universidade cÂndido mendes pÓs-graduaÇÃo “lato … · subsidiário, de modo fragmentário,...

64
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE SISTEMA PENAL BRASILEIRO: OS ENCARCERADOS E A INDIGNIDADE HUMANA Por: Grace Christina Alves Conceição Orientador Prof. Dr. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2010

Upload: others

Post on 04-Jul-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

SISTEMA PENAL BRASILEIRO:

OS ENCARCERADOS E A INDIGNIDADE HUMANA

Por: Grace Christina Alves Conceição

Orientador

Prof. Dr. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2010

Page 2: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

SISTEMA PENAL BRASILEIRO:

OS ENCARCERADOS E A INDIGNIDADE HUMANA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito e

Processo Penal

Por: Grace Christina Alves Conceição

Page 3: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

3

AGRADECIMENTOS

Aos que acreditaram que seria

superado mais um desafio.

Page 4: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meus pais,

irmão, amigos antigos e novos que

aqui conquistei.

Page 5: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

5

RESUMO

A monografia intitulada “SISTEMA PENAL BRASILEIRO: OS

ENCARCERADOS E A INDIGNIDADE HUMANA” tem como objetivo principal

mostrar a situação pela qual passam os indivíduos que cruzam seu caminho

com o do sistema penitenciário brasileiro.

É sem dúvida um tema atualíssimo e de grande relevâcia social, pois se

trata de seres humanos que de algum modo não conseguiram se manter dentro

da chamada “legalidade” e estão vivendo o drama do encarceramento.

Mostrar que o caminho – antes, durante e depois do cumprimento da

pena privativa de liberdade - passa de alguma forma pela violação da

dignidade da pessoa humana, abordando questões sobre o direito e o sistema

penal brasileiro, expondo seus problemas crônicos.

Identificando não só as deficiências de tal sistema, o presente trabalho

também mostra como estas afetam a vida do encarcerado, na medida em que

modificam o seu comportamento, e da sociedade que por desconhecimento ou

desinteresse, “sem perceber”, ajuda cada vez mais na violação da dignidade

daquelas pessoas, na medida em que o preconceito contra aqueles indivíduos

mostra sempre a sua face mais cruel.

Para finalizar este trabalho verifiquei que existem alternativas que

humanizam o sistema prisional entre elas as penas alternativas.

Page 6: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

6

METODOLOGIA

Para a investigação do tema central desta monografia, utilizou-se o

método analítico-descritivo, uma vez que se busca analisar o efeito que a

violação da dignidade humana produz em certo tipo de indivíduo, o

encarcerado, quando do cumprimento da pena privativa de liberdade,

descrevendo as mudanças nada sutis que ocorrem em seu comportamento. O

estudo é realizado por meio de pesquisa bibliográfica e consulta à internet. A

pesquisa bibliográfica se vale da legislação vigente e das doutrinas, cujas

obras especializadas sobre a pena privativa de liberdade, direitos humanos e

dignidade humana, penas alternativas abordam aspectos fundamentais do

sistema penal brasileiro, suas deficiências, bem como as ideologias atuais do

direito penal. Este trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro

capítulo apresenta o direito penal como forma de coerção penal

institucionalizada que gera a exclusão social de certos seguimentos da

sociedade. Em seguida, no segundo capitulo, faz-se uma abordagem sobre a

realidade do sistema prisional brasileiro, apresentando-se um estudo

panorâmico sobre a crise da pena privativa de liberdade. O terceiro capítulo

trata do tema central que é a dignidade humana sob a ótica dos direitos

humanos. Por fim, no último capítulo serão expostas algumas alternativas para

humanização do sistema pena brasileiro.

Page 7: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – O Direito e a pena privativa de liberdade

CAPÍTULO II – A realidade do sistema prisional no Brasil

CAPÍTULO III – Direitos Humanos no Brasil: o desrespeito à

dignidade humana do encarcerado

CAPÍTULO IV – As alternativas para humanizar o sistema penal

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Page 8: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

8

INTRODUÇÃO

Os avanços teóricos do direito não se traduzem na realidade da vida

penitenciária brasileira. A massa carcerária, constituída de pessoas originárias

das camadas mais pobres da população, mistura culpados de delitos leves com

criminosos violentos e perigosos.

Ao pensarmos que cada ato reflete na conduta dos marginalizados, que

a cada fechar de vidros nos sinais vermelhos repercute a formação dessas

pessoas à margem da sociedade, percebemos como a violência está bem ao

lado.

A violência da descaracterização, ou melhor, da despersonalização do

ser humano encarcerado é um atentado à dignidade e de total degradação.

Sendo o cárcere uma sociedade dentro da sociedade, adequar-se às novas

regras por ele impostas, ferem os princípios ideais da conduta humana.

Como se infere, a seletividade do sistema penal brasileiro é atentatória

ao princípio da humanidade, e a punição como única retribuição penal ofende a

dignidade da pessoa humana. Os Direitos humanos e a dignidade da pessoa

humana são princípios balizadores do sistema penal, e seu contumaz

desrespeito eiva sua legitimidade, exigindo-se uma mudança de rumo do

sistema retributivo para o reconhecimento da sua legitimidade diante de um

Estado Democrático de Direito.

Apesar de existirem hodiernamente inúmeros mecanismos de controle,

inclusive internacionais, tais como as declarações de direitos, os pactos e até

mesmo um Tribunal Penal chancelado pela Organização das Nações Unidas –

ONU, estamos diante de um quadro em que se solidifica um contexto de

elaboração da legislação penal de emergência, com todas as arbitrariedades

que, inexoravelmente, acompanham tais tipos de leis, com o total aval de uma

sociedade que se sente cada vez mais amedrontada e insegura.

Page 9: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

9 A prisão, desde sua implantação, demonstrou-se ineficiente e

incompatível para cumprir seus propósitos legalmente formalizados,

principalmente, aos que se referem a reinserção do condenado à sociedade

numa perspectiva de ressocialização daquele.

Com efeito, a prisão com suas inegáveis falhas e deficiências no

cumprimento das funções que legalmente lhe são atribuídas, ao longo de sua

existência sempre foi alvo das mais variadas críticas.

As penas privativas são uma agressão a qualquer ser humano,

analisando-se as condições em que estão sendo executadas atualmente. O

sistema penitenciário brasileiro está em completo estado de decadência, tendo

em vista os vários fatores negativos que o corroe: seja pela corrupção dos

funcionários, pela superlotação fruto da criminalidade generalizada, pela

ausência de uma infra-estrutura e de uma política educativa. Os cárceres não

têm condição para que seres humanos ali vivam, menos ainda atingir o objetivo

da ressocialização do encarcerado. Então se pergunta: onde está a garantia da

dignidade humana no exercício da pena privativa de liberdade?

O sistema penitenciário nem sempre reprime o comportamento

criminoso. É sabido que nossas prisões se tornaram ótimos ambientes para

criar pessoas ameaçadoras, violentas e perversas.

Muito embora haja questionamento em relação aos discursos da crise do

sistema penitenciário, principalmente levando-se em consideração as

incompatibilidades que podem ser encontradas entre o sistema punitivo

carcerário e as funções legais que se propõe a cumprir, é inegável que o

debate acerca do assunto, tem fomentado as mais diversas propostas.

Com o advento da Lei 9.714/98 reduz-se a incidência das penas

privativas de liberdade, que podem ser substituídas pelas penas restritivas de

direitos em casos específicos, e ainda, como substituição à pena de prisão

tem-se o sursis, o cumprimento de pena em prisão domiciliar, em regime

aberto, o indulto entre outras formas de cumprimento de pena, tentou-se, de

certa forma, evitar uma crise do sistema prisional.

Page 10: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

10 No entanto, esses benefícios não puderam evitar a crise que se instalou

no sistema. Além disso, não se registrou uma preocupação em estabelecer

garantias específicas em torno dos direitos da pessoa aprisionada.

Várias tentativas e propostas são apresentadas em busca de uma

solução que traga mudanças consistentes do quadro atual.

Entre tais propostas e tentativas estão as penas alternativas, a justiça

restaurativa como um modelo integrador (reparação do dano, conciliação e

pacificação das relações sociais) que se distingue dos usuais modelos ou

paradigmas de resposta ao delito, conforme o objetivo que prevalece em cada

sistema: o dissuasório (prevenir a criminalidade), o ressocializador (reinserir e

reabilitar o infrator), bem como iniciativas isoladas de alguns presídios, na

intenção de humanizar o sistema penal.

Page 11: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

11

CAPÍTULO I

O DIREITO E A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

1 1- Direito penal: a coerção social é institucionalizada

Para viver em sociedade e tornar possível a convivência nela, o homem

estabelece determinados padrões de conduta, valorando formas de agir,

através da criação de regras que visam a efetivação do controle social. Isso

significa que ao manifestar condutas adequadas ou aceitáveis para cada

ocasião, o homem mostra-se socializado.

Os pais, a família, a educação escolar, a religião, os meios de

comunicação de massa são as formas mais comuns de controle social. Através

deles, desde a infância, o homem aprende como deve e como não deve agir,

atendendo às regras que ditam a convivência social.

Reale Júnior (2003, p.3), ressalta que, antes mesmo de indagar o

porquê de alguns delinquirem, deve-se indagar o porquê de a maioria não

delinquir. Percebe-se, então, que a maioria não delinque por ter assimilado as

formas usuais de controle social.

Por outro lado, quando surge o ilícito, torna-se visível a não assimilação

do controle social, urgindo uma forma de controle mais efetivo, como o jurídico.

Desse modo, o direito é uma forma de controle social institucionalizado, que se

faz presente de forma não punitiva no direito privado e de forma concretamente

punitiva no direito penal. Por esse prisma, o direito penal é uma forma de

controle social institucionalizada, que atua em caráter excepcional e

subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam

ser reprimidas pelas formas comuns de controle social, nem por outras vias

institucionalizadas como a reparação do direito privado.

Ao reprimir a prática do delito por meio de normas protetoras de valores

sociais, o direito penal funciona como qualquer outro direito, porém, executa

seus preceitos por meio da coerção penal. Assim, todo o direito provê a

Page 12: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

12 segurança jurídica, mas só o direito penal a realiza com a coerção penal

(ZAFFARONI; PIERANGELI, 2002, p.93), sendo a pena o meio para atingi-la.

Como pontua Fragoso (2003 p.346): Devem ser protegidos penalmente

os bens de maior valor. Convém, no entanto, ter presente o princípio da

intervenção mínima, que decorre do caráter subsidiário do direito penal. Só

deve o Estado intervir com a sanção jurídico-penal quando não existam outros

remédios jurídicos. A pena é ultima ratio do sistema.

1.1.2 - Sanção penal: a pena privativa de liberdade

A sanção penal pode ser definida como a reprimenda a uma conduta,

previamente condenada pelo ordenamento jurídico, mediante a promessa de

restrição de um direito. No entanto, a doutrina apresenta vários outros

conceitos de pena, que dão ênfase a aspectos distintos. Assim, por exemplo,

Fragoso (2003, p.348) define a sanção penal como "a perda de bens jurídicos

imposta pelo órgão da justiça a quem comete crimes", atribuindo-lhe um caráter

de retribuição. Cernicchiaro (apud MIRABETE, 2002, p.246), por sua vez,

afirma que a pena:

Substancialmente, consiste na perda ou privação de exercício de direito

relativo a um objeto jurídico; formalmente está vinculada ao princípio da

reserva legal, e somente é aplicada pelo Poder Judiciário, respeitando o

contraditório; e teleologicamente mostra-se, concomitantemente, como castigo

e defesa social (grifos do autor).

Ainda que frequente as definições vinculando à pena a característica

retributiva, digno de realce é a ressalva de Fragoso (2003, p.348) para quem a

pena é uma retribuição, porém, o magistério punitivo do Estado não deve estar

restringido à retribuição. Da mesma maneira, para Bitencourt (2001, p.104),

"conceitualmente, a pena é um castigo. Porém, admitir isso não implica, como

consequência inevitável, que a função, isto é, fim essencial da pena, seja a

retribuição" (grifos do autor).

Hoje, a crise enfrentada pelo direito penal é a da pena privativa de

liberdade. Não existe questionamento sobre os efeitos desumanos que a prisão

Page 13: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

13 ocasiona nos termos em que está sendo aplicada, nem mesmo se admite

racionalmente que a reclusão ainda cumpra com algum ideal reformador.

1.1.3 - Finalidade e significado da pena

Para Reale Júnior (2003, p.43), a justificativa para a atuação do poder-

dever de punir do Estado variará de acordo com a perspectiva adotada para

seu estudo. Desse modo, a finalidade da pena será diversa desde que vista

sob diferentes ângulos, como o do condenado, o da sociedade e o do Estado.

A finalidade atribuída à pena variará também se investigada quanto ao

momento de sua cominação e execução, bem como se analisada de acordo

com a natureza da sanção imposta. Por fim, a finalidade da pena pode variar,

ainda, de acordo com a perspectiva adotada por cada penalista da doutrina.

Sob o aspecto do condenado, a pena será sempre um castigo, ainda

que suspensa a execução da pena ou que o condenado se considere inocente.

Sob o aspecto da sociedade, em geral, a pena será vista como punição e

intimidação. Em particular para a família do condenado, a pena será vista como

castigo embora, para a vítima, a pena será sempre uma vingança. Para o

Estado, Reale Júnior (2003, p.45) afirma que a pena é "uma forma necessária

de controle social, para garantir respeito a determinados valores, garantia que

se reafirma pela execução da pena, quando este valor é afrontado por uma

ação delituosa".

Quanto ao momento de sua aplicação, a pena terá as funções

intimidativa e assecuratória e assumirá um caráter aflitivo e intimidativo em sua

execução.

Em relação à natureza da sanção imposta, a pena de prisão terá a

finalidade retributiva e efeito segregador.

Em resumo, a idéia central contida na retribuição é a de que a pena vem

compensar um mal com outro mal, é a reação ao delito, mera resposta como

conseqüência do crime.

O retribucionismo foi bem desenvolvido na filosofia de Kant, que, assim

afirma (1993 p.176):

Page 14: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

14 “A pena jurídica, poena forensis¸ não pode nunca ser aplicada como um

simples meio de procurar outro bem, nem em benefício do culpado ou da

sociedade; mas deve sempre ser contra o culpado pela simples razão de haver

delinquido: porque jamais um homem pode ser tomado como instrumento dos

desígnios de outro”.

Bettiol (apud BARROS, 2001, p.54) também é partidário do

retribucionismo, conforme se infere do trecho a seguir:

[...] A pena toca ao homem em sua concreta individualidade, determina

nele um sofrimento como equivalente do sofrimento que aos outros inferiu com

a ação delitiva, remexe uma alma já endurecida no vício, desperta o sentimento

de dignidade humana. Ela é a expressão mais típica e assinalada daquela

exigência de que ao mal deve seguir o mal, como ao bem deve seguir o bem, a

que está verdadeiramente esculpida no coração dos homens [...].

Quanto ao princípio de compensação de culpas, para Barros (2001,

p.55), esta é irrealizável, uma vez que seria conferir um caráter de vingança à

atuação estatal em seu poder-dever de punir, o que nem sequer seria aceitável

em um Estado Democrático de Direito.

Conceitualmente a pena é um castigo, porém isso não implica que seu

fim único seja a retribuição. Além disso, conforme visto, a pena muda de

caráter de acordo com a ótica do observador.

1.1.4 - A pena como prevenção

A pena como prevenção deve buscar a consecução de fins posteriores,

fundamentando-se na necessidade grupo social. Dentre as diversas teorias

preventivas, a da prevenção especial positiva orienta-se pelos ditames, ou

metas da execução penal na nossa ordem jurídica, repleta de disposições que

a obrigam. A finalidade de prevenção especial positiva está expressamente

prevista: I) Art. 5º do Pacto de San José da Costa Rica – “Direito à integridade

pessoal”. (...)” II) art. 6º do mesmo diploma legal: “as penas privativas da

liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social

Page 15: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

15 dos condenados”; III) art. 1º da Lei de Execução Penal (lei 7.210/84): “a

execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou

decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social

do condenado e do internado”. Em nossa Constituição, a prevenção especial

positiva está implicitamente prevista: 1) na proteção da dignidade humana (art.

1º, III). Sustenta Alice Bianchini que “o princípio da dignidade da pessoa exige

que todos os esforços sejam empreendidos no sentido de se evitar os efeitos

deletérios da prisionização, e que não se abandonem, mas, antes, até mesmo

se intensifiquem, também, as preocupações no âmbito da reinserção social do

condenado”; 2) no objetivo constitucional de construir uma sociedade livre,

justa e solidária (art. 3º, I). Uma sociedade solidária deve se sensibilizar e ter

uma atuação positiva para com os apenados; 3) na proibição de se submeter

alguém a tortura ou tratamento desumano ou degradante (art. 5º, III); 4) no

princípio da humanidade das sanções (art. 5º, XLII), que veda a pena de morte

(exceto em caso de guerra), de caráter perpétuo, de trabalho forçado, de

banimento e cruel; 5) na garantia de respeito à integridade física e moral dos

presos (art. 5º, XLIX). O enumerado nos itens 1, 3 e 5 já constavam no Pacto

de San José: “1 - Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade

física, psíquica e moral. 2- Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a

penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da

liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser

humano”.

Todas essas finalidades da sanção criminal devem, como ressaltam

Zaffaroni e Pierangeli, contribuir para diminuir os antagonismos, fomentar a

integração e criar as condições para uma generalização comunitária do

sentimento de segurança jurídica, que será maior na medida em que a

estrutura social seja mais justa (maior grau de justiça social) e, em

conseqüência, cada homem sinta que é maior o espaço social de que dispõe e

a comunidade lhe garante ou, ao menos, deve procurar não aumentar os

antagonismos e as contradições.

Page 16: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

16

1.2 - O Direito Penitenciário e a evolução da pena de

prisão

1.2.1 - Conceito

O Direito Penitenciário é um conjunto de normas jurídicas que

disciplinam o tratamento dos sentenciados, presente no artigo 24 da

Constituição Federal que optou por esta denominação, eliminando outras como

"Direito das Execuções Penal" ou "Direito Penal Executivo".

O direito penitenciário começou a se formar no século XVIII, com

estudos de Beccaria, pois durante muito tempo o condenado foi apenas objeto

da Execução Penal.

As velhas concepções arbitrárias sobre aplicação das penas começaram

a diminuir na segunda metade do século XVIII. Surgiram, então, inúmeras

obras que criticavam abertamente a legislação penal em vigor na época,

defendendo a liberdade do indivíduo e valorizando os princípios da dignidade

do homem.

Segundo esta filosofia, a pena deveria ser proporcional ao crime,

levando-se em consideração circunstâncias pessoais do delinquente, seu grau

de malícia. A pena também deveria ser menos cruel ao corpo do indivíduo sem

deixar de ser eficaz para provocar o seu arrependimento.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão reforçou o princípio

humanitário das penas:

Onde a pena de morte passou a ser abolida ou não aplicada; as penas

corporais e as infamantes aos poucos foram desaparecendo, cedendo lugar as

privativas de liberdade para o que se iniciou a construção de presídios voltados

a reeducação dos criminosos. (FERREIRA, 1998, p. 34).

Um breve relato histórico da evolução de nosso Código Penal:

Na época do Império, promulgado em 16/12/1830, houve a

individualização das penas. O Código previa a pena de morte para os crimes

Page 17: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

17 de homicídio, para roubo seguido de morte, para insurreição e para os

escravos que eventualmente obtivessem a liberdade pela força, antes, porém,

o acusado era conduzido pelas ruas públicas, para que todos vissem a

punição.

A partir do 2° Código Penal, em 1890, foi abolida a pena de morte em

nosso país e surgiu o regime penitenciário, com a finalidade correcional,

buscando reeducar e reintegrar o detento na sociedade.

Assim, o reconhecimento dos direitos da pessoa humana do

sentenciado, o respeito a sua dignidade como pessoa moral, sua proteção

como ser humano é algo recente.

1.2.2 – A pena de prisão no Brasil

Na terminologia jurídica "prisão é o vocábulo usado para exprimir o ato

pelo qual se priva a pessoa de sua liberdade de ir e vir recolhendo-a em um

lugar seguro e fechado de onde não se poderá mais sair” (SILVA, 2003, p.

448).

Privando o ser humano de sua liberdade, como forma de punição pela

prática de delitos, de crimes, fez surgir estabelecimentos destinados a guardar

indivíduos que apresentassem riscos para a sociedade.

Segundo a legislação penal e processual a pena deve ser cumprida em

sistema progressivo, como forma de humanizar a pena e incentivar o

condenado a reabilitar-se por seus méritos, sendo de suma importância o

cumprimento de suas determinações para a efetiva recuperação dos infratores.

1.2.3 - Os estabelecimentos penais brasileiros

O preso não só tem deveres a cumprir, mas é sujeito de direitos que

devem ser reconhecidos e amparados pelo Estado. O detento não está fora do

direito, pois mantém uma relação jurídica com o Estado, e exceto os direitos

perdidos e limitados por sua condenação, sua condição jurídica é igual à das

pessoas não condenadas.

Page 18: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

18 Dentre os direitos e deveres que derivam da sentença do condenado,

temos:

a) direito à vida, correspondendo à obrigação quanto à assistência

material, à saúde, assistência jurídica e religiosa; b) direitos civis, direito de

propriedade, de família, das limitações da prisão; c) direitos sociais; d) direito

ao tratamento reeducativo. Assim, como na LEP em seu artigo 41 que enuncia

os direitos do preso, o Código Penal também dispões em seu artigo 38, que: “O

preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade,

impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral”.

Dentre esses e muitos outros artigos e leis percebe-se que os condenados não

conhecem, na prática, os seus direitos, caso contrário o sistema prisional não

estaria no caos que se encontra hoje.

Page 19: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

19

CAPITULO II

A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL NO BRASIL

“É possível julgar o grau de civilização de

uma sociedade visitando suas prisões”.

Dostoievski.

2 - A crise no sistema penitenciário brasileiro

A realidade penitenciária brasileira é desumana, pois os

estabelecimentos prisionais, na sua maioria, apresentam para os reclusos um

verdadeiro inferno em vida, onde o preso se amontoa a outros em celas sujas,

úmidas, anti-higiênicas e superlotadas.

O Estado, através do cumprimento da pena, deveria nortear a

reintegração do recluso ao meio social, dotando o preso de capacidade ética,

profissional e de honra, no entanto, age de forma contrária, inserindo o

condenado num sistema que destrói sua personalidade, neutraliza sua

formação ou o desenvolvimento de seus valores.

O direito a dignidade, ao respeito da pessoa humana, a intimidade são

os direitos mais agredidos na maior parte das prisões do mundo. Desde o início

da reclusão começa o despojamento da personalidade do preso: algemas nos

pulsos, revista no corpo desnudo, à vista de todos, a troca de traje pessoal e

uso de chuveiros na presença de guardas.

O direito a informação é de vital importância para a ressocialização do

detento, pois tanto humaniza o regime penitenciário, como concorre para o

aprimoramento cultural do recluso. O condenado não pode perder o contato

com a sociedade, para qual se prepara gradativamente.

Page 20: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

20 A liberação sem o prévio preparo, como o tratamento reeducativo e sem

colaboração da sociedade na reinserção social do preso, é traumatizante e

fator de retorno a delinquência.

Com frequência a imprensa notifica a falta de vagas nos presídios e o

estado precário dos estabelecimentos penais, são notícias que deterioram cada

vez mais as expectativas de recuperação dos presos, e sabemos que o alto

custo para manutenção dos estabelecimentos carcerários gera um grande

desgaste da responsabilidade do Governo pela questão.

2.1 - Identificando suas deficiências

O artigo 5º, XLIX , da Constituição Federal, prevê que “é assegurado aos

presos o respeito à integridade física e moral”, mas o Estado não garante a

execução da lei.

Há quatro razões básicas para os criminosos serem mandados para a

prisão: punir os transgressores, proteger a sociedade, prevenir crimes futuros e

reabilitar os criminosos, ensinando-os a obedecer à lei e a serem produtivos

quando forem soltos.

Segundo (Mario Ottoboni , 2001, p14) o delinquente é condenado e

preso por imposição da sociedade, ao passo que recuperá-lo é um imperativo

de ordem moral, do qual ninguém deve se escusar. A sociedade somente se

sentirá protegida quando o preso for recuperado. A prisão existe por castigo e

não para castigar, jamais devemos nos esquecer disso. O Estado não se julga

responsável pela obrigação no que diz respeito ao condenado.

O declínio do sistema penitenciário brasileiro, assim como em vários

países, fundamenta-se, basicamente, nos custos crescentes do

encarceramento e na falta de investimentos no setor por parte da

administração pública. A partir dessas questões, decorrem problemas como a

falta de condições necessárias à sobrevivência (superlotação, falta de higiene,

regime alimentar deficiente,); deficiências no serviço médico; elevado índice de

consumo de drogas; corrupção; reiterados abusos sexuais; ambiente propício à

Page 21: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

21 violência; a quase ausência de perspectivas de reintegração social; a

inexistência de uma política ampla e inteligente para o setor.

Falta de capacitação dos agentes, de assistência jurídica e social ao

condenado também são fatores que contribuem para a falência. O Estado tenta

realizar, na prisão, durante o cumprimento da pena, tudo quanto deveria ter

proporcionado ao cidadão, em época oportuna e, criminosamente deixou de

fazê-lo. Mas este mesmo Estado continua a praticar o crime, fazendo com que

as prisões fabriquem delinquentes mais perigosos, e de dentro das cadeias os

presos continuam praticando crimes e comandando quadrilhas.

A prisão, desde sua implantação, demonstrou-se ineficiente e

incompatível para cumprir seus propósitos legalmente formalizados,

principalmente, aos que se referem à reinserção do condenado à sociedade

numa perspectiva de ressocialização daquele.

Ressocializar a pessoa presa, nas situações atuais, é tarefa

praticamente impossível. O fato de o indivíduo estar encarcerado e isolado de

outros indivíduos da sociedade pode causar distúrbio em sua conduta. O

sentimento de vingança contra a sociedade, de injustiça e de inferioridade, faz

com que esses presos tenham vontade de “vingar-se”, e, quando soltos,

continuam a praticar atos criminosos.

Na prisão todas as relações sociais são diferenciadas dos padrões

sociais comuns. É o início da perda da identidade, moldando-se enfim, uma

nova personalidade da pessoa presa.

O encarceramento do indivíduo impõe um rompimento de vínculo com a

sua família e com a privacidade do lar. Na prisão, o indivíduo tem que se

adaptar a uma nova realidade, passa a conviver dentro de grupos fechados,

que tem como grupo maior à população carcerária de onde se encontra

recolhido, com regras próprias e peculiares, nas quais os indivíduos

descendem de diferentes realidades sociais, concepções diferentes em relação

à família, à vida em sociedade, ao comportamento, ao ambiente, a religião e de

também de diversas faixas etárias. Essa submissão à nova realidade distinta

da sua e a subordinação absoluta que os presos são submetidos privado-os

Page 22: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

22 completamente de autonomia ocasionam a gradativa perda da própria

individualidade e mutação na sua conduta social.

A violência é mais um aspecto relevante e decorrente da falência do

sistema atual, contribuindo para mutação do comportamento do preso, uma vez

que se torna praticamente impossível a quem vive no ambiente carcerário,

sujo, sem privacidade, sem respeito ao homem e a dignidade humana, deixar

de incorporar atitudes violentas em sua conduta perante terceiros.

Após identificar as principais deficiências deste sistema arcaico, pode-se

visualizar melhor cada aspecto negativo deste e que causam tamanha

desigualdade dentro das prisões brasileiras:

Superlotação

A superlotação é talvez o mais crônico problema que aflige o nosso

sistema penal.

As prisões brasileiras encontram-se abarrotadas, sem as mínimas

condições dignas de vida, contribuindo ainda mais para desenvolver o caráter

violento do indivíduo e seu repúdio à sociedade que ele acusa de tê-lo

colocado ali.

Todos os esforços feitos para a diminuição do problema, não chegaram

a nenhum resultado positivo, pois a disparidade entre a capacidade instalada e

o número atual de presos tem apenas piorado. Devido à superlotação muitos

dormem em condições subumanas, sejam no chão de suas celas, às vezes no

banheiro, próximo a buraco de esgoto, amarrados às grades das celas ou

pendurados em rede.

Como consequência, formam-se as rebeliões a fim de buscar no Estado

a dignidade humana a que o preso tem direito.

Cadeias públicas, delegacias, presídios, penitenciárias, todos foram

transformados em depósito de pessoas, que não são tratados como tais. As

rebeliões que tem acontecido em todo o país, com tamanha frequência, já

fazem parte do dia a dia e é o resultado da caótica realidade do sistema

Page 23: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

23 penitenciário. A reivindicação mais comum é por melhores condições nos

estabelecimentos prisionais.

A Lei de Execuções Penais prevê que os detentos sejam mantidos em

celas individuais de pelo menos seis metros quadrados. De acordo com essa

norma, muitos dos presídios brasileiros possuem celas individuais em toda ou

boa parte de suas áreas de reclusão. Mas a superlotação superou os planos

originais, para os quais os presídios foram projetados, ao invés de manter um

preso por cela.

Essa superlotação gera sujeira, odores, ratos e insetos, fatores que

contribuem para o agravamento das tensões entre os presos. Os detentos são

responsáveis por manter as dependências limpas.

Nas carceragens de delegacias o panorama não se apresenta em nada

mais agradável que os encontrados nos presídios e, às vezes, muito piores,

pois as celas não foram construídas para a função que exercem.

Falta de higiene e assistência médica

Segundo a Lei de Execução Penal em seus artigos 12, 13 e 14 o preso

ou internado, terá assistência material, em se tratando de higiene, instalações

higiênicas, acesso a atendimento medico, farmacêutico e odontológico. Porém,

a realidade não é bem assim. Muitos dos presos são submetidos a péssimas

condições de higiene. As condições higiênicas em muitos estabelecimentos

são precárias e deficientes, além do que o acompanhamento médico inexiste

em algumas delas. As detentas, que necessitam de assistência ginecológica

sofrem pela carência de assistência médica.

Sanitários coletivos e precários são comuns, piorando as questões de

higiene. A promiscuidade e a desinformação dos presos, sem o devido

acompanhamento psicossocial, levam à transmissão de AIDS e outras DST´s

entre os presos. Doenças gástricas, urológicas, dermatites, pneumonias e

ulcerações também não são atendidas adequadamente.

A possibilidade fática de um acompanhamento médico adequado evitaria

que certas situações de maus tratos, espancamentos e outras violências contra

Page 24: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

24 os encarcerados ficassem sem a devida apuração e socorro. (OTTOBONI,

2001 ).

Falta de acesso à educação e ensino profissionalizante

Uma antiga máxima popular diz que "mente vazia é a oficina do diabo".

Este provérbio não poderia ser mais adequado quando se trata da vida

carcerária. O indivíduo privado de sua liberdade e que não encontra ocupação,

entra num estado mental onde sua única perspectiva é fugir.

São várias as finalidades que o regime prisional visa alcançar. Augusto

Thompson enumera essa multiplicidade de fins em: "confinamento, ordem

interna, punição, intimação particular e geral e regeneração". Outra finalidade

de grande importância não mencionada seria a necessidade de fornecer ao

preso um aprendizado técnico ou profissional que lhe permita exercer uma

atividade laborativa honesta, para que assim se adapte de forma completa à

sociedade, isto consta na LEP, nos artigos 17 a 21.

Além do trabalho, é fundamental que se dê atenção à educação nos

presídios, fator decisivo no processo de desenvolvimento do detento para o

exercício consciente da cidadania, além de atividades artístico-culturais,

esportivas e de recreação, de capacitação profissional, facilitando, dessa

forma, a reintegração no mercado de trabalho, quando o detento cumprir a

pena e retornar à convivência social. Por não ter um estudo ou ocupação,

conseqüentemente, carecer de um senso moral que a vida pré-egressa não

conseguiu lhe transmitir, a personalidade do preso passa a sofrer um desajuste

ainda maior. Sua única saída é relacionar-se com os demais presos e

intercambiar com ele suas aspirações, valores e visões de mundo, quase

sempre distorcidas. Passa a adquirir novos hábitos, que antes não tinha, enfim

transforma-se num indivíduo pior do que quando entrou. Além disso, distúrbios

psicológicos que já possuía antes de vir para o presídio se agravam,

justamente por se ver inserido num novo contexto social, repleto de

hostilidades e desrespeito.

A grande maioria dos indivíduos presa não teve melhores oportunidades

ao longo de suas vidas, principalmente a chance de estudar para garantir um

Page 25: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

25 futuro melhor. Nesse sentido, o tempo que despenderá atrás das grades pode

e deve ser utilizado para lhe garantir estas oportunidades que nunca teve, por

meio de estudo e, paralelamente, de trabalho profissionalizante. Além de ajeitar

as celas, lavar corredores, limpar banheiros etc., os detentos precisam ter a

chance de demonstrarem valores que, muitas vezes, encontram-se

obscurecidos pelo estigma do crime. Existem casos de detentos que

demonstram dotes artísticos, muitos deles se revelando excelentes pintores de

quadros e painéis de parede, além de habilidades com esculturas, montagens,

modelagens, marcenaria etc. Também, decoram as celas de acordo com sua

criatividade e sua personalidade. Estas artes devem ser incentivadas, pois é

uma forma de ocupar o preso, distraindo-o e aumentando sua auto-estima. É a

chance de mostrar a ele de que existe a esperança de um amanhã melhor

além das grades que o separam do mundo exterior.

Alimentação

Constitui também direito do preso, a alimentação (art 12, LEP) que

apesar de muitas vezes não faltar, chega a ser desigual. Denúncias de presos

à Comissão de Diretos Humanos quanto ao desvio de comida é muito grande,

sendo feita até mesmo pelos guardas ou pessoas subornadas a eles, pois

quem possui mais recurso recebe mais comida.

A alimentação pode ser fornecida pelas empresas não provendo contato

dos presos no processo de preparo, como também ser feita nos presídios onde

a cozinha ainda está em atividade, esta se apresenta, como as demais partes

dos estabelecimentos, velha e sem manutenção, sem as mínimas condições de

higiene, onde até as áreas destinadas ao estoque de mantimentos são

geralmente sujas, servindo como lugar de moradia de ratos e insetos.

Trabalho

O trabalho, antes mesmo de ser dever, é direito do preso. Fator de

dignidade pessoal inarredável e insubstituível. Não é só direito, mas também

dever, obrigação, porque o direito, exceto o indisponível, é renunciável e o

trabalho para o preso não o é e nem deveria ser para todos os demais

Page 26: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

26 cidadãos. É um dever diretamente ligado à sua dignidade, à sua auto-estima. É

um dever que ele tem com a sociedade e com sua ressocialização.

De acordo com a LEP (arts. 28 a 37) todos os presos condenados

devem trabalhar. É preciso notar, porém, que as obrigações legais com relação

ao trabalho prisional são recíprocas: os detentos têm o direito de trabalhar e as

autoridades carcerárias devem, portanto, fornecer aos detentos oportunidades

de trabalho. Apesar das determinações legais, entretanto, os estabelecimentos

penais do país não oferecem oportunidades de trabalho suficientes para todos

os presos.

Conforme esse dispositivo legal, para cada três dias de trabalho, um dia

deve ser debitado da sentença do detento. Ansiosos para sair da prisão o mais

rápido possível, quase todos os detentos estão dispostos a trabalhar, mesmo

sem receber.

Embora a proporção de detentos que se dedicam a alguma forma de

trabalho produtivo varie significativamente de prisão para prisão e apenas em

algumas prisões femininas podem ser encontradas de fato oportunidades de

trabalho abundantes.

Na verdade, os detentos reclamaram muitas vezes da falta de

oportunidades de trabalho. A Fundação Nacional Penitenciaria (FUNAP) é o

órgão encarregado de gerir o trabalho profissional, através de oficinas. Nessas

oficinas os presos trabalham em serviços de costura e carpintaria. O salário

varia de prisão para prisão, e conforme a LEP, é determinado que os detentos

recebam três quartos do salário mínimo por mês, sendo que muitas prisões não

pagam nada aos detentos, violando assim a lei.

Assistência jurídica e assistência social

Também de acordo com a LEP, em seus artigos 15, 16, 22 e 23, a

assistência jurídica é de direito de todos os presos, mas parte destes são de

classe baixa, tendo que esperar o serviço de assistência gratuita, que possui

um numero muito baixo de defensores públicos, o que não resta a estes

esperar por uma oportunidade.

Page 27: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

27 No sentido da assistência social, o preso deve receber amparo para ser

preparado para sua liberdade. O assistente social deverá realizar trabalhos,

para instruí-lo como na conquista de um emprego, na regularização de

documentos e na sua socialização. Atualmente, o numero de assistentes

também é muito baixo, sendo que os serviços muitas vezes são prestados por

voluntários como jovens, religiosos e alguns outros que sentem compaixão pelo

detento.

Violência Policial

A violência policial se faz presente em nosso país há muito tempo.

Tornou-se realmente explícita durante o Regime do Estado Novo (1937-1945) e

no Regime Militar (1964-1985), onde os alvos desta violência eram todos

aqueles que não aceitavam a forma de poder ditatorial ou questionavam os

atos de seus governantes. Existe, porém, uma sutil diferença entre a violência

policial atuante num Regime ditatorial e a que hoje vige em um Regime

democrático. Naquele, o Estado atuava com "mão-de-ferro", pois o poder não

emanava do povo Tratava-se, mais ou menos, de um estado de necessidade,

porém, sob violência injustificada, visto que nenhuma forma de violência é

justificável, a não ser para a proteção da vida e da integridade humana. Some-

se a isto o fato de que a polícia brasileira sempre foi indisciplinada e uma de

suas características principais é o despreparo.

Já no regime democrático, a aparente "justificativa" para a prática de

atos de violência policial em prol da própria integridade não existe. O poder

emana do povo, a quem cabe escolher seus representantes e em nome de

quem este poder será exercido. À polícia não existe mais o sentimento

"intrínseco" de cumprir ordens que criem atos violentos pelo simples fato de se

estar subordinado a um poder superior, inexistindo também o receio de punição

pela violência "não cumprida". Existe tão somente o "dever legal" de manter a

ordem e a disciplina no meio social, sendo a violência argüida apenas em

casos extremos de hostilidade, e não pelo fato do cidadão usufruir seu direito

de liberdade de ir e vir, de expressão, entre outras.

Page 28: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

28 Tanta violência policial que vem à tona revela um dado importante:

antigos e pavorosos defeitos da polícia ainda existem, mesmo depois de

sepultada a ditadura militar. Existe extorsão, tortura, assassinato, seqüestro,

omissão, mentira, insubordinação e até envolvimento com tráfico de drogas.

2.2 – Reconhecendo a seletividade do sistema penal

Ao promover uma seleção desigual entre as pessoas, em que a

condição de classe dominante de um lado é o fator preponderante para gerar a

impunidade e, de outro, para tornar típica, embora de forma extralegal, as

condutas daqueles que não possuem um lugar neste país, os descartáveis, os

excluídos, aqui representados pelos Sem terras. A assertiva que se apóia no

argumento de que o Direito Penal constitui-se em instrumento de garantia de

práticas democráticas de convívio social no Brasil, não passa de um sonho de

uma tarde chuvosa de verão, visto encontrar-se a serviço de uma classe

dominante.

Tal assertiva é demonstrada de forma clara por Karam, ao afirmar

que escolhe “para receber toda a carga de estigma, de injustiça, diretamente

provocada pelo sistema penal, preferencial e necessariamente os membros

das classes subalternas, fato facilmente constatável, no Brasil, bastando olhar

para quem está preso ou para quem é vitima dos grupos de extermínio”.

(KARAM, 2002).

Geralmente os membros das camadas mais pobres e menos abastadas

da população. Estes segmentos da sociedade são considerados classes

perigosas por acreditar-se serem um ameaça às classes mais abastadas,

ocorrendo um processo de "seleção" onde todo criminoso deve ter

características como pobreza, desnutrição, inteligência limitada,

preferivelmente negros ou mulatos. Tal visão distorcida que impera no meio

social

Com efeito, há um evidente fenômeno de contradição estrutural entre o

sistema penal e os Direitos Humanos, experimentado no Brasil. Neste sentido,

a lição de Zaffaroni:

Page 29: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

29 (...) enquanto os direitos humanos assinalam um programa realizador de

igualdade de direitos de longo alcance, os sistemas penais são instrumentos de

consagração ou cristalização da desigualdade de direitos em todas as

sociedades. (ZAFFARONI, 1991, p. 149).

2.3 - A questão penitenciária e a visão da sociedade

Ao serem identificadas deficiências no sistema penal brasileiro, verificou-

se como estas afetam a vida do encarcerado e agora a da sociedade.

A questão penitenciária é das mais relevantes no momento, trazendo à

meditação suas consequências para a vida em sociedade. Parte da população

não tem conhecimento de que o sistema penitenciário é apenas um elo de uma

corrente que vai desde a prática do crime até a recuperação da pessoa que a

praticou, a fim de que possa ser inserida novamente em uma sociedade de

paz.

Fato é que nas prisões, sem as mínimas condições dignas de vida, e

muito menos de aprendizado para o prisioneiro, não há estimulo à recuperação

e à reinserção na vida em sociedade, mas incentivo a praticar mais e mais

crimes.

Mesmo esquecendo-se do lado humanitário da questão e de todos seres

humanos, mesmo procurando ser simplesmente pragmático no controle da

violência, a solução da questão penitenciária há de ser a mesma: as prisões

têm de ser escolas, senão de pouco adiantam, pois se tornam escolas de

crimes e de violência.

Estamos gastando dinheiro com bandidos? Não. Estamos gastando

dinheiro para que não existam bandidos, e de maneira civilizada e eficaz.

Estamos gastando dinheiro com a nossa segurança.

No quadro de violência urbana que amedronta a sociedade brasileira, os

índices de criminalidade e a crescente preocupação com a segurança pública

são elementos suficientes para fomentar a adoção de ideologias como as

apontadas acima. A população, aliás, influenciada pelas imagens vendidas pela

mídia nacional, começam a debater a "criminalidade", a "impunidade". A mídia

Page 30: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

30 (inclusive a escrita) fornece a idéia de que as leis brasileiras são leves,

beneficiam os bandidos, favorecem a impunidade. E assim informada, a

opinião pública manifesta-se pelo "endurecimento" das leis. É visível que diante

da vulnerabilidade da população, o sentimento de vingança tende a se

sobrepor perante qualquer elemento racional na análise do sistema penal.

No entanto, ainda que se reconheça a falta de lucidez dessas ideologias,

o direito penal carece de um movimento legitimador de sua atuação, que

legalize e humanize a questão penitenciária. Para Bitencourt (2001, p.154), a

crise da prisão deve encontrar a solução na sua própria reforma, porém a maior

dificuldade apontada pelo autor é falta da devida atenção ao problema.

Vê-se, portanto, que, a respeito do sistema penitenciário, reina uma

insatisfação geral e absoluta. E não poderia ser diferente. Embora seja irrisória

a parcela da população que já tenha visitado alguma vez uma cadeia pública, a

degradação em que elas se encontram é matéria de domínio comum,

prescindindo de qualquer observação in loco.

É o próprio Direito Penal, através de sua construção dogmática, pautada

nos cânones constitucionais, que vai exercer a defesa do homem criminoso,

ante ao que hoje podemos denominar de poder punitivo exacerbado e

irracional, que incide quase em sua totalidade contra as pessoas mais débeis

da sociedade, com os conhecidos custos sociais negativos, fazendo com que a

grande dívida que o Estado tem para com essas camadas, desde sempre

excluídas, torne-se praticamente impagável.

Por trás das paredes das prisões estão amontoados os presos que muito

antes de serem algozes dos crimes divulgados pela mídia, com deleite, são

vítimas de uma sociedade que, a cada dia, marginaliza e exclui a maior parcela

da população de todas as oportunidades de vida digna.

Page 31: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

31

CAPÍTULO III

DIREITOS HUMANOS NO BRASIL: O DESRESPEITO À

DIGNIDADE HUMANA

3.1 - Declaração Universal dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece a dignidade

inerente a toda pessoa humana como fundamento da liberdade, da justiça e da

paz no mundo. Reconhece também, entre outra coisas, a proteção dos direitos

do homem através de um regime de direito, para que o homem não seja

compelido, em supremo recurso. Que os povos das Nações Unidas devem

renovar sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da

pessoa humana, na igualdade de direitos do homem e das mulheres e se

declararam resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores

condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla.

Entretanto, ao ser proclamada como ideal comum a se atingir por todos

os povos e todas as nações, esta não obriga ninguém a segui-la, esperando-se

que as nações apenas se esforcem para pô-la em prática, através de seus

artigos, alguns dos quais são utilizados para defesa e garantia dos direitos dos

encarcerados:

Artigo1°

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em

direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros em

espírito de fraternidade.

Artigo2°

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades

proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente,

de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de

Page 32: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

32 origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento, ou de qualquer outra

situação. (...)

Artigo3°

Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

(...)

Artigo5°.

Ninguém será submetido à tortura nem a pena de morte ou a

tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

(...)

Artigo7°

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direita a igual

proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer

discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a

tal discriminação.

Artigo8°

Toda a pessoa tem direito a recurso para as jurisdições nacionais

competentes contra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos

pela Constituição ou pela lei.

Artigo9°

Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo10°

Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja

equativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que

decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em

matéria penal que contra ele seja deduzida.

Artigo11°

1. Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até

que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo

Page 33: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

33 público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam

asseguradas.

2. Ninguém será condenado por ações ou omissões que, no momento

da sua prática, não constituíam ato delituoso à face do direito interno ou

internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a

que era aplicável no momento em que o ato delituoso foi cometido.

(...)

Artigo19°

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o

que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar,

receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por

qualquer meio de expressão.

(...)

Artigo23°

1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a

condições eqüitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o

desemprego.

2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por

trabalho igual.

3. Quem trabalha tem direito à uma remuneração eqüitativa e

satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a

dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de

proteção social.

4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos

e de se filiar em sindicatos para a defesa dos seus interesses.

(...)

Artigo26°

1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita,

pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino

Page 34: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

34 elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado;

o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena

igualdade, em função do seu mérito.

2. A educação deve visar a plena expansão da personalidade humana e

ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve

favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e

todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das

atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. (...)

(...)

Artigo29°

1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é

possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.

2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está

sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a

promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e

a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-

estar numa sociedade democrática.

3. Em caso algum, estes direitos e liberdades poderão ser exercidos

contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Se a humanidade realmente aplicasse os princípios estabelecidos na

Carta Universal com a mesma naturalidade com que respira, tal Declaração

seria infundada pelo mero fato de que estes princípios seriam naturais e

conseqüentes. Porém, a realidade é outra, e os Direitos Humanos necessitam

de uma Declaração que os liste e torne os homens cientes de sua existência. É

fundamental que a consolidação dos Direitos Humanos se dê, primeiramente,

na órbita interna de um Estado, começando pela conscientização de cada

membro da sociedade, especificamente no seio familiar, para então atingir

níveis mundiais de conscientização, por mera consequência. A base se

encontra, pura e simplesmente na educação.

Page 35: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

35 No Direito brasileiro, a conceituação de Direitos Humanos se assemelha

muito à dos direitos e garantias fundamentais protegidos pela Constituição de

1988.

Apesar de deter uma Constituição considerada como um dos

documentos mais democráticos do mundo, percebe-se que o Brasil, depois de

500 anos de descobrimento, carece de cidadania, num fantástico descompasso

em relação à Carta Magna, pois a situação atual dos direitos humanos, em

nosso país, encontra-se ainda em fase de consolidação.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos nunca esteve tão

difundida como princípio universal de respeito à integridade e dignidade

humanas como no momento atual, aonde os princípios fundamentais de

respeito à pessoa humana vêm sendo amplamente defendidos. Infelizmente,

esta difusão não pode ser compreendida como sinônimo de "aplicação", mas

simplesmente como um critério de cogitação para que o indivíduo se

conscientize de que é detentor de direitos e deveres.

Como no resto do mundo a população carcerária no Brasil é formada por

jovens, pobres, homens com baixo nível de escolaridade. Devido à pobreza,

esta população possui pouca influência política, o que faz com que as chances

de obter apoio para colocar fim aos abusos se torne muito pequenas.

A Democracia plena torna todo indivíduo consciente de seus direitos e,

por assim ser, de sua cidadania. É neste sentido que o Brasil caminha, um país

com sede de justiça social e respeito à dignidade e aos direitos humanos.

Ações do Governo e da sociedade devem se unir para acabar com

tantas diferenças sociais e à crescente banalização da morte que se verifica

todos os dias ocorrerem dentro dos presídios do país, nas filas de hospitais

públicos, nas favelas, o assassinato de crianças e adolescentes, a violência no

campo, a prática de trabalho infantil e escravo, o preconceito racial e a

discriminação dos homossexuais, a violência policial contra civis e dentro dos

presídios, com práticas de tortura, a violência dos grupos de extermínio, bem

como a falta de acesso à justiça por parte da maioria da população, vez que

Democracia e injustiça social são termos antagônicos.

Page 36: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

36

3.2 A dignidade e a pena privativa no exercício do direito à

liberdade

A dignidade da pessoa humana expressa no artigo 1o, inciso III da

Constituição da República Federativa do Brasil, é um dos fundamentos do

Estado Democrático de Direito e seu conceito está intimamente relacionado ao

demais direitos desse mesmo diploma legal.

Dignidade é o conjunto de condições favoráveis à vida de uma pessoa.

É o discernimento individual da própria vida, gerando, inevitavelmente, o

respeito da sociedade, que todas as pessoas merecem enquanto seres

humanos.

A opinião de Alexandre de Moraes é que "o princípio fundamental

consagrado pela Constituição Federal da dignidade da pessoa humana

apresenta-se em uma dupla concepção. Primeiramente, prevê um direito

individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado, seja em relação aos

demais indivíduos. Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever

fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes".

Portanto, esses princípios constitucionais expressos traduzem a repulsa

às práticas desumanas, dos poderes públicos ou dos particulares, que

exponham o ser humano, enquanto tal, em posição de desigualdade perante os

demais, desconsidere-o como pessoa, reduzindo-o à condição de objeto, ou

ainda a privá-lo dos meios necessários à sua manutenção.

O rol de direitos individuais do seu art. 5º de nossa Carta Magna trouxe

a lume importantes exigências que o Estado, no desenrolar de sua função

punitiva, há de observar, sob pena de flagrante desrespeito à dignidade da

pessoa humana. Assim sendo, pode-se invocar, no referido dispositivo,

garantias inerentes à vedação em submeter qualquer pessoa a tratamento

desumano ou degradante (inciso III), assegurando-se ao preso o respeito à

integridade física e moral (inciso XLIX).

A pena privativa de liberdade pode ser considerada como uma evolução

no sistema de penas se comparada ao caráter religioso da pena no Oriente

Page 37: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

37 Médio, o Código de Hamurabi (2083 a.C.) ou a Lei de Talião. Sendo que a

primeira significativa evolução observada, ocorreu com a Lei das XII Tábuas,

que entre outras coisas, não permitia a morte sem julgamento, e previa o

recurso penal.

Se uma das funções da pena é prevenir a delinquência e a reincidência

e transformar o condenado em pessoa ajustada às regras da conduta social, a

segregação do homem não é, em si mesma, meio eficiente para incrementar a

prática de condutas reclamadas pela sociedade, pois não se aprende a

conviver, vivendo isoladamente.

O princípio da dignidade é o centro do ordenamento jurídico, já que o

Estado e o Direito são os meios para a concretização da dignidade do homem.

Também limita o poder punitivo estatal em aplicar sanções que atinjam a

dignidade e a condição físico-psíquica do condenado. Assim, é obrigação

imposta ao Estado oferecer adequada infra-estrutura carcerária de meios e

recursos, para que não aconteça a degradação e a dissocialização dos

condenados.

Ao interno de um estabelecimento penitenciário deve ser proporcionado

ambiente adequado, para que, retorne, dignamente, à sociedade. O cárcere,

dentre muitos outros aspectos negativos, embrutece e desumaniza. Em um

Estado Democrático de Direito não é aceitável a criação, a aplicação ou a

execução de pena que atente contra a dignidade humana.

O isolamento temporário da sociedade deve ser realizado de forma que

o condenado seja reeducado de forma sadia, digna, com mínimas condições

de higiene, salubridade, amparo psicológico e social. Esse objetivo é quase

inatingível, dada às condições precárias e desumanas dos cárceres.

A realidade acompanhada por jornais, revistas ou TV demonstra que se

realiza no país um sistema diferente daquele regido pelo pressuposto da

dignidade da pessoa humana.

As penas privativas são uma agressão a qualquer ser humano,

analisando-se as condições em que estão sendo executadas atualmente. O

sistema penitenciário brasileiro está em completo estado de decadência, tendo

Page 38: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

38 em vista os vários fatores negativos que o corroe. A questão em discussão é:

onde está a garantia da dignidade humana no exercício da pena privativa de

liberdade?

3.2.1 - A dignidade do detento

A sociedade encontra-se doente, imersa em estigmas que ela própria

criou, frutos de uma educação falha e depreciativa em certos casos.

Permitimos que o Brasil seja visto como a terra das desigualdades. E a imagem

de que todo bandido merece morrer está intimamente ligada a este estigma

que nós próprios criamos contra nós mesmos. Ao mesmo tempo, por ser

bandido, à luz do preconceito social, o indivíduo perde todos os seus direitos à

dignidade e civilidade. O reflexo deste pensamento se dá, hoje, na horrível

condição pessoal em que se encontram os detentos de nosso país, jogados e

esquecidos "nas masmorras" do desrespeito, esquecendo-se eles próprios de

que são seres humanos. O resultado não poderia ser diferente: ao invés de se

reabilitar, o detido passa a nutrir um ódio cada vez maior pela sociedade que o

colocou ali. Em sua mente, movido pela força natural de seu raciocínio, a

sociedade não lhe deu emprego, educação ou qualquer condição que lhe

garantisse a subsistência. O crime que cometeu foi motivado pela própria

sociedade e ele não o teria praticado se esta mesma sociedade não lhe tivesse

motivado. Os presos precisam de ajuda, de respeito, apoio físico e psíquico

para terem esperança de recuperarem sua moral, a paz de seu espírito e o

reequilíbrio social.

A lei penal e as formas de sua aplicação deveriam atender às exigências

da vida pessoal e social de cada condenado e mesmo daqueles detidos

provisoriamente. Para isso, são necessários critérios para que se alcance o

desenvolvimento social capaz de acabar, de uma vez por todas, com a idéia de

que "preso bom é preso morto", um pensamento de exclusão absoluta destes

indivíduos que lhes nega toda e qualquer forma de dignidade porque hoje se

encontram isolados da sociedade. Não é, simplesmente, isolando estas

pessoas que se garantirá a ordem social, pois um dia, grande parte deles se

Page 39: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

39 reintegrará novamente à comunidade. A questão é reformar os valores ético-

morais de nosso povo, despertando sua consciência para o fato de que

qualquer nação só se faz grande a partir do respeito à dignidade de seus filhos,

sejam eles livres ou detidos em sua liberdade.

Nosso país é profundamente desigual, a começar pela concentração de

renda. Somado a isso, negros, mulatos e pobres não têm oportunidades de

subsistência, partindo para a criminalidade. O resultado, visível por todos nós

neste século é um Brasil injusto, doente e desacreditado. Estes fatos já fazem

parte da tradição brasileira, e hoje ocorre uma espécie de banalidade em

relação às desigualdades, como se o próprio povo estivesse "acostumado" com

aquilo que vê e observa, sem perceber que ele figura, tanto como sujeito ativo

desta situação, como sujeito passivo, vítima futura de sua própria negligência.

E esta tradição impregnou todos os setores da vida brasileira, sendo a mais

notória delas o descumprimento das normas no Brasil. Os presos estão nas

penitenciárias porque descumpriram a lei. Mas esquecemos que algo deve ser

feito com aqueles que, da mesma forma, descumprem a lei que beneficia os

presos a uma vida mais digna e humana.

Não é novidade nenhuma que as condições de detenção e prisão no

sistema carcerário brasileiro violam os direitos humanos, fomentando diversas

situações de rebelião onde, na maioria das vezes, as autoridades agem com

descaso, quando não com excesso de violência contra os presos. A

Constituição Federal prevê, em seu artigo 5° , inciso XLIX, a salvaguarda da

integridade física e moral dos presos, dispositivo raramente respeitado pelo

nosso sistema carcerário.

O sistema penitenciário brasileiro vive uma verdadeira falência gerencial.

A realidade penitenciária é arcaica, os estabelecimentos prisionais, na sua

grande maioria, representam para os reclusos um verdadeiro inferno em vida e

faz com que o preso, com o tempo, perca o sentido de dignidade e honra que

ainda lhes resta, ou seja, em vez do Estado, através do cumprimento da pena,

nortear a sua reintegração ao meio social, dotando o preso de capacidade

ética, profissional e de honra, age de forma contrária, inserindo o condenado

Page 40: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

40 num sistema que para Edmundo Oliveira nada mais é do que: "um aparelho

destruidor de sua personalidade", pelo qual: "não serve o que diz servir;

neutraliza a formação ou o desenvolvimento de valores; estigmatiza o ser

humano; funciona como máquina de reprodução da carreira no crime; introduz

na personalidade e prisionalização da nefasta cultura carcerária; estimula o

processo de despersonalização; legitima o desrespeito aos direitos humanos".

Nota-se assim, que o desrespeito ao preso não atinge apenas os seus direitos,

agridem a sua própria condição de ser humano, rebaixando-os à situação de

animais insignificantes.

Além disso, há que se mencionar a questão dos direitos dos presos. O

preso não só tem deveres a cumprir, mas também é sujeito de direitos, que

devem ser reconhecidos e amparados pelo Estado. O recluso não está fora do

direito, pois se encontra numa relação jurídica em face do Estado, com

reciprocidade de direitos e obrigações, e exceto os direitos perdidos e limitados

à sua condenação, sua condição e integridade humana devem ser respeitados,

ou seja, ao condenado conservam-se todos os direitos reconhecidos ao

cidadão comum pelas leis vigentes.

Neste sentido, já se posicionou Júlio Fabbrini Mirabete:

(...) “A doutrina penitenciária moderna, com acertado critério, proclama a

tese de que o preso, mesmo após a condenação, continua titular de todos os

direitos que não foram atingidos pelo internamento prisional decorrente da

sentença condenatória em que se impôs uma pena privativa de liberdade. Com

a condenação, cria-se especial relação de sujeição que se traduz em complexa

relação jurídica entre o Estado e o condenado em que, ao lado dos direitos

daquele, que constituem os deveres do preso, encontram-se os direitos deste,

a serem respeitados pela Administração. Por estar privado de liberdade, o

preso encontra-se em uma situação especial que condiciona uma limitação dos

direitos previstos na Constituição Federal e nas leis, mas isso não quer dizer

que perde, além da liberdade, sua condição de pessoa humana e a titularidade

dos direitos não atingidos pela condenação”.

Page 41: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

41 O art. 41, da Lei de Execução Penal, enuncia os direitos do preso,

dentre eles podemos mencionar: alimentação suficiente e vestuário; assistência

material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; contato com o

mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros

meios de informação, que não comprometam a moral e os bons costumes. Os

direitos humanos dos presos estão previstos em vários documentos

internacionais e nas Constituições modernas. Porém, do flagrante desrespeito

a tais direitos decorrem inúmeras consequências no meio social. Estudos

realizados com os detentos constataram que a taxa de reincidência tinha

estreita relação com o tratamento que o interno recebe, pois que o índice mais

elevado de retorno ao cárcere foi exatamente dos que sofreram o maior

número de punições.

A pena de prisão determina a perda de liberdade e de igualdade que

derivam da dignidade humana, pois imprescindível é o cumprimento da pena

em regime fechado, mas porem dentro dos limites que preconiza a Lei de

Execuções penais.

Portanto, o Estado necessita de medidas práticas para garantir aos que

estão sob sua custódia, as proteções de seus direitos como cidadãos, como

seres humanos, o respeito à sua integridade física e moral, conforme preceitua

o art. 40 da Lei de Execução Penal.

Há hoje uma consciência maior da importância dos direitos humanos.

Porém, quando estes direitos dizem respeito a presos esbarram no preconceito

de uma sociedade de que os estigmatiza. Senão vejamos os comentários de

César Barros Leal:

“(...) de fato, como falar em respeito à integridade física e moral em

prisões onde convivem pessoas sadias e doentes; onde o lixo e os dejetos

humanos se acumulam a olhos vistos e as fossas abertas, nas ruas e galerias,

exalam um odor insuportável; onde as celas individuais são desprovidas por

vezes de instalações sanitárias; aonde os alojamentos coletivos chegam a

abrigar 30 ou 40 homens; onde permanecem sendo utilizadas, ao arrepio da

Lei 7.210/84, as celas escuras, as de segurança, em que os presos são

Page 42: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

42 recolhidos por longos períodos, sem banho de sol, sem direito a visita; onde a

alimentação e o tratamento médico e odontológico são muito precários e a

violência sexual atinge níveis desassossegantes? Como falar, em integridade

física e moral em prisões onde a oferta de trabalho inexiste ou é absolutamente

insuficiente; onde os presos são obrigados a assumirem a paternidade de

crimes que não cometeram, por imposição dos mais fortes; onde um

condenado cumpre a pena de outrem, por troca de prontuários; onde diretores

determinam o recolhimento na mesma cela de desafetos, sob o falso pretexto

de oferecer-lhes uma chance para tornarem-se amigos, numa atitude assumida

de público e flagrantemente irresponsável e criminosa” ?

É fato que, o modo como está se colocando em prática o

encarceramento é falho e, ainda, é um flagrante desrespeito aos direitos

humanos dos presos. As possibilidades concretas de recuperação e

reintegração social são mínimas, não permitindo que o apenado consiga voltar

a viver em sociedade uma vez que tenha sua pena cumprida.

3.2.2 – O detento se torna egresso: no retorno a procura de sua dignidade

Assistir aos problemas enfrentados pelo homem quando após o

cumprimento de sua pena de prisão retornar à liberdade é o grande desafio da

sociedade moderna. Às vezes, passando os olhos pelos jornais vê-se a noticia

de um ex-detento em livramento condicional que solicitou ao juiz de alguma

Vara de Execução Penal que “o mandasse de volta à prisão alegando que não

tinha dinheiro para comer, pagar o barraco que alugou e que não queria voltar

ao crime”.

Não adianta apenas a luta pela melhoria do sistema prisional brasileiro,

se ao retornar ao convívio da sociedade é rejeitado, estigmatizado, forçado a

delinquir por falta de oportunidades.

A própria Lei de Execuções Penais, em seu artigo 26 define o que é ser

egresso: “o condenado liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da

saída do estabelecimento, como também o liberado condicionalmente, durante

o período de prova”.

Page 43: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

43 Qualificado o libertado, a priori, deveria receber do Estado a assistência

prevista nos artigos 25 e 27 do mesmo diploma legal, com a missão de orienta-

lo, apóia-lo e reintegrá-lo à vida em liberdade, consistindo esta assistência em

alojamento e alimentação durante dois meses, com possibilidade de ser

prorrogado por uma única vez, por declaração do assistente social, o empenho

na obtenção de emprego.

A ausência de políticas públicas somadas ao estigma de ex-detento

forma um quadro pouco promissor, agravado ainda, pelo desinteresse de

grupos econômicos e agentes do governo a fim de serem implementados

recursos e esforços no sentido de garantir ao egresso meios de se

profissionalizar e se capitalizar em termos de conhecimentos para inserir-se no

mercado de trabalho. Isso demonstra mais uma vez o desrespeito à dignidade

humana do ex-detento, que pagou sua dívida perante a justiça e o Estado e

que voltará para a sociedade, com sede de amparo e não o encontrará. Assim

a única saída encontrada para esta pessoa é voltar à vida marginalizada, na

qual, de alguma forma, possa sobreviver e ter o que comer.

Page 44: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

44

CAPÍTULO IV

AS ALTERNATIVAS PARA HUMANIZAR O SISTEMA PENAL

Nos primórdios, as prisões tinham por escopo-mor satisfazer o comum

sentimento de vingança de que todos homens são naturalmente investidos. É a

pena como automática consequência da ação coletivamente condenada. Ao

mal do delito, sobrevinha o mal da pena. Perdurou tal prática por incontáveis

anos, sendo, supervenientemente, superada pelo período marcado pela lei de

Talião. Surgiam os primeiros indícios da preocupação de aferir o dano

causado, a fim de se proporcionar à punição que, inexoravelmente, haveria de

se aplicar. Caracterizado por lutas para impedir a postergação dos direitos

individuais. Apregoavam ser de inquestionável importância a reforma do

sistema penitenciário, um período humanitário.

As colocações de Lombroso, Garófalo e Ferri sobre o estudo do homem

na sua mais substancial natureza, fazem surgir a criminologia e,

irrefutavelmente, a continuação da luta para resguardar os direitos da

integridade física e moral do ser humano.

Inegável é que os direitos e garantias fundamentais estão afixados nas

mais variadas constituições do mundo, inclusive em nossa Lei Magna, sob o

Título II, porém, em verdadeiro descompasso entre a realidade concreta e a

utopia legal. Para se corroborar tal afirmação, suficiente seria uma rápida

passagem aos cárceres de qualquer grande ou média cidade brasileira e,

concomitantemente, aviste-se o que está disposto no art. 5º, XLIX, de nossa

Lei Maior, a saber: "é assegurado aos presos o direito à integridade física e

moral".

Assim, também, está estatuído no mesmo artigo, inciso XLVI da CF/88,

que regula, as seguintes penas: privação de liberdade, perda de bens, multa,

Page 45: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

45 prestação social alternativa e suspensão ou interdição de direitos. Não

obstante isso, a reiterada execução das penas privativa de liberdade

ultrapassa, em muito, a das demais.

Os índices de reincidência criminal posteriormente delimitados revelam

claramente o fracasso e insucesso das penas privativas de liberdade que

trazem efeitos tão profundos e marcantes na vida do detento.

Diante de tal análise, algumas soluções que aqui serão apresentadas

tentam reverter o quadro de desmoralização que se encontra o sistema penal,

enfatizando o respeito à dignidade humana quando da tentativa de humanizá-

lo.

4.1 - A Pena Alternativa

A pena alternativa é mais um instrumento de Direito Penal, com função

de correção para o cidadão que cometeu pequena infração. É uma punição,

que não segue as formas convencionais, mas um novo método com um teor

punitivo-educativo em sua estrutura de aplicação.

Visa estabelecer a distância necessária entre o pequeno e o grande

infrator, evitando existir nesse convívio uma verdadeira escola do crime.

A pena alternativa é, também, um fator importante de redução do

preconceito, já arraigado na sociedade para com os egressos de uma

penitenciária.

"A substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de

direito, não é um favor feito ao réu mas um direito subjetivo do apenado

que não está ao alcance do juiz negar. Preenchidas as exigências, o

benefício se impõe". (CELSO DELMANTO, IN: Código Penal Comentado.

Renovar, 1998. P. 132.)

Restringir os direitos do indivíduo que comete um ato infracional é fazer

com que ele seja punido, mas sem deixar de ser cidadão, contribuindo para

seu próprio progresso. A prisão consiste numa fuga diante ao enfretamento das

Page 46: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

46 questões sociais, responsável pela grande parcela do estado-criminalidade que

impera em meio à sociedade. Assim, a prisão exerce, não se pode negar, forte

influência no fracasso do tratamento do recluso.

A Lei nº 9.714/98 trouxe inovações indo ao encontro da política criminal

moderna que busca cada vez mais a erradicação (ou pelo menos a restrição)

da pena privativa de liberdade, pelos sabidos efeitos deletérios de sua

aplicação, mormente em nosso país. Ampliam consideravelmente os limites

temporais anteriormente estabelecidos para o cumprimento de pena no

cárcere, admitindo a substituição da pena privativa de liberdade de até 4

(quatro) anos de condenação pela aplicação de penas alternativas.

Assim vejamos:

“ART. 43. As penas restritivas de direitos são”:

I - prestação pecuniária;

II - perda de bens e valores;

III - (VETADO);

IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;

V - interdição temporária de direitos;

VI - limitação de fim de semana".

O juiz, reconhecendo estarem presentes todos os requisitos legais, deve

proceder à substituição. Para isso deve observar também os pressupostos

objetivos e subjetivos.

As penas alternativas utilizam-se de um grande sentido humanístico, ao

tentarem reeducar o apenado, fazendo-o viver em sociedade e, principalmente,

quando nela prestam algum serviço social.

O Estado começa a ser mais seletivo no que concerne a quem deve ficar

preso. Garantindo que quem cometeu algum delito seja realmente punido, mas

com justiça e dignidade.

Page 47: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

47

4.2 - Centro de Reintegração Social/APAC

Uma outra alternativa para humanização do sistema prisional é o

trabalho descrito em Nova Lima (MG) por Flavia Vieira de Resende que cito a

seguir, em quase sua íntegra:

“Nova Lima (MG) - Centro de Reintegração Social que se utiliza do

método da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) – uma

espécie de presídio humanista, onde não há polícia, em que os presos -

chamados de recuperandos -, além de passarem por uma rotina intensa de

atividades para a sua recuperação, têm as chaves da porta da rua.

O método foi idealizado em 1972 pelo advogado paulista Mário Ottoboni,

como uma extensão do trabalho da pastoral carcerária, com o objetivo de

amenizar constantes rebeliões na cadeia pública de São José dos Campos, em

São Paulo. Em 1974, a associação ganhou personalidade jurídica e hoje é uma

entidade de direito privado, que trabalha em parceria com o Poder Judiciário.

A Apac tem por objetivo a valorização do preso, oferecendo condições

de recuperação através da participação da sociedade, que ganha com a menor

reincidência de crimes. O método encontrou maior acolhida na cidade de

Itaúna, Minas Gerais, onde foi instalado o primeiro centro em resposta às

constantes rebeliões de presos.

A idéia é fortemente estimulada pelo Tribunal de Justiça de Minas

Gerais, através do Projeto Novos Rumos, para a Execução Penal, que teve

início em 2001 e cujo objetivo é fomentar a instalação do método APAC como

alternativa de humanização do sistema prisional no estado.

Hoje são cerca de 50 entidades que se utilizam do método Apac em

Minas Gerais, algumas dispondo de um prédio próprio, como no caso de Nova

Lima e Itaúna, outras, se utilizando do método dentro dos presídios comuns.

No Brasil, temos perto de 100 Apacs. Outros 19 países já implantaram o

método, entre eles, Estados Unidos, Argentina, Peru, Chile, Noruega, Austrália,

Alemanha, Inglaterra, Coréia do Sul, Cingapura, entre outros”.(...)

Page 48: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

48

4.3 - Justiça Restaurativa

Outro movimento que parece estar tomando novo fôlego é o da Justiça

Restaurativa, já que a restauração é um processo que existiu nas mais antigas

sociedades e ainda vigente em diversos sistemas sociais e comunidades.

Podendo-se extrair em Ramirez (apud SALIBA, 2009, pág 145) o

seguinte conceito: “[...] se trata de uma variedad de prácticas que buscan

responder al crimen de um modo más constructivo que las respuestas dadas

por el sistema punitivo tradicional, sea el retributivo, sea el rehabilitativo. Aun a

riesgo de um exceso de simplificación, podría decirse que la filosofia de este

modelo se resume em la três ‘R’: Responsability, Restoration and

Reintegrations (responsabilidad, restauración y reintegración).

Responsabilidad del autor , desde que cada uno debe responder por las

conductas que asumen libremente; restauarción de la víctima, que debe ser

reparada, y de este modo salir de su posición de víctima; reintegración del

infractor, restableciéndose los vínculos con la sociedad a la que también se há

dañado con el ilícito.”

“Fazer justiça” do ponto de vista restaurativo significa resposta

sistemática às infrações e a suas consequências, enfatizando a cura das

feridas sofridas pela sensibilidade, pela dignidade ou reputação, destacando a

dor, a mágoa, o dano, a ofensa, o agravo causado pelo malfeito, contando para

isso com a participação de todos os envolvidos (vítima, infrator, comunidade)

na resolução dos problemas (conflitos) criados por determinados incidentes.

Práticas de justiça com objetivos restaurativos identificam os males infligidos e

influem na sua reparação, envolvendo as pessoas e transformando suas

atitudes e perspectivas em relação convencional com sistema de Justiça, de

acordo com os seguintes princípios:

1) Fazer justiça significa acima de tudo trabalhar para restaurar,

reconstituir, reconstruir;

2) Todos os envolvidos e afetados por um crime ou infração devem ter,

se quiserem, a oportunidade de participar do processo restaurativo;

Page 49: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

49 3) O papel do poder público é preservar a ordem social, assim como à

comunidade cabe a construção e manutenção de uma ordem social justa.

De um modo geral, as iniciativas com intenção restaurativa são

implementadas segundo determinados padrões, que ajudam a configurar

práticas caracteristicamente restaurativas:

Encontro

O modo restaurativo de fazer justiça outorga grande valor ao fato de

vítima e infrator se encontrarem pessoalmente, na presença de um supervisor

ou agente facilitador – quando isso não é possível, pode-se promover

aproximação por meio de carta, fita gravada, mensagens entregues por um

portador.

No encontro restaurativo o que entra em cena é a subjetividade, o

interlocutor integral, a emoção favorecida pelo relato e que resulta da própria

infração – todos esses são fatores que os procedimentos da Justiça formal,

impessoal e racional geralmente reprime, descartando o poder curativo da

emoção e da subjetividade.

Outro elemento do encontro é o entendimento, surgido de uma certa

empatia, de sentir-se na pele do outro, que, se não faz o interlocutor encarar o

outro de um modo positivo, pelo menos leva a considerá-lo de um ângulo mais

“natural”, algo mais de acordo com a ordem das coisas, menos traumatizante.

O derradeiro fator é precisamente o acordo, que estabelece uma base

produtiva para o que virá depois do encontro, dependendo do ponto de vista

das partes, das circunstâncias e da vontade de cada um, da convergência de

seus interesses e de suas decisões, e não simplesmente da perspectiva dos

autos de um processo fundado apenas no contraditório.

Reparação

Os próprios responsáveis devem sempre que possível reparar o malfeito,

assumir sua parcela e demonstrá-lo por meio de desculpas, mudança de

comportamento, restituição, e generosidade – quatro elementos da reparação,

cada qual com grande potencial benéfico para a vítima e para o infrator (este,

Page 50: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

50 em particular, podendo então se tornar, pela primeira vez, uma peça proveitosa

da sociedade). Por isso, não é demais enfatizar que a reparação deve ser

decidida pelos próprios infrator e vítima, e não por terceiros, juiz, júri ou

sociedade.

Reintegração

Infrações não resultam somente em prejuízo material. Crimes, em particular,

depõem contra o infrator, mas também contra a vítima – infrações a

estigmatizam tanto quanto ao infrator, e clamam por reintegração, viabilizada

pela via do respeito, da consideração, da assistência material, da moral e de

orientação espiritual. Para reintegrar-se vítimas e infratores carecem do

respeito de suas famílias e comunidades, do compromisso de todos, bem como

de intolerância – e compreensão – em relação ao comportamento negativo que

originou problemas. Reintegração se obtém através de apoio, no seio de

estruturas que cultivam amizade, ajuda material, orientação moral e espiritual,

e oferecem a vítimas e infratores amplas oportunidades de deixar o reino das

sombras e voltar ao seu próprio meio como membros válidos, de quem todos

podem esperar colaboração.

Inclusão

Do ponto de vista restaurativo, porém, inclusão denota um convite às

partes, extensivo a todos os envolvidos, na expectativa de que a participação

contemple a totalidade dos interesses, levando em conta as diferentes

perspectivas, acatando sugestões e tentando novas abordagens, visando a

plena solução do conflito.

Pode-se entender melhor as diferenças entre a Justiça Restaurativa e a

Justiça Retributiva e Distributiva ao consultar o quadro comparativo presente

no Anexo I deste trabalho.

Page 51: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

51

CONCLUSÃO

A sociedade tem suas formas de estabelecer o controle social sobre o

homem ditando regras que atendam à conveniência social.

Quando o indivíduo foge aos parâmetros pré-determinados e pratica o

ilícito, utiliza-se o direito como forma de coerção social, em caráter excepcional

e subsidiário, criminalizando as condutas que não foram reprimidas pelas

formas comuns de controle social, entre elas, os pais, a escola e a família.

Reprime-se a prática do delito, sendo a pena o meio de atingi-la. O

Estado só deve intervir com a sanção jurídico-penal quando não existam outros

remédios jurídicos.

Nos dias atuais, a crise enfrentada pelo Direito Penal é a da pena

privativa de liberdade, pois não se questionam os efeitos desumanos que a

prisão ocasiona nos termos em que é aplicada e nem mesmo se cumpre algum

ideal reformador.

O Direito Penitenciário, através da Lei de Execução Penal, é um

conjunto de normas jurídicas que disciplinam o tratamento dos sentenciados,

com finalidade correcional buscando reeducar e reintegrar o detento na

sociedade.

Estabelecimentos destinados a guardar os indivíduos privados de sua

liberdade foram criados para que fosse cumprida a pena em um sistema

progressivo, de forma a humanizá-la e incentivar o condenado a reabilitar-se

por seus méritos.

Entretanto, a prisão em si é uma violência amparada pela lei. O

desrespeito aos direitos dos presos é uma violência contra a lei.

O detento não está fora do direito, pois apesar de sua condenação,

ainda existe uma relação jurídica com o Estado. O artigo 38 da LEP observa

que “o preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade

Page 52: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

52 impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral”,

bem como o artigo 41 quando enuncia os direitos do preso.

A Lei de Execução Penal é eficiente, porém a realidade penitenciária

não está em conformidade com o aludido diploma legal.

Realidade que é desumana e seletiva na medida que atinge as camadas

mais frágeis da população que tem como característica a pobreza, desnutrição,

inteligência limitada e preferencialmente seja negro ou mulato.

Como passado na lição Zaffaroni:

(...) enquanto os direitos humanos assinalam um programa realizador de

igualdade de direitos de longo alcance, os sistemas penais são instrumentos de

consagração ou cristalização da desigualdade de direitos em todas as

sociedades. (ZAFFARONI, 1991, p. 149).

A sociedade deixa se influenciar facilmente pelas imagens vendidas pela

mídia passando a idéia de que as leis penais brasileiras são brandas, que

favorecem os bandidos. O que se tem então é uma opinião pública a favor do

endurecimento das leis, por fazer parte de uma sociedade insegura e

amedrontada.

Com essa atitude gera-se um custo social negativo contra os

encarcerados que passam a ser vítimas da sociedade que, a cada dia,

marginaliza e exclui esta população de todas as oportunidades de uma vida

digna.

Caminha-se na contramão, ao invés de investir em ações por um

movimento reformador e transformador do sistema penal brasileiro.

A Constituição brasileira é considerada como um dos documentos mais

democráticos do mundo, apesar disso a situação atual dos direitos humanos,

em nosso país, encontra-se ainda em fase de consolidação.

A dignidade da pessoa humana expressa no artigo 1o, inciso III da

Constituição da República Federativa do Brasil, é um dos fundamentos do

Estado Democrático de Direito e seu conceito está intimamente relacionado ao

demais direitos desse mesmo diploma legal.

Page 53: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

53 Portanto, os princípios constitucionais ali expressos traduzem a repulsa

às práticas desumanas, dos poderes públicos ou dos particulares, que

exponham o ser humano, enquanto tal, em posição de desigualdade perante os

demais, desconsidere-o como pessoa, reduzindo-o à condição de objeto, ou

ainda a privá-lo dos meios necessários à sua manutenção.

Ao interno de um estabelecimento penitenciário deve ser proporcionado

ambiente adequado, para que, retorne, dignamente, à sociedade. O cárcere,

dentre muitos outros aspectos negativos, embrutece e desumaniza. Em um

Estado Democrático de Direito não é aceitável a criação, a aplicação ou a

execução de pena que atente contra a dignidade humana.

As penas privativas são uma agressão a qualquer ser humano,

analisando-se as condições em que estão sendo executadas atualmente.

Como foi dito o sistema penitenciário brasileiro está em completo estado

de decadência, tendo em vista os vários fatores negativos que ali se

apresentam. Como garantir a dignidade humana no exercício da pena privativa

de liberdade?

As prisões são, como exposto, cenários de constantes violações dos

Direitos Humanos. Os principais problemas enfrentados são: superlotação,

deterioração da infra-estrutura carcerária que incide na alimentação, vestuário,

falta de assistências médica jurídica e social, a corrupção e violência dos

próprios policiais e agentes carcerários, rebeliões, a falta de segurança e

pessoal capacitado, demonstrado que o Brasil está desrespeitando os direitos

humanos nas penitenciárias, aniquilando qualquer possibilidade recuperação

dos detentos.

Não é, simplesmente, isolando estas pessoas que se garantirá a ordem

social, pois um dia, grande parte deles se reintegrará novamente à

comunidade. Como ilustrado por Edmundo Oliveira este sistema nada mais é

do que: "um aparelho destruidor de sua personalidade, (...) funciona como uma

máquina de reprodução da carreira no crime; introduz na personalidade e

prisionalização da nefasta cultura carcerária; estimula o processo de

despersonalização; legitima o desrespeito aos direitos humanos".

Page 54: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

54 É fato que, o modo como está se colocando em prática o

encarceramento é falho e, ainda, é um flagrante desrespeito aos direitos

humanos dos presos. As possibilidades concretas de recuperação e

reintegração social são mínimas, não permitindo que o apenado consiga voltar

a viver em sociedade uma vez que tenha sua pena cumprida.

Vale ressaltar o preconceito que existe quando se trata de um ex-

presidiário. O egresso de um sistema penitenciário tem um choque de

liberdade ao se ver perante aquela sociedade que ele não reconhece mais e

que não o reconhece como um cidadão que já pagou sua dívida após o

cumprimento de sua sentença. Perde chances perante o mercado de trabalho

ao pedir uma oportunidade de emprego.

A ausência de políticas públicas somadas ao estigma de ex-detento

forma um quadro pouco promissor, agravado ainda, pelo desinteresse de

grupos econômicos e agentes do governo a fim de serem implementados

recursos e esforços no sentido de garantir ao egresso meios de se

profissionalizar e se capitalizar em termos de conhecimentos para inserir-se no

mercado de trabalho, apesar de também terem o amparo da lei (LEP artigos

25/27). Isso demonstra mais uma vez o desrespeito à dignidade humana do

agora ex-detento.

É preciso evoluir, com a valorização dos direitos humanos e concluir que

cárcere muitas vezes torna-se uma punição desumana sem nenhum proveito

para o encarcerado, tampouco para a sociedade.

Mas nem tudo está perdido, pois existem tentativas reais de reverter o

quadro desfavorável em que se encontra o sistema penal e assim conferir

dignidade no cumprimento da pena. É impossível pretender recuperar alguém

para a vida em liberdade em condições de não-liberdade. Com efeito, os

resultados obtidos com a aplicação da pena privativa de liberdade são, sob

todos os aspectos, desalentadores.

A primeira delas é aquela que fez surgir uma nova visão que leva em

conta não só a punição do indivíduo, mas também a sua reeducação e

readaptação à sociedade através da pena alternativa.

Page 55: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

55 Outra tentativa de humanizar o sistema penal é a Justiça Restaurativa

que representa também uma promessa de mudança no sistema de justiça, de

início visando apenas determinadas ordens de conflitos. Projetos de natureza

restaurativa contribuem de modo sistemático para reparar e reconstruir

relacionamentos; engendram mudanças no sistema de justiça, tornando-o mais

efetivo e adequado na redução do temor de crime ou de insegurança, de

violência, desordem, criminalidade e seus custos econômicos e sociais, bem

como as tentativas isoladas tal qual a apresentada em Nova Lima/MG (pág.47).

Além dessas nobres iniciativas, o melhor a fazer para se evitar tudo isso

é garantir que todo ser humano tenha oportunidade de estudo e trabalho, que

se resume ao respeito a seus direitos fundamentais, previstos em Lei, para que

possa ter plena condição de trilhar seu caminho, para que amanhã não seja

mais um a fazer parte desta triste realidade.

Page 56: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

56

ANEXOS

Índice de anexos Anexo 1 >> Quadros comparativos que mostram algumas diferenças básicas entre Justiça Restaurativa e Justiça Retributiva, para melhor visualização dos valores, procedimentos e resultados dos dois modelos e os efeitos que cada um deles projeta para a vítima, para o infrator e para a comunidade.

Page 57: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

57

ANEXO 1

QUADROS COMPARATIVOS

Modelos de Justiça: mensagens

JUSTIÇA Retributiva Distributiva Restaurativa

SANÇÃO Pena Tratamento Compromisso

INFRATOR

Você é um sujeito

mal-intencionado,

que preferiu

cometer uma

infração. Será

punido na

proporção do

crime que

cometeu

Você é um

coitado, pessoa

problemática que

não tem toda a

culpa pelo que

fez. Vamos cuidar

de você, para o

seu próprio bem

O que fez tem

consequências,

pois prejudicou

outras pessoas e

a comunidade.

Você é

responsável e

capaz de reparar

o que fez

VÍTIMA

Ao fazer justiça

punimos o infrator

e beneficiamos

também a vítima

As necessidades

do infrator são a

nossa maior

preocupação

A vítima precisa

fazer o possível

para que o infrator

repare o dano que

causou

COMUNIDADE

Intimidar é a

melhor forma de

obrigar o infrator a

entender que seu

ato é

inadmissível, e de

controlar o seu

comportamento

O infrator deve,

na medida do

possível, ser

reabilitado.

Vamos deixar

tudo nas mãos de

especialistas

A comunidade,

deve contribuir

para que o

compromisso

entre vítima e

infrator seja

cumprido

Page 58: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

58 Modelos de Justiça: pressupostos

Justiça Retributiva Justiça Restaurativa

Crime: noção abstrata, infração à lei, ato contra o Estado.

Crime: ato contra pessoas, grupos e comunidades.

Controle: Justiça penal Controle: Justiça penal e comunidade

Compromisso do infrator: pagar multa ou cumprir pena

Compromisso do infrator: assume responsabilidades e faz algo para compensar o dano

Crime: ato e responsabilidade exclusivamente individuais

Crime: ato e responsabilidade com dimensões individuais e sociais

Pena eficaz: a ameaça de castigo altera condutas e coíbe a criminalidade.

Castigo somente não muda condutas, além de prejudicar a harmonia social e a qualidade dos relacionamentos.

Vítima: elemento periférico no processo legal:

Vítima: vital para o encaminhamento do processo judicial e a solução de conflitos

Infrator: definido em termos de suas deficiências

Infrator definido por sua capacidade de reparar danos

Preocupação principal: estabelecer culpa por eventos passados (Você fez ou não fez?)

Preocupação principal: resolver o conflito, enfatizando deveres e obrigações futuras. (Que precisa ser feito agora?)

Ênfase: relações formais, adversativas, adjudicatórias e dispositivas

Ênfase: diálogo e negociação

Impor sofrimento para punir e coibir Restituir para compensar as partes e reconciliar

Comunidade: marginalizada, representada pelo Estado.

Comunidade: viabiliza o processo restaurativo

Page 59: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

59

BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO JÚNIOR, João Marcelo de(org). Sistema penal para o

terceiro milênio. Rio de Janeiro: Revan, 1991.

BARATTA, Alessandro. Principios del derecho penal mínimo (Para una

teoría de los derechos humanos como objeto y limite de la ley penal). Doctrina

penal. Buenos Aires, ano 10, p. 623-650, 1987.

________. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à

sociologia do direito penal. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. 2. ed. Rio de

Janeiro: Freitas Bastos, 1999, 254 p.

BARREIROS, Yvana Savedra de Andrade. A ilegitimidade de pena

privativa de liberdade à luz dos fins teóricos da pena no sistema jurídico

brasileiro. Disponível em

http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11332. Acesso em 22 fev

2010.

__________ A reincidência no sistema jurídico. Disponível em

http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10673. Acesso em 22 fev

2010.

BARROS, Carmen Silva de Araújo. A individualização da pena na

execução penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin

Claret, 2002.

BIANCHINI, Alice. Pressupostos materiais mínimos da tutela penal.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão – causas e

alternativas. São Paulo: Saraiva, 2001.

Page 60: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

60 BRASIL, Código Penal. Organização dos textos, notas remissivas e

índices por Luiz Flávio Gomes. 11.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos

humanos. São Paulo: Saraiva, 1999.

______ Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Disponível em http://senado.gov.br/sf/legislação/const. Acesso em 19 out 2009

______. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em

http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/index.html. Acesso em 30 set 2009.

DELMANTO, Celso; DELMANTO, Roberto, DELMANTO JÚNIOR,

Roberto. Código penal comentado. 3. ed., Rio de Janeiro: Renovar, 1998.

FARIAS, Aureci Gonzaga. A polícia e o ideal da sociedade. Campina

Grande: EDUEP, 2003.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos

Fundamentais. 2a edição, São Paulo: Saraiva, 1998.

FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal. 16. ed., Rio de

Janeiro: Forense, 2003.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões.

28. ed., Petrópolis: Vozes, 2004.

KANT, Immanuel. Doutrina do direito. 2.ed, São Paulo: Ícone, 1993.

KARAM, Maria Lúcia. O processo de democratização do Estado e o

poder judiciário. Discursos Sediciosos. Crime, direito e sociedade. Rio de

Janeiro, ano 7, n. 12, p. 139-162, 2º semestre de 2002.

______ Lei 7210/84 – LEP. Disponível em http://senado.gov.br/sf.

Acesso em 19 out 2009

MIRABETE, Julio Fabbrini. Código penal interpretado. São Paulo:

Atlas, 2002.

______. Manual de direito penal. São Paulo: Atlas, 2002.

Page 61: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

61 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria

geral, comentários aos art. 1o a 5o da Constituição da República

Federativa do Brasil. V. 3, São Paulo: Atlas, 1998.

OLIVEIRA, Edmundo. Política criminal e alternativas à prisão. Rio de

Janeiro: Forense, 2001.

OTTOBONI, Mário. Ninguém é irrecuperável. 2º ed. ver. e atual. São

Paulo: Cidade Nova, 2001.

OTTOBONI, Mário. Vamos matar o criminoso?. 2º ed. São Paulo:

Paulinias, 2001.

REALE JÚNIOR, Miguel. Instituições de direito penal. Rio de Janeiro:

Forense, 2003.

SALIBA, Marcelo Gonçalves. Justiça Restaurativa e Paradigma

Punitivo. Juruá: Curitiba, 2009.

SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Forense: Rio de Janeiro,

2003.

SILVA, Marco Antonio Marques de. Acesso a justiça penal e estado

democrático de direito. São Paulo: Juarez de Oliveira,2001.

THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. Rio de Janeiro:

Forense, 2002.

YACOBUCCI, Guillermo J. La deslegitimación de la potestad penal.

Buenos Aires: Ábaco, 2000. 261 p.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas. 5. ed., Rio

de Janeiro: Revan, 2003.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de

direito penal brasileiro. 4. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

Page 62: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

62

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 11

O DIREITO E A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE 11

1.1 - Direito penal: a coerção social é institucionalizada 11

1.1.2 - Sanção penal: a pena privativa de liberdade 12

1.1.3 - Finalidade e significado da pena 13

1.1.4 - A pena como prevenção 14

1.2 - O Direito Penitenciário e a evolução da pena de prisão 15

1.2.1 – Conceito 16

1.2.2 – A pena de prisão no Brasil 17

1.2.3 - Os estabelecimentos penais brasileiros 17

CAPITULO II 19

A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL NO BRASIL 19

2 - A crise no sistema penitenciário brasileiro 19

2.1 - Identificando suas deficiências 20

2.2 – Reconhecendo a seletividade do sistema penal 28

2.3 - A questão penitenciária e a visão da sociedade 29

Page 63: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

63 CAPÍTULO III 31

DIREITOS HUMANOS NO BRASIL: O DESRESPEITO À DIGNIDADE

HUMANA 31

3.1 - Declaração Universal dos Direitos Humanos 31

3.2 A dignidade e a pena privativa no exercício do direito à

liberdade 36

3.2.1 - A dignidade do detento 38

3.2.2 – O detento se torna egresso: no retorno a procura

de sua dignidade 42

CAPÍTULO IV 44

AS ALTERNATIVAS PARA HUMANIZAR O SISTEMA PENAL 44

4.1 - A Pena Alternativa 45

4.2 - Centro de Reintegração Social/APAC 47

4.3 - Justiça Restaurativa 48

CONCLUSÃO 51

ANEXOS 56

BIBLIOGRAFIA 59

ÍNDICE 62

FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

Page 64: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · subsidiário, de modo fragmentário, criminalizando condutas que não puderam ser reprimidas pelas formas comuns de controle

64

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: Sistema penal brasileiro: os encarcerados e a

indignidade humana

Autor(a): Grace Christina Alves Conceição

Data da entrega: 23 de fevereiro de 2010

Avaliado por: Prof. Dr. Francis Rajzman Conceito: