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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA ALÉM DAS SEMANAS TEMÁTICAS Por: Cilaine Santos Costa Orientador Profª. Edla Trocoli Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA ALÉM DAS SEMANAS TEMÁTICAS

Por: Cilaine Santos Costa

Orientador

Profª. Edla Trocoli

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA ALÉM DAS SEMANAS TEMÁTICAS

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Administração e Supervisão

Escolar.

Por: . Cilaine Santos Costa

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus amigos, meu

marido, meus pais e à professora Edla,

que tanto me ajudou.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, ao

meu cônjuge e aos meus alunos, pois é

por eles que busco me aperfeiçoar cada

vez mais.

5

RESUMO

O presente trabalho dispõe-se a discutir a aplicabilidade da Lei 11645/08

dentro das instituições de ensino brasileiras, especialmente, as que

contemplam a Educação Básica; mostrando a importância da inclusão do

ensino de Cultura afro-brasileira e indígena nas escolas, através de algumas

sugestões de atividades que podem ser desenvolvidas pelos professores a fim

de auxiliá-los no cotidiano escolar.

6

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisa de campo; entrevistas

com docentes e discentes; análises de documentos das instituições de ensino;

análise do material pedagógico utilizado pelos profissionais de ensino; textos

literários ou não sobre história e cultura afro-brasileira e indígena, assim como

o texto da lei 11645/08; palestras; vídeos de trabalhos que podem ser

desenvolvidos sobre a temática.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - A influência do africano e do índio na cultura brasileira e suas contribuições. CAPÍTULO II - O que falta para que a Lei 11645/08 seja efetivamente colocada em prática? CAPÍTULO III - Sugestões de atividades relacionadas à Lei 11645/08.

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANEXOS

ÍNDICE FOLHA DE AVALIAÇÃO

8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho propõe-se a discutir as aplicabilidades das leis educacionais,

em especial, a lei 11645\08 e entender por que mesmo após seis anos da sanção da

referida lei, a qual prevê a obrigatoriedade do estudo de história e cultura afro-brasileira

e indígena nos ensinos fundamental e médio, em escolas públicas ou privadas, ainda

existem instituições de ensino que continuam tratando da história e cultura afro-

brasileira e indígena apenas no dia do índio e na semana da Consciência Negra.

O povo brasileiro é resultado da mistura de vários grupos étnicos, entre eles,

africanos e indígenas, os quais, assim como os outros povos, contribuíram muito para a

formação da cultura brasileira. Tais contribuições são visíveis a todos a qualquer

momento sem que seja necessário pesquisar muito e ser um profundo entendedor do

assunto. Basta observar os costumes, as comidas, a maneira de se vestir, o vocabulário,

as crenças etc. A miscigenação já está tão homogênea que fica difícil separar quais

hábitos são originários de qual grupo étnico.

Apesar de todos saberem que são oriundos da miscigenação de diversos povos,

muitos não gostam da ideia de serem descendentes de índios e negros, a não ser para ter

direito às vagas destinadas a cotistas em universidades e concursos públicos, por

exemplo.

Poucos países, no mundo, passaram por uma miscigenação tão intensa quanto o

Brasil, mas a maioria do povo brasileiro faz questão de esquecer da herança africana e

indígena que traz em seus costumes. Ao invés de se orgulharem por serem descendentes

de grupos étnicos que foram tão importantes para nossa história, eles escondem o

passado do seu povo, suas origens e discriminam as pessoas que não têm vergonha de

assumir sua herança cultural e, principalmente, suas crenças.

Segundo Petrônio José Domingues (2001), na virada do século XIX para o XX, o

ideal de branqueamento da população paulista era correspondido, aparentemente, de

forma muito notória pelo censo populacional, marcado justamente pela diminuição

assustadora da população negra. Pelo menos esse era o caso da capital, como se vê na

tabela a seguir.

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Com o passar dos anos, pode-se observar que ao contrário do que pretendiam, o

embranquecimento da população brasileira não ocorreu. O que se tem hoje é um povo

único, sem igual e com uma diversidade cultural rica e belíssima, mas que infelizmente,

na maioria das vezes não é valorizada. É necessário fazer com que o povo brasileiro

tenha orgulho da sua cultura e aprenda a respeitar a cultura do outro. Não se pode

continuar tratando a pluralidade cultural existente no país apenas como folclore e, seguir

fechando os olhos para as situações de discriminação e preconceito racial e social tão

comuns na sociedade. Estudar a história e cultura afro-brasileira e indígena é importante

não apenas para que as pessoas descubram e entendam suas origens, mas

principalmente, para que aprendam a conviver e respeitar os diferentes tons de pele, os

cabelos, as formas do corpo, as religiões, os costumes, as regionalidades, o vocabulário

etc. O brasileiro precisa aprender a ver a diferença do outro como uma oportunidade de

aprendizado, de enriquecimento cultural e não como mais uma piada. E por isso, faz-se

10

necessário a efetiva aplicação da Lei 11645\08 nas instituições de ensino, para que a

discussão acerca das culturas afro-brasileira e indígena não seja algo que só ocorre

como datas comemorativas e projetos anuais e nada mais. A cultura destes povos está

presente na vida de todos os brasileiros diariamente. Porém, só a criação da lei não é

suficiente para que o assunto seja discutido nas escolas. É essencial que sejam

oferecidos cursos de formação continuada e materiais aos professores para que estes

adquiram conhecimento sobre o assunto e, assim, tenham base para trabalhar as culturas

afro-brasileira e indígena com seus alunos frequentemente e não apenas nos dias do

índio e da consciência negra.

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CAPÍTULO I

A influência do africano e do índio na cultura brasileira

e suas contribuições.

Moleque, quiabo, fubá, mocotó, angu, banguela, cachimbo, cafuné, camundongo

etc; palavras tão conhecidas do nosso vocabulário e tão utilizadas. Mas será que todos

sabem de onde elas vieram? Será que as usaria da mesma forma se soubessem suas

origens. Pois é, essas palavras e tantas outras presentes em nosso dia a dia não são

palavras de origem portuguesa e sim de origem africana.

Voltando um pouco na história, estudos mostram que entre os séculos XVI e XIX, o

tráfico de escravos trouxe para o Brasil mais de 5 milhões de africanos originários de

duas regiões da África: a região banto, que fica ao sul da Linha do Equador, e a região

sudanesa, formada pelos territórios que se estendem do Senegal a Nigéria. Não se pode

esquecer que a cultura africana é extremamente diversificada e suas características

retratam tanto a história do povo quanto a do continente – considerado o território

habitado há mais tempo na Terra. Isso acontece porque os habitantes da África

evoluíram em um ambiente cheio de contrastes e com várias dimensões. Culturalmente,

eles diferem muito entre si, falam um vasto número de línguas, praticam diferentes

religiões, vivem em habitações diversificadas e se envolvem em inúmeras atividades

econômicas. Tribos, grupos étnicos e sociais formam essa população de costumes,

tradições, línguas e religiões específicas.

De acordo com Antônio Filho e Márcia Honora, a região banto possui, em média,

300 idiomas, os quais são muito parecidos e falados em, apenas, 21 países: Camarões,

Chade, República Centro-Africana, Guiné Equatorial, Gabão, Angola, Namíbia,

República Popular do Congo, Burundi, Ruanda, Uganda, Tanzânia, Quênia, Malauí,

Zâmbia, Zimbábue, Botsuana, Lesoto, Moçambique e África do Sul.

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Fonte: pt.wikipedia.org

Além de influenciar no nosso vocabulário, os africanos também contribuíram para

os nossos costumes e culinária. Afinal, quem foi que disse que se deve comer laranja

após a feijoada? Foram os negros, que ao incrementarem a feijoada, comida típica do

Norte de Portugal, deram a ela outras características e sabores como forma de aproveitar

os restos da carne que os senhores não comiam e assim, poderem comer um pouco

melhor e ficarem mais bem alimentados. Mas, por que laranja como sobremesa? Os

escravos não se alimentavam bem e, consequentemente, sofriam com a carência de

algumas vitaminas em seu organismo. Uma delas era a vitamina C, presente na laranja,

fruta que eles podiam colher do pé e ainda ajudava-os a evitar o escorbuto (doença

provocada pela carência de vitamina C e que tem como sintomas hemorragias nas

gengivas, tumefação purulenta das gengivas (inchaço com pus), dores nas articulações,

feridas que não cicatrizam, além de desestabilização dos dentes). Se perguntarmos às

pessoas que comem feijoada o porquê da laranja como acompanhamento, pouquíssimas

pessoas, ou talvez ninguém, dê esta explicação. Muitos anos se passaram desde que os

escravos africanos chegaram ao Brasil e o costume de comer laranja após a feijoada

segue com a justificativa de que é para ajudar na digestão.

Fonte: wikipedia.org/wiki/ Feijoada_(Brasil)

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Outra marca importante da influência africana na culinária brasileira são os

temperos. Como sabemos, os africanos quando foram trazidos para serem escravizados

no Brasil, tiveram que se acostumar, ou até mesmo aprender a comer galinha e peixe,

pois aqui eles não tinham a fartura de carne de caça como tinham nas suas terras. Sendo

assim, eles usavam as especiarias que os comerciantes indianos traziam para cá para dar

mais sabor aos pratos que preparavam. Que bom! É bem verdade que comida sem

tempero é muito ruim. No Brasil, onde mais percebe-se a presença marcante dos

temperos são nos pratos nordestinos, especialmente na Bahia, onde foi introduzido o

dendezeiro, uma palmeira africana da qual se extrai o azeite-de-dendê. Este azeite é

utilizado em vários pratos de influência africana como o vatapá, o caruru e o acarajé. É

da Bahia também que vem o costume de se vender comida na rua, as feiras livres que

temos hoje, pois os doces e salgados típicos eram feitos pelas baianas (mulheres que

recebem esta denominação devido ao seu traje composto por turbante, saias rendadas,

braceletes e colares e não por terem nascido na Bahia, como muitos pensam) e vendidos

em tabuleiros no meio da rua.

Por falar em baiana, outra influência trazida pelos africanos foram as religiões. É

preciso muito cuidado ao falar das religiões de matrizes africanas. Infelizmente, no

Brasil, ainda existe um preconceito muito grande quanto a essas religiões e seus

seguidores. Todos sabemos que nosso país foi colônia de Portugal durante muitos anos

e que os portugueses, por sua vez, implantaram a religião Católica no Brasil,

catequizaram os índios e, em nome dessa religião, cometeram barbaridades. Ao

contrário dos portugueses que vieram todos do mesmo lugar e tinham uma única

religião, os negros trazidos da África eram de lugares e tribos diferentes, muitas vezes

rivais e, consequentemente, as crenças também eram diferentes. Porém, esta diferença

não foi respeitada pelos senhores que os compraram, os quais juntaram os negros de

qualquer jeito, sem distinção de fé religiosa, lugar ou tribo e, assim, as crenças também

se misturaram. Além de misturarem-se entre si, as religiões africanas, também, sofreram

influência indígena, dando origem a novos credos. Recebem diversas denominações, de

acordo com as localidades em que ocorrem, entretanto, considero importante ressaltar

que a denominação macumba, tão utilizada de maneira irônica, não se refere a nenhuma

religião afro-brasileira. Macumba trata-se de um instrumento musical africano de

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percussão. Veja a seguir as denominações que as religiões de matrizes africanas

recebem no Brasil:

• Babaçuê - Maranhão, Pará

• Batuque - Rio Grande do Sul

• Cabula - Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

• Candomblé - Em todos estados do Brasil

• Culto aos Egungun - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo

• Culto de Ifá - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo

• Encantaria - Maranhão, Piauí, Pará, Amazonas

• Omoloko - Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo

• Pajelança - Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas

• Quimbanda - Em todos estados do Brasil

• Tambor-de-Mina - Maranhão, Pará

• Terecô - Maranhão

• Umbanda - Em todos estados do Brasil

• Xambá - Alagoas, Pernambuco

• Xangô do Nordeste – Pernambuco

Fonte: wikipedia.org/

wiki/Religiões_afro-

brasileiras

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Além de influenciar o vocabulário, as comidas e a religião, os africanos também

contribuíram muito para a formação da nossa cultura através do teatro, do cinema, da

televisão, das danças e das músicas. Em 1944, o jornalista Abdias do Nascimento –

referência quando o assunto era igualdade racial – criou o Teatro Experimental Negro

(TEN), uma companhia teatral que se preocupava em discutir os problemas da

população naquele momento. Muitos atores famosos, que viraram estrelas da televisão,

passaram pelo TEN, como Grande Otelo e Ruth de Souza. Outro grupo teatral

importante para a divulgação da cultura afro-brasileira foi o Bando de Teatro Olodum,

da Bahia, o qual lançou o ator Lázaro Ramos e produziu a peça Ó pai, ó. Surgido no

segundo semestre de 1990, suas peças mesclavam humor e discussão racial, leveza e

ironia, diversão e militância. Além da palavra, os atores também utilizavam a dança e a

música, referenciais rituais do Candomblé e se embriagavam na fonte da cultura afro-

brasileira.

Fonte: memorialdeartescenicas.

com.br

Os africanos também influenciaram a dança e o esporte com a capoeira, que mistura

luta e dança, e com o samba, mistura de ritmos africanos, cujo nasceu na Bahia do

século XIX, mas foi no Rio de Janeiro que ganhou força e se desenvolveu, apesar de

proibido e perseguido durante um bom tempo. Além do samba, a cultura africana

também contribuiu com outros ritmos que são parte da música popular brasileira. São

eles: maxixe, choro e bossa nova. Todos originários do gênero musical lundu (Dança

brasileira de natureza híbrida, criada a partir dos batuques dos escravos bantos trazidos

de Angola e dos ritmos portugueses. Da África, o lundu trouxe a base rítmica, uma certa

malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado pela umbigada, pelos rebolados e por

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outros gestos que imitam o ato sexual), inclusive o samba. Além da contribuição

rítmica, também foram trazidos alguns instrumentos musicais como o berimbau, o afoxé

e o agogô, todos de origem africana. O mais conhecido deles no Brasil é o berimbau,

instrumento utilizado para criar o ritmo que acompanha os passos da capoeira.

O frevo, o carimbó e o maracatu também são ritmos de origem africana. E por falar

em frevo, as nossas festas populares também foram bastante influenciadas pelos

africanos e índios. Nas festas envolvendo bois, pode-se perceber a presença das culturas

africana e indígena. Na cultura africana, o boi está relacionado ao trabalho agrícola e ao

valor da terra.

Na história do bumba meu boi, um homem rouba um boi do patrão para agradar a

esposa grávida que queria comer a língua do boi. Ao descobrir, o patrão fica furioso e

para escapar da ira do chefe, o homem procura um pajé para ressuscitar o boi e todos

comemoram felizes. Temos, então, uma festa popular brasileira que une as duas

culturas: africana e indígena.

Assim como os africanos, os índios também dividem-se em diversos povos de

hábitos, costumes e línguas diferentes. Cada tribo possui sua cultura, religião, crenças e

conhecimentos específicos; embora a cultura indígena tenha sido parcialmente

eliminada pela ação da catequese e intensa miscigenação com outras etnias na época da

colonização. Essa mistura proporcionou o surgimento de um indivíduo tipicamente

brasileiro: o caboclo (mestiço de branco e índio). Atualmente, apenas algumas poucas

nações indígenas ainda existem e conseguem manter parte da sua cultura original.

Fonte: www.funai.gov.br

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Os índios também contribuíram muito para a nossa cultura, o que pode ser

percebido nas lendas e em alguns costumes. O Curupira, personagem folclórico, tem

características que remetem a um hábito indígena. Segundo a lenda, o menino dos

cabelos vermelhos tem os pés virados para trás para enganar os caçadores e, de acordo

com o historiador Sérgio Buarque de Holanda, os índios andavam para trás para

confundir os europeus e os bandeirantes. E já que o assunto é andar, os hábitos de andar

descalço e dormir em redes também são herança indígena, a qual também pode ser

percebida na culinária brasileira bem marcada em alguns estados nos pratos preparados

com peixes de água doce, assim como o costume de comer mandioca, derivados da caça

e frutas. O uso de ervas medicinais para fazer remédios caseiros também é legado

indígena. A forte ligação desses povos com a floresta, nos proporcionou o

conhecimento para que utilizássemos algumas plantas no tratamento de doenças, como

por exemplo, a alfavaca que tem função antigripal, diurética e hipotensora e o boldo, que é

digestivo, antitóxico, combate a prisão de ventre e pode ser usado também nas febres

intermitentes (que cessam e voltam logo).

Assim como os povos trazidos da África, os índios também deixaram suas

contribuições para a formação do nosso vocabulário, tendo como principal destaque no

período da colonização, sua influência na chamada língua geral, a qual tratava-se de

uma língua derivada do Tupi-Guarani com termos da língua portuguesa, que serviu de

língua franca no interior do Brasil até meados do século XVIII, principalmente nas

regiões de influência paulista e na região amazônica. Abacaxi, Tietê, tatu, mandioca...,

são algumas das palavras presentes em nosso cotidiano de origem indígena, as quais

foram absorvidas pelo português brasileiro. Alguns vocábulos em tupinambá viraram

nomes de lugar, como: Ipanema, Jabaquara, Ipiranga, Jacareí, Paraíba, Pavuna, Sergipe

e tantos outros.

Na agricultura, algumas técnicas de plantio, desenvolvidas pelos índios, ainda são

utilizadas por pequenos agricultores. Um exemplo, é a coivara (técnica agrícola

tradicional utilizada em comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas no Brasil.

Inicia-se a plantação através da derrubada da mata nativa, seguida pela queima da

vegetação. Há, então, a plantação intercalada de várias culturas (rotação de culturas),

como o arroz, o milho e o feijão, durante 3 anos), agricultura de corte e queima, herdada

dos índios pelos caiçaras, os quais eram habitantes tradicionais do litoral das

18

regiões Sudeste e Sul do Brasil, formados a partir

da miscigenação entre índios, brancos e negros e que vivem da pesca artesanal,

da agricultura, da caça, do extrativismo vegetal, do artesanato e, mais recentemente,

do ecoturismo. E não podemos esquecer dos belíssimos artesanatos repletos de bolsas

trançadas com fios e fibras, caminhos de mesa, colares e brincos feitos com sementes,

penas e escamas de peixe.

Apesar desses legados terem uma boa representatividade no País, a influência

indígena se faz mais forte em certas regiões brasileiras como o Norte do Brasil, em que

os grupos conseguiram se manter mais distantes da primeira ação colonizadora.

Segundo Chang Whan, pesquisadora e curadora do Museu do Índio do Rio de Janeiro,

“a cultura brasileira resulta da conjunção de muitas influências culturais, inclusive temos

todas essas contribuições dos índios, com a influência na toponímia (nome dos lugares), na

onomástica (nomes próprios), na culinária e no tratamento de saúde utilizando as ervas

medicinais.” e temos também muitas contribuições dos africanos. Sendo assim, tentar

separar as culturas indígena e africana da cultura brasileira é um erro, pois esta não seria tão

rica se não tivesse sofrido influência daquelas. Portanto, ao invés de ficarmos tentando

dissociar as culturas, devemos agradecer tais influências, pois foi graças a essas influências

que a cultura brasileira tornou-se tão diversificada e admirada por tantos países.

19

CAPÍTULO II

O que falta para que a Lei 11645/08 seja efetivamente

colocada em prática?

O Brasil é um pais no qual existem muitas leis e a maioria delas não é cumprida.

Todas elas são claras e bastante objetivas em garantir uma sociedade harmoniosa com

civilidade e justiça social e a Lei 11645/08 está entre elas. Uma das desculpas para o

não cumprimento desta lei é o fato dela ainda ser relativamente nova e pouco conhecida.

Além disso, trata-se de uma lei que foi criada sem dar subsídios para que as pessoas

responsáveis por executá-la pudessem colocá-la em prática. A referida lei foi criada

para obrigar as instituições escolares a incluir o ensino de História e Cultura afro-

brasileira e indígena em seus currículos e programas de estudo. Entretanto, primeiro

criou-se a lei para depois preocuparem-se com a formação dos educadores envolvidos

no processo. Sendo assim, o que falta para que ela seja efetivamente colocada em

prática? Em primeiro lugar, os profissionais qualificados. Cito-me como um exemplo

da desqualificação para trabalhar com o assunto; se não tivesse eu mesma procurado

aperfeiçoar-me. Terminei minha graduação em 2007 e não tive durante a faculdade

nenhuma disciplina que falasse de Cultura afro-brasileira e indígena. Tive sim, um

período de Cultura Brasileira durante todo o curso, apesar de ter feito licenciatura numa

faculdade de Formação de Professores. Se eu não tivesse ido buscar informações por

conta própria, estaria até hoje sem nem ao menos conhecer a Lei. Assim como eu,

existem muitos professores. Não estou aqui para culpar os cursos de graduação por não

nos darem todas as informações para exercer o magistério; até porque todos sabemos

que professor que se interessa e se preocupa em desenvolver um bom trabalho deve

sempre estar se atualizando através de cursos, seminários, palestras etc. A nossa

formação deve continuar por toda a vida. Ilude-se quem pensa que está pronto após

quatro anos de graduação. Na verdade, ao fim da graduação, o que descobrimos é que

não sabemos nada e, portanto, temos muito a aprender para o resto da vida.

Conversando com alguns colegas de trabalho que, como grande parte dos

professores, adoram trabalhar consciência negra e indígena nos dias 20 de novembro e

19 de abril respectivamente, pude perceber que muitos nunca tinham ouvido falar da Lei

20

11645/08. E, para minha maior surpresa, quando eu explicava um pouquinho da lei, na

maioria das vezes o que ouvia era “Mas a gente já trabalha essas questões. Não

precisavam criar uma lei para isso.” É, realmente as questões já são trabalhadas; só que

pelo olhar do branco colonizador que coloca o negro e o índio como escravos, burros e

preguiçosos. A valorização das culturas desses povos não aparece nos livros de História

anteriores à Lei. Perguntei, então, a alguns colegas o que falta para que a Lei 11645/08

seja, efetivamente, implementada e eis algumas das respostas que obtive:

Prof. R, 28 anos (professor das redes municipais de Duque de Caxias e Nova Iguaçu,

graduando em Letras e Pedagogia.) – “Falta trabalhar a conscientização dos professores

em relação a pertinência do tema, através de cursos de formação continuada, palestras,

congressos e material didático adequado, pois ainda há muita resistência ao tema por

pura ignorância ou preconceito.”

Prof. V (professora de Língua Portuguesa em escola particular do município de São

Gonçalo.) – “Acho que falta informação por parte dos docentes. Quem se formou há

algum tempo, tinha essa matéria como optativa. Quem se formou há menos vê apenas

um semestre como Literatura africana. A menos que goste do assunto ou se especialize,

o profissional fica à deriva. Já escolhi certa vez, livros didáticos e paradidáticos e o

professor ignorou a parte africana. Não sei se é falta de interesse... era um assunto até

então, não abordado. Agora, as Universidades precisam se adaptar. No meu caso, foram

seis semestres de Literatura portuguesa e brasileira e um de africana porque eu escolhi.

Quantos semestres de História africana o povo de História faz? De indígena, então...

nem se fala... Até porque usar cabelo Black, se autoafirmar negro é moda; agora o

indígena está meio esquecido...”

Prof. R (professora de Ciências do Estado e em escola particular do município de São

Gonçalo.) – “Falta interesse das autoridades responsáveis pela implementação do

currículo pedagógico em querer que o povo brasileiro conheça de fato as suas origens.”

Prof. S (Professora da rede municipal de Duque de Caxias, graduada em Matemática e

pós-graduada em Psicopedagogia.) – “Acredito que falta uma maior motivação e

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envolvimento por parte da escola com o tema. Trazer material, vídeos, pessoas dispostas

a dar palestras sobre o tema com o objetivo de incentivar professores e alunos.”

A fala da prof. S me chamou bastante atenção pelo fato dela colocar a

responsabilidade pela busca de informações e formação quanto à Lei apenas na escola.

Ela não se mostra interessada em si própria mesma buscar aprimorar sua formação para

trabalhar a temática com seus alunos através dos cursos de formação continuada, os

quais foras citados na resposta do prof. R. É claro que a escola tem que se movimentar e

oferecer condições e estímulos para que seu corpo docente sinta-se motivado e tenha

desejo de trabalhar as culturas afro-brasileira e indígena com seus alunos, mas o

professor não pode ficar aguardando a iniciativa da escola e se apossar do discurso do

“não faço porque a escola não pede ou não me dá condições”. Quando a escola toda se

envolve é muito melhor, mas se essa não é a realidade do professor, cabe a ele começar

a mudança que deseja ver. Cabe a ele pesquisar meios para desenvolver seu trabalho e

assim, quem sabe, cativar todos os outros integrantes dessa escola. Reconheço que vida

de professor no Brasil não é fácil. Ganhamos mal, somos desvalorizados e

desrespeitados a todo instante, muitos têm que trabalhar em várias escolas e vivem

correndo de um lado para o outro..., mas não se pode simplesmente cruzar os braços

diante das dificuldades, colocar a culpa nas autoridades e no gestor educacional e se

fazer de vítima injustiçada e pobre coitado que está apenas esperando completar o

tempo para se aposentar. Se é para cumprir esse papel, é melhor mudar de profissão.

Outra fala que me chamou bastante atenção foi a da professora V. Na verdade, foi a

pergunta dela “Quantos semestres de História africana o povo de História faz?”.

Infelizmente, não consegui entrevistar nenhum professor de História para obter essa

resposta, mas este questionamento serve para lembrarmos que não é só o professor de

História que deve estudar a cultura de outros povos, assim como não é só o professor de

Português que deve estudar a Língua e saber escrever e usar as palavras e regras da sua

língua adequadamente. Nós, professores, precisamos perder esse vício de achar que tem

que ficar cada um na sua área específica isoladamente. Nós nos especializamos sim,

mas não é para nos excluirmos dos outros e sim para integrarmos os saberes. Fico muito

chateada quando um colega de profissão, mas que não é professor de Língua Portuguesa

como eu, diz que o aluno que escreve mal é culpa do professor de Português e que ele

não corrige porque não é a área dele. A nossa área é a educação e todos temos o dever

22

de ensinar e educar. Se eu sei o correto é meu dever mostrar ao meu aluno onde está o

erro e ajudá-lo a corrigir; só criticar não ajuda em nada.

Felizmente já existem cursos à distância e cabe ao professor investir na sua

formação. Se tiver ajuda da instituição de ensino em que trabalha, ótimo! Mas se não

tem, deve correr atrás por conta própria. Se não tem o devido conhecimento para aplicar

a Lei 11645/08 no seu cotidiano escolar corra atrás do prejuízo. Falta material? Sim.

Mas existem. São poucos, mas hoje são bem mais do que em 2008 quando a lei foi

instituída. São poucos os livros didáticos que estão de acordo com a Lei, que contam a

nossa história, a história do povo brasileiro com as duas visões: do homem branco e do

negro e do índio que foram explorados.

Na área da Literatura tem surgido cada vez mais livros que ajudam a trabalhar a

questão da valorização das culturas afro-brasileira e indígena. O trabalho com a

literatura negra em sala de aula possibilita o acesso às produções literárias e põe fim a

uma tradição histórica em que sempre destacam-se autores e personagens não-negros.

Além disso, cria novas maneiras de se representar o negro levando a sociedade a

questionar, reclamar e revisar o papel e o lugar do negro na sociedade brasileira. Aliás,

qual é o lugar do negro na sociedade? Existe um lugar pré-determinado para o negro?

Não, não existe lugar pré-determinado para ninguém; nem negros, nem índios, nem

brancos... Todos os cidadãos podem ocupar o lugar que desejarem na sociedade, todos

têm capacidade para isso, mas infelizmente, as oportunidades não são iguais para todos.

Penso que a criação da Lei 11645/08 é mais uma tentativa de reparar as injustiças

sociais às quais os negros e toda a população das classes populares são submetidas,

assim como o sistema de cotas adotado pelas universidades; porém não se pode negar

que a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena nas

escolas promove e garante a diversidade tão necessária para a formação educacional,

além de estimular a discussão sobre questões raciais. Trazer a cultura afro-brasileira e

indígena para o cotidiano dos nossos alunos, fará com que as pessoas conheçam melhor

sua história, suas origens, orgulhem-se das contribuições dadas por seus antepassados,

orgulhem-se das suas origens e, principalmente, aprenderão a respeitar a culturas e os

valores do outro. Assim, talvez consigamos evitar situações como a que ocorreu no

estado do Amazonas, em que alunos evangélicos se recusaram a fazer um trabalho sobre

a cultura afro-brasileira alegando “princípios religiosos” e afirmando que o trabalho

23

fazia apologia ao “satanismo e ao homossexualismo”. Segundo a fala de uma das

alunas, o que havia de errado no projeto eram “as outras religiões, principalmente o

Candomblé e o Espiritismo, e o homossexualismo, que está nas obras literárias. Nós

fizemos um projeto baseado na Bíblia”. (http://acritica.uol.com.br/Manaus (AM), 10 de

Novembro de 2012)

Vivemos em um país continental, imenso e isto faz com que sejamos multiculturais

e isso é ótimo! Entretanto, infelizmente, a desinformação e o preconceito fazem com

que muitos brasileiros ao invés de se orgulharem de fazer parte de uma nação tão

diferente e explorar essas diferenças culturais, preferem menosprezar aquilo que nem

conhecem e começam a espalhar inverdades aleatoriamente sem o menor cuidado. É

triste perceber que por mais campanhas que se façam contra o preconceito e a

discriminação, os casos de crimes de intolerância racial e religiosa só aumentam.

Quase dez anos após a criação da Lei, temos visto com freqüência casos de racismo

nas redes sociais sendo denunciados pela mídia contra “pessoas famosas”. O

preconceito no Brasil sempre existiu, vivemos em um país preconceituoso, mas tenho a

impressão, ou melhor, posso afirmar com certeza que as pessoas só percebem e se

incomodam com este ato desprezível quando ocorre com alguma celebridade, com

alguém considerado importante pela imprensa. Enquanto as vítimas de preconceito são

pessoas comuns, ninguém se importa e chamam o preconceito, a discriminação de

mania de perseguição. Quando a Maju, a Thaís Araújo e a Sheron Menezes foram

agredidas nas redes sociais milhões de pessoas se mobilizaram e adotaram as frases

“Somos todos Maju, Thaís” etc. É claro que eu também fiquei indignada com as

agressões sofridas por elas e acho que esses acontecimentos devem ser aproveitados

para mostrar às pessoas o quanto a sociedade brasileira é hipócrita ao dizer que o

preconceito não existe. Mas não é só isso. Todos se mobilizam, fazem manifestações a

favor das celebridades, mas quem se indignou com o indiozinho assassinado friamente

no colo da mãe enquanto mamava, no dia 30/12/2015? Quase ninguém. Não vi

manifestações do tipo “Somos todos Vítor”. Muita gente nem sabe que isso aconteceu

porque não repercutiu na mídia, nos telejornais e em tantos outros canais de

comunicação. O site Pragmatismo Político observou bem ao afirmar que

“Este crime horrendo de uma criança, assassinada a sangue-

frio, nos braços da mãe e em plena luz do dia não ocupou as

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manchetes da imprensa nacional. Apenas alguns jornais deram

a notícia, de forma discreta.”

Da mesma forma que a morte do ator Antonio Pompêo no último dia 05/01/2016

não teve tanto destaque na mídia; afinal ele estava um pouco afastado da TV e ninguém

se lembrava dele e de tantos trabalhos maravilhosos realizados ao longo de sua vida.

Enquanto a morte do ator negro não teve destaque nenhum, a morte da gloriosa

Marília Pêra fez com que o seriado em que estava atuando quando morreu ganhasse

mais destaque na programação. Ah, mas isso é só uma forma de homenagear a querida

atriz! Concordo, mas por que não homenageiam o Antonio Pompêo também? Simples.

Porque ele era negro, mas não era qualquer um. Ele foi presidente do Centro de

Documentação e Informação do Artista Negro (Cidan) e diretor de Promoção, Estudos,

Pesquisas e Divulgação da Cultura Afro-Brasileira, da Fundação Palmares, vinculada ao

Ministério da Cultura. Assim, fica difícil dizer que a mídia não manipula as pessoas e

não é preconceituosa. Volto a dizer que a sociedade brasileira, infelizmente, é

preconceituosa e muito influenciada pela mídia, pelo senso comum e a melhor forma de

lutarmos contra essas influências é através do conhecimento e da educação, a qual está

constantemente sendo prejudicada por nossos governantes. A Lei 11645/08 não é a

única lei relacionada à educação que encontra entraves para ser cumprida. A Lei

11.738/2008, que regula o piso salarial nacional dos profissionais do magistério público

da educação básica, também não é cumprida na maioria dos estados brasileiros por

quem deveria dar bom exemplo: os governadores. Poucos acataram e alguns ainda nem

informaram quando e, se pensam, em acatar a lei.

Há alguns dias, passando pela Mangueira (bairro do Rio de Janeiro), próximo ao

Maracanã, li uma frase num viaduto que me deixou muito triste, mas não desestimulada:

“SOMOS OS PROFESSORES + BARATOS DO MUNDO”. Triste verdade; naquele

momento senti vergonha alheia. Mostrei a frase ao meu marido e ele resumiu tudo em

uma palavra “COMPLICADO”. Minutos depois eu perceberia que a situação era muito

mais que complicada. Ao deixarmos nosso carro na concessionária para fazer revisão, o

mecânico que veio conversar conosco, mas não nos viu chegar com o carro, passou por

nós e voltou para perguntar à menina que nos recebeu onde estavam os donos do

veículo. Engraçado que só tínhamos nós aguardando. Portanto, não haveria motivo para

dúvidas, a não ser o fato de sermos negros e, provavelmente, ele não pensou que

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pudéssemos ser os donos daquele carro. Devo esclarecer: nosso carro é um Idea

automático. Já estamos acostumados com situações desse tipo e sempre encaramos com

bom humor. Nunca houve nada mais grave, mas não vivemos achando que todos nos

amam, sabemos que incomodamos a muitos e que estes nos engolem devido a nossa

situação social. Como eu havia dito antes, a situação é muito mais complicada. Aplicar

a Lei 11645/08 é necessário não apenas para estudar a história e cultura afro-brasileira e

indígena, mas principalmente para que os negros, índios, pardos, mulatos... os

brasileiros tenham orgulho de serem como são e aprendam a se fazer respeitados de

maneira educada e gentil. Precisamos mostrar que o negro não é como mostram de

maneira caricata nas novelas e filmes “o escravo, o preto velho, o malandro, o favelado,

o crioulo doido, a mulata gostosa“. Sou a favor da causa negra e da causa indígena, mas

confesso que fico muito preocupada quando vejo movimentos de pessoas brigando para

tentar mostrar seu valor ou sua superioridade no grito. Eu não quero ser superior a

ninguém, eu quero apenas que me respeitem do jeito que sou, com as crenças que tenho

e é isso que eu busco passar aos meus alunos. Sou professora negra, fui a primeira a ter

graduação e pós-graduação na minha família e, por isso, infelizmente, despertei a inveja

de muitos. Faço greve, luto pelos meus direitos e ensino os meus alunos a lutarem pelos

deles, mas sem esquecer que todos temos deveres também.

A morte do menino Vítor causou muito mais indignação fora do Brasil do que aqui,

que é a sua terra natal, como pode ser observado na fala da jornalista Eliane Brum, ao

opinar sobre o caso no jornal espanhol El País:

Se fosse meu filho, ou de qualquer mulher branca de classe média, assassinado nessas circunstâncias, haveria manchetes, haveria especialistas analisando a violência, haveria choro e haveria solidariedade. E talvez houvesse até velas e flores no chão da estação rodoviária, como nas vítimas de terrorismo em Paris. Mas Vitor era um índio. Um bebê, mas indígena. Pequeno, mas indígena. Vítima, mas indígena. Assassinado, mas indígena. Perfurado, mas indígena. Esse “mas” é o assassino oculto. Esse “mas” é serial killer. ( http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016)

O assassinato do pequeno Vítor não repercutiu na imprensa brasileira porque quem

morreu foi um índio assassinado por um branco. Se tivesse ocorrido o contrário,

certamente teria tido grande repercussão. Afinal, essa é a imagem que a mídia faz

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questão de passar dos índios; de que eles são selvagens e violentos. Sempre que tem

confrontos de terras, só mostram as atitudes dos índios, nunca é dito o que os homens

brancos estão fazendo contra eles. O assassino do indiozinho se entregou dois dias

depois por temer pela própria vida e, até agora, ninguém sabe qual a justificativa que ele

usou para o que fez, se é que tentou justificar, mas provavelmente a defesa vai alegar

que ele sofre de algum distúrbio mental e o caso será arquivado. Esse crime bárbaro e

covarde mostra mais uma vez como o Brasil trata o seu povo e, novamente, a jornalista

Eliane Brum analisa a situação de forma clara e objetiva:

Quem continua morrendo de assassinato no Brasil, em sua maioria, são os negros, os pobres e os índios. […] Estamos nus. E nossa imagem é horrenda. Ela suja de sangue o pequeno corpo de Vitor por quem tão poucos choraram. (http://www.pragmatismopolitico.com.br)

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CAPÍTULO III Sugestões de atividades relacionadas à Lei 11645/08.

Após pesquisar e perceber que além da Lei 11645/08 não ser cumprida na maioria

das instituições de ensino, muitos professores justificam o não cumprimento da mesma

pelo fato de não terem o conhecimento adequado, assim como materiais que não são

disponibilizados pelas escolas. Neste capítulo então, serão apresentadas algumas

sugestões de atividades que podem ser realizadas durante todo o ano, pois não é

necessário esperar chegar o dia do índio ou da consciência negra para abordarmos

assuntos referentes às culturas indígena e afro-brasileira. São atividades simples e que a

única exigência para a realização delas é boa vontade e interesse.

Atividade: Vista Minha Pele

Fonte: cinemahistoriaeducacao.wordpress.com

Vista Minha Pele é um documentário de 2003 que trata de uma inversão de papéis

entre negros e brancos e conta a história de Maria, uma menina branca, pobre, que

estuda em uma escola particular na qual a maioria é negra e rica. Maria está nessa

escola pois sua mãe como faxineira lhe garantiu uma bolsa de estudos. Sua melhor

amiga é Luana, uma menina negra, de família abastada, que lhe auxilia na campanha da

"Miss Festa Junina" da escola.

O filme já causa um estranhamento a quem assiste logo no início porque ele

começa com uma conversa das duas amigas ao telefone, mas não mostra como são as

pessoas que estão falando. Quando a imagem das meninas negra e branca aparece e

quem está sendo discriminada é a branca, com todas as turmas que já trabalhei este

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vídeo a frase que ouvi foi:“Ué, mas ela é branca!”. A partir desse estranhamento, sugiro

que lancem as seguintes questões: Tem algo de errado no filme? O quê? Como é a

realidade da sua escola? Tem mais alunos negros ou brancos? E você, se considera

negro ou branco? Esta última pergunta, costumo pedir que respondam em um pedaço de

papel para me entregar e digo que não precisam se identificar se não quiserem. Com os

resultados, montamos um gráfico com a realidade da turma e, caso haja mais de uma

turma envolvida, fazemos uma comparação entre os gráficos.

Num outro momento, sugiro que se faça uma atividade com a música A cor do

Brasil, do Victor Kreutz. Ela é bem atual e esteve recentemente na trilha sonora da

novela I love Paraisópolis. Como a música fala de miscigenação, além da interpretação

da música pode ser confeccionado com os alunos um grande cartaz no formato do mapa

do Brasil e dentro dele colar fotos de vários brasileiros ou, fotos dos próprios alunos,

para mostrar o quanto o povo brasileiro é diferente.

Outra atividade que pode ser desenvolvida a partir do Vista Minha Pele é a questão

das celebridades negras que se destacam não só no Brasil como em todo mundo. A

partir dessa conversa, pode-se pedir aos alunos que pesquisem a biografia de negros que

ficaram famosos.

O documentário tem abordagem multidisciplinar e pode ser trabalhado em qualquer

disciplina. Contudo, as atividades aqui sugeridas são mais adequadas para turmas do 7º

ano em diante.

Atividade: Menina bonita do laço de fita

Fonte: www.anamariamachado.com

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Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, pode ser considerado um

clássico da literatura infanto-juvenil para falar de preconceito. O livro conta a história

de um coelho branquinho que é amigo de uma linda menina pretinha e ele quer saber

como faz para ficar pretinho como ela porque a admira muito. A menina sapeca lhe

ensina várias receitas que não funcionam até que um dia a mãe da menina senta com os

dois e fala dos antepassados, explicando assim o por que delas serem negras.

A história é encantadora, as crianças adoram e estimula bastante a autoestima das

crianças negras. Além de trabalhar a questão do preconceito, o livro também ajuda a

desenvolver atividades sobre diferenças, sendo assim, uma boa oportunidade para tratar

a questão da inclusão dos alunos com necessidades especiais.

As atividades que podem ser desenvolvidas a partir da obra são:

• Autorretrato: Em turmas do primeiro segmento, o professor pede aos alunos

que cada um faça o seu autorretrato para que depois comparem entre si e

observem que as pessoas são diferentes e, mesmo assim, podem conviver.

• Carimbo com as mãos: Na educação infantil, pode-se pintar as mãos das

crianças e carimbar no papel para que depois elas enfeitem colando olhos, boca e

laços a fim de cada um criar a sua menina bonita do laço de fita.

• Árvore genealógica: Em turmas do segundo segmento, o professor pode

orientar os alunos para que façam as árvores genealógicas das suas famílias.

Atividade: Máscaras africanas

Fonte: pt.dreamstime.com

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No carnaval, muitos professores aproveitam a data festiva para fazer trabalhos

artesanais com os alunos e sempre surgem as máscaras. Principalmente, nas turmas

menores, onde as máscaras normalmente são aproveitadas no baile de Carnaval da

escola. O professor pode então apresentar aos alunos alguns modelos de máscaras

africanas, afinal uma das sociedades que mais se expressam simbolicamente através de

manifestações artísticas são as etnias africanas, as quais tornaram-se famosas por suas

máscaras. Dá para fazer um trabalho integrado entre os professores de História e Arte

explorando os significados das máscaras, quais são os traços específicos e particulares

de cada sociedade dentro de um contexto cultural, como elas são confeccionadas, quais

os materiais utilizados, quem é a pessoas responsável em esculpir as máscaras entre

outras questões que podem ser abordadas.

Nas turmas iniciais do primeiro segmento, o professor pode levar alguns desenhos

baseados em máscaras africanas para os alunos colorirem. Com os alunos maiores,

pode-se propor a eles que criem as suas máscaras. E, no segundo segmento, antes de

confeccionarem suas máscaras, pode-se orientar aos alunos para que eles pesquisem

sobre as máscaras. Em uma escola que tenha laboratório de informática com Internet, o

professor poderá levar os alunos ao laboratório para que façam suas pesquisas com a

supervisão do professor. Ao final, pode-se montar uma exposição com as pesquisas dos

alunos e máscaras que foram produzidas por eles.

Atividade: Princesas Negras

Fonte: www.travessa.com.br

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Essa atividade é mais voltada para as turmas da Educação Infantil, mas o professor

do Ensino Fundamental pode adaptá-la para a sua turma se desejar.

As crianças que chegam à Educação Infantil vivem num mundo de príncipes e

princesas, os quais, na maioria das vezes, são brancos e, por isso, nossos pequenos

alunos negros não se identificam com esses personagens. As meninas são as que mais

sofrem com essa diferença, pois as princesas dos contos de fadas são sempre loiras, de

olhos azuis e cabelos lisos. Totalmente diferente das nossas meninas negras e do

estereótipo de beleza imposto pela sociedade. E, como sabemos, criança quando quer

pode ser bem cruel. Então, em toda turma tem aquela menina que está dentro dos

padrões de beleza da sociedade e que vai rir das que não estão, principalmente das

negras.

O livro Princesas Negras e a sabedoria ancestral, de Ariane Celestino e Edileuza

Penha vem falar justamente dessa diferença que só as princesas negras possuem. A

história é um pouco grande para ser lida aos pequenos, mas o professor pode contá-la

fazendo as adaptações necessárias de acordo com a sua turma. O importante é conseguir

transmitir as diversas mensagens que a narrativa traz aos pequenos, todas elas voltadas a

valorização do negro, da sua pele, do seu cabelo e da sua cultura.

Eis alguns trechos que devem ser destacados:

• “Princesas negras são diferentes... Para reconhecê-las, as pessoas têm que ser

diferentes também. Porque as princesas negras, para serem vistas, têm que ser,

antes, sentidas...”

• “A pele das princesas negras carrega tanta sabedoria, que algumas, de tanta

melanina, até brilham... Como joias!”

Este trecho é bom para trabalhar com os pequenos a questão do lápis cor de pele.

Que lápis é esse? Qual é a cor da pele de cada um? Já existe no mercado caixas de giz

de cera com várias cores para representar a pele do brasileiro. É um produto novo e,

portanto não é fácil de ser encontrado, mas se o professor puder ter pelo menos uma

caixa na sua sala de aula para uso coletivo dos alunos, seria ótimo.

Outro trecho muito interessante é quando as autoras explicam que os cabelos das

princesas negras crescem para cima e que, por isso, elas não precisam usar coroas, pois

seus cabelos crespos são o ornamento mais lindo para uma cabeça real.

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Atividade: A lenda do Açaí

O professor prepara uma caixa pequena de madeira ou papel, representando um

livro aberto, em que a história vai sendo lida como se ali estivessem as ilustrações e a

escrita do livro. Dentro, coloca várias folhas brancas, as quais serão usadas para contar a

lenda do Açaí em uma roda de leitura. O professor começa a contar a história e, no

decorrer, vai tirando da caixa as folhas brancas, mostrando aos alunos e pedindo a eles

para que usem a imaginação e visualizem as cenas da história naquelas folhas brancas.

Ao final da narrativa, cada aluno receberá uma folha branca e desenhará a cena que

mais o marcou na lenda. Depois de prontos, junto com os alunos, o professor organizará

um mural com todos os trabalhos para ilustrar a história, o qual poderá ser afixado em

um local onde toda a escola veja e no dia da Feira de Ciências, a turma ficará

responsável pela barraca do açaí servindo açaí a todos que visitarem a feira.

A lenda do açaí está disponível em www.portalamazonia.com.br.

Atividade: Brincadeiras indígenas

Uma preocupação que surge todos os anos nas escolas que tem primeiro segmento é

o que fazer de diferente para comemorar o dia das crianças. Ainda mais em tempos em

que nossas crianças praticamente só brincam com brinquedos eletrônicos e aos nossos

olhos, tudo que não é eletrônico não os interessa. Sendo assim, temos que apresentar

algo diferente a eles e ainda convencê-los de que é possível se divertir sem tablets e

smartphones.

A escola pode organizar um evento que envolva todos os alunos do primeiro

segmento do ensino fundamental e pode chamá-lo de Dia do Curumim, que é como os

indiozinhos são chamados. Assim já desperta-se a curiosidade dos alunos com relação

ao que pode acontecer desde o nome. Neste dia, com a ajuda dos professores de

Educação Física, serão organizadas várias brincadeiras indígenas que movimentem o

corpo. Caso seja difícil para a escola tirar um dia para o evento, o mesmo pode ser

desenvolvido em uma semana e receber o nome de Semana do Curumim, mas tendo o

devido cuidado de não usar a Semana do Curumim em abril como semana do índio. A

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proposta é trabalhar sim a cultura indígena, mas numa época diferente para mostrar aos

alunos que podemos falar dos índios sempre e não só em abril.

Apresento aqui quatro brincadeiras que poderão ser desenvolvidas com os alunos.

Algumas são bem parecidas com brincadeiras que já conhecemos, mas com nomes e

regras um pouco diferentes.

• A corrida do Saci

Trace uma linha na terra ou na areia para definir o local de largada e outra, a

uns 100 metros de distância, para definir a meta a ser atingida. O participante deverá

correr em um só pé, sem poder trocar durante a corrida. Quem conseguir ultrapassar

a linha da meta ou chegar mais longe é o vencedor.

Fonte: www.nossoclubinho.com.br

• O gavião e os passarinhos

O participante que propôs a brincadeira ganha o papel de gavião. O gavião desenha

na areia uma grande árvore, cheia de galhos. As demais crianças são os passarinhos.

Cada uma delas escolhe um galho e senta-se lá.

Depois de todos acomodados em seus galhos, o gavião sai à caça dos passarinhos,

que deverão sair de seus ninhos batendo os pés no chão e cantando para provocar o

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bicho, que vai avançando lentamente. Já bem perto do grupo, o predador dá um pulo em

direção aos pássaros, que deverão fazer várias manobras para distraí-lo. Quando um dos

passarinhos for capturado, ele deverá ficar em um refúgio escolhido pelo gavião. Ganha

a brincadeira o último participante capturado.

Fonte: www.nossoclubinho.com.br

• Peixe Pacu

Um participante é escolhido para ser o pescador, enquanto os demais deverão

formar uma fila que deverá se mexer feito uma serpente. O pescador corre ao longo da

fila para tentar tocar o último jogador com uma vara ou um pedaço de pau, que

representa a vara de pescar, evitando ser impedindo pelos outros jogadores.

Fonte: www.nossoclubinho.com.br

Após o dia da brincadeira, o professor pode dar uma aula sobre o peixe pacu ou

ainda, pedir aos alunos que pesquisem sobre o peixe e depois fazer as atividades

com a turma explorando as descobertas deles.

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• Manga, tobdaé

Essa brincadeira é feita com peteca, mas o modo de brincar dos indígenas tem

certa semelhança com a nossa “queimada”, sendo jogada com quatro ou seis petecas

ao mesmo tempo e com dois jogadores por vez. Ao sinal do coordenador, os dois

jogadores arremessam as petecas na direção do outro com a intenção de atingi-lo e,

ao mesmo tempo, evitar ser atingido por ele. Quem foi atingido pelas petecas, sai do

jogo, cedendo o lugar para outro participante. Ganha quem ficar mais tempo na

brincadeira sem ser atingido.

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CONCLUSÃO Após meses de pesquisas e conversas com docentes que trabalham em diversos

segmentos de escolaridade, foi possível observar que ainda existem muitos professores

que desconhecem a Lei 11645/08 ou que já ouviram falar algo sobre ela, mas não sabem

exatamente do que se trata, para que foi criada e, muito menos, como aplicá-la em suas

aulas. Infelizmente, ainda há muito professor associando a inclusão do ensino de

Cultura afro-brasileira e indígena nas escolas apenas àquelas atividades realizadas para

comemorar o dia do índio e o dia da Consciência negra e ponto final.

Contudo, acredito que através da minha pesquisa consegui semear entre os

professores com os quais dialoguei, o interesse em se aprofundar mais sobre o tema em

questão a fim de incluírem em seus planejamentos diários discussões e atividades sobre

culturas afro-brasileira e indígena mostrando que elas fazem parte do cotidiano de todos

nós brasileiros e que, por isso, devem ser estudadas durante todo o ano letivo e não

apenas como datas comemorativas como muitos ainda fazem. Creio que através da

minha pesquisa, consegui difundir entre meus colegas de profissão a necessidade de

falarmos da importância do negro e do índio para o desenvolvimento do país a fim de

fazer de nossos alunos cidadãos mais críticos, para que eles lutem por uma educação de

qualidade para todos e não apenas para os que podem pagar uma boa escola particular.

O dia em que todos tiverem acesso à educação de qualidade não será mais necessário o

sistema de cotas, pois ao contrário do que muitos pensam, as cotas não foram criadas

para ajudar o negro e o índio a ingressar na faculdade; elas foram criadas para reparar a

má qualidade do sistema educacional público, que começa lá na educação básica. E,

como a maioria dos alunos de escolas públicas são negros, as pessoas acabam

associando as cotas somente aos negros achando que elas foram criadas para ajudar o

negro porque ele tem dificuldade de aprendizado.

Espero que as atividades que sugeri aqui possam contribuir para o desenvolvimento

de aulas mais dinâmicas e que também sejam um incentivo aos professores a pesquisar

mais materiais sobre culturas afro-brasileira e indígena e que eles criem outras

atividades com seus alunos, mostrando a eles o quanto os negros e índios contribuíram

e ainda contribuem para as conquistas que ocorrem no Brasil. Que nossos alunos

possam perceber que os negros e índios também são inteligentes, têm grandes feitos

para a humanidade e que eles também podem se tornar grandes homens e mulheres. Ao

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contrário do que a mídia mostra, o lugar do negro não é apenas no samba, funk, pagode

e futebol. Nem o índio serve apenas para tirar foto. No Brasil do século XXI, negros e

índios podem e devem ocupar todos os lugares respeitados pela sociedade,

principalmente, àqueles que eram destinados apenas à elite branca.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA <http://acritica.uol.com.br/noticias> Acesso em 11 de jan. de 2016. <www.alunosonline.com.br.> Acesso em 3 de abril de 2015. MEIRELES, Ariane Celestino e SOUZA,Edileuza Penha de. Princesas Negras e a sabedoria ancestral. Belo Horizonte: Nandyala, 2010. Artigo escrito por Lissandra Ramos, in <geledes.org.br>. Acesso em 28 de set. de 2015. <cadaminuto.com.br> Acesso em 11 de jan. de 2016. <educação-etnicorracial.blogspot.com.br> Acesso em 18 de jan. de 2016. <www.funai.org.br.> Acesso em 11 de jan. de 2016. <www.geledes.org.br> Acesso em 22 de jan. de 2016. <http://www.memorialdeartescenicas.com.br/site/teatro-c2/90-bando-de-teatro-olodum.html.> Acesso em 4 de abril de 2015. <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-surgiu-o-samba.> Acesso em 3 de abril de 2015. <www.nossoclubinho.com.br> Acesso em 30 de jan. de 2016. <www.portalamazonia.com.br> Acesso em 30 de jan. de 2016 <http://www.pragmatismopolitico.com.br/>Acesso em 11 de jan. de 2016. <http://premioabdiasnascimento.org.br/w/quem-foi-adbias-nascimento.> Acesso em 3 de abril de 2015. <professor-josimar.blogspot.com.> Acesso em 3 de abril de 2015. <pt.dreamstime.com> Acesso em 22 de jan. de 2016. <http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2012/03/influencia-da-cultura-indigena-em-nossa-vida-vai-de-nomes-medicina.html.> Acesso em 4 de abril de 2015. <http://www.todamateria.com.br/cultura-brasileira/.> Acesso em 15 de agosto de 2015 <www.vagalume.com.br> Acesso em 18 de jan. de 2016. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Coivara.> Acesso em 4 de abril de 2015. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_do_Brasil.> Acesso em 15 de agosto de 2015

39

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Feijoada_%28Brasil%29.> Acesso em 2 de abril de 2015. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lundu.> Acesso em 16 de agosto de 2015 <http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%B5es_afro-brasileiras.> Acesso em 2 de abril de 2015.

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ANEXOS

Alunos evangélicos se recusam a fazer trabalho sobre a cultura afro-brasileira

Alunos se negaram a fazer projeto sobre cultura afro-brasileira, alegando 'princípios religiosos', afirmando que o trabalho faz apologia ao 'satanismo e ao homossexualismo'.

Manaus (AM), 10 de Novembro de 2012

O protesto de um grupo de 13 alunos evangélicos do ensino médio da escola estadual Senador João Bosco Ramos de Lima - na avenida Noel Nutels, Cidade Nova, Zona Norte -, que se recusaram a fazer um trabalho sobre a cultura afro-brasileira – gerou polêmica entre os grupos representativos étnicos culturais do Amazonas.

Os estudantes se negaram a defender o projeto interdisciplinar sobre a ‘Preservação da Identidade Étnico-Cultural brasileira’ por entenderem que o trabalho faz apologia ao “satanismo e ao homossexualismo”, proposta que contraria as crenças deles.

Por conta própria e orientados pelos pastores e pais, eles fizeram um projeto sobre as missões evangélicas na África, o que não foi aceito pela escola. Por conta disso, os alunos acamparam na frente da escola, protestando contra o trabalho sobre cultura afro-brasileira, atitude que foi considerada um ato de intolerância étnica e religiosa. “Eles também se recusaram a ler obras como O Guarany, Macunaíma, Casa Grande Senzala, dizendo que os livros falavam sobre homossexualismo”, disse o professor Raimundo Cardoso.

Para os alunos, a questão deve ser encarada pelo lado religioso. “O que tem de errado no projeto são as outras religiões, principalmente o Candomblé e o Espiritismo, e o homossexualismo, que está nas obras literárias. Nós fizemos um projeto baseado na Bíblia”, alegou uma das alunas.

Intolerância gera debate na escola

A polêmica entre os alunos evangélicos e a escola provou a ida de representantes do Fórum Especial de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros do Amazonas, da Ordem dos Advogados do Brasil, secção do Amazonas, e do Ministério Público do Estado.

Para a representante do movimento de entidades de direitos humanos e do Fórum Especial de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros do Amazonas, Rosaly Pinheiro, a problemática ocorrida na escola reflete uma realidade de racismo e intolência à diversidade. “Nós temos dados de que 39% dos gestores e alunos das escolas são homofóbicos. Essa não pode ser encarada como uma oportunidade para se destacar um fato ruim, mas sim uma oportunidade de se discutir, de uma forma mais ampla essas questões com os alunos”,disse.

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Para a representante do Ministério Público, Carmem Arruda,a situação também deve ser encarada como uma oportunidade de esclarecer a comunidade.“É uma chance de discutir a diversidade e uma oportunidade de contruirmos uma conscientização junto não apenas aos alunos, mas sim às famílias que serão fazem refletidas junto a comunidade”.

Representante do Fórum pela Diversidade da OAB/AM, Carla Santiago, ressaltou que o episódio não era para ser encarado como um ato que fere os direitos de negros, homossexuais, mas sim um momento de conscientizar os alunos sobre a etnodiversidade. A conversa entre os diversos segmentos envolvidos prometia uma nova rodada, mas até o fechamento desta edição estava mantida a posição da escola de cobrar o trabalho original passado aos alunos pelo professor de História.

Lenda do Açaí Antes de existir a cidade de Belém, capital do Estado do Pará na Amazônia, uma tribo muito numerosa ocupava aquela região. Os alimentos eram escassos e a vida tornava-se cada dia mais difícil com a necessidade de alimentar todos os índios da tribo. Foi aí que o cacique da tribo, chamado de Itaki tomou uma decisão muito cruel. Ele resolveu que a partir daquele dia todas as crianças que nascessem seriam sacrificadas para evitar o aumento de índios da sua tribo. Um dia, no entanto, a filha do cacique, que tinha o nome de IAÇÃ, deu à luz uma linda menina, que também teve de ser sacrificada. IAÇÃ ficou desesperada e todas as noites chorava de saudades de sua filhinha. Durante vários dias, a filha do cacique não saiu de sua tenda. Em oração, pediu à Tupã que mostrasse ao seu pai uma outra maneira de ajudar seu povo, sem ter que sacrificar as pobres crianças. Depois disso, numa noite de lua, IAÇÃ ouviu um choro de criança. Aproximou-se da porta de sua oca e viu sua filhinha sorridente, ao pé de uma esbelta palmeira. Ficou espantada com a visão, mas logo depois, lançou-se em direção à filha, abraçando-a. Mas, misteriosamente a menina desapareceu. IAÇÃ ficou inconsolável e chorou muito até desfalecer. No dia seguinte seu corpo foi encontrado abraçado ao tronco da palmeira. No rosto de IAÇÃ havia um sorriso de felicidade e seus olhos negros fitavam o alto da palmeira, que estava carregada de frutinhos escuros. O cacique Itaki então, mandou que apanhassem os frutos em alguidar de madeira, o qual amassaram e obtiveram um vinho avermelhado que foi batizado de AÇAÍ, em homenagem a IAÇÃ (invertido é igual a açai). Com o açai, o cacique alimentou seu povo e, a partir deste dia, suspendeu sua ordem de sacrificar as crianças.mas de respeito pela vida.

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A Cor do Brasil (Victor Kreutz) Negro branco Pardo, colorido Caucasiano Todos em um grito de não Ao preconceito Viva a miscigenação! Mistura de raças Somos a cor do brasil Brasil, Brasil, Brasil Negro branco Pardo, colorido Caucasiano Todos em um grito de sim Somos iguais e nossa pele é uma casca A nossa tribo tem branca e tem mulata Mas levo em minha pele, no meu coração A cor do Brasil Brasil, Brasil, Brasil Somos mistura, comunidade Aceitamos todos Então corre e chega aí E somos gratos Sorrisos fartos A felicidade mora aqui La,la,la,la,la,la Segue o som, num ritmo bom Aqui na favela, Criança animada Agora escreve, por linhas retas A nossa história, que foi mal contada Palavra falada, por quem sabe nada O rap que nasce, na minha quebrada Expressa a dor da mentira jogada Batalho a justiça de alma lavada Misturo as cores e crio as raças Quem tem preconceito, hoje não tem mais nada O muro já era não há divisória Nós somos iguais, isso é uma vitória Se o negro, branco não imagina Que o coração É o que move essa vida Ergo a bandeira é paz declarada Mostro a razão do sorriso na cara Sou simplicidade Honesto Gentil E levo em mim

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A cor do Brasil,Brasil Negro branco pardo colorido La, la, la, la, la Caucasiano, todos em um grito La, la, la, la, la La, la, la, la, la

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS .................................................................................................... 3

DEDICATÓRIA .............................................................................................................. 4

RESUMO ......................................................................................................................... 5

METODOLOGIA .............................................................................................................6

SUMÁRIO ....................................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8

CAPÍTULO I

A influência do africano e do índio na cultura brasileira e suas contribuições ............. 11

CAPÍTULO II

O que falta para que a Lei 11645/08 seja efetivamente colocada em prática? .............. 19

CAPÍTULO III

Sugestões de atividades relacionadas à Lei 11645/08 ................................................... 27

CONCLUSÃO ............................................................................................................... 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................... 38

ANEXOS ....................................................................................................................... 40

FOLHA DE AVALIAÇÃO ........................................................................................... 45

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FOLHA DE AVALIAÇÃO