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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
INFLUÊNCIA DA PERCEPÇÃO DO ESQUEMA CORPORAL
NA REGULAÇÃO DA POSTURA
AUTORA: LAURA BAPTISTA DO AMARAL
PROF. ORIENTADOR: MARCO ANTONIO CHAVES
RIO DE JANEIRO, RJ, FEVEREIRO/2002
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
INFLUÊNCIA DA PERCEPÇÃO DO ESQUEMA CORPORAL
NA REGULAÇÃO DA POSTURA
AUTORA: LAURA BAPTISTA DO AMARAL
Trabalho Monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do Grau
de Especialista em Psicomotricidade
RIO DE JANEIRO, RJ, FEVEREIRO/2002
Agradeço
À equipe de professores do Curso de Pós-
graduação em Psicomotricidade da
Universidade Cândido Mendes pelas
informações e esclarecimentos sobre o
assunto.
“Não se vê, sente ou percebe em isolamento —
a percepção está sempre ligada ao comportamento
e ao movimento, à busca e à exploração do mundo.
Ver não é suficiente; é preciso olhar também.”
OLIVER SACKS
SUMÁRIO
Resumo
Introdução
1. Psicomotricidade
1.1 Conceito
1.2 Áreas de atuação da Psicomotricidade
1.3 Funções Psicomotoras
2. Percepção do Esquema Corporal
2.1 Imagem corporal
2.2 Esquema corporal
2.3 Percepção e sensação
3. Postura e equilíbrio
3.1 Conceitos de postura
3.2 Postura bípede
3.3 Evolução postural
3.4 Equilíbrio
3.5 Controle motor
3.6 Receptores que influenciam no controle postural
4. Sistema sensorial
4.1 Sistema proprioceptivo
4.2 Sistema vestibular
4.3 Sistema visual
Conclusão
Bibiliografia Consultada
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RESUMO
A presente monografia é resultado de revisão
bibliográfica, tendo como proposta o encontro da Psicomotricidade com
conceitos básicos de postura, questionando a influência da percepção do
esquema corporal na regulação da postura.
O trabalho é iniciado com um breve estudo sobre a
Psicomotricidade, citando alguns conceitos e, em seguida, aborda as suas
áreas de atuação, as funções psicomotoras trabalhadas e a sua importância no
desenvolvimento do indivíduo. Enfocando, principalmente a imagem e a
estruturação do esquema corporal, bem como as suas relações com a
percepção e a sensação humana. Posteriormente apresenta conceitos
posturais básicos e o sistema sensorial relacionado à sua regulação.
INTRODUÇÃO
Este trabalho é um estudo introdutório, não conclusivo, que questiona a
possibilidade do encontro da Psicomotricidade com a Fisioterapia.
O objetivo desta monografia é uma tentativa de relacionar conceitos da
Psicomotricidade com conceitos básicos da regulação da postura, visando
compreender melhor a influência da percepção do esquema corporal do
indivíduo para melhor elaboração de uma possível proposta de atendimento
que utilize essa informação como um novo enfoque que traga melhores
resultados nos trabalhos.
1. PSICOMOTRICIDADE
1.1 – Conceito
Conceituar Psicomotricidade é por demais relevante
neste trabalho. Psicomotricidade consiste em estudar o indivíduo e suas
relações com o seu corpo e o meio físico e sociocultural no qual convive.
Elevada atualmente ao nível de ciência, a
Psicomotricidade é fundamentada e estudada por um amplo conjunto de
campos científicos, onde podemos destacar a Neurofisiologia, a Psiquiatria, a
Psicologia e a Educação, imprimindo cada uma dessas áreas enfoques que
lhes são específicos.
A Psicomotricidade foi definida por Ajuriaguerra,
segundo Loureiro (1983), como “a realização do pensamento através do ato
motor, preciso, econômico e harmônico”.
No 1º Congresso Brasileiro de Terapia Psciomotora
(1982), a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade definiu o termo
Psicomotricidade como: “Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo
o estudo do homem , através do seu corpo em movimento, nas relações com o
seu mundo interno e externo.”
A Psicomotricidade possui crescente importância
nos trabalhos que se relacionam com o desenvolvimento infantil, tanto na fase
pré-escolar como posteriormente, mas não podemos restringir a sua ação
apenas nesta fase do desenvolvimento humano, sendo que estudos vêm
comprovando a eficácia da Psicomotricidade com grupos de adolescentes,
adultos e, principalmente, grupos de terceira idade.
Na sua prática a Psicomotricidade empenha-se em
mostrar que o homem é seu corpo. O corpo fala de sua emoção e repercute no
movimento do sujeito, ou seja, o movimento é uma linguagem que expressa o
verdadeiro sujeito.
O estudo do movimento humano é um meio para
conhecer o homem na sua totalidade indivisível e não uma pura descrição
física e muscular explicada por atlas ou tratados de anatomia e fisiologia
analítica.
“O termo Psicomotricidade implica na concepção de
movimento organizado e integrado em função das experiências vividas
pelo sujeito, adquirindo na sua execução uma forma resultante e
característica de sua individualidade, colocando o movimento como um
componente essencial na estruturação psicológica do Eu”. (COSTE, J.
1981)
1.2 – Áreas de Atuação
Estudos recentes apontam três principais áreas de
atuação da Psicomotricidade: 1. Reeducação Psicomotora; 2. Terapia
Psicomotora; 3. Educação Psicomotora.
Algumas vezes em certos trabalhos esses três níveis
de atuação podem confundir-se, mas cada um apresenta características
próprias que serão resumidamente abordadas:
1. Reeducação Psicomotora tem como objetivo atender indivíduos
portadores de sintomas de ordem psicomotora, como por exemplo:
debilidade motora; atraso e instabilidade psicomotora; dispraxias;
distúrbios do tônus da postura, do equilíbrio e da coordenação; e
deficiências perceptivo-motoras. O atendimento pode ser individual ou
em pequenos grupos de crianças, adolescentes e adultos.
2. A Terapia Psicomotora é indicada às crianças com grandes
perturbações e cuja adaptação é de ordem patológica. Apesar de ser
mais freqüente o trabalho com crianças, a Terapia Psicomotora também
ocupa-se do atendimento de adolescentes e adultos, individualmente ou
em pequenos grupos.
3. A Educação Psicomotora é indicada às crianças ditas “normais”, atua
como parte integrante da educação básica durante a fase pré-escolar e
escolar.
“Educação Psicomotora é uma atividade
através do movimento, visando um desenvolvimento de capacidades
básicas — sensoriais, perceptivas e motoras — propiciando uma
organização adequada de atitudes adaptativas, atuando com agente
profilático de distúrbios da aprendizagem.” (COSTE, J. 1981)
A Educação Psicomotora vem sendo utilizada
atualmente com muita ênfase em várias instituições escolares e em outras que
fazem trabalhos relacionados à recreação infantil, como também de adultos,
atuando, principalmente, em grupos de terceira idade. Através de uma série de
atividades, como exercícios e jogos, procura promover o completo
desenvolvimento físico, mental, afetivo e social do indivíduo.
O profissional que atua nesta área deve buscar as
necessidades e interesses dos indivíduos, propondo-lhes atividades que
possam produzir/oferecer adequada estimulação e que venham ampliar o
vivido corporal, que é o responsável pelos inúmeros esquemas que serão
transferidos às situações vivenciadas no futuro.
Independente da atividade proposta e do método
utilizado, deve-se levar em consideração as funções psicomotoras (esquema
corporal, equilíbrio, coordenação entre outras) que pretende-se trabalhar
durante a sessão. Em qualquer atividade ou exercício proposto, sempre uma
função psicomotora encontra-se associada a outras; então, cabe ao
profissional identificar qual é o objetivo a ser alcançado.
1.3- Funções Psicomotoras
As dez funções psicomotoras mais citadas pelos
estudiosos da Psicomotricidade, a partir de uma revisão da literatura nesta área
são: 1. esquema corporal; 2. tônus da postura; 3. dissociação de movimentos;
4. coordenações globais; 5. motricidade fina; 6. organização espacial e
temporal; 7. ritmo; 8. lateralidade; 9. equilíbrio e 10. relaxamento (total,
diferencial e segmentar).
2. . PERCEPÇÃO DO ESQUEMA CORPORAL
Considera-se esquema corporal a imagem, o
conhecimento e o uso do próprio corpo em repouso ou movimento.
2.1- Imagem corporal
Entende-se por imagem corporal a figuração
de nosso corpo elaborada na mente. Ou seja, o modo pelo qual o corpo está
configurado por uma auto-significação.
Várias sensações externas nos são dadas,
como as táteis, térmicas e dolorosas. Outras vêm dos sistemas visuais,
proprioceptivos e dos introceptores.
Existe, ainda, a experiência imediata de uma
unidade do corpo percebida, sendo esta, porém mais do que uma percepção.
Segundo Shilder é o esquema de nosso corpo, esquema corporal. Ou
conforme Head enfatiza a importância do conhecimento da posição do corpo,
de modelo postural do corpo: “O esquema do corpo é a imagem tridimensional
que todos têm de si mesmos”. Dessa forma, podemos chamá-la de imagem
corporal.
A imagem corporal não é apenas uma
sensação ou imaginação. Apesar de utilizarmos os sentidos para esta
percepção, é muito mais do que isto. Existe uma “apercepção” devido à
existência do envolvimento de figurações e representações mentais.
A imagem corporal é elaborada a partir de
uma forma organizada e estruturada em função de elementos significativos das
percepções individuais. “A percepção é sempre nosso próprio modo de
perceber.” (Shilder)
Para cada impressão sensorial, existe uma
percepção individual. Toda sensação leva consigo uma representação visual
de suas relações espaciais.
A localização é construída por impressões
visuais e cinestésicas, interferindo no modelo postural do corpo.
A imagem corporal e especialmente seus
componentes visuais são necessários para o início de um movimento.
Vários fatores contribuem para a formação da
imagem do corpo, sendo as principais o visual, o tátil e o proprioceptivo.
“A imagem espacial do corpo é arelação entre as sensações percebidas no corpo e somadasàs suas representações visuais, permitindo avaliar alocalização das estimulações. A imagem espacial do corpofavorece a orientação do próprio corpo no espaço.” (Pick,1908)
A partir dessa imagem são formados modelos
próprios organizados, denominados esquemas. Os modelos modificam as
impressões produzidas pelos impulsos sensoriais recebidos de maneira que a
sensação final de posição ou localização chegam sempre à consciência
carregada de uma relação com algo já acontecido anteriormente.
Devido às varias alterações de posição,
estamos sempre construindo um modelo postural de nós mesmos, o qual é
modificado a cada nova postura ou a cada novo movimento. Para cada nova
postura, ou movimento, um novo registro é feito neste esquema maleável,
criando através da atividade do córtex uma nova relação com cada novo grupo
de sensações para cada postura assumida. O reconhecimento da nova postura
ocorre imediatamente após a relação esteja completa. O esquema possui um
papel essencial na manutenção da regulação postural.
2.2. Esquema Corporal
“É uma intuição de conjunto ou umconhecimento imediato que temos do nosso corpo em posição estática ou emmovimento, na relação das suas diferentes partes entre si e, sobretudo, nasrelações com o espaço e os objetos que nos circundam”. (Le Boulch)
Compreende, neste caso, a imagem e o conceito do
corpo e suas partes.
Em cada ação motora, há um esquema
diferente. O esquema não é o mesmo quando um indivíduo se prepara para
descer uma escada no escuro ou quando se prepara para uma corrida.
O esquema corporal não é uma realidade
estática, tem um caráter dinâmico, em perpétua construção, resultado das
aferências sensoriais interoceptivas, proprioceptivas e exteroceptivas.
Além de noções do próprio corpo e das noções com
exterior nas suas expressões de espaço e tempo, o contato com outras
pessoas, a evolução do gesto e da linguagem são aspectos importantes na
formação do esquema corporal.
Durante as etapas de formação do esquema
corporal, é necessário que a criança conheça as partes do corpo pelo nome,
localize-as, identifique suas funções e coordene as diferentes partes, para
descobrir suas reais possibilidades de movimento.
É através de movimentos como rastejar, engatinhar
e andar, que a criança adquire suas primeiras noções de espaço: perto, longe,
dentro, fora, em cima e embaixo. Portanto, partindo do seu próprio corpo e
usando-o como referência, a criança elabora sua organização espacial. O
desenvolvimento da orientação espacial está intimamente ligado tanto ao
desenvolvimento motor quanto ao do esquema corporal.
O esquema corporal é resultado de uma
multiplicidade de sensações provindas dos sentidos internos e externos.
2.3 Percepção e sensação
Percepção é a capacidade de perceber o ambiente
através de impulsos sensoriais e traduzir estes impulsos em significados,
baseados na compreensão desenvolvida previamente. Para percebermos o
ambiente, ocorre uma integração de todos os sistemas sensoriais. Utilizamos,
simultaneamente, o sistema auditivo, tátil, cinestésico, vestibular, olfativo e
visual.
A percepção visual deve ser vista como uma
parte do processo perceptivo. O ser humano baseia-se, predominantemente,
na orientação visual para o mundo. Dessa forma, associa a própria percepção
de mundo com a visão.
A percepção visual humana é um processo
muito complexo e atravessa fases de desenvolvimento. Ver não é uma função
separada, isolada. Durante o desenvolvimento da criança, a visão está
integrada com o sistema total de ação, sendo importante na postura, aptidão,
coordenação manual, inteligência e, até mesmo, na personalidade do indivíduo.
“Atingimos a constância perceptiva acorrelação de todas as diferentes aparências, as modificações dosobjetos muito cedo, nos primeiros meses de vida. Trata-se deuma enorme tarefa de aprendizado, mas que é alcançada tãosuavemente, tão inconscientemente, que sua imensa complexidademal é percebida (embora seja uma conquista a que nem mesmo osmaiores supercomputadores conseguem começar a fazer face)”.(Sacks, O.)
É preciso fazer uma distinção entre sensação
e percepção e como elas ocorrem.
O estudo da evolução dos órgãos dos
sentidos nos mostra que, ao longo dos anos, os órgãos receptores
especializaram-se para captar diferentes formas de sensações. Assim, os
receptores visuais são capazes de captar determinados diapasões de
oscilações eletromagnéticas; já o ouvido capta as vibrações sonoras, etc.. A
sensação é um processo ativo e inclui sempre na sua estrutura um
componente motor.
“As sensações nos dão o conhecimento domundo exterior e do nosso próprio corpo. Através delas, homempercebe as propriedades das coisas externas e estado do seuorganismo. Vinculando o homem ao mundo, as sensações são a fonteessencial do conhecimento da psiquê”. (Saboya, B.)
As percepções dependem dos conhecimentos
prévios do homem e da sua atividade de análise e síntese. Cria-se uma
hipótese, na dependência do caráter objetivo que evolui com a idade e a
capacidade intelectual. Isto nos possibilita fazer generalizações e nos permite
estabelecer ligações através das experiências anteriores.
A capacidade perceptiva do homem é
característica da vontade, da direção e da consciência.
“Os sentimentos são irmãos das sensações.Os sentimentos são percepções corporais e é função daautoconsciência corporal perceber o quão profundamente sentimos e oquanto nos sentimos. A autoconsciência corporal não é uma funçãointelectiva, mas uma consciência sensorial do corpo. É o estar emcontato com o corpo, sabendo o que está acontecendo em cada partedo corpo”. (Saboya, B.)
Sendo assim, manifestamos alterações
corporais, interferindo na postura, conforme sentimentos, sensações e
percepções diferentes.
3. POSTURA E EQUILÍBRIO
3.1. Conceitos de postura
Existem inúmeros conceitos de postura
humana, e inúmeras interpretações do seu significado, variando esta
interpretação conforme a natureza do profissional ou do especialista que a
observa e analisa para atender os seus objetivos propostos.
Segundo Asher, a postura pode ser definida
como a posição do corpo no espaço, com referência especial a suas partes.
Roaf define a postura dinamicamente,
afirmando ser a mesma a posição assumida pelo corpo para a preparação do
próximo movimento.
Para Kendall et col., postura é a posição do
corpo que envolve o mínimo de estiramento e de “stress” de suas estruturas,
com o menor gasto de energia para se conseguir o máximo de eficiência. Estes
autores acreditam ser possível obter-se um alinhamento básico correspondente
a uma postura padrão estática, usando as linhas de referência que passam
pela metade do corpo, tanto por trás como pela frente.
A Academia Americana de Ortopedia definiu
postura como um arranjo relativo dos segmentos do corpo. Ainda define como
critério de boa postura, o equilíbrio entre as estruturas de suporte do corpo
músculos e ossos que o protegem contra uma agressão (acidente) ou
deformidade progressiva.
Qualquer postura assumida pelo corpo
humano seja na posição ortostática, sentada, ou nos decúbitos, em repouso ou
durante um trabalho, deve ser realizada de forma adequada, propiciando ao
sistema músculo esquelético um melhor e mais eficiente desempenho das suas
funções. Dessa maneira, evita-se o vício postural, definido como uma alteração
no relacionamento simétrico das várias partes corporais. Este mecanismo induz
ao aumento da agressão física às estruturas de suporte biomecânicas,
resultando em um “padrão” anormal do equilíbrio, denominado clinicamente
como deformidade postural no que se refere à postura estática e como disbasia
no que se refere à postura dinâmica.
Fatores musculares, articulares, ósseos,
metabólicos, nervosos e psíquicos inadequados estão associados à uma má
postura, enquanto a boa postura está relacionada a um estado de rigidez da
homeostasia.
Outros autores definem a postura ideal como
aquela na qual é necessária uma atividade muscular mínima para manter o
corpo em estado de equilíbrio.
Tucker, por exemplo, descreve uma postura
alerta e ativa como o resultado de uma atitude mental sobre o corpo,
promovendo assim o equilíbrio e a estabilidade entre corpo e mente.
Postura é uma posição ou atitude do corpo, o
arranjo relativo de suas partes para uma atividade específica ou uma “maneira”
característica de alguém sustentar-se.
1 - As estruturas inertes responsáveis pela
sustentação do corpo são ligamentos, fáscias, ossos e articulações,
enquanto os músculos e suas inserções tendíneas são as estruturas
dinâmicas que mantém o corpo em uma postura ou o movem para outra.
2 - A gravidade sobrecarrega as estruturas
responsáveis por manter o corpo numa postura ereta. Normalmente, a linha
de gravidade passa através das curvaturas fisiológicas da coluna vertebral,
equilibrando-as. Se o peso de uma região desloca-se para longe da linha
de gravidade, o restante da coluna compensa para recuperar o equilíbrio.
Postura é um padrão de eficiência mecânica,
capacidade cinestésica, equilíbrio e coordenação neuromuscular.
Não podemos considerar a posição de pé,
estática, como uma única postura, pois o termo refere-se à posição do corpo
em geral, podendo estar em movimento ou não. O corpo humano assume
inúmeras posturas e, dificilmente, permanece um grande espaço de tempo na
mesma. Apresenta-se, ainda, em várias posições diferente, como a posição de
pé, sentada ou deitada, imóvel ou em movimento, com as partes do corpo
alinhadas ou não.
3.2. Postura Bípede
A manutenção da postura bípede é operada
por uma multiplicidade de excitações reflexogênicas que nascem nos
receptores labirínticos e profundos, provocadas pela ação constante da força
de gravidade. Estas excitações, em permanente atividade, vêm dos receptores
musculares, labirínticos e visuais, que auto-regulados pelas funções
supramedulares, correspondem à atitude. A atitude é, assim, todo um
complexo neurológico inconsciente integrado no indivíduo como expressão
corporal de uma vivência dinâmica.
A postura não é um simples alinhamento das
partes do corpo, como se fossem muitos blocos inertes. É uma dinâmica e
complexa interação biomecânica entre o organismo e a gravidade. A posição
em relação à gravidade e ao meio-ambiente provêm de três sistemas
sensoriais que nos transmitem informações relativas ao “endireitamento”. Estes
sistemas são os sistemas vestibular, proprioceptivo e visual.
Postura vertical é um processo ativo
resultante da cooperação de um número de reflexos, muitos dos quais têm um
caráter tônico. A ação dos ligamentos e as sensações proprioceptivas de
tensão e relaxamento dos músculos atuam diretamente no mecanismo de
regulação do tônus.
3.3. Evolução Postural
Muitas partes do Sistema Nervoso Central
(SNC) contribuem para a função da postura. A postura humana é o resultado
de modificações momentâneas dos circuitos neurais, responsáveis por um
padrão de resposta. Alguns destes padrões estão presentes no nascimento e
outros surgem com o desenvolvimento do sistema nervoso. Estas respostas,
na forma de reflexos e reações humanas, incluem:
1 → reflexo de estiramento;
2 → reflexo de flexão e extensão cruzada;
3 → reflexo de impulso extensor;
4 → reflexos tônicos (reflexo tônico do pescoço e
reflexo tônico labiríntico);
5 → reflexos de endireitamento:
- reflexo labiríntico de endireitamento;
- reflexo de endireitamento do pescoço;
- reflexo óptico de endireitamento.
Através da evolução dos reflexos e reações, a
criança passa por um processo de maturação do SNC até adquirir a postura
ortostática, o que os antropólogos definem como a conquista biológica mais
significativa da espécie humana. A aquisição da postura ereta na criança a
prepara para a locomoção e a interação com o meio-ambiente.
3.4. Equilíbrio
Para sustentar-se numa posição ereta, o
homem precisa ordenar seus segmentos de modo a empilhar uma peça sobre
a outra e manter a linha de gravidade do conjunto no centro do polígono de
sustentação.
O equilíbrio na posição em pé é obtido sem
outra intervenção de força, a não ser a manutenção do tônus postural dos
músculos antigravitacionais e a resistência fibro-muscular.
Divide-se o corpo em 3 blocos segmentares,
cada qual com uma função particular para a melhor compreensão da função
estática, a saber:
Os membros inferiores são a base sólida: a
plataforma, que condiciona a forma, a dimensão e a orientação da base de
sustentação.
O tronco, onde situa-se o centro de gravidade
do equilíbrio, é o elemento móvel que desloca. As oscilações do tronco o
mantém acima da base de sustentação.
A cabeça e o pescoço controlam a
coordenação do conjunto.
Para ocorrer o equilíbrio estático, o equilíbrio
controlado, cada segmento equilibra-se sobre o segmento inferior, em um
processo ascendente. O pé adapta-se, equilibra-se sobre o chão; a perna
sobre o pé; a coxa sobre a perna; a cintura pélvica sobre o ou os membros
inferiores; a coluna lombar sobre a bacia; a coluna dorsal sobre a lombar. O
objetivo final é a posição correta do centro de gravidade, acima da base de
sustentação.
Define-se a estabilidade de um corpo a partir
de um certo número de critérios. Primeiramente, a sua linha de gravidade deve
cair dentro do polígono de sustentação. Este deve ser o maior possível e, no
homem, resume-se ao contorno dos pés. Portanto, a posição de pés juntos
será raramente adotada. Os pés estendem-se na frente da articulação tíbio-
astragaliana. Assim, a linha de gravidade cairá, naturalmente, na frente da
articulação do tornozelo.
O homem permanece em equilíbrio quando as
oscilações de sua linha de gravidade ocorrem dentro do polígono de
sustentação.
O equilíbrio dinâmico é uma reação à um
desequilíbrio permanente, sendo compensado constantemente. Pequenos
desequilíbrios ocorrem durante este processo, regulando-se de forma
automática, através dos reflexos posturais mantidos por um adequado ajuste
de diversos receptores da tensão muscular, dos movimentos articulares, do
campo visual e dos receptores vestibulares. Estes receptores permitem ao
indivíduo manter e recuperar o seu equilíbrio.
“A evolução da postura ereta no homemnecessitou do desenvolvimento de um mecanismo reflexo com afunção de manter e recuperar o equilíbrio na posição ereta e noandar.” (Bobath, 1978)
Para ocorrer modificações posturais é
necessário citar os aspectos de controle, responsáveis diretos pela
organização, manutenção e mudança de uma postura corporal, e as
características psicológicas.
3.5. Controle Motor
“A expressão controle motor refere-se àregulação do movimento e de ajustes posturais dinâmicos”. (Umphred,D.)
O processo de controle motor depende das
informações sensoriais utilizadas pelo SNC.
O ser humano regula os seus movimentos a
fim de manter, corrigir, organizar ou alterar a posição de seu corpo no espaço,
através de informações dos receptores sensoriais, atenção e nível de
aproveitamento das informações para o controle.
3.6. Receptores que influenciam no controle
postural
Todas as vias sensoriais constituem em
complexas vias de associação às quais interferem no equilíbrio. Três sistemas
sensoriais provêm informações mais significativas no controle postural, quais
sejam os receptores do:
a) sistema proprioceptivo;
b) sistema vestibular; e
c) sistema visual.
SISTEMA PROPRIOCEPTIVO → Provê informações sobre o movimento dos
segmentos corporais de uns sobre os outros, principalmente aqueles
associados a articulações e músculos axiais.
SISTEMA VESTIBULAR → Provê informações relativas à posição da cabeça
em relação à gravidade e ao movimento linear e rotatório da cabeça.
SISTEMA VISUAL → Provê informações sobre a posição do corpo em relação
ao meio externo, assim como, distância, altura, obstáculos.
4. SISTEMA SENSORIAL
O sistema sensorial é uma grande e
diversificada rede de órgãos sensoriais que tem o objetivo de fornecer
inúmeras informações das mais variadas fontes ao sistema percepto-motor.
Todas as partes do corpo humano são dotadas de alguma quantidade de
receptores.
Os receptores sensoriais são estruturas que
podem ser estimuladas por alterações tanto do meio ambiente como do próprio
corpo, transformando diferentes estímulos em impulsos nervosos que se
propagam através de fibras aferentes sensitivas para o SNC.
Partes do sistema sensorial foram
classificadas com finalidades descritivas e funcionais. Uma destas partes divide
a sensação em três categorias, com referência ao tipo ou localização do
receptor que reage a um determinado estímulo. Conforme essa divisão, as
sensações podem ser superficiais, profundas e combinadas.
Segundo Sherrington, os receptores podem
ser de três tipos: exteroceptores, proprioceptores e interoceptores.
Exteroceptores são receptores sensoriais
responsáveis pelas sensações superficiais. Recebem todos os estímulos do
ambiente externo, sendo responsáveis pela percepção da dor, temperatura,
tato, pressão, frio, calor, som e luz.
Proprioceptores são receptores sensoriais
responsáveis pelas sensações profundas, esses receptores recebem estímulos
dos músculos, tendões, ligamentos, articulações e fáscias, sendo responsáveis
pelos sentidos de posição e movimento (cinestesia).
Interoceptores são os receptores
responsáveis pelos estímulos das diferentes vísceras, tendo portanto, alto nível
de especialização e estando ligados ao sistema vegetativo, gerando a
motricidade reguladora pelas vias simpática e parassimpática.
4.1. Sistema Proprioceptivo
Propriocepção é a sensação e percepção da
posição do movimento dos segmentos corporais.
4.1.1. Receptores Sensoriais Profundos
Os receptores sensoriais profundos estão
localizados nos músculos, tendões e articulações. Incluem receptores
musculares e articulares. Estão envolvidos com a postura, sentido de posição,
tônus muscular, velocidade e direção do movimento.
A) RECEPTORES MUSCULARES
• Fusos musculares → As fibras dos fusos musculares (fibras intrafusais)
situam-se paralelas às fibras musculares (extrafusais). O fuso muscular
desempenha um papel vital no sentido de POSIÇÃO, MOVIMENTO E
APRENDIZADO MOTOR. As fibras do fuso monitoram as alterações no
comprimento muscular e a velocidade dessas alterações. O número de fusos
no músculo esquelético é proporcional ao nível da sua especialização.
Quanto mais periférico estiver situado, maior será a sua especialização,
tendo assim, maior número de fusos.
• Órgãos Tendinosos de Golgi (OTG) → São receptores localizados
dispostos em série com as fibras extrafusais, tanto nas inserções tendíneas
proximais quanto nas distais do músculo. Os OTG funcionam na
monitoração da tensão intramuscular. São considerados como fornecedores
de um mecanismo protetor, pois impedem a lesão estrutural ao músculo nas
situações de extrema tensão. Isto ocorre pela inibição do músculo em
contração e pela facilitação do músculo antagonista.
• Terminações Nervosas Livres → Estão situadas na fáscia muscular.
Acredita-se que são responsáveis pelas respostas à dor e à pressão.
• Corpúsculos de Paccini → Localizados na fáscia a muscular,
respondem aos estímulos vibratórios e à pressão profunda.
B) RECEPTORES ARTICULARES
• Terminações do tipo Golgi → Estão localizados nos ligamentos,
funcionam na detecção da velocidade dos movimentos articulares.
• Terminações nervosas livres → Encontradas na cápsula articular e
ligamentos, respondem à dor, e desempenham uma percepção grosseira
dos movimentos articulares.
• Terminações de Ruffini → Localizadas na cápsula articular e ligamentos,
são responsáveis pela direção e velocidade dos movimentos articulares.
Respondem ao estresse mecânico produzido.
• Terminações de Paccini → Encontrados na cápsula fibrosa de todas as
articulações e ao redor dos vasos sangüíneos, são responsáveis pelos
movimentos acelerados ou desacelerados das articulações.
4.2. Sistema Vestibular
O aparelho vestibular é composto por um
labirinto ósseo contendo o labirinto membranoso constituído principalmente do
ducto coclear, de três canais semicirculares e de duas grandes câmaras
conhecidas como utrículo e sáculo. O ducto coclear é a área sensorial para a
audição, não interfere no equilíbrio.
As estruturas do aparelho vestibular que
possuem funções sensoriais responsáveis pelo mecanismo de manutenção do
equilíbrio são: canais semicirculares e o conjunto membranoso utrículo-sacular.
Essas estruturas são capazes de captar
informação sobre velocidade, rotação, deslocamento e aceleração da cabeça,
que, quando combinadas às informações sobre a posição do corpo em relação
à cabeça, tornam-se uma rica fonte de informação sobre as coordenadas
espaciais do corpo em relação a força da gravidade.
Os três canais semicirculares são orientados
nos três planos do espaço: sagital, frontal e horizontal. Como todo o conjunto
labiríntico é preenchido pela endolinfa, um líquido neutro. Cada canal
semicircular tem uma dilatação em uma de suas extremidades, conhecida
como ampola, contendo as células sensitivas. Os receptores, as células
ciliadas flutuam na endolinfa, quando ocorre um movimento da cabeça provoca
uma flutuação da endolinfa e as células ciliadas são levadas para baixo. A
função dos canais semicirculares é informar o centro nervoso vestibular sobre o
movimento da cabeça.
Os canais semicirculares comunicam-se por
intermédio de suas extremidades com o utrículo, e este, por sua vez,
comunica-se com o sáculo. O utrículo e o sáculo, como os canais
semicirculares encerram dobras epiteliais provenientes das células sensitivas
ciliadas que flutuam na endolinfa. O conjunto utrículo-sacular denomina-se
sistema osteolítico devido às formações calcárias das células ciliais: os otolítos.
A função das células ciliadas osteolíticas é informar o centro vestibular sobre a
posição da cabeça em relação a gravidade.
O labirinto membranoso colhe as informações
e transmite-as ao centro vestibular pelo nervo vestibular, originário do Gânglio
de Scarpa, formando com o nervo coclear, o oitavo par craniano: o nervo
auditivo. Independentemente dos núcleos vestibulares, ele projeta diretamente
sobre o centro vestibular contra-lateral, sobre o cerebelo e sobre a formação
reticular.
O centro nervoso vestibular é formado por
quatro núcleos, centros de elaboração, que recebem influências do núcleo
vermelho, dos núcleos motores oculares, do cerebelo e sobretudo, da formação
reticular.
O sistema vestibular tem as seguintes funções
básicas:
1 -Recebe e transmite as incitações provocadas pelos deslocamentos da
cabeça com aceleração angular e linear, informando os centros encefálicos
sobre a posição do corpo no espaço e da cabeça em relação ao corpo;
2 -Provoca, nos centro encefálicos, reações tônicas e reflexos posturais
para a manutenção do equilíbrio estático e dinâmico.
De modo geral, as excitações vestibulares
determinam reações tônicas em toda a musculatura, especialmente nos
músculos que realizam movimentos no mesmo sentido em que se desloca o
líquido endolinfático.
Do ponto de vista prático pode-se dizer que
cada labirinto dá origem à incitações que produzem desvios posturais para o
lado oposto; assim a excitação do labirinto direito determina desvios posturais
para o lado esquerdo.
Os desvios da cabeça, do tronco e dos
membros superiores são devidos a reflexos tônicos veiculados pela via
vestibulospinal; os desvios dos olhos são veiculados pela via que, dos núcleos
vestibulares, se encaminha para os núcleos motores oculares (terceiro nervo
ipsolateral e sexto nervo contralateral) pelo fascículo longitudinal medial. A
interrupção destas vias por processos patológicos abolirá as respectivas
respostas.
4.3. Sistema Visual
4.3.1. Receptores visuais
Os receptores visuais são classificados como
exteroceptores, pois estão associados à captação de informação do meio
externo.
A retina é a parte sensorial dos olhos onde
estão localizados os fotorreceptores: bastonetes e cones. Estes receptores
estão distribuídos de forma não homogênea na porção externa da retina.
Os bastonetes são mais numerosos (cerca de
120 milhões) e localizados sobre toda a retina, exceto na fóvea, predominando
na região periférica. São os principais responsáveis pela visão noturna e
panorâmica. São extremamente sensíveis à luz e funcionam bem a
intensidades baixas.
Portanto, à noite, a imagem visual pode ser
eficaz se projetada para fora da fóvea. Isto pode explicar, pelo menos em parte,
a dificuldade para distinguir objetos à noite: estamos acostumados, durante
iluminação normal, à formação da imagem principalmente na fóvea central.
Na visão noturna (escotópica) a acuidade é
baixa, pequenos detalhes não são reconhecidos. Os objetos são vistos melhor
se olharmos próximos a eles, mas não para eles.
Os cones apresentam-se em menor
quantidade que os bastonetes, cerca de 6 milhões, sendo localizados
predominantemente na parte central da retina, a fóvea. O número de cones
aumenta progressivamente à medida em que se aproxima da mácula até que,
ao nível da fóvea central, existem exclusivamente cones. Os receptores da
fóvea são cones especializados auxiliando na acuidade visual.
Os cones são adaptados para a visão com
maior intensidade de luz. São responsáveis pela visão cromática nos
permitindo uma visão mais consciente, discriminativa e precisa, capaz de
distinguir formas.
A visão fotópica ou diurna ocorre
principalmente na fóvea que é constituída quase que exclusivamente de cones.
4.3.2. Visão e Regulação Postural
A visão além de captar informações sobre o
meio ambiente também fornece dados necessários à posição do indivíduo no
espaço, para que se mantenha numa postura de equilíbrio. Constituindo,
assim, uma das referências principais da atitude do ser humano.
Recentemente tem sido estudada a
importância das informações visuais na regulação da postura.
A fim de verificar a influência dos estímulos
visuais na regulação postural, Lee e Aronson (1974) realizaram uma
experiência, na qual observaram crianças que estavam aprendendo a andar,
nas suas reações de equilíbrio postural.
As crianças foram levadas até uma sala onde
as paredes e o teto eram móveis e, apenas o chão fixo. Foram posicionadas de
pé, de frente para as paredes e, ao deslocamento do teto e das paredes,
observou-se:
a) quando as paredes e o teto eram movidos em direção às crianças, estas
se desequilibravam para trás e freqüentemente, caiam sentadas;
b) quando as paredes e o teto eram movidos em direção oposta às
crianças, o desequilíbrio ocorriam para a frente.
O resultado desta pesquisa revela que apesar
do piso da sala ser fixo, os avaliados apresentaram grande oscilação da
posição de equilíbrio. Este fato confirma a importância da informação visual na
regulação da postura, sendo a visão uma fonte sensorial sobre a posição do
corpo no espaço.
O observador (criança) modifica sua postura,
devido ao deslocamento das paredes e teto. Isto demonstra que um estímulo
visual em movimento, leva a uma reação de inclinação do corpo no sentido
oposto ao movimento percebido.
A aproximação do objeto leva a um aumento
de sua imagem na retina sendo assim, o observador, identifica duas
mensagens: ou a parede está se aproximando ou ele está se desequilibrando
para frente. Como a movimentação da parede é mais improvável, o observador
supõe que está se deslocando para frente, e dessa forma, reage compensando
com a contração dos grupos musculares da região posterior do corpo,
provocando um desequilíbrio para trás.
O mesmo ocorre na situação oposta, quando
as paredes e o teto são movidos em direção contrária, se distanciando do
observador. Nesse caso, o observador reage colocando seu corpo à frente.
Dessa forma, pode-se verificar que a visão
modifica a percepção cinestésica quando se observa um objeto em movimento.
A visão interfere nas informações cinestésicas proprioceptivas podendo altera
uma atividade motora.
4.3.3. Visão Foveal
A fóvea central é de fundamental importância
para a retina; fornece a visão foveal, responsável pela acuidade visual. Da
fóvea, inicia-se a visão detalhada, especializa em alta precisão e fixação,
sendo uma visão mais consciente e dirigida; ou seja, a imagem visual é
formada quando fixa-se o olhar num ponto desejado.
Os fotorreceptores responsáveis pela visão
foveal são os cones.
A visão foveal é restrita, seu campo de visão
abrange um raio de 15°, o que obriga a cabeça a seguir o alvo visual. É uma
visão cortical acarretando uma atividade motora voluntária.
Para que ocorra a visão foveal, é necessário
que haja uma horizontalização do olhar. Esta horizontalização é controlada
pela visão panorâmica ou periférica que é uma visão sem precisão, com menos
detalhe visual, menos consciente.
4.3.4. Visão Periférica ou Panorâmica
É a capacidade de perceber o ambiente ao
redor sem fixar o olhar, permitindo ao leitor perceber as bordas da revista
enquanto lê o texto ou assistir a um filme, ler a legenda e perceber a imagem
da tela, ao mesmo tempo.
Os bastonetes são os principais responsáveis
pela visão periférica. São receptores visuais, e estão localizadas na região
periférica da retina.
Segundo alguns autores, é a visão periférica
que desencadeia reflexos equilibradores. “O olho tudo vê, mas nada olha”.
4.3.5. Sistema Óculo Motor
O sistema óculo motor ocupa lugar importante
na motricidade pois, praticamente, todos os nossos gestos voluntários têm
como ponto de partida os movimentos da cabeça. Eles são também
importantes na focalização do campo visual.
A marcha começa por um avanço da cabeça,
e se interrompe com seu recuo. Estes movimentos da cabeça favorecem a
visão foveal que é a responsável pelo início das atividades dinâmicas
conscientes.
CONCLUSÃO
A partir da revisão bibliográfica pode-se constatar a
influência da percepção do esquema corporal na regulação da postura e
equilíbrio.
Com o desenvolvimento deste estudo, faz-se
necessário ressaltar a importância de um trabalho multidisciplinar; valorizando,
assim, os diferentes saberes de cada área de estudo relacionada ao
movimento humano e visando um objetivo comum que deveria ser, em última
instância; a atenção às condições fundamentais necessárias a uma vida
saudável.
A Psicomotricidade, a Fisioterapia e a Educação,
juntas poderiam trabalhar integradas ao âmbito da Educação e da Saúde,
promovendo uma proposta de prevenção, apostando mais na importância da
profilaxia na educação psicomotora em todas as fases do desenvolvimento
humano; visto que o homem é o seu corpo, e esse corpo está sempre em
movimento (uma vez que está vivo), e se relacionando ao nível interno e
externo; então sempre há tempo de educar, reeducar, perceber, sentir,
prevenir, trocar, experimentar e viver com a esperança e a certeza de ser e de
se sentir sempre melhor.
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