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UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - UNIMAR
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
A QUESTÃO DO LIVRO: do formato impresso ao eletrônico
ARLETE APARECIDA MATHIAS
MARÍLIA-SP
2011
ARLETE APARECIDA MATHIAS
A QUESTÃO DO LIVRO: do formato impresso ao eletrônico
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Comunicação da Universidade de
Marília como requisito para a obtenção do título de
Mestre em Comunicação.
Área de Concentração: Mídia e Cultura
Orientador Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira.
MARÍLIA-SP
2011
MATHIAS, Arlete Aparecida
A questão do livro: do formato impresso ao eletrônico/ Arlete
Aparecida Mathias -- Marília: UNIMAR, 2011.
86p.
Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Curso de Comunicação
da Universidade de Marília, Marília, 2011.
1. Comunicação 2. Livro 3. Livro Eletrônico 3. História do Livro
4. Convergência Midiática I. Mathias, Arlete Aparecida.
CDD -- 302.2
ARLETE APARECIDA MATHIAS
A QUESTÃO DO LIVRO: do formato impresso ao eletrônico
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de
Marília como requisito para a obtenção do título de Mestre em Comunicação.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira.
Aprovada pela Banca Examinadora em ___/___/______.
Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira
Orientador/Presidente
Profa. Dra. Ana Maria Gottardi
Unesp – São José do Rio Preto
Profa. Dra. Suely Fadul Villibor Flory
Universidade de Marília
Aos meus pais, Sidaliza Silva Mathias e Sebastião
Mathias, em memória
Agradeço a Deus pela sua presença, mãos estendidas, a minha intercessora e madrinha de
consagração, Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
À Reitoria da Universidade de Marília pelo apoio.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira, pela paciência, atenção
disponibilidade, incentivo, confiança, contribuições e indicação de leituras imprescindíveis.
A Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-graduação, Profa. Dra Suely Flory, pelo incentivo, estímulo,
contribuições e singular apoio.
À Profa. Dra. Ana Maria Gottardi pelas preciosas orientações e contribuições
À Coordenadora do Programa, Profa. Dra. Rosângela Marçolla, pela amizade, compreensão e
generosidade.
Ao Prof. Dr. Romildo Antonio Sant‟Anna pelo estímulo à iniciação científica.
Ao Bispo Diocesano de Lages (SC), D. Irineu Andreassa, um pai, um pastor, sobretudo um
amigo que, exceto, me abriu a única porta.
Ao Frei Gilmar Vasques, da Ordem dos Frades Menores São Francisco de Assis, da Paróquia
Nossa Senhora de Fátima de Marília (SP).
Ao Mosteiro Maria Imaculada das Irmãs Clarissas Pobres de Marília e a todas as Clarissas de
Marília, em especial Madre Marlene e Irmã Francelina.
Ao Frei Anízio Rodrigues Filho, da Ordem dos Frades Menores de São Francisco de Assis de
Marília.
Ao Mosteiro Nossa Senhora de Nazaré das Irmãs Clarissas Pobres de Lages (SC), em especial
Madre Renata do Bom Pastor e Irmã Sandra Maria.
Aos queridos primos-irmãos: Neiva Sueli Mathias, Arlete Mariusa Mathias e André Marcos
Mathias, pelo apoio, incentivo, recursos, amizade, confiança, respeito e carinho.
Ao meu “pai branco”, Eduardo Accarini, Edna Ruth Accarini, pela amizade e apoio.
Aos amigos queridos Ademir Joanili e sua mãe Delmira Gomes Joanili.
À Maria Simira Bertocini Gonçalez Molina.
À querida Stella Maris, paroquiana da Capela das Irmãs Clarissas, pelo incentivo.
Ao casal, ministros eucarísticos, Renato e Sarah Nilma Lovato pelo apoio e auxílio.
À ministra eucarística Lúcia Esteves pela generosidade e apoio.
À Martha Cyrne Toledo.
Às amigas Leda de Araújo Broering e Rita de Cássia Antunes de Campos, de Lages(SC)
Aos funcionários da Paróquia Nossa Senhora de Fátima de Marília, Patrícia, Arlindo e Graça.
À minha querida amiga de infância e afilhada dos meus pais Sandra Aparecida Cavassani
Penedo.
À minhas queridas amigas Sandra Maria Jacob Leme Soares e família e Léia Valia Meirelles
e família pelas orientações.
A Alberto Cavassani Penedo, Maria Nelci Penedo, Sueli, Tanaka, Keko, Kelly, Bonzanini,
Juninho, Baiano, Renan Cauê, Cláudio “Pinduca” e família.
Aos meus queridos colegas do Curso de Mestrado, fundamentais e fantásticos para a escala
dos obstáculos: César Bechara, Camila, Gustavo, Rodrigo, Álvaro, Rodrigo (de Assis), Maria
Aparecida, Vanderley Santiago, Miton Farias, Cláudio Zunta, Edgar, Arlete Marçal, Patrícia
Oishi, Fabrício, Paulo Mendes , Antonio Carlos Camacho, Hyclea, Leandro, Aline, Leonardo,
Ana e Marisol
Às professoras Heloisa H. Docca e Andréa Labegalini pelas contribuições.
À Profa. Dra. Conceição Maria Moura do Nascimento Ramos e Profa. Dra. Dourivan Camara
Silva de Jesus da cidade S. Luiz do Maranhão pela generosidade e amizade.
À Gllify Incorporation, Chris Kohlhardt , Debi Kohlhardt e Clint Dickson pela autorização da
publicação do Diagrama guia para novos usuários de livro eletrônico.
À Vera Cecília Frossard e Marcelo Spalding pela prontidão com preciosas contribuições.
A todos os meus amigos e inimigos se é que os tenho.
Aos meus amigos constituídos em Lages (SC) em Santa Catarina e na minha terra natal, Tupã
(SP).
Recorrendo mais uma vez ao livro sagrado para encerrar os agradecimentos, cito alguns dos
mandamentos reservado àqueles que deixei por último. Entre os dez, escolhi alguns para
seguir como orientação dada pelos meus pais. Eles remetem às seguintes passagens: 1º Amar
a Deus sobre todas as coisas; 4º Honrar pai e mãe; 5º Não matar; 7º Não roubar; 8º Não
levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias.
Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton Osmail Mathias e
Adilson Edson Mathias pela hostilidade e exclusão. As lesões, injúrias, calúnias prontificaram
para mim o perdão e a continuidade pelo caminho da ética, da integridade e do bem. O
abandono e a indiferença foram os maiores estímulos para a conquista deste desafio e muitos
que estarão por vir. Os irmãos em Cristo não faltaram. Estão todos ao meu redor, muitos
próximos como o meu inegável sangue em suas veias.
O Senhor é meu pastor, nada me faltará
(Salmo 22/23 atribuído ao Rei Davi)
RESUMO
MATHIAS, Arlete Aparecida. A questão do livro: do formato impresso ao eletrônico.
Orientador: Roberto Reis de Oliveira. Universidade de Marília (SP) - UNIMAR, 2011. Diss.
O desenvolvimento das novas tecnologias da comunicação e da informação nos séculos XX e
XXI provocou mudanças significativas tanto em termos de usos quanto de conteúdos
comunicacionais e midiáticos. Entre outras questões, trouxe à tona a possibilidade de extinção
da mídia impressa e sua supressão pelos meios eletrônicos e/ou digitais. A pesquisa focaliza a
questão do livro, do formato impresso ao eletrônico. Para tanto, busca referências históricas,
apresentando e discutindo as complexidades presentes no percurso, inclusive aquelas
referentes à cadeia produtiva do livro. Na tentativa de empreender uma discussão sobre o
tema, como procedimentos metodológicos elegeu-se a pesquisa bibliográfica e documental
orientada por uma abordagem dialética, dada a face social do fenômeno. Conclui-se que, para
além da substituição de um suporte por outro, há mudanças significativas na indústria
editorial e, ainda, aponta-se para um espaço de coexistência dos suportes.
Palavras-chave: Livro; Livro eletrônico; História do Livro; Convergência Midiática;
Comunicação.
ABSTRACT
MATHIAS, Arlete Aparecida. The case of the book: from print to the electronic one. Thesis
Supervisor: Roberto Reis de Oliveira: UNIMAR, 2011. M. Sc. Diss.
The development of new communication technologies and information in the XX and XXI
centuries has caused significant changes both in terms of content and uses communication and
media. Among other things, it raised the possibility of extinction of the print media and its
suppression by electronic / or digital one . The research focuses on the case of the book, from
printed to electronic format. Therefore, it seeks historical references, and discussing the
complexities present in the route, including those related to the productive chain of the book.
In an attempt to launch a discussion on the topic, as instruments elected to bibliographic and
documentary directed by a dialectical approach, given the social face of the phenomenon.
Then it was concluded that, in addition to the replacement of a support on the other,
significant changes can be found in the publishing industry, and also it „s pointed a space
for a coexistence of the media.
Keywords: E-book. Electronic book. BooK. New Technologies of Information and
Communication.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 – Internet 2.0 - W2 ............................................................................................. 43
Ilustração 2 – Livro eletrônico x Livro de papel ................................................................... 44
Ilustração 3 – Convergência e as múltiplas funções .............................................................. 45
Ilustração 4 – Comunicação + mídia + tecnologia ................................................................ 47
Ilustração 5 – Skiff, o e-reader mais fino, com maior tela, maior resolução e flexível ........ 48
Ilustração 6 – Site do Treebook Gallery ................................................................................ 49
Ilustração 7 - Kindle 3 is Amazon´s ...................................................................................... 50
Ilustração 8 – Memex ............................................................................................................ 52
Ilustração 9 – Site EbookCult .............................................................................................. 53
Ilustração 10 – iPad da Apple ............................................................................................... 54
Ilustração 11 – Rocket e-book .............................................................................................. 55
Ilustração 12 – Mudança de costumes – leitura do jornal para o e-book .............................. 59
Ilustração 13 – Apple no Brasil ............................................................................................. 72
Ilustração 14 – 2º Congresso Internacional CBL do Livro Digital ....................................... 72
Ilustração 15 – Logomarca da Amazon.com ......................................................................... 72
Ilustração 16 – Congresso Brasileiro do Livro Digital .......................................................... 72
Ilustração 17 – A Reinvenção do escritor .............................................................................. 72
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11
I- CAPÍTULO - HISTÓRIA DO LIVRO ........................................................................... 15
1. Conceitos, nomenclaturas ....................................................................................................16
2. A antiguidade clássica no desenvolvimento do livro ......................................................... 18
3. Tipografia de Gutenberg: reflexões sociais, políticas e econômicas ................................. 22
4. O livro impresso a partir da editoração procedimentos organizacionais............................. 23
5. O livro eletrônico: ajustes, transformações, averiguações, discussões................................ 25
II- CAPÍTULO - INDÚSTRIA CULTURAL ..................................................................... 30
1. Aspectos introdutórios ...................................................................................................... 31
2. A Indústria Cultural e o Instituto de Pesquisa Social ou Escola de Frankfurt .................... 33
3. Massificação ........................................................................................................................ 36
III- CAPÍTULO - LIVRO ELETRÔNICO ........................................................................ 41
1. Introdução parâmetros de convergência ............................................................................ 42
2. Livro eletrônico: traçado histórico .......................................................................................48
3. Livro eletrônico: conceitos e definições ............................................................................. 56
4. Livro eletrônico: questões .................................................................................................. 59
5. Livro eletrônico: mudanças e consequências ..................................................................... 66
6. Cadeia Produtiva do Livro: mercado editorial .................................................................... 72
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 81
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 84
11
INTRODUÇÃO
12
Um livro muda pelo fato de que ele não muda quando o
mundo muda.
Pierre Bourdieu
O desenvolvimento das novas tecnologias da informação e da comunicação fez com
que a internet se tornasse ferramenta essencial nos últimos tempos. A questão do livro como
objeto de discussão neste estudo surge oportunamente, num momento de transição e acalorado
questionamento sobre o futuro do livro em suporte impresso, por ser uma ferramenta
midiática que exerce um papel central na vida do homem; para intercâmbio e armazenamento
de informações desde os primórdios com as civilizações antigas.
Ao abandonar a sua forma física tradicional, dispensar o uso do papel e alocar-se
eletronicamente nas telas, levanta-se a possibilidade de se averiguar a questão do livro, do
formato impresso ao eletrônico, como objeto deste estudo.
Esta dissertação, para verificar o epicentro que origina as dúvidas sobre o futuro do
livro impresso buscou referências históricas, do seu momento atual até o alcance de suas
possibilidades futuras, encontrando indícios que justificassem a alteração - sua migração -
para o ambiente das novas tecnologias da informação e da comunicação, estas bastante
influenciadas pela internet.
A pesquisa objetiva apresentar e avaliar ao menos parte dos conflitos em torno da
morte do livro impresso e principalmente sua alocação no ambiente eletrônico. De um lado
encontram-se posições de especialistas do meio impresso, defendendo o livro físico, e, de
outro, os adeptos da nova mídia apostando no tempo para o desaparecimento do mesmo.
O problema da pesquisa coloca em evidência o livro e a dialética instaurada quando se
confronta sua trajetória histórica e sua migração para o universo eletrônico, as perspectivas do
formato impresso e seu futuro nas versões eletrônicas. A exemplo, ecologistas refletiram
sobre o consumo mensal do jornal impresso The New York Times que, para suas edições
diárias, consome mensalmente 240 hectares de floresta. (VELASCO, 2010, p. 10), ao mesmo
tempo em que há um contraponto apontando para o fato de que as baterias e metais pesados,
usados para a versão eletrônica, avançam o sinal no consumo de energia proveniente das
usinas hidrelétricas. Estudou-se, ainda, os pontos de vista conciliatórios.
Como procedimentos metodológicos, o trabalho pautou-se em pesquisa bibliográfica
na tentativa de elencar uma revisão de literatura, destacando-se uma abordagem dialética da
questão central.
13
O ensaio de Ferrari (2010, p. 296) - apontou Darnton o historiador , escritor e diretor
de uma das bibliotecas universitárias mais tradicionais nos Estados Unidos, a de Harvard –
que elucidou a situação do livro em diferentes épocas, inclusive no presente. O autor
demonstra intimidade com os livros e, ainda, perspicácia para responder, conciliar, mostrar
dados que destacam as inquietações que alvoroçaram os segmentos envolvidos com a questão
levantada. Busca novos rumos que vão desde a supressão da versão antiga à coexistência de
ambas ou, ainda, a possibilidade de existência apenas da versão eletrônica.
A expectativa da avaliação é contribuir para um debate atual que focalize,
historicamente, a evolução do impresso para outros meios, primordialmente para o eletrônico
para onde o livro, objeto de estudo dessa dissertação, migrou.
Três capítulos serão desenvolvidos para que se possam desenredar os dados
contributivos, as avaliações essenciais para o processo de edificação da análise do livro
eletrônico.
No primeiro capítulo são conferidos conceitos, nomenclaturas e conotações que se
consolidaram em volta do livro, focalizando-o como um errante que se aventurou com vários
suportes atuando junto às civilizações clássicas, até se aperfeiçoar no formato códice
manuscrito e, no século XV, ganhar o reconhecimento da imprensa, um divisor de águas entre
o artesanal e a tecnologia trazida pela prensa de Gutenberg (PAULINO, 2009, p. 2). Esta parte
encerra-se com o momento em que Chartier (2009, p. 12) fotografa a imagem do livro
migrando do seu meio convencional para as telas dos computadores.
No segundo capítulo, o enfoque é dado à Indústria Cultural, pelo fato de destacar a
origem do processo da Indústria Cultural, em meio ao qual se sustenta a indústria do livro até
ao limite desta última versão, a eletrônica.
A Escola de Frankfurt, responsável por cunhar o termo Indústria Cultural, foi um
movimento intelectual e filosófico que surgiu na década de 1920 na Alemanha, congregou
vários pensadores, na sua maioria marxistas. Walter Benjamin, um deles, encarava a
reprodução da obra de arte por intermédio do avanço tecnológico de uma forma natural e
positiva. Este é um fator que se deve destacar nesta introdução. Seus rastros são fortes aliados
para se averiguar e analisar a difusão do livro eletrônico.
Intimamente ligada à idéia de cultura industrial, a cultura de massa é irrefreavelmente
acelerada pelos meios de comunicação. Nessa esteira, diz Henri-Jean Martin (1992,p.14)que
“O livro já não exerce mais o poder de que dispôs antigamente, já não é o mestre de nossos
raciocínios e sentimentos em face dos novos meios de informação e comunicação, de que
doravante dispomos”. Esta questão é tratada no segundo capítulo. O reforço disto é postulado
14
por McLuhan (1972) ao afirmar que “meio é mensagem, base e diretriz da comunicação de
massa”.
O terceiro e último capítulo gira em torno das complexidades reveladas pelo tema. São
vistas as avaliações, inclusive quando se trata da cadeia produtiva do livro no processo de
convergência entre veículos que dialogam entre si, diante da atmosfera trazida pelas novas
tecnologias da informação e comunicação. Entre os que temem e os que aplaudem a versão
eletrônica destaca-se a reestruturação dos segmentos da rede, inclusive dos escritores, alinha-
se com a preocupação governamental que identificou a crise na cadeia produtiva do livro
desde 2005. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES) solicitou
averiguação ao Grupo de Pesquisa em Economia e Entretenimento da URFJ. (EARP;
KORNIS, 2005). Isto estabelece emblemas sintomáticos que alentam rupturas e problemas do
meio impresso e situa as telas, a internet e o livro eletrônico com possibilidades de eficácia
como veículo midiático.
As páginas a seguir retratam um ambiente de análise que descaracteriza o livro na
forma em que se cristalizou e o evidencia como um veículo híbrido, que pode se
contextualizar em estruturas e suportes inusitados, como se verifica na questão do futuro do
livro impresso (MACHADO, 1994, 203 - 204).
15
CAPÍTULO I - HISTÓRIA DO LIVRO
16
O livro como extensão da memória humana tem
guardado ao longo do tempo nossas experiências,
descobertas, angústias e pensamentos, permitindo que o
presente seja integrado ao passado e que alguma “luz”
possa ser lançada em direção ao futuro. A história do
homem ocidental é de certa forma a história do livro.
Vera Cecília Frossard, 1998.
1. Conceitos, nomenclaturas
O objeto que conhecemos hoje como livro sofreu, na sua trajetória, diversas
transformações. A sua forma impressa em papel apareceu no século XV quando Johannes
Gutenberg aperfeiçoou a prensa de tipos móveis. (SILVA, 2002, p. 1)
Em dados extraídos de investigações realizadas no Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de São Paulo (IEA), pode-se debruçar em pontos que revelam formas adequadas
de compreensão e resgate das origens do livro impresso, vinculando os fios que convergirão
para o caminho até o objeto em análise, o livro eletrônico.
A conferência proferida por Arlindo Machado (1994, 203 - 204) pesquisador do IEA,
contribui para que se caminhe na elucidação das questões sobre o livro impresso e sua
história. Machado declarou que o termo “livro” restringe-se apenas à expressão tipográfica,
conceito segundo o qual o objeto se cristalizou a partir do século XV, com Gutenberg.
O pesquisador aponta os historiadores Lucien Febvre e Henri-Jean Martin como
ícones na história do livro impresso. Estes estenderam-se ao pensamento de Walter Benjamin,
que reforçou a ideia de que o termo “livro” recebeu esta conotação especificamente focando a
versão impressa e, sobretudo em papel. (MACHADO, 1994, p.204)
Na trajetória investigativa, perseguindo-se a história do livro, observou também que
aqueles com conteúdo pagão, principalmente no ocidente eram escritos em versão de rolo de
pergaminho para discriminá-lo da versão códice/cristã.
Nos cadastros do IEA constata-se que o sintagma livro derivou-se da palavra em latim
“líber” cuja conotação genérica designava qualquer dispositivo de fixação do pensamento,
isto é, independente de inscrição em pedra ou madeira, tabuleta em cera e ou pergaminho.
Este parecer foi reforçado e retomado em 1993 pelo arcebispo de S. Paulo, D. Evaristo Arns,
segundo o coordenador dos levantamentos, Arlindo Machado. Em latim a denotação do termo
“líber” definiu o significado como casca de árvore. (ARNS, 1993, apud MACHADO, 1994,
p.204)
17
No histórico do livro impresso o IEA registrou o fator que levou à perda do verdadeiro
sentido que o termo códice denotava anteriormente, e ou quando o mesmo emprestou, em
caráter definitivo para a humanidade o formato que cristalizou o “signo livro”, proferiu o
investigador Machado (1994, p.204 ) o desaparecimento do termo:
[...] com o tempo e a expansão do cristianismo o conceito livro conquistou e
sagrou-se à generalização cristã: “a terminologia inverte-se: livro passa a
designar exclusivamente o códice e o termo mais genérico para nos referir a
qualquer outro dispositivo de fixação do pensamento.
Neste mesmo contexto averiguou-se que o primeiro livro impresso foi a Bíblia de
Gutenberg. Por ser um livro cristão lançou ao cosmo o modelo no mesmo formato códice. A
razão é observada da seguinte maneira:
[...] em parte o surgimento do livro impresso está associado a um debate
religioso e em parte também porque o livro cristão acabou por se revelar um
formato portátil, mais compacto e mais prático do que os rolos de
pergaminhos. A verdade é que o livro impresso adotou para si o formato do
códice e esse modelo plantou raízes tão fundas em nossa cultura que hoje se
torna difícil pensar o livro como algo diferente. Mas ele pode ser diferente,
como já foi em outros tempos e volta a sê-lo agora. (MACHADO, 1994, p.
204)
Em decorrência dos resultados de estudos e aprofundamentos empíricos sobre o livro
impresso seguem as pesquisas de Lucien Febvre e Henry-Jean Martin autenticando um
conceito histórico para o termo livro que definiu:
[...] livro é o instrumento mais poderoso de que pode dispor uma civilização
para concentrar o pensamento disperso de seus representantes e conferir-lhe
toda a eficácia, difundindo-o rapidamente no tecido social, com um mínimo
de custos e de dificuldades. Sua função primordial é conferir [ao
pensamento] um vigor centuplicado, uma coerência completamente nova e,
por isso mesmo, um poder incomparável de penetração e de irradiação.
(FEBVRE; MARTIN, 1992, p. 15)
Mas antes de se fixar outros olhares que enfatizam não só os conceitos, mas também
outros prismas da historiografia do impresso, como desfecho de sua conferência, Machado
(1994, p. 204) define:
[...] o livro numa acepção mais ampla, como sendo todo e qualquer
dispositivo através do qual uma civilização grava, fixa, memoriza para si e
para a posteridade o conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas,
de seus sistemas de crenças e os vôos de sua imaginação.
18
No próximo tópico, voltam-se as lentes ao traçado e processo histórico do livro
evidenciando outras verificações, relacionadas à invenção da escrita, formas assumidas pelo livro,
transformações e reflexos de revolução.
2. A antiguidade clássica no desenvolvimento do livro
Reconheceu-se historicamente que o livro já existia antes mesmo de ter a forma atual.
O homem há milhões de anos vem deixando a sua marca de passagem no mundo, haja vista o
que Hohlfeldt (2003, p. 63-4) relata sobre isto:
[...] Tomemos como ponto de partida a invenção da escrita pelos Sumérios,
em 3500 a. C.. Podemos, depois, referir o surgimento da escrita entre os
judeus e os gregos, e verificar o significativo papel que a mesma teve ao
fixar em documento, e de maneira segura, isto é codificado, num texto
único, as diferentes versões antigas narrativas mitológicas de cada povo,
desde epopéia de Gilgamesh e o antigo testamento judaico-cristão [...] até o
Corão [...] até o Corão Árabe [...]. Mas especialmente a partir dos gregos que
podemos melhor identificar esses períodos, que assim destacamos [...].
Foram justamente os gregos que, pela primeira vez, no Ocidente refletiram a
respeito da comunicação humana a partir dos filósofos pré-socráticos.
Nos tempos primordiais das cavernas, quando os homens desenhavam e gravavam nas
paredes de pedra imagens de bisões, bois, outros animais e figuras e pinturas, registram-se
flagrantes de senso artístico, rudimentos simbólicos que decodificaram, tanto os rudimentos
de comunicação quanto de escrita.
Segundo Silva (2002, p. 1), esta demanda é proveniente da necessidade humana de
registrar feitos e fatos de sua história ao longo do tempo, o que na sua observação caracterizou
a demanda para o desenvolvimento de “técnicas”, códigos, artefatos e outros.
Todavia, a história do homem só pôde ser contada justamente em circunstâncias da
invenção da escrita e somente a partir da idade da escrita. Há cinco mil anos atrás é que
começaram a aparecer os primeiros documentos escritos, consequentemente, os primeiros
livros. Notou-se que as versões dos livros dependeram da restrição de materiais e instrumento
a que cada comunidade tinha acesso, ainda à distância do formato convencional da versão
impressa.
Os registros escritos dos objetos que eram utilizados como livros foram feitos sobre
barro, madeira, cera, metal, ossos, bambu e outros materiais rígidos, os quais dificultavam a
19
dobra. Contudo eram manufaturados em lâminas ou placas separadas e atreladas e ou unidas
posteriormente.
As outras resoluções eram facilitadas por materiais flexíveis, como os livros
elaborados de tecidos, papiro, cera, couro, inclusive a versão em papel, providos de
versatilidade para dobras e ou rolo.
Segundo Paulino (2009, p. 2), os sumérios foram os inventores da escrita, aqueles que
conservavam os seus dados e informações em livros de tijolos de barro. Afortunadamente, os
exemplares em argila se conservaram e contribuíram para a pesquisa e edificação da história
do livro. Milhares deles em formatos diferentes: redondos, ovais e retangulares, encontrados
na região da Mesopotâmia no Oriente. O levantamento observou que os sumérios os
guardavam em prateleiras enumerados possivelmente para facilidade de acesso.
No levantamento, Paulino (2009, p. 2) seguiu os passos da civilização egípcia. A
história do livro herdou dos egípcios a apropriação da tecnologia do papiro. Trata-se de um
planta aquática, nativa às margens férteis do Rio Nilo, cujas fibras atreladas em tiras
verteram-se em superfície que se adequou para a utilização da escrita. As folhas de papiro
emendadas formavam rolos imensos que poderiam ter até vinte metros de comprimento e
eram denominados “volumen”, isto é, uma obra única consolidada em vários volumes.
No estudo feito por Benício (2003, p. 23) foi observado que o suporte em rolo usado
unicamente desta forma impôs também a exclusividade de uso de uma pena especial, pois a
superfície do papiro não tinha qualquer outra resistência exceto ao junco.
Os únicos responsáveis para registrar nos longos suportes dos livros em rolo eram
denominados copistas. Estes tinham habilidade e domínio da escrita hieroglífica, forma de
transmissão de conhecimento entre os egípcios naquela época. Além da destreza dos copistas,
o suporte do livro em rolo exigia do leitor gabarito e um pouco mais para enrolar e desenrolar
as extremidades. Assim, o dote de resistência física era fundamental, além de cuidados para
dobrá-lo em razão da fragilidade do papiro. Entretanto o manuseio para a leitura, no livro
suporte em rolo, era dificultosa.
No exame de Benício (2003, p. 23), emoldurou-se a indicação de que os antigos
romanos, em suas antigas bibliotecas conservavam os rolos de papiro nas prateleiras, assim
como os seus vizinhos já referidos, os sumérios, o faziam. Este procedimento facilitou o
acesso e o recurso aditivo foram as etiquetas de informação afixadas à borda dos suportes em
rolos identificando o conteúdo, não só orientando o usuário, mas também privilegiando-o e o
poupando do manuseio e desenrole desnecessário.
20
Houve a catalogação de diversos livros em rolo de papiro; os egípcios conservaram-
nos reunidos e organizados por assunto em grandes bibliotecas. Quanto à classificação,
relacionam-se livros em rolo de matemática, astronomia, religião, além das obras literárias.
Aos povos egípcios a ciência associou a maior biblioteca da Antiguidade, a de Alexandria,
que chegou à catalogação de setecentos mil livros, sob a forma de rolo em papiro. Um
atentado e suborno incendiário que Alexandria sofreu, resultou no maior e mais impiedoso
crime contra o patrimônio da cultura e do saber ocorrido na história do livro e da humanidade.
(VENTURI, 2002 apud BENÍCIO, 2003, p. 25)
É inerente à necessidade humana o registro da sua própria história e documentos,
inquietação esta que sempre mobilizou a pesquisa. Seguindo o fluxo, são resgatadas das
civilizações orientais evidências da contribuição dos indianos na história do livro. Os mesmos
o elaboravam com folhas de palmeira, plantas comuns na Índia. O processo de manufatura
constituía em cozinhar as folhas de palmeiras, posteriormente secá-las. Usavam escrever na
superfície da folha com uma ferramenta pontiaguda e, para que houvesse nitidez naquilo que
tinha sido registrado, alisavam com uma fuligem que trazia o destaque e a notabilidade dos
caracteres. Os indianos como arremate uniam as folhas, pregavam-nas com um pedaço de
madeira, uma na frente e outra no verso, uma espécie de tampa e ou capa. Há relatos de que,
atualmente, ainda em vários países asiáticos como Tailândia, Nepal e Tibete, por tradição, se
manufaturem este tipo de livro.
Os maias e os astecas utilizavam cascas de árvore e de madeira para escrever. Estes
eram em forma de sanfona. O estudo de Paulino (2009, p. 2) revelou também que no Oriente
havia um tipo de livro feito de tabulas de madeira ou de bambu atravessadas, reunidas por
uma fivela.
O desassossego para as contribuições das diferentes culturas antigas concernentes à
edificação do livro é latente. Na pesquisa de Benício (2003, p. 25) evidenciou-se que o rolo
papiro como suporte perdurou por séculos. Seus registros foram essenciais para a
compreensão do tempo e do espaço dos acontecimentos culturais. O livro em rolo de papiro
representou a conexão da cultura egípcia com outros povos. Além da preservação da memória
cultural, foi um instrumento de desenvolvimento patrimonial da Antiguidade Clássica. Apesar
de rudimentares, os suportes utilizados por egípcios, gregos e romanos permitiram conhecer
as primeiras obras consideradas literárias.
Paulino (2009, p. 2) acentua o caráter artesanal do livro. Segundo a autora, as páginas
eram manuscritas, uma a cada vez. A matéria prima era especificamente orgânica, desprovida
21
de qualquer alquimia. O processo de reprodução sequer era dinâmico. Figuras inseridas no
conteúdo dos livros eram consideradas obra de artes, tal qual o próprio livro.
Apesar do processo do livro produzido em papiro ter revelado grandes evoluções para
a época e estabelecer pontes, interfaces culturais entre os povos da antiguidade clássica, as
restrições foram solidificadas pelos elevados custos e a baixa produção. Isto levou o estudo de
Benício (2003, p. 25 e 26) a esmiuçar e encontrar indícios que revelam que a razão da
extinção do uso do papiro foi econômica. Um suporte que não correspondia mais às
adequadas necessidades que exerceu para escrita de outrora.
Surgiu então o pergaminho. Os habitantes de Pérgamo, privados do alcance do papiro
egípcio, passaram a usar pele curtida de ovinos, o pergaminho, para transmissão da escrita.
Paulino (2009, p. 2) identificou neste suporte uma singular evolução para a época. Sua
invenção causou grande progresso na fabricação dos livros, embora um material também caro.
As folhas permitiram algo inusitado até então, ou seja, possibilitava escrever dos dois lados.
O couro também permitia ser cosido e dobrado, o que significou aprimoramento espacial da
folhas, além de ajustarem-se melhor para ser arquivados e transportados, fator que culminou
na difusão e expansão para outras regiões européias, aliciando popularidade. Durante séculos
o pergaminho foi sinônimo, segundo Benício (2003, p. 26-7), do suporte mais usado para
documentar manuscritos. Emancipou a Europa tanto das alianças mercadológicas com o povo
egípcio quanto das cheias e ou secas do Rio Nilo.
Produzido dentro dos mosteiros, apesar da exorbitância do custo foi utilizado como
suporte para escrever aproximadamente por um milênio. A invenção da caneta permitiu
agilidade para escrever na superfície dos pergaminhos, assim como aprimoramento da
caligrafia. O resultado equacionou o aumento da produção dos livros.
Decodificar palavras ou ler era habilidade restrita a poucos. Os monges então, disse
Benício (2003, p. 27), eram os leitores, os ilustradores, os calígrafos e copistas, os
preservadores e colecionadores de livros no formato códice.
O marco que o suporte em pergaminho surgido no séc. III a.C. demarcou para a
história do livro foi modificar de forma definitiva o seu formato para o de códice, versão que
se conservou até a contemporaneidade.
Martins (1996, p. 68) traduziu a alteração de suporte informacional do registro da
escrita verificando as estruturas quando declarou:
[...] o pergaminho foi escrito, como o papiro, de um lado só, até que se
descobriu ser perfeitamente possível fazê-lo nas duas faces. Enquanto a
22
escrita era realizada apenas no reto, o pergaminho era enrolado, como o
papiro, para constituir o volumen. A escrita no reto e no verso vai dar
nascimento ao códex, isto é, ao antepassado imediato do livro. Com ele
revoluciona-se o aspecto da matéria escrita e o das bibliotecas.
No próximo tópico, as observações dos experimentos examinam outros suportes e
conquistas que contribuem para o desenvolvimento histórico do livro.
3. Tipografia de Gutenberg: reflexos sociais, políticos e econômicos
O livro em pergaminho, devido ao seu custo elevado, restringiu-se a poucos, ou seja,
limitou-se ao alcance dos mosteiros e da elite, privilegiando apenas aristocratas.
A questão extraída por Benício (2009, p. 28), referencia que “a demanda
mercadológica era progressiva e o suporte por meio do livro em pergaminho passou a
intermediar o acesso à cultura. Isto levou produtores à especulação de novas alternativas para
atendimento da demanda.”
O século XV caracterizou-se pelas mudanças culturais, políticas e sociais. Havia uma
crescente procura por documentos escritos mais baratos, que precipitou o aparecimento do
papel na Europa. Segundo Bacelar (1999, p. 2), o papel já era conhecido pelos Chineses 105
d.C.: “a China desenvolvia o papel de farrapos, ou seja, misturavam trapos velhos com fibras
vegetais e para a produção do papel de seda constituíram a solução fruto da extração pasta de
bambu com casca de árvores”.
O papel, quando introduzido na Europa no século XII, apresentou-se mais viável em
detrimento do pergaminho, suporte antecessor. Os segredos do know how chinês foram
quebrados pelos árabes que os conseguiram com os prisioneiros chineses no século VIII.
Apesar da demora de sua chegada ao continente europeu, ocasionou significativo impacto
cultural desestabilizando o livro em pergaminho. Este constituía naquele momento posse
absoluta dos meios convencionais como suporte de informação e registros escritos.
O estudo de Frossard (2004, p. 2) observou outra mudança radical para a história do
livro, isto é, a lapidar a invenção de Gutenberg no século XV, que introduziu a tipografia. Do
casamento entre a prensa e o papel surgiu o livro impresso e do período da impressão adiante
cresce a valorização do papel no ocidente. Segundo Frossard (2004, p. 2), um mundo novo
despontou por intermédio da impressão bastante equidistante dos parâmetros medievais. A
informação impressa sobre papel adquire velocidade. Multiplicou-se e não se restringiu mais à
condição de relíquia.
23
Uma das mudanças significativas trazidas pelo livro impresso foi a ruptura do
monopólio do saber extensivos com exclusividade aos nobres e religiosos. Houve aumento do
número de autores e nesta proporcionalidade cresceu o número de leitores, motivados e
estimulados pela acessibilidade com suporte (MILANESI 2002, apud BENÍCIO, 2003, p.30)
O livro ganha aspectos de organização como identificação das páginas, títulos. Estes re
cursos foram estendidos ao livro como ferramenta e instrumento para recepção de textos.
Segundo a análise de Frossard (2004, p. 2-3), o livro impresso nesta época arejou-se e
gradativamente conquistou a sua própria forma de ser.
No próximo tópico o livro impresso mostra marcas relevantes na estrutura
organizacional de seu corpo
4. O livro impresso a partir da editoração e de procedimentos organizacionais
Na trajetória do livro impresso é notório seu aperfeiçoamento em diversos aspectos
organizacionais. Febvre e Martin (1992, p. 128) informam que os primeiros livros impressos
eram desprovidos de título na primeira página como o convencionado, ou seja, na primeira
folha separada. As normas técnicas tipográficas eram condicionadas a registrar na última
página o nome do tipógrafo, o local da impressão e o cólofon1.
Conforme os autores (1992, p. 130), a primeira folha do livro só passou a ser inserida
nos períodos de 1475 a 1480. Os suportes antecessores do impresso com recursos manuscritos
não tinham provisões de paginação, ou seja, o título do capítulo e ou parágrafo orientavam o
leitor de texto. No entanto a paginação derivou-se das necessidades de discernimento do
encadernador. Enumeravam-se apenas as primeiras páginas para serem suplantados à
montagem dos cadernos. A partir de 1625, os impressores humanistas condicionaram a
enumeração das páginas do livro na íntegra como se cristalizou nos moldes atuais. Houve o
abandono nesta ocasião do uso de colunas e aderiu-se à impressão do papel em linhas inteiras,
o que se identificou como uma alternativa de aprimoramento e praticidade no processo.
Os exames de Febvre e Martin (1992, p. 130) discriminam a diminuição de tamanho
do livro impresso em relação aos suportes antecessores. A dimensão menor introduzida pelo
impresso tornou-se confortável, possibilitando às pessoas carregarem os livros para as suas
alcovas e ou intimidade. Neste mesmo plano dimensional foi por eles observado que somente
no século XVII surgiram os primeiros modelos portáteis de livros, o que permitiu aos usuários
1 Cólofon ou colofão: nota final de um livro que reproduz ou completa o frontispício.
24
carregarem-nos no bolso. Neste momento, os aristocratas iniciam os registros dos livros
impressos, catalogando-os para formar suas bibliotecas particulares.
Uma cultura que outrora tinha identificação com a cultura oral, nos aspectos
religiosos, políticos e culturais, perde espaço para a cultura escrita com a introdução do livro
impresso. Segundo Paulino (2009, p. 3), é uma transformação radical que provocou temores
nos eclesiásticos, pois perceberam que a população passara a estudar os textos religiosos por
conta própria, escapando ao domínio dos preceitos das autoridades.
A leitura, que tinha o condicionamento oral, e as obras literárias, compostas para
serem recitadas em voz alta, passam a ser feitas silenciosamente, condição propiciada pela
cultura impressa, como pode-se verificar na seguinte afirmação:
As culturas literárias eram, geralmente, orais. Machado (1994) afirma que
Platão define o livro, em sua obra Fedro, como logos gegrammenos (palavras
escritas), entretanto o mesmo inseria-se numa sociedade oral. Nessas
sociedade, a história da comunidade é guardada repassada pelos mais
velhos[...]. O surgimento da imprensa transformou a realidade das sociedades,
antes totalmente orais, nos âmbitos sociais, culturais, políticos e religiosos.
Após a criação da imprensa, os eclesiásticos temiam que ela estimulasse a
população comum a estudar textos religiosos por conta própria em vez de
acatar o que era dito pelas autoridades [...]. Todas essas soluções de problemas
criaram outros problemas e provocaram grandes mudanças nos estilos de
leitura, escrita e organização de informações (MACHADO,1994,apud
PAULINO, 2009, p.3)
Como inovações inseridas no mercado pelo suporte midiático impresso, observou
Eisenstein (1996, p. 68) que este alavancou um novo sistema e novas formas de organizar
texto e os livros. Frossard (2004, p. 4) reforçou o raciocínio anterior quando informa que se
adicionou a inovação do título, o sistemático uso de ordem alfabética, o que trouxe
praticidade à catalogação da classificação do livro. Estas inovações agregaram ao suporte
impresso a responsabilidade pelas cruzadas de referência e índices, qualificando-os como
representativos para a inovação e evolução do período. Na era do impresso também é
solidificada a emancipação dos autores dos mecenas e do glamour romântico de escrever pela
paixão. (FROSSARD, 2004, p. 5 apud Febvre; Martin, 1992)
O estudo de Frossard (2004, p. 5) trouxe à tona que o livro impresso devolveu ao autor
a possibilidade de resgatar a posse de suas diretrizes e formas de expressão. A autora
caracterizou isto como um processo de mudança propiciada pela cultura impressa. A partir daí
surgiram os direitos autorais como índice de atrelamento do livro impresso ao mercado de
trabalho, a partir do momento que poderia ser reproduzido em larga escala com autorização de
25
seu criador. As ideias do autor passam a ser protegidas pelos direitos autorais, evitando que
fossem transgredidas (FOCAULT, 1994 apud FROSSARD, 2004, p. 5)
O suporte midiático impresso cumpriu um papel importante na idade Moderna, não só
pela revolução tecnológica causada segundo Castells (2003, p. 1) por que contribuiu
imensamente para o aumento da disseminação das publicações e periódicos em alta escala.
Sinérgico a diversas ocorrências, testemunhou, conforme disse Hohlfeldt (2003, p. 85) o
surgimento das universidades, da pólvora, da bússola, e teria sido o causador de uma
incontestável explosão de informações.
Para escritores, historiadores, pesquisadores finisseculares a ferramenta midiática
impressa estendeu as mãos e firmou laços para o avanço rumo à digitalização, ao livro
eletrônico ou ao hipertexto na internet.
No próximo tópico as análises focalizam o processo de transformação do livro digital
influenciado pelas novas tecnologias da comunicação e da informação no século XXI.
5. O livro eletrônico: ajustes, transformações, discussões
Henri-Jean Martin, quando proferia uma conferência na Académie des Sciences
Morales et Politiques, em Paris (1993), anunciou: “O livro já não exerce mais o poder de que
dispôs antigamente, já não é o mestre de nossos raciocínios e sentimentos em face dos novos
meios de informação e comunicação, de que doravante dispomos”. (MARTIN, 1994, p. 185)
O raciocínio de Martin (1993) foi o insight referencial para Chartier (1994) que
detectou alterações radicais das modalidades de produção e reprodução de textos. Nas ideias
do autor flagram-se as imagens do suporte midiático eletrônico: uma revolução temida por
alguns e aplaudida por outros. Segundo Chartier (1994, p. 97) a atual revolução do livro
eletrônico demanda mudanças nas estruturas e formas no suporte de recepção de textos. Neste
ínterim, verificou o estudioso que a revolução contemporânea, a do livro eletrônico, tem
maior importância que a de Gutenberg, notadamente em sua estrutura. O autor elucida que o
impresso manteve a forma do manuscrito e reiterou que a tela diferencia-se muito do códex.
Enfatizou que o leitor, para captar os dados de leitura no monitor, submete-se a uma abrupta
diferença do que representa ler um livro na versão códex.
O livro eletrônico configura-se como novo paradigma na forma de registrar e
disseminar a informação. Partindo deste parecer, Benício (2003, p. 44) afirmou aflorarem as
discussões polêmicas sobre o fim ou destino do livro impresso.
26
Machado (1994), sinérgico às reflexões polêmicas, reintegrou-se aos pensamentos de
Henri-Jean Martin e do historiador Roger Chartier, reforçando que não só Martin profetizou
espécie de instabilidade na cultura impressa, mas que o raciocínio de Walter Benjamin em de
1929 também foi alinhado ao mesmo parâmetro.
Walter Benjamin (1978, p.77-79) declarou “impressionado com as escrituras icônicas
e vertical que tomava conta das ruas através de anúncios luminosos” anteviu dizendo:
“podemos supor que novos sistemas, com formas de escritura mais versáteis, se farão cada
vez mais necessários. Eles substituirão a maleabilidade da mão pela nervosidade própria dos
dedos que operam comandos”.
Machado (1994, p.202), em conferência no IEA, manifestou-se:
[...] muitos clássicos da literatura e ensaios científicos já estão hoje
disponíveis em disquetes e podem ser lidos diretamente na tela de monitores,
havendo ainda, em muitos casos, recursos para grifar trechos, marcar páginas
e fazer anotações à margem, bem como para imprimir trechos selecionados.
Bill Gates (1995, p. 146), ícone da era digital, teve a mesma visão, frisando que o
modo de convívio da humanidade estava diante d‟ A Estrada do Futuro, coincidindo com o
título do seu primeiro livro, A Estrada da Informação, onde declarou:
[...] Os constantes melhoramentos tecnológicos dos computadores e das telas
nos darão um livro eletrônico, ou o e-book, leve e universal, que se aproxima
do livro de papel de hoje. [...] você terá uma tela que mostrará texto, imagens
e vídeo de alta resolução. Vai poder virar páginas com os dedos ou usar
comandos de voz para encontrar [...] que quiser. [...] Teremos que repensar
não apenas o significado do termo documento, mas também o de autor,
editor, escritor, sala de aula e livro.
Às profecias e à roda das discussões polêmicas, adicione-se a sensatez das análises de
Ítalo Calvino (1990). Sua expertise captou as tendências não só da literatura, mas de outras
estéticas. Nos anos de 1980, no ensaio Seis Propostas para o Próximo Milênio, o estudioso já
propunha que as artes devessem valorizar a multiplicidade, a visibilidade, a exatidão, a
rapidez e a leveza, características muito pertinentes para uma mídia de rede, global, interativa,
instantânea como a internet posteriormente se estabeleceu.
Relacionando-se aos ajustes e as transformações que livro eletrônico desencadeou a
pesquisa de Frossard (1998, p. 43) identificou haver “representações do conhecimento em
hipertexto em um ambiente de rede mundial”.
27
Spalding (2010) argumentou que as discussões relacionadas à alocação do livro e da
literatura são produtivas. No seu trabalho em andamento para a Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, ele verificou diversas pesquisas destinadas a examinar a sobrevivência do
suporte midiático impresso bem como estudos sobre o suporte sucessor - o livro eletrônico.
Entre elas podem-se destacar as investigações de Jameson (1996), Perrone-Moisés (1998),
Figueira (1999), Fokkema & Ibsch (2005), Compagnon (2009), que se debruçam sobre o
tema, sem contar as publicações que abordam frontalmente a questão do futuro do livro: Fim
do Livro, Fim dos leitores?, publicado em 2001 por Regina Zilbermann, e Futuro do livro,
publicado em 2007, com 60 visões e opiniões diferentes sobre o futuro do formato livro são
exemplos de investigações que trilham este caminho.
André Parente (1999, p. 85), no ensaio sobre Virtual e Hipertextual, observou que
nunca o livro e a literatura se apresentarem tão vivos. Destas premissas apontou os pilares que
o livro eletrônico introduziu como recurso para recepção de textos:
[...] o livro eletrônico, hipertextual, introduz três vetores totalmente novos
que devem ser levados em conta: 1) a velocidade da transmissão e
recuperação dos textos aumenta enormemente; 2) o leitor pode se inserir na
escritura, interagir, transformar, traduzir, imprimir, enfim, ele pode mapear o
texto utilizando cartas dinâmicas que lhe permitam interrogá-lo de forma
jamais vista; 3) ele pode ainda criar textos em grupo utilizando os sistemas
de groupware. Para resumir, ele tem muito mais controle sobre o texto, e este
controle é feito com precisão e velocidade.
Silva (2002, p. 2) levantou dados empíricos sobre o livro eletrônico e a mudança de
paradigmas, definindo as suas fases da seguinte forma:
[...] um produto com pretensões de substituir os átomos pelos bits,
procurando superar o livro impresso, tanto na parte comercial quanto na
parte cultural [...]
Para melhor entendimento, dividimos a evolução do livro eletrônico em duas
fases: A primeira, quando e emprego na elaboração de textos produzidos na
Internet. A segunda fase, quando do surgimento dos devices2, aí sim, uma
alusão clara e indiscutível ao livro impresso, e por isso mesmo, vencendo
barreiras que o hipertexto não conseguiu transpor (ex.: a portabilidade), pois
ainda não conseguiu se desvencilhar da matéria (PC) apesar de produzido
em bits. [...] as terminologias e os conceitos de livro eletrônico.
Por ser de um passado recente, o livro eletrônico ainda não possui um só
termo que o designe (e-book, i-Book, Livro Eletrônico, Hipertexto, Livro
Digital) e, por conseguinte uma conceituação única ou uniforme.
2 Aparelho eletrônico doméstico preparado especialmente para receber, através da Web, livros, revistas e jornais
no formato eletrônico. [...] entre os mais recentes estão o Kindle, o Nook, o Sony Reader [...]. (PROCÓPIO,
2010, p. 219)
28
E na história que o livro digital vem edificando, os estudos e percepções se aguçam
para encontrar os elementos que o conceituam e o compreendem. Silva (2007, p. 14), ainda
perseguindo o traçado do livro eletrônico, averiguou haver múltiplas estruturas combinatórias
que permitem processos contínuos de associações não-lineares e um vasto número de
interferências e de modificações para a tela, ou seja. Segundo sua observação: “clicando
ícones, o usuário pode saltar de uma “janela” para outra e transitar aleatoriamente [...] textos,
gráficos, etc., armazenados na memória do computador”.
Atraídas pelo impacto ocasionado pela migração do texto do papel para as telas,
Zilberman e Lajolo (2009, p. 38) veem o hipertexto como a mais desafiadora das novas
formas de expressão literária, pois oferece aos usuários diferentes trilhas de leitura e
possibilita o arranjo não-linear dos dados.
Em meio a tantas turbulências causadas na transposição do texto para o suporte
midiático eletrônico, a contaminação encubou-se nos artífices da escrita. Os escritores - que
no século XIX se emanciparam dos mecenas e conquistaram espaços definitivos para buscar
sua liberdade de expressão e os direitos autorais não transgredidos -, sentiram os sintomas de
pressão provindos dos mass media, herança da cultura impressa, e as imposições suplantadas
pelas novas tecnologias da informação e comunicação. Para tanto submeteram-se a um
processo de reinvenção.
O olhar de Sérgio Sá (2010), em A Reinvenção do Escritor: literatura e mass media
(2010) consolidou os flagrantes deste processo de transformação em que o escritor no século
XXI vem resistindo aos desafios.
Segundo Procópio3 (2010), especialista em livros digitais, os direitos autorais
conquistados pelo escritor no século XIX, ainda permanecem resguardados. Os livros, quando
digitalizados e publicados na internet, não ferem os direitos do escritor. Aqueles que divulgam
algo na internet têm a intenção de compartilhar e disponibilizar tudo para o benefício do
usuário da rede usufruir graciosamente. Não é negada ao escritor a autoria do livro, mas ele
deixa de ganhar, junto com o editor, livraria e outros.4 Procópio frisou ainda que pirataria é
quando alguém faz a cópia e a vende e obtém lucros por meio da obra de um terceiro.
3 Ednei Procópio é membro da Comissão do Livro Digital da CBL, autor de O Livro na Era Digital.
4 Em entrevista à TV CLICK, programa Livro em Revista, em 18/11/2010. Disponível em:
http://tvuol.uol.com.br/#view/id=especialista-ednei-procpio-explica-o-livro-digital 04021C3660D4892307/mediaId=8215068/date=2010-11-18&&list/type=tags/tags=61749/edFilter=all/.
29
Não só os escritores se reinventam. Atrelados ao mesmo processo se encontram
editores, livreiros e toda a cadeia produtiva do livro, ao se realinharem ao cenário migratório
que o avanço tecnológico e o livro eletrônico lançaram nesta nova era.
Os registros de Chartier (1994, p. 103) autenticaram as novas perspectivas trazidas
pelo texto digitalizado. Nele o leitor consegue liberação para ser co-autor do seu texto, ou
seja, através de um fragmento recortado, um novo texto pode ser criado. O livro eletrônico,
segundo Fossard (2004, p. 17) como suporte midiático abre outras possibilidades para a
recepção dos textos, dá alternativas para ser manipulado, cortado, anexado, resultante de
busca automática pela internet. Nenhum dos outros suportes na história do livro apresenta
recursos parecidos com os do livro eletrônico.
Interessante anexar à discussão a visão de Thomas S. Khun, em Estrutura das
Revoluções Científicas (1975, p. 25) quando à questão revolução e mudança de paradigmas:
Sobre as revoluções científicas: As revoluções científicas são os
complementos desintegradores da tradição à qual a atividade da
ciência normal está ligada, forçando [...] a comunidade a rejeitar a
teoria científica aceita em favor de uma outra incompatível com
aquela, sendo que tais mudanças, juntamente com as controvérsias que
quase sempre as acompanham, são características definidoras das
revoluções científicas. (KUHN, 1975, p. 25).
Para Kuhn (1975) “um paradigma mais antigo é totalmente e ou parcialmente
substituído por um novo, incompatível ao anterior”. Fator muito peculiar nas decorrências da
passagem do livro da versão impressa para a eletrônica.
Toma-se aqui o livro como um “viajante” que passou de um processo artesanal e lento
e desembocou em águas tecnológicas. Despediu-se do manuscrito e do pergaminho como
suportes e confluiu-se mecanicamente ao apropriar-se do papel como suporte midiático. Antes
mesmo de migrar para as telas, compor-se eletronicamente, desprezar o papel, o viajante foi
protagonista disseminador e difusor das publicações em larga escala.
Motivo de reação de vários pensadores que profetizaram o avanço tecnológico como
algo positivo e natural, houve aqueles intelectuais que contestaram o envolvimento do livro
em condições industrializadas e ou no seio da Indústria cultural. O espaço do próximo
capítulo é dedicado à Indústria Cultural, processo em boa medida desencadeado pela cultura
impressa e, neste cenário, o livro.
30
CAPÍTULO II - INDÚSTRIA CULTURAL
31
“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e
assim se faz um livro, um governo, ou uma
revolução, alguns dizem que assim é que a
natureza compôs as suas espécies.
Machado de Assis
1. Aspectos introdutórios
O fermento, segundo o dicionário Michaelis Online5 é um agente orgânico ou
inorgânico que determina a fermentação de uma substância. É uma massa de farinha que
azedou, destinada a fazer levedar o pão. Sabe-se que, ao acrescentar o fermento como
ingrediente em qualquer massa, incorpora-se a ela graduação de crescimento, multiplicação da
mesma. Já que o tema do capítulo é a Indústria Cultural torna-se imprescindível verificar
como e por que houve da difusão do livro.
Julgou-se indispensável ao aspecto introdutório o parecer de Febvre e Martin (2000, p.
321-328), que consignaram um capítulo inteiro do relato histórico em sua obra O livro, esse
fermento.
Verifica-se uma intertextualidade na nomenclatura “fermento” indiciando que o livro e
os textos na era tipográfica - e ou a partir da mesma -, passaram por um processo de
fermentação, caminho certo para a dinâmica da reprodução, da multiplicação em infinitos
exemplares.
Marshall McLuhan (1972) no seu A galáxia de Gutenberg declarou que as novas
tecnologias proporcionam um permanente renascimento do livro, uma observação válida para
justificar a migração do livro do suporte de papel para as telas.
No texto de Febvre e Martin (2000, p. 336) também se encontraram outros ângulos, ou
seja, a demarcação do ponto de partida da civilização de massa e ou primórdios do berçário da
Indústria Cultural prenunciando o seu papel de difusor como se verifica:
Observa-se, em primeiro lugar que o aparecimento da imprensa não provoca
nenhuma transformação súbita, e a cultura do tempo, à primeira vista, nada
parece ter mudado com ela, ou mais precisamente na sua orientação, mas
entre tantos manuscritos que formavam a herança da idade média era
impossível imprimir tudo, multiplicar cada texto por centenas de exemplares.
5 Disponível em <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=fermento> Acesso em 23 jul 2011.
32
Impunha uma seleção: esta seleção [...] feita por livreiros, antes demais
preocupados em efetuar lucros e vender a sua produção, portanto
procuravam obras susceptíveis de interessar ao maior número dos seus
contemporâneos. E o aparecimento da imprensa, neste período, pode ser tido
como um passo em direção ao aparecimento de uma civilização de massa e
de padronização.
O aparecimento da tipografia como ferramenta para difusão e propagação de textos
também foi apontada como objeto representativo, indispensável ferramenta de difusão para o
livro. Febvre e Martin (2000, p. 322) esclareceram também que os textos manuscritos
reconhecidos do público, quando impressos, multiplicaram em milhares de exemplares, fruto
já de sua requisição registrando mais um indício que se destaca nesta introdução. Os mesmos
autores ainda realçaram no estudo O aparecimento do livro que a imprensa cumpriu um papel
de fermentar a amplificação da produção impressa a partir do século XV.
É chegado o momento de fotografar os passos da Indústria Cultural nos aspectos
introdutórios. Segundo Coelho (1976, p. 7) o “início da indústria cultural é demarcado no fim
do século XIX com o advento da eletricidade. A sua eclosão de forma irrefreável aconteceu
com a chegada da eletrônica a partir da terceira década do século XX”.
O estabelecimento da mesma, segundo Paulino (2009, p. 2), provocou abandono do
livro como objeto estético de arte, artesanal e manuscrito, entregando-o completamente aos
braços da tecnologia.
As evidências focalizadas pelo olhar de Febvre e Martin (2000), assim como Paulino
em (2009), delimitaram que o divisor de águas entre o processo de produção manual do livro
para a versão impressa foi causada pelo avanço da tecnologia.
A imposição tecnológica desencadeada pelo livro chamou a atenção de intelectuais
europeus e surgiram dialéticas em torno deste assunto. Segundo Coelho (1996, p. 14), isto se
deu por se tratar de bens culturais suplantados pelos materiais e pela velocidade de resultados
lucrativos.
Os intelectuais eram membros da Escola de Frankfurt, um movimento filosófico, já
referido na introdução deste estudo. O movimento surgiu na década de 20 na Alemanha e será
avaliado no tópico a seguir com a apresentação dos respectivos membros engajados. Eles
tinham consciência que o que estava em jogo eram bens culturais, vendidos como mercadoria.
No próximo tópico o olhar focalizará a Indústria Cultural, um espaço em se que
buscará vasculhar as razões da difusão do livro, averiguando os pensamentos que cadenciaram
o desenvolvimento do livro, incorporam-lhe mudanças em um outro suporte.
33
2. A indústria cultural e o Instituto de Pesquisa Social
Um dos conceitos de indústria cultural foi configurado por Theodor Adorno e Max
Horkheimer, no clássico fundamento Dialética do Esclarecimento, em fins dos anos de 1940.
Eles foram os primeiros, segundo Coelho (1996, p. 14), a utilizar o termo indústria cultural,
com o intuito de substituir a expressão até então utilizada cultura de massa.
Na Enciclopédia Britânica, constam dados informando que são oriundos do Instituto
de Pesquisa Social, a Escola de Frankfurt, e seus respectivos membros pensadores
intelectuais. Foi fundado em 1923 e consistia em um centro de pesquisas orientadas pelas
teses marxistas6. Entre os objetivos centrais estava o de criar uma ampla teoria da crítica da
sociedade na tentativa de superar a crise da razão. Afiliado à Universidade de Frankfurt, O
Instituto foi a primeira instituição alemã aliada a esta filosofia.
Os membros que congregavam no Instituto eram sociólogos, filósofos e psicólogos.
Max Horkheimer desempenhou a função de diretor, orientador do grupo. Exerceu também a
função de editor do Jornal de Pesquisa Social. Integraram também o grupo Theodor Adorno,
Walter Benjamin, Erich Fromm, Sigfried Kracauer, Herbert Marcuse e Jurgen Habernas, com
contribuições teóricas, críticas sociais e investigações relacionadas à arte, à música, à política
e, claro, ao que denominaram de indústria cultural.
As averiguações apontam que o alvo da Teoria Crítica girou em torno da Indústria
Cultural à qual a indústria do livro se relaciona.
Embora Walter Benjamin tenha integrado o grupo de intelectuais, sua visão foi muito
mais profunda a respeito do desenvolvimento e da difusão do livro. Benjamin é reconhecido
por profetizar contribuições positivas e naturais em torno do avanço tecnológico conforme já
se referiu no início desta dissertação.
Coelho (1996, p. 6) acusou o surgimento da Indústria cultural com o frutificar da
Revolução Industrial, no século XVIII, em consequência das aberturas na área da educação. O
mesmo autor também se referiu à coisificação dos bens culturais que, por sua vez são as bases
para a construção da Indústria Cultural, algo que envolveu diretamente a velocidade e
produção do livro impresso.
A industrialização, a tipografia e a revolução cultural forma momentos significativos
para o protagonismo da Indústria Cultural no processo de difusão do livro. Segundo Coelho
6 Doutrina filosófica, política e econômica do alemão Karl Marx (1818-1883), que analisa os processos
históricos segundo métodos dialéticos e materialistas, à luz da luta de classes. Disponível em http://www.britannica.com/EBchecked/topic/367344/Marxism. Acesso em 22 jul 2011.
34
(1996, p. 6-7), a cultura passou a ser produzida em série, o livro consumido como qualquer
outra mercadoria. O autor ainda afirmou que o objeto abandonou a condição de instrumento
livre de expressão assumindo um perfil padronizado em kitsch, confeccionado para atender
um público que não tinha tempo e nem visão para questionar o que consumiam. Fatos que,
para a questão do livro em análise, destacam que a Indústria Cultural, acima de qualquer
suspeita, contribuiu para a difusão do livro em larga escala.
Nesse sentido, é relevante outra observação de Coelho (1996, p. 6-7):
Uma cultura perecível, como qualquer peça de vestuário. [...] que não vale
mais como algo a ser usado pelo indivíduo ou grupo que a produziu e que
funciona, quase exclusivamente, como valor de troca (por dinheiro) para
quem a produz.
Os intelectuais alemães, que se encontravam na França, ao observarem os lançamentos
dos romances em série inspirados por Alexandre Dumas, “reconheceram [...] como produtos
da indústria cultural em processo de fabricação seriado, postos em linha de montagem, tal
como quaisquer outros produtos industriais”. (ADORNO; HORKHEIMER apud
HOHLFELDT, 2003, p. 93)
Os críticos lançaram pensamentos controversos para alertar sobre a inércia da
população, que não contestava as imposições de uma classe dominante, instrumentalizada, em
boa medida, pela tecnologia. Para constatação, reporta-se abaixo o pensamento crítico de
Adorno e Horkheimer (1947, p. 116), focalizando a Indústria Cultural pelo seguinte ponto de
vista:
[...] demonstra que a indústria cultural, ao receber financiamento dos
detentores de capital e de poder, perdeu o compromisso com a produção
artística e legitimou a produção cultural como um negócio, no qual a arte
passou a valer muito mais pelo seu efeito mercadológico do que pelos seus
valores estético e poético. Uma vez industrializada, a cultura tornou-se
padronizada e seus produtos, uma série de reproduções idênticas. Não houve
mais preocupação com a lógica da obra artística e tão pouco com seu papel
na sociedade. "os valores orçamentários da indústria cultural nada têm a ver
com os valores objetivos, com o sentido dos produtos.
Não só os críticos alemães se lançaram à crítica e à compreensão da Indústria Cultural.
Contemporaneamente, Armand Matterlart (1999, p. 77-8) em seu estudo História das teorias
da comunicação, identificou fatores similares dizendo:
35
A produção industrial dos bens culturais é um movimento global de
produção de cultura como mercadoria. Os produtos culturais, os filmes, os
programas radiofônicos, as revistas ilustram a mesma racionalidade técnica,
o mesmo esquema de organização e de planejamento administrativo que a
fabricação de automóveis em série [...]. A indústria cultural fornece por toda
a parte bens padronizados para satisfazer às numerosas demandas. Por
intermédio de um modo industrial de produção, obtém-se uma cultura de
massa feita de uma série de objetos que trazem de maneira bem manifesta a
marca da indústria cultural: serialização padronização-divisão do trabalho.
Adorno (1978, p. 291), intercedendo pela proteção ao livro observou, criticamente, a
função do segmento produtor, inserindo-o na dinâmica da Indústria Cultural. Ele denuncia
que a preocupação do produtor é intensificar os lucros cada vez maiores, reproduzir obras
como mercadoria sem a preocupação com a arte.
Esta avaliação, ao passar pelo cenário da Indústria Cultural, trafegou pelo pensamento
de intelectuais que situaram a produção e difusão de bens culturais em larga escala como
mecanismo para obtenção de lucro – o livro entre eles. Por outro lado, auxiliaram a
investigação a edificar subsídios que justificam a Indústria Cultural como berçário de sua
industrialização.
Abandonando o universo crítico esta análise perseguiu outros os ângulos que
pudessem checar os motivos de expansão da Indústria Cultural. Um espaço à parte, como
lacuna de destaque foi aberto pela a contribuição Walter Benjamin, por ser mais
representativa e com maior significado para os resultados deste estudo.
O filósofo, intelectual e membro da Escola de Frankfurt Walter Benjamin, no
reconhecido ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” demonstrou que
a arte, ao ser difundida por meio de suas reproduções, daria vazão para difundir a cultura com
maior evidência para todas as classes sociais, ou seja, pode significar a democratização do
acesso aos bens culturais, uma vez que estariam à disposição em número e alcance às pessoas.
Na concepção de Walter Benjamin, a obra encontrou a reprodução como alternativa.
Uma razão sine qua non buscada por este estudo, dando crédito à Indústria Cultural, vê o
processo de reprodução técnica e circunstancia como transformação ou passagem para o novo,
de forma positiva e natural. Os fatos são confirmados por Benjamin (1994, p. 168) sobre a
reprodutibilidade da obra de arte:
[...] é a quitenssência7 de tudo o que foi transmitido pela tradição, a partir de
sua origem, desde sua duração material até o seu testemunho histórico.
7 Quinta-essência
36
Como este depende da materialidade da obra, quando ela se esquiva do
homem, através da reprodução, também o testemunho se perde.
Retomando a questão do livro e a importância que as ideias de Benjamim quanto à sua
emancipação, Machado (1994) manifestou uma analogia relatando sobre “os homens-livro”,
ou seja, aqueles considerados “livros-vivos”, os que decidem ou contribuem
significativamente para os rumos do pensamento humano.
Os prognósticos anunciados pelo pensamento de Walter Benjamin em relação ao
desenvolvimento tecnológico se revelaram concretos e reais.
O livro impresso estendeu tapete de passagem para a sociedade de massa que
testemunhou as justificativas do seu crescimento. Febvre e Martin (2000, p. 8) disseram que
fim de uma época representa o começo de outra, o livro neste contexto:
Fim de uma época, começo de uma época. Uma sociedade de escola vai
propagar-se cada vez mais perante uma sociedade de massas. E por isso a
imprensa vê se conduzidas por transformações novas e profundas. Novas
necessidades, uma clientela nova. E por isso a maquinaria substitui o antigo
trabalho braçal. Aqui também o antagonismo <<braçal>> e do Mecânico, da
oficina artesanal e da produção fabril. Uma série de invenções intervém de
forma rápida, aumentando bruscamente o que se poderia chamar a virulência
da imprensa. Lentamente e mais poderosamente, a máquina introduz no que
se torna a indústria do livro. A imprensa procura e encontra outros motores
além dos músculos.
No próximo tópico observam-se a dialética em torno da massificação e o reflexo da
convergência tecnológica.
3. Massificação
Segundo Bacelar (1999, p. 1) a comunicação de massa é derivada da invenção da
imprensa de caracteres móveis, ou seja, os fatores culturais e tecnológicos alcançaram a
massificação em circunstâncias dos reflexos políticos, sociais, religiosos redirecionados com a
chegada do livro impresso e de papel.
Todavia, os derivados do livro impresso carregam consigo a herança da Indústria
Cultural, da massificação, da Cultura de massa, que deram vazão à sua expansão.
Os motivos observados como reflexos da cultura de massa no objeto em questão,
segundo Hohlfedlt (2003, p. 87-89) começaram a brotar a partir do momento que a tiragem de
texto é realizada de forma ilimitada. A Revolução Burguesa na França é uma consequência
37
desta disseminação por abrir portas para o investimento nas causas educacionais, no futuro
das crianças. O efeito do investimento educacional francês repercutiu no aumento de leitores,
outrora composto apenas pelo clero, pela elite e alguns letrados.
Hohlfedlt (2003, p. 90) observou as raízes da cultura de massa se firmando quando o
público feminino foi sendo conquistado, por meio de narrativas focando seus interesses; os
diários de bordo fidelizando leitores em viagem, as condições mais acessíveis para aquisição,
locação de livros. A disseminação dos textos revigorou-se como uma frondosa árvore,
fortalecendo-se e permitindo constatar que a Indústria Cultural deriva da cultura de massa
com os outros produtos de massa.
Segundo Hohlfedlt (2003, p. 90) das estratégias usadas, todas visam números e, por
conseguinte, atraem cada vez mais leitores e assim a rede da indústria do livro foi se
organizando.
No histórico da massificação do impresso para atrair público, os novos gêneros
lançados contribuíram estrategicamente, estruturando o berço do romance policial, o
melodrama, a história em quadrinhos, as leituras superficiais em série e o romance de
folhetim.
Os romances de folhetim que edificaram as novelas folhetinescas, segundo Coelho
(1996, p. 5), eram produzidos em série como intuito de prender a atenção do leitor. O mesmo
autor identificou neles um produto típico da cultura massa que influenciou o know-how das
telenovelas de hoje, mais um indício de cumplicidade entre a indústria do livro e a cultura de
massa.
O livro impresso, antes de migrar para as telas, testemunhou não só a evolução da
eletricidade e da eletrônica, como também segundo Coelho (1996) assistiu ao auge da cultura
de massa a parir da terceira década do século XX que, por conseguinte, sedimentou o veículo
televisivo. É mais uma chama dialética que se propaga em torno da cultura de massa, dos
caminhos da mídia e dos produtos massivos.
Pesquisadores como Dwigth Mac Donald, Edward Shills, Daniel Bell e Umberto Eco,
congregados nos Estados Unidos nos anos de 1950, reavaliaram os conceitos dos precursores
da indústria cultural e, segundo Bronstein (2005, p. 3), se contrapuseram aos teóricos alemães.
O desenvolvimento da cultura de massa, marcada por estas contradições, conviveu
com a delimitação, um divisor de águas denominado por Umberto Eco de Apocalípticos e
Integrados. De um lado os críticos da indústria cultural, chamados de apocalípticos; de outro,
os seus adeptos, os integrados. Bronstein (2005, p. 3) declarou que enquanto os apocalípticos
enxergaram os produtos culturais fruto da indústria cultural como um malefício para o público
38
consumidor dos livros; os integrados (controversos) perceberam reflexos de democratização e
acesso da massa à cultura como entretenimento.
Mas o livro como produto de massa libertou-se das turbulências provocadas nesta
discussão que circundou em torno do conteúdo, quando Marshall McLuhan (1972), em A
galáxia de Gutenberg, descaracterizou os princípios até então considerados. McLuhan
reconheceu o “meio” como a forma adequada de conduzir a “mensagem”. E para a questão do
livro impresso e respectivos derivados o meio configurou com um habitat para se projetar,
atrelado às suas origens.
O desenvolvimento abrupto alcançado pelas novas tecnologias da informação e da
comunicação desencadeou mudanças, inclusive para os artífices escritores, que produzem a
matéria prima para os instrumentos de mídia como o livro eletrônico em análise. Certificados
das radicais mudanças da sua ferramenta de trabalho, os escritores submetem-se à sua própria
reinvenção.
Sá (2010, p. 13) no ensaio A Reinvenção do Escritor, averiguou que “os meios de
comunicação de massa ocupam papel central na sociedade contemporânea, uma cultura
própria aos media”.
Kellner (2001, p. 9) revitalizou o mesmo princípio conceituando a mídia nos dias
atuais sob o seguinte prisma:
Há uma cultura veiculada pela mídia cujas imagens, sons e espetáculos
ajudaram a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo o lazer,
modelando opiniões políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o
material com que as pessoas forjam sua identidade.
No levantamento feito por Sá (2010, p. 13) é manifestado o desconforto exercido pelo
poder da mídia e as suas interferências. Por outro lado o autor defendeu as novas formas de
socialização que a tecnologia vem desencadeando:
A presença da mídia é avassaladora. A experiência, não poderia ser
diferente, atinge também o intelectual. Muitos assuntos das conversas
cotidianas nascem, resvalam ou acabam nela. A reportagem, o desempenho
de determinado ator, o jogo de futebol, o videoclipe. É a sociabilidade sendo
conformada. O meio deixa de ser simplesmente a mensagem e o conteúdo
cumpre o papel. Não houve destruição de relações humanas, não nos
comunicamos menos interpessoalmente. [...] A tecnologia impôs novas
forma de socialização. Não estamos cara a cara, mas comunicamos.
39
Sá (2010, p. 16), sobre os efeitos da mídia, postulou a seguinte avaliação crítica:
“vivem cada vez mais do mesmo: renovação acelerada, sucesso efêmero sensação imediata,
estimulação pura”.
O autor (2010, p. 14-15) vê os meios de comunicação de massa como
desierarquizados. Segundo ele, há confusão de fronteiras, de gostos inusitados cujos
parâmetros podem ser conferidos conforme se ilustra:
Podemos gostar ao mesmo tempo do barroco do Bach, do pagodinho do
Zeca, do rock da Legião Urbana, do jingle da propaganda [...] no caldo da
mídia cabe tudo, sem grandes critérios. Todos os campos do conhecimento.
Sob o olhar panorâmico agente vê desde receita de bolo até debates sobre
tecnologias de comunicação [...] ela é extremamente democrática. Usa quem
quer, zapeia quem tem juízo.
A análise buscou traduzir como se dispõem as conexões com a mídia, as dependências
para a sobrevida dos meios que giram ao redor da mesma.
O exame de Sá (2010, p. 20-21) para demonstrar o vigor por ela exercida observou
que “a media prevaleceu-se sobre outras instâncias da sociedade como determinante de
postura, de lugar e avaliação da obra”. O alerta da pesquisa norteou e esclareceu que, em uma
sociedade desprevenida como a brasileira a força que a mídia exerce é imensa.
Latour (1994, p. 64) investigou dados sobre a reinvenção do ser humano. Neste prisma
o estudioso elucidou o seguinte pensamento: o ser humano é “reinventado” a cada inovação
tecnológica que altere radicalmente o processo de comunicação e produção do conhecimento.
Seu raciocínio ajustou-se às reflexões avaliadas agora no século XXI.
Retomando o tema do capítulo Indústria Cultural para se consolidar o desfecho do
capítulo, nota-se seu real papel de lançar a semente para a consolidação das estruturas até hoje
resguardando uma rede, uma cadeia produtiva do livro e ou a indústria do livro.
Se a Escola de Frankfurt foi um movimento intelectual e filosófico que surgiu na
década de 20, conforme já observado nos aspectos introdutórios desta análise, responsabiliza-
se a Indústria Cultural como o alicerce da indústria do livro até ao limite desta última versão.
O pensamento de Walter Benjamin lançou as mais significativas premissas para o
entendimento do avanço tecnológico que hoje verifica-se, nitidamente, em razão das novas
tecnologias fluírem em condições naturais e de desenvolvimento.
O espaço ocupado pela Indústria Cultural nesta análise representou “porque” ocorreu a
difusão do livro e as justificativas das ocorrências. A Indústria Cultural foi a forte aliada, ao
lado da massificação, para o viajante livro difundir-se eletronicamente.
40
Sumarizada a história do livro no primeiro capítulo e a sua difusão desenfreada pela
Indústria Cultural no segundo, no próximo destina-se a uma análise do livro eletrônico e as
novas diretrizes desencadeadas pelo veículo.
41
CAPÍTULO III - O LIVRO ELETRÔNICO
42
Existe propriamente um objeto que é a tela sobre a qual
o texto eletrônico é lido, mas este objeto não é mais
manuseado diretamente, imediatamente, pelo leitor. A
inscrição do texto na tela cria uma distribuição, uma
organização, uma estruturação do texto que não é de
modo algum a mesma com a qual se defrontava o leitor
do livro em rolo da Antiguidade [...] moderno e
contemporâneo do livro manuscrito ou impresso.
Roger Chartier, 2009
1. Introdução parâmetros de convergência
É chegado o espaço que essa avaliação reservou para exibir e observar as novas
tendências que giram em torno do livro eletrônico. A análise do histórico do livro, os vários
motivos que desenfrearam o seu desenvolvimento, transformando-o em produto cultural de
uma indústria requer um espaço de contextualização para que se compreenda o livro
eletrônico e as novas tecnologias que o acompanham.
Ao recorrer ao pai da eletricidade induzida, Parente (1999, p. 78) focalizou uma
peculiaridade que envolveu o inventor Michael Faraday (1860) e a monarca inglesa. Quando
terminou de fazer a sua apresentação, no Royal Society, Faraday foi interpelado pela rainha
julgando ser interessante o seu invento. Mas a realeza não se conteve e contestou-lhe, pela
serventia do invento. “Recebeu então, a realeza, uma contestação em réplica, do inventor
Michael Faraday: Para que serve um recém-nascido?”.
Naquele momento havia um enorme abismo separando o advento da eletrônica com o
processo de informatização social e a cultura midiática. Nem ao menos Faraday imaginava a
propagação e o alcance da trajetória que a sua invenção tomaria. Igualmente a soberana, sua
corte monárquica e seus respectivos súditos. Na mesma análise, Parente (1999, p. 78) também
observou os vértices de inovação e as possibilidades que a informatização abriu, para se
coletar, armazenar e difundir informações.
A sociedade adquiriu cultura midiática após todos estes pressupostos, afirmou Gomes
(2010). Avançou do sistema de comunicação analógica para o sistema digital que envolveu o
know-how da informação desde telefonia celular, computadores em rede, convergência que
trouxe à tona também este objeto de análise: o livro digital ou eletrônico.
Sua chegada na verificação feita por Parente (1999, p. 54) também é atraída inclusive
pela influência do inglês Timothy John Berners-Lee precursor da World Wide Web. A
importância da implantação deste hiperdocumento com dimensões incalculáveis, interligando
uma grande teia navegável de forma intuitiva, a internet 2.0. As milhares de páginas
43
espalhadas por todo mundo concentram um precioso acervo de informações para a
humanidade expandir-se navegando por mares e oceanos de informações. A abrangência deste
universo incluiu, indiscriminadamente, todas as áreas.
Ilustração 1 – Internet 2.0 - W2. Fonte: Revista The Jourrnal (2010)8
Na averiguação de Benício (2003, p. 45) a internet, com as tecnologias já existentes,
permitiu uma nova roupagem na forma de apresentar o livro, ou seja, o livro eletrônico
instalou um novo conceito relacionado à forma de se ler os livros no planeta.
Na verificação de Santos (2003b, p. 2) veio a constatação disto. Sobre a evolução
sofrida pelos livros, o autor diz haver algum tempo que o livro vinha sofrendo interferências
no modo de ser e se mostrar ao leitor. A responsabilidade destas alterações de ordem física foi
atribuída ao avanço das tecnologias de diagramação e de impressão das páginas, que na
condição atual, levou a migrar de suporte ou mídia transformando-se em um novo corpo.
Julga-se também indispensável acrescentar a visão de (MCLUHAN 1977, apud ,
BENÍCIO, 2003,p.7 ) que anunciou: “Na era da comunicação eletrônica o livro não morreria,
mas sua alma seria libertada do seu corpo”. A revista Wired, por este fato, conclamou
McLuhan “santo padroeiro da revolução digital”.
8 Disponivel em: <http://spectrumfurniture.blogspot.com/2010/04/parents-alumni-and-other-
stakeholders.html>. Acesso em: 07/07/2011.
44
Ilustração 2 – Livro eletrônico x Livro de papel. Fonte: Sirena (2011)
Um alvoroço de estudos estruturou-se em torno do livro eletrônico. Benício (2003, p.
44) disse que a internet permitiu ao livro uma nova forma de apresentação, além de uma
maneira inédita para leitura. A mesma autora observou que o livro eletrônico implementou
outras condutas para ler os textos, inserindo-lhes som imagem e recursos multimídia
constituindo um espaço para várias mídias.
O livro eletrônico na sua estruturação firmou laços com a convergência. A propósito,
este objeto estudado por Henry Jenkins (2003) incorpora as importantes transformações das
novas mídias que se convergem.
O autor averigua os parâmetros da convergência que as novas mídias como o livro
eletrônico utilizam. Vasculhou dados da contribuição do cientista Ithiel Sola Pool, que
profetizou o processo de transformação, não só dos meios de convergência, de comunicação
mas da indústria midiática.
O papel da convergência, em que o livro eletrônico encontra-se apoiado, foi
conceituado por Briggs e Burke (2004, p. 270) que dizem “Convergência é uma palavra útil,
embora excessiva, empregada livremente por Ithiel de Sola Pool antes de se tornar moda”.
Segundo os pesquisadores a palavra é aplicada desde 1990, associada ao desenvolvimento
tecnológico digital e integração de textos, números, imagens, sons e diversos elementos de
mídia (correio, telefone, telégrafo, as comunicações de massa como a impressa, rádio e a
televisão).
Os mesmos autores verificaram que em 1970 a palavra era usada com uma
abrangência mais ampla. Mas com o tempo a palavra “convergência” foi ganhando espaço na
junção de indústria de mídia e das telecomunicações.
45
Julgou-se oportuno realizar um retrocesso para catalogar os conceitos sobre
convergência neste espaço introdutório, para melhor interpretação dos diálogos entre os meios
que trouxeram estruturas para o livro eletrônico alocar-se e convergir-se.
Jenkins (2003, p. 27) definiu convergência da seguinte forma: “[...] a convergência
deve ser compreendida como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro de
um mesmo aparelho”. Sua definição fotografa exatamente que o livro eletrônico nos
parâmetros da convergência se alocou em um device, que pode ser um aparelho de telefone
celular, um aparelho de rádio, ou seja, um instrumento que pode desempenhar múltiplas
funções para o usuário. O mesmo autor, além da definição, apontou as interfaces entre a
cultura da convergência e os meios midiáticos, atuando no cotidiano das pessoas, inclusive no
seu:
Pode me chamar de ultrapassado. Algumas semanas atrás quis comprar um
telefone celular, você sabe, para fazer ligações telefônicas. Não queria
câmera de vídeo, câmera fotográfica, acesso a internet, MP3 players, ou
games. Também não estava interessado em nenhum recurso que pudesse
exibir traillers de filme, que tivesse toque personalizáveis e ou que
permitisse ler romance. [...] quando o telefone tocar, não quero ter de
descobrir qual botão apertar. Só queria um telefone. Os vendedores me
olharam com escárnio, riram de mim pelas costas. Fui informado, loja após
loja, que não se fazem mais celulares de função única. Ninguém os quer. Foi
uma poderosa demonstração de como os celulares se tornaram fundamentais
no processo de convergência das mídias. (JENKINS, 2003, p. 29)
Ilustração 3 – Convergência e as múltiplas funções. Fonte: Disponível em:
<http://www.podemosteajudar.com/web/convergencia-digital-o-que-e/>.
O livro eletrônico é protagonista deste cenário, como pode constatar no depoimento de
Jenkins (2003). Um usuário de um livro eletrônico vai portar um equipamento com múltipas
funções, ou seja, é neste contexto de convívio que os parâmetros de convergência fazem o
livro eletrônico se inserir.
Mas o livro, para compartilhar sua morada com outros meios midiáticos, dependeu da
cumplicidade entre as empresas de Telefone, TV a cabo e empresas da mídia. Straubahaar e
46
Larose (2004, p. 2) analisaram que elas uniram seus esforços, estabeleceram alianças, por
meio de conversores, com o intuito de atenderem às necessidades e à demanda dos novos
meios midiáticos como o livro eletrônico.
Nesta investigação focaliza-se o seguinte ângulo: de um lado da moeda está o livro
eletrônico, compartilhando espaço com outros meios; do outro lado há o interesse econômico
atrelado ao processo de sua conformação. Uma herança que, iniciada com a Indústria
Cultural, é agora viabilizada pelos meios de comunicação.
Sobre a formação das alianças, o estudo de Straubahaar e Larose (2004, p. 2)
expressou lucidez sobre o assunto dizendo que os meios de comunicação de massa se
reconheceram perante o processo de convergência, como o significado e a estratégica para os
seus próprios desenvolvimentos. Os mesmos autores, para se exprimirem sobre os efeitos da
convergência com a economia dos países, destacam que se abdicaram as nações dos mísseis e
navios de guerra para investirem em instalações de redes de comunicação.
Outro efeito do alcance dos parâmetros da convergência e do ambiente em que o livro
se envolveu é, como mostraram Straubhaar e Larose (2004, p. 3), que países como Cingapura,
França e Japão ultrapassaram grande potências como os Estados Unidos, só por conta da
economia da informação, por intermédio de recursos estratégicos, apoiados na convergência
dos sistemas de comunicação de massa.
Se a economia foi fundamental para formarem-se as alianças que firmaram os
parâmetros da convergência, é essencial para as alianças verificar que outros laços mantêm os
meios midiáticos dialogando. A exemplo de diálogos entre os veículos convergentes, a análise
de Nunes e Straccia (2003, p. 03) reconheceu que, contemporaneamente, nos últimos 40 anos
no Brasil, os estudos realizados por Sandra Reimão focalizam “o processo de
transcodificação midiática com ênfase em correlações dos meios impressos e eletrônicos”.
Segundo os autores, a pesquisadora tem explorado as obras dos meios televisivos, ou seja, as
telenovelas brasileiras e a possibilidade de convertê-las romanceadas para o formato impresso
e vice-versa. Mais um indício acusa acontecer nos dias atuais um diálogo natural entre os
veículos midiáticos, ou seja, eles têm se ajustado e adequado aos moldes e parâmetros da
convergência da comunicação.
E para sintetizar o oceano de informações em torno da conversão dos meios que giram
em torno do livro, referencia-se que esta é a trilogia efetiva da sociedade da informação, ou
seja, comunicação, mídia e tecnologia.
47
Ilustração 4 – Comunicação + mídia + tecnologia. Fonte: Fidelis (2010)
Entre os diversos aspectos abordados para focalizar os parâmetros da convergência
que mostram o diálogo e convívio dos novos meios midiáticos, Straubhaar e Larose (2004, p.
23) afirmam que uma implicação final na revolução da mídia é a convergência dos meios de
comunicação. Segundo eles, as suas antigas distinções estão sendo apagadas pela multimídia
que integram o sistema de conversão de áudio, imagens e textos. Ela também recebe sombras
que se refletem, diretamente, no sistema convencional de massa (rádio, impressos, cinema). O
fato é “convergir formas híbridas para um único computador de grande escala, conectado em
rede de transmissão significa dados transmitidos em alta velocidade”
Focaliza-se, a seguir um relado histórico do traçado do livro eletrônico, que arrola as
grandes empresas internacionais invadindo o mercado com equipamentos para leitura, os “e-
readers9” ou “devices”, ou livros eletrônicos.
A partir de 2006, mais especificamente no ano de 2010 o mercado e inundado com
diversos modelos de livros eletrônicos multifuncionais.
9 Software desenvolvido especialmente para a leitura de conteúdos eletrônicos (jornais, revistas e
livros). Estes software podem ser baixados da Web e instalados nos PCs (personal computer / computador pessoal) [...]. Entre os e-readers mais populares na web está o Adobe Digital Editions (para livros eletrônicos no formato PDF). [...] os mais recentes permitem a leitura em outros devices portáteis como iPad e iPhone. (PROCÓPIO, 2010, p. 219)
48
Ilustração 5 – Skiff, o e-reader mais fino, com maior tela, maior resolução e flexível. Fonte: Silveira
(2010)
2. Livro eletrônico: traçado histórico
A Treebook Gallery foi idealizada em 2010 por Bia Simonassi, do Projeto Cultural
Free Your IDEA. Consiste em uma galeria online composta de 54 livros eletrônicos com
objetivo de expor uma coleção de livros digitais com textos provocativos, poéticos e de viés
artístico. Nas bordas de todos os livros da coleção são constatados detalhes e definição digital
feita artesanalmente. A impressão aparenta uma busca aos moldes da versão em papiro e
pergaminho quando era artesanal e objeto de artesanal, mas já com a contextualização
adequada aos parâmetros do século XXI e da digitalização.
49
Ilustração 6 – Site do Treebook Gallery. Fonte: Livro Digital (2010)10
Simonassi (2010, p. 44-50) apontou a originalidade contida nos livros eletrônicos,
apoiando-se na interatividade dos links propostos e a livre escolha do usuário para encontrar o
seu e-book favorito, um deles o endereço da “web” 11
.
A autora faz um traçado e histórico do “e-book” e livro digital. Entre os vários
registros, Simonassi (2010, p. 4) define o livro digital como equivalente a um livro
tradicional. Ela designou que o termo “e-book” derivou-se da abreviatura provinda da língua
inglesa e que a inicial “e” corresponde ao termo “eletronic”. Este, justaposto com o termo em
inglês “book”, compôs a nomenclatura que se tornou conhecida universalmente como “e-
book”. Por conseguinte, no Brasil, entre as várias nomenclaturas, as mais comuns são, entre
outras, livro eletrônico e ou livro digital.
Segundo Simonassi (2010, p. 10) os livros eletrônicos podem ser organizados em
vários formatos, porém os mais comuns são os de conversão em “PDF” e “HTML”.
Para melhor compreenderem-se os termos técnicos dos livros eletrônicos, Procópio
(2010, p. 224) organizou um glossário esclarecendo que “PDF” em inglês significa “Portable
Document Format”, isto é, em português o equivalente a “Documento em Formato Portátil”.
Segundo o autor, por ser
10 Disponível em: <http://www.slideshare.net/TREeBOOKGallery/livro-digital-5992722>. Acesso em:
07/07/2011. 11
Disponível em: <http://issuu.com/treebookgallery/docs/livro_digital>. Acesso em: 07/07/2011.
50
uma tecnologia universal, independente da plataforma que foi desenvolvida
pela empresa Adobe Systems, „PDF‟ é um formato baseado em arquivos de
linguagem postscript. Isto é, livros eletrônicos neste formato são muitos
semelhantes e ou próximos de um livro de papel, em termos de diagramação.
É um formato bastante popular, possui certamente a maior base de
documentos e livros eletrônicos no planeta, abrangendo cerca de 200
milhões de usuários.
Procópio (2010, p. 220) informa neste mesmo glossário que a sigla “HTML” teve a
origem convencional na língua inglesa, com quase todos os termos técnicos dos livros
eletrônicos e ou outras áreas. A terminologia corresponde à abreviatura de “Hiper Text
Markup Language” que, em português significa “Linguagem de Marcação de Hipertexto”.
Também usada para formatar textos e ou documentos a serem lidos na “web”. De acordo com
a análise feita pelo autor, com a linguagem “HTML” é possível ser determinado o tamanho,
cor, formato da letra, inserção de imagens colocação de links para outros “websites” e outros.
Além disso, os arquivos em “HTML” são, segundo o exame de Procópio (2010, p. 220),
compatíveis com a maioria de equipamentos receptores dos livros eletrônicos.
Simonassi (2010, p. 12) informou que a leitura é feita através de recursos sustentados
por equipamentos eletrônicos tais quais computadores, celulares e “devices” que
correspondem a equipamentos que transportam os arquivos para leitura propriamente dita.
Ilustração 7 - Kindle 3 is Amazon´s. Fonte: Finch (2011)
No registro feito na coleção treebookgallery, Simonassi (2010, p. 14) também apontou
que o primeiro livro digital do planeta foi a Declaração da Independência dos Estados Unidos
idealizado por Michael Hart. Este teria sido o inventor do livro eletrônico em 1970 e,
fundador do Projeto Gutenberg, muito antes da Kindle12
, da Amazon.com13
, do iPad14
, da
Apple e da Google BooK15
, preconizou a digitalização de obras culturais.
12 Pequeno aparelho criado pela empresa americana Amazon, que tem como função principal ler
livros electrônicos e outros tipos de midia digital. O primeiro modelo foi lançado nos Estados Unidos em 19 de Novembro de 2007.
51
Procópio (2010, p. 16-17) confirmou o mesmo da seguinte maneira:
Michael Hart [que eu considero inventor do livro eletrônico] fundou o
Projeto Gutenberg, no início da década de 1970. Então, no início de 2010,
enquanto todos discutiam sobre os livros digitais, por causa do kindle e do
iPad, da Apple, eu me perguntava quanto tempo ante do nascimento de
serviços como o Google Books , o site idealizado por Hart já contabilizava
milhares de títulos eletrônicos em várias línguas para rodar em qualquer
reading device.
Nas lentes do autor o livro eletrônico não é a novidade que aparenta, mas é algo que se
instaurou no século passado. Para ele, o alvoroço recente trata-se de apenas uma nova
constatação, auxiliada pelos recursos que atualmente a tecnologia da informação e
comunicação tem dinamizado.
Siriginidi Subba Rao (2005, p. 4) define o livro eletrônico como um tipo de objeto
midiático, com distribuição nos formatos textbooks, picture books, talking books, mutimedia
books, talking books, cyberbooks e equipamentos contidos em device e ou e-reader
(programas ou software de leitura portátil). É, ainda segundo o autor, um objeto que contem
texto ou obra em formato digital, cujo arquivo pode ser lido em tela.
Diante dos recursos tecnológicos precários e lentos que Michael Hart possuía em
1971, além da Declaração da Independência, o Projeto Gutenberg idealizou e digitalizou,
segundo Procópio (2010, p. 17), milhares de títulos eletrônicos em várias línguas para rodar
em qualquer “reading device” e ou equipamento.
13 Empresa de comércio eletrônico dos Estados Unidos da América com sede em Seattle, estado de
Washington. Foi uma das primeiras companhias com alguma relevância a vender produtos na Internet. [...] Jeffrey Bezos, dono da Amazon.com [...] em 1994 [...] escolheu Seattle, porque ali estava um dos maiores distribuidores de livros, a empresa Ingram.E tendo vinte itens em mente para ser o produto chave para seu arranque, escolheu os livros em Julho de 1995 e começou ali a Amazon.com. 14
Em essência, o iPad é um iPhone gigante”, mas não tem funções de celular, embora possa ser usado
para chamadas por meio da internet [...]. O aparelho navega na internet por meio de conexões sem fio (Wi-Fi e
3G). [...] o iPad traz a consagrada interface do iPhone, que faz excelente uso da tela touchscreen. O iPad também
roda todos os programas feitos para iPhone no tamanho natural ou em tela cheia. Assim, ele já nasce com
milhares de programas para expandir as funções originais do aparelho. [...] também funciona como leitor de e-
books e suporta o formato aberto ePub , além de livros vendidos games criados originalmente para iPhone. 15
Anteriormente conhecido como Google Book Search e Google Print, em português: Google Livros. É um
serviço da empresa estadunidense Google que procura textos completos de livros que a Google escaneia,
converte-o utilizando o reconhecimento ótico de caracteres, e armazena em seu banco de dados digital [...].
Quando é introduzida uma palavra-chave no sistema de busca, até três resultados do índice do Google Books são
disponibilizados sobre os resultados da pesquisa no serviço Google Web Search (google.com). Clicando em um
resultado, o Google Books abre uma interface na qual o usuário pode visualizar páginas do livro bem como
conteúdos relacionados à anúncios e ligações para o website da editora e do livreiro. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Google_Books>.
52
Da mesma forma que a investigação retrocedeu à invenção do livro eletrônico para
apontar a autoria de Michael Hart, Procópio (2010, p. 23) autenticou a paternidade da
máquina para leitura a Vannevar Bush.
De acordo com o periódico “The Atlantic Monthly”, no artigo “As We May Think”, em
1945, Vannevar Bush divulgou o primeiro protótipo do que seria uma máquina de leitura.
Trata-se de algo semelhante a um “e-reader” ou o atual aplicativo para processar os
textos para leitura. O apelido dado por Bush à engenhoca, sua invenção, foi “Memex”
(MEMory EXtesion) referindo à memória extensível ou memória que poderia se expandir.
Ilustração 8 – Memex. Fonte: Gravura derivada de animação de Paul Kahn e associados.
http://www.dynamicdiagrams.com/
Simonassi (2010, p. 16) elucidou que em 1996 a meta do Projeto Gutenberg era a de
atingir um milhão de livros digitalizados. Neste mesmo ano, segundo Procópio (2010, p. 17),
foi criada a biblioteca virtual de estudantes brasileiros da USP (Universidade de São Paulo).
Apenas um ano antes destes dois acontecimentos, segundo Simonassi (2010, p. 22), a
“Amazon.com iniciou [...] sua base de vendas a varejo „online‟, alternativa e acréscimo para
aquisição de livros eletrônicos.
Farejando as pegadas históricas do livro eletrônico, Procópio (2010, p. 17) apontou
que em 1999 veio ao ar a primeira base de domínio público de livros eletrônicos, o site da
“eBooksBrasil.org”.
Os acontecimentos em relação à evolução histórica do livro eletrônico se sucedem. Em
mais um ano Simonassi (2010, p. 23) notou que Sthefen King lançou o pioneiro livro para
53
produção eletrônica, intitulado Riding The Bullet. Já Benício (2003, p. 47) aponta que o
“boom” dos livros eletrônicos aconteceu a partir do ano 2000.
Procópio (2010, p. 10) reforça a declaração anterior, mencionando que em 2001, o site
do EbookCult entrou no ar. A EbookCult é uma biblioteca virtual com objetivo de
contribuir com o fortalecimento da educação, além de cooperação cultural com os brasileiros.
Entre outras missões que o projeto cumpre, uma delas é disponibilizar livros eletrônicos com
acesso e download gratuito para o domínio público.
Ilustração 9 – Site EbookCult. Fonte: Ebookcult (2003)
Simonassi (2010, p. 24) constata que a partir de 2006, equipamentos leitores como os
“readers” invadiram o mercado. Segundo a autora foi quando a Apple16
lançou em 2010 o
iPad. A autora averiguou que tanto o Kindle como o iPad estão na moda e são instrumentos
16 Empresa transnacional norteamericana que atua no ramo de aparelhos eletrônicos e informática, famosa
principalmente pela fabricação do computador de marca registrada, Macintosh, com seu próprio sistema
operacional, Mac OS, entre outros produtos.
54
que revolucionam o mercado. No seu ponto de vista é preciso que se documente
historicamente tudo que é relacionado ao livro eletrônico. Porém ainda sua impressão apontou
que a verdadeira revolução acontece entre os seres humanos e nas relações entre eles, apesar
dos livros.
Ilustração 10 – iPad da Apple. Fonte: Apple (2011)
Os Rockets e-books são destaques na trajetória dos fatos históricos do livro eletrônico.
No exame realizado por Procópio (2010, p. 83) constam rockets e e-books como integrantes
da primeira geração de livro eletrônicos. Segundo o autor, foi com este aparelho que a
Amazon.com aprendeu a vender o modelo Kindle. Procópio (2010, p. 79) apresenta sua
opinião:
[...] o modelo “trazia em sua versão estante virtual um modelo [bookshelf]
uma versão do clássico a Alice no País das Maravilhas [...] que foi traduzido
em mais de 30 línguas incluindo chinês, árabe [...] versão em braile. Na
opinião do pesquisador julga que esta a razão dos idealizadores da “Rocket
book “ter escolhido este livro para inaugurar a edição do “device” virtual.
55
Ilustração 11 - Rocket e-book. Fonte: EbooksBrasil (2003)
Em relação à dimensão dos pioneiros, os Rocket e-book, o mesmo autor registrou que
sua primeira versão tinha 19 cm x 12 cm de dimensão e pesava 650 gramas. A capacidade de
armazenamento era de 4.000 páginas (contendo textos e imagens), o equivalente a 12
romances guardados na memória.
Procópio (2010, p. 84) destaca que o modelo Rocket e-book tem recurso para conexão
livre com as livrarias e bibliotecas virtuais. A opção de acesso deste tipo de equipamento já
permitia aquisição de obras gratuitas e ou opção que possibilitava organização de um
acervo, biblioteca particular com o software Rocket Librarian.
Segundo Procópio (2010, p. 84), o equipamento pioneiro já contava com leitor para
publicar documentos pessoais, tela de acesso à internet, software Rocket Writer, marcadores
de páginas, busca rápida das marcações desejadas, luminosidade ajustável com recurso
backlight (que permite ajuste de intensidade para leitura em qualquer ambiente). Os pioneiros
alimentavam-se de bateria e a carga suportava um período de 20 a 40 horas.
O mesmo autor disse que na história dos livros eletrônicos, os modelos dos
equipamentos pioneiros continham um sistema de busca de palavras nos textos, alteração de
fonte para facilitar a leitura, ferramenta para sublinhar trechos, memória expansível para até
32MB e compatibilidade para integrar-se na linguagem dos PCs (personal computers ou
computadores particulares). Suas bases eram giratórias, com acessórios como dicionário e
ferramenta de anotação na margem do livro.
Na pesquisa de Procópio (2010, p. 81) é indicado que os livros digitais atualmente
alcançaram outra linhagem:
[...] capacidade para armazenamento de milhares de páginas de texto
gráficos; tela de (LCD ou não), sensível ao toque touch screen; luminosidade
56
ajustável: um backlight com ajuste a intensidade da luz no LCD do aparelho;
baterias duradouras; base giratória (orientação); peso mínimo de 300 gramas,
para permitir portabilidade; possibilidade de expansão de memória.
Segundo o autor (2010, p. 98-9), atualmente há mais de 50 tipos de equipamentos
disponíveis no mercado de hoje para leitura de livros eletrônicos:
[...] fica muito difícil imaginar que aparelhos ultramodernos, que combinam
com as facilidades de pagers, laptops, telefones celulares, smartphones [...]
realmente não tomem conta até do mundo dos livros eletrônico, mas ainda
se acredita que o livro eletrônico seria uma prancheta eletrônica feita para ler
livros como Kindle ou iPad.
O propósito desse tópico foi o traçado histórico do livro eletrônico. Muitos dados
fugiram do alcance da pesquisa pela proximidade com os acontecimentos que estão no nosso
convívio. E para ampliar a intimidade com o universo do livro eletrônico, no próximo tópico
tenta-se elaborar um debate sobre as questões que gravitam em torno do objeto.
3. Livro eletrônico: conceitos e definições
Philip Barker (1991, p. 269) caracterizou o livro eletrônico como “uma coleção de páginas
de informação dinâmicas, interativas que executam a metáfora do livro”. Em sua pesquisa
feita em Londres - Exploring Hypermedia – Barker, o autor frisa que “os livros eletrônicos
são sistemas de entrega de informação [...] capazes de prover seus usuários com acesso a
páginas de informação eletrônica com que podem interagir”. (BAKER, 1993 apud SILVA,
2000, p. 2)
Parente (1999, p. 78) insere-se no debate das definições complementando que “[...] a
tábua, o rolo, o códice [...] durou séculos, e agora as telas. A passagem do códex à tela é vista
por muitos como o fim do livro. [...] a tela é apenas um novo suporte para os textos, assim
como [...] os códices [...] distribuído pelas redes eletrônicas são textos”.
Ribeiro (apud Silva 2000, p. 3) define os livros digitais como:
[...] produtos híbridos que combinam as capacidades de visualização de
textos com versatilidade dos computadores, entre as quais, ecrãs sensíveis ao
toque, portabilidade, capacidade de alteração do tipo e tamanho da fonte,
assim como a inclusão de dicionários gramaticais e/ou técnicos.
Velasco (2010) compartilha o pensamento de Manuel Castell (2003) destacando que
estão associados ao livro eletrônico elementos como artigos eletrônicos (“e-papers”), tinta
57
eletrônica (“eletronic-ink”), os aplicativos de leitura na tela, resolução dada pelos “e-readers”
ou equipamentos (“devices”). Um dos diferenciais deste equipamento é a eliminação de
espaço para estocagem. (CASTELLS, 2003, apud VELASCO, 2010, p.2)
Frossard (2004, p. 8-9) acusa a internet de fornecer potencialidade ao hipertexto, à
medida que possibilita e multiplica o acesso instantâneo à informação. Reitera, ainda, que a
internet formou um novo canal de acesso para a comunidade científica. Para a autora, o livro
digital subverteu a linearidade que era regida nos textos impressos convencionais.
Roger Chartier (1994, p. 105), para chegar ao livro eletrônico, buscou a ficção de
Jorge Luiz Borges resgatando a seguinte passagem: “Quando se proclamou que a biblioteca
continha todos os livros a primeira reação foi de extravagante felicidade”.
Nesta concepção percebe-se que o hipertexto quebra o encanto idealizado
oniricamente por Borges em “A Biblioteca de Babel” (1974) e concretiza um espaço para
ubiquidade. Borges imaginou uma biblioteca universal, sem paredes, cosmicamente ilimitada,
com os tesouros literários e científicos da humanidade nela contidos. Fica claro, para o tema
debatido que o livro eletrônico (e o hipertexto), por sua vez, descortinou a imagem sonhada
por Borges. Chartier (1994, p. 105) identificou como real a inspiração daquilo que Borges
conceituou. Disse o autor que “Esta felicidade extravagante é prometida a nós pelas
bibliotecas sem parede, e mesmo sem endereço que serão aquelas no nosso futuro”.
Redefinindo o conceito das bibliotecas atuais, Benício (2003, p. 15-16) disse que as
bibliotecas atuais foram submetidas à digitalização. Além de estarem à disposição dos
usuários, as bibliotecas atuais são híbridas, ou seja, compostas de livros impressos e
eletrônicos para acesso presencial e/ou à distância.
Também recorrendo à ficção de Borges, acrescentou que as bibliotecas eletrônicas
atuais são sem parede, dispensaram endereço físico, localização geográfica ou temporalidade.
Para a autora (2003, p. 16) as bibliotecas de hoje armazenam, disseminam informações,
disponibilizam serviços aos usuários todos resguardados pela praticidade do livro eletrônico e,
por extensão, das tecnologias da informação e da comunicação no século XXI. Os leitores
podem acessá-los instantaneamente, criando o seu próprio percurso.
Paulino (2009, p. 4) definiu livro eletrônico como “um conjunto específico de dados,
informações ou conhecimentos”. Já o Dicionário Aurélio diz tratar-se de “versão de um livro
publicada em mídia digital, como, por exemplo, CDROM”.
Para Paulino (2009, p. 4), ele é um objeto que apresenta suporte eletrônico que o
computador virtualiza. Seu surgimento do livro eletrônico é uma característica finissecular.
Para a autora (2009, p. 7) ele não é um continuador da versão tradicional. Na concepção da
58
autora há nítidas marcas de ruptura total aos antigos padrões de leitura, mas não há consenso
para que se concretize “a quebra dos antigos padrões materiais”.
Velasco (2010, p. 7-10) destaca que o livro eletrônico possui todas as características
de uma obra impressa, diferenciando a condição de disponibilizar-se digitalmente. Para ela, a
leitura dos livros eletrônicos pode ser feita diretamente em um micro de mesa, notebooks,
Personal Digital Assistant (PDAS), Palmtops, Handhelds (computadores de bolso), Ipods e
ou mesmos celulares que suportem estes recursos. A autora destaca que o armazenamento de
dados fica por conta dos e-reader, pen-drives, CD, DVD. A autora ainda definiu que na
web, os livros eletrônicos são “convertidos em formatos como Hyper Text Markup Language
(HTML), Extensible Markup Language (XML) Word (TXT) e em Portable Document
Format (PDF).”
Procópio (2010, p. 149-153) conceitua o livro eletrônico como uma nova máquina de
ler que não vai deixar de exercer o seu papel só pelo motivo de estar trocando de suporte. Para
ele a questão é que “o uso da tecnologia inventada pelo homem [...] é democratizar a leitura, o
alcance da mesma a todos os que querem ler independente da versão.” Segundo o autor (2010,
p. 152), ao adquirir “um device para leitura de e-book não se adquire apenas uma caixinha de
plástico com uma telinha para visualizar textos. Adquire-se todos os romances, poesias,
contos, gibis que se possa ler”.
O autor toca na possibilidade da democratização da informação, já que o debate sobre
o livro eletrônico se acopla à grande rede de informação. Segundo o autor, o que constrói um
livro não é o fato de ser um conjunto de páginas de papel unido entre si, mas a possibilidade
de o livro continuar existindo: “A página em si não desaparece por estar na internet e ou
digitalizada”. Para Procópio (2010, p. 153) não há confronto entre as formas impressa e
eletrônica do livro. A condição polêmica entre as versões é creditada à mídia pelo fato de esta
“maldizer, amedrontar a indústria cultural e vender mais jornais”. Para o autor, e-book ou
livro eletrônico “não é apenas mais um suporte de leitura, é uma interface que faz toda a
diferença porque colocou-nos diante de uma nova máquina de ler”.
O próximo passo do estudo focaliza os confrontos entre uma versão e outra. Uma
condição polêmica que leva especialista do livro impresso a afirmar que o livro eletrônico é
uma questão de modismo. Por outro lado há os que temem que a versão impressa esteja com
os dias contados.
59
4. Livro eletrônico: questões
X
Ilustração 12 – Mudança de costumes – leitura do jornal para o e-book. Fonte: Disponível em:
<http://serenaflor1964.blogspot.com/2009_10_01_archive.html>
A mudança sempre foi algo que desencadeou polêmicas. Os especialistas da mídia
impressa defendem o livro físico. Em controvérsia, os adeptos da versão digital apostam no
espaço de tempo para que se substitua o papel. Neste interstício agitam-se os analistas para
verificarem as tendências entre o antigo e o novo, o livro impresso e o eletrônico, as
bibliotecas físicas e as digitais e, ainda, a cadeia produtiva do livro.
Análogo o genial cientista Isaac Newton (1643), que dentre as suas inúmeras
realizações, escreveu obras que contribuíram significativamente para a matemática, física,
química, alquimia. Quando a raça humana intrigava-se para descobrir a razão do constante
movimento das marés, o cientista explicou que este fenômeno deve-se à lei da gravidade. Ele
relacionou o movimento das marés com a posição do sol e da lua e as forças de gravitação
naturais correspondentes. Naturalmente assim também caminha a humanidade, as suas
evoluções, mudanças, diferenciais, descobertas e pesquisas. A contribuição trazida pelo livro
eletrônico configurou-se neste norte estratégico, convalidada a inerente inquietude do
pensamento humano.
Para Hayles (2009, p. 21) o livro eletrônico traz à cena a literatura eletrônica, isto
após 500 anos de literatura impressa “e obviamente ultrapassa largamente deste referencial
de tempo a manifestação através da narrativa manuscrita e oral”.
No embate das discussões sobre uma versão e outra há opiniões bastante
emblemáticas. Silva (2009), em entrevista para a Rede Cultura e Informação do Pará,
assegurou que o livro eletrônico vai durar enquanto haja leitores para prestigiá-lo. Por outro
lado, é irreversível para as gerações dos filhos, dos seus netos e bisnetos. Referindo-se à
caracterização do livro digital, o pesquisador ponderou:
60
[...] na década de 1980 surgem os devices, que são dispositivos do tipo soft
book e do rocket ebook [...]. O Kindle é hoje o device mais recente, lançado
pela Amazon.com. [...] duas versões, [...] uma tem a capacidade de
armazenar 300 mil páginas, ou 300 mil livros, e a outra que tem capacidade
para 150 mil livros. É uma capacidade absurda de armazenamento, com
conexão sem fio, podendo a internet ser acessada a partir dele próprio,
através de uma conexão direta, no caso do Kindle com a própria
Amazon.com, [...] baixar os livros das livrarias digitais [...] o usuário pode
acessar. Principalmente por essa característica, é que chamo isso de
biblioteca digital portátil.
Na mesma entrevista Luiz Otávio de Maciel Silva (2009) como chefe da Seção de
Bibliotecas Setoriais da Universidade Federal do Pará, quando indagado sobre os livros
eletrônicos caracterizou:
[...] uma biblioteca portátil e não livro eletrônico, porque, na realidade, é
assim que se caracteriza. É possível armazenar uma quantidade enorme de
documentos, fazer busca, como se faz em uma biblioteca tradicional, marcar
e fazer notas, ter o formato widescreen ou full screen, aumentar o tamanho
da letra, o que é importante para quem tem qualquer deficiência visual. Além
de tudo isso, é possível levar o dispositivo para onde quiser e mais ainda, o
que é bem diferente do livro em papel, ler no escuro, porque ele tem
luminosidade, não havendo problema se o ambiente estiver sem luz [...].
O pesquisador observou que em caso de extravio de um objeto como o device Kindle
e-book, os dados que se perdem não correspondem a um exemplar de livro, mas a uma
biblioteca inteira, cuja capacidade vai de 1.500 a 3.000 livros, dependendo da capacidade do
dispositivo. Na opinião do especialista, isto exige cautela do usuário.
Na entrevista exprimiu também preocupações com os brasileiros para aquisição dos
equipamentos, ou seja, a média salarial baixa é um dos motivos que possam interferir. Outro
obstáculo pode partir do sistema de telecomunicação, cuja infra-estrutura e serviço de
atendimento são precários. Os preços de equipamentos necessários na época da entrevista
variava entre U$ 299 a U$ 800 dólares.
Outro impasse apontado por ele foi a solidificação do sistema de conexão pelo qual
somos atendidos: as TICs (Tecnologia de Informação e Comunicação). O sistema tem
trafegabilidade lenta. Para se baixar um arquivo ou fazer um download, o procedimento
poderá ser vagaroso. A real qualidade da velocidade brasileira propagada é em megabytes.
No Japão a velocidade da conexão é medida em terabytes, o que tecnicamente se define como
cinco vezes mais rápida.
Para o entrevistado, ainda, a falta do hábito da leitura é uma expressão nacional.
Relatou que existiam 17 milhões de leitores brasileiros que leem um livro por ano. O
61
pesquisador afirmou estarmos muito abaixo do cidadão norteamericano (5) e francês (7) em
média. Averiguou que no ambiente virtual nada é definitivo, pois se migra entre novas
mídias.
Regina Zilbermann, em Fim do Livro, Fim dos leitores?, apresenta 60 pontos de vista
diferentes sobre o futuro do formato livro.
Velasco (2010, p. 10), em Na galáxia da internet “e-book” e “e-reader” se tornam
reais, observou que “há os que apostam no livro eletrônico como uma solução ecológica
por ser menos prejudiciais ao meio ambiente”. Por meio de dados levantados com fonte no
link do meio ambiente da Eurosur (The European Union / Mercosur Documetary), notou que
o tradicional veículo de comunicação The New York Times consome, só para a edição
dominical, a média 15 a 20 hectares de floresta. O consumo semanal aumenta para a média
de 57 a 60 hectares de florestas, atingindo 240 hectares por mês. De outro lado, as mídias
eletrônicas, com bateria e metais pesados, podem estar avançando o sinal, no consumo de
energia provinda das usinas hidroelétricas que, por sua vez, não deixam de ter alto consumo
de energia, descabido para o meio ambiente.
Instabilidade, turbulências e controvérsias em torno do ajustes entre uma versão e
outra trouxeram preocupações para os vários segmentos da cadeia produtiva do livro. A
Saraiva, uma das mais tradicionais livrarias brasileiras, saiu em busca de dados que pudessem
norteá-la. Neste sentido a Livraria Saraiva entrevistou o historiador social Robert Darnton,
uma referência nos estudos do livro17
.
Na entrevista o jornalista Bruno Dorigalti buscava saber sobre a morte do livro
impresso e as turbulências sentidas pela indústria cultural, particularmente a do livro.
Darnton contando sobre o seu ingresso na Biblioteca da Universidade de Harvard.
Sobre isto, Darnton disse:
[...] um dia ao receber uma ligação telefônica da Universidade de Harvard
propondo-lhe a direção da Biblioteca da Universidade de Harvard,
introspectivamente, sentiu ser aquele um momento para oportunizá-lo, a
fazer a diferença, agir no sentido de fazer alguma coisa, ao invés de somente
redigir livros relatando as coisas com do seu costume.
Darnton disse ter refletido no momento que recebeu a ligação, tendo em mente que a
Biblioteca de Harvard é a maior biblioteca universitária do mundo, constituída de um acervo
17 A entrevista de Robert Darnton ao jornalista Bruno Dorigalti pode ser encontrada no blogue de
eventos da Livraria Saraiva. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=2ofoocg64PI>
62
14 milhões de volumes e formada desde 1638. Disse ao jornalista que sua reflexão foi muito
além da vaidade. A questão foi a responsabilidade de aceitar o convite para dirigi-la com o
intuito de fazer a diferença, de cuidar de um tesouro de informações, abdicando de sua rotina
de prestar serviços às bibliotecas como escritor.
Darnton relatou ao jornalista Dorigalti que uma das alternativas encontradas para a
administração da Biblioteca de Harvard foi organizar a prestação de serviços em torno da
informação da sociedade e do futuro. Esta foi uma das prioridades, alvo de suas ambições
para dirigir a Biblioteca da Universidade de Harvard.
O historiador chamou o foco da entrevista para si, desviando dos livros, alvo do
jornalista. A estratégia não fugir da questão, mas para revelar suas intenções com relação à
biblioteca e, consequentemente, com o livro. A partir do momento em que Darnton fez
transparecer suas intenções de desempenhar o papel de diplomata do saber ou um embaixador
dos livros, começa a revelar dados sobre o livro e assim corresponder às expectativas da tão
esperada resposta à questão que gira em torno da ameaça do livro.
Sobre a morte do livro impresso disse Darnton que não só os impressos, mas os livros
permanecem cada dia mais vivos. Foi enfático ao destacar que a preservação dos textos
digitais é um dos aspectos que mais o amedronta. Frisou que “o desconforto e a insegurança
não ficam restritos a ele e sim alcança todos os diretores de bibliotecas digitais”.
Outra preocupação de Darnton é quanto à preservação e os riscos de perda de títulos
no formato eletrônico. Observou, também, que a produção dos textos digitais obedece às
combinações binárias 1 e 0 e, por este motivo, os números se embaralham e, por enquanto,
têm durabilidade finita.
Sobre o texto digitalizado, o entrevistado disse ao jornalista que o foco de suas
preocupações com a versão eletrônica ficou atrelado à obsolescência dos mesmos, ou seja,
hardwares, softwares e outros tornam-se obsoletos e se desgastam rapidamente. Por outro
lado Darnton, ao referir-se aos livros impressos, foi categórico ao declarar a durabilidade dos
mesmos. Segundo o especialista eles perduram anos após anos e tem crescimento anual. Sobre
a tiragem dos livros impressos, Darnton estimou um milhão de novos títulos a cada ano. Para
ele, a ideia associada à morte do livro impresso é uma condição absurda. Por outro lado
ponderou que não se pode dispensar a atenção ao fato de que os livros eletrônicos representam
a tendência do futuro.
Em condição conciliatória, Darnton destacou que na história da comunicação uma
mídia não desestabiliza a outra. Ressaltou o entrevistado a co-habitação das mesmas e que em
sua opinião resultam em mútuo benefício entre ambas.
63
Darnton pôs-se como um embaixador do conhecimento que luta para encontrar
respostas e vencer os obstáculos que desafiam a estruturação do acervo digital e
democratização do conhecimento.
Essa análise buscou respaldo para amarrar a ponta do convívio das mídias com a parte
que assegura as perspectivas de estabilidade do lado eletrônico. O estudo de David Bell - The
Bookless: what the internet is doing to Scholarship, mostrou que reflexos podem respingar
nos padrões científicos como o que se segue abaixo:
[...] os desafios para se superar principalmente no campo de comunicação
científica, que o material impresso monopoliza. Emergem novos formatos de
disseminação da ciência que podem coexistir com variedades mais antigas
dentro da academia. (BELL, 2005, p. 5)
O olhar de Marcelo Spalding (2010, p. 5) voltado à indústria fonográfica ou
cinematográfica mostra preocupações de segmentos relacionados à indústria cultural.
Segundo o autor passam por reestruturação conforme o declarado:
[...] diante das novas tecnologias de produção e comercialização: os CDs,
por exemplo, sucessores dos elepês e dos cassetes, perderam espaço para os
MP3s, arquivos facilmente compartilhados pela internet e que têm obrigado
às gravadoras e aos músicos mudarem suas estratégias de comercialização.
[...] a internet [...] sem dúvidas a maior responsável pela mudança de hábitos
culturais, e como o acesso à rede cresce constantemente, tal preocupação
tende a aumentar a cada ano.
Spalding (2010) observou a re-estruturação de dois segmentos da Indústria Cultural,
Sérgio de Sá, em A reinvenção do escritor: literatura e “massmedia” aponta o realinhamento
dos produtores - que são os escritores, uma das partes essenciais para a operacionalidade da
indústria.
Na esteira das preocupações com o tema, a Câmara Brasileira do Livro (CBL)
anunciou a segunda edição do Congresso Brasileiro de Livros Digitais, que deve acontecer em
outubro de 2011, em Porto Alegre (RS). No sítio da CBL está, também, disponibilizada a
programação do Primeiro Congresso Internacional de Livro Digital, organizado também pela
Câmara Brasileira do Livro.
A mobilização desses eventos envolvendo os segmentos corporativos da cadeia
produtiva do livro demonstra preocupação das partes em dialogar, conhecer os horizontes e as
tendências do objeto em questão: o livro eletrônico.
64
Retomando o estudo de Spalding (2010, p. 5) observou-se que grupos de estudos com
reconhecimento acadêmico estão congregando e compartilhando “online”, pesquisas sobre
literatura, tecnologia e digitalização. Entre os que compartilham Spalding (2010, p. 5)
apontou o Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística (NUPILL), da
Universidade Federal de Santa Catarina, o Núcleo de Pesquisa em Literatura Digitalizada, da
Universidade Federal do Piauí, o Centro de Estudos sobre Texto Informático e Ciberliteratura
(CETIC), da Universidade Fernando Pessoa e outros. O crescimento dos estudos, segundo
Spalding (2010, p. 5), encontrou justificativas no acompanhamento das tendências,
preparação para o futuro e atendimento da demanda de usuários.
Para Spalding (2010, p. 5) o efeito dos textos digitais trouxe ao leitor e à literatura
novos gêneros literários surgidos com exclusividade para o webleitor na internet.
A propósito dessa afirmação em contato com Marcelo Spalding18
averiguou-se que o
pesquisador devotou-se ao estudo de novos gêneros literários, tendo como uns dos resultados
de suas análises a inovação representada pelo “miniconto”, um novo gênero literário com as
seguintes características:
O miniconto, sob este ponto de vista, poderia ser visto como uma narrativa
extremamente curta que através de poucas palavras tenta provocar algum
efeito no leitor, tirando-o do lugar comum, explorando a diferença, o não-
dito, o poético. (SPALDING, 2010, p. 38)
Retomando o foco aberto para analisar a questão do livro, este estudo tentou
evidenciar o debate que gira em torno do livro, expresso em dados como: lançamento de
novos gêneros para a literatura; estímulo a grupos de estudos empíricos a congregarem e
compartilharem seus experimentos eletronicamente ou online; a preocupação demonstrada
pela cadeia produtiva do livro, que se mantêm integrada, organizando eventos;
reposicionamento dos escritores, da indústria fonográfica e cinematográfica. Some-se a isto o
fato de se ter verificado o olhar voltado para o espaço de co-habitação de ambas as versões. O
segmento corporativo da cadeia do livro busca respostas com o especialista em livros Robert
Darnton para evidenciar a dúvida que ameaça o futuro do livro impresso.
Segundo Ferrari (2010, p. 297) a expressão “questão dos livros” justifica-se pelo fato
de que o pesquisador Robert Darnton tenha identificado o século XXI como um momento
atual e apropriado para a abertura de ângulos que esclareçam as dúvidas sobre o futuro do
18 Contato via correio eletrônico no dia 23/12/10
65
livro impresso, desde o seu surgimento, cristalizado pelo modelo códice, até ao momento
atual do livro eletrônico e suas perspectivas para o futuro.
Ferrari (2010, p. 297) aponta que, para Darnton, o desenvolvimento preconizado pela
tecnologia da informação e a internet tenham atingido em cheio os livros e os seus
respectivos usuários (leitores) provocando neles mudanças significativas. O efeito destas
modificações foram interpretadas pelo historiador como um xeque-mate na continuidade de
vida do livro impresso convencional.
Ferrari (2010, p. 297) observou na avaliação feita por Darnton que qualquer tipo de
informação, inclusive livros e obras inteiras são publicadas na íntegra em formato digitalizado
na internet com disponibilidade irrestrita de uso. O historiador julgou indispensável a
avaliação e checagem tanto do futuro do livro como dos elementos que provocaram a
mobilidade desta situação.
Enfocando a trajetória do futuro do livro, Darnton afirma que as iniciativas
disponibilizadas pela Google Book Search trouxeram acesso à informação para qualquer
pessoa. Aparentemente louvável a iniciativa do Google Book de digitalizar o acervo das
maiores bibliotecas do mundo, com o agravante do perigo de controle monopolizado de
informação por essa uma única empresa, conforme Ferrari (2010, p. 298).
Ferrari (2010, p. 298) relatou na questão dos livros que a versão eletrônica levou o
Google Book ao banco dos réus. Tudo por conta de um projeto audacioso de digitalização de
livros que o Google Book realizou. Segundo o mesmo autor a gigante “esbarrou” e ou foi
interpelada pelos direitos autorais dos escritores, assegurados pelo copyright .
Por outro lado, ainda referindo-se ao Google, Ferrari (2010, p. 298) incluiu como uma
questão o assédio feito pelo Google ao conteúdo das grandes bibliotecas públicas do mundo.
Robert Darnton vê isto como problema para o livro porque os funcionários do Google, para
catalogarem matéria prima digitalizada, dirigem-se às bibliotecas de domínio público, passam
por um usuário comum, extraem os dados gratuitamente. Posteriormente, convertem-nos em
dados eletrônicos e os comercializam, inclusive para as próprias bibliotecas-fontes.
Por esta questão, Ferrari (2010, p. 298) diz que o parecer de Darnton mostra-se
favorável à democratização e à liberdade de acesso ao público “às informações e obras
historicamente acumuladas pelas bibliotecas excluindo objetivos comerciais e financeiros”.
A obsolescência dos suportes virtuais por muito tempo no ar também representa um
obstáculo que interfere, segundo Ferrari (2010, p. 299), na estabilidade da versão digital.
A análise de Darnton, segundo Ferrari (2010, p. 299), referindo ao momento atual,
destacou que o diferencial do presente é a vasta quantidade de informações que os livros
66
eletrônicos disponibilizam para seus usuários, além das interfaces e hiperlinks predispostos
ao alcance dos mesmos.
A dúvida levantada na avaliação de Robert Darnton encontrou resposta positiva diante
do futuro e dos novos suportes. A alternativa por ele escolhida foi de conciliar os lados e
certificar sobre a coexistência das versões, suas respectivas complementações conforme
constata na citação abaixo:
No momento em que o debate a respeito do possível desaparecimento do
livro em papel encontra-se acalorado e divido entre entusiastas e pessimistas,
A questão dos livros mostra uma saída conciliatória para a questão:
digitalizar é preciso, desde que se incentive e se pratique a preservação dos
suportes impressos, pois para Darnton, “a moral da história serve de
corretivo para o folclore jornalístico: não existe nada mais morto que o
jornal de ontem, exceto o jornal de ontem destruído. (DARTON, 2010, p.
145 apud FERRARI, 2010, p. 301)
A análise de Ferrari (2010), contendo dados levantados sobre a questão do livro por
Darnton, excluiu a dúvida sobre a questão dos livros, confirma a solução para o problema
levantado e exclui a hipótese desta investigação, ou seja, os extremos das versões são atados
pela co-habitação das mídias, além de atrelar outra ponta do livro eletrônico e as tendências
futuras com relação ao mesmo, objeto de verificação no próximo tópico.
5. Livro eletrônico: mudanças e consequências
Verificam-se os sinais de mudança no cenário, provocados pelo livro eletrônico, por
meio dos indícios das empresas, que se instalaram no mercado em busca de oportunidades e
de negócios. É o caso apontado por Benício (2003, p. 48) que disse ser “no ano 2000 que
começaram a surgir as principais editoras virtuais (e-editoras) da rede brasileira, interessadas
no crescente mercado de livros digitais”.
Verificou-se que os recursos das empresas eram modestos, o que as levou a iniciar
suas atividades com escritores clássicos, cujos direitos autorais já haviam expirado e, em um
segundo momento, iniciar com autores contemporâneos.
A chegada da Submarino neste cenário de mudanças que o livro eletrônico trouxe
causa impacto fenomenal, segundo Benício (2003, p. 47). Ou seja, foram vendidas quatro mil
cópias do livro “Miséria e grandeza do amor de Benedita”, de João Ubaldo Ribeiro.
67
Os dados averiguados por Benício (2003, p. 47) elucidaram que “o portal „Terra‟
também no ano 2000, apoiou Mário Prata para escrever e publicar com eles os capítulos em
série do livro „Anjos de Badaró‟”.
A Folha Online em 10/12/2002 publicou um artigo divulgando que a Literatura
Brasileira, iniciava um projeto na Internet:
[...] Três dáblios vêm se achegar esta manhã às demais letras brasileiras. São
os www's do Portal Literal, ambicioso projeto de internet voltado
exclusivamente à literatura nacional. Ancorado por sites oficiais de cinco
autores do primeiro time, http://www.literal.com.br/ entra no ar à 0h de hoje.
Lygia Fagundes Telles, Ferreira Gullar, Rubem Fonseca, Luis Fernando
Verissimo e Zuenir Ventura, os anfitriões do Portal Literal, não ficam
sozinhos no espaço virtual. “Os cinco são as âncoras, mas teremos a revista
como pivô de todo o portal”, diz Luiz Fernando Vianna, que divide a direção
do Literal com Luiz Noronha. [...] Inéditos e esparsos são tônica também nas
cinco páginas dos escritores-âncora. A página de Lygia estréia com cartas
que ela recebeu de Carlos Drummond de Andrade. A de Fonseca traz um
arrazoado sobre pipocas. E assim por diante [...]. (MACHADO, 2002)
As alterações que o livro eletrônico implementou no mercado chamou atenção da
agência Reuters de Nova York , que postou para a Folha Online , um artigo divulgado no dia
19 de maio de 2011 comunicando que a Amazon.com, a maior varejista de venda de livros
pela internet, anunciou que as vendas dos livros eletrônicos ultrapassaram a vendas dos
impressos pela primeira vez. O artigo comunicou que o modelo Kindle acelerou o acréscimo
das vendas pelas condições acessíveis comparadas a outras.
Bortoloti (2010) postou matéria no dia 31 de agosto de 2010 sobre a última edição
impressa do Jornal do Brasil (J.B.), concomitantemente com as manchetes internacionais que
apresentaram sinais de mudança no mercado editorial. A alteração, em relação a este veículo,
foi tão radical que amanheceu o mês de setembro circulando online, para sobrevida como o
grupo do Jornal do Brasil.
As alterações estabelecidas pelo livro eletrônico ocorrem rapidamente. Retrocedendo
à quinzena anterior àquela data, antes do Jornal do Brasil fechar as portas para a versão
impressa, na 21ª Bienal Internacional do livro de São Paulo - o terceiro mais importante
evento do livro no planeta - a Editora Giz lançou a edição: “O Livro na Era Digital: o
mercado editorial e as mídias digitais, de Ednei Procópio, especialista em livros digitais e
membro da Comissão de Livro Digital da Câmara Brasileira do Livro.
A Bienal Internacional de São Paulo é o terceiro maior evento sobre livros do mundo.
Só perde para a de Frankfurt (que é a primeira) e a de Turim na Itália.
68
A revista IstoÉ Dinheiro, em parceria com o Portal Terra, divulgou em 18 de agosto
de 2010, a reportagem de Rodrigo Caetano intitulada “O livro eletrônico invade a Bienal de
São Paulo” mostrando que editoras, livrarias e até gráficas brasileiras se preparam para
enfrentar a nova realidade que o mercado digital está trazendo com os livros eletrônicos.
O interesse dos profissionais pertencentes à cadeia produtiva do livro se expressa na
renovação, na projeção e na afinidade com as novas tendências que o processo do livro digital
desencadeou. O artigo destaca que o livro eletrônico começou a mostrar forças como centro
de atenções, disputando espaço com obras no formato convencional.
Segundo Caetano (2010) os sintomas se manifestaram desde o Natal de 2009. A
“Amazon com”, uma das maiores lojas virtuais do mundo, idealizadora do leitor de livros
digitais, o Kindle, vendeu mais livros eletrônicos do que impressos pela primeira vez na
história nas suas bases de vendas online.
Evidenciou também Caetano (2010) que os escritores brasileiros considerados
campeões de venda aderiram e disponibilizaram suas obras no formato eletrônico. Observou,
também, que a Amazon, que dispõe de um acervo de 400 mil livros em inglês, estima que 5
mil e-books seriam publicados em português até no final de 2010. A matéria mostrou que no
prisma nacional as editoras firmam alianças com o intuito de se aperfeiçoarem na distribuição
de livros digitais.
Caetano (2010) registrou que se estima um de faturarmento em 2011 de 12 milhões de
reais, ou seja, a venda planejada de, aproximadamente, 300 livros eletrônicos (e-books) por
mês.
A cadeia editorial com as novas tendências tem assistido à emancipação e quebra de
obstáculos, mobilizada pelos escritores, editores e leitores, como demonstrativo de mudança.
A atmosfera atual da digitalização possibilitou que alguns escritores encontrassem
oportunidade de se tornarem independentes e se auto-editarem, libertando-se das imposições
das grandes editoras por conta do livro eletrônico e da internet.
A exemplo disto o The Wall Street Journal (2010), em matéria publicada sobre livro
eletrônico, revelou que o objeto é responsável por mudanças na indústria cultural. A
publicação revelou que a escritora Karen McQuestion passou quase dez anos tentando
convencer algum editor nova-iorquino a publicar seus livros. McQuestion, de 49 anos e mãe
de três filhos, encorajou-se e decidiu realizar a sua publicação sem qualquer auxílio,
recorrendo apenas à internet. Em menos de um ano a escritora já havia vendido 36.000 livros
eletrônicos para o Kindle (dispositivo da Amazon.com Inc. para livros eletrônicos). Como
aspecto suplementar ofereceu-lhe a Amazon.com a possibilidade de verter seu livro em uma
69
produção cinematográfica com recursos dos estúdios de Hollywood. O artigo divulga que
autores com o perfil da autora têm provocado uma verdadeira reviravolta no mercado
editorial.
Os jornalistas Geoffrey A. Fowler e Jeffrey A. Trachtenberg (2010) testemunharam
que tudo isto tem enfraquecido o tradicional controle das editoras sobre o mercado literário.
Por outro lado declararam haver aumento do poderio dos sites de venda online. As edições
independentes, segundo as enquetes, tem desbancado a institucionalização das editoras com
resultados positivos e prósperos. O distribuidor e publicitário de e-books Mark Coker fez a
seguinte declaração em nome de sua empresa, a Smashword. Inc.:
[...] Se você é um autor e quer atingir muitos leitores, até pouco tempo atrás
o melhor era vender o livro para uma editora, porque elas controlavam a
impressão e a distribuição. “Isso está começando a mudar”, diz Mark Coker.
(FOWLER; TRACHTENBERG, 2010)
Os correspondentes relatam que o protagonista é o livro eletrônico. Atribuem uma
popularidade crescente aos mesmos. Revelaram que há anos atrás poucos se interessavam por
leitura. Mas os dispositivos ou devices iPad, da Apple Inc. e aparelhos eletrônicos como o
Kindle, além de ter caído no gosto popular, estimularam a compra e facilitaram a leitura das
por meio do formato digital. O informativo disse também que as vendas dos livros impressos
caíram 1,8% em 2009 nos Estados Unidos, com um parâmetro de consumo de US$ 23,9
bilhões. Em compensação, o consumo de e-books triplicou para US$ 313 milhões, dados
obtidos da Associação de Editores Americanos. Na análise econômica o ranking de vendas de
livros eletrônicos poderá atingir o índex de 20% a 25% de alcance no mercado de livros
eletrônicos até 2012.
É imprevisível traçar por meio de dados concretos as ameaças que as publicações
independentes em meio digital possam representar para as editoras que controlam os best-
sellers em ambos os formatos. Mas a tendência é crescente e só o tempo pode revelar as
diretrizes e os rumos do mercado que surge.
O artigo fez uma observação sobre a Amazom.com. Esta é uma empresa que aposta nos
escritores, oferecendo-lhes ferramentas para se auto-publicarem. Além disso, a Amazon.com
ofereceu um aumento suplementar incidindo na comissão dos autores. A proposta aumentou
significativamente as luvas para escritores.
70
A indexação representa um ganho que passa de 30% para 70% no lucro. O autor
independente que faturava no mínimo U$ 1,75 por livro das grandes editoras, terá nesta
alternativa introduzida pela Amazom acréscimo de U$ 6,99 por unidade vendida.
Outra tendência que o livro eletrônico trouxe para a cadeia produtiva do livro é a
preocupação em produzir equipamentos que possam atender às pessoas portadoras de
necessidades especiais.
A Wise (2010) anunciou à agência de notícias Publish News que a sua Empresa
holandesa Elsevier tomou iniciativa diferenciada com as edições de livro digitais formato
“ePUB”. Os usuários deste modelo têm alternativa para ler e ou para ouvir os dados contidos
no equipamento. Trata-se de um modelo projetado para os portadores de necessidades
especiais como deficiência de visão, ou ainda os que sofrem de dislexia ou dificuldade
motora.
As edições de livros eletrônicos estão refletindo significativamente no cenário da
cadeia produtiva do livro também quanto à adoção de iPad como material escolar obrigatório
para alunos americanos.
A Folha Online no dia 26 de janeiro de 2011 publicou artigo postado pela DA EFE
agência de Washington. O texto registra que no estado americano do Tennessee uma escola da
rede privada de ensino exigiu como recurso didático obrigatório o uso do iPad pelos
estudantes de 8 a 18 anos.
O artigo esclareceu que o objetivo da Webb School of Knoxville é substituir os livros
didáticos pelos tablets eletrônicos. Os diretores do estabelecimento tomaram a medida não só
pela questão tecnológica, mas pelos cuidados com a saúde. Trocam-se mais de 20 quilos do
peso dos livros didáticos nas costas pela praticidade de apenas um quilograma nas mãos.
O diretor de tecnologia da instituição e toda a equipe do corpo docente não só
receberam positivamente a aquisição do recurso, como esclareceram aos pais e à imprensa
que os sites de relacionamento serão bloqueados para inibir o acesso dos alunos durante o
período de atividade escolar. As perspectivas que a equipe pedagógica demonstrou foi a de se
conseguirem resultados bem mais favoráveis com as edições dos livros digitais do que com os
livros impressos em papel, em circunstâncias de abrangência, agilidade e outros.
Outros estabelecimentos de ensino de ensino nos Estados Unidos também já eram
adeptos da adoção do livro eletrônico como recurso didático. Segundo a Folha Online (2011)
anunciam os seus cursos sempre por meio de iPads. Entre elas estão a Universidade de Notre
Dame, em Indiana e Seton Hill University no estado da Pensilvânia e outros.
71
Incorpora-se nesta mudança de cenário provocada pelo livro eletrônico a edição de um
Jornal produzido com exclusividade para iPads.
Coelho (2011) entrevistou em Boston o consultor americano Ken Doctor, reconhecido
como um guru da nova mídia, por ocasião do lançamento do “The Daily” um jornal exclusivo
para iPad lançado no início de fevereiro contando com o investimento do bilionário Rupert
Murdoch. Segundo Coelho (2011, p. A16) “o consultor vê o novo jornal como um marco na
indústria da mídia voltada para as massas”.
Ken Doctor comunicou que a primeira revolução que a edição do “The Daily”
provocou vincula-se ao preço, ou seja, o leitor /navegador investe semanalmente U$ 1,66
dólares. Outro ponto citado pelo consultor está relacionado às amplas opções de
interatividade, porém sem pirotecnias. O consultor também disse que a intenção do veículo é
acelerar a migração das edições impressas para os livros eletrônicos e ou iPads, porém com
consciência de que a versão impressa não deixará de existir tão cedo.
Verificou-se ainda que reconhecidos veículos de comunicação nacionais estão
aderindo ao universo do livro eletrônico. No Brasil a Editora Globo (2011) agregou sua
edição semanal da revista Época ao formato eletrônico. Desde 21 de março que a nova versão
da revista pode ser lida no iPad.
No artigo publicado pela Revista Época (2011, p. 25) constata-se que a edição digital
representa um pioneirismo entre as revistas semanais brasileiras e segundo a Apple a terceira
versão para iPad. Segundo a revista, “a versão valoriza a experiência de leitura e navegação.
O veículo comentou que também há mais agilidade e facilidade com os recursos e conteúdos
multimídias se estiver conectado na internet”. Sobre o equipamento a revista esclareceu que
ele trouxe opção para leitura no sentido vertical e horizontal, ou seja, no conteúdo vertical
constam os textos interativos e o horizontal o texto na íntegra. Pode-se acessar no menu as
páginas minimizadas e ou ter acesso direto aquilo que se deseja ler.
Observou-se que o lançamento da edição digital da revista Época interferiu
significativamente no mercado do livro eletrônico. O sinal de repercussão partiu da gigante
varejista de venda de livros online a Amazon.com, rival da Apple.
A Amazom.com enviou recado no dia 20/05/11 por meio da revista Veja Online da sua
aterrissagem e pouso definitivo no Brasil, almejando o mercado de livros eletrônicos e outros.
Diante deste mercado agitado e turbulento, as alterações no cenário do mercado
editorial trazido pelo livro eletrônico mostram-se vertiginosamente dinâmicas e em erupção.
Alvoroçaram os meios midiáticos que borbulham de informações, relatos e acontecimentos
que giram em torno desse cenário de mudanças.
72
Mas é primordial que as lentes desta análise se voltem para focalizar o mercado e a
cadeia produtiva do livro onde dados numéricos possam ser avaliados. Desta forma
concretiza-se uma visão nacional e globalizada, evidenciando-se o contexto das duas versões
que coexistem como segmentos da rede de produção do livro. A cadeia produtiva do livro e o
mercado editorial serão analisados no próximo tópico, permitindo uma visão mais ampla da
complexidade das mudanças, que configuram o contexto do livro eletrônico e sua implantação
no setor econômico nacional.
6. Cadeia produtiva do livro: mercado editorial
Ilustração 13 – Apple no Brasil. Fonte: Bigio (2011)
Ilustração 14 – 2º Congresso Internacional CBL do Livro Digital.
Fonte: eBook Reader (2011)
Ilustração 15 – Logomarca da Amazon.com. Fonte:
Brand´s (2011)
Ilustração 16 – Congresso Brasileiro do Livro Digital. Fonte:
CBLD (2011)
Ilustração 17 – A Reinvenção do escritor. Fonte: Sá (2010)
73
Em meados de 2004 a cadeia produtiva do livro como setor econômico entra em rota
de colisão e reflete instabilidades nas vendas que despencaram por não caber no bolso dos
brasileiros. Estes foram dados obtidos em uma entrevista realizada por Elizabeth Sucupira em
2004, com o economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro Fábio Sá Earp. A
exibição da entrevista concebida pelo economista e pesquisador Earp foi divulgada na íntegra
pelo Portal Literal Terra, em agosto de 2008.
A reportagem mostrou que o Governo, na tentativa de frear a crise desencadeada pelo
mercado editorial, preocupou-se com as gráficas nacionais, na sua grande parte sobre o
controle do capital estrangeiro ou operando para sobreviver com alternativas alheias à
impressão de livros.
Nada distinta foi a situação das editoras exclusivamente dedicadas à produção de
livros didáticos e o próprio governo como seu cliente principal e maior comprador de livros.
A consequência dessa situação foi a perda de espaço, levando as editoras a submeter-
se a competir no mercado nacional com as editoras estrangeiras, outro efeito sintomático, que
reforçou a preocupação governamental, acelerando as necessidades de reparos nas rachaduras
no solo do mercado editorial brasileiro.
A crise formou se com base nos resultados numéricos do ano de 2004, quando
inclusive ocorreram reduções de vagas de empregos, que eram gerados pelas editoras, ou seja,
a oferta reduziu em 50% as oportunidades do mercado: 32 mil vagas se reduzem a 18 mil
empregos.
O cenário intimou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social a
solicitar análise de especialistas em economia. Assim foi oficializado o convite à
Universidade Federal do Rio de Janeiro extensivo aos economistas Fábio Earp e Geroge
Kornis, na ocasião os coordenadores da equipe de projeto de pesquisa econômica da
Instituição.
Fábio Earp, nos dados publicados pelo Portal Literal Terra em 2008, dedicou-se a
estudos e análises de várias áreas da pesquisa econômica como: a economia das
telecomunicações, economia mineral, macroeconomia, histórias das ideias econômicas,
economia do Brasil, política internacional e economia do entretenimento, feedbacks que
respaldam a sua visão para compreender e analisar os reflexos da crise, que gira em torno da
produção do livro.
O pensamento de George Kronis (2008), professor de política social, planejamento e
economia do Instituto de Medicina Social da UERJ, também foi indispensável para
compartilhar com Earp reflexões sobre os sintomas sentidos no mercado do livro. A sua
74
afinidade com grande parte dos economistas franceses traçou uma importante aliança,
intercâmbio e incorporação de enfoques lúcidos para averiguar as diretrizes do livro.
A Economia da Cadeia Produtiva do livro (2005) é o estudo que Fábio Earp e George
Kronis realizaram em torno do tema. Entre os diversos problemas observados no estudo
destaca-se como crise no setor a queda de 40% nas vendas de livro. Segundo os economistas
os preços altos dos livros tornaram-se inacessíveis aos brasileiros. O exame levantou naquela
ocasião que “com um valor igual à sua renda per capita, um japonês, ou um francês
comprariam 4.000 livros por ano, um brasileiro ou um alemão comprariam 1.500; um
mexicano e um chinês 700”. A avaliação levou-os a revelar que o livro nacional custava quase
três vezes mais caro que o francês e o japonês e equiparou-se apenas ao alemão que tem renda
salarial mais alta, não lhe faltando renda para as despesas essenciais como para o brasileiro.
Para o alemão sobra a reserva para o livro, segundo a investigação dos estudiosos.
Outros sinais de crise foram verificados, ou seja, os resultados numéricos do PIB
(Produto Interno Bruto) com redução de 13% dos títulos editados e queda de 10% também
acusaram os sintomas negativos em torno da produção do livro.
Indiciaram, também, a redução das vendas dos livros frente ao avanço tecnológico, ou
seja, o livro estava sendo substituído por outra forma de leitura na web, além da procura para
a aquisição de exemplares ter diminuído, como se detecta na citação a seguir:
[...] uma explosão informacional e inovações tecnológicas, o livro eletrônico
se apresenta [...] promessa do Eldorado por eliminar gastos com produção,
estocagem, distribuição de exemplares não vendidos. [...] custos estariam
cobertos de venda estariam cobertos a partir da venda de 30 exemplares em
formato com o PDF. (EARP; KORNIS, 2005, p. 150)
As verificações de Earp (2008) nesta entrevista ao Portal Literal Terra, foram
esclarecedoras e apresentam dados reveladores sobre o número de livros que foram
produzidos, quanto custava produzi-los, distribuí-los, estocá-los e vendê-los. Da mesma forma
o pesquisador julgou fundamental constatar neste apanhado dados voltados ao panorama
econômico do mercado editorial e as tendências relacionadas ao século XXI.
Frisou Earp (2008) que pesquisas como essas existem há décadas em qualquer país
que encara o mercado editorial com seriedade, e a ausência do mesmo na realidade nacional
constitui sintoma de atraso cultural para compreender o universo. O economista também
constatou que cada uma das 13 maiores editoras do mundo vendeu, sozinha, mais do que
todas as editoras instaladas no Brasil juntas.
75
Procópio (2010, p. 184) estudando sobre a rede de produção de livros, não encontrou
um cenário diferente. Verificou que das 17 mil empresas gráficas nacionais, sobrevivem
apenas aquelas as que operam com outras alternativas além da impressão de livros.
O número encontrado pelo Sistema Fecomércio RJ mostrou que a falta de hábito de
leitura e o desinteresse levaram a cadeia de produção do livro à baixa tiragem e,
consequentemente, baixos resultados numéricos consolidados nas vendas.
Mas apesar do cenário assim se comportar, o estudo de Procópio (2010, p. 185)
averiguou um mercado com potencialidades de projetar-se internacionalmente entre os oito
que mais consomem livros impressos no mundo. Neste mesmo sentido o autor avaliou o
primeiro lugar para o Brasil entre os latinoamericanos, o que mostra o mercado nacional do
Brasil como competitivo.
A afirmação do editor Ednei Procópio é constatada pelo recado que a maior varejista
eletrônica do planeta, já referida nesta pesquisa, ter anunciado por meio da Veja Online no dia
20 de maio de 2011, ou seja, a Amazon.com no segundo semestre inicia suas atividades no
mercado brasileiro. A empresa ambiciona entrar no mercado nacional pelo setor do livro
eletrônico. Um reflexo de que o veículo midiático tem potencial para competir e investir na
cadeia produtiva do livro brasileira.
No resultado do estudo realizado pelos economistas Earp e Kornis (2005) ficou
diagnosticado que a era digital, seus novos meios midiáticos e padrões, impuseram um
novo modelo de negócio para as editoras, distribuidoras, livrarias e demais segmentos da rede
de livros. Os estudiosos avaliaram este resultado como alternativa de controle da crise de
2004, os investimentos em novas tecnologias e no livro eletrônico como mais um recurso para
as editoras.
Sobre o mesmo assunto, Velasco (2010, p. 6) afirma que
As grandes editoras acreditam no potencial do livro eletrônico, mostram
interesse em popularizá-los por oferecerem vantagens, especialmente
recursos multimídias impossíveis no meio impresso. O leitor-produtor da
contemporaneidade força o mercado editorial a criar novos serviços.
Para consecução dos objetivos dessa dissertação forma conferidas, no sítio eletrônico
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), informações
que reconhecem o livro eletrônico como meio midiático para o uso científico no ambiente
acadêmico. Trata-se do Projeto Livro Eletrônico do CNPq. Ele tem o intuito de disseminar o
conhecimento por meio de publicações eletrônicas, estimulando a difusão e o acesso à
informação de qualidade no meio acadêmico, gerando o acesso à informação de qualidade.
76
Para se publicar uma obra pelo via mídia eletrônica, há um link de acesso aos dados do
Projeto Livro Eletrônico.
Repercutiram no mercado editorial brasileiro as ameaças provindas das proximidades
e a presença de editoras gigantes no mercado, mas nada foi manifestado de forma clara e
oficial. Por outro lado, amostras de organização e aprimoramento são percebidas, para se
congregarem as reflexões necessárias em volta dos interesses e compreensão das tendências
dos segmentos, que giram em torno do futuro do livro e/ou livro eletrônico.
Ao reconhecer-se que a questão do livro eletrônico é muito recente torna-se necessário
criar intimidade entre o usuário e livro digital, o que levou à criação de um guia, projetado
para novos usuários de livros eletrônicos como ferramenta ideal para atrelar os laços,
aproximando o usuário do livro. É preciso adquirir o equipamento, dominá-lo, repará-lo,
abastecê-lo, conhecer os fornecedores do mercado e outros.
A Gliffy (2011) é uma empresa americana, estabelecida em São Francisco na
Califórnia - USA. Ela é a única no planeta especializada na criação de softwares ou
programas gráficos de comunicação não-verbal para Internet. Nos seus cadastros constam que
a empresa acredita que a comunicação visual dá oportunidade às pessoas de absorverem a
ideia de forma mais rápida e tangível. Exatamente umas das suposições do estudo no sentido
de se perceber o interesse social do objeto estudado: o livro eletrônico.
Chris Kolarhard (2011), além de Chefe Executivo de Gabinete, foi o fundador da
Gliffy em parceria com o seu sócio Clint Dickson (2011). Pela facilidade técnica com os
programas gráficos, aprimoraram um site de autor desconhecido que atualmente atende
especificamente o domínio público, com foco nos usuários principiantes e ou inexperientes
com de “e-books” ou “livros eletrônicos.
O site possui um esquema de informações sintetizadas graficamente, que induzem de
uma forma simples o principiante à iniciativa de uso e ou à decisão de onde, como, e muitas
vezes qual o equipamento e ou livro eletrônico mais adequado para atender às suas
necessidades. É dirigido para os que buscam habilidade e familiaridade com o livro
eletrônico, sentem-se inseguros para decidir o modelo, o formato, o fornecedor e outros. O
guia traz diretrizes desde como montar o seu acervo virtual até os genéricos e melhores
varejistas virtuais eletrônicos.
No quadro abaixo há o caminho para aqueles que desejam fazer pesquisas, encontrar
bibliotecas de domínio privado e público e ou formas de baixar arquivos gratuitos para
aprimoramento do acervo virtual do usuário. Trata-se de um sumário, uma espécie de FAQ
(Frequently Ask Questions), dúvidas mais frequentes sintetizadas em forma diagramada como
77
a figura abaixo representa. Ali há instruções para aquisição dos modelos mais baratos e boas
oportunidades no contexto do livro eletrônico.
O link pioneiro “Projeto Gutenberg” implantado pelo estudioso Michael Hart faz
também parte do guia. Talvez uma tentativa de fidelizar e ou firmar laços com mais de
100.000 arquivos digitalizados do projeto, além da disponibilidade dos diversos acervos,
bibliotecas virtuais americanas, inglesas, australianas e acervos virtuais de todo planeta.
Em contato estabelecido eletronicamente com o Debi Kohlhardt, do The Glifffy’s
master scientific resource, em 10de maio de 2011, a representante de pesquisa da empresa
posicionou que o aprimoramento do projeto do guia foi facilitar, estimular, instruir, conquistar
o gosto do usuário recém-chegado ao livro eletrônico.
A pesquisa da empresa consolidou que o Guia para Iniciantes “V2.01” é um indutor
que aproxima o livro eletrônico do usuário como produto de consumo recém implantado pela
indústria cultural e segmento da cadeia produtiva do livro.
78
79
Os resultados numéricos provindos do mercado editorial no ano de 2004 ameaçavam
a economia do país levando o governo a encomendar um estudo para verificar as causas
80
para o controle. O diagnóstico do estudo, realizado por especialistas, revelou que a era digital,
seus novos meios e padrões teriam imposto ao mercado editorial um novo modelo de negócio.
O que traria solução e controle para a crise e abriria perspectivas e novas tendências para os
segmentos da cadeia produtiva do livro se realinharem e/ou se reajustarem às alternativas e
oportunidades de competir e conquistar o mercado com ferramentas e know how adequados
para atender a demanda.
Atualmente o livro eletrônico ou digital carregou o mercado para longe da crise que
outrora ameaçava o segmento editorial. A avaliação apontou os segmentos se congregando
para o entrosamento com o livro eletrônico. O mercado editorial com o livro eletrônico é
palco em que contracenam e se instalam cada vez mais empresas, buscando atender esta
demanda trazida pelo livro.
O Guia para Iniciantes ou usuários inexperientes é um reflexo de que o interesse parte
das empresas para manter seus clientes fidelizados com o consumo de seus produtos.
O livro eletrônico não só trouxe equilíbrio, mas também perspectivas de crescimento
para o mercado editorial. Vem construindo, no mercado editorial, um espaço sólido de
convívio com a mídia impressa, conquistando os segmentos da cadeia produtiva do livro, com
prerrogativas auspiciosas para o futuro.
81
CONSIDERAÇÕES FINAIS
X
82
.... o encontro da mídia impressa e digital
desencadeou refletir o fenômeno natural da
pororoca das águas entre Rio Negro e Solimões. O
efeito do choque das águas empurradas pela força
natural de uma corrente mais veloz com águas mais
densa, delimitam fronteiras: de um lado as límpidas
e do outro as turvas águas do Rio Negro. Por um
extenso percurso lutam por suas divisas de
território. Fundem-se, fecundam- se, em confluência
se diluem. Híbridas, se renovam para um rumo
certo. Atingem o mar infinitamente, além do tímido
olho d’água de sua nascente. No dorso do planeta
navegam em seus oceanos. Analogia possível para
o destino do futuro-presente da narrativa escrita e
eletrônica.
Arlete Aparecida Mathias – 2010 – Homo Sapiens,
uma raça que valoriza a narrativa: da oratura ao
livro eletrônico.
O livro no século XXI abandonou o formato convencional em códice, migrou para as
telas e dispensa o uso do papel. O mesmo ocorreu em circunstâncias do desenvolvimento
tecnológico da informação e comunicação.
A mudança de formato do livro trouxe à tona a hipótese sobre a morte do livro
impresso e que o novo formato seria o seu sucessor.
As circunstâncias contraditórias dividiram as opiniões entre os que aplaudiam a
chegada do livro eletrônico e os que temiam a extinção da versão impressa.
O confronto entre as partes apontadas gerou a questão que esta investigação buscou
analisar, tomando o livro eletrônico como objeto deste estudo e levantando dados sobre o
passado, presente e futuro do livro.
No primeiro capítulo houve uma retomada do passado. Isto é indispensável para que se
averiguassem os passos por onde o livro tenha trafegado e como de um processo artesanal e
manuscrito, o livro passou a ser processado mecanicamente em série para chegar às telas dos
PCs , iPads, e-books , celulares e outros produtos ou dispositivos.
Por meio deste levantamento percebeu-se que o objeto midiático, o livro eletrônico, é
derivado da versão impressa e se alocou nas telas em consequência do desenvolvimento
tecnológico da comunicação e da informação do século XXI.
O segundo capítulo justificou a indústria que se formou em volta do livro, sua
emancipação como obra de arte para reprodução por intermédio do avanço tecnológico de
uma forma natural e positiva. Um fator que o destaca no berçário da Indústria Cultural
preconizada por um grupo de intelectuais da Escola de Frankfurt, leva o livro impresso à
83
explosão tecnológica notada contemporaneamente, reflexos que fazem com que o segundo
capítulo justifique o desenvolvimento e alterações que deram origem ao livro eletrônico.
No terceiro capítulo o foco central é o livro eletrônico, o objeto deste estudo. O
desenvolvimento partiu desde os conceitos e definições e seu traçado histórico até chegar ao
momento das discussões. Equiparado, pela análise, ponto de resolução da questão polêmica
que dividiu os que defenderam a mídia impressa e aqueles apontaram a referida versão estar
como os dias contados.
Esta investigação partilha e defende o raciocínio de Robert Darnton (2009) abordando
a questão do livro. Partindo-se deste parâmetro, confirma como extinta a hipótese levantada
sobre a morte do livro impresso e a condição dada para o livro eletrônico sucedê-lo.
Esta posição vincula-se ao fato de Darnton recorrer à história da comunicação e
apontar a co-habitação das mídias vista de uma forma normal e positiva onde mídias oferecem
benefícios e suportes de uma para a outra. Há coexistência entre a versão impressa e a
eletrônica neste momento, em pleno início da segunda década do século XXI. Isto mantém
amarrados os extremos em questão, apresentando uma solução para o problema levantado,
que e acreditava na supressão da versão impressa, substituída pela versão digital ou eletrônica.
Na argumentação de Darnton ficou evidenciado que o livro eletrônico permanece nas
tendências do futuro, ou seja, ocupando um espaço cada vez mais significativo, convivendo
com o livro impresso. O obstáculo que interfere no seu abrupto e imediato avanço atrela-se à
obsolescência característica dos suportes virtuais.
Se o livro vai morrer ou não, a inquietação humana de qualquer maneira sempre
continuará inventando dispositivos que lhe possibilitem permanecer ao alcance do
pensamento e das novas invenções. Certamente sempre aparecerão dispositivos adequados ao
seu tempo.
O importante é que seja em formato impresso quanto em eletrônico o livro chegue aos
leitores permitindo democratizar o espaço e o acesso à informação e ao conhecimento, à
fruição das obras de arte literárias que marcam a cultura ocidental, bem como à jovem
geração de escritores, com seus novos gêneros - os minicontos - e às autorias coletivas de
textos científicos e ficcionais.
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