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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES O Quarto e a Criança Linha de mobiliário lúdica como auxilio ao seu desenvolvimento Tiago Reis Cardoso Dissertação Mestrado em Design de Equipamento Especialização em Design Urbano e de Interiores Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Cristóvão Valente Pereira e pelo Prof. Doutor Eduardo Duarte 2017

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

O Quarto e a Criança

Linha de mobiliário lúdica como auxilio

ao seu desenvolvimento

Tiago Reis Cardoso

Dissertação

Mestrado em Design de Equipamento

Especialização em Design Urbano e de Interiores

Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Cristóvão Valente Pereira

e pelo Prof. Doutor Eduardo Duarte

2017

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ii

DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu Tiago Reis Cardoso, declaro que a presente dissertação de mestrado intitulada “O Quarto

e a Criança: Linha de Mobiliário lúdica como auxilio ao seu desenvolvimento”, é o resultado

da minha investigação pessoal e independente. O conteúdo é original e todas as fontes

consultadas estão devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes

documentais, tal como todas as citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo

do trabalho segundo as normas académicas.

O Candidato

Lisboa, 30 de março de 2017

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iii

Resumo

As crianças têm em si uma capacidade de imaginação capaz de tornar sonhos em

realidade, de colocar carros a voar, de dar vida a um cabo de vassoura e transformá-

lo num cavalo. Todo este universo só é possível se a criança estiver, desde que nasce,

em constante acompanhamento e aprendizagem. Observar coisas novas estimula e

permite um melhor desenvolvimento, facultando à criança a capacidade de

distinguir o bom do menos bom, o certo do errado.

O tema que define esta investigação é a conceção de equipamentos para o

desenvolvimento motor e cognitivo da criança no espaço que é seu desde a segunda

fase da infância, o quarto. Este conjunto de equipamentos prevê ter um papel crucial

na fase pré-operatória, dos 3 aos 6 anos de idade.

Para o seu desenvolvimento, ter-se-á em conta o estudo das matérias sobre a

criança, analisando as características e necessidades que merecem total atenção no

período pré-operatório. A noção de brincar para a criança é a razão de ser necessária

nos primeiros anos de vida, pelo que será também analisada, estando

intrinsecamente relacionada com o brinquedo, que terá também destaque no

trabalho. Estas ferramentas serão muito úteis com vista a colaborarem na criação

de um espaço completamente renovado para a criança.

Serão apresentadas conclusões de questionários efetuados a 16 quartos de crianças,

todos com particularidades diferentes, com o objetivo de auxiliar, de forma prática,

os gostos, e especial preocupação dos pais para com as suas crianças.

Seguidamente, será efetuado um levantamento de casos existentes no mercado para

que possam ser analisados, de forma a encontrar pontos fortes e fracos como auxílio

ao projeto a ser desenvolvido.

Por fim, através das ferramentas referidas será apresentado o conjunto de

equipamentos, designado como linha de mobiliário lúdico-funcional. Este tem como

objetivo ajudar a desenvolver as capacidades motoras, psicossociais, artísticas e

cognitivas da criança, potenciando o seu desenvolvimento e bem-estar.

Palavras-chave: Design; Design de Equipamento; Desenvolvimento infantil; Quarto

de criança; Mobiliário lúdico-funcional;

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iv

Abstract

Children have an ability of imagination that can make dreams come true, make cars

fly, give life to a broomstick and turn it into a horse. This whole universe is only

possible if the child is continuously being monitored and learning from birth.

When children observe things, this allows a better development and give them the

ability to distinguish good from less good, right and wrong.

The theme which defines this research aims to develop equipment for the proper

growth of children in their spaces, since the infancy stage, particularly the bedroom.

This set of equipment plays a crucial role in the preoperative phase from 3 to 6 years

old.

For this subject, the study of materials on the child is being regarded, as well as

examining the characteristics and needs which deserve full attention in this

preoperative period. The concept of playing as a need for children in the first years

of life will also be analyzed, being intrinsically related to the toy. Furthermore, this

highlights throughout the work. These tools will be very useful to collaborate in the

creation of a completely renovated space for children.

Questionnaire findings to 16 children’s bedrooms with different characteristics will

be presented, in order to find out their tastes and parents’ concerns about their

children.

Following, a survey of existing cases in the market will be carried out, so that they

may be analyzed to identify strengths and weaknesses, as an aid to the project which

will be built up.

Finally, through the mentioned tools, the set of equipment will be presented, named

as play-functional furniture line. It aims to help improve the child's motor,

psychosocial, artistic and cognitive abilities, enhancing their development and well-

being.

Keywords: Design; Equipment Design; Child development; Child's bedroom;

Recreational and functional furniture;

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v

Agradecimentos

Aos meus pais e irmã, pelo incentivo, apoio incondicional e acima de tudo

acreditarem que seria possível levar a bom porto este trabalho. Nas maiores e

menores adversidades, proporcionaram a melhor educação e formação, criando

sempre espaço para que tomasse as minhas decisões e levasse o tempo necessário.

O meu mais sincero e profundo agradecimento.

À Cristiana, pelo carinho, amor e apoio incansável que sempre manifestou, pelos

conselhos e incentivos ao longo da caminhada, demonstrando sempre acreditar que

era possível atingir este objetivo, mesmo nos momentos mais difíceis.

Aos meus amigos, colegas de faculdade e todas as outras pessoas que me

influenciaram e acompanharam neste percurso, em especial àqueles que deixaram

de caminhar neste sentido e mesmo assim, nunca deixaram de me incitar a levar este

trabalho até ao fim.

Aos meus orientadores e professores, Cristóvão Pereira e Eduardo Duarte, pela

colaboração e apoio prestado ao longo desta dissertação, um muito obrigado.

Aos pais das crianças que tornaram possível a minha intervenção ao nível das

entrevistas, tendo sido muito prestáveis em responder a todas as minhas questões,

permitindo retirar conclusões importantes para o desenvolvimento do projeto.

Um grande obrigado a todos.

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Índice

Resumo ........................................................................................................................................ iii

Abstract ........................................................................................................................................iv

Agradecimentos ........................................................................................................................... v

Parte I – Componente Teórica .................................................................................................... 1

1. Introdução ............................................................................................................................ 2

1.1 Definição do Problema ...................................................................................................... 2

1.2 Objetivo geral ..................................................................................................................... 3

1.3 Objetivos Específicos ......................................................................................................... 3

1.4 A escolha do tema .............................................................................................................. 4

1.5 Metodologia da Investigação ............................................................................................ 5

2. A criança na segunda infância ............................................................................................ 7

2.1 O desenvolvimento na criança ......................................................................................... 7

2.2 Influências do desenvolvimento .................................................................................... 10

2.3 Teorias do desenvolvimento – contexto histórico ........................................................ 11

2.4 Teoria cognitiva ............................................................................................................... 16

3. Fase Pré-Operatória (2/3 anos – 6/7 anos) .................................................................... 16

3.1 Desenvolvimento motor ................................................................................................. 18

3.2 Desenvolvimento cognitivo ............................................................................................ 20

3.3 Desenvolvimento da memória ........................................................................................ 24

3.4 Desenvolvimento da linguagem ..................................................................................... 25

3.5 Desenvolvimento artístico .............................................................................................. 26

3.6 Desenvolvimento da imaginação e criatividade ........................................................... 26

3.7 Conclusão Intermédia ..................................................................................................... 31

4. Brincar ................................................................................................................................ 32

4.1 Noção de brincar.............................................................................................................. 32

4.2 Formas de brincar ........................................................................................................... 33

4.3 Importância de brincar e os seus benefícios no desenvolvimento da criança ........... 35

4.4 As brincadeiras têm uma base evolutiva? ..................................................................... 36

5. O brinquedo ....................................................................................................................... 38

5.1 Características do brinquedo.......................................................................................... 38

5.2 Critérios de Avaliação do brinquedo.............................................................................. 41

5.3 Contributo do brinquedo para o desenvolvimento da criança .................................... 42

5.4 O papel do brinquedo no quarto .................................................................................... 43

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vii

Conclusão Intermédia ............................................................................................................... 45

6. Casos de estudo .................................................................................................................. 46

6.1 Entrevistas ....................................................................................................................... 46

6.1.1 A criança e o uso do seu quarto ............................................................................... 47

6.1.2 Os quartos ................................................................................................................. 49

6.1.3 Análise de dados observados nos casos de estudo ................................................ 51

6.2 Mobiliário existente no mercado.................................................................................... 52

6.2.1 Caso IKEA – Anexo 3 ................................................................................................. 53

6.2.2 Caso Flex & Kids – Anexo 3 ...................................................................................... 54

6.2.3 Caso Oficina Rústica – Anexo 3 ................................................................................ 56

6.2.4 Caso TRAMA – Anexo 3 ............................................................................................ 57

6.3 Pontos em comum às 4 marcas apresentadas ............................................................... 58

6.4 Relação entre os casos de mercado e as entrevistas .................................................... 59

Parte II - Componente Prática .................................................................................................. 61

1. O quarto da criança – Programa de projeto ..................................................................... 62

1.1. O design como agente intermediário ....................................................................... 62

1.1.1. O ambiente ............................................................................................................... 64

1.1.2 A Cor .......................................................................................................................... 64

1.1.3 Materiais .................................................................................................................... 66

1.1.4 Antropometria da criança ........................................................................................ 67

1.1.5 Ergonomia na criança ............................................................................................... 68

1.2. Equipamentos como auxílio à brincadeira da criança ................................................. 69

2. Considerações para o projeto ........................................................................................... 72

2.1. Materiais considerados .................................................................................................. 72

2.2. Segurança dos equipamentos ........................................................................................ 72

2.3. A funcionalidade ............................................................................................................. 72

2.4. A Usabilidade .................................................................................................................. 73

2.5. A comunicação/ interação ............................................................................................. 74

3. Projeto ................................................................................................................................ 75

CAMA .................................................................................................................................. 76

TANGRIMÉTRICO .............................................................................................................. 88

SELL & PLAY....................................................................................................................... 95

GEOPASS ........................................................................................................................... 102

STRECH´ABLE .................................................................................................................. 110

TRIFORM .......................................................................................................................... 116

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viii

ROUPEIRO ........................................................................................................................ 123

Parte III – Conclusão ................................................................................................................ 134

Referências ............................................................................................................................... 141

Índice de Figuras

Figura 1 - Esquema metodológico da dissertação .................................................................... 6

Figura 2 - Curva do desenvolvimento da imaginação de T. Ribot.......................................... 29

Índice de Tabelas

Tabela 1 – Estágios do desenvolvimento da criança – evoluções comuns [adaptado de

(Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 11)] ...................................................................................... 9

Tabela 2 - Linha cronológica de teorias do desenvolvimento estudadas ao longo dos

séculos [adaptado de (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 8)] .......................................... 12

Tabela 3- Cinco perspetivas sobre o desenvolvimento humano [adaptado de (Diane

Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 28)] ................................................................................................... 15

Tabela 4 - Estágios do desenvolvimento segundo Piaget [adaptado de (Diane Papalia, Sally

Wendkos Olds, 2009: 30)] ............................................................................................................................... 16

Tabela 5 - Habilidades motoras gerais na segunda Infância [adaptado de (Papalia et al.,

2006: 276) e (Menezes, Sassetti e Prazeres, 2012: 60 - 61)] ............................................................ 19

Tabela 6 - Habilidades motoras refinadas na segunda infância [adaptado de (Menezes,

Sassetti e Prazeres, 2012: 60 - 61)] ............................................................................................................. 19

Tabela 7 - O desenvolvimento cognitivo durante a segunda infância [adaptado de (Diane

Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 270)] ................................................................................................ 22

Tabela 8 - Aspetos imaturos do pensamento pré operatório (segundo Piaget) [adaptado de

(Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 270)] ................................................................................. 23

Tabela 9 - Características do brinquedo, adaptado de (Almeida, 2010: 10 - 11) .................... 40

Tabela 10 - Peso e altura da criança do sexo feminino mediante o percentil 3 e o 97

(Direcção-Geral da Saúde, 2006: 40 - 41) ................................................................................................. 67

Tabela 11 - Peso e altura da criança do sexo masculino mediante o percentil 3 e o

97(Direcção-Geral da Saúde, 2006: 44 - 46) ........................................................................................... 68

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Parte I – Componente Teórica

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1. Introdução

1.1 Definição do Problema

A criança desenvolve ao longo do seu crescimento capacidades cognitivas e motoras

que têm um importante contributo para o período escolar. Contudo, nem sempre

são adquiridas da melhor forma, sendo por isso importante estimular o seu

desenvolvimento e ajudá-la a crescer de forma mais construtiva.

Desde há muito tempo, os pais desempenham um papel fundamental na educação

das suas crianças, seguindo esta os passos dos progenitores. Todavia, atualmente a

criança passa menos tempo com os pais (possivelmente por razões de trabalho dos

mesmos). Tal aspeto, reflete-se no acompanhamento ministrado e consequente

educação.

As crianças necessitam permanentemente de um tutor como referência para que o

seu crescimento seja bem estruturado e assim possam adquirir a capacidade de

tomar decisões autónomas nas fases seguintes.

De forma a filtrar e consolidar as suas aprendizagens, a criança deve ter a

possibilidade de observar o “mundo real” que a rodeia, o ambiente e os objetos,

despertando em si a curiosidade que a leva a gatinhar, andar, mexer, imaginar,

juntar, criar e desenvolver.

Neste contexto, para compreender o desenvolvimento da criança é importante

observar ao longo do crescimento o seu comportamento físico, cognitivo e

emocional nos diversos ambientes em que possa estar inserida.

Esta matéria surge naturalmente quando o tema “criança” é abordado pois, desde o

seu nascimento até à adolescência, sofre um conjunto de mudanças quantitativas e

qualitativas (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 7) da maior importância, que

contribuem para o seu crescimento até à fase adulta. Sem a presença do estudo do

desenvolvimento na criança não seria possível adquirir noções de comportamentos

cognitivo, motor e psicossocial, e consequentemente, criar equipamentos,

brinquedos e as restantes ferramentas adequadas às mesmas.

Desta forma, poderá o design ser interventivo num espaço em concreto, o quarto da

criança, tendo em vista contribuir para o desenvolvimento de um projeto de

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interiores, levando a que este contribua e desperte na criança o máximo interesse e

cuidado, podendo também de alguma forma, tranquilizar os pais num espaço onde

os mais pequenos se possam sentir bem, estejam a maior parte do seu tempo e

possam ser estimulados enquanto brincam. Alguns pontos de enfoque serão o

lúdico, a segurança e a versatilidade estando presentes num conjunto de mobiliário

lúdico-funcional que visa a colaboração no crescimento da criança.

Assim, pode definir-se uma pergunta que estará patente ao longo do projeto: que

melhorias poderão ser feitas nos equipamentos habitualmente presentes no quarto

da criança para que possam contribuir para um melhor desenvolvimento da

criança?

1.2 Objetivo geral

Este trabalho pretende apresentar uma solução possível em resposta à pergunta

formulada, desenvolvendo o projeto de uma linha de quarto para o desenvolvimento

e crescimento da criança entre os 3 e os 6 anos, tendo a possibilidade de se estender

por mais anos. A faixa etária prende-se nesta fase da infância, pois é por esta altura

que começam a adquirir autonomia de explorar o que os rodeia, e quando acontece

o maior progresso a nível motor, cognitivo e social.

O projeto visa o mobiliário inerente ao quarto da criança, onde se pretende

desenvolver um conjunto de equipamentos lúdico-funcionais com o objetivo de dar

suporte às necessidades da mesma no seu dia-a-dia e contribuir para o

desenvolvimento das suas capacidades criativas e imaginárias.

1.3 Objetivos Específicos

O objetivo do estudo é compreender o universo da criança e o seu comportamento

associado ao espaço que a rodeia, retirando elações como auxilio à melhoria do

ambiente no quarto da criança.

Pretende-se também estabelecer a relação da criança com o brinquedo e as suas

funcionalidades, permitindo que este possa contribuir como estímulo ao

desenvolvimento da mesma.

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Além disso, propõe-se um levantamento de mobiliário com vista a apresentar

algumas das soluções já existentes no mercado e retirar conclusões para o projeto.

Adquirir noção da realidade da criança e das suas necessidades no quarto é outro

dos objetivos inerentes ao desenvolvimento do trabalho.

Com o projeto definido, pretende-se criar uma solução de mobiliário que torne

possível responder às características da criança e a sua relação com o mesmo.

1.4 A escolha do tema

O tema da presente dissertação de mestrado nasce do apreço pelos mais pequenos,

aliado ao interesse em explorar a vertente do mobiliário lúdico-funcional para

crianças. A forma como veem o mundo, a enorme criatividade e toda a energia a elas

inerente desperta um conjunto de possibilidades que permite a criação de novos

equipamentos e estruturas assim como inovar na combinação de novas formas e

materiais.

A vontade de trabalhar e desenvolver mais projetos na área infantil fez com que

houvesse uma pesquisa teórica mais aprofundada sobre o seu crescimento,

comportamento e desenvolvimento de modo a compreender as necessidades psico-

motoras associadas.

Surge a necessidade de contribuir com um conjunto de equipamentos que

complemente duas possibilidades, a lúdica e a funcional, sendo que o mercado atual

apresenta na sua totalidade, soluções que se focam apenas nas dimensões da

criança, deixando de lado a possibilidade de se poderem relacionar e interagir com

os mesmos (Oliveira, 2013: 10).

Assim, o mobiliário lúdico-funcional permitirá acompanhar e promover o

crescimento da criança através da combinação de jogos, formas e cores,

desenvolvido com base nos equipamentos e matérias lúdico-funcionais existentes.

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1.5 Metodologia da Investigação

A metodologia usada na presente dissertação divide-se em duas áreas

complementares. Na primeira, de carácter teórico encontra-se o estudo

aprofundado do comportamento e necessidades da criança na segunda infância

(entre os 3 anos e os 6 anos de idade) recorrendo a estudos já efetuados por

psicólogos, educadores de infância e psiquiatras, em monografias e artigos

científicos.

Abordam-se matérias que auxiliam o desenvolvimento do projeto como é o caso da

iluminação, o estudo da cor, a antropometria e ergonomia permitindo uma correta

interação entre o utilizador e o equipamento (a criança e o mobiliário).

Apresentam-se entrevistas a algumas famílias, que possibilitam a extração de

informação detalhada acerca do dia-a-dia e interesses das crianças, do mobiliário

existente nos seus quartos e suas funções. A opinião dos pais é tida em conta, pois

são estes que adquirem o mobiliário para os filhos e consideram determinados

aspetos importantes e úteis para as suas crianças. Esse conhecimento combinado,

auxilia no desenvolvimento do projeto.

Na segunda componente, de carácter prático, seguir-se-á a metodologia projetual

adquirida nas aulas de projeto ao longo do mestrado. Numa primeira fase, a

apresentação de esboços que, posteriormente, serão detalhadamente expostos

através da sua conceção tridimensional. O projeto terá como base todos os pontos

abordados ao longo da presente dissertação.

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Objetivo

A Criança

Psicologia e fatores

do seu

desenvolvimento

A atividade do brincar O quarto

Faixa etária em

estudo: 3 aos 6 anos O brinquedo e o seu

contributo ao

desenvolvimento

Mobiliário inerente e

as suas

funcionalidades

Atividade lúdica com

que os mesmos

podem contribuir

Casos de estudo: Visita

a quartos e entrevista

aos pais das crianças

Linha de mobiliário

lúdico-funcional

para o quarto da

criança

O papel do

brinquedo no quarto

Mobiliário como contributo

ao desenvolvimento

psicomotor da criança

Figura 1 - Esquema metodológico da dissertação

Permitir interatividade

com a criança

Funcional e lúdico em

simultâneo

Casos de estudo:

Mobiliário existente no

mercado

Observação do

mobiliário existente

no mesmo

Conclusões para o

projeto

Anotações de Pontos

Fortes e Fracos

Conclusões para o

projeto

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2. A criança na segunda infância

O comportamento e as ações da criança têm vindo a ser estudados ao longo dos

séculos com o objetivo de perceber melhor as razões das suas escolhas e suas

personalidades. A criança age por espontaneidade natural e quando cresce torna-se

um adulto com determinadas características. Em bebé, o indivíduo depende

inteiramente de um adulto, mas à medida que vai crescendo, adquire autonomia

atingindo pouco a pouco o estado de maturação. A criança, a partir dos seus 2/3 anos

de idade, começa a adquirir essa autonomia que de alguma forma, ajuda a revelar o

seu pensamento, as suas ações e o seu desenvolvimento. É desta forma que nasce a

necessidade de focar uma determinada faixa etária da criança, considerando esta, a

mais importante para o seu desenvolvimento. É também nesta fase que a criança

desenvolve características que estão profundamente ligadas aos objetos e ao

ambiente em que está inserida e, com a aquisição de competências intrínsecas ao

crescimento, como o correr, agarrar objetos com maior precisão, poderá interagir

com estes meios disponíveis em seu redor.

2.1 O desenvolvimento na criança

O campo de ação do desenvolvimento da criança está centrado nos seus processos

de mudança e de estabilidade. Para uma melhor compreensão deste

desenvolvimento, é necessário observar a forma como a criança muda desde o

nascimento até à sua adolescência, assim como prestar atenção às características

que nela permanecem relativamente estáveis. Deste modo, a mudança pode ser

classificada como quantitativa ― que ocorre em quantidade e é contínua (como, por

exemplo, a altura, o peso e a evolução do vocabulário) ― ou qualitativa― que ocorre

na forma, na estrutura ou na organização, e é descontínua visto não se poder prever

ou antecipar a forma como a criança pensa ou aprende as coisas (Diane Papalia, Sally

Wendkos Olds, 2009: 7).

As mudanças quantitativas e qualitativas têm um grande foco no desenvolvimento

físico, cognitivo e psicossocial ao longo dos vários estágios: Período pré-natal,

Primeira Infância, Segunda Infância e Terceira Infância (ver tabela 1). Para o

desenvolvimento físico contribui o crescimento do corpo e do cérebro, incluindo

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também o desenvolvimento das capacidades sensoriais. No desenvolvimento

cognitivo é possível observar a mudança das habilidades mentais, nomeadamente,

a aprendizagem, a atenção, memória, linguagem, pensamento, raciocínio e a

criatividade. Por fim, o desenvolvimento psicossocial acompanha a evolução da

personalidade, das relações sociais e das emoções inerentes. Apesar de interligados,

os desenvolvimentos, físico, cognitivo e psicossocial são influenciados pelo

ambiente em que a criança se insere, não sendo, portanto, a evolução destes três

parâmetros linear.

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Idade Evoluções Físicas Evoluções Cognitivas Evoluções Psicossociais

Primeira Infância,

período neonatal até à

primeira infância

(do nascimento até aos

3 anos

aproximadamente)

Todos os sentidos e sistema corporais funcionam no

nascimento em graus variados; O cérebro cresce em complexidade e é altamente

sensível à influência ambiental; O crescimento físico e o desenvolvimento de

habilidades motoras são rápidos;

As capacidades de aprender e lembrar estão

presentes já nas primeiras semanas; O uso de símbolos e a capacidade de resolver

problemas desenvolvem-se no fim do segundo

ano aproximadamente; A compreensão e o uso da linguagem

desenvolvem-se rapidamente;

O apego aos pais e a outras pessoas estabelece-

se; A autoconsciência desenvolve-se; Ocorre a passagem da dependência para a

autonomia; O interesse por outras crianças aumenta;

Segunda Infância

(dos 3 aos 6 anos)

O crescimento mantém o ritmo; a aparência torna-se

mais esguia e as proporções ficam mais parecidas com

a dos adultos; O apetite diminui e os problemas do sono tornam-se

comuns; Manifesta-se a preferência por uma das mãos; as

habilidades motoras grossas e finas melhoram e a

força aumenta;

O pensamento é bastante egocêntrico, mas

aumenta a compreensão da perspetiva de

outras pessoas; A imaturidade cognitiva resulta em algumas

ideias sem lógica sobre o mundo; A memória e a linguagem melhoram; A inteligência torna-se mais previsível; A experiência da pré-escola é comum e a do

jardim-de-infância mais ainda;

O autoconceito e a compreensão das emoções

tornam-se mais complexos; a autoestima é

global; A independência, a iniciativa e o auto -controlo

aumentam; A identidade de género desenvolve-se; A brincadeira muda e fica mais elaborada,

imaginativa e mais social. São comuns os

fatores com o altruísmo, o medo e a

agressividade; A família é o foco mais importante da vida

social, mas as outras crianças com quem

convive tornam-se importantes;

Terceira infância

(dos 6 aos 11 anos)

O crescimento desacelera; A força e as habilidades atléticas melhoram; As doenças respiratórias são comuns, mas a saúde

está geralmente melhor do que em qualquer outra

época do curso da vida;

O egocentrismo diminui. As crianças começam

a pensar logicamente, mas de forma concreta; As habilidades da memória e da linguagem

melhoram; Os ganhos cognitivos permitem que as crianças

beneficiem da educação formal;

A Auto perceção torna-se mais complexa,

afetando a autoestima; A partilha de regras reflete a passagem

gradual do controlo dos pais sob a criança; O grupo de amigos assume uma importância

central;

Tabela 1 – Estágios do desenvolvimento da criança – evoluções comuns [adaptado de (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 11)]

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Relativamente ao desenvolvimento físico este pode ser prejudicado caso, por

exemplo, a criança sofra frequentemente de infeções no pavilhão auricular, o que

pode atrasar o progresso da linguagem ou tornar a sua aprendizagem mais lenta

relativamente às outras crianças. É de notar que o desenvolvimento cognitivo se

encontra intimamente dependente do físico. No exemplo acima referido, o menor

crescimento físico acaba por se tornar prejudicial no relacionamento social da

criança no meio em que está inserida. Os desenvolvimentos físico e cognitivo

ganham ainda maior ênfase quando se refletem no crescimento psicossocial que a

criança adquire (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 10). Estes três pontos

contribuem de forma integrada para o crescimento da criança, tendo sido estudados

e inseridos nas fases de desenvolvimento da mesma para diferentes idades.

2.2 Influências do desenvolvimento

Apesar do vasto universo que compõe a criança e de ser importante compreender

as diferenças existentes entre elas, torna-se necessário encontrar pontos em

comum.

As crianças diferem no género, altura, peso, no nível de energia, no estado de saúde,

na inteligência, no temperamento, na personalidade e relações emocionais. O

contexto em que estão inseridas também varia consoante o local da habitação, a

comunidade em que se encontram, a escola que frequentam e a ocupação dos

tempos livres. Todos estes fatores, de forma direta ou indireta, contribuem para a

variabilidade existente em cada criança.

Outro aspeto a salientar na heterogeneidade do desenvolvimento da criança é a

observação do mundo à sua volta. Exemplo disso é a escola em que as crianças lidam

permanentemente com outras e as atitudes observadas influenciam-nas, originando

uma resposta reflexa de acordo com o apreendido.

A hereditariedade presente em cada uma das crianças traduz as características

genéticas, os aspetos da personalidade e semelhanças fenotípicas1 que não sendo

1 Fenotípica – adjetivo, relativo a fenótipo, BIOLOGIA aspeto de um organismo, considerando

determinados caracteres dentro do campo da hereditariedade;

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substituíveis ou alteráveis, representam uma herança genética desde a nascença

originando uma maior variabilidade.

O ambiente, já referido nos estágios do desenvolvimento, pode influenciar todas as

características da criança que são adquiridas consciente e inconscientemente,

através da experiência resultante da execução das tarefas diárias nas quais a criança

vai adquirindo as ferramentas e os estímulos necessários à sua maturação. Esta que,

através de uma sequência natural e universal de alterações físicas, comportamentais

e associada ao domínio de novas habilidades, possibilita à criança crescer.

2.3 Teorias do desenvolvimento – contexto histórico

A forma como o ser humano se desenvolve tem sido alvo de diversas teorias

apresentadas pela ciência. Por um lado, estas visam compreender e explicar

logicamente factos observados num contexto real, por outro, procuram relacionar

acontecimentos presentes com os que sucederam no passado. As teorias do

desenvolvimento seguintes apresentam-nos elações retiradas pelos diversos

autores ao longo dos tempos, pressupondo um estudo elaborado relativo ao ser

humano, mais concretamente à criança (tabela 2).

John Locke (1632-1704)

Filósofo inglês e precursor do behaviorismo, via a criança como uma

“lousa em branco” na qual pais e professores podem “escrever”

para criar o tipo de pessoas que desejam

Jean Jacques Rousseau (1712-1778)

Filósofo francês acreditava que o desenvolvimento ocorre

naturalmente numa série de estágios predeterminados e regulados

internamente. Via as crianças como “nobres selvagens” que nascem

boas e são corrompidas apenas em razão de ambientes repressivos

Charles Darwin (1809-1882)

Naturalista Inglês, Darwin é o criador da Teoria da Evolução, na

qual se acreditava que todas as espécies se desenvolveram por

meio de seleção natural – reprodução por indivíduos mais aptos a

sobreviver pela adaptação ao ambiente

G.Stanley Hall (1844-1924)

Psicólogo americano, chamado de “pai do movimento do estudo da

criança”, foi o primeiro a escrever um livro sobre a adolescência

John Dewey (1859-1934)

Filósofo e educador norte-americano, Dewey via a psicologia do

desenvolvimento como uma ferramenta para estimular valores

socialmente desejáveis. Iniciou o estudo das crianças em ambientes

sociais

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James Mark Baldwin (1861-1934)

Psicólogo norte-americano que ajudou a organizar a psicologia

como uma ciência. Baldwin fundou jornais e departamentos de

psicologia em universidades e enfatizou a interação entre

hereditariedade e ambiente

Maria Montessori (1870-1958)

Médica e educadora italiana, desenvolveu o método de educação

infantil com base em atividades escolhidas pelas próprias crianças,

num ambiente cuidadosamente preparado e que estimulava o

progresso disciplinado, das tarefas simples às mais complexas.

Tabela 2 - Linha cronológica de teorias do desenvolvimento estudadas ao longo dos séculos [adaptado de (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 8)]

Todos precisaram de observar as ações e experiências vividas por crianças de forma

a encontrar um padrão que demonstrasse as suas teorias relativas ao seu

desenvolvimento.

Hoje, os estudos efetuados com base também nos que foram feitos, percebe-se que

existem semelhanças entre as crianças que subsistiram em séculos anteriores. No

entanto nota-se uma clara evolução no desenvolvimento da criança e na importância

que esta representa. Antigamente, as crianças desempenhavam um papel diferente

na sociedade, sendo, desde cedo, destinadas para fins profissionais, pelo que o

crescimento da criança era tido em conta mais ao menos até aos 5 anos de idade e a

partir daí, optarem por seguir as profissões ou atividades que os pais

desempenhavam. O rapaz aprendia o ofício do pai, ou seguia para soldado, a rapariga

aprendia trabalhos relacionados com a casa (Ribeiro, 2012: 17 - 21).

Só as famílias mais abastadas criavam a possibilidade aos seus filhos de ter um

ensino semelhante ao que temos nos dias de hoje. Isto mostra-nos que a criança era

provavelmente ansiada para herdar a cultura e os costumes dos pais, e não para ter

uma vida propriamente “saudável” dentro do que temos em conta hoje.

Atualmente, os estudos mostram-nos que, é necessário compreender a evolução das

perspetivas sobre o desenvolvimento humano (ver tabela 3) tendo como principal

objetivo compreender o que podemos melhorar na sociedade em que vivemos,

aprimorar a interação com o ambiente que nos rodeia e contribuir na ligação com

os objetos. Nestes, é possível observar a relação entre a perspetiva apresentada e o

ser humano.

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A teoria Psicanalítica defende que o desenvolvimento humano pode ser moldado

por forças inconscientes que o motivam a executar as suas tarefas (Diane Papalia,

Sally Wendkos Olds, 2009: 27). A teoria da perspetiva da Aprendizagem tem como

base as mudanças de comportamento que são obtidas através da adaptação e

contacto com a realidade, resultando assim em experiência para o ser humano. Em

comum têm o facto de considerar que o pensamento está em constante mudança e

adaptação seja consciente (através da experiência) ou inconscientemente. Este

aspeto também é realçado nas teorias seguintes.

Na perspetiva Cognitiva, observa-se que o pensamento é central para o

desenvolvimento do individuo e que é por meio deste que se atinge um nível de

operações mentais mais avançado/complexo (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds,

2009: 33). O mesmo se verifica nas perspetivas Contextual e Evolutiva. Existem

ainda outras teorias do desenvolvimento humano, que apesar de não referidas na

tabela podem ser igualmente consideradas como é o caso do modelo mecanicista2

abordado por John Locke3.

Contudo, no âmbito deste trabalho considera-se a perspetiva Cognitiva como sendo

a mais adequada por se referir de forma mais aprofundada à criança assim como às

suas diferentes fases de evolução. Defendida por Vygotsky, Piaget e Rousseau4, esta

perspetiva visa a ocorrência de estágios qualitativamente diferentes num corpo

ativo. Contribui também para a visão do desenvolvimento humano como um todo

tendo em conta diferentes respostas a estímulos do ambiente envolvente

2 Modelo mecanicista: considera o desenvolvimento humano uma séria de respostas passivas e previsíveis

a estímulos; 3 John Locke (1632 – 1704), filósofo inglês e ideólogo do liberalismo. Foi um defensor dos direitos

humanos, e escreveu o livro “Ensaio acerca do Entendimento Humano” onde defende que o ser humano

tem o direito à vida e à liberdade; 4 Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778) foi um filósofo, teórico político, escritor e compositor. Defendeu a

importância da educação natural, sem limitar o pensamento da criança, de forma a poder desenvolver por

si, a capacidade de julgar e os seus sentidos.

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Perspetiva Teorias Importantes Princípios básicos Técnica utilizada Com base em

estágios Ênfase causal

Individuo ativo ou passivo

Psi

can

alí

tica

Teoria psicossexual de Freud

O comportamento é controlado por poderosas pulsões inconscientes

Observação clínica Sim Fatores inatos modificados pela experiência; interação entre fatores inatos e experienciais

Passivo

Teoria Psicossocial de Erikson

A personalidade é influenciada pela sociedade e se desenvolve mediante uma série de eventos

Observação clínica Sim Experiência Ativo

De

ap

ren

diz

ag

em

Behaviorismo, ou teoria da aprendizagem tradicional (Pavlov, Skinner, Watson)

As pessoas são respondentes; o ambiente controla o comportamento

Procedimentos científicos (experimentais) rigorosos

Não Experiência Passivo

Teoria da aprendizagem social

As crianças aprendem em contexto social pela observação e pela imitação de modelos. As crianças contribuem ativamente para a aprendizagem

Procedimentos científicos (experimentais) rigorosos

Não Experiência modificada por fatores inatos

Ativo e passivo

Co

gn

itiv

a

Teoria dos estágios cognitivos de Piaget

As mudanças qualitativas no pensamento ocorrem desde o nascimento até a adolescência. As crianças iniciam ativamente o desenvolvimento

Entrevistas flexíveis; observação meticulosa

Sim Interação entre fatores inatos e experienciais

Ativo

Teoria sociocultural de Vygotsky

A interação social é central para o desenvolvimento cognitivo

Pesquisa intercultural; observação da criança interagindo com uma pessoa mais competente

Não Experiência Ativo

Teoria do processamento de informações

Os seres humanos são processadores de símbolos

— — — —

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15

Co

nte

xtu

al

Teoria biológica de Bronfenbrenner

O desenvolvimento ocorre por meio da interação entre uma pessoa em desenvolvimento e cinco sistemas contextuais de influências circundantes e entrelaçadas, desde o microssistema até o cronossistema

Pesquisa de laboratório; monitoramento tecnológico de respostas fisiológicas

Observação e análise naturalista

Não Interação entre fatores inatos e experienciais

Ativo e passivo

Ev

olu

tiv

a/

So

cio

bio

lóg

ica

Teoria do apego de Bowlby Os seres humanos têm mecanismos adaptativos para sobreviver, períodos críticos ou sensíveis são enfatizados; as bases evolutivas biológicas para o comportamento e a predisposição para a aprendizagem são importantes

Observação de laboratório e naturalista

Não Interação entre fatores inatos e experienciais

Ativo e passivo (os teóricos variam)

Tabela 3- Cinco perspetivas sobre o desenvolvimento humano [adaptado de (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 28)

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2.4 Teoria cognitiva

Jean Piaget (1896 – 1980) prestigiado cientista dedicou parte da sua vida aos

estudos do desenvolvimento da criança. Tendo compreendido que a criança não

poderia ser estudada da mesma forma, desde o seu nascimento até à idade adulta,

criou estágios que permitiram dividir o estudo do desenvolvimento por idades e

relacioná-los com o desenvolvimento físico, psicossocial e cognitivo (tabela 4).

Neste trabalho, o objetivo será abordar a fase Pré-Operatória, ou seja, dos 2/3 até

aos 6/7 anos de idade.

Estágios Cognitivos (Piaget)

Sensório-motor

(desde que nasce até aos 2 anos de idade)

A criança torna-se gradualmente capaz de

organizar atividades em função do ambiente,

mediante a atividade sensorial e motora;

Pré-Operatório

(dos 2 aos 7 anos aproximadamente)

A criança desenvolve um sistema de

representações e usa símbolos para representar

pessoas, lugares e eventos. A linguagem e o jogo

imaginativo são manifestações importantes deste

estágio. O raciocínio ainda não é lógico;

Operações concretas

(dos 7 aos 11 anos aproximadamente)

A criança consegue resolver problemas

logicamente se estes estiverem focados no

presente, mas não consegue pensar de forma

abstrata;

Operações formais

(dos 11 anos à idade adulta)

Consegue pensar de forma abstrata, lidar com

situações hipotéticas e pensar nas possibilidades;

Tabela 4 - Estágios do desenvolvimento segundo Piaget [adaptado de (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 30)]

3. Fase Pré-Operatória (2/3 anos – 6/7 anos)

Na fase Pré-Operatória a criança tem a capacidade de desenvolver um maior número

de habilidades e conhecimentos relativamente às fases seguintes, considerando-se

por isso uma fase muito rica e decisiva (note-se que esta fase considera um intervalo

de tempo relativamente grande comparativamente aos períodos seguintes). É uma

fase mais lenta do que a primeira infância (do nascimento até aos 3 anos de idade),

no entanto, as características que a criança adquiriu nesse período estão presentes

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e interligadas com a segunda fase, não podendo, deste modo, ocorrer com outra

ordem cronológica o desenvolvimento e crescimento da criança.

Neste contexto, torna-se relevante compreender o desenvolvimento da criança nas

diversas fases, assim como o que cada uma contém e em que intervalos de idade se

encontram normalmente associadas.

Noção espacial – A criança até aos 4 anos de idade têm pouca noção espacial sendo

necessário esperar até aos 7 anos, aproximadamente, para que a criança consiga

diferenciar e reconhecer as formas geométricas; Deixá-la colocar e transportar

objetos de pequenas dimensões de um lado para o outro e dar-lhe objetos pequenos

para os colocar dentro de objetos grandes pode ser também um estímulo

importante(Teodoro, 2013: 66);

Equilíbrio – É interessante para a criança pelo desafio de colocar estruturas de pé

sem as desequilibrar, como jogos de blocos em madeira ou outros. Verificou-se o

interesse pela compreensão do equilíbrio nas brincadeiras individuais nas quais a

criança modifica repetidamente a colocação dos blocos para ver se o suporte

continua equilibrado e o interesse nas brincadeiras em grupo, quando há troca de

ideias e sugestões para evitar a queda (Zaia, 2008: 91);

Memória – brincar com jogos de memória pode ser um desafio interessante para a

criança que nesta fase tem, igualmente, a memória a desenvolver-se;

Motricidade - ter à disposição objetos que sejam moldáveis como o papel para

rasgar ou dobrar, plasticina para torcer ou moldar, esponja para apertar, podem ser

estimulantes a nível do uso das mãos; objetos onde a criança possa pedalar ou

exercitar recorrendo a capacidades motoras mais finas, como brinquedos com

pedais ou manivelas, onde o movimento seja contínuo e rotativo (Teodoro, 2013:

67);

Coordenação – é um fator importante a ter em conta no desenvolvimento da

criança, e para tal, arrastar, mover ou puxar objetos enquanto caminha, subir e

descer poucos degraus, podem ser potenciais ferramentas (Teodoro, 2013: 68);

Para a criança nesta fase, tudo tem uma causa, nada acontece por acaso, não

compreendendo acontecimentos aleatórios. É importante que ela adquira

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disciplina5 que será um valioso contributo para que a sua formação pessoal seja mais

completa. Este fator terá repercussões para a sua vida futura que, sem educação,

seria a mesma coisa que deixá-la sem orientações.

3.1 Desenvolvimento motor

O desenvolvimento motor da criança neste estágio reflete-se no seu crescimento

físico com uma modificação na estrutura e formas corporais assim como um visível

melhoramento das suas capacidades motoras gerais (Papalia et al., 2006: 276).

Nesta fase, e resultante do aprimoramento da sua capacidade motora, a criança

começa a usar as suas “novas” características físicas para explorar e conhecer o

universo, tendo em si um espírito de aventura e descoberta no mundo que a rodeia.

É também nesta fase que se encontra especialmente apta para receber estímulos e

informações visuais, auditivas e tácteis.

As habilidades motoras gerais (tabela 5) podem ser definidas como sendo as

primeiras e mais acessíveis ou fáceis de executar, como, por exemplo, correr e saltar,

estando intimamente relacionadas com atividades coletivas com outras crianças

(Rani Lauder, 2008: 23). Estas atividades são também associadas a grandes

músculos corporais, recrutando toda a estrutura músculo-esquelética e permitindo

o seu melhor desenvolvimento. Além disso, encontram-se relacionadas com o

desenvolvimento do córtex cerebral permitindo uma melhor coordenação dos

movimentos por parte da criança.

Surgem também, nesta altura, as habilidades motoras refinadas (tabela 6), como,

por exemplo, o desenhar que implica uma maior precisão e, ao longo do tempo,

permitirá definir a mão dominante com que a criança irá escrever. A coordenação

entre os olhos e as mãos também é desenvolvida durante a segunda infância, quando

a criança, de forma mais autónoma, se começa a vestir e apertar os botões da roupa

que usa, utilizando para isso músculos menores, no entanto de maior precisão.

5 Termo técnico – Disciplina: métodos para moldar o caráter das crianças e ensiná-las a exercer o

autocontrolo e a manifestar comportamentos aceitáveis;

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Por conseguinte, para o melhor desenvolvimento destas capacidades é importante

que a criança tenha ao seu dispor equipamentos apropriados e seguros: brinquedos

de tamanho adequado que facilitem à criança o ato de agarrar sem que haja danos e

que possam ajudar no desenvolvimento lógico e de encaixe de formas,

nomeadamente, puzzles, jogos didáticos ou jogos de sequências lógicas de

arrumação de objetos.

Crianças de 3 anos Crianças de 4 anos Crianças de 5/6 anos

Não são capazes de virar ou

parar rapidamente

Tem um controlo mais eficaz

para parar, iniciar e virar

São capazes de iniciar, virar

e parar eficazmente em jogos

São capazes de saltar a uma

distância entre 30 cm e 60cm

São capazes de saltar a uma

distância de 60 a 84 cm

Podem saltar correndo uma

distância entre 70 e 90 cm

São capazes de subir escadas

sem se apoiar, alternando os

pés e desce com os dois pés no

mesmo degrau

São capazes de descer uma

escada comprida alternando

os pés, se apoiadas

São capazes de descer uma

escada comprida sem apoio,

alternando os pés

São capazes de saltar, utilizando

principalmente uma séria

irregular de saltos com algumas

variações

São capazes de saltar entre 4 a

6 passos apenas sobre um dos

pés

São capazes de ir saltando a

uma distância de 4,8 m com

facilidade

Equilibra-se momentaneamente

num pé

Fica apoiado num pé durante

3 a 5 segundos

Fica num pé 3 a 5 segundos

com os braços dobrados

sobre o tórax

Tabela 5 - Habilidades motoras gerais na segunda Infância [adaptado de (Papalia et al., 2006: 276) e (Menezes, Sassetti e Prazeres, 2012: 60 - 61)]

Crianças de 3 anos Crianças de 4 anos Crianças de 5/6 anos

Constrói torre de 9 cubos Constrói escada de 6 cubos Constrói 4 degraus com 10

cubos

Combina duas cores geralmente

o vermelho e o amarelo

(confunde o azul e o verde)

Combina e nomeia 4 cores

básicas

Conta 5 dedos de uma mão e

nomeia 4 cores

Tabela 6 - Habilidades motoras refinadas na segunda infância [adaptado de (Menezes, Sassetti e Prazeres, 2012: 60 - 61)]

Manutenção da saúde e boa forma

A criança deve ter ao longo do seu crescimento uma atividade física regular que, ao

manter o metabolismo do organismo a um nível adequado, contribuirá para

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prevenir futuros problemas de saúde. Por isso, considera-se importante que ela

tenha ao seu dispor algumas ferramentas que possam estimular a sua atividade,

como equipamentos lúdicos e brinquedos físicos. Sabe-se também que a atividade

física da criança, principalmente nesta idade, começa a focar-se no seu próprio

espaço, o quarto (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 252 - 261).

3.2 Desenvolvimento cognitivo

Pensamento pré-operatório

O período compreendido, aproximadamente, entre os 2 e os 7 anos define, segundo

Piaget, o estágio Pré-Operatório, e durante este ocorre a evolução da criança do

estágio anterior (Sensório Motor) para o atual. É normalmente notória a

transformação a nível cognitivo através da função simbólica6 que a criança usa para

atribuir significados e significantes à realidade que está ao seu redor. No entanto,

nesta fase a criança ainda não é capaz de usar a lógica para associar objetos ou

entender a importância dos mesmos (Flavell, 1996: 152 - 161).

Neste sentido, a função simbólica apoia as crianças no estágio Pré-Operatório a fazer

julgamentos mais precisos das relações espaciais, categorizar coisas vivas e

inanimadas e estabelecer ligações entre causa e efeito. É nesta fase que começam a

adquirir noções de quantidades e a perceber princípios numéricos, como a ordem

numérica simples, por exemplo, a contagem de 1 a 10 (ver tabela 6).

Compreensão espacial

Perto dos 3 anos de idade, a criança começa a compreender os objetos no espaço, as

relações entre figuras ou imagens e objetos maiores e menores, no entanto, a

compreensão espacial ainda não é 100% assertiva pois vai sendo aprimorada.

Aproximadamente aos 5 anos de idade, a criança já domina essa perceção

permitindo-lhe retirar elações mais precisas das relações espaciais dos objetos, e

desta forma, fazer o seu juízo de valor acerca de cada uma delas considerando-as

úteis ou não, naquele momento, para a sua evolução.

6 Função Simbólica: termo de Piaget referente à capacidade da criança de usar representações mentais

(palavras, números e imagens), às quais atribui um significado (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009);

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Ao longo do estágio Pré-Operatório e através da experiência que a criança vai

obtendo, surgem outros avanços no desenvolvimento (ver tabela 7),

nomeadamente, o animismo e o egocentrismo da criança. A evolução da

compreensão da própria criança permitirá que, com o passar do tempo, sejam

ultrapassados pensamentos imaturos e assim, distinguirá as coisas que vão

aparecendo à sua volta.

Todos os avanços e aspetos imaturos referidos na tabela 8 são baseados em estudos

realizados ao longo do tempo e compilam características observadas nas gerações

que passaram e cresceram até aos dias de hoje. Atualmente, a criança é vista como

um indivíduo em expansão, principalmente a nível social e cognitivo, sendo por isso

consideradas primordiais todas as fases da infância para o seu correto

desenvolvimento.

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Avanço Significado Exemplo

Uso de símbolos

As crianças não precisam de estar em contato sensório-motor com um objeto,

pessoas ou evento para pensar sobre eles; As crianças são capazes de imaginar que objetos ou pessoas têm outras

propriedades além daquelas que realmente têm

A criança pergunta à mãe sobre os elefantes que viram no circo que

visitaram meses antes; A criança faz de conta que uma fatia de maçã é um aspirador

Entendimento de

identidades

As crianças têm consciência de que alterações superficiais não mudam a natureza

das coisas

Tiago sabe que a professora está vestida de pirata, mas que ainda é a

professora debaixo das roupas

Entendimento de

causa e efeito

As crianças percebem que os eventos têm causas Vendo uma bola a sair de trás da parede, Tânia procura a pessoa que

chutou a bola de trás da parede

Capacidade de

classificar

As crianças organizam objetos, pessoas e eventos em categorias significativas Mário classifica as pinhas que colheu num passeio em duas pilhas, de

acordo com os tamanhos “grandes e pequenos”

Entendimento de

número

As crianças podem contar e lidar com quantidades Raquel divide alguns doces com as amigas, contando cada um para

ter certeza de que cada menina recebe a mesma quantidade

Teoria da mente

As crianças tornam-se mais conscientes da atividade mental e do funcionamento

da mente

Sara quer guardar alguns biscoitos para si, então esconde-os do

irmão numa caixa. Ela sabe que os seus biscoitos estarão a salvo

porque o seu irmão não os procurará num lugar onde ele não espera

encontrar biscoitos

Tabela 7 - O desenvolvimento cognitivo durante a segunda infância [adaptado de (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 270)]

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Limitação Descrição Exemplo

Centração: incapacidade de

descentralizar

As crianças atentam para um aspeto de uma situação e

negligenciam outros

O irmão mais velho provoca a irmã mais nova dizendo que ele tem mais

sumo do que ela, porque o sumo dele está num copo alto e fino e o da irmã

está num copo baixo e largo

Irreversibilidade

As crianças não conseguem entender que algumas

operações ou ações podem ser revertidas e retornar à

situação original

O irmão mais velho não percebe que o sumo de cada copo pode ser colocado

novamente no pacote, contradizendo o que disse no início de que tem mais

sumo do que a irmã

Foco mais no estado do que

nas transformações

As crianças não conseguem entender o significado da

transformação

Na tarefa de conservação, o irmão mais velho não entende que a

transformação do líquido do copo grande e baixo não altera a quantidade

Raciocínio transdutivo

As crianças não usam raciocínio dedutivo ou indutivo;

em vez disso, passam de uma particularidade para

outra e veem causalidade onde não existe

Sara maltratou o irmão, então ele ficou doente. Sara concluiu que ele ficou

doente por causa dela

Egocentrismo As crianças presumem que todas as outras pessoas

pensam, percebem e sentem como elas

O filho não percebe que precisa de virar o livro do qual está a pedir uma

explicação para o seu pai, estando apenas virado para si mesmo

Animismo As crianças atribuem vida a objetos inanimados Pedro diz que a primavera está a tentar chegar mas o inverno não deixa

dizendo “Eu não vou embora”

Incapacidade de distinguir

entre aparência e realidade

As crianças confundem o real com o aparentemente

visível

Inês fica confusa com uma esponja feita em fora de pedra afirmando que

parece uma pedra e que é realmente uma pedra

Tabela 8 - Aspetos imaturos do pensamento pré operatório (segundo Piaget) [adaptado de (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 270)]

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3.3 Desenvolvimento da memória

Durante a fase Pré-Operatória a criança começa a reter determinados momentos da

vida na sua memória. A apreensão desse conhecimento ocorre mais facilmente se a

estiver ativamente presente, ou seja, se for a mesma a executar a tarefa em vez de

estar apenas a ver.

Tal facto foi demonstrado por um estudo realizado na Nova Zelândia em que se

propôs estudar a memória de crianças entre os 5 e os 6 anos sobre um evento

concreto: visitar um “pirata”. As crianças em estudo poderiam ouvir um relato sobre

o pirata ou experimentar ser um pirata. Verificou-se que as crianças que

experimentaram ser um pirata recordavam-se de detalhes (por exemplo, vestir as

roupas do pirata, conduzir o navio, encontrar o tesouro) mesmo alguns dias depois.

Esses detalhes foram também muito mais completos e precisos do que no grupo que

apenas ouviu o relato (Papalia et al., 2006: 302).

Os estudos efetuados também revelam que através da memória as crianças

melhoram a sua atenção, a velocidade e a eficiência com que processam as

informações e, com isto, conseguem criar lembranças de longa duração (Papalia et

al., 2006: 302), que se tornam úteis em situações de aprendizagem para o dia-a-dia,

como saber apertar os atacadores ou andar de bicicleta. Mais uma vez, a memória

associada à realização da tarefa permite que a criança adquira de forma permanente

essa informação.

A importância do desenvolvimento da memória não estará apenas incidida no

executar de uma tarefa, mas também em situações que possam repercutir a nível

emocional algo positivo ou negativo na criança. Por exemplo, se a criança vir um

brinquedo, mas não o tiver em sua posse, ao recebê-lo, irá suscitar um sentimento

de felicidade. Esse sentimento irá ficar associado à imagem daquele brinquedo em

concreto. Por outro lado, se a criança se magoar com um outro brinquedo, a

sensação de dor fará com que estabeleça uma sensação de medo ou hesitação

perante o mesmo.

Em suma, a memória torna-se na infância uma ferramenta relevante para a criança

mesmo que ela ainda não tenha a noção disso, devendo ser estimulada de forma

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direcionada e com o auxílio de objetos e ambientes que proporcionem à criança a

possibilidade de se desenvolver e crescer nesse sentido.

3.4 Desenvolvimento da linguagem

No período pré-operatório, é possível verificar um grande desenvolvimento da

linguagem por parte da criança. A linguagem que, na fase Sensório Motora, era

caracterizada por pequenas palavras começa a evoluir e torna-se mais

enriquecedora.

Ao nível do vocabulário a criança aos 3 anos poderá ter adquirido em média, cerca

de 1000 palavras e até então torna-se capaz de usá-las e formar pequenas frases.

Perto dos 6 anos de idade, emprega cerca de 2600 palavras e compreende cerca de

20 000 palavras (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 283)(Lauder, 2008: 24,

26). Ao nível da gramática e sintaxe, a criança nesta fase aumenta

consideravelmente a capacidade para formar palavras e consequentemente frases

que, embora pequenas, são já compostas por alguns adjetivos, pronomes e

preposições (Lauder, 2008: 26).

A constante evolução faz com que a criança, por volta dos 5 anos, tenha um discurso

semelhante ao do adulto, podendo esta verbalizar frases relativamente longas e

complexas de acordo com o vocabulário apreendido. Deste modo, a criança por esta

altura terá bases de linguagem que serão consolidadas ao entrar para a escola

(Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 284). É nesse sentido que o

desenvolvimento a nível motor e cognitivo se revelam importantes para que a

linguagem na criança surja de forma natural e curiosa.

Embora se verifique que algumas crianças atrasam a linguagem mesmo estando

sujeitas a estímulos, será sempre importante o acompanhamento do adulto. Sabe-se

que quanto mais a criança vê mais ela vai assimilar e entender sendo importante

que esta se encontre num ambiente propício ao seu desenvolvimento. O contacto

com os objetos e brinquedos permitirá a sua interação com os mesmos e um melhor

desenvolvimento da linguagem.

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3.5 Desenvolvimento artístico

Na fase Pré-Operatória surge na criança, o predomínio de uma das mãos e alguns

esboços que demonstram o início da capacidade criativa e o desenvolvimento do

cérebro para o domínio do desenho.

Aos 2 anos de idade, a criança começa a fazer rabiscos e ziguezagues, como quem

desenha uns traços aleatórios no papel à procura de uma forma; e perto dos 3 anos,

por ordem natural, a criança procura desenhar formas geométricas básicas como

círculos e quadrados, representando desta forma, a realidade que assimila à sua

volta (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 258).

Por volta dos 4 anos, a criança inicia um processo criativo mais elaborado, onde se

revela a predominância de uma das mãos tornando-se capaz de desenhar formas

geométricas. O crescimento ao nível artístico contribui para que a criança possa

visualizar espacialmente os objetos e consiga relacioná-los em termos de distâncias

e tamanhos. Permitirá à mesma memorizar as características dos objetos e assim

definir quais considera mais atrativos ao seu estímulo (exemplo pode ser uma

criança que opte por um brinquedo amarelo em madeira com rodas em vez de um

boneco verde plástico).

3.6 Desenvolvimento da imaginação e criatividade

A imaginação e a criatividade são dois termos de considerada importância na

infância de uma criança. Estes são considerados tão relevantes quanto o

desenvolvimento da criança, pois acabam por contribuir para que esta tenha a sua

atividade criativa, expressando-se de diversas formas e em diferentes áreas

nomeadamente, o desporto, o teatro, a leitura e escrita. Para que tal aconteça, será

relevante que a própria criança comece a adquirir algum tipo de gosto por alguma

dessas áreas e que a sua plasticidade cerebral e memória orgânica7 estejam aptas,

de forma a contribuírem na antevisão das ações do ambiente que a rodeia (Vygotsky,

2012: 12). Isto servirá principalmente, como auxílio à construção do pensamento e

imaginação que a criança poderá desenvolver.

7 Memória orgânica: consiste na capacidade de acumular informação em condições de uso imediato.

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Contudo, segundo Vygotsky, a imaginação deve ser classificada em duas vertentes:

a imaginação reprodutiva que está ligada à memória e centra-se em projetar o que

se observou tal e qual o nosso registo; e a imaginação criativa no qual este autor

define que esta é transcendente à própria memória, podendo tornar-se abstrata ou

exequível sem sequer se pensar o que se pretende e passando de forma automática

ao ato de “fazer”. No decorrer da infância podem ser observadas estas duas

vertentes. (Vygotsky, 2012: 39).

Em Imaginação e criatividade na Infância o autor refere que, “a imaginação,

fundamento da atividade criativa, revela-se de modo claro em todos os aspetos da vida

cultural. Ela é a abertura à criação artística, científica e técnica”(Vygotsky, 2012: 13).

Nesta citação é percetível que o universo criativo se encontra em todo o envolvente

desde o ambiente até às pessoas permitindo à criança revelar o seu génio criador.

No que diz respeito à psicologia da educação, o fator imaginativo é considerado uma

ferramenta importante pois promove a maturação e o pensamento lógico da criança

sobretudo nos jogos e nas brincadeiras que lhe são proporcionados ou que a própria

proporciona, demonstrando assim a importância da envolvente e dos objetos que

tem ao seu dispor. Desta forma, a criação de bases largamente sólidas para o

desenvolvimento criativo da criança, deve considerar a necessidade de expandir a

experiência da criança, pois quanto mais ela vê, mais irá assimilar e

consequentemente desenvolver-se-á melhor.

Além disso, a criança representa na sua cabeça a imagem do que vê, tendo

impressões reais da cena por ela criada devido a elementos afetivos que associa,

quer seja uma situação de alegria, susto ou medo. Tal aspeto é contemplado por

Vygotsky referindo que “Todas as formas de imaginação criativa incluem em si

elementos afetivos” (Vygotsky, 2012: 39).

Imaginação enquanto mecanismo

Perante o que já foi referido anteriormente torna-se claro que a imaginação, é na sua

essência, um processo bastante complexo. Embora Vygotsky seja um autor do século

XX, é considerado uma referência científica na temática da mente e da criatividade

infantil. Apesar das crianças contemporâneas a este autor terem vivido num

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ambiente e um nível de vida diferente do atual, tem sido verificado que há uma

sobreposição de processos quando se trata a educação infantil. É, deste modo,

possível cruzar a informação obtida por Vygotsky com a desenvolvida atualmente.

A atividade imaginativa não se inicia no ato do nascimento, pois nessa altura já

ocorreu um longo processo de desenvolvimento da mente do bebé. Após o

nascimento, torna-se importante proporcionar o acompanhamento necessário para

promover estímulos que irão definir na criança, uma clara imagem da realidade

permitindo manter a sua imaginação e criatividade no sentido certo (Vygotsky,

2012: 47). Além disso, Vygotsky considera ser necessário que, durante a infância, a

criança tenha oportunidade de desenvolver as suas fantasias, visto que à medida que

a criança cresce a sua imaginação começa a diminuir (Vygotsky, 2012: 58).

A vida do ser humano é composta por várias fases. Apesar da importância

característica e inerente a cada uma delas, a infância adquire um especial relevo

tendo em conta que compromete o crescimento correto do indivíduo desde muito

cedo.

Neste sentido, como tem sido referenciado ao longo da dissertação, a infância é um

período crítico para a imaginação e criatividade. Tudo o que é apreendido nessa fase

pela criança fica no seu consciente e no seu inconsciente, criando uma memória que

irá acompanhar o seu desenvolvimento até ao futuro.

As atividades desenvolvidas pelo ser humano, nessa fase, são da maior importância,

reforçando mais uma vez que será sempre imprescindível dar à criança as bases

suficientes para que a mesma possa, ao longo do seu crescimento, aprimorá-las e

adquirir a sua autonomia da maneira mais assertiva e tornar-se capaz de fazer

escolhas que façam dela um adulto exemplar. Diversos autores defendem que não

só a imaginação como também o raciocínio, atingem a maturidade em determinada

idade.

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Figura 2 - Curva do desenvolvimento da imaginação de T. Ribot8

Na figura 1, é possível observar o ponto I que representa o início de vida de um ser

humano e que representa, numa primeira fase, o desenvolvimento da imaginação,

em que, claramente, se percebe que aumenta gradualmente até M, considerado o

ponto de maturação. Numa segunda fase pode observar-se o declínio do

desenvolvimento da imaginação que se inicia aproximadamente nos 60 anos de

idade e se prolonga até ao seu falecimento.

O desenvolvimento do raciocínio e da inteligência é representado pela linha que se

inicia em R e vai até O, tendo oscilações ao longo da vida, no entanto mantendo um

crescimento gradual. É de notar a diferença existente entre os pontos I, relacionado

com o desenvolvimento da imaginação, e o ponto R onde se localiza o início do

desenvolvimento da inteligência e raciocínio. Segundo Ribot, essa diferença verifica-

se porque antes do ser humano começar a desenvolver as suas capacidades lógicas

e de pensamento, precisa de ter um período anterior de conhecimento, observação

e experimentação de forma a perceber o significado do mundo que o rodeia

(Vygotsky, 2012: 60).

A força da imaginação

O universo infantil é caracterizado pelo tempo que o indivíduo tem para criar e

imaginar através do mundo que o rodeia. Ao longo do crescimento da criança parte

desse universo é esquecido. Por essa razão e por outras até então desconhecidas,

8 T. Ribot: (1839-1916), foi um psicólogo francês e professor de psicologia experimental dedicando

grande parte da sua vida ao estudo da parte mental do ser humano;

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devido à complexidade da mente humana, a criança quando atinge a fase adulta,

deixa para trás a fase da imaginação criativa que, segundo vários autores de

psicologia infantil, é a mais enriquecedora encontrando-se nela o início da

aprendizagem e conhecimento do mundo. É também nesta fase que, “ingenuamente”

a criança acredita que pela força da imaginação tudo é possível.

Neste sentido, Vygotsky afirma que “a criança pode imaginar muito menos coisas do

que um adulto, mas acredita mais nos produtos da sua imaginação e controla-os

menos e por isso a imaginação, no dia-a-dia, no sentido comum da palavra, isto é, algo

irreal ou inventado, é certamente maior na criança do que no adulto”(Vygotsky, 2012:

60 - 63). Assim sendo, deve deixar-se espaço para que a criança possa explorar o que

encontra em seu redor, permitindo que ela comece por aquilo que lhe desperta uma

maior atenção.

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3.7 Conclusão Intermédia

Ao longo do capítulo foi possível compreender que se deve ter em conta variados

fatores que contribuem para o crescimento da criança dos 3 aos 6 anos. Desde o

desenvolvimento cognitivo e psicomotor da criança, que inclui a linguagem,

raciocínio e imaginação até ao domínio do equilíbrio, coordenação. A memória e a

aquisição de noção espacial também revelam nas crianças desta faixa etária, um

importante progresso.

A imaginação deve ser estimulada ao máximo desde cedo, através de equipamentos

e brinquedos, para que esta possa compreender espacialmente os objetos e os seus

significados. O desenvolvimento da memória ocorre através da execução da tarefa,

ou seja, a criança deve experimentar, criar e montar para apreender o que executa.

O equilíbrio e a coordenação acontecem através dessa experimentação com o

agarrar, levantar e explorar, revertendo num longo processo de raciocínio que está

agora a iniciar-se. Por isso, a interação da criança com o mundo que a rodeia é

essencial, para que, esta possa desenvolver as suas capacidades.

Foram demonstradas teorias de diversos autores de forma a compreender a

evolução da criança ao longo da sua infância, apresentados dados importantes e

relativos à mesma nas idades que vão ocorrendo. Como foco principal, do período

designado por pré-operatório, foram tidas em conta, características que se revelam

numa criança compreendida nesta fase.

Torna-se assim imprescindível esta matéria para a criação de uma componente

prática. Nesta perspetiva, é viável refletir de que forma se pode contribuir mais e

melhor para o crescimento saudável da criança.

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4. Brincar

4.1 Noção de brincar

Segundo o dicionário da língua Portuguesa, a palavra brincadeira é em primeiro

lugar o ato de brincar, um divertimento geralmente patente na criança. Esta,

segundo Oliveira, “constitui o recurso privilegiado de desenvolvimento da criança em

idade pré-escolar. Nela, afeto, motricidade, linguagem e perceção, representação,

memória e outras funções cognitivas são aspetos profundamente interligados.”

(Oliveira, 1996: 144).

Desde há séculos que a atividade do brincar está presente no universo infantil. Todo

o ser humano passa por um processo de crescimento no qual se pode ter em conta

o ato de brincar enquanto contributo para os domínios do desenvolvimento. É um

ato geralmente conhecido pelos pediatras, psicólogos e educadores como uma

atividade natural e instintiva na criança (Play Wales, 2013: 2) Na declaração

universal dos direitos da criança pode ler-se que “ a criança deve desfrutar

plenamente de jogos e brincadeiras, que deverão estar orientados para os objetivos

da educação” (GDDC, 1959). Tal ato, permite a estimulação dos sentidos e o uso dos

músculos, ajuda a coordenar a visão com o movimento e oferece à criança a

possibilidade de adquirir novas habilidades e capacidades para expandir o seu

conhecimento (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 308 - 312).

Existem inúmeros casos de estudo centrados na observação da atividade da criança

ao longo do seu desenvolvimento, no entanto alguns indicam haver fatores

diferenciados pelo género e cultura da criança enquanto brinca.

Um caso recente analisado por Rosado em “A brincadeira enquanto promotora do

desenvolvimento da criança”, explora os primeiros anos de vida dos mais pequenos

demonstrando a brincadeira e o brincar como ferramentas fundamentais e

intrínsecas à criança, complementando que estes contribuem para o aumento da

destreza e coordenação motora (Manuela João Santana Rosado, 2013: 1 - 2).

No que diz respeito à cultura, ao observar diversas regiões do mundo, distintas da

presente na sociedade portuguesa, percebe-se que as dimensões social e cognitiva

do ato de brincar têm um registo diferente daquele que se conhece em Portugal. Este

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é principalmente influenciado pelo ambiente que o adulto prepara para a criança

brincar e, é através desse contexto, que se encontram os valores culturais de uma

civilização (Papalia et al., 2006: 328 - 332).

4.2 Formas de brincar

Existem várias formas para que a criança ponha em prática a sua maneira de brincar,

uma vez que cada uma tem um pensamento e personalidade diferentes. São tidos

como fatores importantes a idade, o género e a capacidade de assimilação de

informação, que ajuda a definir em cada espaço onde a criança se insere, a maneira

como esta se vai relacionar e interessar-se ou não pela atividade que está a ocorrer.

Num contexto específico para crianças de idade compreendida entre os 3 e os 6 anos,

existe um conjunto de formas de brincar que se caracteriza por ser restrito — jogo

funcional, construtivo, jogo do faz-de-conta ou simbólico e jogos formais com regras.

O jogo funcional, na terminologia de Jean Piaget9, é o nível cognitivo mais elementar

da brincadeira, que envolve movimentos musculares repetitivos, como correr, saltar

com um ou dois pés (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 310).

O jogo construtivo, mais relacionado com crianças em idade pré-escolar (dos 3 aos

6 anos), consiste em utilizar objetos ou materiais para fazer alguma coisa, como uma

casa de blocos de madeira, ou LEGOS. Este tipo de atividade prolonga-se durante

algum tempo e torna-se mais complexa com o crescimento (Diane Papalia, Sally

Wendkos Olds, 2009: 310).

O jogo do faz-de-conta, designado também como jogo da fantasia ou jogo simbólico,

foca-se na forma de comunicar/interagir da criança, seja sozinha ou com outras

crianças, ajudando a aprimorar a personalidade e o desenvolvimento da mesma. A

criança materializa a realidade que vê numa fantasia, estabelece um diálogo entre a

sua “realidade” e a realidade externa, adquirindo a noção da real (Lauder, 2008: 35

- 36). Este jogo surge por volta do fim do período sensório-motor (2 anos) e aumenta

até ao período pré-escolar, diminuindo na altura em que a criança entra para a

9 Jean William Fritz Piaget (1896 – 1980) foi um epistemólogo suíço, considerado um dos maiores

pensadores do século XX; dedicou toda a sua vida e obras ao desenvolvimento humano e muito do seu

trabalho contribuiu para melhor entender as fases de maturação e crescimento da criança até à fase adulta;

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escola e se começa a envolver nos jogos formais com regras (Diane Papalia, Sally

Wendkos Olds, 2009: 310). Entende-se este tipo de jogo como a representação de

um objeto ausente, a partir da comparação entre um elemento dado (real) e um

imaginado (imagem mental).

Ocorre assim o início da ficção, permitindo o desenvolvimento da inteligência na

criança, do corpo e do cérebro. Este possibilita à criança soltar a imaginação,

descobrir maneiras diferentes de usar os objetos e resolver problemas. Por exemplo,

se estiver a brincar com um boneco, fingindo cuidar dele.

Desta forma, este tipo de jogo permite que a criança, durante a brincadeira, se

prepare para desempenhar o “papel de adulto” (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds,

2009: 310).

Deste modo e citando Vygotsky, este afirma que “a criança ao brincar, não está só a

fantasiar, mas sim a fazer uma ordenação do real” (Vygotsky, 2012: 47 - 48), pois é

por meio desta atividade que ela passa a formar hipóteses como resolução dos seus

problemas e alcança pouco a pouco a maturidade suficiente, adequada à sua idade.

Os jogos formais com regras surgem, maioritariamente, na idade escolar com

acompanhamento de um professor ou a presença de um adulto. Habitualmente, são

jogos executados de forma coletiva, com duas ou mais crianças, e têm regras

definidas pelo adulto que as acompanha. A criança, por norma, aceita as regras por

ele definidas, ajudando-a a adquirir sentido de responsabilidade e permitindo que

se torne altruísta e se relacione de forma saudável com os colegas e amigos da escola

(Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 310).

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4.3 Importância de brincar e os seus benefícios no desenvolvimento da

criança

Entre várias opções que a criança pode ter na infância, desde brincar com blocos de

madeira, LEGO10, imitação de profissões, brincar ao faz-de-conta, brincar ao ar livre,

jogar à bola, uma das opções pelas quais acaba por optar é ver televisão

(nomeadamente desenhos animados, filmes) sendo bombardeada diariamente

pelos media (Play Wales, 2013: 2) (Ginsburg, 2007: 185). Sabe-se que um período

de longas horas, submetida em frente à televisão não é aconselhável visto que, não

confere um estímulo ao seu conhecimento experimental e perturba o cérebro da

criança, sobrecarregando o sistema sensorial e reduzindo os níveis de atividade

física (UPTOKIDS.PT, 2016: 1). É certo que alimenta o seu conhecimento

figurativo11, acabando a criança por se basear numa realidade fictícia e fazer

julgamentos simples da sua experiência real, não permitindo à mesma ter apoio nas

suas experiências, mas sim com base na realidade vista na televisão. Este fator é

importante para que ela possa distinguir o significado e significante e entenda as

diferenças entre o que é a realidade e a fantasia (Zaia, 2008: 77).

Um estudo feito em 2002 nos Estados Unidos indica um decréscimo em cerca de

25% no tempo que a criança passa a brincar em casa, e cerca de 50% a brincar na

rua com outras crianças a explorar o mundo (Play Wales, 2013: 3). Isto significa que

a criança não vivenciando o mundo em seu redor, sem experimentar e repetir

movimentos, reduz substancialmente as suas capacidades de flexibilidade,

espontaneidade e imaginação (Play Wales, 2013: 3).

Como foi visto anteriormente, brincar proporciona um desenvolvimento cognitivo e

social saudável à criança (Ginsburg, 2007: 183), não obstante de que também traz

benefícios ao seu desenvolvimento físico. Alguns deles acontecem no ato de

caminhar, correr ou saltar quando a criança começa a ter a perceção de que pode

dominar facilmente certas partes do corpo, nomeadamente as pernas e os braços,

10 LEGO: É uma marca dinamarquesa de brinquedos que está envolvida no desenvolvimento da criatividade

das crianças através de jogar e aprender. Atualmente, a empresa fornece brinquedos, experiências e

materiais de ensino para crianças em mais de 130 países. 11 Conhecimento figurativo: baseiam-se na simples leitura da experiência, perceção e imagem mental ao

contrário do que é pretendido, aspetos operativos relacionados com as transformações produzidas pelas

ações físicas e mentais;

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encontrando também o equilíbrio necessário à sua deslocação de um lado para o

outro (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 308 - 326), A nível físico, está

também presente a facilidade de manipular objetos, os atos de agarrar e arremessar.

4.4 As brincadeiras têm uma base evolutiva?

As crianças aparentam envolver-se em brincadeiras pelo puro prazer que oferecem.

A brincadeira atinge o seu máximo na infância e vai-se perdendo à medida que a

criança cresce e atinge a maturidade. As visões dos investigadores diferem quanto

ao valor e função da brincadeira, no entanto, atualmente muitos psicólogos e

educadores de infância consideram a brincadeira como uma atividade adaptativa,

característica presente ao longo do tempo de imaturidade e dependência durante o

qual, a criança adquire os atributos físicos e cognitivos necessários para a sua vida

adulta. Alguns estudos com animais demonstram que existe uma ligação da evolução

das brincadeiras à inteligência. Referem que os animais mais inteligentes – pássaros

e mamíferos brincam, ao contrário das espécies menos inteligentes – peixes, répteis

e anfíbios (Hawes, 1996: 1 - 5).

A diferença de género nas brincadeiras possibilita à criança estabelecer ligações

próprias e praticar comportamentos que serão importantes na sua vida adulta, na

sua reprodução e sobrevivência (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 309). Os

diferentes tipos de brincadeiras associadas aos mamíferos têm repercussões ao

nível locomotor e colaboram no desenvolvimento do cérebro.

Posteriormente, as brincadeiras que implicam exercícios de força maior acabam por

permitir o desenvolvimento de habilidades físicas, resistência e eficiência nos

movimentos (Hawes, 1996: 1 - 5). Brincar com objetos é especialmente comum nos

primatas, nos quais se incluem os macacos, os gorilas e o Homem tendo sido através

desta atividade que surgiu uma intenção evolucionária para o desenvolvimento de

ferramentas e objetos, atribuindo capacidades às pessoas de adquirir

conhecimentos necessários a nível das características para a sua conceção e

utilização (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 309).

A nível social, as brincadeiras têm a sua base evolutiva, na medida em que

fortalecem os laços entre as pessoas, facilitam a cooperação mútua e promovem o

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convívio e crescimento de forma natural e saudável (Hawes, 1996: 1 - 5). Todos estes

aspetos foram estudados e analisados para um melhor entendimento da mente

humana na sua infância. Contudo, há ainda muito para descobrir. O ser humano está

em constante evolução e adaptação, pois, atualmente, as crianças sentem

necessidades diferentes das crianças de há 10 ou 20 anos atrás. No entanto, o tempo

que passam a brincar é necessário ao seu desenvolvimento, sendo por isso, bem

empregue (Diane Papalia, Sally Wendkos Olds, 2009: 310).

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5. O brinquedo

A origem de brinquedo12 pode analisar-se através do seu significado no dicionário,

designando-se como “objeto que serve para as crianças brincarem, divertimento

infantil, jogo”. Etimologicamente deriva da palavra brinco13 estando associada a

uma causa com que se entretém as crianças. Esta, na sua origem significa “vínculo”

considerando-se o seu significado uma ação de apego. Analisando de perto o sentido

destas palavras podemos associar o brinquedo a uma ação e a um vínculo com a

criança (Gomes, 2010: 89 - 91). Este estabelece uma forte ligação com ela,

permitindo um estado de prazer e permanência, tornando-a sensível ao mesmo.

Todavia, o brinquedo é um instrumento que tem sofrido uma constante evolução, ao

longo de todos os tempos, desempenhando sempre a função de transmitir alegria e

segurança às crianças que com ele brincam. Tornou-se intemporal no sentido

funcional, sendo representado como um instrumento insubstituível para o

desenvolvimento motor, cognitivo, social e cultural da criança (Gomes, 2010: 91 -

92).

5.1 Características do brinquedo

No seguimento da ligação existente entre o brinquedo e a criança, é importante

perceber o que pode este objeto lúdico oferecer aos mais pequenos. Deste modo, é

necessário que ao olhar e agarrar o objeto lúdico, desperte na criança a atenção e se

verifique a existência de pontos de semelhança com a sua realidade (Barreto e Pinto,

1998: 7 - 10).

No entanto, este só desempenhará as suas funções se o objetivo para o qual foi

concebido despertar o interesse na mesma, enriquecendo a sua aprendizagem.

Torna-se então indispensável que “a criança se sinta atraída pelo brinquedo”

(Barreto e Pinto, 1998: 10). Se o interesse não existir por parte da criança, poderá

indicar que não tem as propriedades certas como objeto lúdico, ou que ele não esteja

12 Brinquedo: s. m. 1 Objeto que serve para as crianças brincarem; 2 divertimento infantil; jogo (de brinco

+ edo); significado retirado do Dicionário da Língua Portuguesa; 13 Brinco: s. m. 1 Adorno para as orelhas; 2 gracejo; 3 objeto para brincar; brinquedo; (Deriv. Regr. De

brincar), palavra etimologicamente derivada da palavra vínculo;

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ajustado à sua idade. Por sua vez, isso poderá significar um avanço ou um atraso no

desenvolvimento da criança relativamente ao brinquedo.

No quadro que se segue, apresentam-se características que, segundo ALMEIDA

(2010: 10 - 11) , devem ser consideradas para a aquisição de determinado

brinquedo para as crianças.

Características do brinquedo

Interesse ou

motivação

O brinquedo deve despertar o interesse da criança, deve dar

alegria ou prazer e provocar estímulos na mesma ao brincar

com ele, proporcionando novas descobertas. Deve ser

enriquecedor através da sua experimentação.

Adequação O brinquedo deve estar adequado à idade da criança, pois uma

criança com 2 anos, não tem o mesmo nível de desenvolvimento

e aptidão do que uma criança de 5 anos, por exemplo.

Apelo à

imaginação

Este deve estimular a criatividade da criança e ser o mais amplo

possível, não dirigindo em demasiado a sua função, pois acaba

por perder o interesse. Também não deve ser muito abstrato,

caso contrário a criança também não tem as referências

necessárias

Versatilidade Deve o brinquedo poder ser utilizado de diversas maneiras,

oferecendo um leque abrangente de possibilidades que

permitam à criança brincar e criar várias hipóteses.

Composição Para a descoberta da criança, um brinquedo poder ser

decomposto(desmontável) torna-se mais interessante pelo

facto de a criança passar a conhecer a forma como é feito por

dentro. Isto estimula o pensamento lógico da mesma, através do

jogo de encaixe.

Cores e formas O uso de cores mais intensas ou vivas, e formas simples e

texturas atraem as crianças, principalmente as mais pequenas.

Desta forma, irá contribuir para o estímulo sensorial da criança,

podendo enriquecer a sua experiência.

Tamanho Este, conforme a idade da criança deve ser compatível com a

capacidade motora da mesma. O brinquedo só terá sucesso se,

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a criança dominar em pleno, neste caso, segurar ou agarrar o

objeto.

Durabilidade É importante que os brinquedos possam ser duráveis pelo

tempo que a criança necessita de se adaptar ou estabelecer uma

boa relação com os mesmos.

Segurança O uso de tintas tóxicas, arestas vivas ou peças que se possam

soltar e ponham em causa a segurança e bem-estar da criança

devem ser considerados.

Tabela 9 - Características do brinquedo, adaptado de (Almeida, 2010: 10 - 11)

Para que o brinquedo possa ter as características indicadas, é necessário ter em

conta uma série de aspetos que influenciam a escolha da criança sobre determinado

objeto. Um exemplo de sucesso como o caso da LEGO COMPANY14, em que podemos

observar na filosofia da empresa que, o universo das peças que projetam, gira em

torno de um jogo. Existe toda uma liberdade por parte da criança para poder

imaginar e criar novas formas com o conjunto de peças por cada conjunto. Este

brinquedo em forma de jogo é extremamente enriquecedor para o desenvolvimento

infantil, proporcionando estímulos à imaginação e expressão das crianças (Gomes,

2010: 105 - 106).

Deste modo e segundo Almeida (2010: 10 - 11), a cor pode ser um aspeto a

considerar, porque a criança entre os 3 e os 6 anos de idade está num processo de

conhecimento da realidade e transmitir-lhe diferentes e diversificadas cores, apela

à sua atenção. O facto de o brinquedo poder ser texturado torna-se igualmente

14 Curiosamente, este exemplo pode considerar-se intemporal porque cada vez mais, quem pensa e projeta

os conjuntos de LEGO, não pensa apenas nas crianças, tendo igualmente nas suas linhas, LEGOs para

adultos. Isto deriva essencialmente do seu sucesso causado ao longo dos tempos. Neste sentido, e olhando

para os brinquedos lançados pela marca desde a sua criação, houve uma evolução bastante significativa no

que toca à complexidade destes brinquedos. No entanto, há registos que se mantêm sempre presentes, como

é o caso das formas de encaixe, a sua sofisticação e as cores, tornando-se estes aspetos sempre presentes e,

de grande destaque como contributo ao desenvolvimento da criança.

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interessante, porque na realidade da criança também deve existir através do tato,

podendo este causar estímulos positivos na criança através de alguma rugosidade.

Brinquedos que tenham algum tipo de luz ou provoquem reflexo, podem também

atrair a atenção da criança para brincar com o mesmo, no entanto deve ser pensado

ao nível da segurança. A presença de formas geométricas em brinquedos nesta faixa

etária pode ser bastante útil a nível educacional, assim como jogos que possam ter

algum tipo de estímulo de raciocínio lógico. Estes, tornam-se aliciantes

principalmente se criarem a possibilidade de montar e desmontar peças umas nas

outras, conforme o exemplo dado acima da marca LEGO.

Como já referido, existe um universo de possibilidades, muitas delas já lançadas nos

brinquedos patentes no mercado, porém, outras soluções com vista a continuar esse

processo evolutivo, é há muito trabalhado. Estas devem inovar comparativamente

às soluções existentes projetando um brinquedo mais completo ou, de alguma

forma, simplificar uma solução já produzida.

5.2 Critérios de Avaliação do brinquedo

Segundo ALMEIDA (2010: 12), existem critérios de avaliação que devem ser tidos

em conta, tendo estes como objetivo avaliar o valor de cada brinquedo. Através do

sistema de classificação do ICCP (International Council for Children´s Play) que

pesquisa e promove o brinquedo assegurando que este possa ser adequado à criança

em determinada idade. São apresentados 4 critérios: O valor funcional, o

experimental, o de estruturação e o relacional (Almeida, 2010: 12). Destes 4, têm

destaque para a presente dissertação os valores funcional, experimental e de

estruturação, sendo que o de valor relacional está afeto às relações com outras

crianças e adultos, o que perante o contexto do quarto, este não se enquadra. Assim:

O valor funcional aplica-se a todos os objetos e é relativo à capacidade de adaptação

e às suas necessidades. Encontra-se ao abrigo das normas de segurança para a sua

função. Exemplo disso é o jogo de construção que, ao ser projetado para brincar

numa mesa, compõe peças pequenas, destinando-se apenas ao seu manuseamento,

porém, quando o espaço de brincadeira passa para o chão as peças de construção

aumentam na sua dimensão por forma a usar o corpo todo (Almeida, 2010: 12).

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O valor experimental tem a ver com o que a criança pode executar e aprender com

o brinquedo, desde rodar, encaixar, construir. É um brinquedo de conteúdo técnico

específico, como, por exemplo, o conjunto de maquilhagem de bonecas, o kit de

cozinha ou a construção de blocos de encaixe.

O valor de estruturação enquadra-se no desenvolvimento da personalidade da

criança, e está relacionado com o jogo simbólico, ou seja, com a imitação e projeção

da realidade para a criança. É como se a criança experimentasse formas diferentes

de ser e fazer, exemplos disso, são as profissões. A criança brinca de faz-de-conta

numa mesa com vários papeis recortados e guarda numa caixa, fingindo que está

numa mercearia ou supermercado a vender produtos.

Os valores referidos acima podem contribuir inteiramente para a criação de uma

linha de mobiliário ajudando no desenvolvimento da criança. Desde o aspeto

funcional onde podemos encontrar brinquedos em escalas ampliadas, de forma a

poder envolver a criança num jogo seguro e à altura dela, ao experimental em que a

criança executa construções com as próprias peças do mobiliário, podendo estas,

criar por exemplo uma casa ou um abrigo onde se sinta acolhida e, brinque com

outros brinquedos de menor escala.

5.3 Contributo do brinquedo para o desenvolvimento da criança

Segundo Kobayashi, à medida que a criança cresce, vai sofrendo alterações a

diversos níveis, alguns deles referidos como o cognitivo e o social, todavia, o nível

psicomotor é também importante e influencia todo o processo experimental da

criança no seu dia-a-dia. É de salientar que este desenvolvimento ocorre de forma

natural através do contacto com a realidade e é onde se perceciona aquilo que a

criança nas diferentes fases do seu desenvolvimento já adquiriu (Zaia, 2008: 81).

Para que se possa ter noção da importância do ato de brincar na formação do

conhecimento da criança é necessário que se analise a mesma nesse contexto. É

essencial que cresça por si mesma, e que experiencie o que lhe dá prazer nas

brincadeiras que inicia. Neste ponto entra o brinquedo que, proporciona à criança

um maior avanço na sua capacidade cognitiva e de ação para além do seu

comportamento habitual (Vygotsky, 1991: 62 - 64). Este permite à criança

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desenvolver a sua capacidade de concentração e atenção direcionada. A relação

entre o brinquedo e a criança desperta um nível superior de imaginação e cria um

universo de possibilidades no momento em que se encontra, fazendo com que ela se

abstraia completamente do que acontece à sua volta e se foque apenas no brinquedo

e na realidade fantasiosa inerente a ele (Barreto e Pinto, 1998: 1 - 2).

Em idade pré-escolar, o significado do brinquedo para a criança é maior, pois, para

além de ela estar a crescer, este é uma espécie de “companheiro”, que colabora na

atividade principal da criança nesta fase.

“O brinquedo é a atividade principal da criança, aquela em conexão com a qual

ocorrem as mais significativas mudanças no desenvolvimento psíquico do sujeito e na

qual se desenvolvem os processos psicológicos que preparam o caminho da transição

da criança em direção a um novo e mais elevado nível de desenvolvimento.” (Barreto

e Pinto, 1998: 3)

É sobretudo no brinquedo que a criança encontra os limites do manuseamento dos

objetos, descobre o que cada um faz e alarga pouco a pouco o seu horizonte de

conhecimento. No entanto, o que importa à criança não é o brinquedo em si, mas as

conclusões e estímulos que ele desperta na mesma. O significado desse estímulo é

fulcral pois origina mais imaginação na criança, ou seja, “Não é a imaginação que

determina a ação, mas são as condições da ação que tornam necessária a imaginação

e dão origem a ela”(Barreto e Pinto, 1998: 4). Por conseguinte, a criança imagina

mais e desprende-se mais se estiver envolvida no brinquedo e na brincadeira

associada ao mesmo.

5.4 O papel do brinquedo no quarto

“O brinquedo é oportunidade de desenvolvimento e é através dele que a criança

experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a

curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da

linguagem, do pensamento e da concentração”(Barreto e Pinto, 1998: 8).

Projetar brinquedos que estimulem o desenvolvimento da criança é talvez um dos

objetivos mais relevantes de modo a que haja um estímulo motor e cognitivo. A

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criação de jogos como pequenas construções ou objetos que simulem a brincadeira

do faz-de-conta podem ser a base para um crescimento sólido e um estímulo à

imaginação (Schleifer, 2006: 184).

O quarto é considerado um espaço onde a criança tem a oportunidade de criar o seu

universo imaginário. Para que este possa desempenhar o seu papel, deve ser o mais

completo possível. Entende-se por completo, o facto de compreender nele o máximo

de funções de forma simples e descomplicada.

De forma geral, as crianças vivem rodeadas de muitos brinquedos, quer sejam como

contributo ao desenvolvimento cognitivo, motor ou social. Por outro lado, se

tiverem ao seu alcance um brinquedo que satisfaça todos esses objetivos e cumpra

a sua missão, talvez estejamos perto de uma solução capaz de tornar o quarto

apelativo.

Atualmente, a tarefa mais difícil é de manter os quartos das crianças com um

ambiente não tão saturado, resultante de não terem tantos brinquedos num só

espaço. Muitos brinquedos dispersam a atenção da criança e dificultam a tarefa aos

pais que posteriormente, têm de arrumar tudo no local apropriado. Desta forma,

talvez a missão seja de reeducar e despoletar os mais pequenos, as suas capacidades

através do brinquedo.

No entanto, estabelecer essa educação apenas através do brinquedo parece

incompleto. Por outras palavras, o contributo do brinquedo deve traduzir-se num

projeto que vise a ligação entre o brinquedo e a toda atividade lúdica que a criança

possa imaginar, podendo usar o conjunto de mobiliário patente no seu quarto como

intermédio de uma envolvência funcional.

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Conclusão Intermédia

Ao longo desta parte, foi possível perceber a forte ligação da criança ao seu estímulo

natural de brincar. Esta atividade presente na cultura do ser humano há muitos

séculos, é uma ferramenta que possibilita à criança comunicar e desenvolver-se.

Desta forma, a brincadeira deve fazer parte do quotidiano, e através dela criar e

compreender um universo de objetos que facilitem o progresso da criança, ao nível

da linguagem, pensamento e forma física.

É a fase pré-operatória (dos 3 aos 6 anos aproximadamente) que ganha especial

destaque pois é nesse período que a criança alcança as capacidades mais

importantes, potenciando o seu crescimento e autonomia para as fases seguintes.

Ao nível das brincadeiras e jogos, pode verificar-se que existem diferentes formas

da criança comunicar e se desenvolver. Os jogos funcionais e os construtivos

envolvem a criança mais ao nível físico, ativando nela capacidades motoras e de

raciocínio que lhe permitem autonomia e contribuem para o desenvolvimento físico

e do pensamento.

O jogo do faz-de-conta permite à criança comunicar ao nível da linguagem e

estabelecer ligações com o mundo à sua volta. Os jogos formais com regras,

permitem à criança a aquisição de regras, contribuindo de forma saudável para o

seu comportamento e crescimento.

O papel do brinquedo torna-se claro, evidenciando-se que desempenha funções

distintas, nas diversas idades da criança, permitindo perceber que, as necessidades

dos mais pequenos estão em constante mudança.

É de salientar a importância do brinquedo e do seu estímulo na criança para o

desenvolvimento de uma linha de mobiliário lúdico-funcional, pois é através dos

pequenos objetos que se consegue perceber as necessidades desta, potenciando a

sua intervenção numa linha de mobiliário infantil diferente e inovadora.

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6. Casos de estudo

6.1 Entrevistas

Perante o trabalho de investigação desenvolvido sobre a criança e a sua atividade

natural, o brincar, houve a necessidade de aprofundar a aplicação dessas matérias

num contexto real. Com isso, surgiu um estudo previsto para abordar famílias com

crianças compreendidas entre os 3 e os 6 anos de idade com o objetivo de recolher

dados importantes à conceção do projeto pretendido.

Foi considerado todo o distrito de Lisboa, tendo sido apresentados casos de diversos

concelhos, entre eles, Sintra, Odivelas, Cascais e Lisboa. A abordagem feita desta

forma tornou a pesquisa enriquecedora permitindo reunir características de

públicos diferentes, conforme apresentado em anexo (anexo 1).

Com base nos parâmetros estudados que, ajudaram a definir linhas orientadoras

para a entrevista, estabeleceram-se questões a ser colocadas presencialmente aos

pais. Foram divididas em 4 áreas de intervenção:

- Dados sobre a criança e o uso do seu quarto

- Dados sobre o quarto

- Análise de dados obtidos sobre os casos de estudo

- Conclusões do estudo/Considerações para o projeto

Relativamente aos dados sobre a criança e o uso do seu quarto, pretendeu-se

aferir o nome, idade, género, a média de horas que passa no quarto a brincar por dia

e o uso que dá a esse espaço. A recolha destes dados serviu para identificar a criança,

certificar que a idade estaria compreendida na faixa etária em estudo, perceber se a

criança tinha como hábito diário brincar no quarto e quantas horas despendia para

tal.

No que diz respeito à recolha de dados sobre o quarto incidiu-se essencialmente

nas características e dimensões dos equipamentos. Pretendeu-se obter

aproximadamente a área de cada espaço com o objetivo de perceber o que seria

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possível colocar num quarto com essas dimensões. Procedeu-se igualmente à

recolha de informação dos materiais usados no fabrico do mobiliário e das questões

de segurança para a criança.

O objetivo da análise de dados obtidos sobre os casos de estudo visou perceber

as soluções patentes no quarto e as suas características, na ótica da funcionalidade

e das possibilidades que dispunham às crianças. Neste ponto percecionou-se

também a utilização de determinados equipamentos, como o uso de um beliche e as

suas vantagens/desvantagens no quarto, bem como a importância de ter arrumação.

Foram analisadas algumas imagens de quartos apresentadas no decurso da

entrevista, com o objetivo de perceber o que se destacou ou teve maior impacto para

os pais. Como exemplos apresentados nas imagens apareceram, ao nível do estímulo

cognitivo as brincadeiras do faz-de-conta, os números, as cores, as formas, a tenda

como abrigo e esconderijo para a criança. Analisaram-se também, ao nível da

otimização do espaço, equipamentos multifuncionais numa área reduzida de

utilização e formas de arrumação, onde é possível perceber que existem bastantes

locais onde colocar a roupa e brinquedos das crianças.

O objetivo da conclusão do estudo foi obter informações sobre a importância da

envolvente do quarto como contributo ao desenvolvimento da criança e de algum

equipamento proposto pelos pais. O interesse e opinião dos pais sobre o que

imaginariam para o quarto dos filhos, no sentido de compreender os seus interesses

e absorver ideias para o presente projeto. Essas conclusões serão utilizadas como

considerações do projeto, e por isso, referidas mais à frente.

6.1.1 A criança e o uso do seu quarto

Ao longo das 15 entrevistas colocadas às famílias foi possível retirar informações

sobre as características da criança e a sua atividade no quarto. De entre todas as

crianças, obseraram-se características diversas, variando muito com o ambiente, a

educação, os brinquedos e equipamentos que tinham no quarto. As crianças

inquiridas entre as idades estabelecidas para o presente estudo, estavam a

frequentar o jardim de Infância e o primeiro ano de escola.

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Em algumas delas foi possível compreender capacidades criativas demonstradas ao

nível do desenho e criatividade através da forma como executaram certas

atividades, permitindo a estas ajudar a desenvolver melhor a sua atenção e

pensamento. Notou-se em quase todas as situações que as crianças desenvolvem

interesses diversos, independentemente de serem ou não do mesmo género, e que

utilizam para as suas brincadeiras e para o seu universo imaginativo, essa

diversidade.

Um dos pontos observados foi a falta de companhia e de entusiasmo de algumas

crianças ao brincar no quarto, que as levava a optar por ir brincar para junto dos

pais.

Nas restantes situações, as crianças estiveram entretidas no quarto levando a crer

que cada criança, de facto, tem um registo diferente podendo oscilar entre a

necessidade de ter alguém presente com quem brincar e a forma como se prendem

ao seu mundo e às brincadeiras do faz-de-conta.

O facto de existirem dois irmãos, regra geral o estímulo e vontade para brincar, mais

tempo e em conjunto, é maior passando mais horas no quarto. Também pôde

verificar-se que mesmo a criança ser filho (a) único (a), é capaz de brincar sozinha.

Notou-se que os pais desempenham um papel ativo na autonomia da criança,

promovendo e estimulando o seu desempenho em situações que normalmente são

os mesmos a intervir. Pôde observar-se esse exemplo, com a criança a arrumar os

seus brinquedos nos locais indicados após utilização. Notou-se também a

preocupação em adquirir responsabilidades no que corresponde à limpeza do

próprio quarto. Poderá indicar a ligação entre a educação dos pais e a aquisição de

independência por parte da criança.

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6.1.2 Os quartos

Nos quartos, foram encontrados os seguintes equipamentos:

- Cama (equipamento essencial no quarto)

- Móvel de arrumação (de roupa e brinquedos)

- Estantes de arrumação (de brinquedos)

- Secretária (em alguns casos devido à criança já frequentar o 1º ciclo)

- Mobiliário remetido para a brincadeira da criança (mesas, bancos pequenos, tenda

que funciona como refúgio à criança e quadro de pintar)

De forma geral, os equipamentos patentes nos quartos, situam-se num dos cantos

do mesmo contribuindo dessa forma para a otimização do espaço onde estão

inseridos, tornando-o mais amplo para que a criança possa brincar. Estes espaços

permitem uma maior mobilidade tanto às crianças, como aos pais. A disposição dos

equipamentos reflete-se também na otimização das arrumações e na libertação de

espaços para que a criança possa desempenhar as suas atividades. De alguma forma,

torna o quarto mais “limpo” e confere uma sensação de arrumação.

Materiais existentes no mobiliário

Salvo algumas exceções, o conjunto de equipamentos encontrados no quarto são

fabricados em madeira que pode variar entre os derivados da madeira

nomeadamente aglomerados de partículas, folheados, lacados e madeira maciça de

cerejeira ou pinho.

O processo de lacagem e laminado apresentou-se maioritariamente em tons de

branco, verde ou cor de madeira, evidenciando cores claras. Foi frisado pelos pais

que, o quarto da criança deve ter este registo de cores de forma a torná-lo mais

alegre e vivo.

Os restantes equipamentos, como o roupeiro ou cómoda, são também em madeira

e, em alguns casos, os roupeiros estão encastrados na parede. Esta opção, embora

bastante útil para arrumação ocupa muito espaço, não sendo considerada válida

pela maioria dos pais.

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O metal foi outro material observado no quarto das crianças, nomeadamente no

fabrico das camas. Estas não se tornam tão acolhedoras como as de madeira,

referidas no parágrafo anterior, devido à sua composição. Torna-se assim um

material frio e pouco maneável.

Verificou-se também que os puxadores, mesmo os aplicados nas mesas-de-cabeceira

em madeira eram, regra geral, metálicos. Salvo algumas exceções, em que não se

encontraram puxadores, derivado das gavetas apresentarem um rasgo aberto no

material.

Segurança dos equipamentos

A segurança é um fator da maior importância nos equipamentos para crianças,

principalmente porque devem cumprir determinados requisitos para que, os mais

pequenos possam sentir-se seguros e, os pais possam estar descansados.

Nas situações observadas, conforme se pode confirmar ao longo dos questionários,

foram encontradas as barras de segurança removíveis e, noutros casos as barras

estavam fixas ao mobiliário fazendo parte do mesmo.

Foram também observadas situações em que havia camas sem fundo e sem

cabeceira, o que também não é aconselhável para crianças nas idades estudadas ao

longo da dissertação.

Em algumas situações, os pais optaram por ter uma cama de casal no quarto dos

filhos para que estes pudessem dormir em maior segurança.

Ademais, a preocupação com a disposição dos equipamentos para arrumação dos

brinquedos, foi observada, na maioria dos casos. Os pais colocavam os brinquedos,

de forma lógica e acessível, para que os filhos pudessem aceder ao que pretendiam

sem lhes cair outros brinquedos em cima ou evitar magoarem-se ao trepar por uma

estante.

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6.1.3 Análise de dados observados nos casos de estudo

Em algumas situações, as crianças tinham espaços diferentes para cada função,

como, por exemplo, terem um quarto para dormir e outro para brincar. Os pais

justificaram essa opção com a necessidade de criar zonas distintas para os filhos

com o objetivo de os educarem através da imposição de regras. O facto de existirem

zonas específicas para brincar e dormir pode traduzir, futuramente, melhor

desempenho escolar. Contudo, ressalva-se a importância de cada criança ter

presente num só espaço, essas funções pois é aí que passa mais tempo ao longo do

seu crescimento.

A possibilidade de ter um beliche no quarto ganha força, nomeadamente, pelo

aproveitamento dos espaços livres para que a criança possa brincar. No entanto

notou-se uma preferência dos pais por equipamentos mais acessíveis pela facilidade

de fazer a cama e pela segurança dos filhos.

Outro ponto analisado tem a ver com o facto de haver pais que idealizam quartos

para os filhos, comprando o mobiliário quando estes ainda são pequenos. Contudo,

as crianças, por vezes, pela impossibilidade de escolha, não se identificam com os

equipamentos. Noutras situações, alguns pais optam por decorar o quarto dos filhos

quando estes já podem participar de forma ativa na escolha do mesmo.

Percebeu-se que existe a preocupação por parte dos progenitores em adquirir

equipamentos que tornem o quarto acolhedor e adequado aos filhos, considerando

a combinação de equipamentos lúdicos que contribuam para o seu

desenvolvimento.

A organização e aproveitamento do quarto da criança foram, em alguns casos, pouco

evidenciados devido à quantidade de brinquedos e à sua pequena dimensão, pelo

que as soluções existentes não tornam possível uma otimização do espaço.

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6.2 Mobiliário existente no mercado

A presente investigação pretende implementar um conceito novo de mobiliário,

relativamente ao mobiliário existente no mercado. Para que tal aconteça deve ter-se

em conta marcas de referência nesta área. Existe no mercado, um leque variado de

marcas de mobiliário para criança tanto a nível nacional como internacional. Será

através de algumas, consideradas de maior relevância, que se conseguirá retirar

elações pertinentes para o desenvolvimento de projeto.

Serão analisados pontos fortes e fracos dos conjuntos de mobiliário produzido que

permitirão detetar soluções para a proposta de projeto. Desta forma, serão tratados

alguns exemplos de marcas como a Oficina Rústica e Trama (Portugal), Ikea (Suécia),

Flex & Kids (Dinamarca).

Note-se que as conclusões retiradas dos exemplos que se seguem serão apenas

referentes às marcas que se apresentam, não tendo qualquer ligação com a visão ou

interesses da marca em questão. O objetivo será compreender o mobiliário e suas

características através de uma análise dos seus pontos fortes e fracos, servindo para

retirar elações para o projeto.

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6.2.1 Caso IKEA – Anexo 3

Pontos fortes

Os pontos fortes apresentam características que se destacam no mobiliário, como as

cores usadas e sua combinação, o facto de estes equipamentos serem produzidos

por módulos, a diversidade de soluções que pode originar no espaço da criança e a

capacidade de boa arrumação.

Entre estes, as cores tornam-se apelativas à criança, facilitando também a

comunicação do mobiliário. A produção em módulos facilita o transporte e os pais

que, em situações de alteração da configuração do quarto dos filhos, podem mudar

os móveis com maior facilidade e combiná-los de acordo com as suas necessidades.

A capacidade de arrumação pode variar conforme o conjunto que os pais adquiram.

Os acessórios a combinar com a restante mobília podem ser um fator que contribui

para que os pais adquiram a mobília na sua totalidade, incluindo também os

acessórios destinados àquela linha.

Os produtos da marca, de forma geral, são apelativos e apresentam pontos onde

inovam relativamente a outras marcas do mesmo setor. Pode perceber-se que os

acessórios contribuem para o desenvolvimento da criança, exemplos disso é a tenda

em tecido, o baloiço, e as zonas para brincar por baixo do beliche.

O facto da marca IKEA estar difundida mundialmente faz com que tenha uma maior

visibilidade. Isto possibilita uma maior capacidade de aceitação dos seus produtos.

A capacidade financeira da empresa gera condições para a sua equipa trabalhar

numa lógica da inovação constante, permitindo mais uma vez que a marca ganhe

destaque perante outras.

Pontos fracos

Os pontos fracos apresentam o facto de haver acessórios como a tenda, tapete

colchão, cobertura da cama em tecido, que não têm qualquer ligação com o

mobiliário básico (cama, roupeiro, armário).

Relativamente aos beliches, a sua acessibilidade, tanto para as crianças como para

os pais é muito importante. Para as crianças, o difícil acesso pode também originar

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algum tipo de acidente; para os pais, o acesso para fazer a cama fica dificultado se

esta estiver, por exemplo, demasiado alta. Tudo isto, claro, para além da proteção

obrigatória dada a maior altura da cama em questão, o que por si potencialmente

também dificulta o acesso.

A aceitação no mercado, referindo exclusivamente em Portugal, é um fator que

prejudica a visibilidade da marca e dos seus produtos. Isto porque, as linhas de

mobiliário com origem portuguesa são tendencialmente mais robustas e

visualmente transmitem uma maior sensação de segurança e estabilidade. Nesse

sentido, o IKEA, com a implementação do seu mobiliário vem alterar não só o

paradigma de redução de custos no produto final como o facto de as pessoas

passarem a poder montar em casa os seus equipamentos. Isso impõe algumas

dúvidas relativamente à fragilidade dos materiais, estabilidade e segurança dos

equipamentos.

A massificação, embora mais prática devido às quantidades e relação

qualidade/preço, acaba por ter um impacto de alguma forma negativo. Nota-se que

existe um estudo aprofundado dos interesses da criança na conceção do mobiliário,

contudo a ausência de personalização, generaliza o conceito de massificação e deixa

de tornar especial o quarto de cada criança.

6.2.2 Caso Flex & Kids – Anexo 3

Pontos fortes

Os equipamentos da FLEX & KIDS apresentam uma grande diversidade de soluções.

Estes são pensados de forma simples e apresentam um jogo de cores, que permite o

contraste entre o mobiliário base (a cama, e roupeiro) e os acessórios para as

brincadeiras. As cores aplicadas são neutras, como o branco e o cinzento, sendo que

o que transmite a cor é o que de facto deve chamar a atenção, os acessórios para

brincar.

De um modo geral, o acesso para fazer a cama nos beliches é mais difícil devido à

sua altura para fazer a cama, complicando a tarefa para os pais. No entanto, a marca

apresenta soluções de camas mais baixas permitindo um melhor acesso dos pais. A

nível de segurança, diminui o risco em caso de queda. Estas soluções são ainda

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convertíveis, por outras palavras, o beliche pode transformar-se em cama baixa,

através dos sistemas de encaixe existentes.

Os conjuntos permitem acompanhar as crianças durante mais anos sem necessidade

de serem substituídos. Isto, derivado aos sistemas de encaixe que permitem

combinações diferentes, podendo transformar-se/ajustar-se desde um beliche até

uma cama normal.

Mais uma vez, os acessórios combinados com a mobília base, contribuem para que

os pais adquiram a mobília, incluindo também os acessórios destinados àquela linha.

Os produtos da marca são apelativos e apresentam soluções inovadoras

relativamente a outras marcas do mesmo setor. Neste caso, pode comparar-se ao

IKEA, sendo que estas duas marcas são as que mais se aproximam do pretendido

para o projeto. Os acessórios contribuem para o desenvolvimento da criança,

exemplos disso é a tenda em tecido, o escorrega e as zonas para brincar de faz-de-

conta, por baixo do beliche.

A envolvência dos equipamentos que permite às crianças estabelecerem uma

relação com os mesmos, demonstra que o mobiliário da FLEX & KIDS foca-se num

objetivo: para que a criança possa sentir-se bem no quarto onde dorme e brinca.

Pontos fracos

Existem alguns pontos que podem tornar-se negativos na ótica de utilização. Será o

caso do escorrega que, tem um tempo limitado de interesse à criança, ocupando

espaço desnecessário no quarto. Este foi um ponto fundamentado através dos pais

entrevistados nos casos de estudo anteriores (pág. 46 – 51).

Ao compararmos o que existe habitualmente de mobiliário para crianças, em

Portugal, pode constatar-se também que a marca por apresentar um novo

paradigma face ao existente, com maior foco na criança, o seu nível de aceitação

ainda prejudica a visibilidade da marca e dos seus produtos. As pessoas ainda são

resilientes quanto à multifuncionalidade do mobiliário para as crianças, pois a noção

à qual têm sido sempre conduzidas, é limitativa face à sua potencial função.

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6.2.3 Caso Oficina Rústica – Anexo 3

Pontos fortes

Os equipamentos da marca OFICINA RÚSTICA oferecem soluções personalizadas,

permitindo ao cliente solicitar a cor, a forma e a disposição do conjunto.

O mobiliário é composto por várias funções num conjunto só, estando tudo

inteiramente ligado. Permite boa arrumação, com diversas áreas a preencher, seja

com roupa ou brinquedos.

Em alguns casos, combina zona de estudo com zona de dormir, o que para crianças

a partir dos 5/6 anos é indicado.

O mobiliário é personalizado, ou seja, é feito da forma com o cliente solicita, o que

permite maior proximidade com os gostos e interesses da criança, participe esta ou

não, na escolha do seu mobiliário.

Pontos fracos

O estímulo ao desenvolvimento da criança não está patente, baseando-se em

conjuntos simples, que mesmo funcionais, não contribuem para o desenvolvimento

da criança.

As cores neutras funcionam bem, mas quando não se aplica mais nada, passa a

imagem de um conjunto com pouco destaque, logo pouco atraente à criança.

No que diz respeito à acessibilidade aos beliches, a altura apresentada nos

equipamentos não é indicada para crianças dos 3 aos 6 anos colocando as mesmas

em risco de queda. A altura dos beliches dificulta também o acesso dos pais aos

mesmos.

A ausência de equipamentos lúdicos no mobiliário da marca torna o conjunto

demasiado simples e pouco apelativo à criança, não permitindo a interação/relação

com a mesma.

A personalização do produto encarece bastante a sua produção, e não acrescenta

valor às peças.

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O tipo de solução patente no mobiliário da marca, permite boa otimização de espaço

no quarto devido à compactação dos equipamentos, contudo a relação e o contributo

para o desenvolvimento da criança, não está patente.

6.2.4 Caso TRAMA – Anexo 3

Pontos fortes

Nos equipamentos TRAMA, há a destacar a simplicidade das formas e das cores,

tornando possível combinar/enquadrar estas com outras de maior impacto. Tem

presente uma característica pouco convencional, relativamente a outras empresas

que fabricam mobiliário infantil, pois possibilita converter o berço de bebé numa

cama com mesa-de-cabeceira. O conjunto é composto por módulos que se encaixam

uns nos outros, criando a hipótese de se separar. Assim, tornam-se adaptáveis ao

crescimento da criança.

O facto de ser uma cama baixa, permite um melhor acesso à criança, evitando

situações de perigo de queda da mesma. Também facilita aos pais o fazer a cama.

Este tipo de equipamento que prevê adaptabilidade ao crescimento da criança desde

bebé, até à adolescência, torna-se um ponto importante no seu desenvolvimento.

Pontos fracos

A presença de acessórios que estimulam à brincadeira da criança volta a estar

ausente na TRAMA, à semelhança do que aconteceu na OFICINA RÙSTICA,

verificando-se mais uma vez a ausência do contributo para o desenvolvimento da

criança.

A ausência de luminárias aplicadas no mobiliário, para a criança poder brincar em

zonas do quarto com pouca luz, e até mesmo para acompanhá-la à noite, enquanto

luz de presença, torna-se fulcral. Este aspeto é baseado em necessidades

encontradas nos casos de estudo anteriores.

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Este tipo de solução acrescenta pouco ao mercado, à exceção do mobiliário ser

convertível, sendo que cada vez mais, a concorrência procura formas de chegar ao

cliente com propostas atrativas e inovadoras.

6.3 Pontos em comum às 4 marcas apresentadas

Os casos de estudo apresentados revelam aspetos a considerar no desenvolvimento

do projeto. Observaram-se os pontos fortes e fracos de cada um, verificando-se que

coincidem nas características dos equipamentos e as suas funções. Contudo, dos 4

casos existem 2 que se destacam, pela sua maior abrangência a nível de soluções e

preocupações para com a criança e o seu bem-estar.

Ao observar-se os dois primeiros casos (IKEA e FLEX & KIDS), pode encontrar-se o

cuidado em desenvolver equipamentos que conquistem realmente o universo da

criança. Ao contrário dos dois últimos casos (OFICINA RÚSTICA E TRAMA),

demonstrando estes uma menor preocupação nesse sentido.

Tal facto pode ter-se em conta através dos equipamentos apresentados nas figuras

referentes a cada marca (anexo 4), em que se percebe claramente uma discrepância

entre os equipamentos dos dois primeiros e últimos casos.

A TRAMA e OFICINA RÚSTICA, enquanto marcas portuguesas, expõem

características inovadoras como as camas convertíveis e o facto de os equipamentos

poderem ser personalizáveis para cada criança, o que para o consumidor português,

aproxima-se mais com a sua realidade.

Tendencialmente as diversas marcas de mobiliário analisadas progridem no

mercado de formas distintas, no entanto, tais factos não acrescentam grande valor

quando, cada vez mais, a preocupação deve incidir no contributo para o

desenvolvimento da criança e a sua interação com o mobiliário.

Deste modo, perante as soluções já existentes, deve a presente dissertação ter em

conta como linha orientadora de projeto as marcas IKEA e FLEX & KIDS. Não

obstante que as outras possam ter pontos considerados para o projeto (TRAMA e

OFICINA RÚSTICA), demonstrando estas a uma capacidade de resposta relacionada

com os objetivos do projeto a desenvolver.

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6.4 Relação entre os casos de mercado e as entrevistas

A abordagem feita às famílias inquiridas vem demonstrar determinadas

preocupações que é possível relacionar, com as diferentes marcas apresentadas. A

sua ligação não incidiu apenas sob as mesmas, mas também através de outros

pontos recolhidos na abordagem aos pais. Em alguns casos, nos quartos das crianças

inquiridas, encontraram-se presentes equipamentos de algumas marcas estudadas

anteriormente como o IKEA e a OFICINA RÚSTICA.

Relativamente à marca IKEA, os pais adquiriram acessórios como estímulo à

brincadeira dos filhos, principalmente, como complemento aos equipamentos que

tinham no quarto, como estantes para arrumação de brinquedos, tendas em tecido

e armários modulares para colocação de roupa.

Isso pode significar que os acessórios do IKEA como complemento à brincadeira dos

filhos, são considerados pelos pais e pelas crianças o principal motivo de aquisição

dos equipamentos da marca.

A marca FLEX & KIDS não esteve patente em nenhum quarto dos inquiridos, no

entanto é uma marca a ter-se em conta pela sua diversidade de soluções, como

auxilio à interação da criança com os equipamentos.

Quanto à marca OFICINA RÚSTICA, encontraram-se alguns exemplos, e pelo facto de

serem personalizados, estes tornaram-se muito mais atraentes do que as soluções

de mobiliário, apresentadas nos casos de estudo de mercado. Contudo, alguns pais

referiram a conceção pouco inovadora devido à ausência de uma parte

lúdica/interativa que desperte a atenção da criança. Nestes casos, as crianças

acabam mesmo por se ausentar do quarto, pois o equipamento não é mais do que

funcional.

Da marca TRAMA também não foi encontrado nenhum exemplar que permita retirar

elações, no entanto este vai ao encontro do referido acima da marca OFICINA

RÚSTICA, apresentando-se o mesmo problema.

Contudo, todos os exemplos apresentam uma diversidade de soluções, quer seja no

mercado ou nos casos de estudo reais. No entanto, como pôde observar-se, em

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praticamente todos os exemplos, o tipo de solução não suscita um novo conceito

como o pretendido com esta investigação.

Em suma, tanto as marcas referidas, como os questionários efetuados

complementam-se com o objetivo de reunir um conjunto de requisitos para assim,

levar a cabo um projeto que responda às necessidades estudadas sobre o

desenvolvimento da criança.

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Parte II - Componente Prática

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1. O quarto da criança – Programa de projeto

1.1. O design como agente intermediário

Num mercado cada vez mais consciente e exigente, é necessário ter competências

que demonstrem as diversas preocupações do cliente para desenhar ambientes

(Gibbs, 2009: 6).

Neste âmbito, o design é uma ferramenta que potencializa e liga materiais a formas

e funções, tendo este como principal objetivo estabelecer relações entre

objetos/equipamentos e o homem. O designer como interveniente no desenho do

produto deverá ser capaz de comunicá-lo tanto na sua forma como na função (Vilar,

2014: 170). Deve ser capaz de captar várias perspetivas, e satisfazer “…requisitos

básicos impostos pela função, pelo custo, pela análise de mercado…” (Dorfles, 1972:

99), constituindo um elemento de “novidade”, e assim “educar o público a aceitar um

novo tipo de linha e de forma” (Dorfles, 1972: 99).

Lorenz cita Henry Dreyfuss15, que afirmou que se “as pessoas se sentirem mais

seguras, mais confortáveis, mais dispostas a comprar, mais eficientes ou mais felizes,

podemos dizer que o designer cumpriu a sua função” (Lorenz, 1991: 17).

Em suma, o designer deve estar apto para investigar, organizar e inovar, assim como

compreender e descobrir soluções para novos problemas e deve ter a competência

de testar essas respostas através da experimentação (Papanek, 2007: 10). A sua

capacidade intuitiva, a criatividade e o método de trabalho devem adaptar-se às

novas matérias e tendências (Manzini, 1993 : 58).

Por isso, é através do design de interiores que se torna possível, na presente

dissertação, potenciar o quarto de uma criança, sendo considerado um agente

intermediário entre o desenvolvimento da criança e a elaboração de uma linha de

equipamentos para o quarto da mesma.

15 Henry Dreyfuss – (1904 – 1972) faz parte da primeira geração de designers industriais norte-americanos

e desenhou inúmeros produtos do quotidiano que ainda hoje são uma referência como é o caso da máquina

Polaroid, os telefones AT&T e o redesign dos tratores John Deere&Co. Tem igualmente uma enorme

influência no universo do design pelos seus estudos antropométricos ainda hoje usados, apresentados nas

suas obras (Designing for People (1955) The measure of Man (1967));

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O quarto da criança deve ser um espaço seguro e que proporcione bem-estar através

das cores, objetos, formas e funções nele, existentes. Segundo Gibbs (2009: 8), para

que tal aconteça deve o designer de interiores, ter em atenção alguns pontos:

Analisar as necessidades e objetivos do utilizador;

Retirar conclusões e interligá-las com o seu conhecimento na área;

Desenvolver potenciais soluções funcionais, adequadas e estéticas;

Elaborar um projeto com as especificações de todos os elementos a inserir;

Atualmente o quarto deve proporcionar um leque de possibilidades e funções que

permitam à criança a liberdade para brincar aliada à versatilidade para

desempenhar as suas “tarefas”.

Projetar uma solução que inclua uma boa arrumação é um desafio a ter em conta,

estabelecendo áreas onde possam estar organizados os brinquedos, roupas,

bonecos, coleções de puzzles, livros e afins (Bueno, 2004: 104 - 105). Para que tal

aconteça e essa arrumação possa estar ao alcance da criança, é necessário estruturar

o equipamento, nomeadamente as gavetas de brinquedos e roupa à altura da

criança, evitando perigos acrescidos. Este pode ser feito através de sistemas de

armazenamento como caixas empilháveis ou estantes que permitem uma boa

organização e arrumação no quarto (Schleifer, 2006: 13).

Devido ao crescimento da criança é importante que o conjunto de mobiliário seja

adaptável/alterável para que possa ser reposicionado à sua altura.

Com o passar do tempo, a criança transforma o quarto num espaço mais pessoal e

intimista, de acordo com a sua personalidade e aplicação dos seus interesses. Isto

significa que o mobiliário e toda a envolvente do quarto devem ser passíveis de uma

adaptação ajustada à criança. Sabe-se que as crianças passam muito tempo no

quarto a brincar, e que este espaço tem como complemento ao seu ambiente, os

brinquedos com os quais se entretêm.

O quarto deve ter apenas o essencial para que a criança possa brincar livremente.

Deve ser estruturado com uma área de brincar, outra para dormir e outra para

estudar, ajudando a criança a definir regras desde cedo (Cordeiro, 2000: 63).

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Deverá também ser pensado de modo a que combine a cor, a luz, os materiais com a

mobília apropriada de forma a criar em simultâneo, um ambiente consonante e

estimulante onde a criança possa crescer de forma saudável e de acordo com as suas

necessidades (Bueno, 2004: 105). Assim, o quarto oferece um potencial enorme de

soluções à criança e permite que o equipamento se mantenha por mais tempo

(Conran, 1997: 170).

1.1.1. O ambiente

A envolvência do espaço deve estar de acordo com parâmetros específicos,

permitindo o uso adequado de toda a sua área. Desde as dimensões que o espaço

abarca, a sua função, o que deve conter, a circulação dos utilizadores até à altura e

acesso aos equipamentos existentes.

Além disso, destaca-se o equilíbrio e o contraste entre a quantidade de

equipamentos presentes e as cores aplicadas. A repetição de determinados

elementos de forma organizada num espaço pode surgir como foco visual com

objetivo de reter a atenção da criança (Gibbs, 2009: 77 - 78).

1.1.2 A Cor

A cor, poderosa ferramenta na área do design, consegue evidenciar o

objeto/produto e colocá-lo numa posição de destaque (Teixeira, 2015: 157). Esta

atua sobre o homem, podendo provocar sensações de otimismo ou depressão,

atividade ou passividade (Neufert, 1998: 27). É com a cor que se pode criar o

ambiente e definir o estilo, proporcionando efeitos visuais, reduzindo ou ampliando

espaços.

As cores podem ser designadas como quentes ou frias. As quentes: amarelo, laranja-

amarelo, vermelho-laranja, vermelho, vermelho- púrpura apresentam-se no círculo

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cromático16 de Johannes Itten17 e são conhecidas pela proximidade do utilizador

(Gibbs, 2009: 110). As cores frias: púrpura, púrpura-azul, azul, azul-verde, verde,

amarelo-verde, são recessivas, menos próximas do utilizador. O uso de cores

quentes é indicado para pequenas divisões, já as cores frias, para grandes espaços,

sendo que as cores quentes são ativas e excitantes e as frias são passivas e

tranquilizantes.

A utilização de cores neutras é uma forma de criar ambientes sofisticados, no

entanto a sua utilização pode tornar-se monótona se usada em grandes superfícies.

Também são usadas para causar ordem e limpeza, isto, se o objetivo for combinar

outras cores no mesmo espaço.

O branco, enquanto cor neutra, tem o papel de separar e desligar umas cores das

outras, permitindo a combinação das cores quentes e frias (Neufert, 1998: 27). O uso

em pequenas quantidades da cor branca, conjugando o círculo cromático, pode ser

uma solução mais viável e menos constante (Gibbs, 2009: 111).

A psicologia da cor avalia as sensações que cada cor desperta no indivíduo. Sabe-se

atualmente que, existem cores que despertam sensações: de paz, como é o caso do

azul, de vitalidade e energia como o vermelho. O verde, cor da harmonia, estabelece

boas ligações com quase todas as cores nomeadamente cores terra, podendo ser

ideal para ambientes de lazer. Por sua vez, o branco reflete a energia das outras

cores quando aplicado no mesmo espaço, e aumenta a luminosidade da área. Não é

por acaso que a grande maioria dos interiores das casas têm as paredes pintadas de

branco (Gibbs, 2009: 115).

Em suma, para que o designer de interiores possa fazer uso correto da cor num

equipamento ou produto, deverá refletir sobre alguns aspetos. Segundo Teixeira

(2015: 158) deve ter-se em conta:

16 Johannes Itten – 1888-1967), foi um pintor, escritor e professor suíço ligado à escola de Design Bauhaus

e desenvolveu através de pesquisas, o círculo cromático das cores, ferramenta muito útil aos designers do

presente (@Johannes Itten, 1957); 17 Círculo Cromático – Ilustra as relações entre as diferentes cores e é uma ferramenta útil para o designer

de interiores, ajudando-o a criar combinações adequadas (Gibbs, 2009: 111);

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As ofertas cromáticas disponíveis nos produtos da concorrência (quais as

cores disponíveis no mercado dentro do tipo de produto e qual a sua procura

e sucesso de aplicabilidade);

As cores escolhidas, e relacioná-las com o restante projeto de forma a

perceber a concordância entre ambos;

No que diz respeito às cores pode-se encontrar igualmente as diferenças de

reflexividade18, estando no topo da lista a cor branca com valores entre os 75 e 90%.

A cor creme com 79%, o amarelo e rosa pálidos entre os 75 e 80%, o marfim com

75%, verde-claro, azul-claro e orquídea entre 70 a 75%, o bege e o cinza-pálido com

70%. Outras cores como laranja pêssego, rosa suave, rosa, damasco, ouro amarelo,

cinza claro, variam entre 50 e 70%. Algumas cores abaixo dos 50% de reflexividade

e que poderão ser utilizadas para contrastar com cores claras são o azul, o vermelho,

o laranja e o rosa (Dreyfuss, 1993: 89). O uso destas cores está previsto ser aplicado

nos materiais a utilizar para a conceção do projeto.

As crianças a partir da segunda infância adquirem a mobilidade necessária para a

exploração do mundo à sua volta. Sabe-se que quanto mais cor os objetos ou o

ambiente tem, mais as atrai. Por isso ter presente, cores fortes e alegres pode ser o

ideal (Schleifer, 2006: 87). No entanto, o uso de cores menos intensas, como o caso

de verdes amarelados, azuis-claros, laranjas amarelados ou o uso de tonalidades

misturadas com branco, preenchendo este último a área dominante, poderá ser a

solução mais viável. Assim permitirá à criança aceitar o seu mobiliário por mais

tempo, podendo este ser mantido no quarto de forma mais duradoura (Schleifer,

2006: 158).

1.1.3 Materiais

A razão pela qual muitos espaços se tornam maiores e mais amplos, e outros

aparentam ser empobrecidos ou pequenos, deriva em grande parte da capacidade

refletiva da superfície da matéria.

18 Reflexividade: é uma propriedade de objetos refletores espessos, calculada pela razão entre a energia

eletromagnética refletida e a incidente. Determina-se pelo valor limite da refletância quando o objeto

refletor for suficientemente reflexo (dicionário português, 2016);

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Para o quarto da criança deve ter-se em conta os materiais a utilizar. O uso de

materiais previstos para o desenvolvimento do projeto serão: madeiras, plásticos, e

tecidos impermeáveis/laváveis. Entre esses, prevê-se a aplicação combinada entre

as madeiras e os plásticos, sendo que estes permites a estrutura, a segurança e a

durabilidade. Transmitem também conforto, calor e segurança à criança e podem

ser usados na construção de equipamentos sem esquinas ou cantos salientes

(Schleifer, 2006: 27).

1.1.4 Antropometria da criança

Para o desenvolvimento do projeto é necessário considerar a altura, peso e

acessibilidades da criança. É, por isso, importante que seja analisada a ciência da

antropometria que se “ocupa da determinação de medidas nas diversas partes do

corpo humano” (Editora, 2003). No entanto, para este estudo, prevê-se a utilização

de medidas gerais da criança através das curvas de crescimento, encontrando uma

média entre rapaz e rapariga para que se possa calcular medidas gerais da proposta

de mobiliário apresentado. Considera-se também o peso da criança por questões de

sustentabilidade dos equipamentos.

Desde 1981 que, em Portugal, são utilizadas as curvas de crescimento do National

Centre of Health and Statistics (NCHS) (Direcção-Geral da Saúde, 2006: 1). Estas

curvas têm como base um estudo em que foram acompanhados grupos de crianças

de cinco localizações diferentes do globo (Menezes, Sassetti e Prazeres, 2012: 38 -

39). Foi conseguido um padrão de crescimento pela OMS consistente o que permite

a sua utilização a nível mundial e comparação entre vários países (Direcção-Geral

da Saúde, 2006: 1).

Peso Altura

3 Anos 11 - 18 Kg 90 – 102 Cm

4 Anos 12,5 - 21 Kg 95 - 111 Cm

5 Anos 14 - 24 Kg 100 - 118 Cm

6 Anos 15,5 - 28 Kg 105 - 125 Cm

Tabela 10 - Peso e altura da criança do sexo feminino mediante o percentil 3 e o 97 (Direcção-Geral da Saúde, 2006: 40 - 41)

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Peso Altura

3 Anos 11,5 - 18 Kg 89 - 103 Cm

4 Anos 13 - 21 Kg 95 - 112 Cm

5 Anos 14 - 24 Kg 101 - 119 Cm

6 Anos 16 - 27 Kg 107 - 125 Cm

Tabela 11 - Peso e altura da criança do sexo masculino mediante o percentil 3 e o 97(Direcção-Geral da Saúde, 2006: 44 - 46)

Dos percentis acima referidos nas tabelas, pretende-se utilizar o valor de peso mais

elevado, sendo este de 28 Kg na criança do sexo feminino aos 6 anos de idade, para

projetar os equipamentos, considerando a estabilidade e a segurança da mesma.

Relativamente à altura, consideram-se as medidas mais baixa e mais alta para

determinar a acessibilidade da criança.

Considera-se para a altura dos assentos a criança de 3 anos do sexo masculino com

apenas 89 cm de comprimento. Para a altura dos equipamentos considera-se a

medida na criança de 6 anos de ambos os sexos, com 125 cm de comprimento, de

modo a que esta possa circular mais à vontade pelas zonas de brincadeira e não

encontre obstáculos ao nível da cabeça.

As restantes alturas presentes nas tabelas poderão ser consideradas, em

equipamentos adaptáveis ao crescimento da criança.

1.1.5 Ergonomia na criança

O mobiliário para crianças considera que sejam tidas em conta determinadas

dimensões para o seu correto uso e aplicação, caso contrário, afetará o

desenvolvimento das mesmas.

Existe uma enorme variabilidade nas dimensões corporais da criança ao longo do

seu crescimento, pelo que os equipamentos devem acompanhá-la, adaptando-se à

medida das necessidades (Oliveira, 2013: 4). Foi recolhida informação a partir de

Panero e Zelnik (2008), autores de “Dimensionamento Humano para espaços

internos”, onde se encontram medidas com base nos percentis estudados (Panero,

2008: 150-155). As informações detalhadas podem ser consultadas em anexo

(anexo 3).

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Verifica-se que há dimensões padronizadas, uteis para o desenvolvimento do

projeto como é o caso da altura da cama de solteiro e a altura da cómoda.

• Altura da cama de solteiro: 40,6 cm

• Altura da cómoda: 106,7 cm

As dimensões apresentadas abaixo são intervalos de medida que, apesar de

standardizados, fazem com que as dimensões do mobiliário possam variar

ligeiramente.

• Largura da cómoda: 50,8 – 61 cm

• Altura de secretária de estudo: 71,1 – 76,2 cm

• Zona de atividade entre cómoda e cama: 106,7 – 121,9 cm

• Abertura de gavetas: 40,6 – 50,8 cm

• Área de estudo (desde cadeira até secretária): 106,7 – 116,8 cm

• Dimensões da cama de solteiro: 198 cm por (91,4 - 99,1cm)

1.2. Equipamentos como auxílio à brincadeira da criança

Segundo Papanek, “… as crianças pequenas têm necessidades específicas de diversão,

ambientes educativos, exercício e bem-estar geral” (Papanek, 2007: 64), sendo este

um grupo etário com um potencial enorme para a exploração de ideias.

Apresentar soluções para os mais pequenos pode tornar-se um desafio muito

interessante se forem tidas em conta a psicologia e os estudos métricos e

ergonómicos.

Cada criança tem em si diversas características devendo estas ser percecionadas

pelos pais que as acompanham no seu crescimento. Estes devem proporcionar

iniciativas com o intuito de ajudá-las a receber informações do mundo exterior,

contribuindo para o seu desenvolvimento saudável. Como poderão fazê-lo? Será

imprescindível selecionar equipamentos e objetos com o fim de auxiliar o seu

trabalho de acompanhamento para com os filhos.

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Os equipamentos devem apresentar soluções para a criança explorar,

estabelecendo-se uma envolvência sobre ela. Estes interagem com a criança e

permitem a brincadeira. Quando referimos na parte 1 (página 41), o caso de sucesso

da LEGO verifica-se que é possível despoletar na criança, um sentido de criatividade,

de desenvolvimento motor e cognitivo superior, estando intrínseca a lógica de

encaixe e construção.

Conforme referido na parte 1 (pág. 19 – 20), relativo à fase que se propõe abordar,

é na segunda infância, dos 3 aos 6 anos que a criança apresenta progressos

significativos: o aumento de altura e peso, a alteração do pensamento, a melhoria da

linguagem e da memória, o desenvolvimento da inteligência e compreensão dos

outros. A brincadeira torna-se mais elaborada e mais social e dá-se o aumento da

independência e autonomia. Exemplos que podem surgir como equipamentos ao

auxilio da atividade da criança, são os puzzles e jogos de memória, que permitem

incrementar as suas capacidades motoras e cognitivas, sendo que se projetados

numa escala maior, poderão ser soluções que potenciem a atividade da criança ao

brincar.

Do desenvolvimento das habilidades motoras resulta o aumento da força, que

permite à criança transportar objetos/equipamentos de pesos e tamanhos

diferentes assim como o manuseamento dos mesmos, a aptidão para receber

estímulos visuais, auditivos e tácteis ao nível dos sons, cores e formas que os objetos

estabelecem entre si. Desta forma pode relacionar-se com o aumento de escala dos

objetos/equipamentos referidos no parágrafo anterior, a criação de soluções que

proporcionem igualmente o manuseamento, conforme a força da criança entre os 3

e os 6 anos de idade. Alguns exemplos acontecem ao nível dos parques infantis onde

é possível observar equipamentos de escala maior que permitem à criança brincar

e interagir com os mesmos.

A capacidade para correr e saltar, derivada do aumento do córtex cerebral, significa

igualmente um aumento da coordenação de movimentos e pensamentos sobre os

perigos que a rodeia. Para o incremento dessas capacidades, é importante que

existam equipamentos que promovam o equilíbrio da criança e a sua

destreza/agilidade, como jogos de equilíbrio onde a criança pode, por exemplo,

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andar sobre determinado equipamento e equilibrar-se em cima do mesmo, ou até

jogos de obstáculos, onde a criança pode desviá-los do caminho ou desviar-se destes.

A representação simbólica e o desenhar tornam-se visíveis no pensamento da

criança na segunda infância permitindo relacionar-se com os objetos de forma

imaginativa e por sua vez descobrir a mão dominante.

Aqui, os equipamentos podem interagir com a criança ao nível das formas, e dos

significados, sendo que idealmente seja de forma abstrata pois trata-se de

representação simbólica, onde a criança imagina situações da realidade que vai

assimilando e aplica como brincadeira, nos mais diversos equipamentos que tem à

sua disposição. Por exemplo, se a criança estando a brincar no quarto, tiver ao seu

alcance, equipamentos/objetos que proporcionem fazer de conta que está nas

compras com os pais, ela possivelmente irá associar o processo de troca de bens que

o supermercado disponibiliza, com o dinheiro que os pais utilizam para pagar esses

mesmos bens.

O mobiliário pode tornar-se assim, intermediário entre uma componente funcional

e uma componente lúdica. Esse conjunto traduz-se em mais tempo que a criança

passa no quarto a brincar, permitindo que ela se relacione e interaja com o mesmo.

Ao abordar-se o conceito de mobiliário lúdico-funcional, podemos relacionar a

parte funcional com o que existe no mercado. Ou seja, essa componente está

presente nas soluções já produzidas, com a função de uma cama, de um roupeiro, de

uma estante e secretária. Contudo a componente lúdica não é aplicável nem visível

pois a criança não interage/brinca com esses equipamentos.

Quando se fala do quarto da criança e do seu objetivo, pretende-se que esta possa

gostar de estar o mais tempo possível nesse espaço e sentir-se atraída pelo mesmo.

Pretende-se também que este seja uma solução mais completa, agradável e segura.

Dessa forma devem ser projetados equipamentos que a estimulem de forma lúdica

interagindo com o mobiliário.

Assim, surge uma proposta de projeto que visa um conjunto de funções, quer lúdicas,

quer funcionais, como solução para o quarto de uma criança de 3 a 6 anos de idade.

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2. Considerações para o projeto

A informação recolhida aqui mencionada, resume pontos a considerar para o

desenvolvimento do projeto proposto, que resultam das entrevistas realizadas junto

dos pais, referidas nas páginas 49 – 55. Estas permitiram tecer conclusões acerca

dos materiais a aplicar no mobiliário, a segurança dos equipamentos existentes no

quarto das crianças, bem como outros aspetos que podem ser melhorados, com vista

a serem aproveitados. Desta forma, apresentam-se divididos por:

2.1. Materiais considerados

Relativamente aos materiais foi possível verificar um maior interesse no uso de

derivados de madeira com acabamento de cores claras. A madeira é um material

muito usado no mobiliário de quartos, pelo facto de ser considerada “quente” e

maleável, podendo ter um número ilimitado de aplicações. É também considerada

pela sua capacidade duradoura e quando bem trabalhada, é um material que não

enferruja nem apodrece. É igualmente um material de fácil limpeza;

2.2. Segurança dos equipamentos

O mobiliário deve ter sempre os cantos boleados sem arestas vivas impedindo que

a criança se magoe. Nas camas, até pelo menos aos 4 anos de idade, é aconselhável

que estejam patentes barras laterais que, para segurança da criança, sirvam de

proteção principalmente durante a noite. Estas barras devem ser removíveis

(preferencialmente).

2.3. A funcionalidade

O mobiliário deve ser igualmente funcional nos sistemas de encaixe, arrumação e

utilização para que este possa responder ao desempenho pretendido, tanto ao nível

de aspeto final como na sua função. Nesse sentido, os sistemas de encaixe devem ser

simples e de fácil montagem, a funcionalidade dos equipamentos deve permitir fácil

abertura através das suas ferragens, como calhas de correr e sistema de batente

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para as gavetas e portas. Os encaixes da estrutura da cama devem ser de simples

montagem, juntamente com ferragens e ligações em madeira que permitam a sua

ostentação e segurança.

É importante que haja um local para arrumação de forma diferenciada: objetos

acessíveis à criança em oposição a objetos acessíveis apenas aos pais. A área de

arrumação, segundo os pais inquiridos, deve ser fechada, incluindo nela, todo o

conjunto de roupas e brinquedos dos filhos. Esta solução promove um aspeto

exterior arrumado.

A arrumação deve ser feita através de soluções simples como gavetas deslizantes,

estando presentes nos móveis destinados à arrumação. Desta forma torna-se fácil o

acesso à criança e permite “esconder” os brinquedos quando estão arrumados. Nas

situações em que os pais optem por adquirir um roupeiro, é importante ter diversas

zonas de arrumação no seu interior para que possam dividir e organizar roupas pela

sua quantidade e utilização.

2.4. A Usabilidade

A simplicidade nos equipamentos deve estar latente sem grandes ornamentações,

podendo facilitar a limpeza e a sua montagem. A possibilidade de ser modular foi

referida pelos pais como fator decisivo na escolha do mobiliário ao facilitar a

colocação e disposição dos equipamentos no quarto independentemente do espaço

que tenham, bem como a sua mobilidade.

A forma como se pretende essa modularidade consiste na criação de equipamentos

que podem funcionar em separado da estrutura da cama e que permitem aos pais

posicioná-los onde considerarem mais viável, dependendo das características

latentes do quarto e do seu uso.

É importante também que os brinquedos que a criança utiliza estejam acessíveis

sendo para isso necessário, equipamentos que permitam a altura indicada.

O facto de haver uma zona para guardar sapatos é relevante para a maioria dos pais,

principalmente porque o calçado da criança é de menor tamanho, permitindo que

seja guardada uma maior quantidade, como foi apresentado em algumas situações.

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A iluminação dentro do roupeiro foi registada em alguns casos como fator

preferencial, podendo esta ser importante para a sua utilização.

2.5. A comunicação/ interação

O quarto deverá ter bastante interação/comunicação, referências ao mundo

exterior, assim como brinquedos e cores de forma a atrair a criança; deverá também

ter presente objetos que possam estimular o desenvolvimento motor da mesma. As

cores a utilizar no mobiliário devem ser claras e básicas, como o cinzento e o branco.

Pode apresentar registos de cor como o verde, lilás, azul claro ou laranja, sendo estas

as cores mais observadas e propostas pelos pais.

Relativamente às cores do quarto, estas desempenham um papel importante no

estímulo da criança, induzindo um fascínio pela área colorida e mais vontade de

brincar nesse espaço.

A falta de espaço livre para brincar torna-se um aspeto a considerar para o projeto,

sendo que em situações em que o quarto tem dimensões reduzidas, conforme foi

possível reter em muitos dos casos analisados, leva-nos a uma solução mais eficiente

como um conjunto de equipamentos reunidos num menor espaço possível.

Para colmatar a necessidade dos mais pequenos terem o seu “cantinho” numa zona

do quarto, será considerada uma área onde a criança pode estar a brincar no seu

mundo.

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3. Projeto

No seguimento das conclusões retiradas tanto no estudo do desenvolvimento da

criança como no levantamento de informação do quarto, onde a mesma desempenha

as suas atividades, elaborou-se um conjunto de equipamentos que se enquadram

numa linha de mobiliário como contributo para a melhoria do desenvolvimento da

criança.

Nesse sentido, e com base na pesquisa e levantamento de informação efetuada,

definiu-se que esta linha deve possuir por base:

- Uma Cama/Beliche

- Roupeiro/Cómoda

Como forma de ir ao encontro dos equipamentos referidos acima, considerou-se a

elaboração da componente lúdica, agregada aos mesmos, podendo funcionar em

separado, caso os pais assim o pretendam. Assim consideraram-se:

- Um painel lúdico (presente ao fundo/cabeceira da cama)

- Módulos lúdicos (que permitem a arrumação e interação com a criança)

- Jogo de formas (funciona como parede lúdica também para o fundo/cabeceira da

cama)

- Barras lúdicas (servem não só para fortalecer a estrutura da cama/beliche, como

principalmente, para a interação com a criança)

- Zona lúdica (Por baixo da cama/beliche)

- Área do faz-de-conta (fortalece a estrutura e atua principalmente para a interação

com a criança)

Estes elementos pressupõem-se estar inseridos na estrutura da cama, contudo

alguns deles como os módulos lúdicos, podem funcionar em separado, aplicando-se

em outros cantos do quarto. De seguida passa-se a expor cada um dos mesmos

referidos acima, ao nível das suas funções, características e fichas técnicas.

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CAMA

Materiais: Madeira

Dimensões gerais da cama: 208cm x 111cm x 160cm (altura total)

Medidas interiores (debaixo da cama): 192cm x 95cm x 110cm

Ferragens: ferragens metálicas (parafusos), cavilhas para acerto e dobradiças

Cores: Branco e/ou cor de madeira, com a possibilidade de se combinar 2x1

Dimensões barras lúdicas: 192cm x 100cm x 3cm

Ferragens barras lúdicas: Encaixe na estrutura de suporte da cama

Cores barras lúdicas: branco ou cor de madeira

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MEMÓRIA DESCRITIVA

A estrutura da cama prevê uma utilização multifuncional com agregação de todos os

equipamentos apresentados e justificados de seguida à exceção das barras laterais

lúdicas que integram diretamente na estrutura da cama. Como pode observar-se, a

nível de utilização, tanto a cabeceira como o fundo, são iguais na altura para que os

pais possam colocar a cama na disposição mais adequada ao quarto.

As barras laterais que auxiliam na segurança da criança são removíveis e podem

mudar-se de posição conforme a necessidade dos pais na alteração dos

equipamentos dentro do quarto. Estas integram a estrutura da cama e podem

acompanhar essas alterações através do seu desencaixe.

A escada com seis degraus permite o acesso à parte de cima da cama e pode

proporcionar também, um meio para a brincadeira, quer seja através dos degraus

como até da própria inclinação da escada, onde, por baixo, a criança pode colocar-se

em segurança.

Pretende-se que a cama possa ser um espaço acolhedor e interativo à criança,

permitindo combinar as diversas opções lúdicas com o Tangrimétrico, TRIFORM,

SELL & PLAY, GEOPASS (componentes apresentados de seguida).

A área disponível para a criança, por baixo da cama, tem uma altura de 110 cm, tendo

em conta os percentis referidos na Direção Geral de Saúde (página 62), onde a

criança de 6 anos apresenta uma altura média de 125 cm e a criança de 3 anos uma

altura média de 89 cm. Foi considerada a média dessas alturas para garantir a

segurança no acesso à cama e a segurança, na zona lúdica por baixo da mesma,

suficiente para que a criança desempenhe as suas brincadeiras.

O conjunto de barras laterais lúdicas faz parte da estrutura da cama, concedendo-

lhe maior estabilidade. As barras são ligeiramente inclinadas e têm espaço entre

elas, permitindo à criança brincar ao longo do seu comprimento (ver imagem

acima).

O equipamento proporciona um desenvolvimento cognitivo à criança ao nível das

formas. As barras têm também uma numeração por ordem crescente sendo que a

barra nº 1 é a do topo e a barra nº 4 a da base: esta numeração poderá ser utilizada

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na aprendizagem dos números, assim como simbolizar a partida e a chegada, por

exemplo, de uma corrida de carros que a criança poderá realizar nas descidas

incorporadas.

A atividade do brincar envolvida neste equipamento baseia-se num tipo de jogo

simbólico, deixando ao critério da criança, imaginar a sua utilização para as

brincadeiras. Relativamente aos critérios de avaliação do brinquedo, este

equipamento tem um valor de estruturação porque implementa simbolicamente na

criança uma atividade que corresponde à realidade, como por exemplo as estradas

onde circulam os carros. Possibilita igualmente à criança imaginar outros cenários

e simular outras brincadeiras, a descer e subir, com outro brinquedo de pequena

escala.

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PORMENORES

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PORMENORES

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OPÇÕES DE COR

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PEÇA INTEGRADA NO ESPAÇO

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DESENHO TÉCNICO

Escala: 1:20

Medidas: Milímetros

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85

DESENHO TÉCNICO

Escala: 1:20

Medidas: Milímetros

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DETALHES

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MAPA DE COMPONENTES

Componentes Descrição QT Material Acabamento

C1 Barra segurança 1 1 Madeira Lacagem/opcional

C2 Painel 2 Madeira Lacagem/opcional

C3 Pilar 1 2 Madeira Lacagem/opcional

C4 Barra estrutura 1 3 Madeira Lacagem/opcional

C5 Barra estrutura 2 2 Madeira Lacagem/opcional

C6 Painel lúdico 4 Madeira Lacagem/opcional

C7 Ferragem 1 2 Metal Standard

C8 Barra segurança 2 1 Madeira Lacagem/opcional

C9 Escada 1 Madeira Lacagem/opcional

C10 Prateleira 1 Madeira Lacagem/opcional

C11 Ferragem 2 2 Metal Standard

C12 Cavilha 28 Madeira Standard

C13 Dobradiça 4 Metal Standard

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TANGRIMÉTRICO

Materiais: Polietileno (plástico rotomoldado)

Dimensão do conjunto: (95cm x 85cm x 8cm)

Ferragens: inexistentes

Cores: apresentadas na imagem

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MEMÓRIA DESCRITIVA

O Tangrimétrico é um equipamento desenvolvido em módulos de construção,

associados à estrutura da cama, podendo também a criança brincar com os módulos

em separado. A sua funcionalidade permite montar e desmontar um conjunto de

peças indo ao encontro das construções da marca LEGO referido em capítulos

anteriores, possibilitando à criança criar construções diferentes com a utilização das

mesmas.

A atividade de brincar deste equipamento, assenta no tipo de jogo construtivo

devido à sua lógica de encaixe das peças, permitindo que a criança desenvolva o

raciocínio e o pensamento. O seu valor é experimental e funcional porque a criança

estabelece uma experiência com o equipamento que lhe proporciona a atividade em

escala ampliada derivado do tamanho das peças.

Este equipamento é de fácil transporte por ter as peças desagregadas umas das

outras. Permite a sua utilização a nível vertical, na estrutura da cama formando um

género de parede que permite à criança ficar resguardada por baixo da cama.

Contudo, também pode ser utilizado para brincar horizontalmente.

A faixa etária associada corresponde às crianças entre os 3 e os 6 anos, permitindo

estimular o desenvolvimento motor, através do encaixe das formas, e cognitivo,

devido à presença de várias cores. Esses fatores são de extrema importância na

criança nesta fase do crescimento.

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PORMENORES

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OPÇÕES DE COR

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PEÇA INTEGRADA NO ESPAÇO

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DESENHO TÉCNICO

Escala: 1:10

Medidas: Milímetros

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LISTA DE COMPONENTES

Componentes Descrição QT Material Acabamento

C1 Peça encaixe 1 1 Plástico rotomoldado Opcional

C2 Peça encaixe 2 2 Plástico rotomoldado Opcional

C3 Peça encaixe 3 1 Plástico rotomoldado Opcional

C4 Peça encaixe 4 1 Plástico rotomoldado Opcional

C5 Peça encaixe 5 1 Plástico rotomoldado Opcional

C6 Peça encaixe 6 1 Plástico rotomoldado Opcional

C7 Peça encaixe 7 1 Plástico rotomoldado Opcional

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SELL & PLAY

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MEMÓRIA DESCRITIVA

O SELL & PLAY é um equipamento fixado por baixo da cama alta, e que permite que

a criança possa usá-lo como uma mesa para poder desenhar, brincar ao faz-de-conta

simulando, por exemplo, uma mercearia ou uma peça de teatro. Permite também

criar uma barreira física entre o espaço por baixo da cama e o restante espaço

exterior definindo uma área acolhedora em conjunto com os restantes

equipamentos. Esta peça ajuda igualmente na sustentação da estrutura da cama.

O tampo, com superfície plana, pode ser utilizado como mesa para a criança

desenhar e pintar devido à película autocolante nela colocada.

Este é um tipo de equipamento que permite o jogo simbólico através da simulação

de situações da realidade (mercearia e teatro de bonecos) contribuindo para o

estímulo cognitivo imaginativo da criança. Auxilia também na componente social

pelo exercício da mesma brincadeira (faz-de-conta), comum nesta faixa etária. Este

tipo de equipamento lúdico desempenha um valor de estruturação devido à

capacidade de proporcionar à criança imaginar o seu mundo e simular a realidade

através da brincadeira.

Materiais: Madeira, película autocolante da marca ANTALIS na superfície plana

Dimensões: 60cm x 35cm x 3cm, base 60cm x 3cm x 50cm

Ferragens: encaixes em madeira e parafusos

Cores: branco ou cor de madeira

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97

PORMENORES

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98

PEÇA INTEGRADA NO ESPAÇO

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99

DESENHO TÉCNICO

Escala: 1:20

Medidas: Milímetros

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100

DETALHES

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101

MAPA DE COMPONENTES

Componentes Descrição QT Material Acabamento

C1 Película autocolante 1 Papel Preto

C2 Pilar auxiliar 1 Madeira Lacado a Branco

C3 Tampo 1 Madeira Opcional

C4 Parede da estrutura 1 Madeira Opcional

C5 Parafuso 6 Aço Standard

C6 Pilar estrutural 1 Madeira Opcional/Branco

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102

GEOPASS

Materiais: Madeira, Polietileno macio (assemelha-se à borracha)

Dimensões: 110cm x 98cm x 3cm

Ferragens: parafusos

Cores: branca ou cor de madeira para o painel + verde, azul, laranja, amarelo para

cada um dos círculos

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103

MEMÓRIA DESCRITIVA

O GEOPASS é um painel com formas geométricas circulares que se encaixa na

estrutura da cama, tornando a parte de baixo da mesma mais acolhedora. Permite a

interação da criança com o equipamento através da passagem pelo círculo maior

(ver imagem). Os restantes círculos possibilitam interatividade à criança, simulando

zonas onde possa colocar os braços ou as mãos para criar cenários de brincadeira,

até mesmo com outros brinquedos de menores dimensões.

O equipamento permite um maior desenvolvimento motor da criança através da

atividade de atravessar o círculo maior, promove o equilíbrio, estimula a aptidão

para saltar e confere destreza física. Possibilita também um estímulo cognitivo ao

nível das cores e das formas. A atividade de brincar no GEOPASS baseia-se num tipo

de jogo funcional e construtivo porque permite a atividade motora da criança

através da utilização de um painel que estimula a imaginação da mesma para a

invenção de ínfimas brincadeiras.

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PORMENORES

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105

PEÇA INTEGRADA NO ESPAÇO

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106

DESENHOS TÉCNICOS

Escala: 1:10

Medidas: Milímetros

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107

DESENHOS TÉCNICOS

Escala: 1: 5

Medidas: Milímetros

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108

DESENHOS TÉCNICOS

Escala: 1:20

Medidas: Milímetros

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109

MAPA DE COMPONENTES

Componentes Descrição QT Material Acabamento

C1 Parede lúdica 1 Madeira Opcional

C2 Perfil 1 1 Plástico rotomoldado Opcional

C3 Perfil 2 1 Plástico rotomoldado Opcional

C4 Perfil 3 1 Plástico rotomoldado Opcional

C5 Perfil 4 1 Plástico rotomoldado Opcional

C6 Perfil 5 1 Plástico rotomoldado Opcional

C7 Perfil 6 1 Plástico rotomoldado Opcional

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110

STRECH´ABLE

Materiais: polietileno (processo por rotomoldagem)

Ferragens: não tem

Cores: a mesa - cor branca os dois módulos apresentam cada um, o verde, laranja e

respetivamente

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111

MEMÓRIA DESCRITIVA

O STRECH’ABLE agrega uma mesa composta por três módulos que entram uns nos

outros e um gavetão para colocar os brinquedos. Tem como objetivo interagir com

a criança principalmente ao nível motor. Com o uso dos três módulos em forma de

túnel, torna possível a criança gatinhar ou rastejar por dentro dos mesmos, podendo

posicioná-los de forma diferente uns dos outros. Torna também possível que a

criança possa andar e saltar por cima dos mesmos, promovendo o seu equilíbrio e

destreza física.

O STRECH´ABLE pode ser usado como mesa e banco utilizando a peça principal

(onde se arrumam os dois módulos e o gavetão), dependendo da altura e idade da

criança. É considerado um tipo de jogo funcional, construtivo e simbólico pela sua

versatilidade e multifuncionalidade. Ao nível funcional, porque permite à criança

desenvolver a sua atividade motora, destreza e equilíbrio, ao nível construtivo

porque encaixam uns nos outros e isso estimula a criança ao nível cognitivo no

raciocínio. Ao nível simbólico pela capacidade de permitir à criança combinar

diversas possibilidades e de poder simular, por exemplo um esconderijo.

Avaliando este equipamento ao nível lúdico pode percecionar-se um valor

experimental, pois permite o seu manuseamento, e de estruturação, com a

simulação do fazer de conta que aquele equipamento pode ser, na cabeça da criança,

para inúmeras possibilidades.

A montagem da mesa é efetuada pela união das 4 pernas ao tampo através de

parafusos inseridos no plástico rotomoldado no inicio da sua conceção. Estes, fixos

ao plástico, encaixam por rosca no tampo.

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112

PEÇA INTEGRADA NO ESPAÇO

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113

DESENHOS TÉCNICOS

Escala: 1:10

Medidas: Milímetros

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114

DESENHOS TÉCNICOS

Escala: 1:10

Medidas: Milímetros

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115

MAPA DE COMPONENTES

Componentes Descrição QT Material Acabamento

C1 Mesa 1 Plástico Rotomoldado Cor branca

C2 Túnel médio 1 Plástico Rotomoldado Cor verde/azul

C3 Túnel grande 1 Plástico Rotomoldado Cor laranja/roxo

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116

TRIFORM

Materiais: Madeira (estrutura do móvel), MDF lacado(gavetões)

Dimensões: 95cm x 40cm x 50cm,

Ferragens: a estrutura tem encaixe por cavilhas e parafusos

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117

MEMÓRIA DESCRITIVA

O móvel TRIFORM, compostos por três gavetões em MDF19 lacado, tem como função

a arrumação diversa, nomeadamente de brinquedos. Os gavetões apresentam

diferentes formas e cores em cada um deles, de modo a que a criança associe o

conteúdo da gaveta ao seu exterior. Têm também a particularidade de se poderem

encaixar numa das laterais da cama. A frente de cada gavetão será cortada em CNC20.

A parte superior tem uma pista que permite à criança usar pequenos brinquedos

para brincar nessa zona. Estes móveis poderão ser associados à cama, dando

continuidade à brincadeira (ver imagens acima). O painel superior será igualmente

recortado em CNC.

O equipamento apresenta uma componente funcional, destinada à arrumação

diversa e uma componente cognitiva, patente na face superior, destinada a estimular

a parte criativa da criança e na face lateral, devido às formas e cores dos gavetões. O

móvel TRIFORM apresenta uma forma de brincar construtiva e simbólica, pois

permite que a criança interaja com o equipamento e crie vários cenários de

brincadeira, contribuindo desta forma para o seu desenvolvimento cognitivo.

O equipamento tem como valores experimental, funcional e de estruturação.

Permite que a criança experimente formas diferentes de brincar, como o uso de

pequenos carrinhos na pista desenhada e imagine outras estradas pela estante fora

possibilitando estabelecer contacto com outros equipamentos/ objetos existentes

no quarto. Esta atividade é proporcionada numa estrutura essencialmente usada

para arrumação de brinquedos.

19 MDF: (Medium Density Fiberboard) ou traduzido para português, placa de fibra de média intensidade.

Material muito usado na produção de mobiliário para interiores, por ser de baixo custo e durável; 20 CNC: Comando numérico computorizado, permitindo a utilização de sistemas CAD/CAM para a

produção de peças da indústria;

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PORMENORES

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119

PEÇA INTEGRADA NO ESPAÇO

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120

DESENHOS TÉCNICOS

Escala: 1:10

Medidas: Milímetros

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121

DESENHOS TÉCNICOS

Escala: 1:10

Medidas: Milímetros

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122

MAPAS DE COMPONENTES

Componentes Descrição QT Material Acabamento

C1 Parte cima 1 Madeira Madeira/branco

C2 Parte lateral 1 1 Madeira Madeira/branco

C3 Parte baixo 1 Madeira Madeira/branco

C4 Parte lateral 2 1 Madeira Madeira/branco

C5 Fundo 1 Madeira Madeira/branco

C6 Cavilha 15 Madeira N/A

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123

ROUPEIRO

Materiais: Madeira

Dimensões: 192cm x 50cm x 110cm

Ferragens: a estrutura tem cavilhas e ferragens metálicas, como parafusos e calhas

para as gavetas

Cores: Estrutura do roupeiro é em madeira ou lacado com cor branca, com a

possibilidade de combinar cores nas gavetas e portas do roupeiro, como o branco e

outras referentes ao género das crianças

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124

MEMÓRIA DESCRITIVA

O roupeiro é composto por duas portas e sete gavetas (seis gavetas exteriores e uma

gaveta no interior). O principal objetivo dessas gavetas é a arrumação de roupa e

calçado com a particularidade de terem figuras exteriores que fazem referência ao

móvel com gavetões TRIFORM estimulando a interação com a criança e uma ligação

com o mesmo.

Poderá ser posicionado pelos pais em qualquer zona do quarto ou por baixo da cama

(ver imagem acima) de forma a rentabilizar a área do quarto, em caso de ter

pequenas dimensões.

O roupeiro é uma peça sobretudo funcional. Porém tem também uma componente

lúdica na medida em que os puxadores das gavetas interagem com a criança através

da comunicação de formas geométricas. Note-se que a criança pode brincar por cima

do equipamento devido à sua altura.

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PORMENORES

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PORMENORES

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127

OPÇÕES DE COR

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128

PEÇA INTEGRADA NO ESPAÇO

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129

DESENHOS TÉCNICOS

Escala: 1:20

Medidas: Milímetros

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130

DETALHES

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131

DETALHES

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DETALHES

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133

MAPA DE COMPONENTES

Componentes Descrição QT Material Acabamento

C1 Porta roupeiro 2 Madeira Opcional

C2 Dobradiça porta 4 Aço N/A

C3 Ferragem varão 2 Aço N/A

C4 Varão 1 Alumínio N/A

C5 Painel madeira 7 Madeira Madeira/branco

C6 Painel gaveta 24 Madeira Madeira

C7 Pé armário 4 Plástico N/A

C8 Corrediça 12 Aço N/A

C9 Painel frente gaveta 6 Madeira Opcional

C10 Gaveta interior 1 Madeira Opcional

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134

Parte III – Conclusão

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135

Na primeira parte da dissertação, introduziu-se o capítulo 1, que definiu os

objetivos do tema e permitiu definir a questão central ao longo do trabalho: “Que

melhorias poderão ser feitas nos equipamentos habitualmente presentes no quarto

para que possam contribuir para um melhor desenvolvimento da criança?”. Nesse

sentido, tornou-se evidente clarificar determinadas temáticas que fundamentaram

esta questão.

Aprofundou-se por ordem cronológica o estudo e desenvolvimento da criança em

diversas vertentes. No capítulo 2, foi dado enfâse ao desenvolvimento da criança na

segunda infância e as suas evoluções mais comuns no que diz respeito ao seu

desenvolvimento.

Em seguida, referenciaram-se as influências do desenvolvimento relacionado com o

ambiente onde a criança está inserida, a sua dependência do mesmo, e o seu

contexto histórico através de teorias estudadas ao longo dos séculos por diferentes

autores sobre o tema. De entre as diversas teorias de investigação, destacou-se a

perspetiva cognitiva como matriz a seguir no aprofundamento do assunto.

Introduziu-se de seguida no capítulo 3 no seguimento do capítulo anterior, os

denominados estágios da teoria cognitiva e procedeu-se ao foco na faixa etária

pretendida da criança, sendo essa dos 3 aos 6 anos de idade. Dessa fase, designada

como período pré-operatório na criança, resultou o estudo do desenvolvimento de

diferentes pontos, entre eles:

Desenvolvimento motor – que diz respeito ao nível físico da criança, desde o

agarrar objetos, correr, saltar, ganhar equilíbrio, coordenação nos seus movimentos

e destreza física, proporcionando assim progresso da mesma;

Desenvolvimento cognitivo – referente à evolução do pensamento e raciocínio

lógico da criança, bem como da sua compreensão espacial do mundo que a rodeia;

Desenvolvimento da memória – respeitante à experimentação da criança, como

criar, montar, desmontar, pois só assim é capaz de, nesta faixa etária, memorizar

tudo o que executa. Está intrínseca ao desenvolvimento motor;

Desenvolvimento da linguagem – este é alusivo à aquisição de vocabulário e da

aprendizagem numérica da criança, adquirindo nesta fase uma grande quantidade

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136

de palavras necessárias à comunicação com o mundo à sua volta. Está intrínseca ao

desenvolvimento cognitivo e com aquilo que observa;

Desenvolvimento artístico – está relacionado com o desenvolvimento cognitivo e

da memória pois é através deste que a criança adquire maior noção espacial e

começa a memorizar as características dos objetos à sua volta. Este também

proporciona a descoberta da mão dominante na criança;

Desenvolvimento da imaginação e criatividade – É considerado o mais

importante sendo transversal a todos os tópicos do desenvolvimento abordados.

Permite à criança expressar-se de formas diferentes, contribuindo para a

consolidação do seu pensamento, do seu raciocínio lógico, da sua memorização e das

suas capacidades motoras. Este é intrínseco à criança, nasce com ela, define a sua

personalidade e tem de ser estimulado ao máximo nesta fase.

Os capítulos 2 e 3 permitiram consolidar conhecimentos relativos à criança na faixa

etária pretendida e impulsionaram igualmente o estudo do capítulo 4, onde se

abordou a atividade do brincar da criança.

Neste introduziu-se o tema da atividade do brincar como estímulo natural na criança

e a sua presença na cultura do homem desde há muito tempo. Ficou claro que é uma

ferramenta que permite à criança comunicar no mundo que está a conhecer e

possibilita também à mesma desenvolver-se. Pôde concluir-se que a atividade do

brincar deve fazer parte do quotidiano da criança, principalmente na fase dos 3 aos

6 anos, pois é o período pré-escolar, portanto a etapa que antevê a relação com

outras crianças e novas descobertas.

Foram apresentadas formas para a criança brincar, fundamentadas com base na

teoria cognitiva exposta no capítulo anterior com o objetivo de compreender as

brincadeiras que acontecem naturalmente por parte dos mais pequenos.

Concluiu-se que existem 3 tipos. O jogo funcional que envolve brincadeiras

elementares associadas à atividade física da criança. O jogo construtivo que prevê

a utilização da imaginação da criança e os objetos à volta da mesma para criar

brincadeiras de construção ou outras relacionadas, admitindo um progresso no

pensamento e raciocínio. O jogo simbólico que materializa em brincadeira aquilo

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137

que a criança assimila da realidade e possibilita o desenvolvimento da linguagem e

de ligações com o mundo em seu redor.

A brincadeira apresenta uma base evolutiva e atinge o seu máximo na infância, e por

isso, como resposta a esse pico de atividade, deve ser dada à criança a liberdade e

todo o tempo que tem disponível para brincar, permitindo que esse suporte se

desenvolva e a criança possa crescer da forma mais saudável possível.

No capítulo 5 como forma de cruzar a informação obtida nos capítulos anteriores

acerca do desenvolvimento da criança e da sua atividade lúdica analisou-se a origem

do brinquedo, o seu vínculo à criança, e as características que contribuem para o seu

desenvolvimento. Concluiu-se que o brinquedo se tornou um instrumento

insubstituível na atividade da criança devendo apresentar determinadas

características para despertar a atenção delas e enriquecer a sua aprendizagem.

Para além do interesse que o brinquedo deve despertar na criança, há outras

características que proporcionam a sua atração, evidenciando-se na sua

adequação, partindo do princípio que nas diferentes fases de crescimento a criança

apresenta necessidades e interesses distintos, logo o brinquedo deve ser adequado

a cada uma das idades.

O apelo à imaginação e versatilidade permite que este seja o mais amplo possível

para que a criança possa interagir com o mesmo de variadas formas. A sua

composição, o seu tamanho, as suas cores e formas devem ser pensados para que

a criança consiga agarrá-lo e deslocá-lo sem dificuldade. O brinquedo deve ser

desmontável e composto por diferentes cores, proporcionando estímulos cognitivos

ao nível do raciocínio e aquisição de conhecimento. Por último, o facto de ter

durabilidade e ser seguro, permite à criança brincar em segurança e ter tempo de

estabelecer uma relação com o objeto.

Ainda referente ao brinquedo, estudaram-se determinados critérios de avaliação

que permitiram validar o projeto final proposto. Dessa forma, constataram-se 3

tipos de valor aplicados aos objetos. O valor funcional, referente à capacidade de

adaptação do brinquedo, traduzindo-se na sua funcionalidade e execução. O valor

experimental, baseado naquilo que a criança pode fazer e aprender com

determinado brinquedo, sendo este de conteúdo técnico especifico e focando-se

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138

mais no desenvolvimento motor. O valor de estruturação que se enquadra no

desenvolvimento da personalidade da criança, ou seja, a nível cognitivo e

desempenha através do brinquedo a atividade simbólica da criança.

Para além disso, é no brinquedo que a criança encontra limites no manuseamento

de objetos, descobre as suas funcionalidades e alarga o seu conhecimento. Desse

modo, estudou-se igualmente a importância do mesmo no espaço com vista a

viabilizar uma solução de projeto referente ao quarto dos mais pequenos, atendendo

a todos os aspetos referidos e estudados e valorizando o que um objeto lúdico deve

ter para oferecer à criança uma experiência enriquecedora.

Dessa forma, surgiu o capítulo 6, com o objetivo de perceber em contexto prático, a

realidade da criança atual e analisar o espaço onde ela brinca e passa mais tempo, o

seu quarto.

Com as entrevistas realizadas a famílias do distrito de Lisboa, percebeu-.se que

efetivamente por ser no quarto onde a criança desempenha a sua atividade na maior

parte do tempo, não são necessários muitos brinquedos para que a mesma

desenvolva mais as suas apetências, mas sim poucos que desempenhem

corretamente o contributo ao desenvolvimento da mesma.

Constatou-se com base nas entrevistas aos pais e no estudo dos benefícios do

brincar, o facto de a criança ser submetida a longas horas em frente à televisão e

tablets, limita a sua experiência visual e contacto com a realidade.

Para os casos de estudo de mercado das diferentes marcas apresentadas,

constaram-se determinados pontos que poderiam ser tidos em conta para o

programa de projeto, possibilitando uma maior viabilidade no projeto.

No seguimento das conclusões extraídas da componente teórica, reuniram-se no

capítulo 1 e 2 da componente prática, os requisitos para o programa e as

considerações do projeto. Aqui apresentaram-se os pontos que definiram a proposta

de mobiliário apresentada. Nesse sentido, o design revelou ser uma ferramenta

potencializadora e diferenciadora no projeto, sendo possível através dele

desenvolver um conjunto de equipamentos capazes de comunicar na vertente lúdica

e na vertente funcional. Para tal, reuniram-se diferentes aspetos que culminaram

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numa solução que surgiu como resposta a uma necessidade encontrada no setor

infantil.

Dessa forma, a utilização desses parâmetros, resultou num projeto que teve em

conta:

O ambiente do quarto – através do equilíbrio dos equipamentos e o contraste das

formas e cores utilizadas na conceção da linha de mobiliário;

A cor – através da utilização de cores vivas e apelativas à criança na faixa etária

trabalhada, com a cor da madeira/ cor branca de base, instituindo separações de

cores verdes, laranjas, azuis, amarelos, vermelhos e roxos, de forma a não tornar o

quarto saturado dessas mesmas cores. Desta forma tornou possível relacioná-las

entre si;

Os materiais – destes resultaram o uso da madeira para as peças estruturais do

mobiliário e o plástico para alguns equipamentos em especifico que implicam maior

relação com a criança e facilitam a aplicação da cor, a forma e o processo de fabrico;

A antropometria/ergonomia da criança – das dimensões antropométricas da

criança resultaram dimensões que ajudaram a definir as alturas e acessibilidades

dos equipamentos, estando por isso relacionada com a ergonomia que foi

igualmente tida em conta.

A funcionalidade - referente a todos os aspetos presentes no mobiliário que

implicaram a sua execução, função e por último, a comunicação/interação dos

equipamentos com a criança em resposta aos pontos fracos encontrados nos

equipamentos já existentes.

Estes parâmetros confirmaram: a aplicação de materiais como a madeira, pois foi o

material encontrado em todo o estudo, aspetos de segurança dos equipamentos que

permitiram certificar que a solução projetada vai ao encontro do observado e já

produzido no mercado.

Desse modo surge uma linha de mobiliário com uma vertente lúdica com o objetivo

de criar um ambiente lúdico envolvente e proporcionar o desenvolvimento motor e

cognitivo da mesma. Os equipamentos foram projetados para funcionarem em

conjunto e ocuparem o menor espaço possível. A linha foi composta por 7

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elementos: a cama com as barras lúdicas, o painel dos círculos, o conjunto de blocos

encaixados na estrutura da cama, o faz-de-conta, a estante de arrumação com

gavetões lúdicos, a mesa lúdica e o armário.

Constatou-se que cada um destes elementos compreendia características que

contribuem para o desenvolvimento da criança. A forte vantagem do projeto passa

pela possibilidade de a criança poder interagir com os equipamentos e este poderem

integrar igualmente as brincadeiras da mesma, originando um maior interesse e

apego pelos mesmos. Esses elementos também permitem potenciar à criança um

crescimento e desenvolvimento das suas aptidões psicomotoras.

Constatou-se também que, foi possível criar uma estrutura relacionada e capaz de

responder às conclusões obtidas através dos pais nas entrevistas efetuadas. Por isso,

embora o número de inquiridos não tenha sido grande para constatar um nicho de

mercado, foi suficiente para retirar desta pequena amostra que existe um potencial

interesse na sua aquisição.

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