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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FFCLRP - DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA
Contribuição à taxonomia e ecologia dos Drosophilidae (Diptera)
micófagos neotropicais
Luís Eduardo Maestrelli Bizzo
Dissertação apresentada à Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da
USP, como parte das exigências para a obtenção do
título de Mestre em Ciências, Área: Entomologia
RIBEIRÃO PRETO -SP
2008
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FFCLRP - DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA
Contribuição à taxonomia e ecologia dos Drosophilidae (Diptera)
micófagos neotropicais
Luís Eduardo Maestrelli Bizzo
Orientador: Prof. Dr. Fábio de Melo Sene
Dissertação apresentada à Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da
USP, como parte das exigências para a obtenção do
título de Mestre em Ciências, Área: Entomologia
RIBEIRÃO PRETO –SP
2008
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AGRADECIMENTOS
Ao prof. Dr. Fábio de Melo Sene, pela orientação, incentivo e amizade durante
todo o desenvolvimento deste trabalho;
À Prof. Dr. Maura Helena Manfrin, pelo apoio e disponibilidade;
À prof. Dr. Francisca do Val, pelo incentivo inicial, auxílio na taxonomia de
Drosophilidae, leitura deste trabalho e amizade;
Ao prof. Dr. Carlos Lamas, do Museu de Zoologia de São Paulo, pela
oportunidade e pelo empréstimo de material zoológico;
Ao amigo Marco Silva Gottschalk, pelo empréstimo de material, leitura deste
trabalho e especialmente pelas discussões intermináveis sobre taxonomia e
ecologia de drosofilídeos;
À prof. Dr. Rosana Tidon, pela oportunidade de estágio em seu laboratorio;
Aos colegas do laboratorio de Genética Evolutiva, por terem me acolhido com
grande simpatia, em especial aos amigos Camila, Carlos, Érica, Fernando,
Matheus e Paulo;
À minha querida noiva, Jana, pelo carinho, amor e companheirismo
incondicionais nesta nossa caminhada;
Aos meus amigos de Floripa, São Paulo e Ribeirão, em especial à Milene e ao
Luiz Carlos, grandes amigos de passeios, viagens e finais de semana e
essenciais no nosso estabelecimento nesta nova cidade;
À minha familia, em especial meus pais, Nelio e Sylvia, e irmãos, Lia e Enzo,
pelo carinho e apoio;
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À Renata Andrade Cavallari, secretária do curso de Pós-Graduação em
Entomologia, pela dedicação ao curso e aos seus alunos;
À coordenação do curso de Pós-Graduação em Entomologia, pelo auxílio em
coletas e materiais necessários;
Ao CNPq, pela bolsa de mestrado do Programa Taxonomia;
À USP, CNPq, FAPESP e CAPES, cujas verbas mantêm o Laboratorio de
Genética Evolutiva.
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RESUMO
A família Drosophilidae (Insecta, Diptera) possui distribuição mundial e
ecologia bastante diversa. O hábito de se alimentar de fungos durante os
estágios larvais e/ou adulto é encontrado em alguns gêneros desta família. Na
região Neotropical, o grupo de gêneros Zygothrica inclui os principais
representantes desta categoria, Hirtodrosophila, Mycodrosophila, e Zygothrica.
Neste trabalho, Mycodrosophila projectans (Sturtevant 1916) e M. elegans
Wheeler e Takada 1963 foram redescritas; duas espécies novas de Zygothrica
foram descritas; a diagnose de Mycodrosophila foi revista e ampliada com as
espécies americanas tendo sido classificadas quanto ao subgênero. Novos
dados sobre a ecologia e distribuição de Hirtodrosophila gilva Burla 1956 e H.
thoracis (Williston 1896) foram adicionados, além de registros de utilização de
fungos como recurso alimentar por drosofilídeos da radiação tripunctata de
Drosophila e por Zaprionus indianus Gupta 1970.
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ABSTRACT
The family Drosophilidae (Insecta, Diptera) has worldwide distribution
and diverse ecology. The habit of feeding on fungi at larval and/or adult stages
is found in some genus within this family. At the Neotropical region, the
Zygothrica genus group includes the main representatives of this caterogy,
Hirtodrosophila, Mycodrosophila, and Zygothrica. In this work Mycodrosophila
projectans (Sturtevant 1916) and M. elegans Wheeler & Takada 1963 were
redescribed; two new species of Zygothrica were described; the diagnosis of
Mycodrosophila is revised and enlarged with the classification of the American
species into subgenus. New data on the ecology and distribution of
Hirtodrosophila gilva Burla 1956 and H. thoracis (Williston 1896) were added,
together with registers of fungi hosts by species of the Drosophila tripunctata
radiation and by Zaprionus indianus Gupta 1970.
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SUMÁRIO
1- Introdução 11.1- Drosofilídeos micófagos neotropicais 51.2- Ecologia dos drosofilídeos micófagos 8
2- Objetivos 102.1- Objetivo geral 102.2- Objetivos específicos
3- Material e Métodos 103.1- Coleta de adultos 103.2- Coleta e criação de imaturos 113.3- Montagem e descrição dos espécimens 113.4- Lista das abreviaturas e índices utilizados nas descrições 12
4- Resultados e Discussão 154.1- Redescrição de Mycodrosophila projectans e M. elegans 154.2- Descrições de duas novas espécies de Zygothrica 284.3- Distinção entre Mycodrosophila e Zygothrica 364.4- Revisão das diagnoses de Mycodrosophila e proposta de nova diagnose 374.5- Enquadramento das espécies americanas de Mycodrosophila em subgéneros e implicações biogeográficas 434.6- Ampliação da distribuição geográfica e da ecologia de outros drosofilídeos 45
5- Conclusões 47 6- Referências 49
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1- INTRODUÇÃO
A família Drosophilidae pertence à superfamília Ephydroidea, infraordem
Acalyptratae. Estas moscas medem geralmente entre 1 e 6mm de
comprimento, possuem olhos vermelhos e coloração variando entre amarelo,
marrom e preto; são encontradas em praticamente todos os ambientes
terrestres, com exceção dos pólos e de grandes altitudes (Wheeler, 1987). Esta
família possui cerca de 4000 espécies descritas, distribuídas em 73 gêneros
(Bächli, 2007), sendo Drosophila o mais estudado e mais rico em espécies.
Mesmo assim, estima-se que cerca de metade das espécies brasileiras deste
gênero ainda não tenham sido descritas (Medeiros e Klaczko, 2004) e as
distribuições geográficas de várias espécies comuns ainda não estão bem
estabelecidas (De Toni et al. 2005; Gottschalk et al., 2006; Roque et al., 2006;
Döge et al., 2007, entre outros). Os outros gêneros carecem ainda mais de
trabalhos básicos quanto à taxonomia e distribuição.
O hábito alimentar dos drosofilídeos é bastante diverso: algumas
espécies se alimentam e ovipositam em frutos (Freire-Maia e Pavan, 1949),
cladódios de cactos (Carson, 1971; Pereira et al., 1983), exudatos de caule
(Carson, 1971), fungos (Carson, 1971; Val et al. 1981; Grimaldi, 1987) ou flores
(Pipkin, 1966; Brncic,1983). Nestes recursos, os drosofilídeos se alimentam dos
microorganismos (levedos e bactérias) que ocorrem durante a fermentação
(Carson, 1971). A fermentação, por sua vez, só ocorre nos locais com maior
concentração de carboidratos, como a polpa de frutos e os corpos de
frutificação dos fungos.
Como a maioria das coletas realizadas pelos drosofilistas utiliza banana
fermentada como atrativo, as espécies micófagas estão entre as menos
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conhecidas, pois são raramente capturadas com este tipo de isca. Duas
maneiras são utilizadas para coletar quantidades significativas destes
drosofilídeos: uma é procurar por corpos de frutificação, aspirar as moscas
adultas que estiverem ao redor e recolher o substrato, levando-os ao
laboratório para a criação das larvas até a emergência dos adultos; e outra é
utilizar fungos comerciais como isca.
Na família Drosophilidae, o hábito micófago ocorre em vários gêneros
(Val et al., 1981) e existem indícios de que tenha surgido independentemente
em várias linhagens (Throckmorton, 1975). Estudos conduzidos em países de
clima temperado indicam que esta é uma das famílias de Diptera mais
abundantes neste substrato (Lacy, 1984; Guevara e Dirzo, 1999; Yamasita e
Hijii, 2003), podendo representar mais de 50% dos insetos encontrados em
cada amostra (Toda et al., 1999).
Courtney et al. (1990) classificam os drosofilídeos micófagos em três
tipos: os obrigatórios, que se alimentam exclusivamente de fungos; os
facultativos, que podem utilizar outros substratos; e os generalistas, que
utilizam muitos tipos de substrato, incluindo os fungos. A polifagia (utilização de
diversas espécies de fungos) é muito comum em todas as classes (Lacy, 1984;
Hanski, 1989).
Inicialmente, foram propostas duas hipóteses para explicar este padrão:
uma qualitativa, pois a composição dos fungos é bastante uniforme, altamente
energética e de fácil digestão pelos insetos (Hanski, 1989); e outra,
quantitativa, porque a presença de corpos de frutificação é muito imprevisível, o
que torna improvável a especialização (Jaenike, 1978; Kimura et al., 1978).
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Courtney et al. (1990) ainda sugerem que isso possa ser reflexo da interação
entre os microorganismos com o próprio fungo.
Outro fator importante é a diversidade de fungos utilizados por estas
moscas, que é muito grande. Um dos trabalhos mais abrangentes é o de
Courtney et al. (1990), que encontraram drosofilídeos em várias ordens da
classe Agaricomycetes, filo Basidiomycota. A maioria das moscas é encontrada
em corpos de frutificação carnosos, dos tipos cogumelo (com chapéu e estípite)
ou gelatinoso; e outras em corpos de frutificação rígidos, como os fungos
ressupinados (em forma de prateleira). Alguns exemplos são mostrados na
figura 1.
Existe, no entanto, certo grau de especificidade entre as moscas e os
fungos, que pode ser observado em algumas espécies micófagas obrigatórias.
Estudos indicam que espécies que possuem poucos hospedeiros são
especializadas em fungos previsíveis, de longa duração. Estas moscas são
sempre raras e costumam compartilhar o mesmo substrato com outras moscas,
generalistas ou micófagas facultativas (Lacy, 1984). Este padrão contrasta com
os modelos de competição entre insetos que utilizam os mesmos recursos, em
que a espécie especialista é dominante no recurso. Por este motivo, os
drosofilídeos micófagos são freqüentemente utilizados como organismos
modelo em experimentos de coexistência entre espécies (Atkinson e
Shorrocks, 1981, 1984; Shorrocks, 1991; Toda et al., 1999; Wertheim et al.,
2000).
Os drosofilídeos utilizam os fungos também para outros fins que não a
alimentação. Espécies de Zygothrica, por exemplo, utilizam fungos
ressupinados brancos como área para corte sexual e cópula (Grimaldi, 1987).
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Figura 1 – Corpos de frutificação carnosos e rígidos de fungos Agaricomycetes. A - Volvariella sp. (Pluteaceae, Agaricales); B - Stecchericium seriatum (Lloyd) Maas Geest. (Bondarzewiaceae, Russulales); C - Auricularia fuscosuccinea (Mont.) Henn. (Auriculariaceae, Auriculariales). Fonte: GUERRERO, R. T. e HOMRICH, M. H. 1999.
Courtney et al. (1990) fizeram uma ampla revisão sobre a ecologia dos
drosofilídeos micófagos e ressaltam um aspecto comum: a maior parte do
conhecimento sobre estas moscas reside na biologia de poucas espécies, em
sua maioria dos grupos de espécies tripunctata e quinaria de Drosophila, sendo
o primeiro representado por uma única espécie, Drosophila tripunctata Loew
1862. Do mesmo modo, todo o esforço amostral foi concentrado em países
como Estados Unidos, Inglaterra e Japão, onde a fauna é menos diversa que
nos trópicos.
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Nos Estados Unidos, onde foi realizada boa parte dos estudos,
predominam as espécies generalistas ou micófagas facultativas. Na Austrália,
por outro lado, onde a fauna micófaga é similar à Neotropical (composta por
vários gêneros de drosofilídeos micófagos obrigatórios), Van Klinken e Walter
(2001) realizaram uma ampla investigação sobre os substratos utilizados por
estas moscas e cerca de 50% das espécies de drosofilídeos não apresentaram
sobreposição de nicho, emergindo cada uma de apenas um único corpo de
frutificação. Assim, o conhecimento da fauna Neotropical é essencial para a
compreensão dos processos ecológicos aqui presentes e sua comparação com
os padrões e processos ocorrentes em outras regiões.
1.1- Drosofilídeos micófagos neotropicais
Na região Neotropical os drosofilídeos micófagos são representados
principalmente pelos gêneros Hirtodrosophila, Mycodrosophila e Zygothrica
que, junto com Paramycodrosophila e Paraliodrosophila, formam o grupo de
gêneros Zygothrica (Grimaldi, 1990a; Remsen e O’Grady, 2002), cuja filogenia
é mostrada na figura 2. É possível que façam parte deste clado outros dois
pequenos gêneros australianos, Poliocephala e Bialba (Bock, 1989).
A primeira grande contribuição à taxonomia dos drosofilídeos micófagos
neotropicais é de Burla (1956) que, coletando no Rio de Janeiro, descreveu
espécies de Hirtodrosophila e Zygothrica. Décadas depois, Grimaldi (1987 e
1990b) analisou as coleções de vários museus e fez coletas no Peru,
concluindo uma ampla revisão de Zygothrica, o que aumentou ainda mais o
número de espécies descritas. Com isto, Zygothrica é hoje o segundo gênero
mais diverso na região Neotropical, perdendo apenas para Drosophila. Mesmo
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assim, Grimaldi (1987) estima que apenas metade das espécies de Zygothrica
existentes foram descritas. Paramycodrosophila e Paraliodrosophila, por outro
lado, são gêneros praticamente desconhecidos.
Figura 2 - Filogenia do grupo de gêneros Zygothrica proposta por Grimaldi (1990a).
O trabalho de Burla (1956) também foi muito importante na taxonomia de
Hirtodrosophila. Este gênero foi tratado em vários trabalhos, como Sturtevant
(1920), Frota-Pessoa (1945 e 1951), Cordeiro (1952), Malogolowkin (1952),
Wheeler (1954), Brncic (1957) e Mourão et al. (1965 e 1967), que em geral
descreveram ou revisaram o status de uma ou duas espécies, porém o primeiro
trabalho mais aprofundado sobre o gênero foi de Burla (1956). Recentemente,
Vilela e Bächli (1990, 2002, 2004 e 2005) revisaram e ilustraram sete espécies
neotropicais e descreveram mais três, totalizando 29 conhecidas até o
momento. Estes autores continuam trabalhando na taxonomia deste gênero.
Mycodrosophila conta com poucas publicações tratando da fauna
americana. As revisões de Sturtevant (1918) e Wheeler e Takada (1963)
detalharam a morfologia da terminália masculina e asas das duas espécies
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conhecidas até então e descreveram mais sete, totalizando nove espécies.
Destas, três estão presentes exclusivamente na região Neártica e, sete, na
região Neotropical, sendo que apenas M. dimidiata (Loew) ocorre nas duas.
Sturtevant (1942), Wheeler e Takada (1963), Bock (1980) e McEvey e
Polak (2005) listaram todas as publicações sobre Mycodrosophila, que hoje
compreende 127 espécies descritas em todo o mundo. A maioria destas está
presente nas regiões Oriental e Australásia (McEvey e Polak, 2005); a fauna
americana descrita, portanto, corresponde a apenas 7% do total conhecido.
Wheeler e Takada (1963) registraram três espécies de Mycodrosophila
no Brasil: M. projectans (Sturtevant 1916), em localidade não especificada
pelos autores; M. elegans Wheeler e Takada 1963, com um espécime
capturado em Castanhal (PA); e M. brunnescens Wheeler e Takada 1963,
conhecida apenas por duas fêmeas coletadas em Belém (PA).
Desde então, nenhum estudo taxonômico abordou as Mycodrosophila
americanas. A única contribuição é a de Lacy (1983) que, através de análises
eletroforéticas, sugere a existência de uma décima espécie, críptica à neártica
M. claytonae Wheeler e Takada 1963.
Em outros continentes, no entanto, a taxonomia destas moscas foi mais
bem estudada. Mesmo assim, o gênero ainda carece de estudos filogenéticos.
Wheeler e Takada (1964), em revisão das Mycodrosophila da Micronésia,
sugeriram a distinção entre dois táxons neste gênero, o que só foi formalizado
duas décadas depois por Okada (1986a, b), que definiu os subgêneros
Mycodrosophila e Promycodrosophila por meio de uma análise fenética. Como
as espécies americanas foram descritas antes desta formalização, nenhuma
delas foi relacionada a um dos subgêneros. Assim, o reconhecimento da fauna
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presente nas Américas se torna imprescindível para a elaboração de futuras
hipóteses biogeográficas.
1.2 - Ecologia dos drosofilídeos micófagos
Ainda não existe algum trabalho amplo e sistemático sobre os substratos
de oviposição utilizados pelos drosofilídeos do grupo de gêneros Zygothrica. O
conhecimento atual baseia-se em observações escassas e fragmentadas, que
indicam que Mycodrosophila, Hirtodrosophila e Paramycodrosophila são
micófagos obrigatórios, enquanto Zygothrica utiliza principalmente flores
(Pipkin, 1966, Grimaldi, 1987, Weiss, 1996).
Uma dificuldade constante é a identificação dos fungos que geralmente
ocorre apenas no nível de ordem ou família e impede maiores inferências
ecológicas. Grimaldi (1987) ressalta que a maioria dos registros de substratos
se resume a etiquetas em espécimes montados onde se pode ler algo como
“reared from fungus” ou “Ex. fungus”.
As melhores informações sobre os substratos utilizados como sítios de
alimentação e oviposição dos drosofilídeos micófagos Neotropicais são de
Grimaldi (1987), referentes apenas ao gênero Zygothrica, que identificou
algumas espécies de fungos, mais comuns e de fácil identificação. São elas:
Polyporus tricholoma Mont. (Polyporaceae: Polyporales), Favolus brasiliensis
(agora Favolus tenuiculus P. Beauv.) (Polyporaceae), Pleurotus sp.
(Polyporaceae) e Auricularia delicata (Fr.) Henn (Auriculariaceae:
Auriculariales).
Na Austrália, a fauna micófaga também é diversa e composta por vários
gêneros de drosofilídeos. Van Klinken e Walter (2001) realizaram uma ampla
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investigação sobre os substratos utilizados por estas moscas e cerca de 50%
das espécies de drosofilídeos não apresentaram sobreposição de nicho,
emergindo cada uma de apenas um único corpo de frutificação. Isto indica que
na região Neotropical provavelmente são conhecidos apenas os substratos
mais comuns, os quais atraem moscas generalistas. Estudos futuros sobre os
recursos alimentares utilizados por estas moscas, realizados em colaboração
com micólogos, certamente contribuirão para o entendimento de seus nichos
ecológicos e de suas interações com outras espécies.
No Brasil, o número de trabalhos ecológicos com comunidades de
drosofilídeos tem aumentado nos últimos anos. Um dos principais focos destes
trabalhos tem sido o monitoramento da composição e estrutura das
comunidades ao longo dos anos e em diferentes ambientes. As diferenças
encontradas sugerem que alguns fatores ambientais podem ser relevantes na
estrutura da comunidade (Tidon, 2006). Neste contexto, o estudo dos
substratos utilizados por estas moscas toma importância crescente.
O estudo dos drosofilídeos micófagos podem trazer informações valiosas
para esta área, pois os fungos, em especial os com frutificações carnosas, são
recursos fortemente sazonais e efêmeros e sua presença depende muito do
substrato e das condições atmosféricas, em especial das chuvas e da
temperatura (Yamashita e Hijii, 2004).
Atualmente, a taxonomia dos drosofilídeos micófagos americanos
encontra-se em desenvolvimento e existem poucas informações ecológicas,
sistemáticas e de distribuição geográfica destas moscas. O presente estudo
tem como objetivo suprir parcialmente algumas destas lacunas.
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2- OBJETIVOS
2.1- Objetivo geral:
• Contribuir para o conhecimento taxonômico e sistemático da família
Drosophilidae, coletando e descrevendo drosofilídeos que utilizam
fungos como substrato de alimentação e/ou oviposição.
2.2- Objetivos específicos:
• Determinar os drosofilídeos até o nível específico, descrever as espécies
novas encontradas e, se necessário, fazer redescrições das já
conhecidas;
• Aumentar o conhecimento da distribuição geográfica destes
drosofilídeos;
• Aumentar o conhecimento dos táxons de fungos utilizados pelos
drosofilídeos;
3- MATERIAL E MÉTODOS
3.1- Coleta dos adultos:
As coletas foram realizadas sempre pelo começo da manhã ou ao final
da tarde, horários em que a atividade dos drosofilídeos é notadamente maior
(Pavan et al., 1950). Os adultos que estavam sobre os fungos foram
capturados por meio de aspirador bucal ou rede entomológica e preservados
vivos, em um recipiente com meio de cultura, ou mortos, em álcool etílico 70%.
Os espécimes levados vivos ao laboratório foram mortos em uma câmara de
gás carbônico e espetados em alfinete entomológico através de dupla
montagem. Os espécimes preservados em álcool 70% foram desidratados por
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meio de banhos de duas horas cada em: álcool etílico absoluto, álcool butílico
absoluto e hexano, respectivamente, para posterior dupla montagem.
3.2- Coleta e criação dos imaturos:
Após a captura dos adultos, os corpos de frutificação foram coletados,
armazenados em sacos de papel, enrolados em jornal e acondicionados em
caixas de isopor com uma pequena bolsa térmica congelada. Este
procedimento tem se mostrado eficiente para manter uma temperatura amena,
diminuindo o estresse e a movimentação das larvas sem criar um ambiente
encharcado onde elas poderiam morrer afogadas (Heed, 1968).
No laboratório, os corpos de frutificação e quaisquer larvas que estavam
rastejando pelo saco de papel foram transferidos para um recipiente plástico
contendo areia previamente esterilizada, sendo fechado com uma rede fina
(tecido voal). Os drosofilídeos que emergiram foram capturados e analisados.
Todo o material zoológico deste estudo será depositado na coleção do Museu
de Zoologia da Universidade de São Paulo.
3.3- Montagem e descrição dos espécimes:
A dupla montagem dos drosofilídeos seguiu procedimento padrão
conforme descrito em Ashburner (1989). As terminálias masculina e feminina
foram preparadas conforme a técnica proposta por Wheeler e Kambysellis
(1966), modificada por Kaneshiro (1969), e as ilustrações foram elaboradas
com o auxílio de microscópio óptico com câmara clara acoplada; primeiramente
em grafite, depois redesenhadas em nanquim e digitalizadas.
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Depois de analisada, cada terminália foi preservada em um pequeno
tubo com glicerina, sendo anexado ao alfinete do respectivo espécime. As
descrições seguiram, de modo geral, as medições, índices e terminologias de
Grimaldi (1987) e Vilela e Bächli (1990), com algumas modificações sugeridas
por McEvey (1990) e Vilela e Bächli (2000). A medida da largura da fronte foi
realizada na altura do primeiro ocelo, conforme McEvey & Polak (2005).
Nas descrições, são apresentadas a média do comprimento de cada
estrutura ou índice calculado, seguidos das medidas extremas, apresentadas
entre parênteses. Em alguns momentos, a falta de termos e siglas em
português referentes à morfologia destes insetos pode dificultar o entendimento
do texto. Visando maior clareza, alguns termos em inglês serão mantidos e
explicitados em itálico.
As medições foram realizadas com auxílio de microscópio
estereoscópico Zeiss Stemi 2000-C com câmera fotográfica digital Zeiss
AxioCam MRc acoplada, através do programa Zeiss AxioVision 4.3.
O conceito utilizado na delimitação das espécies foi o de morfoespécie,
tomando como referência o fato de que diferenças consistentes em
características morfológicas sugerem a existência de unidades evolutivas
independentes.
3.4- Lista das abreviaturas e índices utilizados nas descrições
Cabeça
• Índice frontal (frontal index): comprimento / largura da fronte;
• poc (post ocellar seta): cerda pós-ocelar;
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• oc (ocellar seta):cerda ocelar;
• or1: cerda orbital proclinada anterior;
• or2: cerda orbital reclinada anterior;
• or3: cerda orbital reclinada posterior;
• Índice orbital (orbito index): distância entre as bases das cerdas orbital
proclinada anterior (or1) e orbital reclinada posterior (or3) / distância entre
as bases das cerdas orbital reclinada posterior (or3) e vertical interna.
• Índice vt (vt index): comprimento da cerda vertical interna / externa;
• Índice da gena (cheek index): largura da gena / largura do olho;
• Índice do olho (eye index): comprimento do olho / largura.
Tórax
• Índice H (H index): comprimento da cerda pós-pronotal superior / inferior;
• Índice dc (dc index): comprimento das cerdas dorsocentrais anteriores /
posteriores;
• Índice da posição escutelar (scut position index): distância entre as cerdas
escutelares anteriores e posteriores / distância entre as posteriores;
• Índice escutelar (scut index): comprimento das cerdas escutelares
anteriores / posteriores;
• Índice esternal (sterno index): comprimento da cerda katepisternal anterior /
posterior;
Abdômen
• T: tergito.
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Asa
As medidas utilizadas são ilustradas na figura 3.
Figura 3 – Representação de uma asa de drosofilídeo, evidenciando suas veias e principais regiões utilizadas na taxonomia do grupo (em números romanos). Fonte: Bächli et al. 2004.
• Comprimento: H até a ponta da asa
• Índice costal: C-II / C-III;
• Índice AC: C-III / C-IV;
• Índice hb (hb index ou C3-Fringe): seção de C-III com cerdas marginais
grossas / total de C-III;
• Índice 4C: C-III/M-III;
• Índice 4v: M-IV/M-III;
• Índice 5x: seção apical de CuA / dM-Cu;
• Índice M: seção apical de CuA / M-III;
• prox.x: seção basal de R4+5 / M-III;
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4- RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um total de 27 espécimes foi tomado por empréstimo da coleção do
Museu de Zoologia de São Paulo e mais uma centena foram coletadas em
Ribeirão Preto, Bertioga (SP) e Florianópolis (SC). Outros drosofilídeos foram
tomados por empréstimo da coleção pessoal do doutorando Marco Silva
Gottschalk, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, os quais também
foram coletados em Florianópolis.
Duas espécies de Mycodrosophila foram encontradas, M. projectans e
M. elegans, e são aqui redescritas e suas terminálias reilustradas; algumas
variações da morfologia externa e da terminália masculina são discutidas.
Como os exemplares aqui estudados não fazem parte da série-tipo destas
espécies, a publicação de Wheeler e Takada (1963) deve continuar como
referência primária para a identificação.
Dos 27 indivíduos provenientes do MZSP, identificados como
Mycodrosophila, 9 pertencem, na verdade, ao gênero Zygothrica. Dentre estes,
foram identificadas duas novas espécies, que são descritas a seguir. O
enquadramento ao subgênero das espécies americanas de Mycodrosophila é
avaliado e novos dados sobre a distribuição geográfica e a ecologia de outros
drosofilídeos micófagos são acrescentados.
4.1- Redescrição de Mycodrosophila projectans e M. elegans
Mycodrosophila projectans Sturtevant
DESCRIÇÃO ORIGINAL: Sturtevant (1916:342).
MATERIAL EXAMINADO: 4 ♂♂ e 2 ♀♀. ♂♂ com as etiquetas “Luziânia, Goiás;
16.vi.79 K. Kaneshiro & F. C. Val”; 1♀ “Luziânia Mata 16.vi.79 Kaneshiro & F.
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C. Val”; 1♀ “Casa Grande Salesópolis 29.iv.79 Pinus K. Kaneshiro” e “reared
ex. gilled fungus #2”
Figuras: 4 a 8
Diagnose: fronte com brilho prata; abdômen variando de marrom a preto, T1
apenas anteriormente amarelado, T4 com duas áreas brancas anteriores,
sublaterais e às vezes confluentes, formando uma faixa branca. Asa com
mancha transversal na base, lapela costal presente, veia R2+3 distalmente
pouco curvada em direção a R1, índice C aproximadamente 1,0, índice 4v
aproximadamente 2,2, índice 4c aproximadamente 1,9. Edeago característico.
Descrição: 4 ♂♂. Comprimento 2,13mm (1,96-2,31).
CABEÇA: cor geral marrom-escura; comprimento 0,39mm (0,32-0,46). Vertex
marrom; fronte marrom-escura, com brilho prata; comprimento da fronte
0,26mm (0,25-0,29); índice frontal 0,91 (0,81-0,97); relação entre largura do
topo e da base da fronte 1,24 (1,17-1,27). Triângulo ocelar marrom, 29% (24%-
34%) do comprimento frontal. Triângulo frontal marrom-escuro. Placa fronto-
orbital marrom-escura, 68% (58%-80%) do comprimento frontal. or1
convergente; or2 situada perto e atrás de or1, índice orbital 0,62 (0,54-0,78);
or1/or3 1,00 (0,94-1,06); or2/or1 0,20 (0,14-0,27); poc 49% (48%-50%) e oc
60% (55%-68%) do comprimento frontal; índice vt 0,99 (0,05-1,06). Vibrissa
não cruzada, subvibrissa indistinta; gena marrom, pós-gena branca; índice da
gena 8,94 (6,33-10,75); índice do olho 0,98 (0,79-1,08); cerdas intrafacetais
curtas, indistintas. Pedicelo marrom-amarelado; primeiro flagelômero marrom-
amarelado, com cerdas longas e amarelas; relação entre comprimento e
largura 1,87 (1,70-2,00). Arista com quatro ramos superiores e um inferior, mais
a furca apical. Face marrom-amarelada, com pilosidade na margem do clípeo;
16
-
carina facial incompleta, bulbosa e marrom-amarelada; probóscide amarela;
palpos marrom-amarelados. Clípeo marrom, com pilosidade.
TÓRAX: cor geral marrom-escura, brilhante; comprimento 0,77mm (0,73-0,80).
Póspronoto marrom-claro; índice H 1,04 (0,80-1,22). Escuto brilhante, marrom-
escuro, com pequenas áreas pilosas ao redor das cerdas dorsocentrais
posteriores; oito fileiras de cerdas acrosticais. Cerdas dorsocentrais anteriores
ausentes. Escutelo fosco, marrom-escuro, com pilosidade. Cerdas escutelares
anteriores convergentes, posteriores não cruzadas. Índice da posição escutelar
2,50 (2,25-2,83); índice escutelar 0,40 (0,36-0,46). Parte medial do haltere
branca, parte distal marrom-escuro. Pleura variando de marrom-claro a branca;
índice esternal 0,52 (0,44-0,60). Pernas amarelas; par medial com uma cerda
pré-apical.
ASA: esfumaçada; comprimento 1,78mm (1,70-1,85); ápice arredondado. R4+5 e
M paralelas. Área esfumaçada transversa entre a lapela costal proeminente e a
célula anal. Índice C 0,87 (0,81-0,96); índice AC 4,28 (3,90-4,63); índice hb
0,78 (0,74-0,81); índice 4c 1,88 (1,86-1,90); índice 4v 2,15 (2,13-2,17); índice
5x 1,70 (1,54-1,86); índice M 0,56 (0,51-0,62); prox. x 0,29 (0,26-0,31)
ABDÔMEN: cor geral marrom-escura, brilhante; comprimento 0,88mm (0,82-
0,93). T1 a T4 fosco e marrom-escuro; T1 marrom-amarelado na parte anterior
e marrom na parte posterior; T2 marrom-escuro com pequenas áreas laterais
amarelas; T3 marrom-escuro, mas com uma área que vai de branca a amarela
clara anterior e medial; T4 mais brilhante na parte anterior, com duas áreas
brancas, sublaterais que, quando confluentes, formam uma faixa larga. T5 e T6
marrom-escuro e brilhantes.
17
-
MEDIDAS DAS FÊMEAS:
CABEÇA: comprimento 0,44mm (0,40-0,48). Comprimento da fronte 0,29mm,
índice frontal 0,97 (0,94-1,00); relação entre a largura superior e inferior 1,30
(1,28-1,31). Triângulo ocelar estendendo-se a 36% (34%-38%) da fronte.
Placas fronto-orbitais 59% (55%-62%) do comprimento da fronte. Índice orbital
0,71; or1/or3 1,13; or2/or1 0,23 (0,22-0,24); poc 47% (45%-48%) e oc 59% do
comprimento da fronte; índice vt 0,91 (0,86-0,95). Índice da gena 9,1 (8,2-10,0);
índice do olho 1,23.
TÓRAX: comprimento 0,91mm (0,90-0,92). Índice H 0,73 (0,71-0,75). Índice da
posição escutelar 2,22; índice escutelar 0,42. Índice esternal 0,58.
ASA: comprimento 2,01mm (1,94-2,05). Índice C 1,00; índice AC 4,50 (4,47-
4,53); índice hb 0,63 (0,60-0,65); índice 4C 1,89; índice 4V 2,31 (2,24-2,37);
índice 5x 1,13; índice M 0,64 (0,60-0,68); prox. x 0,25 (0,24-0,26).
ABDÔMEN: Comprimento 0,99mm.
TERMINÁLIA MASCULINA: Epândrio coberto de cerdas curtas, com cerca de
seis cerdas superiores e seis inferiores. Cercos cobertos de cerdas curtas,
ligados ao epândrio por tecido membranoso. Surstilo com sete a oito cerdas
preênseis em forma de cone, três cerdas marginais laterais finas e uma cerda
medial. Hipândrio quase do mesmo tamanho do epândrio, redondo a quadrado.
Gonopódios fundidos ao hipândrio, com uma cerda na margem anterior interna.
Edeago anteriormente bífido, com espinhos na ponta; dorsalmente pouco
quitinizado, quase membranoso. Paráfises posteriormente membranosas,
anteriormente quitinizadas, com seis espinhos; ligadas ao gonopódio por tecido
membranoso.
18
-
TERMINÁLIA FEMININA: Como não possui as pequenas cerdas apicais
(sensilla) usadas na diferenciação entre cerdas marginais e discais (Vilela e
Bächli, 1990), todas as cerdas da valva foram consideradas marginais. Valvas
com 13 cerdas marginais e duas cerdas marginais subterminais, uma dorsal e
outra ventral.
BIOLOGIA: Não existem referências quanto à biologia desta espécie. Tem-se
aqui o primeiro dado de um espécime que emergiu de um fungo lamelar não
identificado.
DISTRIBUIÇÃO: Esta é a espécie neotropical de maior distribuição geográfica,
desde o México até o Brasil, além de várias ilhas do Caribe (Wheeler e Takada,
1963). Como Wheeler e Takada (1963) não especificaram as localidades onde
as moscas foram coletadas, na Figura 10 são apresentados somente as
localidades dos espécimes aqui coletados.
Figura4 – Terminália feminina de Mycodrosophila projectans, em vista lateral. A barra de escala representa 0,05mm.
19
-
A
B C
Figura 5 – Terminália masculina de Mycodrosophila projectans. A - Epándrio, cercos e surstilos; B - Edeago e hipândrio em vista ventral; C - Edeago e hipândrio em vista lateral. A barra de escala representa 0,05mm.
COMENTÁRIOS: Foram encontradas algumas variações na morfologia de M.
projectans. Wheeler e Takada (1963) ilustraram o abdômen com uma única
faixa branca no tergito 4, conforme a descrição de Sturtevant (1916). Aqui,
foram encontrados espécimes com esta faixa ou com duas manchas
20
-
sublaterais e semicirculares (Figura 6). Como estes autores ilustraram o
polimorfismo de outras espécies, é possível que não tenham observado este
polimorfismo devido ao encurtamento natural do abdômen do espécime seco,
montado em alfinetes entomológicos. Outra possibilidade é que na América
Central (onde a maioria dos espécimes foi coletada) não exista esta variação.
Figura 6 – Abdomens de Mycodrosophila projectans, em vista dorsal. Não estão na mesma escala.
As variações não se restringem à morfologia externa. O número de
cerdas no lobo anterior do epândrio e do surstilo também é variável. A
ilustração de Wheeler e Takada (1963) apresenta quatro cerdas no lobo do
epândrio, porém foram encontrados espécimes com três a dez cerdas, que
também podem apresentar pequena modificação em seu formato. Na
extremidade do lobo elas geralmente são mais curtas, com formato de espinho,
enquanto as outras são mais compridas (figura 7). No surstilo, a quantidade de
cerdas preênseis e de cerdas marginais também é variável. Foram encontradas
de sete a dez cerdas preênseis e entre uma e quatro cerdas laterais. Apenas a
cerda medial é invariável.
21
-
Figura 7 – Variações no número de cerdas do lobo do epândrio de Mycodrosophila projectans. A barra de escala representa 0,05mm.
Todas estas estruturas da terminália masculina são usadas nas
identificações dos drosofilídeos apesar da existência de pequenas variações.
Como as variações aqui reportadas estão contidas em espécimes coletados na
mesma localidade e estão distribuídas aleatoriamente entre os indivíduos, é
muito improvável que se trate de duas ou mais espécies crípticas.
A distinção entre espécies muito similares geralmente é realizada com
base na morfologia do edeago, em especial, da sua porção apical. Este é o
caso, por exemplo, de espécies do cluster Drosophila buzzatti (Vilela, 1983;
Manfrin e Sene, 2006) entre muitas outras. Em M. projectans não foi
encontrada nenhuma variação significativa nesta parte do edeago, o que
reforça a hipótese de ser uma única espécie.
Uma outra estrutura da terminália masculina, o apódema do edeago,
também apresentou grande variação em tamanho. Os apódemas são locais de
inserção de músculos e terminam seu desenvolvimento nos primeiros dias
depois da imago emergir. A cada dia, uma camada de quitina é depositada, até
que o tamanho máximo seja atingido (Ellison e Hampton, 1982; Johnston e
Ellison, 1982). As linhas de crescimento às vezes são tão claras que são
22
-
evidenciadas nos desenhos dos artigos taxonômicos. Em M. projectans, os
espécimes recém-emergidos apresentaram um apódema muito menor (cerca
de 18% em área) que os dos indivíduos maduros (figura 8). Embora não
existam quantificações deste crescimento em nenhuma espécie de Drosophila,
a diferença existente em M. projectans é provavelmente uma das maiores já
encontradas; é também muito similar ao padrão encontrado em Drosophila
impudica Duda 1927, conforme ilustrações de Vilela e Bächli (1990).
Figura 8 – Variações no formato do apódema do edeago de Mycodrosophila projectans. A barra de escala representa 0,05mm.
Mycodrosophila elegans Wheeler e Takada
Descrição original: Wheeler e Takada (1963:398).
Material Examiado: 2 ♂♂ , etiquetados “Campus USP – Ribeirão Preto - SP –
BR. Bizzo, L; Esguícero, A. & Epifânio, P. 30.iii.2006. e “Luziânia, Mata, 16-vi-
79 F. Val & K. Kaneshiro”
Figura: 9.
Diagnose: espécie variando de marrom-escuro a preto. Fronte com reflexo
prata; abdômen variando de marrom-escuro a preto. Asa com cinco áreas
23
-
esfumaçadas, veia R2+3 abruptamente curvada em sua parte distal na direção
de R1, lapela costal presente.
Descrição: 1♂. Comprimento 1,68mm
CABEÇA: cor geral marrom-escura, brilhante; comprimento 0,30mm. Vertex
marrom, fronte prateada, comprimento frontal 0,23mm; índice frontal 0,88;
relação entre largura superior e inferior 1,23. Triângulo frontal preto; triângulo
ocelar dourado, 30% do comprimento frontal. Placa fronto-orbital marrom
brilhante, mais escura na parte superior, 57% do comprimento frontal. or1
paralelas; or2 situada posterior e lateralmente a or1, índice orbital 0,6; or1/or3
1,45; or2/or1 0,13; poc 35% e oc 52% do comprimento frontal; índice vt 0,88.
Vibrissa não cruzada, subvibrissa indistinta, gena marrom, pós-gena branca,
índice da gena 10,67; índice do olho 1,13; cerdas intrafacetais curtas. Primeiro
flagelômero medianamente amarelo, lateralmente amarelo-amarronzado, com
cerdas longas e amarelas; relação comprimento por largura 1,75. Arista com
três a quatro ramos superiores e um inferior, mais furca terminal. Carina
bulbosa, amarela na parte superior variando até amarela-amarronzada na área
inferior; probóscide amarela-clara, palpos clavados, amarelos, cobertos com
cerdas curtas e amarelas; uma cerda apical e uma subapical. Clípeo marrom.
TÓRAX: cor geral marrom-escura, brilhante; comprimento 0,65mm. Pós-
pronoto marrom-claro, índice H 0,88. Escuto marrom, brilhante, com áreas
pilosas perto das cerdas dorsocentrais posteriores. Seis fileiras de cerdas
acrosticais. Cerdas dorsocentrais anteriores ausentes. Escutelo marrom,
brilhante, porém piloso. Cerda escutelar anterior convergente, cerda posterior
não cruzada. Índice da posição escutelar 2,5. Parte basal do haltere branca,
24
-
parte medial e distal marrom-escura, com o ápice claro. Pleura amarela-clara.
Pernas amarelas, o segundo par com uma cerda apical na tíbia.
ASA: Com padrões de esfumaçado; comprimento 1,61mm; ápice pouco
pontiagudo. Um esfumaçado transversal, da lapela costal até a célula anal; veia
R2+3 abruptamente curvada em sua parte distal na direção de R1, ambas
apicalmente esfumaçadas. Veia transversal dm esfumaçada perto das veias
longitudinais. R4+5 e M divergente. Índice C 0,87; índice AC 3,45; índice hb
0,64; índice 4C 1,92; índice 4v 2,22; índice 5x 0,94; índice M 0,44; prox. x. 0,28.
ABDÔMEN: cor geral marrom escuro a preto, comprimento 0,73mm. T1
marrom claro, opaco; T2 e T3 marrom escuros e opacos, T3 anteriormente
brilhante; T4 a T6 brilhantes, marrom escuros a pretos.
TERMINÁLIA MASCULINA: Epândrio coberto em sua maioria por pequenas
cerdas, com cerca de cinco cerdas longas acima e quatro abaixo. Cercos
cobertos por pequenas cerdas, anteriormente fundidos ao epândrio. Surstilos
com sete a oito cerdas preênseis, duas a três cerdas laterais e uma medial.
Hipândrio menor que o epândrio, com projeções laterais. Gonopódios fundidos
ao hipândrio, com uma cerda na margem anterior interna e pequenas cerdas ao
redor. Edeago anteriormente bífido, com pequenas projeções apicais em forma
de espinhos. Paráfises posteriormente membranosas e anteriormente
quitinizadas, com três espinhos apicais; ligadas ao gonopódio por tecido
membranoso.
TERMINÁLIA FEMININA: existem alótipo e parátipos fêmeas, porém nenhum
foi descrito nem dissecado.
DISTRIBUIÇÃO: Espécie de distribuição Neotropical; são conhecidos apenas
12 espécimes, coletados do Panamá ao Brasil (Wheeler e Takada, 1963).
25
-
A
B C
Figura 9 – Terminália masculina de Mycodrosophila elegans. A - Epândrio, cercos e surstilos; B - Edeago e hipândrio em vista ventral; C - Edeago e hipândrio em vista lateral. A barra de escala representa 0,05mm.
26
-
COMENTÁRIOS: O espécime aqui descrito apresenta pequenas diferenças em
relação aos descritos por Wheeler & Takada (1963). Mesmo assim, foi
considerado conspecífico, pois dentre as caracterísitcas diferentes,
possivelmente apenas uma possui base biológica. As demais características,
projeções laterais do hipândrio+gonopódio e as pequenas diferenças no
edeago, podem ser atribuídas respectivamente à idade avançada do espécime
e ao desenho, bastante esquemático, de Wheeler e Takada (1963).
O comprimento da mosca é a característica mais destoante, 1,68mm
contra 2,80mm. Sabe-se, no entanto, que o tamanho dos indivíduos é
altamente variável e dependente de fatores como sexo, tempo de
desenvolvimento, temperatura e alimentação durante a fase larval. A diferença
encontrada pode ser decorrente da interação de alguns destes fatores.
Apenas dois dos 12 indivíduos conhecidos desta espécie foram
coletados na América do Sul, um na Colômbia e outro em Castanhal, nordeste
do Pará (Wheeler e Takada, 1963). Neste trabalho foram identificados mais
dois indivíduos, um de Luziânia (GO) e outro de Ribeirão Preto (SP). Deste
modo, a distribuição desta espécie, que parecia ser restrita à floresta
amazônica, é estendia as áreas de cerrado e de mata atlântica (figura 10).
27
-
Figura 10 – Distribuição conhecida de Mycodrosophila projectans e M. elegans no Brasil.
4.2- Descrições de duas novas espécies de Zygothrica.
Como nove espécimes identificados como Mycodrosophila são, na
verdade, Zygothrica e constituem duas novas espécies, optou-se por descrevê-
las.
Zygothrica sp.1
MATERIAL TIPO: 1♀, com as etiquetas “K. Kaneshiro & Val, F.C.; Boracéia,
6.vi.79” e “White bracket fungus” .
Figura: 11
28
-
Diagnose: Espécie de coloração variando de marrom a preta. Cabeça com
quase toda a fronte e o pedicelo com cor branca; primeiro flagelômero com
cerdas longas; arista com apenas três ramos superiores; cerdas interfacetais
longas e densas; palpo marrom-amarelado. Tórax e escutelo bastante
convexos e pilosos. Asas hialinas, índice costal aproximadamente 1,0.
Abdômen com T1 a T3 marrom escuro, com uma área medial amarela; T4 e T5
com dois semi-círculos amarelos anteriores, sub-laterais, mais largos
medialmente e afilados lateralmente; T6 marrom-escuro.
LOCALIDADE TIPO: Estação Ecológica Boracéia, estado de São Paulo,
sudeste brasileiro.
DISTRIBUIÇÃO: Conhecida apenas da Estação Biológica Boracéia.
Encontrada em locais com vegetação de mata atlântica.
DESCRIÇÃO: 1♀, comprimento 1,6mm.
CABEÇA: cor geral marrom-escura; comprimento 0,28mm. Vertex marrom-
escuro; fronte marrom-escura na parte superior e branco abaixo do triângulo
ocelar, com reflexo prata; comprimento da fronte 0,19mm, índice frontal 0,76;
relação entre a largura superior e inferior 1,28. Triângulo frontal indistinto.
Triângulo ocelar marrom-escuro, 32% do comprimento da fronte. Placa fronto-
orbital marrom-escura, pouco fosca, 74% do comprimento da fronte. or1
divergente; or2 situada perto e lateral a or1, índice orbital 0,5; or1/or3 1,08;
or2/or1 0,23; poc 47% e oc 84% do comprimento da fronte; índice vt 0,95.
Vibrissa não cruzada, subvibrissa indistinta, gena marrom-escura, pós-gena
amarela-clara com uma área marrom-clara, difusa; índice da gena 8,50; índice
do olho 0,97; cerdas intrafacetais longas e densas. Pedicelo variando de
branco a amarelo-claro, primeiro flagelômero marrom com cerdas longas e
29
-
reflexo cinza, relação comprimento por largura 1,71. Arista com três ramos
superiores e um inferior, mais a furca terminal. Face marrom-clara, carina facial
incompleta e estreita, marrom-amarelada; probóscide amarela-escura, palpo
marrom-amarelado. Clípeo marrom, brilhante, com pilosidade.
TÓRAX: cor geral marrom-escura, brilhante, com pilosidade; comprimento
0,59mm. Pós-pronoto marrom-claro, com pilosidade; índice H 0,89. Escuto
marrom-escuro, brilhante e inteiramente piloso; distância transversal entre as
cerdas dorsocentrais 313% da distância longitudinal, índice dc 0,61; seis fileiras
de cerdas acrosticais. Escutelo marrom-escuro e brilhante, porém com
pilosidade, bastante convexo. Cerdas escutelares anteriores convergentes,
posteriores cruzadas. Índice da posição escutelar 1,56; índice escutelar 0,54.
Base do haltere branca, porção medial marrom-escura e ápice amarelo-claro.
Pleura amarela-clara, índice esternal 0,25. Pernas amarelas, par medial com
uma cerda apical.
ASA: hialina, comprimento 1,69mm; ápice arredondado. R4+5 e M convergentes
a paralelas. Índice C 1,03; índice AC 4,87; índice hb 0,45; índice 4C 2,35;
índice 4V 3,00; índice 5x 2,90; índice M 0,94; prox. x 0,19.
ABDÔMEN: cor geral marrom-escura, brilhante; comprimento 0,71mm. T1 a T3
marrom-escuros, com uma área medial amarela; T4 e T5 com dois semicírculos
amarelos anteriores, sub-laterais, mais largos medialmente e afilados
lateralmente. T6 marrom-escuro.
TERMINÁLIA MASCULINA: Macho desconhecido.
TERMINÁLIA FEMININA: Holótipo não dissecado. Em vista lateral, a
extremidade do ovipositor é triangular, com muitas cerdas marginais.
30
-
BIOLOGIA: O único espécime conhecido foi coletado em um fungo branco,
ressupinado, poliporáceo.
PARENTESCO: É difícil traçar relações de parentesco em Zygothrica sem o
exame da terminália masculina. Zygothrica flavifrons Grimaldi 1990, conhecida
da ilha de Trinidad, é a espécie mais parecida com esta, devido à fronte clara.
No entanto, as duas diferem marcadamente em vários caracteres, como
formato da carina facial, comprimento das cerdas do primeiro flagelômero,
relação or1/or3, número de ramos da arista e índice C. A coloração do
abdômen também é muito diferente: marrom tendendo, na lateral, para amarelo
em Z. flavifrons, e marrom com manchas mediais e sublaterais em Z. sp.1.
Figura 11 – Vista frontal de Zygothrica sp.1.
Zygothrica sp. 2
MATERIAL TIPO: HOLÓTIPO: 1♂, com a etiqueta “Praia do Guaratuba,
Bertioga – SP – BR . 23°45’38’’S; 45°54’01’’W. 10m. 22.ix.2006. L. Bizzo e F.
C. do VAL”. PARÁTIPOS: 4♂♂ e 6♀♀. 1♂ e 1♀ com a etiqueta “Est. Biol.
Boracéia, Salesópolis – SP, Val, F.C. 3.v.78”; 1♀ “Est. Biol. Boracéia,
31
-
Salesópolis – SP, K. Kaneshiro & Val, F.C. 3.iv.79”; 1♂ e 1♀ “Est. Biol.
Boracéia, Salesópolis – SP, K. Kaneshiro & Val, F.C. 4.iv.1979”; 1♂ e 2♀♀ “Est.
Biol. Boracéia, Salesópolis – SP, K. Kaneshiro & Val, F.C. 6.vi.79” e “white
bracket fungus”; 1♂ e 1♀ “Praia do Guaratuba, Bertioga – SP – BR.
23°45’38’’S; 45°54’01’’W. 10m. 22.ix.2006. L. Bizzo e F. C. do VAL”.
Figuras: 12 e 13.
Diagnose: Espécie com noto preto, brilhante, sem marcas. Cerdas intrafacetais
longas e densas; triângulo ocelar preenchendo toda a fronte; palpos e
probóscide marrons; noto torácico e escutelo bastante convexos e com
pilosidade; pleura branca; asas hialinas; abdômen preto, medial e, na parte
anterior, amarelo-difuso. Edeago característico.
MATERIAL EXAMINADO: 2♂♂. Comprimento 1,6-2,0mm.
CABEÇA: Cor geral preta, brilhante; comprimento 0,34mm (0,31-0,36). Vertex
preto, com reflexo dourado em alguns ângulos; comprimento da fronte 0,22mm
(0,21-0,23), índice frontal 0,70 (0,65-0,79); relação entre a largura superior e
inferior 1,20 (1,16-1,24). Triângulo ocelar preto, brilhante, preenchendo toda a
fronte. Triângulo frontal indistinto. Placa fronto-orbital preta, brilhante, 103%
(100%-105%) do comprimento da fronte. or1 convergente a paralela; or2
situada perto e lateral a or1, índice orbital 0,60 (0,58-0,62); or1/or3 0,81 (0,79-
0,85); or2/or1 0,38 (0,36-0,42); poc 57% (52%-60%) e oc 102% (87%-110%) do
comprimento da fronte; índice vt 1,05 (1,05-1,06). Vibrissa não cruzada,
subvibrissa indistinta, gena preta, pós-gena variando de marrom-escura a
preta; índice da gena 10,0 (9,5-10,5); índice do olho 1,12 (1,06-1,17); cerdas
intrafacetais longas e densas. Pedicelo marrom; primeiro flagelômero marrom
com cerdas longas e amarelas, relação comprimento por largura 1,70 (1,60-
32
-
1,78). Arista com quatro ramos superiores e um inferior, mais a furca terminal.
Face marrom, um pouco fosca, com reflexo branco; carina facial incompleta,
aguda, variando de amarela a marrom, com pilosidade na margem ventral;
probóscide variando de amarela-escura a marrom, aparentemente longa;
palpos marrons. Clípeo marrom, brilhante, com pilosidade.
TÓRAX: cor geral preta, brilhante; comprimento 0,63mm (0,58-0,69). Pós-
pronoto marrom, fosco, com pilosidade; índice H 0,78 (0,69-0,86). Escuto preto,
brilhante, com área espiculada irregular entre as cerdas dorsocentrais e o
escutelo; distância transversal entre as cerdas dorsocentrais 296% (280%-
310%) da distância longitudinal, índice dc 0,62 (0,57-0,66); oito fileiras de
cerdas acrosticais. Escutelo preto, fosco, com pilosidade e reflexo dourado em
alguns ângulos. Cerdas escutelares anteriores convergentes, posteriores
cruzadas. Índice da posição escutelar 1,71 (1,60-1,78); índice escutelar 0,57
(0,56-0,57). Região anterior da base e do ápice do haltere marrom, região
posterior branca. Pleura branca, às vezes com reflexo dourado em alguns
ângulos; índice esternal 0,30 (0,24-0,36). Pernas amarelas, fêmur da perna
anterior basalmente branco, par medial com uma cerda apical na tíbia.
ASA: hialina, comprimento 1,57mm (1,50-1,65); ápice arredondado. R4+5 e M
paralelas. Índice C 1,27 (1,25-1,29); índice AC 3,39 (3,26-3,47); índice hb 0,63
(0,62-0,64); índice 4C 2,11 (1,97-2,30); índice 4V 2,84 (2,60-3,04); índice 5x
2,90 (2,67-3,22); índice M 1,02 (0,93-1,17); prox. x 0,30 (0,28-0,31).
ABDÔMEN: cor geral preta e brilhante; comprimento 0,80mm (0,68-0,88). T1 a
T3 lateralmente pretos e um pouco foscos, com pilosidade e, em alguns
ângulos, com reflexo dourado. Uma faixa medial longitudinal variando de
amarela no centro a marrom-difuso sublateralmente. Esta faixa pode ser mais
33
-
larga em T1 e na parte posterior de T3. T4 a T6 pretos, brilhantes. A margem
anterior de T4 pode ser amarela em toda sua extensão, apenas no centro, ou
inteiramente preta.
MEDIDAS DAS FÊMEAS:
CABEÇA: comprimento 0,33mm (0,31-0,34). Comprimento da fronte 0,22mm
(0,21-0,23), índice frontal 0,68; relação entre a largura superior e inferior 1,25
(1,24-1,26). Triângulo ocelar preenchendo 100% da fronte. Placa fronto-orbital
105% do comprimento da fronte. Índice orbital 0,62 (0,46-0,77); or1/or3 0,68
(0,64-0,71); or2/or1 0,38 (0,33-0,42); poc 59% (57%-61%) e oc 100% (96%-
105%) do comprimento da fronte; índice vt 1,06. Índice da gena 9,8 (9,0-10,5);
índice do olho 1,06.
TÓRAX: comprimento 0,72mm (0,66-0,78). Índice H 0,85 (0,77-0,97). Distância
transversal entre as cerdas dorso centrais 311% (246%-375%) da distância
longitudinal, índice dc 0,62 (0,54-0,70). Índice da posição escutelar 1,55 (1,50-
1,60); índice escutelar 0,51 (0,48-0,53). Índice esternal 0,35 (0,33-0,37).
ASA: comprimento 1,72mm (1,67-1,76). Índice C 1,27 (1,16-1,37); índice AC
3,50 (3,42-3,58); índice hb 0,64 (0,62-0,66); índice 4C 2,15 (2,10-2,19); índice
4V 2,89 (2,84-2,94); índice 5x 2,91 (2,82-3,00); índice M 1,03 (1,00-1,06); prox.
x 0,26.
ABDÔMEN: Comprimento 0,88mm (0,84-0,91).
TERMINÁLIA MASCULINA: Epândrio coberto em sua maioria por pequenas
cerdas, com cerca de cinco cerdas longas acima e seis abaixo. Cercos
cobertos por pequenas cerdas, ligados ao epândrio por tecido membranoso;
placa do hipoprocto (hypoproctal plates) glabra, triangular; lobo ventral dos
cercos em formato quadrado, com três a quatro pequenas cerdas mediais.
34
-
Lobo do epândrio curto e quadrado. Surstilos com 11 a 12 cerdas preênseis
setiformes. Hipândrio menor que o epândrio, quadrado. Gonopódios fundidos
ao hipândrio, com uma cerda na margem anterior interna. Edeago com
pequenas projeções apicais. Paráfises com dois espinhos mediais, ligadas ao
gonopódio por tecido membranoso.
TERMINALIA FEMININA: pontiaguda, com 14 cerdas marginais e uma cerda
discal; quatro pequenas cerdas apicais.
BIOLOGIA: Desconhecida.
LOCALIDADE TIPO: Praia do Guaratuba, Bertioga – SP, Brasil.
DISTRIBUIÇÃO: Conhecida apenas da Estação Biológica Boracéia e da Praia
de Guaratuba, litoral norte de São Paulo, sudeste brasileiro. Encontrada em
locais com vegetação de mata atlântica.
PARENTESCO: Pertence ao clado 1 de Grimaldi (1987), devido ao triângulo
ocelar expandido, ocupando quase toda a fronte.
FIGURA 12 – Terminália feminina de Zygothrica sp. 2, em vista lateral. A barra de escala representa 0,05mm.
35
-
FIGURA 13 – Terminália masculina de Zygothrica sp.2. A- Epândrio, cercos e surstilos; B- Edeago e hipândrio em vista dorsal; C Edeago em vista lateral; D- Edeago e hipândrio em vista ventral A barra de escala representa 0,05mm.
A
B C D
4.3- Distinção entre Mycodrosophila e Zygothrica
As principais características morfológicas utilizadas na diferenciação
entre Mycodrosophila e Zygothrica são as apomorfias de Mycodrosophila
(presença de lapela costal, tórax bastante convexo e apenas um par de cerdas
dorsocentrais (Grimaldi, 1990a)) e a carina facial proeminente de Zygothrica.
Outros caracteres que podem ajudar nesta diferenciação, como a probóscide
longa, cerdas interfacetais longas e densas, cerdas longas no primeiro
flagelômero e triângulo ocelar extenso, estão presentes em muitas espécies de
36
-
Zygothrica, porém não fazem parte de sua diagnose atual. Alguns destes
caracteres foram propostos como diagnósticos por Burla (1956), porém foi
posteriormente excluído por Grimaldi (1987) por não estarem presentes na
maioria das espécies.
Como nem todas as Mycodrosophila possuem lapela costal, algumas
possuem dois pares de dorsocentrais, e a forma da carina facial é bastante
variável em Zygothrica, a separação entre os dois gêneros pode se tornar difícil
e baseada apenas em um caráter de difícil visualização, a convexidade
torácica.
As espécies de Zygothrica aqui descritas apresentam convexidades
torácicas muito similares às de M. projectans e M. elegans, e somente após o
estudo das terminálias masculinas foi possível identificá-las como Zygothrica.
Assim, a diferenciação entre estes gêneros fica ainda mais difícil e ilustra
porque estes espécimes ficaram durante tanto tempo identificados como
Mycodrosophila. A diagnose atual de Mycodrosophila mostra-se, portanto,
ambígua e, de certo modo, deficiente, permitindo a inclusão de indivíduos que
não pertencem ao gênero. Isto, somado ao fato de que vários trabalhos
apresentam diagnoses um pouco diferentes, torna necessária a reavaliação da
diagnose deste gênero e a elaboração de modo mais restritivo. A seguir são
discutidas as principais diagnoses propostas.
4.4- Revisão das diagnoses de Mycodrosophila e proposta de nova
diagnose.
O gênero Mycodrosophila foi inicialmente criado por Oldenberg (1914)
para abrigar Amiota poecilogastra Loew 1874. No entanto, não foi elaborada
37
-
uma diagnose para o gênero. A seguir são transcritas e comentadas todas as
diagnoses encontradas na literatura.
Sturtevant, 1921 – “American species of Drosophilidae”. Embora o trabalho seja
sobre as espécies americanas, o autor se refere às nove espécies do gênero
conhecidas na época em todo o mundo.
“The genus is characterized as follows: middle (lower reclinate) orbital minute; postverticals large, convergent; thoracic bristles as in Drosophila, except that the anterior dorsocentral pair is missing or extremely minute, and prescutellars are never present; preapical bristles on first and second tibiae indistinct or missing; eyes bare or nearly so; mesonotum ‘humped up’; scutellum rounded, not so flat as in Drosophila; distal costal incision (just before tip of first vein) deep, costa somewhat swollen just basal to the incision; a single bristle before the distal costal break, instead of the usual two. The nine species are all dark and shining above, pale yellow on pleurae, legs, and face; abdomen shining dark brown or black with pale yellow markings.”
Wheeler e Takada, 1964 – “Drosophilidae from Micronesia”.
“Arista plumose, with one, rarely two, ventral branches; acrostichal hairs numerous; no prescutellars; no anterior dorsocentrals, posterior dorsocentrals sometimes placed rather far from scutellum; distal costal break usually deeply incised, apex of costa blackened and protruding as a broad lappet; basal scutellars much shorter than apicals. Fungivorous species.”
Bock, 1980 – “Drosophilidae of Australia - Mycodrosophila”.
“Arista large, plumose, usually with only 1 ventral ray. Carina usually well developed. Vibrissa single. Greatest diameter of eye vertical. Eyes bare. Middle orbital bristle small, fine. Ocellar, vertical and postvertical bristles large. Mesonotum strongly rounded, arched, usually darkly coloured, shining. Scutellum broadly rounded, dark, velvety or subshining. Subscutellum usually dark. Anterior dorsocentral bristles very small or absent. Acrostichal hairs in numerous rows; prescutellars bristles absent. Basal scutellar bristles short, fine; apical scutellars large, convergent. Apex of costa (at distal costal incision) usually darkened and protruding as a blackened lappet; front usually strongly silvery, especially centrally, when viewed at very acute angles. Uppermost parts of pleura (above level of wing articulation) dark; pleural coloration changing abruptly to pale tan below in most species.”
38
-
Bock, 1982 – “Summary of the Drosophilidae of Australia” – Neste trabalho, o
autor compila todos os dados da região e faz pequenas mudanças em relação
ao texto anterior: desconsidera os caracteres do escutelo e pleura, além da
diferença na fronte.
“Arista large, plumose, usually with single ventral ray. Carina usually well developed; vibrissa single; greatest diameter of eye vertical; eye bare; middle orbital bristle small, fine; ocellar, vertical and postvertical bristles large; mesonotum strongly rounded, arched, usually darkly coloured, shining. Scutellum broadly rounded, dark, velvety or subshining; anterior dorsocentral bristles very small or absent; acrostichal hairs in numerous rows; prescutellars bristles absent; basal scutellar bristles short, fine; apical scutellars large, convergent; apex of costa (at distal costal incision) usually darkened and protruding as a blackened lappet; front usually strongly silvery, especially centrally, when viewed at very acute angles.”
Okada, 1989 – “Establishing Drosophilidae tribes”. Neste trabalho foram
utilizados 14 caracteres taxonômicos para estabelecer relações de semelhança
morfológica entre os gêneros da família. A diagnose a seguir foi elaborada
seguindo a codificação dos caracteres, como sugerido pelo autor.
“Eye bare; arista plumose; ocellars inside ocellar triangle; postverticals present; carina undeveloped; anterior reclinate orbital seta fine; posterior reclinate orbital seta nearer proclinate than to inner vertical seta; prescutellar absent; anterior dorsocentral nearer to scutellum than to suture; acrostichal hairs in eight or less rows; lateral scutellars divergent; second costal break deep; second costal lappet large; discal and second basal cells confluent.”
Wynn e Toda, 1990 – “Drosophilidae in Burma”. Os autores inserem as
primeiras observações sobre o brilho do escuto e voltam a inserir dados do
escutelo.
“Diagnosis. Arista plumose, with 1, rarely 2, ventral branches; eye bare; anterior reclinate orbital small, or fine; mesoscutum arched dorsally, giving a ‘humped-back’ appearance, shiny; acrostichal hairs in numerous rows; no prescutellars; anterior dorsocentrals absent or rather short; posterior dorsocentrals sometimes placed
39
-
rather far from scutellum; scutellum dull and velvety; anterior scutellar much shorter than posterior one. Fungivovous species”.
Chen e Toda, 1994 – “Drosophilidae of Eastern China”
“Diagnosos (modified from Bock, 1982). Arista with single ventral branch; anterior reclinate orbital seta small or fine; facial carina usually well developed; subvibrissal seta not diferentiated; scutum highly convex, usually darkly colored, glossy; scutellum broadly rounded, dark, velvety or subshining; anterior dorsocentral seta minute or absent; basal scutellar seta short or fine; portion of costal vein proximal to subcostal break usually thickened and blackened as costal lappet; frons usually silvery shining, especially in medial portion, when viewed at acute angles.”
É possível notar que existem pequenas mudanças nas diagnoses de
acordo com o local e a época de estudo. Provavelmente estas eram realizadas
com base nos espécimes que os pesquisadores tinham em mãos, ou seja, na
fauna local. Um exemplo é a diagnose de Wheeler e Takada (1964), que
desconsidera Sturtevant (1921) com relação ao número de cerdas
dorsocentrais. Esse é um caráter muito importante, em especial para
Mycodrosophila. Bock (1982) também faz pequenas modificações de sua
revisão anterior (1980), retirando os caracteres do escutelo das moscas;
posteriormente, Wynn e Toda (1990) voltam a inseri-los na diagnose.
Já o trabalho de Okada (1989) é bastante controverso, a começar pela
análise fenética realizada. Grimaldi (1990a) ressalta os fatos de Okada ter, a
priori, excluído a possibilidade de reversões e assumido o monofiletismo dos
gêneros como dois dos fatores de maior descrédito da análise.
Até hoje Mycodrosophila é tido como um gênero de fácil diferenciação,
porém, como demonstrado, sua identificação pode não ser tão simples. A
inclusão de informações sobre a terminália, em especial a masculina, pode
facilitar futuras identificações e diminuir a possibilidade de futuros erros.
40
-
Embora ainda pouco explorada quanto aos gêneros em Drosophilidae, as
terminálias masculina e feminina mostram-se especialmente importantes na
taxonomia de agrupamentos de difícil diferenciação. Um exemplo é a diagnose
de Hirtodrosophila, à qual foi acrescido este tipo de dado por Grimaldi (1990a).
Por ser um táxon que apresenta grande variabilidade, que o torna facilmente
confundível com outros gêneros, esta modificação é bastante útil.
Dados da terminália feminina também podem ser importantes na
taxonomia dos drosofilídeos. Estas estruturas, no entanto, são menos
estudadas e pouco valorizadas taxonomicamente, o que dificulta sua
comparação. Não existe ainda nenhum “plano básico” desta estrutura para os
gêneros que compõem o grupo de gêneros Zygothrica. Burla (1956) sugere um
tipo comum em Hirtodrosophila, com a extremidade pontiaguda. Grimaldi
(1990a) inclui na diagnose de Hirtodrosophila a existência de várias cerdas
pequenas e cônicas na margem ventral e dorsal do ovipositor, separadas por
duas grandes cerdas também cônicas. Burla (1956) também sugere que o
ovipositor típico de Zygothrica seja reto na sua margem ventral, o que Grimaldi
(1987) observou ocorrer na minoria das espécies.
Okada (1956), ao descrever espécies de Mycodrosophila do Japão,
observa espécies com as cerdas do ovipositor em um padrão muito diferente
do encontrado nas outras já descritas. O autor sugere, no entanto, que existam
cerdas subapicais distintas, que poderiam caracterizar o gênero.
As muitas descrições posteriores ao trabalho de Okada reforçam a
existência deste padrão. O tipo básico de ovipositor de Mycodrosophila,
portanto, parece ser o de forma alongada, com pequenas cerdas cuneiformes
ao longo da margem ventral e algumas na margem dorsal, com duas cerdas
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-
longas subapicais, uma dorsal e outra ventral. A espécie-tipo, M. poecilogastra
(redescrita em Okada, 1956), também apresenta este padrão.
Com base nos dados obtidos e nas descrições e ilustrações de Lee e
Takada (1959), Okada (1968, 1986a, b), Wheeler e Takada (1963, 1964), Kang
et al. (1966), Okada (1989), Chen et al. (1989), Wynn e Toda (1990), Sundaran
e Gupta (1991), Tsacas e Chassagnard (1991), Chassagnard e Lachaise
(2000) e McEvey e Polak (2005), foi elaborada uma nova diagnose do gênero,
incluindo dados da terminália masculina e feminina.
Gênero Mycodrosophila Oldenberg, 1914
Espécie tipo: Mycodrosophila poecilogastra (Loew, 1874:419),
designação original como Amiota poecilogastra Loew 1874.
Sinonímias: Drosophila johni Pokorny ,1896 (Oldenberg, 1914)
Mycodrosophila arcuata Chen, Shao e Fan, 1989 (Chen e Toda, 1994)
Diagnose: Moscas escuras, com coloração geralmente entre marrom e
preto no noto, contrastando com a pleura e as pernas variando de amarela-
claras a brancas. Arista plumosa, com um ou raramente dois ramos ventrais;
setas intrafacetais curtas, não proeminentes; cerda orbital reclinada anterior
pequena; cerda pós-vertical presente; cerda subvibrissa curta, não
diferenciada; fronte geralmente com brilho prata quando vista em alguns
ângulos. Noto bastante convexo e geralmente brilhante, dando uma aparência
“corcunda” à mosca; cerdas acrosticais em até oito fileiras; cerdas
dorsocentrais anteriores ausentes ou muito mais curtas que as posteriores,
sendo estas localizadas às vezes longe do escutelo; cerdas pré-escutelares
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-
ausentes; escutelo geralmente arredondado e com pouco brilho, cerdas
escutelares anteriores muito menores que as posteriores. Asas hialinas ou
esfumaçadas; porção da veia costal próxima à quebra subcostal geralmente
mais grossa e esfumaçada, formando uma lapela costal. Surstilo com uma
fileira de cerdas preênseis; gonopódio fundido ao hipândrio e geralmente
também às paráfises; edeago com região distal bífida e, geralmente, com ápice
denteado. Ovipositor geralmente alongado, com pequenas cerdas cuneiformes
ao longo da margem ventral e algumas na margem dorsal, com duas cerdas
longas subapicais, uma dorsal e outra ventral (com exceção de algumas
espécies japonesas). Espécies fungívoras. Distribuição cosmopolita.
4.5- Enquadramento das espécies americanas de Mycodrosophila em
subgêneros e implicações biogeográficas.
Os dois subgêneros formalizados por Okada (1986a, b) foram definidos
como:
• Subgênero Mycodrosophila (Okada, 1986a:112) – Lapela costal mais ou
menos desenvolvida; segunda incisão costal profunda.
Espécie tipo: Mycodrosophila poecilogastra (Loew)
• Subgênero Promycodrosophila (Okada, 1986b:291) – Lapela costal não
desenvolvida; mancha negra sob a segunda quebra costal geralmente
ausente.
Espécie tipo: Mycodrosophila separata De Meijere 1911
43
-
Wheeler e Takada (1963) citam para as espécies americanas a presença
da lapela costal, ora forte, ora fraca, o que enquadra todas no subgênero
Mycodrosophila. As espécies neárticas, M. claytonae, M. stalkeri Wheeler e
Takada 1963 e M. dimidiata (Loew, 1862), no entanto, possuem lapela costal
pouco desenvolvida e não têm a mancha transversal na base da asa, sendo,
portanto, mais similares a Promycodrosophila.
Esta situação é parecida com a encontrada por Okada (1986b), com M.
compacta Bock 1980 e M. costata Okada 1986. Este autor considera as duas
como membros intermediários entre os dois subgêneros, e as inclui no
subgênero Mycodrosophila, com base na morfologia da asa e do edeago,
denteado no ápice (enquanto a maioria das espécies enquadradas em
Promycodrosophila não apresenta este denteado). Segundo as ilustrações de
Wheeler e Takada (1963), todas as espécies americanas apresentam este
denteado. Deste modo, parece ser mais prudente seguir os critérios de Okada
e enquadrar todas as espécies americanas no subgênero Mycodrosophila.
A distribuição geográfica do gênero, portanto, parece ter a seguinte
conformação: o subgênero Mycodrosophila é cosmopolita, com uma fauna
aparentemente menos rica nas Américas e na Europa (ali representada por
apenas uma espécie, M. poecilogastra), enquanto Promycodrosophila está
restrito à região Indo-Pacífica, local de maior número de espécies do gênero.
Outros dois gêneros próximos, Paramycodrosophila e Zygothrica, também
possuem distribuição parecida, porém com maior diversidade na região
Neotropical (Grimaldi, 1987, 1988, 1990b; Prigent e Toda, 2006).
44
-
4.6- Ampliação da distribuição geográfica e da ecologia de outros
drosofilídeos.
Parte dos drosofilídeos coletados neste trabalho são Hirtodrosophila,
Drosophila ou Zaprionus. Das espécies identificadas, algumas representam
novos registros de distribuição geográfica ou de sítio alimentar.
Espécimes de Hirtodrosophila gilva Burla 1956 foram coletados sobre o
fungo Auricularia sp. (Auriculariaceae: Auriculariales) em Guaratuba (litoral de
São Paulo) e Florianópolis (litoral de Santa Catarina), e indivíduos emergiram
deste mesmo fungo. Este é o primeiro registro desta espécie fora da localidade-
tipo (no Rio de Janeiro) e também de substrato utilizado. Uma espécie muito
próxima, H. mendeli (Mourão, Gallo e Bicudo 1965), também foi coletada sobre
Auricularia, provavelmente A. fuscosuccinea (Mont.) Henn., no município de
Mirassol, interior de São Paulo (Mourão et al., 1967) e foi identificada também
na Argentina (Vilela e Bächli, 2004). Ao que parece, as duas espécies são
alopátricas, com H. mendeli distribuída no interior e H. gilva no litoral. No
entanto, mais coletas são necessárias para embasar melhor esta hipótese.
Centenas de indivíduos de H. thoracis Williston 1896 sensu Burla (1956)
emergiram de Marasmius sp. (Marasmiaceae, Agaricales) coletados no campus
da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis. Esta espécie era
conhecida das Américas do Norte e Central e teve sua terminália masculina
ilustrada por Burla (1956), com base em espécimes capturados no Rio de
Janeiro. Vilela e Bächli (2004) põem em dúvida se estes exemplares são
conspecíficos a H. thoracis descrita por Williston. Portanto, não é possível ter
45
-
certeza de que trata-se uma única espécie. Entretanto é certo que os
espécimes coletados correspondem plenamente aos ilustrados por Burla
(1956).
Várias espécies de Drosophila foram encontradas sobre fungos
carnosos. São elas: D. atrata Burla e Pavan 1953 e D. calloptera Schiner 1868
(do grupo calloptera), D. paraguayensis Duda 1927, D. roehrae Pipkin e Heed
1964, D. cuaso Bächli, Vilela e Ratcov 2000 e D. mediopunctata Dobzhansky e
Pavan 1943 (grupo tripunctata), D. griseolineata Duda 1927 (grupo guarani), D.
sturtevanti Duda 1927 (grupo saltans), D. neocardini Streisinger 1946, D.
cardinoides Dobzhansky e Pavan 1943 e D. cardini Sturtevant 1916 (grupo
cardini). Indivíduos deste último grupo também emergiram de fungos coletados
porém não identificados.
Até o momento a micofagia em Drosophila é bem conhecida nos grupos
neárticos quinaria e testacea, além de D. tripunctata (Markow e O´Grady,
2005). Todos os grupos citados (com exceção de saltans) fazem parte da
radiação tripunctata (definida por Throckmorton, 1975). Outras coletas de
corpos de frutificação e com iscas de fungos comerciais capturaram as
mesmas espécies (Gottschalk, dados não publicados). Indivíduos de
Drosophila willistoni Sturtevant 1916 (grupo willistoni) também emergiram de
corpos de frutificação (Roque et al., 2006). De modo geral, isto indica que o
hábito micófago é bem mais difundido na radiação do que previamente
considerado e pode ter tido um papel importante no seu sucesso.
Zaprionus é outro gênero da família Drosophilidae e pertence à mesma
tribo de Zygothrica e Drosophila. No Brasil, é representado por apenas uma
espécie, Z. indianus Gupta 1970, que invadiu o continente americano há cerca
46
-
de uma década (Vilela, 1999; Tidon et al. 2003). Esta espécie é tida como
praga agrícola e é abundante em ambientes urbanos e de vegetação aberta.
Na África, espécies deste gênero utilizam primariamente frutos como recurso
alimentar, porém algumas espécies próximas a Z. indianus foram relatadas
ocorrendo em flores (Lachaise e Tsacas, 1983; Chassagnard e Tsacas, 1993).
Aqui, indivíduos adultos de Z. indianus foram coletados sobre Phallus sp.
(Phallaceae, Phallales), provavelmente Phallus indusiatus Vent., no campus da
USP Ribeirão Preto. Roque et al. (2006) encontraram resultado similar, com
dois indivíduos de Z. indianus emergindo de fungos. Isto indica que esta
espécie, além de estar presente em vários frutos e competir com as espécies
nativas, pode ainda utilizar fungos como substrato alimentar.
5- CONCLUSÕES
Mycodrosophila projectans e M. elegans foram redescritas, as variações
na coloração do tergito 3 e da terminália masculina de M. projectans foram
discutidas e ilustradas.
Duas novas espécies Neotropicais de Zygothrica, muito semelhantes a
espécies do gênero Mycodrosophila, foram descritas.
Os caracteres diagnósticos de Mycodrosophila e Zygothrica foram
discutidos e a diagnose de Mycodrosophila foi revista e ampliada.
As espécies americanas de Mycodrosophila foram enquadradas no
subgênero Mycodrosophila.
Hirtodrosophila gilva tem seu primeiro registro fora da localidade-tipo, em
Guaratuba (SP) e Florianópolis (SC), e Hirtodrosophila thoracis sensu Burla
(1956) também teve seu primeiro registro na região sul do Brasil (Florianópolis).
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-
Auricularia e Marasmius, respectivamente, são os primeiros recursos
alimentares documentados para estas espécies.
Várias espécies de Drosophila foram encontradas sobre fungos
carnosos: D. atrata e D. calloptera (do grupo calloptera), D. paraguayensis, D.
roehrae, D. cuaso e D. mediopunctata (grupo tripunctata), D. griseolineata
(grupo guarani), D. sturtevanti (grupo saltans), D. neocardini, D. cardinoides e
D. cardini (grupo cardini). Todos estes grupos (com exceção do saltans) fazem
parte da radiação tripunctata (definida por Throckmorton, 1975), o que indica
que este nicho é bem mais difundido na radiação do que previamente
considerado e pode ter tido um papel importante no seu sucesso.
Zaprionus indianus tem aqui seu primeiro registro de adultos coletados
sobre fungos do gênero Phallus.
48
-
6- REFERÊNCIAS
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