universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo “lato … · maculelê entre outros. de acordo com...

57
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A INSERÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA COM ALUNOS DE 2 A 5 ANOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Cecília de Fátima Mendes Orientador Prof.ª Fátima Alves Rio de Janeiro 2010

Upload: others

Post on 18-Nov-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INSERÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NAS AULAS DE

EDUCAÇÃO FÍSICA COM ALUNOS DE 2 A 5 ANOS DA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Cecília de Fátima Mendes

Orientador

Prof.ª Fátima Alves

Rio de Janeiro

2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INSERÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NAS AULAS DE

EDUCAÇÃO FÍSICA COM ALUNOS DE 2 A 5 ANOS DA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia a universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

Obtenção do grau de especialista em

Psicomotricidade.

Por: Cecília de Fátima Mendes

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por mais um sonho

realizado, a minha família pelo apoio e

compreensão, aos amigos pelas

palavras de incentivo,e aos docentes

do curso de Psicomotricidade que

compartilharam comigo os seus

conhecimentos me dando suporte para

realizar este trabalho.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as crianças

da Educação Infantil que têm o direito de

ter uma educação de qualidade, que

preze pelo seu desenvolvimento integral.

RESUMO

O presente trabalho procurou investigar de que maneira a psicomotricidade

poderá ser aplicada nas aulas de Educação Física na Educação Infantil com

aluno na faixa etária entre 2 a 5 anos e bem como suas contribuições para o

enriquecimento das aulas.Para responder a essas questões foi realizada uma

pesquisa bibliográfica e um estudo de campo sendo utilizado questionário

para analisar os professores de Educação Física que atuam na Educação

Infantil e verificar se utilizam a Psicomotricidade em suas aulas e de que

forma a utiliza, entre outras perguntas referentes a este tema.

METODOLOGIA

Este estudo foi realizado através de pesquisa bibliográfica em livros e artigos

acadêmicos da área baseada inicialmente nos seguintes autores: Vitor da

Fonseca, Fátima Alves, João Batista Freire entre outros. Como também

pesquisa de campo realizada em escolas e creches públicas.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A Educação Física e sua história. 10

CAPÍTULO II

Conhecendo a Psicomotricidade. 22

CAPÍTULO III

A Educação Infantil e sua importância 33

CAPÍTULO IV

Pesquisa como instrumento de coleta de dados 43

CONCLUSÃO 46 BIBLIOGRAFIA 49 WEBGRAFIA 51

ÍNDICE 55

8

INTRODUÇÃO

Diante de tantas discussões em relação às tendências pedagógicas da

Educação Física, este estudo procura investigar de que maneira a

Psicomotricidade poderá contribuir para as aulas de Educação Física na

Educação Infantil visando desenvolver o aluno em sua totalidade.

O primeiro capítulo refere-se à Educação Física escolar e sua história, onde é

mencionado o histórico, o conceito, os objetivos desta disciplina e sua relação

com a Psicomotricidade.

A Educação Física ao longo do tempo passou por diversas modificações em

relação a sua abordagem no âmbito escolar. Este fato ocorreu porque esta

disciplina visava atender as necessidades específicas do momento histórico ao

qual estava inserida.

Dessa forma a Educação Física já teve um caráter higienista, militarista,

esportivista entre outros.

Atualmente os parâmetros curriculares nacionais (1998) propõem que a

Educação Física seja democrática, com práticas diversificadas visando o

desenvolvimento social, cultural, afetivo e cognitivo do aluno. No entanto ainda

hoje a Educação Física tem sofrido forte influência do esporte que tem sido o

principal conteúdo aplicado nas aulas pelos docentes.

O segundo capítulo fala a respeito da Psicomotricidade. Que é a ciência que

tem como objeto de estudo o homem, através do seu corpo em movimento em

relação ao seu mundo interno e externo,bem como as suas possibilidades de

perceber atuar,agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo

(S.B.P.1999).

9

Neste capítulo será abordado o histórico da Psicomotricidade, áreas de

atuação psicomotora, as etapas do desenvolvimento psicomotor e os

elementos psicomotores (esquema corporal, imagem corporal, coordenação

motora global e fina, equilíbrio, lateralidade, estruturação espacial e temporal).

No terceiro capitulo será apresentado o histórico, o conceito e os objetivos da

Educação Infantil. Também serão destacadas as características e

necessidades das crianças de 2 a 5anos e como ocorre o seu desenvolvimento

motor.

Na Educação Infantil uma grande parte dos professores de Educação Física

trabalha com uma abordagem desenvolvimentista onde o objetivo é garantir o

desenvolvimento motor das crianças. Entretanto para proporcionar o

desenvolvimento integral do aluno é preciso ir além da motricidade e buscar

desenvolver também os aspectos cognitivos e sócio-afetivos.

De acordo com as orientações curriculares para Educação Infantil (2010) o

objetivo da Educação Infantil é atuar no processo de desenvolvimento da

criança em todas as dimensões humanas. Sendo assim a Psicomotricidade

inserida nas aulas de Educação Física na Educação Infantil poderá auxiliar a

mesma a garantir aos discentes um desenvolvimento global atendendo os

objetivos da Educação Infantil.

O quarto e último capítulo apontará o resultado da pesquisa de campo

realizada com professores de Educação Física que lecionam na Educação

Infantil na rede municipal de educação da cidade do Rio de Janeiro, bem como

as discussões sobre os resultados obtidos.

Este presente trabalho não pretende defender uma abordagem psicomotricista

da Educação Física do final da década de 70, na qual esta última servia

apenas como um meio de auxiliar o ensino de matemática e da língua

portuguesa por exemplo. O que se pretende através dessa pesquisa é mostrar

que a Psicomotricidade poderá contribuir muito para o enriquecimento das

aulas de Educação Física e nem por isto esta perderá sua identidade.

10

CAPÍTULO I

A EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA HISTÓRIA

Neste capítulo serão destacados os principais acontecimentos da história da

Educação Física Escolar. O objetivo é fazer um elo entre as características

que esta disciplina adquiriu no passado e as que têm atualmente.

Conhecendo seu histórico entenderemos suas abordagens e objetivos que têm

apresentado nos dias atuais, pois a Educação Física Escolar que temos hoje é

um reflexo das diversas mudanças que esta disciplina passou ao longo do

tempo. Uma pergunta que ainda é alvo de discussão é a que se refere ao

conceito de educação física e o seu papel na escola.

Serão citados os principais conceitos desta disciplina de acordo com os

autores mais atuantes desta área. Ao término deste capítulo veremos as

principais abordagens da educação física, seus representantes e suas

características.

1.1 – O QUE É EDUCÃO FÍSICA?

No decorrer de sua história a Educação Física passou por diversas mudanças

referentes às suas abordagens, conceito, objeto de estudo e sua finalidade.

Atualmente o conceito de Educação Física e o seu papel no âmbito escolar

ainda vêm sendo discutido pelos estudiosos desta área.

11

Para Coletivo de autores (1992) dar um conceito de Educação Física requer

uma análise cuidadosa e rigorosa do que esta disciplina vem sendo ao longo

de sua trajetória.

Soler (2005) define a Educação Física como uma prática pedagógica que no

ambiente escolar utiliza atividades expressivas e corporais.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) a Educação

Física escolar é uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura

corporal do movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e

transformá-la.

Betti e Zuliani (2002) reforçam a concepção de Educação Física apontada

pelos PCNs (1998),quando afirmam que esta disciplina enquanto componente

curricular da educação básica tem a tarefa de introduzir e integrar o aluno na

cultura corporal do movimento,formando o cidadão que vai produzi-la e

reproduzi-la. Usufruindo dos jogos, esportes, atividades rítmicas, ginásticas e

práticas de aptidão física.

Segundo Coletivo de autores (1992) a Educação Física é uma prática

pedagógica que na escola, tematiza formas de atividades expressivas e

corporais. Formas estas denominadas de cultura corporal.

Em relação aos objetivos da Educação Física e sua função social, Darido e

Rangel (2005) enfatiza que a prática desta disciplina deve direcionar os

objetivos definidos em cada proposta pedagógica, tendo sempre em vista sua

especificidade. Seus conteúdos devem proporcionar a reflexão do aluno em

relação à cultura corporal do movimento.

Melo (2006) acredita que a dificuldade de compreender a Educação Física

como componente curricular ocorre porque não entendemos a nossa própria

corporeidade. O autor afirma que é preciso levar professores e alunos a

compreender seu corpo e suas formas de expressão.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) os conteúdos

selecionados para as aulas de Educação Física deve ter uma relevância social

e também ser adequada às características sociocognitivas do aluno.

12

Desta forma é fundamental que os professores busquem conhecer as

características, cognitivas, motoras, afetivas e sociais dos educandos, para

selecionar cuidadosamente conteúdos, métodos e estratégias que atendam as

necessidades dos mesmos.

Betti (2005) afirma que no âmbito escolar a Educação Física seleciona e

problematiza temas da cultura corporal com a finalidade de fazer com que os

alunos se apropriem da cultura corporal de forma criteriosa, associando o saber

movimentar-se, o senti movimentar-se e o saber sobre esse movimento.

1.2 – A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL

Segundo Ferreira (2006) a Educação Física no Brasil começou a ser praticada

pelos índios espontaneamente no seu dia a dia,na medida em que caçavam,

pescavam,remavam, corriam e lutavam para garantir sua sobrevivência. E

também através da cultura dos negros africanos que trouxeram a capoeira, o

maculelê entre outros.

De acordo com Darido (2003) a Educação Física foi incluída nas escolas

brasileiras no século XIX no ano de 1851.

Esta disciplina era chamada de ginástica e sofria forte influência da medicina e

do militarismo. Por esta razão tinha um caráter extremamente higienista.

Moura (2007) afirma que no inicio do século XX o higienismo é sistematizado

no Brasil, influenciando a educação moral, intelectual e física do povo

brasileiro. Desta forma a Educação Física tinha como principal objetivo

modificar os hábitos de higiene e saúde dos cidadãos.

Para Darido (2003) a concepção higienista valorizava os hábitos de higiene e

saúde que eram desenvolvidos através de exercícios físicos.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) a Educação Física até a

década de 50 sofreu influências da área médica, de interesses militares e

também da vertente da escola-novista.

13

A Educação Física numa concepção militarista tinha a finalidade de

desenvolver um corpo saudável e disciplinado.

Ferreira (2006) destaca que no ano de 1907 militares franceses chegaram ao

Brasil com o método Francês de ginástica. Este método foi utilizado na força

pública do estado de São Paulo, dando origem a escola de Educação Física da

polícia militar.

A Educação Física de caráter militarista gerava exclusão na medida em que

selecionava os corpos considerados fortes e saudáveis.

Assim de acordo com Coletivos de autores (1992) para formar uma geração

forte, capacitada, para atuar na guerra, selecionava-se os alunos fisicamente

perfeito e se excluía os que se consideravam incapacitados.

Nesse contexto a Educação Física era considerada uma disciplina

extremamente prática adquirindo característica de uma instrução física militar.

Darido (2003) enfatiza que as concepções higienista e militarista da Educação

Física considerava esta como uma disciplina prática e por isso não havia uma

fundamentação teórica para lhe dar suporte.

A Educação Física antes denominada de ginástica ia procurando encontrar

espaço na escola, sua presença na instituição escolar era de caráter

facultativo.

Segundo Marinho (2004) no final do império no Brasil a utilização da ginástica

alemã adotada nos meios militares foi recomendada a ser utilizada na escola.

Este fato não agradou os educadores que tinham uma visão mais humanista da

Educação Física. Marinho (2004) afirma que a utilização da ginástica alemã na

escola gerou insatisfação por parte daqueles que viam esta disciplina como um

elemento de educação e não como um mero instrumento para o adestramento.

Também foi no período do final do império que a Educação Física se tornou

oficialmente uma disciplina escolar.

14

Para Malta (2001) um dos fatos mais importantes do período do Brasil império

que se refere à Educação Física, foi o parecer de Rui Barbosa que considerou

esta como elemento indispensável à formação integral da juventude.

Com o discurso de Rui Barbosa reconhecendo a importância da Educação

Física, esta disciplina ganhou um grande aliado, que contribui para que ela se

tornasse obrigatória nas instituições educacionais.

De acordo com Marinho (2004) foi por intermédio de Rui Barbosa que os

intelectuais brasileiros começaram a demonstrar interesse pela Educação

Física, mesmo julgando que esta não merecia um lugar de destaque no meio

educacional.

Somente em 1931 o ensino da Educação Física passa a fazer parte

obrigatoriamente das grades curriculares da escola.

Assim segundo Malta (2001) foi com a reforma de Francisco Campos em 1931

que de fato esta disciplina se tornou obrigatória, originando as primeiras

escolas superiores de Educação Física.

Sobre a obrigatoriedade desta disciplina, Ferreira (2006) afirma que à medida

que a necessidade da Educação Física tornou-se mais clara, foi sendo inserida

obrigatoriamente nas escolas brasileiras e os alunos passaram a ter condições

de receber uma melhor qualidade de vida.

Rui Barbosa desejava que a Educação Física não limitasse apenas ao ensino

secundário, mas que ela também fizesse parte dos outros seguimentos de

ensino. Marinho (2004) coloca que as recomendações de Rui Barbosa aos

olhos de muitos pareciam utópicas, pois ele desejava que a Educação Física

fosse de caráter obrigatório no pré- escolar e nas escolas primárias. Também

recomendava a valorização do professor de Educação Física.

Com as transformações no contexto sócio-histórico da sociedade brasileira a

Educação Física foi adquirindo novas características.

Segundo Malta (2001) esta disciplina passou a ser praticada por diversos

alunos e foi perdendo seu caráter militar e político com o fim da segunda guerra

mundial.

15

Diante de tantas críticas ao modelo higienista e militarista e com a chegada do

movimento da escola-nova, foram surgindo novas concepções de Educação

Física.

De acordo com Darido (2003) o movimento escola-novista defendia o respeito

à personalidade da criança, visando desenvolve-la de forma integral.

Na visão da escola nova a Educação Física passa a ter uma abordagem

pedagogissista. Ganhando novos significados, seu objetivo não é mais levar

alunos a repetir gestos mecânicos e nem se limita ao desenvolvimento de

aspectos biológicos. Ela passa a se preocupar com uma formação mais

humana.

Malta (2001) diz que na história da Educação Física existe uma distância entre

as propostas teóricas e a prática na escola. A autora exemplifica esta

afirmativa mencionando o fato de que o movimento-escolanovista propunha

aulas mista com a presença de meninos e meninas na década de 20. Contudo

somente com a proposta da nova LDB que aulas se tornaram mistas.

Mas ainda hoje não é impossível de se encontrar escolas ou professores da

área que preferem trabalhar separadamente com alunos e alunas.

Na década de 50 surgiu no Brasil um modelo de Educação Física que ficou

conhecido como método desportivo generalizado. Esse modelo tinha

característica tecnicista, esportivista e piramidal.

Segundo os PCNs (1998) em 1970 a Educação Física volta a sofrer influências

de aspectos políticos. O governo militar passou a investir nesta disciplina

criando vinculo entre o nacionalismo e o esporte.

Assim com o auge da seleção brasileira de futebol que conquistava em1970 o

tricampeonato, passou a ser valorizar uma Educação Física com o objetivo de

formar atletas.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) em 1980 houve

um declínio deste modelo esportivista. Pelo fato de o Brasil não ter si tornado

uma potência olímpica. Ocasionando uma crise de identidade da Educação

Física.

16

Neste momento histórico o modelo e os objetivos da Educação Física são

repensados e questionados. Surgindo então algumas mudanças, esta disciplina

que estava mais direcionada ao ensino de 5ª a 8ª série, passou a priorizar a

pré-escola e o seguimento de 1ª 4ª série.

Segundo os PCNs (1998) a Educação Física na década de 80 passou a ter

como objetivo o desenvolvimento de aspectos psicomotores dos alunos,

retirando da escola a função de promover o esporte de alto rendimento.

Ao longo da trajetória da Educação Física escolar, seu currículo sofreu

influências de instituições médicas, militares e esportivistas. Este fato se reflete

claramente ainda hoje nas aulas deste componente curricular, na medida em

que alguns educadores priorizam o fenômeno esportivo e o gesto motor em

suas aulas.

Malta (2001) faz uma comparação dos objetivos da Educação Física tradicional

com os objetivos que esta prioriza atualmente. Segunda a autora o que se

almeja numa abordagem tradicional é o desenvolvimento de capacidades

físicas. Mas o que se defende numa abordagem nova desta disciplina, é que se

priorize a variedade e a história do movimento humano. Atendendo as

necessidades e os interesses dos indivíduos.

Uma Educação Física de corpo inteiro é o que defende Freire (1989) ao falar

que corpo e mente devem ter assento na escola ambos para se emancipar.

O esporte ainda tem sido o principal conteúdo das aulas de Educação Física.

Este fato contraria a proposta dos Parâmetros curriculares nacionais para

Educação Física (1998) que propõe que esta seja democrática com práticas

pedagógicas diversificadas, que incorpore todas as dimensões do ser humano,

contribuindo para a formação integral do individuo.

1.2 – ABORDAGENS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

17

Desde o surgimento da Educação Física escolar no Brasil até os dias de hoje

observamos que seu conceito, conteúdos e finalidades têm passado por

diversas modificações. Conforme o contexto histórico está disciplina foi

adquirindo concepções diferentes.

A Educação Física de caráter higienista, militarista e esportivista foi alvo de

muitas críticas. Em oposição a estas tendências foram aparecendo outras

abordagens no final da década de 70.

Refletir sobre o papel desta disciplina na escola não tem sido tarefa fácil. Por

esta razão muitos autores da área de Educação Física não chegaram a um

consenso em relação ao seu conceito e seu papel na escola.

Assim vão surgindo diferentes tendências pedagógicas da Educação Física

escolar.

Veremos agora as principais abordagens da Educação Física de acordo com

Darido (2003):

Abordagem Desenvolvimentista

Esta abordagem é fundamentada pela obra de D. Gallahue e J.Conolly. Este

modelo é explicitado no Brasil, principalmente nos trabalhos de GO Tani

(1988). Esta proposta é direcionada principalmente para alunos de 4 a 14 anos.

Os autores desta abordagem defendem a idéia que o movimento é o principal

meio e fim da Educação Física, e que seu objetivo é oferecer experiências de

movimento adequado ao nível de crescimento e desenvolvimento dos alunos,

para que as aprendizagens das habilidades motoras sejam alcançadas.

Abordagem Construtivista-Interacionista

É defendida pelo professor João Batista Freire em seu livro Educação de corpo

inteiro publicado em 1989, e baseado nos trabalhos de Jean Piaget.

18

Nesta abordagem o objetivo da Educação Física é promover o respeito ao

universo cultural do aluno, explorar a gama múltipla de possibilidades

educativas de sua atividade lúdica espontânea e gradativamente propor tarefas

cada vez mais complexas e desafiadoras com vista a construção do

conhecimento. Na proposta construtivista o jogo, enquanto conteúdo e

estratégia têm papel privilegiado e é considerado o principal modo de ensinar.

Abordagem Crítica Superadora

Esta proposta tem representantes nas principais universidades do país e

apresenta um grande número de publicações da área. É baseada no marxismo

e neomarxismo, tendo recebida influência dos educadores José Libaneo e

Dermer-val Saviani.

Esta abordagem propõe que os conteúdos da Educação Física tenham

relevância social, contemporaneidade e adequação as características sócio-

cognitivas do aluno. A Educação Física nesta abordagem é entendida como

uma disciplina que trata de um tipo de conhecimento chamado de cultura

corporal do movimento.

Abordagem Sistêmica

Esta abordagem vem sendo elaborado por Betti em seu livro Educação Física e

sociedade publicado em 1991. É considerado nesta tendência o binômio

corpo/movimento como meio e fim da Educação Física. Considera também que

a finalidade desta disciplina na escola é integrar e introduzir o aluno 1º e 2º

grau no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai usufruir partilhar,

produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física.

Abordagem da Psicomotricidade

19

A Psicomotricidade é o primeiro movimento mais articulado que surge a parti

da década de 70 em contraposição aos modelos anteriores. Nesta abordagem

o envolvimento da Educação Física é com o desenvolvimento da criança, com

o ato de aprender, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores,

buscando garantir a formação integral do aluno.

O autor que mais influenciou esta abordagem foi o Francês Jean Le Bouch,

através das publicações de seus livros, da sua presença no Brasil e de seus

seguidores presentes em várias partes do mundo.

Abordagem Crítico Emancipatória

O principal representante desta abordagem é Leonor Kunz, no seu livro

transformação didático pedagógica do esporte defende uma visão critico

emancipatória de Educação Física.

De acordo com esta tendência o papel do professor é confrontar num primeiro

momento o aluno com a realidade do ensino, o que Kunz chama de

transcendência de limites. A proposta é que o aluno descubra pela própria

experiência manipulativa meios para a participação bem sucedida em

atividades de movimento e jogos. Em seguida manifestar através da linguagem

ou representação cênica o que experimentou e o que aprendeu. E por último o

aluno deve aprender a perguntar, questionar sobre sua aprendizagem e

descobertas.

Abordagem Cultural

Foi sugerida por Daólio em 1993 em crítica aos aspectos biológicos que ainda

domina a Educação Física na escola. Daólio afirma que o ponto de partida da

Educação Física é o repertório corporal que cada aluno possui quando chega à

20

escola, uma vez que toda técnica corporal é uma técnica cultural, e não existe

técnica melhor ou mais correta.

Abordagem dos Jogos Cooperativos

Esta abordagem está pautada sobre a valorização da cooperação em

detrimento da competição.

Brotto em 1955 foi o principal divulgador desta idéia. O ponto de partida desta

perspectiva é o jogo, sua mensagem, suas possibilidades de ser uma

prazerosa oportunidade de comunicação e um espaço importante para viver

alternativas novas, uma contribuição para a construção de uma nova sociedade

baseada na solidariedade e na justiça.

Abordagem da Saúde Renovada

Guedes e Nahas são os principais representantes desta abordagem.

Guedes em 1996 e Nahas em 1997 defendiam uma Educação Física escolar

dentro de uma motriz biológica. Estes autores afirmam que as práticas de

atividades físicas na infância e adolescência se caracterizam como importantes

atributos no desenvolvimento de atitudes hábitos que podem auxiliar na adoção

de um estilo de vida ativo fisicamente na idade adulta.

Abordagem dos PCNs

Esta abordagem entende que a Educação Física na escola é responsável pela

formação dos alunos que sejam capazes de participar de atividades corporais,

adotando atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade, conhecer e

21

valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações da cultura

corporal, reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando

hábitos saudáveis relacionando como efeitos sobre a própria saúde.

Este documento foi elaborado em 1994 por um grupo de pesquisadores e

professores inspirado no modelo educacional espanhol.

22

CAPÍTULO II

CONHECENDO A PSICOMOTRICIDADE

Ao longo deste capítulo veremos os principais conceitos de psicomotricidade,

sua história, relatando como esta ciência chegou ao Brasil e seus principais

representantes. Também serão abordados neste capítulo os elementos

psicomotores e as áreas de atuação da Psicomotricidade com seus respectivos

objetivos. Além destes aspectos citados acima será mencionado aqui à relação

da Psicomotricidade com a Educação Física.

2.1 – CONCEITO DE PSICOMOTRICIDADE

A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1999) define a Psicomotricidade

como a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo

em movimento em relação ao seu mundo interno e externo.

Para Alves (2003) Psicomotricidade é corpo, ação e emoção.

Fialho (apud, Ferreira, 2006, p.25) declara que a Psicomotricidade é um estado

de vontade relacionado á execução de movimentos, que podem ser voluntários

ou involuntários.

De acordo com Santos (1995) Psicomotricidade é a relação entre o

pensamento e ação, envolvendo a emoção.

Fonseca (apud, Lima e Barbosa, 2007) afirma que atualmente a

Psicomotricidade tem sido concebida como a integração superior da

motricidade, resultado de uma relação inelegível entre a criança e o meio.

23

Ajuriaguerra (apud, ISPE-GOE-OIPR, 2010) conceitua Psicomotricidade como

ciência que pertence à área da saúde e da educação, que busca a

representação e a expressão motora, por meio da utilização psíquica e mental

do indivíduo.

Conforme o pensamento de Loureiro (apud, ISPE-GOE-OIPR, 2010) a

Psicomotricidade é a otimização corporal dos potenciais neuro, psico-cognitivo

funcionais, sujeito as leis de desenvolvimento e maturação.

Dessa forma podemos notar que a psicomotricidade não se limita apenas a

desenvolver os aspectos motores do indivíduo ela entende este como um ser

integral que se movimenta que tem sentimento,que sofre influência do meio ao

mesmo tempo em que o influencia,estabelecendo uma relação simbiótica.

O homem não tem um corpo, ele é o próprio corpo, pois não tem como separar

o indivíduo de seu corpo e nem fazer uma dicotomia de corpo e mente, porque

o homem é um corpo que pensa, se emociona, interage e movimenta.

2.2 – HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE

A princípio a Psicomotricidade era vista apenas como uma área relacionada à

medicina. Lussac (2008) aponta que o termo Psicomotricidade surgiu no século

XIX, através de um discurso médico mais especificamente neurológico. Dessa

forma podemos então constatar que neste período esta ciência não se

vinculava com a área educacional.

Segundo Souza (apud, Oliveira, 2008) Dupré em 1909 tentou superar a

dicotomia corpo e mente, através de seus estudos descobriu que havia uma

relação entre desenvolvimento da motricidade, da inteligência e afetividade.

24

De acordo com Lussac (2008) Dupré foi de suma importância para o âmbito

psicomotor, porque afirmou a independência da debilidade motora antecedente

do sintoma psicomotor de um possível correlato neurológico.

Santos (1995) afirma que historicamente desde 1900 até hoje a trajetória e a

evolução da psicomotricidade desenvolveu-se com diferentes cortes. A autora

diz que o primeiro corte procura superar o dualismo cartesiano através de

práticas reeducativas determinadas pela correspondência entre parelismo

mental e motor, o segundo corte se refere às contribuições especialmente da

psicologia genética que considerou a passagem do motor para o corpo onde

este último passa a ser instrumento de construção da inteligência humana.

No Brasil a Psicomotricidade sofreu influência da escola francesa. Os estudos

de Dupré, a busca de crianças com dificuldades escolares levaram os

cientistas sul americanos e brasileiros a encontrarem na França o refúgio às

suas idéias. (ISPE-GOE-OIPR, 2010)

O francês Le Bouche contribui para o fortalecimento da Psicomotricidade no

Brasil, através de suas palestras, formando diversos seguidores que

divulgavam a abordagem Psicomotora por todo o país.

Segundo Lussac (2008) foi fundada em 19 de abril de 1980 a Sociedade

Brasileira de Psicomotricidade com o objetivo de lutar pela regulamentação da

profissão, unir os profissionais de psicomotricidade e contribuir para o

progresso desta ciência.

Atualmente a Psicomotricidade tem ganhando cada vez mais espaço no

mercado de trabalho, e a regulamentação desta ciência é ainda algo muito

almejado pela SBP e pelos profissionais da área.

2.3 – ÁREAS DE ATUAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE

25

Dentro da Psicomotricidade há três áreas de atuação: a reeducação

psicomotora, terapia psicomotora e por fim a educação psicomotora.

A reeducação psicomotora é direcionada a crianças, adolescentes e adultos

que apresentam dificuldades motoras.

De acordo com Mello (1989) reeducação psicomotora está relacionada ao

atendimento individual ou em pequenos grupos de pessoas portadoras de

sintomas de ordem motora tais como: debilidade motora, atraso e instabilidade

psicomotora, dispraxias, distúrbio do tônus da postura, do equilíbrio e

coordenação e também de deficiências perceptivo-motoras.

Silva e Haetinger (2009) entendem a reeducação psicomotora como a ação

desenvolvida em indivíduos que sofrem com perturbações ou distúrbios

psicomotores, e que tem como finalidade retomar as vivências anteriores com

falhas ou as fases de educação ultrapassada inadequadamente.

A terapia psicomotora por sua vez é realizada com crianças, adolescentes ou

adultos que apresentam grandes perturbações de origem patológica.

Lapierre e Aucouturier (1980 apud Mello, 1989) indicam a terapia psicomotora

especialmente a crianças com um elevado grau de perturbações psicomotoras

de ordem patológica, sendo importante que o terapeuta tenha uma sólida

formação prática, teórica e técnica. Mas para Mello (1989) embora seja mais

frequente o trabalho direcionado para as crianças a terapia psicomotora pode

atender também adolescentes e adultos individualmente ou em grupo.

No que se refere à educação psicomotora pode-se dizer que esta é direcionada

ao âmbito escolar principalmente na Educação Infantil e no primeiro

seguimento do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano).

De acordo com Silva e Haetinger (2009) a educação psicomotora

abrange todas as aprendizagens das crianças, processando-se por

etapas progressivas e específicas conforme o desenvolvimento geral de

cada indivíduo.

26

Santos (1995) afirma que a educação psicomotora na escola primária

tem um papel fundamental não só na prevenção das dificuldades

escolares mas também no desenvolvimento total do indivíduo.

A educação psicomotora visa além de desenvolver aspectos

psicomotores dos alunos, trabalhar os aspectos cognitivos e sócio-

afetivos dos mesmos.

2.4 – PSICOMOTRICIDADE FUNCIONAL E PSICOMOTRICIDADE

RELACIONAL

A Psicomotricidade pode ser dividida em duas vertentes, a funcional e a

relacional.

A Psicomotricidade funcional está mais direcionada ao desenvolvimento

dos elementos psicomotores, através de exercícios prescritos. Segundo

Moura (2008) a Psicomotricidade funcional sustenta-se em diagnósticos

do perfil psicomotriz e na prescrição de exercícios para sanar

descompassos motores.

A Psicomotricidade relacional trabalha com atividades psicomotoras

simbólicas e espontâneas.

De acordo com Vieira (2005) a psicomotricidade relacional procura

desenvolver e aprimorar os conceitos relacionados à globalidade

humana.

Podemos observar que a diferença entre a Psicomotricidade funcional e

a relacional é que a primeira se direciona a desenvolver os aspectos

psicomotores através de exercícios dirigidos enquanto a segunda

27

trabalha com atividades espontâneas e simbólicas e visa desenvolver

todos os aspectos do indivíduo.

Vieira (2005) destaca que a Psicomotricidade relacional é uma prática

que permite a libertação do desejo e do prazer de ser, de comunicar-se

de estar vivo.

Lapierre (2002) afirma que a Psicomotricidade relacional não é uma

técnica que se possa aprender nos livros e sim uma maneira de atuar, de

estabelecer uma comunicação mais humana, mais verdadeira com as

pessoas.

O psicomotricista francês Lapierre criou a psicomotricidade relacional

que tem um olhar global sobre o homem na medida em que enfatiza os

aspectos relacionais, afetivos, sociais, cognitivos e motores.

2.5 – ELEMENTOS PSICOMOTORES

A seguir veremos os elementos psicomotores e seus respectivos conceitos

segundo Santos (1995):

ESQUEMA CORPORAL

É a organização das sensações relativas ao próprio corpo, que o indivíduo vai

interiorizando através dos estímulos que recebe do meio ambiente. Dessa

forma ele vai mapeando o seu corpo, identificando e localizando as diferentes

partes do seu corpo, suas posturas e atitudes em relação ao mundo anterior.

28

IMAGEM CORPORAL

É a correspondência afetiva de como imagino como eu sou. Difere-se do

esquema corporal que aponta o que eu tenho, a imagem corporal aponta o que

sou, isso nem sempre corresponde à realidade. Pois na imagem corporal estão

envolvidas questões imaginárias relacionadas aos aspectos psíquicos e

emocionais, que também estão relacionados às vivências afetivas em

relacionamentos sociais.

TONICIDADE

Pode ser entendida como a quantidade adequada da tensão muscular para

executar determinados gestos. Para executar qualquer ação corporal

precisamos que determinados músculos atinjam um grau de tensão enquanto

os outros relaxem. Em enumeras situações é preciso que haja uma diminuição

da tensão muscular para que a criança possa sentir seu corpo livre e aprimorar

seu comportamento tônico- emocional.

LATERALIDADE

É uma especialização dos hemisférios cerebrais, que possibilita ao indivíduo a

realização de ações complexas, motoras, práxicas, e o desenvolvimento da

linguagem. Está relacionada com a preferência manual e a especialização

hemisférica.

EQUILÍBRIO

29

É uma resposta motora de adequação corporal frente à constante ação da

gravidade, é automática e involuntária. Para o desenvolvimento da equilibração

é necessário que já tenha sido desenvolvido um certo tônus muscular para que

o corpo se reajuste a diferentes posturas.

O equilíbrio pode ser estático ou dinâmico, o primeiro requer que se mantenha

uma postura fixa enquanto o segundo é observado na locomoção.

COORDENAÇÃO MOTORA

É uma série de funções que se unem para a representação de atividades

globais e mais ampla, é também a atuação conjunta, harmônica e econômica

do sistema nervoso dos músculos.

A coordenação motora global é ação que podemos observar nas crianças, ela

executa movimentos para explorar o mundo sem ter consciência desses

movimentos. Utiliza os grandes grupos musculares.

A coordenação motora fina refere-se aos trabalhos mais finos, utilizando os

pequenos grupos musculares. A mão humana é anatomicamente e

encefalicamente o órgão da práxia fina.

A coordenação dinâmica manual é responsável pela destrabilidade bimanual e

agilidade digital.

A coordenação oculomanual são movimentos manuais associados à visão.

Coordenação oculopedal refere-se à coordenação dos pés com a visão.

ORIENTAÇÃO ESPACIAL

30

A noção espacial se desenvolve a partir do sistema visual. Primeiro o indivíduo

localiza a si próprio, mais adiante localiza a posição que seu corpo ocupa no

espaço e finalmente passa a localizar objetos.

ORIENTAÇÃO TEMPORAL

A noção temporal se desenvolve a partir da audição, é mais difícil de aprendê-

la do que a noção de espaço. Temos o tempo rítmico que é aquele que

demarca o compasso de tudo que fazemos sendo individual. O tempo

cronológico que se refere às ideias temporais como ontem, hoje, amanhã. E

por último o tempo subjetivo que está relacionado a aspectos afetivos.

RITMO

Ritmo é harmonia e equilíbrio, o movimento rítmico é econômico e harmonioso.

A estruturação temporal será desenvolvida através de atividades rítmicas, por

esta razão o ritmo é considerado um fator de estruturação temporal.

2.6 – A RELAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE COM A

EDUCAÇÃO FÍSICA

Atualmente a Psicomotriciade está adquirindo cada vez mais espaço no meio

escolar devido ter um olhar holístico sobre o desenvolvimento da criança. Esse

fato tem gerado alguns questionamentos tais como: qual é o papel da

psicomotricidade no âmbito escolar?Qual tem sido o papel da Educação Física

escolar? Qual é a relação da Psicomotricidade com a Educação Física?

A Educação Física trata pedagogicamente da cultural corporal do movimento,

visando transmitir esta cultura aos alunos para que possam conhecê-la, utilizá-

31

la e transformá-la, e o objetivo final deste processo é possibilitar o discente a si

tornar um cidadão crítico, solidário, capaz de entender e transformar o meio

social.

Contudo sabe-se que muitos professores de Educação Física limitasse a

utilizar em suas aulas apenas um componente da cultura corporal, em especial

o desporto. Diante deste fato a Educação Física não consegue cumprir o seu

papel na escola, pois acaba adquirindo um caráter esportivista.

A Psicomotricidade por sua vez poderá auxiliar a Educação Física no que se

refere a essa questão, porque esta primeira possibilita que o docente tenha um

olhar mais sensível em relação ao aluno, entendendo este como um ser

integral e não fragmentado, que possui aspectos afetivos, sociais, cognitivos

que devem ser desenvolvidos além dos aspectos motores.

Mello (1989) afirma que a Educação Física está extremamente associada à

Psicomotricidade. O autor enfatiza que alguns grandes nomes da

Psicomotricidade são professores de Educação Física, como André Lapierre,

Jean Le Bouch, Vitor da Fonseca entre outros.

Segundo Le Bouch (1983, apud Castro, 2008) a corrente educativa da

Psicomotricidade surgiu na França em 1966, devido à fragilidade da Educação

Física, pois os docentes desta área não estavam conseguindo desenvolver

uma educação integral do corpo. Pois as aulas de Educação Física estavam

centralizadas nos fatores ligados a execução adequada dos movimentos.

De acordo com Molinari e Sens (2003) a Educação Física através de atividades

psicomotoras e sociopsicomotoras, constitui-se num fator de equilíbrio na vida

das pessoas, porque possibilita a interação entre o espírito e o corpo,a

afetividade e a energia,o indivíduo e o grupo,desenvolvendo a totalidade do ser

humano.

Kyrillos e Sanches (in, Alves, 2009, org.) apontam que fazer um elo entre a

Educação Física e a Psicomotricidade na escola, resultará no atendimento das

exigências de um corpo que faz parte de uma cultura, um momento histórico,

político e socioeconômico que se encontra em contínuo desenvolvimento.

32

Na visão de Darido (2003, apud Manhães, Souza e Siqueira, 2009) o discurso

e a prática da Educação Física sob influência da Psicomotricidade leva o

professor a sentir que tem responsabilidades escolares e pedagógicas,

desatrelando sua atuação de caráter esportivista, dando valor ao processo de

aprendizagem e não apenas a execução de um gesto isolado.

Assim o professor de Educação Física numa abordagem Psicomotora direciona

a sua prática para atender de forma mais ampla as necessidades dos

educados, tendo consciência do papel social e educacional da Educação Física

na entidade escolar.

Manhães, Souza e Siqueira (2009) ressaltam a importância da

Psicomotricidade nas aulas de Educação Física afirmando que a atividade para

o desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor, tornasse um fator de

equilíbrio para os alunos, possibilitando o seu desenvolvimento integral.

Para Daólio (2007) a Educação Física com as contribuições da

Psicomotricidade, tornasse uma área mais ampla, deixando de limitar-se a lidar

com o corpo ou movimento humano, pois não é possível existir qualquer ação

sobre o corpo que não leve em conta o seu significado na sociedade.

A Psicomotricidade inserida nas aulas de Educação Física poderá contribuir

para o processo de otimização da aprendizagem nas aulas desta disciplina,

levando os alunos a compreende o significado da cultura corporal do

movimento, vivenciando esta de forma enriquecedora, possibilitando o seu

desenvolvimento social, afetivo, cognitivo e motor.

Para Kyrillos e Sanches (in, Alves, 2009, org.) a relação da Educação Física

com a Psicomotricidade é uma prática enriquecedora que deve ser reconhecida

e valorizada no meio escolar.

33

CAPÍTULO III

A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA IMPORTÂNCIA

Será tratado neste presente capítulo o histórico, objetivos e a importância da

Educação Infantil. Em seguida serão mencionadas as características de

crianças que se encontram na faixa etária de 2 a 5 anos e como ocorre o

desenvolvimento das mesmas.

3.1 – CONHECENDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO

BRASIL

Ao longo da história a concepção de criança passou por algumas mudanças, a

princípio ela era vista como um adulto em miniatura, o que esta sentia e

expressava não era levado em consideração. Hoje a criança é entendida como

ser social em desenvolvimento, que possui características específicas de sua

idade, que devem ser compreendidas e respeitadas pelos adultos.

A educação da criança na primeira infância era assistemática oferecida

exclusivamente pelo seio familiar. Até surgirem as primeiras creches tinham um

caráter essencialmente assistencialista.

Segundo Paschoal e Machado (2009) a educação da criança esteve sob a

responsabilidade exclusiva da família durante séculos, através da convivência

com adultos e outras crianças, onde ela aprendia as normas e regras de sua

cultura.

De acordo com Ahmad (2009) foi a partir do século XIX e XX que a infância

começou a ocupar um lugar de destaque na família e na sociedade. A

34

conseqüência deste fato foi o surgimento das primeiras instituições de

atendimento a criança pequena.

Paschoal e Machado (2009) afirmam que no Brasil as primeiras tentativas de

organização de creches e orfanatos eram de caráter assistencialista, visando

ajudar as mulheres trabalhadoras e viúvas.

Rizzo (2003, apud Feltrin, 2010) também menciona a função assistencialista

das instituições infantis, quando diz que a finalidade destas era retirar as

crianças abandonadas da rua,diminuir a mortalidade infantil, formar hábitos de

higiene e morais.

No decorrer do tempo surgiram instituições infantis com características

antagônicas, uma voltada ao atendimento de crianças pobres de caráter

especificamente assistencialista e outra que visava atender as crianças de

classes mais favorecidas, tendo um caráter educativo.

Dessa forma Kramer (1995) relata que as crianças de diferentes classes

sociais eram submetidas a contexto de desenvolvimento diferente, pois os

infantes que pertenciam às famílias de classe baixa eram atendidos com

proposta de trabalho que partiam de uma idéia de carência e deficiência

enquanto as de classes mais privilegiadas recebiam uma educação voltada

para o desenvolvimento da criatividade e sociabilidade, preparando a criança

para o ensino regular.

Feltrin (2010) aponta que os jardins de infância ao contrário das creches desde

sua origem tinham finalidades pedagógicas eram direcionados as crianças de

classes favorecidas. O autor destaca que os primeiros jardins de infância

surgiram em 1875 no Rio de Janeiro e em 1877 em São Paulo mantidas por

entidades privadas.

Enquanto os jardins de infância a princípio eram mantidos apenas por

entidades privadas as creches ficavam a cargo de entidades filantrópicas e

religiosas.

Soares (2009) relata que nos anos 80 com o processo de abertura política as

camadas populares reivindicaram a ampliação do acesso a escola, exigindo

que a educação infantil fosse um dever do estado. A autora afirma que foi

diante das pressões de movimentos feministas e sociais que em 1988 a

35

constituição reconhece a educação em creche e pré-escolas como direito da

criança e um dever do estado.

A constituição brasileira de 1988 afirma que é dever do Estado por meio dos

municípios, garantir a Educação Infantil, oferecendo atendimento em creches e

pré-escolas a todas as crianças de 0 a 6 anos.(Multieducação, 2006)

Oliveira (2002) sinaliza que ocorreu uma mudança na concepção de criança

nos anos 80, ela passou a ser vista como um ser social histórico, onde a

aprendizagem acontece por meio de interações entre a criança e seu meio

social.

Soares (2009) enfatiza que a nova concepção de infância foi fortalecida,

garantindo em lei os direitos da criança como cidadã.

A lei de diretrizes e base da educação nacional de 1996, diz que a Educação

Infantil, passa a ser reconhecida como parte do Sistema Municipal de

Educação, sendo assim, todos os municípios deverão integrar as creches e

pré-escolas ao sistema Municipal de Educação que antes ficavam a cargo de

órgãos de assistência social. (Multieducação, 2006)

Até pouco tempo as creches municipais da cidade do Rio de Janeiro, ficavam

sobre a responsabilidade da Secretaria Municipal de Assistência de

Desenvolvimento Social, não havia funcionários públicos nestas instituições,

que eram administradas por ONGs que prestavam serviços para a prefeitura.

No ano de 2001, com o decreto nº 20525 editado pelo prefeito Cesar Maia, foi

transferido da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social para a

Secretaria Municipal de Educação o atendimento prestado às unidades de

Educação Infantil (Multieducação, 2006).

3.2 – OS OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

A concepção de infância sofreu grandes mudanças de acordo com o contexto

histórico da sociedade. Os objetivos da Educação infantil não ficaram alheios a

essas mudanças. À medida que a criança deixou de ser vista como um adulto

36

em miniatura e passou a ser vista como um ser histórico e social em

desenvolvimento, a finalidade da Educação infantil deixa de ser

assistencialista.

Atualmente o que os principais pensadores da educação defendem é uma

Educação Infantil de qualidade, que proporcione o desenvolvimento integral da

criança, e que o educar é indissociável do cuidar, visando acabar com a

dicotomia: cuidado/educação.

De acordo com o parecer do Conselho Nacional de Educação da Câmara de

Educação Básica (2009) o currículo da Educação Infantil é concebido como um

conjunto de práticas que articulam as experiências e os saberes das crianças

com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural de modo a

propiciar o desenvolvimento integral das mesmas.

Borges (2002) ressalta que a Educação Infantil deve oferecer à criança a

oportunidade de ser estimulada e motivada, no momento conveniente,

respeitando o tempo necessário para ela amadurecer.

Segundo as Orientações Curriculares para a Educação Infantil (2010) a criança

matriculada na educação infantil tem o direito de se desenvolver integralmente

com oportunidades apropriadas à sua faixa etária.

Para Meyer (2008) o papel social da Educação Infantil é valorizar os

conhecimentos que as crianças possuem além de garantir novos

conhecimentos.

Kramer (2000, apud Pereira, 2006) aponta que a pré - escola é um lugar que

possibilita o desenvolvimento infantil, porque valoriza e amplia os

conhecimentos da criança, favorecendo a construção da autonomia,

cooperação, criticidade, responsabilidade, favorecendo um autoconceito

positivo e o exercício da cidadania.

Conforme a LDB (1996) a Educação Infantil tem por finalidade o

desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, psicológico,

intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

As Orientações Curriculares para a Educação Infantil (2010) enfatiza que a pré-

escola atua no processo de desenvolvimento da criança em todas as

dimensões humanas: afetiva, motora, cognitiva, social e política.

37

A Educação Infantil deve proporcionar as crianças vivências diversas onde os

infantes aprendem a interagir com outras crianças e com os adultos, fazendo

descobertas, compartilhando experiências, solucionando problemas, adquirindo

autonomia e valores sustentados pelos ideais de liberdade e solidariedade.

3.3 – C ARACTERÍSTICAS E NECESSIDADES DE CRIANÇAS DE

2 A 5 ANOS

A criança pode ser entendida como um ser histórico e singular. Histórico

porque vive numa sociedade, onde aprende valores, hábitos, regras de

convivência social e cultura, onde é influenciada por esse meio social ao

mesmo tempo em que o influencia. É singular, pois possui suas especificidades

e características próprias referentes à faixa etária a que se encontra.

É importante que os profissionais que lidam diretamente com a Educação

Infantil compreendam as características e as necessidades da criança visando

a dar a estas uma educação de qualidade.

A seguir veremos as características de crianças de 0 a 3 anos segundo

Santos(2006):

CRIANÇAS DE UM A DOIS ANOS

O primeiro aniversário da criança é uma data inesquecível para os pais, mas

para a criança não representa muito. Ela só saberá de sua festa anos mais

tarde, através de histórias contadas e de fotos. Do ponto de vista do

38

desenvolvimento, os doze meses não significam grandes mudanças da fase

anterior. As mudanças visíveis de comportamento ocorrerão por volta dos

quinze/dezoito meses.

Aos dezoito meses sua atenção ainda é dispersa, mas a criança está atenta

para o aqui-e agora. Tem pouca percepção dos objetos, mas como sabe andar

precipita-se sobre eles sem uma direção definida. Quando fala tem um número

reduzido de palavras, por esta razão apóia-se num vocabulário mais abundante

de gestos expressivos, brinca sozinha e gosta de fazer rabiscos no chão com

auxílio de pequenos gravetos.

Um ponto importante dessa idade é o desenvolvimento do autoconceito, uma

vez que a criança já percebe que é um ser separado das outras pessoas,

assume outro grande passo no aspecto afetivo: ele entende que a mãe que vai

e volta é a mesma pessoa e que os brinquedos de sua preferência continuam

existindo, embora não os veja.

CRIANÇAS DE DOIS A TRÊS ANOS

Aos dois anos de idade a criança se refere às pessoas e objetos pelo nome, e

nessa atividade há um aumento considerável de seu vocabulário

Sua atividade motora é violenta, gosta de correr, pular, arrastar, puxar e

empurra.

A idade que vai dos dois anos e meio até três anos é marcada por um período

de transição na vida da criança, pois ainda demonstra característica dos dois

anos, mas sua energia, exuberância, sociabilidade, imaginação, curiosidade

estão emergindo com toda força, tornando-se um pouco confusa em suas

ações.

As crianças nessa idade fequentemente testam o quanto podem ultrapassar os

limites colocados pelo adulto,assim como desafiam sua paciência com birras,

agressões e oposições.

Nesta fase a criança é autocentrada, por isso vê as coisas a parti de sua

própria perspectiva e não imagina que possa haver outros pontos de vista que

39

não o seu. Age de acordo com suas necessidades não tendo a consciência de

que os outros possam ter ideias ou sentimentos opostos.

Veremos agora as características de crianças de 4 e 5 anos de acordo com

Borges(2002):

CRIANÇAS DE QUATRO ANOS

A criança de quatro anos está interessada e preparada para aprender o que é

real e o que é faz de conta, devido a sua imaginação. Suas brincadeiras

refletem a maneira como oscilam entre estes dois mundos, ajudando-a, assim

a compreender melhor a diferença entre eles.

A indagação atinge o auge, é no fim desse período que se localiza a idade dos

porquês.

O pensamento nessa idade, não tem objetividade, por duas razões: a primeira

razão é que a criança não distinguiu exatamente o verdadeiro do falso, a

segunda é porque é extremamente subjetiva, dá as cores do seu desejo,

conforme a idéia do momento.

As crianças nessa idade estão começando a entender algo de como sentem as

outras pessoas, e iniciam as brincadeiras participantes. Lutam para

compreender a si mesmas e distinguires-se de outras pessoas.

.

A representação teatral é a brincadeira mais importante nesta idade. Com as

mudanças de papéis, a criança expressa suas necessidades, desejos e

ansiedades.

CRIANÇAS DE CINCO ANOS

40

As crianças de cinco anos conflituam-se frequentemente com os conceitos de

certo e errado, o que leva a um desenvolvimento da consciência. Ao tentarem

chegar a um acordo com essas consciências as crianças estabelecem normas,

em suas brincadeiras, muito mais severas e inflexíveis do que as que

enfrentam na vida real, embora raramente consigam mantê-las por muito

tempo. Elas precisam de experiências da tolerância e do bom humor, ao aplicar

normas.

Para a criança de cinco anos não é fácil ser sociável o tempo todo e a maioria

precisa de alguns períodos de solidão e isolamento, longe dos outros.

3.4 – FASE DO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS DE 2 A 5

ANOS

Será mencionado as fases de desenvolvimento cognitivo e motor que se

encontra as crianças da faixa etária entre 2 e 5 anos de acordo com Piaget ,

Freud , Gallahue e Santos respectivamente.

Fases de desenvolvimento cognitivo segundo Piaget (apud, Ferreira,

2006):

SENSÓRIO-MOTORA (0 A 2 ANOS)

A criança não possui noção de tempo. São formados conceitos a partir de

reflexos inatos e modificam-se de acordo com a experiência.

PRÉ-OPERATÓRIA (2 A 7 ANOS)

41

Aparecimento da linguagem oral. Pensamentos egocêntricos, rígidos, centrado

em si mesma e com características de animismo. Não possui noção de

conservação, quantidade e volume, massa, peso e não consegue retornar ao

ponto de partida mentalmente.

Etapa do desenvolvimento segundo Freud (apud, Ferreira, 2006):

FASE ANAL (18 A 36 MESES)

Esta fase é conseqüência da necessidade de controlar as fezes e a urina. Aqui

pode ser a origem da prisão de ventre adulta. No aspecto da personalidade,

surgem a ordem obsessiva e a desordem. É importante que aprendam a

obedecer regras e ordens e,dependendo de como for esta colocação de

limites,pode surgir o acanhamento.

FASE FÁLICA OU GENITAL (DE 3 A 5 ANOS)

A Região genital desperta curiosidade na criança e as diferenças anatômicas

entre os sexos também. Esta fase relaciona-se ao poder, superioridade e

força. Também é nesta fase que ocorre o complexo de édipo.

Fases do desenvolvimento motor segundo Gallahue (2005):

FASE MOTORA RUDIMENTAR (DE 1 A 2 ANOS)

42

As primeiras formas de movimentos voluntários são os movimentos

rudimentares, observados nos bebês desde o nascimento até

aproximadamente, a idade de 2 anos. Os movimentos rudimentares são

determinados pela maturação e caracterizam-se por uma sequência de

aparecimento altamente previsível. As habilidades motoras rudimentares do

bebê representam as formas básicas de movimentos voluntários que são

necessárias para a sobrevivência.

FASE MOTORA FUNDAMENTAL (DE 2 A 7 ANOS)

As habilidades motoras fundamentais da primeira infância são consequência da

fase de movimentos rudimentares do período neonatal. Esta fase do

desenvolvimento motor representa um período no qual as crianças pequenas

estão ativamente envolvidas na exploração e na experimentação das

capacidades motoras de seus corpos. É um período para descobrir como

desempenhar uma variedade de movimentos estabilizadores, locomotores e

manipulativos, primeiro isoladamente e, então, de modo combinado.

Etapas do desenvolvimento do esquema corporal de acordo com Santos

(1995):

ETAPA DO CORPO VIVIDO (ATÉ 3 ANOS DE IDADE)

Caracterizada por comportamento motor global com repercussões emocionais

fortes mal controladas. A criança vai tomando consciência de seus

movimentos. E à medida que vai tomando a noção de lugar, vai virando

também para os lados. A atividade traduz a expressão de uma necessidade

fundamental de movimento e investigação.

43

ETAPA DO CORPO PERCEBIDO OU DESCOBERTO (3 A 7 ANOS)

A criança vai descobrindo o seu corpo, começando a estruturar seu esquema

corporal. É nesta etapa que se desenvolve: a função de interiorização,

interiorização e localização e interiorização e controle do desenvolvimento

temporal do movimento.

44

CAPÍTULO IV

PESQUISA COMO INSTRUMENTO PARA COLETA DE

DADOS

Neste capítulo conterá o resultado da pesquisa de campo, que teve como

principal objetivo investigar se os professores da área de Educação Física

escolar que atuam na Educação infantil têm o conhecimento sobre a

psicomotricidade e se eles a utiliza em suas aulas.

4.1 – AMOSTRA DO ESTUDO

Esta pesquisa foi realizada num período de quinze dias em seis instituições

escolares da rede municipal de educação da cidade do Rio de Janeiro. Foi

direcionada a professores graduados em Educação Física que lecionam em

creches e pré-escolas.

4.2 – INSTRUMENTO DE PESQUISA

Para realizar este estudo de campo foi utilizado um questionário com cinco

perguntas de respostas abertas e fechadas referentes à Psicomotricidade.

45

4.3 – COLETA DE DADOS

Vinte professores de Educação Física de seis instituições escolares da rede

pública responderam ao questionário.

Na questão de número um foi questionado aos professores se conheciam a

Psicomotricidade e se saberiam dizer o que ela significa.

100 % dos docentes responderam que conhecia a Psicomotricidade, mas

apenas 25% souberam responder o que esta significa.

Na questão de número dois, foi questionado se a Psicomotricidade fazia parte

da grade curricular da graduação dos professores, 80% dos educadores

responderam que a Psicomotricidade não fazia parte da grade curricular do seu

curso de graduação.

A questão de número três, perguntava aos professores se eles achavam que

todos os cursos de graduação em Educação Física deveriam ter a disciplina

Psicomotricidade, 100% responderam que sim.

Na questão de número quatro foi questionado, se os docentes utilizavam a

Psicomotricidade em suas aulas, por que e de que forma, 100% dos

profissionais de Educação Física responderam que utilizam a Psicomotricidade

em suas aulas, em relação ao motivo que levam a esses professores a utilizá-

la, foram obtidas as seguintes respostas: utiliza a Psicomotricidade porque esta

disciplina faz parte dos conhecimentos que devem ser trabalhados na

Educação Física; porque quando está se trabalhando a Educação Física

automaticamente está se desenvolvendo a psicomotricidade dos alunos;

porque na Educação Infantil tem de se utilizar a Psicomotricidade; utilizam a

Psicomotricidade para reforçar os conteúdos ensinados pelos professores na

sala de aula, para desenvolver e estruturar o esquema corporal; para

desenvolver os elementos psicomotores dos alunos, para desenvolver o aluno

plenamente; para fazer o aluno conhecer seu corpo; para fazer a prática do

movimento; para prevenir transtornos psicomotores que poderão dificultar a

aprendizagem do aluno.

46

Quando se perguntou aos docentes de que forma eles utilizam a

Psicomotricidade, 45% não responderam a esta questão, a maioria dos

professores que responderam a esta pergunta disseram que utiliza a

Psicomotricidade, através de: movimentos livres, brincadeiras, jogos,

brinquedos cantados, atividades recreativas, músicas e exercícios

psicomotores.

A questão de número cinco questionava aos professores se eles concordavam

que a Psicomotriciadade inserida nas aulas Educação Física poderia contribuir

para o desenvolvimento integral dos alunos. E porque concordavam ou

discordavam dessa afirmativa, 100% dos educadores concordaram com a

afirmativa. Ocorreram diferentes justificativas para a resposta da pergunta

citada acima, tais como: porque a Psicomotricidade, desenvolve os aspectos

cognitivos e sociais dos alunos; porque desenvolve os aspectos emocionais,

porque reforça a aprendizagem de conceitos aprendidos em sala de aula,

porque consolida hábitos, porque desenvolve os aspectos, afetivos, cognitivos

e motores dos alunos, porque visa desenvolver o esquema corporal do

indivíduo, porque desenvolve os aspectos sociais e afetivos dos alunos.

4.4 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Diante do resultado desta pesquisa podemos sinalizar alguns aspectos bem

relevantes: todos os docentes que participaram desta pesquisa, disseram que

conhecem a Psicomotricidade, embora somente 25% conseguiram conceituá-

la. As maiorias dos professores não tiveram nenhuma disciplina referente à

Psicomotricidade, e todos eles afirmam que toda a graduação em Educação

Física deveria ter uma disciplina sobre Psicomotricidade. Este fato revela que

estes educadores reconhecem a importância desta ciência.

47

Outro aspecto marcante nesta pesquisa é o fato de todos os docentes

afirmarem que utilizam a Psicomotricidade em suas aulas. No entanto através

das respostas que eles deram sobre o porquê a utiliza, observamos que muitos

destes profissionais visam apenas desenvolver os elementos psicomotores das

crianças, não demonstrando preocupação em desenvolver outros aspectos,

isso sinaliza a falta de entendimento sobre a Psicomotricidade.

Alguns professores disseram que utilizam a Psicomotricidade, pois nas aulas

de Educação Física automaticamente trabalham com elementos psicomotores,

como, coordenação, lateralidade entre outros. Isso nos leva a entender que

estes educadores não tiveram a intenção de inserir a Psicomotricidade em

suas aulas e acreditam que estão trabalhando em uma abordagem

psicomotora pelo simples fatos de estar usando atividades que envolva algum

tipo de elemento psicomotor. Na medida em que os professores apenas se

preocupam em desenvolver os aspectos psicomotores dos alunos, a Educação

Física e nem a Psicomotricidade estarão contribuindo para o desenvolvimento

pleno do aluno.

Em suma é necessário que os professores compreendam que a

Psicomotricidade não se restringe ao desenvolvimento de habilidades

psicomotoras, os aspectos afetivos e cognitivos também fazem parte da

Psicomotricidade. Nas sábias palavras de Alves (2008) Psicomotricidade é

corpo ação e emoção.

48

CONCLUSÃO

O conceito de Educação Física e sua finalidade no âmbito escolar sempre foi

alvo de muitas discussões, fazendo com que surgissem diferentes abordagens

desta disciplina.

Este presente estudo buscou investigar como a Psicomotricidade poderá

contribuir para o enriquecimento das aulas de Educação Física na Educação

Infantil.

O conceito de criança sofreu alterações no decorrer do tempo. O infante que

antes era visto como um adulto em miniatura, hoje é entendido como ser

histórico e singular em desenvolvimento, que analisa e faz reflexões sobre o

mundo.

As instituições de atendimento a criança eram de caráter assistencialista,

priorizando o cuidar, atualmente buscam não somente cuidar das crianças

como também educá-las. Nesta perspectiva muitos teóricos da área de

Educação Infantil defendem o fim da dicotomia cuidado e educação,

entendendo que o cuidar e o educar são indissociáveis.

A lei de diretrizes e bases da educação (1996) diz que o objetivo da Educação

infantil é propiciar o desenvolvimento pleno da criança. No que diz respeito a

este objetivo, fica o seguinte questionamento: como a Educação Física na

Educação Infantil poderá contribuir para a promoção do desenvolvimento

integral da criança?

A Psicomotricidade inserida nas aulas de Educação Física pode auxiliar o

professor no desenvolvimento pleno dos seus alunos. Pois esta primeira é uma

49

ciência que tem como objeto de estudo o homem em movimento em relação ao

mundo externo e interno, procurando desenvolver o ser em todos os seus

aspectos. O que acontece fisicamente e emocionalmente quando o homem se

movimenta? Seus sentimentos e emoções influenciam o seu movimentar. O

indivíduo se expressa não só com palavras, pois o corpo se comunica o tempo

todo, a postura, o modo de caminhar e a expressão facial, indicam o estado

emocional que a pessoa se encontra e também traços de sua personalidade. A

Psicomotricidade estar atenta a todos esses fatos entendendo que o esquema

e imagem corporal estão sempre juntos numa relação simbiótica onde um

influencia o outro. Pois o homem é um ser complexo, onde os seus aspectos

afetivos, motores, cognitivos e sociais estão sempre interligados, por esta

razão é de suma importância promover o desenvolvimento de todos os

aspectos humanos.

Saber o que as crianças sentem ao participar de uma determinada atividade,

dar a oportunidade destes de escolher as brincadeiras e jogos que querem

realizar, brincar livremente, buscar conhecer os alunos, seus desejos, medos e

sonhos, trabalhar sua auto-estima fazendo a criança reconhecer suas

qualidades, fazer o aluno entender que não existem movimentos certos ou

errados e sim experiências corporais diferentes, possibilitar aos infantes a

descobrirem as várias formas de se expressar corporalmente, de criar e

imaginar, promover a interação das crianças onde estas possam compartilhar

experiências e adquirir novas, utilizar atividades como jogos, brincadeiras

folclóricas, brinquedos cantados, músicas entre outras, que possibilite a

resolução de problemas, o respeito mútuo, fazer novas descobertas, interação,

autonomia e estabelecer laços de amizade e solidariedade. Enfim essas são as

possibilidades que a Psicomotricidade inserida nas aulas de Educação Física

poderá oferecer as crianças da Educação Infantil.

Não basta utilizar nas aulas de Educação Física atividades que visam

desenvolver apenas a função psicomotora, pois desta forma o docente só

estaria priorizando a motricidade dos alunos ignorando os demais aspectos e

conseqüentemente não estaria atendendo aos objetivos da Educação Infantil.

50

É importante que o educador compreenda que trabalhar a Psicomotricidade

nas aulas é muito, mas que desenvolver a lateralidade, coordenação motora

entre outros elementos psicomotores, é entender que a criança não tem um

corpo que deve ser desenvolvido motoramente, e sim que esta é o próprio

corpo que se emociona e expressa essa emoção corporalmente.

Através deste estudo pode se concluir que a Psicomotricidade inserida nas

aulas de Educação Física na Educação Infantil proporcionará um

enriquecimento das aulas além de auxiliar a Educação Física a promover o

desenvolvimento, afetivo, cognitivo, psicomotor e social das crianças.

Esta pesquisa também apontou que muitos professores de Educação Física da

rede municipal de educação da cidade do Rio de Janeiro, trabalham com a

abordagem desenvolvimentista na Educação Infantil, utilizam atividades que

promovem desenvolvimento de elementos psicomotores, mas no entanto não

utilizar a Psicomotricidade no sentido pleno. Esse fato demonstra uma falta de

conhecimento sobre o que venha ser a Psicomotricidade e de seus objetivos.

51

BIBLIOGRAFIA

Almeida, Geraldo Peçanha deTeoria e prática em Psicomotricidade:Jogos atividades lúdicas,expressão corporal e brincadeiras infantis.-5º Ed- Rio Janeiro :wak,2009 Alves, Fátima (org). Como aplicar a Psicomotricidade: Uma atividade multidisciplinar com amor e união. RJ: Wak, 2009 Alves, Fátima. Psicomotricidade: Corpo ação e emoção. Rio de Janeiro: WAK, 2008 Betti, Mauro Batista. A televisão e o ensino da Educação Física na escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 02, jan. 2005 Borges, Célio José. Educação Física para o Pré – Escolar. 5 ª -ed- Rio de Janeiro :Sprint ,2002 Brasil, Ministério da Educação e do Desporto. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasil, Ministério da Educação e do Desporto. Indicadores de qualidade na Educação Infantil, 2010 Conselho nacional de educação (CNE/CEB). Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Coletivo de autores. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992 Darido, Suraya Cristina. Educação Física na escola: Questões e reflexões. Rio de Janeiro, Guanabara Koocan, 2003 Darido, Suraya Cristina, Rangel, Irene Conceição Andrade. Educação Física no Ensino Fundamental: Estudo e Ensino. Rio de Janeiro: Guanabara Koocan, 2005 Daolio, Jocimar. Educação Física e o conceito de cultural. São Paulo: Autores Associados, 2007 Ferreira, Vanja. Educação Física: Recreação, jogos e desportos – 2ª Ed- Rio de Janeiro: Sprint, 2006

52

Freire, João Batista. Educação Física como prática corporal. São Paulo: Scipione, 2003 Gallahue, David l. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. -3ª Ed – São Paulo: Phorte, 2005 Kramer, Sônia. A política da Pré-Escola no Brasil: A arte do disfarce. – 5ª Ed – São Paulo: Cortez, 1995 Mello, Alexandre Moraes. Psicomotricidade, Educação Física e jogos infantis. 6ª Ed – São Paulo: Ibrasa, 1986 Meyer, Ivanise Correa Resende. Brincar e viver: projetos na Educação Infantil. -4ª Ed – Rio de Janeiro: Wak, 2008 Multieducação. Temas em debate: Educação Infantil: revendo o percurso do diálogo com os educadores, 2006 Oliveira, Vitor Marinho. O que é Educação Física? São Paulo: Brasilense, 2004 Oliveira, Zilma Moraes Ramos. A criança e seu desenvolvimento: perspectivas para se discutir a Educação Infantil. – 4ª Ed – São Paulo: Cortez, 2002 Orientações curriculares para a Educação Infantil. Secretaria Municipal de Educação (SME), 2010 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Educação Física. Brasília, 1998 Santos, Rosângela Pires dos. Psicomotricidade. São Paulo: Ieditora, 1995 Santos, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e Infância: um guia para pais e educadores de creche. 8ª Ed – Petrópolis, RJ: Vozes, 2006 Soler, Reinaldo. Educação Física inclusiva na escola, em busca de uma escola plural. – 1ª Ed – Rio de Janeiro: Sprint, 2005

53

WEBGRAFIA Ahmad, Laila Azize Souto. Educação: breve histórico da infância e da

instituição infantil.> URL: http:// www.edeportes.com.br./

Acesso em: 9/12/10

Betti, Mauro Batista; Zuliani, Luiz Roberto. Educação Física escolar uma

proposta de diretrizes pedagógicas.>URL: http://www.Mackenzie.br

Castro, Jemis Nogueira de. A contribuição da Psicomotricidade com a

Educação Física: uma busca de uma educação plural.>URL: http//

www.efedeportes.com.br

Acesso em: 10/12/10

Feltrin, Daniel. A história da Educação Infantil: no contexto Brasileiro.>URL:

http://www.artigonal.com

Acesso em: 9/12/10

Instituto Superior de Psicomotricidade.>URL: http:// www.Ispegae-Oipr.com.br

Acesso em: 14/11/10

Lima, Aline Souza, Barbosa, Silva Bastos. Psicomotricidade na Educação

Infantil.>URL: http:// www.criaerecriar.com

Acesso em: 14/11/10

Lussac, Ricardo Martins Porto. Psicomotricidade: história, desenvolvimento

conceito.>URL: http:// www.edeportes.com

Acesso em: 16/11/10

Malta, Dinalba Ferreira. A Educação Física no Brasil com uma visão

transformadora.>URL: http:// www.nead.unama.br

Acesso em: 28/10/10

Manhães, Fernando Castro; Souza, Carlos Henrique; Siqueira, Gabriela dos

Reis. Psicomotricidade no âmbito da Educação Física escolar.>URL: http://

www.edeportes.com/.../

54

Acesso em: 30/10/10

Molinari, Ângela Maria da Paz; Sens, Solange Mari. A Educação Física e sua

relação com a Psicomotricidade.>URL: http;// www.bomjesus.br

Acesso em: 28/10/10

Moura, Marcilene. Educação Física no Brasil: uma história política.>URL; http;//

www.webartigos.com

Acesso em: 28/10/10

Paschoal, Jaqueline Delgado; Machado, Maria Cristina Gomes. História da

Educação Infantil.>URL: http;// www.histedbrafae.unicamp.br

Acesso em: 7/12/10

Pereira, Regiane Lorréa. O papel da Educação Infantil na construção da

autonomia.>URL: http;//www.ume.ufrgs.br

Silva, Daniel Vieira; Haetinger, Max Gonther. Ludicidade e

Psicomotricidade.>URL: http;//www.videolivraria.com.br

Acesso em: 30/10/10

Soares, Ângela da Silva. Concepções de infância e Educação Infantil.>URL;

http:www.atigonal.com>educação>educação infantil

Acesso em: 28/10/10

Vieira, José Leopoldo. Psicomotricidade relacional: a teoria de uma

prática.>URL: http://www.perspectivasonlaine.com.br

55

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO

AGRADECIMENTO DEDICATÓRIA

RESUMO

METODOLOGIA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

A Educação Física e sua história

1.1 O que é Educação Física?

1.2 A história da Educação Física no Brasil

Abordagens da Educação Física escolar

CAPÍTULO II

Conhecendo a Psicomotricidade

2.1 - Conceitos de Psicomotricidade

2.3 - Histórico da Psicomotricidade

2.4 - Áreas de atuação da Psicomotricidade

2.5 - Elementos psicomotores

2.6 - A relação da Psicomotricidade com a Educação Física

CAPÍTULO III

A Educação Infantil e sua importância

3.1 - Conhecendo a história da Educação Infantil no Brasil

3.2 - Objetivos da Educação Infantil

3.3 - Características e necessidades de crianças de 2 a 5 anos

3.4 - Fases de desenvolvimento de crianças de 2 a 5 anos

CAPÍTULO IV

Pesquisa como instrumentos para coleta de dados

2

3

4

5

6

7

8

10

10

10

12

22

22

23

24

26

30

33

33

33

35

37

40

43

43

43

56

4.1 - Amostra do estudo

4.2 - Instrumentos de pesquisa

4.3 - Coletas de dados

4.4 - Discussões dos resultados

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

WEBGRAFIA

ÍNDICE

43

43

45

47

46

49

51

55

57