universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo lato … · capÍtulo ii - as tecnologias assistivas e...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA AO DESENVOLVIMENTO DE
HABILIDADES E COMPETÊNCIAS COGNITIVAS, PSICOMOTORAS E
AFETIVAS NA EDUCAÇÃO ESPECIAL.
ANA MÁRCIA FONSECA RAMIRES
Orientador
Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
NITERÓI
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA AO DESENVOLVIMENTO DE
HABILIDADES E COMPETÊNCIAS COGNITIVAS, PSICOMOTORAS E
AFETIVAS NA EDUCAÇÃO ESPECIAL.
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Psicopedagogia Institucional
Por: Ana Márcia Fonseca Ramires.
3
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus, o qual permitiu realizar este ideal de obtenção de
conhecimentos e capacidades para atuar em apoio à educação especial como
profissional de psicopedagogia.
Em segundo lugar aos professores e a instituição que se dedicaram conjuntamente a
transmitir e compartilhar seus conhecimentos e experiências em momentos agradáveis
de estudo.
Em terceiro lugar, gostaria de agradecer ao meu esposo, por ter dedicado algumas horas
à revisão de meus escritos e as sugestões no desenvolvimento deste trabalho de
conclusão.
4
DEDICATÓRIA
Dedico à minha mãe Cacilda Fonseca Ramires e a meu pai Irak Ramires (já falecidos)
pelos inúmeros momentos inesquecíveis de admoestação para os estudos e de
perseverança em busca e alcance de seus ideais.
5
RESUMO
A Psicopedagogia originalmente surge como uma proposta científica que
promova a interação entre a Psicologia e a Pedagogia na busca para soluções de
problemas de aprendizagem e comportamento social na educação escolar.
Os conceitos e a interação entre os campos da Psicopedagogia e da Educação
Inclusiva são facilitados pela utilização de Tecnologias Assistivas em apoio ao
desenvolvimento de habilidades e competências, necessárias a potencialização da
relação ensino-aprendizagem especial.
Outras técnicas do método psicopedagógico para avaliação e rendimento escolar
na Educação Especial, podem ser consideradas como efetivas: o esporte adaptado, as
artes terapias como a musico terapia e outras.
Observamos que os principais problemas identificados são de natureza
estruturas, da forma como o ensino formal e sistemático realiza as avaliações e estimula
a competição, ao invés de considerar a multidiversidade e a igualdade das mesmas e o
caráter do desenvolvimento afetivo do portador de necessidade especial, principalmente
das relações além dos muros da escola inclusiva.
6
7
METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi a revisão da literatura através do método
comparativo entre a literatura científica e a literatura técnica sobre o tema
Psicopedagogia e Educação Especial.
Os diversos agentes que fazem parte do processo de avaliação e pesquisa do
trabalho, são confrontados com a realidade do método científico, principalmente os
estudos de autores sobre as observações de Piaget, Vygotsky e Wallon e as técnicas
atuais implantadas em apoio aos processos de ensino-aprendizagem especial da Escola
Inclusiva.
Desta forma é possível obter uma visão abrangente entre o método científico
recomendado por especialistas e as práticas adotadas atualmente pelos pedagogos e
psicopedagogos no ambiente escolar, permitindo realizar inferências sobre os problemas
e potenciais do método psicopedagógico, enquanto atuante no apoio aos processos de
aprendizagem especial.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A Psicopedagogia, a Educação Especial e as Tecnologias
Assistivas. 12
CAPÍTULO II - As Tecnologias Assistivas e as Contribuições para o Método
Psicopedagógico na Educação Especial. 17
CAPÍTULO III – Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Especial. 23
CAPÍTULO IV – Psicopedagogia, Arte Terapias, Afetividade e a Escola Inclusiva. 29
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34
ÍNDICE 35
9
INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia originalmente surgiu de acordo com SASS (2003) como uma
proposta científica que promovia a interação entre a Psicologia e a Pedagogia na busca
para soluções de problemas de aprendizagem e comportamento social na educação
escolar.
Este trabalho aborda a contribuição da psicopedagogia ao desenvolvimento de
habilidades e competências cognitivas, psicomotoras e afetivas na Educação Especial,
atuando como facilitadora e auxiliar na relação ensino-aprendizagem.
Conforme MIRANDA (2009), dois documentos são significativos na construção
das bases e fundamentos da Educação Especial contemporânea: A Conferência Mundial
sobre Educação para Todos em 1990 na Tailândia, a qual buscava garantir a igualdade
de acesso à educação a pessoas com qualquer tipo de restrição ou limitação à
aprendizagem e, a “Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades
Educativas Especiais”, elaborada e redigida na Espanha em 1994, que defende a ideia
de igualdade de valor entre as pessoas, propondo ações a serem assumidas por governos
em atenção às diferenças individuais.
A educação especial brasileira ao final dos anos 90 está marcada pelo debate
entre os defensores de uma educação inclusiva e os defensores de uma visão mais
radical com base na inclusão total (GONÇALVES MENDES, 2011)
Apesar da Declaração de Salamanca representar um avanço ao defender que
todos devem aprender juntos, independentemente de suas limitações, a necessidade de
realização de investimentos significativos no redimensionamento das instituições
escolares para atender de forma conjunta e com qualidade este objetivo, tanto o ensino
regular quanto as especificidades do ensino especial, apresentaram muitas dificuldades
para sua real implementação, efetividade e desenvolvimento., problemas que insistem
em permanecer até os dias atuais (MIRANDA, 2009).
10
Para FERREIRA e RAMOS (2007), a Educação Especial ou Inclusiva é uma
visão de um tipo de sociedade solidária, pluralista, onde a integração escolar é apenas
um dos componentes principais, tornando real o exercício do direito de “ser diferente” e
“ser igual” ao ter acesso a todo um conjunto de materiais e recursos pedagógicos:
audiovisuais, de informação e atualmente tecnológicos em apoio a um tratamento social
e educacional igualitário.
Atividades e práticas educacionais que promovam o desenvolvimento de
habilidades e competências, cognitivas, psicomotoras e afetivas no apoio a relação
ensino-aprendizagem são aqui neste trabalho abordadas e analisadas para identificar
suas reais contribuições a inclusão total e ao desenvolvimento desta sociedade solidária
e mais participativa.
Na visão da psicopedagogia, BEAUCLAIR (2008) afirma que a solução dos
problemas da relação ensino-aprendizagem, ultrapassa as fronteiras da escola. Na
família, sociedade e nas relações de trabalho é que ocorrem os processos de
internalização de valores socioculturais, bem definidos por Vygotsky.
Vygotsky dedicou boa parte de sua pesquisa à educação especial, contribuindo
para a emergência de novas formas de compreensão da psique humana.
A possibilidade de aprendizagem e de desenvolvimento do aluno portador de
necessidades especiais, passa pelo reconhecimento do psicopedagogo de que as
limitações em um campo qualquer do aluno, cognitivo, psicomotor ou afetivo,
relacionado à capacidade de aprendizagem, podem vir a ser compensadas por
desempenhos acima da média em demais campos (COSTA, 2006).
Por outro lado, estes campos mantém uma conexão, são inter-relacionados no
desenvolvimento como um todo. Portanto, as metodologias utilizadas na educação
especial devem ter abordagens extensivas a todos estes campos, atuando de forma
integrada.
11
Neste trabalho, abordamos algumas das metodologias e atividades praticadas
mais usuais no ambiente escolar em apoio à relação ensino-aprendizagem na Educação
Especial, incluindo a utilização de tecnologias assistivas, objetivando demonstrar as
diversas contribuições que a psicopedagogia proporciona à Educação Especial.
Utilizou-se como fonte de pesquisa além da revisão bibliográfica, a observação
em campo de projetos nestes temas, desenvolvidos em Centro de Educação Especial e
APAEs – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, localizados no Estado do Rio
de Janeiro.
No capítulo 1, abordamos os conceitos e a interação entre os campos da
Psicopedagogia e da Educação Inclusiva e da utilização de Tecnologias Assistivas no
apoio ao desenvolvimento de habilidades e competências, necessárias a potencialização
da relação ensino-aprendizagem na educação especial.
No capítulo 2, aprofundamos o tema da utilização das Tecnologias Assistivas e
as suas reais contribuições ao desenvolvimento psicomotor, cognitivo e afetivo do
portador de necessidades especiais, sob a ótica do método psicopedagógico e suas
aplicabilidades na Educação Inclusiva.
Nos capítulos 3 e 4, abordamos outras técnicas do método psicopedagógico de
avaliação e rendimento escolar na Educação Especial: o esporte adaptado, as artes
terapias como a musicoterapia e suas contribuições, descobertas e potencialidades ao
desenvolvimento da própria metodologia de ensino especial.
Nas conclusões finais observamos os principais problemas identificados na
revisão da literatura e as potencialidades para as pesquisas futuras ao desenvolvimento
dos métodos psicopedagógicos voltados para a total inclusão escolar e familiar e, no
ambiente de trabalho e de lazer dos portadores de necessidades especiais.
12
CAPÍTULO I
A PSICOPEDAGOGIA, A EDUCAÇÃO ESPECIAL E AS TECNOLOGIAS
ASSISTIVAS.
A Psicopedagogia originalmente surgiu como uma proposta de ciência que
promovesse a interação entre a Psicologia e a Pedagogia na busca de soluções para
dificuldades de aprendizagem e de relacionamento social no ambiente escolar.
BOSSA (2007) afirma que a Psicopedagogia possui características
interdisciplinares, buscando conhecimentos em outros campos, além dos dois citados
acima, como, por exemplo, a Psicanálise, a Linguística, a Fonoaudiologia, a Medicina e
outras ciências para a absorção de metodologias que proporcionem o desenvolvimento
de habilidades e competências, específicas a criação de uma ciência com objeto de
estudo e campo teórico definidos, porém, ainda em evolução.
A Psicopedagogia tem duas funções básicas: educar preventivamente e tratar as
dificuldades de aprendizagem.
Neste sentido, a função de educação preventiva da psicopedagogia, procura
analisar e acompanhar o desenvolvimento psicomotor, cognitivo e afetivo do indivíduo
no ambiente interno da escola e nas inter-relações com o seu ambiente externo: família,
sociedade e trabalho, os quais interagem e influenciam o desempenho da aprendizagem
como um todo.
Neste contexto de interação entre escola, família e trabalho, MOTA e
SANCHES (2011) apontam que a evolução tecnológica nos últimos anos, tem
proporcionado importantes contribuições sob a forma de ferramentas de aprendizagem
para minorar as dificuldades dos portadores de necessidades educativas especiais.
A função terapêutica da psicopedagogia procura estabelecer as relações entre
causas e efeitos das dificuldades do desenvolvimento das habilidades e competências,
13
consequentemente, as dificuldades relacionadas à aprendizagem e ao comportamento
social do indivíduo, de acordo com BOSSA (2007), promovendo intervenções
pedagógicas necessárias e adequadas a inclusão total dos alunos portadores e não
portadores de necessidades especiais na educação.
A psicopedagogia exerce um papel relevante na Educação Especial, seja em sua
função educativa para a potencialização das habilidades e competências já referidas,
quanto em sua função terapêutica, identificando as áreas psicomotoras que requerem
maior atenção do educador ao uso de ferramentas pedagógicas específicas e necessárias
para realizar as intervenções planejadas de desenvolvimento, inseridas em um método
pedagógico próprio de ensino-aprendizagem inclusivos (BOSSA, 2007).
A educação especial no Brasil ao final dos anos 90 é fortemente marcada por um
debate entre uma educação de inclusão e a visão mais radical com base na inclusão
total.
Este debate ainda é tema atual de controvérsias entre educadores e especialistas,
mas o principal argumento que deve prevalecer é o da realidade do ambiente escolar.
Conforme descreve MIRANDA (2009), existe atualmente uma dificuldade estrutural,
material, financeira e tecnológica de se ter uma escola totalmente adaptada às
necessidades da educação especial, incluindo capacitação moderna e adequada de toda
uma equipe multidisciplinar, incluindo o próprio psicopedagogo, para o atendimento
personalizado e também não discriminatório entre alunos com e sem necessidades
especiais.
A meta do psicopedagogo no ambiente escolar é o de socializar o conhecimento
entre todos os alunos sem distinção. Ele promove o desenvolvimento cognitivo e de
certa forma, o afetivo ao construir regras de conduta moral e ética de inter-
relacionamentos. No caso da Educação Especial, promove a inclusão social entre o
aluno portador de necessidades especiais e os demais alunos que compõem o ambiente
de aprendizagem.
14
Segundo MOTA E SANCHES (2011) na atual sociedade do conhecimento em
que vivemos, pretende-se que todos os alunos tenham acesso as mesmas oportunidades
de informação e de conhecimento e cabe a escola implementar estratégias eficientes e
adequadas para a inclusão dos alunos considerados de necessidades especiais.
Em sua atuação preventiva no ambiente escolar, o psicopedagogo trabalha com
as áreas de planejamento educacional e de saúde e assessora a área pedagógica com
propostas operacionais pertinentes a esta necessidade de inclusão e interação. No caso
da educação especial, ele atua avaliando metodologias e ferramentas em apoio à relação
ensino-aprendizagem, adaptadas a cada especificidade, previamente identificadas por
uma equipe multidisciplinar.
A Psicopedagogia, ainda segundo BOSSA (2007), analisa assim, não só os
aspectos educacionais como também, os aspectos sócios culturais e afetivos do aluno,
tomado o ponto de vista a partir da relação ensino-aprendizagem, onde educador e
educando são os principais protagonistas no cenário escolar. Outros atores coadjuvantes
participam ativamente deste processo, entre eles, os mediadores e a família, como
motivadores deste trabalho.
Na Educação Especial, o papel da família é preponderante no desenvolvimento
das habilidades e competências do portador de necessidades especiais. Para o bem,
atuando como facilitadora ou para o mal, atuando como inibidora deste processo. A
família atua assim como uma extensão do trabalho do psicopedagogo na escola e que
influi decisivamente nos resultados.
Neste sentido, COSTA (2006) nos diz que a expectativa da família de que o
portador de necessidades especiais seja imutável em suas limitações é muito negativa
para o seu desenvolvimento. Vygotsky defende a crença na capacidade do ser humano
de transformar as fraquezas em força pela superação.
O defeito assim se converte na própria força propulsora do desenvolvimento
psíquico e da personalidade. Para Vygotsky, o contexto sócio cultural nesse processo de
15
superação é de maior importância. A inteligência não é um atributo estático, mas
evolutivo, dinâmico e abrangente e um dos objetivos da educação especial é
potencializar o seu desenvolvimento através da prática psicomotora, cognitiva e afetiva.
Entretanto, para alcançar este objetivo o processo de ensino-aprendizagem deve
ser adequadamente organizado para atender as necessidades da educação inclusiva. As
necessidades especiais é que determinam quais os processos pedagógicos e ferramentas
adequados para o desenvolvimento completo nestas três dimensões (COSTA, 2006).
Entre as diversas práticas e ferramentas metodológicas que tem como base os
princípios da ciência da psicopedagogia no apoio à relação ensino-aprendizagem na
educação especial, são exemplos: a psicomotricidade, a arte terapia, o esporte adaptado,
as tecnologias assistivas inseridas nas TICs - tecnologias de informação e comunicação
– e atividades como a estimulação precoce e a fisioterapia em suas contribuições ao
desenvolvimento da relação professor-aluno especial e deste último com os demais
alunos.
Para Vygotsky o objetivo da educação especial é o mesmo objetivo da educação
formal: educar, utilizando, porém, meios diferentes. O que implica, segundo COSTA
(2006) no enriquecimento do ambiente de aprendizagem com recursos como
computadores adaptados, softwares específicos e ferramentas específicas como o Braile
para deficientes visuais e a própria estimulação precoce no estágio pré-operatório de
Piaget.
O desenvolvimento das funções psicológicas superiores, de acordo com
PADILHA (2000) através do uso de recursos auxiliares como as tecnologias assistivas e
outras ferramentas de apoio, passa a ser primeiramente uma construção coletiva, do
grupo, uma interação entre o portador de necessidades especiais e os recursos
tecnológicos ou estímulos psicomotores. Depois se convertendo, conforme Vygotsky,
em funções psíquicas formadoras da personalidade e de uma linguagem simbólica de
comunicação.
16
Desta forma, os recursos tecnológicos e outros recursos adaptados, descrevem
DAMASCENO e GALVÃO FILHO, 2002) ao tornarem capazes os portadores de
necessidades especiais de exercerem as mesmas atividades curriculares e extra
curriculares dos alunos não portadores, tornam-se ferramentas poderosas de inclusão
social e educativa.
As tecnologias assistivas são assim definidas como recursos ou ferramentas que
proporcionam a acessibilidade ao portador de necessidades especiais ao conteúdo e
experimentos da aprendizagem, permitindo criar uma maior independência no seu dia a
dia em sala de aula, maior confiança em suas relações sociais e menor vulnerabilidade
no ambiente externo.
Hoje em dia a utilização da tecnologia de informação como instrumento de
aprendizagem e busca do conhecimento, amplia-se rápida e progressivamente no dia a
dia se refletindo inclusive no ambiente escolar, conforme descrito por OLIVEIRA
(2003), facilitando o fluxo de informações e globalizando a forma de receber, armazenar
e transmitir o conhecimento.
Para este autor (op. cit.) o computador e o software, fortalecem o interesse pelo
conteúdo do ensino. Em termos de método psicopedagógico há uma semelhança entre o
construtivismo de Piaget e a construção do conhecimento com o uso de uma ferramenta
de apoio, no que se definiu como uma adaptação do construtivismo ao ambiente
computacional.
Para PADILHA (2000) alerta para o fato de que para Vigotski não basta
determinar o grau ou a gravidade da patologia ou deficiência, mas encontrar processos
edificadores e equilibradores no desenvolvimento e na conduta da criança especial.
Segundo a autora (op. cit.) a deficiência é contextualizada e marcada pelas
condições concretas do ambiente e das inter-relações em que convive o portador de
necessidades especiais.
17
Imagem 1 – Escola inclusiva no município do Carmo/RJ.
Fonte: Felicíssimo e Ramires Consultoria em Gestão Empresarial Ltda.
- http://biodieselenzimatico.blogspot.com.br/2015_04_01_archive.html - Acesso em 27.04.2015
18
CAPÍTULO II
AS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS E AS CONTRIBUIÇÕES PARA O MÉTODO
PSICOPEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL.
O termo tecnologia assistiva ou de apoio (em inglês, assistive technology) é
definida, segundo BRANDÃO (2010), como qualquer produto ou tecnologia que se
traduza numa solução ou serviço prestado a pessoas com limitações nas atividades do
dia a dia. No caso de aplicação na Educação Especial, previne, compensa, atenua ou
neutraliza as limitações funcionais ou de participação no processo ensino-aprendizagem
e no convívio social no ambiente escolar ou doméstico.
Estas tecnologias ainda não são totalmente acessíveis e aplicadas no ambiente
escolar, devido ao seu alto custo, o que se caracteriza como uma das dificuldades para
sua disseminação e expansão no meio educacional.
Como observado anteriormente por BOSSA (2007), a função terapêutica da
psicopedagogia é e identificar de forma preventiva e precoce, as limitações ainda na
infância de modo a proporcionar subsídios ao desenvolvimento de métodos de ensino-
aprendizagem adequados durante o período escolar e uso de ferramentas tecnológicas de
apoio adequados caso a caso.
Nas palavras de BRANDÃO (2010) a utilização destas tecnologias de apoio são
condição sine qua non (do latim, sem as quais) para a potencialização da comunicação e
da interação social na educação inclusiva.
Entre as tecnologias de apoio recomendadas para a Educação Especial estão
equipamentos e dispositivos tais como: hardwares e softwares especiais como os
sistemas de comunicação sofisticados integrados a símbolos denominados de TICs –
Tecnologias da Informação na Comunicação, teclados e mouses adaptados a restrições
motoras superiores, linhas Braille para portadores de restrição visual, leitores óticos de
19
caracteres, sintetizadores e softwares de reconhecimento de comando de voz, teclados
virtuais e outros inúmeros recursos de apoio (BRANDÃO, 2010).
Imagem 2: Aluna Especial utilizando o software boardmaker em sala de informática adaptada no
município de Rio Bonito.
Fonte: Felicíssimo e Ramires Consultoria em Gestão Empresarial Ltda
http://www.biodieselenzimatico.blogspot.com.br/2014/10/aula-inaugural-demonstrativa-marca-o.html -
acesso em 27.04.2015
O uso das tecnologias assistivas como a informática adaptada aos portadores de
necessidades especiais é favorável à atividade cognitiva e afetiva ao facilitar a
estruturação das representações do conhecimento e o desenvolvimento de emoções
necessárias ao estímulo psicomotor (OLIVEIRA, 2003).
A maior incidência dos problemas relacionadas a aprendizagem na educação
especial e que são facilitadas pelo uso das TICs, são situadas, conforme afirma
BRANDÃO (2010) nos níveis das funções do intelecto, de cunhos neurológicos e
esqueléticos relacionado aos movimentos da pessoa.
A principal contribuição do método do uso de tecnologias de apoio ou assistivas
na Educação Especial, mais especificamente as contribuições da informática adaptada,
pode ser melhor explicitada em DANTAS (1992) ao citar Wallon: o método adequado
para a psicologia é o da observação. Desta forma, a obra de Wallon contém, segundo a
autora (op. cit.), todos os grandes temas a serem trabalhados no estudo da evolução do
ato motor para o ato mental da criança: movimento, emoção, inteligência e
20
personalidade e posteriormente, a perspectiva do método pedagógico a ser adotado,
adequado caso a caso, diante das dificuldades encontradas na aprendizagem ou no
desenvolvimento destas habilidades e competências relacionadas acima.
Ainda segundo DANTAS (1992), o grande eixo do estudo da psicopedagogia
aplicada a Educação Especial é o da psicomotricidade. A patologia no desenvolvimento
do movimento se confunde com a patologia no desenvolvimento da personalidade.
Propostas de educação focadas na psicomotricidade passam assim necessariamente pela
compreensão do significado psicológico dos movimentos.
A criança ao adquirir o domínio crescente dos signos que compõe o universo
simbólico proposto pelo método de aprendizagem adotado (neste caso específico, a
utilização da informática adaptada contribui sensivelmente para acelerar os campos de
domínio simbólico do portador de necessidade especiais), transfere automaticamente a
força psicomotora para o desenvolvimento da força mental ou cognitiva na formação de
ideias concretas (DANTAS ,1992).
Segundo (BECK (2012) os meios de comunicação como as TICs é uma
combinação de linguagens e imagens focadas no aspecto afetivo e cognitivo que se quer
obter das pessoas, facilitando a aceitação e assimilação das mensagens propostas.
Uma das vantagens da informática e do uso do computador na educação é
permitir a aceleração do conhecimento no ritmo do educando, permitindo refazer ou
recriar as atividades. É desta forma uma importante ferramenta para alunos de ritmos de
aprendizagem mais lentos ou diferenciados como os existentes na Educação Especial.
As tecnologias de informação tornam-se uma passagem de uma “simples e
pobre” memorização das informações para uma utilização “rica” e inteligente” do
conhecimento (BECK, 2012).
Através de imagens, sons e textos permite as TICs, transformações e novas
perspectivas aos portadores de necessidade especiais na educação. As limitações de
21
ordem mental, física, sensorial e motora são desta forma extrapoladas, permitindo a
interação social e afetiva entre professor-aluno, aluno especial – aluno não especial
(ALMEIDA, 2008).
Para ALMEIDA (2008) as tecnologias com focos no desenvolvimento cognitivo,
resgatam assim o uso da inteligência do educando como origem e fonte dos processos
de obtenção do conhecimento, atuando como uma reestruturação do processo de ensino.
ALMEIDA (2008) desperta a atenção para o papel mediador que pode vir a ser
exercido pelo psicopedagogo no ambiente escolar no processo de interação social entre
aluno especial, aluno não especial e a tecnologia assistiva (representada pelo
computador e o software) em apoio a relação ensino-aprendizagem como pode ser
observado na figura abaixo:
Figura 1. Diagrama triangular da relação ensino-aprendizagem na educação inclusiva com uso de
TICs.
Fonte: ALMEIDA (2008) - Adaptado pela autora.
Para a autora (op. cit.) o ideal é a utilização das ferramentas computacionais em
rede, dado que a maioria dos softwares educacionais desenvolvidos para a educação
formal é limitado pelo uso individualizado. Na Educação Especial e Inclusiva é
primordial que haja interação, cooperação e troca entre as dimensões cognitivas,
psicomotoras e afetivas como essenciais ao desenvolvimento das habilidades e
competências.
Computador = software + hardware
Psicopedagogo/aluno especial Aluno não especial/ aluno especial
22
Segundo BECK (2012) a utilização das TICs como ferramentas pedagógicas é
capaz de romper com estruturas arcaicas de aprendizagem, priorizando a interação entre
os diferentes sujeitos sociais: professor – aluno especial – aluno não especial dentro de
um ambiente contextualizado de exercício de cidadania, voltado para a inclusão social,
cognitiva e afetiva dos portadores de necessidade especiais.
Na utilização da informática adaptada à educação especial, os programas mais
utilizados, segundo OLIVEIRA (2003) são os jogos cujos os aspectos positivos para o
desenvolvimento cognitivo do portador de necessidades específicas e ter concentração,
atenção e capacidade indutiva, com noção de espaço e noção visual trabalhando a
conexão de ideias a partir do tratamento das informações, além da cooperação,
persistência, envolvimento com a atividade, organização maior autonomia.
Sendo assim para a autora (op. cit.) um ponto importante a ser considerado é a
escolha adequada do software que vai ser utilizado de acordo com o perfil da classe de
alunos especiais e não especiais que vão utilizá-los para a melhor aplicação e eficácia da
ferramenta de apoio. Como vimos anteriormente em BOSSA (2007), o diagnóstico
inicial do psicopedagogo, identifica este perfil, proporcionando os subsídios necessários
para o desenvolvimento do método e da prática pedagógica a ser aplicada.
Pensando desta forma ALMEIDA (2008) afirma que as TICs podem vir a
enfocar um novo paradigma educacional, criando um espaço alternativo para a
Educação Especial.
Para que isto ocorra é preciso que os educadores tenham a percepção de que o
portador de necessidades especiais aprende de modos diferentes em ritmos diferentes. É
assim necessária a construção de novos referenciais pedagógicos (ALMEIDA, 2008).
BECK (2012) afirma que permanecem ainda arraigadas concepções de
discriminação, estigmas e erros a respeito da forma de como educar os portadores de
necessidade especiais, a qual não considera o diálogo como processo de construção do
23
conhecimento. Esta é a principal contribuição da informática para a psicopedagogia
aplicada na educação especial: demonstrar o potencial de internalização deste diálogo.
24
CAPÍTULO III
PSICOPEDAGOGIA, PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO ESPECIAL
Uma das contribuições da Psicopedagogia para a Educação Especial está
relacionada a uma conexão que a Psicomotricidade estabelece entre o conhecimento do
corpo, a afetividade, a inteligência e a socialização do portador de necessidades
especiais. Conforme FERREIRA e RAMOS (2007) a educação psicomotora tem como
base três conhecimentos: o movimento, o intelecto e o afeto.
Do ponto de vista da psicopedagogia, uma educação psicomotora intervém em
três dimensões que são interligadas: educação, reeducação e terapia e fisioterapia do
aluno especial.
Isto pode ser comprovado nas atividades físicas como as aplicadas na disciplina
de Educação Física e nas práticas esportivas adaptadas para o aluno portador de
necessidade especial que passa a ser estimulado em diversos aspectos dos seus
processos corporais motores: percepção e condutas (FERREIRA e RAMOS, 2007).
Quadro 1 – Modalidades esportivas adaptadas para os portadores de deficiência visual.
Modalidades Esportivas Adaptadas Deficiência Visual
Natação
Futsal Total
Futebol de Campo Parcial
Goalball Total
Atletismo
Ginástica Rítmica Desportiva
Ginástica Olímpica
Judô
Xadrez
Capoeira
Fonte: FERREIRA e RAMOS (2007) – adaptado pela autora.
25
De acordo com DA COSTA e SOUSA (2004) o início do desenvolvimento do
esporte adaptado para pessoas portadoras de deficiência física no Brasil, data de 1958
como uma forma de apoio à medicina, denominada de ginástica médica ou de
reabilitação, utilizando exercícios corretivos e de prevenção, buscando também
amenizar os aspectos psicológicos.
A expressão Educação Física Adaptada (EFA) surge assim como um programa
de atividades para o desenvolvimento do portador de necessidades especiais, tendo
como base jogos e ritmos direcionados e adequados as suas capacidades e limitações.
Uma segunda corrente importante também nesta época que contribuiu para o
desenvolvimento da Educação Física Adaptada em seus objetivos atuais, inicia-se nos
EUA tendo o enfoque da inclusão social através da competição esportiva, o que viria a
se concretizar na década de 60 com os Jogos Paraolímpicos nas modalidades esportivas
adaptadas: atletismo, basquete em cadeira de rodas, judô para cegos, natação, vôlei
sentado, tênis, tênis de mesa, futebol de sete, futebol de cegos, esgrima, ciclismo,
halterofilismo, arco e flecha, hipismo e tiro olímpico.
Imagem 3: Prática de Esportes Adaptados na APAE São Gonçalo.
Fonte: Felicíssimo e Ramires Consultoria em Gestão Empresarial Ltda -
http://biodieselenzimatico.blogspot.com.br/2015/05/encerramento-do-projeto-inovacao-no.html -
Acesso em 02.07.2015
Na aplicação da atividade física adaptada alguns procedimentos segundo
STRAPASSON e CARNIEL (2007) devem ser observados: (i) explicação e prévia
demonstração do exercício ou a atividade, iniciando com os exercícios mais simples
26
de fácil execução, aumentando gradativamente o grau de dificuldade, facilitando
desta forma o alcance do sucesso e (ii) incentivar o auxílio dos alunos, posicionando-
os como monitores, favorecendo a independência, autonomia e cooperação.
Na metodologia da Educação Especial Inclusiva, as práticas esportivas
adaptadas devem ser realizadas por ambos os alunos, portadores e não portadores de
necessidades especiais, o que permite criar um ambiente favorável à aprendizagem,
elevado em auto estima e de convívio social entre ambos na medida em que o aluno
não especial é levado a vivenciar as dificuldades inerentes ao portador de restrições
físico motoras e mentais na execução destas atividades (STRAPASSON e
CARNIEL, 2007).
BOSSA (2007), afirma que os jogos constituem-se em importantes ferramentas
terapêuticas. Citando Piaget, a autora (op. cit.) que os mesmos permitem à criança
assimilar o mundo à medida de si mesmo, adaptando-o para atender aos seus desejos
e fantasias infantis. A evolução dos jogos inicia-se na criança com exercícios
funcionais, passando-se aos jogos simbólicos e posteriormente em uma terceira fase
para os jogos de construção e os jogos com regras, introduzindo desta forma a lógica
operatória que torna-se a base do método psicopedagógico que pode vir a ser
aplicado na Educação Especial.
No âmbito da Psicopedagogia a interpretação do desempenho dos portadores de
necessidades especiais nos jogos pelo terapeuta, tornam explícitos hipóteses de
obstáculos ao desenvolvimento das habilidades e competências necessárias à
aprendizagem (BOSSA, 2007)
Na Educação Inclusiva a atitude dos alunos face aos obstáculos ou diferenças
dos portadores de necessidades especiais é superada de forma gradativa a partir de
maior convivência e dependerá muito da atitude do professor (STRAPASSON e
CARNIEL, 2007).
27
No quadro adaptado a seguir, os autores (op. cit.) estabelecem três níveis de
aprendizagem na Educação Física voltada para a inclusão de alunos especiais e não
especiais.
Quadro 2. Níveis de aprendizagem na Educação Física Adaptada.
Nível I Nível II Nível III
Estimulação Motora;
Desenvolvimento do sistema
motor global por meio de
estimulação das percepções
motoras, sensitivas e mentais
com experiências vivenciadas
do movimento global;
Desenvolvimento dos
movimentos fundamentais.
Estimulação das habilidades
básicas; melhoria da educação e
aumento da capacidade de
combinação dos movimentos
fundamentais; desenvolvimento
de atividades coletivas, visando
a adoção de atitudes
cooperativas e solidárias sem
discriminar os colegas pelo
desempenho ou por razões
sociais, físicas, sexuais ou
culturais.
Estimulação específica e
iniciação esportiva;
aprendizagem e
desenvolvimento de habilidades
específicas, visando a iniciação
esportiva; treinamento de
habilidades esportivas
específicas visando a
participação em treinamento e
competições
Fonte: STRAPASSON e CARNIEL, 2007 – adaptada pela autora
Observa-se ainda a necessidade de manutenção da integridade das atividades,
ainda que seja possível adaptações, mas que se busque a maximização do potencial
individual.
Para DA COSTA e SOUSA (2004) é preciso para que a Educação Física e os
Esportes Adaptados evoluam, romper com a forma de como organiza-se a escola
formal ou sistemática, redimensionando o tempo e o espaço do trabalho curricular,
flexibilizando os conteúdos e rompendo também com a compartimentalização destes
conhecimentos em um modelo de aprendizagem em que convivam harmonicamente
a diversidade e a unidade como forma de inclusão dos portadores de necessidades
especiais nas atividades esportivas do ambiente escolar.
No entanto é importante para entendermos a contribuição da Psicopedagogia
para a Educação Especial neste campo de atividades esportivas adaptadas, conforme
definem FERREIRA e RAMOS (2007), diferenciar os conceitos de integração e
28
inclusão. O Esporte Adaptado é construído com a integração entre portadores e não
portadores de necessidades especiais com o objetivo de desenvolver a habilidade
psicomotora e social afetiva a partir do trabalho em equipe.
A inclusão social é um processo mais amplo e complexo do que a integração
social e educacional proporcionada pelo esporte adaptado ou por outros métodos
psicopedagógicos de apoio a Educação Especial abordados nesta monografia. É um
processo ainda insipiente na sociedade, pois nas palavras dos autores (op. cit.), a
sociedade necessita ainda adaptar-se para ter condições de incluir.
Entretanto, este fato não desmerece a importância da Escola Inclusiva atual neste
processo.
Afirma MARTINS (2011) que a relação ensino-aprendizagem é transmitir e
memorizar conhecimentos e habilidades em determinado tempo e espaço. Podemos,
no entanto, afirmar que além da transmissão e da memorização, está o
desenvolvimento destas habilidades e competências através de uma prática
metodológica cuja base é a psicopedagogia e a relação entre a parte psicomotora,
cognitiva e afetiva ou social que envolve aluno e professor no dia a dia da escola.
O autor (op. cit.) comprova este fato ao citar que é necessário desconstruir e
reconstruir conhecimentos em interação com o meio sócio cultural, do qual ele
também faz parte na vida do aluno.
A Educação Física Adaptada é definida como um programa multidisciplinar que
incorpora uma série de atividades individualizado como os jogos, esportes, dança,
musicoterapia, capoeiras, artes marciais, sendo que todo programa é adaptado e
direcionado aos interesses, capacidades e limitações de cada aluno portador de
necessidades especiais, além e fornecer estratégias para facilitar a independência e
autonomia destas pessoas no seu convívio social, favorecendo desta forma o
processo de inclusão. As habilidades são desenvolvidas através de atividades
29
motoras e a parte cognitiva e afetiva ou social pela integração com o aluno não
portador de necessidades especiais e o trabalho em equipe (MARTINS, 2011).
30
CAPÍTULO IV
PSICOPEDAGOGIA, ARTE TERAPIAS E AFETIVIDADE NA ESCOLA
INCLUSIVA.
Para Wallon a dimensão afetiva ocupa um lugar central na construção do “eu” e
do conhecimento: fornece o vínculo do fortalecimento social e biológico, sendo uma
atividade, conforme descrevem DE LA TAILLE, DE OLIVEIRA e DANTAS,
(1992), emocional, complexa e funcional. Neste sentido, a afetividade está na origem
da atividade cognitiva.
Segundo CUNHA (2008) a emoção ratifica os mecanismos da inteligência,
gerando a atenção, conhecimento e memória, competências e habilidades
indissociáveis da aprendizagem. A afetividade assim, relaciona-se com o cognitivo
em uma forma de dependência da mente à expressão do corpo físico.
As situações concretas da atividade humana, de acordo com DE LA TAILLE,
DE OLIVEIRA e DANTAS (1992), objeto de estudo, por exemplo, da educação,
pedem uma abordagem de uma compreensão mais orgânica do ser, referente ao
funcionamento cognitivo, conforme estudos de Vygotsky. Por exemplos:
(i) O papel dos instrumentos e símbolos da cultura nos processos de
mediação entre sujeito-objeto;
(ii) Relações entre pensamentos e linguagens concretas e o próprio
desenvolvimento de habilidades e competências nos processos de ensino-
aprendizagem
Neste sentido, o aluno da Educação Especial estará sendo motivado pelo método
psicopedagógico, auxiliado pela afetividade proporcionada por técnicas de Arte
Terapia, a desenvolver os processos químicos, impulsos ininterruptos elétricos (que
produzem as sinapses no cérebro) e os processos biológicos, em conjunto com o
emocional e o social, de forma a superar as barreiras à aprendizagem (CUNHA,
2008).
31
O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da
interação social com materiais fornecidos pela cultura, um processo dinâmico
construído de fora para dentro e que caminha do plano das relações interpessoais
para as relações intrapessoais.
Vygotsky afirma que o imaginário e a atribuição de seus significados (signos,
símbolos e cultura) possibilitam o acesso e a construção do cognitivo e do sentido na
formação do processo de aprendizagem na Educação Especial, não podendo
prescindir da dimensão interativa social (FREITAS, 2007)
A heterogeneidade é comum no ensino das Artes conforme define REILY
(2010). Com o surgimento da Escola Inclusiva tornou-se uma necessidade de
estabelecer estratégias para administrar as limitações com os diversos graus de
habilidades, visto que estas limitações e diferenças afetam diretamente o tempo de
envolvimento na atividade, as tentativas de acertos e a qualidade comparativa dos
resultados de um e outro aluno em graus diferentes.
Imagem 4 - Atividades de Artes na APAE do município de São Gonçalo
Fonte: Felicíssimo e Ramires Consultoria em Gestão Empresarial -
Estas estratégias envolvem um grau de dificuldade, visto o ensino regular
estimular a competitividade entre os alunos, atribuindo valores desiguais. Decorre
32
daí, o desafio do especialista de Psicopedagogia em desenvolver projetos que
envolvam o trabalho em equipe, de forma cooperativa e solidária (REILY, 2010).
Conforme descrito por CUNHA (2008), promover o desenvolvimento de
inteligências (habilidades e competências) em indivíduos naturalmente criativos não
é a mesma coisa que promovê-las em ambiente de diversidade e diferentes graus de
limitações físicas, que inibem o processo criativo e naturalmente o de aprendizagem.
O afeto ainda que não seja considerado em muitas práticas pedagógicas, na
Educação Especial e no método psicopedagógico ele é fundamental.
A questão então passa a ser como unir a Escola Inclusiva, o ambiente externo e a
realidade social do aluno especial? As práticas artísticas contemporâneas, com a sua
rica pluralidade e diversidade de formas, estilos, linguagens e tecnologias inseridas,
podem vir a ser os elos de ligação entre a inclusão e a realidade social dos alunos
portadores de necessidades especiais, devido as suas características de provocar
questionamentos, debates, gostos e críticas construtivas. São estes questionamentos,
essenciais para as mudanças necessárias da realidade atual de exclusão (FREITAS,
2007).
Para FERREIRA E RAMOS (2007), Wallon ao estudar a Psicomotricidade
deixa claro a importância dos aspectos afetivos. O diálogo corporal é um prelúdio da
comunicação verbal. A ação motriz, desta forma, regula o aparecimento e o
desenvolvimento das formações mentais que no processo evolutivo da criança, se
inter-relaciona com a maturidade, a afetividade e a inteligência.
Assim, deve-se favorecer o potencial de desenvolvimento integral do aluno
especial, mediante experiências individuais e grupais e de manuseio e manipulação
de espaços e materiais que a cercam no dia a dia e com as quais convive, quer no
ambiente escolar ou no ambiente social externo: familiar, trabalho, lazer e outros.
33
VIEIRA (2014) afirma que a Psicomotricidade Relacional exerce essa função de
desenvolvimento e aprimoramento dos conceitos relacionados a uma dimensão
global do ser afetivo e social. Do ponto de vista das funções básicas da ciência da
Psicopedagogia é uma contribuição em uma abordagem preventiva que decodifica os
comportamentos atuais, evidenciando as suas significações simbólicas e as
necessidades que nestes comportamentos se expressam.
Para o autor (op. cit.), o comportamento e a comunicação são desta forma
provocados e desencadeados por imagens subjetivas à expressão corporal, através da
manifestação dos cinco sentidos, incluindo também o período de relaxamento físico,
associado a meditação e o conhecimento do próprio corpo e mente (o Eu).
Figura 5. Banda de música na APAE do município de São Gonçalo.
Fonte: Felicíssimo e Ramires Consultoria em Gestão Empresarial -
http://www.biodieselenzimatico.blogspot.com.br/2015/03/visita-apae-de-sao-goncalo-e-inicio-da.html -
acesso em 20.07.2015.
34
A musicoterapia é uma das artes utilizada em processos psicopedagógicos
aplicados à Educação Especial de forma abrangente as diferentes patologias, citadas
por FERREIRA (2012) no quadro abaixo:
Quadro 3. Aplicações da Musicoterapia em diferentes quadros de necessidades especiais.
Síndromes Genéticas
. Down
. Turner
. Rett
Distúrbios neurológicos
. Lesões Cerebrais
. Dislexias
. Disfonias
. Paralisia cerebral
. Epilepsia
Doenças Mentais
. Esquizofrenia
. Perturbações do Espectro do Autismo
. Depressões
. Perturbação Obsessiva Compulsiva
Deficiências Físicas
. Espinha Bífida
. Distrofia Muscular Progressiva
Distúrbios emocionais
Deficiências Sensoriais
. Fala
. Visuais
. Auditivas
Autismo
Fonte: FERREIRA (2012) – Adaptado pela autora
35
CONCLUSÃO
Inúmeras são as contribuições da Psicopedagogia na Educação Especial, de
forma mais abrangente, na Escola Inclusiva. Estas contribuições passam
necessariamente por atividades do ensino sistemático e formal, adaptadas às
necessidades especiais e os objetivos terapêuticos desta ciência, identificadas pelo
profissional, as tecnologias computacionais contemporâneas, desenvolvidas como
tecnologias em apoio ou assistenciais aos processos tradicionais de ensino e
aprendizagem especial e uma dimensão afetiva e social voltada para uma melhor
compreensão da diversidade e da pluralidade nesta perspectiva de escola inclusiva que
ultrapassa os limites físicos de suas fronteiras, alcançando o núcleo social familiar e
muitas vezes o ambiente de trabalho e lazer do portador de necessidades especiais.
A realidade atual mostra ainda um claro distanciamento de uma educação
inclusiva desejável e efetiva de uma escola ainda atrelada a meritocracia e não
totalmente voltadas para o desenvolvimento de habilidades e competências que
permitam aos portadores de restrições físicas e mentais alcançar uma maior autonomia e
redução da vulnerabilidade, afetiva, social e econômica destes indivíduos.
Neste momento em que as tecnologias avançam no campo técnico e social de
mobilidade e inclusão, que foi avaliado neste trabalho e tem por consequência das
forças de mercado seus custos reduzidos e certamente facilitado o acesso e a
implantação destas ferramentas pedagógicas, mostra-se necessário também um avanço
social e das práticas metodológicas de ensino para adequação à realidade
multidisciplinar, diversificada e pluralista das “diferenças iguais”.
Figura 6. Pesquisadora durante visita técnica para o trabalho de pesquisa na APAE de São Gonçalo
Fonte: a autora.
36
BIBLIOGRAFIA CITADA
Almeida, A. L. d. Informática na educação especial. Comunicação & Educação, v. 9, n. 25, 2008. ISSN 0104-6829. Beauclair, J. Psicopedagogia: ensinantes e aprendentes no processo de aquisição do conhecimento. Psicopedagia Brasil: prazer em aprender, 2008. Beck, F. L. A informática na educação especial: interatividade e representações sociais. Cadernos de Educação, n. 28, 2012. ISSN 2178-079X. Bossa, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Artmed, 2007. ISBN 8536308850. Brandão, I. A inclusão, a rede de centros de recursos TIC para a educação especial e a importância das tecnologias de apoio para os alunos com necessidades educativas especiais. Conferência Internacional ticEDUCA2010, 2010. Costa, D. A. F. Superando limites: a contribuição de Vygotsky para a educação especial. Revista Psicopedagogia, v. 23, n. 72, p. 232-240, 2006. ISSN 0103-8486. Cunha, A. E. Afeto e aprendizagem: relação de amorosidade e saber na prática pedagógica. Rio de Janeiro: Wak, 2008. da Costa, A. M.; Sousa, S. B. Educação física e esporte adaptado: história, avanços e retrocessos em relação aos princípios da integração/inclusão e perspectivas para o século XXI. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 25, n. 3, 2004. ISSN 2179-3255. Damasceno, L. L.; Galvão Filho, T. A. As novas tecnologias como tecnologia assistiva: utilizando os recursos de acessibilidade na educação especial. Luciana Lopes Damasceno: III Congresso Ibero-americano de Informática na Educação Especial (CIIEE), 2002. Dantas, H. Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência segundo Wallon. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão, p. 35-46, 1992. de La Taille, Y.; de Oliveira, M. K.; Dantas, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. Summus editorial, 1992. ISBN 8532304125. FERREIRA, C. A. M.; RAMOS, M. I. B. Psicomotricidade: educação especial e inclusão social. Rio de Janeiro: Wak Ed, 2007. Ferreira, I. M. C. A importância da Música no desenvolvimento global das crianças com Necessidades Educativas Especiais: perspetiva dos Professores do 1º Ciclo e de Educação Especial. 2012.
37
Freitas, N. K. Necessidades Educativas Especiais, Arte, Educação e Inclusão. Revista Científica e-curriculum. ISSN 1809-3876, v. 2, n. 2, 2007. ISSN 1809-3876. Gonçalves Mendes, E. Breve histórico da educação especial no Brasil. Revista Educación y Pedagogía, v. 22, n. 57, p. 93-109, 2011. ISSN 0121-7593. Martins, A. T. Lutas e artes marciais para deficientes intelectuais: formação de recursos humanos na área da educação física adaptada. VII Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em educação Especial - ISSN 2175-960 - Pg 2373-2388. 2011 Miranda, A. A. B. Educação Especial no Brasil: desenvolvimento histórico. Cadernos de História da Educação, v. 7, 2009. ISSN 1982-7806. Mota, A.; Sanches, I. Apoios tecnológicos para todos: Sonho ou realidade? Contributo para o estudo dos centros de recursos TIC para a educação especial. Indagatio Didactica, v. 3, n. 2, 2011. ISSN 1647-3582. OLIVEIRA, L. M. G. d. Educação especial e tecnologias computacionais: jogos de computador auxiliando o desenvolvimento de crianças especiais. Encontro Paranaense de Psicopedagogia, Maringá, 2003. Padilha, A. M. L. Práticas educativas: perspectivas que se abrem para a Educação Especial. Educação & Sociedade, v. 71, p. 197-220, 2000. Reily, L. O ensino de artes visuais na escola no contexto da inclusão. Cad. Cedes, Campinas, v. 30, n. 80, p. 84-102, 2010. Sass, O. Problemas da educação: o caso da psicopedagogia. Educação & Sociedade, v. 24, n. 85, p. 1363-73, 2003. STRAPASSON, A. M.; Carniel, F. A educação física na educação especial. Revista Digital, Buenos Aires, ano, v. 11, 2007. Vieira, J. L. Psicomotricidade relacional: a teoria de uma prática. PerspectivasOnLine 2007-2010, v. 3, n. 11, 2014.
38
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - A Psicopedagogia, a Educação Especial e as Tecnologias
Assistivas. 12
CAPÍTULO II - As Tecnologias Assistivas e as Contribuições para o Método
Psicopedagógico na Educação Especial. 17
CAPÍTULO III – Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Especial. 23
CAPÍTULO IV – Psicopedagogia, Arte Terapias, Afetividade e a Escola Inclusiva. 29
CONCLUSÃO 48
ANEXOS 49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52
BIBLIOGRAFIA CITADA 54
ÍNDICE 55