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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
ARTE E GESTÃO EDUCACIONAL
Por: Regina da Costa Loureiro Pedro
Orientador
Profª. Mary Sue Carvalho Pereira
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
ARTE E GESTÃO EDUCACIONAL
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Supervisão e Administração Escolar.
Por: Regina da Costa Loureiro Pedro
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AGRADECIMENTOS
À equipe de professores do Colégio
Estadual Jardim Meriti e aos alunos, ex-
alunos e à comunidade que acreditaram e
ajudaram na criação e implementação do
Projeto: “Leu, Escreveu, Dançou...”
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DEDICATÓRIA
Dedico aos meus filhos Alan Loureiro e
Aline Loureiro, e ao meu neto Davi Loureiro.
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RESUMO
Os baixos índices de rendimento do aluno em avaliações apavoram pais,
professores e governantes. Estudos sobre o assunto são expostos na mídia o
tempo todo, tentando justificar e apontar razões para esse “fracasso” educacional.
As autoridades programam a cada governo “novas teorias Educacionais”, sem
sucesso, investimentos financeiros diretos nas escolas, contratações de pessoas,
tudo na tentativa de minimizar os problemas de nossa educação. Nada parece
melhorar os resultados de nossos alunos frente às avaliações de rendimento
qualitativo, a reprovação em massa e a evasão escolar assombram as Secretarias
Educacionais e os brasileiros de modo geral. Uma verdadeira catástrofe!
Apesar desse quadro, onde a falência, do processo educacional, parece
inevitável, podemos verificar que alguns trabalhos conseguem alcançar avanços
que nos deixam perplexos. Para analisar esse sucesso educacional, foi necessário
um estudo minucioso das teorias psicológicas e educacionais de grandes
Pensadores da Humanidade. Esses estudos remetem para a emoção e a
criatividade dos seres, sentimentos humanos e a tentativa de mostrá-los e decifrá-
los. Nesse caminho, guiados por teóricos reconhecidos como: Piaget, Vygotsky,
Wallon, Freinet, Paulo Freire e outros. Analisando suas práticas e estudos, no
processo de Ensino e aprendizagem, chegamos até a Arte. Ela é, sem dúvida,
uma manifestação de emoções, facilitadora desse processo, mas principalmente
veículo para a criação de seres humanizados e integrados ao meio: Cidadãos do
Mundo.
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METODOLOGIA
Essa monografia nasceu da busca de respostas para grandes dúvidas que
mantém professores e alunos inseguros perante os problemas educacionais: a
evasão, o fracasso, os baixos índices em avaliações e a insatisfação geral da
população com a Educação. Esses questionamentos apontavam para iniciativas
que conseguem prender a atenção dos alunos e consequentemente uma
elevação na freqüência dos mesmos na aula e, é claro, um índice satisfatório nas
avaliações e trabalhos escolares.
Se alguns profissionais aplicam ações alternativas que dão certo de forma
intuitiva, é preciso estudá-las, verificar em teorias existentes idéias e conceitos
que comprovem o porquê desse sucesso, e assim aplicar essas inovações em
outras unidades, claro que adaptando à realidade e ao individuo a que se destina
essa Educação.
Nessa busca teórica, várias obras foram investigadas, teorias com
trabalhos psicológicos e pedagógicos, tais como: Vygotsky: “A formação social da
mente”, “Aprendizado e desenvolvimento”; Paulo Freire: “A Importância do Ato de
Ler”; Henri Wallon: “A evolução psicológica da criança”; Jean Piaget: “Biologia e
Conhecimento”, dentre muitos outros filósofos e psicólogos ligados a área da
educação.
A cada leitura, comprovações que reforçavam a idéia de que com emoção,
de professores e alunos, há mais probabilidade de conseguir uma gestão de
qualidade, e que a arte age como facilitadora do processo de ensino-
aprendizagem, para isso, foram consultadas obras específicas, como: Ana Mae:
“Arte – Educação”; Ivani Fazenda: “Práticas interdisciplinares na escola”; Ângela
Carrancho da Silva: “Escola com arte: multicaminhos para a transformação”.
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A observação direta, no C. E. Jardim Meriti foi constante, através dos anos
de realização do Projeto: “Leu, Escreveu, Dançou...”, mostrou que a emoção e a
arte são motivações constantes, e que a grande procura de vagas na Escola
demonstra o grau de satisfação da comunidade, quanto ao trabalho desenvolvido.
Foram utilizadas pesquisas bibliográficas em livros, revistas, sites da
internet além de outros artigos sobre o assunto, para uma maior aproximação do
assunto, já que a criação e desenvolvimento do projeto foram à inspiração
principal para esta monografia. Além dessas pesquisas, com o objetivo de
esclarecer a causa e conhecer as razões do sucesso de determinados
procedimentos, foram realizadas pesquisas explicativas, que comparavam as
idéias contidas na monografia com opiniões contidas nos livros, as quais eram
anotadas para posterior uso como justificativa no trabalho.
Através do estudo e leitura de literaturas sobre o assunto, observações do
cotidiano, análises e pesquisas bibliográficas, descritivas e explicativas, buscamos
provas de que os alunos podem alcançar maior sucesso na aprendizagem,
quando o ensino é oriundo da linguagem artística (teatro, dança, cinema, pintura,
etc.). Além do prazer momentâneo no processo educacional, a fixação dos
conteúdos acontecerá de forma mais rápida e duradoura, pois essa assimilação
apresenta um significado real dentro do imaginário.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO - 09
CAPÍTULO I
BRINCANDO E APRENDENDO:
ARTE COMO FONTE DE PRAZER E REFLEXO DE SOFRIMENTO - 12
CAPITULO II
CRIAÇÃO E CRÍTICA EM MOVIMENTO CONSTANTE
IMPULSIONANDO A APRENDIZAGEM - 22
CAPÍTULO III
A ARTE REUMANIZANDO UM SER FRAGMENTADO
POR UMA EDUCAÇÃO FALIDA - 29
CONCLUSÃO - 38
BIBLIOGRAFIA - 53
ÍNDICE - 57
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INTRODUÇÃO
Durante anos a Educação, conservada e seletiva, era privilégio das elites,
com as mudanças histórico-sociais, a troca de papéis no poder, a democratização
e a massificação do ensino no mundo, o que parecia perfeito mostrou que Educar
não é apenas “ensinar” teorias e fórmulas, mas sim conseguir integrar os homens
ao meio e a si mesmo como seres universais e individuais. Este trabalho tem por
objetivo mostrar que a arte pode ajudar a solucionar problemas educacionais
oriundos de um modelo de Educação falido com baixos índices de rendimento dos
alunos expostos em pesquisas, investimentos enormes, mas até hoje sem
solução. No desenvolvimento deste trabalho pretendemos mostrar que o saber
oriundo do aprendizado formal deixou de ser apenas necessidade física para
sobrevivência, passou a ser um fator de grande importância para os seres
humanos, uma necessidade psíquica, e assim, grande educadores e especialistas
em Educação precisam beber na fonte da Psicologia e, através desses estudos,
verificaram que a afetividade, a emoção e o prazer marcam a assimilação de
conhecimentos e construção de Homens-cidadãos mais realizados e capazes de
criar um mundo realmente melhor. Vários são os autores que estudam e indicam
caminhos, citaremos: Piaget, Vygotsky, Freinet, Wallon e Paulo Freire.
O conhecimento e a assimilação segundo Piaget significam a
interpretação do mundo, para ele não adianta apenas olhar, é necessário tornar
seu os elementos desse mundo, sentindo, interpretando e, finalmente,
aprendendo. Portanto aprender não é só fixar, é incorporar, agir sobre algo e
construir o conhecimento pelos sentidos, logo, para Piaget, a construção do
conhecimento se dá pela abstração empírica e reflexiva sobre ações do indivíduo
no mundo.
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Vygotsky mostrou em seus estudos que o interior do indivíduo interage
com o ambiente, e que juntos levam a aquisição de conhecimento. O uso das
brincadeiras e dos jogos facilita a transição entre o mundo imaginário e o real,
facilitando a abstração e assimilação de conhecimentos necessários a Educação.
Em Freinet encontramos questionamentos às fórmulas da Educação
Tradicional, ele verificou que o interesse dos alunos não estava na sala de aula,
mas no mundo exterior, nada motivava o aluno dentro da sala e, assim, ele
introduziu a aula passeio, provando que o prazer de viver concretamente os
conhecimentos provocaria a melhoria na aprendizagem, melhorando o grau de
aproximação entre professor e aluno, criando amizade, elemento facilitador do
processo educativo. O prazer de aprender, o entusiasmo de vencer obstáculos e
entender o mundo.
Já Wallon aproximou ainda mais essa certeza, provando que a emoção e
a afetividade são fundamentais para alcançar o desenvolvimento das inteligências.
A harmonia da emoção do ser integrado ao mundo social gera conhecimento
prazeroso, que propicia o vir a ser do cidadão integral. A educação deve fazer
sentido para cada aluno, conhecimentos abstratos devem significar e representar
algo, para isso é preciso linkar e estabelecer elos com as crianças, objetos da
educação, aproximando fórmulas e teorias do mundo interior, representação do
mundo exterior.
Com Paulo Freire aprendemos que o Educar não é falar da visão de
mundo pelos olhos do educador, mas sim conhecer a visão dos educandos,
dialogar, problematizar a realidade e, dessa forma, aproximar o concreto do
abstrato, interagindo com os alunos.
A arte vai facilitar o entendimento de um mundo que, muitas vezes, parece
indecifrável, à medida que a leitura desse mundo vai sendo feita, pela observação
direta, ele é incorporado aos seus observadores que criam obras repletas de
críticas, mas também obras que refletem o próprio mundo, mas pelo olhar do
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observador, criando, assim, um elo entre o mundo e o ser. A arte expõe o olhar de
alguém sobre algo ou sobre si mesmo, nada pode ser mais doído ou prazeroso do
que entender.
As novas gerações não aceitam a Educação separada do prazer e do
entendimento global e crítico do saber. Fórmulas e conceitos não podem ser
impostos como um saber fragmentado sem aplicação prática. O homem não quer
ser máquina, quer interagir, quer ver, criticar, criar de forma concreta,
significativamente. O homem quer agir sobre o mundo de forma que o
conhecimento adquirido sirva para criar um elo entre o homem e o mundo,
estabelecendo uma simbiose, e isso é plenamente alcançado pelas manifestações
artísticas.
Todas essas experiências vão explicar o sucesso de projetos que usam o
emocional, o prazer, a afetividade na Educação como: a interpretação, a pintura, a
dança, a música e todas as manifestações artísticas utilizadas na Educação. A
arte é manifestação da leitura do mundo, interiorizada e refletida como forma de
conhecimento realmente assimilado levando ao verdadeiro saber.
A arte pode servir como força motriz no processo de uma Gestão
Educacional de sucesso, não nos moldes governamentais atuais, mas alcançando
a plena realização do educando como indivíduo e cidadão. A linguagem artística é
um recurso primordial no processo educacional que propicia resultados positivos
como poderemos ver em Projetos já realizados, que tem como base as
manifestações artísticas. Para que possamos reumanizar o Ensino, minimizando
os anos de ensino tradicional, precisamos de credibilidade dos governos no que
tange aos setores educacionais, mas, principalmente, do engajamento dos
professores que, apesar do quadro de falência do ensino, continuam atuando de
forma tão fragmentada e ultrapassada. O uso da arte na educação não é um
procedimento moderno, é primitivo e essencial como comer, beber é a integração
do ser com o mundo, tornando-os unos.
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CAPÍTULO I
Brincando e Aprendendo
A arte como fonte de prazer e reflexo de sofrimento
O homem é o único animal que utiliza o processo de Educar com o
objetivo de preservar e conhecer a sua espécie, preparando os seres humanos
para uma cidadania consciente paralela à autorrealização. O processo
Educacional vai, de forma intencional, integrar o homem ao meio, valorizando o
conhecimento como forma de preservação. Idéias, conceitos, habilidades são
trabalhadas motivando novas formas de pensar, surgindo assim atitudes
transformadoras. Todo conhecimento é essencial para existência da humanidade,
o passado deve ser estudado como fonte de sabedoria, preparando o presente e
garantindo assim o futuro. A Educação propicia acesso às oportunidades de uma
vida melhor para os seres e para o habitat.
Sabemos que a educação formal foi, e ainda é, centrada no conhecimento
do professor, sem levar em consideração o educando, como se ele fosse apenas
uma terra fértil, fadada a dar frutos e flores, sem interferir no processo, apenas
uma página em branco a ser preenchida com idéias e conceitos. É claro que
profundas transformações aconteceram no mundo, o estudo da Psicologia foi
fundamental para que novas idéias fossem utilizadas na Educação Formal,
mostrando causas, efeitos e a importância da educação na vida dos homens e no
mundo, gerando assim, novas formas de pensar. Novas finalidades e
compromissos foram incorporados na forma de Educar. Como Educar e para quê?
“Toda estrutura educacional está organizada com a finalidade primeira de promover a aprendizagem e o desenvolvimento do ser humano. Isto por si só justifica a constante preocupação não apenas de psicólogos e educadores, como também pesquisadores de outras áreas
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que se encontram comprometidos com a complexa natureza destes processos.” (PALANGANA, 2001, p.7).
A escola é o centro da educação formal e tem que estar atenta as suas
novas atribuições estabelecendo e exercendo uma gestão que propicie um caráter
includente dos alunos na sociedade e, através de trabalho comprometido com
novos procedimentos educacionais, alcançar a plena realização do homem. O
enfoque do individual preparando o ser social, político e ideológico vai marcar um
processo educacional mais moderno, valorizando o todo como forma de integrar o
sujeito, valorizando sua criatividade frente à resolução dos impasses.
O conhecimento deve ser gestado para a satisfação, como cita George
Snyders (1998) em seu livro “A alegria na escola” mencionando que precisamos
de uma nova “cultura da satisfação”. O professor Moacir Gadotti, Diretor do
Instituto Paulo Freire, afirma que hoje o mundo exige a satisfação individual e a
escola deve acompanhar essa tendência.
Debates políticos-pedagógicos ocorrem há anos, reformas e tendências
são discutidas e nada parece solucionar o caos na Educação. Será que se
procurássemos em experiências simples que obtiveram sucesso encontraríamos
as respostas para essas questões? Talvez, já que na simplicidade pode estar uma
possível solução. A eterna busca humana pela felicidade é negada na educação,
por quê? Negando o prazer e a satisfação de ser feliz, estamos negando a
possibilidade de tentar resolver esse complicado problema. A felicidade e a
realização pessoal de um ser só podem vir do prazer. Para encontrar algumas
respostas precisamos conhecer as fontes para a satisfação, esse caminho pode
gerar fracassos, encontros e perdas, mas é necessário perseverar na procura,
mesmo que, por vezes, o sofrimento seja uma etapa nessa busca. Prazer e
sofrimento presente na emoção da procura, e nada mais expressivo que as várias
formas de arte para representar esse caminho, numa linguagem simbólica.
Observando a pintura, por exemplo, com o quadro “O Grito” de Edvard Munch
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(1893) , fica fácil detectar o sofrimento, explicar o sentimento do homem naquele
período histórico, econômico, geográfico, uma gama de esclarecimentos numa
linguagem visual. Conceitos, fórmulas, idéias vinculadas à emoção ficam mais
fáceis de serem entendidos, interpretados.
Pelo estudo de Teorias Psicogenéticas podemos entender melhor esse
processo simbólico e afetivo, gerador de satisfação e utilizá-los numa educação de
sucesso. Grandes nomes como Jean Piaget, Vygotsky, Celestin Freinet e Henri
Wallon, dentre outros, podem nos ajudar a entender o processo de ensinar com
emoção através da arte.
1.1 Jean Piaget e a Psicologia da Inteligência
Para Piaget a construção do conhecimento é genética, e a função da
inteligência é uma adaptação com a finalidade de fazer o homem sobreviver,
adaptar-se, e principalmente, modificar o meio através de informações retidas pela
sua interpretação que é a assimilação, e ao modificar esse entendimento para
uma melhor organização acontece à acomodação. A interpretação não é
imutável, assim ocorrem desequilíbrios e na busca de estabilidade acontece a
equilibração, um processo dinâmico diferente do equilíbrio que é estável. Hoje
pode ser assim, amanhã pode não se sabe como será. Na construção desse
conhecimento, para Piaget, a articulação entre afetividade e inteligência não se
confrontam. O dualismo entre a afetividade e a razão acaba por se complementar,
enquanto uma impulsiona as ações, a outra ajuda na ação. A afetividade é a
energia que move a ação, a razão ajuda a obter êxito nessas ações mediante
identificar os desejos e emoções necessárias a essa ação. O homem age movido
pela emoção e guiado pela razão, assim uma depende da outra, “há emoções que
são geradoras de pensamentos”, inspirado pelos sentimentos e a necessidade, o
homem avança. Piaget explica que a criança segue porque acredita no caminho
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que deve seguir, interpretando que a cooperação realiza o que a coação nem
chega perto. A afetividade adere sem pressão àquilo que entende e aspira,
evoluindo pelo impulso e entusiasmo ao conhecimento, como forma de
equilibração ao sistema cognitivo. Piaget mostra que para entender algo se age
sobre ele, transformando-o. Conhecer é modificar, transformar, compreender.
“Nossos conhecimentos não provêm nem da sensação nem da percepção isoladamente, mas da ação global, de que a percepção participa apenas como função de sinalização. Próprio da inteligência não é contemplar, mas ‘transformar’, e seu mecanismo é essencialmente operatório. Ora, as operações consistem em ações interiorizadas e coordenadas em estruturas de conjunto (reversíveis etc.); se desejamos explicar esse aspecto operatório da inteligência humana, convirá partir da ação – e não apenas da percepção.” (PIAGET, 1984, p.104).
Aprender, para Piaget, é saber fazer, conhecer é compreender, dar
significados implícitos e explícitos, para ele, a aprendizagem tem mais chance de
sucesso vinculada às necessidades dos educandos. A afetividade de uma certa
forma facilitará a aprendizagem, isso se deve ao prazer de satisfazer a
necessidade do conhecimento, realmente interessante para o indivíduo, que
resulta na satisfação interna de uma real necessidade.
“A necessidade é uma das manifestações da dinâmica afetivo-cognitiva da estrutura mental que exprime uma tensão momentânea ou desequilíbrio. È justamente esse sistema de organização estrutural que determina a possibilidade de essa necessidade ter sido constituída. Assim, de acordo com o raciocínio piagetiano, é pertinente acreditar que as situações de aprendizagem devem ter em conta a necessidade da criança invés de se ocupar com as
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motivações provenientes do meio físico ou social”. (PALANGANA, 2001, p.78).
Quando a necessidade individual é atendida os conteúdos apresentados
serão muito mais facilmente assimilados.
1.2 VYGOTSKY E A FORMAÇÃO DOS CONCEITOS
Destacamos em nossos estudos o nome de Lev Vygotsky, pois seus
conceitos nos remetem as relações entre pensamento e linguagem, a construção
de significados e o papel da escola na transmissão de conhecimentos. Ele dizia
que o ser humano cria formas de ação que o distinguem dos animais, que o
homem armazena informações para usá-las (organização cerebral) operando-as
pelos sistemas simbólicos, que possibilitam a representação do real,
internalizando atividades externas. Ele afirma que problemas abstratos ficam
difíceis e confusos para a criança, enquanto conceitos cotidianos, impregnados de
experiências (leituras e trabalhos escolares) são mais facilmente resolvidos
concretamente, articulados com a vida real mesmo que simbólica (representativa
do real).
A cognição e a afetividade, a função mental e a atenção involuntária não
se separam, a unidade desses processos vai facilitar o sucesso educacional.
Motivação inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção
são “portas de entrada” para o conhecimento. Vygotsky mostrou a relação entre
afeto e intelecto, o processo de internalização de um plano intrapsicológico a partir
da realidade, onde esta não é copiada, mas produto de reflexão do mundo
exterior. O indivíduo internaliza o exterior tornando seu o que antes era apenas
realidade, os sistemas simbólicos, dentre eles a linguagem, constituem a
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mediação entre o sujeito e os objetos, e após compreendê-los poder agir sobre
eles, essa compreensão seria fruto de vivências afetivas do sujeito.
“Enquanto brinca, a criança reproduz regras, vivencia princípios que está percebendo na realidade. Logo, as interações requeridas pelo brinquedo possibilitam a internalização do real, promovendo o desenvolvimento cognitivo”. (PALANGANA, 2001, p.154).
Para Vygotsky a aprendizagem busca o desenvolvimento do indivíduo e
usar a brincadeira, o jogo de papéis onde o faz-de-conta seria fundamental, pois
ao transitar pelo mundo do imaginário internalizamos e simbolizamos o real e,
conseqüentemente aprendemos e nos desenvolvemos.
“No brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto e significado”. (OLIVEIRA, Marta Kohl, 1997, p.67).
“... a aquisição de um sistema simbólico de representação da realidade também contribuem para esse processo o desenvolvimento dos gestos, dos desenhos e do brinquedo simbólico, pois essas são também atividades de caráter representativo, isto é, utilizam-se de signos para representar significados”. (OLIVEIRA, Marta Kohl, 1997, p.72).
Ele ressalta que a intervenção ativa de outras pessoas é extremamente
importante nesse trajeto, valorizando a intervenção pedagógica no
desenvolvimento dos homens.
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1.3 WALLON: Emoção e Inteligência
Para Henri Wallon a Psicologia oferece instrumentos para aprimorar
práticas pedagógicas, onde a criança deve ser olhada de um modo integrado,
onde o movimento, primeiro sinal de vida, é a expressão que está na base das
emoções, manifestações afetivas que são fatores fundamentais de interação da
criança como meio. Ele ainda mostrou que a inteligência utiliza a expressão e a
linguagem no desenvolvimento da criança como pessoa, ajudando na noção do eu
e da consciência de si mesma.
Movimento, emoção, inteligência e pessoa são campos funcionais nem
sempre harmoniosos, conflitos e antagonismos podem ocorrer. Wallon prova que
mesmo assim a criança deve ser vista de forma integral, com olhar técnico, mas
contextualizado. Para ele a infância é um estado provisório para a vida adulta, um
ser que virá a ser; o hoje articulando o futuro. Segundo Wallon, ”o estudo da
criança é essencialmente o estudo das fases que farão dela um adulto”.
(WALLON, 2007, p.27).
Wallon considerava importante a preocupação com a história de cada
criança, e a articulação entre a vida real e as perspectivas de vida futura.
Valorizou o estudo das emoções inseridas no campo da afetividade, pois é ela que
possibilita a integração da criança com o meio, contagiando os indivíduos,
motivando concretamente o desenvolvimento da inteligência. A figura do professor
deve também ser “contagiante”, entusiasmando para a atividade e isso ficará
refletido no tom de voz, na expressão dos olhos, na postura do corpo. A
inteligência para ele nasce das emoções, se constituindo e se construindo graças
ao momento de fusão emocional que há na vida humana. Afirma ainda que
inteligência e emoção não são antagonistas, mas são ligadas entre elas numa
relação de conflito, mesmo assim uma se apóia na outra. À medida que a criança
vai desejando manejar e modificar as coisas ela vai ampliando seus
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conhecimentos, pelo fazer e refazer contínuo, por vezes prazeroso, mas pode ser
sofrido quando há o fracasso na tentativa de realizar:
“É por isso que a dificuldade das regras, embora inspire mais o temor do fracasso que o gosto pelo triunfo, inflige à idéia de esforço um aspecto de necessidade que é desagradável, que sufoca o livre ímpeto do jogo e o prazer a ele vinculado”. (WALLON, 2007, p.64).
“É inevitável que as influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço tenham sobre sua evolução mental uma ação determinante”. (WALLON, 2007, p.122).
1.4 FRENET Motivação numa escola para o povo
Celestin Freinet questionou as normas rígidas da Escola Tradicional, seus
estudos mostravam que, para as crianças, tudo que há de interessante no mundo
está fora da Escola. Provou que a motivação e o desejo de descobrir seriam
fundamentais para o sucesso na aprendizagem. Criou as aulas-passeio que
propiciavam a descoberta de conceitos; fórmulas muitas vezes difíceis para serem
entendidas, em aulas comuns e tradicionais, mas esses conhecimentos seriam
compreendidos muito mais facilmente se despertassem realmente o interesse dos
aluno, além disso, a relação professor/ aluno passa a ser interativa, afetuosa e de
companheirismo, facilitando o processo Ensino/ aprendizagem.
“Suprima o pedestal, de repente você estará ao nível das crianças. Você as verá não com olhos de pedagogos e chefes, mas com olhos de homens e crianças, e com este ato você reduzirá seguidamente a perigosa separação entre
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aluno e professor que existe na escola tradicional”. (FREINET, 1988. Pg. 207)
Freinet buscava uma educação popular e prazerosa. Sempre preocupado
com o interesse dos alunos, inovou utilizando avanços tecnológicos nas salas de
aulas, como o uso da impressora em tempos onde isso era praticamente
improvável (1924). Produz com os alunos textos curtos e do interesse deles,
enviou para pais, posteriormente para jornais, e até para outras cidades,
interagiram com outras crianças; o interesse pela escrita através da afetividade foi
sendo provado pelo sucesso de seu trabalho. Quando o assunto interessava e
apaixonava as crianças a aprendizagem era real, provando que a afetividade
interferia no processo.
Para Freinet a criança deve se comunicar livremente através da linguagem
que ela quiser: desenho, escrita, etc. Para ele uma nova escola deveria cultivar a
inteligência, a acuidade científica e o pendor artístico no processo educacional.
As idéias derivam das citações livres e são frutos das pesquisas experimentais
prazerosas. Podemos utilizar a modernidade das tecnologias atuais como
alavanca de um ensino de qualidade. Motivação, cooperação e técnica facilitam a
aprendizagem, as aulas deveriam usar a prática como base para o abstrato.
Os alunos apreendem conceitos considerados de difícil compreensão de
maneira mais prazerosa se usarmos formas diversificada que envolvam o
interesse das crianças, estabelecendo relações pertinentes e lógicas no mundo
delas.
1.5 Uma Escola Possível
A escola atual ainda se sustenta em tradições centenárias, essas
tradições precisam ser substituídas, pois a necessidade de repensar esses
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dogmas tradicionais é fundamental para um real avanço na solução dos
problemas educacionais atuais. Certamente, isso não agrada a todos, a idéia de
mudança é sempre recebida de forma duvidosa e com certa reprovação. Os
paradigmas aprisionam os novos ares. Mudar o tradicional, aproximar as teorias
das práticas, incorporar o interesse dos alunos aos conhecimentos a serem
trabalhados, de uma forma afetiva, assim o prazer do conhecimento vai
desenvolver cidadãos úteis ao mundo e realizados em sua individualidade de ser.
Partindo do estudo e experiências desses grandes especialistas em
Psicologia e Pedagogia, verificando teorias, observações cotidianas de crianças,
jovens e adultos, verificamos que as emoções provenientes de prazer ou dor nos
remetem a necessidade do homem de interpretar e representar essas emoções,
então entrarão num universo de fantasias, sonhos, símbolos e, para isso, é
preciso algo que só o homem tem: imaginação. Da necessidade de atravessar a
fronteira do real e da imagem do real chegamos a Arte, que nada mais é do que
releituras do real. A arte, reflexo de emoções humanas, utiliza a informação, o
conhecimento, o questionamento, a interpretação, enfim, toda a gama de
possibilidades para uma verdadeira aprendizagem.
“Ou seguimos pelo caminho da mesmice, do tradicionalismo ou tomamos o rumo ao desconhecido que poderá nos conduzir ao encantamento a uma forma diferente de se conhecer o belo, enfim, a arte. A Arte que permanecerá, que ficará quando todos já tiverem perecido. A arte é assim, ela fica, ela atravessa fronteiras e tempos, sejam eles tempos reais ou virtuais, seja através de estradas pavimentadas ou através de infovias. A arte restará!”. (SILVA, Ângela Carrancho da (org), 2006, p.28).
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CAPÍTULO II
Criação e crítica em movimento constante
impulsionando a aprendizagem
“A criatividade das artes exige construção de conhecimento e não a simples repetição deles”. (PORTELLA, 2010).
O homem é um todo que funde o biológico, o psíquico, social, afetivo e
racional, fatores que ao se unirem criam um ser pleno para atuar em seu meio. A
educação deve propiciar a resolução de problemas sociais, sem esquecer as
necessidades e aptidões naturais.
“O ser humano é ao mesmo tempo singular e múltiplo... constituindo ele próprio um cosmo. Traz em si multiplicidades interiores”. (MORIN, 2002, p.57).
Para Morin o homem não vive apenas da racionalidade, ele precisa da
irracionalidade: do imaginário, que vai agir como mediador quando há uma
saturação e desgaste proveniente da vida racional.
“Cada qual contém em si galáxias de sonhos e de fantasmas, impulsos de desejos e amores insatisfeitos, abismos de desgraças, imensidões de indiferença gélida, queimações de astro em fogo, acessos de ódio, desregramentos, lampejos de lucidez, tormentas dementes...”. (MORIN, 2002, p.58).
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Várias são as formas de compreender as certezas que existem no mundo
exterior e interior do homem e a ciência ajuda nessa procura, mas o conhecimento
científico revela a existência de “zonas de incertezas”. Cabe às ciências
procurarem e apontarem instrumentos que viabilizem e direcionem nossos alunos
a questionamentos e a criação de condições para entender e aproximar esses
mundos de dúvidas (individual/social), e assim desenvolver um cidadão do mundo.
Ser verdadeiramente um cidadão envolve entender, compreender e possivelmente
transformar, a arte facilita consideravelmente essa interpretação, descobrindo
possibilidades e direcionando transformações. A atitude transformadora
acompanhada de dúvidas, medo do fracasso e do erro, demonstra tentativas de
acertar, esse exercício leva ao verdadeiro conhecimento. O exercício de
simulação é feito facilmente pelo ensino da arte.
“Enquanto na vida cotidiana ficamos quase indiferentes às misérias físicas e morais, sentimos compaixão e comiseração na leitura de um romance ou na projeção de um filme”. (MORIN, 2002, p.101).
2.1 A Emoção e a Criação
“É inevitável que as influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço tenham sobre sua evolução mental uma ação determinante.” (WALLON, 2007. Pg. 122.)
A criação vai agir como “válvula de escape” onde a irracionalidade,
através das manifestações artísticas, dará vazão à satisfação e insatisfação.
Segundo Morin (2002), “a criação brota da união entre as profundezas obscuras
psicoafetivas e a chama viva da consciência”.
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A Arte reflete o inconsciente de um ser, e se esse inconsciente é fruto de
atividades conscientes e genéticas, através dela o homem pode mostrar aos
outros homens sua real identidade e a do seu tempo. Fica, portanto, mais fácil
explicar um período histórico se usarmos nas aulas manifestações artísticas, onde
a imagem e o som conseguem um impacto maior que as palavras fora de um
contexto artístico. O grande pintor Mondrian, 1920, afirmou que não deveríamos
chamar de Arte apenas as manifestações, tradicionalmente denominadas,
artísticas, para ele tudo era arte:
“Quando a arte tiver sido total e plenamente integrada na vida, estaremos prontos a dispensar a arte no seu sentido tradicional, pois, nesse tempo futuro, tudo será arte”. (MONDRIAN, 1920).
Pela Arte as emoções abstratas podem se tornar concretas, visualizadas
em pinturas, músicas, danças, poesias. Ela nos aproxima da alma do criador,
mostrando seus medos, angústias, alegrias, prazer. Não importa os valores
estéticos ou padrões, o que vale é criação, o prazer de criar, o valor simbólico da
criação. Se, a vida é reflexo das emoções, e a arte reflete essas emoções, é claro
que, ensinar com emoção é ensinar com arte. Não podemos distanciar a arte da
vida cotidiana e nem o prazer criativo das pessoas em seu dia-a-dia. A emoção é
parte do homem como seu corpo, sendo fundamental usar é entender suas
representações e utilidades, aproximar o homem da arte é possibilitar que ele
entenda suas emoções, distanciá-lo é impedir seu avanço rumo ao conhecimento
real de si mesmo e dos outros:
“O que me espanta é que em nossa sociedade a arte só tenha relação com os objetos e não com os indivíduos ou com a vida; e também que a arte seja um domínio
25
especializado, o domínio dos especialistas que são os artistas. Mas a vida de todo indivíduo não poderia ser uma obra de arte? Por que um quadro ou uma casa são objetos artísticos, mas não a nossa vida?”. (FOCAULT apud ALMEIDA, 1984, p.331).
2.2 A Crítica Criadora
Já Alberto Tornaghi disse que a arte pode ser considerada um hipertexto,
repleto de riqueza e força transformadora, capaz de libertar as prisões da
racionalidade através de experimentações das diversas formas de expressão.
Essa liberdade que a arte proporciona faz com que o homem saia da apatia, reflita
e avalie de forma mais clara, usando o emocional, assim como o prazer de
“entender”, esse prazer e autonomia geram mudanças que possibilitam seres
apáticos passarem a ser seres transformadores.
A arte como reflexo da vida, dos sonhos, anseios e sofrimentos, desperta
a vontade de interpretar os seres criadores em sua criação, e nesse processo de
decifrar surge à identificação. A crítica vem da necessidade de entender a criação,
num movimento de causa e efeito, sensações e interpretações vão ajudar, de
forma primordial, o surgimento de um cidadão crítico, reflexivo e transformador.
Raul Seixas, em sua música: Metamorfose Ambulante (1973), eternizou a idéia do
homem mutável reflexível, perante as mudanças do Mundo: “Eu prefiro ser essa
metamorfose ambulante/ do que ter aquela velha opinião formada sobre
tudo/¨(Raul Seixas,1973).
O homem é um ser simbólico, a sua imaginação vai levá-lo a mundos
diferentes do mundo real, mas esses mundos são sedimentados na realidade, A
interpretação e posteriormente a crítica fazem o elo com o ser criador:
26
“... a arte vai possibilitar o trabalho proposto pelos PCNs: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser. Essa proposta é importante para que se delineiem as mudanças de paradigmas morais e estéticos necessários ao bom desempenho do processo educacional atual.” (CARRANCHO (org), 2006, p.44)
Tudo que vivemos está repleto de arte, produzir assim como tentar nos
entender ajuda a desvendar os nossos segredos e os mistérios presentes no
mundo que nos rodeia, seja pela tentativa de criar ou pela procura do
entendimento. Segundo Carrancho (2006): “Entende-se e domina-se melhor o
mundo quanto mais informações se tem sobre ele.” O desenvolvimento do
pensamento lógico vai sendo desenvolvido, mais facilmente, pelo exercício de
“releituras”, manipulação, questionamentos e interpretações da criação. A
aprendizagem vai ganhando significado, várias mensagens e diferentes visões vão
surgindo da crítica, motivando o respeito pela pluralidade de linguagem e
facilitando a gênese de um ser capaz de transformar informações e
conhecimentos em benefício de um mundo democrático e conseqüentemente
melhor.
2.3 A aprendizagem resultado do processo: criação e crítica
A arte não obedece à lógica, ao consciente, ela é revolucionária, usa a
lógica como base, mergulha em lugares do inconsciente na procura de uma
simbologia para seu estado mental. O fazer artístico quebra as barreiras, cria
novas estéticas, manipula o real, e, dessa forma, novos seres surgem do contato
com a arte. Conhecimentos e informações surgem do diálogo entre a criação e a
crítica, há uma troca real entre o criador e aquele que “critica”, novas significações
e possibilidades surgem pelo olhar de um “coautor”.
27
Negar o valor da crítica no processo posterior à criação é no mínimo
empobrecedor para a humanidade, pois é nela que se exercita o poder de criar
novas formas de visão e tentativas de desvendar mistérios de outro ser, e assim,
entendendo seus próprios enigmas, sem discriminação ou preconceito, livre de
amarras e controles do consciente e inconsciente que criam paradigmas capazes
de aprisionarem a aventura do homem em campos desconhecidos:
“Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo: se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para apenas falar de minha utopia, mas para participar de práticas com ela coerentes”. (FREIRE, 2000, p.33).
O homem precisa aumentar seu poder criativo e treinar seu olhar crítico
sobre o mundo, desse modo ele estará se preparando para ser um agente
transformador.
Desde os primórdios da civilização o homem utiliza os símbolos para
exteriorizar e transmitir mensagens, a ciência estuda isso como forma de
desvendar o passado. Hoje com as novas tecnologias e a velocidade das
informações, essa procura parece ter ficado a cargo apenas da ciência e dos
homens considerados “entendidos” na crítica. As relações cotidianas de “seres
comuns” são muito rápidas e passageiras, esse é um dos maiores problemas da
Educação atual.
“O aluno deve estar preparado para transformar o que está a sua volta. Ele deve marcar sua presença ativamente e não ser mero espectador”. (CARRANCHO (org), 2006, p.38).
28
Para criar o homem precisa ter idéias, usando intuição e intelecto no
processo criativo; para criticar é necessário sensibilidade. Precisamos usar a
intuição e intelecto para observar e decifrar os enigmas e, assim, interpretá-los.
“Torna-se necessário permitir a experiência não verbal, intuitiva e perceptiva para proporcionar à instrumentalização necessária que garantirá a promoção do aluno como ser criativo e empreendedor, capaz de aprender pensando e sentindo”. (CARRANCHO (org), 2006, p.42).
A imaginação, percepção e a criatividade vão ajudar na análise e
interpretação de problemas para posteriormente resolver e achar respostas que
poderão transformar uma gama de questões presentes na vida humana, para isso,
ele precisa acreditar em seu poder de investigação e ter consciência de que
buscas levam a saídas possíveis. A arte além de propiciar o prazer da criação
estimula o valor da interpretação, criando nesse processo alunos capazes de
descobrir conexões que nem o criador pensou no ato da criação, não existe “uma
melhor interpretação”, existe sim “a interpretação individual”, onde a crítica pode
ser, sem preconceito, uma nova conexão na procura e ajudar a desvendar
mistérios.
“Por meio da arte nos reconhecemos, nos identificamos como pessoas capazes de muitas realizações; quantas forem necessárias. Arte é caminho. E caminho precisa de quem o percorra para existir. Precisa do homem tecendo por meio da arte-caminho a trama de sua própria existência”. (CARRANCHO (org), 2006, p.52).
29
“A democracia supõe e nutre a diversidade dos interesses, assim como a diversidade de idéias. (...) A democracia necessita ao mesmo tempo de conflitos de idéias e de opiniões, que lhe conferem sua vitalidade e produtividade”. (MORIN, 2002, p.108).
30
CAPÍTULO III
A arte reumanizando um ser fragmentado por uma
educação falida.
“Se não morre aquele que escreve um livro ou planta uma árvore, com mais razão não morre o educador que semeia a vida e escreve na alma.” (Bertold Brecht)
O homem ocupa o centro do processo educacional, sendo ao mesmo
tempo sujeito e objeto desse processo, é para ele que a ação educacional é
voltada e, ao mesmo tempo, esse homem elabora e reelabora essa ação. Deve
haver interação entre o sujeito e o objeto para evitar a fragmentação do ser
durante o processo, porque os indivíduos possuem características que
impulsionam a ação. Integrar interesses, expectativas, desejos e motivações que
vão resgatar o cidadão possível: um ser socializado que reconhece o seu papel
enquanto homem singular e do mundo.
Em seu desenvolvimento o homem vai construindo seu próprio ser e
transformando a si mesmo e o mundo ao seu redor. Enquanto ele vai se
transformado pela educação simultaneamente exerce ação transformadora no
meio, para isso é necessário valorizar e incentivar um comportamento criador,
contestador e crítico frente à vida. A arte age como ponte para o desenvolvimento
intelectual e emocional, ajudando a superar desafios, com a possibilidade da
experimentação e integração de aspectos opostos. O fracasso na educação é
reflexo da objetivação da mesma, relevando a subjetividade do homem,
enfatizando conteúdos distantes dos interesses da criança em detrimento de
conhecimentos pertinentes ao mundo afetivo e emocional das mesmas.
31
3.1 Educação falida.
Os baixos índices de rendimento do aluno nas avaliações na escola e nas
avaliações externas são motivos de discussões por todo Brasil. Pais, professores,
“autoridades”, todos tentando achar as causas e implementar programas
educacionais que possam ajudar a resolver esse “problema”.
Os resultados oficiais apontam o quanto nossos alunos sentem dificuldade
de ler, reter a atenção em enunciados longos, transferir conceitos de uma frase
para alternativas de respostas, etc. Por todos esses motivos, o resultado é que
eles não conseguem alcançar índices satisfatórios em exames externos (SAEB,
ENEM) e muito menos nas avaliações de seus próprios professores. Com
interesses muito longe das salas de aulas e do discurso de professores
desestimulados pelos baixos salários. A educação declina em seu âmbito formal,
enquanto nossas crianças aprendem cada vez mais fora da escola, pela Internet,
televisão, cinema, enfim tudo que está fora dos muros de uma escola retrógrada,
estagnada em paradigmas que nem as crianças acreditam, logo as crianças, que
tradicionalmente costumavam acreditar em tudo que os adultos diziam.
“Basta ver o lugar que ocupamos nas melhores avaliações internacionais, atrás de países nos quais eu nem cogitaria, tratando-se de educação. Estamos abaixo da esmagadora (literalmente) maioria. Não seria preciso a opinião de bons institutos internacionais ou nacionais, está debaixo do nosso nariz, e cheira muito mal: nossa educação está abaixo de qualquer crítica. E pode piorar, pois temos um ensino cada vez mais relaxando, uma autoridade mais inexistente; agora se pensa em não reprovar mais ninguém nos primeiros anos, isto é, vamos lhes mentir que estão aprendendo, como disse uma autoridade em ensino”. (LUFT, Lya. 2010, pg. 26, Revista Veja)
32
Há um consenso que o desenvolvimento de um país está atrelado à
qualidade da educação de seu povo e que as perspectivas de um futuro melhor,
para o cidadão, são conseqüências do grau de conhecimentos adquiridos por ele
ao longo de sua vida. Um homem capaz de examinar, refletir e olhar através do
sentido denotativo terá maiores possibilidades de um futuro promissor, para ele e
conseqüentemente para o meio que habita.
Projetos Educacionais são implementados, investimentos financeiros
como livros didáticos, premiações, transporte, uniformes, tudo é feito para
minimizar os problemas educacionais, mas nada parece surtir efeito para
solucionar a catástrofe da Educação no Brasil. Por quê? Inúmeras respostas
poderiam ser dadas para essas questões, tais como: ainda há escolas com
condições físicas precárias, os recursos tecnológicos não chegaram ou são
insuficientes, professores mal pagos, e desestimulados, preparação de baixa
qualidade para os profissionais da área educacional, descrédito no Sistema
Educacional, etc. Uma resposta, ligada à História política e social poderia ser
vinculada a essas indagações:
“E o povo não sabe que o melhor modo de subir na escada social é pela educação, que é informação, é força, é poder. Vai ajudar a tomar decisões mais acertadas, fazer melhores escolhas.” (LUFT, Lya. 2010, pg. 26, Revista Veja).
Os Governantes, na História do Brasil, prepararam seu povo para uma
Educação que enfatiza, questiona, reclama, cobra e retira do poder aqueles que
deixam de cumprir suas promessas? Será que o objetivo foi ensinar para o
adestramento, para as respostas que eles (governantes) queriam e ainda querem.
Ensinar com o objetivo de perpetuar o poder de alguns sobre outros, ou criando
um cidadão capaz de “ler” realmente o Mundo, desenvolvendo um povo
questionador, rebelde na defesa de seus direitos? É claro que, apesar de todo o
33
poder, desses que queriam uma Educação adestradora, a Evolução aconteceu, as
crianças e adultos tiveram acesso às informações e vivências que empurraram os
homens para indagações e reivindicações, organização e possível transformação
política e social.
“O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não é apenas o capital da transnacional que precisa dele para a inovação tecnológica. Ele é básico para a sobrevivência de todos e, por isso, não deve ser vendido ou comprado, mas sim disponibilizado a todos. Esta é a função de institutos que se dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos. Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática, menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas públicas no setor, acabaram surgindo ‘indústrias do conhecimento’, prejudicando uma possível visão humanista, tornando-o instrumento de lucro e poder econômico.” (GADOTTI, 2000, pg. 8)
Não adianta simplesmente detectar e mostrar as falhas, é necessário
encontrar as soluções. Alguns procuram respostas em tratados filosóficos,
psicológicos e pedagógicos, mas elas podem já existir e serem tão simples que o
preconceito pode estar impedindo a sua visualização. Como encontrar uma
solução para um problema tão grande com o de nossa Educação? As respostas e
conclusões podem estar na elaboração de Projetos Políticos Pedagógicos
comprometidos com a emoção e a afetividade de alunos e professores.
Professores Criativos preparam Cidadãos Criativos, capazes de refletirem
e transformarem o mundo:
34
“Na verdade, se admitíssemos que a desumanização é vocação histórica dos homens, nada mais teríamos que fazer, a não ser adotar uma atitude cínica ou de total desespero. A luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como ‘seres para si’, não teria significação. Esta somente é possível porque a desumanização, mesmo que um fato concreto na história, não é, porém, destino dado, mas resultado de uma ‘ordem’ injusta que gera a violência dos opressores e esta, o ser menos.” (FREIRE, 1987. Pg. 30.)
3.2 Reumanizar pela arte.
“Nenhuma análise da arte ou justificativa de seu papel seria adequada se negligenciasse os prazeres da arte em si, A arte tem a capacidade mágica de mandar-nos à lua. Como um foguete, pode fazer nossos corações baterem mais rápido, pode fazer-nos corar, pode criar um sentimento, um ímpeto, que é a sua própria recompensa.” (BARBOSA, 2002. Pg. 92.)
O homem ao longo dos séculos, foi se dividindo, se diluindo, fragmentado
pelo poder, deixando que os diversos papéis que desempenha praticamente
destruísse o ser completo que ele precisa ser para alcançar a satisfação e o
prazer de viver. Sendo o homem um ser tão complexo em sua essência, é
necessário restaurar a totalidade de esse ser fragmentado, unificando o
conhecimento, valorizando o pessoal, a singularidade, a iniciativa e a criatividade
para que ele possa realmente ser sujeito nesse processo de integração homem e
mundo. Centrar-se na totalidade, principio da “visão holista” que além de unir as
partes do todo, deve valorizar o imaginário e a utopia como elementos
agregadores de desejos e paixões, fatores indispensáveis para alcançar a
satisfação, o poder sobre si, através do domínio do conhecimento, criando assim
35
uma nova prática de Educação para o Bem-Estar do Indivíduo e de um Mundo
integrador.
“O sujeito está inteiro em sua emoção; está unido, confundido por ela com as situações que lhe correspondem, ou seja, com o ambiente humano de onde em geral resultam as situações emocionais.” (WALLON, 2007. Pg. 182.)
Todo estudo das Emoções, feitos no primeiro capítulo desta monografia,
mostra que a Arte, sendo a expressão das emoções humanas, representa a forma
mais eficaz para a compreensão do mundo e dos seres que a criam ou decifram.
A arte é a projeção das emoções humanas e basta exercitar a sensibilidade para
penetrar e decifrar seus códigos. A contextualização e a sensibilização reflexiva,
do professor e do aluno, vão possibilitar o prazer de entender, efeito oposto ao
ensino de teorias e conceitos, sem arte, que afasta e hierarquiza a Educação,
transformando a relação professor/aluno de igualitária em hierarquia, onde o
professor é “o dono do saber” que transmite o pouco do que o aluno “pode
aprender”, e o aluno nada teria para ensinar nesse processo. Utilizando a Arte
como ponte do conhecimento, os dois buscam o desconhecido e juntos encontram
soluções possíveis, às vezes diferentes, mas complementares.
A Arte abre novas perspectivas de compreensão do mundo, a Arte reflete
e imita a vida, mostrando o mundo de um modo simbólico, problematizando a
realidade, avaliando e reavaliando as questões humanas e sociais de forma aberta
e flexível como convém ao mundo e ao homem de forma global, mas sem perder
sua identidade e seus desejos. Sonhos tão bem definidos por BOFF (2001):
36
“Morrem as ideologias e envelhecem as filosofias. Mas os sonhos permanecem. São eles húmus que permitem continuamente projetar novas formas de convivência social e de relação para com a natureza”.
As desilusões, contrariedades, fracassos geram um processo de
desumanização generalizada, e a arte traz a tona o emocional e a afetividade,
devolvendo a ingenuidade primitiva de poder criar, sem se preocupar com a
crítica, e esta ao ser feita passa a ser também criação, porque é uma nova visão e
não uma negação da criação.
A esse processo de ir-e-vir Bernad Charlot chama de Mobilização, uma
dinâmica interna, que diferente da motivação (ação externa) desperta o desejo de
seguir rumo ao conhecimento. A Arte age como mobilizadora na Educação,
possibilitando tanto na criação quanto na crítica, a humanização e a integração as
diversas opiniões sobre problemas pessoais ou sociais, dessa forma integrando o
homem tanto em seu lado individual, como em seu lado social para o verdadeiro
conhecimento, capaz de evitar o caos que reina na Terra. A Educação é fator
fundamental para evitar a catástrofe Global que se anuncia, resultado da criação
de seres fragmentados e que, só a reumanização do ser pode evitar.
A educação, como diz Gadotti, deve servir de “bússola para navegar
nesse mar do conhecimento”, com informações “úteis” para a vida, não só para a
utilidade social, mas para a necessidade individual do homem em seu “devir”.
3.3 Uma prática de sucesso
Vivemos em um tempo em que as transformações acontecem de forma
muito rápida. Em um ano, descobrem-se elementos ou novidades que antes
levariam décadas para acontecer, gerações inteiras poderiam passar sem que
37
nada fosse descoberto e passado para a população. As informações parecem
ganhar a velocidade da luz e por isso somos bombardeados por elas a todo
instante.
A escola é uma instituição que atravessa os tempos e está bem no meio
deste turbilhão de novidades, sejam eles: científicos, sociais ou políticos. Sua
tarefa é contribuir para a construção do conhecimento, levando em conta essas
transformações e respeitando a enorme diversidade de pessoas que existem
dentro dela.
Há alguns anos muito tem se falado em projetos educacionais. Eles, se
forem bem planejados e aplicados, transformam a escola em um verdadeiro
espaço de construção do conhecimento e da identidade, e vão fazer todo o
processo pedagógico ganhar dimensões afetivas e sociais. A escola não é uma
“ilha”, ela é parte de uma comunidade, que também deve estar pronta para
contribuir nesse processo, pois nele serão “arrolado” todos aqueles que deverão
trabalhar por sua melhoria em um futuro muito mais próximo do que se espera.
Usando a interdisciplinaridade e a transversalidade, estabelecendo uma relação
entre os conhecimentos e questões da vida real. Surgindo então uma escola que
age com o professor-cidadão em busca do aluno-cidadão.
“Por uma escola pública de qualidade!”. Esse é o lema do projeto “Leu,
escreveu, dançou...”, criado pela professora Regina Loureiro, que há vinte e três
anos trabalha com conceitos de transversalidade e interdisciplinaridade numa
escola da Baixada Fluminense: Colégio Estadual Jardim Meriti, com alunos do
Ensino Médio, com o apoio da comunidade. Reconhecendo que a arte e a leitura
do mundo são a base estrutural para a construção do conhecimento e também
preocupado com a evasão escolar, esse projeto acabou nascendo. Hoje o projeto
já ultrapassou os muros da escola, buscou parcerias para a realização de
atividades que também beneficiam a comunidade atuando com ações sociais que
levam a cidadania para quem lhes tem sido negadas.
38
No projeto “Leu, Escreveu, Dançou...” os alunos realizam a leitura,
debatem em grupo, escrevem suas conclusões e impressões e criam formas
diversificadas para apresentarem seus trabalhos aos demais colegas. Esse projeto
não contribui apenas para o desenvolvimento pedagógico do educando, mas
também é uma forma de ajudar nossos alunos a enfrentarem os concursos para
as escolas técnicas federais ou estaduais que também são alvo de alunos da rede
privada de ensino. Com o projeto os alunos resgatam conhecimentos anteriores
que não foram assimilados nas aulas teóricas, mostrando que “o fazer” é mais
motivador. O aluno lê, escreve e cria durante o processo e para culminar,
acontece uma exposição, onde todos os trabalhos produzidos são mostrados para
a comunidade e ao final é realizada uma festa onde todos dançam. Essa festa
consegue muito mais, pois além de ser um atrativo para os alunos, torna-se ainda
uma fonte de recursos para a formatura das séries concluintes.
O projeto “Leu, Escreveu, Dançou...” surgiu de forma inversa à maioria
dos projetos criados, pois primeiro, ele simplesmente nasceu de uma necessidade
de reverter um quadro de evasão escolar e da vontade de professores em
despertar no aluno o interesse pela arte e o gosto pela leitura, para somente
depois ganhar o papel. Mas independente de qualquer ordem dos acontecimentos,
esse projeto continua com sua essência, só que agora muito mais comprometido
com toda a comunidade.
Esse projeto ganhou também um “belo movimento”, foi a partir dele que há
vinte e um anos nascia o Grupo de Dança Jardim Meriti e há quatro anos o Grupo
de Teatro Reflexus, que hoje agrega alunos, ex-alunos e membros da
comunidade.
39
CONCLUSÃO
É um absurdo que estando no século XXI, já viajamos pelo espaço,
“recriamos” o Big Bang, mas ainda não somos capazes de erradicar o
analfabetismo, que alcança em determinadas regiões índices alarmantes. O
avanço científico repleto de novas tecnologias não ajudou a minimizar o
afastamento da grande maioria dos homens do verdadeiro conhecimento.
Crianças impedidas de verdadeiramente “ler o mundo”, interpretá-lo e modifica-lo
para seu prazer. As novas descobertas e invenções parecem servir apenas a
alguns poucos homens, a grande maioria não consegue alcançar acesso ao
desenvolvimento de uma consciência pessoal e social, já que seu potencial não
recebe as condições necessárias a esse crescimento intelectual.
Os estudos e conhecimentos mais modernos da Psicologia Humana e da
Pedagogia Educacional, que poderiam ajudar no resgate do Homem-cidadão,
ficam restritos as classes mais favorecidas financeiramente. As teorias que
propiciam o crescimento individual e integração para melhores condições de vida,
em pleno século XXI, permanecem ocultas ou veladas para as camadas populares
da população brasileira e de outros países nas mesmas condições precárias.
Existe por parte das classes dominantes preocupação com a educação
para o trabalho, preocupados com o crescimento do país, o desenvolvimento
econômico e tecnológico do Brasil. E as crianças como ficam nesse país? Onde
ficam seus desejos, suas emoções?
O verdadeiro saber, aquele que leva o homem a se sentir parte do mundo,
integrado ao meio, realizado como ser individual e social. A educação é essencial
para a transformação da criança em um adulto realmente feliz o que acarretará um
cidadão transformador e produtivo, procurando o progresso pessoal e coletivo sem
medo de fracassar, motivado por questões afetivas e emocionais e preocupado
40
com as questões sociais. Uma educação fundamentada em teorias psicológicas
que valorizam a importância da emoção na aprendizagem, além de ser
democrática, por ser centrada na individualidade e na motivação pessoal, vai
acarretar o crescimento social do homem, aprendendo a conhecer a si mesmo ele
pode se reconhecer nos outros.
É impossível negar a influência afetiva na evolução mental do ser humano
.O contato emotivo se estabelece como um contágio que acarreta o crescimento
intelectual, os olhos, as mãos, a voz, enfim, todo o corpo obedece aos estímulos
afetivos, num poder de atração total. Para efetivar, esse jogo emocional, a arte
exerce uma função “mágica”, ela é capaz de aglutinar num só momento prazer,
sofrimento, alegria, dor, enfim pura emoção!
Se a arte é emoção, e esta por sua vez é fundamental para a vida
humana, nada mais simplista que atrelar as duas e usá-las como veículo para uma
educação prazerosa, eficiente, duradoura e principalmente para todos mais
individual em sua aplicação. Grandes pensadores da educação atual, teorias
psicológicas de vanguarda, experiências intuitivas e engajadas nesses princípios,
foram abordadas nessa monografia e todo esse estudo confirmou que a emoção e
arte ajudam na formação da verdadeira cidadania, que só acontece quando o
homem, produto dessa educação, consegue a satisfação pessoal.
A educação para hoje e para o futuro não pode ficar presa a dogmas do
passado, nem unicamente aos interesses sociais, ela deve estar interada no
indivíduo e nas suas emoções, só assim os problemas atuais poderiam ser
detectados, analisados e talvez solucionados a longo prazo, pois, não dá para
erradicar, como num passe de mágica, os erros de milênios de uma educação
concretada em teorias abstratas. Na educação pela emoção as teorias serão
oriundas de experiências concretas e provenientes de interesses reais da criança,
num processo de contextualização.
41
O progresso do Mundo virá da satisfação individual de seus habitantes; a
preservação do bem comum da consciência fundamentada do cidadão
questionador e transformador, ele que será fruto de uma verdadeira Educação.
42
ANEXOS
Índice de anexos
Esses anexos têm por objetivo mostrar a prática do uso da Emoção e da
Arte para alunos de Escola Pública, assim como fundamentar e exemplificar todo
o estudo realizado para a confecção deste trabalho monográfico.
Anexo 1 >> Internet; Anexo 2 >> Imagens; Anexo 3 >> Fotografia; Anexo 4 >> Reportagem; Anexo 5 >> Avaliação.
43
ANEXO 1
INTERNET
Acessado dia: 26/01/2011
http://www.educacao.rj.gov.br/index5.aspx?tipo=categ&idcategoria=586&idItem=3579&idsecao=13
Anos de Chumbo e Anos Dourados em escola da Baixada Por Mônica Marzano Caminhando para os 21 anos de existência, o projeto "Leu, Escreveu, Dançou...", está em ritmo acelerado. Em 2009, literatura, teatro e música vão passear pela História no Colégio Estadual Jardim Meriti, em São João de Meriti.
Dois grandes temas, que partiram do interesse dos professores, serão desenvolvidos . No primeiro semestre, “Entre flores e chumbo” vai levar os alunos a uma viagem no tempo, começando nos anos 50, passando pela ditadura militar até os dias de hoje. A partir de agosto, os estudantes participarão de atividades criativas que receberam o título: “E se...”, que vai estimular os estudantes a diversas perguntas tais como: “E se... Getúlio Vargas ainda estivesse vivo?”, “E se Adolf Hitler não tivesse existido?”
44
Partindo de pesquisas em livros, músicas e outros materiais, a coordenadora do projeto, Regina Loureiro, pretende extrair o máximo de ideias dos jovens, para montar coreografias, textos e peças teatrais. - Além das opções literárias, os meninos vão ter a chance de conhecer melhor intérpretes e compositores de diferentes gerações, como Chico Buarque, Cazuza e tantos outros. Atualmente, o projeto é realizado com cerca de 1.300 alunos do Ensino Médio diurno. Nessa primeira etapa, eles estão recebendo tópicos diversos, para a escolha de sub-itens de sua preferência. A partir daí, eles darão início à pesquisa na biblioteca do colégio. Todo o esforço valeu a pena, e este ano o projeto vai receber recursos da Secretaria de Educação. Com a verba, serão comprados câmera filmadora, máquina digital, computador e impressora multimídia. O transporte para saídas culturais também receberá apoio. - Teremos um impacto maior agora. Antes, dependíamos dos equipamentos que os alunos traziam de casa – conta, destacando que a biblioteca, chamada por ela de QG (Quartel General), será totalmente informatizada com a aquisição do computador. Prêmios, respeito e cidadania Modesta, Regina diz que não tem formação em dança ou música. No entanto, suas coreografias ganharam espaço fora dos muros escolares. Durante mais de duas décadas, os grupos de dança que passaram pela unidade colecionam participações especiais, como na mostra organizada no Centro Cultural da Prefeitura de Vilar de Teles. A equipe de dançarinos tem, em média, 30 alunos e ex-alunos do colégio. Alguns deles, hoje em dia, são psicólogos, historiadores e professores, mas retornam ao convívio escolar.
45
A coordenadora conta que, no ano passado, as turmas se revezavam nas palestras de escritores, cineastas, músicos, entre outras, realizadas pelo projeto “Quarta às Quatro”, na Biblioteca Nacional. Os jovens também marcaram presença na Rio Jazz Orchestra, da Universidade Estácio de Sá. Para junho deste ano, está prevista a terceira apresentação na mostra de dança da Rio Sampa. - Aprendo muito, assistindo a espetáculos e lendo. Crio passos que transmitem o que leio e sinto. Ganhamos respeito da comunidade de bailarinos. O sucesso do “Leu, Escreveu e Dançou...” está ganhando raízes dentro do Jardim Meriti. Docentes do Ensino Fundamental se inspiraram na iniciativa e elaboraram o projeto “O futuro em minhas mãos”, que aplica o mesmo conceito. - Fico feliz em saber que deixei uma semente. Os alunos mudam a postura, ficam diferentes. Esse é o retorno que recebo dos outros professores. As notas também melhoraram. Cerca de 20 alunos, do 9º ano do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio, conquistaram laptops e receberam o prêmio, durante cerimônia realizada pela Secretaria de Educação no Maracanãzinho. Para melhorar ainda mais os conceitos nas avaliações, a unidade já aderiu ao “Entre Jovens”, projeto de reforço em Português e Matemática, que acontece em parceria com o Instituto Unibanco. A coordenação também ficou a cargo de Regina Loureiro. Em breve, o colégio promete enviar novos resultados que vão servir de exemplo para as demais unidades da rede estadual.
46
ANEXO 2
IMAGEM
Imagem 1- Banner de divulgação produzido por ex-alunos, com os palcos onde o grupo já
se apresentou e reportagens sobre suas ações.
47
Imagem 2- Banner confeccionado por ex-alunos para divulgação do Projeto, fazendo uma
retrospectiva desde 1988 quando surgiu, até 2009.
48
Imagem 3- Banner criado por um componente do Grupo de teatro, para
divulgação da peça, adaptada e realizada por ex-alunos e pessoas da comunidade
que fazem parte até hoje do Projeto
Imagem 4- “O Grito” de Edvard Munch (1893)
49
ANEXO 3
FOTOGRAFIAS
Foto 1- Grupo de alunos do C. E. Jardim Meriti em uma aula-passeio à Casa
França Brasil.
Foto 2- Aula-passeio dos alunos do C. E. Jardim Meriti ao C. C. Banco do Brasil.
50
Foto 3- Aula-passeio ao Forte de Copacabana.
Foto 4- Formatura dos alunos do 3° Ano do C. E. Jardim Meriti, realizada com a
ajuda do Projeto: “Leu, Escreveu, Dançou...”
51
ANEXO 4
REPORTAGEM
Jornal Educar – 2009.
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ANEXO 5
AVALIAÇÃO
Avaliação 1- E-mail de agradecimento à corrdenação do Projeto por um trabalho
apresentados pelos alunos do C. E. Jardim Meriti
54
Bibliografia Consultada
AQUINO, Julio G. Erro e Fracasso na Escola – Alternativas teóricas e práticas. 5ª
Ed. São Paulo: Summus, 1997.
BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. 7° Ed. Editora Ática, São Paulo, 2004.
BOURDIEU, Pierre. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2003.
BRASSART, Simone Fontanel & ROUQUET, André. A Educação Artística na
Acção Educativa. Coimbra: Livraria Almeida, 1977.
COLL, César. O Construtivismo na Sala de Aula. 3ª Ed. São Paulo: Ática, 1997.
CONCEIÇÃO, Débora. O Serviço Social e prática pedagógica: a arte como
instrumento de intervenção social. 2008.
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos
epistemológicos e políticos. 6° Ed. São Paulo: Cortex, 2002.
DELORS, Jacques. Educação, um tesouro a descubrir. São Paulo: Cortex, 1996.
FAZENDA, Ivani. Práticas Interdisciplinares na Escola. 9ª Ed. São Paulo: Cortez,
2002.
FISCHER, E. A necessidade da arte. 9° ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
FREIRE, Paulo. Política e Educação. 6° Ed. São Paulo: Cortez, 2001.
HERNÁNDEZ, Fernando. Aprendendo com as inovações nas escolas. Porto
Alegre: ARTMED, 2000.
OLIVEIRA, Marta K. Coleção Os Grandes Pensadores: Jean Piaget, Lev Vygotsky,
Celestin Freinet, Henri Wallon. Belo Horizonte: Cedic.
OLIVEIRA, Marta K. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento, um processo
sócio-histórico. 4ª Ed. São Paulo: Scipione, 1997.
PALANGANA, Isilda C. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky: a
relevância do social. 5ª Ed. São Paulo: Summus, 2001.
SILVA, Ângela C. Escola com arte: Multicaminhos para a transformação. Porto
Alegre: Mediação, 2006.
55
STATERI, Julia. OLIVEIRA, Neemias. BARBOSA, Thiago. A IMPORTÂNCIA DA
ARTE E DA APRENDIZAGEM CONTÍNUA NA FORMAÇÃO DO
PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO. 2008.
TAILLE, Yves.; OLIVEIRA, Marta k.; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon.
Teorias Psicogenéticas em discussãos. São Paulo: Summus, 1992.
TEIXEIRA, Anísio. Coleção Gandes Educadores: Paulo Freire, John Dewey,
Matthew Lipman, Educadores Brasileiros.
www.educadoressociais.com.br/artigos/a_arte_com_possivel.pdf - A ARTE COMO
POSSÍVEL CAMINHO PARA REUMANIZAR O SER. 25/11/2010.
www.profala.com/arteducesp22.htm . A Influência da Arte e da Filosofia no Aspecto Cognitivo do Processo de Aprendizagem. 03/08/2010. www.revistaescola.abril.com.br - BERNARD, Charlot. Ensinar com significado para
mobilizar os alunos. 29/10/2010.
56
Bibliografia Citada
BARBOSA, Ana M. Arte-Educação: leitura no subsolo. 4ª Ed. São Paulo: Cortez,
2002.
FREINET, Célestin. Pedagogia do Bom Senso. 2ª Ed. São Paulo, SP: Martins
Fontes, 1988.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam.
São Paulo: Cortez, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17° Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação, Porto Alegre, Ed. Artes Médicas,
2000.
LUFT, Lya. Entrevista para a Revista Veja, 22 de dezembro de 2010.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 6ª Ed. São
Paulo: Cortez, 2002.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 7ª Ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. 1ª Ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
57
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
BRINCANDO E APRENDENDO – A ARTE COMO FONTE DE PRAZER E
REFLEXO DE SOFRIMENTO 12
1.1 – Jean Piaget e a Psicologia da Inteligência 14
1.2 – Vygotsky e a formação dos conceitos 16
1.3 – Wallon: Emoção e Inteligência 18
1.4 – Freinet Motivação numa escola para o povo 19
1.5 – Uma escola possível 20
CAPÍTULO II
CRIAÇÃO E CRÍTICA EM MOVIMENTO CONSTANTE IMPULSIONANDO A
APRENDIZAGEM 22
2.1 – A emoção e a criação 23
2.2 – A crítica criadora 25
2.3 – A aprendizagem resultado do processo. Criação e crítica 26
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CAPÍTULO III
A ARTE REUMANIZANDO UM SER FRAGMENTADO POR UMA EDUCAÇÃO
FALIDA 30
3.1 – Educação falida 31
3.2 – Reumanizar pela arte 34
3.3 – Uma prática de sucesso 36
CONCLUSÃO 39
ANEXOS 42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 54
BIBLIOGRAFIA CITADA 56
ÍNDICE 57
59
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Título da Monografia: ARTE E GESTÃO EDUCACIONAL
Autor: REGINA DA COSTA LOUREIRO PEDRO
Data da entrega: 27/01/2011
Avaliado por: MARY SUE Conceito: