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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL DOUTORADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS PIOMIOSITE TROPICAL E Toxocara spp: ESTUDO CLINICO- EPIDEMIOLÓGICO, LABORATORIAL E PERFIL DA RESPOSTA IMUNE, DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAIS TERCIÁRIOS DA REDE PÚBLICA, EM MANAUS-AMAZONAS. MÁRCIA MELO DAMIAN MANAUS 2009

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL DOUTORADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS

PIOMIOSITE TROPICAL E Toxocara spp: ESTUDO CLINICO- EPIDEMIOLÓGICO, LABORATORIAL E PERFIL DA

RESPOSTA IMUNE, DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAIS TERCIÁRIOS DA REDE PÚBLICA, EM MANAUS-AMAZONAS.

MÁRCIA MELO DAMIAN

MANAUS 2009

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MÁRCIA MELO DAMIAN

PIOMIOSITE TROPICAL E Toxocara spp: ESTUDO CLINICO- EPIDEMIOLÓGICO, LABORATORIAL E PERFIL DA

RESPOSTA IMUNE, DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAIS TERCIÁRIOS DA REDE PÚBLICA, EM MANAUS-AMAZONAS.

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, para obtenção do título de doutora em Doenças Tropicais e Infecciosas.

Orientador (a): Prof. Dr. Antônio de Matos Tavares

Co-orientador (a): Profª. Dra. Adriana Malheiro

MANAUS 2009

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FICHA CATALOGRÁFICA

Damian, Márcia Melo.

Piomiosite tropical e Taxocara spp: estudo clínici-epidemiológico, laboratorial e perfil da resposta imune, de pacientes internados em hospitais terciários da rede pública, em Manaus-Amazonas.

137p. : il. color. ; 30 cm Orientador: Antonio de Matos Tavares Tese de Doutorado – Universidade do Estado do Amazonas

– Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Programa de Pós Graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas.

1. Piomiosite. 2. Miosite. 3. Staphyloccoccus aureus. I. UEA III Título.

CDU: 616.98:577.27

D158p

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FOLHA DE JULGAMENTO

PIOMIOSITE TROPICAL E Toxocara spp: ESTUDO CLINICO- EPIDEMIOLÓGICO, LABORATORIAL E PERFIL DA RESPOSTA

IMUNE, DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAIS TERCIÁRIOS DA REDE PÚBLICA, EM MANAUS-AMAZONAS.

MÁRCIA MELO DAMIAN

“Esta tese foi julgada adequada para obtenção do Título de Doutor em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”.

Banca Julgadora:

______________________________________ Prof. Antônio de Matos Tavares, Dr.

Presidente

______________________________________ Prof. Jorge Augusto de Oliveira Guerra, Dr.

Membro

______________________________________ Profª. Maria Paula Gomes Mourão, Dra.

Membro

______________________________________ Prof. Luiz Fernando Passos, Dr.

Membro

______________________________________ Profª. Guita Rubinsky Elefant, Dra.

Membro

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Dedicatória

Aos pacientes com piomiosite, em especial, as crianças e adolescentes vítimas

das desigualdades sociais que resultam em condições desumanas e em

doenças infecto-parasitárias das quais tratam esta tese.

A minha família, meu companheiro Jorge Damian e ao meu filho Gabriel,

sempre presentes, e razão de minha vida.

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Agradecimentos

À Universidade do Estado do Amazonas que com a criação do Curso de

Mestrado e Doutorado em Doenças Tropicais e Infecciosas, possibilitou o

avanço da pós-graduação no Amazonas.

À Superintendência da Zona Franca de Manaus-SUFRAMA, e Fundação

MURAKI, pelo apoio logístico e financeiro durante o curso de pós-graduação.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas - FAPEAM, que através do

Programa PPSUS: Gestão Compartilhada em Saúde financiou esta pesquisa.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES,

pelo estímulo à pós-graduação no Norte do Brasil.

À Fundação de Medicina Tropical do Amazonas - FMATM, local onde conheci

não só a medicina tropical e o mundo das doenças negligenciadas, mas

aprendi a “ver o indivíduo” de forma mais ampla.

Aos colegas do doutorado e mestrado da turma de 2005, pelo convívio, “troca

de idéias”, momentos de alegria e de “stress” que passamos durante a

“fecundação do trabalho científico até o momento do trabalho de parto”. E, para

aqueles que ainda estão iniciando ou que ainda não colocaram o ponto final na

sua “história”, não desistam, pois sim, vale à pena!

À coordenadora do Programa de Pósgraduação em Medicina Tropical

Mestrado/Doutorado em Doenças Tropicais e Infecciosas, Profª. Dra. Maria das

Graças Vale Barbosa, e a toda sua equipe, meu sincero obrigado.

Aos funcionários do Laboratório de Bacteriologia da FMTAM, Luiza Mara R.

Pedrosa, Marcos Felipe O. Dias, Angelita A. dos Santos, Erilene da Silva do

Carmo, Jackeline Goudinho Barros e Dr. Geraldo Majela Soares, que tão bem

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coordenados pela Dra. Rossiclea Lins Montes, tornaram esse trabalho

possível.

Aos funcionários do Laboratório de Análises Clínicas da FMTAM, Dr. Felipe

Sardinha, Luciana Orêncio e Mirza Perrone, pela amizade e apoio logístico

necessário à realização do protocolo da pesquisa.

Aos funcionários do Laboratório de Parasitologia da FMTAM, Dra. Marilaine

Martins, Ademir Roberto Lopes Soares, Maria Dolores Rosas e Vilma Lopes do

Nascimento, pela ajuda no trabalho de campo e na realização de exames afins.

Ao motorista Elcimar Cavalcante Neves, pela contribuição durante estudo de

campo e pelas palavras de otimismo.

Aos membros do comitê de ética, em particular Augustinho Matos Monteiro e

Dr. Luís Carlos Ferreira, pelas “dicas” nos tramite que envolvem um trabalho

científico, assim como,pelo incentivo, muitas vezes necessários e oportunos.

Às antes alunas e orientandas do Programa de Apoio à Iniciação Científica -

PAIC, hoje colegas, Amanda França da Silva, Haryana Rombaldi, Renata

Silveira Arruda e Patricia Gonçalves Mizoguchi, meu sincero obrigado, sem

vocês esse trabalho não seria possível.

Ao Roosevelt Soares de Oliveira e toda sua equipe de Assessoria Técnica

pronta e disponível para resolver “aqueles probleminhas de informática, pôster,

fotografia.... sempre em tempo hábil.

Aos meus colegas e amigos da Unidade Hospitalar Professor Nelson Antunes-

UHNA∕FMTAM, os presentes e os ausentes por qualquer motivo, meu muito

obrigado por estarem ao meu lado e acreditarem em mim.

À Dra. Vera Márcia Batista Queiroz pela amizade irrestrita especialmente nos

momentos de dúvidas e medos que surgem durante a vida, e que parecem

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“aflorar” durante o doutorado, e mais ainda no final deste, minha sincera

gratidão.

À equipe de médicos e estagiários do Setor de Pronto Atendimento-

PA∕FMTAM, e médicos residentes da FMTAM, em especial ao Dr. Silvio

Fragoso e Simone Ferreira de Castro Botileiro pela contribuição na inclusão de

pacientes.

À equipe de enfermagem da UHNA∕FMTAM, em especial a Enfa Maria Ivani de

Freitas Medeiros, Enfª. Regina Graça Mota dos Santos, Enf. Cristiano da

Conceição Garcia Viana e Enf. Adolfo Marcos Nunes Barbosa, que de forma

atuante me auxiliaram na busca de pacientes durante esta pesquisa.

À Fundação Hemocentro de Amazonas - FHEMOAM, Profa Dra. Adriana

Malheiro, Tatiana Amabili, Andrea Monteiro, João Paulo Diniz Pimentel, que

juntamente com sua equipe do Laboratório de Imunologia, somaram esforços

importantes no resultado desta pesquisa.

À Diretoria do Hospital e Pronto Socorro Dr. João Lúcio Pereira Machado,

Hospital Infantil “Joãozinho” da Zona Leste, e corpo clinico, em particular ao Dr.

Alexandre Bichara, pelo apoio durante a busca de casos.

À Diretoria do Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto, na pessoa do Dr. César

Cortez, e toda sua equipe multiprofissional.

À Diretoria do Hospital Universitário Getúlio Vargas, minha eterna escola. Em

particular aos médicos residentes, ao corpo clinico do Centro de Terapia

Intensiva, da Enfermaria de Clinica Médica e de Ortopedia, e da Comissão de

Infecção Hospitalar, pelo auxilio na busca de casos.

Às Cooperativas de Enfermeiras Intensivistas - COOPENFINT, de Enfermeiras

de Urgência e Emergência do Amazonas - COOPENURE, em especial a

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Tatianne Borges Pinto, Francisca Branco, Marivone Dias, Ana Paula, parceiras

na inclusão de pacientes.

Aos “doutores seniores” da FMTAM∕FAPEAM, em particular Profª. Dra. Samira

Buhrer e Profª Dra.Angélica Espinosa Miranda, pelas correções de artigo

científico.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Antonio de Matos Tavares e Co-orientadora Dra.

Adriana Malheiro, pela paciência na árdua tarefa de me orientar.

A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para que este sonho

tornar-se realidade, meu muito obrigado.

A Deus que com sua infinita sabedoria tornou-me capaz de executar mais um

trabalho, e com sua infinita bondade deu-me a oportunidade, durante o

desenvolvimento deste, de conhecer tantas pessoas.

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Epígrafe

“ Alegar-se-á, algumas vezes,

sendo tropical e intertropical o clima do Brasil,

tropical é, entre nós toda a patologia.

Sim,e não recusarei fundamento a este conceito,

mas é também de atentar em que neste,

como em outros países de climas quentes,

acrescentassem ao quadro nosológico cosmopolita

algumas doenças característicamente tropicais,

de processos etiopatogênicos subordinados aos fatores climáticos,

o que mais é, representam tais doenças o mais relevante de

nossos problemas médico-sociais.”

- O conceito de patologia tropical. –

Carlos Chagas, 14 de setembro de 1926

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RESUMO

Piomiosite tropical é uma infecção piogênica da musculatura esquelética de ocorrência predominante nos trópicos que vem aumentando em regiões temperadas e em países desenvolvidos. A lesão da musculatura pode ocorrer após trauma fechado, isquemia, fadiga muscular, stress metabólico, sepse. Por outro lado, há evidências da associação entre Toxocara spp e abscessos piogênicos. Há poucos estudos sobre a piomiosite tropical, em especial, na sua patogênese e na interação do sistema imune com os microorganismos. Os objetivos deste estudo foram: Descrever os fatores epidemiológicos, clínicos, laboratoriais e a imunidade mediada por células T na piomiosite tropical e sua associação com Toxocara sp. Foi realizado um estudo seccional em pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus com diagnóstico de piomiosite tropical, por um período de 36 meses. Foram incluídos pacientes > 1 ano com diagnóstico clínico de piomiosite confirmado ao exame de ultrasom ou em intervenção cirúrgica. Realizou-se: anamnese, exame físico, preenchimento de ficha clínica e coletou-se 17 mL de sangue para hemocultura, hemograma, sorologia para Toxocara sp e dosagem de citocinas. Foram avaliados 116 pacientes, a maioria do gênero masculino (69,8%), média de idade 29 anos (Dp 19,4). A porta de entrada para o processo infeccioso foi identificada em 68,1% (79∕116); comprometimento muscular único 72,4% (84∕116); disseminação para o pulmão 16,4% (19∕116); sepse 17,2% (20∕116); 9,5% (11∕116) apresentavam Diabetes Mellitus; 3,4% (4∕116) doenças do colágeno; 1,7% (2∕116) SIDA e 0,9% (1∕116) cirrose hepática pelo vírus B. Apenas dois [1,7%(2∕116)] pacientes relataram uso de corticosteróide∕imunossupressor. A maioria dos pacientes (78,4%) encontrava-se no estágio precoce da piomiosite. Anemia foi encontrada em 44,8% (52∕116) e hipoalbuminemia em 33,6% (39∕80). Os pacientes que apresentaram hipoalbuminemia tiveram quatro vezes mais chances de disseminação da doença (OR estimado 4,143, IC 95%, 1,488 < OR < 11,646). A sorologia para Toxocara sp foi positiva em 53,3% (55∕103) dos pacientes, e estes apresentaram três vezes mais chances de terem disseminação da doença (OR estimado 3,771, IC 95%, 1,269 < OR < 11,209), assim como padrão de resposta Th0 e Th2 na associação piomiosite-Toxocara sp, com aumento de IL5, IL6, IL10 e TNF e diminuição de IL4, IL8 e INF. O Staphylococcus aureus foi isolado em 15,3% (15/85) das hemoculturas e 50,7% (34/67) das culturas dos abscessos ou lojas. O tempo médio de internação foi 16,9 dias (Dp13,5). O óbito foi desfecho observado em 6% (7/116). Concluiu-se que a piomiosite tropical é patologia freqüente em Manaus, acometendo indivíduos jovens do gênero masculino. A precocidade do diagnostico e o comprometimento de único grupo muscular foram marcadores de boa evolução. Os pacientes com sorologia positiva para Toxocara spp e aqueles com hipoalbuminemia apresentaram maior disseminação da doença. Palavras-chave: Piomiosite tropical, miosite, Staphylococcus aureus, Toxocara spp, resposta imune.

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ABSTRACT

Tropical pyomiosytis is a pyogenic infection of skeletal muscle, which occurs mainly on tropical areas and in developing countries. Concerning the pathogenesis, the muscular lesion seems to occur after trauma, ischemia, muscle fatigue, metabolic stress, and presence of sepsis. On the other hand, there are evidences of the association between Toxocara spp and the occurrence of pyogenic abscesses. There are few papers about tropical pyomyositis, especially in its pathogenesis and immune system interaction with microorganisms. The objectives of this study were: To describe the epidemiologic, clinical, laboratory and T cell-mediated immunity in tropical pyomyositis and their association with Toxocara spp. We conducted a cross-sectional study in patients with a diagnosis of tropical pyomyositis admitted to tertiary public hospitals in Manaus, for a period of 36 months. The criteria of inclusion were: patients > 1 year with clinical diagnosis of pyomyositis confirmed by ultrasound examination or surgical intervention. They were submitted to anamnesis, physical examination and to a questionnaire. It was collected 17 mL of blood for blood culture, whole blood count, biochemical tests, serological tests for T. canis and cytokine analysis. One hundred sixteen patients were studied: mean age was 29.0 years (SD 19.4); most frequency masculine sex (69.8%). The gateway to the infectious process was indentified in 68.1% (79∕116). Muscle involvement only 72.4% (84∕116). There was dissemination happened more lung 59.4% (19∕32) and the sepses was 68.9% (20∕29). Previous pathology was performed in 21 patients, with Diabetes Mellitus 52.4% (11∕21); collagens diseases 19.0% (4∕21); AIDS 9.5% (2∕21); IDUs 9.5% (2∕21), and hepatic chronic HBV 4.8% (1∕21). The majority of patients (78.4%) were classified at early or invasive stage. Most cases were occurred CD69+ molecular superficies expression in neutrophil granulocyte subpopulation (2134.59) define a more activation this cells, and CD4+ lymphocyte, with 574.11∕mm³ mean. In this study were observed: anemia 44.8% (52∕116), hypoalbuminemia in 33.6% (39∕80). Those patients who had hypoalbuminemia were four times more likely to spread disease (OR estimated 4.143, CI 95%, 1.488 < OR < 11.646). Serology for Toxocara was positive in 53.3% (55/103) of patients, and these were three times more likely to spread disease (OR estimated 3.771, CI 95%, 1.269 < OR < 11.209), and like response pattern in Th0 and Th2-associated pyomyositis Toxocara, an increase of IL5, IL6, IL10 and TNF, as soon as, decreased IL4, IL8 and INF. Staphylococcus aureus was isolated in 15.3% (15/85) of blood cultures and 50.7% (34/67) of the cultures of abscesses. The average length of stay was 16.9 days (Dp13, 5). Death outcome was noted in 6% (7 / 116). It was concluded that tropical pyomyositis is common disease in Manaus, involving young male subjects. The early diagnosis of and commitment to single muscle were markers of good outcome. Patients with positive serology for Toxocara spp and those with hypoalbuminemia had a higher spread of the disease. Keywords: Tropical pyomyositis, Staphylococcus aureus, Toxocara spp, immune response.

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xi

LISTA DE FIGURAS

Primeiro artigo: Frequencia de anticorpo anti-Toxocara canis em comunidade

de Rio Uatumã, no Amazonas

Frequency of the antibody anti-Toxocara canis in a community along the

Uatumã river, State of Amazonas

Figura 1. Média de idade dos indivíduos com relação à pesquisa de anticorpo

anti-Toxocara canis nas vilas Waimiri e Atroari, em Balbina, de julho a outubro

de 2006..............................................................................................................31

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xii

LISTA DE FIGURAS

Segundo artigo: Caracteristicas clinico-laboratoriais, sorologia para Toxocara

canis e outros fatores predisponentes de uma população pediátrica com

piomiosite tropical em Manaus, Amazonas-Brasil.

Clinical-laboratorial characteristics, Toxocara canis serology and other

predispose factors of a pediatric population with tropical pyomyositis from

Manaus, Amazonas-Brazil.

Figura 1. À direita: Raios X de tórax demonstrando aumento de área cardíaca e

consolidação pulmonar; à esquerda: ultrasonografia demonstrando destruição

da arquitetura muscular e áreas hipoecóicas bem delimitadas formando

lojas∕abscessos muscular..................................................................................48

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xiii

LISTA DE FIGURAS

Terceiro artigo: Comportamento clinico, imunidade humoral e celular em

pacientes com piomiosite tropical comparados com a associação piomiosite -

Toxocara sp.

Comportamiento clínico, inmunidad humoral y celular en pacientes con

piomiositis tropical comparados com la asociación piomiositis-Toxocara sp.

Clinical behavior, humoral and cellular immunity in patients with tropical

pyomyositis compared with association pyomyositis-Toxocara sp.

Figura 1. Curva de distribuição da idade dos pacientes internados em hospitais

terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite

tropical (n=116)..................................................................................................61

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xiv

LISTA DE FIGURAS

Outros resultados da tese:

Figura 1. Distribuição dos pacientes internados nos hospitais terciários da rede

pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical, segundo mês e

ano.....................................................................................................................78

Figura 2. Piomiosite na coxa esquerda em paciente no estágio I ou de invasão,

segundo Gibson et al, 1984……………………………………………………….81

Figura 3. Piomiosite na coxa direita em paciente no estágio II ou supurativo,

segundo Gibson et al, 1984. Observar porta de entrada no cotovelo direito...81

Figura 4. Piomiosite na coxa esquerda em paciente no estágio III ou

septicêmico, segundo Gibson et al, 1984, com pioartrite e pneumonia..........82

Figura 5. Frequência de germes isolados na hemocultura e cultura de

abscessos, dos pacientes com diagnóstico de piomiosite tropical internados em

hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM..........................................83

Figura 6. Antibiograma pelo método E-test. CIM do S. aureu em detalhe: a)

oxacilina; b) imipenem; c) clindamicina.............................................................84

Figura 7. Antibiograma pelo método e-test de cepa de S. aureus com CIM 4μg

à vancomicina....................................................................................................84

Figura 8. Escolha do esquema de tratamento dos pacientes internados em

hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de

piomiosite tropical, segundo o número de antimicrobianos..............................85

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xv

Figura 9. Percentual de Antimicrobianos usados como monoterapia no

tratamento dos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de

Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical.........................................86

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xvi

LISTA DE TABELAS

Primeiro artigo: Frequencia de anticorpo anti-Toxocara canis em comunidade

de Rio Uatumã, no Amazonas

Frequency of the antibody anti-Toxocara canis in a community along the

Uatumã river, State of Amazonas

Tabela 1. Distribuição dos indivíduos segundo a faixa etária, nas vilas Waimiri e

Atroari, em Balbina, de julho a outubro de 2006................................................30

Tabela 2. Freqüência de anticorpo anti-Toxocara canis, nas vilas Waimiri e

Atroari, em Balbina, de julho a outubro de 2006................................................31

Tabela 3. Aspectos demográficos e socioculturais das vilas Waimiri e Atroari,

em Balbina, de julho a outubro de 2006............................................................32

Tabela 4. Avaliação das variáveis epidemiológicas com relação a presença de

anticorpo anti-Toxocara canis, nas vilas Waimiri e Atroari, em Balbina, de julho

a outubro de 2006..............................................................................................33

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LISTA DE TABELAS

Segundo artigo: Caracteristicas clinico-laboratoriais, sorologia para Toxocara

canis e outros fatores predisponentes de uma população pediátrica com

piomiosite tropical em Manaus, Amazonas-Brasil.

Clinical-laboratorial characteristics, Toxocara canis serology and other

predispose factors of a pediatric population with tropical pyomyositis from

Manaus, Amazonas-Brazil.

Tabela 1. Características demográficas, clínicas e laboratoriais de crianças com

piomiosite tropical internadas no período janeiro de 1997 a julho de 2008, em

Manaus-Amazonas............................................................................................44

Tabela 2. Sorologia para T. canis em crianças internadas com piomiosite

tropical em relação à faixa etária.......................................................................45

Tabela 3. Análise das variáveis de morbidade das crianças hospitalizadas com

piomiosite tropical segundo o resultado da sorologia para T. canis................46

Tabela 4. Fatores predisponentes, características clinico-laboratoriais e

morbidade da piomiosite tropical nos diferentes estágios clínicos...................47

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LISTA DE TABELAS

Terceiro artigo: Comportamento clinico, imunidade humoral e celular em

pacientes com piomiosite tropical comparados com a associação piomiosite -

Toxocara sp.

Comportamiento clínico, inmunidad humoral y celular en pacientes con

piomiositis tropical comparados com la asociación piomiositis-Toxocara sp.

Clinical behavior, humoral and cellular immunity in patients with tropical

pyomyositis compared with association pyomyositis-Toxocara sp.

Tabela 1. Avaliação do desfecho disseminação em relação ao

comprometimento muscular, nos pacientes internados em hospitais terciários

da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de PMT...............................62

Tabela 2. Análise multivariada das variáveis independentes (fator de risco) em

relação às variáveis dependentes relacionadas ao desfecho óbito, presença de

disseminação, e complicação, nos pacientes internados em hospitais terciários

da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de PMT...............................63

Tabela 3. Avaliação do desfecho disseminação em relação à hipoalbuminemia,

nos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-

AM, com diagnóstico de PMT............................................................................64

Tabela 4. Distribuição segundo a mediana e os percentis (25-50-75) para

lifócito T CD4+, T CD8+, razão CD4+:CD8+ , dos pacientes com PMT e na

associação PMT-Toxocara spp, internados em hospitais terciários da rede

pública de Manaus-AM (n=40)...........................................................................65

Tabela 5. Distribuição das características clinicas dos pacientes internados em

hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM com diagnóstico de PMT,

segundo o resultado de sorologia para Toxocara spp.......................................66

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xix

Tabela 6. Avaliação do desfecho disseminação em relação à sorologia para

Toxocara spp, nos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública

de Manaus-AM, com diagnóstico de PMT.........................................................66

Tabela 7. Valor médio do nível sérico de interleucinas nos pacientes com

diagnóstico de PMT internados em hospitais terciários da rede pública de

Manaus-AM, segundo a associação com Toxocara spp...................................67

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LISTA DE TABELAS

Outros resultados da tese:

Tabela 1. Relação da faixa etária com o gênero dos pacientes internados em

hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de

piomiosite tropical..............................................................................................79

Tabela 2. Grau de instrução dos pacientes internados nos hospitais terciários

da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite

tropical...............................................................................................................80

Tabela 3. Tempo de evolução da doença no momento da procura por

atendimento médico dos pacientes internados em hospitais terciários da rede

pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite

tropical...............................................................................................................80

Tabela 4. Distribuição das caracteristicas clinicas dos pacientes internados em

hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de

piomiosite tropical..............................................................................................82

Tabela 5. Sensibilidade do S. aureus em 47 isolados de hemocultura e cultura

de secreção de abscesso muscular, em pacientes com diagnóstico de

piomiosite tropical..............................................................................................83

Tabela 6. Freqüência de coproparasitos ao exame parasitológico de fezes, dos

pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM,

com diagnóstico de piomiosite tropical..............................................................85

Tabela 7. Freqüência e distribuição dos esquemas terapêuticos com dois

antimicrobianos no tratamento dos pacientes com diagnóstico de piomiosite

tropical internados em hospitais terciários da rede pública de

Manaus..............................................................................................................86

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xxi

LISTA DE FIGURAS E QUADROS DA TESE

Figura 1. Mapa da cidade de Manaus dividido em zonas com a localização das

unidades hospitalares envolvidas na pesquisa..................................................15

Quadro 1. Fluxograma do estudo.....................................................................17

Quadro 2. Perfil de sensibilidade do S. aureus pelo método de microdiluição

(MIC-Minimum Inibitory Concentration).............................................................20

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xxii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALB Albumina

Ac Anticorpo

Acs Anticorpos

Ag Antígeno

Ag TES Antígenos de Excreção e Secreção

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

BA Blood Ágar ou Agar Sangue

BACTEC Instrumented Blood Culture Systems ou Sistema de Automação

para Hemocultura

BD Bilirrubina Direta

BI Bilirrubina Indireta

bpm Batimentos por minuto

BT Bilirrubina Total

CD4 Linfócito T CD4

CD8 Linfócito T CD8

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CIM Concentração Inibitória Mínima

CLSI Clinical and Laboratory Standards Institute

CNS Conselho Nacional de Saúde

CPK Creatino Fósfoquinase

DIP Doenças Infecciosas e Parasitárias

Dp Desvio Padrão

DST/AIDS Doenças Sexualmente Transmissíveis/Adquirid Immuno Deficient

Sindromme

EIA Enzyme Immunoassay

ELISA Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay

EPF Exame Parasitológico de Fezes

FcE Receptor para IgE nas membrana de helmintos

FMOS Falência de Múltiplos Órgãos e Sistemas

FMTAM Fundação de Medicina Tropical do Amazonas

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xxiii

HIV ou VIH Humann Imunodeficience Virus ou Vírus da Imunodeficiência

Humana

HPSJL Hospital e Pronto Socorro João Lúcio Pereira Machado

HPSM Hospital e Pronto Socorro Municipal 28 de Agosto

HUGV Hospital Universitário Getúlio Vargas

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

I Intermediário

IC Intervalo de Confiança

IFN Interferon

IFNγ Interferon gama

IgE Imunoglobulina E

IgG Imunoglobulina G

IL Interleucina

irpm Incursões respiratórias por minuto

L2 Larva de segundo estágio

LAC Laboratório de Análises Clínicas

LPS Lipopolissacarides

LVM Larva Migrans Visceral

MHC Major Histocompatibility Complex ou Complexo Maior de

Histocompatibilidade

MIC/CIM Minimum Inhibitory Concentration ou Concentração Inibitória

Mínima

MS Ministério da Saúde

NCHS National Center of Health Statistics

NK Natural Killer

ODIN Organ Dysfunctions and/or Infection

OLM Ocular Larva Migrans

OR Odds Ration

ORSA Staphylococcus aureus Resistente à Oxacilina

PAIC Programa de Apoio à Iniciação Científica

PBS Phosphate buffered saline

PSM Pronto Socorro Municipal 28 de Agosto

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xxiv

PTM Piomiosite Tropical

R Resistente

REBIO Reserva Biológica

S Sensível

Sav HRP Streptavidin-Horseadish peroxidase

SBF Soro Bovino Fetal

SD Stand Derivation

SIDA Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida

SIRS Systemic Inflammatory Response Syndrome SOFA Sequential Organ Failure Assessment

SPA Serviço de Pronto Atendimento

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

SSTF Tampão Super fosfato

SUS Sistema Único de Saúde

SUSAM Secretaria de Saúde do Amazonas

SNC Staphylococcus Coagulase Negativa

TMB Tetrametilbenzidina

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCS Tecido Celular Subcutâneo

TGO/AST Transaminase Glutâmica Oxalacética

TGP/ALT Transaminase Glutâmica Pirúvica

Th0 Linfócito

Th1 Linfócito T Helper tipo 1

Th2 Linfócito T Helper tipo 2

TNF Fator de Necrose Tumoral

TNFα Fator de Necrose Tumoral alfa

UDI Usuário de Drogas Injetáveis

UHNA Unidade Hospitalar Nelson Antunes

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xxv

LISTA DE UNIDADES DE REFERÊNCIA E SÍMBOLOS

% percentual

♀ Feminino

♂ Masculino

°C Graus Celsius

µL Microlitro

dL Decilitro

g Grama

g/dL Gramas por decilitro

M Média

mg Miligrama

mL Mililítro

mm3 Milímetro cúbico

mmHg Milímetro de mercúrio

nm nanômetro

p Coeficiente de Pearson

pg/mL Picograma por mililitro

U/L Unidades por litro

Χ2 Quiquadrado

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................

01

1.1 Conceito. ........................................................................................... 01 1.2 Epidemiologia..................................................................................... 01 1.3 Etiologia e Patogenia.......................................................................... 02 1.3.1 A doença estafilocóccica........................................................... 02 1.3.2 A toxocaríase humana.............................................................. 04 1.3.3 A resposta imune...................................................................... 07 1.4 Diagnóstico Clínico............................................................................. 09 1.5 Diagnóstico por imagem..................................................................... 10 1.6 Diagnóstico Laboratorial..................................................................... 10 1.7 Tratamento......................................................................................... 12 1.8 Prognóstico......................................................................................... 12 2 OBJETIVOS .................................................................................................

13

2.1 Geral................................................................................................... 13 2.2 Específicos......................................................................................... 13 3 METODOLOGIA ..........................................................................................

14

3.1 Modelo de estudo .............................................................................. 14 3.2 Universo de estudo ............................................................................ 14 3.3 Seleção da amostra............................................................................ 15

3.3.1 Definições adotadas.................................................................. 15 3.3.2 Captação dos casos.................................................................. 15 3.3.3 Cálculo da amostra.................................................................... 16 3.3.4 Critérios de inclusão.................................................................. 16 3.3.5 Critérios de exclusão................................................................. 16

3.4 Delineamento da pesquisa ................................................................ 16 3.5 Coleta e análise dos dados................................................................ 18 3.5.1 Provas laboratoriais................................................................... 18 3.5.2 Análise estatística...................................................................... 23 3.6 Procedimentos éticos......................................................................... 24 4 RESULTADOS ............................................................................................

25

5 CONCLUSÕES ............................................................................................

88

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................

90

7 ANEXOS ......................................................................................................

94

7.1 Bula da Fitas E-test................................................................................... 94 7.2 Bula do teste rápido para detecção do HIV............................................... 95 7.3 Portaria do MS para o diagnóstico da infecção pelo HIV utilizando o teste rápido.

97

7.4 Bula do teste EIA para o diagnóstico de Toxocara canis .......................... 99 7. 5 Bula KIT para dosagem de citocinas pelo método ELISA........................ 100

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xxvii

7.6 Ficha clinica............................................................................................... 102 7.7 Pareceres do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos CEP∕FMTAM....................................................................................

107

7.8 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................................... 110 7.9 Normas para publicação da Revista Brasileira de Medicina Tropical. 1º Artigo publicado...............................................................................................

113

7.10 Normas para publicação da Revista Associação Panamericana de Infectologia. 2º Artigo publicado.......................................................................

115

7.11 Normas para publicação da Revista Panamericana de Saúde Pública. 3º Artigo submetido..........................................................................................

133

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1

1 INTRODUÇÃO A piomiosite foi descrita na literatura inicialmente por Virchow, em 1852, e

posteriormente por Scriba, em 1885. No Brasil os primeiros relatos de casos foram

feitos por Salvia, em 1866, na cidade do Rio de Janeiro, em um paciente com

miosite do músculo reto do abdômen, alertando, desde então, para o fato de a

doença ter predominância nos trópicos e maior incidência em homens jovens e

saudáveis (Chiedozi, 1979; Shepherd,1983; Gibson et al, 1984; Rayes et al, 1999).

1.1 Conceito

A piomiosite tropical (PMT) é uma infecção piogênica que acomete a

musculatura esquelética, por expansão de foco séptico não contíguo, ou ainda em

conseqüência a traumas não penetrantes, muito rara em regiões temperadas e frias,

mas relativamente freqüente em certas regiões tropicais quente e úmidas (Chiedozi,

1979; Shepherd,1983; Gibson et al, 1984; Torres, 1995 ).

1.2 Epidemiologia

Apesar de ser comum nas regiões tropicais, sua descrição vem aumentando em

regiões temperadas e em países desenvolvidos, na maior parte relacionando-a a

algum fator de imunodepressão tais como: o diabetes, a leucemia, a anemia

aplástica, a desnutrição, as doenças auto imunes, a Síndrome de Imunodeficiência

Humana Adquirida (SIDA) e usuários de drogas injetáveis (Shepherd,1983; Uribes-

Flores e Flores-Sobrevilla, 1989; Christin e Sarosi, 1992; Martinez-De-Jesus e

Mendiola-Segura, 1996).

Foram descritos na literatura 150 casos de infecção muscular no Japão em

serviço de cirurgia geral, 83 casos de piomiosite ocorreram em duas décadas nos

Estados Unidos, e na África a doença é considerada endêmica em algumas regiões

(Shepherd,1983; Brown e Wheeler, 1984; Widrow et al, 1991).

Sua ocorrência no Brasil já foi relatada em vários Estados, como tais como:

Minas Gerais em série de 20 pacientes (Rayes et al., 2000b), São Paulo com

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descrição de 27 casos (Marques et al., 1995), cinco casos graves no Mato Grosso

(Vieira et al., 1996), em Rio Branco no Acre foram descritos 40 pacientes (Siqueira e

Siqueira, 1998) e em Manaus, no Amazonas, a doença apresentou um total

acumulado de 238 casos no período de 1997 a 2000 (Damian, 2001a).

Alguns autores encontraram maior número de casos da doença nos períodos de

estiagem, justificado provavelmente por neste período haver maior exposição a

trauma, conseqüentes às atividades esportivas, pesca, além do fato das altas

temperaturas no verão induzirem os indivíduos a andarem com a superfície corporal

mais exposta (Uribes-Flores e Flores-Sobrevilla, 1989; Damian, 2001a). Contudo,

em trabalho realizado por Siqueira e Siqueira em Rio Branco-AC, em 1998, foi

encontrado maior número de casos no período de chuvas (Siqueira e Siqueira,

1989).

A doença pode ocorrer em qualquer faixa etária, com predominância em jovens,

sendo os indivíduos do gênero masculino acometidos com maior freqüência. Na

infância, a faixa etária mais prevalente é a de cinco a nove anos, não ocorrendo

diferença com relação ao genêro (Shepherd, 1983; Lambertucci, 1996a).

1.3 Etiologia e patogenia

O conceito da multicausalidade na gênese da piomiosite tropical é relevante e

consenso na literatura. Para a maioria dos autores o trauma fechado sobre a

musculatura corresponderia à lesão inicial em grande parte dos pacientes. A injúria

muscular, no entanto, poderia sobrevir à isquemia, à fadiga muscular, ao stress

metabólico em resposta a presença de sepse/SIRS (Síndrome da Resposta

Inflamatória Sistêmica), que levaria à localização de bactérias na musculatura. No

entanto, em nenhuma das situações haveria quebra das barreiras protetoras,

particularmente da pele, como em lesões penetrantes ou trauma perfurante ou,

ainda, lesão de pele contíngua à miosite (Shepherd, 1983; Jayoussi et al., 1995).

1.3.1 A doença estafiloccócica

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Entre as infecções que ocorrem na prática clínica os abscessos cutâneos têm

considerável freqüência, assim como, os furúnculos, e representam as principais

portas de entrada para infecção por bactérias Gram positivas. O aumento das

infecções por Staphylococcus aureus (S. aureus) tem sido destaque em diferentes

publicações nos últimos anos, especialmente em virtude do perfil de sensibilidade

reduzido para diferentes antimicrobianos, levando a difícil problemática com relação

ao tratamento (Bone RC, 1994; Cosgrove et al., 2003).

O S. aureus está freqüentemente associado a infecções adquiridas na

comunidade e no ambiente hospitalar. Algumas infecções são agudas, piogênicas e

podem disseminar para diversos tecidos e promover focos infecciosos metastáticos

levando os episódios de bacteremia, pneumonia, endocardite, pericardite, meningite,

abscessos cerebrais e de outras localizações como na musculatura esquelética

(Lowy, 1998).

No entanto, em estudo experimental realizado por Miyake, 1904, citado por Brow

e Wheller (1984), “a administração via endovenosa e intramuscular de suspensão

contendo S. aureus, em coelhos, esta não se mostrou responsável por dano

muscular, exceto quando precedida por isquemia ou estimulação elétrica da

musculatura” (Miyake, 1904 Apud Brow e Wheller, 1984).

A hipótese de que a “invasão e implantação” muscular pelo S. aureus poderia

ser precedida por dano nas fibras musculares causado por “parasitos tropicais”

como os da malária e filariose na África foi sugerida por Lê Dantec, em 1929 (Lê

Dantec, 1929 Apud Shepherd, 1983).

Da mesma forma, O’Brien (1963) estudando 65 pacientes com diagnóstico de

piomiosite, na África, encontrou larvas de espécie até então desconhecidas na

secreção drenada de abscesso muscular de um paciente. Posteriormente, o exame

coprológico deste indivíduo revelou a presença de Ascaris lumbricoides e de

Trichiuris trichiura. O pesquisador não conseguiu comprovar nenhuma associação

causal, porém correlacionou a maior prevalência da PMT em paises tropicais e a

eosinofilia que acompanha o quadro, levantando a hipótese de infecções

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parasitárias serem, em parte, responsáveis pela etiopatogenia da doença (O’Brien,

1963).

Estudo experimental realizado por Marcus e Foster (1968) no Norte da África,

onde também foram feitas observações epidemiológicas, etiológicas e clínicas,

assim como administração de injeções com altas doses infectantes de S. aureus em

cães, não se mostraram suficientes para induzir o desenvolvimento da PMT em cães

sem trauma muscular mecânico ou elétrico prévio (Marcus e Fortes, 1968).

A teoria do trauma é bem aceita quando se trata de abscessos envolvendo um

único grupo muscular, porém quando a miosite é difusa e englobam múltiplos grupos

musculares esqueléticos, essa teoria é mais difícil de ser explicada como causa

exclusiva (Chiedozi, 1979; Gibson et al., 1984).

Outro modelo de estudo clínico e experimental realizado por Rayes et al., (2000),

utilizando 58 camundongos corrobora a hipótese do dano muscular no

desenvolvimento da PMT. Os pesquisadores dividiram os animais em quatro grupos:

29 foram infectados com 1000 ovos embrionados de Toxocara canis (T. canis) no

dia zero e semanalmente com suspensões de S. aureus; 13 infectados somente com

S. aureus; seis foram infectados somente com ovos de T. canis no dia zero; e dez

camundongos sem infecção serviram de grupo controle. Os autores observaram

maior freqüência de abscessos musculares nos camundongos infectados por T.

canis e S. aureus. Observaram, também, que a sorologia para T. canis realizada em

20 pacientes com PMT foi positiva em 40% e apenas em 5% dos controles. É nesta

linha de pensamento que a toxocaríase humana vem sendo aventada na

patogênese da PMT (Rayes, 2000).

1.3.2 A Toxocaríase Humana

A toxocaríase é uma zoonose cosmopolita, cujo processo patológico,

caracterizado como larva migrans visceral (LMV), foi inicialmente descrito por Paul

Beaver em 1952. Sabe-se que o Toxocara spp é um nematelminto de cães e gatos,

respectivamente, T. canis e T. cati, capaz de infectar o homem após ingestão

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acidental de ovos embrionados, com subseqüente eclosão e migração de larvas

para os tecidos (Beaver PC, 1956a; Andrade, 2000).

A infecção nos cães, que são os hospedeiros definitivos, leva ao

desenvolvimento de vermes adultos. Os ovos embrionados eclodem no intestino

liberando as larvas de T. canis no estágio L2 que podem migrar para o fígado

através do sistema porta rompendo os sinusóides venosos chegando ao parênquima

hepático, ou podem sair diretamente das veias hepáticas para veia cava inferior.

Algumas destas larvas L2 atravessam os vasos linfáticos e atingem o pulmão. Do

pulmão, através da veia pulmonar, as larvas vão para o coração esquerdo e caem

na circulação sistêmica. Por mecanismo ainda não totalmente esclarecido, algumas

larvas em lugar de completarem seu ciclo evolutivo e retornarem para o intestino,

elas se disseminam para todo o organismo, podendo se encistar em diferentes

órgãos, ou continuarem a migrar através dos tecidos durante muitos meses a

despeito da resposta imune humoral (Beaver PC, 1969b; Moreira e Pereira, 1971a;

Andrade, 2000; Moreira e Pereira, 2000b).

No homem o ciclo é incompleto, e, como dito anteriormente, a infecção ocorre de

forma acidental através da ingestão de alimentos contaminados, como por exemplo,

carnes de coelho, aves e outros roedores infectados com larvas de Toxocara spp.

Outra forma de infecção bem documentada na literatura é o hábito de geofagia,

onicofagia, manuseio de alimentos com mãos sujas, pois o os ovos de Toxocara

spp, eliminados junto com os dejetos de cães e gatos contaminam o solo (Andrade,

2000).

Vários fatores estão envolvidos na patogênese da toxocaríase no homem, dentre

estes se destacam: número de larvas ingeridas, freqüência de ingestão de ovos

embrionados, condições imunológicas do hospedeiro, sensibilização do hospedeiro

por antígenos (Ag) próprios da larva ou de produtos excretados e/ou secretados por

estas e reações inflamatórias desencadeadas pela presença de larva no tecido

(Shantz e Glickman, 1978).

Dentre as manifestações clinicas da toxocaríase humana a mais comum é a

síndrome de LMV que ocorre, geralmente, em crianças abaixo dos cinco anos de

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idade. No entanto, indivíduos adultos, apesar de menos expostos, são capazes de

desenvolver outras formas clinicas da doença, tais como: 1) toxocaríase ocular ou

“ocular larva migrans” (OLM) com vários graus de comprometimento, que vão desde

leucoria, uveite, granulomas retinianos, até endoftalmite crônica; 2) “covert

toxocaríase” ou toxocaríase oculta na qual os indivíduos apresentam dor abdominal

recorrente, cefaléia e tosse; 3) síndrome associada a miocardite, nódulos

subcutâneos; 4) síndrome de Guillain-Barré; 5) atípica na qual os pacientes cursam

com astenia crônica, dor no hipocôndrio direito, erupções e prurido cutâneo; 6) além

da forma assintomática (Shantz e Glickman, 1978; Bass et al, 1983; Taylor et al,

1987).

Magnaval et al., 2000, sugerem uma proposta de nova classificação baseada na

associação do quadro clinico e o envolvimento de mecanismos imunopatológicos

mensurados pela intensidade da resposta sorológica e a localização da larva, a

partir da qual, dividiu didaticamente a toxocaríase em quatro formas maiores:

sistêmica clássica, compartimentalizada, oculta e assintomática (Magnaval et al,

2000b).

Vários trabalhos vêm demonstrando que a toxocaríase é um problema de saúde

pública relevante e de larga distribuição, sendo encontrada soroprevalências que

variam de valores baixos como 1% no Canadá e na Espanha, até valores extremos

como 92,8% em La Réunion, uma ilha situada entre a Ásia e a Àfrica, e 86% na Ilha

Santa Lúcia localizada nas Antilhas (De Savigny e Tizard, 1977; Thompson et al.,

1986; Portus et al., 1989; Magnaval et al., 1994a).

A prevalência de indivíduos saudáveis de todas as idades positivos para

anticorpos (Ac) anti-T. canis, através do método Enzyme Linked Immuno Sorbent

Assay (ELISA) com Ag solúvel de larvas, em cinco municípios de São Paulo,

mostrou porcentagens de 2,2% a 5,7% (Chieffi et al., 1990), enquanto outro estudo

envolvendo crianças demonstrou maiores positividades, chegando a 39% em Vitória-

ES (Moreira et al., 1998b). Em áreas rurais e de assentamento na Amazônia

brasileira foi observado soroprevalência de 26,8% em população menor de um ano

(Rubinsky et al., 2008b). Já no Amazonas, um estudo piloto desenvolvido nas Vilas

de Balbina, situada no Município de Presidente Figueiredo, demonstrou 52% de

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positividade em 5% da população residente naquela área (Damian et al., 2007b). Em

Manaus, não há relatos na literatura com relação à soroprevalência da toxocaríase

em humanos.

O solo e os dejetos dos cães representam a principal fonte de contaminação para

o homem. No Brasil há diversos trabalhos abordando a ocorrência da infecção por T.

canis na população canina, assim como, informações pertinentes sobre o nível de

contaminação do solo. Entretanto, a maioria dos trabalhos revela prevalências

variadas, dando uma idéia da distribuição não uniforme da infecção por T. canis nos

cães em todo o país, variando de 17,5% em cidades como Botucatu-SP até 66,6%

em Goiânia-GO (Andrade, 2000).

Estudo realizado em cinqüenta bairros da cidade de Manaus, com coleta de

1.326 amostras de fezes de cães, no período de julho de 2002 a agosto de 2004,

mostrou positividade em 626 (59,1%) para algum tipo de parasito, sendo encontrado

o T. canis em 4,5% (60) destas amostras. A freqüência da contaminação do solo

mostrou-se menor em Manaus, quando comparada com as encontradas em

algumas cidades das regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil que variaram de

17,5 a 66,6% (Andrade, 2000; Martins et al., 2003).

Da mesma forma, as porcentagens de contaminação do solo variam de valores

extremamente baixos como 0,3% nos Estados Unidos da América a valores

altíssimos como 87,1% na Alemanha e 77,8% na França (Andrade, 2000).

Levando-se em conta que a eficiência de recuperação de ovos de T. canis do

solo é de 65%, é provável que esses resultados tanto no Brasil como em outros

países estejam subestimados (Andrade, 2000).

1.3.3 A resposta imune

Na fase de migração larvária do Toxocara spp ocorre uma reação inflamatória

aguda, com presença de eosinófilos, neutrófilos e, algumas vezes, monócitos. Esta

inflamação induzida pela toxocaríase é predominantemente eosinofílica, com altos

níveis de IgE, características semelhantes às presentes em doenças alérgicas, além

da liberação de produtos metabolicamente ativos e antigênicos denominados

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antígenos de excreção e secreção- (Ag TES), que são proteínas glicosiladas e

proteases. Foi demonstrado que alguns desses Ag TES localizam-se na epicutícula

das larvas e são receptores importantes para Ac (Savigni, 1975a, 1978b,1979c ;

Andrade, 2000).

Há evidências na literatura da associação entre T. canis e a ocorrência de

abscessos piogênicos no fígado e o desenvolvimento de PMT, sugerindo-se uma

“predisposição” a infecções causadas por S. aureus, o que tem sido bem

demonstrado, também no modelo do Schistossoma mansoni (Sabin et al., 1996;

Rayes et al., 2000b). Neste contexto, a migração para musculatura esquelética de

larvas de Toxocara spp no segundo estágio ocasionaria alterações estruturais e

imunológicas, que na presença concomitante de bacteremia, favoreceria a aderência

bacteriana e o desenvolvimento da piomiosite (Marcus e Foster, 1968; Walsh, 1988;

Lambertucci, 1996a; Rayes e Lambertucci, 1999a; Rayes et al., 2000b).

A interação do sistema imune com os microorganismos compreende uma

alteração dinâmica dos mecanismos de defesa do hospedeiro visando eliminar as

infecções, versos a estratégia dos microorganismos destinados a permitir sua

sobrevivência em face dos mecanismos efetores. Os helmintos dão margem a

infecções crônicas e persistem porque a imunidade natural contra eles é fraca, em

geral resistem à lise pelo complemento, que pode ser secundária à perda das

moléculas de superfície que se liga a este, ou a aquisição de proteínas regulatórias

do hospedeiro. Outra linha de defesa natural é representada pelos macrófagos, que

também pode falhar, pois alguns parasitos resistem à morte fagocitária, podendo,

inclusive se multiplicar no interior destes (Finkelman et al., 1997).

Os parasitos desenvolvem evolutivamente mecanismos de evasão e desta forma

resistem à imunidade específica. A citotoxidade celular dependente de Ac

representa importante mecanismo de defesa dos helmintos, por meio da qual, Ac-

IgE ligam-se à superfície dos helmintos e a seguir os eosinófilos fixam-se aos

imunocomplexos pelos seus receptores (FcE) e desta forma são ativados para

liberar grânulos enzimáticos que destroem os parasitos. Esta resposta imune é

atribuída aos linfócitos T auxiliares, ou seja, à subpopulações Th2 das células

TCD4+, que secretam interleucinas 4 e 5 (IL-4 e IL-5). A produção de IgE é

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estimulada por IL-4 que também tem atividade quimiotáxica para eosinófilo, e a IL-5

estimula o desenvolvimento e a ativação dos eosinófilos (Sher e Coffman, 1992;

Faccioli et al., 1996).

A intensidade e o tipo da resposta imune a um agente infeccioso podem ser

determinantes do dano, da evolução e do prognóstico da infecção. Várias patologias

estão associadas ao aumento do número de eosinófilos circulantes ou teciduais,

sendo a eosinofilia, evidente nas infecções por ambos, helmintos, como o S.

mansoni, e nematóide como o T. canis. Nestas parasitoses a eosinofilia é

dependente da IL-5, uma vez que foi demonstrado que animais infestados com S.

mansoni e com T. canis tratados com Ac anti-IL-5 apresentaram significativa

diminuição do número de eosinófilos circulantes (Sher et al., 1992; Faccioli et al.,

1996).

No contexto das infecções bacterianas, aqui representadas pelo S. aureus,

fagócitos, linfócitos B e outras células apresentadoras de Ag em resposta a produtos

bacterianos intracelulares, são capazes de induzir a produção de interleucina 12 (IL-

12). Essa citocina induz o crescimento e a ativação de células Natural Killer (NK),

aumentando o seu potencial lítico e dos linfócitos T CD8+ (Faccioli et al., 1996).

A produção de IL-12 favorece um padrão de resposta Th1 com produção de

interleucina 2 (IL-2) e interferon gama (IFN-γ). Outros autores também têm

demonstrado a participação da IL-12 na inibição do processo inflamatório

eosinofílico, modulando a resposta imune, ou seja, redirecionando-a do padrão Th2

para Th1(Trinchieri, 1995; Kunkel et al., 1996).

1.4 Diagnóstico clínico

O quadro clínico da piomiosite, assim como a gravidade, depende do estágio da

doença no qual o paciente se apresenta. Foi desta forma e para melhor

homogeneizar os estudos, que Gibson et al, 1984, estratificou os pacientes com

piomiosite tropical em três estágios evolutivos, que são:

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“Estágio I, inicial ou de invasão, corresponderia à primeira semana de

evolução da doença pós-trauma fechado, no qual o paciente apresentaria dor,

edema, sinais inflamatórios mínimos sob a musculatura, sem flutuação ou

abscedação;

Estágio II ou supurativo, no qual os pacientes já teriam mais de uma a duas

semanas de evolução, com evidentes e pronunciados sinais flogísticos, flutuação

e/ou abscedação;

Estágio III ou tardio, compreenderia pacientes com mais de três semanas

de evolução da doença, com disseminação do foco a distância, comprometimento de

órgãos e sistemas, caracterizando uma sepse.”

No entanto, alguns trabalhos clínicos demonstram o encontro de pacientes que

na primeira semana da doença apresentavam quadro de sepse grave e foco de

disseminação para outro órgão, como pulmão (Marques et al., 1995; Siqueira e

Siqueira, 1998).

1.5 Diagnóstico por imagem

O diagnóstico clínico da piomiosite tropical depende de um alto grau de suspeição

frente a um indivíduo residente nos trópicos com eosinofilia e enduração em um ou

mais grupos musculares esqueléticos. Métodos de imagem, tais como a

ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética podem

ser utilizados na orientação terapêutica invasiva nas drenagens cirúrgicas de

abscessos profundos ou, ainda, na propedêutica da diferenciação com síndromes

clínicas que mimetizam a miosite tais como: processo neoplásico, síndrome

compartimental, trombose venosa profunda, dentre outros (Siqueira e Siqueira,

1998; Crum-Cianflone, 2006).

1.6 Diagnóstico laboratorial

A comprovação direta do parasito Toxocara spp no organismo humano para

confirmação do diagnóstico é rara, uma vez que não existem ovos nas fezes e o

encontro de larvas nos tecidos por meio de biópsia é também pouco comum. Desta

forma, faz-se o diagnóstico da infecção humana por métodos indiretos, através da

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detecção de Ac da classe G anti-Toxocara spp no sangue ou fluídos biológicos dos

pacientes (Glickman, 1993).

Estes Acs podem ser detectados por diversas técnicas. Dentre as mais utilizadas

estão os métodos ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay ) e o EIA (Enzyme

immunoassay ). Atualmente, a metodologia ELISA “in house” tem usado Ag TES da

larva adsorvidos com Ag de Ascaris suum, que mostra sensibilidade de 80% e

especificidade de 90%, sendo mais indicado do que o teste que utiliza o Ag total da

larva, pois neste caso, pode haver reação cruzada com leishmaniose,

esquistossomose, doença de Chagas, malária, ascaridíase, dentre outras patologias

tropicais (Glickman, 1993; Nunes, 1999).

Outro método disponível são KITS ou teste de ELISA comercial, para detecção

de Ac da classe G (IgG)., que mostra concordância com o ELISA de até 97,5%,

podendo facilmente ser empregado em inquéritos soroepidemiológicos (Rubinsky G

et al., 2007a).

Para o diagnóstico da PMT é necessário história clinica, exame físico minucioso,

auxiliados por exames laboratoriais específicos e inespecíficos. Neste último caso o

hemograma, a bioquímica renal, as dosagens das enzimas hepáticas e musculares

podem predizer a gravidade da doença e desta forma, são importantes na evolução

e monitoramento da resposta clínica frente à conduta terapêutica antimicrobiana

adotada (Vieira et al., 1996).

Em estudo realizado por Damian (2001a), envolvendo pacientes com piomiosite,

observou-se que a anemia foi mais freqüente no sexo feminino, e que, pacientes

com hemoglobina menor que 10mg/dl tinham duas vezes mais chances de terem

disseminação do processo infeccioso. Demonstrou-se ainda, que na forma

disseminada da doença, as complicações e a recidiva do processo infeccioso foram

mais freqüentes entre os pacientes com hipoalbuminemia, e que indivíduos com

leucocitose tinham cinco vezes mais chances de evoluírem para cura do que

aqueles com normocitose, apontando para importância da resposta do hospedeiro

frente à infecção (Damain, 2001a).

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1.7 Tratamento

O tratamento da PMT é feito com o uso de antibióticos beta-lactâmicos, tendo

em vista que o principal germe isolado é o S. aureus. Os procedimentos invasivos,

tais como: drenagem de abscessos, debridamentos de tecidos com mionecrose,

dependem do quadro evolutivo do paciente, e devem sempre ser buscados quando

houver manutenção da febre (Lowy, 1998; Vieira et al., 1996).

1.8 Prognóstico

Vários estudos na literatura mostram baixa mortalidade na PMT, o que não está

ainda bem esclarecido, tendo em vista que o principal agente etiológico é o S.

aureus, bactéria Gram positiva, de alta virulência e patogenicidade, causadora de

outras formas de doença com complicações e mortalidade expressivas. É provável

que essa diferença esteja relacionada ao envolvimento de fatores inerentes ao

hospedeiro, à precocidade do diagnóstico, assim como a cepa do S. aureus, ou

ainda a imunomodulação induzida pelo T. canis (Rayes et al., 2000b).

As complicações da PMT, apesar de raras, podem ocorrer com maior freqüência

nos estágios II e III, evidenciando que a não definição do diagnóstico na fase

precoce da doença, ou seja, no estágio inicial ou de invasão, retardam o tratamento

antimicrobiano e é possível que interfiram diretamente na evolução do paciente

(Chiedozi, 1979; Shwulerg et al., 1994; Vieira et al., 1996).

O prognóstico da PMT é excelente, com exceção dos casos diagnosticados no

estágio tardio com choque séptico e falência de múltiplos órgãos, sendo a

mortalidade baixa, relatada na literatura entre 0,5% a 10%, e em Manaus 0,7%

(Taylor et al., 1976; Chiedozi, 1979; Shwulerg et al., 1994; Vieira et al., 1996;

Damian, 2001a).

A freqüência desta patologia em nosso meio, e a escassez de dados regionais

sobre a descrita associação da toxocaríase com o desenvolvimento de abscessos

musculares piogênicos, justificaram a realização deste estudo.

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2 OBJETIVOS

2.1 Geral:

Descrever os aspectos nosológicos, laboratoriais e a imunidade mediada por

células T na PMT e sua associação com Toxocara spp, em pacientes internados em

unidades terciárias da rede pública em Manaus-Amazonas.

2.2 Especificos:

1. Avaliar os aspectos epidemiológicos, clínicos e laboratoriais dos pacientes

com PMT.

2. Estimar a freqüência de Ac anti Toxocara spp, trauma, e abscessos cutâneos

em pacientes com PMT.

3. Comparar o perfil de citocinas Th1 e Th2 na PMT com a associação PMT -

Toxocara spp.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Modelo de Estudo: Foi realizado um estudo do tipo seccional observacional e analítico em pacientes

com diagnóstico de PMT internado em unidades terciárias de Manaus, por um

período de 36 meses.

3.2 Universo de Estudo:

Segundo os dados do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), realizado em 2000, o Estado do Amazonas possuia 2.840.889

habitantes, distribuídos nos 62 municípios, com população estimada em 2009 de

3.393.369hab. E, Manaus, a capital do Estado, alcançou uma população estimada

em 2009 de 1.738.641hab, dispersos em seis zonas de abrangência, com seus

respectivos 56 bairros.

Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas (SUSAM) o

total de serviços de saúde em 2005 chegava a 464 estabelecimentos, dentre os

quais 324 eram públicos, e destes apenas 23 tinham serviço de internação

hospitalar, totalizando 2.905 leitos disponíveis ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Este trabalho foi realizado nas dependências da Fundação de Medicina Tropical

do Amazonas (FMTAM), no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), no

Hospital e Pronto Socorro João Lúcio Pereira Machado (HPSJL) e anexo Hospital

“Joãozinho”, e no Hospital e Pronto Socorro Municipal 28 de agosto (HPSM 28 de

agosto), onde foi feita a busca ativa de pacientes com diagnóstico de PMT (Figura

1).

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Fonte: http://www.prefeiturademanaus.com.org/

Figura 1. Mapa da cidade de Manaus dividido em zonas com a localização das unidades hospitalares envolvidas na pesquisa.

3.3 Seleção da Amostra:

3.3.1 Definições adotadas:

Definição de caso: Foram considerados casos de PMT pacientes com processo

inflamatório-infeccioso em um ou mais grupos musculares, sem evidência de “porta

de entrada” contígua, confirmados através de exame de imagem ultrassonográfico,

tomográfico, ressonância, ou por procedimento cirúrgico invasivo.

3.3.2 Captação dos casos:

Foram disponibilizados nas unidades terciárias públicas da cidade folhetos em

forma de cartazes solicitando encaminhamento à FMT-AM, dos pacientes com

suspeita diagnóstica de PMT. Também foi realizada visita diariamente às unidades

hospitalares envolvidas na pesquisa, visando à busca ativa de casos internados.

▪Zona Norte; ▪Zona Oeste; ▪Zona Centro-Oeste(FMTAM); ▪Centro-Sul (HPSM 28 de Agosto e HUGV); ▪ Zona Sul ▪ Zona Leste(HPSJL e HPSI Joãozinho).

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Para tanto, o estudo contou com treinamento e acompanhamento de duas

bolsistas do curso de graduação de medicina, selecionadas no Programa de Apoio à

Iniciação Científica da FMT-AM (PAIC), que auxiliaram na composição de escala de

busca ativa nos hospitais.

3.3.3 Cálculo da amostra:

A amostra (n) foi dependente do tempo de inclusão de pacientes durante os 36

meses de investigação, portanto de conveniência.

3.3.4 Critérios de Inclusão:

• Idade maior que um ano;

• Diagnóstico clínico de PMT confirmados ao exame de imagem ou por

procedimento invasivo;

• Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

3.3.5 Critérios Exclusão:

• Diagnóstico clínico de PMT com exame de imagem demonstrando

envolvimento de pele ou apenas de partes moles (Tecido celular

subcutâneo), caracterizando abscessos cutâneos, erisipela e celulite;

• Miosite secundária a trauma penetrante ou com lesão de contigüidade;

• Presença de abscesso cutâneo com lesão de contigüidade à miosite;

• Miosite secundária à administração intramuscular de droga.

3.4 Delineamento da pesquisa:

Visando a decisão sobre a necessidade de internação e a conduta terapêutica,

seguiu-se a classificação de Gibson et al (1984) que se baseia na fase do

diagnóstico, gravidade e acometimento muscular.

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A busca ativa de casos internados foi realizada diariamente nas unidades

hospitalares envolvidas na pesquisa, sendo os pacientes incluídos convidados a

participar da mesma com assinatura do TCLE, seguindo-se o fluxograma abaixo

(Quadro 1):

Quadro 1. Fluxograma do estudo.

Para cada paciente incluído na pesquisa foi preenchida uma ficha clínica (Anexo

6) contendo informações que foram objeto de investigação para análise estatística e

para epidemiologia descritiva, tais como: Tempo de internação hospitalar; idade;

gênero; uso prévio de antimicrobiano; relação com hospitalizações anteriores,

contato com trabalhadores da área de saúde; uso prévio ou atual de corticosteróide,

imunossupressores; história patológica pregressa e familiar relacionada a patologias

População de estudo: Pacientes com

Piomiosite tropical

ELISA Toxocara spp Abscesso cutâneo Trauma

Positivo Sim Sim Negativo Não Não

Dosagem de citocinas

Th1 Th2

Avaliação hematológica, bioquímica, exames de

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tais com o diabetes; co-morbidades como as doenças auto-imunes, neoplásicas,

hematológicas; estado nutricional; tempo de evolução da doença atual e

estadiamento clínico; complicações; condição de alta e recidiva da doença.

3.5 Coleta e Análise de Dados:

Foram coletados 17 mL de sangue para pacientes adultos, e 15 mL de sangue

para crianças, em seringa descartável através de venopunção, preferivelmente de

acesso venoso de membro superior, que foi aliquotado para realização de exames

laboratoriais: 5 mL para provas hematológicas e bioquímicas; 5 a 3mL para

realização de hemocultura; 3mL de sangue foi centrifugado para separação do soro

e congelado em freezer a - 70°, acondicionado no laboratório de bacteriologia,

visando posterior realização de sorologia para Toxocara e teste rápido para o vírus

da imunodeficiência humana (VIH); 3mL para dosagem de citocinas.

Na inclusão de pacientes, as provas laboratoriais foram avaliadas no dia zero ou

em até 72h de terapêutica, num segundo momento foram avaliados apenas os

exames que antecederam pelos menos 24h da alta.

3.5.1 As provas laboratoriais avaliadas foram:

A. Hemograma completo:

As dosagens sangüíneas da hemoglobina, análise da série branca e plaquetas

foram realizadas no Laboratório de Análises Clínicas da FMTAM (LAC/FMTAM),

através de sistema automatizado com aparelho COULTER modelo STKS WITH

RETICULOCYTE ANALYSIS, obedecendo-se aos valores de referência do

fabricante para normalidade. Considerou-se, tanto para adultos, como para crianças,

os valores abaixo definidores de:

A.1. Anemia: hemoglobina inferior a 10,0g/dL.

A.2. Leucocitose: contagem de leucócitos superior a 10.000/mm³.

A.3. Leucopenia: contagem de leucócitos inferior a 4.000/mm³.

A.4. Desvio para esquerda: presença de bastões acima de 5%, e/ou presença de

metamielócitos, mielócitos, eritroblastos.

A.5. Eosinofilia: contagem de eosinófilos acima de 6%.

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B. Bioquímica:

Para determinação de provas bioquímicas utilizou-se o aparelho da marca DADE-

BEHRING modelo DIMENSION, sendo as mesmas realizadas no LAC/FMTAM.

B.1. Enzimas musculares: foram dosadas a Creatinino Fosfoquinase Total (CPK-

Total) e a Aspartato Aminotransferase ou Transaminase Glutâmico Oxalacética

(TGO ou AST), considerando valores normais de até 140 para primeira, e de 5-

50UI/L para a segunda.

B.2. Enzimas hepáticas: Alanina Aminotransferase ou Transaminase Glutâmico

Pirúvica(ALT ou TGP) e TGO ou AST, com valores de 9-48UI/L e 5-50UI/L,

respectivamente, foram consideradas dentro da normalidade. Para dosagem de

bilirrubina total (BT) e frações, foram consideradas como valores de referência BT

variando de 0,2 a 1mg/dL, bilirrubina direta (BD) 0,0 a 0,2mg/dL e bilirrubina indireta

(BI) de 0,4 a 0,8mg/dL.

B.3. Albumina: para determinação da proteína plasmática albumina (ALB), foram

normais valores entre 3,5-5,3g/dL.

B.4. Bioquímica Renal: Na análise da função renal, determinou-se como normais

valores compreendidos entre 15-40mg/dL para uréia, e 0,7-1,5mg/dL para creatinina.

B.5. Glicemia: Para dosagem dos níveis glicêmicos em jejum valores de 60 a

110mg/dL, foram considerados normais.

Com relação aos exames bacteriológicos tais como: Hemocultura, cultura de

secreção de lojas ou abscessos, cultura de líquidos orgânicos, como por exemplo:

pleural, pericárdico, ascítico, sinovial, liquor céfalo-raquidiano; as amostras foram

processadas no laboratório de Bacteriologia da FMTAM, conforme rotina existente

que compreende:

C. Culturas de secreções drenadas de abscessos/lojas/líquidos

orgânicos/hemocultura:

As amostras clínicas foram submetidas inicialmente a bacterioscopia pelo método

de Gram e semeadas em meios de cultura sólidos ágar sangue (Blood Ágar -BA) ou

em ágar chocolate, para obtenção de colônias, que posteriormente foram

subcultivadas em novos meios para testes de identificação e reações bioquímicas.

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As hemoculturas foram semeadas em meios líquidos e realizadas através do

método de automação em aparelho BACTEC. Sofreram análise aquelas em que

houve isolamento nos meios de cultura do S. aureus, com enfoque no teste de

sensibilidade.

Para tanto utilizou-se o teste quantitativo com fitas E-test (AB Biodisk, Solna,

Suécia®), método com gradiente de concentração de quimioterápico pré definido,

onde foi avaliado o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos habitualmente usados

para tratamento da doença estafilocóccica, que compreendeu: Oxacilina,

Clindamicina, Ciprofloxacina, Vancomicina, Imipenem/Meropenem (Anexo 7.1). Os

resultados fornecidos foram interpretados conforme o CLSI (Clinical and Laboratory

Standards Institute) e definidos em categorias como especifica o quadro 3:

Quadro 2. Perfil de sensibilidade do S. aureus pelo método de microdiluição (MIC-Minimum Inibitory Concentration).

Staphylococcus aureus

Ponto de Corte (MIC µg/mL)

Antimicrobiano Sensível Intermediário Resistente

Oxacilina 1µg ≤ 2 _ ≥ 4

Glicopeptídeos

Vancomicina

Teicoplamina

≤ 4

≤ 8

8 a 15

11 a 13

≥ 16

≥ 32 Fonte: CLSI, 2006.

Sensível: Implica que as infecções devido ao agente isolado podem ser

apropriadamente tratadas com a dose recomendada do antimicrobiano testado.

Intermediário: Implica que as infecções devido ao agente isolado podem ser

apropriadamente tratadas em sítios corpóreos onde a droga tenha concentração

fisiológica, ou quando uma alta dose terapêutica pode ser usada.

Resistente: Implica que as infecções devido ao agente isolado não podem ser

tratadas com o antibiótico testado, uma vez que o microorganismo resistente não

será inibido pela concentração da droga normalmente utilizada.

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D. Exames de Imagem: Para confirmação do comprometimento de feixes

musculares ou ainda, para melhor localização de abscessos para drenagem, foram

realizados exames de imagem tais como a ultrassonografia e caso fosse necessário,

a tomografia computadorizada ou, ainda, ressonância magnética do segmento

corporal comprometido.

E. Co-morbidade: A investigação de co-morbidade foi realizada com pesquisa de Ac

anti-HIV através do teste rápido em papel de filtro contendo Ag solúveis do HIV

(CORETM HIV 1 & 2). Utilizou-se soro dos pacientes, conforme orientação do

fabricante (Anexo 7.2). Dados e orientações do Programa Nacional de DST/AIDS e

da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) vinculada ao Ministério da

Saúde (MS), que fiscalizam este teste, afirmam que a sensibilidade e especificidade

são em torno de 99% (Anexo 7.3).

A realização do teste rápido-HIV seguiu a seguinte rotina:

• Os pacientes receberam aconselhamento, informando-se a importância da

realização do mesmo, solicitando-se consentimento através de assinatura na

requisição do exame;

• Os resultados negativos ou não reagentes foram considerados

verdadeiramente negativos;

• Os resultados positivos ou reagentes foram seguidos de testes confirmatórios

através da realização de um segundo teste rápido, conforme recomenda a

portaria do MS.

F. Sorologia para toxocaríase: Foi realizada pesquisa de Ac anti-Toxocara spp

através da técnica ELISA, utilizando-se Kit comercial RIDASCREEN®, que detecta a

presença de IgG, sendo seguida as recomendações dos fabricantes no que

concerne a metodologia e interpretação dos resultados (Anexo 7.4). Com o objetivo

de avaliar o desempenho do teste foi desenvolvido um estudo piloto em indivíduos

da comunidade sem evidência clínica de infecção estafilocóccica ou PMT.

G. Estudo da resposta imune Th1 e Th2: Fizeram parte do protocolo para estudo da

imunidade a dosagem das interleucinas IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, IL10, IL-12 e das

citocinas TNF-α, INF-γ, assim como, a citometria de fluxo.

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Para as dosagens das citocinas humanas foi utilizado o Ensaio Imunoenzimático

(ELISA) usando-se Kits Opteia Tm Set Human (BD), de acordo com as

especificações do fabricante (Anexo 7.5). Foram analisadas as citocinas IL-4 (Lote

Número 61570), IL-6 (Lote Número 55702), IL-8 (Lote Número 555244), IL-10 (Lote

Número 555157), IL-12 (Lote Número: 61371) TNF-α (Lote Número 56627), IFN-γ

(Lote Número 57328). A técnica foi desenvolvida na Fundação HEMOAM.

Inicialmente, a microplaca de 96 poços foi sensibilizada com 100 µL por poço

com Ac de Captura (Ac primário AC-1°) diluído em tampão de ligação (Carbonato de

Sódio 0,1 MH). A placa foi envolvida em papel laminado e incubada durante a noite,

a 4°C. Após esse período, os poços foram aspirados e lavados três vezes com 300

µL de tampão de lavagem (SSTF+0,05% de Tween-20). Concluída a última lavagem,

as placas foram aspiradas e invertidas em papel absorvente para remover qualquer

tampão residual. Para o bloqueio, adicionou-se 200µL de diluente de ensaio

(SSTF+10% de Soro Bovino Fetal - SBF) em cada poço, envolvido em papel

laminado e incubado à temperatura ambiente, por uma hora.

Durante essa incubação foram preparadas diluições seriadas de cada citocina,

cujas concentrações seguiram as especificações do fabricante. As diluições foram

realizadas em microtubos, utilizando-se um volume inicial de 600µL no primeiro tubo

e, em outros sete tubos, foram adicionados 300uL da solução diluente. Após,

acrescido o volume exigido de citocina no primeiro tubo, foram transferidos 300µL

para o próximo tubo, agitando entre cada transferência, até obtermos uma curva de

diluição seriada.

Após o término do período de incubação, as placas foram aspiradas e lavadas

novamente por três vezes, com 300 µL de tampão de lavagem e, em seguida,

invertidas em papel absorvente para remover qualquer tampão residual. Foram

adicionados 100 µL da curva padrão, amostra e controle (PBS + 10% SBF) dentro

dos poços apropriados, envolvidas em papel alumínio e incubados a temperatura

ambiente, por duas horas. Após as duas horas, as placas foram aspiradas e lavadas

em cinco ciclos de lavagens no total. Logo em seguida, foram adicionados 100 µL do

anticorpo de detecção associado à enzima (Anticorpo secundário + reagente Sav-

HRP) para cada poço.

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Novamente, a placa foi envolvida em papel alumínio e incubada à temperatura

ambiente, por uma hora. As placas foram aspiradas e lavadas em sete ciclos no

total, mantendo repouso por 30s em cada ciclo. Foram adicionados 100 µL de

solução de substrato TMB em cada poço, a placa foi envolvida em papel laminado e

incubada à temperatura ambiente por 30 min. Para o bloqueio da reação foram

acrescidos 50µL de H2SO4 (2N) em cada poço e realizada a leitura da absorbância a

450 nm, em aparelho da marca ASYS (Microplate reader v.1.14). Os valores de

citocinas foram medidos em pg/mL.

3.5.2 Análise estatística:

A análise estatística foi realizada no programa SPSS versão 9.0, sendo efetuada

análise univariada e posteriormente multivariada para minimizar o efeito de vieses

ou “bias”.

Na análise multivariada, as variáveis clínicas de gravidade, ou seja, consideradas

fatores de risco ou variável independente (VI) foram: idade, faixa etária, gênero,

manipulação da porta de entrada, estágio clínico, número de grupos musculares

comprometidos e presença de patologia de base (co-morbidade). Esses fatores de

risco foram testados para o desfecho ou variável dependente (VD): óbito,

disseminação, complicação.

Foram utilizados os testes: Exato de Fischer e qui-quadrado com correção de

Yates para as variáveis numéricas; o teste t-Student para variáveis paramétricas

contínuas; coeficiente de correlação de Pearson e teste de Mantel-Hannszel (Odds

ration) para medir a associação existente entre as variáveis estudadas.

A estimativa de risco foi realizada para as variáveis independentes que

mostraram diferença estatisticamente significativa, através do teste de Cochran’s e

Mantel-Haenszel (Odds Ratio [OR]). Considerou-se estatisticamente significativo o

valor de p < 0,05 com o intervalo de confiança de 95% (Fletcher et al, 1996).

Para variáveis ordinais distribuídas como clínicas (porta de entrada, febre,

flogose, flutuação, grupo muscular, estadiamento, complicação, disseminação),

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laboratoriais (leucocitose, leucopenia, anemia, hipoalbuminemia, resultado do exame

parasitológico de fezes, resultado das culturas), co-morbidades, foram calculadas

suas freqüências e porcentagens.

Os resultados foram tabulados e armazenados em banco de dados, para permitir

análise e apresentados em forma de tabelas e gráficos.

3.6 Procedimentos Éticos:

Este trabalho foi desenvolvido após apreciação das diretorias das unidades

envolvidas na pesquisa, a saber: FMTAM, HUGV, HPSJL, Hospital e Pronto Socorro

Infantil da Zona Leste e HPSM 28 de Agosto. Assim como, foi submetido à análise

do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da FMTAM (Anexo

7.7), obedecendo às prerrogativas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de

Saúde (Número do protocolo do projeto no CEP/FMTAM: 110548). Os pacientes

elegíveis para inclusão na pesquisa foram convidados a participar da mesma com

assinatura do TCLE (Anexo 7.8).

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4 RESULTADOS 4.1 Primeiro artigo científico:

Damian Márcia Melo, Martins Marilaine, Sardinha José Felipe, Souza Luciana

Orêncio de, Chaves Andreza, Tavares Antonio de Matos. Freqüência de anticorpo

anti-Toxocara canis em comunidade do Rio Uatumã, no Estado do Amazonas. Rev.

Soc. Bras. Med. Trop. 2007, 40(6): 661-664.

Frequencia de anticorpo anti-Toxocara canis em comunidade de Rio Uatumã, no Amazonas Frequency of the antibody anti-Toxocara canis in a community along the Uatumã river, State of Amazonas Márcia Melo DamianI,II; Marilaine MartinsI; José Felipe SardinhaI; Luciana Orêncio de SouzaI; Andreza ChavesI; Antonio de Matos TavaresI,III

IFundação de Medicina Tropical do Amazonas, Manaus, AM IICurso de Pós graduação em Medicina Tropical e Doenças Infecciosas da

Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, AM. IIIUniversidade Federal do Amazonas

RESUMO

Um estudo seccional foi realizado nas Vilas Waimiri e Atroari em Balbina, entre julho e outubro de 2006, com o objetivo de estimar a freqüência de anticorpo antiToxocara canis da classe IgG e avaliar as variáveis epidemiológicas e socioculturais. Foram estudadas 34 famílias e incluídos 100 indivíduos, o que correspondeu a 5% (100/2.000) da população das vilas. A idade variou de zero a 76 anos (M=22,9 Dp=18). Quanto ao gênero, 53% eram femininos e 47% masculino; 52% das amostras foram positivas para Toxocara canis, 44,5% negativas e 3,2% inconclusivas. Observou-se menor número de indivíduos com sorologia negativa na Vila Atroari 29,5% (13/44) em comparação com a Waimiri 46,4% (26/56). Com relação ao contato com cães, dos 55 indivíduos com contato domiciliar 60% (33/55) foram positivos para anticorpo antiToxocara canis. Apresentaram sorologia positiva 66,6% (10/15) dos indivíduos que tinham contato domiciliar com filhotes de cão (χ²22,149 p=0,008). A existência de contato domiciliar com cães e filhotes mostrou associação com a presença de anticorpo anti-Toxocara canis na população estudada. Palavras-chaves: Toxocara canis. Toxocaríase. Sorologia.

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ABSTRACT

A cross-sectional study was carried out in the Waimiri and Atroari settlements in Balbina, between July and October 2006, with the aims of estimating the frequency of the antibody anti-Toxocara canis of the IgG class and studying the epidemiological and sociocultural variables. Thirty-four families were studied and 100 individuals were included, corresponding to 5% (100/2000) of the population of the settlements. The age range was 0-76 years (mean = 22.9; standard deviation = 18). The gender distribution was 53% female and 47% male. The samples were 52% positive for Toxocara canis, 44.5% negative and 3.2% inconclusive. The number of individuals who tested serologically negative in Atroari (29.5%; 13/44) was lower than in Waimiri (46.4%; 26/56). In relation to contact with dogs, among the 55 individuals with contact in their homes, 60% (33/55) were positive for Ac anti-Toxocara canis and 40% (22/55) were negative (χ²= 14.317; p = 0.026). Among the individuals who had contact in their homes with puppies, 66.6% (10/15) were serologically positive (χ²= 22.149; p=0.008). The existence of home contact with dogs and puppies showed an association with the presence of Ac anti-Toxocara canis in the study population. Key-words: Toxocara canis. Toxocariasis. Serology. Endereço para correspondência: Dra. Márcia Melo Damian Fundação de Medicina Tropical do Amazonas Av. Pedro Teixeira 25, D. Pedro, 69040-000 Manaus, AM Tel: 55 92 2127-3489; Fax: 55 92 3238-2824 e-mail: [email protected] Recebido para publicação em: 19/04/2007 Aceito em: 11/10/2007 Apoio financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM) e Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM). INTRODUÇÃO

A toxocaríase é uma antropozoonose, que ocorre em diversas regiões do mundo,

causada por geohelminto que parasita cães e gatos, eventualmente afetando

humanos. ¹

Descrita por Beaver em 1952, a larva migrans visceral (LMV) humana, também

denominada toxocaríase, era uma doença considerada rara. No entanto, atualmente,

encontra-se em expansão e, na grande maioria dos casos, comporta-se como uma

doença benigna de curso limitado, embora exista casos graves e fatais. ²

Entre os nematelmintos pertencentes à família Ascaridea, o gênero Toxocara

apresenta-se como o mais prevalente, sendo as espécies Toxocara canis e

Toxocara catti respectivamente ascarídeos de cães e gatos, que são os hospedeiros

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definitivos. A infecção entre os cães é observada com maior freqüência em cadelas

prenhes e lactantes, assim como, em filhotes. Nestes, a contaminação ocorre por via

transplacentária e transmamária, sendo as maiores prevalências de carga

parasitária observadas em filhotes na idade de três a seis meses. Os filhotes de

cães infectados completam o ciclo em três a quatro semanas após o nascimento,

quando são capazes de eliminar ovos de Toxocara canis nas fezes para o meio

ambiente. 3, 5

Os hospedeiros paratênicos ou intermediários, particularmente o homem, se

infectam e entram no ciclo do parasita de forma acidental. Os ovos contendo L2, ao

chegarem ao intestino delgado do homem, liberam estas formas larvárias, que são

capazes de ativamente atravessarem a mucosa intestinal e, por via linfática,

atingirem a circulação porta e, por conseguinte, o fígado. Essas larvas saem do

fígado ganham à circulação sangüínea chegando aos pulmões. Atravessam os

capilares pulmonares e caem na circulação pulmonar, coração esquerdo,

disseminando-se para todo o organismo pela circulação sistêmica. Quando o

tamanho das larvas de Toxocara canis excede o diâmetro dos capilares sangüíneos,

ocorre uma migração ativa e errática através da parede celular e dos tecidos do

hospedeiro.A fase de migração larvária ocasiona uma reação inflamatória aguda,

com presença de eosinófilos, neutrófilos e, algumas vezes, monócitos. Também,

nesta fase há liberação de produtos metabolicamente ativos e antigênicos

denominados antígenos de secreção-excreção (antígenos TES), que são proteínas

glicosiladas e proteases. Foi demonstrado que esses Ag TES localizam-se na

epicutícula das larvas e são receptores importantes para anticorpos. 6, 7

O diagnóstico da infecção humana por Toxocara canis é feito por métodos

indiretos, com detecção de níveis elevados de anticorpo IgG antiToxocara canis no

sangue ou fluídos biológicos dos pacientes. Estes anticorpos podem ser detectados

por diversas técnicas, dentre as mais utilizadas estão os métodos ELISA (enzime

liked inmuno assay) e o EIA (enzime inmuno assay). Atualmente, no teste ELISA

tem sido usado antígeno TES da larva adsorvido do soro com antígeno de Ascaris

suum, que mostra sensibilidade de 80% e especificidade de 90%, sendo mais

indicado do que o teste que utiliza o antígeno total da larva, desde que possa haver

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reação cruzada com leishmaniose, esquistossomose, doença de Chagas, malária,

ascaridíase, dentre outras patologias tropicais. ²

Os objetivos deste estudo foram avaliar a freqüência de anticorpos antiToxocara

canis em indivíduos residentes nas Vilas Waimiri e Atroari em Balbina, município de

Presidente Figueiredo-Amazonas, e investigar quais as variáveis epidemiológicas e

socioculturais relevantes para ocorrência desta zoonose.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de

Medicina Tropical do Amazonas e aprovado de acordo com o Protocolo n°1166/06.

A área do estudo foram as vilas Waimiri e Atroari em Balbina, pertencente ao

município de Presidente Figueiredo, localizada na AM-240, Reserva Biológica do Rio

Uatumã/REBIO.

O modelo de estudo foi seccional. Fora incluído para amostra 100 indivíduos, o

que correspondeu a 5% (100/2000) da população, tendo em consideração que não

há estudos similares na região. Os critérios de inclusão foram indivíduos de qualquer

idade, sexo ou raça, residente nas vilas de Balbina há mais de seis meses e que

assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Os critérios de exclusão

foram indivíduos não residentes nas Vilas de Balbina ou residentes há menos de

seis meses.

Foram sorteadas aleatoriamente as casas nas Vilas Atroari e Waimiri. Essa

distribuição foi necessária tendo em vista que moradores da Vila Atroari residem em

casas de madeira e têm condições socioeconômicas menos favorecidas, enquanto

os residentes na Vila Waimiri têm melhores habitações, constituídas por casas de

alvenaria, e condições socioeconômicas mais privilegiadas. Com relação à rede de

esgoto, fossa séptica, coleta e destino do lixo e água para consumo, existem

semelhança entre as casas de ambas as vilas.

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Após sorteio, foi aplicado um questionário individual contemplando dados de

identificação, epidemiológicos e socioculturais e coletado cinco mililitros de sangue,

assim como entregue um frasco com formalina para coleta de fezes. As amostras de

soro humano coletadas em campo foram armazenadas congeladas após

centrifugação e, posteriormente, transportadas para a Fundação de Medicina

Tropical do Amazonas, em Manaus, para execução dos testes.

Para a realização da sorologia, utilizou-se o KIT comercial RIDESCREEN ®

Toxocara IgG, N° do artigo K7421, R-Biopharm AG, Landwehrstr. 54, D-64293

Darmstadt, Alemanha, cuja finalidade é a detecção de anticorpo anti-Toxocara canis

da classe IgG através da técnica de ensaio imuno enzimático (EIA).

O resultado foi interpretado com índice das amostras (DO) negativo <0,9;

duvidoso 0,9 – 1,1; e positivo > 1,1. Os soros controle positivo e negativo contidos

no KIT foram testados para o vírus da imunodeficiência humana (HIV), vírus da

hepatite C (HCV) e antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg), que foram

negativos. Para o controle de qualidade, foi realizado controle positivo e negativo em

duplicata.

As amostras de fezes foram examinadas no laboratório da Gerência de

Parasitologia da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, pelos métodos de

Lutz e Willis.

A análise foi realizada com o pacote estatístico SPSS versão 10.0 e EPINFO

versão 2000, com nível de significância de 0,05 (valor de p) e intervalo de confiança

de 95% (IC). Os testes exato de Fischer e qui-quadrado (χ²) foram utilizados para as

variáveis qualitativas. Para mensurar a associação entre as variáveis

socioeconômicas e culturais e a soropositividade para Toxocara canis, utilizou-se o

coeficiente de correlação de Pearson.

RESULTADOS

Foram avaliadas 34 famílias e entrevistados 100 indivíduos residentes nas Vilas

de Balbina, distribuídos em 56% na Vila Waimiri e 44% na Atroari. Quanto ao

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gênero, 53% era feminino e 47% masculino. A idade variou de um a 76 anos, com

média de 22,9 (Dp 18,3). Duas crianças tinham menos de um ano. A faixa etária

mais prevalente foi 6-10 anos e 45% dos indivíduos incluídos na pesquisa tinham

menos de 15 anos de idade (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição dos indivíduos segundo à faixa etária, nas vilas Waimiri e Atroari em Balbina, de julho a outubro de 2006.

Sorologia para Toxocara canis

Faixa etária (anos)

indeterminada negativa positiva não

realizada

Total Valor

de P

0-5 8 4 5 17 0,09

6-10 1 6 6 4 17 0,67

11-15 4 8 12 0,41

16-20 2 6 8 0,22

21-25 2 7 9 0,14

26-30 4 3 7 0,37

31-35 1 4 1 6 0,11

36-40 2 3 5 0,598

41-45 2 1 3 0,414

46-50 1 2 3 0,601

51-55 1 1 2 4 0,601

56-60 1 4 5 0,259

>60 2 2 0,307

Total 3 39 49 100

O tempo de moradia na região dos indivíduos incluídos na pesquisa variou de um

a 38 anos, com média de 9,2 anos, sendo que 11% tinham menos de um ano de

residência e 87% residiam a mais de um ano.

A positividade da sorologia para Toxocara canis foi semelhante em ambas as

vilas, com predominância na Vila Atroari, no entanto, sem diferença estatisticamente

significativa (Tabela 2).

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Tabela 2. Frequencia de Ac anti-Toxocara canis nas vilas Waimiri e Atroari em Balbina, de julho a outubro de 2006. Sorologia para Toxocara canis

Vilas Positiva Negativa Indeterminada N R Total

N (%) N (%) N (%) N (%) N (%)

Waimiri 24 (42,8) 26 (46,4) 2 (3,5) 4 (7,1) 56 (100)

Atroari 25 (56,8) 13 (29,5) 1 (2,2) 5 (11,3) 44 (100)

A média de idade dos indivíduos com sorologia positiva foi semelhante à

daqueles com sorologia negativa, sendo observada maiores porcentagens de

positividade na faixa etária de 11 a 15 anos com 16,3% e de 21 a 25 com 14,3 %

(Figura 1).

Figura 1. Média de idade dos indivíduos com relação à pesquisa de anticorpo anti-Toxocara canis, nas vilas Wamiri e Atroari em Balbina, dejulho a Outubro de 2006.

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Na Tabela 3, estão distribuídas as características demográficas e

epidemiológicas de ambas as vilas.

Tabela 3. Aspectos demográficos e sócios culturais das vilas Waimiri e Atroari em Balbina, de julho a outubro de 2006. Variáveis epidemiológicas Vila Waimiri Vila Atroari

Sexo ♂ / ♀ 30/26 17/27

Média de idade 23,5 22,2

Crianças (≤15 anos) 26 20

Anda descalço (simXnão) 30 X 12 33 X 10

Tempo de moradia <1 ano 6 5

Contato com cães 35 30

Contato com cães no domicílio 25 33

Contato com filhotes de cães no domicílio 1 14

Média do número de pessoas que coabitam 6,09 8,57

Do total de 100 indivíduos, apenas 40 realizaram exame parasitológico de fezes

(EPF). Destes, 77,5% (31/40) apresentaram pelo menos um parasito em uma das

técnicas realizadas, sendo 22,5% (9/40) das amostras examinadas negativas. Não

foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre positividade da sorologia

para Toxocara canis e EPF positivo (χ² 7,800, p=0,277). Os parasitos intestinais

encontrados com maior freqüência foram: Entamoeba histolytica/dispar (44),

Blastocistis hominis (21), Giardia lamblia (8) e Ascaris lumbricoides (7).

A Tabela 4 demonstra as variáveis epidemiológicas estudadas, na qual se pode

observar diferença estatísticamente significativa apenas com relação ao contato

domiciliar com cães e filhotes.

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Tabela 4. Avaliação das variáveis epidemiológicas com relação à presença de anticorpos anti-Toxocara canis nas Vilas Wamiri e Atroari em Balbina, de julho a outubro de 2006. Variáveis epidemiológicas X2 Valor de p

Idade < 15 anos 0,79 0,37

Andar descalço 0,11 0,73

Antiparasitário <3 meses 0,26 0,60

Mãe com trabalho extra domiciliar 1,32 0,25

Grau de escolaridade da mãe 3,12 0,27

Contato com águas naturais 2,80 0,09

Contato com cães no domicílio 14,31 0,02*

Contato com gatos 0,43 0,51

Contato com filhotes de cães no domicílio 22,14 0,008*

Contato com terra 0,02 0,87 *intervalo de confiança 95%, valor de p < 0,05, diferença estatística significativa

DISCUSSÃO

A prevalência de indivíduos saudáveis de todas as idades positivos para

anticorpos anti-Toxocara canis através do método ELISA com antígeno solúvel de

larvas, em cinco municípios de São Paulo em 1990, mostrou porcentagens de 2,2%

a 5,7%. Enquanto outro estudo envolvendo crianças, realizado por Moreira-Silva e

cols, em 1998 em Vitória/ES, demonstrou maiores positividades chegando a 39%,

que pode ser comparado ao das Vilas Waimiri e Atroari (52%). Isso provavelmente

se deve à grande população de cães com alta prevalência de infecção por Toxocara

canis, à íntima relação com o homem, particularmente das crianças com estes

animais de estimação, aos hábitos de defecação destes animais em ruas e praças

públicas que conseqüentemente levam à contaminação do meio ambiente,

particularmente do solo. Na literatura, não há relatos sobre a soroprevalência da

toxocaríase no Amazonas e a contaminação do solo por ovos de Toxocara canis

mostrou-se menor em Manaus, quando comparada com as prevalências

encontradas nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. 7 8 9

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Apesar de os indivíduos residentes nas vilas terem tipo de habitação e nível

socioeconômico diferenciados, não foi observada diferença estatística significativa

(c22,740 p=0,098) com relação à positividade da sorologia para Toxocara canis. No

entanto, observou-se maior número de indivíduos com sorologia negativa na vila

Waimiri. É provável que esse achado possa ser justificado pelo menor contato com

ambiente contaminado, em especial com o solo que representa a fonte de

contaminação relevante para toxocaríase, pois o hábito de andar descalço e o

contato com cães e seus filhotes foram relatados com menor freqüência pelos

indivíduos que residem nesta vila, assim como o número de pessoas que coabitam

no domicílio.

De acordo com a literatura, a infecção no homem é mais freqüente entre as

crianças do sexo masculino, na faixa etária de 2-5 anos de idade, com média de 4,6

a 3,6 anos, ocorrendo outro pico de incidência entre 35-40 anos. 7

Neste trabalho, a faixa etária onde houve maior freqüência de anticorpos

antiToxocara canis foi 11 a 15 anos, com segundo pico de 21 a 25 anos. Porém, há

necessidade de maior número de indivíduos para se ter uma conclusão mais

consistente. Não se observou diferença com relação ao gênero.

Apesar de a sorologia positiva para Toxocara canis ter sido mais freqüente nos

indivíduos que tinham algum parasito intestinal, não se pode inferir a possibilidade

de reação cruzada, pois 60% dos indivíduos não coletaram fezes e o Ascaris, que é

responsável pelo maior número de reação cruzada, foi encontrado apenas em sete

amostras. Outras reações cruzadas podem ocorrer com leishmaniose,

esquistossomose, doença de Chagas, malária, dentre outras patologias tropicais, no

entanto nenhuma destas foi encontrada. 3

Mostrou-se importante a presença domiciliar do cão e seus filhotes, não sendo

evidenciada relação com trabalho extradomiciliar da mãe assim como o grau de

escolaridade, o que também já foi demonstrado por outros autores. 4, 8

Dessa forma, o conhecimento da ocorrência da toxocaríase com ênfase aos

aspectos socioculturais e comportamental que caracterizam o hábito de vida tanto

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individual como coletivo, sugeridos pela literatura como fatores de risco para

aquisição da doença, são relevantes para compreensão deste grave problema de

saúde pública pouco investigado na região amazônica.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Administrador e Representante dos moradores das Vilas de

Balbina, aos funcionários e administradores do Hospital de Balbina, aos Laboratórios

de Parasitologia e NB-3 da FMT-AM, pelo apoio técnico, com ajuda na coleta e

execução dos exames, em particular ao bioquímico João Bosco Lima Gimaque e ao

técnico Ademir Roberto Lopes Soares.

REFERÊNCIAS

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de Patologia Tropical 29:147-159, 2000.

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Paulo State, Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 32:204-

210, 1990.

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Antigens in Hemagglutination and Soluble Antigens Fluorescent Antibody tests.

Translation Real Society Tropical Medicine Hygiene 71:501-507, 1977.

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MC. Estudo clínico-epidemiológico da toxocaríase em população infantil. Jornal de

Pediatria 81:126-132, 2005.

5. Glickman LT. The Epidemiology of Human Toxocariasis. Toxocara and

Toxocariasis – Clinical, Epidemiological and Molecular perspectives. British

Parasitological Society and Institute of Biology, p.3-10, 1993.

6. Lambertucci JR. Hipergamaglobulinemia E, Doenças Parasitárias e Infecção

Estafilocóccica. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 29:107-210,

1996.

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7. Magnaval JF, Michault A, Calon N, Charlet JP. Epidemiology of Human

Toxocariasis in La Réunion. Translation Real Society Tropical Medicine Hygiene

88:531-533, 1994.

8. Martins M, Soares AR, Moura MA, Chaves AC, Silva RS, Barros JA.

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Anais do XXXIX Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical; Belém,

PA, p.194-195, 2003.

9. Moreira S, Pereira F. Abscesso Piogênico do Fígado e Toxocaríase: Estudo de 13

Casos e 110 Controles do mesmo Hospital. Revista da Sociedade Brasileira de

Medicina Tropical 32 (supl I):62-63, 1999.

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4.2 Segundo artigo científico:

Clinical-laboratorial characteristics, Toxocara canis serology and other predispose factors of a pediatric population with tropical pyomyositis from Manaus, Amazonas-Brazil. Caracteristicas clinico-laboratoriais, sorologia para Toxocara canis e outros fatores predisponentes de uma população pediátrica com piomiosite tropical em Manaus, Amazonas-Brasil.

Márcia Melo Damian*†, Adriana Malheiro‡, Rossicleia Lins Montes*, Andrea

Monteiro‡, Renata Arruda*, Patrícia Mizogushi* and Antonio de Matos Tavares*†.

* Fundação de Medicina Tropical do Amazonas † Curso de Pós-graduação em Medicina Tropical e Doenças Infecciosas da Universidade do Estado do Amazonas ‡ Fundação Hemocentro do Amazonas Universidade Federal do Amazonas

RESUMO Foi conduzido um estudo seccional envolvendo 118 crianças internadas em hospitais públicos de Manaus, com diagnostico de piomiosite tropical, para avaliar a associação entre variáveis clinico-laboratorial e outros fatores predisponentes com a presença de anticorpo anti Toxocara canis (T. canis). A piomiosite tropical predominou no gênero masculino (69,5%). Os sinais e sintomas mais freqüentes foram enduração (95,8%) e febre (90,7%). O comprometimento muscular foi único em 66,1% dos casos, sendo encontrado envolvimento de múltiplos grupos musculares em 33,9%. Foi observado trauma fechado (39,8%), baixo peso (62,2%), linfoma (0,8%) e uso de corticosteróide (0,8%). A sorologia para T. canis foi positiva em 52,6% dos pacientes. A anemia foi complicação freqüente no estagio tardio da doença (χ² = 6.23, p = 0.044). O Staphylococcus aureus (S. aureus) foi isolado em 83,3% das culturas de abscessos e 90% das hemoculturas. Em quatro pacientes classificados com escore de gravidade moderada e severo, três tinham sorologia positiva para T. canis, em comparação com 14 com escore leve, dos quais sete tinham sorologia positiva. Este estudo alerta para importância da piomiosite tropical e infecção por T. canis na população pediátrica, ambas as patologias infecciosas curáveis, no entanto, de alta incidência em regiões tropicais. Palavras-chave: Piomiosite; População pediátrica; Staphylococcus aureus; Estafilococcia; Miosite.

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ABSTRACT This is a cross-sectional study conducted of 118 children hospitalized in public hospitals of Manaus with diagnoses of the tropical pyomyositis to evaluate association between clinical-laboratorial variables and other predispose factories with presence of Toxocara canis (T. canis) positive serology . The tropical pyomyositis was predominantly male (69.5%). Indurations (95.8%) and fever (90.7%) were the most often findings. A single muscle was affected in 66.1% of the cases, while 33.9% presented multiple muscle groups involvement. Closed trauma (39.8%), low body weight (62.2%), lymphoma (0,8%) and corticotherapy (0,8%) was observed. The serology for T. canis was positive in 52.6% of the cases. Anemia was a complication in the late stage of disease (χ² = 6.23, p = 0.044). Staphylococcus aureus (S. aureus) was the main isolated bacteria in abscess cultures (83.3%) and hemocultures (90%). Three out of four cases were classified as moderate or severe stage, were positive for T. canis serology, on the other hand seven serology positive cases out of 14 mild cases. This study alerts for the importance of pediatric tropical pyomyositis and T. canis infection, both curable diseases. However, both infectious diseases are high incidence in tropical areas. Key words: Pyomyositis; Pediatric population; Staphylococcus aureus; Pyogenic infection; Staphylococci; Myositis. Endereço para correspondência: Márcia Melo Damian, Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Av. Pedro Teixeira nº25, D. Pedro, CEP 69.040-000.e-mail: [email protected] Recebido para publicação em: 09/02/2008. Aceito em: 19/03/2009 Apoio financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM) INTRODUÇÃO Conceituada como uma infecção piogênica que acomete a musculatura

esquelética, por expansão de foco séptico não contíguo, ou ainda em decorrência a

traumas não penetrantes, a piomiosite é muito rara em regiões temperadas e frias,

mas relativamente freqüente em certas regiões tropicais quente e úmidas. 1

Apesar de ser comum nas regiões tropicais, vem aumentando a sua descrição

em regiões temperadas e em países desenvolvidos, sendo então denominada de

piomiosite não-tropical, e neste caso na maior parte relacionada a algum fator de

imunodepressão. 1, 2, 3, 4, 5

A doença pode ocorrer em qualquer faixa etária, sendo mais comum em adultos

jovens do sexo masculino. 4, 5, 6

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Para a maioria dos autores o trauma fechado sobre a musculatura corresponde à

lesão inicial para desenvolvimento da piomiosite. A teoria do trauma é bem aceita

quando se trata de abscessos envolvendo um único grupo muscular, porém quando

a miosite é difusa e engloba múltiplos grupos musculares esqueléticos, essa teoria é

mais difícil de ser explicada como causa exclusiva. 6, 7, 8, 9, 10

É nesta linha de pensamento que a toxocaríase humana vem sendo aventada na

patogênese da piomiosite tropical. A migração de larvas de T. canis para

musculatura esquelética ocasionaria alterações estruturais e imunológicas, que na

presença concomitante de bacteremia, favoreceria a aderência bacteriana e o

desenvolvimento da piomiosite. 11,12

O quadro clínico, assim como a gravidade depende do estágio da doença no

qual o paciente se apresenta. O tratamento da piomiosite é feito com o uso de

antimicrobianos beta-lactâmicos, tendo em vista que o principal germe isolado é o S.

aureus. Os procedimentos invasivos, tais como: drenagem de abscessos,

debridamentos de tecidos com mionecrose, dependem do quadro evolutivo do

paciente, e devem sempre ser buscados quando houver manutenção da febre (3, 6,

7, 9). As complicações da piomiosite tropical são raras e ocorrem com maior

freqüência nos estágios supurativo e tardio. O prognóstico é excelente e a

mortalidade é baixa. 1, 2, 5, 6, 8, 9

O presente trabalho teve como objetivo avaliar o quadro clinico-laboratorial e a

mortalidade, nos diferentes estágios evolutivos da piomiosite tropical, em crianças

internadas em hospitais da rede pública de Manaus, Amazonas, no período de

Janeiro de 1997 a Julho de 2008.

PACIENTES E MÉTODOS Desenho do Estudo: O estudo foi do tipo seccional descritivo e analítico, dividido em duas fases: Fase

retrospectiva compreendeu revisão de prontuários médicos de crianças com

diagnóstico de piomiosite, internadas na Fundação de Medicina Tropical do

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Amazonas (FMTAM), no período de janeiro de 1997 a dezembro de 2006; e fase

prospectiva de 2007 a julho de 2008.

Critérios de Elegibilidade: Os critérios de elegibilidade foram: Crianças com idade ≥ 1 ano e ≤ 14 anos e

diagnóstico clinico de piomiosite confirmados ao exame ultrasonográfico ou em

intervenção cirúrgica. Os critérios de exclusão foram: Crianças com idade < 1 ano e

> 14 anos; Infecção piogênica muscular de origem hospitalar; Outras infecções

cutâneas superficiais com envolvimento apenas de pele e tecido celular subcutâneo,

tais como abscessos, furúnculo, impetigo, piodermite e celulite; Infecções de partes

moles secundárias ou contíguas à traumas penetrantes ou perfuro-contusos;

Infecções de partes moles secundárias à acidentes com animais peçonhentos.

Diagnóstico clínico: O diagnóstico foi baseado em critérios clínicos: edema local com enduração ou

flutuação do músculo, hiperemia, dor e hipertermia local e/ou febre, confirmando o

envolvimento muscular com realização de ultrasonografia, e/ou por meio de

procedimento cirúrgico invasivo.

Foram investigados fatores de risco ou predisponentes para desenvolvimento da

infecção, tais como: antecedentes de trauma fechado, lesões cutâneas, diabetes ou

história familiar, desnutrição, neutropenia, síndrome da imunodeficiência humana

adquirida (SIDA), outras doenças imunodepressoras, uso de quimioterápicos,

imunossupressores e de corticosteróides, infecções virais e parasitárias.

O estadiamento clínico foi realizado baseado na definição de Gibson RK et al,

1984, que divide em três estágios a seguir: 1-Estágio precoce ou invasivo - todos os

pacientes com febre, dor muscular, hiperemia, enduração firme, com até dez dias de

evolução; 2-Estágio supurativo - incluiu todos os pacientes internados com 10 a 20

dias de evolução do aparecimento dos sintomas; 3-Estágio tardio ou septicêmico -

pacientes com mais de 21 dias de doença, com evidência de focos metastáticos ou

com sinais de sepse.

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Na definição dos conceitos clínicos, diagnóstico de complicações, assim como,

padronização dos achados laboratoriais, visando à homogeneidade nos grupos

considerou-se tanto na fase retrospectiva como na prospectiva: Febre - elevação da

temperatura acima de 37,8º C, mensurada na axila, em pelo menos três aferições;

Sepse - evidência de infecção associada a uma síndrome da resposta inflamatória

sistêmica (SIRS), caracterizada por taquicardia (freqüência cardíaca > 90bpm),

taquipnéia (freqüência respiratória > 20irpm) e alteração da temperatura com

hipotermia (Temp.< 35º C) ou hipertermia (Temp.> 38º C) com ênfase no quadro

clinico e não necessariamente hemocultivo positivo; Choque séptico - hipotensão

refratária a volume, necessidade de drogas vasoativas, em pacientes com pressão

arterial sistólica < 90mmHg, associados à síndrome séptica, perfusão capilar

comprometida (cianose), oligúria ou alteração do nível de consciência; Insuficiência

respiratória - freqüência respiratória > 20irpm, descrição de dispnéia, ou desconforto

respiratório com tiragem intercostal e de fúrcula, cianose e má perfusão capilar

periférica; Insuficiência renal - descrição de oligúria, anúria, ou ainda, aumento

sérico das escórias nitrogenadas (uréia e creatinina); Hepatite transinfecciosa -

icterícia associada à hepatomegalia e alterações de provas de função hepática, na

ausência de hepatite viral, doenças hepáticas congênitas metabólicas, ou de história

de uso de drogas hepatotóxicas, assim como, de álcool; Falência de Múltiplos

Órgãos e Sistemas (FMOS) - processo infeccioso descontrolado que atingiu pelo

menos dois ou mais órgãos produzindo disfunção renal, miocárdica, hepática,

cerebral, dentre outras.

Foram realizados os escores de gravidade ODIN (Organ Dysfunctions and/or

Infection) e SOFA (Sequential Organ Failure Assessment), com dados de no máximo

48 horas da internação, para posterior análise do prognóstico.

Diagnóstico Laboratorial: No desenvolvimento do estudo prospectivo, foi coletado 16 ml de sangue das

crianças, em seringa descartável através de venopunção, preferivelmente de acesso

venoso de membro superior, que foi aliquotado para realização de exames

laboratoriais: 5ml para provas hematológicas e bioquímicas; 3ml para realização de

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hemocultura; 3ml de sangue foi centrifugado separado o soro para realização de

sorologia para Toxocara e HIV.

Para realização e determinação de provas bioquímicas e hematológicas utilizou-

se o aparelho da marca DADE-BEHRING modelo DIMENSION, realizadas na

FMTAM, e automação semelhante no HPSJLPM. Considerou-se: Anemia -

hemoglobina inferior a 10,0g/dl; Leucocitose - contagem de leucócitos superior a

10.000/mm³; Leucopenia - contagem de leucócitos inferior a 4.000/mm³; Eosinofilia -

contagem de eosinófilos acima de 6%.

As amostras biológicas foram processadas no laboratório de Bacteriologia da

FMTAM, conforme rotina existente que compreende a bacterioscopia pelo método

de Gram e semeadura em meios de cultura sólidos ágar sangue (BA) ou em ágar

chocolate para obtenção de colônias, com posteriormente subcultivo em novos

meios para testes de identificação pela coagulase e catalase. As hemoculturas

foram semeadas em meios líquidos e realizadas através do método de automação

em aparelho BACTEC. Para estudo da sensibilidade utilizou-se o teste quantitativo

de Kibyr-Bauer. Os resultados fornecidos foram interpretados conforme o CLSI

(Clinical and Laboratory Standards Institute).

A confirmação do comprometimento de feixes musculares ou ainda, para melhor

localização de abscessos para drenagem, foi feita pela ultrasonografia e quando

necessário pela tomografia computadorizada do segmento corporal comprometido.

Para investigação de co-morbidade foi realizada a pesquisa de anticorpo anti-HIV

(Vírus da Imunodeficiência Humana) através do teste rápido em papel de filtro

contendo antígenos solúvel (BIOMANGUINHOS).

A Sorologia para Toxocaríase foi realizada através de pesquisa de anticorpos

anti-T. canis pela técnica Ensaio Imuno Enzimático (EIA), utilizando-se Kit comercial

RIDASCREEN®, que detecta a presença de anticorpos da classe IgG, para tanto

seguiu-se as recomendações dos fabricantes no que concerne a metodologia e

interpretação dos resultados.

Análise estatística:

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A análise estatística foi realizada com o programa SPSS versão 9.0. Utilizou-se o

teste do quiquadrado com correção de Yates, teste exato de Fisher e Mantel-

Haenszel para tendência. Os resultados foram considerados significativos se valor

de p ≤ 0,05 (α-level) com intervalos de confiança de 95%.

Aspectos éticos:

Este trabalho foi desenvolvido após apreciação e análise do Comitê de Ética em

Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Fundação de Medicina Tropical do

Amazonas (FMTAM) obedecendo às prerrogativas da Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde (Protocolo n° 0135/99, 110548/05, 2477/06 e 2097/08).

RESULTADOS Foram incluídas 118 crianças com diagnóstico de piomiosite tropical, sendo

19,5% (23/118) na fase prospectiva e 80,5% (95/118) na retrospectiva, encontrando-

se maior freqüência do gênero masculino 69,5% (82/118) em comparação com o

feminino 30,5% (36/118). A média de idade foi 8,0 anos (Dp 4,6), sendo semelhante

entre os gêneros.

As características demográficas e resultados de exames laboratoriais foram

semelhantes entre as fase prospectiva e retrospectiva do estudo (Tabela 1).

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Tabela 1. Características demográficas, clínicas e laboratoriais de crianças com piomiosite tropical internadas no período janeiro de 1997 a julho de 2008, em Manaus-Amazonas.

Retrospectivo Prospectivo Características demográficas Média de idade 7,9 (Dp 4,7) 8,4 (Dp 4,4) Sexo Feminino 28 (29,5%) 8 (34,8%) Masculino 67 (70,7%) 15 (65,2%) Características clínicas Febre 87 (91,6%) 20 (87,0%) Enduração 93 (97,9%) 20 (87,0%) Flutuação 17 (17,9%) 7 (30,4%) Comprometimento muscular único

63 (66,3%)

15 (67,2%)

Comprometimento muscular múltiplo

32 (33,7%)

8 (34,8%)

Características laboratoriais Anemia (Hg < 10,0g) 36 (37,9%) 10 (43,5%) Eosinofilia (> 6 %) 42 (44,2%) 6 (26,1%) Leucocitose (> 10.000) 77 (81,1% 21 (91,3%) Leucopenia (< 4.000) 1 (1,1%) 0 (0%)

Com relação ao quadro clínico, a enduração e a febre foram o sinal e o sintoma

mais freqüentemente encontrado, respectivamente em 95,8% (113/118) e 90,7%

(107/118), sendo a flutuação de lojas/abscessos achada em apenas 20,3% (24/118)

dos casos. O envolvimento muscular foi 66,1% (78/118) único e 33,9% (40/118)

múltiplo, tendo predomínio de localização, os membros inferiores e cintura pélvica.

Dos fatores de riscos descritos para enfermidade foi encontrado o dano muscular

secundário à trauma fechado 39,8%, varicela produzindo uma miosite viral 13,9%,

linfoma 0,8 % e usuária crônica de corticosteróide devido à dermatite de contato

0,8%. Não foi demonstrada história de diabetes mellitus, e a glicemia de jejum

resultou dentro da normalidade em todos os pacientes. O estado nutricional

estimado pela relação peso para idade foi avaliado em 38,1% (45/118), sendo

consideradas baixo peso para idade 62,2 % das crianças (28/45), usando como

referência os dados do National Center of Health Statistics (NCHS). O teste rápido

para HIV foi realizado em 23 crianças incluídas na fase prospectiva da pesquisa

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sendo 100% negativas. A sorologia para T. canis também investigada nesta

população, mostrou-se positiva em 52,6% (10/19), (Table 2).

Tabela 2. Sorologia para T. canis em crianças internadas com piomiosite tropical em relação à faixa etária.

χ² 0,80 valor de p 0,671 A maioria das crianças encontrava-se na primeira semana de evolução da

doença 83% (98/118) demonstrando que o diagnóstico foi precoce na fase inicial ou

no estágio de invasão, 13,6% (16/118) no estágio supurativo e 3,4% (4/118) no

tardio ou septicêmico.

Podemos ainda observar na tabela 3, que três crianças com sorologia positiva

para T. canis tiveram seu diagnóstico na fase precoce da doença e apresentaram

escore de prognóstico grave e moderado.

Sorologia T. canis

Positiva Negativa

Faixa etária 1 A 5 3 4

6 A 10 3 2

11 A 14 4 2

Total 10 8

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Tabela 3. Análise das variáveis de morbidade das crianças hospitalizadas com piomiosite tropical segundo o resultado da sorologia para T. canis.

Variáveis de morbidade Febre Sim Não

Sorologia para T. canis Positiva Negativa Total

17 (100%) 1 (100%)

9 (52,9%) 8 (47,0%) 1(100%) 0 (0%)

Grupo Muscular Único Múltiplo

7 (53,8%) 6 (46,1%) 3 (60,0%) 2 (40,0%)

13(100%) 5(100%)

Estágio clínico Invasivo Supurativo Tardio

9 (60,0%) 6 (40,0%) 1 (33,3%) 2 (66,6%) 0 (0%) 0 (0%)

15(100%) 3(100%) 0(100%)

Disseminação Sim Não

3 (50,0%) 2 (40,0%) 7 (53,8%) 6 (46,2%)

5(100%) 13(100%)

Complicação Sim Não

3 (75,0%) 1 (25,0%) 7 (50,0%) 7 (50,0%)

4(100%) 14(100%)

Escore de gravidade Leve Moderado Grave

7 (50,0%) 7 (50,0%) 2 (66,6%) 1 (33,3%) 1 (100%) 0 (0%)

14(100%) 3(100%) 1(100%)

Re-internação Sim Não

1 (100%) 0 (0%) 9 (52,9%) 8 (47,1%)

1(100%) 17(100%)

A presença de anemia no estágio tardio mostrou diferença estatísticamente

significativa quando comparada com os estágios inicial e supurativo (χ²6,23 valor de

p=0,044).

Apesar de ser observada importante predominância do envolvimento de único

grupo muscular nos dois primeiros estágios da doença, 65.3% (64/98) e 81.2%

(13/16) respectivamente, e, de 75% (3/4) de múltiplos grupos musculares no estágio

tardio, não houve significância estatística (Tabela 4)

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Tabela 4. Fatores predisponentes, características clinico-laboratoriais e morbidade da piomiosite tropical nos diferentes estágios clínicos.

Variáveis Estágios Inicial Supurativo Tardio

Porta de entrada Sim Não

78 13 2 20 3 2

Co-morbidade Sim Não

3 0 0 95 16 4

Grupo muscular Único Múltiplo

64 13 1 34 3 3

Disseminação Sim Não

29 6 0 69 10 4

Complicação Sim Não

15 5 0 83 11 4

Re-internação Sim Não

4 2 1 94 14 3

Anemia* Sim Não

37 5 4 57 10 0

Leucocitose Sim Não

82 13 3 12 2 1

Leucopenia Sim Não

1 0 0 94 15 4

Eosinofilia Sim Não

37 9 2 57 6 2

. * Χ²6.23 p=0.044, teste de Fisher.

As crianças permaneceram internadas em média 13,6 dias. Foi observada re-

hospitalização em sete casos (5.9%). A disseminação do processo infeccioso

ocorreu em 29.7% (35/118) sendo o envolvimento articular com artrite reacional e

pioartrite encontrado em 65,7% (23/35). Ocorreu complicação em 16,5% (20/118)

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das crianças e a sepsis foi a complicação mais comum 90.0% (18/20) desta

casuística.

O S. aureus foi o principal germe isolado nas culturas de lojas, assim como nas

hemoculturas, correspondendo respectivamente à 83,3% (38/46) e 90% (53/59). Foi

realizado o teste de sensibilidade pelo método de Kirby-Bauer em 86 amostras. Nos

isolados de S. aureus 31,4% demonstrou sensibilidade à oxacilina e 3,5% resistente,

sendo 1,2% resistente à vancomicina. Os antibióticos beta-lactamicos foram a

opçcão terapeutica de primeira linha , sendo a oxacilina prescrita em 76.3%. Apenas

51.7% (61/118) dos pacientes necessitou de intervencao cirurgica.

A mortalidade no presente estudo foi 0,84%. O óbito ocorreu em criança do sexo

masculino, com 11 anos, diagnosticada no estágio invasivo da doença, com história

prévia de trauma fechado e sorologia positiva para T. canis. Não havia evidencia de

co-morbidade, nem história de internação prévia. Evoluiu com pneumonia,

pericardite com derrame pericárdico e pioartrite joelho D, choque séptico,

insuficiência respiratória aguda e insuficiência renal aguda culminando com êxito

fatal (Figura 1).

Figura 1. À direita: Raios X de tórax demonstrando aumento de área cardíaca e consolidação pulmonar; à esquerda: ultrasonografia demonstrando destruição da arquitetura muscular e áreas hipoecóicas bem delimitadas formando lojas∕abscessos muscular.

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DISCUSSÃO

A piomiosite tropical tem-se mostrado importante patologia na população

pediátrica em nossa região, com predominância em meninos na faixa etária de 11 a

14 anos de idade. Nos Estados Unidos da América, norte da América e África, entre

33 a 40% do total dos casos de piomiosite é observado em crianças. Nesta

população a faixa etária mais comum é de 5 a 9 anos, sendo a grande maioria em

meninos, constando apenas um trabalho com predominância do gênero feminino. 4,

5, 6, 13, 14 A maior prevalência no gênero masculino vem sendo atribuída a maior

exposição a traumas e ao esforço físico relacionado com a prática de esporte.

Observamos predominância do gênero feminino apenas na faixa etária de 6 a 10

anos na fase prospectiva do estudo, o que já foi encontrado por Ryan, sendo o

nosso resultado semelhante aos da literatura. 14

Há diferenças, apontadas na literatura, sugerindo distinção entre duas variantes:

Piomiosite tropical e não-tropical, diferindo na idade, no número e áreas de

músculos afetados. A primeira entidade, piomiosite tropical, predominaria em

adultos, caracteristicamente, com envolvimento de múltiplos grupos musculares,

geralmente com acometimento dos membros inferiores; e a segunda, ocorreria com

maior freqüência em crianças, com afecção muscular única e predomínio em coxas 4, 5. Em nossa série de casos o envolvimento muscular foi único, com predomínio em

membros inferiores e cintura pélvica, o que está de acordo com a literatura. 2, 6, 7, 8, 9,

15

A ocorrência em países de clima não tropical está quase sempre relacionada com

fatorores de imunodepressão tais como: o diabetes mellitus, a leucemia, a anemia

aplástica, a desnutrição, as doenças auto-imunes, a pacientes portadores da

Síndrome de Imunodeficiência Humana Adquirida (SIDA) e usuários de drogas

injetáveis 5, 6, 9. Dos fatores de risco descritos na literatura para desenvolvimento de

piomiosite, encontramos apenas uma criança que fazia uso de corticoterapia

prolongada e outra com linfoma, sendo negativa a história de diabetes e AIDS/HIV.

O estado nutricional de 62,2% das crianças foi considerado baixo peso para a idade,

sendo a desnutrição e a anemia, na faixa etária pediátrica, importantes fatores de

risco para o desenvolvimento da piomiosite, e descritos em até 70,3%. 5

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Na patogênese da doença, a lesão da musculatura parece ocorrer após trauma

fechado, isquemia, fadiga muscular, stress metabólico, em resposta a presença de

sepse/SIRS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica). Por outro lado, há

evidências recentes da associação entre T. canis e a ocorrência de abscessos

piogênicos, sugerindo-se a hipótese que indivíduos infectados com T. canis têm

“predisposição” a infecções causadas por Staphylococcus. A migração de L2 para

musculatura esquelética ocasionaria alterações estruturais e imunológicas, que na

presença concomitante de bacteremia, favoreceria a aderência bacteriana e o

desenvolvimento da piomiosite. Um estudo experimental utilizando camundongos

corrobora a hipótese do dano muscular no desenvolvimento da piomiosite. Naquele

estudo, os autores observaram uma maior freqüência de abscessos musculares no

grupo de camundongos infectados concomitantemente por S. aureus e T. canis. 11,

12

Neste estudo, a sorologia para T. canis mostrou-se positiva em 52.6% (10/18)

das crianças com piomiosite. Interessante, que um estudo paralelo desenvolvido

pelo mesmo grupo demonstrou soropositividade para T. canis de 48.5% (16/33) em

uma população pediátrica controle sem piomiosite, recrutadas da mesma região

geográfica. 16 Esse resultado contrasta com estudo prévio realizado no sudeste

Brasileiro, estado de Minas Gerais, que encontrou em uma população de 20

indivíduos com idade de 8 a 16 anos, apenas 1% positivo para T. canis. 12 È

possível que a alta prevalência da positividade para T. canis na Amazônia esteja

diretamente relacionada ao maior risco para desenvolvimento de piomiosite nesta

população. Entretanto, também é possível que essa hipótese esteja confundida pela

alta freqüência de indivíduos expostos ao T. canis, devido ao menor nível sócio-

economico da população do norte do Brasil quando comparado com a região

sudeste.

Vários trabalhos têm demonstrado que a toxocaríase é um problema de saúde

pública relevante e de larga distribuição, sendo encontrada prevalências que variam

de valores baixos como 1% nos países desenvolvidos chegando à 92,8% nos mais

pobres e em desenvolvimento 17. A população pediátrica é mais exposta ao T. canis

por ter mais contato com solo, assim como, com animais de estimação, sendo este o

meio de contaminação mais usual, e um achado comum aos países em

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desenvolvimento. Dois estudos envolvendo crianças demonstraram

soroprevalências para T. canis semelhantes aos nossos, chegando a 39% em

Vitória-ES, e 52% em população rural de Presidente Figueiredo, Amazonas. 16 Em

contraste, a prevalência de indivíduos saudáveis de todas as idades positivos para

anticorpos anti-T. canis, em cinco municípios de São Paulo, mostraram

porcentagens de 2,2% a 5,7%. 19

A co-infecção entre doenças bacterianas e helmintos, nematóides, tem sido

descrita na literatura. A intensidade e o tipo da resposta imune a um agente

infeccioso podem ser determinantes do dano, da evolução e do prognóstico da

infecção. Várias patologias podem estar associadas, e a co-infecção parece exercer

papel imunomodulador, já tendo evidencias nas infecções por helmintos, como o S.

mansoni e nematóide como o T. canis. 11

Neste estudo, três de quatro casos com sorologia positiva para T. canis tinham

escore de gravidade pior e um com evolução para o óbito. Essas crianças tiveram

seu diagnóstico na fase precoce da doença, fato este que exclui a possibilidade da

gravidade estar relacionada ao retardo do tratamento, que é apontado como

principal fator contribuinte para morbidade e mortalidade.

O diagnóstico precoce desta entidade muitas vezes depende de um alto grau de

suspeição clinica, pois os sinais inflamatórios são mínimos e algumas vezes o

acometimento de fibras musculares se faz em planos profundos. Marques et al,

1995, em casuística envolvendo 15 adultos e 12 crianças, demonstraram uma baixa

freqüência de flutuação de lojas (11,1%), sendo esta mais encontrada no estágio

tardio da doença. Isso, também, foi demonstrado por Martinez-de Jesus et al, 1996,

numa série de 40 casos dos quais 9 eram crianças. É possível, que em nossos

casos, isso se justifique também pela precocidade do diagnostico. 6, 7, 8 Estudos

maiores do tipo caso-controle são necessários para investigar o real impacto da

infecção por T. canis como fator de risco no desenvolvimento da piomiosite tropical.

O S. aureus foi o principal germe isolado com maior freqüência, no entanto, com

baixo percentual de resistência à oxacilina. O aumento das infecções por S. aureus

tem sido destaque em diferentes publicações nos últimos anos, especialmente em

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52

virtude do perfil de sensibilidade reduzido para diferentes antimicrobianos, levando a

difícil problemática com relação ao tratamento, sobretudo em infecções de pele e

partes moles. 20 Considerado um agente de alta patogenicidade, o S. aureus

freqüentemente esta associado a infecções adquiridas na comunidade e no

ambiente hospitalar. Algumas infecções são agudas, piogênicas e podem disseminar

para diversos tecidos e promover focos infecciosos metastáticos levando os

episódios de bacteremia, pneumonia, endocardite, pericardite, meningite, abscessos

cerebrais e de outras localizações como na musculatura esquelética. 21

As complicações da piomiosite tropical são raras e ocorrem com maior freqüência

nos estágios supurativo e tardio, evidenciando que a não definição do diagnóstico na

fase precoce da doença retardam o tratamento antimicrobiano e interferem

diretamente na evolução do paciente. Parece haver maior susceptibilidade à

osteomielite e pioartrites em crianças, no entanto, nossos resultados são

discordantes com a primeira. A sepse foi complicação que ocorreu com maior

freqüência, seguida de: insuficiência respiratória aguda, choque, insuficiência renal

aguda, coagulação intravascular disseminada e hemorragia digestiva alta. Esses

resultados são concordantes com a maioria dos trabalhos. 5, 6, 7, 8, 9, 22, 23

O fato de termos usado dados secundários no estudo retrospectivo, e o pequeno

número de amostras testadas para T. canis limitou nossos resultados. No entanto, foi

observado, que três crianças que apresentaram escore de gravidade pior tinham

sorologia positiva para T. canis.

Concluímos que a piomiosite tropical mostrou-se patologia de importante

ocorrência na população pediátrica, que apesar da baixa mortalidade teve

consideráveis repercussões clinicas. Não ficou demonstrado no presente estudo que

a co-infecção com T. canis possa ter contribuído com a morbidade da doença.

Reforçamos a observação de que três casos que apresentaram escore de gravidade

pior tinham sorologia positiva para T. canis. Esses pacientes tiveram seu diagnóstico

na fase precoce da doença, fato este que exclui a possibilidade da gravidade estar

relacionada ao retardo do tratamento, que, por sua vez, é apontado como principal

fator contribuinte para morbidade e mortalidade. Nossos resultados apontam para

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53

necessidade de maiores estudos a respeito desta curiosa patologia e de seu

comportamento evolutivo na co-infecção com T. canis.

AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Dr. Sinésio Talhari, Dr. Joaquim Alves Barros, e a equipe

multidisciplinar que assistiu as crianças, particularmente as enfermeiras, médicos

pediatras, e ortopedistas. Agradecemos, também, a Fundação de Amparo à

Pesquisa do Amazonas (FAPEAM) pelo financiamento do estudo.

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State, Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 1990; 32:204-

10.

20 Cosgrove SE, Sakoulas G, Perencevich EM, Schuwaber MJ, Karchmer AW,

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methicillin-susceptible Staphylococcus aureus bacteremia: a meta-analysis. Clinical

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55

21 Ribeiro A, Dias C, Silva-Carvalho MC, Berquó L, Ferreira FA, Santos RN et al.

First Report of with Community Acquired Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus

in South America. Journal of Clinical Microbiology 2005; 43:1985-88.

22 Vieira I, Franco G, Silva M, Medeiros S. Piomiosite Tropical como Causa de

Falência de Múltiplos Órgãos (FMOS). Revista Brasileira de Terapia Intensiva 1996;

8:179-84.

23 Bikels J, Ben-Sira L, Kessler A, Wientroub S. Primary pyomyositis. Journal Bone

Joint Surgery American 2002; 84-A: 2277-86.

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4.3 Terceiro artigo científico:

COMPORTAMENTO CLINICO, IMUNIDADE HUMORAL E CELULAR EM PACIENTES COM PIOMIOSITE TROPICAL COMPARADOS COM A ASSOCIAÇÃO PIOMIOSITE-Toxocara spp. CLINICAL BEHAVIOR, CELL AND HUMORAL IMMUNITY IN PATIENTS WITH TROPICAL PYOMYOSITIS COMPARED WITH ASSOCIATION PYOMYOSITIS -Toxocara spp Márcia Melo Damian, Andrea Monteiro, Adriana Malheiro e Antonio de Matos Tavares. Abstract Background: Tropical pyomyositis (PMT) is a pyogenic infection of skeletal muscles that occurs in the tropics, caused in 95% Staphylococcus aureus (S. aureus), with higher incidence in healthy young men. Direct trauma, ischemia, muscle fatigue, metabolic stress may be involved in the genesis of the initial injury, if however there is evidence of the association of Toxocara spp and the development of pyogenic abscess. 6,7,8,9 Methods: The present study was observational and analytical cross in patients with tropical pyomyositis (PMT) admitted in tertiary public hospital in Manaus during 36 months to measure the clinical and laboratory factors involved in severity and profile the humoral and cellular immune response with PMT in comparison with the association PMT-Toxocara spp. The selection criteria were: age> 1 year; PMT clinical diagnosis confirmed by imaging or surgery. Resulted: We included 116 patients, 69.8% male, mean age of 29.0 years (SD 19.4). Most patients diagnosed at an early stage (78.4%), muscle abscess single 72.4%, 27.6% spread, 25% complications. Serology was positive Toxocara spp in 53.3%, 44.8% had hypoalbuminemia and 33.6% had anemia. Patients seropositive for Toxocara spp had more spread of the disease (χ ² = 6.157 p value 0.011), with 2.764 estimated OR (95%, from 1.137 to 6.720). It was observed increase in CD4 + and CD8 + decreased with increase in the ratio CD4 +: CD8 + in patients with positive serology for Toxocara spp association with PMT, and also showed an increase in IL5, IL6, IL10 and TNF, and decreased of IL4 and IFN in patients with concomitant PMT - Toxocara spp compared with patients with PMT. The average hospital stay was 16.9 days (SD13.5), and seven deaths during the study. Conclusion: The PMT affects young male population, mostly, low mortality tend. Patients with hypoalbuminemia, positive serology for Toxocara spp, and have multiple muscle abscesses are the most spread the disease, and also observed increased activation of the CD4 surface molecule, and a tendency to Th2 response pattern and TH0. Keywords: tropical pyomyositis, toxocariasis, immune response, Staphylococcus aureus, Toxocara spp.

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Resumo: A Piomiosite tropical (PMT) é uma infecção piogênica dos músculos esqueléticos, que ocorre nos trópicos, causada em 95% dos casos por Staphylococcus aureus (S. aureus), com maior incidência em homens jovens saudáveis. O trauma direto, isquemia, fadiga muscular, estresse metabólico podem estar envolvidos na gênese da lesão inicial, entretanto há poucas evidências da associação de Toxocara spp no desenvolvimento de abscessos piogênicos. 6,7,8,9 Métodos: Este foi um estudo transversal analítico observacional em pacientes com PMT internados em hospitais terciários, da rede pública de Manaus durante 36 meses para avaliar os fatores clínicos e laboratoriais envolvidos na gravidade e perfil da resposta imune humoral e celular na PMT em comparação com a associação PMT-Toxocara spp. Os critérios de seleção foram: idade> 1 ano; PMT diagnóstico clínico confirmado por imagem ou intervenção cirúrgica. Resultados: Foram incluídos 116 pacientes, 69,8% do gênero masculino, com média de idade de 29,0 anos (DP 19,4). A maioria dos pacientes foram diagnosticados em fase precoce (78,4%), com abscesso muscular único em 72,4%, disseminação 27,6%, complicações 25%. A sorologia foi positiva para Toxocara spp em 53,3% dos pacientes, 44,8% tinham hipoalbuminemia e 33,6% apresentaram anemia. Os pacientes soropositivos para Toxocara spp apresentaram mais a chance de disseminação da doença (χ ² = 6,157 p valor 0,011), com OR estimado de 2,764 (95% 1,137-6,720). Observou-se um aumento de células CD4 + e diminuição CD8 +, com aumento na relação CD4 +: CD8 + em pacientes com PMT e sorologia positiva para Toxocara spp. Foi observado um aumento de IL5, IL6, IL10 e TNF, e diminuiu de IL4 e IFN em pacientes com PMT associado à positividade para Toxocara spp comparados com pacientes com PMT. O tempo médio de internação foi 16,9 dias (Dp13, 5), e ocorreram sete óbitos durante o estudo. Conclusão: A PMT acomete com maior freqüência a população masculina jovem, com tendência à baixa mortalidade. Pacientes com hipoalbuminemia, sorologia positiva para Toxocara spp e abcessos musculares múltiplos tem mais chances de disseminar a doença, sendo também observado aumento da ativação da molécula de superfície CD4+, e uma tendência de padrão de resposta Th2 e TH0. Palavras chave: Piomiosite tropical, Toxocaríase, Resposta imune, Staphylococcus aureus, Toxocara spp. INTRODUÇÃO: Piomiosite tropical é uma infecção piogênica da musculatura esquelética que

ocorre nos trópicos, causada em 95% dos casos pelo Staphylococcus aureus (S.

aureus), cujos primeiros relatos foram feitos por Virchow (1852) e posteriormente por

Scriba (1885). No Brasil, Salvia (1866) na cidade do Rio de Janeiro, chamou atenção

para o fato de a doença ter predominância nos trópicos e maior incidência em

homens jovens e saudáveis. Sua ocorrência em regiões temperadas e em países

desenvolvidos está relacionada a fatores de risco, tais como: infecção pelo HIV e

outros estados de imunossupressão, uso de drogas intravenosas, desnutrição. 1

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58

Gibson et al,1984, estratificou a PMT em três estágios de acordo com o tempo

de evolução, quadro clínico e a gravidade dos pacientes. No estágio I, inicial ou de

invasão estão classificados os pacientes na primeira semana de evolução da

doença, apresentando quadro de dor, edema, sinais inflamatórios mínimos sob a

musculatura, sem flutuação ou abscedação. No estágio II ou supurativo, os

pacientes já teriam mais de uma a duas semanas de evolução, com evidentes sinais

flogísticos, flutuação e/ou abscedação. E no estágio III ou tardio, os pacientes teriam

mais de três semanas de evolução da doença, com disseminação do foco a

distância, comprometimento de órgãos e sistemas, caracterizando uma sepse. No

entanto, alguns trabalhos clínicos demonstraram o encontro de pacientes que na

primeira semana da doença tem quadro de sepse grave e foco de disseminação

para outro órgão. 2,3

O trauma fechado, a isquemia, a fadiga muscular, o stress metabólico podem

estar envolvidos na etiopatogênese da lesão inicial sob a musculatura. Por outro

lado, há evidências da associação de Toxocara spp, ascarídeo de cão e gato, e o

desenvolvimento de abscessos piogênicos. 4,5

Há poucos dados na literatura sobre a associação da toxocaríase com o

desenvolvimento de abscessos musculares. Desta forma este estudo tem por

objetivo apontar os fatores envolvidos na gravidade e mensurar o perfil da resposta

imune humoral e celular na PMT e na associação PMT―Toxocara spp.

PACIENTES E MÉTODOS: Foi realizado um estudo seccional observacional e analítico em pacientes com

PMT internados em unidades terciárias da rede pública de Manaus por um período

de 36 meses. O protocolo da pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de

Ética e Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Fundação de Medicina Tropical do

Amazonas (no do processo 2477/06), em concordância com as diretorias das

unidades hospitalares envolvidas no estudo.

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A PMT foi definida como processo inflamatório-infeccioso em um ou mais grupos

musculares, sem evidência de “porta de entrada” contígua, confirmados através de

exame de imagem (ultrasom, tomografia ou ressonância), ou por procedimento

cirúrgico invasivo. Os critérios de inclusão foram: idade > 1ano; diagnóstico clínico

de PMT confirmado por exame de imagem ou intervenção cirúrgica. Os pacientes

elegíveis para pesquisa foram convidados a participar da mesma com assinatura do

termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), sendo preenchido questionário

contendo dados clínicos e exame físico.

A seguir foram coletados 17 ml de sangue para pacientes adultos, e 15 ml para

crianças, que foi aliquotado para realização de exames laboratoriais, hemocultura e

citometria de fluxo. Uma alíquota do soro foi congelada em freezer a - 70°,

acondicionado no laboratório de bacteriologia da Fundação de Medicina Tropical do

Amazonas (FMTAM), visando posterior realização de sorologia para Toxocara sp e

teste rápido para HIV1 e 2. A dosagem de citocinas e citometria de fluxo foi

realizada na Fundação Hemocentro do Amazonas (FHEMOAM).

As provas laboratoriais foram avaliadas no dia zero ou em até 72hs de

terapêutica antimicrobiana. As dosagens sangüíneas da hemoglobina, análise da

série branca e plaquetas foram realizadas através de sistema automatizado com

aparelho COULTER modelo STKS WITH RETICULOCYTE ANALYSIS. Considerou-

se: Anemia- hemoglobina <10,0g/dl; Leucocitose- leucócitos >10.000/mm³;

Leucopenia- leucócitos <4.000/mm³; Eosinofilia- eosinófilos >6%. Para determinação

de provas bioquímicas utilizou-se o aparelho da marca DADE-BEHRING modelo

DIMENSION, sendo considerado hipoalbuminemia nível sérico de albumina (ALB)

≤3,0 g/dl e diabetes glicemia de jejum >110mg/dl.

Na pesquisa de co-morbidade foi realizado teste rápido para HIV 1 e 2 em papel

de filtro (Core HIV 1 & 2, CAT no 110021, CORE Diagnostic Ltda).

A pesquisa de anticorpos IgG contra Toxocara sp foi feita pela técnica Ensaio

Imuno Enzimático (EIA) com Kit comercial RIDASCREEN®. O “cut-off” do teste foi

calculado somando-se a densidade ótica da amostra, o valor médio de extinção do

controle negativo, o valor médio da tira mais a constante 0,150. Os resultados foram

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encontrados através da divisão do valor de extinção da amostra pelo “cut-off”

obtendo-se o índice da amostra que foram interpretados como: < 0,9 negativo; entre

0,9―1,1 duvidoso; > 1,1 positivo. Seguindo as orientações do fabricante.

As dosagens das citocinas humanas foram feitas com a metodologia Ensaio

Imunoenzimático (ELISA) usando-se Kits Opteia Tm Set Human (BD), conforme as

especificações do fabricante, sendo analisadas as citocinas IL-4 (Lote Número

61570), IL-5 (Lote Número 61572), IL-6 (Lote Número 55702), IL-8 (Lote Número

555244), IL-10 (Lote Número 555157), IL-12 (Lote Número: 61371) TNF (Lote

Número 56627), IFN (Lote Número 57328). A técnica foi desenvolvida no laboratório

de imunologia da FHEMOAM, onde também se realizou a citometria de fluxo.

Para análise estatística dos dados foi usado o programa SPSS versão 9.0 sendo

feita análise multivariada. As variáveis clínicas preditoras de gravidade (variável

independente) foram: Idade, faixa etária, gênero, manipulação da porta de entrada,

estágio clinico, número de grupos musculares comprometidos e presença de

patologia de base (co-morbidade). As variáveis independentes foram testadas para o

desfecho (variável dependente): óbito, disseminação e complicação. Foram

utilizados os testes: Exato de Fischer e qui-quadrado com correção de Yates para as

variáveis numéricas; o teste t-Student para variáveis paramétricas contínuas. A

estimativa de risco foi realizada para as variáveis independentes que mostraram

diferença estatisticamente significativa, através do teste de Cochran’s e Mantel-

Haenszel (Odds Ratio [OR]). Considerou-se estatisticamente significativo o valor de

p < 0,05 com o intervalo de confiança de 95%.

RESULTADOS: Foram incluídos no estudo116 pacientes sendo a maioria do gênero masculino

69,8%, guardando uma proporção de 2,3♂:1♀. A idade variou de um a 83 anos com

média de 29,0 (Dp 19,4). Observamos na curva da idade um pico de ocorrência da

PMT aos cinco anos, de 15 – 20 anos e outro pico menor que os anteriores de 45 –

50 anos, como demonstra a figura 1.

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61

Figura 1. Curva de distribuição da idade dos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de PMT (N=116). O estadiamento clínico dos pacientes foi 78,4% precoce ou invasivo, 14,7%

estágio supurativo e 6,9% tardio.

Houve disseminação do processo infeccioso em 27,6% (32/116), sendo o pulmão

o órgão mais comprometido (16,4%), seguido da articulação (15,5%) e do pericárdio

(2,6%).

O comprometimento muscular único foi observado em 72,4% (84/116) dos

pacientes.

A presença de abscesso muscular único ou múltiplo apresentou percentual igual

(50%) entre os pacientes que tinham disseminação da doença à distância. No

entanto, a maioria dos pacientes que não apresentavam disseminação, ou seja, que

tinham a doença localizada, o abscesso muscular era único, o que mostrou

diferença estatisticamente significativa em relação aos pacientes com múltiplos

grupos musculares comprometidos (χ² 11,113 valor de p=0,001). Para os pacientes

com comprometimento de único grupo muscular o OR estimado foi 0, 235 [(IC 95%,

0,097 < OR < 0,568)Tabela 1].

Idade em anos

85,080,0

75,070,0

65,060,0

55,050,0

45,040,0

35,030,0

25,020,0

15,010,0

5,00,0

30

20

10

0

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62

Tabela 1. Avaliação do desfecho disseminação em relação ao comprometimento muscular, nos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de PMT.

Grupo muscular Total

95% IC OR p-value

Unico Múltiplo Dissemina ção

S 16 16 32 0,097 ―0,568 0, 235 0,001*

N 68 16 84 Total 84 32 116

S- sim; N- não; * significância estatísitica

A complicação do processo infeccioso ocorreu em 25% (29/116) da casuística,

sendo a sepse a mais freqüente 17,2%, seguida de 12,1% com insuficiência

respiratória, 7,7% insuficiência renal aguda, 6,9% choque séptico, 2,6% hemorragia

digestiva alta, 1,7% síndrome compartimental e 0,9% coma metabólico.

Co-morbidade foi identificada em 18,1% (21/116) dos pacientes, dos quais 9,5%

tinham Diabetes Mellitus; 3,4% doenças do colágeno (2 lupus eritematoso sistêmico,

1 artrite reumatóide e 1 dermatopolimiosite); 1,7% HIV; 1,7% usuário de

corticóide/imunossupressor (uma criança por atopia e um paciente adulto

transplantado renal); doença de Alzheimer 0,9% e 0,9% portador de cirrose hepática

pelo vírus B.

A contagem de leucócitos estava acima de 10.000∕mm3 em 76,7% (89∕116),

apenas 4,3% (5∕116) tinham leucopenia (≤ 4.000∕mm3), e eosinófilo ≥ 6% foi

encontrada em 29,3% (34∕116); hipoalbuminemia 33,6% (39∕80). Apesar de a

hipoalbuminemia ter sido identificada em 85,7%dos pacientes que evoluíram para o

óbito, na análise multivariada, a presença de hipoalbuminemia manteve diferença

estatística significativa, χ² 6,193 valor de p=0,017, apenas para a variável de

desfecho disseminação (Tabela 2).

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63

Tabela 2. Análise multivariada das variáveis independentes (fator de risco) em relação às variáveis dependentes relacionadas ao desfecho óbito, presença de disseminação, e complicação, nos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de PMT. VI VD χ² p

Idade Obito 0,04 0,83 Disseminação 0,42 0,52 Complicação 0,52 0,47 Gênero Obito 0,03 0,86 Disseminação 1,10 0,30 Complicação 0,05 0,83 Estagio clinico Obito 1,67 0,20 Disseminação 0,85 0,36 Complicação 0,13 0,72 Grupo muscular Obito 0,08 0,78 Disseminação 4,41 0,04* Complicação 0,39 0,54 Patologia de base Obito 0,21 0,65 Disseminação 0,02 0,88 Complicação 1,81 0,18 Leucocitose Obito 2,48 0,12 Disseminação 0,00 0,96 Complicação 0,04 0,84 Leucopenia Obito 0,28 0,60 Disseminação 2,21 0,14 Complicação 0,08 0,77 Anemia Obito 0,12 0,72 Disseminação 0,00 0,97 Complicação 2,22 0,14 Eosinofilia >6% Obito 0,01 0,91 Disseminação 0,03 0,86 Complicação 1,63 0,21 Hipoalbuminemia Obito 2,61 0,11 Disseminação 5,29 0,03* Complicação 1,74 0,19 Toxocara spp Obito 0,03 0,85 Disseminação 4,20 0,05* Complicação 3,16 0,08 VI- variável independente; VD- variável dependente; *significância estatística.

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Os pacientes que apresentavam albumina sérica menor que 3,0g∕dl tiveram

quatro vezes mais chances de disseminação da doença [(OR estimado 4,143, IC

95%, 1,488 < OR < 11,646) Tabela 3].

Tabela 3. Avaliação do desfecho disseminação em relação à hipoalbuminemia, nos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de PMT. ALB < 3,0 Total

95% IC OR p-

value Sim Não Disseminação Sim 18 7 25 1,48―11,64 4,14 0,03 Não 21 34 55 Total 39 41 80 ALB- albumina A citometria de fluxo foi realizada em apenas 40 pacientes ocorrendo perda na

amostragem para avaliação das populações celulares de 76 pacientes devido à

hemólise do material coletado, dificuldades técnicas relacionadas ao acesso ao

citômetro em tempo hábil.

A distribuição segundo a mediana e os percentis (25-50-75) para lifócito T CD4+, T

CD8+, razão CD4+:CD8+ , mostrou um aumento de CD4+ e diminuição de CD8+ com

aumento da relação CD4+:CD8+ nos pacientes com PMT soropositivos para

Toxocara spp (Tabela 4).

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Tabela 4. Distribuição segundo a mediana e os percentis (25-50-75) para lifócito T CD4+, T CD8+, razão CD4+:CD8+ , dos pacientes com PMT e na associação PMT-Toxocara spp, internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM (n=40).

A sorologia para Toxocara spp foi realizada em 88,8% (103∕116) dos pacientes

com PMT e mostrou-se positiva em 53,3% (55∕103), sendo 36,9 % (38∕103) negativa

e 8,5% (10∕103) duvidosa. Com relação à média de idade, estágio clinico,

complicação, presença de patologia de base e óbito, foi observada homogeneidade

na distribuição dos pacientes positivos e negativos para Toxocara spp. Ocorreu

diferença para os pacientes positivos para Toxocara spp que apresentaram

disseminação da PMT (χ²6, 157 valor de p=0,011) e quanto à média de permanência

hospitalar, que nestes foi três dias a mais do que nos soros negativos (Tabela 5).

PMT PMT+ Toxocara spp T CD4+ T CD8+ T CD4+ T CD8+

Média 532,9 551,6 581,5 397,5 Mediana 374,9 443,2 542,3 391,0 Desvio padrão

429,8 467,7 503,6 290,2

Variança 184726,4 218762,7 253596,9 84202,1 Amplitude 112,3―1768,5 26,0―1540,9 ,0―1632,6 ,0―1006,2 Percentis 25%

250,9

133,2

109,8

173,3

50%

374,9

443,2

542,3

391,0

75%

722,9

990,7

819,2

657,5

Razão CD4+:CD8+

1,06:1,10 (0,96)

1,93:1,32 (1,46)

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Tabela 5. Distribuição das características clinicas dos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM com diagnóstico de PMT, segundo o resultado de sorologia para Toxocara spp. Características clinicas Sorologia para

Toxocara spp Positiva Negativa

χ² (valor de p)

Média de idade 29,60 29,39 0,04 (0,84) Média de dias de internação hospitalar

17,36 14,50 0,96 (0,33)

Gênero Feminino Masculino

15 13 40 25

0,51 (0,47)

Estadiamento de Gibson Precoce ou invasivo Supurativo Tardio

42 29 10 5 3 4

1,12 (0,57)

Grupo muscular Único Múltiplo

40 29 15 9

0,15 (0,70)

Disseminação Sim Não

20 5 35 33

6,16(0,01)*

Patologia de base Sim Não

9 8 46 30

0,33 (0,56)

Óbito Sim Não

4 3 51 35

0,09 (0,54)

*Significância estatística. Os pacientes soropositivos para Toxocara spp apresentaram três vezes mais

chances de terem disseminação da doença do que os pacientes com sorologia

negativa [(OR estimado 3,771, IC 95%, 1,269 < OR < 11,209) tabela 6].

Tabela 6. Avaliação do desfecho disseminação em relação à sorologia para Toxocara spp, nos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de PMT. Sorologia

Toxocara spp Total

95% IC OR p-value

Positiva Negativa Disseminação Sim 20 5 25 1,27―11,21 3,8 0,01 Não 35 33 68 Total 55 38 93

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A dosagem de citocinas foi realizada em 81% (94∕116) dos pacientes. As

interleucinas IL4 e o INF foram às citocinas que apresentaram as maiores médias de

valores séricos nos pacientes com PMT soronegativos para Toxocara spp quando

comparados aos soropositivos. Já na associação, PMT-Toxocara spp observamos

um aumento de IL5, IL6, IL10, e TNF, não sendo demonstrado diferença em relação

a IL8 e IL12 (Tabela 7).

Tabela 7. Valor médio do nível sérico de interleucinas nos pacientes com diagnóstico de PMT internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, segundo a associação com Toxocara spp. CT PMT PMT + Toxocara spp NTA

n M Dp Variação n M Dp Variação IL4 49 4,03 3,64 0―18,10 35 2,17 3,86 0―15,50 84 IL5 41 1,40 2,47 0―10,50 32 3,03 9,15 0―44,80 73 IL6 50 25,37 38,95 0―180,00 34 36,25 46,49 0―191,00 84 IL8 49 24,67 40,86 0―188,00 35 24,39 46,59 1,42―323,90 84 IL10 50 10,09 16,56 0―71,30 34 17,78 53,65 0―339,10 84 IL12 48 10,61 9,40 0―40,40 35 11,42 11,12 0―55,90 83 TNF 48 3,06 6,74 0―30,80 35 9,31 16,48 0―73,70 83 IFN 24 26,33 27,75 0―101,4 13 17,10 15,62 0―57,40 37 CT- citocina; NTA- número total de amostras; n- número parcial de amostras; M- média; Dp- desvio padrão.

Os pacientes permaneceram internados em média 16,9 dias (Dp13,5). O tempo

médio de uso de antimicrobianos foi 15,6 dias (Dp 9,4). Do total de sete óbitos

observados no estudo (6%), dois ocorreram em pacientes que re-internaram com

recorrência da infecção.

DISCUSSÃO: A ocorrência da PMT é classicamente descrita na literatura como comum nas

regiões tropicais, sendo no Brasil, relatada em vários Estados. Observamos que no

Norte do País esse fato ainda parece ser maior quando comparado com outras

regiões, pois em Rio Branco-Acre, assim como em Manaus-Amazonas a PMT foi

responsável por até 6% das internações hospitalares em hospital de referencia para

doenças infectocontagiosas, o que pode ser comparado aos trabalhos desenvolvidos

na África onde a PMT é considerada endêmica e responsável por até 4% das

internações em serviços de cirurgia. 5,10,11

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A descrição da PMT em regiões temperadas e em países desenvolvidos está

relaciona com imunodepressão ou presença de co-morbidade (diabetes, leucemia,

anemia aplástica, desnutrição, doenças autoimunes, AIDS, usuários de drogas

injetáveis), o que foi demonstrado em poucos casos neste trabalho. 7,12,14

ANSALONI L et al, 1996, em estudo de caso-controle realizado em Uganda

encontrou uma soroprevalência para HIV de 31,4% nos paciente com PMT,

enquanto apenas 5,7% dos controles foi soropositivo. Esta associação não tem sido

documentada no Brasil e nesta casuística apenas dois pacientes foram positivos

para HIV, o que corrobora com os trabalhos de BÉLEC L et al, 1991, que afirma ser

esta associação rara na África, sendo descrita com maior freqüência nos países de

clima temperado. 16

A doença pode ocorrer em qualquer faixa etária, e, apesar da média de idade

encontrada neste estudo ser maior do que em outros trabalhos, também

observamos um pico de incidência aos cinco anos concordante com os relatos de

que na infância a faixa etária mais prevalente é de cinco a nove anos, não ocorrendo

diferença com relação ao gênero. Na adolescência e no adulto ocorre predominância

do gênero masculino. Portanto, nossos resultados são concordantes no que diz

respeito à predominância do acometimento de indivíduos jovens do gênero

masculino. 3,7,8,13

Existe consenso na literatura quanto ao conceito da multicausalidade na

ocorrência da PMT. Para a maioria dos autores o trauma fechado sobre a

musculatura corresponderia à lesão inicial, também a porta de entrada poderia

sobrevir à isquemia, à fadiga muscular, ao stress metabólico em resposta a

presença de sepse/SIRS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica), no

entanto, em nenhuma das situações haveria quebra das barreiras protetora. 3,6,17

Esta teoria do trauma é bem aceita quando se trata de abscessos envolvendo um

único grupo muscular, porém quando a miosite é difusa englobando múltiplos grupos

musculares esqueléticos, torna-se mais difícil de ser explicada como causa

exclusiva. 1,2

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69

É nesta linha de pensamento que a toxocaríase humana vem sendo aventada na

co-patogênese da PMT. Por mecanismo ainda não totalmente esclarecido, algumas

larvas em lugar de completarem seu ciclo evolutivo e retornarem para o intestino, se

disseminam para todo o organismo, podendo encistar-se em diferentes órgãos da

economia, ou continuarem a migrar através dos tecidos durante muitos meses a

despeito da resposta imune humoral. 18,19 A migração de L2 para musculatura

esquelética ocasionaria alterações estruturais e imunológicas, que na presença

concomitante de bacteremia, favoreceria a aderência bacteriana e o

desenvolvimento da piomiosite. 8,9,19,20,21,22 Há evidências na literatura da associação

entre T. canis e a ocorrência de abscessos piogênicos no fígado e o

desenvolvimento de piomiosites, sugerindo-se uma “predisposição” a infecções

causadas por S. aureus, o que foi bem demonstrado no modelo do Schistosoma

mansoni. 8,18 Neste contexto, 68% de nossa casuística que tinham evidência de

porta de entrada o trauma contuso foi identificado com maior freqüência (49,4%),

concordante com outros trabalhos. Apesar de ter sido encontrado apenas 2,5% de

lesão cutânea tipo “larva migrans”, a sorologia para Toxocara spp foi positiva em

53,3%. Provavelmente porque o encontro de casos sintomáticos de “larva migrans”,

assim como, “larva migrans visceral” é relativamente raro, existindo evidencias de

que a infecção assintomática está disseminada na população humana.

RAYES et al., em 2000, demonstraram em estudo experimental uma maior

freqüência de abscessos musculares em camundongos infectados

concomitantemente por T. canis e S. aureus. Da mesma forma, em estudo de caso

controle envolvendo pacientes com PMT, 40% foram positivos para T. canis em

comparação com apenas 5% dos controles. 9

A soroprevalência de T. canis em indivíduos saudáveis em cinco municípios de

São Paulo, mostrou porcentagens de 2,2% a 5,7% 21, enquanto outro estudo

envolvendo crianças demonstrou maiores positividades, chegando a 39% em Vitória-

ES. 22 Já no Amazonas, um estudo desenvolvido em área rural no Município de

Presidente Figueiredo, demonstrou 52% de positividade em 5% da população

residente naquela área. No entanto, em Manaus, não há relatos na literatura com

relação à soroprevalência da toxocaríase em humanos. 24 Essa alta prevalência em

indivíduos saudáveis pode ser justificada por tratar-se de área rural do interior do

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Amazonas, onde o hábito de andar descalço, o contato com solo, assim como, com

animais no peridomicílio, se faz de forma maior do que na população de zona

urbana, alindo-se o fato de nesta última existir maior preocupação em vermifugar os

animais domésticos, como cães e gatos.

A maior freqüência de abscessos musculares únicos, baixa freqüência de

complicações e de disseminação, assim como, pequeno numero de óbito, não difere

dos relatados na literatura. 1,4,11,25

Entre os pacientes que tinham comprometimento de um único grupo muscular a

disseminação ou evidencia de focos metastáticos ocorreu com menor freqüência,

sendo o OR estimado de 0, 235, comportando-se como fator protetor. Para este

achado, concluímos que indivíduos com doença localizada em único grupo muscular

provavelmente fazem menos bacteremia e desta forma disseminam focos

infecciosos metastáticos com menor freqüência. 1,26

A maioria dos pacientes nesta casuística teve o diagnóstico precoce, isso

demonstra que os profissionais de saúde da rede do SUS que realizaram o primeiro

atendimento, estão atentos para os sinais, sintomas e história clinica que norteiam o

diagnóstico desta patologia, cujo diagnóstico precoce exige um alto grau de

suspeição. Outra justificativa para precocidade no diagnostico se faz em virtude da

melhoria da rede de assistência, tanto em termos de acesso a serviços de

urgência∕emergência, quanto ao acesso a métodos diagnósticos como o ultrasom.

Este achado difere da maioria dos autores onde o diagnóstico ocorre com maior

freqüência no estágio supurativo e tardio. 2,26

É pertinente a observação de que a precocidade no diagnóstico contribuiu para a

boa evolução dos pacientes, pois ficou demonstrado nos nossos resultados menor

numero de disseminação e complicação no estagio invasivo. Esses achados

corroboram com os descritos na literatura. 1,4,25

No desenvolvimento e na evolução de infecções bacterianas pós-operatórias,

assim como de sepse são descritas alterações de varias proteínas (proteína C

reativa [PCR], albumina, pré-albumina e transferrina, lactato) que podem ser úteis

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como preditores de infecção ou fatores de risco para seu desenlace. AGUILAR-

NASCIMENTO et al, 2007, encontrou risco aumentado em até oito vezes para

desenvolvimento de infecção nos pacientes que tinham valor sérico de albumina pré-

operatória < 3 g/dl (RC = 8,77 [IC 95%, 1,13-67,86]; p = 0,03). 27 Outro trabalho

realizado para identificar os mais importantes fatores de risco envolvidos para

infecção precoce, readmissão por infecção e morte dentro de 28 dias em pacientes

cirúrgicos demonstrou em relação à infecção precoce, a presença de

hipoalbuminemia com risco significativamente maior (OR = 2,27 e P < 0,001) assim

como em relação ao óbito em 28 dias (OR = 2,94 e P < 0,001). 28

A presença de hipoalbuminemia também teve significância em pacientes

queimados comportando-se como fator preditivo de infecção e complicações

infecciosas. Além disso, o catabolismo da albumina pode ser aumentado em certas

infecções, como os abscessos musculares aqui estudados, e em situações de

stress, portanto nossos resultados estão de acordo com os da literatura. 27,28

Outros mediadores inflamatórios circulantes também podem ser preditores de

gravidade, dentre eles estão as citocinas. A IL-6 é considerada um dos mais

importantes, tendo seu papel nas reações de fase aguda, em resposta ao estresse e

ao equilíbrio entre as vias pró-inflamatórios e antiinflamatórios. É sintetizada a partir

de linfócitos T e macrófagos, podendo também ser produzida a partir do tecido

adiposo, células endoteliais vasculares, fibroblastos e outras células em resposta à

IL-1 e ao TNF-α. Pode funcionar também como um fator de crescimento para as

células B durante o processo de diferenciação desses linfócitos. 12, 22, 23 Anemia e

diminuição da albumina sérica estão associados a aumento dos níveis de IL-6, o que

também encontramos em nossos pacientes com PMT soropositivos para Toxocara

spp. Outros estudos associam IL-6 com maior declínio funcional e mortalidade. 25,

26,27

É clássico o conceito de que o desbalanço na resposta do tipo Th1 pode levar a

destruição celular e inflamação crônica, enquanto que o predomínio da resposta Th2

pode causar alergia e asma. 29,30 Estudos recentes demonstram que uma

subpopulação de linfocitos T dependentes de IL-23, que produzem IL17 e não INF-g,

auxiliam na homeostasia das mucosas teciduais, como por exemplo, a intestinal, que

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por sua vez é colonizada por diversas enterobactérias comensais, e que a presença

de IFN-g e de IL-4 inibem o crescimento desse último subtipo, cujo papel central

relaciona-se com a autoimunidade. 31

O fator de necrose tumoral alfa (TNF) é uma das principais citocinas mediadoras

do choque séptico bacteriano. Sua produção se dá partir de macrófagos e

mastócitos. O principal estímulo para sua liberação são os lipopolissacarídeos

(LPS), ou endotoxinas, derivadas da parede celular bacteriana, encontradas

especialmente em bacterias Gram-negativas. Apesar de o S. aureus ser uma

bactéria Gram-positiva, este possui várias proteínas antigênicas que funcionam

como superantígenos, que é tão eficaz quanto LPS para seu estimulo. Nesta

casuística o TNF apresentou maior aumento do nível sérico nos paciente com PMT

positivos para Toxocara spp do que nos pacientes com sorologia negativa sendo

observado nestes pacientes maiores chance de disseminação da doença. 9,32,33

As ações características de células do perfil Th1 de linfócitos auxiliares estão na

regulação da resposta imunológica celular sendo relacionado com funções efetoras

de ativação e proliferação celular. O Interferon (IFN) produzido principalmente por

células Th1 e células NK (Natural Killer) possui como principais funções a ativação

metabólica de macrófagos estimulando atividade antimicrobicida, expressão de MHC

de classe II e ativação de células NK para secreção de IL-12 que promove a

diferenciação de Th0 em Th1. 20 IFN em associação com a IL-2, têm a capacidade

de ativar células CD8+, as quais têm como principal função a atividade citotóxica

antígeno-específica. 29,30,31,34

Nos patógenos extracelulares e particularmente nos helmintos, ao contrário dos

microorganismos intracelulares, o gatilho é representado por liberação e aumento de

citocinas com padrão dominante do tipo Th2, sendo IL4 e IL5 as principais

representantes. Porém, neste estudo, IL4 apresentou média de nível sérico menor

nos pacientes com PMT positivos para Toxocara spp, sendo o nível médio de IL5

maior neste grupo como esperado. As citocinas produzidas por resposta Th2 têm

ação predominantemente antiinflamatória, IL4 antagoniza a ação de IFN na ativação

de macrófagos, IL10 que também se encontra aumentada na resposta Th2, por sua

vez suprime a resposta dos macrófagos. Essa rede resultante da ativação do pólo

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Th2 inibe a reação inflamatória aguda, inclusive a reação de hipersensibilidade,

concluindo-se que a função da resposta imune Th2 não é efetora e sim reguladora. 31,35,36

Sabe-se que IL4 é a citocina que tem a maior capacidade de estimular linfócito B

provocando aumento da produção de IgE, e que ao lado de IL5 ocorre uma ativação

marcada de eosinófilo. 35,36 Entretanto, ao contrário do que já foi descrito na

literatura anteriormente, encontramos percentual baixo de eosinofilia nesta

casuística. Apesar disso, observamos que aqueles pacientes com sorologia para

Toxocara spp positiva expressavam mais eosinofilia no sangue periférico. É provável

que isso se deva a fase de migração larvária, pois nesta o estímulo e as reações de

hipersensibilidade com manifestações cutâneas, eosinofilia e altos níveis de IgE, são

marcantes, e em nossos pacientes a reação cutânea foi vista apenas em um

paciente. Acreditamos que os pacientes provavelmente encontravam-se em fase

crônica de estimulação, com formação de granuloma que tem sido incriminado como

sítio de colonização bacteriana especialmente para S. aureus. 9

Já foi demonstrado que em doenças parasitárias ocorre no hospedeiro uma

mudança da resposta imune Th1 para Th2, contribuindo para formação de

granuloma, eosinofilia e aumento da susceptibilidade para infecções fúngicas e

bacterianas, como por exemplo: pacientes com schistossomose aguda tem aumento

sérico de IgE e desenvolvem abscesso piogênico do fígado na presença de

bacteremia por S. aureus; associação de Salmonella e S. mansoni tem sido bem

documentada na entidade salmonelose septicêmica prolongada. 9 Entendendo-se,

desta forma, que as doenças parasitárias são pivô no desenvolvimento ou no

agravamento de outras doenças infecciosas. A associação de abscessos piogênicos

do fígado com a infecção por Toxocara spp também já foi descrita, assim como a

associação com abscessos musculares.

RAYES et al, 2000 em estudo clinico e experimental, observaram que 40% dos

pacientes com piomiosite tropical foram positivos para T. canis contra apenas 5%

dos controles. 9 Em nossa casuística 53,3% dos pacientes foram positivos para

Toxocara spp, e, apesar de não termos realizado sorologia em grupo controle,

nossos dados sugerem que existe uma associação entre PMT e Toxocara spp, que

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essa associação parece modular a resposta imune para um padrão Th2,

contribuindo com a gravidade dos pacientes, pois foi observado que estes indivíduos

apresentam mais disseminação da doença do que os pacientes com sorologia

negativa. Sabe-se que o tipo de solo, a temperatura, e a umidade presentes no

Norte do Brasil, poderiam ser ideais para eclosão das larvas de Toxocara spp no

solo, o que poderia aumentar a exposição dos indivíduos. Entretanto, há

necessidade de um estudo para mensurar a soroprevalência de Toxocara spp em

indivíduos saudáveis na zona urbana de Manaus que aliados a um modelo caso-

controle possam afirmar o quão está associação é causal.

AGRADECIMENTOS:

A Coordenação do Curso de Pós graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas

da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas e Universidade do Estado do

Amazonas, assim como a Fundação Hemocentro do Amazonas e Universidade

Federal do Amazonas, pelo apoio técnico-científico e logístico na execução desta

pesquisa. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas pelo apoio financeiro.

Aos meus orientadores Profa. Dra. Adriana Malheiro e Prof. Dr. Antonio de Matos

Tavares pelas oportunas sugestões.

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78

4.4 Outros resultados:

4.4.1.Análise de dados demográficos

Os pacientes selecionados na pesquisa ficaram distribuídos em: 32 no Hospital e

Pronto Socorro João Lúcio Pereira Machado, 29 internados na UHNA-FMTAM, 23

no Hospital e Pronto Socorro Municipal 28 de Agosto, 23 no Hospital e Pronto

Socorro Infantil da Zona Leste e quatro no Hospital Universitário Getúlio Vargas. Em

cinco fichas não havia identificação da unidade de internação hospitalar dos

pacientes.

O gráfico abaixo demonstra como a doença se comportou no período de estudo.

Podemos observar a ocorrência maior de casos nos meses de abril em 2006 e 2008,

no entanto em 2007 o pico maior ocorreu em outubro. Observamos, também, que

em todos os anos há uma diminuição da doença no mês de julho.

Figura 1. Distribuição dos pacientes internados nos hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical, segundo mês e ano. Foi observado maior número de casos acumulados de piomiosite no primeiro

semestre do ano, correspondendo a 62,1% (72∕116).

9 9

15

21

12

6

2

75

1012

8

0

5

10

15

20

25

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

número de casos 2006

número de casos 2007

número de casos 2008

numero de casos acumulados

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79

A piomiosite predominou em menores de 25 anos, existindo uma maior

ocorrência no gênero masculino mesmo quando distribuída em faixas etárias. No

entanto, essa diferença tornou-se maior na adolescência e menor após os 25 anos,

havendo diferença estatisticamente significativa na faixa etária de 15 a 20 anos.

Apenas na faixa etária de 51 a 55 anos ocorreu inversão desta relação, com

predomínio em mulheres (Tabela 1).

Tabela 1. Relação da faixa etária com o gênero dos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical.

Faixa Etária

Sexo Feminino Masculino

Total Valor do χ²

Valor de p

1 a 5 2 6 8 2,000 0,157a 6 a 10 4 10 14 2,571 0,109 a 11 a 15 4 9 13 1,923 0,166 a 16 a 20 2 14 16 9,000 0,003b 21 a 25 3 10 13 3,769 0,052 a 26 a 30 0 4 4 NC NC 31 a 35 2 4 6 0,667 0,414 a 36 a 40 2 4 6 0,667 0,414 a 41 a 45 3 4 7 0,143 0,705 a 46 a 50 2 7 9 2,778 0,096 a 51 a 55 6 3 9 1,000 0,317 a 56 a 60 1 2 3 0,333 0,564 a 61 a 65 2 1 3 0,333 0,564 a >65 2 3 5 0,200 0,655 a

a-Não significativo; b-Significativo; NC-Não calculado porque é constante.

A maioria (69,1% - 74∕107) dos pacientes envolvidos na pesquisa procedia da

capital do estado do Amazonas, enquanto apenas 28,9% (31∕107) eram do interior, e

1,9% (2∕107) de outro estado do Brasil.

Quanto à escolaridade mais da metade dos pacientes tinham o primeiro grau, 15,2% (17∕116) não eram alfabetizados, apenas um paciente tinha nível superior e em sete fichas clinicas não havia informação quanto ao grau de instrução (Tabela 2).

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80

Tabela 2. Grau de instrução dos pacientes internados nos hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical.

Grau de Instrução N % 1 Grau 63 56,3 2 Grau 27 24,1 Analfabeto 17 15,2 Superior 1 0,9 Não informado 1 0,9 Total 109 97,3

A atividade profissional exercida pelos pacientes no momento do adoecimento foi

à maior parcela de estudantes (32), seguida por: atividades domésticas (12),

agricultura (6), construção civil (6), caminhoneiro∕motorista (6), comerciante (6),

autônomo (6), feirante (5) e outras (17). Dois pacientes eram profissionais da área

da saúde. Dez pacientes não tinham atividade laboral por serem menores de idade.

A raça∕cor da pele que predominou foi parda em 75 pacientes, seguido por

branca em 29, negra, amarela e mulata totalizaram nove pacientes.

Grande parcela dos pacientes, 78,4% (91∕116), procurou o serviço médico nas

duas primeiras semanas de aparecimento dos sintomas e apenas 6,9% (8∕116)

buscou atendimento após três semanas (Tabela 3).

Tabela 3. Tempo de evolução da doença no momento da procura por atendimento médico dos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical.

Tempo de evolução da doença em dias

N %

0 a 7 dias 70 60,3 8 a 14dias 21 18,1 15 a 21 dias 17 14,7 >21 dias 8 6,9 Total 116 100,0

4.4.2.Análise de dados da história patológica e quadro clinico

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81

Das características clinicas apresentadas pelos pacientes incluídos no estudo o

comprometimento de único grupo muscular foi encontrado com maior freqüência

(72,4%), o sinal mais freqüente foi flogose (90,5%), seguido de febre (83,6), sendo

observado que poucos pacientes, apenas 37,1%, apresentavam flutuação de lojas

no exame físico inicial (Figura 2, 3 e 4).

Figura 2. Piomiosite na coxa esquerda em paciente no estágio I ou de invasão, segundo Gibson et al, 1984.

Figura 3. Piomiosite na coxa direita em paciente no estágio II ou supurativo, segundo Gibson et al, 1984. Observar porta de entrada no cotovelo direito.

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82

Figura 4. Piomiosite na coxa esquerda em paciente no estágio III ou septicêmico, segundo Gibson et al, 1984, com pioartrite e pneumonia. Quanto à evolução clinica foi observado baixo percentual de disseminação

(27,6%), complicação (25%) e co-morbidades [(18,1%) Tabela 4 ].

Tabela 4. Distribuição das caracteristicas clinicas dos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical.

Caracteristicas clinicas n (%) Grupo muscular Único Multiplo

84 (72,4) 32 (27,6)

Flogose Sim Não

105 (90,5) 11 (9,5)

Flutuação Sim Não

43 (37,1) 73 (62,9)

Febre Sim Não

97 (83,6) 19 (16,4)

Patologia de base Sim Não

21 (18,1) 95 (81,9)

Disseminação Sim Não

32 (27,6) 84 (72,4)

Complicação Sim Não

29 (25,0) 87 (75,0)

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83

A hemocultura foi realizada em 73,3% (85∕116) e a cultura da lesão∕foco

(abscesso) em 57,8% (67∕116) dos pacientes. Em ambas o germe isolado com maior

freqüência foi o S. aureus com 86,6% (13∕15) e 73,9% (34∕46), respectivamente

(Figura 5).

Figura 5. Frequência de germes isolados na hemocultura e cultura de abscessos, dos pacientes com diagnóstico de piomiosite tropical internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM. Observamos que houve isolamento de bactérias Gram negativas quando

realizado a cultura do foco, o que diferiu na hemocultura, onde foram isoladas

apenas bactérias Gram positivas.

O perfil de sensibilidade do S. aureus isolado na hemocultura e na cultura da

lesão∕foco (abscesso) mostrou boa sensibilidade a vancomicina (83,0%), sendo

menor a oxacilina (63,8) que foi semelhante aos cabarpenens 63,1% (12∕19). Uma

cepa no estudo foi resistente a vancomicina 2,5% (1∕47) e 12,7% (6∕47) dos isolados

de S. aureus mostrou-se resistente a oxacilina (Tabela 5, figuras 6 e 7).

Tabela 5. Sensibilidade do S. aureus em 47 isolados de hemocultura e cultura de secreção de abscesso muscular, em pacientes com diagnóstico de piomiosite tropical.

Perfil de sensibilidade

Penicilina n (%)

Cefalotina n (%)

Oxacilina n (%)

Vancomicina n (%)

Sensível 5 (10,6) 26 (55,3) 30 (63,8) 39 (83,0) Intermediário 0 4 (8,5) 5(10,6) 0 Resistente 37 (78,7) 11 (23,4) 6 (12,7) 1 (2,1)

S. aureus(47)

SCN (9)

Pseudomonas sp (2)

E. coli (1)

Klebsiella sp (1)

S. pyogenes (1)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Número de isolados (N=61)

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a

b c Figura 6. Antibiograma pelo método E-test. CIM do S. aureu em detalhe: a) oxacilina; b) imipenem; c) clindamicina.

Figura 7. Antibiograma pelo método e-test de cepa de S. aureus com CIM 4μg à vancomicina.

A pesquisa de coproparasitos foi realizada em 50% (58∕116) dos pacientes não

sendo evidenciados helmintos, nem protozoários em 77,6% (45∕58) e encontrado em

22,4% (13∕58). O helminto diagnosticado com maior freqüência foi o Ascaris

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lumbricoides, enquanto o protozoário de maior ocorrência foi a Entamoeba coli

(Tabela 6).

Tabela 6. Freqüência de coproparasitos ao exame parasitológico de fezes, dos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical.

Coproparasitos N Ancilostomideos 5 Ascaris lumbricoides 12 Trichuris trichiura 2 Entamoeba coli 2 Isospora belli 1 Blastocystis hominis 1 Entamoeba histolytica 1 Strongyloides stercoralis 2 Giardia lamblia 1

Os pacientes permaneceram internados em média 16,9 dias (Dp13,5). O tempo

de uso de antimicrobianos foi 15,6 dias em média (Dp 9,4), sendo que a maioria dos

pacientes 66,4% (77∕116) recebeu tratamento clinico associado à intervenção

cirúrgica. A conduta terapêutica em 58% foi o uso de um único antimicrobiano

(Figura 8).

Figura 8. Escolha do esquema de tratamento dos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical, segundo o número de antimicrobianos.

Tipo de tratamento clinico

> de 2 antibióticos2 antibióticosMonoterapia

Perc

entu

al d

e pa

cien

tes

com

pio

mio

site

60

50

40

30

20

26

32

58

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A oxacilina representou a primeira opção de tratamento (74%), seguida da

cefalotina (17%), quando o esquema antimicrobiano foi por monoterapia (Figura 9).

Figura 9. Percentual de Antimicrobianos usados como monoterapia no tratamento dos pacientes internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus-AM, com diagnóstico de piomiosite tropical. Quando a opção de tratamento foi associação de dois antimicrobianos a oxacilina

esteve presente em 59,4% dos esquemas (Tabela 7).

Tabela 7. Freqüência e distribuição dos esquemas terapêuticos com dois antimicrobianos no tratamento dos pacientes com diagnóstico de piomiosite tropical internados em hospitais terciários da rede pública de Manaus.

Esquema terapêutico N(%) Oxacilina+gentamicina 11(34,4) Oxacilina+amicacina 5(15,6) Oxacilina+ceftriaxona 3(9,4) Cefalotina+gentamicina 2(6,3) Oxacilina;cefalotina+gentamicina 2(6,3) Vancomicina+imipenem 2(6,3) Cefalexina+ciprofloxacina 1(3,1) Cefalotina+amicacina 1(3,1) Cefepime+amicacina 1(3,1) Ceftriaxona+gentamicina 1(3,1) Oxacilina;vancomicina+ceftriaxona 1(3,1) Vancomicina+ceftazidima 1(3,1) Vancomicina+clindamicina 1(3,1)

Cefalexina

Cefalotina

Cefepime

Ceftriaxona

Ciprofloxacina

Oxacilina

Teicoplamina

Percentual de tratamento em monoterapia

806040200

74

17

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87

A opção terapêutica por esquema incluindo mais de um antimicrobiano (26

tratamentos) ocorreu com inclusão de droga anaerobicída em 84,6% (22∕26). Neste

caso, o metronidazol foi a medicação mais prescrita (59,0%), seguida de inibidores

da betalactamase combinados com betalactâmico (18,0%), carbapenemas (13,6%) e

clindamicina (9,0%). Não houve uniformidade na prescrição, sendo esta modalidade

de tratamento utilizada após outros esquemas.

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88

5 CONCLUSÕES 5.1. A piomiosite tropical apresentou-se como patologia comum em Manaus,

acometendo principalmente indivíduos jovens do gênero masculino.

5.2. A presença de co-morbidades tais como o Diabetes Mellitus, doenças do

colágeno, HIV, assim como, o uso de corticosteróides e imunossupressores, não

apresentou frequência aumentada nesta casuística.

5.3. Houve mais disseminação para o pulmão sendo a presença de sepse a

complicação mais frequênte.

5.4. A precocidade do diagnostico e o comprometimento de único grupo muscular

foram marcadores de boa evolução.

5.5. O Staphylococcus aureus foi o germe isolado com maior frequência mostrando

boa sensibilidade a vancomicina (83%). Entretanto, é preocupante o encontro de

cepas comunitárias resistentes a oxacilina (12,5% ) e a vancomicina (2,5%).

5.6. Em Manaus e no presente estudo, a mortalidade pela piomiosite, assim como,

o percentual de disseminação e complicação foram baixos.

5.7. Os pacientes com sorologia positiva para Toxocara spp e aqueles com

hipoalbuminemia apresentaram mais disseminação da doença.

5.8. A soropositividade para Toxocara spp em pacientes com piomiosite (53,3%)

mostrou-se, maior do que as relatadas em trabalhos anteriormente publicados,

sendo concordante a frequência de trauma fechado (49,4%).

5.9. As citocinas da imunidade natural TNF, IL6, IL10 e da imunidade adquirida IL5

apresentaram maior nível sérico nos pacientes com a associação piomiosite-

Toxocara spp, sendo, evidenciando resposta tipo Th0 e Th2 com tendência ao

padrão de resposta Th2, cuja ação é principalmente antinflamatória.

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89

5.10. O IFN apresentou maior nível sérico no grupo de pacientes com piomiosite

soronegativos para Toxocara spp concluindo-se que a atividade próinflamatório foi

marcante nestes pacientes e, portanto responsável pela resolução do processo

inflamatório e eliminação do patógeno.

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90

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7 ANEXOS 7.1 Bula da Fitas E-test (Antimicrobial Susceptibility Testing For in Vitro Diagnostic Use)

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7.2 Bula do teste rápido para detecção do HIV

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7.3 Portaria do MS sobre o teste rápido HIV para o diagnóstico da infecção.

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7.4 Bula do teste EIA para o diagnóstico de Toxocara spp

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7.5 Bula KIT para dosagem de citocinas pelo método ELISA

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7.6 Ficha clínica FICHA: _____________ 1) IDENTIFICAÇÃO NOME: _________________________________________________________________ DATA NASCIMENTO: ____/____/______ IDADE: ____ Anos SEXO: 1.( ) FEMININO 2.( ) MASCULINO GRUPO ÉTNICO: 1.( ) BRANCO 2.( ) NEGRO 3.( ) AMARELO 4.( ) MULATO 5.( ) INDÍGENA DATA INTERNAÇÃO: ____/____/_______ DATA DA ALTA: ____/___/______ DIAS DE INTERNAÇÃO: ___________ CONDIÇÕES DE ALTA: 1.( ) MELHORADO 2.( ) ÓBITO 3.( )TRANSFERIDO 4.( ) À PEDIDO PROCEDÊNCIA: _______________NATURALIDADE: ____________________ GRAU DE INSTRUÇÃO: 1.( ) 1O GRAU 2.( ) 2O GRAU 3.( ) 3O GRAU 4.( ) ANALFABETO 5.( ) NÃO INFORMADO PROFISSÃO/ATIVIDADE QUE EXERCE: ________________________ 2) HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL E EXAME FÍSICO: INÍCIO DA DOENÇA: ____/____/_______ SEMANAS DE EVOLUÇÃO DA DOENÇA: 1.( ) 1 SEMANA (0 – 7 DIAS) 3.( ) > DE 2 SEMANAS (15 – 21 DIAS) 2.( ) > DE 1 SEMANA (8 – 14 DIAS) 4.( ) > DE 3 SEMANAS (> 21 DIAS) PORTA DE ENTRADA: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO 3.( ) NÃO INFORMADO ESPECIFICAR/LOCALIZAR PORTA DE ENTRADA: MANIPULAÇÃO DA PORTA DE ENTRADA: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO 3.( ) NÃO INFORMADO LUGAR ONDE FOI FEITA A MANIPULAÇÃO DA PORTA DE ENTRADA: 1.( ) NO DOMICÍLIO 2.( ) EM SERVIÇO DE SAÚDE 3.( ) NÃO REALIZADA 4.( ) NÃO INFORMADO GRUPO MUSCULAR ENVOLVIDO: 1.( )ÚNICO 2.( ) MÚLTIPLO LOCALIZAÇÃO DO FOCO: ___________________________________________________________________SINAIS FLOGÍSTICOS: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO SINAIS DE FLUTUAÇÃO: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO PRESENÇA DE FEBRE: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO DISSEMINAÇÃO: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO LOCAL DA DISSEMINAÇÃO: 1.( ) RINS 7.( ) OSSOS 2.( ) PULMÃO 8.( ) OUTROS 3.( ) PLEURA 9.( ) SEM DISSEMINAÇÃO

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4.( ) PERICÁRDIO 5.( ) SNC 6.( ) ARTICULAÇÕES COMPLICAÇÕES: 1. ( ) NÃO 2. ( ) SIM 3.( ) NÃO INFORMADA TIPO DE COMPLICAÇÃO: 1.( ) SEPSE 7.( ) SEM COMPLICAÇÕES 2.( )CHOQUE 8.( )HEMORRAGIA DIGESTIVA 3.( ) INS RESPIRATÓRIA 4.( ) INS RENAL 5.( ) FMOS 6.( ) OUTRAS 3) ASSOCIAÇÃO COM OUTRAS PATOLOGIAS: (PATOLOGIAS DE BASE) 1.( ) SIM 2.( ) NÃO 3.( ) NÃO INFORMADO ESPECIFICAR--------------------------------------------------------------------------------------------- 4) REINTERNAÇÃO: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO 3.( ) NÃO INFORMADO ESPECIFICAR--------------------------------------------------------------------------------------------- 5) CULTURA DA LESÃO OU FOCO: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO 3.( ) NÃO INFORMADO 6) USO PRÉVIO DE ANTIBIÓTICO: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO 3. ( ) NÃO INFORMADO 7) QUIMIOTERÁPICO/ANTIMICROBIANO USADO ANTES DA INTERNAÇÃO: _________________________________________________________________ 8) GERME ISOLADO NA CULTURA DA LESÃO OU FOCO: ___________________________________________________________________ 9) ANTIBIOGRAMA 1 (CULTURA DA LESÃO OU FOCO) : 1.( ) SIM 2.( )NÃO 3.( ) NÃO INFORMADO 10) PERFIL DE SENSIBILIDADE ( CULTURA) :

Antibiotico sensivel intermediario resistente Diâmetro do halo MIC

Penicilina

Oxacilina

Vancomicina

Clindamicina

Amicacina

Gentamicina

Meropenem

11) HEMOCULTURA: 1.( ) SIM 2.( )NÃO 3.( ) NÃO INFORMADO 12) GERME ISOLADO NA HEMOCULTURA:______________________________________________________ __________________________________________________________________ 13) ANTIBIOGRAMA DA HEMOCULTURA : 1.( ) SIM 2.( ) NÃO 3.( ) NÃO INFORMADO

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14) PERFIL DE SENSIBILIDADE DO GERME ISOLODO NA HEMOCULTURA:

Antibiotico sensivel intermediario resistente Diâmetro do halo MIC

Penicilina

Oxacilina

Vancomicina

Clindamicina

Amicacina

Gentamicina

Meropenem

15) EXAMES LABORATORIAIS: Dias Dia Zero 3ºdia após ATB 24h antes da alta LEUCÓCITOS

BASTÕES

EOSINÓFILOS Hto./Hb ALBUMINA GLICEMIA CPKtotal TGO(AST) TGP(ALT) BT (D/I) URÉIA CREATININA

EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES:__________________________________ RESULTADO DA SOROLOGIA PARA Toxocara canis: DO/Cut off POSITIVO ( ) NEGATIVO ( ) INDETERMINADO ( ) NÃO REALIZADA ( ) RESULTADO DO TESTE RÁPIDO PARA HIV: POSITIVO ( ) NEGATIVO ( ) INDETERMINADO ( ) NÃO REALIZADA ( ) 16)TIPO DE TRATAMENTO/INTERVENÇÃO: 1.( ) CLÍNICO 2.( ) CIRÚRGICO 3.( ) CLÍNICO E CIRÚRGICO 17) TRATAMENTO CLÍNICO: 1.( ) MONOTERAPIA 2.( ) DOIS ANTIBIÓTICOS 3.( ) MAIS DE DOIS ANTIBIÓTICOS 18) ANTIBIÓTICO EM MONOTERAPIA: 1.( ) PENICILINA 2.( ) OXACILINA 3.( ) CEFALOTINA 4.( ) GENTAMICINA 5.( ) AMICACINA

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6.( )VANCOMICINA 7.( ) ASSOCIAÇÃO 8.( ) OUTROS 19) DOSE/VIA/INTERVALO___________________________________________ 20) ASSOCIAÇÃO DE ANTIBIÓTICOS: 1.( ) OXACILINA+AMICACINA 7.( ) PENICILINA+GENTAMICINA 2.( ) OXACILINA+GENTAMICINA 8.( )PENICILINA+AMICACINA 3.( ) CEFALOTINA+AMICACINA 9.( ) OUTROS 4.( ) CEFALOTINA+GENTAMICINA 10.( ) MONOTERAPIA 5.( ) VANCOMICINA+AMICACINA 6.( ) VANCOMICINA+GENTAMICINA 21) TEMPO DE DURAÇÃO DO TRATAMENTO:_____________________________ 22) TRATAMENTO CIRÚRGICO: 1.( ) SIM 2.( ) NÃO 23) TIPO DE TRATAMENTO CIRÚRGICO:_________________________________ OUTRAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES OU OBSERVAÇÕES DO CASO: 24) ESCORES DE PROGNÓSTICO Graduação da disfunção orgânica no escore ODIN

Disfunção orgânica Presença de um ou mais dos seguintes elementos

Cardiovascular Freqüência cardíaca < 54 bpm Pressão arterial média < 49 mmHg Taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular pH < 7,24 com PaCO2 < 49

Respiratória Freqüência respiratória < 5 ou > 49 irpm PaCO2 > 50 mmHg D(A-a)O2 > 350 mmHg Dependência do ventilador no segundo dia de disfunção do sistema orgânico

Renal Débito urinário < 479 mL/24h ou 159 mL/8h Uréia sérica > 100 mg/dL Creatinina sérica > 3,5 mg/dL

Hematológica Número de leucócitos < 1000/mm³ Número de plaquetas < 20.000/mm³ Hematócrito < 20%

Neurológica Escala de coma de GLASGOW com pontuação < 6 pontos na ausência de sedação em qualquer ponto do dia

Hemorragia digestiva alta Hematemese ou melena Comprovação endoscópica ou cirúrgica de lesão aguda da mucosa gástrica

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Graduação da disfunção orgânica no escore SOFA

SOFA Escore 0 1 2 3 4

Respiração

PaO2/FiO2

>400

<400

<300

<200

<100

Coagulação

Plaquetas 10³/mm³

>150

<150

<100

<50

<20

Cardiovascular

Hipotensão

PAM >70

PAM<70 Dopamina ≤ 5 ou

Dobutamina qualquer

dose

Dopamina > 5

Epinefrina ≤ 0,1 ou

Noradrenalina ≤ 0,1

Dopamina >15 ou

Epinefrina >0,1 ou

Noradrenalina >0,1

Fígado

Bilirrubinas mg/dl

<1,2

1,2 – 1,9

2,0 – 5,9

6,0 – 11,9

> 12

SNC escala de coma de Glasgow

>14 13 - 14 10 - 12 6 - 9 < 6

Renal

Creatinina ou débito urinário

<1,2 1,2 -1,9 2,0 – 3,4 3,5 – 4,9 ou < 500

> 5 ou < 200

Graduação da gravidade na escala PTE

Componentes clínicos e laboratoriais Valor = pontuação

Idade < 18 anos = um > 18 anos = dois

Comprometimento de grupo muscular Único = zero Múltiplos = um

Leucometria > 10.000/mm³ = zero < 10.000/mm³ = um < 4.000/mm³ = dois

Hemoglobina > 10g/dl = zero < 10g/dl = um

Albumina sérica > 3,0 = zero < 3,0 = um ponto

Co-morbidade Ausente = zero Presente = um

Disseminação para órgãos/sistemas Não = zero Sim = um

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7.7 Pareceres do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos- CEP∕FMTAM

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7.8 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS - FMTAM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL DOUTORADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) TÍTULO DO PROJETO: PIOMIOSITE TROPICAL E Toxocara canis: ESTUDO CLINICO- EPIDEMIOLÓGICO, LABORATORIAL E PERFIL DA RESPOSTA IMUNE, DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAIS TERCIÁRIOS DA REDE PÚBLICA, EM MANAUS-AMAZONAS. PESQUISADOR RESPONSÁVEL: Márcia Melo Damian Celular: 91226416 Endereço comercial para contato: Fundação de Medicina Tropical do Amazonas Av. Pedro Texeira, n°25, Bairro D. Pedro, próximo à vila olímpica. 32381711 PESQUISADOR ORIENTADOR: Dr. Antonio de Matos Tavares PESQUISADORES COLABORADORES: Dra. Rossicléia Lins Montes Dr. Felipe Sardinha Senhor (a) paciente(a), estamos realizando um estudo sobre uma doença chamada PIOMIOSITE TROPICAL/ESTAFILOCOCCIA. Esta doença é causada por uma bactéria que acomete algumas pessoas, ocorrendo com muita freqüência na nossa região, quando comparada com outros lugares, mesmo no Brasil. Ela pode se iniciar com um abscesso ou furúnculo na pele, ou após pancadas que chamamos de traumas, e se estender ou espalhar comprometendo os músculos. Alguns pacientes evoluem sem complicações, porém outros complicam e evoluem de forma grave, desconhecendo-se, ainda, os fatores que estariam influenciando esta evolução. Entretanto existe ainda uma teoria de que pacientes com diminuição das defesas do corpo, por alguma outra doença que chamamos de co-morbidade, tais com o diabetes, a AIDS, o câncer, a cirrose, dentre outras, poderiam ter essa infecção mais grave. Por outro lado, também existe uma teoria de que indivíduos que tenham contato com Toxocara canis. Esse verme pode ser encontrado no solo e no meio ambiente, assim como em “cães de rua”, ou até doméstico que não são vermifugados (tomam remédio para verme), podem ser fontes de contaminação e transmissão da doença para o homem. Em geral a toxocaríase pode passar despercebida como uma manifestação ou sintoma de “coceira na pele que deixa um caminho ou rastro”, mas algumas vezes pode causar doenças mais graves com comprometimento de órgãos, como o fígado, o que chamamos de

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larva migrans visceral, e outra forma que acomete o olho, podendo levar a cegueira. O objetivo deste trabalho é estudarmos a freqüência de anticorpo contra o Toxocara canis, assim como os achados clínicos e laboratoriais que indiquem o estágio da sua doença, para monitorização e elaboração de um protocolo ou rotina que aponte para melhor escolha do antibiótico e tempo de utilização deste. A piomiosite é conhecida há muito tempo, porém a resistência bacteriana tem aumentado, esse também é um dos motivos para continuarmos pesquisando sobre ela. O seu tratamento poderá ser internado ou ambulatorial, conforme os critérios de gravidade, que já fazem parte da rotina da UNHA/FMT-AM. Você será acompanhado (a) no ambulatório da FMT-AM por mim, Dra. Márcia Melo Damian, coordenadora do projeto, através de consultas pré-agendadas de 2ª a 6ª feira de 10:00 às 12:00. No caso de internação, você terá a assistência de um médico do hospital onde você está internado, que estará ciente da pesquisa e receberá toda atenção dos médicos coordenador e colaboradores da mesma. Os antibióticos utilizados no tratamento são todos já disponíveis no mercado, todos aprovados pela ANVISA/MS (Agência Nacional de Vigilância Sanitária/Ministério da Saúde), não estaremos usando nenhum medicamento novo. Alguns exames incluídos na pesquisa não estão disponíveis em todas as unidades hospitalares, taís como: sorologia para toxocaríase, teste rápido para detecção do vírus da imunodeficiência humana (HIV), culturas e testes de sensibilidade, exames de imagem. Neste caso, todos serão de responsabilidade da FMT-AM e da UEA, através do Curso de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Medicina Tropical, financiadoras do projeto. Para isso precisamos de sua autorização para coleta de 20mL de sangue, que será utilizado para realizar um exame sorológico para detecção de anticorpo contra o Toxocara, pesquisa do HIV, hemocultura, assim como algumas provas laboratoriais que não estejam disponíveis onde você será internado. Além dessa amostra de sangue coletaremos fezes para exame coprológico. Estes exames serão processados nos laboratório da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Concomitantemente, coletaremos amostras de fezes de cães presentes no solo de ruas e praças públicas, assim como aplicaremos um breve questionário que irá ajudar na identificação de possíveis fatores que facilitam a infecção, ou como chamamos fatores de risco. As despesas com o material para coleta e toda logística para desenvolvimento do trabalho serão de responsabilidade minha, Dra. Márcia Melo Damian, médica infectologista e coordenadora do projeto, e da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Há toda uma equipe qualificada envolvida com esta pesquisa, que garantirá adequados métodos para coleta de material assim como para o seu processamento. Participando deste estudo o Senhor (a), não terá benefícios financeiros, porém estará contribuindo com o conhecimento a partir do qual poderá influenciar seu (a) estilo ou modo de vida coletivamente. Os benefícios advindos com o presente trabalho serão, portanto o diagnóstico epidemiológico da situação, o conhecimento sobre a doença de sua ocorrência na região e de seus possíveis riscos tanto individualmente como coletivamente.

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Os possíveis riscos advindos com o estudo podem estar relacionados com a coleta de sangue, que será do antebraço, e são: sangramento no local, inflamação e dor. Eventos mínimos, que caso ocorram, serão tratados por mim, coordenadora do projeto, pela equipe envolvida, tendo o apoio da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, assim como da rede pública de assistência médica (SUS). O Senhor (a) terá direito a ressarcimento ou indenização, caso isso ocorra. Se o Senhor (a) aceitar participar da pesquisa assinando esse termo, mas por qualquer motivo não quiser mais fazer parte deste trabalho, seus dados serão retirados sem qualquer prejuízo ou retalhamento. Em caso de dúvidas ou questionamentos sobre o projeto, o Senhor (a) terá direito a esclarecimentos que serão dados por mim, Márcia Melo Damian, ou por membros da equipe de trabalho, no endereço: Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Av. Pedro Texeira, n°25, Bairro D. Pedro, próximo à vila olímpica, 32381711 ou pelo telefone celular 91226416. Os resultados serão confidenciais e comunicados apenas a cada paciente que aceitar participar do trabalho. Estes dados serão publicados e apresentados para comunidade científica, porém, garantiremos sigilo sobre sua identidade. Declaro que fui informado e li sobre o projeto PIOMIOSITE

TROPICAL E Toxocara spp: ESTUDO CLINICO-EPIDEMIOLÓGICO,

LABORATORIAL E PERFIL DA RESPOSTA IMUNE, DE PACIENTES

INTERNADOS EM HOSPITAIS TERCIÁRIOS DA REDE PÚBLICA, EM

MANAUS-AMAZONAS.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------- ---------------------------------------------------------------------------------------------------------

Assinatura de Pais ou Responsável Legal

Assinatura do Investigador

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7.9 Normas Para Publicação da Revista Brasileira de Medicina Tropical (1º Artigo Publicado).

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7.10 Normas Para Publicação da Revista Associação Panamericana de Infectologia (2º Artigo publicado).

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CLINICAL-LABORATORIAL CHARACTERISTICS, TOXOCARA CANIS

SEROLOGY AND OTHER PREDISPOSE FACTORES OF A PEDIATRIC

POPULATION WITH TROPICAL PYOMYOSITIS FROM MANAUS, AMAZONAS-

BRAZIL.

CARACTERISTICAS CLINICO-LABORATORIAIS, SOROLOGIA PARA T. CANIS

E OUTROS FATORES PREDISPONENTES DE UMA POPULAÇÃO PEDIATRICA

COM PIOMIOSITE TROPICAL EM MANAUS, AMAZONAS-BRASIL.

Márcia Melo Damian*†, Adriana Malheiros

‡, Rossicleia Lins Montes*, Andrea

Monteiro‡, Renata Arruda*, Patrícia Mizogushi* and Antonio de Matos Tavares*

†.

* Fundação de Medicina Tropical do Amazonas

† Curso de Pós-graduação em Medicina Tropical e Doenças Infecciosas da Universidade

do Estado do Amazonas

‡ Fundação Hemocentro do Amazonas

Universidade Federal do Amazonas

Address: Márcia Melo Damian, Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Av.

Pedro Teixeira nº25, D. Pedro, CEP 69.040-000.

e-mail: [email protected]

RESUMO

Foi conduzido um estudo seccional envolvendo 118 crianças internadas em hospitais

públicos de Manaus, com diagnostico de piomiosite tropical, para avaliar a associação

entre variáveis clinico-laboratorial e outros fatores predisponentes com a presença de

anticorpo anti Toxocara canis (T. canis). A piomiosite tropical predominou no gênero

masculino (69,5%). Os sinais e sintomas mais freqüentes foram enduração (95,8%) e

febre (90,7%). O comprometimento muscular foi único em 66,1% dos casos, sendo

encontrado envolvimento de múltiplos grupos musculares em 33,9%. Foi observado

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trauma fechado (39,8%), baixo peso (62,2%), linfoma (0,8%) e uso de corticosteróide

(0,8%). A sorologia para T. canis foi positiva em 52,6% dos pacientes. A anemia foi

complicação freqüente no estagio tardio da doença (χ² = 6.23, p = 0.044). O

Staphylococcus aureus (S. aureus) foi isolado em 83,3% das culturas de abscessos e

90% das hemoculturas. Em quatro pacientes classificados com escore de gravidade

moderada e severo, três tinham sorologia positiva para T. canis, em comparação com 14

com escore leve, dos quais sete tinham sorologia positiva. Este estudo alerta para

importância da piomiosite tropical e infecção por T. canis na população pediátrica,

ambas as patologias infecciosas curáveis, no entanto, de alta incidência em regiões

tropicais.

Palavras-chave: Piomiosite; População pediátrica; Staphylococcus aureus;

Estafilococcia; Miosite.

ABSTRACT

This is a cross-sectional study conducted of 118 children hospitalized in public hospitals

of Manaus with diagnoses of the tropical pyomyositis to evaluate association between

clinical-laboratorial variables and other predispose factories with presence of Toxocara

canis (T. canis) positive serology . The tropical pyomyositis was predominantly male

(69.5%). Indurations (95.8%) and fever (90.7%) were the most often findings. A single

muscle was affected in 66.1% of the cases, while 33.9% presented multiple muscle

groups involvement. Closed trauma (39.8%), low body weight (62.2%), lymphoma

(0,8%) and corticotherapy (0,8%) was observed. The serology for T. canis was positive

in 52.6% of the cases. Anemia was a complication in the late stage of disease (χ² = 6.23,

p = 0.044). Staphylococcus aureus (S. aureus) was the main isolated bacteria in abscess

cultures (83.3%) and hemocultures (90%). Three out of four cases were classified as

moderate or severe stage, were positive for T. canis serology, on the other hand seven

serology positive cases out of 14 mild cases. This study alerts for the importance of

pediatric tropical pyomyositis and T. canis infection, both curable diseases. However,

both infectious diseases are high incidence in tropical areas.

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119

Keywords: Pyomyositis; Pediatric population; Staphylococcus aureus; Pyogenic

infection; Staphylococci; Myositis.

INTRODUCTION

Conceptualized as a pyogenic infection which affects the skeletal musculature,

by the non-contiguous septic focus expansion, or resulting from non-penetrating

traumas, very rare in low temperate or cold weather regions, but relatively common in

certain hot and wet tropical regions. But it has an increasing description in temperate

regions and developed countries, being so called non-tropical pyomyositis, and in this

case, it is in most part related to an immunodepressor factor (1, 2, 3, 4, 5).The disease

can occur in any age, being more common in male young adults. The causative agent is,

in the most parts of cases, the S. aureus (4, 5, 6).

For the majority of authors the closed trauma upon the muscles is the initial

lesion to the pyomyositis development. The trauma theory is well accepted when it’s

about abscesses involving only one muscle group. However, when the myositis is

diffuse and takes multiple muscle groups, this theory is more difficult to be explained as

an exclusive cause (6, 7, 8, 9, 10).

Toxocariases has been suggested in the tropical pyomyositis pathogenesis. The

migration of T. canis larvae to the skeletal musculature would cause structural and

immunological alterations, which in the presence of the concomitant bacteremia, would

favor development of the pyomyositis (11, 12).

The clinical and the severity of case depend on the patient’s disease. The

pyomyositis treatment is based on beta-lactamic antibiotics, as the main isolated germ is

S. aureus. The invasive process, abscesses drainage and myonecrosed tissues

debridement, depend on the patient’s historic and may be always searched when there is

maintenance of fever (3, 6, 7, 9).The complications are rare and occur more frequently

within the supurative and late stages. The prognostic is excellent and the mortability is

low (1, 2, 5, 6, 8, 9).

The aim of this study was to evaluate the clinical and laboratorial situation and

the mortality rate, upon the different rolling stages of tropical pyomyositis, of

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120

hospitalized children in the public health care of Manaus, Amazonas, during 1997

January to 2008 July.

PATIENTS AND METHODS:

Study design:

A descriptive and analytical cross sectional study was performed, divided in

two phases: retrospective phase comprehended medical files of pyomyositis diagnosed

children, hospitalized in the Amazonas’ Tropical Medicine Foundation (FMTAM), from

January 1997 to December 2006; and prospective phase from July 2007 to July 2008.

Criteria of the eligibility:

Inclusion criteria: Children between ≥ 1 year old and ≤ 14 years old and

clinical diagnostic of pyomyositis confirmed by ultrasound exam or surgery

intervention. Exclusion criteria: Children <1 year old and > 14 years old; hospital

skeletal muscle infection; superficial dermal infections with only skin or subcutaneal

involvement, such as abscesses, boil, impetigo, pyodermitis and cellulites; soft tissues

secondary infections or contiguous to penetrating or drilled traumas; soft tissues

secondary infections to accidents with venomous animals.

Clinical diagnosis:

The diagnosis was based on clinical criteria: local edema with muscle

indurations or fluctuance, hyperemia, local pain and hyperthermia or fever, muscle

involvement confirmed by ultrasound exams or invasive surgery procedure.

Predispose factors for the development of infection were investigated such as

closed trauma background, dermal lesions, diabetes or family diabetes historical,

malnutrition, neutropenia , Acquired Human Immunodeficiency Syndrome (AIDS),

diseases, chemotherapies, use the immunosupressors and steroids, viral and parasitic

infections.

The clinical stratification was based on the Gibson RK et al (2), 1984

definition which divides the disease in: 1-Early or invasive stage – all patients with

fever, muscle pain, hyperemia, firm indurations, with up to 10 days of evolution; 2-

Supurative stage – included all patients with 10 to 20 days of after symptoms

appearance; 3-Late or septicemic stage – patients with more than 21 days of evolution,

with metastatic focus evidences or sepsis signals.

In order to have homogeneity in the patient groups, the definition of clinical

concepts, complications diagnosis and optimization of laboratorial finds were

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121

considered in the prospective and in the retrospective phase: Fever – temperature

elevation upon 37,8º C, measured in the axilla; Sepsis – evidence of infection associated

with an systemic inflamatory syndrome (SIRS), characterized by tachycardia (heart

frequency > 90bpm), tachypnea (respiratory frequency > 20irpm) and temperature

alteration with hypothermia (Temp.< 35º C) or hyperthermia (Temp.> 38º C) with

clinical emphasis and not necessarily a positive hemoculture; Septic shock – volume

refractory hypotension, need of vasoative drugs, in patients with systolic pressure <

90mmHg, associated to septic syndrome; Respiratory insufficiency – respiratory

frequency < 20, description of dyspnea, or respiratory discomfort; Renal failure –

description of oliguria, anuria, or serum increase of urea and creatinine; Transinfectious

hepatitis - jaundice associated to hepatomegaly and alteration on the hepatic function

exams, on the absence of viral hepatitis, congenital metabolic diseases, or hepatotoxic

drugs use history, such as alcohol; Failure of multiple organs and systems (FMOS) –

uncontrolled infectious process that have reached at least two or more organs producing

failures. The severity of cases was scored based on the ODIN (Organ Dysfunctions

and/or Infection) and SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) with data up to 48

hours of hospitalization, for later analyses and prognostic.

Laboratorial diagnosis:

For the prospective study, 16 ml of blood was collected in disposable syringe

through venopunction and quoted for lab exams: 5 ml for hematologic and biochemistry

exams; 3 ml for hemoculture; 3 ml of centrifugated blood for Toxocara and HIV

serology.

Biochemical and hematologic exams were performed using a DADE-

BEHRING, model DIMENSION. It was considered: Anemia – hemoglobulin under

10,0g/dl; Leucocitosis – leucocytes count superior to 10.000/mm³; Leucopenia –

leucocytes count up to 4.000/mm³; Eosinophilia – eosinophiles count upon 6%.

Biologic samples were processed in the FMTAM Bacteriology lab, according

to routine that comprehend Gram bacterioscopy and solid culture media seeding in

Blood Agar (BA) or Chocolate Agar to obtaining colonies, coagulase and catalase

positive identification tests. Hemocultures were seeded in liquid culture media and done

through automation method in BACTEC. For the sensibility study was used the

quantitative Kirby-Bauer test. The results were interpreted conform the CLSI (Clinical

and Laboratory Standards Institute).

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122

Ultrasound exam or computed tomography was performed for muscle

involvement confirmation to find the best place to draining the abscess. The presence of

Anti-HIV (Human Immunodeficiency virus) antibodies was investigated through Quick

test in filter paper with soluble antigens (FIOCRUZ/BIOMANGUINHOS).

The Toxocariases serology through investigation of anti-T. canis antibodies by

ELISA technique using the RIDASCREEN® commercial kit was performed.

Statistical analyses:

The statistical analyses were performed with the SPSS version 9.0 program.

The Chi square test was used with Yates correction, exact Fisher test and Mantel-

Haenszel for tendencies. The results were considered significance if the p value was p ≤

0.05 (α-level) with confidence interval of 95%.

Ethics aspect:

This study was approved by the ethical commission of FMTAM (protocol

number 135, 1105/05 e 2477/06). All legal responsible persons for child consent term to

subscribe.

RESULTS:

The distribution of 118 children diagnosed with tropical pyomyositis included

was: 19.5% (23/118) in the prospective phase and 80.5% (95/118) in the retrospective

phase, having a major male frequency 69.5% (82/118). The average age was 8.0 years

old (SD 4.6). The demographic characteristics and results of lab examinations were

similar between retrospective and prospective phases of the study, table 1.

The most common signals and symptoms found were indurations 95.8%

(113/118) and fever 90.7% (107/118). Fluctuations of the muscle abscesses were

present in 20.3% (24/118). In 66.1% (78/118) of cases presented single muscle

involvement and 33.9% (40/118) multiple muscle involvement. These were

predominating in the inferior members and pelvis.

Among predisposal factors described for the disease, the secondary muscle

damage to closed trauma was found in 39.8% of cases, chickenpox provoking a viral

myositis in 13.9%, 0.8 % lymphoma and 0.8% chronic using of corticosteroids because

of a dermatitis contact. It wasn’t demonstrated family history of mellitus diabetes and

the plasma glucose was normal in all patients. The nutritional status estimated by the

ratio weight/age was evaluated in 38.1% (45/118). This relation was low in 62.2 %

(28/45) of the children, using as reference the National Center of Health Statistics

(NCHS) data. The HIV quick test was performed for 23 children from the prospective

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phase and it was negative for 100% of them. Also T. canis serology was investigated in

this population and was positive for 52.6% (10/19) (Table 2).

The majority of patients (83.0%- 98/118) were diagnosed in the first week of

symptoms evolution, 13.6% (16/118) in supurative stage and 3.4% (4/118) in late stage.

There was no significant difference between the presence of anti-T. canis antibodies and

development of dissemination or complications. Three of the children with positive

serology were diagnosed in the early stage of the disease and shown severe or moderate

prognostic score (Table 3).

It was observed that presence of anemia in the late stage was statistical

significant when compared to the initial and supurative stages (χ²6.23 p=0.044). An

important predominance of single muscle involvement in the two first stages of the

disease, 65.3% (64/98) and 81.2% (13/16) respectively, and 75% (3/4) of multiple

muscle involvement in the late stage were statistical significant, see table 4.

In average, children remained hospitalized for 13.6 days. In seven cases

(5.9%) it was observed re-hospitalization. Infection dissemination occurred in 29.7%

(35/118), being the articulate involvement with pyoartritis 65.7% (23/35).

Complications were present in 16.5% (20/118) of children and a sepsis was the most

common complication 90.0% (18/20), data not shown.

S. aureus was the main isolated bacteria in the cultures of abscesses, as in the

hemocultures, corresponding respectively to 83.3% (38/46) and 90.0% (53/59). The

sensibility test was performed by the Kirby-Bauer method in 86 samples. In the S.

aureus isolates 31.4% were sensible to oxaciline and 3.5% resistant, and 1.2% resistant

to vancomicine. The beta-lactamic antibiotics were the first choice drugs for treatment,

with oxaciline prescript in 76.3%. Only 51.7% (61/118) of the patients needed surgery

intervention.

The mortality in the present study was 0.84%. Death to occurred in a 11 years

old boy, diagnosed in the invasive stage of the disease (pneumonia, pericarditis with

pericardic effusion and pyoartirtis of the right knee, septic shock, acute respiratory

failure and acute renal failure, see figure 1), with previous closed trauma and positive

serology to T. canis.

DISCUSSION:

Tropical pyomyositis has shown to be an important pediatric pathology in our

area, with predominance of male and age range of 11 to 14 years old. The occurrence of

tropical myosytis in the pediatric population has being reported frequently. In the

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124

United States and Africa, at least 33 to 40% of pyomyositis cases are observed in

children. In this population, the most common age range is 5 to 9 years old, with the

great majority among boys, with only one study reporting predominance among females

(4, 5, 6, 13, 14). The prevalence in the male sex is attributed to the bigger exposure to

traumas and physical effort related to sport practicing. We observed predominance

between the female gender in age range 6 to 10 years old in the prospective phase of the

study, also reported by Ryan (14).

There are some differences pointed in the literature, suggesting some

distinction between tropical and non-tropical pyomyositis, such as age, number muscle

and areas affected. The tropical pyomyositis, prevails in adults, with characteristic

involvement of multiple muscle groups, generally in inferior members; non-tropical

pyomyositis occurs more frequently in children, with single muscle involvement and

predominantly in thighs (4, 5). In our sample, the muscular involvement was single,

with predominance of the inferior members and pelvis, which is in agreement with

literature (2, 6, 7, 8, 9, 15).

The pyomyositis occurrence in non-tropical countries is related with

immunosupression factors such as: diabetes mellitus, a leukemia, aplastic anemia,

malnutrition, use of corticotherapy, auto-immune diseases, HIV/AIDS and injectable

drug users (5, 6, 9). Among these risk factores we found one child using corticotherapy

for long period and another with lymphoma, and no child presented diabetes or positive

for HIV. We observed that 62.2% of the children presented low nutritional status, in

agreement of 70.3% described previously (5).

Concerning the pathogeneses of the disease, muscle lesion seems to occur after

closed trauma, ischemia, muscle fatigue, metabolic stress, responding to the

sepses/SIRS presence (Systemic Inflammatory Syndrome). Further, there are recent

evidences of association between T. canis infection and the occurrence of “pyogenic”

abscesses, suggesting the hypothesis that infected individuals by T. canis are more

predisposed to Staphylococcus infections. The L3 larvae migration to the skeletal

muscle would lead to structural and immunological alterations, which, in the presence

of bacteria would favor bacteria adherence and pyomyositis development. In this

experimental study using mice corroborates to the muscular damage in the pyomyositis

development hypothesis. The authors observed a higher frequency of muscle abscesses

among the T. canis and S. aureus double infected group (11, 12).

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125

In this study, T. canis serology was positive in 52.6% (10/18) of children

affected by pyomyositis. Interestingly, a parallel study from our group revealed serum

positivity for T. canis in 48.5% (16/33) of a pediatric control population without

pyomyositis recruited from the same geographic region (16). This powerfully contrasts

with previous data showing 1% of positivity for T. canis serology in a population of 20

individuals from 8 to 16 years old from southeastern Brazilian state of Minas Gerais

(12). It is possible to hypothesize that the high prevalence of positive T. canis sorology

in the Amazonic population may be directly related to an increased risk of pyomyositis

in the same population. However, it is also possible that this hypothetical correlation

may be confounded by the high frequency of T. canis exposed individuals, due to lower

socio-economical status of the northern pediatric population as compared to Brazilian

southern regions.

Several studies have demonstrated that toxocariasis is a relevant public health

problem and largely distributed, prevalence varying from less than 1% in the developed

countries reaching 92.8% in poorer and developing countries (17). Seems that children

are exposed to T. canis because they have more soil and pet contact, in addition, pets are

a common contamination way. The seroprevalence T. canis reported in two studies

involving children were similar to our results, 39% of cases in Vitória, Espirito Santo

(18) and 52% in a rural population of Presidente Figueiredo, Amazonas (16).

Controversially, seroprevalence among healthy individuals of all ages, in five

municipalities of São Paulo, showed low seroprevalence, 2.2% to 5.7% (19).

The co-infection with bacterial and helmintic diseases has been described in

the literature. The intensity and the type of the immune response against an infectious

agent can determinate the infection damage, rolling and prognostic. Lots of pathologies

can be associated and the co-infection seems to exercise an immunomodulator role, with

evidences in the helmintic infections, as S. mansoni and the nematode T. canis (11).

Three out of four cases with positive for T. canis serology had the worst

severity score and one died, in this study. These children had their diagnostic in the

early stage of the disease, fact that exclude the possibility of the severity being related to

late treatment which is pointed as the main contributing factor to the disease morbidity

and mortality. The early clinic diagnostic of the disease depends on a strong index

suspicion, because the inflammatory signals are minimal and sometimes the muscle

fiber involvement is too deep. Marques et al, 1995, in study involving 15 adults and 12

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126

children, has demonstrated a low frequency of fluctuation of the muscle abscesses

(11.1%), found more commonly in late stage of the disease. This, also, was

demonstrated by Martinez-de Jesus et al, 1996, 40 cases of which 9 were children.

Maybe, this study, it is also justified by early diagnosis (6, 7, 8). Large case-control

samples are necessary to formally investigate the real impact of T. canis infection as a

risk factor for the development of tropical pyomyositis.

S. aureus was the main isolated bacteria. Although, the low percentage of

oxacilin resistance. S. aureus infection raised rate has been in headlines of several

recent publications, because of the reduced sensibility profile to different antibiotics,

leading to the difficult question about the treatment, specially in skin and soft parts

infection (20). Considered an opportunistic agent, S. aureus often is associated to

community acquired infections, or in a hospital environment. Some infections are acute,

pyogenic and can disseminate to several tissues and to promote metastatic infectious

focus leading to bacteremia episodes, pneumonia, endocarditic, pericarditis, meningitis,

brain and of other organs abscesses as the skeletal muscle (21).

Tropical pyomyositis complications are rare and occur more often in the

supurative or late stages, showing that the non establishment of a diagnostic in the early

stage of the disease slows the antibiotic treatment and directly interfere in the patient’s

evolution. It seems to be an increased susceptibility to osteomielitis and pyoartritis in

children. However, our results are in disagreement regarding osteomielitis. Sepsis was

the most common complication, followed by acute respiratory failure, shock, acute renal

failure, disseminated intravascular coagulation and high digestive bleeding. These

results agreed with most of the previous studies (5, 6, 7, 8, 9, 22, 23).

The fact that we used secondary data retrospectively, our serology sample size

was limited. However, our results indicate that there is a relation among presence of

antibody anti-T. canis and muscle abscess.

Tropical pyomyositis has shown to be an important pediatric pathology which

despites low mortality but may have serious clinical repercussion. We could not

statistically demonstrate that T. canis co-infection contribute to disease morbidity.

However, it was observed that three out of four cases classified as severe or moderate

were seropositive to T. canis. These patients were diagnosed in the early stage of the

disease, fact that exclude the possibility of the severity being related to late treatment

which is pointed as the main contributing factor to the disease morbidity and mortality.

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127

ACKNOWLEDGMENTS:

We thank Dr. Sinésio Talhari, Dr. Joaquim Alves Barros, and the

multidisciplinary team who assisted the children, particularly nurses, pediatric doctors

and orthopedists. We also thank the Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas

(FAPEAM) for the financial support.

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Table 1. Demographic, clinical-laboratory characteristics of the hospitalized children

with tropical pyomyositis from January 1997 to July 2008 in Manaus-Amazonas.

Retrospective Prospective

Demographic Characteristics

Age average 7.9 (SD 4.7) 8.4 (SD 4.4)

Age in femaleª

1 to 5

6 to 10

11 to 14

14 (50.0%)

5 (17.8%)

9 (32.1%)

2 (25.0%)

4 (50.0%)

2 (25.0%)

Age in maleb

1 to 5

6 to 10

11 to 14

20 (29.8%)

17 (25.4%)

30 (44.8%)

6 (40.0%)

2 (13.3%)

7 (46.7%)

Sex

Female 28 (29.5%) 8 (34.8%)

Male 67 (70.7%) 15 (65.2%)

Clinical characteristics

Fever 87 (91.6%) 20 (87.0%)

Indurations 93 (97.9%) 20 (87.0%)

Fluctuation 17 (17.9%) 7 (30.4%)

Single muscle

Involvement

63 (66.3%)

15 (67.2%)

Multiple muscle

involvement

32 (33.7%)

8 (34.8%)

Lab characteristic

Anemia (Hg < 10,0g) 36 (37.9%) 10 (43.5%)

Eosinophilia (> 6 %) 42 (44.2%) 6 (26.1%)

Leucocitosis (> 10.000) 77 (81.1% 21 (91.3%)

Leucopenia (< 4.000) 1 (1.1%) 0 (0%)

ª χ² 3.490 p= 0.175; bχ² 3.652 p= 0.161

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Table 2. T. canis serology in hospitalized children with tropical pyomyositis associated

by age.

χ² 0.80 p= 0.671

N=19; One case (5.3%) resulted serology indeterminate

Table 3. Analyses of the hospitalized children with tropical pyomyositis morbidity

associated to T. canis serology.

Morbidity variables

Fever

Yes

No

T. canis serology

Positive Negative

Total

9 (52.9%) 8 (47.0%)

1(100.0%) 0 (0.0 %)

17 (100%)

1 (100%)

Muscular Group

Single

Multiple

7 (53.8%) 6 (46.1%)

3 (60.0%) 2 (40.0%)

13(100%)

5(100%)

Clinical stage

Invasive

Supurative

Late

9 (60.0%) 6 (40.0%)

1 (33.3%) 2 (66.6%)

0 (0%) 0 (0%)

15(100%)

3(100%)

0(100%)

Dissemination

Yes

No

3 (50.0%) 2 (40.0%)

7 (53.8%) 6 (46.2%)

5(100%)

13(100%)

Complicação

Sim

Não

3 (75.0%) 1 (25.0%)

7 (50.0%) 7 (50.0%)

4(100%)

14(100%)

Severity score

Mild

Moderate

Severe

7 (50.0%) 7 (50.0%)

2 (66.6%) 1 (33.3%)

1 (100.0%) 0 (0%)

14(100%)

3(100%)

1(100%)

Re-hospitalization

Yes

No

1 (100.0%) 0 (0%)

9 (52.9%) 8 (47.1%)

1(100%)

17(100%)

T. canis serology

Positive Negative

Age 1 to 5 3 (30.0%) 4 (50.0%)

6 to 10 3 (30.0%) 2 (25.0%)

11 to 14 4 (40.0%) 2 (25.5%)

Total 10 (52.6%) 8 (42.1%)

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Table 4. Predisposal features, clinical-laboratory and morbidity of the tropical

pyomyositis in the different clinical stages.

Variables Stages

Initial Supurative Late

Entrance door

Yes

No

78 13 2

20 3 2

Co-morbidity

Yes

No

3 0 0

95 16 4

Muscular Group

Single

Multiple

64 13 1

34 3 3

Dissemination

Yes

No

29 6 0

69 10 4

Complications

Yes

No

15 5 0

83 11 4

Re-hospitalization

Yes

No

4 2 1

94 14 3

Anemia*

Yes

No

37 5 4

57 10 0

Leucocitosis

Yes

No

82 13 3

12 2 1

Leucopenia

Yes

No

1 0 0

94 15 4

Eosinophilia

Yes

No

37 9 2

57 6 2

* Χ²6.23 p=0.044, by Fisher test.

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7.11 Normas para publicação da Revista Panamericana de Saúde Pública. (3º Artigo submetido)

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