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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A AÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA DE QUALIDADE. Por: Flávia Thayse da Silva Garcia Orientadora: Prof.ª Drª. Geni Lima Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A AÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL PARA A

CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA DE QUALIDADE.

Por: Flávia Thayse da Silva Garcia

Orientadora:

Prof.ª Drª. Geni Lima

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A AÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL PARA A

CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA DE QUALIDADE.

Apresentação de monografia ao Instituto a

Vez do Mestre - Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção

do grau de especialista em Orientação

Educacional e Pedagógica.

Por: Flávia Thayse da Silva Garcia

3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus pelo dom da vida e por

ser sempre meu guia em todos os momentos

da minha vida, a minha mãe, Rosangela, pelo

carinho e incentivo para realizar essa tarefa, e

finalmente, a minha orientadora Profª. Geni

Lima, pela compreensão e paciência diante

das minhas dificuldades na elaboração deste

trabalho.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha maravilhosa

mãe, Rosangela, por ser a minha maior

incentivadora e amiga.

5

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo discutir questões sobre a

qualidade da educação que se torna tão importante no cenário de hoje, onde a

competitividade toma conta da nossa sociedade e onde só as pessoas mais

criativas, com alto nível de competência poderão ter a chance de ocuparem

uma posição melhor na sociedade. Nessa perspectiva esse trabalho, também

mostra a figura do Orientador Educacional como possível articulador desse

processo de transformação da escola, através de trabalhos e atividades que

levem à reflexão de todos os atores que fazem parte da escola, principalmente

o corpo docente, levando-os a conscientização e realmente a uma ação para

modificação da sua prática. O sonho de uma escola de qualidade só será

possível se houver esforço de todos que participam do processo educativo,

mas caberá ao Orientador Educacional a tarefa de integrar, discutir e encontrar

juntamente com os pais, alunos e professores maneiras de tornar possível a

transformação da escola num espaço de qualidade. Palavras-chaves:

qualidade – orientação educacional – transformação.

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho consistiu em pesquisas de

livros, abordando um levantamento bibliográfico sobre os temas principais

como: a questão da qualidade e a sua importância no cenário educacional de

hoje, o histórico da orientação educacional e a ação do orientador educacional

como mediador nesse processo de mudança e de construção de uma nova

escola. Com base nestas fontes, foi realizada uma análise reflexiva, extraindo

algumas das ideias de autores destas áreas de conhecimento.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 08

I - A QUESTÃO DA QUALIDADE NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO ........... 10

1.1 – O debate sobre a qualidade das Instituições de Ensino .................. 10

1.2 – O conceito de qualidade ................................................................. 10

1.3 – Os indicadores da qualidade na educação ..................................... 27

II – A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E SUA IMPORTÂNCIA ................... 32

2.1 – Um breve histórico da orientação educacional................................ 32

2.2 – A orientação educacional nos dias atuais .................................... 34

2.3 – O profissional de orientação educacional ......................................35

III – A AÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL PARA

CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA DE QUALIDADE .................................. 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 39

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 41

8

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos a educação tem vivido um momento especialmente

paradoxal e contraditório. Não podemos negar a enorme expansão do

sistema educacional nas ultimas décadas, pelo menos o que diz respeito à

educação básica.

No discurso oficial hoje a educação é apresentada como a grande

responsável pela modernização de nossas sociedades, por suas maiores ou

menores possibilidades de integrar-se no mundo globalizado e na sociedade

do conhecimento, que exigem altos níveis de competência e domínio de

habilidades de caráter cognitivo, científico e tecnológico, assim como o

desenvolvimento de interação grupal, iniciativa e criatividade. A educação é

encarada como esperança de futuro.

No entanto, persistem no nosso país e em vários outros lugares do

mundo, altos índices de analfabetismo, evasão, repetência e desigualdades

de oportunidades educacionais entre diferentes países.

Em muitas sociedades é grave a crise da escola pública e a crescente

fragmentação do sistema de ensino, onde os mais pobres, em geral, só têm

acesso a determinadas escolas públicas, e outras faixas da população, de

maior poder aquisitivo, frequentam as melhores escolas públicas e escolas

particulares consideradas de excelência.

Nessa perspectiva, consideramos de suma importância que as

instituições educacionais, sejam estas públicas ou particulares, possam

oferecer aos seus “clientes”, alunos, uma educação de qualidade. Uma

educação que os levem a transformação de suas próprias vidas e da

sociedade em que eles estão inseridos.

Então, esse trabalho tem como objetivo discutir um pouco sobre a

questão da qualidade e a sua importância no cenário educacional de hoje e

de como a ação do orientador educacional será essencial na transformação

dessa escola que ainda não se modificou frente às variadas mudanças que

vem ocorrendo no mundo.

Assim, no primeiro capítulo falará um pouco sobre a trajetória da

educação e toda essa discussão entorno da qualidade e terminamos o bloco

9

conceituando qualidade e como pensamos que seja o trabalho de uma

instituição que tenha qualidade.

No segundo capítulo trazemos mais especificamente a figura do

Orientador Educacional, fazendo rapidamente um histórico de função no

passado e qual seria a sua função na sociedade de hoje. Tratamos da sua

importância, das suas atribuições e do seu papel fundamental como

mediador nesse processo de mudança e de construção de uma nova escola.

No terceiro capítulo fazemos a junção do papel do orientador

educacional, da sua ação para construção da qualidade da escola. O que

será necessário que o Orientador realize para conseguir atingir as suas

metas de transformação da escola.

E, por fim, as considerações finais que mostrará a necessidade de

uma ação eficaz do Orientador em busca de convencer o seu grupo de

trabalho (corpo docente, diretor, pais, alunos, funcionários) a estarem

mesmos, dispostos a modificar o trabalho, pois nada adiantará estar

consciente que é necessário mudar, se na prática nada é feito para que isso

aconteça.

10

CAPÍTULO I

A QUESTÃO DA QUALIDADE NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

Este capítulo tem por objetivo discutir sobre a questão da qualidade nas

escolas com ensino fundamental, principalmente nas escolas públicas do Rio

de Janeiro, pois está mais próxima da realidade a qual estou inserida no meu

cotidiano.

A questão da qualidade é algo muito complexo, e vem sendo pauta de

grandes discussões nas últimas décadas e inúmeras tem sido as tentativas de

reformar o ensino a fim de modificar os resultados negativos da educação

pública.

Os alunos da escola particular ainda parecem estar mais favorecidos por

esta qualidade, porém a competitividade tem sido tão grande que até as

escolas particulares tem procurado estar mais munidas de aparatos

tecnológicos a fim de se lançarem no mercado com uma educação de cinco

estrelas.

Dessa forma, esse capítulo terá por base apresentar uma discussão de

dados sobre evolução do acesso à escola e suas consequências do ponto de

vista da demanda em articulação com as noções de qualidade do ensino,

evidenciar o conceito sobre qualidade e apresentar indicadores de qualidade

da educação que hoje são utilizados no mundo inteiro e discutir se realmente

são úteis e eficazes para evidenciar uma certa realidade educacional.

1.1 – O DEBATE SOBRE QUALIDADE DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO.

A partir da Constituição Federal de 1988, o ensino fundamental

obrigatório, dos seis aos catorze anos, é gratuito para todos, foi considerado

explicitamente “direito público subjetivo”, podendo os governantes ser

responsabilizados juridicamente pelo seu não oferecimento ou por oferta

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irregular. A Carta de 1988 e sua alteração pela Emenda Constitucional 14/96

determinam que o direito a educação abrange a garantia não só do acesso ao

ensino fundamental, mas também a universalização progressiva do ensino

médio, o atendimento aos portadores de deficiência na rede regular de ensino,

o atendimento às crianças de 0 a 6 anos em instituições de educação infantil e

a oferta de ensino regular noturno para alunos que não concluíram a etapa

obrigatória da idade adequada (Art. 208, II, III, IV, e VI). Completamente, no

inciso VII do artigo 206, afirma-se a “garantia de padrão de qualidade” como

um dos princípios segundo o qual se estruturará o ensino.

A Constituição Federal de 1988 assinalou uma perspectiva mais

universalizante dos direitos sociais e avançou na tentativa de formalizar, do

ponto de vista do sistema jurídico brasileiro, um Estado de Bem-Estar Social

numa dimensão inédita em nossa história. O texto constitucional incorporou

todas as tensões entre a configuração corporativa e autoritária do Estado

brasileiro e as demandas da população pela generalização de um mínimo de

bem-estar econômico e social e pela institucionalização de uma esfera pública

democrática.

Todavia, logo após a promulgação da Constituição, implementam-se no

Brasil políticas ancoradas na visão da necessidade do redimensionamento do

papel do Estado nas políticas sociais e do ajuste fiscal. Isso criou um fosso

entre as conquistas e garantias estabelecidas pela “Constituição cidadã”,

expressão cunhada por Ulisses Guimarães para expressar os avanços no

horizonte político de ampliação e generalização de bem-estar econômico e

social, e as necessidades relativas ao controle e diminuição dos gastos

públicos.

Para a educação, esse contexto representou o acirramento das tensões

entre as expectativas de melhoria da qualidade dos sistemas de ensino e a

disponibilidade de recursos orçamentários para a consecução desse fim. Isso

favoreceu uma perspectiva de qualidade cuja lógica tinha por base as ideias de

eficiência e produtividade com uma clara matriz empresarial, em contraposição

à ideia de democratização da educação e do conhecimento como estratégia de

construção de uma esfera pública democrática. Pablo Gentili (1995), ao discutir

a mudança desse paradigma da busca da igualdade, destaca que o discurso

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da qualidade começou a desenvolver-se na América Latina em contraposição

ao discurso da democratização. Com efeito, se até a década de 1980 podemos

perceber certa identidade entre a ideia de qualidade e a ampliação das

oportunidades de acesso aos serviços educacionais, a partir do princípio de

justiça redistributiva dos bens sociais e econômicos, na década seguinte esses

princípios serão preteridos por aqueles ligados a uma lógica eminentemente

empresarial, ligada às ideias de maior produtividade, com menor custo e

controle do produto.

Até a década de 1980 as demandas da sociedade pelo acesso à escola

e a todos os “bens sociais e econômicos” que as oportunidades educacionais

oferecem, bem como a satisfação dessas demandas pelo Poder Público

caracterizou a ampliação quantitativa da escolarização. A demanda pela

ampliação de vagas era muito mais forte do que a reflexão sobre a forma que

deveria assumir o processo educativo e as condições necessárias para a oferta

de um ensino de qualidade. Foi a incorporação quase completa de todos à

etapa obrigatória de escolarização que fez emergir o problema da qualidade

em uma configuração inteiramente nova. Celso Beisiegel (1981), num artigo em

que defende o processo de democratização do ensino contra as críticas

conservadoras, afirma que:

(...) na verdade, a escola não perdeu qualidade, na medida em que ela foi

se alargando, se estendendo a setores cada vez mais amplos da

população. A escola mudou. Aquilo que era a escola secundária do

passado já não é mais a escola de 1º grau do presente. Aquela escola

atendia uma certa faixa bem definida da população; aquela escola estava

perfeitamente harmonizada com as suas funções propedêuticas, ao passo

que aquela mesma escola, com as ligeiras modificações que foram

introduzidas nela, já não está perfeitamente articulada com a composição

de sua clientela hoje. O latim já não teria sentido na formação comum de

todos os cidadãos, realizada pela escola de 1º grau junto à totalidade das

crianças do país. O latim é um exemplo radical, mas aquele mesmo

quadro contextual que explica a presença do latim na escola secundária

do passado é o quadro contextual que se mobiliza par apontar falhas na

escola do presente (p.52).

É exatamente a qualidade como um direito daqueles que foram

incorporados à escola nas últimas décadas que pretendemos refletir. Não a

qualidade saudosista da escola do latim, da retórica e da erudição, mas a

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qualidade possível e necessária no contexto de quase universalização da etapa

obrigatória de escolarização.

Qualidade é uma palavra polissêmica, ou seja, comporta diversos

significados e por isso tem potencial para desencadear falsos consensos, na

medida em que possibilita interpretações diferentes do seu significado segundo

diferentes capacidades valorativas.

Em termos genéricos o conceito de qualidade vem sendo bastante

utilizado no processo produtivo. Temos discursos que evocam a qualidade total

e a necessidade de melhoria da qualidade para aumentar a competitividade do

produto brasileiro. Basta abrir qualquer jornal de negócios e o termo qualidade

estará lá. Contudo, é preciso chamar a atenção para os dois sentidos que o

termo qualidade comporta no mundo dos negócios ou na administração em

geral.

O primeiro sentido é o de qualidade relacionada a um produto. No

processo produtivo, é possível desenvolver determinado processo para

produzir um produto de melhor qualidade, havendo toda a organização de um

processo para produzir a melhor caneta ou a caneta com amis qualidade, por

exemplo. Todo processo é organizado a partir da ideia da obtenção de um

produto de qualidade.

A questão colocada nesses termos não tem preocupação com os custos,

pois o que importa é que o produto (caneta) tenha a melhor qualidade possível.

Então, estamos falando de uma qualidade de produto. Porém, no mercado

existe desde a caneta de qualidade muito boa, passando pela caneta de

qualidade média até a caneta sem nenhuma qualidade. Isso porque existe uma

variável muito importante que é o custo, uma vez que o mercado é segmentado

e nem todo mundo que precisa comprar uma caneta, deseja a caneta de maior

qualidade possível. O critério para a compra pode ser a caneta mais barata.

Portanto, haverá produtor disponível e interessado em produzir a caneta para a

pessoa que quer a caneta de menor qualidade e menor custo.

Dessa forma, estamos identificando o outro sentido de qualidade que é o

relacionado ao melhor processo para se atingir o fim desejado. Supondo que a

meta é a produção de uma caneta de baixa qualidade, ou de qualidade média,

14

haverá um processo ideal ou um processo mais próximo do ideal para produzir

a caneta com a maior economia possível. Isso é o que podemos denominar

qualidade de processo.

Essa distinção é importante na medida em que chama a atenção para o

fato de o conceito de qualidade, mesmo no mundo dos negócios, carregar

significados e procedimentos distintos. É importante também para não

perdermos de vista que uma parte significativa do debate sobre qualidade na

educação é importada do mundo dos negócios e, ainda assim, neste âmbito

restrito, embute sentidos distintos.

No que se refere especificamente à área de educação, o que significa

qualidade? O que significa uma educação de qualidade? Provavelmente, essa

questão terá múltiplas respostas, segundo os valores, experiências e posição

social dos sujeitos. Uma das formas para se apreender essas noções de

qualidade é buscar os indicadores utilizados socialmente para aferi-la. Nessa

perspectiva, a tensão entre qualidade e quantidade (acesso) tem sido o

condicionador último da qualidade possível, ou de outra forma, a quantidade

(de escola) determina a qualidade (de educação) que se queira.

De um ponto de vista histórico, na educação brasileira três significados

distintos de qualidade foram construídos e circularam simbólica e

concretamente na sociedade: um primeiro, condicionado pela oferta limitada de

oportunidades de escolarização; um segundo, relacionado à ideia de fluxo,

definido como número de alunos que progridem ou não dentro de determinado

sistema de ensino e; finalmente, a ideia de qualidade associada à aferição de

desempenho mediante testes em larga escala.

O primeiro indicador foi condicionado pela oferta limitada. Isso significa

que a primeira noção de qualidade com a qual a sociedade brasileira aprendeu

a conviver foi aquela da escola cujo acesso era insuficiente para atender a

todos, pois o ensino era organizado para atender aos interesses e expectativas

de uma minoria privilegiada (Beisiegel, 1986). Portanto, a definição de

qualidade estava dada pela possibilidade ou impossibilidade de acesso. As

estatísticas educacionais brasileiras evidenciam, por exemplo, que na década

de 1920 mais de 60% da população brasileira era de analfabetos.

15

A democratização das oportunidades de acesso e a expansão da rede

de escolas básicas a contingentes cada vez maiores da população romperam

com a conjunção harmônica entre qualidade e escola de elite. A qualidade,

nesse caso, decorria fundamentalmente de rigorosos mecanismos de seleção

extra e intra-escolares (Mello, 1979). Assim, quando nos deparamos com

evocações saudosas da qualidade da escola do passado, há que se levar em

conta que estamos falando de uma escola que já era diferenciada pela clientela

atendida. Nesse sentido, Mariano Enguita destaca que:

Presumia-se que o que era ou parecia ser bom para os que até então

vinham desfrutando-o com exclusividade também o seria para os

demais. Entretanto, a única coisa que com segurança tinha de

indiscutivelmente “bom” era a exclusividade, e isto foi justamente a

primeira coisa que foi perdida. Perdida essa característica, era

apenas uma questão de tempo que os setores recém-incorporados a

cada nível de ensino, e inclusive os mesmos que já o frequentavam

antes, se perguntassem sobre se necessariamente tinha este que

continuar sendo o que era ou se, pelo contrário, deveria adaptar-se

melhor à diversidade de expectativas e interesses de seu público

ampliado (1995, p.97).

O problema da qualidade na educação é uma preocupação mundial que

foi progressivamente se tornando central no debate educacional a partir da

década de 1940 quando tem início, inclusive no Brasil, um processo

significativo de expansão das oportunidades de escolarização da população.

Foram incorporadas parcelas da população que antes não tinham acesso à

educação e cujas experiências culturais eram diferentes daqueles que antes

constituíam o grupo de usuários da escola, ou seja, com o processo de

expansão das oportunidades, a escola incorporou as tensões, as contradições

e as diferenças presentes na sociedade.

O fenômeno da expansão da escolarização nas ultimas décadas do

século passado pode ser percebido mediante a observação simples de que o

nível de escolarização formal de uma geração é sempre maior que o da

geração anterior. Assim, em praticamente todos os estratos sociais, os jovens

têm hoje um nível de escolarização formal maior que o dos pais e avós.

16

Em que pese todo esse processo de expansão da escolarização em

nível mundial, só recentemente o Brasil atingiu índices de escolarização

obrigatória alcançados por muitos países europeus desde o início da segunda

metade do século passado. Hoje, praticamente todas as pessoas com idade de

frequentar a escola estão recebendo educação formal. O índice nacional,

segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é de 94,9% e,

segundo o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) é de

97,1%. No estado de São Paulo é de 99,2%. Se compararmos o numero de

vagas existentes no ensino fundamental com a população de 7 a 14 anos no

Brasil, que é a população que deve estar na escola, podemos observar que há

mais alunos matriculados do que a população que deveria estar no ensino

fundamental desde meados da década de 1980.

A partir dessa lógica da existência de um primeiro critério de qualidade

condicionado pela oferta limitada, a politica educacional erigida pra fazer frente

à demanda por escolarização era relativamente simples: bastava construir

prédios escolares. Os políticos brasileiros, via de regra, ficaram divididos entre

as reinvindicações populares pela ampliação das oportunidades de

escolarização, mediante a construção de mais escolas, e as exigências de

racionalidade administrativa relativas ao equilíbrio nos orçamentos dos

executivos (Beisiegel,1964). Assim, a partir de 1940 a politica de ampliação das

oportunidades de escolarização concentrou-se, basicamente, na construção de

prédios escolares, na compra de material escolar, muitas vezes de segunda

categoria, e na precarização do trabalho docente pelo aviltamento dos salários

e das condições de trabalho.

Com isso, nunca houve, de fato, um debate público consistente sobre a

melhoria da qualidade do ensino oferecido pela escola pública brasileira. Os

nossos políticos primaram pela construção de escolas para toda a população,

sem que fosse dada a ênfase necessária na questão da qualidade do ensino a

ser oferecido por essas escolas. Houve mesmo muitos políticos que

consolidaram a sua carreira exercendo o papel de porta-vozes das demandas

das periferias por serviços públicos de educação. Caso típico, nesse sentido, é

do Jânio Quadro, eleito vereador em 1947, na cidade de São Paulo, como

17

defensor dos interesses da periferia por expansão da rede de escolas naquelas

regiões (Sposito, 1984).

Ser, por um lado, o primeiro indicador de qualidade incorporado na

cultura escolar brasileira foi condicionado pela oferta limitada e um dos seus

principais efeitos foi à política de expansão da oferta pela ampliação da rede

escolar, por outro, a ampliação das oportunidades de escolarização da

população gerou obstáculos relativos ao prosseguimento dos estudos desses

novos usuários da escola pública, visto que não tinham as mesmas

experiências culturais dos grupos que tinham acesso à escola anteriormente, e

esta não se reestruturou para receber essa nova população.

Dessa forma, os obstáculos à democratização do ensino foram se

transferindo do acesso para permanência com sucesso no interior do sistema

escolar. Um dos obstáculos conhecidos era o exame de admissão ao ginásio

que constituía um verdadeiro “gargalo”, pois após a conclusão da 4ª serie do

antigo ensino primário havia uma expressiva diminuição dos que efetivamente

conseguiam ingressar no ginásio, ou seja, diminuía o número daqueles que

prosseguiam os estudos.

Quando foi eliminado o exame de admissão (Lei 5692/71), essa

passagem do ponto de vista formal, se tornou um pouco mais fácil. Porém, teve

início um novo tipo de seletividade que deu origem a um outro conceito de

qualidade, agora relacionado à ideia de fluxo, definido como número de alunos

que progridem dentro de determinado sistema de ensino. Assim, no final dos

anos 1970, e nos anos 1980, um segundo indicador de qualidade foi

incorporado ao debate educacional no Brasil. A partir da comparação entre a

entrada e a saída de alunos do sistema de ensino era medida a qualidade da

escola. Se a saída se mostrasse muito pequena em relação à entrada, a escola

ou o sistema como um todo teria baixa qualidade.

Com uma politica pouco direcionada da expansão da escolarização

mediante a construção de escolas, o Brasil, apesar do aumento expressivo do

numero de matriculas na etapa obrigatória de escolarização, chegou ao final da

década de 1980 com uma taxa expressiva de repetência: de cada 100 crianças

que ingressavam na 1ª série, 48 eram reprovadas e 2 evadiam (INEP, 1998), o

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que evidenciava a baixa qualidade da educação oferecida à população

brasileira.

A década de 1990 é marcada pela tendência de regularização do fluxo

no ensino fundamental por meio da adoção de ciclos de escolarização, da

promoção continuada e dos programas de aceleração da aprendizagem que

foram difundidos a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação (Lei 9394/96), mas que já vinham sendo adotados em vários estados

e municípios desde a década de 1980.

Com essas medidas houve uma queda expressiva na taxa de repetência

traduzida em um número maior de alunos atingindo as séries finais do ensino

fundamental, pois entre 1975 e 2002 a matrícula do1º ano ao 5º ano do ensino

fundamental, diminuiu 16,1%, enquanto que a matrícula do 6º ao 9° ano do

ensino fundamental cresceu na mesma proporção. Essas taxas podem ser

explicadas, apenas em parte, pela adoção do sistema de ciclos em alguns

Estados, pois, mesmo anteriormente à adoção desse tipo de organização

didática já se observava uma tendência de redução dessas taxas, devido as

orientações políticas de combate à reprovação que não se explicitaram em

arranjos organizativos. Atualmente, é possível observar que a distribuição

percentual da matrícula por série contínua com uma tendência de distribuição

mais equitativa entre as séries do ensino fundamental.

Entre 1975 e 1984, o percentual de matriculas no 1° ano do ensino

fundamental representava 30% do total de matrículas no ensino fundamental. A

partir de 1985, há um ligeiro declínio, que será mais acentuado na década de

1990, quando a taxa média de matrícula no 1° ano do ensino fundamental cairá

para 20%. Para todo o período (1975 a 2002), a diferença das taxas de

matrícula no 1° ano foi de 12,7%. Ao mesmo tempo pode-se perceber que

houve uma ampliação de 4,5% dos alunos que chegam ao 9º ano, significando

que praticamente o dobro de alunos está chegando ao final da etapa

obrigatória de escolarização. Contudo, se compararmos o cenário de

ampliação das possibilidades de ingresso e de trânsito entre as séries com o

percentual de ampliação do número de alunos que chega ao 9º ano, podemos

19

facilmente chegar à conclusão de que ficou muito mais fácil entrar no ensino

fundamental, mas contínua muito difícil concluí-lo.

Outro aspecto interessante e que corrobora a conclusão acima é que

havia grande concentração de matrícula do 1º ano ao 5º ano do ensino

fundamental, de 1975 a 1998, com crescimento constante durante todo o

período. Todavia, os quatro últimos anos (1999 a 2002) evidenciam uma

tendência de diminuição da matrícula nos quatro primeiros anos de

escolarização obrigatória. Ao mesmo tempo é considerável o aumento da

matrícula nas séries finais do ensino fundamental. Enquanto que a matrícula

nas séries iniciais cai de patamares em torno de 70% para 55% no período

analisado, a matrícula nas séries finais sobe de 29% para 45%.

A adoção de ciclos, da promoção automática e de programas de

aceleração da aprendizagem incidem exatamente na questão da falta de

qualidade, evitando os mecanismos internos de seletividade escolar que

consistiam basicamente na reprovação e na exclusão pela expulsão

“contabilizada” como evasão. Pode-se discutir se essas políticas e programas

surtem o efeito de melhoria da qualidade de ensino. Na verdade, o seu grande

impacto se observa nos índices utilizados até então para medir a eficiência dos

sistemas de ensino, não incidindo diretamente sobre o problema.

Se o combate à reprovação com políticas de aprovação automática,

ciclos e progressão continuada índice sobre os índices de “produtividade” dos

sistemas, gera-se um novo problema, na medida em que esses mesmos

índices deixam de ser uma medida adequada para aferir a qualidade. Se

existem políticas e programas que induzem a aprovação, a tarefa de aferir a

qualidade num sistema com um índice de conclusão igual ou superior a 70%

torna-se mais complexa.

A partir dessa dificuldade, a educação brasileira vem incorporando um

terceiro indicador de qualidade relativamente novo entre nós, mas difundido em

outros países há mais tempo, particularmente nos Estados Unidos, que é a

qualidade indicada pela capacidade cognitiva dos estudantes aferida mediante

testes padronizados em larga escala, nos moldes do SAEB (Sistema Nacional

de Avaliação da Educação Básica), do ENEM (Exame Nacional do Ensino

20

Médio) e do Exame Nacional de Cursos, conhecido como Provão, para o

Ensino Superior, mesmo considerando as suas metodologias diferenciadas. A

partir de diretrizes e de matrizes curriculares para as diferentes etapas e níveis

de escolarização são preparados exames padronizados que, em tese, aferem o

conhecimento que o aluno tem dos conteúdos prescritos para essa etapa ou

nível de escolarização. Com a aplicação do teste, o pressuposto é que seja

possível avaliar, segundo esta lógica, se o aluno aprendeu ou não aqueles

conteúdos. Essa aferição da qualidade ainda encontra muita resistência entre

os profissionais da educação porque não faz parte da nossa história e da nossa

cultura educacional pensar a qualidade enquanto medida, apesar da

importância socialmente atribuída aos exames vestibulares na difusão de certo

padrão de qualidade de ensino.

Apesar da resistência dos profissionais da educação à aferição da

qualidade mediante os testes padronizados, em relação ao ensino

fundamental, etapa obrigatória de escolarização, os resultados permitem a

constatação de que a ampliação do acesso a esse nível de escolarização, não

eliminou as fortes desigualdades regionais e internas aos próprios sistemas.

Exemplo disso é que a educação brasileira tem superado gradativamente o

problema do fluxo no ensino fundamental, mas de forma bastante desigual,

pois enquanto os estados das regiões sul e sudeste diminuíram a taxa de

distorção série-idade para patamares em torno de 30%, nos estados do

nordeste brasileiro essa taxa permanece em torno de 60%.

Enquanto entre 1995/1996 a taxa média nacional de repetência era de

30,2%, os estados da Região Norte e Nordeste apresentavam taxas de

repetência de 37% e 38% respectivamente e nos estados das regiões sul e

sudeste esse índice era de 22%, representando uma diferença de quinze

pontos percentuais. Na posição intermediária situavam-se os estados da região

centro-oeste, com uma taxa de 30% para o mesmo período. Cinco anos

depois, no período de 1999/2000, e apesar das medidas de regularização do

fluxo escolar, os estados da região norte e nordeste continuam apresentando

os maiores índices de repetência tanto em relação à média nacional quanto em

relação às médias das outras regiões. Nesse período, para uma taxa nacional

de repetência de 22%, os estados da região sul e sudeste apresentam índices

21

em torno de 16%, ao passo que os estados das regiões norte e nordeste

apresentam taxas de 27% e de 30% respectivamente.

Outro indicador das desigualdades regionais na oferta dos serviços

educacionais é a taxa de distorção idade-série (DIS). Os estados da região

sudeste reduziram suas taxas de DIS de 36,7% em 1995/1996 para 30% em

1999/2000. Os estados da região sul mantiveram os índices de 27% e no

centro-oeste também houve declínio de seis pontos percentuais (de 45% para

39%) para uma redução em nível nacional de 5,3%. Todavia, os estados das

regiões norte e nordeste, em que pese o efeito geral de redução das taxas de

DIS, apresentam índices de 53% e 58% respectivamente, enquanto a média

nacional é de 41,7%.

As desigualdades regionais acentuadas nas taxas de aprovação,

repetência, e vasão e distorção idade-série ficam evidentes, a partir dos quais

podemos concluir que houve uma melhoria geral da produtividade dos sistemas

de ensino, traduzida na regularização do movimento e do rendimento escolar,

todavia essa melhoria ocorreu sem eliminar as históricas desigualdades tanto

do ponto de vista social quanto do ponto de vista regional.

No ano de 2000 os dados revelam a permanência de gritantes

desigualdades nas taxas de aprovação, reprovação e evasão. É possível

observar que o nordeste, com um total de matriculas muito próximo do número

de matriculas da região sudeste concentra-se 46% do total das taxas de

reprovação do país e ainda 53% das taxas de afastamento por abandono.

Assim, as medidas de correção do fluxo escolar têm atingido apenas

parcialmente o quadro de iniquidades da educação brasileira, fazendo com que

o direito à educação cumpra apenas de forma precária e pouco efetiva o seu

ideal igualitário e emancipador.

Com efeito, os números apresentados indicam que, apesar da ampliação

do acesso à etapa obrigatória de escolarização observado nas últimas

décadas, o direito à educação tem sido mitigado pelas desigualdades tanto

sociais quanto regionais, o que inviabiliza a efetivação dos dois outros

princípios basilares da educação entendida como direito: a garantia de

22

permanência na escola e com nível de qualidade equivalente para todos. Como

garantir então essa qualidade? Que qualidade é essa que estamos falando?

1.2 – O CONCEITO DE QUALIDADE

É encontrar um tema tão difundido e com tantos defensores como o da

qualidade. Em todos os âmbitos da vida, a palavra “qualidade” está presente

para garantir o atrativo do que é apresentado ou ao que se deseja alcançar.

Qualidade associa-se ao valor, à excelência, àquilo que é digno de

reconhecimento, à obra bem-acabada. A palavra “qualidade” pretende

outorgar um seio de garantia e de reconhecimento à realidade á qual se aplica.

Qualidade também é um anseio, um desejo de perfeição, um objetivo do qual

se aproximar, mas que nunca se consegue totalmente. De uma forma ou de

outra a qualidade está presente em todas as utopias contemporâneas.

A educação compartilha essa visão e inclui entre seus objetivos

principais a consecução da qualidade. Se observarmos o contexto histórico no

qual emerge e consolida-se a preocupação com a qualidade, vemos que

diversos foram os fatores que levaram a reclamar a uma maior qualidade do

ensino com objetivo de resolver esses problemas.

Dessa forma, podemos dizer que sob esse conceito de qualidade

coexistem motivações, estratégias e finalidades diferentes. A ênfase na

excelência dos alunos mais capazes visa melhorar a qualidade do ensino. O

esforço para conseguir uma educação satisfatória para os alunos com

problemas de aprendizagem também tem como objetivo um ensino de

qualidade. A competição entre as escolas para obter o favor dos pais e a sua

escolha quando estes têm de se decidir por um colégio é, para alguns, um

estratégia válida para melhorar a qualidade do ensino; para outros, isso faz

com que a escola abandone seus objetivos educacionais e afasta-se dos

critérios básicos que definem qualidade.

Porém, não é simples definir qualidade, pois existem múltiplas

aproximações que refletem ideologias, concepções e expectativas diferentes.

23

Os diversos grupos sociais e os setores que constituem a comunidade

educativa às vezes apresentam propostas de mudança, teoricamente

vinculadas à melhoria da qualidade do ensino, que são rejeitadas pelos demais

setores afetados. Professores e pais, por exemplo, nem sempre concordam

sobre o melhor funcionamento de uma escola: jornada escolar, horários,

disciplina, sistemas de avaliação e de promoção. Um caminho para “desbastar”

o conceito de qualidade na educação é considerar os objetivos que se coloca a

educação. Esclarecer essas finalidades facilita uma primeira aproximação da

definição de qualidade.

Então Marchesi & Martín (2003) em seu livro: Qualidade de ensino em

tempos de mudança cita Aspin, Chapman e Wilkinson (1994) que, ao elaborar

sua teoria sobre qualidade, abordam as diferentes metas perseguidas pelo

sistema educacional que devem ser levadas em conta nesse processo.

Destacam três conjuntos de objetivos que têm que ser considerados de forma

inter-relacionada.

1. Comunicação da civilização. A partir dessa perspectiva, uma

educação de qualidade deveria ser capaz de transmitir aos alunos

o conhecimento e o apreço de um amplo número de valores

culturais, entre os quais se incluem os artísticos, literários e

criativos.

2. Resposta às necessidades imediatas dos alunos. No marco deste

objetivo, todos os alunos disporiam das experiências e das

oportunidades que lhes permitiriam atingir níveis suficientes de

satisfação pessoal em suas vidas.

3. Preparação para responder às necessidades da sociedade. Os

alunos seriam capazes de atuar na sociedade, não apenas se

adaptando a seus requisitos, mas também intervindo de forma

ativa na configuração dessa mesma sociedade, não apenas se

adaptando a seus requisitos, mas também intervindo de forma

ativa na configuração dessa mesma sociedade da qual fazem

parte. (pág. 21)

A qualidade da educação, por este enfoque que enfatiza a socialização

das pessoas e do seu compromisso com a comunidade, não pode reduzir-se à

24

obtenção de determinados níveis de rendimento escolar dos alunos. Deve

incluir também o conjunto de aprendizagens relacionadas com o seu

desenvolvimento pessoal, afetivo, social, estético e moral.

Porém, os indicadores fundamentais da qualidade da educação não

podem ser limitados apenas aos progressos nas aprendizagens dos alunos,

seus resultados, por mais amplos que sejam considerados. Os resultados dos

alunos são influenciados por seu nível inicial, que depende em grande parte de

suas condições socioculturais e familiar. A qualidade do ensino deve levar em

conta as finalidades gerais da educação, o contexto em que se produz e o

conjunto de seus processos.

Segundo Marchesi & Martín (2003) essa visão mais ampla da educação

está contida na definição sintética proporcionada por Mortimore (1991):

A escola de qualidade é aquela que promove o progresso dos alunos

em uma ampla gama de êxitos intelectuais, sociais, morais e

emocionais, levando em conta seu nível socioeconômico, seu meio

familiar e sua aprendizagem anterior. Um sistema escolar eficaz é

aquele que maximiza a capacidade das escolas de alcançar esses

resultados. O que supõe adotar a noção de valor adicionado na

eficácia escolar. (2003, p.21).

Marchesi & Martín (2003) prosseguem afirmando que a formulação de

Mortimore tem mencionado corretamente, em algumas breves linhas, quatro

aspectos fundamentais da qualidade: o rendimento educativo dos alunos em

sentido amplo, os condicionamentos sociais e pessoais anteriores, o papel das

escolas e o papel do sistema educacional de facilitar que asa escolas consigam

melhores resultados. Contudo, deixam de fora da definição outras duas

características que devem ser incorporadas para uma concepção mais

completa da qualidade: os resultados não devem referir-se exclusivamente aos

alunos, nem se pode tratá-los todos por igual.

Dessa forma, apesar de haver uma convicção de que os êxitos

educativos dos alunos são um critério fundamental para o nível de qualidade

alcançado por um sistema educacional não deve fazer esquecer que há outros

resultados que devem ser levados em conta: a participação da comunidade

25

educativa no funcionamento da escola e seu grau de satisfação com os

objetivos alcançados; a satisfação profissional dos docentes, particularmente

no que se refere ao seu desenvolvimento profissional e ao cumprimento de

suas expectativas razoáveis; a influência da escola na sociedade, em seu

ambiente mais próximo e em relações com outras instituições, como

administração municipal, associações, centros profissionais ou de trabalho, etc.

Os professores, a comunidade educativa e incidência social da escola também

são objetivos que devem estar presentes ao avaliar os resultados obtidos.

Assim, Marchesi & Martín (2003) evidenciam que todos os enfoques

sobre qualidade do ensino admitem a necessidade de que o sistema

educacional assegure a melhor educação possível para todos os alunos.

Segundo eles, uma relativa maioria, não todos, leva em conta, como menciona

Mortimore em sua definição, a importância do nível socioeconômico prévio dos

alunos ao avaliar os resultados obtidos.

Dessa forma, Marchesi & Martín, na tentativa de um conceito mais

amplo de qualidade onde aqueles que se encontram em situações de

desvantagens por ter algum tipo de incapacidade física, psíquica ou sensorial,

ou por estar em situações sociais e culturais desfavorecidas possam também

ser contemplados formulam uma definição que consideram mais completa de

qualidade educativa:

Uma escola de qualidade é aquela que estimula o desenvolvimento

das capacidades cognitivas, sociais, afetivas e morais dos alunos,

contribui para participação e a satisfação da comunidade educativa,

promove o desenvolvimento profissional dos docentes e influi com

sua oferta educativa em seu ambiente social. Uma escola de

qualidade leva em conta as características de seus alunos e de seu

meio social. Um sistema educacional de qualidade favorece o

funcionamento desse tipo de escolas e apoia particularmente aquelas

que escolarizam alunos com necessidades educativas especiais ou

que estão situados em zonas socialmente ou culturalmente

desfavorecidas (2003, p.22).

Partindo dessa ideia, podemos dizer que a escola de qualidade é aquela

que superou seus velhos paradigmas onde vigorava a visão conservadora de

que as escolas de qualidade são as que enchem as cabeças dos alunos com

datas, fórmulas, conceitos justapostos, fragmentados, etc. E a que se adaptou

26

cada vez mais as mudanças e as exigências dessa sociedade pós-moderna

que leva em conta a realidade individual de seus alunos, valorizam os seus

profissionais da educação e abre um amplo espaço para que a comunidade

participe das atividades da escola.

Portanto, como define Mezomo (1994), a escola de qualidade é uma

instituição que cumpre a sua missão que está comprometida com o pleno

atendimento das necessidades de seus clientes.

Assim sendo, a “qualidade” supõe a existência de uma missão

corretamente concebida, definida e praticada e um resultado (serviço ou

produto) que responda plenamente às necessidades e expectativas de quem o

recebeu.

Nesse sentido a escola de qualidade é aquela que entende a sua

missão, que é dinâmica como a própria sociedade em que ela se encerra. Mas

não basta ter uma missão definida. É preciso que a escola elabore uma politica

de qualidade, estabeleça seus princípios, crie um sistema, desenhe uma

estrutura, estabeleça um controle e avalie os resultados.

Segundo Mezomo (1994) a escola de qualidade é aquela que busca: a

adequação do ensino à missão da escola; o uso racional dos recursos; a

segurança do ensinamento (confiabilidade); a ética do relacionamento:

professor-aluno, aluno-sociedade e escola-sociedade; e a satisfação das

necessidades do cliente;

E o próprio Mezomo (1994) resume essa ideia dizendo que a escola de

qualidade seria:

A escola que tem por missão oferecer programas educacionais de

elevada e crescente qualidade (na sua área de atuação), que

maximizem todo o potencial dos alunos e os prepare para enfrentar

os desafios de um mundo em permanente mudança, para continuar

sua própria educação e para viver a cidadania. (1994, p. 178).

27

1.3 – OS INDICADORES DA QUALIDADE NA EDUCAÇÃO

A exigência de maior qualidade nos sistemas educacionais está

estreitamente relacionada com o desenvolvimento de indicadores para analisar

seu funcionamento. Por isso, não é de se estranhar que nas últimas décadas

tenha havido um grande impulso em sua elaboração.

Os indicadores pretendem informar sobre o funcionamento da educação,

detectar os problemas e chamar atenção para o que está ocorrendo. Como

assinala Marchesi & Martín (2003) em seu livro ao relatar o comentário de

Alejandro Tiana (1997) sobre os indicadores:

Um indicador não é mais que um sinal que permite iluminar e

representar os aspectos da realidade que não são diretamente

acessíveis ao observador. A informação que o indicador proporciona

não estabelece o quer se deve fazer em seguida par resolver o

problema detectado ou para melhorar a situação. (2003, p. 27).

Todavia Marchesi & Martín (2003) continuam no seu livro falando sobre

os indicadores comentando a ideia apresentada por Nuttal (1994) que diz que

os indicadores também facilitam a elaboração de estratégias.

Na verdade, não existe um consenso suficiente na definição de

indicador. Diante dos enfoques mais quantitativos e informativos, que são os

mais frequentes, surgem propostas que reclamam um enfoque mais qualitativo

na obtenção dos dados, diante do risco de perder a riqueza e a complexidade

dos processos educativos, e uma maior descrição e elaboração da informação

proporcionada pelos indicadores.

Os indicadores apresentam-se nos diferentes níveis do sistema

educacional: em nível nacional, o que pode permitir as comparações

internacionais, em nível de comunidade autônoma, de distrito, de escola ou de

sala de aula. Além disso, a escolha e utilização dos indicadores são diferentes

em função de se o objetivo é a comparação entre os participantes ou a

melhoria de seu funcionamento.

28

De qualquer forma, como assinala Nuttal (1994), citado por Marchesi &

Martín (2003, p. 27): “Os indicadores não falam por si mesmos”. Por isso a

interpretação dos indicadores deve ser feita com prudência, em seu contexto e

de acordo com as finalidades e os valores da instituição educacional.

Segundo Marchesi & Martín (2003, p. 27), a escolha dos indicadores

depende do conceito de educação e das prioridades no ensino que se

sustentem. Os indicadores, como todo modelo de avaliação em ação,

expressam uma concepção da educação e contribuem para orientação do

processo educativo. Existe o perigo de um excessivo reducionismo na escolha

dos indicadores, mas também o risco de elaborar uma lista interminável de

fatores sem nenhuma prevalência entre eles. Mediante essa preocupação,

Marchesi & Martín (2003, p. 28) se respaldam na proposta de Oakes (1989)

como uma boa direção para o desenvolvimento de indicadores:

1. “Acesso ao conhecimento”: em que medida as escolas

proporcionam oportunidades aos alunos para aprender domínios

de conhecimentos e habilidades.

2. “Pressão para o progresso”: as estratégias institucionais que a

escola desenvolve para motivar e apoiar seus alunos.

3. “Condições profissionais para o ensino”: as circunstancias que

podem fortalecer os professores e outros agentes quando

procuram pôr em prática os programas educativos.

Se a definição dos indicadores já se reflete um alto grau de controvérsia,

maiores dificuldades são encontradas ao tentar formular um modelo

interpretativo. Ninguém duvida que seja importante a existência de um modelo

geral de indicadores que permita estabelecer as relações de causa-efeito entre

eles e facilite a compreensão das mudanças e o planejamento das estratégias

de intervenção. Porém, Marchesi & Martín dizem que:

A elaboração de um modelo tão desejado ainda está fora das

possibilidades dos cientistas sociais. O objetivo atingível no momento

é construir um quadro global que permita situar os indicadores mais

relevantes, estabelecer relações entre determinadas variáveis e

começar a relacionar os fatores modificáveis com o s resultados

desejados. A esses problemas para a elaboração de um marco

global, somam-se as dificuldades para definir os conceitos de forma

que sejam mensuráveis. (2003, p. 28).

29

A necessidade de construir um modelo de funcionamento do sistema

educacional para permitir a elaboração dos indicadores do ensino levou à

existência de um grande número deles. Dos modelos iniciais input-output

passou-se a modelos mais amplos, baseados na avaliação do contexto, dos

dados iniciais, dos processos e dos resultados.

O âmbito de aplicação dos indicadores adquire uma importância

particular para sua elaboração e seleção. Os indicadores selecionados para a

comparação do sistema educacional de diferentes países não são os mesmos

utilizados para compreender o sistema educacional de um determinado país ou

para conhecer o funcionamento das escolas concretas. No âmbito

internacional, é preciso destacar o Projeto Internacional de Indicadores da

Educação (INES), impulsionado pela OCDE (Organização para a Cooperação

e o Desenvolvimento Econômico) desde 1987.

Esses indicadores proporcionam uma informação sobre a organização

dos sistemas educacionais, permitindo sua comparação e demonstrando a

maneira como reagem às mudanças que se produzem na sociedade. Por sua

vez, diversos países (França, Estados Unidos, Dinamarca, citando os de maior

tradição) elaboram sistema de indicadores que são publicados periodicamente

e que permitem observar as mudanças ocorridas na educação de seu

respectivo país ao longo do tempo.

Porém, há uma grande discussão entorno da utilidade e validade desses

indicadores da educação, visto que estes são tributários da debilidade teórica e

metodológica que se encontram as ciências sociais e da educação. Dessa

forma Marchesi & Martín (2003, p. 30) apresenta basicamente duas razões

para a dificuldade do desenvolvimento de um conjunto de indicadores

aceitáveis.

A primeira razão é a ausência de teorias gerais que sejam

suficientemente precisas para elaborar indicadores que possam avaliar os

conceitos científicos. Realizaram-se pesquisas que permitem estabelecer

relações causais entre algumas variáveis selecionadas, mas ainda não se

30

dispõem de um modelo contrastado que possa explicar as relações entre todas

as variáveis que se consideram significativas no processo de ensino.

A segunda razão é a escolha dos indicadores. A tendência geral foi

bastante restritiva em relação aos elementos do sistema educacional que foram

analisados por algum indicador. A situação decorre, em grande parte, da

dificuldade de construir instrumentos de medidas para as variáveis educativas.

Apesar desses problemas, a informação transmitida pelos indicadores

está ajudando a conhecer melhor o que está ocorrendo no cenário educacional,

que mudanças estão sendo produzidas e em que situações se encontram um

país, uma região, uma localidade ou uma escola em relação aos demais

participantes. Essa informação facilita a adoção de decisões e favorece os

processos de mudança.

Certamente, não é esta a única estratégia e não será sempre a mais

adequada. Existem outras com enorme capacidade de transformar as escolas

numa escola de qualidade: a formação dos professores, os programas de

inovação e de pesquisa, a revisão do currículo, a auto avaliação da escola, etc.

Contudo, há uma convicção maior como ressaltam Riley e Nuttal (1994),

citados por Marchesi & Martín (2003), comentando as contribuições de

acadêmicos e professores em um seminário sobre os processos de mudança,

de que a melhoria das escolas ocorre apenas quando se permite que adotem

seus programas de ação de forma totalmente independente.

Porém, o isolamento das escolas não favorece a mudança. A avaliação

externa do funcionamento da escola, a informação proporcionada pelos pais e

pelos alunos e a capacidade para responder às demandas externas foram

consideradas como fatores necessários para manter o processo de mudança.

A incorporação dos países, das regiões, das localidades ou das escolas

a redes de informação e de avaliação supõe um estímulo para a melhoria do

ensino. A partir dessa perspectiva, e com todas as limitações e preocupações

assinaladas anteriormente, o progresso na elaboração de um bom sistema de

indicadores é uma das estratégias que pode contribuir para melhorar a

qualidade da educação.

31

Através de toda essa discussão entorno da melhoria da educação

percebemos o quanto há necessidade de transformação no processo

educativo, a fim de garantir a qualidade da educação.

Dessa forma, no próximo capitulo faremos um pequeno histórico sobre a

Orientação Educacional no Brasil e o papel do orientador como profissional

importante na articulação de todas essas mudanças no cotidiano da escola

contribuindo para transformação da escola numa instituição de qualidade.

32

CAPÍTULO II

A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A SUA IMPORTÂNCIA

A orientação Educacional passou por algumas transformações ao longo

dos anos. E para compreender melhor essas transformações e a sua trajetória

é preciso fazer uma análise sobre o histórico da orientação educacional,

através de alguns autores que contribuíram nesta área de conhecimento.

2.1 – UM BREVE HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

Em seu livro GRINSPUN (2002) relata que a Orientação Educacional,

surgiu como Orientação Profissional, nos Estados Unidos, em 1908, com um

caráter de orientar os alunos para a escolha de uma carreira profissional e de

inserção no mercado de trabalho. E em 1912, através de Jesse Davis, na

cidade de Detroit, EUA, surgiu à preocupação com a organização escolar e o

acolhimento da problemática vocacional e social dos alunos.

No Brasil, ao final da década de 1920, iniciam-se as reformas

educacionais no Ceará, Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia e Pernambuco,

incentivando a formação de uma sociedade mais democrática, e que os alunos

experimentassem uma educação com mais liberdade.

Este período foi marcado por constantes insatisfações com a situação do

país. A política econômica dessa época assentava-se na produção e no

comércio do café. O governo estava interessado em democratizar a educação,

representando para o povo uma forma de ascensão social, minimizando os

descontentamentos com a grave crise social e política deste período.

Os intelectuais que participavam do poder começavam a assumir as

reformas educacionais, tornando um campo favorável para a Orientação

Educacional que poderia estabelecer-se dentro das reformas que se

constituíam no país e ao mesmo tempo estaria contribuindo para a melhoria

educacional.

33

A Orientação Educacional sofreu a influência da orientação americana e

francesa e surgiu em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, também

com a função de orientar para a escolha profissional (Orientação Vocacional).

No entanto, NÉRICI (1976) acredita que a primeira tentativa de Orientação

Educacional no Brasil deve-se à Lourenço Filho, que quando diretor do

Departamento de Educação do Estado de São Paulo, criou o “Serviço de

Orientação Profissional e Educacional - SOE”, em 1931, o qual ainda seguiu o

modelo americano, que tinha como maior objetivo, guiar o indivíduo na escolha

de sua profissão.

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932 foi um

movimento relevante para a implantação da Orientação Educacional, que

reagiu ao desinteresse político pela educação, buscando um trabalho mais

dinâmico e menos tradicional nas escolas. O Orientador, apoiado em um

referencial psicológico, usava os “famosos” testes vocacionais, reforçando a

ideologia das aptidões naturais.

Começaram então a surgir, também, experiências isoladas nas escolas,

sendo a pioneira a de Aracy Muniz Freire e Maria Junqueira Schimit, no

Colégio Amaro Cavalcanti, no Rio de Janeiro, em 1934 (GRINSPUN, 2002, p.

18).

Foi com as Leis Orgânicas de 1942, do ministro de Getúlio Vargas,

Gustavo Capanema, faz-se pela primeira vez referência à Orientação

Educacional, que a finalidade era: de correção e encaminhamento dos alunos-

problema; a de velar para que os estudos do aluno ocorressem de acordo com

as normas pedagógicas mais adequadas; de esclarecer possíveis dúvidas dos

alunos e orientar seus estudos para que sozinhos buscassem sua

profissionalização. A profissão também seria regulamentada, tendo o

Orientador Educacional que fazer um curso próprio de Orientação Educacional.

(GRINSPUN, 2002).

Mas ainda o curso principal da Orientação Educacional seria o ensino

técnico, em que ajudava na formação de uma mão-de-obra especializada e

qualificada voltada para a indústria, objetivo do governo na época de plena

industrialização. (GRINSPUN, 2002).

Em 1961, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei

4024/61) surge à exigência legal da orientação nas escolas para os cursos

34

primário e secundário, e para o atendimento do Ensino Médio. A referida lei fala

mais sobre a formação do Orientador Educacional do que sobre o Conceito da

função deste profissional. Nesta lei, a Orientação Educacional vem com a

função de contribuir para a formação integral da personalidade do adolescente,

para seu ajustamento pessoal e social. Suas principais áreas de abrangência

seriam as orientações escolar, psicológica, profissional, da saúde, recreativa e

familiar (GRINSPUN, 2002).

Já na Lei de Diretrizes e Bases da educação nº. 5692 de 1971, a

Orientação Educacional passa a ser obrigatória e fundamental. E sua função

era o aconselhamento vocacional como forma de assegurar ensino

profissionalizante obrigatório, servindo assim para formar mão-de-obra para o

mercado de trabalho.

Na década de 1980, o orientador passa a ter mais autoridade técnica e

assume seu compromisso político dentro da escola, além das funções de

atender alunos-problema, de psicólogo e facilitador de aprendizagem.

2.2 – A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NOS DIAS ATUAIS

A Orientação Educacional hoje é muito mais abrangente do que nos

anos anteriores, atualmente, a orientação possui papel mediador junto aos

demais educadores da escola, buscando o resgate de uma ação mais efetiva e

de uma educação de qualidade. O aspecto coletivo passa-se mais importante

que a ênfase individual de antes, agora, leva-se em conta que o coletivo é

formado por pessoas com pensamentos e contextos sociais diferentes.

Essas novas mudanças começam a surgir no início da década de 1990,

quando muitos acontecimentos permitem tal processo, passando a educação e

a orientação a andarem juntas, sendo “.. os orientadores (...) os coadjuvantes

na prática docente” (GRINSPUN, 2002, p. 27).

Hoje o Orientador Educacional, no discurso de GRINSPUN (2002), não

atua mais por ser uma profissão que deva existir pela “obrigação”, pois na Lei

9394/96 não há a obrigatoriedade da Orientação, “mas por efetiva consciência

35

profissional, o orientador tem espaço próprio junto aos demais protagonistas da

escola para um trabalho pedagógico integrado, compreendendo criticamente as

relações que se estabelecem no processo educacional.” (GRINSPUN, 2002,

p.28)

2.3 – O PROFISSIONAL DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

O Orientador Educacional tem a função de orientar e acompanhar o

aluno em seu processo de desenvolvimento frente às grandes mudanças ainda

encontradas em cada faixa etária (biológicas, psíquicas e sociais), com a

finalidade de levá-lo a um maior conhecimento de si próprio para que possa

ajustar-se harmoniosamente ao seu meio social, familiar, escolar e assim

preparar-se para o exercício consciente de sua cidadania.

As situações do dia-a-dia desse profissional exigem flexibilidade,

inteligência, capacidade de resolver problemas e conflitos interpessoais,

habilidade para trabalhar em grupo, dinamismo e criatividade. Cabe ao

Orientador Educacional, a preparação do aluno para seu autoconhecimento e

auto compreensão, e o desenvolvimento de sua capacidade para o

relacionamento interpessoal.

Desde 1942 as leis brasileiras fazem obrigatória a orientação

educacional nas escolas. Na maior parte dos casos, os orientadores

educacionais são consultores para a Direção e interlocutores entre os pais, o

aluno e a escola. Disciplinam o estudante, reúnem-se e discutem problemas

didáticos e disciplinares com os professores e os pais do aluno, aplicam e

interpretam testes padronizados, promovem eventos que estimulam o

relacionamento interpessoal, e aconselham o encaminhamento a psicólogos e

psiquiatras dos casos de desvios mais complexos.

A Orientação Educacional se propõe em ser um processo educacional

organizado, dinâmico e contínuo e o profissional desta área, além do espaço

escolar, pode atuar em empresas, clínicas, hospitais e ainda exercer uma

diversidade de atividades, quais sejam: seleção de pessoal, treinamento,

administração, coordenação, direção, produção literária, pesquisa, eventos

36

sociais e de lazer, área turística, representação de instituições, palestras,

editoriais, acompanhamentos individuais e grupais etc.

É importante frisar que é através da escola, organizada para promover a

educação, que se desenvolve o trabalho do orientador educacional. Nela, o

aluno deve ter asseguradas as condições favoráveis à formação da cidadania

crítica. Não se trata mais de “apagar o fogo”, como, historicamente, fazia o

orientador educacional, chamado nas ocasiões em que havia problema a ser

solucionado ou para abafar os casos de indisciplina. Nem de inspetor de

alunos, nem psicólogo.

Cabe a este profissional conhecer também o contexto socioeconômico e

cultural da comunidade, bem como a realidade social mais ampla, ele deve ser

encarregado de desvelar as forças e contradições presentes no cotidiano

escolar e que podem interferir na aprendizagem.

37

CAPÍTULO III

A AÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL PARA

CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA DE QUALIDADE

A questão que vem sendo discutida durante esse trabalho evidencia a

importância na transformação da escola, pois é através da ação do orientador

educacional, em conjunto com os outros membros da educação, que

acreditamos na construção de uma escola de qualidade.

Dessa forma, podemos ver que a ação do orientador tem um papel

fundamental nesta construção e está baseada em alguns princípios abaixo

relacionados

O orientador deve compreender o desenvolvimento cognitivo do aluno,

sua afetividade, emoções, sentimentos, valores, atitudes. Cabe a ele também,

participar da construção coletiva de caminhos para a criação de condições

facilitadoras e desejáveis ao bom desenvolvimento do trabalho pedagógico. Ele

deve participar de todos os momentos coletivos da escola, na definição de seus

rumos, na elaboração e avaliação de sua proposta pedagógica, nas reuniões

do Conselho de Classe, oferecendo subsídios para uma melhor avaliação do

processo educacional.

Ele deve promover a integração e a articulação entre todos os

segmentos que compõem a comunidade escolar: direção, equipe técnica,

professores, alunos, funcionários e famílias, visando à construção de um

espaço educativo ético e solidário.

O papel do orientador com relação à família não é apontar desajustes ou

procurar os pais apenas para tecer longas reclamações acerca do

comportamento de seu filho, mas procurar caminhos, junto com a família, para

que o espaço escolar seja favorável ao aluno. É prudente que o orientador não

diagnostique problema algum no aluno, e sim que veja os seus aspectos

saudáveis que possam superar outros aspectos negativos.

Uma das tarefas do orientador educacional é o conhecimento da

comunidade e das situações que facilitam a sua vida, bem como as que a

38

dificultam. Compreender o modo de vida, interesses, aspirações,

necessidades, conquistas da comunidade é muito importante. Só assim será

possível o apoio da escola na luta da comunidade por melhores condições de

vida.

Como pólo cultural, cabe à escola, e especificamente ao orientador

educacional, elevar o nível cultural dos membros da comunidade, propiciar

debates sobre temas de seu interesse, bem como de alunos, pais, professores,

envolvendo questões presentes no dia-a-dia. É fundamental que se estabeleça

um clima de constante diálogo entre ambas, uma vez que a escola como um

todo, deve estar aberta à comunidade a qual pertence.

Entretanto, não existe uma receita “pronta”, uma ação adequada da

orientação educacional para que todas as escolas atinjam o seu principal

objetivo que é a qualidade do seu trabalho. Isso vai depender muito do

contexto que a escola está inserida, do seu corpo discente e do seu corpo

docente.

O mais importante é que o Orientador tenha a sensibilidade e visão clara

dos objetivos que deseja seguir. Sua ação deve estar sempre voltada e

respaldada em estudos atualizados que visem à mudança do cotidiano escolar:

de um ambiente alienante para um ambiente que torne o aluno um ser

pensante.

39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho procurou mostrar que estamos em tempos de mudanças

profundas e radicais, e as organizações que não souberem antevê-las, ou que

quiserem simplesmente resistir a elas, serão destruídas.

A escola, como organização social e educacional precisa estar em

consonância com essas mudanças e procurar rever o seu papel perante essa

“nova sociedade globalizada” que surge. A globalização que nela se apresenta

torna evidente que todo o mundo está passando por transformações, e que a

escola não pode ficar alheia a uma série de acontecimentos diários, uma vez

que a sociedade torna-se cada vez mais exigente quanto ao perfil do homem

moderno.

Para que a nova geração possa ter seu rumo definido e visão clara da

realidade, precisamos, a partir da escola, dar os passos concretos para melhor

ensinar a pensar, desenvolvendo o senso crítico e resgatando os valores que

os tornam cidadãos competentes e adequados ao seu meio.

Dessa forma, o discurso acerca da qualidade, que se tornou tão

frequente em todos os setores da vida humana, evidenciando a sua

necessidade no cenário escolar de hoje e na prática cotidiana de cada

professor.

Boa parte da educação que é oferecida hoje em nossas escolas

públicas, já está ultrapassada, e é preciso mudá-la e transformá-la numa

educação de qualidade. Uma educação significativa em que o que importante é

ensinar a pensar, e não reproduzir conteúdos. A educação e a escola deverão

ser, não só um reduto de cultura transformado pela sociedade, mas sim um

espaço aberto e atuante.

Sendo assim, vimos o quanto o papel do Orientador Educacional se faz

importante para a configuração e realização dessas mudanças na escola;

fazendo com que todos os envolvidos no processo educativo percebam a

necessidade de transformar a forma como se processa a prática pedagógica, a

fim de garantir a qualidade nas instituições.

Entretanto, é visível que a caminhada é longa, e que é preciso saber

contornar os obstáculos. É preciso que o grupo de educadores seja consciente

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sobre a importância da educação e se empenhe a desenvolver em sua sala de

aula um trabalho que vise ampliar essa conscientização para seus educandos,

e mais que isso, que este não fique só no campo da conscientização, mas que

atinja o campo da prática.

De nada adianta a consciência sem ação. Podemos ter consciência de

que todos têm o direito a uma educação de qualidade, e que só uma educação

transformadora forma o cidadão crítico e consciente. Todavia, só ter

consciência não transforma o individuo nem a sociedade. Ter consciência de

estar doente não cura ninguém.

Nessa perspectiva, será ação do Orientador Educacional, a sua postura,

o seu trabalho perante o corpo docente:

• Desenvolvendo um trabalho harmônico dentro da escola, conversando

diariamente com os professores e procurando saber quais são as suas

dificuldades; orientando e incentivando o desempenho individual e

grupal dos professores;

• Acompanhando e avaliando o professor em relação ao que faz e como

faz o se próprio trabalho; assessorando o trabalho do professor

(transmitindo sugestões de atividades);

• Descentralizando as decisões a respeito da ação docente; criando

situações para a solução dos problemas que surjam no grupo de

professores, procurando subsídios que facilitem a ação docente;

• discutindo diferentes maneiras de trabalho e comunicando experiências;

• Elogiando o que é positivo e esclarecendo o que considera negativo;

• Incentivando os professores a avançar em seus estudos;

• organizando as condições de trabalho para o professor (exemplo

material de ensino);

• Estudando para atualizar-se;

• Refletindo e avaliando as questões da escola como organização social

que contribuirá para a melhora do ensino e consequentemente para a

construção de uma escola de maior qualidade.

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REFERÊNCIAS

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Paulo, CRPE, 1964.

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