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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE AS INFLUÊNCIAS LINGÜÍSTICAS E O MUTICULTURALISMO NAS UNIVERSIDADES Por: Cláudia Valéria Annis Ferreira Guimarães Orientadora Profª. Ms. Maria Esther de Araújo Rio de Janeiro 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AS INFLUÊNCIAS LINGÜÍSTICAS E O

MUTICULTURALISMO NAS UNIVERSIDADES

Por: Cláudia Valéria Annis Ferreira Guimarães

Orientadora

Profª. Ms. Maria Esther de Araújo

Rio de Janeiro

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AS INFLUÊNCIAS LINGÜÍSTICAS E O

MULTICULTURALISMO NAS UNIVERSIDADES

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Docência do Ensino Superior.

Por:. Cláudia Valéria Annis Ferreira Guimarães.

3

AGRADECIMENTO

À minha filha Letícia e meu marido

Marco Aurélio pelo incentivo e dedicação; e apoio dos demais parentes e amigos.

4

DEDICATÓRIA

Dedico a meus pais Diva e Augusto, pelo carinho e compreensão.

5

RESUMO

O atual estudo teve por objetivo, averiguar a importância das várias influências de

povos distintos, no surgimento da nossa língua portuguesa, tais como: os

africanismos, os tupis, dentre outros. Para tanto, foram pesquisados os principais

autores que abordaram o tema proposto. Mostramos também o valor do

multiculturalismo presente nas nossas universidades, devido ao avanço da

globalização e tendo como principal foco o caráter plural das sociedades ocidentais

contemporâneas. As grandes correntes migratórias, que acompanhavam a evolução

da espécie humana, são fundamentais na influência mútua entre as culturas.

Migração essa, no mundo moderno, tanto voluntária, quanto forçadas, mostram um

fator fundamental na dinâmica cultural. Hoje, são raríssimas as comunidades nas

quais não esteja presente o fenômeno do multiculturalismo, com reflexos nos

sistemas escolares, como sistema de cotas,diversidade cultural, Reforma

Universitária e alguns outros que iremos abordar. Concluímos que o

multiculturalismo inclui a formulação de definições conflitantes de um mundo social,

decorrentes de distintos interesses econômicos, políticos e sociais; e que na esfera

da educação, a cultura tem adquirido crescente centralidade nos fenômenos

sociais,bem como nas análises que deles se elaboram com a consciência de termos

de identificar as diferenças e estimular o respeito, a tolerância e a convivência.

METODOLOGIA

Este estudo foi elaborado a partir de uma revisão bibliográfica cujos livros

foram pesquisados em bibliotecas, empréstimos de amigos e outros tantos

adquiridos, para execução da presente monografia.

Vimos também pesquisas em sites, esses referentes à educação, para

melhor legitimar o trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - As influências lingüísticas 09

CAPÍTULO II - O multiculturalismo 12

CONCLUSÃO 21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 22

ÍNDICE 23

8

INTRODUÇÃO

Devido às influências de vários povos distintos, tais como: africanos e tupis,

deu-se o surgimento da nossa língua portuguesa.

Muitos estudos tem-se feito sobre as diferentes formas dialetais e citamos

Schuchardt, como sendo um dos maiores pesquisadores no assunto.

Como valor histórico, citamos a ocupação moura da Península Ibérica;

temos a evolução fonética do romanço lusitano e as invasões bárbaras, constituídas

de vocábulos do latim.

O atual processo de globalização, impulsionado pelas novas tecnologias de

comunicação e informação está interligando o mundo; mas também alterou a nossa

relação com o “Outro”, ampliando extraordinariamente nossas possibilidades de

contato com modos diferentes de vidas.

Segundo Giddens “este é um mundo em que o “Outro” não pode mais ser

tratado como inerte”, pois é o processo de globalização uma dialética entre o local e

o global. E o não reconhecimento do “Outro” como ser humano pleno, com os

mesmos direitos que os nossos, tem dado muito espaço na pós-modernidade para o

racismo, as guerras étnicas, a segregação e a discriminação social, resultando isto

em altos graus de violência.

É a partir dessa questão, que iremos focar na importância do

multiculturalismo cada vez mais presente em nossos dias nas universidades.

De um lado temos o multiculturalismo conservador, que busca a conciliação

das diferenças com base no mito da harmonia. De outro, o multiculturalismo

crítico que rejeita todo o preconceito ou hierarquia e é baseado no respeito a ponto

de vista, às atitudes do “Outro” e as possibilidades de transformação e de criação

cultural.

O paradigma da hegemonia na pós-modernidade continua sendo o homem

branco, rico e heterossexual, os que estão fora deste paradigma ainda são

considerados “minorias”, enfrentando discriminações, não sendo diferente em sala

de aula.

A condição pós-moderna colocou o “Outro” como alguém que,mesmo

vivendo de forma diferente, pode e deve ser reconhecido como ser humano na sua

essência e ter a possibilidade de viver um dia, dignamente seja na sua vida pessoal,

seja na acadêmica.

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CAPÍTULO I - AS INFLUÊNCIAS LINGÜÍSTICAS

Destacamos as influências de vários povos distintos tais como os

africanismos e tupis, na composição de nossa língua portuguesa.

Um dos fatores que contribuiu no surgimento da Língua geral, foi a

necessidade dos jesuítas que vieram na frota portuguesa, se utilizarem da língua

tupi como instrumento civilizador.

Os africanismos foram profundos em sua influência, no princípio do século

XVII, mais precisamente na fonética e morfologia, devido ao crescente tráfico dos

negros como escravos para o Brasil. A influência dos negros nas cidades do litoral,

deu-se pelas mucamas e negros de serviços domésticos e nos campos do interior,

em face a numerosa escravaria carreada para as faixas agrícolas.

Sendo assim, o latim depois de ser um simples dialeto, passou a ser a língua

dominante na Península itálica e foi levado pelos romanos para outros países

colonizados por eles. Com a ocupação moura na Península Ibérica, temos a

evolução fonética do romanço lusitano e as invasões bárbaras constituídas de

vocábulos do latim.

1.1 – A HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

O latim depois de ser um simples dialeto, passou a ser a língua dominante

na Península Itálica, e foi levado pelos romanos para outros países colonizados por

eles. Na Península Ibérica, o povo que as aceitou eram numerosos e possuíam

diferentes dialetos; com a invasão dos bárbaros no séc.V, (que também adotaram o

latim) as diferenciações regionais aumentaram transformando assim, o latim em

várias línguas, chamadas neolatinas; assim foi com o português, o espanhol, o

galego, dentre outros.

No séc. VIII, o latim falado na Lusitânia, situada na península Ibérica, sofreu

a invasão dos árabes.

No séc XII, D. Afonso Henriques, funda a nacionalidade portuguesa e

o Brasil, cujo idioma é o português, não como se fala em Portugal, mas com

pronúncia diferente, vocábulos com numerosas palavras indígenas e africanas e

outras mais adotadas.

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A nossa língua portuguesa, foi dividida em dois períodos: o português

arcaico e o português moderno até os dias de hoje; apresentando porém, nas duas

fases, diferenças no campo da fonética, morfologia, na sintaxe e no léxico.

1.2 – A INFLUÊNCIA TUPI

Um dos fatores que possibilitou o surgimento da Língua Geral, o português

vigorando ao lado do tupi, foi a necessidade de os jesuítas vindos na frota

portuguesa se utilizarem da língua tupi como instrumento civilizador, inspirando

confiança aos indígenas e fazendo com que a língua dos conquistadores absorvesse

a língua dos conquistados.

Tão grave pareceu às autoridades metropolitanas a extensão que ganhou o

tupi como língua geral que embora não sendo eficaz, uma provisão de 1727, proibiu

o seu uso.

Com o tempo, o português foi reagindo e ganhando espaço. Mais e mais

colonizadores chegavam difundindo o idioma oficial por todo o território conquistado.

As escolas também contribuíram para a expansão do português, pois era ensinado o

português tanto quanto o tupi.

Alguns autores afirmam, que a predominância do português se tenha dado

pelo fato de a cultura indígena ser inferior à cultura portuguesa. O que talvez tenha

proporcionado a implantação do português, tenha sido a inocência indígena e a

situação de submissão em que se encontravam sendo utilizados como escravos.

Voltando ao ponto principal, o tupi finalmente cedeu lugar ao português,

mas deixando inúmeros vestígios em nosso vocabulário como nomes próprios e

apelidos de pessoas: Araci, Baraúna, Cotegipe, Caminhoá, Guaraciaba, Iracema,

Jupira, Jucá, Paraguaçu; nomes próprios geográficos: Guanabara, Tietê, Itu,

Guaratinguetá, Niterói, Piraí, Paquetá; elementos da fauna: araponga, arara,

capivara, curió, sabiá, sanhaço; elementos da flora: abacaxi, buriti, canjarana, capim,

caruru, cipó, imbuia, ingá, ipê, jabuticaba.

Há ainda quem conteste a intensidade da influência tupi. Gladstone

Chaves de Melo em A Língua do Brasil, assume a seguinte posição: (p.95,1981)

Daí não se pode inferir que nego a existência da ação do tupi sobre a fonética, morfologia e sintaxe do português do Brasil. Não o nego; submeto à crítica certos fenômenos apontados como efeito de interferência da língua

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indígena, mostrando como tais fenômenos comportam uma explicação outra, o que obriga a suspensão de juízo.

1.3- A INFLUÊNCIA DOS AFRICANISMOS

No princípio do séc.XVII, surgiu um dado novo no panorama lingüístico da

colônia.

Iniciou-se, em escala cada vez mais crescente, o tráfico dos negros

africanos, como escravos para o Brasil.

A influência africana no português do Brasil foi profunda, embora menos

extensa que a tupi, atingindo mais intensamente a fonética e a morfologia.

Na influência do negro há o que distinguir entre a ação urbana e a ação

rural. A primeira, foi exercida nas cidades do litoral pelas mucamas e negros dos

serviços domésticos. A segunda operou-se nos campos do interior em face a

numerosa escravaria carreada para as fainas agrícolas.

A influência mais profunda das línguas africanas no português brasileiro se

fez sentir na morfologia. É a simplificação e redução das flexões.

Embora em menor número, a língua africana também deu sua contribuição

ao léxico brasileiro.

Os vocábulos de procedência africana que passaram ao nosso léxico são:

nomes geográficos; Bangu, Caxambu, Carangola, Guandu e outros; nomes que

designam divindade, ministro de culto, práticas rituais, crendices: Exu, Iemanjá,

Ogum, Oxum, Zumbi; danças e instrumentos musicais: maracatu, samba, agogô,

berimbau, marimba; alimentos, iguarias e bebidas: acará, acarajé angu, mugunzá,

vatapá, cachaça; animais, aves e insetos: camundongo, marimbondo; doenças:

caxumba, calombo; objetos de usos, enfeites e vestes: cachimbo, gongá, tanga;

alguns adjetivos: banguelo, caçula, etc.; alguns verbos: batucar, cochilar,xingar.

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CAPÍTULO II – O MULTICULTURALISMO

O multiculturalismo é o jogo das diferenças cujas regras são definidas nas

lutas sociais e salienta-se que, antes de serem introduzidas no campo educacional,

expressões do multiculturalismo se fazem presentes nas artes, nos movimentos

sociais, em políticos.

Aponta-se como o multiculturalismo implica o reconhecimento da diferença,

o direito à diferença, colocando em questão o tipo de tratamento que as identidades

tiveram e vem tendo nas democracias tradicionais.

Observa-se que algumas questões de fundo sobre a diversidade cultural e

suas conexões com processos democráticos não fossem tratadas com o cuidado

necessário, corria-se o risco de se ver a discussão de um tema tão importante

transformado em mero arranjo de conteúdos e métodos pedagógicos, fechados no

círculo dos especialistas em currículo. As conseqüências de inversão eram visíveis

a curto prazo: graves problemas vividos pelas sociedades multiculturais,

transformavam-se em temas transversais ou eram tratados como se fossem um

caprichoso estilo de vida.

Esperava-se apenas, que as práticas escolares reconhecem no interior da

escola e/ou universidades as diferenças culturais, que respeitassem a diversidade,

uma vez que a sociedade brasileira é pluricultural. Devido a esse risco, colocamos a

seguinte citação:

O multiculturalismo é o jogo das diferenças, cujas regras são definidas nas lutas sociais por atores que, por uma razão ou outra, experimentam o gosto amargo da discriminação e do preconceito no interior das sociedades em que vivem (...). Isto significa dizer que é muito difícil se não impossível, compreender as regras desse jogo sem explicitar os contextos sócio-históricos nos quais os sujeitos agem, no sentido de interferir na política de significados em torno da qual, dão inteligibilidade a suas próprias experiências, construindo-se enquanto atores. (Gonçalves; Silva, p.46, 2001)

O retorno a essa questão se faz necessário uma vez que, hoje, traduções

dos movimentos multiculturais em todo mundo têm fortes repercussões na educação

formal, ou seja, em formações sociais que têm um grande poder de sublimar lutas,

por vezes ferozes, que vitimam muitas pessoas nas teias do racismo, da

discriminação e da intolerância.

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O multiculturalismo nasce no embate de grupos, no interior de sociedades

cujos processos históricos foram marcados pela presença e confronto de povos

culturalmente diferentes. Esses povos, submetidos a um tipo de poder centralizado,

tiveram de viver a contingência de juntos construírem uma nação moderna.

Apesar das imensas diferenças que podem existir entre por exemplo, Brasil,

Canadá, Índia, Estados Unidos e África do Sul, há de se reconhecer que todos eles

estiveram ligados a um poderoso centro de dominação: a Europa ocidental. Isso

talvez explique porque os movimentos multiculturais nesses e em outros países

igualmente colonizados, representam uma reação ao monoculturalismo ou

etnocentrismo que, com mais ou menos firmeza, domina há pelo menos três séculos

consecutivos.

Foi através das artes, plásticas e cinema, da literatura e o papel importante

das universidades, que se consolidaram as políticas multiculturais, tais obras

culturais possibilitaram a difusão das teses do multiculturalismo e

consequentemente, o combate aos preconceitos e a discriminação culturais.

No Brasil, os confrontos no interior da cultura, tiveram os movimentos negros

urbanos como importantes protagonistas. Além de exigirem acesso a direitos iguais,

aqueles movimentos – negros, feministas, de índios, homossexuais e outros –

apontavam para a necessidade de se produzir imagens e significados novos e

próprios, combatendo os preconceitos e estereótipos que justificavam a

inferiorização desses grupos.

Ainda no Brasil, grande parte das práticas multiculturais, na educação

escolar e nas artes em geral, tem sido obra de organizações não-governamentais.

Nas universidades, registram-se programas de pesquisa sensíveis à temática bem

como iniciativas de ação afirmativa voltadas a grupos sub-representados no ensino

superior, por exemplo, os índios. O maior número de projetos tem sido induzido pelo

governo federal: Ministérios da Cultura, da Educação, da Justiça, do Trabalho e da

Saúde. Nas unidades federadas, propostas multiculturais diferenciam-se em

intensidade e no investimento aplicado.

Mostrando um pequeno retrato do tipo de sociedade no qual o

multiculturalismo floresce, são sociedades que surgem com grandes conquistas na

era moderna, combinam e recombinam povos, civilizações, línguas, crenças e assim

por diante. Mas reagem contra um centro cultural dominador, estas chamadas de

sociedade multiculturais.

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2.1 – MULTICULTURALISMO E A EDUCAÇÃO

A reação educacional à hegemonia da cultura nas sociedades, teve várias

vertentes. As estratégias multiculturais na área da Educação, compreenderam

amplo conjunto de procedimentos que envolvem desde a preparação de docentes

até o desenvolvimento de atividades em sala de aula.

A educação pode ser um dos instrumentos pedagógicos sociais para

construir as relações interculturais, baseada no diálogo entre culturas.

Vários países como os Estados Unidos, formam um campo interdisciplinar

de pesquisa, focalizando pensamentos e práticas dos africanos e seus

descendentes ao longo da história; como o citado abaixo:

Destacam os problemas de acesso ao poder, bem como os de permanência e uso do mesmo. Estudam as relações não eqüitativas na distribuição das riquezas entre os diferentes grupos raciais e classes sociais. Abordam aspectos críticos relativos a questões de identidade, alienação e auto-imagem. Preocupam-se com problemas educacionais e descendência étnico/racial, família e relações de gênero. (Gonçalves; Silva, p.48; 49, 2001).

2.2 – O DIREITO À DIFERENÇA

No plano da cultura, a globalização, viabilizada pelo desenvolvimento

espantoso dos diferentes meios de comunicação, ao mesmo tempo em que cria

grupos de identidades tão importantes para o consumo, ameaça a afirmação cultural

de diferentes segmentos sociais.

É fundamental entendermos, que o processo de globalização criou as

condições para a intensificação do debate em torno da questão do direito à

diferença. Para discutirmos a questão da identidade e da diferença propomos uma

tipologia cuja organização está em torno de dois conceitos “diferencialismo” e

“igualitarismo”.

Em primeiro lugar definiremos o diferencialismo repressivo, que seria a

forma mais primitiva de relação com o outro, cuja diferença do outro põe em perigo

nossa própria existência, tornando assim impossível de conviver com ela.

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No caso específico de nosso país, acreditou-se um dia em democracia

racial, em tratamento igualitário para todos os brasileiros e todos que interagem com

eles. Segundo Vera (Candau,1997,p.241):

Hoje a necessidade de um reconhecimento e valorização das diversas identidades culturais, de suas particularidades e contribuições específicas à construção do país é cada vez mais afirmada.

Em segundo lugar temos o igualitarismo abstrato que defende a idéia da

igualdade entre todos os homens. Esse igualitarismo postula a igualdade entre os

homens, não atentando para as diferenças reais entre as pessoas, criadas no

processo de desenvolvimento social e histórico.

O direito à diferença engloba os conceitos de multiculturalismo e outros que

procuram dar explicações sobre a diversidade cultural no interior do moderno

Estado-Nação.

O multiculturalismo está disposto a reconhecer a existência da sociedade

plural e diferenciada e a necessidade de se atuar respeitosa e inteligentemente para

que tal pluralidade não provoque conflitos, pois exigiria ajudas específicas para a

conservação e a promoção das distintas culturas. Esse tipo de multiculturalismo,

que apenas reconhece o direito à diferença e a necessidade de respeito às

diferentes manifestações culturais, estaria relacionado à idéia de que a democracia

só é possível em uma sociedade plural. Torna-se fundamental portanto,

compreender, por exemplo como, além da construção discursiva de raça, a questão

étnica está imbricada na configuração do capitalismo transnacional.

Ao entrarmos em interação com outras culturas, uma dada cultura poderá se

desestabilizar ou ser relativizada e até mesmo contestada em seus princípios

básicos, expondo-se à crítica e à autocrítica, o que possibilita a eliminação dos

aspectos negativos presentes nas diferentes tradições culturais.

O pensador Indu-britânico Homi Bhabha sintetiza muitas das preocupações

e polêmicas defendendo a utilização do conceito de diferença cultural, ele chama a

atenção para um problema que se faz presente em praticamente todos os campos

das chamadas ciências humanas, mas que seria uma espécie de “território perdido”

nos debates críticos contemporâneos. Sua proposta é pensar o limite da cultura

como um problema da enunciação da diferença cultural, o que significa ir além do

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reconhecimento e do acolhimento das diversidades, da crítica aos racismos e

discriminações de todas as ordens, de exclusões e inclusões, individuais e grupais.

Para esse autor enquanto o conceito de diversidade cultural remeteria

basicamente a um objeto epistemológico, o conceito de diferença cultural trata de

um processo bastante complexo de significação, através do qual se produzem a

respeito da cultura, as quais por sua vez constituem diferenças e discriminações.

2.3– DIVERSIDADE CULTURAL

As discussões no campo da sociologia da educação, mostram que a

educação universitária implica eleções no interior da cultura e na reelaboração dos

conteúdos culturais, de forma que sejam transmitidos à essa clientela. Nesse

processo de seleção, a universidade trabalha apenas com uma parcela restrita da

experiência coletiva humana. Esse conjunto de conteúdos selecionados sobretudo

em termos de conhecimentos, experiências, valores e atitudes, constitui a legítima

cultura. Isso significa que a cultura de diversos grupos sociais fica marginalizada do

processo de escolarização, e é vista como algo a ser eliminado pela universidade

devendo ser substituída pela cultura hegemônica, que está presente em todas as

esferas do sistema de ensino. A universidade vem assumindo de fato, o papel da

homogeneização e assimilação cultural.

Segundo Ana Canen, no artigo cujo título é Multiculturalismo e Formação

Docente: Experiências Narradas, ela segue questionando: “Em que medida a

intenção de preparar professores para a diversidade cultural traduz-se em práticas

discursivas e não-discursivas que impactam a construção de suas identidades?”

A autora mostra as enormes contradições entre os propósitos de formar uma

docência multicultural e os impactos dos sujeitos (professores em formação) na

interação de grupos diferentes do seu (étnicos, por exemplo).

As universidades devem ser utilizadas para fortalecer os grupos oprimidos

na sociedade assim como todo espaço escolar, e ter como tarefa primordial dos

educadores, trabalhar no sentido de reverter essa tendência histórica presente na

universidade, construindo um projeto político pedagógico que expresse e dê sentido

democrático à diversidade cultural.

Essa afirmação não está presente apenas para o reconhecimento concreto

das diferentes culturas no espaço universitário, como também para a valorização e o

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respeito pela cultura do outro. Caso contrário a diversidade continuará sendo uma

inesgotável fonte de oposições, de conflitos e de lutas internas.

É necessário identificar o conceito de multiculturalismo, utilizado na

elaboração e na implementação de propostas curriculares. A “educação

multicultural” revela-se ambígüa e enganosa, pois as propostas nessa direção têm a

idéia de que uma cultura dominante pode assimilar uma outra minoritária, que se

encontra em desigualdade de condições e com escassas oportunidades nos

sistemas social e educativo. Além disso esse tipo de educação pode se constituir

em um instrumento para reduzir os preconceitos de uma sociedade onde existam

minorias étnicas. Também é importante reconhecer a necessidade de o processo de

interação cultural ser utilizado na universidade como mecanismo de crítica e

autocrítica às diferentes manifestações culturais, pois ao se trabalhar com as

culturas locais, é de fundamental importância analisar seus aspectos repressivos e

seus mecanismos de discriminação, para que se transcenda do local ou regional na

afirmação de liberdade, da autonomia e do respeito ao outro.

É importante ressaltar que no processo de globalização, a integração de

sistemas econômicos e consequentemente a homogeneização cultural, pois

constroem-se espaços de luta e contestação e não apenas de dominação. Nesse

sentido, a luta no campo educacional, inclui a abertura de espaços para que as

culturas dos grupos excluídos do currículo escolar, tenham condições de se tornar

representadas, por meio de narrativas que valorizem suas experiências,

possibilitando assim, um diálogo entre essas diferentes culturas.

Para o autor Carlos Skliar, o tema de alteridade deficiente constitui um

exemplo concreto de como em nossa sociedade inventamos e ao mesmo tempo

excluímos os Outros, já que a tendência dominante não é de buscar formas

contundentes de tratar essas diferenças, mas sim de pensá-las apenas como

inclusão/exclusão.

De acordo com Skliar : (revista, ed. 242, vol.24, nº 2, jul/dez. 1999)

A deficiência não é uma questão biológica e sim uma retórica social, histórica e cultural. A deficiência não problema dos deficientes ou de suas famílias ou dos especialistas. A deficiência está relacionada com a própria idéia da normalidade e com sua historicidade.

24 – MULTICULTURALISMO CRÍTICO E CONSERVADOR

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O multiculturalismo crítico tem por base a política cultural da diferença, a

qual evidencia as contradições socioculturais fazendo vir à tona as diferenças e as

ausências de muitas vozes que foram caladas pelas metanarrativas da

modernidade. Ao rejeitar todo o preconceito, este multiculturalismo baseia-se no

respeito ao ponto de vista, às interpretações e atitudes do “Outro”, constituindo-se

numa fonte de possibilidades de transformação e de criação cultural. Evidenciamos

assim, um entendimento dinâmico de cultura, a qual deixa de ser um conjunto de

características rígidas transmitidas de geração em geração e passa a ser uma

elaboração coletiva que se reconstrói a partir de denominadores inter-culturais.

Nessa ótica, o reconhecimento do “Outro” tem um significado mais complexo

e profundo. As formas alternativas de vida do “Outro”, são de nosso interesse, ainda

que não vivamos essas formas. O respeito pelo “Outro”, não admite força, violência

ou dominação; admite sim o diálogo, o reconhecimento e a negociação das

diferenças, cujas opiniões e idéias devemos estar preparados para ouvir e debater

como um processo mútuo, no qual significa o reconhecimento da autenticidade do

“Outro”.

Enquanto que, o multiculturalismo de cunho conservador, busca a

conciliação das diferenças com base no mito da harmonia. As relações entre as

comunidades pós-modernas são marcadas por antagonismos e conflitos, reiterando

os estereótipos e estigmas que recaem sobre as chamadas “minorias”, colocando

frente a uma concepção estática da cultura.

2.5 – SISTEMA DE COTAS

A discussão sobre as questões raciais, vem se destacando devido à

implantação de leis que visam uma reflexão sob o ponto de vista do multiculturalismo

e o acesso de negros nas universidades. Atualmente, existem diversos documentos

e leis que promovem discussões referentes à classe negra e seu papel no

desenvolvimento social e cultural de uma sociedade, tentando-se amenizar a

questão da discriminação racial no país.

19

“O programa Projeto Brasil da TV Cultura apresentado, de 23 a 25 do mês

de março de 2005, uma série de reportagens especiais sobre exclusão

social dos negros no Brasil. Temas como a reserva de cotas para negros

nas universidades federais; a dívida social do país com a população de

afrodescendentes e questionamentos se os negros têm mais dificuldades

para acessar escolas e o mercado de trabalho, por causa da cor, foram

abordados na série”. www.mec.gov.br

Todavia, é necessário mais do que leis para promover uma conscientização.

É preciso implantar programas. Na prática, de tudo que se diz e se analisa como

correto, relativo à questão do negro na sociedade.

Os professores devem trabalhar com seus alunos as diversas faces do

multiculturalismo, bem como a história étnico-racial do nosso país a fim de que se

consiga amenizar a questão do preconceito e da discriminação racial nas

universidades.

Com relação à educação, se faz necessária a implantação de um ensino

voltado para a realidade dos povos negros, sim; e é preciso trabalhar as

diversidades nas universidades promovendo uma maior reflexão sobre o

multiculturalismo e as desigualdades raciais. O desenvolvimento de projetos

interdisciplinares envolvendo o tema é fundamental para a construção de um aluno-

cidadão mais consciente e menos discriminativo.

É indispensável desenvolvermos um trabalho de identidade, para que se

possa reconhecer e ter consciência do papel do negro na sociedade em que

vivemos, promovendo relações interpessoais e conseqüentemente intrapessoais

com um enfoque sociocultural.

2.6 – REFORMA UNIVERSITÁRIA COM TRATAMENTO DIFERENCIADO

O ministro da Educação, Tarso Genro, assegurou, a direção da Associação

Brasileira das Universidades Comunitárias (Abruc) que esse grupo de instituições

será tratado como um segmento específico e diferenciado do anteprojeto da

Reforma da Educação Superior que o MEC está preparando. E também aceitou a

20

proposta da Abruc de constituir uma comissão de entidades, coordenada pelo MEC,

para revisar a versão final do anteprojeto antes de encaminha-lo à Casa Civil.

Ao receber o pedido da Abruc, o ministro destacou a necessidade de

tratamento específico às instituições de ensino superior comunitárias. “São

instituições públicas de caráter não estatal que têm que ter uma regulação própria”

Essa regulação, explicou, não deve se ater só à questão de organização, mas

evoluir para um vínculo mais concreto com a política de bolsas de estudo como já

ocorreu na criação do Programa Universidade para Todos (ProUni).

A Abruc deverá trazer ao grupo de trabalho até o dia 10 de abril de 2005, sua

proposta de tratamento diferenciado para que ela já integre o corpo do documento. A

comissão revisora vai avaliar a terceira e última versão do anteprojeto.

O MEC se responsabiliza por assegurar, dentro da norma, as demandas que

vão especificar o caráter das comunitárias que vão integrá-las ao sistema público e

reforçá-las como instituições.

21

CONCLUSÃO

A condição pós-moderna, realçou os questionamentos sobre as diferenças,

colocando o “Outro” como alguém que mesmo vivendo de forma diferente, pode e

deve ser reconhecido como “nós”, e também acentuou a flexibilidade como uma

categoria política central, para pensarmos sobre as mudanças que devemos

proceder. Se a conversa franca com o “Outro” ainda não é realidade, então se torna

mais urgente ainda a necessidade das universidades pós-modernas refletirem como

possibilidade, afinal, a efetivação desta conversa envolve uma negociação muito

complexa.

Como podemos ver, a reação à homogeneização cultural, intensificada nos

últimos anos pelo processo de globalização, abre um amplo debate sobre a questão

da diversidade cultural. Se, a princípio, o debate era polarizado por concepções

universalistas versus concepções diferencialistas, hoje percebemos que essas

posições assumem diferentes nuances, tornando-se, em alguns casos, mais

próximas umas das outras.

Concluímos que, é importante reconhecer que nesse processo constroem-se

também, espaços de luta e contestação e não apenas de dominação. Neste

sentido, a luta no campo educacional inclui a abertura de universidades para que as

culturas dos grupos excluídos do currículo escolar, tenham condições de se tornar

representadas por meio de narrativas que valorizem e dêem voz às suas

experiências.

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ÍNDICE CAPA 01

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I -AS INFLUÊNCIAS LINGÜÍSTICAS 09

1.1 A história da língua portuguesa 09

1.2 - A influência tupi 09

1.3 - A influência dos africanismos 11

CAPÍTULO II - O MULTICULTURALISMO 12

2.1 - O multiculturalismo e a Educação 14

2.2 - O direito à diferença 14

2.3- Diversidade cultural 18

2.4 O Multiculturalismo crítico e conservador 18

2.5 - Sistema de Cotas 18

2.6 - Reforma Universitária com Tratamento Diferenciado 19

CONCLUSÃO

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 22

ÍNDICE 23