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Para Helena, a quem espero.

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Para Helena, a quem espero.

2

Agradeço

ao meu esposo João, companheiro e incentivador incansável;

à minha orientadora, professora Clarice Sabóia Madureira, pela paciência e por

ter aceitado a orientação mesmo com os limites impostos pela distância geográfica;

à professora Maria Marta Pereira Scherre, pelo auxílio no uso do programa

GoldVarb, pelas referências bibliográficas e pelo tempo dedicado às discussões

lingüísticas.

3

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS............................................................................................................................. 4

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 5

1 PANORAMA HISTÓRICO-LINGÜÍSTICO DE FORMOSA/GO .......................................... 6

1.1 O ASPECTO HISTÓRICO................................................................................................................ 6 1.2 O ASPECTO LINGÜÍSTICO ............................................................................................................ 9

2 ANÁLISE DA AMOSTRA ......................................................................................................... 14

2.1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS .......................................................................................................... 14 2.2 A AMOSTRA ............................................................................................................................... 15 2.3 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS .................................................................................... 16

2.3.1 Vogal seguinte ................................................................................................................. 16 2.3.2 Distanciamento da tônica................................................................................................ 20 2.3.3 Nasalidade da vogal pretônica........................................................................................ 21 2.3.4 Nasalidade da vogal seguinte.......................................................................................... 23 2.3.5 Travamento de sílaba em /x/ ou /s/.................................................................................. 25 2.3.6 Atonicidade ..................................................................................................................... 26 2.3.7 Segmento precedente....................................................................................................... 29 2.3.8 Segmento seguinte ........................................................................................................... 32

2.4 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS EXTRA-LINGÜÍSTICAS ........................................................................ 36 2.4.1 Sexo ................................................................................................................................. 36 2.4.2 Contato com Brasília ...................................................................................................... 37 2.4.3 Monitoração estilística.................................................................................................... 39

CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 44

ANEXOS ................................................................................................................................................ 47

MAPA 1 – DIVISÃO LINGÜÍSTICA ELABORADA POR ANTENOR NASCENTES.......................................... 47 MAPA 2 - BAHIA ................................................................................................................................. 48 MAPA 3 – MINAS GERAIS .................................................................................................................... 49 MAPA 4 - GOIÁS .................................................................................................................................. 50 MAPA 5 – ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL ....................................................................................... 51 QUESTIONÁRIO .............................................................................................................................. 52

4

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Crescimento populacional do município de Formosa no século XX......................................9

Tabela 2: Distribuição da naturalidade dos chefes de domicílios do Distrito Federal 2004..................12

Tabela 3: Efeito da vogal seguinte na variação das médias pretônicas /e/ e /o/.....................................16 Tabela 4: Efeito da vogal seguinte na variação das pretônicas médias /e/.............................................17 (Resultado ternário) Tabela 5: Efeito da vogal seguinte na variação das pretônicas médias /e/.............................................18 (Pesos relativos – resultado binário) Tabela 6: Efeito da vogal seguinte na variação das pretônicas médias /o/.............................................18 (Freqüências ternárias) Tabela 7: Efeito da vogal seguinte na variação das pretônicas médias /o/.............................................19 (Pesos relativos – resultado binário) Tabela 8: Efeito do distanciamento da tônica na variação das médias pretônicas /e/............................20 Tabela 9: Efeito do distanciamento da tônica na variação das médias pretônicas /o/............................21 Tabela 10: Efeito da nasalidade na variação das médias pretônicas /e/ e /o/.........................................21 Tabela 11: Efeito da nasalidade na variação das médias pretônicas /e/ ................................................22 Tabela 12: Efeito da nasalidade na variação das médias pretônicas /o/ ................................................22 Tabela 13: Efeito da nasalidade da vogal seguinte na variação das médias pretônicas /e/ e /o/............23 Tabela 14: Efeito da nasalidade da vogal seguinte na variação das médias pretônicas /e/....................24 Tabela 15: Efeito da nasalidade da vogal seguinte na variação das médias pretônicas /o/....................25 Tabela 16: Efeito do travamento de sílaba na variação das médias pretônicas /e/.................................25 Tabela 17: Efeito do travamento de sílaba na variação das médias pretônicas /o/.................................26 Tabela 18: Efeito da atonicidade na variação das médias pretônicas /e/ e /o/........................................27 Tabela 19: Efeito do segmento precedente na variação das médias pretônicas /e/ e /o/.........................30 Tabela 20: Efeito do segmento seguinte na variação das médias pretônicas /e/ e /o/.............................33 . Tabela 21: Efeito do sexo na variação das médias pretônicas /e/ e /o/...................................................37 Tabela 22: Efeito do contato com Brasília na variação das médias pretônicas /e/ e /o/.........................38 Tabela 23: Efeito da monitoração estilística na variação das médias pretônicas /e/ e /o/......................39 Tabela 24: Distribuição dos dados por informante e por tipo de discurso.............................................41

5

INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é analisar a realização das vogais /e/ e /o/ em posição

pretônica na fala de Formosa/GO. Tendo como referencial a Sociolingüística variacionista,

procuraremos descrever a variação entre as formas média, alta e baixa das vogais, como em

melhor ~ milhor ~ mélhor, verificando, por meio de variáveis lingüísticas e extra-lingüísticas,

os ambientes favorecedores e desfavorecedores para uma ou outra variante.

O interesse pela fala de Formosa surgiu, em primeiro lugar, pela falta de trabalhos

tanto geolingüísticos quanto sociolingüísticos nesta região de Goiás. A região norte de Goiás

abriga cidades muito antigas e se caracteriza por uma cultura e fala próprias, distintas de

outras regiões do Brasil, inclusive da região sul do Estado. Outro motivo que nos incentivou

foi o fato de Formosa pertencer ao entorno do Distrito Federal e manter um contato intenso

com a capital, o que provoca também contato dialetal. Esse contato pode levar a futuras

mudanças lingüísticas.

A partir desses fatores, selecionamos um grupo alvo para a realização das entrevistas

sociolingüísticas, a fim de verificar a variação das vogais pretônicas e se a relação desses

entrevistados com Brasília interfere no seu modo de falar. Optamos por indivíduos entre 30 e

45 anos, por terem nascido quando a capital já havia sido fundada e, portanto, terem

desenvolvido a fala num ambiente mais influenciado pela variedade lingüística de Brasília,

mais urbana e com menos traços estigmatizados como, por exemplo, o abaixamento das

vogais pretônicas.

As entrevistas se constituem de dois momentos: uma parte menos monitorada, em que

a entrevistadora estabelece um diálogo com o entrevistado; e uma parte mais monitorada, na

qual o entrevistado lê um pequeno texto sobre a cidade de Formosa e uma lista com palavras

em que há a possibilidade de ocorrer o abaixamento. A distinção entre o estilo menos

monitorado e mais monitorado permitirá verificar se a variação é atingida e em que nível isso

se dá.

No capítulo 1 apresentamos, conjuntamente, a história e a variedade lingüística de

Formosa. O capítulo 2 contém a análise da variação das pretônicas /e/ e /o/ no corpus

coletado, com as respectivas variáveis lingüísticas e extra-lingüísticas selecionadas para este

trabalho.

6

1 PANORAMA HISTÓRICO-LINGÜÍSTICO DE FORMOSA/GO

1.1 O Aspecto Histórico

Embora a região de Formosa seja citada diversas vezes pelos historiadores, não há

informações precisas a respeito da fundação do município, especialmente por não ter seu

desenvolvimento diretamente ligado à mineração, um dos principais motivos para as entradas

durante o período colonial. Sabe-se, porém, que por conta da mineração, o território onde hoje

se localiza o município de Formosa foi afetado. Uma das medidas tomadas pelo governo

português para evitar o contrabando de ouro foi a criação dos Registros - além da proibição da

navegação do rio Tocantins, criação de postos de vigilância e criação dos Guardas-Maiores

(cf. Chauvet, 2005:119). Para controlar as picadas que uniam Goiás às outras regiões, dois

Registros foram criados no território de Formosa: o da Lagoa Feia e o de Arrependidos. Os

Registros eram, segundo Sales (apud Chauvet, 2005:120), “pontos estratégicos estabelecidos

pela Real Fazenda ou pelos contratadores das Entradas, onde os escravos, gados, cargas de

secos e molhados e as pessoas que entravam e saíam dos povoados pagavam o respectivo

imposto dos quintos reais”. O Registro da Lagoa Feia entrou em funcionamento em 1736 e

levava este nome por localizar-se na cabeceira da Lagoa Feia. Foi estabelecido na picada da

Bahia, um caminho aberto ilegalmente, que dava acesso às recém-descobertas minas na

cidade de Pirenópolis/GO (cf. Bertran, 1994:78). O Registro de Arrependidos, criado em

1750, ficava na picada de Minas Gerais e ligava o Norte ao Rio de Janeiro: “Foi por esse

caminho que passou Antonio Bueno de Azevedo, que, saindo de Paracatu [Minas Gerais] com

muitos companheiros e escravos, entrou em Goiás e descobriu as minas de ouro de Santa

Luzia, em 13 de dezembro de 1746” (Jacintho, 1979:17).

Quando os Registros foram instituídos, já havia fazendas de gado na região de

Formosa. No relatório da viagem realizada pelo bandeirante Anhangüera Filho em 1722

consta que, “além de ter encontrado com índios, possivelmente na região do DF e de

Formosa, a bandeira relata ter encontrado sinais de gado na região” (Chauvet: 2005:153). Para

Bertran a ocupação da região norte de Goiás se deu entre os anos de 1600 e 1725 pelas

entradas Leste-Oeste e não pelas entradas Sul-Norte. De acordo com ele, duas poderosas

famílias latifundiárias, vindas “do sertão do rio Grande são-franciscano – antigamente

pernambucano e hoje baiano, tendo como principais cidades, Barra, Xique-Xique e Irecê”

7

(Bertran, 1994:58) realizaram uma expansão da fronteira pecuarista em direção ao interior da

Bahia, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Piauí, até chegar ao norte de Minas Gerais e Goiás.1

Diretamente ligada à expansão pecuarista esteve a política das sesmarias – distribuição

de grandes propriedades de terra pelo governo português –, intensificada com a descoberta de

ouro em Pirenópolis: “Desde a descoberta aurífera de Pirenópolis, em 1731, inaugurou-se a

febre agropecuária do Planalto, nos contornos da picada da Bahia” (Bertran, 1994:89). De

acordo com Chauvet (cf. 2005:125), entre 1739 e 1804 mais de 20 pessoas receberam

sesmarias em Formosa. Com a chegada de novos moradores, dois povoados surgem: o Arraial

do Santo Antônio do Itiquira e o Arraial dos Couros.

Há ainda a possibilidade de um terceiro grupo de moradores, segundo a versão de

Olympio Jacintho, cronista que viveu em Formosa de 1872 a 1938 e que conheceu os

descendentes dos primeiros fundadores do Arraial dos Couros. Segundo Jacintho, a criação do

Arraial dos Couros se deu com a migração de um grupo de crioulos do arraial de Santo

Antônio: Os habitantes desse povoado, vendo-se dizimados, todos os anos, pelas febres intermitentes, transferiram-se para a localidade, onde se acha a cidade de Formosa, distante oito léguas dali, por ser salubre e porque nela se estacionavam os negociantes ambulantes de fazendas, ferragens, sal e café, que vinham sobretudo de Minas Gerais, e, receosos das febres do Paranã, ali esperavam que os paranistas viessem trazer-lhes gado, couros, sola e salitre, para permutarem suas mercadorias (Jacintho, 1979:19).

Jacintho não explica como se deu a reunião desses negros a ponto de fundarem um

arraial. É possível que fossem fugitivos e que tenham formado um quilombo, como escreve

Silva: “é evidente que por esta picada da Bahia muitos foram os que passaram; alguns negros,

escravos fugidos, vieram ter ao Vão do Paranã e talvez por terem achado ouro, ali

estabeleceram-se em um povoado, sob a invocação de Santo Antônio” (apud Chauvet,

2005:170)

A existência de um grande número de negros é, segundo Jacintho, confirmada pela

única capela existente na região, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, santa que possui uma

relação com os negros.

1 Bertran relata que uma das Casas, a da Torre, pertencia à família Garcia d’Ávila, “o maior latifúndio da história do Brasil”, que, entretanto, não foi bem-sucedida nas primeiras tentativas de conquista territorial, tendo que enfrentar os índios. “Em meados de 1600, outra família baiana, os Guedes de Brito – dos quais são sucessores os Saldanha da Gama – donos de cartório e tabelionatos em Salvador, começaram também a aumentar suas fazendas pelo sertão adentro. Houve um conflito entre ambas as casas latifundiárias, mas antes que muito sangue corresse, entraram em acordo, ficando a Casa da Torre dos Garcia d’Ávila com tudo o que conquistassem a oeste e a norte do rio São Francisco, e os Guedes de Brito – ou Casa da Ponte – com as terras a leste do rio, até o centro de Minas Gerais” (1994:58).

8

Por volta de 1800, o Arraial dos Couros, que em 1843 deu origem à Vila Formosa da

Imperatriz, contava com 148 habitantes, 39 fazendas de gado e seis engenhos de açúcar. O

nome do povoado é decorrente, provavelmente, da grande quantidade de gado criado na

região.

Ainda durante o Período Imperial começa a surgir o interesse pela mudança da capital

para o interior. O primeiro a sugerir o Planalto Central foi Francisco Adolfo Vanhargen,

Visconde de Porto Seguro, que em 1877 passou pela região e relatou: (...) Resolvemos pois pedir do Governo uma licença a fim de nos ausentarmos por seis meses do posto honroso que ocupamos, e empreendermos à custa de quaisquer trabalhos e sacrifícios, em quanto para eles nos sentíamos com forças, uma penosa viagem a cavalo, nada menos que até à província de Goiás, por nossas primitivas estradas, para de visu e como antigo engenheiro, reconhecer essa notável paragem que a contemplação e estudo dos melhores mapas nos havia revelado (...) Antes, porém, cumpre-me dizer que durante a última estada no Brasil, donde me achava ausente havia mais de nove anos, tive ocasião de apreciar o pasmoso progresso da opinião dos homens ilustrados, tanto do Rio como da Bahia e Pernambuco, em favor da idéia de arredar do Rio a capital (...) Na vasta extensão que acabo de percorrer, há porém outra região não menos apropriada ao oferecer localidades favoráveis ao primeiro estabelecimento de colonos europeus, e a respeito da qual julgo que deveríamos desde já dar algumas providências, a fim de a ir preparando para a missão que a Providência parece ter lhe reservado, fazendo a um tempo dela partir águas para os três rios maiores do Brasil e da América do Sul, Amazonas, Prata e S.Francisco, e constituindo-a, por assim dizer, o núcleo que reúne entre si as três grandes concas ou bacias fluviais do Império. Refiro-me à bela região situada no triângulo formado pelas três lagoas Formosa, Feia e Mestre d’Armas, com chapadões elevados mais de mil e cem metros” (Brasil, Presidência, Serviço de Documentação, 1960:165-68).

Em 1890, já no período Republicano, uma emenda foi apresentada ao Congresso

Nacional por iniciativa do Sr. Lauro Müller, a fim de que uma área do Planalto Central fosse

demarcada para a futura implantação da capital federal2. Surgia, então, em 1892, a pedido do

Marechal Floriano Peixoto, a missão Cruls, integrada por vários cientistas, que seguiu ao

Planalto Central para averiguar as informações deixadas pelo Visconde de Porto Seguro3.

A concretização da mudança da capital para o Planalto Central só se deu muitos anos

depois. Foi apenas a partir da construção de Goiânia, em 1942, e de Brasília, em 1960, que a

região norte de Goiás passou a se desenvolver mais rapidamente. Até 1920, a população total

2 “Na sessão de 20 [de dezembro], o Sr.Lauro Müller apresenta emenda subscrita por 88 deputados e senadores. Faz acompanhar o texto de cópia do ofício que em 1877 dirigira ao Ministro da Agricultura do Império, Conselheiro Tomás José Coelho de Almeida, o Visconde de Porto Seguro, F.A. de Varnhagen, sobre o assunto. Estabelece que fica pertencendo à União uma área de 400 léguas quadradas no planalto central, a qual será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura capital federal” (Brasil, Presidência, Serviço de Documentação, 1960: 64,5). 3 “Para dar execução a essa tarefa, é organizada, por Portaria de 17 de maio de 1892, uma Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil e confiada sua chefia ao Diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, Dr. Luis Cruls. Machado de Assis se ocupa do assunto em duas crônicas, de 20 de novembro de 1892 e 22 de janeiro de 1893, na coluna dominical de primeira página da Gazeta de Notícias, ‘A Semana’” (Brasil, Presidência, Serviço de Documentação, 1960: 73).

9

do Estado representava menos de 2% da população do Brasil (cf. Chauvet, 2005:282). O

isolamento era ainda mais intenso na região norte do Estado, já que a região sul teve seu

desenvolvimento impulsionado pelo cultivo do café.

Jurandyr Pires Ferreira, presidente do IBGE em 1958, descreve a condição do Estado

de Goiás quando da construção de Brasília: Goiás, como irão apreciar, divide-se nitidamente em dois tipos de civilização. Aquela que se desenvolve ao sul recebendo o influxo do Triângulo Mineiro e a influência paulista, e o norte, cujas dificuldades de comunicação têm criado uma formação econômica isolada e em grande parte marginal. Na transição das duas zonas se sente uma espécie de barreira política onde se entrelaçam mentalidades diversas, formações éticas diferentes e até mesmo conceitos de vida diferenciados (...) Hoje se estão construindo estradas de rodagem no estado de Goiás em razão da mudança da capital da República para Brasília” (Enciclopédia dos municípios brasileiros, 1958:5,7).

A construção de Brasília forçou a cidade de Formosa a passar por rápidas

transformações e a se adaptar à condição de vizinha da capital federal. Chauvet relata que

“foram tantos os pedidos para a construção de novos bairros e setores que em 1964 foi

aprovada a nova planta geral da cidade” (2005:370).

Outro fator importante para o crescimento populacional da região de Formosa e seu

desenvolvimento, além da fundação de Brasília, foi a intensa migração de gaúchos ocorrida na

década de 1980. O rápido crescimento populacional pode ser acompanhado no quadro abaixo: Tabela 1: Crescimento populacional do município de Formosa no século XX

Ano Número de habitantes

1920 15.860

1940 16.886

1950 23.273

1960 21.7084

1970 28.874

1980 43.297

1991 62.982

2000 78.651

(Chauvet, 2005:428)

1.2 O Aspecto Lingüístico

A variedade lingüística utilizada pela população de Formosa está diretamente ligada à

história de como foi constituída a cidade. O mapa das regiões lingüísticas elaborado por

4 Em 1960, dois municípios se emanciparam de Formosa: São João d’Aliança e Cabeceiras.

10

Antenor Nascentes vai de encontro aos dados históricos (Anexo – Mapa 1). A linha traçada

por Nascentes aponta para uma diferença lingüística entre as regiões norte e sul dos estados de

Minas Gerais e Goiás, que pode ser explicada pelas diferentes influências provocadas pelas

entradas: Leste-Oeste na região norte e Sul-Norte na região sul, como observou Bertran.

De acordo com os critérios estabelecidos por Nascentes, o município de Formosa se

encaixa no grupo chamado “baiano”, assim localizado: “o baiano, intermediário entre os dois

grupos [norte e sul], abrangendo Sergipe, Baía, Minas (Norte, Nordeste e Noroeste), Goiás

(parte que vem da nascente do Paranaíba, seguindo pelas serras dos Javais, dos Xavantes, do

Fanha e do Pilar até a cidade de Pilar, rio das Almas, Pirenópolis, Santa Luzia e

Arrependidos)” (1953:25,26).

Algumas localidades pelas quais passa a linha traçada por Nascentes são Pirenópolis,

150km a leste de Brasília; Santa Luzia, atual Luziânia, outra antiga cidade de Goiás, situada

ao sul do Distrito Federal (Anexo – Mapa 5); e Arrependidos – lugar onde ficava o antigo

Registro -, que marca o encontro da isoglossa entre os estados de Minas Gerais e Goiás.

A pronúncia das vogais e a entoação foram os critérios utilizados por Nascentes para

dividir o Brasil em dois grandes grupos lingüísticos: Em matéria de linguagem o nosso país pode dividir-se em duas grandes regiões: Norte, do Amazonas e do Pará até a Bahia, e Sul, do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul. A maior diferença entre estas pronúncias está nas vogais e na entoação (Nascentes, 1960:40).

A consulta aos Atlas lingüísticos da Bahia e de Minas Gerais – Goiás ainda não possui

um atlas lingüístico – demonstra que a pronúncia das vogais, nas regiões indicadas por

Nascentes, possui uma característica em comum. De acordo com transcrições fonéticas das

cartas do Atlas prévio dos falares baianos (1963), de Nelson Rossi, as vogais /e/ e /o/ tendem

ao abaixamento em posição pretônica em todo o Estado da Bahia. A cidade pesquisada por

Rossi consultada que mais se aproxima geograficamente de Formosa é Correntina, localizada

na região chamada por Rossi de “Zona de Barreiras” (Anexo – Mapa 2). A pronúncia local

para o nome da cidade é um exemplo de abaixamento da vogal: [k.xeâ.ÈtSi.nŒ].

Outros exemplos podem ser observados nas cartas 21: [bR.k.Èt] para “borocotó”, um

buraco, sulco ou grota; na carta 40, em que os informantes citam espécies de abóbora:

[vEx.da.Ède.RŒ]; ou ainda na carta 44, em que qualificam uma fruta podre, estragada:

[mEx.Èma.dŒ].

As cartas publicadas em Esboço de um atlas lingüístico de Minas Gerais também

confirmam a classificação de Nascentes. O trabalho conclui que todo o norte de Minas Gerais

apresenta o abaixamento das vogais /e/ e /o/, como em [sE.ÈRe.nU], [vE.RÎâÈni.kU],

11

[mE.Èla.dU], [mx.Èma.sU] e [k.Ra.ÈsÎâw]. Das 15 zonas identificadas no Estado,

o norte corresponde aos números 3 – Paracatu; e 4 – Alto Médio São Francisco (Anexo -

Mapa 3).

Pesquisas lingüísticas mais recentes realizadas nesses dois Estados – Bahia e Minas

Gerais – mais uma vez vêm corroborar o trabalho de Nascentes. Ao estudar a fala culta de

Salvador, Silva (1991:80,81) concluiu que: As variantes mais freqüentes foram, de longe, as baixas (ò, è), com cerca de 60% de ocorrências. Considerando-se que as altas (u, i) são comuns aos dialetos brasileiros e mesmo aos além-mar, justifica-se a impressão que causam os òs e os ès, a ponto de afirmarem, os usuários de outras variedades, que são sempre “abertas” as vogais (pré-acentuadas) no Nordeste e no Norte.

Sobre os falares de Minas Gerais, Zágari (1998:32) afirma: O resultado dessas entrevistas, após dez anos e mais de 6.000 horas de gravação, permite concluir: Minas Gerais apresenta acentos, fones, ritmos de fala e preferências lexicais distintas em, pelo menos, três de suas regiões, independentemente de seus estratos sociais. Há um falar no sul e no Triângulo que se distingue do Norte, os quais, por sinal, se diversificam do da região formada pelas Zonas da Mata, Metalúrgica, Vertentes e Belo Horizonte e arredores.

Entretanto, assim como no panorama histórico, a fundação de Brasília desencadeou

processos inovadores também para o campo lingüístico: “A situação de contato de dialetos

regionais e sociais do Distrito Federal difere da situação de contato encontrada em outros

centros metropolitanos no Brasil, porque em Brasília não existe um substrato predominante”

(Bortoni; Gomes; Malvar, 1992:11). Por meio da Tabela 2 abaixo é possível perceber de que

lugares do Brasil os migrantes vieram e como estão distribuídos em Brasília e nas cidades

satélites.

De uma maneira geral, a migração mais intensa para o DF é devida à região Nordeste

(42%), não uniformemente distribuída. Em regiões mais empobrecidas do DF, como

Samambaia e Ceilândia, a concentração de chefes de domicílios provenientes do Nordeste fica

acima da média, enquanto em regiões com poder aquisitivo maior, como Brasília, Lago Norte,

Lago Sul e Park Way, a região Sudeste supera a média.

12

Tabela 2: Distribuição dos chefes de domicílios, por naturalidade em relação às grandes regiões, Distrito Federal, Região Administrativa, Entorno e Exterior, segundo as Regiões Administrativas – Distrito Federal 2004 (percentuais).

Distrito Federal e

Regiões

Administrativas

Total Região

Norte

Região

Nordeste

Região

Sudeste

Região

Sul

Região

Centro

Oeste5

Distrito

Federal6

Entorno Exterior

Distrito Federal 100.0 2.9 42.0 23.1 2.5 10.0 11.7 1.6 0.5

Brasília 100.0 3.6 22.7 31.2 6.5 9.7 1.0 0.7 0.8

Gama 100.0 2.6 44.7 20.0 1.7 8.3 8.9 2.0 0.1

Taguatinga 100.0 3.0 35.6 28.0 1.9 13.2 9.7 1.3 0.8

Brazlândia 100.0 2.3 42.0 17.9 0.3 12.9 11.2 6.4 -

Sobradinho 100.0 4.0 35.5 25.7 3.2 11.1 11.5 0.8 0.6

Planaltina 100.0 1.4 41.4 18.1 1.4 12.6 13.4 4.8 0.2

Paranoá 100.0 1.4 50.9 22.0 1.7 10.0 12.6 0.9 0.3

Núcleo Bandeirante 100.0 3.9 46.1 25.8 0.7 10.5 9.8 1.3 1.0

Ceilândia 100.0 3.2 52.6 15.6 0.7 8.7 14.8 1.4 0.2

Guará 100.0 3.6 36.6 32.1 3.2 9.8 13.4 0.5 0.5

Cruzeiro 100.0 5.6 38.9 26.1 4.3 10.4 11.7 1.1 1.1

Samambaia 100.0 2.9 52.0 19.9 0.4 9.8 13.7 1.4 -

Santa Maria 100.0 2.5 56.6 14.7 0.9 7.8 15.1 2.3 0.1

São Sebastião 100.0 2.7 47.9 27.0 1.6 7.2 9.0 4.5 0.2

Recanto das Emas 100.0 4.0 57.1 12.3 0.6 10.0 14.8 1.1 -

Lago Sul 100.0 1.2 26.8 44.1 6.8 8.8 5.6 0.3 6.5

Riacho Fundo 100.0 3.5 46.2 18.9 0.6 9.9 17.3 1.6 1.9

Lago Norte 100.0 4.0 22.1 47.2 9.0 9.4 6.0 - 2.3

Candangolândia 100.0 3.6 46.6 18.4 1.3 9.4 17.5 1.3 1.0

Águas Claras 100.0 3.3 35.2 26.7 2.9 11.9 19.0 0.9 -

Riacho Fundo II 100.0 4.3 51.7 12.3 0.3 8.6 21.8 0.9 -

Sudoeste/Octogonal 100.0 4.4 21.4 37.1 8.9 9.1 16.6 0.5 2.0

Varjão 100.0 3.0 57.2 17.3 1.7 5.3 11.0 4.3 -

Park Way 100.0 1.6 28.7 38.6 5.9 12.2 11.6 1.0 0.3

Estrutural 100.0 5.1 61.5 11.5 1.0 9.2 9.9 1.9 -

Sobradinho II 100.0 1.8 40.3 19.2 1.7 11.0 26.6 1.2 0.2

Itapoã 100.0 2.0 65.5 15.7 0.2 5.4 9.5 0.8 -

Fonte: SEPLAN/CODEPLAN- Pesquisa Distrital por Amostras de Domicílios- PDAD

Levando em conta o alto índice de pessoas provenientes do Nordeste e a história da

região em que a capital federal foi construída, poderia se esperar que os falantes de Brasília

tendessem a se enquadrar no padrão verificado por Nascentes. Pesquisas lingüísticas,

entretanto, têm verificado que

5 Exceto Distrito Federal. 6 Exceto Região Administrativa.

13

os brasilienses parecem ter selecionado os elementos prestigiados ou relativamente neutros da província das elites, eliminando deles os resíduos regionais. Essa evolução está absolutamente de acordo com o que Labov aponta como um dos condicionadores universais da mudança lingüística: as situações de contato favorecem as fusões, em detrimento das peculiaridades (Hanna, 1986:149).

Ao comparar a fala de 8 jovens que haviam se mudado para o DF com seus pais,

provenientes do Rio de Janeiro e da Paraíba, Hanna (1986) percebeu que os jovens do Rio de

Janeiro deixaram de produzir o /s/ africado, assim como os paraibanos passaram a realizar o

/t/ e o /d/ diante da vogal /i/ de forma africada.

Uma pesquisa mais recente realizada por Corrêa, entretanto, constatou que a fala do

DF pode estar se tornando não-uniforme, seguindo o padrão da distribuição populacional e,

conseqüentemente, de renda e de classe social. Corrêa comparou a realização das vogais

pretônicas /e/ e /o/ entre moradores de classe média de Brasília e moradores de classe média-

baixa de Ceilândia e verificou que, enquanto os moradores de Brasília produziam as vogais /e/

e /o/ apenas nas formas alta e média, os de Ceilândia apresentaram também a forma abaixada: Depreendemos que os informantes de Ceilândia, sobretudo aqueles sem escolaridade superior, mantinham em seu repertório as variantes abaixadas /E/ e // típicas de falantes nordestinos. É claro que as mantinham em escala muito menor do que aquelas apontadas para os falantes das regiões do Nordeste, mas o simples fato de empregá-las, inclusive quando não eram filhos de pais nordestinos, foi o fator mais surpreendente nesta amostra (Corrêa, 1998:88)

Assim, se por um lado o panorama histórico-lingüístico da cidade de Formosa indica

que a fala dessa população se enquadra no grupo denominado “baiano”, por outro, o fato de

Formosa estar tão próxima de uma comunidade lingüística atípica não pode ser ignorado. As

escolhas realizadas pelos falantes de Brasília, além de redelinear as isoglossas, podem, por

sua força política, econômica e cultural, desencadear mudanças lingüísticas no entorno.

14

2 ANÁLISE DA AMOSTRA

2.1 Pressupostos teóricos

A pronúncia das vogais pretônicas em Formosa será analisada, nesta pesquisa, tendo

como referencial a sociolingüística quantitativa ou variacionista. A teoria sociolingüística

quantitativa, sistematizada por William Labov nos anos 1970, tem como pressuposto básico a

heterogeneidade lingüística: The existence of variation and heterogeneous structures in the speech communities investigated is certainly well-established in fact. It is the existence of any other type of speech-community that may be placed in doubt. (...) We have come to the realization in recent years that this is the normal situation – that heterogeneity is not only common, it is the result natural of basic linguistic factors (Labov, 1972:203).

Para Labov, o fato de a variação e a heterogeneidade serem características inerentes às

línguas não as torna um caos. Pelo contrário, o que ele observou é que a variação é ordenada

por regras tanto lingüísticas quanto sociais. A variação acarreta, numa comunidade de fala, a

co-ocorrência de variantes lingüísticas, isto é, “diversas maneiras de se dizer a mesma coisa

em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade” (Tarallo, 2001:8). A co-ocorrência

de variantes lingüísticas pode ou não gerar mudanças: “Nem toda variabilidade e

heterogeneidade na estrutura lingüística implica mudança; mas toda mudança implica

variabilidade e heterogeneidade” (Weinreich; Labov; Herzog, 2006:126).

A pesquisa sociolingüística se dá pela delimitação de um fenômeno a ser estudado,

denominado de variável dependente; e pela busca de fatores lingüísticos e extra-lingüísticos –

denominados de variáveis independentes – que estejam condicionando a realização da

variável dependente.

Nesta pesquisa, a pronúncia das vogais pretônicas /e/ e /o/ na fala de Formosa/GO

representa a variável dependente, subdividida em 3 variantes: elevação /i/ e /u/; manutenção

da média /e/ e /o/ ou ainda abaixamento /E/ e //. A variação entre essas três variantes será

relacionada com diversos grupos de variáveis independentes. As variáveis lingüísticas serão:

vogal seguinte; distanciamento da tônica; atonicidade; segmento precedente e seguinte;

nasalidade da vogal pretônica; nasalidade da vogal seguinte e travamento de sílaba em /R/ e

/s/. As variáveis extra-lingüísticas serão: nível de escolaridade; classe social; sexo; contato

com Brasília; monitoração estilística. O cruzamento estatístico dos dados com esses grupos

permitirá destacar quais são as variáveis relevantes para a variação entre elevação,

manutenção da média e abaixamento na fala de Formosa, além de mostrar como essa variação

está sendo ordenada pelos falantes.

15

2.2 A amostra

A amostra utilizada nesta pesquisa consiste de 10 entrevistas com duração média de 20

minutos cada. Foram entrevistados 5 homens e 5 mulheres entre 30 e 45 anos nascidos em

Formosa, GO, e filhos de pais nascidos na região. As entrevistas foram, em sua maioria,

realizadas na casa do informante ou em seu local de trabalho.

Um questionário modelo foi utilizado pela pesquisadora como roteiro para a realização

das entrevistas (cf. Anexo). As perguntas não foram necessariamente seguidas à risca. Elas

serviram como um incentivo para a fala espontânea do entrevistado. Praticamente todos os

informantes se mostraram à vontade para falar sobre o que achavam acerca da cidade e contar

histórias pessoais mesmo sabendo que estavam sendo gravados. A maior dificuldade desta

etapa da pesquisa foi encontrar pessoas que se enquadrassem no critério “nascido em Formosa

e filho de pais nascidos na região” por conta da grande quantidade de migrantes.

A transcrição das entrevistas formou um corpus de 3.970 dados. O programa

GoldVarb-X, próprio para análises variacionistas, foi utilizado para realizar as percentagens e

pesos relativos. A versão antiga do programa, Varbrul, também foi utilizada na realização de

rodadas ternárias de pesos relativos, uma deficiência do GoldVarb-X.

Nem todos os dados foram considerados na análise de percentagens e pesos relativos.

Diversos itens lexicais invariáveis e cuja freqüência ultrapassou o número de 10 vezes, foram

retirados:

• Itens lexicais realizados sempre com a pretônica /e/ e /o/ na altura média: você;

semana; pessoa; pessual; apesar; depois; prefeito(ura); nasais em geral:

atenção; construção.

• Itens lexicais realizados sempre com a pretônica /e/ e /o/ na altura alta:

pessual; purque; bunito(a); piqueno(a); minino(a); sutaque; pirigo(oso);

pulícia(l/mento); ixiste(iu); dimais; palavras iniciadas em en- e es-: intão;

intendeu; inquanto; imbora; istudo; iscola.

Com a retirada dessas palavras, o corpus analisado somou 2.795 dados. Apesar de

esses itens lexicais terem sido desconsiderados nas rodadas de percentagens, não o foram no

momento da análise lingüística.

16

2.3 Análise das variáveis lingüísticas

2.3.1 Vogal seguinte

A influência da vogal seguinte sobre as pretônicas /e/ e /o/ já tem sido observada em

diversas variedades lingüísticas do Brasil. Alguns exemplos são: no Rio Grande do Sul, por

Leda Bisol; em Belo Horizonte, por Marco Antônio de Oliveira e Maria do Carmo Viegas; no

Rio de Janeiro, por Dinah Callou e Yonne Leite.

Bisol, ao estudar a elevação das vogais pretônicas em falantes gaúchos, constatou que

“a elevação da vogal é um processo assimilatório desencadeado por uma vogal da sílaba

imediatamente seguinte” (1984:90). A harmonização vocálica também foi observada por

Myrian Barbosa da Silva, que estudou o comportamento das vogais pretônicas em Salvador,

BA. Silva verificou que, assim como as vogais com traço [+ alto] na sílaba seguinte

favoreciam a elevação, as vogais com traço [+ baixo] favoreciam o abaixamento; e as médias,

a manutenção das médias (cf. Silva, 1989:114).

Os resultados obtidos na análise dos dados da fala de Formosa vão ao encontro dos

encontrados por Silva, quando consideradas as vogais /e/ e /o/ conjuntamente. Quando /e/ e

/o/ são analisadas separadamente, os resultados sofrem alterações. Na tabela abaixo, é

possível perceber que a realização da pretônica se acomoda à vogal seguinte: médias tendem a

médias, baixas tendem a baixas (com exceção da vogal /a/), e altas levam à realização das

altas. Tabela 3: Efeito da vogal seguinte na variação das médias pretônicas /e/ e /o/

Média [e], [o] Alta [i], [u] Baixa [E], [] i Freqüência

Peso Relativo 290/535 = 54%

.180 143/535 = 27%

.680 102/535 = 19%

.212 e Freqüência

Peso Relativo 476/710 = 67%

.608 58/710 = 27%

.306 179/710 = 25%

.180 é Freqüência

Peso Relativo 93/181 = 51%

.262 37/181 = 20%

.154 51/181 = 28%

.583 a Freqüência

Peso Relativo 568/810 = 70%

.336 53/810 = 7%

.372 189/810 = 23%

.292 ó Freqüência

Peso Relativo 128/193 = 66%

.297 8/193 = 4%

.135 57/193 = 30%

.568 o Freqüência

Peso Relativo 184/227 = 81%

.476 19/227 = 8%

.390 24/227 = 11%

.134 u Freqüência

Peso Relativo 82/139 = 59%

.284 12/139 = 9%

.425 45/139 = 32%

.290 Total Input

1818/2795 = 65% .912

330/2795 = 12% .016

647/2795/23% .073

17

Ao isolar as ocorrências da pretônica /e/, a tabela sofreu modificações. Enquanto a

influência das vogais altas /i/ e /u/ continuou – como em criscido; sirviço; cabiludo –, a

influência das baixas e médias seguiu outras direções. Dentre as vogais com traço [+ baixo],

apenas a vogal /E/ levou ao abaixamento. Algumas palavras são: pércebe; téléfone; éxerce;

préférência. A vogal /a/ favoreceu a média e a vogal //, a elevação. A consulta aos dados,

porém, revelou que o alto índice de elevação da pretônica /e/ seguida de //, que se resume a

oito dados, se deve a outro fator: nasalidade da pretônica (2.1.3). É o caso de sinhora e

involve. Tabela 4: Efeito da vogal seguinte na variação das pretônicas médias /e/

Média [e] Alta [i] Baixa [E] i Freqüência

Peso Relativo 155/314 = 49,4%

.149 92/314 = 29,3%

.650 67/314 = 21,3%

.200 e Freqüência

Peso Relativo 283/421 = 67,2%

.436 16/421 = 3,8%

.208 122/421 = 29%

.357 é Freqüência

Peso Relativo 33/66 = 50%

.193 1/66 = 1,5%

.007 32/66 = 48,5%

.800 a Freqüência

Peso Relativo 274/397 = 69%

.401 34/397 = 8,6%

.316 89/397 = 22,4%

.283 ó Freqüência

Peso Relativo 36/56 = 64,3%

.203 8/56 = 14,3%

.594 12/56 = 21,4%

.112 o Freqüência

Peso Relativo 116/152 = 76,3%

.294 19/152 = 12,5%

.521 17/152 = 11,2%

.128 u Freqüência

Peso Relativo 33/56 = 58,9%

.302 4/56 = 7,1%

.491 19/56 = 33,9%

.206 Total Input

930/1462 = 63,6% .797

174/1462 = 11,9% .004

358/1462 = 26,6% .199

Em virtude desses resultados e, tendo como certa a harmonização vocálica da

pretônica /e/ seguida de vogais com traço [+ alto], uma nova rodada de pesos relativos foi

feita, sem os dados de elevação. A vogal seguinte /o/ voltou a aparecer como favorecedora da

média, e a vogal baixa // teve seu peso relativo alterado de (.112) para (.500).

Tabela 5: Efeito da vogal seguinte na variação das pretônicas médias /e/ Pesos relativos – resultado binário

18

Média [e] Baixa [E]

i .389 .611 e .518 .482 é .237 .763 a .519 .481 ó .500 .500 o .695 .305 u .559 .441

Input .794 .206

A pretônica /o/, quando tratada individualmente, apresenta um comportamento

diferente do ocorrido com a pretônica /e/. O primeiro fato a chamar a atenção foi a

distribuição dos casos de elevação: não houve nenhuma realização alta quando as vogais

seguintes eram /o/, tanto na forma média como na forma baixa (90,5%). A tabela demonstra

que, quando seguida de /o/, a pretônica tende a permanecer na forma média; apenas 7 casos de

abaixamento foram registrados. O oposto acontece quando a pretônica é seguida de vogal /o/

com traço [+ baixo]: o número de realizações baixas sobe para 34,4%, superando a média

total de ocorrências baixas, que é de 22,6%. Tabela 6: Efeito da vogal seguinte na variação das pretônicas médias /o/ Freqüências

Média [o] Alta [u] Baixa [] a 264/386 = 68,4% 22/386 = 5,7% 100/386 = 25,9% e 184/283= 65% 43/283 = 15,2% 56/283 = 19,8% é 59/108 = 54,6% 31/108 = 28,7% 18/108 = 16,7% i 124/206 = 60,2% 47/206 = 22,8% 35/206 = 17% o 67/74 = 90,5% 0/74 = 0% 7/74 = 9,5% ó 86/131 = 65,6% 0/74 = 0% 45/131 = 34,4% u 48/82 = 58,5% 8/82 = 9,8% 26/82 = 31,7%

Total 832/1270 65,5%

151/1270 11,9%

287/1270 22,6%

A categórica não-realização da elevação no contexto vocálico seguinte /o/ impediu a

rodada ternária de pesos relativos. Assim, os dados foram submetidos a uma rodada binária,

contrastando médias e altas, por um lado, e baixas, por outro.

Tabela 7: Efeito da vogal seguinte na variação das pretônicas médias /o/

19

Pesos relativos – resultado binário Média [o] e Alta [u] Baixa []

i .636 .364 e .557 .443 é .564 .436 a .383 .617 ó .229 .771 o .910 .090 u .473 .527

O maior índice de abaixamento ocorreu com a vogal seguinte //, (.771), seguida da

vogal /a/, que também possui o traço [+ baixo], (.617). Exemplos de palavras são: Formosa;

cóloca; afógada; chórando; própaganda. Além destas, a vogal /u/ apresentou um resultado

acima da média (.527) para o abaixamento. A verificação dos dados demonstrou que a

maioria das ocorrências está ligada a outros fatores, como distanciamento da tônica (2.1.2) e

travamento da sílaba em /R/: prócuração; órgulho; pópulação, pórtugueses, lócutora. O

aparecimento de uma grande quantidade de palavras com sílabas iniciadas com /p/ e /pR/ -

próduto; prócura; ópórtunidade - indica que o segmento precedente (2.1.7) também pode

estar interferindo nesses resultados.

Ainda quanto ao abaixamento, percebe-se que, tanto com a pretônica /e/ quanto com a

pretônica /o/, a probabilidade de ocorrência está ligada mais ao fato de a vogal seguinte ser

produzida na mesma região - ou seja, /E/ para /e/, // para /o/ - do que simplesmente ao fato

dela ser baixa.

Os resultados da vogal seguinte /E/ como favorecedores de elevação (.564) são

explicados pela interferência da variável nasalidade da pretônica (2.1.3). As palavras que

aparecem são: cumeça; cunversa; cunhece. Exemplos de abaixamento da pretônica /o/ com

vogal seguinte /E/ (.436) são: cólégio; óbserva; ófertas; fórnece.

A análise conjunta da variável vogal seguinte nas pretônicas /e/ e /o/, portanto,

demonstrou que, de uma maneira geral, os resultados apontam para a assimiliação. A análise

individual foi além, mostrando que os dados precisam ser verificados para que as freqüências

e probabilidades façam sentido. Percebemos que a variável vogal seguinte está interligada às

outras variáveis e que, portanto, a variação entre pretônicas elevadas, médias e baixas

depende de uma complexa rede de fatores lingüísticos.

20

2.3.2 Distanciamento da tônica

A variável distanciamento da tônica foi incluída com o intuito de avaliar a influência

do acento secundário e o comportamento das vogais /e/ e /o/ em início de palavra, quando

distantes da tônica. De acordo com o levantamento histórico da realização de vogais

pretônicas baixas feito por Silva (1989:61), è e ò não só se documentam na língua desde o século XVI, ao lado de ê, ô e i, u, mas também não eram raros, como acreditavam alguns. (...) A partir do século XVIII documentam-se algumas formas de condicionamento fonológico da pretônica (a consoante lateral favorece è, mas r favorece ò, e ambos eram favorecidos pelo acento secundário).

Os resultados obtidos tanto para a pretônica anterior /e/ quanto para a posterior /o/

indicam que o distanciamento da tônica favorece o abaixamento. Na tabela da pretônica /e/, o

abaixamento na posição 2 passa a ser (.341), enquanto na posição 1 representava apenas

(.198). O aumento é progressivo à medida que a pretônica se distancia da tônica: posição 3:

(.352) e posição 4: (.470). Os dados revelam que o falante se utiliza das vogais pretônicas /e/ e

/o/ como um apoio: miséricórdia; ixpérimentá; réligiosamente; périféricas; réfinaria;

véstibular; sécretaria; récuperá, résponsabilidade.

Tabela 8: Efeito do distanciamento da tônica na variação das médias pretônicas /e/

Média [e] Alta [i] Baixa [E] 1 sílaba antes da

tônica Freqüência

Peso Relativo 645/976 = 66,1%

.447 118/976 = 12,1%

.355 213/976 = 21,8%

.198 2 antes da tônica Freqüência

Peso Relativo 239/392 = 61%

.340 37/392 = 9,4%

.319 116/392 = 29,6%

.341 3 antes da tônica Freqüência

Peso Relativo 74/154 = 48,7%

.290 36/154 = 22,4%

.358 44/154 = 28,9%

.352 4 ou mais antes

da tônica Freqüência

Peso Relativo 9/18 = 50%

.253 2/18 = 11,1%

.276 7/18 = 38,9%

.470 Total Input

930/1462 = 63,6% .797

174/1462 = 11,9% .004

358/1462 = 24,5% .199

No caso das pretônicas /o/, a ocorrência do abaixamento foi ainda mais intensa. À

medida que o número de abaixamentos foi crescendo, o de elevações foi diminuindo até

desaparecer por completo na posição 4. Por esse motivo, a tabela abaixo apresenta apenas o

contraste entre a ocorrência de médias e baixas.

21

Tabela 9: Efeito do distanciamento da tônica na variação das médias pretônicas /o/ Média [o] Baixa []

1 sílaba antes da tônica

Freqüência Peso Relativo

558/710 = 78,6% .609

152/710 = 21,4% .391

2 antes da tônica Freqüência Peso Relativo

157/251 = 62,5% .277

94/251 = 37,5% .723

3 antes da tônica Freqüência Peso Relativo

45/69 = 65,2% .432

24/69 = 34,8% .568

4 ou mais antes da tônica

Freqüência Peso Relativo

8/25 = 32% .099

17/25 = 68% .901

Total Input

768/1055 = 72,8% .819

287/1055 = 27,2% .181

Os maiores índices de abaixamento encontram-se nas posições 2 - órienta;

Sóbradinho; nórdestino; tótalmente; óstensivo; órçamento, apósentá - e 4 – cólaborador,

próstituição, óportunidade; módificação.

O confronto entre os dados de abaixamento de /e/ e /o/ mais uma vez indicam a

existência de uma diferença entre as duas vogais. Em início de palavra, a pretônica /o/ é mais

suscetível ao abaixamento do que a pretônica /e/. Isso se deve à influência de fatores como

nasalidade e travamento de sílaba em /s/, mais freqüentes para /e/ do que para /o/: istudava;

iscritório; ingordando; inrolado.

2.3.3 Nasalidade da vogal pretônica

Os trabalhos que têm considerado a variável nasalidade na variação das pretônicas /e/

e /o/ têm observado uma tendência divergente no que diz respeito à elevação: favorecimento

com a vogal /e/ e desfavorecimento com a vogal /o/. Em pesquisa realizada por Callou et al.

(1991:72) no Rio de Janeiro, a elevação da vogal /e/ nasal foi quase categórica. Os resultados

obtidos por Bisol (1984:78,79) no Rio Grande do Sul são muito semelhantes aos do Rio de

Janeiro. Em dados da fala de Brasília, Corrêa (1998:69) percebeu que, em palavras como

minina, intão e intendeu, a vogal /e/ ocorre sempre como alta. A mesma tendência foi

confirmada nos dados obtidos da fala de Formosa, conforme a tabela abaixo: Tabela 10: Efeito da nasalidade na variação das médias pretônicas /e/ e /o/ Média [e], [o] Alta [i], [u] Baixa [E], []

Pretônicas nasais Freqüência Peso Relativo

223/370 = 60% .294

142/370 = 38% .636

5/370 = 1% .070

Pretônicas orais Freqüência Peso Relativo

1595/2425 = 66% .177

188/2425 = 8% .082

642/2425 = 26% .741

Total Input

1818/2795 = 65% .869

330/2795 = 12% .017

647/2795 = 23% .114

22

As pretônicas /e/ e /o/ com traço nasal foram, na sua maioria, realizadas na forma

elevada, alcançando (.636) de probabilidade. Em contrapartida, as pretônicas orais tenderam

para o abaixamento (.741). Ao separar os resultados de /e/ e /o/, o quadro sofreu alterações,

seguindo mais uma vez a tendência de toda a fala brasileira. Enquanto a vogal /e/ continuou

favorecendo a elevação, a vogal /o/ favoreceu a manutenção da média.

Tabela 11: Efeito da nasalidade na variação das médias pretônicas /e/

Média [e] Alta [i] Baixa [E] Pretônicas nasais Freqüência

Peso Relativo 84/136 = 62%

.249 50/136 = 37%

.691 2/136 = 1%

.060 Pretônicas orais Freqüência

Peso Relativo 880/1364 = 65%

.182 126/1364 = 9%

.066 358/1364 = 26%

.752 Total Input

964/1500 = 64% .911

176/1500 = 12% .027

360/1500 = 24% .062

Tabela 12: Efeito da nasalidade na variação das médias pretônicas /o/

Média /o/ Alta /u/ Baixa [] Pretônicas nasais Freqüência

Peso Relativo 137/232 = 59,1%

.504 92/232 = 39,7%

.334 3/232 = 1,3%

.152 Pretônicas orais Freqüência

Peso Relativo 682/1027 = 66,4%

.173 61/1027 = 5,9%

.253 284/1027 = 27,7%

.574 Total Input

819/1259 = 65,1% .843

153/1259 = 12,2% .001

287/1259 = 22,8% .156

A elevação em contexto nasal para a pretônica /o/ está restrita a alguns itens léxicos:

três verbos: começar, conversar e conhecer, que variam com a forma média - cumeçava ~

começava; cunversá ~ conversá; cunheço ~ conheço - alguns substantivos – minina; bunito7

dumingo e cumida - e o pronome cumigo.

Para a pretônica /e/, a elevação é quase categórica. A alta ocorrência de elevação foi

observada ainda no momento da transcrição dos dados e, em virtude disso, muitos itens

léxicos freqüentes e invariáveis foram controlados e posteriormente retirados da análise:

intão; intendeu; imprego; imbora e inquanto; por exemplo.

Para Naro (apud Bortoni; Gomes; Malvar, 1992:13), o que ocorre com a pretônica /e/

em contexto nasal é uma contaminação de prefixos, explicada historicamente: A elevação das vogais pretônicas em Portugal deve-se a dois processos: generalização pela imagem de espelho, para a posição pretônica, da elevação das átonas finais /i/ e /u/, consolidada ao final do século dezoito; e confusão ou contaminação do prefixo en- > in-, e de eis- ou es-, derivado de ex-, com ens-, derivado de ins-. O resultado foi a alternância de en- ~ in- e de es- ~ ens- ~ ins- ~ is- em posição inicial.

7 Os itens minino(a) e bunito(a) foram retirados da análise, por serem freqüentes e invariáveis.

23

2.3.4 Nasalidade da vogal seguinte

A nasalidade da vogal seguinte passou a ser considerada como um fator relevante na

variação das pretônicas em Formosa a partir do trabalho realizado por Myrian Barbosa da

Silva na fala de Salvador. Segundo a autora, “fica muito claro que as variantes baixas são

mais favorecidas pelo contexto nasal do que pelo não-nasal. No contexto oral o índice dessas

vogais fica em torno dos 54%, mas no contexto nasal esse índice cresce: 71% e 85%,

respectivamente, para as recuadas e para as não-recuadas” (Silva, 1989:107). Sabendo que a

variedade falada em Formosa pertence, de acordo com Nascentes, ao mesmo grupo

lingüístico, esperava-se que os resultados seguissem os encontrados na fala de Salvador.

Cristófaro Silva também aponta o contexto nasal da sílaba seguinte (mais

especificamente da tônica) como um ambiente favorecedor para o abaixamento: “Uma vogal

média-baixa [E, ] ocorre em posição pretônica quando em posição tônica ocorre uma vogal

nasal que na ortografia é marcada por ‘em/en’ ou ‘om/on’: setembro, noventa, colombo,

redondo” (2005:84).

Para melhor depreender os dados coletados distinguimos entre vogais nasais e

nasalizadas. Consideramos nasais as vogais seguidas de arquifonema nasal, ou seja, aquelas

que, de acordo com Mattoso Câmara (cf. 1953:89-97), são representadas ortograficamente

com /n/ ou /m/, como em conto, centro. E nasalizadas, as que sofrem a assimilação da

consoante nasal da sílaba seguinte, como em menina, banana, cama.

A tabela abaixo mostra um comportamento para vogais nasais e outro para

nasalizadas. Enquanto as nasais seguiram a tendência de abaixamento observada por Silva nos

falantes de Salvador – se bem que não com o mesmo grau de intensidade -, as nasalizadas

foram, em sua maioria, médias.

Tabela 13: Efeito da nasalidade da vogal seguinte na variação das médias pretônicas /e/ e /o/

Média [e], [o] Alta [i], [u] Baixa [E], [] Nasais Freqüência

Peso Relativo 256/470 = 54%

.249 44/470 = 9%

.234 170/470 = 36%

.517 Nasalizadas Freqüência

Peso Relativo 124/179 = 69%

.400 13/179 = 7%

.273 42/179 = 23%

.327 Orais Freqüência

Peso Relativo 1438/2146 = 67%

.317 273/2146 = 13%

.496 435/2146/20%

.187 Total Input

1818/2795 = 65% .912

330/2795 = 12% .016

647/2795 = 23% .073

Os resultados das pretônicas /e/ e /o/ foram mais uma vez separados para ter um

controle mais preciso das ocorrências. Na tabela da pretônica anterior, a variante baixa não foi

24

selecionada como relevante (.311), embora o número de dados de abaixamento seja bem

maior que os de elevação, com (.544). A verificação dos itens lexicais mostrou que a elevação

está em grande parte vinculada a outros fatores lingüísticos, como nasalidade da pretônica

(2.1.3) – intrando; incontra; travamento de sílaba em /s/ (2.1.5) – isquenta; istrangeiro; e

produção africada da consoante /d/ (segmento precedente, 2.1.7) - discansá; disenvolvido.

Alguns casos de abaixamento foram: cunvérsando; vérgonha; diférente; dépende; pur

éxemplo; fréqüento; réspondendo.

Para as nasalizadas, a maior probabilidade registrada foi a da variante média (.540).

Isso ocorreu porque os dois itens léxicos em que a elevação está presente, e sempre presente –

minino(a) e piqueno(a) - foram retirados da análise, restando apenas um dado: insinando.

Tabela 14: Efeito da nasalidade da vogal seguinte na variação das médias pretônicas /e/

Média [e] Alta [i] Baixa [E] Nasais Freqüência

Peso Relativo 138/294 = 46,9%

.145 25/294 = 8,5%

.544 131/294 = 44,6%

.311 Nasalizadas Freqüência

Peso Relativo 57/79 = 72,2%

.540 1/79 = 1,3%

.062 21/79 = 26,6%

.398 Orais Freqüência

Peso Relativo 735/1089 = 67,5%

.254 148/1089 = 13,6%

.586 206/1089 = 18,9%

.161 Total Input

930/1462 = 63,6% .797

174/1462 = 11,9% .004

358/1462 = 24,5% .199

No caso das pretônicas posteriores, o abaixamento voltou a ser significativo (.397).

Ocorreu em palavras como viólência; adóléscente; arrógante; pórtão; apósentá.

Para explicar a escolha do falante pela variante baixa nesse contexto, Silva lança mão

de um estudo a respeito da língua indígena Kaingang, conduzido por Aryon Rodrigues.

Segundo Rodrigues, “tanto a ampliação da caixa de ressonância oral, quanto a adição de

ressonância nasal contribuem, do ponto de vista acústico, para a maior compacidade das

vogais” (apud Silva, 1989:131). Isto significa dizer que “õ e e têm formantes mais compactos

que ô e ê, e, portanto, mais próximos de è e ò” (Silva, 1989:131), fornecendo ao falante um

contexto propício para a produção da variante baixa.

Tabela 15: Efeito da nasalidade da vogal seguinte na variação das médias pretônicas /o/

Média [o] Alta [u] Baixa [] Nasais Freqüência 107/167 = 64,1% 21/167 = 12,2% 39/167 = 23,4%

25

Peso Relativo .284 .319 .397 Nasalizadas Freqüência

Peso Relativo 65/97 = 67%

.394 11/97 = 11,3%

.272 21/97 = 21,6%

.334 Orais Freqüência

Peso Relativo 647/995 = 65%

.320 121/995 = 12,2%

.411 227/995 = 22,8%

.269 Total Input

819/1259 = 65,1% .843

153/1259 = 12,2% .001

287/1259 = 22,8% .156

2.3.5 Travamento de sílaba em /x/ ou /s/

Sílabas travadas com as consoantes /x/ e /s/, são, segundo Cristófaro Silva (cf.

2005:84), ambientes favorecedores para que o falante selecione a variante baixa.

Na análise do corpus de Formosa, os resultados obtidos tanto em conjunto quanto

individualmente das pretônicas /e/ e /o/ confirmaram o abaixamento apenas no contexto da

consoante /x/ - pérguntou; nórdeste. As sílabas travadas em /s/ apresentaram elevação –

isquenta; custume. Nas tabelas abaixo é possível ver os resultados individuais.

Tabela 16: Efeito do travamento de sílaba na variação das médias pretônicas /e/

Média [e] Alta [i] Baixa [E]

Travamento em /x/ 124/195 = 63.6% .293

13/195 = 6,7% .127

58/195 = 29,7% .580

Travamento em /s/ 70/109 = 64,2% .202

20/109 = 18,3% .670

19/109 = 17,4% .128

Sem travamento 736/1158 = 63,6% .402

141/1158 = 12,2% .278

281/1158 = 24,3% .320

Total Input

930/1462 = 63,6% .797

174/1462 = 11,9% .004

358/1462 = 24,5% .199

Dentre os casos de abaixamento com a sílaba travada em /x/ para a pretônica /e/, estão:

nérvosa; pérdidos; vérdade; términa; govérnador. As elevações com a sílaba travada em /s/

são muito comuns. Mesmo com a retirada de vários itens léxicos com produção elevada

categórica nesse ambiente fonológico – por ex.: istudo; iscola - a elevação ainda se mostrou

produtiva. Como visto acima (2.1.3), Naro considera esses casos uma conseqüência da

contaminação de prefixos.

A pretônica /o/ apresentou resultados semelhantes: abaixamento com sílaba travada

em /x/ e elevação quando com /s/. Exemplos de abaixamento são: órvalho; órgulho;

Fórtaleza; pórtuguês8; acórdava; Córbélia; infórmada. Os casos de elevação, no entanto,

8 A informante estava referindo-se à língua portuguesa, e não à pessoa nascida em Portugal. Segundo Oliveira (1992:40), a diferença semântica é marcada, em Belo Horizonte, pela oposição entre [o] e [u]. Assim, ao querer

26

oito ao todo, resumem-se a um item lexical apenas, custume com suas variantes custumo;

acustumô; acustumando; acustuma. Esse resultado indica que a palavra costume, na fala de

Formosa, assumiu a forma elevada, mas não se pode afirmar que sílabas travadas em /s/

estejam favorecendo a elevação da pretônica /o/.

É relevante observar que poucos foram os casos de palavras com sílabas travadas em

/s/ para a pretônica /o/: 22. Destes, 9 mantiveram a forma média, enquanto 8 sofreram

elevação (todos do item léxico já mencionado), e 5 foram realizados da forma abaixada.

Considerando o pequeno número de dados, chama-nos mais a atenção os casos de

abaixamento, representados por um grupo mais variado de itens lexicais: góstá; góstanu;

óstensivo; hóspitalar e próstituição.

Tabela 17: Efeito do travamento de sílaba na variação das médias pretônicas /o/ Média [o] Alta [u] Baixa []

Travamento em R/ 131/224 = 58,5% .350

7/224 = 3,1% .073

86/224 = 38,4% .577

Travamento em /s/ 9/22 = 40,9% .061

8/22 = 36,4% .892

5/22 = 22,7% .047

Sem travamento 679/1013 = 67% .476

138/1013 = 13,6% .154

196/1013 = 19,3% .370

Total Input

819/1259 = 65,1% .843

153/1259 = 12,2% .001

287/1259 = 22,8% .156

2.3.6 Atonicidade

O fator atonicidade, considerado relevante em outros estudos (Bisol, 1984; Silva,

1989; Corrêa, 1998), tem por objetivo verificar, no corpus de Formosa, a interferência da

realização das vogais /e/ e /o/ ora como tônicas, ora como pretônicas, na escolha do falante.

Num primeiro momento esta variável foi dividida em duas variantes: atonicidade permanente,

para classificar palavras em que as vogais /e/ e /o/ sempre são realizadas como átonas –

menino; motivo; e atonicidade casual, para palavras em que as vogais variam entre as

posições átona e tônica durante o processo derivacional – hora/horário; perceber/percebe.

Uma análise mais cuidadosa dos dados, porém, nos levou a redistribuir os dados,

criando variantes específicas para os tempos e modos verbais mais utilizados pelos

informantes: infinitivo, gerúndio, particípio, pretérito perfeito e pretérito imperfeito. Muitos

verbos da língua portuguesa caracterizam-se pela metafonia, “mudança de radical de um

referir-se à pessoa nascida em Portugal o falante selecionará purtuguês, e para referir-se à língua, português. Para Oliveira, isso é um índice de que não há variação, mas difusão lexical.

27

vocábulo na forma rizotônica” (Bechara, 2003:239), como por exemplo no verbo ferver, em

que “o e tônico é fechado na 1ª. pess. do sing. e na 1ª. e 2ª. pess. do plural; nas outras, é de

timbre aberto” (Bechara, 2003:239). Tais variações estão registradas nas gramáticas e são

produzidas naturalmente por todo falante. Percebemos, entretanto, que quando o verbo está na

forma denominada ‘arrizotônica’, isto é, quando a sílaba tônica está fora do radical – como

em queremos, vendido -, a altura em que a vogal da tônica é produzida muitas vezes

determina a altura da vogal pretônica.

A análise, então, será feita em dois blocos: o primeiro considerará todas as palavras

que não pertencem à classe dos verbos; e o segundo enfatizará apenas a variação ocorrida nos

verbos. Tabela 18: Efeito da atonicidade na variação das médias pretônicas /e/ e /o/

Média [e], [o] Alta [i], [u] Baixa [E], [] Atonicidade permanente 1072/1727 = 62%

.179 227/1727 = 13%

.526 428/1727 = 25%

.295 Atonicidade casual: tônica com

vogais /e/ ou /o/ baixas 245/399 = 61%

.257 26/399 = 7%

.330 128/399 = 32%

.413 Atonicidade casual: tônica com

vogais /e/ ou /o/ médias 96/110 = 87%

.521 5/110 = 5%

.293 9/110 = 8%

.187 Infinitivo de 1ª. conj. (-ar);

Particípio de 1ª. conj. (-ado) 98/127 = 77%

.296 1/127 = 1%

.054 29/127 = 22%

.650 Gerúndio de 1ª. e 2ª. conj.

(-ando; -endo)

28/66 = 42% .149

1/66 = 2% .203

37/66 = 56% .648

Pret. imperfeito de 1ª. conj. (-ava);

35/47 = 74% .268

1/47 = 2% .128

11/47 = 23% .604

Infinitivo de 2ª. conj. (-er); Pret. perfeito de 1ª. e 2ª. conj. (-ei; -ou; -amos/-eu; -emos);

188/195 = 96% .643

4/195 = 2% .250

3/195 = 2% .107

Particípio de 2ª. conj. (-ido) Pret. Imperfeito de 2ª. e 3ª. conj.

(-ia); Pret. Perfeito de 3ª. conj.

(-iu; -imos); Gerúndio de 3ª. conj. (-indo)

Infinitivo de 3ª. conj. (-ir)

56/124 = 45% .087

65/124 = 52% .887

3/124 = 2% .026

Total Input

1818/2795 = 65% .912

330/2795 = 12% .016

647/2795 = 23% .073

Os resultados da tabela acima revelam que palavras com atonicidade permanente se

mostraram mais suscetíveis à elevação (.526): mutivo; gasulina; bucado; guverno; ixato;

avinida; novicentos. Palavras em que a pretônica varia com a tônica baixa tendem a manter,

quando átonas, o traço [+ baixo] (.413) – favélada; réstanti; maiória; ócórrências;

fórmósense. O mesmo acontece com as palavras que variam com a tônica média; elas

28

permanem médias, tornando-se mais resistentes à mudança, (.521) – gelada; nervoso;

povoada; novidade.

Quanto aos verbos, é notável que alguns grupos favorecem mais a variável baixa /E/,

//, outros a variável alta /i/, /u/ e ainda alguns, a manutenção da média /e/, /o/. Verbos em

que a tônica é produzida com uma vogal de traço [+ baixo] ou nasal têm mais probabilidade

de tornar a pretônica baixa:

• Infinitivo 1ª.conj.: prégá; préstá; vóltá; abórdá.

• Particípio 1ª.conj.: québrada; fórmado; afógada; infórmada.

• Pretérito imperfeito 1ª.conj. (ocorreu apenas com a pretônica /o/): cólócava;

óbsérvava; chórava.

• Gerúndio 1ª. e 2ª. conj.: quérendo; pérdendo; déscendo; créscendo;

ócórrendo; ólhando; chégando; cunvérsando; ispérando; rólando.

Verbos em que a tônica é produzida na altura média, como o infinitivo de 2ª.

conjugação e o pretérito perfeito da 1ª. e 2ª. conjugações, impedem que a pretônica varie:

• Infinitivo 2ª. conj.: descê; corrê; percebê; crescê; mexê; podê.

• Pretérito perfeito 1ª. e 2ª. conj.: prestei; peguei; começô; chegô; cresceu;

perdeu; faleceu; morreu.

Já os verbos da 3ª. conjugação em todas as formas, além dos tempos verbais de 2ª.

conjugação cuja tônica é em /i/, favorecem a elevação:

• Particípio de 2ª. conj.: paricido; mitido; currido; criscido.

• Pretérito imperfeito de 2ª. e 3ª. conj.: quiria; mixia; paricia; murria; pudia;

pidia; sintia.

• Pretérito perfeito de 3ª. conj.: mintiu; consiguiu.

• Gerúndio de 3ª. conj.: surrindo; pidindo; durmindo; cunsiguindo.

• Infinitivo de 3ª. conj.: durmí; siguí; mintí; pidí; previní.

A partir desses resultados, percebemos que é possível que os falantes da variedade

lingüística de Formosa tenham desenvolvido uma regra – que leva em conta também as

variáveis vogal seguinte e nasalidade da vogal seguinte – para os verbos nas formas

arrizotônicas, assim como a fazem para as formas rizotônicas. Isso explicaria porque verbos

como crescer variam entre pretônicas médias, altas e baixas: crescê, criscido, créscendo; e

29

ainda porque verbos como chegar, que não possuem metafonia na forma rizotônica,

apresentem variação quando na forma arrizotônica: chégando; chegô.

2.3.7 Segmento precedente

Conforme a tabela abaixo, a distribuição das variantes pelo critério ponto de

articulação demonstra que as consoantes bilabiais (em verde) favorecem a elevação das

pretônicas; as labiodentais (em vermelho) e a maioria das alveolares (em azul) favorecem o

abaixamento. Quanto às consoantes velares (em rosa), o /k/ favorece a elevação, o /g/, a média

e o /x/, o abaixamento. O glide /I/ tende a tornar as pretônicas baixas, e a palatal /ø/ as mantêm

médias. Palavras iniciadas com vogal apresentam um índice alto de elevação. Exemplos com

a pretônica /e/ e /o/ ajudam a avaliar melhor como esses dados estão distribuídos no corpus.

As vogais /e/ e /o/ têm comportamentos diferenciados no que diz respeito às variantes

favoráveis à elevação. Os itens lexicais iniciados com a vogal /e/, por exemplo, elevam mais

do que quando iniciados com a vogal /o/. Como já foi visto acima, na variável distanciamento

da tônica (2.1.2), palavras iniciadas com a pretônica /e/ têm grandes chances de serem

influenciadas pelas variáveis nasalidade e travamento de sílaba em /s/. Ainda assim, a

pretônica ocorreu com o traço [+ baixo] em um número considerável de itens: élogios;

éducacional; éxército; hélicóptero; équilíbrio; éxerce; émergência; érrado; élementos.

Palavras iniciadas com a pretônica /o/ não sofrem a pressão da nasalidade e do travamento de

sílaba, o que faz com que o falante selecione a variante baixa: hórrível; órienta; ófertas;

hótel; óstensivo; óbserva; óbjetivos; óbrigado; órvalho; órçamento.

A consoante alveolar /d/ apresentou um alto índice de elevação (.517); quando seguida

de pretônica /e/, tende a tornar-se africada: discansô; disenvolvido.9 Poucos foram os itens

lexicais ocorridos com a pretônica /o/, e a elevação nesse contexto parece estar relacionada

com outras variáveis, como a nasalidade, forma verbal (verbo de 3ª.conj.) e segmento seguinte

(2.1.8): dumingo; durmitório; durmí; duente.

Tabela 19: Efeito do segmento precedente na variação das médias pretônicas /e/ e /o/

Média [e], [o] Alta [i], [u] Baixa [E], [] Palavras iniciadas com vogal /e/ e /o/

Freqüência Peso Relativo

147/269 = 55% .176

49/269 = 18% .593

73/269 = 27% .231

9 Outro exemplo é o item lexical dimais, retirado da análise porque sempre foi produzido na forma elevada.

30

/d/ Freqüência Peso Relativo

106/173 = 61% .240

36/173 = 21% .584

31/173 = 18% .176

/p/ Freqüência Peso Relativo

278/400 = 69% .334

31/400 = 8% .378

91/400 = 23% .288

/b/ Freqüência Peso Relativo

30/47 = 64% .066

12/47 = 26% .912

5/47 = 11% .022

/m/ Freqüência Peso Relativo

147/203 = 72% .166

28/203 = 14% .695

28/203 = 14% .139

/k/ Freqüência Peso Relativo

222/389 = 57% .257

111/389 = 29% .517

56/389 = 14% .226

/s/ Freqüência Peso Relativo

138/223 = 62% .224

37/223 = 17% .549

48/223 = 22% .227

/ø/, /g/ Freqüência Peso Relativo

71/90 = 90% .454

4/5 = 5% .341

4/5 = 5% .205

/z/ Freqüência Peso Relativo

20/25 = 80% .356

1/25 = 4% .298

4/25 = 16% .347

/R/ Freqüência Peso Relativo

25/55 = 45% .207

10/55 = 18% .319

20/55 = 36% .473

/n/ Freqüência Peso Relativo

36/64 = 56% .373

2/64 = 3% .071

26/64 = 41% .556

/t/ Freqüência Peso Relativo

118/165 = 72% .413

2/165 = 1% .093

45/165 = 27% .495

/x/ Freqüência Peso Relativo

92/144 = 64% .364

1/144 = 1% .042

51/144 = 35% .594

/v/ Freqüência Peso Relativo

86/123 = 70% .396

4/123 = 3% .125

33/123 = 27% .479

/l/, /f/, /Z/, /S/, /I/ Freqüência Peso Relativo

302/436 = 69% .384

2/436 = 0% .094

132/436 = 30% .522

Total Input

1818/2795 = 65% .912

330/2795 = 12% .016

647/2795 = 23% .073

A respeito das consoantes bilabiais, a elevação foi verificada como categórica em

diversos itens, todos retirados da análise: purque; piqueno(a); pulicial; puliciamento;

pirigo(oso); bunito(a); minino(a). A retirada desses itens reduziu o número de dados, mas a

elevação continuou sendo apontada como a mais provável nesse contexto: (.378) para /p/,

(.912) para /b/ e (.695) para /m/. A consulta ao corpus, porém, trouxe surpresas: a consoante

/p/ favoreceu mais a elevação de /e/ do que a de /o/: pidia; pião; piqui; pricisô. A pretônica

/o/ apresentou mais o abaixamento, especialmente quando a consoante /p/ está associada a

outras variáveis favoráveis ao abaixamento, como travamento de sílaba em /x/,

distanciamento da tônica e, ainda, quando a sílaba possui a configuração CCV: pópulação;

póbreza; pósitivo; impórtamo; pórcaria; ópórtunidade; prógredí; próduto; prócurei;

própaganda; prócuração. Finalmente, a consoante /m/ favorece a elevação de ambas as

pretônicas, embora o número de itens lexicais não seja muito representativo: mixia; mintiu;

mintí; mutivo; murria; almuçava; (festa da) muagem. Quanto à vogal /o/, Mota (apud Silva,

1989:161) explica que as consoantes bilabiais, “pelo caráter de sua articulação aproximam-se

31

da vogal [+ arr], provocando o aumento do grau de arredondamento que vai coincidir com a

sua elevação”.

Os dados referentes à elevação para a consoante velar /k/ também apresentam um

grupo reduzido de itens léxicos. Para a pretônica /e/: quiria; acridito; piquinininhos; criscido.

Para a pretônica /o/: cumigo; cunversá (o/ando); cunheço/cunhicia); cumida; cuzinha;

cunvidarem; cumplicado; cumeço; acustumô. Curiosamente, todos os dados com a vogal /o/

apresentam o traço nasal, seja na sílaba da pretônica, seja na sílaba seguinte.

A última consoante selecionada como provável a elevar as pretônicas foi a alveolar /s/.

Além das palavras sempre realizadas na forma elevada retiradas da análise (sutaque; pessual;

siguro; siguinte; sigundo), apareceram: sinhora; sirviço; sintia; sussegado; subrinho.

As probabilidades de elevação das pretônicas encontradas no corpus de Salvador por

Silva (1989:159) coincidem, em grande parte, com os resultados obtidos no corpus de

Formosa: A elevação de O é claramente favorecida pelas consoantes velares que a precedem (P = .76, ex.: guverno, custela); a elevação de E é favorecida pelas consoantes labiais (P = .72, p.e, cabiceira, travisseiro) pelas consoantes alveolares não-laterais (P = .64, ex.: pratileira, simestre) e pelas consoantes velares que a precedem (P = .70, p.e., aquicido, esquici)10

Dentre as consoantes que mantiveram as pretônicas médias, estão a alveolar /z/, a

palatal /ø/ e a velar /g/. Alguns exemplos: dezesseis; dezessete; exercício; indesejáveis;

conheceu; goiano; Goiás; Goiânia; governador; gostava.

O abaixamento foi selecionado como a variante mais provável especialmente entre as

consoantes alveolares e labiodentais, além do glide /I/ e da velar /x/. É interessante notar que

o número de elevações com essas variantes cai a praticamente zero. Resultado semelhante foi

obtido por Silva (1989:159) em Salvador: “os segmentos consonânticos mais resistentes à

elevação das pretônicas, tanto recuadas como não-recuadas, são as laterais e as uvulares”11.

Os casos do glide se referem apenas à pretônica /o/: maiória; viólência; priórizando;

biblióteca. Dentre as consoantes líquidas /R/ e /l/, os seguintes itens lexicais têm o traço [+

baixo]: a expressão pur éxemplo; lócutora; alójamento; cólócá(ado); adóléscente; délégacia;

acélérado. A consoante /v/ influencia mais a pretônica /e/: cunvérsando; vérgonha;

govérnador; favélada; véstibular; vérdade. Os dados referentes à pretônica /o/ se resumem a

apenas um verbo com suas variantes: vóltá; vóltando; vóltamos; e é provável que estejam

mais ligados à variável segmento seguinte (2.1.8) do que ao segmento precedente. A

10 Grifos do autor. 11 A consoante uvular se refere à pronúncia do /r/ que, em Formosa, é velar.

32

consoante /t/ também influencia mais a pretônica /e/: télefone; términô; térrível; intéressante;

intrégá; intérior; antérior; trézentos; caractéristicas.

Pouca é a variedade dos itens lexicais que representam o abaixamento no contexto das

consoantes /n/ e /S/: nérvosa; négativo; généralizado; benéficiado; nórdeste; nórdestino;

nóção; chégando; chórá(ndo); chócolate. O leque de palavras para a consoante /f/ também

não é muito variado, sendo que todas as ocorrências com a pretônica /o/ apresentam

travamento de sílaba em /x/, um grande favorecedor para o abaixamento: oférece;

diférente(ença); fréqüenta(ndo); préferência; Fórmosa; Fórtaleza; fórnece; fórmá(ndo);

infórmada.

A maior variedade de itens lexicais pode ser encontrada no contexto das consoantes /Z/

e /x/. A pós-alveolar /Z/ ocorre apenas com a pretônica anterior /e/: injéção; géografia;

gérente; géralmente; géladeira; généralizada. A lista das palavras iniciadas com a velar /x/

seguida da vogal /e/ com traço [+ baixo] é extensa: réalmente; récurso; réligiosamente;

réforma; résgata; résidem; réfinaria; réúne; réclamá; rébolá; récomendável; résquícios;

récente; rétorno, dentre outros. Com a pretônica /o/ o abaixamento também é encontrado:

rólando; róndando; ródóviário; arróganti; róbá; enrólado. Dentre todas as variantes, o /x/ foi

o mais produtivo para o abaixamento.

2.3.8 Segmento seguinte

A variável segmento seguinte apresenta um quadro diferente do da variável segmento

precedente. A distribuição das consoantes se deu mais pelo modo de articulação do que pelo

ponto. É notável a presença dos pares /k/, /g/; /s/, /z/ e das nasais /m/, /n/, /ø/ como

favorecedores da elevação; e dos pares /t/, /d/; /p/, /b/ e das líquidas /l/, /R/ favorecendo o

abaixamento.

Mais uma vez a consulta aos dados do corpus nos permite ter uma idéia melhor de

como as pretônicas /e/ e /o/ estão distribuídas entre as variantes.

Tabela 20: Efeito do segmento seguinte na variação das médias pretônicas /e/ e /o/

Média [e], [o] Alta [i], [u] Baixa [E], [] /k/ Freqüência

Peso Relativo 145/218 = 67%

.262 22/218 = 10%

.456 51/218 = 23%

.282 /g/ Freqüência 93/125 = 74% 10/125 = 8% 22/125 = 18%

33

Peso Relativo .370 .435 .196 /s/ Freqüência

Peso Relativo 186/257 = 72%

.364 26/257 = 10%

.444 45/257 = 18%

.192 /z/ Freqüência

Peso Relativo 67/131 = 51%

.152 27/131 = 21%

.680 37/131 = 28%

.168 /m/, /S/ Freqüência

Peso Relativo 174/254 = 69%

.238 40/254 = 16%

.699 40/254 = 16%

.063 /n/ Freqüência

Peso Relativo 54/66 = 82%

.358 3/66 = 5%

.406 9/66 = 14%

.236 Vogal, /ø/ Freqüência

Peso Relativo 68/135 = 50%

.156 51/135 = 38%

.635 16/135 = 12%

.208 /v/ Freqüência

Peso Relativo 82/163 = 50%

.197 55/163 = 34%

.584 26/163 = 16%

.219 /´/, /Z/, /I/ Freqüência

Peso Relativo 132/147 = 90%

.684 1/147 = 1%

.078 14/147 = 10%

.238 /f/ Freqüência

Peso Relativo 35/48 = 73%

.446 1/48 = 2%

.138 12/48 = 25%

.415 /d/ Freqüência

Peso Relativo 76/135 = 56%

.257 14/135 = 10%

.374 45/135 = 33%

.369 /t/ Freqüência

Peso Relativo 219/329 = 67%

.379 45/329 = 14%

.186 65/329 = 20%

.435 /R/ Freqüência

Peso Relativo 172/276 = 62%

.328 10/276 = 4%

.154 94/276 = 34%

.518 /l/ Freqüência

Peso Relativo 95/175 = 54%

.209 5/175 = 3%

.191 75/175 = 43%

.600 /b/ Freqüência

Peso Relativo 43/73 = 59%

.270 8/73 = 11%

.350 22/73 = 30%

.379 /p/, /w/ Freqüência

Peso Relativo 109/160 = 68%

.384 6/160 = 4%

.100 45/160 = 28%

.517 /x/ Freqüência

Peso Relativo 68/103 = 66%

.238 6/103 = 6%

.148 29/103 = 28%

.615 Total Input

1818/2795 = 65% .912

330/2795 = 12% .016

647/2795 = 23% .073

No caso das elevações, as variantes apresentaram a mesma tendência: pouco número

de dados e variação condicionada à vogal seguinte ou nasalidade. As consoantes /k/, /g/; /s/,

/z/ e /S/ são compostas quase que majoritariamente por dados com a pretônica /e/, que sofrem

elevação principalmente quando seguidas de vogal alta: piqui; incontra; siguí; ingraçado;

sigundo; siguro; siguinte; pricisô; paricido; criscido; ixiste; disistí; mixia.12 Fora desse

contexto – vogal alta e nasalidade -, as pretônicas foram realizadas na forma média ou baixa:

déclarada; chegô; apegada; legais; sussegado; abastecê; sessenta; cresceu; professores;

déserto; trézentos; éxerce. Percebe-se também, conjuntamente com o fator vogal seguinte,

que a variação está ligada com a forma verbal: se é um verbo da 2ª. ou 3ª. conj., se está no

pretérito perfeito ou imperfeito, etc.

12 Desta lista, os itens sigundo, siguro, siguinte, ixiste(iu) foram retirados das rodadas porque foram produzidos sempre na forma alta, não havendo variação.

34

A consoante nasal /m/ apresentou resultados semelhantes às consoantes já citadas,

mudando apenas para a pretônica /o/. Quando seguida de vogal alta, a elevação foi freqüente:

cumigo; cumida; dumingo; quando se encontrava fora desse contexto, permaneceu média:

comentei; tomô; comandante. Como mostra a tabela, os casos de elevação com a nasal /n/ são

apenas três, todos com a pretônica /e/ e seguidos de vogal alta: previnir; piquinininhos e

avinida. Além desses itens, há ainda os que foram retirados: minino(a); bunito(a). A maioria

dos dados está localizada na variante média (58/66), o que pode ser observado numa busca ao

corpus. Exemplos são: marcenaria; penei; menor; plenamente; lanchonete; nacionalidade;

coronel; relacionamento; abandonaram. Quanto à nasal /ø/, poucos foram os itens lexicais

ocorrentes nesse contexto. Diferentemente, porém, da nasal /n/, a maioria das ocorrências foi

alta. Não houve nenhum caso de abaixamento: cunheço(i); recunheço; sinhor(a); ninhum(a).

Com a consoante labiodental /v/, as elevações ocorreram com ambas as pretônicas;

involvê; divia; rivirá; cunversá; apruveita; guverno; cunvidarem. A elevação também foi

apontada como provável quando as pretônicas /e/ e /o/ foram seguidas de vogal. A consulta

aos dados confirmou a probabilidade apenas para a pretônica /o/: duente; buati; festa da

muagem. O item pessual, retirado das rodadas, também se encaixa nessa regra. As pretônicas

/e/, quando seguidas de vogal, geralmente sofreram abaixamento: préocupado; réagí;

réalmente; réúne. Quase todas as ocorrências de /e/ foram precedidas da consoante velar /x/

que, como vimos acima, é um fator muito produtivo para o abaixamento. Esses dados

confirmam a força de /x/, mostrando que há uma hierarquia no que diz respeito à influência

dos fatores lingüísticos.

A manutenção da variante média foi favorecida pelo glide /I/, pela pós-alveolar /Z/,

pela palatal /´/ e pela labiodental /f/. O glide esteve presente nos ditongos: leilão; aceitavam;

treinamento; seiscentos; oitenta; Goiás. A pós-alveolar, em palavras como região;

indesejáveis; tecnologia; elogio. A palatal também manteve a média: molhada; acolheram;

olhei; melhor(ô). O único caso de elevação da consoante /´/ se deu com o item milhor. A

forma abaixada, mélhor, ocorreu cinco vezes, com quatro informantes diferentes. Por fim, a

labiodental /f/ impediu a variação principalmente com a pretônica /o/. Houve apenas um

abaixamento: ófertas. Os outros casos de abaixamento ocorreram com a pretônica /e/, mas

ainda assim o número de médias se sobrepôs: télefone; oferece; sofreu; professores.

Dentre as consoantes favoráveis ao abaixamento na posição precedente à consoante,

repetem-se aqui as alveolares /t/, /l/, /R/ e a velar /x/. O glide /w/ e o par de bilabiais /p/, /b/

não haviam entrado na probabilidade de abaixamento quando em posição precedente das

35

pretônicas. A análise dos dados de /t/ revela que os itens lexicais dessa variante ficaram

equilibrados entre a forma média e a forma abaixada. A pretônica /e/ teve um índice maior de

abaixamento, especialmente em sílabas travadas com /s/: préstação; quéstão; véstibular;

détalhô; détesta; sétenta. É importante observar que, em meio de sílaba, o travamento de

sílaba em /s/ tem efeito oposto ao ocorrido em início de sílaba: istudo; istado. Nas ocorrências

de abaixamentos com a pretônica /o/ seguida da consoante /t/, a presença do travamento de

sílaba em /s/ também foi favorável: góstá; óstensivo; próstituição.

As bilabiais, juntamente com o glide reduziram consideravelmente o número de

elevações. Com a consoante /b/, os abaixamentos foram mais freqüentes com a pretônica /o/:

óbserva; róbá; óbjetivos; Sóbradinho; óbrigado, enquanto com a consoante /p/, os

abaixamentos ocorreram mais entre as palavras com pretônica /e/: indépendência;

dépende(o); séparado; prépotente; déparamos; répeti. Os casos de abaixamento com o glide

apareceram apenas com a pretônica /o/, em sílabas travadas com /l/, não mais pronunciado no

português brasileiro: sóldado; vólta(ava/amos/ando).

A redução dos casos de elevação também pode ser observada no contexto das

consoantes /l/, /R/ e /x/. Essas foram as variantes mais produtivas para o abaixamento das

pretônicas: papélaria; Juscélino Kubitschek; célular; cólégio; cólina; sólicitado, com a

consoante /l/; miséricórdia; ixpérimentá; intéressante; supérior; libéração; namórado;

priórizado; maiória, para a consoante /R/; sérraria; dé répenti; érrado; dérrubadas; hórrível;

bórrachinha; córreto, para a consoante /x/. Marroquim, ao descrever a variedade lingüística

de Pernambuco, observou a seguinte regra envolvendo a pretônica /e/ para essas consoantes:

“Quando, sendo inicial, tenha depois de si um r ou l com que forme sílaba, soa aberto”

(1934:49). Alguns exemplos dados pelo autor são: érrar, érguer, érvilha, pérfume, élétrico,

élogio, élegância. Para Marroquim, outra regra se aplica à pretônica /o/: é realizada com traço

[+ baixo] em infinitivos de 1ª. conjugação – rolar, chorar –, e com traço [- baixo] em

infinitivos de 2ª. conjugação – morrê, sofrê, comê, tendência já observada na variável

atonicidade (2.1.6).

Outras pesquisas têm apontado as consoantes líquidas e a velar /x/ como favorecedoras

para o abaixamento das pretônicas sem, no entanto, oferecer uma explicação fonético-

fonológica para essa realização (cf. Silva, 1989; Corrêa, 1998; Callou, Leite, Coutinho, 1991;

Bortoni, Gomes, Malvar, 1992). Entendemos que a escala de sonoridade, elaborada por

Jespersen, (cf. Scherre e Macedo, 2000:54) pode nos ajudar a compreender a força dessas

consoantes sobre as pretônicas /e/ e /o/:

36

[+ sonoro] Vogais baixas ↓ Vogais médias ↓ Vogais altas ↓ Glides ↓ Líquidas ↓ Nasais ↓ Obstruintes fricativas ↓ Obstruintes africadas

[-sonoro] Obstruintes oclusivas

A escala permite a visualização da proximidade entre as consoantes líquidas /l/ e /R/ e

as vogais. Tal proximidade sonora pode ser o grande responsável pela produção abaixada das

pretônicas, tanto em posição precedente quanto seguinte. A consoante fricativa velar /x/ se

encontra um pouco mais abaixo na hierarquia de sonoridade, mas ainda assim mais próxima

que africadas e oclusivas. Essa escala ainda dá pistas para entender o favorecimento ao

abaixamento com a nasal /n/ e com as fricativas /f/, /v/, /Z/, /S/ em posição anterior às

pretônicas, bem como dos glides /I/ e /w/.

2.4 Análise das variáveis extra-lingüísticas

As variáveis extra-lingüísticas podem ser subdivididas em dois grupos: variáveis

sociais e variável monitoração estilística. Quatro variáveis sociais foram incluídas na

pesquisa: escolaridade, classe social, sexo e contato com Brasília. Destas, duas foram

relevantes: sexo e contato com Brasília.

2.4.1 Sexo

As percentagens demonstraram que os homens tendem a realizar a forma abaixada um

pouco mais do que as mulheres: 24,7% para 21,4%. O oposto aconteceu com a forma elevada:

as mulheres apresentaram uma percentagem um pouco acima da média, 12,7%, enquanto os

homens ficaram um pouco abaixo, 11,1%. Tais diferenças nas percentagens polarizaram os

pesos relativos em duas variantes: média para as mulheres (.498) e baixa para os homens

(.524). Assim, enquanto os pesos relativos referentes às mulheres seguiram a direção

média→alta→baixa, os dos homens tomaram a direção contrária: baixa→média→alta.

Tabela 21: Efeito do sexo na variação das médias pretônicas /e/ e /o/ Média [e], [o] Alta [i], [u] Baixa [E], []

Feminino Freqüência Peso Relativo

870/1320 = 65,9% .498

167/1320 = 12,7% .323

283/1320 = 21,4% .178

Masculino Freqüência 948/1475 = 64,2% 163/1475 = 11,1% 364/1475 = 24,7%

37

Peso Relativo .188 .289 .524 Total Input

1818/2795 = 65% .843

330/2795 = 11,8% .006

647/2795 = 23,1% .151

Esses resultados coincidem com os obtidos por outras pesquisas sociolingüsiticas, o de

que as mulheres demonstram preferência pelas variantes lingüísticas mais prestigiadas, como

escreve Paiva (2003:35): “outros estudos sobre processos variáveis do português apontam

para o que poderíamos denominar uma maior consciência feminina do status social das

formas lingüísticas”. Talvez inconscientemente, as mulheres que representam a fala

formosense atribuíram a cada variante o valor que lhes é dado no Brasil como um todo. Ou

seja, a variante média é aceita e utilizada por todos os falantes, de todas as variedades

lingüísticas existentes no Brasil. A variante alta está bastante difundida, tanto que certos itens

léxicos, como os iniciados em es- e en-, são realizados quase que categoricamente na forma

elevada. Não causam estranheza, portanto, a nenhum falante brasileiro. O mesmo não

acontece com a variante baixa, não produtiva em todas as variedades lingüísticas brasileiras –

especialmente naquelas às quais a sociedade atribui um prestígio maior – e,

conseqüentemente, ainda estigmatizada por alguns falantes.

2.4.2 Contato com Brasília

Esta variável foi introduzida com o intuito de capturar uma possível influência da fala

de Brasília nos formosenses, uma vez que é intenso o fluxo diário de pessoas da cidade de

Formosa para a capital federal, por motivos de trabalho ou estudos. Inúmeros são os

funcionários públicos – professores, enfermeiros, policiais, concursados em órgãos como

Superior Tribunal de Justiça, Correios e outros -, as diaristas ou funcionários de outras

empresas que diariamente fazem o trajeto Formosa-Brasília (cerca de 70km).

Na seleção dos informantes, portanto, levamos em consideração esse aspecto. Dos 10

entrevistados, 2 mulheres têm contato diário com Brasília, por conta do emprego; 2 mulheres

vão à Brasília uma vez por mês, em média; e 1 mulher e todos os homens raramente vão à

capital. Tabela 22: Efeito do contato com Brasília na variação das médias pretônicas /e/ e /o/ Média [e], [o] Alta [i], [u] Baixa [E], []

Diário Freqüência Peso Relativo

407/491 = 82,9% .649

44/491 = 9% .262

40/491 = 8,1% .089

Mensal Freqüência Peso Relativo

251/454 = 55,3% .176

66/454 = 14,5% .416

137/454 = 30,2% .409

Raro Freqüência Peso Relativo

1160/1850 = 62,7% .194

220/1850 = 11,9% .203

470/1850 = 25,4% .604

Total 1818/2795 = 65% 330/2795 = 11,8% 647/2795 = 23,1%

38

Input .843 .006 .151

Apesar de os dados não terem uma distribuição equilibrada, é possível perceber que a

variante média foi selecionada de maneira mais intensa pelas informantes que diariamente vão

à Brasília do que pelo restante dos entrevistados. Esses resultados, porém, não podem ser

analisados isoladamente. Uma das entrevistadas com contato diário com Brasília apresentou

um percentual baixíssimo de variação, tanto para a elevação quanto para o abaixamento.13

Entretanto, não temos condições de precisar se isso se deve ao contato com Brasília.

Dois outros fatores ainda precisam ser considerados: o gênero que, como foi visto

acima, nas mulheres o índice de abaixamento é um pouco menor; e o perfil dos entrevistados

– ou até o perfil da maioria dos formosenses acima de 30 anos.

Durante as entrevistas constatamos que 7 dos 10 informantes possuíam uma história

comum: não moravam na área urbana da cidade quando crianças, mas em fazendas.

Mudaram-se para a cidade apenas em idade escolar, e aí permaneceram, mas sempre com

grande contato com a área rural. Percebemos, então, que para essas pessoas o referencial

urbano não é Brasília, mas Formosa. E essa parece ser a regra para muitos moradores de

Formosa acima dos 30 anos. Isso significa que, há 25 anos, grande parte da população ainda

morava na área rural. As moradias localizadas na área urbana pertenciam a: fazendeiros com

maior poder aquisitivo e que tinham condições de manter uma casa na cidade; aos gaúchos,

que começavam a chegar; e ainda aos migrantes mineiros e nordestinos atraídos pela fundação

de Brasília.

Justamente por terem como referencial urbano a cidade onde moram e não Brasília,

praticamente todos os entrevistados declararam-se satisfeitos com as condições de vida

oferecidas pela cidade e não têm interesse em se mudar para a capital. Têm a visão de que a

cidade é auto-suficiente, mesmo com a proximidade geográfica e com o grande deslocamento

diário de pessoas para Brasília. Para os entrevistados, a única diferença entre a fala de

Formosa e a de Brasília está na quantidade de gírias utilizada pelos brasilienses.

13 Durante todo o diálogo, houve apenas 8 elevações e 1 abaixamento, 7% e 1%, respectivamente. Para os diálogos, a média percentual total foi de 15% para a elevação e 23% para o abaixamento. Vale destacar que essa informante está entre o pequeno grupo de 3 pessoas que sempre morou na área urbana.

39

Talvez esse quadro passe por uma transformação a partir da geração seguinte, já

nascida em uma Formosa menos rural14, com uma ligação menor com as fazendas e maior

com a capital.

2.4.3 Monitoração estilística

Durante as entrevistas, os informantes passaram por dois níveis diferenciados de

monitoração. Num primeiro momento, responderam informalmente a perguntas relacionadas à

cidade e à própria vida. A maioria dos entrevistados falou espontaneamente, relatando

histórias e interagindo com a entrevistadora. Num segundo momento, os entrevistados leram

um pequeno texto sobre a cidade de Formosa, seguido de uma lista de palavras (cf. Anexo).

Nem todos os informantes efetuaram a leitura. O informante 4, por exemplo, leu apenas a lista

de palavras.

A monitoração no momento da leitura se deu de duas formas: pela forma estilística e

pela forma de atividade de letramento. Estilística porque os informantes conferiram à sua fala

uma atenção maior do que a do período do diálogo. E também de letramento, como explica

Bortoni-Ricardo (1998:102): “Nos diversos domínios sociais, inclusive na sala de aula, as

atividades próprias da oralidade são conduzidas em variedades informais da língua, enquanto

para as atividades de letramento os falantes reservam um linguajar mais cuidado”. Esperava-

se, portanto, haver um descompasso entre a variação encontrada na fala espontânea e na

leitura, no sentido de que na fala espontânea, menos monitorada, a variação seria mais

freqüente do que no momento da leitura. A tabela abaixo mostra que essa expectativa foi

alcançada em parte. Tabela 23: Efeito da monitoração estilística na variação das médias pretônicas /e/ e /o/

Média [e], [o] Alta [i], [u] Baixa [E], [] Diálogo Freqüência

Peso Relativo 1347/2160 = 62,3%

.209 318/2160 = 14,8%

.573 495/2160 = 22,9%

.219 Leitura Freqüência

Peso Relativo 471/635 = 74,2%

.431 12/635 = 1,9%

.157 152/635 = 23,9%

.412 Total Input

1818/2795 = 65% .843

330/2795 = 11,8% .006

647/2795 = 23,1% .151

Como indicam os resultados da tabela, durante o diálogo a produção das pretônicas

elevadas /i/ e /u/ ficou acima da média total: 14,8% para 11,8%. Já no momento da leitura,

caiu para 1,9%. Em alguns informantes - 4 e 9 da tabela 24 – a variante alta não ocorreu uma

única vez. Dentre os itens que sofreram elevação, estão istrelado, isquenta e piquizeiro. Os

14 Atualmente a população de Formosa está em torno dos 100.000 habitantes, mais que o dobro do número registrado no início dos anos 80; e a maioria da população está concentrada na área urbana.

40

dois primeiros enquadram-se na regra de praticamente todas as palavras iniciadas com es- da

língua portuguesa falada. O item piquizeiro é usado com freqüência pelos falantes. O fruto do

pequizeiro é muito apreciado pelos goianos e sempre pronunciado na forma alta: piqui.

Como era de se esperar, a variante média teve seu índice ampliado, passou de 62,3%

para 74,2%. O aumento da realização das pretônicas na forma média, entretanto, não se deve à

diminuição da realização das formas baixas, mas apenas à diminuição das formas altas. Ao

contrário das nossas expectativas, as ocorrências de abaixamentos cresceram durante a leitura.

É certo que os informantes foram “induzidos” a esse resultado, uma vez que as palavras do

texto e da lista foram selecionadas tendo em vista a variante baixa. Resultados, porém, de

informantes como o 1 e o 2 são surpreendentes. Durante o diálogo, apresentaram uma

percentagem pequena de variação, tanto para a elevação quanto para o abaixamento. Durante

a leitura, a elevação diminuiu ainda mais, ao passo que o abaixamento foi mais recorrente. A

única informante que apresentou o resultado esperado, i.e, redução das ocorrências de

abaixamento no momento da leitura, foi a informante 3: de 14% para 3%. A informante 3,

provavelmente por ser professora do Ensino Fundamental no DF, teve o comportamento

esperado daquele descrito por Bortoni-Ricardo, o de diferenciar atividades de oralidade e de

letramento.

É possível que o efeito gráfico seja um fator relevante para a discrepância entre as

pronúncias elevada e abaixada na leitura, já que a variação média-alta pode ser identificada

graficamente e, portanto, evitada pelo leitor, mas não a variação média-baixa. Esse efeito

pode ser constatado em todos os informantes, sem distinção de nível de escolarização.

Os itens que mais apresentaram abaixamento foram:

9 vezes: cólaborador;

7 vezes: élefante;

6 vezes: prócedimento; télefone; Sóbradinho;

5 vezes: tótalmente; prócuração.

Percebe-se que os fatores lingüísticos mais atuantes nesse resultado são:

distanciamento da tônica, a consoante seguinte /l/, e vogal seguinte baixa. O item

cólaborador, que reúne todos esses fatores, foi pronunciado na forma baixa por todos os

informantes que efetivaram a leitura. Tabela 24: Distribuição dos dados por informante e por tipo de discurso

Diálogo Leitura Total

Média 117 = 57% 0 117 = 57% Informante 0 Feminino Alta 42 = 20% 0 42 = 20%

41

Baixa 46 = 22% 0 46 = 22% Ens. Fundamental Total 205 0 205 Média 101 = 92% 69 = 90% 170 = 91% Alta 8 = 7% 3 = 4% 11 = 6%

Baixa 1 = 1% 5 = 6% 6 = 3%

Informante 1 Feminino

Ensino Médio Total 110 77 187 Média 159 = 88% 59 = 77% 218 = 85% Alta 12 = 7% 2 = 3% 14 = 5%

Baixa 9 = 5% 16 = 21% 25 = 10%

Informante 2 Masculino

Ensino Médio Total 180 77 257 Média 163 = 71% 74 = 96% 237 = 78% Alta 32 = 14% 1 = 1% 33 = 11%

Baixa 33 = 14% 2 = 3% 35 = 11%

Informante 3 Feminino

Ensino Superior Total 228 77 305 Média 86 = 56% 20 = 65% 106 = 57% Alta 41 = 27% 0 41 = 22%

Baixa 27 = 18% 11 = 35% 38 = 21%

Informante 4 Masculino

Ens. Fundamental Total 154 31 185 Média 70 = 61% 43 = 60% 113 = 61% Alta 14 = 12% 1 = 1% 15 = 8%

Baixa 30 = 26% 28 = 39% 58 = 31%

Informante 5 Masculino 4ª.série do

Ens. Fundamental Total 114 72 186 Média 150 = 70% 57 = 78% 207 = 72% Alta 18 = 8% 1 = 1% 19 = 7%

Baixa 45 = 21% 15 = 21% 60 = 21%

Informante 6 Masculino

Ensino Médio Total 213 73 286 Média 93 = 54% 41 = 53% 134 = 54% Alta 21 = 12% 3 = 4% 24 = 10%

Baixa 58 = 34% 33 = 43% 91 = 37%

Informante 7 Feminino

Ensino Superior Total 172 77 249 Média 163 = 55% 49 = 64% 212 = 57% Alta 56 = 19% 1 = 1% 57 = 15%

Baixa 79 = 27% 27 = 35% 106 = 28%

Informante 8 Feminino

Ensino Superior Total 298 77 375 Média 245 = 50% 59 = 80% 304 = 54% Alta 74 = 15% 0 74 = 13%

Baixa 167 = 34% 15 = 20% 182 = 32%

Informante 9 Masculino

Ensino Médio Total 486 74 560 Média 1347 = 62% 471 = 74% 1818 = 65% Alta 318 = 15% 12 = 2% 330 = 12%

Baixa 495 = 23% 152 = 24% 647 = 23%

Total

Total 2160 635 2795

42

CONCLUSÃO

A análise do corpus da fala de Formosa começa a lançar algumas luzes para o

entendimento da variação das vogais /e/ e /o/ em posição pretônica.

A escolha dos falantes pela forma elevada ocorreu em contextos semelhantes aos do

restante da fala brasileira. A elevação da pretônica /e/ em palavras iniciadas com en- e es- é

tão comum que está quase categorizada, inclusive em Formosa. A ocorrência da

harmonização vocálica, já atestada em outros estudos, também se confirmou na fala dos

formosenses, especialmente quando ligada a formas verbais em que a tônica é a vogal alta /i/,

como em pudia; mixia; paricido; mintir; durmindo. A elevação categórica de alguns itens

léxicos, como minino(a); piqueno(a); bunito(a); purque; pessual; pirigo são observados

também em outras variedades lingüísticas do Brasil e podem ser um caso de difusão lexical.

Para Oliveira (1992:37), palavras como essas são mais propensas à mudança sonora porque

caracterizadas pelo traço [+ comum] e não tanto por influência do contexto fonético.

A discussão acerca das mudanças que têm sido produzidas ou por influência da

difusão lexical ou por variação – que representam dois pontos de vista diferentes a respeito da

língua – necessita de um estudo mais aprofundado. Principalmente porque a hipótese da

difusão lexical está sendo utilizada, no Brasil, apenas para explicar os casos de elevação. É

possível que existam motivações distintas para as variações média→alta e média→baixa e, de

fato, somente uma teoria lingüística não dê conta de todo o fenômeno, justamente pelo fato de

um modelo teórico ser incapaz de estudar a língua em todas as suas dimensões.

Durante a análise do corpus de Formosa, foi perceptível, em alguns momentos, a

diferença entre a variação média→alta e média→baixa. Primeiramente na realização

categórica de alguns itens lexicais: não encontramos nenhum item realizado categoricamente

na forma abaixada, mas vários na forma elevada que, inclusive, foram retirados dos cálculos

estatísticos. Posteriormente, no momento da leitura do texto e das palavras, os informantes

demonstraram um comportamento para a elevação e outro para o abaixamento. A elevação

teve seus índices reduzidos; no abaixamento, ampliaram-se.

O uso da forma abaixada pelos falantes formosenses, portanto, tanto no diálogo quanto

na leitura, apresentou variação, isto é, ora as pretônicas foram produzidas na altura média, ora

na altura baixa. Dentre as variáveis lingüísticas selecionadas para esta análise, verificamos

que a vogal seguinte, por si só, não é um fator forte o suficiente para tornar as pretônica

43

baixas. Quando associada ao tipo e tempo de verbo, entretanto, tem efeitos mais contundentes.

As variáveis distanciamento da tônica, nasalidade da vogal seguinte e travamento de sílaba

em /x/ mostraram-se mais independentes, não tendo a necessidade de associarem-se a outros

fatores. Ao mesmo tempo, são potencializados quando co-ocorrem numa mesma palavra,

como em pérguntô; nórdestino e cólaborador. Quanto às consoantes precedentes e seguintes,

percebemos algumas tendências, como os pontos de articulação alveolar e labiodental, no

caso do segmento precedente; e bilabial, no caso da consoante seguinte. Consideramos,

porém, que o efeito das consoantes é mais complexo e não se restringe ao ponto de articulação

– como concluem as pesquisas consultadas –, pela própria natureza destas, formada por

diferentes traços: ponto de articulação; modo de articulação e sonoridade. Não descartamos a

relevância do ponto de articulação, mas dada a complexidade das consoantes e as diferenças

que constatamos haver entre as vogais /e/ e /o/ sempre que consultávamos o corpus,

acreditamos que um cruzamento mais detalhado de todos os fatores indicaria resultados mais

precisos e condizentes. O que podemos afirmar é que a ligação do forte efeito de consoantes

líquidas com a escala de sonância tende a ser mais que coincidência.

As variáveis extra-lingüísticas nos possibilitaram ver o quanto a realização abaixada

das pretônicas /e/ e /o/ está arraigada ao falar formosense, por vários motivos. O primeiro

deles é que fatores sociais como escolaridade e classe social não se mostraram relevantes para

a variação. Quanto aos fatores sexo e contato com Brasília, embora tenham demonstrado

resultados interessantes a serem discutidos, não indicaram um grande efeito sobre os índices

de abaixamento. A variável em que mediu o efeito da monitoração, comparando diálogo à

leitura, também não reprimiu a produção das pretônicas com traço [+ baixo]. Além disso, um

fator não exposto às rodadas estatísticas desempenhou um papel fundamental na compreensão

da fala de Formosa: o contentamento dos informantes com a cidade e com as condições de

vida por ela oferecidas. Acreditamos que a relação positiva do falante com sua cultura tem

reflexos no tratamento deste falante com sua variedade lingüística. Ressaltamos que essa é a

situação encontrada no grupo analisado – 10 falantes entre 30 e 45 anos –, que pode sofrer

alterações, principalmente em falantes de gerações mais novas que mantêm contato com

Brasília. Assim, a situação de variação que encontramos é a descrita por Weinreich; Labov;

Herzog (2006:126): A generalização da mudança lingüística através da estrutura lingüística não é uniforme nem instantânea; ela envolve a co-variação de mudanças associadas durante substanciais períodos de tempo, e está refletida na difusão de isoglossas por áreas do espaço geográfico.

44

REFERÊNCIAS

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45

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____________. Bases para a elaboração do atlas lingüístico de Brasil. Rio de Janeiro: MEC, 1958. OLIVEIRA, Marco Antônio de. Aspectos da difusão lexical. Revista de Estudos Lingüísticos. Belo Horizonte, ano 1, v.1, p. 31-41, jul-dez 1992. PAIVA, Maria da Conceição de. A variável gênero/sexo. In: MOLLICA, Maria Cecilia; BRAGA, Maria Luiza (orgs.). Introdução à sociolingüística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003. PINTZUK, Susan. Varbrul programs. 1988, inédito. Projeto Atlas lingüístico do Brasil. Disponível em: www.alib.ufba.br. Acesso em 21 abr. 2006. RIBEIRO, José et alii. Esboço de um atlas lingüístico de Minas Gerais. vol.1. Rio de Janeiro: Fundação Casa Rui Barbosa, 1977. ROSSI, Nelson. Atlas prévio dos falares baianos. Rio de Janeiro: INL, 1963. SANKOFF David; TAGLIAMONTE, S. A.; SMITH, E. Goldvarb X – A multivariate analisys application. Toronto: Department of Linguistics; Ottawa: Department of Mathematics, 2005. Disponível em: http: //individual.utoronto.ca/tagliamonte/Goldvarb/GV-index.htm#ref SCHERRE, M.; MACEDO, A. Restrições fonético-fonológicas e lexicais: o –s pós-vocálico no Rio de Janeiro. In: MOLLICA, Maria Cecília; MARTELOTTA, Mário Eduardo (orgs.). Análises lingüísticas: a contribuição de Alzira Macedo. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2000. SILVA, Myriam Barbosa da. As pretônicas no falar baiano: a variedade culta de Salvador. Tese de Doutorado em Língua Portuguesa. UFRJ - Faculdade de Letras. Rio de Janeiro, 1989. ________________. Um traço regional na fala culta de Salvador. Organon –Revista do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v.5, n.18, p.79-89, 1991. SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 8ª.ed. São Paulo: Contexto, 2005. TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. 7ª.ed. São Paulo: Ática, 2001.

46

WEINREICH, U; LABOV, W; HERZOG, M. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança lingüística. (Trad. Marcos Bagno). São Paulo: Parábola Editorial, 2006. ZÁGARI, Mário Roberto L. Os falares mineiros: esboço de um atlas lingüístico de Minas Gerais. In: AGUILERA, Vanderci de Andrade (Org.). A geolingüística no Brasil: caminhos e perspectivas. Londrina: Editora UEL, 1998.

47

ANEXOS

MAPA 1 – DIVISÃO LINGÜÍSTICA ELABORADA POR ANTENOR NASCENTES

Fonte: NASCENTES, Antenor. O linguajar carioca. 2a.ed. Rio de Janeiro: Simões,

1953.p.18.

48

MAPA 2 - BAHIA

Fonte: FERREIRA, Carlota. Atlas prévio dos falares baianos: alguns aspectos

metodológicos. In: AGUILERA, Vanderci de Andrade (Org.). A geolingüística no Brasil:

caminhos e perspectivas. Londrina: Editora UEL, 1998. p.24.

49

MAPA 3 – MINAS GERAIS

Fonte: ZÁGARI, Mário Roberto L. Os falares mineiros: esboço de um atlas lingüístico de Minas Gerais. In: AGUILERA, Vanderci de Andrade (Org.). A geolingüística no Brasil: caminhos e perspectivas. Londrina: Editora UEL, 1998. p. 46

50

MAPA 4 - GOIÁS

Fonte: www.portalseplin.seplan.go.gov.br

51

MAPA 5 – ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL

Fonte: www.portalseplin.seplan.go.gov.br

52

QUESTIONÁRIO

Módulo I: Dados do Informante

1. Nome: ____________________________________________________________

2. Idade:___________________ 3. Escolaridade: _____________________________

4.Ocupação: ___________________________________________________________

5.Local de nascimento: __________________________________________________

Módulo II: Rede Social do Informante

A) 1. Reside com:

Nome Relação de parentesco Idade

______________________ ____________________ _______

______________________ ____________________ _______

______________________ ____________________ _______

______________________ ____________________ _______

______________________ ____________________ _______

______________________ ____________________ _______

2. Nome do pai: _______________________________________________________

3. Local de nascimento: ___________________________ 4. Profissão: _______________

4. Nome da mãe: ___________________________________________________________

5. Local de nascimento: ___________________________ 6. Profissão: _______________

B) Estrutura da rede social:

1. Tem muitos conhecidos em Formosa?

2. Quantos são de outra região do Brasil (mineiros, gaúchos, nordestinos)?

3. De que região do Brasil são os seus colegas de trabalho?

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Módulo III: Atividades do Informante

1. Você tem o costume de ouvir rádio? Que rádio prefere?

2. Assiste TV? Com que freqüência?

3. Quais são seus programas preferidos?

4. Você costuma ler algum jornal ou revista? Quais?

5. Participação em associações:

a) times de esportes: ________________________________________________

b) grupos de assistência social: ________________________________________

c) partido político, sindicato: __________________________________________

d) grupos religiosos: _________________________________________________

e) associação de moradores:___________________________________________

f) outros: _________________________________________________________

6. Você freqüenta alguma academia?

7. Faz algum curso de línguas ou outro curso técnico/especializante (Microlins/SENAI)?

8. Você costuma ir à Brasília? Com que freqüência?

9. Que lugares freqüenta?

10. Quais são as suas atividades de lazer durante a semana?

11. E durante o final de semana?

12. Que lugares de Formosa você freqüenta regularmente para se divertir?

13. Na sua opinião, a cidade oferece boas opções de lazer?

14. Você costuma ir à feira no Domingo?

15. Você participa das festas tradicionais de Formosa: Divino, Pecuária, Moagem? O que

acha delas?

16. O que você acha que mais mudou em Formosa com a fundação de Brasília?

17. Como era a cidade quando você era criança?

18. Você acha que Formosa ficou violenta?

19. Você já foi assaltado (ou viu algum vizinho ser)?

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Módulo IV: Texto para leitura

Formosa, situada no nordeste goiano, nasceu em decorrência das picadas abertas pelos

tropeiros. A cidade é motivo de muitos elogios por suas belezas naturais: o salto do Itiquira, a

lagoa Feia, o Buraco das Araras. Apesar de muitas árvores do cerrado já terem sido

derrubadas, quem vem a Formosa tem a oportunidade de apreciar o pequizeiro, a mangabeira,

o buriti, a sucupira, o ipê. No período da seca, o turista pode admirar o céu estrelado na Festa

da Moagem enquanto se esquenta com um caldo ou com um chocolate quente. Já na época

das chuvas, pode haver um veranico em janeiro, mas o clima logo é refrescado e pode até

invernar. Quem vem de Fortaleza ou de São Paulo, percebe a diferença no clima, mas logo

fica totalmente encantado e procura retornar. Os proprietários dos antigos casarões sentem

orgulho de ser formosenses.

Módulo V: Lista de palavras

Sobradinho Orvalho

Procedimento Enrolado

Setenta Delegacia

Colaborador Oceano

Procuração Propósito

Terrível Prevenir

Anapolina Repetir

Secretaria Verdade

Detestável Biblioteca

Telefone Colocado

Equilíbrio Elefante

Consertado Preocupação

Módulo VI: Reação subjetiva do informante

1. Qual o sotaque brasileiro que você acha mais bonito?

2. E o mais feio?

3. O que você acha do seu sotaque?

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4. Acha que seu sotaque é sempre igual ou muda um pouco dependendo do ambiente em

que você se encontra (com a família, com amigos, com pessoas de outras regiões)?

5. Na sua opinião, o que é diferente no sotaque baiano?

6. Você reconhece uma pessoa de Goiânia pelo jeito de falar? Como?

7. E uma pessoa de Brasília?

8. Você acha que as pessoas que moram em Formosa e trabalham em Brasília querem

imitar os candangos no jeito de falar?

9. Para você, os brasilienses discriminam os goianos?