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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A REFORMA DO TRIBUNAL DO JÚRI Por: Marcelle Christine Silva do Nascimento Orientador Prof. Valesca Rodrigues Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A REFORMA DO TRIBUNAL DO JÚRI

Por: Marcelle Christine Silva do Nascimento

Orientador

Prof. Valesca Rodrigues

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

TRIBUNAL DO JÚRI

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Direito e Processo Penal

Por: . Marcelle Christine Silva do Nascimento

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AGRADECIMENTOS

....aos amigos e parentes, professores,

etc......

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DEDICATÓRIA

.....dedica-se primeiramente a minha mãe

que sempre me auxiliou e contribuiu

nessa nova etapa da minha vida. Ao

amor, pelo incentivo, compreensão e

presença constante ao término da aula.

As amigas Ana e Fátima que ajudaram

para que as aulas se tornassem mais

agradável.

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RESUMO

O trabalho que será apresentado tem como proposta mostrar de uma

forma objetiva e concisa as reformas que foram introduzidas e modificaram

quase por completo o rito e o procedimento do Tribunal do Júri.

Num primeiro momento, o presente estudo expõe um breve relato da

origem do instituto do Tribunal do Júri, seu conceito, sua natureza e

competência.

Dando prosseguimento ao trabalho deste Tribunal, aborda-se com mais

profundidade as reformas que tiveram como proposta agilizar e simplificar o

procedimento. Antes da reforma o procedimento era bastante complexo o que

gerava sempre nulidades.

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METODOLOGIA

No presente estudo foi adotado o método dogmático-descritivo para

demonstrar como ficou estabelecido o procedimento do Tribunal do Júri, no

Processo Penal Brasileiro.

O trabalho também é explicativo na medida, que expõe os pontos

complexos da matéria, as divergências doutrinárias e o posicionamento

dominante na jurisprudência.

Quanto aos meios, a pesquisa bibliográfica, sendo utilizado para sua

elaboração a doutrina, a legislação pertinente e a jurisprudência majoritária

sobre o assunto.

Os métodos que foram usados para a elaboração deste trabalho, foram

a leitura de diversos livros sobre o tema proposto, revistas, pesquisas a

julgados dos Tribunais.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - A Origem 10

1.1) Princípios Constitucionais regentes do Tribunal do Júri 12

1.2) Órgão do Poder Judiciário 15

CAPÍTULO II - As Inovações no Procedimento 18

1ª Fase – Iudicium Accusationis 2.1) Procedimento

2.2) Audiência de Instrução e Julgamento 20

2.3) Das Decisões tomadas ao final da Primeira Fase 22

a) Pronúncia

b) Impronúncia

c)Absolvição Sumária

d) Desclassificação

2ª Fase – Iudicium Causae

2.4) A Extinção do libelo Crime Acusatório 28

2.5) Intimação das Partes 30 2.6) Relatório 30 2.7) Intimação das Partes 31

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2.8) Escolha na Convocação dos Jurados 31 CAPÍTULO III – Desaforamento 33

CAPÍTULO IV – Quesitação 36 CAPÍTULO V - Supressão do Protesto por Novo Júri 38 CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 42

ÍNDICE 43

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INTRODUÇÃO

A Lei 11.689/2008 alterou integralmente o procedimento do Tribunal do

Júri, com finalidade especial de modernizá-lo e conferir maior celeridade e

efetividade aos julgamentos dos crimes dolosos contra a vida. Em busca da

celeridade, o procedimento tornou-se mais simples, principalmente na primeira

fase. Na segunda fase, extinguiu-se o libelo-crime acusatório e permitiu-se o

julgamento em caso de réu não intimado pessoalmente da pronuncia, bem

como, exclui-se o protesto por novo júri, simplificando também a quesitação.

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CAPÍTULO I

ORIGEM DO TRIBUNAL DO JÚRI

As origens do Tribunal do Júri remontam a História da velha

Inglaterra, onde por volta de 1215, forma abolidas pelo Concílio de Latrão as

ordálias e o s juízos de Deus. Nascera o Tribunal do Povo, que entre os

ingleses deixou reluzentes marcas, não somente pelo misticismo característico,

mas principalmente pelos resultados alcançados. Bem diferente do que

acontecera em outros países do “Velho Mundo”, sobretudo na França, a Itália e

a Alemanha, locais onde a instituição do Júri não obteve o êxito esperado,

sendo logo substituído por outros órgãos.

Ocorre que, sua origem é discutida por alguns autores, que declaram

que já era conhecida a instituição pelos povos antigos, embora com outra

formação.

Guilherme de Souza Nucci informa que as primeiras noticias do júri

podem ser apontadas na Palestina, onde havia, segundo o autor, o Tribunal

dos Vinte e Três nas vilas em que a população ultrapasse as 120 famílias.

Esses tribunais conheciam processos criminais relativos a crimes puníveis com

pena de morte. Seus membros eram tirados dentre os padres, os levitas e os

principais chefes da família de Israel (Júri. Principios Constitucionais. São

Paulo: Juarez de Oliveira, 199,p.31).

Rogério Lauria Tucci, pelo prelecionando sobre o júri, diz que há quem

afirme, com respeitáveis argumentos, que os mais remotos antecedentes do

Tribunal do Júri se encontra na lei mosaica, nos dikastas, na Hiliéia (Tribunal

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dito Popular) ou no Areópago gregos; nos centeni comitês, dos primitivos

germanos; ou, ainda, em solo britânico, de onde passou para os Estados

Unidos e, depois, de ambos para os continentes europeus e americano

“Tribunal do Júri: origem, evolução, características e perspectivas”, in Tribunal

do Júri – Estudo sobre a mais Democrática Instituição Jurídica Brasileira. São

Paulo: RT,1999,p.12.

Não há dúvida do caráter democrático da instituição do Tribunal do Júri

que nasce, exatamente, das decisões emanadas do povo, retirando, das mãos

dos magistrados comprometidos com o déspota, o poder de decisão. Fato que

posteriormente, com a formação do Tribunal popular, no Brasil, feita por

pessoas que gozassem de conceito público por serem inteligentes, íntegras e

de bons costumes (cf.art.27 do Código de Processo Criminal do Império – Lei

de 29 de novembro de 1832) faz estabelecer um preconceito social e, embora

disfarçada, uma luta de classes.

Em nosso país, o júri era composto por 24 cidadãos “bons, honrados,

inteligentes e patriotas”, prontos a julgar os delitos de abuso da liberdade de

imprensa, sendo suas decisões passíveis de revisão somente pelo Príncipe

Regente.

Em 1824, a Constituição do Império colocou-o no capítulo pertinente

ao Poder Judiciário (art.151, do Capítulo Único, do Título 6º). Os jurados, à

época, poderiam julgar causas cíveis e criminais, conforme determinassem as

leis, que, aliás, incluíram e excluíram espécies de delitos e causas do júri,

várias vezes.

A Constituição de 1934 voltou a inserir o júri no capítulo referente ao

Poder Judiciário (art.72), para, depois, ser totalmente retirado do texto

constitucional, em 1937. Por conta disso, iniciaram-se os debates acerca da

manutenção ou não da instituição no Brasil, até que o Decreto-Lei 167, de

1938, confirmou a existência do júri, embora sem soberania.

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A Constituição de 1946 ressuscitou o Tribunal Popular no seu texto,

reinserindo-o no capítulo dos direitos e garantias individuais como se fosse

uma autentica bandeira na luta contra o autoritarismo.

A Constituição de 1967 manteve a instituição no capítulo dos direitos e

garantias individuais (art.150§18), fazendo o mesmo a Emenda Constitucional

de 1969 (art.153§18). Ocorre que, por esta última redação, mencionou-se que

“é mantida a instituição do júri, que terá competência no julgamento dos crimes

dolosos contra a vida”. Não se falou em soberania, sigilo das votações ou

plenitude de defesa, fixando-se, claramente, a sua competência somente para

os crimes dolosos contra a vida.

Em 1988, visualizando-se o retorno da democracia no cenário

brasileiro, novamente previu-se o júri no capítulo dos direitos e garantias

individuais, trazendo de volta os princípios da Carta de 1946: soberania dos

veredictos, sigilo das votações e plenitude de defesa. A competência tornou-se

mínima para os crimes dolosos contra a vida.

1.1 Princípios Constitucionais regentes do Tribunal do Júri

a) Plenitude de Defesa

Inexiste autêntico devido processo legal (art.5,LIV,CF) se não forem

assegurados, aos acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa. No

processo penal, particularmente, envolvendo um dos mais valiosos bem

jurídicos sob proteção constitucional que é a liberdade individual, há de se

exigir o fiel cumprimento de tais garantias.

No contesto do Tribunal do Júri, entretanto, a Constituição Federal

demanda maior cautela: assegura-se ao acusado a plenitude de defesa (art.5º,

XXXVIII, a).

Guilherme Nucci tem sustentado (consultar Júri – Princípios

constitucionais, p.139-141), existir diferença substancial entre ampla defesa,

garantia aos acusados de um modo geral, e plenitude de defesa, elemento

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essencial no cenário do júri. O que se busca aos acusados em geral é a mais

aberta possibilidade de defesa, valendo-se dos instrumentos e recursos

previstos em lei e evitando-se qualquer forma de cerceamento. Aos réus, no

Tribunal do Júri, quer-se a defesa perfeita, dentro, obviamente, das limitações

naturais dos seres humanos.

O réu, no processo crime comum, tem, como suporte, a defesa técnica,

sem dúvida. Porém se ela não atuar convenientemente, nem sempre precisará

o juiz declarar o réu indefeso, nomeando-lhe outro advogado.

No processo em trâmite no plenário do júri, a atuação apenas regular

coloca em risco, seriamente, a liberdade do réu. Sendo necessário que o juiz

presidente controle, a eficiência da defesa do acusado.

Na jurisprudência, adotando o entendimento esposado pelo ilustre

autor: TJMG:” A Constituição da República assegura a todos os acusados a

ampla defesa e os recursos a ela inerentes e, no caso do júri, vai além,

assegurando a plenitude de defesa: art.5º,XXXVIII – é reconhecida a instituição

do júri com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de

defesa. (...) Primeiramente, é de extrema importância, nesta questão,

estabelecermos a diferença entre plenitude de defesa e ampla defesa, ambas

previstas constitucionalmente, pois, apesar de parecer mera repetição ou

esforço hermenêutico por parte de constituinte, estes termos não são

sinônimos (...) Fica clara a intenção do constituinte ao conceder o réu, no júri,

além da ampla defesa outorgada a todo e qualquer réu, em qualquer processo,

cível, administrativo ou criminal, a plenitude de defesa, privilegiando-o em

relação à acusação, pois ele é a parte mais fraca da relação”

(Ap.1.0155.03.004411-1, 3ª. C., rel. Jane Silva, 02.02.2006, v.u)

b) Sigilo das Votações

Estabelece o Código de Processo Penal, que após a leitura e

explicação dos quesitos em plenário, não havendo dúvida a esclarecer, “ o juiz

presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante , o

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defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala

especial a fim de ser procedida a votação” (art.485, caput,CPP).

Haveria uma discussão, atualmente superada pela ampla maioria tanto

da doutrina, quanto da jurisprudência, a respeito da constitucionalidade da sala

especial para votação. Alguns poucos sustentam que ela feriria o princípio

constitucional da publicidade, previsto tanto no art.5º, LX, quanto no art. 93, IX.

Ocorre que o próprio texto constitucional – em ambos os dispositivos –

menciona ser possível limitara publicidade dos atos processuais quando a

defesa da intimidade ou o interesse social ou público assim exigirem.

Ademais, há na própria Constituição o disposto no art.5º, XXXVIII, b,

assegurando o sigilo das votações. Rui Barbosa sempre considerou o sigilo da

votação algo essencial à instituição do júri (O júri sob todos os aspectos, p.

103), o que é posição francamente majoritária atualmente.

Além disso, a reforma introduzida pela Lei 11.689/2008, buscando

consagrar, cada vez mais, o sigilo das votações, impôs a apuração dos votos

por maioria, sem a divulgação do quorum total.

c) Soberania dos Veredictos

Os jurados decidem de acordo com a sua consciência e não segundo a

a lei. Aliás, esse é o juramento que fazem (art.472, CPP), em que há a

promessa de seguir a consciência e a justiça, mas não as normas escritas e

muito menos os julgados do País.

Conferiu a Constituição Federal, de maneira expressa, como

sustentáculo do Tribunal do Júri,a garantia à soberania dos veredictos (art.5º,

XXXVIII,c).

Segundo Guilherme Nucci, que defende estar a liberdade do réu acima

de qualquer princípio regente da instituição do júri, não é possível que, sob

qualquer pretexto, cortes togadas invadam o mérito do veredicto, substituindo-

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o. Quando e se houver erro judiciário, basta remeter o caso a novo julgamento

pelo Tribunal Popular. Porém, em hipótese alguma, pode-se invalidar o

veredicto, proferindo outro, quanto ao mérito (Tribunal do Júri, .Ed.Revista dos

Tribunais,2008, p.32).

d) Competência para Julgamento dos crimes dolosos contra a vida

O art.5º, XXXVIII,d, da CF, assegura a competência do júri para o

julgamento dos delitos dolosos contra a vida. Existem algumas posições

sustentando ser essa competência fixa, não podendo ser ampliada, embora

não haja nenhuma razão para tal interpretação.

A cláusula pétrea, no direito brasileiro, impossível de ser mudada pelo

Poder Constituinte Reformador ( ou derivado), não sofre nenhum abalo caso a

competência do júri seja ampliada, pois sua missão é impedir justamente o seu

esvaziamento.

Inclusive já há uma hipótese de ampliação, contemplada no art.78, O,

do CPP, que prevê a competência do júri para o julgamento dos crimes

conexos ao doloso contra a vida.

Além disso, demonstrando ser possível que o Tribunal Popular julgue

outros delitos, que não somente os dolosos contra a vida, encontra-se cenário

dos crimes conexos. É viável que os jurados decidam condenar ou absolver o

autor de um estupro ou de um roubo, por exemplo, bastando que o delito seja

conexo ao crime doloso contra a vida. Por isso, se a competência fosse

exclusiva, tal situação, corriqueira nos julgamentos ocorridos diariamente no

Brasil, jamais se daria. Os institutos da conexão e continência são previstos no

Código de Processo Penal, portanto, legislação ordinária.

1.2 Órgão do Poder Judiciário

O júri encontra-se previsto dentre os direitos e garantias individuais

(art.5º, XXXVIII, CF). Esta situação chegou a gerar alguma controvérsia em

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relação a ser a instituição não um órgão do Poder Judiciário, mas um

organismo político, desligado do Judiciário, onde os jurados exerciam o seu

direito ao sufrágio, como cidadãos no exercício da cidadania. Ressalte-se que

essa não é a melhor opção.

É praticamente pacífico na doutrina ser o júri um órgão do Poder

Judiciário, embora lhe seja reconhecida a sua especialidade. Não consta do rol

do art.92 da Constituição Federal ( como órgão do Poder Judiciário), embora o

sistema judiciário o acolha em outros dispositivos, tornando-o parte integrante

do referido Poder da República.

São os fundamentos d o Tribunal ser órgão do Poder Judiciário: a) o

Tribunal do Júri é composto por um juiz presidente (magistrado togado) e de

21 jurados, dos quais sete tomam assento no Conselho de Sentença. O

magistrado togado não poderia tomar parte em um órgão meramente político,

sem qualquer vínculo com o Judiciário, o que é vedado pela Constituição e

pela Lei Orgânica da Magistratura Nacional; b) o art.78,I do CPP determina que

“ no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição

comum, prevalecerá a competência do júri, vindo a demonstrar que se trata de

órgão do Judiciário; c) o art.593,III,d do CPP, prevê a possibilidade de recurso

contra as decisões proferidas pelo Tribunal do Júri ao Tribunal de Justiça, não

tendo qualquer cabimento considerar plausível que um “órgão político”

pudesse ter o mérito de suas decisões revistas, em grau de apelação, por um

órgão judiciário; d)a inserção do júri no capítulo dos direitos e garantais

individuais atende muito mais à vontade política do constituinte de considerá-lo

cláusula pétrea do que À finalidade de excluí-lo do Poder Judiciário; e) A

Constituição Estadual de São Paulo e de Minas Gerais são explícitas em

declarar no seu texto ser o Júri órgão do Poder Judiciário.

Enfim, trata-se de um órgão especial do Poder Judiciário, que

assegura a participação popular direta nas suas decisões de caráter

jurisdicional. Cuida-se de instituição que demonstra a importância da cidadania

e da democracia na vida em sociedade.

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CAPÍTULO II

AS INOVAÇÕES NO PROCEDIMENTO

1ª FASE - IUDICIUM ACCUSATIONIS

2.1) Procedimento

O procedimento do Júri é escalonado ou bifásico. Na primeira fase

julgar-se-a a viabilidade da acusação (sumário da culpa ou iudicium

accusationis). Inicia-se com a denúncia ou queixa e finda com a preclusão da

decisão de pronúncia. Na segunda fase, há o julgamento do próprio mérito da

acusação ( juízo da causa ou iudicium causae).

No procedimento anterior, a primeira fase do procedimento do júri era

regida pelo procedimento ordinário, com apenas algumas particularidades nas

alegações finais e nas decisões passíveis de serem tomadas ao final da

primeira fase. Por sua vez, a Lei 11689/2008 disciplinou inteiramente a

primeira fase do procedimento do júri, de maneira semelhante ao procedimento

comum.

Com a nova sistemática, a primeira fase do procedimento bifásicas e

estrutura de maneira geral, da seguinte forma: 1) oferecimento de denúncia ou

queixa; 2) citação; 3) resposta escrita em dez dias; 4) oitiva do Ministério

Público em cinco dias, em caso de ser juntado documento ou argüida

preliminar; 5) audiência uma de instrução e julgamento, na qual poderão ser

preferidas quatro decisões: absolvição sumária, impronúncia, desclassificação

e pronúncia. Preclusa a decisão de pronúncia, passa-se para a segunda fase

do procedimento do júri (Juízo da Causa), com a seguinte ordem: 1) intimação

das partes para apresentarem provas e requerimentos, em cinco dias; 2)

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deliberação do juiz sobre as provas requeridas; 3) despacho saneador; 4)

relatório do processo; 5) inclusão do processo em pauta; 6) intimação das

partes, ofendido e testemunha para a sessão de julgamento; 7) escolha e

convocação dos jurados; 8) sessão de julgamento.

Ocorre que, de maneira minoritária o autor Guilherme de Souza Nucci

entende que o procedimento do júri é trifásico e especial. Para o autor, deve-se

considerar como autônoma a denominada fase de preparação do plenário.

Com a reforma, o art.406 foi alterado, uma vez que recebida a

denúncia ou queixa, o réu será citado para apresentar defesa prévia, por

escrito, no prazo de 10 dias e não mais para ser interrogado. Ou seja, o ato

processual seguinte à citação não será um ato do acusado, mas sim um ato de

seu defensor. Logo, o interrogatório deve-se realizar-se ao final da colheita de

prova. Tal mudança tem como objetivo permitir que o réu possa se defender

desde o início do processo, realçando a sua característica como ato de

autodefesa e permitindo contrariar toda a prova até então produzida contra si,

em especial quanto ao que afirmaram vítima e as testemunhas de acusação.

O novo §1º do art.406 do CPP disciplina o termo inicial do prazo para o

oferecimento de resposta preliminar. Há dois termos iniciais distintos, conforme

a citação seja válida ou nula.

No caso de citação válida, o termo inicial do prazo será o “efetivo

cumprimento do mandado” de citação. Assim, o dia em que no mandado de

citação for lido e entregue a contrafé ao acusado ( art.357 CPP) será o termo

inicial. De se ressaltar que o termo inicial não é a data de juntada do mandado

cumprido aos autos, mas sim o dia do “efetivo cumprimento do mandado de

citação. Assim, é o teor da súmula 710 do STF que estabelece que “no

processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada

aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem”.

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Por outro lado, no caso de nulidade de citação, o termo inicial será a

data em que o acusado ou o seu defensor constituído comparecer a juízo.

No caso de citação por edital, o prazo para a resposta também deverá

ser contado a partir do comparecimento do acusado ou de seu defensor em

juízo.

Ocorre que, na maioria dos casos, o acusado citado por edital não

comparecerá a juízo nem constituíra defensor. Nesta caso, portanto, não

deverá ser aplicado o novo art.408 do CPP, devendo o juiz , logo após o prazo

de 10 dias, aplicar o art.366 do CPP e suspender o processo.

Há uma controvérsia na doutrina, devido a nova redação dada ao

art.397. Este artigo permite que o juiz absolva sumariamente o acusado.

Questiona-se se, após o recebimento da denúncia e o oferecimento da defesa

inicial, seria possível, na primeira fase do júri o julgamento antecipado da lide.

Andrey de Mendonça tem o entendimento que (...) se a Lei 11689/2008 que

disciplinou todo o procedimento do júri permaneceu silente quanto ao tema,

logo indica a não possibilidade de adoção de julgamento antecipado pelo

menos no que diz respeito a essa primeira fase. Este entendimento tem como

fundamento a existência do principio da soberania dos veredictos, assegurado

constitucionalmente art.5,XXXVIII,c. ( Reforma do Código de Processo Penal.2

ed.,São Paulo:Método,2009,p.7).

2.2) Audiência de Instrução e Julgamento

O novo procedimento no art.411, CPP prevê a realização de audiência

una de instrução, debates e julgamento da acusação, na qual deverão ser

ouvidos o ofendido, se possível, as testemunhas de acusação, as testemunhas

de defesa, destacando-se que poderá haver esclarecimentos orais dos peritos,

acareações e reconhecimento de pessoas ou coisas, se necessário proceder-

se-à ao interrogatório do acusado (CPP, art.411, caput).

O novo dispositivo não indica o regime legal que irá reger a oitiva de

testemunhas no juízo de acusação. Diante da ausência de regra expressa,

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deve ser aplicado, por analogia, o novo art.212 do CPP, com a redação dada

pela Lei 11690/2008. Assim, deverão ser feitas perguntas diretas pelas partes,

deixando ser aplicado o sistema presidencialista conduzido pelo magistrado.

É de se observar que o §1º do art. 411 menciona o esclarecimentos

“dos peritos” e segundo a nova redação dada ao art.159, caput, CPP, as

perícias oficiais serão agora realizadas por um único perito, e não mais “por

dois peritos oficiais”.

Caso as partes desejem que os peritos prestem esclarecimentos orais

na audiência, deverão requerer previamente: a acusação por ocasião do

oferecimento da denúncia ou queixa, e a defesa, na resposta, oportunidade me

que deverá especificar as provas pretendidas. (CPP, art.406,§3º)

Esta mudança no dispositivo citado, procurou efetivar a oralidade e a

concentração dos atos probatórios em uma audiência una, prevendo que todas

as provas serão produzidas em uma única audiência, devendo o juiz indeferir

as provas que considerar irrelevantes ou protelatórias.

Encerrada a prova, passa-se aos debates orais, concedendo-se a

palavra primeiro para a acusação e posteriormente para a defesa, pelo prazo

de 20 minutos, prorrogáveis por mais 10 minutos, assim dispões o art.411,§4º.

Ressalte-se, que caso haja assistente de acusação, este deverá se

manifestar após o Ministério Público, pelo prazo de 10 minutos, sem

possibilidade de prorrogação. Com a inclusão do assistente aos debates a

defesa terá acrescido mais 10 minutos para a apresentação de sua tese

defensiva.

A finalidade da ampliação do prazo de manifestação da defesa, é

assegurar a isonomia entre as partes.

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O novo §9º do art.411, prevê que a primeira fase poderá se dar

oralmente, na própria audiência ou por escrito no prazo de 10 dias.

Hoje, há a previsão de um prazo de 90 dias para a conclusão da

primeira fase do procedimento dos crimes dolosos contra vida. (art.412 CPP).

Devemos considerar que o termo inicial deste prazo começara a fluir a partir do

oferecimento da denúncia.

2.3) Das decisões tomadas ao final da Primeira fase

a) Pronúncia

b) Impronúncia

c) Absolvição Sumária

d) Desclassificação

a) Pronúncia

A pronúncia é a decisão e não sentença, posto que não põe fim ao

processo, mas apenas a uma fase do procedimento. É a decisão que

possibilita ao réu que seja ele julgado pelos seus pares. Assim, podemos

concluir que a pronúncia é decisão interlocutória, que não julga o mérito; mista,

que põe fim a uma fase; e não terminativa, que não encerra o processo.

Para que seja proferida a decisão de pronúncia, não é necessário

segundo o disposto no art.413 do CPP, que o magistrado tenha certeza plena

de que o acusado seja o autor do delito, bastando a existência de provas e

indícios suficientes de autoria ou participação

A doutrina liderada por Ada Pellegrini Grinover (O processo em

evolução, p.357) tem entendido que não bastam meras conjecturas ou tênues

indícios. Os “indícios hão de ser graves, precisos e concordes, convincentes,

veementes, vinculando por elo racional a autoria do fato a determinada pessoa

mediante circunstancia da qual se infira logicamente o nexo causalidade; pela

sua força e precisão, capazes de determinar uma só e única conclusão: a de

que não foi outro ou senão o indiciado o autor ou cúmplice do fato criminoso”.

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De qualquer forma, embora se exija um conjunto probatório que indique com

alto grau de probabilidade que foi o acusado o autor do delito, certamente não

se exige a certeza da autoria.

A grande mudança, com relação ao tema pronúncia, é o art.413,§3º

que menciona o afastamento da prisão processual do acusado para recorrer

da pronúncia. No regime anterior a regra era a prisão processual e a liberdade

era a exceção, somente cabível se o acusado fosse primário e de bons

antecedentes ou se o crime fosse afiançável. Essa prisão processual era um

efeito automático da decisão de pronúncia e totalmente incompatível com a

garantia constitucional de presunção de inocência, uma vez que ausente a

natureza cautelar.

A alteração deixa claro que não mais subsiste tal espécie de prisão

processual como modalidade autônoma de prisão, decorrente da decisão de

pronúncia recorrível. Logo, podemos concluir que a “nova prisão” tem caráter

cautelar, e somente é cabível diante da presença dos requisitos autorizadores

da prisão preventiva dos arts. 312 e 313 do CPP.

Da Intimação da Decisão de Pronúncia

No regime originário do CPP, a grande distinção era feita entre os

crimes afiançáveis e inafiançáveis. Para os crimes inafiançáveis a intimação

era sempre pessoal. Já nos casos de crimes afiançáveis, se o acusado

estivesse preso, seria intimado pessoalmente; por outro lado, se estivesse

solto, a intimação poderia se dar pessoalmente, ou na pessoa de seu

defensor, ou ainda por edital quando nem o acusado nem o seu defensor

fossem encontrados. Importante ressaltar, que em qualquer dos casos, sem a

intimação da pronúncia, o processo não prosseguia assim dispunha o antigo

art.413 do CPP,o que criava um obstáculo ao tramite processual.

Agora na nova sistemática, o art.420, caput, do CPP não mais

distingue entre crimes afiançáveis e inafiançáveis, ou entre acusados presos

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ou soltos. O acusado, o defensor nomeado e o Ministério Público serão

intimados pessoalmente (inc.I). Por outro lado, o defensor constituído, o

querelante e o assistente de acusação serão intimados pela imprensa (inc.II).

Uma das grandes novidades foi a inclusão do parágrafo único do art.420 do

CPP ao determinar que se o acusado solto não for encontrado será intimado

da decisão de pronúncia por edital, que á forma ficta de comunicação de ato

processual), independente se a infração é afiançável ou inafiançável. Por

acusado solto deve ser entendido tanto o que responde processo em

liberdade, como o acusado que, tendo a prisão preventiva decretada contra si,

não foi preso ou, tendo sido, veio a fugir.

Preclusão da Decisão de Pronúncia

A pronúncia sujeita-se à preclusão, tornando-se imutável no processo

a admissibilidade da acusação, que não mais pode ser reexaminada, nem ter

alterado o seu conteúdo. Essa preclusão atinge, não apenas os direitos ou

faculdades das partes, mas impede que o próprio juiz reexamine o que foi

decidido.

Não houve, contudo, mudança quanto à exceção legal à força

preclusiva da decisão de pronúncia: a ocorrência de “circunstancia

superveniente que altere a classificação do crime”

Vale lembrar que somente se passará para a segunda fase do

procedimento do júri quando estiver preclusa a decisão de pronúncia.

b) Impronúncia

Com relação a decisão de impronúncia não houve com a nova lei

alteração às hipóteses em que o juiz deverá impronunciar o acusado.

A natureza jurídica da impronúncia permanece a mesma, ou seja, é

uma sentença terminativa, que põe fim a processo, digo, a primeira fase do

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procedimento do júri, sem julgamento do mérito. O que já por si só, a diferencia

da decisão de pronúncia. Contudo, a que se mencionar que na sistemática

anterior o recurso cabível da decisão de impronúncia era o Recurso em

Sentido Estrito, mas o novo art.416 prevê que o recurso cabível contra a

impronúncia é a Apelação.

A sentença de impronúncia por não adentrar no mérito da imputação,

fará coisa julgada formal, não impedindo a propositura de um novo processo,

pelos mesmos fatos, desde que surjam novas provas, ou seja, aquelas não

constantes no processo anterior, e que possam mudar a convicção do juiz

sobre a autoria ou a materialidade.

c) Absolvição Sumária

A reforma do CPP ampliou as hipóteses de cabimento da absolvição

sumária do art.415 do CPP, incluindo três novas situações.

Na redação primitiva do art.411 do CPP, somente seria cabível a

absolvição sumária nos casos em que restasse demonstrada a ocorrência de

alguma excludente de ilicitude ou de culpabilidade. Nada mais é do que um

julgamento antecipado da causa tratando-se de verdadeira sentença

absolutória.

A primeira novidade é a possibilidade de absolvição sumária quando

estiver “provada a inexistência do fato” (art.415, I), ou seja, quando o juiz tiver

a certeza de que o fato material não existiu, deverá aplicar a nova hipótese.

A segunda novidade diz respeito à autoria. O acusado deverá ser

absolvido sumariamente, se “provado não ser ele o autor ou partícipe do fato”,

segundo o novo II do art.415, do CPP.

A última novidade consiste na possibilidade de absolvição sumária

quando “o fato não constituir infração penal” (art.415,III). Neste caso o fato

pode ter existido, mas ser atípico. Espínola Filho formula os seguintes

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exemplos: “A e B, sentados na balaustra de uma ponte, cai o último n’água, e o

primeiro é denunciado por ter-lhe determinado a morte, jogando-o ao rio;

apura-se, reformando os peritos o laudo anterior, que B morreu, naturalmente,

em virtude de um colapso cardíaco, antes da imersão” (Código...cit., v.4,p.252).

O parágrafo único do art.415 traz uma modalidade de absolvição

sumária, é a denominada absolvição sumária imprópria. É aplicada em regra,

quando comprovada a inimputabilidade ou doença mental ou de

desenvolvimento mental incompleto ou retardado, que torna o agente

inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito de seu ato. Assim sendo, a

reforma também trouxe outra peculiaridade: que o juiz não deve proferir a

absolvição imprópria em caso de inimputabilidade decorrente de doença

mental, se existir alguma outra tese defensiva.

Antonio Scarance Fernandes critica o dispositivo, ao lecionar: “ Deixa-

se ao advogado a incumbência de decidir sobre a sorte do acusado. Preferível,

que ele, de alguma maneira, sustente sempre uma tese subsidiária, para

assegurara a defesa plena afirmada na Constituição (art.5º, LV). Melhor seria

outro regramento, determinando-se que, em todas as situações de

inimputabilidade, o processo devesse ser encaminhado a julgamento pelos

jurados, os quais poderiam absolver o acusado por outro motivo, afastando

dele a aplicação de medida de segurança e preservando a soberania do

Tribunal do Júri, garantida constitucionalmente (art.5º, XXXVIII)”. (O novo

procedimento no júri, Reforma processual Penal: Tribunal do Júri. Revista

Jurídica da Escola Superior do Ministério Público do estado de São Paulo, ano

1, n.1,jul-dez.2008,p.24)

A jurisprudência é rica em julgados nos quais se afirma: “Culpabilidade

afastada diante da inimputabilidade do réu. Absolvição Imprópria.Internação

para tratamento psiquiátrico. Medida de Segurança de internação hospitalar”.

(TJRJ – 4ª. CC., APC 2009.050.00307, Des. Nilza Bitar, j.24/03/2009;

“Absolvição imprópria com aplicação de medida de segurança – tratamento

ambulatorial. Procedência parcial. Conclusão dos Senhores Peritos que não

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autoriza a absolvição do réu, mas reconhece a semi-imputabilidade” (TJRJ,

5ª.CC, APC 2007.050.05641, Des. Maria Helena Salcedo, j. 21/05.2009).

No tocante ao recurso ex officio, que antes também era previsto no

caso de absolvição sumária, tal recurso não mais subsiste. A atual redação do

art. 415 do CPP, tratando-se de absolvição sumária, omitiu, por completo,

qualquer referência ao dever do juiz de remeter ao tribunal, para reavaliação, a

sua decisão. Enfim, não mais existe o recurso de ofício no contexto da

absolvição sumária no procedimento do júri.

Com a nova lei, alterou também o recurso cabível da decisão de

absolvição sumária. Anteriormente, seria cabível o Recurso em Sentido Estrito.

A partir da reforma, porém, será cabível o recurso de Apelação(art.416 do

CPP).

d) Desclassificação

Com relação a decisão de desclassificação, não ocorreu nenhuma

alteração.

Na redação anterior, uma vez proferida a desclassificação, o juiz que

recebia os autos não poderia, diretamente, julgar o feito. Antes, deveria dar

oportunidade à defesa, para arrolar outras testemunhas diversas daquelas já

ouvidas, seguindo-se as diligencias complementares e alegações finais, para

somente o juiz proferir sentença.

Guilherme Nucci, de maneira diversa defende que, tendo em vista que

não foi mantida, no novo dispositivo, a vedação constante no caput do art.410

do CPP, no sentido de que “não se admitirá, entretanto, que sejam arroladas

testemunhas já anteriormente ouvidas”, poderá a parte, no exercício do

contraditório, requerer a oitiva das mesmas testemunhas anteriormente

ouvidas. Isso porque, diante da nova classificação legal dos fatos, poderá

haver pontos que anteriormente não eram relevantes e, consequentemente,

não foram objeto de perguntas, e que passam a ser importantes. Aliás, mesmo

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diante da vedação anterior do art.410, caput, já destacava que não se tratava

de uma “norma imutável”, pois “a norma processual não tem o condão de

afastar a aplicação do princípio constitucional da ampla defesa”.

Código...cit.,p.723)

Atualmente, ao receber os autos, o juiz deve dar oportunidade às

partes, Ministério Público e acusado, para que se manifestem e,

eventualmente, requeiram a produção de provas. Se assim não fosse o

procedimento e o juiz pudesse desde logo, proferir sentença, considerando a

nova qualificação jurídica, sem que as partes sobre ela tivesse a oportunidade

de se manifestar, o contraditório estaria violado.

Finalmente, no que toca ao procedimento a se adotado perante o juiz

que receber processo, este deverá adotar o rito adequado, segundo a nova

redação do art.394 do CPP.

2ª FASE - IUDICIUM CAUSAE

A segunda fase do procedimento do júri possui os seguintes atos: 1)

intimação das partes para apresentarem provas e requerimentos, em cinco

dias; 2) deliberação do juiz sobre provas requeridas; 3) despacho saneador; 4)

relatório do processo; 5) inclusão do processo em pauta; 6) intimação das

partes, ofendido e testemunhas para a sessão de julgamento; 7) escolha e

convocação dos jurados; 8) sessão de julgamento.

2.4) A Extinção do Libelo-Crime Acusatório

A grande mudança introduzida nesta fase é a supressão do libelo

crime acusatório e, consequentemente, da contrariedade ao libelo. Esta peça

era a petição que iniciava a segunda fase do procedimento do tribunal do júri.

O libelo era a peça acusatória, com conteúdo fixado pela decisão de

pronúncia, expondo na forma de artigos, a matéria que seria submetida a

julgamento pelo Tribunal do Júri, limitando a atuação do órgão acusatório e

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permitindo plena ciência, pela defesa, do que seria alegado em plenário. Outra

novidade, é a desnecessidade de que o relatório seja feito em plenário.

Com relação a supressão do libelo, há muitos autores que deliberavam

pela sua total eliminação, pois seria uma formalidade inútil e fonte de

nulidades. Ocorre que, existem, aqueles que defendem a necessidade de

manutenção do libelo, considerando-o uma peça de fundamental importância

para a delimitação dos fatos a serem julgados pelo conselho de sentença. De

acordo com este entendimento podemos destacar, neste passo, que o projeto

de Lei 4.900/1995 suprimia o libelo do procedimento do Tribunal do Júri

(art.420). Porém, na primeira versão apresentada pela Comissão de Reforma

do Código de Processo Penal de 2000, aquele projeto de Lei foi revisto por

René Ariel Dotti, que propôs a reintrodução do libelo (art.419). Pela

manutenção do libelo, principalmente por era peça que limita a acusação em

plenário, (cf. Sergio Marco Moraes Pitombo, Supressão do libelo, Tribunal do

Júri – Estudo sobre a mais democrática instituição jurídica brasileira, p.143);

Ariosvaldo de Campos Pies, AA Reforma do júri, Bol.IBCCrim 37/6. Guilherme

Nucci entende, que a extinção do libelo somente seria útil, caso o juiz fosse

obrigado a tornar a pronúncia específica o suficiente para não gerar à defesa

qualquer surpresa em plenário.

A doutrina de forma majoritária entende que não haverá prejuízo com a

supressão, na medida em que a acusação já estará delimitada pela decisão de

pronúncia, que por sua vez, será a fonte de elaboração dos quesitos,

juntamente com o interrogatório do acusado e as alegações das partes em

plenário, conforme prevê o art.482, parágrafo único, do CPP. As qualificadoras

e causas de aumento de pena deverão constar da pronuncia, segundo o novo

art.413§1º, do CPP.

Entretanto, eliminada que foi essa peça, torna-se indispensável que a

pronúncia seja o mais específica possível. Sobre o tema, pronuncia-se Rogério

Lauria Tucci, nos seguintes termos: “A supressão do libelo não importa na

simplificação do procedimento, na qual haverá lugar, em sequencia ao decurso

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do prazo para a interposição de recurso contra a sentença de pronúncia para o

requerimento de provas, a serem produzidas no plenário do júri, e de outras

diligências prévias, tidas como pertinentes e relevantes.

2.5) Intimação das Partes

Ao receber os autos com a decisão de pronúncia, o juiz presidente

determinará a intimação das partes para arrolarem as testemunhas que

pretenderem ouvir em plenário, até o máximo de cinco, bem como juntar

documentos ou requerer diligencias que se façam necessárias para serem

realizadas em plenário (art.422, CPP).

Naturalmente, quando for apresentado apenas o rol de testemunhas a

serem ouvidas em plenário, passa-se, diretamente, à fase de elaboração do

relatório.

2.6) Relatório

Na fase de preparação do plenário, o juiz elabora o relatório sucinto do

processo, contendo as principais ocorrências, sem emitir qualquer avaliação

subjetiva. Na legislação anterior, o relatório era feito em momento

completamente inadequado, ou seja, depois do interrogatório do acusado em

plenário e oralmente, nos termos do antigo art.466, caput, do CPP. Portanto,

os jurados tomavam conhecimento dos aspectos relevantes do processo que

iriam julgar depois de já ter sido o acusado interrogado, o que lhes limitava a

possibilidade de fazer perguntas. Por outro lado, o relatório feito oralmente,

deveria ser memorizado pelos jurados, que não teria condições de relembrar o

que disse o magistrado com o passar do tempo, mormente nos julgamentos de

casos complexos.

Com a modificação, o novo inc.II do art.423 do CPP prevê que o

relatório será elaborado antes da fase de preparação. Porém, em vez de ser

lido em plenário, o relatório será apenas entregue aos jurados, logo após

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prestarem o “juramento”, segundo o novo parágrafo único do art.472.

Passando tal peça a ter a finalidade de auxiliá-los a conhecer as teses de

acusação e defesa apresentadas até aquele momento, bem como as provas já

produzidas. Como afirma Guilherme Nucci, é “ apenas um panorama geral do

processo, sem a incidência de qualquer opinião acerca do mérito da causa ou

conteúdo das provas”.( O valor da confissão no processo penal, p.175)

Essa medida permitirá uma maior celeridade no julgamento, evitando a

leitura do relatório em plenário pelo juiz presidente. Não houve mudança,

porém quanto ao conteúdo do relatório, que continuará a ser um resumo

imparcial das peças principais do processo em julgamento.

Elaborado o relatório, deverá o magistrado incluir o processo na pauta

de julgamento. Estará o processo, nestes termos preparado para julgamento.

2.7) Intimação das Partes

O novo art.431 prevê a intimação não só das partes e das

testemunhas, como do ofendido, se for possível e dos peritos, quando houver

requerimento. Este dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o

art.159,§5º, I do CPP.

2.8) Escolha na Convocação dos Jurados

Segundo a nova regra do art.433 do CPP, quem sorteia o nome dos

jurados é o próprio juiz e não mais um menor de 18 anos de idade.

A nova regra do art.433,§2º foi criado em decorrência do disposto no

art.432 que prevê a intimação do Ministério Público, da Ordem dos Advogados

do Brasil e da Defensoria para acompanharem o sorteio dos jurados. A

intimação as partes é obrigatória, mas a ausência de qualquer delas não

acarretará a realização do sorteio.

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2.9) Julgamento

Após a colheita de provas e o interrogatório, iniciam-se os debates orais

(art.476, do CPP). Neste momento acusação e a defesa irão explorar a prova e

lançar suas alegações, com objetivo de convencerem os jurados.

A alteração que merece destaque diante da supressão do libelo, é que o

Ministério Público não irá iniciar sua apresentação com a leitura do libelo. A

acusação deverá ser feita com base e estritamente nos limites traçados na

pronúncia, com a única exceção de que as circunstancias agravantes não

constarão na pronúncia.

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CAPÍTULO III

DESAFORAMENTO

O desaforamento é a decisão jurisprudencial que altera a competência

inicialmente fixada pelos critérios constantes do art.69 do Código de Processo

Penal, digo o deslocamento da competência, com aplicação estrita ao

procedimento do júri, transferindo a apreciação do caso de uma para outra

comarca. A competência para o desaforamento, é sempre da Instancia

Superior e nunca do juiz que conduz o feito. Entretanto, a provocação pode

originar-se tanto do magistrado de primeiro grau quanto das partes.

Importante salientar que o desaforamento não ofende o princípio do

juiz natural, porque é medida de caráter excepcional, prevista em lei, e válida

para todos os réus. O desaforamento garante outros direitos constitucionais

como a integridade física do réu e a celeridade no julgamento.

Destaque-se o alerta formulado por José Ruy Borges Pereira:

“predomina o entendimento no sentido de que tal instituto não é

inconstitucional, mas ressalva há de ser feita, para que somente exista

desaforamento em caso de real e comprovada necessidade, já que o Princípio

do Juiz Natural é garantia constitucional do acusado (art.5º,XXXVIII, da CF) e

pressuposto para a realização da justiça, não podendo ser abandonado pela

simples dificuldade na realização do julgamento na comarca originalmente

competente”(Tribunal do Júri,Ed. Edipro, 2ªed., p.30)

A Lei 11689/2008 conferiu nova disciplina ao desaforamento. As

hipóteses de incidência de desaforamento continua as mesmas, são elas: “se o

interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade

do júri ou a segurança pessoal do acusado”. Houve, todavia, mudança quanto

aos legitimados para requerer o desaforamento, a demora no julgamento em

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razão de excesso de serviço comprovado, bem como o procedimento a ser

seguido.

A legitimidade para requerer o desaforamento foi ampliada. Com a

valorização da vítima no processo penal, o assistente de acusação passará a

poder pedir o desaforamento. Ocorre que hoje há divergência doutrinária sobre

a possibilidade de legitimação do assistente. Damásio E. de Jesus ( Código de

Processo Penal anotado, p.355) e Mirabete (Processo Penal cit., p.547)

negavam tal possibilidade, pela ausência de previsão legal no art.271 do CPP.

Outra corrente, buscando uma valorização do papel da vítima no processo

penal admitia tal possibilidade. ( Tourinho Filho, Processo Penal cit., v.4,p.86;

Nucci, Código...cit.,p.743).

A mudança procedimental em relação ao processamento do pedido de

desaforamento perante o tribunal consiste na desnecessidade de oitiva do

Procurador Geral de Justiça. No regime originário do CPP, se o pedido era

formulado por uma das partes, ouvia-se o juiz preparador do feito, sendo

posteriormente ouvido o procurador geral de justiça. Se o desaforamento

decorresse de representação do próprio juiz, por óbvio, sua oitiva era

dispensada. Agora com a nova redação do art.427 do CPP eliminou-e a

necessidade da oitiva do procurador geral de justiça.

O desaforamento é distribuído de imediato e terá preferência de

julgamento na Câmara ou Turma Competente art.427§1º, CPP.

O novo §2º do art.427 dispõe que “sendo relevantes os motivos

alegados o relator poderá determinar fundamentalmente, a suspensão do

julgamento pelo júri.

A oitiva do juiz presidente continuará a ser necessária quando ele não

tiver, ex officio, formulado o pedido de desaforamento, assim dispõe o

art.427,§3º CPP.

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Não se admitirá o desaforamento na pendência de recurso contra a

pronúncia e nem quando já realizado o julgamento, a não ser em relação a fato

ocorrido durante ou após o julgamento então anulado.

No caso de demora para a realização do julgamento, constitui razão

para o desaforamento, caso o julgamento não se dê após seis meses, contado

do transito em julgado da decisão de pronúncia, quando fundado em excesso

de serviço no foro judicial, assim preceitua o art.428, CPP. A redução do prazo

para seis meses se justifica pelo objetivo de dar maior celeridade ao

procedimento. Ressalte-se, que na vigência da lei anterior havia restrição

expressa no parágrafo único do art.424 à possibilidade de o juiz representar

para o desaforamento. Com a nova legislação não há mais esta restrição.

Salienta-se, ainda, que o que é desaforado é o foro do julgamento em

plenário e não aquele em que se desenvolve a instrução preliminar.

Cabe ainda mencionar, ainda, que em relação ao desaforamento, há o

entendimento consubstanciado na súmula nº712 do STF, que impõe a

nulidade da decisão que determina o desaforamento de processo da

competência do júri sem audiência da defesa.

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CAPÍTULO IV

QUESITAÇÃO

Com o advento da Lei 11689/2008, a reforma do Tribunal do Júri

aproximou-se ao modelo de votação do sistema norte-americano,

consubstanciado no veredicto único em relação à culpa ou inocência.

Com alteração do art.482 do CPP houve uma simplificação nos

quesitos formulados pelos jurados, uma vez que, uma das grandes fontes de

nulidade dos julgamentos do Tribunal o Júri era a existência de vícios na

formulação dos quesitos.

Os quesitos são perguntas feitas aos jurados sobre o fato objeto de

julgamento, em especial se o réu deve ser absolvido. A regra á a liberdade do

ser humano, logo a proposição deve ser feita no sentido da absolvição e não

da condenação.

O novo art.483 do CPP simplifica tal sistema, com a previsão de três

quesitos básicos: no primeiro indaga-se sobre a materialidade do fato; depois

os jurados serão questionados sobre a autoria ou participação e, por fim,

responderão os jurados se o acusado deve ser absolvido. O terceiro quesito

somente será respondido se as respostas aos dois primeiros forem afirmativas

Podemos perceber que existe uma ordem na quesitação. Ordem que não pode

ser invertida, sob pena de desrespeito a uma regra e, consequentemente, a

nulidade do julgamento.

Com a nova quesitação não importa qual seja a tese da defesa, isto é,

se é legítima defesa, inexigibilidade de conduta diversa ou coação moral

irresistível, a pergunta será uma só: O jurado absolve o acusado? Se os

jurados absolverem o réu, não se saberá qual foi a tese defensiva escolhida,

se houver mais de uma. Hoje, não importa quantas teses de defesa foram

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apresentadas que a pergunta será feita uma única vez: O jurado absolve o

acusado?

Logo, podemos concluir que o novo quesito genérico abarca todas as

teses de defesa que não estiverem ligadas à materialidade, autoria ou

participação e desclassificação.

Para os autores Luiz Flavio Gomes, Rogério Sanches Cunha e

Ronaldo Batista Pinto as teses defensivas devem ser quesitadas

separadamente, para que as partes possam impugnar a decisão dos jurados

em grau recursal. Para eles ocorrerá um impasse na fase recursal, já que não

será possível saber qual a tese acolhida. Se a acusação quiser recorrer deverá

impugnar todas as teses apresentadas em plenário e demonstrar que são elas

manifestamente contrárias as provas dos autos.

Hoje há uma divergência doutrinária a respeito do quesito genérico da

absolvição. Para Andrey Borges de Mendonça havendo apenas uma tese

defensiva e que já foi afastada pelos quesitos anteriores, não deve o juiz

formular o quesito: “o jurado absolve o réu?. Justamente por não se tratar de

quesito obrigatório inaplicável a súmula 156 do STF.

Conforme já decidiu o Plenário do STF, “ os princípios constitucionais

que garantem o livre acesso ao Poder Judiciário, o contraditório e a ampla

defesa, não são absolutos e hão de ser exercidos, pelos jurisdicionados, por

meio das normas processuais que regem a matéria, não se constituindo

negativa e prestação jurisdicional e cerceamento de defesa a inadmissão de

recursos quando não observados os procedimentos estatuídos nas normas

instrumentais” (STF – Pleno – Ag.Rg.152.676/PR – Rel.Maurício Correa – DJ –

Seção I – j.03/11/1995).

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CAPÍTULO V

A SUPRESSÃO DO PROTESTO POR NOVO JÚRI

A reforma aboliu o recurso de protesto por novo júri. Tratava-se de um

recurso especial previsto nos arts.607 e 608 do CPP, contra as decisões

tomadas pelo Tribunal do Júri, que acarretassem ao réu uma pena igual ou

superior a 20 anos, permitindo, pois, uma nova oportunidade de julgamento,

anulando-se o anterior.

O recurso era de ofício e era de uso exclusivo da defesa. Nas palavras

de Bento de Faria, tratava-se de um “favor dispensado à liberdade” (Código de

Processo Penal, v.2, p.328).

Com a extirpação do protesto por novo júri a doutrina se dividiu em

duas correntes. A primeira corrente liderada por Guilherme Nucci e Andrey

Borges de Mendonça considera que a nova lei terá aplicação imediata e,

portanto, acusados que sejam julgados após o início da vigência da nova lei,

digo, 8 de Agosto de 2008 não mais poderiam interpor o protesto (Guilherme

Nucci, Tribunal do Júri, p.409; Andrey Borges de Mendonça, Nova Reforma do

Código de Processo Penal: Comentada artigo por artigo). Para uma segunda

corrente minoritária e isolada, as regras referentes a este recurso é uma

garantia constitucional do acusado e as normas que o regem teria natureza

mista, pelo que sua extinção não pode atingir processos que tenham por objeto

crimes cometidos antes do início da vigência da Lei 11689/2008 (Paulo

Rangel, O princípio da irretroatividade das lei processual penal material como

garantia fundamental, Boletim IBCCrim 188/4)

Para a maioria da doutrina a extinção do protesto por novo júri,

provocada pela Lei 11689/2008, é de aplicação imediata e está verdadeira

consonância com o que preceitua o art.2º do Código de Processo Penal. “A lei

processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos

realizados sob a vigência da lei anterior”.

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O protesto por novo júri não passava de uma segunda chance

concedida ao acusado, porque se entendia que a pena fixada teria sido

rigorosamente excessiva.

.

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CONCLUSÃO

Formalmente, o júri pode ser considerado um direito humano

fundamental, consistente na participação do povo nos julgamentos proferidos

pelo poder judiciário. Podemos dizer, em outras palavras que o júri figura

como, praticamente, a única instituição a funcionar com regularidade,

permitindo que qualquer cidadão tome parte nos assuntos de um dos Poderes

da República. A Constituição ao estabelecer,o Tribunal do Júri como cláusula

pétrea (art.5º, XXXVIII) termina por inserir o cidadão no contexto do Poder

Judiciário. Não deixa de ser uma vantagem, pois confere à pessoa comum um

status de magistrado, julgando seu pares provocando as mais diversas

reações da sociedade.

A lei procurou cumprir os objetivos de modernização, simplificação e

eficácia, tornando o procedimento do júri mais garantista, eficaz e ágil.

Para concluir, o júri é direito e garantia humanas fundamentais formais,

merecendo ser respeitado, especialmente no que concerne aos princípios

constantes das alíneas do art.5º,XXXIII, da CF.

Esse simples trabalho não encerra o estudo das reformas do Tribunal

do Júri, pelo contrário, vejo-o como um impulso a um estudo mais profundo da

matéria, inclusive de ordem prática. Afinal, a lei processual vem passando por

um profundo processo de reforma que ainda não se completou, estando a

doutrina e a jurisprudência em fase de “amadurecimento” sobre alguns

aspectos das novidades introduzidas.

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BIBLIOGRAFIA

MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis, As Reformas no Processo Penal. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

BORGES, Andrey de Mendonça, Reforma do Código de Processo Penal. São

Paulo: Método, 2009.

MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2008.

NUCCI, Guilherme de Souza, Tribunal do Júri. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2008.

PACELLI, Eugenio de Oliveira, Curso de Processo Penal. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2008.

PEREIRA, José Ruy Borges, Tribunal do Júri. São Paulo: Edipo,2000.

RANGEL, Paulo, Direito Processual Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I CAPÍTULO I - A Origem

1.1) Princípios Constitucionais regentes do Tribunal do Júri 12

1.2) Órgão do Poder Judiciário 15

CAPÍTULO II - As Inovações no Procedimento 18

1ª Fase – Iudicium Accusationis 2.1) Procedimento

2.2) Audiência de Instrução e Julgamento 20

2.3) Das Decisões tomadas ao final da Primeira Fase 22

a) Pronúncia

b) Impronúncia

c)Absolvição Sumária

d) Desclassificação

2ª Fase – Iudicium Causae

2.4) A Extinção do libelo Crime Acusatório 28

2.5) Intimação das Partes 30 2.6) Relatório 30 2.7) Intimação das Partes 31

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2.8) Escolha na Convocação dos Jurados 31 CAPÍTULO III – Desaforamento 33

CAPÍTULO IV – Quesitação 36 CAPÍTULO V - Supressão do Protesto por Novo Júri 38

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CITADA 41

ÍNDICE 42