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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Sociais e Educação Programa de Pós-Graduação em Educação Linha de Pesquisa: Saberes Culturais e Educação na Amazônia MARINALDO PANTOJA PINHEIRO INSTRUIR E CIVILIZAR: EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS NO GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI, PARÁ (1904-1943) Belém-Pará 2017

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Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Sociais e Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação

Linha de Pesquisa: Saberes Culturais e Educação na Amazônia

MARINALDO PANTOJA PINHEIRO

INSTRUIR E CIVILIZAR: EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS NO

GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI, PARÁ (1904-1943)

Belém-Pará

2017

MARINALDO PANTOJA PINHEIRO

INSTRUIR E CIVILIZAR: EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS NO GRUPO

ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI, PARÁ (1904-1943)

Dissertação de mestrado apresentado ao Programa

de Pós-Graduação em Educação da Universidade

do Estado do Pará – UEPA, na linha de pesquisa

Saberes Culturais e Educação na Amazônia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Perpétuo Socorro

Gomes Avelino de França.

Belém-Pará

2017

Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)

Biblioteca do CCSE/UEPA

Pinheiro, Marinaldo Pantoja

Instruir e civilizar: educação de crianças no Grupo Escolar de Igarapé-Miri, Pará

(1904-1943) / Marinaldo Pantoja Pinheiro; orientação de Maria do Perpétuo Socorro

G. Avelino de França, 2017

Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará, Belém,

2017

1. Educação – História - Amazônia. 2. Grupo Escolar de Igarapé-Miri (PA). 3.

Educação de crianças – Igarapé-Miri (PA) I. França, Maria do Perpétuo S. Avelino de

(orient.). II. Título.

CDD. 513.214

MARINALDO PANTOJA PINHEIRO

INSTRUIR E CIVILIZAR: EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS NO GRUPO

ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI, PARÁ (1904-1943)

Dissertação de mestrado apresentado ao Programa

de Pós-Graduação em Educação da Universidade

do Estado do Pará – UEPA, na linha de pesquisa

Saberes Culturais e Educação na Amazônia.

Orientado: Prof.ª Dr.ª Maria do Perpétuo Socorro

Gomes Avelino de França.

Examinado em: 18/12/2017

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________________

Profª. Drª. Maria do Perpétuo Socorro Gomes de Souza Avelino de França – Orientadora

(PPGED/UEPA)

______________________________________________________________________

Prof. Dr. João Colares da Mota Neto – Membro interno (PPGED/UEPA)

______________________________________________________________________

Profª. Drª. Laura Maria Silva Araújo Alves – Membro externo (PPGED/UFPA)

À minha genitora Salvina Pantoja Pinheiro (In

memorian). Entre os cochilos e balanços de

rede em suas sestas diárias após o almoço,

ensinou-se as primeiras letras na cartilha do

“Método ABC”.

À minha esposa Ana Maria Rodrigues Corrêa

e meus filhos Madson Allan Corrêa Pinheiro e

Marianne Alinne Corrêa Pinheiro, pela

compreensão nos momentos em que o estudo

não me permitiu lhes dar a atenção merecida.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me conceder o dom da vida.

À Profª. Drª. Maria do Perpétuo Socorro Gomes de Souza Avelino de França, por

orientar maestriamente esta pesquisa.

Aos professores que participaram da banca de qualificação e defesa, Prof. Dr. João

Colares da Mota Neto (UEPA) e Profª. Drª. Laura Maria Silva Araújo Alves (UFPa), pelas

contribuições relevantes a esta investigação.

Aos professores do mestrado em educação da UEPA, que conduzem com amor e

dedicação deste programa de pós-graduação.

Aos colegas da 12ª turma do mestrado em educação da UEPA, pelas trocas simbólicas

de conhecimentos e experiências de vida.

Aos pesquisadores do Grupo História da Educação na Amazônia – GHEDA, pelas

contribuições para o amadurecimento intelectual deste objeto investigado.

A todos que contribuíram direta ou indiretamente com esta pesquisa, em especial:

Adriane da Costa Gonçalves, Carlos Alberto de Castro Souza, Clara Eunice Figueiredo

Brandão, Domingos do Nascimento Nonato, Elvis Nunes Correa, Joana Darc Costa, José

Maria Ribeiro Pinto, Maria da Assunção Pantoja Pinheiro, Maria José Corrêa Souza, Natanael

Pantoja Cuimar, Railson Wallace Rodrigues dos Santos, Sônia Maria Corrêa Amaral e

Manoel Raimundo Cabral Fonseca.

A todos os ex-alunos e ex-funcionários do Grupo Escolar de Igarapé-Miri,

particularmente à Crisálida Pantoja Soares, Iaci Guimarães Santana Moura, Layr Santana

Dias, Lucilinda Pantoja Ferreira, Maria Madalena Gonçalves, Maria Raimunda Corrêa de

Almeida e Virgínia de Jesus Nascimento Miranda.

Como um maestro de orquestra que ora dá a

vez a um instrumento musical, ora a outro, na

execução de uma única música, extrai

expressões de um depoimento, outras de outro,

trechos de reportagens de jornais e de

documentos para, de um conjunto de tantos

pequenos textos, formar uma única história

(NOSELLA, 2001, p.17).

PINHEIRO, Marinaldo Pantoja. INISTRUIR E CIVILIZAR: EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS

NO GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI, PARÁ (1904-1943). Dissertação (Mestrado

em Educação) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2017.

RESUMO

O presente trabalho vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade

do Estado do Pará, na linha de pesquisa Saberes Culturais e Educação na Amazônia e ao

Grupo de Pesquisa História da Educação na Amazônia, na linha Instituiçoes Educativas,

Intelectuais e Impressos, que tem como objetivo geral analisar o tipo de formação recebida

pelas crianças no Grupo Escolar de Igarapé-Miri (PA) no período 1904 a 1943, e como

objetivos específicos: descrever os saberes ensinados às crianças nesta instituição; analisar as

práticas educativas que marcaram a educação de crianças neste estabelecimento e identificar

os sujeitos que faziam parte do Grupo Escolar de Igarapé-Miri. Caracteriza-se,

metodologicamente, como uma pesquisa do tipo documental na perspectiva da história

cultural. As fontes documentais utilizadas na pesquisa: Frequência dos funcionários do Grupo

Escolar de Igarapé-Miri 1907, 1908, 1911 e 1912; Matrícula e frequência dos alunos da

Segunda escola elementar masculina do GE de Igarapé-Miri: 1905, 1908 a 1911; Termos de

exames dos alunos do GE de Igarapé-Miri: 1907-1910; 1937-1939 e 1949-1955; Documentos

das Escolas Isoladas de Igarapé-Miri (relação de escolas, termos de exames escolares, ofícios,

matrícula e frequência) de 1913 a 1971; Livro de ocorrência do Grupo Escolar “Manoel

Antonio de Castro” de 1959 a 1962; Livro de cadastro dos funcionários do município de

Igarapé-Miri de 1950 a 1972. Relatório da Instrução Pública de Olympio de Araújo e Souza

do ano de 1911; Regulamentos do ensino primário de 1903, 1910, 1918, 1931, 1934 e 1944,

dentre outras; Mensagens dos govenadores Augusto Montenegro (1905), João Antônio Luís

Coelho (1911) e Antônio Emiliano Castro (1924). Os autores que fundamentam as análises

são: Lobato (1985, 2004, 2007), Lobato e Soares (2001), Nosella e Buffa (2009), Faria Filho

(2000) Faria Filho e Souza (2006), Souza (1998, 2000, 2014), Vidal (2006), Burke (1990,

1992, 2005), Ginzburg (1984, 1989), Le Goff (2003), McLaren (1991), Goffman (2015),

Bernartt (2009), Nascimento et al (2008), Gouvea (2009, 2011), dentre outros. Os resultados

da investigação revelam que através dos ritos cotidianos as crianças eram instruídas para

aprenderem ler, escrever, contar e assimilar conhecimentos gerais sobre o Brasil e o mundo a

fim de terem condições de continuarem os estudos; e educadas dentro do modelo de civilidade

(obedientes, disciplinadas, respeitadoras das hierarquias etc.) pensada pelos republicanos, para

serem futuros cidadãos cívicos, patrióticos e nacionalistas. As crianças eram submetidas a

vários rituais, e dentre estes os exames avaliativos que eram altamente seletivos, onde havia

crianças que não compareciam e a maioria tirava médias baixas ou ficava reprovada. Muitas

delas não obtiveram êxito nesses exames.

Palavras-Chave: Grupo Escolar de Igarapé-Miri. Educação de Criança. Saberes e Práticas

educativas. História da Educação.

PINHEIRO, Marinaldo Pantoja. INISTRO AND CIVILIZAR: EDUCATION OF

CHILDREN IN THE IGARAPÉ-MIRI SCHOOL GROUP, PARÁ (1904-1943). Dissertation

(Master in Education) - University of the State of Pará, Belém, 2017.

ABSTRACT

This work, linked to the Graduate Program in Education of the State University of Pará, in the

line of research Cultural Knowledge and Education in the Amazon and to the Research Group

History of Education in the Amazon, in line with Educational, Intellectual and Printed

Institutions, which has as general objective to analyze the type of training received by the

children in the School Group of Igarapé-Miri (PA) from 1904 to 1943, and specific

objectives: to describe the knowledge taught to children in this institution; to analyze the

educational practices that marked the education of children in this establishment and to

identify the subjects that were part of the School Group of Igarapé-Miri. It is characterized,

methodologically, as a research of the documentary type in the perspective of cultural history.

The documentary sources used in the research: Frequency of the employees of the School

Group of Igarapé-Miri 1907, 1908, 1911 and 1912; Enrollment and attendance of students of

the Second GE Elementary School of Igarapé-Miri: 1905, 1908 to 1911; Terms of exams of

GE students from Igarapé-Miri: 1907-1910; 1937-1939 and 1949-1955; Documents of the

Isolated Schools of Igarapé-Miri (list of schools, terms of examinations, offices, registration

and attendance) from 1913 to 1971; Book of occurrence of the School Group "Manoel

Antonio de Castro" from 1959 to 1962; Book of cadastre of the employees of the municipality

of Igarapé-Miri from 1950 to 1972. Report of the Public Instruction of Olympio de Araújo e

Souza of the year 1911; Primary education regulations of 1903, 1910, 1918, 1931, 1934 and

1944, among others; Messages from the govenadores Augusto Montenegro (1905), João

Antônio Luís Coelho (1911) and Antônio Emiliano Castro (1924).

The authors who base the analyzes are Lobato (1985, 2004, 2007), Lobato and Soares (2001),

Nosella and Buffa (2009), Faria Filho (2000) and Souza (1998), Ginzburg (1984, 1989), Le

Goff (2003), McLaren (1991), Goffman (2015), Bernartt (2009), Vidal (2006), Burke

Nascimento et al (2008), Gouvea (2009, 2011), among others. The results of the investigation

show that through daily rites children were instructed to learn to read, write, count and

assimilate general knowledge about Brazil and the world in order to be able to continue their

studies; and educated within the model of civility (obedient, disciplined, respectful of

hierarchies, etc.) thought by republicans, to be future civic, patriotic and nationalistic citizens.

The children were submitted to various rituals and among these were the highly selective

evaluative exams where there were children who did not attend and most of them took low

averages or disapproved. Many of them did not succed in these tests.

Key words: Igarapé-Miri School Group. Child Education. Educational Knowledge and

Practices. History of Education.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa do município de Igarapé-Miri, Pará......................................................... 18

Figura 02 Frequência dos funcionários do Grupo Escolar de Igarapé-Miri: março de

1907....................................................................................................................

30

Figura 03 Primeiro prédio que sediou o Grupo Escolar de Igarapé-Miri........................... 45

Figura 04 Planta baixa do primeiro prédio que sediou o Grupo Escolar de Igarapé-Miri. 47

Figura 05 Local do segundo prédio que sediou o Grupo Escolar...................................... 48

Figura 06 Grupo Escolar de Igarapé-Miri inaugurado em 1949........................................ 49

Figura 07 Planta baixa do Grupo Escolar de Igarapé-Miri inaugurado em 1949............... 50

Figura 08 Antigo Grupo Escolar, hoje Escola de Artes João Valente do Couto................ 53

Figura 09 Frequência dos alunos da 2ª escola elementar masculina, do Grupo Escolar

de Igarapé-Miri, set./1911..................................................................................

60

Figura 10 Villa de Santana Igarapé-Miry........................................................................... 64

Figura 11 Mapa da região do Marajó e Baixo Tocantins, destacando o Rio Pará........................................ 66

Figura 12 Mapa do município de Igarapé-Miri, destacando o Canal e o Furo Velho........ 68

Figura 13 Predicanda Carneiro de Amorim Lopes............................................................. 87

Figura 14 Ana da Trindade Almeida.................................................................................. 88

Figura 15 Crianças desfilando no Dia da Independência................................................... 139

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Resultado do levantamento de 124 produções acadêmicas publicadas

entre 1990 a 2009, que tem como objeto de estudo as instituições

escolares.......................................................................................................

19

Quadro 02 Produção do conhecimento sobre grupo escolar publicado no site

PPGED-UFPA.............................................................................................

21

Quadro 03 Matrícula nos grupos escolares do Pará em 1904........................................ 39

Quadro 04 Relação dos grupos escolares em 1910 e 1931............................................ 55

Quadro 05 Matrícula da segunda escola elementar masculina, do Grupo Escolar de

Igarapé-Miri: 1905-1908 a 1911.................................................................

57

Quadro 06 Quantitativo demográfico de Igarapé-Miri, Pará, em 1900........................ 76

Quadro 07 Diretores do Grupo Escolar de Igarapé-Miri nos anos 1904-1963:

formação e origem.......................................................................................

85

Quando 08 Professores nomeados para o Grupo Escolar de Igarapé-Miri nos anos

1904 a 1912: Formação e origem................................................................

93

Quadro 09 Relação dos professores do Grupo Escolar de Igarapé-Miri: 1937 a 1942. 96

Quadro 10 Discriminação por sexo do corpo docente do Pará: 1938 a 1941................ 98

Quadro 11 Escolas e professores de Igarapé-Miri nos anos 1938 e 1939..................... 99

Quadro 12 Professores das escolas isoladas de Igarapé-Miri: 1913-1950.................... 100

Quadro 13 Tabela de vencimentos anuais de funcionários dos Grupos Escolares e

Escolas Isoladas do Estado do Pará em 1903..............................................

102

Quadro 14 Matrícula no Grupo Escolar de Igarapé-Miri: 1905-1907........................... 115

Quadro 15 Matrícula no Grupo Escolar de Igarapé-Miri: 1937-1940; 1949-1954....... 115

Quadro 16 Relação dos porteiros e serventes do Grupo Escolar da cidade de

Igarapé-Miri.................................................................................................

116

Quadro 17 Horário de aula e distribuição do tempo nos grupos escolares em 1904..... 149

Quadro 18 Resultado dos exames finais do Grupo Escolar de Igarapé-Miri de 1904... 156

Quadro 19 Quantitativo de alunos matriculados e que prestaram exames no Grupo

Escolar nos anos 1904, 1907 a 1910............................................................

158

Quadro 20 Resultado dos exames finais do Grupo Escolar de Igarapé-Miri: 1937-

1940; 1949-1954..........................................................................................

160

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 14

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO......................................... 14

1.2 PERCURSO METODOLÓGICO.......................................................................... 25

1.3 PERSPECTIVA DE ANÁLISE............................................................................. 32

2 GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI E A CIDADE................................ 38

2.1 AS ORIGENS DO GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI............................. 41

2.2 A EXTINÇÃO DO GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI............................. 54

2.3 A CIDADE DE IGARAPÉ-MIRI.......................................................................... 63

2.4 ASPECTOS GERAIS DO MUNICÍPIO................................................................ 72

3 GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI E SEUS SUJEITOS..................... 78

3.1 ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO GRUPO ESCOLAR DE

IGARAPÉ-MIRI.....................................................................................................

81

3.2 PROFESSORES...................................................................................................... 90

3.2.1 Tempo de desterro................................................................................................ 101

3.3 ALUNOS................................................................................................................. 108

3.3.1 Matrícula no Grupo Escolar de Igarapé-Miri.................................................... 114

3.4 PORTEIROS E SERVENTES................................................................................ 115

4 EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS NO GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-

MIRI.......................................................................................................................

119

4.1 RITUALIZAÇÃO DO COTIDIANO..................................................................... 119

4.1.1 A invenção da República brasileira..................................................................... 130

4.2 SABERES E PRÁTICAS EDUCATIVAS............................................................. 138

4.2.1 Festas escolares...................................................................................................... 138

4.2.2 Distribuição do tempo........................................................................................... 142

4.2.3 O recreio................................................................................................................. 145

4.2.4 As aulas................................................................................................................... 148

4.3 APRENDER OU REPROVAR: AS EXIGÊNCIAS DO RITO DE PASSAGEM.

154

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................

163

FONTES DOCUMENTAIS.................................................................................

169

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 180

ANEXOS................................................................................................................. 186

ANEXO 1 - Regimento interno dos grupos escolares e das escolas isoladas do

Pará de 1904............................................................................................................

187

APÊNDICES.......................................................................................................... 213

APÊNDICE 1 - História do Grupo Escolar de Igarapé-Miri (Vídeo com duração

de 7:50)...................................................................................................................

214

APÊNDICE 2 – Planta 3D do Grupo Escolar de Igarapé-Miri fundado em

1904.........................................................................................................................

214

14

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

O presente estudo tem como objeto de investigação o Grupo Escolar de Igarapé-Miri1

(PA), criado em 1904 pelo governador Augusto Montenegro, nos anos de 1904-1943. Esse

estudo está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Ciências

Sociais e Educação, da Universidade do Estado do Pará e da linha de pesquisa Saberes

Culturais e Educação na Amazônia, a qual investiga temas educacionais relacionados ao

contexto brasileiro e amazônico com o objetivo de fortalecer a identidade cultural da

Amazônia, bem como da linha de pesquisa história das instituições educativas, impressos e

intelectuais do Grupo de Pesquisa História da Educação na Amazônia (GHEDA). Desde sua

fundação em 2010, o GHEDA vem desenvolvendo pesquisas que contribuem com a escrita da

história da educação na Amazônia.

A escolha deste objeto de estudo é bem interessante. A impressão que tenho foi que o

objeto me escolheu para reconstruir sua história, haja vista a proposta de pesquisa apresentada

por ocasião do processo seletivo do PPGED-UEPA de 2015 tinha como objeto o Instituto

Nossa Senhora Sant’Ana, criado em 1955 em Igarapé-Miri, Pará, pela Companhia das Irmãs

Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Entretanto, durante a entrevista de seleção para o

mestrado, alguns questionamentos me foram feitos acerca do Grupo Escolar de Igarapé-Miri,

como: Em que ano foi fundado? Quem o criou? Havia outras escolas primárias na década de

1950 neste município? Esses questionamentos me levaram a fazer uma pesquisa exploratória

sobre essa instituição de ensino. Descobri no levantamento que ele foi o primeiro grupo

escolar criado na cidade, que funcionou em prédios alugados, antes da construção de um

prédio próprio e que era um projeto de cunho nacional dos governos republicanos.

Durante o XII Seminário do Programa de Pós-Graduação em Educação da

Universidade do Estado do Pará (PPGEd – UEPA), realizado nos dias 17 e 18 de dezembro de

2015, no Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) a Prof.ª Dr.ª Maria do Perpétuo

Socorro Gomes de Souza Avelino de França proferiu uma palestra sobre a implantação dos

grupos escolares criados no Pará, durante a primeira República. A palestrante apresentou um

mapa desses grupos escolares, onde figurava o Grupo Escolar de Igarapé-Miri, possibilitando-

1 A grafia Igarapé-Miry, foi escrita com “Y” até 1937, a partir do ano seguinte o “Y” foi substituído pelo “I”. Por

opção irei adotar a grafia atual, ou seja, Igarapé-Miri. Entretanto, nas citações, optei manter a grafia original de

algumas palavras que hoje sofreram modificações.

15

me uma visão geral sobre a temática. Percebi que a produção sobre grupo escolar no Pará é

diminuta e que este campo precisa ser desbravado. Isso aumentou em mim o desejo de estudar

o Grupo Escolar de Igarapé-Miri para compreender como eram educadas as crianças nas

primeiras décadas de existência desta instituição de ensino, para compreender como um

projeto de cunho nacional, pensado dentro de uma ótica capitalista, se adaptou

(completamente ou em parte) em um contexto rural do Norte do Brasil.

Para que a história centenária dessa instituição não seja esquecida e se torne

conhecida, é preciso ser investigada. Assim, se ninguém se propuser a construir as pontes que

reinventem este passado, em breve será esquecido. E isso é uma perda irreparável à nossa

história, pois o Grupo Escolar de Igarapé-Miri liga este município a um projeto nacional, em

que os grupos escolares seriam símbolos e instrumentos de progresso, civilização e

modernidade da República, e a instrução pública primária seria uma política de governo.

Outro momento significativo que ampliou o meu interesse por este tema foi o VI

Seminário do Grupo de Pesquisa em História da Educação na Amazônia (GHEDA), realizado

nos dias 06 e 07 de junho de 2016, no Campus I – no Centro de Ciências Sociais e Educação

– CCSE/UEPA, em Belém do Pará. O referido evento teve como tema “Educação na

Amazônia: O Ofício do Historiador”. Na conferência de encerramento proferida pelo Prof. Dr.

José Maia Bezerra Neto, da Universidade Federal do Pará (UFPa), intitulada “Arquivo

Público do Estado do Pará e a História da Educação na Amazônia”, o pesquisador expôs de

maneira didática o manancial de fontes documentais que tem no Arquivo Público do Pará

sobre a instrução pública neste estado. Chamou-me atenção a discussão que ele fez sobre a

organização no referido arquivo, de documentos catalogados por fundos (da instrução pública,

da segurança pública) destacando que há muitas informações sobre educação nos fundos da

segurança pública, ainda pouco explorados pelos pesquisadores.

Luciano Mendes de Faria Filho, professor da Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG), na conferência de abertura “O Ofício do Historiador da Educação: Desafios

Contemporâneos” destacou que o historiador da educação, para construir o seu objeto de

estudo, precisa fazer um trabalho de garimpagem, coletando fragmentos, somados a sua

criatividade, reinventa o passado. Na visão do palestrante, tudo isso é uma ficção. Assim, a

escrita da história é resultado de uma imaginação que é produzida, ancorada nas fontes e nas

discussões epistemológicas.

Os seminários me permitiram entender que as fontes documentais sobre o Grupo

Escolar de Igarapé-Miri poderiam ser encontradas fora do lócus da pesquisa: tudo dependeria

da pergunta que eu fizesse às fontes. Sendo assim, seria possível fazer uma pesquisa sobre a

16

educação oferecida por esta instituição educativa, considerando que praticamente toda a

documentação anterior à década de 1950 foi incinerada, a mando de uma diretora, que não via

necessidade em guardar o arquivo “morto” desta instituição? Na realidade, não existe arquivo

morto, e sim arquivo vivo, pois estes arquivos guardam experiências de vida, ou seja, a

memória de uma sociedade. Portanto, estes arquivos, somados às experiências

contemporâneas do pesquisador, contribuem para a reinvenção do passado, que poderá nos

ajudar a repensar o futuro.

A atitude desta diretora que mandou queimar os documentos antigos, e assim

consciente ou inconscientemente destruir fontes históricas, não é uma atitude isolada neste

município, pois muitos administradores não têm se voltado à conservação destas fontes. O

arquivo público do município de Igarapé-Miri está totalmente desorganizado, com

documentos amontoados, se deteriorando, sem higienização, etc., o que parece ser mais um

depósito de documentos.

Desde a minha infância testemunhei esses descasos com a nossa memória. Na década

de 1980 a Igreja Sant’Ana de Igarapé-Miri sofreu uma reforma que a transfigurou: trocaram o

piso, o altar, o forro e a pintura. Tudo isso sem respeitar as suas características originais. As

duas praças principais da cidade (Bandeira e Matriz) foram destruídas para dar lugar a outras:

a da Bandeira passou a se chamar Praça Sarges Barros e a da Matriz, Praça Pe. Henrique. O

monumento denominado obelisco, segundo o ofício 132 de 30/06/1945, construído em 1945

na Praça da Matriz, para comemorar o primeiro centenário do município de Igarapé-Miri,

orçado em Cr$ 23.600,00 (vinte e três mil e seiscentos cruzeiros), também foi destruído.

Nomes de ruas também foram modificados para atender interesses políticos, como por

exemplo, a Rua 03 de maio passou a se chamar Travessa Coronel Garcia e a Benjamin

Constant, Rua Padre Vitório. Esses são apenas alguns exemplos de desrespeito com a nossa

história.

Durante a minha graduação em História (1997-2002), pela Universidade Federal do

Pará (UFPa), Campus de Abaetetuba, Pará, fui aprimorando o meu sentimento de contribuir

com a preservação da história deste município, onde moro até hoje. É por isso que comungo

com uma frase muito usada: Um povo sem memória é um povo sem história. Nas palavras de

Chauí (1979), percebemos o drama que a demolição da uma paisagem causa nas pessoas.

Nada mais pungente em seu livro, Ecléa, do que a frase dezenas de vezes

repetida pelos recordadores: “já não existe mais”. Essa frase dilacera as

lembranças como um punhal e, cheios de temor, ficamos esperando que cada

um dos lembradores não realize o projeto de buscar uma rua, uma casa, uma

árvore guardadas na memória, pois sabemos que não irão encontrá-las nessa

17

cidade onde, como você assinala agudamente, os preconceitos da

funcionalidade demoliram paisagens de uma vida inteira (p.19).

Neste mesmo tom saudosista, Lobato (2004), descreve uma foto da extinta Praça

Lourenço D’Azevedo, que ficava localizada em Igarapé-Miri (PA), com as seguintes palavras:

[...] representa a principal praça da cidade construída em 1972, na qual se vê

as seculares palmeiras imperiais, sombreando os belos bancos de mármore

que foram ofertados pelo ROTARY CLUB DE IGARAPÉ-MIRI, o chafariz

em seu centro, com a bela iluminação a frio, a qual deu o destaque em ser

considerada a mais bela cidade do Tocantins (p. 03).

Isso me levou a compreender que, enquanto historiador, devo lutar contra o

esquecimento, pois considero que pior do que morrer, é ser esquecido. Deixar de existir, sem

deixar registro algum, significa desaparecer. É como se nunca estivesse existido. Nesta

perspectiva, de valorização da história local, a minha monografia apresentada em 2002 à

UFPA: “Quando houve o desatrelamento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Igarapé-

Miri (PA) em relação ao Estado?”, buscou mostrar através da metodologia da história oral,

como se deu vez e voz a sujeitos anônimos que participaram da tomada deste sindicato (por

meio de eleição direta), das mãos da diretoria que era apoiada pelo estado.

Quando comecei a trabalhar a disciplina história em 2003 no ensino médio e 2006 no

ensino fundamental na Escola Enedina Sampaio Melo (ESAM), em Igarapé-Miri, Pará, passei

a sofrer as angústias que meus pares já sofriam: não conhecíamos bibliografias sobre a

história deste município. Digo não conhecíamos, porque existem algumas obras raras sobre a

história do município, como: “Igarapé-Miry: fases da sua formação histórica”, de Ernesto

Cruz, de 1945; e “Chrônicas de Igarapé-Miry” do tenente-coronel Agostinho Monteiro

Gonçalves de Oliveira, de 1899. O único livro que conhecíamos e que fundamentava as aulas

sobre a história local era “Caminho de Canoa Pequena”, de Eládio Corrêa Lobato (1921-

2010), que têm D'Oliveira e Cruz como fontes, mas não os cita na referência. A primeira

edição desde livro é de 1985. Ele aborda a história do município de Igarapé-Miri: fundação,

símbolos municipais (bandeira, brasão e hino), aspectos econômicos, políticos, religiosos etc.

Diante destas necessidades de preservação da nossa história, desenvolvi entre os anos

2010 a 2015 na Escola de Ensino Fundamental e Médio Enedina Sampaio Melo (ESAM) um

projeto de pesquisa intitulado: Contando Nossa História, Preservando Nossa Cultura e

Criando Cidadania. Neste projeto foram pesquisados vários temas, como a história dos nomes

de ruas e prédios públicos, as lendas do boto e cobra grande e a história dos engenhos em

18

Igarapé-Miri, que acabou gerando outro projeto: Igarapé-Miri no Contexto da Cana. Todos

estes trabalhos foram feitos com a participação de alunos desta instituição.

O Grupo Escolar de Igarapé-Miri estava localizado na região do Baixo Tocantins, cujo

nome é uma homenagem ao município ao qual está instalado. De acordo com Baena (1885), a

Comarca Geral de Igarapé-Miri foi criada em 26 de outubro de 1878. E segundo Lobato

(2007), foi elevada à categoria de cidade em 1896. Neste período, era composta por mais duas

vilas, posteriormente elevadas a municípios: Abaeté (atual Abaetetuba) e Moju. Possuía os

seguintes limites geográficos: ao Norte com a Comarca de Belém e ao Sul com a de Cametá.

Hoje, Igarapé-Miri limita-se com os seguintes municípios: ao Norte com Abaetetuba,

a Leste com Moju, ao Sul com Mocajuba e a Oeste com Cametá e Limoeiro do Ajuru,

conforme a figura (01).

Figura 01 Mapa do município de Igarapé-Miri, Pará

Fonte: GOOGLE. Mapas, 2013

Este estudo faz parte da temática “História das Instituições Educativas na Amazônia”,

que por sua vez está inserido no campo denominada “Instituições Escolares no Brasil”.

Nosella e Buffa (2009) citam três momentos distintos das pesquisas sobre a educação no

Brasil. Entre 1950-1960, as produções voltavam-se para temas referentes à educação e

sociedade. Entre 1970-1980, período marcado pela Ditadura Militar, os pesquisadores

preocupavam-se mais com a sociedade, do que com a escola. Assim, as pesquisas deste

19

período foram: “sociedade de classes, base material da sociedade, atividade ideológica,

compromisso político e competência técnica [...]” (NOSELLA E BUFFA, 2009, p. 16). Já no

terceiro momento, a partir da década de 1990, sendo influenciado pela história cultural ou

nova história, as abordagens sobre educação passou a privilegiar os seguintes temas: culturas

e disciplinas escolares, práticas educativas, instituições escolares e outros.

Atualmente, os estudos sobre instituições escolares se concentram nos grupos de

pesquisas dos programas de pós-graduação em educação de várias universidades brasileiras,

como da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), de São Carlos (UFSCar), da

Universidade de Sorocaba (UNISO), da Pontifícia Universidade Católica (PUC do RJ), entre

outros (NOSELLA E BUFFA, 2009).

Nosella e Buffa (2009) realizaram um levantamento com 124 produções acadêmicas

(monografias, dissertações, teses, relatórios de pesquisas, livros e artigos) publicadas entre

1990 e 2009, que tem como objeto de estudo as instituições escolares. A pesquisa foi

realizada a partir da leitura dos títulos, resumos e artigos publicados nos programas de pós-

graduação em educação do Sudeste, cujos discentes são oriundos de todo país e que

desenvolvem pesquisa sobre instituições escolares de sua terra natal. A somatória é superior a

124, porque a maioria das instituições educativas foi enquadrada em mais de uma categoria. O

resultado a que os autores chegaram, podem ser observados no quadro (01).

Quadro 01: Resultado do levantamento de 124 produções acadêmicas publicadas entre

1990 a 2009, que tem como objeto de estudo as instituições escolares

1 Instituições particulares de ensino básico (laicas e confessionais) 94

2 Instituições de ensino superior (públicas e privadas) 47

3 Instituições de ensino profissional (médio 36 e superior 5) 41

4 Escolas normais (públicas e privadas) 33

5 Instituições de referência (Exemplo: Colégio Caraça, Colégio Pedro II, antigos colégios

Jesuítas, antigas escolas normais)

11

6 Instituto de pesquisa (exemplo: Agronômico, Butatã, Pasteur) 12

7 Ensino básico público 09

8 Grupos escolares 18

9 Estudos gerais sobre a temática de instituições escolares 05

10 SENAI/SENAC e instituições profissionalizantes 03

11 Outras instituições de educação, mas não escolares (SEE, MEC) 02

12 APAE 01

Fonte: NOSELLA E BUFFA, 2009

20

Observamos no quadro (01) que os grupos escolares enquanto objeto de estudo, estão

na oitava posição desta pesquisa, ou seja, dos 124 títulos analisados em 2009, apenas 18 ou

22,32% estudaram os grupos escolares. Os autores tiraram a seguinte conclusão: as

“instituições mais antigas e socialmente mais prestigiadas são as mais estudadas” (NOSELLA

E BUFFA, 2009, p. 25).

No Portal de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES) fiz uma busca no mês janeiro de 2017, referente aos anos 2013 a

2016, com o objetivo de levantar as produções que tenham como objeto de estudo os grupos

escolares. Utilizei nesse levantamento os descritores “Grupo Escolar”, “Grupo Escolar na

Primeira República” e “Grupo Escolar na Primeira República no Pará”. Foram encontradas 36

produções que tratam sobre grupos escolares, sendo 26 dissertações de mestrado e 10 teses de

doutorado. Desse universo, 11 foram defendidas em 2013, 9 em 2014, 8 em 2015 e 8 em

2016, sendo que 17 trabalhos abordam recortes temporais anteriores a 1940, 15 se debruçam

em recortes posteriores e 4 focalizam períodos entre 1912 a 1967. Apenas 13 produções

investigam as origens dos seus objetos (CAPES, 2017).

Geograficamente as 36 produções ficaram distribuídas da seguinte maneira:

No Sudeste foram encontradas 15 dissertações e 9 teses. As dissertações são: 4 da

Universidade Federal de Uberlândia (UFU), seguida da Universidade Estadual de Campinas

(UNICAMP) (com 2 trabalhos), Universidade de Uberaba (UNIUBE) (2), Universidade São

Francisco (USF) (2), Universidade Federal de Viçosa (UFV) (1), Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG) (1), Universidade de Sorocaba (UNISA) (1), Centro Universitário

Moura Lacerda, Ribeirão Preto (CUML) (1) e Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

(1). Quanto às teses, 2 da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), da Universidade São

Francisco (USF) (1 trabalho), Universidade de Sorocaba (UNISA) (1), Universidade Federal

de São Carlos (UFSCar) (1), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (1),

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/Pr. Prudente (UNESP) (1),

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (1) e Universidade de São Paulo (USP) (1).

No Sul encontrou-se 4 dissertações e 1 tese. A tese e 1 dissertação estão localizadas na

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), na Universidade Federal de Santa Catarina

(UFSC) (2 dissertações) e na Universidade de Caxias do Sul (UCS) (1).

Na região Nordeste, apareceram 4 dissertações: na Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN) (2), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) (1) e

Fundação Universidade Federal do Piauí (UFPI) (1). No Centro-Oeste, 2 dissertações: na

21

Universidade Federal de Goiás (UFG) (1) e na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

(1). E no Norte, apenas 1 dissertação: na Universidade Federal do Pará (UFPA).

Quando se visualiza as produções das universidades brasileiras sobre grupos escolares

entre 2013 a 2016, confirma-se o levantamento realizado por Nosella e Buffa (2009) no

quadro (01), onde no Sudeste se concentra o maior número de trabalhos nesta temática,

destacando-se a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) com quatro dissertações e duas

teses. Na realidade, o Sudeste é pioneiro nestas pesquisas, e a justificativa é que nesta região

surgiram e está presente a maioria dos programas de pós-graduação em educação. Estes dados

demostram que este campo vem crescendo e recebendo notoriedade dentro das pesquisas em

Educação no Brasil.

Neste mesmo período realizei outra pesquisa. Desta feita, no Banco de Dados dos

Programas de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e da

Universidade Federal do Pará (UFPA), com o mesmo objetivo da pesquisa anterior. O critério

utilizado foi fazer a leitura dos títulos, palavras chaves e resumos das dissertações e teses dos

referidos programas que estejam publicados em suas páginas na internet. No site do Programa

de Pós-graduação em Educação da UEPA não foi encontrado nenhuma publicação referente a

grupos escolares. Entretanto, no Programa de Pós-graduação em Educação da UFPa foram

encontrados três trabalhos que tratam sobre a temática em estudo, conforme apresento no

quadro (02).

Quadro 02: Produção do conhecimento sobre grupo escolar publicado no site PPGED-

UFPA

Nº Autor Título Ano

01 Renato Pinheiro da

Costa

O Grupo Escolar Lauro Sodré em face da política de expansão do

sistema escolar no Estado do Pará: institucionalização, organização

curricular e trabalho docente (1968-2008)

2011

02 Glaybe Antonio

Sousa Pimentel

Processos de subjetivação, poder disciplinar e trabalho docente no

Grupo Escolar Professor Manoel Antônio de Castro (1940-1970)

2012

03 Brianna Souza

Barreto

Políticas educacionais e curriculares para o exercício do ofício de

mestre no Grupo Escolar Doutor Otávio Meira, no município de

Benevides, estado do Pará (1965-1976)

2016

Fonte: PPGED-UFPA, 2017

A dissertação de mestrado de Renato Pinheiro da Costa, intitulado “O Grupo Escolar

Lauro Sodré em face da política de expansão do sistema escolar no Estado do Pará:

institucionalização, organização curricular e trabalho docente (1968-2008)”, defendida em

2011 no PPGED-UFPA, investigou o Grupo Escolar Lauro Sodré entre os anos 1968-2008,

localizado no município do Moju, Pará, objetivando compreender o desenvolvimento da

22

educação na região guajarina, assim como a importância desta instituição republicana na

organização social e na formação do cidadão. Para o autor, os grupos escolares são

identificados como projeto dos governos republicanos e como instrumento formador de mão

de obra para desenvolver o país.

Glaybe Antonio Sousa Pimentel defendeu no PPGED-UFPA em 2012 a dissertação de

mestrado: “Processos de subjetivação, poder disciplinar e trabalho docente no Grupo Escolar

Professor Manoel Antônio de Castro (1940-1970)” em Igarapé-Miri, Pará. Fundamentado

teoricamente em Michel Foucault, estudou esta escola primária como espaço de subjetivação

e cultivo do poder disciplinar. O autor concluiu que mesmo o estado tentando controlar a

educação escolar e seus agentes através dos dispositivos pedagógicos, os professores

obedecem às exigências no âmbito institucional, mas utiliza-se de mecanismos de defesa

(como ignorar, reagir ou repelir) contra a ação do estado.

Brianna Souza Barreto defendeu sua dissertação de mestrado em 2016, no mesmo

programa já citado, cujo título foi “Políticas educacionais e curriculares para o exercício do

ofício de mestre no Grupo Escolar Doutor Otávio Meira, no município de Benevides, Estado

do Pará (1965-1976)”, onde estudou a referida instituição escolar. Teve como objetivo,

entender como a idealização sobre o ofício de mestre se manifestava nas práticas educativas

dos intelectuais que atuavam como professores desta escola. A autora concluiu que o ofício de

mestre foi executado por profissionais que possuíam habilidades intelectuais em determinada

área do conhecimento e que carregam por toda a vida esta imagem de educador que fora

construída durante o exercício da profissão.

O resultado destes levantamentos demonstra que o estudo sobre grupo escolar no Pará

está iniciando. A UFPA é pioneira nesta produção. Estes trabalhos possuem como recorte

temporal períodos posteriores a 1940, e não investigam as origens das instituições

pesquisadas. Não há dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre grupos escolares na

Primeira República no Pará. As três pesquisas e a minha tem algo em comum no que tange à

realização de investigação sobre grupos escolares de cidades interioranas do Norte do Brasil.

Um lugar que para muitos não existe; e para outros, “uma região [...] parada no tempo, um

tempo sem história, tal qual se pensava os índios, estacionados na infância da humanidade”

(SCHUELER E RIZZINI, 2015, p. 232). A minha investigação diferencia-se delas por buscar

as origens do Grupo Escolar de Igarapé-Miri nos anos de 1904 a 1943, focalizando a sua

organização administrativa e pedagógica, seus agentes históricos e a educação transmitida às

crianças. Como já citado anteriormente, Glaybe Pimentel estudou o mesmo grupo escolar, só

23

que se debruçou em um período histórico posterior (1940 a 1970), voltado à análise da relação

de poder presente no interior desta instituição.

O ciclo dos grupos escolares no Brasil foi de 18942 a 1971, quando a nomenclatura

“Grupo Escolar” foi substituída por “Escola de Primeiro Grau”, modificação prevista na Lei

de Diretrizes e Base da Educação de 1971 (LDB 5692/71). Faria Filho e Souza (2006)

destacam que apenas os estados mais prósperos economicamente, como São Paulo, Minas

Gerais e Pará, tiveram condições de “implantar um sistema moderno de ensino ampliando

vagas e multiplicando instituições modelares” (p. 30).

O grupo escolar foi uma experiência educacional iniciada em São Paulo, no final do

século XIX. Representa uma proposta de implantação da escola primária com o propósito

republicano de instruir e civilizar as crianças nascidas com a República. Dentro desta

proposta, destacavam-se a construção dos prédios que deveriam contemplar a ideia de

modernidade e higienização.

Tendo como parâmetro a escola urbana, os grupos escolares foram instalados

em diversas cidades de diferentes estados do país, preferencialmente em

prédios especialmente construídos ou adaptados para abrigá-los, adotando

uma arquitetura monumental e edificante, que colocava a escola primária à

altura de suas finalidades políticas e sociais e servia para propagar o regime

republicano, seus signos e ritos (SCHUELER E RIZZINI, 2015, p. 225).

A experiência de São Paulo parece ter sido disseminada para outras regiões brasileiras

pelos governos republicanos. No Estado do Pará, as discussões sobre a construção dos

primeiros grupos escolares coincidiu com o período áureo da borracha em Belém (ocorrido

entre 1870-1910), denominado de Belle Époque, onde a elite seringalista buscava imprimir a

esta capital um ar de modernidade inspirado no modelo francês (FIGUEIREDO, 2012).

Assim, os grupos escolares passaram a ser prioridade para o governo do estado, pois traziam

benefícios políticos (representando o moderno) e pedagógicos, no sentido que diminuiria o

número de escolas isoladas, facilitando a inspeção e o controle dos professores.

França (2013) aponta que foram criados no Estado do Pará, entre 1899 a 1905, vinte e

seis grupos escolares, sendo seis na capital e os demais no interior, onde o número de escolas

isoladas era maior. O primeiro grupo escolar foi inaugurado no interior do estado em 1899, no

governo de José Paes de Carvalho (1897-1901), que implantou ao todo oito grupos escolares:

um na capital e sete no interior. Já o seu sucessor, Augusto Montenegro (1901-1909),

2 Os primeiros grupos escolares foram regulamentados e inaugurados em São Paulo em 1894 e no Rio de Janeiro

em 1897, entretanto a implantação destas escolas já estavam previstas nas leis desses estados desde 1893

(VIDAL, 2006).

24

implantou até 1905 dezoito grupos, sendo cinco em Belém e treze no interior do estado, e é

dentre estes, o Grupo Escolar de Igarapé-Miri, inaugurado em 27 de abril de 1904, com o

decreto nº 1.294. Nas palavras de Augusto Montenegro, percebe-se que os grupos escolares

eram bandeira de governo e matéria-prima de divulgação de seu trabalho. E com a

disseminação desta escola modelo, objetivava-se melhorar a instrução pública no Estado do

Pará.

Disseminação dos grupos escolares de modo a torná-los a nossa principal

instituição de ensino primário, construção de casas apropriadas para o seu

funcionamento, aparelhamento com os elementos materiais, sem os quais se

torna uma burla dispendiosa, escolha e formação de pessoal habilitado,

inspeção escolar minuciosa e efetiva (PARÁ. Mensagem Augusto

Montenegro, 1905, p. 47).

Estes vultosos investimentos estatais, destinados à construção de prédios apropriados à

implantação de grupos escolares, não chegou ao município de Igarapé-Miri. Neste município,

o grupo escolar foi inaugurado em uma residência alugada, localizado à Rua Rui Barbosa, nº

9, onde hoje está localizada a torre da concessionária de serviços de telecomunicações OI.

Além de Pimentel (2012), as professoras Cezarina Corrêa Lobato e Crisálida Pantoja

Soares publicaram em 2001, pela Imprensa Oficial do Estado, o livro “Prisma sobre a

Educação e Cultura em Igarapé-Miri no Século XX”. Nesta obra, elas discutem em dois

momentos o Grupo Escolar de Igarapé-Miri. No primeiro tópico, denominado “a primeira

experiência de escolarização formal” (p. 44-61) e no segundo, a “Escola Estadual de Ensino

Fundamental e Médio Professor Manoel Antônio de Castro” (p. 93-108), as autoras relatam a

história deste Grupo, enfatizando alguns pontos como fundação, transferências de prédios e a

instalação no prédio próprio no ano de 1949. A dissertação de Pimentel (2012) e o livro de

Lobato e Soares (2001) são o meu ponto de partida, por constituírem os primeiros trabalhos

sobre o Grupo Escolar de Igarapé-Miri.

Motivado pelo desejo de compreender a história da educação escolar de crianças no

município de Igarapé-Miri, de contribuir academicamente com a escrita da história da

educação na Amazônia e valorizar socialmente a história cultural deste município,

preservando parte de sua memória, levanto o seguinte problema de investigação: Que tipo de

formação recebiam as crianças no Grupo Escolar de Igarapé-Miri (PA) no período 1904 a

1943? A escolha deste recorte temporal se justifica por abranger o período de criação e

implantação do grupo escolar neste município. A partir do delineamento do problema foram

sendo construídos os objetivos. Assim, surgiu o objetivo geral: analisar o tipo de formação

recebida pelas crianças no Grupo Escolar de Igarapé-Miri (PA) no período 1904 a 1943. E os

25

objetivos específicos: reconstruir a história do Grupo Escolar de Igarapé-Miri; descrever os

saberes ensinados às crianças nesta instituição; analisar as práticas educativas que marcaram a

educação de crianças neste estabelecimento e identificar os sujeitos que faziam parte do

Grupo Escolar de Igarapé-Miri.

1.2 PERCURSO METODOLÓGICO

Este estudo é de natureza documental e bibliográfica. De acordo com Rodrigues e

França (2010, p. 55), “a pesquisa documental utiliza materiais que não receberam ainda um

tratamento analítico, ou que podem passar por novas análises de acordo com os objetivos da

pesquisa”. As fontes documentais podem ser divididas em primárias (fontes que ainda não

receberam nenhum trabalho analítico, chamadas também de testemunho direto) e fontes

secundárias (algo que já recebeu tratamento, conhecida também como fonte indireta). Como

exemplo de fontes primárias, podemos citar: cartas, telegramas, fotos, transcrições de

entrevistas etc. E como exemplo de fonte secundária, citamos: estatísticas, revistas, periódicos

etc. Enquanto que a pesquisa bibliográfica compreende:

a busca de informações bibliográficas, seleção de documentos que se

relacionam com o problema de pesquisa (livros, verbetes de enciclopédia,

artigo de revistas, trabalhos de congressos, teses, etc.) e o respectivo

fichamento das referências para que sejam posteriormente utilizadas.

(MACEDO, 1994, p. 12).

Trata-se, portanto, a pesquisa bibliográfica do levantamento, seleção do que já foi

produzido sobre o objeto que está sendo pesquisado em livros, revistas, jornais, boletins,

monografias, teses, dissertações, material cartográfico. (LAKATOS E MARCONI, 2003).

Enquanto, a pesquisa documental, realiza-se a partir de fontes de natureza escrita ou não

(fotos, objetos de arte, pinturas etc.).

Para Cellard (2008) “tudo o que é vestígio do passado, tudo o que serve de

testemunho, é considerado como documento ou ‘fonte” (p. 296). Estas fontes, portanto, “pode

tratar-se de textos escritos, mas também de documentos de natureza iconográfica e

cinematográfica, ou qualquer outro tipo de testemunho registrado, objetos do cotidiano,

elementos folclóricos etc.” (CELLARD, 2008, p. 297). Todo o vestígio do passado que sirva

para contar a história de determinado objeto, desde que seja selecionado pelo pesquisador, se

torna fonte documental. Todas as fontes sobre determinado objeto são importantes, e quanto

mais diversificada for o número de fontes, mais rico fica o estudo do objeto.

26

O documento para Cervo e Bervian (1983, p. 79), é “toda base de conhecimento

fixado materialmente e suscetível de ser utilizado para consulta ou estudo”, sendo assim, os

documentos podem ser visuais, escritos e orais.

Conforme Le Goff (2003), quem seleciona os monumentos que se transformarão em

documento é o pesquisador. Para ele, monumento é toda herança cultural, ou seja, tudo que

sirva para recordar, evocar o passado. Até o início do século XX, período dominado pela

tendência positivista, o documento era sinônimo de texto. Somente os atos escritos eram

confiáveis. Esta visão começou a mudar com o surgimento da história cultural.

As fontes são na realidade as memórias de uma dada cultura. Portanto, a memória

histórica não é exclusividade da oralidade, mas também está contida nos documentos escritos

e visuais. As sociedades contemporâneas convivem simultaneamente com as duas formas de

memória: “a oral e a escrita” (LE GOFF, 2003, p. 423). E estas memórias, mesmo que sendo

posições aparentemente individuais, revelam sempre um conhecimento coletivo (BOSI, 1994;

THOMPSON, 1998).

Segundo Laville e Dionne (1999), existem diversos tipos de documentos, como

oficiais, particulares, jurídicos, fontes estatísticas, fotografias etc. Sendo assim, os tipos de

documentos escolhidos dependem do objeto de pesquisa que se pretende realizar. No caso

desta pesquisa, trabalha-se com documentos variados, dentro do que conseguimos coletar.

Para Rodrigues e França (2010, p. 59), as “fontes fundamentam e embasam os

estudos históricos”, e sua seleção, análise e interpretação dependem das opções teóricas e

metodológicas do pesquisador. E para um trabalho consistente, defendem que “a diversidade

das fontes enriquece a leitura do objeto de estudo”.

De acordo com Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009), para que os resultados da

análise não sejam comprometidos, alguns elementos são considerados essenciais para a

seleção e avaliação prévia de um documento: o contexto histórico, o autor, a autenticidade, a

confiabilidade e a natureza do texto.

Segundo Rodrigues e França (2010, p. 60-61), o pesquisador deve identificar no

documento a sua forma material, seu conteúdo, a história do documento: quem o produziu,

para quem foi produzido, onde circulou, quais eram os seus objetivos etc. O pesquisador

precisa ter uma postura crítica em relação ao documento, pois não existe neutralidade em

nenhum tipo de documento.

27

Sobre os documentos oficiais, Souza (1998) destaca:

É preciso salientar os limites do uso de uma documentação dessa natureza.

Os relatórios, enquanto exigência legal, expressa uma visão “autorizada”, se

não “contaminada” tendo em vista os motivos pelos quais foram produzidos,

as circunstâncias dessa produção e a relação dos atores com os órgãos da

administração do ensino. Não obstante, ao ressaltar as representações de

diretores e inspetores do ensino, sujeitos que em alguns momentos foram

professores públicos, membros de associação de classe, representantes

políticos, escritores de artigos pedagógicos e de livros didáticos, ou seja,

profissionais no processo de produção da escola primária “popular”, [é]

possível destacar os conflitos, as reinterpretações, as representações

diferenciadas e singulares que demonstram a não absolutização do discurso e

das práticas emanadas do poder (p. 21).

Portanto, não podemos canonizar nenhum tipo de documento e nem desprezar os

oficiais, pois todos possuem limites, mas se analisados com seriedade podem contribuir para

compreendermos a história de determinado objeto.

Durante a realização da pesquisa, fui juntando indícios do meu objeto de estudo,

seguindo o que diz o historiador italiano Carlo Ginzburg, de como se deve realizar uma

investigação com a finalidade de encontrar indícios perceptíveis e imperceptíveis. Ginzburg é

o criador do método indiciário (ou paradigma indiciário), e desenvolve em suas pesquisas

uma investigação quase criminal, inspirado nos métodos investigativos de Giovanni Morelli

(1816-1891) e Arthur Conan Doyle (1859-1930) criador de Sherlock Holmes, personagem

da literatura inglesa, a quem Ginzburg nutre grande admiração (BETHENCOURT &

CURTO, 1991).

Segundo Ginzburg: “Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais,

indícios – que permitem decifrá-la” (GINZBURG, 1989, p. 177). Nesta perspectiva, entende-

se que a realidade pode ser decifrada a partir da análise de indícios deixados pelo homem.

Por milênios o homem foi caçador. Durante inúmeras perseguições, ele

aprendeu a reconstruir as formas e movimentos das presas invisíveis pelas

pegadas na lama, ramos quebrados, bolotas de esterco, tufos de pêlos,

plumas emaranhadas, odores estagnados. Aprendeu a farejar, registrar,

interpretar e classificar pistas infinitesimais como fios de barbas. Aprendeu a

fazer operações com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou

numa clareira cheia de ciladas. [...] O caçador teria sido o primeiro a ‘narrar

uma história’ porque era o único capaz de ler, nas pistas mudas uma série

coerente de eventos (GINZBURG, 1989, p.177).

Para o historiador italiano o seu método investigativo se utiliza de possibilidades

históricas, pois as pistas podem passar despercebidas, porque não têm tal sensibilidade:

“Depois do paradigma indiciário ou adivinhatório se entrevê o gesto talvez mais antigo da

28

história intelectual do gênero humano: o do caçador preso na lama em que escruta [investiga

de maneira rigorosa para tentar encontrar o que está oculto] os rastros da presa”

(GINZBURG, 1989, p. 7 e 9).

A investigação indiciária analisa os detalhes do fenômeno estudado, a partir da coleta

de indícios, e as lacunas que vão surgindo o pesquisador poderá preenchê-las, fazendo

inferências fundamentadas no contexto sócio cultural do objeto. O Paradigma Indiciário é um

método científico centrado na relação razão-sensibilidade. O método Indiciário está

fundamentado na investigação de “pistas”, “sinais” ou “indícios” reveladores acerca dos

fenômenos da realidade.

Ginzburg utiliza-se de fontes rejeitadas pelos pesquisadores iluministas como:

medalhas, moedas, atas judiciais e processos inquisitoriais, mas extremamente valorizadas

pela História Cultural: “A época em que os historiadores acreditavam que era seu dever

trabalhar exclusivamente com depoimentos escritos já passou faz algum tempo. Já Lucien

Febvre convidava a examinar ervas, as formas dos campos, os eclipses da lua” (GINZBURG,

1984, p. 22). Para interpretar os indícios do cotidiano, o pesquisador precisa conhecer a

cultura investigada para poder inferir sobre a realidade pesquisada e levantar as hipóteses.

No decorrer da pesquisa foram encontrados diversos indícios ou fontes, e por

relevância em relação ao objeto de estudo, algumas foram eleitas para compor o “corpus

documental” desta investigação, conforme expomos abaixo:

Iniciei a minha peregrinação em busca de fontes sobre o Grupo Escolar de Igarapé-

Miri pelo Arquivo Público do Estado do Pará, em 2016, localizado em um prédio improvisado

(pois o prédio próprio estava em reforma) à Travessa Félix Roque, nº 262, Bairro da Cidade

Velha em Belém, Pará. Lá encontrei o Relatório da Instrução Pública do Estado do Pará de

1910-1911, apresentado ao Governador João Antonio Luís Coelho, pelo desembargador

Olympio de Araújo e Souza, Secretário do Estado do Interior, Justiça e Instrução Pública,

onde se discute o Ensino Público no Estado, dando ênfase para o funcionamento dos grupos

escolares na capital e interior do Estado. Neste relatório, o Secretário do interior, justiça e

instrução pública sugere ao governador do Estado do Pará o fechamento do Grupo Escolar de

Igarapé-Miri, devido à diminuta frequência dos alunos.

Nesse mesmo ano realizei pesquisa na Biblioteca Arthur Vianna, no Centro Cultural

do Pará Tancredo Neves (CENTUR), localizado na Avenida Gentil Bitencourt, 650, no bairro

de Batista Campos, em Belém do Pará. Na hemeroteca, encontrei a publicação de 10/07/1987

do jornal impresso “O Liberal do Pará”, cuja matéria “Um canal feito pelos escravos” de

autoria de Milton Garcia, tratava sobre a escavação do Canal no município de Igarapé-Miri

29

entre 1821 e 1823. Infelizmente, durante a investigação não consegui ter acesso ao setor de

obras raras, pois estava em reforma. Mas, durante a pesquisa fui orientado pela bibliotecária

para consultar o site: www.fcp.pa.gov.br/consulta-do-acervo/obras-raras. Através deste site,

localizei os regulamentos do ensino primário de 1903, 1910 e 1918, que tratam sobre a

organização do ensino primário do Estado do Pará; Anuário de Belém publicado em 1915

para comemorar o tricentenário aniversário da referida cidade. Essa fonte é importante, pois

contém dados histórico, literário e comercial que ajudam a compreender a estrutura

econômica de Igarapé-Miri. Livro de Manoel Baena, “Informações sobre as comarcas da

Província do Pará”, de 1885, que descreve a cidade de Igarapé-Miri no final do século XIX;

de Agostinho Monteiro Gonçalves D’Oliveira, “Chronica de Igarapé-Miry”, de 1899, que traz

informações sobre a cidade de Igarapé-Miri no final do século XIX, dentre outros.

Em meados de 2017 o setor de obras raras do CENTUR voltou a funcionar, e eu tive a

oportunidade de continuar a minha pesquisa neste arquivo, conseguindo localizar fontes

relevantes a esta investigação, tais como: Regimento interno dos grupos escolares e das

escolas isoladas do estado do Pará de 1904; Regulamento do ensino primário do Pará de 1903,

1910, 1918, 1931,1934 e 1944; visitas de inspetores ao Grupo Escolar de Igarapé-Miri entre

os anos de 1905 a 1907 e o primeiro Relatório desta instituição apresentado pelo diretor

Aristides dos Reis e Silva em 1904, onde foi feita a descrição do grupo que serviram de base

para Natanael Pantoja Cuimar3, elaborar a planta baixa deste estabelecimento de ensino. Estas

fontes ajudaram-me a compreender o discurso oficial e a legislação que organizava o grupo

escolar.

Ainda em 2016 pesquisei no Arquivo Público da Casa da Cultura de Igarapé-Miri,

localizado à Avenida Carambolas, no centro da cidade. Essa foi a decisão mais difícil desta

pesquisa; porém, a mais acertada. Mais difícil, devido às condições impróprias do local para

realização da pesquisa por conta do risco que correria, já que poderia ser contaminado por

algum fungo ou bactéria. Entretanto, não tinha outra escolha, acreditava que encontraria neste

local muitas fontes relevantes a essa investigação. Mais acertada, porque encontrei fontes que

ainda não foram manuseadas por pesquisadores. Dado o estado de decomposição as quais se

encontram, dentro de poucos anos, não existirão mais. Essas fontes são: Frequência dos

funcionários do Grupo Escolar de Igarapé-Miri de 1907 a 1912; Matrícula e frequência dos

alunos da Segunda Escola Elementar, seção masculina do Grupo Escolar de Igarapé-Miri:

3 Estudante do curso de arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará

(FAU-UFPA).

30

1905, 1908 a 1911; Documentos de Escolas Isoladas (relação de escolas, termos de exames

escolares, ofícios, matrícula frequência, dentre outros), 1971; Matrícula da Escola Isolada

Seção Masculina de Igarapé-Miri: 1931-1934, dentre outras.

Durante o levantamento no Arquivo Público da Casa da Cultura de Igarapé-Miri

foram encontrados 29 ofícios e 5 telegramas que tratam sobre transferência, valor do aluguel e

reparos do prédio do grupo escolar, a quantidade de escolas no município, falta de

professores, solicitação de materiais escolares etc. Essas fontes trazem informações

significativas sobre o cotidiano da instituição. Eis um exemplo a seguir.

FIGURA 02: Frequência dos funcionários do Grupo Escolar de Igarapé-Miri: março de

1907

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Livro de ponto dos funcionários, 1912

Em 2016 consultei também o arquivo particular de Glaybe Antonio Sousa Pimentel,

que realizou a pesquisa sobre o Grupo Escolar de Igarapé-Miri: “Processos de subjetivação,

poder disciplinar e trabalho docente no Grupo Escolar Professor Manoel Antônio de Castro

(1940-1970)”, o qual me cedeu as fontes que tinha disponível sobre a referida instituição.

Ainda nesse mesmo ano visitei o prédio onde funcionou o grupo escolar da cidade,

entre 1949 a 1971, em busca de fontes. Fui recebido pela secretária, que me forneceu os

poucos documentos que ainda restavam sobre as origens desta instituição, lamentando que a

maioria da documentação anterior aos anos de 1960 foi incinerada, como já foi relatado

31

anteriormente. No arquivo desta instituição foram encontrados os termos dos exames de

suficiência dos anos 1907 a 1910; 1934 a 1940; 1949 a 1953, Livro de ocorrência do Grupo

Escolar “Manoel Antonio de Castro” de 1959 a 1962 e o Livro de cadastro dos funcionários

do município de Igarapé-Miri: 1950-1972. Nesses documentos, encontramos a forma de

avaliação que os alunos eram submetidos, como se dava os exames e as notas de avaliações

dos alunos. Nessas fontes encontram-se também os nomes de alunos e professores, número de

alunos matriculados, o material didático utilizado pela escola, etc. Este processo avaliativo

acontecia no final do primeiro e segundo semestres letivos. De acordo com o artigo 122 do

Regulamento geral do ensino primário de 1903, os exames nos Grupos Escolares poderiam

ser de “passagem de ano e finais dos cursos elementares [realizados] perante comissões de

membros nomeados pelo diretor” (PARÁ. Regulamento geral do ensino primário, 1903, p.

26). O rito, como era chamado o processo avaliativo, era composto por prova oral e escrita.

Eram avaliações marcadas pelo cansaço e rigor: alguns rituais ocorreram durante o dia todo,

muitos alunos faltavam e outros tantos eram reprovados. Optei em trabalhar com essas fontes

porque me ajudaram a compreender o cotidiano desta instituição educativa.

Outros espaços de pesquisa foram: www.facebook.com/acervohistoricomiriense onde

encontrei fotos do Grupo Velho fundado em 1904, fotos antigas e atuais do grupo escolar

fundado em 1949; Biblioteca Fórum Landi, localizado à Rua Siqueira Mendes, nº 60, na

Cidade Velha, em Belém, e também vários sites, como por exemplo:

moronguetaufpa.blogspot.com.br, www2.senado.leg.br/bdst, www.memoria.bn.br, dentre

outros. Esses espaços de pesquisa precisam ser desbravados pelos pesquisadores.

Durante o levantamento das fontes realizei conversas informais com três ex-alunas

do Grupo Escolar de Igarapé-Miri com a finalidade de conhecer a estrutura física do prédio e

os administradores da instituição. Estas ex-alunas aparecem em algumas passagens desta

dissertação pelas iniciais de seus nomes: L.P.F., M.R.C.A. e V.J.N.M.

No período de coleta das fontes, continuei realizando a pesquisa bibliográfica, que foi

se ampliando com as indicações oriundas das orientações e com as leituras realizadas durante

as disciplinas obrigatórias do mestrado. Após a qualificação, fiz as revisões sugeridas pela

banca examinadora e continuei a pesquisa documental e bibliográfica (que praticamente se

encerraram às vésperas da defesa), seguindo os desafios propostos pela orientadora desta

investigação. O levantamento bibliográfico levou-me a eleger o marco teórico de

investigação, constituído pelos seguintes autores: Lobato (1985, 2004, 2007), Lobato e Soares

(2001), Nosella e Buffa (2009), Faria Filho (2000) Faria Filho e Souza (2006), Souza (1998,

2000, 2014), Vidal (2006), Burke (1990, 1992, 2005), Ginzburg (1984, 1989), Le Goff

32

(2003), McLaren (1991), Goffman (2015), Bernartt (2009), Nascimento et al (2008), Gouvea

(2009, 2011), dentre outros.

1.3 PERSPECTIVA DE ANÁLISE

Este estudo envereda-se pelo viés histórico-educacional na perspectiva da História

Cultural (HC). Essa abordagem historiográfica caracteriza-se pelo estudo de novos temas,

como: estudo das Práticas – a exemplo das práticas religiosas diferentes da teologia; estudos

das Representações – a construção do imaginário social, a criação das ideias e das

representações da natureza, da nação; a história da memória; o estudo da cultura material – os

estudos dos objetos para percepção de mudanças e relações socioculturais; e história do corpo

– identificação dos elementos culturais nos aspectos físicos como a carga simbólica dos

gestos, higiene etc.

Para os pesquisadores que fundamentam seus estudos na História Cultural, a

compreensão de fonte foi ampliada, pois qualquer vestígio humano que possibilite a

compreensão do universo sociocultural de determinado grupo social é caracterizado como

documento histórico, quer sejam de natureza oral, documental, visual etc. Essa perspectiva de

análise, contrária à visão positivista, trouxe novas possibilidades à produção historiográfica,

passando a valorizar elementos culturais na compreensão das tramas sociais. (BURKE, 1990,

1992, 2005)

Para um estudo se fundamentar na História Cultural, é necessário que busque

compreender o objeto a partir de vários ângulos; precisa também ser um estudo de cunho

interdisciplinar, ou seja, que dialogue com outras ciências; que faça conexões entre o micro e

o macro; que desnaturalize os conceitos e analise o cotidiano a partir de suas tramas, de seus

conflitos etc.

Neste estudo, as fontes documentais foram organizadas e sistematizadas a partir da

análise de conteúdo. Segundo Olabuenaga e Ispizúa (1989), esse tipo de análise “é uma

técnica para ler e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos, que analisados

adequadamente nos abrem as portas ao conhecimento de aspectos e fenômenos da vida social

de outro modo inacessível.” Essa técnica vai além da descrição do objeto, pois possui um

caráter interpretativo do fenômeno em estudo.

Segundo Bardin (1979, p. 42), a análise de conteúdo é “um conjunto de técnicas de

análise de comunicação, visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de

33

descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens”.

De acordo com Franco (2005, p. 60), os procedimentos deste tipo de análise ocorrem

em três etapas: a primeira é o levantamento das fontes documentais, a segunda etapa é a

organização dessas fontes, e por fim a análise das fontes: “As categorias vão sendo criadas,

[...], para depois serem interpretadas à luz das teorias explicativas.” Nessa última fase, os

documentos são analisados à luz das bibliografias, sem perder de vista o contexto

sociocultural do objeto.

Na análise documental, o pesquisador analisa o conteúdo do documento, e a partir daí

procede a padronização do formato, utilizando regras com o objetivo de criar um único

formato de linguagem, que pode ser a indexação, classificação, catalogação e outros. É o que

explica Bardin (1979) quando sintetiza a análise documental como um processo de

padronização do formato, onde se atribui um código ou categoria, desenvolve-se a

catalogação, o resumo ou a indexação, ou seja, a criação de estruturas de dados associadas à

parte textual dos documentos.

Para Minayo (2003, p. 70), a categoria de análise é “um conceito que abrange

elementos ou aspectos com características comuns ou que relacionam entre si”. A construção

das categorias possibilita a aglutinação de informações, viabilizando o estudo do fenômeno.

As categorias analíticas são oriundas de todo o material estudado, tanto das bibliografias,

quanto dos documentos, e podem ser modificadas de acordo com o desenvolvimento da

pesquisa.

Neste estudo, são utilizadas as seguintes categorias analíticas: Grupo Escolar,

Rituais, Educação Primária e Infância.

Segundo Faria Filho (2000, p. 32), o grupo escolar significa o agrupamento de

escolas, ou seja, a reunião de escolas isoladas em um único lugar. Corroborando, Vidal (2006)

ressalta que

o grupo escolar era criado, majoritariamente, pela junção das escolas

isoladas existentes no lugar, ou pela junção das escolas existentes e a criação

de mais algumas; mais raramente, pela sua criação pura e simplesmente.

Predominava, contudo, o modelo de junção das escolas existentes. Assim, os

grupos escolares eram criados primeiramente como escolas reunidas, sendo

estas, então, a etapa primeira, e muitas vezes duradoura, da constituição de

um grupo escolar, embora não fosse necessária (p.87).

No projeto grupo escolar foi possível implantar um modelo pedagógico de instrução

pública que podemos denominar de pedagogia republicana, marcado pelas seguintes

34

características: laico, universal, primário, seriado, de fiscalização permanente, da criação da

função do diretor e controlado pelo estado. Essa pedagogia tem como uma de suas metas

divulgar os valores da burguesia: “os republicanos fizeram da educação um meio de

propagação dos ideais liberais (...) e reafirmaram a escola como instituição fundamental para

o novo regime e para a reforma da sociedade brasileira” (SOUZA, 2014, p. 51).

A transmissão destes valores não se resumia aos interiores dos grupos escolares, mas

ultrapassava os seus portões. Daí a importância atribuída por esta pedagogia às festas

escolares, que eram o momento de mostrar para toda a sociedade, de maneira pomposa, os

avanços e as produções da escola. De acordo com o Regulamento do ensino primário do Pará

de 1918, os grupos escolares deveriam comemorar todos os anos:

1º A festa da bandeira, a 19 de novembro;

2º O anniversrio da fundação do grupo;

3º O anniversario da fundação da localidade em que funcionar o grupo;

4º O início e o encerramento dos trabalhos lectivos;

5º A distribuição de certificados primários aos alunos que tenham concluído

o curso (...).

Art.: 269 – As festas que se organizarem para solemnizar os acontecimentos

indicados, poderão constar de cantos e hymnos escolares, recitativos de

poesias patrióticas, sociais ou assumptos pedagógicos; exercícios de

gymnasticas ou passeatas escolares, (...) além das palestras que a propósito

dos mesmos factos realizarem os professores, por designação dos diretores

de grupos (PAR.Á. Regulamento do ensino primário, 1918, p. 51-52).

Essas datas comemorativas fazem parte dos rituais patrióticos presentes na liturgia

cotidiana dos grupos escolares. Segundo McLaren (1991), o ritual é um conceito que durante

muito tempo foi utilizado para designar as cerimônias religiosas, mas que na

contemporaneidade vem sendo redescoberto como elemento constitutivo de toda relação

social. Para esse autor:

Os rituais são atividades sociais naturais encontrados, mas não confinados a

contextos religiosos. Enquanto comportamento organizado, os rituais surgem

a partir das coisas ordinárias da vida. [...] os rituais estão sempre e, em toda

parte, presentes na vida industrial moderna. [...]. Sua órbita de influência

permeia todos os aspectos de nossa existência [...].

A ritualização é um processo que envolve a encarnação de símbolos,

conglomerados de símbolos, metáforas e paradigmas básicos através de

gestos corporais formativos. Enquanto formas de significação representada,

os rituais capacitam os atores sociais a demarcar, negociar e articular sua

existência fenomenológica como seres sociais, culturais e morais [...] os

rituais não devem ser vistos como veículos transparentes que abrigam

significados pré-embalados. Aspectos ideológicos da ritualização residem na

relação e interdependência de símbolos (significantes) e significados (p. 70 e

88).

35

Os seres humanos desde sua existência são seres ritualizados, pois os rituais, quer

sejam civis ou religiosos, são necessários à construção da sociedade, devido veicularem

valores, normas, tabus etc. Os agentes sociais absorvem estes valores pela repetição litúrgica

do rito que proporciona a assimilação dos ritmos e gestos. Os rituais são anteriores à escrita,

não estão restritos ao ambiente religioso e são eminentemente sociais e políticos, fazendo

parte das sociedades letradas ou não como meios educativos escolares ou não escolares.

McLaren (1991) salienta que na escola os valores são repassados nos rituais

cotidianos, como hinos, orações, chamadas, leituras, controle dos corpos, eventos cívicos,

advertências etc. De modo geral, o ritual é “tudo o que é repetitivo ou habitual” (p. 47),

funcionando como modelador social: “a dobradiça da cultura, a chaveta da sociedade e o

fundamento da vida institucional” (p. 73). Assim se constituem as ideologias, através da

cotidianidade litúrgica dos hábitos, que servem para normatizar psiquicamente valores

idealizados pelos grupos que estão no poder político.

Pré-condicionados pela lógica do capital, os rituais da escola tendem a

fortalecer a tirania do desejo artificial em oposição as necessidades genuínas.

Sua função de mecanismos simbólicos de mediação protege as estruturas de

poder opressivo da escola e da ordem social mais ampla. Frequentemente

sob a capa de símbolos da democracia, e da comunidade, o que é injusto

pode ser ocultado mais sub-reptícia ou talvez mais inconscientemente. Bem

paradoxalmente, os rituais podem estender valores liberalizantes, enquanto

intensificam a denominação (MCLAREN, 1991, p. 349).

Na escola, os rituais são determinados pela lógica do capital. Portanto, não buscam

fortalecer as necessidades individuais dos atores envolvidos na instituição, mas de proteger e

defender as estruturas de poder. Assim, esses rituais patrióticos visam fomentar valores

nacionais, que protegem e fortalecem o status quo do grupo dominante republicano.

A educação primária representa a etapa inicial da educação escolar. Na República, a

educação primária possuía as seguintes características: laica, popular, universal, gratuita e

obrigatória, e seria ofertada pelas unidades federativas. De acordo com o Regulamento do

ensino primário do Pará de 1910, o estado garantiria educação primária em dois cursos: o

elementar com duração de quatro anos, ofertada em escolas isoladas e grupos escolares, e o

complementar com duração de dois anos, ofertada somente nos grupos escolares. Assim, o

estado seria responsável em fornecer educação às crianças em idade escolar: meninos entre 6

a 14 anos e meninas entre 6 a 12 anos, que residissem em “cidades, villas e povoações ou

n’um raio de um kilômetro fora d’ellas” (PARÁ. Regulamento do ensino primário, 1910, p.

36).

36

No Brasil, a escola primária foi pensada pelos republicanos, não somente para

combater o analfabetismo, mas também como a “base da nacionalidade”, a partir da

“introdução da formação patriótica, através do ensino cívico” (RIBEIRO, 1981, p. 79).

Segundo Inácio et. al. (2006, p 24), com o advento da República a instrução de

crianças passou a ser considerada obrigatória no processo de construção de uma nação

civilizada e ordeira: “a intensão era ‘civilizar o povo’ e, assim, manter a ordem para melhor

governar”. A instrução primária passou a ser imprescindível à formação das crianças nascidas

no Regime Republicano. Portanto, a educação primária tornou-se um projeto de governo em

vistas a consolidação do estado republicano.

Há que se considerar que o Grupo Escolar de Igarapé-Miri era um espaço de

escolarização da infância miriense. O conceito infância é de origem cultural e biológico, fruto

de uma construção sócio histórica, forjada em determinado tempo e lugar, a partir de

interesses sociais, políticos, culturais, religiosos e econômicos de uma dada sociedade

(BERNARTT, 2009; NASCIMENTO et al, 2008). Portanto, historicamente a noção de

infância se modifica de acordo com o contexto de cada época, posto que cada lugar construiu

historicamente uma percepção sobre o que é ser criança.

[...] Alguns registros mais antigos, quando comparados a outros

contemporâneos, ensinam que infantes e infância foram diferentemente

concebidos, tratados de maneira diferente em distintos momentos e lugares

da história humana [...], sendo [infância] tantas quantas forem as ideias,

práticas e discursos que em torno dela e sobre ela se organizem” (LAJOLO,

2006, p. 230-231).

Partindo desses pressupostos, compreendemos que não podemos definir o que é

infância de maneira universal. Por outro lado, podemos tentar compreendê-la dentro do

contexto que nos propomos estudar. O nosso recorte é o início do século XX, e o lugar uma

cidade interiorana da Amazônia, onde existem múltiplas infâncias e buscaremos captá-las nas

fontes documentais e bibliográficas.

De que infância estou falando é uma questão central para compreendermos o cotidiano

do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, haja vista que numa mesma cultura existem experiências

diversas de infância que dependem de vários fatores, como: grupo econômico, religioso,

instrução escolar, relação com o trabalho (roçados, fábricas, vendedores ambulantes etc.), se

pertencem à famílias grandes ou pequenas, entre outros fatores culturais. Há de se considerar

que a noção de infância que temos representa o olhar do adulto sobre a criança, e não o

próprio olhar da criança sobre si. Segundo Gouvea (2009), a história sobre a infância não são

narradas pelas crianças, mas pelos adultos, ressignificando suas experiências vividas na

37

infância. É o adulto com sua experiência de vida que seletivamente extrai e traduz de suas

lembranças o que deseja contar.

Historicamente, foram produzidos espaços sociais diferenciados à formação de

crianças, como foi o caso do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, em que a criança era instruída e

educada para compor futuramente os papéis sociais atribuídos aos adultos. É como se a

criança não tivesse vida cultural no presente, mas fosse um eterno devir, vivendo em função

de um futuro pensado pelos adultos: “A linguagem infantil, por exemplo, fica reduzida a uma

expressão ingênua, ou graciosa em sua menoridade, preparatória para a fala adulta”

(GOUVEA, 2011, p. 550). Entretanto, as crianças são sujeitos do seu presente e construtores

de uma cultura infantil: “Como sujeito de cultura e na cultura, a criança apropria-se da

linguagem a partir de seu lugar social, definido pela condição infantil. Essa condição

socialmente faz dela o outro, representado como marcado pela incapacidade da compreensão

e do uso da linguagem adulta” (GOUVEA, 2011, p. 548).

Esta dissertação compreende cinco seções, e está organizado da seguinte maneira:

1) Na primeira seção “INTRODUÇÃO” apresento as motivações para o estudo,

problema, objetivos da investigação, percurso metodológico, as fontes e a perspectiva de

análise.

2) Na segunda seção “GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI E A CIDADE” foi

subdividida em dois tópicos: no primeiro, intitulado “AS ORIGENS DO GRUPO ESCOLAR

DE IGARAPÉ-MIRI”, apresento as origens desta escola primária: de grupo escolar a escola

isolada (1904-1912); de escola isolada a escola reunida (1913 a 1936); e o retorno do grupo

escolar (1937) até à construção e inauguração do prédio próprio em 1949. No segundo, “A

CIDADE DE IGARAPÉ-MIRI” apresento o município de Igarapé-Miri, sua população,

aspectos sociais, econômicos, religiosos e políticos, buscando compreender o objeto por

vários ângulos.

3) Na terceira seção “GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI E SEUS SUJEITOS”

apresento os sujeitos que faziam parte desta instituição: direção, professores, alunos, porteiro

e serventes, buscando compreender suas origens e sua função profissional.

4) Na quarta seção “EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS NO GRUPO ESCOLAR DE

IGARAPÉ-MIRI” analiso os saberes e práticas educativas que marcaram o cotidiano desta

instituição.

5) Na quinta seção “CONSIDERAÇÕES FINAIS” registro os principais resultados

obtidos na realização da investigação e as contribuições do trabalho para a escrita da história

da educação na Amazônia.

38

2 GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI E A CIDADE

Nesta seção será analisada a relação do grupo escolar com a cidade de Igarapé-Miri,

com vistas a compreender porque do final do século XIX até meados do XX o meio rural

obteve desenvolvimento econômico, enquanto a cidade praticamente estagnou. A partir da

compreensão do contexto local, podemos compreender as características econômicas, sociais

e culturais dos sujeitos que compunham a primeira e única escola primária graduada desta

localidade entre 1904 e 1959, quando começou a funcionar o “Instituto Nossa Senhora

Sant’Ana”, colégio católico que também ofertava o ensino primário. No poema a seguir,

podemos perceber a importância que a escola assumiu na sociedade brasileira do século XX

em diante, influenciada pelas teorias iluministas.

A ESCOLA

A escola é foco donde a luz radia.

A luz que aclara os tempos e as nações:

Ora é luz que descanta, é cotovia;

Ora é centelha de revoluções!

Pois onde é que o soldado balbucia

O nome – Pátria – que enche os corações?

Onde é que nasce o amor? Onde a poesia?

Onde as mais santas das inspirações?

Na escola irrompe em solidário afeto,

O altruístico e elevado sentimento,

Graças ao fogo de paixão repleto.

Das lavas do vulcão do conhecimento:

É que há mais luz do alfabeto

Que nas construções do firmamento (MAGALHÃES, 1957, p. 68).

O poema em destaque faz parte do livro didático “Páginas Brasileiras”, em

circulação no Brasil no ano de 1957, destinado aos alunos do quinto ano primário, de autoria

de Ester Nunes Bibas. Neste poema de Basílio de Magalhães, citado pela autora, caberia à

escola tirar o ser humano da escuridão do analfabetismo. E essa erupção das luzes do

conhecimento, é o que enobrece e ajuda a construir a civilidade. Portanto, o Brasil

republicano para se solidificar, precisava de patriotas alfabetizados e obedientes. Assim,

investir na instrução pública, era uma necessidade para o desenvolvimento do país, que

delegava aos grupos escolares a função de irradiar as luzes da instrução moral, intelectual e

física. Vejamos nas palavras de Aristides dos Reis e Silva, primeiro diretor do GE de Igarapé-

Miri, como ocorreu a instalação desta instituição educativa:

39

No dia 27 de Abril do corrente anno, teve logar esta, solemnemente, perante

numerosa assistência, sendo presidido o acto pelo sr. Capitão Casulo de

Mello, digno representante do Exmo. Sr. Dr. Governador do Estado, com a

presença do Intendente municipal, Coronel José Garcia da Silva, todas as

autoridades e muitas famílias desta cidade (PARÁ. Relatório de Aristides

dos Reis e Silva, 1904, p. 616).

A instalação de um grupo escolar era motivo de orgulho à cidade e prestígio junto à

comunidade aos políticos envolvidos nesta conquista. A escola graduada dava visibilidade ao

município, pois exercia nas pessoas um poder simbólico: “símbolo de modernização cultural,

morada de um dos mais caros valores urbanos – a cultura escrita” (SOUZA, 1998, p. 91).

Além da projeção que o estado e seu gestor ganhavam no cenário local e nacional, servia

também para divulgar o projeto republicano. No Pará, os grupos escolares começaram a ser

implantados em 1899, com a inauguração do Grupo Escolar de Alenquer no interior do

estado, no governo de José Paes de Carvalho (1897-1901), que até o final de seu mandato

inaugurou oito grupos escolares, apenas um em Belém e sete no interior. Em seguida, seu

sucessor, Augusto Montenegro (1901-1909), até em 30 de setembro de 1904 implantou mais

quinze grupos, sendo cinco em Belém e dez no interior do Estado, perfazendo um total de 23

grupos escolares inaugurados no estado do Pará entre 1899 a 1904, conforme constatamos no

quadro (03).

Quadro 03: Matrícula nos grupos escolares do Pará em 1904

GRUPOS ESCHOLARES

(Capital e interior)

MATRÍCULA FREQ.

MÁXIMA

01 Primeiro districto 438 325

02 Segundo districto 502 365

03 Eschola Normal (gr. annexo) 345 304

04 José Verissimo 616 447

05 Santa Luzia 754 550

06 Nazareth 573 441

3.228

07 Pinheiro 297 236

08 Mosqueiro 205 176

19 Castanhal 370 309

872

10 Abaeté 301 256

11 Alemquer 181 161

12 Baião 109 96

13 Bragança 230 200

14 Cametá 318 226

15 Curuçá 306 261

16 Igarapé-Miry 214 186

17 Maracanã 175 153

18 Marapanim 252 219

19 Muaná 73 71

40

20 Óbidos 226 166

21 Santarém 239 192

22 Soure 204 169

23 Vigia 322 254

Total 7.275 5.763

Fonte: A PROVÍNCIA DO PARÁ, 1904

De acordo com o Regulamento geral da instrução pública do Pará de 1899, os grupos

escolares poderiam ser implantados na capital do estado e nas sedes dos municípios que

possuíssem o mínimo de quatro escolas isoladas a uma distância de um quilômetro, e onde o

governo municipal fornecesse estrutura física (prédio ou terreno) apropriada para o seu

funcionamento, com capacidade para atender até trezentos alunos de ambos os sexos. Ao

analisarmos as regras para implantação de grupos escolares no Estado do Pará, é possível

percebermos que muitos grupos foram instalados em prédios alugados, tanto na capital Belém

como no interior do estado.

O Grupo Escolar de Igarapé-Miri não se enquadrou totalmente nos referidos

critérios, visto que mesmo tendo sido instalado na sede do município e a partir da reunião de

quatro escolas isoladas, não possuía prédio apropriado e o número de alunos era insipiente, o

que não era um fato isolado, já que havia grupos escolares, como por exemplo, o de Muaná

com apenas 73 alunos matriculados em 1904 (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 1904). Portanto, a

implantação do Grupo Escolar de Igarapé-Miri pode ter ocorrido em decorrência de amizade

política, já que os favores e apadrinhamentos eram práticas corriqueiras da política

oligárquica e coronelística da República Velha, e seus resquícios se perpetuaram ao longo da

história brasileira. Lobato e Soares (2001) contam a história de uma professora primária,

Raimunda Marques do Nascimento, que foi exonerada em 1959 juntamente com suas colegas

de trabalho da função de educadora por decisão de um “coronel” local, que não concordava

com a opção política partidária destas professoras, conforme o relato abaixo:

Raimunda Marques ficou [lecionando] na casa do Sr. Caetano Leão durante

9 anos, mas foi vítima de perseguição política: no ano de 1959, o Sr. Julião

Simplício de Oliveira, dono do engenho de cachaça Brasil, residente no Rio

Santo Antônio, político influente que pertencia ao PSD (Partido Social

Democrático) com prestígio junto aos governantes da época como Alcides

Pinheiro Sampaio, prefeito municipal de Igarapé-Miri. Joaquim de

Magalhães Cardoso Barata, governador do Estado, solicitara exoneração das

professoras simpatizantes da UDN (União Democrática Nacional).

Raimunda Marques, Maria da Conceição Corrêa Lobato, Pretonila Souza

Pantoja Ferreira, todas foram exoneradas. [...]

Com a morte de Magalhães Barata em 29.05.1959, aos 73 anos, assumiu o

governo do Estado interinamente o Dr. Abel Nunes de Figueiredo, então

presidente da Assembleia Legislativa do Estado que pertencia a UDN e aí

41

não deu outra: baixou um ato, tornando sem efeito as demissões das

professoras e reconduzindo-as aos seus cargos, todas recebendo o pagamento

de seus salários atrasados [...] (LOBATO E SOARES, 2001, p. 137).

Durante o século XX, a influência de políticos locais na contratação e descontratação

de funcionários públicos era regra neste município. O curioso é que em pleno século XXI não

é diferente, posto que ainda hoje, alguns políticos continuam realizando essa prática em

relação aos cargos de diretores de escola, como é o caso das três escolas estaduais de ensino

médio do município (Enedina Sampaio Melo, Manoel Antônio de Castro e Dalila Afonso

Cunha) em que a escolha do diretor ainda é por indicação política. Na primeira escola citada,

há algum tempo atrás houve uma única vez eleição direta para a escolha dos gestores, mas

infelizmente não continuou, e tudo voltou como antes.

No subitem a seguir serão discutidas as origens e as fases históricas do Grupo Escolar

de Igarapé-Miri: de grupo escolar à escola isolada (1904-1912), da reinauguração do grupo

escolar a transferência ao prédio próprio (1937-1949) e de grupo escolar a escola de primeiro

grau (1949-1971). Essas fases foram marcadas por pouco desenvolvimento econômico e

demográfico na cidade.

2.1 AS ORIGENS DO GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI

Uma das mais palpitantes necessidades da nossa escola é a casa.

Não é permitido a ninguém ignorar, e eu creio que ninguém ignora, que a

escola moderna, a escola popular, na qual baseiam os povos as suas mais

gratas esperanças, exigem uma casa apropriada, própria devia eu dizer,

construída de acordo como certas e determinadas regras estabelecidas por

pedagogistas, mestres e architectos. Não é lícito a ninguém desconhecer. E

ninguém desconhece, que a construção de casas para escolas e objecto de um

ramo novo e especial da architectura civil, e architectura escolar (PARÁ.

Relatório de José Veríssimo, 1891, p. 94).

No relatório apresentado ao governador do Estado do Pará, Justo Leite Chermont, por

José Verissimo (1891), diretor Geral de Instrução do Pará (cargo hoje equivalente a Secretário

Estadual de Educação), no alvorecer do regime republicano, “a construção de casas para

escolas” (PARÁ, Relatório de José Verissimo, 1891, p. 94), para abrigar duas ou mais escolas

dependendo da capacidade do prédio, era uma necessidade urgente no estado, dado as

condições de insalubridade, falta de mobiliário, espaços inadequados das casas de professores

onde as escolas isoladas funcionavam. Desta forma, construir prédios apropriados para abrigar

as escolas seria uma necessidade urgente no estado, mas entre o discurso e a realidade existe

42

uma grande diferença, pois vários grupos escolares, inclusive em Belém, funcionaram por

muito tempo em casas alugadas.

O Grupo Escolar de Igarapé-Miri inaugurado no dia 27 de abril de 1904, pelo decreto

nº 1.294 assinado por Augusto Montenegro, governador do Estado do Pará de 01/02/1901 a

01/02/1909, foi instalado em uma casa cedida pela Intendência Municipal de Igarapé-Miri e

adaptada para esse fim, na segunda rua da cidade, denominada Rui Barbosa. Para o melhor

entendimento de sua história, optamos em dividi-la em três períodos:

De grupo escolar à escola isolada (1904-1912): compreende o período de fundação

desta instituição, situado à Rua Rui Barbosa, nº 9, em frente a extinta praça D. Pedro II, até

sua extinção no final do ano letivo de 1912.

Da reinauguração do grupo escolar a transferência ao prédio próprio (1937-1949):

representou o retorno do Grupo Escolar, no mesmo endereço, mas como o prédio estava

precisando de reformas, foi transferido em 02 de junho de 1943 para o segundo endereço, à

Rua 15 de novembro. E em 1947 retornou à Rua Rui Barbosa, para uma residência que ficava

situada ao lado do Grupo Velho, como ficou conhecida a primeira casa que sediou o grupo

escolar desta cidade. Neste endereço, ficou até 1949.

De grupo escolar a escola de primeiro grau (1949-1971): iniciou-se com a inauguração

do prédio próprio do grupo escolar, em 21 de julho de 1949, situado à Praça da Bandeira, em

frente à Prefeitura Municipal e Câmara dos Vereadores, e foi finalizada com a substituição da

nomenclatura “Grupo Escolar” por “Escola de Primeiro Grau” em 1971, alteração prevista na

Lei de Diretrizes e Base da Educação de 1971 (LDB 5692/71) que fixou as diretrizes e bases

para o ensino de 1° e 2º graus no Brasil:

Para efeito do que dispõe os artigos 176 e 178 da Constituição, entende-se

por ensino primário a educação correspondente ao ensino de primeiro grau e

por ensino médio, o de segundo grau. [...]

Para o ingresso no ensino de 1º grau, deverá o aluno ter a idade mínima de

sete anos.

O ensino de 1º grau será obrigatório dos 7 aos 14 anos, cabendo aos

Municípios promover, anualmente, o levantamento da população que

alcance a idade escolar e proceder à sua chamada para matrícula (BRASIL.

Lei de diretrizes e base da educação, 1971, cap. I, art. 1º, § 1º e cap. II, art.

19 e 20).

Com a extinção dos grupos escolares no Brasil em 1971, os prédios que sediavam o

ensino primário passaram a ser denominados de escolas de Primeiro Grau, que forneciam

educação obrigatória de sete aos quatorze anos, em séries de 1ª a 8ª.

43

Entre 1913 a 1936 o Grupo Escolar ficou extinto. Durante este período, não houve

nomeação de diretor. Vale ressaltar que a existência do grupo escolar é marcada pela presença

do diretor ou diretora.

(...) o espaço do grupo escolar denota não apenas mudanças ou continuidade

na forma de conceber a educação escolar e suas relações com a sociedade

como um todo, mas também o aparecimento e fortalecimento de uma nova

categoria profissional as das diretoras (FARIA FILHO, 2000, p. 67).

Corroborando com a ideia acima, Souza (1998, p. 75) ressalta que o diretor “foi

considerado o elemento-chave que transformaria a mera ‘reunião de escolas’ em uma escola

graduada orgânica”. Ou seja, a escola era vista como um corpo e o diretor seria o cérebro, “a

cabeça, elemento fundamental para a organização da escola graduada” (SOUZA, 1998, p. 75).

Então, sem a presença do diretor, não há grupo escolar. Como não havia diretor lotado na

instituição, nesta época os exames de suficiência foram organizados pelo presidente do

Conselho Escolar. De acordo com o regulamento geral do ensino primária do Estado do Pará

de 1910, os exames nas escolas isoladas realizar-se-iam nos municípios do interior pelos

Conselhos Escolares (PARÁ. Regulamento do ensino primário, 1910, Secção III, art. 136,

inciso 2º).

De 1913 até o final da década de 1920 as escolas isoladas da cidade de Igarapé-Miri

funcionaram em endereços distintos, a saber: a Escola Isolada Feminina à Rua Quintino

Bocaiúva, no local do atual Hospital e Maternidade Sant’Ana, sob o comando de Eulina da

Purificação Cardoso, ex-professora do grupo escolar desativado; e a Escola Isolada

Masculina, localizada à Rui Barbosa, próximo ao Fórum de Justiça da cidade, cuja professora

era Zulmira de Castro Antunes. Em algum momento, estas escolas foram unificadas, pois em

1930 encontramos a existência da Escola Isolada Mixta de Igarapé-Miri, funcionando no

prédio do extinto grupo escolar, sob a regência da professora Eulina da Purificação Cardoso,

que anteriormente era regente da Escola Isolada Feminina (LOBATO E SOARES, 2001).

Entretanto, entre 1931 a 1934 a Escola Isolada Mixta foi dividida em duas Escolas Isoladas:

masculina e feminina (IGARAPÉ-MIRI. Livro de matrícula, 1934).

Em 13 de maio de 1932 o grupo escolar começou a ser reorganizado novamente. Este

indício adveio de um documento denominado “Ao público desta cidade”, expedido em 14 de

maio de 1948, pelo prefeito municipal de Igarapé-Miri, Alcides Pinheiro Sampaio, que

esclarecia aos mirienses os problemas ocorridos com a energia elétrica na noite anterior:

O Prefeito deste Município sente-se no dever de vir de público dar a presente

satisfação em relação à ocorrencia relativa ao enfraquecimento da Luz,

44

ontem à noite, por ocasião em que se realizavam os festejos em

comemoração à data do 13 de Maio e celebração do 16º aniversario de

reorganização do Grupo Escolar desta cidade (SAMPAIO. Comunicado,

1948, p. 01).

Este comunicado foi expedido em 14 de maio de 1948, referindo-se ao um evento

ocorrido no dia anterior (13 de maio), no qual se comemorava o 16º aniversário de

reorganização desta instituição educativa. Fazendo as contas (1948-16=1932), podemos

inferir que no dia 13 de maio de 1932 deva ter acontecido algo significativo que representou

um passo importante para a reinstalação do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, passando a ser

comemorado como a data da reestruturação desta instituição.

De acordo com o termo de exame dos alunos de Igarapé-Miri, entre 1935 e 1936, as

“Escolas Isoladas do Estado” foram promovidas a “Escolas Reunidas”, que compreendiam, no

caso específico de Igarapé-Miri, a junção de três escolas isoladas regidas pelas professoras

Lúcia Campos Ferreira, Anna Maria Gonçalves Gomes e Osvaldina Novaes Coutinho

(IGARAPÉ-MIRI. Termo de exames, 1935). As Escolas Reunidas poderiam representar uma

etapa de transição entre escolas isoladas e grupo escolar. Assim, escolas reunidas eram

aquelas que mesmo funcionando em um único prédio, mantinham-se como escolas isoladas,

ou seja, independentes entre si (SOUZA, 1998). Nas Escolas Reunidas não havia a nomeação

de diretor, vigia e servente por parte do estado. Pode ser que o município, a pedido dos

professores, contratasse uma servente para realizar a limpeza do prédio. Vale ressaltar que

além da Escola Reunida já citada, houve outra inaugurada neste município em 1930,

denominada “Escola Reunida Antonio Lopes da Costa”, localizada na Vila de Maiauatá,

interior de Igarapé-Miri (IGARAPÉ-MIRI. Livro de cadastro, 1972).

O terceiro volume do Almanak Laemmert (1940), o único volume (de quatro

publicados) que contém dados sobre o município de Igarapé-Miri, consegue-se entender o

porquê da nomenclatura “Escolas Isoladas do Estado”. Na seção intitulada instrução pública,

página 3655, aparece funcionando em 1931 na cidade de Igarapé-Miri duas escolas isoladas:

Uma de sexo masculino e outra do sexo feminino. Assim, entende-se que no Pará quando o

governador autorizava a junção de apenas duas escolas mantinha-se a nomenclatura “Escolas

Isoladas”. Não obstante, quando eram reunidas três ou quatro escolas, com número

correspondente de professores, utilizava-se a nomenclatura “Escolas Reunidas” e quando se

juntavam cinco escolas em diante, denominava-se “Grupo Escolar”.

A fotografia a seguir (figura 03) é de aproximadamente 1932, o antigo prédio do grupo

escolar, voltava a abrigar duas escolas isoladas do estado, por isso, o nome na fachada do

45

prédio: “Escolas Isoladas do Estado”. Entretanto, o grupo escolar foi instalado e funcionou

por vários anos nesta casa, daí o porquê da utilização desta imagem.

A fotografia registra as escolas isoladas masculina e feminina de Igarapé-Miri. Do

topo da escada para baixo, podemos ver o inspetor escolar e as duas professoras responsáveis

pelas escolas na janela (chegou-se a esta conclusão devido eles estarem em um lugar de

destaque na imagem e o jovem inspetor está bem vestido). Na sequência, as crianças da escola

isolada feminina (das mais velhas às mais novas), e ao lado, os da escola isolada masculina.

Percebe-se ainda que os meninos sejam mais novos em relação a algumas meninas, cuja idade

variava dos 6 aos 12 anos ou talvez um pouco mais. Isso ocorria porque as meninas

começavam a estudar mais tarde, haja vista que era comum elas ficarem mais tempo no seio

da família; ou ficavam repetindo o ano a pedido dos pais que não tinham condições de

matriculá-las nos grupos escolares de Belém ou Abaeté.

A maioria das crianças é branca e parda e algumas são afro-descendentes. Não

conseguimos visualizar na imagem crianças com traços indígenas. A maioria das meninas está

de vestido branco e dos meninos, de bermuda e camisa manga longa branca. Quanto ao

calçado, temos impressão que alguns estão descalços.

Figura 03: Primeiro prédio que sediou o Grupo Escolar de Igarapé-Miri

Fonte: LOBATO E SOARES, 2001

46

A casa onde foi instalado o Grupo Escolar de Igarapé-Miri em 1904 era um chalé

construído em enchimento (madeira e barro) ou taipa revestida. Este deveria ser um dos

melhores prédio da cidade em 1904, construído em uma de área de 370m,17 quadrados. Era

uma construção moderna com janelas e portas envidraçadas e com grades nas janelas da

frente. Um corredor ao centro dava acesso a 4 espaçosas salas, algumas bem forradas, dentre

estas um salão medindo 16m,25 de comprimento por 6m,30 de largura, onde o diretor

pretendia criar um museu infantil. O prédio era todo pintado e assoalhado de madeira

aparelhada, possivelmente pau amarelo e acapu. Aos fundos ficavam os banheiros masculino

e feminino. O prédio foi cedido ao estado pela Intendência Municipal. Na década de 1940 a

casa pertencia a Deolinda Granja de Azevedo.

Parte dessas informações citadas foi descrita pelo diretor Aristides dos Reis e Silva no

seu relatório de 1904, e devido à sua importância para esta investigação, pois até então é o

único documento que descreve com detalhes este estabelecimento, resolvi transcrevê-la na

íntegra.

Este é o vasto e magnífico da Intendência Municipal desta cidade, cedido

gratuitamente pelo digno intendente Coronel José Garcia da Silva ao

governo do estado para o grupo. De construção moderna, colocado no centro

de uma espaçosa praça, representa um quadrilátero retângulo de 22m,85 de

comprimento e 16m,2 de largura, ocupando a área de 370m,17 quadrados.

Tem 13 janelas, sendo 4 com portas de vidros e grades de ferro, na frente,

ficando com de 2 de cada lado do corredor que ocupa o centro do prédio em

todo o comprimento, com a largura de 2 metros; 5 janelas de cada lado e

quadro que dão para os fundos, todas envidradas e bem altas. Além do

corredor, 4 belas salas, 1 grande salão compõem o prédio, duas daquelas,

este e o corredor, são bem forrados, tendo de altura 4m,96. A esquerda do

corredor encontra-se primeiro a sala onde funciona a 1ª escola da secção

feminina com 10m,10 de comprimento e 6m,30 de largura, 4 janelas, duas

portas para o corredor duas ditas que comunicam esta escola com a 2ª da

mesma secção; a sala desta escola tem 6m,35 de comprimento e 6m,25 de

largura, a janela e duas portas; ainda mesmo lado segue a 3ª sala onde

funciona a 1ª escola da secção masculina com 6m,80 de comprimento e

5m,25 de largura, 3 janelas e um gradil de madeira que a separa do corredor.

Do lado oposto deste e em frente a última sala descrita, está a em que

funciona a 2ª escola da última secção referida com as mesmas dimensões,

janelas o gradil da precedente. Por último encontra-se o vasto e bonito salão

com 16m,25 de comprimento e 6m,30 de largura.

A frente, separada por um gradil de madeira está o gabinete da Diretoria.

Este salão, pretendo, no ano vindouro, se a isto V. Exc. me autorizar, dividir

em duas salas, numa das quais instalarei a escola complementar e na outra

um museu infantil que é muito proveitoso à instrução da mocidade, uma vez

utilizado de acordo com as recomendações dos melhores educacionistas. No

fundo do edifício, comunicadas a este por larga porta e sem comunicação

para a praça, ficam as sentinas, separadamente para meninos e para meninas,

ocupando estes compartimentos uma área de 16m,58 quadrados.

47

O grande e excelente prédio que acabo de descrever, é todo pintado e caiado,

bem assoalhado, e acha-se atualmente em bom estado de conservação,

necessitando apenas de insignificantes reparos; recebe luz franca, forte e

contínua ventilação por todos os lados; finalmente, pode-se afirmar que

reúne as mais exigentes condições pedagógicas (PARÁ. Relatório de

Aristides Reis e Silva de 1904, p. 615-616).

Havia em Igarapé-Miri até meados do século XX, pelo menos 3 casas neste modelo

localizadas à Rua Rui Barbosa. Duas já foram demolidas, exatamente as que sediaram o grupo

escolar no seu primeiro e terceiro endereço; e uma continua a existir, apesar de está se

deteriorando. Este modelo de casa possuía dois quartos, uma sala de visita, uma varanda ou

sala de jantar atrás, seguida de cozinha e sanitário. A cozinha, como era o lugar onde ficava o

fogão a lenha, era construída com madeira não aparelhada e às vezes sem paredes. E o

sanitário (chamado na época de “sentina”) era uma casinha de madeira construída no quintal,

geralmente em cima de um buraco cavado na terra (V.J.N.M. e M.R.C.A., 2017).

Para elaborarmos a planta baixa do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, utilizamos as

descrições feitas pelo diretor do grupo, Aristides dos Reis e Silva de 1904, e do inspetor

escolar, João Pereira de Castro, que visitou a instituição em 1906 e fez o registro da divisão

do gabinete do diretor para se criar um espaço para o funcionamento da Escola Complementar

Mista. A distribuição das escolas no grupo escolar até 1912 era a seguinte: na sala 1 ficava a

1ª escola elementar, seção feminina; na sala 2 funcionava 2ª escola da mesma seção; na sala 3

encontrava-se a 1ª escola da seção masculina; na 4 estava a 2ª escola da seção masculina e a

5ª sala estava alojada a Escola Complementar Mista.

Figura 04: Planta baixa do primeiro prédio que sediou o Grupo Escolar de Igarapé-Miri

Fonte: Planta do Grupo Escolar de Igarapé-Miri elaborada por Natanael Cuimar, com base nas descrições de

Aristides dos Reis e Silva de 1904 e de João Pereira de Castro de 1906.

48

Na década de 1940 haviam sido construídos nos fundos da escola outros

compartimentos: um quarto ou despensa e cozinha com fogão a lenha (M.R.C.A, 2017).

Segundo Lobato e Soares (2001), como o prédio em que o Grupo Escolar de Igarapé-

Miri estava sediado precisava de reformas emergenciais, a instituição educativa foi transferida

em 1946 para o prédio dos Almeidas (ao lado da residência do seu Teodolino Sinimbú),

conhecido como sobrado, situado à Rua 15 de Novembro, naquele período a principal rua da

cidade. Entretanto, a transferência para o segundo endereço, ocorreu em 1943, conforme

expomos a seguir:

Em 19 de maio de 1943 foi constituída pelo prefeito Raimundo Monteiro Lopes uma

comissão formada pelos funcionários da prefeitura: João Afonso Lobato, João Augusto de

Lira Lobato e Olívio Rodrigues, com o objetivo de avaliar as condições estruturais do prédio

que iria abrigar o grupo escolar. No dia 20 de maio de 1943 saiu o parecer favorável ao

aluguel do novo prédio, recomendando algumas adaptações, caiação, limpeza etc. E ainda foi

avaliado pela comissão o valor do aluguel mensal em CR$ 200,00 (duzentos cruzeiros), 150%

a mais do que se pagava no prédio anterior, que era alugado por CR$ 80,00 (oitenta cruzeiros)

por mês (OFÍCIOS, nº 146,147 e 156/1943).

Em 31 de maio de 1943, o prefeito municipal informou a proprietária do prédio onde

funcionava o Grupo Escolar na Rui Barbosa nº 9, dona Deolinda Granja de Azevedo, que por

deliberação do Departamento de Educação e Cultura do Estado, nesta data estava encerrado o

aluguel de seu prédio. E no dia 04 de junho de 1943 o prefeito de Igarapé-Miri comunicou ao

Diretor do Departamento de Educação e Cultura do Estado e ao Interventor Federal do

Estado, respectivamente, que no dia 02 de junho ocorreu a inauguração das novas instalações

do grupo escolar deste município, em um prédio mais amplo e confortável, conhecido como

sobrado (OFÍCIOS, nº 169, 173 e 174/1943).

Figura 05: Local do segundo prédio que sediou o Grupo Escolar de Igarapé-Miri

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Álbum histórico, 1977

49

O prédio que abrigou o grupo escolar foi construído no local indicado pela seta na

figura nº (05). Era uma casa de madeira espaçosa denominada de sobrado, por ter o assoalho

construído com mais de um metro de altura em relação ao nível da rua. Nesta casa, ou anexa a

essa casa, moravam os seus proprietários: Alberto Almeida e Ana Almeida (funcionária do

grupo escolar). Em 1947 o grupo escolar foi transferido desse endereço devido a casa precisar

de reformas emergenciais. Quando retornou à Rua Rui Barbosa, passou a ser sediado em uma

residência que ficava ao lado do Grupo Velho, como a população passou a denominar o

antigo prédio do grupo escolar (LOABATO E SOARES, 2001). A terceira casa que abrigou o

grupo escolar seria do mesmo modelo do Grupo Velho. Esta casa era de madeira, teria uma

dispensa e fogão à lenha nos fundos e estava em péssimo estado de conservação (M.R.C.A.,

2017).

Dada à precariedade da situação do prédio onde funcionava o grupo, o prefeito

municipal da cidade, Alcides Pinheiro Sampaio, providenciou junto ao Governador do Estado,

Luiz Geoláz de Moura Carvalho, a construção do prédio próprio do Grupo Escolar de Igarapé-

Miri. Este foi inaugurado em 21 de julho de 1949, à Rua Generalíssimo Deodoro, nº 254, em

frente à Prefeitura, em frente a Praça da Bandeira, atualmente Praça Sarges Barros, passando a

se chamar “Professor Manoel Antônio de Castro” 4.

Figura 06: Grupo Escolar de Igarapé-Miri inaugurado em 1949

Fonte: FACEBOOK. Acervo historico miriense, 2016

4 Manoel Antônio de Castro nasceu em Igarapé-Miri e mudou-se para Belém onde se destacou no exercício de

funções do magistério, inclusive como diretor e proprietário do extinto Colégio Pará e Amazonas, que ficava

instalado no palacete nº 29, à Praça Barão do Rio Branco (antigo largo da Trindade). Este colégio oferecia os

cursos primário e secundário (FOLHA DO NORTE, 02/03/1917).

50

Este novo prédio é uma construção em alvenaria, com capacidade para 300 alunos.

Composto por diretoria, secretaria, copa-cozinha, banheiro, seis salas de aula (três de cada

lado), duas entradas com corredores laterais (para separar as meninas dos meninos).

Conforme podemos observar na planta baixa a seguir:

Figura 07: Planta baixa do Grupo Escolar de Igarapé-Miri inaugurado em 1949

Fonte: Planta do Grupo Escolar de Igarapé-Miri elaborada por José Pinto, com base em Lobato e Soares (2001),

2017

Pimentel (2012) enfatiza que mesmo sendo uma arquitetura humilde, está dentro dos

padrões de higiene que se exigia no período, com janelas e portas amplas.

Observando a estrutura do prédio, percebemos a preocupação com as

questões higiênicas, isto é: com a ventilação e iluminação, pois as salas são

bastante amplas, medindo cerca de 6m x 5m (30m2), janelas medindo 2m de

altura por 2m de largura, portas medindo 3m de altura e 1,5m de largura.

Piso medindo 1m de altura do nível da rua, para impedir os alagamentos em

épocas de chuvas, telhado bastante alto, medindo cerca de 5m de altura. Dois

corredores laterais, um do lado direito e outro do lado esquerdo do prédio

com bastante iluminação e ventilação (PIMENTEL, 2012, p. 116).

Na prestação de contas da Prefeitura Municipal de Igarapé-Miri, enviada à Câmara

Municipal em 15 de abril de 1950, para a aprovação das despesas do exercício de 1949, o

prefeito municipal, Alcides Pinheiro Sampaio, no tópico referente a “despesas com o ensino”,

esclarece:

Quer se trate ensino do domínio do Estado, quer do Supletivo Federal, quer

do Municipal, este executivo, por seu Prefeito, que também é o Presidente do

Conselho Escolar, tem influído para a solução desse problema magno, tudo

51

envidando para a ampliação de escolas, tornando-as mais eficientes na

administração do ensino com aumento de matrículas. Foi com esse

pensamento que o município construiu para o Estado o Grupo Escolar desta

cidade, de grande capacidade, cuja inauguração teve lugar em 21 de julho de

1949, assistida pelo Exmo. Senador Magalhães Barata, tendo representado o

Exmo. Sr. Major Governador do Estado, nessa solenidade, o Exmo. Sr. Dr.

Armando de Souza Corrêa, Secretário Geral do Estado. Esse moderno e

confortável edifício foi construído em menos de um ano (IGARAPÉ-MIRI.

Prestação de conta da prefeitura, 1950, p. 2).

As prestações de contas apresentadas à Câmara dos Vereadores em 1948, a portaria de

pagamento e os recibos de compra de materiais e serviços datados em 31 de janeiro de 1949,

deixam claro que foi a prefeitura municipal de Igarapé-Miri que construiu o grupo escolar

desta cidade (IGARAPÉ-MIRI. Prestação de conta e recibo da prefeitura, 1948b e 1949). Mas

se o prédio foi construído com recursos deste município, oriundos de impostos dos

contribuintes locais, por que ele pertencia ao estado5?

De acordo com o artigo 20 da Constituição Federal de 1946, “quando a arrecadação

estadual de impostos [...] exceder, em município que não seja o da capital, o total das rendas

locais de qualquer natureza, o estado dar-lhe-á anualmente trinta por cento do excesso

arrecadado” (BRASIL. Constituição Federal, 1946). De Igarapé-Miri exportava-se: borracha

(fina e sernambi), palha de ubuçu ou buçu (folhas de palmeira utilizada para cobrir casa e na

fabricação de moeda), madeira, aguardente, álcool, açúcar (moreno e branco), mel de cana,

lenha, sebo de ucuúba, louças de barro, sabão, arroz com casca, camarão seco, azeite de

andiroba, milho, assai (açaí) etc. Estes gêneros eram vendidos para Belém, Moju, São Miguel

do Guamá, Vigia, Manaus, Baixo Amazonas, Baixo Tocantins, Acará, Alenquer, Portel etc.

(IGARAPÉ-MIRI. Mapa de importação e exportação, 1939). Devido ao acordo que o prefeito

municipal, Alcides Sampaio, fez com o governador do Pará, Moura Carvalho, o município

reteve todo o repasse de impostos locais que o estado deveria receber por dois anos, e com

este recurso construiu o grupo escolar. Portanto, o Grupo Escolar de Igarapé-Miri foi

construído com os impostos gerados no município, mas que pertenciam ao estado.

Vejamos como o prefeito conseguiu esta autorização do governador: em 19 de maio de

1948, o Major Luiz Geolás de Moura Carvalho (governador do Estado do Pará) visitou o

município de Igarapé-Miri durante sua excursão pelos municípios do Rio Tocantins. Durante

esta visita, o governador inspecionou o grupo escolar da cidade, onde detectou os vários

problemas na estrutura física do prédio, assim como a falta de higiene que o imóvel se

5 O prédio onde funcionou o Grupo Escolar de Igarapé-Miri foi repassado para o município com a

municipalização do ensino fundamental nesta localidade em 2001.

52

encontrava. Aproveitando o momento oportuno, o prefeito municipal Alcides Pinheiro

Sampaio entregou ao governador um ofício, solicitando a construção de um prédio próprio

para a instalação do grupo escolar, apresentou-lhe de onde viriam os recursos e solicitou a sua

aprovação, conforme podemos ler na transcrição de parte do ofício que o governador recebeu.

[...] o executivo deste Município tem a subida honra de entregar o presente e

oportuno apelo que visa pedir a V. Excia. a necessária [...] para iniciar a

construção de um prédio para nele funcionar o Grupo Escolar desta cidade,

ora instalado numa casa particular e bastante [...] para atender maior número

de alunos, resultando disso a restrição de matrículas, o que é,

verdadeiramente, prejudicial a causa da instrução, atendendo que, desse

modo, ficam múltiplas creanças relegadas ao analfabetismo.

[...] Entretanto, é obvio informar a V. Excia. que este Executivo, para o alto

objetivo da construção de um prédio, cujo valor atinja a CR$ 300.000,00,

com a capacidade para 300 alunos, não pode prescindir do auxílio do Estado,

da forma que passa a expor: Este Município, no exercício em curso, terá de

entregar ao Estado a importância de CR$ 151.680,00, que corresponde ao

total das contribuições, a que está sujeito pelo respectivo orçamento.

V. Excia. determinando por dois anos consecutivos, a aplicação do total das

contribuições aludidas na construção do Grupo Escolar, esta prefeitura

responsabilizar-se-á pela execução da referida obra dentro do prazo mais

curto. É como este Executivo sugere a solução de tão importante problema,

que, certamente, será bem acolhido pelo elevado e patriótico governo de V.

Excia., de que espera-se a imediata ordem para que novo Grupo escolar de

Igarapé-Miri seja uma realidade dentro da provecta gestão de V. Excia.

(OFÍCIO, s/nº, 19/05/1948).

Após a leitura desse ofício, o governador autorizou que se iniciasse a construção do

prédio. Entretanto, a arrecadação de impostos devida ao Estado não era suficiente, para a

conclusão da obra. Portanto, não adiantava iniciar a construção se não teria recursos para

concluí-lo. Assim, na prestação de contas à Câmara Municipal em 1948, o prefeito explica

que foi autorizado pelo governador a investir os recursos necessários para a conclusão da

obra.

Conforme instrução de S. Excia. por intermédio do Diretor do

Departamento das Municipalidades, em telegrama de 16 de julho próximo

findo [1948], este executivo deverá concorrer com o numerário necessário à

urgência da obra em apreço, para futura indenização por parte do Estado,

operação essa garantida pelos auxílios e contribuições previstos no

orçamento municipal vigente e destinados ao Estado. É, precisamente, como

vem sendo financiado esse serviço de alta importância para este Município

[...] (IGARAPÉ-MIRI. Prestação de conta, 1948a).

Na mesma prestação de 1948, o prefeito municipal Alcides Pinheiro Sampaio, expôs

que estando garantidos os recursos à construção do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, em 26 de

julho de 1948 ocorreu “solenemente a cerimônia de lançamento da pedra angular”, e em

53

seguida foram iniciadas as obras, que em menos de um ano estavam concluídas (IGARAPÉ-

MIRI. Prestação de conta, 1948a, p. 4). Finalmente em 21 de julho de 1949 ocorreu a

inauguração da instituição em um endereço privilegiado em frente a Prefeitura, esquina com a

Capela Bom Jesus e os Correios e Telégrafos. Formando-se assim o círculo do poder: o paço

municipal (sede dos poderes executivo e legislativo), a Igreja Católica (sede do poder

espiritual), os Correios e Telégrafos (responsável pela circulação de informações) e o Grupo

Escolar (espaço de instrução e civilização de crianças). Com a localização do Grupo Escolar

de Igarapé-Miri no centro do poder, demonstra-se a importância política que é dada a

instituição pública, e simbolicamente o grupo escolar passou a ter a missão de contribuir com

o estado na formação do cidadão republicano. A sua construção foi possibilitada pela

prosperidade econômica gerada pelos engenhos de cana de açúcar no município de Igarapé-

Miri, haja vista que a maior arrecadação de impostos oriundos de exportação era proveniente

desta atividade econômica.

Segundo o termo de exames dos alunos do GE de Igarapé-Miri de 1951, foi nesta data

que surgiu pela primeira vez o nome Grupo Escolar Professor Manoel Antônio de Castro.

Com a Lei Diretrizes e Base da Educação (LDB 5.692/71), passou a se chamar Escola

Estadual de Primeiro Grau “Manoel Antônio de Castro”, encerrando-se o ciclo do Grupo

Escolar no Brasil. No início de 2016, o prédio foi desativado por falta de aluno (a mesma

desculpa que levou o estado a desativar o Grupo Escolar em 1912), dando lugar à Escola de

Artes João Valente do Couto, que já existia desde 19856, mas somente no papel.

Figura 08: Antigo Grupo Escolar, hoje Escola de Artes João Valente do Couto

Fonte: Marinaldo Pantoja Pinheiro, 2016

6 Com base na lei municipal nº 3.744/85 de 27/05/1985, o prefeito de Igarapé-Miri, Manoel da Paixão e Silva,

criou a Escola Municipal de Música Professor João Valente do Couto, que nunca existiu.

54

2.2 A EXTINÇÃO DO GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI

A extinção de grupos escolares não aconteceu somente no estado do Pará. Souza

(1998, p. 107) informa que no Estado de São Paulo em “1908, foram dissolvidos os grupos

escolares de Ubatuba, Bananal e São José dos Campos por apresentarem matrículas e

frequência insuficientes”. E no Pará?

No Pará entre 1912 e 1931 foram extintos 18 grupos escolares. Entretanto, as

extinções foram feitas de maneira gradual, representando que houve resistências locais contra

às propostas de extinções, que eram motivadas por questões econômicas. Em 05 de março de

1921 o governador do Pará, Antônio Emiliano de Sousa Castro (1921-1925), assinou o

decreto 3.806, que previa a extinção de diversos cargos no estado, dentre eles o de Diretor da

Instrução Pública Primária e 18 diretores de grupos escolares, alegando que o motivo das

demissões seria à crise financeira no estado.

No magisterio Primario de 2ª entrancia: 12 directorias de Grupo Escolar, 15

cadeiras de professor, 2 de adjuncto, 3 porteiros de Grupo, 24 serventes. No

de 1ª entrancia: 6 directorias de Grupo Escolar, 20 cadeiras de professor, 4

porteiros e 12 serventes de Grupo (DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO.

Decreto 3.806, 06/03/1921).

O decreto 3.806 de 05 de março de 1921 foi assinado com o propósito de conter gastos

e oficializar algumas demissões e extinções de cargos no funcionalismo público que já

vinham acontecendo desde 1912, início da crise econômica proporcionada pela diminuição

nas exportações de borracha.

Na instrução pública foram extintos 18 cargos de diretores escolares, que seria uma

forma mais suave de dizer que se estaria eliminando 18 grupos, já que não exista grupo

escolar sem diretor. Para confirmarmos a exclusão dos 18 grupos precisamos fazer a seguinte

análise: o governador Antônio Emiliano de Sousa Castro em mensagem proferida ao

Congresso Legislativo do Pará em 1921 e em 07 de setembro 1924 afirmou que foram

extintos até 1921, 7 grupos escolares dos 25 que existiam no estado do Pará.

De 25 grupos escolares que contava o Estado na ocasião daquele decreto [nº

3.806 de 05/03/1921], extinguiram-se 7 [restaram 18], nas localidades onde a

estatística acusava uma diminuição da frequência, o que portanto não

justificaria a despesa administrativa da manutenção desses grupos (PARÁ,

Mensagem de Antônio Emiliano de Sousa Castro, 1921, p. 74).

Vale ressaltar que o referido governador refere-se a uma quantidade de 25 grupos

escolares que existiam até a homologação do decreto 3.806; entretanto, Augusto Montenegro

55

deixou 36 grupos instalados, no final do seu mandato em 1909. Portanto até a homologação

do decreto em 1921 já havia desaparecidos 11 grupos. E os outros 7 foram eliminados após o

referido decreto, perfazendo um total de 18.

Ao compararmos os Regulamentos do ensino primário do estado do Pará de 1910 com

o de 1931 percebemos que até 1931, 9 grupos haviam sido reinstalados e continuavam

extintos 9, sendo todos de 1ª entrância: Moju, Igarapé-Miry, Baião, São Miguel do Guamá,

Irituia, Muaná, Anajás, Macapá e Gurupá. Percebe-se também a criação de 4 grupos: 3 na

capital e um em Marabá. A impressão que fica é que os municípios que aumentavam sua

matrícula escolar conseguiam a reinstalação dos seus grupos escolares.

Quadro 04: Relação dos grupos escolares em 1910 e 1931.

Entrâncias Regulamentos do ensino primário do Pará

1910 1931

3ª 7 grupos escolares na capital 10 grupos escolares na capital

2ª Pinheiro, Mosqueiro, Santa Izabel,

Castanhal, Igarapé-Assú, Bragança, Vigia,

Soure, Cametá, Santarém, Alemquer e

Óbidos.

Pinheiro, Mosqueiro, Santa Izabel,

Castanhal, Igarapé-Assú, Bragança, Vigia,

Soure, Cametá, Santarém, Óbidos e Abeté.

1ª Abaeté, Moju, Igarapé-Miry, Mocajuba,

Baião, São Miguel do Guamá, Irituia,

Muaná, Anajás, Macapá, Gurupá, Faro, São

Caetano, Curuçá, Marapanim, Maracanã e

Viseu.

Mocajuba, Faro, São Caetano, Curuçá,

Marapanim, Maracanã, Alemquer, Viseu e

Marabá.

Total 36 grupos escolares 31 grupos escolares

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos regulamentos do ensino primário de 1910 e 1931

Suspeito que o Grupo Escolar de Igarapé-Miri foi um dos primeiros a serem extintos,

pois deixou de funcionar em 1912. Vale ressaltar que até 1912 não houve oficialmente

extinção de nenhum grupo escolar no Pará, pois existia a mesma quantidade de grupos

escolares deixados pelo governador Augusto Montenegro (1901-1909): sete grupos escolares

na capital e 29 no interior, conforme observamos abaixo:

existiam [em 1909] 36 grupos escolares, sendo 7 na capital e 29 no interior,

sendo, no período de sua operosa administração [referindo-se ao mandato de

Augusto Montenegro], fundados 6 grupos na capital e 22 no interior:

Igarapé-Miry, Pinheiro, Muaná, Mosqueiro, Mocajuba, Santa Izabel, Faro,

Gurupá, Moju, Vizeu, S. Caetano, Igarapé-Assú, Macapá, Anajás, Irituia e

Guamá [...].

A matrícula das escolas primárias, em 1912 [mandato de João Antônio Luís

Coelho], eram a seguinte: Sete grupos escolares funccinonando na capital,

3.578 alumnos; [...] 29 grupos no interior com 5.381 alumnos [...]

(ANNUARIO DE BELÉM, 1915, p. 71).

56

Entretanto, o livro de ponto do corpo docente do GE de Igarapé-Miri de 1912,

demonstra uma redução no quadro funcional desta instituição. Constata-se que em meados

desse ano houve a redução no quadro de professores. No início de 1912 eram cinco docentes:

Francisco Delgado Leão (Primeira Escola Elementar, secção Masculina); Estephania da Costa

Borges de Carvalho (Primeira Escola Elementar, secção Feminina), Eulina da Purificação

Cardoso (Segunda Escola Elementar, secção Feminina), Braulio Jesus Lopes de Mendonça7

(Segunda Escola Elementar, secção Masculina) e Estellita Gonçalves Coêlho (Escola

Complementar Mixta). Em meados do referido ano reduziu-se o quadro para quatro: a última

professora foi transferida (IGARAPÉ-MIRI. Livro de ponto, 1912). A transferência da

normalista Estellita Gonçalves Coêlho8 representou o fechamento da “Escola Complementar

Mista”, o que pode significar o início da desativação do grupo escolar e a reimplantação das

escolas isoladas, pois de acordo com o Regulamento geral do ensino primário de 1903,

capítulo I, artigo 31 e inciso único, “as escolas complementares só existirão nos grupos

escolares”. E o capítulo III, artigo 58, enfatiza que “as escolas públicas isoladas serão todas

elementares” (PARÁ. Regulamento geral do ensino primário, 1903). Portanto, a eliminação

da escola complementar é um indício da desativação do grupo escolar, mas faltava ainda, a

transferência do diretor para que realmente a instituição estivesse inativa, e isso aconteceu no

final do ano letivo de 1912.

Portanto, a extinção do Grupo Escolar de Igarapé-Miri ocorreu em 1912.

Primeiramente, devo frisar que há documentos deste grupo escolar até outubro (final do ano

letivo) de 1912, reaparecendo somente na década de 1930. As fontes sobre este grupo escolar

silenciaram-se a partir de 1913, dando lugar a documentos sobre escolas isoladas, como por

exemplo, o ofício nº 895 de 14/04/1913, de Antonio Martins Pinheiro, Secretário de Estado do

Interior, Justiça e Instrucção Publica, ao Intendente Municipal de Igarapé-Miri, Raimundo

Pinheiro Lopes, informando que a nomeação da professora interina para reger a Escola

Elementar do sexo Feminino da cidade de Igarapé-Miry, era de competência do Conselho

Escolar e não do intendente. Outro exemplo é o livro de matrícula da Escola Isolada

Masculina da cidade de Igarapé-Miri de 1931 a 1934. A reinstalação das escolas isoladas na

sede do município comprova a extinção do grupo escolar, pois de acordo com o artigo III, do

7 De acordo com o Boletim Official da Instrução Publica do Estado do Pará de 1905, neste período o normalista

Braulio Jesus Lopes de Mendonça era diretor do Grupo Escolar de Baião (PARÀ. Boletim Official, 1905). 8 Com base no Almanak Laemmert (1940) a professora Estellita Gonçalves Coêlho estava lotada entre 1915 e

1925 no Grupo Escolar “Dom Romualdo de Seixas”, em Cametá, Pará.

57

decreto nº 1.294 de 06 de abril de 1904, a partir da criação do Grupo Escolar de Igarapé-Miri,

estariam extintas todas as escolas isoladas na sede deste município.

Que motivos levariam um grupo escolar a ser extinto no Estado do Pará?

No relatório da instrução pública do Estado do Pará de 1911, o Secretário d’Estado do

Interior, Justiça e Instrução Pública, Augusto Olympio de Araújo e Souza, propõe ao

governador do Estado, João Antonio Luiz Coelho, a extinção dos grupos escolares de Gurupá,

Moju e Igarapé-Miri, devido o número insignificante de matrícula realizada em 1909, o que

não justificaria as despesas do estado com estas instituições (PARÁ. Relatório de Olympio de

Araújo e Souza, 1911b). Na mensagem do governador do Estado do Pará, João Antônio Luis

Coelho, ao Congresso Legislativo em 1911, o governador endossou a proposta do secretário

de extinguir os grupos escolares com frequência diminuta.

Para sanar os inconvenientes do facto que deixo apontado e uma vez que as

condições econômicas do Estado se oppoem a qualquer augumento na

despesa pública, um caminho único nos está indicado:- a extinção dos

grupos de insignificante matrícula, como alguns possuímos.

Insiste o sr. Secretário do Interior e Instrução Publica nessa proposta, à qual

não recusarei meu assentimento, sob o desígnio de aplicar as economias

resultantes dessas medidas na creação de escolas isoladas nos logares onde

as necessidades do ensino as reclamam (PARÁ. Mensagem de João Antônio

Luís Coelho, 1911a, p.33).

Segundo o discurso oficial o motivo para a extinção do Grupo Escolar de Igarapé-Miri

foi a diminuta matrícula e baixa frequência dos alunos, o que pode ser comprovado no quadro

(05).

Quadro 05: Matrícula da segunda escola elementar masculina, do Grupo Escolar de

Igarapé-Miri: 1905, 1908 a 1911

Ano Inicial Final

1905 36 70

1908 34 38

1909 13 21

1910 12 35

1911 10 17

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Livro de matrícula, 1911

De acordo com o capítulo II, artigo 12 do Regimento interno dos grupos escolares e

das escolas isoladas do estado do Pará de 1904, “a matrícula nos grupos escolares estará

aberta durante todo o anno lectivo” (Pará. Regimento interno dos grupos escolares, 1904). Ou

seja, todo dia era dia de matrícula, o que justifica a descrição na tabela: matrícula inicial e

58

final. A leitura da tabela demonstra que a matrícula na Segunda Escola Elementar Masculina

do Grupo Escolar de Igarapé-Miri foi diminuindo entre os anos 1905, 1908 a 1911. Quais

seriam os motivos para as matrículas decrescerem?

Conforme o Censo Demográfico de 1945 realizado pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) havia poucos moradores na sede do município (BRASIL,

1945), e segundo Aristides dos Reis e Silva, diretor do Grupo Escolar de Igarapé-Miri entre

1904 a 1910, em torno de 33% das crianças em idade escolar não estavam matriculadas

(PARÁ. Relatório de Aristides dos Reis e Silva, 1904), demonstrando problemas de ordem

socioculturais, como: falta de condições econômicas das famílias investirem na educação de

seus filhos: aquisição de material didático, escolar e uniforme; e problemas de ordem

governamental como a falta de políticas públicas para atrair e manter as crianças na escola.

Havia crianças que trabalhavam para ajudar seus pais, é o que percebemos no título

V, da obrigatoriedade escolar, no artigo 182, onde a obrigação do ensino primário era de

responsabilidade dos pais, tutores, protetores ou patrões. O artigo 189 estabelece que

decorridos 30 dias após o início das aulas, os respectivos responsáveis, inclusive o patrão,

poderiam pagar multas de 20$000 (vinte mil réis) caso a criança dentro de oito dias não

comparecesse a escola, munida com justificativas plausíveis pelas faltas (PARÁ.

Regulamento do ensino primário, 1903). Acredita-se que muitas crianças ajudavam seus pais

e responsáveis nos trabalhos domésticos e atividades de subsistência, como: roçado, caça,

pesca, produção de farinha, coleta de frutos etc. Suponho que em alguns momentos o

envolvimento das crianças nessas atividades diárias poderiam dificultar a frequência delas na

escola.

As exigências para efetuar a matricula no Grupo Escolar acabavam excluindo

algumas crianças. No capítulo II, artigo 14, incisos 2º e 3º do Regimento interno dos grupos

escolares e das escolas isoladas do Estado do Pará de 1904, o matriculando deveria apresentar

atestado médico comprovando que estava vacinado e que não estava “affectado de moléstia

contagiosa e repugnante” (PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares, 1904). Ora,

conforme o relatório da diretoria do serviço sanitário do Pará de 1909 nas primeiras décadas

do século XX, neste estado houve a incidência de vários tipos de doenças infecciosas, como:

varíola, hanseníase, paludismo (malária), febre amarela, tuberculose etc. O paludismo e a

Febre Amarela tornaram-se epidêmicas, flagelando vários moradores no estado. A febre

amarela com cerca de vinte óbitos por mês somente em Belém. A tuberculose e a lepra

(hanseníase) continuavam a fazer muitas vítimas. Houve casos isolados de peste bubônica e

varíola em Belém e região. No relatório se enfatiza que qualquer epidemia poderia ser

59

controlada com higiene e isolamento dos infectados, que, portanto estariam proibidos de

frequentar lugares públicos, inclusive escolas (PARÁ. Relatório da diretoria do serviço

sanitário, 1909).

Entre abril e novembro de 1908 foram registrados 23 óbitos no interior de Igarapé-

Miri, sendo 14 crianças (6 bebês e as demais com até 8 anos de idade). Os adultos tinham

entre 18 a 80 anos. As causas das mortes foram: 5 morreram durante o parto (4 bebês e 1 mãe

de 50 anos); 13 morreram de febre, que pode ser febre amarela ou malária; 2 foram vitimados

por asfixia e 3 não tiveram registrado as causas de seus óbitos. (PARÁ. Livro de registro de

óbitos, 1908).

O baixo número de registros de mortos pode ser justificado pelo fato que nem todos

os óbitos eram registrados. Por isso, a concentração de registros nos locais que havia

cartórios: Rio Pindobal, Anapú, Maiauatá e Panacauera. O que reforça esta afirmação é que

em 1940 o prefeito municipal de Igarapé-Miri, Antonio Augusto de Mesquita, recebeu um

ofício do Dr. Luís Lessa, Diretor do serviço da febre amarela no estado, no qual solicita que

somente seja autorizado o sepultamento depois de expedido o registro de óbitos pelo cartório.

Solicito providenciar que nenhum enterramento seja realizado sem que o

corpo esteja acompanhado da necessária guia expedida pelo Ofício do

Registo Civil, em face da declaração de óbito, devidamente visada pela

autoridade sanitária local ou representante do Serviço de Febre Amarela [...].

Outrossim, este Serviço [de febre amarela] deseja que seja plenamente

garantido o serviço de obtenção de specimens para exames anatomo-

patológicos, com o fim de elucidar o diagnósticos das causas das mortes, nos

casos suspeitos das doenças transmissíveis, [...] (OFÍCIO, s/n/1940).

Acredita-se que a febre amarela ceifou muitas vidas em Igarapé-Miri, e essa doença

somada a outras já citadas, contribuíram para o tímido crescimento demográfico no

município. Suponho que muitas crianças foram impedidas de serem matriculadas no grupo

escolar por estarem acometidas ou sob suspeitas de terem contraído a febre amarela ou outras

doenças. Isso poderia contribuir para o baixo número de alunos matriculados e baixa

frequência escolar, conforme sinaliza a figura (9).

60

Figura 09: Frequência dos alunos da 2ª escola elementar masculina do Grupo Escolar de

Igarapé-Miri, set. / 1911

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Livro de ponto, 1911

Além das matrículas decrescerem a cada ano, o índice de falta era elevado. É o que

se constata no diário de classe da Segunda Escola Elementar Masculina de setembro de 2011,

onde dos dezesseis alunos matriculados, apenas três não faltaram, dois faltaram e justificaram,

quatro não tiveram frequência, pois parece já terem evadido e sete faltaram várias vezes sem

justificar o motivo.

Em um período anterior à implantação dos grupos escolares, José Veríssimo (1891)

aponta que o péssimo desempenho da instrução pública neste estado teria sete causas

principais: a dispersão populacional pela vasta região amazônica, as escolas elementares

insuficientes para cobrir esta região, a vida ambulante da população utilizada na produção

extrativista, a falta de inspeção escolar, o despreparo de alguns professores, a falta de recursos

econômicos dos alunos e o relaxamento de muitos pais com a educação de seus filhos. Nas

palavras de Veríssimo (1891) fica claro que as dificuldades em alfabetizar as crianças

paraenses se deviam a vários problemas que perpassavam pela vasta região, pela falta de

investimento e controle do estado na educação, a população andarilha em busca de trabalho, a

falta de formação para professores, pobreza e falta de apoio de muitos pais à educação das

crianças.

1ª a disseminação da população por um vasto território; 2ª a falta de escolas

elementares por todos os lugares onde d’ellas há necessidade; 3ª a vida

ambulante da gente empregada na indústria extractiva; 4ª a falta de

61

inspecção regular; 5ª a falta de habilitações de alguns professores; 6ª a

pobreza dos alunos; 7ª finalmente, a negligencia de muitos pais de famílias

(PARÁ. Relatório de José Veríssimo, 1891, p. 10).

No relatório de 1943 o prefeito municipal de Igarapé-Miri e presidente do Conselho

Escolar, Raimundo Monteiro Lopes, salientou que a “insuficiência de professores nos tem

impedido a ação que é preciso desenvolver-se junto aos pais acerca de um número elevado de

crianças que não frequentam escola nesta cidade” (IGARAPÉ-MIRI. Relatório Raimundo

Lopes, 1943, p. 5). A frase expressa dois problemas: a falta de professores e o crescente

quantitativo de crianças que não frequentavam a escola. Acredito que o presidente do

Conselho Escolar se referia às crianças em idade escolar não matriculadas, que de acordo com

o Regulamento do ensino primário do Pará de 1910, o estado tinha o dever de cadastrá-las,

matriculá-las e obrigar (utilizando-se do artifício de cobrança de multas) os pais e

empregadores as encaminharem à escola (PARÁ. Relatório de Raimundo Lopes, 1910).

Parece que os motivos que levavam o estado a extinguir o Grupo Escolar de Igarapé-

Miri foram a diminuição de matrículas, a baixa frequência dos alunos, a falta de políticas

públicas, bem como dificuldades econômicas que o estado atravessava devido à crise da

borracha, dentre outras. Segundo a mensagem de 1921 do governador do Pará, Antônio

Emiliano Castro:

Os cortes, todavia, quase que se limitaram à parte puramente administrativa,

suprimindo funções especiaes de diretor do grupo e logares de porteiro e

serventes desses estabelecimentos (...).

A instrução em si nada sofreu, porque mantiveram-se as escolas mesmo

agremiações na sede onde existia o grupo, e as escolas disseminadas pela

área do município (PARÁ. Mensagem de Antônio Emiliano de Sousa

Castro, 1921, p. 74).

Segundo a mensagem de 1911 do governador João Antônio Coelho, os grupos

escolares tornaram a instrução pública mais dispendiosa para o estado: “O certo é que o

estado com a medida apontada [criação de grupos escolares] não realizou economia alguma,

tendo, ao contrário, crescido a verba despendida com o ensino primário” (PARÁ. Mensagem

de Antônio Emiliano de Sousa Castro, 1911a, p. 32).

Esta posição foi reforçada no discurso proferido pelo deputado Cônego Andrade

Pinheiro à Câmara dos Deputados do Estado do Pará, em 24 de outubro de 1911 e publicado

no Jornal “Estado do Pará”, na edição de 01 de novembro de 1911. O referido deputado

estadual era defensor das políticas governamentais do então governador João Antônio Luís

Coêlho (1909-1913), e argumentou que os grupos escolares foram implantados no Estado do

62

Pará com o propósito de diminuir os gastos com a instrução pública, mas na prática acabaram

onerando os cofres públicos.

Por certo, a idea do dr. Augusto Montenegro seria magnifica e salutar si as

intendencias do interior a soubessem comprehender e tivessem acudido ao

apello do illustre do governador de então.

Aconteceu, porém, sr. presidente [da Câmara dos Deputados Estaduais em

1911, Enéas Pinheiro], o contrario do esperava v. exc. Quando pensava

realizar uma grande economia para os cofres do Estado, essas economias

desappareceram e as despesas cresceeram, conforme diz expressamente em

sua mensagem o actual o atual governador [João Antônio Luís Coêlho]. (Lê)

‘É preciso porem, dizer que o meu eminente antecessor [Augusto

Montenegro] extinguindo em troca de cada grupo escholar creado,

determinado numero de escholas, fêl-o por não poder o thesouuro supportar

augmento [aumento] de despesas e firme na promessa de que os municipios

manteriam, de sua conta, escholas extintas’.

Vã foi, porém, esta promessa e repetidos são os pedidos que me têm sido

presentes para restabelecimneto de muitas escholas que fôram exctintas.

O certo é que o Estado, com a medida apontada, não realizou economia

alguma, tendo, ao contrario, crescido a verba despendida com o ensino

primario (ESTADO DO PARÁ, 01/11/1911, p. 01).

Nas mensagens dos governadores, a partir de 1911, várias vezes encontramos

referência à crise econômica que o estado estava atravessando, em virtude da queda da

exportação da borracha amazônica. No início do Decreto 3.806, de 05 de março de 1921, o

govenador Antônio Emiliano de Sousa Castro, expôs a crise econômica do estado como

justificativa para extinguir diversos cargos no estado.

O Governdor do estado, alttendendo á diminuição considerável da receita

publica, resultante das grandes alterações das nossas condições econômicas,

que por sua vez reflectem o transtorno da economia universal, e

Considerando que nenhuma providencia pode ser tomada que, melhorando

aquellas condições, produza immediatamente o aumento da receita na

importancia que exige a actual organização dos serviços publicos, senão que

toda medida a que recorra a administração será de resultados lentos [...]

(DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO, 06/03/1921).

Sob a desculpa da crise econômica, os governos paraenses entre 1912 a 1921

realizaram vários cortes de investimento em serviços essenciais, inclusive na instrução

pública, como a extinção de grupos escolares. É interessante que no momento de crise

econômica a educação é sempre prejudicada. O governo optava em extinguir alguns grupos

escolares porque acreditava que fosse mais oneroso aos cofres públicos, pois nas escolas

isoladas e reunidas os professores ganhavam menos e não havia as funções de diretor, porteiro

e servente. Sem contar que quando o estado dissolvia um grupo escolar, havia economia na

redução de escolas isoladas, demonstrando que o discurso governamental, proferido por

63

Antônio Emiliano Castro em 1921, de que os cortes feitos na instrução pública não afetariam

o corpo docente, mas somente o administrativo, era uma falácia (PARÁ. Mensagem de

Antônio Emiliano de Sousa Castro, 1921).

A dinâmica dos altos e baixos do Grupo Escolar de Igarapé-Miri nos ajuda a entender

que o projeto republicano de escola graduada encontrou dificuldades para permanecer em

alguns locais, devido à baixa matrícula e a problemas econômicos de famílias locais e do

próprio estado: não basta o governo fornecer somente escolas, é preciso também criar

políticas públicas para dar condições de acesso e permanência dos estudantes na instituição.

Vivíamos em um contexto onde não era obrigatório o estado fornecer gratuitamente transporte

escolar, merenda, material escolar e didático etc. Portanto, estas despesas pertenciam às

famílias dos alunos. Assim, as famílias que não tinham condições de fazer estes investimentos

nos seus filhos, estavam fadadas a deixá-los fora da escola.

A seguir, a discussão será sobre o município de Igarapé-Miri, na perspectiva de

compreendermos que a prosperidade econômica da cidade de Igarapé-Miri estava refém da

navegação, já que este foi o único meio de transporte até a década de 1980, quando foi

construída a Rodovia PA 151, e iremos perceber que historicamente houve uma luta constante

para superar esta dificuldade, pois quando parecia que o problema da navegação estava

resolvido, barcos maiores surgiam e o progresso se afastava da sede do município.

2.3 A CIDADE DE IGARAPÉ-MIRI

Igarapé-Miri fica localizada em linha reta a 74 Km de Belém, capital do Estado do

Pará. Segundo Lobato (2007), Igarapé-Miri foi elevada à categoria de cidade em 1896, pela

Lei Estadual nº 438, de 23 de maio de 1896. Seu nome se origina do Tupi-guarani e significa

“Caminho de Canoa Pequena”, uma alusão aos inúmeros braços de rios que recortam o

município.

A seguir, apresento a primeira gravura da Villa de Santana de Igarapé-Miry produzida

entre 1848 e 1860 pelo viajante inglês Paul Marcoy e publicada em 1867 na Revista Le Tour

du Monde: Nouveau Journal des Voyages, em 1867, em Londres, Inglaterra. A gravura

destaca a primeira Igreja de Sant’Ana de Igarapé-Miri construída em madeira e argila, as

casas de madeira do povoado, o pequeno rio de Igarapé-Miri, as plantas características da

região (árvores de miriti ao fundo e em frente à cidade, palmeiras de açaí, aningueiras etc.), e

os meios de transporte: barcos a remo e à vela.

64

Figura 10: Villa de Santana Igarapé-Miry

Fonte: MARCOY, 1867

Conforme Lobato (2007), as fases históricas de Igarapé-Miri foram as seguintes: de 29

de dezembro de 1752 a localidade passou a ser denominada Freguesia de Santana de Igarapé-

Miry até 26 de julho de 1845 (decreto 113, de 16/10/1843, que exigia a construção da câmara

municipal e cadeia), quando houve a cerimônia de elevação à categoria de Villa de Santana

Igarapé-Miry, e finalmente em 23 de maio de 1896 recebeu o título de cidade.

De acordo com Baena (1885), a Comarca Geral de Igarapé-Miry, instalada em 26 de

outubro de 1878, era composta por três municípios: Abaeté (atual Abaetetuba), Moju e

Igarapé-Miri. Seus limites geográficos no final do século XIX, de acordo com D’Oliveira

(1899), era ao Norte com a comarca de Belém, ao Sul com Cametá e a Oeste com Cametá e

Cachoeira pela foz do Rio Tocantins. Atualmente, Igarapé-Miri limita-se com os seguintes

municípios: ao Norte com Abaetetuba, a Leste com Moju, ao Sul com Mocajuba e a Oeste

com Cametá e Limoeiro do Ajuru. Quanto a sua fundação, podemos captar alguns indícios na

letra da música abaixo.

65

DOS MAMANGAIS AOS CAMINHOS DE CANOA PEQUENA

Vou viajar ao reino dos mamangais

Caminhos de Canoa Pequena, eu chego lá

Te amo Rancho, não posso me amofiná

Muito mais que você possa imaginar

De Portugal atravessou, o rio mar

Em caravelas o desbravador chegou, pra ficar

Veio em busca do Eldorado

Expulsou os invasores

Do solo cobiçado

A serraria real exalou prosperidade

Surge, Igarapé-Miri

A mais pura realidade

Os engenhos de cana de açúcar

Com Pernambuco conquistaram o apogeu

Radiante, época dourada

E a princesinha floresceu

Carambola, pioneiro o canal expandiu

Chegam os cabanos, enfrentando desafio

E hoje, hoje capital mundial do açaí.

A pesca do mapará é tradição

Fonte de renda e alimentação

O lugar onde brota a devoção

Ó Sant’Ana padroeira (...)

(GONÇALVES, 2008).

A letra do samba enredo do carnaval de 2008, de autoria de Aurino Quirino Pinduca

Gonçalves, intitulada: “Dos Mamangais aos Caminhos de Canoa Pequena”, da escola de

samba jurunense, de Belém, Pará, “Rancho Não Posso me Amofiná”, homenageou o

município de Igarapé-Miri, contando sua história. A música retrata a origem dos

colonizadores, a origem do município, a economia, dentre outros aspectos históricos da

localidade, como veremos a seguir.

As terras que deram origem ao município de Igarapé-Miri começam a ser colonizadas

pelos portugueses no reinado de D. João V, rei de Portugal, entre os anos 1706 a 1750,

quando nesta localidade foi fundada uma fábrica nacional para o beneficiamento de madeiras.

Quando foi escolhido para funcionar a serraria real, este local era estratégico, pois era

de fácil acesso à capital do estado, e toda a madeira aparelhada era transportada a Belém.

Posteriormente, tornou-se um entreposto comercial ou via de acesso entre o Baixo Tocantins,

o Estado do Amazonas e Belém.

66

Figura 11: Mapa da região do Marajó e Baixo Tocantins, destacando o Rio Pará

Fonte: ROSA, 1904

Ao observarmos o mapa, constatamos que existem dois caminhos marítimos de Belém

para o Baixo Tocantins, notadamente a cidade de Cametá (fundada em 1635), que seria pelo

Rio Pará (conhecido como “por fora”) e passando pelo rio Sant’Anna de Igarapé-Miri

(chamado “por dentro”). As viagens “por fora”, significa passar pela Baía do Marajó para

chegar ou sair de Belém. Até o final do século XIX estas viagens eram mais arriscadas, com

constantes acidentes devido às correntezas, temporais e fragilidade das embarcações9. De

acordo com o Jornal “A Província do Pará”, eram comuns os acidentes marítimos, tais como

naufrágios, explosão de caldeiras de lanchas a vapor, dentre outros:

Na sexta-feira da semana passada, 14 andantes naufragou nos baixos do

Correio á entrada da cidade de Vigia, a canoa Flor de Nazareth[...].

Mal acabavamos de escrever a notícia acima, recebiamos aviso [...], de mais

os seguintes naufrágios [...] (A PROVINCIA DO PARÁ, 22 e 23/10/1904,

p.02).

9 Este posicionamento foi defendido pelo viajante inglês Paul Marcoy, no artigo Voyage de l’Océan Pacifique a

l’Océan Atlantique, a travers l’Amerique du Sud (1848-1860), publicado na revista Le Tour du Monde: Nouveau

Journal des Voyages, em 1867, na cidade de Londres, Inglaterra. Segundo Marcoy (1867) o Canal evitava que os

barcos que navegassem para Belém passassem pelo Rio Pará, onde ocorriam trevoadas, tempestades violentas e

tufões.

67

Na edição do dia 15 de novembro de 1904 este mesmo jornal estampou a manchete de

que na noite do dia 12 a lancha a vapor Anapu pegou fogo no porto do Comércio. De acordo

com o laudo dos bombeiros, o motivo foi o estouro da caldeira. Em 24 de março de 1941 o

prefeito de Igarapé-Miri, Antonio Mesquita, emitiu um telegrama lamentando o naufrágio do

barco “Nova Pátria”, onde viajava o Padre Emílio, vigário da Paróquia de Igarapé-Miri. Esse

naufrágio ocorreu no Rio Tocantins, entre os municípios de Cametá e Igarapé-Miri e

perderam-se os registros de batismo deste período que o vigário transportava para Cametá.

Percebe-se que o temor da população miriense em viajar pela Baía do Marajó se justificava

pelas notícias de acidentes com embarcações, principalmente as movidas a vapor.

Outro problema causador de temor era o banzo, ou seja, o enjoo que os tripulantes

sofriam por conta dos banzeiros (termo regionalmente dado às maresias). As viagens “por

dentro”, que passavam em frente à freguesia de Igarapé-Miri, era a preferida e mais segura,

mas dependia das condições da maré, pois entre o Rio Moju e o Rio Sant’Ana de Igarapé-Miri

havia uma passagem natural, denominada de “Furo de Igarapé-Miri”, que posteriormente

ficou conhecida como “Furo de Igarapé-Miri Velho” ou simplesmente “Furo Velho”, que é

um igarapé ou pequeno rio raso, somente navegável nas águas maiores, chamadas de

lançantes ou águas vivas.

O furo de Igarapé-Miry velho, achava-se actualmente quase tapado, e só dá

passagem a pequenas montarias, quando maré cheia e fica na distancia de

uma e meia léguas da bôcca do canal, subindo o Rio Mojú (D’OLIVEIRA,

1899, p. 13).

As limitadas condições de navegação pelo Furo Velho, nas duas primeiras décadas do

século XIX gerou a dificuldade de relação comercial entre os munícipes de Igarapé-Miri com

Belém, e isso afetou o desenvolvimento econômico da cidade. As dificuldades comerciais

aumentavam à medida que a indústria naval se desenvolvia, já que embarcações maiores

tinham mais dificuldades em passar pelo “Furo Velho” e optavam navegar pelo Rio Pará. Isso

aumentou o abandono da sede do munícipio, pois a riqueza, oriunda do município e outras

localidades vizinhas circulavam pela rota marítima “por fora”, fato que deixava a cidade de

Igarapé-Miri por fora do desenvolvimento econômico, isto é, no abandono.

Como o “Furo Velho” não suportava o tamanho das embarcações, a saída encontrada

foi a escavação do Canal. No mapa abaixo, se observa o Canal na sequência do Rio de

Igarapé-Miri, desaguando no Rio Moju e o “Furo Velho” abaixo.

68

Figura 12: Mapa de Igarapé-Miri, destacando o Canal e o “Furo Velho”

Fonte: Digitalizado por Railson dos Santos com base no Google Earth, 2017

O Canal10 foi construído por iniciativa de Sebastião Freire da Fonseca, de codinome

Carambolas, que era fazendeiro, comandante geral dos índios e proprietário de escravos. De

acordo com Cruz (1945, p. 19), “interesses comerciais levaram-no [referindo-se a

Carambolas] a imaginar esse caminho, que viria a ser em tempos futuros, preciosa via

econômica de escoadouro dos produtos da terra”.

O Canal foi construído entre 1821 a 1823, com a extensão de 1,5 Km, ligando o Rio

Igarapé-Miri ao Rio Moju. Nessa empreitada, Carambolas foi autorizado pela Junta Provisória

Governamental da Província (1821-1824), e a obra foi iniciada por dezenove escravos de sua

propriedade e quarenta índios da província. Depois de vários problemas referentes à falta de

mão de obra, os trabalhos foram encerrados em 1823 com o desabamento de um barranco.

Em dias do mez de novembro de 1823, por ocasião das aguas-vivas, desabou

com peso d’ellas, a parede de madeira que demorava do lado de Igarapé-

Miry, e as aguas penetraram com tanta impetuosidade no leito do canal, que

não deram tempo de alguns trabalhadores que ainda ahi se achavam de

desvencilharem-se do perigo, fazendo-os victimas; e os seus corpos, envoltos

10 Uma fonte primária sobre o Canal foi produzida pelo viajante inglês Paul Marcoy. Ver bibliografia Marcoy

(1867).

69

com o turbilhão das aguas, levaram em sua frente a destruição das três

mocoocas de terra, e foram sepultar as victimas no profundo rio Mojú!

(D’OLIVEIRA, 1899, p. 20).

Este desabamento ceifou a vida de dezesseis trabalhadores: Inácio, Conrado, Caetano

(conhecido como Pai Caíto), José Antonio Vinagre, João Tenório, Ambrósio, Francisco, Pai

Augusto, Lindolfo, Manoel José, Joaquim Marujo, Chico Sales, Domingos, Máximo Cutia,

Policarpo e Pedro Salgado (GARCIA. O Liberal do Pará, 1987, p. 04).

Segundo D’Oliveira (1899), o novo canal trouxe para Igarapé-Miri prosperidade e

esperança de dias melhores, proporcionada pelo constante tráfego de embarcações, trazendo

desenvolvimento comercial ao município.

E d’esse modo tudo progredia admiravelmente prometendo à Igarapé-Miry

um esperançoso futuro. Pelos rios do districto notava-se também um

desenvolvimento commercial com a constante exportação em seus barcos, de

carregamento de milho, farinha, sabão, algodão, cacau, assucar, cachaça,

mel, madeiras, urucú, redes defios, cuias, urupemas, azeite de andiroba,

feizão, algum café e muito arroz, que alguns commerciantes diretamente

exportavam para a Europa (p. 21).

Entretanto, enfatiza D’Oliveira (1899), todo este desenvolvimento desapareceu no

final do século XIX com a diminuição da navegação pelo Canal, devido ao seu assoreamento.

Na realidade, no lugar onde houve o desabamento do barranco, as pedras não foram retiradas

e o trecho ficou mais raso. Por outro lado, o Canal foi cavado no tamanho ideal para os barcos

da época, mas com o tempo, barcos de portes maiores foram sendo construídos, não tendo

condições de passar pelo furo, principalmente no local das pedras.

Segundo Baena (1885), no final do século XIX no interior de Igarapé-Miri estavam

instalados trinta e seis engenhos e oitenta e quatro casas comerciais, enquanto que na vila

havia apenas nove casas comerciais e nenhum engenho, demonstrando que o meio rural

estava mais desenvolvido economicamente e demograficamente em relação ao urbano, que

era composto por

3 ruas, 4 travessas, 120 casas, sendo 3 sobrados, 9 casas de negócio na villa e

84 fóra, igreja matriz, 2 capellas, uma da invocação do Senhor Bom Jesus e

outra de N. S. da Conceição, cemitério, paço municipal, collectorias geral e

provincial, agencia de correio, 4 escólas publicas, sendo duas na villa, uma

do sexo masculino, com 31 alumnos, outra do feminino, com 22 alumnas, e

as demais nos diversos pontos do município, com 63 alumnos, ponte de

desembarque, cerca de 200 almas na villa. O seu principal gênero de

indústria e comércio é a borracha, e imediatamente o fabrico de assucar e

aguardente, em 36 engenhos, 11 movidos a vapor, 10 a agua e 15 a animaes;

arroz, milho e cacau, pouco. Comunica-se com a capital por uma linha de

vapores, subvencionada pela província, em duas viagens mensais, além de

70

um serviço regular de 3 lanchas a vapor, particulares e canôas (BAENA,

1885, p.32).

Comparando esta descrição com a de D’Oliveira (1899), sobre a Comarca de Igarapé-

Miry do final do século XIX, percebemos que não houve desenvolvimento no meio urbano, já

que o número de casas comerciais diminuiu e o número de moradores permaneceu o mesmo,

como vemos a seguir:

A cidade de Igarapé-Miry é assim dividida; -Quatro ruas:- a da “Praia”, a do

“Coronel Frade”, a do “Bom Jesus”, e a da “Conceição”; cinco travessas:- a

do “Bailiqui”, a da “Flores”, a de “Sant’Anna”, a das “Angustias” e a do

“Mocurão”; e tres largos;- o da “Matriz”, o de “D. Pedro II”, e o do “Bom

Jesus”. Tem edificadas cento e tantas casas, inclusive tres sobrados, com oito

casas commerciaes, além do paço municipal [...]:casa da cadeia publica e

bôa iluminação; tem a egreja de Sant’Anna, as capellas do Bom Jesus e da

Conceição, bom cemiterio, três pontes publicas e tres particulares, sendo a

illuminação publica montada sobre portes d’acapu em toda a cidade; e é

habitada por cerca de dusentas pessoas, reunindo-se, entretanto, quatro a

cinco mil pelas festas de N. S. Sant’Anna, Conceição, Nazareth e Divino

Espírito Santo (D’OLIVEIRA, 1899, p. 5-6).

De acordo com a Agência de Estatística do Município de Igarapé-Miri, em 1945 o

município possuía cento e sete casas comerciais, sendo apenas sete na cidade; tinha vinte e

cinco fábricas no interior: dezenove engenhos, três fábricas de sabão, três fábricas de extração

de óleos vegetais. Fica evidente que o desenvolvimento do município se processava no meio

rural.

No relatório apresentado em 1943 pelo prefeito municipal de Igarapé-Miri,

Raimundo Monteiro Lopes, ao Interventor Federal do Estado do Pará, Magalhães Barata,

constatamos um retrocesso na cidade. O documento revela as dificuldades e constrangimentos

que o prefeito municipal passava quando uma autoridade chegava ao município, pois não

havia casas apropriadas para abrigá-los.

Cidade antiga, o casario é quase todo inestético e não oferece duração os

reparos que lhes dá a população, procurando conservá-lo. Com o

desaparecimento de quanto em quanto, de uma e outra edificação, a cidade

se reduz e cria situações de angústia vez que aqui vem servir uma

autoridade, chega uma comissão, ou se recebe uma comitiva (IGARAPÉ-

MIRI. Relatório de Raimundo Monteiro Lopes, 1943, p. 8).

Neste mesmo relatório percebemos o contraste entre cidade e interior em meados do

século XX, onde a prosperidade econômica vivida pelo município não chegava à cidade.

[...] apesar da prosperidade sempre crescente em que vai o município todo o

seu desenvolvimento comercial, industrial e de construção, se opera no

71

interior. Nenhum comerciante, industrial ou proprietário abastado tem na

cidade uma simples casa sequer. A população da cidade sendo composta

apenas de funcionários e empregados, outros sujeitos à transferências na

maioria, e quando não, se habitantes pobres, não se dá a construção senão de

longe em longe (IGARAPÉ-MIRI. Relatório de Raimundo Monteiro Lopes,

1943, p. 8).

Neste período, a elite miriense morava nos engenhos localizados no meio rural, que

eram os lugares mais atrativos do município, por onde fluíam riquezas e oportunidade de

trabalho. O cenário dos engenhos era composto por vilas habitadas pelos funcionários e

familiares do proprietário do engenho e a fábrica de produção (de aguardente, açúcar moreno,

álcool etc.). Nos engenhos mais prósperos havia também uma engarrafadora de bebidas. Nos

portos circulavam barcos carregando e descarregando bebidas e produtos variados.

A maioria dos políticos de Igarapé-Miri, principalmente os prefeitos, moravam no

meio rural do município, sendo que a prefeitura mantinha uma casa alugada, na Avenida

Carambolas, (onde atualmente está localizada a Casa da Cultura) para ser a residência oficial

dos prefeitos. De acordo com Lobato e Garcia (2011), em 1957 o Interventor do Estado do

Pará, Magalhães Barata, instalou por três dias, a sede de seu governo no engenho Brasil, de

propriedade do Sr. Julião Forte, localizado no Rio Santo Antônio, afluente do Rio Maiauata,

em Igarapé-Miri, que seria o lugar mais próspero da localidade, neste período. O interventor

nem sequer passou pela sede do município. Enquanto no meio rural estavam as oportunidades

de emprego, na cidade multiplicava-se a pobreza. Portanto, o desenvolvimento econômico do

município melhorou as condições de vida do meio rural, deixando a cidade à mingua do

progresso.

Vale ressaltar que do final do século XIX até meados do século XX, a cidade de

Igarapé-Miri praticamente estagnou por conta da dificuldade de navegação e sobreviveu

graças aos impostos oriundos do meio rural. Até hoje nos portos de Igarapé-Miri não circulam

barcos de grande porte. A cidade não caiu nas ruínas graças à construção da Rodovia PA 151

na década de 1980, que interligou a sede do município às outras localidades, inclusive a

Belém.

Parece até trocadilho, mas as dificuldades econômicas que a sede do município

passava estavam ligadas a tradução do nome Igarapé-Miri, ou seja, ao caminho de canoa

pequena, que banha a frente da cidade. Mas porque as dificuldades econômicas não afetaram

todo o município? A resposta também está no transporte, pois os lugares mais prósperos

estavam ligados à rota marítima entre o Tocantins, o Amazonas e Belém, que era o rio

Maiauatá e seus afluentes. O rio Maiauatá era considerado a “avenida aquática” do município

72

de Igarapé-Miri (LOBATO, 2007, p. 52). Essas embarcações traziam pirarucu, peixe, carne

seca etc. para Belém. Levavam produtos industrializados e paravam para abastecer, comprar

aguardente no interior de Igarapé-Miri. Muitos viajantes eram financiados por comerciantes

mirienses. Isso desenvolvia o comércio no interior.

Assim, o que se desenvolveu economicamente foi o meio rural, pois os grandes portos,

como o Trapiche Hipólito, no Rio Maiauatá, era um entreposto e parada obrigatória para

navegantes que circulavam de Belém ao Tocantins e Amazonas. Estes barcos eram maiores e

navegavam pela baía. Na década de 1970, o comerciante Martiniano dos Reis Pinheiro

(26/10/1942 - 27/07/2011), residente no rio Maiauatá, ficou rico aviando (financiando) barcos

para o Amazonas. Ele construiu uma fortuna considerável: chegou a ter mercearia, farmácia,

posto de combustível, telheiro, salão de festa, um grande trapiche para embarque e

desembarque de mercadorias etc. Ele não tinha engenho, mas lucrava com a movimentação no

interior do município.

2.4 ASPECTOS GERAIS DO MUNICÍPIO

MÚSICA: NOSSO IGARAPÉ-MIRI

Refrão

Se você ainda não viu, vá ver

Se já viu vá ver de novo

Nosso Igarapé-Miri alegria do meu povo

I

Vá ver Festa de Sant’Ana

Conhecer a tradição

Vá tomar cachaça doce, mujica de camarão.

Vá tomar banho no rio

Na noite de São João

II

Vá ver tipo de madeira

Que temos para exportar

Tem o cedro e a cupiúba

Andiroba e marupá

Angelim e piquiá

Isso é produto de lá

III

Vá dançar o carimbó

Você vai sentir na cuca

Isso todo mundo sabe

Que é do Pim e do Pinduca (GAMA, 2004).

A letra da música “Nosso Igarapé-Miri”, de autoria de Ionete Gama (2004), destaca

elementos marcantes da cultura miriense: a religião católica; a cachaça branca ou “da nossa”,

como era conhecido o aguardente da cana pela população local; as festas juninas, com o

73

banho de rio na madrugada de 24 de junho; a influência da cultura portuguesa; a culinária

(mujica de camarão e o piquiá); as madeiras destinadas à exportação: angelin, cedro e cupiúba;

os conhecimentos medicinais da floresta: andiroba e cupiúba; o carimbó (dança típica da

região) e os talentos locais, exemplificados por dois cantores: os irmãos Pim e Pinduca.

A religião católica está ligada às origens do município, pois a cidade se originou da

devoção à Sant’Ana. Esta devoção veio de Portugal com os primeiros colonizadores da

localidade, que em 1714 fizeram o primeiro círio terrestre em homenagem a sua padroeira.

Esta festividade religiosa ocorre todos os anos de 16 a 26 de julho.

A festividade em homenagem à Sant’Ana é a principal manifestação religiosa da

localidade, e apesar de várias modificações, vem resistindo ao tempo. Porém, havia outras que

já desapareceram, como: N. Sr.ª da Conceição e Bom Jesus (século XIX e início do XX),

Santa Maria da Boa Esperança e Santa Maria do Caíto (foram extintas no final do século XX),

N. Sr.ª do Perpétuo Socorro (a festividade que era realizada em dezembro foi transferida para

junho, mas perdeu a tradição). Eis aqui alguns exemplos, mas inúmeras outras festividades

foram subsumidas pelo violento progresso ou pela violência gerada pelo progresso.

Até meados do século XX, não havia médico neste município. O sistema público de

saúde contava esporadicamente com um enfermeiro que receitava como se fosse médico. A

população apelava para as curandeiras, benzendeiras, remédios caseiros, dentre outros:

O que ajudava a população nesse sentido era o curandeirismo, benzeduras

feitas pelas rezadeiras que ensinavam os benéficos chás de hortelã, chama,

mastruz, marupazinho, erva-cidreira, capim-santo, cebolinha etc. não

esquecendo as garrafadas para homens e mulheres e que agiam curando as

pessoas de todas as doenças, inclusive infertilidade (LOBATO E SOARES,

2001, p. 236).

Economicamente o município de Igarapé-Miri passou por várias etapas:

Historicamente Igarapé-Miri experimentou processos de crescimento

econômico que marcaram a estruturação e representação da organização

social, política e cultural do município. Surgiu enquanto território já com a

herança do desmatamento para comercialização da madeira, do comércio e

regatões típicos da economia mercantil, entrou para a economia da cana-de-

açúcar onde viveu o período áureo de sua economia, embora fadada aos

desafios históricos da acumulação do capital a exemplo do desenvolvimento

tecnológico. Marcado ainda pela cultura econômica do aviamento e pelas

relações político-sociais de compadrio (CORRÊA, 2010, p. 01).

O desenvolvimento econômico do município esteve ligado à exportação de matérias-

primas, produtos agrícolas e extrativistas: incialmente foi palco da extração e beneficiamento

de madeira (cuja origem do município está ligada a esta atividade predatória) que seguiam

74

para Belém, e de lá para outros Estados. Posteriormente, passou a exportar aguardente de cana

de açúcar, tendo como primeira fase de 1712 a 1888, e segunda, do final da década de 1930 à

década de 1970. O ciclo dos engenhos em Igarapé-Miri foi de 1712 a 1991, quando o último

engenho foi desativado. De acordo com Cunha (1894), no município de Igarapé-Miri se

fabricavam cachaça, açúcar e mel. O Álbum do Estado do Pará de 1908 enfatizou que o

principal produto de exportação deste município era a aguardente e o látex. E o de 1939

destacou as 24 usinas de produção de aguardente, açúcar e derivados (como álcool e

rapadura), existentes em Igarapé-Miri no período.

O município de Igarapé-Miri, tinha uma produção diversificada nos engenhos, ou seja,

não se resumia a produzir somente cachaça, também fabricava açúcar em menor quantidade,

já que sua produção e exportação eram limitadas pelo Instituto do Açúcar e do Álcool, a fim

de que não concorresse com o Nordeste e o Sudeste do país.

A cana-de-açúcar em Igarapé-Miri passou a ser fonte de renda do Município

e os senhores de engenho não se limitaram a produzir só cachaça. Surgiu a

firma Avelino Joaquim do Vale, no Rio Panacauera, onde as canas tinham

um teor de sacarose excepcional, que resolveu instalar uma usina de açúcar

cristal. Nela, chegou a produzir grande quantidade de açúcar, que não

exportou mais em razão da quota dada a usina pelo Instituto do Açúcar e do

Álcool ser limitada (LOBATO, 1985, p.65).

Acompanhou ainda o período áureo da borracha, de 1870 a 1912 e 1942 a 1945.

Segundo o Álbum do Estado do Pará de 1899, de julho de 1896 a junho de 1897, Igarapé-Miri

teve uma produção de 214.990 quilos de borracha, ficando entre os treze primeiros colocados

dos municípios do Pará.

Atualmente, o município se destaca no cultivo de um fruto típico da Amazônia,

chamado açaí. A sua produção destina-se ao consumo interno e à exportação para outros

estados brasileiros como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerias, Estados do Nordeste etc., e

países como Estados Unidos, Japão, países da União Europeia etc., sendo Igarapé-Miri

considerada a Capital Mundial do Açaí.

Todos estes períodos históricos citados foram acompanhados pela presença marcante

dos regatões, que eram os comerciantes marítimos que exerciam a função de atravessadores,

os quais trocavam gêneros alimentícios, vestuários, utensílios etc. por aguardente, látex,

madeira, farinha e produtos tropicais.

Os dois principais festivais realizados no município são: no final do primeiro semestre

o do Camarão (iniciado em 1979) e no segundo, o do Açaí, que teve sua primeira edição em

75

1989. Nestes festivais, que ocorrem durante três ou quatro dias, encontram-se elementos

típicos da região: comidas, danças, artesanatos etc.

A atividade artesanal é intensa e diversificada: da matéria-prima (barro, talas, miriti,

caroços de açaí etc.), produzem-se potes, telhas, tijolos, peneiras, paneiros, tipitis, brinquedos

de miriti, bijuterias, entre outros, gerando renda aos artesãos locais.

No campo educacional, o município de Igarapé-Miri desde o final do império até a

década de 1970 manteve no meio rural as escolas isoladas, que funcionavam nas casas dos

professores ou de pessoas influentes da localidade, como os proprietários de engenhos. Na

sede do município o grupo escolar foi a primeira e única escola graduada até 1959 quando

surgiu o Instituto Nossa Senhora Sant’Ana, que também era uma escola primária, fundado

pelas irmãs Vicentinas. Essa escola está localizado à Travessa Coronel Vitório, centro da

cidade. No grupo escolar estudavam crianças oriundas da cidade e algumas do interior, já que

a maioria dos residentes no interior estudavam o ensino elementar em escolas isoladas, com

professores pagos pelo estado, pelo município ou pelos próprios donos de engenho. Após

concluir o ensino elementar, era comum os filhos da elite irem cursar o complementar em

Belém, enquanto que os filhos dos pobres, paravam de estudar. Esse quadro mudou com a

criação do Ginásio Estadual Aristóteles Emiliano de Castro em 1968, a primeira escola no

município que ofertava o ensino de 5ª a 8ª série. Neste período passava-se pelo início da crise

aguardenteira, e os donos de engenho que não foram à falência, fundaram casas comerciais

em Belém ou em Igarapé-Miri, formando a elite local do município. A primeira escola de 2º

grau foi instalada neste município na década de 1980, nas dependências da Escola Estadual de

1º Grau Enedina Sampaio Melo.

Em 1943, além do grupo escolar, havia 22 escolas isoladas em Igarapé-Miri, sendo 20

no interior: Espera, Alto Meruú, Baixo Meruú, Concórdia, Itanimbuca, Panacauera-Açú,

Santo Antônio, Santo Antônio do Botelho, Caji, Anapu, Pindobal, Camarão-quara, Furo do

Seco, Mamangal, Santa Maria do Icatu, Sempre Viva Maiauatá, Santa Cruz, Murutipucú, Rio

das Flores e Cariá. E 02 na cidade: Noturna 13 de Maio e Escola Feminina de Prendas “Darcy

Vargas”. Estas duas escolas funcionavam nas dependências do grupo escolar. Destas escolas,

dezenove eram mistas: dezoito no interior e uma na cidade. (OFÍCIOS, nº 03/1940, 03/1942,

188 e 197/1943). Os dados demonstram a demanda de alunos no meio rural, maior que na

cidade e o aparecimento de escolas municipais no turno da noite para atender jovens e

adultos. Segundo a Agência de Estatística do Município de Igarapé-Miri, em 1945

encontramos a existência de 30 escolas isoladas primárias, sendo 05 mantidas pelo município,

22 pelo estado, e 03 pela Colônia dos Pescadores (OFÍCIO, s/nº/1945).

76

Quanto à população, o censo demográfico de 1900 realizado pela Diretoria Geral de

Estatística, a população do município de Igarapé-Miri era de 9.607 habitantes. Destes, 4.756

eram homens e 4.851, mulheres. Não foi possível localizar dados mais precisos sobre a

proporção de habitantes do meio rural e urbano. Para ilustrar a proporção de habitantes de

Igarapé-Miri, em relação ao Estado do Pará e Brasil, apresentamos o quadro abaixo.

Quadro 06: Quantitativo demográfico de Igarapé-Miri, Pará, em 1900

Homens Mulheres Total

BRASIL 8.885.237 8.515.832 17.371.069

PARÁ 228.471 216.885 445.256

IGARAPÉ-MIRI 4.756 4.851 9.607

Fonte: BRASIL. Censo demográfico, 1905

No censo demográfico de 1945, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), percebemos a quantidade real dos moradores da cidade. Neste censo o

município foi dividido em dois distritos: Igarapé-Miri e Concórdia (atual Vila de Maiauatá,

pertencente ainda ao município de Igarapé-Miri). O distrito de Igarapé-Miri possuía 3.545

moradores, sendo 771 no meio urbano e 2.774 no rural; e Concórdia com 11.421 habitantes,

sendo 251 no meio urbano e 11.170 às margens dos rios e igarapés (BRASIL. Censo

demográfico,1945). Nota-se um aumento demográfico da população do município, que saltou

de 9.607 em 1905 para 14.966 mil habitantes em 1945. O aumento populacional se estendeu

principalmente na rota das embarcações, cuja paisagem era marcada pelos engenhos de cana

de açúcar, notadamente no meio rural do distrito de Concórdia, onde se localiza o Rio

Maiauatá e seus afluentes. A sede do município continuava conforme este censo de 1945

pouco habitada. Lobato (2004) informa que no censo de 1960 havia na Cidade de Igarapé-

Miri apenas 900 moradores, ou seja, o meio urbano praticamente estagnou, pois de 771

moradores em 1945 foi para 900 em 1960.

A tradução destes números nos revela que a população deste município estava

concentrada no meio rural pelos motivos já citados, que são a oportunidade de emprego

oferecida em função dos engenhos. Portanto, até a década de 1970 a população miriense era

tipicamente ribeirinha, mesmo os que residiam na cidade, na sua maioria, exerciam atividades

ligadas ao meio rural, como: caça, pesca, roçado de mandioca etc.

77

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000 a

população residente neste município era de 52.604 habitantes. Já em 2015, o IBGE registrou

uma população estimada em 60.343 habitantes. O município cresceu quantitativamente em

termos populacionais, mas não se desenvolveu economicamente, com geração de emprego e

renda para a maioria da população, acarretando crescentes problemas sociais, como: tráfico de

drogas, comércio de armas de fogo, prostituição, assassinatos, dentre outras mazelas.

Após analisarmos as origens do Grupo Escolar de Igarapé-Miri e sua relação com o

município que o identificou nominalmente, buscamos compreender que o grupo escolar foi

influenciado e ao mesmo tempo influenciou a sociedade miriense, forjando elementos

culturais que se somaram à cultura local. Na seção seguinte, analisaremos o Grupo Escolar de

Igarapé-Miri enquanto espaço de encontro de vários sujeitos escolares, tais como: diretor,

professores, alunos, vigias e serventes, destacando os conflitos e diálogos resultantes desta

relação, as atribuições de cada função e sua posição hierárquica dentro da instituição.

78

3 O GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI E SEUS SUJEITOS

Fecharam-se as escolas isoladas de nenhum proveito, de nulla utilidade, para

abrirem-se estabelecimentos importantes, onde, sob uma direcção criteriosa

e sensata, o professor consciente de seus deveres e dedicação ao trabalho

mais por sentimento de amor á profissão, que por interesse á remuneração da

Fazenda, prodigalisa á mocidade, parcellas e parcellas, tudo que de melhor

encerra o seu coração, o seu espírito, a sua inteligência (PARÁ. Relatório de

João Pereira de Castro, 1907, p. 380).

A assertiva acima, contida no relatório apresentado a Amazonas de Figueiredo,

Secretário de estado da justiça, interior e instrução pública, pelo inspetor escolar João Pereira

de Castro em 18 de junho de 1907, demonstra que o grupo escolar inaugurou no Brasil, uma

dinâmica de relações mais complexa do que nas escolas isoladas, onde o professor era o único

funcionário. Nesta dialética surgiram as funções do diretor, porteiro e servente; e o

fortalecimento da representação vocacional e maternal das professoras, que junto com as

crianças, são os únicos atores deste universo acadêmico. O professor foi destacado como um

profissional cumpridor de seus deveres, à medida que executa sua função colocando em

primeiro lugar o amor à profissão e não o interesse pelo salário.

A escola antes denominada de isolada passou a ser agrupada no Pará em 1899 e

tornou-se uma repartição pública, com horários de funcionamento e regras para frequentá-la.

Representava um lugar “outro”, onde se deveriam assimilar as regras sociais tidas como

civilizadas: de higiene, de afastamento da rua e de comportamento. Imagino o quanto foi

difícil para muitas crianças inculcarem as normas sociais ensinadas na escola graduada?

Acredito que algumas regras iam de encontro aos costumes de muitas famílias caboclas, que

tinham o hábito de comerem com as mãos, andarem descalças, comerem frutas nos pés das

árvores sem lavá-las. Por outro lado, fico a imaginar o quanto deve ter sido difícil para os

professores vindos da capital do Pará se adaptarem à vida no interior.

Em Igarapé-Miri, o grupo escolar surgiu a partir da junção de quatro escolas isoladas:

Primeira e Segunda Escola Elementar, seção masculina. Primeira e Segunda Escola

Elementar, seção feminina. A Escola Complementar mista do grupo escolar começou a

funcionar em 1905, sob a regência da professora normalista Estellita Maria Gonçalves

Coêlho. De acordo com o decreto 1.294 de 06 de abril de 1904 as cinco escolas deveriam

funcionar em uma única seção, no turno da manhã, de 8h às 11h45 minutos.

No primeiro relatório do Grupo Escolar de Igarapé-Miri do ano de 1904, o diretor

desta instituição, Aristides dos Reis e Silva, expôs que os móveis deste grupo escolar

79

pertenciam às escolas isoladas que foram agrupadas ao “Instituto Lauro Sodré” e ao Grupo

Escolar do 1º distrito da Capital:

[...] após a instalação do grupo, acrescendo somente: uma bandeira nacional,

12 copos de vidro, 2 canecos de ferro esmaltado, 1 filtro grande, 6 toalhas, 2

contadores machanicos, livros escolares e diversos papeis de expediente.

Todos os moveis, utensílios e objetos mencionados, existem em regular

conservação, excepto o filtro grande que está com pedra quebrada e o globo

pequeno que tambem esta quebrado. Este pertenciam à escola isolada e

estava já muito velho.

50 carteiras duplas, 2 pés de filtro, 3 louzas e 5 bancas foram entregues a

esta directoria pelo ilustre diretor do Instituto “Lauro Sodré”, As demais

destas carteiras, 8 cadeiras e 1 sophá, vieram do grupo escolar do 1ª distrito

da capital. As carteiras de assento triplo, 1 louza e um globo pequeno

pertenciam às escolas isoladas desta cidade, os demais utensílios foram

comprados por mim, à ordem de V. Exc. E os objetos de ensino me foram

entregues na Secretaria de Estado da Instrucção Publica (PARÁ. Relatório

de Aristides dos Reis e Silva, 1904, p.621).

Havia a circulação de artefatos escolares entre as instituições educativas do Pará,

gerando uma ressignificação de artefatos que compunham a cultura material escolar de outras

instituições educativas: os objetos das escolas isoladas agrupadas passavam a pertencer ao

grupo escolar. Quando os grupos escolares da capital renovavam a sua mobília, transferiam a

usada para os grupos ou escolas isoladas do interior. Isto nos ajuda a compreender a ideia de

continuidade e mudança nos elementos constitutivos da cultura escolar, pois o “novo” traz em

si elementos inéditos, mas mantém em sua essência elementos do velho. Para Julia (2001,

p.32), “as heranças do passado, [...] se desfazem muito lentamente”, continuando presente por

longos anos em culturas que repetidas vezes tendem a negar a sua presença, como é o caso

dos grupos escolares, que mesmo sendo considerado moderno, carregavam elementos

culturais da escola isolada, considerada símbolo do atraso pelos republicanos.

Nas palavras de Peres e Souza (2013, p. 56) a cultura material escolar é “o conjunto

dos artefatos materiais em circulação e [de] uso nas escolas, mediados pela relação

pedagógica, que é intrinsecamente humana, revelador da dimensão social”. A definição de

determinado artefato como escolar depende da intencionalidade e do uso em determinados

períodos históricos (SOUZA, 2007). Portanto, para entender a cultura material escolar,

precisa-se ir além do estudo do artefato, pois os significados de cada objeto advém das

“condutas, valores e sentidos atribuídos pelos sujeitos que deles fazem uso” (PERES E

SOUZA, 2013, p. 55-56). É o ser humano que dá funcionalidade aos objetos de acordo com

suas necessidades. Por isso, muitos artefatos do cotidiano doméstico (como: armários, mesas

cadeiras, dentre outros) passaram a ser utilizados nas escolas.

80

Os Regulamentos do ensino primário que regeram o Grupo Escolar de Igarapé-Miri

entre os anos 1904 a 1943, foram os de 1903, 1910, 1931 e 1934. Na vigência do

Regulamento do ensino primário de 1918 este estabelecimento encontrava-se desativado.

Quando esta instituição foi reinaugurada em 1937, o Regulamento do ensino primário em

vigor no estado do Pará era o de 1934, entretanto em Igarapé-Miri ainda seguia-se o

Regulamento de 1931, conforme se observa no ofício nº 63, de 02 de março de 1939, enviado

pelo presidente do Conselho Escolar de Igarapé-Miri, Antonio Augusto de Mesquita, ao

Diretor de educação e cultura do Estado do Pará, onde foi solicitado o Regulamento do ensino

primário de 1934, que ainda não havia sido entregue para ao Conselho Escolar de Igarapé-

Miri.

Não tendo, até hoje, recebido um exemplar do impresso no qual consta o

Decreto n. 1.163, de 8 de janeiro, que dá nova organização ao ensino

primário, - venho reiterar a V. Excia. a minha solicitação contida no oficio

desta Prefeitura, sob n. 69, datado de 12 de setembro do ano passado.

De posse desse decreto, poderei melhor controlar as atividades concernentes

ao Conselho Escolar, do qual sou o Presidente nêste municipio (OFÍCIO, nº

63/1939).

Devido esta constatação utilizarei como fontes os regulamentos de ensino primário de

1903 e 1931, sem, contudo, deixar de fazer referência aos demais regulamentos quando a

discussão assim o exigir.

Quando o Grupo Escolar de Igarapé-Miri surgiu em 1904, a instrução pública no Pará

ofertava apenas o primário, que era ministrado nos grupos escolares e nas escolas isoladas

(PARÁ. Regulamento geral do ensino primário, 1903). Entretanto, em 1937 quando foi

reinstalado este grupo escolar, a instrução pública dividia-se nas seguintes modalidades:

infantil e primária. O ensino infantil era ministrado nos cursos do Jardim de Infância para

crianças de 4 a 6 anos de idade. O ensino primário, obrigatório para crianças de 7 a 14 anos,

era ministrado nos seguintes cursos: integral distribuído em 5 anos nos grupos escolares;

elementar ministrado em 3 anos nas escolas reunidas, isoladas e auxiliares suburbanas;

popular11 fornecido em 2 anos no ensino noturno e o especial ministrado para “débeis

orgânicos e retardados pedagógicos”, sem duração temporal específica. (PARÁ.

Regulamento do ensino primário do Pará, 1934).

Conforme os termos de exames dos alunos de 1937 a 1939, durante este período esta

instituição funcionou com 6 turmas: Classe preliminar (ensino infantil), 1º, 2º, 3º e 4º e 5º

11 A nomenclatura “Ensino Popular” aparece no Regulamento do Ensino Primário do Pará de 1934 designando o

ensino noturno destinados a jovens e adultos.

81

anos do curso integral. E à noite cedia uma sala à prefeitura para o funcionamento de uma

turma do ensino popular, para alunos com distorção idade-série.

Feito as devidas considerações passemos agora para o estudo desta seção, onde o

diálogo perpassa pelos atores formadores, e ao mesmo tempo formados no grupo escolar. A

discursão se faz em torno do deslindamento dos atores históricos do Grupo Escolar de

Igarapé-Miri, seus direitos e deveres regulamentados em lei, buscando captar as práticas

cotidianas destes sujeitos: diretores, professores, alunos, vigias e serventes.

3.1 – ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI

O progresso e crédito de um grupo escolar posso affirmal-o sem temor de

erro, dependem exclusivamente da competência, de bôa orientação, do

critério, pratica e dedicação do seu diretor (PARÁ. Relatório de João Pereira

de Castro, 1907, p. 380-1).

No relatório do inspetor escolar João Pereira de Castro de junho de 1907, fica evidente

que o sucesso ou insucesso de um grupo escolar dependia única e exclusivamente do seu

diretor. Nas palavras do inspetor, um diretor competente e dedicado levaria o grupo escolar ao

progresso, o contrário lhe conduziria a decadência. A impressão que paira no ar, é que os

demais membros do grupo escolar (professores, alunos, vigias e serventes), seriam meros

coadjuvantes em um ambiente, cujo diretor seria o ator principal.

No Relatório do inspetor Hilario Maximo de Sant’Anna apresentado a Genuino

Amazonas de Figueiredo, Secretário de Justiça, Interior e Instrução Pública, são ressaltados

que os bons resultados apresentados pelo Grupo Escolar de Igarapé-Miri em 1905, devem-se

ao trabalho desenvolvido pelo seu diretor, Aristides dos Reis e Silva:

D’entre os grupos escolares por mim inspecionados, aquelle que,

relativamente ao tempo de sua fundação, apresenta melhores resultados é,

incontestavelmente, o de Igarapé-Miry.

Este facto é devidamente aos esforços e dedicação do seu diretor, o sr.

Aristides Silva, que tem sido até hoje um bom auxiliar da administração de

V. Exc. (PARÁ. Relatório de Hilario Maximo de Sant’Anna, 1905, p. 16).

A função do diretor escolar está diretamente ligada à existência do grupo escolar, já

que foram criados juntos. De acordo com o Regimento interno dos grupos escolares de 190412

e os Regulamentos do ensino primário do estado do Pará de 1903, 1910, 1931 e 1934, cada

grupo escolar teria um diretor nomeado pelo Governo do Estado, estabelecendo que este

12 O Regimento interno dos grupos escolares de 1904 foi o único localizado durante a pesquisa.

82

cargo seria ocupado preferencialmente por professores normalistas. No regulamento do ensino

primário do Pará de 1903, além dos professores normalista, poderiam ser nomeados os

bacharéis. Ao diretor competia representar oficialmente o grupo escolar na sociedade,

inspecionar e fiscalizar o trabalho administrativo e pedagógico do grupo escolar, fazendo-se

cumprir as instruções que recebeu do Secretário de estado da instrução pública: organizar e

conservar a escola, realizar a matrícula com auxílio dos professores, submeter os alunos aos

estudos e exames avaliativos, eram algumas funções do diretor escolar. (PARÁ.

Regulamentos do ensino primário, 1903; 1910; 1931 e 1934; PARÁ. Regimento interno dos

grupos escolares, 1904).

O Regulamento do ensino primário de 1934 trouxe outras atribuições ao diretor, tais

como: assumir a sala de aula caso o professor faltasse e não houvesse professor para substituí-

lo; cuidar da higiene e saúde das crianças, promover a criação dos Círculos dos Pais, para que

os pais se interessasse pela educação de seus filhos; eram proibidos os diretores dos grupos

dos interiores, afastarem-se (durante o ano todo, inclusive nas férias) das sedes dos

municípios onde os grupos estavam instalados, sem autorização do diretor geral da educação e

ensino púbico (PARÁ. Regulamento do ensino primário, 1934).

Segundo Coelho (2008, p. 156), as funções do diretor seriam: “Organizar, coordenar,

fiscalizar e dirigir as atividades do grupo escolar”, afim de “estabelecer uma ordem

administrativa e pedagógica que alcançava, também, a questão da mobilização e da

civilização do povo”. A função do diretor seria fundamentalmente organizar, coordenar,

fiscalizar e inspecionar o ensino, portanto este era os olhos vigilantes e punitivos, ou seja, de

controle do estado na localidade. Para as pessoas influentes da comunidade ter uma boa

relação com o diretor do grupo escolar, poderia significar uma boa relação com o grupo

político situacionista.

O diretor era o principal responsável pelo grupo escolar perante o poder público e

tornou-se porta voz dos professores perante as instâncias superiores. Ele era a autoridade

máxima na escola e representante do estado na localidade. “A autoridade do diretor foi

construída sobre a encarnação do poder do Estado, como legítimo representante do governo

no âmbito de sua competência” (SOUZA, 1998, p. 78). Quando o governador nomeava um

diretor estava lhe atribuindo poderes e status social, pois a direção do grupo escolar era

autoridade dentro e fora dos muros da escola.

O diretor era comunicado oficialmente quando um prefeito assumia a administração

municipal. Em 09 de maio de 1945, Raimundo Monteiro Lopes, ao assumir a administração

83

municipal, comunicou via ofício circular à diretora do Grupo Escolar de Igarapé-Miri,

Predicanda Carneiro de Amorim Lopes, demonstrando o poder do diretor na comunidade:

Tenho a honra de comunicar a V. S. que nesta data assumi o exercício o

cargo de Prefeito Municipal deste município, [...]

Nessas funções, apraz-me manter as relações de cordialidade já existente

entre esta Prefeitura e V. S. para o bom desempenho do serviço público neste

município.

Prevaleço-me do ensejo para apresentar a V. S. os meus protestos de elevado

apreço e distinguida consideração (OFÍCIO CIRCULAR, s/n/1945).

Além da diretora, este ofício também foi enviado para o juiz, o promotor, o coletor

estadual, delegado de polícia, agente postal, vigário e os escrivãos do 1º e 2º ofícios. Somente

as autoridades estaduais que atuavam no município foram comunicadas oficialmente sobre a

posse do novo chefe do executivo municipal. A diretora, portanto, retratava o poder do estado

na localidade.

A fiscalização que o diretor exercia sobre os professores poderia causar mal-estar com

alguns professores, haja vista que ao diretor competia “comparecer diariamente às aulas,

assistindo as licções dos professores, interrogando os alunos, e fiscalizando a perfeita

execução do programma de ensino e a fiel observância do horário das aulas” (PARÁ.

Regimento interno dos grupos escolares, 1904, p. 52). O diretor determinava mudanças na

organização da sala de aula e na metodologia do professor, conforme declarou o diretor

Aristides no seu relatório de 1904: “Havendo entre todas as carteiras, uma mais baixas que

outras, coloquei aquellas na frente destas e ali fiz a arrumação dos alunos menores, pondo

para traz os maiores, na proporção das alturas [...]” (PARÁ. Relatório de Aristides dos Reis e

Silva, 1904, p 618). Nos primórdios do grupo escolar no Pará, o controle e fiscalização do

trabalho do professor pelo diretor era regulamentado em lei, mas poderia ser uma deliberação

administrativa mal vista pelos funcionários.

Outra função do diretor, que não era bem vista pelos funcionários, era o envio de faltas

para instâncias superiores. Em 16 de maio de 1962, a diretora do Grupo Escolar de Igarapé-

Miri, Ana da Trindade Almeida, relatou no livro de ocorrência da escola, um desacato a sua

pessoa, desferida pela servente Dulia Maria Pantoja, em virtude do envio de faltas da referida

funcionária. A diretora fez o seguinte registro:

Considerando que a falta de cumprimento de dever da referida servente vem

abalar a conduta disciplinar dos demais funcionários.

Considerando que quando a Diretora infra assinada, ao entrar neste

estabelecimento, foi desacatada em pleno recinto da Diretoria, pela dita

servente [...] com modos grosseiros, e em voz alta escandalosamente,

84

despertando a atenção dos que passavam no momento e da vizinhança,

exigindo satisfação da desaprovação da Diretora pela sua falta.

Considerando que ao ser repelida, a dita servente exclamou: “Agora me

suspenda se quiser”.

Considerando tamanha falta de respeito da referida servente à sua superiora

hierárquica, como Diretora deste estabelecimento de ensino.

Considerando, entretanto, que a aludida servente cometeu falta primária,

estando, portanto, incursa no inc. I do art. 181 do estatuto dos Funcionários

do estado e dos municípios (IGARAPÉ-MIRI. Livro de ocorrência, 1962).

Parte deste livro de ocorrência está deteriorado para acompanhar as penalidades

impostas à servente, Dulia Maria Pantoja, e o desenrolar desta história. Relata a diretora Ana

Almeida, no dia 28 de junho de 1962 no mesmo livro de ocorrência, que a servente foi

reprendida por escrito, mas que se recusou a assinar a portaria de repreensão, e que esta

recusa constituiu-se em falta grave, pois negar-se em aceitar uma determinação de instâncias

superiores, significava desrespeitar a autoridade do chefe imediato:

A diretora deste Estabelecimento de Ensino usando de suas atribuições faz

cientificar ao Corpo Docente e Discente dêste mesmo Departamento a

seguinte certidão:

Em virtude de que a servente Dulia Maria Pantoja tinha se portado com

maneiras desrespeitadas com a mesma, mas mesmo assim mediante seu

procedimento irregular mas não querendo lhe prejudicar embora que a lei

assim lhe permitisse, de acordo com o Estatuto dos Funcionários Públicos

recorreu somente a pena mínima que uma Repreensão por escrito cuja

serventuosa faltas negou a dar o ciênte.

Considerando que após a essa negativa já tinha sido observada pela Diretora

dêste mesmo Departamento continuando a dita servente no mesmo propósito

e a Diretora não podendo mais a sua disposição;

Considerando que desconhece essa sua atitude que seja por temeridade ou

desobediência:

Resolve:

Certificar êsse seu procedimento que se tratava porém uma rotina para a sua

folha corrida de serventeria estadual, porque o funcionário público jamais

deve negar a dar ciente em portaria baixada pelo chefe de Repartição.

Registre-se, dê-se ciência e cumpra-se (IGARAPÉ-MIRI. Livro de

ocorrência, 1962).

Com base em Elmore (1987), a autoridade advém de uma relação de reciprocidade,

onde a legitimidade é baseada em uma reconhecida desigualdade. A aceitação dessa

desigualdade pode ser oriunda de vários elementos sociais: acordo, represália, tradição,

respeito pelo conhecimento ou competência, regras formais, dentre outros. Assim, a

legitimidade existe ou deixa de existir à medida que esses elementos são reconhecidos ou não,

por aqueles que estão nessa relação hierárquica. Na instituição escolar a autoridade se

estabelece em níveis diferenciados de poder, gerando a hierarquia institucional que se reflete

na hierarquia social.

85

Como já foi destacado anteriormente, o diretor era uma autoridade oficial do estado no

município. Por isso, na escola, discutir com o diretor representava desacato à autoridade.

Percebe-se nestes relatos, dois lados opostos de uma mesma trama social: poder e resistência.

A diretora tentando impor o seu poder e a servente tentando resistir à ordem institucional.

Segundo Foucault (1997) o poder acontece de maneira circular, portanto não pertence

exclusivamente a ninguém. Todo ser humano exerce um determinado poder, e ao mesmo

tempo, sofre a ação do poder exercido por outros.

[...] Não se tem neste caso uma força que seria inteiramente dada a alguém e que

este alguém exerceria isoladamente, totalmente sobre os outros; é uma máquina que

circunscreve todo mundo, tanto aqueles que exercem o poder quanto aqueles sobre

os quais o poder se exerce. [...] o poder não é substancialmente identificado com um

indivíduo que o possuiria ou que exerceria devido o seu nascimento, ele torna-se

uma maquinaria de que ninguém é titular (FOUCAULT, 1997, p. 219).

Sendo o poder uma maquinaria, ninguém pode se considerar dono de determinado

cargo estatal. Este poder que o indivíduo exerce não se identifica a sua pessoa em particular,

mas a máquina pública que o delegou. Portanto, quem exerceu a função de diretor em um

determinado período, em outro foi professor ou vice-e-versa, dependendo da situação política.

O poder que povoava a imagem do diretor pode ser exemplificado no fechamento da

ata do termo de exame de passagem da Primeira Escola Elementar da secção masculina,

realizada no dia 14 de outubro de 1910: “Terminado os exames o senhor Diretor, mandou a

mim Estephania da Costa Borges de Carvalho, examinadora servindo de secretaria que

lavrasse a presente ata [...]” (IGARAPÉ-MIRI. Termo de exames, 1955, p. s/n). O diretor é

representado como aquele que tem autoridade sobre os funcionários da escola, pois é

revestido pelo poder do estado. Assim, aqueles que discordassem da sua autoridade estariam

questionando o próprio governo republicano, pois o seu poder emanava do estado.

O Grupo Escolar de Igarapé-Miri teve 10 diretores entre os anos de 1904 a 1963,

conforme o quadro (7).

Quadro 07: Diretores do Grupo Escolar de Igarapé-Miri nos anos 1904-1963: formação

e origem

Nº NOME FORMAÇÃO ORIGEM ANO DE ATUAÇÃO

01 Aristides dos Reis e Silva Leigo Abaetetuba 1904-1910

02 Manoel Victorio Ribeiro Machado ? ? 1911-1912

03 Predicanda Carneiro de Amorim Lopes Normalista Belém 1937-1945

04 Raimunda Tocantins Lobato ? Abaetetuba 1º semestre de 1941

05 Euvaldira Brandão Pinheiro Normalista Belém Um período em 1942

86

06 Oscarina Sosinho Martins e Silva ? Belém 1946

07 Adalgisa Maria Batista de Miranda Normalista Belém 1947-1948

08 Helena Ferreira Normalista Belém 1949-1950

09 Euvaldira Brandão Pinheiro Normalista Belém 1951

10 Doralice de Oliveira Fonseca Normalista Belém 1952

11 Ana da Trindade Almeida Leiga Abaetetuba 1953-1955

12 Adalgisa Maria Batista de Miranda Normalista Belém 1956-1960

13 Ana da Trindade Almeida Leiga Abaetetuba 1961-1963

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos termos de exames dos anos 1904 a 1955 e livro de ocorrência de 1959

a 1962.

Optou-se em estender a lista dos diretores até 1963 pelo motivo que nesta data

terminou o segundo mandato da diretora Ana da Trindade Almeida (1961-1963) e o livro de

ocorrência deste período foi fundamental para compreendermos aspectos relevantes do

cotidiano deste grupo escolar.

No quadro dos diretores destaca-se: gênero, formação, origem e ano de atuação. Dos

10 diretores, apenas os dois primeiros eram do gênero masculino. Refiro-me a 10 diretores,

porque 3 administraram o grupo em dois períodos: Adalgisa Maria Batista de Miranda (1947-

1948 e 1956-1960), Euvaldira Brandão Pinheiro (1942 e 1951) e Ana da Trindade Almeida

(1953-1955 e 1961-1963). Quanto à origem: 6 eram de Belém, 3 de Abaetetuba e 1 sem

identificação da origem. Os diretores tinham a seguinte formação: 5 eram normalistas, 2 eram

leigos e 3 de formação desconhecida.

Como não se tem a pretensão de traçar o perfil de cada diretor do Grupo Escolar de

Igarapé-Miri, serão citados apenas os que atuaram na instituição por períodos mais longos:

Aristides dos Reis e Silva (6 anos), Predicanda Carneiro de Amorim Lopes (9 anos), Ana da

Trindade Almeida (6 anos) e Adalgisa Maria Batista de Miranda (7 anos).

Na inspeção escolar de 1905, João Pereira de Castro, avaliou o trabalho do diretor

Aristides dos Reis e Silva como competente, zeloso, criterioso, ordeiro, organizado, asseado e

devoto a sua função.

Competente e conscientemente dirigido pelo sr. Aristides dos Reis e Silva,

moço de incontestaveis habilitações e alto criterio, optima orientação e muito

devotamento ao trabalho, há este estabelecimento tomado logar condigno e

honroso á vanguarda de seus melhores congeneres.

A escripturação oficial, a cargo da directoria, é zelosamente confeccionada,

achando-se em dia e no mais rigoroso asseio e ordem (PARÁ. Relatório de

João Pereira de Castro, 1906, p. 20).

87

A diretora Predicanda Carneiro de Amorim Lopes é considerada uma das precursoras

da educação primária no Amapá, isso graças às experiências adquiridas no magistério no

estado do Pará, notadamente em Igarapé-Miri.

Figura 13: Predicanda Carneiro de Amorim Lopes

Fonte: PORTA RETRATO. Blogspot, 2017

Predicanda Carneiro de Amorim Lopes nasceu em 20 de agosto de 1908 em Belém,

capital do Estado do Pará. Estudou na Escola Normal em Belém na década de 1920 e conclui

o curso de normalista em 1928, com apenas 20 anos de idade. Em 19 de fevereiro de 1929,

Predicanda Amorim foi nomeada professora do Grupo Escolar de Soure, Pará. Posteriormente

foi transferida para o Grupo Escolar José Veríssimo, em Belém. Em 1937 assumiu a direção

do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, onde atuou como diretora e professora até 1945, quando

retornou ao grupo Escolar José Veríssimo, na capital (PORTA RETRATO. Blogspot, 2017).

Durante esses anos em que esteve em Igarapé-Miri, Predicanda de Amorim foi

secretária do Conselho Escolar desta cidade. Em 7 de junho de 1947, o governador do Estado

do Pará a pedido de Predicanda a exonerou do cargo de professora do Grupo Escolar José

Veríssimo. Ela solicitou sua exoneração para acompanhar seu esposo Lourenço Monteiro

Lopes (vulgo Lulu Arara) que havia sido transferido para o Território do Amapá.

88

Neste período, foi enviada para o Instituto de Educação, no Território Federal do

Amapá13, onde depois de atuar nas séries iniciais, exerceu os cargos de secretária e diretora

desse instituto. Afastou-se do trabalho para se aposentar em 1961 e faleceu em 1982, com 74

anos de idade. Como reconhecimento pelo seu trabalho no Amapá, foi inaugurada em 09 de

agosto de 1976 a Escola Predicanda Amorim Lopes. (BARBOSA, 1997; O LIBERAL,

09/06/1947).

Ana da Trindade Almeida foi diretora do Grupo Escolar de Igarapé-Miri em dois

períodos: 1953-1955 e 1961-1963. Foi a única diretora até 1963 desta instituição educativa,

que efetivamente se erradicou em Igarapé-Miri. Nasceu no município de Abaetetuba e

dedicou-se à educação em Igarapé-Miri até o seu falecimento.

Figura 14: Ana da Trindade Almeida

Fonte: LOBATO E SOARES, 2001

A diretora e professora Ana da Trindade Almeida nasceu em 1º de janeiro de 1900 e

faleceu em 02 de junho de 1978 em Belém, Pará. Foi aluna da professora Eulina da

Purificação Cardoso, com quem aprendeu a ler e escrever. Residia à Rua 15 de novembro, no

segundo prédio que sediou o grupo escolar da cidade, que era propriedade de sua família

(LOBATO E SORES, 2001).

13 O Território Federal do Amapá (TFA) foi instituído em 13 de setembro de 1943 pelo decreto-lei 5.812. Com a

Constituição Federal de 1988 foi criado o Estado do Amapá (https://pt.wikipedia.org/wiki/Amapá).

89

Como professora, atuou em várias localidades do município, começou a dar aulas

particulares em sua residência. Em 1930 lecionou na Casa Vale e no Rio Panacauera (escolas

pertencentes ao meio rural de Igarapé-Miri). E em 1932 trabalhou na Escola Isolada Mista de

Igarapé-Miri, ao mesmo tempo em que lecionava em sua residência. Em 1937 começou a

trabalharar como professora adjunta do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, paga com recursos

municipais (a partir de 1938), demonstrando que poderia haver funcionários no grupo escolar

contratados e custeados pelo município e não somente pelo estado, o fiel mantenedor desta

modalidade de ensino (IGARAPÉ-MIRI. Decreto nº 20, 1938)14.

Ana Almeida dedicou parte de sua vida à educação de crianças no Grupo Escolar da

cidade de Igarapé-Miri: Foi professora deste grupo entre 1937 a 1940, 1950 e 1951, bem

como diretora nos anos 1953 a 1955 e 1961 a 1963. Em sua homenagem, foi construída uma

pequena escola na década de 1970 (já extinta) e batizada uma pequena rua na cidade de

Igarapé-Miri. A Escola Estadual Professora Ana Almeida ficava localizada à travessa de

mesmo nome, esquina com a 15 de Novembro, no Bairro da Matinha, em Igarapé-Miri, Pará.

(LOBATO, 2007; ROCHA. Blogspot, 2017).

A professora Adalgisa Maria Batista de Miranda era natural de Belém, Pará e foi a

única diretora negra dessa instituição. Em Igarapé-Miri casou-se com Raimundo Miranda

Henrique, brasileiro, ex-padre formado na Bélgica, com quem teve um filho. Por motivos

políticos, Adalgisa foi transferida a Belém, e posteriormente se aposentou. Foi funcionária do

Grupo Escolar de Igarapé-Miri entre os anos 1947 a 1960 (L.P.F., 2017).

No início da década de 1950, Adalgisa Batista era professora de uma escola particular

que funcionava em sua casa, localizada à Rua Rui Barbosa, próximo ao Grupo Velho. Em 24

de agosto de 1954, a professora Adalgisa ganhou da Câmara municipal de Igarapé-Miri o

direito de receber um auxílio monetário como professora particular, pois segundo ela, as

mensalidades pagas eram baixas devido à população ser carente. Conforme Adalgisa, a ajuda

econômica do município seria necessária porque ela se dedicava a combater o analfabetismo,

preparando as crianças que seriam o futuro da nação.

[...] e como este é um dos fatores mais importante da nossa Patria a luta

contra o analfabetismo é a rasão porque venho antes os espiritos justiceiros

de V. Excias solicitar um auxilio monetario por parte do Municipio, que

nada vem onerar os cofres municipais, uma vez que já frisei venho

14 O Decreto nº 20 de 07 de abril de 1938 definiu a gratificação mensal de 190$000 (cento e noventa mil réis) da

prefeitura municipal de Igarapé-Miri a professora adjunta Ana da Trindade Almeida, nomeada desde maio de

1937 como auxiliar da cadeira de 1º ano.

90

empregando esforços para combater esse microbio reinante em nosso paiz,

que é o analfabetismo, preparando os homens de amanhã que muito vem ser

util a terra e a pátria (OFÍCIO, nº 112/1954).

A primeira fase (1904-1912) do Grupo Escolar de Igarapé-Miri foi marcada somente

por diretores, enquanto que a segunda (1937-1949) e terceira (1949-1971) por diretoras e

professoras, demonstrando que a feminização que ocorria no magistério no âmbito da sala de

aula, ampliou-se também para os cargos de chefia da educação escolar15.

A história destes diretores nos permite compreender a dedicação quase exclusiva que

eles atribuíam à educação escolar. A escola era a extensão de sua casa e a vida profissional

uma vocação “sacerdotal”. Estas características também podem ser observadas na maioria dos

professores que veremos a seguir.

3.2 - PROFESSORES

O PROFESSOR

Na sua cadeira de educador, o mestre recebe a visita de um deus: é a Pátria

que se instala no seu espírito.

O professor, quando professor, sente na sua individualidade a Pátria visível e

palpável, raciocinando no seu cérebro e falando pela sua boca. A palavra,

que ele dá ao discípulo, é como a hóstia que, no templo, o sacerdote dá ao

comungante. É a Eucaristia Cívica.

Na lição, há a transubstanciação do corpo, do sangue, da alma de toda a

nacionalidade (BILAC, 1957, p.16).

O texto “O professor” de Olavo Bilac, publicado no livro “Páginas Brasileiras, de

Ester Nunes Bibas, em 1957, associa a imagem do professor a de um sacerdote católico,

criando as seguintes analogias: Deus é a Pátria, os discípulos são os alunos, a hóstia é a

palavra (a eucaristia cívica), o templo é a escola, o lugar sagrado onde ocorre o rito da

transubstanciação através do estudo diário, quando se cria a alma da nacionalidade brasileira.

O professor exerce, então, uma função sagrada, onde deve falar com amor daquilo que o

coração está cheio, ou seja, da Pátria.

Segundo o deputado estadual do Pará, Andrade Pinheiro, em discurso proferido em 24

de outubro de 1911 à Câmara dos Deputados do Estado do Pará, é nos grupos escolares que os

professores podem exercer mais facilmente a sublime missão de educar, já que estas

instituições eram o centro de convergência de energias positivas dos mestres e discípulos em

15 Sobre a feminização do magistério discutiremos no decorrer desta seção.

91

torno de um projeto comum, visando à melhoria da instrução pública primária. Os grupos

escolares seriam a síntese dos esforços em torno da melhoria da instrução pública no estado.

Os grupos escholares têm a grande vantagem de reunir e coadunar os

esforços communs e reciprocos dos professores para o bem geral da

instrucção dos meninos, de constituirem um centro para onde convergem as

energias dos mestres e dos discípulos, de facilitar mais os professores a sua

sublime missão, o labutar quotidiano e conjuncto, de onde provêm o

estimulo, o estudo e a dedicação, proprios de fomentar o processo e o ensino

methodico das disciplinas das varias cadeiras, e para cumprimento, enfim,

mais rigoroso de seus deveres (ESTADO DO PARÁ. Discurso proferido por

Andrade Pinheiro, 1911, p. 01).

Chamados também de lentes ou donos das cadeiras, os professores primários recebiam

nomenclaturas diferentes “quanto à natureza dos provimentos”: efetivos, em comissão,

interinos e substitutos. De acordo com o Regulamento geral do ensino primário de 1903,

capítulo IV, artigo 65, 79 e 82 § único estas quatro classes de professores poderiam ser assim

definidas: Eram considerados “efetivos” os professores normalistas e na falta destes, os não

normalistas com no mínimo cinco anos de exercício de profissão no magistério16. Aos

professores não normalistas era vedada a nomeação como efetivo nos grupos escolares e nas

escolas da capital; eram considerados “em comissão” os professores efetivos que estivessem

regendo provisoriamente alguma escola (classe) superior vaga; os “interinos” seriam os

professores normalistas ou não normalistas que regessem interinamente (temporariamente)

escolas vagas; e os substitutos seriam aqueles que substituíssem os professores durante os

seus impedimentos (PARÁ. Regulamento do ensino primário, 1903).

O capítulo X, artigo 69 do Regulamento do ensino primário do Pará de 1934

considerava para efeito de salário as seguintes nomenclaturas para os professores primários:

efetivos, em comissão e interinos. Os “efetivos” eram os professores normalistas nomeados à

1ª e 2ª entrâncias ou concursado à 3ª, os não normalistas nomeados até 31 de março de 1931,

e os não normalistas que regessem escolas de 1ª entrância ou auxiliares. Os professores “em

comissão” eram os de 1ª e 2ª entrâncias17 nomeados para escolas de 2ª e 3ª entrâncias

respectivamente, para substituir professores afastados do cargo. E os “interinos” eram os

professores nomeados para substituir os efetivos que estivessem impedidos de assumir os seus

16 No Regulamento geral do ensino primário do Pará de 1903, para ser professor efetivo não havia submissão a

concurso público, mas deveria ser diplomado pela Escola Normal, ou caso não fosse normalista deveria possuir

mais de 5 anos de efetivo exercício no magistério (capítulo IV, artigos 65, §1 e 79). 17 Conforme o artigo 80, do Regulamento geral do ensino primário de 1903, para efeito de vencimento salarial

dos funcionários públicos da educação, o estado do Pará classificou as escolas primárias em três entrâncias:

faziam parte da 1ª entrância as escolas localizadas nas vilas, na 2ª entrância as instaladas nas cidades interioranas

e na 3ª as escolas existentes na capital do estado.

92

cargos e os que assumiam vagas existentes até o preenchimento definitivo (PARÁ.

Regulamento do ensino primário, 1934).

Quais os requisitos necessários para poder exercer o magistério público no estado do

Pará?

Segundo o capítulo IV, artigo 76 do Regulamento geral do ensino primário do Pará de

1903: ser brasileiro, não ter sido condenado judicialmente, não sofrer doenças contagiosas ou

ter defeito físico que o impedisse de exercer a profissão, a idade mínima exigida às mulheres

era 18 e aos homens 20 anos de idade (caso não fossem casados), ser titulado pela escola

Normal e ter seu diploma registrado na Secretaria de Estado da Instrução Pública e não sido

afastado do magistério por condenação administrativa (PARÁ. Regulamento do ensino

primário, 1903).

Com base no capítulo IX, artigo 62 do Regulamento do ensino primário do Pará de

1934, os requisitos para ser admitido ao magistério no Estado do Pará eram: ser cidadão

brasileiro, ter 18 anos, não sofrer doenças contagiosas como lepra, sífilis, epilepsia,

tuberculose, esteria (felicidade e loucura) e tracoma; ser formado na Escola Normal ou

institutos equiparados de outros estados, não sofrer problemas físicos que o impedisse de

exercer o magistério, não possuir ficha criminal, ser aprovado em concurso público (PARÁ.

Regulamento do ensino primário, 1934).

De acordo com o Regimento interno dos grupos escolares de 1904 e os Regulamentos

do ensino primário do Estado do Pará de 1903, 1910, 1931 e 1934, os professores dos grupos

escolares tinham as seguintes funções: Ser pontual às aulas, vestir-se adequadamente durante

a sua função de docente, fazer a chamada diária no início das aulas, ministrar as aulas pelos

compêndios e livros devidamente aprovados pelo Conselho da instrução pública, explicar as

lições, zelar pela ordem e disciplina no estabelecimento, dedicar-se ao aprendizado das

crianças tratando-os de maneira igual (louvando as melhores e admoestando as negligentes),

aplicar a seus discípulos as correções disciplinares, ser exemplo de moralidade e conduta para

os alunos, lançar as notas de lições e comportamentos dos alunos na caderneta, organizar os

mapas de matrícula e frequência trimestral, comparecer nos exames, fazer parte da comissão

examinadora e solenidades do grupo, cumprir as ordens de seus superiores, dar ao rito dos

exames caráter festivo, dentre outros (PARÁ. Regulamentos do ensino primário, 1903; 1910;

1931 e 1934; PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares, 1904).

93

Quais os professores que trabalharam no Grupo Escolar de Igarapé-Miri entre os anos

1904 a 1943?18

Entre 1904 e 1912 foram nomeados para o Grupo Escolar de Igarapé-Miri 11

professores, sendo oito efetivos, dois substitutos e uma adjunta, conforme o quadro (08).

Quadro 08: Professores nomeados para o Grupo Escolar de Igarapé-Miri nos anos 1904

a 1912: Formação e origem

Nº NOME FORMAÇÃO ORIGEM ESCOLA

01 Francisco Delgado Leão Normalista Belém 1ª escola elementar, secção

masculina

02 Estephania da Costa Borges de Carvalho Leiga Belém 1ª escola elementar, secção

feminina

03 Eudoxia de Jesus Alves (até 1907). Normalista Belém

2ª escola elementar, secção

masculina 04 Francisca de Castro Paes (substituta em

1906)

? Belém

05 Sancha Ferreira Bentes (até 1910). Normalista Belém

06 Lafayette Palmeira (substituto no início

de 1908).

? Belém

07 Edelvira do Carmo Cardoso (1911) Normalista Belém

08 Braulio Jesus de Mendonça (1912) Normalista Belém

09 Eulina da Purificação Cardoso Normalista Belém 2ª escola elementar, seção

feminina 10 Edelmira do Carmo Cardoso (adjunta) ? Belém

11 Estellita Gonçalves Coêlho Normalista Belém Escola complementar mixta

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos termos de classificação dos alunos de 1904 a 1910; Frequência dos

funcionários de 1907 a 1912 e Revista Boletim Official de 1907.

Com base no quadro (08), constatamos que entre 1904 a 1912 foram nomeados 11

professores para trabalhar no Grupo Escolar de Igarapé-Miri. Todos eram oriundos de Belém

e a maioria formada na Escola Normal (7 normalista, 1 leiga e 3 sem formação declarada).

No relatório de inspeção de 1905, o inspetor Hilario Maximo de Sant’Anna, apresenta

uma avaliação do trabalho dos professores do Grupo Escolar de Igarapé-Miri: Estephania da

Costa Borges de Carvalho, Eudoxia de Jesus Alves, Eulina da Purificação Cardoso e

Francisco Delgado Leão.

18As informações sobre os professores foram captadas nos resultados de exames avaliativos dos alunos. Entre

1904 e 1912 os exames eram realizados por escolas separadamente, dando destaque ao nome dos respectivos

professores. Entretanto a partir de 1937 os exames passaram a ser realizado por todos os alunos do grupo no

mesmo dia e posteriormente em uma semana, não sendo especificado a partir desta data o nome das professoras.

Devido este fato, não foi possível definir a partir de 1937 em qual turma as professoras atuavam.

94

De acordo com a avaliação do inspetor escolar Hilario Maximo de Sant’Anna, a

professora leiga Estephania da Costa Borges de Carvalho, da primeira escola elementar

feminina, seria uma profissional cumpridora de seus deveres com zelo e dedicação; a

professora Eulina da Purificação Cardoso, da segunda escola elementar feminina, apresentava

ordem em sua escola, desempenhava seus deveres com dedicação e vocação, mas o inspetor

considerou o seu trabalho regular; o trabalho de Francisco Delgado Leão, professor da

primeira escola elementar masculina, também foi considerado regular. Observava o inspetor

que o referido docente deveria melhorar as suas habilidades como professor; Eudoxia de Jesus

Alves, professora da segunda escola elementar masculina, foi avaliado pelo inspetor como

sofrível, pois sua turma tinha pouca ordem o que obrigava o diretor fazê-la funcionar junto ao

seu gabinete. Ressaltava ainda o inspetor que Eudoxia era professora dos alunos menores,

cuja idade variava entre 6 a 9 anos (PARÁ. Relatório de Hilario Maximo de Sant’Anna,

1905).

O trabalho dos professores do Grupo Escolar de Igarapé-Miri voltou a ser avaliado em

1906, desta vez pelo inspetor escolar João Pereira de Castro. Foram avaliados: Francisca de

Castro Paes, Francisco Delgado Leão, Estellita Gonçalves Coêlho, Estephania da Costa

Borges de Carvalho e Eulina da Purificação Cardoso.

Conforme o inspetor escolar João Pereira de Castro, a professora Francisca de Castro

Paes, substituta da segunda escola elementar masculina, não possuía as características

necessárias para ser considerada uma boa professora, sendo avaliada como regular; o

professor Francisco Delgado Leão, da primeira escola elementar masculina, foi louvado pelo

inspetor como mantenedor da ordem em sua sala, devido ao aproveitamento de seus alunos,

por suas habilitações e método de ensino; Estellita Gonçalves Coêlho, regente da Escola

complementar mixta foi avaliada pelo inspetor como dedicada e de boa vontade para o

trabalho docente; Estephania da Costa Borges de Carvalho, da primeira escola elementar

feminina, foi avaliada pelo inspetor escolar como competente e criteriosa e a sua escola uma

das melhores do grupo, pois ensinava com amor e interesse as meninas; Eulina da Purificação

Cardoso, da segunda escola elementar feminina, foi elogiada pelo inspetor como alguém que

amava a profissão de professora, sendo assídua e cumpridora de seus deveres, entretanto suas

alunas apresentavam aproveitamento regular (PARÁ. Relatório de João Pereira de Castro,

1906).

Em junho de 1907 a escola foi novamente inspecionada por João Pereira de Castro que

fez a seguinte avaliação do trabalho dos professores: Estellita Coêlho foi considerada

habilitada e cumpridora de seus deveres, possuía boa escritura, seus alunos tiveram bom

95

aproveitamento escolar e possuíam disciplina e ordem; Francisco Delgado foi avaliado como

digno de ocupar a sua cadeira, pois seus alunos tinham bom aproveitamento e ele era

dedicado, competente e boa escrituração. Eudoxia Alves havia sido transferida para Marituba;

entretanto, o inspetor fez questão de registrar que ela foi uma boa professora enquanto esteve

neste grupo escolar; Estephania Carvalho considerada uma boa professora e Eulina da

Purificação Cardoso era assídua (PARÁ. Relatório de João Pereira de Castro, 1907).

Conforme o artigo 78 do Regimento interno dos grupos escolares do Pará de 1904 os

quesitos que deveriam ser avaliados pelos inspetores escolares eram os seguintes:

a) A ordem e o asseio do estabelecimento;

b) A assuduidade, dedicação e comprehensão de deveres dos funccionários;

c) A methodologia empregada pelos professores no ensino de suas aulas;

d) O aproveitamento dos alumnos, relativamente ao tempo de seu

aprendizado e frequência ás aulas;

e) A localisação e demais condições pedagógicas e hygienicas do prédio

escolar (PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares, 1904).

Os inspetores escolares seriam os fiscalizadores do estado, pois repassavam suas

avaliações ao secretário de estado da instrução pública e este ao governador do Pará sobre o

funcionamento das instituições educativas e o desempenho profissional de seus agentes.

Acredita-se que uma avaliação negativa do professor feita pelo inspetor escolar poderia

comprometer a imagem profissional do docente, dificultando transferências para instituições

desejadas pelo profissional.

As avaliações realizadas pelos inspetores escolares sobre o trabalho pedagógico dos

professores no Grupo Escolar de Igarapé-Miri entre os anos de 1905 e 1907 acabaram

produzindo um perfil desejável de professores. Estes deveriam ter competência profissional,

amor à docência, assiduidade, disciplina em sala de aula, dedicação, cumprimento das normas

escolares. A responsabilidade pelo mau desempenho da instituição recaia sobre os professores

e o diretor, isentando o estado. Problemas que dificultavam a aprendizagem dos alunos não

eram observados pelos inspetores, como as substituições temporárias de professores que

ocorriam geralmente por motivos de tratamento médico na capital do estado, como foi o caso

da substituição de Eudóxia Alves por Francisca Paes (PARÁ. Boletim official, 1907).

Ressalto que dos 10 professores do grupo escolar entre 1904 a 1912, apenas a cearense

Eulina da Purificação Cardoso permaneceu em Igarapé-Miri. Após a extinção em 1912 do

grupo escolar, Eulina Cardoso foi professora da escola isolada feminina, que inicialmente

funcionava à Rua Quintino Bocaiuva, onde hoje está localizado o Hospital Sant’Ana. Em

1930 a referida professora foi regente da Escola Isolada Mista de Igarapé-Miri, que nesta data

96

funcionava no prédio do antigo grupo escolar. Com o desmembramento da Escola Isolada

Mista em Escolas Isoladas Masculina e Feminina o nome da professora Eulina Cardoso não

apareceu mais, pois em 1934 a Escola Isolada Masculina, estava sendo ministrada pela

normalista Lucylinda Gonçalves Rosado (LOBATO E SOARES, 2011; IGARAPÉ-MIRI.

Termos de exames, 1935).

O ano de 1937 inaugurou um novo período no Grupo Escolar de Igarapé-Miri,

surgindo uma nova geração de professores. Entre 1937 e 1942 foram nomeadas 13

professoras para o Grupo Escolar de Igarapé-Miri. Não foi possível identificar a turma que

cada professor trabalhava, pois esta informação não consta nos resultados dos exames finais

deste período. A impressão que tenho é que aos poucos as professoras foram perdendo a

relação com uma determinada turma em especial, passando a serem professoras do grupo

escolar, podendo ser nomeadas para trabalharem em qualquer turma. Devido ocorrer

mudanças anuais, de professoras neste estabelecimento, optei em colocar um “X” para indicar

o ano em que a regente passou pela instituição.

Quadro 09: Relação dos professores do Grupo Escolar de Igarapé-Miri: 1937 a 1942

Nº NOME 1937 1938 1939 1940 1941 1942

01 Alda Neri (adjunta) X X X X X X

02 Almerinda Lopes Braga X

03 Ana Trindade Almeida (Adjunta) X X X X X X

04 Antonia Simões Bentes X

05 Aurea Guerreiro Bentes X

06 Dalva Guerreiro Bentes X X X X

07 Elza Pantoja Fontenelle X

08 Laura Martins Fernandes X X

09 Maria de Belém Campos X

10 Maria de Lourdes Silva X X

11 Maria das Mercês e Silva X X

12 Nanthilde Isaias do Nascimento X

13 Raimunda Tocantins Lobato X X X

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Termos de exames, 1955; PIMENTEL, 2012

97

A partir de 1937, foram nomeadas para o Grupo Escolar de Igarapé-Miri as primeiras

professoras leigas, a saber: Ana Almeida e Alda Neri. Esta última, solicitou ao governador do

estado sua exoneração do magistério para dedicar-se ao Cartório do 2º Ofício da sede da

Comarca de Igarapé-Miri, demonstrando que havia oportunidades para as mulheres

trabalharem em outras atividades intelectuais além da educação (O LIBERAL, 22/03/1947) e

que muitas mulheres buscavam conquistar empregos onde a remuneração salarial fosse

melhor. Suspeito que nem todas as professoras encontravam a dignidade e o reconhecimento

esperado no magistério. É possível que algumas fossem professoras por falta de outras

oportunidades de trabalho. O que parece ficar perceptível é que o magistério garantia certa

liberdade econômica às mulheres: deve ser por isso que a professora Eulina Cardoso não

constituiu família e a diretora Adalgisa Batista se casou depois de certa idade. Nas palavras de

Almeida (2014, p. 139), “o magistério permitia às mulheres viver com dignidade sem

necessariamente se submeter a matrimônio malfadados ou impostos”.

Entre 1904 e 1971 no Grupo Escolar de Igarapé-Miri foram nomeados apenas três

professores, a saber: Francisco Delgado Leão, Lafayette Palmeira e Braulio Jesus de

Mendonça. Este último antes de ser lotado no GE de Igarapé-Miri era diretor do GE de Baião.

Os três professores atuaram em Igarapé-Miri até 1912. A partir de 1937 só houve a nomeação

de professoras para o GE de Igarapé-Miri, demonstrando um fenômeno que vinha ocorrendo

no Brasil desde o final do século XIX que era a feminização do magistério.

De acordo com Souza (1998), a feminização do magistério foi um fenômeno que

ocorreu em todo o Brasil, a partir do século XIX, devido à necessidade de maior número de

profissionais para atender ao aumento da educação primária; além do magistério representar

um espaço aberto às mulheres e respeitado pela sociedade etc.

A utilização do trabalho feminino no campo da educação vinha ganhando

força em toda parte no final do século XIX, tendo em vista a necessidade de

conciliar o recrutamento de um grande número de profissionais para atender

à difusão da educação popular mantendo-se salários pouco atrativos para os

homens. Em compensação, viria a se constituir num dos primeiros campos

profissionais “respeitáveis”, para os padrões da época, abertos à atividade

feminina (SOUZA, 1998, p. 62).

Conforme Almeida (2014), a feminização do magistério ocorrida no Brasil, foi em

decorrência da expansão qualitativa do campo educacional. As professoras tornaram-se

necessárias devido à sociedade, do ponto de vista moral, não concordar que as meninas

fossem educadas por professores. A ampliação da mão de obra feminina na educação foi

acompanhada por uma série de discursos oficiais favoráveis que atribuíam à docência as

98

características de vocação, domesticidade, maternidade, dentre outros. Às mulheres foi

atribuído o papel de regenerar a sociedade. E os homens, por que foram se retirando da

educação?

Almeida (2014) aponta que para os homens o magistério, na maioria das vezes, era um

trabalho complementar, já que possuíam outras profissões como: medicina, advocacia,

jornalismo, engenharia etc. Ser professor não lhes garantia uma vida confortável

economicamente, mas lhes assegurava visibilidade política e prestígio social. Portanto, o

magistério deixou de ser atrativo para eles no momento que os discursos governamentais

associavam o magistério às qualidades maternais e domésticas.

Para Almeida (2014), a entrada da mão de obra feminina no magistério ocorreu depois

de muitas reivindicações por parte das mulheres, e enfrentou resistência pelo segmento

masculino: pais, maridos e igreja. Várias mulheres solteiras e casadas foram impedidas pelos

pais e maridos de exercerem a profissão; outras precisaram de autorização por escrito dos pais

ou maridos para se matricularem na Escola Normal. Entretanto, aos poucos foram

conquistando o seu espaço no magistério passando a ser maioria.

No século XX a presença feminina no magistério ampliou-se consubstancialmente

pelo Brasil, conforme demonstra os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) de 1946, referente aos anos 1938 e 1939 sobre os professores do Pará.

QUADRO 10: Discriminação por sexo do corpo docente do Pará: 1938 a 1941

Ano Masculino Feminino Total

1938 146 1757 1903

1939 96 1892 1988

1940 102 1937 2039

1941 89 1905 1994

Fonte: BRASIL. Censo demográfico, 1946

Durante o século XX, no município de Igarapé-Miri, a presença feminina no

magistério foi superior à masculina, tanto no grupo escolar quanto nas escolas isoladas. A

partir da análise do quadro (11), podemos verificar que nos anos 1938 e 1939, as professoras

eram nomeadas preferencialmente para as escolas diurnas e os professores para as escolas

noturnas. Muitos pais e esposos não permitiam que as professoras trabalhassem à noite.

99

Quadro 11: Escolas e professores de Igarapé-Miri nos anos 1938 e 1939

Nº Espécie da escola Denominação Localidade Nome do professor

1 Grupo Escolar Cidade Predicanda C. A. Lopes (diretora)

2 Aux. Mista Gil Bráz Alves Concórdia (atual

Vila de Maiauatá)

Sára Monteiro Marques

3 Aux. Mista N. S.do Rosário Itanimbuca Celina Corrêa Lobato

4 Aux. Mista Ilha Uruá Inez Moraes Lobato

5 Aux. Mista Camarão-quara Ana dos Santos Lobato. Substituída em

1939 por Catarina Costa de Oliveira.

6 Aux. Mista Santa-Maria Maiauatá Jovita da Silva Mota

7 Aux. Mista Murutipucu Maria Pereira da Trindade

8 Aux. Mista Sempre-Viva Maiauatá Adelina Lopes Tocantins

9 Aux. Mista Bazar Maiauatá Regina Bastos Menesez

10 Aux. Mista Maiauatá Almerinda França Messias

11 Aux. Mista Panacuera-assú Delfina Lobato da Silva

12 Aux. Mista Panacuéra-Miri Maria de Castro Fernandes

13 Aux. Mista Santa-Cruz Panacuéra Delfina Lobato da Silva

14 Aux. Mista Menino-Deus Anapú Francisca Lavôr Pinto

15 Aux. Mista Pindobal Pindobal-Grande Alcinda Cacela Lima. Substituída em

1939 por Neuza da Silva Farias.

16 Aux. Mista Menino-Deus Meruú Paulina Longuinhos de Miranda

17 Aux. Mista Meruú Maria Rosa de Miranda Moraes

18 Aux. Mista Cotijuba Adelina Lopes Tocantins

19 Aux. Mista Vila-Alegre Meruú Maria Rosa de Miranda Moraes

20 Aux. Noturna Icatu Alto Meruú Tomé Lopes de Castro

21 Aux. Noturna Cagi Bricio José de Sousa

22 Aux. Noturna Feliciano Martins Furo-Seco Miguel Tourão Feitosa

23 Aux. Noturna 13 de Maio Cidade Edmundo Dantes Almeida

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Documentos das escolas isoladas, 197119

Nos anos de 1938 e 1939 havia 22 escolas isoladas no município de Igarapé-Miri,

sendo 18 mistas que funcionavam diurnamente e 4 noturnas. Os espaços em brancos no

quadro (11) podem indicar que as escolas não tinham nomes específicos, mas talvez fossem

conhecidas pelos lugares em que estavam instaladas, no caso os rios. A denominação “escola

auxiliar” começou a ser utilizada em Igarapé-Miri a partir da portaria de 11 de maio de 1931,

assinada por Mario M. Chermont, Secretário de saúde pública e educação do Estado do Pará.

Esta portaria determinava que as escolas municipais do interior do Estado do Pará deveriam

receber a designação de auxiliares. Anos depois, retornou a nomenclatura “escolas isoladas”,

19 Várias fontes documentais datadas entre 1913 a 1971, tais como: ofícios, matrículas, resultados de exames

escolares, mapas anuais de movimentação escolar, dentre outras, sobre escolas isoladas do município de Igarapé-

Miri custodiadas na Casa da Cultura de Igarapé-Miri, serão referenciadas neste relatório como: Documentos das

Escolas Isoladas, 1971.

100

conforme podemos verificar no livro de cadastro dos professores das escolas do município de

Igarapé-Miri, da década de 1950 e início da década de 1970 (IGARAPÉ-MIRI. Livro de

cadastro dos professores, 1972).

Dos 24 professores das escolas isoladas que aparecem no quadro (11), apenas 4 eram

homens, e regiam exclusivamente as escolas noturnas. As substituições de professores entre

1938 e 1939 nas escolas isoladas foram baixas, tendo apenas dois casos: na escola auxiliar de

Camarão-quara a professora Ana dos Santos Lobato foi substituída por Catarina Costa de

Oliveira, e na Escola Auxiliar Mista do Pindobal houve a substituição da regente Alcinda

Cacela Lima por Neuza da Silva Farias. A transferência de professores também não era

comum: o professor Edmundo Dantes Almeida, que a partir de 1939 regeu a Escola Noturna

13 de Maio, sediada no prédio do Grupo Escolar da Igarapé-Miri, em 1917 era professor da

Escola Elementar Municipal do rio Camarão-quara (IGARAPÉ-MIRI. Documentos das

escolas isoladas, 1971; OFÍCIO, s/n/1940).

Em 1943 o prefeito criou duas escolas municipais que funcionaram nas dependências

do Grupo Escolar de Igarapé-Miri: a Escola Auxiliar Noturna “13 de maio”, ministrada pelo

professor Edmundo Dantes de Almeida (OFÍCIO, nº 03/1940), e a Escola feminina de prendas

“Darcy Vargas”, dirigida pela senhora professora Emiliana de Castro Rodrigues, nomeada em

05 de junho de 1943 (OFÍCIO, nª 188/1943). O “senhora” antes do nome pode significar que

a professora não fosse normalista.

Como vimos no quadro (11), dos 24 professores nomeados nas escolas isoladas entre

1938 a 1939 apenas 4 eram homens. Porém, a história da educação em Igarapé-Miri contou

com colaboração de outros professores, como podemos ver a seguir:

QUADRO 12: Professores das escolas isoladas de Igarapé-Miri: 1913-1950

Nº Professor Escola Local Ano

01 Antonio de Moraes Lourinho Escola Noturna Municipal de

Igarapé-Miry

Cidade 1913

02 Antonio Manoel Christão Escola Noturna Municipal “Lauro

Sodré”

Cidade 1923

03 Antonio Athanasio de Paiva

Castro

Escola Municipal do Rio Meruhú Rio Meruhú 1923

04 Raymundo de Miranda Henrique Escola Auxiliar do Estado do Pará Tucunarehi grande 1932

05 Joaquim Vieira da Cruz Escola Elementar Auxiliar “Dom

Pedro II”

Interior 1933

06 Bricio José de Souza Escola Auxiliar Noturna Alto Cagi 1937

07 Thome Lopes de Castro Escola Auxiliar Masculina “Santa

Maria”

Alto Meruú 1939

101

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Documentos das escolas isoladas, 1971

A relação de algumas escolas isoladas do município de Igarapé-Miri entre 1913 a 1950

nos aponta para outra realidade que supera a ideia de que os grupos escolares seriam os

sustentáculos da nação brasileira, no diz respeito à instrução de crianças entre 1894 a 1971,

demonstrando que nem só nos grupos escolares instruía-se e civilizava-se o cidadão

republicano. Em 1939 o município de Igarapé-Miri tinha 779 alunos, sendo 229 no grupo

escolar, 550 nas escolas isoladas, e a população do interior do município continuava a exigir a

nomeação de professores para algumas localidades como Espera, Carmo, Itanimbuca, dentre

outras (OFÍCIOS, nº 105, 113, 121 e 124/1939).

A contribuição das escolas isoladas à instrução pública no Brasil é inegável,

principalmente na região Amazônica, onde a geografia é marcada por inúmeros povoados

dispersos pelos rios e estradas. Se a instrução pública fosse depender exclusivamente dos

grupos escolares, os índices de analfabetismo seriam bem maiores nesta região e no Brasil.

O século XX foi marcado por duas realidades experimentadas pelos professores

mirienses: a do grupo escolar e das escolas isoladas. A primeira seria, pelos menos nos

discursos oficiais, o modelo ideal para se promover a educação de crianças, e a segunda seria

uma necessidade, já que os grupos escolares não poderiam ser implantados em qualquer lugar.

E os professores preferiam trabalhar na sede do município ou nos interiores?

3.2.1 - Tempo de desterro

A maioria dos professores passou pelo “tempo do desterro”, expressão usada por

Souza (1998, p.72), cujo significado seria “a passagem apressada e provisória do professor

pela escola isolada em direção ao lugar sonhado – isto é, uma vaga no grupo escolar”. Ou

passagem por grupos escolares do interior para tentar uma transferência à escola mais perto da

capital ou na capital, cujo salário seria mais atraente. O “tempo do desterro” demonstra que

havia uma hierarquia dentro da própria instituição ou entre as instituições dependendo da

localização. A hierarquização no meio educacional configurava-se a partir dos valores

salariais, que eram pagos de acordo com o valor que era atribuído ao cargo e ao lugar onde se

08 Antonio da Silva Castro Escola Supletiva Juarimbu 1949

09 Francisco Rodrigues da Silva Classe Supletiva Murutipucu 1949

10 Adolfo Sérgio da Cunha Classe Supletiva Federal de

Adolescente

Vila de Maiauatá 1949

11 Maurício Almeida da Trindade Escola Supletiva Murutipucu 1950

12 Raimundo Ferreira Chaves Escola Supletiva Vila Martins 1950

102

exercia essa função: nas escolas isoladas e nos grupos escolares, da capital ou do interior etc.,

conforme veremos abaixo:

Quadro 13: Tabela de vencimentos anuais de funcionários dos Grupos Escolares e

Escolas Isoladas do Estado do Pará em 1903.

Fonte: A PROVÍNCIA DO PARÁ, 18/02/1903

Observe no quadro, que quando se faz referência à regência da escola mista que

funcionavam nos grupos escolares, utiliza-se a palavra “professora”. Isso ocorre porque de

acordo com o capítulo I, artigo 30 do Regulamento geral do ensino primário de 1903, as

escolas mistas que funcionassem nos grupos escolares só poderiam ser regidas por

professoras. Essa exigência não era feita às escolas isoladas, onde as escolas mistas poderiam

ser ministradas tanto por professores quanto por professoras. (PARÁ. Regulamento do ensino

primário, 1903).

Conforme o quadro (13) o salário dos professores das escolas sediadas na capital do

estado era mais atraente que dos professores do interior. Um professor do grupo escolar da

capital ganhava 1:800$000; enquanto que de grupo escolar do interior ganhava 1:400$000

(400$000 a menos). Esse valor é praticamente o mesmo que recebia o professor de escola

isolada da capital, a saber: 1:410$000. Não obstante, o professor de escola isolada do interior

ganhava bem menos: 1:050$000 de 2ª entrância e 930$000 de 1ª entrância. O salário do

professor de 1ª entrância é praticamente o mesmo do porteiro dos grupos escolares de Belém:

GRUPOS ESCOLARES

FUNÇÃO CAPITAL INTERIOR

Diretor 2:200$000 1:800$000

Professor 1:800$000 1:400$000

Adjunto 1:000$000 700$000

Porteiro 900$000 720$000

Servente 500$000 360$000

A professora da escola complementar mixta terá mais 100$000 anuais

ESCOLAS ISOLADAS Quando a escola isolada for mixta o

professor receberá a mais.

3ª entrância 1:410$000 30$000

2ª entrância 1:050$000 30$000

1ª entrância 930$000 30$000

De povoados e outros

lugares

720$000 20$000

103

900$000. De acordo com a tabela de vencimentos anuais dos funcionários públicos da

educação primária do Pará de 1903, havia uma desvalorização salarial dos professores das

escolas isoladas do interior do estado.

Os professores das escolas mistas que funcionavam nas escolas isoladas, recebiam

uma pequena gratificação no vencimento (30$000 nas escolas de 1ª, 2ª e 3ª entrâncias e de

20$000 em outros lugares e povoados), mas de acordo com o capítulo III, artigo 61 do mesmo

regulamento, esses teriam que trabalhar em dois turnos: de 8h30 às 11h30 as aulas seriam

exclusivas às meninas e de 14h às 17h para os meninos (PARÁ, Regulamento do ensino

primário, 1903).

A distinção salarial dos professores das escolas isoladas variava de acordo com as

entrâncias. É o que consta no capítulo V, artigo 80 do Regulamento geral do ensino primário

de 1903.

Para o fim da fixação dos vencimentos devidos aos professores, as escolas

primárias serão classificadas:

De 1ª entrancia as das villas.

De 2ª entrancia as da cidade

De 3ª entrancia as da capital, dentro do perímetro urbano.

Sub-urbanas a dos povoados e outros logares.

§ Único. As escolas das villas do Pinheiro e Mosqueiro continuarão a ser

consideradas de 2ª entrancia, mas os professores perceberão vencimentos

correspondente às da 3ª entrancia (PARÁ. Regulamento geral do ensino

primário, 1903).

Parece que a política salarial do governo do Pará, de valorização dos professores da

capital do estado, acabava estimulando alguns professores a preferirem trabalhar em Belém, já

que lá estavam os melhores salários.

A vida dos professores das escolas isoladas do interior não deveria ser fácil, e as

dificuldades começavam pela desvalorização salarial: quanto mais longe da capital menos

ganhavam; seguida pela falta de prédio adequado para lecionar e falta de mobiliário. Um

ofício enviado em 06 de junho de 1932 por Raymundo de Miranda Henrique, professor da

Escola Isolada do Estado do Pará, com sede no Rio Tucunarehi Grande, município de

Igarapé-Miri, ao Prefeito municipal e Igarapé-Miri, Cecílio Tavares (01/04/1932-15/06/1932),

exemplifica parte das dificuldades enfrentadas pelos professores das escolas isoladas.

Em cumprimento as determinações exarada [registrada, apontada,

assinalada] em vosso officio de 1º do corrente, no qual V. Sa. requisita desta

“Escola”, por parte do Exmº Sr. Dr. Secretario da Educação e Saude Publica

do estado uma relação completa dos moveis e utencilios [utensílios]

fornecidos pelo governo revolucionario. Tenho a dizer-vos que a aludida

casa de encino [ensino] infantil, apenas foi contemplada este anno e pela

primeira vez, desde a sua installação, com o material de expediente escolar,

104

constando de livro, papel, pennas, canetas, tinta, lápis, gis [giz], esponjas, 1

bandeira brazileira, canecos para agua e um mappa geographico do Pará.

Os moveis existentes pertencem particularmente ao professor.

Eis o que me é dado relacionar-vos pela fiel observancia do vosso aludido

officio.

Aguardando as vossas ordens, permaneço com [...] estima e consideração

(OFÍCIO, s/n de 06/06/1932).

Apesar da cordialidade obrigatória no final do ofício, o teor desde documento

demonstra o desabafo do professor e o abandono em que a escola isolada se encontrava em

Igarapé-Miri. O professor Raymundo começa a demonstrar a sua indignação quando escreve

“escola” (entre aspas). A impressão que se tem é que ele está fazendo um questionamento:

Será que realmente se pode chamar esse espaço de escola? O descontentamento do professor

fica mais evidente quando ele expõe que a sua escola foi “contemplada este anno e pela

primeira vez”. Ou seja, era uma escola abandonada pelo estado. Mas será que este era um

caso isolado? Claro que não!

Em 09 de fevereiro de 1939, o prefeito municipal e presidente do Conselho Escolar de

Igarapé-Miri, Antonio Augusto de Mesquita, solicitou via ofício ao Interventor Federal do

Estado do Pará, Magalhães Barata, o fornecimento dos seguintes materiais escolares para ser

distribuído às escolas isoladas:

18 litros de tinta preta

10 vidros de tinta encarnada

18 caixas de giz

18 caixas de penas

500 canetas para alunos

18 canetas para professoras

18 tinteiros para professoras

50 folhas de mata borrão

18 lapis bicolor para professoras

18 borrachas para tinta e lápis

10 duzias de lapis escolares

18 resmas de papel ao maço

300 mapas estatísticos escolares

220 envelopes em branco

18 livros de ponto diário

18 livros de ponto de matricula

2 duzias de lapis bons para professora

40 carteiras escolares

18 bancas para professoras

Goma arábica [quantidade não definida]

500 cartilhas A.B.C.

500 taboadas

72 1º livros de leitura

72 2º livros de leitura

72 3º livros de leitura

18 aritmetica

105

18 gramaticas

18 geografias

18 historia do Brasil

18 geometria

18 resmas de papel quadriculado

18 quadros pretos

18 esponjas

18 vassouras

18 espanadores (OFÍCIO, nº 39/1939).

A lista engloba materiais para alunos, como tabuadas, cartilhas ABC, canetas, livros

de leitura, história, geografia, aritmética e gramática. Para professores foram solicitadas

canetas, tinteiro, lápis, borracha dentre outros, e para a própria instituição: carteira, mesas

para professora e quadros pretos. A justificativa para solicitar esta extensa lista de materiais,

segundo o prefeito Antonio Mesquita, seria que todas as escolas auxiliares mistas estavam

praticamente sem condições de funcionamento:

Justifica-se este pedido o fato de ter o Municipio 18 escolas auxiliares

mixtas, todas desprovidas não só dos objetos mais insignificantes que deve

possuir uma escola, como tambem se ressentem da falta de mobiliario

proprio.

Desta maneira, pedia a V. Excia. a fineza de dar ordens para me serem

remetidas algumas carteiras já usadas nos estabelecimentos de ensino dessa

capital, afim de distribuir entre as escolas no interior deste Municipio

(OFÍCIO, nº 39/1939).

A falta de condições mínimas de funcionamento das escolas isoladas era um problema

constante. Havia uma precariedade geral e uma falta de compromisso do Governo Estadual,

responsável por esta modalidade educativa, em melhorar as condições de funcionamento

destas instituições. Todavia, a “íris dos olhos” dos governos republicanos não eram as escolas

isoladas e sim os grupos escolares. Então, na escola graduada de Igarapé-Miri estava tudo

bem? Também não! No final da década de 1930 e 1940 foram comuns os pedidos de reformas

para o grupo escolar da cidade; entretanto, as poucas reformas que ocorreram foram apenas

paliativas, ou seja, somente pequenos reparos, retelhamento, pintura e limpeza do terreno

(OFÍCIOS, nº 14/1938; nº 30/1939; nº 517/1940; s/n /1945; nº 35/1947).

Outro problema que atingia o Grupo Escolar de Igarapé-Miri foi a falta de professores.

No dia 03 de maio de 1946, o Prefeito Municipal de Igarapé-Miri, Alberto da Trindade

Almeida, informou ao Diretor de Educação do Estado do Pará que diariamente recebia

reclamaçãoes de falta de professoras no Grupo Escolar de Igarapé-Miri.

Atendendo diárias reclamações [dos] pais [de] meninos matriculados [no]

grupo escolar local [que] estavam sem frequentar aulas [por] falta de

106

professoras. Entrei [em] entendimento [com] duas professoras [que] estão

funcionando [no] sentido [de] darem aulas [nas] tardes dos dias uteis [aos]

referidos meninos, até regularizarem a atual situação constatada [pelo]

inspetor [que] esteve até ontem nesta cidade. Saudações (TELEGRAMA, s/n

/1946).

Em 1º de agosto de 1956 a diretora do referido grupo, Adalgisa Maria Batista de

Miranda, expediu uma portaria designando duas professoras do turno da manhã, Eurídice

Marques de Sousa (3º série) e Maria da Consolação Lobato dos Santos (1ª série atrasada),

para assumirem também no turno da tarde as turmas de primeira série que estavam sem

professoras (IGARAPÉ-MIRI. Livro de ocorrência, 1962). A falta de verbas do estado

destinada à educação no município de Igarapé-Miri atingia tanto as escolas isoladas quanto ao

grupo escolar.

Vários professores do Grupo Escolar de Igarapé-Miri eram oriundos de Belém e

teriam laços familiares na capital do estado. Em um ofício de 05 de fevereiro 1942, o prefeito

municipal comunicou ao Interventor Federal do Estado que as seis classes (com 127 alunos

matriculados) estavam sendo ministradas apenas por duas professoras Maria das Mercês e

Silva (normalista) e Ana da Trindade Almeida (leiga). Esta última era moradora da cidade.

Enquanto que as demais, inclusive a diretora tinham residência em Belém:

[...] encontra-se em goso de licença para repouso, a normalista, senhora,

Predicanda C. Amorim Lopes, lecionando no grupo escolar Augusto

Olimpio, a professora Laura Fernandes Bentes e na capital junto as suas

famílias, as professoras: Raimunda Tocantins Lobato. Esmeralda de Souza

Gomes e Maria de Nazaré Nunes Lima, pelo que solicito a V. Excia. sejam

tomadas as providências necessárias, afim de que venham estas normalistas

ocupar os seus cargos, visto que as duas professoras presentemente em

exercício não atendem as seis classes primárias que já conta com a elevada

matrícula de 127 alunos até a presente data (OFÍCIO, nº 12/1942).

Devido à maioria dos professores serem da capital do estado, encontramos denúncias

de que as aulas nem sempre começavam em janeiro, como previam os regulamentos do ensino

primário. É o que pode ser comprovado no telegrama enviado pelo prefeito municipal e

presidente do Conselho Escolar, Antonio Mesquita, ao diretor de educação do Estado do Pará:

“Acabo [de] saber pela Adjunta professora Alda Nery não achar-se nenhuma professora [no]

Grupo Escolar achando-se [o] mesmo entregue [ao] porteiro pt [.] Consulto Vossencia [Vossa

excelência se a] mesma pode assumir [o] seu cargo [n]aquele estabelecimento”

(TELEGRAMA, nº 07, de 05/02/1941). Na prática, a professora Alda Neri quando retornou

ao seu trabalho, não encontrou o grupo funcionando. Por isso, comunicou ao presidente do

Conselho Escolar de Igarapé-Miri e este enviou o telegrama ao diretor de educação do Estado

107

do Pará. Pela data do telegrama (05/02), percebemos que as aulas já estavam atrasadas, pois

deveriam ter iniciado no dia 08 de janeiro. Essa demora em iniciar às aulas talvez ocorresse

porque a maioria das professoras e a diretora residiam em Belém.

Vale ressaltar que a primeira geração de professores do Grupo Escolar de igarapé-Miri

(1904-1912), todos eram de Belém. Da segunda geração (1937-1949) a maioria eram de

Belém e outras de Abaetetuba e Cametá. Muitas professoras vieram para Igarapé-Miri

solteiras e aqui constituíram família, outras nem se casaram. Duas professoras da segunda

geração, cujas famílias eram de Abaetetuba, mas que se mudaram e firmaram raízes em

Igarapé-Miri foram: Ana Almeida e Alda Neri. As professoras oriundas de Igarapé-Miri,

começam a aparecer a partir de 1950, e seriam ex-alunas do Grupo Escolar desta cidade. A

maioria passou a assumir a docência no grupo com apenas o ensino primário. Algumas

continuaram os estudos em Belém, como: Lucilinda Ferreira e Nazaré Almeida. As ex-alunos

do Grupo Escolar de Igarapé-Miri também passaram a ocupar os cargos de professoras das

escolas isoladas do interior de Igarapé-Miri. O grupo passou a formar as professoras para

atuar na educação de crianças do município de Igarapé-Miri.

Por outro lado, Igarapé-Miri até a década de 1980 não possuía estrada, e todo o

transporte era feito por embarcações. As pessoas que vinham trabalhar neste município teriam

que morar na localidade, ficando meses sem ir à Belém. Para muitos isso era um processo

doloroso de afastamento de seu convívio familiar e de amizades. No recorte abaixo notamos o

tom de despedida, do coletor estadual Raul Pessoa da Cunha que iria se afastar por bastante

tempo de Belém, por ter que trabalhar em Igarapé-Miri.

Trouxe-nos o seu abraço de despedida, por ter de seguir à noite para Igarapé-

Miri, onde desempenha com critério as funções de Coletor Estadual, o nosso

presado amigo e correligionario Raul Pessoa da Cunha, ardoroso pessedista

da velha guarda (O LIBERAL, 20/05/1947).

Na prática havia realmente um longo afastamento, já que o único meio de

comunicação era o telégrafo, e, portanto as pessoas ficavam incomunicáveis por meses. Era

como se estivessem viajando para outro país. O sentimento de afastamento de familiares e

amigos deveria ser vivenciado pelos professores que vinham trabalhar no grupo escolar. Caso

houvesse possibilidades dos professores do grupo escolar de continuarem morando em Belém

não poderiam, pois de acordo com o Regulamento geral do ensino primário de 1903, capítulo

VIII, artigo 112, o professor deveria morar na cidade que sediava o grupo escolar no qual

trabalhava, e para ausentar-se em dias letivos somente com autorização prévia do diretor do

estabelecimento.

108

3.3 - ALUNOS

A creança, porém, mais do que o homem, precisa do deleite do espírito [...].

É de bom aviso manter a alma do menino em estado de permanente

satisfação, mesmo do caracter, o avigoramento dos sentimentos e a bôa

direção de suas inclinações (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 22/10/1904, p. 02).

A edição de 22 de outubro de 1904 do jornal “A Província do Pará”, ressalta a

necessidade de direcionar as crianças para a formação do bom caráter, das boas inclinações,

dos bons sentimentos e da felicidade. A criança deveria ser instruída e educada para tornar-se

um cidadão republicano. Instruída para ser alfabetizada, elemento indispensável no mundo

civilizado, e educada dentro dos valores cívicos e patrióticos da nação brasileira.

O grupo escolar seria a instituição responsável para instruir e civilizar a infância

republicana. A infância é por excelência a fase humana mais aceptível a aquisição de valores,

devido ainda não ter a sua personalidade formada, por isso os governos republicanos se

propuserem a fornecer uma educação popular e gratuita para esta faixa etária. Conforme o

Regimento interno dos grupos escolares e das escolas isoladas do Pará de 1904, a finalidade

da escola primária seria fornecer cultura intelectual as crianças para prosseguirem os seus

estudos no curso secundário, assim como para serem bons cidadãos, cumprindo com suas

responsabilidades sociais.

a escola publica primaria é a instituição creada e mantida pelos poderes

públicos para o fim de proporcionar gratuitamente á infância de ambos os

sexos cultura intelectual necessária não só a matricula do curso secundario,

como também ao bom desempenho dos deveres sociaes (PARÁ. Regimento

interno dos grupos escolares, 1904, p. 33-34).

Segundo o artigo 82 do Regimento interno dos grupos escolares do Pará de 1904, as

crianças tinham os seguintes deveres: serem pontuais aos estudos, frequentarem a escola com

higiene e vestidos decentemente; só ausentar-se da escola com as devidas autorizações;

durante as aulas deveriam ser atenciosas, ordeiras e respeitadoras, não se distraindo e

respeitando as ordens de seus professores; serem silenciosas dentro das dependências do

grupo escolar, inclusive quando estivessem preparando as lições diárias; não poderiam

levantar-se das carteiras sem autorização do professor; comparecerem aos exames escolares;

levantar-se para saudar qualquer autoridade que adentrasse na sala de aula; serem cortezes

com o diretor e professores dentro e fora do grupo e delicados com os demais funcionários,

dentre outros. As crianças tinham o direito de receber gratuitamente a instrução primária e

educação moral e física; serem tratadas com respeito pelos professores e diretor; terem acesso

109

às dependências da instituição durante o horário de aula quando não estivessem cumprindo

suspensões, dentre outras (PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares, 1904).

Era expressamente proibido às crianças durante sua permanência no grupo: fumarem,

usarem chapéus; gritarem, assoviarem, vaiarem, fazerem algazarras dentro ou nas redondezas,

próximo ao grupo; formarem grupos na portaria da escola; incitarem desordens ou

rivalidades; depredarem o prédio e o mobiliário (pintarem, riscarem, sujarem paredes e

cadeiras); apelidarem os colegas etc. As penalidades a que as crianças estavam sujeitas:

admoestação em particular, repreensão verbal, comunicado ao seu representante ou expulsão

(PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares, 1904).

As normas disciplinares visavam uniformizar e controlar os corpos. Conforme

Foucault (2004), as disciplinas organizam e criam os espaços institucionais, permitindo a

racionalização do tempo, obediência às normas, circulação e convivência de pessoas. O poder

disciplinar transforma mentes diversas em uma diversidade organizada.

As disciplinas, organizando as “celas”, os “lugares” e as “fileiras” criam

espaços complexos: ao mesmo tempo arquiteturais, funcionais e

hierárquicos. São espaços que realizam a fixação e permitem a circulação;

recortam segmentos individuais e estabelecem ligações operatórias; marcam

lugares e indicam valores; garantem a obediência dos indivíduos, mas

também uma melhor economia do tempo e dos gestos. São espaços mistos:

reais porque regem a disposição dos edifícios, de sala, de moveis, mas

ideais, pois projetam-se sobre essa organização caracterizações, estimativas,

hierarquias. As primeiras das grandes operações da disciplina é então a

constituição de “quadros vivos” que transformam as multidões confusas,

inúteis ou perigosas em multiplicidades organizadas (FOUCAULT, 2004, p.

127).

Acredito que as indisciplinas ou resistências às normas escolares por parte das crianças

deveriam ser frequentes. Em 18 de outubro de 1959 e 13 de agosto de 1957, a diretora do

grupo escolar, Adalgisa Batista de Miranda, suspendeu alunos que a xingaram com palavras

de baixo calão. Em 08 de maio e 12 de junho de 1962, a diretora Ana da Trindade Almeida

expediu duas portarias por faltas consideradas graves: desobediência de alunos aos

professores e agressão entre alunos. Parece que a suspensão de crianças, era um recurso

aplicado quando outras formas de controle haviam falhado, já que na portaria de 12 de junho

de 1962, a aluna Clara Corrêa Gomes da 3ª série, foi suspensa depois ter sido advertida

verbalmente pelos menos duas vezes. Vejamos as portarias:

Em 13 de agosto de 1957, a diretora Adalgisa Batista de Miranda, suspendeu por

tempo indeterminado o aluno da 2ª série, Artenio de Castro Vernech, por desrespeitar com

palavras obscenas a diretora e uma professora do grupo escolar.

110

Portaria de 13 de agosto de 1957.

A diretora deste Estabelecimento de Ensino, usando de suas atribuições faz

baixar a seguinte portaria:

Considerando suspenso por tempo indeterminado o aluno da 2ª, 2º turno,

Artenio de Castro Verneck, por desrespeito a professora e diretora, com

palavrões indecentes.

Dê-se ciência e publique (IGARAPÉ-MIRI. Livro de ocorrência, 1962).

Em 16 de abril de 1958, Maria de Jesus Corrêa, da 5ª série, foi suspensa por 20 dias

por está namorando na escola. A aluna era reincidente, pois a diretora já havia lhe advertido

quanto à proibição de namorar nas dependências da escola, mas a aluna não obedeceu. No dia

18 de abril de 1958, o menor Raimundo Odorico da conceição, a 5ª série, foi suspenso

também por 20 dias em virtude de “desacato a autoridade da diretora”. Desobediência e

reincidência imprimiam penalidades mais duras. (IGARAPÉ-MIRI. Livro de ocorrência,

1962).

A suspensão de crianças passou a ser um recurso utilizado para demonstrar o poder da

diretora, já que desrespeito a sua pessoa era passível de punições de até trinta dias de

afastamento das aulas, o que praticamente significava decretar a reprovação do aluno. Na

portaria de 18 de outubro de 1959, a diretora Adalgisa Batista de Miranda, suspendeu uma

criança por um mês, pelo motivo de lhe ter desrespeitado.

Portaria de 18 de outubro de 1959.

A diretora deste Estabelecimento de Ensino, usando de suas atribuições faz

baixar a seguinte portaria:

Considerando suspenso por 30, a partir desta data até 17 de novembro, o

aluno da 3ª série, 2º turno, Fernando Corrêa Gomes, por desrespeito a essa

Diretora.

Dê-se ciência e publique (IGARAPÉ-MIRI. Livro de ocorrência, 1962).

Na portaria de 08 de maio de 1962, a diretora Ana Almeida restabeleceu o recreio

escolar que havia sido suspenso em 23 de abril, pelo motivo de indisciplina de duas alunas da

4ª série, cujos nomes não foram expostos.

Portaria de 08 de maio de 1962.

A diretora deste Estabelecimento de Ensino, usando de suas atribuições faz

baixar a seguinte portaria:

Considerando que a 23 de abril do mês passado por ter necessidade de seguir

para a capital do Estado a fim de tratar de interesses referêntes a esta

Repartição transmitindo o cargo a Secretária dêste Grupo Escolar, a

professôra Maria José Corrêa de Almeida;

Considerando que na sua ausência a hora do recreio entre duas alunas da 4ª

série e a professôra Isidora Ferreira da Cruz, procedeu-se certa indisciplina

por falta de respeito daquelas alunas e falta de tolerância da parte Dita;

111

Considerando que em virtude dessa falta de disciplina ter-se dado no horário

do recreio a diretora em exercício para que não se repetisse a mesma falta de

disciplina, suspendeu o recreio até a presença da Diretora;

Considerando que achou justo o ato da secretária, depois de observar a

professora e as referidas alunas, faz restabelecer o recreio para que se

processe em ordem como vinha sendo, para que não mais se repita a mesma

falta digna de censura.

Registre-se, dê-se ciência e cumpra-se (IGARAPÉ-MIRI. Livro de

ocorrência, 1962).

Na portaria seguinte, de 12 de junho de 1962, a diretora Ana Almeida suspendeu por 8

dias a aluna da 3ª série, Clara Corrêa Gomes, por desrespeitar professoras e espancar em via

pública a aluna da 2ª série, Vaguiomar dos Santos Pinheiro, não atendendo o apelo de uma

professora para que não praticasse a agressão. Vaguiomar, aluna agredida, foi suspensa por 6

dias, devido ter aceitado as provocações, e brigado com a agressora:

Portaria de 12 de junho de 1962.

A Diretora deste Estabelecimento, usando de suas atribuições;

Considerando que o procedimento da aluna da 3ª série Clara Corrêa Gomes,

já pela 3ª vez, merece punição;

Considerando que dentre essas faltas de disciplinas pela 2ª vez

desrespeitaram duas professoras deste estabelecimento;

Considerando que pela 3ª vez ao sair da aula atacou na via pública a aluna da

2ª série Vaguiomar dos Santos Pinheiro, espancando-a, sem querer atender

uma professora que procurará repreender-lhe;

Considerando que com o Estatuto do Regulamento de Ensino, já é a terceira

vez que a aluna comete faltas sendo esta última grave;

Resolve:

Baixar a seguinte portaria suspendendo Clara Correa Gomes por 8 dias e

Vaguiomar dos Santos Pinheiro por 6 dias em virtude de ter se atacado com

a outra em plena via pública.

Registre-se, dê-se ciência e cumpra-se (IGARAPÉ-MIRI. Livro de

ocorrência, 1962).

As principais indisciplinas das crianças registradas no livro de ocorrência do Grupo

Escolar de Igarapé-Miri dos anos de 1957 a 1962, referem-se a desrespeito à professora e

diretora, utilização de palavras obscenas nas dependências da instituição, brigas e namoros

entre alunos, dentre outros. Acredita-se que outras formas de indisciplinas, talvez

consideradas em menor grau ofensivo, tenham ocorrido e não foram registradas. Algumas

ocorrências foram registradas somente após as crianças terem sido advertidas pela terceira vez

e as punições geralmente recaiam na suspensão de direitos, como o recreio e no afastamento

das aulas.

Os bancos escolares do Grupo Escolar de Igarapé-Miri foram ocupados por crianças

de vários grupos sociais, a saber: filhos de vendedores autônomos, de barbeiros, comerciários,

112

açougueiros, funcionários públicos, donos de engenhos, proprietários de serrarias,

profissionais liberais, pescadores, caçadores, trabalhadores rurais, domésticas etc. É o que

percebemos no Orçamento Municipal de Igarapé-Miri para 1913, em que as profissões dos

moradores de Igarapé-Miri eram: professor, vendedor (casa de comércio e loja de fazenda),

advogado, trabalhador de oficina de cadeeiro, ferreiro, funileiro, ourives, calafate, marceneiro,

barbeiro, sapateiro, alfaiate, padeiro, fotógrafo, pedreiro, quitandeira, regatão (vendedor

marítimo), vendedor autônomo (tabaco, cafezinho etc.), administrador do cemitério, dentre

outros (IGARAPÉ-MIRI. Orçamento municipal, 1912).

A infância das crianças mirienses até o final do século XX estava ligada a brincadeiras

de rua e a produção de seus próprios brinquedos. Como as famílias geralmente eram carentes,

o jeito era improvisar e brincar de construir e desmontar o seu próprio brinquedo: carrinho de

lata com rodas de sandálias, bonecas de vassouras de açaí etc.

O professor Elvis Nunes Corrêa escreveu em 1996 um poema intitulado “Saudades da

Infância”, no qual ele retrata as lembranças de sua época de criança ocorridas na década de

1970, em Igarapé-Miri, quando se valorizavam brincadeiras coletivas e criativas, onde

embaixo de uma mesa fazia-se uma casinha, um lençol posto em uma corda tornava-se um

barco a vela e assim por diante. Vejamos:

SAUDADE DA INFÂNCIA

Perdeu-se o sentido do brinquedo,

Troca-se a magia do fazer

Pela vaidade da compra,

A alegria de aprender

Pelo o que a máquina monta.

Perdeu-se a magia de brincar,

Troca-se um brinquedo à vela,

Castelhinho de cinderela,

A boneca e a infância

Por cartucho e uma tela

Que não ensina coisa bela,

Só a luta e a vingança,

Que saudade da infância.

Brincar com uma bola

Era pura diversão,

Aprender a jogar

Hoje é obrigação,

Só se pensa no lucro,

Acabou a emoção.

Que saudade da infância,

Das casinhas e amigos,

113

Dos brinquedos que fiz,

Dos amores de criança,

Tudo isso se perdeu,

Procurei pela infância

E a vi brincando no museu (CORRÊA, 1996).

A poetisa Nazaré Ferreira20 produziu recentemente um texto em prosa intitulado “As

flores e os amores que o mundo esqueceu”, em que retrata parte de sua infância vivida nos

anos 60 no Rio Maiauatá, interior de Igarapé-Miri. Destaca com saudosismo a beleza e a

simplicidade de uma infância interiorana, onde a felicidade estava na simplicidade da vida. As

crianças viviam em contato com a natureza e com as pessoas, não viviam em ilhotas como a

maioria das crianças de hoje, que se isola nas mídias sociais, acreditando que estão se

socializando.

AS FLORES E OS AMORES QUE O MUNDO ESQUECEU

[...] comecei a lembrar daquela casinha simples onde eu nasci: meus pais,

irmãos, tios e meus primos. A escolinha. Minha professorinha. A merenda da

escola era bolinhos de trigo com açúcar frito acompanhado de um cafezinho

e a gente achava uma delícia. A casinha de brincadeira feita por meus primos

onde fazíamos café enquanto nossos pais descansavam após o almoço, a

casinha de meus sonhos de criança [...] As folhas e as flores têm formas e

cores diferentes e cada uma tem sua própria beleza. Eu aprendi muito com a

natureza. Nossos gatinhos: meu irmão e eu sempre tínhamos um gatinho e

passávamos horas brincando com ele. O nosso terreiro enfeitado para a festa

de São João. O belo banho de rio na madrugada do dia 24 de junho reunia a

nossa turminha maravilhosa. Os balões e os foguetinhos e os fogos de vista.

Papai foi o primeiro a soltar fogos de vista no Maiauatá o que chamou a

atenção dos vizinhos que ficaram maravilhados. Mamãe não esquecia o

mingau de milho e o arroz doce. E as histórias que meu pai mesmo cansado

do trabalho contava todas as noites após recitarmos o Pai Nosso, para fazer a

gente dormir. Histórias bonitas e engraçadas.

No Natal era tudo simples; porém, com muito amor a reunião da família para

a ceia. O presente do Papai Noel que eu sempre esperava era uma boneca,

mas papai não podia comprar presente para todos. E como eu acreditava que

existia realmente um Papai Noel, eu ficava me perguntando por que ele não

passava em nossa casa [...] Papai me ensinou a tabuada e o alfabeto.

As roupinhas que mamãe costurava com agulhas de mão e os tecidos que ela

emendava para fazer as roupas. Muitas vezes mamãe e minhas tias faziam

roupas do mesmo tecido para as filhas e nem se preocupavam se alguém ia

achar engraçado, o importante era poder se vestir e participar das festinhas.

Algumas notícias ruins que a gente escutava não conseguiam tirar o brilho

da vida. [...] Lembrei-me que eu tirava notas boas na escola, mas ajudava

uma amiguinha que tinha dificuldades para escrever. Eu fazia isso para que

ela também tirasse boas notas. Aos sábados a professora nos ensinava

20 Nazaré Ferreira estudou na Escola Isolada Ararinha, localizada no Rio Maiauatá com a professora Ana Maria

Lopes Pinheiro.

114

catecismo que era um pequeno livro, onde estavam escritos os mandamentos

de Deus e quando terminava a aula de catecismo ela oferecia bombons para

as crianças, mas eu levava para repartir com meus irmãos.

As pessoas ajudavam uns aos outros. Um vizinho levava um pratinho com

comida para o outro: um pedaço de bolo, uma fruta. Todos eram amigos.

Minha avó era parteira e ajudava as mulheres com muito amor e sem pedir

nada em troca. Ela ficava feliz em poder ajudar uma criança vir ao mundo.

Vovó tinha um belo costume de orar em uma janela olhando para o alto. Ele

nunca colecionou nada. Nem imagens, nem fotos, ela não se congregava em

nenhuma igreja evangélica, mas seu costume era esse. Vovó não tinha

nenhum bem material. Somente uma mala com roupas. Só uma árvore de

manga que ela plantou no quintal do filho caçula que ela dizia que era dela.

E eu vestia o que mamãe costurava e comia o que mamãe servia e nem

perguntava por outros tipos de roupas ou de comidas, pois a vida nos

oferecia a simplicidade [...] (FERREIRA, 2017).

3.3.1 Matrícula no Grupo Escolar de Igarapé-Miri

O capítulo IX, artigos 113 e 114 do Regulamento geral do ensino primário de 1903, e

os capítulos 127 e 128 do Regulamento do ensino primário de 1910, definiam que a matrícula

nos grupos escolares seria realizada durante o todo o ano letivo: de 15 de janeiro a 15 de

novembro. Somente seriam aceitos nos grupos escolares meninos maiores de 6 anos e

menores de 14 e meninas maiores de 6 e menores de 12 anos. Não poderiam ser matriculadas

crianças com doenças contagiosas, principalmente varíola, e que não comprovassem que

teriam sido vacinadas.

O capítulo VI, artigos 105 a 112 do Regulamento do ensino primário de 1931,

estabeleciam as regras para as crianças poderem ser matriculadas nos grupos escolares. As

aulas começariam 8 de janeiro e as crianças poderiam ser matriculadas por seus pais e

responsáveis no período de 5 dias antes do início das aulas até 60 dias depois. O candidato à

matrícula deveria fazer um teste para definir à sua classificação pedagógica na instituição de

ensino. Só seriam matriculadas no curso primário as crianças entre 7 a 13 anos de idade. As

crianças entre 4 a 6 anos seriam matriculadas no jardim de infância. Continuavam proibidas

de se matricularem crianças que sofressem de doenças contagiosas ou que não tivessem sido

vacinadas.

Com base no Jornal “A Província do Pará”, em 30 de setembro de 1904, o Grupo

Escolar de Igarapé-Miri tinha 214 crianças matriculadas, com uma frequência máxima de 186

alunos. Em 1905 de acordo com o relatório do inspetor escolar Hilario Maximo de Sant’Anna,

a matrícula do Grupo Escolar de Igarapé-Miri saltou para 318 alunos. Entretanto, nos anos de

1906 e 1907, conforme os relatórios do inspetor João Pereira de Castro, as matrículas

diminuíram para 227 e 236, respectivamente.

115

Quadro 14: Matrícula no Grupo Escolar de Igarapé-Miri: 1905-1907

ESCOLAS

1905 1906 1907

M F M F M F

1ª Escola Elementar, secção Masculina 42 32 38 27 34 19

2ª Escola Elementar, secção Masculina 54 47 32 19 41 22

1ª Escola Elementar, secção Feminina 41 34 26 19 28 20

2ª Escola Elementar, secção Feminina 37 31 29 19 31 17

Escola Complementar Mixta _ _ 10 08 12 12

Soma 174 144 135 92 146 90

Fonte: PARÁ. Relatório de Hilario M. de Sant’Anna, 1905; PARÁ. Relatório de João P. de Castro, 1906-07

O baixo número de alunos matriculados no Grupo Escolar de Igarapé-Miri manteve-se

nos anos seguintes, sendo a desculpa para o governo estadual, Enéias Pinheiro, extingui-lo em

1912. Nos anos de 1937 a 1940 e de 1949 a 1954 a quantidade de crianças matriculadas

continuava inferior a 300.

Quadro 15: Matrícula no Grupo Escolar de Igarapé-Miri: 1937-1940 e 1949-1954

Anos 1937 1938 1939 1940 1949 1950 1951 1952 1953 1954

Matriculados 176 207 229 179 235 254 232 257 257 291

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Termos de exames, 1955

3.4 - PORTEIROS E SERVENTES

Conforme o capítulo II, artigo 40, do Regulamento geral do ensino primário de 1903,

em cada grupo escolar seria nomeado um porteiro que seria auxiliado por 2 serventes (um

destinado a seção masculina e outra lotada na seção feminina). Este regulamento de 1903 e o

Regimento interno dos grupos escolares de 1904 especificavam que “o porteiro [seria]

nomeado pelo secretário de Estado do Interior; e os serventes [seriam] contratados e

despedido pelo diretor do grupo, sob aprovação do secretário” (PARÁ. Regulamento geral do

ensino primário, 1903; PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares, 1904). Portanto, eram

cargos que poderiam ser indicados pelo diretor do grupo escolar, e suas permanências na

instituição dependiam do consentimento da direção.

116

As principais funções do porteiro eram abrir, fechar, guardar o livro de ponto dos

funcionários, receber e enviar as correspondências oficiais, fiscalizar e controlar o corredor

denunciando os alunos que transgredissem as leis, tocar a sineta e cuidar da limpeza da escola,

que eram feitas pelos serventes sobre o seu comando. O regulamento do ensino primário de

1931, no seu artigo 48 e 49 estabelece que em cada grupo escolar houvesse um porteiro, que

teria as seguintes atribuições: cumprir as ordens do diretor, abrir e fechar o grupo escolar,

auxiliar a manutenção da disciplina escolar, cuidar da limpeza e higiene da instituição e seus

móveis, ser responsável pole livro de ponto dos funcionários, receber e fazer o controle das

correspondências oficiais (PARÁ. Regulamento do ensino primário, 1931).

Os serventes eram indicados pela direção do grupo escolar e estavam submetidos tanto

ao diretor quanto ao porteiro. Suas funções perpassavam pela limpeza e auxilio ao porteiro,

como por exemplo, a manutenção da ordem fora da sala de aula (PARÁ. Regimento interno

dos grupos escolares, 1904). Com base no artigo 50 do Regulamento do ensino primário de

1931, os serventes tinham as seguintes obrigações: cumprir as ordens do diretor e porteiro,

atender o chamado dos professores para serviço dentro da escola, zelar pela arrumação e

limpeza do prédio e mobiliário escolar (PARÁ. Regulamento do ensino primário, 1931).

Quadro 16: Relação dos porteiros e serventes do Grupo Escolar de Igarapé-Miri

Nº Nome Função Data nomeação

01 Antonio do Nascimento da Silva Servente 1905

02 Benedita dos Santos Souza Servente 1958

03 Braulina de C. Corrêa Servente Década de 1960

04 Diogo Domêncio da Silva (Seu Dondom) Porteiro Década de 1950/60

05 Dulia Maria Pantoja Servente 1956

06 Filomena de Castro Corrêa Servente Década de 1950/60

07 Helenita de Moraes Servente 1959

08 Ivone Corrêa Santana (Dona Santa) Servente 1968

09 Izabel Vila Real de oliveira Servente 1958

10 Izidoria Maria da Conceição Servente 1905

11 Julio Lobato Porteiro Década de 1930/40

12 Maria do Céu Servente 1904

13 Maria Sabina da Conceição Servente 1945

14 Paulo de Moarais Lobato Porteiro 1959

15 Pedro Rattes de Souza Moraes Porteiro 1905

16 Raymundo Pereira Lobato Porteiro 1904

17 Sabina Gonçalves de Castro (Tia Sabina) Servente 1947

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Livro de cadastro dos funcionários, 1972; O LIBERAL, 25/03/1947; TELEGRAMA,

10/06/1945.

117

Até a década de 1960 o Grupo Escolar de Igarapé-Miri teve pelos menos 5 porteiros e

12 serventes. Todos eram moradores de Igarapé-Miri e possivelmente, sem o ensino primário

completo. Alguns continuam vivos na memória de ex-alunos do grupo, como Seu Dondom,

Seu Júlio e Tia Sabina, talvez pelo tempo de serviço prestado à instituição e o carisma que

tinham com as crianças. A imagem de Tia Sabina ficou registrada na memória das crianças

como de uma mãe, pois além de terem nascidas por suas mãos (já que foi parteira), era

também carinhosa, generosa, amiga, conselheira etc. Seu Júlio e Seu Dondom são

relembrados como pessoas prestativas e companheiras.

Houve momentos que o porteiro tentava realizar ações que não correspondiam a sua

função, como podemos verificar em um ofício de 04 de fevereiro de 1939, onde o prefeito

municipal, Antonio Mesquita, reclama à diretora Predicanda Amorim, os intrometimentos do

porteiro Julio Lobato, durante uma reforma do grupo escolar:

Acontece, porém, que permanecendo ali diariamente o porteiro do Grupo

Escolar, entendeu esse cidadão de dar ordens com relação aos serviços.

É justamente esse motivo por que levo ao conhecimento da V. Excia. tal fato

pedindo providencias para que não se reproduza, fim de não trazer

embaraços as ordens emanadas por esta Prefeitura, a quem cabe administrar

as aludidas obras (OFÍCIO, nº 30/1939).

A atitude do porteiro Julio Lobato em “dar ordens com relação aos serviços”, como

observou o prefeito Antonio Mesquita, pode ter sido inconveniente, mas justifica-se à medida

que o porteiro era o único funcionário da instituição presente no momento daquela reforma, já

que as aulas não haviam iniciado, e a diretora provavelmente estaria em Belém. Por outro

lado, o porteiro tinha pelas suas atribuições alguns poderes (estava acima dos serventes na

hierarquia) e responsabilidades pela integridade física do estabelecimento escolar.

Os porteiros e os serventes participavam do processo educativo, organizando a

mobilidade, a conduta das crianças fora da sala de aula e mantendo a preservação e a higiene

dos estabelecimentos. Seriam a extensão dos olhos e ouvidos do (a) diretor (a) nos momentos

em que os alunos não estivam sob o controle dos professores. Prestavam uma importante

contribuição para o funcionamento e manutenção física e moral da instituição. Sem eles a

escola não seria aberta, as dependências não estariam limpas, o corredor do estabelecimento

estaria desorganizado.

Os sujeitos escolares (diretores, professores, alunos, porteiros e serventes)

transformaram as dependências do grupo em um espaço de encontro entre pessoas distintas.

Tentou-se camuflar as diferenças culturais, étnicas, sociais, econômicas, religiosas e políticas

através da uniformização dos corpos e das almas que ocorriam nas atividades ritualizadas do

118

cotidiano. Entretanto, as faltas de alunos e professores sem justificativas, as suspensões de

alunos por despeito às normas institucionais, as ocorrências sobre funcionários que não havia

assimilado as regras, demonstram que a política de controle e imposição das normas estatais

não foram aceitas por todos.

Na seção seguinte, analisaremos os saberes ensinados às crianças no Grupo Escolar de

Igarapé-Miri e as formas de veiculação destes conhecimentos. Selecionamos, dentro do que as

fontes nos permitiu, alguns rituais para analisarmos, a saber: festas escolares, distribuição do

tempo, recreio, aulas e exames avaliativos.

119

4 EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS NO GRUPO ESCOLAR DE IGARAPÉ-MIRI

Não resta dúvida que a celebração das grandes datas, a explicação dos

grandes feitos por que passou a pátria são a mais bella lição que se pode dar

a mocidade. O patriotismo nasce com o homem, porém cresce e alimenta-se

ao contato social. O homem torna-se apto para grandes empresas si desde o

seu berço não vê ao redor de si senão o amor do bem e da virtude. É na casa

paterna, portanto, que começa a formar-se o patriota e o cidadão, sob a

influencia do sorriso materno, mas é na eschola que esta formação si decide

e completa. É lá que, aos 10 ou 12 annos, começa a criança a fazer-se

homem e procurar o modelo que deve imitar durante todo o correr de sua

existência; é ahi, portanto, que o professor deve procurar incutir no coração

dos seus alumnos o verdadeiro amor á pátria e todas as virtudes que lhe

fazem cortejo (A ESCOLA. Discurso de Virgilio Cardoso de Oliveira,1901,

p. 796).

Este trecho é parte do discurso realizado pelo escritor Virgilio Cardoso de Oliveira, na

19ª sessão ordinária do Conselho Superior de Instrução Pública do Pará, em 30 de janeiro de

1901 e publicado na revista “A Escola: revista official do ensino no Estado do Pará”, em maio

de 1901. Para o escritor, as celebrações cívicas são importantes para que as crianças

conheçam os fatos históricos e aprendam a amar a Pátria. O patriotismo é inerente ao ser

humano, mas desenvolve-se no cotidiano: começa em casa e se completa na escola. O

professor tem a missão de tatuar no coração das crianças o amor à Pátria e as virtudes para ser

um autêntico patriota. A instrução e civilização de crianças, realizada através dos rituais

escolares diários, tornou-se indispensável à construção do modelo de homem cívico e patriota

idealizado pelos republicanos.

Nesta seção, iremos discutir os saberes repassados em alguns rituais instrucionais

cotidianos que ocorreram no Grupo Escolar de Igarapé-Miri, os quais são múltiplos e

funcionam como um caleidoscópio, pois mesmo possuindo uma única origem ou uma única

fôrma (único molde), seguiram diversas direções, entrecruzando-se e afastando-se mútua e

coordenadamente com a mesma finalidade propulsora discursiva de progresso da nação e

modeladora da civilização, pois os saberes repassados ritualisticamente deveriam instruír e

civilizar as crianças para serem o futuro cidadão republicano brasileiro.

4.1 RITUALIZAÇÃO DO COTIDIANO

Pátria e Escóla

A Pátria, meus caros meninos, não é somente o vasto territorio em que

vivemos, o sólo que cultivamos, a terra que nos viu nascer, esse conjuncto de

incomparaveis bellezas naturaes, que chamamos carinhosamente — Brazil.

Não: sentimol-a tambem em tudo que nos desperta o affecto ou o

enthusiasmo pelo nome brazileiro, – nas estatuas dos heroes, nas grandes

120

datas da historia, nas obras primas dos artistas, nos monumentos da literatura

[...].

Não, não basta: o amor da Patria sem à orientação necessária [...]. Para seu

cultivo, porém, ha dois grandes e bellos scenarios, intimamente ligados, aos

quaes deveis o maior acatamento: — a Familia e a Escóla.

Si ao deixar o seio carinhoso do lar, onde a alma desabrocha, não vierdes

devidamente encaminhados, por conselhos e exemplos valiosos, para a

sociedade civil, esta receberá um elemento negativo para seu progresso, sem

que possa ser bastante efficaz a acção civilisadora da escola [...]. Podereis,

porventura, servir bem á Pátria, ignorando os deveres que ella impõe,

desconhecendo suas grandezas physicas e moraes?

Assim, a escóla é o grande templo do trabalho, onde o mestre, verdadeiro

sacerdote, prepara na mocidade estudiosa o futuro da Patria. Amae, pois, a

escóla: ahi obtereis não somente o esclarecimento de vossa intelligencia, mas

ainda o espirito de ordem, de disciplina, de estimulo e de solidariedade,

indispensaveis ao convivio social (OLIVEIRA, 1903, p.1-5).

O recorte do texto “Pátria e Escola” contida no capítulo I do livro didático “A Pátria

Brazileira”, destinado à educação cívica, de Virgilio Cardoso de Oliveira (1868-1935), então

diretor do Instituto Cívico-Jurídico Paes de Carvalho, publicado em 1903. É um livro

volumoso com 15 capítulos, 358 páginas com 260 gravuras (várias ocupam a página inteira),

que tem como marco a implantação da República, pois discute em poucas páginas os períodos

anteriores (colônia e império), elogia as figuras históricas do movimento republicano

(Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, dentre outros), expõe em poucas páginas as

configurações externas do Brasil e atem-se a exposição de todos os estados brasileiros e o

Distrito Federal de maneira descritiva e mecânica, sem análises. Segundo Antonio José de

Lemos, intendente municipal de Belém entre 1897 e 1911, “A Pátria Brazileira”, é um livro

“destinado a prestar os mais relevantes serviços á mocidade escolar e ao Brazil, pondo-lhe em

destaque as grandezas, quer com relação à vida industrial, quer no que concerne à vida

espiritual e histórica” (LEMOS,1903, p. 2). É, portanto, uma obra destinada ao elogio da

República brasileira.

No dia 16 de outubro de 1904, durante a primeira festa anual do Grupo Escolar de

Igarapé-Miri, o aluno Raymundo Pinheiro Garcia, recitou o texto “Pátria e Escola” do livro”

“A Pátria Brazileira” contida no início desta seção, e deixou a população da cidade de

Igarapé-Miri, que se espremiam no salão do grupo escolar, emocionada. De acordo com o

relatório de 1904 do diretor da instituição, major Aristides dos Reis e Silva, o Jornal “A

Província do Pará”, nas edições dos dias 21 a 23 de outubro de 1904 trouxe recortes sobre esta

festa, e em um destes dias fez elogios a participação dos alunos destacando a participação de

Raymundo:

121

Releva porém, salientar, além de algumas alumnas que excederam em muito

a espectativa, tal modo garboso, palavra final, gesticulação prompta e

adequado uma scena tocante, e comovedora produzida pelo alumno

Raymundo Pinheiro Garcia, de 10 anos de idade, que tocasse no seu bello

recitativo “A Patria” do grande e esforçado educador da mocidade paraense,

Dr. Virgílo Cardoso de Oliveira, o coração de toda a assistencia, provocando

sensação tão delizada que fez, como que possuindo o auditorio, a maioria

derramar sentidas lágrimas (PARÁ. Relatório de Aristides dos Reis e Silva,

1904, p.626).

Com 10 anos de idade, cursando o 4º ano, o miriense Raymundo Pinheiro Garcia, era

filho do Coronel José Garcia da Silva, Intendente Municipal de Igarapé-Miri entre os anos

1897 a 1906 (LOBATO, 2007). De acordo com o relatório final de 1904, Raymundo aprendeu

ler e escrever em casa com o próprio pai. Foi o 46º aluno a ser matriculado no grupo escolar

em 1904, onde estudou somente o ano letivo de 1904, foi um aluno de boa conduta e de bom

aproveitamento, sendo aprovado plenamente nos exames finais (Pará, Relatório de Aristides

dos Reis e Silva de 1904,). Seria um aluno que se enquadrava na classificação “adiantado”

para diferenciar-se dos “atrasados” e talvez recebeu o destaque midiático por ser filho do

intendente municipal, que fora o mediador junto ao estado da instalação deste grupo escolar e

patrocinador, já que a intendência municipal pagava o aluguel da casa onde funcionava a

instituição educativa.

Segundo o relatório de Aristides dos Reis e Silva de 1904, além de Raymundo

Pinheiro Garcia, outras crianças (Alzira Caripuna, Anna Machado, Joanna Andrade, Victoria

Caripuna, Almerinda Caripuna e Almerinda Andrade), foram citadas no Jornal “A Província

do Pará” nas edições dos dias 21 a 23 de outubro de 1904, como componente da equipe

celebrante do ritual da festa anual de 1904. Nas suas apresentações as alunas declamavam

poesias “de cór”, faziam agradecimentos espontâneos aos professores e diretor pela instrução

recebida. A população assistia às apresentações, aplaudindo e ao mesmo tempo admirada:

como crianças em pouco tempo de estudo conseguiam demonstrar tamanho desenvolvimento

escolar.

As alumnas Alzira Caripuna, Anna Machado, Joanna Andrade, Victoria

Caripuna, Almerinda Caripuna, Almerinda Andrade, também nos seus

complicados e não pequenos papeis, receberam uma verdadeira ovação que

tocou ao delírio, sendo que as duas primeiras, de tal modo chegaram a

desenvolver-se que torna-se inacreditável em meninas de tão pouco tempo

de estudos, terem o adiantamento por estas reveladas. A primeira além de

uma poesia bem recitada, proferiu dous discursos, ambos de cór e bem

declarados, um correspondia a II tiras de papel de lettra minuscula, sobre a

mocidade e os deveres desta para com a velhice, e outro, acto espontaneo

como agradecimento á sua digna mestra e seu distincto diretor, pelo grande

labor não só no preparo das alumnas suas, como pela delicadeza e interesse

122

na forma de sua educação (PARÁ. Relatório de Aristides dos Reis e Silva,

1904, p. 627).

No mesmo relatório de 1904, o diretor do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, expôs um

mapa de matrícula do referido ano letivo. Neste mapa consta o nome do aluno, o município de

origem, nome do responsável, primeiro educador, a série em que estava matriculado, a

conduta moral, o aproveitamento intelectual, o resultado no exame e a observação, onde é

possível perceber o desenvolvimento do aluno na escola. A partir deste mapa conseguimos

obter dados dos alunos citados:

Alzira e Almerinda Corrêa Caripuna eram irmãs gêmeas e tinham 12 anos de idade.

Elas eram irmãs de Victoria Corrêa Caripuna, de 10 anos. O primeiro educador dessas

crianças foi o próprio pai, José Fleuny Corrêa Caripuna (vereador de Igarapé-Miri entre 1903

a 1906), natural de Igarapé-Miri. Ambas cursaram o 4ª ano em 1904: Almerinda e Victoria

foram consideradas alunas de boa conduta e bom aproveitamento escolar, aprovadas

plenamente nos exames finais de 1904. Já Alzira foi aprovada com distinção e foi considerada

uma aluna de ótima conduta e ótimo aproveitamento (PARÁ. Relatório de Aristides dos Reis

e Silva, 1904).

Anna Sanches Machado (12 anos) iniciou seus estudos em casa, tendo como primeiro

educador o seu pai, Maximiliano Fonseca, nascido no próprio município. Ela cursava neste

período o 4º ano e foi aprovada plenamente nos exames finais e com distinção, sendo

considerada como aluna de ótima conduta e ótimo aproveitamento (PARÁ. Relatório de

Aristides dos Reis e Silva, 1904).

Joanna José Andrade (11 anos), natural do município de Cametá, era filha de Feliciano

José Andrade, foi aprovada plenamente como aluna de boa conduta e bom aproveitamento.

Almerinda Andrade (9 anos), oriunda do município de Abaeté (atual Abaetetuba), era

filha de Veridiano Conceição, cursou em 1904 o 2ª ano, foi aprovada plenamente e

considerada aluna de boa conduta e bom aproveitamento (PARÁ. Relatório de Aristides dos

Reis e Silva, 1904).

Subentende-se que as alunas educadas pelos pais, chegaram à escola sabendo ler e

escrever, e tiveram no referido ano o primeiro contado com uma instituição escolar. Estas seis

alunas e o Raymundo (com quem iniciamos esta discussão) possuem algo em comum: são

alunos do 4º ano, sabem ler, são filhos de famílias influentes no município. Constatamos que

o rito também tinha a função de demonstrar à sociedade o desenvolvimento da instituição,

através de seus alunos, mas funcionava também como um elemento meritocrático, haja vista

123

que era executado pelos melhores alunos, como um prêmio ao mérito individual e ao mesmo

tempo um destaque à suas famílias, algumas chefiadas por pessoas importantes na localidade.

As crianças escolhidas para o ritual deveriam ter destaque intelectual e moral, pois passariam

a representar a imagem da escola na comunidade. Seriam socialmente reconhecidos como

parte daquela instituição que o educava. As demais crianças que não se destacavam na escola,

eram silenciadas, ficando praticamente invisíveis socialmente.

A comoção do povo, o derramamento de lágrimas e a sensibilidade cívica dos

participantes do ritual parecem informar ao leitor de “A Província do Pará” que o espírito

patriótico, de civilidade começava a fazer parte dos munícipes de Igarapé-Miri. O grupo

escolar estava cumprindo o seu papel de instruir e educar o povo: alfabetizando e civilizando

as crianças, e estas, por sua vez, transmitindo parte do que aprendiam às suas famílias e

consequentemente à comunidade, mudando hábitos e costumes considerados incivilizados,

como o impatriotismo e o desamor pela Pátria mãe.

No início do século XX, segundo Souza (1998, p. 268) “a escola pública estava se

constituindo não só como o lugar onde se ensinava os valores cívicos, mas como instituição

guardiã desses valores, cuja ação moral e pedagógica se estendia para toda a sociedade”.

Implantar nas crianças os valores republicanos era fundamental à manutenção do sistema

vigente, pois estava presente na memória de muitos pais destas crianças o saudosismo do

sistema político anterior.

Os movimentos contrários ao governo demonstravam até dentro da oficialidade a falta

de espírito patriótico pela república. O Jornal “A República”, de circulação em Belém, Pará,

na edição de 10 de setembro de 1893, traz a matéria de que um grupo de oficiais superiores da

Armada Brasileira, no Rio de Janeiro, liderados pelo Contra Almirante Custodio de Mello,

tomaram dois navios e tentaram derrubar o governo central (A REPÚBLICA, 1893). Esse

episódio demonstra que o sistema político brasileiro precisava combater os seus opositores,

instruir e civilizar as crianças para que se formassem no futuro, defensores e amantes da

república visando trazer a ordem e a tranquilidade, elementos indispensáveis ao

desenvolvimento e a prosperidade econômica de qualquer país.

A ordem e a tranquillidade publicas são, de certo, condições essenciaes para

a estabelidade das instituições e prosperidade de qualquer paiz, nas

circumstancias especiaes em que esta o Brazil na infancia de um regimen

governamental, devem pugnar todos para que ordem não seja perturbada [...]

(A REPÚBLICA, 1893, p. 1).

124

A festa anual do Grupo Escolar de Igarapé-Miri realizada em 16 de outubro de 1904

foi o único evento social do dia no município, entre os raríssimos que ocorriam durante o ano,

como a visita de um padre para celebrar uma missa ou de um político em época de campanhas

eleitorais, dentre outros. Além desta festa escolar, o diretor descreveu no seu relatório de 1904

que três outras ocorreram: duas realizadas durante o recreio escolar, que constituiu em

saudações dos alunos aos professores em virtude de datas natalícias e uma seção literária

dedicada ao inspetor João Pereira de Castro, em sua passagem por Igarapé-Miri em agosto de

1904.

[...] saudações dos alunos, durante o recreio, aos professores, por ocasião dos

seus anniversarios natalícios, orando diversos alumnos. Outra dedicada ao

distincto normalista João Pereira de Castro, quando em visita de inspecção

neste grupo [nos dias 24 e 29 de agosto], a qual constou de uma secção

litteraria, cujo programa foi o hymno infantil cantado no princípio e no fim

da sessão e vários discursos e poesias recitados pelos alunos (PARÁ.

Relatório de Aristides dos Reis e Silva, 1904, p. 624).

As comemorações dos aniversários dos professores e a seção literária em homenagem

ao inspetor escolar foram eventos internos. Entretanto, a festa anual ocorrida em outubro foi o

primeiro e único evento realizado pelo grupo escolar em 1904 destinado a comunidade.

Segundo o diretor Aristides dos Reis e Silva, as festas escolares são um “complemento directo

do desenvolvimento intelectual da mocidade” (PARÁ. Relatório de Aristides dos Reis e Silva,

1904, p. 624).

A data da festa anual21 foi sugerida pelo inspetor escolar, o normalista João Pereira de

Castro, conforme informa o diretor deste grupo escolar no relatório do ano de 1904, enviado

ao Secretário da Instrução Pública do Pará, onde Aristides dos Reis e Silva sugere que as

próximas festas anuais sejam homologadas pelo Secretário (PARÁ. Relatório de Aristides dos

Reis e Silva, 1904). Partindo desta prerrogativa acredita-se que o secretário da Instrução

Pública deva ter indicado o dia 27 de abril (data alusiva à fundação da escola) como festa

anual, já que em anos posteriores foi o evento principal. Como era previsto no capítulo I, art.

II, do Regimento interno dos grupos escolares de 1904, “em cada grupo haverá uma festa

escolar anual, cuja data será marcada pelo Secretario de Estado da Instrucção Publica”.

21 No Relatório dos exames finais do Grupo Escolar de Igarapé-Miri de 1904, o diretor Aristides dos Reis e Silva

afirmou que a festa anual de 1904 desta instituição iria se realizar no dia 16 de novembro, acredito que tenha

mudado de ideia em acatar a data de 16 de outubro proposta pelo inspetor escolar, porque o ano letivo de 1904 foi

encerrado em 08 de novembro, sendo improvável realizar uma festa escolar fora do período letivo (16/11), pois os

funcionários e alunos já estariam de férias (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 31/ 10/ 1904).

125

A festa anual do Grupo Escolar de Igarapé-Miri de 1904, foi um evento

disputadíssimo pelos moradores e presença confirmada de autoridades locais e representações

estaduais, pois os documentos analisados, na maioria das vezes encontramos políticos locais

representando os estaduais. Para esse evento anual, foram convidados: o governador do

estado, Augusto Montenegro, e o governador em exercício, Senador Antonio Lemos,

representante do Jornal “A Província do Pará”, o prefeito e presidente do Conselho Escolar

Coronel José Garcia da Silva, autoridades locais e todas as famílias, inclusive do meio rural

com crianças matriculadas na instituição. Barros (2007) destaca que nas festas cívicas eram

convidadas as autoridades municipais e a população da localidade. Em geral, essas

autoridades seriam os próprios patrocinadores do evento.

Nas comemorações cívicas [...] eram convidados todas as autoridades

municipais e extenso público, visando a atingir primeiramente a elite local,

representantes das esferas instituídas na Educação, Saúde, Segurança Pública

além dos representantes legais do Executivo, Legislativo e Judiciário,

geralmente, os promotores desses eventos festivos (BARROS, 2007, p.143-

134).

O convite às autoridades e comunidade local para participarem dos principais eventos

escolares fazem parte da ritualização do cotidiano escolar, onde a escola se organiza para

demostrar à sociedade que os objetivos educacionais esperados, estavam sendo cumpridos, ou

seja, que a escola fazia jus à confiança depositada pela comunidade em seu quadro funcional

para formar o futuro cidadão. O artigo 115, parágrafo 4º e § 2º do Regulamento do Ensino

Primário do Estado do Pará de 1931, determinava que na festa de encerramento do ano letivo

deveriam ser convidados pelo diretor da escola: autoridades escolares, professores locais e

familiares dos alunos.

Além de exaltar o valor da instituição educativa e criar uma espécie de poder cultural

ao diretor, professores e alunos, o ritual aberto à sociedade, também funcionava para exaltar o

sistema político e o próprio governo. Por isso, os convites eram necessários, e serviam para

acalentar o ego daquele grupo político, e ao mesmo tempo serviam para o diretor demonstrar

para o seu padrinho político que estava desenvolvendo um ótimo trabalho.

Souza (1998) aponta que a instituição educativa abria-se à comunidade para ser

admirada. Por isso, nos eventos escolares destinados à sociedade mostrava-se de maneira

teatral.

Configurada como um microcosmo próprio encerrado por muros, grades e

paredes e outras fronteiras materiais, a escola abria-se à cidade, à rua, à

sociedade, aos alunos, aos seus pais, aos seus amigos e a suas famílias. Nas

126

festas e nas exposições ela se dava a conhecer e a admirar ainda que fosse de

forma teatralizada e figurativa” (SOUZA,1998, p. 261).

Com base em Goffman (2015) destacamos que o ritual destinado ao público externo é

construído para esconder as lacunas, os problemas internos e as deficiências da instituição.

Por isso, tudo é belo. Todas as palavras exaltam os egos envolvidos, todos ficam satisfeitos.

Mas no fundo, como em um teatro, se tem uma realidade criada e recriada com maior requinte

a cada nova edição daquele ritual. Portanto, a instituição selecionava os alunos considerados

“melhores”, aqueles que pedagogicamente assimilaram a cultura republicana, para participar

da cerimônia ritualística que tinha como finalidade principal a exaltação da própria República.

Goffman (2015) analisando as cerimônias institucionais no manicômio do Hospital St.

Elizabeths, Washington, EUA, percebeu que as cerimônias destinadas aos visitantes,

configuravam-se como uma exibição, em que o visitante teria uma visão ficcional, criada

pelos organizadores do evento, com o objetivo de exaltar o valor social e reduzir a pressão da

sociedade sobre a instituição.

A exibição institucional pode também ser dirigida para visitantes em geral,

dando-lhes uma imagem ‘adequada’ do estabelecimento – imagem calculada

para reduzir seu vago temor de estabelecimento involuntário. Embora

aparentemente vejam tudo, os visitantes tendem a ver, naturalmente, apenas

os internados mais cooperadores e serviçais, e as partes melhores do

estabelecimento (GOFFMAN, 2015, p. 91).

As festas cívicas desempenham um caráter pedagógico, no sentido em que educavam a

sociedade a reverenciar e decorar os nomes e datas considerados importantes ao regime

político em vigor.

No início da República, dava-se destaque nos grupos escolares às comemorações

alusivas à Proclamação da República nos dias 15 e 16 de novembro. A partir da Era Vargas

(1930 a 1945), o destaque festivo concentrou-se na Independência do Brasil. O Diário do

Estado do Pará de 04 de setembro de 1934 registrou o recebimento de um ofício circular pelo

Comandante da 8º Região Militar de Belém, tenente-coronel Libanio Augusto da Cunha

Mattos, enviada do Rio de Janeiro, sede do Governo Federal na época, determinando que

fosse dada maior visibilidade as comemorações da Independência do Brasil, que já era

considerada a maior celebração nacional.

Commandante da Oitava Região Militar, Belém. De Rio. Circular 355.

Intuito dar maior expressão cívica aos festejos 7 de setembro proximo

melhorando interpretação geral solemnidades militar relativas maior data

nacional, determine que em todas as unidades, Sociedades e Escolas de

instrucção militar, sejam feitas nos dias 2 e 5 de setembro prelecções simples

127

explicativas sobre nossa emancipação política, sua significação e grandeza

moral dos brasileiros que collaboraram para seu advento. Taes prelecções

devem obedecer a um programma relacionado. Dia 7 todas as Unidades,

Tiros de Guerra e Escolas de instrucção deverão formar ás 9 horas para

prestar continencia á Bandeira e fazer um desfile em honra da Pátria Deveis

ainda empenhar-vos para que outras festas de carater militar ou civico se

realizem gravando melhor possivel no espirito de cada cidadão o amor pela

independencia e integridade da nação (PARÁ. Diário do Estado, 1934, p.

s/n).

Uma festa de exibição escolar voltada à sociedade envolve recursos econômicos que

necessitam de patrocinadores, mesmo que haja contribuição dos funcionários da instituição,

não são suficientes para pagar as despesas de um rito pomposo. Nesse sentido, a quem caberia

as despesas dos ritos escolares mais glamorosos?

No Boletim Official de abril a junho de 1907, na secção “Atos do Sr. Secretário”,

consta que no dia 6 de abril de 1907, foi aprovado pelo Secretário de Estado da Instrução

Publica, o programa de uma festa escolar, proposto pelo diretor do Grupo Escolar de Igarapé-

Miri, Aristides dos Reis e Silva, e que iria se realizar do dia 27 de abril de 1907. Na seção

referente aos ofícios do mês de abril, na mesma revista, o secretário determina que seja

entregue ao procurador do diretor do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, tenente-coronel

Agostinho Monteiro Gonçalves de Oliveira, a quantia de 300$000 (trezentos mil reis) para

custear as despesas da festa escolar do dia 27 (PARÁ. Boletim official, 1907).

No ofício s/n expedido em 21 de maio de 1943, pelo prefeito municipal de Igarapé-

Miri, Raimundo Monteiro Lopes, foram elencadas as principais festas cívicas do município de

Igarapé-Miri, e evidentemente realizadas com a participação do grupo escolar da cidade, a

saber: 19 de abril data alusiva ao Dia do Exército Brasileiro, entretanto a partir de 1943

passou-se também a comemorar o Dia do índio (Decreto-lei 5.540/43 assinado por Getúlio

Vargas); 07 de setembro e 10 de novembro, início das comemorações da Proclamação da

República que ia de 10 a 16 de novembro. Referindo-se ao ritual do dia 19 de abril, o prefeito

municipal, expôs que os recursos destinados ao evento foram gastos com compra de bombons

e doces aos estudantes, foguetes, ornamentação e 290 quilos de carne que foram distribuídos

para os pobres da cidade. O prefeito solicitou ao governo do estado mais recursos para as

próximas comemorações cívicas. Podemos inferir que estas fossem em 1943 as principais

festas escolares, e que as despesas destas festas eram custeadas pelo poder público estadual,

enquanto que as festas menos expressivas (internas) não teriam financiamento específico às

despesas.

128

As crianças do grupo escolar participavam de cerimônias cívicas organizadas pela

administração municipal, é o que constatamos em um telegrama enviado em 1943 por

Antônio Augusto de Mesquita, prefeito municipal de Igarapé-Miri, a Magalhães Barata,

Interventor Federal do Pará, onde o prefeito comenta sobre a cerimônia cívica alusiva ao

Estado Novo, que foi promovido pela Prefeitura Municipal de Igarapé-Miri com a presença

das crianças matriculadas no grupo escolar da cidade. No telegrama, o prefeito de Igarapé-

Miri descreve as etapas do ritual cívico em homenagem ao Estado Novo: as solenidades

tiveram início às 5h da manhã com uma alvorada pelas ruas da cidade ao som da banda

musical, às 6h aconteceu o hasteamento da bandeira nacional em frente ao prédio da

prefeitura, às 9h foi realizada uma sessão cívica no Paço Municipal, e às 16h encerrou-se com

um torneio esportivo com premiação dos vencedores.

Data Estado Novo condignamente comemorada cinco horas da manhã

alvorada banda musica local percorrendo cidade pt seis hasteamento banda

nacional prédio prefeitura presente autoridades nove horas sessão civica

paço municipal presença autoridades famílias creanças grupo escolar falando

Dr. Otélo Leoncio Antonio Serra e Olivio Rodrigues sendo nome Dr Getulio

Vargas Vossencia bastante ovacionados vg 16 horas festiva esportivo disputa

premio Prefeitura presidentes grupos ofereceram (TELEGRAMA, s/n,

1941).

Este rito foi realizado para relembrar e exaltar a Pátria com a presença da comunidade

local, das autoridades e dos alunos do Grupo Escolar de Igarapé-Miri. É evidente que para

este rito acontecer precisou-se de estrutura econômica e humana para organizar e coordenar o

evento.

Conforme Goffman (2015), todo ritual é composto por três etapas: organização,

cerimônia e repercussão positiva do cerimonial.

Essas etapas podem ser observadas na festa anual do Grupo Escolar de Igarapé-Miri

de 1904, onde a organização e coordenação foram feitas pelos funcionários da instituição,

representado a primeira etapa do ritual. Nessa etapa, foi definida a data do evento, um

programa com as atividades, o convite às famílias dos alunos, a confecção e envio de ofícios

com a programação do evento, convidando as autoridades estaduais, locais e a redação do

jornal patrocinado pelo governo estadual. O diretor Aristides dos Reis e Silva

estrategicamente convidou os jornalistas para poder divulgar o evento na esfera estadual.

Segundo Goffman (2015, p. 85), “uma das formas mais comuns de cerimônia institucional é o

órgão de divulgação – geralmente um jornal semanal ou uma revista mensal”.

129

Ainda nesta etapa, os professores selecionaram e ensaiaram os alunos para realizarem

as apresentações. Os serventes realizaram a limpeza da instituição, a fim de demonstrar aos

visitantes a preocupação diária com a higiene: “Na véspera [do ritual] começa uma limpeza

geral” (GOFFMAN, 2015, p. 92). Tudo foi lavado e arrumado para causar boa impressão aos

visitantes.

A segunda etapa compreende a realização do cerimonial. Nesse dia, tudo deveria estar

preparado, e os celebrantes da liturgia deveriam estar treinados ou ensaiados. Começa a

exibição teatral: ocorre o discurso dos convidados ilustres e do diretor, a apresentação dos

alunos recitando poesias e a finalização do evento com o hino nacional e distribuição de doces

e bombons aos participantes.

A terceira e última etapa compreende a repercussão positiva do evento. Segundo

Goffman (2015), para o rito de exibição se completar precisa da repercussão positiva do

cerimonial; Dessa forma, entram em cena os comentários positivos do evento, realizados

pelos participantes, dentre estes os jornalistas de “A Província do Pará”. De acordo com o

diretor Aristides Silva, as edições de 21 a 23 de outubro de 1904 do referido jornal trouxeram

várias notas fazendo elogios à grandiosidade do evento, aos organizadores, aos familiares dos

alunos e a atuação do diretor escolar, dando destaque a utilidade da escola graduada e o

empenho do governador Augusto Montenegro.

Com effeito a par da numerosa assistencia que enchia os salões do

importante predio do grupo, linda e galhardamente ornado onde se notavam

as mais distinctas familias de Igarapé-miry e algumas de Belem e da

multidão que apinhava-se no exterior d’aquella casa de ensino,

demonstrando o mais vivo emthusiasmo, lia-se communicativa em cada

rosto, parecendo alli completa toda a felicidade.

A festa escolar de Igarapé-miry, foi, sem duvida, um preito de homenagem

aos organizadores do actual systema de ensino, devido talvez a que

inspirações como estas poucas vezes surgem ao espirito do administrador,

tão rápida é a sua passagem na direção geral dos negocios publicos.

Cada dia que passa para a família paraense, vai-se firmando ainda mais na

sua consciência a utilidade da instituição escolar, pela forma que

actualmente se a vê em atividade em exito inegualvel.

O Dr. Augusto Montenegro, o moralizador das escolas, cuja energia

inquebrantavel ampara actos como este, dignos dos mais subitos encomios

deve esta intimamente satisfeito [...], sustentando o mestre, com a sua

elevadíssima profissão.

Temos certeza que nos estreitos limites de uma noticia não podemos fazer

conhecer em geral todos os pormenores da grandiosa festa escolar de

Igarapé-miry, imprimiu no animo dos assistentes o maior jubilo, alem de

firme convicção da proficuidade e magnificencia da formação actual do

ensino publico do Pará, vamos no entanto dar algumas ligeiras notas, após a

impressão da festa oriunda de um dever do regulamento escolar que ainda

neste ponto exprime o progresso das lettras paraenses, atenta a necessidade

130

da educação moral viver unida a educação civica (Pará. Relatório de

Aristides dos Reis e Silva, 1904, p. 625-627).

A divulgação positiva do ritual serve para multiplicar a ideia de que a instituição está

cumprindo o seu objetivo. Esse narcisismo institucional é importante para que a escola tenha

visibilidade e respeito externo; e o diretor receba elogios e reconhecimento de seus pares e

superiores que não puderam comparecer ao evento. Por fim, a divulgação do ritual pelo jornal

situacionista, conforme a transcrição feita pelo diretor Aristides dos Reis e Silva em seu

relatório de 1904, expunha somente o que o governo permitia, ou seja, a exaltação da Pátria

republicana, o compromisso que o governador do Pará tinha com a instrução pública e a

utilidade da instituição escolar, notadamente dos grupos escolares. Esses e outros ritos

ajudaram a formar o modelo de cidadão brasileiro idealizado com a implantação e invenção

da república.

4. 1.1 A invenção da República brasileira

[...] restava o problema da legitimação popular. Isto significava a

necessidade do uso de outros signos além da palavra escrita, especialmente o

uso de imagens, alegorias, símbolos e mitos, capazes de atingir não só a

cabeça mas o coração e as aspirações populares (SOUZA, 1998, p. 266).

A república brasileira nasceu desprovida de participação popular. Foi um golpe de

estado político-militar sem derramamento de sangue, gestado no seio da elite econômica do

sudeste do país, e orquestrado por parte do exército brasileiro, na figura respeitada e

fisicamente fragilizada, do marechal Deodoro da Fonseca.

Para a maioria da população fluminense o ato não passou de uma parada militar, de

um desfile previamente ensaiado, pois após o ato melancólico do dia 15 de novembro de

1889, a jovem nação continuou com os mesmos quadros funcionais, ou seja, os mesmos

funcionários da monarquia continuaram a ocupar os cargos políticos (CARVALHO, 1987). A

República não representou oportunidades e democratização ao exercício do poder político a

população carente, principalmente a analfabeta que continuou sem direito de voto, pois a

primeira Constituição Republicana (1891) “manteve a restrição do voto de analfabetos”

(XAVIER, 1994, p. 103).

No restante do país, como no longínquo estado do Pará, os ecos da Proclamação da

República chegaram pelos telégrafos e foram discutidos no Club Republicano Paraense

(fundado em 1886) e divulgado no Jornal “A República” (1886-1900), cujos leitores seriam a

própria elite econômica, política e intelectual, repetindo-se a exclusão popular ocorrida no Rio

131

de Janeiro. Ou seja, as discussões em torno das doutrinas republicanas não atingiram as

massas populares.

A cidade [Belém] projetada pela economia de exportação da borracha,

internacionalizara-se nos domínios das linguagens e dos rituais de uma

cultura mundializada, no que era então proclamado como estatuto do

progresso e da civilização. Os republicanos paraenses, na sua grande

maioria, saíram dos quadros dessa elite que a economia do látex melhor

definira, e cujo acesso à erudição francesa em geral, e à cultura política da

França em particular, modelara a bagagem intelectual com que se

apresentavam na cena política local, esgrimindo pela doutrinação

republicana (COELHO, 2002, 32).

Nos seus primórdios, o Club Republicano do Pará possuía em seus quadros Lauro

Sodré, Manoel Barata e Justo Chermont que alinhavam-se com as teorias evolucionistas,

contrapondo-se à revolução armada: “República sem revolução, sem traumatismos políticos,

sem choques profundos, salvo aqueles processados no plano doutrinário, era o ideal dos

republicanos históricos do Pará” (COELHO, 2002, p. 35).

Como projetos gestados em ambientes elitizados poderiam ser significativos para uma

população pobre, analfabeta e órfã (em relação à Pátria) do Norte do Brasil? O povo

desassistido pela Pátria mãe, de modo geral, era desconhecedor da sua nova identidade, pois

não eram mais súditos do rei, e sim “cidadãos” de uma nova nação. Mas que nação?

Precisava-se então, construir novas simbologias e criar novos mitos, para formar as almas

patrióticas, necessárias para compor as fileiras do exército e a mão de obra, que deveriam

proteger militarmente e desenvolver economicamente o país (CARVALHO, 1987).

Que pedagogia22 poderia ser utilizada para fazer com que o povo se identificasse com

a nação? A ausência popular na implantação da república brasileira cingiu um distanciamento

22 Entendemos pedagogia na perspectiva de Libâneo (2001; 2015), enquanto atos, processos e práticas educativas

realizada pela sociedade, em todos os contextos sociais, como parte fundamental da atividade humana. A

pedagogia ou pedagogias não acontecem só nas instituições escolares e mesmo as pedagogias escolares tem

como uma de suas finalidades educar à sociedade. Segundo Libâneo (2001, p. 157-158), “pedagogia é o campo

do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação − do ato educativo, da prática educativa como

componente integrante da atividade humana, como fato da vida social, inerente ao conjunto dos processos

sociais. Não há sociedade sem práticas educativas. Pedagogia diz respeito a uma reflexão sistemática sobre o

fenômeno educativo, sobre as práticas educativas, para poder ser uma instância orientadora do trabalho

educativo. Ou seja, ela não se refere apenas às práticas escolares, mas a um imenso conjunto de outras práticas.

O campo do educativo é bastante vasto, uma vez que a educação ocorre em muitos lugares e sob variadas

modalidades: na família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação, na política, na escola. De

modo que não podemos reduzir a educação ao ensino e nem a Pedagogia aos métodos de ensino. Por

consequência, se há uma diversidade de práticas educativas, há também várias pedagogias: a pedagogia familiar,

a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicação etc., além, é claro, da pedagogia escolar”.

132

das camadas populares em relação aos valores republicanos. Para moldar o cidadão

republicano, na sua maioria analfabeto, foram criadas estratégias pedagógicas.

O extravasamento das visões de república para o mundo extra-elite, ou as

tentativas de operar tal extravasamento, (...) não poderia ser feito por meio

do discurso, inacessível a um público com baixo nível de educação formal.

Ele teria de ser feito mediante sinais mais universais, de leitura mais fácil,

como as imagens, as alegorias, os símbolos, os ritos (CARVALHO, 1990,

p.10).

A pedagogia utilizada inicialmente objetivava ampliar os quadros da República no

Pará e divulgar o conteúdo doutrinário republicano, e estava restrito aos “clubes e jornais

[que] representavam as tribunas mais valorizadas pelos nossos republicanos, o locus onde

exercitavam a sua pregação e proclamavam o triunfo necessário e inevitável da República”

(COELHO, 2002, p. 31). Posteriormente, somou-se a esse objetivo, a necessidade de tocar o

coração do povo, objetivando “formar as almas republicanas para habitarem o corpo social [os

governos paraenses passaram a investir em] “outras formas de pedagogia [...], como as

cerimônias cívicas, com grande apelo popular, e o recurso à iconografia, ambos encastelados

na melhor tradição francesa” (COELHO, 2002, p. 32, 132).

Um dos exemplos imagéticos são os monumentos enquanto documento. De acordo

com Le Goff (2003, p. 526), “O monumento é um sinal do passado. [...] é tudo aquilo que

pode evocar o passado, perpetuar a recordação”. Nessa ótica, os monumentos são heranças do

passado, não o passado tal como ocorreu, mas construções oriundas de interesses temporais.

Não obstante, os documentos representam uma escolha do interlocutor, ou seja, o monumento

para ser documento precisa ser escolhido e lido. Assim, o documento-monumento foi pensado

e construído com a finalidade de criar uma memória oral e coletiva dos povos sem escrita em

torno de determinado fato político. Portanto, significa o reenvio às massas populares de

discussões políticas que circulavam no âmbito da memória escrita (LE GOFF, 2003).

Em 1897 foi erigido um conjunto escultórico denominado “Marianne”, na Praça D.

Pedro II, atual Praça da República, em Belém do Pará, que é uma representação alegórica da

República, cujo objetivo era pedagogicamente aproximar a república do cidadão, no sentido

que as datas, os vultos históricos e os principais acontecimentos da república pudessem ser

lidos, compreendidos e memorizados pela população. Estas imagens funcionavam como

restaurador e fixador da imaginação.

Esse atrelamento dos republicanos brasileiros aos simbolismo da tradição

republicana francesa fica patente, no caso, quando Justo Chermont fez ver à

Intendência Municipal a importância, como pedagogia cívica, de um

133

monumento à República, para levar os cidadãos a simpatizar com as

instituições republicanas, e assim criar um imaginário republicano

propriamente dito (COELHO, 2002, p. 61).

Dentre as cerimônias cívicas pode-se citar a alusiva à Proclamação da República,

realizada nos dias 15 e 16 de novembro, cujo objetivo era “reafirmar os princípios fundantes

da nova ordem e de exaltar o papel dos pais fundadores do novo regime”. Enfatizando “as

virtudes dos grandes homens cultuados pela religião laica do Positivismo” (COELHO, 2002,

p. 129,133).

E para modelar as crianças nascidas na República utilizou-se como ponto de partida a

educação popular, cuja pedagogia estava ligada ao aprendizado dos valores que enalteciam o

ser cidadão cívico e patriótico, amantes da nação e cumpridores de seus deveres sociais com o

estado. A pedagogia republicana estava presente diariamente nos rituais cívicos, visando

“associar a República às realizações duradouras do espírito humano” (COELHO, 2002, p. 83).

As liturgias, cultuavam os vultos históricos transplantado da monarquia ou oriundo da

República, como Tiradentes, Benjamin Constant, Floriano Peixoto, Joaquim Bonifácio dentre

outros, cujos valores positivista e liberal-burguês (como por exemplo, a meritocracia)

cultuados por estes deveriam contribuir para a formação do imaginário coletivo sobre a

República no Brasil. A república seria uma religião laica e positivista: “a ideia, de uma

República laica, conduzida pela chama do Progresso, seria comum aos quadros hegemônicos

do republicanismo no Pará, tocados pelos valores positivistas, doutrinariamente impregnados

do conservadorismo evolucionista advogado por Comte” (COELHO, 2002, p. 34). A

República seria moderada e ordeira e buscava acima de tudo a liberdade dos cidadãos. E a

educação popular despontava-se como o elemento propulsor do progresso e da civilização.

A educação popular passa a ser considerada um elemento propulsor,

instrumento importante no projeto prometeico de civilização da nação

brasileira [...] a educação popular foi associada ao projeto de controle e

ordem social, a civilização vista da perspectiva da suavização das maneiras,

da polidez, da civilidade e da dulcificação dos costumes (SOUZA, 1998,

p.27).

A pedagogia republicana destinada às classes populares visava formar cidadãos

cívicos: obediente, ordeiro, patriota dentre outras qualidades. Entretanto, não se destinavam a

formar o cidadão-político para ocupar os cargos de chefia do estado, pois esta função

continuava nas mãos da elite.

Para atender a este propósito, estas concepções pedagógicas passaram a ser aplicadas,

desenvolvidas e exploradas pela escola primária, notadamente pelos grupos escolares, onde o

134

prédio passou a ser concebido como um monumento-documento, que deveria ser lido por

todos a partir de sua experiência com a instituição: cada um armazenaria no seu inconsciente

uma experiência vivida na instituição. Segundo Viñao-Frago (2001, p. 63), “o que recordamos

são espaços [lugar em construção] que levam dentro de si, comprimido, um tempo. Nesse

sentido, a noção do tempo, de duração, nos chega através da recordação de espaços diversos

ou de fixações diferentes de um mesmo espaço”. Os espaços estão cheios de muitas

lembranças, cada pessoa que por ali passou tem algo a contar. O espaço do Grupo Escolar de

Igarapé-Miri marcou a vida de muitos alunos, funcionários, familiares e da comunidade em

geral. É um local que deverá ser recordado como lugar da ordem, da disciplina, já que foi a

fôrma modeladora de cidadãos nascidos com a República. O grupo escolar também tem a

função de evitar o esquecimento, por isso a existência do calendário escolar cíclico, onde nas

comemorações cívicas, segundo Souza (1998), a instituição educativa tem o papel de avivar,

preservar e fortalecer a memória nacional, que é a matéria-prima por excelência da construção

da identidade coletiva de uma nação.

Para Coelho (2002, p. 23) “o monumento é tanto um marco como uma marca”, o

prédio do Grupo Escolar de Igarapé-Miri exerceu esta dupla função, foi referencial na cidade

e marco na história do município, representando a marca do progresso e da civilização

moderna.

Como recorte imagético da pluridimensionalidade do urbano, todo

monumento é referencial de um espaço que, apropriado a uma presumível

indefinição topográfica, abrigará um bem cultural e um patrimônio

simbólico que o seus gestores proclamarão como legenda da identidade

coletiva dos cidadãos. O monumento, assim, enraíza-se progressivamente na

memória social como um elemento da própria história da cidade, percebido

como perene, atemporal, fragmento de um caleidoscópio imagético a reunir

as muitas figurações e representações o tecido polissêmico do que é

constituído o corpus urbano (COELHO, 2002, p.23-24).

O grupo escolar, enquanto monumento, exerceu estas funções, pois educou a todos:

pertencentes ou não à instituição: “O espaço não é neutro. Sempre educa” (VIÑAO-FRAGO,

2001, p. 75). As festas cívicas representavam a maneira como a escola queria ser vista pela

sociedade, ressaltando os valores republicanos.

A festa republicana chamava o cidadão a integrar-se ao universo de signos

que redefinia os parâmetros da sua lealdade à República, ao mesmo tempo

que universalizava os grandes emblemas – a começar, é claro, por Marianne

– pelos quais o cidadão reconhecia a República e se reconhecia nela. Havia,

portanto, uma nítida preocupação em formar uma alma republicana a habitar

o corpo social.[...] a festa republicana, no caso, cerimônias cívicas voltadas

ao enaltecimento do novo regime, precisamente porque a festa, vista por esse

135

ângulo, cerca-se do sentido de coesão, unidade, congraçamento em torno de

um valor comum [...] (COELHO, 2002, p. 132-133).

A pedagogia republicana foi instituída e adaptada aos grupos escolares,

transformando-os em espaços destinados à realização de espetáculos e rituais cívicos, em que

se ressaltava a importância da instrução escolar, como elemento indispensável para o

progresso da nação. Nas palavras de Souza (1998), a instituição escolar através das festas

cívicas, dos exames e exposições públicas estendeu a pedagogia política dos republicanos à

sociedade, criando-se uma identidade institucional e sacralizando o grupo como um elemento

de expressão da nação republicana.

Os exames públicos, as festas e exposições escolares e as comemorações

cívicas explicitam as múltiplas formas pelas quais a escola primária

construiu sua identidade institucional e estendeu sua pedagogia à sociedade

mais ampla. Dimensão simbólica da cultura escolar, os rituais e espetáculos

– momentos de dramatização do cotidiano – estiveram implicados na

construção da identidade institucional e desempenharam a função de

sacralizar o grupo como uma expressão da pátria e da República. Essa

pedagogia política e simbólica da escola primária não pode ser subestimada

na compreensão da cultura brasileira na transição do século XIX para o

século XX (SOUZA, 1998, p 277).

A pedagogia republicana desenvolvida pela escola primária compreendeu a

ritualização do cotidiano escolar objetivando instruir e educar as crianças através da formação

cívica e difundir a base da nacionalidade a toda sociedade a partir dos exames públicos, das

cerimônias patrióticas, das festas e exposições escolares, dentre outros, forjando novos

elementos culturais e transformando a escola em uma expressão do Estado. Internamente,

faziam parte desta pedagogia os ritos instrucionais presentes no método de ensino, nos

conteúdos programáticos, nas normas disciplinares da instituição, dentre outras coisas. Esse

modelo pedagógico visava criar almas consensuais para corporificar o Estado. Todas as almas

eram cidadãs, mas se dividiam entre dirigentes e trabalhadoras: as almas dirigentes eram

cidadãs sociais e políticas, e as almas trabalhadoras eram apenas cidadãs sociais. Portanto, os

ritos instrucionais tinham entre suas funções “reforçar os valores dominantes” (MCLAREN,

1991, p. 296).

Como os novos paradigmas se formam a partir dos velhos, a pedagogia republicana se

constituiu a partir de elementos laicos e religiosos anteriores.

O acoplamento dos ensinamentos acadêmicos e religiosos (incluindo seu

denso arsenal de símbolos e metáforas concomitantes) criavam um

intercâmbio que oscilava entre os valores religiosos e leigos. O efeito e tal

intercâmbio servia para acomodar uma visão de mundo cuja ordem era aceita

136

de forma não problemática, bem como a desigualdade, a opressão e o

respeito à autoridade. O poder e a legitimidade eram ligados simbolicamente

aos ‘nossos antepassados’, ‘nossa pátria’, ‘nosso Deus’ (MCLAREN, 1991,

p. 305).

Os ritos instrucionais serviram também para fomentar a santificação e importância do

espaço escolar, que representava um lugar sagrado, uma linha de montagem fabril (por

exemplo, divisão das aulas e marcação do tempo) e/ou um espaço comercial. Comparando-se,

nessa perspectiva, o prédio escolar a um templo, fábrica ou casa comercial, a liturgia diária

destes espaços é o cotidiano que foi ritualizado nas várias atividades, promovidas pelos

sacerdotes, operários ou vendedores que são os professores, fiscalizados pelo chefe imediato

que é o capataz, o diretor, que também é fiscalizado por outros. Os ritos são múltiplos e

ocorrem diariamente nas linhas de montagem, na igreja e na atividade comercial que

representa a sala de aula. Por fim, o conhecimento é representado pela produção da fábrica, os

lucros do comércio e a eucaristia; os alunos são os fiéis, os operários e os consumidores.

o conhecimento revelado [é] uma mercadoria sagrada necessária à salvação

material e para entrar em um céu cheio de mercadorias. Neste sentido [...] os

rituais do salão das aulas não eram senão módulos ou unidades rituais,

derivados do mais definitivo dos atos católicos de ensino – a celebração da

Eucaristia (MCLAREN, 1991, p. 296).

Nas cerimônias de ensino aconteciam vários ritos: entrada, recreação, saída, aula,

dentre outros. A sala de aula era um espaço rigidamente organizado, e, por conseguinte,

apropriado para promover a efetiva comunicação ritualizada, através de diálogos, símbolos,

controle dos corpos, tom de vozes, lições diárias. Além disso, as salas de aulas eram

ambientes disseminadores das visões de mundo. Na escola o tempo é ritualizado e os horários

são demarcados pelo toque da sineta ou campainha: entrada, recreio e saída. O professor além

de guardião do conhecimento é também um coreógrafo de símbolos. Os alunos são

considerados um corpo único, mascarando as diferenças sociais; entretanto, são divididos

entre adiantados ou atrasados. Conforme Souza (1998), o mito da identidade e unidade

nacional, foi trabalhado pelos republicanos com a utilização de símbolos, tais como a bandeira

e hino nacional, o soldado-herói etc. A construção da identidade e unidade coletiva era um

problema latente no Brasil, pois um país formado por várias nações nativas, várias

nacionalidades migratórias, por ex-escravos também oriundos de várias culturas, era um país

sem rosto. Portanto, a necessidade de se desenhar nas letras e nos símbolos a fisionomia para

o “novo” país. A escola primária assumiu um papel fundamental na construção do imaginário

republicano.

137

A escola primária republicana instaurou ritos, espetáculos, celebrações. Em

nenhuma outra época, a escola primária, no Brasil, mostrara-se tão

francamente como expressão de um regime político. De fato, ela passou a

celebrar a liturgia política da República; além de divulgar a ação

republicana, corporificou os símbolos, os valores e a pedagogia moral e

cívica que lhe era própria. Festas, exposições escolares, desfiles dos

batalhões infantis, exames e comemorações cívicas constituíram momentos

especiais na vida da escola pelos quais ela ganhava ainda maior visibilidade

social e reforçava sentidos culturais compartilhados. Eles podem ser vistos

como práticas simbólicas que no universo escolar, tornaram-se uma

expressão do imaginário sociopolítico da República (SOUZA, 1998, p. 241).

A instrução primária implantada pela República assumiu-se enquanto uma instituição

responsável pela formação cívica e patriótica do brasileiro, configurando-se um meio de

atuação e divulgação do regime político. Através da educação primária, o sistema político

ganhou visibilidade, pois seu discurso nacionalista reproduzido nos rituais cotidianos

conseguiu chegar ao coração das crianças. O sistema educacional formou uma rede

disseminadora do projeto político. As escolas estrategicamente foram usadas como núcleos

reprodutores das ideias do sistema político, que eram repassadas ritualisticamente. Os rituais

espontâneos ou repetitivos eram o meio pedagógico de reprodução e disseminação dos ideais

políticos, ou seja, através da repetição do rito, as crianças compartilhavam e assimilavam o

modelo de cidadão que o estado desejava (SOUZA, 1998; MCLAREN, 1991).

As crianças citadas no início desta seção estavam participando de um ritual escolar,

termo utilizado por McLaren (1991) para designar qualquer ação humana repetitiva em

qualquer intervalo de tempo. Para esse autor, os eventos que ocorrem no dia a dia da

instituição escolar podem ser denominados também de rituais instrucionais, no sentido que

instruem e educam as crianças. São eles: entrada, recreio, saída, aula, leitura, palestras,

exames avaliativos, festas anuais, dentre outros.

Goffman (2015, p. 85) pesquisando um hospital para doentes mentais nos Estados

Unidos, ou seja, uma denominada instituição total23 cunhou a expressão “cerimônias

institucionais” para designar o “conjunto de práticas institucionais – seja espontaneamente,

seja por imitação [...]. Tais práticas exprimem solidariedade, unidade e compromisso conjunto

com relação à instituição, e não diferenças entre os dois níveis”. Compreendem cerimônias

institucionais: as reuniões de grupo, os portões abertos, o boletim interno, os esportes

internos, dentre outros. Outra função dos rituais instrucionais é a coisificação das coisas, isto

23 “Uma instituição total pode ser definida como um local de residência e trabalho onde um grande número de

indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam

uma vida fechada e formalmente administrada” (GOFFMAN, 2015, p. 11).

138

é, tratar ou transformar os conceitos abstratos como se fossem coisas materiais, como é o caso

de Marianne, a personificação ou materialidade da ideia abstrata de República. Ao mesmo

tempo, idealiza-se a realidade, como por exemplo, a visão de trabalhador obediente, feliz e

satisfeito com sua profissão e salário.

Os eventos espontâneos ou repetitivos que ocorrem no cotidiano das instituições

educativas são denominados de rituais escolares ou instrucionais por McLaren (1991), e de

cerimônias institucionais por Goffman (2015). São expressões que apontam para o mesmo

significado, a saber: os rituais cotidianos de uma instituição educativa, quer seja escolar ou

total, visam instruir e educar através da repetição ou espontaneidade os seus educandos para

formar um modelo de homem-cidadão pretendido pelo sistema político vigente. Torna-se,

portanto, uma forma de controle social realizada através da tentativa de padronização do ser

humano a partir dos interesses do estado, podendo ser considerado uma política de cunho

nacionalista.

Diversos rituais foram adaptados ou criados para divulgar e fortalecer a República, tais

como: monumentos, iconografias, festas cívicas, livros didáticos, dentre outros. Os grupos

escolares foram os espaços que congregaram ou absorveram praticamente todos estes rituais e

criaram outros. De acordo com o capitulo IV, artigo 49, do Regimento interno dos grupos

escolares do Pará de 1904, muitos ritos que aconteciam no interior desta instituição educativa

eram demarcados pelo uso da sineta.

4.2 SABERES E PRÁTICAS EDUCATIVAS

O Regimento interno dos grupos escolares e das escolas isoladas do Estado do Pará de

1904 apresenta a regulamentação estatal sobre os principais rituais republicanos, visando

manter o controle e a uniformidade dos grupos escolares do estado. Os ritos diários

apresentados são: matérias com os respectivos conteúdos que deveriam ser ensinados,

matrícula, aulas, horários, entrada, recreio, saída, disciplina, advertências, uniforme, meios de

emulação, exames avaliativos, inspeções, festas escolares etc.

4.2.1 Festas escolares

As principais festas celebradas no Grupo Escolar de Igarapé-Miri entre 1904 a 1912

foram: a festa anual, que geralmente ocorria no dia 27 de abril, data de fundação da

instituição, e a Proclamação da República nos dias 15 e 16 de novembro. Porém, entre 1937 e

1943 passou-se a dar destaque às comemorações do dia 7 de setembro em homenagem à

139

Independência política do Brasil. Uma festa escolar tornava-se um espaço de socialização de

pessoas e ideias, sendo um momento ideal para educar a comunidade. Os grupos escolares

tornaram-se “um espaço de encontro, de solenidades e comemorações. Cravados no coração

dos centros urbanos, [...] irradiavam sua dimensão educativa para toda a sociedade” (SOUZA,

1998, p. 116).

A seguir, apresentamos uma fotografia que registra a comemoração da Independência

do Brasil, na década de 1940 em frente à Prefeitura Municipal e Câmara dos vereadores de

Igarapé-Miri. As autoridades estão nas janelas, assistindo a passagem dos alunos, seus

familiares e funcionários do grupo escolar da cidade.

Figura 15: Crianças desfilando no Dia da Independência

Fonte: FACEBOOK. Acervo historico miriense, 2016

Segundo Lobato e Soares (2001), a principal data cívica comemorada pelo Grupo

Escolar de Igarapé-Miri na década de 1940 era o dia 07 de setembro, quando acontecia o

desfile escolar, os discursos das autoridades, o hasteamento da bandeira e cantava-se o hino

nacional.

As festas cívicas jamais foram esquecidas, sendo o ponto alto o 7 de

setembro, em que havia o desfile da escola para as autoridades como

prefeito, juiz de direito, padre e as professoras. Como plateia, os alunos e

pais, sendo feitos discursos pelas autoridades, aluno e professoras, alusivos à

Independência do Brasil. Após a sessão, havia o desfile pelas principais ruas

da cidade até a escola, onde, então, após o hasteamento da bandeira

brasileira e a entonação do hino nacional, os alunos se dispersavam e

retornavam a sua casa [...] (LOBATO E SOARES, 2001, p. 55).

140

O ritual da Independência do Brasil na década de 1940 apresentava as seguintes

etapas: a primeira era a organização do evento com ensaios dos alunos sob a responsabilidade

de policiais de serviço em Igarapé-Miri, convites aos pais dos alunos e as autoridades

políticas, jurídicas e religiosas, confecção de roupas e cartazes etc.). A segunda etapa era o

cerimonial, que acontecia através da entoação do hino nacional e hasteamento da bandeira,

discurso das autoridades, desfile dos alunos, apresentação da equipe de ginástica, dentre

outros. E a terceira e última etapa, era a disseminação de comentários positivos sobre o

evento, que ocorriam verbalmente pelos participantes, já que não havia jornal de circulação

local. Lobato e Soares (2001) expressam que nas comemorações da Semana da Pátria

ocorriam as seguintes atividades:

Além da sessão cívica, havia o desfile escolar com a presença das

autoridades estaduais, municipais e eclesiásticos e o povo em geral que

participava aplaudindo. O ponto culminante era sua participação discursiva

referente à data, bem como os hinos pátrios muito bem ensaiados e o brado

triunfal à Independência por D. Pedro I, representado por um aluno vestido a

caráter em plena praça com todo o requinte de um momento de glória. Nesse

instante era executado o hino nacional brasileiro pela banda de música com a

participação do público em geral. Em seguida, ocorria a apresentação de

ginástica pelas meninas e as famosas pirâmides com cerca de 20 meninos,

exibidos para os presentes com muitos aplausos. À tarde havia a

apresentação de comédias ilustrando o Brasil do momento [...] (LOBATO E

SOARES, 2001, p. 80).

O sete de setembro, como data comemorativa, surgiu no Regulamento do ensino

primário do Pará de 1918, como o dia de inauguração da exposição escolar de desenho, que

passou a ocorrer em Belém, Pará. De acordo com o artigo 268 do Regulamento do ensino

primário do Pará de 1918, os grupos escolares deveriam comemorar todos os anos, a festa da

bandeira, o aniversário da escola, o começo e fim do ano letivo e a entrega dos certificados de

conclusão de curso.

O regulamento indica também como deveriam ser organizados os rituais nos grupos

escolares do Pará a partir de 1918: entonação de hinos escolares e pátrios, recitação de

poesias, apresentação de ginástica e passeatas pelas ruas. O artigo 270 e 271, do mesmo

regulamento de 1918, expõe parte da estrutura do rito.

Art. 270 - Os trabalhos escolares principiarão sempre por cânticos, entoados

em côro por toda a escola, os quaes serão escolhidos e ensaiados pelo

professor, devendo ser, de preferencia, cantos patrioticos.

Art. 271 – As datas nacionaes ou regionaes que assignalarem eventos

memoraveis da nossa historia, serão objeto de palestras civicas dos

professores aos seus alumnos, em linguagem ao alcance da intelligencia das

crianças, um dia antes e um dia depois das referidas datas, iniciando-se por

141

ellas a abertura das aulas (PARÁ. Regulamento do ensino primário, 1918, p.

52).

Conforme o artigo 113 § 2º do Regulamento do Ensino Primário de 1931, os trabalhos

nos grupos escolares deveriam começar com cânticos em coro, especialmente dos hinos

nacional e à bandeira, com explicação previa das letras dos hinos entoados.

No artigo 222 do capítulo XIII do Regulamento do ensino primário do Pará de 1931,

permanecem como festas obrigatórias o aniversário de fundação da escola e o encerramento

do ano letivo. Entretanto, a festa da bandeira (19 de novembro), o aniversário da fundação da

cidade que sediava o grupo; a abertura do ano letivo e a distribuição de certificados primários

deixaram de ser cerimônias obrigatórias. O referido regulamento de 1931, também

especificava que a exposição escolar de desenho seria realizada todo dia 12 de outubro.

No artigo 210 do capítulo XXI do Regulamento do Ensino Primário do Pará de 1934,

foi incluído como festa principal e obrigatória o 7 de setembro, seguido do aniversário da

escola e o encerramento das atividades escolares. O artigo 211 do mesmo regulamento define

os ritos que poderiam compor a estrutura da cerimônia cívica, a saber: cânticos, hinos;

recitativos e poesias patrióticas; exercícios físicos, dentre outros, especifica também que a

escola poderia celebrar o ato cívico com passeatas escolares.

Art. 210 – São festas de comemorações obrigatórias:

1º A data de 7 de Setembro.

2º A data de aniversario de fundação do grupo.

3º O encerramento do ano letivo.

Art. 211 – As festas que se organisarem nos grupos e escolas do Estado

poderão constar de cantos, hinos escolares; recitativos e poesias patrioticas;

exercicios de cultura e fisica, passeatas escolares, etc. (PARÁ. Regulamento

do ensino primário, 1934, p. 13).

As mesmas festas escolares são mantidas no Regulamento do Ensino Primário do Pará

de 1944, incluindo apenas o Dia do Livro, que seria um evento de distribuição de livros aos

alunos alfabetizados naquele ano.

A partir do Regulamento do ensino primário de 1918, ocorreu o processo de

uniformização institucional do rito, ou seja, em todos os grupos escolares as celebrações

seguiriam a mesma estrutura. Com isso, o estado passou a normatizar a estrutura dos ritos,

garantindo maior eficiência de resultados e racionalização do tempo empregado em cada

ritual.

O destaque que as comemorações alusivas ao sete de setembro foi adquirindo nas

festas escolares demonstra uma política de cunho nacional de militarização da infância no

Brasil. De acordo com Souza (2000), a prática dos exercícios militares e ginástica foi

142

inserida nas escolas de São Paulo no início do século XX, demonstrando a valorização de um

política educacional nacionalista e militarista. A introdução da educação militar foi

acontecendo gradativamente nas escolas paulistas.

No início do século, a Revista de Ensino publicou vários artigos sobre a

educação militar com base no livro Instruções para o Exército Brasileiro. No

programa de 1905, esses exercícios compreendiam marchas, formaturas em

filas e fileiras, evolução da companhia sem armas e com armas. O ensino de

ginástica e exercícios militares faziam parte do currículo da Escola Normal

de São Paulo, para os alunos do sexo masculino. [...] vários grupos escolares

contaram, no início do século XX, com o trabalho voluntário de soldados

reformados do exército para o desenvolvimento dessa atividade (SOUZA,

2000, p. 107-108).

No estado do Pará, conforme Silva (2015) a nomenclatura “Educação Física” foi

citada pela primeira vez no Regulamento geral da instrução pública primária de 1890, e foi

substituída por “Ginástica Escolar” no Regulamento do ensino primário do Pará de 1910: “a

introdução [dos exercícios físicos nas escolas] não se deu por acaso, mas estava arraigada na

concepção de eugenia como ciência que buscava aprimorar a raça” (SILVA, 2015, p. 55).

Com a introdução da ginástica escolar, o estado demonstrava o propósito em fornecer valores

militares à infância. Estas práticas militares tornaram-se perceptíveis no valor empregado às

comemorações da Semana da Pátria, em que as ações patrióticas e militares tornaram-se a

tônica do ritual. Desta forma, os símbolos nacionais: bandeira, hino, marcha, autoridades,

ordem e outros, convergiram para formar o ideário de nação forte e indestrutível. Nesse ritual

cívico, a escola extrapola os limites geográficos, passando a assumir a responsabilidade de

educar toda a sociedade.

4.2.2 Distribuição do tempo

O tempo escolar organiza os ritos diários, semanais e anuais. De acordo com o

Regimento interno dos grupos escolares de 1904, o período letivo era de 15 de janeiro a 15 de

novembro. As aulas ocorriam de segunda a sábado, de 8h às 11h30 nas escolas elementares, e

nas escolas complementares de 8h30 às 11h30 para as meninas e 14h às 17h para os meninos

(Art. 21 e inciso único). Não havia férias em julho. Até 1912 no Grupo Escolar de Igarapé-

Miri, as turmas do Curso Complementar eram compostas por poucos alunos. Por isso,

funcionavam somente no turno da manhã.

O Regulamento do ensino primário de 1931 estabelecia que as aulas nos grupos

escolares ocorreriam de 8 de janeiro a 30 de outubro. Entretanto, o período letivo poderia ser

reduzido com a autorização do governador. De acordo com o Diário Oficial do Estado de 12

143

de setembro de 1934, o Interventor Federal do Pará, Magalhães Barata, homologou nesta data

o decreto 1.380 que abreviou o ano letivo de 1934 para 10 de outubro.

O Regulamento do Ensino Primário de 1931 e 1934 apontavam que os grupos

escolares poderiam funcionar em dois turnos: de 8h às 11h e de 13h30 às 16h30. Com isso, o

recreio foi reduzido para 10 minutos no meio do turno.

Em 8 de fevereiro de 1939, o prefeito municipal de Igarapé-Miri e presidente do

Conselho Escolar, Antonio Augusto de Mesquita, solicitaram, via ofício ao Interventor

Federal, Magalhães Barata, permissão para o Grupo Escolar de Igarapé-Miri funcionar em

dois turnos (manhã e tarde), devido ao aumento no número de alunos. O prefeito especifica

que as cinco turmas (primeiro preliminar, primeiro adiantado, segundo, terceiro, quarto e

quinto ano) funcionavam em três salas, dificultando o trabalho das professoras e que a

instituição iria iniciar uma turma de ensino infantil.

Informo a V. Excia. que o prédio onde funciona aquêle estabelecimento de

ensino é pequeno para conter o grande numero de alunos alí matriculados,

pois, dispõe, apenas de três salas para comportar cinco classes, fóra o

“Jardim de Infancia”, cujas mezas e cadeiras estão amontoadas, há mais de

um ano num compartimento desta Prefeitura.

Dessa maneira, peço permissão para aviltrar a V. Excia. a idéa de serem as

aulas do grupo divididas em dois turnos, pela manhã e á tarde, funcionando,

no primeiro, as aulas do “Jardim de Infância”, primeiro ano preliminar e

primeiro ano adiantado e segundo ano, e, no segundo, as aulas do terceiro,

quarto e quintos anos. Só assim ficariam melhor acomodadas as criancinhas

e, mesmo, as senhoras professôras teriam maior espaço de locomoção para

se desincumbir de sua obrigação.

Como vem acontecendo, que funcionam em três salas cinco classes reunidas,

num amontoado de alunos de diferentes grupos, resulta no fáto de ocasionar

perturbação ás professôras que ficam inhibidas de dar melhor eficiencia ao

ensino distribuido entre centenas de meninos (OFÍCIO, nº 36/1939).

O desdobramento do horário pode representar a necessidade de ampliação de vagas em

razão do aumento populacional ou também a falta de carteiras escolares. Em 1º de agosto de

1956 a diretora do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, Adalgisa Maria Batista de Miranda,

justificando que devido faltarem carteiras na escola, resolveu criar o segundo turno. O

primeiro turno ficou das 7h50 às 10h50 e o segundo das 11h às 14h. Até esta data a escola

funcionou apenas no turno da manhã.

Em 1957 a instituição passou a funcionar somente no turno da manhã. No dia 7 de

novembro de 1957 a referida diretora, sob a alegação da necessidade de disponibilizar mais

tempo às aulas, assinou outra portaria ampliando o horário escolar de 7h30 às 12h. Em 04 de

março de 1958 a escola voltava a funcionar em dois turnos, mas os horários haviam sido

alterados: de 7h30 às 11h e de 13h às 17h. Como vemos, havia certa autonomia com relação

144

ao horário de funcionamento do grupo escolar, que poderia ser alterado pela diretora em

consonância com o Conselho Escolar. Na portaria assinada em 1957, a diretora Adalgisa

fundamenta a alteração no horário de funcionamento do Grupo Escolar de Igarapé-Miri,

referindo que o regulamento de ensino lhe possibilitava estas alterações e que havia aceitado

as ponderações do Presidente do Conselho Escolar de Igarapé-Miri (IGARAPÉ-MIRI. Livro

de ocorrência, 1962).

Independente do horário de aula, a criança cumpria o mesmo ritual diário. Ao chegar

à escola, deveria seguir direto à sua sala de aula. Caso não cumprisse esta regra, seria

advertido pelo porteiro. Em sala, não poderia fazer barulho, ficar olhando na janela, ou seja,

deveria passar pelo processo de desencarnação do mundo externo para interiorizar o sagrado

espaço da aprendizagem. Quando o professor entrava na sala, começavam a entoar os hinos:

nacional, à bandeira, Pátria, centenário e liberdade (LOBATO E SOARES, 2001). O Grupo

Escolar de Igarapé-Miri, não possuiu hino.

Conforme o Regimento interno dos grupos escolares do Pará de 1904, as crianças não

poderiam sair da sala de aula sem autorização do professor que deveria liberá-las apenas em

momentos fisiologicamente necessários. Saída e entrada da sala em momentos como recreio e

final das aulas deveriam ocorrer em fila, sempre formando par com o mesmo colega e em

silêncio (PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares, 1904, p. 43).

Os horários eram organizados para que os meninos e as meninas não tivessem

contatos, é o que demonstra o diretor Aristides dos Reis e Silva no seu relatório final do ano

de 1904.

Deve ajuntar neste capítulo que sempre conservei em absoluta separação as

duas secções de alunos, tanto nas festas escolares, como nos recreios e

mesmo na sahida do grupo. Nesta ocasião, às 11 1/12 [11h30] horas do dia,

fazia sahir primeiro as meninas e depois de estarem estas distanciadas, os

meninos (PARÁ. Relatório de Aristides dos Reis e Silva, 1904, p. 622).

Percebe-se que nos grupos escolares, a distribuição do tempo era marcada pelo toque

da sineta que representava o controle dos corpos, a ordem institucional, o aproveitamento

racional do tempo, a civilidade, o progresso, dentre outros, visto que viver sob o controle do

tempo cronológico era uma prática de países industrializados, considerados civilizados e

desenvolvidos. Os povos considerados “atrasados” orientavam-se pelos fenômenos da

natureza.

Parece que o tempo escolar reproduz a temporalidade de uma fábrica do século XIX e

XX, como se fosse uma linha de montagem, onde a distribuição racional e aproveitamento do

145

tempo, marcado pelas chaminés das indústrias, era algo indispensável e obrigatório. Em

Igarapé-Miri, o som das chaminés advinha dos engenhos de cana de açúcar e de algumas

serrarias (beneficiadoras de madeira). A contagem do tempo a partir do som, que estava

presente nas indústrias, passou a ser utilizada nos grupos escolares. Entretanto, a

racionalidade temporal, tornou-se um elemento de dominação à criança, já que representava

um controle repetitivo de gestos ritualísticos, buscando atingir a uniformidade e conformidade

das almas que habitariam o corpo social.

O tempo escolar ultrapassa os limites geográficos da instituição, influenciando nos

costumes das famílias e alterando a rotina dos espaços públicos. Conforme Vidal e Silva

(2013, p. 35), “a chegada da idade escolar, o período de permanência na escola, as

festividades promovidas são rituais que adentram a dinâmica familiar”. As famílias adaptam

seus horários de dormir, acordar, viajar, passear, tratamento médico de rotina em função do

tempo escolar das crianças.

4.2.3 O recreio

No Regimento interno dos grupos escolares do Pará de 1904, o capítulo VI,

compreendendo oito artigos (do 60 ao 67), é dedicado exclusivamente ao rito do recreio

escolar. O artigo 60 justifica a importância do tempo dedicado ao recreio: “dar repouso ao

espírito e necessário desenvolvimento ao corpo” (PARÁ. Regimento interno dos grupos

escolares, 1904, p. 46).

Meurer e Oliveira (1995) analisando “a construção social dos recreios escolares” nas

escolas públicas do Paraná no início do século XX, através de discursos de autoridades no

ensino e registros de professores de época, descobriram que a implantação do receio e

intervalo na escola se justificava pelo sentido de utilidade que os professores davam à escola

primária nesse período: “o propósito da escola elementar era formar tomando-se por base

certo princípio de utilidade para a vida. [...], pela lógica da utilidade, de um sentido ‘prático’,

que a escola deveria organizar seus saberes, suas ações e suas práticas” (MEURER E

OLIVEIRA, 1995, p. 238).

A escola elementar, nas palavras de Meurer e Oliveira (1995), deveria formar

integralmente a criança a partir de três dimensões: intelectual, moral e física. Ao mesmo

tempo em que a escola instruía, deveria civilizar para viver em sociedade para ter uma boa

saúde e os sentidos treinados para aprender. A arte de recrear estaria ligada a outros saberes

escolares, como canto, declamações e ginástica. O mesmo também a valores sociais, como

146

ordem e respeito, e ajudaria no desenvolvimento sensorial das crianças, melhorando a

percepção, a atenção e o controle dos corpos, ajudando-as a assimilar os saberes que a

instituição pretendia infundi-los.

No relatório do Grupo Escolar de Igarapé-Miri de 1904, o diretor descrevendo como

se realizava o recreio, informa que as meninas recreavam-se no salão do grupo e os meninos

na praça em frente à escola. No primeiro toque de sineta saiam os meninos, e no segundo as

meninas. Ao término do recreio, a ordem de entrada se invertia: no primeiro toque da sineta,

as meninas entravam na sala de aula; e no segundo, os meninos.

No salão do grupo fiz os recreios para as meninas e na praça, à frente do

predio, debaixo de varias arvores copadas que ali estão e onde mandei

colocar diversos bancos, os dos meninos, tendo conseguido separar os

menores dos maiores. A’ hora de recreio, e ao primeiro toque da sineta

sahiam os meninos, emquanto que as meninas permaneciam nas escolas, até

o segundo toque. A’ entrada era inversamente: entravam primeiro as

meninas e depois os meninos (PARÁ. Relatório Aristides dos Reis e Silva, 1904, p. 621-2).

O tempo do recreio era de 15 minutos diários nos intervalos de aula reservados aos

exercícios físicos, exceto às quintas e sábados, quando o intervalo recreativo seria de 30

minutos. O capítulo I, artigos 9º e 10º do Regimento interno dos grupos escolares do Pará de

1904 estabelece os seguintes conteúdos para serem trabalhados durante as aulas de educação

física: noções de higiene, exercícios físicos e jogos para os meninos; enquanto que às

meninas, poderiam aprender prendas e trabalhos considerados exclusivos às mulheres da

época.

Art. 10 – [...] será dada, em ambos os cursos, conveniente educação physica

aos alumnos, comprehendendo:

§ 1.º- Noções práticas de hygiene; - cuidados de asseios exigidos e

recommendados.

§ 2.º- Exercícios phisicos, marchas saltos, movimentos a pé firme e outros

exercícios calistenicos feito durante os recreios.

§ 3.º- Jogos: brinquedos ao ar livre.

Art. 10 – Nas escholas do sexo feminino, duas vezes por semana, nos dias

designados para os exercicios physicos dos alumnos, poderá ser dado ás

alumnas ensino de prendas e trabalhos femininos (PARÁ. Regimento interno

dos grupos escolares, 1904, p 39).

Os exercícios físicos eram diferentes: as meninas deveriam praticar somente jogos e

brincadeiras ao ar livre; aos meninos deveria ser evitados jogos com as mãos e capoeira e

outros similares, que segundo o regimento não visavam educar. De acordo com Silva (2015),

estas proibições se justificam porque os “jogos com as mãos” durante o recreio representava o

147

conhecimento adquirido fora do ambiente escolar, como na rua, em casa, e ao mesmo tempo

reportava às tradições indígenas e afro-brasileiras. Quanto à proibição de praticar capoeira nas

escolas, também tem uma finalidade de afastar a memória da cultura afro-brasileira das

crianças. Os praticantes de capoeira, na sua maioria eram pobres e negros, eram

marginalizados e considerados perigosos e sua prática esportiva ou de defesa, um péssimo

exemplo às crianças. Conforme Silva (2015),

a motivação em evitar essas atividades [jogos com as mãos e capoeira ] não

estava ligada ao seu teor pedagógico, se eram capazes de desenvolver e/ou

trazer habilidades corporais para as crianças, mas, exclusivamente em afastar

da educação delas as influências culturais vistas pelas elites como

“inferiores”, e por isso, “indignas” de fazerem parte do novo modelo de

cidadãos que a República pretendia formar (p. 68).

A cada dia um (a) professor (a) era escalado (a) para ser “presidente de recreio”, e a

este (a) competia manter a ordem e a disciplina, controlando os “máos instinctos [...], os actos

contrarios à moralidade e bôa educação” (PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares,

1904, p. 47). Quais seriam os hábitos infantis considerados abomináveis? A edição da Revista

Escola de maio de 1904 traz um artigo de Beltodo Nunes, intitulado “Educação”, onde se

destaca algumas práticas infantis consideradas abomináveis à cidadania, como: participar de

conversa entre adultos, subir, pular, gritar etc.

Crianças grimpando [subindo, trepando] como se fossem adultos, de cabeça

coberta ao pé dos paes, intrometendo-se nas conversações, bambaleando-se,

gritando, fumando, dando opiniões sem que nunguem lh’as peça, discutindo

as ordens que recebem dos seus progenitores, tratando a estes, não com o

respeito e acatamento devidos, sim como se fossem seus colegas de escola

ou fâmulos da casa (PARÁ. Revista escola: artigo de Beltodo Nunes,

1904, p. 38).

As crianças chegavam à escola com “maus” costumes e deveriam ser educadas. Mas a

quem caberia a educação inicial da criança? Primeiramente aos pais: “um pae é o médico da

alma de seus filhos, e deve ter a coragem de castigal-os quando for mister, para restituir-lhes a

saude do espírito” (PARÁ. Revista escola: artigo de Beltodo Nunes, 1904, p. 37). Como

muitos pais perdiam a autoridade sobre seus filhos e não conseguiam controlar os instintos

considerados negativos pela escola, caberia ao professor a missão de educar para os bons

costumes, entretanto a autoridade do professor jamais substituirá a dos pais, não seria justo os

pais se “desobrigarem de seus deveres sagrados para sobrecarregar com elles o professor”

(PARÁ. Revista escola: artigo de Beltodo Nunes, 1904, p. 38). Como podemos observar,

havia um descompasso entre a educação doméstica e a educação escolar, pois estes hábitos na

148

infância eram considerados normais no seio das famílias, como subir em árvores, tomar banho

de igarapé, correr ou andar descalço, dentre outros. Ao que parece, nem sempre os costumes

negados pela escola representam desautoridade dos pais, pois a educação escolar republicana

visava criar um modelo de cidadão aos moldes europeus, notadamente franceses, que iam de

encontro com os costumes das comunidades locais, em especial ribeirinhas da Amazônia.

Com base no Regulamento do ensino primário de 1931, nos grupos escolares do

interior as aulas de cultura física deveriam acontecer no início do período letivo de 7h30 às 8h

da manhã e o intervalo para descanso das crianças seria de 10 minutos no meio do turno

(capítulo VI, seção II, artigos 113 § 2º e 114). O tempo destinado ao recreio foi reduzido para

10 minutos e ficou exclusivo para o descanso das crianças. Enquanto que as aulas de

educação física passaram para o início das atividades escolares diárias.

4.2.4 As aulas

De acordo com o horário de aula e distribuição do tempo, fixado no Regimento interno

dos grupos escolares de 1904, os ritos diários nos grupos escolares para meninos e meninas

estavam divididos da seguinte maneira. Comecemos pelo Curso Elementar:

8h às 9h: o rito da aula começava com a entrada, chamada diária, escrita e ditado, uma

hora aula.

9h às 10h (quarta e sábado) 10h15 (demais dias): o professor corrigia as atividades do

período anterior.

10h30 às 11h30: aconteciam as aulas de gramática, geometria e desenho elementar

(segunda e sexta), aritmética e geografia (terça e quinta), gramática e história (quarta) e

aritmética e história (sábado).

De 11h30 às 11h45 era reservado a saída.

No Curso Complementar, as aulas estavam dividas:

8h às 09h: após a chamada, ocorria o ditado (segunda, quarta e sexta) e escrita (terça,

quinta e sábado).

09h às 10h (quarta) ou 10h15 (outros dias): era reservado às aulas de correção do

tema, exercício de gramática (segunda e sexta), leitura, exercício de aritmética (terça e

quinta), correção do tema, exercício de redação (quarta) e composições (sábado).

10h às 11h30: as aulas eram de gramática, geometria e desenho elementar (segunda e

sexta), aritmética e geografia (terça e quinta), gramática e história (quarta) e história e

conferências (sábado).

149

11h30 às 11h45: ocorria a saída (PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares,

1904).

O turno era dividido em dois momentos: o primeiro era dedicado mais à instrução:

leitura, escrita e cálculo; o segundo, à educação cívica: desenho, história e geografia. No meio

do turno ocorria o recreio, momento em que os alunos recebiam aulas de civilidade, como a

educação dos corpos.

Apresenta-se no quadro abaixo o horário de aula e distribuição do tempo nos cursos

elementares e complementares dos grupos escolares proposto em 24 de fevereiro de 1904, por

Amazonas de Figueiredo, Secretário de estado da Instrução Pública do Pará.

Quadro 17: Horário de aula e distribuição do tempo nos grupos escolares em 1904

Dias de

aula

CURSO ELEMENTAR

Observações

8h às 9h 9h às 10h15 10h15 às

10h30

10h30 às

11h30

11h30 às

11h45

Segunda Entrada,

chamada

escrita e

ditado

Correção de

escrita,

ditado e

leitura

Recreio Gramática.

Geometria

e desenho

elementar

Saída Nas quintas-

feiras e sábados

o recreio será de

10h às 10h30.

Terça Entrada,

chamada

escrita e

ditado

Correção de

escrita,

ditado e

leitura

Recreio Aritmética

e geografia

Saída

Quarta Entrada,

chamada

escrita e

ditado

Correção de

escrita,

ditado e

leitura

Recreio Gramática

e história

Saída

Quinta Entrada,

chamada

escrita e

ditado

Correção de

escrita,

ditado e

leitura

Recreio:

10h às

10h30

Aritmética

e geografia

Saída

Sexta Entrada,

chamada

escrita e

ditado

Correção de

escrita,

ditado e

leitura

Recreio Gramática.

Geometria

e desenho

elementar

Saída

Sábado Entrada,

chamada

aposta de

escrita

Argumento

de tabuada,

exercício de

aritmética

Recreio:

10h às

10h30

Aritmética

e história

Saída

Dias de

aula

CURSO COMPLEMENTAR

Observações

8h às 9h 9h às 10h15 10h15 às

10h30

10h30 às

11h30

11h30 às

11h45

Segunda Entrada,

chamada e

tema

Correção do

tema e

exercício

Recreio Gramática.

Geometria

e desenho

Saída Nas quartas-

feiras o recreio

será de 10h às

150

ditado gramática elementar 10h30.

No curso

complementar a

cópia do tema

ditado do dia

anterior servirá

de escrita do dia

seguinte.

Terça Entrada,

chamada e

escrita

Leitura e

exercício

aritmética

Recreio Aritmética

e geografia

Saída

Quarta Entrada,

chamada e

tema

ditado

Correção do

tema e

exercício

redação

Recreio:

10h às

10h30

Gramática

e história

Saída

Quinta Entrada,

chamada e

escrita

Leitura e

exercício

aritmética

Recreio: Aritmética

e geografia

Saída

Sexta Entrada,

chamada e

tema

ditado

Correção do

tema e

exercício

gramática

Recreio Gramática.

Geometria

e desenho

elementar

Saída

Sábado Entrada,

chamada e

escrita

(caligrafia)

Composição Recreio História e

conferênci

as

Saída

Fonte: PARÁ. Regimento interno dos grupos escolares, 1904

O Programa do ensino primário do estado do Pará de 1903 estabelecia o conteúdo

programático para os cursos elementar com duração de 4 anos e complementar em 2 anos:

No primeiro ano elementar as crianças estudavam duas disciplinas: a leitura e escrita e

a aritmética. Em leitura e escrita se estudaria os primeiros exercícios; em aritmética, os

conteúdos seriam os algarismos: leitura, escrita e contagem dos números e os primeiros

exercícios de adição.

No segundo ano, novamente as crianças estudariam leitura, escrita e aritmética. Em

leitura e escrita continuavam-se os exercícios do ano anterior. Em aritmética repetiam-se os

assuntos do ano anterior e se acrescentariam outros conteúdos: exercícios de subtração, sinais

de adição, subtração, mutiplicação e divisão, exercícios e leitura dos números.

As crianças do terceiro ano elementar estudavam quatro disciplinas: leitura, escrita,

português e aritmética. Na disciplina leitura o aluno deveria aprender ler e escrever ditado

(depois de corrigido era necessário passá-lo a limpo). Em escrita a criança continuava os

exercícios anteriores e fazia os exercícios do conteúdo do ditado. Em português aprendia-se

definições e divisões gerais da gramática; e análises fonológicas. E na disciplina aritmética os

assuntos eram recordação do ano anterior, multiplicação e divisão, operações fundamentais,

máximo divisor comum e mínimo múltiplo comum, números primos e frações ordinárias.

No quarto e último ano do curso elementar, as crianças continuavam a estudavam

leitura, escrita, português, aritmética, geometria, geografia, e história. Em leitura os alunos

liam textos explicativos de instrução moral e cívica e lições das coisas. Em escrita o

151

aprendizado era escrever trechos de livros ditados, exercícios de caligrafia, aperfeiçoamento

de cursivo e bastardo. Em português estudavam-se divisões e definições da gramática,

análises fonológicas e taxionômicas e elementos de morfologia e sintaxe. Em aritmética

recapitulava-se o ano anterior, frações decimais, distinção entre frações decimais e ordinárias,

operações com frações decimais e ordinárias, conversão de frações e sistema métrico com

exercícios práticos. Em geometria os assuntos eram definições, corpo, superfície, linha e

ponto e exercícios práticos de desenho no caderno com reprodução no quadro preto. Em

geografia, definições e divisões geográficas, ideia da terra e sua forma, os acidentes físicos,

indicação dos oceanos, localização dos continentes dando ênfase à América, Brasil e Pará. E

em história estudava-se o conceito, descoberta da América e do Brasil, informações sobre

Cristovão Colombo e Pedro Álvares Cabral, os indígenas, sistema colonial, descobrimento e

fundação do Pará, adesão do Pará à carta portuguesa, Felippe Patroni, dentre outros.

No primeiro ano do curso completar eram matérias obrigatórias: leitura, escrita,

português, aritmética, geometria, geografia e história. Em leitura as crianças liam a

Constituição Federal para instruir-se moralmente. Em escrita os assuntos eram os exercícios

de alto bastardo, bastardinho e meio-bastardinho24, cursivo maior e menor com trechos

ditados. Em Português os assuntos eram composição, fonologia, taxionomia e morfologia. Em

aritmética o estudo concentrava-se em frações, decimais periódicas, noções de números

complexos, razão, equidiferença e suas propriedades, e composição da aritmética. Em

geometria, após recapitular a série anterior, estudava-se ângulos, perpendiculares, oblíquas e

paralelas, e desenho livre. Em geografia se aprendia sobre os principais países da Europa, os

continentes com seus países e capitais, a geografia e limites do Brasil, planetas e sistema

solar, e longitude e latitude. E em história, os conteúdos eram sobre o domínio espanhol,

invasão holandesa, os jesuítas no Brasil: de Manoel da Nóbrega a Antônio Vieira, conjuração

Mineira e Tiradentes, exploração do Amazonas por Pedro Teixeira.

No segundo e último ano do curso complementar, as crianças estudavam as mesmas

matérias do ano anterior. Em leitura estudava-se a Constituição Estadual, comparando a

Constituição Federal, o regimento interno dos grupos escolares e das instruções para os

exames de certificados primários. Em escrita estudavam-se os conteúdos aperfeiçoados do

primeiro ano, e trechos ditados. Em português aprofundavam-se os conteúdos do ano anterior:

estudo completo de sintaxe, análise fonológica, taxionômica, morfológica e exercícios de

24 Alto bastardo, bastardinho e meio-bastardinho são estilos de letras manuscritas. Segundo o dicionário Word

Magic, a letra bastarda é um tipo de fonte inclinado à direita e curva. Exemplo: letra itálica ou cursiva.

152

redação. Em aritmética, sistema métrico decimal, potenciação, radiciação, proporção,

propriedade fundamental, regra de três simples e de companhia simples, regra de juro simples

e noções de câmbio. Em geometria, círculo, circunferência, medida de ângulos, polígonos,

triângulos, quadriláteros, sólidos e desenho livre com reprodução no quadro preto. Em

geografia estudava-se o Brasil e seus estados, Pará e sua geografia física e política, as estrelas,

as fases do sol e o eclipse. E por fim, em História, as crianças deveriam estudar a família real,

adesão do Pará à Independência, o Cônego Batista Campos, notícias da Cabanagem, Dom

Romualdo de Seixas e Dom Romualdo Coelho, segundo reinado, Guerra do Paraguai,

extinção da escravidão no Brasil, abolicionismo no Pará, propaganda republicana no Pará,

Club republicano, queda da monarquia, Proclamação da República, adesão do Pará, dentre

outros (PARÁ. Programa do ensino primário, 1903).

Nos capítulo I, artigos 2 e 3 do regulamento do ensino primário de 1931, o primário

dividia-se em infantil, primário, prático popular (ensino noturno) e especial para “débeis

orgânicos e retardados pedagógicos”. O primário ofertado nos grupos escolares deveria

ensinar os seguintes saberes: língua portuguesa (leitura, escrita e caligrafia), noções de

aritmética, geografia e história, onde se deveriam destacar os aspectos históricos e geográficos

do Pará; noções práticas de geometria, zoologia, botânica, física e química; noções de higiene

e profilaxia; canto (hinos patrióticos e escolares); trabalhos manuais (modelagem, tecelagem,

dobraduras dentre outros); educação social, desenho, cultura física, escoteirismo para os

meninos, prendas domésticas às meninas. E o infantil seria ofertado nos cursos de Jardim de

Infância para crianças de 4 a 6 anos de idade, que deveria aprender as noções das coisas

através dos sentidos, iniciação da leitura, escrita e cálculo. O professor só deveria intervir nas

atividades infantis para “discipliná-la, corrigi-la e orientá-la [a fim de que as crianças

formassem] os primeiros atos mentais, morais, higiênicos e sociais” (PARÁ. Regulamento do

ensino primário, 1931).

O Regulamento da Inspectoria de Hygiene Escolar de 1931 estabelecia no artigo 15

que antes de se organizar o programa escolar, principalmente no que tange às horas destinadas

ao estudo e recreio, esta inspetoria deveria ser consultada. De acordo com o referido

regulamento, os alunos deveriam participar de palestras e conferências onde aprenderiam as

vantagens dos preceitos salutares de higiene individual e coletiva. Portanto, as noções de

higiene e profilaxia eram saberes indispensáveis nos grupos escolares, pois a instituição e seus

membros deveriam estar dentro dos padrões de higiene exigidos pelo regulamento (PARÁ.

Regulamento de higiene escolar, 1931). Essas normas foram incluídas no Regulamento do

ensino primário de 1934.

153

De acordo com Souza (2009, p 113), “na escola, conteúdos, atividades e exercícios,

tudo se presta à formação do caráter, à introjeção de uma disciplina intelectual e corporal

moldada nos gestos, na fala, na escrita, nas condutas”, sendo que o elemento principal da

escola é a cultura escrita, fomentada nos grupos escolares através de cópias e ditados (escrita

e caligrafia), que correspondia a metade do tempo escolar. O ato de escrever eruditamente

seria um abridor de oportunidades e reconhecimento no mundo. As demais disciplinas como

geografia, história, educação física “deveriam desenvolver nas crianças o sentimento de

patriotismo e nacionalismo; deveriam contribuir para a formação moral do povo e, no limite,

para a construção da nacionalidade” (SOUZA, 2009, p. 113). As matérias de aritmética,

geometria e arte, além de terem formação para o cotidiano, tinham também funções

propedêuticas para o trabalho nas indústrias.

No Relatório Escolar de 1904 o diretor Aristides dos Reis e Silva descreve que

diariamente, às 9h da manhã, ocorria no seu gabinete um ritual complementar à sala de aula,

que seria o julgamento avaliativo, com menções honrosas e censura das melhores redações,

exercícios de aritmética e outras atividades realizadas pelos melhores alunos selecionados

pelos professores e enviados à sala do diretor.

Por acto escripto, criei na directoria do grupo, a exposição de analyses e de

escriptas; diariamente, às nove horas, todos professores enviavam para ali as

melhores escriptas que eram julgadas por mim, com as referencias honrosas

merecidas; e nas segundas-feiras as analyses phonologicas e nas sextas as

taxionômicas que eram julgadas igualmente.

Independente do serviço dos professores, sob os meus cuidados, os alunos do

4º anno faziam alguns trabalhos praticos de arithmetica que lhes apresentava

aos sabbados em um caderno, os quaes eram tambem julgados por mim com

a menção honrosa ou censura que mereciam (Pará. Relatório de Aristides

dos Reis e Silva, 1904, p. 619).

Além de destacar com menções honrosas os melhores alunos, cujos nomes seriam

afixados no quadro de honras, também destacava as qualidades intelectuais e formadora do

diretor. Este ritual teria dupla função: valorizar os melhores alunos, e consequentemente os

seus professores, e também demonstrar à comunidade escolar e aos superiores do diretor, o

seu compromisso com a educação, pois além de fiscalizador do professor tornava-se também

avaliador dos alunos.

Durante as aulas era comum ocorrer o rito do castigo, que poderia ser apanhar de

palmatória, ficar de joelho atrás da porta e colocar orelha de abano (LOBATO E SOARES,

2001). De acordo com a Revista Escola de maio de 1904, os alunos que cometiam faltas

graves poderiam ser excluídos da instituição e privados de ingressar em outra.

154

4.3 APRENDER OU REPROVAR: AS EXIGÊNCIAS DO RITO DE PASSAGEM

Se o culto às datas cívicas e aos símbolos nacionais foi utilizado como

dispositivo para fazer da escola um instrumento da memória histórica, a

instituição dos exames de avaliação no decorrer do ensino primário formou a

representação de uma escola pública severa e rigorosa, que garantia prestígio

e qualidade de ensino. Os exames da escola primária foram mecanismos

importantes para classificar e selecionar os alunos, pois pela seleção e

classificação se confirmava os atributos de rigor e austeridade do ensino da

escola primária (COELHO, 2008, p. 177).

A epígrafe retirada da tese de doutoramento defendida em 2008 na Universidade de

São Paulo (USP) por Maricilde Oliveira Coelho, intitulada “A escola primária no estado do

Pará (1920-1940)”, reflete a rigorosidade e severidade dos exames escolares realizados nos

grupos escolares, tornando-se mecanismo de classificação e seleção dos alunos. A escola

primária assumia o poder transcendental de prever o futuro dos alunos: através do resultado

dos exames previa-se quem seriam os melhores.

Conforme o Programa para exames de estudos primários de 1903, os conteúdos que as

crianças deveriam aprender para fazer as provas estavam divididos em quatro disciplinas:

português, geometria, geografia e história.

O aprendizado na disciplina português ocorria a partir da leitura diária de um livro

aceito nas escolas públicas. Os textos lidos cotidianamente deveriam ser analisados pelas

crianças na seguinte ordem: fonologia, morfologia, taxionomia e sintaxe. Em fonologia

seriam analisados os sons das letras: vogais, consoantes, ditongo, tritongo, grupos

consonantais, dentre outros. Em morfologia, dever-se-ia estudar a significação de prefixos,

sufixos, formações de gêneros, números e graus dos substantivos etc. Em taxionomia

estudava-se a classificação e distinção das palavras quanto a sua variação e classificação. Na

sintaxe as cianças aprendiam os elementos das orações, as proporções, regência, pontuação,

figura sintaxe, concordância e função das palavras nas orações.

Na disciplina aritmética o professor sorteava o assunto que deveria ser arguido pelas

crianças: frações, numerações, operações fundamentais, proporções, regras de juros simples,

dentre outros.

Na matéria geometria, deveria-se aprender a divisão e definição de geometria, corpo,

superfície, linha e ponto; círculo, circunferência, polígonos, triângulos, dentre outros.

Em geografia estudava-se a divisão dos continentes, os principais países da Europa e

da Ásia, os Estado do Amazonas, Pará e Piauí, forma e movimento da terra etc.

Por fim, na disciplina história as crianças deveriam aprender a descoberta da América,

Brasil e Pará, a fundação e sujeição do Pará ao Maranhão, os usos e costumes dos povos

155

indígenas, Guerra do Paraguai, Tiradentes, Cabanagem, os jesuítas no Brasil, sistema de

colonização, o abolicionismo no Pará, extinção da escravidão no Brasil, propaganda

republicana no Pará, queda da monarquia, dentre outros (PARÁ. Programa para exames dos

estudos primários, 1903).

De acordo com o Regimento interno dos grupos escolares do Pará de 1904, os exames

teriam caráter festivo e seriam de suficiência ou parciais, realizados no final do primeiro

semestre para efeito de classificação definitiva dos alunos; e de passagem de ano e finais de

curso no fim do ano letivo, visando avaliar se as crianças teriam condições de ascenderem às

séries seguintes ou concluirem o curso.

Conforme o Regulamento do ensino primário de 1903 a média mínima para as

crianças serem aprovadas eram 4,0 pontos e deveriam receber os seguintes graus de

aprovação: 10,0 equivaleria a “aprovado com distinção”; 7,0 a 9,0 representava “aprovação

plena”; e de 6,0 a 4,0 pontos “aprovação simples”.

Com o Regulamento do ensino primário de 1910 a nota mínima passou para 5,0

pontos e os graus de aprovação eram os seguintes: 10,0 equivalaria a “aprovado com

distinção”; de 8,0 a 9,0 pontos “aprovação plena” e de 5,0 a 7,0 seria “aprovação simples”.

De acordo com o Regulamento do ensino primário de 1931, o rito dos exames

escolares deveriam ocorrer somente no final do ano letivo, destinado à promoção dos alunos e

conclusão dos estudos primários. A nota mínima para ser aprovado seria 5,0 pontos e nos

grupos escolares os exames teriam a seguinte estrutura: deveriam ser realizados perante uma

comissão examinadora composta pelos professores da instituição, sob a presidência do

professor da turma ou do diretor. Esses exames compreendiam duas provas: escrita versando

os conteúdos das disciplinas português e aritmética, e oral com conteúdo de história,

geografia, dentre outros.

Com o Regulamento do ensino primário de 1934, os exames avaliativos nos grupos

escolares deveriam ocorrer nos meses de abril, junho e setembro com data designada pela

Diretoria geral da educação e ensino público do Pará (capítulo XIV artigo 16). Entretanto,

pelo menos até 1940 no Grupo escolar de Igarapé-Miri ocorreu apenas um exame anual,

conforme previa o Regulamento do ensino primário de 1931. O rito avaliativo acontecia no

final do ano letivo para todas as crianças: em 1937 os alunos foram avaliadas no dia 30 de

setembro, nos anos de 1938, 1939 e 1940 as provas foram aplicados em 05 de outubro

(IGARAPÉ-MIRI. Termo de exames, 1955).

O rito avaliativo dos alunos era realizado por uma comissão de três professores da

instituição, supervisionada pelo diretor. Era presidido pelo(a) diretor(a) ou professor(a) da

156

turma que estava sendo submetida ao exame, quando não houvesse impedimento, como

parente próximo sendo avaliado. Nos exames de suficiência e passagem de ano, os alunos

eram submetidos apenas à prova oral e nos exames finais, à escrita e oral. Quando

terminavam os exames, os diretores dos grupos escolares baixavam um edital e afixavam em

praça pública para a inscrição de alunos estranhos aos exames finais do curso elementar.

Terminados aquelles exames, de acordo com a portaria de 5 de Outubro,

baixei e fiz afixar nos logares mais públicos desta cidade, edital com o praso

de 5 dias, para a inscrição de alunos extranhos ao grupo, para exames finaes

de estudos elementares, não tendo concorrido a essa inscripção um só

alumno, até exgotar-se o praso estabelecido (PARÁ. Relatório de Aristides

dos Reis e Silva, 1904, p. 623).

Nos exames destinados aos candidatos estranhos, chamou-me a atenção dois ritos

realizados para avaliar candidatos individuais: o então Capitão Francisco de Assis Negrão,

que prestou exame de português e aritmética em 31 de agosto de 1910 e foi aprovado

plenamente no grau oito. E no dia 21 de outubro do mesmo ano foi realizado o ritual para

Cezar de Assis Negrão, pela assinatura seria filho do capitão, também aprovado. O exame do

capitão foi realizado em agosto, fora da data prevista no Regimento interno dos grupos

escolares de 1904 (IGARAPÉ-MIRI. Termos de classificação, 1955).

Conforme relatório final dos exames de passagens de 1904, publicado pelo diretor

Aristides dos Reis e Silva no jornal “A Província do Pará” em 31 de outubro do referido ano,

os exames finais do Grupo Escolar de Igarapé-Miri ocorreram entre os dias 21 e 25 de

outubro de 1904, das 14h às 17h, sendo cada dia dedicado às avaliações das crianças de uma

escola. Foram matriculadas 206 crianças em 1904. Destas, compareceram aos exames finais

180 e faltaram 26 (7 na primeira escola masculina, 7 na segunda escola da mesma secção, 4

na primeira escola feminina e 8 na segunda escola da mesma secção). Além dos professores,

estiveram presentes nestes exames: o diretor da instituição, o intendente municipal, coronel

José Garcia da Silva, e algumas famílias convidadas. O rito foi finalizado com a distribuição

de doces e bebidas a todos os participantes (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 1904).

Quadro 18: Resultado dos exames finais do Grupo Escolar de Igarapé-Miri de 1904

Escola Matriculados Prestaram exames Faltaram

1ª elementar masculina 53 46 (86,8%) 7 (13,2%)

2ª elementar masculina 51 44 (86,3%) 7 (13,7%)

157

Fonte: A PROVÍNCIA DO PARÁ, 1904

O termo de exame de 17 de outubro de 1908, da Primeira escola elementar feminina

do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, especifica os tipos de distinção de grau, que iam de 7 a 10

pontos, subentende-se que os distintos seriam os alunos bons e ótimos, que poderiam ser

também os alunos plenamente aprovados. Fica subentendido nos termos de classificação desta

instituição, que os alunos aprovados plenamente com distinção seriam os alunos avaliados

com nota 10, tanto nas provas como no comportamento diário na escola. Entretanto, as

classificações nos exames como: distinto, aprovado pleno e reprovado era o modelo avaliativo

anterior a 1904, e que no GE de Igarapé-Miri continuou a ser praticado.

Dos 206 alunos matriculados no ano de 1904 nas quatro escolas elementares, doze

alunos foram matriculados no 4º ano, sendo que dez concluíram o curso elementar recebendo

a seguinte classificação: aprovados plenamente e aprovados plenamente com distinção. Foram

aprovados plenamente as irmãs Almerinda (12) e Victoria Corrêa Caripuna (10), Raymundo

Pinheiro Garcia (10), Benjamin Pereira Tourão (13), Francisco Castro Moraes (12), João de

Souza Castro (11), Joaquim Azevedo Perdigão (10) e Mario do Ceu Pereira (12). Foram

aprovados plenamente com distinção: Alzira Corrêa Caripuna (12 anos) e Ana Sanches

Machado (12). E foram excluídos por falta nas aulas: Moysés T. Corrêa e Pedro Marcos

Duarte, ambos de 9 anos (Pará, Relatório de Aristides dos Reis e Silva de 1904). Estes três

não foram incluídos no número de matriculados. Vale ressaltar que 26 alunos matriculados

nas quatro escolas não compareceram ao exame, significando que menos de 10 % não se

sentiam preparados para ser avaliados, o que não representa uma exceção, pois em todos os

exames o número de faltosos sempre foi expressivo. A idade da maioria das crianças

apresentava distorção idade-série, pois deveriam concluir o 4º ano do elementar com a idade

de 10 anos, já que começavam a estudar com 7. Entretanto, acredito que muitas crianças

estariam estudando pela primeira vez em um estabelecimento escolar, já que este foi o ano de

inauguração do grupo nesta cidade. Ou seriam oriundas de escolas isoladas, e como esta

modalidade de ensino ofertava até o 4º ano elementar, deveriam ter ficado repetindo o ano por

não possuir condições de realizar esses exames nos grupos escolares de Belém ou no Grupo

Escolar de Abaetetuba, criado em 1902 onde se ofertava o curso complementar.

1ª elementar feminina 53 49 ( 47,1%) 4 (52,9%)

2ª elementar feminina 49 41 (83.7%) 8 (16,3%)

Total 206 180 (87,4%) 26 (12,6%)

158

Quadro 19: Quantitativo de alunos matriculados e que prestaram exames no Grupo

Escolar de Igarapé-Miri nos anos 1904, 1907 a 1910

Escola

1904

Final

1907

Final

1908 – parciais 1909

Final

1910

Final 1º sem. 2º sem.

Matr

ícula

exame Matrí

cula

exame Matrí

cula

exame Matrí

cula

exame Matrí

cula

exame Matrí

cula

Exame

1ª escola elementar,

secção masculina

53 46 33 22 33 23 ? 20 27 14 43 25

1ª escola elementar,

secção Feminina

53 49 ? ? 30 18 ? 19 23 9 17 14

2ª escola elementar,

secção Masculina

51 44 ? 29 30 18 32 15 21 ? 17 12

2ª escola elementar,

secção Feminina

49 41 ? 19 27 22 3 1 30 20 54 29

Escola complementar

Mixta

- - 12 8 12 8 17 16 12 12 8 5

Total 206 180 ? ? 132 89 ? 71 113 55 139 85

Fonte: A PROVÍNCIA DO PARÁ, 1904; IGARAPÉ-MIRI. Termos de classificação, 1955

O rigor nos exames fazia com que muitos não comparecessem. Dos que compareciam,

muitos eram reprovados e poucos recebiam o mérito da aprovação. Nos exames de suficiência

e parciais da Segunda Escola Elementar da Secção Feminina, realizado em 18 de junho de

1908, das 27 alunas matriculadas, 5 faltaram. E das 22 presentes, somente 3 alunas do 4º ano

foram habilitadas para prestarem os exames finais. As demais (1 do 3º ano, 3 do 2º e 15 do

1º), continuaram na mesma série. Nos exames de suficiência e parciais de 17 de junho de

1908, da Segunda escola elementar masculina, dos 30 alunos matriculados, só compareceram

18 (do 4º ano apenas 2 foram habilitados para prestar os exames finais. Os demais do 1º, 2º e

3º anos continuaram na mesma série. Outros exemplos demonstram este mesmo padrão de

rigorosidade nos exames. Acredita-se que muitos se sentiam inferiorizados, caso não fossem

aprovados com boas notas, pois segundo o termo de classificação de 22 de outubro de 1910, o

resultado dos exames eram lidos à toda sociedade, já que eram públicos, em alta voz

(IGARAPÉ-MIRI. Termos de classificação, 1955). Como aconteciam esse rito?

No dia 21 de outubro de 1907 ocorreu, a partir das 14h, o exame final da Primeira

escola elementar masculina, regida pelo professor Francisco Delgado Leão. Esse exame foi

presidido pela professora Estephania da Costa Borges de Cardoso, e compuseram a banca

159

examinadora as professoras: Estellita Gonçalves Coêlho, Eulina da Purificação Cardoso e

Sancha Ferreira Bentes. De acordo com este termo de classificação, o rito começou após o

diretor constatar que o presidente do ato não tinha nenhum grau de parentesco ou parcialidade

com os examinadores e examinados. O exame constou de prova escrita de português que foi

um ditado de dez linhas do livro “Vida Prática” de Felix Ferreira, escolhido através de sorteio;

prova escrita de aritmética, em que o assunto sorteado foi “o ponto 3º do programa de estudos

primários”, a saber: “operações fundamentais, adições de números inteiros; fração ordinária,

sua representação e leitura; dízima periódica e simples; sua conversão em fração ordinária”

(PARÁ. Programa para os exames de estudos primários, 1903, p. 68). E na prova oral “os

examinados foram arguidos separadamente por todos os examinadores, sobre o ponto

respectivamente tirado à sorte” (IGARAPÉ-MIRI. Termos de classificação, 1955). No final, a

comissão fez o julgamento e estabeleceu a nota. Como faltam páginas no documento, não foi

possível saber quantos alunos não compareceram e quantos fizeram o exame, bem como a

classificação de suas aprovações e eventuais reprovações.

Em 21 de outubro de 1908 os exames finais da primeira e segunda escola elementar

masculina e feminina e da segunda escola elementar feminina foram de 8h às 11h e de 14h às

17h, demonstrando como o rito foi ficando exaustivo. No turno da manhã, foram realizadas as

provas escritas, e à tarde, as de arguição, onde um aluno por vez era avaliado. Por serem os

exames finais, poucas crianças estavam aptas a fazê-los: 10 alunos pertencentes à secção

masculina, 3 alunas pertencente à secção feminina (só compareceu uma) e 4 alunos estranhos.

O exame durou o dia todo para avaliar apenas 14 crianças, demostrando a rigidez e a

seletividade dos processos avaliativos.

O índice de reprovação era elevado, pois de quatro turmas do 4º ano das escolas

elementares, montava-se apenas uma mista complementar, que terminava com poucas

crianças: em 1907 no mês de junho eram apenas 12; em outubro de 1908 eram 17.

Esse alto índice de reprovação continuou a partir da reinstalação do grupo escolar em

1937, conforme podemos observar nos resultados dos exames finais dos anos de 1937 a 1940

e de 1950 a 1954, com destaque para os anos 1939, 1940 e 1950, quando as crianças

reprovadas atingiram a casa dos três dígitos: 161, 103 e 102, respectivamente. Em 1951 das

232 crianças matriculadas, 96 foram reprovadas.

160

Quadro 20: Resultado dos exames finais do Grupo Escolar de Igarapé-Miri: 1937-1940;

1949-1954

Anos 1937 1938 1939 1940 1949 1950 1951 1952 1953 1954

Matriculados 176 207 229 179 235 254 232 257 257 291

Aprovados 116

66,%

159

77%

68

30%

64

36%

97

41%

140

55%

120

52%

123

48%

155

60%

151

52%

Reprovados 60

34%

48

23%

161

70%

103

58%

118

50%

102

40%

96

41%

62

24%

32

13%

48

16,5%

Eliminados - - - 4

2%

20

9%

12

5%

16

7%

40

16%

35

13,5%

52

18%

Faltosos - - - 8

4%

- - - 32

12%

35

13,5%

40

13,5%

Fonte: IGARAPÉ-MIRI. Termos de classificação, 1955

Os alunos seriam eliminados por faltas, mudança de endereço e por falecimento

(IGARAPÉ-MIRI. Termo de classificação, 1935). No ano de 1939, dos 130 alunos

matriculados na classe preliminar, 112 foram reprovados. Esta classe preliminar era regida

por uma única professora, revelando que havia turmas de séries iniciais com superlotação, e o

resultado seria reprovação em massa. É possível que estejam inclusos nestes números os

alunos eliminados e faltosos. Entre os anos de 1937 a 1939 não constam nos exames a

quantidade de crianças eliminadas e faltosas. E nos anos de 1950 e 1951 não foi registrado o

número de faltosos.

Os exames escolares representaram o ápice dos ritos republicanos ocorridos nos

grupos escolares: eram festivos, abertos ao público e exigiam preparações anuais voltadas a

essa finalidade. Representava o ritual de passagem à sociedade letrada. Adquirir boas notas

garantia reconhecimento social e prêmios. Pimentel (2012) expõe que na década de 1960 no

grupo escolar da cidade Igarapé-Miri as professoras viviam em função dos exames escolares e

161

recebiam pressão da diretora para que as crianças obtivessem notas boas. Pimentel (2012)

comenta que segundo uma ex-professora desta instituição, cuja identidade não foi revelada, “a

diretora [...] falava nas reuniões antes do exame final que os resultados obtidos eram de total

responsabilidade dos professores, e se o nome da instituição escolar fosse mal visto pela

sociedade, os maiores responsáveis seriam os professores” (p. 142). Esse clima gerava muita

expectativa e nervosismo às crianças.

Os resultados positivos dos alunos nas provas serviam para gerar reconhecimento à

instituição e prestígios ao diretor e professores perante a sociedade e instâncias superiores.

Entretanto, se as crianças fossem mal nos exames, a direção ficaria em situação

constrangedora perante os seus superiores.

A Revista “O Ensino” de janeiro de 1919, no artigo intitulado “Examinador e

Examinando” de autoria identificada no texto pelas iniciais F.S., destaca as qualidades dos

examinadores: “sentimentos avançados do progresso intelectivo, os examinadores só julgam a

verdade, só ajuízam pelo merecimento, só classificam pelo valor real” (PARÁ. Revista O

ensino: artigo de F.S., 1919, p. 17). O examinador, segundo o autor, é um profissional de

confiança do governo e qualificado para julgar o intelecto de alguém. O examinador deveria

ser concebido como um ser objetivo, preparado para julgar sem paixões, não faltando com a

verdade.

O artigo estava rebatendo críticas em relação ao alto número de reprovações de

crianças que faltavam nos exames, tentando justificar que a culpa não estava nas exigências

dos examinadores e sim nas próprias crianças: “que as reprovações ou inabilitações sirvam de

estímulo para que [as crianças] mais se apliquem ao estudo” (PARÁ. Revista O ensino: artigo

de F.S., 1919, p. 18). De acordo com o autor, os examinandos que não se preparavam

ficavam receosos e viam o exame como um fantasma, ficavam preocupados em saber qual

seria a comissão examinadora e apavorados, muitos desistiam; enquanto, que as crianças

preparadas ficavam mais tranquilas e conseguiam fazer as provas. A revista, ao defender os

examinadores, acabava deixando passar a ideia de que existiam uns mais exigentes do que

outros, demonstrando a subjetividade nos exames, que a própria revista afirmava não fazer

parte das caraterísticas dos examinadores.

Parece ficar latente que o clima de expectativa e exigência da instituição educativa em

relação às boas notas nos exames escolares das crianças, contaminava toda a sociedade. Todos

os escolares viviam em função dos exames finais, pois o êxito nessas provas representaria o

sucesso e reconhecimento da instituição e seus membros: diretor (a), professor (a), crianças e

a felicidade de suas famílias. Porém, o êxito nos exames escolares não dependia

162

exclusivamente das crianças, mas de uma cadeia de relações e oportunidades. No campo das

relações é possível destacar a postura subjetiva do examinador, que poderia contribuir ou

deixar o cenário dos exames mais tensos. E quanto às oportunidades, pode-se inferir que

muitas crianças não tinham o mesmo tempo de dedicação ao estudo, haja vista que

precisavam ajudar nas atividades familiares e não poderiam ter acompanhamento ou reforço

escolar em casa devido à falta de tempo ou o analfabetismo dos pais.

Como vimos, os saberes instrucionais e educativos foram repassados no Grupo Escolar

de Igarapé-Miri através dos rituais cotidianos com o objetivo de instruir e civilizar as crianças,

moldando o futuro cidadão republicano. Esses saberes estavam presentes no conteúdo

programático, nas ações de controle das crianças, nos exames escolares, dentre outros. Na

prática, esses saberes acabavam ensinando valores que visavam formar corpos e mentes

dóceis. O modo de falar, de se relacionar com a natureza, de se alimentar e os costumes

diários das crianças foram amplamente combatidos pelas pedagogias implementadas no

Grupo Escolar de Igarapé-Miri, a fim de que as crianças absorvessem hábitos e costumes

favoráveis ao modelo de cidadão idealizado pelos republicanos.

163

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Criado no Brasil no contexto da Primeira República, os grupos escolares,

representaram uma nova modalidade de escola primária, tornando-se espaços voltados à

formação da infância, com o propósito de instrumentalizar o modelo de cidadão desejado pelo

sistema político vigente.

Reafirmar a importância e superioridade dos grupos escolares em relação às escolas

isoladas tornou-se bandeira discursiva de governos republicanos do Pará como José Paes de

Carvalho (1897-1901) e Augusto Montenegro (1901-1909) que associavam os grupos

escolares à modernidade, enquanto às escolas isoladas eram rotuladas como símbolo do

atraso, já que eram heranças deixadas pela monarquia. O certo é que durante o ciclo dos

grupos escolares no Pará (1899-1971) o número de escolas isoladas e de alunos matriculados

nessas unidades de ensino sempre foram superiores às dos grupos escolares, demonstrando

que se a instrução pública dependesse exclusivamente dos grupos escolares o número de

analfabetos nesse estado seria bem maior.

O Grupo Escolar de Igarapé-Miri foi fundado em 27 de abril de 1904, a partir da

junção de quatro escolas isoladas, em um prédio cedido pela intendência municipal. Em 1912

foi extinto, sendo reinaugurado em 1937 até 1971, quando a nomenclatura “Grupo Escolar”

foi substituída por “Escola de Primeiro Grau” em decorrência da Lei de Diretrizes e Base da

Educação (LDB 5692/71). Durante esse período, esteve sediado em três casas alugadas, até a

construção do prédio próprio. De 1904 a 1912 e 1937 a 1943, ficou localizado à Rua Rui

Barbosa nº 9, em frente a extinta praça D. Pedro II; de 1943 a 1947, o seu endereço foi à Rua

15 de novembro, na primeira rua da cidade; entre 1947 a 1949, retornou à Rua Rui Barbosa

para uma casa localizada ao lado do Grupo Velho, como ficou conhecido o primeiro prédio

que sediou essa instituição. Finalmente, em 1949 foi transferido para o prédio definitivo

localizado em frente ao paço municipal, denominado Palacete Senador Garcia. A história

dessa instituição perpassou por três etapas: de grupo escolar a escola isolada (1904-1912), da

reinauguração do grupo escolar à transferência para o prédio próprio (1937-1949) e de grupo

escolar a escola de primeiro grau (1949-1971).

Durante o seu funcionamento, essa modalidade escolar ofertou o ensino primário

elementar para crianças a partir dos 6 ou 7 anos de idade (dependendo da legislação), o

complementar para crianças que concluísse o elementar e o Jardim de Infância para crianças

entre 4 aos 6 anos de idade, visando instruir e civilizar o futuro cidadão republicano. As

164

crianças eram educadas para constituírem os homens e mulheres do amanhã. A criança era

pensada como um eterno “devir” que deveria ser moldada para ocupar um espaço social no

mundo republicano. A maioria dessas crianças era oriunda de famílias pobres: filhos de

vendedores autônomos, barbeiros, comerciários, açougueiros, funcionários públicos, donos de

engenhos, proprietários de serrarias, pescadores, caçadores, trabalhadores rurais, domésticas,

professores, trabalhadores de oficina de cadeireiro, ferreiros, funileiros, ourives, calafate,

marceneiros, sapateiros, alfaiates, padeiros, fotógrafos, pedreiros, quitandeiras, regatões

(vendedores marítimos), etc.

O número de crianças matriculadas nessa instituição em geral foi menos de 300,

alcançando a média maior em 1905 que chegou a 318 alunos. Em 1906 foram matriculadas

227, em 1907 chegaram a estudar 236 crianças, em 1937 foram 176, em 1938 passaram por

este estabelecimento 207, em 1939 foram 229 e em 1940 somente 179 crianças foram

matriculadas.

Uma das justificativas para o baixo número de alunos recaiu na falta de políticas

públicas governamentais para atrair e mantê-los na instituição. As crianças matriculadas

deveriam cumprir obrigações que poderiam não fazer parte de sua faixa etária e de sua

cultura, tais como: serem pontuais e assíduas nas aulas, higiênicas e vestir-se decentemente;

serem atenciosas, ordeiras, silenciosas e respeitadoras.

Os sujeitos escolares (diretores, professores, alunos, porteiros e serventes) foram o

veículo de divulgação do projeto republicano nessa localidade. Encarnaram e ressignificaram

as propostas pedagógicas e os ensinamentos transmitidos nos livros, regulamentos,

regimentos, rituais cívicos, dentre outros. Reelaboraram os espaços da instituição, fazendo

uma simbiose entre a proposta cultural republicana e a cultura local, redesenhando o grupo

escolar enquanto o espaço da infância ou a própria infância miriense, de origens amazônica e

ribeirinha.

A instrução visava alfabetizar as crianças, ensinando-lhes a ler, escrever, contar e

assimilar os conteúdos gerais sobre o mundo, Brasil e Pará; e a civilidade visava educar as

crianças a partir de valores que visavam formar corpos e mentes dóceis. Os professores teriam

a função de trazer o conhecimento e aproximar as crianças do mundo letrado e civilizado,

formando os cidadãos do amanhã.

A instrução e civilização das crianças eram realizadas nesse estabelecimento de ensino

através de rituais escolares diários, tais como: festas escolares, distribuição do tempo, recreio,

aula, exames avaliativos, dentre outros. Essas cerimônias ritualísticas tornaram-se

indispensável à construção do modelo de homem cívico e patriota idealizado pela República

165

brasileira. É latente esse objetivo formativo, à medida que a pedagogia republicana aplicada

cotidianamente nos regimentos internos, regulamentos de ensino e nos rituais presentes na

instituição voltavam-se à concretização desse modelo formativo.

Para decifrar esse universo formativo trilhamos os indícios produzidos pelos sujeitos

(governadores, secretários da instrução pública, inspetores escolares, prefeitos, diretores,

professores, alunos, porteiros, serventes, dentre outros) nas suas relações cotidianas. A

captação desses indícios nos permitiram montar um mosaico que revelaram um universo

sociocultural marcado pelas tramas do cotidiano: superação, dedicação, conquista, advertência

e luta.

As principais festas celebradas no Grupo Escolar de Igarapé-Miri entre 1904 a 1912

foram: a festa anual, que geralmente ocorria no dia 27 de abril, data de fundação da

instituição, e a Proclamação da República nos dias 15 e 16 de novembro. Porém, entre 1937 e

1943 passou-se a dar destaque às comemorações do 7 de setembro em homenagem à

Independência política do Brasil.

Durante o período investigado (1904-1943) esse grupo escolar funcionou somente no

turno da manhã: entre 1904 e 1912 era de 8h às 11h30 nas escolas elementares, e nas escolas

complementares de 8h30 às 11h30. Entretanto, de 1937 a 1943 funcionou de 8h às 11h. O

desdobramento em dois turnos ocorreu somente em 1956, cujo motivo foi a falta de carteiras

escolares: o primeiro turno ficou das 7h50 às 10h50 e o segundo das 11h às 14h.

O recreio entre 1904 a 1912 era de 15 minutos diários nos intervalos de aula

reservados aos exercícios físicos, exceto às quintas e sábados quando o intervalo recreativo

seria de 30 minutos. Entre 1937 a 1943 as aulas de cultura física deveriam acontecer no início

do período letivo de 7h30 às 8h da manhã e o intervalo para descanso das crianças seria de 10

minutos no meio do horário letivo. No recreio, as crianças deveriam descansar a mente e

civilizar-se, treinando os corpos, as emoções, os gestos e o controle.

As aulas eram divididas em dois momentos: o primeiro era dedicado mais à instrução:

leitura, escrita e cálculo; o segundo à educação cívica: desenho, história e geografia.

No curso elementar de 8h às 10h (quarta e sábado) 10h15 (demais dias): o rito da aula

nas escolas elementares começava com a entrada, chamada diária, escrita e ditado, uma hora

aula e corrigia as atividades. De 10h30 às 11h30 aconteciam as aulas de gramática, geometria

e desenho elementar (segunda e sexta), aritmética e geografia (terça e quinta), gramática e

história (quarta) e aritmética e história (sábado).

No Curso Complementar, as aulas estavam divididas: de 8h às 10h (quarta) ou 10h15

(outros dias). Após a chamada, ocorria o ditado (segunda, quarta e sexta) e escrita (terça,

166

quinta e sábado), posteriormente correção do tema, exercício de gramática (segunda e sexta),

leitura, exercício de aritmética (terça e quinta), correção do tema, exercício de redação

(quarta) e composições (sábado). De 10h às 11h30, as aulas eram de gramática, geometria e

desenho elementar (segunda e sexta), aritmética e geografia (terça e quinta), gramática e

história (quarta) e história e conferências (sábado).

Entre 1937 e 1943 as crianças deveriam aprender os seguintes saberes: língua

portuguesa (leitura, escrita e caligrafia), noções de aritmética, geografia e história, onde se

deveriam destacar os aspectos históricos e geográficos do Pará; noções práticas de geometria,

zoologia, botânica, física e química; noções de higiene e profilaxia; canto (hinos patrióticos e

escolares); trabalhos manuais (modelagem, tecelagem, dobraduras, dentre outros); educação

social, desenho, cultura física, escoteirismo para os meninos, prendas domésticas às meninas.

Todos os saberes instrutivos e civilizatórios deveriam ser assimilados pelas crianças, porque

seriam assunto de pauta dos exames.

Os exames escolares entre 1904 a 1912 seriam de suficiência, de passagem de ano e

finais de curso. Os exames de suficiência ou parciais eram realizados no final do primeiro

semestre para efeito de classificação definitiva dos alunos, e os de passagem de ano e finais de

curso no fim do ano letivo. A partir de 1937 os exames escolares passaram a ocorrer somente

no final do ano letivo, destinado à promoção dos alunos e conclusão dos estudos primários e a

nota mínima para ser aprovado seriam 5,0 pontos. Nos grupos escolares, os exames teriam a

seguinte estrutura: deveriam ser realizados perante uma comissão examinadora composta

pelos professores da instituição, presidida pelo professor da turma ou pelo (a) diretor (a).

Esses exames compreendiam duas provas: escrita, versando conteúdo das disciplinas

português e aritmética: e oral, com conteúdo de história e geografia.

O índice de reprovação era elevado, pois de quatro turmas do 4º ano das escolas

elementares, montava-se apenas uma mista complementar, que terminava com poucos alunos:

em 1907 eram apenas 12; em 1908 somente 17. Esse alto índice de reprovação continuou a

partir da reinstalação do grupo escolar em 1937: nos exames finais de 1939 foram reprovadas

161 crianças. Os resultados positivos dos alunos nas provas serviam para gerar

reconhecimento à instituição e prestígio ao diretor e professores, perante a sociedade e

instâncias superiores.

Escrever sobre a história de crianças no Grupo Escolar de Igarapé-Miri nos ajudou a

compreender os caminhos percorridos pela instrução primária na Amazônia: seus avanços e

recuos delimitados por questões políticas, econômicas e geográficas, em um vasto território,

visto por muitos como selvagem, exótico e atrasado. O grupo escolar investigado se

167

configurou como representante legal do Estado Republicano, assumindo o discurso

salvacionista para retirar a população miriense do obscurantismo social, ou seja, do

analfabetismo e do impatriotismo. A educação primária seria a possibilidade de incluir a

Amazônia, notadamente Igarapé-Miri, ao Brasil “civilizado”. A indolência e o parasitismo da

população ribeirinha dessa localidade poderia ser amenizada ou superada com instrução e

educação.

O Grupo Escolar de Igarapé-Miri cumpriu o seu papel de instruir e civilizar as

crianças, e por extensão, a sociedade miriense como um todo. A educação fornecida nesse

grupo escolar transcendeu o seu espaço interno, pois a sociedade miriense adquiriu hábitos e

valores culturais relacionados à formação escolar, como: levar e buscar os filhos na escola,

participar de eventos escolares, dentre outros. Algumas meninas por meio da educação

mudaram o seu destino traçado pela sociedade: como se casar e ser dona de casa. Muitas delas

tornaram-se professoras, funcionárias do cartório civil, do fórum da cidade, etc. Algumas

continuaram solteiras devido a sua independência financeira e para não se submeterem à

estrutura patriarcal. Outras constituíram família e dedicaram suas vidas a cuidar dos filhos e

dos alunos.

No decorrer desta investigação, inúmeros objetos foram surgindo e instigando a minha

curiosidade por conhecê-los. Encontrei vários indícios de professoras negras atuando na

educação primária de Igarapé-Miri, tanto no grupo escolar como nas escolas isoladas.

Adalgisa Batista foi a única diretora negra deste grupo escolar. Pesquisar a vida dessas

professoras poderá nos revelar uma história de superação. Interessante seria também estudar a

história dos ex-alunos e ex-funcionários do grupo: o que eles pensam sobre a instituição? O

aprendizado adquirido neste estabelecimento de ensino continua presente em suas vidas? Que

lembranças guardam dessa instituição? O que aconteceu com os funcionários do grupo? Por

onde passaram e onde encerraram sua carreira? Que destino tiveram? Enfim, há inúmeras

possibilidades de estudos a serem realizados no Grupo Escolar de Igarapé -Miri.

Reitero a necessidade urgente de higienização, catalogação e acondicionamento

adequado dos documentos que se encontram no Arquivo da Casa da Cultura de Igarapé-Miri,

a fim de preservar parte da nossa memória. É triste a maneira como os gestores municipais

que passaram por Igarapé-Miri cuidaram dos documentos históricos, ou melhor, não

cuidaram: parte da documentação encontra-se amontoada, em um espaço inapropriado no

segundo andar da Casa da Cultura dessa cidade. Percebi que há um certo interesse em

preservar essa documentação, mas não se sabe por onde começar. Cabe a nós pesquisadores

propormos uma solução: a sugestão mais viável no momento seria transformar o prédio

168

histórico da Prefeitura Municipal em Arquivo Público de Igarapé-Miri, pois a Prefeitura

possui um prédio novo, denominado Centro Administrativo, que ainda está em desuso.

Entretanto, não basta possuir apenas o espaço físico, precisa-se também de profissionais

capacitados para lidar com essa documentação e a contratação desses profissionais cabe ao

poder público.

Acredito que esta investigação contribui com a escrita da história da educação na

Amazônia. Espero ainda que venha suscitar novas pesquisas que aprofunde o debate sobre

essa instituição, haja vista que um estudo nunca está completo e nem consegue dar conta de

todo o universo cultural do objeto.

169

FONTES DOCUMENTAIS

Álbuns

IGARAPÉ-MIRI. Álbum Histórico de Igarapé-Miri, Pará. Mandado organizar por pelo

prefeito municipal, Alberone Lobato. Belém. Pará, 1977.

PARÁ. Álbum do Estado do Pará: 1899. Mandado organizar pelo governador do Estado do

Pará, José Paes de Carvalho. S/L. F.A. Fidanza. 1899.

______. Álbum do Estado do Pará. Oito anos do Governo (1901 a 1909). Paris: Imprimerie

Chaponet. 1908.

______. Álbum do Estado do Pará: 1939. Mandado organizar pelo governador do Estado do

Pará, José Carneiro da Gama Malcher. Belém, Pa. Typographia “novidades”, 1939.

Diversos

ALMANACK LAEMMERT. Annuario Commercial, Industrial, Agrícola, Profissional e

Administrativo da Capital Federal e dos Estados Unidos do Brasil: 1891 a 1940. 3º

VOLUME, Estados do Norte. Rio de Janeiro. A. Hénault & Cia, 1940.

ANNUARIO DE BELÉM. Em comemoração do seu tricentenário 1616-1916: histórico,

literário e comercial. Organizado, em colaboração, por um grupo de intellectuais, por

iniciativa do Eng. Ignacio Moura Pará: Imprensa Official, 1915.

BRASIL. Annuario estatístico do Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e estatística

(IBGE). 1941/45 Rio de Janeiro. Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e

estatística. 1946.

______. Administração. Decreto-Lei Nº 5.540, de 2 de junho de 1943. Considera "Dia do

Índio" a data de 19 de abril. Rio de Janeiro, 1943. Disponível em: <http://

www2.camara.leg.b>. Acesso em: 15 de outibro de 2017.

______. Directoria Geral de Estatística. Synopse do recenseamento de 31 de dezembro de

1900: Censo demográfico, Brasil, 1900. Rio de Janeiro: Typ. de Estatística, 1905. Disponível

em: <http:// www2.senado.leg.br >. Acesso em: 15 de novembro de 2016.

______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse estatística do município de

Igarapé-Miri, Estado do Pará: Principais resultados censitários de 1940 e alguns resultados

estatísticos 1945. Rio de Janeiro: Serviço gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, 1945.

IGARAPÉ-MIRI. Administração. Decreto nº 20 de 07 abril 1938. Define a gratificação

mensal de 190$000 (cento e noventa mil réis) da prefeitura municipal de Igarapé-Miri a

professora adjunta Ana da Trindade Almeida, nomeada desde maio de 1937 como auxiliar da

cadeira de 1º ano. Igarapé-Miri, Pará, 1938.

______. Administração. Prestação de conta da Prefeitura Municipal de Igarapé-Miri, exercício

1947, apresentada à Câmara dos vereadores. Igarapé-Miri, Pará, 1948a.

170

______. Administração. Notas da prestação de conta da prefeitura Municipal de Igarapé-

Miri:1946 a junho de 1948, 1948b.

______. Administração. Recibos de pagamento de serviços e materiais referentes à construção

do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, 1949.

______. Administração. Prestação de conta da Prefeitura Municipal de Igarapé-Miri, exercício

1949, apresentada à Câmara Municipal. Igarapé-Miri, Pará, 1950.

______. Instituto de Estatística do Pará. Mapa de importação e exportação do Município de

Igarapé-Miri do segundo semestre de 1939. Igarapé-Miri, Pará, 1939.

______. Orçamento Municipal para 1913. Lei nº 28 de 23 de dezembro de 1912: orça a

receita e fixa a despesa do município de Igarapé-Miri para o ano de 1913. Belém: Imprensa

Official do Estado do Pará, 1913.

______. Instrução Pública. Livro de ponto dos alunos da 2ª Escola Elementar Masculina do

Grupo Escolar de Igarapé-Miri: 1905, 1908 a 1911. Igarapé-Miri, Pará, 1911.

______. Instrução Pública. Livro de ponto dos funcionários do Grupo escolar de Igarapé-Miri:

1907 a 1912. Igarapé-Miri, Pará, 1912.

______. Instrução Pública. Livro de matrícula da Escola Isolada Seção Masculina de Igarapé-

Miri: 1931 – 1934. Igarapé-Miri, Pará, 1934.

______. Instrução Pública. Termos de exames dos alunos da Escola Isolada masculina e

Escolas Reunidas de Igarapé-Miri: 1934-1935. Igarapé-Miri, Pará, 1935.

______. Instrução Pública. Termos de exames dos alunos do Grupo Escolar de Igarapé-Miri:

1907-1910; 1937-1939 e 1949-1955. Igarapé-Miri. Pará, 1955.

______. Documentos das Escolas Isoladas (relação de escolas, termos de exames escolares,

ofícios, matrícula, frequência, dentre outros), 1971.

______. Educação. Livro de ocorrência do Grupo Escolar “Manoel Antonio de Castro” de

1959 a 1962. Igarapé-Miri, Pará, 1962.

______. Educação. Livro de cadastro dos funcionários do município de Igarapé-Miri: 1950-

1972. Igarapé-Miri, Pará, 1972.

NUNES, Beltodo. Educação. In: A Escola: Revista official de ensino. Belém: Impensa

Official, nº 62, maio 1904.

OLIVEIRA, Virgilio Cardoso de. Pronunciamento proferido na 19ª sessão ordinária do

Conselho Superior de Instrução Pública, em 30 de janeiro 1901. In: A Escola: revista official

do ensino no Estado do Pará. Belém, Imprensa oficial. Anno 2, num. 16, Maio de 1901.

171

PARÁ. Instrução pública. Relatório apresentado ao Governador Justo Leite Chermont, por

José Veríssimo, diretor geral da instrução pública. Pará: Tipografia de Tavares e

Cardoso,1891.

______. Instrução pública. Relatório apresentado ao sr. Dr. G. Amazonas de Figueiredo,

Secretario de Estado da Justiça, Interior e Instrucção Publica, pelo inspector escolar João

Pereira de Castro em 18 de junho de 1907. In: Boletim Official da Instrucção Pública do

Estado do Pará. Tomo V, nº 3, julho – setembro. Pará: Typ. Encadernação do Instituto Lauro

Sodré, 1907.

______. Instrução Pública. Boletim Official da Instrucção Pública do Estado do Pará. Tomo I,

n.1, março - maio, 1905. Belém: Impresa official, 1905.

______. Poder Judiciário. Livro de registro de Óbitos da comarca de Igarapé-Miri (1º Distrito

Judiciário) de abril a novembro de 1908. Igarapé-Miri. Pará, 1908.

______. Secretaria de Educação. Portaria s/n de 11 de maio de 1931. Determinava que as

escolas municipais do interior do estado do Pará deveriam receber a designação de auxiliares.

Belém, Pará, 1931.

Jornais

A PROVÍNCIA DO PARÁ. Instrução Primária no Pará. Tabela de vencimentos anuais de

funcionários dos Grupos Escolares e Escolas Isoladas do Estado do Pará em 1903. Belém,

Pará, 18 fev.1903.

______. Instrução Primária no Pará. Ressalta a necessidade de direcionar as crianças para a

formação do bom caráter, das boas inclinações, dos bons sentimentos e da felicidade. Belém,

Pará, 22 out.1904, p 02.

______. Instrução Primária no Pará. Quadro destacando os grupos escolares existentes no

Estado até 1904. Belém, Pará, 30 set.1904.

______. Instrução Primária no Pará. Relatório final dos exames de passagens de 1904 dos

alunos do Grupo Escolar de garapé-Miri. Belém, Pará, 31 out. 1904.

______. Naufrágios. A redação do jornal informa os sucessivos acidentes marítimos, tais

como naufrágios, explosão de caldeiras de lanchas a vapor, dentre outros. Belém, Pará, 22 e

23 out.1904, p.02.

A REPÚBLICA. Propósito do que se diz por aí. Um grupo de oficiais superiores da Armada

Brasileira, no Rio de Janeiro, liderados pelo Contra Almirante Custodio de Mello, tomaram

dois navios e tentaram derrubar o governo central. Anno 4, nº 666, Belém, Pará, 10 set.1893,

p. 01.

DIÁRIO DO ESTADO. Comemoração de 7 de setembro. Registrou o recebimento de um

ofício circular pelo Comandante da 8º Região Militar de Belém, tenente-coronel Libanio

Augusto da Cunha Mattos, enviada do Rio de Janeiro, sede do Governo Federal na época,

172

determinando que fosse dada maior visibilidade as comemorações da Independência do

Brasil, que já era considerada a maior celebração nacional. Belém, Pará, 04 set.1934

DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO PARÁ. Atos do Governo. Decreto 3.806, de 05 de

março de 1921. Belém, Pará, 06 mar.1921.

ESTADO DO PARÁ. Ensino Público. Discurso proferido pelo deputado Cônego Andrade

Pinheiro à Câmara dos Deputados do Estado do Pará em 24 de outubro de 1911. O deputado

estadual argumentou que os grupos escolares foram implantados no Estado do Pará com o

propósito de diminuir os gastos com a instrução pública, mas na prática acabaram exonerando

os cofres públicos. Belém, Pará, 01 nov. 1911.

FOLHA DO NORTE. Propaganda do Colégio Pará e Amazonas de propriedade de Manoel

Antonio de Castro. Belém, Pará, 02 mar. 1917.

O LIBERAL. Atos do Governo Constitucional do Estado. Resolve nomear Sabina Gonçalves

de Castro para o cargo de servente do Grupo Escolar de Igarapé-Miri. Belém, Pará, 25

mar.1947, p. 9.

______. Atos do Governador Constitucional do Estado. Em 7 de junho de 1947, o governador

do Estado do Pará exonerou Predicanda Carneiro de Amorim Lopes do cargo de professora do

Grupo Escolar José Veríssimo. Belém, Pará, 09 jun.1947.

______. Visita. Despedida do coletor estadual Raul Pessoa da Cunha que iria se afastar por

bastante tempo de Belém, por ter que trabalhar em Igarapé-Miri. Belém, Pará, 20 maio1947,

p. 02.

______. Atos do Governador. Nomeação de Alda pelo governador do Pará, Moura Carvalho,

tabeliã e escrivã do Cartório do 2º Ofício da sede da Comarca de Igarapé-Miri. Belém, Pará,

22 mar.1947.

______. Um canal feito pelos escravos: o autor Milton Garcia, tratava sobre a escavação do

Canal em Igarapé-Miri entre 1821 e 1823. Belém, Pará, 10 jul.1987, p. 4.

Mensagens

PARÁ. Governador, 1901-1909 (Augusto Montenegro). Mensagem dirigida ao Congresso

Legislativo do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1905. Disponível em:

<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2439/index.html p 47 >. Acesso em: 15 de novembro de 2016.

______. Governador, 1909-1913 (João Antônio Luís Coelho). Mensagem dirigida ao

Congresso Legislativo do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1911a. Disponível em:

<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1031>. Acesso em: 09 de janeiro de 2017.

______. Governador, 1921-1925 (Antônio Emiliano de Sousa Castro). Mensagem dirigida ao

Congresso Legislativo do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1921. Disponível em:

<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1042>. Acesso em: 27 de dezembro de 2016.

______. Governador, 1921-1925 (Antônio Emiliano de Sousa Castro). Mensagem apresentada

ao Congresso Legislativo do Estado do Pará, em sessão solene de abertura 1ª reunião de sua

173

12ª legislatura, a 07 de setembro 1924. Belém: Imprensa Oficial, 1924. p. 77 – 80. Disponível

em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1042>. Acesso em: 01 de setembro de 2017.

MÚSICAS

GAMA, Ionete. Nosso Igarapé-Miri. Intérprete: Paulo Gonçalves (PIM). As coisas de

Igarapé-Miri, 2004. CD

GONÇALVES, Aurino Quirino Pinduca. Dos Mamangais aos Caminhos de Canoa Pequena.

Intérprete: Gogó de Ouro. Samba enredo do Rancho, 2008. CD

Ofícios, telegramas e comunicados.

ALMEIDA, Alberto da Trindade. [Telegrama] s/n de 03 maio 1946, Igarapé-Miri, Pará.

[para] Diretor de Educação do Pará, Belém, PA. 1f. O prefeito e Presidente do Conselho

Escolar de Igarapé-Miri comunica ao Diretor de Educação do Pará que diariamente recebe

reclamações de falta de professoras no Grupo Escolar da cidade.

ALMEIDA, Edmundo Dantes. [Ofício] s/n de 07 outubro 1940, Igarapé-Miri, Pará. [para]

MESQUITA, Antonio Augusto de, Igarapé-Miri, PA. 1f. O professor comunica ao prefeito o

fechamento da escola noturna “13 de maio”.

HENRIQUE, Raymundo de Miranda. [Ofício] s/n de 06 de junho de 1932, Igarapé-Miri, PA.

[para] TAVARES, Cecílio, Igarapé-Miri, PA. 1f. O professor da Escola Isolada do Estado do

Pará, com sede no município de Igarapé-Miri, demonstra ao prefeito de municipal as

dificuldades enfrentadas pelos professores das escolas isoladas.

IGARAPÉ-MIRI. Agência de Estatística do Município. [Ofício] s/n de 15 março 1945,

Igarapé-Miri, PA. [para] LOPES, Raimundo Monteiro, Igarapé-Miri, PA. 1f. Dispõe sobre

quantidade de escolas, casas comerciais e bens patrimoniais da prefeitura.

LESSA, Luis. [Ofício] s/n de 22 abril 1940, Belém, Pará. [para] MESQUITA, Antonio

Augusto de, Igarapé-Miri, PA. 1f. O Diretor do Serviço da Febre Amarela no Estado do Pará,

solicita ao prefeito Municipal de Igarapé-Miri, apoio no combate à Febre Amarela.

LOBATO, João Augusto de Lira e RODRIGUES, Olívio. [Ofício] nº 156 de 20 maio 1943,

Igarapé-Miri, PA. [para] LOPES, Raimundo Monteiro, Igarapé-Miri, PA. 1f. Comunica ao

prefeito o parecer favorável para o aluguel do prédio da 15 de Novembro.

LOPES, Predicanda Carneiro de Amorim. [Ofício] nº 14 de 29 abril 1938, Igarapé-Miri, PA

[para] MESQUITA, Antônio Augusto de, Igarapé-Miri, Pará. 1f. A diretora do Grupo Escolar

de Igarapé-Miri solicita ao Presidente do Conselho Escolar dessa cidade providencias para

que sejam retiradas goteiras, capinado o terreno e colocado uma fechadura no portão do

prédio onde funciona o referido grupo escolar.

______. [Ofício] nº 03 de 15 jan. 1940, Igarapé-Miri, PA [para] MESQUITA, Antônio

Augusto de, Igarapé-Miri, Pará. 1f. A diretora do Grupo Escolar de Igarapé-Miri comunica o

prefeito local que a 3ª sala desta instituição continua disponível à escola noturna “13 de

174

maio”, mantida pela Prefeitura, e informa que o porteiro Julio Lobato abrirá a escola às 19hs e

fechará às 21hs, para que funcione a referida escola.

LOPES, Raimundo Monteiro. [Ofícios] nº 146, 147 de 19 maio 1943, Igarapé-Miri, PA. [para]

LOBATO, João Augusto de Lira e RODRIGUES, Olívio, Igarapé-Miri, PA. 1f. O prefeito

municipal de Igarapé-Miri constitui a comissão para avaliar o aluguel do prédio da 15 de

Novembro.

______. [Ofícios] nº s/n de 21 maio 1943, Igarapé-Miri, PA. [para] BARATA, Magalhães,

Belém, PA. 1f. O prefeito municipal de Igarapé-Miri solicita recursos ao governo do estado

do Pará para custear as festas cívicas.

______. [Ofício] nº 169 de 31 maio 1943, Igarapé-Miri, PA. [para] AZEVEDO, Deolinda

Granja de, Igarapé-Miri, PA. 1f. O prefeito entrega o Grupo Velho à sua proprietária.

______. [Ofícios] nº 173 e 174 de 04 jun. 1943, Igarapé-Miri, PA. [para] BARATA,

Magalhães e ao Diretor de Departamento de Educação e Cultura do Estado, Belém, PA. 1f. O

prefeito municipal comunica a inauguração do Grupo Escolar na 15 de novembro.

______. [Ofício] nº 188 de 11 junho 1943, Igarapé-Miri, PA. [para] RODRIGUES, Emiliano

de Castro, Igarapé-Miri, PA. 1f. O prefeito acusa o recebimento do ofício da professora que

havia assumido a Escola Feminina de Prendas “Darcy Vargas”.

______. [Ofício circular] nº 197 de 14 jun. 1943, Igarapé-Miri, PA. [para] vários professores,

Igarapé-Miri, PA. 1f. O prefeito municipal solicita às professoras das vinte e duas escolas

isoladas do município que promovam nas suas escolas palestras sobre a campanha da

borracha. Os estudos deveriam ser feitos com base nas publicações dos jornais da capital.

______. [Ofício circular] s/n de 09 de maio de 1945, Igarapé-Miri, Pará. [para] Diretora do

Grupo Escolar de Igarapé-Miri, Igarapé-Miri, PA. 1f. Comunicando que nesta data havia

assumido o cargo de prefeito municipal de Igarapé-Miri.

______. [Ofício] s/n de 04 de agosto de 1945, Igarapé-Miri, Pará. [para] Diretor geral do

departamento de Educação e Cultura, Belém, PA. 1f. O prefeito informa que irá enviar o

orçamento à reforma do grupo escolar e que tem em vista permutar algumas turmas do grupo

no prédio da prefeitura.

______. [Ofício] nº 132 de 30 jun. 1945, Igarapé-Miri, Pará. [para] Diretor do departamento

das Municipalidades, Belém, PA. 1f. Discorre sobre o orçamento do obelisco da Praça da

Matriz.

MÁCOLA, Lauro Alves. [Telegrama] s/nº de 10 jun. 1945, Igarapé-Miri, PA [para] Diretor

de Educação, Belém, Pará. 1f. O secretário informa que Diogo Domencio Silva continua

exercendo a função de porteiro do Grupo Escolar de Igarapé-Miri, e que o cargo de servente

está vago, pois Euridice Soares Marques que exercia esta função, foi nomeada professora da

Escola Auxiliar Mista do Rio Santo Antonio.

MESQUITA, Antônio Augusto de. [Telegrama] nº 07 de 05 fev. 1941, Igarapé-Miri, PA

[para] Diretor de Ensino e Educação do Estado, Belém, Pará. 1f. O prefeito e presidente do

175

Conselho Escolar de Igarapé-Miri comunicou o diretor de educação do Estado do Pará que as

aulas ainda não haviam começado por que os professores não havia retornado das férias.

______. [Telegrama] s/nº de 1941, Igarapé-Miri, PA [para] BARATA, Joaquim de Magalhães

Cardoso, Belém, Pará. 1f. O prefeito e presidente do Conselho Escolar de Igarapé-Miri

comunicou o Interventor Federal do Estado do Pará sobre a cerimônia cívica alusiva ao

Estado Novo, que foi promovido pela Prefeitura Municipal de Igarapé-Miri com a presença

das crianças matriculadas no grupo escolar da cidade.

______. [Telegrama] nº 221 de 24/03/1941, Igarapé-Miri, PA [para] Arcebispo de Belém,

Belém, Pará. 1f. O prefeito municipal de igarapé-Miri lamenta o naufrágio do barco “Nova

Pátria” que transportava o Pe. Emílio, vigário da Paróquia de Igarapé-Miri.

______. [Ofício] nº 30 de 04 fev. 1939, Igarapé-Miri, PA [para] Miranda, Adalgisa Maria

Batista de. 1f. O prefeito municipal e presidente do Conselho Escolar de Igarapé-Miri,

Antonio Augusto de Mesquita, reclama à diretora sobre os intrometimentos do porteiro Julio

Lobato, durante uma reforma do grupo escolar.

______. [Ofício] nº 36 de 08 fev. 1939, Igarapé-Miri, PA [para] BARATA, Magalhães,

Belém, Pará. 1f. O prefeito municipal e presidente do Conselho Escolar de Igarapé-Miri,

Antonio Augusto de Mesquita, solicita ao Interventor Federal do Estado do Pará, solicita via

ofício ao Interventor Federal, Magalhães Barata, permissão para o Grupo Escolar de Igarapé-

Miri funcionar em dois turnos, manhã e tarde, devido a aumento no número de alunos.

______. [Ofício] nº 39 de 09 fev. 1939, Igarapé-Miri, PA [para] BARATA, Magalhães,

Belém, Pará. 2f. O prefeito municipal e presidente do Conselho Escolar de Igarapé-Miri,

Antonio Augusto de Mesquita, solicita ao Interventor Federal do Estado do Pará, o

fornecimento de material escolar para ser distribuído as escolas isoladas do interior de

Igarapé-Miri.

______. [Ofício] nº 63 de 02 março 1939, Igarapé-Miri, PA [para] Diretor de Educação e

Cultura do Estado do Pará, Belém, Pará. 1f. O presidente do Conselho Escolar de Igarapé-

Miri solicita o Regulamento do Ensino Primário do Pará de 1934, que ainda não havia sido

entregue ao Conselho Escolar de Igarapé-Miri.

______. [Ofício] nº 105 de 10 abril 1939, Igarapé-Miri, PA [para] Representante d

Companhia de Lápis, L.T.D., São Paulo, SP. 2f. O prefeito municipal informa o número de

alunos do município de Igarapé-Miri, para receber doação de lápis desta empresa.

______. [Ofício] nº 113 de 17 abril 1939, Igarapé-Miri, Pará. [para] Diretor Geral de

Educação e Cultura, Belém, PA. 1f. Solicita a criação de uma Escola Auxiliar Mista na

localidade Espera, às margens do Rio de Igarapé-Miri, Pará, justificando que lá existiam 102

crianças em idade escolar sem estudar.

______. [Ofício] nº 121 de 20 abril 1939, Igarapé-Miri, Pará. [para] Diretor Geral de

Educação e Cultura, Belém, PA. 1f. Solicita a criação de uma Escola Auxiliar Mista na

localidade Carmo, às margens do Rio de Igarapé-Miri, Pará, justificando que lá existiam 60

crianças em idade escolar sem estudar.

176

______. [Ofício] nº 124 de 25 abril 1939, Igarapé-Miri, Pará. [para] Alexandre Antonio

Lobato, Igarapé-Miri, Pará, PA. 1f. O prefeito municipal autoriza o Fiscal Municipal do Rio

Itanimbuca a realizar um recenseamento das crianças em idade escolar deste rio, devido ter

recebido um abaixo-assassinato solicitando a implantação de uma escola.

______. [Ofício] nº 03 de 07 jan. 1942, Igarapé-Miri, PA [para] Diretor de Ensino e Educação

do Estado, Belém, Pará. 1f. O presidente do Conselho Escolar de Igarapé-Miri solicita

material para dezoito escolas mistas do interior de Igarapé-Miri.

______. [Ofício] nº 12 de 05 fev. 1942, Igarapé-Miri, PA [para] BARATA, Joaquim de

Magalhães Cardoso, Belém, Pará. 1f. O prefeito em Comsão comunica ao Interventor Federal

do Estado os professores que ainda não haviam se apresentado para o trabalho.

MIRANDA, Adalgisa Maria Batista de. [Ofício] nº 112 de 1940, Igarapé-Miri, PA [para]

LEÃO, Acacio Corrêa. A normalista solicita ao presidente da Câmara municipal de Igarapé-

Miri um auxílio monetário do município para continuar atuando como professora de um

externato particular.

PERNAMBUCO FILHO, Miguel. [Ofício] nº 517 de 03/05/1940, Belém, PA [para]

MESQUITA, Antônio Augusto de, Igarapé-Miri, PA. 1f. O diretor geral da instrução pública

do estado do Pará, atendendo ao pedido da diretora do grupo Escolar, solicita ao presidente do

Conselho Escolar de Igarapé-Miri reparos na referida instituição.

PINHEIRO, Antonio Martins. [Ofício] nº 895 de 14/04/1913, Belém, PA [para] LOPES,

Raimundo Pinheiro, Igarapé-Miri, PA. 1f. O Secretário de Estado do Interior, Justiça e

Instrucção Publica, informa ao Intendente Municipal que a nomeação de professores é de

competência do Conselho Escolar e não do intendente.

RODRIGUES, Emiliana de Castro. [Ofício] nº 188 de 11 jun. 1943, Igarapé-Miri, PA. [para]

LOPES, Raimundo Monteiro, Igarapé-Miri, PA. 1f. A professora comunica ao prefeito que

assumiu a Escola Feminina de Prendas “Darcy Vargas”, que funcionava no turno da noite na

cidade de Igarapé-Miri, 1943.

SAMPAIO, Alcides Pinheiro. [Ofício] nº 35 de 19 abril 1947, Igarapé-Miri, Pará. [para]

Secretário Geral do Estado. Belém, PA. 1f. O prefeito de Igarapé-Miri informa que em

atendimento ao ofício nº 14 de 09 de abril de 1947 enviado pelo Secretário Geral do Estado,

deu início a reforma do mobiliário, conserto e limpeza do prédio onde funciona o grupo

escolar dessa cidade.

______. [Ofício] s/n de 19 maio 1948, Igarapé-Miri, Pará. [para] CARVALHO. Luiz Geolas

de Moura. Belém, PA. 1f. O prefeito de Igarapé-Miri solicita autorização do governador do

Estado para construir o Grupo Escolar.

______. [comunicado] s/n de 14 maio 1948, Igarapé-Miri, Pará. [para] ao povo da cidade,

Igarapé-Miri, PA. 1f. O prefeito de Igarapé-Miri que no dia anterior (13 de maio)

comemorava-se o 16ª aniversário de reorganização do Grupo Escolar.

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186

ANEXOS

187

ANEXO 1:

Regimento interno dos grupos escolares e das escolas isoladas do estado do Pará de 1904

SECRETARIO DA JUSTIÇA

Ensino Público Primario

Por decreto n. 1280 de 24 de Fevereiro de 1904 foi aprovado o Regimento interno dos

grupos escolares e das escolas isoladas do Estado.

DECRETO n. 1280 de 24 de fevereiro de 1904

Approva o Regimento interno dos grupos escolares e das escolas isoladas do Estado.

O Governador do Estado, nos termos do artigo 20 n. 5 do Decreto n. 1190 de 17 de

Fevereiro de 1903, decreta:

Art. Único: Fica aprovado o Regimento interno dos grupos escolares e das escolas

isoladas do Estado o que com este baixa, assignado pelo Secretario de Estado da Instrucção

Publica.

Palacio do Governo do Estado do Pará, 24 de Fevereiro de 1904.

AUGUSTO MONTENEGRO

G. Amazonas de Figueiredo

REGIMENTO INTERNO

DOS

GRUPOS ESCOLARES E DAS ESCOLAS ISOLADAS DO ESTADO DO PARÁ

_____________

TITULO I

FIM DA CREAÇÃO DAS ESCOLAS

Art. 1.°- A escola publica primaria é a instituição creada e mantida pelos poderes

publicos para o fim de proporcionar gratuitamente á infancia de ambos os sexos a cultura

intellectual necessária não só a matricula do curso secundário, como tambem ao bom

desempenho dos deveres sociaes.

Art. 2.º - O ensino publico primario do Estado será dado em:

§ 1.º - Grupos escolares.

§ 2.º - Escolas isoladas.

188

CAPITULO I

DOS GRUPOS ESCOLARES

Art. 3.º - O agrupamento das escolas publicas da capital, das cidades e villas do

interior, sob uma direcção uniforme tem por fim principal dar ao ensino, o regimem e

methodo concentaneos aos principios pedagogicos, tornando, ao mesmo tempo, facil a sua

inspecção.

Art. 4.º - O ensino primario dado nos grupos divide-se em elementar e complementar.

Art. 5.º - O ensino elementar é dado em 4 annos e comprehende as seguintes materias:

§ 1.º - Leitura – Desde os primeiros exercicios até leitura corrente com pausa e

accentuação. Leitura explicativa de instrucção moral e civica e licções de coisas.

§ 2.º - Escripta – Desde os primeiros exercicios até os trechos dictados com exercicios

calligraphicos aperfeiçoados de cursivo e bastardo.

Obs. I – O ensino da escripta deve começar com o da leitura. Sendo a leitura o meio de

dar aos alumnos as noções necessarias de licções de coisas e de instrucção moral e civica, o

professor fará sempre, depois da licção, uma explicação clara e concisa, interrogando ao

alumno os principaes assumptos tratados, a fim de certificar-se se o que foi lido ficou bem

comprehendido.

§ 3.º - Portuguez – Ensino pratico da grammatica com exercicio de analyse

phonologica e taxionomica, e elementos de morphologia e syntaxe.

Obs. II – o ensino de portuguez no curso elementar terá por fim conseguir que o

alumno saiba applicar em exercicios fáceis de redacção, em techos dictados ou em analyse

phnologica e taxionomica, os conhecimentos adquiridos pelo estudo de um compendio tão

simples quanto possivel.

§ 4.º - Arithmetica – Estudo pratico, comprehendendo numeração, as 4 operações

fundamentaes do calculo fracções ordinarias e decimaes, noções geraes sobre o systema

metrico decimal, com exercicios praticos de suas principaes medidas.

Obs. III – No ensino de arithmetica o professor deverá ser o mais restricto possivel na

materia, evitando assim excesso de extensão e difficuldades. Attenderá especialmente o lado

pratico das operações, de modo que o ensino se torne util pelos exercicios e escolha de

problemas consonantes á vida commum. O decorar no estudo de arithmetica deve ser com

escrupulo regulado pelo professor, que, antes de tudo e de preferencia, incutirà no espirito do

alumno a compehensão das licções por meio de exemplos e explicações no quadro preto, ao

alcance da tenras intelligencias. De acordo com esses preceitos, o professor evitará a fadiga e

189

confusão do alumno, aproveitando o que de mais utilidade julgar das materias do programma

por meio de compendios resumidos e claros em suas definições.

§ 5.º - Geometria – Noções sobre corpo, superficie, linha e ponto. Posição das linhas.

Exercicios praticados de desenho em cadernos com reproducção no quadro preto.

Obs. IV – O ensino de geometria deve tambem, na pratica, ser modelado pelo de

arithmetica, especializando-se o desenho a mão livre que, além de superficial, será

restrictamente pratico. N’este curso versará elle sobre algumas figuras de geometria plana ou

simplemente combinações lineares, podendo o professor desenvolvel-as por meio de alguns

ornatos se permittirem a vocação e o gosto do alumno.

§ 6.º - Geographia – Idéa da terra e sua forma. Definição de seus accidentes physicos

em geral. Indicação dos oceanos. Idéa geral das partes em que se divide a terra, especialmente

da America. O Brazil e o Pará; suas posições geographicas. Forma da terra; seu movimento.

Prova pratica da redondeza da terra e de seus movimentos. Pontos cardeaes e collateraes.

Obs. V – No ensino de elementos de geographia, todo esforço do professor deve

tender para dar ao alumno noções syntheticas da terra e das cinco partes do mumdo, dos

paizes da America do Sul, especialmente do Brazil e do Pará, com accentuada preoccupação

de evitar minucias, nomenclaturas extensas, dados estatisticos e tudo quanto possa

sobrecarregar a memoria do alumno.

O estudo de cosmografia limitar-se-ha ás definições e exposição das leis elementares

referentes aos pontos do programma de modo verdadeiramente simples e, quando possível,

intuitivo.

§ 7.º - Historia – Descoberta da America e do Brazil. Noticias de Christovam Colombo

e Pedro Alves Cabral. Historia do Brazil – desde o seu descobrimneto até a sua divisão em

dois governos e estabelecimento de um só; historia do Pará – desde o seu descobrimento e

fundação até a sua adhesão á carta Portugueza.

Obs. VI – O professor no ensino de historia deve attender que – “é a licção oral o

grande elemento de fecundação de toda a cultura histórica, o sopro vivificador desse ensino, a

licção oral, com a animação, o calor, o interesse que lhe são proprios, mui superior nos

resultados a todos os que se obtém pelo emprego dos melhores livros”.

Feita a narração pelo professor ou lida pelo alumno, deverá ser reproduzida oralmente,

primeiro com o auxilio de perguntas, depois como exercicio de elocução e finalmente como

trabalho escripto.

E’ este o verdadeiro caracter que deve ter o ensino de historia.

190

Art. 6.º - o ensino complementar, dado em 2 annos, comprehende as seguintes

materias:

§ 1º - Leitura – Leitura explicativa da Constituição Federal e da Constituição Estadual,

comparando esta com os preceitos d’aquella. Leitura do regimento interno das escolas e das

instrucções para os exames de certificado primário Leitura explicativa de instrucção moral e

civica.

Obs. VII – Uma vez por semana o professor deste curso deverá fazer em sua escola

uma conferencia sobre instrucção moral e civica, interrogando os alumnos de modo a

certificar-se que o assumpto tratado foi bem comprehendido.

§ 2.º - Escripta – Exercicios de alto bastardo, bastardinho, meio-bastardinho, cursivo

maior e menor. Trechos dictados.

§ 3.º - Portuguez – Estudo completo da grammatica, com exercícios de composição e

redacção.

Obs. VIII – No curso complementar o estudo da grammatica terá por objeto dar aos

alunos o conhecimento preciso para que possam falar e escrever regularmente a língua

materna. Nesse sentido o trabalho do alumno desenvolver-se-á em trechos dictados, em

exercicios graduados de redacção, em composições semanaes de analyse, quer lexicologica,

quer syntactica.

§ 4.º - Arithmetica – Estudo theorico e pratico até noções de cambio inclusive.

Obs. IX – Uma vez por semana deverá o alumno desse curso fazer uma composição

theorica e pratica, correspondendo ás materias estudadas, especialmente sobre portuguez e

arithmetica.

§ 5.º - Geometria – Estudo pratico da construcção das figuras planas no quadro preto.

Medição pratica das áreas e capacidades. Noções geraes sobre os solidos. Desenho á mão

livre com reproducção no quadro preto.

Obs. X – O estudo de geometria no curso complementar poderá abranger ornatos,

flores, figuras, etc. feitos em cadernos e reproduzidos depois, em maior escala, no quadro

preto em presença do professor. Em ambos os cursos os alunos usarão de cadernos ou álbuns

que servirão de simples ornatos nos exames.

§ 6.º - Geographia – Indicação dos principaes paizes da Europa, Ásia, África, America

e Oceania. America do Sul, enumeração de todos os seus paizes e capitães. O Brazil. – noções

physica e politica, tanto quanto possivel resumidas de cada um de seus Estados. O Pará; sua

geographia physica e politica, desenvolvida.

191

Noções sobre o systema solar e sua formação. Planetas. Circulos da esphera terrestre;

longitude e latitude. Estrellas cadentes, cometas e aerólitos. O Sol, seus movimentos e suas

phases. Eclipses.

§ 7. ° - Historia – Epitome da historia do Brazil e do Pará.

Obs. XI – No ensino de historia, o professor não perderá occasião de aproveitar os

factos narrados para ministrar aos alumnos proveitosas licções de educação civica, incutindo-

lhes a idéa de verdadeiro patriotismo.

Art. 7.º - O ensino das materias que constituem os cursos elementar e complementar,

será dado, pelos respectivos annos, de inteiro accordo com o programma de ensino vigente.

Art. 8.º - As materias, quer do curso elementar, quer do complementar, serão

leccionadas pelos compendios que o Conselho Superior de Instrucção Publica mandar

adoptar.

Art. 9.º - Além das materias acima declaradas, será dada, em ambos os cursos,

conveniente educação physica aos alunos, comprehendendo:

§ 1.º - Noções praticas de hygiene; - cuidados de asseio exigidos e recommendados.

§ 2.º - Exercicios physicos, marchas, saltos, movimento a pé firme e outros xercicios

calisthenicos feitos durante os recreios.

§ 3.º - Jogos; brinquedos ao ar livre.

Art. 10 – Nas escholas do sexo feminino, duas vezes por semana, nos dias designados

para os exercícios physicos dos alunos, poderá ser dado ás alumnas ensino de prendas e de

trabalho femininos.

Art. 11 – Em cada grupo haverá uma festa escolar annual, cuja data será marcada pelo

Secretario de Estado da Instrucção Publica.

CAPITULO II

DA MATRICULA

Art. 12. – A matricula nos grupos escolares estará aberta todo o anno lectivo.

Art. 13. – A matricula será solicitada pelo Director pelos paes, tutores ou proctetores

das crenças, mediante requerimento escripto, ou verbal, com declaração do nome por extenso

do matriculando, sua filiação, idade, data da primeira matricula escolar e anno do curso em

que se quer matricular.

§ 1.º - Para ser admitido a matricula no curso complementar deverá o interessado

exhibir certificado de approvação nos estudos elementares.

192

§ 2.º - Os alumnos matriculados pela primeira vez no grupo soffrerão um ligeiro

exame a fim de serem classificados.

Art. 14. – São condições indispensáveis a matricula:

§ 1.º - Ter 6 a 14 annos para a secção masculina, 6 a 12 annos para a secção feminina.

§ 2.º - Ter sido o matriculando vaccinado ou soffrido variola.

§ 3.º - Não ser achar affectado de molestia contagiosa ou repugnante.

Art. 15. – Para satisfazer os requisitos estabelecidos no art. supra §§ 2.º e 3.º o

interessado apresentar um attestado medico.

Art. 16. – Serão eliminados da matricula:

§ 1.º - Os alumnos que se despedirem com auctorisação manifestada ao Director ou

professor pelos seus responsaveis.

§ 2.º - Os que forem despedidos por inhabilidade physica superveniente.

§ 3.º - Os que forem expulsos ou despedidos por medida disciplinar.

§ 4.º - Os que faltarem durante um trimestre sem motivo justificado.

§ 5.º - Os que ffalecerem.

Art. 17. – Expulso o alumno do grupo á bem da disciplina escolar, deverá o Director

expedir circulares aos seus collegas, fornecendo-lhes todos os esclarecimentos precisos, no

sentido de lhe ser ahi obstada a matricula durante o anno escolar.

Art. 18. – Da denegação de matricula ou da eliminação nos grupos escolares, assim

como de todas as questões que se suscitarem a tal respeito caberá recurso para o Conselho

Escolar no interior, e na capital, para o Secretario de Estado da Instrucção Publica.

Ar. 19. – Cada professor fará matricula parcial de seus alumnos e a geral ficará a cargo

do Director.

CAPITULO III

DAS AULAS E SEU REGIMENTO

Art. 20. – O periodo lectivo nos grupos começa em 15 de janeiro e encerrar-se a 15 de

novembro de cada anno.

§ Unico. – O período de 26 a 31 de outubro será empregado em exames finaes para

obtenção de diplomas de estudos elementares e primarios, para os alumnos dos grupos e para

os candidatos extranhos aos mesmos, realizando-se aquelles exames sempre depois do meio

dia afim de não perturbarem as aulas.

Art. 21. – As aulas funccionarão todos os dias uteis das 8 às 11 ½ horas da manhã.

193

§ Unico. – As escolas complementares mistas funccionarão em duas secções diárias:

das 8 ½ as 11 ½ para as meninas e das 2 ás 5 para os meninos.

Art. 22. – Serão de férias os domingos e os dias feriados por lei e pelo Regulamento

Geral do Ensino Publico do Estado.

Art. 23. – A distribuição do tempo e a duração de cada matéria nas aulas serão

marcadas pelo horario.

Ar. 24. – Antes de começarem a aulas, sera feita a chamada dos alumnos pelo

professor que marcará a devida falta aos que a ella não responderem.

Art. 25. - Ao alumno que se apresentar meia hora depois de concluída a chamada, não

será retirada a falta, ficando por esse motivo passível de admoestação e privado do recreio, se,

depois de advertido mais de uma vez, for reincidente.

Art. 26. – Quando o alumno, depois de admoestado pelo professor, continuar a

comparecer atrasado à aula, deverá o professor apresental-o ao Director, que por seu turno

communicará o occorrido ao seu responsavel, pedindo-lhe informações ou providencias a tal

respeito.

Art. 27. – Fica ao critério do professor a justificação das faltas dos alumnos que

comparecerem até 15 minutos depois de feita a chamada, uma vez que ellas não sejam

consecutivas.

Art. 28. – Os paes tutores ou proctetores dos alumnos são obrigados a justificar

perante o Director as faltas commetidas por seus filhos, tutelados ou protegidos.

Art. 29. – O alumno que faltar durante um trimestre sem motivo justificado será

excluído da matricula.

Art. 30. – Mensalmente serão distribuídos pelos alumnos os respecivos boletins, com

as notas de aproveitamento, conducta e numero de falta commettidas durante o mez.

Art. 31. – Os professores ministrarão o ensino aos seus alunos pelo methodo

simultaneo, dividindo-os em classe, não podendo utilizar-se de decuriões sem expressa

acquiescencia do Diretor, que não a dará sem detido conhecimento da moralidade e

adiantamento do alumno escolhido, e somente quando for de muita conveniência esta medida.

Art. 32. – Não será permittido aos professores distrahir o tempo das licções em

conversas alheias a qualquer assumpto que não seja directamente ligado ao ensino primário.

Ar. 33. – Durante o funccionamento das aulas é expressamento prohibida sob qualquer

pretexto a entrada de pessoas extranhas no recinto.

Art. 34. – O professor não poderá abandonar o recinto da aula, sem auctorização ou

previa licença do Director, salvo caso de força maior.

194

Art. 35. – Sendo a ordem e a disciplina a fonte da prosperidade do ensino, deve cada

professor procurar, encarecidamente, manter-as em suas aulas, não consentindo de modo

algum que os alumnos estudem ou conversem com voz alta, perturbando as suas explicações

ou prelecções.

Ar. 36. – Os professores devem ter muito em vista a distribuição methodica do tempo

pelos seus alumnos, não permitindo que eles permaneçam na aula sem occupação alguma.

Art. 37- Aos Dirctores dos grupos fica facultada a reunião de alumnos de 6 à 9 annos

de idade em duas aulas especiaes, uma para cada sexo.

§ 1.º - Estas aulas serão regidas por adjunctos, que mensalmente serão revezados.

§ 2.º - Os grupos em que não houver adjunctos ellas serão regidas pelos professores

que os Directores designarem.

§ 3.º - Estes alumnos terão, depois de cada hora de aula, um recreio de 15 minutos.

§ 4.º - Durante o recreio os professores aproveitarão esse tempo para dar aos alumnos,

breves licções de coisas, procurando com brandura e verdadeiro interesse inspirarem-lhes o

amor pelo estudo e desenvolver-lhes os sentimentos do bem, do dever e da virtude.

Art. 38. – A reunião dos alumnos de que trata o art. supra e §§, tem por fim evitar que

eles perturbem o silencio nas aulas dos mais adeantados, e muito especialmente, para evitar

que elles se enfastiem e aborreçam o estudo com uma prolongada permanência nas aulas.

Art. 39. – Nenhum alumno poderá se retirar do grupo durante o funccionamento das

aulas, sem licença do diretor, depois de ter avisado o professor, salvo coisa de força maior.

Art. 40. – Os alumnos não poderão abandonar o recinto da aula, sem licença do

professor.

§ Único – Somente lhe será concedida licença para tomarem agua ou fazerem outra

qualquer necessidade durante os recreios, salvo caso urgente ou inevitável.

Art. 41. – Quer na sahida das aulas para o recreio, quer na entrada do recreio para as

aulas e que por occasião de retirarem-se do grupo, no encerramento das aulas, devem os

alumnos andar em fila, dois á dois, e em silencio.

Art. 42. – Haverá em cada aula, livros de matricula, de termos de exame e caderneta

para notas.

Art. 43. - No curso complementar haverá na ultima aula de cada mez, sem prejuízo das

composições semanaes, uma composição que terá por objeto os principaes assumptos

desenovolvidos durante o decurso do mez.

195

§ 1.º - Estas composições soffrerão, em plena aula, a critica do respectivo professor

que as classificará segundo o merecimento e fornecerá ao director uma nota da classificação

feita para ser affixada na Directoria.

§ 2.º - Estas composições não só têm por fim mostrar o gráo de approveitamento de

cada alumno nesse mez, como tambem familiarisal-o com este genero de provas para os

exames escriptos.

Art. 44. – As notas das lições e composições serão marcadas em cadernetas

appropriadas, que o diretor distribuirá pelos professores no principio dos annos lectivos.

§ 1.º - Estas notas são:

Optima – 10;

Bôa de – 7 á 9;

Soffrivel de 4 á 6;

Má – 1 > 3;

Pessima – 0.

§ 2.º – A média das notas datas a cada alumno durante um mez, será extrahida da

caderneta para o boletim, pelo respectivo professor, que apresentará ao director, com as

observações que julgar necessarias.

§ 3.º – No fim do anno lectivo, será pelos professores tirada d’entre as médias

mensais, a média geral, que constituirá o gráo do aproveitamento do alumno.

Art. 45. – Os professores devem zelar pela bôa ordem e conservação dos moveis de

suas aulas, communicando ao director qualquer extravio ou damno nelles causados.

Art. 46. – O responsavel do alumno respondera pelos damnos ou prejuízos por este

causados, não somente nas aulas como em qualquer outra dependencia do respectivo edifício.

Art. 47. – O diretor manterá por todos os meios ao seu alcance a mais rigorosa

disciplina escolar durante as aulas, visto só assim poderem os alumnos seguir com proveito as

explicações dos professores.

Art. 48. – Os professores receberão de pé o diretor e as auctoridades do ensino, em

suas visitas ás aulas, offerecendo-lhes a cadeiras magistral e lhes prestarão, com a devida

attenção e solicitude, as informações que lhes forem solicitadas.

§ Unico – Igualmente os alumnos receberão de pé o diretor, as auctoridades do ensino

e os respectivos professores, quando entrarem nas aulas.

196

CAPITULO IV

DO HORARIO E DA DISTRIBUIÇÃO DO TEMPO

Art. 49. – Todo o movimento do grupo será annunciado pela sineta.

Art. 50. – O horário das aulas e a distribuição dos trabalhos nos cursos elementar e

complementar serão executados de conformidada com os dois quadros annexos ao presente

regimento.

CAPITULO V

DO PONTO DO PESSOAL DOCENTE E ADMINISTRATIVO

Art. 51. – O ponto do pessoal docente será encerrado pelo director 10 minutos depois

da hora marcada para o inicio das aulas.

§ 1.º - No impedimento do director o ponto será encerrado pelo professor que o

Secretario da Instrucção Publica designar.

§ 2.º - O professor que se apresentar, com causa justificada, dentro da primeira hora

depois de encerrado o ponto e somente duas vezes em cada mez, soffrerá o desconto da

metade de sua gratificação, se preencher o resto do tempo em dando aula, para o que rubricará

o ponto na sahida.

§ 3.º - Se o comparecimento tiver logar depois da primeira hora do encerramento do

ponto, com causa justificada, soffrerá o professor o desconto de toda a gratificação, se dér

aula no tempo restante, ou menos de uma hora, rubricando o ponto na sahida.

§ 4. º - O professor que comparecer ao grupo depois de encerrado o ponto e não dér

aula, retirando-se sem consentimento do director, soffrererá o desconto de todo o vencimento

do dia, sem prejuízo da pena em que estiver incurso, sendo esta falta considerada como não

justificada.

Art. 52. – As faltas dos professores serão justificadas na fórma do regulamento geral

do ensino.

Art. 53. – Os professores que não poderem comparecer ás aulas por qualquer

impedimento legal ou por motivo de moléstia, devem communicar o occorrido ao director,

dentro de 24 horas, afim de que sejam tomadas as providencias no sentido de não soffrer o

ensino interrupção alguma.

Art. 54. – O director justificará até 3 faltas em cada mez aos professores, si elles

enviarem parte de doente por escripto, dentro do praso de que trata o artigo supra.

Art. 55. – As justificações das faltas serão requeridas ao director, até 3; ao Secretário

de Estado da Instrucção Publica, até 15; e ao Governo do Estado, até 30.

197

§ 1.º – O professor não poderá ter mais de 30 faltas justificadas durante um anno

escolar.

§ 2.° – O desconto por faltas interpolladas recahirá sómente nos dias em que ellas se

derem; mas, si as faltas forem suceessivas, o desconto se estenderá também aos dias que, não

sendo de serviço, se acharem comprehendidos no período das faltas.

§ 3.º – Serão justificadas as faltas, por moléstia, provada com attestado medico, se não

excederem de cinco em cada mez.

Art. 56. – Para o porteiro e servente haverá um ponto especial que será também

encerrado pelo director.

Art. 57. – Os serventes não terão direito á justificação de faltas; e dos dias em que

faltarem perderão a gratificação integralmente.

§ Único – Só lhes serão abonados os dias em que faltarem, quando mandarem fazer o

serviço por outra pessoa, a suas expensas; em caso contrario outro servente que o fizer

ganhará a sua gratificação.

Art. 58. – O porteiro póde justificar perante o director até 3 faltas, durante o mez, e

perante o Secretario da Instrucção Publica até 15, devendo solicitar licença, quando as faltas

forem seguidas e excederem á 15 dias.

Art. 59. – O porteiro em seus impedimentos menores de 30 dias, será substituído pelo

servente designado pelo director; nos impedimentos maiores de 30 dias pelo cidadão que o

Secretario de Estado da Instrucção Publica designar.

CAPITULO VI

DO RECREIO

Art. 60. – Afim de dar repouso ao espirito e necessário desenvolcimento ao corpo,

haverá nos grupos durante as aulas um intervallo de 15 minutos destinados aos exercícios

physicos dos alumnos.

Art. 61. – Os professores procurarão mostrar, por todos os meios directos, aos

alumnos, as vantagens por elles tiradas, nesses exercícios, quando fôr convenientemente

approveitado o tempo que lhes é consagrado.

Art. 62. – Os recreios serão dados separadamente aos meninos e ás meninas, em duas

secções, havendo ahi separação entre os menores e maiores.

§ Único – Serão considerados menores os alumnos de 6 á 9 annos; e maiores os de 10

13 annos.

198

Art. 63. – Nas quintas-feiras e nos sabbados uteis, quando o tempo permitir, haverá

exercicios callisthonicos, ao ar livre, para os meninos; e durante esse tempo será facultado o

ensino de costuras e prendas para as meninas.

§ 1.º – Nos dias designados para taes exercícios o recreio durará meia hora.

§ 2.º– Os exercícios physicos para as meninas constarão apenas de jogos e brinquedos

ao ar livre.

Art. 64. – O director designará os professores para presidirem os recreios, revesando-

os, semanalmente.

Art. 65. – Os professores que presidirem os recreios devem estar em contacto com os

alumnos, buscando refrear-lhes os máos instinctos, impedindo a infracção deste Regimento e

obervando-lhes com brandura e polidez todos os actos contrários á moralidade e bôa

educação.

§ 1.º – Não devem permitir que, sem motivo justificado, os alumnos abandonem os

exercícios ou deixem de a elles comparecer.

§ 2.° – Devem levar immediatemente ao conhecimento do director os delictos que se

derem durante os exercícios, e os nomes dos delinquentes.

Art. 66. – Os professores que presidirem os exercícios devem manter e evitar os jogos

de mãos, de capoeiragem e outros que não convem a meninos que querem educar-se.

Art. 67. – Os presidentes de recreios são responsaveis directamente, perante o director,

pela manutenção da ordem e disciplina durante o tempo dos exercícios.

CAPITULO VII

DO UNIFORME

Art. 68. – Os professores são obrigados a trajar de preto:

§ 1.º – Nos dias de formatura official

§ 2.º – Nas solemnidades escolares.

Art. 69. – Os professores envidarão os meios brando e persuasivos no sentido de

conseguirem que os meninos em dias de festas escolares compareçam de fato preto e as

meninas de vestido branco, com o respectivo distinctivo do grupo a que pertencerem.

Art. 70. – Cada grupo terá um estandarte, cujo emblema será organizado pelo

respectivo Director com approvação do Secretario de Estado da Instrucção Publica.

199

CAPITULO VIII

MEIOS DE EMULAÇÃO

Art. 71. – Para animar os tibios e conservar o alento dos estudiosos e bem procedidos,

os professores empregarão de preferencia os meios moraes: – elogio na aula, publicação de –

Banco de Honra – medalhas de prata com as legendas: Capacidade moral – Capacidade

intellectual – boletins de satisfação e quadro de honra.

§ 1.° – Estes meios de animação serão empregados pelos professores com prudência e

discrição, de inteiro accôrdo com as recommendações pedagógicas, e com prévia permissão

do Director.

§ 2.º – As medalhas de prata serão conferidas com solemnidade, na festa annual do

grupo, aos alumnos que mais se houverem distinguido em procedimento, talento, applicação e

aproveitamento.

Art. 72. – No fim do anno lectivo dar-se-há aos alumnos um boletim com todos os

dizeres relativos ao seu aproveitamento nos estudos e modo de proceder no Grupo.

§ Único – No boletim dos alumnos que tiverem terminado o curso far-se-há menção

dos prêmios que obtiveram.

CAPIULO IX

DOS EXAMES

Art. 73. – Haverá nos grupos três séries de exames, a saber: de sufficiência, de

passagem de anno e finaes.

Art. 74. – Os exames de sufficiência ou parciaes serão feitas no fim do primeiro

semestre de estudos, para effeito da classificação definitiva dos alumnos, e os de passagem de

anno e finaes no fim do anno lectivo.

Ar. 75. – Os exames de sufficiência e os de passagem de anno constarão só de prova

oral feita perante uma commissão de dois professores do grupo, presidida pelo professor da

cadeira, com assistência do director.

Art. 76. – Os exames finaes dos cursos elementar e complementar constarão e duas

provas, uma escripta e outra oral, feitas perante uma commissão de 3 professores para os

exames de estudos elementares, e de 5 professores para os de estudos primários. A de exames

de estudos primários funccionará sob a presidência do director e a dos demais sob a

presidência do professor mais velho em idade.

§ Único – No processo destes exames serão observadas as disposições regulamentores

vigentes.

200

TITULO II

ATTRIBUIÇÕES E DEVERES DO INSPECTOR ESCOLAR

Art. 77. – Ao inspector escolar incumbe a fiscalisação e inspecção de todos os grupos

escolares e escolas isoladas do Estado, velando pela perfeita execução das disposições

regulamentares e instruindo os respectivos directores e professores quanto ao bom

desempenho de seus deveres.

Art. 78. – N’estas inspecções terá muito em vista:

f) A ordem e o asseio do estabelecimento;

g) A assuduidade, dedicação e comprehensão de deveres dos funccionários;

h) A methodologia empregada pelos professores no ensino de suas aulas;

i) O aproveitamento dos alumnos, relativamente ao tempo de seu aprendizado e

frequência ás aulas;

j) A localisação e demais condições pedagógicas e hygienicas do prédio escolar;

k) Todas as demais prescripções do Regulamento Geral do Ensino e Regimento

interno dos grupos escolares e das escolas isoladas.

Art. 79. – Compete aos inspector escolar:

§ 1.º – A inspecção dos estabelecimentos particulares de ensino, no sentido de serem

fielmente cumpridas as disposições do Titulo IV do Regimento Geral, toda a vez que assim

determinar o Secretario de Estado da Instrucção Publica.

§ 2.º – Informar á esta auctoridade, quando em serviço no interior, as petições dos

directores e professores de grupos escolares e escolas isoladas.

§ 3.º– Propôr ao Secretario de Estado da Instrucção Publica a exoneração dos

professores interinos não diplomados, a quem fallecerem habilitações, e dos que

negligenciarem no cumprimento de seus deveres.

§ 4.º – Nomear pessoas idôneas para substituírem os professores em seus

impedimentos, sempre que taes impedimentos se derem ao tempo de suas inspecções no

interior, submettendo a portaria de nomeação á approvação do Secretario de Estado de

Instrucção Publica.

§ 5.º – Designar os professores que substituirão os directores de grupos escolares do

interior em seus impedimentos até quinze dias.

§ 6.º – Attestar o exercício dos professores das escolas isoladas, quando verificar que

as auctoridades escolares se negam a fazel-o sem motivo justo.

§ 7.º – Dispensar e contractar serventes para os grupos do interior, sempre que julgar

conveniente á bôa marcha do serviço.

201

§ 8.º – Applicar aos porteiros dos mesmos grupos a pena de suspensão até trinta dias,

providenciando para a substituição.

§ 9.º – Annotar a data do exercício dos professores nomeados para o interior, quando o

assumam ao tempo de inspecção.

§ 10. – Abrir, numerar e rubricar os livros necessários á escripturação escolar, quando

não o tenham feito os Conselhos Escolares, e directores de grupo.

§ 11. – Solicitar dos Conselhos escolares todos os esclarecimentos que julgar

necessários ao desempenho de suas funcções.

§ 12. – Determinar a transferência das escolas isoladas, quando o prédio escolar não

reunir as necessárias condições pedagógicas.

§ 13. – Inspeccionar os exames para obtenção de diplomas de estudos elementares e

primários, quando assim determine o Secretario de Estado da Instrucção Publica.

§ 14. – Solicitar do Secretario de Estado da Instrucção Publica urgentes providencias,

quando algum funccionário do ensino primário, com escândalo publico, tornar-se

incompatível para o cargo que excerce.

§ 15. – Tomar conhecimento das queixas contra os funccionários do magisterio

publico, ouvindo os accusados e colhendo as informações que julgar necessárias para leval-as

ao conhecimento do Secretario de Estado da Instrucção Publica.

§ 16. – Promover pelos meios ao seu alcance e, de accordo com as auctoridades

escolares, a execução das disposições regulamentares que dizem respeito á obrigatoriedade do

ensino e ao recenseamento escolar.

§ 17. – Dar conta ao Secretario de Estado da Instrucção Publica, em relatórios

parciaes, do resultado de suas inspecções no interior, no praso máximo de cinco dias após o

seu regresso.

§ 18. – Apresentar no fim de cada anno um relatório dos seus trabalhos, propondo as

medidas necessárias ao beneficio da instrucçao publica.

§ 19. – Desempenhar todas as demais commissões que lhe forem confiadas.

TITULO III

DO DIRECTOR

Art. 80. – Ao Director do grupo escolar compete:

§ 1.º – A representação official do grupo em todas as suas relações externas.

202

§ 2.º – Inspecção e fiscalisação de todos os cursos durante o seu funccionamento,

imprimindo ao grupo o regimen e methodo de ensino, de accôrdo com respectivo programma

e instrucções que receber do Secretario de Estado da Intsrucção Publica e Inspector Escolar.

§ 3.º – Comparecer diariamente ás aulas, assistindo as licções dos professores,

interrogando os alumnos, e fiscalisando a perfeita execução do programma de ensino e a fiel

observância do horário das aulas.

§ 4.º - Zelar com particular cuidado sobre a educação e instrucção dos alumnos,

applicando-lhes as penas que merecem conforme, auctorisa este Regimento.

§ 5.º - Chamar particularmente á fiel observância dos seus deveres os professores, não

pontuaes, pouco assíduos, apressados em concluir as aulas, e que e distrahirem com

digressões alheias ao assunpto das aulas, ou que não mantiverem o silencio e a ordem durante

as licções, primeiramente em caracter reservado e na reincidência por meio de portaria.

§ 6.º – Fazer vaccinar até 30 dias, contados da data da matricula, os alumnos que ainda

o não tiverem sido, ou não mostrarem signaes de haverem tido varíola.

§ 7.º – Propor ao Secretario de Estado da Instrucção Publica a creação e supressão dos

logares de adjunctos de professores.

§ 8.º – Proceder com auxilio dos professores a matricula, classificação e eliminação

dos alumnos.

§ 9.º – Submetter os alumnos de cada curso a exames semestraes ou de sufficiência, de

passagem de anno e aos finaes, na terminação do anno letivo.

§ 10. – Enviar ao Secretario de Estado da Instrucção Publica os mappas trimestraes da

matricula e frequências dos alumnos do grupo.

§ 11. – Apresentar ao Secretario de Estado da Instrucção Publica no fim do ano letivo

um relatório minucioso sobre o movimento do grupo, mencionando todas as ocorrências que

se deram durante o anno acompanhando-o dos mappas e quadros explicativos necessários e de

todos os esclarecimentos e informações que lhe forem exigidos.

§ 12. – Justificar até 3 faltas em cada mez aos professores.

§ 13. – Contractar e dispensar os serventes.

§ 14. – Cumprir e fazer cumprir todas as disposições legaes e determinações do

Secretario de Estado da Instrucção Publica, relativas ao ensino e regular funccionamento do

grupo.

§ 15. – Zelar pela bôa conservação da casa, biblioteca, gabinetes, moveis e objectos

escolares.

§ 16. – Abrir, numerar, rubicar e encerrar os livros de escripturação do grupo.

203

§ 17. – Abrir e encerrar diariamente o ponto do pessoal, notando as faltas de cada um.

§ 18. – Propôr ao Secretario de Estado da Instrucção Publica, a adopção de medidas

que julgar de conveniência para a bôa direcção do grupo.

§ 19. – Encaminhar ao Secretario de Estado da Instrucção Publica as petições dos

professores, informando-as.

§ 20. – Impôr ao pessoal e aos alumnos as penas que forem determinadas neste

Regimento.

§ 21. – Tomar as medidas urgentes nos casos não previstos, sujeitando

immediatamente o seu acto á approvação do Secretario de Estado da Instrucção Publica.

§ 22. – Organisar mensalmente, em duplicata, de accordo com o livro de ponto, a folha

do pagamento do pessoal o grupo, mencionando as faltas e eu motivo, enviando-a ao

Secretario de Estado da Instrucção Publica, para os devidos fins.

§ 23. – Despachar os requerimentos sobre inscripções aos exames de estudos

elementares.

§ 24. – Presidir os exames dos alumnos, candidatos aos diplomas de estudos primários,

assistindo aos elementares e de passagem de anno.

§ 25. – Nomear commissões de professores do grupo para os exames de sufficiência,

passagem de anno e finaes, dos respectivos alumnos e das escolas isoladas pertencentes ao

distrito em que funccionar o grupo.

§ 26. – Assistir com frequencia os exercícios dos alumnos.

§ 27. – Receber na porta da entrada do grupo e acompanhar até a da sahida ao

Governador do Estado e Secretario da Instrucção Publica, quando em visita ao mesmo.

§ 28. – Dirigir, todos os serviços do grupo, mantendo a ordem no pessoal e

providenciando pela conservação dos objectos confiados a sua guarda.

§ 29. – Cumprir e fazer cumprir as instrucções dadas pelo inspector escolar.

§ 30. – Organizar o programa da festa annual e submettel-o á aprovação do Secretario

de Estado da Instrucção Publica.

§ 31. – Justificar as faltas dadas pelos alumnos.

TITULO IV

DOS PROFESSORES DE GRUPO

Art. 81. – Aos professore do grupo compete:

§ 1.º – Comparecer com pontualidade á aula decentemente vestidos, não podendo

retirar-se senão depois de concluídos os trabalhos escolares e á hora marcada para esse fim.

204

§ 2.º – Fazer a chamada dos alumnos antes de começar os trabalhos, notando as faltas

dos que á ella não responderem.

§ 3.º – Leccionar pelos compêndios e livros que o Conselho Superior mandar adoptar

annualmente nas aulas.

§ 4.º– Explica as licções em termos claros, sem afastar-se com digressões, extranhas

com ás matérias da aula.

§ 5.º– Recapitular na ultima aula de cada mez as theorias mais importantes explicadas

durante esse tempo e dal-as para composição dos alumnos do curso complementar na primeira

aula do mez seguinte.

§ 6.º – Corrigir estas composições na primeira aula que a ellas succeder, clasifical-as

segundo o mérito real de cada uma e fornecer ao Director uma nota de classificação feita, para

ser archivada.

§ 7.º – Manter a ordem e disciplina na aula.

§ 8.º – Esforçar-se para que os meninos desenvolvam a intelligência, incutindo-lhes o

amor ao estudo e o sentimento do dever.

§ 9.º – Tratar com igual desvelo os alumnos, louvando os que dérem boas contas de si,

admoestando os que forem negligentes.

§ 10. – Dar aos alumnos, pela irreprehensibilidade de sua conducta, constantes

exemplos de moralidade e amor ás instituições.

§ 11. – Exgottar os meios brandos antes de applicar aos seus discípulos qualquer

correcção disciplinar.

§ 12. – Dividir em turmas os alumnos para as licções.

§ 13. – Manter o silencio, o respeito e o decoro durante a aula, fazendo retirar della,

scientificando o facto ao Director, o alumno mal procedido que concorrer para implantar ahi a

desordem.

§ 14. – Observar as recommendações e instrucções do Director, auxilial-o na

manutenção da ordem e bôa disciplina dentro do grupo, cuja reputação zelará em toda a parte.

§ 15. – Lançar na caderneta as notas de licções e comportamento.

§ 16. – Dar ao Director todas as informações que forem exigidas a bem do ensino.

§ I7. – Propôr ao Director todas as medidas que julgar convenientes á bôa marcha do

ensino e á disciplina da aula.

§ 18. – Requisitar do Director todos os materiaes necessários ao ensino de suas aulas.

205

§ 19. – Participar immediatamente ao Director qualquer impedimento que o inhiba de

comparecer á aula, para que sejam tomadas as providencias no sentido do ensino não soffrer

interrupção.

§ 20. – Comparecer aos exames, distribuições de prêmios e aos actos solemnes do

grupo.

§ 21. – Não procurar esquivar-se de fazer parte das commissões examinadoras, para

que forem nomeados.

§ 22. – Presidir o recreio nos dias determinados pelo Director.

§ 23. – Conter nos recreios a ordem, fazendo observar os preceitos de moral e os que

concorram para o aproveitamento physico dos alumnos.

§ 24. – Impôr aos alumnos as penas do artigo 85, letras a, e b, primeira parte, e

quando a falta exigir pena mais rigorosa, communicar ao Director para applical-a.

§ 25. – Organizar os mappas de matricula e frequência, trimestralmente, e apresentar

ao Director para pôr o Visto e encaminhal-os á Secretaria da Instrucção Publica.

§ 26. – Organizar no fim de cada mez os boletins com as notas das licções,

aproveitamento e conducta dos seus alumnos nesse mez, e subbmetel-os á assignatura do

Director, fazendo por escripto as observações que julgar necessárias.

§ 27. – Tirar a média geral das notas de seus alumnos no final do anno letivo.

§ 28. – Começar e suspender os trabalhos escolares á hora marcada no horário.

§ 29. – Assignar o livro do ponto á entrada e rubrical-o á sahida.

§ 30. – Dar aos actos de exames caracter festivo, com auctorisação do Director.

§ 31. – Não dirigir-se directamente ao Secretario de Estado da Instrucção Publica,

salvo caso de queixa ou representação contra o Director.

§ 32. – Não infligir castigos physicos aos alumnos.

§ 33. – Não fumar ou satisfazer qualquer outro vicio durante as horas de aulas.

§ 34. – Não occupar-se ou não occupar os alumnos durante as horas de aula em

misteres extranhos ao ensino.

TITULO V

DOS ALUMNOS

Art. 82. – Aos alumnos compete:

§ 1.º – Comparecer com pontualidade, asseio e decência ao grupo, nos dias de aula, e

só sahir della nas horas marcadas, salvo caso de força maior provada perante o Director.

206

§ 2.º – Portar-se durante as aulas com toda attenção, ordem e respeito, não distrahindo

os seus companheiros, e obedecendo sempre á voz do seu professor.

§ 3.º – Preparar as suas licções em voz baixa e não se levantar de seu logar por

qualquer motivo, sem previa licença do professor.

§ 4.º – Apresentar os seus trabalhos escriptos sem emendas, borrão ou raspas, nos dias

designados conservando os seus livros sempre limpos e bem cuidados.

§ 5.º – Não tomar apontamentos nos livros que lhe fornecer o grupo, sem deterioral-os.

§ 6.º – Comparecer aos actos de exames e ás solemnidades promovidas pelo grupo.

§ 7.º – Pôr-se em pé sempre que na aula penetrar qualquer auctoridade do ensino.

§ 8.º – Mostrar-se cortez e bem educado perante o Director e os professores, dentro e

fóra do grupo, nunca faltando-lhes com o devido respeito.

§ 9.º – Justificar junto com o Director o seu não comparecimento á aula, allegando o

motivo ou motivos que determinaram essas faltas.

§ 10. – Tratar com delicadeza e urbanidade todos os empregados do grupo e as pessôas

extranhas que nelle entrarem.

§ 11. – Dispensar a todos os seus collegas em geral e a cada um em particular,

tratamento ameno e affectuoso.

§ 12. – Guardar o maior silencio nos corredores e nas aulas. Findo do recreio, e ao

primeiro toque da sineta, deve cessar toda e qualquer conversação.

§ 13. – Applicar-se aos estudos com calma e placidez de animo, de modo que possa

nelles aproveitar, sem que se canse o espírito, nem se enfraqueça o corpo com detrimento da

saúde.

§ 14. – Recolher-se logo á aula quando chegar, guardando alli silencio e não se pôr á

janela.

Art. 83.º – São direitos de cada alumno:

§ 1.º – Receber gratuitamente no grupo instrucção primaria e educação moral e

physica.

§ 2.º – Ser examinado nas ephocas marcadas neste regimento.

§ 3.º – Receber os prêmios ou recompensas que tiver alcançado.

§ 4.º – Ser tratado com urbanidade e brandura pelo director e professores.

§ 5.º – Ter franca entrada no grupo nas horas destinadas ás aulas, quando não esteja

cumprindo pena disciplinar.

Art. 84. – E’ expressamente vedado a cada alumno:

§ 1.º – Abandonar qualquer exercício antes de concluído.

207

§ 2.º – Conservar-se de chapéo na cabeça dentro do estabelecimento de ensino.

§ 3.º – Fumar no interior do mesmo ou nas suas proximidades.

§ 4.º – Gritar, assobiar, fazer algazarras ou dar vaias dentro ou nas visinhanças dos

grupos.

§ 5.º – Formar grupos na portaria, em frente ou nas proximidades do grupo.

§ 6.º – Provocar desordens ou rivalidades com alumnos de outros grupos.

§ 7.º – Escrever, pintar, desenhar, gravar, riscar, sujar, estragar ou damnificar o

edifício ou seus moveis e utensílios.

§ 8.º – Proferir palavras obscenas e incorrectas, nomes ou appelidos entre os seus

collegas, contos particulares de famílias e tudo o mais que possa abrir margem á intriga.

§ 9.º – Usar no recreio de divertimentos prejudiciaes aos seus companheiros.

§ 10. – Ameaçar ou offender physicamente a qualquer pessoa extranha ou não, dentro

ou nas proximidades do estabelecimento.

Art. 85. – O alumno está sujeito ás seguintes penas:

a) – Admoestação em particular;

b) – Reprehensão durante os trabalhos escolares com subsequente communicação ao

representante legal;

c) – Expulsão.

§ Único- A pena da letra a será destinada ás faltas leves; a da letra b ás faltas graves

oriundas de máo comportamento, reincidência nas faltas leves; e a da letra c, ao caso

de incorrigibilidade em todos os sentidos.

TITULO VI

DOS DEVERES DO PORTEIRO

Art. 86. – Ao porteiro incumbe:

§ 1.º – Abrir com necessária antecedência e fechar, depois do concluídos os trabalhos

do dia, as portas do estabelecimento.

§ 2.º - Responder pelo asseio e bôa guarda do edifício, mobília e utensílios do grupo.

§ 3.º - Determinar o serviço diário dos serventes.

§ 4.º - Ter sob sua guarda o livro do ponto do pessoal do grupo.

§ 5.º - Receber os requerimentos, officios e mais papeis que lhe forem apresentados,

remetttendo ao seu destino a correspondência official do mesmo grupo e fazendo de tudo

assento em livro especial.

§ 6.º - Assignar o livro de presença.

208

§ 7.º - Informar-se cortezmente do nome dos visitantes e do que pretendem, e não

consentir que penetrem ahi sem prévia determinação do Director.

§ 8.º - Franquear o ingresso, a qualquer hora, ás auctoridades do ensino.

§ 9.º - Tratar com delicadeza os alumnos, e observar-lhes com brandura as infracções

regimentaes.

§ 10. – Não consentir reuniões dos alumnos na portaria, em frente ou nas immediações

do grupo.

§ 11. – Impedir a entrada aos que tiverem sido eliminados ou suspensos, emquanto

perdurarem os effeitos da pena.

§ 12. – fazer o alumno entrar, logo que chegue, para a sala de estudos e não consentir

na sahida de um só antes de terminados os seus exercícios, sem o devido consentimento do

Director ou de quem as suas vezes fizer.

§ 13. – Fazer chegar immediatamente ao conhecimento do Director, toda a vez que um

educando mal comportado, não quiser attender ás observações.

§ 14. – Tocar na campa os signaes de aula e de todos os exercícios do grupo.

§ 15. – Cumprir e fazer cumprir tudo o que lhe fôr determinado pelo Director.

Art. 87. – O porteiro não póde abandonar o seu posto, salvo caso muito urgente e de

pouca duração em que o substitua o servente.

TITULO VII

DOS DEVERES DO PORTEIRO

Art. 88. – Aos serventes incumbe:

§ 1.º - Conservar o edifício e suas dependencias em perfeito estado de asseio.

§ 2.º - Cumprir as ordens do Director e do porteiro com relação ao serviço.

§ 3.º - Attender ás chamadas dos professores para serviço dentro do estabelecimento.

§ 4.º - Assignar o livro de presença e auxiliar o porteiro na manutenção da ordem antes

de começarem as aulas.

§ 5.º - Auxiliar, emfim, o porteiro em todo o serviço a seu cargo.

TITULO VIII

DA DISCIPLINA ESCOLAR

Art. 89. – O Director exigirá submissão mais absoluta, da parte dos professores e

alumnos, ás regras estabelecidas para a manutenção da ordem e bôa disciplina indispensáveis

209

n’uma casa de educação. Não tolerará a menor quebra do respeito devido pelos alumnos e ás

dos professores.

Art. 90. – Os professores estão sujeitos ás eguintes penas:

a) – Advertencia;

b) – Reprehensão;

c) – Multa;

d) – Suspensão;

e) – Remoção;

f) – Demissão;

§ Único- Estas penas serão aplicadas de conformidade com as disposições

regulamentares que regem o assumpto.

Art. 91. – O porteiro está sujeito ás seguintes penas:

a) – Admoestção;

b) – Repreensão;

c) – Multa até 50$000;

d) – Suspensão do exercício até 30 dias;

e) – Demissão.

§ 1.º – A pena de demissão será imposta pelo Secretario de Estado da Instrucção

Publica.

§ 2.º – A pena da admoestação e repreensão será imposta nas pequenas faltas sobre

cumprimento de dever.

Art. 92. – As penas de multa e suspensão serão applicadas em portaria do Inspector

escolar ou Director e terão as seguintes causas:

§ 1.º – Reincidencia de actos pelos quaes já tenha sido reprehendido.

§ 2.º – A reincidência, em faltas não justificadas, nos dias de serviço extraordinário

conhecidos com antecedencia.

§ 3.º – Faltar ao serviço sem justificação oito dias consecutivos.

§ 4.º – Faltar ao serviço habitualmente, sem justificação mais de 3 dias por mez.

§ 5.º – Maltratar as pessoas que tenham qualquer dependência no estabelecimento.

§ 6.º – Negligencia culposa no cumprimento de seus deveres, depois de admoestado.

Art. 93. – A pena de demissão, terá as seguintes causas:

§ 1.º – Desobediencia voluntaria e formalmente ás ordens do Director, em objecto de

serviço publico.

210

§ 2.º – Desattender, com gestos affrontosos ou com expressões offensivas, ao Director

e aos professores.

§ 3.º – Faltar continuadamente ao serviço, sem motivo justificado.

§ 4.º – A incontinência pública e escandalosa; vícios de jogos prohibidos ou de

embriaguez.

§ 5.º – Desidia habitual no desempenho de suas funcções.

§ 6.º – Abandono de emprego por mais de 15 dias.

Art. 94. – Os serventes estão sujeitos ás penas de reprehensão, multa e demissão

segundo as gravidade das faltas que commetterem.

§ Único – As penas de multa e demissão serão impostas em portaria do Inspector

escolar ou Director, sem recurso algum.

TITULO IX

DAS ESCOLAS ISOLADAS

Art. 95. – A organização das escolas elementares isoladas é a mesma que a dos grupos

escolares.

Art. 96. – A matricula das escolas isoladas será aberta durante todo anno lectivo; e

será solicitada ao respectivo professor, de accordo com os arts. 14 e 15 deste Regimento.

Ar. 97. – A eliminação da matricula em escolas isoladas far-se-á de acordo com o art.

17.

Art. 98. – da degeneração da matricula ou da eliminação em escolas isoladas caberá

recursos, no interior para o Conselho Escolar e na capital, para o Secretario de Estado da

Instrucção Publica.

Art. 99. – O período lectivo nas escolas isoladas será de 15 de Janeiro á 15 de

Novembro.

Art. 100. – As aulas funccionarão todos os dias uteis, das 7 ás 11 ½ da manhã.

§ Único- Nas escolas mistas a instrucção será dada separadamente aos meninos e ás

meninas, em duas secções diárias: a primeira das 8 ½ as 11 ½, destinadas ás alumnas, a

segunda, da 2 ás 5 horas da tarde, destinada aos alumnos.

Art. 101. – Nas escolas isoladas será observado o horário annexo, sendo o tempo

destinado ao recreio occupado pelo professor com uma breve lição de cousas.

Art. 102. – Nas escolas isoladas é permittido ao professor o uso dos meios de

emulação de que trata o tit. VII, com prévia permissão do Inspector Escolar.

211

Art. 103. – Os exames de passagens e finaes far-se-ão de accordo com o Regulamento

geral do Ensino, sendo que os últimos realisar-se-ão no grupo do districto a que pertencer a

escola, de acordo com o § único do art. 20.

Art. 104. – Aos professores de escolas isoladas, além dos deveres prescriptos no art.

79 §§ 1 a 5, 7 a 12, 15, 21, 28, 27, 31 a 34, cumpre:

§ 1.º – Reservar para a escola a sala principal do edifício;

§ 2.º – Conservar na sala de aula o máximo asseio;

§ 3.º – Collocar no alto da porta da entrada, na face externa, uma taboleta oval,

medindo quarenta e cinco centímetros de comprimento e designados, em caracteres brancos

sob fundo azul, a cathegoria da escola e o sexo a que pertencer;

§ 4.º – Franquear a escola ás pessoas que a quiserem visitar;

§ 5.º – Proceder o inventario dos moveis e utensílios da escola, quando assumir o

exercício da cadeira, ou quando houver de deixal-a, passando a outrem o exercício, lavrando

no respectivo livro um termo de responsabilidade, que assignará;

§ 6.º – Conservar em boa ordem, devidamente asseiados, os moveis da escola;

§ 7.º – Fazer a matricula da escola;

§ 8.º – Organisar os mappas da matricula e frequência conforme os modelos já

adoptados e remettel-os á Secretaria de Estado da Instrucção Publica, depois de havel-os

submettido no interior ao visto dos Conselhos Escolares;

§ 9.º – Prestar as informações que lhes forem exigidas por qualquer auctoridade de

ensino;

§ 10. – Cumprir as ordens dos superiores hierarchicos no que concernir ao ensino

publico, evitando factos prejudiciaes ao prestigio da auctoridade ou do magistério;

§ 11. – Receber em pé, no ponto em que estiver collocado o Inspector Escolar, e á

porta da escola o Governador do Estado ou o Secretario de Estado da Instrucção Publica;

§ 12. – Communicar ao Secretario de Estado da Instrucção Publica o inicio de seu

exercício, bem como as interrupções que tiver, por entrada em goso de licença ou qualquer

outro motivo;

§ 13. – Comparecer com pontualidade á escola, dez minutos antes do seu

funcionamento, decentemente vestido, não podendo retirar-se senão depois de concluídos os

trabalhos escolares e á hora marcada pelo Regulamento Geral do Ensino;

§ 14. – Fazer vaccinar até 30 dias, contados da data da matricula, os alumnos que

ainda o não tiverem sido, ou não mostrarem signaes de haverem tido varíola;

212

§ 15. – Impedir, em absoluto, a comunicação das creanças nas horas das lições, com as

pessoas de famílias que residirem na casa da escola.

§ 16. – Não distrahir os meninos em serviços alheios á escola.

Art. 105. – Os alumnos das escolas isoladas terão os mesmos direitos e obrigações e

soffrerão as mesmas penas estabelecidas neste Regimento para os de grupos.

Art. 106. – Revogam-se as disposições em contrario.

Secretaria de Estado da Instrucção Publica, 24 de Fevereiro de I904.

G. AMAZONAS DE FIGUEIREDO

213

APÊNDICES

214

APÊNDICE 1:

História do Grupo Escolar de Igarapé-Miri (Vídeo com duração de 7:50). Disponível

em: <https://youtu.be/0dYtyX4ZVzI>. Acesso em: 31 de dezembro de 2017.

APÊNDICE 2:

Planta 3D do Grupo Escolar de Igarapé-Miri fundado em 1904. Disponível em:

<https://3dwarehouse.sketchup.com/search/?backendClass=entity&q=Grupo%20de%2

0Igarapé-Miri%20>. Acesso em: 17 de janeiro de 2018.

215

Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Sociais e Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação

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