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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL MARCELO AULER DE MOURA UTILIZAÇÃO PELA IMPRENSA ESCRITA DE CONTEÚDOS PRODUZIDOS POR ASSESSORIAS DE ÓRGÃOS PÚBLICOS: UM ESTUDO DE CASO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA PETRÓPOLIS CAXIAS DO SUL 2014

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

MARCELO AULER DE MOURA

UTILIZAÇÃO PELA IMPRENSA ESCRITA DE CONTEÚDOS PRODUZIDOS POR

ASSESSORIAS DE ÓRGÃOS PÚBLICOS: UM ESTUDO DE CASO DA

PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA PETRÓPOLIS

CAXIAS DO SUL

2014

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MARCELO AULER DE MOURA

UTILIZAÇÃO PELA IMPRENSA ESCRITA DE CONTEÚDOS PRODUZIDOS POR

ASSESSORIAS DE ÓRGÃOS PÚBLICOS: UM ESTUDO DE CASO DA

PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA PETRÓPOLIS

Monografia de Conclusão do Curso de

Comunicação Social – Jornalismo da

Universidade de Caxias do Sul – UCS.

Orientadora: Prof. Drª. Marlene Branca Sólio

CAXIAS DO SUL

2014

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MARCELO AULER DE MOURA

UTILIZAÇÃO PELA IMPRENSA ESCRITA DE CONTEÚDOS PRODUZIDOS POR

ASSESSORIAS DE ÓRGÃOS PÚBLICOS: UM ESTUDO DE CASO DA

PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA PETRÓPOLIS

Monografia de Conclusão do Curso de

Comunicação Social – Jornalismo da

Universidade de Caxias do Sul – UCS.

Orientadora: Prof. Drª. Marlene Branca Sólio

Aprovado em ___ de _________ de 2014.

Banca Examinadora

_______________________________________

Prof. Dra. Marlene Branca Sólio

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_______________________________________

Prof. Me. Marliva Vanti Gonçalves

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_______________________________________

Prof. Me. Ana Laura Paraginski

Universidade de Caxias do Sul – UCS

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Dedico esta monografia à minha mãe, Rejane,

meu pai, Jarci, e minha irmã, Raquel, que

sempre compreenderam meus sonhos e nunca

deixaram de acreditar na minha capacidade de

vencer desafios.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Rejane e Jarci, por me darem a oportunidade de ingressar em

uma universidade para estudar jornalismo, um sonho que passei a cultivar desde o início da

adolescência. Sou muito grato a eles por terem me ensinado lições valiosas, como

perseverança e a humildade, lições que, com certeza, nortearam meus passos na vida

acadêmica.

À minha orientadora, Branca, por contribuir com sua inteligência, experiência e

paciência, além de não medir esforços para que eu conseguisse concluir essa monografia em

tão pouco tempo.

Às minhas colegas de assessoria de imprensa, Kassandra e Adriana, pela inestimável

compreensão, ajuda e incentivo durante todo o processo de elaboração desse trabalho.

Aos amigos e familiares, que fizeram parte da evolução dessa ideia e contribuíram

para que ela se tornasse realidade.

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“O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é

a busca, e é preciso andar muito para se

alcançar o que está perto”.

José Saramago

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RESUMO

Este estudo tem como objetivo principal analisar a forma que a imprensa escrita reproduz

conteúdos disponibilizados por assessorias de imprensa. Por meio da análise das reportagens

produzidas pela assessoria de imprensa da Prefeitura de Nova Petrópolis, esse trabalho visa,

por meio da análise de conteúdo, demonstrar que os conteúdos disponibilizados pela

assessoria do órgão público são reproduzidos na íntegra, sem qualquer edição, menção de

procedência das informações ou aprofundamento, pelo Jornal de Nova Petrópolis. A forma

como o público leitor recebe esses conteúdos reproduzidos pelo jornal, bem como a

interpretação que fazem dessas notícias e suas opiniões sobre o trabalho de assessores de

imprensa e jornalistas de veículos de comunicação, também será tema de análise deste

trabalho, por meio de entrevistas e análises de discurso. A partir disso, esse estudo fará uma

reflexão sobre a ética no âmbito de comunicação.

Palavras-chave: jornalismo, assessoria de imprensa, ética na comunicação.

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ABSTRACT

This study aims to analise the way a written press reproduces contents that are available at

press offices. I analysed reports done by the press office from Nova Petrópolis. This paper

also aims through the analysis of contents to show that the ones used by a public press office

are reproduced entirely, with no edition or mention of procedence of the information or depht

by the Jornal de Nova Petrópolis. The way the readers get those contents produces by the

newspaper, the interpretation of those news and the work of press officers and journalists are

also part of the theme of the paper. In order to do that, interviews and speech analysis were

used. A reflection will be used aiming the communication was also made through those

interviews and analisys.

Key-words: journalism, press assistance, ethics in communication.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Estrutura de Comunicação Organizacional Integrada ........................................52

Figura 02 – Modelo de Comunicação Estatal ........................................................................55

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LISTA DE ABREVIATURAS

AC – Análise de Conteúdo

AD – Análise de Discurso

AI – Assessoria de Imprensa

EC – Estudo de Caso

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13

2 METODOLOGIA ............................................................................................................... 17

3 JORNALISMO ................................................................................................................... 27

3.1 O JORNALISTA E A NOTÍCIA ..................................................................................... 30

3.2 JORNALISMO NO BRASIL ............................................................................................ 39

4 ASSESSORIA DE IMPRENSA ........................................................................................ 43

4.1 ASSESSORIA DE IMPRENSA NAS ORGANIZAÇÕES .............................................. 48

4.2 ASSESSORIA DE IMPRENSA E JORNALISMO .......................................................... 58

5 ÉTICA NA COMUNICAÇÃO .......................................................................................... 63

5.1 PÚBLICO RECEPTOR ..................................................................................................... 75

6 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................... 80

6.1 ASPECTOS DAS NOTÍCIAS ........................................................................................... 80

6.2 ANÁLISE DOS DISCURSOS .......................................................................................... 83

6.3 JORNALISMO ................................................................................................................... 84

6.4 ASSESSORIA DE IMPRENSA ........................................................................................ 88

6.5 ÉTICA NA COMUNICAÇÃO ......................................................................................... 92

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 98

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 103

ANEXOS .............................................................................................................................. 110

ANEXO A - Dia de Ler em Nova Petrópolis ......................................................................... 111

ANEXO B - Conferência das Cidades foi realizada no plenarinho da ACINP ...................... 112

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ANEXO C - Prefeito municipal participa de seminário em Brasília ...................................... 113

ANEXO D - Recolhimento de fluorescentes do comércio local ............................................ 114

ANEXO E - Fiscalização municipal realiza nova apreensão ................................................. 115

ANEXO F - Comitiva cubana visita Nova Petrópolis ............................................................ 116

ANEXO G - Prefeitura firma parceria com a OASE.............................................................. 117

ANEXO H - Estrada da Linha Olinda recebe melhorias ........................................................ 118

ANEXO I - Reuniões possibilitarão a elaboração do Plano de Turismo................................ 119

ANEXO J - Dia de Ler em Nova Petrópolis .......................................................................... 120

ANEXO K - Conferência das Cidades foi realizada no plenarinho da ACINP ..................... 121

ANEXO L - Prefeito municipal participa de seminário em Brasília ...................................... 122

ANEXO M - Recolhimento de fluorescentes do comércio local em Nova Petrópolis ........... 123

ANEXO N - Fiscalização municipal realiza nova apreensão ................................................. 124

ANEXO O - Comitiva cubana visita Nova Petrópolis ........................................................... 125

ANEXO P - Prefeitura firma parceria com a OASE de Nova Petrópolis............................... 126

ANEXO Q - Estrada da Linha Olinda recebe melhorias ........................................................ 127

ANEXO R - Turismo de Nova Petrópolis dá importante passo para o futuro ....................... 128

ANEXO S – Questionário aplicado nas Entrevistas em Profundidade .................................. 129

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1 INTRODUÇÃO

Essa pesquisa foi criada com o intuito de esclarecer como funciona a relação entre

assessorias de imprensa (AI) e veículos de comunicação, bem como o impacto que o trabalho

desenvolvido por esses profissionais tem sobre o público leitor. Toda pesquisa deve primar

por abordar assuntos que despertem curiosidade, que apresentem questões merecedoras de

aprofundamento. Penso, assim, que o problema de pesquisa apresentado neste trabalho

preencha esses requisitos por sua relevância social.

O problema levantado nesse estudo sempre foi, e talvez nunca deixe de ser, tema de

discussão entre acadêmicos de comunicação e da sociedade. Compreender o papel de uma AI,

assim como descobrir até onde vai sua ligação com os jornalistas atuantes em veículos de

comunicação, fornece muitas respostas para um público que consome notícias diariamente e

não possui total conhecimento quanto à procedência de algumas delas.

Como não existe uma delimitação clara para o uso de materiais fornecidos por

assessorias de imprensa por parte dos veículos de comunicação, naturalmente surgem

questionamentos éticos sobre essa prática. Baseado nessa premissa, esse estudo promove uma

reflexão com foco na ética jornalística, trazendo a análise dos conteúdos elaborados pela AI

da Prefeitura de Nova Petrópolis, que são reproduzidos pela imprensa escrita de Nova

Petrópolis.

Esse estudo evoca a discussão ética sobre o ato de um veículo de comunicação

reproduzir, sem citar a fonte, materiais fornecidos por assessorias de imprensa, já que tal ação

permite levantar a hipótese de manipulação do leitor. No caso abordado nesse trabalho, o

Jornal de Nova Petrópolis estaria se apropriando de um discurso criado pela AI da Prefeitura

de Nova Petrópolis, ao reproduzir conteúdos elaborados pelos assessores do órgão público.

Apropriação de discursos e divulgação dos mesmos pela imprensa já configura uma

justificativa para a existência desse estudo. O problema pode se agravar quando o leitor, que

não está ciente da procedência das matérias publicadas, interpreta o conteúdo lido como

sendo uma produção dos jornalistas que atuam no veículo de comunicação. Dessa forma,

também aumenta a possibilidade de o papel desempenhado pelo profissional de AI ser

ignorado pelo público leitor.

Ao ingressar na AI da Prefeitura de Nova Petrópolis, tive a oportunidade de conhecer

a relação de trabalho entre uma AI e os veículos de comunicação. Ao desempenhar meu

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trabalho, me deparei com situações que me fizeram refletir sobre os papeis desempenhados

por assessores de imprensa e jornalistas de veículos de comunicação. Uma dessas situações

dizia respeito à forma como os conteúdos elaborados por uma assessoria são utilizados pela

imprensa escrita do município.

Uma análise inicial permitiu constatar que a imprensa escrita, normalmente, reproduz,

na íntegra, materiais elaborados pela AI da Prefeitura de Nova Petrópolis, sem qualquer tipo

de edição, citação de fonte, aprofundamento ou complemento. Dessa forma, surgiu o desejo

de realizar este estudo, que possui como questão norteadora a seguinte indagação: A

reprodução pela imprensa escrita de conteúdos produzidos por assessorias caracteriza

apropriação de discurso e manipulação do leitor? Para o desenvolvimento do estudo decidi

analisar o caso do Jornal de Nova Petrópolis.

Para responder essa questão, percebi que seria necessário analisar se a reprodução pela

imprensa escrita de conteúdos produzidos por assessorias caracteriza apropriação de discurso

e manipulação do leitor, ferindo princípios éticos do jornalismo. Partindo desse objetivo

geral, elenquei como objetivos específicos o estudo dos conceitos de jornalismo, com foco na

imprensa escrita e de AI, explorando sua ligação com o jornalismo além de uma análise dos

princípios éticos na comunicação.

Outro objetivo específico do estudo seria uma aproximação com o público leitor, no

sentido de verificar sua capacidade de discernir o papel de cada um desses profissionais:

jornalista de veículo impresso e jornalista de AI. Para responder esses objetivos, levantei as

seguintes hipóteses: o Jornal de Nova Petrópolis reproduz, na íntegra, materiais da AI de

Nova Petrópolis, sem mencionar sua procedência; essa prática caracteriza falta de ética por

parte dos jornalistas envolvidos, caracterizando uma apropriação indevida de discurso;

leitores que desconhecem a origem das reportagens são manipulados pelo veículo de

comunicação; os leitores desconhecem as práticas, e o papel do assessor de imprensa no

processo de comunicação.

Responder a todas essas hipóteses demandava uma produção acadêmica, como base

científica. Iniciei o estudo com uma Pesquisa Bibliográfica, fundamentada no trabalho de

Stumpf (2005), com a qual aprofundei as categorias de jornalismo, assessoria de imprensa,

ética na comunicação e público receptor. Na sequência, empreguei a pesquisa qualitativa,

definida por Moreira (2004) como uma técnica de estudo que se preocupa com o aspecto

subjetivo da questão analisada, interpretando o contexto no qual a mesma se encontra.

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O método analítico, apresentado por Paviani (2006) como uma forma de pesquisa que

se preocupa em elucidar conceitos, proposições, argumentos e discursos, foi escolhido como

base desse estudo. O Estudo de Caso, fundamentado no trabalho de Yin (2001), foi adotado

neste trabalho com a finalidade de verificar uma das hipóteses levantadas, segundo a qual o

Jornal de Nova Petrópolis estaria publicando materiais elaborados pela AI da Prefeitura de

Nova Petrópolis, sem qualquer edição, apuração, aprofundamento ou complemento.

A análise de conteúdo, baseada nos preceitos de Bardin (2003), foi escolhida como

ferramenta para apresentar, analisar e comparar reportagens publicadas pelo Jornal de Nova

Petrópolis com matérias publicadas pela AI da Prefeitura de Nova Petrópolis, no site oficial

do município.

Após essa série de análises sobre os documentos coletados, optei por utilizar os

Estudos de Recepção, baseado nos conceitos de Martín-Barbero (1987), para verificar a

forma como os leitores recebem os conteúdos lidos no Jornal de Nova Petrópolis. A técnica

metodológica das entrevistas em profundidade, técnica de pesquisa qualitativa apresentada

por Bauer e Gaskell (2002) como uma forma de explorar a gama de opiniões existentes sobre

o assunto em questão, foi utilizadas nesta etapa.

A partir das entrevistas em profundidade realizadas, procedi à análise de discurso do

material gravado, usando como base o trabalho de Orlandi (2000). Nas entrevistas em

profundidade foram utilizadas reportagens publicadas no Jornal de Nova Petrópolis e no site

da prefeitura, no sentido de situar os entrevistados quanto ao caso de reprodução de materiais

analisado neste estudo. O segundo capítulo do estudo traz a descrição do método empregado

para o desenvolvimento desse trabalho.

No terceiro capítulo aparecem os estudos sobre o jornalismo, com foco na mídia

impressa. Os autores que pautaram esse estudo foram Nelson Traquina, Muniz Sodré, Felipe

Pena, Nilson Lage, Michael Kunckzik, e Clóvis de Barros Filho, fornecendo um referencial

teórico que traz o conceito de jornalismo, seu surgimento e evolução, assim como seus

diferentes gêneros e as técnicas de produção empregadas por jornalistas na produção de

notícias.

O estudo teórico sobre assessoria de imprensa é apresentado no capítulo quatro. As

obras dos autores Rivaldo Chinem, Jorge Duarte, Elisa Kopplin e Luiz Artur Ferraretto,

Ricardo Viveiros e Marco Antônio Eid, além de Margarida Kunsch, compõem o capítulo,

apresentando o papel da assessoria de imprensa, bem como as atribuições de um assessor,

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com ênfase na prática desenvolvida em órgãos públicos. Nesse capítulo, os pontos

convergentes entre a prática de assessoria de imprensa e do jornalismo serão apresentados e

analisados, com o intuito de fornecer uma base para uma posterior reflexão ética no ambiente

do jornalismo e da assessoria de imprensa.

O quinto capítulo traz uma reflexão sobre a ética no âmbito da comunicação. Para

isso, baseamo-nos nos conteúdos dos autores Patrick Lee Plaisance, Eugênio Bucci, Caio

Túlio Costa, Clóvis de Barros Filho, Álvaro L.M. Valls e Luís Mauro Sá Martino. Os

conceitos de ética e moral, os aspectos éticos no âmbito da comunicação e os deveres éticos

dos jornalistas, além do público receptor e da opinião pública. são temas da reflexão trazida

neste capítulo. Tal reflexão é uma das propostas dessa pesquisa, já que uma das hipóteses

sugeridas é de uma possível manipulação do público leitor por parte de um veículo de

comunicação.

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2 METODOLOGIA

Na prática, a pesquisa científica surge como uma forma de elucidar os problemas que se

apresentam. De acordo com Gil (2002), as razões que determinam a realização de uma pesquisa

podem ser classificadas em dois grupos: motivos de ordem intelectual e de ordem prática. O

problema proposto por esse estudo se encontra no segundo grupo, pois essa pesquisa objetiva, além

de obter conhecimento sobre a questão, também desenvolver uma forma mais eficiente de lidar com

o problema proposto.

Paviani (2006) alerta que a investigação científica parte de crenças e representações

existentes na sociedade. O caso das matérias publicadas no Jornal de Nova Petrópolis, fornecidas

pela AI da Prefeitura de Nova Petrópolis, é um exemplo de fenômeno no âmbito da comunicação. A

pesquisa científica parte do princípio de investigar, de forma sistemática, problemas como esse.

A ciência, graças às teorias e aos processos de instrumentalização e de experimentação,

parte de conjecturas, de hipóteses e não apenas da observação de fatos ou dados particulares.

Pare se chegar aos resultados, exigem-se conhecimentos teóricos e decisões (básicas), como

comparar conclusões deduzidas de cada hipótese e examinar a coerência lógica das teorias e

das hipóteses. (PAVIANI, 2006, p. 29).

Toda pesquisa científica necessita de um método para ser aplicada de forma eficaz. Descrito

por Paviani (2006) como a estratégia utilizada na pesquisa para compreender e estudar o problema

proposto, o método escolhido pelo pesquisador define o olhar e os procedimentos que o mesmo vai

utilizar em sua investigação científica. O método analítico, que tem como característica a análise de

discursos teóricos e de linguagem, foi o escolhido neste trabalho. A questão norteadora desta

pesquisa exige um método que, de acordo com Gil (2002), ordene informações contidas nas fontes,

com o intuito de obter respostas para os problemas apresentados na pesquisa.

Uma meticulosa pesquisa bibliográfica, com base nos conceitos de Sumpf (2005), foi

empregada nesse estudo, com o intuito de fornecer o embasamento necessário para a obtenção das

respostas para os problemas levantados nesse trabalho. De acordo com Stumpf (2005), para avançar

em seu estudo, o pesquisador precisa possuir um conhecimento sobre os assuntos que vai abordar e

isso é conseguido por meio de uma revisão da literatura existente. A autora argumenta que, à medida

que o indivíduo vai lendo sobre os assuntos, a identificação dos conceitos fica mais clara, o que

permite uma formulação mais objetiva do problema que será investigado. Para Gil (2002), a pesquisa

bibliográfica oferece ao pesquisador a oportunidade de investigar uma gama de fenômenos mais

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ampla do que aquela que ele poderia pesquisar diretamente.

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído

principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja

exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a

partir de fontes bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se

propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser

desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas. (GIL, 2002, p. 44).

Gil (2002) sintetiza os passos da pesquisa bibliográfica da seguinte forma: a) escolha do

tema; b) levantamento bibliográfico preliminar; c) formulação do problema; d) elaboração do plano

provisório do assunto; e) busca de fontes; f) leitura do material; g) fichamento; h) organização lógica

do assunto e i) redação do texto. Stumpf (2005) explica que as etapas de escolha do tema e

levantamento bibliográfico preliminar fornecem embasamento ao pesquisador, auxiliando na

formulação correta do problema. Na elaboração do plano provisório do assunto, a autora diz que o

pesquisador deve criar uma lista de termos mais gerais relacionados ao assunto, que possam servir de

guia no levantamento de dados em fontes bibliográficas.

A partir desse plano provisório, Stumpf (2005) orienta o pesquisador a procurar as fontes,

identificando na bibliografia disponível e o material que será utilizado no estudo. Segundo Stumpf

(2005) nas etapas de leitura do material, fichamento e organização lógica do assunto, o pesquisador,

de posse dos documentos obtidos na etapa anterior, realiza a leitura, criando uma ordem de interesse

dos mesmos para cada parte da pesquisa. Após ter concluído todos os passos, Stumpf (2005) pontua

que o aluno está pronto para redigir o texto.

A pesquisa bibliográfica foi empregada nessa pesquisa para o estudo aprofundado dos

conceitos de jornalismo, assessoria de imprensa, ética na comunicação e público receptor. A

compreensão dessas palavras-chave forneceu o embasamento necessário para a aplicação do

posterior método científico nesse estudo.

A pesquisa qualitativa, descrita por Moreira (2004) como um tipo de estudo que se concentra

na interpretação e na subjetividade, se preocupando com a compreensão e o contexto no qual se

encontra aa questão abordada, foi adotada nessa pesquisa. Moreira (2004) complementa sua

descrição de pesquisa qualitativa admitindo que o pesquisador pode exercer influência, e ser

influenciado, pela situação da pesquisa. Bardin (2003), oferece uma conclusão sucinta sobre a análise

qualitativa.

Em conclusão, pode dizer-se que o que caracteriza a análise qualitativa é o facto de a

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inferência - sempre que é realizada - ser fundada na presença do índice (tema, palavra,

personagem, etc.), e não sobre a frequência da sua aparição, em cada comunicação

individual. (BARDIN, 2003, p. 115).

Para Demo (2001, p. 30), a informação qualitativa é aquela que é “interpretada e que lida

com sujeito-objeto, não com mero objeto de análise. Não conseguimos nos comunicar sem sermos

parte do processo comunicativo, como sujeito e como sujeito objeto. A comunicação se faz mais

pelo que há implícito do que pelo que é dito explicitamente”. Partindo desse conceito, o método

analítico de pesquisa foi utilizado nesse trabalho, com o intuito de analisar tanto as reportagens

publicadas pelo Jornal de Nova Petrópolis, fornecidas pela AI da Prefeitura de Nova Petrópolis,

quanto à forma que os leitores recebem e interpretam esses conteúdos.

Paviani (2006) apresenta a pesquisa analítica como um método que se preocupa em elucidar

conceitos, tanto de proposições como de discursos. A definição feita por Gil (2002), de que a leitura

analítica ordena as informações contidas nas fontes, para que destas possam ser extraídas respostas

para o problema de pesquisa, demonstra a utilidade que esse método terá nesse trabalho.

Ainda de acordo com Paviani (2006), a análise também pode ser usada em processos de

comparação e estatística, destacando que a passagem de informações obtidas por meio de

questionários, entrevistas ou estudos de caso, por exemplo, precisam ser definidas e organizadas,

permitindo um processo de análise mais apurado. Epstein apud Duarte e Barros (2005, p. 25),

explica o funcionamento do método analítico:

Os procedimentos analíticos são como caixas de ferramentas que contêm uma grande

variedade de instrumentos. Cabe ao pesquisador ter um amplo conhecimento das

possibilidades e limitações de cada um destes instrumentos para saber quais os mais

adequados para atingir seus objetivos.

O Estudo de Caso (EC), fundamentado nos conceitos de Yin (2001), é uma dessas

ferramentas, e foi utilizado nesse trabalho para analisar o caso do Jornal de Nova Petrópolis, que

reproduz matérias enviadas pela AI da Prefeitura de Nova Petrópolis.

Yin (2001) se refere ao EC como uma estratégia que serve quando o pesquisador procura

examinar acontecimentos contemporâneos, tais como ciclos de vida individuais e processos

organizacionais e administrativos. O autor explica ainda que o EC é utilizado principalmente quando

surgem questões do tipo “como” ou “por que” sobre um conjunto contemporâneo de

acontecimentos.

Goode e Hatt apud Duarte e Barros (2005, p. 216) complementam a definição de Yin,

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descrevendo-a como uma abordagem “[...] que considera qualquer unidade social como um todo,

incluindo o desenvolvimento dessa unidade, que pode ser uma pessoa, uma família, um grupo social,

um conjunto de relações ou processos (crises familiares, invasão étnica de uma vizinhança etc.), até

mesmo toda uma cultura”.

Um estudo de caso é uma investigação empírica que

- investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente

quando

- os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. (YIN, 2001, p.

32).

O caso da utilização de reportagens enviadas pela AI da Prefeitura de Nova Petrópolis pelo

Jornal de Nova Petrópolis, que estaria publicando-as sem qualquer edição ou mesmo citação de

fonte, foi o caso estudado nessa pesquisa. O Jornal de Nova Petrópolis, veículo de comunicação

estudado nesse EC, foi fundado no dia 20 de agosto 1991, é formado por uma equipe de três

integrantes. O jornal semanal, que apresenta 12 páginas, em média, por edição, é publicado nas

sextas-feiras e possui uma tiragem de três mil exemplares por semana. O periódico circula nas

cidades de Nova Petrópolis, Picada Café e Gramado.

A AI da Prefeitura de Nova Petrópolis, que compõe junto com Jornal de Nova Petrópolis o

EC dessa pesquisa, é composta por três integrantes, sendo uma jornalista, um estudante de

jornalismo e uma estudante de relações públicas. Em média, a assessoria de imprensa do órgão

público produz 60 releases mensais, que abordam temas como educação, cultura, desporto, turismo,

indústria, comércio, saúde, planejamento e agricultura, todos no âmbito do município de Nova

Petrópolis. Além dessas pautas, os releases também englobam diversas ações dos representantes

políticos de Nova Petrópolis. Esses releases são enviados para, aproximadamente, 40 veículos de

comunicação entre jornais, rádios, revistas, sites e emissoras de TV do Rio Grande do Sul e do

Brasil.

Yin (2003) destaca que o EC é um método que necessita de um planejamento, incorporando

abordagens específicas à coleta e à análise de dados. Dessa forma, o autor aponta cinco elementos

indispensáveis para o desenvolvimento do EC: a) as questões de estudo; b) proposições do estudo; c)

unidade (s) de análise; d) lógica de ligação dos dados às proposições e aos critérios para a

interpretação das descobertas.

No primeiro procedimento, as questões de estudo, Yin (2001) explica que o pesquisador

precisa definir quais perguntas fará sobre o estudo que pretende começar, ressaltando que as questões

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“como“ e “por que” são as mais indicadas. Nas proposições de estudo, o autor explica que o

pesquisador precisa tentar responder os questionamentos que fez no primeiro passo, ação que pode

indicar um caminho na busca de evidências no estudo proposto.

Após as duas primeiras fases, Yin (2001) aponta para a necessidade de uma definição do que

é um caso. O autor cita, como exemplos de casos, uma entidade, uma decisão, programas, processos

de implantação de empresas ou de mudanças organizacionais. Os dois últimos passos apresentados

por Yin (2001) referem-se às etapas de análise de dados na pesquisa do estudo de caso, bem como a

criação de um projeto de pesquisa que sustente essa análise.

O autor continua descrevendo o processo de construção do EC dizendo que, após a definição

dos problemas ou temas a serem estudados e da elaboração do projeto de pesquisa, tem início a

preparação para a coleta de dados, processo que exige do pesquisador habilidades específicas e o

desenvolvimento de protocolo e estudo piloto. De acordo com Duarte (2005, p. 229), o EC parte de

uma minuciosa coleta de dados:

O estudo de caso utiliza para a coleta de evidências, principalmente, seis fontes distintas de

dados: documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação

participante e artefatos físicos, cada uma delas requerendo habilidades e procedimentos

metodológicos diferenciados.

Como método de análise este estudo adotou o de adequação ao padrão. Yin (2001)

recomenda esse método quando o estudo de caso compara um padrão fundamental empírico com

outro de base prognóstica. O autor argumenta que, se os padrões coincidirem, os resultados podem

contribuir para na validação interna do estudo de caso. A comparação entre as matérias publicadas

pelo Jornal de Nova Petrópolis com as elaboradas pela AI da Prefeitura de Nova Petrópolis é uma

das propostas deste estudo.

Nesse trabalho, a observação participante foi escolhida como forma de coleta de dados do

EC. A observação participante é descrita por Yin (2001) como uma modalidade de observação na

qual o pesquisador pode assumir uma variedade de funções dentro do EC.

A oportunidade mais interessante relaciona-se com a sua habilidade de conseguir permissão

para participar de eventos ou de grupos que são, de outro modo, inacessíveis à investigação

científica. Em outras palavras, para alguns tópicos de pesquisa, pode não haver outro modo

de coletar evidências a não ser através da observação participante. (YIN, 2001, p. 116).

O autor da monografia foi agente da observação participante na medida em que trabalha na

AI da Prefeitura de Nova Petrópolis, sendo responsável pela produção de materiais jornalísticos da

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AI do órgão público. Como complemento ao EC, a técnica metodológica da Análise de Conteúdo foi

empregada fundamentada nos preceitos de Bardin (2003), foi adotada para analisar e comparar

reportagens publicadas no Jornal de Nova Petrópolis com as postadas no site oficial da Prefeitura de

Nova Petrópolis. Paviani (2006) destaca que a AC procura identificar elementos presentes no corpus

do texto, para uma posterior análise do conteúdo visado.

A AC se estrutura em um conjunto de técnicas adaptáveis de análise que, de acordo com

Bardin (2003), primam pelo enriquecimento da leitura, fornecendo meios para que se descubram os

reais propósitos das mensagens. Para a autora, a AC, por ser um método empírico, se molda ao tipo

de conteúdo ao qual é aplicado.

Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será

um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a

um campo de aplicação muito vasto: as comunicações. (BARDIN, 2003, p. 31).

Bardin (2003) explica ainda que a AC tem como característica verificar hipóteses levantadas

anteriormente, por meio da inferência de conhecimentos relativos às condições de produção ou

recepção de conteúdos. Dessa forma, esse método se organiza, inicialmente, a partir da categorização

e quantificação do material, para que depois seja feita uma análise do conteúdo visado na pesquisa,

como destaca Paviani (2006). Nos estudos de Bardin (2003), a sequência de procedimentos na AC

aparece dividida em três fases: pré-análise; a exploração do material e o tratamento dos resultados, a

inferência e a interpretação.

Seguindo as indicações da autora, a fase de pré-análise compreende a escolha dos

documentos que serão analisados, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração dos

indicadores que vão fundamentar a interpretação final. No segundo passo, Bardin (2004) explica que

o pesquisador deve explorar o material reunido, com o objetivo de codificá-lo, ou seja, organizar os

dados brutos, classificando-os em unidades. Essa organização permite a escolha de recortes e

classificações.

Na última etapa da AC, explica Bardin (2003), ocorre o tratamento dos resultados, bem

como a interpretação do conteúdo analisado. Segundo a autora, tal interpretação se dá por meio das

inferências propostas pelo analista, que as aplica sobre os resultados que obteve na segunda fase do

estudo.

Seguindo os passos indicados por Bardin (2003) para a AC, nessa pesquisa foram coletados

exemplares do Jornal de Nova Petrópolis dos meses de março, abril, maio, junho, julho, agosto,

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setembro, outubro e novembro de 2013, totalizando 36 edições. Os exemplares dos meses de janeiro,

fevereiro e dezembro foram deixados de fora por não conterem uma gama tão rica de notícias, por

conta do período de férias, tanto dos moradores quanto dos responsáveis pelo Jornal de Nova

Petrópolis.

Após a coleta das 36 edições do jornal, procedeu-se um sorteio de nove exemplares. Por fim,

de cada uma dessas edições do Jornal de Nova Petrópolis, foram selecionadas noves notícias

baseadas em seus temas, para tanto, foi escolhida uma matéria de cunho turístico, uma voltada para a

saúde, uma sobre obras e serviços, uma sobre cultura, outra sobre educação, uma de planejamento

urbano, uma sobre meio ambiente, outra sobre atividades de autoridades do poder público e uma

sobre trabalhos de fiscalização. As notícias, todas sobre Nova Petrópolis, foram selecionadas com o

intuito de fornecer uma visão ampla sobre diversos âmbitos existentes na cidade. O conteúdo dessas

matérias foi analisado de forma minuciosa e comparado com o de matérias publicadas pela AI da

Prefeitura de Nova Petrópolis no site oficial do município.

O conteúdo analisado serviu de base para a realização das entrevistas em profundidade, que

foi aplicada como técnica metodológica nessa pesquisa. A técnica está amparada nos Estudos de

Recepção, fundamentados nos estudos de Martín-Barbero (1987). O autor propôs que os estudos de

comunicação se preocupassem em analisar as mediações e os processos culturais, deixando em

segundo plano os meios e suas condições de produção das mensagens. Martín-Barbero (1987)

explica ainda que o receptor, ou seja, o indivíduo que recebe a mensagem, não apenas a recebe, mas

também cria uma interpretação particular da mensagem que chegou até ele.

O espaço da recepção é um espaço de conflito entre o hegemônico e o subalterno, as

modernidades e as tradições, entre as imposições e as apropriações. Quando falamos de

recepção nesse sentido, não estamos falando de uma recepção individual, senão da recepção

como fenômeno coletivo, da sociedade da recepção [...] Estudar a recepção é estudar este

novo mundo de fragmentações dos consumos e dos públicos, essa liberação das diferenças,

essa transformação das sensibilidades que encontram um campo especial na organização

das relações entre o privado e o público. (MARTÍN-BARBERO, 1987, p. 10).

Para Martín-Barbero (1987), o receptor é muito mais que um mero decodificador da

mensagem que recebeu, ele produz significações. Hall (2003) pontua que é possível um indivíduo,

ou mesmo um grupo, em determinado momento, decodificarem uma mensagem no que ele chama

de “código hegemônico” e, em outro momento, usarem códigos diferentes, que contestam. Partindo

dessa concepção, Hall (2003), afirma que o receptor não é apenas um reflexo dos discursos que

chegam até ele.

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Martín-Barbero (1987) esclarece ainda que a recepção ocorre no cotidiano, ou seja, contexto

no qual o indivíduo está em conectado com sua realidade, lugar no qual onde ele pode manifestar

suas ânsias e frustrações. Segundo o autor, é nesse ambiente, diferente para cada indivíduo, que

surgem as diferentes formas de recepção. Essas características únicas de cada receptor, que gera

interpretações distintas para as mensagens recebidas, são chamadas de mediações. Segundo Martino

(2009) a Teoria das Mediações surgiu durante o desenvolvimento do estudo da comunicação a partir

do receptor, sendo o autor Jesus Martín-Barbero um dos precursores dessa teoria.

As mediações são os conhecimentos e as práticas sociais das pessoas. São estruturas

simbólicas dinâmicas a partir das quais é atribuído o sentido de uma mensagem em um

determinado momento no espaço e no tempo. As condições materiais e simbólicas, nas

quais o receptor está inserido e que influenciam a recepção de uma mensagem, são os

elementos responsáveis pelas reapropriações e reconstruções levadas a efeito pelo receptor.

(MARTINO, 2009, p. 180).

Martino (2009) define as mediações como negociações complexas entre a hegemonia da

indústria da cultura e o um público não tão bem preparado para enfrentá-la de uma forma satisfatória.

Sólio (2008) destaca que, devido às mediações, a recepção vai além de uma relação direta entre

produtor e emissor. De acordo com a autora, o sentido é produzido por meio dessas mediações e ele

varia de acordo com o receptor ou os grupos de receptores.

A Teoria das Mediações encontrada nos Estudos de Recepção serviu bem ao propósito dessa

pesquisa, na qual foram realizadas análises, por meio de entrevistas em profundidade,

fundamentadas nos estudos de Bauer e Gaskell (2002), sobre a forma como os leitores recebem as

notícias publicadas pelo Jornal de Nova Petrópolis, fornecidas pela AI da Prefeitura de Nova

Petrópolis.

A entrevista em profundidade foi utilizada nesse estudo como técnica metodológica para a

coleta de discursos e de suas interpretações. Esse tipo de entrevista compõe o quadro das pesquisas

qualitativas, por se tratar de uma conversação com uma pessoa, da qual são colhidas impressões, que

mais tarde passarão por um processo de reflexão por parte do pesquisador. Para Bauer e Gaskell

(2002, p. 68) “a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao

contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão”.

Bauer e Gaskell (2002) explicam ainda que a entrevista em profundidade é uma conversa

que dura entre uma hora e uma hora e meia em média. O pesquisador chega para esse tipo de

entrevista com um tópico guia contendo os principais pontos que serão abordados na conversação.

Além disso, o pesquisador deve dar à entrevista um ar de conversa descontraída, para deixar o

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entrevistado à vontade. É sempre bom fazer uma gravação da conversação, sempre deixando o

entrevistado ciente dessa ação. O principal da entrevista em profundidade é prestar atenção ao que o

entrevistado diz, para que este se sinta confortável e tenha a certeza de que está sendo útil na

pesquisa da qual está fazendo parte.

Em síntese, o objetivo da pesquisa qualitativa é apresentar uma amostra do espectro dos

pontos de vista. Diferentemente da amostra do levantamento, onde a amostra probabilística

pode ser aplicada na maioria dos casos, não existe um método para selecionar os

entrevistados das investigações qualitativas. Aqui, devido ao fato de o número de

entrevistados ser pequeno, o pesquisador deve usar sua imaginação social científica para

montar a seleção dos respondentes. (BAUER; GASKELL, 2002, p.70).

A entrevista em profundidade serve bem aos propósitos dessa pesquisa, uma vez que esta

busca detectar e estudar as impressões de leitores sobre a forma de publicação de conteúdos no

Jornal de Nova Petrópolis que foram fornecidos pela AI da Prefeitura de Nova Petrópolis.

Nesse estudo, 20 pessoas foram entrevistadas, sendo três delas representantes da indústria,

outras três do comércio, dois do setor de serviços, mais três estudantes universitários, três donas de

casa, mais três representantes de associações de Nova Petrópolis e três professores de escolas da

cidade. Cada entrevistado foi convidado a ler uma das nove reportagens analisadas do Jornal de

Nova Petrópolis e, logo após a leitura destas, os entrevistados também leram as mesmas reportagens

publicadas no site da Prefeitura de Nova Petrópolis.

Partindo desse ponto, os entrevistados foram submetidos a um questionário semiaberto, com

perguntas referentes ao papel dos veículos de comunicação impressos na sociedade, ao processo de

produção da notícia, bem como da atividade de AI, sua relação com os veículos de comunicação e

questões éticas no âmbito da comunicação.

A análise sobre os discursos coletados nas entrevistas, que foram gravadas, degravadas e

analisadas individualmente, está diretamente conectada com um dos objetivos da pesquisa, ou seja,

estudar o efeito dessas reportagens no público leitor de matérias produzidas pela AI da Prefeitura de

Nova Petrópolis e veiculadas pelo Jornal de Nova Petrópolis, sem qualquer citação de fonte.

A Análise do Discurso foi aplicada nos discursos coletados nas entrevistas em profundidade.

Orlandi (2000) afirma que a técnica visa a compreensão de como um objeto simbólico produz

sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos. Essa compreensão, por sua vez,

implica em explicitar como o texto organiza os gestos de interpretação que relacionam sujeito e

sentido, explica Orlandi (2000).

A análise do material recolhido serviu para demonstrar as crenças dos entrevistados, crenças

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que, de acordo com Moreira (2004, p. 33) “são opiniões acerca do estado objetivo do mundo. Aquilo

em que as pessoas creem pode ser verdadeiro ou não, mas geralmente o que interessa aqui é o que a

pessoa pensa ser verdadeiro”.

a. A primeira premissa é que os seres humanos agem com relação às coisas na base

dos sentidos que essas coisas têm para eles.

b. A segunda premissa é que o sentido de tais coisas aparece a partir da interação social

que cada um tem com seus semelhantes.

c . A terceira premissa é que esses sentidos são gerenciados e modificados por meio de

um processo interpretativo usado pela pessoa ao lidar com as coisas que encontra.

(MOREIRA, 2004, p. 49).

Ainda de acordo com Orlandi (2000), os estudiosos da Análise do Discurso procuram

compreender e situar o papel do autor na elaboração do discurso: “é assim que pensamos a autoria

como uma função discursiva: se o locutor se representa como seu no discurso e o enunciador é a

perspectiva que esse eu assume enquanto produtor de linguagem, produtor de texto”. (ORLANDI

2000, p.75).

Para fundamentar a metodologia utilizada, foi realizado um estudo aprofundado, por meio de

uma Pesquisa Bibliográfica, dos conceitos de jornalismo, assessoria de imprensa e ética na

comunicação, no qual também estão inseridos os preceitos de público receptor e opinião pública.

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3 JORNALISMO

O papel que o jornalismo possui no âmbito da comunicação humana é central, pois,

como descreve Plaisance (2011, p. 70) “há razões óbvias para o fato de sermos tão

dependentes da comunicação: para obter as informações que necessitamos para entender o

nosso lugar na sociedade e desenvolver relações significativas com outras pessoas”. Nesse

sentido, o jornalismo funciona como uma ferramenta a serviço da sociedade, promovendo a

democracia, já que “divulga acontecimentos, além de comentar, analisar, opinar”. (COSTA,

2009, p. 27).

Koszyk e Pruys apud Kunczik (1997, p. 16) complementam a definição de jornalismo,

descrevendo-o como uma “[...] profissão principal ou suplementar das pessoas que reúnem,

detectam, avaliam e difundem as notícias; ou que comentam os fatos do momento”. Neste

sentido, o jornalismo demonstra sua importância na formação de pessoas mais esclarecidas.

Molotoch e Lester apud Traquina (2001, p. 22) esclarecem que “toda a gente precisa de

notícias. Na vida quotidiana, as notícias contam-nos aquilo que nós não assistimos e dão

como observáveis e significativos happenings que seriam remotos de outra forma”.

Kovach e Rosenstiel (2004, p. 19) complementam essa noção de papel do jornalismo

afirmando:

As pessoas precisam de saber o que se passa para lá da sua rua, de tomar

conhecimento de eventos que se passam além da sua própria experiência directa.

Conhecer o desconhecido transmite-lhes segurança, permite-lhes planear e

administrar suas vidas. Este intercâmbio de informações transforma-se na base para

a criação da comunidade, através do estabelecimento de laços humanos.

Bucci (2000), citando a descrição do papel do jornalismo que consta nos Cânones do

Jornalismo, código de ética adotado pela American Society of Newspaper Editors, demonstra

a essência da atividade:

A função primária dos jornais é comunicar à raça humana o que seus membros

fazem, sentem e pensam. O jornalismo, portanto, exige de seus praticantes o mais

amplo alcance de inteligência, de conhecimento e de experiência, assim como

poderes naturais e treinados de observação e raciocínio. (BUCCI, 2000, p. 50).

Genro Filho (1989) cita o trabalho de Melo como referência para indicar o lugar

alcançado pelo jornalismo na sociedade. Para Melo Apud Genro Filho (1989, p. 34) o

jornalismo teria surgido em “[...] função das necessidades produzidas pela sociedade na sua

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dimensão global”. Ou seja, a prática de informar a população se tornou imprescindível diante

da “[...] necessidade popular de obter informações e manter-se em dia com os acontecimentos

da época”. (MELO apud GENRO FILHO, 1989, p. 35).

Porém, até alcançar essa condição de prática responsável por informar as pessoas da

forma como conhecemos hoje e, como também pontua Traquina (2005), tornar-se um aspecto

vital no que diz respeito à teoria democrática, o jornalismo fez um longo percurso pela

história da humana.

Para entender esse processo de evolução do jornalismo se faz necessário investigar sua

origem. De acordo com Costa (2009, p. 27) “o primeiro produto noticioso da história foi uma

folha diária publicada na Roma de 59 a.C, chamada Acta Diurna [...]”. Segundo o autor, Júlio

César ordenava que o documento fosse pendurado nos muros da cidade romana. Chinem

(2003, p. 128), explica que, por volta de 1597, um impressor chamado Gigli recebeu

permissão para publicar um documento contendo informações de cunho comercial.

Essas primeiras publicações, esclarece Chinem (2003, p. 128-129), eram um tipo de

publicação “[...] condicionada à concessão de aprovação, privilégio ou patente por parte da

aristocracia temporal ou espiritual”. Kunczik (1997, p. 22) acrescenta ainda que “os primeiros

jornalistas-escritores foram correspondentes dos príncipes governantes, das cidades imperiais,

das cidades-estado ou das grandes casas comerciais”. Ainda de acordo com o autor, foi no

século XVI que “[...] os assuntos “maravilhosos” e “assustadores” atraíram o maior interesse

[...]” (KUNCZIK, 1997, p. 23).

Desde o seu surgimento, essas publicações sofreram com a falta de liberdade e

travaram árduas lutas para conquistá-la. Kunczik (1997, p. 24) explica que “logo depois que

Gutenberg inventou a máquina de imprimir com tipos móveis, institucionalizaram-se as

medidas de censura, especialmente devido à publicação de folhetos anticlericais ou de outros

materiais críticos”. O mesmo autor cita como exemplo de cerceamento à liberdade dos jornais

da época um decreto do papa, no qual constava que nenhum documento podia ser publicado

sem antes passar pelo crivo da Cúria romana.

De acordo com Traquina (2005), os primeiros jornais como conhecemos hoje

apareceram no século XVII. “O Aviso de Ausberg, Alemanha, é geralmente considerado como

o primeiro jornal, publicado em 1609. O primeiro jornal publicado em inglês foi impresso em

Amsterdam, em 1620” (TRAQUINA, 2005, p. 66). Nessa época, mais precisamente no ano de

1649, de acordo com Kunczik (1997), também iniciava a luta pela liberdade de imprensa com

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um projeto de lei apresentado pelo Partido Leveller, que defendia: “se um governo deseja

atuar com justiça e de acordo com os princípios constitucionais, será necessário escutar todas

as vozes e opiniões. E isto só é possível com a liberdade de imprensa”. (KUNCZIK, 1997, p.

26).

O autor continua descrevendo a trajetória da conquista da liberdade de imprensa

citando que “a censura deixou de existir na Inglaterra quando se decidiu, em 1695, não

renovar a chamada “Lei de Autorização”. (KUNCZIK, 1997, p. 26). Ainda segundo Kunczik

(1997) a partir daí, outros países do continente Europeu, assim como os EUA, também

conquistaram a liberdade de imprensa, por meio de suas declarações de direitos humanos.

De acordo com Lage (2006), essa censura imposta às publicações na Europa Ocidental

caiu com o surgimento da Revolução Industrial na última metade do século XIX. O autor

aponta três fatores que contribuíram para isso: 1. O aumento do número de trabalhadores

criou um novo mercado para os jornais. 2. O capitalismo industrial aproximou máquinas e

sistemas de produção própria dos jornais. 3. A publicidade arcava com boa parte da despesa

editorial das publicações. Traquina (2005, p. 33-34), afirma, ainda, que

a vertiginosa expansão dos jornais no século XIX permitiu a criação de novos

empregos nos jornais: um número crescente de pessoas passou a dedicar-se o tempo

inteiro a uma atividade que, durante as décadas do século XIX, ganhou um novo

objetivo — fornecer informação e não propaganda.

Essa súbita evolução no campo do jornalismo exigiu de todos que atuavam na área

um conhecimento mais aprofundado e isso culminou, como enfatiza Traquina (2001), na

profissionalização dos jornalistas.

Segundo Traquina, (2005, p. 34-35) o processo de profissionalização dos jornalistas

conferiu as esses profissionais “1) maior liberdade e autonomia e 2) um estatuto social

identificado com as profissões dos médicos e dos advogados”.

Os jornalistas lutaram para ganhar um estatuto social comparado ao das profissões

liberais, e nos mais de 150 anos de luta (ainda em continuação) constituíram-se uma

“comunidade interpretativa” em que os novos “agentes especializados” encontram

uma legitimidade social num processo circular entre os jornalistas e a sociedade, na

aura da teoria democrática. (TRAQUINA, 2005, p. 36-37).

Com o reconhecimento de sua profissão, os jornalistas passaram a afirmar que

possuíam pleno entendimento do que é notícia, assim como o domínio da técnica para

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produzi-la. Dessa forma, Traquina (2001, p. 66) explica que surge um “[...] novo paradigma

das notícias como informação”. O mesmo autor complementa dizendo que esse novo viés de

notícia acabou substituindo a antiga concepção de que os meios de comunicação não

passavam de arma política. “Com o novo paradigma das notícias como informação, o papel

do jornalista é definido como o do observador que relata com honestidade e equilíbrio o que

acontece, cauteloso de emitir opiniões pessoais”. (TRAQUINA, 2001, p. 66).

O jornalismo, liberto das amarras da censura e composto por uma classe de novos

profissionais, entrou em uma época de intensas mudanças quanto à sua concepção e seu lugar

na sociedade. Como pontua Traquina, (2005) os jornais passam a ser vistos como um negócio

que pode gerar lucros por meio da divulgação de notícias, que informam o leitor baseadas em

fatos, deixando as propagandas em segundo plano. Compreender o que é uma notícia, e como

essa é produzida, fornece um conhecimento não só para uma melhor compreensão do

jornalismo, mas também para um dos focos deste estudo, que é a análise de notícias

publicadas em veículos de comunicação impressos.

3.1 O JORNALISTA E A NOTÍCIA

A notícia, segundo Sodré e Ferrari (1986, p. 11) tem “[...] a função essencial de

assinalar os acontecimentos, ou seja, tornar público um fato (que implica em algum gênero de

ação), através de uma informação (onde se relata a ação em termos compreensíveis)”.

Portanto, a notícia é a matéria prima do jornalista, cujo trabalho é informar sobre os

acontecimentos que permeiam a realidade. Viveiros e Eid (2007, p. 44) corroboram com

Sodré e Ferrari e ainda acrescentam que a notícia “[...] introduz o ser humano no contexto do

seu tempo, oferecendo-lhe instrumentos, cultura e conhecimentos indispensáveis para

interagir no ambiente profissional e social e, sobretudo, outorga-lhe cidadania”.

A notícia é muito mais que um produto concebido com a mera finalidade de trazer

lucro para as empresas de comunicação, como explicou Traquina (2005) ao apresentar a visão

comercial que se tinha do jornalismo e das notícias no final do XIX. A notícia possui um

caráter informativo, que contribui para o esclarecimento dos cidadãos, conforme pontua Bucci

(2000):

Isto é notícia: a informação que, uma vez revelada, afeta as expectativas do cidadão,

do consumidor, do homem e da mulher comuns quanto ao mundo que os cerca,

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quanto ao futuro ou quanto ao passado. Notícia não é apenas uma "novidade". É

uma novidade que altera o arranjo dos fatos, dos poderes ou das idéias em algum

nível. A notícia incide, portanto, sobre as relações humanas [...]. (BUCCI, 2000, p.

42).

Para Sodré e Ferrari (1986, p. 17) noticiar “[...] seria o ato de anunciar determinado

fato e, independente do número de acontecimentos que possam ocorrer, só serão notícia

aqueles que forem anunciados”.

Olhando para a notícia de uma forma mais analítica, podemos defini-la “[...] como o

relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante, e este, de seu aspecto mais

importante. Assim, reduzimos a área de discussão ao que venha ser importante, palavra na

qual se resumem conceitos abstratos como o de verdade ou interesse humano” (LAGE, 2001,

p. 54). De acordo com Medina (1978, p. 21) “Park continua a definir a notícia como um

presente muito especial do conhecimento: só é realmente notícia quando chega às pessoas

para as quais tem um ‘interesse noticioso”.

Quando falamos em notícia não podemos deixar de pensar em como ela surge e qual é

o processo que o jornalista segue para transformar um fato em notícia. Lage (2006, p. 15) diz

que, logo depois da ascensão do jornalismo, ocorrida durante a Revolução Industrial “[...] os

jornalistas americanos conseguiram emprestar rigor às técnicas de apuração e tratamento das

informações. Foram buscar no espírito científico o respeito pelos fatos empíricos e o cuidado

para não avançar além daquilo que os fatos permitem ao senso comum inferir”.

De acordo com Lippmann apud Martino (2009, p. 21), esse espírito científico adotado

pelo jornalista serve como uma espécie de bússola para o profissional na hora de produzir

uma notícia.

Notícias são criadas a partir de uma série praticamente infinita de seleções e

escolhas efetuadas pelos profissionais. Ao presenciar um fato, o jornalista toma uma

série de decisões — desde as palavras a empregar até quais aspectos destacar do

conjunto de acontecimentos — e transforma isso em uma notícia. A partir do

momento em que alguns detalhes são acentuados e outros não, a notícia se torna o

veículo de uma representação específica da realidade — não uma distorção

deliberada, mas uma necessidade prática.

Kunczik (1997, p. 243) complementa o pensamento de Lippman, ao dizer que “em

última análise, os valores informativos nada mais são que as suposições intuitivas dos

jornalistas com referência àquilo que interessa a um público determinado, àquilo que chama a

sua atenção”. Sousa (2002 p. 95) corrobora com Kunczik ao afirmar que “aquilo que torna

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uma mensagem ou um acontecimento noticiável, a noticiabilidade, é uma qualidade que [...]

encontra explicação na conjunção de vários fatores conformativos principais: a ação pessoal, a

ação social, a ação ideológica e a ação cultural”.

Os fatores que despertariam a atenção das pessoas quanto a um acontecimento, ou

seja, sua noticiabilidade, fazendo dele um candidato a se tornar notícia, são chamados de

valores-notícia, concebidos por Wolf apud Traquina (2005, p. 78) como os “[...] critérios que

os jornalistas utilizam na seleção dos acontecimentos, isto é, na decisão de escolher um

acontecimento como candidato à sua transformação em notícia e esquecer outro

acontecimento”. Traquina (2005, p. 94) confere aos valores-notícia o status de “[...] elemento

básico da cultura jornalística que os membros desta comunidade interpretativa partilham.

Servem de "óculos" para ver o mundo e para o construir”.

Galtung e Ruge apud Traquina (2005, p. 69 e 70), criaram uma lista de doze valores-

notícia:

1) a freqüência, ou seja, a duração do acontecimento; 2) a amplitude do evento; 3) a

clareza ou falta de ambigüidade; 4) a significância; 5) a consonância, isto é, a

facilidade de inserir o "novo" numa "velha" idéia que corresponda ao que se espera

que aconteça; 6) o inesperado; 7) a continuidade, isto é, a continuação como notícia

do que já ganhou noticiabilidade; 8) a composição, isto é a necessidade de manter

um equilíbrio nas notícias com uma diversidade de assuntos abordados; 9) a

referência a nações de elite; 10) a referência a pessoas de elite, isto é, o valor notícia

da proeminência do ator do acontecimento; 11) a personalização, isto é, a referência

às pessoas envolvidas; e 12) a negatividade, ou seja, segundo a máxima ‘bad news is

good news”.

Traquina (2005) traz ainda os valores-notícia elencados pelos acadêmicos canadenses

Ericson, Baranek e Chan (1987), que citam a simplificação, a dramatização e o inesperado. A

notoriedade do ator principal, assim como a novidade e o fator tempo também são citados por

ele como valores-notícia importantes no âmbito do jornalismo. Sobre o fator tempo, Sodré e

Ferrari (1986, p. 18) afirmam que “[...] o fato deve ser recente, e o anúncio do fato, imediato

[...]”.

O fato de os jornalistas utilizarem os valores-notícia como critérios de seleção de

notícia foi, de acordo com Traquina (2001), tema de um estudo realizado na década de 50, no

qual David Manning White trouxe para o cenário do jornalismo o conceito de gatekeeper, ou

“porteiro”. Kunczik (1997, p. 237) colabora com o conceito de gatekeeper ao pontuar que

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A seleção de notícias equivale a restringir o volume de informações, o que significa

a seleção de assuntos que alguém acha que merecem ser publicadas. Os "porteiros"

decidem quais acontecimentos serão divulgados e quais não serão, contribuindo

assim para moldar a imagem que o receptor tem de sua sociedade e de seu mundo.

Traquina (2001, p. 54), continua seu raciocínio postulando que, “na teoria de White, o

processo de produção de notícias é concebido como uma série de escolhas, onde um fluxo de

notícias tem de passar por diversos “portões” (os famosos gates), que são momentos de

decisão em relação aos quais o gatekeeper (o jornalista) tem de decidir se vai escolher ou não

essa notícia [...]”.

A teoria do gatekeeper pode ainda ser reforçada pela existência de outros critérios de

seleção utilizados pelo jornalista para definir o que é notícia. Esses critérios, segundo

Traquina (2005), são os valores-notícia contextuais, ou seja, aqueles que se referem à

produção da notícia propriamente dita. De acordo com o autor, um desses critérios é a

disponibilidade, “[...] isto é, a facilidade com que é possível fazer a cobertura do

acontecimento”. (TRAQUINA, 2005, p. 88). Outro valor-notícia contextual é a visualidade,

critério que, segundo Traquina (2005), se refere à existência de materiais visuais sobre o fato,

como fotografias e filmes. O autor também cita a concorrência como critério de seleção, ou

seja, “os jornalistas e as empresas jornalísticas procuram uma situação em que têm o que a

concorrência não tem — é uma situação em que têm o “furo”, ou a exclusividade”.

(TRAQUINA, 2005, p. 90). Por fim, Traquina (2005) apresenta o “dia noticioso” como o

último da lista dos valores-notícias contextuais. Ainda de acordo com o autor, esse critério de

seleção é baseado no dia a dia da redação. “Há dias ricos em acontecimentos com valor-

notícia e outros dias pobres em acontecimentos com valor-notícia”. (TRAQUINA, 2005, p.

90).

Após definir o que é notícia, baseado nos valores-notícia, o jornalista tem como

responsabilidade a construção da mesma, ou seja, transformar o fato em notícia para que ela

possa ser publicada. Para obter êxito nessa tarefa, de acordo com Barros Filho (1995) o

jornalista parte da coleta de informações sobre o fato.

O profissional da imprensa aprende, ainda na faculdade, as perguntas que devem se

respondidas por uma matéria "puramente informativa": o quê, quem?, quando?,

onde?, por quê?, como?. Esses elementos fazem crer que a matéria será uma

descrição pura e simples da realidade fenomênica, dos acontecimentos. Quanto mais

restrito a essas respostas estiver o artigo, mais próximo ele estará, em sua aparência,

do fato. (BARROS FILHO, 1995, p. 89).

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Barros Filho (1995) utiliza o pensamento de Lozano para explicar que o elemento “o

que?” representa a ligação da notícia com quem vai recebê-la, informando-o sobre o que

ocorreu, especialmente quando o fato tem origem em fontes distantes do ambiente do

receptor. O mesmo autor diz que “[...] os elementos “onde” e “quando” permitem a superação

de uma distância real (em quilômetros e em horas ou segundos) por outra fictícia

(mediaticamente imposta)”. (BARROS FILHO, 1995, p. 90). O autor atribui ao “por que” a

função de legitimar, para o receptor, a escolha daquele fato por parte do jornalista, que

consegue isso apontando as causas do fato. Explicar “como” ocorreu o fato, ainda de acordo

com Barros Filho (1995) é “[...] construir a objetividade aparente por imprimir uma dinâmica,

fazendo crer e fazendo representar uma ação, um movimento”. (BARROS FILHO, 1995, p

90).

De posse dessas informações, o jornalista dispõe do material necessário para redigir a

notícia. A técnica de redação adotada pelo profissional de imprensa para criar a notícia segue

uma sequência, na qual as informações são organizadas no texto começando pelo “[...] fato

mais importante ou interessante; e, em cada fato, a partir do aspecto mais importante ou

interessante. Em primeiro lugar, indica que não se trata exatamente de narrar os

acontecimentos, mas de expô-los”. (LAGE, 2006 p. 17). Pena (2013) colabora com a

explicação de Lage, acrescentando que essa forma de organizar a ordem dos fatos na notícia

recebe o nome pirâmide invertida.

Barros Filho (1995, p. 24) corrobora com Lage, ao dizer que na técnica da pirâmide

invertida predominavam “[...] redação impessoal, a ausência de qualificativos, a atribuição

das informações às fontes, a comprovação das afirmações feitas, a apresentação das partes ou

das possibilidades em conflito (doutrina do equilíbrio) e o uso de aspas garantiriam a

necessária imparcialidade informativa”.

Informando de modo impessoal, o jornalista publicava notícias que continham a

essência dos fatos que havia presenciado e apurado. Para Lage (2006 p. 28) “[...] a notícia

trata das aparências do mundo. Conceitos que expressam subjetividade estão excluídos: não é

notícia o que alguém pensou, imaginou, concebeu, sonhou, mas o que alguém disse, propôs,

relatou ou confessou”. O mesmo autor argumenta ainda que “O desconhecimento recíproco

de quem redige e de quem consome a notícia reforça o empenho no detalhamento”. (LAGE,

2006, p. 27).

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Tecnicamente falando, a notícia, no jornalismo impresso, que é o foco dessa pesquisa,

inicia com seu título para, logo depois, apresentar o que Lage (2006) chama de lide, o

primeiro parágrafo da notícia no qual aparece o relato do fato principal. Lage (2006) traz a

síntese de Laswell para esclarecer que, no lide, o jornalista informa quem fez o que, a quem,

onde, quando, como, por que e para quê. Os demais parágrafos da notícia servem para

aprofundar as informações que constam no lide, com a descrição do acontecimento nele

introduzido.

De acordo com Lage (2006), existem muitos tipos de lide, tais como o interpretativo e

o narrativo. Essas diferentes formas de organizar o texto jornalístico foram surgindo conforme

os jornalistas iam diversificando a forma de noticiar, criando gêneros jornalísticos. Pena

(2013, p. 66) classifica gênero como um “[...] mapa para a análise de estratégias do discurso,

tipologias, funções, utilidades e categorias”. Todorov apud Seixas (2009, p. 30) apresenta uma

classificação para os gêneros:

Com efeito, os gêneros não são outra coisa senão uma escolha entre os possíveis do

discurso, tornado convencional pela sociedade. Por exemplo, o soneto é um tipo de

discurso que se caracteriza por constrangimentos suplementares no metro e nas

rimas. Mas não há nenhuma razão para limitar esta noção de gênero à literatura: fora

dela a situação não é diferente. [...] Vê-se que o gênero do discurso deve tanto à

matéria lingüística, como à ideologia historicamente circunscrita na sociedade.

Segundo Pena (2013), o editor Samuel Buckeley foi o primeiro a tentar uma

classificação dos gêneros jornalísticos, ao separar em notícias e comentários o conteúdo do

jornal Daily Courant, no século XVIII. Ainda de acordo com Pena (2013, p. 67) “por essa

classificação, ele (o autor) realiza uma função, que pode ser opinar, informar, interpretar ou

entreter”. Segundo com Pena (2013), em 1959, na Universidade de Navarra, na Espanha,

foram conduzidos os primeiros estudos sobre os gêneros jornalísticos. Para o autor

“inicialmente, os textos foram divididos em informativos, explicativos, opinativos e de

entretenimento”. (p. 67). Ainda de acordo com o autor, existem diversas classificações de

gêneros jornalísticos no mundo, dada sua natureza dinâmica, que leva em conta diversos

aspectos existentes da sociedade.

Ao longo do tempo, a maioria dos autores seguiu essa dicotomia para enveredar pelo

estudo dos gêneros jornalísticos, tomando como critério a separação entre forma e

conteúdo, o que gerou a divisão por temas e pela própria relação do texto com a

realidade (opinião x informação), contribuindo assim para uma classificação a partir

da intenção do autor. (PENA, 2013, p. 66-67).

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Pena (2013) traz a proposta de sistematização criada por Melo, que por sua vez se

baseou na proposta de Luiz Beltrão, para ilustrar uma classificação de gêneros jornalísticos.

Melo apud Pena (2013, p. 69) divide os gêneros em “jornalismo informativo (nota, notícia,

reportagem, entrevista) e jornalismo opinativo (editorial, comentário, artigo, resenha, coluna,

crônica, caricatura e carta)”.

Os gêneros que correspondem ao universo da informação se estruturam a partir de

um referencial exterior à instituição jornalística: sua expressão depende diretamente

da eclosão e evolução dos acontecimentos e da relação que os mediadores

profissionais (jornalistas) estabelecem em relação aos seus protagonistas

(personalidades ou organizações). Já no caso dos gêneros que se agrupam na área de

opinião, a estrutura da mensagem é co-determinada por variáveis controladas pela

instituição jornalística e que assumem duas feições: autoria (quem emite a opinião) e

angulagem (perspectiva temporal ou espacial que dá sentido à opinião). (MELO,

1994, p. 64).

Melo apud Pena (2013, p. 69), dentro do gênero informativo, distingue nota, notícia e

reportagem explicando que “a nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão em

processo de configuração [...]. A notícia é o relato integral de um fato que já eclodiu no

organismo social. A reportagem é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no

organismo social”. O mesmo autor atribui à reportagem a função de destacar “[...] um ou mais

protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade”. (p. 65).

No que diz respeito ao gênero opinativo, Melo (1994) explica que comentário, artigo e

resenha apresentam a característica de narração dos acontecimentos, mas que carregam

percepções e juízos de valor de seus autores. Segundo o autor, o editorial expressa a opinião

da instituição jornalística na qual foi publicado. Para ele, na resenha e no artigo, os autores

trazem valores de bens culturais, e ambos se parecem por causa da “[...] circunstância de

serem gêneros cuja angulagem é determinada pelo critério de competência dos autores na

busca dos valores inerentes aos fatos que analisam”. (p. 65).

Ainda de acordo com Melo (1994, p. 66), a coluna e a caricatura “emitem opiniões

temporalmente contínuas, sincronizadas como emergir e o repercutir dos acontecimentos”. Já

a crônica e a carta, pontua o autor, “estruturam-se de modo temporalmente mais defasado;

vinculam-se diretamente aos fatos que estão acontecendo, [...] não coincidem com seu

momento eclosivo”. (p. 66).

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Ainda segundo Melo (1994), além dos gêneros informativo e opinativo, existe ainda o

gênero interpretativo e o diversional. O autor traz a definição de Nixon para classificar os

gêneros interpretativo e diversional:

c) Na medida em que informa e orienta, também contribui para enriquecer o acervo

de conhecimentos da coletividade. Isso se efetiva por intermédio de informações que

esclarecem o que está acontecendo e não é percebido claramente pelo público. Os

fatos são portanto esclarecidos, explicados, detalhados. Essa função corresponde ao

jornalismo interpretativo.

d) Finalmente, preenche os momentos de ócio das pessoas ou comunidades,

oferecendo informações não necessariamente utilitárias, mantendo seções que

buscam entreter, ou abrindo espaço para prender o interesse do público, divertindo-

o. Essa função corresponde ao jornalismo diversional. (NIXON apud MELO, 1994,

p. 28-29).

No âmbito do jornalismo, não há como deixar de mencionar o jornalismo digital,

formato que nasceu com a invenção da internet e no qual surgiram novos gêneros

jornalísticos.

Acreditamos que a definição de gênero ou tipo discursivo deve estar fundamentada,

não só pela relação que o produto mantém com a realidade, mas nas dimensões

exteriores ao discurso (como interdiscurso, como efeito de intervenção no real):

interação, autoria, contrato social, percepção, linguagens, tempo e mídia. As

propriedades e características da mídia digital, na total reconfiguração que operam

nos produtos jornalísticos, dão as primeiras pistas para uma análise destes gêneros

do webjornalismo. (SEIXAS, 2009, p. 84).

Para entender o webjornalismo e suas características é preciso ter conhecimento sobre

o surgimento da internet. Ferrari (2010, p. 15) diz que “a internet foi concebida em 1969,

quando o Advanced Research Projects Agency (Arpa – Agência de Pesquisa e Projetos

Avançados), uma organização do Departamento de Defesa norte-americano focada na

pesquisa de informações para o serviço militar, criou a Arpanet, rede nacional de

computadores, que servia para garantir comunicação emergencial caso os Estados Unidos

fossem atacados por outro país [...]”. A mesma autora cita que a Arpanet ficou sob o comando

da Agência de Comunicações e Defesa, o que aumentou o tráfego de dados entre os usuários

da rede, alguns deles universitários, que enviavam dados por e-mail.

Ainda de acordo com Ferrari (2010) a National Science Foundation criou, em 1986,

uma rede que interligou pesquisadores espalhados por todos os EUA, o que fez crescer ainda

mais o volume do envio de dados entre os usuários e contribuiu para a expansão desse tipo de

comunicação. Segundo a autora “[...] enquanto o número de universidades e investimentos

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aumentava em progressão geométrica, tanto na capacidade de hardwares, como softwares

usados nas grandes redes de computadores, outro núcleo de pesquisadores, até bem modesto,

criava silenciosamente a World Wide Web (Rede de Abrangência Mundial), baseada em

hipertexto e sistemas de recursos para a internet”. (FERRARI, 2010, p. 16). Assim, a internet

se popularizou e revolucionou a forma como as pessoas se comunicam.

Os meios de comunicação migraram para esse novo espaço digital de forma

impressionante. A internet trazia a possibilidade de uma comunicação como nunca antes vista,

transformando radicalmente a prática do jornalismo, das relações públicas e da publicidade e

propaganda. Os profissionais dessas áreas estavam diante de um cenário repleto de novas

alternativas. Entretanto, como ressalta Canavilhas (2001, p. 1) os jornalistas que migraram

para o novo meio ainda não tinham desenvolvido qualquer tipo de adaptação às novas

possibilidades oferecidas pela internet. Isso criou o que o autor chama de “jornalismo on-

line”, que não passava de “[...] uma simples transposição dos velhos jornalismos escrito,

radiofônico e televisivo para um novo meio”.

O webjornalismo, nomenclatura que Canavilhas (2001) utiliza para denominar o

jornalismo feito na web, surgiu após os profissionais de comunicação compreenderem as

diferentes opções que os meios digitais ofereciam, como a interatividade a multimidialidade,

o hipertexto e a memória, termos citados por Palacios (1999).

Se, para o jornalista, a introdução de diferentes elementos multimédia altera todo o

processo de produção noticiosa, para o leitor é a forma de ler que muda

radicalmente. Perante um obstáculo evidente, o hábito de uma prática de uma leitura

linear, o jornalista tem de encontrar a melhor forma de levar o leitor a quebrar as

regras da recepção que lhe foram impostas pelos meios existentes. O grande desafio

feito ao webjornalismo é a procura de uma "linguagem amiga" que imponha a

webnotícia, uma notícia adaptada às exigências de um público que exige maior rigor

e objectividade (CANAVILHAS, 2001, p. 2).

A forma como o jornalista redigia as notícias ganhou novos contornos, pois a internet

disponibilizava um campo repleto de possibilidades. Assim, até mesmo o preceito de pirâmide

invertida acabou cedendo lugar para um novo conceito, a pirâmide deitada. Segundo

Canavilhas (2001, p. 3) “No webjornalismo não faz qualquer sentido utilizar uma pirâmide,

mas sim um conjunto de pequenos textos hiperligados entre si. Um primeiro texto introduz o

essencial da notícia estando os restantes blocos de informação disponíveis por hiperligação”.

Além da notícia composta de textos que se hiperligam, o que Canavilhas (2001) chama

de hipertextualidade, no webjornalismo a informação passou a contar, de acordo com Palacios

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(2003), com os conceitos de multimidialidade/convergência, interatividade, customização do

conteúdo/personalização, memória e instantaneidade/atualização contínua. Essas ferramentas

proporcionaram a criação de notícias que combinam elementos de áudio, vídeo, fotos e textos.

Eles ainda ofereceram a oportunidade de o leitor interagir com as informações publicadas,

pré-selecionar assuntos de sua preferência ao acessar sites portais, e ainda contar com um

acervo grande de arquivos de informação.

Com o surgimento da web a notícia, como pontua Silva Júnior (2003, p. 140), “[...]

pode ser atualizada a qualquer momento, permitindo assim a flexibilização permitida pelas

plataformas digitais de encurtar o circuito entre leitores/usuários, de um lado e

veículos/disponibilizadores do outro”. O autor também cita a facilidade da publicação de

diversos tipos de conteúdos na internet, já que a informação digital não ocupa espaço.

Esse novo cenário teve reflexos significativos para o cenário do jornalismo, sobretudo

o impresso. Segundo Coelho Neto (2003, p. 62) “o papel é geralmente descrito como

elemento mais frágil no processo de transição para a era digital”. O mesmo autor cita a

observação feita por Pogorelic, de que os veículos impressos aderiram a novas formas de

divulgação, migrando seus conteúdos para espaços on-line e remodelando a forma como as

notícias são publicadas nas páginas impressas.

Explorar as características das notícias publicadas em veículos impressos é um dos

focos dessa pesquisa, portanto, se justifica o retorno ao estudo da mídia impressa, situando-a

no cenário brasileiro, no qual ela conviveu com a censura no período de 21 anos a partir de

1964, imposta por regimes militares. É nesse momento da história do Brasil que o jornalismo

brasileiro se aproxima das práticas de relações públicas e, consequentemente, das assessorias

de imprensa. Como a relação entre jornalismo e assessoria de imprensa é um dos pontos mais

importantes do estudo realizado nessa monografia, o estudo sobre a evolução do jornalismo

no Brasil é de grande importância.

3.2 JORNALISMO NO BRASIL

Nas Américas, como explicam Martins e Luca (2011), os papéis impressos surgem no

século XVI. O nascimento da imprensa no Brasil, de acordo com Martins e Luca (2011, p. 29)

ocorre em 1808, “já no seu primeiro número, junho desse ano, O Correio Braziliense referia-

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se ao Brasil como Império e tornava-se pioneiro em trazer tal denominação para a imprensa.

Mas não era o criador isolado dessa fórmula, que não tinha caráter premonitório”.

A hegemonia do jornalismo oficial do império perdeu força com o “[...] advento e o

transcorrer da chamada Primeira República (1889–1930) [...]” (MARTINS; LUCA, 2011, p.

83). Ainda de acordo com as autoras, com essa mudança no panorama político no Brasil, a

imprensa se diversificou, fazendo com que os jornais conseguissem vislumbrar novos focos

de notícia.

A história do jornalismo brasileiro ganhou novos contornos no início do século XX

quando, de acordo com Viveiros e Eid (2007), nascem as empresas de comunicação que

viriam a se tornar gigantes do ramo no país. “Em 1911, Irineu Marinho fundou, no Rio de

Janeiro, o jornal A Noite, um dos mais bem elaborados da Época, e, em 1925, O Globo [...]”,

(VIVEIROS; EID, 2007, p. 130). O início da caminhada de Assis Chateubriand, que se

tornaria proprietário dos Diários Associados, no universo do jornalismo também é ressaltado

pelos pesquisadores.

Mas esses novos veículos de comunicação surgiram em uma época turbulenta no

Brasil. “Os veículos identificados com o então presidente Washington Luiz sofreram, após a

Revolução de 1930, truculenta perseguição do Governo Getúlio Vargas, e jornais como o

Correio Paulistano, A Noite e Jornal do Brasil foram queimados” (VIVEIROS; EID, 2007, p.

130). Ainda Segundo Viveiros e Eid (2007), a ditadura Vargas, na qual foi estabelecida uma

rigorosa censura à imprensa, perdurou até 1945.

Contudo, de acordo com Sólio (2008), no seu segundo governo, em 1950, Getúlio

Vargas investiu nos setores de infraestrutura do país, trazendo um significativo

desenvolvimento para o Brasil. Ainda segundo a autora, foi nesse período que os sindicalistas

viram no jornalismo organizacional uma boa alternativa para expressar ideias.

Nesse mesmo período, Viveiros e Eid (2007, p. 132) destacam o surgimento revistas

no Brasil, “[...] publicadas por várias editoras, dentre elas a Bloch, fundada por Adoplho

Bloch, e a Abril, criada por Victor Civita”. Também merece destaque o lançamento do jornal

Última Hora, em 1951. Martins e Luca (2011), citam que o periódico, comandado pelo ex-

repórter Samuel Wainer, continha novas tendências editoriais, como um caderno dedicado às

políticas estatais e outro composto por notícias sobre variedades.

No entanto, o golpe militar de 1964 ressuscitou a ditadura no Brasil, trazendo com ela

uma nova censura à imprensa. De acordo com Chaparro (2003, p. 41), as relações públicas se

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desenvolveram no período da ditadura “[...] com as RPs generalizou-se, na iniciativa privada e

no serviço público, a prática da assessoria de imprensa [...]”. Segundo Weber (2000), no

governo de Arthur da Costa, foram aprovadas as diretrizes de Relações Públicas, ato que a

registrou como função política ao lado do jornalismo.

O ramo das relações públicas se tornou atrativo para muitos jornalistas devido ao fato

de os jornais sofrerem com a censura imposta pelo governo militar. Weber (2000) explica que

os veículos de comunicação, quando não tinham suas matérias avaliadas por censores que

habitavam as redações, eram obrigados a submeter suas notícias aos órgãos de censura, nos

quais eram avaliadas antes de serem publicadas.

Os jornalistas eram comumente chamados de "comunistas" e os conteúdos de suas

matérias classificados como "difamadores", devido a "ações clandestinas com falsas

informações, meias verdades, que tumultuam a opinião pública". A imprensa era

apontada como agente de mistificação da opinião pública que subvertia a sociedade;

como "fomentadores de boatos, provocadores da inflação, tarefa inglória de deturpar

os fatos”. (WEBER, 2000, p. 185).

Enquanto a imprensa brasileira que era contrária ao regime ditatorial, chamada de

“imprensa nanica”, definhava, a grande imprensa não só sobreviveu como também se

fortaleceu. Segundo Viveiros e Eid (2007, p. 133), em plena ditadura militar houve a “[...]

criação das revistas Realidade (1966) e Veja (1968), ambas da Abril, além da fundação da TV

Globo, em 1965”. Sólio (2008) oferece, ainda, um panorama do cenário do jornalismo

brasileiro:

A partir de 1964, delineia-se um vínculo muito próximo entre o governo e os

grandes jornais, emissoras de rádio e redes de televisão. Daí o crescimento

significativo das assessorias de imprensa, cujo papel maior era difundir informações

sobre ações oficiais, dando eco ao Brasil Grande ou ao chamado Milagre

Econômico. Tem-se uma fase de impulso do jornalismo organizacional tanto nos

órgãos oficiais quanto na iniciativa privada, agora fonte importante para alimentar,

com seus releases, as editorias de economia, principalmente porque a censura

ditatorial esvazia outras editorias como a de política e a de cultura (SÓLIO, 2008, p.

23).

Nesse cenário, no qual as relações públicas estavam se estruturando cada vez mais e a

imprensa era assolada pela censura imposta pela ditadura, iniciaram as relações entre as

atividades de AI e jornalismo no país. Jornalistas deixaram veículos de comunicação e

assumiram o papel de assessores de imprensa, tanto na iniciativa privada quanto em órgãos

oficiais.

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Com mais jornalistas trabalhando em assessorias de imprensa, o jornalismo

organizacional ganhou mais força, e os materiais produzidos por esses setores passaram a

apresentar um caráter cada vez mais jornalístico, conquistando a confiança dos meios de

comunicação que antes, de acordo com Viveiros e Eid (2007), enxergavam com maus olhos a

palavra release, classificando-o como peça de propaganda do governo militar, substituindo a

informação verdadeira.

Como um dos propósitos desse estudo aponta para as características dessa relação

entre AI e jornalismo, que dependem um do outro no universo da comunicação social, um

estudo mais aprofundado sobre a prática de AI é essencial para uma melhor compreensão

sobre as duas atividades.

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4 ASSESSORIA DE IMPRENSA

Criada pelo jornalista norte-americano Ivy Lee em 1906, a Assessoria de Imprensa,

explicam Viveiros e Eid (2007 p. 59), “[...] é o elo entre a empresa/entidade/organização e os

veículos de comunicação [...]. Compete a ela administrar as informações jornalísticas da

empresa, de maneira a atingir positivamente os interesses internos (empresa) e os externos

(imprensa)”. Cabe ao assessor de imprensa representar seu assessorado.

Foi esse o papel que Ivy Lee, que possuía conhecimentos sobre economia obtidos

quando trabalhou nas editorias de economia do New York Times e no New York World,

desempenhou. De acordo com Chinem (2003 p. 26) Lee “[...] passou a integrar a equipe do

bilionário John D. Rockefeller, fundador da Standard Oil, adotando estratégias de

comunicação com a imprensa, a fim de esclarecer questões relacionadas à indústria de

combustível e ferro do estado do Colorado”. O autor cita que uma das estratégias adotadas por

Lee foi a de enviar “[...] matérias e informações (atualizadas e precisas com relação aos

valores e interesses do público) à imprensa, gerando notícias favoráveis à indústria, a partir

daí, o grande público passou a ver o megaempresário com bons olhos”. (p. 26).

É importante ressaltar a diferença entre Relações Públicas e AI. Como explica Chinem

(2003), nos Estados Unidos não são utilizados os termos Assessoria de Imprensa ou

Assessoria de Comunicação, mas, sim, empresas de Relações Públicas que “[...] abarcam as

funções típicas de relações públicas mais a de comunicação/assessorias de imprensa e até de

relações governamentais”. (CHINEM, 2003 p. 23). Segundo o mesmo autor, é possível que

exista confusão sobre as atribuições das duas atividades por conta de como ela é conhecida

fora do Brasil.

Para Kunsch (2003), a AI e as Relações Públicas são dois instrumentos que integram a

comunicação institucional 1, na qual são desenvolvidas tanto a imagem quanto a identidade de

uma organização. De acordo com a autora, a função das Relações Públicas é “[...] administrar

estrategicamente a comunicação das organizações com seus públicos, atuando não de forma

isolada, mas em perfeita sinergia com todas as modalidades de público”. (p. 165).

1 Uma definição objetiva e simples de comunicação institucional é a de Abílio Fonseca [...] que a designa “como conjunto que é de

procedimentos destinados a difundir informações de interesse público sobre as filosofias, as políticas, as práticas e os objetivos das

organizações, de modo a tornar compreensíveis essas propostas”. (KUNSCH, 2003. p. 164).

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Já, a AI, explica Kunsch (2003, p. 167), “[...] é uma das ferramentas essenciais nas

mediações das organizações com o grande público, a opinião pública e a sociedade, via mídia

impressa, eletrônica e internet”.

Viveiros e Eid (2007 p. 22) contribuem com a explicação de Kunsch ao classificarem

a AI como o “[...] principal canal entre os sistemas sociais (político, econômico, religioso,

esportivo, empresarial, associativo etc.) e os veículos de comunicação”. Para desempenhar

bem sua função, o profissional que atua em uma AI deve ter amplo conhecimento sobre “[...]

a história, os produtos e serviços, os valores, as políticas e as metas da empresa ou instituição

a qual atende”. (VIVEIROS; EID, 2007, p. 25).

O profissional de uma Assessoria de Imprensa tem de ser uma espécie de interface,

um tradutor dos sentimentos e anseios da opinião pública com relação aos serviços

de sua empresa ou órgão público. Deve estar disponível o tempo todo para atender o

colega que não escolhe a hora de a notícia acontecer [...]. (CHINEM, 2003, p. 37).

Conforme Kopplin e Ferraretto (2001, p. 13) a AI de uma instituição é responsável

pelo relacionamento entre assessorado e veículos de comunicação social, “[...] abastecendo-os

com informações relativas ao assessorado (através de relises, press-kits, sugestões de pautas e

outros produtos) [...]”. Além disso, os autores também citam como atividades dos assessores o

controle e arquivamento de publicações sobre o assessorado nos meios de comunicação e a

organização e atualização da lista com nomes, telefones e demais contatos de veículos de

comunicação, o mailing. Ainda segundo Kopplin e Ferraretto (2001) também fazem parte das

atividades da AI a edição de materiais como jornais e revistas para públicos interno e externo,

produção de fotografias, vídeos e programas de rádio ou de televisão e a participação nas

decisões sobre estratégia de comunicação.

Viveiros e Eid (2007) complementam a lista de atividades dos assessores de imprensa,

citando, ainda, as atribuições de sugerir aos meios de comunicação a realização de entrevistas

com os assessorados, convocar e preparar coletivas de imprensa, atuar no gerenciamento de

crises e realizar treinamentos, com integrantes da organização, de relacionamento com a

imprensa, o media training. Ainda de acordo com os autores, é importante que o assessor

esteja sempre em contato com os jornalistas, com o intuito de manter um bom relacionamento

com esses profissionais.

O surgimento da internet, de acordo com Saad Corrêa (2009), trouxe novas opções

para o campo da comunicação e novas atribuições para as Assessorias de Imprensa.

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O surgimento e uso crescente das chamadas mídias sociais fazem com que qualquer

cidadão capaz de interagir com as ferramentas disponíveis na web possa produzir,

utilizar, comentar e compartilhar informações. E aqui cabe às organizações buscar

novos formatos e estratégias para manter e ampliar a comunicação e o

relacionamento com seus públicos. (SAAD CORRÊA, 2009, p. 163).

De acordo com Saad Corrêa (2009, p. 166), os profissionais de comunicação devem

“[...] buscar um dado nível de uso estratégico de diferentes habilidades em diferentes esferas

de ação da comunicação digital. Mais do que usar e aplicar, (sic) trata-se de ter competência

de entender e explorar os recursos digitais”.

Para Penteado Filho (2003, p. 358) “[...] a boa organização do site da Internet é uma

tarefa estratégica do comunicador”. O autor destaca, ainda, que é fundamental a existência de

um espaço específico no site para as notícias, no qual estejam publicados os releases e outros

materiais informativos, como fotos, elaborados, pela AI. A organização e constante

atualização desse espaço do site são imprescindíveis, pois, de acordo com Duarte (2003), os

jornalistas podem utilizá-lo como fonte de consulta. Além de abastecer o site do assessorado

com materiais informativos sobre o assessorado, o assessor de imprensa, cada vez mais, têm

se responsabilizado por gerenciar as páginas e perfis que o assessorado nas mídias sociais.

Cada uma dessas atribuições cumpre uma finalidade distinta na rotina de trabalho de

uma AI. Algumas dessas ações, como o press kit, a organização de entrevistas coletivas, o

clipping e o release merecem um olhar mais aprofundado nessa pesquisa, especialmente o

release, pois essas ações tem ligação direta com o estudo desenvolvido nesse trabalho.

Kopplin e Ferraretto (2001) classificam o press kit como um dos principais produtos

da AI, “[...] ele pode ser definido como um “conjunto informativo composto de textos,

fotografias e outros materiais destinados à divulgação do fato jornalístico”. (RABAÇA;

BARBOSA apud KOPPLIN; FERRARETTO, 2001, p. 112). O press kit, ainda de acordo

com Kopplin e Ferraretto, é distribuído em entrevistas coletivas e eventos, auxiliando os

jornalistas na posterior criação das matérias.

As coletivas de imprensa devem ser convocadas, de acordo Duarte (2003, p. 245),

quando houver “[...] necessidade de reunir jornalistas de vários veículos, ao mesmo tempo,

para passar informações relevantes e de interesse público imediato ou, ainda, em casos

especiais de lançamentos, assinatura de contratos ou evento similar”. Ainda segundo Duarte

(2003), os encontros devem ser realizados em locais e horários que se adaptem às rotinas das

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redações dos veículos convidados. Para o mesmo autor, “A boa preparação da fonte é

fundamental, como treino para responder a perguntas, até mesmo embaraçosas”. (p. 246).

Outra função do assessor de imprensa é identificar, reunir, classificar e arquivar as

publicações sobre seu assessorado, tarefa que Kopplin e Ferraretto (2001) chamam de

taxação, clipagem, ou ainda clipping. Essa é uma das maneiras que o assessor de imprensa

encontra para mensurar a eficiência do trabalho da divulgação que desenvolveu. Segundo

Duarte (2003, p. 243), o clipping geralmente “[...] é feito apenas em jornais, revistas e

Internet, já que o serviço rotineiro de clipping de rádio e televisão (chamado clipping

eletrônico) é trabalhoso ou tem custo alto, se terceirizado”. A AI também pode apresentar o

clipping ao assessorado, como forma de prestação de contas do trabalho que desempenhou.

Considerado por Kopplin e Ferraretto (2001) como um dos principais produtos

elaborados pela AI, o release, também conhecido por press release ou relise tem a função de

“[...] levar às redações notícias que possam servir de apoio, atração ou pauta, propiciando

solicitações de entrevistas ou de informações complementares”. (p. 59). Duarte (2003, p. 252)

destaca que o release deve ser redigido de acordo com a técnica de redação jornalística, mas

que ele “[...] deve ser entendido como sugestão de pauta e não como notícia acabada [...]”.

De modo geral, o press release funciona como uma sugestão de pauta, o ponto de

partida do trabalho do repórter, a quem cabe dar seqüência às demais etapas da

reportagem, que são entrevista, consulta, checagem de informação e redação do

texto final da matéria. Entre a redação de uma reportagem e a forma com que ela

chega ao público há um trabalho intenso. (CHINEM, 2003, p. 68).

Conforme Duarte (2003), o release nasceu pelas mãos de Ivy Lee, o jornalista

considerado o criador da AI que, em 1906, forneceu documentos a veículos de comunicação

contendo informações caracteristicamente jornalísticas, redigidas de forma clara e objetiva

sobre seu assessorado. O autor explica que o material produzido por Lee foi criado com o

intuito de gerar uma divulgação gratuita para o seu assessorado, cabendo aos profissionais da

imprensa avaliar a utilidade e importância das informações recebidas.

Essa disposição, na prática, não incluía contar “toda” a verdade e previa o “ajuste”

da realidade com base na previsão sobre como a imprensa a transmitiria e como o

cliente gostaria de ser percebido. Isso ocorre tanto na pré-seleção do conteúdo da

informação a ser disponibilizado à imprensa, como na interferência direta na

realidade para esconder, manipular ou gerar fatos adaptados aos interesses do

jornalista. (DUARTE, 2003, p. 287).

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Para se tornar notícia, o release deve ser elaborado visando a despertar o interesse dos

profissionais que atuam no veículo de comunicação. Para isso, segundo Chinem (2003, p. 67),

o release “deve ter riqueza e exatidão de informações, e para isso é necessário observar os

critérios de noticiabilidade dos fatos e se valer de rigor técnico na redação do texto, como

manchete, lead, subleade e pirâmide”. O autor também chama a atenção para o compromisso

que o assessor de imprensa tem para com a veracidade das informações contidas no release e

que este não deve ser uma “[...] autopromoção da empresa, informação destinada a “vender”

uma imagem irreal da instituição em detrimento da divulgação do fato de interesse

jornalístico”. (p. 68).

Em termos de estrutura do release, Duarte (2003) o descreve como um texto de,

normalmente, uma página formado por um título, lead, redigido na forma de pirâmide

invertida e indica um responsável pelas informações nele contidas. Kopplin e Ferraretto

(2001) explicam que existem dez tipos de release: padrão; de opinião, dirigido; especial;

artigo; voltados para rádio e televisão; de convocação, de cobertura; nota oficial e o

comunicado. Ainda segundo Kopplin e Ferraretto (2001), os diferentes tipos de relese fazem

com que ele se encaixe nos gêneros jornalísticos de texto, podendo ser informativo (limitado à

descrição dos fatos); interpretativo (oferece melhor contexto do conteúdo) e opinativo

(apresenta uma opinião própria a respeito do fato apresentado. Geralmente apenas o artigo

traz essa característica).

Duarte (2003, p. 292) lembra, ainda, que, após enviar o release à mídia “[...] a

organização ou fonte mantém o compromisso tácito de estar à disposição para

esclarecimentos adicionais. Assume também que não pagará pela veiculação e nem será

cobrada por isso”. O mesmo autor explica que o release “[...] Pode ser enviado por e-mail,

fax, correio, entregue pessoalmente na redação ou pessoalmente ao jornalista ou, ainda,

disponibilizado na internet”. (p. 252).

Com todas essas atribuições, uma AI necessita de organização para realizar com êxito

sua função. Conforme Chinem (2003),o assessor de imprensa deve ter em mente que não se

faz boa comunicação sem planejamento.

As atividades de uma Assessoria de Imprensa não devem ser realizadas com base no

improviso e sim, ter como norma a organização e a constante avaliação dos

resultados. O planejamento assume, dessa forma, uma importância fundamental,

evitando que até mesmo as situações mais inesperadas peguem o profissional

totalmente desprevenido. (CHINEM, 2003, p. 33).

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Baptista apud Kunsch (2003, p. 207), define planejamento como um processo de “[...]

ação contínua sobre um conjunto dinâmico de situações em um determinado momento

histórico. Como processo metódico de abordagem racional e científica, supõe uma seqüência

de atos decisórios, ordenados em momentos definidos e baseados em conhecimentos teóricos,

científicos e técnicos”.

O planejamento realizado por uma AI, para Chinem (2003), pode muito bem seguir o

modelo adotado por equipes de marketing, que seguem os passos de análise, adaptação,

ativação e avaliação. Segundo o autor, na fase de análise, o assessor se familiariza com as

características da instituição, procurando identificar os problemas de comunicação existentes

na mesma. (Chinem 2003, p. 36) aponta o estágio de adaptação como aquele no qual “[...]

serão definidas tanto as políticas quanto os planos que a empresa encerra”. Por fim, Chinem

(2003) explica que na fase de ativação, os planos elaborados são postos em prática e em

seguida avaliados.

Como já foi citado nesse trabalho, uma AI é o elo entre o assessorado e os meios de

comunicação social. O serviço de AI pode ser contratado para representar uma pessoa física,

uma ONG, uma instituição privada, um evento específico, enfim, onde houver a oportunidade

de se estabelecer uma estratégia de comunicação dirigida para os veículos de comunicação.

Nas organizações públicas, as Assessorias de Imprensa também cumprem essa importante

função de facilitar e qualificar a comunicação entre instituição pública e mídia, com o

objetivo de alcançar o público.

4.1 ASSESSORIA DE IMPRENSA NAS ORGANIZAÇÕES

Antes de entrar no mérito do papel de uma AI em uma organização pública, é

fundamental estudar e compreender o conceito e os diferentes tipos de organizações

existentes. Como explica Kunsch (2003), o autor Idalberto Chiavenato (1982) traz duas

definições para organização: A primeira se refere à entidade social, na qual os indivíduos se

organizam e trabalham em conjunto para alcançar um objetivo comum. Na segunda definição,

o autor vê organização como “[...] função administrativa e parte do processo administrativo.

[...] significa o ato de organizar, estruturar e integrar os recursos e os órgãos incumbidos de

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sua administração e estabelecer relações entre eles e atribuições a cada um deles”.

(CHIAVENATO apud KUNSCH p. 25).

Kunsch (2003) chama a atenção para o constante uso das expressões “organização” e

“instituição” como sinônimos para identificar diversos agrupamentos sociais diferentes. A

autora esclarece a diferença entre organização e instituição, citando a definição da Maria José

B. Pereira, que, por sua vez, se baseou nos estudos de Phillip Selznick:

Organização é [...] um instrumento técnico, racional, utilizado para canalizar a

energia humana na busca de objetivos prefixados, cuja sobrevivência depende

exclusivamente da sua capacidade de atingir os resultados e adaptar-se às mudanças

ambientais para evitar a obsolência técnica. Instituição é um organismo vivo,

produto de necessidades e pressões sociais, valorizada pelos seus membros e pelo

ambiente, portadora de identidade própria, preocupada não somente com lucros ou

resultados, mas com a sua sobrevivência e perenidade e guiada por um claro sentido

de missão. (PEREIRA apud KUNSCH, 2003, p. 33).

No âmbito das instituições, Kunsch (2003, p. 35) destaca as reflexões dos autores

Horton e Hunt, que atribuem às instituições uma relevante função social, pois essas “[...]

incorporam certos valores e procedimentos comuns e atendem a certas necessidades básicas

da sociedade”. A autora traz ainda o comentário de Marilena Chaui, que ressalta o

compromisso da instituição para com a sociedade, já que “[...] a instituição tem a sociedade

como seu princípio e sua referência normativa e valorativa [...]”. (CHAUI apud KUNSCH, p.

37).

Kunsch (2003) traz, ainda, uma reflexão sobre a possibilidade de institucionalização

de uma organização. Ela se vale do pensamento formulado por Selznick, que descreve a

institucionalização como um processo que é marcado pelo compromisso da organização com

valores, ou seja, “[...] escolhas que firmam as ideias das políticas quanto à natureza do

empreendimento — seus objetivos particulares, métodos e papel na comunidade. [...] Quando

tais compromissos são assumidos, os valores são de fato incorporados às estrutura social”.

(SELZNICK apud KUNSCH, p. 39).

Cada organização possui uma característica distinta, por isso, analisar suas diferentes

classificações facilita a compreensão do papel que cada uma desempenha. De acordo com

Kunsch (2003, p. 41), uma das formas de se classificar as organizações é pelas formas de

propriedade, ou seja, se são públicas, privadas ou sem fins lucrativos:

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Nesse sentido, há hoje uma tendência em distribuí-las ao longo do primeiro setor

(setor público — órgãos governamentais), do segundo setor (setor privado —

empresas comerciais e industriais) ou do terceiro setor [...] formado por um conjunto

muito diversificado de organizações, cuja atuação é voltada para o social e não

visam o lucro; são as organizações não governamentais (ONGs), as organizações

voluntárias etc.

Como complemento a essa classificação, a autora traz a distinção das organizações

feita por Daniel Krtaz e Robert L. Kahn, que as dividem em “[...] produtivas ou econômicas

(indústrias, empresas de transportes etc.); de manutenção (escolas e igrejas); e gerenciais-

políticas (órgãos do governo nacional, estadual e municipal, sindicatos trabalhistas, grupos de

pressão etc.)”. (KRATZ; KAHN apud KUNSCH, 2003, p. 46).

O estudo dos conceitos de instituição e organização, bem como o conhecimento sobre

a existência e características das organizações existentes, oferecem uma boa base para o

estudo da comunicação organizacional. Kunsch (2003) aponta como elementos básicos da

comunicação nas organizações a fonte, o codificador, o canal, a mensagem, o decodificador e

o receptor, mas pontua que o processo de comunicação envolve outros fatores.

As organizações em geral, como fontes emissoras de informações para seus mais

diversos públicos, não devem ter a ilusão de que todos os seus atos comunicativos

causam os efeitos positivos desejados ou são automaticamente respondidos e aceitos

da forma como foram intencionados. É preciso levar em conta os aspectos

relacionais, os contextos, os condicionamentos internos e externos, bem como a

complexidade que permeia todo o processo comunicativo. (KUNSCH, 2003, p. 72).

As relações públicas, de acordo com Kunsch (2003), surgem para gerenciar a

comunicação dentro das organizações. Segundo ela, cabe às relações públicas identificar os

públicos e suas percepções e desenvolver estratégias de comunicação e relacionamento a

partir desses conhecimentos; supervisionar e coordenar ações de comunicação com os

públicos; prever e gerenciar crises que possam surgir na organização. A autora enfatiza ainda

o aspecto da interdisciplinaridade que as relações públicas apresentam nas organizações,

conferindo a ela o atributo de interagir com outros ramos da comunicação social.

Nesse ponto, Kunsch (2003, p. 149) cita o termo “comunicação organizacional”, que

ela define como “[...] a disciplina que estuda como se processa o fenômeno comunicacional

dentro das organizações no âmbito da sociedade global. Ela analisa o sistema, o

funcionamento e o processo de comunicação entre a organização e seus [...] públicos”. Ela

explica que a comunicação organizacional é formada pela comunicação integrada, que é uma

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“[...] junção da comunicação institucional, da comunicação mercadológica, da comunicação

interna e da comunicação administrativa”. (p. 150).

Na comunicação institucional, definida por Kunsch (2003, p. 164) como “[...] a

responsável direta, por meio da gestão estratégica das relações públicas, pela construção e

formatação de uma imagem e identidade corporativas fortes e positivas de uma organização”,

se encontra a AI, que aparece como um dos braços da assessoria de comunicação social.

Para aprimorar o fluxo de informações com seus públicos interno e externo, as

instituições utilizam serviços de uma assessoria de Comunicação Social, que podem

ser realizados por um departamento interno, contratados de terceiros ou, ainda,

oferecidos através de uma forma mista, combinando as duas anteriores. (KOPPLIN;

FERRARETTO, 2001, p. 11).

Kunsch demonstra, no gráfico abaixo, a estrutura da comunicação organizacional

integrada, que se articula para atender os diferentes tipos de público existentes em uma

organização:

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Figura 01: Estrutura de Comunicação Organizacional Integrada

Fonte: KUNSCH, 2003, p. 151.

De acordo com Kopplin e Ferraretto (2001), a AI forma, juntamente com os setores de

relações públicas e publicidade e propaganda, a assessoria de comunicação de uma

organização. Os autores explicam que a AI administra toda a natureza de informações

jornalísticas referentes à organização e cabe aos assessores de imprensa uma série de

responsabilidades:

1. Avaliar jornalisticamente todos os acontecimentos que envolvam o assessorado.

Se uma opinião ou informação não tem chance de aproveitamento nos veículos aos

quais se destina, não deve em nenhuma hipótese ser distribuída pela AI.

2. Não desprezar nenhum órgão no processo de distribuição de informações, desde

que ele atenda às necessidades da AI em termos de público-alvo.

3. Evitar práticas que firam o Código de Ética do Jornalismo, como pressões e

tentativas de suborno, lembrando sempre: assessor de imprensa é jornalista, não

lobista.

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4. Manter uma relação atualizada dos veículos de comunicação e dos jornalistas que

possam interessar pelas informações do assessorado e, assim, transmiti-las ao grande

público. (KOPPLIN; FERRARETTO, 2001, p. 40).

Ainda segundo Kopplin e Ferraretto (2001), uma AI pode ter três tipos de

infraestrutura: interna (a organização apenas contrata jornalistas para trabalhar em uma

estrutura organizada por ela mesma); externa (empresas especializadas em AI são

contratadas); mista (existem duas AIs na organização, uma interna e outra externa, contratada

para a divulgação de eventos específicos. No caso de haver uma AI contratada, essa fica sob a

supervisão da AI interna). Os autores também explicam que uma AI pode ser composta por

jornalistas, planejador gráfico, ilustrador, diagramador, fotógrafo, escuta e secretária.

Conhecido o conceito de comunicação organizacional e situado o lugar da AI na

assessoria de comunicação de uma organização, é possível analisar a comunicação pública, na

qual esta pesquisa é baseada. De acordo com Brandão (2012), o conceito de comunicação

pública pode ser associado a cinco áreas diferentes: 1) Comunicação pública na comunicação

organizacional; 2) Comunicação pública na comunicação científica; 3) Comunicação pública

identificada com comunicação do Estado e/ ou governamental; 4) Comunicação pública na

esfera política; 5) Comunicação pública na sociedade civil organizada.

A comunicação pública identificada com comunicação do Estado e/ou governamental,

assim como a comunicação pública na esfera política, são matérias de interesse na presente

monografia, suas características serão aprofundadas no estudo. Segundo Brandão (2012, p. 4)

a comunicação pública ligada ao governo deve ser compreendida como:

[...] um processo comunicativo das instâncias da sociedade que trabalham com a

informação voltada para a cidadania. Entre elas órgãos governamentais,

organizações não governamentais, associações profissionais e de interesses diversos,

associações comunitárias, enfim, o denominado terceiro setor, bem como outras

instâncias de poder do Estado, como conselhos, agências reguladoras e empresas e

empresas privadas que trabalham com serviços públicos, como telefonia,

eletricidade etc.

A autora descreve comunicação governamental como “[...] instrumento de construção

da agenda pública e direciona seu trabalho para a prestação de contas, o estímulo para o

engajamento da população nas políticas adotadas, o reconhecimento das ações promovidas

[...]”. (BRANDÃO, 2012 p. 5). Para ela, essa forma de comunicação é utilizada pelo governo,

seja ele federal, estadual ou municipal, para informar a população sobre as ações realizadas,

promovendo o debate público. Haswani (2013, p. 120) traz a conclusão de Faccioli (2000)

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sobre a comunicação pública, que a entende como uma ferramenta que o Estado usa com o

“[...] objetivo de garantir a implantação do direito à informação, à transparência, ao acesso e à

participação na definição das políticas públicas [...] com a finalidade de realizar uma

ampliação dos espaços de democracia”. Solito (2005) corrobora com o pensamento de

Faccioli, ao afirmar que:

De fato, diversamente das empresas, para as quais a satisfação do cliente é um meio

para a realização do lucro, nos serviços públicos o respeito aos direitos do cidadão, a

satisfação de suas necessidades e a tutela dos interesses coletivos são evidentemente

o fim. A tais considerações se associa o novo papel da comunicação pública, que

encontra seus fundamentos e o seu sentido e significado mais completo na natureza

dialógica, processual (o caráter construtivo e continuado) e negociada (fundada no

reconhecimento do outro e de suas exigências) da comunicação. (SOLITO, 2005, p.

193).

Haswani (2013, p. 121), seguindo o pensamento de Rolando (1992), defende que o

profissional de comunicação, inserido na comunicação pública desempenha a função de

aproximar os cidadãos das políticas desenvolvidas pelo governo, por meio de uma

comunicação pública de característica utilitária. Para Brandão (2012), o profissional que atua

em uma organização pública, utiliza diversos instrumentos de comunicação, entre eles a

campanha publicitária, para atingir seu público.

Pela característica de seus conteúdos e da grande parcela de público que pretende

alcançar — a população de um país, de um Estado, de um município ou cidade —, a

maioria dos instrumentos utilizados pela comunicação feita pelo Estado ou por um

governo faz parte da chamada “grande mídia” — televisão, rádio, web, impressos —

e o método mais utilizado é a campanha publicitária. (BRANDÃO, 2012, p. 5).

Haswani (2013), embasada na perspectiva de Grandi (2002), demonstra a estrutura do

sistema de Comunicação Estatal por meio do esquema que segue:

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Figura 02: Modelo de Comunicação Estatal

Fonte: HASWANI, 2013, p. 132.

A comunicação pública abrange, de acordo com os estudos de Mancini, que aparecem

na obra de Haswani (2013), três dimensões distintas: os promotores/emissores, a finalidade e

os objetos. Para Mancini, promotores/ receptores seriam as organizações (públicas, privadas

ou semipúblicas), já a finalidade é o que delimita a abrangência da comunicação praticada

pela organização, para o que ela está voltada, definindo-a como lucrativa ou não lucrativa. Por

fim, o autor explica que a terceira dimensão, o objeto, estuda o que a comunicação pública

oferece, não só para os seus receptores, mas também para seus emissores.

Do encontro dessas três dimensões surgem na área da comunicação pública: “a

comunicação da instituição pública, a comunicação política e a comunicação social”.

(MANCINI, apud HASWANI, 2013, p. 127). Haswani (2013) atenta para o fato de muitos

estudiosos mencionarem a proximidade e a relação que existe entre a comunicação política e a

comunicação pública. Para ela, a comunicação política tem “[...] por objeto temas de interesse

geral, mas também de caráter privado, particular dos partidos políticos e de outras

instituições, tanto privadas quanto públicas”. (HASWANI, 2013, p. 142). A autora menciona

ainda a concepção de Mazzoleni, que considera a comunicação pública como integrante da

comunicação política, dessa forma, a comunicação pública:

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[...] é destinada a tornar-se uma área sempre mais importante na polis, uma vez que

proporciona aos públicos poderes para conseguir as próprias finalidades

institucionais, colocando em prática estratégias comunicacionais e utilizando as

novas tecnologias, como o intuito de ativar um processo de interação entre

instituições e cidadãos. (MAZZOLENI apud HASWANI, 2013, p. 140).

Ainda conforme Mazzoleni apud Haswani (2013, p. 140) a comunicação política é

“[...] o ato recíproco e o confronto entre os conteúdos de interesse público-político realizado

pelo sistema político, pelo sistema midiático e pelo cidadão-eleitor”. Faccioli apud Haswani

(2013, p. 133) pontua que a comunicação de uma instituição pública deve atender duas

exigências: “informar os cidadãos sobre seus direitos [...] e promover processos de inovação

institucional, especialmente na difusão de serviços que respondem às exigências dos

cidadãos”. Segundo a autora, a comunicação do órgão público atinge esse objetivo ao

“informar sobre as próprias obras, ouvir as exigências dos cidadãos, contribuir para reforçar a

relação social, valorizar o cidadão como ator dos processos de transformação e acompanhar a

mudança tanto dos comportamentos quanto da organização social”. (FACCIOLI apud

HASWANI, 2013, p. 133).

Haswani (2013) menciona que autores como Arena, Rolando, Faccioli e Mancini

chamam essa modalidade de comunicação de “comunicação de serviço”. Descrita por

Haswani (2014) como aquela que informa aos cidadãos sobre o funcionamento da

organização pública, dos serviços que presta às normas que se aplicam à mesma.

De fato, essa comunicação, também chamada de comunicação de utilidade pública,

caracteriza-se pela específica dimensão de “serviço” que subtende (sic) a articulação

dessa dimensão [...] Entram novamente nessa dimensão todos aqueles instrumentos

informativos que cada administração pode predispor para orientar melhor o cidadão

no labirinto dos serviços, como uma sinalização clara, os guias de serviços, os

números de telefones úteis, os totens, os sites, os vídeos etc. (HASWANI, 2013, p.

146).

É nesse contexto, no qual a comunicação pública e a comunicação política se

encontram, que aparece o trabalho realizado pela AI de um órgão governamental. De acordo

com Kopplin e Ferraretto (2001), a AI de uma organização pública é responsável pela

transparência na relação entre a instituição e os cidadãos, enfatizando que o político

representa a população, está a serviço dela. Nesse sentido, Eid (2003, p. 1) afirma que

“assessoria de imprensa não é mera ferramenta de promoção do prefeito, do governador, do

presidente da República [...]. É um serviço do Estado e da sociedade, que também atende aos

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gabinetes”. O autor defende que a AI governamental deve contribuir com a sociedade,

levando ao cidadão informações de seu interesse.

Notícias sobre o acesso e utilização de serviços nas áreas da saúde, educação,

segurança e utilidade pública em geral são temas imprescindíveis na rotina do

trabalho. Informação com conteúdo político também interessa à sociedade e,

conseqüentemente, aos jornalistas e veículos de comunicação. Assim, é desejável

que a assessoria de imprensa atue nesse campo, informando corretamente a imprensa

sobre temas como a substituição de secretários de Estado ou a posição da autoridade

com relação a um grande tema político nacional, regional ou mundial. (EID, 2003, p.

5).

Faria (2003) complementa Eid, quando atribui ao assessor de imprensa o papel de

conhecer e interpretar as características da organização na qual trabalha, ações que o

transformam em uma valiosa fonte de informação para os jornalistas que atuam nos veículos

de comunicação. Como destaca Chinem (2003, p. 28) “o bom assessor de imprensa deve

contribuir para que a informação possa chegar ao público, seja ela boa ou desfavorável para a

corporação ou entidade que representa”. Eid (2003, p. 7) completa a colocação de Chinem ao

dizer que “a imprensa deve identificar na assessoria uma fonte segura para informações

políticas corretas”.

Ainda de acordo com Eid (2003), a AI de um órgão governamental deve sempre

explorar pautas de interesse público, tais como campanhas de vacinação; funcionamento de

serviços públicos; matrículas em escolas; datas de vencimento de taxas e impostos;

comunicados especiais sobre ações, providências e serviços do governo em feriados. Essas

informações interessam a todos os veículos de comunicação que, ao divulgá-las, prestam um

serviço para a população. Eid (2003, p. 14) destaca ainda que a AI da organização do governo

deve dispor de alguns dados indispensáveis:

Dados econômicos completos — PIB do Estado ou da cidade [...];

Número de empresas instaladas no Estado ou cidade;

Valores do comércio interestadual (compra e venda) e do comércio exterior

(exportações e importações).

Arrecadação dos principais impostos (ICMS e IPVA, os Estados, e ISS e IPTU,

nos municípios). População (número de habitantes, mulheres, homens, crianças, índice de

crescimento anual e densidade demográfica). Itens que compõem o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) [...]. Dados geográficos, como área do Estado ou município, clima, fronteiras,

recursos hídricos e naturais. Atrações turísticas em geral e relação de parques, museus, teatros e áreas de

passeio administrados pelo governo cliente.

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Informações precisas sobre os principais serviços públicos, como hospitais,

postos de saúde, delegacias de polícia, escolas, matrículas escolares, vacinação

no dia-a-dia fora das campanhas e obtenção de documentos. Informações atualizadas sobre todas as secretarias e organismos governamentais,

incluindo os nomes dos titulares.

Uma AI de imprensa que tenha esses dados atualizados e organizados consegue

atender de forma mais eficiente a mídia. Além dessas informações, Eid (2003) pontua também

a importância da AI de um órgão do governo prestar atenção às características de cada veículo

de comunicação, atendendo-os de forma específica e criando materiais que correspondam às

particularidades de cada um deles.

A relação entre AI e veículos de comunicação é determinante para o resultado final da

comunicação social. É a partir do contato entre assessor de imprensa e repórter que surgem

muitas das notícias que são vistas na TV, ouvidas no rádio, ou lidas nos jornais e na internet.

4.2 ASSESSORIA DE IMPRENSA E JORNALISMO

Como já foi descrito no primeiro capítulo desta pesquisa, foi na ditadura militar

surgida em 1964 que as relações públicas ganharam força no cenário da comunicação no

Brasil. A censura à mídia imposta pelo governo ao mesmo tempo abriu as portas para as AIs,

que se desenvolveram nas organizações governamentais e privadas. De acordo com Mafei

(2012), naquele período, os assessores de imprensa do governo recebiam altos salários e

benefícios, o que os fazia dificultar a obtenção de informações que não convinham ao governo

divulgar.

A mesma autora explica que essa assessoria de imprensa mal praticada fez os

profissionais da área serem vistos como defensores dos interesses de seus assessorados,

enquanto os jornalistas de redação trabalhavam para a população, embora muitos jornalistas

desempenhassem tanto a função de repórter nos veículos de comunicação quanto de assessor

de imprensa de instituições públicas e privadas.

Mafei (2012, p. 36) explica que “a fundação da Aberje (Associação Brasileira de

Comunicação Empresarial), em 1967, contribuiu de maneira decisiva para a

profissionalização da comunicação no país”. Chinem (2003) complementa a informação de

Mafei, afirmando que, no final dos anos 1970, as organizações perceberam que o campo da

comunicação ficava cada vez mais complexo, fazendo do assessor de imprensa uma figura

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praticamente indispensável, situação que também contribuiu para a profissionalização da

prática de AI.

A partir do momento em que os assessores se mostraram cada vez mais “afinados”

com o conceito de notícia e com a crescente migração dos jornalistas da grande

imprensa para as agências de comunicação, o relacionamento de conflito e

preconceito entre ambos, embora persista até hoje, foi bastante amenizado. (MAFEI,

2012, p. 39).

Essa profissionalização das AIs, aliada ao conhecimento jornalístico trazido pelos

jornalistas que passaram a atuar na área, transformou as AIs em “[...] um porto seguro para

redações, com alta capacidade de atender a demandas e de fornecer informações adaptadas

aos interesses dos veículos de comunicação e da própria organização”. (DUARTE, 2003, p.

22). Como pontua Chinem (2003, p. 63) “as Assessorias de Imprensa geram as notícias que

vêm das empresas”. Os jornalistas que atuam em uma AI fazem um trabalho semelhante ao

dos repórteres. Eles também detectam e elaboram notícias. Chinem (2003, p. 13), demonstra

bem a similaridade entre o trabalho desenvolvido nas AIs e o jornalismo praticado em

veículos de comunicação:

Pensando em termos mais amplos, o profissional de Assessoria de Imprensa é um

intermediário entre as informações disponíveis em uma organização e os diversos

públicos que ela atinge, realizando dessa forma, tarefas tão importantes e complexas

quanto a dos colegas jornalistas atuantes nos veículos de comunicação. (p.13).

Nesse sentido, Mafei (2012, p. 25) defende que “o bom assessor tem muito de um bom

repórter. Apura criteriosamente informações sobre o assessorado, busca dados que compõem

uma notícia, procura fontes confiáveis [...].” Vilella (1998, p. 54), observa que as

características citadas por Mafei são utilizadas pelo assessor de imprensa AI em sua busca

para “[...] ocupar permanentemente os espaços da mídia com informações positivas sobre a

organização, aprimorar o relacionamento com a sociedade e utilizar meios eficientes para a

captação e distribuição de notícias”.

Para Chinem (2003), os jornalistas de veículos de comunicação sempre desejam

receber notícias com exclusividade para serem apuradas. O repórter sempre está atrás de

informações de interesse público, oriundas de fontes seguras. O autor explica que os

assessores de imprensa devem trabalhar visando a atender essas características dos jornalistas

de redação, fornecendo-lhes informações que despertem seu interesse e possam se transformar

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em notícia. Para ele, o profissional de AI deve ter em mente que “[...] a imprensa está apenas

servindo de ponte para a sociedade, e o que ela faz é veicular uma informação para um

número maior de pessoas, essa é sua função”. (CHINEM, 2003, p. 98).

Nesse sentido, de acordo com Mafei (2012), assessores e jornalistas que atuam na

imprensa estabelecem um vínculo que beneficia ambos, já que os dois objetivam divulgar

informações corretas e de relevância para as pessoas. O assessor de imprensa de uma

organização sugere pautas para os veículos de comunicação por meio de envio de releases,

assim como organiza coletivas de imprensa, com o intuito de aproximar o repórter do

assessorado. Algumas vezes, segundo Vilella (1998, p. 55), “[...] o assessor assume o papel de

porta-voz, por isso ele também deve estar preparado para falar integralmente em nome de

quem representa”.

O assessor de imprensa, de acordo com Mafei (2012), de uma organização deve

compreender que construir um vínculo com a imprensa vai muito além de saber o que é uma

notícia e utilizar a linguagem jornalística em seus releases.

[...] acredito que o melhor caminho para uma prática eficiente de assessoria de

imprensa seja o de construir relacionamentos éticos e sólidos co os jornalistas.

Convenhamos, ninguém consegue isso por meio de um texto enviado

indiscriminadamente para centenas de profissionais nos veículos de comunicação!

(MAFEI, 2012, p. 79).

Caldas (2003) destaca que a relação entre assessor de imprensa e repórter é marcada

por exigências de ambos, enquanto o repórter espera ser atendido com agilidade e precisão

pelo assessor de imprensa, este algumas vezes se depara com jornalistas despreparados.

Segundo a autora, para que haja uma boa comunicação entre assessor e jornalista de redação,

ambos devem seguir alguns princípios básicos. Para ela, o jornalista deve ter conhecimento

básico sobre a pauta que está apurando; estar a par das notícias divulgadas nos veículos de

comunicação; não ser arrogante com o assessor; compreender os limites de trabalho do

mesmo; ter disposição para checar as informações obtidas; não exigir privilégios no

atendimento; ver o assessor como um parceiro, que o auxilia na obtenção das informações,

mas compreender que o critério de escolha das notícias é seu.

Já o assessor de imprensa, ainda de acordo com Caldas (2003), deve ser transparente

com a imprensa; jamais sonegar informações; facilitar o acesso do jornalista às informações;

mediar as relações entre assessorado e imprensa; ter um “faro” apurado para identificar

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possíveis notícias; valorizar o papel do jornalista, sem bajulá-lo; enviar releases de forma

inteligente, preparar as fontes para entrevistas; ter conhecimento sobre as rotinas dos veículos

de comunicação, retornar de forma eficiente e rápida os pedidos de informações dos

jornalistas; não pedir para ler matérias antes de sua publicação; não privilegiar veículos de

comunicação nacionais em detrimento dos locais e regionais.

Com assessores e jornalistas de veículos de comunicação seguindo esses preceitos

básicos, a relação entre eles se torna mais clara e simples de administrar. Adotando esse

comportamento, profissionais de AI e repórteres também conferem valor ético ao seu

trabalho.

A assessoria de imprensa, como canal entre mídia e os sistemas sociais geradores de

informação, não pode prescindir da credibilidade, valor fundamental ao

cumprimento de seu papel na sociedade contemporânea. Ao comprometer a

credibilidade, as assessorias perdem a legitimidade como interlocutores de uma

empresa ou organização. (VIVEIROS; EID, 2007, p. 27).

Segundo Chinem (2003, p. 28) o assessor de imprensa deve ter em mente que “[...] é

um profissional da comunicação e, como tal, precisa se preocupar em informar corretamente o

público”. Vilella (1998) ressalta que o assessor de imprensa nunca deve evitar a imprensa,

especialmente quando existir algo negativo sobre a organização que representa. Para a autora,

é dever da AI de imprensa atender o jornalista. Muitas vezes, um posicionamento honesto por

parte do assessor sobre um problema ocorrido na organização pode evitar uma polêmica, ou

pelo menos minimizar os prejuízos à imagem da mesma.

O papel da assessoria de imprensa não é o de censurar, esconder, omitir ou

"maquiar" a informação, por mais grave que ela seja, mas, ao contrário, de orientar

para o compromisso com a verdade, para o respeito à sociedade e para a importância

no exercício ético da comunicação. (VIVEIROS; EID, 2007, p. 68).

De acordo com Viveiros e Eid (2007, p. 27), existe ainda uma regra fundamental: “o

contrato de prestação de serviços de assessoria de imprensa [...] não pode conter quaisquer

práticas que, mesmo legais, sejam antiéticas, como a tentativa de cooptação pecuniária de

jornalistas, prática de mentiras ou tráfico de influência”. Kopplin e Ferraretto (2001)

corroboram com Viveiros e Eid, defendendo que uma conduta ética também legitima o

trabalho desenvolvido pelos comunicadores, aumentando as chances de profissionais íntegros

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serem contratados e atuarem no campo da comunicação, desempenhando um papel

fundamental na construção de uma sociedade verdadeiramente justa.

O compromisso que os profissionais de comunicação possuem com a ética é um dos

temas dessa pesquisa. Um estudo sobre os conceitos de ética e moral, assim como a análise da

importância de ambos na comunicação social, serão realizados no próximo capítulo desse

trabalho, com o intuito de fornecer subsídios para a compreensão das hipóteses levantadas

nessa pesquisa.

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5 ÉTICA NA COMUNICAÇÃO

Plaisance (2011, p. 24-25) define ética como “[...] uma forma de investigação que se

preocupa com o processo de encontrar justificações racionais para as nossas ações quando os

valores que defendemos entram em conflito”. Partindo dessa concepção, a ética seria um

autoquestionamento sobre as decisões que tomamos e dos motivos que nos levam a tomá-las.

Valls (2003) corrobora com Plaisance, dizendo que a ética pode ser classificada como um

estudo dos costumes, dos tipos de comportamento do homem.

A palavra ética deriva do grego ethos, que, grosso modo, refere-se aos costumes.

Numa breve recuperação etimológica do termo, Marilena Chauí, professora de

filosofia da Universidade de São Paulo, abre um pouco mais o conceito, de modo a

deixar bem clara a dupla face do comportamento ético, uma individual e outra

social. (BUCCI, 2000, p. 15).

Segundo Plaisance (2011), a ética tem origem nas obras de filósofos gregos, como

Aristóteles e Epíteto, que buscavam descobrir a natureza da bondade. Valls (2003), explica

que, para Platão, o ideal ético estaria na busca pela prática da ideia do “Bem”, que seria

alcançado por meio da contemplação filosófica e da virtude como ordem universal. O autor

também ressalta a concepção de Aristóteles sobre o ideal ético, que se baseava na busca pela

felicidade, por meio de uma vida virtuosa, na qual as vontades do homem fossem exaltadas,

ou seja, o homem procuraria desenvolver bons hábitos usando sua razão.

Ainda de acordo com Valls (2003), a ética do filósofo grego Sócrates era baseada na

convicção pessoal, deixando em segundo plano tanto os costumes adotados pela sociedade

quanto as leis exteriores existentes. Segundo ele, Sócrates defendia a consulta a si próprio

como tentativa de compreender a justiça das leis, pensamento que o levou a ser chamado de

“fundador da moral” muitos séculos depois.

Cabe aqui ressaltarmos a diferença entre moral e ética. Segundo Plaisance (2011, p.

25), a ética “[...] se refere aos nossos esforços para articular razões para, em determinados

dilemas, atribuirmos um peso maior para algumas afirmações morais em relação a outras”.

Valls (2003) atribui à reflexão ética o papel de questionar se o homem pode, de fato, ser

culpado, ou se o que existe não passa de uma sensação de mal-estar sem sentido algum. Em

relação à moral, Costa (2009, p. 19-20) oferece uma explicação sucinta:

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O termo “moral” vem do latim moralis, moris, e ambas as expressões querem dizer

"costume". Se a ética é considerada a moral dos filósofos — ou a filosofia moral —

e é vista mais como a execução da filosofia prática, lá onde a moral estaria suspensa

num mundo de normas nunca plenamente realizáveis — a moral passou a ser

percebida como um sistema de regras comuns. A ética então se colou à aplicação das

regras a cada individualidade.

Moral, para Plaisance (2011, p. 25), “[...] refere-se de um modo geral a um conjunto

de crenças que adotamos para nos ajudar a entender o que é bom e o que é mau no mundo em

que vivemos”. Os dois autores se referem à moral como um conjunto de regras, ou crenças, a

serem seguidos pelos indivíduos na busca pela decisão mais acertada em diversas situações

distintas. Para esclarecer ainda mais a diferença entre moral e ética, Costa (2009) explica que

a ética pode ser associada à questão particular, privada, enquanto a moral diz respeito à

questão pública, universal. Para ele “ambos os conceitos andam juntos e um não vive sem o

outro”, (p. 20). Chagas (2003) pontua que a moral, diferentemente da ética, varia de acordo

com o tempo e com as questões geográficas, pois o conjunto de regras morais que as pessoas

seguem é diferente de uma cultura para a outra e de uma época para a outra.

De acordo com o Valls (2003, p. 45), o pensador iluminista alemão Immanuel Kant,

via o ideal ético como “[...] o ideal da autonomia individual. O homem racional, autônomo,

autodeterminado, aquele que age segundo a razão e a liberdade, eis o critério da moralidade”.

Conforme Plaisance (2011), Kant chamava de “ação moral” o exercício que o homem faz ao

se questionar quando suas decisões podem atingir um status universal, ou seja, ser uma

decisão que poderia se transformar em um padrão de comportamento. De acordo com o autor,

Kant pregava que todos devem ter uma “obrigação moral universal”, condição que nos faria

tratar “[...] os indivíduos como fins em si mesmos e nunca exclusivamente como meios para

realizar outros objetivos ou desejos que possamos ter”.

A filosofia de Kant encontrou nas ideias do pensador John Stuart Mill um contraponto.

Segundo Plaisance (2011), Mill, em sua concepção utilitarista, defendia que o valor moral de

uma ação deveria ser medido pelas consequências que esta traria, derrubando o senso de

obrigação moral criado por Kant. Em outras palavras, Mill acreditava que o indivíduo deve

optar por uma atitude que traga a maior quantidade de benefícios para o maior número de

pessoas possível.

Existem ainda outros pensadores que abordaram as questões éticas e morais na

sociedade, como Karl Marx, Georg Hegel, Habermas e Kierkegaard, mas essa pesquisa não

possui como finalidade estudar a questão filosófica desses conceitos em toda a sua amplitude.

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Partindo das concepções de ética e moral já apresentadas, é possível entrar no campo das

concepções de ideologia ética.

O modo geral como você acredita que o mundo funciona — a sua concepção

ideológica do mundo — determina a forma como provavelmente você abordará e

tentará resolver os problemas éticos. A sua ideologia ética está grande parte baseada

em dois fatores:

Idealismo: a medida na qual você acredita que obtém os melhores resultados nas

situações em que os objetivos humanitários gerais orientam suas ações.

Relativismo: a medida na qual você endossa uma abordagem individualista — você

rejeita a possibilidade da existência de padrões morais universais que podem ajudar

a resolver todas as questões éticas. (PLAISANCE, 2011, p. 35).

As medidas que possuímos dessas ideologias, segundo Plaisance (2011), são o

propulsor do nosso raciocínio ético. Para o autor, nós utilizamos o idealismo e relativismo

para resolver dilemas éticos, nos quais se encontram questões como “os fins justificam os

meios?” ou ainda “devemos sempre julgar uma intenção a partir de sua consequência?”. Para

o autor, a história da ética é “[...] uma história do desenvolvimento de duas linhas centrais do

pensamento: uma enfatiza os nossos deveres fundamentais para com os outros, e outra que se

esforça para justificar as decisões baseadas nos efeitos que nossas ações têm sobre os outros”.

Didaticamente, costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois campos:

num, os problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência, bem, valor,

lei e outros); e no segundo, os problemas específicos, de aplicação concreta, como

os problemas de ética profissional, de ética política, de ética sexual, de ética

matrimonial, de bioética etc. (VALLS, 2003, p. 8).

Os questionamentos éticos, presentes nas mais variadas instâncias da vida humana,

consequentemente também estão presentes no campo da comunicação social. Segundo Chagas

(2003, p. 211) o jornalista tem o compromisso de “[...] informar amplamente a sociedade de

tudo o que se passa nela. De bom e de mau. De certo e de errado. De ódio e de amor. Porque

será apenas assim que a sociedade terá condições de se aprimorar”. Como explica Plaisance

(2011, p. 45) “a ética exige que associemos o nível micro (qual é a melhor decisão em

resposta a uma questão isolada) ao nível macro (de que forma essa decisão pode ajudar a

promover ou a refletir uma missão ou obrigação mais ampla da comunicação)”.

O jornalismo tem a função de transmitir informações para as pessoas, conteúdos que

proporcionam a esses receptores uma base para seu desenvolvimento como indivíduo e

cidadão. Por isso os questionamentos éticos são tão importantes para o jornalista, pois ele

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carrega a responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento do público que recebe suas

notícias.

Processos comunicativos conscientes e responsáveis constituirão uma base

imprescindível para as novas formas de cidadania, garantirão a fluidez e a

velocidade dos processos relacionais, permitindo ao indivíduo conectar-se à

sociedade, tecer laços sociais, não ditados mais pela tradição e pela pertença, mas

pela gestão eletiva das próprias interações sociais. (SOLITO, 2005, p. 198-199).

De acordo com Christofoletti (2008, p. 11), “[...] jornalismo é uma atividade humana,

que se planta e se espalha na relação entre os humanos. A ética é algo que só existe nesse

entremeio, na distância entre as pessoas”. Para o autor, não basta apenas conhecer o

jornalismo, é necessário refletir sobre a forma como ele é praticado e essa reflexão se estende

a toda sociedade. Bucci (2000) complementa o pensamento de Christofoletti ao pontuar que

A ética do jornalismo não trata originalmente de premissas institucionais (embora as

pressuponha), mas lida com o campo abrangido pelas decisões individuais dos

jornalistas. E isso não se pode perder de vista quando se quer compreender como os

preceitos foram estabelecidos. Mais que um rol de normas práticas, a ética

jornalística é um sistema com uma lógica própria. Não é um receituário; é antes um

modo de pensar que, aplicado ao jornalismo, dá forma aos impasses que requerem

decisões individuais e sugere equações para resolvê-los. (BUCCI, 2000, p. 14-15).

O jornalismo, para Bucci (2000), é um triunfo da ética, um dos grandes representantes

da democracia moderna, e assumiu o papel de construtor da cidadania na sociedade. Para o

autor, no processo democrático, cabe à imprensa “informar a todos sem privilegiar os mais

abastados e também dar voz às diversas correntes de opinião”. (BUCCI, 2000, p. 12). Em seu

trabalho de noticiar, o jornalista não pode esquecer-se das responsabilidades éticas que regem

sua profissão, pois, para um jornalista, “abandonar o compromisso com a verdade não é um

deslize, é uma falha grave”. (CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 11). Bucci (2000) concorda com

Christofoletti quanto ao compromisso que o jornalista possui para com a verdade, e ainda

acrescenta a defesa da liberdade, da justiça, da pluralidade de opiniões, além da vigilância dos

atos do governo, à lista de deveres dos jornalistas.

Para Pena (2005), a conduta ética nada mais é do que a interpretação sobre uma

determinada atitude, e essa está sujeita a diversas interpretações, já que está inserida em uma

complexa rede de conexões. O autor cita a definição de ética no jornalismo, desenvolvida por

Cláudio Abramo, como uma das mais criativas no âmbito da comunicação: Sou jornalista,

mas gosto mesmo é de marcenaria. Gosto de fazer móveis, cadeiras e minha ética como

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marceneiro é igual à minha ética como jornalista — não tenho duas. Não existe uma ética

específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão. (p. 114).

Cada situação vivida pelo jornalista está inserida em um contexto próprio, que oferece

uma gama de possibilidades, cada uma conduzindo a consequências distintas. Cabe ao

jornalista, com base em suas convicções, refletir sobre qual atitude lhe parece ser a melhor em

cada situação.

A conduta ética é fruto da decisão do agente - é por ter racionalidade e liberdade, ou

por ter o "livre-arbítrio", como prega a tradição cristã, que ele é o senhor de seus

atos - mas essa decisão individual tem lugar na sociedade. O agente goza de

autonomia e, ao mesmo tempo, está atado aos valores sociais que lhe são exteriores,

isto é, que representam para ele uma heteronomia. A busca pelo bom e pelo justo -

que, embora sejam conceitos cujos sentidos comportam variações entre os gregos,

assim como o conceito de virtude, unificam o pensamento clássico sobre a

finalidade da conduta ética - é portanto um objetivo simultaneamente individual e

social. Cada um, agindo eticamente, constrói o próprio caráter em direção à virtude;

no mesmo movimento, constrói o bem comum tal como ele é entendido em sua

comunidade. (BUCCI, 2000, p. 16).

De acordo com Bucci (2000) o dilema ético no jornalismo vai muito além da mera

escolha entre o que parece ser certo ou errado. Para ele “o dilema ético típico dentro do

campo jornalístico é aquele que opõe um valor justo e bom a outro valor que, de início,

apresenta-se como igualmente justo e bom”. (p. 21). Os valores adotados pelo jornalista no

desempenho de sua função definem o quão confiável será o seu trabalho para o público

receptor. Para Plaisance (2013), todos os profissionais da comunicação almejam obter

credibilidade perante o público e a conquistam se forem honestos, transparentes, respeitosos,

minimizarem os danos e prestarem um serviço à sociedade.

Essa credibilidade, segundo Bucci (2000, p. 65), “[...] é produzida com qualidade

editorial, que pressupõe conhecer o leitor, atender suas necessidades e antecipar-se a elas,

fazer valer seus direitos, defendê-lo, informá-lo com exclusividade e em primeira mão [...]”.

Ainda de acordo com o autor, o jornalismo se reporta “[...] ao homem comum, cujos direitos o

autorizam a receber informações objetivas, apuradas e editadas tendo e vista o seu interesse de

cidadão consumidor — e nenhum outro”. (p. 63).

É preciso saber que o direito de ser informado inclui o direito de saber como se é

informado, o direito de opinar sobre os métodos e de optar entre um veículo e outro

com base nisso. Mais ainda: o cidadão tem preparo suficiente para tomar partido em

relação a dilemas éticos e também técnicos do jornalismo. (BUCCI, 2000, p. 47).

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Os códigos de ética existentes no âmbito do jornalismo ajudam a orientar os

profissionais, apontando valores ajudam a conservar sua credibilidade enquanto

comunicadores. Conforme Plaisance (2013, p. 51), os códigos de ética dos profissionais de

comunicação ressaltam a “[...] honestidade, a transparência, o respeito, a minimização de

danos e a prestação de serviço ao público, entre outros”. O Código de Ética dos Jornalistas

Brasileiros, que vigora há 20 anos e foi atualizado em 2007, traz os valores éticos que servem

de base para a boa prática do jornalismo. Entre os valores presentes no código podem ser

destacados:

A divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação.

A produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos

fatos e ter por finalidade o interesse público.

A liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo,

implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão.

A prestação de informações pelas organizações públicas e privadas, incluindo as

não governamentais, é uma obrigação social.

Respeitar o direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas.

O jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde que seu

trabalho não tenha sido alterado por terceiros.

A opinião manifestada em meios de informação deve ser exercida com

responsabilidade.2

De acordo com Plaisance (2013) um dos valores-chave na ética jornalística é o

compromisso que jornalista tem com a verdade, valor definido por Barros Filho (1995, p. 38)

como “[...] uma norma que garante o desenvolvimento do processo comunicativo entre o

codificador e o decodificador”. Bucci (2000, p. 30) pontua que “[...] ao jornalismo cabe

perseguir a verdade dos fatos para bem informar o público [...]”. Lage (2006) situa a noção de

verdade no jornalismo atrelando-a ela à notícia. Para o autor, tecnicamente falando, a notícia

não é avaliada “[...] por seu conteúdo moral, ético ou político; o que importa é se de fato

aconteceu aquilo ou, no caso de uma entrevista, se o entrevistado disse realmente aquilo”. (p.

27). O autor também adverte que, além de ser verdadeira, a informação precisa parecer

verdadeira ao leitor, criando um efeito de realidade. Para ele, o jornalista confere essa

condição à notícia atribuindo a ela referências precisas.

Conforme Kovach e Rosenstiel (2004, p. 81) o jornalista, na intenção de informar a

verdade, faz a verificação do fato, procedimento que deve seguir os seguintes princípios: “1.

2 O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros pode ser encontrado na íntegra no site da Federação Nacional dos Jornalistas, no endereço

www.fenaj.org.

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Nunca acrescente nada que não estivesse lá; 2. Nunca engane o público. 3. Seja o mais

transparente possível sobre os seus métodos e motivos; 4. Confie no seu próprio estilo de

relato; 5. Seja humilde”. Para Bucci (2000), o jornalista que dispõe de uma informação que

não foi checada possui apenas uma pista de notícia e, ao publicá-la, assume o risco de ter que

corrigi-la depois, prática que pode levar a uma distorção dos fatos.

Há alguns ensaios básicos, com as diferentes normas de jornalismo, os códigos de

imprensa etc., que procuram responder à questão relativa às normas que devem guiar

o trabalho do jornalista. Todos esses princípios profissionais exigem que o jornalista

respeite a verdade, informe cuidadosa e confiavelmente o público, verificando a

fonte das notícias e corrigindo as informações errôneas. (KUNCZIK, 1997, p. 109).

Para Pieper apud Barros Filho (1995, p. 39), “a verdade é algo segundo, subordinado.

Não existe uma verdade por si só”. Com isso, o autor ilustra que a verdade é um atributo

inexistente por si só no âmbito da comunicação, por se tratar apenas da exibição discursiva do

que se apresenta na realidade. Desse modo, o jornalista transmite a descrição de um fato na

notícia e essa descrição já não é mais a verdade em si mesma, pois passou pelos critérios do

repórter.

Traquina (2004) cita o jornalista José Pedro Castanheira, que afirmou: “sabemos que a

verdade é um valor intangível; que não há uma verdade absoluta; que muitas vezes a Verdade,

em caixa alta, é composta de muitas verdades em caixa baixa”. (CASTANHEIRA apud

TRAQUINA, 2004, p. 134). Segundo Costa (2009) o jornalista não conseguirá transmitir a

verdade propriamente dita, pois, essencialmente, ele realiza a representação de uma

representação. Bucci (2000) complementa o pensamento de Costa sobre a verdade na notícia.

A verdade dos fatos é sempre uma versão dos fatos. O relato, qualquer que seja ele,

é um discurso e, como tal, é inevitavelmente ideológico: mesmo quando sincera e

declaradamente não opiniativo, o relato jornalístico é encadeado segundo valores

que obrigatoriamente definem aquilo que se descreve. (BUCCI, 2000, p. 51).

Barros Filho (1995, p.50) complementa Bucci ao dizer que “a notícia é um produto real

[...] que faz referência a algo exterior a ela [...]. O texto jornalístico [...] é um “referente”.

Assim, todo texto informativo “se refere” a um fato sem ser o próprio fato, daí sua dimensão

ficcional”.

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Atrelado à verdade está o conceito de objetividade jornalística. Segundo Traquina

(2004), a objetividade no jornalismo surgiu no início do século XX, em um cenário no qual o

sistema democrático passou por crises profundas, com o surgimento de regimes fascistas e

governos autocratas. O autor, embasado nos estudos de Schudson (1978), explica que a

comunidade jornalística acabou perdendo a fé nos fatos principalmente por causa da

propaganda realizada na Primeira Guerra Mundial e do surgimento da atividade de relações

públicas.

Ainda de acordo com Traquina (2004), esses dois fatores geraram na comunidade

jornalística uma desconfiança quanto à transmissão de informações que possuíam um

compromisso com a realidade, crença que levou os jornalistas a adotarem a objetividade como

uma tentativa de legitimar seu trabalho. Pena (2005) situa o surgimento da objetividade no

jornalismo.

A objetividade, então, surge porque há uma percepção de que os fatos são

subjetivos, ou seja, construídos a partir da mediação de um indivíduo, que tem

preconceitos, ideologias, carências, interesses pessoais ou organizacionais e outras

idiossincrasias. E como estas não deixarão de existir, vamos tratar de amenizar sua

influência no relato dos acontecimentos. Vamos criar uma metodologia de trabalho.

(PENA, 2005, p. 139).

Traquina (2005) traz o conceito de Tuchman (1993), que identificou quatro

procedimentos que regem a objetividade jornalística: 1) O jornalista deve apresentar os

diversos lados de um fato, por meio da consulta e citação de fontes; 2) Apresentação de

provas auxiliares (fatos complementares) que corroborem com a afirmação de um fato; 3) O

uso de aspas para explicitar as opiniões das fontes da notícia, conferindo ao jornalista a

função de retransmitir o que alguém disse; 4) Estruturar a notícia em uma forma apropriada,

com o uso do lead e da pirâmide invertida.

Kunczik (1997) oferece a definição da notícia objetiva criada por Schneider como

complemento à objetividade jornalística traçada por Tuchman. Para o autor, a notícia objetiva

é aquela que: “1. distingue entre opinião e notícia; 2. fica com os fatos, os quais: 3. não muda,

não suprime e não publica “de favor”; 4 cada notícia deverá conter um mínimo de equilíbrio”.

(SCHNEIDER apud KUNCZIK, 1997, p. 231).

De acordo com Barros Filho (1995), segundo Westerstahl (1983), a objetividade

informativa é composta pela fatualidade e pela imparcialidade. Para descrever a fatualidade,

autor se baseia na análise de MacQuail, que atribui a ela três características:

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“a clara separação entre fatos e opiniões, interpretações ou comentários,

mencionando as referências, nomeando as fontes e evitando abstrações e

ambiguidades; correspondência entre reportagem e realidade (accuracy),

especialmente em questões de fato ou quantidade (números, lugares, nomes,

atribuições, horários etc.); o número mínimo de informações relevantes para que a

mensagem seja compreensível (completeness)”. (MCQUAIL apud BARROS

FILHO, 1995, p. 40).

Ainda de acordo com Barros Filho (1995), não é recomendável reduzir a

imparcialidade à mera coleta das várias versões que um fato compreende. Ele explica, citando

o pensamento de Yarce, que o pluralismo na imprensa, característica básica da

imparcialidade:

“não corresponde a um balanço aritmético de conteúdos informativos ou de opinião,

em que todas as opções políticas e ideológicas têm uma quota proporcional de

positivo/negativo, normal sensacional. [...] É algo mais amplo: pensando na enorme

variedade de leitores e no conjunto social, onde há tantos matizes diferentes, trata-se

de tentar refletir a verdade”. (YARCE apud BARROS FILHO, 1995, p. 43).

De acordo com Barros Filho (1995), a aplicação desses procedimentos transformaria o

jornalista em um espelho que reflete a realidade. Para o autor “[...] o uso de técnicas precisas

de descrição do real, ao retirar do jornalista parte de seu poder de manobra como codificador,

retira-lhe também parte de sua responsabilidade”. (BARROS FILHO, 1995, p. 25). Assim,

conforme Traquina (2004, p. 141), utilizando a concepção de Phillips, “[...] a objetividade

evita a necessidade de os jornalistas escolherem entre reivindicações da verdade

contraditórias”. Como explica Bucci (2000, p. 92), “na prática, o jornalismo sabe,

objetividade é redondamente impossível. Também na prática, contudo, todos continuam

acreditando nela — e ela está no fundamento do pacto de confiança que a imprensa mantém

com a sociedade”.

Traquina (2004, p. 143) completa o raciocínio de Bucci, afirmando que “[...] a própria

sociedade, com base na aceitação consensual da teoria democrática, influencia fortemente a

definição da postura profissional dos membros dessa comunidade”. De acordo com o autor,

para a maioria dos cidadãos, o jornalismo aparece atrelado ao conceito de objetividade.

A única resposta possível é subjetiva: a objetividade depende de quem for o

jornalista e de qual for a história a ser investigada e contada. A melhor objetividade

no jornalismo é então uma justa, transparente e equilibrada apresentação da

intersubjetividade. Quando o jornalismo busca objetividade, está buscando

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estabelecer um campo intersubjetivo crítico entre os agentes que aí atuam: os

sujeitos que produzem o fato os que o observam e reportam, e os que tomam

conhecimento do fato por meio do relato. (BUCCI, 2000, p. 93-94).

Pena (2005) pontua que a sociedade confunde a objetividade do método empregado

pelo jornalista com a objetividade do próprio jornalista, profissional que jamais deixará de ser

subjetivo. Além disso, ainda de acordo com o autor, a sociedade confunde texto com discurso.

Para uma compreensão de discurso é preciso primeiro entender o conceito de enunciado. De

acordo com Bakhtin (1997, p. 277) “a utilização da língua efetua-se em forma de enunciados

(orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da

atividade humana”. Para o autor, “o enunciado reflete as condições específicas e as

finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo

verbal [...], mas também, e, sobretudo, por sua construção composicional”. (p. 277).

Para Foucault (1987, p. 135), o enunciado “[...] pertence a uma formação discursiva,

como uma frase pertence a um texto, e uma proposição a um conjunto dedutivo”. Partindo

dessa premissa, é possível definir discurso como um conjunto de enunciados que fazem parte

da mesma formação discursiva.

A lei dos enunciados e o fato de pertencerem à formação discursiva constituem uma

e única mesma coisa; o que não é paradoxal, já que a formação discursiva se

caracteriza não por princípios de construção, mas por uma dispersão de fato, já que

ela é para os enunciados não uma condição de possibilidades, mas uma lei de

coexistência, e já que os enunciados, troca, não são elementos intercambiáveis, mas

conjuntos caracterizados por sua modalidade de existência. (FOUCAULT, 1987, p.

135).

Bakhtin (1997), citando a inesgotável variedade de atividades humanas, destaca que a

variedade de gêneros do discurso existentes pode ser considerada infinita. O autor cita a carta,

a ordem militar, as declarações públicas, os documentos oficiais, as diferentes formas de

exposição científicas e os gêneros literários como exemplos de discursos existentes. Partindo

da concepção de Bakhtin, os gêneros jornalísticos também podem ser classificados como

formas de discurso.

Segundo Foucault (2012), existe um fator de extrema importância quando o assunto é

discurso: o autor. Para ele, “[...] na ordem do discurso científico, a atribuição a um autor era,

na Idade Média, indispensável, pois era um indicador de verdade. Uma proposição era

considerada como recebendo de seu autor seu valor científico”. (p. 26). Ainda de acordo com

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Foucault (2012, p. 26) o autor, no âmbito da literatura, “[...] é aquele que dá à inquietante

linguagem da ficção suas unidades, seus nós de coerência, sua inserção no real”.

Seria absurdo negar, é claro, a existência do indivíduo que escreve e inventa. Mas

penso que — ao menos desde certa época — o indivíduo que se põe a escrever um

texto no horizonte do qual paira uma obra possível retoma por sua conta a função do

autor: aquilo que ele escreve e o que não escreve, aquilo que desenha, mesmo a

título de rascunho provisório, como esboço da obra, e o que deixa, vai cair como

conversas cotidianas. Todo este jogo de diferenças é prescrito pela função do autor,

tal como a recebe de sua época ou tal como ele, por sua vez, a modifica.

(FOUCAULT, 2012, p. 27).

Trazendo a definição de autor oferecida por Foucault para o campo do jornalismo,

podemos identificar o jornalista como um autor, quando este redige seu discurso jornalístico,

ou seja, uma notícia. Essa notícia, de acordo com Barros Filho (1995, p. 73). “[...] gera junto

ao receptor um conjunto de expectativas, entre elas a de que as regras da objetividade sejam

mantidas. Constata-se, assim, a existência de um acordo tácito entre produtor e consumidor”.

O autor pontua que a notícia não tem como ser puramente objetiva, já que “quando um

jornalista redige uma matéria, materializa um processo ininterrupto de escolhas e eliminações

que acabam constituindo uma mensagem entre uma infinidade de possibilidades preteridas”.

(BARROS FILHO, 1995, p. 69).

Ainda de acordo com o mesmo autor, baseado nos estudos de Van Dijk (1990), o

jornalista, ao utilizar os recursos que caracterizam a objetividade (estilo impessoal de escrita;

referência a dados concretos como datas e índices; citação de fontes oferecendo pluralidade de

pontos de vista e utilização da pirâmide invertida), confere ao texto uma “objetividade

aparente”. Para ele, esse tipo de objetividade cria uma “[...] crença, em adesão àquilo que não

é, ou pelo menos não pode ser, e, portanto, estamos diante de um dos muitos momentos em

que se opera um ‘ilusionismo social’”. (BARROS FILHO, 1995, p. 76).

Assim, quando se pretende reduzir os efeitos nefastos da imprensa às matérias que

visam a imposição de uma certa representação do real de maneira explícita (que

buscam o convencimento parcial), restringindo-se a esses casos a importância de

filtros de ordem ética, esquece-se que, quanto menos claramente subjetivo for o

produto, mais eficaz ele será na construção da realidade social. Isso ocorre porque o

leitor, ouvinte ou telespectador, diante de uma matéria aparentemente neutra e

informativa, se despirá de seus filtros valorativos (que contrastam sua própria

opinião com a de outrem, concordando ou não). Ele estará mais inclinado a aceitar

sem resistência o que lhe dita a mídia, por desconhecer a realidade fenomênica

tratada e não ter nenhum registro sobre ela. (BARROS FILHO, 1995, p. 81).

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Barros Filho (1995) ressalta que a informação aparentemente objetiva desempenha um

papel persuasivo. Segundo ele, os teóricos que se debruçaram no estudo sobre a persuasão no

âmbito do jornalismo, analisaram principalmente a questão de adesão a um ponto de vista ou

ideia. O mesmo autor afirma que “[...] o autor do enunciado necessariamente escolhe. Essa

prerrogativa da escolha nos leva a pensar na dimensão política de qualquer ato comunicativo,

na codificação informativa como uma operação lingüística, como um tipo de manipulação”.

(BARROS FILHO, 2008, p. 38). Porém, Barros Filho (2008), se refere a uma manipulação

que não é pretendida pelo jornalista e que, se essa ocorre, com certeza foge à regra. Para

Bucci (2000, p. 176), manipulação “[...] é a distorção deliberada da informação. Movidos por

interesses escusos, há donos de meios de comunicação e funcionários da cúpula de empresas

que patrocinam mentiras para atingir objetivos particulares”.

Uma forma de evitar a manipulação, deliberada ou não, no âmbito da comunicação é

por meio da transparência. Para Kovach e Rosenstiel apud Plaisance (2013, p. 90)

transparência no jornalismo “[...] significa inserir nas matérias jornalísticas uma percepção de

como a reportagem aconteceu e de por que ela foi apresentada daquela forma específica”.

Ainda de acordo com os autores, essa prática “contribuirá [...] para o desenvolvimento de um

público mais perspicaz. [...] um público que pode perceber prontamente a diferença entre um

jornalismo de princípio e a sua imitação negligente ou autointeressada”. (KOVACH;

ROSENSTIEL apud PLAISANCE, 2013, p. 90). Para Bucci (2000), o jornalismo diz respeito

ao cidadão, que deve ter voz no processo de comunicação social.

O homem comum tem o que dizer sobre tudo isso, e tem o direito de dizê-lo e de

conhecer as condutas daqueles encarregados de informá-lo. Ele sabe que uma

mentira é uma mentira, sabe que um plágio é um plágio - e sabe também que mentir

ou plagiar são práticas abjetas. A ética e a técnica do jornalismo estão na dimensão

do homem comum - longe dele, elas se perdem. (BUCCI, 2000, p. 48-49).

Como pontuam Kovach e Rosenstiel (2004) os jornalistas não são vendedores de

conteúdos para clientes, esses profissionais criam uma relação com o público, fundada em seu

senso crítico, profissionalismo, coragem e dedicação para com a sociedade. Ao jornalista se

atribui a responsabilidade de informar as pessoas, por isso, espera-se que esse profissional

tenha um compromisso ético. Os produtos jornalísticos criados e publicados pelos jornalistas

são concebidos visando um público receptor, que almeja informação para manter-se

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atualizado sobre o que ocorre ao seu redor. Portanto, o dever ético do jornalista encontra sua

base na relação que ele possui com o público receptor.

5.1 PÚBLICO RECEPTOR

Como início do estudo sobre as características do público receptor, é procedente um

aprofundamento sobre o conceito de público. De acordo com França (2008), existem

inúmeras explicações sobre o significado de “público” na literatura existe sobre o assunto, e

muitas delas se contradizem. O autor cita a definição de público encontrada por Rodrigues,

que o classifica como “uma categoria moderna, criada no século XVIII, que, na origem, era

constituída por pessoas esclarecidas com vista ao livre debate político, literário e científico”.

(RODRIGUES apud FRANÇA, 2008, p. 5).

França (2008) apresenta também o estudo do filósofo francês Gabriel Tarde, no qual o

público é um conceito psicossociológico, que serve de base para explicar os relacionamentos

das camadas existentes na sociedade. Segundo França (2008 p. 12) “o adjetivo público

assumiu, mais tarde, a categoria de substantivo para significar apenas “o público”, ou seja, o

grupo de pessoas envolvidas em determinado assunto“. Ferreira apud França (2008, p. 13),

compreende que público pode apresentar três sentidos:

1. o conjunto de pessoas que lêem, vêem, ou ouvem, uma obra literária, dramática,

musical;

2. o conjunto de pessoas que assistem efetivamente a um espetáculo, a uma reunião,

a uma manifestação;

3. o conjunto de pessoas às quais se destina uma mensagem artística, jornalística,

publicitária etc.

Blumer apud França (2008, p. 14) conceitua público como um grupo de pessoas que:

1. estão envolvidas em uma dada questão; 2. Que se encontram divididas em suas posições

diante dessa questão; 3. Discutem a respeito do problema. Ainda de acordo com França

(2008), a existência de uma questão que levante uma discussão e também forme opinião

coletiva constitui a marca de público. Correia (1988, p. 28) atribui ao conceito de público a

característica de “[...] independência do contato físico entre os indivíduos, envolvidos em

torno de uma controvérsia que, por si, delineia uma expectativa de solução, ou consenso”.

Para ele esse público, quando está devidamente organizado e conta com informações

suficientes sobre algum assunto específico, busca estabelecer um acordo, bem como a

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definição de uma opinião. Segundo o autor, nessas circunstâncias “[...] têm se a condição de

estabelecer natureza, característica e funções da opinião pública” (p. 44).

Opinião pública é o produto final do agregado dos impactos individuais de imagens

sobre determinado conjunto social. A opinião coletiva desse grupo condiciona a

atitude e determina o comportamento dos indivíduos que o compõem. Torna

aceitáveis certos padrões e inaceitáveis outros. (FARHAT, 1992, p. 5).

Correia (1988, p. 12) explica que a opinião pública pode ser classificada como um

efeito resultante da comunicação coletiva e que compreende a “[...] existência de um estímulo,

mensagem ou conteúdo de significados, produzido ou emitido por alguém e captado pelo todo

ou por parte da sociedade”. Nesse contexto, Farhat (1992, p. 27) contribui com Correia,

definindo opinião pública como “[...] expressão do sentimento de um grupo social concreto

sobre questão determinada, em momento dado”. Porém, para existir uma opinião pública, é

necessário que os indivíduos desenvolvam cada um a sua opinião. Correia (1988, p. 46)

concebe opinião como uma “[...] exteriorização de ideias sobre determinado objeto de

interesse coletivo”.

De acordo com Farhat (1992), as pessoas formam suas opiniões baseadas em

características próprias, mescladas com a aquisição de informações, que podem ser adquiridas

de forma espontânea (curiosidade do indivíduo) ou induzida (por meio de agentes que atuam

na sociedade). O autor explica que a pessoa recebe a informação e a filtra de acordo com suas

particularidades, tais como a tradição, o conformismo ou o desejo de romper padrões, além de

sua educação, vivência, e de seu convívio com outras pessoas, com as quais ele interage e

discute impressões. Ainda de acordo com ele, somam-se a essas características internas do

indivíduo a influência dos agentes externos que atuam na sociedade, como os líderes políticos,

padres, o delegado e os meios de comunicação de massa.

Os meios de comunicação de massa criam hábitos, modos de ser, conceitos,

aspirações e padrões de comportamento. A mídia — principal instrumento de

transmissão de mensagens das empresas aos consumidores — induz mudanças no

relacionamento entre as pessoas, dentro e fora da família, e tende a colocá-lo em

contexto diverso do da cultura do grupo. Aproxima das possibilidades de cada um o

sonho de uma vida melhor que a atual. Expõe com dramaticidade os dados da vida

social, os problemas da pobreza, os méritos e deméritos dos padrões — antigos e

novos — pelos quais a sociedade deve pautar-se. (FARHAT, 1992, p. 30).

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Seguindo a concepção de formação de opinião do indivíduo de Farhat, Martino (2009),

explica que Jauss afirmou que o público confere um sentido à informação que recebe. De

acordo com o autor “não existe, portanto, “um” sentido, mas tantos sentidos quantos forem os

receptores”. (JAUSS apud MARTINO, 2009, p. 177). Segundo Martino (2009), Jauss, que

teve como ponto de partida para sua Teoria da Comunicação as obras literárias e a forma

como as pessoas recebiam as mesmas, entendia a recepção como um conhecimento da relação

entre o público leitor e o texto literário.

A estética da recepção, portanto, não é uma pesquisa dos efeitos da obra literária ou

de sua compreensão, mas da própria realização da obra no horizonte da consciência,

no quadro de referências sociais e individuais dentro do qual realiza-se a interação

sujeito-objeto tento no campo da criação do sentido original da mensagem, pelo

autor, quanto do sentido atribuído à obra, pelo espectador. (MARTINO, 2009, p.

178).

A teoria de Jauss serviu de base para a criação da Teoria das Mediações, que

aprofundou o estudo da recepção e da mediação na área da comunicação social, tendo como

um de seus fundadores o autor Jesus Martin-Barbero. Ainda de acordo com Martino (2009),

as mediações, segundo a concepção de Martin-Barbero, são estruturas que norteiam o receptor

na elaboração de sentidos. Para o autor, “a história pessoal, a cultura de seu grupo, suas

relações imediatas, sua capacidade cognitiva são mediações”. (MARTINO, 2009, p. 179).

As mediações são os conhecimentos e as práticas sociais das pessoas. São estruturas

simbólicas dinâmicas a partir das quais é atribuído o sentido de uma mensagem em

um determinado momento no espaço e no tempo. As condições materiais e

simbólicas, nas quais o receptor está inserido e que influenciam a recepção de uma

mensagem, são os elementos responsáveis pelas reapropriações e reconstruções

levadas a efeito pelo receptor. (MARTINO, 2009, p. 180).

Martino (2009) traz também a concepção de García-Canclini, que adicionou o diálogo

entre cultura popular, de massa e erudita ao processo de mediação que ocorre entre receptor e

mensagem midiática. Seguindo essa premissa, o autor classifica as mediações como, “[...]

complexas negociações de sentido entre a hegemonia de uma indústria da cultura protegida e

representando poderosos interesses econômicos e um público mais ou menos preparado para

enfrentá-la a contento”. (MARTINO, 2009, p. 181). Assim, o foco dos estudos de recepção se

voltou para o consumo, que passou a ser visto como um dos principais fatores nas mediações.

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Segundo Garcia-Canclini apud Martino (2009, p. 182), a Teoria das Mediações propõe

um processo de recepção no qual o produto midiático é visto como uma parte de um fluxo

maior de mensagens, conferindo ao receptor outra forma de interpretar esses produtos: “na

medida em que reconhecemos os múltiplos níveis da ação social que intervém na circulação

em massa das mensagens, os meios de comunicação perdem seu lugar exclusivo — ou

protagonista — que lhes deram as teorias da comunicação de massa”.

O cotidiano tem os meios de comunicação como uma parte integrante, talvez a

principal — mas não a única. A liberdade, o conhecimento e a consciência do

indivíduo relacionam-se o tempo todo com a mídia, transformados em uma espécie

de experiência primária do cotidiano — sobretudo na integração entra a mídia e o

ser humano. (MARTINO, 2009, p. 183).

Por outro lado, Barros Filho (1995), afirma que os Estudos de Recepção, que

conferiam uma postura ativa ao receptor, sofreram críticas por muitos estudiosos. De acordo

com o autor, uma das críticas a esse modelo de recepção se baseava na questão “[...] de que a

possível demanda seletiva do receptor é condicionada pela oferta imposta pela mídia. A

própria prerrogativa de selecionar depende da diversidade de mensagens ofertadas”. (p. 124).

O autor apresenta o estudo de Klapper sobre os efeitos sociais da mídia, no qual a imprensa

tem sim influência sobre os receptores, mas associada a outros fatores, o que a faz apenas

fixar algo que já existe.

Barros Filho (1995) explica que, com o surgimento do discurso da ética na

comunicação, o receptor deixou de ser um refém indefeso dos conteúdos impostos pela mídia.

De acordo com o autor, “o discurso dominante de ética mediática, então, deixou de ser o

escudo e passou a ser o do controle de qualidade junto ao mercado informativo”. (p. 127).

Assim, os conceitos de “objetividade”, “profundidade”, “diversidade temática”,

“sobriedade” (em relação ao “sensacionalismo”), do lado do produto, e de

“utilidade”, “seletividade”, “busca da certeza”, do lado do receptor, ganharam as

páginas dos tratados de ética e dos manuais do “bom jornalismo”. Essa postura do

discurso da ética de valorização do receptor caminhou paralelamente aos estudos

sobre a recepção e mormente sobre seu processo seletivo. (BARROS FILHO, 1995,

p. 127).

Os Estudos de Recepção, por terem como finalidade, segundo Martino (2009), a

compreensão da forma como o leitor recebe uma mensagem, e os sentidos que ele atribui à

mesma, fazem parte dessa pesquisa, que a visa analisar o efeito que notícias em seus

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receptores. A forma como as notícias são publicadas, bem como o contexto no qual são

recebidas pelo público, servem de base para o estudo desenvolvido nessa monografia.

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6 ANÁLISE DOS DADOS

Como primeiro procedimento do método analítico dessa pesquisa, foram analisados os

conteúdos de nove notícias, publicadas em edições do Jornal de Nova Petrópolis e também no

site da Prefeitura Municipal de Nova Petrópolis, entre os meses de março e novembro de

2013. A análise de conteúdo foi aplicada com o objetivo de comparar as matérias veiculadas

no Jornal de Nova Petrópolis com as publicadas no site da Prefeitura de Nova Petrópolis,

levando em consideração a estrutura da notícia, quantidade e natureza das informações

presentes no texto, vocabulário utilizado, número de linhas, fontes consultadas e apuração das

informações.

O conteúdo expresso nas palavras-chave, no qual se baseia essa monografia, foi

utilizado na análise dos conteúdos das notícias. Por meio delas foi possível perceber o

procedimento adotado pelo Jornal de Nova Petrópolis no que diz respeito à utilização dos

materiais fornecidos pela AI de Nova Petrópolis, contribuindo para a compreensão do

problema apresentado nesse trabalho.

É importante destacar que todas as matérias analisadas foram veiculadas pelo Jornal de

Nova Petrópolis dias depois das mesmas terem sido publicadas no site da prefeitura de Nova

Petrópolis pela AI da mesma. Cabe ressaltar, ainda, que o jornal não divulgou a procedência

das informações e imagens expressas em nenhuma das notícias publicadas em suas páginas.

6.1 ASPECTOS DAS NOTÍCIAS

Ao ser realizada a análise da notícia intitulada “Dia de Ler em Nova Petrópolis”, foi

possível constatar que o texto da mesma, publicada no Jornal de Nova Petrópolis, é idêntico

ao da notícia divulgada pela AI da Prefeitura de Nova Petrópolis no site oficial do município.

A notícia do jornal possui o mesmo título, está estruturada de forma idêntica — seguindo o

estilo de texto jornalístico de pirâmide invertida — contém as mesmas informações, número

de linhas, e o vocabulário utilizado foi mesmo que pode ser lido na matéria veiculada no site

do município. As fontes entrevistadas e as opiniões coletadas também são iguais:

O pequeno Ivan Wingert, de sete anos, estudante da Escola Augusto Gaedicke,

acompanhou com atenção as histórias que foram contadas, “Foi muito legal ter

vindo. É bom ler e ouvir histórias. As pessoas precisam ler para aprender mais”,

disse. (JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS, 15.03.2013, ed. 1097, p. 6).

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O jornal não realizou qualquer tipo de edição na matéria. A única diferença que pôde

ser percebida foi a inclusão de um subtítulo na notícia veiculada pelo jornal. Essa análise

comprova que o jornalista que atua no meio de comunicação impresso publicou, na íntegra, o

conteúdo fornecido pela AI do órgão público, deixando de filtrar a informação recebida,

procedimento imprescindível, conforme Lippmann apud Martino (2009, p. 21), que ressaltou:

“notícias são criadas a partir de uma série [...] de seleções efetuadas pelos profissionais. Ao

presenciar um fato, o jornalista toma uma série de decisões — desde as palavras a empregar

até quais aspectos destacar [...] — e transforma isso em uma notícia”.

A segunda matéria analisada, “Conferência das Cidades foi realizada no Plenarinho da

ACINP”, passou por um processo de edição no jornal, no qual foi retirado o nome de um

secretário adjunto municipal e também foi alterada a forma de escrita do dia. Constatou-se

nessa notícia a falta de informações, como o número de participantes presentes no evento, os

responsáveis por sua organização, além das datas de realização de outras duas conferências

citadas. Nesse caso, a AI da prefeitura disponibilizou ao jornal um release que, de acordo

Duarte (2003), é uma sugestão de notícia e não a matéria pronta. Ao jornal teria cabido a

investigação sobre o fato e sua ampliação, na medida em que ele é de interesse público.

Na notícia “Prefeito Municipal participa de Seminário em Brasília”, o jornal efetuou

uma edição no texto, retirando o endereço do blog no qual o evento noticiado poderia ser

assistido. O texto e a maneira como foram dispostas as informações na notícia do jornal são

idênticos à matéria produzida pela AI. Mais uma vez não houve apuração ou complemento

por parte do jornal, que poderia ter consultado a AI da prefeitura, como destaca Duarte

(2003), ao dizer que os assessores de imprensa devem estar à disposição da mídia para

eventuais esclarecimentos após o envio dos materiais elaborados.

Analisando a notícia “Recolhimento de fluorescentes do comércio local”, foi possível

constatar que houve edição no texto da notícia, feita pelo Jornal de Nova Petrópolis, que

reescreveu o título e a data, adicionou um subtítulo e excluiu uma frase. Mesmo assim, a

matéria apresenta erros de ortografia e de clareza idênticos aos que aparecem na notícia

publicada no site de Nova Petrópolis:

O comprador deve apresentar nota fiscal no estabelecimento onde adquiriu o

material, onde poderá ser feita a troca por uma nova. Campanha de conscientização

para zerar o passivo ambiental. [...] A próxima reunião do Conselho acontecerá no

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dia 7 de maio ás 14 horas, no salão de atos do Sindicato dos Trabalhadores de Nova

Petrópolis. (JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS, 19.04.2013, ed. 1102, p. 5).

Nesse caso, foi possível perceber que a AI da instituição pública enviou uma notícia

mal redigida ao jornal, que não conferiu clareza e correção a ela. A notícia do jornal não

oferece qualquer dado adicional e apresenta a mesma organização de informações e

vocabulário utilizados na matéria escrita pela AI da prefeitura.

Ao ser analisada, a matéria “Fiscalização Municipal realiza nova apreensão” mostrou

que os responsáveis pelo jornal reescreveram trechos do texto. A notícia ganhou um subtítulo

e uma frase de encerramento, mas teve retirado o horário no qual havia ocorrido a apreensão.

A notícia do jornal se manteve fiel à redigida pela AI, repetindo as expressões utilizadas, o

lead e o parágrafo de complemento, além de nem buscar fontes adicionais.

O conteúdo da notícia “Comitiva Cubana visita Nova Petrópolis”, publicada pelo

jornal, sofreu algumas alterações em comparação com a matéria elaborada pela AI. A matéria

do jornal, apesar de trazer o mesmo título, estrutura e vocabulário da escrita pela AI da

prefeitura, não possui as opiniões do prefeito e do anfitrião do grupo de visitantes, retiradas no

processo de edição feito pelos jornalistas do veículo impresso. A exclusão das falas conduziu

a um erro de digitação por parte do jornal, que manteve um sinal de aspas de forma incorreta:

De acordo com o coordenador do CETANP, Arnaldo José Basso, durante a visita ao

CETANP, a comitiva de Cuba ficou surpresa com o sistema de capacitação dos

profissionais agrícolas, “(sic) A engenheira agrônoma de Cuba, Violeta Puldón

Padrón, de 51 anos, destacou justamente o teor prático dos cursos agrícolas

oferecidos em Nova Petrópolis, “Vimos mulheres aprendendo a fazer doces, e as

pessoas lidando diretamente com situações do campo, gostamos muito disso”,

destacou. (JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS, 26.04.2013, ed. 1103, p. 4).

A exemplo da primeira notícia analisada, essa matéria contém as mesmas entrevistas

que compõem a matéria publicada pelos assessores de imprensa da Prefeitura de Nova

Petrópolis e também não traz informações adicionais.

Como pontuou Bucci (2000), a notícia é mais que uma simples novidade, ela afeta as

expectativas das pessoas. Com esse conceito em mente, foi realizada a análise da matéria

“Prefeitura firma parceria com a OASE”. Pôde-se perceber que a notícia não foi devidamente

apurada, revisada e complementada pelo jornal, pois não informa o valor repassado pela

prefeitura à instituição e não cita a presença do prefeito da cidade, que assinou o convênio. O

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texto da notícia, que segue a mesma estrutura da notícia publicada no site da prefeitura, foi

editado antes de sua veiculação no jornal, o título e a forma de escrita da data foram alterados.

A análise de conteúdo da notícia “Estrada da Linha Olinda recebe melhorias” mostrou

que o jornal, ao editar a matéria, retirou a data na qual foi realizada a obra informada na

notícia. Conforme Barros Filho (1995, p. 89), as matérias informativas devem responder as

seguintes perguntas: “o quê?, quem?, quando?, onde?, por quê?, como?. [...] Quanto mais

restrito a essas respostas estiver o artigo, mais próximo ele estará, em sua aparência, do fato”.

Assim, de acordo com o autor, a falta do “quando?”, compromete a notícia enquanto

informação. O estilo do texto, a organização das informações, as expressões utilizadas e as

fontes consultadas se repetem na notícia publicada pelo jornal, que também não ofereceu

outras informações.

Com exceção do título refeito, a matéria “Reuniões possibilitarão a elaboração do

Plano de Turismo” a matéria do Jornal de Nova Petrópolis é a mesma que pode ser lida no site

da prefeitura do município. O vocabulário empregado e a ordem dos acontecimentos são

indênticos. O texto não foi revisado, prova disso é um erro de concordância presente na

notícia:

Na terça-feira, dia 17, os trabalhos foram divididas (sic) por grupos conforme

afinidade. Turismo, sustentabilidade, políticas públicas, economia e infraestrutura

foram os assuntos debatidos nos grupos e, sobre cada um dos temas, foram

apontados os pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças que envolvem o

turismo. (JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS, 27.09.2013, ed. 1125, p. 7).

Não houve aprofundamento da matéria por parte do jornal, que poderia ter dados como

o número de participantes do evento e opiniões das pessoas presentes.

O quadro da análise mostra, parece-nos que com muita clareza, que o jornal não tem a

compreeensão exata de qual seja o papel de uma AI na relação com a imprensa, bem como

não consegue dimensionar de forma mais precisa o seu papel no sentido de bem-informar a

sociedade sobre fatos relacionados a questões de interesse público.

6.2 ANÁLISE DOS DISCURSOS

As notícias analisadas na análise de conteúdo serviram como ponto de partida para

efetivar o trabalho de campo desse estudo, composto por entrevistas em profundidade

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realizadas com 20 moradores de Nova Petrópolis, sendo três deles representantes da indústria, três

comerciantes, dois que atuam no setor de serviços, três estudantes universitários, três donas de casa,

três representantes de associações de Nova Petrópolis e três professores de escolas da cidade. As

áreas nas quais os entrevistados estão inseridos foram escolhidas com o intuito de fornecer uma gama

abrangente de pontos de vista sobre o problema estudado nesse trabalho. Todas as entrevistas foram

realizadas de forma presencial, sendo gravadas e posteriormente degravadas.

No início das entrevistas, cada entrevistado foi convidado a ler uma das nove reportagens

analisadas do Jornal de Nova Petrópolis e, logo após a leitura delas, os entrevistados também leram

as reportagens correspondentes publicadas no site da Prefeitura de Nova Petrópolis, com o objetivo

de inseri-los no contexto do problema proposto nessa pesquisa. Após a leitura das matérias, os

entrevistados foram submetidos a um questionário semiaberto, ou seja, foram questionados

sobre aspectos básicos de jornalismo, assessoria de imprensa e ética no âmbito da

comunicação, fundamentados nas teorias e hipóteses pertinentes à pesquisa. As respostas

fornecidas pelos participantes levaram a uma conversa mais ampla sobre o assunto, na qual

surgiram novas hipóteses sobre o objeto de estudo dessa monografia.

Seguindo os preceitos da análise de discurso, técnica metodológica adotada nessa

pesquisa, os discursos coletados foram analisados, com o objetivo de conhecer e compreender

os pontos de vista de cada pessoa sobre o jornalismo praticado por veículos de comunicação

social, em assessorias de imprensa e também a ética no campo da comunicação. As

entrevistas, analisadas com base nas palavras-chave que compõem esse estudo, forneceram

uma ampla visão sobre o problema aqui estudado, permitindo perceber o efeito que as notícias

têm sobre o público leitor e a influência que exercem sobre os mesmos, a partir do modo como são

publicadas.

6.3 JORNALISMO

A análise dos discursos inicia pelo jornalismo, palavra-chave que abriu essa

monografia, fornecendo aspectos gerais sobre esse conceito, desde o seu surgimento até a

forma como é praticado em assessorias de imprensa. Na pesquisa bibliográfica realizada, o

jornalismo aparece como um dos pilares da comunicação humana, tendo em vista a “[...]

necessidade popular de obter informações e manter-se em dia com os acontecimentos da

época”. (MELO apud GENRO FILHO, 1989, p. 35). A dona de casa I concorda com essa

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noção, afirmando que o jornalismo é importante “para as pessoas saberem o que está

acontecendo”. Ao ser perguntado sobre a importância da notícia, matéria prima do

jornalismo, o representante da indústria O afirmou que ela desempenha um papel

fundamental, pois traz informação, que “é um dado que [...] vai influenciar a forma de vida

ou de negócio do dia a dia”. O entrevistado O ainda explica que o jornalista notícia, de

acordo com a sua concepção, cria uma notícia seguindo um roteiro.

como todo ramo profissional tu tem que ter um roteiro. Tu tem que ter um método

de como tu vai realizar a tua entrevista ou a reportagem [...] tu vai responder

perguntas que, num contexto final... Que se tu ler, tu montou o fato como ele

realmente é3.

O prestador de serviços D complementa o ponto levantado por O, destacando que o

jornalista consegue redigir uma notícia “participando da coisa [...] para poder colocar

depois o que é que aconteceu”, ou seja, o profissional de comunicação se faz presente no

local do acontecimento para coletar as informações que depois vai dar origem à notícia. O

aspecto da presença do jornalista no local do fato é reforçado por Q, representante do setor

industrial, que enfatizou: “eu acho que ele tem ir atrás, vivenciar e relatar”. A dona de casa

B apresenta um argumento que destaca a importância do jornalista presenciar o ocorrido que

vai transformar em notícia posteriormente, pois, para ela, “jornalista é aquele que elabora as

coisas, que conta os fatos com as suas palavras, com a sua capacidade”.

Já para o representante de associação E, a forma de apuração do jornalista depende do

tipo de notícia que ele pretende fazer, “se ele vai divulgar o evento ele vai contatar com o

organizador do evento e vai pegar as informações com o organizador”. O entrevistado A

concorda com E ao pontuar que o jornalista “[...] vai na fonte. Às vezes alguém faz um

pronunciamento, alguém faz uma palestra... E não é possível, eu acho, captar tudo naquele

momento, então ele tem que ir na fonte também”.

Os entrevistados atribuem ao jornalismo a função de informar. As respostas também

demonstram que o jornalista é visto como um profissional que informa por meio das notícias,

compostas por dados coletados em um acontecimento presenciado por ele, ou ainda

proveniente de fontes ligadas ao fato. No caso dessa pesquisa, foram analisadas notícias

publicadas em um veículo de comunicação impresso, um jornal, ao qual o comerciante C

3 As citações dos entrevistados foram grifadas em itálico para diferenciá-las das citações bibliográficas.

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atribui a função de “passar a informação para as pessoas dos fatos que acontecem, do que

está acontecendo e do que vai vir a acontecer”. O comerciante L corrobora com C, ao dizer

que o jornal tem “[...] o papel de informar os leitores... De trazer para os leitores a

realidade, o que realmente acontece”. Para a dona de casa I, o jornal serve “para explicar o

que tá acontecendo, porque se não a gente não sabe, né? Se não tem o jornal daí não tem

como saber as coisas”. Para o entrevistado A, representante de associação, o jornal é “um

veículo pelo qual eu me informo sobre tudo que acontece. [...] é um dos canais que eu utilizo

para me manter informado”. A dona de casa B, ao ser questionada sobre o papel do jornal

para as pessoas, disse:

[...] eu acho que eles têm uma função muito importante para as pessoas [...] Se tu lê

o jornal tu pensa que aquilo tem uma credibilidade, que aquilo aconteceu, que

aquilo realmente é assim [...] Eu vou acabar de velha, mas o meu jornal eu vou ter,

que eu vou ler todo o dia. Eu acho importante o que eles ainda fazem, apesar de

toda a atualidade, de computadores [...].

O prestador de serviços D ressalta que, por meio do jornal, “[...] tu fica sabendo das

coisas, tu está integrado com tudo aquilo que está acontecendo. [...] Qualquer que for a área,

tanto faz se é cultura, se é política, [...] esportes”. Segundo o comerciante J, o jornal traz

informações como “projetos do vereador [...] utilidade pública”. A dona de casa N diz ainda

que o jornal divulga “acidentes, prisões, autuações [...] Estradas que estão sendo

melhoradas...”. Essas definições do papel do jornal, e das notícias que os mesmos carregam,

vão ao encontro do que disseram Molotoch e Lester apud Traquina (2001, p. 22): “toda a

gente precisa de notícias. Na vida quotidiana, as notícias contam-nos aquilo que nós não

assistimos e dão como observáveis e significativos happenings que seriam remotos de outra

forma”.

O estudante G complementa o pensamento de expresso por Molotoch e Lester, ao

afirmar que o indivíduo

tem que estar a par da notícia, tem que saber o que tá acontecendo no mundo, o que

tá acontecendo ao teu redor [...] É meio que uma obrigação de todos ler jornal e se

manter informado. [...] tem que tá a par do que está acontecendo no mundo [...] O

que é que tá acontecendo ao teu redor, o que é que tá mudando...

A entrevistada M, integrante de uma associação de Nova Petrópolis, completa o que

foi dito por G, ao descrever a notícia como uma forma de “tu saber o que está te rodeando, é

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tu saber te situar no teu meio”. O professor F, quando perguntado sobre a importância do

papel dos jornais para as sinalizou que, além de levar informações, um jornal ajuda o cidadão

a “formar a opinião dele a respeito das coisas [...] e das pessoas e dos gestores

principalmente”. O ponto levantado por F faz muito sentido para o estudante P, que defende a

ideia de que as informações contidas nas notícias auxiliam no desenvolvimento do senso

crítico, para ele: “de onde é que tu tira o senso crítico? Tu tira daquele resumo, daquela

informação que tu tem”. O entrevistado D segue a mesma linha de pensamento do

entrevistado P, conferindo ao jornal o status de “formador de opiniões. Para mim, o jornal

forma opiniões [...]”. Ainda de acordo com o entrevistado D, o que “mais forma opinião não

é nem a própria matéria, e sim como ela é escrita e como ela é elaborada”.

Partindo desse princípio, fica clara a influência que um jornal possui no

desenvolvimento das opiniões e julgamentos das pessoas. Exatamente por isso, o entrevistado

L explica que o jornalista deve sempre “retratar a realidade. Ele não pode, a partir das

concepções dele, tentar retratar alguma coisa. Eu acho que ele tem que se manter em cima do

que realmente aconteceu, dos fatos”. O entrevistado O corrobora com L ao afirmar que o

jornal tem como compromisso “comunicar o que está acontecendo atualmente [...] apontar

fatos e não botar pré-julgamento”. A entrevistada M complementa o que foi dito pelos

entrevistados L e O, ressaltando que o primeiro compromisso do jornalista é

ser imparcial. Dar a notícia para a população e deixar a população tirar suas

conclusões, tá? Não é manipular a notícia da maneira que fique impactante, ou que

ela fique mais bonitinha, que ela fique de acordo com o que a prefeitura quer, ou

que uma empresa quer

Essa isenção por parte do jornalista na hora de publicar uma notícia também é uma

característica indispensável para o entrevistado A, que vê no jornalista um profissional que

tem o compromisso de “sempre revelar a verdade, o fato como ele é, sem interpretação, [...]

sem tomar partido”. O entrevistado R, representante da indústria, assim como o entrevistado

A, preza pela isenção no jornalismo “para mim, o jornalismo, o jornalista, o jornal, ou a

revista têm que dar a informação, mas de forma isenta. Eu não quero que ele me induza a

pensar desta ou daquela forma”. O entrevistado O explica que, ao ler uma notícia, ele busca

[...] objetividade e, principalmente, que a informação, ela esteja completa, que ela

tenha essência em si. Que eu possa olhar aquilo ali e ver o impacto, de resultado

bom ou ruim... Mas, que tamanho foi o impacto? O acidente foi de uma pessoa ou

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de 300? Se eu disser que só houve um acidente e não disser que foi com um carro,

com um caminhão ou com um ônibus eu ao tenho como dimensionar o tamanho

desse negócio. [...] Tu fica angustiado porque é uma história sem fim, que tu leu e tu

fica frustrado.

A ausência de opinião e a objetividade nas notícias são características da pirâmide

invertida, descrita por Barros (1995, p.24) como uma técnica de texto na qual predominam a

“[...] redação impessoal, a ausência de qualificativos, a atribuição das informações às fontes, a

comprovação das afirmações feitas [...]”, características que conferem à notícia um aspecto de

imparcialidade.

É possível perceber que as pessoas esperam do jornalista uma postura isenta, que ele

informe, no caso de notícias pontuais, apenas os fatos. Isso demonstra que o público leitor

tende a aceitar com mais facilidade matérias redigidas de forma impessoal, que tragam uma

descrição apurada dos acontecimentos, sem qualquer adjetivação. Ficou evidenciado, ainda,

que um número significativo de entrevistados pressupõe que o repórter do jornal fez a

cobertura do fato que notícia publicada no veículo de comunicação Essa posição do público

que consome notícias é fundamental nessa pesquisa, tendo em vista que o problema

apresentado se refere justamente à investigação dos efeitos que as notícias publicadas nos

meios de comunicação têm sobre elas.

6.4 ASSESSORIA DE IMPRENSA

A Assessoria de Imprensa (AI) é descrita por Viveiros e Eid (2007), na pesquisa

bibliográfica dessa monografia, como o elo entre uma organização e os veículos de

comunicação. O estudante G, assim como a dona de casa I e o estudante P, foram os únicos

entrevistados que disseram não estar familiarizados com o conceito de AI. Já o comerciante C

acredita que um assessor de imprensa “deve pesquisar os fatos e passar então para que o

jornalista [...] publique a matéria”. O conhecimento do entrevistado está de acordo com a

definição dada por Kopplin e Ferraretto (2001), que atribuem à AI a tarefa de abastecer os

veículos de comunicação com informações sobre o assessorado. A estudante S segue um

raciocínio similar ao do comerciante C, ao pontuar que a AI desenvolve o trabalho de

profissionais de assessoria de imprensa “de tratar com os jornais as informações, buscar a

informação e repassar as informações para os meios de comunicação em geral”.

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O entrevistado R, que atua na área da indústria, oferece uma visão mais ampla sobre

AI:

ela deve ser o elo de todos os meios de comunicação, de toda imprensa escrita ou

falada e a entidade [...] seja pública ou privada. Ela tem que fazer esse meio de

campo, ela tem que criar um interesse, [...] eu acho que ela não precisa passar a

matéria, mas ela tem que passar o fato de existirem matérias a serem feitas, ou seja,

que está acontecendo alguma coisa que pode ser fruto de matéria para os jornais,

ou TV, enfim, vamos chamar de meios de comunicação.

A integrante de associação M acha ainda que as assessorias de imprensa fazem “um

link com Relações Públicas também”. O pensamento da entrevistada M se insere no contexto

de Assessoria de Comunicação de uma organização que, de acordo com Kopplin e Ferraretto

(2001), é composta por uma AI, além dos setores de relações públicas e publicidade e

propaganda. O professor F, baseando-se no conteúdo das notícias que leu na entrevista,

descreve o funcionamento de uma AI de órgão público, de acordo com sua concepção:

Eu imagino que a prefeitura, através da assessoria, deve divulgar os principais

fatos de uma maneira geral, tanto para o público quanto para os veículos de

comunicação. Para que eles possam também dar divulgação a esses

acontecimentos, porque nem todas as pessoas vão ter necessariamente acesso ao

material que é divulgado internamente, ou on-line, que seja. Talvez, divulgar isso

também para os veículos de comunicação para que eles repassem, vamos dizer,

para o consumidor final.

Também pegando como exemplo a AI de órgão público, o prestador de serviços D

corrobora com a definição de F, defendendo que o assessor de imprensa “divulga os fatos que

são relevantes [...] para o órgão que a assessoria está trabalhando”. O comerciante L

concorda com D, ao pontuar que a AI é responsável por “municiar os órgãos de imprensa do

município para que eles publiquem o que é interessante ser publicado”. As noções

explicitadas pelos entrevistados encontram fundamento na concepção de Chinem (2003, p.

98), na qual ele explica que “[...] a imprensa está apenas de ponte para a sociedade, e o que

ela faz é veicular uma informação para um número maior de pessoas, essa é sua função”.

Nota-se que a maioria dos entrevistados conhece ou pelo menos já ouviu falar da

prática de AI e conseguem compreender o papel das mesmas. Porém, as dúvidas começam a

surgir quando o assunto é o campo de atuação das assessorias de imprensa, demonstrando que

esse é um território desconhecido para alguns.

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Quando perguntada sobre as possíveis áreas de atuação de uma AI, a prestadora de

serviços Q respondeu que “órgãos públicos, os próprios jornais em si acho que também tem

assessoria”. A exemplo de Q, o entrevistado C, após ter lido as matérias no início da

entrevista, também disser acreditar que “na prefeitura tem [...] assessor de imprensa. Nos

jornais, na televisão [...]. O comerciante J chegou a indagar “deve ter empresa... Também

tem assessoria de imprensa. Poder ter, né?”.

Com isso, é possível perceber que nem todos compreendem a diferença entre o

trabalho desenvolvido em uma AI e o trabalho praticado em um veículo de comunicação

social.

O entrevistado K, que trabalha na indústria, diz que a função de uma AI “é dar as

diretrizes eu acho, é conduzir a coisa da melhor forma possível, é corrigir. Eu acho que é o

que coordena a primeira notícia e depois vem a parte do alinhamento”. O entrevistado E,

integrante de associação, utiliza o exemplo que teve da notícia que leu para atribuir à AI a

função de “divulgar os eventos, os fatos que acontecem na cidade”. A dona de casa B,

mesmo conhecendo o conceito de AI, disse não saber

[...] exatamente o que seria a atribuição de um assessor de imprensa. Imagino que

seja alguém que vai... Tipo, de um clube de futebol, de alguma coisa assim que vai

fazer... como eu vou te dizer... O meio de campo entre o que é que tu quer dizer pra

imprensa. Não sei se é esse.

A falta de clareza e a limitação nas explicações dadas pelos entrevistados reforçam

que algumas pessoas não sabem situar a AI no campo da comunicação, confundindo-a até

com veículos de comunicação social. Ao ser indagada sobre as relações de trabalho entre uma

AI e um jornal, a professora H, que afirmou conhecer algumas atribuições da AI, disse: “não

faço nem ideia, nunca parei para pensar”. Sobre a mesma pergunta, o membro de associação

E respondeu “aí eu não sei te dizer exatamente, aí eu não sei se, por exemplo, se o jornal vai

buscar na assessoria de imprensa, ou a assessoria de imprensa...”. Fica claro que a forma

como uma AI e um veículo de comunicação, um jornal, no caso desse estudo, se relacionam

no ambiente da comunicação não é clara para algumas pessoas.

Nesse sentido, os entrevistados foram questionados sobre quais seriam as diferenças

no trabalho desenvolvido por um jornalista de AI e um que atua em jornais. Para a estudante

S, as responsabilidades do jornalista de AI e de jornal “são parecidas, mas com algumas

particularidades [...] o que eu sei, é que os dois buscam a informação, tem que fazer toda a

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veracidade...”. A concepção da estudante S encontra apoio em Mafei (2012, p. 25), a autora

defende que “o bom assessor tem muito de um bom repórter. Apura criteriosamente

informações sobre o assessorado, busca dados que compõem uma notícia, procura fontes

confiáveis [...]”.

Nesse sentido, a responsabilidade do jornalista que trabalha em AI, assim como a de

um repórter, é apurar as informações corretamente. Partindo desse princípio, a dona de casa

N, após ter lido as matérias publicadas no jornal e no site oficial de Nova Petrópolis, enfatiza

que os jornalistas de veículos de comunicação “deveriam confiar mais no assessor que

transmite pra eles. Por que está lá para pegar as informações, pra saber o que está

acontecendo...”. Para a também dona de casa I, a informação produzida pela a AI “é mais

confiável”.

Já o entrevistado A tem uma visão diferente sobre o papel de uma AI, destacando que

o assessor de imprensa

[...] de órgão público ou de empresa privada e tal, ele pode fortalecer ou focar mais

nos pontos positivos que envolvem a sua empresa ou [...] seu contratante [...]. [...]

acho que o bom jornalista retrata o fato, sem interpretação, mas ele tende a ser

influenciado pelo seu contratante e aí ele reforça o que é positivo e, às vezes, omite

o que é negativo e, para isso, ele não precisa mentir [...].

O entrevistado O, que atua no ramo industrial, corrobora com o ponto de vista de A,

ao destacar que uma AI de empresa “coloca a informação da maneira como ela deve ser

percebida do outro lado[...] O que é que é conveniente tu divulgar e o que é que não é

conveniente divulgar”. A colocação de O é complementada por R, representante da indústria,

que pontua: “Se eu contratar um assessor de imprensa na minha empresa, eu quero que ele

escreva as coisas de acordo como eu entendo elas e como a empresa gostaria que elas fossem

vistas lá fora”. O comerciante J segue a mesma linha de pensamento de A e completa

dizendo que

[...] o assessor de imprensa, eu acho que ele tem chefe [...] Trabalha para uma

instituição [...] Não pode ser passado [...] que ela seja ruim, ou que tenha

problemas [...] esse é o problema, ter o chefe. Tu não tem tanta liberdade de

expressão. [...] Tu não pode dar a tua opinião eu acho [...] Tem que seguir “o

mesmo trilho”, eu acho.

As respostas comprovam que algumas pessoas confiam muito no trabalho das

assessorias de imprensa, algumas vezes confiam mais em um assessor do que em um repórter

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de jornal. Já para outros, o fato de um assessor de imprensa representar uma organização

limitaria a sua atuação como jornalista imparcial. Para essas pessoas, um assessor de imprensa

prezaria, primeiramente, os interesses de seu assessorado. Como destacou Chinem (2003, p.

28) o assessor de imprensa deve ter em mente que “[...] é um profissional da comunicação e,

como tal, precisa se preocupar em informar corretamente o público”.

Por sua vez, como explicou Duarte (2003, p. 287), uma das ferramentas utilizadas pelo

assessor de imprensa, o release, “não incluía contar “toda” a verdade e previa o “ajuste” da

realidade com base na previsão sobre como a imprensa a transmitiria e como o cliente gostaria

de ser percebido”. Assim, a notícia publicada nos veículos de comunicação, aquela que

chegará ao público leitor, passa pela ética de dois profissionais: o jornalista de AI, que elabora

os conteúdos sobre o assessorado e os envia para a imprensa e o jornalista que atua nos meios

de comunicação, que recebe esses materiais oriundos de assessorias de imprensa e os utiliza

para redigir a matéria.

6.5. ÉTICA NA COMUNICAÇÃO

O trabalho do jornalista, tanto o que atua em AI, quanto o que exerce a profissão em

veículos de comunicação social, está atrelado à ética. Conforme Plaisance (2011), a ética é

uma reflexão na qual o indivíduo confronta as consequências que uma decisão de nível

pessoal poderiam gerar a nível geral. Adaptando o ponto de vista do autor ao campo da

comunicação social, é fácil imaginarmos um jornalista praticando essa mesma reflexão,

diversas vezes ao dia, em seu local de trabalho.

O profissional de comunicação, no intuito de informar as pessoas, se expõe a inúmeras

situações, que oferecem múltiplas características e opções. Cabe ao jornalista decidir quais

são as melhores escolhas em meio a uma infinidade de possibilidades. Pena (2005), explica

que a conduta ética pode ser classificada como a interpretação sobre cerca atitude, e essa está

sujeita a diversas interpretações, já que está inserida em uma complexa rede de conexões. Em

meio a esse turbilhão de possibilidades, o jornalista não pode esquecer que tem o

compromisso de transmitir informações verdadeiras e de forma correta.

Para a professora H, o jornalista deve ter um compromisso com a “ética. Acho que em

primeiro lugar ética. Não tentar “encobrir o sol com a peneira”, relatar o fato como ele

realmente foi [...]”. O representante de indústria R complementa a opinião da professora H,

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afirmando que o jornalista deve prezar pela “isenção. Ele não pode ser um formador de

opinião, ele não pode me induzir a pensar as coisas”. Isso comprova que o público leitor quer

receber informações para ter condições de construir seu próprio ponto de vista sobre os

acontecimentos.

Mais do que ser isento, o profissional de comunicação, de acordo com a entrevistada

M, integrante de associação, tem compromisso “com a verdade, a veracidade. Ser fidedigno a

uma notícia. Ele tem que ser uma pessoa íntegra [...]”. O comerciante C concorda com M ao

dizer que o jornalista deve divulgar

a notícia o mais transparente possível para que a pessoa, quando leia, entenda o

que está lendo [...] E, com certeza, botar fatos reais, não inventar nada... [...] botar

realmente o que está acontecendo no jornal, não maquiar nada e botar a notícia de

uma forma, assim, clara que a pessoa consiga ler e entender o que está lendo, desde

um advogado até uma pessoa que pouco sabe ler.

A dona de casa B reforça que o jornalista deve relatar o fato, já que “notícia tu não

pode criar [...] Ela existe e tu pode transmitir ela, no máximo”. Todas essas características

que os leitores esperam do jornalista, bem como da forma como ele elabora as notícias, foi

expressa por Bucci (2000, p. 63), ao pontuar que o jornalismo deve ser feito para o “[...]

homem comum, cujos direitos o autorizam a receber informações objetivas, apuradas e

editadas tendo em vista o seu interesse de cidadão consumidor — e nenhum outro”.

Para O, representante da indústria, uma notícia objetiva, que transmita o fato de forma

verdadeira e isenta, confere credibilidade à mesma e, de acordo com ele, “a credibilidade, ela

se constrói, tu não compra, tu constrói”. Essa credibilidade tem origem na aparente

objetividade conferida pelo jornalista ao relato de um fato na notícia. De acordo com Bucci

(2000, p. 92), “na prática, o jornalismo sabe, objetividade é redondamente impossível.

Também na prática, contudo, todos continuam acreditando nela — e ela está no fundamento

do pacto de confiança que a imprensa mantém com a sociedade”. Dessa forma, é possível

inferir que as pessoas demonstram dar mais credibilidade a matérias escritas de forma objetiva

e imparcial.

A prestadora de serviços Q, quando questionada sobre as responsabilidades do

jornalista, foi enfática ao afirmar que o profissional de comunicação de um veículo impresso

[...] tem que ter muito cuidado. As palavras ditas já são pesadas [...] te direcionam

para algum fim, mas as palavras escritas elas são [...] piores, porque está

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registrado. Fica difícil você mudar algo que você realmente escreveu ou que você

falou. Então [...], ele tem que tomar muito cuidado... Da forma como ele divulga, ou

da forma como ele registra.

A professora T concorda com Q. Para ela “uma palavra, às vezes, pode destruir a

notícia [...], pode distorcer tudo”. A professora H acredita que esse cuidado na forma de

divulgar os fatos, mencionado pela entrevistada Q, também depende de uma análise feita pelo

jornalista, que deve “tentar ver todos os possíveis ângulos daquele fato para justamente, não

tomar partido de nada, para colocar aquilo lá na íntegra [...]”. Partindo da opinião da

professora H, ao apresentar os diversos lados de um acontecimento, o jornalista não correria o

risco de distorcer o fato informado na notícia.

Nesse sentido, o professor F aponta que o jornalista que trabalha em veículo de

comunicação, quando recebe informações procedentes de uma AI, precisa verificar “se aquilo

que está escrito realmente corresponde com a verdade”. O professor fez essa observação com

base na notícia intitulada “Recolhimento de fluorescentes do comércio local”, publicada no

jornal de Nova Petrópolis, que foi convidado a ler no início da entrevista. Ainda de acordo

com o mesmo entrevistado, a notícia apresenta muitas semelhanças com a matéria

“Recolhimento de Fluorescentes do comércio local em Nova Petrópolis”, divulgada no site da

Prefeitura de Nova Petrópolis. O professor apontou também que a matéria do jornal

apresentava leves diferenças em relação à publicada no site do município:

Bom, começa faltando o “o”, no início, mas o que mais me chamou a atenção foi

aqui, que era para vir enrolado em “papel bolha”, não conheço “papel bolha”. Me

chamou a atenção tanto que, na outra depois, quando eu vi que era muito parecido,

logo me ative a isso e lá estava escrito “plástico bolha” e não “papel bolha”.

Já para o comerciante L, a notícia “Dia de ler em Nova Petrópolis”, divulgada no

Jornal de Nova Petrópolis, era “uma cópia do que estava no site da prefeitura, isso sem

dúvida”. Quando questionado sobre a atitude do jornal, o comerciante afirmou que “faltou

ética nesse sentido”. O entrevistado J, que leu a mesma matéria que L, teve a mesma

percepção do comerciante, e acrescentou que o responsável pelo jornal “como jornalista, ele

tem que buscar a informação, ele tem que ir atrás, ali ele só recebeu[...]”. Cabe lembrar que

Chinem (2003, p. 68) descreveu o release como “uma sugestão de pauta, o ponto de partida

do trabalho do repórter, a quem cabe dar seqüência às demais etapas da reportagem, que são

entrevista, consulta, checagem de informação e redação do texto final da matéria”.

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A dona de casa N corrobora com J, ao dizer que o jornalista “deveria investigar a

fonte pra ver se tá correta ou não. Eu acho que deveriam investigar pra saber se é correta e

se não estiver bem correta corrigir. Eu acho que o jornal devia fazer isso”. Ainda de acordo

com a dona de casa, que leu a notícia “Estrada da Linha Olinda recebe Melhorias”, afirmou

que, no caso da matéria que leu, o profissional do jornal não teve “trabalho nenhum, só

passar pro jornal. Só passar os textos e as matérias pro jornal”. O entrevistado O, que atua

no ramo industrial, leu a notícia “Prefeitura firma parceria com a OASE” e comentou:

eu não vejo o que ele fez aqui. Eu só vejo um texto. Então, ele não teve um trabalho

de, digamos assim, de demonstrar a confiança. O jornalista transmite a confiança e

o fato. Agora, aonde está isso aqui? Pegar algo que já existe e só mostrar que isso

já existe, só que [...] num outro nome de jornal...

O mesmo entrevistado também afirmou sentir falta do valor do convênio na matéria e

que essa informação, de acordo com ele, poderia ter sido apurada pelo repórter do jornal, pois

“ele tem influência, ele tem acesso, tanto à prefeitura [...] e ao próprio hospital. E se é um

convênio municipal ele é público e se ele é publico, ele tem acesso. De uma forma ou de outra

ele tem condição de chegar a esse acesso”. A professora H, que disse ter percebido frases

iguais nas notícias que leu no jornal e no site da prefeitura, também acha que o jornal deveria

ter “colocando todas as informações possíveis, para que quem fosse ler aquele jornal

entendesse tudo que estivesse acontecendo, soubesse que tivesse acontecendo”.

Todos os entrevistados afirmaram ter encontrado semelhanças entre as notícias

divulgadas no Jornal de Nova Petrópolis e a matérias publicadas pela AI da Prefeitura de

Nova Petrópolis no site oficial do município, com alguns dizendo que as notícias eram

idênticas, inclusive. Ao serem perguntados se conseguiam identificar, na página do jornal, a

procedência das notícias, ou alguma assinatura, que identificasse a fonte das informações,

nenhum respondeu de forma positiva. A representante de associação M, ao perceber que não

havia a fonte das informações na notícia do jornal, disse que deveria constar a fonte na

matéria “porque foi quase uma cópia, Deveria dizer de onde é que veio, isso é bem

interessante [...]”. O entrevistado C, que atua no comércio, contribui com o ponto de vista de

M ao pontuar que os responsáveis pelo jornal, ao publicarem uma matéria copiada do site da

prefeitura, segundo ele mesmo, sem colocar a fonte da informação, estariam

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se aproveitando do trabalho de outras pessoas para passar a matéria para o jornal

deles, eu acho isso injusto. [...] Assim, o que ele botou... faz parecer que ele estava

lá, então não é justo isso [...] Muito fácil tu fazer um jornal. Acessa o site e passa na

primeira página uma notícia que outra pessoa escreveu [...] Não é ético, até com os

próprios colegas de profissão, eu acredito.

Ao ser perguntado sobre a atitude do jornal de publicar uma matéria procedente de

uma AI, sem editá-la ou reescrevê-la e não citar a fonte da informação, o professor F destacou

que não considera o procedimento do jornal “correto, ético e imagino até que seja ilegal, na

verdade”. A professora T complementa a hipótese levantada por F, de um possível ato ilegal

praticado pelo jornal, ao dizer que a matéria lida por ela no veículo de comunicação impresso

“não tem o crédito também [...]. Isso aqui é plágio, isso aqui dá cadeia”.

As opiniões dos entrevistados sobre as notícias que leram demonstram que os leitores

esperam atitudes éticas do jornalista; que este apure de forma correta as matérias e que sempre

aprofunde a informações quando as recebe de uma AI. Foi possível perceber que o trabalho

do profissional de comunicação não é recebido de forma passiva pelo público receptor, que

exige notícias bem escritas e que contenham dados esclarecedores. Os leitores também

disseram considerar importante constar a fonte das informações noticiadas, principalmente

após lerem as notícias apresentadas a eles nesse estudo. Se o leitor tivesse conhecimento de

que as notícias publicadas no jornal têm como fonte à AI da prefeitura, teria como discernir o

que o poder público está fazendo no cumprimento de seu papel e o que está utilizando apenas

como marketing.

O estudante G, que não conhecia o trabalho de AI até ser entrevistado nessa pesquisa,

garantiu: “eu nunca ia dizer que isso ali [a notícia lida no jornal] foi uma coisa de [...] uma

assessoria de imprensa. Eu diria que foi direto do jornal, realmente”. Para a entrevistada M o

leitor que ler a mesma notícia lida por ela, apenas no jornal, conclui que está lendo “uma

verdade absoluta. É uma notícia deles [do jornal], eles descobriram, eles tiveram lá no

momento que fizeram isso [...] É, basicamente, um atestado de veracidade”. A dona de casa

N atesta a hipótese de M, ao pontuar que, se lesse apenas a matéria publicada no jornal “eu

acho que eu não ia nem questionar, eu simplesmente ia ler e aceitar o que está escrito. Eu

não ia questionar a origem, a procedência, se isso é correto ou não”.

Com base nisso, se verifica possibilidade de o papel de uma AI, ou mesmo sua

existência, continuarem desconhecidos do público leitor. Com essa condição em mente, cabe

destacar o ponto de vista do entrevistado R, que levantou a seguinte hipótese, baseado na sua

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concepção sobre o campo da comunicação em Nova Petrópolis e nas impressões que teve ao

ler as duas notícias no início da entrevista:

Eu acho assim, pelo que eu tenho visto nos jornais locais, e essas matérias são de

jornais locais. Eu acho que, daí, acontece uma coisa assim que já é diferente [...]

dos grandes jornais, é por comodismo. Aqui, facilmente, a assessoria de imprensa

consegue colocar a opinião do seu contratante [...]. Porque o jornalista não faz o

poder de investigação, ele, muitas vezes, não vai nem onde está o fato. Ele, sim, está

se embasando demais em uma notícia que o assessor de imprensa está lhe

passando... [...] o assessor de imprensa, nesse caso, pode ser tendencioso, porque

ele foi contratado por aquele meio.

Dessa forma, convém lembrar que Barros Filho (1995, p. 81) postulou que o leitor

“diante de uma matéria aparentemente neutra e informativa, se despirá de seus filtros

valorativos [...] Ele estará mais inclinado a aceitar sem resistência o que lhe dita a mídia, por

desconhecer a realidade fenomênica e não ter nenhum registro sobre ela”. Em outras palavras,

o público receptor, desconhecendo que uma notícia publicada em um veículo de comunicação

tem origem em uma AI, estaria lendo uma matéria teoricamente escrita pelo jornalista do

veículo, e ofereceria pouca resistência ao discurso expresso na mesma.

A partir da análise dos discursos coletados nas entrevistas, o Jornal de Nova Petrópolis

reproduz, na íntegra, materiais da Assessoria de Imprensa de Nova Petrópolis, sem mencionar

sua procedência. A análise também permitiu constatar que essa prática caracteriza falta de

ética por parte dos jornalistas envolvidos, caracterizando uma apropriação indevida de

discurso.

Outra hipótese apresentada nesse estudo, de que leitores que desconhecem a origem

das reportagens são manipulados pelo veículo de comunicação, também foi confirmada nos

discursos analisados. Por fim, por meio dessa análise, pôde ser confirmada a hipótese de que

os leitores desconhecem as práticas, e o papel do assessor de imprensa no processo de

comunicação.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jornalismo é um dos pilares da comunicação humana, desempenhando um papel

fundamental em todos os âmbitos da sociedade. Ele carrega a responsabilidade de informar as

pessoas, proporcionando ao indivíduo conhecimentos sobre o mundo, contribuindo para a

formação de cidadãos mais esclarecidos e conscientes, capazes de contribuir mais com a

sociedade. Tamanha responsabilidade exige de um profissional da comunicação um

compromisso inequívoco com os valores éticos que regem essa profissão. Frente a essa visão

utópica, mas necessária e importante, cabe, também, pontuar o papel inverso que a imprensa

já desempenhou em muitos momentos da história da humanidade, pondo-se a serviço de

causas injustas e degradantes.

Essa concepção da importância do jornalismo na sociedade e as responsabilidades que

o jornalista possui, ganhou ainda mais destaque. para mim quando ingressei na AI de

imprensa da Prefeitura Municipal de Nova Petrópolis. Como assessor de imprensa, tive a

oportunidade de aprimorar minhas habilidades como jornalista e, principalmente, conhecer de

forma mais aprofundada as relações de trabalho entre uma AI e os veículos de comunicação

social. Atuando na AI do órgão público, me deparei com uma situação incomum que me fez

refletir sobre a prática do jornalismo. Em uma análise inicial, constatei que os conteúdos

repassados pela AI da prefeitura eram, normalmente, reproduzidos pela imprensa escrita da

cidade sem qualquer edição, complemento ou citação de fonte.

Nesse momento surgiu a vontade de realizar essa pesquisa, baseada seguinte questão:

A reprodução pela imprensa escrita de conteúdos produzidos por assessorias caracteriza

apropriação de discurso e manipulação do leitor? Para responder essa questão, notei que seria

necessário analisar se a reprodução pela imprensa escrita de conteúdos produzidos por

assessorias caracteriza apropriação de discurso e manipulação do leitor, ferindo princípios

éticos do jornalismo. Dessa forma, optei por estudar o caso do Jornal de Nova Petrópolis.

Partindo desse objetivo geral, realizei estudos sobre os conceitos de jornalismo, com

foco na imprensa escrita, assessoria de imprensa, explorando sua ligação com o jornalismo,

além de uma análise da ética na comunicação e ainda um estudo sobre o público receptor,

com o intuito de verificar sua capacidade de discernir o papel de cada um desses

profissionais: jornalista de veículo impresso e jornalista de AI como objetivos específicos da

pesquisa.

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Os estudos desses conceitos, realizados por meio de uma pesquisa bibliográfica, na

qual foram consultados livros, além de materiais disponíveis na internet, forneceram a

fundamentação teórica para as hipóteses levantadas nessa pesquisa, que eram as seguintes: o

Jornal de Nova Petrópolis reproduz, na íntegra, materiais da AI de Nova Petrópolis, sem

mencionar sua procedência; essa prática caracteriza falta de ética por parte dos jornalistas

envolvidos, caracterizando uma apropriação indevida de discurso; leitores que desconhecem a

origem das reportagens são manipulados pelo veículo de comunicação; os leitores

desconhecem as práticas, e o papel do assessor de imprensa no processo de comunicação.

O próximo passo foi a escolha de um método que oferecesse uma base científica para

a monografia. A forma de investigação utilizada na pesquisa foi qualitativa, levando em

consideração que o problema levantado no estudo exigiu a coleta de dados de natureza

descritiva. Para oferecer base científica ao estudo, foi adotado o método analítico, descrito

por Paviani (2006), como uma forma de pesquisa que se preocupa em elucidar conceitos,

proposições, argumentos e discursos. Nessa monografia, o método analítico amparou a

técnica metodológica de análise de conteúdo, na qual foram analisadas nove matérias,

publicadas em edições do ano de 2013, no Jornal de Nova Petrópolis. Os conteúdos das

matérias do jornal foram comparados com notícias, divulgadas pela AI da Prefeitura

Municipal de Nova Petrópolis, no site oficial do município.

Na análise do conteúdo das notícias ficou comprovada a hipótese de que o Jornal de

Nova Petrópolis reproduz, na íntegra, materiais da AI de Nova Petrópolis, sem mencionar sua

procedência. A análise provou, ainda, que os jornalistas do jornal publicam a notícia sem

consultarem outras fontes para aprofundar o material recebido pela AI. Além disso, também

ficou provado que o jornal efetuou edições em algumas matérias recebidas da AI, mas que,

ao realizar esse processo, acabou prejudicando o conteúdo das notícias, deixando-as com

erros gramaticais, de concordância e comprometendo sua estrutura.

Em um segundo momento, foi empregada a técnica metodológica de análise de

discurso, aplicada nos discursos coletados nas entrevistas em profundidade realizadas com 20

moradores de Nova Petrópolis. As entrevistas em foram realizadas com integrantes de

associações da cidade, professores, donas de casa, representantes da indústria, três estudantes,

comerciantes e também com prestadores de serviço. Os entrevistados, inicialmente, foram

apresentados a matérias publicadas no Jornal de Nova Petrópolis e no site da Prefeitura de

Nova Petrópolis e depois foram questionados sobre suas impressões. Os discursos foram

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analisados com base na fundamentação teórica desenvolvida sobre os conceitos de

jornalismo, assessoria de imprensa e ética na comunicação.

A partir da análise dos discursos coletados nas entrevistas foi possível validar as

hipóteses apresentadas nesse estudo. O público receptor, ao ler as notícias publicadas no

Jornal de Nova Petrópolis e no site da Prefeitura Municipal de Nova Petrópolis, apontou para

a similaridade entre as matérias divulgadas e não conseguiu identificar a procedência das

informações na página do veículo impresso, reforçando o que já havia sido comprovado na

análise dos conteúdos.

Foi comprovado que as pessoas esperam que o jornalista seja um profissional íntegro,

que desempenhe sua função de forma ética e responsável, marcando presença nos

acontecimentos para coletar os dados da forma mais correta possível e apurando informações

recebidas antes de publicá-las. Ficou claro que, para o público, o profissional da comunicação

ganha credibilidade ao publicar notícias bem escritas, que contenham informações claras e

objetivas, que exponham a verdade, redigidas de forma impessoal e isentas da opinião do

repórter.

Dessa forma, ficou provado, também, que o leitor, desconhecendo a procedência do

material lido no jornal, confere sua autoria ao jornalista que atua no veículo de comunicação.

Essa condição comprova a hipótese de que o leitor é manipulado pelo jornal, pois está

recebendo um discurso proveniente da AI de um órgão público, que não foi editado nem

complementado pelos responsáveis do jornal, sem saber da procedência da notícia, uma vez

que o jornal não cita a fonte do conteúdo publicado.

Essa prática por parte do jornal valida a hipótese de que o jornal fere os princípios

éticos do jornalismo, ao se apropriar do discurso criado pela AI da Prefeitura de Nova

Petrópolis e apresentá-lo como se fosse seu aos leitores, que não têm como discernir se a

notícia recebida representa de fato que poder público está cumprindo com suas obrigações ou

se a matéria caracteriza uma ação de marketing do mesmo. No caso da apropriação de

discurso praticada pelo jornal, os próprios entrevistados apontaram para a falta de ética por

parte dos responsáveis pelo veículo de comunicação, citando que a atitude de publicar um

texto escrito por outro profissional, sem conferir os devidos créditos, caracterizaria plágio.

Ficou evidente que o conceito de AI é conhecido por muitos, mas que esse

conhecimento não se estende à forma que ela se relaciona com mídia no âmbito da

comunicação. Foi comprovado que o público possui uma ideia das atribuições de uma AI,

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mas não sabem explicar como funciona, na prática, o trabalho de um assessor de imprensa,

desconhecem os meios que esse profissional utiliza para assessorar os veículos de

comunicação.

Assim, a hipótese de que os leitores desconhecem as práticas, e o papel do assessor de

imprensa no processo de comunicação, também se confirma. Dessa forma, ficou provado que

pessoas conhecedoras de AI não têm como mensurar o trabalho realizado pelas mesmas.

Também ficou evidente que o conceito de AI continua desconhecido para o público que

nunca ouviu falar nessa atividade.

Durante o processo de análise realizado nessa monografia, surgiram questões que

deram margem para descobertas que foram além da pesquisa proposta inicialmente. Pôde ser

percebido que alguns entrevistados, ao constatarem a semelhança entre as notícias publicadas

no jornal e no site da prefeitura, levantaram a hipótese de que a notícia teria sido publicada

sem edição por se tratar de uma matéria institucional, ou seja, que o poder público teria

comprado o espaço do veículo de comunicação para que a notícia fosse publicada sem

qualquer alteração.

Outra inferência que surgiu durante as entrevistas foi quanto à questão legal da

publicação de uma notícia, que contém um texto idêntico ao de outra, sem a citação de fonte

da mesma. Alguns entrevistados classificaram a prática como plágio e, inclusive,

questionaram se existem leis no âmbito da comunicação para esse tipo de caso. Com isso,

ficou claro o desconhecimento do público leitor quanto aos limites do jornalista no que diz

respeito à utilização de materiais disponibilizados assessorias de imprensa. Desconhecimento

que, ao mesmo tempo, gera uma reflexão importante sobre os direitos e deveres dos

profissionais de comunicação.

Essa monografia comprova que o Jornal de Nova Petrópolis reproduz em suas páginas

notícias da AI da Prefeitura de Nova Petrópolis, sem editá-las adequadamente, aprofundá-las

e sem citar sua procedência. Dessa forma, os responsáveis pelo jornal não cumprem com os

deveres éticos que regem a prática do jornalismo, deixando de apurar as informações

recebidas e apresentando-as como se fossem produções suas ao público leitor, atitude que

configura uma manipulação desse mesmo público. Dessa forma, o jornal também acaba

tornando a prática de AI desconhecida das pessoas.

Esse trabalho trouxe valiosos conhecimentos sobre a área da comunicação, que, com

certeza, contribuem para meu crescimento tanto no campo acadêmico quanto profissional. Os

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resultados obtidos a partir da pesquisa realizada nessa monografia conferiram uma

compreensão ainda mais apurada do papel do jornalista, que farão uma grande diferença no

meu caminho como profissional da comunicação.

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JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS: Dia de Ler em Nova Petrópolis, ed. 1097, p. 6, 15.03.

2013.

JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS: Prefeitura firma parceria com a OASE. ed.1097, p.

7, 15.03. 2013.

JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS: Recolhimento de fluorescentes do comércio local.

ed.1102, p. 5, 19.04. 2013.

JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS: Prefeito municipal participa de seminário em

Brasília. ed. 1102, p. 7, 19.04. 2013.

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JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS: Comitiva cubana visita Nova Petrópolis. ed.1103, p.

4, 26.04. 2013.

JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS: Conferência das Cidades foi realizada no plenarinho

da ACINP. ed.1111, p. 3, 21.06. 2013.

JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS: Estrada da Linha Olinda recebe melhorias. ed. 1123,

p. 7, 13.09. 2013.

JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS: Reuniões possibilitarão a elaboração do Plano de

Turismo. ed. 1125, p. 7, 27.09. 2013.

JORNAL DE NOVA PETRÓPOLIS: Fiscalização municipal realiza nova apreensão. ed.

1129, p. 4, 25.10. 2013.

DOCUMENTOS ELETRÔNICOS

Dia de Ler em Nova Petrópolis. <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2013>. Acesso em: 30 out. 2014,

22:45:14.

Prefeitura firma parceria com a OASE de Nova Petrópolis.

<http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2010>. Acesso em: 30 out. 2014,

22:49:33.

Recolhimento de fluorescentes do comércio local em Nova Petrópolis. <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2083>. Acesso em: 30 out. 2014,

22:36.03.

Prefeito municipal participa de seminário em Brasília. <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2087>. Acesso em: 30 out. 2014,

22:40:15.

Comitiva cubana visita Nova Petrópolis. <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2107>. Acesso em: 30 out. 2014,

22:33:44.

Conferência das Cidades foi realizada no plenarinho da ACINP. <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2199>. Acesso em: 30 out. 2014,

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Estrada da Linha Olinda recebe melhorias. <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2330>. Acesso em: 30 out. 2014,

22:27:40.

Turismo de Nova Petrópolis dá importante passo para o futuro. <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2364>. Acesso em: 30 out. 2014,

22:25:11.

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Fiscalização municipal realiza nova apreensão. <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2429>. Acesso em: 30 out. 2014,

22:22:20.

Código de ética dos jornalistas brasileiros. <http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf

>. Acesso em: 07 out.2014, 17:11:12.

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ANEXOS

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ANEXO A – Jornal de Nova Petrópolis. ed. 1097, p. 6, 15.03, 2013.

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ANEXO B - Jornal de Nova Petrópolis. ed. 1111, p. 3, 21.06, 2013.

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ANEXO C - Jornal de Nova Petrópolis. ed. 1102, p. 7, 19.04, 2013.

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ANEXO D - Jornal de Nova Petrópolis. ed. 1102, p. 5, 19.04, 2013.

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ANEXO E - Jornal de Nova Petrópolis. ed. 1129, p. 4, 25.10, 2013.

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ANEXO F - Jornal de Nova Petrópolis. ed. 1103, p. 4, 26.04, 2013.

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ANEXO G - Jornal de Nova Petrópolis. ed. 1097, p. 7, 15.03, 2013.

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ANEXO H - Jornal de Nova Petrópolis. ed. 1123, p. 7, 13.09, 2013.

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ANEXO I - Jornal de Nova Petrópolis. ed. 1125, p. 7, 27.09, 2013.

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ANEXO J - <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2013>

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ANEXO K - <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2199>

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ANEXO L - <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2087>

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ANEXO M - <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2083>

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ANEXO N - <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2429>

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ANEXO O - <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2107>

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ANEXO P - <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2010>

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ANEXO Q - <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2330>

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ANEXO R - <http://www.novapetropolis.rs.gov.br/noticias_int.php?id=2364>

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ANEXO S – Questionário aplicado nas Entrevistas em Profundidade

1 - Qual a sua impressão sobre o texto das notícias, do jornal e do site, que acabou de ler?

2 - Você já ouviu falar na atividade de assessoria de imprensa? Se sim, como você define o

papel da mesma no âmbito da comunicação?

3 - Qual é o papel de um veículo de comunicação impresso, um jornal, na sua opinião?

4 - Na sua concepção, qual é a importância do trabalho desenvolvido por um jornal?

5 - Para você, quais são as responsabilidades de um jornalista?

6 - Como você classifica o trabalho desenvolvido por um jornalista de assessoria de imprensa

e o de um jornalista que atua em veículo de comunicação?

7 – No seu entendimento, como funciona a relação entre assessoria de imprensa e veículos de

comunicação?

7 - Após ter lido as duas notícias no início da entrevista, como você classifica a procedimento

adotado pelo responsável pelo jornal na publicação da notícia, do ponto de vista ético?

8 - Essa prática adotada pelo jornal na publicação das notícias possui algum reflexo para

atividade de assessoria de imprensa? Se sim, qual?

9 - Como você acha que deveria ser o processo de trabalho entre uma assessoria de imprensa e

a os veículos de comunicação?