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Universidade de Brasília FLÁVIA NITOLO CORRÊA DOS SANTOS INDISCIPLINA NA ESCOLA: RELATO DE UMA PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA Rio Claro 2007

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Universidade de Brasília

FLÁVIA NITOLO CORRÊA DOS SANTOS

INDISCIPLINA NA ESCOLA: RELATO DE UMA PROFESSORA DE

EDUCAÇÃO FÍSICA

Rio Claro

2007

ii

FLÁVIA NITOLO CORRÊA DOS SANTOS

INDISCIPLINA NA ESCOLA: RELATO DE UMA PROFESSORA DE

EDUCAÇÃO FÍSICA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientadora: Profª. Dra. Suraya Cristina Darido

Rio Claro

2007

iii

SANTOS, Flávia

Indisciplina na Escola: relato de uma professora de Educação Física

São Paulo, 2007.

25 p.

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007.

1. Indisciplina 2. Escola

iv

FLÁVIA NITOLO CORRÊA DOS SANTOS

INDISCIPLINA NA ESCOLA: RELATO DE UMA PROFESSORA DE

EDUCAÇÃO FÍSICA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente: Professora Doutora Suraya Cristina Darido

Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Rio Claro

Membro: Professor Doutor Luiz César dos Santos

Universidade de Brasilia - UNB

Rio Claro, agosto de 2007

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por existir na minha vida; Aos meus pais por acreditarem que eu

conseguiria chegar aonde cheguei hoje; ao meu marido Adelino por toda a força quando

precisei para elaborar este relato e toda força que me dá no dia a dia e a minha orientadora e

ex-professora da Graduação (Suraya) pela paciência em me agüentar e acreditar que sairia

alguma coisa.

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RESUMO

Atualmente o sistema educacional do nosso país passa por uma fase em que surgem questões

e problemas relacionados à indisciplina, esse assunto tem se constituído em uma das maiores

dificuldades vivenciadas pelos professores em sua prática educativa. Dessa maneira é

necessário que educadores e futuros educadores saibam qual é a realidade existente dentro das

instituições de ensino e a partir dela possam refletir sobre como lidar com esse problema. O

principal objetivo do presente estudo é relatar as principais dificuldades relacionadas à

indisciplina vivenciada por uma professora de Educação Física em uma escola da rede pública

municipal de 1ª a 4ª série do ensino fundamental do município de Osasco. Resumidamente,

sugere-se que o professor permaneça mais tempo em apenas uma escola, que seja mais bem

remunerado, que tenha acesso a formações e, sobretudo que se pense e se faça uma escola

coletiva. Assim é possível imaginar que ainda tenhamos problemas com a indisciplina dos

alunos, mas poderemos refletir e construir modos de minimizar seus efeitos e garantir um

ensino de qualidade para esses garotos e garotas que precisam tanto da escola.

Palavras chaves: indisciplina, escola.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

1

2. LEITURA DA REALIDADE

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3. LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA

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4. ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS OBSERVADOS NO PST

11 5. ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÕES

13

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente o sistema educacional do nosso país passa por uma fase em que surgem

questões e problemas relacionados à indisciplina, esse assunto tem se constituído em uma das

maiores dificuldades vivenciadas pelos professores em sua prática educativa. Além disso,

essas dificuldades têm se tornado motivo de preocupação para as instituições escolares, para

os professores que estão diretamente ligados com o assunto e também para os pais dos alunos.

Freqüentemente, esse assunto tem prejudicado a dinâmica do processo de educação nas

escolas (ALVES, 2002).

Em pesquisa realizada por Gaspari et al. (2006) foi detectado que uma das maiores

dificuldades dos professores de Educação Física refere-se à indisciplina dos alunos. Esse é um

problema comumente levantado pelos professores como um impedimento para a implantação

de novas propostas educacionais. Estudos realizados por pesquisadores da área também

relatam que a situação tende a se agravar na medida em que estudos e pesquisas sobre o

assunto se mostram parciais e relativamente escassos (REGO, 1996).

A indisciplina é um problema predominante tanto dentro quanto fora da escola, pois

está direta ou indiretamente ligada à escola, à família, às desigualdades sociais, ao aluno e ao

professor. Atualmente, esse é um dos problemas que mais afligem os educadores, na medida

em que aumentam os atos de agressão, violência, depredação e desrespeito. Embora seja um

problema constantemente mencionado, que às vezes atinge níveis alarmantes, a indisciplina

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no sistema escolar não possui um diagnóstico simples, e as propostas de solução estão longe

de serem alcançadas.

Pereira (1992, apud Alves, 2002) relata que a indisciplina também está ligada a uma

ineficiência da prática pedagógica desenvolvida. Além disso, Alves (2002) afirma que os

professores tanto dentro da instituição de ensino com no decurso de sua formação, muitas

vezes não recebem a base que lhe sirva de apoio para lidar com as dificuldades que irão

encontrar dentro da sala de aula ou na quadra nas aulas de Educação Física, isso por existirem

diferenças culturais, históricas, familiares, pensamentos, entre outros, passando assim os

professores muitas vezes a ficarem sem saber como desempenhar um bom trabalho diante de

toda esta diversidade existente.

Por isso não se pode dizer que a indisciplina está somente ligada à natureza do aluno,

pois ninguém nasce predestinado a ser ou não indisciplinado. Aquino (1996) ressalta ainda

que a indisciplina atravessa indistintamente as escolas públicas e privadas, apesar dos

diferentes significados atribuídos para a mesma. Portanto, ao contrário do que muitos pensam,

não se trata de um desprivilegio da escola pública. As crianças que hoje freqüentam a escola

têm cada vez menos limites estabelecidos pela família, o que pode se configurar para uns

como “ausência de valores” (DE LA TAILLE, 1998, p. 07, apud, ALVES, 2002).

Com o crescente índice de indisciplina existente hoje em nosso país é necessário que

educadores e futuros educadores saibam qual é a realidade existente dentro das instituições de

ensino e a partir dela possam refletir sobre como lidar com esse problema e tentar encontrar

soluções para lidar com a realidade existente.

O principal objetivo do presente estudo é relatar as principais dificuldades

relacionadas à indisciplina vivenciada por uma professora de Educação Física em uma escola

da rede pública municipal de 1ª a 4ª série do ensino fundamental do município de Osasco.

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2. LEITURA DA REALIDADE

2.1 O que é indisciplina/disciplina

De acordo com o dicionário Aurélio de língua portuguesa, indisciplina é o

procedimento contrário à disciplina, ou seja, desobediência, desordem, rebelião. Já a

disciplina pode ser definida como regime de ordem imposta ou livremente consentida, ordem

que convém ao funcionamento regular de uma organização ou ainda relações de subordinação

do aluno ao mestre ou instrutor.

Para Rego (1996) essas definições podem ser interpretadas de diversas formas,

entendendo-se que disciplinável é aquele que se deixa submeter ou que se sujeita de modo

passivo ao conjunto de normas geralmente estabelecidas. No meio educacional costuma-se

compreender a indisciplina como um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia,

intransigência ou desacato que é traduzida pela falta de educação ou de respeito pelas

autoridades.

Rego (1996) acrescenta que o conceito de indisciplina não é estático, uniforme, nem

universal e que ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas que variam ao longo

da história, entre diferentes culturas e em uma mesma sociedade; nas diferentes classes

sociais, nas diferentes instituições e até mesmo dentro de uma mesma camada social.

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LaTaille (1996) expõe que se entendermos por indisciplina comportamentos regidos

por um conjunto de normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: a primeira

envolve a revolta contra essas normas, enquanto que a segunda o desconhecimento delas, ou

seja, no primeiro caso a indisciplina seria a forma de desobediência e no segundo caso seria o

caos comportamental, a desorganização das relações. Já para o filósofo Kant a disciplina é

condição necessária para ensinar a criança a controlar seus impulsos e afetos, se preocupando

com o futuro da humanidade.

Lajonquière (1996) enfoca que o que se pretende atualmente de uma criança é fazer

com que ela quando adulto não padeça das impotências atuais dos adultos de hoje, e que elas

se tornem adultos com grande potência imaginária.

2.2 Causas de indisciplina

A indisciplina apresenta-se como sintoma de relações descontínuas e conflitantes entre

o espaço escolar e as outras instituições sociais. No primeiro caso o recurso principal para a

análise da indisciplina é o autoritarismo, historicamente subjacente à estruturação institucional

escolar, já no segundo caso, o eixo argumentativo desdobra-se para o conceito de autoridade.

O autor ainda ressalta que não é possível a indisciplina se referir exclusivamente ao aluno,

mas também não podemos creditá-la somente a estruturação escolar e muito menos atribuir a

responsabilidade às ações do professor (AQUINO, 1996).

Na verdade, o tema da indisciplina é bastante complexo e delicado. Complexo porque

envolve no mínimo duas dimensões: a política das relações democráticas penetrando em

várias instituições, notadamente a família e a escola; a ética e a falta de limites que traduz

uma crise de valores. É também delicado porque pode promover retrocessos na leitura do

problema, trazendo a tona novamente um autoritarismo injustificável de tempos não muito

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distantes. O desafio dos próximos anos está em afirmar valores em torno do respeito mútuo e

da solidariedade, tarefa não muito simples (REGO, 1996).

Alves (2002) considera que o aluno não pode ser o único culpado pelo acontecimento

da indisciplina, pois as questões sociais referentes à família, à instituição escolar, à política, à

religiosidade ou a qualquer outro âmbito social também são fatores que contribuem para a

ocorrência da mesma. Se as propostas curriculares estabelecidas, a metodologia utilizada e a

postura adotada pelo professor forem inadequadas ao contexto em que se insere, a

possibilidade de surgir o comportamento indisciplinado será maior.

A disciplina sempre esteve em foco no olhar dos educadores, mas o que teria

acontecido com as práticas escolares a ponto de a indisciplina ter se tornado um obstáculo

pedagógico? Com todas essas questões leva-se a considerar a indisciplina como um sintoma

de uma ordem que não a estritamente escolar, mas que surte no interior da relação educativa.

É a mesma coisa que não relacionar o que acontece no interior da escola com o seu exterior.

Existe uma relação intra e extra escolar com a sociedade (AQUINO, 1996).

O autor ainda ressalta que a estruturação escolar não pode ser pensada sem a família,

na verdade as duas instituições são responsáveis pela educação. Só que o processo

educacional depende da articulação destes dois âmbitos institucionais que não se justapõem.

Do ponto de vista social e histórico, a escola é palco de confluências dos movimentos

históricos e do ponto de vista psicológico ela é profundamente afetada pelas alterações na

estrutura familiar.

Relacionar a indisciplina observada na escola a fatores inerentes a “natureza” de cada

aluno ou de sua faixa etária representa um grave equívoco. Ninguém nasce “rebelde ou

indisciplinado” e nem todo adolescente será indisciplinado para cada fase da sua vida.

Diferentemente das idéias presentes no meio educacional, o comportamento indisciplinado

não resulta de fatores isolados, mas sim da multiplicidade de influências que recaem sobre a

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criança e sobre o adolescente ao longo do seu desenvolvimento. No processo de constituição,

através de inúmeras interações sociais, a criança e o adolescente receberão informações e

influências dos diferentes elementos como a família, vizinhos, amigos, colegas de escola,

amigos de rua, professores e outros adultos, das instituições como a escola e dos meios de

comunicação disponíveis em seu ambiente (REGO, 1996).

2.3 A indisciplina na escola atualmente

LaTaille (1996) acredita que o caos comportamental é que prevalece nas instituições

escolares nos dias de hoje. Acredita-se que certos atos de indisciplina podem ser

genuinamente morais, ou seja, o aluno ao ser humilhado, injustiçado se revolta contra as

autoridades que o tornam vítima. Desse modo, é necessário ter cautela na condenação da

indisciplina sem atentar a razão pela qual ela acontece.

A visão da atual escola como local de florescimento das potencialidades humanas

parece ter sido substituída talvez por pequenas batalhas civis; pequenas, mas visíveis para

incomodar. Para Aquino (1996), embora o fenômeno da indisciplina seja um velho conhecido,

sua relevância não é tão nítida, e o pouco número de obras referentes à problemática vem

confirmar este dado. Os relatos dos educadores nos comprovam que esse assunto é uma das

maiores dificuldades do trabalho escolar. De acordo com esses educadores, o ensino teria

como obstáculo central a conduta desordenada dos alunos, traduzida em bagunça, tumulto,

falta de limite, maus comportamentos, entre outros. Sendo talvez a indisciplina o inimigo

número um dos educadores, cuja solução, as correntes teóricas não conseguiriam propor de

imediato, uma vez que se trata de algo que ultrapassa o âmbito didático-pedagógico,

imprevisto nas diferentes correntes pedagógicas.

No ambiente escolar, os educadores perplexos com o fenômeno da indisciplina

buscam explicações para a existência de tal manifestação. Eles vêem a indisciplina com um

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“sinal de tempos modernos” revelando certa saudade das práticas escolares e sociais outrora,

que davam margem “a desobediência e inquietação por parte das crianças e adolescentes

(REGO, 1996)”.

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3. LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA

Durante a graduação, na disciplina de Prática de Ensino, os professores frisavam bem

como era a realidade das aulas de educação física em muitas escolas públicas, e nós ainda

estudantes ficávamos indignados em saber que muitos dos profissionais apenas forneciam o

material aos alunos e deixavam que eles fizessem o que quisessem. É claro que a ala

masculina iria apenas jogar futebol e a ala feminina talvez um voleibol quando tivesse espaço,

caso contrário, poderiam ficar apenas conversando para passar o tempo.

Eu presenciei em meu estágio esta realidade, onde eu e mais duas colegas tínhamos

que ministrar aulas de educação física para o ensino médio e nós não conseguíamos. A

professora da turma chegava e fornecia o material e nem nos perguntava nada, e ainda, muitas

vezes, quando ela resolvia mudar alguma coisa não era atendida pelos alunos. Os meninos

eram bem mal educados e não queriam ceder a quadra para que as meninas também pudessem

realizar alguma atividade e nós terminamos o estágio sem sequer ministrar uma única aula.

Após este estágio nós começamos a entender um pouco mais a realidade do que

acontecia nas instituições de ensino. Algum tempo depois fui trabalhar em uma escola de

Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série da Prefeitura Municipal de Osasco e aí sim que tive a

certeza do realmente acontecia.

Os atos de indisciplina eram diários, iam desde a 1ª a até a 4ª série, onde nós

professoras ficávamos chocadas com tudo o que acontecia. Esses atos foram desde agredir aos

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próprios colegas até agressão a professores e funcionários e até mesmo riscar meu carro, isso

uma criança de 7 anos de idade.

Os mais novos agrediam muitos uns aos outros, por qualquer motivo eles se agrediam

e sempre estavam certos; muitas vezes não me obedeciam, quando eu pedia que parassem de

fazer alguma coisa que não era para ser feito, ou seja, cometiam atos de indisciplina. Muitas

vezes não obedeciam e continuavam a cometer os mesmos atos; se você pedia para que eles

fossem andando até o bebedouro era impossível, pois todos iam correr para ver quem chegava

primeiro e quem ia ficar sem torneira como se a água fosse acabar ou se eu não fosse possível

esperar todos beberem água.

Quando nós chegávamos à quadra eles iam correndo pegar o material antes mesmo de

eu pedir que eles fizessem isso; quando eu estava explicando as atividades muitos

continuavam conversando e eu não conseguia explicar, tinha que parar a explicação e pedir

silêncio para continuar e muitas vezes eles ainda continuavam a conversar. Algumas vezes

alunos chegaram a me responder mal; quando eu chamava a atenção de alguns eles gritavam

comigo e muitos balançavam o ombro querendo dizer: não estou nem aí; xingar e bater nos

colegas fazia parte do cotidiano de muitos, tanto meninos como meninas.

Uma situação em particular foi bastante contundente. Um dos alunos me xingou, ou

melhor, falou um palavrão; o outro aluno afirmou que eu havia xingado um aluno. Tirei a

prova com a sala toda e todos disseram que isso não havia ocorrido. Um caso grave de

acusação ao professor sem corresponder a realidade dos fatos.

Além disso, alguns saiam da aula sem permissão, iam beber água ou voltavam para

sala, ou por terem feito coisa errada ou por eu ter chamado a atenção deles por algum motivo;

quando íamos da sala até a quadra todos saíam correndo e gritando pelo corredor da escola, eu

pedia silêncio, mas era muito difícil eles pararem; brigavam para ser o primeiro da fila.

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Quando chegavam ao portão que dava para a quadra saíam correndo para ser o

primeiro a chegar; faziam piada para a professora; havia dois alunos que estavam acima da

idade para a série que freqüentavam e eles eram muito mal educados, respondiam a mim e

todos da escola sem temer nada, faziam o que eles queriam; eles colocavam medo nos colegas

por serem mais velhos e maiores; e o pior é que muitos acabaram sendo envolvidos pelos atos

deles e começaram a ter as mesmas atitudes que eles.

Além dos alunos eu ainda tinha que lidar com a comunidade que invadia a quadra e

não queria deixar eu trabalhar; uma criança de 7 anos agrediu uma funcionária da escola, a

professora da sala e a mim com chutes, beliscões e tapas; e ainda esta mesma criança riscou

meu carro, ele fez uma desenho de um arco íris no capo do carro; e a direção não tomou

qualquer providencia para todos estes atos.

Na hora do intervalo (recreio) eles ficavam correndo pelo pátio enlouquecidos e se

batendo; subiam para o corredor que ficava as salas de aula e batiam nas portas das salas que

estavam em aula e saiam correndo.

Como é que um professor pode trabalhar nestas condições? Isso não ocorria com

alunos de uma ou de outra sala, eram alunos de todas as salas da escola e não era a minoria. A

maior parte dos alunos praticava estes atos de indisciplina. O professor tem que tomar muito

cuidado com o modo que vai conduzir todos esses atos de indisciplina, pois do portão da

escola para fora você é apenas uma pessoa e está sozinha, não sabe o que os outros são

capazes de fazer.

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4. ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS OBSERVADOS NO PST

Depois de vivenciar estes fatos é que eu pude perceber (mas não aceitar) o motivo pelo

qual os professores de educação física do ensino médio deixam seus alunos a vontade para

fazerem o que querem. Como é que você vai se submeter a enfrentar adolescentes que quando

crianças já praticavam estes atos?

Muitas vezes eu tive vontade de deixar também as crianças fazerem o que queriam,

porém meu lado profissional falou mais alto e como estas crianças estão em idade de

desenvolvimento resolvi trabalhar o desenvolvimento motor deles mesmo passando por

muitas dificuldades e muito nervoso.

Trabalhando com as quatro séries iniciais do ensino fundamental resolvi dividi-las em

dois ciclos e ministrar atividades diferentes para estes dois ciclos. O primeiro ciclo era

composto pela 1ª e 2ª série e o segundo ciclo pela 3ª e 4ª série. As atividades propostas para o

primeiro ciclo eram atividades voltadas para o desenvolvimento motor das crianças. Eram

atividades de coordenação motora voltadas para o lúdico; atividades que envolviam arcos,

cordas, bolas e cones, como, por exemplo, atividades de zigue-zague entre cones correndo ou

andando, utilizando também o drible com a bola para fazer o zigue-zague; atividades de saltos

com as cordas (aumentar a corda para os alunos passarem por cima dela, abaixar a corda para

eles passarem por baixo delas); atividades de saltos em distância com as cordas (era colocado

no chão duas cordas e a distância entre elas era aumentada); atividades com arcos, para eles

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saltarem sobre os arcos espalhados no chão de diversas maneiras, com formatos de

amarelinhas ou espalhados pelo chão; atividades de caminhar na ponta dos pés, calcanhar,

caminhar para o lado, caminhar para atrás, caminhar lentamente; caminhar rapidamente; entre

outras atividades.

Já para o segundo ciclo as atividades propostas eram jogos como queimada de diversas

formas, base 4, pique bandeira, câmbio, jogo dos passes, entre outros. A última aula do mês

era chamada de “aula livre” para os dois ciclos, eu levava vários tipos de materiais e os alunos

brincavam do que eles queriam.

Apesar de todos os atos de indisciplina os alunos gostavam muito das aulas de

educação física e praticamente todos participavam das atividades, somente alguns alunos

quando eram contrariados por algum motivo resolviam ficar de fora da aula ou os que

estavam atrapalhando as atividades eram convidados a ficarem de fora.

Praticamente todas as professoras PEB I colegas de trabalho estavam sempre

reclamando do comportamento dos alunos, elas estavam também indignadas com tantos atos

de indisciplinas que aconteciam em suas aulas e ainda mais indignadas que estes atos eram

levados para a direção e nenhuma providencia era tomada. Na maioria das vezes a maior

providencia era ficar sentado ao lado da sala da diretora, onde todos ficavam vendo o que

acontecia na escola, pois a sala da direção era localizada bem no meio da escola. Para muitos

era divertido ficar ali olhando todos passarem sem ter que estar fazendo lição.

O que muitos não gostavam de fazer e ainda muitos não eram nem alfabetizados na

quarta série do ensino fundamental. Com todo o problema de indisciplina e sem a ajuda da

direção para solucioná-lo ficava cada dia mais complicado os professores conseguirem

desenvolver um bom trabalho nas instituições de ensino.

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5. ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÕES

5.1 Como lidar com a indisciplina na escola

Todos os momentos, espaços e situações presentes na vida cotidiana da escola

necessitam ser considerados e teoricamente reorganizados, por fazerem parte de uma

reconstrução dos processos. É preciso lançar um olhar sobre a escola com a ajuda de um

referencial teórico, com o objetivo de entender a lógica reprodutivista de sua ordenação,

dando prioridade à análise dos processos de construção da escola a partir de divisões e

dicotomias, como relações professor/aluno, professores/pais, diretores/professores,

pedagógico/administrativo. Assim, os processos dicotômicos, que marcam as formas como as

escolas estão organizadas, vão construindo nas aulas uma cultura disciplinar que rompe as

formas de mover-se, de falar, de estar, cultiva no espaço cotidiano da vida das crianças fora da

escola (PASSOS,1996).

Os modelos disciplinares que nossas instituições insistem em adotar, muitas vezes,

impulsionam focos de resistência e de luta que sugerem caminhos de possibilidades e espaços

de liberdade. Os próprios alunos vão impondo ao longo as necessidades de mudança. O existir

e o fazer cotidianos, apresentam momentos de sujeição e momentos de resistência e

contestação, que precisam ser compreendidos enquanto momentos igualmente presentes no

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cotidiano escolar, e estes momentos quando criticamente refletidos possibilitam a

transformação da realidade e o surgimentos de uma nova cultura escolar (PASSOS, 1996).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, conclui-se que a questão da indisciplina na escola é um fenonêmo complexo,

que precisa ser problematizado por todos os atores do ambiente escolar. A construção coletiva

do projeto político das escolas ainda não é uma realidade. O que se observa são os professores

tentando resolver seus problemas individualmente. O que torna a indisciplina dos alunos, em

alguns casos, incontornável. Dito em outras palavras, pode afastar bons professores do

ambiente escolar.

Sugere-se como foi realizado na revisão bibliográfica desse estudo compreender a

indisciplina dos alunos como uma conjunção de fatores. Por exemplo, crise de valores sociais,

a saída das mães para o mercado de trabalho, uma escola que nem sempre apresenta relações

democráticas e justas, conteúdos escolares muitas vezes descontextualizados, e ainda a

presença das novas tecnologias (computador, videogame, controle remoto) entre outros. Ou

seja, discutir a indisciplina é discutir as próprias relações da sociedade.

O que tentei desvelar é que pessoalmente como professora de Educação Física numa

escola pública municipal vive a problemática da indisciplina e que afetivamente ela é muito

séria, a ponto de afastar os professores interessados do ambiente escolar.

Sugere-se apoiar de fato à Educação, de modo que o professor permaneça mais tempo

em apenas uma escola, que seja mais bem remunerado, que tenha acesso a formações e

sobretudo que se pense e se faça uma escola coletiva. Desse modo é possível imaginar que

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ainda tenhamos problemas com a indisciplina dos alunos, mas poderemos refletir e construir

modos de minimizar seus efeitos e garantir um ensino de qualidade para esses garotos e

garotas que precisam tanto da escola.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, C. M. S. D. In: Disciplina na escola: cenas da complexidade de um cotidiano escolar.

2002. 176 f. Dissertação (mestrado em educação). Faculdade de Educação, UNICAMP,

AQUINO, J. G. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus,

1996.

AQUINO, J. G. A desordem na relação professor-aluno: indisciplina, moralidade e

conhecimento. In: disciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus,

1996, p.39-54. Campinas, 2002.

GASPARI, T. C. ; SOUZA JUNIOR, O. DE ; MACIEL, V. ; IMPOLCETTO, F. M. ;

VENÂNCIO, L. ; IORIO, L. ; THOMMAZO, A. DI ; DARIDO, S. C. . A realidade dos

professores de Educação Física na escola: suas dificuldades e sugestões. Revista mineira de

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LAJONQUIÈRE, L. A criança, “sua” (in)disciplina e a psicanálise. In: Aquino, J. G. A

indisciplina na escola: alternativas teóricos e práticas. 1ª edição. São Paulo: Summus, 1996. p.

25 – 38.

LA TAILLE, Y. A indisciplina e o sentido de vergonha. In: Aquino, J. G. A indisciplina na

escola: alternativas teóricos e práticas. 1ª edição. São Paulo: Summus, 1996. p. 9-23.

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PASSOS, L. F. A indisciplina e o cotidiano escolar: novas abordagens, novos significados. In:

Aquino, J. G. (org), Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo:

Summus, 1996, p.117-127.

REGO, T. C. R. A Indisciplina e o processo educativo: Uma análise na perspectiva

vygotskiana. In: Júlio Groppa Aquino (org). Indisciplina na escola: alternativas teóricas e

práticas. São Paulo: Summus, p.83-101.