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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ”
DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO VEGETAL
RELATÓRIO PARCIAL DE ATIVIDADES
Projeto Agrisus Nº: 1044/12
EFICIÊNCIA DA ADUBAÇÃO NITROGENADA NO SISTEMA SOLO-SOJA
EM PLANTIO DIRETO NO AMBIENTE TROPICAL E SUBTROPICAL
Prof. Dr. José Laércio Favarin
Departamento de Produção Vegetal ESALQ/USP
Clovis Pierozan Junior
Doutorando em Fitotecnia (Sistema de Produção) - ESALQ/USP
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
Av. Pádua Dias, 11 – Piracicaba – SP, CEP 13418-900
PABX: (19) 3429-4100
Classificação do Projeto: C Embasamento da educação, C1- pesquisa agronômica
Valor financiado: R$ 27.000,00
Vigência: 17/10/2012 a 30/04/2015
Piracicaba – SP
abril de 2013
1. OBJETIVO
Relatar o andamento das atividades do projeto “Eficiência da adubação
nitrogenada no sistema solo-soja em plantio direto no ambiente tropical e subtropical”
desenvolvido em parceria com a Fundação Agrisus.
2. INTRODUÇÃO
Para uma produtividade de 4 Mg.ha-1
a demanda por N pela soja equivale a 320
kg ha-1
de N. Se considerarmos uma oferta máxima de N pela FBN igual a 200 kg ha-1
,
conclui-se que o solo deve fornecer outros 120 kg ha-1
N. Porém, a quantidade de N
presente na soja proveniente do solo não ultrapassa a 60 kg ha-1
. Nossa hipótese é que, a
quantidade de N fornecida pela FBN somada àquela vinda do solo são insuficientes para
obter-se produtividade superior a 4 Mg ha-1
. Portanto, para metas dessa grandeza, a soja
necessita de fertilização nitrogenada complementar.
Embora o sistema de plantio direto (SPD) a médio e longo prazo aumente o teor
total de nitrogênio (N) no solo (KITUR et al., 1984; AMADO et al., 2000), ainda assim
é comum a baixa disponibilidade à planta, devido à sucessão com gramíneas (VARGAS
et al., 2005). Normalmente a soja apresenta deficiência de N no início do
desenvolvimento, em razão da alta relação C/N do resíduo, que para decompor haverá
imobilização do N pelos microrganismos (NUNES et al., 2003). Em altas
produtividades, o início do desenvolvimento da cultura é uma época de maior demanda
de N pela planta do que a oferta (solo, FBN e reserva da semente), de modo que a
fertilização nitrogenada complementaria a demanda da planta.
Outra época é na fase de enchimento de grãos, momento de maior exigência da
cultura por N (WATANABE et al., 1986). Nesta fase de desenvolvimento da cultura
ocorre também a redução da FBN, principalmente em alta produtividade, devido à
competição entre a biomassa aérea e os bacteróides por fotoassimilados (ZAPATA et
al., 1987; SHIBLES, 1998). Nesta fase o N é redistribuído das folhas para os grãos,
levando ao decréscimo dos teores de clorofila e da rubisco, enzima responsável pela
assimilação de CO2. Esse processo de “senescência programada” prejudica a
fotossíntese e restringe a produtividade da soja (SINCLAIR e DE WIT, 1975).
Ainda deve-se considerar a elevada exportação de N do sistema pelos grãos de
soja, que é, em média, cerca de 60 kg de N por Mg de grãos, de forma que a fixação
biológica não seria suficiente para um balanço positivo de N em produtividades
superiores a 4 Mg ha-1
(KUBOTA et al., 2008). Este déficit reduz a fertilidade do solo
em relação ao N, com prejuízo ao sistema de produção como um todo, haja vista que um
balanço positivo é importante para as culturas posteriores e para não diminuir o teor de
matéria orgânica do solo (SISTI et al., 2004).
3. OBJETIVO DA PESQUISA
Aumentar a produtividade da soja cultivada em SPD, por meio do fornecimento
de N mineral, sem prejuízo da FBN; e quantificar o balanço de entradas e saídas de N,
para avaliar a sustentabilidade do sistema.
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Ensaio em Primavera do Leste - MT
O experimento foi implantado em uma área que utilizou nos últimos três anos o
sistema de plantio direto. A área foi cultivada com algodão nas safras 2009-2010, 2010-
2011, 2011-2012. O solo é classificado como um Latossolo Vermelho Amarelo, com
teor de argila de 45%.
A semeadura da soja foi realizada dia 18/10/12 com a cultivar Nidera 7255 RR,
com uma população de 14,9 plantas por metro ou 330.000 plantas ha-1
em linhas
espaçadas por 0,45 cm. A adubação utilizada foi 360 kg ha-1
de 00-18-18 aplicado no
sulco de semeadura.
No dia 25/10/12 com a soja no estádio VE foram aplicados os tratamentos T0,
T1, T2, T3 e T4 (0, 20, 40, 80 e 120 kg de N ha-1
, respectivamente) (Figura 1). Utilizou-
se como fonte de N ureia diluída em água que foi aplicada no solo, na entrelinha da
semeadura (Figura 2). A diluição da ureia foi feita a fim de minimizar a volatilização de
N, e para tornar a aplicação menos prejudicial à cultura, pois ainda deveria ser feita a
aplicação de tratamentos com a soja em R3, portanto com o dossel bastante fechado.
Nessas condições o uso de ferramentas para a incorporação do fertilizante poderia
causar danos às plantas.
No dia 09/12/12 com a soja em estádio R3-R4 (Figura 3) foram aplicados os
tratamentos T5, T6, T7, T8 e T9 (0, 20, 40, 80 e 120 kg de N ha-1
respectivamente)
referentes à segunda época de aplicação. A fonte e o modo de aplicação foram idênticos
aos aplicados em VE. Nesta data, foi realizada a primeira coleta de hastes e pecíolos de
duas plantas para a análise de ureídeos, a qual quantifica a FBN da soja. O material
coletado está em processo de moagem para posterior análise.
Figura 1. Visão geral da implantação do experimento em Primavera do Leste.
Figura 2. Detalhe da aplicação de ureia diluída na entre linha da cultura.
Figura 3. Soja no estádio R3 em Primavera do Leste.
No momento em que a cultura encontrava-se em R5.3-R5.4, no dia 29/12/12, foi
realizada uma segunda coleta para a quantificação de ureídeos, e também, uma coleta de
quatro plantas para a determinação do índice de área foliar, altura, nº de nós da haste
principal, nº nós total, nº de hastes, nº de vagens, IAF, MS de folhas, MS de hastes, MS
de vagens e MS total. Os dados estão apresentados na Tabela 1, porém sem a análise
estatística.
Tabela 1. Biometria e produção de massa de soja (planta-1
) no estádio fenológico R5.3
em Primavera do Leste – MT safra 2012/2013.
Trat. Altura Nº nós haste
principal
Nº nós total
Nº hastes
Nº vagens IAF MS
folha MS
haste MS
vagem MS
TOTAL
T0 87,1 18,5 22,9 2,5 44,6 4,94 6,1 6,1 5,7 17,8 T1 86,4 17,5 21,4 2,6 38,8 4,20 5,2 5,2 4,6 15,0 T2 89,1 18,1 23,3 2,3 40,1 4,57 6,0 5,8 5,0 16,9 T3 87,5 17,4 19,3 1,6 34,1 4,28 5,7 5,5 4,7 15,9 T4 87,9 17,5 24,1 3,0 43,4 4,53 6,1 6,2 5,3 17,7 T5 87,6 17,4 22,1 2,3 39,9 4,44 5,5 5,7 5,0 16,3 T6 88,5 18,3 24,3 2,5 43,4 4,21 5,2 5,2 4,9 15,3 T7 82,3 17,1 24,8 3,1 40,0 4,28 5,6 5,4 4,9 15,9 T8 82,1 17,4 22,4 2,5 41,3 4,14 5,8 5,8 5,3 16,9 T9 81,0 16,8 22,4 2,5 39,3 4,05 5,8 5,5 4,4 15,7
No dia 30/01/13 foi realizada a colheita do experimento, em que foram retiradas
as plantas de 3 m da linha central de cada parcela. Analisou-se a altura de plantas, nº de
nós da haste principal, nº de nós total, nº de hastes (planta-1
), nº de vagens e MS total de
vagens colhidas em 3 metros lineares. Os dados estão apresentados na Tabela 2 com a
média dos blocos para cada tratamento.
Tabela 2. Biometria e produção de massa de soja no estádio fenológico R8 em
Primavera do Leste – MT safra 2012/2013.
Trat. Altura Nº nós haste
principal Nº nós total Nº hastes Nº vagens
total colhido
MS total vagens
colhidas
T0 82,9 17,1 20,7 2,3 1510,8 599,0 T1 88,8 17,3 19,8 1,9 1529,2 616,2 T2 84,9 16,8 20,5 2,4 1559,4 653,3 T3 84,9 16,8 19,5 2,1 1654,8 624,4 T4 85,1 17,4 22,5 2,6 1817,8 695,4 T5 84,9 16,9 19,5 2,1 1378,3 580,7 T6 83,1 16,8 19,1 1,8 1614,1 621,2 T7 82,7 17,3 21,5 2,4 1686,3 652,8 T8 82,3 16,7 21,2 2,5 1565,1 583,2 T9 84,3 17,4 20,9 2,2 1517,1 620,5
Apesar de não ter feito a análise estatística, nota-se que a MS das vagens
colhidas foi inferior para a soja sem N mineral (T0 e T5). Nota-se que o número de
vagens também foi menor para os tratamentos T0 e T5. Ainda não foi realizada MS de
1000 grãos que também pode ser a explicação para tal resultado. Tal análise depende
do uso de uma máquina de trilhar pequena, adequada ao volume das amostras, a
qual será providenciada, de modo que no próximo relatório esse dado será
computado.
4.2 Ensaio em Taquarituba
O experimento foi implantado em uma área que utilizou milho nas últimas duas
safras de verão (2010-2011 e 2011-2012), com pousio nas entre safras (Figura 4).
Anteriormente ao milho a área era destinada a pastagem e por isso, a população de
braquiaria era alta antes da implantação da soja na safra 2012-2013 (Figura 5). O solo é
classificado como Nitossolo Vermelho, com teor de argila de 65%.
Figura 4. Visão geral da implantação do experimento em Taquarituba.
Figura 5. Detalhe da aplicação palhada de milho e brachiária presente no início do
desenvolvimento da soja na implantação do experimento.
A semeadura da soja foi realizada dia 22/10/12 com a cultivar Nidera 5909 RR,
com uma população de 12,4 plantas por metro ou 276.000 plantas ha-1
em linhas
espaçadas por 0,45 cm. Adubou-se com 430 kg ha-1
de 02-20-15 aplicado no sulco de
semeadura.
No dia 04/11/12, quando a estava em VC, foram aplicados os tratamentos T0,
T1, T2, T3 e T4 (0, 20, 40, 80 e 120 kg de N ha-1
, respectivamente) (Figura 1). A fonte e
o modo de aplicação foram os mesmos utilizados em Primavera do Leste.
Em 27/12/12 com a soja em R3 foram aplicados os tratamentos T5, T6, T7, T8 e
T9 (0, 20, 40, 80 e 120 kg de N ha-1
, respectivamente) referentes à segunda época de
aplicação. A fonte e o modo de aplicação foram os mesmos que em VE. Nesta data, foi
realizada a primeira coleta de hastes e pecíolos de duas plantas para a análise de
ureídeos, para uma estimativa da FBN da soja.
Com a soja no estádio fenológico R5.3, em 18/01/13, foi realizada uma segunda
coleta para a quantificação de ureídeos, e também, uma coleta de oito plantas para a
determinação do índice de área foliar, IAF, MS de folhas, MS de hastes, MS de vagens
e MS total. Nessa coleta, optou-se por reduzir o número de variáveis analisadas e em
contrapartida amostrar mais plantas. Dessa forma, os caracteres biométricos foram
avaliados apenas na colheita, pois nos resultados de Primavera do Leste observou que
houve pouca mudança entre o estádio R5.3 e a colheita em R7-R8. A maior amostragem
de plantas em contrapartida permite uma análise mais precisa do IAF e da MS das
plantas. Os dados são apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Produção de massa de soja (planta-1
) no estádio fenológico R5.3 em
Taquarituba – SP safra 2012/2013.
Trat. MS folha Total MS haste Total MS vagem Total MS TOTAL IAF
T0 7,72 7,05 7,84 22,61 4,53 T1 7,03 5,90 7,32 20,26 4,27 T2 7,57 7,18 7,46 22,21 4,60 T3 7,54 7,02 7,47 22,02 4,48 T4 7,32 7,39 7,76 22,48 4,41 T5 7,18 6,14 7,47 20,79 4,17 T6 6,33 5,15 6,63 18,11 3,72 T7 7,91 6,36 8,16 22,42 4,79 T8 7,49 6,26 7,57 21,32 4,34 T9 7,38 6,34 7,46 21,18 4,48
No dia 19/02/13 foi realizada a colheita do experimento, em que foram retiradas
as plantas em 3 m da linha central de cada parcela (Figura 6). Avaliou-se a altura de
plantas, nº de nós da haste principal, nº de nós total, nº de hastes (planta-1
), nº de vagens
e MS total de vagens colhidas. Os dados estão apresentados na Tabela 4, com a média
dos blocos para cada tratamento.
Figura 6. Parcela colhida em Taquarituba.
Tabela 4. Biometria e produção de massa de soja no estádio fenológico R8 em
Taquarituba – SP safra 2012/2013.
Trat. Altura Nº nós haste principal
Nº nós total Nº hastes Nº vagens total
colhido
MS total vagens
colhidas
T0 67,6 15,6 38,5 6,8 1664,3 506,2 T1 65,2 16,0 37,8 6,3 1593,8 495,5 T2 65,1 16,2 38,8 6,3 1640,3 517,1 T3 68,4 15,8 40,1 6,9 1932,1 557,0 T4 68,2 15,9 38,1 6,8 1663,5 512,8 T5 63,8 15,1 36,3 6,6 1567,7 510,0 T6 62,1 15,6 37,1 6,6 1711,7 545,1 T7 64,6 15,9 39,8 6,9 1943,2 589,8 T8 62,9 15,3 39,2 6,4 1609,0 493,0 T9 62,0 15,8 36,7 6,8 1809,2 525,0
Nota-se que em Taquarituba a maioria dos tratamentos que recebeu N
apresentou maior MS de vagens, possivelmente devido ao maior número de vagens. Há
um ligeiro aumento no numero de nós total das plantas nos tratamentos 3 e 7, os quais
se destacam pelo aumento do número de vagens e da MS de vagens.
5. CONCLUSÕES
A primeira safra da pesquisa foi realizada com sucesso. O cronograma e a
metodologia proposta para o experimento foram respeitados, e apesar de não estar
planejada a realização da análise estatística isolada da primeira safra, uma vez que
planejou a análise estatística dos dados das duas safras, ainda assim a mesma será feita
para a interpretação dos resultados até então descobertos. Mesmo ainda sem a análise
estatística podemos visualizar diferenças entre os tratamentos e dessa forma acreditamos
estar no rumo certo.
Prof. José Laércio Favarin Clovis Pierozan Junior
Orientador e Coordenador do Projeto Orientado de Doutorado
Piracicaba, 29 de abril de 2013.