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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
MODALIDADES DE CONTRATAÇÃO NA IMPLANTAÇÃO DE
EMPREENDIMENTOS DE GRANDE PORTE COM FOCO EM
GERAÇÃO DE ENERGIA
Por: Mônica Maroja Ribeiro Ramos Moreira
Orientador
Prof. William Rocha
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
MODALIDADES DE CONTRATAÇÃO NA IMPLANTAÇÃO DE
EMPREENDIMENTOS DE GRANDE PORTE COM FOCO EM
GERAÇÃO DE ENERGIA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Gestão Pública
3
AGRADECIMENTOS
Ao profº William Rocha, pela orientação e transmissão de novos
conhecimentos.
Ao meu marido Rodrigo, pelo incentivo e compreensão.
A minha irmã Juliana, pela amizade, carinho e apoio.
4
Dedico este trabalho a Deus, por ter
me concedido a vida, com saúde e
plena de condições favoráveis,
dentre elas as que me propiciaram
continuar estudando e, a minha
família que me transmite princípios e
valores morais e éticos que pautam
minha vida e que me motivam a
buscar permanentemente novas
conquistas, tanto pessoais, quanto
profissionais.
5
RESUMO
Devidos às mudanças ocorridas a partir de 1993 na legislação que rege
o Setor de Energia Elétrica Brasileiro, que propiciou a abertura de mercado e a
conseqüente entrada de novos agentes oriundos de diversas atividades
econômicas, tem-se notado grandes alterações no modo de contratação para
implantação de grandes empreendimentos neste Setor. A partir do ano de
1995, o modelo existente baseado no controle estatal revelou-se ineficaz e,
diante da evidência de que para o país se desenvolver no ritmo acelerado e
crescente exigido precisava de recursos vultosos, instigou o governo a
promover uma abertura do Setor aos investimentos privados.
Neste cenário surgem os contratos EPC (Engineering, Procurement and
Construction), também conhecidos por “turn key”, que é uma forma bem similar
aos contratos de empreitada integral, onde o empreendedor ou contratante
transfere, via contrato, todos os riscos de engenharia e construção à
contratada. A contratada fica responsável pela realização dos projetos e
trabalhos de engenharia, fornecimento de materiais e equipamentos
permanentes, montagem eletromecânica e construção do empreendimento,
assumindo os riscos inerentes a essas atividades, e recebe um valor fixo e
certo, isto é, um valor global comprometendo-se a entregar o empreendimento
pronto, acabado e em operação.
6
METODOLOGIA
O presente trabalho foi produzido após leitura de matérias, publicações
na internet e livros sobre o assunto. Por se tratar de tema relativamente novo,
houve certa dificuldade de se encontrar textos que tratem do assunto.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Histórico e Contextualização 10
CAPÍTULO II - Modalidade de Contratação Recentemente Utilizada no
Setor Elétrico 17
CAPÍTULO III - O Contrato EPC e seu tratamento jurídico 27 CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33
BIBLIOGRAFIA CITADA 35
ÍNDICE 36
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INTRODUÇÃO
A promulgação da Lei nº 8.987 de 13 de fevereiro de 1995, que rege o
Regime de Concessões de Serviços Públicos, em consonância com a Lei nº
9.074 de 07 de julho de 1995, que instituiu as normas para outorga e
prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos permitindo a
formação de consórcios entre empresas públicas e privadas, fomentou a
reestruturação do Setor Elétrico. Até então, o Estado, através de suas grandes
empresas estatais, detinha a total responsabilidade pela implantação dos
empreendimentos energéticos, desde os estudos de viabilidades, inventários,
até a operacionalização destes empreendimentos, comumente com
financiamentos garantidos pela União.
Dentro deste novo panorama, as empresas privadas ou consórcio de
empresas passaram a participar diretamente e puderam contratar todas as
atividades relacionadas ao projeto e implantação do empreendimento,
concentrando seus esforços na sua missão mor, ou seja, na produção e
comercialização de energia elétrica.
Deste modo, questões importantes como planejamento, evolução
físico-financeiro, acompanhamento da execução do projeto e demais dados
que possam interferir no custo do empreendimento e, conseqüentemente, no
preço da tarifa, devem ser gerenciadas pelo empreendedor de forma a garantir
o cumprimento do contrato quanto à qualidade, preço e prazos ajustados.
Entretanto nesta re-configuração das responsabilidades de todos os envolvidos
no processo (concessionários, projetistas, construtores, montadores e
fornecedores) restou uma significativa e preocupante questão que diz respeito
justamente ao item qualidade e/ou durabilidade do produto final. Há um claro
conflito de interesses, pois o concessionário administrará o empreendimento
por pelo menos 30 anos, logo busca resultados de longo prazo, calcados na
solidez, segurança, rendimento e produtividade da usina; enquanto que os
demais envolvidos na execução da obra buscam a maximização dos
resultados imediatos.
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Cabe, sem dúvida, ao empreendedor / concessionário gerenciar os
diversos atores envolvidos e as atividades decorrentes. A importância deste
gerenciamento está no fato de se obter informações precisas para que o
subsidiarão nas tomadas de decisões quanto à necessidade de aporte de
recursos, alterações contratuais e eventuais distorções que vierem a ocorrer
durante a implantação do empreendimento e, principalmente, quanto à antever
os possíveis conflitos inerentes que possam surgir das relações entre as várias
partes interessadas ou envolvidas.
A forma de contratação, cujas disposições melhor exprimem as
questões peculiares, é chamada de Contrato EPC (Engineering, Procurement
and Construction) Turn Key Lump Sum, onde o objeto da contratação é a
entrega do empreendimento de geração de energia elétrica concluído e em
plena operação.
Nos empreendimentos hidrelétricos, as diversas atividades podem ser
agrupadas, de modo geral, em dois blocos: as obras principais que se referem
à usina e aquelas relacionadas à formação do reservatório.
Quando se fala em Contratos EPC, nos referimos ao primeiro grupo
das atividades supracitadas, que compreendem as obras principais, barragem,
casa de máquinas e sistema de adução, sendo que as atividades relacionadas
ao reservatório, por serem atividades que envolvem questões sociais e
ambientais, entre outras, e a mensuração dos seus riscos é complexa, devem
ficar por conta do empreendedor.
Há ainda a necessidade do empreendedor / concessionário em
atender as normas dos agentes reguladores e, caso tenha um financiamento
associado (Project Finance) – e normalmente o tem, pois são obras de grande
porte e de custo elevado – também é necessário atender às condicionantes do
financiamento, além das dos órgãos ambientais e da comunidade em geral.
Para subsidiar o empreendedor no acompanhamento da evolução da
obra e na verificação da sua execução em conformidade com o projeto, as
normas pertinentes, as especificações técnicas e os termos do contrato,
adotaram-se outra modalidade de contratação que é chamada de “Engenharia
do Proprietário”, que também será abordada neste trabalho.
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CAPÍTULO I
HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO
1.1 Evolução da Estrutura do Setor de Energia Elétrica
Brasileiro
O Setor de Energia Elétrica Brasileiro tem passado por inúmeras
reestruturações visando um ajuste da macroeconomia, com isto o Governo
objetiva uma diminuição nos gastos com as empresas estatais do Setor, um
aumento na sua arrecadação com o lucro da venda das mesmas e uma
ampliação da competitividade para redução do custo da energia ao consumidor
final.
Com a diminuição da atuação do Estado na economia, através do
Decreto n° 915 de 06 de setembro de 1993, abriu-se caminho para as
parcerias público-privadas, permitindo a formação de consórcios para a
construção de usinas hidrelétricas, que são a principal fonte geradora da
energia que abastece o país .
Deste modo, o Governo transfere e divide com as empresas privadas as
incertezas e riscos presentes nesse Setor, embora a função de regulador
permaneça com o Estado, atualmente através da Agência Nacional de Energia
Elétrica – ANEEL.
Numa retrospectiva histórica extraímos o seguinte cenário:
- Nas duas primeiras décadas do século XX surgiram inúmeras
empresas elétricas isoladas no âmbito dos centros urbanos, com
predominância do capital privado e, em particular, de organizações municipais,
ao lado de alguns empreendimentos estrangeiros.
- Na década de 30, o Setor Elétrico estava subordinado ao Ministério da
Agricultura e iniciava-se o Governo de Getúlio Vargas (1930 a 1945). Num
contexto de forte centralização do Estado, em 10 de julho de 1934, foi
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promulgado o Código de Águas através do Decreto n° 24.643, dando início à
regulamentação dos serviços e da indústria de energia elétrica do Brasil, tendo
a União como único poder concedente. Neste período, com o aumento da
industrialização, houve um acentuado crescimento da demanda de energia
elétrica.
- Na década de 40, foi criado, em 18 de maio de 1939 através do
Decreto n° 1.285, o Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica – CNAEE,
diretamente subordinado à Presidência da República, como órgão de consulta,
orientação e controle quanto à utilização dos recursos hídricos e de energia
elétrica. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os investimentos em energia
são retomados no Brasil no governo de Marechal Eurico Gaspar Dutra (1946 a
1951). De 1945 a 1962, o Setor foi marcado pela grande participação do poder
público na economia, fortalecimento das concessionárias públicas e,
principalmente, por um crescimento substancial nos investimentos.
- Na década de 60 foi criado, a 22 de julho de 1960 através da Lei n°
3.782, o Ministério das Minas e Energia – MME e no ano seguinte, foi
constituída a Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – ELETROBRÁS que absorveu
várias atribuições anteriormente da competência do CNAEE. Este período foi
marcado por grandes crises econômicas, políticas e sociais. Houve um
crescimento da capacidade instalada e da malha de transmissão do País, o
que exigiu que os sistemas elétricos passassem a funcionar de forma integrada
e não mais isolados, proporcionando assim o aproveitamento mais racional
das fontes energéticas. Deste modo, em 1969 foi criado o Comitê Coordenador
de Operação Interligada – CCOI, composto inicialmente pelas empresas
geradoras e transmissoras da região sudeste e posteriormente, pelas da região
sul. Em 1973, o Grupo Coordenador para Operação Interligada – GCOI
substituiu o CCOI, com a finalidade de coordenar, decidir e encaminhar as
providências necessárias ao uso racional das instalações geradoras e
transmissoras, existentes e futuras, nos sistemas interligados das regiões
sudeste e sul. Em 1965 foi criado o Departamento Nacional de Águas e
Energia – DNAE, vinculado ao MME, que absorveu as atividades do CNAEE, e
com a inclusão da palavra Elétrica passou a se denominar DNAEE. Assim, a
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estrutura básica do Setor consolidava-se com o MME traçando a política
energética, a ELETROBRÁS executando e o DNAEE normalizando e
fiscalizando.
- Na década de 70, o modelo do setor continuava a se reformular e
iniciou-se o processo de inclusão das regiões nordeste e norte ao sistema de
distribuição, também começaram a ser adotados sofisticados sistemas de
supervisão e controle da geração de energia. Nesta década o Setor Elétrico
chegou ao seu ápice graças à política de expansão da economia em vários
setores e de altos investimentos nas empresas estatais. O Brasil construiu
grandes obras de geração hidrelétrica e deu início ao programa nuclear
brasileiro, foi o período chamado “milagre econômico”. Foi nesta década que
se iniciou a construção da hidrelétrica binacional Itaipu.
- Na década de 80 o grande acontecimento foi o fim do governo militar.
Se há um setor onde o termo "década perdida" pode, infelizmente, ser
aplicado, é o setor elétrico, pois, além do controle tarifário para uma frustrada
tentativa de controle inflacionário, houve também a corrida de algumas
empresas, já endividadas pelas obras da década anterior, aos suppliers
credits, que acabou por complicar ainda mais suas saúdes financeiras. Foi
também a década em que ocorreu o primeiro black-out e a inadimplência
setorial, o famoso “calote”.
- Na década de 90 é iniciado o processo de abertura e privatização da
economia brasileira, estimulada basicamente pelos crescentes déficits públicos
internos. Em 1993, com o Decreto n° 915, é aberto o caminho para que
consórcios formados por empresas públicas e privadas possam construir
hidrelétricas. Entretanto a reestruturação do setor tem como precursora a Lei
n° 8.987 de 13 de fevereiro de 1995, que regulamentou os preceitos de
licitação para concessão, dando início à competição no Setor Elétrico, e a Lei
n° 9.074, de 07 de julho de 1995, que estabelece normas para outorga e
prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos.
Em 1996 foi implantado um projeto (RE-SEB) com a finalidade de
reestruturar o Setor Elétrico Brasileiro. Houve a desverticalização do setor com
13
a divisão das atividades de geração, transmissão, distribuição e
comercialização da energia.
De 1995, quando teve início o processo de privatização do setor,
até o ano 2000, 24 empresas foram privatizadas, sendo que 21 de distribuição
e 3 de geração. Neste mesmo ano foi criada a Associação Brasileira dos
Produtores Independentes de Energia Elétrica – APINE, congregando
empresas interessadas na produção independente.
Em 1996, através da Lei n° 9.427, foi criada a Agência Nacional
de Energia Elétrica – ANEEL, sucedendo o DNAEE. A ANEEL, autarquia em
regime especial, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, tem como
atribuições, regular e fiscalizar a geração e consumidores, mediar os conflitos
de interesses entre os agentes do Setor Elétrico e consumidores, conceder,
permitir e autorizar instalações e serviços de energia, garantir tarifas justas,
zelar pela qualidade do serviço, exigir investimentos, estimular a competição
entre os geradores e assegurar a universalização dos serviços.
Em 27 de maio de 1998, com a Lei n° 9.648, é consagrado o então
Novo Modelo do Setor Elétrico, com a criação do Operador Nacional do
Sistema – ONS e do Mercado Atacadista de Energia Elétrica - MAE, este
primeiro visando assumir progressivamente as funções até então do GCOI,
tendo como principais atribuições : operar o Sistema Interligado Nacional –
SIN e administrar a rede básica de transmissão de energia do país, por
delegação dos agentes que são as empresas de geração, transmissão e
distribuição de energia, seguindo regras, metodologias e critérios aprovados
pelos próprios agentes e homologados pela ANEEL; e o segundo, um
ambiente virtual para se processar a contabilização e a liquidação centralizada
no mercado de curto prazo
- Na década de 2000, a Lei n° 9.944 de 17 de julho de 2000 cria a
Agência Nacional de Águas – ANA. Neste mesmo ano, também é criada a
Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica – CBIEE, composta por
grupos brasileiros e estrangeiros, globalmente comprometidos com
investimentos de longo prazo em infraestrutura. Simultaneamente ocorria o
processo de privatização das empresas de energia elétrica.
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Em 2001, o Brasil enfrentou uma crise no abastecimento de
energia elétrica, expondo o país a uma situação delicada. Para enfrentar essa
situação o governo criou a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica –
CGE, objetivando propor e implementar medidas de natureza emergencial,
para compatibilizar a demanda e a oferta de energia elétrica.
De junho de 2001 a fevereiro de 2002 foi decretado racionamento
de energia elétrica nas regiões sudeste, centro-oeste, nordeste e norte do país.
Neste período, o sistema de geração demonstrou extrema dependência
hidrelétrica, bem como a carência de novos empreendimentos. O Comitê de
Revitalização do Modelo do Setor Elétrico – CRMSE foi instituído pela CGE
juntamente com o início do racionamento, com o objetivo de encaminhar
propostas para corrigir as disfunções que estavam acontecendo e propor
aperfeiçoamentos no modelo do setor, buscando soluções que preservassem
os alicerces básicos de funcionamento do mesmo, tais como, competição nos
segmentos de geração e comercialização de energia elétrica, expansão dos
investimentos necessários com base em aportes do setor privado e regulação
dos segmentos que são monopólios naturais, tais quais, a transmissão e
distribuição.
Em 31 de dezembro de 2002, o Decreto n° 4.562 restringiu a
venda e aquisição de energia, limitando fortemente a livre negociação e a
atuação das empresas comercializadoras.
Em 10 de dezembro de 2003, são promulgadas as Medidas
Provisórias n°s 144 e 145, dispondo regras sobre a comercialização de energia
e a criação da Empresa de Pesquisa Energética – EPE, respectivamente. Esta
última tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e pesquisas
destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, tais como energia
elétrica, petróleo e seus derivados, gás natural, carvão mineral, fontes
energéticas renováveis e eficiência energética, dentre outras.
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Através da Lei n° 10.848 de 15 de março de 2004, é publicado o
novo Modelo Institucional do Setor Elétrico, como abaixo apresentado :
• Conselho Nacional de Política Energética – CNPE –
mantém o papel de formulador da política energética
nacional e de definidor dos critérios básicos para
gerenciamento do setor.
• Ministério de Minas e Energia – MME – exerce a função
de Poder Concedente e de planejamento do setor; detém o
poder monitorar o setor e intervir, nomeando e exonerando
dirigentes em outros agentes institucionais.
• Empresa de Pesquisa Energética – EPE – prepara
estudos de viabilidade econômico-financeira e sócio-
ambiental de usinas e, executa estudos para definição da
matriz energética, de planejamento integrado de recursos e
de expansão do setor.
• Câmara Comercializadora de Energia Elétrica – CCEE –
processa a contabilização e a liquidação centralizada no
mercado de curto prazo.
• Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE –
acompanha e avalia a continuidade, segurança e
qualidade do suprimento num horizonte de 5 anos e
propõe medidas preventivas de mínimo custo para
restaurar as condições adequadas de atendimento,
incluindo ações no lado da demanda, da contratação de
reserva conjuntural e outras.
• Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL – regula,
fiscaliza e arbitra atos do Setor Elétrico.
• Operador Nacional do Sistema – ONS – monitora e é
responsável pela operação do sistema de transmissão
integrada.
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Indústria do Setor Elétrico
GERAÇÃO » Concessionárias (Sistema Eletrobrás, etc...)
» Produtores Independentes
» Autoprodutores com excedentes
» Mercado Externo (Importação)
TRANSMISSÃO » Concessionárias (Sistema Eletrobrás, etc...)
DISTRIBUIÇÃO » Concessionárias (Sistema Eletrobrás, etc...)
» Comercializador
Energia Nova ou Existente
Consumidor Regulado Consumidor Livre
Além da importância de todos os órgãos até agora citados, cabe
igualmente mencionar a importância do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente –
IBAMA, que teve sua relevância destacada nos últimos anos e concede as
licenças ambientais para novos projetos hidrelétricos, bem como a Agência
Nacional de Águas – ANA, que define o custo da água (no Brasil há uma
predominância por fontes hídricas para geração de energia); além de vários
outros stakeholders (acionistas, empresários, órgãos do governo, empregados,
sindicatos, sociedade civil, investidores...) enfim, todos os agentes que
impactam as decisões na organização.
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CAPÍTULO II
MODALIDADE DE CONTRATAÇÃO RECENTEMENTE
UTILIZADA NO SETOR ELÉTRICO
2.1 Primórdios
Com a promulgação da Lei nº 9.074 de 07 de julho de 1995 que
estabeleceu um novo regime para a concessão de serviços públicos, fixou
regras específicas para os serviços públicos de eletricidade, extinguiu o
monopólio estatal e instituiu um regime de livre concorrência, ficou em
evidência a necessidade de adequação dos modelos de contratação para as
obras do Setor.
O impacto imediato de tal alteração na legislação do Setor Elétrico
Brasileiro foi o aparecimento de novos agentes econômicos, interessados em
investir em empreendimentos de geração de energia elétrica, além das
empresas já atuantes no setor.
“A história recente da realização de usinas hidrelétricas no Brasil
é caracterizada pela emergência de empreendedores privados
em um setor que nos últimos cinqüenta anos, foi praticamente
monopolizado pelo poder público, tanto federal, como estadual e
mesmo municipal. Como se sabe, esta mudança deveu-se
integralmente à exaustão da capacidade das instituições públicas
do país de obtenção de financiamentos para tais
empreendimentos, seja através da geração interna de capital seja
por meio de empréstimos nos mercados financeiros nacionais ou
internacionais”. (MACHADO & RABELO, 2001) [1]
18
Na estrutura vigente até 1995, com financiamento exclusivo do próprio
poder público, o caráter técnico das obras tinha extrema relevância, sendo que
as empresas estatais, proprietárias das usinas, sempre se posicionaram
intransigentemente no aspecto da qualidade e durabilidade de suas obras, com
participação ativa no planejamento estratégico da manutenção e expansão do
Setor junto à Eletrobrás.
O financiamento destes projetos é de longo prazo, com baixas taxas de
retorno e, os investidores privados querem, ao contrário, um retorno de
investimento alto e rápido. Logo, os altos custos financeiros exigidos aliados ao
know-how requerido em projetos hidrelétricos, geram insegurança ao investidor
privado.
Após 2003, o marco regulatório do Setor Elétrico passou por mais
alterações, dentre elas; nos leilões de concessões de novos empreendimentos
de geração vence o empreendedor que oferecer a menor tarifa a ser “vendida”,
pela energia produzida (anteriormente, as concessões eram entregues ao
empreendedor que oferecesse o maior pagamento pelo uso do bem público à
União) e também, passou a ser proibida a prática do “self dealing” (quando
gerador e distribuidor são do mesmo grupo empresarial). Tais alterações
reforçaram ainda mais a necessidade dos empreendedores em buscar
soluções que garantam a conclusão das obras nos prazos e preços definidos
(uma vez que a energia que será gerada já está vendida a preço e prazo de
entrega certo) e a qualidade dos serviços, tanto durante a implantação quanto
na fase de operação. O não cumprimento desses acordos acarreta perdas de
receita de geração pelo atraso das obras, multas dos órgãos públicos
reguladores, gasto com a aquisição de energia no mercado livre para suprir
compromissos assumidos, prejuízos à imagem das empresas envolvidas,
aumento dos riscos o que encarece o prêmio dos seguros, maior preocupação
da sociedade civil quanto à segurança dos empreendimentos e maior cautela
dos órgãos que concedem as licenças ambientais. No entanto, quem sempre
perde é a sociedade brasileira, que arcará com o custo de uma energia mais
cara.
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Neste quadro, ganha destaque a busca por modelos de gestão
eficientes que atendam, de forma equilibrada, todas as partes interessadas,
combinando os modelos de gestão utilizados, mas tendo seus pontos falhos
minimizados ou excluídos, através de uma atuação em parceria entre os
proprietários dos empreendimentos e os consórcios contratados para a
execução, pressupondo benefícios mútuos para as partes, com reflexos
positivos para a sociedade brasileira.
2.2 Contratação tipo EPC
Existem várias formas de contratação de empreendimentos de grande
porte. Neste trabalho será descrita apenas a forma legitimada nesta
reestruturação do segmento de geração e transmissão de energia.
2.2.1 Engineering-Procurement-Construction (EPC)
Nos contratos de tipo EPC Turn Key Lump Sum (bastante
semelhante ao de empreitada integral), que foram recentemente utilizados em
empreendimentos do Setor Elétrico, o contratado responsabiliza-se pelo
projeto executivo, fornecimentos, construção civil, montagem eletromecânica,
materiais, comissionamentos e controle da qualidade a um preço global, cujo
objeto da contratação é a entrega do empreendimento, pronto, acabado e
operando. Estes contratos são instrumentos crescentes utilizados por
empresas para implantar grandes projetos, onde o proprietário contratante
(empreendedor / concessionário) transfere para o contratado (contratista /
epcista) os riscos e a responsabilidade da entrega do projeto concluído e em
funcionamento. Via de regra, as responsabilidades pelo licenciamento
ambiental, pela gestão fundiária e pela execução dos programas ambientais
são reservadas ao concessionário/contratante/empreendedor. A questão das
obras do reservatório não tem uma tendência definida, tal constatação deve-se
ao fato de que essas obras têm uma dependência direta da área afetada e das
condicionantes dos licenciamentos, sendo, em alguns casos, possíveis as pré-
20
definições necessárias ao cálculo dos seguros pelos empreiteiros /
construtores, e, em outros casos, impossível uma orçamentação isenta de
riscos, o que fatalmente elevaria o preço proposto em função de
contigenciamentos altos.
Mesmo havendo possibilidade de haver variações nesta
modalidade de contratação, pode-se afirmar que ela é a que mais agrada aos
investidores, que recebem tal exigência dos órgãos financiadores, por ser
entendida como a que melhor transfere os riscos de execução e integração
dos empreendedores aos contratados.
O EPC tem sua origem no setor privado, onde o recurso e o
prazo são considerados mais prioritários do que seu baixo custo e é
caracterizado pelas seguintes etapas:
1. Engenharia (Engineering) – preliminarmente à fase de projeto
são determinados os parâmetros técnicos que basearão os estudos
econômicos e de viabilidade do projeto.
2. Procura e Compra (Procurement) – atividades referentes a
dispor os bens materiais necessários à execução do projeto.
3. Construção (Construction) – caracteriza-se pela construção
civil, comissionamento e montagem.
No mercado há empresas que atuam como contratante principal,
sendo comum a formação de consórcio para esse fim. Normalmente a
empresa contratada subcontrata materiais e serviços, sendo, então, empresas
subcontratadas qualificadas. Para serem competitivas estas empresas
precisam ter uma estrutura organizacional que permita gerenciar
empreendimentos de grande porte, capacidade para alavancar um grande
volume de recursos financeiros e capacidade gerencial para lidar com uma
rede de sub-fornecedores e parceiros.
Suas principais características são:
§ Projetos de elevado custo;
§ Projetos que normalmente envolvem a utilização de
novas tecnologias, equipamentos e recursos;
§ Melhor preço “garantido”;
21
§ O contrato é tipicamente de performance e;
§ O EPC contratante (epcista), normalmente subcontrata a
maioria dos trabalhos de construção.
Os principais benefícios de um Contrato EPC é que: o EPC
contratante (epcista) pode atuar como proprietário, negociando as melhores
condições para o projeto; há a possibilidade de transferir, por parte de um dos
consorciados, alta tecnologia ao dono do projeto e; os poderes e as
responsabilidades das partes são bem definidos. A principal desvantagem é o
seu alto custo, além de um significativo e preocupante comprometimento da
qualidade e/ou durabilidade do produto final.
Sobre o prazo de garantia do empreiteiro (epcista / construtor), a
partir da entrada em vigor do novo Código Civil, em janeiro de 2003, os
contratos de empreitada global e os EPC’s passaram a ter que prever,
obrigatoriamente, a garantia qüinqüenal. Qualquer outro prazo diferente deste,
não prevalecerá sobre a legislação vigente. O impacto da extensão do prazo
de garantia é financeiro já que este custo adicional estará de uma forma ou de
outra, refletido no custo fixo do Contrato EPC.
2.2.2 Construção de uma termelétrica a gás natural
Tomemos como exemplo uma obra para a construção de uma usina
termelétrica a gás natural, cujo projeto não pode prescindir do combustível gás
natural. Neste caso temos um empreendimento com dois projetos de
instalações distintas, mas interdependentes: um, o da usina termelétrica
(instalação industrial para a geração de energia) e o outro, o do meio físico de
transporte do gás (gasoduto).
A contratante (empresa que detém a concessão para a exploração do
negócio, por exemplo) contrata uma empresa (em consórcio normalmente –
empresa epcista) através da assinatura de um Contrato EPC,
consubstanciando-se no contrato principal. Esta empresa epcista compõe-se
de um conjunto de empresas de ramos distintos mas específicas ao objeto do
22
empreendimento, onde, cada uma na sua especialidade, irá obrigar-se a
apresentar os projetos, empregar trabalhos de engenharia, construir, fornecer
materiais, fazer os testes necessários (comissionamento) e entregá-lo ao
contratante, gerando energia; e todas estas etapas deverão ser
‘acompanhadas e fiscalizadas’ de perto pelos ‘olhos do contratante’ que se
viabiliza através do Contrato Engenharia do Proprietário.
No nosso caso teríamos:
USINA TERMELÉTRICA GASODUTO
CONTRATANTE
(Proprietário da Usina Termelétrica)
CONTRATADA EPCISTA
EMPRESA DE ENGENHARIA PROJETISTA
EMPRESA DE ENGENHARIA EXECUTORA DA INSTALAÇÃO DA
USINA
FORNECEDORA DE EQUIPAMENTOS E MÁQUINAS PARA A
USINA
EMPRESA DE ENGENHARIA EXECUTORA DO GASODUTO
FORNECEDORA
DE EQUIPAMENTOS
PARA O GASODUTO
FORNECEDORA DE MATERIAIS PARA O
GASODUTO
FORNECEDORA DE MATERIAIS PARA A USINA
CONTRATADA
PARA EXERCER
A ENGENHARIA
DO PROPRIETÁRIO
23
2.2.3 Cláusulas do Contrato EPC
Com base em alguns Contratos EPC utilizados na implantação de
usinas hidrelétricas, a seguir é apresentada uma relação de cláusulas de um
contrato para empreendimentos com as mesmas características:
Título I – Introdução
Cláusula 1 - Objeto
Cláusula 2 - Documentos Integrantes do Contrato
Cláusula 3 - Definição
Cláusula 4 - Obrigações da Contratada
Cláusula 5 - Obrigações da Contratante
Cláusula 6 - Registro no CREA
Título II – Garantias e Seguros
Cláusula 7 - Garantia do Cumprimento das Obrigações Contratuais
Cláusula 8 - Garantias da Usina e da Instalação de Transmissão de
Interesse Restrito da Central Geradora
Cláusula 9 - Garantias Técnicas
Cláusula 10 - Seguros
Título III – Disposições sobre o empreendimento
Cláusula 11 - Projeto Básico
Cláusula 12 - Projeto Executivo
Cláusula 13 - Alterações do Projeto e Especificações Técnicas
Cláusula 14 - Preservação e Controle Ambiental
Cláusula 15 - Riscos Geológicos e Geotécnicos
Cláusula 16 - Riscos Hidrológicos e Topográficos
24
Cláusula 17 - Conhecimento do Local e das Condições de Execução da
Implantação do Empreendimento
Cláusula 18 - Qualidade do Empreendimento
Cláusula 19 - Gerenciamento, Integração, Execução e Organização dos
Serviços e Fornecimentos
Cláusula 20 - Planejamento e Controle dos Serviços e Fornecimentos
Cláusula 21 - Canteiro de Obras
Cláusula 22 - Construção Civil
Cláusula 23 - Fabricação, Armazenamento e Transporte
Cláusula 24 - Supervisão e Inspeção
Cláusula 25 - Montagem
Cláusula 26 – Comissionamento
Cláusula 27 - Termo de Aceitação Provisória
Cláusula 28 - Termo de Aceitação Definitiva
Título IV – Condições Comerciais da Contratação
Cláusula 29 - Prazos e Marcos Contratuais
Cláusula 30 - Preços
Cláusula 31 - Condições de Pagamento
Cláusula 32 - Reajuste
Cláusula 33 - Incentivos e Benefícios Fiscais
Cláusula 34 - Financiamento
Cláusula 35 - Importação de Bens
Cláusula 36 - Tributos
Cláusula 37 - Vigência
Cláusula 38 - Valor do Contrato
Título V – Suspensão e Rescisão do Contrato
Cláusula 39 - Suspensão da Implantação da Usina e da Instalação de
Transmissão de Interesse Restrito da Central Geradora
25
Cláusula 40 - Caso Fortuito e Força Maior
Cláusula 41 - Inadimplemento da Contratada
Cláusula 42 - Rescisão
Cláusula 43 - Conseqüências da Rescisão
Título VI – Penalidades
Cláusula 44 - Responsabilidades por Perdas e Danos e seus Limites
Cláusula 45 - Danos Acordados
Cláusula 46 - Multas
Título VII – Disposições Gerais
Cláusula 47 - Comprometimento da Contratada
Cláusula 48 - Solidariedade
Cláusula 49 - Subcontratadas
Cláusula 50 - Comunicações e Notificações
Cláusula 51 - Confidencialidade
Cláusula 52 - Patentes e Direitos Reservados
Cláusula 53 - Transferência de Propriedade
Cláusula 54 - Peças Sobressalentes, Ferramentas e Instrumentos de
Teste
Cláusula 55 - Treinamento
Cláusula 56 - Cessão e Transferências de Direito
Cláusula 57 - Solução de Controvérsias
Cláusula 58 - Contribuições para o INSS e FGTS
Cláusula 59 - Foro
2.2.4 Owner’s Engineering (Engenharia do Proprietário)
Não resta dúvida quanto às inúmeras vantagens que o modelo
de Contrato EPC – Turn Key traz ao empreendedor/concessionário sob o
26
ponto de vista prático. Entretanto, inúmeros acidentes registrados em obras de
grande porte deixaram evidentes que, para atenuar os riscos associados e as
incidências de fatos inesperados quanto a prazos, qualidade e segurança da
obra, para o emprego deste modelo de Contrato EPC é importante dispor de
uma equipe que faça o acompanhamento e fiscalização administrativa e
técnica, de forma ostensiva, em todas as fases do empreendimento. A esse
tipo de contratação deu-se o nome de “Engenharia do Proprietário”.
Complementarmente, a Engenharia do Proprietário deve
disponibilizar informações para subsídio técnico ao empreendedor na tomada
de decisões, junto ao construtor (empreiteiro), com base no Contrato EPC, de
forma a atender aos objetivos previamente estabelecidos para o
empreendimento e aos critérios de segurança operativa definidos nos
procedimentos de rede do ONS e nas regulamentações da ANEEL e MME.
Contudo, o receio do empreendedor em trazer para si
responsabilidades e riscos atribuídos aos construtores ou fornecedores,
comprometeu a atuação da Engenharia do Proprietário como concebida.
Dentre as atividades que devem ser exercidas, destacam-se:
§ Acompanhamento das obras civis e eletromecânicas,
quanto à conformidade em relação aos documentos
de projeto, especificações técnicas, plano de
inspeções e testes, normas técnicas aplicáveis, etc...;
§ Acompanhamento rigoroso dos processos executivos;
§ Certificações parciais dos produtos entregues pelo
contratado e certificação global, quando na entrega do
empreendimento para operação comercial;
§ Atendimento às solicitações do empreendedor, quanto
alterações no projeto e/ou especificações técnicas,
subsidiando-o de elementos necessários para análise
econômico-financeira afetos à relação contratual
estabelecida com o contratado;
§ Emissão de pareceres técnicos;
§ Execução do controle da qualidade,...
27
Entretanto, na prática, o exercício da Engenharia do Proprietário
ficou restringido a checagens pontuais para atendimento dos grandes marcos,
sem o acompanhamento integral de todas as etapas da obra, como deveria
ser.
A Engenharia do Proprietário pode, e deve, atuar de maneira mais
consistente e ostensiva, acompanhando integralmente o andamento da obra,
desenvolvendo um trabalho de verificação do atendimento às normas e
especificações técnicas, apontando eventuais não-conformidades que
subsidiarão as decisões do proprietário/empreendedor/contratante.
CAPÍTULO III
O CONTRATO EPC E SEU TRATAMENTO JURÍDICO
3.1 Conceituação
Como já mencionado no item 2.2.1 acima, o Contrato EPC possui várias
semelhanças com os contratos de empreitada global, portanto algumas de
suas cláusulas encontram fundamentação legal nas disposições dos contratos
de empreitada contidas no Capítulo VIII, art. 610 a 626 da Lei nº 10.406 de 10
de janeiro de 2002, que instituiu o “Novo Código Civil”.
Sua estrutura constitutiva, entretanto, contempla diversas relações
jurídicas intrínsecas e distintas existindo, de um lado o contratante e do outro,
o contratado/empreiteiro que é ao mesmo tempo: epcista construtor, epcista
fornecedor/montador e epcista comissionador, e as obrigações assumidas só
28
serão consideradas cumpridas quando o contratado tiver desempenhado seus
diversos papéis e obtido a aprovação do contratante.
Percebe-se que esse modelo possui alta complexidade, pois todos os
contratos secundários derivados devem estar muito bem alinhados ao principal
Contrato EPC, mormente no que diz respeito aos prazos e marcos contratuais.
E justamente a maior dificuldade com que se defrontam os que estão
envolvidos em operações desta natureza é harmonizar cláusulas, direitos e
obrigações contidas em diversos instrumentos contratuais. Nesta composição,
não há contrato mais importante que outro, todos exercem um papel relevante,
mas o Contrato EPC é o primeiro na lista de precedência, uma vez que sem
ele não existe projeto nem instalação.
3.2 Considerações sob o regime do Código Civil
Pelas disposições legais vigentes no Brasil e dada a flexibilização das
normas constantes no nosso Código Civil existe um ambiente propício à
confiabilidade na celebração deste modelo de contrato. Primeiramente, porque
esse tipo de contrato bem define as responsabilidades e obrigações das
partes, e também, são reconhecidos pelos financiadores como contratos que
lhes oferecem certo nível segurança, visto que os riscos associados são
considerados e minimizados pelo aporte das garantias exigidas como
contrapartida ao financiamento. A conseqüência desfavorável é que acarretará
um alto custo ao contratante.
Vejamos os artigos concernentes mais polêmicos e sua aplicabilidade
no EPC:
“Art. 611 Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por
sua conta os riscos até o momento da entrega da obra, a contento de quem a
encomendou, se este não estiver em mora de receber. Mas se estiver, por sua
conta correrão os riscos.”
29
Como o contratado epcista, neste caso, se obriga a entregar a obra
pronta, testada e operando, conclui-se ele seja o responsável pelos materiais
empregados, mas que devem ser previamente aprovados e sua aplicação
acompanhada in locu pelo representante do contratante (EP).
“Art. 615 Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume
do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o
empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das
regras técnicas em trabalhos de tal natureza.”
Este artigo é relativizado, pois se existe um acompanhamento
ostensivo e todos os eventos são lançados no livro “diário da obra”, pressupõe-
se que, durante o andamento da obra, o contratante teve ciência das
ocorrências, devendo ser, as mesmas, consensadas e estipulado prazos para
o devido tratamento. Logo, restando pendências após concluída a obra, o
contratado fica obrigado a repará-las (o Art. 618 abaixo complementa este
entendimento).
“Art. 618 Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras
construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá,
durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho,
assim em razão dos materiais, como do solo.
Parágrafo único Decairá do direito assegurado neste artigo o
dono da obra que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos cento e
oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito.”
Este artigo é um dos mais contundentes pois solidifica que o prazo da
garantia da obra é irredutivelmente de 5 anos, e prevalece sobre qualquer
outro prazo menor que se venha a estabelecer. Logo, caso neste período
30
constate-se vícios ocultos, o contratado responde e é reponsabilizado pela
falha. No caso do solo, há entendimento de que, para determinar condições
adversas ou inadequadas do solo, é necessário conhecimento técnico e
suporte tecnológico, o que o contratante epcista detém e portanto, pode
determinar essa condição hostil não apenas apontando-a como se negando a
executar a obra. E, caso decida por executá-la, deverá considerar esse risco e
cuidar para que as fundações sejam bem alicerçadas. Quanto ao emprego dos
materiais existe a questão da qualidade, do prazo de garantia do fabricante
(que é menor do que o instituído por este artigo, logo a dúvida é se teria o
contratado epcista obrigação de assumir essa diferença do prazo de garantia
ou se neste caso específico sua responsabilidade estaria limitada à obrigação
de repassar integralmente ao contratante as garantias do fabricante e pelo
prazo por ele estipulado) e se máquinas e equipamentos serão entendidos
como sendo materiais.
Por essa simples análise percebe-se que a legislação codificada
referente à empreitada contempla uma parte bastante ínfima do universo real e
complexo de desenvolvimento desse tipo de contrato. Por isso é importante
que se busque na prática e na legislação extravagante disposições que se
adéqüem à regência desse tipo contratual, restando certo que o resultado final
será um marco contratual frágil em face da legislação codificada e inadequado
à realidade econômica das respectivas operações envolvidas. Portanto
podemos arriscar a caracterizá-lo como um contrato atípico.
31
CONCLUSÃO
A nova regulamentação do Setor Elétrico Brasileiro possibilitou a
privatização de empresas estatais, bem como permitiu a participação de
empresas privadas na obtenção de concessão para exploração dos
aproveitamentos energéticos.
Essa nova formatação exigiu uma remodelagem de toda a
estrutura do Setor até então existente, propiciando o surgimento de um novo
mercado onde a competitividade alavancou a introdução de novas
modalidades de contratação. Entre essas modalidades, há uma, denominada
EPC em que o empreendedor ou contratante transfere todos os riscos de
engenharia e construção à contratada, ficando a mesma responsável pela
realização dos projetos e trabalhos de engenharia, fornecimentos de materiais
e equipamentos permanentes, montagem eletromecânica e construção do
empreendimento, inclusive o controle da qualidade das obras, ou seja, nesse
tipo de contrato o preço é global e está contemplado seu fornecimento integral.
Os principais benefícios de um Contrato EPC é que: o EPC
contratante (epecista) pode atuar como proprietário, negociando as melhores
condições para o projeto, há a possibilidade de transferir, por parte de um dos
consorciados, alta tecnologia ao dono do projeto e, os poderes e as
responsabilidades das partes são bem definidos. A principal desvantagem é o
seu alto custo, além de um significativo e preocupante comprometimento da
qualidade e/ou durabilidade do produto final.
Diante da magnitude e complexidade de uma obra para
implantação de um empreendimento hidrelétrico, e tendo em vista que há um
risco de comprometimento da qualidade e segurança da mesma, tornou-se
essencial o acompanhamento integral do andamento de todas as fases da
obra, uma espécie de “olho do dono”. A esse tipo de prestação de serviço
técnico chamamos de Contrato “Engenharia do Proprietário”.
32
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética – EPE, a expansão da
oferta de energia elétrica no Brasil deverá seguir com a predominância
hidráulica, permanecendo a preocupação com a sustentabilidade social e
ambiental do potencial hidráulico. Isso significa que o Brasil tende a aumentar
seu parque gerador com hidrelétricas e que as questões sociais e ambientais,
quando não resolvidas previamente, serão impeditivas no processo de
implementação de um novo empreendimento hidráulico. Deste modo, é
fundamental que se considere os interesses de todos os envolvidos quando da
implantação de um aproveitamento energético.
33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRASIL. Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de
concessão e permissão da prestação de serviços públicos e dá outras
providências. Disponível em :
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8987.htm. Acesso em 25 jun. 2011.
BRASIL. Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995. Estabelece normas para outorga
e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos e dá outras
providências. Disponível em :
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9074.htm. Acesso em 25 jun. 2011.
BRASIL. Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996. Institui a Agência Nacional
de Energia Elétrica – ANEEL, disciplina o regime das concessões de serviços
públicos de energia elétrica e dá outras providências. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9427.htm. Acesso em 25 jun. 2011.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Disponível em : http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm.
Acesso em 18 set. 2011.
CACHAPUZ, Paulo Brandi de Barros. O planejamento da expansão do setor
de energia elétrica: a atuação da Eletrobrás e do Grupo Coordenador do
Planejamento dos Sistemas Elétricos (GCPS). Rio de Janeiro. Centro da
Memória da Eletricidade no Brasil, 2002, 540 p.
ENERGY & UTILITIES GROUP. Estudo do Novo Modelo do Setor Elétrico
Brasileiro. Price Water House & Coopers. Julho: 2004.
34
PINTO, José Emilio Nunes. O contrato de EPC para construção de grandes
obras de engenharia e o novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, nº
55, mar. 2002. Disponível no site http://jus2.uol.com.br.
ROSA, Luiz Pinguelli. TOLMASQUIM, Maurício Tiommo e PIRES, José Cláudio
Linhares. A reforma do Setor Elétrico no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro: Ed.
Relume Dumará, 1998.
35
BIBLIOGRAFIA CITADA
[1] MACHADO, Brasil Pinheiro; RABELLO, Marcos. Alocação de Riscos em
Contratos EPC de Barragens e Obras Hidrelétricas. In: Seminário Nacional de
Grandes Barragens, XIV, 2001, Fortaleza. Anais, PP. 527-534, Fortaleza:
CBGB, 2001.
[2] NASCIMENTO, José G. A. do AMARAL, Cristiano A; PONTES, Paulo R. A.
Indústria Hidrelétrica no Brasil e a Busca de Novos Paradigmas. In: Seminário
Nacional de Grandes Barragens, XXII, 1997, São Paulo. Anais, PP. 23-34, São
Paulo: CBGB, 1997.
36
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO 10
1.1 - Evolução da Estrutura
do Setor de Energia Elétrica Brasileiro 10
CAPÍTULO II
MODALIDADE DE CONTRATAÇÃO RECENTEMENTE
UTILIZADA NO SETOR ELÉTRICO 17
2.1 - Primódios 17
2.2 - Contratação tipo EPC 19
2.2.1 - Engineering-Procurement-Construction (EPC) 19
2.2.2 - Construção de uma termelétrica a gás natural 21
2.2.3 - Cláusulas do Contrato EPC 23
2.2.4 - Owner’s Engineering (Engenharia do Proprietário) 25
CAPÍTULO III
O CONTRATO EPC E SEU TRATAMENTO JURÍDICO 27
3.1 - Conceituação 27
3.2 - Considerações sob o regime do Código Civil 28
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33
37
BIBLIOGRAFIA CITADA 35
ÍNDICE 36