universidade de marÍlia - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º não cobiçar as coisas...

92
UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - UNIMAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO A QUESTÃO DO LIVRO: do formato impresso ao eletrônico ARLETE APARECIDA MATHIAS MARÍLIA-SP 2011

Upload: leanh

Post on 01-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - UNIMAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

A QUESTÃO DO LIVRO: do formato impresso ao eletrônico

ARLETE APARECIDA MATHIAS

MARÍLIA-SP

2011

Page 2: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

ARLETE APARECIDA MATHIAS

A QUESTÃO DO LIVRO: do formato impresso ao eletrônico

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Comunicação da Universidade de

Marília como requisito para a obtenção do título de

Mestre em Comunicação.

Área de Concentração: Mídia e Cultura

Orientador Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira.

MARÍLIA-SP

2011

Page 3: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

MATHIAS, Arlete Aparecida

A questão do livro: do formato impresso ao eletrônico/ Arlete

Aparecida Mathias -- Marília: UNIMAR, 2011.

86p.

Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Curso de Comunicação

da Universidade de Marília, Marília, 2011.

1. Comunicação 2. Livro 3. Livro Eletrônico 3. História do Livro

4. Convergência Midiática I. Mathias, Arlete Aparecida.

CDD -- 302.2

Page 4: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

ARLETE APARECIDA MATHIAS

A QUESTÃO DO LIVRO: do formato impresso ao eletrônico

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de

Marília como requisito para a obtenção do título de Mestre em Comunicação.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira.

Aprovada pela Banca Examinadora em ___/___/______.

Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira

Orientador/Presidente

Profa. Dra. Ana Maria Gottardi

Unesp – São José do Rio Preto

Profa. Dra. Suely Fadul Villibor Flory

Universidade de Marília

Page 5: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

Aos meus pais, Sidaliza Silva Mathias e Sebastião

Mathias, em memória

Page 6: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

Agradeço a Deus pela sua presença, mãos estendidas, a minha intercessora e madrinha de

consagração, Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

À Reitoria da Universidade de Marília pelo apoio.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Roberto Reis de Oliveira, pela paciência, atenção

disponibilidade, incentivo, confiança, contribuições e indicação de leituras imprescindíveis.

A Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-graduação, Profa. Dra Suely Flory, pelo incentivo, estímulo,

contribuições e singular apoio.

À Profa. Dra. Ana Maria Gottardi pelas preciosas orientações e contribuições

À Coordenadora do Programa, Profa. Dra. Rosângela Marçolla, pela amizade, compreensão e

generosidade.

Ao Prof. Dr. Romildo Antonio Sant‟Anna pelo estímulo à iniciação científica.

Ao Bispo Diocesano de Lages (SC), D. Irineu Andreassa, um pai, um pastor, sobretudo um

amigo que, exceto, me abriu a única porta.

Ao Frei Gilmar Vasques, da Ordem dos Frades Menores São Francisco de Assis, da Paróquia

Nossa Senhora de Fátima de Marília (SP).

Ao Mosteiro Maria Imaculada das Irmãs Clarissas Pobres de Marília e a todas as Clarissas de

Marília, em especial Madre Marlene e Irmã Francelina.

Ao Frei Anízio Rodrigues Filho, da Ordem dos Frades Menores de São Francisco de Assis de

Marília.

Ao Mosteiro Nossa Senhora de Nazaré das Irmãs Clarissas Pobres de Lages (SC), em especial

Madre Renata do Bom Pastor e Irmã Sandra Maria.

Aos queridos primos-irmãos: Neiva Sueli Mathias, Arlete Mariusa Mathias e André Marcos

Mathias, pelo apoio, incentivo, recursos, amizade, confiança, respeito e carinho.

Ao meu “pai branco”, Eduardo Accarini, Edna Ruth Accarini, pela amizade e apoio.

Aos amigos queridos Ademir Joanili e sua mãe Delmira Gomes Joanili.

À Maria Simira Bertocini Gonçalez Molina.

À querida Stella Maris, paroquiana da Capela das Irmãs Clarissas, pelo incentivo.

Ao casal, ministros eucarísticos, Renato e Sarah Nilma Lovato pelo apoio e auxílio.

À ministra eucarística Lúcia Esteves pela generosidade e apoio.

À Martha Cyrne Toledo.

Às amigas Leda de Araújo Broering e Rita de Cássia Antunes de Campos, de Lages(SC)

Aos funcionários da Paróquia Nossa Senhora de Fátima de Marília, Patrícia, Arlindo e Graça.

À minha querida amiga de infância e afilhada dos meus pais Sandra Aparecida Cavassani

Penedo.

Page 7: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

À minhas queridas amigas Sandra Maria Jacob Leme Soares e família e Léia Valia Meirelles

e família pelas orientações.

A Alberto Cavassani Penedo, Maria Nelci Penedo, Sueli, Tanaka, Keko, Kelly, Bonzanini,

Juninho, Baiano, Renan Cauê, Cláudio “Pinduca” e família.

Aos meus queridos colegas do Curso de Mestrado, fundamentais e fantásticos para a escala

dos obstáculos: César Bechara, Camila, Gustavo, Rodrigo, Álvaro, Rodrigo (de Assis), Maria

Aparecida, Vanderley Santiago, Miton Farias, Cláudio Zunta, Edgar, Arlete Marçal, Patrícia

Oishi, Fabrício, Paulo Mendes , Antonio Carlos Camacho, Hyclea, Leandro, Aline, Leonardo,

Ana e Marisol

Às professoras Heloisa H. Docca e Andréa Labegalini pelas contribuições.

À Profa. Dra. Conceição Maria Moura do Nascimento Ramos e Profa. Dra. Dourivan Camara

Silva de Jesus da cidade S. Luiz do Maranhão pela generosidade e amizade.

À Gllify Incorporation, Chris Kohlhardt , Debi Kohlhardt e Clint Dickson pela autorização da

publicação do Diagrama guia para novos usuários de livro eletrônico.

À Vera Cecília Frossard e Marcelo Spalding pela prontidão com preciosas contribuições.

A todos os meus amigos e inimigos se é que os tenho.

Aos meus amigos constituídos em Lages (SC) em Santa Catarina e na minha terra natal, Tupã

(SP).

Recorrendo mais uma vez ao livro sagrado para encerrar os agradecimentos, cito alguns dos

mandamentos reservado àqueles que deixei por último. Entre os dez, escolhi alguns para

seguir como orientação dada pelos meus pais. Eles remetem às seguintes passagens: 1º Amar

a Deus sobre todas as coisas; 4º Honrar pai e mãe; 5º Não matar; 7º Não roubar; 8º Não

levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias.

Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton Osmail Mathias e

Adilson Edson Mathias pela hostilidade e exclusão. As lesões, injúrias, calúnias prontificaram

para mim o perdão e a continuidade pelo caminho da ética, da integridade e do bem. O

abandono e a indiferença foram os maiores estímulos para a conquista deste desafio e muitos

que estarão por vir. Os irmãos em Cristo não faltaram. Estão todos ao meu redor, muitos

próximos como o meu inegável sangue em suas veias.

Page 8: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

O Senhor é meu pastor, nada me faltará

(Salmo 22/23 atribuído ao Rei Davi)

Page 9: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

RESUMO

MATHIAS, Arlete Aparecida. A questão do livro: do formato impresso ao eletrônico.

Orientador: Roberto Reis de Oliveira. Universidade de Marília (SP) - UNIMAR, 2011. Diss.

O desenvolvimento das novas tecnologias da comunicação e da informação nos séculos XX e

XXI provocou mudanças significativas tanto em termos de usos quanto de conteúdos

comunicacionais e midiáticos. Entre outras questões, trouxe à tona a possibilidade de extinção

da mídia impressa e sua supressão pelos meios eletrônicos e/ou digitais. A pesquisa focaliza a

questão do livro, do formato impresso ao eletrônico. Para tanto, busca referências históricas,

apresentando e discutindo as complexidades presentes no percurso, inclusive aquelas

referentes à cadeia produtiva do livro. Na tentativa de empreender uma discussão sobre o

tema, como procedimentos metodológicos elegeu-se a pesquisa bibliográfica e documental

orientada por uma abordagem dialética, dada a face social do fenômeno. Conclui-se que, para

além da substituição de um suporte por outro, há mudanças significativas na indústria

editorial e, ainda, aponta-se para um espaço de coexistência dos suportes.

Palavras-chave: Livro; Livro eletrônico; História do Livro; Convergência Midiática;

Comunicação.

Page 10: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

ABSTRACT

MATHIAS, Arlete Aparecida. The case of the book: from print to the electronic one. Thesis

Supervisor: Roberto Reis de Oliveira: UNIMAR, 2011. M. Sc. Diss.

The development of new communication technologies and information in the XX and XXI

centuries has caused significant changes both in terms of content and uses communication and

media. Among other things, it raised the possibility of extinction of the print media and its

suppression by electronic / or digital one . The research focuses on the case of the book, from

printed to electronic format. Therefore, it seeks historical references, and discussing the

complexities present in the route, including those related to the productive chain of the book.

In an attempt to launch a discussion on the topic, as instruments elected to bibliographic and

documentary directed by a dialectical approach, given the social face of the phenomenon.

Then it was concluded that, in addition to the replacement of a support on the other,

significant changes can be found in the publishing industry, and also it „s pointed a space

for a coexistence of the media.

Keywords: E-book. Electronic book. BooK. New Technologies of Information and

Communication.

Page 11: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Internet 2.0 - W2 ............................................................................................. 43

Ilustração 2 – Livro eletrônico x Livro de papel ................................................................... 44

Ilustração 3 – Convergência e as múltiplas funções .............................................................. 45

Ilustração 4 – Comunicação + mídia + tecnologia ................................................................ 47

Ilustração 5 – Skiff, o e-reader mais fino, com maior tela, maior resolução e flexível ........ 48

Ilustração 6 – Site do Treebook Gallery ................................................................................ 49

Ilustração 7 - Kindle 3 is Amazon´s ...................................................................................... 50

Ilustração 8 – Memex ............................................................................................................ 52

Ilustração 9 – Site EbookCult .............................................................................................. 53

Ilustração 10 – iPad da Apple ............................................................................................... 54

Ilustração 11 – Rocket e-book .............................................................................................. 55

Ilustração 12 – Mudança de costumes – leitura do jornal para o e-book .............................. 59

Ilustração 13 – Apple no Brasil ............................................................................................. 72

Ilustração 14 – 2º Congresso Internacional CBL do Livro Digital ....................................... 72

Ilustração 15 – Logomarca da Amazon.com ......................................................................... 72

Ilustração 16 – Congresso Brasileiro do Livro Digital .......................................................... 72

Ilustração 17 – A Reinvenção do escritor .............................................................................. 72

Page 12: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11

I- CAPÍTULO - HISTÓRIA DO LIVRO ........................................................................... 15

1. Conceitos, nomenclaturas ....................................................................................................16

2. A antiguidade clássica no desenvolvimento do livro ......................................................... 18

3. Tipografia de Gutenberg: reflexões sociais, políticas e econômicas ................................. 22

4. O livro impresso a partir da editoração procedimentos organizacionais............................. 23

5. O livro eletrônico: ajustes, transformações, averiguações, discussões................................ 25

II- CAPÍTULO - INDÚSTRIA CULTURAL ..................................................................... 30

1. Aspectos introdutórios ...................................................................................................... 31

2. A Indústria Cultural e o Instituto de Pesquisa Social ou Escola de Frankfurt .................... 33

3. Massificação ........................................................................................................................ 36

III- CAPÍTULO - LIVRO ELETRÔNICO ........................................................................ 41

1. Introdução parâmetros de convergência ............................................................................ 42

2. Livro eletrônico: traçado histórico .......................................................................................48

3. Livro eletrônico: conceitos e definições ............................................................................. 56

4. Livro eletrônico: questões .................................................................................................. 59

5. Livro eletrônico: mudanças e consequências ..................................................................... 66

6. Cadeia Produtiva do Livro: mercado editorial .................................................................... 72

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 81

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 84

Page 13: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

11

INTRODUÇÃO

Page 14: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

12

Um livro muda pelo fato de que ele não muda quando o

mundo muda.

Pierre Bourdieu

O desenvolvimento das novas tecnologias da informação e da comunicação fez com

que a internet se tornasse ferramenta essencial nos últimos tempos. A questão do livro como

objeto de discussão neste estudo surge oportunamente, num momento de transição e acalorado

questionamento sobre o futuro do livro em suporte impresso, por ser uma ferramenta

midiática que exerce um papel central na vida do homem; para intercâmbio e armazenamento

de informações desde os primórdios com as civilizações antigas.

Ao abandonar a sua forma física tradicional, dispensar o uso do papel e alocar-se

eletronicamente nas telas, levanta-se a possibilidade de se averiguar a questão do livro, do

formato impresso ao eletrônico, como objeto deste estudo.

Esta dissertação, para verificar o epicentro que origina as dúvidas sobre o futuro do

livro impresso buscou referências históricas, do seu momento atual até o alcance de suas

possibilidades futuras, encontrando indícios que justificassem a alteração - sua migração -

para o ambiente das novas tecnologias da informação e da comunicação, estas bastante

influenciadas pela internet.

A pesquisa objetiva apresentar e avaliar ao menos parte dos conflitos em torno da

morte do livro impresso e principalmente sua alocação no ambiente eletrônico. De um lado

encontram-se posições de especialistas do meio impresso, defendendo o livro físico, e, de

outro, os adeptos da nova mídia apostando no tempo para o desaparecimento do mesmo.

O problema da pesquisa coloca em evidência o livro e a dialética instaurada quando se

confronta sua trajetória histórica e sua migração para o universo eletrônico, as perspectivas do

formato impresso e seu futuro nas versões eletrônicas. A exemplo, ecologistas refletiram

sobre o consumo mensal do jornal impresso The New York Times que, para suas edições

diárias, consome mensalmente 240 hectares de floresta. (VELASCO, 2010, p. 10), ao mesmo

tempo em que há um contraponto apontando para o fato de que as baterias e metais pesados,

usados para a versão eletrônica, avançam o sinal no consumo de energia proveniente das

usinas hidrelétricas. Estudou-se, ainda, os pontos de vista conciliatórios.

Como procedimentos metodológicos, o trabalho pautou-se em pesquisa bibliográfica

na tentativa de elencar uma revisão de literatura, destacando-se uma abordagem dialética da

questão central.

Page 15: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

13

O ensaio de Ferrari (2010, p. 296) - apontou Darnton o historiador , escritor e diretor

de uma das bibliotecas universitárias mais tradicionais nos Estados Unidos, a de Harvard –

que elucidou a situação do livro em diferentes épocas, inclusive no presente. O autor

demonstra intimidade com os livros e, ainda, perspicácia para responder, conciliar, mostrar

dados que destacam as inquietações que alvoroçaram os segmentos envolvidos com a questão

levantada. Busca novos rumos que vão desde a supressão da versão antiga à coexistência de

ambas ou, ainda, a possibilidade de existência apenas da versão eletrônica.

A expectativa da avaliação é contribuir para um debate atual que focalize,

historicamente, a evolução do impresso para outros meios, primordialmente para o eletrônico

para onde o livro, objeto de estudo dessa dissertação, migrou.

Três capítulos serão desenvolvidos para que se possam desenredar os dados

contributivos, as avaliações essenciais para o processo de edificação da análise do livro

eletrônico.

No primeiro capítulo são conferidos conceitos, nomenclaturas e conotações que se

consolidaram em volta do livro, focalizando-o como um errante que se aventurou com vários

suportes atuando junto às civilizações clássicas, até se aperfeiçoar no formato códice

manuscrito e, no século XV, ganhar o reconhecimento da imprensa, um divisor de águas entre

o artesanal e a tecnologia trazida pela prensa de Gutenberg (PAULINO, 2009, p. 2). Esta parte

encerra-se com o momento em que Chartier (2009, p. 12) fotografa a imagem do livro

migrando do seu meio convencional para as telas dos computadores.

No segundo capítulo, o enfoque é dado à Indústria Cultural, pelo fato de destacar a

origem do processo da Indústria Cultural, em meio ao qual se sustenta a indústria do livro até

ao limite desta última versão, a eletrônica.

A Escola de Frankfurt, responsável por cunhar o termo Indústria Cultural, foi um

movimento intelectual e filosófico que surgiu na década de 1920 na Alemanha, congregou

vários pensadores, na sua maioria marxistas. Walter Benjamin, um deles, encarava a

reprodução da obra de arte por intermédio do avanço tecnológico de uma forma natural e

positiva. Este é um fator que se deve destacar nesta introdução. Seus rastros são fortes aliados

para se averiguar e analisar a difusão do livro eletrônico.

Intimamente ligada à idéia de cultura industrial, a cultura de massa é irrefreavelmente

acelerada pelos meios de comunicação. Nessa esteira, diz Henri-Jean Martin (1992,p.14)que

“O livro já não exerce mais o poder de que dispôs antigamente, já não é o mestre de nossos

raciocínios e sentimentos em face dos novos meios de informação e comunicação, de que

doravante dispomos”. Esta questão é tratada no segundo capítulo. O reforço disto é postulado

Page 16: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

14

por McLuhan (1972) ao afirmar que “meio é mensagem, base e diretriz da comunicação de

massa”.

O terceiro e último capítulo gira em torno das complexidades reveladas pelo tema. São

vistas as avaliações, inclusive quando se trata da cadeia produtiva do livro no processo de

convergência entre veículos que dialogam entre si, diante da atmosfera trazida pelas novas

tecnologias da informação e comunicação. Entre os que temem e os que aplaudem a versão

eletrônica destaca-se a reestruturação dos segmentos da rede, inclusive dos escritores, alinha-

se com a preocupação governamental que identificou a crise na cadeia produtiva do livro

desde 2005. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES) solicitou

averiguação ao Grupo de Pesquisa em Economia e Entretenimento da URFJ. (EARP;

KORNIS, 2005). Isto estabelece emblemas sintomáticos que alentam rupturas e problemas do

meio impresso e situa as telas, a internet e o livro eletrônico com possibilidades de eficácia

como veículo midiático.

As páginas a seguir retratam um ambiente de análise que descaracteriza o livro na

forma em que se cristalizou e o evidencia como um veículo híbrido, que pode se

contextualizar em estruturas e suportes inusitados, como se verifica na questão do futuro do

livro impresso (MACHADO, 1994, 203 - 204).

Page 17: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

15

CAPÍTULO I - HISTÓRIA DO LIVRO

Page 18: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

16

O livro como extensão da memória humana tem

guardado ao longo do tempo nossas experiências,

descobertas, angústias e pensamentos, permitindo que o

presente seja integrado ao passado e que alguma “luz”

possa ser lançada em direção ao futuro. A história do

homem ocidental é de certa forma a história do livro.

Vera Cecília Frossard, 1998.

1. Conceitos, nomenclaturas

O objeto que conhecemos hoje como livro sofreu, na sua trajetória, diversas

transformações. A sua forma impressa em papel apareceu no século XV quando Johannes

Gutenberg aperfeiçoou a prensa de tipos móveis. (SILVA, 2002, p. 1)

Em dados extraídos de investigações realizadas no Instituto de Estudos Avançados da

Universidade de São Paulo (IEA), pode-se debruçar em pontos que revelam formas adequadas

de compreensão e resgate das origens do livro impresso, vinculando os fios que convergirão

para o caminho até o objeto em análise, o livro eletrônico.

A conferência proferida por Arlindo Machado (1994, 203 - 204) pesquisador do IEA,

contribui para que se caminhe na elucidação das questões sobre o livro impresso e sua

história. Machado declarou que o termo “livro” restringe-se apenas à expressão tipográfica,

conceito segundo o qual o objeto se cristalizou a partir do século XV, com Gutenberg.

O pesquisador aponta os historiadores Lucien Febvre e Henri-Jean Martin como

ícones na história do livro impresso. Estes estenderam-se ao pensamento de Walter Benjamin,

que reforçou a ideia de que o termo “livro” recebeu esta conotação especificamente focando a

versão impressa e, sobretudo em papel. (MACHADO, 1994, p.204)

Na trajetória investigativa, perseguindo-se a história do livro, observou também que

aqueles com conteúdo pagão, principalmente no ocidente eram escritos em versão de rolo de

pergaminho para discriminá-lo da versão códice/cristã.

Nos cadastros do IEA constata-se que o sintagma livro derivou-se da palavra em latim

“líber” cuja conotação genérica designava qualquer dispositivo de fixação do pensamento,

isto é, independente de inscrição em pedra ou madeira, tabuleta em cera e ou pergaminho.

Este parecer foi reforçado e retomado em 1993 pelo arcebispo de S. Paulo, D. Evaristo Arns,

segundo o coordenador dos levantamentos, Arlindo Machado. Em latim a denotação do termo

“líber” definiu o significado como casca de árvore. (ARNS, 1993, apud MACHADO, 1994,

p.204)

Page 19: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

17

No histórico do livro impresso o IEA registrou o fator que levou à perda do verdadeiro

sentido que o termo códice denotava anteriormente, e ou quando o mesmo emprestou, em

caráter definitivo para a humanidade o formato que cristalizou o “signo livro”, proferiu o

investigador Machado (1994, p.204 ) o desaparecimento do termo:

[...] com o tempo e a expansão do cristianismo o conceito livro conquistou e

sagrou-se à generalização cristã: “a terminologia inverte-se: livro passa a

designar exclusivamente o códice e o termo mais genérico para nos referir a

qualquer outro dispositivo de fixação do pensamento.

Neste mesmo contexto averiguou-se que o primeiro livro impresso foi a Bíblia de

Gutenberg. Por ser um livro cristão lançou ao cosmo o modelo no mesmo formato códice. A

razão é observada da seguinte maneira:

[...] em parte o surgimento do livro impresso está associado a um debate

religioso e em parte também porque o livro cristão acabou por se revelar um

formato portátil, mais compacto e mais prático do que os rolos de

pergaminhos. A verdade é que o livro impresso adotou para si o formato do

códice e esse modelo plantou raízes tão fundas em nossa cultura que hoje se

torna difícil pensar o livro como algo diferente. Mas ele pode ser diferente,

como já foi em outros tempos e volta a sê-lo agora. (MACHADO, 1994, p.

204)

Em decorrência dos resultados de estudos e aprofundamentos empíricos sobre o livro

impresso seguem as pesquisas de Lucien Febvre e Henry-Jean Martin autenticando um

conceito histórico para o termo livro que definiu:

[...] livro é o instrumento mais poderoso de que pode dispor uma civilização

para concentrar o pensamento disperso de seus representantes e conferir-lhe

toda a eficácia, difundindo-o rapidamente no tecido social, com um mínimo

de custos e de dificuldades. Sua função primordial é conferir [ao

pensamento] um vigor centuplicado, uma coerência completamente nova e,

por isso mesmo, um poder incomparável de penetração e de irradiação.

(FEBVRE; MARTIN, 1992, p. 15)

Mas antes de se fixar outros olhares que enfatizam não só os conceitos, mas também

outros prismas da historiografia do impresso, como desfecho de sua conferência, Machado

(1994, p. 204) define:

[...] o livro numa acepção mais ampla, como sendo todo e qualquer

dispositivo através do qual uma civilização grava, fixa, memoriza para si e

para a posteridade o conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas,

de seus sistemas de crenças e os vôos de sua imaginação.

Page 20: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

18

No próximo tópico, voltam-se as lentes ao traçado e processo histórico do livro

evidenciando outras verificações, relacionadas à invenção da escrita, formas assumidas pelo livro,

transformações e reflexos de revolução.

2. A antiguidade clássica no desenvolvimento do livro

Reconheceu-se historicamente que o livro já existia antes mesmo de ter a forma atual.

O homem há milhões de anos vem deixando a sua marca de passagem no mundo, haja vista o

que Hohlfeldt (2003, p. 63-4) relata sobre isto:

[...] Tomemos como ponto de partida a invenção da escrita pelos Sumérios,

em 3500 a. C.. Podemos, depois, referir o surgimento da escrita entre os

judeus e os gregos, e verificar o significativo papel que a mesma teve ao

fixar em documento, e de maneira segura, isto é codificado, num texto

único, as diferentes versões antigas narrativas mitológicas de cada povo,

desde epopéia de Gilgamesh e o antigo testamento judaico-cristão [...] até o

Corão [...] até o Corão Árabe [...]. Mas especialmente a partir dos gregos que

podemos melhor identificar esses períodos, que assim destacamos [...].

Foram justamente os gregos que, pela primeira vez, no Ocidente refletiram a

respeito da comunicação humana a partir dos filósofos pré-socráticos.

Nos tempos primordiais das cavernas, quando os homens desenhavam e gravavam nas

paredes de pedra imagens de bisões, bois, outros animais e figuras e pinturas, registram-se

flagrantes de senso artístico, rudimentos simbólicos que decodificaram, tanto os rudimentos

de comunicação quanto de escrita.

Segundo Silva (2002, p. 1), esta demanda é proveniente da necessidade humana de

registrar feitos e fatos de sua história ao longo do tempo, o que na sua observação caracterizou

a demanda para o desenvolvimento de “técnicas”, códigos, artefatos e outros.

Todavia, a história do homem só pôde ser contada justamente em circunstâncias da

invenção da escrita e somente a partir da idade da escrita. Há cinco mil anos atrás é que

começaram a aparecer os primeiros documentos escritos, consequentemente, os primeiros

livros. Notou-se que as versões dos livros dependeram da restrição de materiais e instrumento

a que cada comunidade tinha acesso, ainda à distância do formato convencional da versão

impressa.

Os registros escritos dos objetos que eram utilizados como livros foram feitos sobre

barro, madeira, cera, metal, ossos, bambu e outros materiais rígidos, os quais dificultavam a

Page 21: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

19

dobra. Contudo eram manufaturados em lâminas ou placas separadas e atreladas e ou unidas

posteriormente.

As outras resoluções eram facilitadas por materiais flexíveis, como os livros

elaborados de tecidos, papiro, cera, couro, inclusive a versão em papel, providos de

versatilidade para dobras e ou rolo.

Segundo Paulino (2009, p. 2), os sumérios foram os inventores da escrita, aqueles que

conservavam os seus dados e informações em livros de tijolos de barro. Afortunadamente, os

exemplares em argila se conservaram e contribuíram para a pesquisa e edificação da história

do livro. Milhares deles em formatos diferentes: redondos, ovais e retangulares, encontrados

na região da Mesopotâmia no Oriente. O levantamento observou que os sumérios os

guardavam em prateleiras enumerados possivelmente para facilidade de acesso.

No levantamento, Paulino (2009, p. 2) seguiu os passos da civilização egípcia. A

história do livro herdou dos egípcios a apropriação da tecnologia do papiro. Trata-se de um

planta aquática, nativa às margens férteis do Rio Nilo, cujas fibras atreladas em tiras

verteram-se em superfície que se adequou para a utilização da escrita. As folhas de papiro

emendadas formavam rolos imensos que poderiam ter até vinte metros de comprimento e

eram denominados “volumen”, isto é, uma obra única consolidada em vários volumes.

No estudo feito por Benício (2003, p. 23) foi observado que o suporte em rolo usado

unicamente desta forma impôs também a exclusividade de uso de uma pena especial, pois a

superfície do papiro não tinha qualquer outra resistência exceto ao junco.

Os únicos responsáveis para registrar nos longos suportes dos livros em rolo eram

denominados copistas. Estes tinham habilidade e domínio da escrita hieroglífica, forma de

transmissão de conhecimento entre os egípcios naquela época. Além da destreza dos copistas,

o suporte do livro em rolo exigia do leitor gabarito e um pouco mais para enrolar e desenrolar

as extremidades. Assim, o dote de resistência física era fundamental, além de cuidados para

dobrá-lo em razão da fragilidade do papiro. Entretanto o manuseio para a leitura, no livro

suporte em rolo, era dificultosa.

No exame de Benício (2003, p. 23), emoldurou-se a indicação de que os antigos

romanos, em suas antigas bibliotecas conservavam os rolos de papiro nas prateleiras, assim

como os seus vizinhos já referidos, os sumérios, o faziam. Este procedimento facilitou o

acesso e o recurso aditivo foram as etiquetas de informação afixadas à borda dos suportes em

rolos identificando o conteúdo, não só orientando o usuário, mas também privilegiando-o e o

poupando do manuseio e desenrole desnecessário.

Page 22: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

20

Houve a catalogação de diversos livros em rolo de papiro; os egípcios conservaram-

nos reunidos e organizados por assunto em grandes bibliotecas. Quanto à classificação,

relacionam-se livros em rolo de matemática, astronomia, religião, além das obras literárias.

Aos povos egípcios a ciência associou a maior biblioteca da Antiguidade, a de Alexandria,

que chegou à catalogação de setecentos mil livros, sob a forma de rolo em papiro. Um

atentado e suborno incendiário que Alexandria sofreu, resultou no maior e mais impiedoso

crime contra o patrimônio da cultura e do saber ocorrido na história do livro e da humanidade.

(VENTURI, 2002 apud BENÍCIO, 2003, p. 25)

É inerente à necessidade humana o registro da sua própria história e documentos,

inquietação esta que sempre mobilizou a pesquisa. Seguindo o fluxo, são resgatadas das

civilizações orientais evidências da contribuição dos indianos na história do livro. Os mesmos

o elaboravam com folhas de palmeira, plantas comuns na Índia. O processo de manufatura

constituía em cozinhar as folhas de palmeiras, posteriormente secá-las. Usavam escrever na

superfície da folha com uma ferramenta pontiaguda e, para que houvesse nitidez naquilo que

tinha sido registrado, alisavam com uma fuligem que trazia o destaque e a notabilidade dos

caracteres. Os indianos como arremate uniam as folhas, pregavam-nas com um pedaço de

madeira, uma na frente e outra no verso, uma espécie de tampa e ou capa. Há relatos de que,

atualmente, ainda em vários países asiáticos como Tailândia, Nepal e Tibete, por tradição, se

manufaturem este tipo de livro.

Os maias e os astecas utilizavam cascas de árvore e de madeira para escrever. Estes

eram em forma de sanfona. O estudo de Paulino (2009, p. 2) revelou também que no Oriente

havia um tipo de livro feito de tabulas de madeira ou de bambu atravessadas, reunidas por

uma fivela.

O desassossego para as contribuições das diferentes culturas antigas concernentes à

edificação do livro é latente. Na pesquisa de Benício (2003, p. 25) evidenciou-se que o rolo

papiro como suporte perdurou por séculos. Seus registros foram essenciais para a

compreensão do tempo e do espaço dos acontecimentos culturais. O livro em rolo de papiro

representou a conexão da cultura egípcia com outros povos. Além da preservação da memória

cultural, foi um instrumento de desenvolvimento patrimonial da Antiguidade Clássica. Apesar

de rudimentares, os suportes utilizados por egípcios, gregos e romanos permitiram conhecer

as primeiras obras consideradas literárias.

Paulino (2009, p. 2) acentua o caráter artesanal do livro. Segundo a autora, as páginas

eram manuscritas, uma a cada vez. A matéria prima era especificamente orgânica, desprovida

Page 23: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

21

de qualquer alquimia. O processo de reprodução sequer era dinâmico. Figuras inseridas no

conteúdo dos livros eram consideradas obra de artes, tal qual o próprio livro.

Apesar do processo do livro produzido em papiro ter revelado grandes evoluções para

a época e estabelecer pontes, interfaces culturais entre os povos da antiguidade clássica, as

restrições foram solidificadas pelos elevados custos e a baixa produção. Isto levou o estudo de

Benício (2003, p. 25 e 26) a esmiuçar e encontrar indícios que revelam que a razão da

extinção do uso do papiro foi econômica. Um suporte que não correspondia mais às

adequadas necessidades que exerceu para escrita de outrora.

Surgiu então o pergaminho. Os habitantes de Pérgamo, privados do alcance do papiro

egípcio, passaram a usar pele curtida de ovinos, o pergaminho, para transmissão da escrita.

Paulino (2009, p. 2) identificou neste suporte uma singular evolução para a época. Sua

invenção causou grande progresso na fabricação dos livros, embora um material também caro.

As folhas permitiram algo inusitado até então, ou seja, possibilitava escrever dos dois lados.

O couro também permitia ser cosido e dobrado, o que significou aprimoramento espacial da

folhas, além de ajustarem-se melhor para ser arquivados e transportados, fator que culminou

na difusão e expansão para outras regiões européias, aliciando popularidade. Durante séculos

o pergaminho foi sinônimo, segundo Benício (2003, p. 26-7), do suporte mais usado para

documentar manuscritos. Emancipou a Europa tanto das alianças mercadológicas com o povo

egípcio quanto das cheias e ou secas do Rio Nilo.

Produzido dentro dos mosteiros, apesar da exorbitância do custo foi utilizado como

suporte para escrever aproximadamente por um milênio. A invenção da caneta permitiu

agilidade para escrever na superfície dos pergaminhos, assim como aprimoramento da

caligrafia. O resultado equacionou o aumento da produção dos livros.

Decodificar palavras ou ler era habilidade restrita a poucos. Os monges então, disse

Benício (2003, p. 27), eram os leitores, os ilustradores, os calígrafos e copistas, os

preservadores e colecionadores de livros no formato códice.

O marco que o suporte em pergaminho surgido no séc. III a.C. demarcou para a

história do livro foi modificar de forma definitiva o seu formato para o de códice, versão que

se conservou até a contemporaneidade.

Martins (1996, p. 68) traduziu a alteração de suporte informacional do registro da

escrita verificando as estruturas quando declarou:

[...] o pergaminho foi escrito, como o papiro, de um lado só, até que se

descobriu ser perfeitamente possível fazê-lo nas duas faces. Enquanto a

Page 24: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

22

escrita era realizada apenas no reto, o pergaminho era enrolado, como o

papiro, para constituir o volumen. A escrita no reto e no verso vai dar

nascimento ao códex, isto é, ao antepassado imediato do livro. Com ele

revoluciona-se o aspecto da matéria escrita e o das bibliotecas.

No próximo tópico, as observações dos experimentos examinam outros suportes e

conquistas que contribuem para o desenvolvimento histórico do livro.

3. Tipografia de Gutenberg: reflexos sociais, políticos e econômicos

O livro em pergaminho, devido ao seu custo elevado, restringiu-se a poucos, ou seja,

limitou-se ao alcance dos mosteiros e da elite, privilegiando apenas aristocratas.

A questão extraída por Benício (2009, p. 28), referencia que “a demanda

mercadológica era progressiva e o suporte por meio do livro em pergaminho passou a

intermediar o acesso à cultura. Isto levou produtores à especulação de novas alternativas para

atendimento da demanda.”

O século XV caracterizou-se pelas mudanças culturais, políticas e sociais. Havia uma

crescente procura por documentos escritos mais baratos, que precipitou o aparecimento do

papel na Europa. Segundo Bacelar (1999, p. 2), o papel já era conhecido pelos Chineses 105

d.C.: “a China desenvolvia o papel de farrapos, ou seja, misturavam trapos velhos com fibras

vegetais e para a produção do papel de seda constituíram a solução fruto da extração pasta de

bambu com casca de árvores”.

O papel, quando introduzido na Europa no século XII, apresentou-se mais viável em

detrimento do pergaminho, suporte antecessor. Os segredos do know how chinês foram

quebrados pelos árabes que os conseguiram com os prisioneiros chineses no século VIII.

Apesar da demora de sua chegada ao continente europeu, ocasionou significativo impacto

cultural desestabilizando o livro em pergaminho. Este constituía naquele momento posse

absoluta dos meios convencionais como suporte de informação e registros escritos.

O estudo de Frossard (2004, p. 2) observou outra mudança radical para a história do

livro, isto é, a lapidar a invenção de Gutenberg no século XV, que introduziu a tipografia. Do

casamento entre a prensa e o papel surgiu o livro impresso e do período da impressão adiante

cresce a valorização do papel no ocidente. Segundo Frossard (2004, p. 2), um mundo novo

despontou por intermédio da impressão bastante equidistante dos parâmetros medievais. A

informação impressa sobre papel adquire velocidade. Multiplicou-se e não se restringiu mais à

condição de relíquia.

Page 25: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

23

Uma das mudanças significativas trazidas pelo livro impresso foi a ruptura do

monopólio do saber extensivos com exclusividade aos nobres e religiosos. Houve aumento do

número de autores e nesta proporcionalidade cresceu o número de leitores, motivados e

estimulados pela acessibilidade com suporte (MILANESI 2002, apud BENÍCIO, 2003, p.30)

O livro ganha aspectos de organização como identificação das páginas, títulos. Estes re

cursos foram estendidos ao livro como ferramenta e instrumento para recepção de textos.

Segundo a análise de Frossard (2004, p. 2-3), o livro impresso nesta época arejou-se e

gradativamente conquistou a sua própria forma de ser.

No próximo tópico o livro impresso mostra marcas relevantes na estrutura

organizacional de seu corpo

4. O livro impresso a partir da editoração e de procedimentos organizacionais

Na trajetória do livro impresso é notório seu aperfeiçoamento em diversos aspectos

organizacionais. Febvre e Martin (1992, p. 128) informam que os primeiros livros impressos

eram desprovidos de título na primeira página como o convencionado, ou seja, na primeira

folha separada. As normas técnicas tipográficas eram condicionadas a registrar na última

página o nome do tipógrafo, o local da impressão e o cólofon1.

Conforme os autores (1992, p. 130), a primeira folha do livro só passou a ser inserida

nos períodos de 1475 a 1480. Os suportes antecessores do impresso com recursos manuscritos

não tinham provisões de paginação, ou seja, o título do capítulo e ou parágrafo orientavam o

leitor de texto. No entanto a paginação derivou-se das necessidades de discernimento do

encadernador. Enumeravam-se apenas as primeiras páginas para serem suplantados à

montagem dos cadernos. A partir de 1625, os impressores humanistas condicionaram a

enumeração das páginas do livro na íntegra como se cristalizou nos moldes atuais. Houve o

abandono nesta ocasião do uso de colunas e aderiu-se à impressão do papel em linhas inteiras,

o que se identificou como uma alternativa de aprimoramento e praticidade no processo.

Os exames de Febvre e Martin (1992, p. 130) discriminam a diminuição de tamanho

do livro impresso em relação aos suportes antecessores. A dimensão menor introduzida pelo

impresso tornou-se confortável, possibilitando às pessoas carregarem os livros para as suas

alcovas e ou intimidade. Neste mesmo plano dimensional foi por eles observado que somente

no século XVII surgiram os primeiros modelos portáteis de livros, o que permitiu aos usuários

1 Cólofon ou colofão: nota final de um livro que reproduz ou completa o frontispício.

Page 26: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

24

carregarem-nos no bolso. Neste momento, os aristocratas iniciam os registros dos livros

impressos, catalogando-os para formar suas bibliotecas particulares.

Uma cultura que outrora tinha identificação com a cultura oral, nos aspectos

religiosos, políticos e culturais, perde espaço para a cultura escrita com a introdução do livro

impresso. Segundo Paulino (2009, p. 3), é uma transformação radical que provocou temores

nos eclesiásticos, pois perceberam que a população passara a estudar os textos religiosos por

conta própria, escapando ao domínio dos preceitos das autoridades.

A leitura, que tinha o condicionamento oral, e as obras literárias, compostas para

serem recitadas em voz alta, passam a ser feitas silenciosamente, condição propiciada pela

cultura impressa, como pode-se verificar na seguinte afirmação:

As culturas literárias eram, geralmente, orais. Machado (1994) afirma que

Platão define o livro, em sua obra Fedro, como logos gegrammenos (palavras

escritas), entretanto o mesmo inseria-se numa sociedade oral. Nessas

sociedade, a história da comunidade é guardada repassada pelos mais

velhos[...]. O surgimento da imprensa transformou a realidade das sociedades,

antes totalmente orais, nos âmbitos sociais, culturais, políticos e religiosos.

Após a criação da imprensa, os eclesiásticos temiam que ela estimulasse a

população comum a estudar textos religiosos por conta própria em vez de

acatar o que era dito pelas autoridades [...]. Todas essas soluções de problemas

criaram outros problemas e provocaram grandes mudanças nos estilos de

leitura, escrita e organização de informações (MACHADO,1994,apud

PAULINO, 2009, p.3)

Como inovações inseridas no mercado pelo suporte midiático impresso, observou

Eisenstein (1996, p. 68) que este alavancou um novo sistema e novas formas de organizar

texto e os livros. Frossard (2004, p. 4) reforçou o raciocínio anterior quando informa que se

adicionou a inovação do título, o sistemático uso de ordem alfabética, o que trouxe

praticidade à catalogação da classificação do livro. Estas inovações agregaram ao suporte

impresso a responsabilidade pelas cruzadas de referência e índices, qualificando-os como

representativos para a inovação e evolução do período. Na era do impresso também é

solidificada a emancipação dos autores dos mecenas e do glamour romântico de escrever pela

paixão. (FROSSARD, 2004, p. 5 apud Febvre; Martin, 1992)

O estudo de Frossard (2004, p. 5) trouxe à tona que o livro impresso devolveu ao autor

a possibilidade de resgatar a posse de suas diretrizes e formas de expressão. A autora

caracterizou isto como um processo de mudança propiciada pela cultura impressa. A partir daí

surgiram os direitos autorais como índice de atrelamento do livro impresso ao mercado de

trabalho, a partir do momento que poderia ser reproduzido em larga escala com autorização de

Page 27: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

25

seu criador. As ideias do autor passam a ser protegidas pelos direitos autorais, evitando que

fossem transgredidas (FOCAULT, 1994 apud FROSSARD, 2004, p. 5)

O suporte midiático impresso cumpriu um papel importante na idade Moderna, não só

pela revolução tecnológica causada segundo Castells (2003, p. 1) por que contribuiu

imensamente para o aumento da disseminação das publicações e periódicos em alta escala.

Sinérgico a diversas ocorrências, testemunhou, conforme disse Hohlfeldt (2003, p. 85) o

surgimento das universidades, da pólvora, da bússola, e teria sido o causador de uma

incontestável explosão de informações.

Para escritores, historiadores, pesquisadores finisseculares a ferramenta midiática

impressa estendeu as mãos e firmou laços para o avanço rumo à digitalização, ao livro

eletrônico ou ao hipertexto na internet.

No próximo tópico as análises focalizam o processo de transformação do livro digital

influenciado pelas novas tecnologias da comunicação e da informação no século XXI.

5. O livro eletrônico: ajustes, transformações, discussões

Henri-Jean Martin, quando proferia uma conferência na Académie des Sciences

Morales et Politiques, em Paris (1993), anunciou: “O livro já não exerce mais o poder de que

dispôs antigamente, já não é o mestre de nossos raciocínios e sentimentos em face dos novos

meios de informação e comunicação, de que doravante dispomos”. (MARTIN, 1994, p. 185)

O raciocínio de Martin (1993) foi o insight referencial para Chartier (1994) que

detectou alterações radicais das modalidades de produção e reprodução de textos. Nas ideias

do autor flagram-se as imagens do suporte midiático eletrônico: uma revolução temida por

alguns e aplaudida por outros. Segundo Chartier (1994, p. 97) a atual revolução do livro

eletrônico demanda mudanças nas estruturas e formas no suporte de recepção de textos. Neste

ínterim, verificou o estudioso que a revolução contemporânea, a do livro eletrônico, tem

maior importância que a de Gutenberg, notadamente em sua estrutura. O autor elucida que o

impresso manteve a forma do manuscrito e reiterou que a tela diferencia-se muito do códex.

Enfatizou que o leitor, para captar os dados de leitura no monitor, submete-se a uma abrupta

diferença do que representa ler um livro na versão códex.

O livro eletrônico configura-se como novo paradigma na forma de registrar e

disseminar a informação. Partindo deste parecer, Benício (2003, p. 44) afirmou aflorarem as

discussões polêmicas sobre o fim ou destino do livro impresso.

Page 28: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

26

Machado (1994), sinérgico às reflexões polêmicas, reintegrou-se aos pensamentos de

Henri-Jean Martin e do historiador Roger Chartier, reforçando que não só Martin profetizou

espécie de instabilidade na cultura impressa, mas que o raciocínio de Walter Benjamin em de

1929 também foi alinhado ao mesmo parâmetro.

Walter Benjamin (1978, p.77-79) declarou “impressionado com as escrituras icônicas

e vertical que tomava conta das ruas através de anúncios luminosos” anteviu dizendo:

“podemos supor que novos sistemas, com formas de escritura mais versáteis, se farão cada

vez mais necessários. Eles substituirão a maleabilidade da mão pela nervosidade própria dos

dedos que operam comandos”.

Machado (1994, p.202), em conferência no IEA, manifestou-se:

[...] muitos clássicos da literatura e ensaios científicos já estão hoje

disponíveis em disquetes e podem ser lidos diretamente na tela de monitores,

havendo ainda, em muitos casos, recursos para grifar trechos, marcar páginas

e fazer anotações à margem, bem como para imprimir trechos selecionados.

Bill Gates (1995, p. 146), ícone da era digital, teve a mesma visão, frisando que o

modo de convívio da humanidade estava diante d‟ A Estrada do Futuro, coincidindo com o

título do seu primeiro livro, A Estrada da Informação, onde declarou:

[...] Os constantes melhoramentos tecnológicos dos computadores e das telas

nos darão um livro eletrônico, ou o e-book, leve e universal, que se aproxima

do livro de papel de hoje. [...] você terá uma tela que mostrará texto, imagens

e vídeo de alta resolução. Vai poder virar páginas com os dedos ou usar

comandos de voz para encontrar [...] que quiser. [...] Teremos que repensar

não apenas o significado do termo documento, mas também o de autor,

editor, escritor, sala de aula e livro.

Às profecias e à roda das discussões polêmicas, adicione-se a sensatez das análises de

Ítalo Calvino (1990). Sua expertise captou as tendências não só da literatura, mas de outras

estéticas. Nos anos de 1980, no ensaio Seis Propostas para o Próximo Milênio, o estudioso já

propunha que as artes devessem valorizar a multiplicidade, a visibilidade, a exatidão, a

rapidez e a leveza, características muito pertinentes para uma mídia de rede, global, interativa,

instantânea como a internet posteriormente se estabeleceu.

Relacionando-se aos ajustes e as transformações que livro eletrônico desencadeou a

pesquisa de Frossard (1998, p. 43) identificou haver “representações do conhecimento em

hipertexto em um ambiente de rede mundial”.

Page 29: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

27

Spalding (2010) argumentou que as discussões relacionadas à alocação do livro e da

literatura são produtivas. No seu trabalho em andamento para a Universidade Federal do Rio

Grande do Sul, ele verificou diversas pesquisas destinadas a examinar a sobrevivência do

suporte midiático impresso bem como estudos sobre o suporte sucessor - o livro eletrônico.

Entre elas podem-se destacar as investigações de Jameson (1996), Perrone-Moisés (1998),

Figueira (1999), Fokkema & Ibsch (2005), Compagnon (2009), que se debruçam sobre o

tema, sem contar as publicações que abordam frontalmente a questão do futuro do livro: Fim

do Livro, Fim dos leitores?, publicado em 2001 por Regina Zilbermann, e Futuro do livro,

publicado em 2007, com 60 visões e opiniões diferentes sobre o futuro do formato livro são

exemplos de investigações que trilham este caminho.

André Parente (1999, p. 85), no ensaio sobre Virtual e Hipertextual, observou que

nunca o livro e a literatura se apresentarem tão vivos. Destas premissas apontou os pilares que

o livro eletrônico introduziu como recurso para recepção de textos:

[...] o livro eletrônico, hipertextual, introduz três vetores totalmente novos

que devem ser levados em conta: 1) a velocidade da transmissão e

recuperação dos textos aumenta enormemente; 2) o leitor pode se inserir na

escritura, interagir, transformar, traduzir, imprimir, enfim, ele pode mapear o

texto utilizando cartas dinâmicas que lhe permitam interrogá-lo de forma

jamais vista; 3) ele pode ainda criar textos em grupo utilizando os sistemas

de groupware. Para resumir, ele tem muito mais controle sobre o texto, e este

controle é feito com precisão e velocidade.

Silva (2002, p. 2) levantou dados empíricos sobre o livro eletrônico e a mudança de

paradigmas, definindo as suas fases da seguinte forma:

[...] um produto com pretensões de substituir os átomos pelos bits,

procurando superar o livro impresso, tanto na parte comercial quanto na

parte cultural [...]

Para melhor entendimento, dividimos a evolução do livro eletrônico em duas

fases: A primeira, quando e emprego na elaboração de textos produzidos na

Internet. A segunda fase, quando do surgimento dos devices2, aí sim, uma

alusão clara e indiscutível ao livro impresso, e por isso mesmo, vencendo

barreiras que o hipertexto não conseguiu transpor (ex.: a portabilidade), pois

ainda não conseguiu se desvencilhar da matéria (PC) apesar de produzido

em bits. [...] as terminologias e os conceitos de livro eletrônico.

Por ser de um passado recente, o livro eletrônico ainda não possui um só

termo que o designe (e-book, i-Book, Livro Eletrônico, Hipertexto, Livro

Digital) e, por conseguinte uma conceituação única ou uniforme.

2 Aparelho eletrônico doméstico preparado especialmente para receber, através da Web, livros, revistas e jornais

no formato eletrônico. [...] entre os mais recentes estão o Kindle, o Nook, o Sony Reader [...]. (PROCÓPIO,

2010, p. 219)

Page 30: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

28

E na história que o livro digital vem edificando, os estudos e percepções se aguçam

para encontrar os elementos que o conceituam e o compreendem. Silva (2007, p. 14), ainda

perseguindo o traçado do livro eletrônico, averiguou haver múltiplas estruturas combinatórias

que permitem processos contínuos de associações não-lineares e um vasto número de

interferências e de modificações para a tela, ou seja. Segundo sua observação: “clicando

ícones, o usuário pode saltar de uma “janela” para outra e transitar aleatoriamente [...] textos,

gráficos, etc., armazenados na memória do computador”.

Atraídas pelo impacto ocasionado pela migração do texto do papel para as telas,

Zilberman e Lajolo (2009, p. 38) veem o hipertexto como a mais desafiadora das novas

formas de expressão literária, pois oferece aos usuários diferentes trilhas de leitura e

possibilita o arranjo não-linear dos dados.

Em meio a tantas turbulências causadas na transposição do texto para o suporte

midiático eletrônico, a contaminação encubou-se nos artífices da escrita. Os escritores - que

no século XIX se emanciparam dos mecenas e conquistaram espaços definitivos para buscar

sua liberdade de expressão e os direitos autorais não transgredidos -, sentiram os sintomas de

pressão provindos dos mass media, herança da cultura impressa, e as imposições suplantadas

pelas novas tecnologias da informação e comunicação. Para tanto submeteram-se a um

processo de reinvenção.

O olhar de Sérgio Sá (2010), em A Reinvenção do Escritor: literatura e mass media

(2010) consolidou os flagrantes deste processo de transformação em que o escritor no século

XXI vem resistindo aos desafios.

Segundo Procópio3 (2010), especialista em livros digitais, os direitos autorais

conquistados pelo escritor no século XIX, ainda permanecem resguardados. Os livros, quando

digitalizados e publicados na internet, não ferem os direitos do escritor. Aqueles que divulgam

algo na internet têm a intenção de compartilhar e disponibilizar tudo para o benefício do

usuário da rede usufruir graciosamente. Não é negada ao escritor a autoria do livro, mas ele

deixa de ganhar, junto com o editor, livraria e outros.4 Procópio frisou ainda que pirataria é

quando alguém faz a cópia e a vende e obtém lucros por meio da obra de um terceiro.

3 Ednei Procópio é membro da Comissão do Livro Digital da CBL, autor de O Livro na Era Digital.

4 Em entrevista à TV CLICK, programa Livro em Revista, em 18/11/2010. Disponível em:

http://tvuol.uol.com.br/#view/id=especialista-ednei-procpio-explica-o-livro-digital 04021C3660D4892307/mediaId=8215068/date=2010-11-18&&list/type=tags/tags=61749/edFilter=all/.

Page 31: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

29

Não só os escritores se reinventam. Atrelados ao mesmo processo se encontram

editores, livreiros e toda a cadeia produtiva do livro, ao se realinharem ao cenário migratório

que o avanço tecnológico e o livro eletrônico lançaram nesta nova era.

Os registros de Chartier (1994, p. 103) autenticaram as novas perspectivas trazidas

pelo texto digitalizado. Nele o leitor consegue liberação para ser co-autor do seu texto, ou

seja, através de um fragmento recortado, um novo texto pode ser criado. O livro eletrônico,

segundo Fossard (2004, p. 17) como suporte midiático abre outras possibilidades para a

recepção dos textos, dá alternativas para ser manipulado, cortado, anexado, resultante de

busca automática pela internet. Nenhum dos outros suportes na história do livro apresenta

recursos parecidos com os do livro eletrônico.

Interessante anexar à discussão a visão de Thomas S. Khun, em Estrutura das

Revoluções Científicas (1975, p. 25) quando à questão revolução e mudança de paradigmas:

Sobre as revoluções científicas: As revoluções científicas são os

complementos desintegradores da tradição à qual a atividade da

ciência normal está ligada, forçando [...] a comunidade a rejeitar a

teoria científica aceita em favor de uma outra incompatível com

aquela, sendo que tais mudanças, juntamente com as controvérsias que

quase sempre as acompanham, são características definidoras das

revoluções científicas. (KUHN, 1975, p. 25).

Para Kuhn (1975) “um paradigma mais antigo é totalmente e ou parcialmente

substituído por um novo, incompatível ao anterior”. Fator muito peculiar nas decorrências da

passagem do livro da versão impressa para a eletrônica.

Toma-se aqui o livro como um “viajante” que passou de um processo artesanal e lento

e desembocou em águas tecnológicas. Despediu-se do manuscrito e do pergaminho como

suportes e confluiu-se mecanicamente ao apropriar-se do papel como suporte midiático. Antes

mesmo de migrar para as telas, compor-se eletronicamente, desprezar o papel, o viajante foi

protagonista disseminador e difusor das publicações em larga escala.

Motivo de reação de vários pensadores que profetizaram o avanço tecnológico como

algo positivo e natural, houve aqueles intelectuais que contestaram o envolvimento do livro

em condições industrializadas e ou no seio da Indústria cultural. O espaço do próximo

capítulo é dedicado à Indústria Cultural, processo em boa medida desencadeado pela cultura

impressa e, neste cenário, o livro.

Page 32: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

30

CAPÍTULO II - INDÚSTRIA CULTURAL

Page 33: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

31

“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e

assim se faz um livro, um governo, ou uma

revolução, alguns dizem que assim é que a

natureza compôs as suas espécies.

Machado de Assis

1. Aspectos introdutórios

O fermento, segundo o dicionário Michaelis Online5 é um agente orgânico ou

inorgânico que determina a fermentação de uma substância. É uma massa de farinha que

azedou, destinada a fazer levedar o pão. Sabe-se que, ao acrescentar o fermento como

ingrediente em qualquer massa, incorpora-se a ela graduação de crescimento, multiplicação da

mesma. Já que o tema do capítulo é a Indústria Cultural torna-se imprescindível verificar

como e por que houve da difusão do livro.

Julgou-se indispensável ao aspecto introdutório o parecer de Febvre e Martin (2000, p.

321-328), que consignaram um capítulo inteiro do relato histórico em sua obra O livro, esse

fermento.

Verifica-se uma intertextualidade na nomenclatura “fermento” indiciando que o livro e

os textos na era tipográfica - e ou a partir da mesma -, passaram por um processo de

fermentação, caminho certo para a dinâmica da reprodução, da multiplicação em infinitos

exemplares.

Marshall McLuhan (1972) no seu A galáxia de Gutenberg declarou que as novas

tecnologias proporcionam um permanente renascimento do livro, uma observação válida para

justificar a migração do livro do suporte de papel para as telas.

No texto de Febvre e Martin (2000, p. 336) também se encontraram outros ângulos, ou

seja, a demarcação do ponto de partida da civilização de massa e ou primórdios do berçário da

Indústria Cultural prenunciando o seu papel de difusor como se verifica:

Observa-se, em primeiro lugar que o aparecimento da imprensa não provoca

nenhuma transformação súbita, e a cultura do tempo, à primeira vista, nada

parece ter mudado com ela, ou mais precisamente na sua orientação, mas

entre tantos manuscritos que formavam a herança da idade média era

impossível imprimir tudo, multiplicar cada texto por centenas de exemplares.

5 Disponível em <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-

portugues&palavra=fermento> Acesso em 23 jul 2011.

Page 34: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

32

Impunha uma seleção: esta seleção [...] feita por livreiros, antes demais

preocupados em efetuar lucros e vender a sua produção, portanto

procuravam obras susceptíveis de interessar ao maior número dos seus

contemporâneos. E o aparecimento da imprensa, neste período, pode ser tido

como um passo em direção ao aparecimento de uma civilização de massa e

de padronização.

O aparecimento da tipografia como ferramenta para difusão e propagação de textos

também foi apontada como objeto representativo, indispensável ferramenta de difusão para o

livro. Febvre e Martin (2000, p. 322) esclareceram também que os textos manuscritos

reconhecidos do público, quando impressos, multiplicaram em milhares de exemplares, fruto

já de sua requisição registrando mais um indício que se destaca nesta introdução. Os mesmos

autores ainda realçaram no estudo O aparecimento do livro que a imprensa cumpriu um papel

de fermentar a amplificação da produção impressa a partir do século XV.

É chegado o momento de fotografar os passos da Indústria Cultural nos aspectos

introdutórios. Segundo Coelho (1976, p. 7) o “início da indústria cultural é demarcado no fim

do século XIX com o advento da eletricidade. A sua eclosão de forma irrefreável aconteceu

com a chegada da eletrônica a partir da terceira década do século XX”.

O estabelecimento da mesma, segundo Paulino (2009, p. 2), provocou abandono do

livro como objeto estético de arte, artesanal e manuscrito, entregando-o completamente aos

braços da tecnologia.

As evidências focalizadas pelo olhar de Febvre e Martin (2000), assim como Paulino

em (2009), delimitaram que o divisor de águas entre o processo de produção manual do livro

para a versão impressa foi causada pelo avanço da tecnologia.

A imposição tecnológica desencadeada pelo livro chamou a atenção de intelectuais

europeus e surgiram dialéticas em torno deste assunto. Segundo Coelho (1996, p. 14), isto se

deu por se tratar de bens culturais suplantados pelos materiais e pela velocidade de resultados

lucrativos.

Os intelectuais eram membros da Escola de Frankfurt, um movimento filosófico, já

referido na introdução deste estudo. O movimento surgiu na década de 20 na Alemanha e será

avaliado no tópico a seguir com a apresentação dos respectivos membros engajados. Eles

tinham consciência que o que estava em jogo eram bens culturais, vendidos como mercadoria.

No próximo tópico o olhar focalizará a Indústria Cultural, um espaço em se que

buscará vasculhar as razões da difusão do livro, averiguando os pensamentos que cadenciaram

o desenvolvimento do livro, incorporam-lhe mudanças em um outro suporte.

Page 35: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

33

2. A indústria cultural e o Instituto de Pesquisa Social

Um dos conceitos de indústria cultural foi configurado por Theodor Adorno e Max

Horkheimer, no clássico fundamento Dialética do Esclarecimento, em fins dos anos de 1940.

Eles foram os primeiros, segundo Coelho (1996, p. 14), a utilizar o termo indústria cultural,

com o intuito de substituir a expressão até então utilizada cultura de massa.

Na Enciclopédia Britânica, constam dados informando que são oriundos do Instituto

de Pesquisa Social, a Escola de Frankfurt, e seus respectivos membros pensadores

intelectuais. Foi fundado em 1923 e consistia em um centro de pesquisas orientadas pelas

teses marxistas6. Entre os objetivos centrais estava o de criar uma ampla teoria da crítica da

sociedade na tentativa de superar a crise da razão. Afiliado à Universidade de Frankfurt, O

Instituto foi a primeira instituição alemã aliada a esta filosofia.

Os membros que congregavam no Instituto eram sociólogos, filósofos e psicólogos.

Max Horkheimer desempenhou a função de diretor, orientador do grupo. Exerceu também a

função de editor do Jornal de Pesquisa Social. Integraram também o grupo Theodor Adorno,

Walter Benjamin, Erich Fromm, Sigfried Kracauer, Herbert Marcuse e Jurgen Habernas, com

contribuições teóricas, críticas sociais e investigações relacionadas à arte, à música, à política

e, claro, ao que denominaram de indústria cultural.

As averiguações apontam que o alvo da Teoria Crítica girou em torno da Indústria

Cultural à qual a indústria do livro se relaciona.

Embora Walter Benjamin tenha integrado o grupo de intelectuais, sua visão foi muito

mais profunda a respeito do desenvolvimento e da difusão do livro. Benjamin é reconhecido

por profetizar contribuições positivas e naturais em torno do avanço tecnológico conforme já

se referiu no início desta dissertação.

Coelho (1996, p. 6) acusou o surgimento da Indústria cultural com o frutificar da

Revolução Industrial, no século XVIII, em consequência das aberturas na área da educação. O

mesmo autor também se referiu à coisificação dos bens culturais que, por sua vez são as bases

para a construção da Indústria Cultural, algo que envolveu diretamente a velocidade e

produção do livro impresso.

A industrialização, a tipografia e a revolução cultural forma momentos significativos

para o protagonismo da Indústria Cultural no processo de difusão do livro. Segundo Coelho

6 Doutrina filosófica, política e econômica do alemão Karl Marx (1818-1883), que analisa os processos

históricos segundo métodos dialéticos e materialistas, à luz da luta de classes. Disponível em http://www.britannica.com/EBchecked/topic/367344/Marxism. Acesso em 22 jul 2011.

Page 36: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

34

(1996, p. 6-7), a cultura passou a ser produzida em série, o livro consumido como qualquer

outra mercadoria. O autor ainda afirmou que o objeto abandonou a condição de instrumento

livre de expressão assumindo um perfil padronizado em kitsch, confeccionado para atender

um público que não tinha tempo e nem visão para questionar o que consumiam. Fatos que,

para a questão do livro em análise, destacam que a Indústria Cultural, acima de qualquer

suspeita, contribuiu para a difusão do livro em larga escala.

Nesse sentido, é relevante outra observação de Coelho (1996, p. 6-7):

Uma cultura perecível, como qualquer peça de vestuário. [...] que não vale

mais como algo a ser usado pelo indivíduo ou grupo que a produziu e que

funciona, quase exclusivamente, como valor de troca (por dinheiro) para

quem a produz.

Os intelectuais alemães, que se encontravam na França, ao observarem os lançamentos

dos romances em série inspirados por Alexandre Dumas, “reconheceram [...] como produtos

da indústria cultural em processo de fabricação seriado, postos em linha de montagem, tal

como quaisquer outros produtos industriais”. (ADORNO; HORKHEIMER apud

HOHLFELDT, 2003, p. 93)

Os críticos lançaram pensamentos controversos para alertar sobre a inércia da

população, que não contestava as imposições de uma classe dominante, instrumentalizada, em

boa medida, pela tecnologia. Para constatação, reporta-se abaixo o pensamento crítico de

Adorno e Horkheimer (1947, p. 116), focalizando a Indústria Cultural pelo seguinte ponto de

vista:

[...] demonstra que a indústria cultural, ao receber financiamento dos

detentores de capital e de poder, perdeu o compromisso com a produção

artística e legitimou a produção cultural como um negócio, no qual a arte

passou a valer muito mais pelo seu efeito mercadológico do que pelos seus

valores estético e poético. Uma vez industrializada, a cultura tornou-se

padronizada e seus produtos, uma série de reproduções idênticas. Não houve

mais preocupação com a lógica da obra artística e tão pouco com seu papel

na sociedade. "os valores orçamentários da indústria cultural nada têm a ver

com os valores objetivos, com o sentido dos produtos.

Não só os críticos alemães se lançaram à crítica e à compreensão da Indústria Cultural.

Contemporaneamente, Armand Matterlart (1999, p. 77-8) em seu estudo História das teorias

da comunicação, identificou fatores similares dizendo:

Page 37: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

35

A produção industrial dos bens culturais é um movimento global de

produção de cultura como mercadoria. Os produtos culturais, os filmes, os

programas radiofônicos, as revistas ilustram a mesma racionalidade técnica,

o mesmo esquema de organização e de planejamento administrativo que a

fabricação de automóveis em série [...]. A indústria cultural fornece por toda

a parte bens padronizados para satisfazer às numerosas demandas. Por

intermédio de um modo industrial de produção, obtém-se uma cultura de

massa feita de uma série de objetos que trazem de maneira bem manifesta a

marca da indústria cultural: serialização padronização-divisão do trabalho.

Adorno (1978, p. 291), intercedendo pela proteção ao livro observou, criticamente, a

função do segmento produtor, inserindo-o na dinâmica da Indústria Cultural. Ele denuncia

que a preocupação do produtor é intensificar os lucros cada vez maiores, reproduzir obras

como mercadoria sem a preocupação com a arte.

Esta avaliação, ao passar pelo cenário da Indústria Cultural, trafegou pelo pensamento

de intelectuais que situaram a produção e difusão de bens culturais em larga escala como

mecanismo para obtenção de lucro – o livro entre eles. Por outro lado, auxiliaram a

investigação a edificar subsídios que justificam a Indústria Cultural como berçário de sua

industrialização.

Abandonando o universo crítico esta análise perseguiu outros os ângulos que

pudessem checar os motivos de expansão da Indústria Cultural. Um espaço à parte, como

lacuna de destaque foi aberto pela a contribuição Walter Benjamin, por ser mais

representativa e com maior significado para os resultados deste estudo.

O filósofo, intelectual e membro da Escola de Frankfurt Walter Benjamin, no

reconhecido ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” demonstrou que

a arte, ao ser difundida por meio de suas reproduções, daria vazão para difundir a cultura com

maior evidência para todas as classes sociais, ou seja, pode significar a democratização do

acesso aos bens culturais, uma vez que estariam à disposição em número e alcance às pessoas.

Na concepção de Walter Benjamin, a obra encontrou a reprodução como alternativa.

Uma razão sine qua non buscada por este estudo, dando crédito à Indústria Cultural, vê o

processo de reprodução técnica e circunstancia como transformação ou passagem para o novo,

de forma positiva e natural. Os fatos são confirmados por Benjamin (1994, p. 168) sobre a

reprodutibilidade da obra de arte:

[...] é a quitenssência7 de tudo o que foi transmitido pela tradição, a partir de

sua origem, desde sua duração material até o seu testemunho histórico.

7 Quinta-essência

Page 38: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

36

Como este depende da materialidade da obra, quando ela se esquiva do

homem, através da reprodução, também o testemunho se perde.

Retomando a questão do livro e a importância que as ideias de Benjamim quanto à sua

emancipação, Machado (1994) manifestou uma analogia relatando sobre “os homens-livro”,

ou seja, aqueles considerados “livros-vivos”, os que decidem ou contribuem

significativamente para os rumos do pensamento humano.

Os prognósticos anunciados pelo pensamento de Walter Benjamin em relação ao

desenvolvimento tecnológico se revelaram concretos e reais.

O livro impresso estendeu tapete de passagem para a sociedade de massa que

testemunhou as justificativas do seu crescimento. Febvre e Martin (2000, p. 8) disseram que

fim de uma época representa o começo de outra, o livro neste contexto:

Fim de uma época, começo de uma época. Uma sociedade de escola vai

propagar-se cada vez mais perante uma sociedade de massas. E por isso a

imprensa vê se conduzidas por transformações novas e profundas. Novas

necessidades, uma clientela nova. E por isso a maquinaria substitui o antigo

trabalho braçal. Aqui também o antagonismo <<braçal>> e do Mecânico, da

oficina artesanal e da produção fabril. Uma série de invenções intervém de

forma rápida, aumentando bruscamente o que se poderia chamar a virulência

da imprensa. Lentamente e mais poderosamente, a máquina introduz no que

se torna a indústria do livro. A imprensa procura e encontra outros motores

além dos músculos.

No próximo tópico observam-se a dialética em torno da massificação e o reflexo da

convergência tecnológica.

3. Massificação

Segundo Bacelar (1999, p. 1) a comunicação de massa é derivada da invenção da

imprensa de caracteres móveis, ou seja, os fatores culturais e tecnológicos alcançaram a

massificação em circunstâncias dos reflexos políticos, sociais, religiosos redirecionados com a

chegada do livro impresso e de papel.

Todavia, os derivados do livro impresso carregam consigo a herança da Indústria

Cultural, da massificação, da Cultura de massa, que deram vazão à sua expansão.

Os motivos observados como reflexos da cultura de massa no objeto em questão,

segundo Hohlfedlt (2003, p. 87-89) começaram a brotar a partir do momento que a tiragem de

texto é realizada de forma ilimitada. A Revolução Burguesa na França é uma consequência

Page 39: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

37

desta disseminação por abrir portas para o investimento nas causas educacionais, no futuro

das crianças. O efeito do investimento educacional francês repercutiu no aumento de leitores,

outrora composto apenas pelo clero, pela elite e alguns letrados.

Hohlfedlt (2003, p. 90) observou as raízes da cultura de massa se firmando quando o

público feminino foi sendo conquistado, por meio de narrativas focando seus interesses; os

diários de bordo fidelizando leitores em viagem, as condições mais acessíveis para aquisição,

locação de livros. A disseminação dos textos revigorou-se como uma frondosa árvore,

fortalecendo-se e permitindo constatar que a Indústria Cultural deriva da cultura de massa

com os outros produtos de massa.

Segundo Hohlfedlt (2003, p. 90) das estratégias usadas, todas visam números e, por

conseguinte, atraem cada vez mais leitores e assim a rede da indústria do livro foi se

organizando.

No histórico da massificação do impresso para atrair público, os novos gêneros

lançados contribuíram estrategicamente, estruturando o berço do romance policial, o

melodrama, a história em quadrinhos, as leituras superficiais em série e o romance de

folhetim.

Os romances de folhetim que edificaram as novelas folhetinescas, segundo Coelho

(1996, p. 5), eram produzidos em série como intuito de prender a atenção do leitor. O mesmo

autor identificou neles um produto típico da cultura massa que influenciou o know-how das

telenovelas de hoje, mais um indício de cumplicidade entre a indústria do livro e a cultura de

massa.

O livro impresso, antes de migrar para as telas, testemunhou não só a evolução da

eletricidade e da eletrônica, como também segundo Coelho (1996) assistiu ao auge da cultura

de massa a parir da terceira década do século XX que, por conseguinte, sedimentou o veículo

televisivo. É mais uma chama dialética que se propaga em torno da cultura de massa, dos

caminhos da mídia e dos produtos massivos.

Pesquisadores como Dwigth Mac Donald, Edward Shills, Daniel Bell e Umberto Eco,

congregados nos Estados Unidos nos anos de 1950, reavaliaram os conceitos dos precursores

da indústria cultural e, segundo Bronstein (2005, p. 3), se contrapuseram aos teóricos alemães.

O desenvolvimento da cultura de massa, marcada por estas contradições, conviveu

com a delimitação, um divisor de águas denominado por Umberto Eco de Apocalípticos e

Integrados. De um lado os críticos da indústria cultural, chamados de apocalípticos; de outro,

os seus adeptos, os integrados. Bronstein (2005, p. 3) declarou que enquanto os apocalípticos

enxergaram os produtos culturais fruto da indústria cultural como um malefício para o público

Page 40: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

38

consumidor dos livros; os integrados (controversos) perceberam reflexos de democratização e

acesso da massa à cultura como entretenimento.

Mas o livro como produto de massa libertou-se das turbulências provocadas nesta

discussão que circundou em torno do conteúdo, quando Marshall McLuhan (1972), em A

galáxia de Gutenberg, descaracterizou os princípios até então considerados. McLuhan

reconheceu o “meio” como a forma adequada de conduzir a “mensagem”. E para a questão do

livro impresso e respectivos derivados o meio configurou com um habitat para se projetar,

atrelado às suas origens.

O desenvolvimento abrupto alcançado pelas novas tecnologias da informação e da

comunicação desencadeou mudanças, inclusive para os artífices escritores, que produzem a

matéria prima para os instrumentos de mídia como o livro eletrônico em análise. Certificados

das radicais mudanças da sua ferramenta de trabalho, os escritores submetem-se à sua própria

reinvenção.

Sá (2010, p. 13) no ensaio A Reinvenção do Escritor, averiguou que “os meios de

comunicação de massa ocupam papel central na sociedade contemporânea, uma cultura

própria aos media”.

Kellner (2001, p. 9) revitalizou o mesmo princípio conceituando a mídia nos dias

atuais sob o seguinte prisma:

Há uma cultura veiculada pela mídia cujas imagens, sons e espetáculos

ajudaram a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo o lazer,

modelando opiniões políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o

material com que as pessoas forjam sua identidade.

No levantamento feito por Sá (2010, p. 13) é manifestado o desconforto exercido pelo

poder da mídia e as suas interferências. Por outro lado o autor defendeu as novas formas de

socialização que a tecnologia vem desencadeando:

A presença da mídia é avassaladora. A experiência, não poderia ser

diferente, atinge também o intelectual. Muitos assuntos das conversas

cotidianas nascem, resvalam ou acabam nela. A reportagem, o desempenho

de determinado ator, o jogo de futebol, o videoclipe. É a sociabilidade sendo

conformada. O meio deixa de ser simplesmente a mensagem e o conteúdo

cumpre o papel. Não houve destruição de relações humanas, não nos

comunicamos menos interpessoalmente. [...] A tecnologia impôs novas

forma de socialização. Não estamos cara a cara, mas comunicamos.

Page 41: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

39

Sá (2010, p. 16), sobre os efeitos da mídia, postulou a seguinte avaliação crítica:

“vivem cada vez mais do mesmo: renovação acelerada, sucesso efêmero sensação imediata,

estimulação pura”.

O autor (2010, p. 14-15) vê os meios de comunicação de massa como

desierarquizados. Segundo ele, há confusão de fronteiras, de gostos inusitados cujos

parâmetros podem ser conferidos conforme se ilustra:

Podemos gostar ao mesmo tempo do barroco do Bach, do pagodinho do

Zeca, do rock da Legião Urbana, do jingle da propaganda [...] no caldo da

mídia cabe tudo, sem grandes critérios. Todos os campos do conhecimento.

Sob o olhar panorâmico agente vê desde receita de bolo até debates sobre

tecnologias de comunicação [...] ela é extremamente democrática. Usa quem

quer, zapeia quem tem juízo.

A análise buscou traduzir como se dispõem as conexões com a mídia, as dependências

para a sobrevida dos meios que giram ao redor da mesma.

O exame de Sá (2010, p. 20-21) para demonstrar o vigor por ela exercida observou

que “a media prevaleceu-se sobre outras instâncias da sociedade como determinante de

postura, de lugar e avaliação da obra”. O alerta da pesquisa norteou e esclareceu que, em uma

sociedade desprevenida como a brasileira a força que a mídia exerce é imensa.

Latour (1994, p. 64) investigou dados sobre a reinvenção do ser humano. Neste prisma

o estudioso elucidou o seguinte pensamento: o ser humano é “reinventado” a cada inovação

tecnológica que altere radicalmente o processo de comunicação e produção do conhecimento.

Seu raciocínio ajustou-se às reflexões avaliadas agora no século XXI.

Retomando o tema do capítulo Indústria Cultural para se consolidar o desfecho do

capítulo, nota-se seu real papel de lançar a semente para a consolidação das estruturas até hoje

resguardando uma rede, uma cadeia produtiva do livro e ou a indústria do livro.

Se a Escola de Frankfurt foi um movimento intelectual e filosófico que surgiu na

década de 20, conforme já observado nos aspectos introdutórios desta análise, responsabiliza-

se a Indústria Cultural como o alicerce da indústria do livro até ao limite desta última versão.

O pensamento de Walter Benjamin lançou as mais significativas premissas para o

entendimento do avanço tecnológico que hoje verifica-se, nitidamente, em razão das novas

tecnologias fluírem em condições naturais e de desenvolvimento.

O espaço ocupado pela Indústria Cultural nesta análise representou “porque” ocorreu a

difusão do livro e as justificativas das ocorrências. A Indústria Cultural foi a forte aliada, ao

lado da massificação, para o viajante livro difundir-se eletronicamente.

Page 42: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

40

Sumarizada a história do livro no primeiro capítulo e a sua difusão desenfreada pela

Indústria Cultural no segundo, no próximo destina-se a uma análise do livro eletrônico e as

novas diretrizes desencadeadas pelo veículo.

Page 43: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

41

CAPÍTULO III - O LIVRO ELETRÔNICO

Page 44: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

42

Existe propriamente um objeto que é a tela sobre a qual

o texto eletrônico é lido, mas este objeto não é mais

manuseado diretamente, imediatamente, pelo leitor. A

inscrição do texto na tela cria uma distribuição, uma

organização, uma estruturação do texto que não é de

modo algum a mesma com a qual se defrontava o leitor

do livro em rolo da Antiguidade [...] moderno e

contemporâneo do livro manuscrito ou impresso.

Roger Chartier, 2009

1. Introdução parâmetros de convergência

É chegado o espaço que essa avaliação reservou para exibir e observar as novas

tendências que giram em torno do livro eletrônico. A análise do histórico do livro, os vários

motivos que desenfrearam o seu desenvolvimento, transformando-o em produto cultural de

uma indústria requer um espaço de contextualização para que se compreenda o livro

eletrônico e as novas tecnologias que o acompanham.

Ao recorrer ao pai da eletricidade induzida, Parente (1999, p. 78) focalizou uma

peculiaridade que envolveu o inventor Michael Faraday (1860) e a monarca inglesa. Quando

terminou de fazer a sua apresentação, no Royal Society, Faraday foi interpelado pela rainha

julgando ser interessante o seu invento. Mas a realeza não se conteve e contestou-lhe, pela

serventia do invento. “Recebeu então, a realeza, uma contestação em réplica, do inventor

Michael Faraday: Para que serve um recém-nascido?”.

Naquele momento havia um enorme abismo separando o advento da eletrônica com o

processo de informatização social e a cultura midiática. Nem ao menos Faraday imaginava a

propagação e o alcance da trajetória que a sua invenção tomaria. Igualmente a soberana, sua

corte monárquica e seus respectivos súditos. Na mesma análise, Parente (1999, p. 78) também

observou os vértices de inovação e as possibilidades que a informatização abriu, para se

coletar, armazenar e difundir informações.

A sociedade adquiriu cultura midiática após todos estes pressupostos, afirmou Gomes

(2010). Avançou do sistema de comunicação analógica para o sistema digital que envolveu o

know-how da informação desde telefonia celular, computadores em rede, convergência que

trouxe à tona também este objeto de análise: o livro digital ou eletrônico.

Sua chegada na verificação feita por Parente (1999, p. 54) também é atraída inclusive

pela influência do inglês Timothy John Berners-Lee precursor da World Wide Web. A

importância da implantação deste hiperdocumento com dimensões incalculáveis, interligando

uma grande teia navegável de forma intuitiva, a internet 2.0. As milhares de páginas

Page 45: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

43

espalhadas por todo mundo concentram um precioso acervo de informações para a

humanidade expandir-se navegando por mares e oceanos de informações. A abrangência deste

universo incluiu, indiscriminadamente, todas as áreas.

Ilustração 1 – Internet 2.0 - W2. Fonte: Revista The Jourrnal (2010)8

Na averiguação de Benício (2003, p. 45) a internet, com as tecnologias já existentes,

permitiu uma nova roupagem na forma de apresentar o livro, ou seja, o livro eletrônico

instalou um novo conceito relacionado à forma de se ler os livros no planeta.

Na verificação de Santos (2003b, p. 2) veio a constatação disto. Sobre a evolução

sofrida pelos livros, o autor diz haver algum tempo que o livro vinha sofrendo interferências

no modo de ser e se mostrar ao leitor. A responsabilidade destas alterações de ordem física foi

atribuída ao avanço das tecnologias de diagramação e de impressão das páginas, que na

condição atual, levou a migrar de suporte ou mídia transformando-se em um novo corpo.

Julga-se também indispensável acrescentar a visão de (MCLUHAN 1977, apud ,

BENÍCIO, 2003,p.7 ) que anunciou: “Na era da comunicação eletrônica o livro não morreria,

mas sua alma seria libertada do seu corpo”. A revista Wired, por este fato, conclamou

McLuhan “santo padroeiro da revolução digital”.

8 Disponivel em: <http://spectrumfurniture.blogspot.com/2010/04/parents-alumni-and-other-

stakeholders.html>. Acesso em: 07/07/2011.

Page 46: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

44

Ilustração 2 – Livro eletrônico x Livro de papel. Fonte: Sirena (2011)

Um alvoroço de estudos estruturou-se em torno do livro eletrônico. Benício (2003, p.

44) disse que a internet permitiu ao livro uma nova forma de apresentação, além de uma

maneira inédita para leitura. A mesma autora observou que o livro eletrônico implementou

outras condutas para ler os textos, inserindo-lhes som imagem e recursos multimídia

constituindo um espaço para várias mídias.

O livro eletrônico na sua estruturação firmou laços com a convergência. A propósito,

este objeto estudado por Henry Jenkins (2003) incorpora as importantes transformações das

novas mídias que se convergem.

O autor averigua os parâmetros da convergência que as novas mídias como o livro

eletrônico utilizam. Vasculhou dados da contribuição do cientista Ithiel Sola Pool, que

profetizou o processo de transformação, não só dos meios de convergência, de comunicação

mas da indústria midiática.

O papel da convergência, em que o livro eletrônico encontra-se apoiado, foi

conceituado por Briggs e Burke (2004, p. 270) que dizem “Convergência é uma palavra útil,

embora excessiva, empregada livremente por Ithiel de Sola Pool antes de se tornar moda”.

Segundo os pesquisadores a palavra é aplicada desde 1990, associada ao desenvolvimento

tecnológico digital e integração de textos, números, imagens, sons e diversos elementos de

mídia (correio, telefone, telégrafo, as comunicações de massa como a impressa, rádio e a

televisão).

Os mesmos autores verificaram que em 1970 a palavra era usada com uma

abrangência mais ampla. Mas com o tempo a palavra “convergência” foi ganhando espaço na

junção de indústria de mídia e das telecomunicações.

Page 47: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

45

Julgou-se oportuno realizar um retrocesso para catalogar os conceitos sobre

convergência neste espaço introdutório, para melhor interpretação dos diálogos entre os meios

que trouxeram estruturas para o livro eletrônico alocar-se e convergir-se.

Jenkins (2003, p. 27) definiu convergência da seguinte forma: “[...] a convergência

deve ser compreendida como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro de

um mesmo aparelho”. Sua definição fotografa exatamente que o livro eletrônico nos

parâmetros da convergência se alocou em um device, que pode ser um aparelho de telefone

celular, um aparelho de rádio, ou seja, um instrumento que pode desempenhar múltiplas

funções para o usuário. O mesmo autor, além da definição, apontou as interfaces entre a

cultura da convergência e os meios midiáticos, atuando no cotidiano das pessoas, inclusive no

seu:

Pode me chamar de ultrapassado. Algumas semanas atrás quis comprar um

telefone celular, você sabe, para fazer ligações telefônicas. Não queria

câmera de vídeo, câmera fotográfica, acesso a internet, MP3 players, ou

games. Também não estava interessado em nenhum recurso que pudesse

exibir traillers de filme, que tivesse toque personalizáveis e ou que

permitisse ler romance. [...] quando o telefone tocar, não quero ter de

descobrir qual botão apertar. Só queria um telefone. Os vendedores me

olharam com escárnio, riram de mim pelas costas. Fui informado, loja após

loja, que não se fazem mais celulares de função única. Ninguém os quer. Foi

uma poderosa demonstração de como os celulares se tornaram fundamentais

no processo de convergência das mídias. (JENKINS, 2003, p. 29)

Ilustração 3 – Convergência e as múltiplas funções. Fonte: Disponível em:

<http://www.podemosteajudar.com/web/convergencia-digital-o-que-e/>.

O livro eletrônico é protagonista deste cenário, como pode constatar no depoimento de

Jenkins (2003). Um usuário de um livro eletrônico vai portar um equipamento com múltipas

funções, ou seja, é neste contexto de convívio que os parâmetros de convergência fazem o

livro eletrônico se inserir.

Mas o livro, para compartilhar sua morada com outros meios midiáticos, dependeu da

cumplicidade entre as empresas de Telefone, TV a cabo e empresas da mídia. Straubahaar e

Page 48: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

46

Larose (2004, p. 2) analisaram que elas uniram seus esforços, estabeleceram alianças, por

meio de conversores, com o intuito de atenderem às necessidades e à demanda dos novos

meios midiáticos como o livro eletrônico.

Nesta investigação focaliza-se o seguinte ângulo: de um lado da moeda está o livro

eletrônico, compartilhando espaço com outros meios; do outro lado há o interesse econômico

atrelado ao processo de sua conformação. Uma herança que, iniciada com a Indústria

Cultural, é agora viabilizada pelos meios de comunicação.

Sobre a formação das alianças, o estudo de Straubahaar e Larose (2004, p. 2)

expressou lucidez sobre o assunto dizendo que os meios de comunicação de massa se

reconheceram perante o processo de convergência, como o significado e a estratégica para os

seus próprios desenvolvimentos. Os mesmos autores, para se exprimirem sobre os efeitos da

convergência com a economia dos países, destacam que se abdicaram as nações dos mísseis e

navios de guerra para investirem em instalações de redes de comunicação.

Outro efeito do alcance dos parâmetros da convergência e do ambiente em que o livro

se envolveu é, como mostraram Straubhaar e Larose (2004, p. 3), que países como Cingapura,

França e Japão ultrapassaram grande potências como os Estados Unidos, só por conta da

economia da informação, por intermédio de recursos estratégicos, apoiados na convergência

dos sistemas de comunicação de massa.

Se a economia foi fundamental para formarem-se as alianças que firmaram os

parâmetros da convergência, é essencial para as alianças verificar que outros laços mantêm os

meios midiáticos dialogando. A exemplo de diálogos entre os veículos convergentes, a análise

de Nunes e Straccia (2003, p. 03) reconheceu que, contemporaneamente, nos últimos 40 anos

no Brasil, os estudos realizados por Sandra Reimão focalizam “o processo de

transcodificação midiática com ênfase em correlações dos meios impressos e eletrônicos”.

Segundo os autores, a pesquisadora tem explorado as obras dos meios televisivos, ou seja, as

telenovelas brasileiras e a possibilidade de convertê-las romanceadas para o formato impresso

e vice-versa. Mais um indício acusa acontecer nos dias atuais um diálogo natural entre os

veículos midiáticos, ou seja, eles têm se ajustado e adequado aos moldes e parâmetros da

convergência da comunicação.

E para sintetizar o oceano de informações em torno da conversão dos meios que giram

em torno do livro, referencia-se que esta é a trilogia efetiva da sociedade da informação, ou

seja, comunicação, mídia e tecnologia.

Page 49: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

47

Ilustração 4 – Comunicação + mídia + tecnologia. Fonte: Fidelis (2010)

Entre os diversos aspectos abordados para focalizar os parâmetros da convergência

que mostram o diálogo e convívio dos novos meios midiáticos, Straubhaar e Larose (2004, p.

23) afirmam que uma implicação final na revolução da mídia é a convergência dos meios de

comunicação. Segundo eles, as suas antigas distinções estão sendo apagadas pela multimídia

que integram o sistema de conversão de áudio, imagens e textos. Ela também recebe sombras

que se refletem, diretamente, no sistema convencional de massa (rádio, impressos, cinema). O

fato é “convergir formas híbridas para um único computador de grande escala, conectado em

rede de transmissão significa dados transmitidos em alta velocidade”

Focaliza-se, a seguir um relado histórico do traçado do livro eletrônico, que arrola as

grandes empresas internacionais invadindo o mercado com equipamentos para leitura, os “e-

readers9” ou “devices”, ou livros eletrônicos.

A partir de 2006, mais especificamente no ano de 2010 o mercado e inundado com

diversos modelos de livros eletrônicos multifuncionais.

9 Software desenvolvido especialmente para a leitura de conteúdos eletrônicos (jornais, revistas e

livros). Estes software podem ser baixados da Web e instalados nos PCs (personal computer / computador pessoal) [...]. Entre os e-readers mais populares na web está o Adobe Digital Editions (para livros eletrônicos no formato PDF). [...] os mais recentes permitem a leitura em outros devices portáteis como iPad e iPhone. (PROCÓPIO, 2010, p. 219)

Page 50: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

48

Ilustração 5 – Skiff, o e-reader mais fino, com maior tela, maior resolução e flexível. Fonte: Silveira

(2010)

2. Livro eletrônico: traçado histórico

A Treebook Gallery foi idealizada em 2010 por Bia Simonassi, do Projeto Cultural

Free Your IDEA. Consiste em uma galeria online composta de 54 livros eletrônicos com

objetivo de expor uma coleção de livros digitais com textos provocativos, poéticos e de viés

artístico. Nas bordas de todos os livros da coleção são constatados detalhes e definição digital

feita artesanalmente. A impressão aparenta uma busca aos moldes da versão em papiro e

pergaminho quando era artesanal e objeto de artesanal, mas já com a contextualização

adequada aos parâmetros do século XXI e da digitalização.

Page 51: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

49

Ilustração 6 – Site do Treebook Gallery. Fonte: Livro Digital (2010)10

Simonassi (2010, p. 44-50) apontou a originalidade contida nos livros eletrônicos,

apoiando-se na interatividade dos links propostos e a livre escolha do usuário para encontrar o

seu e-book favorito, um deles o endereço da “web” 11

.

A autora faz um traçado e histórico do “e-book” e livro digital. Entre os vários

registros, Simonassi (2010, p. 4) define o livro digital como equivalente a um livro

tradicional. Ela designou que o termo “e-book” derivou-se da abreviatura provinda da língua

inglesa e que a inicial “e” corresponde ao termo “eletronic”. Este, justaposto com o termo em

inglês “book”, compôs a nomenclatura que se tornou conhecida universalmente como “e-

book”. Por conseguinte, no Brasil, entre as várias nomenclaturas, as mais comuns são, entre

outras, livro eletrônico e ou livro digital.

Segundo Simonassi (2010, p. 10) os livros eletrônicos podem ser organizados em

vários formatos, porém os mais comuns são os de conversão em “PDF” e “HTML”.

Para melhor compreenderem-se os termos técnicos dos livros eletrônicos, Procópio

(2010, p. 224) organizou um glossário esclarecendo que “PDF” em inglês significa “Portable

Document Format”, isto é, em português o equivalente a “Documento em Formato Portátil”.

Segundo o autor, por ser

10 Disponível em: <http://www.slideshare.net/TREeBOOKGallery/livro-digital-5992722>. Acesso em:

07/07/2011. 11

Disponível em: <http://issuu.com/treebookgallery/docs/livro_digital>. Acesso em: 07/07/2011.

Page 52: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

50

uma tecnologia universal, independente da plataforma que foi desenvolvida

pela empresa Adobe Systems, „PDF‟ é um formato baseado em arquivos de

linguagem postscript. Isto é, livros eletrônicos neste formato são muitos

semelhantes e ou próximos de um livro de papel, em termos de diagramação.

É um formato bastante popular, possui certamente a maior base de

documentos e livros eletrônicos no planeta, abrangendo cerca de 200

milhões de usuários.

Procópio (2010, p. 220) informa neste mesmo glossário que a sigla “HTML” teve a

origem convencional na língua inglesa, com quase todos os termos técnicos dos livros

eletrônicos e ou outras áreas. A terminologia corresponde à abreviatura de “Hiper Text

Markup Language” que, em português significa “Linguagem de Marcação de Hipertexto”.

Também usada para formatar textos e ou documentos a serem lidos na “web”. De acordo com

a análise feita pelo autor, com a linguagem “HTML” é possível ser determinado o tamanho,

cor, formato da letra, inserção de imagens colocação de links para outros “websites” e outros.

Além disso, os arquivos em “HTML” são, segundo o exame de Procópio (2010, p. 220),

compatíveis com a maioria de equipamentos receptores dos livros eletrônicos.

Simonassi (2010, p. 12) informou que a leitura é feita através de recursos sustentados

por equipamentos eletrônicos tais quais computadores, celulares e “devices” que

correspondem a equipamentos que transportam os arquivos para leitura propriamente dita.

Ilustração 7 - Kindle 3 is Amazon´s. Fonte: Finch (2011)

No registro feito na coleção treebookgallery, Simonassi (2010, p. 14) também apontou

que o primeiro livro digital do planeta foi a Declaração da Independência dos Estados Unidos

idealizado por Michael Hart. Este teria sido o inventor do livro eletrônico em 1970 e,

fundador do Projeto Gutenberg, muito antes da Kindle12

, da Amazon.com13

, do iPad14

, da

Apple e da Google BooK15

, preconizou a digitalização de obras culturais.

12 Pequeno aparelho criado pela empresa americana Amazon, que tem como função principal ler

livros electrônicos e outros tipos de midia digital. O primeiro modelo foi lançado nos Estados Unidos em 19 de Novembro de 2007.

Page 53: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

51

Procópio (2010, p. 16-17) confirmou o mesmo da seguinte maneira:

Michael Hart [que eu considero inventor do livro eletrônico] fundou o

Projeto Gutenberg, no início da década de 1970. Então, no início de 2010,

enquanto todos discutiam sobre os livros digitais, por causa do kindle e do

iPad, da Apple, eu me perguntava quanto tempo ante do nascimento de

serviços como o Google Books , o site idealizado por Hart já contabilizava

milhares de títulos eletrônicos em várias línguas para rodar em qualquer

reading device.

Nas lentes do autor o livro eletrônico não é a novidade que aparenta, mas é algo que se

instaurou no século passado. Para ele, o alvoroço recente trata-se de apenas uma nova

constatação, auxiliada pelos recursos que atualmente a tecnologia da informação e

comunicação tem dinamizado.

Siriginidi Subba Rao (2005, p. 4) define o livro eletrônico como um tipo de objeto

midiático, com distribuição nos formatos textbooks, picture books, talking books, mutimedia

books, talking books, cyberbooks e equipamentos contidos em device e ou e-reader

(programas ou software de leitura portátil). É, ainda segundo o autor, um objeto que contem

texto ou obra em formato digital, cujo arquivo pode ser lido em tela.

Diante dos recursos tecnológicos precários e lentos que Michael Hart possuía em

1971, além da Declaração da Independência, o Projeto Gutenberg idealizou e digitalizou,

segundo Procópio (2010, p. 17), milhares de títulos eletrônicos em várias línguas para rodar

em qualquer “reading device” e ou equipamento.

13 Empresa de comércio eletrônico dos Estados Unidos da América com sede em Seattle, estado de

Washington. Foi uma das primeiras companhias com alguma relevância a vender produtos na Internet. [...] Jeffrey Bezos, dono da Amazon.com [...] em 1994 [...] escolheu Seattle, porque ali estava um dos maiores distribuidores de livros, a empresa Ingram.E tendo vinte itens em mente para ser o produto chave para seu arranque, escolheu os livros em Julho de 1995 e começou ali a Amazon.com. 14

Em essência, o iPad é um iPhone gigante”, mas não tem funções de celular, embora possa ser usado

para chamadas por meio da internet [...]. O aparelho navega na internet por meio de conexões sem fio (Wi-Fi e

3G). [...] o iPad traz a consagrada interface do iPhone, que faz excelente uso da tela touchscreen. O iPad também

roda todos os programas feitos para iPhone no tamanho natural ou em tela cheia. Assim, ele já nasce com

milhares de programas para expandir as funções originais do aparelho. [...] também funciona como leitor de e-

books e suporta o formato aberto ePub , além de livros vendidos games criados originalmente para iPhone. 15

Anteriormente conhecido como Google Book Search e Google Print, em português: Google Livros. É um

serviço da empresa estadunidense Google que procura textos completos de livros que a Google escaneia,

converte-o utilizando o reconhecimento ótico de caracteres, e armazena em seu banco de dados digital [...].

Quando é introduzida uma palavra-chave no sistema de busca, até três resultados do índice do Google Books são

disponibilizados sobre os resultados da pesquisa no serviço Google Web Search (google.com). Clicando em um

resultado, o Google Books abre uma interface na qual o usuário pode visualizar páginas do livro bem como

conteúdos relacionados à anúncios e ligações para o website da editora e do livreiro. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Google_Books>.

Page 54: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

52

Da mesma forma que a investigação retrocedeu à invenção do livro eletrônico para

apontar a autoria de Michael Hart, Procópio (2010, p. 23) autenticou a paternidade da

máquina para leitura a Vannevar Bush.

De acordo com o periódico “The Atlantic Monthly”, no artigo “As We May Think”, em

1945, Vannevar Bush divulgou o primeiro protótipo do que seria uma máquina de leitura.

Trata-se de algo semelhante a um “e-reader” ou o atual aplicativo para processar os

textos para leitura. O apelido dado por Bush à engenhoca, sua invenção, foi “Memex”

(MEMory EXtesion) referindo à memória extensível ou memória que poderia se expandir.

Ilustração 8 – Memex. Fonte: Gravura derivada de animação de Paul Kahn e associados.

http://www.dynamicdiagrams.com/

Simonassi (2010, p. 16) elucidou que em 1996 a meta do Projeto Gutenberg era a de

atingir um milhão de livros digitalizados. Neste mesmo ano, segundo Procópio (2010, p. 17),

foi criada a biblioteca virtual de estudantes brasileiros da USP (Universidade de São Paulo).

Apenas um ano antes destes dois acontecimentos, segundo Simonassi (2010, p. 22), a

“Amazon.com iniciou [...] sua base de vendas a varejo „online‟, alternativa e acréscimo para

aquisição de livros eletrônicos.

Farejando as pegadas históricas do livro eletrônico, Procópio (2010, p. 17) apontou

que em 1999 veio ao ar a primeira base de domínio público de livros eletrônicos, o site da

“eBooksBrasil.org”.

Os acontecimentos em relação à evolução histórica do livro eletrônico se sucedem. Em

mais um ano Simonassi (2010, p. 23) notou que Sthefen King lançou o pioneiro livro para

Page 55: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

53

produção eletrônica, intitulado Riding The Bullet. Já Benício (2003, p. 47) aponta que o

“boom” dos livros eletrônicos aconteceu a partir do ano 2000.

Procópio (2010, p. 10) reforça a declaração anterior, mencionando que em 2001, o site

do EbookCult entrou no ar. A EbookCult é uma biblioteca virtual com objetivo de

contribuir com o fortalecimento da educação, além de cooperação cultural com os brasileiros.

Entre outras missões que o projeto cumpre, uma delas é disponibilizar livros eletrônicos com

acesso e download gratuito para o domínio público.

Ilustração 9 – Site EbookCult. Fonte: Ebookcult (2003)

Simonassi (2010, p. 24) constata que a partir de 2006, equipamentos leitores como os

“readers” invadiram o mercado. Segundo a autora foi quando a Apple16

lançou em 2010 o

iPad. A autora averiguou que tanto o Kindle como o iPad estão na moda e são instrumentos

16 Empresa transnacional norteamericana que atua no ramo de aparelhos eletrônicos e informática, famosa

principalmente pela fabricação do computador de marca registrada, Macintosh, com seu próprio sistema

operacional, Mac OS, entre outros produtos.

Page 56: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

54

que revolucionam o mercado. No seu ponto de vista é preciso que se documente

historicamente tudo que é relacionado ao livro eletrônico. Porém ainda sua impressão apontou

que a verdadeira revolução acontece entre os seres humanos e nas relações entre eles, apesar

dos livros.

Ilustração 10 – iPad da Apple. Fonte: Apple (2011)

Os Rockets e-books são destaques na trajetória dos fatos históricos do livro eletrônico.

No exame realizado por Procópio (2010, p. 83) constam rockets e e-books como integrantes

da primeira geração de livro eletrônicos. Segundo o autor, foi com este aparelho que a

Amazon.com aprendeu a vender o modelo Kindle. Procópio (2010, p. 79) apresenta sua

opinião:

[...] o modelo “trazia em sua versão estante virtual um modelo [bookshelf]

uma versão do clássico a Alice no País das Maravilhas [...] que foi traduzido

em mais de 30 línguas incluindo chinês, árabe [...] versão em braile. Na

opinião do pesquisador julga que esta a razão dos idealizadores da “Rocket

book “ter escolhido este livro para inaugurar a edição do “device” virtual.

Page 57: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

55

Ilustração 11 - Rocket e-book. Fonte: EbooksBrasil (2003)

Em relação à dimensão dos pioneiros, os Rocket e-book, o mesmo autor registrou que

sua primeira versão tinha 19 cm x 12 cm de dimensão e pesava 650 gramas. A capacidade de

armazenamento era de 4.000 páginas (contendo textos e imagens), o equivalente a 12

romances guardados na memória.

Procópio (2010, p. 84) destaca que o modelo Rocket e-book tem recurso para conexão

livre com as livrarias e bibliotecas virtuais. A opção de acesso deste tipo de equipamento já

permitia aquisição de obras gratuitas e ou opção que possibilitava organização de um

acervo, biblioteca particular com o software Rocket Librarian.

Segundo Procópio (2010, p. 84), o equipamento pioneiro já contava com leitor para

publicar documentos pessoais, tela de acesso à internet, software Rocket Writer, marcadores

de páginas, busca rápida das marcações desejadas, luminosidade ajustável com recurso

backlight (que permite ajuste de intensidade para leitura em qualquer ambiente). Os pioneiros

alimentavam-se de bateria e a carga suportava um período de 20 a 40 horas.

O mesmo autor disse que na história dos livros eletrônicos, os modelos dos

equipamentos pioneiros continham um sistema de busca de palavras nos textos, alteração de

fonte para facilitar a leitura, ferramenta para sublinhar trechos, memória expansível para até

32MB e compatibilidade para integrar-se na linguagem dos PCs (personal computers ou

computadores particulares). Suas bases eram giratórias, com acessórios como dicionário e

ferramenta de anotação na margem do livro.

Na pesquisa de Procópio (2010, p. 81) é indicado que os livros digitais atualmente

alcançaram outra linhagem:

[...] capacidade para armazenamento de milhares de páginas de texto

gráficos; tela de (LCD ou não), sensível ao toque touch screen; luminosidade

Page 58: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

56

ajustável: um backlight com ajuste a intensidade da luz no LCD do aparelho;

baterias duradouras; base giratória (orientação); peso mínimo de 300 gramas,

para permitir portabilidade; possibilidade de expansão de memória.

Segundo o autor (2010, p. 98-9), atualmente há mais de 50 tipos de equipamentos

disponíveis no mercado de hoje para leitura de livros eletrônicos:

[...] fica muito difícil imaginar que aparelhos ultramodernos, que combinam

com as facilidades de pagers, laptops, telefones celulares, smartphones [...]

realmente não tomem conta até do mundo dos livros eletrônico, mas ainda

se acredita que o livro eletrônico seria uma prancheta eletrônica feita para ler

livros como Kindle ou iPad.

O propósito desse tópico foi o traçado histórico do livro eletrônico. Muitos dados

fugiram do alcance da pesquisa pela proximidade com os acontecimentos que estão no nosso

convívio. E para ampliar a intimidade com o universo do livro eletrônico, no próximo tópico

tenta-se elaborar um debate sobre as questões que gravitam em torno do objeto.

3. Livro eletrônico: conceitos e definições

Philip Barker (1991, p. 269) caracterizou o livro eletrônico como “uma coleção de páginas

de informação dinâmicas, interativas que executam a metáfora do livro”. Em sua pesquisa

feita em Londres - Exploring Hypermedia – Barker, o autor frisa que “os livros eletrônicos

são sistemas de entrega de informação [...] capazes de prover seus usuários com acesso a

páginas de informação eletrônica com que podem interagir”. (BAKER, 1993 apud SILVA,

2000, p. 2)

Parente (1999, p. 78) insere-se no debate das definições complementando que “[...] a

tábua, o rolo, o códice [...] durou séculos, e agora as telas. A passagem do códex à tela é vista

por muitos como o fim do livro. [...] a tela é apenas um novo suporte para os textos, assim

como [...] os códices [...] distribuído pelas redes eletrônicas são textos”.

Ribeiro (apud Silva 2000, p. 3) define os livros digitais como:

[...] produtos híbridos que combinam as capacidades de visualização de

textos com versatilidade dos computadores, entre as quais, ecrãs sensíveis ao

toque, portabilidade, capacidade de alteração do tipo e tamanho da fonte,

assim como a inclusão de dicionários gramaticais e/ou técnicos.

Velasco (2010) compartilha o pensamento de Manuel Castell (2003) destacando que

estão associados ao livro eletrônico elementos como artigos eletrônicos (“e-papers”), tinta

Page 59: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

57

eletrônica (“eletronic-ink”), os aplicativos de leitura na tela, resolução dada pelos “e-readers”

ou equipamentos (“devices”). Um dos diferenciais deste equipamento é a eliminação de

espaço para estocagem. (CASTELLS, 2003, apud VELASCO, 2010, p.2)

Frossard (2004, p. 8-9) acusa a internet de fornecer potencialidade ao hipertexto, à

medida que possibilita e multiplica o acesso instantâneo à informação. Reitera, ainda, que a

internet formou um novo canal de acesso para a comunidade científica. Para a autora, o livro

digital subverteu a linearidade que era regida nos textos impressos convencionais.

Roger Chartier (1994, p. 105), para chegar ao livro eletrônico, buscou a ficção de

Jorge Luiz Borges resgatando a seguinte passagem: “Quando se proclamou que a biblioteca

continha todos os livros a primeira reação foi de extravagante felicidade”.

Nesta concepção percebe-se que o hipertexto quebra o encanto idealizado

oniricamente por Borges em “A Biblioteca de Babel” (1974) e concretiza um espaço para

ubiquidade. Borges imaginou uma biblioteca universal, sem paredes, cosmicamente ilimitada,

com os tesouros literários e científicos da humanidade nela contidos. Fica claro, para o tema

debatido que o livro eletrônico (e o hipertexto), por sua vez, descortinou a imagem sonhada

por Borges. Chartier (1994, p. 105) identificou como real a inspiração daquilo que Borges

conceituou. Disse o autor que “Esta felicidade extravagante é prometida a nós pelas

bibliotecas sem parede, e mesmo sem endereço que serão aquelas no nosso futuro”.

Redefinindo o conceito das bibliotecas atuais, Benício (2003, p. 15-16) disse que as

bibliotecas atuais foram submetidas à digitalização. Além de estarem à disposição dos

usuários, as bibliotecas atuais são híbridas, ou seja, compostas de livros impressos e

eletrônicos para acesso presencial e/ou à distância.

Também recorrendo à ficção de Borges, acrescentou que as bibliotecas eletrônicas

atuais são sem parede, dispensaram endereço físico, localização geográfica ou temporalidade.

Para a autora (2003, p. 16) as bibliotecas de hoje armazenam, disseminam informações,

disponibilizam serviços aos usuários todos resguardados pela praticidade do livro eletrônico e,

por extensão, das tecnologias da informação e da comunicação no século XXI. Os leitores

podem acessá-los instantaneamente, criando o seu próprio percurso.

Paulino (2009, p. 4) definiu livro eletrônico como “um conjunto específico de dados,

informações ou conhecimentos”. Já o Dicionário Aurélio diz tratar-se de “versão de um livro

publicada em mídia digital, como, por exemplo, CDROM”.

Para Paulino (2009, p. 4), ele é um objeto que apresenta suporte eletrônico que o

computador virtualiza. Seu surgimento do livro eletrônico é uma característica finissecular.

Para a autora (2009, p. 7) ele não é um continuador da versão tradicional. Na concepção da

Page 60: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

58

autora há nítidas marcas de ruptura total aos antigos padrões de leitura, mas não há consenso

para que se concretize “a quebra dos antigos padrões materiais”.

Velasco (2010, p. 7-10) destaca que o livro eletrônico possui todas as características

de uma obra impressa, diferenciando a condição de disponibilizar-se digitalmente. Para ela, a

leitura dos livros eletrônicos pode ser feita diretamente em um micro de mesa, notebooks,

Personal Digital Assistant (PDAS), Palmtops, Handhelds (computadores de bolso), Ipods e

ou mesmos celulares que suportem estes recursos. A autora destaca que o armazenamento de

dados fica por conta dos e-reader, pen-drives, CD, DVD. A autora ainda definiu que na

web, os livros eletrônicos são “convertidos em formatos como Hyper Text Markup Language

(HTML), Extensible Markup Language (XML) Word (TXT) e em Portable Document

Format (PDF).”

Procópio (2010, p. 149-153) conceitua o livro eletrônico como uma nova máquina de

ler que não vai deixar de exercer o seu papel só pelo motivo de estar trocando de suporte. Para

ele a questão é que “o uso da tecnologia inventada pelo homem [...] é democratizar a leitura, o

alcance da mesma a todos os que querem ler independente da versão.” Segundo o autor (2010,

p. 152), ao adquirir “um device para leitura de e-book não se adquire apenas uma caixinha de

plástico com uma telinha para visualizar textos. Adquire-se todos os romances, poesias,

contos, gibis que se possa ler”.

O autor toca na possibilidade da democratização da informação, já que o debate sobre

o livro eletrônico se acopla à grande rede de informação. Segundo o autor, o que constrói um

livro não é o fato de ser um conjunto de páginas de papel unido entre si, mas a possibilidade

de o livro continuar existindo: “A página em si não desaparece por estar na internet e ou

digitalizada”. Para Procópio (2010, p. 153) não há confronto entre as formas impressa e

eletrônica do livro. A condição polêmica entre as versões é creditada à mídia pelo fato de esta

“maldizer, amedrontar a indústria cultural e vender mais jornais”. Para o autor, e-book ou

livro eletrônico “não é apenas mais um suporte de leitura, é uma interface que faz toda a

diferença porque colocou-nos diante de uma nova máquina de ler”.

O próximo passo do estudo focaliza os confrontos entre uma versão e outra. Uma

condição polêmica que leva especialista do livro impresso a afirmar que o livro eletrônico é

uma questão de modismo. Por outro lado há os que temem que a versão impressa esteja com

os dias contados.

Page 61: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

59

4. Livro eletrônico: questões

X

Ilustração 12 – Mudança de costumes – leitura do jornal para o e-book. Fonte: Disponível em:

<http://serenaflor1964.blogspot.com/2009_10_01_archive.html>

A mudança sempre foi algo que desencadeou polêmicas. Os especialistas da mídia

impressa defendem o livro físico. Em controvérsia, os adeptos da versão digital apostam no

espaço de tempo para que se substitua o papel. Neste interstício agitam-se os analistas para

verificarem as tendências entre o antigo e o novo, o livro impresso e o eletrônico, as

bibliotecas físicas e as digitais e, ainda, a cadeia produtiva do livro.

Análogo o genial cientista Isaac Newton (1643), que dentre as suas inúmeras

realizações, escreveu obras que contribuíram significativamente para a matemática, física,

química, alquimia. Quando a raça humana intrigava-se para descobrir a razão do constante

movimento das marés, o cientista explicou que este fenômeno deve-se à lei da gravidade. Ele

relacionou o movimento das marés com a posição do sol e da lua e as forças de gravitação

naturais correspondentes. Naturalmente assim também caminha a humanidade, as suas

evoluções, mudanças, diferenciais, descobertas e pesquisas. A contribuição trazida pelo livro

eletrônico configurou-se neste norte estratégico, convalidada a inerente inquietude do

pensamento humano.

Para Hayles (2009, p. 21) o livro eletrônico traz à cena a literatura eletrônica, isto

após 500 anos de literatura impressa “e obviamente ultrapassa largamente deste referencial

de tempo a manifestação através da narrativa manuscrita e oral”.

No embate das discussões sobre uma versão e outra há opiniões bastante

emblemáticas. Silva (2009), em entrevista para a Rede Cultura e Informação do Pará,

assegurou que o livro eletrônico vai durar enquanto haja leitores para prestigiá-lo. Por outro

lado, é irreversível para as gerações dos filhos, dos seus netos e bisnetos. Referindo-se à

caracterização do livro digital, o pesquisador ponderou:

Page 62: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

60

[...] na década de 1980 surgem os devices, que são dispositivos do tipo soft

book e do rocket ebook [...]. O Kindle é hoje o device mais recente, lançado

pela Amazon.com. [...] duas versões, [...] uma tem a capacidade de

armazenar 300 mil páginas, ou 300 mil livros, e a outra que tem capacidade

para 150 mil livros. É uma capacidade absurda de armazenamento, com

conexão sem fio, podendo a internet ser acessada a partir dele próprio,

através de uma conexão direta, no caso do Kindle com a própria

Amazon.com, [...] baixar os livros das livrarias digitais [...] o usuário pode

acessar. Principalmente por essa característica, é que chamo isso de

biblioteca digital portátil.

Na mesma entrevista Luiz Otávio de Maciel Silva (2009) como chefe da Seção de

Bibliotecas Setoriais da Universidade Federal do Pará, quando indagado sobre os livros

eletrônicos caracterizou:

[...] uma biblioteca portátil e não livro eletrônico, porque, na realidade, é

assim que se caracteriza. É possível armazenar uma quantidade enorme de

documentos, fazer busca, como se faz em uma biblioteca tradicional, marcar

e fazer notas, ter o formato widescreen ou full screen, aumentar o tamanho

da letra, o que é importante para quem tem qualquer deficiência visual. Além

de tudo isso, é possível levar o dispositivo para onde quiser e mais ainda, o

que é bem diferente do livro em papel, ler no escuro, porque ele tem

luminosidade, não havendo problema se o ambiente estiver sem luz [...].

O pesquisador observou que em caso de extravio de um objeto como o device Kindle

e-book, os dados que se perdem não correspondem a um exemplar de livro, mas a uma

biblioteca inteira, cuja capacidade vai de 1.500 a 3.000 livros, dependendo da capacidade do

dispositivo. Na opinião do especialista, isto exige cautela do usuário.

Na entrevista exprimiu também preocupações com os brasileiros para aquisição dos

equipamentos, ou seja, a média salarial baixa é um dos motivos que possam interferir. Outro

obstáculo pode partir do sistema de telecomunicação, cuja infra-estrutura e serviço de

atendimento são precários. Os preços de equipamentos necessários na época da entrevista

variava entre U$ 299 a U$ 800 dólares.

Outro impasse apontado por ele foi a solidificação do sistema de conexão pelo qual

somos atendidos: as TICs (Tecnologia de Informação e Comunicação). O sistema tem

trafegabilidade lenta. Para se baixar um arquivo ou fazer um download, o procedimento

poderá ser vagaroso. A real qualidade da velocidade brasileira propagada é em megabytes.

No Japão a velocidade da conexão é medida em terabytes, o que tecnicamente se define como

cinco vezes mais rápida.

Para o entrevistado, ainda, a falta do hábito da leitura é uma expressão nacional.

Relatou que existiam 17 milhões de leitores brasileiros que leem um livro por ano. O

Page 63: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

61

pesquisador afirmou estarmos muito abaixo do cidadão norteamericano (5) e francês (7) em

média. Averiguou que no ambiente virtual nada é definitivo, pois se migra entre novas

mídias.

Regina Zilbermann, em Fim do Livro, Fim dos leitores?, apresenta 60 pontos de vista

diferentes sobre o futuro do formato livro.

Velasco (2010, p. 10), em Na galáxia da internet “e-book” e “e-reader” se tornam

reais, observou que “há os que apostam no livro eletrônico como uma solução ecológica

por ser menos prejudiciais ao meio ambiente”. Por meio de dados levantados com fonte no

link do meio ambiente da Eurosur (The European Union / Mercosur Documetary), notou que

o tradicional veículo de comunicação The New York Times consome, só para a edição

dominical, a média 15 a 20 hectares de floresta. O consumo semanal aumenta para a média

de 57 a 60 hectares de florestas, atingindo 240 hectares por mês. De outro lado, as mídias

eletrônicas, com bateria e metais pesados, podem estar avançando o sinal, no consumo de

energia provinda das usinas hidroelétricas que, por sua vez, não deixam de ter alto consumo

de energia, descabido para o meio ambiente.

Instabilidade, turbulências e controvérsias em torno do ajustes entre uma versão e

outra trouxeram preocupações para os vários segmentos da cadeia produtiva do livro. A

Saraiva, uma das mais tradicionais livrarias brasileiras, saiu em busca de dados que pudessem

norteá-la. Neste sentido a Livraria Saraiva entrevistou o historiador social Robert Darnton,

uma referência nos estudos do livro17

.

Na entrevista o jornalista Bruno Dorigalti buscava saber sobre a morte do livro

impresso e as turbulências sentidas pela indústria cultural, particularmente a do livro.

Darnton contando sobre o seu ingresso na Biblioteca da Universidade de Harvard.

Sobre isto, Darnton disse:

[...] um dia ao receber uma ligação telefônica da Universidade de Harvard

propondo-lhe a direção da Biblioteca da Universidade de Harvard,

introspectivamente, sentiu ser aquele um momento para oportunizá-lo, a

fazer a diferença, agir no sentido de fazer alguma coisa, ao invés de somente

redigir livros relatando as coisas com do seu costume.

Darnton disse ter refletido no momento que recebeu a ligação, tendo em mente que a

Biblioteca de Harvard é a maior biblioteca universitária do mundo, constituída de um acervo

17 A entrevista de Robert Darnton ao jornalista Bruno Dorigalti pode ser encontrada no blogue de

eventos da Livraria Saraiva. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=2ofoocg64PI>

Page 64: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

62

14 milhões de volumes e formada desde 1638. Disse ao jornalista que sua reflexão foi muito

além da vaidade. A questão foi a responsabilidade de aceitar o convite para dirigi-la com o

intuito de fazer a diferença, de cuidar de um tesouro de informações, abdicando de sua rotina

de prestar serviços às bibliotecas como escritor.

Darnton relatou ao jornalista Dorigalti que uma das alternativas encontradas para a

administração da Biblioteca de Harvard foi organizar a prestação de serviços em torno da

informação da sociedade e do futuro. Esta foi uma das prioridades, alvo de suas ambições

para dirigir a Biblioteca da Universidade de Harvard.

O historiador chamou o foco da entrevista para si, desviando dos livros, alvo do

jornalista. A estratégia não fugir da questão, mas para revelar suas intenções com relação à

biblioteca e, consequentemente, com o livro. A partir do momento em que Darnton fez

transparecer suas intenções de desempenhar o papel de diplomata do saber ou um embaixador

dos livros, começa a revelar dados sobre o livro e assim corresponder às expectativas da tão

esperada resposta à questão que gira em torno da ameaça do livro.

Sobre a morte do livro impresso disse Darnton que não só os impressos, mas os livros

permanecem cada dia mais vivos. Foi enfático ao destacar que a preservação dos textos

digitais é um dos aspectos que mais o amedronta. Frisou que “o desconforto e a insegurança

não ficam restritos a ele e sim alcança todos os diretores de bibliotecas digitais”.

Outra preocupação de Darnton é quanto à preservação e os riscos de perda de títulos

no formato eletrônico. Observou, também, que a produção dos textos digitais obedece às

combinações binárias 1 e 0 e, por este motivo, os números se embaralham e, por enquanto,

têm durabilidade finita.

Sobre o texto digitalizado, o entrevistado disse ao jornalista que o foco de suas

preocupações com a versão eletrônica ficou atrelado à obsolescência dos mesmos, ou seja,

hardwares, softwares e outros tornam-se obsoletos e se desgastam rapidamente. Por outro

lado Darnton, ao referir-se aos livros impressos, foi categórico ao declarar a durabilidade dos

mesmos. Segundo o especialista eles perduram anos após anos e tem crescimento anual. Sobre

a tiragem dos livros impressos, Darnton estimou um milhão de novos títulos a cada ano. Para

ele, a ideia associada à morte do livro impresso é uma condição absurda. Por outro lado

ponderou que não se pode dispensar a atenção ao fato de que os livros eletrônicos representam

a tendência do futuro.

Em condição conciliatória, Darnton destacou que na história da comunicação uma

mídia não desestabiliza a outra. Ressaltou o entrevistado a co-habitação das mesmas e que em

sua opinião resultam em mútuo benefício entre ambas.

Page 65: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

63

Darnton pôs-se como um embaixador do conhecimento que luta para encontrar

respostas e vencer os obstáculos que desafiam a estruturação do acervo digital e

democratização do conhecimento.

Essa análise buscou respaldo para amarrar a ponta do convívio das mídias com a parte

que assegura as perspectivas de estabilidade do lado eletrônico. O estudo de David Bell - The

Bookless: what the internet is doing to Scholarship, mostrou que reflexos podem respingar

nos padrões científicos como o que se segue abaixo:

[...] os desafios para se superar principalmente no campo de comunicação

científica, que o material impresso monopoliza. Emergem novos formatos de

disseminação da ciência que podem coexistir com variedades mais antigas

dentro da academia. (BELL, 2005, p. 5)

O olhar de Marcelo Spalding (2010, p. 5) voltado à indústria fonográfica ou

cinematográfica mostra preocupações de segmentos relacionados à indústria cultural.

Segundo o autor passam por reestruturação conforme o declarado:

[...] diante das novas tecnologias de produção e comercialização: os CDs,

por exemplo, sucessores dos elepês e dos cassetes, perderam espaço para os

MP3s, arquivos facilmente compartilhados pela internet e que têm obrigado

às gravadoras e aos músicos mudarem suas estratégias de comercialização.

[...] a internet [...] sem dúvidas a maior responsável pela mudança de hábitos

culturais, e como o acesso à rede cresce constantemente, tal preocupação

tende a aumentar a cada ano.

Spalding (2010) observou a re-estruturação de dois segmentos da Indústria Cultural,

Sérgio de Sá, em A reinvenção do escritor: literatura e “massmedia” aponta o realinhamento

dos produtores - que são os escritores, uma das partes essenciais para a operacionalidade da

indústria.

Na esteira das preocupações com o tema, a Câmara Brasileira do Livro (CBL)

anunciou a segunda edição do Congresso Brasileiro de Livros Digitais, que deve acontecer em

outubro de 2011, em Porto Alegre (RS). No sítio da CBL está, também, disponibilizada a

programação do Primeiro Congresso Internacional de Livro Digital, organizado também pela

Câmara Brasileira do Livro.

A mobilização desses eventos envolvendo os segmentos corporativos da cadeia

produtiva do livro demonstra preocupação das partes em dialogar, conhecer os horizontes e as

tendências do objeto em questão: o livro eletrônico.

Page 66: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

64

Retomando o estudo de Spalding (2010, p. 5) observou-se que grupos de estudos com

reconhecimento acadêmico estão congregando e compartilhando “online”, pesquisas sobre

literatura, tecnologia e digitalização. Entre os que compartilham Spalding (2010, p. 5)

apontou o Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística (NUPILL), da

Universidade Federal de Santa Catarina, o Núcleo de Pesquisa em Literatura Digitalizada, da

Universidade Federal do Piauí, o Centro de Estudos sobre Texto Informático e Ciberliteratura

(CETIC), da Universidade Fernando Pessoa e outros. O crescimento dos estudos, segundo

Spalding (2010, p. 5), encontrou justificativas no acompanhamento das tendências,

preparação para o futuro e atendimento da demanda de usuários.

Para Spalding (2010, p. 5) o efeito dos textos digitais trouxe ao leitor e à literatura

novos gêneros literários surgidos com exclusividade para o webleitor na internet.

A propósito dessa afirmação em contato com Marcelo Spalding18

averiguou-se que o

pesquisador devotou-se ao estudo de novos gêneros literários, tendo como uns dos resultados

de suas análises a inovação representada pelo “miniconto”, um novo gênero literário com as

seguintes características:

O miniconto, sob este ponto de vista, poderia ser visto como uma narrativa

extremamente curta que através de poucas palavras tenta provocar algum

efeito no leitor, tirando-o do lugar comum, explorando a diferença, o não-

dito, o poético. (SPALDING, 2010, p. 38)

Retomando o foco aberto para analisar a questão do livro, este estudo tentou

evidenciar o debate que gira em torno do livro, expresso em dados como: lançamento de

novos gêneros para a literatura; estímulo a grupos de estudos empíricos a congregarem e

compartilharem seus experimentos eletronicamente ou online; a preocupação demonstrada

pela cadeia produtiva do livro, que se mantêm integrada, organizando eventos;

reposicionamento dos escritores, da indústria fonográfica e cinematográfica. Some-se a isto o

fato de se ter verificado o olhar voltado para o espaço de co-habitação de ambas as versões. O

segmento corporativo da cadeia do livro busca respostas com o especialista em livros Robert

Darnton para evidenciar a dúvida que ameaça o futuro do livro impresso.

Segundo Ferrari (2010, p. 297) a expressão “questão dos livros” justifica-se pelo fato

de que o pesquisador Robert Darnton tenha identificado o século XXI como um momento

atual e apropriado para a abertura de ângulos que esclareçam as dúvidas sobre o futuro do

18 Contato via correio eletrônico no dia 23/12/10

Page 67: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

65

livro impresso, desde o seu surgimento, cristalizado pelo modelo códice, até ao momento

atual do livro eletrônico e suas perspectivas para o futuro.

Ferrari (2010, p. 297) aponta que, para Darnton, o desenvolvimento preconizado pela

tecnologia da informação e a internet tenham atingido em cheio os livros e os seus

respectivos usuários (leitores) provocando neles mudanças significativas. O efeito destas

modificações foram interpretadas pelo historiador como um xeque-mate na continuidade de

vida do livro impresso convencional.

Ferrari (2010, p. 297) observou na avaliação feita por Darnton que qualquer tipo de

informação, inclusive livros e obras inteiras são publicadas na íntegra em formato digitalizado

na internet com disponibilidade irrestrita de uso. O historiador julgou indispensável a

avaliação e checagem tanto do futuro do livro como dos elementos que provocaram a

mobilidade desta situação.

Enfocando a trajetória do futuro do livro, Darnton afirma que as iniciativas

disponibilizadas pela Google Book Search trouxeram acesso à informação para qualquer

pessoa. Aparentemente louvável a iniciativa do Google Book de digitalizar o acervo das

maiores bibliotecas do mundo, com o agravante do perigo de controle monopolizado de

informação por essa uma única empresa, conforme Ferrari (2010, p. 298).

Ferrari (2010, p. 298) relatou na questão dos livros que a versão eletrônica levou o

Google Book ao banco dos réus. Tudo por conta de um projeto audacioso de digitalização de

livros que o Google Book realizou. Segundo o mesmo autor a gigante “esbarrou” e ou foi

interpelada pelos direitos autorais dos escritores, assegurados pelo copyright .

Por outro lado, ainda referindo-se ao Google, Ferrari (2010, p. 298) incluiu como uma

questão o assédio feito pelo Google ao conteúdo das grandes bibliotecas públicas do mundo.

Robert Darnton vê isto como problema para o livro porque os funcionários do Google, para

catalogarem matéria prima digitalizada, dirigem-se às bibliotecas de domínio público, passam

por um usuário comum, extraem os dados gratuitamente. Posteriormente, convertem-nos em

dados eletrônicos e os comercializam, inclusive para as próprias bibliotecas-fontes.

Por esta questão, Ferrari (2010, p. 298) diz que o parecer de Darnton mostra-se

favorável à democratização e à liberdade de acesso ao público “às informações e obras

historicamente acumuladas pelas bibliotecas excluindo objetivos comerciais e financeiros”.

A obsolescência dos suportes virtuais por muito tempo no ar também representa um

obstáculo que interfere, segundo Ferrari (2010, p. 299), na estabilidade da versão digital.

A análise de Darnton, segundo Ferrari (2010, p. 299), referindo ao momento atual,

destacou que o diferencial do presente é a vasta quantidade de informações que os livros

Page 68: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

66

eletrônicos disponibilizam para seus usuários, além das interfaces e hiperlinks predispostos

ao alcance dos mesmos.

A dúvida levantada na avaliação de Robert Darnton encontrou resposta positiva diante

do futuro e dos novos suportes. A alternativa por ele escolhida foi de conciliar os lados e

certificar sobre a coexistência das versões, suas respectivas complementações conforme

constata na citação abaixo:

No momento em que o debate a respeito do possível desaparecimento do

livro em papel encontra-se acalorado e divido entre entusiastas e pessimistas,

A questão dos livros mostra uma saída conciliatória para a questão:

digitalizar é preciso, desde que se incentive e se pratique a preservação dos

suportes impressos, pois para Darnton, “a moral da história serve de

corretivo para o folclore jornalístico: não existe nada mais morto que o

jornal de ontem, exceto o jornal de ontem destruído. (DARTON, 2010, p.

145 apud FERRARI, 2010, p. 301)

A análise de Ferrari (2010), contendo dados levantados sobre a questão do livro por

Darnton, excluiu a dúvida sobre a questão dos livros, confirma a solução para o problema

levantado e exclui a hipótese desta investigação, ou seja, os extremos das versões são atados

pela co-habitação das mídias, além de atrelar outra ponta do livro eletrônico e as tendências

futuras com relação ao mesmo, objeto de verificação no próximo tópico.

5. Livro eletrônico: mudanças e consequências

Verificam-se os sinais de mudança no cenário, provocados pelo livro eletrônico, por

meio dos indícios das empresas, que se instalaram no mercado em busca de oportunidades e

de negócios. É o caso apontado por Benício (2003, p. 48) que disse ser “no ano 2000 que

começaram a surgir as principais editoras virtuais (e-editoras) da rede brasileira, interessadas

no crescente mercado de livros digitais”.

Verificou-se que os recursos das empresas eram modestos, o que as levou a iniciar

suas atividades com escritores clássicos, cujos direitos autorais já haviam expirado e, em um

segundo momento, iniciar com autores contemporâneos.

A chegada da Submarino neste cenário de mudanças que o livro eletrônico trouxe

causa impacto fenomenal, segundo Benício (2003, p. 47). Ou seja, foram vendidas quatro mil

cópias do livro “Miséria e grandeza do amor de Benedita”, de João Ubaldo Ribeiro.

Page 69: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

67

Os dados averiguados por Benício (2003, p. 47) elucidaram que “o portal „Terra‟

também no ano 2000, apoiou Mário Prata para escrever e publicar com eles os capítulos em

série do livro „Anjos de Badaró‟”.

A Folha Online em 10/12/2002 publicou um artigo divulgando que a Literatura

Brasileira, iniciava um projeto na Internet:

[...] Três dáblios vêm se achegar esta manhã às demais letras brasileiras. São

os www's do Portal Literal, ambicioso projeto de internet voltado

exclusivamente à literatura nacional. Ancorado por sites oficiais de cinco

autores do primeiro time, http://www.literal.com.br/ entra no ar à 0h de hoje.

Lygia Fagundes Telles, Ferreira Gullar, Rubem Fonseca, Luis Fernando

Verissimo e Zuenir Ventura, os anfitriões do Portal Literal, não ficam

sozinhos no espaço virtual. “Os cinco são as âncoras, mas teremos a revista

como pivô de todo o portal”, diz Luiz Fernando Vianna, que divide a direção

do Literal com Luiz Noronha. [...] Inéditos e esparsos são tônica também nas

cinco páginas dos escritores-âncora. A página de Lygia estréia com cartas

que ela recebeu de Carlos Drummond de Andrade. A de Fonseca traz um

arrazoado sobre pipocas. E assim por diante [...]. (MACHADO, 2002)

As alterações que o livro eletrônico implementou no mercado chamou atenção da

agência Reuters de Nova York , que postou para a Folha Online , um artigo divulgado no dia

19 de maio de 2011 comunicando que a Amazon.com, a maior varejista de venda de livros

pela internet, anunciou que as vendas dos livros eletrônicos ultrapassaram a vendas dos

impressos pela primeira vez. O artigo comunicou que o modelo Kindle acelerou o acréscimo

das vendas pelas condições acessíveis comparadas a outras.

Bortoloti (2010) postou matéria no dia 31 de agosto de 2010 sobre a última edição

impressa do Jornal do Brasil (J.B.), concomitantemente com as manchetes internacionais que

apresentaram sinais de mudança no mercado editorial. A alteração, em relação a este veículo,

foi tão radical que amanheceu o mês de setembro circulando online, para sobrevida como o

grupo do Jornal do Brasil.

As alterações estabelecidas pelo livro eletrônico ocorrem rapidamente. Retrocedendo

à quinzena anterior àquela data, antes do Jornal do Brasil fechar as portas para a versão

impressa, na 21ª Bienal Internacional do livro de São Paulo - o terceiro mais importante

evento do livro no planeta - a Editora Giz lançou a edição: “O Livro na Era Digital: o

mercado editorial e as mídias digitais, de Ednei Procópio, especialista em livros digitais e

membro da Comissão de Livro Digital da Câmara Brasileira do Livro.

A Bienal Internacional de São Paulo é o terceiro maior evento sobre livros do mundo.

Só perde para a de Frankfurt (que é a primeira) e a de Turim na Itália.

Page 70: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

68

A revista IstoÉ Dinheiro, em parceria com o Portal Terra, divulgou em 18 de agosto

de 2010, a reportagem de Rodrigo Caetano intitulada “O livro eletrônico invade a Bienal de

São Paulo” mostrando que editoras, livrarias e até gráficas brasileiras se preparam para

enfrentar a nova realidade que o mercado digital está trazendo com os livros eletrônicos.

O interesse dos profissionais pertencentes à cadeia produtiva do livro se expressa na

renovação, na projeção e na afinidade com as novas tendências que o processo do livro digital

desencadeou. O artigo destaca que o livro eletrônico começou a mostrar forças como centro

de atenções, disputando espaço com obras no formato convencional.

Segundo Caetano (2010) os sintomas se manifestaram desde o Natal de 2009. A

“Amazon com”, uma das maiores lojas virtuais do mundo, idealizadora do leitor de livros

digitais, o Kindle, vendeu mais livros eletrônicos do que impressos pela primeira vez na

história nas suas bases de vendas online.

Evidenciou também Caetano (2010) que os escritores brasileiros considerados

campeões de venda aderiram e disponibilizaram suas obras no formato eletrônico. Observou,

também, que a Amazon, que dispõe de um acervo de 400 mil livros em inglês, estima que 5

mil e-books seriam publicados em português até no final de 2010. A matéria mostrou que no

prisma nacional as editoras firmam alianças com o intuito de se aperfeiçoarem na distribuição

de livros digitais.

Caetano (2010) registrou que se estima um de faturarmento em 2011 de 12 milhões de

reais, ou seja, a venda planejada de, aproximadamente, 300 livros eletrônicos (e-books) por

mês.

A cadeia editorial com as novas tendências tem assistido à emancipação e quebra de

obstáculos, mobilizada pelos escritores, editores e leitores, como demonstrativo de mudança.

A atmosfera atual da digitalização possibilitou que alguns escritores encontrassem

oportunidade de se tornarem independentes e se auto-editarem, libertando-se das imposições

das grandes editoras por conta do livro eletrônico e da internet.

A exemplo disto o The Wall Street Journal (2010), em matéria publicada sobre livro

eletrônico, revelou que o objeto é responsável por mudanças na indústria cultural. A

publicação revelou que a escritora Karen McQuestion passou quase dez anos tentando

convencer algum editor nova-iorquino a publicar seus livros. McQuestion, de 49 anos e mãe

de três filhos, encorajou-se e decidiu realizar a sua publicação sem qualquer auxílio,

recorrendo apenas à internet. Em menos de um ano a escritora já havia vendido 36.000 livros

eletrônicos para o Kindle (dispositivo da Amazon.com Inc. para livros eletrônicos). Como

aspecto suplementar ofereceu-lhe a Amazon.com a possibilidade de verter seu livro em uma

Page 71: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

69

produção cinematográfica com recursos dos estúdios de Hollywood. O artigo divulga que

autores com o perfil da autora têm provocado uma verdadeira reviravolta no mercado

editorial.

Os jornalistas Geoffrey A. Fowler e Jeffrey A. Trachtenberg (2010) testemunharam

que tudo isto tem enfraquecido o tradicional controle das editoras sobre o mercado literário.

Por outro lado declararam haver aumento do poderio dos sites de venda online. As edições

independentes, segundo as enquetes, tem desbancado a institucionalização das editoras com

resultados positivos e prósperos. O distribuidor e publicitário de e-books Mark Coker fez a

seguinte declaração em nome de sua empresa, a Smashword. Inc.:

[...] Se você é um autor e quer atingir muitos leitores, até pouco tempo atrás

o melhor era vender o livro para uma editora, porque elas controlavam a

impressão e a distribuição. “Isso está começando a mudar”, diz Mark Coker.

(FOWLER; TRACHTENBERG, 2010)

Os correspondentes relatam que o protagonista é o livro eletrônico. Atribuem uma

popularidade crescente aos mesmos. Revelaram que há anos atrás poucos se interessavam por

leitura. Mas os dispositivos ou devices iPad, da Apple Inc. e aparelhos eletrônicos como o

Kindle, além de ter caído no gosto popular, estimularam a compra e facilitaram a leitura das

por meio do formato digital. O informativo disse também que as vendas dos livros impressos

caíram 1,8% em 2009 nos Estados Unidos, com um parâmetro de consumo de US$ 23,9

bilhões. Em compensação, o consumo de e-books triplicou para US$ 313 milhões, dados

obtidos da Associação de Editores Americanos. Na análise econômica o ranking de vendas de

livros eletrônicos poderá atingir o índex de 20% a 25% de alcance no mercado de livros

eletrônicos até 2012.

É imprevisível traçar por meio de dados concretos as ameaças que as publicações

independentes em meio digital possam representar para as editoras que controlam os best-

sellers em ambos os formatos. Mas a tendência é crescente e só o tempo pode revelar as

diretrizes e os rumos do mercado que surge.

O artigo fez uma observação sobre a Amazom.com. Esta é uma empresa que aposta nos

escritores, oferecendo-lhes ferramentas para se auto-publicarem. Além disso, a Amazon.com

ofereceu um aumento suplementar incidindo na comissão dos autores. A proposta aumentou

significativamente as luvas para escritores.

Page 72: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

70

A indexação representa um ganho que passa de 30% para 70% no lucro. O autor

independente que faturava no mínimo U$ 1,75 por livro das grandes editoras, terá nesta

alternativa introduzida pela Amazom acréscimo de U$ 6,99 por unidade vendida.

Outra tendência que o livro eletrônico trouxe para a cadeia produtiva do livro é a

preocupação em produzir equipamentos que possam atender às pessoas portadoras de

necessidades especiais.

A Wise (2010) anunciou à agência de notícias Publish News que a sua Empresa

holandesa Elsevier tomou iniciativa diferenciada com as edições de livro digitais formato

“ePUB”. Os usuários deste modelo têm alternativa para ler e ou para ouvir os dados contidos

no equipamento. Trata-se de um modelo projetado para os portadores de necessidades

especiais como deficiência de visão, ou ainda os que sofrem de dislexia ou dificuldade

motora.

As edições de livros eletrônicos estão refletindo significativamente no cenário da

cadeia produtiva do livro também quanto à adoção de iPad como material escolar obrigatório

para alunos americanos.

A Folha Online no dia 26 de janeiro de 2011 publicou artigo postado pela DA EFE

agência de Washington. O texto registra que no estado americano do Tennessee uma escola da

rede privada de ensino exigiu como recurso didático obrigatório o uso do iPad pelos

estudantes de 8 a 18 anos.

O artigo esclareceu que o objetivo da Webb School of Knoxville é substituir os livros

didáticos pelos tablets eletrônicos. Os diretores do estabelecimento tomaram a medida não só

pela questão tecnológica, mas pelos cuidados com a saúde. Trocam-se mais de 20 quilos do

peso dos livros didáticos nas costas pela praticidade de apenas um quilograma nas mãos.

O diretor de tecnologia da instituição e toda a equipe do corpo docente não só

receberam positivamente a aquisição do recurso, como esclareceram aos pais e à imprensa

que os sites de relacionamento serão bloqueados para inibir o acesso dos alunos durante o

período de atividade escolar. As perspectivas que a equipe pedagógica demonstrou foi a de se

conseguirem resultados bem mais favoráveis com as edições dos livros digitais do que com os

livros impressos em papel, em circunstâncias de abrangência, agilidade e outros.

Outros estabelecimentos de ensino de ensino nos Estados Unidos também já eram

adeptos da adoção do livro eletrônico como recurso didático. Segundo a Folha Online (2011)

anunciam os seus cursos sempre por meio de iPads. Entre elas estão a Universidade de Notre

Dame, em Indiana e Seton Hill University no estado da Pensilvânia e outros.

Page 73: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

71

Incorpora-se nesta mudança de cenário provocada pelo livro eletrônico a edição de um

Jornal produzido com exclusividade para iPads.

Coelho (2011) entrevistou em Boston o consultor americano Ken Doctor, reconhecido

como um guru da nova mídia, por ocasião do lançamento do “The Daily” um jornal exclusivo

para iPad lançado no início de fevereiro contando com o investimento do bilionário Rupert

Murdoch. Segundo Coelho (2011, p. A16) “o consultor vê o novo jornal como um marco na

indústria da mídia voltada para as massas”.

Ken Doctor comunicou que a primeira revolução que a edição do “The Daily”

provocou vincula-se ao preço, ou seja, o leitor /navegador investe semanalmente U$ 1,66

dólares. Outro ponto citado pelo consultor está relacionado às amplas opções de

interatividade, porém sem pirotecnias. O consultor também disse que a intenção do veículo é

acelerar a migração das edições impressas para os livros eletrônicos e ou iPads, porém com

consciência de que a versão impressa não deixará de existir tão cedo.

Verificou-se ainda que reconhecidos veículos de comunicação nacionais estão

aderindo ao universo do livro eletrônico. No Brasil a Editora Globo (2011) agregou sua

edição semanal da revista Época ao formato eletrônico. Desde 21 de março que a nova versão

da revista pode ser lida no iPad.

No artigo publicado pela Revista Época (2011, p. 25) constata-se que a edição digital

representa um pioneirismo entre as revistas semanais brasileiras e segundo a Apple a terceira

versão para iPad. Segundo a revista, “a versão valoriza a experiência de leitura e navegação.

O veículo comentou que também há mais agilidade e facilidade com os recursos e conteúdos

multimídias se estiver conectado na internet”. Sobre o equipamento a revista esclareceu que

ele trouxe opção para leitura no sentido vertical e horizontal, ou seja, no conteúdo vertical

constam os textos interativos e o horizontal o texto na íntegra. Pode-se acessar no menu as

páginas minimizadas e ou ter acesso direto aquilo que se deseja ler.

Observou-se que o lançamento da edição digital da revista Época interferiu

significativamente no mercado do livro eletrônico. O sinal de repercussão partiu da gigante

varejista de venda de livros online a Amazon.com, rival da Apple.

A Amazom.com enviou recado no dia 20/05/11 por meio da revista Veja Online da sua

aterrissagem e pouso definitivo no Brasil, almejando o mercado de livros eletrônicos e outros.

Diante deste mercado agitado e turbulento, as alterações no cenário do mercado

editorial trazido pelo livro eletrônico mostram-se vertiginosamente dinâmicas e em erupção.

Alvoroçaram os meios midiáticos que borbulham de informações, relatos e acontecimentos

que giram em torno desse cenário de mudanças.

Page 74: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

72

Mas é primordial que as lentes desta análise se voltem para focalizar o mercado e a

cadeia produtiva do livro onde dados numéricos possam ser avaliados. Desta forma

concretiza-se uma visão nacional e globalizada, evidenciando-se o contexto das duas versões

que coexistem como segmentos da rede de produção do livro. A cadeia produtiva do livro e o

mercado editorial serão analisados no próximo tópico, permitindo uma visão mais ampla da

complexidade das mudanças, que configuram o contexto do livro eletrônico e sua implantação

no setor econômico nacional.

6. Cadeia produtiva do livro: mercado editorial

Ilustração 13 – Apple no Brasil. Fonte: Bigio (2011)

Ilustração 14 – 2º Congresso Internacional CBL do Livro Digital.

Fonte: eBook Reader (2011)

Ilustração 15 – Logomarca da Amazon.com. Fonte:

Brand´s (2011)

Ilustração 16 – Congresso Brasileiro do Livro Digital. Fonte:

CBLD (2011)

Ilustração 17 – A Reinvenção do escritor. Fonte: Sá (2010)

Page 75: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

73

Em meados de 2004 a cadeia produtiva do livro como setor econômico entra em rota

de colisão e reflete instabilidades nas vendas que despencaram por não caber no bolso dos

brasileiros. Estes foram dados obtidos em uma entrevista realizada por Elizabeth Sucupira em

2004, com o economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro Fábio Sá Earp. A

exibição da entrevista concebida pelo economista e pesquisador Earp foi divulgada na íntegra

pelo Portal Literal Terra, em agosto de 2008.

A reportagem mostrou que o Governo, na tentativa de frear a crise desencadeada pelo

mercado editorial, preocupou-se com as gráficas nacionais, na sua grande parte sobre o

controle do capital estrangeiro ou operando para sobreviver com alternativas alheias à

impressão de livros.

Nada distinta foi a situação das editoras exclusivamente dedicadas à produção de

livros didáticos e o próprio governo como seu cliente principal e maior comprador de livros.

A consequência dessa situação foi a perda de espaço, levando as editoras a submeter-

se a competir no mercado nacional com as editoras estrangeiras, outro efeito sintomático, que

reforçou a preocupação governamental, acelerando as necessidades de reparos nas rachaduras

no solo do mercado editorial brasileiro.

A crise formou se com base nos resultados numéricos do ano de 2004, quando

inclusive ocorreram reduções de vagas de empregos, que eram gerados pelas editoras, ou seja,

a oferta reduziu em 50% as oportunidades do mercado: 32 mil vagas se reduzem a 18 mil

empregos.

O cenário intimou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social a

solicitar análise de especialistas em economia. Assim foi oficializado o convite à

Universidade Federal do Rio de Janeiro extensivo aos economistas Fábio Earp e Geroge

Kornis, na ocasião os coordenadores da equipe de projeto de pesquisa econômica da

Instituição.

Fábio Earp, nos dados publicados pelo Portal Literal Terra em 2008, dedicou-se a

estudos e análises de várias áreas da pesquisa econômica como: a economia das

telecomunicações, economia mineral, macroeconomia, histórias das ideias econômicas,

economia do Brasil, política internacional e economia do entretenimento, feedbacks que

respaldam a sua visão para compreender e analisar os reflexos da crise, que gira em torno da

produção do livro.

O pensamento de George Kronis (2008), professor de política social, planejamento e

economia do Instituto de Medicina Social da UERJ, também foi indispensável para

compartilhar com Earp reflexões sobre os sintomas sentidos no mercado do livro. A sua

Page 76: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

74

afinidade com grande parte dos economistas franceses traçou uma importante aliança,

intercâmbio e incorporação de enfoques lúcidos para averiguar as diretrizes do livro.

A Economia da Cadeia Produtiva do livro (2005) é o estudo que Fábio Earp e George

Kronis realizaram em torno do tema. Entre os diversos problemas observados no estudo

destaca-se como crise no setor a queda de 40% nas vendas de livro. Segundo os economistas

os preços altos dos livros tornaram-se inacessíveis aos brasileiros. O exame levantou naquela

ocasião que “com um valor igual à sua renda per capita, um japonês, ou um francês

comprariam 4.000 livros por ano, um brasileiro ou um alemão comprariam 1.500; um

mexicano e um chinês 700”. A avaliação levou-os a revelar que o livro nacional custava quase

três vezes mais caro que o francês e o japonês e equiparou-se apenas ao alemão que tem renda

salarial mais alta, não lhe faltando renda para as despesas essenciais como para o brasileiro.

Para o alemão sobra a reserva para o livro, segundo a investigação dos estudiosos.

Outros sinais de crise foram verificados, ou seja, os resultados numéricos do PIB

(Produto Interno Bruto) com redução de 13% dos títulos editados e queda de 10% também

acusaram os sintomas negativos em torno da produção do livro.

Indiciaram, também, a redução das vendas dos livros frente ao avanço tecnológico, ou

seja, o livro estava sendo substituído por outra forma de leitura na web, além da procura para

a aquisição de exemplares ter diminuído, como se detecta na citação a seguir:

[...] uma explosão informacional e inovações tecnológicas, o livro eletrônico

se apresenta [...] promessa do Eldorado por eliminar gastos com produção,

estocagem, distribuição de exemplares não vendidos. [...] custos estariam

cobertos de venda estariam cobertos a partir da venda de 30 exemplares em

formato com o PDF. (EARP; KORNIS, 2005, p. 150)

As verificações de Earp (2008) nesta entrevista ao Portal Literal Terra, foram

esclarecedoras e apresentam dados reveladores sobre o número de livros que foram

produzidos, quanto custava produzi-los, distribuí-los, estocá-los e vendê-los. Da mesma forma

o pesquisador julgou fundamental constatar neste apanhado dados voltados ao panorama

econômico do mercado editorial e as tendências relacionadas ao século XXI.

Frisou Earp (2008) que pesquisas como essas existem há décadas em qualquer país

que encara o mercado editorial com seriedade, e a ausência do mesmo na realidade nacional

constitui sintoma de atraso cultural para compreender o universo. O economista também

constatou que cada uma das 13 maiores editoras do mundo vendeu, sozinha, mais do que

todas as editoras instaladas no Brasil juntas.

Page 77: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

75

Procópio (2010, p. 184) estudando sobre a rede de produção de livros, não encontrou

um cenário diferente. Verificou que das 17 mil empresas gráficas nacionais, sobrevivem

apenas aquelas as que operam com outras alternativas além da impressão de livros.

O número encontrado pelo Sistema Fecomércio RJ mostrou que a falta de hábito de

leitura e o desinteresse levaram a cadeia de produção do livro à baixa tiragem e,

consequentemente, baixos resultados numéricos consolidados nas vendas.

Mas apesar do cenário assim se comportar, o estudo de Procópio (2010, p. 185)

averiguou um mercado com potencialidades de projetar-se internacionalmente entre os oito

que mais consomem livros impressos no mundo. Neste mesmo sentido o autor avaliou o

primeiro lugar para o Brasil entre os latinoamericanos, o que mostra o mercado nacional do

Brasil como competitivo.

A afirmação do editor Ednei Procópio é constatada pelo recado que a maior varejista

eletrônica do planeta, já referida nesta pesquisa, ter anunciado por meio da Veja Online no dia

20 de maio de 2011, ou seja, a Amazon.com no segundo semestre inicia suas atividades no

mercado brasileiro. A empresa ambiciona entrar no mercado nacional pelo setor do livro

eletrônico. Um reflexo de que o veículo midiático tem potencial para competir e investir na

cadeia produtiva do livro brasileira.

No resultado do estudo realizado pelos economistas Earp e Kornis (2005) ficou

diagnosticado que a era digital, seus novos meios midiáticos e padrões, impuseram um

novo modelo de negócio para as editoras, distribuidoras, livrarias e demais segmentos da rede

de livros. Os estudiosos avaliaram este resultado como alternativa de controle da crise de

2004, os investimentos em novas tecnologias e no livro eletrônico como mais um recurso para

as editoras.

Sobre o mesmo assunto, Velasco (2010, p. 6) afirma que

As grandes editoras acreditam no potencial do livro eletrônico, mostram

interesse em popularizá-los por oferecerem vantagens, especialmente

recursos multimídias impossíveis no meio impresso. O leitor-produtor da

contemporaneidade força o mercado editorial a criar novos serviços.

Para consecução dos objetivos dessa dissertação forma conferidas, no sítio eletrônico

do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), informações

que reconhecem o livro eletrônico como meio midiático para o uso científico no ambiente

acadêmico. Trata-se do Projeto Livro Eletrônico do CNPq. Ele tem o intuito de disseminar o

conhecimento por meio de publicações eletrônicas, estimulando a difusão e o acesso à

informação de qualidade no meio acadêmico, gerando o acesso à informação de qualidade.

Page 78: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

76

Para se publicar uma obra pelo via mídia eletrônica, há um link de acesso aos dados do

Projeto Livro Eletrônico.

Repercutiram no mercado editorial brasileiro as ameaças provindas das proximidades

e a presença de editoras gigantes no mercado, mas nada foi manifestado de forma clara e

oficial. Por outro lado, amostras de organização e aprimoramento são percebidas, para se

congregarem as reflexões necessárias em volta dos interesses e compreensão das tendências

dos segmentos, que giram em torno do futuro do livro e/ou livro eletrônico.

Ao reconhecer-se que a questão do livro eletrônico é muito recente torna-se necessário

criar intimidade entre o usuário e livro digital, o que levou à criação de um guia, projetado

para novos usuários de livros eletrônicos como ferramenta ideal para atrelar os laços,

aproximando o usuário do livro. É preciso adquirir o equipamento, dominá-lo, repará-lo,

abastecê-lo, conhecer os fornecedores do mercado e outros.

A Gliffy (2011) é uma empresa americana, estabelecida em São Francisco na

Califórnia - USA. Ela é a única no planeta especializada na criação de softwares ou

programas gráficos de comunicação não-verbal para Internet. Nos seus cadastros constam que

a empresa acredita que a comunicação visual dá oportunidade às pessoas de absorverem a

ideia de forma mais rápida e tangível. Exatamente umas das suposições do estudo no sentido

de se perceber o interesse social do objeto estudado: o livro eletrônico.

Chris Kolarhard (2011), além de Chefe Executivo de Gabinete, foi o fundador da

Gliffy em parceria com o seu sócio Clint Dickson (2011). Pela facilidade técnica com os

programas gráficos, aprimoraram um site de autor desconhecido que atualmente atende

especificamente o domínio público, com foco nos usuários principiantes e ou inexperientes

com de “e-books” ou “livros eletrônicos.

O site possui um esquema de informações sintetizadas graficamente, que induzem de

uma forma simples o principiante à iniciativa de uso e ou à decisão de onde, como, e muitas

vezes qual o equipamento e ou livro eletrônico mais adequado para atender às suas

necessidades. É dirigido para os que buscam habilidade e familiaridade com o livro

eletrônico, sentem-se inseguros para decidir o modelo, o formato, o fornecedor e outros. O

guia traz diretrizes desde como montar o seu acervo virtual até os genéricos e melhores

varejistas virtuais eletrônicos.

No quadro abaixo há o caminho para aqueles que desejam fazer pesquisas, encontrar

bibliotecas de domínio privado e público e ou formas de baixar arquivos gratuitos para

aprimoramento do acervo virtual do usuário. Trata-se de um sumário, uma espécie de FAQ

(Frequently Ask Questions), dúvidas mais frequentes sintetizadas em forma diagramada como

Page 79: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

77

a figura abaixo representa. Ali há instruções para aquisição dos modelos mais baratos e boas

oportunidades no contexto do livro eletrônico.

O link pioneiro “Projeto Gutenberg” implantado pelo estudioso Michael Hart faz

também parte do guia. Talvez uma tentativa de fidelizar e ou firmar laços com mais de

100.000 arquivos digitalizados do projeto, além da disponibilidade dos diversos acervos,

bibliotecas virtuais americanas, inglesas, australianas e acervos virtuais de todo planeta.

Em contato estabelecido eletronicamente com o Debi Kohlhardt, do The Glifffy’s

master scientific resource, em 10de maio de 2011, a representante de pesquisa da empresa

posicionou que o aprimoramento do projeto do guia foi facilitar, estimular, instruir, conquistar

o gosto do usuário recém-chegado ao livro eletrônico.

A pesquisa da empresa consolidou que o Guia para Iniciantes “V2.01” é um indutor

que aproxima o livro eletrônico do usuário como produto de consumo recém implantado pela

indústria cultural e segmento da cadeia produtiva do livro.

Page 80: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

78

Page 81: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

79

Os resultados numéricos provindos do mercado editorial no ano de 2004 ameaçavam

a economia do país levando o governo a encomendar um estudo para verificar as causas

Page 82: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

80

para o controle. O diagnóstico do estudo, realizado por especialistas, revelou que a era digital,

seus novos meios e padrões teriam imposto ao mercado editorial um novo modelo de negócio.

O que traria solução e controle para a crise e abriria perspectivas e novas tendências para os

segmentos da cadeia produtiva do livro se realinharem e/ou se reajustarem às alternativas e

oportunidades de competir e conquistar o mercado com ferramentas e know how adequados

para atender a demanda.

Atualmente o livro eletrônico ou digital carregou o mercado para longe da crise que

outrora ameaçava o segmento editorial. A avaliação apontou os segmentos se congregando

para o entrosamento com o livro eletrônico. O mercado editorial com o livro eletrônico é

palco em que contracenam e se instalam cada vez mais empresas, buscando atender esta

demanda trazida pelo livro.

O Guia para Iniciantes ou usuários inexperientes é um reflexo de que o interesse parte

das empresas para manter seus clientes fidelizados com o consumo de seus produtos.

O livro eletrônico não só trouxe equilíbrio, mas também perspectivas de crescimento

para o mercado editorial. Vem construindo, no mercado editorial, um espaço sólido de

convívio com a mídia impressa, conquistando os segmentos da cadeia produtiva do livro, com

prerrogativas auspiciosas para o futuro.

Page 83: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

81

CONSIDERAÇÕES FINAIS

X

Page 84: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

82

.... o encontro da mídia impressa e digital

desencadeou refletir o fenômeno natural da

pororoca das águas entre Rio Negro e Solimões. O

efeito do choque das águas empurradas pela força

natural de uma corrente mais veloz com águas mais

densa, delimitam fronteiras: de um lado as límpidas

e do outro as turvas águas do Rio Negro. Por um

extenso percurso lutam por suas divisas de

território. Fundem-se, fecundam- se, em confluência

se diluem. Híbridas, se renovam para um rumo

certo. Atingem o mar infinitamente, além do tímido

olho d’água de sua nascente. No dorso do planeta

navegam em seus oceanos. Analogia possível para

o destino do futuro-presente da narrativa escrita e

eletrônica.

Arlete Aparecida Mathias – 2010 – Homo Sapiens,

uma raça que valoriza a narrativa: da oratura ao

livro eletrônico.

O livro no século XXI abandonou o formato convencional em códice, migrou para as

telas e dispensa o uso do papel. O mesmo ocorreu em circunstâncias do desenvolvimento

tecnológico da informação e comunicação.

A mudança de formato do livro trouxe à tona a hipótese sobre a morte do livro

impresso e que o novo formato seria o seu sucessor.

As circunstâncias contraditórias dividiram as opiniões entre os que aplaudiam a

chegada do livro eletrônico e os que temiam a extinção da versão impressa.

O confronto entre as partes apontadas gerou a questão que esta investigação buscou

analisar, tomando o livro eletrônico como objeto deste estudo e levantando dados sobre o

passado, presente e futuro do livro.

No primeiro capítulo houve uma retomada do passado. Isto é indispensável para que se

averiguassem os passos por onde o livro tenha trafegado e como de um processo artesanal e

manuscrito, o livro passou a ser processado mecanicamente em série para chegar às telas dos

PCs , iPads, e-books , celulares e outros produtos ou dispositivos.

Por meio deste levantamento percebeu-se que o objeto midiático, o livro eletrônico, é

derivado da versão impressa e se alocou nas telas em consequência do desenvolvimento

tecnológico da comunicação e da informação do século XXI.

O segundo capítulo justificou a indústria que se formou em volta do livro, sua

emancipação como obra de arte para reprodução por intermédio do avanço tecnológico de

uma forma natural e positiva. Um fator que o destaca no berçário da Indústria Cultural

preconizada por um grupo de intelectuais da Escola de Frankfurt, leva o livro impresso à

Page 85: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

83

explosão tecnológica notada contemporaneamente, reflexos que fazem com que o segundo

capítulo justifique o desenvolvimento e alterações que deram origem ao livro eletrônico.

No terceiro capítulo o foco central é o livro eletrônico, o objeto deste estudo. O

desenvolvimento partiu desde os conceitos e definições e seu traçado histórico até chegar ao

momento das discussões. Equiparado, pela análise, ponto de resolução da questão polêmica

que dividiu os que defenderam a mídia impressa e aqueles apontaram a referida versão estar

como os dias contados.

Esta investigação partilha e defende o raciocínio de Robert Darnton (2009) abordando

a questão do livro. Partindo-se deste parâmetro, confirma como extinta a hipótese levantada

sobre a morte do livro impresso e a condição dada para o livro eletrônico sucedê-lo.

Esta posição vincula-se ao fato de Darnton recorrer à história da comunicação e

apontar a co-habitação das mídias vista de uma forma normal e positiva onde mídias oferecem

benefícios e suportes de uma para a outra. Há coexistência entre a versão impressa e a

eletrônica neste momento, em pleno início da segunda década do século XXI. Isto mantém

amarrados os extremos em questão, apresentando uma solução para o problema levantado,

que e acreditava na supressão da versão impressa, substituída pela versão digital ou eletrônica.

Na argumentação de Darnton ficou evidenciado que o livro eletrônico permanece nas

tendências do futuro, ou seja, ocupando um espaço cada vez mais significativo, convivendo

com o livro impresso. O obstáculo que interfere no seu abrupto e imediato avanço atrela-se à

obsolescência característica dos suportes virtuais.

Se o livro vai morrer ou não, a inquietação humana de qualquer maneira sempre

continuará inventando dispositivos que lhe possibilitem permanecer ao alcance do

pensamento e das novas invenções. Certamente sempre aparecerão dispositivos adequados ao

seu tempo.

O importante é que seja em formato impresso quanto em eletrônico o livro chegue aos

leitores permitindo democratizar o espaço e o acesso à informação e ao conhecimento, à

fruição das obras de arte literárias que marcam a cultura ocidental, bem como à jovem

geração de escritores, com seus novos gêneros - os minicontos - e às autorias coletivas de

textos científicos e ficcionais.

Page 86: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 87: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

85

REFERÊNCIAS

2º CONGRESSO INTERNACIONAL CBL DO LIVRO DIGITAL. Disponível em:

<www.congressodolivrodigital.org.br>. Acesso em: 27/05/11.

ADORNO, T. W. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel (Org.). Comunicação e indústria

cultural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978.

ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarescimento: fragmentos

filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1985.

APPLE. iPad. 2011. Disponível em: <http://www.apple.com/br/ipad/features/>. Acesso em:

02/07/2011.

BACELAR, J. Apontamentos sobre a história e desenvolvimento da imprensa. Biblioteca

On-line de Ciências da Comunicação, Lisboa, 1999. Disponível em

<http://www.bocc.ubi.pt/pag/bacelar_apontamentos.pdf>. Acesso em: 14/10/10.

BARKER, Philip G. Electronic books. Educational and Training Technology International –

Special Edition. 1991, p. 269-368, n.4, 28v.

______. Exploring Hypermedia. Londres: Kogan Page, 1993.

BELL, David A. The Bookless Future: what the Internet is doing to Scholarship. CHNM,

New Republic, May. 2005. Disponível em: <http://chnm.gmu.edu/resources/essays/

essay.php?id=28>. Acesso em: 01/11/2005.

BENÍCIO, Christine Dantas. Do Livro Impresso ao E-book: o paradigma do suporte na

biblioteca eletrônica. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2003. Trabalho de

Conclusão de Curso.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. In: Obras escolhidas. São Paulo:

Brasiliense, 1994, 1v.

______. Reflections: essays, aphorisms, autobiographical writings. New York: Helen & Kurt

Wolff, 1978.

BIBLIOTECA DIGITAL EBOOKCULT. Disponível em:

<http://www.ebookcult.com.br/acervo/index.php 14/05/11>. Acesso em:14/05/11.

BORGES, Jorge Luiz. A Biblioteca de Babel. In: Ficciones. Disponível em:

<http://www.dgz.org.br/ago07/Art_04.htm>. Acesso em: 10/10/2010.

BORTOLOTI, Marcelo. A Última edição Impresa do “J B”circula hoje. Rio de Janeiro.

2010. 8h:30min. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/791494-ultima-

edicao-impressa-do-jb-circula-hoje.shtml>. Acesso em: 31/08/2010.

BOUÇAS, Cibelle. Xeriph cria Gato Sabido recebe aporte de Sócios. Disponível em:

<http://ebookpress.wordpress.com/2011/03/18/xeriph-cria-da-gato-sabido-para-livros-

digitais-recebe-aporte-e-socios/>. Acesso em: 12/03/2011.

BRONSTEIN, Michelle. A indústria Cultural e os meios de comunicação de massa. Rio de

Janeiro, 2005. Disponível em:

<http://www.crarj.org.br/site/espaco_opiniao/artigos_index_novo_2005.asp?pagina=2>.

Acesso em: 03/04/11.

CAETANO, Rodrigo. O livro eletrônico invade a Bienal Internacional de São Paulo.

18/08/2010 atualizado em 21/08/2010. Disponível em:

<http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/31602_LIVRO+ELETRONICO+INVADE+A+BI

ENAL+DE+SP post>. Acessado em: 10/10/2010.

Calvino, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras,

1990.

CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. CHARTIER, Roger. A Aventura do Livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Unesp, 1ª

reimpr., 2009.

Page 88: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

86

________. A ordem dos livros. Brasília. UNB, 1994.

________. Do códice ao monitor: a trajetória do escrito. 1994. Disponível :

<http://www.scielo.br/pdf/ea/v8n21/12.pdf> Acesso em 27/07/11.

CHAVES, E. O. C. O. O desafio da tecnologia na educação. 2005. Disponível em:

<http://www.escola2000.org.br/pesquise/texto/textos-art.aspx?id=77>. Acesso em:

10/10/2010.

CHAYTOR, H. J. From script to print. Cambridge: Heffer & Sorts, 1945.

COELHO NETTO, José Teixeira. O que é a Indústria Cultural. São Paulo: Brasiliense,

1996.

COELHO, Luciana. Com iPad, jornal digital se tornará mídia de massa. Boston. Folha do

Estado de S. Paulo, ed. 7/02/11, p. A16, 2011.

COSTA, Paulo Sérgio Cavalcanti. Isaac Newton. Disponível em:

<http://www.suapesquisa.com/biobrafia.newton>. Acesso em: 17/10/2010.

CRAVEN, Joseph. Digital book world. Disponível em:

<http://dbw2011.digitalbookworld.com/speakers/joseph-craven/>. Acesso em 28/05/11.

DARNTON, Robert. The case for the books: past, present, and future. New York: Public

Affairs, 2009.

DORIGALTI, Bruno. Entrevista com Robert Darnton: diretor da Biblioteca da

Universidade de Harvard. Saraiva Conteúdo: São Paulo, 2010. Interpretação de Arlete

Aparecida Mathias. Produção. Debê Produções. Realização Saraiva Conteúdo. Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=2ofoocg64PI>. 3/11/2010. Acesso em 20/05/11.

EARP, F. S.; KORNIS, G. A Economia da Cadeia Produtiva do livro. Rio de Janeiro:

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 2005.

ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo. Difel, 1991.

EISENSTEIN, Elizabeth. The printing revolution in early modern Europe. New York:

Cambridge University Press, 1996.

ENCYCLOPEDIA BRITANNICA: Frankfurt School. Trad. Arlete Aparecida Mathias.

Disponível em: <http://www.britannica.com/EBchecked/topic/217277/Frankfurt-School>.

Acesso em: 01/05/11

FEBVRE, Lucien; MARTIN, Henri- Jean. L 'apparition du livre. Paris: Albin Michel, 1958.

______. O aparecimento do livro. São Paulo: HUCITEC, 1992.

FERRARI, D. W. Do códice ao e-book. Assis (SP): Patrimônio e Memória – UNESP-

FCLAs- CEDAP, 2010, 6v., n. 2., p. 296-301.

FIDELIS, Áurea. 4ª Conferencia Brasileira de Comunicação e Tecnologias Digitais.

27/11/2010. Disponível em: <http://depoisdafacul.wordpress.com/2010/11/27/4%C2%AA-

conferencia-brasileira-de-comunicacao-e-tecnologias-digitais/>. Acesso em: 04/07/2011.

FINCH, Steven. Amazon Kindle 3 is Amazon´s best selling product of all time. 4/01/2011

as 5:46 pm. Disponível em: <http://crenk.com/amazon-kindle-3-is-amazons-best-selling-

product-of-all-time/>. Acesso em: 02/07/2011.

FOLHA ONLINE. Escola dos Estados Unidos torna obrigatório o uso de iPad pelos

alunos. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/tec/865803-escola-dos-eua-torna-

obrigatorio-uso-de-ipad-pelos-alunos.shtml>. Acesso em: 26/01/11.

FOWLER, G. A.; TRACHTENBERG, J. A. Livro eletrônico começa a mudar a indústria.

Disponível em: <http://www.mxstudio.com.br/mxnews/livro-eletronico-comeca-a-mudar-

industria/>. Acesso em: 15/10/2010.

FROSSARD, Vera Cecília. A trajetória do livro da matéria impressa ao mundo digital:

novas possibilidades emergem para a aquisição do conhecimento. Rio de Janeiro: ECO/IBICT

- Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998. Dissertação de Mestrado em Ciência da

Informação.

Page 89: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

87

______. Tipos e Bits. Rio de Janeiro, 2004. Seminário Brasileiro sobre o livro e história

editorial. Disponível em: <http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/pdf/verafrossard.pdf>.

Acesso em: 11/04/11.

GABRIEL, Martha. Intelecto digital. Disponível em: <www.martha.com.br>. Acesso em:

28/05/11.

GENRO FILHO, Adelmo. Marxismo, filosofia profana. Porto Alegre: Tchê, 1986.

GLIFFY PUBLISH. Introduzindo ao mundo dos livros eletrônicos: guia para iniciantes

V.2.01. Disponível em: <http://www.gliffy.com/publish/2059164/>. Acesso em: 29/05/11.

GOMES, Adriano Lopes. As Narrativas orais na reconstituição da memória radiofônica:

um estudo de caso. Disponível em: <http://www.bocc.uff.br/pag/gomes-adriano-narrativas-

orais.pdf.>. Acesso em: 13/10/10.

GUROVITZ, Helio. A primeira revista brasileira no iPad. 30/04/2010. 19h:37min. Revista

Época. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI137331-

15217,00-A+PRIMEIRA+REVISTA+BRASILEIRA+NO+IPAD.html>. Acesso em:

12/03/11.

HAYLES, Katherine. Literatura Eletrônica: novos horizontes para o literário. Trad. Luciana

Lhullier e Ricardo Moura Buchweitz. São Paulo: Global, 2009.

HOLFELDT, Antonio As origens antigas: a comunicação e as civilizações. In: HOHLFEDT,

A. C.; MARTINO, Luiz C; FRANÇA, Vera Veiga (orgs). Teorias da Comunicação:

conceitos, escolas e tendências.3ed. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 61 a 98.

HONORATO, Renata. Vida Digital: Amazon está chegando ao Brasil. E não vai vender só

livros. A maior varejista eletrônica do planeta prepara entrada no mercado nacional pelo setor

de livros. Mas ninguém acredita que vai ficar só nisso. 20/05/2011. 19h:23min. Revista Veja.

Editora Abril. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/amazon-mira-

mercado-de-e-commerce-brasileiro>. Acesso em: 20/05/11.

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008.

KHUN, Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975.

262 p. Tradução: Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. Título original: The Structure of

Scientific Revolutions. Data de publicação original: 1969.

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Das tábuas da lei à tela do computador: a leitura

em seus discursos. São Paulo: Editora Ática, 2009.

LATOUR, Bruno. Ces réseuax que la raizon ignore, laboratories, bibliothéques,

collectiones. In: BARATIN, Maia; JACOB, Christian. Le poivoir de bibliotéques, La

memoires des livres en occident. Paris: Albin Michel, 1996.

______. On technical medietion: filosofy, sociology, genealogy. Common Knowledge, s.l.,

3v, n. 2, 1994. p. 29-64.

LITERATURA BRASILEIRA. Projeto Portal da Literatura Brasileira. Divulgado em

10/12/2002. Disponível em: <http://www.literal.com.br/>. Acesso em: 30 /08/2010.

MACHADO, Arlindo. Fim do livro? Disponível e<http://www.scielo.br/pdf/ea/v8n21/13.pdf

.Acesso em: 27/07/2011.

MARTIN, H. J. Le message écrit: la reception. Conferência dada na Académie des Sciences

Morales et Politiques. Paris, 1993.

MARTIN, Henry-Jean & FEBVRE, Lucien. O aparecimento do livro. São Paulo, Hucitec/

Ed.Unesp, 1992.

MARTINS, Wilson. A palavra escrita: história do livro, da imprensa e da biblioteca. São

Paulo: Ática, 1996.

MATTELART, Armand. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola, 1999.

McLuhan, Marshall. A galáxia de Gutenberg. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1972.

______. A galáxia de Gutenberg: a formação do homem tipográfico. 2. ed. São Paulo:

Nacional, 1977.

Page 90: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

88

MORAES, André Carlos. O Livro Eletrônico como Objeto Formal de Estudo e como

Objeto de Uso. XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação: Caxias do Sul,

RS, 2010.

MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: neurose. Trad. Maura Ribeiro Sardinha.

Rio de Janeiro. Forense Universitária, 2ª reimp. 9. ed. 2002, 1997.

NUNES, M. F. R.; STRACCIA, C. Trajetória comunicacional de Sandra Reimão. São

Paulo: Universidade Metodista de São Paulo, 2003. Disponível em:

<http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/39/CTA1F_-_Texto_4_-

_Monica_Rodrigues_e_Carlos_Straccia.pdf >. Acesso em: 20/12/2010.

OLIVEIRA, Ivan Carlo Andrade de. Livros virtuais: a literatura na rede. Disponível em:

<http://cibersociedad.rediris.es/congreso/comms/g06andrade.htm>. Acesso em: Maio de

2011.

PADILHA, Juliana dos Santos. Storytelling do Blog Me Leva Brasil: desdobramento de

conteúdo midiático da TV. Interação com o Telespectador e Propaganda. Bauru: UNESP -

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. Programa de Pós- Graduação em

Comunicação Midiática, 2010. Dissertação de Mestrado.

PARENTE, André. O virtual e o hipertextual: a rede como paradigma da

Contemporaneidade. Rio de Janeiro: Pazulin, 1999.

PAULINO, Suzana Ferreira. Livro Tradicional X Livro Eletrônico: a revolução do Livro ou

uma ruptura definitiva? Revista digital, 3v, Jun. 2009. Disponível em:

<http://www.hipertextus.net>. Acesso em: 17/03/11.

PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2010.

______. Eleição Digital. São Paulo: Saraiva, 2010.

POOL, Ithiel de Sola. Technologies of Freedom. Cambridge, MA: Harvard University Press,

1984.

PROCÓPIO, Edinei. O livro na era digital: o mercado editorial e as mídias digitais São

Paulo: Giz Editorial, 2010.

RACCAH, Dominique. Digital book world conference & expo. Disponível em:

<http://dbw2011.digitalbookworld.com/>. Acesso em: 29/05/11.

RAMALHO, Monica; DORIGATTI, Bruno. 06/09/2007. A crise da cadeia produtiva do

livro. Disponível em: <http://portalliteral.terra.com.br/artigos/a-crise-da-cadeia-produtiva-do-

livro>. Acesso em: 27/05/11.

RAO, Siriginidi Subba. Electronic books: their integration into library and information

centers. The Electronic Library, Inglaterra, 23v, n. 1, p. 116-140, 2005. Disponível em:

<http://info.emeraldinsight.com/products/journals/journals.htm>. Acesso em: 1303/ 2011.

REIMÃO, Sandra. Mercado Editorial Brasileiro. São Paulo: FAPESP, 1996.

REUTERS, Agência. Amazon diz que e-books superam livros de papel em vendas: New

York, Folha online de 19/05/11. 2011. Disponível em:

<http://ebookpress.wordpress.com/2011/05/19/amazon-diz-que-e-books-superam-livros-de-

papel-em-vendas/>. Acesso em: 22/05/11.

REVERBEL, Paula. A Amazon está chegando ao Brasil e não vai vender só livros.

Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/amazon-mira-mercado-de-e-

commerce-brasileiro>. Acesso em: 22/05/11.

REVISTA WIRED. Disponível em: <http://www.wired.com/>. Acesso em: 10/01/11.

RIBEIRO, G. M.; CHAGAS, R. L.; PINTO, S. L. O renascimento cultural a partir da

imprensa: o livro e sua nova dimensão no contexto social do século XV. Akropólis,

Umuarama, v. 15, n. 1 e 2, p. 29-36, jan./jun.2007.

RIBEIRO, Jorge Alves; SANTOS, Paulo Alexandre Gomes dos. Ebook. Disponível em:

<http://www.student.dei.uc.pt/~torres/Ebook.htm>. Acesso em: 06/07/00.

Page 91: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

89

SÁ, Sérgio de. A reinvenção do escritor: literatura e mass media. Belo Horizonte: Editora

UFMG, 2010.

SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007.

SCHWARTZ, Toni. Mídia: o segundo deus. Trad. Ana Maria Rocha. São Paulo. Sumus

Editorial, 1985.

SCOVILLE, Eduardo Henrique Martins Lopez. Indústria Cultural: um debate inesgotável.

Advérbio, 5v., p. 1-18, 2007. Dísponível em:

<http://www.fag.edu.br/adverbio/v5/artigos/industria_cultural.pdf>. Acesso em: 01/05/ 2011.

SILVA, Igor. Como fica o livro impresso com o advento do e-book? 10/09/2011 às

11:46:50. Disponível em: <http://ebookpress.wordpress.com/2010/09/10/como-fica-o-livro-

impresso-com-o-advento-do-e-book/>. Acesso em: 05/07/2011.

SILVA, Luiz Otávio Maciel da. Entrevista para Janela Cultural: Mercado do livro

eletrônico apresenta avanços, entraves e tendências. Disponível em:

<http:www.janelacultural.com.br/entrevista/o+mercado+do+livro+eletrônico+apresenta +

avanços + entraves+etendencias/HTML>. Acesso em 25/09/2010.

______. O livro eletrônico: mudando paradigmas. In: Congresso Brasileiro de

Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação. Fortaleza. Anais eletrônicos.

Fortaleza: CBBD, 2002. Disponível em:

<http://www.sibi.ufrj.br/snbu/snbu2002/oralpdf/78.a.pdf#search=%

22O%20livro%20eletr%C3%B4nico%3A%20mudando%20paradigmas%22.>. Acesso em:

26/12/2010.

SILVEIRA, Alex da. Skiff, o e-reader mais fino, com maior tela, maior resolução e

flexível. 31/01/2010. Disponível em: <http://bibliotecno.com.br/?p=424>. Acesso em:

04/07/2011.

SIMONASSI, Bia. Livro Digital. Disponível em:

<http://issuu.com/treebookgallery/docs/livro_digital>. Acesso em: 08/05/11.

SPALDING, Marcelo. Literatura digital, miniconto, hiperconto e a transposição: do

gênero contístico para a tela do computador. Projeto de tese apresentado à Banca do Curso de

Doutorado em Literatura Comparada da UFSC: Porto Alegre, 2010.

SIRENA, Mariana. Projeto aprovado no Senado isenta livros eletrônicos de impostos.

18/05/2011. Disponível em: <http://www.nonada.com.br/2011/05/projeto-aprovado-no-

senado-isenta-livros-eletronicos-de-impostos/>. Acesso em: 04/07/2011.

STEIN, Bob. The Institute for the Future of the book. Disponível em:

<http://www.futureofthebook.org/people.html>. Acesso em: 27/05/11

STRAUBHAAR, Joseph; LAROSE, Robert. Comunicação, Mídia e Tecnologia. Trad. José

Antonio Lacerda Duarte. Rev. Luiz Guilherme Duarte. São Paulo: Pioneira Thomson

Learning, 2004.

SUCUPIRA, Elizabeth. Governo quer frear crise do mercado editorial. 13/10/2004.

Disponível em: <http://portalliteral.terra.com.br/artigos/governo-quer-frear-crise-do-mercado-

editorial>. Acesso em: 20/11/2010

Trad.: Ivo Cardoso. São Paulo: Companhia das letras, 1990.

VELASCO, Juliana. Na “galáxia da internet” e-book e e-reader se tornam reais. Artigo

publicado no Intercom - DT 5 - Comunicação Multimídia - XII Congresso de Ciências da

Comunicação na Região Centro. Goiânia, 2010.

VIEIRA, Nathália; CORDEIRO, Renatta; LAUDELINO, Tallyta Yasmim. 27/04/2011 às

15:30. Entendendo a convergência: novos consumidores querem novas aplicações.

Disponível em: <http://neurosesocial.blogspot.com/2011/04/entendendo-convergencia.html>.

Acesso em: 04/07/2011.

Page 92: UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - unimar.br · levantar falso testemunho e 10º Não cobiçar as coisas alheias. Agradeço aos meus fraternos consanguíneos Artur Carlos Mathias, Amilton

90

VOROBELICHICK, Diego. Una empresa que apunta a los buscadores de libros agotados.

20/12/2004. Disponível em:

<http://www.bibliografika.com.ar/showdoc.cfm?doc_id=513550>. Acesso em: 28/05/11.

WEBTOP´S BLOG. Imersos na cultura midiática… 30/08/2010. Disponível em:

<http://webtops.wordpress.com/2010/08/30/imersos-na-cultura-midiatica/>. Acesso em:

04/07/2011.

WISE, Alícia. E-books Elsiever: para ler e ouvir. Disponível em:

<http://ebookpress.wordpress.com/2010/12/09/e-books-da-elsevier-para-ler-ou-ouvir/>.

Acesso em: 09/12/10.

ZILBERMAN, Regina. Fim do Livro, Fim dos leitores? São Paulo: Editora Senac, 2001.