundo, além do enfraquecimento dos outros níveis da educação

básica, não incluídos no mecanismo (DAVIES, 1999); a instalação de uma

competitividade entre os níveis de ensino, anunciando a introdução de uma

verdadeira fratura entre eles (RODRIGUEZ, 2001); a instalação de um forte

processo competitivo entre governos para a incorporação de matrículas do ensino

fundamental (PINTO, 2002), com a qual se estabeleceu um novo relacionamento

entre as esferas administrativas; uma discutível valorização do magistério,

principalmente pela falta de garantias para que isso efetivamente ocorresse

(DAVIES, 1999).

Trata-se de elementos com implicação direta em condições que repercutem na

qualidade da educação escolar, motivo pelo qual se pôde questionar os objetivos proclamados

do Fundef. De fato, o reiterado apontamento de inconsistências do Fundo contribuiu para a

projeção de outro fundo, a partir de 2007, na vigência do governo Lula.

Criado pela Emenda Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006, que alterou o

artigo 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o Fundeb foi regulamentado

pela Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007,30

que também revogou a maior parte dos

dispositivos da Lei nº 9.424/96.31

Em questão estava a elevação e uma nova distribuição dos

30

A Lei nº 11.494/97 substituiu a Medida Provisória nº 339/96 e foi regulamentada pelo Decreto nº 6.253/07, este

alterado pelos Decretos nº 6.278/07, nº 7.611/11 e nº 8.242/14. 31

Permaneceram em vigor os artigos 9º ao 12, 14 e 15.

88

investimentos em educação, passando a abarcar toda a educação básica – da creche ao ensino

médio –, inclusive as modalidades de educação. O Quadro 3 demonstra o mecanismo de

financiamento do Fundeb.

Quadro 3 – Financiamento do Ensino na vigência do Fundeb

Financiamento do Ensino

UNIÃO

Mínimo de 18% dos Impostos na MDE

Rec

eita

Res

ult

ante

de

Imp

ost

os

Imposto sobre Importação (II)

Imposto sobre Exportação (IE)

Imposto sobre Rendas e Provenientes de

Qualquer Natureza (IR)

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)

Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)

Imposto sobre Propriedade Territorial Rural

(ITR)

ESTADOS

Mínimo de 25% dos Impostos na MDE

Rec

eita

Res

ult

ante

de

Impo

sto

s

Imposto sobre Transmissão “causa mortis” e

Doação (ITCD)

Imposto sobre Propriedade de Veículos

Automotores (IPVA)

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF)

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e

Serviços de Transporte Interestadual e

Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)

Tra

nsf

erên

-

cias

Fundo de Participação dos Estados e DF

(FPE)

Desoneração ICMS (LC 87/96)

Cota-Parte IPI Exportação

Cota-Parte IOF Ouro

MUNICÍPIOS

Mínimo de 25% dos Impostos na MDE

Rec

eita

Res

ult

ante

de

Imp

ost

os

Imposto sobre Propriedade Territorial

Urbana (IPTU)

Imposto sobre Transmissão de Bens “Inter

Vivos” (ITBI)

Imposto sobre Serviços de Qualquer

Natureza (ISS)

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF)

Imposto Territorial Rural (ITR) (Caso tenha

optado por fiscalizar e cobrar, conforme CF,

art. 153, § 4º, III)

Tra

nsf

erên

cias

Cota-Parte ITR (Caso tenha optado por

fiscalizar e cobrar, conforme CF, art. 153, §

4º, III)

Cota-Parte IPVA

Cota-Parte IOF Ouro

Fundo de Participação dos Municípios

(FPM)

Desoneração ICMS (LC 87/96)

Cota-Parte IPI Exportação

Cota-Parte ICMS

Financiamento do Fundeb

UNIÃO

Complementação ao Fundeb: sempre que, no âmbito de cada estado e do

Distrito Federal, seu valor por aluno não

alcançar o mínimo definido

nacionalmente. A complementação da

União será de, no mínimo, 10% do total

de recursos que compõem o Fundeb, vedada a utilização dos recursos

provenientes da arrecadação da

contribuição social do salário-educação.

No máximo, 30% da

complementação

poderá proceder da

Receita Resultante

de Impostos

vinculada à MDE, conforme art. 60,

VIII, do ADCT e

art. 212 da CF

ESTADOS

20%

MUNICÍPIOS

20%

DESTINAÇÃO DOS

RECURSOS DO FUNDEB:

Ao menos 60% na

Remuneração dos

profissionais do magistério

em efetivo exercício

No máximo 40%em

outras despesas com

Educação Básica

89

DISTRITO FEDERAL

Mínimo de 25% dos Impostos na MDE

Rec

eita

Res

ult

ante

de

Impo

sto

s

Imposto sobre Transmissão “causa mortis” e Doação (ITCD)

Imposto sobre Propriedade de Veículos

Automotores (IPVA)

Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF)

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e

Serviços de Transporte Interestadual e

Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)

Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU)

Imposto sobre Transmissão de Bens “Inter

Vivos” (ITBI)

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)

ICMS/ISS – Simples

Tra

nsf

erên

cias

Fundo de Participação dos Estados e DF

(FPE)

Fundo de Participação dos Municípios

(FPM)

Desoneração ICMS (LC 87/96)

Cota-Parte IPI Exportação

Cota-Parte ITR (Considerando que o DF não optou por fiscalizar e cobrar, conforme CF,

art. 153, § 4º, III).

DF

20%

Fonte: Adaptado de Brasil (2009).

Tendo em vista a composição do Fundeb demonstrada no quadro, para Pinto (2007) a

principal conclusão a que chega é que o novo Fundo resgatou o conceito de educação básica

como direito. Mas, lamenta o autor, a inclusão de matrículas de educação infantil e da

educação especial conveniadas representou “um duro golpe no princípio de que recursos

públicos devem se destinar às instituições públicas” (p.888).

A determinação pela aprovação do Piso Profissional Nacional para os profissionais do

magistério significou, no entendimento do autor, outro dado positivo do Fundeb. Ao lado

disso, destaca o fortalecimento da representação dos usuários da escola nos conselhos de

acompanhamento do novo fundo.32

Pinto (2007) ainda refere a inovação introduzida pelo

novo fundo quanto à previsão de que até 10% da complementação da União possa ser

destinada ao desenvolvimento de programas voltados à melhoria da qualidade da educação

básica.33

Todavia, não deixa de expressar preocupação com a possibilidade de ocorrerem

ações marcadas por interesses político-partidários e práticas de má gestão de recursos, já

conhecidas na história educacional em torno desse tipo de iniciativa.

32

Passa a ser garantida a participação de pelo menos dois pais e dos estudantes, além de representante dos

conselhos tutelares nos conselhos de âmbito municipal. 33

Prevista no art. 7º da Lei nº 11.497/07.

DESTINAÇÃO DOS

RECURSOS DO FUNDEB:

Ao menos 60% na

Remuneração dos

profissionais do magistério

em efetivo exercício

No máximo 40%em

outras despesas com

Educação Básica

90

Para o autor, o Fundeb não enfrentou dois problemas marcantes de nossa política de

fundos: “1) a inexistência de um valor mínimo que assegure o ensino de qualidade e impeça

disparidades regionais; 2) embora o fundo seja único no âmbito de cada unidade da

Federação, os alunos permanecem atendidos por duas redes distintas.” (PINTO, 2007, p. 894).

Tendo em vista os dispositivos legais da atual Constituição Federal, em seus artigos

206, inciso VII, e 211, § 1º, bem da LDB, em seus artigos 3º, inciso IX, e 4º, inciso IX, o

Parecer nº CNE/CEB nº 08/2010 buscou identificar o Custo Aluno Qualidade inicial (CAQi),

desenvolvido pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, como referência para a

construção da matriz de padrões mínimos de qualidade para a educação básica pública no

Brasil.

Referindo a associação entre desigualdade social e níveis educacionais do país, o

Parecer apresenta uma relação entre riqueza, expressa pelo Produto Interno Bruto (PIB),

educação e desenvolvimento humano. Para tanto, apresenta dados (Tabela 7) que identificam

a posição do Brasil em comparação com outros países, levando em consideração o PIB, o PIB

per capita, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice de Desenvolvimento

Educacional (IDE).

Tabela 7 – Posição Mundial do PIB e do PIB per capita em 2008, do IDH em 2006 e do IDE em 2005 do Brasil e

de outros países

País

Posição no

PIB (2008) *

Posição no PIB

Per capita

(2008)*

Posição no

IDH

(2006)**

Posição no IDE

(2005)***

Noruega 41 2 2 1

Irlanda 52 5 5 25

Finlândia 53 11 12 11

Inglaterra 6 13 21 2

Espanha 11 26 16 18

Irã 15 86 84 90

Brasil 9 45 70 76

Índia 4 125 132 105

Bangladesh 49 158 147 107

*Fundo Monetário Internacional (FMI), Base de dados mundial de economia (2008).

**Relatório de Desenvolvimento Humano 2008/2009 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,

compilado com base em dados de 2006 e publicado no dia 18 de dezembro de 2008.

***Relatório de Monitoramento Global do EPT, UNESCO.

Fonte: Brasil (2010).

Em face dos dados, o Parecer registra a melhor relação entre a posição do país no PIB

per capita e o seu IDH, assim como com o seu IDE. Contudo, essa melhor relação não ocorre

com o PIB absoluto. Assinala, ainda que no ranking do PIB Mundial, o Brasil ocupa a 9ª

posição, mas quando traduzido no PIB per capita, fica na 45ª posição. Os dados da tabela

permitem dizer “que melhores resultados educacionais se correlacionam fortemente com o

91

desenvolvimento humano e com a riqueza per capita de um país. Oferecer educação de

qualidade deve ser, portanto, uma estratégia importante para a construção de um país mais

justo e igualitário.” (BRASIL, 2010, p. 3).

Conforme registra o Parecer, que ainda aguarda homologação, ao longo dos anos tem

crescido o número de pesquisas e estudos que focalizam fatores influentes na qualidade da

educação básica no país, ainda um problema complexo e multifacetado, especialmente em

razão de fatores históricos. “O Brasil tem uma dívida social que impacta na qualidade

almejada e que se traduz em um claro apartheid de oportunidades educacionais, refletido nos

diferentes Brasis identificados na ótica dos resultados educacionais.” (BRASIL, 2010, p. 1).

Na perspectiva da construção de um país mais justo e igualitário, tendo por via a

educação básica de qualidade para todos, o Parecer CNE/CEB nº 08/2010 assinala alguns

desafios a serem enfrentados, situados sobretudo “na valorização da carreira do magistério

(valorização salarial, plano de carreira, formação inicial e continuada, e condições de

trabalho), financiamento e gestão da educação, e estabelecimento de padrões mínimo de

qualidade para nossas escolas públicas [...]” (p. 8).

Ao tratar da valorização dos profissionais da educação, colocando-a como o maior

desafio rumo a uma educação de qualidade, o Parecer estabelece uma comparação com a

educação da Finlândia, onde somente os 20% dos melhores alunos do ensino médio são

levados à carreira do magistério em uma forte concorrência e com salários bem acima da

média de outros profissionais. Essa analogia faz sentido na medida em que o Parecer registra

que “todos os estudos internacionais mostram que a qualidade da aprendizagem está

diretamente relacionada com a qualidade de formação do professor; sem bons professores não

teremos bons alunos.” (p. 9)

Outro aspecto tão importante quanto à valorização dos profissionais é a gestão da

educação, tanto em nível de escola como de sistema. Entendendo que a partir da gestão os

sistemas podem tornar mais pertinente a implantação de políticas educacionais, corroboramos

a posição contida no Parecer de que “nos tempos atuais não é mais aceitável que gestores

sejam escolhidos por critérios políticos sem nenhuma condição de liderança e de formação

para gerir uma escola ou um sistema de ensino”. (BRASIL, 2010, p. 15)

No entanto, da mesma forma como tem acontecido com outras legislações da área

educacional, nem todas as discussões que precederam a aprovação do PNE 2014-2024,

fornecendo-lhe proposições, foram observadas na composição do Plano. Proposições estas

oriundas da sociedade organizada e que, por ocasião das conferências municipais,

92

intermunicipais e nacionais, debateram seriamente diversos temas relacionados à educação no

país.

Sancionada sem vetos, a Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que fez entrar em

vigor o PNE 2014-2024 – o segundo plano nacional aprovado por lei –, apresenta na meta 20

e suas estratégias o seguinte conteúdo:

Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública de forma

a atingir, no mínimo, o patamar de sete por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do

país no quinto ano de vigência desta lei e, no mínimo, o equivalente a dez por cento

do PIB ao final do decênio. São doze as estratégias para alcançar os objetivos

traçados nessa meta.

20.1. Garantir fontes de financiamento permanentes e sustentáveis

para todos os níveis, etapas e modalidades da educação básica, observando-se as

políticas de colaboração entre os entes federados, em especial as decorrentes do art.

60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e do § 1º do art. 75 da Lei nº

9.394, de 20 de dezembro de 1996, com vistas a atender suas demandas

educacionais à luz do padrão de qualidade nacional;

20.2. Aperfeiçoar e ampliar os mecanismos de acompanhamento da

arrecadação da contribuição social do salário-educação;

20.3. Destinar à manutenção e desenvolvimento do ensino, em

acréscimo aos recursos vinculados nos termos do art. 212 da Constituição Federal,

na forma da lei específica, a parcela da participação no resultado ou da

compensação financeira pela exploração de petróleo e gás natural e outros

recursos, com a finalidade de cumprimento da meta prevista no inciso VI do caput

do art. 214 da Constituição Federal;

20.4. Fortalecer os mecanismos e os instrumentos que assegurem nos

termos do parágrafo único do art. 48 da Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de

2000, a transparência e o controle social na utilização dos recursos públicos

aplicados em educação, especialmente a realização de audiências públicas, a

criação de portais eletrônicos de transparência e a capacitação dos membros de

conselhos de acompanhamento e controle social do Fundeb, com a colaboração entre

o Ministério da Educação, as secretarias de educação dos estados e dos municípios e

os tribunais de contas da União, dos estados e dos municípios;

20.5. Desenvolver, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (Inep), estudos e acompanhamento regular dos

investimentos e custos por aluno da educação básica e superior pública, em

todas as suas etapas e modalidades;

20.6. No prazo de dois anos da vigência deste PNE, será implantado o

Custo Aluno-Qualidade inicial (CAQi), referenciado no conjunto de padrões

mínimos estabelecidos na legislação educacional e cujo financiamento será

calculado com base nos respectivos insumos indispensáveis ao processo de ensino-

aprendizagem e será progressivamente reajustado até a implementação plena do

Custo Aluno Qualidade (CAQ);

20.7. Implementar o Custo Aluno Qualidade (CAQ) como parâmetro

para o financiamento da educação de todas as etapas e modalidades da

educação básica, a partir do cálculo e do acompanhamento regular dos indicadores

de gastos educacionais com investimentos em qualificação e remuneração do

pessoal docente e dos demais profissionais da educação pública, em aquisição,

manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos

necessários ao ensino e em aquisição de material didático-escolar, alimentação e

transporte escolar;

20.8. O CAQ será definido no prazo de três anos e será continuamente

ajustado, com base em metodologia formulada pelo Ministério da Educação

(MEC), e acompanhado pelo Fórum Nacional de Educação (FNE), pelo Conselho

Nacional de Educação (CNE) e pelas Comissões de Educação da Câmara dos

Deputados e de Educação, Cultura e Esportes do Senado Federal;

93

20.9. Regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art. 211 da Constituição

Federal, no prazo de dois anos, por lei complementar, de forma a estabelecer as

normas de cooperação entre a União, os estados, o Distrito Federal e os

municípios, em matéria educacional, e a articulação do sistema nacional de

educação em regime de colaboração, com equilíbrio na repartição das

responsabilidades e dos recursos e efetivo cumprimento das funções redistributiva

e supletiva da União no combate às desigualdades educacionais regionais, com

especial atenção às regiões Norte e Nordeste;

20.10. Caberá à União, na forma da lei, a complementação de recursos

financeiros a todos os estados, ao Distrito Federal e aos municípios que não

conseguirem atingir o valor do CAQi e, posteriormente, do CAQ;

20.11. Aprovar, no prazo de um ano, a Lei de Responsabilidade

Educacional (LRE), assegurando padrão de qualidade na educação básica, em

cada sistema e rede de ensino, aferida pelo processo de metas de qualidade por

institutos oficiais de avaliação educacionais;

20.12. Definir critérios para distribuição dos recursos adicionais

dirigidos à educação ao longo do decênio, que considerem a equalização das

oportunidades educacionais, a vulnerabilidade socioeconômica e o compromisso

técnico e de gestão do sistema de ensino, a serem pactuados na instância prevista no

§ 5° do art. 7º desta lei. (Grifos meus).

Como se pode verificar, no conteúdo da meta e das estratégias fica evidente – ainda

que não necessariamente expressem os anseios da comunidade educativa, haja vista a

correlação de forças estabelecidas ao longo da tramitação do PNE no Congresso Nacional – o

apontamento de medidas em torno da ampliação progressiva de recursos, sua destinação e

controle social (o que inclui a Lei de Responsabilidade Educacional), além do

compartilhamento de encargos quanto à oferta e ao financiamento da educação pública, na

perspectiva dos regimes de cooperação e colaboração, com destaque ao chamado à

participação da União nesse processo. Também, e especialmente, ganha força a figura do

CAQ, sobre o qual há consenso entre os educadores e pesquisadores da área, de que tal figura

constitui peça fundamental para avançarmos na qualidade da educação básica.

De outro ângulo, podemos dizer que, se os resultados educacionais historicamente

obtidos no país fossem satisfatórios, a meta 20 do novo PNE e as suas estratégias poderiam

corresponder a um impulso significativo à educação brasileira na década atual. Contudo,

como os resultados constituídos ao longo do tempo são pouco animadores, é difícil crer que o

alcance da meta represente grandes transformações, ainda que possa repercutir

favoravelmente. Por exemplo, ao dispor sobre a garantia de “fontes de financiamento

permanentes e sustentáveis para todos os níveis, etapas e modalidades da educação básica.”

(Estratégia 20.1), vejo que a convocação dos termos “permanentes” e “sustentáveis” remete

ao reconhecimento de uma dívida que não poderia existir e que agora, no plano legal

representado pelo PNE, estar-se-ia abrindo algum caminho para uma solução tardia.

94

Também, quando sugere que sejam desenvolvidos “estudos e acompanhamento

regular dos investimentos” (Estratégia 20.5), parece-me haver demonstração que a

transparência não é uma prática efetiva, o que só reforça os argumentos em torno da

necessidade de uma gestão democrática da educação pública, proposta que enfrenta

resistências históricas mesmo tendo sido elevada à condição de princípio constitucional na

Carta de 1988.

Para o reforço de uma crítica das proposições na interface com velhos e novos desafios

para a construção da qualidade da educação, importa considerarmos as reflexões e

proposições contidas nos Documento Final da Conae 2010 e da Conae 2014, ambas fruto de

uma ampla participação da sociedade civil. Para tanto, vejamos em linhas gerais o que

apontam esses documentos quanto aos temas “qualidade”, “financiamento” e “gestão”.34

Quadro 4 – Indicativos constantes nos documentos finais da Conae 2010 e 2014 sobre os temas “qualidade”,

“financiamento” e “gestão” da educação

Conae 2010 Conae 2014

Qu

alid

ade

Os debates que antecederam a Conae 2010

entenderam a qualidade como uma consequência da

materialização das políticas públicas quando essas

são traduzidas através de programas em ações

articuladas. Alguns aspectos são considerados

determinantes à qualidade, a saber: questões

macroeconômicas como concentração de renda e

desigualdade social. As dimensões extra e intra-

escolares precisam ser resultado da atuação eficiente

de todos os atores envolvidos na ação pedagógica.

Nas dimensões intra-escolares pode-se enfatizar as

relações entre o número de alunos por turma, alunos

por professor e por funcionários.

Qu

alid

ade

As discussões na Conae 2014 apontam a qualidade

como parte de um sistema de valores da sociedade

podendo variar de acordo com o momento

histórico. Reconhece a importância das dimensões

extraescolares na busca da superação das

desigualdades. Vê na universalização do acesso e

na ampliação da jornada escolar como

componentes favoráveis à qualidade.

Fin

anci

amen

to

Realça a necessidade de aumentar o montante dos

recursos, principalmente no que diz respeito à

contribuição da União. Define como urgente uma

reforma tributária no prazo máximo de três anos,

principalmente na busca do equilíbrio regional. A

definição do custo aluno/qualidade (CAQ) também é

urgente. Defende o estabelecimento de valores

diferenciados para escolas que atendem uma

população diferenciada, inclusive com adequação

dos prédios. Apesar dos avanços trazidos pelos

Fundos, reconhece imprescindível a busca de

solução para alguns problemas crônicos: a revisão

do papel da União; a instalação de um verdadeiro

regime de colaboração; uma real valorização dos

trabalhadores em educação e a definição de

referenciais de qualidade para todos os níveis e

modalidades.

Fin

anci

amen

to

Diante do descumprimento de uma boa parte das

metas do PNE 2001-2011 e pela ausência de uma

meta que vinculasse recursos financeiros, foi

intensificada a pressão para que no novo PNE

tivesse ao menos uma meta clara e adequada de

financiamento. Conclui que mesmo os percentuais

mínimos definidos constitucionalmente para os

entes federados, não asseguram o montante de

recursos para superar os problemas educacionais do

Brasil. Propôs estratégias que indicam:

responsabilidades, corresponsabilidades,

atribuições concorrentes, complementares e

colaborativas entre os entes federados garantindo a

participação popular, cooperação federativa e

regime de colaboração.

34

No documento final da Conae 2010 são os eixos II e V e da Conae 2014, os eixos IV, V e VII.

95

Conae 2010 Conae 2014 G

estã

o

A gestão não é vista como um fim em si mesma,

mas como um importante instrumento no combate

ao autoritarismo, ao individualismo e às

desigualdades socioeconômicas. Deve estar a

serviço da qualidade, caso contrário não passará de

mera prescrição burocrática. A participação de todos

deve ser não apenas no momento da implantação,

mas também nas definições das políticas públicas. A

qualidade da materialização de uma política depende

de como esta é gerida. Recomenda um processo

contínuo de discussão a respeito dos processos de

organização e gestão das instituições de ensino para

que, dessa forma, possa ampliar os conceitos e

práticas que as direcionam.

Ges

tão

Na linha dos argumentos da Conae 2010, afirma

que é preciso romper as práticas autoritárias e

centralizadoras que ainda estão presentes na

sociedade brasileira, em especial no campo da

educação. Para tanto, é preciso garantir os meios e

as condições favoráveis para que os processos de

gestão sejam construídos coletivamente, de modo a

ficar claro que a participação não se decreta, não se

impõe e, portanto, não pode ser entendida apenas

como mecanismo formal/legal.

Fonte: elaborado com base em Brasil (2010, 2014).

Analisando esses enfoques contidos nas conclusões das Conae 2010 e 2014, percebo

haver uma sintonia nas defesas em torno dos três temas, embora no primeiro documento o

tom tenha sido mais propositivo com os temas “gestão”, “qualidade” e “financiamento” sendo

abordados com evidente enfoque prático, com vistas a subsidiar a construção do novo PNE,

enquanto no segundo documento a ênfase recaiu mais nos pressupostos e questões históricas e

sociais que tocam diretamente os temas. Vale ressaltar que, quando da realização da Conae

2014, o PNE já havia sido aprovado, depois de longo e conturbado processo de negociações

na arena legislativa.

De modo geral, o tema “qualidade” é abordado nos dois documentos à vista de uma

perspectiva social, considerando-a uma produção histórica dos sujeitos sociais e, portanto,

diretamente relacionada com as condições concretas de cada tempo. A geração dessas

condições, que é implicada no plano político, tem o financiamento como fator determinante.

Sobre ele, os documentos da Conae destacam a necessidade do aumento e a garantia de

recursos, o que requer reforçar o regime de colaboração entre os entes federativos, tendo em

conta a definição e igual garantia de investimentos mínimos por aluno visando à promoção da

qualidade, perspectiva informada pelo CAQ.

Assim, considerando que a geração da qualidade requer o aporte de recursos que

garantam as condições necessárias para promovê-la, o destaque à gestão recai nas práticas

participativas na definição, condução e avaliação do processo educacional. Nesse sentido, os

argumentos têm por base pressupostos da gestão democrática na direção oposta às práticas

autoritárias e centralizadoras. Portanto, trata-se de destacar essa correlação entre os processos

de gestão educacional, que inclui a gestão dos recursos financeiros, considerados

96

determinantes à geração e condições necessárias à promoção da qualidade da educação, como

a defendemos na atualidade.

Na comparação com o conteúdo do novo Plano, esses argumentos e defesas parecem

ter perdido espaço. Vale aqui, a título de síntese, recuperar a análise tecida por Antonio

Lisboa Leitão de Souza (2015) acerca do cenário educacional no pós-aprovação do PNE

(2014-2024), cenário esse marcado não somente por descompassos em relação aos

argumentos e defesas que tiveram como palco a Conae, mas também pelos ínfimos avistados

desde a sua vigência. Diz o autor:

Foram décadas perdidas, com Plano Nacional ou não. Os efeitos da educação são

muito perversos. Não podemos falar em qualidade com as condições das escolas. O

PNE nasceu com quatro anos de atraso, uma vez que o anterior teve vigência até

2010. O ano de 2015 começou com um grande déficit de recursos. A meta 20 chega

a 10% do PIB sendo 7% no 5º ano, mas no primeiro ano não se cresceu nem 0,5%.

Os recursos não são suficientes. Metas colocadas de forma utópica a exemplo da

exigência da matrícula de crianças de quatro anos já no próximo ano. O que é que os

municípios que dependem unicamente dos repasses do governo vão fazer? As

escolas não têm vagas. Temos muito mais adversidades do que alternativas. O país

tem tentado fazer dos PNEs verdadeiros balizadores, mas lamentavelmente este

tende a ser como os outros, peças ornamentais. Os dois primeiros PNEs foram

abortados pelos governos militares (1937 e 1964). O terceiro PNE foi inviabilizado

economicamente, pois todos os vetos foram nos recursos. Talvez enfrentemos uma

década pior do que as anteriores. Arregaçar as mangas e discutir as políticas a partir

da indignação de cada um [...]35

Põe-se, portanto, o desafio da materialização das metas postas no plano legal,

nomeadamente no novo PNE. Embora esse desafio seja de grande dimensão, entendo que a

perspectiva de “qualidade”, “financiamento” e “gestão” identificadas com os debates da

Conae constituem marcos fundamentais para darmos passos mais ousados do que aqueles que

indicam o atual Plano quanto a uma efetiva melhoria da qualidade educacional. É sobre o

entrecruzamento desses três temas, em termos de opções e práticas de gestão que informem

relações positivas entre gestão do financiamento e construção da qualidade da educação, que

passo a abordar na próxima seção.

35

Conferência proferida no dia 14 de outubro de 2015, na sessão de abertura do II Congresso Nacional de

Educação (CONEDU), realizado em Campina Grande, Paraíba, entre os dias 14 e 17 de outubro.

97

3.3 GESTÃO DO FINANCIAMENTO E CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE DA

EDUCAÇÃO: ELEMENTOS CONDICIONANTES

Situados alguns dos desafios atuais no campo das políticas e gestão educacionais e na

promoção da qualidade social da educação, passo agora a explorar estudos e pesquisas da

área, realizados no período de 2000 a 2015, de modo a identificar relações positivas entre

gestão do financiamento e construção da qualidade da educação, especialmente as que

implicam mais diretamente a gestão da educação na esfera municipal.36

Conforme referido na

seção 1.1.2, tal procedimento possibilitou sistematizar o seguinte conjunto de referências, em

termos de opções e práticas de gestão, indicativas da referida relação positiva:

a) Se a vinculação de recursos à educação constitui fator positivo ao melhor

desempenho educacional, a qualidade na educação implica na vontade política dos

gestores municipais, em especial do dirigente municipal de educação;

b) A melhoria da qualidade da aprendizagem dos estudantes tem relação com a forma

como é operada a gestão educacional;

c) A promoção da qualidade passa pela promoção de adequações no funcionamento,

com base no planejamento das ações de intervenção na rede;

d) O financiamento da educação constitui mecanismo determinante para a correção

de desigualdades educacionais regionais;

e) A atuação dos conselhos constitui recurso de gestão democrática importante para a

promoção da qualidade da educação;

f) A atenção a ações e estratégias prioritárias no campo da gestão escolar contribui

para a construção da qualidade na educação;

g) Práticas de descentralização de poder decisório na gestão da educação repercutem

na melhoria da qualidade da educação;

h) A melhoria da qualidade da educação depende de sintonia de esforços entre a

gestão dos sistemas de ensino, a escola e os professores visando promover

condições favoráveis à aprendizagem dos estudantes com qualidade;

36

Cabe lembrar que o levantamento foi realizado no Banco de Teses e no Portal de Periódicos da Capes,

segundo estratégia descrita no primeiro desdobramento da pesquisa (detalhado na sessão 1.1.1), tendo por

período de referência os anos de 2000 a 2015. No caso das teses e dissertações, a disponibilidade de acesso

ficou restrita ao período de 2011 a 2012. Além dos estudos levantados nesse processo, também foram

considerados outros identificados no curso das leituras realizadas durante o Mestrado e em levantamento

adicional realizado na Scientific Electronic Library Online (Scielo), observada a publicação no período de 2000

a 2015 e os mesmos descritores usados no primeiro levantamento.

98

i) A melhoria da qualidade da educação depende fundamentalmente do professor e,

portanto, das suas condições de trabalho e de exercício da profissão;

j) O monitoramento da aplicação dos recursos pela sociedade civil constitui fator

imprescindível para o êxito da política de financiamento da educação e, portanto,

para a melhoria da qualidade da educação.

A primeira referência situa a vontade política dos gestores como ingrediente decisivo à

melhoria da qualidade na educação. É nessa direção que apontam estudos como o de Vieira

(2012), que analisando os desafios do Brasil diante das estatísticas educacionais, apresenta

evidências de que, para melhorar a qualidade do ensino, é preciso antes rever a gestão

educacional haja vista a expressividade dos impactos deste campo no aprendizado dos alunos.

Pensando assim, devemos reconhecer que a gestão educacional possui características próprias

e que, para além da aplicação adequada dos recursos e dos princípios da boa administração, é

preciso considerar a especificidade da escola enquanto instituição social, cuja finalidade é

delineada pelos fins pedagógicos.

Corroborando esse pensamento, Oliveira (2011) identificou “forças” existentes no

interior de sistemas de ensino, identificando aquelas que contribuem para a manutenção das

representações e as que sugerem possibilidades de mudança. Segundo argumenta, quando um

sistema de ensino busca desenvolver uma gestão democrática, ele está em busca das

representações capazes de promover mudanças necessárias e com potencial para promover

uma aprendizagem mais efetiva.

Na linha dessa referência, vemos reforçada uma outra: de que a melhoria da qualidade

da aprendizagem dos estudantes está relacionada com a forma como a gestão educacional é

realizada. Sobre esta, diversos estudos tomam como exemplo o contexto escolar, como o faz

Hedeggard (1999), ao concluir que as práticas desenvolvidas nas escolas afetam de maneira

significativa a vida do aluno, favorecendo ou não a sua motivação e a aprendizagem.

Consoante destaca a autora:

Os sentidos são criados pelas relações reais de uma pessoa na sua vida, ela reflete os

motivos nessas atividades [...] As crianças se desenvolvem por meio da participação

em formas institucionalizadas de prática, caracterizadas pela comunicação em

atividades compartilhadas. Estas formas de prática iniciam, mas também restringem,

as atividades das crianças e, desse modo, tornam-se condições para o seu

desenvolvimento. A participação de uma criança em uma atividade contribui para a

realização concreta dessa atividade, a qual contribui para as condições do seu

próprio desenvolvimento (HEDEGAARD, 1999, p. 280).

99

Considerando que as práticas de organização e gestão devem estar a serviço da

melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem (LIBÂNEO, 2009), reconheço nesse

enfoque uma atitude de construção da qualidade educacional. Para tanto, entendo ser

primordial que essas práticas sejam orientadas por uma concepção de gestão educacional

constituída com base em esforços coletivos e em objetivos comuns.

A ideia de que a promoção da qualidade passa pela promoção de adequações no

funcionamento das escolas, com base no planejamento das ações de intervenção na rede, é

outra referência identificada nos trabalhos levantados. Nesse sentido, Blasis (2011) destaca a

promoção de ajustes no funcionamento das escolas e o planejamento de ações de intervenção

sempre que houver necessidade, esta apontada pela consciência de que é preciso melhorar a

qualidade da educação. Pensando assim, vejo valorizada a gestão democrática enquanto

processo político e administrativo contextualizado (BORDIGNON; GRACINDO, 2009)

visando à promoção da educação como um bem social.

O financiamento da educação enquanto ferramenta para a correção de desigualdades

educacionais regionais é outra referência em termos de opções e práticas de gestão que

implicam na referida relação positiva entre gestão do financiamento e construção da qualidade

da educação. Estudos como o de Igarasi (2001) chamam a atenção para problemas no campo

do financiamento, frequentemente enfrentados pelos sistemas de ensino, e suas repercussões à

realização da educação pública. A respeito das possibilidades de enfrentamento, Frinhani

(2011) e Yamaguita (2013) apontam os Fundos como um dos mais importantes avanços para

o equilíbrio federativo no financiamento da educação básica, considerando-se inclusive o

processo de municipalização do ensino.

Se a devida aplicação dos recursos passa por uma boa gestão, os estudos também

destacam o papel fundamental a ser exercido pelos Conselhos de Acompanhamento e

Controle Social, como destacam estudos tais como os de Lima (2011), que investigou o

funcionamento desses conselhos e concluiu tratar-se de uma importante estratégia de gestão

democrática e de exercício do controle social por parte da sociedade.

Contudo, conforme comentado na seção 2.3 desta dissertação, não faltam estudos que

denunciam a atuação periférica desses conselhos, motivada por situações diversas. Felix

(2012), por exemplo, ao investigar o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos

Escolares (PNFCE) reconhece que a inexistência de uma avaliação sistemática sobre o

impacto do programa na melhoria da organização e gestão dos conselheiros escolares é fator

que também responde pela falta de uma efetiva preparação dos conselheiros para atuar no

acompanhamento das políticas públicas de financiamento da educação.

100

E a figura do professor? Como é situada nesse debate sobre gestão do financiamento e

qualidade educacional? A esse respeito, os estudos levantados afirmam categoricamente que o

papel do professor é fundamental. Demo (2010), por exemplo, em estudo sobre a

aprendizagem, aponta que as mudanças na escola precisam centrar-se na figura do professor e

que é necessário tê-lo como sujeito e não como objeto do processo educativo.

Sobre esse tema, após analisar uma série de dificuldades levantadas em um estudo

realizado no estado do Ceará, Vieira (2007) conclui que, por maior que sejam o empenho e o

compromisso com a gestão do sistema, a disposição para ensinar e aprender depende muito da

própria escola e, sobretudo, dos seus professores. Por razões como essa, tendo em vista os

impactos iniciais do Fundeb na educação infantil no município de Fortaleza, também Ribeiro

(2011) conclui que, embora tenhamos alcançado avanços significativos, persiste o desafio de

termos bons quadros de pessoal nas instituições educativas. Daí, portanto, concordarmos que

o professor precisa estar preparado para compreender a gestão democrática da escola como

uma via possível, bem como as contradições e desafios que a cercam. Afinal, a organização e

a gestão da escola implicam diretamente as condições de promoção da aprendizagem e as

relações dos sujeitos no interior da escola, o que é determinante à construção da qualidade

educacional.

E o papel da sociedade diante dessa realidade, como fica? Estudos desenvolvidos por

Salvetti (2011) e Cunha (2012) nos mostram que o monitoramento dos sistemas de ensino

pela sociedade civil constitui fator imprescindível para o êxito da política de financiamento da

educação e, portanto, para a melhoria da qualidade educacional. Segundo ressaltam os

autores, as famílias precisam participar das decisões e, para isso, que as comunidades sejam

envolvidas e protagonizem o processo decisório acerca da educação pública. Até porque,

o controle social é entendido como uma conquista da população decorrente de luta,

em uma sociedade civil heterogênea e plural. O entendimento é que os interesses das

forças dominantes, instaladas hegemonicamente no aparelho estatal, defrontam-se

com as ações e reivindicações dos trabalhadores, dos movimentos sociais,

associações e entidades que se tornaram protagonistas e exigem transparência e

controle social sobre as políticas públicas, em especial sobre os recursos financeiros.

(SILVA; BRAGA, 2010, p. 3).

O monitoramento aqui referido diz respeito à participação do cidadão na gestão da

educação, o que inclui a aplicação dos recursos públicos. Com base na concepção de gestão

democrática, a transparência nas ações e nos investimentos em educação constitui atitude

fundamental, e esta atitude tem na participação da sociedade civil, sobretudo por meio dos

101

conselhos (órgãos consultivos e deliberativos), um recurso valioso para a determinação do

planejamento, execução e avaliação de projetos educacionais.

Em síntese, percebo nas referências aqui apresentadas a aposta em medidas cujos

fundamentos têm em conta pressupostos da gestão democrática como orientadores de práticas

de gestão do financiamento, tendo em vista o potencial para repercutir na melhoria da

qualidade da educação. Percebo, ainda, que essas referências carregam o objetivo e a

possibilidade de o município brasileiro desempenhar de maneira comprometida e responsável

políticas educacionais mais comprometidas com a construção de uma qualidade socialmente

referenciada.

A continuidade desse debate se dá em diálogo com os resultados da etapa empírica da

pesquisa, conforme o delineamento metodológico apresentado na primeira seção desta

dissertação. Em contato com os sujeitos locais, busquei identificar, em práticas de gestão

educacional dos dois municípios pesquisados, evidências que apontem para uma maior ou

menor pertinência entre essas opções e práticas no campo do financiamento e a geração de

condições favoráveis à melhoria da qualidade da educação.

102

4 GESTÃO LOCAL DO FINANCIAMENTO E MELHORIA DA QUALIDADE DA

EDUCAÇÃO: ELEMENTOS DAS REALIDADES MUNICIPAIS PESQUISADAS

Nesta seção, apresento uma caracterização dos municípios pesquisados, tendo por

referência aspectos geográficos, econômicos, culturais, políticos e sociais. Além desses

aspectos, incluí um retrato geral acerca do financiamento da educação em cada município,

com foco nas receitas e nos investimentos públicos em educação no período de 2010 a 2014.

Neste sentido, são apresentados dados da receita tributária por subcategoria econômica, da

despesa por função de governo, das despesas com educação por tipo de componente, registros

dos Tribunais de Contas dos dois Estados e uma síntese dos gastos em educação, tendo como

fontes principais os Tribunais de Contas de Santa Catarina e do Piauí. Na sequência, descrevo

os resultados da etapa empírica realizada nos dois municípios pesquisados, tendo em vista

identificar opções e práticas de gestão da educação na esfera municipal que implicam na

relação positiva entre gestão do financiamento e construção da qualidade educacional, assim

como levantar evidências que apontem maior ou menor pertinência entre essas opções e

práticas no campo do financiamento e a geração de condições favoráveis à melhoria da

qualidade da educação.

4.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS MUNICÍPIOS PESQUISADOS

O Município de Corrente, segundo dados do IBGE (2010), teve suas terras divididas

em 1754, pelo engenheiro da Corte Portuguesa José da Silva Balmar, em atendimento a uma

ordem do Rei de Portugal. Teve como pioneiro de sua fundação Sr. Caetano Carvalho da

Cunha, que adquiriu, através do requerimento, a Fazenda Corrente de Cima, com 6.300

braças, onde desenvolveu diversas atividades, atraindo grande número de agregados. Por meio

da Lei Provincial nº 782, de 10 de dezembro de 1872, o povoado foi elevado à categoria de

vila, no entanto sua instalação só se deu a 8 de dezembro de 1973.

O Município começou a se consolidar com a fundação da Igreja Batista de Corrente e

a criação de escolas primárias, por influência de cidadãos de projeção política no cenário

nacional, como Joaquim Nogueira Paranaguá e Benjamim Nogueira, que se destacaram nas

campanhas abolicionista e republicana (BARROS, 2007). Com essa colaboração, o município

teve o seu interesse despertado para a educação. Em 1953, os católicos enviam para a cidade

103

de Corrente o Padre Anchieta, para fundar o Colégio Mercedário São José e, assim, conter a

corrida dos fiéis para a fé protestante.

A disputa pela hegemonia entre os protestantes batistas e a igreja católica

proporcionou à população da região o acesso a escolas confessionais de excelente qualidade,

contribuindo para a melhoria dos índices de alfabetização e o desenvolvimento cultural da

região. Além disso, a natural troca de experiências culturais entre os missionários protestantes

estadunidenses, os padres espanhóis e o povo local gestou uma cultura própria, rica e

diversificada no sul do estado. Ainda que predomine a tradição ibérica, patriarcal e

patrimonialista nordestina, também há traços da influência de outras culturas (notadamente a

estadunidense), com suas práticas, costumes, ritos e códigos, o que contribui para fazer da

cidade de Corrente um diferencial na região (BARROS, 2007).

Atualmente, Corrente possui uma população de 26.084 habitantes de acordo com

dados do IBGE de 2015, com 60% da população residente na área urbana. Corrente situa-se

no extremo Sul do Piauí, ficando mais próxima da capital federal do que da capital do estado,

conforme se pode observar no Mapa 1.

Mapa 1 – Localização geográfica do município de Corrente PI

Fonte: Baixar Mapas. Disponível em: http://www.baixarmapas.com.br/mapa-do-piaui/

104

A Fotografia 1 permite uma visão panorâmica de parte da cidade, com a qual é

possível amostrar o relevo, que inclui as serras das Mangabeiras, da Tabatinga, da Santa

Marta e dos Campos, sinalizar para a densidade demográfica do lugar, estimada em 8,33

hab./km².

Fotografia 1 – Visão panorâmica da cidade Corrente PI

Fonte: álbum de Janleque Rodrigues Miranda. Disponível em: www.digitaljan.com.br

A economia do município tem sua maior expressão na pecuária, sobretudo a partir de

fins da década de 50. A microrregião em que se situa Corrente e seus municípios vizinhos

constitui o maior polo pecuário do Piauí, com destacados criadores da raça Nelore. Essa

realidade explica a realização, desde 1974, sempre no mês de julho, da maior Feira

Agropecuária do Estado – a ExpoCorrente –, que reúne expositores de outros estados.

A estrutura educacional de Corrente conta com escolas da rede municipal, estadual,

federal e privada para atender à demanda local. Segundo o Censo do IBGE de 2010, o

município possuía 7.983 crianças e jovens até 19 anos.

As 10 escolas que compõem a Rede Estadual de Ensino em Corrente são: Unidade

Escolar Des. João Cavalcante, Unidade Escolar Manoel da Cunha, Centro de Educação

Profissional Integral Dr. Dionísio Rodrigues Nogueira, Unidade Escolar Coronel Justino

Cavalcante e a Unidade Escolar Joaquim Lustosa, que possui cinco anexos na zona rural,

especificamente nas localidades Santa Marta, Riacho Grande, Morro Redondo, Vereda da

105

Porta e Fazenda de Cima. De acordo com o Censo Escolar de 201437

, essas escolas atendem a

19,88% das matrículas na educação básica.

A rede municipal é composta por 28 escolas. São as seguintes: Gemima Araújo

Nogueira, Elísia Rocha Mascarenhas, Bela Vista, Luís Avelino Ribeiro, Altino Batista

Figueiredo, Justina Freitas de Souza, São Francisco, Luiza Edite Cavalcante Reis, Joaquina

Nogueira de Oliveira, José Joaquim de Oliveira, João Benicio Magalhães, Santa Luzia,

Firmino Marques Maciel, Claudenor Rodrigues de Melo, Nossa Senhora do Rosário,

Comendador José Francisco Nogueira Paranaguá, Filemon José Nogueira, Escola Municipal

de Floresta, Cristiano Ferreira Maciel, Marinho Lemos Paraguassu, Santa Marta, São João

Batista, Orlei Cavalcante Pacheco, Centro Municipal de Educação Infantil, Mário Nogueira,

José Damião, Joaquim Araújo da Cunha e Manoel Pacheco da Rocha. A rede municipal

atende a 58,97% das matrículas na educação básica, segundo o Censo Escolar de 2014.

Já a rede privada é composta por quatro escolas, a saber: Instituto Batista Correntino,

Colégio São José, Escola Antônio Rocha e Escola de Educação Infantil Sementinha, que

atendem a 16,97% das matrículas na educação básica, segundo o Censo Escolar de 2014.

Há, ainda, o Instituto Federal e Tecnológico do Piauí ofertando o ensino médio com

236 alunos matriculados e o nível técnico com 98 alunos, o que corresponde a 4,18% das

matrículas na educação básica, segundo o Censo Escolar de 2014.

A Tabela 8 sintetiza os dados da matrícula de 2014 no município de Corrente, por

dependência administrativa.

Tabela 8 – Demonstrativo das matrículas, por dependência administrativa e etapa da Educação Básica, no

município de Corrente PI – 2014

Dependência

administrativa

Número

de Escolas

Matrícula

Educação

Infantil

Ensino

Fundamental

Ensino Médio Total Percentual

Estadual 10* 750 837 1.587 19,88%

Municipal 28 614 4.093 4.707 58,97%

Privada 4 288 895 172 1.355 16,97%

Federal 1 334 334 4,18%

Total 43 902 5.738 1.343 7.983 100%

* Incluídas as escolas que constituem anexos da Unidade Escolar Joaquim Lustosa

Fonte: Inep/Censo Escolar 2014.

Conforme apontam os dados da Tabela 8, preponderam as matrículas em escolas

públicas (83,03%), embora seja a dependência municipal a que reúne o maior número de

37

Não estão disponibilizados na base do Inep os dados de 2015 e 2016.

106

escolas e de matrículas no município. Vale observar que a rede municipal de Corrente possui

um significativo número de escolas localizadas na zona rural.

No ensino superior, Corrente conta com a Universidade Estadual do Piauí, o Instituto

Federal Tecnológico do Piauí, a Universidade Aberta do Brasil e a Faculdade do Cerrado

Piauiense, evidenciando um leque de opções para a população local.

Tendo em vista conhecer melhor a atuação do município de Corrente no provimento

da educação pública, importa descrevermos alguns elementos que caracterizam as condições

financeiras locais. Iniciemos pela receita por subcategoria econômica do período de 2010 a

2014, cujos dados são apontados na Tabela 9.

Tabela 9 – Receita do município de Corrente PI por subcategoria econômica – 2010 a 2014

RECEITA

2010

2011

2012

2013

2014

Receita Tributária 719.500.00 .679.520,67 1.079.775,98 1.057.755,00 3.006.500,00

Transferências Correntes 22.688.660,00 29.774.031,08 37.721.478,26 36.586.959,00 40.316.190,00

Receita Intraorçamentária

Corrente (arrecadação)

320. 000,00 205.000,00

Receitas de Contribuições 260.000,00 780.000,00 819.000,00 450.000,00 831.475,00

Receita Patrimonial 112.500,00 249.850,00 284.071,50 450.000,00 533.800,00

Receita de Serviços 10.000,00 5.000,00 5.250,00 5.000,00 5.000,00

Outras receitas correntes 70.000,00 53.000,00 48.000,00 100.000,00 156.000,00

Amortização de

Empréstimos

Transferências de Capital 7.532.595,00 6.670,000,00 1.445.000,00 1.665.000,00 1.665.000,00

Receita Tributária

Receitas de Contribuições

Receita de Serviços

Outras Receitas Correntes 135.000,00 100.000,00

Operações de Crédito 20.000,00 700.000,00 400.000,00 300.000,00 300.000,00

Alienação de Bens 20.000,00 15.000,00 30.000,00 30.000,00 30.000,00

Total da Receita

Arrecadada

29.910.255,00

37.938.115,00

39.078.224,78

37.955.380,00

44.440.651,00

Fonte: Tribunal de Contas do Estado Piauí (TCE/PI).

Os dados constantes da Tabela 9 permitem verificar que a receita preponderante é a

derivada das Transferências Constitucionais. Também, que houve uma oscilação importante

nas receitas do município de Corrente no período enfocado. De um aumento de 26,83% entre

2010 e 2011, os registros apontam nova queda entre os anos de 2012 e 2013, o que pode ter

motivado comprometimentos na execução de serviços básicos por parte do município. O

aumento registrado entre 2011 e 2012 foi de 3%, enquanto de 2012 para 2013 a queda nas

107

arrecadações foi de 2%, tendo sido retomado o crescimento entre 2013 e 2014 em 17 pontos

percentuais. Mesmo assim, a receita total do município é insuficiente para atender ao valor

aluno/ano fixado nacionalmente no âmbito do Fundeb, motivo pelo qual recebe uma

complementação da União.

No tocante à despesa por função de governo, outra dimensão que nos permite uma

visão geral do desempenho financeiro do município no mesmo período, os dados constam da

Tabela 10 e reúnem informações por tipo de despesa, permitindo-nos alcançar o total da

despesa realizada a cada ano.

Tabela 10 – Despesas por função do governo do município de Corrente PI – 2010 a 2014

TIPO DE DESPESA

2010

2011

2012

2013

2014

Legislativa 899.980,00 915.400,00 920.700,00 1.054.840,00 1.604.300,00

Administração 2.963.300,00 4.433.130,00 4.884.400,00 5.054.012,50 5.590.300,00

Segurança Pública

Assistência Social 1.452.900,00 1.619.470,00 1.499.930,00 1.448.750,00 1.742.400,00

Previdência Social 1.087.000,00 884.600,00 1.570.000,00 1.357.800,00 1.205.400,00

Saúde 5.033.600,00 8.176.182,00 6.782.100,00 8.508.905,00 10.874.900,00

Trabalho

Educação 8.958.500,00 13.052.050,00 10.011.300,00 17.890.375,00 19.459.576,00

Cultura 674.000,00 800.000,00 779.500,00 203.450,00 274.200,00

Direitos da Cidadania 49.678,00 59.800,00 69.000,00 81.350,00 89.500,00

Urbanismo 3.941.159,92 5.357.600,00 6.383.250,00 2.328.137,50 4.212.200,00

Habitação 25.000,00 10.313,00 300.000,00 14.500,00

Saneamento 1.040.000,00 441.00,00 574.500,00 515.325,00 460.775,00

Gestão Ambiental 308.000,00 83.000,00 135.135,00 28.750,00 17.000,00

Ciência e Tecnologia

Agricultura 1.148.500,00 250.970,00 597.500,00 257.250,00 554.450,00

Energia 91.000,00 168.300,00 110.000,00 108.400,00 135.300,00

Indústria

Comércio e Serviços

Comunicações 99.800,00 90.600,00 110.000,00 35.200,00 33.000,00

Transporte 782.000,00 220.800,00 351.000,00 29.435,00 16.400,00

Desporto e Lazer 927.000,00 304.500,00 442.500,00 198.500,00 183.150,00

Encargos Especiais 215.000,00 969.800,00 473.000,00 805.200,00 771.600,00

Reserva

de Contingência

213.837,00 100.000,00 300.000,00 5.000,00 100.000,00

Total da Despesa

Realizada

29.910.255,00

37.938.115,00

36.293.815,00

39.925.180,00

46.784.451,00

Fonte: Tribunal de Contas do Estado Piauí (TCE/PI).

108

A despesa realizada no período, conforme demonstram os dados da Tabela 10, tem a

educação como principal campo dos investimentos. Comparando os dados dos anos

enfocados, também é possível verificar que esses investimentos em educação foram

progressivamente aumentados ao longo do período, exceto entre os anos de 2011 e 2012,

quando ocorreu uma queda 0,23%, embora a receita total não tenha sido diminuída. Por outro

lado, entre os anos de 2012 e 2013, quando a receita do município sofreu uma queda de

0,03%, houve um incremento de 0,78% nas despesas em educação.38

Com vistas a reunir alguns elementos que, sob o ponto de vista oficial, pudessem nos

mostrar algo mais acerca da aplicação os recursos, ou seja, sobre o seu reconhecimento como

despesa em educação, recorri aos registros do TCE do Piauí, a respeito das contas anuais do

município de Corrente. Nos pareceres relativos aos anos aqui enfocados, foram identificados

os seguintes destaques:

a) contas do exercício de 2010 – recomenda a aprovação, porém identifica a ausência de

42 itens sendo dois deles afetos diretamente à educação: falta do Demonstrativo das

Receitas e Despesas com Manutenção e Desenvolvimento do Ensino – MDE do 1º ao

6º Bimestre e ausência da Lei instituidora do Plano de Carreira e Remuneração do

Magistério (PIAUÍ, 2011);

b) contas do exercício de 2011 – o TCE ressalta o descumprimento do mandamento

constitucional elencado no art. 212 da Constituição Federal. (PIAUÍ, 2012);

c) contas do exercício de 2012 – aponta a ausência de 22 itens, sendo um relativo à

educação: falta do Demonstrativo das Receitas e Despesas com Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino – MDE referente ao 6º bimestre. O TCE ressalta o

descumprimento do mandamento constitucional elencado no art. 212 da Constituição

Federal. (PIAUÍ, 2013);

d) contas do exercício de 2013 – recomenda aprovação, com a identificação da ausência

de 17 itens, porém nenhum diretamente afeto à educação (PIAUÍ, 2014);

e) contas do exercício de 2014 – recomendada a aprovação, com a identificação da

ausência de 18 itens, porém nenhum relacionado diretamente à educação (PIAUÍ,

2015).

38

Embora tenha sido possível acessar aos pareceres do TCE do Piauí, relativos às contas do município de

Corrente no período enfocado neste trabalho, não possível o acesso ao detalhamento da despesa em educação

por tipo de componente, haja vista que tal detalhamento não foi disponibilizado em tempo à pesquisadora, seja

pelo TCE, seja Prefeitura Municipal de Corrente.

109

Assim posto, considerada a recomendação pela aprovação das contas em três dos

cinco anos enfocados, fica evidente que, do ponto de vista legal, as oscilações nos

investimentos em educação resultaram, em dois anos subsequentes, em descumprimento do

mínimo constitucionalmente estabelecido. Ou seja, as oscilações nos investimentos

corresponderam a variações acima e abaixo do mínimo de 25% da receita estabelecido pela

Constituição Federal de 1988, conforme atestam os dados da Tabela 11, fornecidos pelo TCE

do Piauí.

Tabela 11 – Total de despesas para efeito de cálculo e percentuais da receita com impostos investidos em

educação pelo município de Corrente PI – 2010 a 2014

ANO DESPESAS PARA EFEITO DE

CÁLCULO

PERCENTUAL DA RECEITA DE

IMPOSTOS

2010 8.958.500,00 25,13%

2011 13.052.050,00 21,93%

2012 10.011.300,00 11,47%

2013 17.890.375,00 25,01%

2014 19.459.576,00 31,06%

Fonte: elaborada com base em Piauí (2010, 2011, 2012, 2013, 2014).

Conforme justifiquei anteriormente, não foi possível levantar, junto a fontes oficiais,

elementos que permitissem uma visão mais detalhada dos investimentos em educação, o que

teria sido possível meio do acesso de dados por tipo de componente, a saber: educação

infantil; ensino fundamental; outras despesas com ensino fundamental; ensino médio;

educação especial; difusão cultural; e alimentação e nutrição.

Joaçaba, o segundo município pesquisado, foi criado em 25 de agosto de 1917 com o

nome de Cruzeiro, o que ocorreu juntamente com a criação dos municípios de Chapecó, Porto

União e Mafra, dividindo-se assim o território antes contestado, em quatro grandes

municípios, cada um deles desdobrados posteriormente em inúmeros outros, que são os que

atualmente compõem o Oeste, o Meio Oeste e parte da região Norte do Estado de Santa

Catarina.

Até a década de 1930, Joaçaba era uma pequena cidade sem apresentar quaisquer

fatores de crescimento urbano e econômico. Em contrapartida, após esta data, ocorreu a

110

instalação das primeiras indústrias e, por essa via, o impulso ao desenvolvimento das demais

atividades.

Sua população atual é de 28.705 habitantes, segundo estimativa do IBGE para o ano

2014. É a cidade-sede da Região do Contestado e o oitavo melhor município para se viver,

segundo dados da ONU/PNUD, também de 2014. A população local foi originada,

principalmente, por migrantes gaúchos de origem italiana e alemã, vindos da região de Caxias

do Sul RS. De posse de pequenas colônias de terras, deram os primeiros passos para a

produção agrícola na região.

A área do município, situada no Meio Oeste Catarinense (Mapa 2), com terras férteis e

matas nativas, proporcionou a exploração da madeira e da erva-mate, atividades que eram

desenvolvidas paralelamente à agricultura. Mais tarde começaram a surgir as primeiras

indústrias de implementos agrícolas, acentuando-se as atividades comerciais que permitiram a

formação da base econômica do município. Com o forte comércio já predominando e com o

surgimento das primeiras indústrias no segmento metal-mecânico, Joaçaba consolidou a sua

posição de destaque no cenário estadual.

Mapa 2 – Localização geográfica do município de Joaçaba SC

Fonte: Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina. Disponível em:

http://www.mapainterativo.ciasc.gov.br/sc.phtml

A Fotografia 2 possibilita uma visão panorâmica de parte da cidade, além de amostrar

o relevo, que apresenta-se de uma forma ondulada a fortemente ondulada. Pela sua

111

característica de topografia bastante acidentada, grande parte das áreas encontra-se em

conflito de uso, o que acarreta danos ambientais, erosão, esgotamento dos solos e baixa

produção agrícola. A densidade demográfica do lugar é de 27,12 hab./km².

Fotografia 2 – Visão panorâmica da cidade Joaçaba SC

Fonte: Governo do Estado de Santa Catarina. Disponível em: http://turismo.sc.gov.br/cidade/joacaba/

As principais atividades econômicas do município são a indústria, em especial o setor

metal-mecânico, o processamento de madeira e a produção de produtos alimentícios. Possui

um comércio diversificado e desenvolvido já que algumas cidades vizinhas têm no turismo a

atividade econômica principal e Joaçaba está estrategicamente localizada no centro da região,

sendo considerado o polo econômico e político do Meio Oeste Catarinense, influenciando

uma área que atinge aproximadamente trezentos mil habitantes. Como sede da Unoesc, uma

das grandes universidades do estado de Santa Catarina, Joaçaba também é considerada um

polo universitário de grande desenvolvimento.

A estrutura educacional de Joaçaba conta com escolas da rede municipal, estadual e

particular de ensino. Destina-se a atender a uma demanda por escolas que, segundo o Censo

do IBGE de 2010, compreendia 7.121 crianças e jovens até 19 anos.

As quatro escolas que compõem a Rede Estadual de Ensino em Joaçaba são: Escola

Estadual Frei Bruno, Escola Estadual Oscar Rodrigues da Nova, Escola Estadual Professora

Julieta Lentz Puerta e Escola Estadual Governador Celso Ramos. De acordo com o Censo

Escolar de 2014, essas escolas atendem a 23,52% das matrículas na educação básica.

112

A rede municipal é composta pelas seguintes escolas: Centro Educacional Infantil

Mundo Encantado, Escola Infantil Anzolin, Escola Infantil Menino Deus, Centro de Educação

Infantil Nossa Senhora de Lourdes, Escola Municipal Professora Dulce Fernandes de Queiroz,

Centro Educacional Roberto Trompowsky, Centro Educacional Infantil Rosa Branco, Escola

Frida Regensburger, Escola Municipal Rotary Fritz Lucht, Centro de Educação Infantil Clara

Zomkowsi, Escola Municipal Anita Lopes Vieira, Núcleo Pedagógico Rural de Joaçaba

(Nuperajo) e Centro de Educação Infantil Tempo de Aprender. Juntas, estas 13 escolas

atendem a 37,54% das matrículas na educação básica, segundo dados do Censo Escolar de

2014.

Já a rede privada de ensino é composta seis pelas escolas, a saber: Centro Educacional

Renascer, Colégio Marista Frei Rogério, Centro Educacional Girassol, Colégio Superativo,

Colégio Santíssima Trindade e Colégio Conexão. Nestas escolas estão matriculados 38,94%

do total da matrícula da educação básica no município.

A Tabela 12 sintetiza os dados da matrícula de 2014 no município de Joaçaba, por

dependência administrativa.

Tabela 12 – Demonstrativo das matrículas, por dependência administrativa e etapa da Educação Básica, no

município de Joaçaba SC – 2014

Dependência

administrativa

Número

de Escolas

Matrícula

Educação

Infantil

Ensino

Fundamental

Ensino Médio Total Percentual

Estadual 4 660 1.015 1.675 23,52%

Municipal 13 983 1.690 2.673 37,54%

Privada 6 507 1.203 1.063 2.773 38,94%

Federal

Total 23 1.490 3.553 2.078 7.121 100%

Fonte: Inep/Censo Escolar 2014.

Os dados da Tabela 12 evidenciam que a rede privada de ensino atende o maior

percentual de matrículas no município de Joaçaba, embora possua menos da metade do

número de escolas da rede municipal de ensino. Trata-se de uma realidade que pode estar

associada ao poder aquisitivo da população residente no município.

A seguir, são apresentados dados que permitem uma caracterização das condições

financeiras locais. Vejamos, em princípio, a receita por subcategoria econômica do período de

2010 a 2014, conforme consta na Tabela 13.

113

Tabela 13 – Receita do município de Joaçaba SC por subcategoria econômica – 2010 a 2014

RECEITA

2010

2011

2012

2013

2014

Receita Tributária 10.794.723.20 14.337.447,96 16.505.885,48 19.163.409,28 20.406.924,38

Transferências Correntes 29.901.781,57 39.663.849,48 42.699.145,94 45.593.216,76 50.720.749,67

Receita Intraorçamentária

Corrente (arrecadação)

3.653.539,55

Receitas de Contribuições 3.356.525,98 5.449.537,15 6.253.823,17

Receita Patrimonial 5.581.566,46 7.586.737,92 4.439.003,07 14.279.342,65

Receita de Serviços 9.968.427,81 11.382.498,95 12.808.491,57

Outras receitas correntes 1.763.576,30 2.228.879,37 1.674.557,36

Amortização de

Empréstimos

97.908,80 104.066,30 100.506,79

Transferências de Capital 1.062.101,31 3.039.753,99 2.847.985,54 12.327.428,31

Receita Tributária 422,26 450,38

Receitas de Contribuições 3.340.077,51 4.103.669,46 6.943.994,69

Receita de Serviços 190.396,40 209.041,72 50.720.749,67

Outras Receitas Correntes 507.088,62 28,860,51 2.934.863,14

Operações de Crédito 3.302.077,61 197.922,39 116.409,66

Alienação de Bens 239.866,53

Total da Receita

Arrecadada

40.696.504,77

79.869.388,89

96.640.604,78

94.579.088,24

118.536.192,24

Fonte: TCE de Santa Catarina.39

De acordo com dados da tabela, a receita preponderante deriva das Transferências

Constitucionais, embora o aporte de Receita Tributária também seja significativo. Ao longo

do período, esse aporte correspondeu a receitas compreendidas entre 36% e 42% dos valores

das Transferências Constitucionais.

Ainda em relação à receita, é importante assinalar o aumento de aproximadamente

97% ocorrido entre 2010 e 2011, assim como a queda registrada entre os anos de 2012 e 2013,

que correspondeu a 2,1%. Vale observar, ainda, que o município não recebe complementação

da União relativa ao Fundeb.

Em relação à despesa por função de governo, outra dimensão enfocada visando

favorecer uma visão geral do desempenho financeiro do município no mesmo período, os

dados da Tabela 14 trazem dados por tipo de despesa.

39

Dados disponibilizados no site do TCE de Santa Catarina, na seção “Portal do Cidadão”, disponíveis em:

http://portaldocidadao.tce.sc.gov.br/sic/

114

Tabela 14 – Despesas por função do governo do município de Joaçaba SC – 2010 a 2014

TIPO DE DESPESA

2010

2011

2012

2013

2014

Legislativa 1.328.664,68 2.972.128,21 2.590.834,35 2.129.469,83 2.362.741,68

Administração 8.788.035,51 9.636.662,27 10.302.111,00 10.688.383,80 9.608.691,47

Segurança Pública 1.462.116,25 1.369.600,43 1.612.322,47 1.551.019,62 1.517.048,03

Assistência Social 2.514.229,47 2.811.649.98 2.852.565,54 3.079.004,14 3.357.487,63

Previdência Social 2.210.563,37 2.695.781,58 3.390.472,64 4.086.447,86 5.381.993,74

Saúde 10.084.936,11 10.681.023,49 12.374.236,93 14.247.588,68 16.026.822,05

Trabalho 1.581.801,11 1.844.129,05 2.327.934,72 2.869.553,41 3.143.914,86

Educação 13.043.598,06 14.692.831,04 18.757.866,89 19.583.825,78 21.737.381,32

Cultura 13.133,16 6.916.96 232.814,53

Direitos da Cidadania 92.327,49 89.828,33 106.687,77 120.333,82 172.468,22

Urbanismo 8.123.779,83 9.757.481,91 16.304.267,76 10.837.391,06 19.151.206,73

Habitação 750.474,74 185.611,84 242.190,48

Saneamento 7.688.969,08 9.943.510,64 12.289.710,11 12.759.256,80 12.825.978,89

Gestão Ambiental 670.698,49 135.203,88 128.988,53 150.585,37 170.845,01

Ciência e Tecnologia 2.600.122,19

Agricultura 388.411,15 338.571,09 271.279,23 1.064.674,00 2.398.358,41

Indústria 199.182,19

Comércio e Serviços 8.224,20 33.139,64 167.404,16 228.690,72 34.468,81

Comunicações 2.160,00

Transporte 1.419.892,40 1.327.592,24 825.045,83 1.233.202,20 866.684,29

Desporto e Lazer 1.235.737,70 1.675.502,47 1.882.673,21 2.099.891,99 2.426.610,94

Encargos Especiais 2.749.239,72 2.691.692,65 3.447.079,98 4.587.731,70 5.287.817,84

Total da Despesa

Realizada

63.391.224,62 72.696.328,90 90.395.089,02 91.509.579,58 109.746.989,31

Fonte: TCE de Santa Catarina.40

Conforme demonstram os dados da Tabela 14, a despesa realizada no período tem a

educação como principal campo, seguida da saúde como segundo setor com maior montante

de investimentos, embora as despesas em urbanismo tenham sido superiores às registradas em

saúde no ano de 2014.

De acordo com os dados, também é possível verificar que os investimentos em

educação foram aumentados ao longo do período, mesmo em 2012, quando ocorreu uma

40

Dados disponibilizados no site do TCE de Santa Catarina, na seção “Portal do Cidadão”, disponíveis em:

http://portaldocidadao.tce.sc.gov.br/sic/

115

queda de receita de 2,1%. Nesse ano, os investimentos em educação cresceram 27,7% na

comparação com o ano anterior. De todo modo, é importante registrar que esse crescimento

contínuo variou entre 4,4 e 27,7% no período, repercutindo de algum modo na receita total.

Tendo sido possível acessar ao detalhamento da despesa em educação, haja vista que

tal detalhamento é disponibilizado pelo TCE de Santa Catarina, vejamos na Tabela 15 a

despesa por tipo de componente.

Tabela 15 – Despesas em Educação por tipo e componente praticada pelo município de Joaçaba SC – 2010 a

2014

TIPO

COMPONENTE 2010 2011 2012 2013 2014

Educação Infantil 4.812.716,25 5.674.506,14 8.593.470,17 7.212.957,92 9.345.514,35

Ensino Fundamental 7.329.138,95 8.178.810,91 8.834.087,75 11.090.134,17 11.083.249,88

Outras Despesas com

Ensino Fundamental

24.000,00

Ensino Médio 188.333,82 250.692,69 202.672,34 202.900,89

Tipo Componente 2010 2011 2012 2013 2014

Educação Especial 65.886,30 192.000,00 200.000,00 91.296,40

Difusão Cultural 338.930,52 265.807,79 253.846,12 258.805,03

Alimentação e

Nutrição

246.363,35 621.808,49 624.215,23 755.614,77

Total das Despesas 12.165.855,20 14.692.831,04 18.757.866,89 19.583.825,78 21.737.381,32

Fonte: TCE de Santa Catarina.41

Os dados da Tabela 15 demonstram que os gastos com a educação infantil e com o

ensino fundamental, níveis que estão sob a responsabilidade dos municípios, correspondem a

mais de 90% dos investimentos no período de 2011 a 2014. Importa assinalar que a atual

LDB, em seu artigo 11, reafirma a incumbência do município no tocante à oferta do ensino

quando, assinalando ainda:

V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o

ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando

estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com

recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à

manutenção e desenvolvimento do ensino.

41

Dados disponibilizados no site do TCE de Santa Catarina, na seção “Portal do Cidadão”, disponíveis em:

http://portaldocidadao.tce.sc.gov.br/sic/

116

Para reunir outros elementos com os quais fosse possível uma leitura mais detalhada

da aplicação dos recursos e seu o reconhecimento como despesa em educação, recorri aos

registros do TCE de Santa Catarina sobre as contas anuais do município de Joaçaba. Com

relação às contas dos anos de 2010, 2011, 2013 e 2014, os pareceres emitidos à Câmara

Municipal de Joaçaba recomendaram a aprovação. Em relação às contas do exercício de 2012,

o parecer emitido recomendou a aprovação, embora no tocante à educação tenha sido

acompanhado das seguintes ressalvas: aplicação parcial no valor de R$ 93.843,99, no

primeiro trimestre de 2012, referente aos recursos do Fundeb remanescentes do exercício

anterior no valor de R$ 93.920,33, mediante a abertura de crédito adicional em

descumprimento ao estabelecido no § 2º do art. 21 da Lei nº 11.494/2007.

Considerada a recomendação pela aprovação das contas nos cinco anos, fica evidente

o cumprimento do mínimo de 25% da receita estabelecido pela Constituição Federal de 1988,

conforme atestam os dados da Tabela 16.

Tabela 16 – Total de despesas para efeito de cálculo e percentuais da receita com impostos investidos em

educação pelo município Joaçaba SC – 2010 a 2014

ANO DESPESAS PARA EFEITO DE

CÁLCULO

PERCENTUAL DA RECEITA DE

IMPOSTOS

2010 10.314.220,92 25,19%

2011 12.552.312,00 27,50%

2012 13.575209,21 27,62%

2013 14.760.349,12 28,11%

2014 15.073.751,55 27,51%

Fonte: TCE de Santa Catarina.42

Conforme evidenciam os percentuais de investimento em educação, o município de

Joaçaba superou, em média, 2,7% o mínimo determinado constitucionalmente para a

manutenção e desenvolvimento do ensino, sem que tenham ocorrido variações acentuadas do

percentual de impostos investidos em educação no período.

42

Dados disponibilizados no site do TCE de Santa Catarina, na seção “Portal do Cidadão”, disponíveis em:

http://portaldocidadao.tce.sc.gov.br/sic/

117

4.2 GESTÃO DO FINANCIAMENTO E CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE

EDUCACIONAL: A VOZ DOS SUJEITOS LOCAIS

Nesta seção são analisados os resultados da etapa empírica da pesquisa que

oportunizou o mergulho nas duas realidades locais, segundo o proposto no quarto e no quinto

objetivos específicos da dissertação. Os resultados foram obtidos por meio das entrevistas

semiestruturadas com oito43

sujeitos locais, sendo quatro do município de Joaçaba SC e

quatro do município de Corrente PI.

Importa considerar que, no mês de julho de 2015, foram realizadas visitas aos

dirigentes educacionais dos dois municípios com a finalidade de apresentar a proposta

investigativa e solicitar a anuência para o desenvolvimento da pesquisa no âmbito local, a

qual foi prontamente obtida.

Para a identificação de opções e práticas de gestão da educação na esfera municipal

que implicam na relação positiva entre gestão do financiamento e construção da qualidade

educacional, com base no conteúdo das entrevistas realizadas, a apresentação e a reflexão

sobre os dados colhidos foram operadas segundo duas unidades de análise: gestão educacional

e melhoria da qualidade da educação; e desafios, vantagens e práticas na gestão do

financiamento.

Como se sabe, muitos estudos em políticas educacionais – em especial os que abordam

a gestão do financiamento – têm apontado uma frequente associação entre a gestão e a

melhoria da qualidade da educação. Vale recuperar aqui o posicionamento de Dourado e

Oliveira (2009, p. 204) sobre a qualidade educacional, por meio do qual destacam a

complexidade desse tema em um cenário marcado “por desigualdades regionais, estaduais,

municipais e locais e por uma grande quantidade de redes e normas nem sempre articuladas.”

Considerando ser frequente essa associação entre gestão educacional e a melhoria da

qualidade da educação, os sujeitos foram convidados a emitirem suas opiniões a respeito

dessa associação. De modo geral, as opiniões evidenciam tratar-se de uma relação

fundamental, sendo destacada a relevância de uma convergência entre a gestão do sistema –

aqui também percebida a figura dos gestores – e os demais atores da cena educacional, haja

43

Conforme consta na subseção 1.1.2 da dissertação, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, em cada

município, com o dirigente municipal de educação (identificado pela letra “S”), o diretor da escola com maior

número de alunos (identificado pela letra “D”), um professor dessa mesma escola (identificado pela letra “P”) e

o Presidente do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb (identificado pela letra “C”). À letra

que identifica o entrevistado é associada a letra “J” para identificar o município catarinense de Joaçaba ou a letra

“C” para identificar o município de Corrente PI.

118

vista que a construção da qualidade implica na atuação e no compromisso de todos esses

atores.

O depoimento da SC sinaliza nesta direção: “Eu acho fundamental a associação entre

gestão educacional e a melhoria da qualidade da educação porque é daí que nasce o processo

realmente de qualidade nem tanto no nível de secretaria, quanto na gestão da escola, pois uma

depende da outra”. O depoimento de PJ é ainda mais enfático quanto ao processo de

construção da qualidade: “Eu vejo a gestão e a qualidade andando juntas [...] Se a gestão é

boa, não só o diretor, todos, até o menino que faz a coleta do lixo na escola, todos fazem

parte. Se todos falam a mesma linguagem, todos andam na mesma direção. E a qualidade

vem.”

Nunca é demais lembrar que a organização do sistema educacional brasileiro, segundo

a Constituição Federal de 1988 e a LDB, se caracteriza pela divisão de competências e

responsabilidades entre a União, os estados e os municípios. Quando pensamos nesse modelo

organizacional sempre nos vem à mente a dificuldade que tem sido a efetivação do regime de

colaboração entre os entes federados no cumprimento de suas atribuições. E nesse aspecto,

qual o ente que tem padecido das maiores dificuldades no nosso país?

São várias as evidências de que os municípios enfrentam enormes desafios na busca de

uma educação de qualidade. Ao recorremos a uma retrospectiva histórica da educação no

Brasil é possível perceber prontamente o quanto as condições de financiamento público da

educação interferem na construção e garantia de uma educação de qualidade. Conforme

assinalei na seção anterior, são muitos os estudos que pontuam as dificuldades dos municípios

brasileiros no enfrentamento do desafio dessa construção e garantia. Seja por falta dos

recursos, seja pela má administração destes ou, até mesmo, por falta de compromisso político.

Corroborando essa leitura da realidade, os sujeitos destacam a importância do

financiamento para um projeto de melhoria da qualidade da educação. A defesa é por

investimentos urgentes e capazes de responder à altura pelo enfrentamento de problemas

rotineiros, como a frágil valorização do profissional, as difíceis condições estruturais das

escolas e as dificuldades que atualmente enfrentam as redes no desenvolvimento de

programas voltados para a melhoria da qualidade.

Chamados a se posicionarem sobre o que é fundamental para que se tenha uma relação

positiva entre gestão do financiamento e construção da qualidade da educação, as respostas

colhidas no município de Corrente têm em mira, fundamentalmente, a suficiência de recursos.

Vejam duas passagens que evidenciam essa leitura: “Eu acho que o financiamento é essencial.

Se você não tiver recursos para implementar seus programas você não [os] implementa. Os

119

recursos da educação são insuficientes. Em todos os aspectos. Folha de pagamento, transporte

etc.” (SC); “Não dá para oferecer uma educação de qualidade sem recursos. É preciso investir

na valorização do professor. Esse investimento melhora a aprendizagem além de aumentar a

satisfação do professor no exercício de sua profissão.” (PC). Esses são posicionamentos que

se juntam a tantos outros que reverberam no contexto nacional, especialmente entre

pesquisadores do tema na área da Educação, como é o caso de Alves (2006), para quem o

problema do financiamento da educação brasileira não é passível de resolução somente por

meio da gestão. É sim imprescindível o aporte de novos recursos a fim de se garantir as

condições necessárias a uma educação com qualidade.

No entanto, entre os sujeitos do município de Joaçaba, os destaques tenderam a

enfocar mais a gestão do financiamento, tendo em vista garantir que a aplicação seja

planejada e considere as reais prioridades locais, que implicam na efetiva construção da

qualidade. De acordo com DJ “[...] a educação é direito de todos e dever do Estado. Para que

a relação seja positiva, o financiamento deve ser utilizado para os fins aos quais se destinam,

ou seja: a qualidade da educação”. Esse posicionamento é reiterado por CJ, ao declarar:

“Acredito que a competência da gestão está em elencar as prioridades que se precisa para se

ter uma educação de qualidade no município. Eu acho que são duas coisas que andam juntas.

Eu vou ter qualidade se eu tiver uma boa gestão.”

Nos dois enfoques aqui referidos, o que parece estar em questão é mesmo o fato de a

gestão do financiamento da educação destinar-se efetivamente a transformações que incidam

efetivamente no padrão de qualidade para todos, haja vista tratar-se de aspecto central do

direito público subjetivo à educação (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2005). De todo modo, é

provável que os posicionamentos reflitam, em alguma medida, a realidade concreta de cada

município em termos de disponibilidade e gestão dos recursos, sobre a qual abordei na

subseção 4.1.

Ainda sob a orientação do quarto objetivo específico da pesquisa, a unidade de análise

“desafios, vantagens e práticas na gestão do financiamento” permitiu abarcar mais alguns

elementos acerca da relação positiva entre a gestão do financiamento da educação e a

melhoria da qualidade educacional. A esse respeito, busquei levantar, inicialmente, a opinião

dos respondentes sobre os desafios e vantagens que tocam os municípios quanto à promoção

dessa uma relação positiva.

Em geral, as respostas tendem a destacar mais os desafios e menos as possibilidades,

embora pareçam sugerir que o enfrentamento daqueles seja reforçador das possibilidades

locais. Embora essa leitura esteja presente nos depoimentos colhidos nos dois municípios

120

pesquisados, é mais evidente nas opiniões dos sujeitos do município de Corrente. Vejamos

duas passagens do depoimento de PC:

Dentro das vantagens no sistema educacional eu citaria a autonomia que as escolas

têm para elaborar suas propostas pedagógicas. E um grande desafio é que muitas

vezes as pessoas não têm consciência do seu papel. A escola precisa envolver a

comunidade.

O Brasil no item de educação está muito aquém de países até da América Latina e

tudo isso vem acontecendo por falta de recursos. Tem tido investimentos, mas está

longe do ideal.

Os entrevistados de Joaçaba, conforme mostram os excertos seguintes, tendem a

destacar saídas, sendo percebida a maior ênfase na desenvoltura do gestor educacional e a

maior pertinência das práticas de gestão em relação às demandas escolares:

[...] a gestão tem a ver com política sim, mas eu acredito muito que para uma gestão

dar certo é necessário que quem esteja à frente [...] [seja] uma pessoa que já teve

vivência [...] com o chão da escola, que já tenha vivido a sala de aula, que já tenha

vivido as aflições. Quem tem que estar à frente são pessoas empreendedoras. [...]

para mim é o ponto primordial. Tem que ser professor, que tenha vivência, que

conheça a causa e a partir daí também outros atributos como a competência

administrativa, a questão do perfil. (CJ)

Os programas do governo hoje, vem ao encontro das necessidades apresentadas

pelas escolas no que diz respeito à gestão do financiamento e eles devem ser

distribuídos de acordo com o planejamento escolar. (SJ).

Ao explorar esse depoimento, reportei-me ao Parecer CNE/CEB nº 08/2010, que ainda

aguarda homologação, quando registra que “nos tempos atuais não é mais aceitável que

gestores sejam escolhidos por critérios políticos sem nenhuma condição de liderança e de

formação para gerir uma escola ou um sistema de ensino” (BRASIL, 2010, p. 15). Não é

difícil constatar que esta tem sido uma prática rotineira contribuindo para resultados negativos

no exercício da função, inclusive em muitos contextos onde tal procedimento alcançou

tamanha naturalização que seus atores locais já não o questionam.

Outros comentários reforçam o quadro de opiniões dos sujeitos de Joaçaba acerca de

uma relação positiva entre a gestão do financiamento da educação e a melhoria da qualidade

educacional. Diz o diretor DJ: “Olha, a educação é direito de todos e dever do Estado. Para

que a relação seja positiva, o financiamento deve ser utilizado para os fins aos quais se

destina, ou seja, a qualidade da educação.” Já o conselheiro CJ declara: “Acredito que a

competência da gestão está em elencar as prioridades que se precisa para se ter uma educação

121

de qualidade no município. Eu acho que são duas coisas que andam juntas. Eu vou ter

qualidade, se eu tiver uma boa gestão”.

Em suma, as opiniões acerca dos desafios à promoção de uma relação positiva entre a

gestão do financiamento da educação e a melhoria da qualidade educacional destacam, em

primeiro lugar, o enfrentamento do problema da inadequada aplicação dos recursos públicos,

de modo a que essa aplicação venha a corresponder efetivamente às prioridades escolares.

Esse posicionamento é acompanhado pelo apontamento dos desafios de promover uma

melhor qualificação do processo gestionário local e de ampliar os recursos financeiros

destinados ao setor. Como assinalado, as possibilidades parecem estar igualmente sinalizadas

por esses desafios, posto serem passíveis de enfrentamento, embora com diferentes graus de

complexidade.

No campo das vantagens – muito menos enfatizadas –, foi referida somente a

autonomia de que gozam as escolas para o delineamento dos projetos pedagógicos, o que

poderíamos estender para o âmbito da rede municipal de ensino.

Por fim, ainda acerca da identificação de opções e práticas de gestão da educação na

esfera municipal que implicam na relação positiva entre gestão do financiamento e construção

da qualidade educacional, os sujeitos da pesquisa foram chamados a apontar práticas locais

que tenham sido ou são operadas na gestão do financiamento no município e que, no

entendimento pessoal, constituem iniciativas favoráveis à melhoria da qualidade da educação.

Uma das práticas apontadas versou sobre a formação de professores, destacadas neste

âmbito as oportunidades abertas pelas instituições de educação superior sediadas em cada um

dos municípios, assim como a formação continuada oportunizada pelo Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), de iniciativa do governo federal, conforme demonstram

os seguintes depoimentos:

A primeira coisa que eu gostaria de colocar é a respeito da implantação do Campus

da Uespi oferecendo cursos que contribuíram muito para a formação dos

profissionais. (PC)

Eu diria que a implantação do Pnaic contribuiu muito para a qualidade da educação

aqui. (PC)

Bem, nossa cidade é um polo de educação muito evoluído. Eu diria que as

instituições de ensino superior têm favorecido o profissional da educação. Bem

como a implantação do Pnaic. (PJ)

Além dessas práticas, destacam-se outras duas, sendo possível identificar uma

aproximação de elementos presentes em cada uma. Uma das práticas tem em conta a gestão

122

dos recursos financeiros e a outra a valorização dos profissionais da educação. Vejamos dois

excertos de entrevistas que trazem esses enfoques:

Eu acho que a prática mais indispensável e mais positiva é o controle rigoroso dos

gastos. Outro aspecto importante são os convênios com empresa para qualificação

dos profissionais da educação. (SC)

A primeira que vejo é a valorização do profissional da educação. Aqui não temos

nenhum professor que não receba o piso nacional. Mas sei que isso não é tudo. É

necessário elencar prioridades para se ter uma aplicação de recursos com

transparência. (CJ)

A aproximação referida, neste caso, recai no âmbito da gestão. Diz respeito à prática

de controle dos gastos e à transparência na aplicação dos recursos, o que tem a ver com o

tema do controle social.

Este tema, por sua vez, também constitui uma unidade de análise do presente trabalho.

Central nos debates sobre gestão democrática da escola pública, ela foi mobilizada a partir do

objetivo de identificar evidências que apontem maior ou menor pertinência entre as opções e

práticas no campo do financiamento, declaradas pelos sujeitos, e a geração de condições

favoráveis à melhoria da qualidade. Nesse sentido, a par da referida unidade de análise, foram

constituídas outras duas: Planejamento, ações e estratégias para a melhoria da qualidade da

educação; e modelo de financiamento e correção de desigualdades educacionais regionais. As

três foram definidas em razão da aderência com o objetivo específico e, também, por

carregarem elementos muito presentes nos trabalhos examinados no âmbito desta dissertação,

os quais serviram de apoio ao diálogo suscitado por ocasião das entrevistas.

Conforme mencionei noutras partes desta dissertação, o Brasil tem uma dívida

histórica para com a educação pública. Foi e continua sendo urgente a participação da

sociedade civil organizada no sentido de acompanhar e cobrar das autoridades em todos os

níveis, realizações concretas que evidenciem o cumprimento de preceitos legais e oferta de

uma escola que de fato oportunize à criança, ao adolescente, ao jovem e ao adulto uma

educação com qualidade social, compatível com uma condição cidadã digna. Dourado (2014),

assim como outros autores, reforça essa ideia quando reconhece os avanços trazidos pelo

novo PNE, mas convoca a sociedade civil para cobrar o cumprimento das diretrizes e metas

constantes neste documento.

Questionados a respeito do monitoramento dos recursos por parte dos conselhos e,

através destes, sobre a participação da sociedade civil, uma vez que o Conselho de

Acompanhamento e Controle Social do Fundeb é composto por representantes de diferentes

123

segmentos da sociedade, percebemos que as expectativas são um tanto dissonantes, embora

todos os sujeitos reconheçam a importância da participação da sociedade civil.

Eu acho que tem, o caminho é esse. Agora, infelizmente, nossa sociedade aqui é

inteiramente despreparada para isso. As pessoas querem reclamar, mas não querem

participar dos conselhos. E os conselheiros precisam ser mais qualificados e saber

quais são suas funções. (SC)

Sim. Tem contribuído, mas está longe do desejado. A gente sabe que os conselhos

são instrumentos que fiscalizam e controlam os recursos. É uma maneira de tornar a

gestão democrática com a participação de vários segmentos da sociedade, mas numa

cidade pequena como a nossa é difícil encontrar voluntários que queiram fazer parte

dos Conselhos. Gostam de reclamar, mas no momento de exercer a cidadania não

querem. (PC)

Sim, tem melhorado bastante. E o mais importante é que os recursos sejam

utilizados naquilo que é prioridade. (SJ)

Sim e considero a sociedade bastante atuante. (CJ)

Olha, eu vou ser bem sucinto em minha opinião. Potencial para melhorar eles têm.

Mas se calam. (ponto final). DJ

Sim. Quando a sociedade civil faz parte, quando a escola abre as portas, as pessoas

vêm. A comunidade vem, a família vem e isso favorece. (PJ)

Conforme se observa, há o reconhecimento do potencial de instâncias como os

conselhos para ações de controle social, ações essas julgadas importantes e necessárias.

Contudo, a partir da leitura de suas realidades locais e das práticas que marcam seus

cotidianos, vemos que os sujeitos tendem a desacreditar nesses espaços institucionalizados,

especialmente em razão de questões relacionadas ao compromisso e ao preparo dos que deles

participam.

Tendo em vista os depoimentos destacados, vale recuperarmos algumas considerações

apontadas em estudos da área e que, a meu ver, corroboram aqueles argumentos. Lima (2011),

por exemplo, após investigar a atuação dos Conselhos confirma ser ela (a atuação) uma

importante estratégia de gestão democrática, enquanto Felix (2012) considera muito frágil a

preparação dos conselheiros para atuarem no acompanhamento das políticas públicas de

financiamento da educação, embora reconheça sua importância para uma efetiva gestão

democrática.

No que tange ao planejamento, ações e estratégias para a melhoria da qualidade da

educação, a segunda unidade de análise relacionada ao quinto objetivo específico, vale a pena

lembrar que o planejamento da educação na esfera dos sistemas de ensino é o instrumento

fundamental para a concretização de políticas educacionais e institucionais. Sobre isso,

busquei saber se os sujeitos acreditam que uma melhor relação entre financiamento e

124

qualidade da educação tem a ver com a qualidade do planejamento em nível de rede

municipal de ensino, com a definição clara de ações e estratégias prioritárias e vontade

política, já que estas foram referências um tanto recorrentes nos trabalhos examinados no

âmbito desta dissertação. Iniciemos com dois depoimentos de sujeitos do município de

Joaçaba:

Sim, mas transparência é a palavra. Acho que as ações têm que ser planejadas e

transparentes. Quando eu digo que se calam (os conselhos), repito, falta

transparência. Eu vejo por nós aqui. Não adianta eu prestar contas e guardar em uma

pasta. Preciso apresentar isso à comunidade. Isso também faz parte do planejamento.

(DJ)

Quando se fala em gestão, se fala em planejamento. Não é? Gerir é planejar. Se a

coletividade traça metas, se realmente participa, se existe transparência, o pegar

junto, aí a coisa anda. Se o recurso vem e ele é destinado para aquilo que deve ser,

tudo depende de como vai evoluir. Tudo depende de como vai a gestão. Se o recurso

é bem aplicado a comunidade fica satisfeita. (PJ)

Segundo o que sugerem os depoimentos, embora posta à apreciação a qualidade do

planejamento, a definição clara de ações e estratégias e a vontade política, a ideia de melhor

relação entre financiamento e qualidade da educação levou os sujeitos a referirem a

transparência como peça central. Esta, ao certo, não se esgota em si mesma, mas está

diretamente relacionada ao planejamento e a gestão propriamente dita, além de ser uma marca

fundamental das práticas de gestão democrática.

Vejamos agora, excertos de depoimentos colhidos no município de Corrente:

Claro. [...] claro que existe uma relação muito grande entre qualidade e

planejamento. Aqui, como não temos dinheiro, vamos fazendo tudo devagar.

Melhora uma escola aqui, outra ali [...] O Ministério da Educação tem um sistema de

financiamento do FNDE para creches e quadras. Pedimos tudo que era possível [...]

e conseguimos. Só que muitas vezes o MEC não atenta para as necessidades do

município. Ele não atenta para as prioridades do município. [....] Não podemos mais

aceitar que políticas sejam definidas de cima para baixo. Acho isso uma questão

muito séria. (SC)

Sem dúvida nenhuma, porque tudo que é feito com planejamento, acompanhamento

e controle dos recursos dá mais resultados. (DC)

Neste caso, o planejamento parece mesmo constituir uma peça de destaque na relação

em questão, com algum indicativo da necessidade de serem planejamentos coerentes e com

potencial para fazer face às necessidades concretas dos municípios. Conforme argumenta SC,

também reside neste ponto o dilema das desigualdades, o qual nos remete a questões relativas

às desigualdades regionais. Autores como Bercovici (2004) e Nardi (2008), por exemplo,

alertam para os perigos das condições históricas do patrimonialismo e das desigualdades na

125

sociedade brasileira, estas asseveradas pelo imperativo da acumulação capitalista. Bordignon

(1993, p. 159), por sua vez, contribui com o indicativo para o enfrentamento desse problema,

quando diz que: “Pela sua natureza, não cabe ao MEC definir, propor (ou impor?) e

administrar grandes projetos nacionais, mas sim, apoiar técnica e financeiramente os projetos

estaduais e municipais, mediar o local com o nacional.”

Na esteira desse debate, os sujeitos entrevistados também foram chamados a comentar

sobre suas visões a respeito do papel da gestão da rede, da gestão da escola e do professor

para a melhoria das condições de aprendizagem dos nossos estudantes, posto ser este um fator

determinante da qualidade da educação. Afinal, sabemos que nos últimos anos houve um

avanço substancial no quesito da oferta de vagas. Contudo, há consenso de que não basta a

oferta, é imprescindível que haja qualidade na aprendizagem. E quando se fala em

aprendizagem, não há como dissociá-la do trabalho no âmbito dos sistemas de ensino e das

redes que o compõe.

Tendo por alvo as suas realidades e redes municipais de ensino, os sujeitos

entrevistados tecem reflexões que permitem identificar alguns traços comuns, como a defesa

de que a qualidade do ensino depende de um trabalho realizado em equipe.

É assim, ao longo dos anos percebe-se que a gestão que dá certo é aquela que

trabalha unida. Gestão é um elo de ligação, uma grande corrente, que não se

dissocia. Ou ela está unida ou ela se quebra. (PJ)

O trabalho só funciona se a gente fizer uma gestão em grupo. Eu tenho uma equipe,

então ou eu trabalho em grupo ou não se trabalha. Aí a qualidade vai deixar a

desejar. (DJ)

Com um enfoque um tanto distinto dos anteriores, às vezes questionado por estudiosos

do tema, o depoimento do DC chama a atenção para o papel do professor e o potencial que

tem para promover mudanças importantes na aprendizagem.

Olha, sabemos que ser gestor na realidade é algo difícil. Eu tenho comparado as

escolas com as empresas. Sabe porquê? Por que escola é empresa. Porque que as

empresas determinam algo e acontece e porque não acontece nas escolas? Porque as

empresas fazem o planejamento. Tem metas e faz cumprir e porque a escola não

faz? Nós, por exemplo, temos que saber sobre os nossos alunos. Os aprovados,

reprovados, desistentes, os que abandonam. Chega um momento que é preciso saber.

E mais... a figura do professor é fundamental. Nós temos na periferia da capital uma

escola que em três anos elevou o seu Ideb de 2,3 para 7,2. A mudança radical

dependeu da atitude de um professor que resolveu fazer a diferença.

Ao que se observa, o depoente tem em consideração uma racionalidade quantitativista

que temos visto ganhar força nas últimas duas décadas, segundo a qual é possível dizer sobre

a qualidade a partir de alguns elementos passíveis de mensuração. Com isso, reforça-se a

126

reprodução de uma visão de qualidade que destoa de importantes referenciais sociais

construídos em contexto de correlações de forças e de projetos distintos de sociedade.

Importa lembrar, também, que os resultados positivos na educação não dependem de

um único aspecto, nem de um único ator, como o professor, embora sejam muitos os estudos

que demonstram a importância do seu compromisso na busca da qualidade da educação. Foi

nesse sentido que, ao desenvolver um estudo a respeito da aprendizagem, pontuei que para

Demo (2010) as mudanças na escola precisam centrar-se na figura do professor e que, para

tanto, é necessário tê-lo como sujeito e não como objeto do processo educativo.

Por fim, as atenções sobre o conteúdo das entrevistas centraram-se no modelo de

financiamento e no tema da correção de desigualdades educacionais regionais. Acerca desses

temas, iniciou pontuando que nos últimos anos o professor obteve alguma valorização

profissional e que isso tem contribuído para sua prática docente.

O Fundeb, por exemplo, estabelece que 60% dos recursos sejam assegurados para

pagamento dos profissionais da educação, tendo em vista um “Plano de Carreira e

Remuneração” e um “salário digno” como aspectos centrais da valorização. Com a convicção

de que esse não é o único aspecto relevante do Fundeb – ainda que sobre ele também recaiam

muitas reservas –, os sujeitos da pesquisa foram questionados a respeito do potencial do

Fundo enquanto mecanismo de correção de desigualdades educacionais regionais. Sobre isso,

os depoimentos confirmam terem havido avanços importantes, no entanto apontam para

lacunas ainda existentes no sistema de financiamento para a educação.

Olha, o Fundeb foi um dos instrumentos mais eficazes de melhorar a educação no

Brasil porque os recursos com base na matrícula passaram a ser uma motivação

muito forte para o município buscar os alunos. Só lamento os municípios pequenos

não terem mais dinheiro. A contribuição da União deveria ser mais expressiva para

esses municípios que não têm como gerar recursos. (SC)

Eu acho que o Brasil melhorou sim com a criação do Fundef e depois o Fundeb.

Corrigiu um pouco as desigualdades, mas ainda está longe do ideal. Há uma grande

diferença entre o que é aplicado nas escolas federais comparando com as estaduais e

municipais. Melhorou mas está longe do ideal. (PC)

Olha, a minha formação é para os anos iniciais, em questão de gestão eu tenho

pouco conhecimento, mas eu diria assim, posso falar que teve vários projetos, vários

fundos mas posso afirmar que o Fundeb hoje é um fundo positivo. Eu percebo que

não é o município que ganha, é a criança. Independente se está aqui, ou ali cada

cidade tem o seu valor destinado para isso, um percentual, e se isso é aplicado de

acordo com o que deve ser feito vai haver transparência e qualidade. (PJ)

De acordo com o exposto, os efeitos das desigualdades regionais no campo da

educação seguem sendo um problema de dimensão nacional, embora haja o reconhecimento

127

de que a vigência dos fundos, especialmente em se tratando do Fundeb, significou um avanço

no enfrentamento desse problema. Parece-me evidente que as percepções dos sujeitos

consideram que a continuidade desse problema também é motivada por fatores como a

qualidade da gestão da educação e, portanto, das políticas educacionais operadas no país, pela

forma questionável como muitas vezes os recursos públicos são investidos e pelas diferenças

em termos de condições e de condução das escolas públicas pelas esferas de governo.

Esses argumentos, como se pode inferir, estão sintonizados com respostas dadas a

outros questionamentos. Persistem, portanto, as defesas sobre a necessidade de ampliação dos

recursos, a qualificação das práticas de gestão, de modo a torná-las congruentes com as

necessidades locais – inclui o dilema da centralização na definição de políticas educacionais

no país –, e a maior transparência na gestão dos recursos públicos. Conforme mostram os

resultados aqui apresentados, essas são questões que, na atualidade, implicam a relação entre

gestão do financiamento e a geração de condições concretas para a construção da qualidade

educacional.

128

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegar ao final de uma pesquisa sobre um tema que nos inquieta enquanto

profissional e cidadão é, antes de tudo, prova do enfrentamento de um desafio. É fato que as

reflexões construídas ao longo do caminho, seja por meio das leituras, seja pela troca de ideias

com colegas ou em debates oportunizados pelas sessões de orientação, constituíram um

alicerce para a tarefa de desvendar alguns caminhos e abrir lugar para outros.

É assim que percebo a pesquisa que ora se finda e teve por objetivo analisar a

influência de fatores político-institucionais, econômicos e culturais na gestão da educação

operada por governos municipais, de modo a evidenciar congruências e incongruências entre

a gestão do financiamento da educação e a geração de condições concretas para a construção

da qualidade educacional.

Do ponto de vista da dinâmica investigativa, apoiei-me em uma fundamentação teórica

partindo de uma análise de documentos legais vigentes ao longo da história até o novo PNE,

aprovado em junho de 2015. Este estudo propiciou a abertura de um espaço de verificação e

reflexão sobre os efeitos do ordenamento jurídico acerca da vinculação dos recursos para a

educação pública no país ao longo tempo.

Analisei, em seguida, o município enquanto ente federativo, em especial após a

Constituição de 1988. Esse exercício permitiu-me enfatizar as fragilidades, desafios e

conquistas deste ente, em um contexto pautado no regime de cooperação. Nesta análise,

busquei elementos que pudessem contribuir para a construção de uma resposta à minha

indagação inicial, ou seja, acerca das congruências e incongruências entre gestão do

financiamento e construção da qualidade da educação na arena da gestão municipal de

educação.

Para tanto, foi decisivo o mapeamento de fatores político-institucionais, econômicos e

culturais interferentes na ação dos municípios em termos de gestão do financiamento e,

portanto, na construção da qualidade da educação. Nesse sentido, para melhor compreender a

ampliação do papel do município no setor educacional e a própria transformação do cenário

que passou a vivenciar esse ente federativo, revisitei elementos dos quatro principais

documentos legais vigentes após a promulgação da Constituição Federal de 1988, a saber: a) a

nova LDB, Lei nº 9.394/96; b) o Fundef e, na sequência dele, o Fundeb; e c) os PNE 2001-

2010 e 2014-2024. Afinal, os princípios emanados desses documentos, de acordo com

Dourado (2007, p. 923), precisam se concretizar no âmbito dos sistemas de ensino “de modo a

129

propiciar elementos para a compreensão dos processos de regulação e financiamento, bem

como os arranjos institucionais que contribuem para a materialidade das políticas de gestão e

organização educacionais no Brasil.”

Na certeza de que a materialidade dessas políticas é condição para a construção de

uma educação de qualidade, as reflexões construídas até essa altura conduziram-me à

exploração de estudos que tivessem como questão central a qualidade da educação enquanto

conquista social, tendo em consideração a escola pública sob a gestão municipal em diferentes

regiões do país.

Parti do pressuposto de que uma análise sobre o tema da qualidade educacional requer

que a educação não seja reduzida à ideia de um serviço ou produto, em que a soma de alguns

ingredientes, tidos como imprescindíveis, por si resultem em bom desempenho dos estudantes

nas avaliações. Uma educação de qualidade deve, sim, ser pensada “como direito humano

fundamental, direito público e dever do Estado” (BRASIL, 2010, p. 107), direito esse

assegurado por um ordenamento legal consistente e válido para todos os níveis institucionais

do Brasil.

Assim, busquei resgatar na literatura, especialmente no campo das políticas

educacionais, diversos temas comumente destacados como condições, desafios e

possibilidades sobre o fenômeno educativo enquanto conquista social. Sobre isso, vale reiterar

que autores como Paro (2007), Bordignon e Gracindo (2009), Maués (2009), Oliveira e

Araújo (2005) e Ribeiro, Ribeiro e Gusmão (2005), por exemplo, destacam a qualidade da

educação como sendo uma busca pela cidadania, a construção de valores, a experiência e

posição social dos sujeitos alcançados pela escola, bem como o domínio de um saber que

ajude na construção de uma sociedade solidária.

Consciente de que a qualidade da educação, enquanto conquista social, passa

necessariamente pela questão do financiamento, recuperei traços da história da educação

brasileira que destacam informações importantes como, por exemplo, a percepção de que nos

períodos democráticos sempre houve a determinação de aplicação de recursos, diferente dos

períodos autoritários quando preponderava a desvinculação.

Como procurei destacar, essa constatação nos oferece o indicativo de que a educação,

como um direito social, está estreitamente relacionada ao financiamento, de modo que a

efetividade da política de financiamento é determinante desse direito. A evolução da

vinculação de recursos de impostos para a educação nas Constituições Federais do Brasil

confirma essa premissa. Nas Constituições de 1934, 1946 e 1988 houve vinculação de

130

percentuais mínimos para a educação, enquanto nas Constituições de 1937 e 1967 a exigência

legal da vinculação de recursos para a educação não figurou.

Em seguida, orientada pelo quarto e quinto objetivos específicos, procurei identificar

opções e práticas de gestão da educação na esfera municipal que implicassem na relação

positiva entre gestão do financiamento e construção da qualidade educacional, assim como

evidências que sinalizassem para a maior ou menor pertinência entre essas opções e práticas

no campo do financiamento e a geração de condições favoráveis à melhoria da qualidade da

educação.

Do mergulho no campo empírico local, viabilizado especialmente pela realização de

um conjunto de entrevistas semiestruturadas, foi possível reunir elementos e construir análises

que me permitiram chegar a algumas inferências.

Conforme os resultados da pesquisa, os sujeitos locais reconhecem a relação entre

gestão do financiamento e construção da qualidade educacional no âmbito da gestão

municipal da educação. Nesse quesito, de modo geral, as opiniões evidenciaram tratar-se de

uma relação fundamental, sendo destacada a relevância de uma convergência entre a gestão

do sistema – aqui também percebida a figura dos gestores – e os demais atores da cena

educacional, haja vista que a construção da qualidade implica na atuação e no compromisso

de todos esses atores.

Conforme destaquei, sujeitos dos dois municípios sublinharam a importância de um

projeto de gestão e de qualidade andarem juntos, com ênfase no trabalho em equipe,

envolvendo não só o gestor, mas todos os membros da comunidade escolar.

Com relação às evidências que apontem maior ou menor pertinência entre as opções e

práticas no campo do financiamento e a geração de condições favoráveis à melhoria da

qualidade, as opiniões realçam e são construídas com base nas próprias realidades dos

sujeitos. Um exemplo disso é quando entre os sujeitos do município de Corrente sobressaiu a

necessidade de maior aporte de recursos, apontando inúmeras dificuldades que enfrentam em

decorrência do montante disponível, enquanto entre os sujeitos do município de Joaçaba o

destaque recaiu na necessidade de se operar adequadamente a aplicação dos recursos, com

base em planejamento adequado.

De um lado, por exemplo, esses diferentes enfoques poderiam ser explicados com base

no tamanho da rede e, portanto, dos custos com a sua manutenção, posto que o percentual de

matrículas nos dois municípios é distinto – Joaçaba atendeu, em 2014, 37,54% das matrículas

do município, enquanto Corrente respondeu por 58,97% no mesmo ano –. De outro, porém,

poderiam ser explicados com base nos percentuais de investimento em educação. Estes, como

131

demonstrei, foram distintos no período examinado, e podem ser indicativos de que são

igualmente distintos os graus de prioridade de investimento no setor, o que abriria uma frente

de debate que ultrapassa o alcance deste estudo.

Os resultados levantados também me possibilitaram confirmar, por meio das falas dos

sujeitos, elementos que a literatura consultada já nos oferece. Por exemplo, estudos como o de

Vieira (2012) apontam que, para melhorar a qualidade da educação, é preciso antes rever a

gestão educacional, haja vista a expressividade dos impactos deste campo no aprendizado dos

alunos.

Na esteira desta constatação, o levantamento bibliográfico de fatores político-

institucionais, econômicos e culturais que implicam na gestão dos recursos educacionais por

parte dos municípios permitiu-me identificar um conjunto importante de condições

interferentes: o modo como é operado o planejamento, especialmente no tocante à concepção

de planejamento e à observância das especificidades e demandas informadas pela realidade

local; a concepção de gestão que orienta ação pública local; a cultura de participação da

sociedade civil nos assuntos públicos; a disponibilização de recursos financeiros; as

diferenças regionais existentes no Brasil; a natureza das iniciativas públicas (constituídas de

forma centralizada ou não); o alinhamento das políticas federais com as demandas

municipais; e o protagonismo municipal no desenvolvimento local.

Tendo em conta esse conjunto referencial, os apontamentos dos sujeitos locais

permitiram-me identificar fatores influentes na gestão e que, na ótica deles, operam

decisivamente na geração de condições concretas para a construção da qualidade, tendo em

vista sua incidência na gestão do financiamento da educação na esfera municipal.

O planejamento, especialmente no tocante à concepção e à observância das

especificidades e demandas informadas pela realidade local, é um dos fatores apontados.

Soma-se a esse, a cultura da participação da sociedade civil nos assuntos públicos, ainda que o

reconhecimento de sua importância contraste com a experiência concreta vivida pelos

sujeitos, a qual revela uma fraca participação da sociedade em espaços como os conselhos.

Também, a disponibilização de recursos financeiros – destacado especialmente pelos sujeitos

do município de Corrente –, em razão dos efeitos trazidos pelas desigualdades regionais

existentes no país.

Há também a ação centralizadora exercida pelo MEC, com a qual seguem

desassistidas muitas necessidades locais não alcançadas pelos projetos e programas

construídos de forma centralizada. A esse respeito, cabe destacar experiências como a do

Plano de Ações Articuladas (PAR). Conforme assinalam Schneider, Nardi e Durli (2012), em

132

estudo que buscou analisar a política de regulação do PDE, considerando as ações do PAR no

âmbito da formação inicial e continuada dos professores em municípios catarinenses, o

instrumento operou aos moldes de uma uniformização que correspondeu antes ao atendimento

das prioridades estabelecidas pelo MEC.

É claro que a análise de um tema a partir da ótica de sujeitos situados em realidades

distintas, impõe que consideremos as diferenças existentes e sua repercussão nas vozes dos

sujeitos, haja vista estarem ligadas ao modo de vida de cada lugar, aos seus valores, crenças,

desafios, objetivos e motivações (GASKEL, 2012).

Assim posto, é possível destacar que, no rol de fatores levantados e analisados neste

estudo, sobressaem dois fatores que reforçam, no campo da gestão municipal da educação, a

congruência entre gestão do financiamento da educação e geração de condições concretas

para a construção da qualidade: o planejamento pautado nos pressupostos da gestão

democrática e de uma qualidade socialmente referenciada; e o protagonismo municipal

possibilitado pela condição de ente federativo, aqui incluída a disposição pela realização do

seu projeto educacional. Já em termos de incongruências, os achados nos levam a destacar a

insuficiência de recursos para a manutenção e desenvolvimento do ensino e a frágil

participação da sociedade civil nos assuntos públicos, revelada especialmente pela

predominante ausência de interesse pela participação nos conselhos de acompanhamento e

controle social, com a qual se vê fragilizada a qualidade da gestão dos recursos públicos.

De todo modo, embora esse enquadramento de fatores tenha sido conduzido com base

na leitura dos sujeitos locais, sendo esta tecida em razão de suas realidades e práticas

cotidianas, importa considerar que o conjunto nos oportuniza perceber um leque de

possibilidades de reforço ou fragilização da relação positiva entre gestão do financiamento da

educação e geração de condições concretas para a construção da qualidade. A meu ver, essas

possibilidades estão relacionadas à disposição e ao compromisso político dos sujeitos com o

desenvolvimento de um projeto educacional abraçado pelo município.

Pensando assim, entendo que os fatores levantados nesse estudo não operam

isoladamente, mas se interpenetram e compõem um quadro influente que pode repercutir de

diferentes modos, a depender da forma como são recepcionados no local. Afinal, são fatores

de ordem ampliada e têm no município um dos seus campos de incidência.

Como destaquei, embora sejam percebidos traços comuns de alguns desses fatores em

realidades distintas do país, entendo ser apropriado dizer que os contornos que eles assumem,

assim como sua influência e repercussão na gestão municipal da educação tendem a variar de

um lugar para o outro, a depender das condições concretas de cada realidade local.

133

Sem a pretensão de esgotar o assunto, julgo importante que outros estudos sejam

desenvolvidos e que outras realidades municipais sejam analisadas, de modo a ser possível

avançar no debate acerca da gestão do financiamento como condição favorável ao

desenvolvimento de uma educação pública de qualidade.

134

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150

APÊNDICE A – Roteiro mínimo para entrevistas

1. Tem sido frequente a associação entre gestão educacional e a melhoria da qualidade da

educação. Qual sua opinião a respeito desta associação?

2. Frequentemente, um dos campos mencionados quando se associa gestão e qualidade

educacional é o do financiamento da educação. Para você, o que é fundamental para

que se tenha uma relação positiva entre gestão do financiamento e construção a

qualidade da educação?

3. No caso dos municípios brasileiros, qual é sua opinião sobre desafios e sobre

vantagens quanto à promoção de uma relação positiva entre a gestão do financiamento

da educação e a melhoria da qualidade educacional?

4. Indique-nos práticas locais que tenham sido ou são operadas na gestão do

financiamento deste município e que, no seu entendimento, constituem iniciativas

favoráveis à melhoria da qualidade da educação.

5. Em sua opinião, o monitoramento da aplicação dos recursos pela sociedade civil – a

exemplo da atuação dos conselhos enquanto instâncias de descentralização do poder

decisório – tem potencial para melhorar a qualidade da educação? Comente.

6. Acredita que uma melhor relação entre financiamento e qualidade da educação tem a

ver com a qualidade do planejamento em nível de rede municipal de ensino, com a

definição clara de ações e estratégias prioritárias e vontade política? Comente.

7. Considerando que a aprendizagem dos estudantes é fator determinante da qualidade da

educação, comente sobre sua visão a respeito do papel da gestão da rede, da gestão da

escola e do professor para a melhoria das condições de aprendizagem dos nossos

estudantes.

8. Desde 1998 temos vivido a experiência com fundos, primeiro o Fundef e agora o

Fundeb. Como percebe esse modelo de financiamento enquanto mecanismo de

correção de desigualdades educacionais regionais?

151

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) como voluntário(a) a participar da pesquisa: “Gestão municipal da educação: (in)

congruências entre políticas de financiamento e construção da qualidade da educação”

A JUSTIFICATIVA, O OBJETIVO E OS PROCEDIMENTOS: A pesquisa se justifica em razão da importância da

realização de análises acerca da gestão educacional, especialmente acerca do financiamento da Educação enquanto fator

determinante à geração de condições concretas para a qualidade do ensino. Tem por objetivo geral analisar a influência de

fatores político-institucionais, econômicos e culturais na gestão da educação operada por governos municipais, de modo a

evidenciar congruências e inconguências entre a gestão do financiamento da educação e a geração de condiçõs concretas para

a construção da qualidade educacional. Quanto aos procedimentos de coleta de dados, a partir do momento em que este termo

de consentimento for assinado você participará de uma entrevista semiestruturada (gravada em áudio) que versará sobre

práticas de gestão da educação na esfera municipal que implicam na relação positiva ente gestão do financiameto e

construção da qualidade educacional.

DESCONFORTOS, RISCOS E BENEFÍCIOS: A sua participação neste estudo não acarretará riscos ou desconfortos para

você. Seu nome permanecerá sob sigilo e os benefícios gerados dizem respeito à disponibilidade de análises acadêmico-

científicas acerca do tema continuidade podendo, inclusive, favorecer o traçado de políticas públicas do setor, especialmente

no campo da gestão municipal.

GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E GARANTIA DE SIGILO: Você poderá

solicitar esclarecimento sobre a pesquisa em qualquer etapa do estudo. Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu

consentimento ou interromper a participação na pesquisa a qualquer momento, seja por motivo de constrangimento e ou

outros motivos. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda de

benefícios. O(s) pesquisador(es) irá(ão) tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os resultados da pesquisa

permanecerão confidenciais. Seu nome ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua permissão.

Você não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Este consentimento está impresso e

assinado em duas vias, uma cópia será fornecida a você e a outra ficará com os pesquisadores responsáveis.

CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO, RESSARCIMENTO E INDENIZAÇÃO: A participação no estudo, não acarretará

custos para você e não será disponibilizada nenhuma compensação financeira.

DECLARAÇÃO DO SUJEITO PARTICIPANTE OU DO RESPONSÁVEL PELO SUJEITO PARTICIPANTE:

Eu, ____________________________________________., fui informado (a) dos objetivos da pesquisa acima de maneira

clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei solicitar novas informações e ou retirar

meu consentimento. Os responsáveis pela pesquisa acima, certificaram-me de que todos os meus dados serão confidenciais.

Em caso de dúvidas poderei chamar a estudante Mirian Folha de Araújo Oliveira (49) 99285015 e o pesquisador responsável

Elton Luiz Nardi (49) 98159245 ou ainda entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da

Unoesc e Hust, Rua Getúlio Vargas, nº 2125, Bairro Flor da Serra, 89600-000- Joaçaba – SC, Fone: (49) 3551-2012. Declaro

que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a

oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

Assinatura do sujeito pesquisado ou impressão dactiloscópica.

Assinatura:_____________________________________________

Nome legível: __________________________________________

Endereço: _____________________________________________

RG. __________________________________________________

Fone: ________________________________________________

Data _______/______/______

_______________________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a) responsável

Data _______/______/______