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CLONAGEM POR TRANSFERÊNCIA NUCLEAR: HISTÓRICO, APLICAÇÕES POTENCIAIS E PRINCIPAIS CÉLULAS DOADORAS DE NÚCLEO Daniel Barbosa Sousa Orientador Prof. Dr. Ivo Pivato BRASÍLIA - DF NOVEMBRO/2015 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

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CLONAGEM POR TRANSFERÊNCIA NUCLEAR:

HISTÓRICO, APLICAÇÕES POTENCIAIS E PRINCIPAIS CÉLULAS DOADORAS DE

NÚCLEO

Daniel Barbosa Sousa

Orientador Prof. Dr. Ivo Pivato

BRASÍLIA - DF

NOVEMBRO/2015

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

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I

CLONAGEM POR TRANSFERÊNCIA NUCLEAR:

HISTÓRICO, APLICAÇÕES POTENCIAIS E PRINCIPAIS CÉLULAS DOADORAS DE

NÚCLEO

Trabalho de conclusão de curso de

graduação em Medicina Veterinária

apresentado junto à Faculdade de

Agronomia e Medicina Veterinária da

Universidade de Brasília

Orientador Prof. Dr. Ivo Pivato

BRASÍLIA - DF

NOVEMBRO/2015

DANIEL BARBOSA SOUSA

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II

Cessão de Direitos

Nome do Autor: Daniel Barbosa Sousa

Título do Trabalho de Conclusão de Curso: Clonagem por transferência nuclear:

histórico, aplicações potenciais e principais células doadoras de núcleo.

Ano: 2015

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta

monografia e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos

acadêmicos e científicos. O autor reserva-se a outros direitos de publicação e

nenhuma parte desta monografia pode ser reproduzida sem a autorização por

escrito do autor.

_______________________________

Daniel Barbosa Sousa

Sousa, Daniel Barbosa

Clonagem por Transferência Nuclear: histórico, aplicações potenciais

e principais células doadoras de núcleo. / Daniel Barbosa Sousa; orientação de Ivo

Pivato. – Brasília, 2015.

48 p.

Trabalho de conclusão de curso de graduação – Universidade de

Brasília/Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 2015.

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III

LISTA DE FIGURA E QUADROS

FIGURA 1 - Apresentação esquemática dos diferentes eventos da TNCS em

ruminantes.............................................................................................................22

QUADRO 1 - Alguns exemplos de pesquisas em clonagem com utilização de

blastômeros como fontes doadoras de núcleo.......................................................5

QUADRO 2 - Alguns exemplos de pesquisas em clonagem com utilização de

células somáticas como fontes doadoras de núcleo...............................................6

QUADRO 3 - Marcos na transgenia e tecnologia reprodutiva em animais de

produção (bovinos, caprinos, ovinos e suínos)......................................................10

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IV

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

6-DMAP = 6-Dimethylamino-purine

BSA = Albumina Sérica Bovina

CCO = Complexo Cumulus-Oócito

CT = Células-Tronco

CTE = Células-Tronco Embrionárias

CTM= Células-Tronco Mesenquimais

DNA = Ácido Desoxirribonucleico

Embrapa = Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FDA = Food and Drug Administration

FIV = Fertilização in vitro

G0 = Fase Quiescente, “GAP-Intervalo” zero do ciclo celular

GW = Geléia de Wharton

LOS = Large Offspring Syndrome

M = fase Mitose

MCI = Massa Celular Interna

MIV = maturação in vitro

MPF = Fator Promotor da Maturação

PIV = Produção in vitro

S = Fase Síntese do Ciclo Celular

SFB = Soro Fetal Bovino

SOF = Fluido do Oviduto Sintético

TG = Transgênicos

TN = Transferência Nuclear

TNCS = Transferência Nuclear de Células Somáticas

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V

CLONAGEM POR TRANSFERÊNCIA NUCLEAR: HISTÓRICO, APLICAÇÕES

POTENCIAIS E PRINCIPAIS CÉLULAS DOADORAS DE NÚCLEO

Resumo

A clonagem animal representa um dos maiores avanços obtidos até hoje no

campo da biotecnologia animal. Os recentes resultados de clonagem por

transferência nuclear têm encorajado os pesquisadores cada vez mais a

elucidarem alguns aspectos ainda obscuros relativos a essa técnica. O processo

de clonagem pode ser definido como a produção de indivíduos geneticamente

idênticos. A transferência nuclear de células somáticas é realizada basicamente

de acordo com as seguintes etapas: I) preparação de citoplastos receptores II)

isolamento, sincronização e cultivo células somáticas doadoras de núcleo; III)

reconstrução embrionária e IV) criopreservação ou transferência dos embriões

para receptoras. A técnica despertou o interesse dos pesquisadores, sendo

relatada com êxito em diversas espécies, como em bovinos, suínos, equinos,

camundongos, caprinos, gatos e bubalinos. A geração de animais viáveis por

meio dessa técnica demonstra que o núcleo de células somáticas diferenciadas

de mamíferos pode ser reprogramado quando transferido a um ovócito enucleado.

Atualmente, células de vários tecidos e de animais de várias idades (fetos, recém-

nascidos, jovens, idosos e até mesmo de animais mortos após um período

relativamente curto) são relatadas como doadoras de núcleo. Porém, nota-se

baixa eficiência no procedimento. Ainda são necessários mais estudos sobre

fenômenos epigenéticos e de reprogramação nuclear, pois a produção de clones

tem importância em diversas aplicações, como na ciência básica, conservação

animal, transgenia, produção animal e medicina humana.

Palavras-chave: Biotecnologia, células somáticas, clonagem animal, reprogramação nuclear.

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VI

CLONING BY NUCLEAR TRANSFER: HISTORICAL, POTENTIAL

APPLICATIONS AND MAJOR DONOR CELLS

Abstract

Animal cloning is one of the greatest advances made to date in the field of animal

biotechnology. The recent nuclear transfer cloning results have encouraged the

researchers increasingly elucidate some aspects of this technique that was still

obscure. The cloning process can be defined as the production of genetically

identical individuals. The somatic cell nuclear transfer is performed basically

according to the following steps: I) Preparation of cytoplasts receptors II) isolation,

synchronization and cultivation of the donor somatic cell nucleus III) embryonic

reconstruction IV) cryopreservation or transfer of embryos into receptors. The

technique aroused the interest of researchers, reported successfully in several

species, such as cattle, pigs, horses, mice, goats, cats and buffalo. The generation

of viable animals by this technique shows that the nucleus of differentiated

mammalian somatic cells can be reprogrammed if transferred to an enucleated

oocyte. Currently, cells of various tissues and animals of various ages (fetuses,

newborns, young, old and even dead animals after a relatively short period) are

reported as nuclear donors. However, there is low efficiency in the procedure.

Further studies are necessary on epigenetic reprogramming and nuclear

phenomena, for the production of clones is important in many applications, such

as in basic science, wildlife conservation, transgenic animal production and human

medicine.

Keywords: Biotechnology, somatic cells, animal cloning, nuclear reprogramming.

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VII

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 3

2.1 Histórico e Evolução no Mundo e no Brasil ................................................... 3

2.2 Aplicações Potenciais ................................................................................... 7

2.3 Baixa eficiência da TN ................................................................................ 12

2.4 Linhagens de células doadoras de núcleo .................................................. 14

2.5 Sincronização do ciclo celular, tempo e cultivo das células doadoras de

núcleo ............................................................................................................... 18

2.6 Citoplastos Receptores ............................................................................... 20

2.7 Técnica de Transferência Nuclear .............................................................. 21

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 24

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 25

5. RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO .................. 32

5.1 Planos de Atividades ................................................................................... 33

5.2 Atividades Desenvolvidas ........................................................................... 33

5.2.1 Lavagem e esterilização de material ..................................................... 34

5.2.2 Coleta e aspiração de ovários............................................................... 35

5.2.3 Obtenção de biópsias de pele para isolamento e cultivo de fibroblastos

....................................................................................................................... 35

5.2.4 Outras atividades de Laboratório .......................................................... 36

5.2.5 Atividades desenvolvidas a campo ....................................................... 36

5.3 Considerações finais sobre o estágio supervisionado ................................ 39

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1 INTRODUÇÃO

A reprodução animal constitui-se num dos fatores de maior importância

que afeta diretamente a eficiência e a rentabilidade dos sistemas produtivos

(NEVES et al., 2010). As necessidades de produção animal são crescentes e

abrangem vários e diferentes aspectos (RODRIGUES & RODRIGUES, 2009).

Durante várias décadas, diferentes grupos de pesquisa buscam conhecer os

aspectos fisiológicos e embrionários envolvidos na reprodução e também obter

descendentes de animais geneticamente valiosos, sendo assim, estudaram a

utilização de um conjunto de biotécnicas como ferramentas para a realização de

tais objetivos (PEREIRA & FREITAS, 2009).

BERTOLINI & BERTOLINI (2009) agruparam os avanços biológicos e

tecnológicos em quatro gerações de tecnologias de reprodução: a 1ª geração

inclui inseminação artificial e criopreservação de gametas e embriões; a 2ª

geração compreende a superovulação e transferência de embriões. Na 3ª

geração, encontra-se a sexagem espermática e embrionária, a recuperação de

ovócitos e a fertilização in vitro. Já a 4ª geração envolve a clonagem por

transferência nuclear de células embrionárias ou somáticas, a transgenia e a

biologia de células-tronco.

Seguindo esta temática, biotécnicas de última geração foram

desenvolvidas, em especial, a transferência nuclear (TN) ou clonagem. (PEREIRA

& FREITAS, 2009). A clonagem animal representa um dos maiores avanços

obtidos até hoje no campo da biotecnologia animal. Os resultados de clonagem

por TN têm encorajado os pesquisadores cada vez mais a elucidarem alguns

aspectos ainda obscuros relativos a essa técnica. (MIGLINO,2004). Basicamente,

ela consiste na reprodução assexuada de um indivíduo em que a descendência

deste terá um genoma nuclear essencialmente idêntico ao seu (MULLINS et al.,

2003, citado por CORREIA & CORREIA, 2007).

Existe um consenso na comunidade científica em que a clonagem por

TN trouxe perspectivas promissoras de reprogramar núcleos de células adultas

buscando diretamente um estágio pluripotencial (CAMPBELL et al., 1996).

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2

Os procedimentos de TNCS convencional necessitam de

equipamentos sofisticados e grau de habilidade técnica alto para sua

manipulação. Uma técnica que simplifica o processo é a técnica Handmade

Cloning. Ela supre a necessidade de utilizar micromanipuladores. No

procedimento, ovócitos devem estar livres de zona pelúcida (VAJTA et al., 2001).

No Handmade Cloning, a enucleação dos ovócitos maturados ocorre

pela bissecção com auxílio de microlâminas e o processo de formação do

complexo núcleo-citoplasma ocorre com a aproximação das duas metades do

ovócito enucleado ao núcleo doador, onde o núcleo se encontra ao centro e cada

uma das metades do ovócito são posicionadas nas extremidades do núcleo,

assim, o envolvendo totalmente com o citoplasma ovocitário (VAJTA et al., 2007).

O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão de literatura sobre

clonagem por transferência nuclear, abordando principalmente seu histórico, suas

aplicações potenciais e os tipos celulares que podem ser utilizados no

procedimento; sendo essa técnica uma importante ferramenta no auxílio da

reprodução animal.

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3

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Histórico e Evolução no Mundo e no Brasil

A palavra clone vem do grego “klôn” e tem por significado “broto”.

Definida para representar as técnicas assexuadas de enxertia e brotamento para

a multiplicação de plantas (TRECENTI & ZAPPA, 2013). Em animais, o processo

de clonagem pode ser definido como a produção de indivíduos geneticamente

idênticos (HEYMAN & RENARD, 1996).

A TN foi proposta por SPEEMANN (1938), no intuito de conhecer o

papel do material genético na diferenciação celular, ou seja, que o núcleo de

células diferenciadas teria capacidade de iniciar e sustentar o desenvolvimento

embrionário, o que satisfaz a teoria da “equivalência nuclear”, determinando se a

cromatina sofreria algum tipo de modificação durante a diferenciação celular

(reprogramação). No caso, foi possível obter clivagens de um citoplasma

enucleado de um zigoto de anfíbio contendo o núcleo de um embrião de 8 a 16

células. Este processo ocorreu amarrando um fio de cabelo de boneca ao redor

do zigoto, assim, houve constrição do citoplasma em duas metades, sendo uma

contendo o núcleo e a outra enucleada. A porção que continha o núcleo se dividiu

até 8 – 16 células. Após, desfeita a constrição, o núcleo do blastômero passou

para a porção enucleada, assim ocorrendo, posteriormente, a clivagem

(YAMAZAKI, 2006; SARAIVA, 2010; TRECENTI & ZAPPA, 2013).

Entretanto, somente em 1952 que BRIGGS & KING realizaram com

sucesso a primeira TN em anfíbios (Rana Pipiens): procederam a enucleação de

ovócitos seguido pela injeção do núcleo de uma célula embrionária no estádio de

blástula diretamente no citoplasma receptor (ovócito enucleado), resultando na

reconstrução de 197 embriões, sendo que 27 retornaram ao desenvolvimento até

o estádio de girino. Os primeiros trabalhos de transferência nuclear utilizavam

blastômeros de embriões produzidos in vivo como fonte de núcleos (MELLO,

2003; YAMAZAKI, 2006; PEREIRA & FREITAS, 2009; NEVES et al., 2010;

TRECENTI & ZAPPA, 2013).

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Na década de 60, GURDON & UELINGER (1966) demonstraram o

potencial de reprogramação de células diferenciadas utilizando rãs adultas

(Xenopus laevis) (PEREIRA & FREITAS, 2009). Somente em 1981 que a TN

obteve sucesso em mamíferos, quando os pesquisadores ILMENSEE & HOPPE

(1981) anunciaram o nascimento de três camundongos clonados utilizando

células de embriões como núcleos doadores. O dinamarquês WILLADSEN (1986)

foi o primeiro a conseguir resultados animadores com a TN. Utilizou ovócitos de

ovelhas maturados in vivo e obteve o nascimento de três cordeiros a partir do

núcleo de embriões. Após esses resultados, muitos pesquisadores empregaram o

método de WILLADSEN (1986) (utilizar células embrionárias como doadoras de

núcleo) e obtiveram, por exemplo, o nascimento de clones bovinos (PRATHER et

al., 1987; ROBL, 1988) e suínos (PRATHER et al., 1989).

Outro grande marco no desenvolvimento da clonagem em mamíferos

foi quando SMITH et al. (1988) provaram que mesmo núcleos advindos de células

do botão embrionário de embriões em fase de blastocisto mantinham o potencial

para reiniciar o desenvolvimento embrionário. Assim, a utilização dessas células

garantiria uma fonte ilimitada para produção de clones, fazendo com que

pesquisadores como CAMPBELL et al. (2007) confirmassem que núcleos

derivados de linhagens celulares embrionárias teriam capacidade de sustentar o

desenvolvimento a termo, ou seja, mesmo que as células que estivessem

completamente diferenciadas, poderiam ser utilizadas na TN (BORDIGNON &

SMITH, 2002).

Prova de que era possível clonar um mamífero utilizando células

somáticas completamente diferenciadas foi o nascimento da ovelha Dolly

(WILMUT et al., 1997). No experimento, células somáticas epiteliais da glândula

mamária de uma ovelha de seis anos de idade foram utilizadas. Com base nesses

resultados e observações, os autores provocaram uma das maiores revoluções

da ciência contemporânea e, além de responder ao questionamento de

SPEEMANN (1938), demonstraram a viabilidade da clonagem de indivíduos

adultos para todo o mundo, como mostram os quadros 1 e 2, onde há uma

evolução histórica das espécies animais submetidas à clonagem por TN com

resultados bem sucedidos.

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A partir daí, a transferência nuclear de células somáticas (TNCS)

despertou ainda mais o interesse dos pesquisadores, sendo relatada com êxito

em diversas espécies, como em bovinos (CIBELLI et al., 1998; KATO et al.,

1998), suínos (BETHAUSER et al., 2000), equinos (GALLI et al., 2003),

camundongos (WAKAYAMA et al., 1998), caprinos (BAGUISI et al., 1999), cães

(LEE et al., 2005), gatos (SHIN et al., 2002) e bubalinos (SHIN et al., 2007).

QUADRO 1: Alguns exemplos de pesquisas em clonagem com utilização de

blastômeros como fontes doadoras de núcleo.

Ano Pesquisadores Espécie

1952 BRIGGS & KING Rãs

1966 GURDON & UEHLINGER Xenopus rãs

1981 ILMENSEE & HOPPE Camundongo

1986 WILLADSEN Ovino

1987 PRATHER et al.; ROBl et

al.

Bovino

1989 PRATHER et al. Suíno

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QUADRO 2: Alguns exemplos de pesquisas em clonagem com utilização de

células somáticas como fontes doadoras de núcleo.

Ano Pesquisadores Espécie

1997 WILMUT et al. Ovino

1998 WAKAYAMA et al. Camundongo

1998

CIBELLI et al., KATO

et al.

Bovino

1999 BAGUISI et al. Caprine

2000 BETHAUSER et al. Suíno

2002 SHIN et al. Gato

2003 GALLI et al. Equino

2005 LEE et al. Canídeo

2007 SHIN et al. Bubalino

No Brasil, clones foram obtidos a partir de células embrionárias, fetais e

adultas. Em março de 2001, nasceu a bezerra “Vitória”, da raça Simental,

resultado do experimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(Embrapa), em sua unidade de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen).

Foi o primeiro animal produzido por TN na América Latina. No caso, utilizaram-se

células embrionárias e citoplasma de ovócitos pré-ativados com enucleação em

telófase II. “Vitória” apresentou comportamento e fertilidade normais e deu a luz

em 2004 à bezerra “Glória”, e em 2006 ao bezerro “Galante”, ambos gerados por

inseminação artificial. No dia 27 de abril de 2002, na Fazenda Panorama (Monte-

Mor, SP), nasce o “Marcolino” da USP, o primeiro clone a partir de célula

diferenciada jovem (fibroblasto fetal) de um feto bovino sem raça definida. O

animal apresentou desenvolvimento corporal, comportamental e sexual normal. O

clone brasileiro gerado a partir de célula diferenciada adulta foi chamado de

“Penta”, nascido em julho de 2002 em Jaboticabal-SP. No mês de dezembro de

2003, nasceu a “Bela” da USP, uma bezerra Nelore também obtida por TN de

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célula diferenciada adulta. Ainda em 2003, no centro experimental Sucupira,

pertencente à Embrapa Cenargen, nasceu a “Lenda”, uma bezerra da raça

holandesa clonada a partir de células da granulosa de um ovócito retirado do

ovário de uma vaca morta. Com objetivo de fazer uma TN de um animal clone, foi

produzida a “Vitoriosa” da Embrapa – primeiro clone do clone da América Latina

(MELLO, 2003; MEIRELLES et al., 2007; RODRIGUES & RODRIGUES, 2009;

RUBIN et al., 2009; NEVES et al., 2010; TRECENTI & ZAPPA, 2013).

A geração de animais viáveis por meio dessa técnica demonstra que o

núcleo de células somáticas diferenciadas de mamíferos pode ser reprogramado

(mas nem sempre com reprogramação completa) quando transferido a um ovócito

enucleado (BRAGA & FRANCO, 2013).

Além das pesquisas e produções propriamente ditas de clones de

bovinos feitas pela Embrapa, algumas outras empresas realizam a produção de

clones comercialmente no Brasil, dentre elas podemos citar a In Vitro Brasil

Clonagem Animal S/A, a maior empresa de clonagem bovina, com entrega de

mais de 100 produtos aos seus clientes (IN VITRO, 2015).

Desde o ano de 2005, a empresa Vitrogen (empresa referência em

biotecnologia animal), em parceria com a Universidade de São Paulo – Câmpus

Pirassununga também produz clones em sua rotina (RODRIGUES &

RODRIGUES, 2009; VITROGEN, 2015).

Outra empresa importante no ramo é a Geneal, que, em parceria com a

Embrapa, oferece serviços de isolamento de células, de clonagem e suporte

necessário para registro animal junto a Associação Brasileira de Criadores de

Zebuínos.

2.2 Aplicações Potenciais

A produção de clones tem importância tanto para a ciência como para

a indústria. O interesse por essa biotécnica é explicado por sua gama de

aplicações na ciência básica, conservação animal, transgenia, produção animal e

medicina humana (SARAIVA, 2010). Dentre elas, podem-se citar as que visam

conhecer a interação núcleo-citoplasma na reprogramação nuclear, bem como

modificações após reconstrução, ou seja, melhor compreensão dos mecanismos

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genéticos e epigenéticos envolvidos na embriogênese e também na interação

gênica no desenvolvimento embrionário e fetal (YAMAZAKI, 2006; PEREIRA &

FREITAS, 2009).

A clonagem também contribui para a conservação e regeneração da

biodiversidade (recursos genéticos), reproduzindo espécies em risco de extinção

(LANZA et al., 2000); por exemplo, em 1998, um grupo de pesquisadores da Nova

Zelândia clonaram a única fêmea bovina de uma raça extinta, Enderby Island, o

que resultou em 20 novas fêmeas, que serão inseminadas artificialmente

utilizando sêmen criopreservado de animais da mesma raça antes de serem

extintos (WELLS et al., 1998; MIRANDA, 2009). Ainda, mesmo se não estiverem

disponíveis ovócitos provenientes da mesma espécie que os animais doadores do

material genético, outra possibilidade é a clonagem interespécie. Nesse caso,

células doadoras de núcleo e ovócitos recipientes não pertencem à mesma

espécie (SILVA, 2013).

No tocante à produção animal, as escolhas para clonagem são animais

superiores em alguma característica fenotípica específica, de alto valor comercial,

valor afetivo ou de grande mérito genético. A clonagem favoreceu a multiplicação

de animais famosos (vivos e mortos) e ainda os que têm demanda de gametas

maior do que a produção. Ou seja, atualmente, a biotecnologia está restrita a

rebanhos de elite e animais com características especiais (MEIRELLES et al.,

2007). Na medida em que for possível sua aplicação comercial em larga escala, a

clonagem por TN terá um grande impacto na bovinocultura, assim, a espécie

bovina passa a ter uma condição semelhante com as espécies suína e aves, no

tocante a produção de linhagens (inclusive híbridas), a partir de um fenótipo

conhecido desejável (MEIRELLES, 2004).

Um passo importante no interesse comercial na produção de clones foi

a divulgação de um relatório elaborado pelo “Food and Drug Administration –

FDA”, afirmando, com base em uma série de estudos, que não há risco à saúde

humana associado ao consumo de produtos derivados (carne e leite) de clones

bovinos (HEYMAN et al., 2007; RUDENKO E MATHESON 2007 citado por

SARAIVA et al., 2010).

A clonagem terapêutica representa também outra área de pesquisa

com grande potencial de aplicação da TN, ela usa a biotécnica para produzir

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células ou tecidos que possam ser utilizados em diferentes terapias, dentre elas

as doenças degenerativas, traumáticas ou de origem genética (RHIND et al., 2003

citado por TRECENTI & ZAPPA, 2013). Sendo uma importante ou a mais

importante aplicação da TN, a associação com a tecnologia de modificação

genética dos animais, os clones transgênicos (TG) (NEVES et al., 2010).

Os TG podem ser utilizados para a produção de proteínas humanas

recombinantes (biorreatores), xenotransplantes e estudos de doenças genéticas

humanas (NEVES et al., 2010). Atualmente, o termo transgenia é considerado

como a introdução de uma ou mais sequencias de DNA exógeno no genoma de

organismos pluricelulares capazes de serem expressas mediante a formação de

uma proteína funcional, modificação essa transmitida à progênie da espécie

manipulada (BRESSAN, 2008).

FU et al. (2008) afirmam que TG que expressam biofármacos ou

bioprodutos em suas excreções, a exemplo o leite, são chamados de biorreatores

e, ainda, esses animais são ferramentas úteis para a produção em massa de

proteínas humanas. Por exemplo, SCHINEKE et al. (1997) produziram ovelhas

que expressam no seu leite, o fator IX de coagulação sanguínea, sendo estes

bioprodutos muito úteis no tratamento de hemofilias. DENNING et al. (2001)

também produziram ovelhas biorreatores: no experimento, o gene da alfa-1-3-

galactosiltransferase (que causa rejeição aguda a transplantes) e da proteína PrP

(que causa doença da “vaca louca”) foram removidos do genoma, visando a

utilização dos órgãos dos animais para xenotransplantação.

Define-se Xenotransplante, o transplante de órgãos de outras espécies

para a espécie humana, a fim de reduzir o déficit de órgãos no mundo (MELO et

al., 2007), uma aplicação de maior controvérsia no ponto de vista social e ético

(SILVA, 2013).

Atualmente, o animal mais estudado em pesquisas de xenotransplante

é o suíno doméstico, pois, segundo RUMPF & MELO (2005), essa espécie possui

órgãos de tamanho, fisiologia e anatomia semelhante aos dos humanos; ainda,

esses animais crescem rapidamente, tornando-se maturos em curto período de

tempo; também têm alto índice de prolificidade e podem ser mantidos em

ambientes assépticos a custos baixos, além das técnicas de trasngênese para

alterar a imunogenicidade estão bem estabelecidas.

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No quadro 3 estão indicados alguns dos grandes marcos na ciência e

na pesquisa quanto à utilização de animais transgênicos.

A criação de animais que sirvam como modelo experimental para

estudo de doenças humanas, consiste na produção de um animal designado a

expressar, em nível de genótipo ou fenótipo, certa doença humana (SILVA, 2013).

QUADRO 3: Marcos na transgenia e tecnologia reprodutiva em animais de

produção (bovinos, caprinos, ovinos e suínos).

Ano

Marco Referência

1985 -Primeiro suíno e

ovino transgênicos (TG)

(HAMMER et al.,

1985)

1986 -Clonagem

embriônica em ovinos

(WILLADSEN, 1986)

1991

-Primeiro bovino TG

-Alta produção de

biofármaco em leite de caprino

(KRIMPENFORT et

al., 1991)

(WRIGHT et al., 1991)

1992 -Primeiro suíno TG

resistente à infecção viral

(MULLER et al., 1992)

1994

-Primeiro suíno

expressando inibidores do

sistema complemento humano

(FODOR et al., 1994)

1996

-Primeira ovelha

expressando transgene no

folículo de lã

(DAMAK et al., 1996)

1997

-Clonagem somática

por TN em ovinos (Dolly)

-Primeiro animal TG

produzido por meio de TN

(WILMUT et al., 1997)

(SCHNIEKE et al.,

1997)

1998

-Primeiro bovino TG

produzido por meio de TN

(CIBELLI et al., 1998)

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QUADRO 3: Marcos na transgenia e tecnologia reprodutiva em animais de

produção (bovinos, caprinos, ovinos e suínos). (continuação)

2000

-Primeira transgenia

por recombinação homóloga em

animal de produção

(MCCREATH et al.,

2000)

2001

-Primeira inativação

de um alelo em animal de

produção (heterozigoto)

(DENNING et al.,

2001)

2002

-Produção de fibra de

biopolímero a partir de células

(LAZARIS et al., 2002)

2003

-Primeiro bovino TG

capaz de produzir leite com

composição protéica alterada

-Primeira inativação

completa de um gene em

animal de produção

(BROPHY et al., 2003)

(PHELPS et al., 2003)

2004

-Primeira inativação

sequencial de dois genes em

bovinos

(KUROIWA et al.,

2004)

2005

-Primeiro bovino TG

resistente à infecção bacteriana

(mastite)

(WALL et al., 2005)

Fonte: Adaptado de RUMPF & MELO, 2007.

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2.3 Baixa eficiência da TN

Apesar de vários relatos de bons resultados nos últimos anos, ainda

nota-se baixa eficiência no procedimento. A baixa viabilidade dos embriões

clonados é principalmente notada pela redução na taxa de implantação, pelo

aumento na taxa de mortalidade fetal e perinatal e ainda, pelas diversas

anomalias observadas nos recém-nascidos (MIGLINO, 2004; SARAIVA, 2010).

HEYMAN et al. (2002) citam alguns trabalhos apresentando que 0 a 5% dos

embriões transferidos obtiveram desenvolvimento a termo, fato este relacionado

ao impedimento de desenvolvimento pós-implantacional, mesmo em blastocistos

que aparentemente são normais.

CAMPBELL et al. (2007) relacionam o sucesso limitado da biotécnica

ser baixo com uma gama de razões, como tipo de célula doadora, fonte e

qualidade do ovócito ao início da maturação, método de cultivo embrionário,

falhas na reprogramação nuclear, expressão gênica anormal, variação entre

laboratórios, metodologias empregadas para as etapas de enucleação dos

ovócitos e reconstrução embrionária.

No embrião clonado, a reprogramação nuclear ocorre em ambiente

celular totalmente diferente e em curto período de tempo, o qual corresponde ao

intervalo entre a fusão do núcleo ao ovócito enucleado (citoplasto receptor) e a

ativação do genoma embrionário (SARAIVA, 2010).

Segundo PEREIRA et al. (2014), a origem da célula doadora de núcleo

define-se como o fator de maior importância biológica, podendo resultar em

variações nas taxas de sucesso da técnica, devido a três principais razões

imprevisíveis na escolha da célula: i) erros genéticos e epigenéticos no genoma

doador, ii) reprogramação genética ou epigenética incompleta e iii) associação de

ambas as razões.

Dependendo das células doadoras e da técnica utilizada, embriões

bovinos reconstituídos são capazes de desenvolver-se in vitro até o estágio de

blastocisto a uma taxa entre 20 e 60%, próxima à taxa de blastocisto de embriões

gerados por fertilização in vitro (FIV). (HEYMAN et al., 2005). Fato este

confirmado por MEIRELLES (2004): de 100 ovócitos manipulados em um dia por

um técnico experiente, pode-se produzir 50 zigotos, desses, 35 a 40% com taxa

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de desenvolvimento a blastocisto semelhante aos processos de FIV. As taxas de

gestações também são semelhantes à FIV.

Todavia, a taxa de desenvolvimento do embrião ao estágio de

blastocisto não é o melhor indicador de qualidade embrionária, pois muitas das

alterações epigenéticas e de reprogramação nuclear incompleta não são

observadas na avaliação morfológica do embrião. Com isso, muitos embriões

morfologicamente “normais” que atingem o estágio de blastocisto são inovulados

em receptoras sincronizadas, mas que apresentam defeitos na reprogramação de

alguns genes e que podem se manifestar somente na prenhez (YAMAZAKI,

2006).

As principais anomalias observadas são cardiopatias, placentação

anormal, hidroalantóide, deficiência imunológica, disfunção renal, alterações no

metabolismo energético e hipertensão pulmonar (YOUNG et al., 1998; HEYMAN

et al., 2005; CAMPBELL et al., 2007).

Notam-se números inferiores de placentomas, além de placentomas

gigantes, grande quantidade de microcotilédones acessórios, grandes áreas sem

placentomas na membrana corioalantóide, edema das membranas placentárias e

aumento da espessura do cordão umblilical (HILL et al., 2000, MIGLINO et al.,

2007).

Segundo HILL et al. (2000), a falta ou ineficiente vascularização causa

um inadequado transporte da nutrição do saco vitelino para o alantoide, sendo um

causador das perdas iniciais em gestações de clones, também causada por

rejeição imune e as alterações nos placentomas. No diagnóstico aos 90 dias de

gestação, em mais da metade das prenhezes estabelecidas ocorre o aborto e, até

a obtenção do bezerro a termo, mais de 40% das gestações restantes são

perdidas (CIBELLI et al., 1998; HEYMAN et al., 2002).

Outro problema comum encontrado em bezerros clones é o elevado

peso ao nascer, também chamado de “Síndrome da Cria Gigante” (Large

Offspring Syndrome) (LOS). São observados aumento do tamanho fetal, aumento

da miogênese fetal e disfunção pulmonar, além das anomalias placentárias e

redução das taxas de gestação (YOUNG et al., 1998); 13,3 % dos bezerros

clones são afetados por essa síndrome (HEYMAN et al., 2007). Não se sabe

ainda se a LOS é um problema da clonagem, pois ela também já foi encontrada

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em animais advindos de FIV, mas as taxas de ocorrência em clones são mais

altas (YAMAZAKI, 2006).

MEIRELLES (2004) afirma que a eficiência da técnica é baixa, mas

deve melhorar significativamente até que alcance a produção em larga escala. A

técnica tem evoluído bastante nos últimos tempos, porém ainda são necessários

mais estudos sobre fenômenos epigenéticos e de reprogramação nuclear, além

de requerer o trabalho de um veterinário especializado e extremamente

qualificado. Ainda, um estudo mais aprofundado sobre os processos de metilação

do DNA, sobre as alterações nas proteínas histonas e na ativação de genes

relacionados à pluripotência é de grande valia para que melhores índices de

obtenção de animais viáveis sejam alcançados (BRAGA & FRANCO, 2013).

2.4 Linhagens de células doadoras de núcleo

A grande diversidade de células reconhecidas em tecidos adultos é

derivada de uma única célula-ovo. Essa tem a propriedade de originar todos os

tecidos de um indivíduo adulto. Esse mecanismo acontece a partir da divisão da

célula-ovo, formando células idênticas e que, logo na formação do embrião, os

diferentes grupos celulares adquirem suas características específicas e vão

limitando sua capacidade de diferenciação (ALBERTS et al., 2010 citado por

GUASTALI, 2012). Essas células progenitoras são denominadas células-tronco

(CT).

As CT possuem três propriedades: I) auto renovação, ou seja,

capacidade de originar outra CT idêntica; II) habilidade de se diferenciar em mais

de uma linhagem celular; e III) capacidade de originar células funcionais nos

tecidos derivados da mesma linhagem (VERFAILLIE, 2002).

Sendo assim, por definição, as CT são células indiferenciadas capazes

de se diferenciar originando progenitores maduros, bem como células efetoras

especializadas (GUASTALI, 2012).

CT podem ser obtidas de diversos locais, tais como: embriões, sangue

do cordão umbilical, medula óssea, células mesenquimais, células de tecidos e

órgãos, células do sangue e células hematopoiéticas (DOSS et al., 2004 citado

por OLIVEIRA et al., 2006).

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A classificação é dada de acordo com a potencialidade da célula,

podendo ser totipotente, pluripotente ou multipotente. Células capazes de gerar

todas as linhagens celulares embrionárias e extra-embrionárias (exemplo zigoto e

blastômero) são chamadas de totipotentes, enquanto que as pluripotentes têm

capacidade de originar todas as células que formam um embrião propriamente

dito e que são provenientes da massa celular interna (MCI) do blastocisto,

também chamadas de células-tronco embrionárias (CTE). Já as células

multipotentes são as que originam um subgrupo de linhagens celulares, por

exemplo, as células-tronco mesenquimais (CTM) (WAGERS & WEISSMAN,

2004).

Nesse contexto, tanto as CTE como as CTM podem ser utilizadas

como doadoras de núcleo na clonagem por TN. Utilizar CTE é superiormente

mais eficiente que células adultas, pois estudos comparativos demonstraram

evidentes diferenças na eficiência de várias linhagens ao obter um

desenvolvimento embrionário, onde os núcleos de células menos diferenciadas

suportaram melhor o completo desenvolvimento quando comparado com o núcleo

de células totalmente diferenciadas. Contudo, o uso delas possui limitações éticas

(JAENISCH et al., 2002; HOCHEDLINGER & JAENISCH, 2002).

Devido a essas limitações, células fetais tornaram-se uma fonte

alternativa para clonagem, haja vista sua menor quantidade de mutações e maior

habilidade proliferativa quando comparada às células somáticas adultas

(MIYOSHI et al., 2003).

A origem da célula doadora de núcleo consiste na etapa crucial para o

sucesso da técnica de TN, podendo ter efeitos importantes sobre a capacidade de

desenvolvimento pre-implantacional, fetal e pós-impantacional (PEREIRA &

FREITAS, 2009; FREITAS et al., 2013).

Com o sucesso nos experimentos utilizando linhagens fetais e adultas

(WILLADSEN, 1986 e WILMUT et al., 1997), diversas pesquisas evidenciaram

que células somáticas poderiam ser utilizadas com sucesso na TN. Atualmente,

células de vários tecidos e de animais de várias idades (fetos, recém-nascidos,

jovens, idosos e até mesmo de animais mortos após um período relativamente

curto) são relatadas como doadoras de núcleo na TNCS. Por exemplo: células da

glândula mamária, células musculares, fibroblastos de pele de orelha, células do

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epitélio de oviduto, células do cumulus oophorus, células gonadais fetais,

fibroblastos fetais, fibroblastos da mucosa oral, células de Sertoli, células neurais,

(YAMAZAKI, 2006; ZHOU et al., 2007), leucócitos (GALLI et al., 1999) linfócitos B

e T (HOCHEDLINGER & JAENISCH, 2002), condrócitos (BEYHAN et al., 2000),

células do fígado e células uterinas (KATO et al., 2000).

E ainda assim não se conhecem quais são os tipos celulares mais

eficientes na TNCS, pelo fato de diferentes métodos serem utilizados na avaliação

e a eficiência da técnica ser baixa (MIYOSHI et al., 2003), o que se sabe é que

esses resultados são provas definitivas que o núcleo de uma célula somática

pode ser reprogramado a um estado pluripotente por fatores citoplasmáticos do

ovócito e que esse núcleo reprogramado pode desenvolver um indivíduo a termo

(MARTINS et al., 2008).

Rotineiramente, fibroblastos oriundos de fragmentos de pele são as

linhagens celulares mais utilizadas, pois sua manipulação é mais prática, as

condições de cultivo celular são bem conhecidas, tem produção de linhas

primárias estáveis, homogêneas, de alta capacidade mitótica e suportam bem a

criopreservação. Porém, seu grau de diferenciação é muito avançado, o que

compromete a reprogramação realizada pelo ovócito (HEYMAN et al., 2000). As

regiões da prega caudal e orelhas são os locais de maior facilidade de obtenção

de biópsias para isolamento de fibroblastos (MERIGUE, 2007; MARTINS et al.,

2008).

Segundo CREMONESI et al. (2011), as CTMs que têm sido isoladas

com maior sucesso na medicina veterinária são oriundas da medula óssea, pele,

tecido adiposo e sangue periférico. Os tecidos extra-embrionários, tecidos e

sangue do cordão umbilical, tecidos da placenta e fluido amniótico são tecidos

com células únicas e primitivas, o que indica serem boas fontes de CTMs fetais.

O fluido amniótico é composto por CTMs fetais com potencial de

especialização em multilinhagens, essas células apresentam capacidade para se

diferenciar em adipócitos, condroblastos, osteoblastos, tecido osteogênico e

linhagens de músculo liso (CREMONESI et al., 2011).

No mesmo sentido, as células do cordão umbilical possuem grande

potencial como doadoras de material genético em processos de reprogramação

nuclear, além de suas características pluripotentes, a natureza do procedimento

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de isolamento não é invasiva e tem baixas implicações éticas. O cordão umbilical

é composto por veia e artérias umbilicais, matriz perivascular e, a mais importante

região para TN, a geléia de Wharton (GW) ou matriz do cordão umbilical. A GW é

um tecido conectivo mucoide composto por células fibroblastóides especializadas

e mastócitos ocasionais embebidos em uma substância rica em proteoglicanos,

que envolve as duas artérias e veia presentes na estrutura (CUNHA, 2013;

SILVA, 2013).

Também, a utilização do tecido adiposo vem sendo estudada; as

células são abundantes e acessíveis, a gordura subcutânea pode ser coletada de

maneira minimamente invasiva e ainda permite a extração de grande volume de

tecido (RODRIGUEZ et al., 2005, citado por SILVA, 2013).

Em experimentos com modelos animais, células derivadas do tecido

adiposo participaram na regeneração tecidual após transplante e apresentaram

um potencial de nova fonte de CT. Ou seja, a facilidade de coleta, a grande

quantidade que pode ser coletada e a multipotencialidade das CT derivadas de

adipócitos fazem com que elas sejam atrativas como fonte de células doadoras de

núcleo para TN em animais (RODRIGUEZ et al., 2005).

A eficácia da clonagem utilizando células do tecido adiposo como

doadoras de núcleo foi comprovada com o nascimento da bezerra Brasília, o

primeiro animal produzido por TN de células de gordura no mundo. Brasília é da

raça Guzerá, nascida nas dependências do Centro de Transferência de

Tecnologias de Raças Zebuínas com Aptidão Leiteira (CTZL) da Embrapa

Cerrados (Planaltina, DF), localizado no Gama (DF) (LOBATO, 2013).

Existe a possibilidade de utilizar as células doadoras de núcleo logo

após sua coleta ou após um período de cultivo, bem como antes ou depois da

criopreservação, no entanto, o cultivo prolongado pode resultar em alterações que

reduzem a eficiência da técnica. As modificações de cromatina e alterações

epigenéticas são um dos principais fatores que determinam o sucesso da TN

(GALLI et al., 1999, KUBOTA et al., 2000; CAMPBELL et al., 2007; SUTEEVUN et

al., 2006).

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2.5 Sincronização do ciclo celular, tempo e cultivo das células doadoras de

núcleo

Uma série de processos perfeitamente coordenados entre si ocorre

durante o ciclo celular. O ciclo é subdivido nas fases grupo 1 (G1), síntese (S),

grupo 2 (G2) e mitose (M). A replicação do DNA nuclear ocorre em uma parte da

intérfase chamada de fase S. O intervalo entre o término da mitose e início da

síntese de DNA é denominado fase G1, enquanto que o intervalo entre final da

síntese de DNA e início da mitose é chamado de fase G2. Essas duas fases

propiciam o tempo para o crescimento celular. As células em G1 que ainda não

foram comprometidas com replicação de DNA podem ter seu crescimento

interrompido e passar para um estado de repouso, chamado de G0, no qual há

possibilidade de permanecerem por dias, semanas ou até mesmo anos antes de

voltarem a se multiplicar (ALBERTS et al., 2002 citado por TRECENTI & ZAPPA,

2013).

Núcleos em fase G0 (ou estado quiescente) são semelhantes às

células espermáticas no momento da fecundação, fato este importante para

correta ploidia do embrião. Núcleos de fase S ou G2 são impróprios para

reconstrução embrionária, pois ainda passam pela replicação de DNA e tornam os

embriões tetraploides (MELLO, 2003).

Segundo MIYOSHI et al. (2003), para que as células alcancem e

permaneçam em estado G0/G1, usualmente é realizada a redução de

concentração de soro no meio de cultivo de 10% para 0,5% ou pela inibição da

divisão celular pelo contato em células confluentes.

A sincronização do ciclo celular entre o núcleo da célula doadora com o

citoplasto receptor é importante para garantir que seja mantida a correta ploidia

após a reconstrução. Esse controle é realizado bioquimicamente pelo fator

promotor da fase M (MPF). Sua forma ativa atinge elevadas concentrações

citoplasmáticas e regula o processo de duplicação e divisão celular numa cascata

de eventos (quebra do envelope nuclear, condensação dos cromossomos,

reorganização do citoesqueleto e alterações na morfologia da célula), o que

permite que a célula entre em mitose ou meiose (NURSE, 1990, MASUI, 1992).

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Na clonagem por TNCS, as células em G0/G1 têm baixos níveis de

MPF, enquanto que o ovócito receptor deve manter altos níveis de MPF, daí a

preferência de estar na fase de metáfase II, para que haja a correta

reprogramação nuclear antes das divisões celulares. Segundo WAKAYAMA et al.

(1998), a introdução do núcleo em fase G0 ou G1 diretamente no interior de

ovócitos enucleados em metáfase II promove uma exposição prolongada do

núcleo à níveis altos de MPF, com imediata quebra do envelope nuclear e

prematura condensação cromossômica, o que pode facilitar as modificações

nucleares essenciais para reprogramação e desenvolvimento.

Ainda, células sincronizadas em outras fases, como em fase M ou G2

também podem ser utilizadas na clonagem, porém, lança-se mão da utilização de

tratamento das células com algumas substâncias, exemplo nocodazole e

colchinina (WAKAYAMA et al., 1998 e LAI et al., 2002 citado por YAMAZAKI,

2006).

Geralmente, o protocolo para obtenção de linhagens celulares para TN

é basicamente o descrito no trabalho de MERIGUE et al. (2010); no caso, a

linhagem celular é fibroblasto de pele: A biópsia retirada do tecido do animal é

transportada para o laboratório em meio PBS. No laboratório, do tecido coletado,

são retirados pequenos fragmentos (aproximadamente 2 milímetros) e fixados em

uma placa de Petri. O cultivo é feito em meio DMEM e suplementado com 20% de

soro fetal bovino (SFB) e antibiótico. A incubação é realizada em temperatura de

aproximadamente 38,8ºC e atmosfera de 5% de dióxido de carbono. Permanece

em estufa por uma semana sem mudar de meio, ou, mudando a cada três dias

por um novo, mas com as mesmas substâncias, até que apresente confluência de

crescimento celular no fundo da placa. A cada troca de meio ou manipulação das

células, é contada uma nova passagem.

Deve-se verificar se as células estão confluentes por no mínimo dois

dias antes de utilizá-las para a TN, o que se presume que elas encontram-se no

estágio G0 do ciclo celular. A desagregação celular é feita pela tripsina e, as

células desagregadas são colocadas na placa que será levada ao

micromanipulador para as próximas etapas do procedimento (SILVA, 2013).

Após atingir a confluência, as células podem ser transferidas para

outras placas, sendo as células utilizadas para TNCS após três ou quatro

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passagens. Estas células são mantidas em confluência ou cultivadas em meio

suplementado com 0,5% de soro, a fim de aumentar a proporção de células em

G0 e G1(CHESNÉ, 2006).

CAMPBELL et al. (2007) afirmam que o cultivo prolongado das células

somáticas pode causar alterações importantes tanto no aspecto fisiológico, como

genético e epigenético, por exemplo os marcadores celulares, ploidia, estabilidade

genômica e grau de diferenciação celular. Porém, KUBOTA et al. (2000) disseram

que animais saudáveis podem ser produzidos através de células em diferentes

números de passagens (5 a 15) sem problemas pré e pós natais.

A utilização de células advindas de cultivos prolongados preocupa a

eficiência da TN quanto à senescência, a qual causa comprometimento das

divisões celulares e também pode desestabilizar os eventos biológicos

subsequentes após a enucleação, o que prejudica e interrompe o

desenvolvimento do embrião (CUNHA, 2013).

Resultados do trabalho de MERIGUE et al. (2010) confirmam os

melhores índices com utilização de células doadoras de passagens iniciais (3 a 5)

e intermediárias (6 a 8) do que passagens tardias (9 a 12). Além de zigotos

reconstituídos com células de passagens iniciais apresentarem maior capacidade

para o desenvolvimento a blastocisto. Ou seja, células doadoras de núcleo

cultivadas que tiveram muitas passagens diminuem a produção de blastocistos e

aumentam as chances de perdas na gestação.

2.6 Citoplastos Receptores

A fonte e a qualidade do citoplasma receptor (citoplasto ou ovócito

enucleado) representam importantes fatores para o sucesso na TNCS.

Geralmente, utilizam-se ovócitos maturados in vitro em estádio de metáfase II.

Ovários de abatedouro têm sido usados na rotina dos laboratórios, devido à

grande disponibilidade e baixos custos na aquisição (PEREIRA, 2010; SARAIVA

et al., 2010; SARAIVA, 2010).

Geralmente, o protocolo de coleta de ovários e maturação in vitro

(MIV) dos ovócitos é o descrito nos trabalhos de SILVA (2013), FORELL et al.

(2008) e GUASTALI (2012): Ovários são obtidos de abatedouro e mantidos em

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solução fisiológica de 30ºC a 35ºC com antibiótico. Os Complexos cumulus-

ovócitos (CCO) são aspirados de folículos de diâmetro de 2 a 8 milímetros.

Ovócitos que apresentam citoplasma de aspecto homogêneo e escuro, e

compactação das células do cumulus, com duas a três camadas de células de

revestimento, são os melhores para seleção e MIV.

Os ovócitos selecionados são maturados em meio TCM199,

suplementado com 10% de SFB, antibióticos, hormônios e cobertos com óleo

mineral por um período de 12 a 24 horas em estufa, com temperatura de 38,5ºC,

atmosfera de 5% de dióxido de carbono. Após o final da maturação, os CCO são

transferidos para meio HSOF, onde as células do cumulus oophorus são

removidas por pipetagem. Os ovócitos maturados selecionados são os que

apresentam corpúsculo polar e citoplasma com aspecto homogêneo (SILVA,

2013; GUASTALI, 2012; FORELL et al., 2008).

Para que ocorra a reconstrução do embrião através da TN, é

necessária a remoção dos cromossomos (enucleação) do ovócito receptor. A

enucleação é feita após a separação das células do cumulus e seleção criteriosa

dos ovócitos maturados. Essa separação se dá com a transferência dos ovócitos

em uma solução com hialuronidase e depois pipetados várias vezes com uma

pipeta fina (BORDIGON & SMITH, 2002).

No procedimento convencional, a enucleação é feita em um

micromanipulador, utilizando ovócitos em estádio de metáfase II. Ocorre a

aspiração do primeiro corpúsculo polar e de parte adjacente do citoplasma, onde

se encontra a placa metafásica, para o interior de uma micropipeta. Os

cromossomos em metáfase II não são bem visíveis em microscopia ótica, desse

modo, a maioria dos protocolos utiliza o corante específico de DNA Hoechst

33342, o qual reflete fluorescência azul quando exposto à radiação ultravioleta, o

que permite a visualização da cromatina dentro da micropipeta ou ausência de

fluorescência no ovócito e assim, confirma a enucleação (PEREIRA, 2010;

SARAIVA, 2010; SARAIVA et al., 2010; SILVA, 2013).

2.7 Técnica de Transferência Nuclear

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Após os procedimentos de cultivo e sincronização celular, bem como

maturação e enucleação de ovócitos citados acima, a TNCS é realizada com a

reconstrução embrionária propriamente dita pela transferência de núcleo, fusão

dos complexos citoplasto-carioplasto, ativação do complexo e desenvolvimento

pré-implantacional in vitro e, após o cultivo embrionário, transferência dos

embriões reconstituídos para receptoras previamente sincronizadas. Todas essas

etapas influenciam no resultado final da técnica e estão descritas na figura 1

(PEREIRA et al., 2014).

FIGURA 1- Apresentação esquemática dos diferentes eventos da TNCS em ruminantes. Fonte: PEREIRA, 2010.

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HEYMAN (2005) afirma que, para que ocorra a reconstrução do

embrião, o núcleo da célula doadora é transferido para o interior do ovócito

enucleado. Cada célula doadora, após período de cultivo e sincronização, é

inserida no espaço perivitelino do ovócito enucleado. Posteriormente, o complexo

sofrerá uma estimulação com pulso elétrico, o qual promove a fusão das

membranas adjacentes. Esse pulso elétrico não somente induz a fusão da célula

com o ovócito, mas também promove a liberação de cálcio intracelular que inicia o

processo de ativação. Deve-se utilizar meio de baixa condutância elétrica para

evitar produção e dispersão de calor, sendo uma das soluções mais utilizadas o

Manitol (BORDIGNON & SMITH, 2002).

A reconstrução é realizada no micromanipulador, onde se utiliza a

micropipeta para inserir uma única célula no citoplasma receptor (ovócito

enucleado), pelo mesmo orifício que foi feito para promover a enucleação (SILVA,

2013).

O evento característico da ativação ovocitária é o início das oscilações

intracelulares de cálcio, a exocitose de grânulos corticais, o recrutamento de

mRNAs, a formação dos pró-núcleos e o início da síntese de DNA (CAMPBELL et

al., 2005).

Ainda, a ativação dos complexos reconstruídos pode ocorrer por

exposição à substâncias químicas como a ionomicina, o 6-Deimethylamino-purine

(6-DMAP), o etanol, o cálcio ionóforo, o estrôncio e o cicloheximide, os quais

regulam o influxo de cálcio e podem ser utilizados individualmente ou em conjunto

(LIU et al., 1998; WAKAYAMA et al., 1998; NIEMANN & LUCAS-HAHN, 2012).

Por fim, os embriões reconstituídos são cultivados até o estádio de

blastocisto, utilizando sistemas de cultivo que são usados na rotina de produção

in vitro (PIV) de embriões. Geralmente, o cultivo necessita de uma suplementação

de componentes para auxiliar no desenvolvimento, mas que num período longo

de exposição, podem alterar negativamente a qualidade do embrião. Dentre

esses componentes, pode-se citar o SFB, albumina sérica bovina (BSA), fatores

de crescimento e vitaminas, fluido de oviduto sintético (SOF). Após o cultivo, os

embriões podem ser submentidos à criopreservação em nitrogênio líquido ou à

inovulação em fêmeas previamente sincronizadas (THOMPSON, 2000; KEEFER

et al., 2001; SILVA, 2013).

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É notório o alto potencial da produção agropecuária do Brasil. Frente a

essa capacidade, o desenvolvimento da pecuária conta com a utilização de novas

biotecnologias em reprodução animal, visando à maximização do lucro, redução

dos custos com bons resultados e atendendo aos interesses das comunidades

interessadas. Nesse contexto, a tecnologia de clonagem por transferência nuclear

em bovinos surge como uma forte alternativa de auxílio na produção, gerando

grande impacto e interesse tanto na pesquisa quanto no setor produtivo.

Apesar de apresentar bons resultados, a eficiência da técnica ainda é

baixa e sua produção é em pequena escala devido às etapas complexas,

delicadas, mão-de-obra artesanal e muito especializada, e ainda o

desconhecimento de algumas falhas na reprogramação nuclear. Ou seja, o

“normal” atualmente ainda é o insucesso na maioria dos procedimentos. Portanto,

são necessários mais estudos sobre a interação celular e principalmente sobre a

reprogramação epigenética na TN, tornando a biotécnica mais acessível, de

protocolos de manipulação bem estabelecidos, até que se consiga uma

automatização e produção em larga escala, atingindo níveis comerciais e

acessíveis à grande maioria dos produtores. Além de contribuir para a saúde da

população humana, haja vista a possibilidade de produção de bioprodutos de

animais transgênicos, xenotransplantes e outras aplicações potenciais que essa

tecnologia oferece.

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5. RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO

O estágio foi realizado no Centro de Transferência de Tecnologias de

Raças Zebuínas com Aptidão Leiteira (CTZL), sob orientação do Dr. Carlos

Frederico Martins no período de 03 de Agosto de 2015 a 16 de Outubro de 2015,

na área de reprodução animal.

O CTZL é uma unidade da Embrapa Cerrados localizado no Núcleo

Rural Ponte Alta, DF 180, km 64, Gama-DF. Tem como missão “aglutinar ações e

parcerias em diferentes programas e instituições no sentido de otimizar recursos

financeiros e humanos. O centro é um instrumento de apoio à melhoria da

capacitação e do treinamento voltados à cadeia produtiva do leite e à agricultura

familiar. Concomitantemente, as ações desenvolvidas visam à atuação na

avaliação, caracterização, multiplicação, conservação e no fomento das raças

zebuínas com aptidão leiteira”, além de ser uma propriedade produtora de leite.

5.1 Planos de Atividades

- acompanhar a coleta de ovários no frigorífico;

- colaborar na aspiração folicular;

- acompanhar os experimentos de TN;

- colaborar no campo com manejo animal.

5.2 Atividades Desenvolvidas

Várias atividades foram desenvolvidas conforme descritas no quadro 1,

dentre elas, de rotina e outras esporádicas, quando houvesse necessidade.

Rotineiramente, toda segunda-feira, eram aferidos os níveis de

nitrogênio dos botijões criogênicos, com auxílio de uma régua específica era

mensurado o nível de nitrogênio e anotado no papel de registro semanal. O limite

mínimo adotado foi de 18 cm, sendo que quando os níveis estavam próximos do

limite, logo era solicitado o reabastecimento do botijão.

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Também em todas as segundas-feiras, eram aferidos o nível de CO2

com a utilização do instrumento Bacharach e a temperatura das estufas utilizando

os termômetros que ficavam no interior delas, além de conferir se havia sujidades

e fungos no interior da estufa.

Os resultados aferidos eram confrontados com o que estava exposto

no painel das estufas e, caso houvesse divergência, imediatamente a responsável

pelo laboratório (Heidi Bessler) era chamada para tomar as devidas providências.

Caso fossem encontrados fungos e/ou qualquer sujidade na estufa, todo material

dela era transferido para outra estufa, e logo era lavada com detergente neutro

específico, enxaguado abundantemente em agua corrente. Após, também

enxaguado em água destilada e secagem a temperatura ambiente, era borrifado

álcool 70% e, após nova secagem, os utensílios eram recolocados na estufa. A

troca de água das estufas era feita em todas as terças-feiras, a água era destilada

e autoclavada no dia anterior, permanecendo na autoclave até o momento da

troca, assim, estaria em temperatura ideal para ficar na estufa.

.

5.2.1 Lavagem e esterilização de material

O laboratório de reprodução animal do CTZL conta com um ambiente

somente para lavagem e esterilização do material utilizado nos procedimentos. O

local contém uma pia, um destilador, três baldes para armazenar água destilada,

duas bacias para colocar os materiais sujos, duas estufas de secagem, uma

autoclave, um microondas e uma seladora.

De acordo com a frequência de uso dos materiais no laboratório, o

processo de lavagem e esterilização era feito uma vez por semana ou a cada 15

dias.

Das duas bacias, uma era somente para colocar materiais de FIV, os

quais requerem maiores cuidados e limpeza e não devem se misturar aos outros

utensílios do laboratório, sendo lavados primeiramente.

Na lavagem era utilizado detergente neutro específico e bucha de

cozinha comum. Após enxague em água corrente, os materiais eram submetidos

a três banhos em água destilada e depois encaminhados às estufas de secagem.

Os materiais totalmente secos, não apresentando sujidades nem arranhões

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fortes, eram embalados com plástico apropriado e selados com a utilização da

seladora. Os materiais em plástico que derretem facilmente eram esterilizados em

micro-ondas por 5 min, enquanto que materiais mais resistentes e vidrarias eram

submetidos à autoclavagem. Após este processo, eram novamente

encaminhados às estufas de secagem e, quando totalmente secos, eram

acondicionados em seus respectivos locais.

5.2.2 Coleta e aspiração de ovários

Para realização dos experimentos no laboratório de micromanipulação,

são necessários ovócitos, estes eram aspirados de ovários de vacas abatidas em

frigorífico ou aspirados in vivo, o que não ocorreu no período de estágio.

Foram coletados ovários de frigoríficos localizados no GAMA-DF

(frigorífico Boa Carne) e em ANÁPOLIS-GO (frigorífico FriGoiás). Os ovários

coletados eram armazenados em frascos de 500 ml contendo solução fisiológica

salina (0,9%) e antibiótico. A solução era pré-aquecida e mantida a temperatura

de 34ºC e 36ºC até o momento da chegada ao laboratório de reprodução. Dentro

do laboratório, os frascos cheios de ovários eram colocados em banho-maria sob

temperatura de 35ºC e logo se procedia à aspiração folicular.

A aspiração era feita utilizando seringa de 10 ml e agulha 40x12. O

líquido aspirado era depositado em tubos de 15 ml, também mantidos em banho-

maria a 35°C e permanecendo no aparelho até que o conteúdo se sedimentasse

totalmente. Após essa etapa, os tubos eram encaminhados ao laboratório de

micromanipulação e lá era feito o rastreamento, seleção e escolha dos melhores

ovócitos.

5.2.3 Obtenção de biópsias de pele para isolamento e cultivo de fibroblastos

Duas bezerras da raça Gir foram utilizadas para obtenção de biópsias

de pele para cultivo de fibroblastos. Em uma ocasião, foi coletado pequeno

fragmento da região perineal (abaixo da cauda) dos animais e, em outro

momento, pequena região da orelha das bezerras foi extraída.

No procedimento, os animais foram contidos nos bretes de contenção e

submetidos à anestesia local com lidocaína 2%. O fragmento de pele foi extraído

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com auxílio de uma tesoura e um bisturi. O material coletado foi depositado em

tubo falcon contendo meio PBS e levado ao laboratório.

Em comparação, foi mais fácil a separação das estruturas nos

fragmentos das orelhas do que dos fragmentos da região perineal, essa região é

abundante em gordura e isso dificulta a separação dos tecidos.

Após separação dos tecidos, pequenos fragmentos eram colocados em

placas contendo meio de cultivo e ali permaneciam por aproximadamente uma

semana, após, analisou-se o crescimento e confluência celular no fundo da placa.

Em duas ocasiões, orelhas de bovinos foram coletadas em frigoríficos

na intenção de obter fragmentos de tecidos e cultivar fibroblastos para analisar se

os meios de cultivo e os protocolos utilizados estão corretos, podendo assim

detectar e solucionar algumas falhas.

5.2.4 Outras atividades de Laboratório

Também houve acompanhamento nos procedimentos de

congelamento de células, onde palhetas eram envasadas com as células e meios

de congelamento (crioprotetores) e encaminhadas à Embrapa Hortaliças

(aproximadamente 3 km distante do CTZL), que gentilmente cede um espaço no

freezer do laboratório de virologia para que as células sejam congeladas a – 80ºC

e permanecendo lá por 24 horas. Após, no momento de buscar essas palhetas,

elas são submersas em nitrogênio líquido presente em uma pequena caixa de

isopor até que chegue ao CTZL, sendo então submetidas à criopreservação em

botijões criogênicos.

Ainda, houve o acompanhamento nos procedimentos de

micromanipulação das células cultivadas e dos ovócitos maturados in vitro, ou

seja, a enucleação ovocitária e a transferência de núcleo. Além de acompanhar

os procedimentos de eletrofusão e ativação do complexo.

5.2.5 Atividades desenvolvidas a campo

As atividades de campo foram desenvolvidas sob orientação do Médico

Veterinário funcionário da Embrapa Álvaro Moraes da Fonseca Neto. Umas das

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atividades foi o auxílio na coleta de sangue de novilhas para exame de brucelose

e acompanhamento do exame propriamente dito.

Outra importante tarefa foi o manejo de bezerros, tanto recém-nascidos

quanto nascidos há algum tempo. Infusão de soro fisiológico e vitaminas,

administração de medicamentos e sondagem foram algumas das incumbências,

além de pesagem dos animais PO e principalmente administração de leite por

mamadeira nos bezerros com algum tipo de dificuldade em mamar na vaca.

Ainda, tratamento de ferida causada por cerca de arame liso em uma bezerra da

raça Gir.

Também, me foi passado ensinamentos quanto à formulação de ração

para vacas produtoras de leite bem como a fabricação, utilizando basicamente

milho, soja, uréia e sal mineral.

Quanto a questões reprodutivas, diversas vezes utilizamos a

ultrassonografia para diagnóstico de gestação e detecção de problemas em vacas

(exemplo: luteomas, cistos, mucometra). As gestações, em sua maioria, eram

oriundas de transferência de embriões ou de inseminação artificial (IA). Houve

também o auxílio e acompanhamento de alguns procedimentos de IA e

inseminação artificial em tempo fixo (IATF), como administração de hormônios e

detecção de cio.

No período de estágio, ocorreu o auxílio em um parto, pois o bezerro

estava com um dos membros torácicos dobrados na região pélvica da mãe, o que

estava impedindo sua saída. No caso, foi feita a correção manual da posição do

animal e, depois de posicionado corretamente, fez-se leve tração com cordas

amarradas aos membros torácicos, assim, possibilitando o parto.

Ainda, novilhas de primeira cria da raça Gir foram submetidas à

“escolinha” de ordenha e verificou-se as dificuldades no manejo desses animais

no momento de amansá-los, o que exige muita paciência e tempo para que

estejam aptos para retirada do leite produzido.

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Quadro 1 – Atividades desenvolvidas no período de estágio

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

NÚMERO

Conferência dos níveis de nitrogênio

dos botijões criogênicos e níveis de

CO₂ e temperatura das estufas

*

Lavagem de materiais da estufa

2

Lavagem e esterilização de materiais

utilizados no laboratório

12

Coleta de ovários em frigoríficos

10

Aspiração folicular de ovários de

frigoríficos

450

Coleta de biópsias em novilhas

4

Coleta de orelha de bovinos em

frigorífico

2

Congelamento de células a -80°C e

criopreservação em nitrogênio líquido

3

Palpação e ultrassonografia em vacas

60

Manejo de bezerros

5

Acompanhamento nos procedimentos

de Transferência Nuclear

2

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Necrópsia em bezerra

1

Fabricação de ração

3

Inseminação Artificial em vacas

1

Auxílio em parto de vaca

1

“Escolinha “ em novilhas de primeira

cria

1

*Realizada toda segunda-feira

5.3 Considerações finais sobre o estágio supervisionado

Apesar de o estágio ser de um período relativamente curto, as

atividades desempenhadas nesse período foram de grande importância e

somaram muito no meu conhecimento acadêmico. Tecnologias que antes só

eram vistas em literatura foram observadas e acompanhadas na prática.

Poder ter estagiado em um centro de referência em pesquisa

agropecuária foi de grande valia para minha formação acadêmica, haja vista os

conhecimentos e ensinamentos a mim passados, os quais poderão ser utilizados

em um futuro próximo no meu exercício profissional.

A competência e paciência de todos os funcionários do CTZL fazem

com que o ambiente de trabalho se torne agradável e mais produtivo em todos os

sentidos, o que significa que o trabalho em equipe no local é bem desempenhado

e administrado.

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