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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL DAIELE ALVES DA SILVA A BRUXA NO CINEMA: UM ESTUDO SOBRE O IMAGINÁRIO E CONTOS DE FADAS NA CONTEMPORANEIDADE Caxias do Sul 2015

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

DAIELE ALVES DA SILVA

A BRUXA NO CINEMA: UM ESTUDO SOBRE O IMAGINÁRIO E CONTOS DE FADAS NA CONTEMPORANEIDADE

Caxias do Sul 2015

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DAIELE ALVES DA SILVA

A BRUXA NO CINEMA: UM ESTUDO SOBRE IMAGINÁRIO E CONTOS DE FADAS NA CONTEMPORANEIDADE

Monografia de conclusão de curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel. Orientadora Prof. Dra. Ivana Almeida da Silva

Caxias do Sul 2015

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DAIELE ALVES DA SILVA

A BRUXA NO CINEMA: UM ESTUDO SOBRE IMAGINÁRIO E CONTOS DE FADAS NA CONTEMPORANEIDADE

Monografia de conclusão de curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel. Aprovada em __/__/__

Banca Examinadora

____________________________________ Prof. Dra. Ivana Almeida da Silva. Orientadora Universidade de Caxias do Sul – UCS ____________________________________ Prof. Me. Myra Gonçalves Universidade de Caxias do Sul – UCS ____________________________________ Prof. Me. Misael Paulo Montaña Universidade de Caxias do Sul – UCS

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Deus pela vida. Segundo a minha família, pelo

apoio incondicional durante todos esses anos e principalmente na minha trajetória

acadêmica. Meu pai pelo exemplo de bravura e persistência, que me ensinou desde

os primeiros passos a ter coragem e seguir sempre em frente buscando a realização

dos meus sonhos. Minha mãe pela sensibilidade que mesmo nos momentos de

nervosismo buscou aquietar meus pensamentos e meu coração. Minha irmã, pela

alegria que transmite sua companhia, fazendo com que a vida fosse mais divertida e

bizarra. Ao meu afilhado Vicente que alegra os meus dias e trouxe consigo um amor

sem limites para a nossa família. Ao meu noivo, pelo companheirismo e pela

paciência durante essa trajetória. Vocês são indispensáveis na minha vida, eu não

chegaria até aqui se eu não os tivesse ao meu lado. Eu amo vocês muito mais do

que eu poderia descrever.

Aos meus amigos, obrigada pela compreensão, por entenderem que apesar

do pouco tempo que estivemos juntos nessa fase da minha vida sempre farão dela

mais completa e feliz.

Aos professores, que fizeram parte do meu processo de formação e da

minha vida de uma maneira especial. Obrigada pela dedicação e carinho com que

me transmitiram sabedoria. Em especial agradeço à prof. Ivana Almeida da Silva,

sem a qual esse trabalho não seria possível, serás meu exemplo de pessoa e

profissional para o resto da vida.

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RESUMO

O intuito desta monografia volta-se para a bruxa no cinema contemporâneo.

Com o objetivo de analisar as modificações pelas quais essa personagem passou

nas adaptações dos clássicos e apresentar como o cinema contemporâneo a

constrói no nosso imaginário. Além ainda de ilustrar alguns produtos que fazem

parte de uma apropriação da indústria cultural em relação à bruxa adaptada da

literatura infantil. Os métodos utilizados são: a pesquisa bibliográfica, análise fílmica,

análise de imagem e estudo de caso. A pesquisa bibliográfica foi levantada com

base nos principais autores das teorias do imaginário e do cinema. Para completar

a pesquisa é realizada uma análise das adaptações dos filmes de clássicos literários

como: O mágico de Oz (1939) para Oz Mágico e Poderoso (2012), Branca de Neve

e os Sete Anões (1938) para Espelho, Espelho Meu (2013) e A Bela Adormecida

(1959) para Malévola (2014). Essa análise esclarece quais as técnicas utilizadas

pelo cinema a fim de transformar as belas bruxas dessa nova dimensão naquela

figura tenebrosa a qual já carregamos no imaginário, fazendo com que ela não perca

a sua significação.

Palavras–chave: Bruxa, Cinema Contemporâneo, Contos de fadas e Imaginário.

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ABSTRACT

The purpose of this paper turns to the witch in contemporary cinema. In order

to analyze the changes in which this character of the classic fairy tales passed on

adaptations of classic and contemporary cinema display as a build in our

imagination. Besides further illustrate some products that are part of a cultural

industry ownership in relation to the witch of children's literature. The method used is

the case study and is mainly constituted by bibliographic research and image

analysis. A literature search was raised based on the main authors of the theories of

the imaginary and the cinema. To complete the survey is conducted an analysis of

adaptations of literary classics such films as The Wizard of Oz (1939) Oz for Magic

and Powerful (2012), Snow White and the Seven Dwarfs (1938) for Mirror, mirror

(2013 ) and Sleeping Beauty (1959) for Maleficent (2014). This analysis clarifies the

techniques used by the cinema in order to transform the beautiful witches this new

dimension that dark figure which already carry the imagination, so that it does not

lose its significance.

Keywords: Witch, Contemporary Cinema, fairy tales and Imaginary.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Cartaz Oz: Mágico e Poderoso ....................................................... ......13

Figura 2 – Cartaz Espelho, espelho meu ......................................................... ......14

Figura 3 – Cartaz Malévola .............................................................................. ......14

Figura 4 – Bruxas condenadas à fogueira ........................................................ ......18

Figura 5 – As bruxas de Salvator Rosa (1649) .........................................................19

Figura 6 – O anão Morgante Bronzino ......................................................................24

Figura 7 – Conto de fadas Branca de Neve ..............................................................28

Figura 8 – Haxan (1922) ...........................................................................................36

Figura 09 – Baby Jane (1962) ...................................................................................37

Figura 10 – Arraste-me para o inferno (2009) ...........................................................38

Figura 11 – Enrolados (2010) ....................................................................................39

Figura 12 – João e Maria: Caçadores de bruxas (2013) ...........................................40

Figura 13 – Caminhos da floresta (2014) ..................................................................40

Figura 14 – Filme Invocação do mal (2013) ..............................................................42

Figura 15 – Bruxa Branca de Neve e o Caçador (2012) ...........................................43

Figura 16 – Cenário Invocação do mal (2012) ..........................................................44

Figura 17 – Coraline (2009) ......................................................................................45

Figura 18 – Montagem A bruxa de Blair (1999) ........................................................47

Figura 19 – Harry Potter e a pedra filosofal (2002) ...................................................53

Figura 20 – Beautiful Witch Vogue …........................................................................55

Figura 21 – Witch Hunts Vogue ................................................................................56

Figura 22 – Lado sombrio dos contos – Galanes .....................................................56

Figura 23 – Comercial Renault ...........................………………………………………57

Figura 24 - US Harper’s Bazaar, Octover 2009………………………………………..58

Figura 25 – Vogue Itália, May 2009 ..........................................................................58

Figura 26 – Vogue Itália, May 2009 ..........................................................................59

Figura 27 – Miniaturas Vilãs Disney ..........................................................................59

Figura 28 – Linha de esmaltes Vilãs Disney .............................................................60

Figura 29 – Coleção Melissa Vilãs Disney ................................................................60

Figura 30 – Snow White (1916) .................................................................................61

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Figura 31 – Cartaz original Branca de Neve e os Sete Anões (1938) ......................62

Figura 32 – Cena bruxa Theodora ............................................................................67

Figura 33 – Bruxa e Mila Kunis .................................................................................68

Figura 34 – Comparação bruxa verde .......................................................................69

Figura 35 – Bruxa do filme Convenção das bruxas (1990) .......................................69

Figura 36 – Bruxas de Oz .........................................................................................70

Figura 37 – Cena do espelho ....................................................................................74

Figura 38 – Cena da maçã envenenada ...................................................................74

Figura 39 – Vestuário bruxa Branca de Neve ...........................................................75

Figura 40 – Enfeites de cabeça .................................................................................76

Figura 41 – Vestido Rainha Má .................................................................................77

Figura 42 – Cena da maldição da bruxa Malévola ....................................................81

Figura 43 – Malévola .................................................................................................83

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1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

1.1 METODOLOGIA .......................................................................................... 12

2 BRUXA................................................................................................................... 16

2.1 A BRUXA NA ANTIGUIDADE ............................................................................. 16

2.2 O IMAGINÁRIO DA BRUXA NOS CONTOS ....................................................... 21

3 A BRUXA NO CINEMA ......................................................................................... 30

3.1 CINEMA COMO LINGUAGEM ............................................................................ 30

3.2 BRUXA: CONSTRUINDO A PERSONAGEM .................................................... 35

3.2.1 Os elementos fílmicos em torno da personagem ........................................ 41 3.2.1.1 Iluminação ..................................................................................................... 41 3.2.1.2 Vestuário ....................................................................................................... 42 3.2.1.3 O Cenário ...................................................................................................... 44 3.2.1.4 Cor................................................................................................................. 45 3.2.1.5 Montagem ..................................................................................................... 46 3.2.1.6 Espaço .......................................................................................................... 48 3.2.1.7 Tempo ........................................................................................................... 49 3.2.1.8 Diálogos ........................................................................................................ 50 3.2.2 Efeitos Especiais ............................................................................................ 52 4 BRUXAS E CONTOS DE FADAS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO ................. 54

4.1 APROPRIAÇÃO DOS CLÁSSICOS .................................................................... 54

4.2 ADAPTAÇÕES .................................................................................................... 63

4.3 ORGANIZANDO A ANÁLISE .............................................................................. 64

4.3.1 Oz: mágico e poderoso – Bruxa e beleza ..................................................... 64 4.3.2 Espelho, espelho meu – Bruxa e figurino .................................................... 71 4.3.3 Malévola – Bruxa e efeitos visuais ............................................................... 79 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 84

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 87

ANEXO ...................................................................................................................... 92

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1 INTRODUÇÃO

De modo geral, na literatura a bruxa sempre foi apresentada como feia e má.

Por bruxas é que eram conhecidas as velhas curandeiras dominadoras das ervas

medicinais, que acabaram tornando-se vitimas de acusação de adoração ao diabo e

condenadas à fogueira ou ao enforcamento antes mesmo da Idade Moderna (ECO,

2007).

Desde os contos orais as pessoas estão acostumadas a ouvir histórias onde

ser feio significa ser mau e ser belo significa ser bom. Essa afirmação foi interferindo

na construção do caráter do ser humano, estabelecendo padrões e armazenando-se

no nosso imaginário. Por este motivo o cinema reproduzia na maioria das vezes, em

suas produções, histórias em que a bruxa além de ser mal tratada, feia e

perseguida, também tinha um final infeliz das tramas.

Com o avanço da tecnologia e a evolução da sociedade na busca da quebra

de estereótipos, assim como na literatura, o cinema contemporâneo passou por

diversas modificações. Dentre estas, está uma mudança de papéis, caracterizando

uma nova visão da personagem bruxa.

Sendo parte integrante da indústria, o cinema na contemporaneidade, induz o

consumo e transforma os diversos estilos de vida. Para Canevacci (2001),

passamos a trocar e consumir imagens, experiências e decodificações. Essa troca

permite renovar nosso imaginário constantemente e traz ainda a identificação

pessoal como parte essencial da cultura cinematográfica (CANEVACCI, 2001).

A presente pesquisa apresenta como problema a questão: Como o cinema

contemporâneo constrói o imaginário da personagem bruxa, adaptando

clássicos da literatura infantil?. Para responder a essa questão buscamos refletir

e comparar, a partir de teorias, a evolução cinematográfica ocorrida com a

personagem bruxa, buscando entender como a contemporaneidade apresenta essa

personagem nas adaptações de clássicos da literatura infantil, relacionando ainda

essas obras com a indústria cultural e com o nosso imaginário.

Para justificar a presente monografia, partimos do pressuposto de que o cinema

contemporâneo apresenta mudanças significativas no âmbito da questionável

atração do espectador pelo vilão. Tanto os adultos quanto as crianças têm se

mostrado encantados por essa nova visão das histórias.

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Segundo Ismail Xavier (2003), o mau e o feio brincam com a identificação e o

imaginário do público, pois o cinema tem o poder de despertar o sonho,

possibilitando aos espectadores a vivência de diversas vidas ao mesmo tempo.

Essa identificação traz à tona ainda um leque de possibilidades no âmbito da

publicidade. A busca desses sonhos que o cinema instiga nos faz querer ser quem

não somos, e mesmo que secretamente, buscamos por vezes o consumo como

satisfação pessoal.

A nova visão sobre uma personagem que apresentou durante muito tempo

características negativas que inspiram a publicidade, conduz mudanças e fortalece a

quebra de estereótipos. Os contos de fadas aparecem constantemente como

referência em peças publicitárias, e agora com essa nova roupagem atrai ainda mais

o consumidor e os aspirantes aos “clássicos”.

O intuito desta pesquisa volta-se para a cultura cinematográfica, buscando

compreender como o cinema contemporâneo apresenta essa personagem: a bruxa.

Tem como objetivo geral analisar como o cinema constrói o imaginário da mesma

nos filmes: Oz Mágico e Poderoso (2012), Espelho, Espelho Meu (2013) e Malévola

(2014).

Dentre os demais objetivos destacamos: estudar a figura da bruxa na

antiguidade, analisar o papel da bruxa nos clássicos da literatura adaptados para o

cinema, analisar as mudanças da personagem bruxa trazido pelo cinema

contemporâneo, refletir sobre o imaginário da bruxa nos contos e relacionar os

filmes com os clássicos contos de fadas da literatura infantil.

Para alcançar estes objetivos o trabalho foi dividido em três capítulos:

O capítulo II (Bruxa) será responsável pela caracterização da bruxa desde a

antiguidade. Traz para análise a maneira com que o estereótipo de bruxa feia e

velha foi estabelecido ainda nos contos orais, relacionando-a diretamente com o

imaginário.

O capítulo III (Cinema) volta-se para o âmbito da bruxa no cinema, a fim de

entender a construção da personagem bruxa. São apresentados ainda os tipos de

linguagem abordadas pelo cinema, as mudanças pelas quais foram passadas desde

o cinema mudo e as diferentes características dessa personagem.

No capítulo IV (Contos de fadas no cinema contemporâneo), iniciaremos o

capítulo fazendo uma abordagem sobre os contos de fadas e a apropriação que a

indústria cultural tem feito. Durante o desenvolvimento do capítulo exemplos são

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destacados e entenderemos como as mais diversas áreas se apropriam desses

clássicos até chegarmos ao cinema (que é o nosso principal objetivo). Neste capítulo

falaremos ainda sobre como os clássicos da literatura são adaptados e que tipo de

mudanças eles passam para atingir o público que já passou de infantil para adulto.

Por fim, analisaremos os cases escolhidos relacionando com os elementos

fílmicos estudados no capítulo III, e ilustraremos cada um deles com base nas

características das bruxas desses filmes.

1.1 METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica será utilizada para o levantamento de informações

teóricas e ainda na obtenção de informações publicadas em livros, revistas, jornais,

dentre outros materiais, sobre o assunto do trabalho em questão. Trabalho este que

busca compreender como as bruxas foram apresentadas desde a antiguidade e

comparar as mudanças realizadas na contemporaneidade. Em relação aos contos

de fadas, a pesquisa se faz necessária para que tenhamos um resultado eficiente

quanto à posição da bruxa nos clássicos, e como esse papel atingiu diretamente a

construção da opinião e do pré-conceito na sociedade ao que diz respeito a elas.

A análise fílmica será aplicada na pesquisa, pois destacaremos elementos

significativos que estão interligados a conteúdos que permitem uma discussão

sociológica em geral. Esse tipo de análise nos permite ainda isolar esses elementos

a fim de compreender a significação deles em um todo (filme) quando comparados

como adaptações de clássicos culturais.

A análise da imagem será outro método de pesquisa desvelado no presente

trabalho. Este tipo de análise segundo a autora Martine Joly (1996) possui uma

“função pedagógica”:

Demonstrar que a imagem é de fato uma linguagem, uma linguagem especifica e heterogênea; que, nessa qualidade, distingue-se do mundo real e que, por meio de signos particulares dele, propõe uma representação escolhida e necessariamente orientada; distinguir as principais ferramentas dessa linguagem e o que sua ausência ou sua presença significam; relativizar sua própria interpretação, ao mesmo tempo que se compreendem seus fundamentos: todas garantias de liberdade intelectual que a análise pedagógica da imagem pode proporcionar (JOLY, 2002, p. 48).

Como no caso do objeto de estudo deste trabalho é proposta uma linguagem

específica, que busca transmitir ao espectador uma nova e contemporânea

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impressão da personagem bruxa que está presente nas adaptações dos clássicos

literários retratada como vilã, esse tipo de estudo se torna fundamental.

A pesquisa revela ainda um estudo de caso, pois o tema sugere uma

pesquisa sobre fenômenos contemporâneos relacionados à vida real. De acordo

com Robert K. Yin:

O estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores (YIN, 2001, p. 21).

Segundo o autor, quando definimos questões do tipo “como”, utiliza-se o

estudo de caso como estratégia, sendo assim, o presente trabalho busca

compreender “como” o cinema contemporâneo constrói no imaginário a personagem

bruxa, apresentando como objeto de estudo três filmes identificados como

adaptações de clássicos contos de fadas.

A aluna escolherá os cases Oz Mágico e Poderoso (2012) (fig.1), Espelho,

Espelho Meu (2013) (fig.2) e Malévola (2014) (fig. 3), porque além de haver uma

referência aos contos de fadas clássicos nessas narrativas, eles apresentam suas

adaptações direcionadas também a jovens adultos, ou seja, são histórias antigas

contadas de uma nova maneira.

Figura 1 – Cartaz Oz: Mágico e Poderoso (2012)

Fonte: http://cinema10.com.br/noticias/oz-magico-e-poderoso-ganha-mais-um-poster-

nacional-5753 ; acesso em 14 de junho de 2015.

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Figura 2 – Cartaz Espelho, espelho meu (2013)

Fonte: http://guia.gazetadopovo.com.br/cinema/espelho-espelho-meu/3667/ ; acesso em 14

de junho de 2015.

Figura 3 – Cartaz Malévola (2014)

Fonte: http://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/malevola-angelina-jolie-e-seus-chifres-nos-

novos-cartazes/ ; acesso em 14 de junho de 2015.

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Buscamos em nossa seleção uma relação das obras analisadas com o

problema de pesquisa. Os filmes apresentam uma visão contemporânea da

personagem bruxa, partindo de contos de fadas clássicos da literatura infantil e que

permitem as relações necessárias nessa parte final do estudo.

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2 BRUXA

No capítulo a seguir traremos como reflexão a maneira com que o estereótipo

da bruxa foi construído desde a antiguidade. Alguns autores serão utilizados para

explicar sobre como as chamadas bruxas foram acusadas de manter pactos com o

diabo e as consequências dessas acusações.

Suas características físicas serão destacadas a fim de manter uma margem de

análise para os cases selecionados no capítulo IV e ainda evidenciar o quanto essa

aparência é responsável por transformar o nosso imaginário.

Entrar na questão do imaginário nos contos de fadas serão a base para o

estudo, trazendo como item essencial a posição da bruxa nesses contos e as

consequências dessa construção para o universo infantil.

Portanto, esse capítulo é de máxima importância para a construção da

presente pesquisa, envolvendo toda a história e o surgimento da bruxa até a

construção dessa personagem e relacionando com o imaginário, que é fundamental

para dar significação a análise apresentada no último capítulo.

2.1 A BRUXA NA ANTIGUIDADE

Segundo Nogueira (1995), foram entre os séculos XII à XIII que se originaram

as crenças e procedimentos em relação às práticas de magia, até que nos séculos

XIV e XV, as autoridades eclesiásticas estabeleceram a realidade auxiliando a

construção da imagem da bruxa. Para o autor, desde o final da Idade Média, diante

da ameaça do poder de Satã, a comunidade ficou amedrontada com certas

“epidemias de bruxaria”.

Lentamente, a magia foi cessando e tomando menores proporções, até que se

tornou um aprendizado. As bruxas ficaram conhecidas como “sábias demoníacas”,

que faziam pacto com o diabo, renunciando a fé católica. Esse pacto era realizado

em sabás, também chamados de orgias, onde seres eram invocados em orações.

Diversos livros foram escritos para tentar explicar e condenar as chamadas “bruxas”

por promover diversos rituais de bruxaria e pactos com o diabo. O mais importante

dos livros sobre bruxas foi Malleus Maleficarum1 (1487), obra esta que revela a

1 Malleus Maleficarum (1487) título original em latim que foi traduzido para o português como: O Martelo das

Feiticeiras. É bastante conhecido como um manual de caça às bruxas.

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vaidade, a futilidade, a malícia e a luxúria, como características típicas do sexo

feminino, quando os comportamentos ideais seriam: a castidade, a devoção, a

obediência e a modéstia.

De acordo com Kramer e Sprenger (2004, p. 214): “as bruxas pronunciavam

seus sacrilégios mediante pacto de fidelidade, esse sacrílego poderia ser feito em

cerimônia solene ou em qualquer hora e em sigilo. Em troca da sua alma, as bruxas

adquiriam poderes que eram utilizados para provocar males temporais”.

Ainda segundo Kramer e Sprenger (2004), só com a permissão de Deus os

demônios poderiam, por meio das bruxas, conferir males aos homens, aos animais e

aos frutos da terra. Além disso, mesmo de posse de tão grandes poderes, as bruxas

não ficavam ricas, porque os demônios gostavam de mostrar o seu desprezo pelo

Criador.

Antes mesmo da Idade Moderna as bruxas eram condenadas e tratadas como

seres malignos compactuados com o demônio. Segundo Umberto Eco (2007),

grande parte dessa condenação se dava ao fato de serem feias, com traços

marcantes como nariz acentuado, verrugas, entre outros. Porém, algumas delas

utilizavam de seus poderes transformando-se em mulheres atraentes, deixando

apenas algumas dessas características mais marcantes para retratar a sua feiura

interior.

Durante muitas gerações as crianças alimentavam a ideia de que as bruxas

deveriam ser feias e possuírem objetos característicos ao seu estilo de vida, como

vassouras, bola de cristal e caldeirão. Na maioria das vezes esse espaço

relacionado à feitiçaria era preenchido apenas pelo sexo feminino, o que

consequentemente acarretava certo desrespeito para com as mulheres, mantendo a

tese de que elas eram frágeis e assim se deixavam levar pelas tentações do diabo

mais do que os homens, e por esse motivo elas deveriam ser condenadas à fogueira

ou ao enforcamento, como mostra a imagem a seguir.

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Figura 4 - Bruxas condenadas à fogueira

Fonte: http://www.historiazine.com/2010/08/o-martelo-contra-as-bruxas.html ; acesso em 12 de junho

de 2015.

A bruxaria também foi considerada uma forma de religião, mas o que se

percebe é que hoje em dia com a banalização das crenças, essa figura dos

clássicos contos de fadas tornou-se um estereótipo alimentado pelas histórias da

antiguidade. Este fato comprova o motivo pelo qual a imagem da bruxa nunca

desapareceu por completo, está sempre presente. Além dos clássicos contos está

também nas histórias de terror.

Umberto Eco (2007) traz como definição de belo tudo o que atrai o olhar, ou

ainda uma beleza “espiritual” que pode não coincidir com a beleza do corpo. Já o

feio entende-se como “imperfeição do universo físico em relação ao mundo ideal”.

Para ele, “como o mal e o pecado se opõem ao bem, do qual são o inferno, assim o

feio é o inferno do belo” (ECO, 2007, p.24).

De acordo com o pensamento de Eco podemos traçar e entender um padrão

ao qual é seguido por séculos, onde a bruxa encaixa-se ao conceito de feio, pois

além do seu corpo, sua maldade está diretamente relacionada a outros sinônimos de

feio citados por ele, como: terrível, grotesco, monstruoso, desagradável, indecente e

desfigurado (fig. 5).

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Figura 5 - A bruxa de Salvator Rosa (1649)

Fonte: Imagem obtida do livro A História da Feiura – Umberto Eco (2007).

No livro de Omar Calabrese: A Idade Neobarroca (1999), podemos perceber

que as bruxas, na maioria das vezes, estão ligadas a valores negativos, tanto na

categoria da ética como na da estética. Isso ocorre porque no campo da ética o bom

possui um valor positivo e o mau um valor negativo e na estética o belo possui um

valor positivo e o feio um valor negativo. Essa constatação está diretamente

relacionada ao estereótipo que alimentamos no decorrer dos anos, porque

crescemos ouvindo estas histórias que acabaram por fazer parte de nossas ideias

sem que haja uma maior reflexão.

O livro de Elaine Cristina Amorin: Harry Potter: Desmistificando o mito da

mulher-bruxa (2012), traz à tona o papel da mulher na Antiguidade, que acabou

alimentando o conceito de que eram “suscetíveis às tentações do diabo”, e

consequentemente responsáveis por toda e qualquer maldade que ocorresse

perante a sociedade.

Isso ocorreu na religião cristã, principalmente porque segundo Amorin

(VECHIO apud AMORIN, 2000), durante os sermões era muito comum a utilização

de pequenas histórias que relatavam a vida de uma santa. Essas quase sempre

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eram tratadas como prostitutas arrependidas, alimentando a ideia de que por serem

mais vulneráveis deveriam ser vigiadas pelos homens para evitar que ficassem mal

faladas e sua imagem fosse diretamente vinculada à maldade. Segundo Amorin:

As bruxas são mulheres cuja imagem é aquém do ideal patriarcal da feminilidade (...) efetivamente são mulheres colocadas na margem da sociedade, velhas, pobres, mendicantes, que falam e se retratam alternadamente diante dos tribunais (BONICI apud AMORIN, 2003, p. 102).

Mesmo que as acusadas fossem pertencentes na maioria das vezes à classe

baixa, a luta pelo poder envolveu homens poderosos, suas esposas e suas filhas

(BARTSTOW apud AMORIN, 1994).

A bruxaria passou a ser considerado crime, e no processo de julgamento

poderiam ser utilizados métodos de tortura para que elas confessassem os crimes,

estes que muitas nem haviam sido praticados, porém por conta dos métodos serem

extremamente exagerados era mais fácil confessar para que o sofrimento acabasse.

Os homens envolvidos recebiam tratamentos diferenciados como sentenças

mais leves. E ainda entendia-se que os homens acusados que mantivessem

parentesco com mulheres também acusadas mantinham atitudes julgadas, como

consequência do convívio com estas, tornando-os inocentes. (OBICI; SKALINSKI

apud AMORIN, 2003).

No livro de Jean Delumeau: A História do Medo no Ocidente (2009) ressalta-

se a relação da mulher com o Satã. Segundo Delumeau (BEAUVOIR apud

DELUMEAU, 2009, p. 463): “o sexo feminino é misterioso para a própria mulher,

oculto, atormentado [...]. É em grande parte porque a mulher mão se reconhece nele

que não reconhece como seus os seus desejos”.

Grande parte desse medo causado pela mulher está relacionado à

maternidade, por esse motivo segundo Delumeau (HORNEY apud DELUMEAU,

2009, p. 463), a mulher está mais próxima à grande obra da natureza fazendo dela

“o santuário do estranho”.

Segundo Delumeau (2009, p. 489):

O Martelo das Feiticeiras conclui com Catão de Utica: “Se não houvesse a malícia das mulheres, mesmo não dizendo nada das feiticeiras, o mundo estaria liberto de incontáveis perigos”. A mulher é uma “quimera [...]. Seu aspecto é belo, seu contato fétido, sua companhia mortal”. É “mais amarga

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que a morte, isto é, que o diabo cujo nome é morte segundo o Apocalipse (O MARTELO DAS FEITICEIRAS apud DELUMEAU, 2009, pg. 489).

A magia sempre esteve ligada a imagem da mulher, os poderes de cura

misturavam-se a magia negra sem que as pessoas pudessem distingui-los, fazendo

com que fosse generalizadamente acusadas e estereotipadas de bruxas, sendo até

hoje reproduzidas como tal nas mídias. Podendo ser usada, além de tudo, como

figura de linguagem, ou seja, independente de suas atitudes, pode ser considerada

bruxa por ser velha, feia e assustadora, revelando sempre um padrão mantido até os

dias atuais, porém de maneira mais branda.

2.2 O IMAGINÁRIO DA BRUXA NOS CONTOS

Partindo do ponto de vista de Laplantine e Trindade (1996), toda imagem que

criamos na mente não é puramente resultado da realidade concreta que vemos, e

sim um efeito da visão realçando o que sabemos sobre tal objeto. Segundo o autor:

O imaginário possui um compromisso com o real e não com a realidade. A realidade consiste nas coisas, e em si mesmo o real é interpretação, é a representação que os homens atribuem às coisas e à natureza. Seria, portanto, a participação ou a intenção com as quais os homens de maneira subjetiva ou objetiva se relacionam com a realidade, atribuindo-lhe significados. Se o imaginário recria e reordena a realidade, encontra-se no campo da interpretação, ou seja, do real (LAPLANTINE, TRINDADE, 1996, p. 28).

O conto, por sua vez, aparece mais claramente no nosso inconsciente, pois ele

possibilita uma associação ampla de imagens. Seu entendimento e associação se

dão quase que como uma experiência real, como se tivéssemos acabado de

visualizar aquela cena. Por conta da sua complexidade os contos apresentam um

leque de possibilidades, fazendo com que a imaginação se desenvolva e interligue-

se com situações já vivenciadas ou criadas a partir da fantasia (FRANZ, 2003).

Ainda segundo Franz (2003), ouve uma época em que os contos de fadas

eram tidos como uma “ocupação espiritual essencial” e também a forma principal de

entretenimento para as populações agrícolas na época do inverno. Eram contados

tanto para adultos quanto para crianças, porém na maioria das vezes estavam

vinculados à educação de crianças. Isso ocorria porque por serem associadas

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facilmente pelo nosso inconsciente. Assim, as crianças entendiam com maior

excelência e traziam isso para sua vida cotidiana, fazendo com que suas atitudes

tornassem reflexo dos contos.

Por esse motivo os contos são tão associados ao imaginário, à relação com o

real é inevitável e podem ainda fugir da realidade, ou seja, é uma criação baseada

no real que ocorre no inconsciente e que reflete na realidade em que vivemos.

Os contos de fadas, assim como o inconsciente, eram simplesmente aceitos,

as pessoas não admitiam a sua existência. Com isso, muitos contos eram

distorcidos, ora cenas eram omitidas, ora acrescentadas. Os famosos contos dos

Irmãos Grimm, por exemplo, por vezes apareciam misturados, porém eles faziam

questão de deixar isso claro nas suas obras.

Durante muito tempo a ciência buscava explicações definitivas para provar a

inexistência do sobrenatural. Mas não obteve sucesso, e isso fez com que ela

retomasse seus estudos levando a reconsiderar e ainda buscar um novo caminho

com explicações expressivas deste chamado mistério. O imaginário tomou novas

formas e deixou de ser considerada mentira, famosos contos de fadas estão

carregados de significados, sejam eles ocultos ou simplesmente com uma nova

roupagem.

Segundo a Psicanálise dos Contos de Fadas, escrito por Bruno Bettelheim

(2005), na maioria das vezes em que as bruxas são retratadas trazem consigo

emoções negativas e se no momento em que essas emoções fossem retratadas o

conto tivesse um fim serviria para nos mostrar que não devemos nos deixar levar por

pensamentos negativos, porém a criança é incapaz de impedir esse tipo de reflexão

tão complexa e racional.

Por conta disso, os contos levam a criança a uma realização, eles asseguram

que esse tipo de sentimento negativo é temporário e será anulado com ações

positivas e sentimentos bons até o fim da história.

É natural que muitos pais queiram distanciar seus filhos da fantasia, por

acreditar que estão evitando constrangimentos e decepções quando eles depararam

com a realidade. O que muitas pessoas não entendem é que os contos podem

trazer grandes aprendizados de vida para as crianças, exemplos de como lidar com

os obstáculos que serão enfrentados durante o crescimento e ainda que o velho

ditado que o bem sempre vence, incentivam e destacam o fato de que atitudes boas

trazem resultados bons.

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Segundo Durand (1995, p.100), Bergson foi quem estabeleceu o papel

biológico da imaginação chamando de “função fabuladora”, essa imaginação é

definida pelo autor como “reação da natureza contra o poder dissolvente da

inteligência”. E em seguida destaca que “a imaginação simbólica é um fator de

equilíbrio psicossocial”.

Os elementos imaginários dos contos são essenciais para que possamos

compreender comportamentos presentes na realidade social. Por esse motivo, o

conto é tão importante para o desenvolvimento das crianças e atrai a atenção dos

adultos, pois além de trazer certos ensinamentos quanto às características do que é

certo ou errado, eles ainda, trazem à tona em suas adaptações características e

dificuldades enfrentadas da época na qual está sendo narrado.

A bruxa nos contos gera medo e inibição, principalmente nas crianças, porque

estas as veem, na maioria das vezes, associadas à maldade e poderes

sobrenaturais. Suas características são predominantes na imaginação do leitor,

fazendo com que o medo que ela simboliza ensine a lidar com desafios da vida real.

Essas características são carregadas pela bruxa desde a antiguidade, onde se

conhecia essas histórias apenas na oralidade, fazendo com que a cada novo ouvinte

uma característica fosse destacada e assim as memórias eram preservadas para as

gerações futuras.

A figura da bruxa em muitas histórias é associada a outros seres conhecidos

como fantásticos, entre eles encontramos as fadas, os anjos, os anões, os dragões,

ente outros. Estas figuras alimentam histórias, passadas durante anos de geração

para geração. Grande parte desses seres é retratada nos clássicos contos de fadas.

Estes seres fantásticos são criaturas fictícias que possuem significados diversos e

atributos muitas vezes sobrenaturais.

De acordo com algumas lendas, as tradicionais fadas madrinhas distribuem

dons sobre o berço e ainda profetizam a carreira de seus afilhados. Conhecidas

como benfeitoras dos homens, aparecem em suas vidas para conceder desejos ou

dar-lhes um presente. Os dragões, por exemplo, são conhecidos além de seres

fantásticos, como seres elementais, associados ao fogo e à água. São muitas as

teorias que circundam o mundo dos fantásticos, mantendo diversos nomes e

espécies conhecidas na mitologia. Para os chineses, eles são criaturas benignas e

possuem atributos de nove animais no mesmo corpo.

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Os anões também são muito citados nos contos, e diferentemente do que

muitas pessoas acreditam, eles também são considerados seres fantásticos nesse

tipo de história. Marcado por sua baixa estatura (fig 6), surgem na mitologia nórdica

como seres que não possuíam beleza mas inteligência, especialistas no trabalho

com a forja.

Figura 6 – O anão Morgante - Bronzino

Fonte: Imagem obtida do livro A história da feiúra – ECO (2007).

Como possuem uma característica que muitas pessoas relacionam ao feio e ao

grotesco, os anões e os dragões possuem certa ligação para com as bruxas e a tudo

que se volta para o mal. Segundo Wolfgang (1986), na estética a deformação está

inteiramente relacionada ao grotesco, e o grotesco à malevolência.

O grotesco, por sua vez, alimenta conceitos encontrados em vários setores

como a arquitetura e até no drama, entre outros. Já na estética não pode ser

definido por si só, e acaba por ser comparado ao cômico, à caricatura.

Diferentemente de alguns dos seres fantásticos, a bruxa nos contos está

sempre associada à imagem de pessoas que realizam atitudes negativas ou de

aparência ruim.

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Segundo, Amorin (2003), as bruxas são conhecidas por atrocidades e magia

negra, e reza a lenda que inocentes são sacrificados para que consigam produzir os

seus feitiços. Estas foram sempre entendidas como um ser sobrenatural ligadas

diretamente à pornografia e ao demônio. Acredita-se ainda que as bruxas assumam

forma de gato negro e por isso julga-se má sorte cruzar com algum na rua.

Na antiguidade a bruxa era entendida como um mero ser humano que havia

sido tomada por um demônio através de um pacto infernal. Essas mulheres

deveriam ainda receber uma marca que registraria seu pacto com o diabo, essa

marca seria um sinal deixado no seu corpo como uma cicatriz ou verruga.

A feitiçaria, por sua vez, é uma habilidade de usar a magia, dom passado de

pai para filho, sem ligação alguma com o diabo. Outro tipo de habilidade muito

conhecida no meio dos bruxos é a dos videntes. Estes podem saber o futuro através

de visões ou sonhos, com o auxilio de alguns objetos como xícaras de chá, cartas

de tarô ou bolas de cristal.

Pode-se observar que a figura da bruxa é rapidamente associada, além de

personagens velhas e feias, também a madrastas. Isso ocorre porque, segundo

Delumeau (2009), na Idade Média era comum que as mulheres morressem na hora

do parto e consequentemente os homens casavam-se novamente.

Por esse motivo, essa figura é uma comum personagem nos contos, são

figuras reais que quando associadas à fantasia tornam-se bruxas, no caso dos

contos, porque maltratavam seus enteados. Normalmente esse tipo de conto,

incentiva o leitor a encarar os problemas reais e ainda incentivam a esperança de

dias melhores quando de fato as histórias costumavam terminar em finais felizes.

Nos contos, a bruxa aparece por certos momentos no lugar do bem feitor,

porém o fato de puni-la ao fim da história não faz parte da educação que o conto

busca fornecer as crianças, e sim mostrar que ações ruins não compensam. Isso faz

com que a criança se identifique com o herói e sinta-se vitoriosa quando esse herói

vence no final.

Devemos levar em consideração o pensamento de Martine Joly no livro:

Introdução à análise da imagem (1996), que menciona o fato de ocorrer uma troca

de representação visual (a imagem em si) para semelhança (associação). É o que

ocorre quando escutamos ou lemos uma história, ao invés de lembrarmo-nos de

uma imagem já visualizada anteriormente associamos o que acabamos de ouvir com

alguma visão semelhante já tida em algum momento da vida, um sonho ou à

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fantasia. O sonho por sua vez, cria o cenário como se estivéssemos nos lembrando

de cenas de um filme, este que envolve muito mais do que a imagem em si, envolve

também a imagem verbal.

Os contos são experiências populares ou invenções de seu criador. As bruxas

podem ser boas ou más, assim como todos os personagens nos contos e todos nós

na vida real. Ou seja, o pré-conceito que criamos em relação às bruxas de

possuírem sempre aparência e atitudes negativas está interligado ao que a nossa

imaginação em conjunto com o que o nosso inconsciente remete, seja a um sonho

ou alguma situação do passado.

Todos os personagens reproduzidos nos contos são criados a partir de

características reais de pessoas, porém os nomes muitas vezes referem-se a

características da imagem do personagem (príncipe encantado) ou muitas vezes

não tem nomes (caçador), o que facilita a identificação da criança.

Para identificar essa figura como personagem, tomamos como base a citação a

seguir:

Esquece-se que o problema da personagem é antes de tudo linguístico [...] que a personagem é “um ser de papel”. [...] Entretanto recusar toda relação entre personagem e pessoa seria absurdo: as personagens representam pessoas, segundo modalidades próprias da ficção (BRAIT, 2002, p. 10).

O fato de o espectador aceitar a falta de veracidade sem julgar o que seria

absurdo se comparado a realidade exterior ao texto, auxilia na identificação dos

personagens nos filmes. Como, por exemplo, os heróis que são sempre bonitos,

inteligentes, possuem sempre uma característica positiva perante aos demais. No

caso dos vilões, geralmente são feios e apresentam atitudes negativas. Essas

características já são assimiladas pelo espectador em outros filmes, assim ele

identifica rapidamente o herói e o vilão da história.

Avaliado sempre perante o ser humano, era constante a confusão entre

personagem e pessoa. Porém, a partir do século XX o personagem rompeu as

relações passando ao ser entendido como “um ser de linguagem”, atribuindo uma

fisionomia própria (BRAIT, 2002, p. 32).

Desde a antiguidade a importância e a influência dos contos de fadas são

comprovadas, e isso ocorre ainda na contemporaneidade. Entre muitas histórias

transmitidas oralmente de geração para geração a origem dos contos de fadas

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perderam-se no tempo, diversas culturas tomaram conhecimento dessa prática

também para funções pedagógicas.

A importância do conto na infância se dá porque sem os contos as crianças

não poderiam criar suas próprias histórias, e é com base nestes que acumulamos

nossa bagagem na infância. Ou seja, os contos transmitem a esperança de um final

feliz e auxiliam os pequenos a desenvolverem suas personalidades de acordo com

os exemplos que eles presenciam, sejam eles na literatura, no cinema ou em algum

outro meio.

Segundo Goés (1991), durante a narração das histórias se ocorressem falhas

de memória ficava por conta da imaginação o complemento das mesmas, difundindo

o mundo dos seres fantásticos. É curioso o fato de que os contos na antiguidade não

eram destinados unicamente às crianças, já que eram compostos por histórias e

cenas impróprias, ou ainda aterrorizantes. Foi então que passaram por adaptações

para que auxiliassem as crianças perante suas necessidades na vida real, como

para desenvolver sua imaginação.

Com o uso da magia os contos de fadas tornam-se especiais e destacam-se

em relação às demais histórias. E isso não os torna puras mentiras, a magia é vista

tanto pelas crianças como pelos adultos como uma madeira de descrever estas

narrativas sem que sejam contadas meras verdades “nuas e cruas”. Em todos os

contos o herói ou a heroína passam por diversas dificuldades até que possam

chegar à vitória plena e receber sua recompensa.

Tanto a bruxa quanto os demais personagens que representam o mal são

essenciais para o desenvolvimento da história, fazendo com que instigue a mente da

criança e possa até desencadear a identificação.

Clássicos como A Bela Adormecida e Branca de Neve, por exemplo, tomam

conta da infância e auxiliam no desenvolvimento e transposição das fases da vida, e

ainda na imaginação necessária para que a mente possa evoluir cada vez mais.

No artigo escrito por Clarice Caldin: A oralidade e a escritura na literatura

infantil: Referencial teórico para a hora do conto (2001), a autora aborda questões

como necessários para o desenvolvimento do psiquismo infantil, e fala que:

Parte-se do pressuposto que literatura é, ao mesmo tempo, voz e letra. A voz se faz letra, a letra carrega a voz, que convida à leitura, que cativa o leitor. Nesse percurso, narrador, autor, leitor e ouvinte pervertem a realidade e adentram no mundo ficcional em que o imaginário é experimentado como forma de articulação entre o real

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e o irreal. A narração e a leitura proporcionam a apropriação da realidade do texto escrito em uma forma de entender o mundo (Caldin, 2001, pg. 25).

Os contos de fadas contentam, pois embora repletos de magia e completados

pela imaginação, referem-se a acontecimentos reais, como problemas comuns

decorrentes em diversas fases da vida, referem-se aos medos, ao amor, as

dificuldades, vitórias e derrotas.

Coelho (1991) apresenta uma divisão dos contos feita em “contos

maravilhosos” e “contos de fadas”. Para a autora, o conto de fadas é desenvolvido a

partir de uma problemática existencial e seus argumentos se desenrolam dentro da

magia “feérica”, com alguns seres mágicos como reis, rainhas, entre outros e

geralmente estão relacionados à união de um homem e uma mulher. Já o conto

maravilhoso é desenvolvido em um cotidiano mágico, com elementos extraordinários

como varinhas e lâmpadas com poderes especiais, e seres sobrenaturais como

duendes, buscando uma problemática social.

Figura 7 – Conto de Fadas: Branca de Neve

Fonte: Imagem obtida do filme de animação Branca de Neve e os Sete Anões (1938).

Apesar de possuir esse nome, não se faz necessário que o conto de fadas

possua essencialmente uma ou mais fadas, o que o indica como conto de fada é

que ele desenvolve-se dentro de uma realidade feérica, e não delimita tempo e nem

local. Essa questão do “Era uma vez”, por exemplo, faz com que o conto possua a

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intenção e a possibilidade de encaixar-se na época em que a história esta sendo

contada, ou seja, na realidade atual (COELHO, 2010).

Ainda segundo Coelho (2010), o leitor reconhece o personagem facilmente

por conta da correspondência do mesmo a uma função ou estado social. Eles

tornam-se estereótipos como: bruxa malvada, o príncipe encantado, etc. As bruxas

por sua vez, possuem as mesmas características nos clássicos, feias e velhas. E

suas ações são estáveis, sempre tentam atingir o herói ou a heroína, fazendo com

que ele tenha que passar por dificuldades tremendas para alcançar um final feliz.

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3 A BRUXA NO CINEMA

Neste capítulo iremos compreender o tipo de linguagem utilizada pelo cinema e

suas funções. Serão apresentados alguns filmes que trazem consigo o forte conceito

de bruxa desde o cinema mudo. Em todas essas obras a personagem apresenta

uma grande semelhança com o que carregamos no nosso imaginário a partir dos

contos orais já vistos no capítulo 2.

Serão analisados ainda os elementos fílmicos e de que maneira eles interferem

na construção dessa personagem. A cada elemento uma relação com a bruxa será

destacada para que entendamos como ocorre ainda o processo de identificação com

a personagem.

Com base na teoria de diversos autores relacionaremos ainda as técnicas de

linguagem e os elementos fílmicos com as características explícitas nos filmes que

serão analisados no próximo capítulo.

Enfim, este capítulo busca refletir sobre a importância de técnicas em conjunto

com a personagem para dar significação à história e a demonstrar que a utilização

destes elementos é capaz de criar uma atmosfera determinante ao gênero do filme.

3.1 CINEMA COMO LINGUAGEM

Com foco no posicionamento de Epstein (1999), esta pesquisa apresenta

pontos que esclarecerão alguns conceitos e funções da linguagem, como os signos,

que são carregados de significação, ou seja, servem basicamente para significar

outra coisa. Para o autor, os signos representam outra coisa além do que ele está

representando, dependendo ainda da interpretação do observador.

Ainda com base no pensamento do autor, analisamos o fato de que todos os

signos participantes da nossa vida, sejam eles reais ou imaginários, necessitam de

uma interpretação que “aponta para fora de si”. Essa interpretação é chamada de

significado.

Relacionando as funções de linguagem com o estudo sobre cinema abordado

no presente trabalho, se faz necessário também o entendimento das funções

semântica e estética. A função semântica segundo Eipstein (1999, p. 33) prepara

ações, já a função estética prepara estados. Como de fato o cinema é uma arte e

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prepara estados, ela ainda apresenta um “sobrecódigo”, correspondendo à

linguagem poética.

A ambuiguidade e a auto-reflexibilidade são atributos da mensagem com função predominantemente poética, como também ocorre com a função estética dos signos. Na mensagem com função estética acentuada, a matéria que compõe o significante não é inócua em relação ao significado. Tal é o caso do parentesco sonoro evocado na rima ou do parentesco visual evocado nos poemas chamados de “concretos”. [...] Disso decorre a dificuldade de traduzir-se a mensagem estética de um suporte para outro. O envolvimento da própria matéria do significante causa, por seu lado, ao destinatário, um efeito de estranhamento típico da obra artística, e que coloca em xeque suas próprias expectativas (EPSTEIN, 1999, p. 46).

Com o embasamento da obra de Martin (1990, p. 25) entende-se que o cinema

é de fato uma indústria que cria muito mais do que uma duplicação da realidade, é

designado a partir do simbolismo gerado por de uma “reprodução fotográfica da

realidade”. Buscamos então diferenciar a linguagem cinematográfica e a língua.

Para Martin (1990, p. 255), “a língua é ao mesmo tempo um produto social da

capacidade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias”. Na linguagem

cinematográfica “as diversas unidades significativas mínimas não têm significado

estável e universal [...] essas ‘figuras’ adquirem um significado preciso em cada

contexto”.

Resumidamente, pode-se dizer que a língua traduz o que todos os elementos e

códigos dizem dentro da linguagem cinematográfica. Assim como o fato de um filme

poder ser traduzido para diversas partes do mundo, ocorre por conta dessa língua,

que será adequada para o espectador.

Já a imagem no cinema possui a função de reproduzir algo que é semelhante à

nossa realidade, a fim de atingir o nosso sentimento. E é com toda a complexidade

que envolve a criação de uma cena que o artista revela uma linguagem mesclando

estética, sentimento, símbolos, significados, e outros elementos fílmicos como:

iluminação, cor, caracterização, som, etc.

A arte cinematográfica tem grande influência dos desenhos animados, com

colagens e pinturas bastante coloridas. Esses desenhos podem ser destacados por

Deren (1960) como uma “extensão da arte”.

O cinema tem uma extraordinária abrangência de expressão. Tem em comum com as artes plásticas o fato de ser uma composição visual projetada numa superfície bidimensional; com a dança, por poder lidar com

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a composição do movimento; com o teatro, por criar uma intensidade dramática de eventos; com a música, por compor em ritmos e frases de tempo e ser acompanhado por canção e instrumento; com a poesia, por justapor imagens; com a literatura em geral, por abarcar em sua trilha sonora abstrações disponíveis apenas à linguagem (DEREN, 1960, p. 136).

De acordo com Ismail Xavier (2003), para muitas pessoas o cinema possui um

aspecto de revelação das verdades, quando para outras possui como estratégia o

engano. Por conta dos diversos fragmentos unidos em uma mesma cena, o cinema

cria uma nova realidade que só existe no filme. A questão é que quando o

espectador escolhe assistir um filme ele não se questiona se aquelas imagens que

ele está captando condizem com a realidade daquele mundo ao qual ele faz parte,

ou daquela cidade em questão, ele simplesmente aceita o que lhe é transmitido.

Para Xavier (2003), a compreensão de uma imagem necessita dos demais

sentidos além da visão, isso porque o entendimento da imagem recebida não é

simultâneo, para que a imagem seja captada é necessária uma união do exterior da

imagem.

Ainda segundo Xavier (2003, p. 37): “o cinema é um olhar sem corpo”, essa

afirmação carrega como explicação o fato de que o espectador ocupa um espaço

invisível na cena, pode estar no centro dela (de acordo com as posições de câmera)

e explorar os ambientes sem que o corpo seja envolvido.

Quando analisamos os conceitos do cinema, consequentemente nos

deparamos com um dos elementos base responsável pelo nosso olhar no cinema: a

montagem. A montagem cria um ambiente que de acordo com o movimento da

câmera faz com que o espectador alimente a ilusão de fazer parte daquela cena, é

como se o espectador estivesse no núcleo do ato (XAVIER, 1996).

Esses movimentos de câmera por assim dizer, são também responsáveis pela

montagem do cenário. Conforme a câmera se move as imagens que contemplam o

filme não precisam estar inteiramente ligadas. Sendo assim, a projeção que o

espectador testemunha não faz parte da realidade do mundo, as imagens são

realistas, mas não são necessariamente reais.

O espectador passa a manter um forte envolvimento da mente para com as

obras, transformando esse envolvimento em identificação. A identificação do

espectador para com o cinema é explicada ainda por Xavier (2008, p. 23) como: “a

alma do cinema”. Essa identificação conforme observamos em outras obras, que se

dá também por conta da imaginação e do desejo interior de cada um.

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Segundo Maffesoli (1996, p. 346): “a estética da imagem corresponde a sua

função dinâmica (aisthesis), a de fazer experimentar junto emoções e, com isso,

fortalecer o corpo social que é seu portador”. As pessoas buscam identificarem-se

com cada personagem, atraindo emoções, sentimentos reais, como em um sonho,

crendo no que lhe é mostrado como se aquilo fosse parte do seu mundo real. O

cinema apresentando os clássicos contos de fadas causa uma identificação baseada

na afetividade, envolvendo o público e o atraindo para o desdobramento, fazendo

com que a verdade não deixe de existir em meio a tanta fantasia.

Além da identificação, a curiosidade está presente nas histórias. Quando se

trata de personagens tradicionais como a bruxa, o medo é revelado, instigando a

imaginação e o desejo de transformar o final feliz em realidade na vida pessoal.

Apreender o que os filmes dizem e o que cada espectador, ao ver o filme, quer dizer, talvez seja a experiência educativa mais profunda que o cinema possa proporcionar. Cinema pode ensinar, para muito além do conteúdo que os filmes parecem apresentar à primeira vista. Ir ao cinema, ver filmes em vídeo ou na tevê são ações que se confundem em um mesmo processo de fazer emergir pressentimentos e atribuir sentidos ao que se desenrola nas telas, em linguagem feita de imagens e sons. São as imagens e os sons que primeiro se apresentam, mas a linguagem audiovisual, movimento, cor, é composta de muitos elementos e muitas nuanças, sintetizados em uma narrativa. Os elementos que compõem o cinema estão, desde há muito, partilhando da vida de todos os que habitam este planeta girante. Assim, ver filmes, mesmo aqueles mais banais, pode ser uma experiência profundamente humana (COUTINHO, 2005, p. 03).

Com base na obra de Betton (1987, p.115), destaca-se que muitos filmes

possuem forte inspiração na literatura, e essa semelhança com a história faz com

que ele seja apenas uma “representação, ilustração de uma narrativa ou transcrição

da linguagem”. Para o autor, transcrever a linguagem para o cinema é quase

impossível mantendo a fidelidade, isso porque “não se pode representar visualmente

significados verbais”.

Para entender melhor façamos uma ligação da “duplicação da realidade”

ocorrida no cinema, mesmo que segundo Betton (1987) não seja transcrita tal e

qual, e com o que absorvemos imediatamente quando espectadores de alguma

releitura de conto de fada. O resultado é o sentimento de que estamos inseridos na

história, e rapidamente nos identificaremos com algum personagem, seja ele bom ou

mau, por conta da linguagem cinematográfica.

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A linguagem apresentada nos contos pode ser entendida facilmente, pois ela

está armazenada no nosso inconsciente. Por ser parte do nosso imaginário pré-

estabelecido por um estereótipo criado a partir de antigos contos, o bom e o mau,

por exemplo, já estão previamente enquadrados como belo e feio. A imagem

retratada nos desenhos é consequência do fato de serem contos surgidos antes

mesmo da escrita, ainda na oralidade, essas características são destacadas para

manter um padrão mais simples e capaz de distinguir rapidamente o caminho

correto a ser seguido (MENEGOL, 2014, p. 16).

Com base nos contos renovados, podemos nos questionar sobre a grande

influência e os muitos conceitos impostos para as crianças. Segundo Magda Reche

(2005, p.12): “Há o perigo da massificação, quando o espectador assume uma

posição passiva diante do que se passa na tela, porém a passividade do público não

é uma regra fixa”. A mudança pode ocorrer se o espectador tomar uma posição ativa

e selecionar criticamente o que ele assiste.

No caso das crianças isso dificilmente ocorre, há um abuso descarado de

algumas mídias e os pais devem estar atentos no momento dessa seleção, devem

preocupar-se em saber até que ponto essas produções cinematográficas transmitem

o ensino necessário para a educação de seus filhos.

Os filmes que retratam os clássicos contos de fadas atualmente tomaram uma

nova estrutura, mas de fato essa mudança continua sendo responsável pelas

mensagens e valores transmitidos, dessa vez não ditam regras e padrões de

comportamento e principalmente não mantêm estereótipos.

Existem algumas características atribuídas para designar a linguagem

cinematográfica que podem dividi-la em quatro princípios:

- no cinema, existe distância variável entre espectador e cena representada, daí uma dimensão variável da cena, que toma lugar no quadro e na composição da imagem; - a imagem total da cena é subdividida em uma série de planos de detalhes (princípio da decupagem); - existe variação de enquadramento (ângulo de visão, perspectiva) dos planos de detalhes no decorrer da mesma cena; - finalmente, é a operação da montagem que garante a inserção dos planos de detalhes em uma sequência ordenada, na qual não apenas cenas inteiras se sucedem, mas também tomadas dos detalhes mais mínimos de uma mesma cena. A cena em seu conjunto é resultado disso, como se os elementos de um mosaico temporal fossem justapostos no tempo (BÉLA BALÁZS apud AUMONT, 1995, p. 163).

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De acordo com os diversos termos atribuídos por alguns teóricos elaborou-se

as chamadas “gramáticas do cinema”, com o intuito de entender as linguagens e as

figuras que compõem essa arte tão ampla e complexa. Semelhante a uma gramática

escolar e de línguas naturais, são preenchidas com nomenclaturas, termos,

estruturação, entre outras normativas.

Segundo Aumont (1995), alguns teóricos defendem a ideia de que o cinema só

teve que criar uma linguagem geral porque deixou de ser a reprodução do real e

passou a contar histórias, por esse motivo se fez necessária à criação de certos

procedimentos atribuídos ao termo linguagem.

3.2 BRUXA: CONSTRUINDO A PERSONAGEM

Não é de hoje que estas ilustres personagens enchem a nossa tela de espanto

e de maldade. Se analisarmos a história do cinema desde seus primeiros filmes,

encontraremos bruxas de todos os níveis de crueldade e com inúmeras

características marcantes.

No cinema mudo, destaca-se o filme sueco: Haxan: A feitiçaria através dos

tempos (1922), escrito e dirigido por Benjamin Christensen e baseado no O Martelo

das Feiticeiras (1487). O filme retrata a superstição e o mal entendido de doenças

físicas e mentais, contando com imagens de criaturas horrorosas e demasiadamente

assustadoras para a época.

Com cenas que representam o inferno e o próprio Satanás, o filme ainda

incorpora a imagem de monstros e velhas representando a bruxa na sua mais

tradicional aparência, trazendo ainda o tratamento que essa bruxaria recebia de

autoridades religiosas. Nas ultimas cenas da obra fica claro como a bruxaria era mal

entendida pelas pessoas naquela época, fazendo com que muitos dos acusados não

passassem de doentes mentais.

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Figura 08 – Haxan (1922)

Fonte: Imagem obtida do filme Haxan – A feitiçaria através dos tempos (1922).

As bruxas no cinema nem sempre estão caracterizadas como os estereótipos

que alimentamos por séculos, tais como: uso de chapéus, vassouras e bolas de

cristal. Elas podem simplesmente ser consideradas bruxas por suas atitudes,

destacando-se pela maldade e contando com alguns elementos cinematográficos.

Dentre tantas atrizes talentosas e que deram vida as personagens

inescrupulosas de antigas gerações que podem servir de referência às bruxas, estão

Betty Davis e Joan Crawford, no filme O que terá acontecido a Baby Jane?

Marcado como suspense, o filme retrata a rivalidade entre duas irmãs, na

infância Jane (Bette Davis) era um sucesso e Blanche (Joan Crawford) sua irmã

morria de ciúmes e jurou se vingar, até que na vida adulta o jogo muda e Blanche

vira estrela de cinema, enquanto Jane não se destaca mais.

Em certo momento da trama Blanche sofre um acidente e fica paralítica,

dependendo dos cuidados da irmã, que acaba abusando dela física e

psicologicamente. A intriga e o ódio que sentiam as protagonistas uma pela outra

trouxe a essência perfeita nas cenas, a disputa ocorria tanto fora quanto dentro das

telas.

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Escrito por Lukas Heller e dirigido por Robert Aldrich, o filme conta com um

cenário gótico, uma maquiagem pesada e com atitudes grotescas da irmã, que

ajudaram a compor a personagem mais comum até hoje, a bruxa, em uma

caricatura interessante e inovadora.

Figura 09 – Baby Jane (1962)

Fonte: Imagem obtida do filme O que terá acontecido a Baby Jane? (1962).

Se tratando de assustadoras bruxas do cinema, o filme Arraste-me para o

inferno (2009) tornou-se sucesso de bilheteria. Do diretor Sam Raimi, o filme que

faturou o prêmio de melhor filme de terror do ano de 2010, retrata a história de um

analista de crédito que ao recusar um acréscimo no empréstimo de uma senhora

torna-se vítima de uma maldição.

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Figura 10 – Arraste-me para o inferno (2009)

Fonte: Imagem obtida do filme Arraste-me para o inferno (2009).

Seja em animação ou em qualquer outro gênero, a tradicional imagem da bruxa

se faz presente trazendo a tona referências das narrativas orais as quais fomos

alimentados por séculos, e que ainda passamos de geração para geração. Um mix

de real e imaginário constrói essa personalidade, com traços misteriosos e

característicos capazes de despertar o medo em crianças e adultos.

Esse é o caso da animação Enrolados (2010), dirigido por Nathan Greno e

Byron Howard, essa obra é levemente baseada no clássico Rapunzel dos Irmãos

Grimm.

O filme conta a história de uma velha bruxa que presenciou o nascimento de

uma flor capaz de curar doentes e feridos, mas que ela utiliza com o intuito de

manter-se jovem. Anos mais tarde, a rainha do reino próximo adoece enquanto

espera um filho e os guardas que vão em busca da cura encontram a flor. Ao beber

uma poção mágica feita com a flor a rainha é curada e dá a luza a uma menina

chamada Rapunzel. Porém, a menina mantém em seus longos cabelos a habilidade

da flor e ao descobrir isso a bruxa sequestra a menina e a tranca em uma torre

criando-a como sua própria filha.

Anos mais tarde, um ladrão rouba a coroa da princesa desaparecida e ao se

deparar com a torre procura se esconder e encontra Rapunzel. Ela faz um acordo

com o ladrão para que ele a ajude a sair da torre, mas a traga em segurança mais

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tarde. E assim a maior confusão é armada, até a menina descobrir que ela é a

princesa perdida.

Enrolados relembra as poções mágicas e a feiura das bruxas (antes da bruxa

beber a poção), fazendo com que rapidamente fizemos alusão as clássicas

narrativas e novamente alimentamos o estereótipo de bruxa feia e malvada.

Figura 11 – Enrolados (2010)

Fonte: Imagem obtida do filme de animação Enrolados (2010).

Outro filme em que as bruxas tomam suas tradicionais formas é João e Maria:

Caçadores de Bruxas (2013) do diretor Tommy Wirkola, uma moderna adaptação da

narrativa: João e Maria, também dos Irmãos Grimm.

O filme conta a história de dois irmãos que foram abandonados na floresta por

seus pais e acabaram indo parar na casa de uma bruxa. Mas, ao contrário do

tradicional conto, eles exterminaram a bruxa e tornaram-se caçadores dessas

criaturas do mal. Eles são contratados pelas autoridades para desvendar o

desaparecimento de algumas crianças e acabam sendo encurralados por outra

bruxa ainda pior.

Diferentemente do clássico conto infantil, João e Maria: Caçadores de Bruxas é

uma releitura voltada principalmente para o público adulto, apresentando cenas

bastante sangrentas e bruxas extremamente assustadoras tornou-se um sucesso de

adaptação que deixa a fantasia dos clássicos contos de lado e investe na ação de

verdade, mesmo que com muita ficção envolvida.

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Figura 12 – João e Maria: caçadores de bruxas (2013)

Fonte: Imagem obtida do filme João e Maria: Caçadores de bruxas (2013).

Com base nos filmes de bruxas feias e malvadas podemos tomar como

exemplo o filme Caminhos da Floresta (2014). Do diretor Rob Marshall, o filme foi

baseado no musical da Broadway Into the Woods (1987), mescla comédia com

fantasia. Mesmo com um versão moderna de os clássicos contos dos Irmãos Grimm

(Cinderela, Chapéuzinho Vermelho, João e o Pé de Feijão e Rapunzel), o filme traz

mais uma vez a Bruxa malvada, fazendo com que todos tenham que se unir para

lutar contra ela e suas terríveis maldições.

Figura 13 – Caminhos da floresta (2014)

Fonte: Imagem obtida do filme Caminhos da floresta (2014).

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Até aqui as bruxas são sempre feias e maltratam as pessoas inocentes,

tornando-se assim temidas por crianças e adultos. Representadas na sociedade

sempre por aquelas pessoas (na maioria das vezes mulheres) que cometem atos

negativos, acabam fazendo com que a fantasia esteja sempre ligada de uma forma

ou de outra à nossa vida real. Desde o cinema mudo e ainda com as adaptações

dos clássicos, algumas delas mantêm a mesma personalidade dos contos orais

passados pelos nossos ancestrais, apesar ainda das mudanças físicas serem

constantes.

3.2.1 Os elementos fílmicos em torno da personagem

Para a construção da personagem bruxa, diversos elementos são utilizados e

necessários para criar a expressão ao qual cada gênero pretende reproduzir. No

caso dos filmes de terror ou ainda os demais gêneros que apresentam bruxas os

elementos buscam suprir certas carências que visualmente não transmitem a

mensagem pretendida.

Com base na ideia de Martin (2003) conceituaremos os diversos elementos

por ele apresentados.

3.2.1.1 Iluminação

Para Martin (2003, p.56), ela é responsável pela criação da expressividade da

imagem e contribui para a criação da “atmosfera”, porém passa despercebida pelo

espectador, isso porque deve transmitir certa naturalidade principalmente em cenas

externas. Acompanhadas de efeitos especiais a iluminação requer cuidados

específicos para que a mensagem seja transmitida de maneira correta e não revele

os detalhes de manipulação de cores e ainda auxilie no processo de dramatização.

Antigamente quando os filmes eram gravados externamente, as

possibilidades de efeitos gerados pela iluminação eram totalmente ignorados, todo

esse efeito psicológico e exaltação do drama que ela acaba gerando era

desperdiçado. A iluminação também “serve para definir e modelar os contornos e

planos dos objetos, para criar a impressão de profundidade espacial, para produzir

uma atmosfera emocional e mesmo certos efeitos dramáticos” (LINDGREN apud

MARTIN, 2003, pg. 57).

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Com base nos filmes já citados, podemos observar que a obscuridade é

muito utilizada como efeito produzido pela iluminação nos filmes de terror, gerando

certa ansiedade e mistério, trazendo para a tela a exaltação do medo passada do

personagem para o espectador. Nas cenas em que as bruxas aparecem a

iluminação sempre remete ao mistério e ao medo, com luzes fracas e bastante

direcionadas é que o ambiente é preparado causando um efeito emocional antes

mesmo de a história começar a sem contada, produzindo sentimentos agradáveis ou

desagradáveis.

Figura 14 – Filme Invocação do mal (2012)

Fonte: Imagem obtida do filme Invocação do mal (2013).

3.2.1.2 Vestuário

É a parte fundamental para a expressividade características dos filmes que

transmitem uma impressão imediata apontando o personagem a que se refere ou

ainda sua personalidade. Tão importante quanto a iluminação e o diálogo, o

vestuário é um elemento muito considerável ao que se trata de efeito no cinema,

sendo divido por Martin (2003, p. 61) em três tipos:

Realista: quando o figurinista preocupa-se em demonstrar exatamente como

na realidade histórica.

Para-Realista: quando o figurinista inspira-se na época, mas acaba

preocupando-se mais com a beleza do que com a exatidão.

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Simbólicos: a exatidão é deixada de lado, porém o vestuário traduz

caracteres, como sentimentos e posição social.

Toda roupa na tela é figurino, pois, despersonalizando o ator, caracteriza o herói [...] se quisermos considerar o cinema um olho indiscreto que gira ao redor do homem, captando suas atitudes, seus gestos, suas emoções, precisamos admitir que o vestuário é o que está mais próximo do indivíduo, embelezando-o ao esposar sua forma ou, ao contrário, distinguindo-o e confirmando sua personalidade (MANUEL apud MARTIN, 2003, p.61).

No caso das bruxas seu figurino é evidente e clássico, com base nos

estereótipos constantemente encontramos bruxas vestindo o mesmo estilo de

roupas velhas e cores obscuras. São conhecidas por seus vestidos longos, capas

escuras e o chapéu cônico, como acessório característico. Sempre muito chamativo

o chapéu costuma roubar a cena no cinema, além ainda de servir como identificação

da personagem ele é o símbolo de poder e indispensável em rituais de magia.

Na bruxa mostrada a seguir, por fazer parte de um filme contemporâneo, o

chapéu e a capa são deixadas de lado, porém o longo vestido e seus adereços

remetem as malvadas, que agora são muito mais glamorosas, mas que ainda assim

não perderam a característica de mistério e obscuridade.

Figura 15 – Bruxa Branca de Neve e o Caçador (2012)

Fonte: Imagem obtida do filme Branca de Neve e o Caçador (2012).

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3.2.1.3 O Cenário

Este por sua vez, possui uma grande carga de importância no cinema. Podem

ser “naturais ou criados em estúdio”, sempre buscando o melhor para acentuar a

realidade no contexto em que o filme está inserido, por exemplo, em filmes de época

o cenário deve ser manipulado para que passe certa veracidade quanto ao ano de

que se trata. O cenário deve contribuir para que todos os elementos entrem em

harmonia fazendo com que o espectador prenda atenção somente no que diz

respeito à ideia central do filme, ou seja, deve manter-se discreto, mas revelar um

efeito dramático a fim de atingir o psicológico de quem está do outro lado da tela

(BETTON, 1987).

Nos filmes de bruxas é comum que os cenários atinjam nosso psicológico e

nos remetam ao mistério, fazendo com que o medo seja exaltado e o suspense

prenda ainda mais a atenção do espectador em busca de um final surpreendente.

Martin (2003) define três tipos de cenários: o Realista, o Impressionista e o

Expressionista:

Realista: é a de Renoir e da maior parte dos diretores italianos, soviéticos e americanos, por exemplo. Nessa perspectiva, o cenário não tem outra implicação além de sua própria materialidade, não significa senão aquilo que é. Impressionista: o cenário (a paisagem) é escolhido em função da dominação psicológica da ação, condiciona e reflete ao mesmo tempo drama dos personagens; é a paisagem-estado de alma para os românticos. [...] Expressionista: enquanto o cenário impressionista é em geral natural, o expressionista é quase sempre criado artificialmente, tendo em vista sugerir uma impressão plástica que coincida com a dominante psicológica da ação (MARTIN, 2003, p.63).

Figura 16 – Cenário Invocação do Mal (2012)

Fonte: Imagem obtida do filme Invocação do Mal (2012).

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3.2.1.4 Cor

Apesar de o cinema ser construído e se manter durante muito tempo em preto

e branco, a cor é responsável também, segundo Martin (2003, p. 67), pelo aumento

o realismo.

Segundo Betton (1987, p. 58), “sentimos bem menos as cores do que os

valores [...] a representação em preto e branco é perfeitamente justificável em filmes

puramente psicológicos”.

No processo de reconhecimento das cores estão envolvidos outros

elementos, como a iluminação que pode interferir na sua captação, além ainda de

depender da visão e do cérebro do espectador para que se obtenha um resultado.

As cores são as grandes responsáveis por guiarem nossos sentimentos e o nosso

estado de espírito, por isso podem ser escolhidas e criadas para revelar o que o

autor busca informar ao espectador.

Os filmes de terror ou suspense são associados a cores escuras, pois como

vimos anteriormente, essas cores transmitem sensações e são elementos básicos e

poderosos no que diz respeito a filmes. Mesmo que os filmes busquem representar a

nossa própria realidade são impulsionados a manipular parte dela para que essa se

torne um pouco mais atraente, além ainda de que certas cores podem direcionar o

filme de acordo com as emoções a que as cores representam.

Figura 17 – Coraline (2009)

Fonte: Imagem obtida do filme de animação Coraline (2009).

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3.2.1.5 Montagem

Segundo Martin (2003, p. 132), a montagem é responsável pela organização

dos planos fazendo com que seja definida uma ordem das cenas. Para o autor é

dividida em montagem narrativa: “consiste em reunir, numa sequência lógica ou

cronológica e tendo em vista contar uma história” e a montagem expressiva:

“baseada em justaposições de planos cujo objetivo é produzir um efeito direto e

preciso pelo choque de duas imagens”, como a montagem muito rápida ou muito

lenta, por exemplo.

Para Betton (1987), a montagem é também uma forma de criação, transforma

o tempo e o espaço revelando uma visão inédita em relação ao que o filme quer

revelar. E está dividida em três categorias:

Montagem Rítmica: Tipo de montagem capaz de definir a ordem, o espaço e

o tempo buscando como resultado a criação do ritmo. Porém, o ritmo não depende

somente do tempo e cortes das cenas, e sim da harmonia dos elementos em

conjunto com a capacidade de manter apreendida a atenção.

Montagem Intelectual ou Ideológica: Esse tipo de montagem, segundo Betton

(1987, p. 74): “consiste em aproximar planos a fim de comunicar um ponto de vista,

um sentimento ou um conteúdo ideológico ao espectador”.

Montagem Narrativa: Através de diversos fragmentos possui a função de

descrever uma ação e é dividida em quatro tipos de montagens: Linear: única ação

em uma série de cenas em ordem cronológica. Invertida: fora de ordem, construída,

segundo Betton (1987, p. 78) com “fragmentos da ação passada que são inseridas

numa ação presente”. Alternada: são apresentadas imagens sobrepostas em uma

discussão, por exemplo. Paralela: várias ações não simultâneas que buscam, para

Betton (1987, p. 80) “significação de sua justaposição”.

Segundo Eisenstein (1990, p. 79), a montagem pode ser ainda dividida em:

Montagem Métrica: São fragmentos que de acordo com seu comprimento são

comparados a um compasso musical. Por exemplo: quando ocorre algum conflito na

cena a aceleração e os cortes são mais constantes, quando não há conflito a cena

ocorre em ritmo normal.

Montagem Tonal: Nessa composição o som é elemento mais importante, é

capaz de mudar a sensação causada no espectador.

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Montagem Atonal: Nesse tipo de composição sua percepção envolve

estímulos elétricos causados pelos órgãos dos sentidos. Nesse contexto a

construção do conflito é percebível.

Muitas montagens são comuns nos filmes de bruxas, sejam para

simplesmente uma história ou pela tentativa de causar algum efeito no espectador.

Pelo fato de que sua imagem é constantemente associada à fantasia o uso da

montagem é de extrema importância, servindo como auxílio para os demais

elementos fílmicos no momento da criação da obra cinematográfica.

A montagem também é necessária na medida em que ela manipula o tempo

da história e o espaço ao qual o personagem está inserido, como veremos nos

elementos a seguir.

Figura 18 – Montagem As bruxas de Blair (1999)

Fonte: Imagem criada a partir de cenas obtidas no filme A bruxa de Blair (1999).

No filme A bruxa de Blair (1999) a montagem é responsável por toda a

expectativa do filme, ela revela muito mistério e um pavor pelo qual os personagens

passam. Além de um custo de produção baixíssimo de maneira muito

impressionante ele amedronta sem se quer mostrar sangue ou o rosto da bruxa em

questão, ele deixa que o imaginário de encarregue disso.

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3.2.1.6 Espaço

Produzido através dos movimentos de câmera ou ainda produzido em um

espaço global criado com pequenos fragmentos que podem não manter relação

alguma e gerar ao espectador a sensação de um único lugar (Martin, 2003, p. 197).

Não se pode falar de um espaço do filme da mesma forma que o faríamos em relação à pintura, por exemplo, onde é possível distinguir um espaço “organizado” (a superfície plana quadrangular da tela) e um espaço “representado” (o universo em três dimensões que o quadro mostra): isto porque a tela do cinema não é uma superfície, mas uma abertura e uma profundidade, e já afirme antes que a tela e seu quadro devem permanecer virtuais sob pena de introduzir uma falsa concepção (estática e pictórica, justamente) da imagem fílmica. Não se pode, portanto, falar de um espaço do filme, mas somente de um espaço no filme, isto é, do espaço em que se desenrola a ação, do universo dramático (MARTIN, 2003, p. 200).

O cinema manipula o espaço e pode transportar o espectador para qualquer

dimensão em instantes. Destaque entre os elementos fílmicos mais importantes, o

espaço está inteiramente ligado ao tempo, é como uma mistura de sentidos e

percepções, com a exata utilização do espaço o filme é capaz de atingir a

imaginação do espectador fazendo com que ele acredite estar presente naquela

ação.

Com total domínio sobre o espaço, o cinema possibilita a criação de espaços

imaginários e artificiais. O espaço, por sua vez, possui uma carga simbólica e

psicológica, além de um valor figurativo e uma função estética (BETTON, 1987, p.

28).

Betton (1987, p. 30) relaciona três dimensões utilizadas para criação desse

espaço dominado pelo cinema: O primeiro plano: auxilia na obtenção de efeitos

dramáticos e é utilizado alternando com planos gerais para “intensificar os efeitos já

obtidos”. Os ângulos: sempre ocorre com o intuito de relevar algo. E é separado em:

ângulo normal: câmera permanece na horizontal. A perspectiva mantém-se normal.

Plongée: a câmera é posicionada acima da pessoa. Cria efeito de “esmagamento”.

Contra-plongée: a pessoa situa-se acima da câmera. Cria o efeito de superioridade.

Os movimentos de câmera: os movimentos representam a expressividade,

por esse motivo devem sempre ocorrer de maneira a justificar sua intenção como

descrever uma paisagem, por exemplo. Porém, por ser um meio de expressão ele

não possui apenas uma função descritiva e sim interpondo com a função dramática.

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O espaço fílmico é também chamado de espaço diegético. Isso ocorre porque

o filme acontece dentro de uma dimensão ficcional, sendo criado a partir de

fragmentos de espaços reais, assim como vimos na montagem, ou ainda criado com

movimentos de câmera, passando a dar mais emotividade ao espaço e não somente

a imagem em si.

Portanto, entende-se que o espaço no filme é um espaço ilusório, mas que

mantém relação com o espaço real por conta da sua temporalidade.

3.2.1.7 Tempo

Martin (2003, p. 213), apresenta três dimensões de tempo: o tempo da

projeção (duração do filme), o tempo da ação (duração diegética) e o tempo da

percepção (impressão de duração sentida pelo espectador). Com a tecnologia

empregada em muitas cenas, tanto de aceleração, retardação ou congelamento da

imagem, o tempo pode ser controlado e manipulado fazendo com que

componhamos uma noção subjetiva que se sobressai ao tempo real.

Betton (1987), define cinco dimensões capazes de manipular o tempo em um

espaço diegético. Tais como:

A câmera lenta: Com grande capacidade para análise de um movimento, ela

possui uma grande carga de emoção.

O efeito da câmera lenta muitas vezes provoca muitas vezes adesão completa do espectador, um recuo de sua consciência, acompanhado de reações afetivas diversas (mal estar, angústia, tristeza, nostalgia, exuberância imaginativa, etc.) e às vezes psicomotoras (atividade onírica). [...] pode sugerir imagens de paz, de resignação, de esforço intenso e contínuo, de impotência, ou, ao contrário, de potência. [...] As cenas que se passam na imaginação das personagens são também frequentemente filmadas em câmera lenta [...] Os efeitos de câmera lenta são largamente utilizados, ao lado de outras trucagens, para traduzir o estado de ausência de peso, isto é, para ressaltar a queda de força gravitacional nos filmes de ficção científica (BETTON, 1987, p. 18).

A câmera rápida: Serve principalmente para analisar fenômenos lentos e criar

efeitos cômicos (muito frequentes nos filmes mudos de Chaplin).

A aceleração do tempo vivifica e espiritualiza. A câmera lenta mortifica e materializa. Passa-se portanto das aparências espirituais às aparências materiais ou vice-versa (...) por simples contrações ou extensões do tempo (EPSTEIN apud BETTON, 1987, p. 19).

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A interrupção do movimento: Por termos a noção da realidade que o tempo

nunca pára, quando ocorre à interrupção do movimento causa estranheza. Por esse

motivo há sempre muito cuidado e receio em relação esse movimento. Esse efeito

surpreende, mas algumas vezes causa estranheza por parte do espectador.

A inversão do movimento: causadora também de efeitos cômicos, a inversão

do movimento também é responsável por efeitos “poéticos e dramáticos”. Segundo

Betton (1987, p. 22): “A inversão do movimento permite (o pintinho que volta ao ovo,

o objeto restituindo suas partes...) permite uma melhor compreensão de certas

noções abstratas da física moderna, ligadas à principal dimensão da ciência: o

tempo”.

Martin (2003) propõe quatro análises que justificam o emprego dessa técnica:

razões estéticas (“simetria estrutural”), razões dramáticas (“revela um sentido

profundo” “contribui para o caráter envolvente do filme”), razões psicológicas (“ao

invés de desenrolar a ação fazendo com que o herói intervenha como um de seus

elementos, é mais adequado concentrar nele o drama, constituindo a maior parte do

filme na materialização de sua lembrança”) e razões sociais (“precaução”).

Contração e dilatação do tempo. Presente, passado e futuro: O filme nunca

respeita o tempo real. As contrações e dilatações do tempo são comuns para que

ele mantenha uma duração adequada e reforce as ações. Para que essas técnicas

ocorram é necessária uma montagem, portanto entende-se que a montagem é

responsável tanto pela manipulação do tempo como do espaço.

3.2.1.8 Diálogos

Para Martin (2003, p. 175), os diálogos não possuem a mesma importância

que a montagem possui por ser um “elemento mais específico da linguagem fílmica”,

mas é um elemento importante para a construção da imagem ou ainda

caracterização de um personagem.

Essa maior importância que a montagem possui em relação ao diálogo, se dá

ao fato de que antigamente existiam filmes sem diálogos, os filmes mudos, que

apesar de muito texto não carregavam a característica que o personagem possui

quando cria o seu próprio tom de voz ou sotaque, destacando-se dos demais.

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Quando retirado um dos elementos essenciais (no caso do som nos filmes

mudos), a imagem se limitava a uma função de expressividade, quando deveria

ainda possuir uma função explicativa.

As legendas acrescentadas nos filmes acabam quebrando a ordem do filme

fazendo com que a harmonia também seja quebrada, resultando em uma divisão

quando o contrário ocorre nos filmes sonoros, o som e a imagem juntos condicionam

uma mensagem com êxito. Pode ocorrer que som e imagem possuam conteúdos

opostos, o risco de as duas linguagens não serem interpretadas advém, mas nesses

casos é que a imaginação é estimulada. (BETTON, 1987)

Martin (2003, p. 176) ainda acrescenta que, os filmes quando traduzidos

requerem um cuidado especial preterindo uma “adequação entre o que diz um

personagem – e o modo como diz – e sua situação social ou histórica”. O fato de as

imagens falarem por si só é um contraponto quando a explicação verbal se sobrepõe

a expressão visual.

O som contribui para dar significação à imagem, porém não significa que a

imagem seja mais importante do que o som. Percebe-se uma ordem nos filmes em

que a imagem aparece antes do som, e isso ocorre na maioria das vezes com o

intuito de atingir o emocional e o intelectual do espectador em uma sequência lógica.

Um bom diálogo falado deve ser simples, claro, espontâneo, eficaz, exprimindo a realidade vivida, dela conservando o natural e a verossimilhança. O eixo do desenvolvimento lógico, dramático e psicológico prende-se à continuidade visual, e as “palavras surgem da situação”. O texto pode ser abundante, mas não há palavras inúteis, o ritmo é preservado, havendo sempre adequação entre sons e imagens (BETTON, 1987, p. 46).

Nos filmes onde a figura da bruxa aparece o diálogo mantém sua importante

função, tanto para caracterização da personagem, como também para descrever

suas ações, devendo sempre manter uma ordem lógica para que o diálogo não se

contradiga em relação à imagem.

Outros sons importantes e frequentes no caso das bruxas são os do riso, que

aparecem normalmente nos momentos em que a magia é realizada, na maioria das

vezes acompanhada de alguns efeitos especiais que são muito relacionados à

transformação de pessoas e objetos que são constantes, possuem extrema

importância e perdem parte do sentido quando aparecem silenciosos.

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3.2.2 Efeitos Especiais

Segundo Tietzmann (2010, p.31), efeito especial é conceituado como

“substituição que envolve a troca da captação de imagens de uma maneira mais

direta por sua reconstrução artificial através da aplicação de uma ou mais técnicas

específicas”.

Os efeitos especiais estão presentes nas vidas dos espectadores muito antes

do cinema contemporâneo, desde o teatro ainda do século XIX eles já encantavam

as plateias (MILLER apud TIETZMANN, 2010, p. 53). Eles começaram a surgir antes

mesmo da técnica de montagem e este passou a ser incorporado em diversos

gêneros ao invés de se tornar um gênero próprio, passando a colaborar com o

desenvolvimento das tramas.

São diversos os motivos pelos quais pode ser justificado o uso de efeitos

especiais, como por exemplo, a criação dos personagens do filme Avatar (2009) ou

ainda do filme Transformers (2007). Para Tietzmann (2010, p. 33), “o realismo nos

efeitos é um realismo de aparência e está condicionado às suas circunstâncias de

apresentação”. Por esse motivo o espectador acredita naquela realidade mesmo

ciente de estar diante de uma obra de ficção, logo, entende-se que a imagem que

lhe é apresentada é resultante dos efeitos especiais.

Os efeitos visuais, diferentemente dos elementos fílmicos não específicos que

manipulam imagens, podem ser considerados também truques, porém não

manifestam uma realidade. Eles apenas se misturam aos ambientes reais fazendo

com que o espectador tenha a sensação de que os efeitos podem sim fazer parte da

realidade fora das câmeras. Como por exemplo, na imagem a seguir retirada de um

dos filmes da série Harry Potter, onde os bruxos aparecem voando em suas

vassouras inúmeras vezes.

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Figura 19 – Harry Potter (2002)

Fonte: Imagem obtida do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal (2002).

Tietzmann (2010) estabelece uma relação com o ilusionismo, trazendo a tona

nesse contexto o efeito que a mágica produz que se assemelha ao dos efeitos

especiais aos quais nos referimos:

Em performances mágicas o conhecimento do que é revelado aos olhos da plateia (o que parece estar sendo feito) falha em oferecer informação confiável sobre o que está por detrás (o que é realmente feito) – e é este pressuposto equivocado pelos espectadores a respeito de uma confiabilidade nesta simetria que faz a mágica (TUFTE apud TIETZMANN, 2010, p. 52).

Por se tratar de filmes que criam um imaginário e situações fora da realidade

exterior a narrativa, no momento em que a bruxa aparece os efeitos especiais

consequentemente a acompanha. Para que essa fantasia a qual a bruxa esta

inserida possa efetivamente atingir o espectador, os efeitos devem propor que a

imaginação dele seja instigada, mas que não seja superada pela cena que possui o

intuito de surpreender.

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4 BRUXAS E CONTOS DE FADAS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

Neste capítulo o estudo será voltado aos contos de fadas e sua relação com o

cinema contemporâneo.

Nossa análise será baseada nos elementos apresentados no capítulo

anterior, buscando comparar as mudanças de contos originais, em três obras

cinematográficas da contemporaneidade: Oz: Mágico e Poderoso (2012), Espelho,

espelho meu (2013) e Malévola (2014). Três obras cinematográficas adaptadas dos

clássicos: O mágico de Oz (1939), Branca de Neve (1938) e A Bela Adormecida

(1959) também servirão de material de apoio para o desenvolvimento de nossa

discussão, além de mostrarmos apropriações realizadas pela indústria cultural2

sobre o tema “bruxa”, que contribuem para a construção de um imaginário em torno

da personagem bruxa.

4.1 APROPRIAÇÃO DOS CLÁSSICOS

Atualmente o mercado tem se apropriado de contos de fadas buscando atingir

públicos específicos, especialmente o infanto-juvenil, para a venda de produtos e

marcas. As bruxas têm se destacado entre os personagens que movimentam o

mercado. Buscando inovação, algumas empresas apresentam esse tipo de

personagem de uma maneira bem contemporânea, sem deixar de lado a história em

que muitas delas tiveram sua origem, como os contos de fadas que aqui

destacamos, como a Bela Adormecida e Branca de Neve, entre outros.

Na busca de satisfação a partir do consumo, muitas pessoas acabam fazendo

uma associação, em determinado momento já vivenciado em sua vida, com algum

personagem, seja da literatura ou do cinema. Os contos de fadas, desse modo,

fazem muito sucesso, principalmente em campanhas publicitárias, misturando o

lúdico, o desejo e a imaginação com a realidade, que neste caso poderá ser

consumida.

Esses produtos passaram a ser comercializados e essa busca por satisfação

pessoal é confundida muitas vezes com a felicidade, fazendo com que ações do

2 Indústria Cultural: Há uma gama muito grande de apropriações de conceitos sobre indústria cultural, porém

trabalhamos na presente pesquisa com foco no conceito de Materllart (1996) que diz que analisa a indústria

cultural como a produção de bens materiais como movimento global de produção da cultura como mercadoria.

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mercado usem de referências ao universo dos contos de fadas, que fez parte da

infância de muitos e traz boas recordações, alavancando vendas.

Segundo Santaella (LARENTIS apud SANTAELLA, 2010, p. 35), os livros

foram os grandes responsáveis pela disseminação mundial dos contos que deixaram

as bruxas ainda mais conhecidas e acrescenta que: “Os produtos não apenas

denotam seu uso e valores de troca, mas também conotam significados estéticos,

emocionais e místicos”.

Com base nessa ideia apresentamos como exemplo duas fotografias

(publicitária e de moda) (figuras 20 e 21) apresentadas na revista Vogue, e uma

imagem de Galanes (figura 22) que mistura alguns efeitos, exaltando uma

contemporânea imagem da personagem bruxa. Nestes casos, a bruxa não mais é

apresentada nas suas características comuns, ou seja, com base apenas na

denotação, e parte-se para uma releitura voltada para a moda e a beleza, na busca

da conotação, com base no emocional e no místico.

Figura 20 – Beautiful Witch Vogue

Fonte: https://www.pinterest.com/search/pins/?q=witchvogue ; acesso em 15 de maio de

2015.

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Figura 21 – Witch Hunts Vogue

Fonte: http://annsredshoes.blogspot.com.br/2012/09/witch-hunts-song-kyung-ah-by-ji-sup-

for.html ; acesso em 15 de maio de 2015.

Figura 22 - Lado sombrio dos contos - Galanes

Fonte: http://www.justlia.com.br/2013/02/contos-de-fada-nao-tao-felizes/ ; acesso em 15 de

maio de 2015.

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A apropriação pelo mercado, dos contos de fadas nos quais as bruxas fazem

parte, acabam tornando-se comuns em campanhas publicitárias, é um recurso bem

explorado. Seja ela destaque ou não, revela-se na comunicação um outro olhar para

essas histórias as quais estávamos acostumados apenas a ouvir, ou ler.

Na televisão a bruxa mantém seu espaço também em comerciais de

televisão, por exemplo, no recente comercial da Renault, onde ela aparece da

maneira como estamos acostumados a vê-las nas histórias: com sua tradicional

vassoura, vestido preto e chapéu. A diferença é que agora ela é uma mulher bonita

e supermoderna, que nesse caso está querendo trocar a sua vassoura por um carro.

Figura 23 – Comercial Renault Bruxa

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=j_vh3ygeyKw ; acesso em 18 de maio de 2015.

Nas imagens apresentadas a seguir observamos que a bruxa mantém

algumas de suas características preservadas, como por exemplo, as roupas escuras

e maquiagem exagerada, porém com traços sedutores, roupas com cortes

modernos e diversos adereços. Uma clara adaptação da popular personagem bruxa

para o universo da moda.

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Figura 24 - US Harper's Bazaar, October 2009

Fonte: http://filthyrotten.livejournal.com/34569.html?thread=1191945 ; acesso em 15 de maio

de 2015.

Figura 25 - Vogue Itália, May 2009

Fonte: http://plascontrends.co.za/halloween-fashion-trends-vogue-editorial/ ; acesso em 15 de

maio de 2015.

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Figura 26 - Vogue Italia, May 2009.

Fonte: http://plascontrends.co.za/halloween-fashion-trends-vogue-editorial/ ; acesso em 15 de

maio de 2015.

A bruxa, que sempre foi a vilã nas mais diversas histórias, agora também atrai

certa preferência do público Surge então em cadernos, roupas, mochilas, miniaturas

(figura 27), linha de esmaltes (figura 28), e também sapatos (figura 29), entre outros

produtos. Na maioria das vezes voltada ao público infanto-juvenil.

Figura 27 – Miniaturas vilãs da Disney

Fonte: http://thebeautyfactory.com.br/vilas-da-disney/ ; acesso em 15 de maio de 2015.

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Figura 28 – Linha de esmaltes vilãs Disney

Fonte: http://www.justlia.com.br/2012/06/villains-designer-collection-bonecas-e-esmaltes-das-

vilas-disney/ ; acesso em 15 de maio de 2015.

Figura 29 – Coleção Melissa vilãs Disney

Fonte: http://gabriellelopezart.com/2011/11/29/christmas-wishlist-2011/ ; acesso em 15 de

maio de 2015.

A adaptação da bruxa se fez necessária com o passar dos anos, sociedade

mudou, mas a personagem bruxa não desapareceu. Durante o longo trajeto

percorrido pelas bruxas, passamos pela questão de apropriações e consumo de

produtos, e não podemos deixar de destacar o espaço que a bruxa mantém no

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cinema. No cinema, como já vimos anteriormente, a bruxa passou a ser retratada

ainda no cinema mudo. Em 1916 foi lançado Snow White (Branca de Neve), dirigido

por J. Searle Dawle, baseado em uma peça da Broadway (Whinthrop Ames, 1912).

Figura 30 – Snow White (1916)

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=mq2vCB8GnVU ; acesso em 15 de junho de 2015.

Em 1938, Walt Disney lançou a animação inspirada no conto dos Irmãos

Grimm, que foi o primeiro filme de animação de longa-metragem do mundo.

Adaptação do filme mudo de 1916, demorou cerca de 4 anos para ficar completa e

chegou a custar mais de 20 milhões. Segundo o site Chambel.net, o filme foi um

estrondoso sucesso e tornou-se campeão de bilheteria, regressou as salas de

cinema por oitos vezes, além ainda de que Walt Disney recebeu um Óscar especial

em reconhecimento pelo seu trabalho.

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Figura 31 - Cartaz original Branca de Neve e os Sete Anões (1938)

Fonte: http://waltdisneyanimation.wikia.com/wiki/Snow_White_and_the_Seven_Dwarfs ;

acesso em 12 de junho de 2015.

Apropriações do cinema trazem uma releitura de diversos filmes, incluindo

novas perspectivas para a personagem bruxa, como uma aparência jovial e bela,

figurino moderno, entre outros elementos que serão analisados detalhadamente

mais adiante, neste mesmo capítulo.

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4.2 ADAPTAÇÕES

Os filmes atuais que retratam os contos de fadas são adaptações, pois

remetem a esses clássicos pela narrativa de uma forma geral. Isso ocorre a partir de

cenas específicas, ou pelo contexto da história em si.

As mudanças por sua vez acontecem quando a narrativa apresenta

semelhanças com o conto tradicional, trazendo parte desses clássicos para a

contemporaneidade, inserindo-os na sociedade atual ou ainda trazendo esses

contos para a realidade adulta criada com uma linguagem mais específica e cenas

mais fortes. Os nomes também passam por adaptações, mas nunca deixam de ser

caracterizados e remetidos a estereótipos aos quais já estamos acostumados.

Essas releituras acabam muitas vezes surpreendendo e conquistando o

público, pois as clássicas narrativas traduzem o imaginário humano, que está em

modificação, com o decorrer do tempo. Podemos perceber isso nos três cases

apresentados: Oz- Mágico e Poderoso (2012) em relação ao conto O mágico de Oz,

Espelho, Espelho Meu (2013) em relação a Branca de Neve, e Malévola (2014)

para o conto da Bela Adormecida.

Mesmo que o filme Espelho, Espelho Meu (2013) apresente um contexto

muito semelhante ao conto original, este serve de complemento auxiliando no

alcance do objetivo do presente trabalho que visa compreender como o cinema

contemporâneo constrói o imaginário da personagem bruxa adaptando

clássicos da literatura infantil.

A literatura infantil na contemporaneidade parece ser revigorada no cinema,

pois também se acrescenta às narrativas contemporâneas discussões sociais que

“contestam” os estereótipos trazidos por meio dos clássicos. Geralmente são

acrescidos de humor, que acabam por gerar certo estranhamento, que são

interpretados de maneira pessoal variando de espectador para espectador, podendo

ser recriminado ou aceito como uma sensação prazerosa.

Segundo Jullier (2009), no cinema em geral a busca pela verossimilhança é

comum:

Como “contar histórias” significa “mentir” no sentido figurado, alguns cineastas da modernidade vão descontruir os cânones da narrativa-busca, seja ressaltando seu caráter convencional e artificial, seja propondo novas formas fílmicas [...] ou seja, como uma bandeira proclamando “realidade, liberdade, verdade”, agitada diante do nariz da indústria do entretenimento e

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da mentira. Essa recusa em mentir conduz frequentemente os cineastas à reflexão (eles encenam o próprio recuso do cinema) e ao distanciamento (uma técnica que vem do teatro de Bertold Brecht e que consiste em impedir o espectador de ser demasiado absorvido no mundo acolchoado da ficção) (JULLIER, 2009, p. 153).

Por esse motivo podemos observar nos clássicos adaptados para a

contemporaneidade que a relação com a realidade é visível, tornando-os comuns e

carregados de reflexões e críticas sociais, das quais estamos passando atualmente.

4.3 ORGANIZANDO A ANÁLISE

Para a análise selecionamos três adaptações de contos que apresentam tipos

contemporâneos de bruxas, destacando os elementos empregados e tidos como

determinantes para a criação do imaginário da personagem bruxa como

protagonista. Destacamos suas personalidades, que são elas: em Espelho, Espelho

Meu, temos a bruxa que permanece má por toda a narrativa, em Oz - Mágico e

Poderoso, a bruxa é boa e torna-se má, e em Malévola a bruxa é boa , torna-se má,

mas no final volta a ser boa.

Essa análise é decorrente ainda das teorias utilizadas na conceitualização

dos elementos fílmicos, teorias de Betton (1987), Martin (2003) e Tietzmann (2010),

que são eles: iluminação, vestuário, cenário, cor, montagem, espaço, tempo,

diálogos e efeitos especiais. Porém, além de ser analisada apenas uma cena por

filme, destacaremos elementos que consideramos relevantes para a construção do

imaginário contemporâneo da bruxa: a beleza, o figurino e os efeitos visuais.

4.3.1 Oz: mágico e poderoso – Bruxa e beleza

Sinopse:

O filme é uma releitura do antigo clássico O mágico de Oz. Oz, mágico e

poderoso conta a história de Oscar Diggs, um mágico bastante egocêntrico e

mulherengo. Por conta de suas aventuras amorosas ele embarca em aventuras

inesperadas e vai parar na Terra de Oz. Ao chegar em Oz, Oscar conhece

Theodora, que diz ser a bruxa boa da Terra Encantada e mais do que depressa ele

se sente atraído e beija a bruxa.

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Theodora acredita que Oscar é o grande mágico que chegou a Terra Encantada

para acabar com a bruxa Má e tornar-se rei. Ao levá-lo até o castelo, pertencente ao

mágico que salvará a cidade, ele é apresentado à Bruxa Evanora, irmã da bruxa

Theodora. O mágico sente-se atraído também pela bela bruxa, deixando Theodora

com ciúmes.

No decorrer da trama Oscar conhece outra bruxa, Glinda, esta linda a realmente

boa, que lembra muito um amor de seu passado. Com ciúmes, Theodora pede ajuda

de sua irmã para se vingar do mágico. Evanora como é a bruxa malvada de

verdade, cria um feitiço em uma maçã que transforma Theodora em uma bruxa

verde e má.

Oscar descobre juntamente com Glinda que as bruxas malvadas são as duas

irmãs e elas mais do que depressa o procuram para acabar com a sua vida e a

cidade de Oz. Porém, rodeado de criaturas inusitadas, ele enfrenta diversos

obstáculos até acabar com as bruxas Theodora e Evanora, deixando o caminho livre

e tranquilo para todos da cidade e sua amada Glinda.

Por trás das câmeras:

Segundo uma entrevista publicada no site Omelete.com, Oz - mágico e

poderoso foi um filme muito bem aceito para Raimi o diretor: “como um clássico da

Disney”.

Pode-se entender essa aceitação derivada de uma adaptação, mesmo que

alguns itens tenham sido deixados de lado, como a Cidade das Esmeraldas, faz

parte de um baú de memórias de muitas pessoas. É como se voltássemos a infância

quando assistimos o filme e a medida que vamos nos lembrando da história a

nostalgia toma conta do nosso consciente.

Essa nostalgia parece ainda ser alvo de críticas ao diretor, servindo de único

fator predominante ao sucesso do filme. Porém, o que se percebe nesta obra é que

o apelo a beleza das bruxas também foi fundamental, com um elenco mais

selecionado, as belas bruxas roubaram a cena e elevaram o filme a grandes e novos

patamares.

No site pipocamoderna.com, diversas informações questionáveis sobre o filme

foram publicadas, entre elas a que para criar essa obra a Disney teve que

desembolsar U$ 200 milhões. Segundo os atores, o valor investido foi alto por conta

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dos cenários utilizados, que na sua maioria haviam sido realmente construídos,

deixando de lado a tela verde geralmente utilizada para a criação de efeitos

especiais e redução de custos com cenários.

Um alto investimento como citado no site pode gerar certo receio aos

investidores, porém trata-se de uma adaptação que atinge um público que já

mantém uma preferência pelo original e está disposta e feliz por se deparar com

uma releitura contemporânea.

Sequência da cena:

Nesta cena Glinda está apresentando o povo da Terra Encantada para Oscar.

Em seguida uma música de suspense começa a tocar e por meio de uma grande

explosão nuclear aparece a bruxa Theodora. A cena analisada tem início com um

Contra Plongée3 (cena 01), onde o céu acaba ficando em maior evidência e ainda

aparece Glinda e Oscar de costas olhando para o céu. Na cena 02, no momento em

que ocorre o choque da bruxa com a terra percebemos um Plano Médio4. Já

transformada em bruxa Theodora aparece nas cenas 03 e 04 em Close5 para

mostrar sua aparência modificada. Theodora então debocha do mágico e utiliza de

seus poderes para fazê-lo de fantoche (cena 05) em um Plano Americano6 e refere-

se à dança que tiveram logo que se conheceram (cena 06) em um Meio Primeiro

Plano7 tendo Glinda ao fundo. Na cena 07 com um Plano de Conjunto8, Theodora e

Glinda se enfrentam e a bruxa malvada fala ainda do pai de Glinda (que Evanora

matou) e na sequencia (cena 08), a câmera se aproxima em um Meio Primeiro Plano

Perfil9. Já finalizando a cena em um Plano Geral10 (cena 09), Theodora fala para

todo o povo que o mágico também vai enganá-los assim como fez a ela. E na cena

3 Contra Plongée: altura de ângulo que mantém a câmera abaixo do nível dos olhos, voltada para

cima. 4 Plano Médio: distancia do objeto posicionando a câmera de modo que ocupa parte do cenário, mas

ainda tem espaço em torno do objeto. 5 Close: câmera bem próxima do objeto, de modo que ele ocupe quase todo o cenário.

6 Plano Americano: a personagem é enquadrada do joelho para cima.

7 Meio Primeiro Plano: a personagem é enquadrada da cintura para cima.

8 Plano de Conjunto: com um ângulo mais aberto, a câmera revela parte do cenário e a personagem

ocupa um espaço maior na tela, podendo até reconhecer os rostos mais próximos à câmera. 9 Perfil: a câmera forma um ângulo de aproximadamente 90 graus com o nariz da personagem.

Podendo ser esquerda ou direita. 10

Plano Geral: com um ângulo bem aberto, a câmera revela o cenário e as personagens ocupam um espaço reduzido na tela.

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10, com um Plano de Conjunto a observamos saindo montada em uma vassoura

aterrorizando a todos.

Figura 32 – Cena Bruxa Theodora

Fonte: Imagens obtidas do filme Oz- Mágico e Poderoso (2012).

Análise:

Nesta cena Theodora aparece provocando Oscar e Glinda. A tenebrosa bruxa

está transformada em uma bruxa verde por conta de um feitiço feito pela sua irmã

Evanora (cena 03-04). Esses traços nos remetem às velhas bruxas dos clássicos,

porém ela não se torna uma bruxa feia, mesmo com a maquiagem que deixa seu

rosto mais pontudo, com o queixo e o nariz acentuado e as sobrancelhas mais

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arcadas. Ela ainda é muito bonita e muito semelhante à fisionomia real da atriz Mila

Kunis (figura 33), além ainda de ser uma bruxa muito sensual, que abusa de um

decote deixando seu corpo à mostra.

Figura 33 – Bruxa e Mila Kunis

Fonte: montagem realizada a partir de imagens obtidas do filme: Oz – Mágico e Poderoso (2012) e

fotos pessoais da atriz.

Como de costume todos os filmes apresentam atrizes ou atores com uma boa

aparência, no caso de Oz a Bruxa Theodora que se destaca como bruxa má

apresenta uma beleza diferente.

Com base na questão norteadora do presente trabalho, entende-se que essa

maneira de apresentar um personagem faz parte do imaginário que construímos

ainda nos contos orais, a descrição de bruxas feita do “boca-a-boca” a tornou ainda

mais horrorosa. O cinema busca modificar isso, criando novas perspectivas ao

espectador, para introduzir esses clássicos nos tempos atuais, e mais próximos da

vida real.

Façamos uma comparação com a bruxa má do oeste do clássico da literatura

O Mágico de Oz, na adaptação a bruxa está muito mais bonita, com uma roupa

moderna, uma beleza e uma sensualidade que no antigo filme não mostrava.

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Figura 34 – Comparação bruxa verde

Fonte: montagem realizada a partir de imagens obtidas do filme: Oz – Mágico e Poderoso (2012) e O

mágico de Oz (1939).

A beleza da bruxa chama muito atenção no filme, pois mesmo com toda

produção tentando deixá-la feia ela continuou bela (cena 03-04). Surpreendemo-nos

porque as bruxas que estávamos acostumados a ver no cinema representavam os

estereótipos que alimentamos por anos: uma velha, mendiga e grotesca (figura 35).

Assim, quebrando paradigmas, Oz- Mágico e Poderoso representa uma nova visão

apresentada pelo cinema contemporâneo (figura 36) que abandona a imagem de

bruxa velha e feia.

Figura 35 – Bruxa do filme Convenção das bruxas (1990).

Fonte: Imagem obtida do filme Convenção das bruxas (1990).

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Figura 36 – Bruxas de Oz

Fonte: http://www.lauraperuchi.com/2013/03/o-figurino-de-oz-magico-e-poderoso.html ; acesso em 31

de maio de 2015.

De acordo com os elementos fílmicos apresentados destacamos a iluminação

nessa cena transmite certo mistério, pois ela fica mais escura no momento em que a

bruxa aparece, para que a atmosfera de medo seja criada e um efeito dramático seja

mais intenso. Já o figurino que a Theodora utiliza é um figurino para-realista (cenas

07-08). Há uma preocupação com o simbolismo da bruxa, mas ainda o cuidado com

a beleza e a sensualidade é maior.

O cenário é externo e até o aparecimento da bruxa era muito colorido, porém

acabou ficando encoberto pela atmosfera de mistério e terror que a iluminação ajuda

a construir.

A cor da pele mesmo que fugindo do realismo destaca a personagem em

relação às demais bruxas, a fim de revelar uma monstruosidade.

A montagem além de narrativa (descrevendo uma ação) é ainda uma

montagem Intelectual ou Ideológica, esse tipo de montagem apresenta a fúria da

bruxa a cada plano e enquadramento.

Como vimos no capítulo anterior (pág. 48), o espaço e o tempo estão

interligados. Nesta cena o espaço diegético é criado com os movimentos de câmera

que variam entre planos, ângulos e perspectivas. Em relação ao tempo, apesar de

não aparentemente não apresentar alguma alteração, entende-se que a partir do

momento em que ocorre a montagem o tempo é consequentemente alterado.

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Os diálogos acabam por caracterizar a personagem (cena 05-06) por conta de

sua voz aguda. O diálogo é marcante porque esse importante item representa a

mudança de personalidade pela qual a personagem passou, mudando de uma voz

doce para uma voz aguda e chata passando a significar mais a imagem

complementando aquela figura bizarra e ao mesmo tempo misteriosa. No final da

cena analisada a bruxa solta o riso muito popular quando se trata das bruxas, parte

fundamental da construção da imagem dessa personagem mantendo ainda

referência as clássicas histórias (cenas 09-10).

Os efeitos especiais também compõem a cena, principalmente nos momentos

em que a bruxa aparece entre uma nuvem negra que cai na terra causando uma

explosão (cenas 01-02) e quando ela sai voando em uma vassoura (cenas 09-10).

São truques responsáveis por manifestar uma realidade, para que o espectador faça

a relação com a realidade (uma manifestação da natureza como a explosão, por

exemplo).

A bruxa Theodora em algum momento do filme passou por uma adversidade e

passou de boazinha para uma bruxa má. Neste caso, a não correspondência de um

amor em conjunto com os feitiços de sua irmã fizeram com que ela se transformasse

em uma bruxa além de malvada com alguns traços de feiúra, mas ao mesmo tempo

sensual.

4.3.2 Espelho, espelho meu – Bruxa e figurino

Sinopse:

Baseado no clássico conto de fadas Branca de Neve, o filme Espelho, Espelho

Meu conta à história da Rainha Má que assume o trono após a suposta morte de

seu esposo. Essa rainha além de má é também muito egocêntrica e mantém presa

em seu quarto sua enteada, Branca de Neve.

Branca de Neve é uma menina jovem e muito bonita que ao ir escondido a um

baile realizado no castelo conhece um príncipe que se apaixona por ela. Ao ser

expulsa do castelo por ir escondida ao baile, Branca de Neve se depara com a triste

realizada de pobreza a que o povo de reino vive por conta das maldades de sua

madrasta, a Rainha Má, e decide se vingar. A Rainha tenta de tudo para casar-se

com o príncipe, chegando a mentir para ele que Branca de Neve está morta e o faz

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beber uma poção mágica. Ao beber essa poção o príncipe se apaixona pela Rainha

e aceita casar-se com ela.

No dia do casamento, Branca de Neve sequestra o príncipe com a ajuda de

pequenos anões que ela conhece na floresta. Eles aconselham Branca a dar um

beijo de amor no príncipe para que o feitiço seja desmanchado, e ao se beijarem

isso realmente acontece.

Branca de Neve enfrenta a Rainha e reencontra seu pai, descobrindo que ele

não estava morto, só estava desaparecido por conta dos feitiços da malvada. A

Rainha Má acaba sendo derrotada pelo Rei e sua filha deixando o caminho livre

para que o casamento da menina com o Príncipe ocorra. O rei realiza a cerimônia e

ao receber os presentes do povo do reino, Branca de Neve recebe de uma velha

senhora uma maçã, porém a menina percebe que a senhora é na verdade a Rainha

Má disfarçada e não morde a maçã, pedindo que ela coma o primeiro pedaço.

Por trás das câmeras:

Espelho, espelho meu é baseado no clássico Branca de Neve, dos Irmãos

Grimm, porém é narrada sob a perspectiva da Rainha Má, a madrasta da menina.

Interpretada pela atriz Julia Roberts o filme recebe uma nova visão, uma atriz muito

famosa pelos seus papéis que no geral são de pessoas boas, mais parecidas com

princesas do que com bruxas.

A atriz ainda revelou, segundo o site bonde.com, proibir os filhos de assistirem

tanto as filmagens quanto o filme depois do lançamento. A justificativa é que ela não

quer que os filhos fiquem assustados ao vê-la como uma vilã.

Uma das cenas mais inusitadas são os tratamentos estéticos pelo quais a bruxa

passa a fim de ficar ainda mais bela. São tratamentos que na tela parecem cômicos,

mas que podemos conferir em diversos sites, entre eles no blogizazilli.com, que são

reais e oferecidos em diversos spas do mundo.

A adaptação do clássico inverte alguns papéis acrescentados com algumas

doses de humor e modernidade, sem deixar de lado os valores morais existentes em

um clássico conto.

O filme retrata de forma encantadora, principalmente pelo cenário muito bem

elaborado, uma nova visão de um conto popular, trazendo uma linda e renomada

atriz como a madrasta malvada que caracteriza uma bruxa.

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As críticas surgem apenas em relação ao musical apresentado em uma pequena

tela juntamente com os créditos no final do filme, demonstrando certo deslocamento

para com a história.

Sequência da cena:

No caso do filme em questão serão analisadas duas cenas, a cena em que a

Rainha Má consulta seu espelho mágico para se certificar se ainda é a mais bela do

reino e a cena em que ela, caracterizada de velha, oferece uma maçã envenenada a

Branca de Neve. A cena 01 tem início com um Plano Geral Plongée, mostrando

parte do quarto até ela entrar em uma porta percorrendo um corredor (cena 02)

ainda em Plongée11, porém agora em um Plano Americano. Ao final do corredor ela

adentra um quarto onde se depara com o espelho mágico (cena 03), nessa cena ela

conversa com o espelho que está inclinado abaixo da linha do seu corpo e que é

reproduzido em um Contra-Plongée e Close (também conhecido como Primeiro

Plano). A conversa com o espelho ocorre a fim de saber se ela é a mais bela e ao

ouvir a resposta do espelho mágico ela se afasta (cena 04) em um Plano Americano.

Ainda em Plano americano (cena 05) percebemos o espelho ao fundo e parte do

cenário. E para finalizar ainda em conversa com o espelho (cena 06) em um Meio

Primeiro Plano o espelho mágico realiza o seu desejo.

A segunda cena inicia com um Plano Americano de Conjunto e é seguido de um

Meio Primeiro Plano quando a bruxa entrega a maçã a Branca de Neve (cena 02).

Ao receber a maçã ocorre um Close com um leve Plongée na bruxa (cena 03) para

evidenciar seu semblante envelhecido como forma de disfarce. Ao perceber quem

era a velha, Branca de Neve decide por partir a maçã (cena 04) em um Contra-

Plongée e oferecer-lhe um pedaço. Em seguida observamos o olhar da bruxa em um

Plongée (cena 05) demonstrando a superioridade da menina e por fim um Close em

Ângulo Normal12 (cena 06) mostrando a cara de satisfação de Branca de Neve.

11

Plongée: quando a câmera está voltada acima do nível dos olhos, voltada para baixo. 12

Ângulo Normal: quando a câmera está no nível dos olhos da personagem.

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Figura 37 – Cena do espelho

Fonte: Imagens obtidas do filme Espelho, espelho meu (2013).

Figura 38 – Cena da maçã envenenada

Fonte: Imagens obtidas do filme Espelho, espelho meu (2013).

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Análise:

A iluminação na primeira cena é um pouco fraca (cenas 03-04), auxiliando na

criação da atmosfera emocional e no estímulo de medo e mistério, como de praxe

nos filmes de bruxas. Porém, na segunda cena ela fica mais forte, isso porque há

um cenário mais aberto e colorido (cenas 07-08).

No filme Espelho, espelho meu, de acordo com o intuito da pesquisa, o elemento

mais marcante além da beleza da bruxa é o vestuário ou figurino. Com belos e

gigantescos vestidos a Rainha Má demonstra muita sofisticação e uma forte

personalidade reconhecida por sua maneira de vestir (cenas 01-02).

Esse tipo de vestuário é considerado um tipo simbólico, pois foge da realidade e

traduz uma posição social. Quando comparado ao figurino utilizado na animação do

clássico conto Branca de Neve, percebemos uma clara reinvenção, onde passa de

um figurino escuro, simples e uma capa com uma grande gola, para vestidos

coloridos, armados e muito modernos.

Figura 39 – Vestuário bruxas Branca de Neve

Fonte: montagem realizada a partir de imagens obtidas dos filmes: Espelho, espelho meu (2013) e

animação Branca de Neve (1937).

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Comparando as duas versões, temos um figurino medieval (figura 39) aparente

na animação, porém as roupas da bruxa são completamente reinventadas na

adaptação, com figurinos coloridos e modernos. Segundo consultas no blog A

História da Moda, por volta dos anos 1130, à roupa era um indicador de riqueza e

poder. Nessa época surgiu o corpete do vestido (para as classes altas) justo até os

quadris, presos com uma amarração nas costas, saias longas até os pés e por

vezes formando caudas. Os cabelos eram escondidos com gorros que se estendiam

até o pescoço, com uma faixa que passava sob o queixo e um “gorjal” que cobria o

pescoço e parte do colo, sendo colocado por dentro do decote do vestido, como

mostrado nas imagens a seguir.

Figura 40 – Enfeites de cabeça

Fonte: montagem realizada a partir de imagens obtidas no blog A História da Moda.

Na adaptação Espelho, espelho meu, esses trajes foram abandonados

passando a transmitir um status social por conta das glamorosas roupas da Rainha

Má. Muito dourado para traduzir sua riqueza e vestidos gigantescos para traduzir a

sua personalidade impulsiva. As peças foram criadas pela artista japonesa Eiko

Ishioka, que faleceu tendo como último trabalho os figurinos do filme em questão,

porém participou como figurinista em diversos longas-metragens, como Drácula de

Bam Stoker. Com um figurino baseado nos séculos XVI e XIX, manifestou um

conceito clássico híbrido, com uma mistura étnica e cultural com diversas cores,

materiais, formas e acessórios.

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Figura 41 – Vestido Rainha Má

Fonte: Imagem obtida do filme Espelho, espelho meu (2013).

Esses são vestígios de grandes modificações pela qual o cinema tem passado,

unindo a moda, a criatividade, a quebra de estereótipos e a construção de uma visão

moderna e imprevisível.

As cenas analisadas são as que fazem referência ao conto clássico, mas que

passaram por uma reinvenção. Como acontece com a escolha da personagem,

trazer uma atriz conhecida pelos seus papéis de mocinha para interpretar uma bruxa

foi um dos itens essenciais nessa arriscada reinvenção.

O cenário apesar de nas cenas analisadas não aparecer muito, é extremamente

expressionista (cena 01), pois é completamente criado para demonstrar um grande

exagero, servindo de complemento para a personalidade luxuosa e mesquinha da

Rainha Má.

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A cor nestas cenas é destacada nos figurinos, com tecidos chamativos e

cobertos por texturas e aplicações, as cores remetem a contemporaneidade que tem

abusado das cores como forma de expressão.

A montagem é uma narrativa linear que apresenta uma única ação e ainda torna

perceptível o conflito principalmente na cena dois, quando a Branca de Neve

percebe que a velha é a Rainha Má.

Novamente o espaço e o tempo se interlaçam, quando na primeira cena a

Rainha está adentrando o quarto em direção do cômodo em que se encontra o

espelho, percebemos todo o cenário e o trajeto por ela percorrido com o auxílio dos

movimentos de câmera e quando isso ocorre consequentemente o tempo é alterado.

Dentre os demais elementos fílmicos, o diálogo é determinante na análise, isso

porque na adaptação o espelho é uma mulher (a própria rainha) (cenas 05-06).

Como essa é uma das cenas mais lembradas quando se trata de Branca de Neve,

essa é mantida para que a história não perca toda a sua significação. A outra cena é

a da entrega da maçã (cenas 07-08), que no clássico é o momento em que a bruxa

aparece horripilante, passa por uma releitura, trazendo a bruxa com uma vestimenta

moderna e com traços discretos, dando destaque apenas para suas rugas.

Os efeitos visuais na primeira cena são mais evidentes do que na segunda, isso

porque para ocorrer o diálogo da bruxa com o espelho é necessário um efeito que

pareça realista o fato de a bruxa consultar a sua própria imagem no espelho.

Destacando sua beleza, mesmo em momentos marcantes como na cena da

maçã envenenada, ela aparece com o rosto envelhecido (cenas 09-10), mas ainda

não se tornou uma bruxa feia. Aqui abandonamos certos estereótipos em relação à

bruxa e a expectativa de ver algo assustador é quebrada: nada de nariz grande e

verrugas, ela só está velha.

Apesar de ainda seguir à risca a história do antigo conto, como por exemplo,

a personalidade imutável da bruxa, a adaptação da Branca de Neve expõe

pequenos momentos que a sociedade atual tem passado, revelando que a moral da

história continua servindo mesmo depois de tantas modificações sociais e visuais.

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4.3.3 Malévola – Bruxa e efeitos visuais

Sinopse:

Baseado no conto A Bela Adormecida, dos Irmãos Grimm, o filme conta a

história de uma fada protetora de um reino encantado, cujo nome é Malévola.

Durante sua adolescência Malévola alimenta uma paixão por um garoto do reino

vizinho. Com a ambição pelo poder, o menino chamado Stefan acaba traindo

Malévola para se tornar rei. Depois de alguns anos, Stefan volta a encontrar-se com

Malévola e ao dar um tipo de sonífero a ela o rapaz corta suas asas sem que ela

possa se defender. Ao acordar e perceber que tudo não passou de uma traição.

Muito revoltada Malévola torna-se uma bruxa má e vingativa.

Com as asas de Malévola em mãos o rapaz acaba se tornando o rei. Tempos

depois nasce a filha dele, a princesa Aurora, e Malévola mais do que depressa e

aparece no batizado e amaldiçoa a pequena princesa. Malévola joga uma maldição

que ao completar 16 anos de idade: a menina irá furar o dedo no fuso de uma roca e

cairá em um sono profundo, e somente o beijo de um amor verdadeiro poderá

acordar a princesa.

E assim a profecia se faz. O rei fez de tudo para proteger Aurora e mesmo

Malévola arrependida de ter amaldiçoado não pode rever o feitiço. Um príncipe foi

levado por Malévola até o reino para tentar acordar a princesa, mas não obteve

sucesso. Malévola chorando e arrependida dirige-se até a menina dá um beijo

apenas para demonstrar o carinho que mantinha pela menina e isso faz com que ela

acorde.

Depois de salvar a princesa Malévola passa por grandes perigos e em prova de

amor e agradecimento à própria princesa ajuda a salvar sua vida. E então Malévola

volta a ser a fada protetora e de bom coração que era antes, coroando Aurora e

mantendo uma relação de paz do povo do reino da princesa com o reino encantado

de Malévola.

Por trás das câmeras:

O filme é sim uma adaptação do clássico conto da Bela Adormecida, porém

ele revela algo a mais se tornando assim uma reinvenção do tradicional conto. É

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acrescentada a história o passado da bruxa Malévola, trazendo a tona o motivo pelo

qual ela se tornou a tão vingativa e maligna bruxa do cinema.

Com um casamento perfeito de atriz com personagem o filme foi muito bem

aceito por todos os públicos. Como a atriz Angelina Jolie é muito famosa pelos seus

papéis no cinema, por muito tempo tornou-se também famosa pelas cenas e

situações protagonizadas em sua vida pessoal, visto no site Biografia de mulher.

Mãe de três filhos biológicos e três filhos adotivos, a atriz promove também causas

humanitárias e foi ainda nomeada Embaixadora da Boa Vontade pela ONU.

Mas a vida da atriz não foi sempre bela como nos contos. Ela teve suas fases

de muita rebeldia (se automutilava e já contratou um pistoleiro para matá-la, mas ele

acabou convencendo ela a não acabar com a sua vida, porém dizem que ela mudou

de ideia porque se apaixonou por outra mulher). Em entrevista publicada no site

cineclik ela fala de si própria (referindo-se ao passado) como “dark e não uma

rebelde sem causa”. Toda a história de Angelina Jolie revela que a mudança de

personalidade vivida pela terrível Malévola no filme combina perfeitamente com a

sua vida pessoal, de rebelde e malvada, amadurece e passa a ser boa, assim como

a atriz aponta ter se tornado com o passar dos anos.

Sequência da cena:

A cena analisada tem início na festa de batizado da pequena princesa Aurora.

Com um Close na pequena princesa no berço ela recebe os desejos de duas fadas

do reino, e no momento em que a última fada vai fazer o seu desejo, Malévola

aparece (cena 02) com seu corvo no meio da multidão em um Primeiro Plano13. Em

seguida, Malévola se direciona ao rei e a rainha e em um Plano Médio de Conjunto

(cena 03) e ali permanecem durante uma conversa provocante. Após uma breve

discussão Malévola se direciona ao berço da menina (cena 04) ainda em Plano

Médio. Ao aproximar-se do berço (cena 05), em um Plongée, a bruxa joga alguns

feitiços na princesa e o desejo é exclamado durante as cenas seguintes, onde

observamos um Meio Primeiro Plano (cena 06), um Close (cena 07) e para finalizar

um Plano geral (cena 08).

13

Primeiro Plano: a personagem é enquadrada na tela do peito para cima. Também conhecido como Close.

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Figura 42 – Cena da maldição da bruxa Malévola

Fonte: Imagens obtidas do filme Malévola (2014).

Análise:

A iluminação cria uma expressividade e uma atmosfera misteriosa desde a

entrada da bruxa no recinto (cenas 01-02), a pouca iluminação favorece ainda os

efeitos visuais que são inseridos no decorrer da cena 09.

O figurino identificado como realista busca traduzir a realidade histórica, que

nesse caso é a obra oficial da animação da Bela Adormecida (cena 05). Esse

figurino exclusivo foi criado pelo figurinista Mac Davis, que se inspirou em uma figura

que viu em um livro sobre arte medieval que usava ainda um manto muito pesado. O

vestido na animação é semelhante ao da animação do case anterior, mas mantém o

cabelo lembrando chifres que pode ser relacionado ao “campanário ou Hénnin”, que

é um tipo de cone da época que tinha como variação entre o cabelo em um só cone

de 70 cm a 90 cm ou dois cones, um em cada lado da cabeça.

O cenário é um tradicional castelo que complementa muito bem a história por

se tratar da história de uma princesa (cenas 03-04), mas que não possui muitos

elementos além dos necessários, como poltronas da realeza e berço da menina. O

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restante fica por conta da própria estrutura do castelo, como as escadas que formam

uma espécie de palco e as janelas que compõem o fundo (cena 09).

As cores sempre escuras entram em sintonia com a iluminação e comunicam-

se perfeitamente com a atmosfera de tensão que foi criada. O figurino deixa espaço

para o destaque colorido dos efeitos visuais que roubam a cena no decorrer dela.

A montagem é uma narrativa linear que contam uma história através de uma

série de fragmentos em ordem cronológica. O espaço nessa cena é representado

principalmente pelas perspectivas, quando os movimentos de câmera não variam

muito, e o tempo é alterado como de costume se tratando do tempo diegético.

Os diálogos são importantes na cena analisada porque identificam a bruxa

ainda no seu tom de voz, que nos momentos de maior entonação envolve estímulos

que torna percebível o conflito.

Com base no objetivo da presente pesquisa, na cena em questão destacamos

os efeitos visuais utilizados que aparecem em diversos momentos do filme como

auxiliares na construção do imaginário. A moderna bruxa aparece em muitos

momentos exalando uma luz verde que serve tanto para transformar os objetos a

sua volta quanto para destacar o seu poder (cena 06).

Os efeitos visuais aplicados nessa obra aparecem em diversos momentos,

criando monstros, dando vida à natureza, destruindo objetos e pessoas. Esses

efeitos quando aparecem na cena analisada, mas não manipulam nenhuma imagem

por si só, servem de complemento para que a imaginação seja instigada, mostrando

para o espectador que aquela luz verde tem o poder de definir o futuro da menina

(cenas 05-06-07-08).

O efeito visual mantido pelas próteses nas bochechas da atriz também pode

ser considerado um efeito especial, mas ele é auxiliado por uma boa maquiagem

para realçar as maçãs do rosto, com o intuito de reduzir a suavidade do rosto da

atriz. Segundo Roberto Tietzmann:

[...] a riqueza de uma imagem cinematográfica que conta com efeitos visuais não pode ser apreendida ou refutada através da aplicação de uma simples dicotomia entre o que seria verdadeiro e falso no que foi representado ou entre o que teria sido captado diretamente como oposto ao que fora meticulosamente construído. Seu pressuposto é o de nascer falsa em natureza, mas não em aparência. A verdade desta imagem reside em seu caráter de construção e envolve sempre uma farsa denotativa. Definimos a farsa denotativa como uma instância da interpretação dedicada a objetos inanimados. Faz parte das convenções do teatro e das artes de performance em geral a ideia que um ator interprete um personagem, ou seja, em um espaço e tempo delimitados do espetáculo ele fará as vezes de

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outro ser. Os efeitos visuais estendem essa capacidade aos objetos [...] (TIETZMANN, 2010, p. 31).

E é isso que podemos identificar nos efeitos aplicados na cena de Malévola,

não só nas luzes, mas também nos ventos que são provocados na aparição da

bruxa. São efeitos que não ocorrem naturalmente, mas aparentemente são reais.

Por conta dos truques ficou também a prótese no nariz (ideia da atriz para que o

nariz se tornasse mais “forte” para interpretar uma vilã) e as lentes de contato na cor

verde-amarelado, que foram pintadas a mão inspiradas nos olhos das cabras.

Com um figurino muito semelhante à tradicional Malévola da animação do

conto Bela Adormecida (cena 05), Malévola mantém uma referência dos estúdios

Walt Disney (o que ocorre constantemente nas demais adaptações dos filmes da

Disney), como podemos observar na montagem a seguir.

Figura 43 - Malévola

Fonte: montagem realizada a partir de imagens obtidas do filme: Malévola (2014) e da

animação A Bela Adormecida (1959).

Na categoria de bruxa ocupada por Malévola, a bruxa era boazinha e

conhecida como a fada mais poderosa do reino, e que por uma traição optou pela

maldade. Porém, no desenrolar da trama ela reconhece novamente os bons

sentimentos que um dia carregou e como lição mostra que todos nós temos um lado

bom e um lado ruim, mas cabe a cada um escolher de que lado quer estar.

Uma ótima lição para um conto de fadas adaptado, destacando as escolhas

que a sociedade atual passa nesses turbilhões diários de sentimentos e atitudes.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante todo o processo de pesquisa muitas teorias foram levantadas

fazendo uma relação da bruxa com o imaginário, e também com o estereótipo que

carregamos por conta dos contos orais e a generalização que ocorre por um grande

público para com essa personagem vilã das histórias.

Para solucionar o nosso problema: como o cinema contemporâneo

constrói o imaginário da personagem bruxa, adaptando clássicos da literatura

infantil?- abordamos reflexões e comparações no âmbito do imaginário da

personagem bruxa, da personagem nos contos e analisamos essa personagem no

cinema contemporâneo.

Com os estudos sobre imaginário pudemos perceber que o conto está

inserido no nosso inconsciente e ele mantém ainda uma relação com o real e não

com a realidade, ou seja, o real fica por conta da interpretação, e a realidade é

recriada pelo imaginário. Os contos acabam mantendo um papel essencial para o

amadurecimento das crianças. Eles auxiliam o pequeno leitor, pois como simbolizam

os medos e os obstáculos da vida real, consequentemente revelam algumas

características sociais da época na qual estão inseridos.

O cinema contemporâneo tem apresentado esse imaginário com uma nova

visão em relação às bruxas. Essas novas bruxas transformam sua personalidade de

acordo com a mudança que o cinema revela, principalmente nas adaptações de

clássicos contos de fadas. Inseridos em uma representação da sociedade atual, a

personagem bruxa dos filmes analisados representa a realidade humana que revela

que podemos ser bons e maus ao mesmo tempo.

Esse tipo de mudança faz parte de uma nova cultura, uma cultura que quebra

os estereótipos carregados desde a antiguidade, e ainda visa o consumo, onde as

pessoas se apropriaram dos clássicos para gerar lucro.

O fato das bruxas analisadas possuírem uma beleza superior às demais

bruxas de filmes mais antigos, é uma das apostas feitas pelo cinema

contemporâneo. As renomadas e lindas atrizes que sempre reproduziam as

mocinhas, agora propõem uma nova visão das bruxas, como é o caso da atriz Julia

Roberts, sucesso no filme Uma Linda Mulher (1990), e que atua em Espelho,

espelho meu (2013).

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A identificação da personagem bruxa caracterizada como vilã, que ocorre

constantemente, segundo a nossa pesquisa bibliográfica, ocorre porque a

personagem bruxa corresponde a uma função ou estado social. O fato de a bruxa

não ser mais a megera feia e maltrapilha torna essa identificação ainda mais

constante. A criança ou adulto espectador não se sente mais inferior em relação aos

demais porque simplesmente se identificou com alguma característica da

personagem negativa que se semelha à sua vida real. Pelo contrário, isso muitas

vezes ocorre por uma escolha dele próprio.

Essa identificação e admiração pela imagem da bruxa contemporânea

aproxima muito a bruxa da princesa. Na literatura, a princesa é que ocupava o posto

de bela e a bruxa era sempre feia. Já no cinema contemporâneo esses dois tipos se

confundem fazendo com que os espectadores se questionem até mesmo sobre

quem deverão torcer ao final da história.

Em relação ao estudo do cinema, concluiu-se que o cinema é uma indústria

que cria uma reprodução fotográfica da realidade e não apenas a duplica. Essa

reprodução tem o objetivo de atingir o nosso sentimento, o motivo pelo qual isso

ocorre é que a estética da imagem possibilita a experimentação das emoções.

Com base na nossa questão norteadora, entende-se que o cinema

contemporâneo constrói o imaginário da personagem bruxa de maneira por vezes

inovadora, seguindo os passos da sociedade em que vivemos. De maneira rápida e

constante, as mudanças sociais são visíveis e houve a necessidade dessa

personagem comum nos contos ser também adaptada.

Seja ligada à moda, à beleza, ou a alguma característica mental que se possa

enumerar, o cinema a adaptou para que não perdesse a significação na história, e

ainda pudesse despertar a preferência do espectador de maneira que os

preconceitos e estereótipos fossem deixados de lado.

Apesar de tantas mudanças passadas com as adaptações da

contemporaneidade, a bruxa não perdeu o lugar que ocupa no nosso imaginário. A

diferença é que agora ela tem a beleza como aliada proporcionando uma maior

admiração do espectador.

A partir do estudo realizado, verificou-se ainda que esse novo “formato” da

personagem bruxa só se faz eficiente quando aparece em conjunto com os

elementos fílmicos (como por exemplo: iluminação, figurino, cor, diálogo, cenário e,

principalmente, efeitos visuais). Caso contrário, ela perde sua significação e não

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será capaz de transmitir a mensagem apropriada que o filme busca apresentar. No

caso das adaptações, essa significação se faz extremamente necessária, pois a

bruxa já vem da literatura com um peso significativo, que deve ser mantido para que

a história faça sentido.

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TESES E DISSERTAÇÕES ABREU, Luciane. Bruxas, Bruxos, Fadas, Princesas, Príncipes, e Outros Bichos Esquisitos... As Apropriações Infantis do Belo e do Feio nas Mediações Culturais. Porto Alegre, 2010. ALBERTI, Patrícia B. Contos de Fadas Tradicionais e Renovados: Uma perspectiva Analítica. Caxias do Sul/RS: UCS, 2006. CALDIN, Clarice Fortkamp. A Oralidade e a Escritura na Literatura Infantil: referencial teórico para a hora do conto. Santa Catarina: UFSC, 2001. CHAGAS, Flávia Talita Lucena das. E eles viveram Feios para sempre: a desconstrução dos contos de fadas do filme Shrek. Mossoró/RN, 2009. COUTINHO, Maria Laura. Refletindo sobre a linguagem do cinema. Brasília: 2005. DEREN, Maya. Cinema: o uso criativo da realidade. Belo Horizonte: 1960. GAGLIARDI, Eliana, AMARAL, Heloisa. Contos de Fadas. São Paulo: FTD, 2001. LARENTIS, Monique. Contos de fada na publicidade: Branca de Neve, consumo e representações. Caxias do Sul: UCS, 2010. MENEGOL, Janaína. O imaginários dos contos de fadas e sua utilização pela marca Disney princesas – Case Grandene Kids. Caxias do Sul/RS: UCS, 2014. RECHE, Magda. Shrek: O Conto de Fadas às Avessas. Caxias do Sul/RS: UCS, 2005. SILVA, Ivana Almeida da. Rosto cinematográfico: aproximações do sofrimento na contemporaneidade. Porto Alegre: PUC, 2014. SPADINI, Darcy. Contos de Fadas: Confronto Entre o Tradicional e o Contemporâneo. Caxias do Sul/RS: UCS, 1981. TIETZMANN, Roberto. Efeitos visuais como elementos de construção da narrativa cinematográfica em King Kong. Porto Alegre/RS: PUC, 2010. FILMOGRAFIA A BELA ADORMECIDA. Direção: Clyde Geronimi. EUA, 1959. 1h 16m, animação, cor. ARRASTE-ME PARA O INFERNO. Direção: Sam Raimi. Reino Unido, 2009. 1h 39m, cor.

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BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES. Direção: Larry Morey. EUA, 1938. 1h 28m, animação, cor. CAMINHOS DA FLORESTA. Direção: Rob Marshall. Nova Iorque, 2014. 2h 4m, cor. DEXTER. Direção: Michael Cuesta. EUA, 2006. 55 min, cor. ENROLADOS. Direção: Nathan Greno e Byron Howard. EUA, 2010. 1h 39m, animação, cor. ESPELHO, ESPELHO MEU. Direção: Tarsem Singh. EUA, 2012. 1h 46m, cor. HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL. Direção: Chris Columbus. Reino Unido, 2002. 2h 32m, cor. HAXAN: WITCHCRAFT THOURGH THE AGES. Direção: Benjamin Christensen. Suécia, 1922. 2h 2m, preto e branco, mudo. INVOCAÇÃO DO MAL. Direção: James Wan. EUA, 2013. 1h 52m, cor. JOÃO E MARIA: CAÇADORES DE BRUXAS. Direção: Tommy Wirkola. Rússia, 2013. 1h 38m, cor. MALÉVOLA. Direção: Robert Stromberg. EUA, 2014. 97 min, cor. O MÁGICO DE OZ. Direção: Victor Fleming. EUA, 1939. 1h 52m, cor. OZ MÁGICO E PODEROSO. Direção: Sami Raimi. EUA, 2013. 2h 10m, cor. O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE?. Direção: Robert Aldrich. EUA, 1962. 2h 15m, preto e branco. ELETRÔNICOS BIOGRAFIA DA MULHER. Disponível em: www.biografiademulher.com ; acesso em 20/06/2015. BLOG SPOT. Disponível em: www.blogspot.com.br ; acesso em 15/05/2015. CHAMBEL. Disponível em: www.chambel.net ; acesso em 15/06/2015. CINE CLIK. Disponível em: www.cineclik.com.br ; acesso em 20/06/2015. CINEMA 10. Disponível em: www.cinema10.com.br ; acesso em 14/06/2015. GABRIELLE LOPEZ. Disponível em: www.Gabriellelopezart.com ; acesso em 15/05/2015. GAZETA DO POVO. Disponível em: ; acesso em 14/06/2015.

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HISTÓRIA DA MODA. Disponível em: www.bloghistóriadamoda.com ; acesso em 16/06/2015. HISTÓRIA ZINE. Disponível em: www.historiazine.com ; acesso em 12/06/2015. IZA ZILLI. Disponível em: www.blogizazilli.com ; acesso em 12/06/2015. JUSTLIA. Disponível em: www.justlia.com.br ; acesso em 15/05/2015. LIVE JOURNAL. Disponível em: www.filthyrotten.livejournal.com ; acesso em 15/05/2015. OMELETE. Disponível em: www.omelete.uol.com.br ; acesso em 14/06/2015. PLASCONTRENDS. Disponível em: www.plascontrends.co.za ; acesso em 15/05/2015. PINTEREST. Disponível em: www.pinterest .com.br ; acesso em 15/05/2015. PIPOCA MODERNA. Disponível em: www.pipocamoderna.com.br ; acesso em 12/06/2015. THE BEAUTY FACTORY. Disponível em: www.thebeautyfactory.com.br; acesso em 15/05/2015. WALT DISNEY. Disponível em: www.waltdisneyanimation.wikia.com ; acesso em 12 de junho de 2015. YOUTUBE. Disponível em: www.youtube.com.br ; acesso em 18/05/2015.

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ANEXO

ANEXO A - PROJETO DE MONOGRAFIA

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA

DAIELE ALVES DA SILVA

A BRUXA NO CINEMA: UM ESTUDO SOBRE IMAGINÁRIO E CONTOS DE FADAS NA CONTEMPORANEIDADE

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia I. Orientador(a): Prof.ª Mª Ivana Almeida da Silva.

Caxias do Sul 2014

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 04 2 TEMA ................................................................................................................. 06 2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ............................................................................... 06 3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 07 4 QUESTÃO NORTEADORA ............................................................................... 09 5. OBJETIVOS ...................................................................................................... 10 5.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 10 5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 10 6. METODOLOGIA ............................................................................................... 11 7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 15 7.1 Bruxa ................................................................................................................ 15 7.2 Contos de Fadas .............................................................................................. 19 7.3 Cinema ............................................................................................................. 22 7.4 Imaginário ......................................................................................................... 26 8. ROTEIRO DOS CAPÍTULOS ............................................................................ 29 9. CRONOGRAMA ............................................................................................... 30 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 31

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1 INTRODUÇÃO

De modo geral na literatura a bruxa sempre foi apresentada como feia e má,

e mesmo que na antiguidade a feitiçaria fosse praticada também pelos homens, as

mulheres eram quem sofriam as consequências. Como bruxas eram conhecidas as

velhas curandeiras dominadoras das ervas medicinais, que acabaram tornando-se

vitimas de acusação de adoração ao diabo e condenadas à fogueira ou ao

enforcamento antes mesmo da idade Moderna (ECO, 2007).

Desde crianças as pessoas estão acostumadas a ouvir histórias onde ser feio

significa ser mau e ser belo significa ser bom, e essa afirmação foi interferindo na

construção do caráter, estabelecendo padrões e armazenando-os no nosso

imaginário. Por este motivo o cinema reproduzia em suas produções histórias em

que a bruxa estava em segundo plano e além de ser mal tratada, feia e perseguida,

ela também se dava muito mal no final das tramas.

Com o avanço da tecnologia e a disposição da sociedade para a quebra de

estereótipos, assim como na literatura, o cinema contemporâneo passou por

diversas modificações, todas de acordo com as mudanças ocorridas na sociedade.

Dentre estas, está à inversão dos papéis, caracterizando uma nova visão do

protagonismo. Trouxe grandes atrizes como Angelina Jolie no filme Malévola para

que esse seja um papel de destaque e transmita a mensagem que a nova dimensão

do cinema pretende passar.

As novas histórias surgem com uma proposta diferente apontando monstros,

zumbis, duendes e outras figuras feias e inéditas como os personagens

protagonistas, apostando no encantamento da garotada e ainda com a pretensão de

fixar a atenção dos adultos.

Sendo parte integrante da indústria, o cinema na contemporaneidade, induz o

consumo e transforma os diversos estilos de vida. Para Massimo Canevacci, no livro

Antropologia da Comunicação Social, passamos a trocar e consumir imagens,

experiências e decodificações, e essa troca nos permite renovar o nosso imaginário

constantemente e traz ainda a identificação pessoal como parte essencial da cultura

cinematográfica (CANEVASSI, 2001).

A possibilidade de criar novas histórias para “consumir”, de acordo com as

que estamos acostumados a vivenciar, nos liga a uma gama de perguntas que

deixamos carentes de respostas e muitas vezes simplesmente pela comodidade de

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apenas absorver o que nos é mostrado. Questionamentos como: o porquê e por

quantas vezes nos identificamos com certos personagens que estão em segundo

plano? E porque quando nos sentimos próximos de uma realidade, que mesmo

ilusória, nos sentimos bem naquele instante? Essa proximidade com o cinema traz

uma satisfação pessoal, e por que motivo ela não era explorada anteriormente?

Porque estamos sendo encantados pelos vilões das histórias? Será que essas

histórias estão retratando uma realidade que vivemos, mas que não estamos

compreendendo, não nos damos conta?

A futura monografia busca refletir e comparar, a partir de teorias, a evolução

cinematográfica que traz na contemporaneidade as bruxas como protagonistas de

suas histórias, com o intuito de relacionar essas obras com a cultura da sociedade

destacando a identificação do espectador e a construção do imaginário da bruxa.

1.1 Palavras-chave

Cinema Contemporâneo, Bruxa, Contos de Fadas, Imaginário.

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2 TEMA

A Bruxa no cinema: um estudo sobre imaginário e contos de fadas na

contemporaneidade.

2.1 Delimitação do tema

A desconstrução de contos de fadas pelo cinema contemporâneo a partir do

imaginário da Bruxa.

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2 JUSTIFICATIVA

Partindo do pressuposto de que o cinema contemporâneo apresenta mudanças

significativas no âmbito do protagonismo, somos interrogados por sentir uma atração

questionável pelo vilão. Tanto os adultos quanto as crianças tem se mostrado

encantados por essa nova visão das histórias, que traz figuras inéditas que

antigamente caracterizavam má influência em um papel de destaque.

A desconstrução dos clássicos e a quebra do estereótipo de ter sempre um

príncipe ou uma princesa como protagonista revolucionou o cinema e atraiu novos

olhares. Bruxas, zumbis, vampiros, duendes, são figuras que fazem parte do nosso

imaginário, mas eram vistas constantemente no segundo plano em certas produções

cinematográficas. Atualmente, o mesmo sentimento, a mesma influência e a mesma

mensagem são transmitidos nos filmes, mas agora por esses protagonistas que

fogem do padrão. Essa mudança de papel nas tramas apresenta uma visão mais

moderna e atraente das histórias.

Segundo Ismail Xavier (2003) no livro O olhar e a cena, o mau ou o feio como

destaque brinca com a identificação e o imaginário do público, pois o cinema tem o

poder de despertar o sonho e a identificação, possibilitando os espectadores a

viverem diversas vidas ao mesmo tempo.

Essa identificação traz a tona ainda um leque de possibilidades no âmbito da

publicidade, como a busca desses sonhos que o cinema instiga nos faz querer ser

quem não somos, mesmo que secretamente, buscamos então o consumo como

satisfação pessoal.

A aluna escolheu os cases Espelho, Espelho Meu (2012), Oz Mágico e

Poderoso (2013) e Malévola (2014), porque além de haver uma preferência pela

literatura clássica ambos apresentam uma adaptação direcionada para adultos, a

mesma história contada de uma nova maneira. Outro motivo da escolha é que à

desconstrução do clássico contempla o meio publicitário, apresenta uma nova

proposta que nada mais é do que a busca constante destes profissionais. A

publicidade remete a inovação e os filmes em questão nos levam a ela, com

técnicas semelhantes às de videogames e efeitos visuais que encantam, a era da

tecnologia toma proporções imensuráveis e se mistura a cultura social.

Os filmes foram lançados nos anos 2010, 2013 e 2014 atraem o público por

apresentar uma abordagem que foge do comum em relação a seus protagonistas e

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sua estética, essa abordagem se faz necessária para os estudantes de publicidade,

pois conduz a mudanças, fortalece a quebra de estereótipos, além de que esses

clássicos contos de fadas estarão presentes no nosso imaginário, eles ainda

aparecem constantemente como referências em peças publicitárias, e agora com

essa nova roupagem atraem ainda mais o consumidor e os aspirantes aos clássicos.

O intuito desta pesquisa volta-se para a cultura cinematográfica, buscando

compreender como o cinema contemporâneo apresenta essas figuras do nosso

imaginário entendidas como bruxas, trazendo-a como protagonista em determinadas

produções como ocorreu na desconstrução do clássico conto de fadas: Branca de

Neve em Espelho, Espelho Meu (2012), O Mágico de Oz em Oz Mágico e Poderoso

(2013) e Bela Adormecida em Malévola (2014).

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3 QUESTÃO NORTEADORA

Como o cinema contemporâneo constrói o imaginário do tipo entendido como

bruxa, tornando-a protagonista de suas histórias e descontruindo clássicos de

contos de fadas da literatura. Cases: Espelho, Espelho Meu (2012), Oz Mágico e

Poderoso (2013) e Malévola (2014).

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6 OBJETIVOS

6.1 OBJETIVO GERAL

Analisar como o cinema contemporâneo reproduz o imaginário da imagem da

bruxa nos filmes: Espelho, Espelho Meu (2012), Oz Mágico e Poderoso (2013) e

Malévola (2014).

6.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

6.2.1. Estudar a figura da bruxa na antiguidade

6.2.2. Analisar o papel da bruxa nos clássicos da literatura adaptados para o cinema

6.2.3. Analisar as mudanças do tipo entendido como bruxa que o cinema

contemporâneo trouxe apresentando- a como protagonista em determinadas

produções

6.2.4. Refletir sobre o imaginário da bruxa nos contos

6.2.5. Relacionar os filmes com os clássicos contos de fadas da literatura

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7 METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica será utilizada neste projeto para levantamento de

informações teóricas. Esse tipo de pesquisa é fundamental para todo e qualquer

estudo, pois será na pesquisa bibliográfica que a aluna buscará um norte para o

estudo, auxiliando em todas as fases do processo da pesquisa.

Esse tipo de pesquisa auxiliará ainda na obtenção de informações publicadas

em livros, revistas, jornais, dentre outros materiais, sobre o assunto do trabalho em

questão, que busca compreender como as bruxas foram apresentadas desde a

antiguidade e comparar as mudanças realizadas na contemporaneidade. Em relação

aos contos de fadas, a pesquisa se faz necessária para que tenhamos um resultado

eficiente quanto à posição da bruxa nos clássicos e como esse papel atingiu

diretamente a construção da opinião e do pré-conceito da sociedade no que diz

respeito a elas.

Análise da imagem será outro método de pesquisa aplicado no presente

trabalho. Este tipo de análise segundo a autora Martine Joly possui uma “Função

pedagógica”:

Demonstrar que a imagem é de fato uma linguagem, uma linguagem especifica e heterogênea; que, nessa qualidade, distingue-se do mundo real e que, por meio de signos particulares dele, propõe uma representação escolhida e necessariamente orientada; distinguir as principais ferramentas dessa linguagem e o que sua ausência ou sua presença significam; relativizar sua própria interpretação, ao mesmo tempo que se compreendem seus fundamentos: todas garantias de liberdade intelectual que a análise pedagógica da imagem pode proporcionar (JOLY, 2002, p. 48).

Como no caso do objeto de estudo deste trabalho, propõe uma linguagem

específica, buscando transmitir ao espectador uma nova e contemporânea

impressão dos personagens principais, que sempre foram retratados como vilões,

esse tipo de estudo se torna fundamental. Além ainda de refletir sobre como

ocorrem às desconstruções dos clássicos contos de fadas que são apresentados

nestas obras e sobre imagens “virtuais”, toda a ficção detectada nos filmes.

Também será utilizado o estudo de Caso, pois o tema sugere uma pesquisa

sobre fenômenos contemporâneos relacionados à vida real. De acordo com Robert

K. Yin:

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O estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores (YIN, 2001, p. 21).

Segundo o autor, quando definimos questões do tipo “como” utiliza-se o

estudo de caso como estratégia, sendo assim, o presente trabalho busca

compreender “como” o cinema contemporâneo constrói no imaginário o tipo

entendido como bruxa, apresentando como objeto de estudo os filmes que retratam

a contemporaneidade.

Serão utilizadas três obras literárias adaptadas para o cinema que

apresentam uma quebra de estereótipos, trazendo em um papel de destaque atrizes

que representam bruxas nestas produções, estas que antigamente eram observadas

em segundo plano por apresentarem má influência perante a sociedade. Por fim,

analisaremos como a Bruxa é retratada em cada um dos filmes: Espelho, Espelho

Meu (2012), Oz Mágico e Poderoso (2013) e Malévola (2014).

Serão utilizados ainda os métodos de pesquisa apontados no livro Sociologia

do Imaginário dos autores LEGROS, MONNEYRON, RENARD e TACUSSEL

(2007). Os métodos que serão utilizados na análise segundo a obra são: a criação

dos imaginários sociais, que envolve elementos teóricos (estes por sua vez, servem

de análise de produções concretas e também imaginárias, auxiliando na avaliação

segundo segundo os autores Legros, Monneyron, Renard e Tacussel (2007, p. 143)

da “cultura de massa e dos ideais, societais em geral”, técnicas de análise de

conteúdo, onde será utilizada a técnica dos retratos contrastados (analisa nas obras

de ficção, por exemplo nos cases escolhidos, os pares complementares) e ainda

técnicas de análise projetiva (que estuda a semiometria, analise que será de plena

importância na pesquisa ao que se refere a imagem da bruxa, pois “explica as

diferenças de comportamento e de atitude à luz das sensibilidades dos indivíduos

em relação aos valores da sociedade”, e a projeção e bruxaria, que analisa o campo

semântico de uma cena de bruxaria e suas diferentes representações).

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Fig. 01 – Bruxa - Espelho, Espelho Meu

Fonte: filmesegames

Fig. 02 – Bruxas - Oz Mágico e Poderoso

Fonte: colheradacultural

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Fig. 03 – Bruxa - Malévola

Fonte: ultradownloads

Fig. 04 – Bruxas- Branca de Neve, O mágico de Oz e Bela Adormecida

Fontes: supimpagirl / fasdeangelinajolie.blogspot / dammit

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8 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para obter uma análise eficiente dos cases e do tema escolhido, serão

utilizadas obras de autores que apresentam conteúdos específicos e relacionados a

bruxas, a estética, ao cinema e as novas leituras dos contos de fadas. Todas as

obras referenciam o objetivo do trabalho auxiliando na análise dos cases e

dialogando constantemente com estes. Dentre as bibliografias selecionadas estão

livros de escritores renomados e monografias de graduação e pós-graduação que

apresentam características semelhantes a esta análise que contribuirão para manter

o foco da pesquisa alinhado e para que os objetivos sejam atingidos.

8.1 BRUXA

Umberto Eco é o primeiro autor estudado. Escritor, filósofo, semiólogo,

bibliófilo italiano e é também diretor da Escola Superior de ciências humanas na

Universidade de Bolonha. Estudou na Universidade de Turim, onde se dedicou à

literatura e à filosofia medieval e fez seu doutorado com uma tese sobre S. Tomas

de Aquino.

Em relação à estética, em seu livro Historia da Feiúra apresenta um capítulo

específico à bruxaria. Neste capítulo ele aborda questões da antiguidade, onde a

imagem da bruxa se difundiu e desde então não desapareceu. Conhecida

esteticamente na literatura como feias, conforme Eco (2007, p. 212), elas poderiam

ainda se transformar em “criaturas de formas atraentes, mas sempre marcadas por

traços ambíguos que revelariam sua feiura interior”.

No filme Malévola, por exemplo, a bruxa se apresenta de forma atraente,

porém as maçãs do rosto da personagem estão mais salientes que o normal da

própria atriz. Essa característica é muito ressaltada nas imagens de bruxas

observadas nas histórias clássicas. Nariz, queixo e maçãs do rosto salientes

expressam essa feiura que, segundo o autor, elas buscam esconder.

Nos filmes e desenhos da contemporaneidade as bruxas tomaram novas

formas e passaram a encantar o público também por sua beleza. O padrão antes

mantido foi quebrado e abriu espaço para uma nova era de características que

dialogam com o público de acordo com os seus costumes e desejos da cultura na

qual estão inseridos. Com o auxílio eminente da publicidade são retratadas nos

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produtos as ambições de um povo inovador e cheio de sonhos, seja em bonecas,

em jogos de videogame, em filmes ou em tudo que permeia o consumo de uma

sociedade que abusa dele para alcançar a satisfação pessoal.

Outra importante obra utilizada na presente pesquisa é a História da Bruxaria

de Jeffrey B. Russell e Brooks Alexander. Russell reconhecido como historiador da

religião e medievalista, com mestrado pela Universidade da Califórnia, fez doutorado

na Emory University e lecionou em diversas universidades, como a Universidade do

México e da própria Califórnia.

Essa obra inicia com a questão: O que é uma Bruxa? Como parte do nosso

imaginário geralmente não são entendidas como existentes, porém o que ignoram é

que apesar de não compactuar com o padrão conhecido nos livros e filmes,

diferentemente daquelas que usam grandes chapéus e que voam em vassouras,

segundo Russell e Alexander (2007), bruxaria é considerado uma religião,

consequentemente elas realmente existem. Na obra afirmam-se contrários até

mesmo aos conceitos característicos das bruxas, como distinção de magia e

feitiçaria, poderes sobrenaturais, superstição.

Entende-se que os estudos sobre as bruxas passaram a tornarem-se mais

sérios, quebrando padrões mantidos há anos sobre essas figuras estranhas. Com

base nesses estudos a aluna resgata informações pertinentes para a construção da

imagem da bruxa na antiguidade, para entender sobre as relações que ela mantém

e o motivo pelo qual isso ocorre. Além de compreender discussões que contrariam a

literatura e tudo o que desde a infância acreditamos, de maneira característica as

bruxas contemplam o nosso imaginário e na vida real são pessoas que mantem

certos costumes e praticam crenças, mas são ignoradas por conta dos inúmeros

estereótipos alimentados e seguidos sem contestação.

Outro autor selecionado que aborda a questão da bruxa, será Elaine Cristina

Amorin. Elaine possui mestrado em Letras e Artes pela Universidade Estadual de

Maringá.

Em seu livro Harry Potter: Desmistificando o Mito da Mulher-Bruxa, ela aborda

questões do tipo: como as mulheres eram vistas pela igreja e o que as levou a

ficarem conhecidas como Bruxas. De acordo com Amorin (2012), as mulheres eram

suscetíveis a tentações do diabo e por este motivo deveriam se casar ou viver em

proteção de um homem, que poderia ser seu marido ou também pais ou irmãos.

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Além da conquista de um espaço revolucionário, as mulheres deixaram de ser

alvo de críticas. Da presidência da república à motorista de ônibus, lideram famílias

e grandes corporações, ou seja, não existem mais barreiras para elas. Os mitos e

crenças induzidos por conta de um pré-conceito viraram lendas e por vezes ao se

misturarem a antigos conceitos, num emaranhado de contos, acabam se tornando

esquecidos. A bruxa já não é mais vista como uma perdição unicamente feminina

como podemos observar no caso da série Harry Potter (2002) ou Dexter (2006), até

mesmo em outras histórias contemporâneas, homens bonitos e jovens também

aparecem constantemente como vilões e bruxos. Pode-se observar ainda nos filmes

analisados que a bruxa não mantém mais o mesmo estereótipo, mesmo que em

ambos os filmes sejam mulheres, são variadas as formas como elas aparecem,

boas, malvadas e mudam de personalidade conforme o desenrolar da trama.

Para auxiliar na construção do conceito da bruxa será apresentado também o

autor Omar Calabrese com a sua obra A Idade Neobarroca. Professor de Semiótica

da Arte e diretor do doutoramento em Representação Visual da Universidade de

Siena e foi também professor em diversas universidades como: Londres, Zurique,

Buenos Aires, Praga, dentre outras.

No capitulo V, Instabilidade e Metamorfoses, o autor fala de monstros que o

cinema vem trazendo para representar o sobrenatural e o fantástico. Em uma tabela

apresentada no livro observamos que no termo estético o belo representa um valor

positivo e o feio um valor negativo. Como abordamos desde o inicio da pesquisa,

são juízos que fazem parte de uma cultura social, aonde desde os clássicos contos

de fadas esse valor estético vem acompanhado do valor ético, tanto para os adultos

quanto para as crianças.

Esse capítulo dialoga muito bem com a pesquisa abordada, pois a figura da

bruxa traz uma simbologia que vem acompanhada de valores negativos, e com o

passar dos anos os estereótipos foram mudando e consequentemente tudo o que

nos agrada e esses valores se adequaram também, dentre tantas mudanças estão

inseridos neste contexto os nossos pré-conceitos em relação às bruxas. Com base

nessa mudança pessoal e social, o cinema optou por trazer essas figuras marcantes

como protagonistas ousando propor uma nova visão e nova sensação quando nos

deparamos com eles nas telinhas. Essa mudança ocorre nos filmes apresentados na

pesquisa porque as bruxas aparecem de forma atraente, o que nos leva a quebra de

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um paradigma de que a beleza não pode ser acompanhada da maldade ou vice e

versa.

Outro autor que compreende a pesquisa é Jean Delumeau, com a obra

História do Medo no Ocidente. Delumeau é um historiador francês especializado na

história do Cristianismo e dedicou-se também ao estudo do Renascimento.

No capítulo A Diabolização da Mulher, segundo Delumeau (2009, p. 477), “a

mulher é um ser predestinado ao mal”, por conta disso deve manter-se sempre

ocupada e aquelas mais dominadoras devem ainda ser submetidas à violência.

Então a partir do século XIII foi que se difundiu o medo da mulher.

São inúmeras as bruxas mulheres representadas em séries e filmes que

vemos constantemente na TV. Todas foram criadas e eram parte integrante desse

estereótipo de predestinação do mal e valores negativos que a bruxa carregava,

porém com o passar do tempo foram ganhando um destaque maior, tornando-se as

preferidas do público e contrariando ainda a ideia de que esta é uma característica

unicamente feminina e de caráter negativo. Essa mudança está claramente

apresentada no case Malévola, onde na obra literária a bruxa era trazida apenas

com valores negativos e na adaptação para o cinema ela aparece com outra

personalidade, fazendo referencia a valores humanos positivos em grande parte do

filme

Seguindo na questão da Bruxa será acrescentada a monografia de pós-

graduação da aluna Luciane Abreu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

intitulada de Bruxas, Bruxos, Princesas, Príncipes e Outros Bichos Esquisitos... As

Apropriações Infantis do Belo e do Feio nas Mediações Culturais.

No capítulo Mulher/ Bruxa ela aborda a questão que as crianças são

fascinadas pelo medo transmitido nessas obras, esse medo desenvolve, segundo

Abreu (2010, p. 84), a “curiosidade e a disposição à coragem”. O medo, o mistério e

a coragem são sentimentos que circundam as obras cinematográficas, que

encantam de maneira que alimenta e constrói o nosso imaginário com base na

magia presente no nosso cotidiano.

Percebe-se que a Bruxa transmite certo poder e intimida quando

representada com os instrumentos que desde a antiguidade a mantém conhecida,

como: vassoura, bola de cristal, nariz saliente, etc. Ao mesmo tempo ela reflete um

sentimento que mantem o desejo de exploração e um medo que faz sonhar. Essa

obra será necessária para compreensão do papel da bruxa na contemporaneidade,

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suas características mais marcantes e de que maneira ela transpõe esse poder na

cultura em que está representando.

8.2 CONTOS DE FADAS

Para compreensão dos contos de fadas, a obra estudada será A Psicanálise

dos Contos de Fadas, do escritor Bruno Bettelheim. Psicólogo judeu norte-

americano, nascido na Áustria, construiu uma carreira notável como investigador e

professor em instituições como: Universidade de Chicago e Rockford College. Além

de ser especialista em psicanálise, ficou mundialmente conhecido por seus trabalhos

sobre autismo infantil.

Nesta obra o autor fala sobre o que os pais e educadores pensam a respeito

dos contos de fadas, que normalmente são críticas sobre as atitudes dos

personagens, porém, o autor comprova que na realidade eles podem auxiliar as

crianças a compreenderem melhor as etapas da vida e como lidar com problemas

familiares. Os contos podem ainda contribuir em termos emocionais, aumentando a

capacidade de amadurecimento da criança (BETTELHEIN, 1980).

Muitas vezes o estereótipo que foi estabelecido pelos nossos antepassados

não é compreendido pelas novas gerações, assim como com essa mudança de

conceito nem sempre os pais estarão dispostos a entender o que a

contemporaneidade está querendo nos mostrar com nesses filmes. Neste livro

Bruno Bettelhem (2005) aborda que os contos de fadas mesmo que tragam figuras

amedrontadoras sempre vai mostrar para a criança que existe alguém para protegê-

la, como uma fada madrinha por exemplo. Os contos de fadas auxiliam a criança de

uma forma que pontos de vista e palavras de um adulto não dariam tanto resultado,

isso de acordo com o funcionamento da mente de uma criança, é com uma visão de

magia e de um mundo encantado onde tudo pode acontecer que ela será informada

e compreenderá o que os contos de fadas têm para mostrar.

Essa é a força que carregam as adaptações da literatura para o cinema,

perante uma cultura que busca comodidade e muitas vezes não reflete sobre o que

está sendo demonstrado. Elas expõem situações cotidianas com um toque de magia

que além de fazer as pessoas sonharem e desejarem algo e ainda contribuem para

o amadurecimento pessoal.

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Aprofundando os estudos sobre contos de fadas, será abordada a monografia

para obtenção de título de Especialista em Língua Portuguesa de Darcy Spadini da

Universidade de Caxias do Sul.

Contos de Fadas: Confronto entre o Tradicional e o Contemporâneo, traz uma

comparação entre duas obras apontando, segundo Spadini (1981, p. 61), “falta de

finais felizes”. Essa “falta de finais felizes” aborda a questão de que atualmente os

contos estão mais voltados para adultos do que para crianças, o que nos relaciona

diretamente com o case Malévola da pesquisa em questão.

O mundo infantil cheio de fantasias passou a encantar além das crianças os

adultos. Por esse motivo muitos contos da literatura infantil foram adaptados para

um universo que fala diretamente com eles, com uma linguagem mais elaborada e

cenas com muita ficção, que por vezes não despertam atenção dos pequeninos.

Com a mesma magia que é aguçada nas crianças os adultos foram

despertados para estórias que estão impregnadas, de acordo com Spadini (1981, p.

61), com um “simbolismo ideológico e político”, portanto da mesma maneira que

transmite conhecimento e amadurecimento para as crianças os contos são capazes

de se comunicar com os adultos, fazendo com que eles se identifiquem com as

histórias que agora apresentam certas semelhanças com o mundo real. Esses

contos trazem para os adultos a possibilidade de sentir-se em outras dimensões.

Essa obra auxiliará na pesquisa em relação à identificação, pois nos filmes

selecionados para análise, Oz Mágico e Poderoso (2012), Espelho, Espelho Meu

(2013) e Malévola (2014), é apresentado esse “simbolismo” de maneira sutil fazendo

uma aproximação do adulto com o conto como obra cinematográfica.

Para dialogar com a essa obra será utilizada outra monografia, esta para

obtenção de Especialização em Literatura Infanto-Juvenil, Shrek: O conto de fadas

às avessas, de Magda Reche pela Universidade de Caxias do Sul.

Em sua monografia, a autora fala da padronização dos contos de fadas e o

resultado que esses estereótipos causam no psicológico das crianças e

adolescentes, que muitas vezes faz com que estas se sintam inferiorizadas por não

estar inseridas neste padrão pré-estabelecido. Retrata ainda a necessidade de

produções que estimulem uma reflexão crítica além de simplesmente entreter

(RECHE, 2005).

As novas produções cinematográficas chegaram repleta dessa crítica, e é por

conta dessa nova roupagem que os adultos estão migrando juntamente com o

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público infanto-juvenil para esses tipos de produções e fazendo com que elas façam

grande sucesso. As adaptações nos permitem fugir do tradicional e essa sensação

também está presente no consciente infantil ao observar essas obras, elas estão

ousadas e consequentemente a mensagem que é transmitida é de que somos uma

geração que não só pode como deve ser diferente, uma geração que propõe

mudanças.

Reflexões como: o que importa é a essência das pessoas, são instigadas nos

filmes e agrega um valor que antes era deixado de lado nas histórias tradicionais, a

beleza era mantida em primeiro lugar e isso era o que provocava o preconceito e

esse complexo de “inferioridade”. Agora as crianças e os adultos estão dispostos a

aceitar e compreender as diferenças, são exemplos de que mesmo que

inconscientemente irão atingir a todos como no caso dos filmes Oz Mágico e

Poderoso (2012), Espelho, Espelho Meu (2013) e Malévola (2014). Em todos eles a

bruxa é representada com base em valores contemporâneos contemplando as

diferenças de personalidade e demonstrando de maneira sutil os valores carregados

de geração em geração.

Outro elemento de pesquisa relacionado no presente trabalho será a tese de

mestrado de Patrícia Bastian Alberti com Contos de Fadas Tradicionais e

Renovados: Uma perspectiva analítica.

Em sua tese Alberti compara duas versões de Cinderela para demonstrar as

transformações resultantes da cultura, do espaço e do contexto histórico que

representam. No capítulo Novos Contos de Fadas ela aborda a questão de que

existem diversas versões dos contos por conta da carga de influência exercida pela

cultura local, por serem capazes de transcrever o imaginário humano acompanhado

dos desejos e sonhos, os contos renovados revelam principalmente segundo Alberti

(2006, p. 32) o “momento histórico que o artista vive”. Podemos observar essa

relação nos novos contos adaptados no cinema, como no filme Malévola (2014) que

carrega inovação, quebra os padrões e essencialmente revela a visão do mundo

com uma pitada de mágica e uma nova estética.

Para manter alinhada a pesquisa sobre contos de fadas, a aluna utilizará o

livro Contos de Fadas, de Eliana Gagliardi e Heloisa Amaral. Este livro compreende,

além de conceitos sobre os contos, atividades que auxiliam o aluno para a

compreensão de tais. Um dos capítulos que mais se destaca e agrega na pesquisa é

a História dos contos de fadas.

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Quando pensamos nos contos temos em mente as imagens que criamos no

nosso imaginário de histórias contadas boca a boca e que se modificaram a cada

novo narrador. Para melhor compreensão até hoje os contos são adequados de

acordo com a época e público ao qual esta se dirigindo, como acontece nos cases

apresentados. Espelho, Espelho Meu (2013), por exemplo, apresenta certas

características principalmente na linguagem relacionando-se com a época em que

foi lançado. Um filme com uma linguagem infanto-juvenil contemporânea que

incorpora valores antigos da bruxa e, assim como os outros contos que se tornaram

herança da população, alimenta no espectador o desejo e o gosto pela magia.

Outra referencia utilizada será a monografia de Flávia Talita de Lucena

Chagas, para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social com

habilitação em Jornalismo da Universidade do Rio Grande do Norte, cujo nome é E

eles viveram feios para sempre: a desconstrução dos contos de fadas do filme

Shrek.

A pesquisa citada acima está voltada para a referência dos contos de fadas

apresentados no filme Shrek. A conclusão obtida segundo Flávia Chagas (2009, p.

24) é que o filme “rompe com os velhos paradigmas vigentes”, quebra alguns

estereótipos cultivados por grande parte da população nas histórias infantis,

diferenciando-se dos contos tradicionais.

A pesquisa em questão assemelha-se com a pesquisa pretendida neste

projeto. Com base nos tradicionais contos de fadas, a aluna analisará os cases que

apresentam justamente essa desconstrução dos contos populares, porém, a ênfase

estará direcionada para a representação da bruxa, observando seu papel, suas

características mais marcantes e o que a diferencia em cada um dos filmes.

Portanto, a monografia E eles viveram feios para sempre servirá como base para

comparação dos contos de fadas e os filmes contemporâneos selecionados.

8.3 CINEMA

Para aprofundar o estudo no cinema será utilizada na pesquisa o livro

Moderno? Por que o cinema se tornou a mais singular das artes, do escritor Jacques

Aumont. Teórico e professor da Universidade de Paris III, Aumont destacou-se por

escrever diversas obras sobre cinema, pintura e imagens em geral e dirige ainda o

Centro de História do Cinema da Cinemateca Francesa.

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O cinema está diretamente relacionado a outras artes, surgiu como uma

experiência tecnológica e como mídia, porém o cinema caracteriza-se como uma

indústria. Nesta obra Aumont (2008) questiona ainda se o cinema é moderno ou

contemporâneo e o que o distingue das demais artes quando é considerado como

tal. O livro de Aumont servirá como base quanto ao estudo do cinema

contemporâneo, apresentando suas características de indústria e ainda sua relação

com as demais artes.

Auxiliarão na pesquisa ainda as obras A Estética do Filme e A Imagem de

Jacques Aumont. O livro A estética do filme, aborda a questão do filme de ficção,

possui a característica de, segundo Aumont (1995, p. 100), “representar algo de

imaginário, uma história”. De acordo com as montagens dos filmes, levando em

conta atores, cenário e todos os elementos que envolvem uma obra cinematográfica,

os filmes de ficção tornam-se duplamente irreal, pois ele cria o que representa e cria

ainda a maneira como isso é feito.

Os cases analisados são obras de ficção, portanto ambos criam o que

representam, seus cenários são repletos de magia e elementos que remetem ao que

entendemos sobre imaginário, levando sempre em conta a análise da bruxa nessas

obras.

Na obra A Imagem, Aumont (1995, p. 83) reflete sobre a “ligação emocional e

cognitiva do espectador com a imagem”. Segundo ele, “a arte imita a natureza, e

essa imitação gera um sentimento prazeroso”.

O livro A Imagem será de suma importância quando a análise da identificação

do público para com as adaptações da literatura. A imitação exata do que as

pessoas já conhecem, como as histórias do Mágico de Oz, da Branca de Neve e da

Bela Adormecida, já atraem por si só e isso se multiplica quando proporcionam

ainda outros sentimentos em uma imitação composta de novos elementos como no

caso dos filmes Oz Mágico e Poderoso (2012), Espelho, Espelho Meu (2013) e

Malévola (2014).

Para auxiliar na construção da reflexão sobre cinema, será utilizada a obra de

Slavoj Žižek: Lacrimae rerum: Ensaios sobre cinema moderno. Žižek é um filósofo e

teórico crítico e cientista social esloveno, além ainda de ser professor da European

Graduate School e pesquisador sénior no Instituto de Sociologia da Universidade de

Liubliana. É também professor visitante em várias universidades estadunidenses.

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Žižek (2009, p. 16) analisa os filmes de acordo com o que o cinema moderno

apresenta de real, assinala falhas de algumas produções e explica que o espectador

é o “ingrediente” fundamental para o sucesso das produções do cinema moderno, e

destaca ainda que a “irracionalidade” está presente no “funcionamento da ideologia

nos dias de hoje”.

Com o auxilio da obra citada aprofundaremos os estudos quanto à análise do

cinema, para compreender a busca constante desta mídia e a importância do

espectador na construção do mesmo.

Obras do autor Ismail Xavier, também serão de suma importância para a

pesquisa. Xavier é Formado em Comunicação Social com habilitação em Cinema

pela Escola de Comunicação e Artes da USP, também concluiu o curso de

Engenharia Mecânica na Escola Politécnica da USP. Fez mestrado em Teoria

Literária também na USP e doutorado e tornou-se PhD em cinema pela Graduate

School of Arts and Science, da New York University, onde também concluiu seu pós-

doutorado. Atualmente é professor da ECA-USP, mas também foi professor na

Universidade de Nova Iorque, na Universidade de Iowa e na Université Paris III,

membro do conselho consultivo da Cinemateca Brasileira e faz parte do conselho

editorial das revistas acadêmicas Novos Estudos Cebrap e Literatura e Sociedade.

No livro utilizado O Olhar e a Cena, foi selecionado o capitulo I: Cinema:

Revelação e Engano. Neste capitulo ele observa que as montagens produzem um

efeito em nosso imaginário que muitas vezes acabam nos enganando e criando

significados que só existem na tela. Além ainda, de caracterizar a leitura das

imagens como produção do ponto de vista do observador, onde independente da

objetividade da imagem, o resultado da filmagem será a composição efetuada por

ele e não o que diretamente a imagem permite mostrar quando isolada das demais.

As imagens tem um poder imensurável na concepção do nosso imaginário.

Podemos produzir perante a visão do cineasta diversos significados para cada uma

delas e ainda um novo significado quando observadas em uma sequência. O cinema

nos remete ao engano, porque deduzimos perante um movimento de câmera,

situações não existentes que criamos no imaginário de acordo com o que nos é

mostrado sem indagar a veracidade dos fatos (XAVIER, 2003).

Quando assistimos a um filme de ficção não nos preocupamos se faz ou não

sentido a junção daqueles fragmentos de imagens, estamos ali para ver e crer no

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que nos é mostrado. Esse é o propósito do cinema, segundo Xavier (2003, p. 35), é

“instaurar um mundo imaginário”.

Esse papel que o cinema desempenha de criar mundos no nosso imaginário

destaca-se nos cases, principalmente no de Oz Mágico e Poderoso (2012), esse

filme cria de fato “um mundo”, cria imagens que representam o real em conjunto com

a fantasia e a junção das imagens nos proporcionam uma história que nos envolve

de maneira a simplesmente acreditar no que nos é mostrado, mesmo que

conscientemente saibamos que aquilo é ficção, parte do espectador acredita e vive

essa ilusão no seu interior.

Como as bruxas, por exemplo, sabemos quando assistimos aos filmes que as

bruxas não aparecem daquela maneira, não voam, não tem poderes para destruir

coisas e pessoas, mas quando nos deparamos com elas na frente da telinha nos

deixamos levar pelas cenas que são criadas pelas montagens de imagens que

também são criadas.

Outra obra de Ismail Xavier utilizada neste trabalho é O Cinema no Século.

Abordamos capítulos que falam do cinema e indústria, do cinema e imaginário e

cinema e realidade. Essa visão que foge do clichê de falar unicamente e diretamente

do cinema e sua evolução nos proporciona uma observação distinta das vinculações

propostas por ele, auxiliando na compreensão das interconexões do cinema.

No âmbito do cinema e imaginário podemos entender essa ligação, quando

pensamos no grande conceito que a cultura de massa mantém sobre o cinema,

podemos vislumbrar sua essência e entender que essa é e sempre será criar

mundos de acordo com a cultura do século que estamos vivendo, possibilitando aí

então a ligação com a realidade. Além também de ocupar um espaço no nosso

imaginário e induzir a identificação.

E esse conceito está evidente nos cases analisados, assim como

isoladamente a representação da bruxa busca transmitir. Mudamos nossas

preferencias, mudamos nosso estereótipo e o cinema representa essa mudança, as

bruxas em ambos os filmes estão ligadas a realidade mesmo fazendo parte de uma

obra de ficção.

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8.4 IMAGINÁRIO

Michel Maffesoli auxilia na pesquisa com as obras: No fundo das Aparências,

A Contemplação do Mundo e uma entrevista cujo se intitula: O Imaginário é uma

Realidade. Sociólogo francês, Maffesoli é professor da Université de Paris-

Descartes, membro do comitê científico de revistas internacionais, recebeu o Grand

Prix des Sciences Humaines da Academia Francesa e é vice-presidente do Institut

International de Sociologie.

No fundo das aparências retrata uma identificação pessoal com as artes e

principalmente com o cinema, observando que para Maffesoli (1996, p. 327), este

por sua vez “favorece a participação afetiva”.

Segundo Maffesoli (1996, p. 326), “não há cultura sem identificação”, essa

identificação reflete em um sistema de relações e acaba por resultar na sociedade. A

identificação não é um mero efeito para produzir o consumo, ela é necessária para

produção da comunicação entre os indivíduos.

O sonho e o desejo despertado nas obras cinematográficas permitem que a

pessoa viva uma vida paralela à realidade, essa empatia com o imaginário favorece

o envolvimento e gera o consumo como satisfação pessoal. As pessoas estão em

busca de conteúdos que sejam parte integrante delas, e nada melhor do que a

identificação pessoal para causar esse resultado, perceber que o cinema também

mudou como a sociedade, mesmo que em filmes de ficção, é compreender que a

realidade está contemplando o nosso imaginário. Com as adaptações dos clássicos

da literatura que sempre foram os queridinhos de todos na infância, os adultos

podem matar a saudade destes e observá-los na contemporaneidade, além de

usufruir da alta tecnologia com efeitos visuais que fortalecem a imaginação, como

por exemplo, no caso dos poderes das bruxas no filme Oz Mágico e Poderoso

(2013) e os elementos que as acompanham nas demais obras.

Na obra A Contemplação do Mundo, é abordada a questão da imagem na

sociedade contemporânea, falando da estética e das representações no nosso

imaginário. De acordo com Maffesoli (1995, p. 99), o “mundo imaginal é impensável”,

a imagem transmite uma “carga erótica que favorece o apego ao outro”. A figura

passa a fazer sentido, consequentemente ela induz e vai agir na vida social do

indivíduo.

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No cinema é comum nos depararmos a pessoas bondosas e bonitas como

protagonistas, no entanto, grande parte das pessoas não estará diretamente

identificada como tal. Muitas vezes nos identificamos e nos aproximamos do vilão,

isso porque as figuras induzem o nosso comportamento e nos permite viver essa

ilusão, essa ficção. Seja estética ou eticamente, a questão é que não se pode

manter mais um padrão provável para esse tipo de identificação que resulta na

afeição. As bruxas aparecem de maneira determinante e com características tão

comuns que remetem a identificação pessoal, independente se os valores

representados são positivos ou negativos, esse é o mágico do nosso poder de

imaginação, criar mundos para além das telas em busca de satisfação e realização.

Na entrevista O Imaginário é uma Realidade, Maffesoli (2001) defende a ideia

de que a palavra imaginário está presente na linguagem cotidiana, porém não é

refletida perante seu real significado. Além ainda de apresentar as semelhanças e

diferenças das relações entre imaginário e cultura, entre outras. Destaca também

que o imaginário seria basicamente uma ficção, completamente oposta a realidade.

A construção do imaginário é essencial na formação da personalidade da

criança e este está ligado à cultura de cada região e ainda ao século em que nos

encontramos. De acordo com a entrevista podemos compreender que todos esses

quesitos irão interferir no caráter que será constituído perante valores apresentados

também nos contos, fazendo então apologia à realidade da época. Com a

concepção de ficção muitas pessoas buscam refúgio no imaginário para satisfazer

os seus desejos mais secretos e as crianças acabam aprendendo a lidar com

situações rotineiras e ainda acrescentam uma porção de magia em suas vidas. Por

este motivo o imaginário se tornou tão comum, serve de justificativa para tudo que

envolve fantasia e se opõe a realidade, como as bruxas já estão limitadas a

imaginação, na maior parte das vezes são relacionadas como fruto desta alimentado

ainda pela magia dos filmes de ficção.

E essa relação da bruxa com o imaginário será justificada com o estudo da

entrevista de Maffesoli (2001), fazendo-nos compreender essa ligação e os

conceitos que transcendem a realidade de uma cultura e seus valores éticos.

Levando em conta ainda a questão do Imaginário, será abordada a obra

Sociologia do Imaginário de Patrick Legros, Frédéric Monneyron, Jean-Bruno

Renard e Patrick Tacussel.

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Segundos estes autores, assim como Maffesoli e Gilbert Durand, defendem a

ideia de que palavra imaginário passou a fazer parte do vocabulário cotidiano das

pessoas como uma “moda”, sempre em busca de uma representação que remete ao

fantástico, ao mágico, a sonhos. Nesta obra que aborda diversos autores explica-se

de maneira precisa o que é o imaginário e suas interfaces.

Esta obra auxiliara na análise em relação aos sentimentos que os contos de

fadas e principalmente as bruxas constroem em nosso imaginário, a significação que

o imaginário remete para as pessoas quando em contato com as histórias que

representam a vida real e o motivo pelo qual esse significado foi atribuído.

Gilbert Durand será outro autor abordado na pesquisa. Professor de filosofia,

professor titular e emérito de sociologia e antropologia da Universidade de Grenoble

II, é também co-fundador e diretor do Centro de Pesquisas sobre o imaginário e

membro do Círculo de Eranos.

Em Imaginação Simbólica, Durand (1995) fala sobre as funções da

imaginação simbólica. Dentre tantas as funções do imaginário, pode-se concluir que

ele mantém uma função de eufemização, uma função psicossocial, uma função

humanista e uma função teofânica e ainda que a imaginação simbólica representa e

dissemina o concreto sempre de uma maneira abstrata.

O livro de Durand se faz necessário quando nos referimos às funções da

imaginação, funções essas que estão subliminarmente inseridas nos filmes e na

representação das bruxas da pesquisa em questão.

No livro As Estruturas Antropológicas do Imaginário, Durand (1995 p. 32)

busca posicionar o leitor, com base nas estruturas do imaginário, compreender que

o “caráter pluridimensional, portanto “espacial”, do mundo simbólico é essencial”. A

imaginação “transforma o mundo de acordo com o que o homem deseja”.

Entende-se que o imaginário possui diversas perspectivas, sobretudo de

transformar o mundo e dar sentido ao que as imagens indicam, não só pela

consciência e sim pela possibilidade de suavizar dores e criar significados ocultos.

Com a posição da bruxa nos filmes Oz Mágico e Poderoso (2012), Espelho, Espelho

Meu (2013) e Malévola (2014), vivemos a experiência que o livro busca instaurar, e

de acordo com o que foi vivenciado particularmente e o que desejamos é que

construímos essas perspectivas.

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9 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS

1. INTRODUÇÃO

1.1. Metodologia

2. BRUXA

2.1. A Bruxa na antiguidade

2.2. O Imaginário da bruxa nos contos

2.2.1. Imaginário / Seres Fantásticos

2.2.2. A Bruxa nos contos

3. A BRUXA NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

3.1. Cinema: Linguagem

3.2. Bruxas no cinema

4. CONTOS DE FADAS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

4.1. Oz Mágico e Poderoso

4.2. Espelho, Espelho Meu

4.3. Malévola

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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10 CRONOGRAMA

Ações Março Abril Maio Junho Julho

Redação da

Introdução e

do Cap. 02

X

Redação do

Cap. 03

X

Análise dos

filmes

X

Redação do

Cap. 04

X

Redação da

Conclusão

X

Formatação,

Revisão,

Impressão e

Encadernação

X

Defesa da

Monografia

X

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REFERÊNCIAS

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Žižek, Slavoj. Lacrimae Rerum: Ensaios sobre Cinema Moderno. São Paulo:

Boitempo, 2009. FILMOGRAFIA OZ MÁGICO E PODEROSO (Sami Raimi, EUA, 2013)

ESPELHO, ESPELHO MEU (Tarsem Singh, EUA, 2012)

MALÉVOLA (Robert Stromberg, EUA, 2014)

HARRY POTTER (Chris Columbus, Reino Unido, 2002)

DEXTER (Michel C. Hall, EUA, 2006)