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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O JOGO NÃO É BRINCADEIRA. Por : Adriana Lúcia de Oliveira Soares Orientadora Profª Mestra Fabiane Muniz NITERÓI 2009

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O JOGO NÃO É BRINCADEIRA.

Por : Adriana Lúcia de Oliveira Soares

Orientadora

Profª Mestra Fabiane Muniz

NITERÓI 2009

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O JOGO NÃO É BRINCADEIRA

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Psico-

motricidade.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, fonte de minha existência.

À minha mãe que muito lutou para que eu tivesse uma boa educação.

Ao meu marido pela compreensão e incentivo que recebi ao longo deste

trabalho.

Aos meus amigos, Juliana, Lailla e Fabrício pelo apoio nos momentos

difíceis.

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Dedico esta monografia a Aloízio,

meu marido, ao meu filho Davi.

Razão de minha vida e fonte de

minha maior alegria.

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RESUMO

Na busca de uma atuação que engaje os conhecimentos alcançados a

partir da Psicomotricidade e da Educação Física, encontram-se uma das mais

importantes manifestações infantis, os jogos. O jogo é uma invenção do homem,

uma ação que surge de uma intencionalidade e curiosidade de quem joga.

Especialmente os denominados jogos populares ou tradicionais que são séries de

atividades motivadoras capazes de produzir estímulos adequados nas crianças

que os praticam. O jogo contribui assim, para o bom desenvolvimento integral da

criança. Esses benefícios abrangem o ser em sua totalidade através da educação

pelo movimento que torna a aula de educação física como instrumento de

desenvolvimento de aspectos sociais, afetivos, cognitivos e motores da criança. A

Psicomotricidade grande aliada da Educação Física, se interatuam de forma

integrada ao centro da vida emocional e efetiva do ser humano. Procura

harmonizar o comportamento humano sob o enfoque do movimento e da

linguagem. Deve-se partir da idéia de que o mundo é explorado pelo indivíduo

através de seu corpo. Aos poucos ele vai interagindo com diferentes símbolos e

decifrando-os a seu modo dentro das suas possibilidades. Quanto mais ela joga,

interage com o outro ela vai se descobrindo se desenvolvendo harmoniosamente.

São nas aulas de Educação Física onde acontece a interação de criança para

criança com os jogos infantis. O objetivo deste trabalho não propor atividades

mas, ressaltar os benefícios que os jogos infantis proporcionam as crianças do

primeiro seguimento do ensino fundamental.

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METODOLOGIA

Este trabalho é uma pesquisa bibliográfica que reúne o pensamento de

diversos autores expresso em obras impressas em livros, e periódicos, visando

contribuir para o avanço do conhecimento científico sobre o tema de Jogos infantis

limitando-se entretanto aos trabalhos realizados com crianças do primeiro

segmento do ensino fundamental.

Os principais teóricos abordados neste trabalho foram Kishimoto, Jean Le

Bouche e João Batista Freire. Diversos outros trabalhos foram também estudados

e citados, na pesquisa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................... 8

CAPÍTULO I – O jogo Infantil

1.1 Concepções sobre o jogo. ......................................................9 1.2 Características dos jogos infantis...........................................13 1.3 Psicomotricidade e jogos infantis...........................................16 1.4 Os jogos infantis no âmbito escolar e a ludicidade................20

CAPÍTULO II – As dimensões culturais dos jogos infantis. 2.1 Brincadeira Tradicional Infantil...............................................24 CAPÍTULO III - Os benefícios dos jogos infantis 3.1 Os Benefícios dos Jogos Infantis...........................................28 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................35

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.........................................................39

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho, é discutir sobre os benefícios que os jogos

infantis, nas aulas de Educação Física, promovem em crianças do primeiro

segmento do ensino fundamental.

No primeiro capítulo irá discutir a cerca da palavra jogo e seus vários

significados e suas características. Observaremos os vários sentidos que o jogo

pode apresentar.

Será ressaltado a importância Psicomotricidade, como grande aliada para

compreensão do desenvolvimento infantil. Através da concepção piagetiana de

jogo que não envolve necessariamente a competição. A prática lúdica é

identificada como elemento importante no desenvolvimento harmonioso da

criança, englobando seu eu, o mundo dos objetos e o mundo de outras pessoas.

O jogo é designado como uma das atividades presentes ao longo do

crescimento e desenvolvimento da criança.

A dimensão cultural dos jogos infantis, é outro fator de grande importância

que será abordado no capítulo dois. A brincadeira tradicional infantil, filiada ao

folclore infantil é formada por manifestações, bem como as influências de outras

culturas.

O capítulo três, destina-se discutir sobre os benefícios que os jogos infantis,

nas aulas de Educação Física, promovem em crianças do primeiro segmento do

ensino fundamental. Tais benefícios serão ressaltados fundamentando-se na

Psicomotricidade, na visão da interação de que corpo e mente não podem ser

vistos separadamente. Não é o objetivo deste trabalho apresentar as atividades

que propiciam tais benefícios mas apresentar os benefícios fundamentando-se em

grandes autores sobre o tema.

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CAPÍTULO I

O Jogo Infantil

Ao falar sobre jogos infantis, é despertado nas pessoas o imaginário, a

memória o saudosismo dos tempos de criança. É voltar atrás e recordar o tempo

de criança que brincava alegre e espontaneamente com outras crianças. Neste

capítulo discutiremos sobre os vários significados da palavra jogo, suas

características sob a ótica de diversos autores e a interação dos jogos com a

Psicomotricidade, a ludicidade e o jogo no âmbito escolar.

1.1 Concepções sobre jogo.

A palavra jogo é um termo impreciso, com contornos vagos e assume

vários significados. Definir o que é jogo, é uma tarefa difícil dada aos vários pontos

de discussão sobre a concepção do termo. Essa confusão existe porque as

pessoas se referem à relação entre jogo e competição.

A competição possui todas as características formais do jogo. É

estabelecida pela relação entre o jogo e a cultura, em uma atividade ordenada de

um ou dois grupos opostos.

O objetivo da competição, é o prazer, a satisfação de jogar, e

principalmente a vitória.

Em outras línguas existem palavras diferentes para designar o termo jogo e

competição. Já em nossa língua, segundo Freire, as definições pouco diferenciam

os termos brinquedo brincadeira e jogo. Estes termos significam a mesma coisa,

sendo que o jogo implica na existência de regras e de ganhadores e perdedores

em sua prática.

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Segundo Hurizinga (2001), em seu trabalho propõe uma definição para jogo

que abrange tanto as manifestações competitivas como as demais:

“O jogo é uma atividade de ocupação voluntária, exercida

dentro de certos e determinados limites de tempo e de

espaço, segundo regras livremente consentidas, mas

absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo,

acompanhado de um sentido de tensão e de alegria e de

uma consciência de ser diferente da vida cotidiana.” (p 33)

Para ele o jogo possui ritmo e harmonia, sendo uma função da vida que

provoca prazer. Ao definir sua essência, Huizinga (idem) assevera que a

característica principal do jogo é o divertimento, a fascinante capacidade que ele

tem de exercitar, de promover tensão, e a alegria como sua função social.

De acordo com Freud apud Santa Rosa (1993,) “o que faz oposição ao jogo

não é a seriedade, mas sim a realidade efetiva.”(p.83). O jogo se torna a força

pulsional a transformação simbólica, uma atividade extremamente séria.

O mundo do jogo é vivido real e imaginariamente, e a relação existente

entre o sujeito e o jogo sinaliza dois pontos importantes. O primeiro é o jogo como

uma imagem constituída a partir de um conjunto de símbolos presentes na cultura,

e o segundo ponto importante é a relação de sujeito com o jogo, pressupondo uma

trilha imaginária. Deve-se partir da idéia de que o mundo é explorado pelo

indivíduo através do seu corpo. Aos pouco ele vai interagindo com os diferentes

símbolos e decifrando-os a seu modo dentro das suas possibilidades.

Pode-se dizer, que os jogos embora recebam a mesma denominação, têm

suas especificidades.

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Caillois citado por Leif e Brunelle (1978) propôs uma classificação em qua-

tro categorias:

• Jogos de competição;

• Jogos de acaso;

• Jogos de simulacro ou disfarces;

• Jogos de vertigem;

Tal classificação leva em consideração outros aspectos como:

• Grau de liberdade que o envolve;

• Espaço físico de tempo delimitado;

• Regras estabelecidas;

• Improdutividade, uma vez que não gera riquezas diretas ou bens;

• Incerteza no seu desdobramento;

• Fuga a vida cotidiana tomando um aspecto fictício.

É nesse espaço isolado do ambiente cotidiano, onde as regras têm sua

validade, que o jogo espontâneo torna-se uma atividade extremamente séria, e o

jogador entrega-se a ele de corpo e alma.

Há autores, como I. Marinho que defende teorias a cerca do tema que

podem ser consideradas principais pelo seu constante emprego na

fundamentação de estudos, projetos e outros trabalhos. Dessa forma ele

apresenta o jogo como:

Teoria do descanso ou do recreio: O jogo é entendido como forma de

recreio, onde o descanso do organismo e do espírito fatigados é a justificativa.

Teoria do excesso de energia: Baseia-se no princípio que a criança possui

excesso de vitalidade e por tanto suas energias não consumidas em outros

afazeres seriam canalizadas para a prática do jogo.

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Teoria do exercício preparatório: Ela procura explicar o jogo como forma de

preparação da criança para a vida adulta. São as experiências vivenciadas através

dos jogos infantis que se refletiriam na formação do adulto no futuro. Dessa forma

o jogo infantil está relacionado com o processo de maturação.

Seguindo o enfoque da teoria do exercício preparatório Makarenko (1981)

cita: “Para educar o futuro homem de ação não se deve eliminar o jogo, mas

organizá-lo de tal forma que, sem desvirtuar seu caráter, contribua para formar as

qualidades do trabalhador e cidadão do futuro” ( p. 48)

Teoria do atavismo: Estabelece relação entre períodos de evolução

histórica da humanidade e as características do jogos na seqüência das faixas

etárias.

Teoria da transfiguração: Segundo seu autor, I Marinho, cada ser humano

possui dentro de si, em estado latente, o instinto de transfiguração, que se

caracteriza pela necessidade de vivenciar outros papéis. Os mecanismos

psíquicos presentes, por exemplo, quando a criança brinca de casinha que

interiormente estaria pretendendo vivenciar o papel do adulto na relação homem /

mulher, seriam os mesmos mecanismos que transportam a criança, ao ler ou

escutar uma estória, para o contexto da mesma, colocando-se lado a lado com os

personagens.

Ao refletir sobre tais teorias Mello, Alexandre verificou que em praticamente

todas há fundamentos com os quais se pode concordar, além do que elas

parecem completar-se entre si.

Kishimoto (2002) em seu amplo estudo sobre jogo infantis, aponta três

sentidos de diferenciação para o termo jogo. São eles: O primeiro diz respeito a

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um resultado de um sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto social.

O segundo diz respeito a um sistema regras e o terceiro a um objeto.

No primeiro sentido quer dizer que mesmo jogo pode ter nomes diferentes

dependendo do lugar. Ou seja, depende da linguagem de cada contexto social do

qual resulta um conjunto de fatos ou atitudes que dão significado aos vocábulos.

Dessa forma, o jogo assume a imagem, o sentido, que cada sociedade lhe

atribui, em quanto fato social. Dependendo da época e do lugar os jogos assumem

significados distintos. Cada contexto social vai construindo uma imagem de jogo

conforme seus valores, modo de vida, que se expressa por meio da linguagem.

No segundo sentido quer dizer, que as regras representam uma estrutura

seqüencial que específica sua modalidade. Estas estruturas seqüências permitem

diferenciar cada jogo.

No terceiro e último sentido se refere ao jogo enquanto objeto.

Enfim esses sentidos sobre o jogo, permitem a compreensão de jogo

diferenciando significados atribuídos por culturas diferentes e objetos que o

caracterizam.

Tal objeto também chamado de brinquedo assume então o caráter de

objeto e jogo em si mesmo

1.2 Características dos jogos infantis.

No estudo de Christie, James (1991) a autora aborda características do

jogo infantil, são elas:

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• A não-literalidade: As situações de brincadeira caracterizam-se por um

quadro no qual a realidade interna predomina sobre a externa. O sentido

habitual é substituído por um novo. São exemplos de situações em que o

sentido não é literal. Como por exemplo, o ursinho de pelúcia vira filhinho e

a criança imita o irmão que chora.

• Efeito positivo: O jogo infantil é caracterizado pelo signo do prazer ou da

alegria, entre os quais o sorriso. Esse processo traz vários efeitos positivos

aos aspectos corporais, moral e social da criança.

• Flexibilidade: As crianças ficam com mais disposição para ensaiar novas

combinações de idéias e de comportamentos em situações de brincadeira

que em outras atividades não-recreativas. Assim, brincar leva a criança a

tornar-se mais flexível e buscar alternativas de ação.

• Prioridade do processo de brincar: A atenção da criança fica concentra na

atividade em si enquanto brinca e não em seus resultados ou efeitos.

• Livre escolha: O jogo infantil só pode ser jogo quando escolhido livre e

espontaneamente pela criança.

• Controle interno: No jogo infantil os próprios jogadores são quem irão

determinar o desenvolvimento dos acontecimentos.

Há também outra característica importante dos jogos, a motivação social e

o entretenimento têm mais importância para crianças e jovens, que as

recompensas e busca de eficácia.

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O jogo envolve a busca de expressão e emoção artística. É uma atividade

que parece não ter outro fim que o de existir e de se constituir em sua própria

recompensa.

Como característica principal da brincadeira de rua, que é um fenômeno

paradigmático para o estudo da organização social de crianças e da cultura

infantil. É a falta de planejamento adulto e a ausência do recurso da escrita.

No sentido sociológico do termo, pode-se dizer que as brincadeiras

tradicionais infantis são estruturas decorrentes de necessidades sociais básicas,

com caráter de relativa permanência e identificáveis pelo valor de seus códigos de

conduta.

Jogos tradicionais infantis caracterizam uma cultura local. É interessante

observar a existência de certos padrões lúdicos universais, mesmo com

diferenças regionais, variações na designação ou na existência ou supressão de

certas regras.

Os jogos são uma forma tipicamente humana de brincar envolvendo a

ritualização de papéis e a regulação de determinados cenários. Nos jogos as

características das brincadeiras são transformadas em um ciclo repetitivo e

ritualizado de ação com início, meio e fim. Em conjunção com este processo, a

alternação informal de papéis, característica da brincadeira é transformada em

uma alternação regularizada entre competidores e grupos.

As regras do jogo têm por fim regular os comportamentos dos brincantes

limitando suas possibilidades de ação e/ou determinando estratégias possíveis de

desenvolvimento e do desenrolar da brincadeira.

Diferentemente de uma legislação jurídica, as regras nos jogos tradicionais

de rua foram geradas de forma totalmente assistemática, sem nenhum

planejamento central; a coerência e a ausência de contradições ou a dubiedade

de elementos foram estruturados e desenvolvidos nas interações entre crianças

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no decorrer de várias gerações. Deste modo a estrutura é construída a partir de

critérios desenvolvidos pelo observador; é ele que busca a organização lógica

interna da brincadeira.

Acredita-se que a compreensão desta estrutura de regras seja útil não

somente para uma melhor descrição da brincadeira em si, como também para

compreensão da regulação dos membros do grupo e de como eles se comportam

com relação a esta regulação.

1.3 Psicomotricidade e jogos infantis.

A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1982) define a

Psicomotricidade como “uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem,

através de seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e

externo”. Esta definição é abrangente e clara, porém ela pode ser conceituada

sob diferentes aspectos segundo o tipo de formação dos estudiosos que

contribuíram com seus estudos para o surgimento dessa nova abordagem.

Nascida em 1907, a partir de observações do médico Ernest Dupré, a

Psicomotricidade vem recebendo influências de outras ciências, como a

Psiquiatria, Psicanálise, Psicologia e a Pedagogia e seus precursores vieram da

Medicina, Psicologia, Educação Física dentre outras. Desse modo, o campo de

ação da psicomotricidade torna-se amplo e complexo, bem como seu objeto de

estudo dada a essa diversidade de áreas de estudo.

A Psicomotricidade possui três áreas de atuação: Educação, Reeducação e

Terapia que interatuam de forma integrada ao centro da vida emocional e efetiva

do ser humano. Procura harmonizar o comportamento humano sob o enfoque da

movimento e da linguagem, pelos quais as pessoas se comunicam entre si e

transformam o mundo que as envolve.

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Como ação educativa, a Psicomotricidade, por meio da Educação

Psicomotora, é essencialmente plástica e envolvente, sendo considerada por

Rêgo Barros (1992) como “a alma do movimento” aquilo que não se vê, não se

toca, porém se sente.

O movimento humano não pode ser tratado sob o prisma anatômico e

mecanicista. Ajuriaguerra (1983) posicionou-se fazendo que:

“O ato motor não pode ser concebido como o funcionamento

de sistemas neurológicos justapostos. Só podemos

compreender a ação quando consideramos o ponto inicial, o

desenvolvimento e a finalidade que esta ação pretende

alcançar”. (p.207)

A prática da Educação Psicomotora, registra-se no processo de

desenvolvimento da criança em suas condutas. Observa o ser humano visto em

sua globalidade.

Na área da educação, a teoria piagetiana é um dos aspectos fundamentais

para que a criança seja compreendida e acompanhada, com maiores cuidados e

possibilidades de desenvolvimento. A Educação Psicomotora reúne os principais

autores dedicados a este segmento da Psicomotricidade, comprometidos e

altamente influenciados pela teoria piagetiana.

Na verdade a Psicomotricidade como um todo é beneficiada com as idéias

de Piaget entre todas as outras influências que a atravessam, como as de

Vygotisk e Wallon.

A concepção piagetiana de jogo não envolve necessariamente a

competição. A prática lúdica é identificada como elemento importante no

desenvolvimento harmonioso da criança, englobando seu eu, o mundo dos

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objetos e o mundo de outras pessoas. O jogo é designado como uma das

atividades presentes ao longo do crescimento e desenvolvimento da criança.

Piaget (1975) propôs em seu estudo que “ existem três grandes tipos de

estruturas que caracterizam os jogos infantis o exercício,o símbolo e a regra,

constituindo os jogos de construção a transição entre os três e as condutas

adaptadas”(p.147).

O estágio dos jogos de exercícios também chamados de jogos funcionais,

englobam movimentos simples é a única forma de jogo possível para crianças do

período sensório motor,isto é, as que ainda não estruturaram as representações

mentais que caracterizam o pensamento. Para Piaget “o jogo do exercício não tem

outra finalidade que não o próprio prazer do funcionamento”. (p.144 )

O estágio do jogo simbólico tem início com a função simbólica, o faz-de-

conta, ao final do primeiro ano de vida e início do segundo. Implica a

representação de um objeto por outro, a atribuição de novos significados a vários

objetos. Quando a criança brinca assimila o mundo à sua maneira, sem

compromisso com a realidade pois sua interação com o objeto não depende da

natureza do objeto mas da função que a criança lhe atribui.

Ao contrário do primeiro estágio, o jogo simbólico não teria os limites

funcionais. Além de exercer papel semelhante ao do jogo do exercício, acrescenta

um espaço onde se pode resolver conflitos e realizar desejos que não foram

possíveis em situações de realidade.

Freire em seu livro faz um questionamento a entre a predominância do jogo

de exercício e jogo simbólico. Segundo ele, as formas de jogo aparecem, com

maior ou menor predominância, em todos os períodos da vida. E continua, “ o jogo

de exercício já apresenta indícios do jogo simbólico assim como ambos

apresentam regularidades que marcam o nascimento das regras”.(p.117)

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O estágio de jogos de regras, têm início na primeira infância. Nesse estágio

é solicitado um certo nível de socialização. Para Piaget “ o jogo de regras

apresenta precisamente um equilíbrio entre assimilação ao eu, princípio de todo

jogo, e a vida social.” (p.147)

O jogo de regras surge de forma estruturada. É uma característica do ser

suficientemente socializado. Para Piaget “ a regra é uma regularidade imposta

pelo grupo, e de tal sorte que a sua violação representa uma falta.”(p.148). Essa é

a característica principal das relações dos indivíduos em sociedade, os quais,

quando jogam, o fazem socialmente.

Enquanto jogo, representam as coordenações sociais, as normas a que as

pessoas se submetem para viver em sociedade. Para Freire:

“ O jogo social caracterizado pela existência de regras

firmemente estabelecidas pó um grupo, é a forma mais

avançada e complexa de jogo, adquirindo, em níveis de

desenvolvimento mais elevados das pessoas e da

sociedade, características cada vez mais sofisticadas”.

(p. 117)

O jogo social, chamado por Freire, é capaz de propiciar a relação com o

outro. Wallon (1975) referiu-se as relações sociais assim:

“ A criança concebe o grupo em função das tarefas que o

grupo pode realizar, dos jogos que pode entregar-se , com

seus camaradas de grupo, e também das contestações, dos

conflitos que podem surgir nos jogos onde existem duas

equipes antagônicas.” (p.119)

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O jogo de construção mencionado por Piaget, apud Freire, seria uma

quarta categoria. Tais jogos “assinalam uma transformação interna na noção de

símbolo, no sentido da representação adaptada.” (p.138)

Dessa forma, jogo de construção tem uma estreita relação com o faz-de-

conta, ou seja, com o simbolismo.

A intermediação entre os símbolos e a realidade concreta se dá pela

atividade corporal.

O jogo de construção estabelece uma espécie de transição entre o jogo

simbólico e o jogo social, este, a forma mais evoluída de jogo, com regras e

marcado pela cooperação.

1.4 Os jogos infantis no âmbito escolar e a ludicidade.

A educação dentro desta perspectiva da desvalorização do lúdico pode ser

compreendida na medida em que tomamos o contexto social existente no qual ela

está inserida, pois não é autônoma em relação às condições políticas, econômicas

e sociais. Da mesma forma, o lúdico não está desvinculado destes aspectos. O

lúdico não pode ser visto isoladamente, pois ele é determinado pelo conjunto das

circunstâncias sócio-político-econômicas e culturais, ao mesmo tempo que está

presente nelas.

Este ensino centraliza seu método pedagógico na transmissão de

conhecimentos adquiridos através de modelos prontos, valoriza o educador como

único conhecedor do saber e despreza os conhecimentos do aluno. Nesta escola

o educando está para aprender, obedecer e cumprir as atividades escolares.

Esta escola ressalta apenas o saber intelectual sem dar muita importância

ao lúdico, que é colocado em segundo plano sendo reduzido apenas ao intervalo

de quinze minutos do recreio, para afirmar que as crianças possuem o espaço

lúdico, considerando a aplicação dos jogos na escola prática supérflua, sob a

alegação de que todas as crianças já brincam de um modo geral, por conta

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própria. Dessa forma o jeito alegre de se aprender na sala de aula através dos

jogos também é inibido.

O lúdico é essencial na vivência e crescimento saudável e harmônico das

crianças. E é importante para sua formação crítica e criativa.

Na sociedade capitalista em que vivemos o jogo e o brincar são

considerados como simples distração, distanciados do mundo real, que afasta da

tensão, da opressão material e espiritual. O lúdico é considerado apenas um

passatempo, uma atividade sem valor e isto se reflete na nossa escola. O lúdico

embora rotulado como perda de tempo é extremamente importante, pois a criança

é naturalmente lúdica.

No brinquedo e nos jogos interagem uma ou mais crianças, passo a passo,

o que ajuda a orientar seu espaço físico, cognitivo e simbólico. A educação para o

lúdico nunca pode usar a atividade em si. Qualquer atividade tem de ser uma

maneira de aprender. Assim, devemos considerar o lúdico com duplo aspecto

educativo, ou seja, o lúdico como veículo e como objeto de educação. Assim, o

sistema educacional classista, dentro de sua proposta pedagógica, não valoriza o

lúdico, porque não é ideal nem interessante para a classe dominante, ou seja, o

jogo é passado para a escola como algo desnecessário e apenas como perda de

tempo, desprezando sua importante função na formação integral dos educandos.

O jogo vem de lúdico que significa uma ação ou uma atividade voluntária,

realizada num certo tempo e com regras aceitas pelos participantes.

Segundo Durant (1988), o jogo envolve a busca de expressão e emoção

artística. É uma atividade que parece não ter outro fim que o de existir e de se

constituir em sua própria recompensa. Essas atividades que têm sua motivação

em si mesmas se denominam “autoteluricas” e se distinguem radicalmente da

busca de eficácia.

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Desde tenra idade, se observam em crianças, condutas que obedecem ao

simples “prazer de atuar” ou ao “prazer de ser a causa de algo” e que parecem

responder a uma necessidade fundamental. Para que o organismo possa viver e

desenvolver-se necessita estimulações sensoriais variadas e a execução de uma

quantidade suficiente de atividades motoras. Isso pode ser conseguido através da

inclusão.

O jogar é um ato de prazer mas muitas vezes o trabalho é confundido com

o jogo. Para saber se os professores concebem atividades escolares como jogo

ou trabalho é necessário observar alguns dos critérios apontados por Christie,

James (1991, citada por Kishimoto, 1992), como o da livre escolha e o do controle

interno pois se as atividades não forem de livre escolha do aluno e desenvolvidas

e controladas por ele não se tem jogo mas sim trabalho.

Em estudos realizados no Brasil é apontado que para as crianças só é jogo

a atividade iniciada e mantida por elas (Costa, 1991, citado por Kishimoto, 1992).

Se, por exemplo, os brinquedos, que são objetos lúdicos de livre exploração

e que não visam resultados, for utilizados para auxiliar a ação docente buscando-

se resultados em relação à aprendizagem de conceitos, esse brinquedo deixa de

cumprir sua função lúdica deixando de ser brinquedo para tornar-se material

pedagógico (Kishimoto, 1992).

Os jogos têm grande valor educativo, a espontaneidade não deve ser

sacrificada em nome da aquisição de conhecimentos, pois o grande valor do jogo

está na capacidade de a criança expressar suas próprias decisões (Froebel, citado

por Kishimoto, 1992).

O jogo livre e espontâneo não impede a ação educadora do professor pois

ele diz que deve haver harmonia entre a direção e a espontaneidade, ou seja,

essa contradição deverá ser unificada. Propõe a união entre os opostos aparentes

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concebe o jogo educativo como o resultado do equilíbrio entre a ação do professor

e a necessidade de liberdade da criança (Froebel, citado por Kishimoto, 1992).

Se no jogo educativo não houver equilíbrio entre a ação do professor e o

respeito à liberdade da criança pode haver apenas o jogo ou apenas o ensino. Há

jogos que perdem sua dimensão lúdica quando empregados inadequadamente,

perdendo sua função de propiciar prazer em proveito da aprendizagem tornando-

se apenas material pedagógico ou didático (Kishimoto, 1992).

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CAPÍTULO II

As dimensões culturais do Jogo Infantil

Este capítulo propõe discutir sobre a relação da cultural entre a criança e o

jogo infantil e as influências de outras culturas.

2.1 Brincadeira tradicional infantil.

A brincadeira tradicional infantil, filiada ao folclore infantil, que segundo

Fernandes (1979), grande parte da cultura infantil é formada por manifestações

passadas da cultura do adulto através dos tempos. Outras atividades advêm das

próprias crianças, responsáveis por boa parte do seu patrimônio cultural

incorporada a mentalidade popular, expressando-se, sobre tudo, pela oralidade.

Considerada como parte da cultura popular, essa modalidade de brincadeira

guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. A cultura

desenvolvida de modo é especialmente de modo oral, não fica cristalizada. Está

sempre em transformação, incorporando criações anônimas das gerações que vão

sucedendo. Por ser um elemento folclórico, os jogos populares infantis assumem

as características de anonimato, tradicionalidade, transmissão oral universalidade

e conservação.

A tradicionalidade e a universalidade dos jogos populares infantis dizem

respeito ao fato de que povos distinto e antigos, como os da Grécia e do Oriente

brincavam de amarelinha, empinar papagaio, jogar pedrinhas e até hoje as

crianças o fazem quase da mesma forma. Tais brincadeiras foram transmitidas de

geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na

memória infantil.

Muitos jogos e brincadeiras preservam sua estrutura inicial, outras

modificam-se, recebendo novos conteúdos.

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Enquanto manifestação livre e espontânea da cultura popular, os jogos

populares têm a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de

convivência social e permitir o prazer de brincar. Por pertencer a categoria de

experiências transmitidas espontaneamente conforme motivações internas da

criança, os jogos populares infantis garantem a presença do lúdico e da situação

imaginária.

Para Mello (1989) os jogos populares infantis são praticados com maior

freqüência por crianças das classes populares, incluída uma faixa da classe

média, constituem-se em importantes formas de manifestação lúdica, que ocorrem

principalmente em ruas, quintais, terrenos baldios e em pátios escolares.

Uma de suas características mais importantes, segundo o mesmo autor, é a

utilização de recursos materiais de fácil acesso, como pedaços de madeira, sobras

industriais, peças mecânicas desgastadas, invólucros de produtos caseiros e

outras sucatas disponíveis.

Para Vygotisk (1984) a cultura vai influenciar a visão de vida de cada

um, orientando o fazer e o imaginar individual e interferindo na própria educação

da sensibilidade, ampliando ou congelando suas possibilidades. A cultura torna-se

parte da natureza humana. É através das relações dialéticas com o meio físico e

social que a criança constrói seu pensamento, transformando os processos

psicológicos elementares em processos complexos, fazendo com que a cultura

torne-se parte de cada pessoa.

Contudo, torna-se difícil precisar a origem dos jogos populares infantis no

Brasil. É evidente que grande parte pode ter chegado com os colonizadores

portugueses, apesar do vasto e rico ludismo indígena.

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Ao pesquisar a influência indígena sobre os jogos infantis, Cascudo (1979)

constata que, entre os séculos XVI e XVII ,os meninos indígenas, desde cedo,

brincavam de arcos , flechas, tacapes, propulsores que compunham o arsenal

guerreiro dos adultos.

O divertimento natural era imitar os gestos e atitudes dos pais, caçando

animais, abatendo aves pequenas e pescando de todas as maneiras, inclusive

apanhando com as mãos os peixes à vista. Essas brincadeiras não eram simples

passatempo, mas atividades educativas que os preparavam para a vida adulta,

formando o futuro caçador e pescador.

As meninas, desde pequenas, acompanhavam e auxiliavam suas mães nas

tarefas domésticas, tais como: cozer a mandioca, o aipim, o cará, fazer a farinha,

trazer e colher os legumes das roças, cuidar dos irmãos menores a quem

carregam às costas numa tipóia. Elas não tinham muito tempo livre para o lúdico.

As crianças indígenas divertem em jogos imitando figuras e vozes de

animais.

O jogo de peteca era bastante apreciado, inclusive pelos adultos, sendo

confeccionada com palha de milho e enfeitadas com penas de aves. Com fios

entrelaçados nos dedos das mãos. Os curumins constroem imagens que

representam situações de seu cotidiano: peixes, tamanduá - bandeira, arria, a lua.

Brincadeira só de meninos, podendo ser realizada individualmente ou no máximo

com duas crianças.

Cascudo (1979) afirma que grande parte das práticas lúdicas da infância

brasileira – adivinhas, parlendas, cantigas de roda, histórias de príncipes, rainhas,

assombrações, bruxas e brinquedos, como a pipa, o pião, o bodoque e os jogos

de pedrinhas, a amarelinha, entre outros – foram trazidas pelos portugueses e

fazem parte da cultura européia.

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Essa influência portuguesa foi marcante na vida brasileira não esquecendo

a influência da cultura negra presente também na nossa cultura de maneira geral

e principalmente na cultura infantil.

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CAPÍTULO III

Benefícios dos Jogos Infantis

Neste capítulo será abordado os benefícios que os jogos infantis, nas aulas

de Educação Física, promovem em crianças do primeiro segmento do ensino

fundamental.

3.1 Os benefícios dos jogos infantis na aula de Educação Física.

O jogo pode ser caracterizado como atividade própria da criança e sofre

nuances e variações de acordo com a idade, está centrado no prazer

proporcionado por sua prática, ao mesmo tempo em que se constitui no motor

essencial de seu desenvolvimento integral.

O documento de Educação Física nos Parâmetros Curriculares Nacionais

traz uma proposta que procura desenvolver a prática pedagógica para um trabalho

que dimensione a afetividade, a cognição e o aspecto sociocultural não

esquecendo do aspecto da motricidade.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a Educação Física

Escolar deve atuar na cultura corporal do movimento nas séries iniciais do Ensino

Fundamental, pois possibilita aos alunos terem a oportunidade de desenvolver

habilidades culturais, como jogos, dança, desporto, lutas, ginásticas etc.

O trabalho na área da Educação Física compreende e se fundamenta nas

concepções de corpo e movimento, com a necessidade de se considerar a

dimensão cultural, social, política, e afetiva presentes nos seres humanos que

interagem e se movimentam como cidadãos.

Na primeira infância, a motricidade e o psiquismo estão estreitamente

ligados, sendo os dois aspectos indissociáveis no processo de adaptação. Da

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mesma forma, o desenvolvimento motor, afetivo e intelectual encontram-se

inseparáveis no homem. A criança pode ser vista em sua totalidade e nas

possibilidades que apresenta em relação com o mundo, com o outro e consigo

mesmo.

Aprender para Vygotisk, é um aspecto necessário do “processo de

desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e

especificamente humanas”.(p.101)

Nesse sentido, é importante situarmos o ser humano enquanto um homem

total para compreender melhor as idéias apresentadas, sobre os benefícios que os

jogos nas aulas de Educação Física podem promover nas crianças do primeiro

segmento do ensino fundamental.

No aspecto cognitivo verificou-se que os jogos proporcionam a integração

entre corpo e mente. Quem realiza as atividades é o corpo, quem pensa também é

o corpo. As produções físicas ou intelectuais são, portanto, produções corporais.

Um dos objetivos principais do sistema de ensino, é promover o

desenvolvimento cognitivo da criança, que é algo que não acontece

espontaneamente, mas através de construções dependentes de maturações

biológicas e interações que ela estabelece com o meio ambiente.

O jogo realizado como conteúdo da escola deve conter um projeto, que tem

objetivos educacionais. Dentro do brinquedo, orientando-o, o professor deve saber

aonde chegar, o que desenvolver. Pode estar pensando em habilidades motoras

como as corridas, os saltos, os giros, ou em habilidades perceptivas, como as

noções de tempo e espaço, a manipulação fina de objetos. Em outros momentos

pode-se colocar ênfase no trabalho para desenvolver noções lógicas e com

trabalho em grupo, como forma de desenvolver a cooperação. Por isso faz-se

necessário, não escolher de qualquer forma, indiscriminadamente, qualquer

atividade para as aulas de Educação Física. As atividades devem ser escolhidas

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segundo o objetivo que se pretende alcançar e também porque o professor é

capaz de compreender os efeitos dessas atividades sobre o desenvolvimento

infantil. Quando o professor faz atividades de forma variada, a criança poderá

acrescentar ao aprendido algo que ainda não o foi. Dessa forma encontra-se no

conceito de zona de desenvolvimento proximal, que seria a próxima zona de

desenvolvimento, que a criança vai atingir cabendo ao professor facilitar o seu

acesso. Tal conceito apresentado por Vygotisk é entendido aqui como

fundamento para a prática do professor de Educação Física.

Quando a criança brinca ela coloca em jogo os recursos que adquiriu e

também irá em busca de aquisições de nível maior. Em crianças do primeiro

segmento do ensino fundamental, a medida que ela passa do simbolismo para o

jogo de construção tais aquisições aparecem. Ao dispor os objetos em arranjos

especiais, denota a maior ou menor presença de compromisso com a realidade

concreta .A fantasia continua, mas a criança pode distinguir cada vez mais entre

ela e a realidade, evidenciando segundo Freire (1997) “as marcas de seu

desenvolvimento no rumo de níveis elevados de socialização e de cognição”.(p.

135)

A socialização proporciona ao ser humano alcançar a consciência de si

mesmo e da sua realidade em sua volta, caracterizando-se como uma forma

especial de aprendizagem.

De acordo com Piaget apud Lins (2002), o respeito mútuo, a solidariedade,

a partilha e a cooperação são tipos de comportamento indispensáveis para que se

possa dizer que alguém é socializado. Este processo realiza-se por meio do jogo,

da fantasia, da acomodação e assimilação, das regras morais. Pode acontecer

dentro e fora da escola, ou seja, em todo lugar onde existem as relações pessoais

esse processo acontece e se faz muito necessário que se leve em conta essas

experiências que as crianças trazem de casa para escola. São com essas

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experiências que irão enriquecer e aprimorarão o processo de socialização entre

os seres humanos.

Para Piaget apud Lins ( op. Cit):

“Observam-se em todo lugar condutas de intercâmbio entre

crianças ou entre crianças e adultos que agem por seu

próprio funcionamento, independentemente do conteúdo das

transmissões educativas. Em todos os meios indivíduos se

informam, colaboram, discutem, opõem-se etc ..”. (p. 46)

Os jogos de imaginação ou simbólicos têm um grande valor expressivo.

Pelo valor simbólico que apresenta, ele é ao mesmo tempo, revelador das

verdades, das frustrações da criança e salvador pelos desbloqueios que permite

em sua prática. A função imaginativa exercida durante esses jogos implica a volta

da criança sobre si própria e representa uma etapa indispensável `a formação do

eu individual e social.

Os jogos e as atividades de expressão são, portanto, um meio privilegiado

de ajudar a criança a equilibrar-se em seu ambiente humano, a comunicar-se a

cooperar.

Os jogos com regras são um importante instrumento pedagógico para

estimular e propiciar a socialização entre as crianças na escola. Ele representa um

campo privilegiado para a aplicação das aquisições básicas da educação pelo

movimento. Segundo Le Bouch (1987), os jogos com regras são utilizados pela

via da competição cooperativa para “sobrepujar o espírito competitivo, cultivando

o espírito de cooperação.” (p.303). As situações criadas pelos jogos com regras

são favoráveis a manifestação das atitudes sociais de organização, de

comunicação, de cooperação, terminam por desenvolver pouco a pouco na

criança uma moral. Não uma moral acabada, vinda de fora, mas aquela nascida

da atividade comum, impondo uma certa organização coletiva.

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Vale lembrar, que o jogo favorece ao positivamente para a auto-estima.

Está relacionado com a idéia de ganhar. Ganhar é o desejo de todo jogador, pois

confere ao vencedor uma aparência de superioridade. Porém, mas do que o

poder, a vitória confere ao jogador, e ao grupo ao qual ele pertence, o sentimento

de ser o melhor naquele momento contribui positivamente para sua auto-estima.

Huizinga (2001) afirma:

“ Ele ganha alguma coisa mais do que apenas o jogo

enquanto tal. Ganha estima conquista honrarias: e estas

honrarias e estimas imediatamente concorrem para o

benefício do grupo ao qual o vencedor pertence. Chegamos

aqui a outra característica muito importante do jogo, o êxito

obtido passa prontamente do indivíduo para o grupo.”(p.58)

O jogo também desempenha papel importante na construção do Eu. Esse

processo inicia-se desde o primeiro ano de vida. Por volta dos três anos de idade,

começam a surgir os conflito interpessoais decorrente da necessidade que a

criança sente na afirmação do Eu, quando ela se opõe sistematicamente ao que

distingue como diferente dela.

Neste estágio denominado por Wallon apud Galvão (2002) de

“personalista”, assim como nos primeiros anos de vida, há predominância das

relações afetivas indispensáveis na formação do Eu.

Sendo assim, o processo de construção do Eu, alterna momentos de

exclusão e incorporação do outro o que caracterizará suas relações com o mundo.

Ao considerar o jogo como gerador de intensas relações com o meio – outro/

objeto – e conseqüentemente gerador de situações de conflito que contribuem

para o conhecimento de si.

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O outro, como parceiro no jogo, transforma-se também em parceiro na

construção/ reconstrução da imagem corporal. Esta imagem do próprio corpo será

construída desde o início de seu desenvolvimento psicomotor, ao iniciar-se o

processo de socialização, pela relação com os outros.

O jogo, então, proporcionam a elaboração de hipóteses, força o

estabelecimento de novos olhares de diferentes pontos de vista, exercita a

relativização, a socialização, a discussão, a elaboração de regras. O desafio, a

situação de jogo, é sempre uma situação-problema a ser resolvida.

Quanto a emoção fica evidenciado, segundo Wallon, o importante papel

que o jogo desempenha, na relação do movimento ao afeto. Para ele o

conhecimento, a consciência e o desenvolvimento geral da personalidade não

podem ser isolados das emoções, mas podem ser considerados como um dos

promotores do desenvolvimento psicomotor. Segundo Freire (1997) “ não há

pensamento que se forme que não passe pelo gesto. É pela ação corporal que a

criança conhece o mundo que se transforma em símbolos, linguagens em

raciocínios.” (p.134)

De acordo com Fonseca (1998):

“ a riqueza da vivência humana é extremamente vasta, dado

que a própria linguagem socializada não é por si suficiente

para traduzir a riqueza das impressões vividas. O

movimento enriquece a linguagem e o corpo escolhe a

palavra. Foi a melodia do gesto que socializou a forma de

comunicação não-verbal e verbal. O movimento é o veículo

da conscientização global.” (p.211)

O movimento passa, então, a ser a exteriorização das sensações e

percepções, transformando-se em comportamento significante, em um elo entre

as vivências pessoais e a espontaneidade da pessoa.

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Os Jogos infantis escolhidos, orientados ou propostos aos educandos e praticados

por eles no âmbito escolar podem vir a:

- Garantir um ambiente livre, alegre e prazeroso, para que os alunos

possam se encontrar, brincar, descansar, contar, conversar, aprender, descobrir e

conviver alegremente;

- Proporcionar oportunidades interessantes, variadas, desafiadoras e ricas

opções de jogos, onde os educandos possam atuar sobre estes jogos, com

inúmeros movimentos, integrando-se, entretendo-se, estabelecendo relações e

intercambiando vivências;

- Favorecer e estimular o ensino/aprendizagem das diferentes áreas do

saber, integrando-se dinamicamente e evitando a simples justaposição e

acumulação com as atividades lúdicas;

- Estimular atividades fora da escola (meio externo) possibilitando a

descoberta do meio físico e social, garantindo liberdade de ação e reflexão,

manipulação, experimentação e modificação;

- Valorizar a iniciativa, desenvolvendo nos educandos um auto-conceito

positivo, fortalecendo seu caráter e personalidade;

- Despertar a consciência crítica e criativa ludicamente e conquistar a sua

autonomia (liberdade de refletir, falar e fazer);

- Levar os educandos a cooperação e solidariedade, respeitando-se e

compreendendo-se. Participando e integrando-se na escola e comunidade.

Trocando e compartilhando experiências. Buscando e fortalecendo o coletivo para

sua socialização.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jogo é elemento fundamental no desenvolvimento do indivíduo. A imagem

do corpo representa uma forma de equilíbrio entre as funções psicomotoras. Ela

não corresponde só a uma função mas a um conjunto funcional cuja finalidade é

favorecer o desenvolvimento. São as atividades construídas a partir de jogos e

brincadeiras que irá proporcionar a construção da imagem corporal .

A imagem corporal é construída desde os primeiros anos de vida, baseiam-

se na experiências vivenciadas ao longo da vida.

No âmbito escolar, essas vivências trazidas pelos alunos são uma fonte de

conhecimento do indivíduo Por isso, observa-se a importância das aulas de

Educação Física que se apropria da Psicomotricidade para fundamentar seu

trabalho numa visão integral do indivíduo e na construção da imagem de si próprio

nas relações com outras crianças.

A Educação Física escolar nos dias atuais vem sendo pensada como ação

educativa integral do ser humano, assim como a psicomotricidade que relaciona o

individuo como um ser completo e único capaz de pensar e agir, deixando de lado

as características de dualidade de corpo e mente, e sim como um ser capaz de

integrar-se com si próprio e com o meio.

O trabalho da educação psicomotora é indispensável no desenvolvimento

motor, afetivo e psicológico do individuo para sua formação integral, e é explorado

por meio de jogos e atividades lúdicas que oportunize a conscientização do

próprio corpo e ser.

Esta concepção de formação integral nos conceitos da Educação vem

sendo abordada como uma nova forma educativa para a formação de um ser

completo e autônomo de suas ações.

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Assim como a psicomotricidade a Educação Física escolar era abordada

apenas como ferramenta de desenvolvimento motor. No entanto hoje com a

inovação nas perspectivas de uma Educação Física escolar que reconhece o ser

humano como um ser complexo de emoções e ações próprias, propiciadas por um

contato corporal e a sua relação com o mundo.

Entende-se que a Educação Física escolar e a sua relação com a

psicomotricidade tem como base as necessidades do ser humano em integrar-se

com o si próprio e com o ambiente por meio de ações e movimentos conscientes e

de experiências vivenciadas e adquiridas em todas as etapas da vida.

Tendo em vista que a psicomotricidade valoriza no ser a capacidade de

experimentar sentimentos e emoções através dos movimentos de seu próprio

corpo, a Educação Física associada a ações psicomotoras possibilita um

desenvolvimento global através do movimento corporal consciente, que sente,

pensa e agi em diferentes situações, sendo este um ser humano autônomo em

suas realizações.

Atuando, no entanto, um modelo pedagógico em que a psicomotricidade

nas aulas de Educação Física escolar esteja fundamentada na interdependência

do desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo dos indivíduos e como componente

curricular na formação das estruturas de base para as tarefas educacionais e

cotidianas.

A Educação Física e a psicomotricidade são metodologias interligadas em

que o desenvolvimento dos aspectos motor, social, emocional dos movimentos

corporais é vivenciado, através de atividades motoras.

Pode-se afirmar, que a Educação Física possui um impacto positivo no

pensamento, no conhecimento e ação, nos domínios cognitivos, na vida do ser

humano. Entretanto o individuo fisicamente educado vai para uma vida ativa,

saudável e produtiva, criando uma integração segura e adequado

desenvolvimento de corpo, mente e espírito.

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Assim a Educação Física, através de atividades afetivas, psicomotoras e

sociopsicomotoras, constituem-se num fator de equilíbrio na vida das pessoas,

expresso na interação entre o espírito e o corpo, a afetividade e a energia, o

indivíduo e o grupo, promovendo a totalidade do ser humano.

Por tanto, a ação corporal se torna indispensável na relação com o mundo.

A criança não pode passar do mundo concreto à representação mental senão por

intermédio da ação corporal. A criança transforma em símbolos aquilo que pode

experimentar através de vivências corporais.

O objetivo da Educação Física é proporcionar vivências corporais cada vez

mais de forma variada. Afim de desenvolver as experiências necessárias para

aquisição de habilidades. As vivências que as crianças têm fora da escola são

importantes e irão beneficiá-las mas é o professor de Educação Física,

conhecedor do desenvolvimento infantil, que será capaz de intervir e estimular de

forma coerente no desenvolvimento infantil.

Através de brincadeiras que a criança tem a oportunidade de desenvolver

funções psicomotoras como: de esquema corporal, coordenação motora global,

coordenação motora fina, organização espacial e temporal, ritmo, lateralidade,

equilíbrio e relaxamento total, relaxamento diferencial e segmentar.

A educação por meio do jogo pode colaborar na formação do cidadão,

estimulando neles as condições pessoais necessárias para o exercício ativo e

responsável como membro da sociedade.

As ligações entre jogo e cidadania e educação, proporcionam um padrão de

referências de normas e de valores.

No contexto da educação escolar, o jogo como forma de ensinar conteúdos

às crianças. Não se trata de um jogo qualquer, mas sim de um jogo transformado

em instrumento pedagógico, em meio de ensino.

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Sendo assim, com esse procedimento pode-se contribuir pela preservação

da imprescindível manifestação cultural infantil que são os jogos populares.

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