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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA USINA DE BELO MONTE: QUAL O REAL INTERESSE EM SUA CONSTRUÇÃO? William Vanderlei Jesus de Souza Orientador Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · USINA DE BELO MONTE: QUAL O REAL INTERESSE EM SUA ... CAPÍTULO II Usina Hidrelétrica de Belo Monte 20 CAPÍTULO III – A polêmica

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

USINA DE BELO MONTE: QUAL O REAL INTERESSE EM SUA

CONSTRUÇÃO?

William Vanderlei Jesus de Souza

Orientador

Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

USINA DE BELO MONTE: QUAL O REAL INTERESSE EM SUA

CONSTRUÇÃO?

Rio de Janeiro

2015

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Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito para obtenção do grau de

especialista em Sistema de Gestão Integrada em

SQMS/SG

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente Deus que é a razão do meu viver.

Aos meus pais, irmãos, noiva, cunhadas, parentes e amigos que muito me

incentivaram em todos os momentos.

Aos meus sobrinhos José Carlos e Bernardo por me motivarem a conquistar

esse momento. Amo vocês meus sobrinhos maravilhosos.

Aos meus colegas tanto da faculdade quanto os da pós por tudo.

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DEDICATÓRIA

Primeiramente a Deus. Porque Dele, e por Ele e para Ele, são todas as coisas;

glória, pois, a Ele eternamente. Amém. ROMANOS 11:36

Aos meus pais Vanderlei e Ruth por tudo: as broncas, o amor,o cuidado, o

carinho, chamar minha atenção nos momentos certos, por estarem comigo em

todos os momentos da minha vida, pais a vocês minha eterna gratidão.

Aos meus irmãos Lucio, Hugo, Márcia por me amarem e sempre torcerem por

mim, eu amo vocês.

À minha noiva Tatiane Souza por estar do meu lado em todos os momentos,

me dando força, apoio, incentivo, compreensão obrigado minha vida por tudo.

À Francisca Chaves (mão do coração) por me proporcionar essa alegria, esse

momento, mas uma etapa na minha vida, por me ajudar num momento crucial,

mãe eu não tenho palavras pra lhe agradecer, meu muito obrigado por tudo.

Ao meu digníssimo e querido Professor e Amigo Djalma Silva (UCB) que desde

os tempos de graduação, sempre me ajudou, apoiou, incentivou e inspirou, um

amigo que sei que sempre posso contar. Djalma te amo. Valeu por tudo

mesmo.

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RESUMO

As questões ambientais vem sendo discutida há muito tempo de forma a levar

os países em geral a fazerem um alta reflexão sobre os fortes impactos

ambientais, principalmente em grandes construções como uma usina

hidrelétrica. É neste contexto que se insere a UHE Belo Monte. O presente

trabalho se ocupa em contribuir para uma avaliação mais profunda dos danos

ambientais ocorridos na construção da usina, a partir dos pontos de vista da

economia ambiental e da ecologia de sistemas. Para tanto, é realizada revisão

bibliográfica de estudos já realizados quanto aos impactos ambientais

originários, principalmente, do alagamento da área do reservatório e cálculo

para se obter valores segundo as valoração monetária ambiental e energética.

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LISTA DE SIGLAS

Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)

AHE (aproveitamento hidrelétrico)

Banco Central (BC) Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)

CNPE (Conselho Nacional de Política Energética)

Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE)

Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental) Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

Gigawatts-hora(GWh)

Growthand Estimation.( GDP)

Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) Mercado Atacadista de Energia (MAE)

Ministério de Minas e Energia (MME)

Moeda Brasileira(R$ Real)

Moeda Norte Americana (U$ Dólar)

MW (megawhats)

Nessa (Norte Energia S.A.)

Operador Nacional do Sistema (ONS)

Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs)

Plano de Inserção Regional (PIR)

Produto Interno Bruto ( PIB)

Programa de Aceleração do Crescimento ( PAC)

Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro(Projeto RE-SEB) Sistema Interconectado Nacional (SIN)

UHE (usina hidrelétrica)

Valoração Ambiental (VA)

Valoração Monetária (VM)

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METODOLOGIA

Para a realização do presente trabalho foram feitas pesquisas como jornais,

revistas, internet, TV, vídeos, relativas ao assunto em estudo.

Afim de entender que as mesmas abordam a respeito da Usina de Belo Monte,

através de revisões bibliográficas podemos avaliar os aspectos

socioeconômicos envolvidos, fornecendo novos argumentos a respeito da

consideração dos impactos socioambientais envolvidos na construção do

reservatório da mesma, analisando a viabilidade deste tipo de

empreendimento.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I -Setor Energético 11

CAPÍTULO II Usina Hidrelétrica de Belo Monte 20

CAPÍTULO III – A polêmica envolvida 31

CAPÍTULO IV – Valores na construção da usina 35

Conclusão 48

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50

ÍNDICE 52

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INTRODUÇÃO

Falar de Belo Monte é tão instigante e ao mesmo tempo tão complexo pois

desde sua criação há mais de 30 anos vem causando tanta polêmica.

Sendo a 3ª maior Usina Hidrelétrica do mundo, ate que ponto isso vai gerar

desenvolvimento ou agressão ambiental?

Sabendo que sua construção vai gerar vários impactos ambientais, mas

também trará muito lucro no ponto de vista econômico e energético.

Esta construção tem trazido diversas polêmicas sociais, econômicas, políticas

e legais, tendo em vista que alguns direitos estão sendo privados tais como o

direito à propriedade, a tutela dos índios e principalmente o direito ambiental.

Com essa construção, é certo que haverá crescimento em diversas áreas do

nosso país, nisto estaremos analisando os impactos econômicos dos danos

ambientais ocorridos na instalação da mesma, comparando o seu

desenvolvimento a partir de outras hidrelétricas existentes.

Objetivando mostrar os prós e os contra na construção da mesma vendo

realmente se é ou não viável.

Neste presente trabalho abordar-se no primeiro capítulo o setor energético

suas características histórico, afim de entender o setor energético brasileiro,

no segundo capitulo falaremos da Usina de Belo Monte e seus impactos

ambientais, no terceiro capitulo a polêmica envolvida que enfatiza os pontos

positivos e negativos na construção da mesma, e no quarto capitulo os valores

na construção da usina onde abordaremos o inventário hidrelétrico da bacia

hidrográfica do Rio Xingu e valoração econômica e energética, com a finalidade

de verificar qual o real interesse em sua construção.

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CAPÍTULO I – Breve histórico:

A presente monografia visa colaborar para uma melhor compreensão e

consideração dos danos ambientais envolvidos na construção do AHE Belo

Monte, apresentando valoração diversa dos impactos àquela adotada pelo

Manual oficial da ELETROBRAS. Iniciemos, portanto, com uma breve

introdução ao setor energético brasileiro.

1. Setor energético

1.1 Características gerais:

“O caminho para a discussão da questão energética deve englobar sua

conexão com o meio ambiente e com o que se entende por desenvolvimento,

com atenção às desuniformidades de cada país, suas regiões e grupos sociais”

A capacidade elétrica instalada em 2012 no território nacional era de

144.672MW”

(JOSÉ GOLDEMBERG Físico, Ganhador do Prêmio Planeta Azul 2008).

MW sendo que 75% desta capacidade era proveniente de usinas hidrelétricas

de capacidade superior a 30 MW. As plantas térmicas predominam nos

sistemas isolados, responsáveis por 3% do mercado de energia brasileiro,

enquanto que os sistemas interconectados, que abastecem 97% do mercado

nacional, são majoritamente dominados por hidrelétricas. A capacidade

instalada para o ano de 2009 é dada a seguir:

Figura 1: Capacidade Instalada no Brasil – 2009 (MW)

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(Extraído do Plano Decenal de Expansão de Energia 2019 - PDE 2019 -

Empresa de Pesquisa Energética, 2019).

1.1.1 Composição

O setor de energia elétrica brasileiro é composto por diversas instituições. O

CNPE é a responsável pela definição da política energética brasileira. Sua

principal função é assegurar a estrutura e estabilidade da oferta de energia

nacional. O Ministério de Minas e Energia por sua vez, é responsável pela

supervisão e controle da execução das políticas direcionadas ao

desenvolvimento energético nacional,assim como o planejamento, gestão e

criação de leis relacionadas ao setor energético. A Empresa de Pesquisa

Energética realiza o planejamento da expansão de geração e sistemas de

transmissão. É ela que fornece a aprovação técnica para o leilão de energia

aos participantes, assim como as garantias físicas para novas plantas. O

Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico é responsável pelo monitoramento

da continuidade e a confiabilidade do fornecimento de eletricidade em todo o

país.

Além dessas instituições, há a ANEEL, a qual regula e verifica as atividades

relacionadas à geração, transmissão, distribuição e comércio de eletricidade. É

responsável pelo estabelecimento de tarifas para consumidores finais,

assegurando assim o equilíbrio econômico e financeiro da concessão. O

Operador Nacional do Sistema Elétrico, por sua vez, controla as operações da

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produção de energia elétrica no Sistema Interconectado Nacional (SIN) e

define a expedição ótima de geração. Por fim, a c, a qual cria o ambiente para

operações do Mercado Atacadista de Energia Elétrica. Executa a contabilidade

financeira e os processos de liquidação, bem como leilões, seguindo as

decisões da ANEEL.

1.1.2 Leilões

Os leilões no Ambiente de Contrato Regulado são os principais meios pelas

quais as companhias distribuidoras devem adquirir energia para o suprimento

da demanda no mercado (decreto nº 5163/2004 e lei nº 10848/2004). O MME

define as diretrizes gerais para cada leilão, enquanto que a EPE executa os

estudos indicativos para servirem de base ao MME, incluindo definição das

novas usinas hidrelétricas que podem participar no leilão. Posteriormente, a

ANEEL executa o leilão em si, diretamente ou por intermédio da CCEE.

Os leilões são realizados entre um a cinco anos antes de a oferta de energia

começar,dependendo das características técnicas das usinas selecionadas. A

sistemática dos leilões se baseia no critério de tarifa mínima, sendo que os

participantes devem apresentar tarifas abaixo da tarifa-teto estipulada pela

ANEEL, e aquele que apresentar o menor valor em R$/MWh ganha a

concessão da usina.

(Extraído do site: http://www.socioambiental.org- outubro de 2010)

1.2 Histórico:

A dotação natural de fontes energéticas, especialmente a abundância de

cursos de água, foi fundamental para a determinação do parque gerador

nacional. Além de possuir grande potencial hidráulico próximo dos centros de

consumo, no início da implantação de hidrelétricas havia pouca resistência

socioambiental à construção de grandes reservatórios, além de as principais

decisões serem realizadas de forma centralizada pelo Estado, detentor de

grande capacidade de financiamento a um baixo custo de capital. Os três

fatores combinados permitiram, portanto, a instalação de novas usinas

hidrelétricas e grandes reservatórios que as acompanhavam a um custo

consideravelmente baixo, tornando essa fonte de energia a mais indicada do

ponto de vista econômico.

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As usinas hidrelétricas podem ser de dois tipos básicos: usinas com

reservatórios de acumulação; e usinas a fio d'água. As usinas com

reservatórios de acumulação geram a energia a partir da água acumulada em

grandes reservatórios. O reservatório regula a vazão,equilibrando assim a

geração da usina. Os grandes reservatórios permitem o acúmulo de água em

quantidade suficiente para que a geração de energia elétrica esteja garantida,

mesmo que ocorra período de chuva escassa. Estes reservatórios são

chamados de plurianuais. As usinas a fio d'água, por sua vez, geram energia

com o fluxo de água do rio, não acumulando ou acumulando pouca água em

seus reservatórios. O escoamento é contínuo e a produção de energia elétrica

depende da vazão do rio (períodos de seca e de cheia), sendo que as

comportas podem ser abertas e o reservatório facilmente esvaziado.

A principal fonte de energia elétrica brasileira, por um lado, apresenta

vantagens, mas pelo outro, apresenta potenciais dificuldades. A energia gerada

por hidrelétricas é de baixo custo, mas torna o sistema altamente vulnerável às

condições hidrológicas do país. De forma a superar esta vulnerabilidade, a

solução encontrada foi o sobre dimensionamento da capacidade instalada do

parque hidrelétrico, de tal forma que, na média, a capacidade geradora supera

em muito a demanda por energia elétrica, de forma a proporcionar o grau de

confiabilidade requerido do sistema.

(Extraído do site: http://www.socioambiental.org- abril de 2010)

1.2.1 Década de 1990:

Nesse contexto, a década de 90 foi um período de mudanças profundas. Em

1995, o Programa Nacional de Desestatização foi instaurado no setor elétrico.

Em 1996, o Ministério das Minas e Energia implanta o Projeto de

Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro (Projeto RE-SEB), tendo como uma

das principais consequências a desverticalização da cadeia produtiva,

tornando, dessa forma, a geração, transmissão, distribuição e comercialização

de energia elétrica áreas de negócio independentes. A geração e a

comercialização foram progressivamente desreguladas a fim de se incentivar a

competição;transmissão e distribuição, por constituírem monopólios naturais,

permaneceram como serviços públicos regulados.

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Ainda em 1996, foi criada a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL),

cuja função é regular as atividades do setor. Outras mudanças foram

realizadas, com o objetivo de organizar o mercado e a estrutura da matriz

energética brasileira. Dentre estas, podemos destacar a criação do Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos em 1997 e do Mercado

Atacadista de Energia (MAE) e do Operador Nacional do Sistema (ONS), em

1998.

Apesar de todo o esforço público, a década de 1990 foi marcada por

dificuldades no setor energético, de forma que a expansão da oferta nacional

não acompanhou o crescimento da demanda por energia elétrica. Para se

garantir o suprimento adequado, a quantidade de energia assegurada deve ser

sempre igual ou superior à carga existente. Desde meados de1996, a carga

superava a energia assegurada do sistema, o tornando mais vulnerável a

variações nas condições hidrológicas. Sem maiores investimentos para reverter

a situação, o sistema eventualmente passou a consumir suas reservas

armazenadas.

1.2.2 Década de 2000

A falta de investimentos em geração e transmissão de energia e o consumo

crescente dos reservatórios fez com que as reservas fossem consumidas além

do limite de risco recomendável. Dessa forma, uma crise de energia elétrica era

previsível. Bastou que as condições meteorológicas fossem desfavoráveis com

um longo período de chuvas escassas para que, em maio de 2001, a

dificuldade no setor culminasse na adoção de medidas emergenciais pelo

Governo, com a imposição de medidas de contenção e racionamento de

consumo de forma a evitar um colapso na oferta de energia.

A crise serviu como alerta para a necessidade de introduzir novas formas de

fontes energéticas na matriz nacional para operar o sistema de modo a se

garantir uma oferta contínua de energia. Houve incentivo para a instalação de

maior proporção de usinas termelétricas, que utilizam combustíveis como

bagaço de cana (biomassa) e gás natural, e cujo custo marginal de produção

da energia é maior, mas com exigência de investimento inicial de capital fixo

menor do que para hidrelétricas. Tais usinas termelétricas são essencialmente

utilizadas para gerar energia em períodos de hidrologia adversa, atendendo a

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demanda não suprida por hidrelétricas. Além das termelétricas, maior incentivo

foi dado também para o desenvolvimento de pequenas centrais hidrelétricas

(PCHs), fontes não convencionais (como eólicas) e conservação de energia.

Além do incentivo a outras fontes energéticas para tornar o setor elétrico

menos vulnerável, entre 2003 e 2004 o Governo brasileiro criou a Empresa de

Pesquisa Energética (EPE) para realizar o planejamento do setor elétrico a

longo prazo; o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE),

responsável pela avaliação da segurança do suprimento de energia elétrica do

país; e a Câmara de CCEE, no lugar do já existente MAE, para organização

das atividades de comercialização de energia no sistema interligado nacional

(SIN). Estas instituições, portanto, foram criadas no sentido de evitarem nova

crise energética, regulando e controlando o suprimento nacional.

1.2.3 Década de 2010:

O início de 2010 foi marcado pela retomada do consumo industrial de energia

elétrica para patamar próximo ao predominante no período pré-crise. A

indústria liderou a expansão do consumo de eletricidade na rede desde

fevereiro de 2010, com crescimento de 15,4% em Maio (comparado com o

mesmo período em 2009), acumulando no ano elevação de quase14%. A

elevação no consumo residencial e no setor de comércio também foi

expressivo,totalizando consumo total de energia elétrica na rede de mais de 34

mil Gigawatts-hora (GWh), denotando uma taxa de crescimento de 10,5% em

relação ao mês de maio de 2009. A taxa de expansão acumulou, dessa forma,

9,7% nos primeiros cinco meses do ano de 2010,sendo que em fevereiro, pela

primeira vez desde junho de 2009, o consumo acumulado em 12meses

apresentou variação positiva (1,1%), valor esse que passou para 3,9% no mês

de maio.

O consumo total acumulou desde janeiro cerca de 170 mil GWh, 0,8% acima

das previsões realizadas para o período no final de 2009.

Esses dados revelam recuperação expressiva do nível de atividade da indústria

e vigor no crescimento do consumo das famílias e do setor de serviços

(Resenha Mensal - EPE, Junho de 2010). Analisando separadamente os

setores consumidores, é perceptível que a dinâmica do crescimento atual do

consumo residencial se deve ao mercado de trabalho mais aquecido,com

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aumento do número de empregos e no piso salarial (elevação do salário

mínimo),possibilitando maiores gastos com conforto por parte das famílias. O

consumo energético do setor comercial também apresentou expansão, de um

lado devido ao aquecimento do comércio pelo aumento de renda familiar já

mencionado, e de outro pela retomada de novas instalações e ampliações de

pontos comerciais.

(“Extraído : Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do AHE Belo Monte e Nota

Técnica nº. 260/2008 da SGH/ANEEL.”)

O gráfico abaixo demonstra a relação existente entre o crescimento do PIB e

do consumo de energia brasileiro nos últimos anos.

Figura 2: Crescimentos do PIB e de consumo de energia elétrica no Brasil –

período de 2004 -2010 .

(Extraído EPE – Consumo Nacional de Energia Elétrica por Classe -Março

2010)

Após passar por período de baixa produção durante a crise sub-prime, a

retomada da atividade industrial, maior consumidor de energia elétrica do país,

vem apresentando altas taxas de crescimento. Esse crescimento generalizado

na demanda energética, juntamente como PIB brasileiro do primeiro trimestre

(crescimento de 9%, segundo o IBGE), as expectativas de mercado do Banco

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Central são de que a economia brasileira possa crescer até mais de 7% no ano

de 2010, indicando que o consumo total de eletricidade possa atingir nesse ano

418,6mil GWh, 7,7% a mais do que o presenciado em 2009

( Extraído Resenha Mensal - EPE, junho de 2010).

Até 2019 espera-se um crescimento do consumo natural em economias

emergentes. De acordo com a Empresa de Planejamento Econômico (EPE),

apesar de o Brasil apresentar um baixo valor de crescimento populacional

quando comparado com a década de 1970 (de3,5% para menos de 1% ao

ano), são esperados para os próximos dez anos mais 14 milhões de habitantes

no território nacional. Segundo dados do setor e projetos do BNDES (Banco

Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), também se espera a

retomada do crescimento de setores industriais intensivos em energia,

diferentemente do ocorrido nos últimos vinte anos. A indústria siderúrgica, por

exemplo, deverá crescer cerca de 10% ao ano,enquanto outros setores da

indústria de base também deverão experimentar crescimentos significativos.

1.3 Mercado de Energia Futuro:

Para o suprimento da demanda crescente por eletricidade, prioridade será

dada às fontes de energia renováveis. Estima-se que as fontes alternativas

permitam um acréscimo de aproximadamente 14.600 MW nos próximos dez

anos, sendo que 36% serão atendidas por energia eólica, 36% por biomassa e

27% por PCHs. Além dessas, cerca de 35 GW serão provenientes de novas

hidrelétricas, sendo que dentre esse total estão Belo Monte (início da

construção esperada para o final de 2010) e Jirau e Santo Antônio, as quais

entrarão em operação um ano antes do prazo inicialmente firmado. Juntando

as fontes energéticas, em dez anos serão 63 mil MW de energia adicional, ou

seja, construção de mais de 6mil MW por ano, dos quais 63% já foram

contratados, estando ou em construção ou em vias de ser construído. Em

2014, o país disporá de uma energia excedente, permitindo crescer a 7 ou

7,5% ao ano, isso sem considerar o potencial do petróleo, cuja produção mais

que dobrará (dos 2 milhões de bpd - barris de petróleo dia - passará a 5,1

milhões), sendo que no mínimo 50% serão provenientes do pré-sal.

De forma a alcançar a meta proposta, estima-se um crescimento de 5,1% ao ano na matriz energética, até chegar a um consumo de 3.300 kW per capita ao

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ano, maior do que os2.300 kW/habitante atuais, mas ainda muito distante dos 14 mil kW dos Estados Unidos e de7outros países desenvolvidos. Segundo o presidente da EPE, Maurício Tomalsquim, “o Brasil tem o terceiro maior potencial hidroelétrico do mundo, apenas menor que o da China e o da Rússia. No entanto, o país só utilizou um terço desse potencial até hoje, enquanto muitas das economias mais desenvolvidas já aproveitaram 100%, como a França, e 80%, como a Alemanha. Além disso, ele destacou que 60% do potencial energético a ser explorado pelo Brasil está situado na bacia amazônica, alvo de polêmicas como observado no caso estudado de Belo Monte”.( Tomalsquim Maurício- Presidente da Empresa de Pesquisa Energética )

1.4 O Problema:

A partir das constatações acima, nos perguntamos no presente estudo se a

UHE Belo Monte é eficiente e viável pelo ponto de vista da economia ambiental

(valoração monetária) e ecologia de sistemas (valoração energética). A

resposta será dada através da análise e comparação dos resultados obtidos

para Belo Monte aos dados apresentados por Sinisgalli (2005) e Morelli (2010).

Surge, entretanto, um novo problema: São os resultados suficientes para

chegarmos a uma conclusão definitiva sobre a viabilidade da construção da

usina no presente?

1.5 Hipótese e objetivos:

A hipótese é de que as quantificações obtidas pela valoração monetária

ambiental e energética e sua comparação com informações presentes em

estudos anteriores são capazes de fornecer dados para mostrar a viabilidade

do empreendimento analisado.

Com isso, o objetivo geral é analisar os principais métodos de valoração acima

descritos e os impactos ambientais, de forma a obter uma estimativa do

impacto econômico dos danos ambientais incorridos na instalação da UHE de

Belo Monte, e compará-los com resultados apresentados em estudos

anteriores, de forma a demonstrar sua maior eficiência perante outros

aproveitamentos hidrelétricos existentes.

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CAPÍTULO II – Usina Hidrelétrica de Belo Monte

2.1 – Histórico:

A polêmica em torno da construção da usina de Belo Monte na Bacia do Rio

Xingu, em sua parte paraense, já dura mais de 30 anos. Entre idas e vindas, a

hidrelétrica de Belo Monte é hoje considerada a maior obra do Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, vem sendo alvo de

intensos debates na região e no Brasil, pois desde 2009 quando foi

apresentado o novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) intensificando –se a

partir de Fevereiro de 2010, quando o MMA concedeu a licença ambiental

prévia (LP) para sua construção.

Belo Monte é um projeto de construção de uma usina hidrelétrica previsto para

ser implantado em um trecho de 100 quilômetros no Rio Xingu, no estado

Brasileiro do Pará. Sua potência instalada será de 11.233 MW, o que fará dela

a maior usina hidrelétrica inteiramente brasileira, visto que a Usina Hidrelétrica

de Itaipu está localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai.

De acordo com o site governamental Agência Brasil, Belo Monte será a única

usina hidrelétrica do Rio Xingu, sendo o lago da usina uma área de 516 km2. A

usina também teria três casas de força, porém, após revisão do projeto, a casa

de força do sítio Bela Vista deixou de constar no projeto. Permanecem as

casas de força do sítio Pimental e do sítio Belo Monte.

Prevista pra entrar em operação em fevereiro 2015, a usina será a terceira

maior hidrelétrica do mundo, atrás apenas da Chinesa Três Gargantas e da

binacional Itaipu, com 11,2 mil MW de potência instalada. Seu custo hoje é

estimado em R$ 19 bilhões, e a energia assegurada pela usina terá a

capacidade de abastecimento de uma região de 26 milhões de habitantes, com

perfil de consumo elevado como a Região Metropolitana de São Paulo.

O projeto prevê a construção de uma barragem principal no Rio Xingu,

localizado a 40 km abaixo da cidade de Altamira, no sítio Pimental, sendo que

o reservatório do Xingu localiza-se no sítio Bela Vista. A partir deste

reservatório, a água será desviada por canais de derivação que formarão o

reservatório dos canais, localizado a 50 km de Altamira. De acordo com a

última alteração do projeto, os dois canais de derivação previstos foram

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substituídos por um canal apenas. Desta forma, o reservatório dos canais foi

renomeado para reservatório intermediário.

O trecho do Rio Xingu entre o Reservatório do Xingu e a casa de força

principal, corresponde a um comprimento de 100 km, terá a vazão reduzida em

decorrência do desvio de canais. Este trecho foi denominado pelo Relatório de

Impacto Ambiental como trecho de Vazão Reduzida. Estima-se que este trecho

provavelmente será mantido com um nível mínimo de água, variável ao longo

do ano. Este nível mínimo será controlado pelo Hidrograma Ecológico do

Trecho de Vazão Reduzida, e tem como finalidade assegurar a navegabilidade

do rio e as condições satisfatórias para a vida aquática.

Duas casas de força serão construídas, a principal e a complementar. A

primeira será construída no Sítio Belo Monte e terá potência instalada de 11 mil

MW e a complementar será construída junto ao Reservatório do Xingu com

potência instalada de 233,1 MW.

A área inundada pertence a terras dos municípios de Vitoria do Xingu (248

km2), Brasil Novo (0,5 km2) e Altamira (267 km2).

Art. 225. Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (grifo nosso).

2.2 Cronologia:

A seguir segue a cronologia de Belo Monte desde o início de sua construção,

iniciando a partir das décadas de 70:

1975 – Iniciado os Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do

Rio Xingu.

1980 – A Eletronorte começa a fazer estudos de viabilidade técnica e

econômica do chamado Complexo Hidrelétrico de Altamira, formado pelas

usinas de Babaquara e Kararaô.

1989 – Durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, realizado em

Fevereiro em Altamira (PA), a índia Tuíra, em sinal de protesto, levanta-se da

plateia e encosta a lâmina de seu facão no rosto do então presidente da

Eletronorte, José Antonio Muniz, que fala sobre a construção da usina Kararaô

(atual Belo Monte). A cena é reproduzida em jornais e torna-se histórica. O

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encontro teve a presença do cantor Sting. O nome Kararaô foi alterado para

Belo Monte em sinal de respeito aos índios.

1994 – O projeto é remodelado para tentar agrada ambientalistas e

investigadores estrangeiros. Uma das mudanças preserva a Área Indígena

Paquiçamva de inundação.

2001 – Divulgado um plano de emergência de US$ 30 bilhões para aumentar a

oferta de energia no país, o que inclui a construção de 15 usinas hidrelétricas,

entre elas Belo Monte. A Justiça Federal determina a suspensão dos Estudos

de Impacto Ambiental (EIA) da usina.

2002 – Contratada uma consultoria para definir a forma de vender o projeto de

Belo Monte, o então presidente Fernando Henrique Cardoso critica

ambientalistas e diz que a oposição á construção de usinas hidrelétricas

atrapalha o País. O candidato á presidência Luiz Inácio Lula da Silva lança um

documento intitulado O Lugar da Amazônia no Desenvolvimento do Brasil, que

cita Belo Monte e especifica que a “matriz energética brasileira”, que se apoia

basicamente na hidroeletricidade, com mega obras de represamento de rios,

tem afetado a Bacia Amazônica.

2006 – O processo de análise do empreendimento é suspenso e impede que

os estudos sobre impactos ambientais da hidrelétrica prossigam até que os

índios afetados pela obra fossem ouvidos pelo Congresso Nacional.

2007 – Durante o Encontro Xingu para Sempre, índios entram em confronto

com o responsável pelos estudos ambientais da hidrelétrica, Paulo Fernando

Rezende, que fica ferido, com um corte no braço. Após o evento, o movimento

elabora e divulga a Carta Xingu Vivo para Sempre, que especifica ameaças ao

Rio Xingu e apresenta um projeto de desenvolvimento para a região e exige

sua implementação das autoridades públicas. O Tribunal Regional Federal da

1ª Região, de Brasília, autoriza a participação das empreiteiras Camargo

Corrêa, Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez nos estudos de impacto

ambiental da usina.

2009 – A Justiça Federal suspende licenciamento e determina novas

audiências para Belo Monte, conforme pedido do Ministério Público. O Ibama

volta a analisar o projeto e o governo depende do licenciamento ambiental para

poder realizar o leilão de concessão do projeto da hidrelétrica, previsto para 21

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de Dezembro. O secretário do Ministério de Minas e Energia, Márcio

Zimmerman, propõe que o leilão seja adiado para Janeiro de 2010.

2010 – A licença é publicada em 1º de Fevereiro, e o governo marca o leilão

para 20 de Abril.

2011 – Ibama concede ao Consórcio Norte Energia licença válida por 360 dias

para a construção da infra-estrutura que antecede a construção da usina.

“A possibilidade de construir usinas hidrelétricas na Bacia do Rio Xingu, entre os

estados do Pará e Mato Grosso, começou a ser estudada na década de 70. Os

estudos foram iniciados pela Centrais Elétricas do Norte do Brasil (ELETRONORTE

S/A) e, posteriormente, transferido a Centrais Elétricas Brasileiras S/A

(ELETROBRÁS), em conjunto com as construtoras Camargo Corrêa S/A, Andrade

Gutierrez e Norberto Odebrecht. Conheça abaixo um pouco da história do

Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte (AHE).”

(Extraído do site http://www.aneel.gov.br/ abril de 2010)

2.2 Impacto Ambiental ou Energia?

A Usina de Belo Monte, maravilha da Engenharia Elétrica, trará energia para 20

milhões de pessoas. Mas e o impacto ambiental? Será que vale a pena?

Conheça mais sobre o projeto. Como sabemos a largada para a maior

construção já vista no Brasil a Usina de Belo Monte, a maior hidrelétrica 100%

nacional é uma obra gigantesca, um marco na Engenharia Elétrica do Brasil,

onde há muito tempo não se via uma obra gigantesca e tão polêmica dessas.

Apesar de Itaipu ser maior, Belo Monte será a maior hidrelétrica do Brasil

segundo dados da Engenharia Elétrica, porque Itaipu também pertence ao

Paraguai (daí vem o nome de Itaipu Binacional). A Usina de Belo Monte é um

passo muito importante para a evolução do Brasil, em especial a Região

Norte, pois vai disponibilizar uma enorme quantidade de Energia para esta

região.

Construída de acordo com as mais modernas técnicas de Engenharia Elétrica a

capacidade de geração da usina vai ser de 11.223 MW, energia suficiente para

abastecer as casas de aproximadamente 26.000.00 de pessoas. Com esta

capacidade, alem de ser a maior usina do Brasil, ela também será a terceira

maior do mundo, perdendo apenas para a própria Itaipu e também para a

Usina de Três Gargantas localizada na China.

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Controvérsias desenvolvidas em torno da usina desde os primeiros estudos

realizados na bacia do rio Xingu, em 1975.

Far-se-á necessário destacar algumas indagações sobre as contradições

verificadas entre a política energética do setor elétrico brasileiro, a legislação

ambiental brasileira e o reconhecimento de direitos em processos decisórios de

grandes empreendimentos na Amazônia: cabe perguntar como as decisões

são tomadas; como ocorre a participação das populações atingidas no

processo decisório; como se constituem as arenas públicas durante o

licenciamento ambiental; tal como configurado, o processo de licenciamento

ambiental é apropriado para avaliar impactos e fazer visíveis os reclamos dos

grupos sociais atingidos?

2.3 O leilão:

2.3.1 O leilão para definição do construtor da Usina de Belo Monte estava

previsto pra ocorrer em 21 de dezembro de 2009, porem foi remarcado para o

dia 20 de abril de 2010 quando houve a primeira suspensão, conforme liminar

da Justiça Federal do Pará a partir de orientação do Ministério Público Federal

paraense que indicam irregularidades no empreendimento. O Ministério Público

Federal paraense também move outra ação pública, que tem o intuito de

derrubar a licença ambiental concedida à obra. Mas pra variar, o diretor de

licenciamento do Ibama,Pedro Alberto Bignelli, defende fielmente que a

construção de Belo Monte não atinge diretamente as terras indígenas da

região, o que contraria a decisão judicial que suspendeu a realização do leilão

e determina que o Ibama conceda uma nova licença prévia (LP) ao

empreendimento.

Em 16 de abril de 2010, o Tribunal Regional Federal acatou recurso da

Advocacia Geral da União – que havia ocorrido um dia antes (15), e anulou a

liminar que suspendia o leilão, porém a data limite de 20 de abril ainda estava

mantida e o leilão ainda corria risco. No dia 19 de abril de 2010, houve uma

nova suspensão, conforme decisão do juiz Carlos Almeida Campelo que

concedeu liminar a partir de pedido do Ministério Público Federal, onde o juiz

também mandou cancelar a licença prévia (LP) da obra e ressalta ainda que

faltam dados sobre o projeto fere o principio jurídico da precaução. No dia

seguinte, dia do leilão, a Justiça cassou a liminar da suspensão, mas o

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advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, afirmou que os processos

judiciais contra a construção da usina não devem terminar com o leilão. O

mesmo foi realizado em apenas 10 minutos, em plena indefinição de uma nova

liminar suspensiva, e foi vencido pelo Consórcio Norte Energia(CNE) com

menor preço oferecido pela energia elétrica da futura usina.

Em abril de 2010, o governo brasileiro encararia no mínimo, 15

questionamentos judiciais sobre a viabilidade econômica da obra e os impactos

sociais e ambientais na região, sendo que 13 deles impetrados pelo Ministério

Público Federal Paraense e mesmo assim com toda essa pressão, o governo

federal garantiu que, se necessário fosse, construiria a usina sozinho.

Já em 18 de fevereiro de 2011, a Nessa (Norte Energia S.A.) firmou o contrato

com o consórcio vencedor no valor de R$ 13,8 bilhões para a construção da

usina, esperando obter um financiamento de R$ 19 bilhões para obra orçada

em R$ 25 bilhões. Belo monte devera começar a operar em fevereiro de 2015,

porem as obras seguem ate 2019.

2.4 O Consórcio:

2.4.1 Empresas Participantes:

Dois consórcios disputam Belo Monte. O primeiro, chamado de Norte Energia,

foi criado por nove empresas (Chesf,Queiroz Galvão, Gaia Energia e

Participações, Galvão Engenharia, Mendes Energia, Serveng, J Malucelli

Construtora, Contern Construções e Cetenco Engenharia).

O segundo, denominado de Belo Monte Energia, contou com Furnas, Eletrosul,

Andrade Gutierrez, VALE, Neoenergia e Companhia Brasileira de Alumínio.

Sendo assim, a presença da estatal mostrou-se forte na montagem dos

consórcios, com as subsidiárias da Eletrobrás em comando dos grupos com

quase 50% de participação, enquanto a fatia das empresas privadas não

supera 12,75%.

2.4.2 Panorama:

Antes mesmo do último dia do adiamento do leilão, as empresas CSN, Gerdau

e Alcoa tinham anunciado o interesse em fazer parte dos consórcios

estabelecidos a partir de parcerias estratégicas do empreendimento, visando

usufluir da energia em outras unidades produtivas instaladas no Pará.

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Por não lucrar com a empreitada, as empresas Odebrecht e Camargo Corrêa

desistiram do leilão.

Embora tivesse participado do grupo perdedor ao leilão a Vale, em julho de

2011 passou a ser sócia da usina ao ocupar 9% da participação deixada pela

Gaia, subsidiária do Grupo Bertin. A mineradora tem vários projetos junto a

Belo Monte.

Para garantir e segurar o leilão, foi determinado que o BNDS devia financiar

80% da obra em 30 anos, e o custo da obra foi reavaliado em R$ 19 bilhões,

mas empresas do setor privado estima-se que o empreendimento deva custar

cerca de R$ 30 bilhões.

2.5 Impacto da Obra:

Quando a construção da usina de Belo Monte começar, no mínimo 100 000

pessoas deverão afluir à região do Rio Xingu, no Pará. Há quem fale no dobro.

Conflitos nos canteiros de obras,são possíveis. Já é certo, põe, que as onze

cidades vizinhas à barragem irão sofrer com o súbito inchaço. Às voltas com

problema de segurança e urbanismo, elas não tem estrutura para acolher a

população que já começar a migrar.

Sua construção tem divergências de opiniões, pois as organizações sociais tem

plena convicção que o projeto tem graves e grandes problemas e lacunas na

sua formação.

“Belo Monte é a crônica de várias mortes anunciadas.”

(Jr Pontes Felício- Extraído da Revista Veja abril 2010).

2.5.1 O ambientalismo:

O movimento contrário à obra, encabeçado por ambientalistas e acadêmicos,

defende a tese que a construção da hidrelétrica irá provocar a alteração do

regime de escoamento do rio e com isso a redução do fluxo de água que,

afetara a flora e a fauna locais e com a introdução de vários impactos

socioeconômicos.

Outro fortíssimo argumento é o fato que a obra irá inundar permanentemente

os igarapés Altamira e Ambé, que cortam a cidade de Altamira, e parte da área

rural de Vitória do Xingu. A vazão da água a jusante do barramento do rio em

Volta Grande do Xingu será muito reduzida e o transporte fluvial até o Rio

Bacajá (um dos afluentes da margem direita do Xingu) será drasticamente

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interrompido. Atualmente, este é o único meio de transporte para comunidades

ribeirinhas e indígenas chegarem ate Altamira, pois La encontra-se médicos,

dentistas e fazem seus negócios, como a venda de peixes e castanhas.

2.5.2 Impactos:

A alteração da vazão do rio, segundo os especialistas, altera todo o ciclo

ecológico da região afetada que está condicionado ao regime de secas e

cheias. Essa irá gerar regimes hidrológicos distintos para o rio. A região

permanentemente alagada irá impactar na vida de árvores, cujas raízes irão

apodrecer. Estas árvores são a base da dieta de muitos peixes. Alem disto,

muitos peixes fazem a desova no regime de cheias, portanto, presumi-se que

na região seca haverá a redução nas espécies de peixes e outros, impactando

na pesca, principalmente como atividade econômica e de subsistência de

povos indígenas e ribeirinhos da região. Do mais, as análises sobre o Estudo

de Impacto Ambiental (EIA) de Belo Monte elaboradas pelo Painel de

Especialistas, que abriga pesquisadores e pesquisadoras de renomadas

universidades do país, apontam que essa construção da hidrelétrica ira implicar

um verdadeiro caos social que seria causado pela migração de mais de 100 mil

pessoas para a região e pelo deslocamento forçado de mais de 20 mil pessoas.

Tais impactos, segundo o Painel, serão acrescidos pela subestimação da

população afetada e pela subestimação da área diretamente afetada.

Segundo o documento do Centro de Estudos da Consultoria do Senado, que

atende políticos da Casa, o potencial hidrelétrico do país é subutilizado e tem o

duplo efeito perverso de levar ao uso substituto da energia termoelétrica-

considerada “energia suja” e de criar tarifas bem mais elevadas para os

usuários, embora o uso da energia eólica não tenha sido mencionada no

relatório. Por outro lado, o Ministério de Minas e Energia defende o uso das

termoelétricas para garantir o fornecimento, especialmente em períodos de

escassez de outras fontes.

O caso de Belo Monte envolve a construção de uma usina sem reservatório e

que dependera da sazonalidade das chuvas. Por esse motivo, alguns críticos,

em época de cheia a usina deverá operar com metade da sua capacidade,

mas, em época de seca, a geração poderá ir um pouco abaixo de 4,5 MW, que

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somado aos vários passivos sociais e ambientais coloca em xeque a

viabilidade econômica do projeto.

2.5.3Relatório do Ibama:

O Relatório de Impacto Ambiental, encomendado pela Eletrobrás e expedido

pela Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht e Leme Engenharia,

listou os impactos da hidrelétrica:

1. Geração de expectativas quanto ao futuro da população local e da

região.

2. Geração de expectativas na população indígena.

3. Aumento da população e da ocupação desordenada do solo.

4. Aumento da pressão sobre as terras e áreas indígenas;

5. Aumento das necessidades por mercadorias e serviços, da oferta de

trabalho e maior movimentação da economia.

6. Perda de imóveis e benfeitorias com transferência da população na área

rural e perda de atividades produtivas.

7. Perda de imóveis e benfeitorias com transferência da população na área

urbana e perda de atividades produtivas.

8. Melhorias de acessos.

9. Mudanças de paisagem, causadas pela instalação de infra-estrutura de

apoio e das obras principais.

10. Perda de vegetação e de ambientes naturais com mudanças na

fauna,causada pela instalação de infra-estrutura de apoio e obras

principais.

11. Aumento do barulho e da poeira com incômodo da população e da

fauna.

12. Mudanças no escoamento e na qualidade da água nos igarapés do

trecho do reservatório dos canais, com mudanças nos peixes.

13. Alterações nas condições de acesso pelo Rio Xingu das comunidades

Indígenas à Altamira, causadas pelas obras no Sítio Pimental.

14. Alteração da qualidade da água do Rio Xingu próximos ao Sítio

Pimental e perda de fonte de renda e sustento para as populações

indígenas.

15. Danos ao patrimônio arqueológico.

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16. Interrupção temporária do escoamento da água no canal da margem

esquerda do Xingu, no trecho entre a barragem principal e o núcleo de

referência rural São Pedro durante 7 meses.

17. Perda de postos de trabalho e renda, causada pela desmobilização de

mão de obra;

18. Retirada de vegetação, com perda de ambientes naturais e recursos

extrativistas, causada pela formação dos reservatórios;

19. Mudanças de paisagem e perda de praias e área de lazer causada pela

formação dos reservatórios;

20. Inundação permanente dos abrigos da Gravura e Assurini e danos ao

patrimônio arqueológico, causada pela formação dos reservatórios;

21. Perda de jazidas de argila devido à formação do reservatório Xingu.

22. Mudanças na espécies de peixes e no tipo de pesca, causada pela

formação dos reservatórios;

23. Alteração na qualidade das águas dos igarapés de Altamira e no

reservatório dos canais, causada pela formação dos reservatórios;

24. Interrupção de acessos viários pela formação do reservatório dos

canais.

25. Interrupção de acessos na cidade de Altamira, causada pela formação

do Reservatório do Xingu;

26. Mudanças nas condições de navegação, causada pela formação dos

reservatórios;

27. Aumento da quantidade de energia a ser disponibilizada para o Sistema

Interligado Nacional- SIN.

28. Dinamização da economia regional.

29. Interrupção da navegação no trecho de vazão reduzida nos períodos de

seca;

30. Perda de ambientes para reprodução, alimentação e abrigo de peixes e

outros animais no trecho de vazão reduzida;

31. Formação de poças, mudanças na qualidade das águas e criação de

ambientes para mosquitos que transmitem doenças no trecho de vazão

reduzida;

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32. Prejuízos para a pesca e para outras fontes de renda e sustento no

trecho de vazão reduzida.

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CAPÍTULO III – A polêmica envolvida:

A polêmica em torno da construção da usina de Belo Monte na Bacia do Rio

Xingu, em sua parte paraense, já dura mais de 20 anos. Entre muitas idas e

vindas, a hidrelétrica de Belo Monte, hoje considerada a maior obra do

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, vem

sendo alvo de intensos debates na região, desde 2009, quando foi apresentado

o novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) intensificando-se a partir de

fevereiro de 2010, quando o MMA concedeu a licença ambiental prévia para

sua construção.Os movimentos sociais e lideranças indígenas da região são

contrários à obra porque consideram que os impactos socioambientais não

estão suficientemente dimensionados. Em outubro de 2009, por exemplo, um

painel de especialistas debruçou-se sobre o EIA e questionou os estudos e a

viabilidade do empreendimento. Um mês antes, em setembro, diversas

audiências públicas haviam sido realizadas sob uma saraivada de críticas,

especialmente do Ministério Público Estadual, seguido pelos movimentos

sociais, que apontava problemas em sua forma de realização. Ainda em

outubro, a Funai liberou a obra sem saber exatamente que impactos causaria

sobre os índios e lideranças indígenas kayapó enviaram carta ao Presidente

Lula na qual diziam que caso a obra fosse iniciada haveria guerra. Para

culminar, em fevereiro de 2010, o Ministério do Meio Ambiente concedeu a

licença ambiental, também sem esclarecer questões centrais em relação aos

impactos socioambientais.Veja abaixo um resumo dessa história que teve início

em fevereiro de 1989, em Altamira, no Pará, com a realização do I Encontro

dos Povos Indígenas no Xingu.

Realizado entre 20 e 25 de fevereiro de 1989, em Altamira (PA), o I Encontro

dos Povos Indígenas do Xingu, reuniu três mil pessoas - 650 eram índios - que

bradaram ao Brasil e ao mundo seu descontentamento com a política de

construção de barragens no Rio Xingu. A primeira, de um complexo de cinco

hidrelétricas planejadas pela Eletronorte, seria Kararaô, mais tarde rebatizada

Belo Monte. De acordo com o cacique Paulinho Paiakan, líder kaiapó e

organizador do evento ao lado de outras lideranças como Raoni, Ailton Krenak

e Marcos Terena, a manifestação pretendia colocar um ponto final às decisões

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tomadas na Amazônia sem a participação dos índios. Tratava-se de um

protesto claro contra a construção de hidrelétricas na região.

Em 2008, 19 anos depois, realizou-se em Altamira o II Encontro dos Povos

Indígenas do Xingu e daí nasceu o Movimento Xingu Vivo para Sempre. Na

memória dos brasileiros, o encontro ficou marcado pelo gesto de advertência

da índia kaiapóTuíra, que tocou com a lâmina de seu facão o rosto do então

diretor da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, aliás presidente da estatal

durante o governo FHC. O gesto forte de Tuíra foi registrado pelas câmaras e

ganhou o mundo em fotos estampadas nos principais jornais brasileiros e

estrangeiros. Ocorrido pouco mais de dois meses após o assassinato do líder

seringueiro Chico Mendes, em Xapuri (AC), que teve repercussão

internacional, o encontro de Altamira adquiriu notoriedade inesperada, atraindo

não apenas o movimento social e ambientalista, como a mídia nacional e

estrangeira.O I Encontro dos Povos Indígenas foi o resultado de um longo

processo de preparação iniciado um ano antes, em janeiro de 1988, (veja o

item Histórico) depois que o pesquisador Darrel Posey, do Museu Emílio Goeldi

do Pará, e os índios kaiapó Paulinho Paiakan e Kuben-I participaram de

seminário na Universidade da Flórida, no qual denunciaram que o Banco

Mundial (BIRD) liberara financiamentos para construir um complexo de

hidrelétricas no Rio Xingu sem consultar os índios. Convidados por

ambientalistas norte-americanos a repetir o depoimento em Washington lá

foram eles. E, por causa disso, Paiakan e Kube-I acabaram enquadrados pelas

autoridades brasileiras, de forma patética, na Lei dos Estrangeiros e, por isso,

ameaçados de serem expulsos do país. O Programa Povos Indígenas no

Brasil, do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), uma das

organizações que deu origem ao Instituto Socioambiental (ISA), convidou

Paiakan a vir a São Paulo, denunciou o fato e mobilizou a opinião pública

contra essa arbitrariedade.Para avançar na discussão sobre a construção de

hidrelétricas, lideranças kaiapó reuniram-se na aldeia Gorotire em meados de

1988 e decidiram pedir explicações oficiais sobre o projeto hidrelétrico no

Xingu, formulando um convite às autoridades brasileiras para participar de um

encontro a ser realizado em Altamira (PA). A pedido de Paiakan, o antropólogo

Beto Ricardo e o cinegrafista Murilo Santos, do Cedi, participaram da reunião,

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assessorando os kaiapó na formalização, documentação e encaminhamento do

convite às autoridades. Na seqüência, uniram-se aos kaiapó na preparação do

evento. O encontro finalmente aconteceu e o Cedi, com uma equipe de 20

integrantes, reforçou sua participação naquele que seria, mais tarde,

considerado um marco do sócioambientalismo no Brasil. Ao longo desses

anos, o Cedi, e depois o ISA, acompanharam os passos do governo e da

Eletronorte na questão de Belo Monte, alertas para os impactos que provocaria

sobre as populações indígenas, ribeirinhas e todo o ecossistema da região.

Listada no governo FHC como uma das muitas obras estratégicas do programa

Avança Brasil, a construção do complexo de hidrelétricas no Rio Xingu faz

parte da herança legada ao governo Lula, eleito em novembro de 2002.

Herança que era bem conhecida. Tanto assim, que o caderno temático O Lugar

da Amazônia no Desenvolvimento do Brasil, parte do Programa do Governo do

presidente eleito, alertava: “Dois projetos vêm sendo objeto de intensos

debates: a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e o de Gás de Urucu, no

Amazonas. Além desses também preocupam as 18 barragens propostas na

Bacia do Rio Araguaia e Tocantins. A matriz energética brasileira, que se apóia

basicamente na hidroeletricidade, com mega obras de represamento de rios,

tem afetado a Bacia Amazônica. Considerando as especificidades da

Amazônia, o conhecimento fragmentado e insuficiente que se acumulou sobre

as diversas formas de reação da natureza em relação ao represamento em

suas bacias, não é recomendável a reprodução cega da receita de barragens

que vem sendo colocada em prática pela Eletronorte”.

Decisão ficou para o governo Lula

Exemplos infelizes como a construção das usinas hidrelétricas de Tucuruí (PA)

e Balbina (AM), as últimas construídas na Amazônia, nas décadas de 1970 e

1980, estão aí de prova. Desalojaram comunidades, inundaram enormes

extensões de terra e destruíram a fauna e flora daquelas regiões. Balbina, a

146 quilômetros de Manaus, significou a inundação da reserva indígena

Waimiri-Atroari, mortandade de peixes, escassez de alimentos e fome para as

populações locais. A contrapartida, que era o abastecimento de energia elétrica

da população local, não foi cumprida. O desastre foi tal que, em 1989, o

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Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), depois de analisar a

situação do Rio Uatumã, onde a hidrelétrica fora construída, concluiu por sua

morte biológica. Em Tucuruí não foi muito diferente. Quase dez mil famílias

ficaram sem suas terras, entre indígenas e ribeirinhos. Diante desse quadro,

em relação à Belo Monte, é preciso questionar a forma anti-democrática como

o projeto vinha sendo conduzido, a relação custo-benefício da obra, o destino

da energia a ser produzida e a inexistência de uma política energética para o

país que privilegie energias alternativas.

Essas questões continuam a ser repisadas pelos movimentos sociais que

atuam na região, como por exemplo, o Movimento Xingu Vivo para Sempre,

criado recentemente, e que reúne os que levam adiante a batalha contra a

construção de Belo Monte e de outras hidrelétricas no Rio Xingu.

Empossado na presidência da Eletrobrás, em janeiro de 2003, o físico Luiz

Pinguelli Rosa,declarou à imprensa que o projeto de construção de Belo Monte

seria discutido e opções de desenvolvimento econômico e social para o

entorno da barragem estariam na pauta, assim como a possibilidade de reduzir

a potência instalada, prevista em 11 mil megawatts (MW) no projeto original.

A persistência governamental em construir Belo Monte está baseada numa

sólida estratégia de argumentos dentro da lógica e vantagens comparativas da

matriz energética brasileira. Os rios da margem direita do Amazonas têm

declividades propícias à geração de energia, e o Xingu se destaca, também

pela sua posição em relação às frentes de expansão econômica (predatória) da

região central do país. O desenho de Belo Monte foi revisto e os impactos

reduzidos em relação à proposta da década de 80. O lago, por exemplo,

inicialmente previsto para ter 1.200 km2, foi reduzido, depois do encontro, para

400 km2. Os sócio-ambientalistas, entretanto, estão convencidos de que além

dos impactos diretos e indiretos, Belo Monte é um cavalo de tróia, porque

outras barragens virão depois, modificando totalmente e para pior a vida na

região. Acompanhe no item Notícias deste Especial um resumo do que

aconteceu com a Usina de Belo Monte, de 2003 até os dias de hoje.

(Extraído http://www.socioambiental.org- abril de 2010)

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · USINA DE BELO MONTE: QUAL O REAL INTERESSE EM SUA ... CAPÍTULO II Usina Hidrelétrica de Belo Monte 20 CAPÍTULO III – A polêmica

CAPÍTULO IV – Valor

Como investir uma quan

viável continuar a construç

Um projeto de R$ 30 bilh

camada de 9m de espess

já foi a morada de árvore

Xingu (PA). Assentada a

rocha dura, aparentada

estará mais ali.

Duas escavadeiras se po

levantamentos cada e, em

32 toneladas de pedras.

partem 18 caçambas chei

O ritmo frenético de home

20 km de comprimento, p

por segundo desviados d

canal principal de transp

turbinas da terceira maio

controversas: Belo Monte,

Mostra-se o ranking das

com clareza a seguir:

(Extraído do jornal arte fol

Valores na construção da usina:

quantia tão alta num projeto duvidoso? Se

nstrução de belo monte?

bilhões, uma explosão às 6h da manhã

spessura do bloco de migmatito numa área d

rvores centenárias na zona rural de Altamira

ada a poeira, resta uma montanha de fragm

tada com o granito. À meia-noite, nem um

se posicionam lado a lado, a 50 m uma da

e, em menos de três minutos, enchem uma

dras. Sai um caminhão, encosta outro. Em

s cheias. Não há um segundo de descanso.

homens e máquinas marca a construção de

nto, para dar passagem aos 14 milhões de li

dos do rio Xingu–vazão quase 530 vezes ma

ransposição do São Francisco– que vão m

maior hidrelétrica do mundo, e também um

onte, da empresa Norte Energia S.A.

das Usinas Hidrelétricas do Brasil a ponto

rte folha de São Paulo em 16/12 2013).

35

? Será realmente

anhã arranca uma

rea de 750m² que

tamira e Vitória do

fragmentos dessa

m um pedregulho

a da outra. Cinco

uma carreta com

. Em 20 minutos,

ão de um canal de

s de litros de água

es maior que a do

ão movimentar as

ém uma das mais

ponto de ver-mos

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36

Quando estiver funcionando a toda força, a usina poderá produzir até 11.233

megawatts (MW) de eletricidade. Uma capacidade instalada suficiente para

iluminar as casas de pelo menos 18 milhões de pessoas e ficar atrás só da

hidrelétrica chinesa Três Gargantas (22.720 MW) e da paraguaio-brasileira

Itaipu (14 mil MW).

Segundo a EPE, do Ministério de Minas e Energia, o Brasil precisa

acrescentar 6.350 MW anuais de geração elétrica, até 2022, ao seu parque

atual de 121 mil MW (70% produzidos por hidrelétricas). Se pudesse funcionar

a toda carga o ano inteiro, Belo Monte garantiria quase um quinto da

eletricidade adicional de que o país vai precisar, mas isso só tem chance de

ocorrer em quatro meses do ano.

A maior parte da capacidade de geração (11.000 MW) da nova usina ficará

instalada na casa de força principal, junto da vila de Belo Monte do Pontal,

cuja obra já avançou 47%. A barragem propriamente dita, contudo, ficará 60

km rio acima, do outro lado da Volta Grande do Xingu, no sítio Pimental, pouco

depois do ponto em que o canal captará água para encher os 130 km² do

reservatório intermediário. Junto ao verte douro da barragem de Pimental, seis

turbinas poderão produzir até 233 MW na casa de força auxiliar.

O pico de 11.233 MW só poderá ser alcançado entre fevereiro e maio, quando

o Xingu atinge suas vazões máximas. Nos outros meses, as turbinas serão

progressivamente desligadas. Entre altos e baixos, espera-se que Belo Monte

garanta uma média de 4.571 MW, ou apenas 41% de sua capacidade

instalada.

Para começar a gerar, isso tudo tem de estar concluído”, diz a engenheira civil

Roberta Martinelli Pimentel Pereira, 35, apontando para o canal onde

poderiam acomodar-se facilmente 60 caminhões, lado a lado.

Belo Monte precisa começar a produzir energia em fevereiro de 2015, com a

primeira turbina da casa de força auxiliar, mas isso vai atrasar uns três meses.

Depois, de março de 2016 até janeiro de 2019, entram em linha as 18 turbinas

da casa de força principal. Neste caso, nada pode atrasar. Na realidade, a

Norte Energia trabalha com a hipótese de antecipar a montagem das turbinas

principais, a partir da quarta ou quinta máquina, de modo a que todas estejam

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em operação antes do pra

o empreendedor como mo

(extraído do jornal arte Fo

No presente, o maior de

igarapés que cortam o cur

de 2013, a ensecadeira

isolada do rio Xingu).

A engenheira comanda 7.

refere às grandes obras d

tem fundações prontas

segurança, 95 m.

Belo Monte fervilha 24 ho

sua construção, em junho

o prazo para começar a

Itaipu foram 120 meses; a

do prazo contratual o que trará ganhos consid

o mostra o gráfico abaixo:

rte Folha de São Paulo em 16/12 2013).

ior desafio de Roberta Pereira é domar as

o curso do grande canal e completar, ainda e

deira (barragem provisória, para manter a

da 7.000 empregados e tem 12 anos “no trec

bras de infra-estrutura por que passou. A en

ntas e a maior parte do aterro alcançou

24 horas por dia, dois anos e meio após o in

junho de 2011. Com um custo estimado em R

ar a produzir energia é apertado, apenas 44

ses; a previsão para a hidrelétrica de Santo A

37

nsideráveis para

ar as águas dos

inda em dezembro

nter a construção

o trecho”, como se

ensecadeira já

ançou a cota de

s o início oficial de

em R$ 30 bilhões,

as 44 meses. Em

nto Antônio, no rio

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Madeira (RO), era de 52

meses antes.

Problemas de comunicaç

As obras de Belo Mon

trabalhadores (87% del

municípios brasileiros têm

vejamos no gráfico a segu

(extraído do jornal arte F

Segundo pesquisa Datafo

Altamira, a maioria é de c

vivendo na cidade. Dois d

e 52 meses, mas a usina começou a gerar

nicação

Monte atingiram o clímax em outubro,

deles homens). Três quartos dos mai

s têm população menor que esse exército d

seguir:

Folha de São Paulo em 16/12 2013).

atafolha com 246 trabalhadores da obra entr

de casados (51%), dos quais 40% têm mulh

Dois de cada três trabalham em Belo Monte

38

erar energia nove

bro, com 25 mil

mais de 5.600

rcito de operários,

a entrevistados em

mulher ou marido

onte há menos de

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um ano e pelo menos a metade não pretende ficar, instalou-se no local apenas

em busca do emprego (38% já trabalharam em outras barragens).

Contas duvidosas

Em abril de 2010, a Norte Energia venceu a concorrência pela concessão de

Belo Monte oferecendo um valor 6% menor (R$ 78) que o preço de referência.

O custo da obra estimado pela Norte Energia, contudo, era 30% superior ao

máximo previsto pelo governo. Para o mercado, não parecia possível

recuperar o investimento com a tarifa oferecida. Uma decisão da Eletrobrás

tomada meses depois do leilão reforçou essa suspeita.

A Eletrobrás, holding estatal que controla a Chesf, firmou um contrato com a

Norte Energia para comprar, por R$ 130 o MWh, a energia excedente que

Belo Monte puder vender no mercado. Esse preço da eletricidade extra

vendida no mercado livre varia diariamente e, na média dos últimos dez anos,

ficou em R$ 79. Portanto, a estatal-mãe deu uma bela ajuda à filha, que a

usou para convencer o BNDES a liberar um empréstimo subsidiado de R$

22,5 bilhões.

“A isso se dá o nome de energia limpa e barata”, ironiza Célio Bermann,

professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP. Para o especialista,

Belo Monte está acima da média mundial de US$ 1 mil por MW instalado e vai

ocasionar despesas para o contribuinte com os subsídios implícitos no

financiamento e na comercialização da energia.

“A economia não pode mais se dar ao luxo de ignorar, minimizar, ou

representar indevidamente o papel dos recursos naturais no processo

econômico. Em última análise, a qualidade dos recursos naturais define limites

amplos mais específicos sobre o que é ou não é economicamente possível.

Ignorar tais limites leva à ilusão eufórica de que os únicos limites para

expansão econômica existem apenas em nossas próprias mentes.”

(Cleveland, 1987)

O desenvolvimento econômico, em qualquer tempo e local, se deu pela junção

do esforço humano, através de seu trabalho, com os recursos oferecidos pelo

ecossistema terrestre que suporta o sistema econômico, os quais contribuem

direta ou indiretamente ao bem-estar humano, ou seja, o capital natural

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disponível. O sistema econômico, dessa forma, interage com o meio ambiente,

extraindo do último matéria e energia e devolvendo resíduos.Em um cenário de

contínua degradação do ecossistema, no qual é o capital natural, e não o

manufatureiro, que determina o limite de expansão do desenvolvimento

econômico, a necessidades de políticas de desenvolvimento sustentável tem

se mostrado cada vez mais presente.

Segundo o relatório Brundtland (1987), desenvolvimento sustentável é “aquele

desenvolvimento que permite às gerações presentes satisfazerem suas

necessidades sem comprometer a capacidade das gerações futuras

satisfazerem as suas próprias”. A realização das atividades econômicas deve,

dessa forma, adotar um comportamento no qual a preocupação central seja a

preservação do capital natural e da sua capacidade de provisão de serviços

através de uma gestão sustentável para que o bem-estar não decline ao passar

do tempo (Andrade e Romeiro, 2009). Assim sendo, há duas vertentes no que

se refere à capacidade de substituição do capital natural por outras formas de

capital: a sustentabilidade fraca e a sustentabilidade forte.

A sustentabilidade fraca se caracteriza pela crença de que o capital natural é

passível de substituição pelo capital construído pelo homem. O progresso

tecnológico tornará a sociedade sustentável conquanto que realize o aumento

dos demais capitais (capital humano e capital físico) para compensar a queda

do capital natural, mantendo estoque de capital total do sistema econômico

constante. Por sua vez, aqueles que defendem a sustentabilidade forte afirmam

que existem elementos do capital natural que não podem ser substituídos pelas

outras formas de capital existente, de tal forma que a substituição seria

imperfeita e haveria perdas irreversíveis caso uma quantidade muito grande do

capital natural fosse destruído, além do que não se pode saber com certeza o

quanto de um capital equivale a outro. Seria essencial manter estoque mínimo

do capital natural para a sobrevivência humana e continuidade do

desenvolvimento econômico. A última visão afirma, portanto, que existem

limites biofísicos e ecológicos ao crescimento do desenvolvimento econômico,

de forma que a gestão sustentável do capital natural é crucial para a

manutenção de sua capacidade de gerar serviços essenciais à vida.

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4.1 Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu -

ELETROBRAS

A escolha da melhor alternativa de aproveitamento da bacia do rio Xingu pelo

governo federal foi realizada a partir da revisão, em 2007, dos Estudos de

Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, realizado pela

Eletronorte na década de 1970, que considerava duas alternativas, que aqui

denominaremos de 1 e 2 com área total inundada de 18.300 km² e 18.150 km²,

e potência total instalada igual a 20.375 MW e 20.617 MW, respectivamente.

Na revisão, forma apresentadas três alternativas para aproveitar o potencial

hidrelétrico da bacia, sendo elas:

A seguir veremos uma tabela demonstrando os valores finais das avaliações energéticas e ambientais. Tabela 2: Resultado final das avaliações econômicas energéticas e ambiental das alternativas consideradas pela Eletrobrás.

(Extraído da ELETROBRAS -2007)

• Alternativa 1: construção de quatro reservatórios (AHEs São Félix, Pombal,

Altamira e Belo Monte), com inundação de terras indígenas e unidades de

conservação com o remanso final dos reservatórios;

• Alternativa 2 construção dos quatro reservatórios, com diminuição da área

alagada das AHEs São Félix e Altamira, com a perenização da inundação das

cheias nas terras indígenas e unidades de conservação;

• Alternativa 3: construção apenas da AHE Belo Monte, com a não inundação

de terras indígenas, nem de unidades de conservação.

A escolha da melhor alternativa levou em consideração o melhor

aproveitamento do potencial hidrelétrico da bacia de acordo com as normas,

metodologias e contexto socioambiental e políticos vigentes na época de

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realização do estudo. A avaliação ambiental adotou a metodologia proposta no

manual de inventário da ELETROBRAS de 1997.

4.2 Avaliação econômica e energética

Para a avaliação econômica e energética, simulou-se a operação energética

dos aproveitamentos hidrelétricos em cada uma das alternativas apresentadas,

desde a década de 1970 até o ano de 2013, de forma a estimar os

correspondentes benefícios (através de índices de custo-benefício) energéticos

e potências instaladas. A tabela 1 mostra, para cada alternativa acima

explicitada, o valor da queda (em metros), a potência instalada para cada usina

considerada (em MW), o custo total (em milhares de US$), a energia firme das

casas de força (MW médio = MW med), e os índices de custo-benefício (ICB)

obtidos.

A seguir a tabela vai mostrar os custos/benefícios da hidrelétrico do Xingu. Tabela 1: Índice de custo- beneficio para alternativas de aproveitamento do potencial hidrelétrico da bacia do rio Xingu.

(Extraído da ELETROBRAS -2007)

Custos e financiamento de Belo Monte US$ 3,7 bilhões. Este é o custo de Belo

Monte segundo cálculos da Eletronorte, que defende o projeto como um dos

empreendimentos hidrelétricos com menor custo operacional do mundo. A

cifra, entretanto, não convence o especialista Célio Bermann, professor do

Programa de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo

(USP): “Eles estão entrando numa nova etapa do capitalismo internacional,

que transforma um investimento de, no mínimo, US$ 15 bilhões em US$ 4,2

bilhões. Falo em US$ 15 bilhões porque o custo médio internacional para a

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geração de hidroeletricidade é de US$ 1 mil kilowatt instalado, considerando

uma taxa de desconto de 15%, adotada no mercado brasileiro, e um tempo de

retorno de 15 anos, período para viabilizar financeiramente qualquer

investimento no país. Também deve se acrescentar a isso o fato de ser na

Amazônia, longe do material de construção do empreendimento, o que, em vez

de reduzir, eleva a média nacional”.

Bermann, que define Belo Monte como uma usina cara e inútil, lembra que a

Usina Hidrelétrica de Tucuruí tinha um orçamento estimado em US$ 2,1

bilhões, sendo que o seu custo atualizado é de cerca de US$ 8,0 bilhões, sem

incluir as linhas de transmissão. Este exemplo também é utilizado pelo

jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, em muitos de seus artigos sobre o

projeto. A Eletronorte adota a cifra de US$ 5,2 bilhões.

Outro dado controverso é o valor oficial da geração da energia de US$

12MW/hora. “É um absurdo a Eletronorte dizer que o custo da geração é de

12MW/h. O custo da eletricidade no Brasil hoje é de US$ 40 MW/hora. Eles

falam em US$ 12 MW/h, com um custo de capital de US$ 410 o quilowatt

instalado e uma taxa de desconto de 10% ao ano, que não é a que o mercado

brasileiro trabalha. Fizemos um cálculo na universidade para avaliar o custo

médio do kw instalado, com a taxa de desconto que é utilizada no mercado, e

chegamos a um custo de geração de US$ 41MW/h”, afirma Bermann.

José Muniz Lopes, presidente da Eletronorte até o final de 2002, defendia seus

cálculos. “Esse custo de US$ 35 MW/h é considerado para usinas

termoelétricas. O custo médio de uma usina hidrelétrica hoje fica na faixa de

US$ 25, US$ 30 MH/W. Se alguém construir uma usina a US$ 35 MW/h hoje,

não consegue vender. Eu ratifico o custo de energia a US$ 12 MW/h na usina,

mais US$ 8 MW/h para ser interligado ao Sistema Elétrico Brasileiro. Agora, se

você tiver que levar a energia a São Paulo fica em torno de US$25, US$ 28

MW/h. A viabilidade está disponível na Internet. É um lugar privilegiado, nunca

vi nada parecido para se construir uma usina hidrelétrica.”

A usina hidrelétrica deverá ser interligada ao Sistema Elétrico Brasileiro por

meio da construção de linhas de transmissão até Colinas, no Tocantins, que,

orçadas em cerca de US$ 2 bilhões, deverão ser licitadas separadamente da

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usina. Para os críticos, as linhas de transmissão representam um custo

adicional ao projeto.

Planos de Inserção e Desenvolvimento Sustentável

Além de reduzir em dois terços a área do reservatório, de 1,200 km2 para 400

km2, o novo desenho do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte inclui um Plano

de Inserção Regional e um Plano de Desenvolvimento Sustentável. De acordo

com documentos da Eletronorte, a razão e a relevância do Plano de Inserção

Regional é potencializar os impactos positivos do empreendimento, partindo do

pressuposto que a área de influência da obra encontra-se em fase de

decadência econômica. Neste sentido, são definidas diversas ações para a

retomada do desenvolvimento local, divididas nos seguintes segmentos:

educação, qualificação e aperfeiçoamento de mão-de-obra local; fomento à

produção; melhoria da infra-estrutura social e urbana; fortalecimento das

instituições públicas e estatais locais; e integração de infra-estrutura de apoio

logístico à realização do empreendimento.

“Os planos são de responsabilidade da Eletronorte. Em relação ao Plano de

Inserção Regional (PIR), há um acerto deste governo (FHC) de que sejam

alocados US$ 300 milhões em 20 anos nos municípios da área de influência da

obra, sendo US$ 10 milhões nos 10 primeiros anos e US$ 20 milhões nos

últimos 10 anos. O Plano de Desenvolvimento Sustentável foi feito pela nossa

equipe, que já tem prática nisso, e está sendo discutido com a comunidade”,

afirmou José Muniz Lopes. Calculado anteriormente em R$ 18 bilhões, o Plano

de Desenvolvimento Sustentável é dividido em 91 projetos, de 15 programas,

em linhas estratégicas que não diferem muito das estabelecidas pelo PIR.

Bermann acredita que será complicado chamar o setor privado a participar

desses investimentos. “Se o Estado se mostrou incapaz de fazer isso nos

últimos 30 anos, muito menos a iniciativa privada deverá ter esse tipo de

interesse.” A opinião também é dividida por Antônia Mello, da coordenação do

Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX), para

quem o Plano de Inserção Regional é uma carta obscura, com programas e

projetos no papel, sem a certeza de quem vai assumi-los. “Outras obras, que

foram construídas pelo governo, também tinham todos esses projetos, que não

foram contemplados. Imagine esse que será construído pelo capital privado.

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Sobre os 'royalties' que serão repassados aos municípios como compensação

pelos danos ambientais e sociais, não há controle social sobre esses recursos.

Tucuruí, Parauapebas, Oriximará e Barcarena recebem milhões em royalties. A

população está empregada nesses municípios? Tem saneamento e

urbanização para todo mundo? Esses municípios oferecem a melhor saúde e

educação para suas populações? Os jovens têm trabalho, estão sendo bem

formados? Só com controle da população sobre o planejamento do uso dos

recursos e sobre a aplicação, o município pode usufruir o benefício dos

royalties. Do contrário, quem enriquece são os prefeitos e governos de

plantão.”

Hélio Mecca, do Movimento dos Atingidos por Barragens, é ainda mais crítico:

“Esses planos fazem parte de uma estratégia usada em todas as barragens no

país. Na prática, o que ocorre é que se cria uma expectativa de

desenvolvimento, a obra é fechada e as coisas acabam por aí. Do ponto de

vista de desenvolvimento regional, esses são os exemplos que temos no Brasil:

1milhão de pessoas desalojadas em conseqüência da construção de

barragens, sendo que 70% delas perderam absolutamente tudo. A população

fica com os restos mortais da obra, sem rede elétrica, sem terra, sem rio, sem

pesca, sem a cultura local, e os municípios ficam com uma estrutura e com

mão-de-obra ociosa gerada durante a construção da obra”. (Mecca Hélio-

Movimento dos Atingidos por Barragens).

Para Reinaldo Correa Costa, pesquisador da Universidade de São Paulo

(USP), não é possível discutir um plano de inserção regional para uma

hidrelétrica separado do Estudo de Impacto Ambiental. “Não posso fazer um

plano de inserção regional voltado, por exemplo, à pesca, se o meu estudo de

previsão de impacto não vai me dar uma base, um fundamento, para eu

entender que tipo de peixe eu vou poder pegar, em que época eu vou poder

pegar, num ambiente alterado.”

O então secretário especial de Infra-Estrutura do Pará, José Augusto Affonso,

afirmou ao ISA, em 2002, que a Eletronorte tem para Belo Monte uma outra

visão no que diz respeito aos investimentos energéticos, por meio da

consciência da necessidade de alocação de recursos visando a inserção

regional da obra. Affonso explicou que os investimentos teriam diversas fontes

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de financiamento, entre as quais o próprio empreendedor, programas

do Avança Brasil, parcerias com os governos municipais e entidades privadas,

ONGs, entre outros, e que a engenharia financeira ainda estava em discussão.

Quem financiará o projeto?

“Os dirigentes da Eletronorte sabem que nenhuma empresa vai querer bancar

o projeto inteiro, que a barragem não tem como funcionar sem as linhas de

transmissão, portanto, eles vão ter que caprichar para fazer algum tipo de

arranjo artificial que garanta milhões de reais do Tesouro Nacional, um

empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES) e colocar um valor que seja responsabilidade das empresas. Agora,

se, eventualmente, esse valor não for suficiente para terminar a obra, quem vai

bancar os gastos extras? Usualmente, uma barragem custa 30%, 40% a mais

do que o que foi orçado originalmente”, explica Glenn Switkes, coordenador no

Brasil da International Rivers Network, organização que trabalha com

alternativas às grandes obras em rios e impactos das grandes barragens.

Switkes aposta no arranjo precário da obra, sob o ponto de vista econômico,

social e ambiental, para que o projeto não saia do papel, assim como no fato

de empresas privadas estarem reavaliando sua participação em barragens na

Amazônia.

De acordo com José Muniz Lopes, o “financiamento do projeto estava sendo

definido por um Grupo de Trabalho (GT) interministerial”. Formado em março

de 2002, o GT tinha também entre suas atribuições a apresentação da

participação do governo no financiamento e no investimento para a construção

do empreendimento e do sistema de transmissão. Contava com representantes

da Casa Civil da Presidência da República, dos Ministério de Minas e Energia,

do Meio Ambiente, da Fazenda, do Planejamento, Orçamento e Gestão; da

Eletrobrás, da Eletronorte, da Companhia Hidrelétrica do São Francisco

(Chesf), da Furnas Centrais Elétricas S.A., do BNDES, do Governo do Estado

do Pará, e deveria envolver também dois integrantes da sociedade civil. Wilson

Quintella, presidente da Agência de Desenvolvimento Tietê Paraná, à qual a

Eletronorte é associada, é o único representante da sociedade civil nomeado. A

Resolução do CNPE que criava em março o GT, estabelecia o prazo de 60 dias

para os trabalhos serem apresentados, o que não ocorreu até hoje.

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A participação do BNDES e da Eletronorte no financiamento de uma parte da

obra já tinha sido anunciada. Entretanto, ao que tudo indica, a iniciativa privada

será o investidor controlador do empreendimento.

De acordo com Bermann, entre os principais investidores no setor elétrico

estão as empresas eletro intensivas, ligadas à indústria de cimento, à produção

siderúrgica e à produção de alumínio. “Elas já estão transformando vários

trechos de rio em usinas para consumo próprio.” Inviabilidade

econômica.“ O que acontece hoje com o projeto de Belo Monte é que se gasta

para produzir 11 mil megawatts, dos quais cinco mil não vão ser utilizados na

maior parte do ano. O investimento para a construção de uma usina,

entretanto, precisa ser remunerado pela energia gerada. Segundo a

Eletronorte, a energia firme não tem nada a ver com a remuneração do

investimento. Mas, então, eles estão tratando de um outro tipo de economia e

esse é o nó porque ela é inviável sob o ponto de vista econômico”, afirma Célio

Bermann, professor do Programa de Pós-Graduação em Energia da

Universidade de São Paulo (USP). Em consequência, ele não acredita que

Belo Monte se viabilize sozinha, opinião dividida com diversos entrevistados.

“Belo Monte é a primeira, que não se viabiliza sem a construção das outras. Ela

sozinha não assegura energia firme suficiente ao longo de todo o ano, o que só

é possível com a construção de outras barragens acima do rio.” (Bermann

Célio, professor do Programa de Pós-Graduação em Energia da Universidade

de São Paulo (USP).

Embora Muniz Lopes tenha defendido que, desde que esteja interligada ao

Sistema Elétrico Brasileiro, Belo Monte se viabiliza sozinha economicamente,

ele reconheceu que caberia mais uma usina no Xingu. “Defendemos uma

Babaquara refeita, com um reservatório menor, mais baixa, com menos

impacto ambiental.” Em relação às críticas à energia média gerada pela usina,

ele disse não estar muito longe da maioria das usinas, em torno de 50%.

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Conclusão

O estudo da viabilidade da UHE Belo Monte foi escolhido pela

contemporaneidade e polêmica existente quanto ao tema, pois desde sua

criação nas décadas de 70 onde a questão ambiental ainda nem era muito

falada, sua criação sempre gerou muita polêmica e discussão principalmente

em sua localização, especialmente por se localizar na Amazônia, região

brasileira considerada como possuindo o maior potencial a explorar, e também

por sua história de conflitos com os indígenas e ribeirinhos da região. O

objetivo foi o de contabilizar os aspectos mais relevantes da localização,

implantação e operação do aproveitamento hidrelétrico, através de revisão

bibliográfica de estudos sobre valoração dos pontos de vista da economia

ambiental e da ecologia de sistemas para os danos incorridos pela instalação

do reservatório da usina. A partir deles, a monografia foi construída de forma a

mostrar resultados e análises que possam ser utilizados por futuras análises

referentes à construção de novas usinas na região da floresta amazônica, em

especial, e em outras localidades.

A frente do MME se encontra o grupo de José Sarney. Este fato revela a

necessidade de repassar enormes volumes de recursos públicos para manter a

estabilidade política do país. Por este motivo, o imperialismo tendo viabilizar o

PSDB como instrumento de entrega do país e até de direcionamento dos

recursos que hoje são controlados por esses setores. A crise do modelo

neoliberal que começou a aparecer no Brasil em 1998 dificultou avançar nesse

sentido. Mas a apropriação direita desses recursos pelos monopólios estão no

foco do imperialismo. Faz parte das contradições entre esses setores e uma

burguesia que lucra com o controle direto da economia nacional. O principal

objetivo da hidrelétrica de Belo Monte é abrir o Amazonas para a produção

barata de minerais diversos, como minério de ferro, ouro e níquel. A energia

elétrica barata será utilizada para viabilizar essa produção que terá como

destino a especulação financeira nas bolsas futuro de commodities (matérias

primas). Os grandes monopólios estão por trás do fornecimento de turbinas e

equipamentos de alta tecnologia. As empreiteiras até desistiram de entrar como

sócias e impuseram ao governo serem transformadas em prestadoras de

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serviço, em torno do consorcio da Eletronorte. Ou seja, risco zero e lucros

garantidos.

Depois de vários estudos, pesquisas e matérias chego a conclusão que a UH

Belo Monte não é viável em todos os sentidos, pois seus impactos ambientais

serão irreversíveis, os custo da obra super ultra mega faturados e a sua

capacidade será mínima comparada a outras usinas.

Fica muito claro qual o real interesse em sua construção, é a destruição do

Amazonas, super faturamentos, uma vez que sua utilização máxima será de 30

anos numa usina que funcionará apenas 03 meses no ano, ficando

praticamente parada nos outros 9 meses.

A partir do exposto anteriormente, o presente estudo se revela precário no

sentido de desconsiderar os efeitos negativos do AHE Belo Monte para a

sociedade. Num futuro próximo, novos estudos deverão ser formulados de

forma a realizar valoração monetária, energética e os impactos ambientais

considerando valores para os danos sociais incorridos e valores de existência

aos recursos naturais prejudicados. Apesar da complexa mensuração, são

imprescindíveis para uma mais completa valoração, ao permitir mensurar o

potencial turístico, a riqueza intangível e os diversos recursos provenientes da

biodiversidade e os impactos negativos e gastos com sua compensação em

relação à qualidade de vida da população envolvida. Estudos similares deverão

ser também realizados para a avaliação da viabilidade das usinas plataformas,

uma vez que, por ser um conceito pioneiro e existente apenas na teoria, não há

dados para calcular os impactos socioambientais que serão causados pela

construção dos empreendimentos. É imprescindível que haja a adoção de

melhores métodos de avaliação 64pelas instituições tomadoras de decisões no

setor energético, assim como o fortalecimento da presença de fontes

alternativas no cenário brasileiro. Antes, é necessário, entretanto, encontrar

alternativas viáveis e adequadas para as dotações naturais de fontes

energéticas e que possam gerar energia elétrica suficiente para suprir a

demanda crescente. A análise das fontes, no entanto, são deixadas para outros

estudos antes da operação da uh belo monte.

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BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADA

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 04 DEDICATÓRIA 05 RESUMO 06 LISTA DE SIGLAS 07 METODOLOGIA 08 SUMÁRIO 09

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I -Setor Energético 11

1.1 Características gerais 12 1.1.1 Composição 1.1.2 Leilões 13

1.2 Histórico 13

1.2.1 Década de 1990 14

1.2.2 Década de 2000 15

1.2.3Década de2010 16

1.3Mercado de Energia Futuro 19

1.4 O Problema 20

1.5Hipótese e objetivos 20

CAPÍTULO II Usina Hidrelétrica de Belo Monte 20

2.1 Histórico

2.2Cronologia 22

2.2 Impacto Ambiental ou Energia 23

2.3 O leilão 24

2.4 O Consórcio 25

2.4.2 Panorama 26

2.5.1 Impacto da Obra 26

2.5.2 O Ambientalismo 26

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2.5.3Impactos 27

2.5.4 Relatório do Ibama 28

CAPÍTULO III – A polêmica envolvida 31

CAPÍTULO IV – Valores na construção da usina 35

4.1 Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu-Eletrobrás 40

4.2 Avaliação econômica e energética 41

CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50

ÍNDICE 52