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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA – CAMPUS I
COLEGIADO DE FONOAUDIOLOGIA
ALINNE BANDEIRA OLIVEIRA
GAGUEIRA NA INFÂNCIA: NÍVEL DE RISCO X AUTO-IMAGEM DE FALANTE
Salvador – Bahia 2006
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ALINNE BANDEIRA OLIVEIRA
GAGUEIRA NA INFÂNCIA: NÍVEL DE RISCO X AUTO-IMAGEM DE FALANTE
Monografia apresentada como requisito para obtenção de título de Bacharel em Fonoaudiologia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
Orientadora: Prof. Fga. Raquel Azevedo Co-orientadora: Psi. Mariana Azevedo Cardoso
Salvador – Bahia
2006
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Dedico este trabalho aos meus familiares, ao meu namorado Igor e aos meus amigos que sempre me deram força, segurança e estímulo para seguir em frente.
Pessoas que amo e são importantes em minha vida.
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AGRADECIMENTOS
Àqueles que me trouxeram tranqüilidade e conhecimento durante a elaboração deste Projeto, em especial as Professoras Raquel Azevedo e Aline Alvarenga e a Psicóloga Mariana Azevedo Cardoso.
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OLIVEIRA, A.B., Gagueira na infância: nível de risco x auto-imagem de falante, 2006, 61 f. Trabalho de conclusão do curso de Fonoaudiologia. Departamento de Ciências da Vida – Campus I, Universidade do Estado da Bahia.
RESUMO
INTRODUÇÃO: A habilidade comunicativa é um atributo considerado muito importante socialmente. A gagueira caracterizada como uma quebra na fluência, é vista, pela sociedade e pelo próprio individuo, como um distúrbio da comunicação e, por isso, é tida como um fator de preconceito, exclusão e limitação do potencial (ANDRADE et al. 2004). Contudo, vários estudos em gagueira relatam que a imagem de falante do gago está marcada pela visão negativa e estigmatizada de si como falante. Sendo que a construção dessa auto-imagem tem início na infância. OBJETIVO: O objetivo do presente estudo foi verificar a existência ou não de relação entre o nível de risco para gagueira crônica e a auto-imagem de falante em crianças de ambos os sexos, de 7 a 12 anos em atendimento fonoaudiológico para disfluência. MÉTODOS: Foram avaliadas quatro crianças, de ambos os sexos, com idade entre 7 e 12 anos, em atendimento nas clínicas escolas de fonoaudiologia da cidade de Salvador-BA, com hipótese diagnóstica confirmada de disfluência. Como procedimentos foram realizados: avaliação da auto-imagem da criança através do desenho seguindo o teste do HTP-F (casa-árvore-pessoa) e família e avaliação do grau de risco da criança vir a apresentar uma gagueira crônica através do Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999) – questionário - aplicado aos pais. RESULTADOS: Segundo o Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999), as quatro crianças foram consideradas com alto risco para gagueira crônica. Enquanto, a auto-imagem de falante negativa esteve presente em três delas. CONCLUSÃO: Embora o tamanho amostral não permita generalizar as conclusões, este estudo vislumbrou que apesar de não ter sido observado uma correlação entre o nível de risco para gagueira crônica e a auto-imagem de falante podemos perceber um alto índice para auto-imagem negativa. Portanto, considerar a auto-imagem de falante e suas variáveis são de fundamental importância para o desenvolvimento e efetividade do trabalho fonoaudiológico, e/ou psicológico, nessa população.
PALAVRAS-CHAVE: Gagueira; Criança; Auto-imagem; Fonoaudiologia; Psicologia.
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OLIVEIRA, A.B., Stuttering in the chidhood: level of risk x self-image of fluent, 2006, 61 f. Final work of the course of Fonoaudiology. Sciences of life department – Campus I, University from the State of Bahia.
ABSTRACT INTRODUCTION: The ability of communication is considered as a very important social attribute. Stuttering characterized as a brake on fluency is seen by the society and the individual as a communication disturbance, therefore it is a factor of prejudice, exclusion and limitation of potential. However, several studies about stuttering report that the stutterer’s image of fluent is marked by the negative vision. The construction of this self-image has its beginning on the childhood. PURPOSE: The purpose of this paper was to verify if there is or not a connection between the level of risk for chronic stuttering and the self-image of fluent in children from both sexes, with age between 7 and 12, in treatment with fonoaudiologist. METHODS: The evaluation included for children with age between 7 and 12, in treatment in school-clinics of fonoaudiology in the city of Salvador-BA that have a possible diagnosis of problems in fluency. The following proceedings were used: evaluation of the child and the family’s self-image through the test HTP-F (house-three-person); and evaluation of the degree of risk for the child to ever present chronic stuttering through Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999) – questionnaire – applied for parents. RESULTS: According to Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999), the four children evaluated were considered as having high risk of chronic stuttering. The negative self-image of fluent was found in 3 three of them. CONCLUSION: Although the results does not allow to generalize the conclusions, this paper perceived that even if the connection between the high risk or chronic stuttering and the self-image of fluent is not visible, we may behold a high indicator for negative self-image, an important element to be considered in the therapy. Therefore, verifying the connection between the self-image of fluent and its aspects has an essential importance for the development and the effectiveness of the fonoaudiology, e/or psychologist, with this population. KEY-WORDS: Stuttering; Child; Self-image; Fonoaudiology; Psychology.
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LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
Gráfico 1 Componente histórico familiar.......................................................... 34
Tabela 1 Fatores comuns nos sujeitos pesquisados....................................... 33
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1A O desenho da pessoa e da família do sujeito 1........................ 36
Figura 1B O desenho da casa do sujeito 1............................................... 37
Figura 2A O desenho da árvore do sujeito 2............................................. 38
Figura 2B O desenho da casa do sujeito 2............................................... 39
Figura 3A O desenho da pessoa do sujeito 3........................................... 40
Figura 3B O desenho da casa do sujeito 3............................................... 41
Figura 4A O desenho da árvore do sujeito 4............................................. 42
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................. 14
3 JUSTIFICATIVA...................................................................................... 23
4 OBJETIVOS............................................................................................ 25
4.1 Objetivo Geral....................................................................... 25
4.2 Objetivos Específicos............................................................ 25
5 METODOLOGIA..................................................................................... 27
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................. 32
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 47
8 REFERÊNCIAS...................................................................................... 50
9 ORÇAMENTO........................................................................................ 56
10 CRONOGRAMA..................................................................................... 58
11 ANEXOS................................................................................................. 60
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1 – INTRODUÇÃO
Entre os distúrbios relacionados à fala, a gagueira é provavelmente um dos que mais
geram dificuldades no convívio social. Uma simples pergunta do dia-a-dia pode levar
um gago ao nervosismo.
Isso acontece por que existe uma série de crenças, mitos e ilusões compondo a
ideologia do falar bem. Muitas pessoas concebem a fluência da fala como algo
absoluto (sem disfluência) e a produção de fala como devendo acontecer sem erros
(de gramática, de pronúncia). Assim, as disfluências, repetições e hesitações são
considerados elementos indesejáveis, erros (ANDRADE; MAZZAFERA; JUSTE,
2004).
Apoiando-se nessa ideologia, falantes gagos podem passar a sentir-se ou verem-se
como inferiores, “desidentificados” em relação aos outros. Essa visão de si, por sua
vez, pode gerar uma imagem negativa de falante, desenvolvendo sofrimento relativo
ao ato da fala (FRIEDMAN, 1994).
Vários estudos em gagueira relatam que a imagem de falante do gago está marcada
pela visão negativa e estigmatizada de si como falante, que veio a se construir por
meio de relações de comunicação em que a repetição e hesitação na fala são vistas
com receio, negativismo, com a não aceitação (VANRYCKEGHEM et. al, 2001,
2004). Relações essas que têm início na infância (FRIEDMAN, 2000).
Estudos americanos mostram que grande parte das disfluências que se iniciam na
infância é superada com sucesso. Cerca de 78% das crianças que disfluem têm
remissão espontânea e em, apenas, 22% desse grupo a disfluência se mantém ou
se agrava. Esse é o grupo de risco para cronicidade (ANDRADE, 1999).
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Tomando por base esses estudos, a presente pesquisa busca verificar se há uma
relação entre o nível de risco para desenvolver a gagueira crônica (baixo, médio ou
alto) – pois nem toda disfluência na infância, efetivamente, se torna gagueira na
idade adulta – e a imagem que a criança tem de si mesma enquanto ser falante em
positiva ou negativa.
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2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A fundamentação teórica explanada na presente pesquisa não será apresentada em
ordem cronológica, mas em tópicos que visam favorecer o entendimento do tema.
Na primeira parte, foram levantados os conceitos e causas da gagueira. Em seguida,
as abordagens fonoaudiológicas na terapia da gagueira, especificamente a questão
da auto-imagem.
2.1 CONCEITOS E CAUSAS DA GAGUEIRA
A gagueira é um assunto muito controverso entre seus pesquisadores. No entanto,
quanto à descrição (tomada por algumas linhas como definição) parece haver um
consenso em apresentá-la como uma quebra na fluência através de repetições,
hesitações, prolongamentos e bloqueios em sons, sílabas e/ou palavras, que pode
também estar acompanhada de movimentos corporais associados e/ou de emissões
verbais estereotipadas (VAN RIPER; EMERICK, 1997; WINGATE, 1964, p.484 apud
MEIRA, 2003, p.78-79).
Para Friedman (1998), a gagueira é vista como conseqüência de um funcionamento
subjetivo marcado por uma imagem de si como mau falante. Dentro desta
perspectiva Friedman compreende que é possível, no mínimo, falar em dois estados
da gagueira que se diferenciam pela subjetividade que o falante desenvolve sobre si.
Esses estados determinam padrões de fala diferenciados. No estado da gagueira
natural, o falante se mostra à vontade, descontraído, independentemente de
produzir quebras ou não. No estado da gagueira-sofrimento, o falante se mostra
tenso, rodeia as palavras, freqüentemente não diz o que pretendia, da forma como
pretendia. O estado subjetivo de projetar gagueira no não falado, mina o processo
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natural/automático de produção da fala. Esses dois estados têm diferentes e
significativas conseqüências sobre o desenvolvimento global dos sujeitos,
destacando-se aí, evidentemente, as suas possibilidades como falantes.
Com referência a causa da gagueira, sabe-se da presença de fatores
predisponentes – hereditários, biológicos, psicológicos, lingüísticos e ambientais
(ANDRADE, 1999) – que podem estar envolvidos em maior ou menor grau a
depender do caso, sendo, por isso, classificada como multifatorial (MEIRA, 2003).
Desde os anos 90 alguns estudos apontam que o fator hereditário é baseado no
modelo de transmissão multifatorial poligênico. Acredita-se na existência de genes
com um possível loci ou locus major responsável pela predisposição genética à
gagueira. Mas, para desencadeá-la, o potencial genético, apenas, não seria
suficiente, precisando da ação do meio ambiente (ANDRADE, 1997, 1999). No
entanto, ainda é preciso esclarecer como os fatores ambientais interagem com os
genes (OLIVEIRA, 2002). A gagueira, do ponto de vista biológico, é julgada como
congênita, decorrente de alterações neurológicas, traumáticas, metabólicas,
alérgicas, endócrinas, organo-anatômicas, entre outras (ANDRADE, 1999; VAN
RIPER; EMERICK, 1997). Porém, para Friedman (1986), Ieto e Kelly (2003),
geralmente, o fator orgânico está relacionado à gagueira como desencadeante,
determinante ou agravante do sintoma.
A teoria psicológica refere que a ruptura na fluência parece resultado de um conflito
afetivo interno entre o desejo e o medo de falar (FRIEDMAN, 1986; SOUZA, 2001;
VAN RIPER; EMERICK, 1997). Deve-se ficar atento aos fatores psicológicos, pois a
pessoa gaga, na tentativa de controlar a fala espontânea, antevê os momentos da
gagueira, tentando, por esse método, eliminá-los, e obtendo em vez disso uma fala
significativamente tensa que por conseqüência desencadeia ansiedade, medo e
vergonha (FRIEDMAN, 1998, 1999).
Em relação ao aspecto lingüístico, afirma-se que a gagueira é adquirida no
desenvolvimento da linguagem, através dos níveis de linguagem, leitura, articulação
e a velocidade da fala (ANDRADE, 1999; FRIEDMAN, 1986; VAN RIPER;
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EMERICK, 1997). A tendência da gagueira de desenvolvimento, segundo Andrade
(1999), é desaparecer com o tempo.
As causas ambientais consistem nos comportamentos e atitudes dos pais, familiares
e amigos que supervalorizam a disfluência (IETO; KELLY, 2003). Conforme Meira
(1990), a gagueira não pode ser causada por aspectos sociais, pois quando o gago
adquire equilíbrio fisiopsíquico impede uma interferência negativa do outro sobre sua
gagueira.
Ainda segundo Meira (2003), apesar de todas as possibilidades de gênese terem um
pouco de verdade, não se pode esquecer que cada sujeito é único e, por isso não se
pode generalizar uma causa. Sendo assim, é preciso que cada sujeito seja visto pelo
profissional sob todos os aspectos, detalhadamente, para que, assim, este possa
identificar qual ou quais os fatores que mais predominam na gagueira do indivíduo e,
a partir daí, desenvolva o tratamento adequado.
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2.2 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS
Existem abordagens fonoaudiológicas para gagueira, com diferentes possibilidades
de resultados terapêuticos que variam de acordo com cada indivíduo (OLIVEIRA;
RICHIERI-COSTA; GIACHETI, 2002). Em recente pesquisa, Silveira e Luna (2005),
constataram que entender a linha teórica que predomina no atendimento da
gagueira é importante para definir o objetivo final da terapia.
Este estudo toma por base duas abordagens, uma adotada por Friedman (1994) e a
outra por Andrade (1999). Na primeira o disfluir é entendido como parte do fluir e a
proposta fonoterápica, pautada nesta dialética, visa desconstruir a imagem
estigmatizada de falante que o gago possui (FRIEDMAN, 1994). A segunda se
preocupa com a definição de métodos, e até mesmo programas terapêuticos, de
eficácia comprovada e análise controlada da fluência (ANDRADE, 1999).
Andrade (2003b), em sua abordagem terapêutica considera que no atendimento a
criança gaga nada substitui o conhecimento com base científica e a sensibilidade do
terapeuta, sendo, muitas vezes, difícil determinar a melhor abordagem, tendo o
profissional que estar atento e preparado para as mudanças. Contudo, Andrade
(2003b), acredita que o trabalho por meio de programas terapêuticos permite um
controle mais eficiente da evolução e da eficácia dos tratamentos.
Em relação às crianças, como apontado por Andrade (1999, 2003b), durante os
anos de aquisição e desenvolvimento da linguagem é comum à existência de
períodos variáveis no grau da fluência. Essa variação decorre das incertezas morfo-
sintático-semânticas e do amadurecimento neuromotor para os atos de fala.
Andrade (1999), considera que para o planejamento de uma intervenção precoce
ampla e eficiente, apenas as triagens, anamneses e avaliações fonoaudiológicas,
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são insuficientes para a detecção precoce do risco de gagueira crônica. Assim, a
avaliação da gagueira infantil proposta por Andrade (2003b), têm como primeiro
procedimento à identificação do risco para a gagueira crônica, feito através do
Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999) (Anexo 3). Para Andrade (1999), este
Protocolo deverá ser incorporado aos instrumentos comuns de avaliação
fonoaudiológica ou adaptado a triagens populacionais. O que dará, ao terapeuta,
maior segurança na intervenção da gagueira.
Já Friedman (2006), tem por base uma concepção científica que compreende a
gagueira como uma manifestação construída sob a pressão da ideologia do bem
falar. Essa ideologia supõe a fluência como absoluta e estigmatiza as disfluências
especialmente na infância. Entende-se que esse processo de estigmatização
favorece a constituição de uma imagem de mau falante.
Sendo assim, Friedman (2006), utiliza uma abordagem terapêutica que permite
compreender que a gagueira acontece dentro de uma situação paradoxal de fala -
nem dá para ficar nela nem se sabe como sair dela. Desmontar a situação paradoxal
é a perspectiva da atuação terapêutica, na qual terapeuta e paciente envolvem-se
numa relação intersubjetiva que visa ressignificar o sentido dado à fala e a gagueira
para construir uma imagem de bom falante. A reestruturação do campo de
significação ligado à produção da fala centra-se no desenvolvimento de condições
que promovam a aceitação da gagueira como um momento da fala e da emoção, e
isto se refere tanto à gagueira natural como à gagueira sofrimento. Ao aceitar a
gagueira rompe-se o círculo vicioso que a sustenta, porque se anula a necessidade
de tentar falar bem, permitindo a dissolução das tensões e o desaparecimento dos
truques.
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2.3 AUTO-IMAGEM E SUA RELAÇÃO COM A GAGUEIRA
De acordo com Escribano e Sánchez (1999), a auto-imagem é a atitude valorativa
que o indivíduo tem sobre si mesmo. Sendo considerada importante para um
comportamento social, afetivo e intelectual adequado.
A auto-imagem não é inata (ESCRIBANO; SÀNCHEZ, 1999). Ao contrário, ela vai
sendo construída ao longo do desenvolvimento, graças à influência das pessoas
significativas do ambiente familiar, escolar e social, e como conseqüência das
próprias experiências de sucesso e de fracasso (MACHARGO, 1991, p.33 apud
ESCRIBANO; SÀNCHEZ, 1999, p.17). FRIEDMAN (2003), afirma que assim
também acontece na formação da imagem de falante.
Considerando o estudo sobre a formação da identidade (MUSSEN et. al, 1995),
entendida como um processo de desenvolvimento que se dá necessariamente a
partir do conteúdo das relações interpessoais. No caso dos gagos, a situação de não
aceitação pelos outros de um certo padrão de fala natural reforça a não aceitação do
outro, levando a própria não aceitação da fala, vê-se estabelecido um padrão de
relações de comunicação possível de determinar a formação de uma identidade de
si como mau falante, que passará a compor com os demais elementos constitutivos
da identidade do sujeito (FRIEDMAN, 1991).
Segundo Marques et. al (1997), na relação social a pessoa reconhece a outra por
ser diferente, porém, se essa diferença for muito acentuada e ressaltada
negativamente pelo outro pode influenciar os traços de sua personalidade, tais
como: sentimento de inferioridade, insegurança, timidez e vergonha. Portanto, a
atitude e opinião dos outros pode ser fundamental para o desenvolvimento de uma
auto-imagem positiva ou negativa. Friedman (1998), reconhece que o outro é o
desencadeador do processo de sofrimento na fala e que esse outro, de acordo com
o caso, pode estar localizado concretamente nas pessoas: pais, professores,
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amigos, ou internalizado no próprio sujeito, que o introjeta ao compartilhar práticas
discursivas estigmatizadoras do padrão gaguejado que permeiam o imaginário
social.
A sociedade e os pais exigem um ideal de bom falante caracterizado, entre outras
coisas, por um discurso fluente, claro e objetivo (ANDRADE; MAZZAFERA; JUSTE,
2004). Por isso, crêem que o gago ao falar necessita de correção e que,
conseqüentemente, essa não é a forma adequada e, assim, reagem negativamente
a ele (FRIEDMAN, 2000). Neste contexto, Van Riper e Emerick (1997) afirmam que
a pessoa que tem fracassos na fala vai utilizar comportamentos de evitação e
esforço por se considerar um comunicador ruim; criando uma auto-imagem infiltrada
de pensamentos negativos.
Em acordo com os autores citados acima, Lessa (2003), afirma que essa construção
de estereótipos ideais em relação à fala vai implicar em uma piora na auto-estima do
gago ao confrontar-se com a realidade da fala disfluente distante desse ideal.
Conforme Friedman (2003), essas relações interpessoais estigmatizadas,
potencialmente geradoras de sofrimento, fazem o gago sentir-se desigual.
Recentes estudos americanos mostraram uma considerável relação entre a imagem
negativa para a fala aumentada em crianças que gaguejam em função da idade
delas e da severidade da gagueira (VANRYCKEGHEM; BRUTTEN, 1997;
VANRYCKEGHEM et. al, 2001, 2004).
Em contrapartida, em seus estudos, Andrade et al. (2004, 2003a), observaram que,
para outros autores americanos, as crianças gagas são tão suscetíveis quanto às
fluentes a apresentarem alterações psicológicas, não existindo uma relação de
significância causal entre as variáveis de auto-imagem e a gagueira, uma vez que a
gagueira não é decorrente de flutuações da personalidade ou do comportamento
familiar. Como apontado por este grupo, a gagueira é uma desordem decorrente de
um complexo déficit neurofuncional para o processamento da fala, decorrente de
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possível susceptibilidade genética que, ao longo de sua evolução, sofre a influência
e influencia as características do temperamento e do ambiente familiar (ANDRADE
et al, 2004).
Embora as pesquisas citadas acima indiquem que as características de
personalidade não estão diretamente relacionadas com a gagueira, a sociedade em
geral tende a perceber os gagos como tendo traços negativos de personalidade
(ANDRADE et al, 2004).
Entretanto, Friedman (1999), em pesquisas realizadas com pessoas que se
consideravam gagas, captou uma subjetividade marcada pela visão negativa,
estigmatizada de si como falante, que veio a se constituir por meio de relações de
comunicação em que a repetição e a hesitação na fala são vistas com receio,
negativismo, com não aceitação. Captou também uma subjetividade em que a
pessoa, para não gaguejar, antevê os momentos de gagueira, tentando, por esse
método, eliminá-los, e obtendo em vez disso uma fala significativamente tensa.
Podendo compreender, assim, uma importante relação entre a subjetividade e a
objetividade na produção de fala com gagueira, compreensão - diga-se de
passagem - suficientemente ampla para explicar a sua intermitência.
E foi exatamente essa visão contextualizada de produção de "gagueira sofrimento"
que levou Friedman (1999), a entender a importância que as crenças e os valores
sociais, que a interpretação dos outros, têm para a capacidade individual de
produção da fala. Em suas pesquisas sobre gagueira relata uma estreita ligação
entre interpretação do outro, auto-interpretação e a capacidade de produzir fala de
modo geral, em diferentes contextos (FRIEDMAN, 1999).
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3 – JUSTIFICATIVA
De um lado, têm-se os estudos de Andrade (1999), sobre gagueira infantil em que
se determina o risco para o desenvolvimento da gagueira crônica através de
descrições quanto à tipologia da disfluência apresentada, o tempo, a forma de
surgimento, fatores biológicos, lingüísticos e ambientais. Por outro, consideramos
também os estudos de Friedman (1994), a respeito da construção de uma imagem
negativa que os gagos têm de si enquanto falantes – construção, se consolidada,
gera sofrimento – ou seja, uma análise subjetiva da formação da identidade destes.
Diante destes posicionamentos científicos, surgiu a curiosidade para averiguar se há
uma relação entre a auto-imagem e o nível de risco para gagueira crônica em
crianças baianas na faixa etária de 7 a 12 anos de idade.
A faixa de idade de 7 a 12 anos foi escolhida por considerar que essa fase é rica em
descobertas e experiências que vão se acumulando e hierarquizando toda uma
variedade de imagens sobre si (ESCRIBANO; SÀNCHEZ, 1999). A criança se
encontra, também, no período do amadurecimento das habilidades lingüísticas e já
é capaz de expressar o seu mundo interno.
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4 – OBJETIVOS
4.1 – Objetivo Geral
Verificar a relação entre o nível de risco para gagueira crônica e a auto-imagem de
falante em crianças de ambos os sexos, de 7 a 12 anos, em atendimento
fonoaudiológico nas clínicas-escola da cidade de Salvador-BA.
4.2 – Objetivos Específicos
Classificar as crianças disfluentes quanto ao nível de risco para gagueira
crônica;
Analisar a auto-imagem das crianças enquanto falantes.
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5 – METODOLOGIA
A metodologia adotada nesta pesquisa foi qualiquantitativa descritiva, pois requeriu
medições objetivas no estudo do Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999). E
qualitativa descritiva na análise da auto-imagem do sujeito.
Esta pesquisa teve como participantes quatro crianças do sexo masculino, de 7 a 12
anos, em atendimento fonoaudiológico nas clínicas-escola da cidade de Salvador –
BA, com gagueira confirmada como hipótese diagnóstica.
Não fizeram parte desse estudo crianças portadoras de síndromes genéticas e de
outras patologias associadas à desordem da fluência.
O local da pesquisa foi uma sala da Clínica de Fonoaudiologia Professor Jurandy
Gomes do Aragão – Universidade do Estado da Bahia – UNEB, campus I, localizada
na Estrada das Barreiras, S/N, Cabula, Salvador – Bahia.
Neste estudo fizemos uso do termo de consentimento; do modelo adaptado de
avaliação do HTP-F (casa-árvore-pessoa) e família (RETONDO, 2000), para analisar
a auto-imagem das crianças. Bem como, do Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999)
para classificar a gagueira infantil. Foi utilizado gravador e fita K-7 na aplicação do
teste do HTPF para garantir uma análise mais segura da auto-imagem de falante.
A técnica projetiva do desenho da Casa, Árvore, Pessoa e Família, chamado teste
HTPF, do inglês “House, Tree, Person and Family” é considerado atualmente, como
um instrumento clássico, pois além do longo tempo de seu emprego na psicologia,
em vários campos, já foi padronizado e, conseqüentemente, validado para diferentes
populações em todo o mundo. Este teste revela uma visão subjetiva que o sujeito
tem de si mesmo, de seu ambiente e das coisas que são importantes para ele
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(GONÇALVES, 1996). Este teste pode ser aplicado por qualquer profissional, no
entanto, sua análise deve ser feita pelo profissional de psicologia. No presente
estudo a pesquisadora aplicou o teste e a psicóloga, co-orientadora do mesmo, fez a
analise dos dados.
A coleta dos dados teve início após a devida aprovação do Comitê de Ética.
Primeiramente identificamos as clínicas-escola com atendimentos fonoaudiológicos
da cidade de Salvador – BA. Localizamos em funcionamento a clínica-escola da
UNEB (Universidade do Estado da Bahia) e a da UFBA (Universidade Federal da
Bahia). Em seguida solicitamos a fonoaudióloga responsável pelos atendimentos de
gagueira, das referidas clínicas-escola, que identificasse, através de prontuários,
sujeitos que se enquadrassem nos critérios de inclusão desta pesquisa. Depois de
identificados entramos em contato com os pais ou responsáveis destes. Seguimos
com os esclarecimentos sobre o objetivo e a metodologia utilizados na pesquisa,
com uma solicitação da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido,
conforme a resolução CNS 196/96, autorizando então a participação do filho na
pesquisa. A não autorização dos pais quanto à participação da criança na pesquisa
não trouxe comprometimento para o atendimento clínico da mesma.
Demos continuidade à pesquisa com a aplicação dos testes. Um deles foi o teste do
HTP-F (casa-árvore-pessoa) e família, adaptado por Retondo (2000), ao incluir o
desenho da família no teste do HTP (House-Tree-Person) criado por John N. Buck
(1948). Esse teste consistiu na avaliação da imagem que a criança faz de si mesma
através do desenho. Assim, a pesquisadora pediu para cada criança desenhar uma
casa, uma árvore, uma pessoa e uma família da maneira que gostasse. Ao término
de cada desenho foi aplicado o questionário do HTP-F (casa-árvore-pessoa) e
família (ANEXO 2), com perguntas sobre o que foi desenhado, direcionadas para
situações comunicativas. Essa aplicação aconteceu em forma de conversa e foi
gravado em fita K-7. Cada criança utilizou uma sessão variando o tempo de 45 a 60
minutos para desenhar e conversar sobre o mesmo.
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O conjunto formado pelo desenho e a gravação das respostas ao questionário foi
analisado em outro momento sem a presença da criança, e subsidiou a avaliação
subjetiva da imagem do sujeito em positiva ou negativa. Na análise dos desenhos a
psicóloga, para definição da auto-imagem de falante em positiva ou negativa, utilizou
o julgamento do desenvolvimento da organização dos desenhos, priorizando o
predomínio das características confiança, insegurança, vergonha, retração,
desinibição, ansiedade e agressividade mostradas nos desenhos e na fala
(gravação).
Tendo em vista a importância do detalhamento da análise do HTPF, para facilitar a
avaliação dos resultados deste estudo, serão descritos os significados de alguns
detalhes específicos dos desenhos. Alguns indicadores como: tamanho,
características do tronco e presença ou ausência de roupas são variáveis
importantes, obtidas na técnica para o estudo da personalidade infantil. Tomando o
indicador tamanho do desenho em relação à folha temos: o tamanho médio indica
adequação, ou seja, nem muito grande o que estaria ligado à agressividade e
descargas motoras, nem muito pequeno, o que estaria relacionado à inibição e
sentimentos de rejeição do meio; com relação ao tronco tem-se: linhas tremidas,
torto, com nó, evidencia desenvolvimento físico e psíquico com traumatismos, ao
passo que, um tronco reto e bem proporcionado, mostra evolução normal de
personalidade; o indicador roupa, tem aspecto social (GONÇALVES, 1996).
Com os pais ou responsáveis foi aplicado o Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999)
(ANEXO 3), coletados tanto logo após a sessão com a criança como em outro
encontro quando os pais não tinham disponibilidade. Os pais responderam às
perguntas, que constam no Protocolo, referentes a disfluência do filho. O Protocolo
de Risco foi preenchido pela pesquisadora, no mesmo momento, de acordo com as
respostas dos pais. Após o preenchimento do Protocolo, os pais foram liberados. A
análise do nível de risco para desenvolver a gagueira crônica foi por pontuação, de
acordo com as respostas dos pais. E a coluna mais pontuada representava o nível
de risco em que a criança se encontra, segundo o Protocolo de Risco (baixo ou
fluente, médio ou de risco e alto ou disfluente) (ANDRADE, 1999).
30
Durante a aplicação do Protocolo a pesquisadora manteve-se imparcial em relação
às respostas dos pais. Quanto a algumas caracterizações do Protocolo foi pedido
aos mesmos que exemplificassem ou imitassem.
Os dados obtidos foram analisados segundo análise qualitativa descritiva. Após a
análise de todos os dados foi dado uma devolutiva para os pais e para a respectiva
terapeuta do sujeito que continuou em atendimento, já que uma criança deixou de
freqüentar terapia fonoaudiológica por motivos pessoais da mãe.
32
6 - RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Pela limitação do número de sujeitos, os dados apresentados não são passíveis de
análise estatística. As discussões dos resultados são em caráter qualitativo
descritivo, a partir da comparação dos dados obtidos com os protocolos.
Na clínica-escola da UFBA, no período da pesquisa, não tinha nenhuma criança de
7 a 12 anos em atendimento para disfluência. Na clínica-escola da UNEB,
encontramos quatro crianças que preenchiam os critérios de inclusão e de exclusão
desta pesquisa. Os pais e responsáveis autorizaram a participação das mesmas no
estudo. Destas, três tinham 8 anos e uma 11, sendo todos do sexo masculino.
Esse baixo número de pacientes disfluentes em atendimento fonoaudiológico nas
clínicas-escola de Salvador coincide com os achados de Silvana e Luna (2005),
realizado em clínicas-escola de Recife. O que as levou ao questionamento:
“estariam as Universidades e Faculdades formando profissionais preparados para o
atendimento à gagueira?”. Assim, elas consideraram pertinente a necessidade de
que as vagas nas clínicas-escola sejam distribuídas de uma forma igualitária por
tipos de patologias, para que os estagiários tenham oportunidade de vivenciarem as
mais variadas práticas no período da graduação (SILVEIRA; LUNA, 2005).
Considerando a predominância do sexo masculino na pesquisa, não houve intenção
por parte das pesquisadoras, mas esse dado pode ter como possível justificativa à
prevalência da gagueira no sexo masculino, conforme a literatura internacional
(ANDRADE, 2003a).
A análise do Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999) indicou que todos os sujeitos
pesquisados estavam dentro do nível de alto risco para desenvolver a gagueira
crônica. Fato que, de acordo com Andrade (1999), implica determinação das
chances probabilistas de susceptibilidade, de evoluir para uma gagueira crônica,
delimitada em função da exposição a agentes (agressores ou protetores)
33
específicos. Além da análise do risco, fizemos algumas considerações em relação
aos fatores abordados no Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999), tais como, a
observação de características presentes em todos os participantes, estando em
maior quantidade na coluna de alto risco (TABELA 1).
Considerando que o Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999) corresponde a respostas
dos pais ou responsáveis esses dados são importantes por mostrarem um perfil
desta população. Constituindo o perfil tem-se: idade de 7-12 anos; sexo masculino;
tipo de disfluência classificada como a menos comum com predomínio de bloqueios;
tempo de surgimento da disfluência como superior a um ano; presença de fatores
qualitativos associados, tais como, alterações na velocidade da fala, tensão facial
associada, rupturas por alterações na coordenação pneumofonoarticulatória; atitude
familiar negativa com correções, cortes e finalizações da fala; reação social marcada
por pessoas preocupadas, outras dizendo ser assim mesmo, outras oferecendo
dicas; e por fim, a orientação profissional anterior com indicação apropriada. Vale
ressaltar que este último fator é fundamental para a intervenção adequada, no
entanto a procura pelo tratamento fonoaudiológico foi tardia, se pensarmos que a
primeira indicação profissional ocorreu no inicio da fala das crianças (TABELA 1).
34
TABELA 1: Fatores comuns nos sujeitos pesquisados
1. Idade 2 - 4 4 - 7 7-12
2. Sexo M
3. Tipo de disfluência + comum mista - comum
4. Tempo de surgimento da disfluência - 6 meses 6 -12 meses + 12 meses
5. Tipo de surgimento súbito cíclico persistente
6. Fatores comunicativos associados - +/- +
7. Fatores qualitativos associados - +/- +
8. Pontuação de componente (s)
estressante (s) associados
< 25
25 - 50
> 50
9. Histórico mórbido pré, peri e pós-natal - +/- +
10. Histórico familiar - +/- +
11. Reação familiar + +/- -
12. Atitude familiar + +/- -
13. Reação da criança + +/- -
14. Reação social + +/- -
15. Orientação profissional anterior + +/- -
RESULTADO
FLUENTE
RISCO
DISFLUENTE
35
Outro componente do Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999) que mereceu
consideração foi o histórico familiar que esteve presente em antecedentes familiares
próximos (pais) em 75% dos sujeitos, sendo importante para a classificação do nível
de risco por possuir peso maior (GRÁFICO 1). Esse peso é justificado por alguns
estudos internacionais considerando o sujeito do sexo masculino, com pai afetado, a
categoria de maior risco (cerca de 30%) (ANDRADE, 1999). No entanto, as
possibilidades de uma transmissão dentro de um paradigma causal sócio-psicológico
nunca deixaram de ser pesquisadas, por isso as categorias de influencia familiar e
social devem ser analisadas.
GRÁFICO 1: Componente histórico familiar
Os resultados referentes à análise do teste do HTP-F foram apresentados
individualmente visando melhor compreensão destes.
A análise dos desenhos, juntamente com a fala do sujeito 1 permitiu inferir sua auto-
imagem como negativa por predominarem características de retraimento e
insegurança por conta da gagueira (FIGURA 1A; 1B). Segundo o relato da
responsável, o sujeito manifesta comportamento de irritabilidade e agressividade
Historico Familiar
0
20
40
60
80
antecedentes genéticos
porc
enta
gem
PRÓXIMODISTANTE
36
com as pessoas quando provocado ou mencionada a gagueira. Tais indicadores são
coerentes com a auto-imagem de falante negativa.
Na análise do sujeito 2, foi observado retraimento, insegurança, e isolamento social
como características predominantes (FIGURA 2A; 2B). De acordo com o relato da
mãe, o filho apresenta momentos de vergonha excessiva para falar, além de pouca
resistência à frustração e estresse. Tais características comprovam uma auto-
imagem negativa, especialmente no que se refere à fala.
No desenho e na fala do sujeito 3, predominaram características de agressividade,
insegurança, medo (FIGURA 3A), ansiedade e necessidade de contato (FIGURA
3B). Definindo a auto-imagem como negativa. Estes achados coincidem com o relato
dos pais que consideram o sujeito nervoso e inseguro. Tanto a insegurança como o
medo são características que mantém relação com a imagem que têm de si
(negativa) enquanto falante.
A análise dos desenhos e da fala do sujeito 4 indicou uma auto-imagem de falante
positiva por predominarem características como desinibição, espontaneidade para
com os outros e visão otimista (FIGURA 4A). Sendo coerente com o relato dos pais
que afirmam que o sujeito é dinâmico e não se importa com a gagueira.
44
Algumas observações relacionadas ao tema e consideradas significativas serão
pontuadas neste estudo. Dentre estas, o discurso de todos os pais sobre a reação
das crianças frente à gagueira e o quanto pioram nos momentos em que ficam
irritadas ou nervosas, nos levou a pensar em um ciclo em que a gagueira causa
retraimento, insegurança, ansiedade (auto-imagem negativa) e quando
estigmatizados pelos outros reagem com nervosismo e irritabilidade (reação
negativa) levando ao aumento da gagueira.
Estes achados estão de acordo com os estudos de Friedman (2006), quanto à
existência de um circuito que aprisiona a pessoa a um modo tenso de falar que
parece não ter solução. Afirma que quando a imagem negativa está presente na
subjetividade do falante, ele perde a espontaneidade que é inerente à fala (a fala é
uma atividade automática), porque passa a querer controlá-la para escapar do
estigma. Com isso, o que o falante consegue é tornar sua fala tensa, marcada por
bloqueios, repetições e desvios de palavras que lhe parecem perigosas. Tal
condição confirma sua imagem de mau falante, que reafirma a necessidade de
controle da fala.
Foi também considerado significativo para esse estudo, o relato dos pais e
responsáveis quanto à melhora dos filhos em relação à diminuição do medo e receio
de falar, além da melhora na fluência; a conscientização e estratégia aprendidas
pelos pais para lidar com a gagueira dos mesmos, após a terapia fonoaudiológica.
A maioria dos sujeitos apresentou a auto-imagem negativa, principalmente
relacionada aos aspectos da fala. Este dado coincide com pesquisas americanas
feitas com crianças disfluentes que geralmente exibem, uma quantia notável de não
aceitação e emoção negativa que são específicos à fala deles e ao ato da oração
(VANRYCKEGHEM et al., 2001).
45
Durante a aplicação do Protocolo de Risco (ANDRADE, 1999), foram descritas pelos
pais, situações desagradáveis vividas pelos sujeitos, tais como não aceitação da
gagueira pelos familiares, amigos e professores que muitas vezes riam, outras vezes
se irritavam, completavam a fala por impaciência, entre outros (diminuídas após
fonoterapia). Situações estas, que contribuem para construção de uma auto-imagem
de falante infiltrada de pensamentos negativos. Este achado é pertinente quando
consideramos os estudos de Marques et al (1997), que dizem ser à opinião dos
outros fundamental para o desenvolvimento de uma auto-imagem positiva ou
negativa. Sendo esse outro, de acordo com o caso, localizado concretamente nas
pessoas: pais, professores, amigos ou internalizado no próprio sujeito, que o
introjeta ao compartilhar práticas discursivas estigmatizadoras do padrão gaguejado
que permeiam o imaginário social (FRIEDMAN, 1998).
No entanto, o sujeito 3 e o sujeito 4 são gêmeos e, apesar do mesmo ambiente
familiar apresentaram auto-imagem de falante diferenciadas. Esse dado mostra que
a atitude familiar pode influenciar, mas não é fator determinante de uma auto-
imagem negativa. Sendo possível justificar com os estudos de Friedman (1998), ao
considerar que a caracterização de mau falante (auto-imagem negativa) vai
depender da relação que a pessoa estabelece com a gagueira que pode ser de
aceitação ou não, além de características pessoais como maior tolerância à reação
do interlocutor.
47
7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Esta pesquisa é resultado do desafio de se tentar aliar abordagens diferentes para o
estudo e intervenção fonoaudiológica da gagueira. Desafio que trouxe percalços e
obstáculos metodológicos, assim como limitações de análise. Contudo, foi uma
experiência enriquecedora.
As quatro crianças participantes deste estudo apresentaram alto-risco para gagueira
crônica. Delas, apenas uma apresentou auto-imagem positiva de si enquanto
falante. Portanto, não foi possível estabelecer uma correlação entre o nível de risco
para gagueira e a auto-imagem de falante, uma vez que não obtivemos variação do
nível de risco para gagueira entre as crianças analisadas.
No entanto, este estudo obteve considerações relevantes para a prática fonoterápica
em crianças com gagueira. Através do relato dos pais e responsáveis, tivemos a
confirmação da importância da terapia fonoaudiológica na mudança de
comportamento da criança em relação à fala, além da conscientização familiar a
respeito da gagueira dos mesmos. Ficando evidente a necessidade de considerar e
trabalhar em terapia a auto-imagem de falante antes ou juntamente ao padrão de
fluência apresentado.
Outra consideração vislumbrada foi à presença de atitude familiar tida como
altamente inadequada em relação à gagueira, vindo a melhorar após a fonoterapia.
Esse fator mostrou-se muito influente, contudo não sendo determinante na auto-
imagem de falante. Sendo esta, talvez, determinada não somente pela experiência
vivida com a gagueira, mas de acordo com a atenção dispensada e pela relação
desenvolvida com a gagueira, ou seja, depende da relação que a pessoa estabelece
com a gagueira que pode ser de aceitação ou não, independente do nível em que a
gagueira está.
48
Em uma reflexão crítica, o protocolo de auto-imagem poderia ter sido melhor
aproveitado se a aplicação fosse realizada, ao mesmo tempo, pela fonoaudióloga e
pela psicóloga, pois permitiria uma riqueza maior de informações a respeito da
criança. Ou ainda, o desenvolvimento de um teste ou método de avaliação
fonoaudiológico específico para a auto-imagem de falante.
Acredito na importância da pesquisa sobre este tema para atuação fonoaudiológica
com crianças gagas. Contudo este estudo pode ser refeito em crianças com níveis
de risco para gagueira crônica diferentes e, a partir daí, analisar a auto-imagem de
falante. Já que, no limitado número de participantes, essa variável não foi alcançada.
Este tema também pode ser ampliado tendo acréscimo de objetivos, tais como, a
eficiência da fonoterapia, que não foi objetivo desta, comparando crianças
disfluentes com e sem atendimento fonoaudiológico.
50
8– REFERÊNCIAS
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2004.
56
9 – ORÇAMENTO
MATERIAL QUANTIDADE VALOR UNITÁRIO VALOR TOTAL
Cópia repográfica do
termo de
consentimento
08
R$ 0,10
R$ 0,80
Cópia repográfica do
questionário do HTP-F
04
R$ 0,10
R$ 0,40
Cópia repográfica do
Protocolo de Risco
(ANDRADE, 1999)
04
R$ 0,10
R$ 0,40
Pacote de folhas de
ofício A 4
01
R$ 8,00
R$ 8,00
Pacote com lápis n° 2
01
R$ 3,00
R$ 3,00
Borrachas
04
R$ 0,50
R$ 2,00
Gravador Panasonic
RQ – L 11
01
R$ 145,00
R$ 145,00
Fitas K-7 BULK SDT
60 min
05
R$ 2,00
R$ 10,00
58
10 – CRONOGRAMA PERÍODO DE 2005 – 2006
Atividades/meses S O N D J F M A M J J A
Revisão de
literatura
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Entrega/Análise
Banca da
qualificação
X
Entrega/Análise
Comitê de ética
X
X
X
X
X
X
X
Coleta de dados
X
X
Análise dos
dados
X
Elaboração do
relatório final
X
Entrega/Análise
para Banca de
defesa do TCC e
divulgação dos
resultados
X
Devolutiva aos
Sujeitos da
Pesquisa
X
60
ANEXO 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu, Alinne Bandeira Oliveira, estudante da Universidade do Estado da Bahia – UNEB estou
realizando uma pesquisa para conclusão do curso de Fonoaudiologia.
O título da pesquisa é “Gagueira Infantil: nível de risco x auto-imagem de falante” e o
objetivo é comparar o nível da gagueira da criança e a imagem que ela tem como falante.
Para essa pesquisa será preciso que a criança desenhe figuras como: uma casa, uma
árvore, uma pessoa e uma família. Depois faremos perguntas a ela sobre os desenhos
feitos. Em outro momento os pais irão responder um questionário sobre a gagueira da
criança. Utilizarei fita K7 para gravar as respostas como garantia dos dados.
A pesquisa não oferece nenhum risco à criança nem ao seu responsável. E os participantes
terão liberdade para deixarem de participar do estudo a qualquer momento, e no caso de
continuarem participando, é assegurado o sigilo, a privacidade e a confidencialidade dos
dados conforme a resolução CNS 196/96.
Após estes esclarecimentos peço aos pais ou responsáveis a permissão para que o seu
filho participe dessa pesquisa.
E ao final do trabalho será dado uma devolutiva para os pais e a respectiva terapeuta para
auxiliar no atendimento terapêutico da criança.
Declaro que após ter sido esclarecido a respeito da seguinte pesquisa, e, ter entendido o que me foi explicado, consinto a participação do meu filho nesta pesquisa.
Salvador, _ _ de _________________ de 200__. ________________________________ ______________________________ Responsável pelo sujeito da pesquisa Pesquisadora ________________________________ _______________________________ Orientadora Co-Orientadora ________________________________ Testemunha
61
ANEXO 2
QUESTIONÁRIO DO HTP
NOME: IDADE: DATA DE NASC: GRAU DE ESCOLARIDADE: DATA: 1 – CASA De quem é essa casa? Quantas pessoas moram nela? Quantos andares têm? Você gostaria de morar nela? Falta alguma coisa nessa casa? Se você fosse o dono (a) da casa qual o cômodo você escolheria? Por quê? A casa parece estar perto ou longe de você? Se você estivesse olhando essa casa, como você a estaria vendo? Em que essa casa faz você pensar ou lembrar? Essa casa é: ( ) feliz ( ) triste ( ) amiga ( ) agressiva ( ) confiável ( ) barulhenta ? Por quê? Você acha que a maioria das casas é assim? Alguém ou alguma coisa já machucou essa casa? Por quê? De que essa casa necessita mais? 2 – ÁRVORE Que tipo de árvore é essa que você desenhou? Onde ela poderia estar situada? Quem a plantou? Por quê? Que idade ela tem? Ela está viva ou morta?E por quê? Há vento soprando nessa figura? A árvore parece mais uma mulher ou um homem? Por quê? Ela está sozinha ou em um grupo de árvore? Se você estivesse olhando essa árvore, como você a estaria vendo? Como está o clima nessa figura? Essa árvore está sadia? Em que essa árvore faz você lembrar ou pensar? Do que ela mais necessita? Alguém ou alguma coisa já machucou essa árvore? Por quê? 3 – PESSOA Isso é? ( ) um homem ( ) um menino ( ) uma mulher ( ) uma menina Quantos anos têm? Quem é ele (a)? O que ele (a) está fazendo? Ele (a) se dá melhor com o pai ou com a mãe? Em que ano está na escola? O que ele (a) quer ser? Qual a parte mais bonita do seu corpo? E a mais feia? Como ele (a) se sente? Por quê? O que mais o (a) preocupa? Tem muitos amigos? Mais velhos ou mais novos? O que ele (a) mais quer da vida? A melhor qualidade dele é? A pior é? Do que ele (a) tem medo? De que essa pessoa mais precisa? Você gostaria de ser como essa pessoa? O que as pessoas falam dele (a)? E os familiares? Alguém já feriu essa pessoa? Por quê? Como? Você acha que a maioria das pessoas é assim? Qual é o clima nessa figura? Que tipo de roupa está vestindo? 4 - FAMÍLIA Quem são essas pessoas? Quem está faltando? Por que não está aí? Quem é a pessoa que você mais gosta nessa família? E a que você menos gosta? Por quê? Quem é a pessoa mais feliz? E a mais triste? Por quê?
62
ANEXO 3
PROTOCOLO DE RISCO
NOME: _____________________________________________________________
DATA: _________________
1. Idade 2-4 4-7 7-12
2. Sexo
3. Tipo de disfluência + comum mista - comum
4. Tempo de surgimento da disfluência - 6 meses 6 -12 meses + 12 meses
5. Tipo de surgimento súbito cíclico persistente
6. Fatores comunicativos associados - +/- +
7. Fatores qualitativos associados - +/- +
8. Pontuação de componente(s)
estressante(s) associados
< 25
25 - 50
> 50
9. Histórico mórbido pré, peri e pós-natal - +/- +
10. Histórico familiar - +/- +
11. Reação familiar + +/- -
12. Atitude familiar + +/- -
13. Reação da criança + +/- -
14. Reação social + +/- -
15. Orientação profissional anterior + +/- -
RESULTADO
FLUENTE RISCO
DISFLUENTE
63
ALINNE BANDEIRA OLIVEIRA TEL: 9929-0846
RAQUEL APARECIDA AZEVEDO TEL. COLEGIADO DE FONOAUDIOLOGIA: (71)3117-2295
MARIANA AZEVEDO CARDOSO TEL. (71) 3310-1280