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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA ALINE CAMPOS ORIENTADOR EDUCACIONAL: Qual o seu papel na educação? São José 2012

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

ALINE CAMPOS

ORIENTADOR EDUCACIONAL:

Qual o seu papel na educação?

São José

2012

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

ALINE CAMPOS

ORIENTADOR EDUCACIONAL:

Qual o seu papel na educação?

Trabalho elaborado para a disciplina de Conclusão de Curso (TCCII) do Curso de Pedagogia, como requisito parcial para curso de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José- USJ.

Orientadora: Profa. MSc. Andréia Piana Titon

São José

2012

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ALINE CAMPOS

ORIENTADOR EDUCACIONAL:

Qual o seu papel na educação?

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do grau de licenciada em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________ Profª. Msc. Andréia Piana Titon

Orientadora- USJ

_________________________________________________________ Profª. Msc. Arlete de Costa Pereira

Examinadora –USJ

_________________________________________________________ Profª. Msc. Simone Ballman

Examinadora - USJ

São José, 30 de novembro de 2012

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Dedico este trabalho aos

homens Elpidio (in memoriam), Gabriel e Jonatas e à mulher Rosane, por

serem tudo na minha vida e por iluminarem meu caminho com muito

carinho e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus que está presente em tudo na minha vida.

Em especial ao meu pai Elpidio (in memoriam) meu herói, meu grande

incentivador neste caminho que escolhi.

À minha mãe Rosane por ter me apoiado nos estudos e ter participado

ativamente de toda minha trajetória acadêmica.

Ao meu filho Gabriel que é a luz do meu caminho, minha fonte de inspiração,

que alegra os meus dias, e que aceitou minha ausência durante esses quatro

anos de aulas em período noturno.

Às minhas irmãs Gizele, Josiane e Luana por terem me apoiado e ajudado

sempre que precisei me ausentar em função dos estudos.

Ao meu namorado Jonatas por me dar atenção e carinho e tornar os meus dias

mais felizes.

À minha professora Andréia por se dedicar, aconselhar e tornar o percurso desta

pesquisa mais prazeroso.

Às instituições e às orientadoras educacionais que entrevistei por me acolherem

e serem tão compreensivas contribuindo ativamente para a construção deste.

Aos professores da USJ que contribuíram para minha formação acadêmica.

Às amizades que conquistei ao longo do curso.

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Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere

na busca, não aprendo nem ensino.

PAULO FREIRE

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RESUMO

O orientador educacional é um dos protagonistas da educação e tem sua atuação voltada a compreender o aluno trabalhando para que o mesmo se desenvolva no processo de ensino-aprendizagem. Esta pesquisa buscou analisar e discutir os campos de atuação do orientador educacional na atualidade, analisando as possíveis contribuições deste no contexto educacional. Foi realizada através de entrevistas a partir de um roteiro semiestruturado, com cinco orientadoras educacionais que atuam na rede municipal de São José. A seleção das participantes foi feita observando as diferentes localidades do município e o publico atendido nas escolas em que estas orientadoras educacionais trabalham, procurando contemplar contextos diversos. Através da realização desta pesquisa tornou-se possível identificar a importância do orientador para o processo de ensino-aprendizagem por ser ele quem assume a função de integrar a família à escola, por mediar as relações do aluno auxiliando o trabalho dos professores, por cooperar para a permanência deste na escola, por criar estratégias para o bom funcionamento da aprendizagem e principalmente por levar em consideração o contexto social do educando buscando desenvolver nele a cidadania e a sensibilidade do ser humano. Na pesquisa de campo se constatou que a importância do orientador se da a partir da necessidade de haver alguém na comunidade escolar que se preocupe com o desenvolvimento do aluno, que crie recursos e estratégias para este desenvolvimento, que se dedique às mediações entre família e escola e que auxilie efetivamente para a construção e efetivação do processo de ensino-aprendizagem de qualidade. Palavras-Chave: Orientação Educacional; Papel do Orientador Educacional,

Gestão Escolar.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................8

2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................10

2.1 AS ATRIBUIÇÕES DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA HISTÓRIA DA

EDUCAÇÃO NO BRASIL.....................................................................................10

2.2 GESTÃO ESCOLAR E O ORIENTADOR EDUCACIONAOL........................13

2.3 PRINCIPIOS E OBJETIVOS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL................16

2.4 PRINCIPIOS ÉTICOS E TÉCNICAS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL....21

3 CAMINHOS METODOLÓGICOS.....................................................................24

4 CARACTERIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES PESQUISADAS..........................27

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS DA PESQUISA.........30

5.1 O PAPEL DAS ORIENTADORAS EDUCACIONAIS ENTREVISTADAS COM

ALUNOS, PROFESSORES E FAMILÍARES.......................................................30

5.2 AS ORIENTADORAS EDUCACIONAIS E SUAS ATRIBUIÇÕES NA

GESTÃO ESCOLAR............................................................................................40

5.3 DIFICULDADES RELATADAS PELAS ORIENTADORAS............................45

5.4 ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS UTILIZADAS PELAS ORIENTADORAS

EDUCACIONAIS ENTREVISTADAS...................................................................51

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................56

REFERENCIAS...................................................................................................60

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APÊNDICES........................................................................................................63

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho se deu através de pesquisas em bibliografias da área

investigada e pesquisa de campo, com o intuito de identificar e investigar o papel

exercido pelos orientadores educacionais na atualidade, buscando compreender o

seu papel na educação e sua importância no processo de ensino-aprendizagem.

O interesse pela temática se deu a partir da curiosidade em saber qual o

papel do orientador na comunidade escolar e descobrir como se dá seu trabalho

com o educando, familiares, professores e gestores, considerando também que a Lei

Federal das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB de 1996, coloca a

função do orientador como uma opção na equipe da gestão escolar. Portanto,

pensando no orientador como peça fundamental na qualidade da educação, pode-se

questionar qual o papel deste profissional na atualidade e se realmente deveria ficar

como não obrigatória sua participação na escola.

Sabendo-se que a escola depende dos profissionais que ali trabalham e que o

orientador educacional pode contribuir com as questões do dia a dia da escola, a

pesquisa buscou também identificar quem realiza este papel do orientador na falta

do cargo destinado a este profissional, pois diante das atuais circunstâncias que se

encontra nossa sociedade, é imprescindível que para obter êxito na educação, haja

o empenho de todos, educandos, familiares, gestores e professores, buscando

ações e soluções para o desenvolvimento pleno do processo ensino-aprendizagem.

Com o objetivo de entender tal função, a pesquisa foi realizada em escolas da

rede municipal de São José – SC, visando compreender o papel do orientador e

suas atribuições, identificando seu trabalho com os envolvidos na educação e

evidenciando a possível contribuição do orientador na vida escolar do educando,

observando, neste sentido, que este profissional pode ter um papel importante na

orientação dos educandos, apoiando e tirando suas duvidas, contribuindo para que

compreendam a importância de estudar, por exemplo, e também na relação entre

família e escola, pois quando a educação tem importância para a família

provavelmente isso contribuirá para que o educando também valorize a mesma. A

partir destes elementos, buscou-se compreender a importância do orientador no

processo educacional.

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Segundo Grinspun (2001) a especificidade do orientador no processo

educacional está na necessidade de “humanizar” o processo científico de

aprendizagem, pois estamos mergulhando em um novo tempo, e o orientador é

quem pode ajudar o educando a interpretar sua realidade no que se entende por

comunicação e interação social. Para Lück (2011) o orientador também assume a

função de dar assistência aos professores, pais e pessoas da escola que estão

ligadas ao educando, no sentido de que se tornem mais preparadas para entender

as necessidades dos mesmos.

Considerando as questões acima, inicialmente foi realizado um levantamento

histórico que está presente no primeiro capítulo do referencial teórico, onde pode ser

identificado o surgimento da orientação educacional no Brasil, e quais os caminhos

percorridos por esta área nas leis que embasam a educação.

No segundo capítulo do referencial teórico o foco foi buscar autores que

esclarecessem o papel do orientador educacional como membro gestor, trazendo

sua importância em meio à gestão educacional, identificando sua função e a

diferenciando dos outros cargos que atuam nesta área.

Percebendo a necessidade de compreender a atuação do orientador

educacional, o terceiro capítulo do referencial teórico traz os princípios e objetivos da

orientação educacional na atualidade, onde segundo Grinspun (2001), Giancaglia e

Penteado (2009) e Pascoal (2005/2006) a orientação deixou de trabalhar centrada

nos indivíduos, especialmente nos alunos “problemas”, para atuar com o coletivo.

Neste sentido passou a dar importância à construção da cidadania e a dar ênfase no

contexto na qual o educando está inserido.

No quarto e último capítulo do referencial teórico, estão colocadas algumas

técnicas utilizadas na orientação educacional, enfatizando-se a importância do

código de ética desta profissão como integrante das práticas e técnicas do

orientador.

A pesquisa de campo se deu a partir de entrevistas realizadas com cinco

orientadoras educacionais de cinco escolas da rede municipal de São José. Após a

transcrição destas entrevistas, foi realizada a análise dos dados coletados e a

construção de quatro categorias temáticas: o papel das orientadoras educacionais

com alunos, professores e familiares; as orientadoras educacionais e suas

atribuições na gestão escolar; dificuldades relatadas pelas orientadoras; estratégias

e técnicas utilizadas pelas orientadoras.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 AS ATRIBUIÇÕES DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA HISTÓRIA DA

EDUCAÇÃO NO BRASIL

Pascoal, Honorato e Albuquerque (2008) fazem uma retrospectiva histórica

sobre a orientação educacional no Brasil, identificando o seu surgimento por volta de

1930. Nesse período o Brasil tinha como referência o modelo norte-americano da

orientação profissional e manteve suas características voltadas principalmente para

a área vocacional, cujo objetivo era identificar dons e aptidões dos alunos

encaminhando-os à profissionalização. A Orientação Educacional nesta época tinha

o intuito de modelar o aluno aos padrões sociais, auxiliando na escolha profissional

do educando, além de assumir características psicológicas e terapêuticas para

resolver “os problemas” dos alunos procurando ajustá-los à sociedade.

Conforme Decreto-Lei n. 4.073 – de 30 de janeiro de 1942, estabelecida como

Lei Orgânica do Ensino Industrial, a orientação educacional era de caráter

“corretivo”, voltado para o atendimento aos “alunos-problema”. Os orientadores eram

incumbidos de desenvolver projetos como construção de revistas, jornais, grêmios e

cooperativas visando à autonomia e a elevação das qualidades morais do educando.

Segundo o Decreto-Lei n. 4.244 – de 09 de abril de 1942, a Lei Orgânica do

Ensino Secundário coloca como função do orientador o encaminhamento dos alunos

aos estudos e orientação na escolha da profissão. Nesta lei destacava-se a

necessidade do orientador cooperar com o professor para garantir a realização dos

trabalhos escolares, recreação e estudos complementares.

No Decreto-Lei n. 6.141 – de 28 de dezembro de 1943 a Lei Orgânica do

Ensino Comercial, o orientador educacional aparece com a função de auxiliar os

alunos para que executassem seus trabalhos escolares com qualidade, cuidando-os

quanto à saúde respeitando seus problemas intelectuais e morais, conduzindo-os

com segurança para que tivessem êxito em suas escolhas.

A orientação educacional no Decreto-Lei n. 9.613 – de 20 de agosto de 1946

que se refere à Lei Orgânica do Ensino Agrícola, em relação ao orientador

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educacional possui as mesmas especificações da Lei Orgânica do Ensino Comercial

citada acima, em relação ao papel do orientador educacional.

De acordo com a lei no 4.024, de 20 de dezembro de 1961 onde se fixou as

diretrizes e bases da educação nacional, no artigo 62°, observa-se que já se

pensava em especialização na área, pois neste artigo ficava estabelecido que a

formação do orientador deveria ser feita através de cursos especiais. No artigo 63° a

formação do orientador educacional, para atuar no ensino médio, era

responsabilidade das faculdades de filosofia, onde segundo esta lei, seriam criados

cursos especiais destinados aos licenciados em pedagogia, filosofia, psicologia ou

ciências sociais, bem como os diplomados em educação física pelas escolas

superiores de educação física e os inspetores federais de ensino, todos com estágio

mínimo de três anos no magistério. O artigo 64° refere-se aos orientadores de

escola primaria que deveriam ser diplomados no ensino normal (curso de formação

de professores da época) também necessitando ter no mínimo três anos de atuação

no magistério.

A Lei n° 5.564, de 21 de dezembro de 1968 publicada no diário oficial da

união em 27 de julho de 1973, reforçou a LDB de 1961 com o intuito de garantir à

educação um orientador educacional capacitado. Conforme esta lei:

Art. 3º A formação de orientador educacional obedecerá ao disposto nos Arts. 62 63 e 64 da Lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de 1961 e aos outros diplomas legais vigentes. Art. 4º Os diplomas de orientador educacional serão registrados em órgão próprio do Ministério da Educação e Cultura.

Ainda nesta Lei n° 5.564, a Orientação Educacional ficava destinada a assistir

o educando individualmente dando ênfase a um trabalho voltado para o

desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo dos alunos.

Na Lei N. 5.692, de 11 de agosto de 1971, na qual estava fixada a lei de

diretrizes e bases da educação, a orientação educacional passou a ser obrigatória:

“Art.10. Será instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo

aconselhamento vocacional, em cooperação com os professores, a família e a

comunidade”.

Na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as atuais

diretrizes e bases da educação nacional, o orientador educacional é citado apenas

no Artigo 64 onde informa que a formação do orientador se dará por meio de

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graduação em pedagogia, e ter curso de especialização na área passou a ser um

critério da instituição de ensino:

Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional.

A Resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno - CNE/CP

Nº 1, de 15 de maio de 2006 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o

Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura, define que o pedagogo pode atuar

em todas as áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Isso

inclui áreas de apoio como a orientação educacional, reforçando a não

obrigatoriedade de possuir especialização para atuar na área. Reforçando o que diz

a Lei nº 9.394 (LDB 1996), portanto, esta resolução deixa a especialização na área

de orientação como opcional para trabalhar como orientador educacional.

Em documentos mais atuais como no relatório da Conferencia Nacional de

Educação – CONAE (2010), ressalta-se a importância da ampliação da oferta de

cursos de pós-graduação para especialistas-gestores incluindo o orientador

educacional. A função de orientador não é citada diretamente, mas refere-se à

necessidade de um serviço de apoio e orientação ao educando em relação à vida

social, se preocupando com o reconhecimento, com a valorização da diversidade, as

desigualdades sociais de gênero, de orientação sexual e também de atendimento

aos deficientes, com sistemas inclusivos, que contemplem a diversidade visando à

igualdade.

No entanto, as atribuições do orientador educacional na atualidade ainda

estão pautadas na Lei n° 5564, de 21 de dezembro de 1968, regulamentada pelo

Decreto n° 72846, de 26 de setembro de 1973. Em seu artigo 1°:

Constitui o objeto da orientação educacional a assistência ao educando individualmente ou em grupo, no âmbito do ensino de 1º e 2º graus, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparando-o para o exercício das opções básicas.

Segundo este Decreto em seus artigos 2°, 3° e 4° defini-se quem pode

exercer a função de orientador educacional, sendo privada a profissionais que

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tenham diploma em pedagogia com licenciatura em orientação educacional, aos

profissionais pós-graduados na área e a orientadores formados em escolas

estrangeiras desde que o titulo reavaliado na legislação em vigor.

O artigo 8° deste Decreto atribui-se ao orientador planejar e coordenar o SOE

Serviço de Orientação Educacional, a orientação vocacional, o processo de

informação educacional e profissional, sondar interesses, aptidões, e habilidades

dos educandos, sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos,

encaminhando-os a outros especialistas, cabe também ao orientador educacional

ministrar disciplinas de teoria e pratica da orientação educacional e supervisionar

estágios na área.

Ainda neste Decreto em seu artigo 9° consta que compete ao Orientador

Educacional participar no processo de identificação da comunidade, da clientela

escolar, de elaboração do currículo pleno da escola, da composição e

acompanhamento de turmas e grupos, do processo de avaliação e recuperação dos

alunos, do encaminhamento de estágios, do processo de integração família e escola

e realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional.

Grinspun (2001) reforça que historicamente a orientação educacional tem se

preocupado com os “fazeres” proclamados, que por um longo período na história

foram mais importantes do que compreender o porquê de fazer, então a orientação

prendia-se a realizar o que estava presente no decreto que regulamentava e ainda

regulamenta sua profissão sem pensar no porque de atuar desta forma, sem

compreender a importância de ter sua atuação voltada ao aluno e a tudo que se

refere ao mesmo.

2.2 O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA GESTÃO ESCOLAR Segundo Lück (2011, p.7): “A administração da escola, a supervisão escolar e

a orientação educacional se constituem em três áreas de atuação decisivas no

processo educativo”. A autora afirma que estes cargos são de suma importância, por

terem influência em todas as áreas da escola, pois estabelecem as formas do

trabalho educacional, as prioridades de ação e atuação, entre outros aspectos

importantes para a educação. A comunidade escolar está interligada em suas

funções e uma depende da outra para que se obtenha um desenvolvimento

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completo. Portanto, os cargos de diretor, supervisor e orientador educacional são

cargos decisivos para a educação.

Conforme Lück (2011) o diretor ocupa posição central na escola, pois seu

trabalho influencia todo o ambiente escolar. Ele deve organizar as unidades que

compõem a escola, ter controle financeiro, deve coordenar e orientar todos aqueles

que assumem responsabilidades no campo escolar, estimular a inovação do

processo educacional entre outras atribuições do cargo. De acordo com a autora

(2011, p. 16),

É do diretor da escola a responsabilidade máxima quanto a consecução eficaz da politica educacional do sistema e desenvolvimento pleno dos objetivos educacionais, organizando, dinamizando e coordenando todos os esforços nesse sentido, e controlando todos os recursos para tal.

Lück (2011) se refere ao supervisor educacional, citando que sua função é a

de somar esforços na escola, com o papel de assistência e coordenação dos

professores, visando a melhoria dos materiais de instrução, dos métodos, técnicas e

procedimentos de ensino, dos programas curriculares, do processo de avaliação e

recuperação do aluno, dos objetivos educacionais e desempenho do professor.

Mais importante do que a melhoria em infraestrutura e materiais, é a

qualidade do ensino em sala de aula, pois, mesmo com os equipamentos mais

modernos em uma escola, se não houver um professor capacitado de nada adianta.

Lück (2011), afirma que a função do supervisor é de suma importância, para que

ocorra essa qualidade no ensino contribuindo para o processo de ensino-

aprendizagem.

Lück (2011) também descreve a orientação educacional, apontando que a

sua ação envolve toda a comunidade escolar, com enfoque tanto para o grupo como

para os indivíduos. Segundo a autora, o orientador assume a função de dar

assistência ao professor, aos pais e as pessoas da escola com os quais o educando

mantêm contatos significativos, com a intenção de contribuir, para que possam

compreender as necessidades do educando, em seus aspectos cognitivos,

psicomotores, afetivos e sociais. Para isso deve realizar ações de orientação e

aconselhamento com atendimento individual ou coletivo. Pensando na qualidade de

relacionamento entre professor/aluno, aluno/família, o orientador pode contribuir

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para todas essas relações dentro da escola, pensando no aluno como sujeito do

processo-educacional e todas as suas relações.

Segundo Grinspun (2001, p 14), “chegou-se a dizer, principalmente na

década de 70, que os especialistas de educação estavam com as suas atividades

interferindo no próprio trabalho do professor, isto é, eles é que detinham o “poder”

dentro da escola.” Um cargo criado para auxiliar o desenvolvimento do aluno e para

identificar os problemas e soluções do contexto educacional e social causava

desunião dentro da escola.

Tipificou-se a Orientação, sacrificou-se a sua existência, culpando-a até por ser uma especialização dentro da escola que “sabia mais que o professor”. De um lado o que pensava do outro o que fazia, a Orientação contribuía, portanto, para a divisão social do trabalho. (GRINSPUN, 2001, p. 14).

Apesar dessa crítica aos especialistas da educação, Grinspun (2001) destaca

que naquele contexto a orientação também se tornava conveniente no momento em

que ninguém queria assumir a responsabilidade dos problemas, confrontos e

conflitos dentro da escola, sendo satisfatória a todos. Dessa forma “havia uma

predominância nas exigências ao cumprimento das tarefas de Orientação em vez de

percebê-la como parceira do projeto politico-pedagógico desenvolvido na escola” (p.

14-15).

Grinspun (2003, p. 73) esclarece que posteriormente a orientação

educacional “deslocou-se dos alunos-problemas para todos os problemas dos

alunos/ da escola e refletindo, analisando interferindo sobre esses problemas”. O

orientador “deve trabalhar, com o aluno, na sua totalidade, desenvolvendo o sentido

da singularidade, da autonomia, da dimensão da solidariedade, no verdadeiro

significado do humano”.

Segundo Pascoal (2005/2006) o orientador como membro do corpo gestor da

escola, deve participar da construção coletiva de caminhos para a criação de

condições facilitadoras para o bom desenvolvimento do trabalho pedagógico.

Grinspun (2010, p. 113) explica que o orientador deve estar envolvido nas decisões

e escolhas tomadas pela direção, tendo a obrigação de participar da organização

das turmas, dos horários de aula, intervalo e recreação, assim como da distribuição

dos professores, e de toda pratica que organiza a infraestrutura da escola. O mesmo

deve colaborar e valorizar todos os funcionários da escola seja eles inspetores,

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merendeiros, jardineiros, porteiros entre outros. “O orientador deve procurar,

trabalhar a autoestima, a identidade profissional, e suas atribuições para o

funcionamento da escola.”

Giancaglia e Penteado (2009, p.13) descrevem que “o orientador educacional

deve respeitar o campo especifico dos demais especialistas, assim como fazer com

que estes ajam com respeito em relação ao dele.” Lembrando que o dialogo, a troca

de ideias, a cooperação e o auxilio mútuo deve ser constante e de acordo com os

princípios éticos.

As autoras descrevem que não há diferença hierárquica entre orientador,

supervisor, porém para que não haja conflitos, é necessário que ambos entrem em

acordo e delimitem suas áreas de atuação. A melhor forma de trabalho é definirem

seus campos de atuação e ambos se respeitarem, para que assim possam trabalhar

coletivamente em parceria, pois desta forma a escola e os alunos terão muito a

ganhar. As autoras ainda afirmam que quando não há supervisor, as funções que

deveriam ser exercidas pelo mesmo, devem ser exercidas pelo orientador.

Segundo Pascoal (2005/2006, p. 121), na falta do profissional orientador nas

escolas, alguém deve assumir esta função e isso causa um acúmulo de funções.

“Normalmente esse profissional é o coordenador pedagógico que, além de cumprir a

sua função junto aos professores, associa a ela a função do orientador, resultando

numa inadequação das duas.” Então o coordenador pedagógico é o profissional que,

na falta do orientador e do supervisor, assume estas duas funções, desenvolvendo

seu trabalho em relação aos professores, alunos e a tudo que está a cargo destes

profissionais.

Iavelberg (2011), explica que quando a escola possui ambos os cargos, de

orientador e de supervisor, o trabalho pode fluir mais, pois o primeiro, geralmente,

fica responsável por cuidar das questões relativas aos alunos e suas famílias, e o

segundo, da formação dos professores.

2.3 PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA

ATUALIDADE

Grinspun (2010, p.31) caracteriza a orientação educacional hoje como um

trabalho abrangente em sua dimensão pedagógica, possuindo um “caráter mediador

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junto aos demais educadores, atuando com todos os protagonistas da escola no

resgate de uma ação mais efetiva e de uma educação de qualidade nas escolas.”

Desta forma, a autora (2003) afirma que o orientador deve trabalhar junto com

os outros profissionais da escola, em um projeto coletivo, pensando na formação de

um homem coletivo, pensando em todas as relações existentes no processo de

aprendizagem, dentro e fora da escola, e pensando em como trabalhar em prol de

uma educação transformadora.

A autora (2010) relata que o orientador deve trabalhar em conjunto com o

professor, pensando na construção de um projeto politico pedagógico que busque a

discussão da realidade do aluno no processo ensino-aprendizagem. Deve se

preocupar com a evasão escolar e a repetência e também com os recursos físicos e

materiais disponíveis. Sua atuação deve estar envolvida com toda a comunidade

escolar, desde a direção até a família do educando, atuando em conjunto com estes

sujeitos.

Grinspun (2001, p.143) destaca que “a Orientação Educacional, no contexto

atual, busca maior aproximação com o projeto politico pedagógico da escola e

pretende contribuir, satisfatoriamente, não mais para atender “alunos problemas””

buscando discutir junto com os alunos e professores, os problemas vivenciados e as

possíveis soluções.

Segundo Giancaglia e Penteado (2009) por se tratar de um especialista da

educação o orientador deve participar ativamente na elaboração do Projeto Político

Pedagógico, assistindo à direção. Participando do planejamento e da caracterização

da escola e da comunidade o orientador deve contribuir para as decisões que se

referem ao processo educativo, dentre estas decisões estão o currículo da escola,

inclusão de disciplinas optativas e atividades extraclasses, distribuição das séries no

prédio escolar, problemática das disciplinas, código disciplinar, critérios de avaliação,

promoção e de atribuição de notas ou conceitos, cronogramas de atividades,

visando um melhor atendimento à educação integral do aluno.

Grinspun (2010, p. 108) ressalta como deve ser o trabalho do orientador com

o professor:

Trabalhando juntos dos professores, através de uma reflexão crítica da pratica pedagógica, o Orientador procurará contribuir para a discussão da realidade dos alunos, das finalidades do processo pedagógico, do sistema de avaliação, das questões de evasão e

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repetência escolar, dos recursos físicos e materiais de que a escola dispõe, das metodologias empregadas, enfim, sobre as questões técnicas-pedagógicas da escola.

Giancaglia e Penteado (2009), a respeito da orientação escolar, citam como

objetivos do orientador educacional, colaborar na análise dos indicadores de

aproveitamento escolar, evasão, repetência e absenteísmo, desenvolver ações

integradas como o corpo docente e coordenação pedagógica, pensando na melhoria

do rendimento escolar, instrumentar o educando tornando a aprendizagem mais

eficaz, assistir o aluno em seu desempenho escolar e no desenvolvimento de

atitudes responsáveis, propiciar orientações e experiências para que os alunos

trabalhem em grupo, identificar e assistir alunos que apresentam problemas no

processo de ensino-aprendizagem e outras dificuldades escolares.

Grinspun (2010, p.109) afirma que para obter-se uma escola de qualidade é

necessário que aja um projeto coletivo, com ações coordenadas e que tenha a

participação de todos. Portanto, “a organização da escola deve contemplar, através

de seu próprio espaço físico, os interesses e necessidades da comunidade, fazendo

com que ela seja participante do projeto político-pedagógico que deseja

desenvolver.”

Em relação ao trabalho do orientador educacional com os alunos, como

descrito anteriormente o campo de atuação do orientador educacional

historicamente teve foco no atendimento dos “alunos problemas”, aos seus

“desajustes” escolares, entre outros, pouco ou quase nada voltado à autonomia do

aluno e à sua contextualização enquanto cidadão. Posteriormente voltou-se à

prestação de outros serviços, mas sempre com o objetivo de ajustamento do aluno à

escola e à sociedade. Atualmente busca-se trabalhar com o aluno no seu

desenvolvimento, trabalhando a sua subjetividade, através do diálogo e das relações

estabelecidas, não se atendo aos alunos com problemas de aprendizagem ou de

disciplina. (PASCOAL, 2005/2006)

Grinspun (2003, p.73) também discute que o papel do orientador educacional

no contexto atual “deslocou-se dos alunos-problemas para todos os problemas dos

alunos”. O orientador deve trabalhar com o aluno em suas totalidades, visando

desenvolver o sentido da solidariedade, da singularidade, da autonomia em busca

do verdadeiro significado do ser humano.

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Pascoal (2005/2006) descreve o orientador educacional como o mediador

entre o aluno e o meio social, cabe a ele discutir problemas atuais, que fazem parte

do contexto sócio-político, econômico e cultural em que o aluno está inserido. Um

profissional que tem o dever de compreender o desenvolvimento cognitivo do aluno,

sua afetividade, emoções, sentimentos, valores, atitudes. E também auxilia no que

diz respeito à escolha sobre o mundo do trabalho.

Grinspun (2010) destaca ainda que a orientação está mais comprometida com

a formação da cidadania dos alunos. O que antes era uma orientação voltada para o

individuo, hoje passa a ser uma orientação com foco no coletivo, sem deixar de

compreender que este coletivo é composto por pessoas que devem pensar e agir a

partir de um contexto. O orientador então deve buscar conhecer a realidade do

educando, visando contribuir para que seja mais justa e humana. Conforme

Grinspun (2001) a orientação educacional historicamente teve uma perspectiva

terapêutica ou psicologizante, voltada ao ajustamento de alunos considerados

“problemas”. O aluno era atendido individualmente e não se levava em consideração

o contexto social o qual estava era inserido, pois se buscava adequá-lo a um padrão

social considerado normal.

Diante da necessidade de mudanças na orientação educacional Grinspun

(2001, p. 13) explica: “Pretende-se trabalhar com o aluno, no desenvolvimento do

seu processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade,

obtidas através do diálogo nas relações estabelecidas”. Segundo a autora partimos

de uma orientação voltada para o indivíduo e chegamos a uma orientação

educacional com foco no coletivo, acontecendo de forma participativa e

comprometida com a formação do cidadão.

Esta nova visão do orientador educacional, numa perspectiva contextualizada

considera a realidade do aluno, trazendo-a para dentro da escola, buscando com

isso contribuir para seu desenvolvimento numa perspectiva crítica. (Grinspun, 2001;

Melo, 1994). Portanto,

[...] pode se dizer que, se antes cabia ao orientador ser uma figura “neutra” no processo educacional, para “guiar os jovens em sua formação cívica, moral e religiosa”, hoje, espera-se um profissional comprometido com sua área, com a história de seu tempo e com a formação do cidadão.(GRINSPUN, p.14, 2010)

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Destaca-se, portanto, as contribuições do orientador educacional para que a

escola exerça sua função social e o fato deste profissional não ser obrigatório nas

escolas, podendo ser excluído nos concursos públicos e ter outros profissionais

atuando em sua área. Mas isto não significa o fim da orientação educacional, como

explica Grinspun (2001) ao destacar que a orientação nunca deixará de existir, pois

está muito ligada com a educação até no contexto etimológico, onde educare se

refere a orientar, guiar, conduzir o indivíduo.

A construção de uma escola de qualidade implica um projeto coletivo, que requer ação coordenada e participação de todos nela envolvidos. A qualidade não está na adjetivação externa, mas na substancialidade interna da instituição. (GRINSPUN, 2010, p. 113).

Segundo o Decreto n° 72846/73 entre as funções do orientador educacional

cabe ao mesmo a implantação do Serviço de Orientação Educacional o SOE, que

segundo Giancaglia e Penteado (2009) tem como objetivo, assistir o aluno em seu

desenvolvimento identificando suas potencialidades e limitações, colaborar com

professores e gestores na realização do processo educativo que vise o

desenvolvimento integral, atender os educandos nas várias áreas da orientação

educacional descritas neste decreto.

Além do trabalho com os professores, alunos e a comunidade escolar, a

orientação educacional deve se relacionar com a comunidade, principalmente com

os pais dos alunos. Deve buscar exercer sua função de forma crítica envolvendo-se

com a comunidade, procurando conhecer e resgatar sua realidade socioeconômica-

cultural.

Em relação à área de orientação familiar, Giancaglia e Penteado (2009)

definem como competência do orientador educacional colaborar com a família no

desenvolvimento e na educação do aluno, contribuir efetivamente para a integração

escola-família-comunidade, identificar maneiras que visem à participação e

colaboração da família no estudo dos filhos, realizar palestras e promover grupos de

estudos com o intuito de sanar problemas no processo de aprendizagem.

Giancaglia e Penteado (2009, p.63) ainda esclarecem que:

A criança, de modo geral, se desenvolve na instituição familiar que é encarregada de prover os recursos necessários à sua sobrevivência: de propiciar-lhe assistência na área de saúde e de ministrar-lhe uma base afetiva; de dar-lhe assistência na área de saúde e de ministrar-

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lhe os primeiros ensinamentos. Por sua vez a instituição escolar está incumbida de realizar a educação formal das crianças e dos jovens.

Pelos motivos descritos acima Giancaglia e Penteado (2009) reforçam que a

orientação educacional é de grande relevância e esta inserida na legislação vigente

que regulamenta a atuação do orientador. O profissional da orientação deve manter

comunicação constante com a família, respeitando valores e procurando obter sua

colaboração, ambos definindo como objetivo o bem-estar e a formação do

educando. “É necessário levantar um conjunto amplo de informações para

caracterizar as famílias, seus valores e suas expectativas.” (p.63).

Assim como a família espera muito da escola, acontece o mesmo com a

escola em relação à família. Segundo Giancaglia e Penteado (2009), com

finalidades educacionais a serem cumpridas, existe uma necessidade de

conhecimento mútuo entre ambas para a compatibilização das expectativas e da

integração entre as mesmas. As autoras identificam a importância de haver esta

união entre família e escola, visando a formação do aluno. O orientador precisa

conhecer a família e suas expectativas, visando sempre o melhor para o educando.

2.4 PRINCIPIOS ÉTICOS E TÉCNICAS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Giancaglia e Penteado (2009, p.11) relatam que “o trabalho do Orientador

Educacional reveste-se de grande importância, complexidade e responsabilidade e,

para que seja realizado a contento, exige-se muito desse profissional”. Diante disto a

Federação Nacional dos Orientadores Educacionais a FENOE, redigiu o “Código de

Ética dos Orientadores Educacional” publicada no Diário Oficial de 05/03/1979.

Neste código está presentes em sua íntegra como deve ser a atuação do orientador

em relação as suas responsabilidades gerais, suas relações com outros

profissionais, seu trabalho científico e às disposições gerais da função. Por se tratar

de uma função que exige extrema lealdade e descrição com a atuação, as autoras

citadas destacam que o orientador educacional deve ter sempre presente este

código de ética que norteia sua atuação.

Na área do aconselhamento é importante que o orientador tenha presente o

significado de que “aconselhar é assistir a pessoa, levando-a a refletir sobre

determinada situação, problema ou dificuldade; sobre as implicações e

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consequências de diferentes alternativas disponíveis.” (GIANCAGLIA, PENTEADO,

2009 p. 13) Nestas situações de aconselhamento o orientador deve compreender

que as famílias e a comunidade dos aconselhados possuem seus próprios valores e

não só transmitem como também fazem com que seus valores atuem como normas

orientadoras de conduta aos seus membros. E não cabe ao orientador levar o

aconselhado a confrontar-se com os valores da família.

Giancaglia e Penteado (2009, p.12) explicam que a interação do orientador

educacional com o orientando se caracteriza por uma relação de orientação e

confiança na qual o aluno pode expor fatos e situações de cunho pessoal e familiar,

e por se tratarem de informações sigilosas não devem ser alvo de comentários sob

quaisquer circunstâncias. Esse cuidado é fundamental para que seja estabelecida

uma relação de orientação e confiança. “O sigilo das informações constantes dos

prontuários dos alunos deve ser igualmente preservado.”

As autoras ainda reforçam que até mesmo em situações que os professores

necessitam de informações sobre os alunos, é preferível que o orientador faça um

resumo com base nos dados que dispõe fornecendo ao professor na medida em que

julgar conveniente, buscando evitar que o professor tenha um pré-conceito em

relação ao aluno.

Giancaglia e Penteado (2009) levantam estratégias que devem ser usadas na

atuação do orientador educacional, estratégias essas que podem ser usadas de

forma preventiva contribuindo para evitar problemas que envolvem a comunidade

escolar, como exemplo, a realização de palestras, e as estratégias também podem

ser usadas de forma remediativa que servem para remediar ou tentar sanar os

problemas que estão acontecendo, onde na maioria das vezes se aplica ao

individual como exemplo entrevistas. É importante que se dê preferência às

estratégias preventivas e só recorrer às remediativas se necessário. Entre as

estratégias comumente utilizadas pelos orientadores educacionais, destacam-se as

palestras, as reuniões e as entrevistas.

As palestras são recursos de grande valia que pode ser usado tanto na escola

quanto na comunidade, destinando-se a todos, como também a determinados

segmentos como alunos, pais, professores. As palestras geralmente empregadas

como veiculo de comunicação tratam de temas variados como evidenciar os

objetivos do Serviço de Orientação Educacional para o ano, “até aspectos Psicologia

do Desenvolvimento Humano, relacionamento criança-adulto, drogas e AIDS, dentre

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outros”. (p.35) No entanto, para que esta estratégia seja eficiente é importante que

haja um tema amplo e de interesse geral, a linguagem deve ser adequada à plateia

e o publico deve ser informado sobre as razões do tema. Sua duração não deve ser

muito longa, deve-se pensar em um tempo para proposições de perguntas e para

esclarecimento de duvidas e coletas de sugestões.

As reuniões também utilizadas como estratégias da orientação educacional,

podem ser realizadas em conjunto ou separadamente, dependendo a situação, e

pode ter diversas finalidades como o planejamento escolar, e na relação da

orientação familiar.

As entrevistas geralmente de caráter remediativo são empregadas na

orientação individual. Estas devem ser agendadas e é necessário que a pessoa seja

informada sobre o tempo de duração das mesmas. As entrevistas devem ser

conduzidas de modo que se obtenham resultados satisfatórios.

“Na condução da entrevista, deve-se ter uma postura adequada e somente

fazer intervenções verbais oportunas.” (Giancaglia e Penteado, 2009, p. 38) É

importante que se ouça atentamente o que o aluno, os pais ou responsáveis falarem

durante as entrevistas, observando entonação, comportamento não verbal incluindo

gestos, expressão facial, mudanças de posição. É preciso que o orientador não se

restrinja apenas a ouvir, mas também a analise o comportamento do entrevistado.

Giancaglia e Penteado (2009), afirmam que em relação ao campo de atuação

do orientador educacional, este deve conduzir sua atuação com cautela, diplomacia

e habilidade, tendo definição de suas atribuições e um bom plano para que sejam

estabelecidos seus limites de atuação.

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3 CAMINHOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa é de caráter exploratório, por se tratar de uma pesquisa

com base em levantamentos bibliográficos sobre o tema, entrevistas com

orientadores educacionais e análise de situações de campo que possibilitem a

compreensão do tema desta pesquisa. (GIL, 1996 apud SILVA; KARKOTLI, 2011).

Quanto aos procedimentos, este trabalho foi realizado por meio de entrevistas com

orientadoras educacionais, com um roteiro semiestruturado (Apêndice C), as quais

foram gravadas e transcritas.

A pesquisa partiu de uma consulta via telefone à Secretaria Municipal de

Educação de São José/SC, solicitando uma lista de escolas do município que

possuem profissionais no cargo de orientador educacional. Logo que a lista foi

recebida, constatou-se que o município possui vinte e três escolas municipais e onze

delas possuem o cargo de orientador educacional.

A partir desta informação, foram selecionadas cinco escolas do município de

São José dentre as onze que possuem o cargo de orientador educacional. A seleção

se deu a partir da busca por escolas de diferentes regiões do município, com

características diferenciadas em termos do público da escola, assim como das

características do bairro onde a escola estava inserida.

Foi solicitada inicialmente através de contato telefônico a autorização de cada

escola para realização da pesquisa. Após autorização da direção (Apêndice B) da

escola, foi feito contato como o orientador educacional da escola via telefone e ou

pessoalmente quando foi necessário para solicitar participação na entrevista.

Também foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice

A) e combinado as data para as entrevistas, que foram realizadas com um

profissional da orientação de cada escola selecionada, visando entrevistar

principalmente os orientadores que atuam no ensino fundamental 1 e 2.

Em geral foram realizadas várias tentativas de contato com as orientadoras

por telefone e quando se fez necessário foi realizado contato pessoalmente para

conseguir agendar a entrevista. Embora tenha tido certa dificuldade em contatar a

maioria delas no primeiro momento, assim que se estabelecia o contato, todas foram

muito receptivas, acolhendo a pesquisadora em seu meio de trabalho. As entrevistas

tiveram em média de 40 a 45min de gravação sem pausa, partindo do roteiro e se

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encaminhando para uma longa conversa sobre suas intervenções, angústias,

alegrias, entre outros aspectos de seu trabalho.

A primeira entrevista que se deu na Escola A, com a Orientadora A,

aconteceu em uma sala reservada na escola, pois a sala da orientação era dividida

com mais funcionários e a movimentação de alunos, professores e gestores era

constante, o que poderia atrapalhar na gravação. A orientadora optou que a

entrevista fosse realizada nesta sala mais reservada.

A segunda entrevista realizada na Escola B, com a Orientadora B, ocorreu em

sua sala mesmo, onde foi possível observar que a mesma dividia o espaço com

outros profissionais da gestão e também com a biblioteca da escola, mas no

momento em que estava realizando a entrevista, muitos que estavam presentes

decidiram se retiram para não atrapalhar o decorrer da entrevista.

Com a terceira entrevistada a Orientadora C, a entrevista aconteceu na

escola C, em sua sala. Como a escola estava passando por uma reforma, que já

duravam dois anos, conforme foi relatado, o que prejudicava claramente todo o

andamento da escola, a sala da orientação era dividida com mais três profissionais e

o entra e sai de alunos e profissionais era constante. Durante a entrada de alguns

alunos a orientadora C autorizou a pesquisadora para que observasse a sua

atuação com os educandos. Foi uma experiência muito rica, principalmente por esta

escola atender uma comunidade que enfrenta situações de extrema violência, como

será descrito a seguir. Devido a estes contratempos a entrevista exigiu varias

pausas, porém aproximou a pesquisadora do trabalho da orientadora clareando

alguns pontos da pesquisa.

A quarta entrevista se deu na escola D com a orientadora D, a qual também

dividia sua sala com mais orientadores. Porém não houve pausas, e ao fim da

entrevista outra orientadora que adentrou o ambiente quis contribuir também falando

de suas angustias e atuações.

A quinta e última entrevista foi realizada na Escola E com a Orientadora E, na

sala da orientação, onde a mesma era dividida com a supervisão. No entanto,

segundo a Orientadora E, a supervisora estava enfrentando problemas de saúde e

não estava presente. A entrevista se deu sem interrupção alguma.

As informações das entrevistas foram transcritas no decorrer da pesquisa.

Após todas as transcrições realizadas, foi iniciada a análise dos dados de acordo

com a análise de conteúdo, que sugere a leitura e a interpretação do material

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coletado (MORAES, 1999), buscando compreender a importância do orientador no

âmbito escolar, suas formas de trabalho, o espaço ocupado por ele na escola, entre

outras questões.

Os instrumentos utilizados para a realização desta pesquisa foram o roteiro

semiestruturado, o gravador, o diário de campo aonde eram anotados os

agendamentos de pesquisa e datas de transcrição.

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4 CARACTERIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES PESQUISADAS

A instituição A encontra-se em um dos bairros com maior extensão territorial

do município de São José, este bairro localiza-se em uma área urbana distante da

região central do município de são José. O bairro é dividido em vários loteamentos,

em um dos quais está localizada a escola A. Este loteamento concentra serviços ao

público, como posto de saúde, escola, mercados, farmácias, padarias, lojas entre

outros recursos. A Escola A atende o ensino regular em anos iniciais e anos finais e

também proporciona atendimento em período integral para as crianças que precisam

permanecer o dia todo na escola, o período integral trabalha com currículo integrado

nos dois turnos, dando aulas de reforço e realizando atividades relacionadas com o

currículo da instituição. Esta escola possui duas orientadoras educacionais, uma

para os anos iniciais e outra para os anos finais. A entrevista foi realizada com a

orientadora A que atua nos anos iniciais 1° ao 5°, a mesma é formada há treze anos

com habilitação em séries iniciais e orientação educacional, trabalha na atual escola

há dois anos e atua em período integral com cerca de 500 crianças.

A instituição B se encontra no mesmo bairro da instituição A, porém como já

havia citado é um bairro grande com vários loteamentos. A escola B encontra-se em

um dos loteamentos mais “carentes” do bairro, uma região que necessita de serviços

públicos, como saneamento básico, asfalto, saúde entre outros. Por se tratar de uma

região carente de serviços públicos e infraestrutura urbana, a escola B é onde as

crianças tem possibilidade de brincar e estudar, a escola dispõe de ensino integral,

regular (anos iniciais e finais), as crianças que ficam na escola em tempo integral

participam do projeto mais educação que é um programa criado para aumentar a

oferta educativa nas escolas públicas por meio de atividades extracurriculares, este

programa é frequentado apenas pelos alunos que querem participar. (PMSJ, 2012)

A orientadora entrevistada é a única orientadora da instituição e trabalha em período

integral com cerca de 480 alunos, atendendo tanto os alunos que ficam na escola no

ensino regular por meio período como os que ficam em período integral. Ela está na

educação desde 1984, quando passou a trabalhar com a formação do magistério e

depois se graduou em pedagogia com habilitação em orientação educacional em

1993. Em 1994 realizou o concurso para o cargo que ocupa como orientadora e

desde então atua na orientação educacional.

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A escola C encontra-se entre “duas comunidades socioeconomicamente em

situação de vulnerabilidade, duas comunidades rivais, e acaba ficando pra escola

um espaço uma demanda de trabalho que não seria da escola, ou somente da

escola.” (ORIENTADORA C – 29/08/12). A orientadora relatou que essa rivalidade

aparece também na escola entre os alunos, a qual na maioria das vezes é motivada

pelo tráfico de drogas que está presente nesta região, por se tratar de uma região

dominada pelo tráfico de drogas, e marcada por situações de muita violência. A

escola atende o Ensino Fundamental I e II e atualmente está atendendo o turno

integral onde crianças de 1° a 3° ano ficam na escola em turno integral para alunos

que precisam permanecer na escola durante o dia todo, possuindo 800 alunos. A

escola possui uma orientadora educacional que atua no período matutino com

alunos dos anos finais 6° ao 9° do ensino fundamental, e nos anos iniciais 1° ao 5°

ano atua um coordenador. A entrevista se deu com a orientadora C que trabalha

com os anos finais, a mesma é formada em pedagogia há 23 anos com habilitação

em orientação educacional, pós-graduada em psicopedagogia, atua nesta escola

com cerca de 300 alunos.

A escola D está situada em uma região urbana central do município de São

José com acesso a serviços públicos diversos. A escola D atua com cerca de 2.200

alunos, possuindo o Ensino Fundamental 1 e 2. A escola conta com cinco

orientadoras no período matutino e quatro no período vespertino. A entrevista se deu

com a orientadora D que atua em turno integral, trabalhando no período matutino

com nove turmas de 7° ano e no período vespertino com três turmas de 6° ano,

sendo que as turmas possuem em média 35 alunos por classe. Esta orientadora se

formou em pedagogia há 22 anos e já trabalhou como professora na educação

infantil, nos anos iniciais do ensino fundamental e também no ensino médio. Após

sua experiência em sala de aula trabalhou como pedagoga-coordenadora em

algumas escolas, de onde surgiu o interesse pela orientação educacional, quando

solicitou retorno na faculdade e habilitou-se também em orientação educacional.

Atua nesta escola há dez anos e possui vinculo efetivo como orientadora

educacional.

A escola E está localizada em uma área urbana distante da região central do

município. O bairro concentra serviços públicos como posto de saúde, hospital

psiquiátrico, escola, mercados, farmácias, padarias, lojas, entre outros recursos.

Segundo a entrevistada E, tratasse de uma comunidade com situações de violência

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que precisa de intervenções constantes: “[...] fizemos muita intervenção no começo

do ano, por questões do ano passado, até a antiga orientadora “andou apanhando”,

ouve muitos conflitos, então os alunos estavam um tanto em desrespeito e não

levando a educação a sério.” (Orientadora E) A escola possui cerca de 330 alunos

no Ensino Fundamental 1 e 2 e conta com apenas uma orientadora que atua em

período integral. A entrevistada já trabalhou em sala de aula por vinte e dois anos,

incluindo sua atuação desde que se formou no magistério e posteriormente em

pedagogia com habilitação em orientação educacional há 16 anos. Também já atuou

como diretora em escolas do município e está há um ano nesta escola. Trabalha

com todos os alunos da escola do Ensino Fundamental 1 e 2.

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5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Os relatos das orientadoras educacionais entrevistadas permitiram a

identificação de quatro categorias de análise, a saber: o papel das orientadoras

educacionais com alunos, professores e familiares; as orientadoras educacionais e

suas atribuições na gestão escolar; dificuldades relatadas pelas orientadoras;

estratégias e técnicas utilizadas pelas orientadoras. Cada categoria foi criada a partir

da análise dos dados coletados nas entrevistas e foram nomeadas segundo o

conteúdo que revelaram.

5.1 O PAPEL DAS ORIENTADORAS EDUCACIONAIS ENTREVISTADAS COM ALUNOS, PROFESSORES E FAMILIARES.

A atuação do orientador educacional historicamente foi marcada pelo

atendimento individual e psicologizante, com o intuito de adaptar os educandos

considerados “problemas” as regras da escola e da sociedade não levando em

consideração seu contexto social. Porém, hoje a proposta é trabalhar com o coletivo,

preocupando-se em compreender o desenvolvimento do aluno, comprometendo-se

com a formação da cidadania.

Grinspun (2010) caracteriza a orientação educacional hoje como um trabalho

de caráter mediador que deve trabalhar junto aos demais protagonistas da escola

buscando a qualidade no ensino. Apesar da proposta atual, percebe-se que o

atendimento individualizado ainda está presente, pois as cinco orientadoras

entrevistadas descrevem suas atuações com os alunos trazendo em suas falas

muito da individualização de questões educacionais, conforme pode ser visto nas

falas abaixo:

[...] você pode apenas não fazer nada e só receber os alunos relembrando aquela questão psicológica da orientação, apesar de que [...] não é esta a proposta da orientação educacional, [...], mas no dia a dia da escola isso é inevitável, porque você tem situações isoladas que têm que mediar, [...] e isso exige um trabalho mais individual e também em relação ao grupo, mas a intenção da orientação mesmo é trabalhar com projetos dependendo da necessidade de cada grupo [...] pensamos como foco o aluno, e os

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projetos são realizados por turma, como por exemplo, a agressividade. (Orientadora A)

O atendimento é mais individualizado [...], quando eu quero falar alguma coisa geralmente eu falo pro grupo inteiro [...] quando há uma necessidade, eu sempre falo também no coletivo, ou vou pra dentro da sala de aula trabalhar com eles, por exemplo, quando o professor tem dificuldade de manejo com a turma, então agente vai conversar com esses alunos pra tá ajudando. [...] minha função aqui é garantir a permanência da criança na escola, ajudando, compreendendo, orientando, pra que ele não saia. (Orientadora B)

Os atendimentos ocorrem muito individualmente [...] porque o orientador individualmente tem a chance de conhecer o que está perturbando este aluno [...] A orientação é muito importante, pois [...] conseguimos muito com esses alunos, é claro que eu gostaria de trabalhar com a prevenção, mas nessa escola considero meu papel muito importante por estar dando maior visibilidade a nossos alunos, por esta trazendo a família para a escola, por resgatar o que há de bom em nossos alunos.” (Orientadora C)

[...] a gente faz tanto atendimentos individuais, com alunos que são encaminhados, ou por conflitos com colegas ou com professores, [...] e também fazemos trabalho em sala de aula com os alunos, assim surgiram problemas em uma turma no aspecto disciplinar, ou de relacionamento, ou muito conflito com determinado professor, a gente faz essa mediação, faz a conversa com o grupo e com o professor, então, a gente também faz trabalho de motivação, trabalha hábitos de estudo, trabalha temas do interesse deles, atuamos também com o grupo, não só atendimento individual. (Orientadora D)

Do 6° ao 9° ano fizemos muitas intervenções individuais no começo do ano, por questões do ano passado, até a antiga orientadora “andou apanhando”, houve muitos conflitos, então os alunos estavam um tanto em desrespeito e não levando a educação a sério, foi onde no começo do ano eu busquei muitos pais, fiz muitas reuniões com os pais, os botei sentados, fiz roda com os professores, assim fomos incansáveis, e agora colhemos frutos, agora de manha é mais complicado atuamos mais com as crianças de 1° ao 5° ano e os motivos são Indisciplina, processo de aprendizagem. (Orientadora E)

Diante destes relatos percebe-se que apesar de o atendimento individualizado

ainda estar muito presente na atuação das orientadoras, as mesmas demonstram

interesse em trabalhar com o coletivo e conseguem realizar algumas ações

coletivas. Lück (2011) explica que há a necessidade do orientador dar enfoque tanto

para o grupo quanto para o indivíduo, compreendendo suas necessidades e

auxiliando todos os protagonistas da educação para que também compreendam o

educando percebendo seu contexto social e contribuindo para uma educação

harmoniosa e de qualidade. E para que aconteça esta educação de qualidade é

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necessário que toda a comunidade escolar trabalhe junta, no relato da Orientadora

D observa-se esta necessidade:

A dificuldade é [...] trabalhar com esse aspecto disciplinar, essa visão ainda antiga que se tem da orientação educacional como disciplinador, que tem que adequar “tornar todo mundo bonzinho”, [...] A gente sofre bastante cobrança, [...] o processo disciplinar é algo muito amplo, a responsabilidade em primeiro lugar é do professor em negociação com o grupo, estabelecer regras claras, ter uma aula bem planejada, então são vários aspectos que passam pelo setor disciplinar, e é grande a cobrança na orientação, gostaríamos de trabalhar mais com outros aspectos, com dificuldade de aprendizagem, com hábitos de estudo, com sexualidade, com projetos com temas importantes para as crianças e para os adolescentes, e a gente acaba ficando muito tempo em função de questões disciplinares. O tamanho do colégio, o número de turmas. [...] geralmente uma coisa que reclamamos entre nós orientadoras é que sempre encaminham pra gente alunos que têm problema disciplinar e a gente gostaria de ter uma atenção maior aos alunos com dificuldades de aprendizagem, dificuldades no processo de aprendizagem (Orientadora D)

O relato da Orientadora D demonstra que a orientação ainda é caracterizada

por ser uma atuação disciplinadora, o atendimento se intensifica na sala da

orientação e acaba restando pouco tempo para trabalhar com o grupo outras

temáticas relacionadas a questões que fazem parte do contexto das crianças e dos

adolescentes. A orientadora D também fala da atuação do professor de sua

importância e responsabilidade no processo disciplinar. Porém, destaca-se a

necessidade de resolver também os problemas disciplinares, buscando criar

estratégias coletivas para estas questões, pensando em conjunto com os

professores formas de buscar o interesse, atenção e curiosidade do aluno nas aulas.

Neste contexto a Orientadora E faz uma critica a atuação de alguns professores, que

deixam a desejar em seu papel de educador:

A grande dificuldade hoje é ter professores comprometidos, hoje parece que “qualquer um” pode ser professor e muitos não estão preparados, acham que vêm aqui e podem dar qualquer coisa, ai sai recebe o seu salário e aquele compromisso diário se perdeu. (Orientadora E)

A orientadora E sinaliza que há falta de comprometimento de alguns

professores. Para compreender essa questão é necessário refletir também sobre as

condições do professor hoje, seu vínculo com a empresa pública normalmente é por

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contrato, o famoso ACT onde o professor trabalha sem ter estabilidade no emprego,

as salas de aula são precárias e o professor muitas vezes necessita de itens básicos

e não encontra disponibilidade na instituição, documentos como o relatório da

Conferencia Nacional de Educação – CONAE (2010) destacam a importância da

formação continuada e isso quase nunca ocorre, o professor necessita de cursos

que o atualizem para garantir a qualidade do ensino, os salários baixos, entre outras

dificuldades encontradas pela classe que com certeza desanimam e também

contribuem para esta postura de alguns professores. Cabe ao orientador trabalhar

junto com estes profissionais incentivando o comprometimento profissional

contribuindo para o melhor funcionamento da escola e do processo de ensino-

aprendizagem.

Pensando na atuação do orientador com o educando, diante da atual

realidade do orientador, observa-se a importância do diálogo e para que isso se

estabeleça é necessário que haja confiança e respeito entre as partes envolvidas,

tanto do orientador com os professores, com os integrantes da gestão escolar, com

as famílias, assim como com os alunos. Giancaglia e Penteado (2009) descrevem a

orientação educacional como uma função de orientação e confiança onde o aluno

pode expor fatos e situações de cunho pessoal e familiar e se tratando de

informações sigilosas não devem ser alvo de comentários sob quaisquer

circunstâncias. Neste sentido quatro das entrevistadas descrevem como se

estabelece a relação com os alunos:

Minha relação com eles infelizmente às vezes passa a ser uma relação muito de cobrança [...] e este é um perfil que eu não gosto de ter, mas ao mesmo tempo agente percebe que há alunos que se achegam agente, percebo que existe uma relação de confiança, [...] e quando isso acontece de um aluno vir procurar é porque sabe que existe uma relação de confiança, sabe que o que vai ser feito vai ser o melhor pra ele [...], ele conta as tragédias dele, e a partir do momento em que você conhece essa história você passa a compreendê-lo e também acaba sendo compreendido e ele acaba percebendo a parceria da escola e acaba sendo um aluno melhor. (Orientadora C)

[...] os alunos têm referencia a minha pessoa, eu cobro bastante, questão pedagógica, principalmente a questão do aprendizado deles [...], eles tem muito respeito a minha pessoa e muitas vezes orientando conversado eu consigo muitas coisa com eles. É uma relação de confiança. Se não tiver confiança, não há relação, por exemplo, quando eles são “excluídos” de sala de aula, eles vêm pra

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cá, agente conversa, eu procuro entender e sempre firmar que a necessidade de estar aqui dentro da escola é deles. (Orientadora B)

Normalmente eles têm bastante respeito com a orientação, até os mais “Bagunceiros” indisciplinados, ou que tem uma postura de maior agressividade com professor, normalmente com a gente talvez por [...] não terem aquele contato diário, apesar de que a gente tá todos os dias nos corredores, eles vem com frequência aqui na nossa sala [...] eles tem uma relação de respeito com a gente, até por que a gente todo dia procura [...] trata-los com respeito, não ter uma postura de confronto de enfrentamento, procura primeiro acalmar, ouvir os dois lados, fazer a mediação do conflito. [...] procuramos dar atenção aos alunos que tem dificuldade de aprendizagem, a gente procura conversar com eles dar orientação de hábitos de estudo, mas [...] normalmente os que eles mais encaminham pra nós é os com problema disciplinar, ou conflito com professor [...]. (Orientadora D)

É questão de respeito, e estou ali em baixo eles vêm, eles brincam comigo, me abraçam, mas a hora que eu falo eu falei, eu chego à sala de aula eu me posiciono na porta e entra o silencio, eles sabem que vai acontecer alguma coisa que eu não estou ali brincando.” (Orientadora E)

As citações acima revelam que as orientadoras buscam criar vínculos com os

alunos, criando uma relação de confiança com eles, ao mesmo tempo deixam claro

que apesar da existência deste laço muitas vezes afetivo, o respeito predomina

nesta relação, e os alunos sentem-se confiantes em conversar, pedir ajuda, expor

necessidades.

Todas as orientadoras educacionais entrevistadas trabalham com uma

demanda muito grande de alunos, o que de certa forma dificulta o seu trabalho o que

intensifica a necessidade de um bom relacionamento entre orientadoras e alunos.

Trabalhar com os aspectos disciplinares, violências, conflitos exige do orientador

uma atuação de conselheiro, onde segundo Giancaglia e Penteado (2009) o

orientador deve compreender o sentido de aconselhar assistindo o aluno e levando-

o a refletir sobre determinadas situações levando em consideração seu contexto

social, trabalhando com estratégias preventivas como palestras, que busquem

compreender o grupo, sanando duvidas, esclarecendo os procedimentos e

andamentos da escola, trabalhando com o que seja realmente relevante para o

aluno, dando importância ao processo de ensino-aprendizagem.

O grande enfoque da atuação do orientador é o aluno no processo de ensino-

aprendizagem e por isso há a preocupação com aspectos disciplinares como

aparece nas falas anteriores, mas também com outras questões que envolvem o

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cotidiano escolar, como a evasão escolar. Para resolver estas questões o orientador

deve trabalhar ativamente na compreensão do contexto social de cada educando,

buscando estabelecer parceria com as famílias, com os professores, pensando em

construir um significado para o conhecimento escolar e contribuindo para evitar a

evasão escolar por exemplo. Ao que as entrevistas indicam, a evasão escolar é uma

das maiores dificuldades no processo ensino-aprendizagem e está mais presente

dentre as comunidades mais carentes. Três das orientadoras entrevistadas que

atuam nas regiões mais carentes selecionadas, contam um pouco de seu dia-a-dia e

relatam suas estratégias para envolver os educandos na comunidade escolar:

As questões que mais prejudicam a nossa comunidade é a evasão escolar, os nossos alunos faltam muito, por faltarem muito eles perdem vinculo com a escola, com o conteúdo e acabam tendo baixos índices de aprendizagem. Então a atuação do orientador educacional deveria estar muito mais voltada para a prevenção das dificuldades de aprendizagem, prevenção da evasão, prevenções disciplinares, mas neste caso específico desta escola infelizmente me sinto muito frustrada em não fazer [...]. A nossa comunidade é muito artística, para os estudos acontece com muita dificuldade, mas quando se envolve o estudo aliado ao lado artístico, a dança, por exemplo, eles são fantásticos, são fora do comum, então este lado a gente consegue conquistar [...] e você vendo aqueles alunos tocando saxofone, tocando instrumentos, alunos as vezes que em sala de aula tinham muita dificuldade de se concentrar de permanecer num ambiente de foco e quando entra a musica eles revelam um grande talento.” (Orientadora C) Entender o aluno e fazer com que ele não evada da escola é garantir a permanência dele aqui dentro, esse é o meu papel de fazer a adequação dele aqui dentro, de entender, de ajudar e fazer com que ele não se evada, porque uma criança evadida é uma criança perdida. (Orientadora B)

Como relata a orientadora C que atua em uma região carente, a questão de

evasão se intensifica, os alunos faltam muito e como a orientadora mesma diz

perdem o vínculo com a escola, cabe então ao orientador buscar parcerias na escola

e discutir maneiras que possam contribuir para evitar isso. A orientação deve

observar e perceber situações que possam integrar os educandos à escola. Na

escola C as atividades ligadas à arte parecem integrar os alunos, cabe ao orientador

junto aos outros profissionais da educação criar estratégias que contribuam para o

processo de ensino-aprendizagem e que garantam a permanência do aluno na

escola.

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A orientadora B se mostra bastante preocupada com a prevenção da evasão,

porém em sua fala destaca-se ainda uma orientação antiga que tem como estratégia

adequar o aluno a escola, desta forma ignora-se o contexto do aluno desvalorizando

seus conhecimentos e caracterizando a escola como um lugar de adequação de

pessoas a sociedade e não como um lugar de construção de ínvidos.

Com o intuito de evitar a evasão escolar a Orientadora B revela também como

atua em relação à aprendizagem dos educandos, buscando alertar os professores

sobre esta questão:

[...] Tentamos negociar com as crianças conversando, orientando-as a ver o quão é a importância do saber [...] mostrar que ele só tem a ganhar. A questão da aquisição do conhecimento é o que mais a gente trabalha [...] desde o inicio do ano com os professores, não deixe ninguém pra traz, não faça de conta que não vê essa criança, por que todos nós somos capazes de aprender e essa criança muitas vezes, essa criança que se esconde ela precisa desse atendimento individualizado, desse olhar diferenciado, e é em cima dessa criança que a gente tem que ter o olho bem aberto, o olho bem especial, por que é essa criança que muitas vezes se evade. (Orientadora B)

Compreendendo o que esta orientadora descreve em sua atuação, Lück

(2011) explica que um dos pontos de ação do orientador educacional é envolver

toda a comunidade escolar e para que isso aconteça o orientador precisa orientar

aconselhar e compreender o professor, pois o mesmo está diretamente envolvido

com o processo de ensino aprendizagem do educando. Neste sentido, outras

orientadoras relatam seu trabalho com os professores:

A gente assessora os professores, olha os planejamentos, os controles. Este ano a gente elencou o currículo próprio, dentro de todos os conteúdos por série é por ano né, o que o 1° ano tem que da conta, o 2°, por que o déficit de aprendizagem é muito grande. (Orientadora E)

A orientação é fundamental, para o aluno e para o professor, às vezes o professor sozinho não consegue resolver, [...] então o orientador tira o professor daquele contexto e consegue [...] conversar fazer com que ele encare o problema de outra forma, perceba o aluno de outra forma, [...] às vezes o aluno dentro da sala é uma coisa e sozinho é outra, então tem que olhar ele no individual e em grupo. Tem de interpretar o contexto familiar. Quem tá de fora seja orientador, seja supervisor tem esse papel de mediar de fazer o professor perceber. (Orientadora A)

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A orientação educacional segundo o relato das orientadoras é de suma

importância para a educação, no caso do relato da Orientadora A observa-se que o

orientador é o profissional incumbido de observar, de estar atento a situações que

ocorrem no âmbito escolar, que deve buscar compreender o aluno percebendo-o

como alguém que faz parte de um contexto e contribuindo para a solução de

problemas frequentes no dia-a-dia das escolas. Neste sentido o trabalho do

orientador deve se dar em conjunto com o professor pensando na qualidade do

ensino. (LÜCK, 2011). As orientadoras entrevistadas explicam um pouco como é sua

atuação com os professores:

Aqui é organizado de forma que todas as semanas, nos encontramos com os professores durante suas hora atividades (Ed. Física e Inglês) organizamos reuniões e caso o professor ache necessário me procura em qualquer outro período para solicitar auxilio. (Orientadora A)

Quando questionadas se os professores solicitam ajuda, as orientadoras

comentaram sobre o trabalho realizado com os professores e como se estabelece o

relacionamento com eles:

Sim, sim solicitam sempre, quando os alunos não realizam o trabalho, quando eles não entregam a atividade, eles também passam pra mim e eu cobro dos alunos até o final do dia e sempre tenho resultado positivo. [...] realizamos reunião pedagógica conselho de classe com os professores, mensalmente, e em todas as reuniões todas as paradas eu sempre estou presente [...]. (Orientadora B) [...] na medida do possível a gente tenta passar sugestões de como passar as atividades, eles também procuram muito a gente vem com frequência, ou se tem problema de relacionamento com o grupo, ou se tem muito aluno com nota baixa naquela turma, ou muito aluno não entregou o trabalho ou deixou de fazer alguma tarefa, também procuramos sempre informar os pais, a maioria dos professores tem o costume de pedir as provas assinadas mesmo dos menores quando a nota é baixa, se eles não trouxerem a prova assinada, entramos em contato com os pais, se o aluno deixa de entregar muitos trabalhos chamamos também os pais, através de bilhete ou telefonando. (Orientadora D)

[...] A gente sempre procura passar todas as informações para os professores, os relatórios dos alunos mesmo que de forma resumida, mas passamos as informações para os professores, sugestões de como trabalhar com esses alunos, no começo do ano a gente passa para todos os professores as sugestões de como trabalhar, [...]. (Orientadora D)

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Agente assessora os professores, olha os planejamentos, os controles [...] porque o déficit de aprendizagem aqui é muito grande. (Orientadora E)

Os professores me procuram muito, por diversos ângulos, como a orientação leva a um estudo mais profundo, por exemplo, nas características da idade, 5° a 8° é adolescente, então com adolescente é diferente de trabalhar com criança, em relação as próprias mudanças, afirmação de identidade, e o que parece ser indisciplina, mas agente sabe que atuando o professor de uma maneira assertiva consegue trazer este aluno e não afastá-lo. Então conversamos com os professores sobre essas diferenças de idade é repassando pra eles casos de que a família já esta atuando junto. [...] O nosso estudo é muito curto, nós temos pouco tempo. [...], mas informalmente nós conversamos muito, procurando soluções, o que deu certo com um professor o que não deu. (Orientadora C)

Os professores segundo, os relatos normalmente, procuram a orientação para

resolverem situações como falta de comprometimento dos educandos e para

solucionar problemas de relacionamento com os alunos.

A orientadora C cita que os professores a procuram para conversar por

diversos os motivos e o mais importante é que ela ressalta a proposta do estudo

mais aprofundado do orientador educacional que é mais específica em relação ao

aluno, por isso a importância de desenvolver seu trabalho junto ao professor pois

ambos desenvolvem seus trabalhos a partir do educando podendo se

complementarem com seus conhecimentos. O estudo aprofundado em relação ao

aluno é o que o diferencia dos outros profissionais da comunidade escolar.

Pensando em uma educação completa é necessário haver um trabalho

conjunto, entre gestão, família, corpo docente e discente, Grinspun (2010) esclarece

que é preciso que haja um projeto coletivo voltado para a efetividade dos processos

de ensino-aprendizagem, além disso, a escola deve em seu espaço físico

contemplar os interesses da comunidade, e para isso é preciso haver o

conhecimento mutuo entre família e escola. O orientador educacional é quem atua

diretamente com a relação família e escola é definida como função deste profissional

buscar formas de integrar a família com a escola, colaborando com o

desenvolvimento do aluno. A família fica incumbida de fornecer os cuidados

necessários para a sobrevivência e socialização da criança, enquanto a escola se

encarrega de assumir a educação formal. Diante disto faz-se necessário haver união

entre a escola e a família, pensando no desenvolvimento completo e harmonioso do

educando. (GIANCAGLIA E PENTEADO, 2009).

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As orientadoras entrevistas contam um pouco como é sua relação com as

famílias:

Com a família é um trabalho mais individualizado, se surge um problema chamamos para conversar e tentar resolver. A prefeitura tem um projeto que reúne os pais dos alunos no período noturno e faz palestras com temáticas do interesse dos pais, ou que achem relevante a comunidade. No ano passado isso acontecia duas vezes por semestre e este ano aconteceu apenas uma vez. (Orientadora A)

Quando há necessidade de a gente chamar a família à gente chama, quando a gente sabe que a criança tá com um problema maior, se a criança não tá interagindo, a gente chama a família pra ver se o comportamento dela é igual em casa. É claro que a gente tem que ter apoio da família, educação só a escola sozinha não consegue dar conta, não é. E essa parceria com a família é muito importante. (Orientadora B)

Com os pais é muita conversa, é buscar o comprometimento deles com a escola, ainda a uma dificuldade grande em trazer a família pra escola. Hoje eles já chegam e m procuram, ou então ligam. (Orientadora E)

A parceria da escola com a família pode contribuir para o desenvolvimento do

educando, e segundo Giancaglia e Penteado (2009) é importante que seja realizado

um trabalho preventivo com as famílias, realizando palestras e reuniões que

agreguem o coletivo prevenindo situações problemas. Porém ainda se busca a

família para a escola em um sentido de remediar o que já esta acontecendo. Apesar

de entenderem a importância da família na escola apenas duas orientadoras contam

suas estratégias para incluir a família na comunidade escolar:

A gente sempre procura fazer reuniões com os pais, este ano fizemos uma palestra que falava sobre a relação, a importância da participação da família na vida escolar do filho, a importância de todos os papeis da escola, dos alunos, e da família, e como essa parceria entre escola e família, estamos fazendo as entregas dos boletins nos sábados de manha, para conseguir dar uma atenção maior aos pais, normalmente tem um tempo para falar com os professores, pra procurar a equipe pedagógica a orientação e a supervisão. (Orientadora D)

[...] o nosso grande entrave é a família não por culpa dela, mas por uma questão de uma estrutura que é bem mais complexa perceber que é a escola que pode dar este salto na vida do filho. [...] Nós temos projetos pontuais, nós temos a festa da família, infelizmente há dois anos estamos sem festa junina por conta da reforma, mas era o momento em que todos vinham aqui, essas festas agregam muitas famílias, é uma comunidade muito animada, muito feliz, as

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vezes são marcados no recreio apresentação dos grupos de danças e eles comparecem em peso. E esse é o momento que a gente aproveita pra agregar, porque com certeza a família não viria pra escola se fossemos tratar de problemas dos filhos. A gente então convida pra apresentação, serve um lanchinho depois de todas as apresentações e assim formalmente agente acaba fazendo muitas parcerias neste momento, muitas avos que são o arrimo de famílias, as avos que cuidam dos seus netos como se fossem seus filhos. (Orientador C)

A orientadora C comenta que a família não iria para a escola se fosse em

função de resolver problemas, e cabe ao orientador criar estratégias que tragam as

famílias para a escola, de modo que as mesmas possam contribuir para o

desenvolvimento dos educandos.

Apesar da importância da parceria entre família e escola, algumas

orientadoras sinalizaram que alguns pais deixam de lado suas responsabilidades ou

não dão conta destas:

A escola não é fácil, não lida apenas com aluno, tem pais que não compreendem às vezes o aluno é um problema, e você chama o pai pensando em dar um respaldo, mas os pais não apoiam ou são negligentes. (Orientadora A) O nosso maior caso é de famílias ausentes, de famílias que os pais estão presos e temos ao mesmo tempo famílias muito batalhadoras, famílias de mães que trazem o filho pra escola que vão trabalhar que mesmo assim acompanham os filhos nos estudos e vem periodicamente na escola, são parceiras mesmo, nós temos os dois lados como qualquer escola. (Orientadora C)

As orientadoras comentam acima que existem tanto as famílias que

negligenciam ou não têm possibilidade de assumir as responsabilidades pelos seus

filhos como também há as famílias que participam e acompanham seus filhos. Neste

sentido a Orientadora C destaca que:

[...] a tacada de mestre é trazer as famílias para a escola, no momento em que as famílias sabem que a escola é o lugar onde vai dar chance do filho ter uma vida diferente, a gente sabe que ganhou esta família e também ganhou este aluno, por isso tentamos trazer estas famílias para a escola. (Orientadora C)

O trabalho coletivo é a base para o bom funcionamento da escola, neste

sentido a figura do orientador educacional se torna importante na escola, por ser

este quem realiza a mediação das relações família/escola, aluno/professor, por estar

dentre suas funções a cabe a ele então a elaboração de estratégias que busquem

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contribuir para estas relações, cabe a ele ainda trabalhar com todos os outros

profissionais da educação visando desenvolver um projeto coletivo e de qualidade

para a escola. (GRINSPUN, 2010)

5.2 AS ORIENTADORAS EDUCACIONAIS E SUAS ATRIBUIÇÕES NA GESTÃO

ESCOLAR

A gestão escolar é de grande importância para a educação, pois está

diretamente ligada a forma como se estabelecem as relações de trabalho na

instituição escolar e tem influencia em todas as áreas da escola. (LÜCK, 2011)

O orientador educacional ocupa um cargo da gestão escolar, que tem relação

com todas as áreas da escola e assume atividades e responsabilidades que fazem

parte da gestão, atividades estas que estão especificadas no Decreto n° 72846/73

que regulamenta a atuação deste. Nesse aspecto as orientadoras explicam que

fazem parte do corpo gestor e contam um pouco sua atuação:

A orientação [...] faz parte dessa equipe. Ser gestor é ter um conhecimento total da escola e esse conhecimento nós temos, por que é inadmissível que um orientador adentre a uma sala e trabalhe sozinho sem entender o processo de funcionamento da escola, por isso que ele também é um gestor. (Orientadora B) Eu faço parte da equipe gestora, da equipe que coordena o trabalho pedagógico da escola. O trabalho é bastante tranquilo, a gente tem bastante dialogo com a direção, com supervisão, com as outras orientadoras. Temos um bom trabalho com a secretaria, se precisamos de alguma coisa dos alunos, por exemplo, telefones, endereços temos bastante contato com a secretaria da escola, com a APP também temos um dialogo bem aberto com a presidente da APP, com os responsáveis. O dialogo é muito importante. (Orientadora D)

Segundo o relato das orientadoras, as mesmas têm consciência de que fazem

parte do corpo gestor, e citam a importância do trabalho em grupo e do diálogo. Por

fazer parte desta equipe o orientador deve trabalhar ativamente na construção do

Projeto Político Pedagógico – PPP da escola. O orientador deve participar do

planejamento, da caracterização da escola e da comunidade, deve contribuir para o

que se refere a processos educativos, nas escolhas de disciplinas, nos cronograma

de atividades, em processos avaliativos, dentre outros aspectos que se encontram

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no PPP e ficam a cargo do orientador. (GIANCAGLI E PENTEADO, 2009). Diante

disto a Orientadora A relata que:

Estamos revendo o PPP, revendo a parte filosófica, porque as coisas mudam, e desde o ano passado nós estamos revendo e analisando o que a escola precisa, tanto questões físicas, quanto questões pedagógicas. (Orientadora A)

O PPP deve ser realizado em grupo, para que todos os profissionais da

gestão da escola e os professores possam contribuir com seus conhecimentos. Além

da construção do PPP o orientador deve estabelecer parcerias com o supervisor

educacional, que também ocupa um cargo da gestão educacional, afinal é o

supervisor quem trabalha diretamente com o professor e com os planejamentos e

não há como trabalhar com o aluno sem entender o processo em que ele está

inserido. Por serem profissionais de atuação muitas vezes confundida pelos demais

integrantes da comunidade escolar, Giancaglia e Penteado (2009) esclarecem que o

orientador deve respeitar os demais cargos e também fazer com que os outros

respeitem sua atuação, tendo sempre presente o diálogo, a cooperação, a troca de

ideias e o auxílio. Seguindo esta perspectiva as orientadoras educacionais

descrevem sua atuação integrada a da supervisão educacional:

Eu considero muito importante o trabalho não só da orientação, mas também da supervisão, desde que ele seja integrado em todo o processo, em parceria com professor, com aluno, com família, direção da escola, ai realmente é um articulador não só na função burocrática ou então na função de preencher documentos e relatórios. [...] (Orientadora D)

Na orientação, eu vejo a escola como um todo eu não vejo ela separada, mas na orientação ou a escola num geral ela tem que ter um movimento, um movimento e toda a escola tem que se movimentar e o comprometimento. [...] Eu sempre acho que orientador e supervisor é um trabalho conjunto, por que não podes trabalhar com o aluno sem trabalhar com o professor, por que os dois estão interligados. (Orientadora E)

Não dá pra ter Orientador e Supervisor que trabalham de formas isoladas, às vezes as questões de planejamento interferem no aprendizado do aluno como também do aluno ou vice e versa. Agente sempre tem que tá falando com os professores em relação a planejamento ou aluno. O estado, por exemplo, prefere um profissional que realize tudo: O Coordenador, mas o ideal é quando tem o Orientador e o Supervisor realizando um trabalho integrado, aqui conseguimos conversar e discutir juntas. (Orientadora A)

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São funções que tem essências diferentes, é claro que o orientador não trabalha só com o aluno e o supervisor não deve trabalhar só com o professor ele tem que ter uma visão geral uma visão do todo, principalmente o orientador que trabalha com o professor e muito só que se essas duas funções também forem estanques, cada um dentro do seu quadrado ai é melhor realmente é perdê-las, se for cada um dentro do seu “quadrado”, mas existe a especificidade de cada um com certeza, e o supervisor da forma que ele é formado ele não teria, falando em currículo, ele não teria bagagem pra atuar na orientação educacional, nem o orientador na supervisão. (Orientadora C)

Considero importante este trabalho coletivo na articulação do trabalho pedagógico, não ficamos limitados, apesar de a orientação trabalhar com o aluno e com famílias, mas trabalhamos juntos com o restante da escola, acho que essa organização do processo pedagógico é importante, não se limitar só, como o supervisor trabalha mais com o professor no planejamento e a gente também participa e nós trabalhamos mais com aluno e família, mas também com os professores, não tem como separar, a atenção aos alunos com dificuldade. (Orientadora D)

Os relatos acima descrevem a importância da orientação e da supervisão

trabalharem integradas, afinal suas funções têm objetivos parecidos apesar de um

focar no aluno e o outro no professor, não há como trabalharem de maneira

individual. No relato a seguir a Orientadora B explica que no momento da entrevista

em sua escola não havia a presença de um supervisor, no entanto esta figura esta

sendo substituída por outro profissional:

Agora no momento não temos a figura do supervisor, mas temos outra orientadora, que veio pra cá como coordenadora, mas é orientadora também. A nossa supervisora esta na secretaria da educação. E a gente faz tudo, por que assim não tem como você trabalhar sozinha na orientação e não tem como você fazer a orientação sem fazer a supervisão, se eu quero entender o meu aluno eu preciso entender o que o professor usa pra trabalhar esse aluno é difícil separar supervisão e orientação. É um trabalho conjunto é uma equipe. Hoje a gente chama de equipe pedagógica não só eu sozinha que tenho que tratar os alunos e sim toda essa equipe que tem que entender e pra eu fazer alguma coisa eu preciso entender o papel do professor. (Orientadora B)

Quando a escola não possui ou cargo de orientador ou de supervisor, alguém

deve assumir esta função, pois normalmente a figura do coordenador assume estes

dois papei orientação e supervisão, onde segundo Pascoal (2005/2006) pode

resultar em uma inadequação das duas. Iavelberg (2011) esclarece que quando a

escola possui tanto o cargo de orientação como o de supervisão, o trabalho se à

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forma mais simples, pois as responsabilidades se dividem, não sobrecarregando um

único profissional.

Essa questão é que tá virando coordenador só. Por que tem que ter alguém, é impossível a escola caminhar sem ter alguém nesta função. O professor precisa deste respaldo, só que depende da escola, fica complicado ter uma pessoa para tudo. Semanalmente o Supervisor senta com os professores para analisar os planejamentos e também tem a questão familiar que é bem complicada por que os problemas não se resolvem em um único dia. (Orientadora A)

É fundamental a presença do orientador dentro de escola, se eu tenho que garantir à permanência do aluno dentro da escola a permanência do orientador é fundamental, ter a sua especificidade é muito importante é um olhar diferenciado que se tem, por que o técnico ele tem uma abrangência maior, é claro que a orientação ela tem a sua especificidade assim como a supervisão tem a sua e ter essas figuras dentro da escola é muito importante [...]. (Orientadora B)

Com certeza alguém dentro da escola mesmo não tendo o título, vai fazer o papel vai ter que fazer o papel do orientador educacional, por que precisa ter um mediador de conflitos, precisa alguém atuando nesta função, se não vai acontecer que a coordenação vai ter essa função, a direção vai ter essa função, é por que o orientador, a função do orientador não é entendida em sua essência, por que se fosse entendido que é a prevenção de todo, de grande parte desses conflitos e também, na prevenção das dificuldades de aprendizagem a atuação nas dificuldades de aprendizagem e quando elas existem se for entendido assim muito da escola vai ter um encaminhamento positivo, então não tendo uma profissional que exerça essa função em algum lugar também acaba sendo defasado, [...]. Eu não sei como é a formação do coordenador, mas ele vai ter que aprender nem que seja na pratica, mas do que conhecimento se nós negarmos a importância do orientador e do dentro da escola nós estamos negando que conhecimento é importante. É importante você conhecer a escola, e o orientador faz estudos relacionados á escola e cada caso. (Orientadora C)

Nos relatos acima as orientadoras entrevistadas falam sobre a importância do

profissional da orientação e que mesmo sem a presença deste alguém deve

assumir, pois existem demandas na instituição que precisam de profissionais

capacitados para atender. Nesta perspectiva Grinspun (2001) explica que a

orientação nunca deixará de existir, estando ligada ao conceito epistemológico da

educação que se refere a orientar, educar e conduzir o indivíduo. Apesar de que a

LDB de 1996 deixou claro em seus artigos que a função de orientador educacional é

de exigência da instituição, retirando a obrigatoriedade da presença deste

profissional. As entrevistadas falam um pouco sobre esta mudança:

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O estado abriu mão do orientador e do supervisor, na verdade agora tem um assistente-técnico-pedagógico, que faz tudo na escola, e isso é o caos para o estado. (Orientadora A)

O estado eles acabaram, mas eu acredito que ainda vai ter um secretário da educação “iluminado” que vai querer essas pessoas de volta, a pessoa do orientador dentro da escola faz toda a diferença [...] Hoje a pedagogia, claro ela tem sua especificidade, mas tu tens que ter um contexto geral, né. Você orientadora vai conseguir trabalhar com o professor, você supervisora vai também conseguir entender o lado do aluno, já foi eliminado que o orientador ficava lá na sua salinha, e o supervisor tinha em outra. Hoje não, hoje se trabalha com a equipe e é claro que varias cabeças pensando são melhores que uma. (Orientadora B)

No estado já não se abre mais concurso nesta área, e na rede municipal também já não abre a mais de cinco anos, eles estão colocando qualquer pedagogo qualquer professor fazendo a função de um orientador, e eles não tem esse conhecimento, e tá sendo uma luta de se garantir as especializações, só que não tá se garantindo tanto o papel do orientador como o supervisor, hoje no estado são técnicos pedagógicos, qualquer um pode ser. Eles acham que tem que ter uma pessoa ali pra “tapar buraco”, e essa não é a função, “tapar buraco”. (Orientadora E) A gente sabe de escolas, por exemplo, já ouvi de colegas meus no estado que não tinha essa função que tinha aquele técnico pedagógico que acabava tendo que resolver problemas, tendo que atuar nessa função. (Orientadora C)

Na fala das orientadoras educacionais entrevistadas, podemos perceber que

esta lei já fez grandes alterações no quadro de profissionais da escola, trazendo um

profissional que pode exercer todas as funções da gestão, lembrando a Lei de

Diretrizes e Bases do Curso de Graduação em Pedagogia (2006) define que o

pedagogo pode trabalhar em qualquer área pedagógica, o que intensifica a atuação

do técnico-pedagógico, pois já que é necessário apenas ter a graduação, qualquer

pessoa formada pode atuar nos cargos que exijam conhecimento pedagógico. Não

desmerecendo os outros profissionais da educação, mas a especificidade de cada

cargo faz sim a diferença, pois é necessário compreender a essência de cada

função. Conhecer a escola não garante o conhecimento necessário para trabalhar

em determinadas funções. O técnico-pedagógico atua como um coordenador,

trabalhando como orientador e supervisor, e segundo Pascoal (2005/2006) essa

sobrecarga de tarefas causa uma inadequação de ambas. Na visão das orientadoras

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entrevistadas podem estar atuando nestes cargos pessoas não capacitadas para

assumir tais funções.

5.3 DIFICULDADES RELATADAS PELAS ORIENTADORAS.

As dificuldades encontradas no caminho de qualquer profissional da

educação são evidentes, seja pela desvalorização destes profissionais, seja pela

falta de recursos disponíveis tanto de infraestrutura, quanto de pessoal. Neste

sentido, destaca-se o relato da Orientadora C, que dentre as outras escolas

entrevistadas, além enfrentar os problemas que a maioria das escolas enfrentam na

atualidade, está inserida em um bairro marcado por situações de violência e

vulnerabilidade:

[...] este ano [...] foi muito complicado o trabalho pra mim por [...] ter se instalado o turno integral. Nós perdemos muitas pessoas que nos ajudavam no trabalho de 6° ao 9° ano. Neste turno matutino só estudavam os alunos do ensino fundamental II, então também surgiram [...] crianças do 1° ao 3° ano e com isso o trabalho ficou bem mais complicado, porque além da falta de espaço físico. [...] não temos um ambiente adequado, por questões de barulho também, a escola está em reforma há quase dois anos [...] Na prática, assim o que a gente estudou é muito bonito muito importante, tenho especialização em psicopedagogia clinica e institucional e isso dá muita bagagem pra você trabalhar com a demanda de uma escola, só que a realidade te obriga a fazer prioridades. Numa comunidade como esta localizada entre duas comunidades rivais, e acaba sobrando pra escola um espaço uma demanda de trabalho que não seria da escola, ou somente da escola. São duas comunidades em que os alunos por conta de varias questões, inclusive do trafico, são rivais, mas assim se dissessem pra eu trocar de escola, como assim agente tem oportunidade de remoção, eu não troco de escola, eu amo trabalhar aqui, as pessoas que trabalham aqui, as que são efetivas, que trabalham junto comigo são pessoas comprometidas, assim como a direção também é muito comprometida, a diretora é uma pessoa da comunidade, é uma pessoa que se envolve, então a gente sofre com eles, ri com eles, trabalha com eles, então a gente se sente muito unido nisso. Nós temos muito alunos e ex-alunos envolvidos no trafico então a gente gostaria que a orientação trabalhasse com a prevenção as drogas. Nós temos agora soubemos a noticia esta semana, de uma aluna nossa de 13 anos, no 6° ano que está grávida, nós trabalhamos com a educação sexual desde os menores. (Orientadora C)

O relato da orientadora C evidencia a importância do orientador e o quanto a

realidade do orientador pode ser diversa, dependendo do contexto em que a escola

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está inserida, como esta escola situada entre comunidades com situações de

violência pelo tráfico de drogas. Destaca-se também o quanto existe uma implicação

desta orientadora, por se importar com seus alunos, por se importar com as

comunidades, por ter uma formação especializada, por trabalhar em equipe,

principalmente por demonstrar afeto a estas comunidades e apesar das dificuldades

demonstra carinho e afeto à sua profissão. Apesar disso, ela evidencia as limitações

que enfrenta na realização do seu trabalho em função das condições que está

inserida e que inviabilizam um trabalho efetivo.

Apesar de Lück (2011) relatar que apesar de a infraestrutura da escola ser de

suma importância para o aprendizado, mais importante que isso é a qualidade do

ensino exercido em sala de aula e com toda a certeza é, apesar disso sabe-se que

há coisas que são de extrema necessidade e as dificuldades que cercam aquela

comunidade vão além das dificuldades em infraestrutura na escola, necessitam de

políticas publicas de saúde, assistência social, segurança, entre outras políticas

públicas que possam ser parceiras da escola nas demandas decorrentes do

contexto em que a escola está inserida. Diante de todas as dificuldades encontradas

a orientadora afirma que sua atuação como ela mesma diz é de “apagar fogo”

trabalhando na remediação e não na prevenção como se espera a atuação do

orientador. A mesma no trecho a seguir fala de um projeto que gostaria de ter em

sua escola:

Por incrível que pareça, um projeto que é tão bacana o PROERD ele não tem nesta escola. Ano passado iniciou mais não finalizou e se tem uma comunidade que precisa ser trabalhada é essa, nos sentimos muita falta, é um trabalho muito bacana, também sentimos falta da guarda municipal aqui na frente da escola e também não vem. (Orientadora C)

A escola C, onde atua a Orientadora C é a escola com maior índice de

violência dentre as escolas entrevistadas. O PROERD - Programa Educacional de

Resistência às Drogas e à Violência trata-se de um programa que foi implantado

pela Policia Militar no estado do Rio de Janeiro e que se estendeu por todo o país. O

Programa é uma ação conjunta entre as Policias Militares, Escolas e Famílias, que

tem o objetivo de prevenir o abuso de drogas e a violência entre estudantes e

também realiza palestras com os estudantes com o intuito de ajudá-los a perceber

as pressões e influências que contribuem para o surgimento de violências e para o

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consumo de drogas. (PROERD, 2012). Se tratando de um projeto que previne a

violência, dentre os bairros encontrados no município de São José o que se

encontra a escola C com certeza está entre os que mais necessitam de políticas

públicas e de ações sociais que previnam a violência e o uso de drogas. Quando

perguntado a orientadora C o motivo pelo qual não se realiza este projeto o

PROERD e também não há atuação de guardas municipais no local, a mesma

responde que “Justamente pelo fato de estarmos em uma comunidade muito

violenta e liderada pelo tráfico de drogas. É um contrassenso mesmo!”. Outro

assunto que deixa a Orientadora C muito chateada é “A escola tem assinatura do

Diário Catarinense, mas não entregam aqui. O jornal é enviado à casa da diretora,

que traz para a escola. Adivinha qual o motivo?” A orientadora questiona fazendo

entender que são os mesmos motivos pela qual a policia militar e a guarda municipal

também não adentram os bairros envolvidos.

Dentre as dificuldades relatadas pelas orientadoras a grande demanda de

encaminhamentos por problemas disciplinares diminui o tempo disponível para a

observação e o trabalho com o grupo. Grinspun (2001) cita que enquanto a

orientação tinha sua atuação voltada para o indivíduo, os outros profissionais da

comunidade escolar depositavam a responsabilidade dos “problemas educacionais”

no profissional da gestão, porém os tempos mudaram e a proposta de atuação do

orientador também mudou, mas muitas vezes ainda a atuação do orientador é

confundida com este receptor de problemas. Nesta perspectiva a orientadora D faz

uma crítica a estes encaminhamentos:

Geralmente uma coisa que reclamamos entre nós orientadoras é que sempre encaminha pra gente alunos que tem problema disciplinar e a gente gostaria de ter uma atenção maior aos alunos com dificuldades de aprendizagem, dificuldades no processo de aprendizagem. (Orientadora D)

A orientadora D cita também que há muita dificuldade no trabalho em função

do número de alunos e faz relação com o que seria o ideal:

Uma coisa que sentimos muita dificuldade é o numero de alunos, o ideal seria uns 240 alunos, umas 6 ou no máximo 7 turmas por orientador, e normalmente a gente trabalha com um número maior, bem maior, essa é uma dificuldade. (Orientadora D)

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Diante do relato da orientadora D, observando o relato das outras

entrevistadas fica claro que a demanda de alunos, assumidas por cada uma delas é

um tanto superior ao considerado ideal pela Orientadora D, o que com certeza

dificulta o andamento do trabalho. Apesar da demanda de alunos serem grande para

todas as orientadoras, as mesmas não fizeram comentários sobre este assunto,

apenas a orientadora D comentou sobre ele.

Diante desta dificuldade em exercer a profissão a grande demanda de alunos

e os encaminhamentos por questões disciplinares, acabam por ocupar grande parte

do tempo das orientadoras. O orientador deve trabalhar o educando em sua

totalidade, desenvolvendo a autonomia, solidariedade, singularidade buscando o

verdadeiro sentido do “ser” humano. (GRINSPUN, 2003). Neste sentido a

orientadora D comenta sobre esta dificuldade:

Gostaríamos de trabalhar mais com outros aspectos, com dificuldade de aprendizagem, com hábitos de estudo, com sexualidade, com projetos com temas importantes para as crianças e para os adolescentes, e a gente acaba ficando muito tempo em função de questões disciplinares. [...] Nós, não conseguimos fazer hora atividade, só conseguimos no inicio, começamos a estudar alguns autores, sentimos muita falta disso, [...] estando na escola é muito difícil para pra planejar, vamos planejando no meio dos atendimentos, somos interrompidas várias vezes, precisamos trancar a porta pra planejar, é uma grande dificuldade sentar pra planejar e sabemos da importância disso. (Orientadora D)

A orientadora D cita suas dificuldade e faz referência à importância da

formação continuada, de estar sempre se atualizando que no caso a mesma não

consegue realizar. Além disso, ela destaca um ponto fundamental para o trabalho

que é o tempo para planejar as ações.

Outra dificuldade em comum entre duas orientadoras é o encaminhamento de

crianças com deficiência para atendimento nas demais políticas públicas municipais.

O que consta no Decreto n° 72846 que rege a atuação do orientador é que compete

a este profissional o encaminhamento destes alunos para outros profissionais:

Aqui especificamente a alguns encaminhamentos que não conseguimos fazer, a família às vezes não tem condições, nossa função é de encaminhar, o professor vê que o aluno tem problema de visão, está com problema na aprendizagem por causa da visão, ai chamamos a família e a ela não tem condições, a criança tá na fila de espera do posto. E já pedimos para a prefeitura um núcleo para isso, às vezes tem crianças com problemas e estão na fila de

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neurologista e demora muito, e o aluno vai se arrastando, assim como temos situações de aluno no quinto ano que não está alfabetizado, falta um núcleo para encaminharmos esses problemas, até temos um núcleo mais ele só atende quem já tem um diagnostica de deficiência. (Orientadora A)

Esses encaminhamentos são muito difíceis de serem levados até o fim, a família desiste, a família não tem condições de levar a um profissional da saúde, e você sabe como é o posto de saúde demora muito então precisa ter persistência e as famílias não tem persistência, a casos também que agente consegue encaminha para um núcleo especial, por que são casos de alunos especiais e quando nós conseguimos isso a criança tem direito a um segundo professor, este núcleo é do município e nós temos aqui de 5° a 8° 3 crianças com segundo professor, são casos em que não são fáceis de diagnosticar, nós levamos por exemplo uma aluna de 18n anos que esta no ultimo ano do ensino fundamental, nós conseguimos somente no ultimo ano dela aqui uma segunda professora, no caso de uma DM e nem leve DM moderada, e de uma família que estava bem presente bem encima das questões dos órgãos públicos e como você sabe tudo demora muito e isso com certeza trouxe um prejuízo pra ela muito grande. (Orientadora C)

A dificuldade encontrada nestes encaminhamentos se intensifica pela demora

no atendimento das crianças e adolescentes encaminhados para atendimento na

saúde, comprometendo a possibilidade de efetividade do trabalho da escola. No

entanto, a orientadora D que pertence à escola de localização mais centralizada no

bairro de São José, à realidade é outra, talvez pela facilidade no acesso e

comunicação:

[...] Se professor observa dificuldade no aluno, a gente conversa, chama a família, vê se esse aluno já foi avaliado de alguma forma e quando a gente observa muita dificuldade a gente encaminha para avaliação em alguns setores, pro AMA do hospital infantil que faz um trabalho multidisciplinar que faz uma avaliação, encaminhamos também para o núcleo desenvolver da UNISUL, tem o núcleo desenvolver também da UFSC que fica no hospital universitário, então são equipes multidisciplinares que fazem avaliação de crianças de escola pública. (Orientadora D)

Quando perguntada sobre a facilidade em realizar os encaminhamentos a

mesma responde que:

Sim a gente consegue, [...] é claro que às vezes tem uma demora, fila de espera, mas normalmente a gente procura encaminhar para estas instituições publicas. Quando a família pode pagar, nós temos famílias com condições de levar num neuropediatra, num psicopedagogo, ou outro especialista, a família tendo condições a

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gente encaminha também para instituições particulares, mas normalmente é pra publica. (Orientadora D)

Destaca-se nestas falas e nas dificuldades relatadas pelas orientadoras, a

falta de investimentos em políticas públicas que garantam o atendimento das

demandas dos alunos atendidos por estas orientadoras. Conforme o ECA Estatuto

das Crianças e Adolescentes (1990), o artigo 4° explica que as crianças e

adolescentes possuem prioridade absoluta nos atendimentos:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Cabe então aos educadores, familiares e em geral toda a comunidade

escolar, exigir e fazer com que se cumpra este direito. E como o papel do orientador

é contribuir para a construção do cidadão compete a ele também esclarecer aos

alunos e familiares seus direitos, para que os mesmos se compreendam como

cidadãos de direitos e deveres perante a sociedade.

5.4 ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS UTILIZADAS PELAS ORIENTADORAS

EDUCACIONAIS ENTREVISTADAS

Dentre as funções do orientador educacional, cabe a ele contribuir para que a

escola exerça sua função social, discutindo problemas atuais que façam parte do

contexto social em que o educando está inserido. (PASCOAL, 2005/2006) Para

facilitar este trabalho, uma alternativa é a criação de projetos para serem

desenvolvidos nas turmas, projetos estes que devem fazer relação com o dia-a-dia

do aluno pensando na construção da cidadania do mesmo.

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Realizo projetos por turmas para suprir as necessidades de cada grupo, por exemplo, se a turma apresenta dificuldades em relação à sexualidade é realizado um projeto sobre este tema juntamente com o professor. (Orientadora A)

A orientadora A traz em sua fala que quando é observado um problema em

certos grupos, realiza-se um projeto objetivando sanar essas dificuldades, porém o

mais interessante é que ela busca realizar este trabalho em conjunto com o

professor, pois segundo Grinspun (2003) o orientador deve trabalhar com os outros

profissionais da educação em projetos que busquem a formação do homem coletivo,

pensando em todas as suas relações no processo de ensino-aprendizagem,

pensando em trabalhar a favor de uma educação transformadora.

Dedicando seu trabalho ao desenvolvimento do aluno, a orientação deve

buscar estratégias para auxiliar no processo ensino-aprendizagem. A orientadora D

traz em seu relato algumas de suas estratégias:

[...] fazemos trabalho em sala de aula com os alunos, assim surgiram problemas em uma turma no aspecto disciplinar, ou de relacionamento, ou muito conflito com determinado professor, a gente faz essa mediação, faz a conversa com o grupo e com o professor, então, a gente também faz trabalho de motivação, trabalha hábitos de estudo, trabalha temas do interesse deles. (Orientadora D)

A Orientadora D traz em seu relato como funciona seu trabalho, a mesma

descreve também o trabalho coletivo com os professores. A mesma cita uma

característica importante em seu trabalho que deve estar presente na atuação do

orientador, a motivação, hábitos de estudo e temas do interesse dos alunos, pois o

mesmo deve trabalhar para garantir a permanência do aluno na escola, é incentivá-

lo neste processo é de extrema relevância para a educação.

É função do orientador, buscar todos os tipos de estratégias necessárias,

para suprir as necessidades de seus alunos. Pensando nisto o relato a seguir traz

uma estratégia utilizada pela Orientadora C:

Além de trabalhar nas disciplinas, especificamente na disciplina de ciências, nós também temos um projeto de ir às salas uma vez por ano tem a seção especialmente a DSTs a AIDS, e também sabendo que a demanda desta comunidade é bem maior, faz uns dois anos que eu mandei um e-mail para todas as escolas de enfermagem aqui da redondeza de Florianópolis e São José pedindo uma ajuda para as professoras dessas escolas de enfermagem, se quisessem fazer

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um estágio aqui, e por felicidade uma respondeu [...] e há dois anos vem na nossa escola atender nossos alunos, fazem palestras, cartazes, varias orientações especificamente com relação a sexualidade, e é um trabalho muito bonito o que está escola faz aqui. (Orientador C)

O relato acima revela o comprometimento da Orientadora C, que busca

dentro e fora da escola alternativas para auxiliar atender algumas demandas da

escola. O orientador deve buscar formas de facilitar seu trabalho, buscando o

trabalho coletivo com os profissionais da escola e também profissionais de fora que

possa contribuir para a qualidade do ensino.

Em relação aos atendimentos realizados pelas orientadoras, foi observado

nas entrevistas que é necessário buscar formas que facilitem o trabalho do

orientador e uma dessas formas é a criação de relatórios que facilitem a

comunicação entre orientadores e os outros protagonistas da educação. Diante

disso os relatos a seguir confirmam a necessidade da utilização de ferramentas que

auxiliem na atuação do orientador:

A gente tem a ficha individual do aluno e faz anotações lá e fazemos um levantamento e dependendo da situação faz o questionário, ou um pré-conceito. (Orientador A)

As comuns fichas de alunos são extremamente relevantes para a atuação dos

orientadores, pois devido à demanda de alunos, é difícil conhecer a todos, e para

sanar esta dificuldade é necessário que se faça controles e que seja arquivado o

que há de pertinente para a formação dos alunos. Por conterem informações muitas

vezes de cunho pessoal e familiar do aluno, é necessário que o orientador não

comente o que está arquivado, e se caso haja a necessidade de passar informações

a outro profissional o orientador deve resumir as informações e não explicitar nada

que possa comprometer o educando. (GIANCAGLIA E PENTEADO, 2009)

Outro tipo de ferramenta que pode contribuir para a atuação do orientador é a

criação de fichas e questionários que facilitem o trabalho, como indica o relato a

seguir:

A gente tem diversas fichas, temos fichas de atendimento, fichas de registros de atendimentos, todos os atendimentos feitos todos são registrados, tenho ficha dos alunos ajudados pelo conselho, alunos repetentes, notas dos alunos, ficha preenchida pelo professor no conselho de classe sobreo o comportamento tanto disciplinar quanto responsabilidade com os estudos responsabilidade com os estudos,

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nas fichas tem nome do professor que encaminhou, nome do aluno, motivo do encaminhamento, então quando os pais vem aqui temos como passar esses dados, aqui eu tenho também as famílias e os telefones, as famílias que eu já entrei em contato, então tudo que a gente faz tem um registro, tem os horários, a relação de alunos que já tem um diagnostico para passarmos para os professores. Estamos sempre produzindo estes materiais, sempre readaptando, temos as fichas do pré-conceito, organizamos o conselho, organizamos a escolha do representante de turma (Líder) organizamos o material, o professor regente aqui é o professor conselheiro que auxilia nessa votação, temos uma pasta de fichas para os mais diversos setores, os mais diversos atendimentos, também temos no computador salvo os relatórios dos alunos.” (D)

O orientador deve fazer uso de todos os recursos que possam auxiliar e

antecipar seu trabalho, afinal devido a grande demanda de alunos que cada um atua

tudo que possa facilitar o decorrer da atuação deve ser bem vindo. E mesmo com

todas as facilidades criadas para esta atuação, para que a atuação deste

profissional que se envolve em toda a comunidade escolar, que deve se preocupar

com todas as relações estabelecidas na escola, que deve integrar aluno, escola e

família e contribuir ativamente para o desenvolvimento dos educandos, é necessário

que se tenha conhecimento sobre suas responsabilidades, com isso quando

perguntadas sobre qual a fórmula do sucesso da orientação educacional as

orientadoras entrevistadas responderam:

Não sei, mas eu gosto tanto do que eu faço, que acho que o primeiro passo é gostar, adoro, tenho um prazer muito grande em na escola. O principal mesmo é você gostar do que faz, e eu adoro, adoro mesmo. (Orientadora A)

Nós não temos fórmula, é a atuação constante, a presença, a responsabilidade, o comprometimento, o entendimento, e principalmente gostar, não tem formula, todos os dias é uma batalha, todos os dias é um crescimento, todos os dias eu trabalho todos os dias eu aprendo eu sou uma sementinha nesse processo de entendimento. (Orientadora B)

Com toda certeza é o compromisso com o que você faz, para trabalhar na educação tem que gostar, e nesta escola todos os dias temos uma nova luta um novo desafio que precisamos encarar. Gostar do que você faz fazer com amor, com prazer, é essencial para que se dê o processo com qualidade. (Orientadora C)

Uma delas é a parceria, não trabalhar de maneira isolada pensando que a sua função é autossuficiente. Buscar se atualizar, estar sempre estudando, buscando novas formações, participar de congressos, eventos. Trabalhar sempre em parceria, com supervisão, com as famílias, com os alunos, com os auxiliares de ensino que aqui

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chamamos de coordenadores. Se existisse uma formula, esse seria um dos caminhos a parceria, tem que esta sempre estudando, buscando novas informações, por que mesmo com mestrado, doutorado, nunca é o suficiente, é preciso buscar a atualização sempre, dentro do teu grau de formação. (Orientadora D)

Eu acho que o sucesso da gente, é o sucesso, é o empenho da escola, é o sucesso dos alunos, hoje eu digo assim, por causa de tantas dificuldades no processo de ensino que a gente tem no processo de aprendizagem dos alunos. É compromisso realmente. (Orientadora E)

As orientadoras trazem em seus relatos o que consideram relevante para

terem sucesso em suas atuações, o que ficou explícito em alguns comentários foi à

valorização da parceria e do trabalho em grupo, as mesmas parecem valorizar este

ponto em suas atuações, uma orientadora trouxe também em seu relato a

importância da formação continuada de estar sempre se atualizando, se reciclando,

e o fato que apareceu de comum entre a maioria dos relatos foi o gostar do que

fazem e isso é importante em todas as profissões, pois quando se gosta do que faz

atuasse com prazer e com certeza obtêm-se melhores resultados, as mesmas se

mostram comprometidas e preocupadas com o andamento de suas escolas.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente a orientação educacional se caracterizou por práticas voltadas

ao aluno isolando-o de seu contexto social. Pensava-se apenas em adequar o

educando às normas da escola e da sociedade, ignorando sua cultura e saberes.

Por se tratar de práticas copiadas do modelo norte-americano que visava à

orientação vocacional, cabia também ao orientador educacional orientar o aluno na

área vocacional, identificando nos mesmos aptidões para prática do trabalho.

Além disso, o orientador nem sempre era bem-visto na escola por não

compreenderem seu papel. Por ser um especialista em educação, o mesmo era

criticado por remeter a um lugar de hierarquia em relação aos professores. Mas, por

outro lado, era visto como alguém que poderia resolver os “problemas” dos

educandos que os professores não conseguiam dar conta.

Porém com o passar dos anos o conceito de orientador educacional foi sendo

compreendido como um parceiro da educação, deixando de ser reconhecido como

um profissional “superior” hierarquicamente e tornando-se um aliado dos demais

profissionais da escola, por ter seus conhecimentos e estudos voltados ao

educando, poderia e deveria contribuir com os professores, familiares e gestores

para a compreensão do educando, podendo assim colaborar para o

desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.

Percebendo as dificuldades em realizar seu papel como orientador, passou a

se exigir dos orientadores novas formas de desempenhar suas práticas,

considerando a função do orientador que sempre foi e é voltada ao educando, mas

com a necessidade de compreender o contexto escolar, familiar e social no qual o

educando está inserido. Neste sentido passou a se focar no coletivo e não apenas

no indivíduo.

Diante desta concepção ficou atribuído ao orientador trabalhar com toda a

comunidade escolar incluindo neste os familiares dos educandos. Por ter seu foco

no aluno o orientador deve compreender todas as suas relações, trabalhando

diretamente com o aluno, com familiares e com os professores. Podendo em

conjunto com estes identificar as possíveis dificuldades no processo ensino-

aprendizagem, buscando desenvolver junto deles alternativas e estratégias que

sanem as dificuldades encontradas no processo.

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Porém, mesmo reconhecendo que o orientador não deve ser um profissional

apenas voltado a resolver os “problemas” dos “alunos problema”, dentre as

dificuldades relatadas pelas orientadoras está a grande demanda de

encaminhamento de professores de alunos para atendimentos individuais

relacionados à indisciplina. Percebe-se que o orientador educacional ainda é visto

como alguém que é procurado na escola para “adaptar” o educando às regras da

escola. Apesar disso, as orientadoras entrevistadas mostraram clareza que cabe ao

orientador buscar junto aos outros profissionais da educação alternativas e métodos

para que o professor e toda a comunidade escolar consigam desenvolver seus

papéis com sua preocupação voltada para o processo de ensino-aprendizagem.

Alternativas essas que devem ser de caráter preventivo, desenvolvendo projetos que

incentive os estudos e que façam parte do interesse dos alunos, fazendo ligação

com seu contexto social, desenvolvendo a cidadania e discutindo assuntos que

fazem parte da vida dos alunos, como sexualidade, drogas, a importância do estudo,

direitos e deveres, entre outros temas que podem e devem ser abordados.

Em alguns dos relatos das orientadoras observa-se uma responsabilização

dos professores pela falta de disciplina dos alunos, mas destaca-se que todos os

profissionais da escola precisam trabalhar juntos para sanar as dificuldades que

fazem parte do cotidiano da escola, cabendo ao orientador dar assistência aos

professores, buscando estratégias coletivas para esta questão.

Percebe-se também nos relato das orientadoras que o grande número de

alunos que cada uma atua dificulta o andamento do trabalho, pois ao trabalhar muito

com o indivíduo e seus problemas disciplinares, torna-se difícil arranjar tempo para

planejar estratégias coletivas, com foco na prevenção, e isso acaba acarretando em

uma orientação centrada nas demandas individuais de determinados alunos. Isso

faz lembrar os novos profissionais que estão atuando nesta função, profissionais

como os coordenadores e os técnicos-pedagógicos que atuam tanto na orientação

como na supervisão, o que agrava ainda mais a dificuldade na realização de suas

funções. Pois se para a orientação educacional já é difícil realizar seu trabalho por

conta dos grandes números de alunos que cada orientador é responsável, a

dificuldade se intensifica quando este trabalho agrega ainda mais funções.

Outro ponto que se faz necessário comentar são as dificuldades encontradas

na atuação do orientador devido à falta de políticas públicas acessíveis à população,

que são garantidas por lei e que não são cumpridas. Neste sentido, pode ser

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observado nos relatos que a localização das escolas também interfere na atuação

do orientador quando ele precisa encaminhar alunos que necessitam de algum

serviço de outra política pública, como por exemplo, os encaminhamentos de alunos

deficientes para a rede de saúde, nas escolas de áreas centrais do município estes

processos se dão com mais facilidades, já nas escolas que estão em áreas com

menos acesso a serviços públicos e infraestrutura esta dificuldade se intensifica.

Neste sentido, observa-se nesta pesquisa que os direitos das crianças e dos

adolescentes não estão sendo assegurados, principalmente nas escolas que se

encontram em regiões onde reside a população com menor poder econômico, que

necessitam de políticas públicas efetivas.

Os relatos das orientadoras demonstram também que na maioria das vezes

as mesmas têm compreensão de como é e como deveria ser suas atuações.

Esclarecem em seus relatos a total compreensão de como deveria ser suas

intervenções na escola e algumas até demonstram frustração por ainda não

conseguirem desenvolver seu trabalho como gostariam. Apesar das dificuldades, as

mesmas tentam realizar as funções que caracterizam a orientação, algumas

voltando seu trabalho para garantir a permanência dos educandos na escola, outras

buscando estratégias que sanem as dificuldades de ensino-aprendizagem, entre

outras.

O que se intensifica nos relatos é a necessidade do trabalho em conjunto nas

escolas entrevistadas, no qual o trabalho do orientador deve ser informar e prevenir,

mas que muitas vezes isso não ocorre desta forma. Apesar disso algumas

orientadoras descrevem que quando percebem a necessidade de desenvolver

alguma temática em determinados grupos ou turmas, as mesmas realizam

conversas e intervenções com professores e alunos de determinada turma.

Buscando a realização de um trabalho harmonioso e em conjunto com os

demais profissionais da escola, reconhece-se o orientador educacional como um

cargo que faz parte da gestão escolar e que deve realizar seu trabalho em prol da

escola e do aluno, unindo-se aos outros profissionais para conhecer efetivamente

toda a escola e a comunidade que a cerca, desenvolvendo o PPP (Projeto Politico

Pedagógico) onde devem constar quais os interesses da escola, quais suas metas e

como realizá-las. Dentre os cargos gestores está o supervisor educacional que tem

seu foco no trabalho do professor, no relato das orientadoras é possível observar o

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quão se faz importante a realização do trabalho em conjunto com a supervisão, por

terem seus focos relacionados.

Para promover o desenvolvimento do trabalho do orientador o mesmo

também deve buscar estratégias e instrumentos que facilitem suas intervenções,

criando materiais que contenham as informações necessárias para a realização de

seu trabalho, como fichas dos alunos com anotações relevantes que auxiliem na

compreensão e no acompanhamento do aluno.

Observa-se que o papel do orientador é de suma importância para a escola

por caber a ele contribuir para a busca de soluções que contribuam com o processo

de ensino-aprendizagem; por ter seu foco voltado ao educando pensando-o como

um ser em desenvolvimento que precisa ser compreendido levando em

consideração todas as suas relações e seu contexto social; por buscar trazer ao dia-

a-dia do aluno assuntos que são relevantes aos mesmos visando a ampliação do

conhecimento destes; por ser a “ponte” que liga a família e a escola, procurando

alternativas que tragam os familiares dos educandos a comunidade escolar,

pensando no desenvolvimento completo do educando tendo o apoio familiar; por ser

uma peça importante no trabalho escolar contribuindo efetivamente para a

construção do Projeto Político Pedagógico – PPP; por buscar conhecer as famílias e

a comunidade na qual o aluno está inserido; por trabalhar efetivamente pensando na

qualidade do processo ensino-aprendizagem, juntamente com o professor, visando o

desenvolvimento do aluno , este desenvolvimento.

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REFERÊNCIAS

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Ensino Secundário. Lex: PUB. CLBR, Rio de Janeiro, 121º da Independência e 54º

da República, 1942. Disponível em:< http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-4244-9-abril-1942-414155-publicacaooriginal-1-pe.html >. Acesso em: 08 de março de 2012. . Decreto-Lei n. 6.141 – de 28 de dezembro de 1943. Decreta Lei Orgânica do Ensino Comercial. Lex: PUB. CLBR, Rio de Janeiro, 122º da Independência e 55º da República, 1943. Disponível em:< http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-6141-28-dezembro-1943-416183-133673-pe.html >. Acesso em: 08 de março de 2012 . Decreto-Lei n. 9.613 – de 20 de agosto de 1946. Lei Orgânica do Ensino Agrícola. Lex: PUB. CLBR, Rio de Janeiro, 125º da Independência e 58º da

República, 1946. Disponível em:< http://www.soleis.adv.br/leiorganicaensinoagricola.htm >. Acesso em: 08 de março de 2012 . LEI no 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lex: Diario Oficial da União, Brasília, 140º da Independência e 73º da República, 1961. Disponível em:< http://wwwp.fc.unesp.br/~lizanata/LDB%204024-61.pdf >. Acesso em: 09 de março de 2012.

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Independência e 80º da República, 1968. Disponível em:< http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.action?numero=5564&tipo_norma=LEI&data=19681221&link=s >. Acesso em: 09 de março de 2012. . Lei n° 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus. Lex: Diário Oficial da União, Brasília, 150º da Independência e 83º da República, 1971. Disponível em:<

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http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1971/5692.htm >. Acesso em: 09 de março de 2012 . Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Lex: Diário Oficial da União, Brasília, 185º da Independência e 108º da República, 1996. Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf >. Acesso em: 09 de março de 2012. . Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Lex:

Diário Oficial da União, Brasília, 169º da Independência e 102º da República, 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm >. Acesso em 06 de novembro de 2012. . Resolução CNE/CP Nº 1, de 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia. Lex: Diário Oficial da União, Brasília, 2006. Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf >. Acesso em: 09 de março de 2012. . Conferencia Nacional de Educação – CONAE, 28 de março a 1º de abril de 2010. Construindo o Sistema Nacional Articulado: O Plano Nacional de Educação, Diretrizes e Estratégias de Ação. Lex: MEC, Brasília, 2010. Disponível em:< http://www.riopreto.sp.gov.br/educacao/arquivos/downloads/conae_2010_doc_base_documento_final.pdf >. Acesso em: 20 de março de 2012. EDUCAÇÃO INTEGRAL JÁ É REALIDADE NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO EM SÃO JOSÉ. PMSJ. Disponível em: <http://www.pmsj.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1718:educacao-integral-ja-e-realidade-na-rede-municipal-de-ensino-em-sao-jose&catid=2:noticias> Acesso em: 28 de outubro de 2012. GIANCAGLIA, Lia Renata Angeline; PENTEADO, Wilma Millan Alves. Orientação Educacional na Pratica: Princípios, técnicas e instrumentos. 5. ed. São Paulo:

Cengage Learning, 2009. GRINSPUN, Mírian P. S. Zippin (Org.). A Prática dos Orientadores Educacionais.

4. ed. São Paulo: Cortez, 2001. (Org.). Supervisão e Orientação Educacional: perspectivas de integração na

escola. São Paulo: Cortez, 2003.

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. A orientação educacional: Conflito de paradigmas e alternativas para a

escola. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2010. IAVELBERG, Catarina. Orientação educacional potencializa a formação docente. Gestão escolar – Revista Nova Escola, 14. ed. Junho/Julho. Titulo original : Cumplicidade formativa. Disponível em:< http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/orientacao-educacional-potencializa-formacao-docente-636831.shtml>. Acesso em: 07 de março de 2012. LÜCK, Heloísa. Ação integrada: Administração, supervisão e orientação educacional. 27. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. MELO, Sonia Maria Martins de. Orientação Educacional: do consenso ao conflito. Campinas, SP: Papirus, 1994. MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37, p. 7-32, 1999. PASCOAL, Miriam. O Orientador Educacional no Brasil: uma discussão crítica. Poíesis, Catalão, GO, v.3, n. 3 e 4, p. 114-125, 2005/2006.

PASCOAL, Miriam; HONORATO, Eliane Costa; ALBUQUERQUE, Fabiana Aparecida de. O Orientador Educacional no Brasil. Educ. rev. n.47, Belo

Horizonte, Jun. 2008. PROERD. Disponível em: <http://www.proerdbrasil.com.br/oproerd/oprograma.htm> Acesso em: 28 de outubro de 2012. SILVA, Renata; KARKOTLI, Gilson (Orgs.). Manual de metodologia científica do USJ 2011-1. São José: Centro Universitário Municipal de São José – USJ, mar. 2011.

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APÊNDICES

(Apêndice A)

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE PEDAGOGIA

APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO NO CAMPO

Pesquisa do TCC

São José, 11 de março de 2011.

____________________________

Diretor/a do/a Escola Municipal

Prezada Diretor (a),

O Curso de Pedagogia da USJ realiza visitas de campo, intervenções, observações

participantes nas Escolas do Ensino Fundamental, Centros de Educação Infantil das

redes municipal, estadual e particular da Grande Florianópolis/SC, inclusive nas 6ª, 7ª,

e 8ª fases.

Nesse sentido, vimos apresentar a acadêmica Aline campos,

regularmente matriculada no curso de Pedagogia da USJ para que possa realizar a

pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) nessa Instituição, cuja temática

de estudo é: Orientação Educacional: qual seu papel na educação.

Como proposta de ação, a acadêmica precisa realizar uma entrevista com

roteiro semi-estruturado, com o(a) orientador(a) educacional da instituição.

A referida pesquisa é requisito obrigatório para a formação profissional, conforme

Art. 65 da lei 9.394/96.

Sendo o que tínhamos para o momento, agradecemos.

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(Apêndice B)

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE PEDAGOGIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (participantes da pesquisa)

PESQUISA: “Orientador Educacional: qual o seu papel na educação?”

Eu, __________________________________ confirmo que a pesquisadora Aline Campos discutiu comigo este estudo. Eu compreendi que:

1. As informações para esta pesquisa serão coletadas através de entrevistas individuais e analise de dados. Os dados coletados serão utilizados para compreender o papel do orientador educacional em seu âmbito e suas atuações com alunos, professores familiares e gestores.

2. O objetivo geral da pesquisa é estudar como é a atuação do orientador observando sua importância para o processo ensino-aprendizagem.

3. Minha participação colaborando nesta pesquisa é muito importante porque contribuirá para a compreensão das formas de participação do orientador na educação, assim como sobre as dificuldades e oportunidades que encontram. Além disso, os resultados poderão contribuir para uma possível comprovação da importância do orientador à educação.

4. Eu posso escolher participar ou não deste estudo. Minha decisão em participar desta pesquisa não implicará em benefícios pessoais, bem como não resultará em quaisquer prejuízos.

5. Participando das entrevistas com sinceridade, estarei contribuindo com a pesquisa.

6. Todos os dados coletados somente serão utilizados para esta pesquisa e para a divulgação acadêmica de seus resultados. Na divulgação dos resultados não serão identificados os informantes.

7. Se eu tiver alguma dúvida a respeito, eu posso contatar a pesquisadora Aline Campos pelos telefones 3357-9161 ou 8414-8450.

8. Eu concordo em participar deste estudo.

Assinaturas:

Participante: ________________________________ Data:___________________

Pesquisadora Principal/orientanda: _______________________________ Data:______

Pesquisadora Responsável/orientadora: ____________________________ Data:_____

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(Apêndice C)

ROTEIRO SEMI-ESTRUTURADO DE ENTREVISTA

1. Nome:

2. Idade:

3. Tempo de formação:

4. Formação:

5. Tempo de atuação como professor/turma que lecionou:

6. Tempo de atuação na atual escola como orientador:

7. Vinculo como orientador (concurso/ACT):

8. Com quantos alunos atua na escola? Quais as séries?

9. Como é seu trabalho com alunos? Como é realizado?

10. Como é sua relação com os alunos?

11. Quais são os alunos que você realiza intervenções com mais frequência?

12. Realiza algum trabalho com os professores? Como ocorre?

13. Como é seu relacionamento com os professores?

14. É realizado algum trabalho com as famílias?

15. Como é sua relação com as famílias?

16. Qual seu papel na gestão educacional?

17. Como é o trabalho com os demais integrantes da equipe da gestão?

18. O que considera importante na orientação educacional?

19. O que considera sobre a orientação educacional hoje? Aspectos positivos e

negativos?

20. O que pensa da LDB 1996 que coloca o orientador como uma opção da

escola e não como uma exigência?

21. Qual sua importância para o processo ensino-aprendizagem?

22. Quais dificuldades encontra ao realizar suas funções?

23. Sabendo-se que na escola existem outros cargos que tem atuação parecida

com a do orientador, como você delimita seu campo de atuação?

24. Qual a “formula” de sucesso para uma orientação educacional bem-sucedida

na escola? Quais os “ingredientes” dessa fórmula?