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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O CONFLITO COMO FENÔMENO ORGANIZACIONAL Por: Tania Cabral Pires Orientador Prof. Aleksandra Sliwowska Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O CONFLITO COMO FENÔMENO ORGANIZACIONAL

Por: Tania Cabral Pires

Orientador

Prof. Aleksandra Sliwowska

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O CONFLITO COMO FENÔMENO ORGANIZACIONAL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão de

Recursos Humanos.

Por: Tania Cabral Pires

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AGRADECIMENTOS

A Deus, o que seria de mim sem a fé que

eu tenho nele.

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Aos meus pais, irmãos e a toda minha

família que, com muito carinho e amor,

não mediram esforços para que eu

chegasse até esta etapa de minha vida.

À Professora e orientadora Aleksandra

Sliwowska pela ajuda e palavras de

incentivo, que me levaram a execução e

conclusão desta monografia.

Às professoras Angela Freitas, Nívia

Ricardo, Janaína Abreu, Jaqueline

Marques, Daysi Farias e Adélia Araújo,

por seus ensinamentos, tão importantes

no desenvolvimento desta monografia, e

pela valorização cultural que atribuem ao

processo pedagógico.

À secretária da pós-graduação Suzana,

pelo apoio constante e pela paciência.

Aos amigos e colegas Beatriz, Carolina,

Rosenilda, em especial Julius, pelo

convívio e pelo apoio na realização dos

trabalhos apresentados durante o curso.

Enfim, a todos que, de alguma maneira,

passaram pela minha vida e contribuíram

para a construção de quem sou hoje.

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DEDICATÓRIA

“ O valor das coisas não está no tempo

em que elas duram,

Mas na intensidade com que acontecem.

Por isso existem momentos

inesquecíveis,

Coisa inexplicáveis e pessoas

incomparáveis”.

(Fernando Pessoa)

Aos meus pais, irmãos, amigos e a

todos os meus familiares.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre concepções, princípios,

fatores antecedentes e características dos conflitos de relacionamento nas

organizações, apresentando exemplos desses conflitos, causas e

consequências. Também busca apontar alternativas para transformar e

superar conflitos, demonstrando o papel do coletivo de trabalho e da ética nas

relações socioprofissionais, visando facilitar a administração de tais conflitos.

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METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva, desenvolvida a partir de material já

elaborado, constituído, principalmente, de livros e artigos científicos. Dessa

forma, foi levantada toda a bibliografia a ser pesquisada e estabelecido o

caminho de estudo, no qual foram feitos os devidos fichamentos. Em seguida,

o material pesquisado foi organizado e textualizado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - Conflitos Organizacionais 12

CAPÍTULO II - O Processo de Conflito 21

CAPÍTULO III – Administração de Conflito 35

CONCLUSÃO 49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

ÍNDICE 53

FOLHA DE AVALIAÇÃO 55

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INTRODUÇÃO

Desde que o ser humano surgiu, constata-se a ocorrência de uma

série de conflitos em sua vida, seja em termos pessoais, seja em termos

profissionais. Conforme o homem desenvolveu-se cultural e tecnologicamente,

os conflitos foram mudando não só quanto à intensidade, magnitude, como

também quanto ao número de envolvidos. Importante ressaltar que não se

deve desconsiderar, ainda, a época e o local que ocorrem, fatores que os

influenciam, e muito. É importante ressaltar que, até pouco tempo, a ausência

de conflitos era encarada como expressão de bom ambiente, boas relações e,

no caso das organizações, como sinal de competência.

É possível pensar inúmeras alternativas para os indivíduos e grupos

lidarem com conflitos. Estes podem ser ignorados ou abafados, ou sanados e

transformados num elemento auxiliar na evolução de uma sociedade ou

organização.

Alguns profissionais viam o conflito de forma negativa, como

resultante da ação e do comportamento de pessoas indesejáveis, associado à

agressividade, ao confronto físico e verbal e a sentimentos negativos, os quais

eram considerados prejudiciais ao bom relacionamento entre pessoas e,

consequentemente, ao bom funcionamento das organizações.

Hoje em dia, os profissionais tem uma visão mais positiva do conflito.

O conflito é tido como fonte de ideias novas, podendo levar a discussões

abertas sobre determinados assuntos, o que se revela positivamente, pois

permite a expressão e exploração de diferentes pontos de vista, interesses e

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valores.

Em alguns momentos, e em determinados níveis, o conflito pode ser

considerado necessário se não se quiser entrar num processo de estagnação.

Assim, os conflitos não são necessariamente negativos; a maneira como

lidamos com eles é que pode gerar algumas reações.

A administração de conflitos consiste exatamente na escolha e

implementação das estratégias mais adequadas para se lidar com cada tipo de

situação, o que implica saber gerenciá-los.

Contudo, muitas pessoas não sabem como administrá-los,

independente das variáveis que os envolvam. Para conseguir gerir uma

situação conflituosa, é preciso um certo tato, sensibilidade, embora, em alguns

momentos, não será, por si só, suficiente para alcançar uma solução eficiente

e eficaz, que atenda a todas as partes envolvidas.

Nesse caso, deverão ser utilizados alguns procedimentos para gerir o

conflito, a fim de possibilitar um resultado que agrade a ambas as partes. Tais

procedimentos não constituem regras seguidas para todas as pessoas,

tampouco para todas as situações. Na verdade, devem ser considerados

apenas como princípios que devem ser levados em consideração, e aplicados

de acordo com o bom senso. Afinal, cada caso é um caso.

Ao gestor de Recursos Humanos, ou outro nome que for designado

por uma empresa, para o profissional que trabalha com as pessoas, cabe

disposição inata ou, ainda, capacidade ou habilidade resultante de

conhecimentos adquiridos, para gerenciar conflitos, entre outras tarefas que

terá de desempenhar no seu dia-a-dia.

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Vale lembrar, também, que o setor de atuação, o tamanho da

organização, tipo de gestão, objetivos organizacionais, missão, valores,

estrutura organizacional, estratégias implementadas, entre outros fatores,

podem influenciar um conflito.

Nesse sentido, as empresas que não souberem gerenciar os conflitos

entre seu pessoal poderão estar sujeitas a diversos contratempos, tais como:

ter reduzida sua participação no mercado; não desenvolver novos produtos; ter

arranhada sua imagem perante o público-alvo e prejudicar o clima

organizacional.

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CAPÍTULO I

CONFLITOS ORGANIZACIONAIS

1. conceituação

Antes de tudo, devemos entender o que é conflito, que sob a ótica do

antigo paradigma, nada mais é que percepções e interpretações divergentes

das partes sobre um determinado assunto. É sempre visto como algo negativo,

um rompimento, um fim. Pela nova ordem sistêmica, o conflito é um meio, uma

oportunidade de reconstrução de realidades e motor gerador de energia

criativa.

Os conflitos existem desde o início da humanidade e fazem parte do

desenvolvimento humano. A história registra que o primeiro conflito foi entre

Caim e Abel, onde o resultado foi à morte de Abel.

O significado da palavra conflito, segundo o Dicionário Aurélio, é:

"1.Luta, combate; 2.Guerra; 3.Enfrentamento; 4.Oposição entre duas ou mais

partes; 5.Desavença entre pessoas, grupos; 6.Divergência, discordância de

ideais, de opiniões".

2.desenvolvimento

Somos informados com frequência sobre conflitos amargos e sem

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solução se ampliando e intensificando em todo o mundo, entre nações, entre

religiões, entre países pobres e ricos, entre pessoas com ideologias diferentes.

Se a história for observada, até há pouco tempo a ausência de

conflitos era vista como expressão de bom ambiente, boas relações, e no caso

das organizações, como sinal de competência, pois a maioria dos profissionais

via o conflito de forma negativa, sendo o resultado de uma ação ou mau

comportamento de algumas pessoas, e associavam à agressividade, ao

confronto físico e verbal e sentimentos ruins, que eram considerados

prejudiciais ao bom relacionamento entre pessoas e ao bom funcionamento

das organizações.

A partir do surgimento de inúmeras transformações políticas, culturais

e sociais percebidas no decorrer deste século, emergiu entre as organizações

a necessidade de tornarem-se cada vez mais produtivas e competitivas,

visando sua vitalidade num mercado muitas vezes delas restrito. Sabendo

dessa necessidade, muitos líderes passaram a analisar, avaliar e identificar os

problemas enfrentados pela equipe na aceitação e adaptação de mudanças,

para então, perceber as dificuldades e necessidades individuais de cada

colaborador e partir para a prática, tentando entusiasmá-los com o quesito

mudanças em seus afazeres.

Nas empresas, o conflito sempre representa perdas e prejuízo. Por

isso a importância de se saber administrá-los. Os conflitos surgem,

principalmente, em função de pontos de vista diferentes sobre um mesmo

problema. De um modo geral, a tendência é agir sobre os problemas que o

conflito cria, buscando reduzir as tensões que o geraram. Mas, o sucesso é

pouco provável e, em muitas situações, as tensões são aumentadas.

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O que se precisa, de fato, é encontrar uma maneira de resolvê-los

construtivamente, sem eliminar as diferenças que os criaram. Tensões e

diferenças, muitas vezes provocam resultados produtivos porque inovadores.

Os mais altos níveis de criatividade têm sido encontrados nas

organizações que estimulam a diversidade e a diferença entre as pessoas,

desde que essa diferença de opiniões e pontos de vista sejam canalizados

para fins construtivos e não destrutivos.

Há conflitos substantivos e afetivos. Os primeiros surgem por

diferenças de opiniões sobre determinados aspectos da realidade. Porém, os

segundos são, principalmente, derivados dos aspectos emocionais e afetivos

das relações interpessoais.

3. tipos de conflitos

O conflito é necessário e, por mais que se desenvolvam esforços no

sentido de eliminá-lo, não poderemos ignorá-lo ou impedi-lo. É importante

entender as suas causas, compreender suas origens, perceber a expressão do

sentimento do outro, saber qual é a dimensão do problema e se estamos

preparados para administrá-lo. Isso determina o nosso comportamento frente à

situação.

Os conflitos não ocorrem necessariamente somente entre indivíduos.

Podem ocorrer entre equipes, entre equipe e um indivíduo, entre organização e

uma equipe etc.

“Há vários tipos de conflitos: o conflito interno e o conflito externo. O

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interno (intrapessoal) envolve dilemas de ordem pessoal. O externo envolve

vários níveis: interpessoal, intragrupal, intergrupal, intra-organizacional e

interorganizacional” (CHIAVENATO, 2008, p.455).

4. níveis de conflitos

Ainda de acordo com o autor acima, ” o conflito pode ocorrer em três

níveis de gravidade, a saber:

1. Conflito percebido: ocorre quando as partes percebem e

compreendem que o conflito existe por que sentem que seus objetivos são

diferentes dos objetivos dos outros e que existem oportunidades para

interferência ou bloqueio. É o chamado conflito latente, que as partes

percebem que existe potencialmente.

2. Conflito experienciado: quando o conflito provoca sentimentos de

hostilidade, raiva, medo, descrédito entre uma parte e outra. É o chamado

conflito velado, quando é dissimulado, oculto e não manifestado externamente

com clareza.

3.Conflito manifestado: quando o conflito é expresso através de um

comportamento de interferência ativa ou passiva por pelo menos uma das

partes. É o chamado conflito aberto, que se manifesta sem dissimulação”

(CHIAVENATO, 2008, p.455 e 456).

Chiavenato (2008) ressalta que o conflito é inevitável, e o

administrador precisa conhecer a respeito de suas possíveis soluções ou

resoluções. A solução de um conflito passa quase sempre pelo exame das

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condições que o provocaram.

5. causas de conflitos

Os conflitos surgem por razões tipo competição entre as pessoas, por

recursos disponíveis, mas escassos; pela divergência de alvos entre as partes;

e pelas tentativas de autonomia ou libertação de uma pessoa em relação à

outra, assim como podem ser atendidos como fontes de conflito: direitos não

atendidos ou não conquistados; mudanças externas acompanhadas por

tensões, ansiedades e medo; luta pelo poder; necessidade de status, desejo

de êxito econômico; exploração de terceiros(manipulação); necessidades

individuais não atendidas; expectativas não atendidas; carências de

informação, tempo e tecnologia; escassez de recursos; marcadas diferenças

culturais e individuais; divergência e metas; tentativa de autonomia; emoções

não expressas ou inadequadas; obrigatoriedade de consenso; meio-ambiente

adverso e preconceitos.

No dia-a-dia das organizações e até mesmo de nossas vidas pessoal,

vivemos o conflito de diferentes maneiras: quantas vezes as pessoas não

atravessam nosso caminho, dificultando ou mesmo impedindo o atingimento

dos nossos objetivo? Assim, o conflito não deve ser visto apenas como

impulsionador de agressões, disputas ou ataques físicos, mas como um

processo que começa na nossa percepção e termina com a adoção de uma

ação adequada e positiva. Os conflitos surgem e nosso dever é estar situado

quanto às causas dos mesmos, que, normalmente, se dão por muitos

aspectos, tais como:

. Pela experiência de frustração de uma ou ambas as partes, ou seja,

a incapacidade de atingir uma ou mais metas ou realizar os seus desejos, por

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algum tipo de interferência ou limitação pessoal, técnica ou comportamental;

. Diferenças de personalidades, que são invocadas como explicação

para as desavenças tanto no ambiente familiar como no ambiente de trabalho,

e reveladas no relacionamento diário, através de algumas características

indesejáveis na outra parte envolvida;

. Metas diferentes, pois é comum estabelecermos ou recebermos

metas a serem atingidas e que podem ser diferentes dos de outras pessoas e

de outros departamentos, o que nos leva à geração de tensões em busca de

seu alcance;

. Diferenças em termos de informações e percepções, uma vez que,

costumeiramente, tendemos a obter informações e analisá-las à luz dos

nossos conhecimentos e referenciais, sem levar em conta que isto ocorre,

também, com o outro lado com quem temos de conversar ou apresentar

nossas ideias, e que este outro lado pode ter uma forma diferente de ver as

coisas.

Como podemos ver, as causas dos conflitos podem ter origens

diversas, e a maneira com que as identificamos e tratamos poderá acentuar o

problema ou resolvê-los sem maiores danos.

A Terceira Lei de Newton, também denominada de princípio da ação

e reação, diz “Se um corpo A aplicar uma força sobre um corpo B receberá

deste uma força de mesma intensidade, mesma direção e de sentido

contrário”. A lei da Ação e Reação apresenta, na prática, que para cada ação

produzida, há uma reação em sentido oposto de mesma intensidade. No

relacionamento interpessoal, precisamos entender que a forma que nos comu-

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nicamos e nos posicionamos frente às situações faz toda a diferença.

Em muitos casos, a falta de conhecimento e experiência em lidar com

situações de adversidades, lutas ou discordâncias entre pessoas ou grupos,

gera baixo desempenho na execução das atividades operacionais, pois se

perde a capacidade de interação e de relacionamento funcional, e assim,

metas e objetivos são comprometidos.

Por isso, empresários, diretores, gerentes, supervisores e outras

pessoas que ocupam cargos de confiança, precisam aprender a lidar com

situações de conflito, pois a maneira de gerenciá-las pode causar:

desmotivação, absenteísmo, turn over, insubordinação etc.

No entanto, quando o líder sabe gerir estas situações de maneira

eficiente, pode até acontecer conflitos, mas haverá satisfação, confiança,

compromisso, empenho, busca de soluções, crescimento e, enfim, melhoria

nos resultados organizacionais.

6. condições antecedentes de conflitos

De acordo com Chiavenato (2008), existem dentro das organizações

certas condições que tendem a gerar conflitos. São condições inerentes à

natureza das organizações e tendem a criar percepções entre pessoas e

grupos, as quais pre-dispõem ao conflito. Recebem o nome de condições

antecedentes por constituírem as razões dos conflitos.

Conforme o mesmo, basicamente existem quatro condições

antecedentes de conflitos:

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1-Ambiguidade de papel: quando as expectativas pouco claras e

confusas, além de outras incertezas, aumentam a probabilidade de fazer com

que as pessoas sintam que estão trabalhando para propósitos incompatíveis.

2-Objetivos concorrentes: como decorrência do crescimento da

organização, os grupos se especializam cada vez mais na busca de seus

objetivos. Por força da especialização, cada grupo realiza tarefas diferentes,

focaliza objetivos diferentes, relaciona-se com diferentes partes do ambiente e

começa a desenvolver maneiras diferentes de pensar e agir: tem sua própria

linguagem, modo de pensar e de trabalhar e objetivos a atingir. Surge a

diferenciação: objetivos e interesses diferentes dos demais grupos da

organização. Daí a percepção de objetivos e interesses diferentes e talvez

incompatíveis e incongruentes.

3-Recursos compartilhados: os recursos organizacionais são

limitados e escassos. Essa quantidade fixa de recursos precisa ser distribuída

e alocada entre os grupos da organização, como o capital de giro, valores

orçamentários, salários, créditos, espaço, pessoas, máquinas e equipamentos.

Se um grupo que aumentar sua quantidade de recursos, um outro grupo terá

de perder ou abrir mão de uma parcela dos seus. Isso provoca a percepção de

objetivos e interesses diferentes e talvez incompatíveis e incongruentes.

4-Interdependência de atividades: as pessoas e grupos de uma

organização dependem uns dos outros para desempenhar suas atividades e

alcançar seus objetivos. A interdependência ocorre quando um grupo não pode

realizar a sua tarefa ou alcançar seu objetivo a menos que outro grupo realize

a sua ou alcance o seu. Todos os grupos são altamente interdependentes de

alguma maneira. Quando os grupos são altamente interdependentes, surgem

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oportunidades para que um grupo auxilie ou prejudique o trabalho dos demais.

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CAPÍTULO II

O PROCESSO DE CONFLITO

Segundo Chiavenato (2008, p.457) “ O conflito se desenrola em

um processo dinâmico no qual as partes se influenciam mutuamente. As

condições antecedentes (diferenciação, recursos compartilhados e

interdependência) criam as condições para a ocorrência de conflitos. Uma das

partes percebe que existe uma situação potencial de conflito (incompatibilidade

de objetivos e a oportunidade de interferência) e passa a desenvolver

sentimentos de conflito em relação à outra e se engaja em comportamento de

conflito. A ação de uma das partes conduz a alguma forma de defesa ou de

reação da outra. Dessa reação (que pode ser positiva ou negativa), pode haver

uma intensificação do conflito ou uma forma de resolução”.

Ainda de acordo com o autor (CHIAVENATO, 2008, p.457) “

Episódio de conflito refere-se às etapas do processo em que as partes

interagem conflitivamente, como a percepção do conflito, o comportamento de

conflito de uma das partes, a resolução e o comportamento da outra parte.

Dentre essas etapas do processo, o comportamento de conflito merece uma

explicação melhor”.

1.o conflito nas teorias administrativas

Para compreender melhor o conflito , é necessário lembrar que as

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diferenças individuais existem, o que implica valores, percepções e

considerações morais diferentes, e que nem todos têm acesso às mesmas

informações, nem possuem a mesma experiência de vida. A posição das

pessoas no grupo pressiona-as a assumirem um certo papel, que nem sempre

está de acordo com seus valores.

Os conflitos são inerentes à vida em grupo. A escassez de

recursos para satisfazer todas as necessidades e os desejos individuais,

principalmente de poder e afetividade, geram conflitos intermináveis entre os

membros do grupo.

A trajetória do grupo pode ser entendida como uma contínua

sucessão de conflitos, pois nenhum grupo está livre deles. Nota-se, contudo,

uma tendência a atribuir conotações negativas ao conflito, relacionando-o ao

combate, à briga, à violência, à guerra e à destruição.

O conflito, em si, não é danoso nem patológico. É uma constante

da dinâmica interpessoal, reveladora do nível energético do sistema. Suas

consequências poderão ser positivas ou negativas, construtivas ou destrutivas,

em decorrência do grau de aprofundamento e intensidade, de duração, do

contexto, da oportunidade e do modo como ele é enfrentado e administrado.

O conflito possui numerosas funções positivas. Rompe o equilíbrio

da rotina, mobiliza energia latente do sistema, desafia acomodação de idéias e

posições, desvenda problemas escondidos, aguça a percepção e o raciocínio,

excita a imaginação, estimula a criatividade.

Há muitas maneiras de lidar com os inevitáveis conflitos, desde a

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simples negação, até a resolução adequada. O primeiro passo consiste em

admitir que existe um conflito e que é preciso enfrentá-lo. O reconhecimento da

existência do conflito predispõe as pessoas a agirem e buscarem soluções. É

fundamental identificar a origem do conflito, os envolvidos e a partir deste

diagnóstico buscar a solução.

2.algumas formas de lidar com o conflito

• Evitar – Procura-se um distanciamento do problema e uma posição

neutra com relação a ele, fugindo-se ou até adiando a solução;

• Amaciar – Adesão à paz, evitando outras possíveis soluções. É o

que na linguagem popular se trata como “colocar panos quentes”. Não se

resolve o conflito;

• Impor – Controle do conflito pela força, situação caracterizada pela

imposição, por autoridade-obediência, antagonismo e competição em que o

mais importante prevalecer a sua solução;

• Negociar – Busca de uma solução intermediária em que cada

pessoa cede um pouco, chegando a um acordo;

• Integrar – Abordagem de resolução de problemas em que os

sentimentos e as ideias são expressos abertamente, trabalhando nas

discordâncias para chegar a uma conclusão válida para todos. É caracterizado

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pela confrontação em que os oponentes chegam a um consenso, tornando-se

colaboradores.

As formas de se lidar com o conflito também dependem da fase

em que ele se encontra, isto é, seu grau de extensão, intensidade e

importância e suas consequências no grupo.

A responsabilidade maior de resolução de conflitos cabe ao líder

do grupo, mas não exclusivamente. Cada membro do grupo é também

responsável pelo rumo que as divergências podem tomar, contribuindo para a

identificação ou evolução do conflito.

O conflito pode ser considerado como funcional, contribuindo para

a melhoria de objetivos e resultados e para o crescimento pessoal. Dos

conflitos podem emergir os mecanismos de defesa. Os mecanismos mais

comuns são a fuga (física ou mental) e a agressão (física ou mental): ou a

pessoa se esquiva de lutar para vencer a dificuldade ou descarrega sua

frustração sobre os que a cercam.

Outro mecanismo comum é a conversão: a pessoa não expressa a

ansiedade abertamente e a tensão se descarrega no plano orgânico. Ela

converte a tensão psicológica em sintomas fisiológicos, tais como: dores de

cabeça, úlceras, náuseas, taquicardias, prisão de ventre, desarranjos, alergias,

asmas etc.

Entre os mecanismos de defesa mais comuns na situação

frustrante está a racionalização: o indivíduo racionaliza de forma equivocada,

procurando desvalorizar o objetivo que pretendia alcançar ou encontrando

“vantagens” na situação frustrante. Exemplo clássico é o da raposa que dá a

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desculpa de que não queria mesmo as uvas porque estavam verdes. É

também o caso do estudante que fica a segunda época e racionaliza: “até foi

bom, porque vai me obrigar a estudar o que eu não sabia.”

No mecanismo de regressão a pessoa frustrada assume atitudes

infantis, anteriores ao nível de idade em que se encontra: diante da dificuldade,

chora, bate o pé ou emburra. Em casos mais graves, regride mais: não come,

não fala, não assume responsabilidade nenhuma.

Na projeção, a pessoa não reconhece suas próprias deficiências,

sentimentos e ideias, mas as atribuem aos outros: os outros têm culpa do que

aconteceu, ou outros a perseguem, ou outros são agressivos com ela, ou

outros a rejeitam.

Todas as pessoas usam esses mecanismos de vez em quando.

Porém, quando essas defesas são usadas constantemente é sinal de que a

pessoal está sofrendo um processo de desajuste, de que não está

conseguindo vencer as dificuldades que enfrenta. Então, está na hora de

parar, analisar e buscar uma solução mais sadia.

No processo de relacionamento interpessoal, o indivíduo que

busca um resultado positivo nas relações, sabe utilizar corretamente seus

mecanismos de defesa e também tolera os mecanismos de defesa daqueles

com quem convive.

3.histórico do conflito nas teorias administrativas

No início do século XX, devido às consequências geradas pela

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Revolução Industrial, ou seja, o crescimento acelerado das empresas e a

necessidade aumentar a eficiência e competência das organizações, surge a

Abordagem Clássica da Administração que compreende a Administração

Científica e a Teoria Clássica (Chiavenato, 2000).

A Administração Científica foi iniciada por um engenheiro

americano chamado Frederick Winslow Taylor, o qual, com o objetivo de

aumentar a eficiência nas indústrias, aplicou os métodos da ciência aos

problemas da administração (Chiavenato, 2000).

Na primeira fase da Administração Científica, grande ênfase é

dada à racionalização do trabalho, tanto que em seu livro Shop Management,

publicado em 1903, Taylor fez algumas considerações, tais como a de que o

objetivo da administração é pagar salários melhores e reduzir custos de

produção; que a administração deve ter métodos padronizados para

estabelecer controles; que os funcionários devem ser selecionados e

colocados em locais e condições adequadas para que as normas sejam

cumpridas e que os mesmos devem ser treinados para aprimorar suas

aptidões e executar as tarefas para cumprir uma produção normal (Chiavenato,

2000).

Já na segunda etapa da Administração Científica, ou seja, por volta

de 1911, Taylor partiu do pressuposto de que o operário era um ser não

pensante e, portanto, devia ser supervisionado para conseguir manter

produtividade, sendo obrigado a apresentar uma produção padrão, apesar de

ser remunerado de acordo com a produtividade, a qual poderia ser obtida com

a especialização de tarefas. Nesse tipo de gestão, a divisa social do trabalho

ocorria por meio da repartição das responsabilidades, sendo que à gerência

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cabia o planejamento e, sobre os supervisores recaia a atividade de prestar

assistência contínua ao trabalhador durante a produção (Chiavenato, 2000).

Conforme o autor acima citado, a tentativa de Taylor em substituir

métodos empíricos, até então existentes nas empresas, por métodos

científicos, deu-se o nome de organização racional do trabalho. Esta se

baseava em análise do trabalho por meio de tempos e movimentos; estudos da

fadiga humana; estudos das condições ambientais de trabalho; desenho de

cargos e tarefas; divisão de trabalho e especialização do operário; incentivos

salariais e premio de produção; padronização de métodos e máquinas e

supervisão funcional.

Com relação à divisão do trabalho, a ideia de Taylor era de que a

eficiência aumentava com a especialização, logo, quanto mais especializada

era a tarefa, maior produtividade, ideia esta presente na modalidade utilizada

até os dias atuais pelos operários e denominada de método funcional. O

pressuposto de que o operário sendo especializado em uma tarefa, ajustada a

padrões descritos e a normas de desempenho, estabelecidas pelo método,

aumentava a sua produtividade foi fortemente implantada em linhas de

produção. A partir daí, no entanto, Chiavenato (2000) ressalta que o operário

perdeu a liberdade e a iniciativa de estabelecer sua maneira de trabalhar e

passou a executar tarefas rotineiras.

Quanto à especialização da tarefa, o autor acima diz que a ênfase

sobre as tarefas levou os engenheiros a simplificarem o cargo, no sentido de

obter o máximo de especialização, assim, acreditava-se que uma tarefa

executada ciclicamente e respectivamente aumentava a produção. Além disso,

havia a crença de que a simplificação do cargo levava à redução de erros e

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facilitava o trabalho da supervisão, já que cada supervisor podia supervisionar

um número maior de subordinados. A supervisão funcional significava que o

operário devia ser acompanhado por um supervisor especialista naquela tarefa

e não num indivíduo que centralizava a autoridade.

As experiências de Taylor também indicaram que o trabalhador era

influenciado somente por recompensas salariais, econômicas e materiais, o

qual recebeu a denominação de homo economicus, ou seja, homem

econômico (Chiavenato, 2000).

Chiavenato (2000) ainda afirma que, em 1916, a Teoria Clássica

desenvolvida por Henri Fayol procurou buscar a eficiência das organizações,

porém, partiu do todo e da estrutura para garantir a eficiência das partes

envolvidas, fossem elas órgãos ou pessoas.

Com o objetivo de esclarecer a função administrativa, Fayol definiu

o ato de administrar como sendo prever; organizar, comandar, coordenar e

controlar. O ato de administrar significa perfazer estas etapas, ou seja, desde

visualizar o futuro e traçar o programa de ação até orientar e garantir que as

regras estabelecidas e as ordens dadas sejam cumpridas (Chiavenato, 2000).

Chiavenato (2000, p.63) relata que, apesar de não ignorar os

problemas humanos da organização, esta teoria “não conseguiu dar um

tratamento sistemático à interação entre as pessoas e grupos informais nem

aos conflitos organizacionais”.

O Movimento das Relações Humanas surgiu a partir da década de

30, tendo em vista a necessidade de corrigir a tendência à desumanização no

trabalho, o que até então acontecia devido a métodos rigorosos e precisos aos

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quais os trabalhadores eram submetidos (Chiavenato, 2000).

Pesquisas realizadas por Elton Mayo e seus colaboradores na área

de montagem de “relés” de telefone em uma indústria da Western Company,

localizada no bairro de Hawthorne, em Chicago, contribuíram para o

aparecimento de um cenário favorável nas empresas, procurando solucionar

os problemas de administração por meio da motivação dos indivíduos. Para

Chiavenato(2000), as experiências de Hawthorne permitiram o delineamento

dos princípios básicos do Movimento das Relações Humanas.

Elton Mayo concluiu em sua pesquisa que a produção dos

trabalhadores não é determinada por aspectos físicos e fisiológicos, mas por

normas sociais e expectativas grupais. O pressuposto era que a capacidade

social do trabalhador determina o seu nível de competência e eficiência e não

a sua capacidade de executar movimentos eficientes dentro do tempo

estabelecido. Assim, acreditava-se que a disposição para produzir está

diretamente relacionada com a integração social (CHIAVENATO, 2000, p.74).

As experiências de Mayo também demonstraram que nas

empresas existem as organizações formais e informais, sendo que, na última,

os operários demonstravam interesses diferentes daqueles da organização.

Nesse sentido, já que não havia clima organizacional para a configuração

formal de conflitos, a fim de se protegerem contra a ameaça da administração,

os funcionários manifestavam-se através da produção controlada por padrões

(Chiavenato, 2000).

Conforme Chiavenato (2000), posteriormente à Teoria das

Relações Humanas, surgiu a Teoria Neoclássica, também denominada, por

alguns autores, como Escola Operacional ou Escola do Processo Administra-

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tivo, ou ainda, reconhecida como Abordagem Universalista da Administração.

Para os Neoclássicos, a administração é uma atividade essencial a

todo esforço humano coletivo, seja na empresa industrial, na empresa de

serviços, no exército, nos hospitais, na igreja. O ser humano necessita

cooperar com outras pessoas para atingir seus objetivos, assim, a

administração realiza basicamente a coordenação de atividades grupais

(Chiavenato, 2000).

Esta teoria, conforme o autor citado,considera a organização como

um conjunto de posições funcionais e hierárquicas orientadas para o objetivo

de produzir bens ou serviços onde o grau de autoridade é proporcional ao grau

de responsabilidade assumida pela pessoa. A delegação é estimulada.

A teoria neoclássica também discute a centralização e

descentralização. Na centralização a tomada de decisão restringe-se ao topo

da organização, ao passo que, com a descentralização, a autoridade de tomar

decisões é deslocada para os níveis mais baixos da organização. O

pressuposto colocado é o de que ao existir integração entre os objetivos

organizacionais e dos empregados isto favorecia a redução de conflitos.

A teoria estruturalista da Administração “teve um caráter mais

filosófico na tentativa de obter a interdisciplinariedade das ciências. Parte do

conceito de estrutura (do grego stru = ordenar) com uma composição de

elementos visualizados em relação à totalidade da qual faz

parte”(CHIAVENATO, 2000, p. 222).

Conforme Chiavenato (2000), esta teoria preocupa-se com o todo

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e com o relacionamento das partes na constituição do todo. Suas

características básicas são a totalidade e a interdependência das partes,

ressaltando-se o fato de que o todo é maior do que a simples soma das partes.

Esta teoria estudou as organizações mais amplamente do que a

teoria clássica, a escola das relações humanas e a teoria burocrática,

analisando-as segundo abordagens múltiplas que implicam em integrar tanto o

relacionamento formal, como o informal, dentro e fora das organizações,

considerando-se também importante na vida das organizações as

recompensas salariais, sociais e materiais (Chiavenato, 2000).

Para o autor, ao contrário da teoria clássica e das Relações

Humanas, nas quais a harmonia de interesses entre patrões e empregados

deve ser preservada por uma atitude compreensiva e terapêutica, os

estruturalistas partem do princípio de que os conflitos, apesar de nem sempre

serem desejáveis, são geradores de mudanças e desenvolvimento da

organização.

Ao final da década de 40, surge nos Estados Unidos a teoria

comportamental ou behavorista, com uma nova direção e enfoque para a

teoria administrativa, ou seja, “o abandono das posições normativas e

prescritivas das teorias anteriores e adoção de posições explicativas e

descritivas. A ênfase permanece nas pessoas, mas dentro do contexto

organizacional”(CHIAVENATO, 2000, p. 252).

De acordo com o autor supra, para explicar o comportamento

organizacional, a teoria comportamental fundamenta-se no comportamento

individual das pessoas, melhorando a qualidade de vida das mesmas.

Destacam-se a teoria da motivação de Maslow, baseada nas necessidades hu-

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manas fisiológicas, a teoria de Herberg, baseada nos fatores motivacionais e

as teorias x e y.

A teoria de Herberg indicou que quando os fatores motivacionais

são ótimos provocam a satisfação das pessoas, porém, quando precários,

evitam a satisfação (Chiavenato, 2000). Herberg, conforme ressalta

Chiavenato (2000), propõem o enriquecimento das tarefas ou do cargo, ou

seja, a substituição das tarefas simples por atividades complexas, seguidas do

acompanhamento do crescimento do funcionário. Esta proposta, apesar de

apresentar muitos efeitos desejáveis, pode provocar efeitos indesejáveis, entre

os quais, o surgimento do aumento do conflito, considerando as expectativas

pessoais e os resultados do trabalho nas novas tarefas enriquecedoras,

podendo provocar sentimentos de exploração. Todavia, são considerados

passíveis de negociações.

A teoria X caracterizou-se pela falta de confiança nas pessoas, por

um sistema rígido e autocrático, tendo como foco os objetivos da organização

cujo princípio era de que o homem tinha aversão ao trabalho e necessitava ser

controlado. A teoria Y propunha um estilo de administração participativo,

descentralizado e baseado nos valores humanos e sociais (Chiavenato, 2000).

Na teoria do desenvolvimento organizacional, surgida na década

de 60, pressupõe-se que seja possível conciliar as metas dos trabalhadores

com os objetivos da organização desde que o trabalho seja estimulante,

gratificante e com perspectivas para o desenvolvimento pessoal. Logo, se a

organização proporcionar um ambiente capaz de satisfazer as necessidades

dos indivíduos, estes poderão crescer, expandir-se e encontrar satisfação e

auto-realização ao promover os objetivos da organização (Chiavenato, 2000).

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Destacou-se nessa teoria o valor dos processos grupais. A

principal técnica para trabalhar as relações intergrupais foi considerada a

reunião de confrontação que se constitui em um método de alteração

comportamental realizado a partir da atuação de um consultor interno ou

externo, chamado de terceira parte ou moderador. Assim sendo, quando dois

grupos antagônicos estão em conflito podem ser tratados através de reuniões

de confrontação, nas quais o grupo, além de se auto-avaliar, avalia o

comportamento do outro e a solução dos conflitos é realizada por meio da

negociação ou solução de problemas (Chiavenato, 2000).

Na teoria dos sistemas, que parte do princípio de que toda

organização se insere em um meio ambiente onde se originam recursos

utilizados para o desenvolvimento de sua atividade e para o qual se destinam

os resultados do trabalho, os papéis que as pessoas ocupam são mais

valorizados que as próprias pessoas. Surgiu, então, o conceito de homem

funcional e o conflito que ocorria era o de papéis, isto é, os homens se

relacionam por meio dos papéis que ocupam. Cada papel estabelecendo um

tipo de comportamento e imagem.

De acordo com Chiavenato (2000, p.379), “a Teoria da

Contingência foi um passo além da Teoria dos Sistemas” e estudiosos dessa

teoria defendem que as características das organizações são decorrentes do

que ocorre fora delas. Assim sendo, o conhecimento do ambiente foi

considerado fundamental para a compreensão dos mecanismos

organizacionais.

A teoria da contingência apresentou modelos mais flexíveis e

orgânicos, como a estrutura matricial, a estrutura em rede e a estrutura em

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equipes. Acreditou na existência da variabilidade humana dentro das

organizações e na diferença de personalidades. Assim sendo, ao invés de

padronizar o comportamento humano, as diferenças individuais devem ser

realçadas e respeitadas, bem como as habilidades e capacidades aproveitadas

e canalizadas (Chiavenato, 2000).

Para defrontar-se com o ambiente, a organização utiliza

tecnologias que condicionaram a sua estrutura organizacional e o seu

funcionamento. Acredita-se que para que a organização tenha sucesso ela

deve identificar e localizar as oportunidades antes que outras o façam.

O pensamento nessa teoria sobre os conflitos era de que a

organização pode estabelecer regras e procedimentos para evitar choques de

opiniões diferentes, como também pode incentivar diferentes pontos de vista e

administrar os conflitos por meio de confrontação (Chiavenato, 2000).

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CAPÍTULO III

ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITO

Como dito anteriormente, os conflitos existem desde o início da humanidade, fazem parte do processo de evolução dos seres humanos e são

necessários para o desenvolvimento e crescimento de qualquer sistema

familiar, social, político e organizacional.

É possível pensar inúmeras alternativas para os indivíduos e

grupos lidarem com os conflitos. Estes podem ser ignorados ou abafados, ou

sanados e transformados num elemento auxiliar na evolução de uma

sociedade ou organização.

Se observarmos a história, até há pouco tempo a ausência de

conflitos era encarada como expressão de bom ambiente, boas relações e, no

caso das organizações, como sinal de competência.

Alguns profissionais viam o conflito de forma negativa, como

resultante da ação e do comportamento de pessoas indesejáveis, associado à

agressividade, ao confronto físico e verbal e a sentimentos negativos, os quais

eram considerados prejudiciais ao bom relacionamento entre pessoas e,

consequentemente, ao bom funcionamento das organizações.

1.visão positiva do conflito

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O conflito é fonte de ideias novas, podendo levar a discussões

abertas sobre determinados assuntos, o que se revela positivo, pois permite a

expressão e exploração de diferentes pontos de vista, interesses e valores.

Em alguns momentos, e em determinados níveis, o conflito pode

ser considerado necessário se não se quiser entrar num processo de

estagnação. Assim, os conflitos não são necessariamente negativos; a

maneira como lidamos com eles é que pode gerar algumas reações.

A administração de conflitos consiste exatamente na escolha e

implementação das estratégias mais adequadas para se lidar com cada tipo de

situação.

No dia-a-dia vivemos o conflito de diferentes maneiras: quantas

vezes as pessoas não atravessam nosso caminho, dificultando ou mesmo

impedindo o atingimento de nossos objetivos? Assim, o conflito não deve ser

visto apenas como impulsionador de agressões, disputas ou ataques físicos,

mas como um processo que começa na nossa percepção e termina com a

adoção de uma ação adequada e positiva.

No entanto, sejam eles positivos ou negativos, os conflitos podem

ser considerados úteis pelo papel que desempenham na vida das pessoas. O

chamado comportamento político na organização, também inevitável, tem forte

vinculação com o conflito, pois sua relação é direta, ou seja, quanto mais

conflito mais comportamento político.

Lidar com o conflito implica trabalhar com grupos e tentar romper

alguns dos estereótipos vigentes na organização, sabendo que essas mesmas

estratégias deverão ser repetidas periodicamente.

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Na diferença em se tratar o conflito pode estar o sinal do

saudável, podendo se fazer representar por duas possibilidades para uma

ação mais afetiva: uma negativista, que percebe o conflito como algo

prejudicial, devendo ser evitado a todo custo; e a outra, positivista, entende

que trabalhá-lo é a melhor alternativa, procurando os benefícios que as

diferenças de opiniões e os posicionamentos contrários podem gerar a nível de

aprendizagem pessoal e profissional.

2.tipos de abordagens

De acordo com Chiavenato (2000), as pessoas constituem o

principal ativo da organização. Daí a necessidade de tornar as organizações

mais conscientes e atentas a seus funcionários. As organizações bem-

sucedidas estão percebendo que somente podem crescer, prosperar e manter

sua continuidade se forem capazes de otimizar o retorno sobre os

investimentos de todos os parceiros, principalmente, o dos empregados.

Quando uma organização está realmente voltada para as pessoas, a sua

filosofia global e sua cultura organizacional passam a refletir essa crença. A

Gestão de Pessoas nas organizações é a função que permite a colaboração

eficaz das pessoas – empregados, funcionários, recursos humanos ou

qualquer denominação utilizada – para alcançar os objetivos organizacionais e

individuais.

Como os conflitos são comuns na vida organizacional, o

administrador deve saber desativá-los a tempo e evitar a sua eclosão. Uma

qualidade importante no administrador é sua capacidade de administrar

conflitos (CHIAVENATO, 2008, p.458).

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Ainda segundo o autor (CHIAVENATO, 2008, p.458), o

administrador tem à sua disposição três abordagens para administrar os

conflitos:

1.Abordagem estrutural: O conflito surge das percepções

criadas pelas condições de diferenciação, de recursos limitados

e escassos e de interdependência. Se esses elementos

puderem ser modificados, as percepções e o conflito resultantes

poderão ser controlados. Trata-se de atuar sobre uma das três

condições que predispõem ao conflito, a saber:

•Reduzir a diferenciação dos grupos: Minimizar as

diferenças entre os grupos, identificando objetivos que

possam ser compartilhados por eles. O gerente pode

mostrar aos grupos certos interesses em comum para

que deixem perceber a incompatibilidade de objetivos. A

ameaça externa e o inimigo comum são soluções

utilizadas para localizar um objetivo compartilhado.

Outra maneira de reduzir a diferenciação dos grupos é o

reagrupamento de indivíduos, de maneira que os grupos conflitantes se tornem

parte de uma unidade maior. O pessoal de produção e de vendas – que vivem

quase sempre às turras nas organizações – podem ser colocados juntos em

uma equipe de produto, com a responsabilidade e produzir e vender

determinado produto e ser recompensados na base do desempenho global,

em vez do desempenho individual. Além disso, rodando entre si, os indivíduos

adquirem uma melhor compreensão de outras perspectivas, visualizando

objetivos comuns existentes entre as partes.

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•Interferir nos recursos compartilhados: Outro mecanismo

estrutural é a utilização dos sistemas de recompensas

formais e de incentivos para recompensar o desempenho

conjunto e combinado de dois ou mais grupos e criar um

objetivo comum. Se o bolo de recursos a ser distribuído

não é fixo, isto permite que um grupo ganhe recursos sem

fazer com que o outro perca, tornando vantajoso para

todos os grupos desempenharem bem e cooperarem

entre si.

•Reduzir a interdependência: Para reduzir a

interdependência e suas oportunidades de interferência,

os grupos podem ser separados física e estruturalmente.

Embora percebam a incompatibilidade de seus objetivos,

o baixo nível de interdependência das atividades torna a

interferência distante e reduz a possibilidade de conflito.

2. Abordagem de processo: é a abordagem que procura reduzir

conflitos através da modificação do processo, isto é, de uma

intervenção no episódio do conflito. Pode ser utilizada por uma

das partes em conflito, por pessoas de fora ou por uma terceira

parte (como um consultor, um administrador neutro ou um

diretor da organização). Pode ser realizada de três maneiras

diferentes:

•Desativação do conflito: Ocorre quando uma parte reage

– e não agressivamente – ao comportamento de conflito e

a outra, encorajando um comportamento menos

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conflitante ou desarmando o conflito. Enquanto a reação

conflitante de uma parte provoca idêntico comportamento

da outra, a reação cooperativa tende a provocar idêntica

reação cooperativa da outra.

•Reunião de confrontação entre as partes: Ocorre quando

ponto de e as partes se preparam para um conflito aberto

desativação já foi ultrapassado o através da confrontação

direta e hostil. Reuniões de confrontação servem para

reunir face a face as partes conflitantes, exteriorizar suas

emoções, discutir e identificar as áreas de conflito e

localizar soluções do tipo ganhar ⁄ ganhar antes de

qualquer solução beligerante.

•Colaboração: É utilizada depois de ultrapassada a

oportunidade de desativação e de reunião de

confrontação. Na colaboração, as partes trabalham juntas

cooperativamente para solucionar problemas, identificar

soluções do tipo ganhar ⁄ ganhar ou buscar soluções

integrativas capazes de conjugar os objetivos de ambas

as partes.

3. Abordagem mista: É a administração do conflito tanto nos

aspectos estruturais como nos de processo e inclui

intervenções sobre a situação estrutural e sobre o episódio

conflitivo. A abordagem mista permite duas maneiras

diferentes:

•Adoção de regras para resolução de conflitos: Utiliza

meios estruturais para influenciar o processo de conflito

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(como a adoção de regras e regulamentos para

resolução de conflitos). Determina previamente os

procedimentos e os limites para trabalhar o conflito para

que este seja controlado, conduzindo as partes para a

solução do problema.

•Criação de papéis integradores: Consiste em criar

terceiras partes (equipes de papéis integradores) dentro

da organização, de modo que elas estejam sempre

disponíveis para ajudar na solução do tipo ganhar ⁄

ganhar dos conflitos que surgem. Uma parte em conflito

pode se comunicar com a outra através dessas equipes

responsáveis pela tarefa de comunicação entre as

partes conflitantes. São os chamados “papéis de

ligação” feitos através de pessoal de ligação ou de

equipes de trabalho intergrupais, cuja tarefa é coordenar

o esforço dos grupos potencialmente conflitantes em

direção aos objetivos globais da organização. Ao

contrário do consultor de processo ou da terceira parte,

que são passageiros, os papéis integradores são

permanentes na organização. O gerente pode assumir

um papel integrador sempre que surja a necessidade de

intervir nas condições estruturais na dinâmica do conflito.

É interessante ressaltar que a maneira pela qual as partes

reagem aos conflitos e a maneira pela qual o conflito é solucionado produzem

uma influência poderosa sobre as percepções, sentimentos e comportamentos

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que se seguem, bem como sobre a qualidade da comunicação entre os grupos

(CHIAVENATO, 2008, p.460).

3. estilos de administração de conflitos

De acordo com Chiavenato (2008, p.461), há vários estilos de administração de conflitos. Em um extremo, existem estilos que dão ênfase ao

desejo de satisfazer os próprios interesses (assertividade) e, em outro extremo,

estilos que levam em conta os interesses da outra parte (cooperação). De um

lado, uma dimensão assertiva (tentativa de satisfazer os próprios interesses e

objetivos) e, de outro, uma dimensão cooperativa (tentativa de satisfazer os

interesses de outras pessoas).

Segundo o autor supra (2008, p.461 e 462), a partir dessas duas

dimensões, Kenneth Thomas propõe um modelo que retrata cinco estilos de

administrar conflitos.

1.Estilo de evitação: reflete uma postura nem assertiva

e nem cooperativa, na pretensão de evitar ou fugir ao

conflito. É uma atitude de fuga em que o administrador

procura evitar as situações de conflito, buscando outra

saída ou deixando as coisas como estão para que, com

o tempo, o conflito se torne menos intenso. É usado

quando o problema é trivial, ou quando não há chance

de ganhar ou quando requer tempo para obter

informação ou quando um desacordo pode ser oneroso

ou perigoso. O negócio é se fechar em copas.

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2.Estilo de acomodação: reflete alto grau de

cooperação para suavizar as coisas e manter a

harmonia. Consiste em resolver os pontos menores de

discordância e deixar os problemas maiores para a

frente. Funciona quando as pessoas sabem o que é

errado, quando um assunto é muito importante, quando

se pretende construir créditos sociais para utilizar em

outras situações ou quando manter a harmonia é o

mais importante. O negócio é ir levando com a barriga.

3.Estilo competitivo: é o comando autoritário que reflete

forte assertividade para impor o seu próprio interesse. É

utilizado quando uma ação decisiva deve ser

rapidamente imposta em situações importantes ou

impopulares, em que a urgência ou emergência são

necessárias ou indispensáveis. É a atitude de confronto

e de dominação em que uma parte se engaja em uma

competição do tipo ganhar ⁄ perder forçando o uso da

autoridade. O negócio é ganhar.

4.Estilo de compromisso: reflete uma combinação de

ambas as características de assertividade e de

cooperação. É utilizado quando uma parte aceita

soluções razoáveis para a outra e cada parte aceita

ganhos e perdas na solução. Ocorre quando os

componentes têm igual poder e ambos os lados

querem reduzir as diferenças ou quando as pessoas

precisam chegar a uma solução temporária sem

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pressão de tempo. O negócio é ter jogo de cintura.

5.Estilo de colaboração: ou de solução de problemas.

Reflete elevado grau de assertividade e de cooperação.

O estilo colaborativo habilita ambas as partes a ganhar,

enquanto utiliza a negociação e o intercâmbio para

reduzir diferenças. É utilizado quando os interesses de

ambos os lados são importantes, quando os pontos de

vista das partes podem ser combinados para uma

solução mais ampla e quando o compromisso requer

consenso. O negócio é que ambas as partes ganhem e

se comprometam com a solução encontrada.

Conforme Chiavenato (2008, p. 462 e 463), os estilos de

administração dos conflitos podem criar diferentes resultados.

1.Evitação ou acomodação: Pode criar um conflito do

tipo perder ⁄ perder, no qual nenhuma parte alcança aquilo que pretende e as razões do conflito

permanecem intactas. Embora, o conflito pareça

desaparecer, na realidade, ele voltará no futuro. A

evitação é uma forma extrema de não atenção.

2.Acomodação ou suavização: Destaca as diferenças,

similaridades e as áreas de possível acordo. A

coexistência pacífica e o reconhecimento de interesses

comuns é o seu objetivo. Na prática, a suavização

pode ignorar a essência real do conflito.

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3.Competição ou comando autoritário: Tende a criar

um conflito do tipo ganhar ⁄ perder. Uma das partes

ganha às custas da outra. Em casos extremos, uma

parte alcança o que deseja com a completa exclusão

da outra. Os métodos de ganhar ⁄ perder podem não

atingir as causas profundas do conflito e possíveis

conflitos futuros podem vir a ocorrer. Uma parte

domina a outra, como o gerente que dá ordens aos

subordinados.

4.Compromisso: Tende a criar um conflito do tipo

ganhar ⁄ perder. Ocorre quando cada parte dá algo e

ganha algo de valor. Nenhuma parte fica totalmente

satisfeita e os antecedentes para futuros conflitos ficam

mantidos.

5.Colaboração ou solução de problemas: Tende a

reconciliar diferenças entre as partes. É o estilo mais

eficaz de administração de conflitos. É uma forma de

ganhar ⁄ ganhar, onde os assuntos são discutidos e

resolvidos para benefício mútuo das partes

conflitantes. É alcançada através da confrontação dos

assuntos e da vontade dos envolvidos em reconhecer

o que está errado e que merece atenção. Os assuntos

relevantes são discutidos abertamente.

4.efeitos do conflito

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O conflito pode gerar resultados positivos e negativos. Dentre os resultados positivos e construtivos do conflito estão (CHIAVENATO, 2008,

p.463):

1.O conflito desperta sentimentos e energia dos

membros do grupo que estimulam interesse em

descobrir meios eficazes de realizar as tarefas, bem

como soluções criativas e inovadoras.

2.O conflito estimula sentimentos de identidade no

grupo, aumentando a coesão intergrupal.

3.O conflito é um meio de chamar a atenção para os

problemas existentes e funciona como mecanismo

de correção para evitar problemas mais sérios.

Ainda de acordo com Chiavenato (2008, p. 463), dentre os

resultados negativos e destrutivos do conflito estão:

1.O conflito apresenta consequências indesejáveis

para o bom funcionamento da organização, pois

indivíduos e grupos veem seus esforços bloqueados,

desenvolvendo sentimentos de frustração, hostilidade

e tensão. Isso prejudica tanto o desempenho das

tarefas como o bem-estar das pessoas.

2.Grande parte da energia criada pelo conflito é

dirigida e gasta nele mesmo, prejudicando a energia

que poderia ser utilizada no trabalho produtivo, pois

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ganhar o conflito passa a ser mais importante do que

o próprio trabalho.

3.A cooperação passa a ser substituída por

comportamentos que prejudicam o funcionamento da

organização e influenciam a natureza dos

relacionamentos existentes entre pessoas e grupos.

O conflito pode trazer resultados construtivos ou negativos para

pessoas e grupos e, sobretudo, para a organização como um todo. A questão

primordial é como administrar o conflito de forma a aumentar os efeitos

construtivos e a minimizar os efeitos destrutivos. Essa tarefa cabe ao gerente.

Embora muitas vezes seja um ator envolvido até o pescoço em muitos

conflitos, o gerente deve sempre buscar uma solução construtiva. Para tanto,

deve saber escolher as estratégias de resolução para cada caso. As

abordagens estruturais são mais fáceis de utilizar e exigem menos habilidades

humanas do que as abordagens de processo (CHIAVENATO, 2008, p.463).

Para Chiavenato (2000), as pessoas constituem o principal ativo da

organização. Daí a necessidade de tornar as organizações mais conscientes e

atentas a seus funcionários. As organizações bem-sucedidas estão

percebendo que somente podem crescer, prosperar e manter sua

continuidade, se forem capazes de otimizar o retorno sobre os investimentos

de todos os parceiros, principalmente, o dos empregados. Quando uma

organização está realmente voltada para as pessoas, a sua filosofia global e

sua cultura organizacional passam a refletir essa crença. A gestão de pessoas

nas organizações é a função que permite a colaboração eficaz das pessoas –

empregados, funcionários, recursos humanos ou qualquer denominação

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utilizada – para alcançar os objetivos organizacionais e individuais.

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CONCLUSÃO

A finalidade deste estudo foi analisar a natureza dos conflitos

frente às relações pessoais e grupais, bem como descrever como os mesmos

são abordados e processados em uma equipe de trabalho.

Nos modelos clássicos de gestão, os conflitos eram vistos como

prejudiciais e, na maioria das vezes, ignorados. No entanto, na gestão

contemporânea, o conflito apresenta-se como um fenômeno que faz parte das

organizações, mas que deve ser gerenciado para que promova mudanças e

aumento da criatividade na equipe.

A administração avança para a capacitação dos indivíduos para que

possam reagir criativamente a situações mutáveis e imprevisíveis. As novas

práticas administrativas, consequência de um processo de mudança

necessária nos pressupostos que ainda estão por trás da Administração

tradicional, instituídas pelos mais arrojados líderes empresariais, englobam o

respeito pelo ser humano, à prática da responsabilidade social, o respeito à

cidadania e a construção de uma sociedade global mais qualificada e

humanizada.

Os conflitos ocupam papel de destaque entre os enigmas da

organização. Todo o interesse pelo assunto tem sua razão de ser. Afinal, o que

dizer dos motivos que levam um indivíduo a contrapor ao outro e vice-versa,

senão por questões que envolvem a relação empresas versus pessoas, bem

como, de pessoas versus pessoas.

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No presente trabalho, pode-se constatar que as organizações são

ambientes de relação de pessoas que, por isso mesmo, sofrem a influência

cultural, que são expectativas sociais mais amplas, trazidas pelos insumos

humanos, que desempenham papéis no subsistema técnico das empresas, no

interior da quais se concentram os fatores que põem os homens em contato

direto uns com os outros, nas diferentes formas de competição, conflito e

cooperação.

Admitindo-se daí a manifestação dos conflitos, bem como sua

importância e, ainda, abordando-o como centralidade do estudo, observa-se

que este é percebido como desacordo que se instala pelas divergências de

ideias, quando há choque de papéis e de princípios, entre os envolvidos no

grupo organizacional.

Nem sempre o conflito é prejudicial. Tanto pode ter aspectos

positivos quanto negativos, construtivos ou destrutivos, em decorrência do grau

de aprofundamento e intensidade, de duração, do contexto, da oportunidade e

do modo como ele é enfrentado e administrado.

Nesses casos, o planejamento estratégico sempre converge para o

diálogo e o saber escutar, pois não é possível criar uma visão compartilhada

sem manifestação das visões pessoais. Mesmo porque é essencial que as

empresas incentivem os seus colaboradores a apresentarem seus pontos de

vista e a buscar sintonia com as estratégias das organizações, através do

diálogo e da exposição de seus valores pessoais, fazendo da organização uma

entidade aprendiz, pois um diálogo autêntico estabelece o respeito mútuo.

Vale observar, ainda, que é esse diálogo a única estratégia geradora

da confiança e cooperação entre as partes. Portanto, o remédio para todas as

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modalidades conflitivas.

Um ambiente de trabalho agradável, criativo, competitivo e

diferenciado, para que seus funcionários possam desenvolver suas atividades,

proporciona melhor qualidade de vida, o que acarreta menor geração de

conflitos desnecessários e improdutivos, melhorando a convivência das

pessoas dentro da organização.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. Edição

compactada, Rio de Janeiro: Campus, 2000

_______________. Gestão de Pessoas. Terceira Edição, Rio de Janeiro:

Elsevier, 2008

http:⁄⁄www.rh⁄Portal⁄GrupoEquipe⁄Artigo5683⁄conflitos-internos-e-a-gestao-dos-

recursos-humanos.htm1 – acesso em 25⁄2⁄2010

http⁄⁄www.administradores.com.br⁄informe-se⁄artigos⁄conflitos-nas-

organizacoes⁄23 – acesso em 24⁄3⁄2010

http⁄⁄www.artigonal.com⁄carreira-artigos⁄manual-para-administracao-de-

conflitos-organizacionais – acesso em 16⁄8⁄2010

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 5

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

CONFLITOS ORGANIZACIONAIS 12

1.conceituação 12

2.Desenvolvimento 12

3.Tipos de conflitos 14

4.Níveis de conflitos 15

5.Causas de conflitos 16

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6.Condições antecedentes dos conflitos 18

CAPÍTULO II

O PROCESSO DE CONFLITO 21

1.O conflito nas Teorias Administrativas 21

2.Algumas formas de lidar com o conflito 23

3.Histórico do conflito nas Teorias Administrativas 25

CAPÍTULO III

ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITO 35

1.Visão positiva do conflito 35

2.Tipos de abordagens 37

3.Estilos de administração de conflitos 42

4.Efeitos do conflito 45

CONCLUSÃO 49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

ÍNDICE 53

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: O CONFLITO COMO FENÔNEMO ORGANIZACIONAL

Autor: TANIA CABRAL PIRES

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Avaliado por: Conceito: