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“A manutenção da saúde assenta no contrariar a
tendência para a redução do exercício. Não existe
nenhuma forma de substituir o exercício, porque
com o exercício o calor sobe naturalmente e todas
as substâncias supérfluas são expelidas, enquanto
que em repouso o calor baixa e as substâncias
supérfluas são geradas no corpo, mesmo se os
alimentos são da melhor qualidade e em quantidade
moderada. E o exercício também expele o mal feito
pela maior parte dos maus regimes que a maioria
dos homens segue.”
(HIPÓCRATES, 420 AC
citado por BARATA, 1997, p. 9)
ÍNDICE
A. Introdução.................................................................................................................2
B. Enquadramento Teórico .........................................................................................3
1. O que é o exercício físico? .........................................................................................3
2. Papel do exercício na promoção da saúde .................................................................5
3. Benefícios do exercício físico ...................................................................................6
3.1. Benefícios físicos .....................................................................................................6
3.2. Benefícios psicológicos...........................................................................................8
4. Factores que predizem a adesão à prática de exercício físico ...................................9
4.1. Factores sócio-políticos...........................................................................................9
4.2. Factores individuais................................................................................................10
5. As teorias e modelos de cognição social e a promoção de exercício físico .............11
C. Projecto de Educação para a Saúde ......................................................................16
1. População Alvo..........................................................................................................17
2. Enquadramento ..........................................................................................................17
3. Diagnóstico da situação.............................................................................................18
4. Programação .............................................................................................................20
5. Avaliação ...................................................................................................................23
D. Conclusão ................................................................................................................24
E. Referências Bibliográficas .....................................................................................25
1
F. Anexos ......................................................................................................................27
A. INTRODUÇÃO
No âmbito da disciplina Estilos de Vida e Comportamentos Saudáveis (EVCS) e
Educação para a Saúde (ES) foi-nos proposta a elaboração de um trabalho cujo
propósito reside na compreensão das razões da adopção ou rejeição de comportamentos
saudáveis por parte da população em geral e da importância da educação para a saúde
nesse sentido.
Especificamente, a temática a ser abordada compreende o exercício físico, sendo
que o nosso trabalho vai incidir essencialmente na definição deste conceito, no seu
papel na promoção da saúde, benefícios, factores determinantes e nos modelos de
cognição e promoção deste comportamento. Não podemos deixar de referir que estas
componentes teóricas serão articuladas com um projecto de educação para a saúde
concebido para uma dada população, sendo o nosso objectivo estimular vinte e três
funcionários de uma empresa de consultadoria para a prática regular de exercício físico.
Um outro objectivo a atingir será elucidar as pessoas sobre este comportamento
saudável, desmistificar opiniões erradas a seu respeito e proporcionar incentivos para a
sua prática.
O exercício físico é uma prática utilizada desde os tempos mais remotos, desde a
pré-história, onde se assiste a representações pintadas nas grutas do homem a caçar,
passando pela época grega e romana, visualizando-se os cuidados ao corpo pela
existência de balneários e ginásios. Aristóteles (s/d) também dizia “nada degrada tão
rapidamente o homem como a falta de actividade física” e Juvenal (s/d) “Mens sana in
corpore sano”.
Sendo o exercício físico um comportamento saudável torna-se importante
definir, em primeiro lugar, o conceito de saúde. Assim sendo, este conceito actualmente,
segundo o Ministério da Saúde (1997, p.101), “é um bem inquestionável, constituindo a
base do desenvolvimento pessoal, social e produtivo”. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) reconhece a extrema importância da prática regular de exercício físico
para a saúde a todos os níveis: físico, mental, social, da capacidade funcional e do bem-
estar (BADURA, 1991).
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Actualmente, a prática do exercício físico tem vindo a cair em desuso, optando-
se cada vez mais por um estilo de vida sedentário, tendo o desenvolvimento da
tecnologia contribuído para este facto.
A OMS invoca a necessidade de introduzir políticas e programas que respondam
às necessidades e possibilidades da sociedade em geral, com vista à integração do
exercício físico na vida quotidiana dos indivíduos de todas as idades e estratos sociais.
Na Carta de Ottawa (1986) o conceito de promoção de saúde é descrito como
“um processo que visa criar condições para que as pessoas aumentem a capacidade de
controlar os factores que a determinam, no sentido de a melhorar” (in
http://www.dgsaude.pt/prom_saude/conc_princ.html), pressupondo um conjunto de
estratégias de prevenção da doença, protecção da saúde e de educação para a saúde,
sendo também da responsabilidade dos profissionais de saúde, em especial esta última.
Demonstrada a necessidade do ensino de comportamentos promotores da saúde,
para que esta seja assumida por nós como uma opção que cada um possui (Ministério da
Saúde, 1997), vamos proceder à apresentação do trabalho, onde se vai analisar
sobretudo o papel que o exercício físico assume como comportamento saudável nas
pessoas e na comunidade, no nosso caso concreto, na totalidade dos funcionários da
empresa referida, denominada Consulte-nos.
B. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1. O QUE É O EXERCÍCIO FÍSICO?
A definição de exercício físico é algo muito complexo. Há autores que
estabelecem distinção entre actividade física e exercício. Segundo Ogden (1999), o
exercício físico pode ser definido em três aspectos: intenção, resultados e localização.
Em relação à intenção alguns investigadores estabeleceram a distinção entre
tipos de comportamentos, relativamente às intenções individuais. Caspersen e col.
(1985), citados por Ogden (1999, p.180), fizeram a distinção entre actividade física e
exercício. Estes autores definem actividade física como “qualquer movimento corporal
produzido pelos músculos esqueléticos que resulte num consumo de energias”. Já o
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exercício físico é definido pelos mesmos autores como “movimento corporal planeado,
estruturado e repetitivo executado para melhorar ou manter um ou mais componentes
da boa forma física”.
Relativamente aos resultados, de acordo com Blair (OGDEN, 1999) foram
feitas distinções entre o exercício que é realizado com o objectivo de melhorar o estado
de saúde e o que é feito com a intenção de melhorar a forma física. Isto realça a
mudança da ostentação no exercício intensivo para manter uma boa forma
cardiovascular para o exercício moderado, que origina modificações moderadas no
estado de saúde do indivíduo.
Este fenómeno também exalta uma mudança que se aproxima de uma definição
de saúde que implica tanto as mudanças psicológicas como as biológicas.
Em relação à localização também foram realizadas distinções. Paffenbarger et
al., citados por Ogden (1975), “estabeleceram a diferenciação entre a actividade
ocupacional, que é realizada como parte integrante do trabalho diário do indivíduo a
actividade de tempos livres, que é levada a cabo nos momentos de ócio”.
Basicamente, existem dois tipos de metabolismo empregues pelo organismo na
produção de energia para a execução do trabalho muscular: o aeróbio e o anaeróbio.
Estímulos de baixa e moderada intensidade permitem trabalhos musculares de longa
duração com pouco dispêndio de energia e são considerados exercícios aeróbios, como
por exemplo: caminhadas, ciclismo e natação.
Os estímulos de forte intensidade desencadeiam um metabolismo que
proporciona uma produção de energia rápida, que permite um trabalho muscular de
curta duração e que se caracteriza como exercício anaeróbio, tais como: levantamento
de pesos e corridas de curta distância a contra relógio.
Os exercícios em que predominam as actividades físicas aeróbias podem ser
praticados por várias horas, tendo assim uma acção benéfica sobre o sistema
cardiovascular.
Taylor (1999) refere que “o exercício aeróbio é aquele que estimula e fortalece
o coração e os pulmões aumentando a capacidade do organismo para utilizar o
oxigénio, caracterizado pela sua alta intensidade, longa duração e elevada endurance”.
Este tipo de exercício permite a manutenção de um estado de equilíbrio entre o consumo
de energia e o suporte energético proporcionado pelo organismo, o que faz com que os
exercícios aeróbios sejam os recomendados em qualquer programa de exercícios,
quando o objectivo é aptidão física relacionada com a saúde.
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Reportando-nos à nossa intervenção numa empresa como equipa de Saúde
Ocupacional, onde fomos chamados para desenvolver um projecto que visasse a
promoção de um comportamento promotor de saúde – o exercício físico, decidimos
integrar o exercício físico aeróbio, dado que vários estudos referem ser este o tipo de
exercício o mais adequado para a prevenção de doenças cardiovasculares. Foi este que
nos pareceu o mais indicado para os problemas detectados nos trabalhadores da
Consulte-nos: hipertensão arterial, hiperlipidémia, obesidade.
Segundo Horta (1995), “a actividade física regular não é apenas uma actividade
física desportiva de lazer ou de competição, mas adopta uma perspectiva mais
abrangente envolvendo também actividades do quotidiano tal como subir e descer
escadas”.
2. PAPEL DO EXERCÍCIO NA PROMOÇÃO DA SAÚDE
Actualmente, é do conhecimento geral que a prática regular de exercício físico é
muito importante para se ter uma vida saudável. No entanto, a iniciação da sua prática
regular tem sido dificultada por diversos factores intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo.
Cuidar da nossa própria saúde envolve adoptar comportamentos saudáveis com o intuito
de alcançar melhores condições de saúde.
“Adoptar um estilo de vida saudável é ser capaz de escolher o melhor para nós
e para os outros (...) com flexibilidade assente no princípio de que toda a regra tem
excepções, que transgredir, não sendo norma, faz parte da vida” (Ministério da Saúde,
1997, p.117).
Ainda segundo o MS, os nossos comportamentos são decisivos na promoção da
saúde, quer no plano individual, quer colectivo. “As pessoas, individualmente ou
integradas em grupos ou estruturas são o principal recurso de saúde” (Ministério da
Saúde, 1997, p.117).
A Carta de Ottawa (1986) refere, relativamente à promoção da saúde, que esta é
um “processo que visa criar condições para que as pessoas aumentem a sua
capacidade de controlar os factores determinantes da saúde no sentido de a melhorar”.
Segundo Johnston (2001, p.676), promoção da saúde é “qualquer combinação planeada
de educação, política, regulação e suportes organizacionais para acções e condições de
vida condutores à saúde dos indivíduos, grupos e/ou comunidades”. Este processo
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assenta na valorização das pessoas e na criação de condições que lhes permitam
desenvolver todo o potencial de saúde.
Ao falar de promoção da saúde é importante falar de educação para a saúde que
se define como “um processo que visa contribuir para que as pessoas aprendam a gerir
melhor a sua saúde, ou a optar, de modo informado consciente, responsável e
autónomo”. (Ministério da Saúde, 1997, p.102).
A modificação de comportamentos necessita de uma aprendizagem que é
influenciada por todos os factores que nos rodeiam, tais como: crenças, mitos, atitudes,
entre outros.
O projecto desenvolvido para a empresa Consulte-nos teve como base conseguir,
através de um programa de educação para a saúde, que os trabalhadores alterassem os
seus comportamentos de risco, ou seja, que os mesmos iniciassem a prática regular de
exercício físico, tendo como objectivo a diminuição dos riscos de uma vida sedentária.
É importante levar os envolvidos na prática de exercício físico a sentir os efeitos
a curto prazo, pois esta é uma forma de maior adesão e participação em programas
saudáveis.
“A promoção da saúde no local de trabalho consubstancia-se, por um lado,
através da criação de ambientes e condições de trabalho seguros, atractivos e
saudáveis e, por outro, através do incentivo à adopção de estilos de vida favoráveis à
saúde por parte da população trabalhadora” (Ministério da Saúde, 1997, p.109).
A promoção da prática de exercício não passa apenas pela divulgação de
informação; há um conjunto de factores que são necessários, como por exemplo: a
criação de ambientes físicos, sociais, culturais e económicos, que são importantes para
que o indivíduo possa tomar decisões saudáveis.
3. BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO FÍSICO
O exercício físico regular constitui um elemento importante para um estilo de
vida saudável, prevenindo a doença em geral, e a doença cardiovascular em particular,
melhorando o estado de saúde e a qualidade de vida das pessoas que o praticam.
O exercício físico tem resultados benéficos a nível físico e psicológico.
3.1. Benefícios físicos
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Redução da Tensão Arterial : a actividade física moderada reduz a tensão arterial,
uma vez que provoca uma diminuição da pressão diastólica devido à
vasodilatação, com consequente diminuição dos riscos de arteriosclerose e AVC;
Redução do peso e obesidade : a realização de exercício físico potencia a perda/
manutenção de peso, pois o peso excessivo pode ser um factor predisponente do
aparecimento de doenças cardiovasculares;
Melhor controlo da diabetes : ao praticar exercício físico com regularidade os
doentes com diabetes controlada diminuem os níveis de glicémia o que faz com
que as necessidades de insulina sejam menores.
Protecção contra a osteoporose e o enfraquecimento dos ossos : o aumento da
actividade física reduz a perda óssea e o risco de fracturas, principalmente nas
mulheres após a menopausa.
Aumento da capacidade imunológica do organismo : o exercício físico aumenta
os mecanismos de auto-defesa do organismo;
Redução da incidência de doença coronária : prevenção da ocorrência da doença
cardiovascular e aumento da possibilidade de reabilitação depois de um enfarte
agudo do miocárdio. Conforme aumenta o gasto calórico durante a prática do
exercício físico regular, diminui progressivamente o risco de um problema
cardiovascular. Segundo Moris (OGDEN, 1999), os indivíduos que tentavam
manter-se em boa forma física tinham menos de metade das probabilidades do
que os outros de sofrer de doença coronária.
A prática regular de exercício físico pode prevenir as doenças coronárias
dado que:
o Há um aumento da espessura da musculatura cardíaca;
o Há um aumento da cavidade das câmaras cardíacas;
o Há um aumento da capacidade do sistema cardiovascular;
o Há um aumento do volume sanguíneo total;
o Há uma diminuição da pressão arterial;
o Há uma diminuição do peso em excesso, colesterol e dos triglicéridos.
(Adaptado por NEGRÃO, 2001 de American College of Sports – Guidelines, 1975)
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No caso dos trabalhadores da empresa Consulte-nos pensamos que ao
participarem no programa por nós proposto teriam uma melhor qualidade de vida.
Poder-se-ia também verificar um aumento significativo de resistência a determinadas
doenças descritas anteriormente e seria possível um desenvolvimento de hábitos de vida
mais saudáveis. É de salientar que os principais problemas observados pelo médico
eram a hiperlipidémia, hipertensão arterial e obesidade e que estes seriam atenuados ou
eliminados com a prática do exercício físico.
3.2. Benefícios PsicológicosOs benefícios psicológicos provenientes do exercício físico também são muito
relevantes para o bem-estar geral dos indivíduos que o praticam.
Aumenta a auto-confiança e a estabilidade emocional;
Aumenta o funcionamento intelectual , nomeadamente a memória e a percepção;
Aumenta a imagem corporal positiva : ao sentir-se melhor com o seu corpo o
indivíduo sente-se melhor consigo próprio e, por sua vez, com os outros.
Aumenta o locus de controlo interno, o auto-controlo e bem-estar : o exercício
físico liberta endorfinas que produzem sensações de bem-estar.
Aumenta a satisfação sexual;
Aumenta a eficiência e diminui o absentismo no trabalho : os trabalhadores, ao
sentirem-se bem física e psicologicamente, ficam mais motivados para trabalhar
e consequentemente faltam menos.
Diminui a ira/ irritação, a ansiedade, a confusão, a hostilidade, a depressão;
Diminui o nervosismo e tensão.
(Adaptado por Cruz, 1996 de Taylor, Sallis & Needle, 1985)
A competitividade vivida no seio da empresa entre os seus funcionários era um
facto apurado antes do início do programa que propusemos. Cremos que este dado
significativo diminuiria durante e após a implementação do mesmo, tornando o
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ambiente mais saudável entre os colegas da empresa, motivando-os para trabalhar em
equipa, o que seria benéfico para estes e para a própria empresa.
4. FACTORES QUE PREDIZEM A ADESÃO À PRÁTICA DE EXERCÍCIO
FÍSICO
A prática regular de exercício físico é fundamental na promoção de um bom
estado de saúde, tanto a nível físico como psicológico. Assim, torna-se importante
descrever que factores determinam a prática, ou não, de exercício.
Apesar de todos os benefícios do exercício físico, é considerável o número de
pessoas que não o pratica. A investigação sugere que os conhecimentos acerca dos
benefícios desta prática não são suficientes para determinar a realização deste
comportamento. Mediante alguns estudos foram identificados vários factores
considerados como determinantes para a adesão das pessoas a este comportamento.
“Os determinantes do exercício podem ser categorizados quer como sociais/
políticos ou individuais” (OGDEN, 1999, p.185).
4.1. Factores sócio-políticos
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Uma vontade política apostada em promover o exercício físico enquanto
actividade importante para a saúde e bem-estar individual e em facilitar a sua prática por
parte dos cidadãos pode originar um aumento na adesão a este comportamento.
Ogden (1999) refere, por exemplo, a importância das iniciativas governamentais
que se deram a partir do final da década de 60 no sentido de criar um clima favorável ao
aumento do exercício realizado. Até esta época o exercício era praticado de forma muito
intensa, sendo destinado à elite para que esta alcançasse uma excelente condição física.
A campanha “Desporto para Todos”, lançada pelo Conselho da Europa em 1972, visou
alterar esta atitude da sociedade face ao exercício, levando ao mesmo tempo à criação
de instalações desportivas por parte das autarquias que foram disponibilizadas para a
população em geral. Depois desta iniciativa seguiram-se muitas outras que, devidamente
divulgadas (e é aqui de referir a importância dos mass media que podem funcionar
como “amplificadores” da mensagem, transmitindo-a a um grande leque de pessoas) e
implementadas contribuíram para uma maior adesão à prática do exercício físico.
Também a nível institucional é importante uma política «pró» exercício físico.
Uma empresa que considere o exercício físico importante e o defina como um objectivo
a alcançar, tomando para isso medidas concretas para o promover entre os seus
funcionários (quer através da criação de campanhas de sensibilização, quer com a
implementação de boas condições para a sua prática), vai estar muito provavelmente a
contribuir para a adesão dos trabalhadores a este comportamento.
4.2. Factores individuais
Apesar de todas as medidas governamentais que se possam tomar, de todas as
infra-estruturas que se criem e programas que se implementem, cabe aos indivíduos,
dentro da sua própria consciência, decidir se querem ou não participar.
Ogden (1999), baseando-se em estudos de Dishman (1982), divide os factores
individuais que predizem o exercício em fixos e modificáveis.
Os factores não-modificáveis são a idade, o nível de escolaridade, consumo de
tabaco, facilidade de acesso às instalações desportivas, peso/gordura do corpo e a
motivação pessoal, sendo que Dishman (Ogden, 1999) considera que um baixo peso e
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taxa de gordura pessoal, bem como níveis de motivação elevados são os factores que
melhor determinam a realização do exercício.
Bennet (1999, p.24) aponta também uma relação entre a prática regular de
exercício e a idade, sexo e factores socioeconómicos, referindo que “os que praticam
exercício físico são mais provavelmente jovens adultos do sexo masculino, membros dos
grupos socioeconómicos mais elevados e aqueles que no passado praticaram
exercício”.
Outro aspecto facilitador de aderência a esta prática de forma regular, é a
existência de recursos e disponibilidade de instalações, como locais para a prática de
fácil acesso para o participante.
No entanto, vários teóricos suscitam dúvidas relativamente à pertinência de se
considerar alguns destes factores como fixos (Ogden, 1999). A acessibilidade às
instalações desportivas e a motivação pessoal, por exemplo, são susceptíveis de
alterações rápidas e radicais desencadeadas por eventos concernentes ao próprio
indivíduo e/ou a elementos exteriores a ele.
Os factores individuais modificáveis relacionam-se com o exercício que a
pessoa fez durante a infância - são considerados factores socioculturais, que vão
influenciar também a iniciação e manutenção da prática regular de exercício físico; ou
seja, é mais provável observar a adesão a este comportamento em pessoas oriundas de
famílias onde o exercício é praticado com regularidade ou quando outras pessoas
significativas exercem uma influência positiva e apoiam esta prática.
Os factores modificáveis estão também relacionados com a própria auto-imagem
pessoal – o facto de ser positiva e o grau de confiança no self ser elevado influencia os
níveis de actividade futuros.
Por outro lado, factores a nível cognitivo e individual, como as atitudes, crenças e locus
de controlo da pessoa, poderão influenciar o seu comportamento relativamente à prática
de exercício. O indivíduo que demonstra uma atitude positiva face a esta prática, que
acredita ter um papel activo na sua saúde e com pensamentos/ sentimentos de auto-
eficácia respeitantes ao exercício, tenderá a aderir mais a esta prática.
Desta forma, podemos considerar que as atitudes e crenças individuais exercem
um importante papel no que diz respeito à predição da prática de exercício físico, na
medida em que influenciam directamente o comportamento do indivíduo.
As crenças e atitudes da pessoa fazem parte dos factores cognitivos que estão
envolvidos na iniciação, manutenção e modificação dos comportamentos.
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Por exemplo, a percepção que o indivíduo tem da probabilidade de ter uma
doença particular ou a percepção da pessoa relativamente à gravidade das
consequências de adoecer poderão influenciar a prática, ou não, de exercício físico
(segundo o Modelo de Crenças de Saúde).
No entanto, segundo Carmody (1997, p.119), “crenças acerca dos riscos
associados a certos comportamentos prejudiciais à saúde podem não estar
necessariamente associados à ausência desses comportamentos de risco”. Neste caso
específico, isto significa que não bastará ter conhecimento dos riscos de uma vida
sedentária para começar a praticar exercício físico de uma forma regular. O mesmo
autor (1997, p.119) diz ainda que “crenças acerca dos efeitos positivos dos
comportamentos protectores de saúde estão fortemente associados à prevalência desses
comportamentos positivos”, ou seja, será mais fácil praticar exercício regularmente
quando se acredita que este é benéfico e se conhece esses mesmos benefícios.
Por outro lado, a percepção de benefícios sociais do exercício, como crer que
este dá prazer e promove o contacto social, pode influenciar a sua prática. Outro factor
que pode influenciar “é a crença de que a saúde e a boa condição física são
importantes”, segundo o estudo de Mori (1984) citado por Ogden (1999, p.191).
Segundo o Modelo de Crenças de Saúde, a percepção que a pessoa tem dos
benefícios do exercício físico e das barreiras para iniciar a sua prática, assim como
crenças no controlo pessoal (Auto-eficácia/ Expectativa de eficácia e locus de controlo),
poderão também influenciar a prática (ou não) de exercício físico.
“Auto-eficácia tem sido estudada em relação a vários comportamentos
relacionados com saúde, incluindo (...) o exercício físico” (BANDURA, 1982 citado por
CARMODY, 1997, p.118).
Sallis e col. (1986), citados por Ogden (1999, p.191) concluem que “a auto-
eficácia e as actividades no exercício físico e os conhecimentos ligados à saúde eram os
factores que melhor o prediziam”.
Conforme já referido anteriormente, o reconhecimento dos benefícios do
exercício físico é apenas uma parte da solução para um relevante problema de saúde
pública, decorrente de um estilo de vida sedentário, e não é suficiente por si só.
A sociedade tecnológica actual conduz as pessoas à inactividade, como é o caso
dos trabalhadores da empresa Consulte-nos, em que se observa uma grande utilização
dos computadores que poderá agravar o sedentarismo dos mesmos. Os automóveis, a
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televisão, os computadores e as máquinas industriais mudaram profundamente a forma
como as pessoas executam os seus trabalhos, cuidam das suas casas e utilizam os seus
tempos livres. Além disso, o nosso meio ambiente apresenta muitas vezes grandes
obstáculos à participação em actividades físicas.
As barreiras para a acção são outros factores importantes a considerar como
preditores de comportamentos que conduzem à prática de exercício físico.
Algumas barreiras referidas por investigações são falta de apoio de familiares e
amigos e não ter tempo suficiente (DISHMAN, 1982 citado por BENNET, 1999).
Outros estudos revelaram ainda que quem mais abandona o exercício físico é o pessoal
administrativo, fumadores e aqueles que acham que o exercício físico constitui um
esforço acrescido.
As pessoas podem ajudar a ultrapassar estas barreiras, modificando o seu próprio
estilo de vida e encorajando os familiares e amigos a tornarem-se mais activos. Além
disso, os organismos locais, as instituições de saúde pública, as associações culturais e
recreativas, as associações estudantis, as organizações profissionais e desportivas devem
trabalhar em conjunto para difundirem esta importante mensagem da importância de
praticar exercício físico de uma forma regular e promoverem programas nacionais, ou a
nível local, nas comunidades, nos locais de trabalho e nas escolas, de forma a auxiliar as
pessoas a tornarem-se fisicamente mais activas, e consequentemente mais saudáveis.
A nossa intervenção, como equipa de Saúde Ocupacional, baseou-se na
elaboração de uma proposta da prática do exercício físico dos funcionários da empresa,
pois sabemos que a prática/ experimentação constitui o melhor meio de incentivo do
que a informação isolada.
5. AS TEORIAS E MODELOS DE COGNIÇÃO SOCIAL E A PROMOÇÃO DE
EXERCÍCIO FÍSICO
Uma das maiores questões que se coloca aos responsáveis pela promoção da
saúde quando se fala em estilos de vida e comportamentos saudáveis é a de “como
conseguir alterar os comportamentos relacionados com a saúde por parte dos
indivíduos” (JONHSTON, 2001). Para que tal aconteça é necessário que haja uma boa
percepção de todos os factores que envolvem os comportamentos e do que leva uma
13
pessoa a decidir-se pela adopção dos mesmos, de modo a poder criar as melhores
estratégias para que a adesão a estes por parte de uma população seja maximizada.
Existem várias teorias e modelos que procuram explicar as relações entre o
pensamento, comportamentos individuais e a saúde. Apesar de termos escolhido o
Modelo Transteórico como a nossa principal base de referência ao longo do programa
que desenvolvemos, este engloba dentro de si vários conceitos de outras teorias já
desenvolvidas. Assim, considerámos pertinente referir-nos a algumas delas brevemente,
focando os seus aspectos centrais e o modo como estes se aplicam ao caso específico do
exercício físico.
As Teorias Comportamentais mais primitivas defendem que a adopção dos
comportamentos são fruto somente de algo externo ao indivíduo, ocorrendo devido a
estímulos com origem em factores ambientais (BENNETT, 1999). Estas realçam a
importância das intervenções baseadas na aplicação de reforços positivos e recompensas
de modo a promover a adopção e manutenção de comportamentos. Assim, não basta
“pôr” as pessoas a fazer exercício. É importante dar-lhes incentivos e fazê-las sentir-se
recompensadas por o fazerem. Estas teorias pressupõem igualmente que os sujeitos
actuam em grande parte por imitação de modelos sociais, sendo influenciados para a
adopção de comportamentos semelhantes aos dos modelos considerados. Deste modo,
uma boa maneira de incentivar a prática de exercício físico seria apostar, por exemplo,
em publicidade na qual se destacaria a importância do exercício físico e o facto de ser
um comportamento adoptado por muitas figuras públicas e mediáticas.
No entanto, estas teorias não levam em linha de conta os processos mentais que
ocorrem dentro de cada pessoa e que podem também ser muito influentes na adopção de
um determinado comportamento, o que já acontece nas Teorias Cognitivistas, que
incluem como principal foco de origem comportamental o resultado da interacção
destes processos mentais individuais com os conhecimentos exteriores. Destas teorias,
uma das mais conhecidas é a Teoria da Aprendizagem Social que destaca o papel das
expectativas do indivíduo. Estas expectativas são, por um lado, de acção-resultado, isto
é, reflectem até que ponto os indivíduos acreditam que determinada acção conduz a
determinado resultado (por exemplo, «praticar exercício físico reduz o risco de se sofrer
de doenças cardiovasculares») e por outro de auto-eficácia, espelhando até que ponto os
indivíduos se julgam capazes do comportamento adequado («eu consigo praticar
regularmente exercício físico» ou «eu não consigo praticar regularmente exercício
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físico») e são igualmente influentes na adesão e manutenção aos comportamentos
(RIBEIRO, 1998).
Dzewaltowski (BENNETT, 1999), num estudo que realizou em 1990 acerca do
exercício físico, encontrou uma correlação entre estas expectativas, a insatisfação com
os níveis anteriores de forma física e os níveis de adesão a este comportamento. As
pessoas “que praticavam mais exercício eram aqueles que estavam convencidos de ser
capazes de aderir ao fatigante programa de exercícios e que estavam insatisfeitos com
o seu nível actual de actividade física” (BENNETT, 1999). É, portanto, importante que
um programa de promoção de saúde actue igualmente em relação às crenças e à eficácia
– não apenas relativamente ao comportamento (sendo a informação dada relativamente
aos benefícios do exercício físico essencial), mas também no aspecto da auto-eficácia
(devendo-se incentivar uma auto-avaliação das pessoas acerca de que exercícios podem
ou não fazer, dialogar com eles no sentido de se clarificar as suas potencialidades e
limitações e apostar em técnicas para elevar a motivação pessoal e a vontade de praticar
exercício físico).
É de referir também a Teoria do Comportamento Planeado de Ajzen e Fishbein
que afirma que o determinante primário do comportamento consiste na intenção de se
praticar esse comportamento (BENNETT, 1999). Esta intenção varia em função de três
factores: a atitude do indivíduo em relação ao comportamento, a norma subjectiva e o
controlo percebido.
Assim, e relativamente ao primeiro factor, só o facto de um indivíduo considerar
a prática do exercício como boa ou má vai levá-lo a ter uma atitude positiva ou negativa
que vai influenciar a sua adesão a este comportamento. Também as crenças que este
tenha em relação aos resultados e a avaliação que faça destes vão determinar as suas
atitudes no que diz respeito ao exercício físico (Ogden, 1999).
O segundo factor compreende dois elementos: por um lado, as crenças
normativas que são vinculadas por terceiros importantes (como os pais ou o conjugue
querer que a pessoa pratique uma actividade física) e por outro, a própria “motivação do
indivíduo para cumprir essas expectativas” (BENNETT, 1999).
O terceiro factor diz respeito à capacidade percebida do indivíduo para praticar o
comportamento desejado (RIBEIRO, 1998), que pode ser facilitada ou inibida tanto a
nível interno (pelas aptidões e informação em relação ao exercício físico, por exemplo)
como externo (devido às oportunidades para a prática de exercício ou ao grau de
dependência monetária, por exemplo).
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Escolhemos utilizar o Modelo Transteórico da mudança do comportamento
porque nos pareceu ser o mais global, uma vez que atende a muitos conceitos já
referidos nas teorias anteriores e que são importantes para a percepção da mudança
comportamental e porque se centra na própria mudança que é, afinal, o principal
objectivo do programa que pretendemos implementar. Para além disso confere-nos a
capacidade de contextualizar as necessidades, crenças e motivações do indivíduo em
relação à adesão e manutenção da prática regular de exercício físico e já foi aplicado
com sucesso em diversos estudos sobre comportamentos relacionados com a saúde,
inclusivamente respeitantes ao exercício físico (OGDEN, 1999).
Este modelo, desenvolvido inicialmente por Prochaska e DiClemente, encara a
mudança comportamental como um processo dinâmico constituído por cinco estádios
pelos quais as pessoas passam quando caminham em direcção à alteração
comportamental, e que aplicados ao exercício físico são:
Pré-contemplação – o indivíduo afirma não praticar exercício e não pretender
fazê-lo;
Contemplação – o indivíduo avalia os benefícios de ser mais activo e talvez
pretenda mudar, porém, não está preparado para se comprometer a agir;
Preparação – o indivíduo está preparado para mudar e planeia prosseguir
com o objectivo de praticar exercício físico. Pode, inclusivamente, já ter
feito tentativas sem sucesso para iniciar o comportamento;
Acção – o indivíduo já começou a iniciar esforços com sucesso no sentido de
praticar exercício físico regularmente;
Manutenção – um padrão de exercício físico regular foi consolidado pelo
tempo mínimo de seis meses e o indivíduo persiste relativamente estável
com o novo comportamento saudável.
Este modelo é cíclico e bidireccional, podendo os indivíduos envolvidos em
mudanças de comportamento começar em qualquer ponto do processo e progredir ou
recuar a uma fase anterior em qualquer altura (SUTTON, 1997).
O Modelo Transteórico pretende formular intervenções ajustadas a cada
indivíduo e às suas necessidades, de forma a ajudá-lo a caminhar no sentido da mudança
comportamental. A noção de balanço decisivo, ou prontidão para a mudança é a
vertente nova incorporada por esta teoria que pretende ser universal na utilização
individual (Ribeiro, 1998). Assim, quando se pretende implementar um programa de
16
promoção de saúde num grupo com base neste modelo é essencial proceder-se a uma
avaliação prévia do estádio em que os elementos do grupo se encontram e do seu nível
de prontidão para a mudança para que se possa adequar o programa às características da
população-alvo, de modo a melhorar a eficácia deste.
C. PROJECTO DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
Neste capítulo vai ser descrito um projecto de educação para a saúde relacionado
com a promoção do exercício físico num contexto de local trabalho. Apesar da empresa
sobre a qual nos iremos debruçar não existir, sendo todos os dados relacionados com ela
e com as pessoas que nela trabalham fictícios (tendo alguns sido fornecidos pelas
professoras da disciplina e outros criados por nós de modo a enriquecer e tornar mais
perceptível o trabalho), procurámos encarar a situação como real e elaborámos todo o
projecto e o programa que lhe está subjacente com base nesta assunção.
Apresentamos de seguida o projecto frisando que todas as intervenções nele
contidas com vista à promoção da saúde e às mudanças comportamentais basearam-se
na teoria que já descrevemos no capítulo anterior.
1. POPULAÇÃO ALVO
♦♦ A população alvo é constituída por 23 funcionários de uma empresa de consultadoria
denominada Consulte-nos.
2. ENQUADRAMENTO
♦♦ A empresa foi fundada em 1989 e localiza-se na cidade de Lisboa num prédio de dois
pisos em bom estado de conservação, supondo a existência de recursos físicos para a
prática do exercício físico.
♦♦ É constituída por um total de 23 funcionários todos licenciados em gestão à excepção
do recepcionista, da telefonista e do estafeta, estando a comunicação facilitada.
♦♦ A média de idades é de 34 anos, sendo 4 dos funcionários do sexo feminino e 19 do
sexo masculino. Trata-se de uma população maioritariamente jovem, dentro da idade
17
adulta, o que deveria pressupor uma menor tendência para o desenvolvimento de
doenças cardiovasculares.
♦♦ Apenas 19 dos licenciados pertencem ao quadro e os restantes trabalham a termo
certo.
♦♦ Trabalham uma média de 10 horas diárias, ou mesmo 12 a 14h; por vezes trabalham
ao fim de semana. Denota-se uma sobrecarga de horário e de trabalho por parte dos
funcionários, não deixando tempo para disponibilizarem para si próprios. Além disso, a
carga de stress aumenta e vai-se acumulando de dia para dia, quando não é libertada.
♦♦ Todos os licenciados dispõem de um computador portátil pessoal.
♦♦ A grande maioria utiliza transporte pessoal, com excepção do estafeta e da telefonista,
que utilizam transportes públicos.
♦♦ A taxa de absentismo de trabalho é muito reduzida.
♦♦ Os funcionários têm direito a um seguro de saúde e assistência no âmbito da Saúde
Ocupacional.
♦♦ Há cerca de um mês, um dos funcionários, de 38 anos e licenciado em gestão, sofreu
um enfarte do miocárdio, encontrando-se ainda ausente com baixa médica.
♦ ♦ Confrontados com a situação do colega de trabalho os funcionários da empresa
dirigiram-se ao médico, o qual detectou na maior parte destes hipertensão arterial,
hiperlipidémia e obesidade. Em face dos resultados, o Conselho de Administração da
empresa pediu a intervenção do Serviço de Saúde Ocupacional da Companhia de
Seguros, papel que o nosso grupo de trabalho desenvolve.
3. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO
♦♦ A empresa tem potencialidades para efectuar espaços de formação interna e de prática
de exercício, pela existência de recursos físicos (2 salas inutilizadas), financeiros (o
18
Conselho de Administração dispõe-se a custear programas para a saúde dos seus
funcionários, bem como financiar os recursos humanos necessários, de maneira a zelar
pela saúde dos seus trabalhadores e, desta forma, aumentar a produtividade da empresa).
♦♦ É notório um clima de elevada competitividade entre os funcionários.
♦♦ A empresa não evidenciava, inicialmente, atitudes preventivas de saúde.
♦♦ O nível de escolaridade é tido em conta visto ser essencial na difusão da informação.
♦♦ O contexto profissional dos funcionários é igualmente valorizado para fins de
selecção dos meios difusores dessa informação.
♦♦ Foi elaborado um questionário com perguntas abertas de forma a permitir a recolha de
informação necessária à implementação do programa. A totalidade dos funcionários
respondeu aos questionários.
♦♦ Os questionários foram distribuídos no início da manhã pelo Conselho de
Administração, com a intenção de aumentar a adesão, e recolhidos após tempo cedido
para o seu preenchimento; foi garantida a sua confidencialidade.
♦♦ Os dados fundamentais apurados do questionário foram:
Questões Resultados (%)
SIM NÃO
Considera estar devidamente informado sobre os benefícios da
prática regular de exercício físico e consequências do
sedentarismo? 13 87
Gostaria de obter mais informação sobre este assunto? 82,6 17,4
Preocupa-se com as doenças originadas pela inactividade/
sedentarismo? 26,1 73,9
Costuma praticar exercício físico regularmente?
Se sim, há mais de seis meses?
8,7 91,3
50 50
19
Se não, planeia iniciar esta prática a curto prazo? 23,8 76,2
Se não pratica exercício físico o que o impede de o fazer?
- Falta de tempo
- Falta de recursos económicos
- Falta de espaço/ condições
- Não quer pura e simplesmente fazer exercício
89,5 11,5
15,8 84,2
78,9 21,1
12,5 87,5
Qual o exercício que pratica ou gostaria de praticar?
- Bicicleta
- Desportos colectivos
- Cardio-fitness
- Tai-chi
87 13
78,3 21,7
82,6 17,4
69,6 30,4
Aplicando o modelo transteórico aos resultados deste questionário, concluiu-se
que a maior parte dos sujeitos (14 indivíduos para ser-se exacto, aproximadamente 61%
da população) encontravam-se numa fase de contemplação face à prática do exercício
físico. Os restantes sujeitos dividiam-se pelas fases da pré-contemplação (2 indivíduos;
8,7% da população), preparação (5 indivíduos; 21,7% da população), acção e
manutenção (ambas com 1 indivíduo, que corresponde a 4,3% da população).
Com base nos resultados, e atendendo ao facto de um dos trabalhadores se
encontrar de baixa por doença associada ao sedentarismo e de outros apresentarem
igualmente factores de risco cardiovasculares, o Serviço Ocupacional de Saúde, em
acordo com o Conselho de Administração, decidiu elaborar um programa para fomentar
a prática do exercício físico e assim controlar as doenças geradas pelo sedentarismo.
Procurou-se adaptar este programa às características da população, (que se
encontra maioritariamente num estádio de contemplação), tendo-se feito uma maior
aposta em iniciativas que visassem promover uma mudança dos indivíduos para a
preparação para a acção e mais tarde para a própria prática do exercício físico e
manutenção deste comportamento a longo prazo.
Levaram-se em linha de conta os principais factores indicados pela maioria dos
sujeitos como inibidores da adesão ao exercício físico. Foi neste sentido que foi feito
um grande esforço para fornecer espaço e condições aos trabalhadores para praticar
exercício físico dentro da própria empresa e que se divisaram estratégias para lhes
conferir uma maior disponibilidade para esta mesma prática. Ao mesmo tempo
20
procurou-se motivar os indivíduos para a mudança comportamental com a criação de
oportunidades para praticarem as actividades que mais lhes agradavam e de outras
iniciativas que são descritas mais adiante.
4. PROGRAMAÇÃO
♦♦ Não considerámos necessário o recurso a pares, na medida em que se trata de um
grupo relativamente pequeno e de fácil acesso por parte da equipa de Saúde
Ocupacional.
Finalidade: Reduzir ou erradicar o número de casos de trabalhadores com
elevados níveis de colesterol, lipidémia e obesidade e, desta forma, controlar o
aparecimento de doenças cardiovasculares.
Conteúdos a abordar: Informação teórica sobre a importância e benefícios do
exercício físico, doenças originadas pelo sedentarismo e respectivas medidas
preventivas com vista à alteração do comportamento.
Duração prevista: 12 meses.
Metodologia:
♦ ♦ Conhecer a estrutura da empresa de modo a avaliar as condições para a
implementação de um projecto para a prática regular de exercício físico.
♦ ♦ Encetar reuniões com o Conselho de Administração para a discussão do problema e
propor hipóteses de discussão.
♦♦ Realizar um questionário no início e no final do projecto. No início, para obter
informações necessárias, individualmente e em grupo, para a elaboração do programa.
No final, para se depreender a evolução obtida em relação ao início do programa.
21
♦♦ Realizar exames de detecção de doenças cardiovasculares e provas de esforço físico a
cada um dos trabalhadores (também no início e no fim do projecto), para uma melhor
adequação dos planos de actuação à população em causa.
♦♦ Elaborar uma sessão informativa no início do projecto para a consciencialização dos
trabalhadores da necessidade de praticar exercício físico e das suas vantagens numa
tentativa de os motivar a participar nas actividades.
♦♦ Criar um espaço de atendimento personalizado sempre que existir necessidade de
realizar mais exames, para esclarecimento de dúvidas e quando os trabalhadores
sentirem necessidade.
♦♦ Produzir panfletos e um CD-ROM de apoio ao projecto (de maneira a nos
aproximarmos o mais possível do contexto da população alvo), sendo os panfletos
distribuídos no final da sessão informativa e nas consultas e o CD-ROM a cada
funcionário no início do programa.
♦♦ Organizar de actividades desportivas ao “ar livre” para os funcionários e família/
amigos com prémios simbólicos para os vencedores das actividades. De algumas
actividades destacam-se as provas de bicicleta, caminhas e Tai-chi, para a qual foi
divulgada a realização de encontros gratuitos de Tai-chi em Belém, aos Sábados de
manhã.
♦♦ Disponibilizar uma sala com equipamento auxiliar de exercício físico no local de
trabalho, com bicicletas fixas, tapetes rolantes e colchões, e outra sala para vestiários.
♦♦ Estimular a realização de exercícios físicos em horário laboral, como por exemplo,
alongamentos e subir as escadas em vez de usar elevador.
Intervenientes:
♦♦ O plano de acção da equipa multidisciplinar foi aprovado pela administração da
empresa Consulte-nos. Como tal, no projecto participam a equipa de Saúde
22
Ocupacional, pertencente à Companhia de Seguros da empresa e, embora de uma forma
menos directa, o Conselho de Administração.
Execução:
♦♦ A execução do projecto é monitorizada pela Equipa Multidisciplinar de Saúde
Ocupacional.
♦ ♦ Vai-se estudar e conhecer a estrutura da empresa.
♦ ♦ Vão ser feitas reuniões com o Conselho de Administração.
♦♦ As actividades vão ser realizadas durante um ano, sendo algumas praticadas dentro do
horário laboral (30 minutos ao final do dia, dentro da empresa) e outras em tempo livre.
♦♦ A adesão dos funcionários ao projecto é voluntária.
♦♦ Dar-se-á a realização de uma sessão informativa no início do programa para explicar
em que consiste e quais os seus benefícios e para motivar a adesão dos funcionários a
esse mesmo projecto.
♦♦ Irão ser criados panfletos e um CD-ROM de apoio (informativos e com exercícios
ilustrados) que serão distribuídos oportunamente no final da sessão informativa e nas
consultas.
♦♦ Propiciar-se-á um espaço próprio e personalizado aos trabalhadores, com a presença
de um médico e um enfermeiro para a realização de exames, nomeadamente aos valores
de PA, peso e lipidémia, e esclarecimento de dúvidas, estando prevista uma manhã em
cada semana para esse fim.
♦♦ Serão efectuadas duas campanhas de detecção de doenças cardiovasculares e provas
de esforço, uma no início e outra no final do projecto, para comparação dos resultados.
5. AVALIAÇÃO
23
♦♦ A avaliação será realizada de uma forma contínua ao longo de todo o programa,
podendo-se efectuar alterações mínimas de modo a corrigir alguns problemas e
maximizar a eficácia das intervenções. A meio do programa (após 6 meses) e no fim
deste será realizada uma avaliação mais profunda e detalhada, através dos seguintes
indicadores:
1) Adesão dos funcionários às actividades propostas;
2) Adesão dos funcionários à sessão informativa inicial;
3) Adesão dos funcionários aos espaços de atendimento personalizado;
4) Aplicação do questionário inicial quando o programa estiver concluído e
comparação dos resultados;
5) Realização de novas análises clínicas/ exames para comparação dos resultados finais
com os iniciais.
D. CONCLUSÃO
O exercício físico é considerado pela globalidade da comunidade cientifica
actual como um comportamento saudável uma vez que a sua prática traz grandes
benefícios ao indivíduo que a ele adere, contribuindo para o seu bem-estar e para a
manutenção de uma boa saúde por parte deste (RIBEIRO, 1998). No entanto, e apesar
de todas as vantagens da prática regular do exercício físico, constata-se que, por um
variado e complexo conjunto de factores, nem sempre as pessoas adoptam um estilo de
vida que contempla o papel primordial que este comportamento tem na promoção da
saúde.
Para que este comportamento se altere, quer por parte de um indivíduo
específico, quer por parte de toda uma população é necessário um esforço concertado,
que envolverá certamente o trabalho de uma equipe profissional e multidisciplinar e que
passará pela elaboração de um projecto de educação para a saúde. Este projecto tem que
estar assente em conceitos e teorias sólidas acerca de tudo o que está subjacente ao
comportamento a alterar; deve-se basear num modelo especifico para delinear a sua
acção e que se adeque ao fenómeno em causa; e, sobretudo, nunca deve ser esquecido
que o alvo do projecto são as pessoas – assim, é extremamente importante que este se
24
centre na pessoa, que contemple todos os contextos que a rodeiam, que seja flexível e se
adapte às suas características e que vise o sempre o bem da mesma.
Este trabalho permitiu-nos elaborar um projecto deste género, o que nos conferiu
diversas aprendizagens. Por um lado tomámos um maior conhecimento de tudo o que
envolve o exercício físico e do seu importante papel na promoção da saúde. Por outro
lado, adquirimos uma maior compreensão dos mecanismos que envolvem as mudanças
comportamentais e do que nós, enquanto enfermeiros, podemos fazer para promover
estas mudanças. Por último, e não menos importante, aprendemos muito relativamente à
própria elaboração de um projecto para a saúde, uma vez que foi uma experiência nova
para nós.
Pensamos por isso que cumprimos todos os objectivos a que nos propusemos no
início deste trabalho e estamos ansiosos para podermos aplicar o que aprendemos num
futuro breve enquanto futuros enfermeiros, ou quiçá, ainda como estudantes de
enfermagem, elaborando projectos semelhantes que possam contribuir para uma
melhoria da saúde e da qualidade de vida das pessoas.
E. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- BADURA, Bernhard et al (1991) – Health Promotion Research – Towards a new social epidemiology. England: WHO Library Cataloguing. ISBN 92-890-1128-9;
- BARATA, Themudo et al (1997) – Actividade Física e Medicina Moderna. Odivelas: Europress. ISBN: 972-559-228-X;
- BENNETT, Paul; MURPHY, Simon (1997) - Psicologia e Promoção da saúde. Lisboa: Climepsi Editores. ISBN: 972-8449-48-8;
- CRUZ (1996) - Efeitos e benefícios psicológicos do exercício físico In
http://netfeminina.sapo.pt/JE0/320302.html;
- HORTA, Luís (1995) - Actividade física e prevenção primária das doenças
cardiovasculares. In Cardiologia Actual, vol. V, nº42 (Maio). Lisboa. Pag.1460-1470.
ISSN: 0871-7915;
- http://www.dgsaude.pt/prom_saude/conc_princ.html;
25
- JOHNSTON, Derek; JOHNSTON, Marie (2001) - Health Psychology, vol. VIII.
Amesterdam: Elsevier;
- MAGÃO, Maria Teresa Gouvêa (2002) - Documento de orientação da disciplina: Estilos de Vida e Comportamentos Saudáveis. Lisboa: ESEMFR;
- MINISTÉRIO DA SAÚDE (1997) - A saúde dos portugueses. Lisboa: Direcção Geral da Saúde. ISBN: 972 - 9425 - 54 –X;
- NEGRÃO, Sidnei S. (2001) - Os benefícios da actividade física regular In http://www.personalfit.com.br/artigos.asp?artigo=221;
- OGDEN, Jane (1999) - Psicologia da saúde. Lisboa: Climepsi Editores. ISBN: 972 – 8449 – 16 – X;
- RIBEIRO, José L. P. (1998) - Psicologia e Saúde. Lisboa: Instituto Superior de Psicologia Aplicada. ISBN: 972 – 8400 – 07 – 01.
- SUTTON, S. (1997) - Transtheoretical model of behaviour change In Baum, A. et al (1997) – Cambridge handbook of psychology, health and medicine. Cambridge: Cambridge University Press.
26
F. ANEXOS
Reflexões pessoais
Com a realização deste trabalho foi possível cimentar um conjunto de
conhecimentos já adquiridos e interiorizar outros, relativamente a um comportamento
de saúde, o Exercício Físico.
Por mais que nos seja transmitida a ideia de que o exercício físico pode ser
implementado durante actividades laborais ou de lazer a dúvida fica sempre instalada
pois, como é sabido, a informação por si só é insuficiente para sensibilizar e orientar
para a mudança de comportamentos de risco, ainda mais quando as consequências
nefastas só se fazem notar a longo prazo.
Durante a pesquisa deste trabalho, não só em monografias como na internet, que
cada vez mais constitui um veículo de informação actualizada, deparei-me com um
conjunto de dados informativos e em especial ilustrativos em relação a esta prática.
“Uma imagem vale mais que mil palavras”, diz o ditado popular, então, uma imagem
constitui um importante contributo para a mudança destes comportamentos de risco.
De qualquer forma, também esta medida não pode vir isolada, portanto, a
tentativa que se fez em grupo de colocar 23 funcionários de uma empresa de
consultadoria a praticar regularmente exercício físico, cuja prática estava dificultada
pela carga horária de trabalho, foi o meu maior desafio até então, porque, além de me
27
sensibilizar que o que pode parecer impossível nem sempre o é, fez-me crer que a
prática/ demonstração é o melhor estímulo para a pessoa iniciar, manter ou mudar um
comportamento.
Também no decorrer do trabalho conheci os números assustadores de doenças
geradas pela inactividade. A OMS (2002) estima que mais de dois milhões de mortes
são atribuíveis ao sedentarismo, sendo o segundo maior factor de risco evitável nos
países desenvolvidos a seguir ao tabaco. Isto para dizer que a investigação realizada
para este trabalho fez ressaltar aspectos fundamentais que podem servir igualmente para
a minha própria mudança de comportamentos de risco e adopção de comportamentos
saudáveis, especificamente do exercício físico.
Relativamente à apresentação oral do trabalho, e falando mais em pormenor do
trabalho desenvolvido em grupo, penso que os resultados verificaram ser bastante
positivos e se reuníssemos as aptidões e condições necessárias talvez conseguíssemos
alcançar resultados semelhantes, pois sou da opinião que tentámos ser reais, sensíveis à
população alvo e científicos, em termos de informação disponibilizada.
Numa avaliação geral, gostei do trabalho que surgiu da união dos esforços do
grupo, pois consegui enriquecer a minha visão sobre a temática e adquirir competências
com vista à promoção de estilos de vida e comportamentos saudáveis que visam o meu
desenvolvimento enquanto futura profissional de enfermagem e ainda como pessoa.
Ainda outro aspecto importante de salientar foi, sem dúvida, o desenvolvimento do
espírito de equipa entre o grupo aquando da elaboração do projecto para os funcionários
da empresa. É sempre interessante notar o desenrolar de um trabalho em equipa desde o
momento em que surgem os primeiros conflitos e pensamos que tudo está perdido até à
altura em que avaliamos o nosso trabalho e verificamos que se realizou um Bom
trabalho, melhor do que se o tivéssemos feito individualmente.
A aluna:
Andreia Catarina Domingues
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Este trabalho realizado no âmbito das disciplinas de Estilos de Vida e
Comportamentos Saudáveis e Educação para a Saúde foi fundamental para o meu
processo de aprendizagem, dado que é essencial que como futura enfermeira tenha
28
estruturas edificadas acerca de como se deve e pode elaborar um projecto de
intervenção global a nível de determinados estilos de vida, para um grupo de indivíduos
numa determinada situação contextualizada.
O facto de ter sido um trabalho elaborado em grupo também é algo que tem
resultados extremamente positivos, dado que há uma partilha de diferentes opiniões e
que enriquece em muito as nossas próprias reflexões e o trabalho em si. Penso que a
criatividade também foi uma constante na realização deste trabalho, particularmente na
apresentação oral, aliás como na maioria dos trabalhos de grupo apresentados em sala
de aula.
Penso que se o projecto proposto pelo meu grupo de trabalho fosse mesmo
colocado em prática que iria ter resultados positivos, pois o grupo teve o cuidado de
explorar diversas soluções viáveis para a problemática do sedentarismo observada nos
trabalhadores da empresa em questão.
A revisão bibliográfica da própria temática da prática do exercício físico
constitui um momento de aprendizagem muito benéfico na minha vida enquanto pessoa,
mulher, estudante, futura profissional de saúde, entre outros papéis que desempenho na
sociedade e no mundo, pois cada vez é mais evidente no nosso dia a dia tecnologia que
nos motiva ao sedentarismo, há que saber os riscos e malefícios que esse acarreta, e
como e em quê especificamente o exercício físico pode melhorar a nossa vida a curto e
a longo prazo.
Claro que quando se fala de alterar um estilo de vida já instaurado há um longo
período de tempo ou desde sempre, essa tarefa torna-se complexa e até por vezes
inglória, não basta dar informação só oral ou só escrita tem de existir uma articulação
entre ambas quer em grupo quer a nível individual, pois cada pessoa tem as suas
particularidades. Mas o facto de conseguir que algumas pessoas consigam aperceber-se
do que é prejudicial para si e alterarem os seus comportamentos em função de uma
melhor qualidade de vida já é uma vitória para essas pessoas e para nós que em conjunto
e com esforço as conseguimos ajudar nesse sentido.
Em suma, este trabalho deu-me imenso prazer a elaborar e sinto que foi um
tempo muito bem gasto e produtivo que teve consequências significativamente positivas
no meu processo de aprendizagem enquanto futura profissional de saúde e enquanto
pessoa.
A aluna:
29