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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
AÇÕES GOVERNAMENTAIS PARA CAPACITAÇÃO DA GESTÃO
SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS DA AMAZÔNIA AZUL
Por: Cesar Lopes Marques
Orientador
Prof. Ana Claudia Morrissy
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
AÇÕES GOVERNAMENTAIS PARA CAPACITAÇÃO DA GESTÃO
SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS DA AMAZÔNIA AZUL
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Engenharia da
Produção
Por: Cesar Lopes Marques
AGRADECIMENTOS
3
Agradeço à Marinha do Brasil a
oportunidade do convívio profissional e
pessoal com os melhores mestres,
enquanto engenheiro Junior, com os
melhores companheiros, enquanto
engenheiro pleno, e com os melhores
aprendizes, enquanto engenheiro sênior,
durante os vinte e seis anos nos quais
tenho servido a esta conceituada Força.
Esta convivência muito contribuiu para
lapidar os meus conhecimentos técnicos,
incrementar a minha capacitação
profissional e forjar o meu caráter.
Agradeço também aos mestres do AVM e
a minha orientadora, Professora Ana
Claudia Morrissy, que, tal qual Polaris,
auxiliou este marujo de primeira viagem a
traçar o rumo para o porto do
conhecimento.
DEDICATÓRIA
4
Dedico este trabalho de pesquisa à minha
esposa Monica, aos meus queridos filhos
Ricardo e Raphaela, meu projeto de
futuro, às minhas duas mães, Irene e
Palmyra, ao meu sogro José (in
memorian) e, em especial, ao meu pai
Arnaldo (in memorian), que sempre soube
dar aos seus filhos exemplos de
honestidade de propósitos, firmeza de
caráter, espírito investigativo e gosto pela
leitura. À minha esposa, dedico também
tudo o que nesta empreitada resulta do
esforço advindo das muitas ausências a
que submeti nossa família, sempre
incentivado por seu incansável apoio e
dedicação altruísta. Se, ao meu pai, além
de todos os valores, devo a existência,
certamente à minha esposa devo a razão
e o sentido desta.
RESUMO
O tema desta monografia é a Amazônia Azul, denominação cunhada
pela Marinha do Brasil para as Águas Jurisdicionais Brasileiras.
5
Este estudo questiona a capacidade atual do governo brasileiro de
fiscalizar, controlar e defender a Amazônia Azul, de forma a viabilizar a
exploração e explotação dos recursos vivos e não-vivos desta imensa área,
abrangendo 4.500.000 km2, cerca de metade da extensão territorial do país,
garantindo o fomento das indústrias com sustentabilidade e o cumprimento das
leis ambientais, mantendo o respeito a nossa soberania.
Inicialmente, mostra a importância do mar para o Brasil apresentando as
suas principais riquezas, tais como os recursos minerais e biológicos, a
importância das vias de transporte marítimo, turismo, esportes náuticos e o
potencial futuro de exploração dos nódulos polimetálicos existentes no leito do
mar. Em decorrência, apresenta também as vulnerabilidades e ameaças as
quais a nossa nação encontra-se submetida em virtude destas mesmas
riquezas, bem como as ações governamentais adotadas para o
estabelecimento da Política Nacional de Recursos para o Mar e os aspectos da
legislação federal e ambiental que implicam em atribuições para a Marinha do
Brasil.
Com base nestas informações, constata-se que, atualmente, apesar do
planejamento e a adoção de legislação moderna, o governo brasileiro falha em
não prover os meios e os equipamentos necessários a execução das tarefas
que atribui a Marinha do Brasil, em virtude da falta de uma política de estado
que priorize a questão da segurança, bem intangível, a ser considerado como
um fator de produção e viabilização da cadeia de negócios que exploram as
riquezas da Amazônia Azul. A partir desta constatação, propõe a adoção de
uma política continuada de investimentos que permitam a implantação do
Plano de Articulação e Equipamentos da Marinha do Brasil, previsto na
Estratégia Nacional de Defesa, sugerindo as possíveis fontes de recursos.
METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido mediante pesquisa bibliográfica em livros,
revistas, periódicos e sites da internet pertencentes a órgãos governamentais e
entidades públicas e privadas de estudo e fomento da exploração e explotação
6
dos recursos do mar, bem como dos múltiplos atores governamentais que têm
como responsabilidade a implementação das medidas necessárias ao controle,
fiscalização, vigilância e defesa da Amazônia Azul.
Para a pesquisa relativa à importância do mar, conceito de mar territorial
ao longo da história e negociação entre as nações até a obtenção da
legislação vigente atualmente, conforme regulamentado pela Organização das
Nações Unidas (ONU) foi muito útil a consulta a tese de mestrado “A
Constituição das Fronteiras Marítimas Brasileiras: Do Mar Territorial à
Amazônia Azul” de autoria de Andrea Ribeiro Mendes e a farta documentação
obtida no site da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do
Mar (SECIRM), bem como os excelentes livros “Amazônia Azul: o mar que nos
pertence”, “O Mar no Espaço Geográfico Brasileiro” da Coleção Explorando o
Ensino - volume 8 e “A Importância do Mar na História do Brasil” da Coleção
Explorando o Ensino - volume 13, ambos disponibilizados gratuitamente em
arquivo digital no site da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
(CIRM).
Com relação às riquezas da Amazônia Azul, foi fundamental o acesso
ao site da CIRM e o material obtido no stand da Agência Nacional de Petróleo
(ANP), na feira Rio, Óleo e Gás 2010. Com relação à pesca, foi muito útil o
relatório da Produção Pesqueira e Aquícola de 2008-2009, obtido no site do
Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).
Quanto a Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) e as leis
de regulamentação do uso do mar e atribuições da Marinha do Brasil (MB),
bem como as leis ambientais aplicáveis às Águas Jurisdicionais Brasileiras
(AJB), foram consultados os sites dos órgãos governamentais diretamente
envolvidos no assunto, entre os quais a CIRM, Planalto, Ministério do Meio
Ambiente (MMA), Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), etc.
Com relação à Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Plano de
Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil (PAEMB), bem como as
questões relativas a orçamento e defesa, foram obtidas informações preciosas
no site do Ministério da Defesa (MD), na Secretaria de Orçamento Federal e,
principalmente, a farta documentação e informações obtidas no seminário
7
“Amazônia Azul”, realizado na Escola Naval, no Rio de Janeiro, entre 14 e 15
de outubro de 2010, ao qual tive a honra de comparecer.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................ 09
CAPÍTULO I – A Amazônia Azul............................................................. 11
CCAPÍTULO II – Ações governamentais – A Política Nacional para os
Recursos do Mar..................................................................................... 73
8
CAPÍTULO III – Capacitação para a gestão sustentável da Amazônia
Azul......................................................................................................... 99
CONCLUSÃO......................................................................................... 158
ANEXOS................................................................................................. 163
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA.............................................................. 172
ÍNDICE.................................................................................................... 176
FOLHA DE AVALIAÇÃO......................................................................... 178
INTRODUÇÃO
O mar territorial (MT) e a Zona Econômica Exclusiva (ZEE) brasileira, já
reconhecidos pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
(CNUDM), acrescido da área correspondente a extensão do limite exterior da
Plataforma Continental (PC) até 350 milhas náuticas (648,2 km) a partir da
linha de base da costa do Brasil, conforme pleito apresentado a Comissão de
Limites da Plataforma Continental (CLPC) da CNUDM em setembro de 2004,
9
corresponde a uma área total de aproximadamente 4.500.000 km2, cerca de
metade da extensão territorial do país. Esta grande área, extremamente rica
em recursos minerais e biológicos, com importantes vias de transporte
marítimo através das quais escoam 95 % do nosso comércio exterior, a
navegação de cabotagem, o turismo marítimo, os esportes náuticos, aliado ao
potencial futuro de exploração dos nódulos polimetálicos existentes no leito do
mar, fizeram com que esta região fosse denominada pela Marinha do Brasil de
“Amazônia Azul”, vindo a ser literalmente a última fronteira a ser estabelecida
para o nosso país.
Tendo em vista o atual cenário político e econômico do Brasil, bem
como seu papel como nação não tão somente emergente, mas já com
representatividade marcante no bloco denominado BRIC e no palco mundial,
avolumam-se as dificuldades de investimento nos níveis necessários para
atender aos requisitos exigidos pelos empreendimentos localizados na
Amazônia Azul e as correspondentes necessidades de meios suficientes de
fiscalização, controle e defesa, fundamentais a garantia da continuidade
dessas atividades, em face da enorme pressão pela demanda de outros
investimentos essenciais para um país em desenvolvimento, tais como nas
áreas de saúde, educação, habitação, entre outros. Outrossim, como toda a
riqueza desperta a cobiça, cabe ao seu detentor o ônus da proteção, buscando
recursos oriundos das próprias riquezas geradas para investir simultaneamente
na exploração e na fiscalização/vigilância ostensiva que intimide as ações
ilícitas que sejam originadas quer sejam por agentes internos ou externos.
Em vista do acima exposto, é de fundamental relevância conhecer as
políticas de exploração, explotação, controle e vigilância deste enorme
patrimônio, em especial a Política Nacional para os recursos do Mar (PNRM) e
a legislação que confere atribuições a Marinha do Brasil para a gestão
sustentável e a fiscalização ambiental desta área, de forma a compreendermos
perfeitamente a sua importância econômico-estratégica para o futuro do Brasil
e auxiliarmos com a participação efetiva da sociedade atuando pro-ativamente
junto a empresários e a classe política na tomada de decisões e no apoio as
medidas que venham a propiciar a exploração responsável dos recursos vivos
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e não-vivos existentes, identificando, com base na análise dos meios
disponíveis atualmente pela Marinha do Brasil, as principais dificuldades,
vulnerabilidades e ameaças ao desenvolvimento e a soberania da nossa
nação, incentivando as ações governamentais no sentido de viabilizar o
investimento necessário a implementação de um novo paradigma de
visibilidade e dotação de meios modernos e eficazes, conforme proposta da
Estratégia Nacional de Defesa (END), que permita a Marinha do Brasil exercer
o seu papel constitucional e auxiliar no desenvolvimento sustentado e na
vigilância adequada a preservação das nossas riquezas.
CAPÍTULO I
A AMAZÔNIA AZUL
Num amanhecer, meados de 1600, no pequeno povoado paulista
apertado pela Serra do Mar, de costas para o litoral, a tropa apresta-se a tomar
o rio em seu curso para o interior do sertão, com destino a bacia do Rio da
Prata. São os bandeirantes, vestindo os seus gibões de algodão acolchoado,
grandes chapéus de abas largas, coletes e armaduras, muitos descalços,
apenas alguns com botas, poucas de couro, armados com arcabuzes e
bacamartes, pistolas, chumbo, pólvora, machados, facas, foices, cordas, muita
coragem e a necessidade em seu encalço. Caminham em fila indiana,
11
alimentam-se de mandioca cozida e compactada, chamada não por acaso de
“farinha de guerra”, complementando com o que mais puderem retirar da mata.
Quando adoecem, curam-se com o que a fauna e a flora lhes oferecem.
Quando lhes falta os mantimentos, assentam acampamento e plantam,
aguardando a natureza repor os seus estoques. Muitos destes acampamentos
deram em pequenos arraiais, quiçá em novos municípios. Desta forma, à caça
de índios e pedras preciosas, estes brasileiros ajudaram a desbravar e povoar
o país, de tal forma que, dos 8,5 milhões de km2 de território brasileiro, atribui-
se cerca de 5 milhões de km2 à determinação destes grupos de exploradores,
que a golpes de facão e com muita fibra, traçaram as linhas de demarcação de
ocupação da terra que iriam consolidar uma nova configuração geográfica,
empurrando para a bacia do Rio da Prata a velha linha do Tratado de
Tordesilhas, dando à Colônia Lusitana na América o mapa de onde iria surgir
uma nova nação – o Brasil moderno.
“Depois de cerca de 280 anos, um outro processo está em curso, desta
feita com a finalidade de alargar as fronteiras marítimas do Brasil, em direção
ao Leste, fruto do trabalho inteligente, pertinaz e patriótico de um punhado de
especialistas da Marinha do Brasil, da Petrobras e da Comunidade Científica,
cognominados, reconhecidamente, de “Bandeirantes das Longitudes
Salgadas” (ALBUQUERQUE, 2005, p. 23).
“A voz que canta o mar resgata um povo, que nasceu marítimo, na saga
do Descobrimento... Herdeiros de tal mar e de tal tradição, andamos distraídos,
muito tempo, a viver qual caranguejos, arranhando as costas, como disse frei
Vicente do Salvador, e, depois, no esforço de domar o corpo continental deste
país, percorremos, bandeirantes, as brenhas do sertão, em trilhas de
esmeraldas. Navegamos, precursores, o caudal de rios, norte a sul, leste a
oeste. Atravessamos morros e florestas, cerrados e caatingas. Fundamos
povoações e plantamos cidades, na faina de ocupar e definir esta nação
gigante. Consolidamos, por fim, a marcha dos pioneiros, ao construir Brasília
no coração da pátria, um sonho acalentado desde a Independência.
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Neste início do século XXI, outra tarefa, de grande dimensão, está a
exigir um trabalho inadiável: incorporar ao nosso território o mar que nos
pertence, como faculta a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar, e promover o uso sustentado de seus recursos naturais. A essa extensão
Atlântica, que se projeta para além do litoral e das ilhas oceânicas, e
corresponde a cerca de metade da superfície do Brasil, se tem chamado de
Amazônia Azul” (VIDIGAL ... [et al], 2006, p.17 e 18).
Este capítulo tem como objetivo mostrar a relevância econômico-
estratégica das Águas Jurisdicionais Brasileiras, a nossa Amazônia Azul,
visando apresentá-la como a razão da questão central enfocada neste estudo,
partindo-se do pressuposto que, mesmo intuitivamente, desejamos sempre
investir em um negócio que está prosperando, porém devemos nos preocupar
também com o controle, a fiscalização, a vigilância e a segurança deste
negócio, uma vez que preservá-lo é condição “sine qua non” para proteger o
nosso investimento que, neste caso, representa o futuro de várias gerações de
brasileiros. Talvez não por acaso a extensão de 4,5 milhões de km2 da nossa
Amazônia Azul assemelhe-se a outrora incorporada pelos velhos bandeirantes.
Talvez seja o chamado destes antepassados, a clamar que se complete o seu
trabalho.
1.1 - O que é a Amazônia Azul?
1.1.1 - A importância do mar
“O espaço oceânico mundial abrange uma superfície de 361 milhões de
quilômetros quadrados ou 71% da superfície terrestre” (ANDRADE, 1975:106,
apud MENDES, 2006, p. 11). “O hemisfério Norte é constituído por 60,7% de
mar e o hemisfério Sul é constituído por 80,9%. A profundidade média dos
oceanos é de aproximadamente 3 733 metros, sendo o ponto mais profundo a
11 022 metros” (MENDES, 2006, p. 11).
“...o oceano, principalmente o seu fundo, continua sendo uma região tão
desconhecida quanto boa parte do sistema solar. Conhecê-lo é mais que uma
13
questão de mera curiosidade. Sem ele, nosso planeta seria inabitável. O
oceano atenua os extremos sazonais, evapora e fornece água doce para a
vida terrestre e a vida marinha e é um elo-chave na cadeia alimentar global.
Ele contém 96 % do total de água do planeta, fornece 86 % da evaporação
total e recebe 78 % de todas as precipitações. Além disso, tem forte influência
sobre o clima” (VIDIGAL...[et al], 2006, p.55).
A profundidade média do Oceano Atlântico, que banha o litoral do Brasil,
é de 3310 metros.
“O Oceano Atlântico limita-se a leste com os continentes europeu e
africano, e a oeste com a América. Ao norte, limita-se com o Círculo Polar
Ártico” (MENDES, 2006, p.12).
Apesar da descoberta do Brasil ter ocorrido a partir do mar e das
maiores ameaças ao país terem o mar como principal meio de acesso às
forças inimigas, o povo brasileiro não desenvolveu uma mentalidade marítima,
ou seja, a compreensão da essencial dependência do mar para a sua
sobrevivência quer seja na perspectiva econômica ou na estratégica, no que
toca a sua soberania. Cerca de 80 % da população brasileira vive a menos de
200 km do mar e, somente agora, com a divulgação das riquezas minerais da
Amazônia Azul e os avanços obtidos pela Petrobrás, estamos começando a
ver o mar não somente de forma lúdica, como área de lazer e de prática de
esportes. Porém, falta-nos ainda a compreensão do potencial das riquezas por
explorar e, principalmente, a percepção da importância estratégica que o mar
assume para a soberania do país, agravada paradoxalmente justamente pelas
riquezas descobertas, que passam a ser também as nossas maiores
vulnerabilidades, em face da grande dependência que passamos a ter
relativamente ao seu desenvolvimento.
Devemos então tentar compreender se já tivemos uma mentalidade
marítima e, caso afirmativo, porque deixamos de desenvolvê-la.
Inicialmente, cabe ressaltar que a descoberta do Brasil, em 1500, foi
feita por Portugal, uma das potências marítimas dominantes à época. Razões
estratégicas levaram Portugal a desenvolver a sua maritimidade; “O século XIV
encontrou Portugal com seu reino estruturado de maneira estável dentro do
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cenário de final de Idade Média e necessitando penetrar no momento
mercantilista europeu” (VIDIGAL...[et al], 2005, p.23). Paralelamente, sua
posição geográfica e a necessidade de explorar os recursos ao seu alcance
forçaram o caminho para o mar; “... é digno de destaque que, além da
agricultura, o comércio marítimo e a pesca eram das mais importantes
atividades praticadas em Portugal, país de solo nem sempre fértil e produtivo.
A atividade pesqueira destacou-se como fundamental para complemento da
alimentação de sua população. Situado em posição geográfica estratégica, à
beira do Oceano Atlântico e próximo ao Mediterrâneo, era de se esperar que
desenvolvesse grande devotamento à navegação e, conseqüentemente, à
construção naval” (ALBUQUERQUE...[et al], 2006, p. 27). Fruto deste
desenvolvimento, gerado pela necessidade de subsistência e pelo espírito
aventureiro, Portugal revolucionou a tecnologia de navegação marítima; “Toda
a evolução tecnológica obtida por Portugal nessa época o conduziu a um
avanço de quase cem anos em relação ao resto do mundo. Embora fosse um
pequeno e frágil país, desenvolveu uma mentalidade marítima superior, que
lhe permitiu ter mais de quatro séculos de sucesso na preservação de colônias
do tamanho de Angola e Moçambique e na manutenção de pontos na China,
na Índia e no Timor” (VIDIGAL...[et al], 2005, p. 23).
Segundo Albuquerque (2005), fruto da vocação de nossos colonizadores
e pela facilidade de acesso, a ocupação do Brasil se fez beirando o litoral,
fixando-se a população entre dois grandes vazios; a oeste a selva inóspita e
repleta de índios muitas vezes hostis, e a leste pelo vasto Oceano Atlântico.
Vidigal (2006) ressalta que as condições climatológicas beneficiaram os
Portugueses, facilitando o acesso a nossa costa por mar, utilizando-se dos
ventos alísios que sopram direto da África para o Brasil, e garantindo o retorno
à África, pelos ventos contra-alísios. Entretanto, esta vantagem também foi
percebida por comerciantes franceses e espanhóis, que logo organizaram
expedições de exploração clandestina de pau-brasil. Outras incursões
motivadas por interesses econômicos fizeram-se presentes nesta época; “De
fato, a terra era realmente muito rica, tanto que atraiu a cobiça de outros
países, que para cá enviaram expedições invasoras, como aconteceu, por
15
exemplo, com os franceses e holandeses. Pelo mar vieram os nossos
primeiros invasores” (www.mar.mil.br). Vidigal (2006) prossegue relatando a
reação Portuguesa, fundando uma feitoria em Pernambuco, visto como ponto
estratégico de apoio logístico local aos navios de sua bandeira, propiciando
descanso seguro e acesso a víveres, água e serviços de pequenos reparos
nas embarcações, estabelecendo desta forma a primeira atividade sub-
industrial no Brasil, voltada naturalmente para o atendimento das necessidades
conseqüentes da mentalidade marítima Portuguesa. Outros fatores auxiliaram
a incutir na nova população uma mentalidade marítima, dentre eles a
dificuldade de acesso ao interior, devido às cadeias de montanhas, clima e
insalubridade tropicais, e nativos hostis. Acresce a estes fatores as
características das capitanias hereditárias que “... em sua forma de pente,
reservando a cada donatário uma estreita costa marítima e faixas paralelas de
propriedade para o interior, propiciou que cada um deles buscasse estabelecer
um porto de acesso dentro de seus próprios domínios, pontilhando a nossa
costa oeste, com isso, incentivando um tráfego local desde os primeiros
tempos e inculcando desde então uma inexorável mentalidade marítima nessa
região” (VIDIGAL...[et al], 2006, p. 25).
Desta forma, consolidávamos uma mentalidade marítima pela
dependência de utilização do mar para a nossa sobrevivência; “A grande
mobilização pelo mar foi um dos principais fatores de coesão territorial, em
toda a nossa história... Embora restritos ao comércio exterior pela
exclusividade de Portugal, tivemos sempre portos ativos e habitados, e
comunicando-se entre si, inicialmente por mar e, depois, pela circulação
interior” (VIDIGAL...[et al], 2006, p. 25). Ainda, segundo Vidigal (2006), uma
vez estabelecidos os limites territoriais continentais para muito além do traçado
pelo Tratado de Tordesilhas, em virtude do grandioso feito promovido pelas
Entradas e Bandeiras, sucedeu o Tratado de Madri, que consolidou estes
limites, fato que estimulou o Rei de Portugal a promover o Brasil a categoria de
vice-reinado, nomeando, em 27 de Junho de 1763, Vice-Rei e Capitão-
General-de-Mar-e-Terra Dom Antônio Álvaro da Cunha, que tomou posse em
19 e, já em 29 de dezembro de 1763, fundou o Arsenal Real da Marinha, hoje
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Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, mostrando claramente que intentava
dispor de adequados meios navais para impor a sua autoridade em terra. Este
Arsenal teve papel relevante na Independência do Brasil, quando a reação de
Portugal, tardia face às dificuldades impostas pelas guerras napoleônicas,
permitiu ao governo brasileiro constituir suas forças e, firmado na mentalidade
marítima herdada dos Portugueses, logo incorporada ao sentimento nacional,
forneceu os meios que favoreceram a brilhante campanha naval de João das
Botas, na defesa de Itaparica na Bahia. “Para consolidar a nossa
independência, e enfrentar as diversas lutas, internas e externas, em que o
então Brasil Império se viu envolvido, tivemos que criar uma Marinha, e, mais
do que isso, dar a ela a capacidade de utilizar o mar, em proveito das ações
que tinha que empreender. Na Guerra do Paraguai, o maior conflito em que
estivemos envolvidos durante o Império, embora o teatro de operações não
tenha sido marítimo, o controle das vias fluviais, garantido pelos heróis de
Riachuelo, foi primordial para a vitória final. Não devemos nos esquecer,
também, que uma das causas para a sua eclosão foi o apresamento de um
navio brasileiro, o “Marquês de Olinda”” (www.mar.mil.br).
Segundo Albuquerque (2005), em que pese a litoraneidade como marca
original da formação nacional, não faltou aos pioneiros o sentido de ocupação
necessário para preservar a faixa costeira e, a partir dela, vencer os caminhos
do interior consolidando o território terrestre. Nisto, busca explicação para a
desatenção com as coisas do mar; “... devido a fatores conjunturais, ocorreu
uma migração do interesse econômico nacional para o interior do País, com a
população brasileira voltando “as costas para o mar”. Dessa forma, houve uma
degradação da mentalidade marítima, a ponto de, nos dias atuais, os
brasileiros, em sua grande maioria, pensarem no mar apenas de forma lúdica”
(ALBUQUERQUE...[et al], 2006, p.167). Vidigal (2006) aponta a velocidade da
revolução industrial no século XIX como vetor para forçar a atenção da nação,
cuja economia na ocasião era basicamente agrícola, para o interior, visando à
consolidação territorial. Assim sendo, canalizaram-se os investimentos
prioritariamente para os projetos de desenvolvimento no continente. As duas
guerras mundiais complicaram ainda mais a situação, devido à diminuição dos
17
níveis de comércio e ao risco de ataques por submarinos. Posteriormente, na
década de 60, a marcha para o interior foi incentivada pela construção de
Brasília e pelos grandes investimentos na indústria automobilística e no modal
rodoviário de transportes, que substituiu gradativamente a navegação costeira.
Quanto à navegação de longo curso, desenvolveu-se desde 1941 até 1973,
com a crise do petróleo, que provocou uma mudança no panorama financeiro,
gerando graves impactos na área de construção naval, provocando a falência
de vários estaleiros, a inadimplência do Fundo de Marinha Mercante e, por fim,
a extinção da Superintendência Nacional de Marinha Mercante (SUNAMAM).
Devido a estes fatores, agravados pela incompetência na administração dos
portos, inabilidade em estabelecer uma política trabalhista adequada e má
gestão das empresas governamentais de navegação, houve grande
deterioração das atividades marítimas, redundando na perda do parque de
construção naval e consequente cessão da cota brasileira de transporte
marítimo do nosso próprio comércio às bandeiras estrangeiras.
A chamada mentalidade marítima deve ser inerente a qualquer nação,
especialmente as litorâneas. Com o desenvolvimento da tecnologia, abriram-se
as portas para a exploração cada vez mais eficaz dos recursos do mar,
somando-se a isso uma visão mais significativa da urgência de fazê-lo de
forma sustentável, aumentando sobremaneira a importância que devemos
atribuir ao mar. “O mar sempre foi elemento de fundamental importância no
desenvolvimento, na manutenção da sobrevivência e no exercício do poder
das nações. Desde épocas mais remotas, o mar vem sendo usado não apenas
como via de transporte, mas também como importante fonte de recursos
biológicos. Mais recentemente, com o desenvolvimento da tecnologia marinha,
a Comunidade Científica internacional deu-se conta de que o mar, tanto nas
suas águas fecundas quanto no seu rico solo ou subsolo, dispõe de recursos
naturais, vivos e não vivos, de importância capital para a humanidade. Com a
descoberta de tais recursos, cresceu de importância a necessidade de
delimitar os espaços marítimos em relação aos quais os Estados costeiros
exercem soberania e jurisdição” (ALBUQUERQUE...[et al], 2005, p. 19 e20).
18
Com base no que foi explanado, é possível afirmar que nos primórdios
de nossa nação havia uma forte mentalidade marítima, muito provavelmente
derivada da extrema dependência dos recursos vindos pelo mar e por ser uma
via de acesso fácil a outras localidades, ainda que oferecesse, justamente pela
facilidade, o risco de acesso não autorizado. Com o passar do tempo, esta
mentalidade esteve mais associada a eventos belicosos do que ao
desenvolvimento de fatores de produção, tornando-se novamente significativa
a partir do maior intercâmbio comercial via navegação de longo curso, quando
então, fatores econômicos externos levaram a derrocada deste modal de
transporte no Brasil.
Atualmente, as atenções têm se voltado novamente para o mar em
função dos resultados obtidos pela Petrobrás na exploração de petróleo e gás
nesta área, atividade que iniciou em 1968, mas que somente começou a
ganhar visibilidade a partir da descoberta do pré-sal pela Petrobrás, em 2006.
Conclui-se que a mentalidade marítima da sociedade civil, ainda que
latente, se acentua pelo apelo da necessidade de subsistência, quer seja pela
garantia de sua defesa, quer seja pelo desenvolvimento de atividades
produtivas que garantam a sua sobrevivência e o seu progresso. Entretanto,
confirmadas as projeções atuais, as riquezas produzidas a partir do uso
sustentado do mar atrelam-se a necessidade de estabelecer um círculo de
segurança que garanta a contínua exploração destes recursos, alinhando-se
assim as necessidades de desenvolvimento e segurança, que devem ser
compreendidas como uma relação simbiótica, sendo necessário conscientizar
a sociedade da necessidade de sua participação efetiva no estabelecimento
das condições político-econômicas que viabilizem este modelo.
Uma vez cientes da importância do mar e do estabelecimento de uma
mentalidade marítima que abranja a nossa necessidade de subsistência,
devemos nos preocupar, no próximo tópico, com a forma como se pode definir
o mar que nos pertence, o propriamente dito mar territorial, e a forma como as
nações têm visto os direitos sobre o uso do mar, tendo em mente que este
conceito será valioso na análise da questão central deste estudo.
19
1.1.2 - O conceito de Mar Territorial
Historicamente, logo as nações descobriram a importância do mar para
o deslocamento de seus povos e de suas forças, evitando o trajeto por terra,
que muitas vezes forçava a passagem por caminhos tortuosos e de difícil
acesso. Assim sendo, desde cedo se desenvolveu a navegação costeira, como
forma de alcançar novas paragens para fins de comércio ou para subjugar os
inimigos.
Mendes (2006) relata que se atribui ao povo fenício, já uma
talassocracia atuante no Mediterrâneo em 1550 AC, as primeiras normas para
regulamentação do uso do mar para fins de navegação, surgindo,
posteriormente, em Rodes, em virtude do intenso comércio marítimo nesta
região, um bem-sucedido e o mais completo código de direitos do mar, tendo
sido adotado por gregos e romanos, influenciando o mundo atual. Após o
colapso do império romano, as leis marítimas foram postas de lado por quase
dois mil anos, somente tornando a ser lembradas na Idade Média, devido ao
intenso comércio marítimo promovido pelas cidades-estado representadas
pelas guildas na Itália e pela liga hanseática na Alemanha, que perdurou
durante o século XIII. Nesta época, havia grande preocupação em controlar o
assédio de piratas e sarracenos, obrigando estas cidades a se imporem
mediante a cobrança de tributos aos navios que rodeavam o que consideravam
seus distritos marítimos, fazendo com que a noção de mar territorial
começasse a ser lógica.
Após a primeira metade do século XVI, outros países emergem como
potências efetivas, tais como a Holanda e a Inglaterra. A primeira é o berço do
mais importante tratado sobre o direito marítimo: “Mare Liberum” (o Mar Livre),
obra que foi escrita para defender a liberdade dos mares para a navegação e o
comércio holandês nas Índias Orientais, contra os interesses Portugueses, que
argumentavam que o mar, tal como a terra, estaria sujeito ao domínio exclusivo
do Estado soberano. Ainda que a tese holandesa tenha saído juridicamente
vencedora, em contraposição é lançada a obra Inglesa “Mare Clausum” (o Mar
20
Fechado), que pregava que os Estados costeiros tinham o direito de se
apropriar de extensas áreas marítimas. No final do século XVII, a polêmica é
resolvida a favor da teoria da “Mare Liberum”, na medida em que se
reconheceram as suas vantagens, porém começa a ganhar consistência a
noção de mar territorial, evitando-se o equívoco de vinculá-la a teoria do ”Mare
Clausum”.
“O princípio da liberdade dos mares traduzia um sentimento geral da
época, uma vez que seria muito mais lucrativa uma política de liberdade
universal dos oceanos e, por este motivo, os Estados poderosos abriam mão
daquilo que já não precisavam mais. Como exemplo, desde o início do século
XIX, a Grã-Bretanha (A Grã-Bretanha surge em 1707, a partir da constituição
do Reino Unido, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte),
principal Estado marítimo, defendeu veementemente a liberdade que antes,
mais precisamente no século XVI, não lhe parecia conveniente. Tal reação foi
seguida pela maioria das nações marítimas, justificando o predomínio do poder
marítimo sobre o poder costeiro durante o século e meio seguinte, quando
então veremos ressurgir o Estado costeiro” (COSTA, 1992, MUEHE, 2000,
apud MENDES, 2006, p. 34). “Com o desenvolvimento das colônias, a partir do
século XVII, a tendência foi a de defender a filosofia da liberdade de uso do
mar para fins estratégicos de mobilidade militar, de garantia do transporte de
mercadorias, da pesca em áreas distantes e do lançamento de materiais
poluentes” (Muehe, 2000, p. 149, apud MENDES, 2006, p. 35).
“Em relação ao Mar Territorial, para Mello, (1972), a sua delimitação só
começou a surgir de modo preciso no século XVIII, uma vez que, até então, os
critérios eram os mais variáveis possíveis: alcance da vista, linha mediana,
etc.” (MENDES, 2006, p. 36). “Em 1703, Cornelius van Bynkersholk, na sua
obra “Dissertação sobre o Domínio dos Mares”, estabeleceu que o Estado
estenderia seu domínio sobre o mar até onde alcançasse as forças das armas.
Em 1782, Ferdinando Galiani, em um livro intitulado “Dos Deveres dos
Príncipes Neutros em Relação aos Príncipes Beligerantes e Destes em
Relação aos Neutros” levando em consideração a força das armas fixou a
21
largura do Mar Territorial em três milhas. (op.cit.:121-5, apud MENDES, 2006,
p. 36)”.
Assim, sendo o mar visto como porta de entrada e saída, logo ocorreu
às nações defendê-lo com fortalezas estrategicamente localizadas na costa ou
em ilhas próximas, formando-se a partir destas uma faixa de proteção que
atingia cerca de 3 milhas marítimas (5.556 metros), equivalente ao alcance dos
canhões da época, sendo esta uma das principais regras práticas de limitação
do alcance do mar territorial durante muito tempo.
“No século XIX a largura é definitivamente consagrada em três milhas
de largura, medida aceita, sem muitas contestações até meados do século XX
e assim, no início desse século foi estabelecida uma zona limitada a três
milhas pela maioria dos Estados da época, inclusive a Grã-Bretanha, os
Estados Unidos, a Alemanha, a França e outras – muitas - potências
marítimas. O limite original de três milhas surgiu da regra do “tiro de canhão”,
atribuindo ao Estado costeiro as áreas marítimas que pudessem estar
realmente sob a proteção de baterias costeiras. Em 1818 o Tratado de Grand,
entre EUA e a Inglaterra, foi o primeiro a adotar o limite de 3 milhas para
delimitar a zona de pesca e uma zona de segurança marítima” (MATTOS,
1996, apud MENDES, 2006, p. 36).
Ainda que o conceito de mar territorial de 3 milhas tenha sido aceito no
início do século XX pela maioria das nações, vários Estados costeiros
passaram a reivindicar distâncias de até 12 milhas. Neste ponto, Mendes
(2006) ressalta a ocorrência das várias alterações da compreensão do
significado de mar territorial e sobre os direitos relativos ao mesmo em função
das modificações das forças de produção, novas atividades econômicas,
novas tecnologias, exigindo alterações também na respectiva legislação, sendo
este processo dinâmico e dependente da política externa e,
consequentemente, da política interna do estado: “A afirmação de que “no
relacionamento entre nações, o progresso da civilização pode ser visto como
um movimento da força para a diplomacia e da diplomacia para a lei” adquire
hoje uma formação preliminar, pois o movimento não se detém no direito, mas
segue no encalço das instituições. Por outro lado, o movimento recua das
22
instituições para as normas, do direito para a diplomacia e da diplomacia para
a força. Por isso, é notória a influência de elementos da política internacional
resultante das diversas políticas externas. E tanto quanto a internacional
condiciona a política externa, esta condiciona a política interna” (CNIO, 1998:
25, apud MENDES, 2006, p. 38).
“Por estarem naturalmente ligados, sem divisões facilmente
perceptíveis, os mares aparentam-se indivisíveis e, portanto, as questões a
eles relacionadas não poderiam deixar de ser polêmicas” (MENDES, 2006, p.
38).
Depreende-se do acima exposto que a questão da delimitação do mar
territorial mostra-se tarefa bastante complexa, tanto no aspecto jurídico -
quando os diferentes interesses dos Estados frequentemente conflitam entre si
e, por vezes, para um mesmo estado, modificam-se no tempo segundo a ótica
político-econômica vigente no momento, cada qual buscando legislar a seu
favor - quanto no operacional, haja vista as dificuldades para controlar,
fiscalizar e defender o cumprimento das regras estabelecidas, o que requer o
emprego de meios e equipamentos, normalmente de alto custo, que sejam
capazes de monitorar o cumprimento das leis, geralmente privilegiando as
nações que possuem maior capacidade de defender os seus interesses,
justamente por serem capazes de apoiar seus pleitos com a força, numa ação
de diplomacia dissuasória. A partir deste contexto, desenvolve-se o próximo
tópico deste estudo com os principais passos seguidos até obter-se uma
formulação jurídica que contemplou os pleitos e conciliou os interesses da
maior parte dos Estados, prevalecendo até hoje, ainda que já tenhamos
percebido a sua temporalidade.
1.1.3 - A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
– CNUDM
Como vimos no tópico anterior, o estabelecimento do conceito de mar
territorial e os direitos sobre o tráfego e uso de seus recursos varia em função
23
da interpretação de cada estado ou grupo de Estados, bem como pode variar
no tempo, para um mesmo estado, em função da modificação dos parâmetros
analisados, geralmente alterados pela descoberta de novos recursos, pelo
acesso a novas tecnologias ou por mudanças na situação geopolítica da
região. Logo, parece bastante lógico que os Estados viessem a procurar
árbitros para estas questões, visando, em consenso, criar regras que fossem
respeitadas por todos os signatários do acordo.
A evolução do quadro de liberdade dos mares (Mare Liberum) para o
estabelecimento de um código de direito marítimo acompanhou as mudanças
econômicas, políticas e sociais provocadas pela revolução industrial,
aceleradas pelo aumento da capacidade de produção e do comércio entre os
Estados: “Com o desenvolvimento das colônias, a partir do século XVII, a
tendência foi a de defender a filosofia da liberdade de uso do mar para fins
estratégicos de mobilidade militar, de garantia de transporte de mercadorias,
da pesca em áreas distantes e do lançamento de materiais poluentes
(MUEHE, 2000:149 apud MENDES, 2006, p. 40)”. “As mudanças significativas
ocorridas em âmbito econômico, político e social no fim do século XVIII trazem
também a necessidade de distinção entre o Direito Público e o Privado,
incluindo a área de Direito Marítimo, uma vez que o século XIX apresentará um
ritmo econômico, influenciado pela evolução da indústria, pelo volume de
produção, assim como pela extensão e variedade de comércio, bem mais
complexo do que os séculos anteriores. Esse panorama geral foi igualmente
importante para as modificações ocorridas em todas as relações
internacionais” (MENDES, 2006, p. 40).
Após a derrota da França Napoleônica, ocorreu o Congresso de Viena
(1814-1815), reunindo Áustria, Rússia, Prússia e Reino Unido, visando
reorganizar as fronteiras européias e restaurar a ordem absolutista do Antigo
Regime. Assim sendo, foi adotada uma política legitimista e de compensações
territoriais e foi criado um instrumento de ação, a Santa Aliança, aliança
político-militar reunindo exércitos feudais prontos para intervir em qualquer
situação que ameaçasse o Antigo Regime, incluindo a hipótese de intervir nas
independências da América. Contra isso foi criada a "Doutrina Monroe"
24
(América para Americanos): “Afirmava que os Estados Unidos não tinham
nenhum interesse sobre colônias de países europeus na América, porém se os
europeus buscassem aumentar os seus domínios na América, esta atitude
colocaria em risco a paz e a segurança do próprio país. Com essa medida
objetivava-se, assim, a não recolonização dos recém-independentes países
americanos” (COSTA, 1990 apud MENDES, 2006, p.41).
Ainda, segundo Mendes (2006), ao término da guerra civil, os Estados
Unidos da América surgem como potência imperialista, necessitando importar
matérias-prima e exportar seus produtos manufaturados, o que aumentou
significativamente o seu interesse em desenvolver estratégias para dominação
do mar e do poder marítimo. É significativa a contribuição de Alfred Thayer
Mahan, oficial da marinha norte-americana e professor da “Naval War College
at Newport”, através da sua obra “The Influence Of Sea Power Upon History”,
escrita em 1890, desenvolvendo a teoria do poder marítimo, concebendo os
oceanos e mares como espaço social e político, distintos dos espaços
terrestres, porém articulados aos mesmos através dos portos e vias de
comunicações interiores, aconselhando que os Estados guarneçam suas
costas e os citados pontos de acesso. É interessante ressaltar que se atribui a
Mahan a idéia de conclamar a população de um país a envolver-se nas
atividades marítimas, política adotada pela CIRM através do Programa de
Mentalidade Marítima (PROMAR), pertencente ao PNRM, conforme veremos
mais a frente.
“O domínio da navegação mundial era disputado pela Alemanha e a
Inglaterra, essa última aliada aos Estados Unidos. Ao fim da Primeira Guerra
Mundial, tendo sido derrotada a Alemanha, as relações no Direito Internacional
e as regulamentações sobre o uso do mar fizeram surgir vários acordos,
influenciados pela ascensão estadunidense crescente e a “(...) sua influência
no continente latino-americano, no Atlântico e no Pacífico” (LIMA, 1997: 58
apud MENDES, 2006, p. 43).
Segundo Coelho (2006), até a segunda metade do século XIX não
existiu qualquer diferenciação jurídico-conceitual entre o leito do mar, o
respectivo subsolo, e a camada líquida sobrejacente situada fora da jurisdição
25
dos Estados, em virtude deste assunto ainda não estar suficientemente
amadurecido na altura dos trabalhos preparatórios da Conferência de Haia, de
1930, fazendo com que a matéria relativa aos fundos marinhos para lá do mar
territorial não tivesse particular atenção. Entre os assuntos então tratados
destacam-se o princípio da liberdade de navegação, a natureza jurídica do mar
territorial (3 milhas), os direitos dos Estados costeiros, a definição das linhas de
base, a regulação do direito de passagem inofensiva e o reconhecimento da
zona contígua (12 milhas).
O primeiro passo dado no sentido de aproveitar os recursos do subsolo
marinho numa área que se situava para além da soberania de um Estado foi
dado em 1942 pelo Reino Unido, potência administrante de Trindade e
Tobago, e a Venezuela, ao celebrarem um tratado tendo em vista a exploração
dos recursos do Golfo de Paria. O Tratado de Paria constitui um instrumento
jurídico-internacional original, uma vez que, pela primeira vez, apareceu na
literatura jurídica o termo “plataforma continental” tal como se viria
posteriormente a desenvolver, independente da noção de proteção das zonas
de pesca para lá das respectivas águas territoriais, tendo alcançado os efeitos
pretendidos mesmo antes de existir, a nível internacional, um conceito jurídico
consolidado de plataforma continental.
Poucos anos mais tarde, num contexto de pós-guerra e carência de
matérias primas, diante da possibilidade iminente de uma depressão, somado
a informação de que haviam sido descobertas importantes jazidas de petróleo
e outros minerais, o Secretário de Estado do Interior dos Estados Unidos da
América, Harold Ickes, recomendou ao Presidente Roosevelt que tivesse em
consideração a possibilidade de reclamar o acesso aos recursos naturais do
solo e subsolo da plataforma continental e das águas suprajacentes, fazendo
com que, na gestão do presidente Truman, fossem assinadas em 28 de
setembro de 1945 duas proclamações, uma sobre a pesca e outra sobre a
plataforma continental. Mendes (2006) ressalta as vertentes econômica e de
segurança na atitude dos EUA: “Esse reconhecimento revela a pretensão
norte-americana de obter direitos de soberania sobre os recursos minerais ao
largo da costa, acompanhada da reivindicação de reserva de pesca além das
26
três milhas, até então limite reconhecido e apoiado pelos Estados Unidos.
Desta forma, a Declaração estaria calcada em dois pontos: o primeiro, de
natureza econômica, declara que os recursos naturais da plataforma
continental pertenciam aos EUA.; e o segundo, por razões de segurança,
imporia uma estreita vigilância sobre as atividades nas costas daquele país,
que representava um dos mais fortes aliados das chamadas potências
marítimas... A partir desse momento, fica expressa a estratégia geopolítica
norte-americana de defesa e segurança, apoiada pelo grande poder marítimo
desse país” (MENDES, 2006, p. 43 e 44).
De acordo com Coelho (2006), da Proclamação de Truman resultaram
como elementos fundamentais as regras que passaram a constituir por via do
costume internacional, relativamente a cada Estado costeiro, o direito de
exercer em condição de exclusividade poderes de jurisdição e controle sobre
os recursos existentes sob o alto-mar, nos fundos marinhos contíguos às
respectivas águas territoriais: “(...) as terras submersas, contíguas ao território
terrestre e cobertas por não mais que 100 braças (200 metros) de água, são
consideradas Plataforma Continental” (op.cit: 46, apud MENDES, 2006, p. 44).
Outro aspecto não menos importante consiste no fato de os limites geográficos
ao exercício de tais direitos serem incertos, determinados apenas com base
em critérios puramente geomorfológicos, apesar da referência ao
prolongamento natural.
Neste ponto, Mendes (2006) ressalta a mudança de paradigma na visão
do mar: “Ainda que a largura do Mar Territorial permanecesse fixada em três
milhas, a Plataforma Continental era considerada prolongamento da massa
terrestre do Estado Ribeirinho, sendo, portanto, a ele pertencente, assim como
os recursos nela contidos. A velada capacidade tecnológica de explorar
petróleo e outros minerais de águas rasas iria provocar uma espécie de efeito
dominó, por desencadear uma conscientização do potencial econômico dos
mares. É o início de uma nova forma de ver o mar, embasada no seu potencial
econômico” (MENDES, 2006, p. 44).
Fruto desta mudança de paradigma, com o crescimento do número de
nações interessadas no assunto, as incertezas ainda resultantes da ausência
27
de codificação de um regime jurídico para regulamentar os direitos sobre os
fundos marinhos adjacentes ao mar territorial deram origem, em 1958, a
primeira Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que não
registrou avanços significativos na matéria: “A Primeira Conferência concluiu
algumas considerações sobre o Mar Territorial (MT) e a Zona Contígua (ZC);
sobre o Alto Mar; sobre a pesca e conservação dos recursos vivos aí contidos;
e sobre a Plataforma Continental (PC). Porém não conseguiu fixar a largura do
Mar Territorial e nem da Zona Contígua e assim, dada a relevância desse item,
uma nova, a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar,
reuniu-se, também em Genebra, a 16 de março de 1960, para examinar tanto
a questão da largura do Mar Territorial quanto a dos limites de pesca”
(MENDES, 2006, p. 49).
Segundo Mendes (2006), a segunda conferência igualmente não obteve
sucesso na regulamentação pretendida, devido a não haver concordância por
parte dos Estados costeiros e marítimos com relação aos aspectos
econômicos, sobretudo a pesca, com os Estados costeiros reivindicando um
mar territorial mais extenso e os Estados marítimos desejando maior liberdade
no acesso aos mares.
Coelho (2006) aponta o rápido desenvolvimento tecnológico para a
percepção dos Estados costeiros de que a exploração de recursos minerais na
plataforma continental logo ultrapassaria a cota isobatimétrica de 200 metros e,
num futuro próximo, atingiria a profundidade de milhares de metros, abrindo
esta possibilidade aos Estados que detivessem tal tecnologia e que, em
detrimento dos demais alijados deste desenvolvimento, poderiam se interessar
em explorar estes recursos no leito do mar e no fundo dos oceanos, além dos
limites da sua jurisdição. Tal percepção provocou a chamada Declaração de
Parvo, na Assembléia Geral das Nações Unidas, de 1967, que basicamente
defendia em curto prazo a qualificação do leito do mar e respectivo subsolo
como patrimônio comum da humanidade, interromper as reivindicações
vigentes até uma clara definição do conceito de plataforma continental, a
criação de um órgão para redigir um projeto de tratado que salvaguarde a
natureza internacional do leito do mar e respectivo subsolo, e a criação de uma
28
agência internacional para a gestão da área. Em longo prazo, a proposta
pleiteava a criação de um tratado que definisse os limites exteriores da
plataforma continental sujeita às jurisdições nacionais e a definição de
princípios reguladores do uso do fundo do mar e respectivo subsolo, cuja
gestão ficaria a cargo duma agência internacional. “Em 1970, a Assembléia
Geral das Nações Unidas adotou a Declaração de Princípios na qual afirma
que o leito dos oceanos e seu subsolo situado além das jurisdições nacionais,
assim como seus recursos minerais, constituem-se patrimônio comum da
humanidade” (GOLD, 1976: 15, apud MENDES, 2006, p. 51).
Devido a não se ter chegado a um entendimento relativo aos assuntos
do mar nas Convenções anteriores, ficou claro a necessidade de um novo
ordenamento e, em função deste fato, foi realizada, em 1973, a III Conferência
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. A necessidade de tornar finitos, do
ponto de vista prático, os limites da plataforma continental promoveu os
trabalhos que estiveram na origem desta conferência. Segundo Mendes
(2006), a conferência tinha como objetivos dar continuidade ao regime para a
Área Internacional do Fundo do Mar, definir os limites e o regime jurídico de
todos os diferentes espaços marinhos, e regulamentar os mais variados tipos
de atividade no mar.
Desta vez, nenhum órgão jurídico ficou encarregado de elaborar um
projeto de Convenção, visando privilegiar os critérios político-econômicos, em
detrimento dos jurídicos, uma vez que, até então, todas as codificações
relacionadas ao Direito Marítimo Internacional atendiam aos interesses e às
práticas comerciais das grandes potências marítimas e, desta vez, os países
em desenvolvimento deveriam ter seus interesses considerados, externando o
conflito entre a soberania dos países subdesenvolvidos e a liberdade dos
Estados marítimos. Logo, alguns dos interesses dos países latino-americanos,
que já haviam ampliado suas jurisdições marítimas em decisões unilaterais,
incluindo o Brasil, foram atendidos.
A tarefa de elaborar uma proposta que abrangesse todos os temas e
questões relativas ao direito do mar, atribuição inicial da Conferência, mostrou-
se uma atividade árdua e prolongada. A tese das duzentas milhas foi
29
incorporada e teve grande apoio, obviamente, dos países primordialmente de
terceiro mundo. O Governo Reagan, dos EUA., declarou sua contrariedade em
relação ao texto que vinha sendo posto em negociação pela Convenção, no
entanto, os países do “terceiro mundo” decidiram pela votação das medidas,
ao invés da discussão pelo consenso.
Marcada principalmente pelas motivações políticas e econômicas que
sempre estiveram presentes em todas as fases de negociação anteriores,
desde o início da década de 50, essa Convenção também teve como ponto
alto, segundo Muehe (2000) apud MENDES (2006), a possibilidade dos países
em desenvolvimento, em especial os do leste da África, participar da
exploração dos recursos minerais do subsolo marinho.
Com relação à determinação do limite do Mar Territorial, surgiram duas
correntes divergentes: uma formada pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha,
Japão, República Federal da Alemanha, Bélgica e União Soviética, favoráveis
a um Mar Territorial de doze milhas e com reconhecimento de alguns direitos
como pesca além deste limite; a outra corrente contava com a presença do
Brasil e era favorável ao estabelecimento de duzentas milhas para o Mar
Territorial, porém, a maioria dos participantes, com uma opinião intermediária,
passou a estabelecer os conceitos do que viria a ser a Zona Econômica
Exclusiva: “Tratava-se, em síntese, de reconhecer ao Estado costeiro o direito
a manter um Mar Territorial até o limite de doze milhas e de estabelecer, entre
este limite e o das duzentas milhas, uma zona na qual exerceria direitos de
soberania e jurisdição exclusiva sobre os recursos vivos e não-vivos do mar,
sem prejuízo da liberdade de navegação de que iriam continuar a gozar, nessa
área, os outros Estados” (op. cit: 40, apud MENDES, 2006).
Segundo Coelho (2006), a Convenção também definiu o conceito de
plataforma continental, as condições em que a mesma pode se estender para
lá das 200 milhas, a constituição, composição e funções da CLPC e as
formalidades que devem ser seguidas pelos Estados costeiros para a fixação,
de um modo definitivo e obrigatório, dos limites exteriores da respectiva
plataforma continental. Definiu também a natureza dos direitos do Estado
costeiro sobre a plataforma continental, a colocação de cabos e dutos
30
submarinos, e os aspectos referentes a delimitações entre Estados com costas
adjacentes ou situadas frente a frente.
Cabe ressaltar que a elaboração dos critérios para a definição dos
limites exteriores da plataforma continental conduziu à criação do texto
normativo, porventura mais complexo, da CNUDM, tendo sido necessário
encontrar uma solução de compromisso devido aos interesses contraditórios
manifestados pelos vários grupos de Estados que integravam a Conferência e
a impossibilidade de se chegar a um critério simples e único para a delimitação
da plataforma continental, uma vez que a aplicação de regras muito restritivas
colocaria numa situação desvantajosa os Estados costeiros com plataformas
continentais amplas, que poderiam ver as suas áreas de jurisdição reduzidas,
com grave prejuízo, já que tinham efetuado grandes investimentos através de
“mining ventures”, tendo em vista a exploração de recursos existentes em
áreas que, face ao novo regime, poderiam vir a ficar fora das respectivas áreas
de jurisdição. Por outro lado, manter a possibilidade de fixação de limites
exteriores excessivamente longos teria como consequência imediata esvaziar o
espólio de recursos submarinos que constitui o patrimônio comum da
humanidade, contrariando a Declaração de Parvo já citada anteriormente.
A Convenção foi assinada por 119 delegações em Montego Bay,
Jamaica, em 10 de dezembro de 1982, passando a vigorar internacionalmente
em 16 de novembro de 1994. O Brasil ratificou a Convenção em 22 de
dezembro de 1988. Atualmente, a Convenção encontra-se ratificada por 160
Estados, inclusive a União Européia, sendo que mais 18 países já assinaram,
porém não ratificaram, entre eles, os mais importantes são os EUA e os
Emirados Árabes Unidos. Dentre os que não assinaram, merece destaque a
Venezuela, pelo grande potencial de reservas provadas de petróleo e gás
natural. Como já visto anteriormente, o fato de se possuir um tratado e tê-lo
ratificado ou assinado não é absolutamente garantia de compromisso eterno.
Historicamente, quer seja por razões geopolíticas, econômicas ou de
segurança, os Estados buscam garantir os seus direitos, segundo o seu
entendimento, utilizando a diplomacia apoiada no seu poder naval, decidindo
primeiro, através de legislação própria, e, se possível, regulamentando depois.
31
A seguir, serão descritos, conforme definido na CNUDM, os conceitos
de mar territorial, zona contígua, zona econômica exclusiva e plataforma
continental. A soma das áreas correspondentes a cada um destes setores
constitui as Águas Jurisdicionais Brasileiras, denominadas pela Marinha do
Brasil por Amazônia Azul.
De acordo com Albuquerque (2006), o mar territorial compreende uma
faixa de 12 milhas marítimas (1 milha marítima = 1.852 metros) de largura,
medidas a partir das linhas de base do litoral continental e insular brasileiro. No
mar territorial, o Estado costeiro exerce soberania ou controle pleno sobre a
massa líquida e o espaço aéreo sobrejacente, assim como sobre o leito e o
subsolo deste mar, sendo facultado a qualquer outro Estado o trânsito
inocente, obedecidas as ressalvas previstas na Convenção.
A zona contígua compreende uma faixa de 12 milhas marítimas
medidas a partir do limite exterior do mar territorial. Na zona contígua, o Brasil
poderá tomar as medidas de fiscalização necessárias para evitar e reprimir as
infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou
sanitários.
A zona econômica exclusiva é uma zona situada além do mar territorial
e a este adjacente e não se estenderá além de 200 milhas marítimas das
linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial. A
convenção garante ao Estado costeiro direitos de soberania para fins de
exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais,
vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e
seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vista à exploração e
aproveitamento da zona para fins econômicos, como a produção de energia a
partir da água, das correntes e dos ventos.
Com o objetivo de promover a utilização ótima dos recursos vivos da
ZEE, o Estado costeiro fixará as capturas permissíveis desses recursos.
Quando o Estado costeiro não tiver capacidade para efetuar a totalidade da
captura permissível, deve dar a outros estados acesso ao excedente dessa
captura, mediante acordos ou outros ajustes entre as partes, daí a importância
de explorarmos de forma racional e sustentável os recursos naturais das águas
32
jurisdicionais brasileiras. A convenção também prevê que o estado costeiro,
tendo em conta os melhores dados científicos de que disponha, assegurará,
por meio de medidas apropriadas de conservação e gestão, que a preservação
dos recursos vivos de sua ZEE não seja ameaçada por um excesso de
captura.
Na ZEE, o estado costeiro tem jurisdição para regulamentar a
investigação científica marinha, a proteção e preservação do meio ambiente, e
tem o direito exclusivo de construir e de autorizar e regulamentar a construção,
a operação e a utilização de ilhas artificiais; instalações e estruturas com
finalidades econômicas ou para fins de investigação científica. É importante
frisar que a CNUDM, em seu artigo 60, permite a delimitação de uma zona de
segurança ao redor destas construções, com alcance máximo de 500 metros a
partir de cada ponto do seu bordo exterior, nas quais o Estado pode tomar
medidas adequadas para garantir tanto a segurança da navegação como a
destas estruturas.
Qualquer investigação científica na ZEE brasileira por instituições
nacionais ou internacionais somente poderá ser realizada com o consenti-
mento do governo brasileiro.
A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e o
subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial,
em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, até o
bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas
marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar
territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja
essa distância, sendo que o limite exterior não deve exceder 350 milhas a
partir das linhas de base. Na PC, o Estado costeiro exerce direitos de
soberania para fins de exploração e aproveitamento dos seus recursos
naturais e esses direitos são exclusivos, ou seja, se o Estado costeiro não
explora a PC ou não aproveita os seus recursos naturais, ninguém pode
empreender essas atividades sem o expresso consentimento desse Estado.
A soberania, para fins de exploração econômica, poderá ir além desse
limite, até o bordo exterior da margem continental, o que equivale a dizer até o
33
limite da PC. No caso, só englobará os recursos minerais e outros recursos
não vivos do leito do mar e subsolo, assim como os organismos vivos
pertencentes a espécies sedentárias, isto é, aquelas que no período de
captura estão imóveis no leito do mar ou no seu subsolo, ou que só podem
mover-se em constante contato físico com esse leito ou subsolo.
A CNUDM determina que o Estado costeiro que tiver a intenção de fixar
o limite exterior da plataforma além das 200 milhas, apresente à CLPC da
ONU as características de tal limite, juntamente com informações técnicas e de
apoio.
A CNUDM também define a Área, que significa o leito do mar, os fundos
marinhos, e o seu subsolo além dos limites da jurisdição nacional. A Área e
seus recursos são patrimônio comum da humanidade. Todos os direitos sobre
os recursos da Área pertencem à humanidade em geral, em cujo nome, atuará
a Autoridade Marítima Internacional. Esses recursos são inalienáveis, no
entanto, os minerais extraídos da Área só poderão ser alienados de
conformidade com a presente Parte e com as normas, regulamentos e
procedimentos da referida Autoridade.
Para melhor compreensão destes conceitos, ver a figura 1 do Anexo 2.
1.1.4 – A estratégia brasileira relativa a CNUDM
Antes mesmo de a CNUDM entrar em vigor, o Brasil, através do Decreto
Lei nº 1098 de 25 de março de 1970 estabeleceu o mar territorial de 200
milhas, sendo relevante citar que nosso país havia iniciado em 1968 a
prospecção de petróleo no mar em águas rasas, na sua plataforma continental.
A partir de 1970, o Brasil participou de todas as reuniões de discussão sobre a
questão do mar. Representantes da Marinha e do Itamaraty estiveram sempre
presentes nos encontros da ONU.
Cerca de um ano após o início das discussões na CNUDM, em 12 de
setembro de 1974, através do Decreto nº 74.557, é criada a CIRM, para
coordenar os esforços de diversos organismos governamentais na integração
34
do mar ao espaço brasileiro em prol do desenvolvimento econômico e social
do País. Logo em seguida, a CIRM editou as diretrizes gerais da PNRM,
baixadas pelo governo brasileiro em 12 de maio de 1980. Em 10 de dezembro
de 1982, o Brasil assina a CNUDM e a ratifica em 22 de dezembro de 1988.
Estrategicamente, considerando-se o longo tempo de trabalho que seria
necessário para efetuar o levantamento da PC nos termos do artigo 76 da
CNUDM, o governo brasileiro, de forma a assegurar imediatamente os seus
direitos, antecipou-se, e, através da Lei nº 8.617 de 4 de janeiro de 1993,
regulamentou as principais normas relativas a soberania, jurisdição, tráfego e
exploração de recursos, bem como a extensão do mar territorial, zona contígua
e zona econômica exclusiva, precavendo-se em deixar em aberto a fixação dos
limites exteriores da plataforma continental.
Em junho de 1987, o Brasil, por iniciativa da CIRM e da MB, já havia
iniciado o trabalho de levantamento da plataforma continental, visando, com
base no já citado artigo 76 da CNUDM, pleitear limites exteriores além das 200
milhas, desde que, segundo a convenção, não ultrapassassem as 350 milhas
marítimas das linhas de base de onde se mede o mar territorial, ou
ultrapassassem as 100 milhas marítimas além da profundidade de 2,5 mil
metros. Este pleito somente poderia ser feito mediante levantamento detalhado
que pudesse ser submetido a apreciação do CLPC da CNUDM no prazo de 10
anos contados a partir da entrada em vigor da convenção. Este projeto
gigantesco, denominado Plano de Levantamento da Plataforma Continental
(LEPLAC), criado pelo Decreto nº 98.145 de 15 de setembro de 1989,
envolveu especialistas da Petrobrás, da comunidade científica e da MB,
representada pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), tendo sido
gastos 17 anos até a sua conclusão em 2004. “Durante toda a fase de
aquisição de dados, que terminou em 1996, foram coletados cerca de 230.000
km de perfis geofísicos (sísmicos, batimétricos, magnetométricos e
gravimétricos) ao longo de toda a extensão da margem Continental Brasileira”
(ALBUQUERQUE, 2005, p. 266).
Outro aspecto interessante relativo a estratégia com relação a aplicação
das regras da CNUDM refere-se aos rochedos, que, conforme o disposto no
35
artigo 121, por não prestarem-se a habitação humana e a vida econômica, não
devem ter zona econômica nem plataforma continental. Há mais de quatro
décadas, portanto muito antes da CNUDM, a Marinha já havia ocupado, em
caráter permanente, a Ilha da Trindade, distante cerca de 540 milhas
marítimas do porto de Vitória (ES). Para efeito de aplicação da CNUDM, a
ocupação de Trindade representa um acréscimo de cerca de 450.000 km2 à
ZEE. Em 1998, o Brasil providenciou a ocupação contínua do Arquipélago de
São Pedro e São Paulo, afastado cerca de 500 milhas do litoral nordeste do
Rio Grande do Norte. Na ilha Belmonte, a principal do arquipélago, foi
instalada uma estação com capacidade para abrigar quatro pesquisadores de
cada vez, que lá desenvolvem mais de 40 projetos científicos. O arquipélago,
vale ressaltar, acha-se posicionado na rota de peixes migratórios, além de
situar-se em região muito rica em recursos do mar. Sua ocupação permanente
representa um acréscimo de mais 450.000 km2 à ZEE brasileira.
Com a conclusão do LEPLAC, o Brasil protocolou, no dia 17 de maio de
2004, a sua proposta de limites da plataforma continental na CLPC da ONU.
Nessa proposta, o Brasil apresentava uma área de 3.540.000 km2 de Águas
Jurisdicionais, e tencionava incorporar mais 950.000 km2, representados por
cinco áreas (cone do Amazonas, cadeia Norte brasileira, cadeia Vitória -
Trindade, platô de São Paulo e margem continental Sul) correspondentes ao
limite exterior da plataforma continental, totalizando, aproximadamente,
4.490.000 km2 de Plataforma Continental Jurídica Brasileira, uma área
equivalente a 52% de sua extensão terrestre (ver figura 2 do Anexo 2).
O Brasil foi o segundo país a apresentar sua proposta a ONU. O
primeiro país foi a Rússia, que teve seu pedido negado.
Após deliberações, em 2007 a CLPC formalizou sua decisão ao
Governo brasileiro, autorizando a incorporação de 712.000 km2, porém com
recomendações segundo as quais o Brasil poderia apresentar nova proposta,
uma vez que a comissão não concordou com as proposições dos limites
referentes ao Cone do Amazonas, às Cadeias Norte - Brasileira e Vitória –
Trindade e à Margem Continental Sul, correspondente a 238.000 km2, cerca de
25 % da área pleiteada. Em março de 2009, o Brasil apresentou novas
36
alegações em defesa de seu pleito, mas a CLPC não alterou a sua decisão.
Assim, ainda em 2009, o Brasil iniciou a coleta de novos dados, que, após
serem, processados e interpretados, subsidiarão a prontificação da nossa nova
proposta, a qual está prevista para 2011. Uma vez concluída, a proposta será
encaminhada à CLPC. Devido à significativa carga de trabalho à qual no
momento está submetida a CLPC, não se pode precisar, no momento, quando
será concluído o exame desta proposta. Com a aprovação definitiva, o Brasil
poderá ser o primeiro país no mundo a ter sua proposta de ampliação de
limites da PC aceita pela ONU.
Preventivamente, o governo brasileiro, por intermédio da CIRM, editou a
Resolução nº 3, de 26 de agosto de 2010, aprovando as recomendações do
LEPLAC para a PC, independentemente do reconhecimento pela CLPC da
CNUDM, visando preservar o direito do Brasil avaliar previamente os pedidos
de autorização para a realização de pesquisas na sua PC além das 200 milhas
náuticas, tendo como base os limites constantes da sua proposta original.
1.2 - As riquezas e potenciais da Amazônia Azul
1.2.1 - O mar como sétimo bioma
Já conhecemos a importância do mar nos aspectos geopolítico,
econômico e de segurança. Neste tópico conheceremos um pouco da sua
importância como bioma brasileiro.
Bioma é um conjunto de diferentes ecossistemas, que possuem certo
nível de homogeneidade. São as comunidades biológicas, ou seja, as
populações de organismos da fauna e da flora interagindo entre si e
interagindo também com o ambiente físico chamado biótopo.
O Brasil detém uma enorme diversidade biológica e por isso é chamado
de país megadiverso, abrigando cerca de 13 % (1,8 milhão de espécies) da
biota mundial, sendo 3.500 espécies de peixes. As Unidades de Conservação
(UC), regulamentadas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação
37
(SNUC), representam a principal estratégia para proteger toda essa riqueza.
Para atender às metas da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB),
estabelecidas em 2002 com prazo para 2012, 10 % da zona costeira tem que
estar protegidos por UC, e 10 % da zona marinha têm que estar protegidas
com áreas de exclusão de pesca, temporárias ou permanentes, integradas a
UC, criadas para proteção dos estoques pesqueiros. Em 2009, somente 0,8 %
do bioma marinho (ZEE) estavam protegidos por UC, sendo este percentual
inferior ao de todos os demais biomas brasileiros. Comparativamente, a
Amazônia Verde tem mais de 27,5 % de sua área sob algum tipo de proteção,
enquanto a meta é de 30 %.
De acordo com o excelente artigo “Pesquisa no Oceano: Desafios e
Oportunidades”, publicado na revista Scientific American, os oceanos, com
seus 1,3 bilhão de km3, possuem riquezas biológicas tais como as
cianobactérias fotossintetizantes, responsáveis por cerca de 40 % da clorofila
existente nas regiões oceânicas com poucos nutrientes, e as fontes
hidrotermais e o seu papel no abrigo de microorganismos capazes de
converter o carbono de fontes de monóxido ou dióxido de carbono em matéria
orgânica. Os oceanos são também um compartimento fundamental dos
principais ciclos geoquímicos (carbono, nitrogênio, fósforo) essenciais para a
manutenção das características que configuram a biosfera, como o clima e a
temperatura. Entre os serviços ecossistêmicos fornecidos pelos oceanos,
temos a produção de oxigênio e de recursos pesqueiros, assim como a
regulagem da temperatura do planeta (80 % do calor proveniente das
mudanças globais já foi absorvido pelos oceanos). A biodiversidade marinha
supre 20 % da proteína animal consumida por 1,5 bilhões de pessoas e 15 %
de outros 4,5 bilhões.
O conhecimento sobre a biodiversidade marinha do Brasil ainda está em
sua primeira infância. Como principais atividades para obtenção de
informações e conhecimento nesta área podemos citar o Programa de
Avaliação do Potencial dos Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva
(REVIZEE), sobre o qual falaremos mais a frente, as operações do navio
hidrográfico Cruzeiro do Sul, investimentos no Programa Arquipélago e Ilhas
38
Oceânicas pelo CNPq, e implementação do Programa Ciências do Mar, pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Uma das formas de proteção contra o mau uso dos recursos pesqueiros
e ecossistemas costeiros são as Áreas Marinhas de Proteção (AMP), por
basearem a gestão dos recursos naturais em objetivos ambientais e sociais,
bem como espaços e público-alvo explicitamente definidos. No caso do Brasil,
destacam-se as Reservas Extrativistas (RESEX), que são AMP onde o direito
de uso dos recursos naturais é concedido com exclusividade às populações
locais, com normas de acesso propostas por um conselho e estabelecidas em
um plano de manejo. Entre 1990 e 2000, foram criadas duas RESEX marinho-
costeiras e, nesta década, já foram criadas mais duas dezenas, sendo que,
infelizmente, boa parte dessas unidades ainda não dispõe de plano de manejo
e estrutura mínima para gestão. A criação de reservas extrativistas não deve
ser propalada como fórmula mágica, requerendo, assim como as AMP em
geral, investimentos continuados, integração com outras políticas públicas e
ferramentas efetivas de gestão marinha e costeira. Os avanços na pesquisa e
conservação da biodiversidade marinha brasileira têm sido lentos, porém
consistentes. O meio marinho do nosso país ainda é uma fronteira pouco
conhecida, reservando um enorme potencial para o desenvolvimento
sustentável do Brasil.
Com base no acima exposto, podemos ver a enorme importância de
assumirmos a gestão dos recursos do mar, desenvolvendo projetos específicos
e provendo meios de fiscalização e controle das atividades, e como ainda não
atribuímos prioridade a essa questão, face ao desnível dos investimentos e
ações destinados aos biomas continentais, em comparação com o marítimo.
1.2.2 - Navegação de longo curso e cabotagem
Segundo Vidigal (2006), o navio é um dos principais elementos
que compõe a moderna cadeia de transportes, sendo esta tanto mais eficaz
quanto seja o emprego da multimodalidade (transporte aquaviário, rodoviário e
39
ferroviário), onde cada um destes modais seja mais competitivo, minimizando
os custos totais de transporte. Neste estudo, apresentaremos maiores detalhes
do modal aquaviário, tratando especificamente do transporte nas águas da
Amazônia Azul, referentes a navegação de longo curso e a navegação de
cabotagem.
A navegação de longo curso é a que se faz com propósitos comerciais,
entre portos de um país e portos estrangeiros, quer sejam marítimos, fluviais
ou lacustres, em navios mercantes. A necessidade de transportar cargas pelo
mar tem aumentado em função do intenso comércio entre os países e pelas
vantagens agregadas por este tipo de transporte, tais como: é mais econômico
a médias e longas distâncias e no transporte de grandes volumes, é menos
agressivo ao meio ambiente (um navio substitui centenas de caminhões),
requer menos investimento em infra-estrutura e é mais seguro no que tange a
roubo de cargas. O frete representa em média cerca de 10 % do custo de um
produto, daí a importância de barateá-lo, aumentando a competitividade. O
modal marítimo é responsável por cerca de 95 % das exportações brasileiras
em peso, e cerca de 83 % em valores, tendo alcançado em 2009 a cifra
estimada de 127 bilhões de dólares. Quanto às importações, o modal marítimo
responde por cerca de 88 % em peso e 69 % em valores, com a cifra estimada
em 2009 de 93 bilhões de dólares. Estudos do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior indicam que o transporte marítimo já é o mais
utilizado no comércio internacional. A navegação de longo curso movimentou
cerca de 530 milhões de toneladas de produtos nos portos brasileiros, 73 % do
total em 2009 (ver figuras 3 e 4 do Anexo 2), e o movimento de embarcações
nos portos organizados e terminais de uso privativo atingiu 19.265
movimentações.
A navegação de cabotagem é a que se realiza entre portos ou pontos do
território de um mesmo país, utilizando exclusivamente a via marítima ou esta
e as vias marítimas interiores, com propósitos comerciais. Com relação a
movimentação de cargas nos portos brasileiros em 2009, a navegação de
cabotagem movimentou 170 milhões de toneladas de produtos, representando
23 % do total, cabendo a navegação interior os 4 % restantes (ver figura 4 do
40
Anexo 2), e o movimento de embarcações nos portos organizados e terminais
de uso privativo atingiu 15.163 movimentações.
Ainda que o objetivo deste tópico seja dar ênfase as riquezas envolvidas
na atividade de transporte marítimo e a sua importância estratégica para o
Brasil, cabe ressaltar que os portos brasileiros ainda se encontram em 41º
lugar no mundo em funcionalidade portuária, fruto das dificuldades
burocráticas para a liberação das cargas e da falta de dragagem, da má
integração entre os vários modais de transporte, especialmente a falta de
investimento nas hidrovias (atendem somente 4 % do total de cargas
transportadas) e da supervalorização das rodovias (atendem 61 % do total das
cargas transportadas), que com suas estradas em estado precário, implicam
em aumento do frete, diminuindo a competitividade dos produtos brasileiros a
serem exportados e aumentando os custos dos importados.
A navegação de cabotagem (atende a 13,6 % do total de cargas
transportadas) tem seu potencial pouco explorado no Brasil, considerando os
mais de 12 mil km navegáveis (costa brasileira e rios amazônicos) e o grande
volume de cargas movimentadas por distâncias superiores a 1.000 km, isto
sem considerar as importantes implicações da consolidação do Mercosul para
este segmento. O transporte de carga geral por cabotagem no Brasil está
sendo ocupado por empresas estrangeiras, uma vez que a frota nacional
existente é incapaz de atender toda a demanda do mercado, abertura essa
que seria impensável em outros países. Quanto a isso, Vidigal (2006) ressalta
a importância estratégica de possuir uma significativa frota mercante de
bandeira nacional exemplificando com o seu emprego como frota de apoio e
manutenção do fluxo logístico na campanha inglesa das Malvinas e na guerra
do Golfo, na coligação com os Estados Unidos da América (EUA).
“Não é demais citar a importância do transporte marítimo como fator de
segurança nacional. Lembremos que, nos momentos de crise e conflito, o mar
é o grande palco onde muitas das ações se desenvolvem. Tais ações afetam
todos os setores nacionais, sejam políticos, estratégicos ou econômicos, uma
vez que a circulação de bens e mercadorias é feita majoritariamente por via
marítima” (VIDIGAL, 2006, p. 106).
41
Os órgãos federais mais atuantes na área de transportes marítimos são
o Ministério dos Transportes, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários e
a MB, que tem papel de fundamental responsabilidade e relevância, devido ao
Comandante da Marinha ser a Autoridade Marítima, respondendo pela
Diretoria de Portos e Costas (DPC), que atua na fiscalização para o
cumprimento da legislação internacional referente à segurança do tráfego
aquaviário, inspeção naval, segurança das embarcações, praticagem e
combate a poluição das águas, e pela Diretoria de Hidrografia e Navegação
(DHN), que produz as cartas náuticas, instala e mantém a sinalização náutica e
faz previsões meteorológicas e oceanográficas.
1.2.3 - Pesca - A guerra da lagosta
A despeito do tamanho do nosso litoral, as condições ambientais das
águas marinhas sob jurisdição nacional são típicas de regiões tropicais e
subtropicais, ou seja, dominadas por águas de temperatura e salinidade
elevadas, além de baixas concentrações de nutrientes. Encontramos locais
com melhor produtividade, como é o caso da presença de correntes marinhas
ricas em nutrientes, associada às zonas de ressurgência, na Região
Sudeste/Sul. Nesse caso, observa-se maior abundância de recursos
pesqueiros. De forma similar, a boa produtividade identificada na região norte
se dá em função da elevada quantidade de matéria orgânica oriunda da
descarga do rio Amazonas, influenciando toda a zona oceânica daquela
região.
Ainda que em caráter preliminar, informações do Programa REVIZEE,
apontam para a inexistência, na ZEE brasileira, de estoques pesqueiros de
grande magnitude. Mesmo assim, o REVIZEE apresenta indícios de que é
possível o aumento da produção pesqueira nacional pela explotação de novos
recursos, que poderão abrir novas frentes de trabalho, diversificando o uso do
esforço de pesca e incrementando a produção pesqueira marinha.
42
A produção brasileira total de pescado aumentou 25% nos últimos oito
anos, passando de 990.899 toneladas anuais para 1.240.813 no ano de 2009,
enquanto que o crescimento mundial foi de 14 %, porém esta produção ainda
representa apenas 0,76 % da mundial. A aquicultura apresentou, no mesmo
período, uma elevação 49 %, passando de 278.129 toneladas/ano para
415.649 toneladas/ano, enquanto que o crescimento mundial no período foi de
45 %, porém a nossa produção representa apenas 0,5 % da mundial. A
produção da pesca extrativa, tanto marítima quanto continental (rios, lagos,
etc), passou no mesmo período de 712.144 toneladas para 825.164
toneladas/ano, um aumento em torno de 15,8 %, sendo que esta produção
representa 0,9 % da mundial. A pesca marítima representa 71 % da extrativa
total. A relação entre a aquicultura e a pesca extrativa, no Brasil, está em 50 %,
enquanto que no mundo esta relação é de 75 % (ver figura 5 do Anexo 2).
A análise da balança comercial do pescado nos últimos anos evidencia
a tendência de déficits comerciais que se processa desde 2006, após cinco
anos seguidos de superávits (2001 a 2005). De acordo com o documento
“Balança Comercial Brasileira de Pescado – série 2007/2010” (ver figura 6 do
Anexo 2), divulgado pelo Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura
(CONEPE), a importação de pescado em 2009 foi de 239.000 toneladas, com
a grande maioria na forma de salgado/filé/eviscerado, de forma que, utilizando-
se um fator de 0,6 para transformar o pescado importado processado em
pescado inteiro, teremos um equivalente de 398.000 toneladas. Assim,
considerando-se que em 2009 as capturas totais brasileiras foram de
1.241.000 toneladas, as importações em 2009 representaram 32% do total
produzido no Brasil. Em 2008, as importações representaram 30,7 % do total
produzido, e em 2007, 32,6 %, mostrando que a relação entre importações e
produção vem se mantendo em cerca de 32 %, porém as importações estão
aumentando a uma taxa de 9,6 % nos últimos dois anos. Com relação às
exportações, estamos no caminho inverso, tendo exportado, em toneladas,
59.000 em 2007, caindo para 46.000 em 2008, 37.000 em 2009 e com
previsão de 30.000 em 2010, com uma perda média anual de 20 %. Com isso,
o déficit da balança comercial vem aumentando progressivamente, sendo em
43
2009 106 % maior do que em 2007, com projeção de aumento em 2010 de
51,9 % em relação a 2009, o que levaria a diferença entre 2010 e 2007 para
213 %. Em 2009 gastamos 520 milhões de dólares (FOB) para manter o nosso
mercado, e projetamos gastar 790 milhões de dólares em 2010.
Comparando-se o valor médio das importações entre 2007 e 2010,
somente até junho, constata-se um aumento de 33 %, enquanto que este valor
para as exportações caiu 3 %, mostrando que, além do crescimento das
importações, estamos importando produtos de maior valor agregado, o que
significa um aumento da mão-de-obra externa, agravado pela queda do valor
agregado das nossas exportações.
Quanto ao consumo per capita, a base de cálculo considera o
equivalente a pescado inteiro e a população total, que é de 191 milhões de
habitantes. Considerando que a produção nacional, em toneladas, foi de
1.241.000 em 2009 (pescado inteiro), que a importação foi de 239.000 e a
exportação foi de 37.000, que transformadas em pescado inteiro representam,
em toneladas, respectivamente 398.000 e 62.000, podemos calcular o
consumo per capita do Brasil em 2009, que é de 8,26 kg/pessoa. Comparado
ao índice de 2007, que era de 7,2 kg/pessoa, houve um crescimento de 14,7
%, sendo que a média mundial é de 17,0 kg/pessoa. A “Food and Agriculture
Organization” (FAO) projeta para 2030 um consumo desejado de 22,5
kg/pessoa/ano, apontando um futuro promissor para este mercado.
Com base no supracitado, conclui-se que, para atingir a média de
consumo mundial em 2009, não necessitar importar e manter as exportações
nos níveis requeridos precisaríamos produzir 3.247.000 toneladas, as quais
devemos somar as exportações estimadas em 37.000, que representam
61.670 toneladas de pescado inteiro, totalizando 3.308.670 toneladas.
Descontadas a produção deste ano e as exportações, teríamos que o aumento
de produção em 2009, para atingir o consumo de 17,0 kg/pessoa, deveria ter
sido cerca de 2.000.000 toneladas, que se tivesse que ter sido importada,
representaria uma despesa de 5,98 bilhões de dólares.
Cabe ressaltar que atingir estas metas exigirá um investimento
considerável por parte do governo e empresas privadas do setor, bem como a
44
substituição gradativa do modelo de pesca artesanal para um modelo
industrial. A frota pesqueira marinha e estuarina que opera no litoral brasileiro,
tanto na zona costeira quanto na pesca oceânica, está estimada em torno de
30.000 embarcações, 10% das quais, consideradas de médio e grande porte, e
conhecidas como frota industrial, o que significa que cerca de 27.000
embarcações são utilizadas pela pesca dita artesanal, composta por
embarcações de pequeno porte (jangadas, canoas, botes, etc.) que, pelas
suas características, têm pouco raio de ação e, conseqüentemente, limitada
autonomia de mar. A frota estrangeira arrendada apresenta características
distintas e diferenciadas da frota nacional, variando conforme a modalidade de
pesca e a espécie alvo a capturar. No geral, apresentam-se com
características médias superiores às da frota brasileira, e com melhor nível
tecnológico, seja de captura, ou de acondicionamento a bordo.
No que tange a produção, em vista da necessidade de controle da
pesca extrativa para evitar a sobreexplotação, o caminho apontado é o da
aquicultura - a exemplo do continente Asiático, em especial a China que, em
2008, respondeu por cerca de 63 % da produção mundial - com a Amazônia
Azul oferecendo amplas oportunidades para o desenvolvimento deste negócio.
Na outra ponta do processo produtivo, está a fiscalização e o controle das
áreas de pesca, de forma a impedir a sobreexplotação dos recursos garantindo
a época do defeso das espécies, papel este a ser exercido principalmente pela
MB, que deverá possuir meios que permitam um patrulhamento eficaz.
Diante deste cenário, podemos aferir a importância da pesca para o
Brasil e o quanto precisa melhorar a produção, fiscalização e controle de uma
atividade tão importante em uma área tão extensa como a nossa Amazônia
Azul.
Para encerrar com um exemplo desta importância, cabe citar a chamada
guerra da lagosta que, mesmo tendo ocorrido há muito tempo, ainda encerra
os mesmos pré-requisitos de um evento que pode acontecer a qualquer
momento, conforme relato a seguir obtido na WIKIPEDIA: “A Guerra da
Lagosta, como denominado jocosamente à época pela imprensa, foi um
contencioso entre os governos do Brasil e da França, que se desenvolveu
45
entre 1961 e 1963. O episódio ocorreu devido a captura ilegal de lagostas, por
parte de embarcações de pesca francesas, em águas territoriais no litoral
Nordeste do Brasil. Alertada por pescadores brasileiros, uma embarcação da
Marinha do Brasil flagrou barcos de pesca franceses pescando lagosta
clandestinamente na costa de Pernambuco, em águas territoriais brasileiras,
sendo convidados a se retirar. Na imprensa francesa, diante dos protestos dos
pescadores de lagostas sobre os seus supostos direitos de pesca, travou-se
um aceso debate sobre o enquadramento da lagosta enquanto item de pesca e
outras considerações sobre sua classificação como bem patrimonial do Brasil.
À época, a crise extrapolou as relações diplomáticas entre os dois países, de
tal modo que ambos chegaram a mobilizar os seus recursos bélicos. O
primeiro a fazê-lo foi a França, que deslocou um contingente naval, mantido
em prontidão, para uma área vizinha à região em conflito. No Brasil, a opinião
pública percebeu a situação como uma agressão da França aos direitos de
soberania brasileiros. O presidente João Goulart (1961–1964), após reunião do
Conselho de Segurança Nacional, determinou o deslocamento, para a região,
de considerável contingente da Esquadra, apoiado pela Força Aérea Brasileira.
Em terra, o 4° Exército, com sede em Recife, então sob o comando do general
Humberto de Alencar Castello Branco, também se mobilizou. “A mobilização foi
rápida mas intempestiva, revelando as grandes restrições materiais dos nossos
navios, principalmente no aspecto logístico, na manutenção precária e na
necessidade de muitos reparos. As restrições de munição e torpedos eram tão
críticas que não permitiam aos navios manter um engajamento por mais de
trinta minutos... A França imaginava que a postura firme do governo brasileiro
estaria sendo respaldada pelos Estados Unidos, num apoio não declarado. Era
uma suposição equivocada. Na época, o Departamento de Estado americano
enviou mensagem ao Brasil lembrando que nossos navios de guerra – na
época arrendados aos Estados Unidos – por contrato não poderiam se
envolver em conflito com países amigos dos norte-americanos. Ordenava por
isso que eles voltassem imediatamente às suas bases. O Brasil recusou-se a
atender ao pedido americano, mencionando o Tratado Interamericano de
Assistência Recíproca (TIAR) e usando um argumento caro aos brios militares
46
daquele país: por ocasião do ataque à base de Pearl Harbor, em 1941, o Brasil
declarara guerra ao Japão, em solidariedade aos Estados Unidos” (Claudio da
Costa Braga, Revista de História da Biblioteca Nacional, 2009).
Embora a frase "le Brésil, ce n’est pas un pays serieux" ("O Brasil não é
um país sério"), seja tradicionalmente atribuída ao então presidente da França,
general Charles de Gaulle, neste contexto, na realidade foi pronunciada pelo
embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza Filho, referindo-se à
inabilidade com que o governo brasileiro conduzia este contencioso.
À época, na imprensa francesa, suscitou-se uma polêmica curiosa: se a
lagosta andava ou nadava. Caso nadasse, poder-se-ia considerar que estava
em águas internacionais, o que favoreceria a França; caso andasse, estaria
em território nacional brasileiro, uma vez que se admitia à época que o fundo
do mar pertencia ao Estado Brasileiro. Cabe ressaltar que discussão girava em
torno da interpretação do artigo 2 da Convenção sobre a Plataforma
Continental de Genebra, assinada em 1958, vigente à época.
No debate diplomático entre o Brasil e a França, a comissão brasileira
foi assessorada pelo então Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva,
especialista da Marinha do Brasil na área de Oceanografia. Durante os
debates, os especialistas da França defendiam que a lagosta era apanhada
quando estava nadando, ou seja, sem contato com o assoalho submarino
(considerado território brasileiro), momento em que, longe do contato com a
plataforma continental, poderia ser considerado um peixe. Nesse momento, o
Almirante Paulo Moreira tomou a palavra, argumentando que para o Brasil
aceitar a tese científica francesa de que a lagosta podia ser considerada um
peixe quando dá seus "pulos" se afastando do fundo submarino, então teria,
da mesma maneira, que aceitar a premissa do canguru ser então considerado
uma ave, quando dá seus "pulos", ou seja, se lagosta é peixe, então canguru é
passarinho. A questão foi assim encerrada a favor do Brasil.
“A crise foi uma demonstração de que, mesmo entre países
tradicionalmente amigos, os Estados não estão isentos de serem ameaçados,
até pelo uso da força, quando estão em jogo interesses econômicos...
Descobriu-se recentemente que barcos japoneses não-autorizados –
47
verdadeiros navios-fábrica – freqüentavam as águas brasileiras para capturar
espécies valiosíssimas, como o calamar, um molusco de águas geladas
vendido como iguaria, ou o caranguejo de águas profundas, comercializado
nos mercados de Tóquio a mais de R$ 60 o quilo.” (Claudio da Costa Braga,
Revista de História da Biblioteca Nacional, 2009).
O episódio supracitado, ainda que contenha pitadas de ironia, é
emblemático quanto às circunstâncias e realidades envolvidas. Constata-se
que a existência de acordos internacionais não é garantia de entendimento,
fazendo com que um Estado que interprete litígios de ordem econômica como
questão de segurança ou direito de soberania, não pense duas vezes em
utilizar o poder militar como forma de dissuasão. Nossa frota pesqueira
mostrou não possuir capacidade de exploração dos recursos disponíveis, o
que viabilizou a investida de um país mais bem preparado, sendo que este
mesmo dispositivo é previsto atualmente na CNUDM. Nossas forças não
possuíam capacidade real de enfrentar a ameaça, devido à precariedade dos
meios navais, bem como dependiam da boa-vontade de terceiros (EUA), por
operarem equipamentos não fabricados no país. Qualquer semelhança com a
situação atual no Brasil não é mera coincidência.
1.2.4 - Nódulos polimetálicos e crostas minerais
Segundo Ferreira (2008), com o surgimento de novas técnicas e o
financiamento por inúmeros países, obteve-se um maior conhecimento a
respeito da potencialidade mineral dos oceanos. Dos recursos minerais
existentes nas profundezas oceânicas, os que primeiro despertaram o
interesse de empresas e governos foram os nódulos polimetálicos, quando em
1950, John Mero, pesquisador da Universidade de Berkeley, analisou sua
rentabilidade, demonstrando que o teor de níquel, cobre, cobalto e manganês
existentes eram iguais ou superiores aos encontrados na exploração em terra.
Os nódulos polimetálicos ou nódulos de manganês estão presentes na
maior parte dos oceanos do mundo, cobrindo em alguns lugares, mais de 70%
48
do fundo marinho. São concreções rochosas formadas por camadas
concêntricas de hidróxidos de ferro e de manganês em torno de um núcleo,
formados pelo processo de sedimentação dos oceanos. De forma geral, são
objetos esferóides de cor enegrecida, possuindo tamanho e pesos variáveis e
são encontrados em profundidades que variam de 3000 a 5000 metros.
As crostas cobálticas constituem-se num outro tipo de recurso mineral
que incorpora metais de origem continental e marinha, encontrados em todos
os oceanos do mundo, precipitando a partir das massas de águas profundas
em forma de camadas delgadas de até 25 centímetros de espessura sobre
rochas vulcânicas de montes submarinos e cordilheiras vulcânicas
submergidas a profundidades de 400 a 4.000 metros. Segundo estimativas, a
exploração destes minerais poderia abastecer até 25% do mercado mundial de
cobalto, minério utilizado, dentre outras coisas, na fabricação de materiais
metálicos resistentes à corrosão. Estima-se que cerca de 6.350.000 km² (1,7%
do fundo do mar) estão cobertos de crostas de alto conteúdo de cobalto, o que
equivale a, aproximadamente, um bilhão de toneladas.
Além do cobalto, as crostas são uma importante fonte potencial de
muitos outros elementos como o titânio, césio, níquel, platina, manganês,
fósforo, tálio, telúrio, zircônio, tungstênio, bismuto e molibdênio. As crostas
possuem um alto teor de cobalto, de até 1,7%, e as vastas extensões de
montes submarinos individuais podem ter crostas com um conteúdo médio de
cobalto de até 1%. As proporções de cobalto são muito mais elevadas que as
das minas de terra, cujo conteúdo oscila entre 0,1 e 0,2%.
Os sulfetos polimetálicos constituem-se em outra variedade de recurso
mineral existente no fundo do mar. Descobertos em 1979, os sulfetos se
depositam ao redor das fontes de águas termais situadas nos fundos marinhos
sendo aquecidas pelas colunas de magma que ascendem por debaixo de uma
cordilheira vulcânica submergida. O encontro da água quente sulforosa com a
água do oceano, que está em temperatura próxima aos dois graus centígrados,
produz a precipitação sobre a superfície dos fundos marinhos. Desta maneira,
os metais que se encontram em pequenas quantidades nas rochas vulcânicas
são dissolvidos, precipitando outros metais presentes na água e concentrando
49
elementos como o cobre, ferro, zinco, prata e ouro em forma de depósitos de
sulfetos marinhos a uma profundidade média de 1 até 4 mil metros.
Atualmente, é conhecida a existência de mais de cem jazidas destes
minerais, sendo estimado que apenas 5% dos oceanos de todo o mundo foi
objeto de estudos detalhados. Dos depósitos conhecidos, cerca de 10 %
teriam porte e volume suficiente para se realizar a explotação.
A sistemática adotada pela CNUDM para a exploração destes recursos
minerais consiste numa divisão entre fases, cada uma possuindo
procedimentos diferenciados, destinados a regular e organizar a mineração
nos fundos marinhos. A fase de prospecção é a que se refere a busca por
jazidas de nódulos polimetálicos na Área, incluindo a estimação de sua
composição, tamanho, distribuição e valor econômico, não garantindo nenhum
direito de exclusividade na área prospectada.
Quanto à exploração, é compreendida como a busca por jazidas de
nódulos polimetálicos na Área, derivada de direitos exclusivos sobre o bloco a
ser explorado, englobando as atividades de análise das jazidas, ensaio do
sistema de extração, transporte, além da realização de estudos técnicos,
ambientais e econômicos.
Em relação à fase de aproveitamento, denominada explotação, se
entende como a extração e recuperação de minerais na Área com finalidades
comerciais, incluindo a construção e a utilização de sistemas de extração
mineira, o tratamento e o transporte da produção, como também a
comercialização dos respectivos minerais.
A sustentabilidade e a manutenção do equilíbrio ecológico do meio
ambiente também são aspectos norteadores para a realização das atividades
na região dos fundos marinhos, sendo previsto na CNUDM os requisitos de
proteção e preservação do meio marinho. Cabe a Autoridade Internacional de
Fundos Marinhos (AIFM) fiscalizar e tomar as medidas cabíveis para o
cumprimento destes requisitos. Todos os empreendedores de atividades na
região dos fundos marinhos deverão adotar mecanismos necessários para
prevenir, reduzir e controlar a poluição e outros riscos ecológicos ao meio
marinho.
50
Nota-se nos últimos anos o envolvimento de dezenas de empresas de
mineração e agências governamentais, em atividades relacionadas à
exploração mineral de nódulos polimetálicos do fundo oceânico, submetendo
seus planos de trabalho à AIFM, de maneira que, atualmente, mais de
1.800.000 Km² estão sendo explorados, o que equivale a uma área superior a
20% de toda a superfície do território brasileiro, percentual que tende a
aumentar, assim que a AIFM concluir seus trabalhos a respeito da regulação
quanto aos sulfetos polimetálicos e às crostas cobálticas.
Dado a situação atual da economia mundial, que se encontra cada vez
mais entrelaçada e integrada, as explorações minerais oceânicas encontram-
se em condições de poder influenciar nos mercados de comércio dos recursos
minerais, atingindo interesses diretos, tanto de produtores, quanto de
consumidores. Outrossim, a exploração dos fundos marinhos além das
jurisdições nacionais não se refere a uma atividade de interesse restrito aos
que se encontram em condições de exercê-la, tendo repercussões que
atingem a perspectiva global, haja vista a consideração do fundo do mar como
Patrimônio Comum, cuja utilização repercute nos interesses de toda a
humanidade.
Neste contexto, observa-se que o interesse quanto aos recursos
minerais dos fundos marinhos, extrapola a vertente exclusivamente econômica,
tendo em vista a importância social, política e ecológica destas atividades,
cabendo a toda a humanidade, através da AIFM, assegurar a equidade e a
racionalidade em seu aproveitamento garantindo a manutenção da
sustentabilidade, possibilitando a repartição de seus benefícios e a satisfação
das necessidades das futuras gerações.
De acordo com artigo do jornal O Globo de 31 de março de 2008 (PAUL,
Jornal O Globo, p. 16), no Brasil, há pelo menos dezessete variedades de
minérios, entre ferro, níquel, carvão, estanho, ouro, diamante, calcário, areia,
fósforo e cobre.
Algumas iniciativas já foram tomadas para tentar mensurar a área e
estabelecer estratégias de exploração. Em 1997, foi lançado o Programa de
Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica
51
Brasileira (REMPLAC), mas só em 2005 ele começou efetivamente a se
desenvolver. Este ano, estão previstas ainda sondagens no litoral da Região
Sul, para identificação de fósforo e metais pesados, e no Espírito Santo.
Um dos programas já implementados prevê a sondagem da existência
de ouro na região da foz do Rio Gurupi, na divisa entre o Maranhão e o Pará,
numa parceria entre o Serviço Geológico do Brasil – Companhia de Pesquisa
de Recursos Minerais (CPRM) e a Universidade Federal do Pará. O CPRM
também está estudando a existência de diamantes no Sul da Bahia, próximo à
foz do Rio Jequitinhonha.
Na Região Sul, por exemplo, existem reservas de fosforita, rocha rica
em fósforo. A exploração delas é tida como uma atividade urgente e de grande
importância. O Brasil importa cerca de US$ 1 bilhão de fosfato por ano para
correção de solo agrícola e ração animal. O fósforo marinho é muito mais
concentrado do que o explorado em terra firme.
Já existem pesquisas apontando a viabilidade econômica de exploração
de areia e cascalho em praticamente todo o litoral brasileiro, em distâncias que
vão de algumas centenas de metros a dezenas de quilômetros. Segundo os
geólogos, esses materiais são úteis na reposição e contenção da costa
brasileira, anulando os efeitos da erosão do mar. Eventualmente, a areia e o
cascalho também ajudariam na recuperação de praias e podem suprir a
demanda da construção civil em cidades costeiras, reduzindo a retirada do
fundo dos rios.
O Brasil tem também a maior plataforma de calcário marinho do planeta,
entre o Rio Pará e Cabo Frio (RJ). Formado por algas mortas há milhares de
anos e conchas, esse calcário é considerado superior ao que é explorado em
terra firme. O país ainda importa esse mineral, usado em fertilizantes agrícolas,
implantes ósseos, indústrias de cosméticos e dietéticos, nutrição animal e
tratamento da água de lagos. Nas últimas décadas foram feitos 150 pedidos
para lavra subaquática de areia e calcário, mas até agora só um direito de
lavra foi autorizado - no Espírito Santo.
Atualmente, a tecnologia para exploração mineral em alto mar é toda
estrangeira, mas o Brasil tem um trunfo: a técnica de exploração de petróleo e
52
gás em águas profundas, desenvolvida pela Petrobras, que pode ser adaptada
para o setor de mineração marinha.
Recentemente, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, manifestou
preocupação com relação ao prazo de dois anos (até 2011) estabelecido pela
AIFM para terminar a regulamentação da exploração das crostas cobaltíferas e
sulfetos polimetálicos, quando então iniciará a distribuição das concessões no
Atlântico Sul aos Estados que tiverem efetuado pesquisas sobre estas jazidas.
O Ministro preocupa-se especialmente com a chamada “elevação do Rio
Grande”, localizada na zona oceânica em frente ao Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, que se encontra além da PC, e que já vem sendo objeto de pesquisa
de entidades alemãs e russas. Caso sejam autorizadas a explorar estes
recursos, poderão ser reservados blocos de até 100 km2 para a instalação de
plantas de exploração e beneficiamento dos minerais, sendo permitido
estabelecer zonas de segurança com apoio militar para garantir o
desenvolvimento das atividades. Naturalmente, esta situação, em região tão
próxima da costa brasileira, não é desejável, dificultando as rotas marítimas de
interesse do Brasil, além dos aspectos estratégicos relativos a defesa do nosso
país.
Em razão disto, o Ministro da Defesa tem apoiado a iniciativa do
Ministério das Minas e Energia na estratégia de atrair países africanos e sul-
americanos para a realização de um levantamento de dados científicos sobre a
geografia do Atlântico Sul e Equatorial, bem como para a realização pelo Brasil
de pesquisas sobre crostas cobaltíferas na elevação do Rio Grande e uma
pesquisa-piloto sobre depósitos minerais e biodiversidade nos arquipélagos de
São Pedro e São Paulo.
Com base no acima exposto, é possível observar a extrema importância
de planejarmos cuidadosamente e implementarmos o quanto antes linhas de
ação que permitam ao Brasil garantir a exploração futura dessas riquezas e,
com isso, evitar a presença de Estados estrangeiros em regiões tão próximas a
nossa costa, que venham a representar um aumento das nossas
vulnerabilidades.
53
1.2.5 - Petróleo e gás natural
De acordo com a revista eletrônica ComCiência (2002), datam de 1864,
as primeiras tentativas de encontrar petróleo no Brasil, sendo que apenas em
1897 o fazendeiro Eugênio Ferreira de Camargo perfurou, na região de Bofete
(SP), o que foi considerado o primeiro poço petrolífero do país, muito embora
apenas 2 barris tenham sido extraídos. Nesta época o mundo conheceu os
primeiros motores à explosão que expandiriam as aplicações do petróleo,
antes restritas ao uso em indústrias e iluminação de residências ou locais
públicos. No final do século XIX, dez países já extraíam petróleo de seus
subsolos.
As iniciativas mais importantes dos órgãos públicos para a organização
e profissionalização da atividade de perfuração de poços no país foram a
criação do Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro (SGMB), em 1907, e do
Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), órgão do Ministério de
Agricultura, em 1933. Muito embora as iniciativas tenham sido importantes
para atrair geólogos e engenheiros estrangeiros e brasileiros para pesquisar
nos estados do Alagoas, Amazonas, Bahia e Sergipe, a falta de recursos,
equipamentos e pessoal qualificado dificultaram a chegada de resultados
positivos.
Durante a década de 30, já se instalava no Brasil uma campanha para a
nacionalização dos bens do subsolo, em função da presença de trustes que se
apossavam de grandes áreas de petróleo e de minérios, como o ferro. Nesta
ocasião, o escritor Monteiro Lobato desempenhou importante papel engajando-
se na defesa das riquezas naturais do Brasil e na sua capacidade de produzir
petróleo, enviando cartas ao presidente Getulio Vargas, elaborando artigos
para jornais e ministrando palestras para promover a conscientização popular e
a necessidade de defesa da soberania nacional. O interesse do autor pelo
assunto datava de 1927, quando viajou aos Estados Unidos e associou o
desenvolvimento econômico daquele país, com suas imensas fábricas de
automóveis, à exploração do petróleo.
54
Curiosamente, o primeiro poço de petróleo perfurado no País foi
encontrado na cidade de Lobato, na Bahia, que nada a tinha a ver com o
escritor. Em 1939, uma sonda enviada pelo DNPM jorraria petróleo
abundantemente, sendo este considerado o primeiro poço comerciável do
país, dois anos depois. Ainda em 1939, o governo de Getúlio Vargas instala o
Conselho Nacional do Petróleo (CNP), com a primeira Lei do Petróleo do país,
para estruturar e regularizar as atividades envolvidas, desde o processo de
exploração de jazidas até a importação, exportação, transporte, distribuição e
comércio de petróleo e derivados. Este decreto tornou o petróleo patrimônio da
União.
Nos anos 50, a pressão da sociedade e a demanda por petróleo se
intensificavam, com o movimento de partidos políticos de esquerda que lançam
a campanha "O petróleo é nosso". O governo Getúlio Vargas responde com a
assinatura, em outubro de 1953, da Lei 2004 que instituiu a Petróleo Brasileiro
S.A (Petrobras) como monopólio estatal de pesquisa, lavra, refino e transporte
do petróleo e seus derivados. Infelizmente, Monteiro Lobato já não vivia mais
para ver o principal marco da luta que travara.
Em função do desenvolvimento industrial e da construção de rodovias
que interligavam as principais cidades brasileiras, o consumo de combustíveis
fósseis aumentou significativamente na década de 50. Nesta época, a
produção nacional era de apenas 2.700 barris por dia, com duas refinarias
(Mataripe, na Bahia, e Manguinhos, no Rio) e vinte petroleiros, enquanto o
consumo totalizava 170 mil barris diários, quase todos importados na forma de
derivados (combustível já refinado).
Em 1961, os resultados de um relatório divulgado pelo geólogo norte-
americano Walter Link, contratado pela Petrobras, concluíram pela inexistência
de grandes acumulações petrolíferas nas bacias sedimentares brasileiras.
Ainda assim, a Petrobrás cresceu num ritmo constante e, em 1961, instalou
seu primeiro posto de abastecimento para automóveis, em Brasília. Em 1967,
criou sua primeira subsidiária, a Petrobras Química (Petroquisa) e em 1971
criou a BR Distribuidora.
55
Até 1968, os técnicos vindos de outros países foram, gradativamente,
sendo substituídos por técnicos brasileiros, que eram enviados ao exterior para
se especializarem. Em 1968, a área de exploração atingiu Guaricema (SE), o
primeiro poço offshore, e o Campo de São Matheus (ES), em 1969. Mas
Guaricema, fruto de investimentos em dados sísmicos e sondas marítimas,
injetou novos ânimos nas perspectivas de um Brasil auto-suficiente, que
passaria a redirecionar suas pesquisas agora para o mar. Ao final de 1968, a
indústria brasileira produzia mais de 160 mil barris por dia.
Devido a alta competitividade do mercado internacional, frente ao
declínio das reservas em terra e a baixa produtividade no mar, incapaz de
atender a demanda crescente, a produção nacional estagnou-se, abrindo
caminho para a importação. Neste contexto, em 1972, é criada a Braspetro,
com a finalidade de buscar alternativas de abastecimento de petróleo em
outros países.
A primeira crise do petróleo, em 1973, modificou profundamente as
relações de poder das empresas multinacionais, dos países consumidores e
dos países produtores de petróleo. Em meio à crise mundial, em 1974, o Brasil
descobre o campo marítimo de Ubarana, na bacia de Potiguar (ES) e o campo
de Garoupa, na Bacia de Campos (RJ), que marcaria o início de uma segunda
fase dentro da Petrobras, aquela em que a empresa se diferenciaria pela
exploração do petróleo em águas profundas e ultra-profundas. Em função da
bacia de Campos, a produção petrolífera brasileira chega aos 182 mil barris ao
dia, sendo reconhecida até os dias atuais como a mais produtiva bacia do país
e uma das maiores produtoras de petróleo de águas profundas do mundo.
Os primeiros tratados de risco são assinados em 1975, abrindo as
portas para as multinacionais explorarem petróleo com a promessa de
trazerem um aporte financeiro que fosse significativo para o país. Apesar das
empresas estrangeiras terem o direito de atuar em 86,4% das bacias
sedimentares do país, deixando apenas o restante nas mãos da Petrobras, os
contratos não produziram e nem trouxeram o capital que prometeram.
Em 1978, a segunda crise do petróleo volta a mexer com as relações
internacionais e o cenário petrolífero brasileiro parecia estar condenado.
56
Porém, ao contrário do que se esperava, o choque do petróleo e os preços
quintuplicados, sacudiram a indústria nacional, forçando grandes investimentos
na prospecção de jazidas em território brasileiro para reduzir a dependência
externa. Os primeiros frutos surgiram em 1981, quando a produção marítima
superou a terrestre e, em 1984, quando a produção brasileira se iguala à
importada, com meio milhão de barris diários.
A promulgação da Constituição em 1988 estabeleceu o fim dos
contratos de risco. Neste momento os geólogos e engenheiros da Petrobras já
utilizavam a tecnologia da sísmica tridimensional (3D) de maneira rotineira, o
que diminuiu o custo exploratório e trouxe importantes descobertas de gás e
petróleo nas bacias de Santos (SP), do Solimões (AM) e na região do rio
Urucu.
A Lei do Petróleo, de 1997, inicia uma nova fase na indústria petrolífera
brasileira. Entre as mudanças está a criação da Agência Nacional do Petróleo
(ANP), que substituiu a Petrobras como órgão executor do gerenciamento do
petróleo no país e exerce as atividades regulatórias, e o Conselho Nacional de
Política Energética (CNPE) desempenha a função de definição da política
energética. Esta Lei permitiu a formação de parcerias com empresas
interessadas em participar do processo de abertura do setor, numa tentativa de
trazer novos investimentos para o país.
Em palestra pronunciada no II Seminário de Direito Internacional e
Geopolítica do Petróleo, realizado na EGN em julho de 2010, o Professor Lier
Pires Ferreira, da Universidade Gama Filho, dissertando sobre os resultados
do modelo adotado pelo Brasil, afirmou que “O arcabouço institucional do
Brasil para o setor de petróleo e gás natural – ao atender aos objetivos de
ampliação do conhecimento sobre o potencial do País em hidrocarbonetos e,
como resultado, de incremento das reservas e da produção – constitui hoje
uma referência para os estudos e debates em vários países sobre a reforma
do papel do Estado nesse setor. As Rodadas de Licitações também têm efeito
positivo e contínuo sobre as receitas públicas nos níveis federal, estadual e
municipal. Cerca de 900 municípios e pelo menos 10 estados da Federação,
além da União, recebem royalties mensalmente. Além dos royalties, as
57
concessionárias estão sujeitas ao pagamento de Participação Especial,
compensação financeira extraordinária estabelecida pela Lei do Petróleo para
campos de grande volume de produção ou de grande rentabilidade, e ao
pagamento pela ocupação ou retenção de área. Desde 2005, a ANP vem
incentivando o ingresso de pequenas e médias empresas no setor de
produção de petróleo e gás natural por meio da concessão, mediante Rodadas
de Licitações específicas, de áreas inativas com acumulações de petróleo e
gás natural com interesse marginal para grandes empresas. A reativação dos
chamados campos marginais de petróleo e gás natural tem impacto positivo no
desenvolvimento econômico e social de regiões distantes dos grandes centros,
em particular, na geração de empregos e renda” (www.egn.mar.mil.br).
“As descobertas do pré-sal motivaram o Governo Federal a propor, por
intermédio do PL nº 5938 de 2009, um novo modelo para a exploração e a
produção nestas áreas, baseado nos contratos de partilha da produção, que
está em discussão no Congresso Nacional. O novo modelo – em geral usado
quando há exploração com baixo risco e elevado potencial –, na medida em
que prevê a apropriação pelo Estado do óleo extraído, permite um controle da
produção que se ajuste ao crescimento da indústria, prevenindo assim a
chamada “doença do petróleo”. A proposta do Governo também prevê a
criação de um Fundo Social para as receitas advindas da atividade petrolífera,
que permitirá investimentos maciços na educação e em projetos de
desenvolvimento regional. Dessa forma, o novo modelo para o setor deverá
garantir a industrialização do Brasil, proporcionar maior participação da
sociedade na renda proveniente do petróleo e a aplicação desse recurso na
melhoria dos indicadores sociais do País” (ANP, 2010, p.5).
Inicialmente, com base no Anuário Estatístico 2010 da ANP, será
apresentado um panorama da indústria mundial de petróleo e gás natural,
destacando seus níveis de reservas, produção, capacidade nominal de refino e
consumo. Estes dados servem como referência à contextualização da indústria
nacional no cenário internacional.
O Anuário apresenta as estatísticas por regiões geográficas e blocos
econômicos formados pelos seguintes países:
58
- América do Norte: Canadá, EUA e México;
- Américas Central e do Sul: Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Peru,
Trinidad e Tobago, Venezuela e outros;
- Europa e ex-União Soviética: Azerbaijão, Cazaquistão, Dinamarca, Itália,
Noruega, Reino Unido, Romênia, Rússia, Turcomenistão, Uzbequistão e
outros;
- Oriente Médio: Arábia Saudita, Catar, Coveite, Emirados Árabes Unidos,
Iêmen, Irã, Iraque, Omã, Síria e outros;
- África: Argélia, Angola, Chade, Congo (Brazaville), Egito, Gabão, Guiné-
Equatorial, Líbia, Nigéria, Sudão, Tunísia e outros;
- Ásia-Pacífico: Austrália, Brunei, China, Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia,
Vietnã e outros.
As reservas provadas mundiais de petróleo atingiram a marca de 1,3
trilhões de barris no ano de 2009, com um crescimento de 0,1% em relação a
2008. As do Oriente Médio, região que concentra a maior parte das reservas
de petróleo do mundo, apresentam volume equivalente a 754,2 bilhões de
barris ou 56,6% do total. As reservas provadas brasileiras, de 12,9 bilhões de
barris de petróleo, tiveram um incremento de 0,4% e situaram o Brasil na 16ª
posição no ranking mundial de reservas em 2009.
O crescimento das reservas provadas do Brasil no período de 2000 a
2009, ou seja, em dez anos, foi de 51,7 %, enquanto o crescimento das
reservas mundiais no mesmo período foi de 20,6 %. Neste período, as
reservas dos EUA (-6,5 %), da China (-2,6 %) e do Reino Unido (-34 %)
decresceram, enquanto que as da Rússia (+24,5 %) e da Índia (+9,4 %)
cresceram. O crescimento mais significativo de reservas provadas foi de 124
%, alcançado pela Venezuela, atingindo 172,3 bilhões de barris de petróleo em
2009 (13,2 % da mundial).
Entre 2008 e 2009, o volume de petróleo produzido no mundo caiu
2,5%, passando de 82 milhões de barris/dia para 79,9 milhões de barris/dia.
Com relação ao volume e percentual da produção mundial, a parcela mais
significativa cabe aos países da OPEP, que atingiram 33,1 milhões de
barris/dia (41,4 %), sendo que a América do Norte alcançou 13,4 milhões de
59
barris/dia (16,7%) e a Europa e ex-União Soviética, 17,7 milhões de barris/dia
(22,1%).
Vale ressaltar que a produção brasileira de petróleo cresceu 6,9% em
2009, atingindo 2 milhões de barris/dia (2,5 % da produção mundial). Com o
acréscimo no volume de óleo produzido, o Brasil alcançou a 14ª posição entre
os maiores produtores mundiais de petróleo em 2009. A Rússia passou a ser o
maior produtor de petróleo do mundo, extraindo uma média de 10 milhões de
barris/dia.
O crescimento da produção de petróleo do Brasil no período de 2000 a
2009 foi de 60 %, enquanto o crescimento da produção mundial no mesmo
período foi de 6,8 %. Neste período a produção dos EUA decresceu 6,9 %, do
Reino Unido decresceu 45,7 %, da Rússia cresceu 57,8 %, da Índia cresceu
3,8 % e da China cresceu 16,5 %. Cabe ressaltar que, no período citado, a
produção da Venezuela decresceu 24,7 %.
Em 2009, o consumo mundial de petróleo foi 0,5% inferior a 2008,
totalizando 83,6 milhões de barris/dia. Com relação ao volume e percentual do
consumo mundial, a região Ásia-Pacífico consumiu 26 milhões de barris/dia
(31,1%), com a China, apresentando um consumo de 8,6 milhões de barris/dia
(10,3 %), a América do Norte atingindo 22,8 milhões de barris/dia (27,3%),
sendo os Estados Unidos o maior consumidor mundial, com 18,7 milhões de
barris/dia (22,4 %), a Europa e ex-União Soviética com um consumo de 19,4
milhões de barris/dia (23,2%) e o Oriente Médio com 7,1 milhões de barris/dia
(8,5 %). As Américas Central e do Sul atingiram um consumo de 5,2 milhões
de barris/dia (6,2%).
Em 2009, o Brasil consumiu 1,9 milhões de barris/dia de petróleo – 2,3%
do total mundial e 0,1% a mais do que o consumido em 2008 – ocupando a 11ª
posição entre os consumidores de petróleo.
O crescimento do consumo de petróleo do Brasil no período de 2000 a
2009 foi de 6,6 %, enquanto o crescimento do consumo mundial no mesmo
período foi de 10,2 %, o consumo dos EUA decresceu 5,1 %, do Reino Unido
decresceu 5 %, da Rússia cresceu 4,3 %, da Índia cresceu 41,2 % e da China
cresceu 80,7 %.
60
Em 2009, a capacidade efetiva de refino instalada no mundo foi de 90,7
milhões de barris/dia, para uma produção mundial de petróleo de 79,9 milhões
de barris/dia. Os Estados Unidos mantiveram o primeiro lugar no ranking de
capacidade mundial de refino (19,5%), seguidos de China (9,5%), Rússia
(6,2%), Japão (5,1%) e Índia (3,9%). Juntos, estes cinco países responderam
por 44,3% da capacidade mundial de refino. O Brasil alcançou o 10º lugar no
ranking mundial de capacidade de refino, com 2,1 milhões de barris/dia (2,3%).
O crescimento da capacidade de refino de petróleo do Brasil no período
de 2000 a 2009 foi de 11,7 %, enquanto o crescimento da capacidade mundial
no mesmo período foi de 9,9 %, sendo significativo também o crescimento da
capacidade da Índia (61 %) e da China (59,7 %), enquanto que a do Reino
Unido e da Rússia decresceu levemente.
No que diz respeito aos preços do petróleo, entre 2002 e 2008, os
valores médios no mercado internacional seguiram uma tendência de alta:
25,8% de elevação média anual do petróleo Brent e 24,8% do West Texas
Intermediate (WTI). Os acréscimos acumulados foram de 296% e 278%,
respectivamente. No final de 2008, o óleo do tipo WTI foi cotado no mercado
spot a uma média anual de US$ 99,6/barril. Em relação ao petróleo do tipo
Brent, a cotação média registrada foi de US$ 99/barril. Esta tendência foi
revertida em 2009, quando o WTI e o Brent tiveram uma cotação média de
US$ 61,9/barril e US$ 61,7/barril.
Em 2009, houve um crescimento contínuo dos preços médios mensais
do barril ao longo do ano. Dessa forma, o petróleo do tipo Brent passou de
US$ 43,7 em janeiro para US$ 74,3 em dezembro. Já o petróleo do tipo WTI
passou de US$ 41,8 em janeiro para US$ 74,2 em dezembro.
Quanto ao Gás Natural, Em 2009, as reservas provadas mundiais
somaram 187,5 trilhões m³, registrando um crescimento de 1,2% em
comparação com 2008. As reservas localizadas nos países da Opep
concentram 48,7% do total, somando 91,2 trilhões m³, sendo que 40,6 % estão
no Oriente Médio. A Europa e ex-União Soviética detêm 33,6 % das reservas
mundiais, correspondendo a 63,09 trilhões de m³, com destaque para a
Rússia, com 44,38 trilhões de m³ (23,6 %).
61
Entre 2008 e 2009, o Brasil registrou crescimento de 0,6% das reservas
provadas de gás natural, chegando a 366 bilhões m³. O País está em 39º lugar
na lista dos detentores de reservas provadas de gás natural.
O crescimento das reservas provadas de gás natural do Brasil no
período de 2000 a 2009 foi de 68 %, enquanto o crescimento da capacidade
mundial no mesmo período foi de 21,5 %, sendo relevantes o crescimento da
capacidade dos EUA (38 %), da Índia (47 %) e, especialmente, da China (79,5
%), enquanto a capacidade do Reino Unido decresceu 75,8 %.
Em 2009, a produção mundial de gás natural alcançou 3 trilhões m³,
sendo que, quando comparado a 2008, o Oriente Médio exibiu a maior taxa de
crescimento regional (6,2%), atingindo o volume de 407,2 bilhões m³. Já
Europa e ex-União Soviética apresentaram o maior decréscimo em valores
absolutos, 113,4 bilhões m³, equivalente a uma queda de 10,4%, com esta
região ainda se mantendo como a maior produtora mundial, tendo atingido 973
bilhões m3 (32,5 %), com destaque para a Rússia, que atingiu 527,5 bilhões de
m3 (17,6 %). A América Central e do Sul apresentou decréscimo de 2,3 %, com
apenas 160,8 bilhões de m3 (5,3 % da produção mundial).
O Brasil, com uma produção de 21,1 bilhões m³, registrou uma queda de
2,1% comparativamente a 2008, ainda assim subindo para a 29ª posição entre
os maiores produtores mundiais de gás natural. Os Estados Unidos produziram
o maior volume de gás natural registrado em 2009 (19,8% do total), seguido da
Rússia (17,6%) e do Canadá (5,4%).
O crescimento da produção de gás natural do Brasil no período de 2000
a 2009 foi de 59 %, enquanto o crescimento da produção mundial no mesmo
período foi de 24 %, cabendo ressaltar a queda na produção do Reino Unido (-
45 %) e o crescimento da produção da Índia (+49 %) e da China (+214 %).
O consumo mundial de gás natural foi de 2,9 trilhões m³ em 2009, 2,3%
menor que em 2008. Os consumos das diferentes regiões do mundo, de
acordo com a ordem de importância, foram: Europa e ex-União Soviética (36%,
sendo que 13,3% correspondeu à Rússia, segundo maior consumidor
mundial); América do Norte (27,6% do total, sendo que 22% referem-se
somente aos Estados Unidos, maior consumidor mundial); Ásia-Pacífico
62
(16,9%); Oriente Médio (11,8% do total, com consumo 4,1% maior que em
2008, o maior crescimento relativo regional); Américas Central e do Sul (4,6%);
e África (3,2%).
O consumo de gás natural, assim como o consumo de petróleo, reflete
as características econômicas estruturais e conjunturais das diferentes regiões
do mundo, mas também é fortemente influenciado pela distribuição geográfica
das reservas, excetuando-se os EUA.
Em 2009, o Brasil teve consumo de gás natural de 20,3 bilhões m³,
0,7% do total mundial e 19,4% a menos do que o consumido pelo País em
2008. Em 2009, o País ocupou a 34ª posição entre os consumidores de gás
natural.
O crescimento do consumo de gás natural do Brasil no período de 2000
a 2009 foi de 116 %, enquanto o crescimento do consumo mundial no mesmo
período foi de 22 %, cabendo ressaltar o crescimento do consumo da Índia (96
%) e da China (262 %).
Uma vez conhecido o panorama mundial, serão apresentados em
seguida os indicadores do desempenho em 2009 da indústria brasileira de
petróleo e gás natural.
Uma das atribuições da ANP é promover licitações para concessão de
blocos de petróleo e gás natural, os quais, após a conclusão da fase de
exploração e a eventual declaração de comercialidade, passam para as etapas
de desenvolvimento e produção. Até 31/12/2009, 778 áreas estavam sob
concessão, sendo 404 blocos (52 %) ainda na fase de exploração, 61 campos
(8 %) em fase de desenvolvimento da produção e 313 campos (40 %) em fase
de produção.
Até a data supracitada, a ANP aceitou a devolução de 720 blocos
exploratórios – sendo 50 em 2009 – que não alcançaram as etapas de
desenvolvimento e produção, ou seja, onde não houve descobertas e/ou
acumulações comerciais.
Em decorrência das rodadas de licitação promovidas pela ANP entre
1999 e 2009, 68 concessionárias estavam realizando atividades exploratórias
nas bacias sedimentares brasileiras em 31/12/2009. Dos 404 blocos
63
exploratórios sob concessão em atividade, 113 estavam sendo explorados
somente pela Petrobras (28 %), 175 pelos demais concessionários (44 %) e
116 (29 %) por parcerias entre Petrobras e outras companhias. Ainda, destes
404 blocos, 199 (49 %) são no mar e 205 (51 %) são em terra.
Nos 61 campos em desenvolvimento, a Petrobras possuía, sozinha, a
concessão de 35 e participava de 26 parcerias com outras empresas do ramo.
Destes 61 campos, 35 (57 %) são no mar e 26 (43 %) são em terra.
Com relação aos 313 campos em fase de produção, a Petrobras não
participava de 35; outros 24 campos eram parcerias entre esta empresa e
outras concessionárias. Os 254 demais campos produtores (81 %) eram
concessões à Petrobras sem parcerias. Destes 313 campos, apenas 80 (26 %)
são no mar e 233 (74 %) são em terra.
Com relação às atividades exploratórias, em 2009, foram levantados
pouco mais de 36 mil km de sísmica 2D não-exclusiva – um acréscimo de
11,4% em comparação a 2008 – e 7,5 mil km de sísmica exclusiva – número
61,9% maior que em 2008.
Quanto à sísmica 3D, foram realizados 22,57 mil km2 de levantamento
não-exclusivo – 83,6% a mais que em 2008 – e 13,1 mil km² de levantamento
exclusivo – um aumento de 112,2%. Com relação aos métodos potenciais,
foram utilizados a gravimetria, método geofísico que envolve medidas do
campo gravitacional terrestre, buscando identificar distribuições de massas e
seus contrastes de densidade nos materiais em sub-superfície, e a
magnetometria, método que emprega campos eletromagnéticos, gerados por
correntes alternadas de origem artificial ou natural, criando um campo
magnético secundário que é analisado relativamente ao campo primário.
Em 2009 houve o levantamento de 232,5 mil km de gravimetria – quase
31 mil km do tipo exclusivo e 201,5 mil km do não-exclusivo – e 225,1 mil km
de magnetometria – 33,7 mil km do tipo exclusivo e 191,3 mil km do não-
exclusivo.
De um modo geral, é possível identificar em 2009, comparado com os
dados dos últimos oito anos, uma intensificação das atividades exploratórias.
64
Quanto à perfuração de poços, em 2009, foram perfurados 854, um
aumento de 3,4 % comparativamente a 2008, sendo 662 (77,5 %) em terra e
192 (22,5 %) no mar. Dos poços perfurados em terra, 575 (67,3 %) são do tipo
explotatório e 78 (9,1 %) são do tipo exploratório. No mar, foram perfurados 78
(9,1 %) do tipo explotatório e 61 (7,1 %) do tipo exploratório. O número de
descobertas foi de 37, 41,3% menor que em 2008, sendo 18 em terra e 19 no
mar. A taxa de sucesso exploratório, ou seja, o percentual de descobertas por
perfurações de poços pioneiros foi de 56,3 % para os poços em terra e 55,9 %
para os poços no mar.
As reservas totais de petróleo são a soma das reservas provadas,
prováveis e possíveis.
As reservas provadas são as reservas de petróleo e gás natural que,
com base na análise de dados geológicos e de engenharia, se estima
recuperar comercialmente de reservatórios descobertos e avaliados, com
elevado grau de certeza, e cuja estimativa considere as condições econômicas
vigentes, os métodos operacionais usualmente viáveis e os regulamentos
instituídos pelas legislações petrolífera e tributária brasileiras.
Reservas Prováveis são as reservas de petróleo e gás natural cuja
análise dos dados geológicos e de engenharia indica uma maior incerteza na
sua recuperação quando comparada com a estimativa de reservas provadas.
Reservas possíveis são as reservas de petróleo e gás natural cuja
análise dos dados geológicos e de engenharia indica uma maior incerteza na
sua recuperação quando comparada com a estimativa de reservas prováveis.
As reservas totais de petróleo do Brasil foram contabilizadas em 21,1
bilhões de barris no fim de 2009, refletindo uma taxa de crescimento anual de
5,6% nos últimos 10 anos e um crescimento de 63 %, comparado ao existente
em 2000. As reservas totais correspondem, em valores, a 1,3 trilhões de
dólares. É importante frisar que 93 % das reservas totais se encontra no mar,
algo equivalente a 1,21 trilhões de dólares.
Já as reservas provadas de petróleo aumentaram 0,4% e atingiram a
marca de 12,9 bilhões de barris, volume que representou 60,8% das reservas
totais. Das reservas provadas, 92,8% se localizam no mar (com destaque para
65
o Rio de Janeiro, que deteve 87% das reservas provadas offshore e 80,7% do
total), e 7,2% se situavam em terra. Neste caso, temos no mar, em reservas
provadas, o equivalente a 736,3 bilhões de dólares. O maior crescimento foi
registrado nas jazidas terrestres do Ceará, que aumentaram 46,8%, chegando
a 15,3 milhões de barris.
No tocante ao gás natural, as reservas provadas nacionais cresceram
0,6% e chegaram a 366,5 bilhões m³ em 2009, o que representou 61% dos
600,3 bilhões m³ de reservas totais, que tem valor equivalente a 157,5 bilhões
de dólares, com 80 % destes recursos localizados no mar. No período entre
2000 e 2009, as reservas provadas e as reservas totais apresentaram uma
taxa média de crescimento de 5,8% ao ano, sendo que, em relação ao
apurado em 2000, as reservas totais tiveram um crescimento de 66 %.
Similarmente ao petróleo, a maior parte (82,1%) das reservas provadas
de gás natural do Brasil se encontra em reservatórios marítimos, ou seja, o
equivalente a 78,9 bilhões de dólares. O Rio de Janeiro, estado com maior
participação nestas reservas (166,2 bilhões m³ em reservatórios offshore),
concentrou 45,3% do volume nacional, seguido do Amazonas, cujas jazidas
terrestres (52,4 bilhões m³) corresponderam a 14,3% das reservas provadas
nacionais.
Em 2009, 8.560 poços foram responsáveis pela produção nacional de
petróleo e gás natural. O número de poços terrestres é de 7.761 (90,7% do
total), enquanto o de poços marítimos é de 799 (9,3% do total). A produção
nacional diária de petróleo - incluindo óleo cru e condensado, mas excluindo
líquido de gás natural (LGN) e óleo de xisto - aumentou 7,3% e chegou a 711,9
milhões de barris em 2009, apresentando, nos últimos 10 anos, um
crescimento médio anual de 5,2%. A relação reserva/produção (R/P) de
petróleo passou de 18,8 anos em 2000 para 18,1 anos em 2009.
A maior parte da produção nacional de petróleo, sem contar o LGN, foi
extraída de campos marítimos, responsáveis por 90,8% do total produzido. O
Rio de Janeiro respondeu por 93,6% da produção marítima e por 85% da total,
concentrando 554 poços no mar (69,3 % do total de poços no mar). A Bahia
registrou o maior crescimento offshore em 2009 (19,2%), enquanto que, em
66
terra, o Rio Grande do Norte foi o estado que mais produziu (18,3 milhões de
barris ou 27,9% da produção terrestre nacional).
Em 2009, foram produzidas no Brasil 44 correntes de petróleo com
densidade média de 24,03 graus API e teor de enxofre de 0,55% em peso.
Com referência ao LGN, foram produzidos 28,7 milhões de barris, 9,2%
a menos que em 2008. Apesar de ter registrado queda, em 2009, o principal
produtor foi o Estado do Rio de Janeiro, com 15,5 milhões de barris, ou 53,9%
da produção nacional. A segunda posição foi ocupada pelo Amazonas, com
6,8 milhões de barris, ou 23,5% do total nacional.
No período entre 2000 e 2009, a produção nacional de gás natural
apresentou crescimento médio de 5,3% ao ano, atingindo 21,1 bilhões m³ em
2009. Este volume incluiu gás reinjetado, queimado, perdido e consumido nas
áreas de produção, refino, processamento e movimentação de gás natural,
bem como o volume condensado na forma de LGN. Os campos marítimos
foram responsáveis por 71,4% do gás natural produzido no País, com um
volume de 15,1 milhões m³. O Estado do Rio de Janeiro foi o maior produtor,
com 10,5 milhões m³, concentrando 49,7% do total nacional e 69,5% da
produção marítima. O segundo maior foi o Amazonas, responsável por 3,8
milhões m³, ou 17,9% da produção nacional e 62,5% do total onshore.
A relação reservas/produção (R/P) de gás natural subiu de 16,6 anos
em 2000 para 17,3 anos em 2009. Em média, este índice cresceu a uma taxa
de 0,5% ao ano no período.
Do volume total de gás natural produzido em 2009, 3,4 bilhões m³, ou
16,2% da produção total, foram queimados e perdidos, sendo 80,7 % no Rio
de Janeiro, correspondendo a 892 milhões de dólares. Ainda, 4,4 bilhões m³,
ou 20,6% do total, foram reinjetados, sendo 69,3 % deste volume no
Amazonas. O volume de queimas e perdas de gás natural registrou acréscimo
de 56,6% em 2009. De 2000 a 2009, foi constatado um acréscimo anual médio
de 4,2% nas queimas e perdas de gás natural. Nos campos com gás
associado ao petróleo, parte do gás natural produzido que não for reinjetado
no poço (com vistas a aumentar a recuperação do petróleo) nem tiver mercado
consumidor próximo acaba sendo queimado.
67
Em 2009, como resultado das atividades de produção de petróleo e de
gás natural, foram arrecadados aproximadamente R$ 8 bilhões em royalties.
Deste montante, 29,9 % destinaram-se aos estados produtores ou
confrontantes, 33,8 % aos municípios produtores ou confrontantes, 12,3 % ao
Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), 15,8 % ao Comando da Marinha
(desde 2000, o CM já deveria ter recebido 7,7 bilhões de reais), e 28,1 % ao
Fundo Especial dos Estados e Municípios. Ao Estado do Rio de Janeiro, maior
produtor nacional de petróleo e de gás natural, juntamente com seus
municípios, destinaram-se 44,9 % do total arrecadado no País a título de
royalties, cabendo à esfera estadual 21,4 % desse percentual.
Quanto à participação especial, seu recolhimento atingiu R$ 8,5 bilhões.
Deste valor, conforme definido pela Lei do Petróleo, couberam 40% (R$ 3,4
bilhões) aos estados produtores ou confrontantes, 10% (R$ 845,3 milhões) aos
municípios produtores ou confrontantes, 40% (R$ 3,4 bilhões) ao Ministério de
Minas e Energia (MME) e 10% (R$ 845,3 milhões) ao Ministério do Meio
Ambiente (MMA). Assim sendo, a União arrecadou 4,2 bilhões de reais com
ambos ministérios.
Para viabilizar a movimentação de petróleo, derivados e etanol no
território nacional, em 2009, o Brasil dispõe de 100 terminais autorizados,
sendo nove centros coletores de etanol, 62 terminais aquaviários e 29
terminais terrestres, totalizando 1.556 tanques. Os terminais aquaviários
concentram a maior parte da capacidade nominal de armazenamento (8,2
milhões m³ ou 69,5% do total) e o maior número de tanques autorizados (1.157
ou 74,4% do total). Em relação às Unidades da Federação, São Paulo é a que
apresenta a maior capacidade de armazenamento em terminais e o maior
número de tanques, com 4,8 milhões m³ (40,7% da capacidade nacional) em
628 tanques (40,4% dos tanques disponíveis no País).
Para complementar o suprimento nacional, o Brasil importou 143,5
milhões de barris de petróleo em 2009, com um dispêndio de 9,2 bilhões de
dólares, e exportou 191,9 milhões de barris em 2009, com uma receita de 9,4
bilhões de dólares. Em 2009, o Brasil teve um resultado superavitário no
comércio internacional de petróleo e derivados, revertendo o resultado do
68
último ano e reafirmando a auto-suficiência de abastecimento de petróleo e
derivados alcançada em 2006 e 2007. Assim, a dependência externa que, em
2000, era de 29,3 %, passou a ser -3,7 % em 2006 e em 2009, atingiu -6,2 %.
As importações brasileiras de gás totalizaram 8,5 bilhões m³, dos quais
8,1 bilhões m³ (94,9 %) se originaram da Bolívia. O dispêndio com a
importação de gás natural foi de 1,7 bilhões de dólares.
É de conhecimento público que a Petrobras fez uma recente
capitalização de 70 bilhões de dólares, elevando o seu valor de mercado para
220 bilhões de dólares. Esta capitalização tem como objetivo sustentar o plano
de investimentos da empresa, que contempla a aplicação de 224 bilhões de
dólares no período 2010-2014. De acordo com artigo da revista eletrônica
Portos e Navios (www.portosenavios.com.br), considerando-se um índice de
nacionalização de 55 %, 122 bilhões de dólares poderão ser investidos
diretamente no Brasil, acarretando na mobilização de uma ampla cadeia de
fornecimento de bens e serviços que deve movimentar cerca de 242 bilhões de
dólares. Ainda, segundo o artigo, o fato da economia brasileira já ser bastante
diversificada e a sociedade ser organizada o suficiente para exigir a apropriada
adequação da renda gerada pelo setor petrolífero, evitará que o país sucumba
a chamada “doença holandesa”, que faz com que, na maior parte das vezes, a
exploração destas riquezas naturais não se traduza em benefícios para o
conjunto da sociedade dos países detentores.
Neste capítulo que se encerra, constatamos que a mentalidade marítima
de um povo, ainda que imanente, revitaliza-se e reveste-se de importância
tanto mais quanto aumente a sua dependência dos recursos provenientes do
mar e, por conseqüência, da necessidade de estabelecimento de uma zona de
segurança, com limites bem definidos e uma capacidade de defesa compatível
com esta tarefa. Assim sendo, tendemos a negar importância ao mar quando
dele não dependemos, ou quando não compreendemos esta importância em
sua totalidade.
Vimos as dificuldades para obter-se uma definição de Mar Territorial
aceitável, identificando que, frequentemente, os Estados moldam as regras em
69
conformidade com os seus interesses, não hesitando em utilizar a força como
meio dissuasório. Tomamos conhecimento de todo o processo de evolução
das negociações entre as mais variadas nações no sentido de obter uma
formulação aceitável, redundando na CNUDM, que estabeleceu regras
bastante específicas para a definição das Águas Jurisdicionais, contemplando
todos os direitos, deveres e requisitos necessários ao bom uso do mar e de
seus recursos, visando ao desenvolvimento dos Estados sem abdicar da
preservação do meio-ambiente e do patrimônio da humanidade. Observamos
também que o governo brasileiro tomou ações no sentido de viabilizar a futura
exploração destes recursos, iniciando um imediato levantamento da PC e, no
prazo estabelecido, apresentou a sua proposta a CLPC da CNUDM, pleiteando
cerca de 4.490.000 km2 de AJB, área que a MB sabiamente cognominou
“Amazônia Azul”, associando-a ao grande patrimônio brasileiro, a nossa
Amazônia continental, tão rica quanto a azul em diversidade biológica e
riquezas minerais. Em vista da negativa relativa a uma área de 238.000 km2,
em que pese já haver o reconhecimento de 4.252.000 km2 pleiteados, o Brasil
editou uma resolução específica para fins de garantia do direito de avaliar e
decidir pela viabilidade de efetuação de pesquisas na área pleiteada em sua
totalidade, independentemente da decisão futura da CLPC.
Uma vez definidos os limites das AJB, discorremos sobre suas
riquezas e, dentre as mais importantes, elencamos: a biodiversidade marinha,
de valoração incalculável, relatando a sua importância e a pouca atenção que
este bioma tem recebido das autoridades, ainda que algumas iniciativas
tenham redundado na criação de Unidades de Conservação e Áreas Marinhas
Protegidas; a navegação de longo curso, por onde circulam 95 % das nossas
exportações e 88 % das importações, transportando produtos no valor de 220
bilhões de dólares/ano, e a navegação de cabotagem, pela qual foram
movimentados 170 milhões de toneladas de produtos, além da importância
estratégica face ao risco de colapso do país no caso de uma paralisação
destas atividades; a pesca, que apesar do potencial reduzido das AJB indicado
pelo REVIZEE, pode ter a sua produção enormemente incrementada pela
aquicultura, a exemplo do realizado na China, que responde por 63 % da
70
produção mundial, evitando que o Brasil apresente déficit na balança comercial
de pescado, como em 2009, de 520 milhões de dólares, com previsão de
déficit de 790 milhões de dólares em 2010, podendo levar o brasileiro ao
patamar de consumo médio mundial de 17 kg/pessoa, que para ser atingido
hoje, obrigar-nos-ia a importar ao custo de 5,98 bilhões de dólares; os nódulos
polimetálicos, cujas riquezas já vêm sendo mapeadas através do REMPLAC e
de iniciativas da CPRM, cuja exploração poderia aliviar o Brasil de grandes
despesas na importação destes minerais, como por exemplo, o fosfato, que
nos custa 1 bilhão de dólares ao ano, além do aspecto estratégico, haja vista a
possibilidade de empresas estrangeiras habilitarem-se a explorar estes
minerais em águas muito próximas as AJB, caso o Brasil não antecipe seu
pleito, cujo prazo extingue-se em 2011; e, finalmente, a exploração de petróleo
e gás natural, cujas atividades no mar concentram 90,8 % da produção de
petróleo e 71,4 % de gás natural, cerca de 93 % das reservas totais de
petróleo e 80 % de gás natural, um patrimônio de 1,46 trilhões de dólares,
sendo que ainda queimamos 3,4 bilhões de dólares, por falta de infra-estrutura
para aproveitá-lo, e importamos 1,7 bilhões de dólares para atender a
demanda. Caso as estimativas para o futuro se confirmem, as reservas totais
do Brasil podem atingir em 10 anos a marca de 50 bilhões de barris de
petróleo, no valor de 3,085 trilhões de dólares.
CAPÍTULO II
AÇÕES GOVERNAMENTAIS – A POLÍTICA NACIONAL
PARA OS RECURSOS DO MAR
No capítulo I, vimos a importância do mar para os Estados costeiros,
tomamos conhecimento de parte significativa das riquezas que ele contém, sua
relevância para o desenvolvimento do Brasil e das futuras gerações de
brasileiros, os aspectos geopolíticos, econômicos e estratégicos.
Neste capítulo, o objetivo é apresentar as ações governamentais que
envidaram esforços no sentido de regulamentar as nossas AJB, desenvolver a
71
exploração das suas riquezas de forma sustentável e com respeito ao meio-
ambiente, além de fiscalizar, controlar, vigiar e defender os nossos direitos,
sem descuidar dos nossos deveres. É nossa meta, particularmente, identificar
as tarefas atribuídas a MB e apresentar resumidamente as diversas atividades
desenvolvidas por esta instituição, principalmente as que entendemos serem
de grande importância para a viabilização das atividades de produção no mar.
2.1 – Constituição da CIRM e suas atribuições
Como visto no capítulo I, item “1.1.4”, antes mesmo de a CNUDM entrar
em vigor, o Brasil, através do Decreto Lei nº 1098 de 25 de março de 1970
estabeleceu o mar territorial de 200 milhas, sendo relevante citar que nosso
país havia iniciado em 1968 a prospecção de petróleo no mar em águas rasas,
na sua plataforma continental. Cerca de um ano após o início das discussões
na CNUDM, é criada a CIRM através do Decreto nº 74.557, de 12 de setembro
de 1974, alterado pelo Decreto nº 3.939, de 26 de setembro de 2001, com a
finalidade de coordenar os assuntos relativos à consecução da PNRM. Em
consequência do Decreto nº 86.830, de 12 de janeiro de 1982, a CIRM passou,
também, a gerenciar o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR).
No artigo 2º do Decreto nº 3.939, são elencadas as competências da
CIRM:
- Submeter ao Presidente da República as propostas para a consecução da
PNRM;
- Efetuar o planejamento das atividades ligadas aos recursos do mar, propondo
ao Presidente as prioridades para os programas e projetos do PNRM;
- Coordenar, em ligação com a Secretaria da Presidência, a elaboração de
plano e programas plurianuais e anuais, comuns e setoriais;
- Sugerir a destinação de recursos financeiros para incrementar o
desenvolvimento das atividades relativas aos recursos do mar, por meio de
dotações orçamentárias ou de outras fontes, internas ou externas;
- Acompanhar os resultados e propor alterações da PNRM;
72
- acompanhar os resultados e propor as alterações na execução do Programa
Antártico Brasileiro (PROANTAR); e
- Emitir pareceres e sugestões relativas aos assuntos e atividades relacionadas
com os recursos do mar, quando determinado pelo Presidente da República.
O artigo 3º define a composição dos membros da CIRM, determinando
que a coordenação seja do Comando da Marinha, designado como Autoridade
Marítima. Neste ponto, cabe ressaltar que, na ocasião da promulgação do
decreto 74.557, a MB tinha status de ministério, com acesso direto ao
Presidente da República, o que certamente facilitava o diálogo e, de certa
forma, apressava as soluções. “Com a criação do Ministério da Defesa em
1999, desapareceram os ministérios militares, dando lugar aos Comandos da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Sendo o Comandante da Marinha a
autoridade coordenadora da CIRM, houve necessidade de reformular a
comissão, baixando-se o nível de representação dos ministérios. A análise da
atuação desse órgão, antes e depois dessa mudança, indica que ele perdeu
muito da sua importância e de sua eficácia” (VIDIGAL...[et al], 2006).
Atualmente, a CIRM compõe-se de representantes de vários ministérios
(defesa; relações exteriores; transportes; agricultura, pecuária e
abastecimento; educação; saúde; desenvolvimento, indústria e comércio
exterior; minas e energia; planejamento, orçamento e gestão; ciência e
tecnologia; meio-ambiente; esporte; turismo; integração nacional; pesca e
aquicultura), casa civil e secretaria especial de portos da Presidência da
República, e do Comando da Marinha, sendo da competência do Ministro da
Defesa a designação dos membros da CIRM.
A Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
(SECIRM) foi criada pelo Decreto nº 84.324, de 19 de dezembro de 1979,
alterado pelo Decreto nº 93.910, de nove de janeiro de 1987, com o propósito
de assessorar o Comandante da Marinha e executar as atividades pertinentes
aos encargos técnicos e administrativos da referida Comissão. Para a
consecução de seu propósito, cabem à SECIRM as tarefas relativas às
atividades administrativas da CIRM e de suas Subcomissões, Comitês
Executivos, Grupos de Trabalho e demais organismos.
73
Com relação à disponibilidade de recursos para os programas, o artigo
6º do Decreto nº 3.939 esclarece que serão assegurados pelo Comando da
Marinha, mediante dotações orçamentárias alocadas para a Unidade
Orçamentária SECIRM.
2.2 – A Política Nacional para os Recursos do Mar
A PNRM é parte integrante da Política Marítima Nacional (PMN), assim
sendo, é necessário conhecer os fatores condicionantes e objetivos da PMN.
A PMN, aprovada inicialmente em 1984 e posteriormente atualizada
pelo Decreto nº 1.265 de 11/10/1994, tem por finalidade orientar o
desenvolvimento das atividades marítimas do País, de forma integrada e
harmônica, visando à utilização efetiva, racional e plena do mar e de nossas
hidrovias interiores, de acordo com os interesses nacionais.
A PMN tem como objetivo gerir as atividades nacionais no setor
marítimo, aproveitando-lhes os pontos comuns, identificando seus pontos de
estrangulamento, fortalecendo-lhes a base humana e econômica e garantindo-
lhes a segurança, dentro da grande moldura que é o meio ambiente marítimo.
A PMN visa, assim, à aplicação inteligente do Poder Marítimo e de seu
componente naval, em benefício dos interesses do País. Segundo a PMN,
entende-se como Poder Marítimo o componente do poder nacional de que a
nação dispõe para atingir seus propósitos ligados ao mar ou dele dependentes.
Esses meios são de natureza política, econômica, militar e social e incluem,
entre vários outros, a consciência marítima do povo e da classe política, a
Marinha Mercante e a Marinha de Guerra, a indústria de construção naval, os
portos e a estrutura do comercio marítimo. O Poder naval é o componente
militar do Poder Marítimo.
A PMN tem como fatores condicionantes: o conceito estratégico
nacional; as diretrizes de ação governamental; a política nacional de segurança
(defesa); as diretrizes gerais para mobilização; as políticas setoriais em seus
segmentos marítimos e os atos internacionais dos quais o Brasil é parte.
74
Os objetivos da PMN são: o desenvolvimento de uma mentalidade
marítima nacional; o racionamento e a economicidade das atividades
marítimas; a independência tecnológica nacional no campo das atividades
marítimas; a pesquisa, exploração e explotação racional dos recursos vivos
(em especial no tocante a produção de alimentos) e não vivos da coluna
d’água, do leito e subsolo do mar e de rios, lagoas e lagos navegáveis, onde se
exerçam atividades comerciais significativas para o Poder Marítimo; a
produção, no País, de navios, embarcações, equipamentos e material
especifico, relacionados com o desenvolvimento das atividades marítimas e
com a defesa dos interesses marítimos do País; o aprimoramento da infra-
estrutura portuária, aquaviária e de reparos navais do País; a otimização do
transporte aquaviário no comércio interno e externo; a proteção do meio
ambiente, nas áreas em que se desenvolvem atividades marítimas; a
formação, valorização e aproveitamento racional dos recursos humanos
necessários às atividades marítimas; a privatização de atividades marítimas,
sempre que a sua manutenção pelo Estado não constituir em imperativo
estratégico ou de Segurança Nacional; a obtenção de benefícios decorrentes
da participação em atos internacionais, no campo das atividades marítimas; a
segurança das atividades marítimas e salvaguarda dos interesses nacionais no
mar; a imagem favorável do País no exterior, em apoio à ação diplomática
brasileira; e, finalmente, a garantia da existência de um Poder Naval eficaz e
em dimensões compatíveis com os demais componentes do Poder Marítimo.
Visando o atendimento da PMN, a CIRM desenvolve programas e
projetos consoantes com a PNRM e com a Política Nacional para os Assuntos
Antárticos (POLANTAR).
A PNRM, elaborada pela CIRM, aprovada em 1980 e atualizada pelo
Decreto nº 5.377 de 23/02/2005, tem por finalidade orientar o desenvolvimento
das atividades que visem à efetiva utilização, exploração e aproveitamento dos
recursos vivos, minerais e energéticos, do MT, ZEE e PC, de acordo com os
interesses nacionais, de forma racional e sustentável, para o desenvolvimento
socioeconômico do País, gerando emprego e renda e contribuindo para a
inserção social.
75
A PNRM é consolidada por Planos e Programas plurianuais e anuais
decorrentes, elaborados pela CIRM, que se desdobram em projetos
específicos e constituem os documentos básicos de trabalho. Esses projetos
são aprovados pela CIRM e os recursos necessários são repassados, pelos
diversos órgãos, mediante convênio, para as Instituições executoras
(Universidades, Institutos de Pesquisa e organizações governamentais ligadas
aos recursos do mar), conforme o desenvolvimento das várias fases. Os
planos integrantes do PNRM são:
- Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM);
- Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC);
- Plano de Levantamento da Plataforma Continental (LEPLAC); e
- Programa de Mentalidade Marítima (PROMAR).
O PSRM, com vigência plurianual, é um desdobramento da PNRM e
consubstancia todas as atividades relacionadas aos recursos do mar.
Ao longo das seis versões anteriores do PSRM, o foco esteve centrado
na geração de conhecimento sobre o ambiente marinho e na formação de
recursos humanos, com o propósito de oferecer suporte para o uso sustentável
pelos diversos segmentos da sociedade brasileira. Apesar de a fase de
levantamento de informações não ter sido plenamente superada e que, ainda
persistam lacunas de conhecimento, faz-se necessário dar continuidade e
maior ênfase para a dimensão do uso sustentável e na vertente do
desenvolvimento científico-tecnológico. O VII PSRM, aprovado pelo Decreto nº
6.678 de 08/12/2008, com vigência de 2008 a 2011, enfatiza a dimensão
socioeconômica, o aproveitamento sustentável, a qualidade do ambiente
marinho, o reconhecimento do papel dos oceanos nas mudanças climáticas, a
necessidade de articulação do governo, da comunidade científica, da iniciativa
privada e da sociedade civil, para o aproveitamento sustentável dos recursos
do mar.
Resumidamente, os programas e projetos pertencentes ao PSRM,
conforme relatado pela CIRM (www.mar.mil.br/secirm) são os seguintes:
- REVIZEE: Este Programa, iniciado em 1995 e concluído em 2006, atendeu
ao compromisso assumido com a ratificação da CNUDM e teve como objetivo
76
principal proceder ao levantamento dos potenciais sustentáveis de captura dos
recursos vivos na ZEE, que se estendeu desde o limite exterior do MT até 200
milhas náuticas da costa, abrangendo uma extensão de cerca de 3,5 milhões
de km2. O Programa foi essencial para que o nosso País pudesse garantir os
seus direitos de soberania para fins de exploração, aproveitamento,
conservação e gestão dos recursos vivos da nossa ZEE, dentro da ótica de
uso sustentável dos recursos do mar. As principais informações obtidas foram:
a determinação das distribuições, sazonalidade, abundâncias e potenciais
sustentáveis de recursos vivos na ZEE, utilizando técnicas de prospecção
pesqueira e avaliação de estoques; a obtenção de um quadro referencial
climatológico e de uma visão oceanográfica de caráter abrangente, para as
áreas física, química, geológica e biológica, que subsidiem a compreensão da
dinâmica dos recursos vivos na ZEE; e a análise dos potenciais sustentáveis e
suas perspectivas de exploração, a partir da integração das informações de
abundância e características ambientais.
O programa esteve a cargo de um Comitê Executivo, cuja coordenação
geral foi exercida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com a participação
da MB, entre outros, e coordenação operacional do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
- REVIMAR: O Programa de Avaliação do Potencial Sustentável e
Monitoramento dos Recursos do Mar é uma ação que foi prevista no VI PSRM,
instituído pelo Decreto nº 5.382 de 3 de março de 2005. O REVIMAR tem
como objetivo, em prosseguimento ao REVIZEE, avaliar o potencial
sustentável e monitorar de forma sistemática e permanente os estoques
presentes nas áreas marítimas sob jurisdição nacional, com vistas a subsidiar
políticas pesqueiras que garantam a sustentabilidade e a rentabilidade da
atividade, garantindo a obtenção, a sistematização e a divulgação das
informações necessárias para o processo de co-gestão das pescarias
nacionais, minimização dos danos ambientais e para o cumprimento dos
compromissos frente à comunidade internacional.
Estima-se que nas áreas marítimas sob jurisdição do Brasil, do ponto de
vista econômico e social, a atividade da pesca e derivados gera 800 mil
77
empregos que, direta e indiretamente, servem de sustento para 4 milhões de
pessoas, sem falar no crescente desenvolvimento da aquicultura.
O REVIMAR é coordenado pelo IBAMA e é composto por
representantes de vários ministérios e várias instituições e empresas, sendo a
MB representada pelo Estado Maior da Armada (EMA), pela SECIRM e pelo
Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM).
- PROARQUIPÉLAGO: O Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo
tem como objetivo desenvolver pesquisas científicas no Arquipélago de São
Pedro e São Paulo, abrangendo as áreas de geologia, geofísica, biologia,
recursos pesqueiros, oceanografia, meteorologia e sismologia. A coordenação
é da SECIRM, com a participação de vários ministérios e universidades
brasileiras, e da MB através do EMA, Comando do 3º Distrito Naval e da Base
Naval de Natal.
Foi construída uma Estação Científica no local, ocupada por três ou
quatro pesquisadores civis que são substituídos a cada quinze dias. A
substituição é realizada por embarcações fretadas pela SECIRM, que
permanecem nas imediações do Arquipélago em tempo integral, prontas para
atuar em situações anormais ou de emergência.
O desafio do PROARQUIPELAGO é continuar mantendo as ilhas
efetivamente guarnecidas, o que gera inúmeros benefícios para o país, como
por exemplo, a incorporação da ZEE de 200 milhas ao redor do Arquipélago e
a realização de pesquisas de alto nível em diversos ramos da ciência.
- AQUIPESCA: O Programa de Aquicultura e Pesca tem o propósito de trazer
para o fórum da CIRM os programas selecionados do MPA, dentro das
diversas atividades do Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável de
Aquicultura e da Pesca, que necessitem de cooperação interministerial para
sua execução, contribuindo, dessa forma, para a execução das ações
prioritárias do PSRM, tais como a maricultura sustentável, a capacitação
tecnológica e profissional na atividade pesqueira e o desenvolvimento e
difusão de novas tecnologias de pesca e do pescado. A coordenação é do
MPA, com a participação de vários ministérios, sendo a MB representada
principalmente pelo EMA e a SECIRM.
78
Espera-se que a execução dessas ações contribua para a promoção do
aprimoramento e formulação de políticas e estratégias governamentais para o
desenvolvimento dos setores de aqüicultura e pesca, com reflexos positivos
para a inclusão social e econômica, para o aumento do consumo interno per
capita de pescados, para a redução de desperdícios, para a geração de
trabalho, renda e divisas para o país, e para a ocupação de modo racional e
sustentável das águas do MT, da ZEE e do Alto Mar.
Os principais programas em andamento são o Programa Nacional de
Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite, o Programa Nacional
de Observadores de Bordo da Frota Pesqueira, os programas de formação,
capacitação e qualificação de pescadores artesanais e trabalhadores da
pesca, as Unidades de Gestão de Atuns e Afins e Demersais de Profundidade,
e diversas ações de pesquisa pesqueira.
- PROTRINDADE: O Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade
tem o propósito de promover, gerenciar e divulgar os resultados das pesquisas
científicas nas Ilhas da Trindade, Arquipélago de Martim Vaz e na área
marítima adjacente. O Arquipélago de Martin Vaz e a Ilha da Trindade são a
nossa fronteira leste, o ponto extremo a oriente do território do Brasil. A MB
ocupa a Ilha da Trindade, de forma contínua, desde 1958. Por sua localização,
em latitude próxima às principais bacias petrolíferas e à região de maior
desenvolvimento econômico e concentração populacional do País, a Ilha é
uma sentinela estratégica para o Brasil. Sua posição geográfica propicia não
só a obtenção de dados para previsão meteorológica, mas desperta também o
interesse da comunidade científica para o conhecimento dessa região tão
peculiar, com suas espécies endêmicas, que muito podem nos ensinar sobre
preservação. Cabe ainda ressaltar que a Ilha da Trindade permitiu ao Brasil
ampliar as suas AJB em conformidade com a CNUDM (ver item “1.1.4” do
capítulo I, página 36).
Este programa é coordenado pela SECIRM, com a participação de
vários ministérios e instituições, sendo a MB representada principalmente pelo
EMA, Comando do 1º Distrito Naval e a DHN.
79
- GOOS/Brasil: O Sistema Global de Observação dos Oceanos, criado pela
Comissão Oceanográfica Intergovernamental, em cooperação com a
Organização Meteorológica Mundial e com o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente, tendo em vista os dispositivos da CNUDM e da Agenda
21, tem como propósito implementar, ampliar e consolidar um sistema
operacional de informações oceanográficas, climatológicas e meteorológicas,
composto de redes de observação, com o objetivo de produzir conhecimento e
gerar produtos que possam subsidiar as previsões oceanográficas e
meteorológicas na área marítima de interesse nacional, e que auxiliem nos
processos decisórios sobre a utilização eficaz dos recursos marinhos, bem
como na previsão e mitigação dos efeitos de fenômenos naturais extremos que
possam afetar a população e a economia da região costeira do Brasil.
Os seguintes projetos estão inseridos no escopo do GOOS/Brasil: Pilot
Research Moored Array in the Tropical Atlantic (PIRATA); Programa Nacional
de Bóias (PNBÓIA); Sistema de Observação do Nível do Mar (GLOSS/Brasil);
Projeto de caracterização da estrutura térmica a partir de linhas de alta
densidade de XBT– MOVAR; e Rede de Monitoramento de Ondas em Águas
Rasas.
O PIRATA, através de 14 bóias fixas fundeadas na zona equatorial,
possui o objetivo de avaliar o ciclo sazonal de larga escala no Oceano Atlântico
Tropical, modificado pelo acoplamento oceano-atmosfera, como o “El Niño”,
cujos impactos econômicos e sociais são expressivos para os Estados
Costeiros.
O PNBÓIA foi criado com o objetivo de fornecer dados de meteorologia
marinha e de superfície dos oceanos para previsão de tempo e de clima,
utilizando dados coletados a partir de uma rede de bóias de deriva e bóias
fixas. Os dados coletados por este programa são operacionalizados e
disponibilizados à comunidade usuária, aos cientistas, aos órgãos
governamentais, aos institutos de pesquisas, por meio de redes internacionais,
via satélite, pelo Sistema Global de Telecomunicações.
O projeto GLOSS-Brasil compreende as atividades relacionadas ao
monitoramento do nível do mar nas AJB. Esta Ação está sendo Coordenada
80
pelo Centro de Hidrografia da Marinha com a participação de instituições
públicas e empresas privadas.
O projeto de caracterização da estrutura térmica a partir de linhas de
alta densidade de XBT–MOVAR prevê o monitoramento da estrutura térmica
entre o Rio de Janeiro e a Ilha de Trindade, uma vez que, sendo a Corrente do
Brasil parte importante da circulação anticiclônica do Atlântico Sul, seu
monitoramento é extremamente relevante, pois contribui na elucidação das
variações de intensidade do próprio giro subtropical, bem como das suas
implicações climáticas.
Finalmente, a Rede de Monitoramento de Ondas em Águas Rasas, que
deverá proporcionar melhoria na previsão meteorológica realizada pela DHN e
a disponibilização dos dados para diversos projetos científicos ligados ao
estudo das mudanças climatológicas mundiais e estudos levados a cabo pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O Coordenador do GOOS/Brasil é a MB, por intermédio da DHN, com
participação da SECIRM, vários ministérios e a comunidade científica
relacionada aos módulos do GOOS.
- REMPLAC: O Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da
Plataforma Continental foi criado pela CIRM, por meio da Resolução nº 04 de
03/12/1997. Este programa tem como propósito avaliar a potencialidade
mineral da Plataforma Continental Brasileira e são seus objetivos específicos
caracterizar o meio físico da plataforma continental, avaliar os recursos
minerais, identificar e detalhar áreas de relevante potencialidade mineral,
levantar informações geológicas de base para o manejo e a gestão integrada
da plataforma e da zona costeira associada; implementar um banco de dados
para utilização pela comunidade científica, órgãos governamentais e empresas
brasileiras, consubstanciando as informações sobre os recursos minerais da
PC, propor metodologia e normas para a execução de levantamentos
sistemáticos e temáticos e induzir atividades de pesquisa que contemplem o
desenvolvimento tecnológico e a inovação aplicadas à exploração desses
recursos minerais. A importância destes minerais para o Brasil já foi explicitada
no capítulo I, item “1.2.4”, página 48 deste trabalho.
81
O planejamento e a gerência operacional são realizados pelo Serviço
Geológico do Brasil, com supervisão da CIRM, e a participação de vários
ministérios e departamentos governamentais, sendo que pela MB participam o
EMA e a DHN.
- PROAREA: o Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais
da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial tem como propósito
identificar e avaliar a potencialidade mineral de áreas com importância
econômica e político-estratégicas para o Brasil, localizadas além do limite das
AJB. Seus objetivos são a ampliação da presença brasileira no Atlântico Sul e
Equatorial, a coleta de dados para subsidiar futuras requisições brasileiras de
áreas de prospecção e exploração mineral junto à AIFM, a obtenção de
informações técnicas, econômicas e ambientais necessárias para que
empresas e órgãos governamentais possam desenvolver atividades de
exploração mineral e gestão ambiental na área internacional do Atlântico Sul e
Equatorial, e o preparo e a qualificação de recursos humanos nos diversos
níveis de formação necessários à implementação de atividades na “Área”.
O PROAREA se constitui, na prática, em uma extensão do REMPLAC.
A implementação deste programa em áreas distantes do litoral e a grandes
profundidades, demandará navios, equipamentos e pessoal qualificado para a
realização de atividades de pesquisa em profundidades que podem atingir
6.000 metros. Considerando a relevância do tema, o Comandante da Marinha
determinou que fosse priorizada a realização de comissões para a Elevação do
Rio Grande, a fim de efetuar levantamentos com vistas a subsidiar uma futura
requisição brasileira de área de exploração junto à AIFM, atendendo aos
anseios do Ministério da Defesa, conforma já explanado no capítulo I, item
“1.2.4”, página 53. Assim, o Navio Hidrográfico Sirius (H21) iniciou, em 03 de
novembro de 2009, uma viagem de reconhecimento geológico para o
levantamento da potencialidade mineral dos depósitos de crosta cobaltífera
desta área. A pesquisa vai empregar, pela primeira vez, o ecobatímetro
multifeixe EM302, um equipamento para mapear o fundo do mar em três
dimensões. Além de dimensionar as reservas de um valioso recurso mineral
numa região próxima às nossas Águas Jurisdicionais, a viagem do NHi Sirius
82
servirá também para reforçar a presença brasileira no Atlântico Sul e
Equatorial.
A coordenação é do Ministério das Relações Exteriores, sob supervisão
da CIRM, com a participação de vários ministérios e departamentos
governamentais, a Petrobras, a comunidade científica e a MB.
- BIOMAR: O Programa de Biotecnologia dos Organismos Marinhos tem como
propósito fomentar o aproveitamento sustentável do potencial biotecnológico
dos organismos marinhos existentes nas zonas costeiras e de transição e nas
áreas marítimas sob jurisdição e de interesse nacional, com foco no
desenvolvimento de conhecimentos, absorção de tecnologias e promoção da
inovação, nas áreas de saúde humana, ambiental, agropecuária e industrial.
O programa é coordenado pelo Ministério das Ciências e Tecnologia,
com a participação de vários ministérios e institutos governamentais, e a MB,
por intermédio da SECIRM e EMA.
- PNGC: O Plano Nacional para Gerenciamento Costeiro, instituído pela Lei nº
7.661 de 16/05/88 como parte integrante da PNRM e da PNMA, tem como
principais objetivos: a promoção do ordenamento do uso dos recursos naturais
e da ocupação dos espaços costeiros, subsidiando e otimizando a aplicação
dos instrumentos de controle e de gestão pró-ativa da Zona Costeira; o
estabelecimento do processo de gestão, de forma integrada, descentralizada e
participativa, das atividades sócio-econômicas na Zona Costeira, de modo a
contribuir para elevar a qualidade de vida de sua população, e a proteção de
seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural; o desenvolvimento
sistemático do diagnóstico da qualidade ambiental da Zona Costeira,
identificando suas potencialidades, vulnerabilidades e tendências
predominantes, como elemento essencial para o processo de gestão; a
incorporação da dimensão ambiental nas políticas setoriais voltadas à gestão
integrada dos ambientes costeiros e marinhos, compatibilizando-as com o
PNGC; o efetivo controle sobre os agentes causadores de poluição ou
degradação ambiental sob todas as suas formas, que ameacem a qualidade
83
de vida na Zona Costeira; e a produção e difusão do conhecimento necessário
ao desenvolvimento e aprimoramento das ações de Gerenciamento Costeiro.
Alguns projetos e estudos em andamento são a Agenda Ambiental
Portuária, o Plano de Contingência a derramamento de Óleo nas AJB, o
Projeto Orla, a cooperação Brasil-Espanha sobre a modelagem costeira e o
Plano de ação Federal da Zona Costeira.
O PNGC é supervisionado pela SECIRM, com a participação de vários
ministérios, institutos e secretarias governamentais, ONGs, Petrobras e a MB,
com o EMA.
- LEPLAC: O Levantamento da Plataforma Continental Brasileira é o programa
de Governo pertencente ao PNRM, instituído pelo Decreto nº 98.145 de
15/09/1989, com o propósito de estabelecer o limite exterior da nossa
Plataforma Continental no seu enfoque jurídico, ou seja, determinar a área
marítima, além das 200 milhas, na qual o Brasil exercerá direitos de soberania
para a exploração e o aproveitamento dos recursos naturais do leito e subsolo
marinho.
Sob a coordenação da CIRM, essas atividades foram desenvolvidas
conjuntamente pela DHN, Petrobras e a Comunidade Científica Brasileira.
Durante toda a fase de aquisição de dados, que terminou em novembro
de 1996, da qual participaram 4 navios da Marinha do Brasil, foram coletados
cerca de 230.000 km de perfis sísmicos, batimétricos, magnetométricos e
gravimétricos ao longo de toda a extensão da margem continental brasileira.
Este programa auxiliou o Brasil no seu pleito junto a CNUDM, conforme
já comentado no capítulo I, item “1.1.4”, página 35 deste trabalho.
- PROMAR: O Programa de Mentalidade Marítima pertence ao PNRM e tem
como objetivo estimular, por meio de ações planejadas, objetivas e
continuadas, o desenvolvimento de uma mentalidade marítima na população
brasileira, consentânea com os interesses nacionais, e voltada para um maior
conhecimento do mar e seus recursos, sua importância para o Brasil, a
responsabilidade de sua exploração racional e sustentável e da consciência da
84
necessidade de preservá-lo. Conceitua-se Mentalidade Marítima como a
convicção ou crença, individual ou coletiva, da importância do mar para a
nação brasileira e o desenvolvimento de hábitos, atitudes, comportamentos ou
vontade de agir, no sentido de utilizar, de forma sustentável, as
potencialidades do mar.
Este programa é coordenado pela SECIRM, e tem a participação de
vários ministérios e organizações da MB, entre elas o EMA, a DPC e a
Secretaria de Comunicação Social da Marinha (CCSM).
- PPG-MAR: O Programa de Consolidação e Ampliação dos Grupos de
Pesquisa e Pós-graduação em Ciências do Mar tem como objetivo apoiar,
consolidar e avaliar a formação de pessoal em Ciências do Mar, por meio de
cursos de Graduação e Pós-Graduação, criando uma base para o
desenvolvimento destas ciências no País.
Além de criar um site para servir de Portal das Ciências do Mar no
Brasil, possui grupos de trabalho para fazer um diagnóstico da experiência de
embarque das instituições de ensino superior em ciências do mar, elaborar um
programa específico de apoio a periódicos sobre o tema, elaborar um livro
texto para utilização nos cursos de graduação e pós-graduação da área, entre
outros.
O programa é coordenado pelo Ministério da Educação, com a
participação de vários ministérios e instituições governamentais, e da MB,
através do EMA e da SECIRM.
O programa integrante da POLANTAR é o Programa Antártico Brasileiro
(PROANTAR), cujos projetos foram atribuídos a CIRM pelo Decreto nº 86.830
de 12/01/1982.
- PROANTAR: O Programa Antártico Brasileiro, iniciado há 28 anos,
desenvolveu um substancial programa de pesquisas científicas.
Em 06 de fevereiro de 1984, foi instalada a Estação Antártica
"Comandante Ferraz" (EACF), na Península Keller, Baía do Almirantado, Ilha
Rei George, Ilhas Shetlands do Sul. A EACF foi ampliada, passando para 33
módulos no ano seguinte. O evento de maior importância veio a ocorrer em
85
1986, na Operação Antártica IV, com o início da ocupação permanente da
Estação durante os 365 dias do ano, representando o ápice de um esforço
contínuo e progressivo, desenvolvido desde o início das atividades.
Hoje, a EACF conta com 63 módulos, podendo acomodar um Grupo de
Apoio de 10 militares da Marinha do Brasil, que lá permanecem por um período
ininterrupto de 12 meses, além de 24 pesquisadores no verão e 6
pesquisadores no inverno. O apoio é feito por mar, através de navios polares e
helicópteros da MB e aviões da Força Aérea Brasileira, sendo que a
manutenção, modernização e ampliação das instalações são feitas pelo
Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ).
O PROANTAR, respeitado pela comunidade antártica, garantirá a
participação brasileira no processo decisório relativo ao futuro do Continente
Antártico, essa imensa região gelada com 14 milhões de km2, situada a 550
milhas marítimas do sul da América do Sul e que tem enorme influência sobre
o nosso clima e sobre o regime dos mares brasileiros.
2.3 – GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS DO MAR –
LEGISLAÇÃO
Neste tópico, pretendemos abordar os objetivos e competências
previstos nas principais leis brasileiras que regulamentam as questões
referentes ao uso do mar, a exploração e explotação de recursos marinhos, a
fiscalização e o controle do meio ambiente marinho e a defesa da nossa
soberania, interessando-nos particularmente as atribuições e tarefas
delegadas a MB, de forma a, posteriormente, fazermos uma análise da
disponibilidade de meios que permitam a essa força a eficiente consecução
das atividades decorrentes destas atribuições.
Inicialmente, a atividade primeira de uma força armada é a defesa da
soberania do país, sendo este o fundamento primordial para a garantia dos
demais fundamentos previstos no artigo 1º da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 (CRFB). Este aspecto é abordado mais
86
enfaticamente no artigo 21 da CRFB, item III, onde se afirma que compete a
União assegurar a defesa nacional. Para a garantia da defesa nacional, a
CRFB, em seu capítulo III, artigo 142, afirma que “as Forças Armadas,
constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições
nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-
se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa
de qualquer destes, da lei e da ordem”.
Segundo Albuquerque (2006), com base no artigo supracitado, a
destinação das forças armadas possui duas componentes: “a primeira, refere-
se à defesa da pátria, defesa externa, relacionada à soberania, à
independência e ao patrimônio nacionais; a segunda, refere-se à atuação
interna no País, relacionada à garantia dos poderes constitucionais e à
garantia da lei e da ordem.
A defesa da pátria é a componente principal e essencial da destinação
constitucional das Forças Armadas brasileiras, sendo a atividade-fim para a
Marinha do Brasil. Em decorrência, a missão da Força é “Preparar e aplicar o
Poder Naval, a fim de contribuir para a defesa da Pátria”. Lei Complementar
definiu que a atuação na área interna somente se dará após esgotados os
instrumentos da Segurança Pública e quando expressamente decidido pelo
Presidente da República. Portanto, esse emprego será episódico, temporário e
de curta duração” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 204).
Dentre os bens da União, patrimônios nacionais previstos no capítulo II,
artigo 20 da CRFB, constam: os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham,
bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; as ilhas fluviais e
lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas
oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de
Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade
ambiental federal, e as consideradas do Estado; os recursos naturais da
plataforma continental e da zona econômica exclusiva; o mar territorial; e os
87
terrenos de marinha e seus acrescidos, cabendo ressaltar aqui a importância
da região próxima ao litoral, conforme constante no parágrafo 2º: “a faixa de
até cento e cinqüenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres,
designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do
território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei”.
Assim, cabe a Marinha do Brasil atuar, conjuntamente com as demais
forças armadas, no sentido de preservar os preceitos constitucionais, sendo os
assuntos afetos ao mar de responsabilidade direta da MB, incluídos as águas
interiores e a Amazônia Azul.
A CRFB também foi a primeira Constituição a dedicar um capítulo inteiro
à tutela do meio ambiente (capítulo VI), podendo ser denominada “verde”, tal o
destaque dado a este assunto. Pode ser considerada a Constituição mais
abrangente e atual do mundo sobre a tutela do meio ambiente. No capítulo VI,
artigo 225, consta que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações”. No parágrafo 4º, consta
que “A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o
Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”.
De acordo com a Lei Complementar nº 97 de 09/06/1999, artigo 16,
“Cabe às Forças Armadas, como atribuição subsidiária geral, cooperar com o
desenvolvimento nacional e a defesa civil, na forma determinada pelo
Presidente da República. Para os efeitos deste artigo, integra as referidas
ações de caráter geral a participação em campanhas institucionais de utilidade
pública ou de interesse social, conforme disposto na Lei Complementar nº 117,
de 02/09/2004.
Ainda, no artigo 16-A, complementa: “Cabe às Forças Armadas, além de
outras ações pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas
as competências exclusivas das polícias judiciárias, atuar, por meio de ações
preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas
88
interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de
qualquer gravame que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e
ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder
Executivo, executando, dentre outras, as ações de:
I - patrulhamento;
II - revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves;
e
III - prisões em flagrante delito.
As Forças Armadas, ao zelar pela segurança pessoal das autoridades
nacionais e estrangeiras em missões oficiais, isoladamente ou em
coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, poderão exercer as
ações previstas nos incisos II e III deste artigo”.
E, no artigo 17, finaliza citando diretamente a MB: “Cabe à Marinha, como
atribuições subsidiárias particulares:
I - orientar e controlar a Marinha Mercante e suas atividades correlatas, no que
interessa à defesa nacional;
II - prover a segurança da navegação aquaviária;
III - contribuir para a formulação e condução de políticas nacionais que digam
respeito ao mar;
IV - implementar e fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos, no mar e
nas águas interiores, em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo,
federal ou estadual, quando se fizer necessária, em razão de competências
específicas.
V – cooperar com os órgãos federais, quando se fizer necessário, na
repressão aos delitos de repercussão nacional ou internacional, quanto ao uso
do mar, águas interiores e de áreas portuárias, na forma de apoio logístico, de
inteligência, de comunicações e de instrução. (Incluído pela Lei Complementar
nº 117, de 2004)
Pela especificidade dessas atribuições, é da competência do Comandante
da Marinha o trato dos assuntos dispostos neste artigo, ficando designado
como "Autoridade Marítima", para esse fim”.
89
Assim sendo, de acordo com Albuquerque (2006), mesmo em período
de paz, a tarefa da Marinha do Brasil é de grande relevância, decorrendo das
citadas atribuições subsidiárias as seguintes atividades principais:
- Patrulhar cerca de 40 mil km de rios navegáveis, de nove diferentes bacias
hidrográficas, que, por não estarem interligadas, exigem inúmeros navios e
embarcações de diversos tipos;
- Fiscalizar e inspecionar os navios que chegam aos nossos 36 portos e 83
terminais hidroviários e marítimos, e os que deles saem;
- Proteger cerca de 100 plataformas de exploração de petróleo situadas na
Amazônia Azul, particularmente na Bacia de Campos, de onde se extrai 91 %
do petróleo produzido no Brasil;
- Prover o socorro de emergência às pessoas acidentadas no mar e nos rios,
operando o Serviço de Busca e Salvamento (Salvamar) – atividade conhecida
mundialmente pela sigla SAR (Search and Rescue);
- Acompanhar cerca de 750 navios, sendo 70 de bandeira brasileira, que
trafegam diariamente de/para portos nacionais em uma extensa área no
Atlântico Sul (área SAR de responsabilidade do Brasil), caracterizando a
atividade denominada internacionalmente como Controle Naval do Tráfego
Marítimo;
- Autorizar a atividade de pesquisa e de exploração de recursos naturais por
navios e embarcações estrangeiras na Amazônia Azul;
- Executar ações preventivas e repressivas nos navios brasileiros ou
estrangeiros, quando navegando na área SAR do Brasil e submetidos a
ataques terroristas, após decisão de autoridade competente;
- Fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos, na Amazônia Azul,
exercendo a função de Autoridade Marítima;
- Executar a inspeção naval e a vistoria da qualificação do pessoal de bordo, a
fim de verificar o cumprimento de todos os requisitos de segurança da
navegação aquaviária;
- Cooperar com os órgãos de segurança pública, na repressão aos crimes de
repercussão nacional ou internacional, quando ocorridos no mar e nas águas
interiores;
90
- Contribuir para a formulação e a condução de políticas nacionais que digam
respeito ao mar, particularmente, nas áreas de pesca, pesquisa científica no
mar, mentalidade marítima e modernização dos portos.
- Efetuar levantamentos hidrográficos, sinalização, balizamento e manutenção
dos faróis no litoral e no mar brasileiros;
- Prover a prevenção e a fiscalização ambiental de poluições causadas por
embarcações ou plataformas petrolíferas no mar brasileiro;
- Qualificar os profissionais aquaviários, levando Ensino Profissional Marítimo
para aqueles que guarnecerão as embarcações e os navios em todo o mar
brasileiro e nas comunidades ribeirinhas situadas nas nove bacias
hidrográficas;
- Regulamentar o serviço de praticagem e estabelecer as zonas em que a
utilização desse serviço seja obrigatória; conduzir o Programa Antártico
Brasileiro, mantendo a Estação Antártica Comandante Ferraz;
- Cooperar com o desenvolvimento nacional, por meio de projetos elaborados
pelas organizações de pesquisa científica e de desenvolvimento tecnológico;
- Cooperar com o Sistema Nacional de Defesa Civil, por meio de ações
preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas, destinadas a evitar ou
atenuar os efeitos causados por catástrofes naturais;
- Prover assistência médica e odontológica às populações ribeirinhas na Bacia
Amazônica e do Rio Paraguai, que não têm acesso a esses serviços de outra
forma;
- Executar Assistência Cívico-Sociais nas comunidades carentes,
particularmente nas áreas ribeirinhas da Bacia Amazônica e do Rio Paraguai;
- Participar de campanhas institucionais de utilidade pública ou de interesse
social, determinadas pelo governo federal.
A maior parte das atividades supracitadas encontra respaldo legal no
Decreto nº 1.285 de 11/10/1994, que aprova a PMN, e no Decreto nº 6.703 de
18/12/2008, que aprova a Estratégia Nacional de Defesa. Adicionalmente,
vários dispositivos legais prevêem a atuação da MB, por intermédio de alguma
das suas Organizações Militares, tais como a possibilidade de prestar apoio ao
IBAMA, mediante convênio, nas ações de fiscalização relativas à PNMA (lei nº
91
6.938 de 31/08/1981), as Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental
(lei nº 99.724 de 06/06/1990), apoio a ANP, nas ações de fiscalização nas AJB
(lei nº 9.478 de 06/08/1999), pela atuação direta da DPC na fiscalização e
aplicação de sanções para as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente
(lei nº 9.605 de 12/02/1998 e lei nº 6.514 de 22/07/2008), no cumprimento da
Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário (LESTA) nº 9.537 de 11/12/1997, na
prevenção, controle e fiscalização da poluição causada pelo lançamento de
óleo e outras substâncias nocivas nas AJB (lei nº 9.966 de 28/04/2000), entre
outras.
O papel da MB na questão da prevenção da poluição ambiental nas AJB
é extremamente relevante, tendo em vista possuir a vocação e uma maior
disponibilidade dos meios para efetuar esta tarefa, ainda que, em primeira
análise, mostrem-se insuficientes devido à imensidão desta área. Segundo
Vidigal (2006), em contraponto a visão tradicional prevalecente em muitos
setores produtivos, que prega que as medidas de controle ambiental são
barreiras ao desenvolvimento industrial, há uma abordagem revisionista, a qual
“...considera que a imposição de padrões ambientais estimula a busca de
inovações tecnológicas para melhorar a utilização dos insumos (matérias-
primas, energia e trabalho). Isso reduziria os custos e compensaria os
investimentos na adequação ambiental, melhorando a competitividade das
empresas. É uma atitude eficaz de melhoria contínua e uma situação de
ganha-ganha. Assim, os sistemas produtivos que identificam as adequações
ambientais como custos geralmente são aqueles que atuam na remediação
dos efeitos. Com certeza não acreditam no adágio popular que afirma:
“prevenir é melhor que remediar”. Além das perdas financeiras, é preciso
lembrar que existem danos irremediáveis, como as perdas de vidas humanas e
de espécies marinhas, que não podem ser desconsideradas. Em muitos casos,
essas perdas são de tal ordem que colocam em risco a sobrevivência de
espécies” (VIDIGAL, 2006, p. 198).
É importante ressaltar também a atuação de algumas Organizações de
Marinha que contribuem enormemente com a disponibilização de dados que
auxiliam uma vasta de gama de atividades produtivas no mar. Inicialmente,
92
citamos a DHN, segundo Vidigal (2006), a quem cabe desenvolver as
atividades relacionadas a hidrografia, oceanografia, cartografia, meteorologia,
navegação e sinalização náutica, visando garantir a qualidade das atividades
de segurança de navegação que lhe couberem, na área de interesse do Brasil
e nas vias navegáveis interiores, e, ainda, contribuir para os projetos nacionais
de pesquisa nas AJB e dos resultantes de compromissos internacionais.
Quanto à coleta de dados oceanográficos e meteorológicos no mar, as
necessidades nacionais são supridas pelo PNBOIA, cujas decisões
operacionais são de responsabilidade do Centro de Hidrografia da Marinha
(CHM). Ressalta-se também a importância do trabalho de sinalização náutica,
executado pelo Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego (CAMR)
por delegação da DHN, responsável pelo planejamento, coordenação e o
controle da sinalização náutica da MB, além de orientar a execução desta
tarefa para as entidades extra-Marinha. Ainda, com projetos de pesquisa e
desenvolvimento científico e tecnológico nas áreas de Oceanografia,
Meteorologia, Geologia e Geofísica Marinhas, Acústica Submarina e
Engenharia Costeira e Oceânica, o Instituto de Estudos do Mar Almirante
Paulo Moreira (IEAPM) contribui para o melhor conhecimento e a eficaz
utilização do meio ambiente marinho no interesse da MB e do Brasil.
Também, em apoio à política externa brasileira, a Marinha do Brasil atua
em ações internacionais que ratificam o compromisso do País em participar do
concerto das Nações e dá clara demonstração da capacidade de o Brasil atuar
eficientemente, com suas Forças Armadas, o que contribui para a busca do
efeito de dissuasão, como comentado neste livro, fundamental para evitar
conflitos armados.
A Marinha do Brasil participou de Operações de Paz com envio de
militares para vários países, de diversas formas: observadores militares, em
grupos isolados, verificando o cumprimento dos acordos de paz, com tropas de
infantaria, unidades médicas, equipes de desminagem, pelotões de engenharia
e transporte de contingente brasileiro por navios, entre outros.
Certamente a Marinha exerce diariamente inúmeras atividades,
rotineiramente, em prol da sociedade brasileira e que muito contribuem para o
93
desenvolvimento do País, mas nem todas aparecem para o público de maneira
geral. A maioria dessas ações não fica ao alcance da visão dos cidadãos, pois
estão em alto mar.
Encerrando este capítulo, pudemos identificar as ações governamentais
que, na esteira das necessidades impostas pela CNUDM, criaram a CIRM, a
PNM e a PNRM, cujos projetos e programas propiciaram enorme abrangência
aos interesses do país quanto aos assuntos ligados ao mar, no
estabelecimento dos limites das AJB, e no desenvolvimento, fiscalização e
controle das atividades produtivas que dependem do mar. Tomamos
conhecimento da importância que o governo brasileiro deu a preservação do
meio ambiente, concretizando esta preocupação na CRFB de 1988 e,
posteriormente, em todo um arcabouço legal que faz da legislação ambiental
brasileira uma das mais modernas do mundo. Neste contexto, percebemos
também que, especialmente no mar, a vastidão associada a uma enorme
demanda de serviços de fiscalização e controle, fruto da tentação de burlar os
mecanismos legais em prol do lucro fácil, dificultam sobremaneira a tarefa da
MB. Passamos também a conhecer a Marinha de paz, a outra face da Marinha
de guerra, atuante em várias frentes de trabalho, subsidiando as atividades
produtivas no mar, propiciando informações de grande valor para o seu
desenvolvimento e a segurança das suas instalações.
De acordo com o trabalho “O Ambiente Marinho – Uma visão da
Marinha” apresentado na 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação”, realizado em 2010, “Para países como o Brasil, com uma extensa
costa e imensas bacias hidrográficas plenamente navegáveis, a ameaça se
multiplica por sua própria grandiosidade física. Assim sendo, a única garantia
de controle eficaz sobre a proliferação do crime transfronteiriço, como
contrabando de bens materiais e imateriais, biopirataria e narcotráfico, está na
consolidação das redes de inteligência e vigilância desenvolvidas pela Marinha
do Brasil. O impacto sobre emprego, renda, patentes, etc l possui uma das
suas chaves na capacidade de transformar as fronteiras brasileiras em locais
vivos de trocas legítimas, geradoras de riqueza e de renda para todos e não
94
em couto de criminosos que prejudicam a imagem do País e a prosperidade
geral.
Em outra dimensão, na qual a poluição e a degradação ambiental
ameaçam o futuro da humanidade, a capacidade de garantir e vigiar a
preservação das nossas águas oceânicas é uma tarefa hercúlea, para a qual a
Marinha possui vocação histórica. Soma-se a isso a clara e indiscutível
escassez de recursos naturais, em especial a água potável, um bem cada vez
mais raro e que, na opinião de estrategistas renomados, poderá ser, no
horizonte deste século, uma causa de conflito bélico.
Apesar de o Brasil ser um país com longa tradição de pacifismo e não
intervenção, tendo se envolvido pela última vez em uma guerra com um Estado
vizinho há mais de 140 anos, é preciso que esteja preparado para enfrentar
agressões e ameaças externas. Em um ambiente de escassez, sempre haverá
cobiça em relação aos recursos dos outros, especialmente se o Estado
detentor destes recursos não possuir os meios necessários para defender a
sua soberania. A “Amazônia Azul” é um alvo potencial dessa cobiça. Além de
possuir inúmeras riquezas, trata-se de uma região estratégica para o controle
das linhas de comunicações marítimas no Atlântico Sul.
A proteção do imenso patrimônio marítimo presente na “Amazônia Azul”
é uma tarefa complexa. São 4,5 milhões de quilômetros quadrados de área a
ser vigiada. Se a ação for tímida, ilícitos como pirataria, contrabando, despejos
ilegais de material poluente, exploração da fauna, dentre outros, encontram
terreno fértil de propagação. Por outro lado, a exploração das riquezas
marítimas deve ser realizada de maneira inteligente e sustentável, para que
não se esgotem e privem o País dessa grande fonte de recursos, que contribui
significativamente para o desenvolvimento do Brasil.
Apenas com esse quadro superficial pode-se considerar o quão
fundamental é a existência de uma Marinha capacitada para executar as ações
afetas à defesa da soberania nacional na “Amazônia Azul”, nas quais se
incluem, também, o gerenciamento e o monitoramento das atividades que
nelas estiverem em curso.
95
Agora que temos conhecimento das riquezas e da importância da
Amazônia Azul descritas no capítulo I deste trabalho, e das várias ações
governamentais e as decorrentes atribuições da MB em tempos de guerra ou
de paz, descritas neste capítulo, temos condições de avaliar no capítulo III se
os meios físicos estão à altura da envergadura das tarefas atribuídas, se
somos capazes de estender as palavras aos atos, se temos como garantir a
segurança das AJB, gerenciando sistemas de informação e controle que
auxiliam diretamente aos que do mar tiram o seu sustento, mantendo o
respeito e a preservação do meio ambiente visando uma exploração
sustentável dos seus recursos, bem como se temos a capacidade de exercer o
Poder Naval, missão primeira atribuída pela CRFB, de forma a manter a
soberania da nossa nação.
CAPÍTULO III
CAPACITAÇÃO PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL DA
AMAZÔNIA AZUL
Com base no apresentado nos capítulos anteriores, é chegado o
momento de analisarmos se a MB possui a capacidade necessária para
executar as tarefas que lhe foram atribuídas, as quais certamente se
avolumarão na medida em que o desenvolvimento da indústria de exploração
dos recursos do mar progrida, e, caso negativo, avaliar se as medidas
necessárias para obter esta capacitação estão sendo tomadas de forma
adequada, abordando o aspecto temporal, qualitativo e quantitativo da adoção
dessas medidas. É intenção também, de forma simplificada, defender a tese
de que os gastos com a capacitação da nossa MB não devem ser encarados
como despesa, mas sim como custo.
Quanto a proposta de capacitação, será apresentada de forma resumida
a END, o PAEMB e a possibilidade de utilização dos meios obtidos com a sua
96
implementação nas tarefas da Marinha de paz, empregando os equipamentos
e sistemas primariamente adquiridos para defesa, no monitoramento,
fiscalização, controle e vigilância da Amazônia Azul, sem abdicar da missão
primeira, que é a defesa da soberania da nossa pátria.
Em caráter complementar, serão apresentadas noções gerais sobre
como é feito o Orçamento Geral da União, e uma simples comparação dos
recursos destinados às principais pastas do governo em relação a pasta da
Defesa, visando sinalizar a importância de atuar diligentemente na destinação
dos recursos orçamentários adequados a implementação do PAEMB,
passando literalmente da retórica à ação.
É pretensão também abordar algumas possibilidades de obtenção de
receitas adicionais para a MB, objetivando o estabelecimento de relações
comerciais entre esta organização e os stakeholders que se beneficiam dos
serviços prestados pela mesma.
3.1 – Capacidade da Marinha do Brasil – Uma história que se
repete
Neste tópico, pretendemos apresentar como se desenvolveu ao longo
do tempo a Marinha do Brasil, visando identificar a recorrência de problemas
que afetaram e ainda afetam a sua capacidade de atuar eficientemente na
consecução das tarefas que lhe são atribuídas.
De acordo com Albuquerque (2006), devido às guerras napoleônicas
(1804-1815), a Família Real, juntamente com todo o aparato burocrático e
administrativo, foi transferida para o Rio de Janeiro. Entre as primeiras
decisões de Dom João VI, já no dia 11/03/1808, está a instalação do Ministério
dos Negócios da Marinha e Ultramar, com o mesmo regulamento instituído
pelo Alvará de 1736. A seguir, foram sucessivamente criadas ou estabelecidas
várias repartições necessárias ao funcionamento do Ministério da Marinha, tais
como: Quartel-General da Armada, Intendência e Contadoria, Arquivo Militar,
Hospital de Marinha, Fábrica de Pólvora e Conselho Supremo Militar. No
tocante à infra-estrutura já existente no Rio de Janeiro, observamos que o
97
Arsenal Real da Marinha, localizado então ao pé do morro do Mosteiro de São
Bento, cuja criação data de 1763, teve sua capacidade ampliada para poder
apoiar a recém-chegada esquadra.
Diante da invasão do território continental português pelas tropas de
Napoleão, Dom João declara guerra à França, considerando nulos todos os
tratados assinados com este país. Assim, os limites entre o Brasil e a Guiana
Francesa voltaram a ser questionados, de forma que imediatamente a
esquadra, composta por treze embarcações, foi acionada para conduzir as
tropas às margens do Rio Oiapoque, com ordens para ocupar a Guiana
Francesa e tomar Caiena, o que ocorreu em 12/01/1809. A ocupação
Portuguesa da Guiana durou oito anos e serviu para a fixação dos limites
brasileiros do Oiapoque.
Outro movimento importante de Dom João VI na política externa foi a
ocupação da Banda Oriental (futuro Uruguai) que, recusando-se a fazer parte
das Províncias Unidas do Reino da Prata, invadiu as fronteiras portenhas e
brasileiras. Na ocupação, foi de grande importância o papel que desempenhou
a Marinha, não só no transporte das tropas, desde Portugal (já liberado do
domínio francês), como também em todo o desenrolar da ocupação.
Em paralelo ao que ocorria no Sul, a Corte teve que se mobilizar para
fazer frente ao movimento separatista que eclodiu em Pernambuco, em março
de 1817. As primeiras providências para o restabelecimento da ordem legal
foram tomadas pelo Conde dos Arcos, governador da Bahia, que fez armar
para a guerra alguns navios mercantes, e mandou-os seguir para Pernambuco.
A esquadrilha era composta por três navios e tinha como missão o bloqueio do
porto do Recife, enquanto que, da Bahia, seguiram por terra dois regimentos
de cavalaria e dois de infantaria. Em 4 de maio, outra Divisão Naval partiu do
Rio de Janeiro. O cerco da cidade do Recife por terra e o bloqueio efetuado
por mar fizeram com que os rebeldes abandonassem a cidade em 20 de maio,
dando fim ao movimento separatista.
Contrariamente ao que o povo Português esperava, a queda de
Napoleão não trouxe de volta a Corte Portuguesa. Tendo permanecido no Rio
de Janeiro, Dom João VI eleva o Brasil a uma condição equivalente a de
98
Portugal, o que, somado a um clamor pela flexibilização do absolutismo
monárquico, leva o povo português a um movimento revolucionário liberal com
uma proposta de monarquia constitucionalista. Ainda que Dom João VI tenha
voltado a Portugal, persistiu o movimento, inclusive pregando a reativação da
subordinação política e econômica do Brasil, nesta altura tendo como príncipe
regente Dom Pedro I, reerguendo o pacto colonial. Em conseqüência, Dom
Pedro I, negando-se a retornar a Lisboa, reage com o pronunciamento do Dia
do Fico, nomeando um novo gabinete de ministros, encabeçado por José
Bonifácio de Andrada e Silva, que defendia a emancipação do Brasil sob uma
monarquia constitucional encabeçada pelo príncipe regente.
Consequentemente, em 7/09/1822, Dom Pedro declara a independência do
Brasil. Em 1822 a Armada Nacional contava então com 38 embarcações de
variados tipos.
“O governo brasileiro, constituído por José Bonifácio, percebeu que só o
domínio do mar manteria a unidade da ex-colônia portuguesa, pois as ligações
entre as províncias litorâneas, onde estava concentrada a maior parte da
população e da força produtiva brasileira, eram inteiramente pelas vias
marítimas, ao longo de um extenso litoral de mais de 8 mil quilômetros. A
rápida formação de uma Marinha de Guerra nacional constituía-se no melhor
meio de transportar e concentrar tropas leais e suprimentos para as áreas de
embate com os portugueses, com a rapidez e a segurança que os caminhos
terrestres não permitiam. Ainda, esse conjunto de navios de guerra, a
Esquadra, promoveria o bloqueio aos portos das cidades brasileiras ocupadas
pelos portugueses, impedindo a chegada de reforços da metrópole e isolando
as guarnições portuguesas de suprimentos vindos por mar, bem como
fustigando-as com o fogo dos canhões embarcados. O nascimento da Marinha
Imperial se deu nesse regime de urgência, aproveitando os navios deixados no
porto do Rio de Janeiro pelos portugueses, em mau estado de conservação, e
os oficiais e praças da Marinha portuguesa que aderiram à Independência.
Os navios foram reparados, em um intenso trabalho do Arsenal de
Marinha do Rio de Janeiro, e foram adquiridos outros, tanto pelo governo como
por subscrição pública. E as lacunas encontradas nos corpos de oficiais e
99
praças foram completadas com a contratação de estrangeiros, sobretudo
experientes remanescentes da Marinha inglesa. A necessidade de dispor da
Força Naval como eficiente elemento operativo e como fator de dissuasão para
as pretensões de reconquista portuguesa fez com que o governo imperial
contratasse Lorde Thomas Cochrane, um brilhante e experiente oficial de
marinha inglês, como Comandante-em-Chefe da Esquadra” (ALBUQUERQUE,
2006, p. 75 e 76).
De acordo com Albuquerque (2006), declarada a independência, Dom
Pedro logo vê-se acuado entre os portugueses do Brasil, que queriam uma
monarquia absolutista, e os brasileiros, liberais, que pregavam uma monarquia
constitucionalista. O embate entre portugueses e brasileiros na Assembléia
Geral Legislativa transparece na imprensa, que ataca o imperador e vai para
as ruas, onde partidários do imperador entram em choque com defensores do
Partido Brasileiro. Preocupava Dom Pedro I não somente a oposição ao seu
reinado, que crescia entre os brasileiros, mas também a situação política em
sua terra natal, Portugal, onde ele próprio e seus descendentes tinham direitos
sobre o trono.
Em 7/04/1831, Dom Pedro I abdicou do trono em favor de seu filho,
Dom Pedro de Alcântara, então com cinco anos de idade. No período
regencial, o conturbado ambiente político da Corte se refletiu nas províncias do
Império, em movimentos armados que explodiram por todos os principais
centros regionais, desde 1831 até os anos de consolidação do reinado de Dom
Pedro II. A Marinha da Independência e da Guerra Cisplatina, de 1828,
constituída por cerca de 96 navios de guerra modernos e de variados tipos, até
1852 foi sendo transformada em uma Marinha de unidades menores, próprias
para enfrentar as conflagrações nas províncias e também de acordo com as
limitações orçamentárias.
Já em 1864, a livre navegação nos rios e os limites entre o Brasil e o
norte do Paraguai eram motivos de discordância entre os dois países. Não se
chegou a um acordo satisfatório até a conclusão da Guerra da Tríplice Aliança.
Cabe ressaltar que, entre os atos hostis do Paraguai, houve o apresamento do
vapor brasileiro Marquês de Olinda, em 12/11/1864, e a invasão do sul de Mato
100
Grosso por tropas paraguaias, em 28/12/1864. A Argentina possuía, durante
essa guerra, apenas uma pequena Marinha e o esforço naval foi quase
totalmente da Marinha do Brasil.
No início da Guerra da Tríplice Aliança, a Marinha do Brasil dispunha de
45 navios armados. Destes, 33 eram navios de propulsão mista, a vela e a
vapor, e 12 dependiam exclusivamente do vento. A propulsão a vapor, no
entanto, era essencial para operar nos rios. Todos tinham casco de madeira.
Muitos deles já estavam armados com canhões raiados de carregamento pela
culatra. Os navios brasileiros, no entanto, mesmo os de propulsão mista, eram
adequados para operar no mar e não nas condições de águas restritas e
pouco profundas dos Rios Paraná e Paraguai, sendo a possibilidade de
encalhar um perigo sempre presente. Além disso, esses navios, com casco de
madeira, eram muito vulneráveis à artilharia de terra, posicionada nas
margens. A estratégia naval adotada pelo Comandante das Forças Navais
Brasileiras, Almirante Tamandaré, foi a de negar o acesso ao território
paraguaio através do bloqueio, efetivamente imposto pelo então Chefe-de-
divisão Francisco Manoel Barroso da Silva que, atacando a cidade de
Corrientes, flanqueou a direita dos invasores, forçando os paraguaios a reagir
na tentativa de anular esta ação, levando os contendores à chamada Batalha
Naval de Riachuelo. Ainda que o fator surpresa favorecesse inicialmente os
paraguaios, em ação destemida, após a perda de três embarcações, Barroso
retorna ao cenário de batalha à bordo da fragata Amazonas e, sob fogo
inimigo, mesmo sabendo que seu barco não havia sido construído para tal,
abalroa as embarcações paraguaias, dando início à vitória brasileira.
Entretanto, tal vitória não encerrava a guerra, uma vez que o Paraguai estava
bem preparado, tendo sido necessário o Brasil adquirir às pressas
embarcações adequadas ao teatro de combate, sendo o encouraçado Brasil (o
primeiro do Brasil) o primeiro a chegar à frente de combate, em 1865. Durante
a guerra, 17 encouraçados seriam incorporados à armada brasileira, sendo 3
construídos no Brasil, no Arsenal de Marinha da Corte. Durante o resto da
campanha, até 1869, a participação da armada brasileira foi decisiva no
combate às fortificações ribeirinhas e no apoio pelo transporte e desembarque
101
de tropas. Ao término deste conflito, o governo brasileiro reparou os danos
sofridos pelas embarcações e reequipou-as, passando a ter, àquela época, a
quarta mais poderosa marinha de guerra do mundo, atingindo o ápice em
1885.
Entretanto, à partir de 1870, as pesadas despesas geradas pela guerra
da Tríplice Aliança provocaram uma crise econômica no Brasil, que somou-se
aos efeitos da insatisfação dos grandes fazendeiros com a abolição da
escravatura sem a pretendida indenização, ao desejo da classe média
emergente em ter mais liberdade e uma maior participação nos assuntos
políticos, e ao fato do Imperador Dom Pedro II não possuir sucessor
masculino, o que daria o trono à Princesa Izabel, casada com um Francês,
gerando o receio de que o país passasse a ser governado por um estrangeiro.
Assim, ainda que o povo, de um modo geral, simpatizasse com o Imperador, já
não via mais com bons olhos o seu Império. Estes fatos levaram à
Proclamação da República em 15/11/1889.
Os primeiros anos da República foram marcados pela progressiva
desmobilização da Esquadra brasileira, cujos militares de prestígio eram em
grande parte fiéis ao Imperador.
“As revoltas que assolaram a Nação e o desgaste econômico conhecido
como encilhamento provocaram o gradativo desmantelamento das unidades
da Força Naval. A situação interna do País se refletia nos orçamentos
insuficientes que negavam à Marinha os recursos necessários à modernização
dos meios flutuantes e à criação de uma infra-estrutura de apoio. Essa
situação se manteve por toda a década final do século XIX. A sucessão de
quatro ministros da Marinha em apenas seis anos contribuiu negativamente
para a elaboração de um programa naval condizente com o litoral e os
interesses a defender.
Em 15 de novembro de 1902, o Almirante Júlio de Noronha assumiu a
pasta da Marinha, encontrando uma Força Naval composta de navios
reformados, sendo, na sua maioria, modelos obsoletos perante as classes
mais modernas que estavam em processo de construção pelas potências
industriais da época.
102
Procurando satisfazer a justa aspiração brasileira em constituir uma
Marinha bem aparelhada, o deputado Dr. Laurindo Pitta apresentou à Câmara,
em julho de 1904, projeto que continha o programa naval do Almirante Júlio de
Noronha, o qual poderia atender a tais expectativas” (ALBUQUERQUE, 2006,
p. 129). Depois de uma entusiasmada defesa e tendo encabeçado grande luta
nos bastidores da política, seu projeto finalmente foi aprovado e se
transformou no Decreto no 1.296, de 14/11/1904.
Prosseguindo em seu relato, Albuquerque (2006) cita que em
15/11/1906, assumiu a Presidência da República o conselheiro Afonso Pena,
sendo a pasta da Marinha ocupada pelo Almirante Alexandrino Faria de
Alencar, que logo conseguiu obter do Congresso a reforma do programa de
1904, cuja alteração mais marcante foi a adição de três novos encouraçados
do tipo dreadnought, de 20.000 toneladas. Nesse programa, foi cancelado o
projeto de um novo arsenal, optando-se por modernizar as instalações da Ilha
das Cobras, porém, admitia-se a construção de bases secundárias, em Belém
e em Natal, e um porto militar de pequeno porte em Santa Catarina.
Como conseqüência direta deste programa, a Esquadra de 1910
representou um verdadeiro revigoramento militar e tecnológico da MB. Dessa
forma, o Brasil obteve uma frota de alto-mar ofensiva, podendo levar a outros
rincões o Pavilhão Nacional e, principalmente, apoiar a ação diplomática do
governo brasileiro em qualquer local em que se fizesse necessário. A
incorporação de navios como os encouraçados Minas Gerais e São Paulo,
pertencentes à classe dos dreadnoughts, os mais poderosos do mundo,
encheu de orgulho e confiança os cidadãos brasileiros.
Além dessas embarcações, também chegaram os cruzadores Bahia e
Rio Grande do Sul e os contratorpedeiros Amazonas, Pará, Piauí, Rio Grande
do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso.
Posteriormente ao ano de 1910, o contratorpedeiro Maranhão, os
submarinos F1, F3, F5 e Humaitá, o tender Ceará e outros navios auxiliares
complementaram os efetivos navais da Marinha.
De acordo com Albuquerque (2006), iniciada a Primeira Grande Guerra,
o Brasil permaneceu neutro durante o três primeiros anos. O bloqueio
103
submarino efetuado em 1917 pelo governo alemão aos países Aliados, trouxe
mal-estar a todos os países neutros, e especialmente preocupou o governo
brasileiro, que dependia fundamentalmente do mar para escoar a sua
produção e importar produtos de que necessitava, cabendo ressaltar que
naquela oportunidade, não existiam estradas ligando o Sul e o Sudeste com o
Norte e Nordeste, sendo as comunicações entre essas regiões feitas por mar,
daí nossa grande vulnerabilidade estratégica. Inicialmente, o Brasil apresentou
seu protesto formal à Alemanha, seguido do rompimento das relações
comerciais, mantendo ainda, porém, a sua neutralidade, postura que veio a ser
modificada, em 11/04/1917, devido ao afundamento do navio mercante Paraná
ao largo da costa francesa, ocasião na qual o governo brasileiro rompeu as
relações diplomáticas com o governo alemão. Após o ataque a mais três dos
nossos mercantes, em 26/10/1917, o Brasil reconheceu e proclamou o estado
de guerra com o Império alemão. A participação da MB na Primeira Grande
Guerra formalizou-se com o envio, para o teatro de operação, da Divisão Naval
em Operações de Guerra (DNOG), com a missão de efetuar o patrulhamento
da área entre Dakar–São Vicente–Gibraltar na costa da África, cumprida com
êxito, e era composta pelos seguintes meios navais da esquadra de 1910:
cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul, contratorpedeiros Piauí, Rio Grande do
Norte, Paraíba e Santa Catarina, cruzador-auxiliar Belmonte e rebocador
Laurindo Pitta. Adicionalmente, o porto do Rio de Janeiro recebeu uma linha de
minas submarinas e foram enviadas tropas para a proteção das ilhas de
Trindade e Fernando de Noronha. É importante frisar que a MB era
dependente de suprimentos vindos do exterior. Não existiam estaleiros
capacitados, nem fábricas de munição e estoques logísticos adequados.
Dessa forma, a preparação da DNOG foi muito dificultada por limitações que
não eram só da Marinha, mas também do Brasil.
O período de 1918 a 1939 caracterizou-se pelo abandono a que foi
submetida não só a Marinha de Guerra como praticamente toda a atividade
nacional relacionada com o mar. A ausência de mentalidade marítima do povo
brasileiro revelou-se em toda a sua intensidade, cabendo registrar apenas
104
algumas modestas ações, como a criação da Escola Naval de Guerra, da
Flotilha dos Submarinos e da Escola de Aviação Naval.
“A revolução de 30 representou para a Marinha um divisor de águas
entre duas épocas distintas. Em relatório do ministro da Marinha, no ano de
1932, em que foi feita análise da situação da Marinha, encontra-se registrada a
seguinte declaração: “Estamos deixando morrer a nossa Marinha. A Esquadra
agoniza pela idade (a maior parte dos navios era da Esquadra de 1910), e,
perdido com ela o hábito das viagens, substituído pela vida parasitária e
burocrática dos portos, morrem todas as tradições... Estamos numa
encruzilhada: ou fazemos renascer o Poder Naval sob bases permanentes e
voluntariosas, ou nos resignamos a ostentar a nossa fraqueza provocadora....
estamos completamente desaparelhados....”” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 143).
Cita Albuquerque (2006) que, em 1940, a nossa força naval era
composta por navios em sua maioria já obsoletos, muitos oriundos da
esquadra de 1910, totalmente despreparados para enfrentar a guerra anti-
submarina, sendo a nossa doutrina baseada ainda nas lições da Primeira
Guerra Mundial. As verbas requeridas anteriormente para equipamento e
treinamento das forças navais eram seguidamente preteridas pelo governo
Getúlio Vargas.
As grandes preocupações do nosso Estado-Maior da Armada eram a
defesa de nossa enorme e desprotegida costa marítima e, essencialmente, a
proteção das linhas de comunicação, vitais para a conservação de nossas
artérias comerciais com o exterior e para a manutenção das linhas de
cabotagem, sendo que, nesta época, esse tipo de transporte era fundamental,
pois não existia uma única comunicação terrestre entre Belém e São Luís,
Fortaleza e Natal, e Salvador e Vitória.
Na Segunda Guerra Mundial, inicialmente também mantivemo-nos
neutros. Devido aos interesses comuns aos Estados Unidos, nos solidarizamos
quando do ataque japonês a Pearl Harbour, em 7/12/1941. Em represália,
nossa Marinha Mercante começou a ser agredida pelos submarinos alemães.
Em 22/03/1941, no Mar Mediterrâneo, o navio mercante (NM) Taubaté foi
metralhado pela Força Aérea alemã. Em 28/01/1942, o Brasil rompeu relações
105
diplomáticas com os países do eixo. A primeira perda foi o navio mercante
Cabedelo, em fevereiro de 1942, seguindo-se a perda de mais 12 navios
brasileiros até julho deste ano. Em vista das claras atitudes de alinhamento do
Brasil com os aliados, os alemães planejaram uma ofensiva aos portos
brasileiros visando atacar as linhas de navegação de longo curso e de
cabotagem, ocorrendo então, no período de 15 a 19/08/1942, o ataque
fulminante do U-507, que, em cinco dias, levou a pique seis embarcações
nacionais dedicadas à linha de cabotagem nas costas de Sergipe, com 607
vítimas, inclusive soldados do Exército. Esse ato levou o Brasil a declarar
guerra, em 31/08/1942, às potências do eixo.
Imediatamente a Marinha mobilizou-se, criando a Força Naval do
Nordeste (com navios já em operação e meios recebidos do Acordo Lend
Lease com os EUA). A missão da Marinha, cumprida desde o primeiro dia de
guerra até o armistício, era a proteção de comboios internacionais e nacionais,
garantindo a segurança de mais de 4 mil navios, de muitas nacionalidades,
contra a ameaça submarina germânica, garantindo-se o suprimento, vital na
época, de combustível, insumos, até alimentos, sem que o Brasil sofresse as
agruras da guerra.
Ainda durante o ano de 1942, foram torpedeados mais 5 navios
brasileiros, totalizando 24 navios afundados neste ano. Em 1943, os ataques
diminuíram devido a forte escolta e intenso patrulhamento das forças aliadas,
tendo sido afundados 8 navios brasileiros. Ao término da guerra, 30 navios
mercantes (21 % da frota) e 3 navios de guerra brasileiros haviam sido
perdidos, contabilizando 982 civis e 492 militares mortos ou desaparecidos.
De acordo com Albuquerque (2006), a Lei de Empréstimo e
Arrendamento (Lend Lease) propiciou ao Brasil um crédito de 200 milhões de
dólares, dos quais 50 milhões couberam a MB, sendo 2 milhões utilizados no
armamento dos navios mercantes brasileiros. Durante a guerra o Brasil
recebeu 16 navios caça-submarinos, 8 contratorpedeiros de escolta e 1 navio-
transporte de tropas, tendo sido construídos no país 3 contratorpedeiros e 6
corvetas, além de ter sido desenvolvido intenso trabalho de adaptação dos
antigos navios, na medida do possível, para viabilizar a campanha anti-
106
submarino. Data desta época a criação dos Comandos Navais, visando
setorizar as ações de defesa da fronteira marítima e costas.
Como conclusões da participação da MB neste conflito, Albuquerque
(2006) ressalta: a aquisição de uma maior capacidade para controlar áreas
marítimas e maior poder dissuasório, sem esquecer que tal situação foi fruto
do auxílio norte-americano, fundamental na manutenção segura de nossas
linhas de comércio marítimo; a mudança de mentalidade na Marinha, com a
assimilação de novas técnicas de combate e a incorporação de meios
modernos para as forças navais tornando-a bem mais profissional; a
oportunidade de participar de ações de guerra e adquirir experiências da
refrega, das adversidades, do medo e da dor com a perda de navios e
companheiros, fundamental para forjar os futuros almirantes, oficiais e praças;
a percepção de que a logística ocupa um lugar de suma importância na
manutenção de uma força combatente operando eficientemente; a nossa
aproximação franca com os EUA, alinhando-nos com a sua doutrina, com
ênfase na guerra anti-submarina, percepção somente mudada a partir da
denúncia do Acordo Militar com esse país em 1977, quando optamos por uma
tecnologia relativamente autóctone; e, por fim, a guerra no mar mostrou que,
no caso do Brasil, em uma conflagração generalizada, as nossas linhas de
comunicação serão os alvos prioritários, como já havia acontecido em 1917.
Na década de 1950, o Brasil limitou-se a construir no AMRJ algumas
barcas de óleo e 3 navios hidrográficos, que tiveram como novidade a
superestrutura de alumínio, sendo fato relevante citar que o governo Juscelino
Kubitschek adquiriu em 1956 o primeiro porta-aviões brasileiro, o NAeL Minas
Gerais, incorporado ao final de 1960, tendo sido desativado somente em 2001.
Na década de 1960 a construção naval militar no Brasil construiu, no
AMRJ, apenas balsas, chatas de diversos tipos, entre outros barcos menores,
e foi incorporado o navio-tanque Marajó, construído pelo estaleiro Ishikawajima
do Brasil.
A década de 1970 foi mais ativa, tendo sido modernizado o NAeL Minas
Gerais e construídos no AMRJ 6 Navios-Patrulha Costeiros da Classe Piratini,
2 Navios-Patrulha Fluviais da Classe Pedro Teixeira, 3 Embarcações de
107
Desembarque de Carga Geral Classe Guarapari e 2 Fragatas Classe Niterói,
tendo sido adquiridas da Inglaterra pela MB outras 4 novas Fragatas Classe
Niterói, que serviram de modelo para as construídas pelo AMRJ.
A década de 1980 também foi consideravelmente ativa para os padrões
brasileiros, tendo sido executado no AMRJ o primeiro Programa de
Manutenção Geral das Fragatas, e construídos o Navio-Patrulha Classe Itaipu,
tornando-se o primeiro navio de guerra brasileiro para exportação, o Navio
Escola Brasil, derivado do projeto das Fragatas Classe Niterói, 2 Navios de
Assistência Hospitalar, 2 Corvetas da Classe Inhaúma, o Dique Flutuante
Almirante Schieck, entre outras embarcações de menor porte. Foram
adquiridos dos EUA pela MB os Navios de Desembarque Doca Ceará e Rio de
Janeiro, e da Noruega, o Navio de Socorro Submarino Felinto Perry.
Na década de 1990 foram construídos pelo AMRJ 2 Navios-Patrulha da
Classe Grajaú, 2 Lanchas-Patrulha e Polícia Naval, 2 Lanchas Balizadoras, e 3
submarinos da Classe Tupi, tendo sido incorporados o Navio de Transporte
Gastão Motta, construído pelo estaleiro Ishikawajima do Brasil, e 4 Navios-
Patrulha Classe Grajaú, sendo 2 construídos pelo estaleiro Mauá e 2
construídos pelo estaleiro INACE. A MB ainda adquiriu da Inglaterra 4 Fragatas
da Classe Greenhalgh (todas em operação, exceto a Fragata Dodsworth, que
deu baixa em 2004) e 4 Navios-Patrulha da Classe Bracuí, 6 Navios-Patrulha
da Classe Grajaú da Alemanha, e dos EUA, o Navio de Desembarque de
Carros de Combate Matoso Maia.
Na década de 2000, foram construídos no AMRJ a Corveta da Classe
Barroso e 1 submarino da Classe Tikuna, e pelo estaleiro INACE o Navio-
Patrulha Macaé, encontrando-se encomendados desta classe mais 1 navio ao
INACE e mais 4 ao EISA. Foram também adquiridos da Inglaterra pela MB os
Navios de Desembarque de Carros de Combate Almirante Sabóia e Garcia
D’Ávila.
Em resumo, com base no acima exposto, constatamos os seguintes
fatos principais:
- Na guerra contra o Paraguai, nossos navios não eram adequados a operação
em rios, tendo sido necessário o sacrifício de muitos brasileiros nos primeiros
108
combates, situação que somente foi remediada à custa de um esforço de
guerra na construção e aquisição de melhores meios. Nossa esquadra atingiu
o seu ápice logo após a guerra contra o Paraguai, obviamente motivada pela
necessidade de equipar-se para estar a altura de combater a ameaça.
Entretanto, ainda que bem equipados, por volta do início da Primeira Grande
Guerra não possuíamos infra-estrutura de apoio logístico adequada, com
grande dependência do exterior;
- Durante quase 20 anos (1918-1939), os investimentos foram irrisórios ou
nulos, provocando a obsolescência da frota, que não estava preparada para a
guerra anti-submarina, deixando-nos praticamente a mercê do inimigo na
Segunda Grande Guerra Mundial, de tal forma que, com um único submarino,
os Alemães praticamente paralisaram as linhas de comércio marítimo nas
águas adjacentes ao Brasil, somente defendidas adequadamente após o apoio
dos EUA. Cabe ressaltar que esta vulnerabilidade ainda é uma ameaça nos
dias de hoje, haja vista o explanado no capítulo I, item “1.2.2”;
- Após a Segunda Guerra Mundial, esforços foram feitos no sentido de equipar
minimamente a MB, sendo relevante a aquisição do NAeL Minas Gerais, que
nos levou ao NAe São Paulo, e as décadas de 1970 e 1980, que propiciaram a
formação da escolta de Fragatas e Corvetas, bem como a capacitação na
construção de submarinos convencionais. Levando-se em conta os recursos
alocados, pode-se considerar que fez-se muito com tão pouco;
- Desde a década de 1990, o AMRJ vêm sendo alvo de restrições
orçamentárias que têm acelerado o sucateamento das suas instalações. Em
pior condição se encontra a política de recursos humanos, cujo
enquadramento dos funcionários no Regime Jurídico Único, em 1990, desfez a
ligação direta entre os interesses do estaleiro, tais como a produtividade e o
mérito funcional, e os dos funcionários que, em grande parte, uma vez
transformados em servidores públicos, se acomodaram a uma política do “você
finge que me paga que eu finjo que trabalho”, devido ao fato da política salarial
e de carreira passar a ser ditada pelo Governo Federal, cujos burocratas
desconhecem a importância estratégica do trabalho executado no AMRJ. Em
decorrência desta desconexão, a política de treinamento dos funcionários,
109
após a conversão em servidores, foi abandonada, tendo como consequência
inevitável o início do sucateamento das mentes, com graves reflexos na
renovação de pessoal, cuja maior fonte atualmente têm sido a EMGEPRON,
mediante a contratação de funcionários por concurso público, cujo treinamento
e adequação ao trabalho depende fundamentalmente destes servidores mais
experientes, que encontram-se desmotivados, à espera da aposentadoria.
Outro fato relevante, que muito têm dificultado a execução dos serviços pelo
AMRJ é o engessamento do setor de compras, que, regulamentado pela lei nº
8.666 e fiscalizado pela Advocacia Geral da União, é incapaz de agilizar as
aquisições de materiais, o que inviabiliza a prontificação das obras nos prazos
almejados. Entendo que o AMRJ deva ser reestruturado em todas as áreas
supracitadas, ainda que fundindo-se com outras OM da área de projeto e
reparação naval militar, para capacitar-se novamente a executar um papel
relevante como centro de excelência e reserva tecnológica de conhecimento
da MB, se não pelos fatos históricos que o associam ao desenvolvimento do
Brasil como nação, pelo menos pelo aspecto estratégico de manter sob
controle direto da MB uma força de trabalho capaz de executar e/ou gerenciar
os programas de manutenção geral e reparos/modernização de meios, sem
ficar totalmente à mercê da iniciativa privada que, geralmente, tão logo
arrefecem as contratações, não demora em demitir os excedentes de pessoal;
- Desde a criação da MB, nunca tivemos um planejamento de aparelhamento
que tenha sido desenvolvido de acordo com as necessidades compatíveis com
as ameaças e vulnerabilidades existentes na época, e, de modo geral, o
planejamento efetuado com restrições não pôde ser implementado a contento
devido a sucessivas recusas ou postergações de aporte financeiro por parte do
governo. O aparelhamento das forças navais têm sido feito em surtos, sem
uma sequencia que permita a manutenção da esquadra e a paulatina
substituição dos meios por unidades mais modernas. Não há fomento à
indústria nacional de defesa, forçando os índices de nacionalização para baixo,
especialmente quanto a armamento e sensores (hardware e software), onde as
ações de P&D são extremamente dependentes da iniciativa da própria MB,
devido a não haver demanda que atraia a iniciativa privada; e
110
- Analisando somente os meios de esquadra da MB, observamos que a vida
média dos navios existentes é de 30 anos, quando nas forças navais mais
avançadas dificilmente ultrapassa 20 anos. Metade destes navios é de
fabricação estrangeira, e mesmo os navios construídos no Brasil dificilmente
ultrapassam o índice de nacionalização de 40 %. Quanto aos meios distritais, a
idade média é de 22 anos, sendo que há, no momento, grande demanda por
navios patrulha, para fiscalização das AJB. Como a dependência externa é
mais acentuada nos navios mais bem armados, do tipo escolta, é possível
equipar a MB com os navios patrulha necessários em tempo relativamente
curto, desde que os recursos financeiros necessários sejam liberados a
contento.
“O passado recente da construção naval militar no Brasil tem apontado
um desenvolvimento modesto, com surtos de construção, sem estratégia
definida para engajamento dos estaleiros privados mas, apesar disso,
considerando as condições, os resultados são bons, vistas as construções das
fragatas da classe Niterói, das corvetas da classe Inhaúma e dos submarinos
da classe Tupi ... Do ponto de vista comercial, mesmo que seja uma opinião
corrente de que este não é enfoque de interesse da Marinha do Brasil (MB),
não podemos esquecer de que ele está intimamente vinculado a estratégia,
pois promove a indústria naval militar do País, o que é visão bem clara do
“grupo dos que vendem”. Sob esse enfoque, a regra simples é: quem não
constrói para si mesmo, não vende. A regra é clara e auto-explicativa, pois
quando um país dispõe de uma marinha que possui os meios navais sem
construí-los, faz parte do desconfortável grupo dos que apenas os compram,
antípoda do grupo dos que os vendem (o mundo dividido entre os que
compram e os que vendem é uma visão do ponto de vista comercial), e
acredita-se que seria melhor, pelo menos, estar no grupo dos que não
compram, sem estar necessariamente no dos que vendem, isto é, dos que tem
auto-suficiência e independência tecnológica e militar, sem mencionar a de
natureza econômica. E ainda mais, quem apenas constrói, mas não projeta,
também tem pouquíssima chance de vender, não somente por prescindir da
aquiescência do detentor do projeto para comerciar o produto que nasceu de
111
sua concepção, mesmo que pagando royalties, como também pela dificuldade
de convencer o cliente de que é detentor da tecnologia e qualidade na
construção, sem tê-las no projeto, pois as duas atividades estão intimamente
vinculadas, como se observa com os tradicionais vendedores mundiais.
Dos pontos de vista estratégico, militar e tecnológico, os três muito
interligados, não construir significa dependência e impossibilidade de obter os
meios plenamente de acordo com os requisitos impostos pelas
vulnerabilidades do País; dos pontos de vista econômico e social, é perder
divisas sem gerar empregos e deixar de estimular a indústria nacional.
Se ao fato de não construir, acrescermos a prática do não projetar, esta
última vacuidade acrescentará à primeira uma inevitável condição para que a
Marinha do Brasil continue a estar em estágio de relativa subordinação técnica,
intelectual e econômica, pois nada inova por si própria e pouco nacionaliza,
condenando-se à dependência logística, não podendo especificar e nem
executar tão bem a manutenção, pela inexistência da retaguarda técnica de
quem projeta e seleciona os equipamentos, não praticando assim o que se faz
nas marinhas mais avançadas” (ALBUQUERQUE, 2006, p.59, 60 e 61).
Como já identificado anteriormente no capítulo I, nossas riquezas no
mar são também nossas vulnerabilidades. A imensidão das águas a patrulhar
nos colocam diante da dificuldade de empreender esta tarefa de forma
eficiente, com o menor custo possível, sendo necessário efetuar um
planejamento que permita, mediante técnicas de pesquisa operacional, por
exemplo, à partir de informações precisas de localização dos meios navais e
das ameaças e sinistros, disponibilizar as embarcações que, consideradas as
suas características de emprego e a logística de apoio, encontrem-se na
melhor situação para efetuar a abordagem do problema e resolvê-lo,
preferencialmente sem uso da força, mas se necessário, com a capacidade de
fazê-lo.
Identificamos também no capítulo I, itens “1.1.2” e “1.1.3”, que o
estabelecimento de limites para as águas jurisdicionais reveste-se de caráter
temporário, ainda que regulamentado e ratificado por grande parte dos
Estados, quanto mais conflitem com os interesses de outras nações que
112
considerem em perigo a sua sobrevivência, quer seja pela necessidade de
lançar mão de recursos que entendam serem patrimônio da humanidade, quer
seja por sentirem-se ameaçadas militarmente, não hesitando em utilizar a
força, na sua forma dissuasória ou pela agressão direta, para fazer prevalecer
os seus interesses. “Tal qual uma pessoa, o Estado depende da sua vontade e
de sua capacidade de enfrentar desafios no relacionamento com os outros
“organismos biológicos”, em meio a disputas por espaço e ante invejas,
amizades, alianças, perdedores e ganhadores ... O mundo nunca deixou de
ser uma arena de competições, ainda que variem com o tempo as formas
pelas quais as disputas ocorrem. Por isso mesmo, o planeta continua e
continuará inseguro, sendo ele a própria essência da luta pela sobrevivência
entre os Estados” (BERGO, 2008, p.26 E 27). É bastante ilustrativa a
constatação, feita através da observação da figura 8 do Anexo 2, da
importância estratégica do Atlântico Sul para os países desenvolvidos, haja
vista terem a preocupação de manter um cinturão de bases à partir das quais
podem alcançar tanto as águas brasileiras quanto às africanas. Se tal fato é
importante para estes países, que não habitam estes continentes, o que dirá
para nós que deles fazemos a nossa morada e vizinhança. Podemos observar
também nesta figura a presença estrangeira no continente Sul-Americano, nas
Guianas, e no continente Africano, a presença de interesses da China.
Além das riquezas do bioma marítimo e a necessidade da preservação
do seu meio ambiente, a exploração dos recursos do mar confronta o Brasil
com duas grandes vulnerabilidades, em face da sua importância estratégica:
as linhas de comércio marítimo, detalhadamente abordadas no capítulo I, item
“1.2.2”, que, se interrompidas, como ocorrido nas duas Guerras Mundiais,
podem paralisar o Brasil em curto prazo; e o petróleo e gás, detalhado no item
“1.2.5” do mesmo capítulo, fruto de pesados investimentos, com grande
impacto nas indústrias que, direta ou indiretamente exploram este recurso,
que, em caso de interrupção das suas operações, provocariam graves
consequências ao país. Em termos de riquezas, preocupa também a garantia
da possibilidade de exploração e explotação dos recursos pesqueiros, pelo
113
grande potencial da maricultura, e dos nódulos polimetálicos, como visto nos
itens “1.2.3” e “1.2.4” do capítulo I.
Quanto a segurança, segundo Bergo (2008), transcrevendo a definição
da ONU, “... é uma condição na qual os Estados consideram que não há perigo
de ataque militar, pressão política e coerção econômica, de modo que possam,
livremente, buscar o seu próprio desenvolvimento e progresso. A segurança
dos indivíduos e das comunidades que compõem os Estados é assegurada
pela garantia do exercício da liberdade e dos direitos políticos, sociais e
econômicos individuais, bem como pela preservação ou restauração de um
meio ambiente saudável para as gerações presentes e futuras”.
Bergo (2008) prossegue relatando que, na pirâmide de Maslow, que
retrata a hierarquia das necessidades humanas, a segurança está logo após
as necessidades fisiológicas. A segurança é um estado, uma situação, um
sentimento que evoca a proteção dos direitos dos cidadãos, permitindo que se
desenvolvam em busca da felicidade. A segurança é sentida e desfrutada,
sendo preocupação permanente, enquanto a defesa é o conjunto de medidas
ou ações, planejadas e executadas preventiva ou reativamente, que visam
evitar ou neutralizar as ameaças à segurança.
Com relação ao Brasil, Bergo (2008) cita o dito pelo General Meira
Mattos, que alerta não ter passado despercebido pelos nossos geopolíticos o
fato de que um maior desenvolvimento representa um aumento de poder, e
que o mesmo gera competitividade e, portanto, maior necessidade de
segurança externa e interna. Neste contexto, Bergo (2008) prossegue
alertando que, se ainda não há excessiva pressão dos problemas de fora para
dentro, há um conjunto de fatores internos que alinha-se e estão ajustados
com as ameaças. Especificamente no caso da Amazônia Azul, destaca-se a
diferença entre o tratamento que o governo federal dispensa aos
investimentos, por exemplo, na área do petróleo e gás natural, onde não faltam
recursos, e a falta de implementação de uma política de Estado que valorize a
prevenção e o planejamento prévio, que venha a capacitar adequadamente e
permanentemente a MB a garantir a segurança no mar, pondo assim em risco,
paradoxalmente, todo o investimento realizado.
114
Complementarmente, ainda que nenhuma ameaça tenha se
concretizado em fatos até o presente momento, é importante frisar que, de
uma relação de 23 fontes de conflito e insegurança apontadas por Bergo
(2008), 16 foram consideradas como ocorrentes ou passíveis de ocorrência no
Brasil. “Talvez seja crível admitir que, hoje, não temos segurança como política
de Estado. Ainda que a Política de Defesa Nacional venha tentando resgatar
restos perdidos, ficamos realmente com o que ela é, simplesmente, uma
Política de Defesa, sem contarmos com uma política de Segurança.
No que diz respeito a exploração sustentável dos recursos do mar, a
preservação do meio ambiente e as ações de salvamento e socorro marítimo,
o papel da MB é fundamental. A PNRM e a legislação brasileira, como já visto
nos itens “2.2” e “2.3” do capítulo II, delegam um grande número de atribuições
e tarefas a MB. Desta forma, recordando, as ações da MB devem inibir: a
poluição do mar, especialmente das zonas costeiras, haja vista a concentração
da população ser maior justamente nesta área; a regulamentação e
fiscalização dos portos e o tráfego marítimo; a pesca irregular, especialmente
em época de defeso das espécies; o controle dos navios quanto a
possibilidade de transferência de espécies exóticas, provenientes de outros
ecossistemas, através de incrustações no casco (um navio pode transportar
em suas obras vivas cerca de 2 milhões de organismos marinhos) ou através
da água de lastro, que pode inclusive servir como veículo de transferência de
agentes patogênicos, que podem causar prejuízos à biodiversidade, à
economia e à saúde pública; a manutenção de cartas náuticas atualizadas,
sistema de sinalização náutica e previsão meteorológica adequados e o
serviço de busca e salvamento marítimo, em conformidade com a Convenção
Internacional de Busca e Salvamento Marítimo; os atos ilícitos, tais como o
narcotráfico, contrabando de armas, ações terroristas, pirataria, etc.
“Para países como o Brasil, com uma extensa costa e imensas bacias
hidrográficas plenamente navegáveis, a ameaça se multiplica por sua própria
grandiosidade física. Assim sendo, a única garantia de controle eficaz sobre a
proliferação do crime trans-fronteiriço, como contrabando de bens materiais e
imateriais, biopirataria e narcotráfico, está na consolidação das redes de
115
inteligência e vigilância desenvolvidas pela Marinha do Brasil. O impacto sobre
emprego, renda, patentes, etc l possui uma das suas chaves na capacidade
de transformar as fronteiras brasileiras em locais vivos de trocas legítimas,
geradoras de riqueza e de renda para todos e não em couto de criminosos que
prejudicam a imagem do País e a prosperidade geral.
Em outra dimensão, na qual a poluição e a degradação ambiental
ameaçam o futuro da humanidade, a capacidade de garantir e vigiar a
preservação das nossas águas oceânicas é uma tarefa hercúlea, para a qual a
Marinha possui vocação histórica. Soma-se a isso a clara e indiscutível
escassez de recursos naturais, em especial a água potável, um bem cada vez
mais raro e que, na opinião de estrategistas renomados, poderá ser, no
horizonte deste século, uma causa de conflito bélico. Apesar de o Brasil ser um
país com longa tradição de pacifismo e não intervenção, tendo se envolvido
pela última vez em uma guerra com um Estado vizinho há mais de 140 anos, é
preciso que esteja preparado para enfrentar agressões e ameaças externas.
Em um ambiente de escassez, sempre haverá cobiça em relação aos recursos
dos outros, especialmente se o Estado detentor destes recursos não possuir
os meios necessários para defender a sua soberania.
A “Amazônia Azul” é um alvo potencial dessa cobiça. Além de possuir
inúmeras riquezas, trata-se de uma região estratégica para o controle das
linhas de comunicações marítimas no Atlântico Sul. A proteção do imenso
patrimônio marítimo presente na “Amazônia Azul” é uma tarefa complexa. São
4,5 milhões de quilômetros quadrados de área a ser vigiada. Se a ação for
tímida, ilícitos como pirataria, contrabando, despejos ilegais de material
poluente, exploração da fauna, dentre outros, encontram terreno fértil de
propagação. Por outro lado, a exploração das riquezas marítimas deve ser
realizada de maneira inteligente e sustentável, para que não se esgotem e
privem o País dessa grande fonte de recursos, que contribui significativamente
para o desenvolvimento do Brasil.
Apenas com esse quadro superficial pode-se considerar o quão
fundamental é a existência de uma Marinha capacitada para executar as ações
afetas à defesa da soberania nacional na “Amazônia Azul”, nas quais se
116
incluem, também, o gerenciamento e o monitoramento das atividades que
nelas estiverem em curso” (O Ambiente Marinho – Uma visão da Marinha,
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha, 2010).
Assim, considerando-se que a exploração sustentável dos recursos do
mar depende essencialmente do apoio da MB, quer seja no aspecto
operacional, haja vista produzir informações e tecnologias que auxiliam
diretamente aos que produzem neste ambiente, bem como no aspecto
segurança, que propicia a condição fundamental para a garantia do retorno
dos pesados investimentos assegurando a posse dos equipamentos e o
usufruto da exploração e explotação dos recursos do mar, e que a área a ser
controlada, fiscalizada e protegida é de dimensões gigantescas, concluímos
que, em resposta a questão central deste trabalho, a MB, em que pese possuir
competência reconhecida na execução de suas atividades, ainda não dispõe
de meios, quer sejam humanos ou equipamentos, para executar com eficiência
as atribuições primárias, ligadas a defesa da soberania, e mesmo as
secundárias, ligadas a geração de informações e proteção ao meio ambiente,
que lhe são delegadas, especialmente levando-se em conta a esperada
expansão dos negócios na Amazônia Azul. Pelo histórico apresentado, é
notória a falta de uma política de Estado que capacite preventivamente a MB
cumprir eficientemente a sua missão constitucional e as suas atribuições
subsidiárias, que pelo vulto e significância que têm assumido, já demandam
tanta atenção quanto a dispensada à tarefa primária, confundindo-se ambas
em uma única força, a do desenvolvimento do Brasil. Fica claro também que
não há organização mais especializada do que a MB para tratar dos assuntos
do mar, quer sejam ligados a defesa ou ao controle e fiscalização dos que
labutam no mar.
Vários ministérios e entidades do governo federal possuem, ou deveriam
possuir, ligações com os assuntos do mar, tais como, Ciência e Tecnologia,
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Meio Ambiente, Minas e
Energia, Relações Exteriores, Saúde, Trabalho e Emprego, Transportes,
Turismo, Agricultura, Pesca e Aquicultura, Fazenda, Polícia Federal, IBAMA,
ANTAQ, entre outros. “Ao longo dos anos, os ministérios e instituições citados
117
têm desenvolvido sua cultura de trabalho e procuram estruturar-se para tratar,
com competência, dos assuntos de sua responsabilidade, especialmente na
parte terrestre do território nacional. O mesmo não tem acontecido em relação
à parte “molhada” do território. Nem todos os ministérios foram aparelhados
para isso, nem contam com pessoal especializado em número suficiente e com
meios adequados para exercer sua autoridade no mar. Apenas o MD, por
intermédio do Comando da Marinha, e o MME, por intermédio da estatal
Petrobrás e de suas subsidiárias, têm conhecimento adequado, pessoal
experiente e meios flutuantes próprios; embora, para a Marinha, por restrições
orçamentárias, em níveis inferiores até mesmo aos necessários ao perfeito
cumprimento de sua missão constitucional de defender a pátria. ... A solução
adotada pela maioria dos países é manter as responsabilidades distribuídas
pelos órgãos especializados, mas concentrar os meios navais sob os cuidados
de uma única instituição federal. Entretanto, tal solução implica que deve ser
atribuída a tal instituição, ou a quem ela estiver subordinada, a necessária
autoridade e a devida responsabilidade pela orientação e o apoio aos demais
órgãos envolvidos e pela coordenação das demais atividades marítimas,
promovendo a eficácia da atuação pública. A ela devem ainda ser garantidos,
sem cortes ou contingenciamentos, os recursos financeiros indispensáveis”
(VIDIGAL, 2006, p. 278 e 279).
Como capacitar a MB, em um prazo relativamente curto, a defender a
soberania do Brasil, protegendo as nossas AJB e as instalações e setores
produtivos que exploram e que venham ainda a explorar as suas riquezas, com
um planejamento que contemple uma estratégia nacional e um aparelhamento
factível e condizente com a tarefa? A resposta a esta pergunta é a adoção de
uma Política de Estado que concretize de forma absoluta os planos de
aparelhamento das forças armadas de forma consoante com a Estratégia
Nacional de Defesa, objetivos a serem tratados respectivamente nos itens “3.2”
e “3.3” seguintes.
3.2 – Capacitação da Marinha do Brasil – Visão como Processo
118
É pretensão apresentar neste tópico a Estratégia Nacional de Defesa e
o Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil, analisando a
viabilidade de adequação e utilização dos meios de defesa no controle,
fiscalização, vigilância e proteção dos recursos da Amazônia Azul.
Será enfocada a importância do reaparelhamento, modernização e
manutenção dos meios da Marinha do Brasil e dos recursos de fiscalização e
defesa da Amazônia Azul serem vistos como um processo contínuo de
atualização, compatibilizando-se sempre a capacidade de resposta aos novos
desafios gerados pelo desenvolvimento das atividades de produção e novas
ameaças e vulnerabilidades, alocando os recursos necessários em tempo
hábil, de forma a não permitir que a defasagem torne penosa a adequação dos
meios às necessidades.
A END foi aprovada pelo Decreto nº 6.703 de 18/12/2008. No resumo
apresentado pelo Ministro da Defesa e pelo Ministro Chefe da Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República, são ressaltados os
seguintes pontos:
- O Brasil desfruta, a partir de sua estabilidade política e econômica, uma
posição de destaque no contexto internacional, o que exige nova postura no
campo da Defesa, a ser consolidada através do envolvimento do povo
brasileiro. À sociedade caberá, por intermédio de seus representantes do
sistema democrático e por meio da participação direta no debate, aperfeiçoar
as propostas apresentadas;
- O Plano é focado em ações estratégicas de médio e longo prazo e objetiva
modernizar a estrutura nacional de defesa, atuando em três eixos
estruturantes: reorganização das Forças Armadas, reestruturação da indústria
brasileira de material de defesa e política de composição dos efetivos das
Forças Armadas;
- A reorganização das Forças Armadas passa pela redefinição do papel do
Ministério da Defesa e a enumeração de diretrizes estratégicas relativas a cada
uma das Forças, com a especificação da relação que deve prevalecer entre
119
elas. Ao lado dessas diretrizes aborda-se o papel de três setores decisivos
para a defesa nacional: o cibernético, o espacial e o nuclear;
- A reestruturação da indústria brasileira de material de defesa tem como
propósito assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das
Forças Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio nacional; e
- Finalmente, orienta-se a relação da sociedade com suas Forças Armadas e
discute-se a composição dos efetivos militares, com sua consequência sobre o
futuro do Serviço Militar Obrigatório. O propósito é zelar para que as Forças
Armadas reproduzam, em sua composição, a própria Nação. O Serviço Militar
Obrigatório deve, pois, funcionar como espaço republicano, no qual possa a
Nação encontrar-se acima das classes sociais;
É ressaltado também pela END que a iniciativa do governo, colocando
as questões de defesa na agenda nacional e formulando um planejamento de
longo prazo para a defesa do País é fato inédito no Estado brasileiro,
marcando uma nova etapa no tratamento de tema tão relevante,
intrinsecamente associado ao desenvolvimento nacional, reafirmando o
compromisso de todos nós, cidadãos brasileiros, civis e militares, com os
valores maiores da soberania, da integridade do patrimônio e do território e da
unidade nacionais, dentro de um amplo contexto de plenitude democrática e de
absoluto respeito aos nossos vizinhos, com os quais mantemos e manteremos
uma relação cada vez mais sólida de amizade e cooperação.
Assim, percebemos claramente, já na apresentação do documento, que
alguns aspectos extremamente relevantes mostram-se numa abordagem
totalmente diferente da adotada no passado. Em primeiro lugar, destaca-se o
planejamento de longo prazo, denotando uma abordagem de Política de
Estado e não mais de Governo, estendendo a responsabilidade ao povo
brasileiro e, consequentemente, aos futuros dirigentes do país, que,
independentemente de ideologias ou posições partidárias, devem colocar os
interesses da nação acima de todos os demais, permitindo que o equipamento
e o preparo das forças de defesa seja efetuado de forma progressiva e
permanente, em conformidade com a disponibilidade de recursos e com a
conveniência estratégica. Em segundo lugar, porém não menos importante, é o
120
estabelecimento de um vínculo entre as forças de defesa e o desenvolvimento,
uma vez que estão intrinsecamente interligados, devendo as forças de
produção às de defesa, a segurança necessária ao seu desenvolvimento e,
consequentemente, o retorno do capital investido, enquanto, em contra-partida,
os stakeholders que beneficiam-se deste desenvolvimento, incluído o próprio
governo federal, devem preocupar-se com a capacitação daquelas, visto serem
as garantidoras da continuidade dos negócios, no caso da MB, exercendo o
Poder Naval, além de contribuir expressivamente com as atividades
operacionais, através da disponibilização das informações e dados coletados
por suas organizações, bem como pela regulamentação, fiscalização e controle
das diversas atividades no mar.
Em sua introdução, a END reafirma os princípios de pacifismo e bom
relacionamento que o Brasil mantém nas suas relações internacionais, e que
ascenderá ao primeiro plano no mundo sem exercer hegemonia ou dominação.
Reconhece que, possivelmente devido a esta veia pacifista, nunca tenha sido
realizado no Brasil, em toda a sua história, amplo debate sobre os assuntos de
defesa, sendo que, apenas periodicamente, os governos autorizavam a
compra ou a produção de novos materiais de defesa e introduziam reformas
pontuais nas Forças Armadas. Cita ainda que, se o Brasil quiser ocupar o lugar
que lhe cabe no mundo, precisará estar preparado para defender-se não
somente das agressões, mas também das ameaças. Vive-se em um mundo
em que a intimidação tripudia sobre a boa fé. Nada substitui o envolvimento do
povo brasileiro no debate e na construção da sua própria defesa.
O documento afirma que a Estratégia Nacional de Defesa é inseparável
da Estratégia Nacional de Desenvolvimento, reforçando o conceito supracitado
de uma interligação intrínseca entre as forças de produção e a segurança. Um
projeto forte de defesa favorece um projeto forte de desenvolvimento, de forma
que, sejam quais forem suas demais orientações, se guie pela independência
nacional, efetivada pela mobilização de recursos físicos, econômicos e
humanos, para o investimento no potencial produtivo do País, alcançada pela
capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial,
cibernético e nuclear e assegurada pela democratização de oportunidades
121
educativas e econômicas e pelas oportunidades para ampliar a participação
popular nos processos decisórios da vida política e econômica do País. O
Brasil não será independente enquanto faltar para parcela do seu povo
condições para aprender, trabalhar e produzir.
A Estratégia Nacional de Defesa organiza-se em torno de três eixos
estruturantes: o primeiro, diz respeito a como as Forças Armadas devem se
organizar e se orientar para melhor desempenharem sua destinação
constitucional e suas atribuições na paz e na guerra. Ao lado da destinação
constitucional, das atribuições, da cultura, dos costumes e das competências
próprias de cada Força e da maneira de sistematizá-las em estratégia de
defesa integrada, aborda-se o papel de três setores decisivos para a defesa
nacional: o espacial, o cibernético e o nuclear. Descreve-se como as três
Forças devem operar em rede – entre si e em ligação com o monitoramento do
território, do espaço aéreo e das águas jurisdicionais brasileiras; o segundo,
refere-se à reorganização da indústria nacional de material de defesa, para
assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das Forças
Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio nacional; o terceiro, versa
sobre a composição dos efetivos das Forças Armadas e, consequentemente,
sobre o futuro do Serviço Militar Obrigatório, com o propósito de zelar para que
as Forças Armadas reproduzam, em sua composição, a própria Nação – para
que elas não sejam uma parte da Nação, pagas para lutar por conta e em
benefício das outras partes. O Serviço Militar Obrigatório deve, pois, funcionar
como espaço republicano, no qual possa a Nação encontrar-se acima das
classes sociais.
A Estratégia Nacional de Defesa pauta-se pelas seguintes principais
diretrizes, afetas a este trabalho:
- Dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras terrestres, nos limites
das águas jurisdicionais brasileiras, e impedir-lhes o uso do espaço aéreo
nacional;
- Organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio
monitoramento/controle, mobilidade e presença;
122
- Desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o espaço aéreo, o
território e as águas jurisdicionais brasileiras a partir da utilização de
tecnologias de monitoramento terrestre, marítimo, aéreo e espacial que
estejam sob inteiro e incondicional domínio nacional;
- Desenvolver, lastreado na capacidade de monitorar/controlar, a capacidade
de responder prontamente a qualquer ameaça ou agressão mediante a
mobilidade estratégica e tática. Considerando-se a vastidão dos espaços a
defender e a escassez dos meios de defesa, a mobilidade estratégica (aptidão
para se chegar rapidamente ao teatro de operações) reforçada pela mobilidade
tática (aptidão para se mover dentro daquele teatro) é o complemento
prioritário do monitoramento/controle e uma das bases do poder de combate,
exigindo das Forças Armadas ação que, mais do que conjunta, seja unificada;
- Aprofundar o vínculo entre os aspectos tecnológicos e os operacionais da
mobilidade, de forma a melhor combinar os meios terrestres, marítimos e
aéreos para obter, em função da sua capacitação operacional, a capacidade
de alternar a concentração e desconcentração de forças com o propósito de
dissuadir e combater o inimigo;
- Fortalecer três setores de importância estratégica: o espacial, o cibernético e
o nuclear, assegurando o atendimento ao conceito de flexibilidade. Como
decorrência de sua própria natureza, esse setores transcendem a divisão entre
desenvolvimento e defesa, entre o civil e o militar. Os setores espacial e
cibernético permitirão, em conjunto, que a capacidade de visualizar o próprio
país não dependa de tecnologia estrangeira e que as três Forças, em conjunto,
possam atuar em rede, instruídas por monitoramento que se faça também a
partir do espaço. O Brasil tem compromisso – decorrente da Constituição
Federal e da adesão ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares –
com o uso estritamente pacífico da energia nuclear. Entretanto, afirma a
necessidade estratégica de desenvolver e dominar essa tecnologia. O Brasil
precisa garantir o equilíbrio e a versatilidade da sua matriz energética e
avançar em áreas, tais como as de agricultura e saúde, que podem se
beneficiar da tecnologia de energia nuclear, e levar a cabo, entre outras
123
iniciativas que exigem independência tecnológica em matéria de energia
nuclear, o projeto do submarino de propulsão nuclear;
- Unificar as operações das três Forças, muito além dos limites impostos pelos
protocolos de exercícios conjuntos. Os instrumentos principais dessa
unificação serão o Ministério da Defesa e o Estado-Maior de Defesa, a ser
reestruturado como Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas;
- Reposicionar os efetivos das três Forças, sendo que as preocupações mais
agudas de defesa estão no Norte, no Oeste e no Atlântico Sul. Sem
desconsiderar a necessidade de defender as maiores concentrações
demográficas e os maiores centros industriais do País, a Marinha deverá estar
mais presente na região da foz do Amazonas e nas grandes bacias fluviais do
Amazonas e do Paraguai-Paraná. O Exército deverá posicionar suas reservas
estratégicas no centro do País, de onde poderão se deslocar em qualquer
direção. Deverá também o Exército agrupar suas reservas regionais nas
respectivas áreas, para possibilitar a resposta imediata na crise ou no conflito
armado;
- Adensar a presença de unidades do Exército, da Marinha e da Força Aérea
nas fronteiras, utilizando as informações disponibilizadas pelos sistemas de
monitoramento/controle e a mobilidade dos meios de defesa. Nas fronteiras
terrestres e nas águas jurisdicionais brasileiras, as unidades do Exército, da
Marinha e da Força Aérea têm, sobretudo, tarefas de vigilância;
- Estruturar o potencial estratégico em torno de capacidades, não em torno de
inimigos específicos. O Brasil não tem inimigos no presente. Para não tê-los no
futuro, é preciso preservar a paz e preparar-se para a guerra;
- Preparar efetivos para o cumprimento de missões de garantia da lei e da
ordem, nos termos da Constituição Federal. O País cuida para evitar que as
Forças Armadas desempenhem papel de polícia. Efetuar operações internas
em garantia da lei e da ordem, quando os poderes constituídos não
conseguem garantir a paz pública e um dos Chefes dos três Poderes o requer,
faz parte das responsabilidades constitucionais das Forças Armadas;
- Estimular a integração da América do Sul;
124
- Preparar as Forças Armadas para desempenharem responsabilidades
crescentes em operações de manutenção da paz, sob a orientação das
Nações Unidas ou em apoio a iniciativas de órgãos multilaterais da região, pois
o fortalecimento do sistema de segurança coletiva é benéfico à paz mundial e
à defesa nacional;
- Ampliar a capacidade de atender aos compromissos internacionais de busca
e salvamento, aprimorando os meios existentes e a capacitação do pessoal
envolvido com estas atividades nas águas jurisdicionais brasileiras e nas áreas
pelas quais o Brasil é responsável, em decorrência de compromissos
internacionais;
- Desenvolver o potencial de mobilização militar e nacional para assegurar a
capacidade dissuasória e operacional das Forças Armadas. Diante de eventual
degeneração do quadro internacional, o Brasil e suas Forças Armadas deverão
estar prontos para tomar medidas de resguardo do território, das linhas de
comércio marítimo e plataformas de petróleo e do espaço aéreo nacionais. As
Forças Armadas deverão, também, estar habilitadas a aumentar rapidamente
os meios humanos e materiais disponíveis para a defesa; e
- Capacitar a indústria nacional de material de defesa para que conquiste
autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa. Neste ponto, a END prevê
a criação de regimes jurídicos especiais para regulamentação das
contratações na indústria nacional de materiais de defesa, porém assegurando
ao Estado, mediante instrumentos de direito, exercer o poder estratégico sobre
estas empresas. Afirma-se ainda que cabe ao setor estatal de material de
defesa operar no teto tecnológico, desenvolvendo as tecnologias que as
empresas privadas não possam alcançar ou obter, a curto ou médio prazo, de
maneira rentável. A indústria nacional de material de defesa será incentivada a
competir em mercados externos para aumentar a sua escala de produção.
Serão buscadas parcerias com outros países, com o propósito de desenvolver
a capacitação tecnológica e a fabricação de produtos de defesa nacionais, de
modo a eliminar, progressivamente, a compra de serviços e produtos
importados.
125
Quanto às atribuições específicas e os objetivos estratégicos e táticos
relativos a MB, a END destaca o seguinte:
- Na maneira de conceber a relação entre as tarefas estratégicas de negação
do uso do mar, de controle de áreas marítimas e de projeção de poder, a MB
se pautará por um desenvolvimento desigual e conjunto, com prioridade em
assegurar os meios para negar o uso do mar a qualquer concentração de
forças inimigas que se aproxime do Brasil por via marítima. Essa prioridade
tem implicações para a reconfiguração das forças navais, uma vez que, ao
garantir seu poder para negar o uso do mar ao inimigo, precisa o Brasil manter
a capacidade focada de projeção de poder e criar condições para controlar, no
grau necessário à defesa e dentro dos limites do direito internacional, as áreas
marítimas e águas interiores de importância político-estratégica, econômica e
militar, e também as suas linhas de comunicação marítimas.
A negação do uso do mar, o controle de áreas marítimas e a projeção
de poder devem ter por foco, sem hierarquização de objetivos e de acordo com
as circunstâncias: defesa pró-ativa das plataformas petrolíferas; defesa pró-
ativa das instalações navais e portuárias, dos arquipélagos e das ilhas
oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras; prontidão para responder à
qualquer ameaça, por Estado ou por forças não convencionais ou criminosas,
às vias marítimas de comércio; e capacidade de participar de operações
internacionais de paz, fora do território e das águas jurisdicionais brasileiras,
sob a égide das Nações Unidas ou de organismos multilaterais da região;
A construção de meios para exercer o controle de áreas marítimas terá
como foco as áreas estratégicas de acesso marítimo ao Brasil. Duas áreas do
litoral continuarão a merecer atenção especial, do ponto de vista da
necessidade de controlar o acesso marítimo ao Brasil: a faixa que vai de
Santos a Vitória e a área em torno da foz do rio Amazonas.
- A doutrina do desenvolvimento desigual e conjunto tem implicações para a
reconfiguração das forças navais. A implicação mais importante é que a
Marinha se reconstruirá, por etapas, como uma arma balanceada entre o
componente submarino, o componente de superfície e o componente
aeroespacial;
126
- Para assegurar o objetivo de negação do uso do mar, o Brasil contará com
força naval submarina de envergadura, composta de submarinos
convencionais e de submarinos de propulsão nuclear. O Brasil manterá e
desenvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar tanto submarinos de
propulsão convencional como de propulsão nuclear. Acelerará os
investimentos e as parcerias necessários para executar o projeto do submarino
de propulsão nuclear. Armará os submarinos, convencionais e nucleares, com
mísseis e desenvolverá capacitações para projetá-los e fabricá-los. Cuidará de
ganhar autonomia nas tecnologias cibernéticas que guiem os submarinos e
seus sistemas de armas, e que lhes possibilitem atuar em rede com as outras
forças navais, terrestres e aéreas;
- Para assegurar sua capacidade de projeção de poder, a Marinha possuirá,
ainda, meios de Fuzileiros Navais em permanente condição de pronto
emprego, para a defesa das instalações navais e portuárias, dos arquipélagos
e das ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras, e para atuar em
operações internacionais de paz, em operações humanitárias, em qualquer
lugar do mundo;
- A força naval de superfície contará tanto com navios de grande porte,
capazes de operar e de permanecer por longo tempo em alto mar, como de
navios de porte menor, dedicados a patrulhar o litoral e os principais rios
navegáveis brasileiros, sendo requisito para a manutenção de tal esquadra a
capacidade da Força Aérea de trabalhar em conjunto com a Aviação Naval,
para garantir superioridade aérea local em caso de conflito armado;
Entre os navios de alto mar, a Marinha dedicará especial atenção ao
projeto e à fabricação de navios de propósitos múltiplos que possam, também,
servir como navios-aeródromos. Serão preferidos os navios-aeródromos
convencionais e de dedicação exclusiva.
A Marinha contará, também, com embarcações de combate, de
transporte e de patrulha, oceânicas, litorâneas e fluviais. Serão concebidas e
fabricadas de acordo com a mesma preocupação de versatilidade funcional
que orientará a construção das belonaves de alto mar. A Marinha adensará
sua presença nas vias navegáveis das duas grandes bacias fluviais, a do
127
Amazonas e a do Paraguai-Paraná, empregando tanto navios-patrulha como
navios-transporte, ambos guarnecidos por helicópteros, adaptados ao regime
das águas. A presença da Marinha nas bacias fluviais será facilitada pela
dedicação do País à inauguração de um paradigma multimodal de transporte,
que contemplará a construção das hidrovias do Paraná-Tietê, do Madeira, do
Tocantins-Araguaia e do Tapajós-Teles Pires. As barragens serão, quando
possível, providas de eclusas, de modo a assegurar franca navegabilidade às
hidrovias;
- O monitoramento da superfície do mar, a partir do espaço, deverá integrar o
repertório de práticas e capacitações operacionais da Marinha. A partir dele, as
forças navais, submarinas e de superfície terão fortalecidas suas capacidades
de atuar em rede com as forças terrestre e aérea;
- A constituição de uma força e de uma estratégia navais que integrem os
componentes submarino, de superfície e aéreo, permitirá realçar a flexibilidade
com que se resguarda o objetivo prioritário da estratégia de segurança
marítima: a dissuasão com a negação do uso do mar ao inimigo que se
aproxime, por meio do mar, do Brasil. Em amplo espectro de circunstâncias de
combate, sobretudo quando a força inimiga for muito mais poderosa, a força
de superfície será concebida e operada como reserva tática ou estratégica.
Preferencialmente, e sempre que a situação tática permitir, a força de
superfície será engajada no conflito depois do emprego inicial da força
submarina, que atuará de maneira coordenada com os veículos espaciais
(para efeito de monitoramento) e com meios aéreos (para efeito de fogo
focado). Esse desdobramento do combate em etapas sucessivas, sob a
responsabilidade de contingentes distintos, permitirá, na guerra naval, a
agilização da alternância entre a concentração e a desconcentração de forças
e o aprofundamento da flexibilidade a serviço da surpresa;
- Um dos elos entre a etapa preliminar do embate, sob a responsabilidade da
força submarina e de suas contrapartes espacial e aérea, e a etapa
subsequente, conduzida com o pleno engajamento da força naval de
superfície, será a Aviação Naval, embarcada em navios. A Marinha trabalhará
com a indústria nacional de material de defesa para desenvolver um avião
128
versátil, de defesa e ataque, que maximize o potencial aéreo defensivo e
ofensivo da Força Naval;
- A Marinha iniciará os estudos e preparativos para estabelecer, em lugar
próprio, o mais próximo possível da foz do rio Amazonas, uma base naval de
uso múltiplo, comparável, na abrangência e na densidade de seus meios, à
Base Naval do Rio de Janeiro; e
- A Marinha acelerará o trabalho de instalação de suas bases de submarinos,
convencionais e de propulsão nuclear.
Quanto aos setores estratégicos elencados pela END, a saber, o
espacial, o cibernético e o nuclear, as prioridades são o projeto e fabricação
nacionais de veículos lançadores guiados remotamente e satélites de
telecomunicações e sensoriamento remoto de alta resolução, o
desenvolvimento de tecnologias de comunicação em rede, acelerar o
mapeamento, prospecção e aproveitamento das jazidas de urânio, e completar
o programa da MB para a propulsão nuclear, dominando completamente o
ciclo de enriquecimento do urânio e a tecnologia de construção de reatores
nucleares e, como extensão às aplicações civis, desenvolver o potencial de
projetar e construir usinas termelétricas.
Para atender a estas prioridades, será incentivada pelo Estado a
formação de recursos humanos nas ciências relevantes, mediante
financiamento de programas de pesquisa e formação nas universidades e
centros de pesquisa brasileiros, aumentando a oferta de bolsas de doutorado e
pós-doutorado.
A END prossegue ainda afirmando que podem ser considerados como
principais aspectos positivos do atual quadro da defesa nacional:
- Forças Armadas identificadas com a sociedade brasileira, com altos índices
de confiabilidade;
- adaptabilidade do brasileiro às situações novas e inusitadas, criando situação
propícia a uma cultura militar pautada pelo conceito da flexibilidade; e
- excelência do ensino nas Forças Armadas, no que diz respeito à metodologia
e à atualização em relação às modernas táticas e estratégias de emprego de
129
meios militares, incluindo o uso de concepções próprias, adequadas aos
ambientes operacionais de provável emprego.
Por outro lado, somente para relatar o que se identifica com este
trabalho, segundo a END configuram-se como principais vulnerabilidades da
atual estrutura de defesa do País:
- pouco envolvimento da sociedade brasileira com os assuntos de defesa e
escassez de especialistas civis nesses temas;
- insuficiência e descontinuidade na alocação de recursos orçamentários para
a defesa;
- obsolescência da maioria dos equipamentos das Forças Armadas, elevado
grau de dependência em relação a produtos de defesa estrangeiros, e
ausência de direção unificada para aquisições de produtos de defesa;
- inexistência de planejamento nacional para desenvolvimento de produtos de
elevado conteúdo tecnológico, com participação coordenada dos centros de
pesquisa das universidades, das Forças Armadas e da indústria;
- falta de inclusão, nos planos governamentais, de programas de aquisição de
produtos de defesa em longo prazo, calcados em programas plurianuais e em
planos de equipamento das Forças Armadas, com priorização da indústria
nacional de material de defesa. Essa omissão ocasiona aquisições de produtos
de defesa no exterior, às vezes, calcadas em oportunidades, com desníveis
tecnológicos em relação ao “estado da arte” e com a geração de indesejável
dependência externa;
- inexistência de regras claras de prioridade à indústria nacional, no caso de
produtos de defesa fabricados no País;
- dualidade de tratamento tributário entre o produto de defesa fabricado no
País e o adquirido no exterior, com excessiva carga tributária incidente sobre o
material nacional, favorecendo a opção pela importação;
- deficiências nos programas de financiamento para as empresas nacionais
fornecedoras de produtos de defesa, prejudicando-as nos mercados interno e
externo;
- falta de garantias para apoiar possíveis contratos de fornecimento oriundos
da indústria nacional de defesa;
130
- bloqueios tecnológicos impostos por países desenvolvidos, retardando os
projetos estratégicos de concepção brasileira; e
- sistemas nacionais de logística e de mobilização deficientes.
Ainda, segundo a END, a identificação e a análise dos principais
aspectos positivos e das vulnerabilidades permitem vislumbrar as seguintes
oportunidades a serem exploradas:
- maior engajamento da sociedade brasileira nos assuntos de defesa, assim
como maior integração entre os diferentes setores dos três poderes do Estado
brasileiro e desses setores com os institutos nacionais de estudos estratégicos,
públicos ou privados;
- regularidade e continuidade na alocação dos recursos orçamentários de
defesa, para incrementar os investimentos e garantir o custeio das Forças
Armadas;
- aparelhamento das Forças Armadas e capacitação profissional de seus
integrantes, para que disponham de meios militares aptos ao pronto emprego,
integrado, com elevada mobilidade tática e estratégica;
- otimização dos esforços em Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa;
- maior integração entre as indústrias estatal e privada de material de defesa,
com a definição de um modelo de participação na produção nacional de meios
de defesa;
- estabelecimento de regime jurídico especial para a indústria nacional de
material de defesa, que possibilite a continuidade e o caráter preferencial nas
compras públicas;
- integração e definição centralizada na aquisição de produtos de defesa de
uso comum, compatíveis com as prioridades estabelecidas;
- condicionamento da compra de produtos de defesa no exterior à
transferência substancial de tecnologia, inclusive por meio de parcerias para
pesquisa e fabricação no Brasil de partes desses produtos ou de sucedâneos a
eles;
- articulação das Forças Armadas, compatível com as necessidades
estratégicas e de adestramento dos Comandos Operacionais, tanto singulares
131
quanto conjuntos, capaz de levar em consideração as exigências de cada
ambiente operacional, em especial o amazônico e o do Atlântico Sul;
- fomento da atividade aeroespacial, de forma a proporcionar ao País o
conhecimento tecnológico necessário ao desenvolvimento de projeto e
fabricação de satélites e de veículos lançadores de satélites e desenvolvimento
de um sistema integrado de monitoramento do espaço aéreo, do território e
das águas jurisdicionais brasileiras;
- aperfeiçoamento do Serviço Militar Obrigatório, na busca de maior
identificação das Forças Armadas com a sociedade brasileira, e estudos para
viabilizar a criação de um Serviço Civil, a ser regulado por normas específicas;
- expansão da capacidade de combate das Forças Armadas, por meio da
mobilização de pessoal, material e serviços, para complementar a logística
militar, no caso de o País se ver envolvido em conflito; e
- otimização do controle sobre atores não-governamentais, especialmente na
região amazônica, visando à preservação do patrimônio nacional, mediante
ampla coordenação das Forças Armadas com os órgãos governamentais
brasileiros responsáveis pela autorização de atuação no País desses atores,
sobretudo daqueles com vinculação estrangeira.
A END prevê ainda um planejamento de elaboração de documentos que
auxiliarão a implementação das suas diretrizes, cujos mais importantes para a
abordagem deste trabalho são os seguintes:
- Planos de Equipamento e Articulação das Forças Armadas (2009-2030);
- Proposta de estabelecimento de ato legal que garanta a alocação, de forma
continuada, de recursos financeiros específicos, para viabilizar o
desenvolvimento integrado e a conclusão de projetos relacionados à defesa
nacional;
- Proposta de dispositivos necessários a viabilizar investimentos nas Forças
Armadas a partir de receitas eventualmente geradas pelos bens imóveis da
União, administrados pelas Forças;
- Proposta de uma legislação específica que possibilite a aplicação, nas Forças
Armadas, dos recursos provenientes do recolhimento de taxas e serviços;
132
- Proposta de modificações na Lei nº 8.666 e legislação complementar,
possibilitando regime jurídico e econômico especial para compras de produtos
de defesa junto às empresas nacionais; e
- Proposta de modificações na legislação referente à tributação incidente sobre
a indústria nacional de defesa, por meio da criação de regime jurídico especial
que viabilize incentivos e desoneração tributária à iniciativa privada na
fabricação de produto de defesa prioritário para as Forças Armadas.
Uma vez conhecida a Estratégia Nacional de Defesa, vamos conhecer o
Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil (PAEMB).
Em linhas gerais, no PAEMB, já apresentado ao MD, a MB, de acordo
com o constante no site desta organização, procurou levantar todas as ações a
serem implementadas para ser dotada das organizações militares, meios
navais, aeronavais e de fuzileiros navais, sistemas, armamento, munição e
efetivos de pessoal necessários ao atendimento das diretrizes estabelecidas
na END.
Considerando que a tarefa de “negar o uso do mar ao inimigo” deve
orientar, de modo preponderante, a estratégia de defesa marítima do País, a
MB dará prosseguimento à construção dos submarinos convencionais e ao
projeto de desenvolvimento do submarino de propulsão nuclear, e construirá
uma Base e um Estaleiro em Itaguaí (RJ), com vistas à construção e ao apoio
a seus submarinos.
Além disso, com base na premissa de que a Força deve organizar-se
sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença, a
Marinha ampliará o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz),
incluindo aeronaves, radares fixos e veículos aéreos não-tripulados (VANT), e
modernizará os seus recursos de comunicações militares. Para assegurar
maior ação de presença nas proximidades da foz do Rio Amazonas, nas
Bacias Amazônica e do Paraguai-Paraná e maior controle da faixa litorânea
entre Santos (SP) e Vitória (ES), implantará uma 2ª Esquadra e uma 2ª Divisão
Anfíbia na Região N/NE do País, ampliará ou criará novas OM operativas, do
Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA) e de apoio logístico, as
quais serão estrategicamente distribuídas pelo território nacional, e renovará
133
sua frota mediante a obtenção de meios navais, aeronavais e de fuzileiros
navais adequados.
No encalço dessas providências, estará, também, assegurando o
incremento de sua capacidade para compor força de manutenção de paz, de
realizar ações humanitárias e de resgate de não combatentes no exterior, de
executar operações de busca e salvamento (SAR) e de contribuir para a
garantia da lei e da ordem.
Tendo em vista a necessidade de rever, a partir de uma política de
otimização do emprego de recursos humanos, a composição dos efetivos das
três Forças, de modo a dimensioná-las para atender adequadamente ao
disposto na END, a MB incrementará sua capacidade de obtenção, formação e
capacitação de recursos humanos, por meio da ampliação, modernização e
construção de novas Escolas e Centros de Instrução.
Adicionalmente, aperfeiçoará o atendimento da Família Naval,
propiciando a elevação do nível de satisfação profissional de seu pessoal,
mediante a construção de Próprios Nacionais Residenciais (PNR) e a
ampliação, modernização e construção de hospitais e núcleos do Sistema de
Assistência Integrada.
O estabelecimento do conjunto de ações e respectivas metas físico-
financeiras não esteve condicionado a questões de ordem orçamentária e de
capacitação do parque industrial – nacional e estrangeiro. Nos estudos sobre o
dimensionamento, procurou-se responder às necessidades estratégicas da
Marinha, de modo a torná-la apta a assegurar os interesses do País.
Releva mencionar que não consta do referido Plano projeto para dotar a
Força de segmento espacial próprio, haja vista que a necessidade de cobertura
por satélite, tanto para monitoramento/controle quanto para comunicações,
deve ser integrada e formulada pelo Ministério da Defesa, por envolver as três
Forças Armadas.
Pensou-se em uma Marinha crível, que deixe claro aos possíveis
opositores a nossa capacidade de sobrepujar as forças antagônicas.
134
O prazo para execução do PAEMB é até 2030, subdividido em ações de
curto prazo (2010-2014), de médio prazo (2015-2022) e de longo prazo (2023-
2030).
Tendo em vista a complexidade e grandeza do empreendimento, a
obtenção de alguns meios para o atingimento da Quantidade Estratégica
Necessária só poderá ser concluída após 2030.
Da mesma forma, a carreira militar tem a duração de trinta anos. A
obtenção de todo o efetivo requerido pelo PAEMB, em espaço temporal de
vinte anos, criaria uma distorção indesejável no fluxo de carreira. Assim, torna-
se necessário considerar que as ações de longo prazo tenham uma duração
que ultrapasse o ano previsto de 2030.
Não obstante as considerações de ordem estratégica conexas à
Segurança Nacional, valem, também, as de cunho econômico e social. A
consecução do PAEMB impulsionará de forma ímpar a indústria nacional. A
indústria naval é considerada uma indústria de base e seu incremento implica
no crescimento de outros segmentos, com intenso reflexo na cadeia produtiva
de vários outros campos de atividade econômica, tais como o eletro-eletrônico,
metalúrgico, mecânica pesada, motores de propulsão marítimos, armamentos
e informática, entre outros, tamanha a diversidade de equipamentos existentes
a bordo dos navios de guerra. A alta tecnologia utilizada na construção e na
manutenção dos navios e a necessidade de auto-suficiência para manter os
meios militares operativos fazem com que o País procure sua independência
tecnológica nas mais diversas áreas.
Na vertente social, estima-se a criação de 30.000 novos empregos
diretos e de 100.000 indiretos, adicionalmente às oportunidades geradas em
decorrência do aumento do efetivo pleiteado, de cerca de 70.000 novos cargos
de civis e militares. Tal acréscimo se traduzirá na geração anual de
expressivas oportunidades de trabalho direto, promovendo a inclusão e o
aprimoramento na formação de milhares de cidadãos oriundos das mais
diversas classes sociais, contribuindo substancialmente para o
engrandecimento do País.
135
Tudo isso representará, ainda, um incremento na arrecadação de
impostos da ordem de R$ 7,5 bilhões/ano.
Atualmente, o PAEMB encontra-se em análise no Ministério da Defesa,
de modo a constituir, juntamente com os Planos das outras Forças, o Plano de
Articulação e Equipamento das Forças Armadas.
Em termos mais práticos, o PAEMB pode ser traduzido em
equipamentos e sistemas da seguinte forma:
- Força de submarinos
A MB, atendendo a prioridade estabelecida pela END, já iniciou as obras
para a construção do estaleiro e da base de operações dos submarinos em
Itaguaí, em parceria com a França, mediante contratação de financiamento
externo, com valor total de 6,79 bilhões de euros, incluídos 4 submarinos
convencionais da Classe Scorpene (previsão de entrega entre 2017 e 2021) e
1 submarino nuclear (previsão de entrega em 2023). Posteriormente, o PAEMB
prevê a construção de outros 11 submarinos convencionais e 5 nucleares,
além da modernização dos 5 submarinos existentes, que já está em
andamento.
A escolha dos submarinos para iniciar o aparelhamento da MB decorreu
do princípio de negação do uso do mar, preceituado na END. Os submarinos
possuem grande capacidade de ocultação, mobilidade tridimensional e grande
poder de destruição, sendo que o submarino nuclear, devido à sua fonte de
energia, pode manter elevadas velocidades por tempo indeterminado, operam
a maiores profundidades e independem do ar atmosférico, o que aumenta
consideravelmente a sua taxa de discrição. “A área onde se vislumbra, de
maneira mais efetiva, a atuação dos submarinos componentes da esquadra
brasileira é a Amazônia Azul ... Ela se configura em um espaço marítimo de
grandes proporções onde se constata a existência de diversos interesses
político-estratégicos, incluindo os de natureza econômica. Constituem-se em
exemplo destes interesses o petróleo contido na plataforma continental, o
intenso tráfego marítimo oceânico e a grande quantidade de recursos vivos e
não-vivos” (MACHADO, 2010, p. 15).
136
O MD e a MB vislumbraram que a força de submarinos seria a melhor
forma de prover segurança contra as vulnerabilidades da Amazônia Azul. Aqui,
é importante reforçar o conceito de vulnerabilidade estratégica, que “...pode ser
entendida como uma importante capacidade que o Estado possui e que, com a
sua perda, a sensação de segurança é significativamente afetada. ...De outra
forma, vulnerabilidade estratégica pode ser considerada tudo aquilo que
estando à mercê da ação de forças oponentes é capaz, se atingida, de abalar
a força produtiva, o ethos nacional, e de enfraquecer a própria expressão do
poder político” (MACHADO, 2010, p. 23). É possível deduzir que qualquer
ameaça às forças de produção localizadas na Amazônia Azul, ainda que não
concretizadas, dependendo do aumento da possibilidade de concretização,
influenciarão a continuidade da produção, não somente do negócio
diretamente afetado, mas de todos os negócios de toda a área ameaçada.
Naturalmente, ninguém investiria em um negócio sob ameaça de perder o seu
patrimônio. Assim, somente a presença da ameaça já constitui a agressão,
uma vez que afetaria os investimentos em todos os negócios direta ou
indiretamente ligados à área ameaçada, com influências negativas no mercado
financeiro e na vida econômica do país.
As ameaças, hoje em dia, não provêm exclusivamente de outros
Estados, e seu alvo não mais pode ser distinguido entre Estado e indivíduos.
“As ameaças hoje, no entanto, se aproximaram mais do cidadão comum.
Existe a nítida impressão de que a qualquer momento você, ou pessoas do seu
convívio, podem de alguma forma ser afetados por atos que possam provocar
uma sensação de insegurança. Portanto, as percepções de ameaças têm hoje
um outro espectro: suas fontes e origens são bem mais amplas e não se
restringem mais as que emanam de outros Estados. Além disso, são
reconhecidas de outra forma e atingem a sociedade em múltiplos aspectos”
(MACHADO, 2010, p. 24).
A melhor forma de combater as ameaças é impor insegurança a quem
ameaça, e neste quesito o submarino é uma arma ímpar, dadas as suas
características de discrição. “Na verdade, o submarino, em determinadas
situações, não precisa nem surpreender e nem, como já visto, estar presente à
137
cena de ação para inibir atos de agressão. A simples dissuasão que a sua
posse enseja reduz o ímpeto das ações inimigas e confere ao inimigo um risco
demasiado se o mesmo optar em implementar suas ações” (MACHADO, 2010,
p. 28). A utilização de submarinos convencionais e nuclear não é excludente,
ao contrário, complementam-se, uma vez que os convencionais são mais
eficientemente empregados em águas rasas, enquanto o nuclear é mais
adequado às águas profundas, especialmente abaixo de 100 metros, quando
torna-se praticamente indetectável.
Quanto ao histórico das aplicações da energia nuclear no Brasil, deve-
se ressaltar que a MB esteve presente desde 1946, com um representante na
Comissão de Energia Atômica das Nações Unidas, um oficial-general na
presidência da Comissão Nacional de Energia Nuclear entre 1956 e 1961, e a
criação do Programa Nuclear da Marinha em 1979. Já em 1984, a MB atingia o
objetivo de capacitar-se no enriquecimento isotópico de urânio mediante o
processo de ultra-centrifugação, cabendo ressaltar que a tecnologia
desenvolvida no Brasil utiliza rotor totalmente levitado, aumentando
sensivelmente o desempenho e a durabilidade do sistema. Em 2006 entrou em
funcionamento a unidade industrial de enriquecimento de urânio na Indústrias
Nucleares do Brasil (INB). Já encontra-se implantada a fábrica de hexa-fluoreto
de urânio, em fase de testes, e encontra-se em implantação o Laboratório de
Geração Nucleo-Elétrica (LABGENE), com previsão de prontificação para
2012, onde será instalado um reator nuclear idêntico ao que será utilizado no
submarino, e todos os demais sistemas necessários ao funcionamento de uma
planta de propulsão naval, de forma a realizar testes com segurança, antes da
instalação final na embarcação. É importante frisar que o desenvolvimento
desta tecnologia terá implicações significativas para o país fora do âmbito
militar, tornando o Brasil independente também na produção de combustível
para as usinas nucleares de geração de energia elétrica e na indústria de
equipamentos médicos, entre outros.
- Força de superfície
Estão previstos no PAEMB a construção das seguintes unidades, em
complementação às já existentes, devidamente modernizadas e/ou reparadas:
138
2 Navios Aeródromos, 30 Navios Escolta, 5 Navios de Apoio Logístico, 4
Navios de Transporte de Apoio, 50 Navios-Patrulha (500 e 200 toneladas), 12
Navios-Patrulha de 1800 toneladas, 4 Navios de Propósitos Múltiplos, 48
Aeronaves de Interceptação e Ataque Embarcadas, 8 Aeronaves de Alarme
Aéreo Antecipado Embarcadas, 8 Aeronaves de Vigilância Marítima
Embarcadas, 8 Aeronaves de Transporte/Reabastecimento em Vôo, 50
Helicópteros de Múltiplo Emprego, 10 Veículos Aéreos Não Tripulados, 60
Helicópteros de Pequeno Porte de Emprego Geral, 60 Helicópteros de Médio
Porte de Emprego Geral, 30 Helicópteros de Instrução, 84 Veículos Blindados
de Transporte de Pessoal, 22 Carros de Combate, 78 Carros sobre Lagarta
Anfíbios, entre outros.
Em reportagem publicada no caderno especial do jornal “O Dia” de
16/05/2010, página 9, são apresentadas algumas informações sobre este
programa, como o custo previsto de 70 bilhões de euros, com índices de
nacionalização em torno de 40 % para as unidades mais complexas e de 50 a
60 % para as unidades menos complexas, construção em estaleiros nacionais
associados a estaleiros projetistas internacionais, gerando milhares de
empregos no Brasil.
- Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz)
Segundo o trabalho “O Ambiente Marinho – Uma visão da Marinha”
apresentado na 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”,
realizado em 2010, “para bem entender o cenário que se apresenta, cabe uma
pequena comparação com a Amazônia Verde: nesta as fronteiras são
fisicamente demarcáveis e estão sendo efetivamente ocupadas com pelotões e
obras de infra-estrutura; na “Amazônia Azul”, entretanto, os limites das águas
jurisdicionais são linhas sobre o mar, que não existem fisicamente, o que as
definem e fazem serem respeitadas são os navios da Marinha patrulhando-as
ou realizando ações de presença.
À semelhança do que existe na Amazônia Verde, o SIPAM (Sistema de
Proteção da Amazônia), que é uma organização sistêmica de produção e
veiculação de informações que visa a proteção, a inclusão e o
desenvolvimento sustentável da região, a Marinha, pela responsabilidade que
139
tem na “Amazônia Azul”, projetou e está desenvolvendo o “Sistema de
Gerenciamento da Amazônia Azul” (SisGAAz).
O SisGAAz compreende um conjunto de atividades ligadas ao mar,
envolvendo, dentre outros conhecimentos e aplicações, vigilância, segurança,
gestão de recursos naturais, prevenção à poluição, soberania e reação às
situações adversas, integradas e coordenadas pela Marinha, na qualidade de
Autoridade Marítima. Esse sistema, contando com vários subsistemas, fará o
monitoramento e o controle das águas de interesse do Brasil, contribuindo com
a sua segurança, proteção e defesa, desde o tempo de paz, e terá a
capacidade de efetuar o monitoramento contínuo, a detecção, identificação e
acompanhamento de alvos, com integração, fusão, análise e disseminação das
informações relevantes com a máxima agilidade. Também, contará com a
flexibilidade para interagir com órgãos governamentais extra-Marinha.
Quando o SisGAAz estiver implantado, o País contará com um sistema
que possibilitará, dentre outros:
- monitorar as águas de interesse do Brasil, a fim de garantir a exclusividade
dos recursos e impedir a sua utilização não autorizada por outros países;
- garantir o comércio marítimo pelo acompanhamento do tráfego mercante;
- orientar as embarcações que necessitem de apoio, por meio da troca de
informações e pela presença naval em pontos focais;
- reduzir ou eliminar os efeitos de incidentes que venham a poluir o ambiente
marinho, bem como aqueles consequentes de acidentes naturais;
- garantir a segurança da navegação;
- garantir a salvaguarda da vida humana, resgatando pessoas de maneira mais
rápida;
- combater os ilícitos transnacionais; e
- prevenir fenômenos naturais extremos”.
A descrição acima dá bem a dimensão da importância da implantação
deste sistema, que, uma vez integrado aos de mais sistemas disponíveis no
Brasil e aos meios da MB, permitirá a presença das forças constituídas onde
se fizer necessário defender os interesses do Brasil, quer seja pela dissuasão
das ameaças, quer seja pela constante vigilância, fiscalização, controle e
140
gestão sustentável dos recursos e do meio ambiente marinho na nossa
Amazônia Azul.
Como vimos neste tópico, a necessidade de recursos financeiros para a
implementação do PAEMB é significativa, exigindo uma programação dos
gastos compatível com as necessidades de prontificação dos meios, que, se
postergados, colocam em risco todo o planejamento, retornando á situação
existente anteriormente, onde adequávamos o aparelhamento ao recurso
financeiro disponível, quando, ao contrário, devemos adequar a disponibilidade
de recursos às necessidades impostas pelo requisito de segurança que se
apresenta no momento. Cabe ainda observar que, num verdadeiro sistema
PDCA (Plan, Do, Check, Act), o aparelhamento das forças deve ser
constantemente revisto, em conformidade com o aumento das vulnerabilidades
e as possibilidades de ameaça, mantendo-se permanentemente a capacidade
de cumprir a missão estabelecida na END, na sua forma mais atual. Assim
sendo, no próximo tópico, devemos lançar um olhar sobre a forma de planejar
o orçamento brasileiro e como os gastos com a defesa têm sido considerados.
3.3 – Defesa brasileira e o orçamento da União
Neste tópico, será feita uma breve descrição de como se faz a previsão
orçamentária no Brasil. Em seguida, será feita uma análise histórica da
destinação dos recursos orçamentários para a pasta da defesa,
comparativamente às pastas de Minas e Energia e da Fazenda. Serão
apresentadas também as previsões de destinação de recursos em 2011 para
algumas pastas do Governo Federal, a título de comparação com a situação
da Defesa.
Será efetuada uma simples comparação dos investimentos em defesa
no Brasil relativamente aos demais países do grupo denominado BRIC, EUA e
Inglaterra, de forma a obtermos uma amostragem de países com dimensões e
características econômicas similares, comparativamente aos países
141
desenvolvidos, especialmente os EUA, por ser a potência hegemônica, e a
Inglaterra, como representante militar mais significativo da Europa.
Serão traçadas considerações sobre orçamento e defesa e as
implicações da falta de atribuição de prioridade aos investimentos nesta área.
Serão aventadas possibilidades de origem e alocação dos recursos
financeiros para a implementação do PAEMB e demais planos da END, bem
como para a manutenção/reparo dos meios existentes.
O Orçamento Geral da União (OGU) é formado pelo Orçamento Fiscal,
da Seguridade e pelo Orçamento de Investimento das empresas estatais
federais. Existem princípios básicos que devem ser seguidos para elaboração
e controle do Orçamento que estão definidos na Constituição, na Lei nº 4.320,
de 17/03/1964, no Plano Plurianual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
A Constituição Federal de 1988 atribui ao Poder Executivo a
responsabilidade pelo sistema de Planejamento e Orçamento que tem a
iniciativa dos seguintes projetos de lei:
- Plano Plurianual (PPA)
- De Diretrizes Orçamentárias (LDO)
- De Orçamento Anual (LOA)
O Projeto de Lei do PPA define as prioridades do governo por um
período de quatro anos e deve ser enviado pelo Presidente da República ao
Congresso Nacional até o dia 31 de agosto do primeiro ano de seu mandato.
De acordo com a Constituição Federal, o Projeto de Lei do PPA deve
conter as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as
despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos
programas de duração continuada. O PPA estabelece a ligação entre as
prioridades de longo prazo e a Lei Orçamentária Anual.
O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deve ser enviado
pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril de cada ano.
A LDO estabelece as metas e prioridades para o exercício financeiro
subsequente, orienta a elaboração do Orçamento, dispõe sobre alteração na
142
legislação tributária e estabelece a política de aplicação das agências
financeiras de fomento.
Com base na LDO aprovada pelo Legislativo, a Secretaria de
Orçamento Federal elabora a proposta orçamentária para o ano seguinte, em
conjunto com os Ministérios e as unidades orçamentárias dos poderes
Legislativo e Judiciário. Por determinação constitucional, o governo é obrigado
a encaminhar o Projeto de Lei do Orçamento ao Congresso Nacional até o dia
31 de agosto de cada ano. Acompanha o projeto uma Mensagem do
Presidente da República, na qual é feito um diagnóstico sobre a situação
econômica do país e suas perspectivas.
O governo define no Projeto de Lei Orçamentária Anual as prioridades
contidas no PPA e as metas que deverão ser atingidas naquele ano. A Lei
Orçamentária disciplina todas as ações do governo federal. Nenhuma despesa
pública pode ser executada fora do Orçamento, mas nem tudo é feito pelo
governo federal. As ações dos governos estaduais e municipais devem estar
registradas nas leis orçamentárias dos Estados e municípios.
No Congresso, deputados e senadores discutem na Comissão Mista de
Orçamentos e Planos a proposta enviada pelo Executivo, fazem as
modificações que julgam necessárias através das emendas e votam o projeto.
A Constituição determina que o Orçamento deve ser votado e aprovado até o
final de cada Legislatura. Depois de aprovado, o projeto é sancionado pelo
Presidente da República e se transforma em Lei.
A Lei Orçamentária brasileira estima as receitas e autoriza as despesas
de acordo com a previsão de arrecadação. Se durante o exercício financeiro
houver necessidade de realização de despesas acima do limite que está
previsto na Lei, o Poder Executivo submete ao Congresso Nacional projeto de
lei de crédito adicional. Por outro lado, crises econômicas mundiais obrigam o
Poder Executivo a editar Decretos com limites financeiros de gastos abaixo dos
limites aprovados pelo Congresso. São chamados de Decretos de
Contingenciamento, pelos quais somente são autorizadas despesas no limite
das receitas arrecadadas.
143
De acordo com o site DEFESA BR (www.defesabr.com), a execução do
Orçamento da União nos últimos 10 anos apresenta uma expressiva redução
dos gastos com o Ministério da Defesa. Ao término da gestão de FHC, o
orçamento da defesa era de 43,17 bilhões de reais, e no primeiro ano do
governo Lula, apresentou uma queda de 27 %, passando a 31,43 bilhões de
reais. De 2004 a 2008, manteve a média de 35,87 bilhões de reais, sendo que,
em 2009, iniciou uma recuperação, passando a 51,3 bilhões de reais, e atingiu
em 2010 o maior valor da década, de 59 bilhões de reais. A previsão para
2011 é de 60,23 bilhões de reais.
Apurando-se os dados referentes ao Orçamento da União do período de
2008 a 2011, cujo projeto de lei foi encaminhado ao Congresso em 31 de
agosto de 2010, obtivemos a seguinte tabela:
ANO PIB (R$) Orçamento da
Defesa
Despesas da Defesa
Pessoal e Encargos Sociais Investimentos
R$ % PIB R$ % Orçto R$ % Orçto % PIB
2008 3.004.881 42.729 1,42 31.149 72,90 3.247 7,60 0,11
2009 3.143.015 51.382 1,63 38.275 74,49 4.110 8,00 0,13
2010 3.548.700 59.006 1,66 42.678 72,33 7.471 12,66 0,21
2011 3.890.000 60.230 1,55 44.317 73,58 6.345 10,53 0,16
Valores em milhões de reais Fonte: Secretaria da Receita Federal (www.portalsof.planejamento.gov.br)
Constatamos que o orçamento da defesa representa, em média, 1,55 %
do valor do PIB brasileiro. Quanto às despesas, os gastos com pessoal e
encargos sociais consomem em média 73 % do orçamento, e os investimentos
representam somente 0,15 % do PIB. Desta forma, os gastos com pessoal e
encargos sociais consomem praticamente todos os recursos,em função do
grande contingente de inativos e pensionistas, relativamente aos servidores
ativos. “No governo Lula, a prioridade conferida à Defesa se manteve baixa e
estável. Desde 2003, as verbas da pasta ficaram em torno de 7,5% da receita
disponível do governo federal. E o cenário não muda no primeiro Orçamento
144
após a nova END. São somente as despesas com pessoal que vêm
apresentando grande crescimento. O contraste é visível, em um ministério que
destina 3/4 de sua verba total à folha de pagamentos, e é de longe a maior
proporção da Esplanada. Cada militar da ativa custa, em média, R$ 1.942, o
menor valor entre os quadros da União. Entre os civis da administração direta,
a média é de R$ 6.301, e no Ministério Público, onde se pagam os maiores
salários, de R$ 15.717. No entanto, há um alto custo por causa do número de
militares ativos - 430 mil, quase 40% do quadro da União. Além, é claro, das
condições oferecidas aos 330 mil aposentados e pensionistas, que, mesmo
inferiores numericamente, consomem 62% das despesas com pessoal da
pasta. A previdência dos militares vem sendo poupada das reformas feitas na
previdência brasileira há anos. Com as modernizações da Reforma da
Previdência, esses aspectos deficitários de Defesa (75 % do Orçamento)
deverão decrescer, pois haverá reduções de dispêndios de várias espécies nos
próximos anos (como a pensão de filhas solteiras e até de netos de
marechais), além da redução dos contingenciamentos, liberando-se verbas
fundamentais para os melhores e reais objetivos constitucionais, hoje muito
pouco respeitados pelo governo federal” (www.defesabr.com).
Outro dado importante, é a atenção dispensada pelo governo aos
investimentos na pasta de Minas e Energia, leia-se Petrobrás, que,
historicamente, têm consumido praticamente 90 % dos recursos destinados,
conforme pode ser visualizado na tabela abaixo:
ANO PIB
Despesa do Orçamento de Investimento das Empresas Estatais
Defesa Minas e Energia Fazenda Previsto pelo Governo
R$ % R$ % R$ % R$ 2008 3.004.881 1.658 2,67 56.122 90,34 3.092 4,98 62.122
145
2009 3.143.015 1.039 1,31 73.380 92,56 3.513 4,43 79.281 2010 3.548.700 1.475 1,56 87.424 92,60 3.965 4,20 94.406 2011 3.890.000 2.208 2,05 99.441 92,46 3.851 3,58 107.548 Valores em milhões de reais Fonte: Secretaria da Receita Federal (www.portalsof.planejamento.gov.br)
Cabe ressaltar que até mesmo os investimentos feitos na pasta da
Fazenda ultrapassam os destinados a Defesa. Este quadro sugere que fatores
políticos influenciam também a destinação destes recursos, uma vez que ligar
as ações do partido do governo ao sucesso da Petrobras oferece enorme
retorno propagandístico, além dos cargos de primeiro escalão da empresa
poderem ser utilizados como moeda de troca, uma vez que, comumente, são
cargos políticos e não técnicos. No caso da pasta da Fazenda, obviamente os
investimentos estão ligados à capacidade de gerar receitas, com reflexos
imediatos na capacidade do governo de executar as obras de maior impacto,
como por exemplo os PAC, que, ainda que representem avanços na área
social e na diminuição da taxa de desemprego, servem também como
plataforma para a projeção positiva das ações governamentais. Quanto à
Defesa, observamos que, na prática, ainda não se concretizou o ideal proposto
na END, que é a inseparabilidade das estratégias nacionais de
desenvolvimento e de defesa, haja vista a disparidade entre o tratamento
dispensado pelo governo a ambas. Há um forte projeto de desenvolvimento
das forças produtivas na área de petróleo e gás, porém, não há a contra-
partida equivalente na área de defesa, contrariando o proposto na END, como
já visto no item “3.2” deste capítulo. Procedendo desta forma, cada vez
dispomos de menos meios para defender maiores riquezas, ou seja, cada vez
aumentamos mais o que temos a perder, caso as ameaças futuras venham a
se concretizar. Procedendo desta forma, mantemos a prática anterior de atuar
corretivamente, quando a ameaça já se concretizou, inevitavelmente
dependendo do apoio de terceiros, ao invés de preventivamente, situação na
qual poderíamos abdicar da tutela que, em troca da segurança que somos
incapazes de propiciar, tolhe o nosso desenvolvimento.
146
Outra fonte de recurso que ainda não tem sido disponibilizada a
contento para a MB, são os recursos provenientes dos royalties sobre a
produção de petróleo e gás natural, que têm sido sistematicamente
contingenciados pelo governo, como, por exemplo, em 2009: “Sobre os
Royalties da Marinha, de R$ 1,8 bilhão em 2009, foi contingenciado R$ 1,02
bilhão, restando somente R$ 780 milhões para investimentos e custeio (43%
do valor inicial)” (www.defesabr.com). Vale recordar que, conforme explanado
no item “1.2.5” do capítulo I, desde 2000, o CM já deveria ter recebido 7,7
bilhões de reais. O contingenciamento desta verba deve-se ao disposto no
parágrafo segundo do artigo 45 da Lei nº 9478 de06/08/1997, que determina:
“As receitas provenientes das participações governamentais definidas no
caput, alocadas para órgãos da administração pública federal, de acordo com
o disposto nesta Lei, serão mantidas na Conta Única do Governo Federal,
enquanto não forem destinadas para as respectivas programações”
(www.planalto.gov.br) . Por esta lei, os royalties devidos correspondem a 10 %
da produção comercial de petróleo e gás natural, sendo que a participação da
MB é de 1 % dos primeiros 5 % do total de royalties devidos, e, com relação à
parcela que exceder os 5 %, a MB terá direito a 15 %, quando a lavra ocorrer
na PC. Cabe ressaltar que a MB não entra na partilha de participação especial
e nem no pagamento pela ocupação e retenção de área, previstos
respectivamente nos itens III e IV do artigo 45 da Lei 9478. Caso venha a ser
aprovado o Projeto de Lei da Câmara nº 16/2010, as receitas de royalties
referentes aos itens III e IV supracitados deixarão de existir, e os royalties
serão pagos em montante correspondente a 15 % da produção de petróleo e
gás natural, sendo que, quando a lavra ocorrer na PC, caberá à União 19 % do
total, para destinação ao CM e MCT. Como não há definição de como se fará a
distribuição entre CM e MCT do valor disponibilizado, não temos como avaliar
como ficará a situação da MB relativamente à situação vigente atualmente,
entretanto, somente pelo fato de sairmos de uma situação na qual a
participação da MB é bem definida para uma situação na qual não é definida,
já permite inferir dificuldades futuras de captação destes recursos.
147
Em que pese a situação descrita acima, o Brasil tem dificuldades a
enfrentar que ameaçam a destinação de maiores recursos para a defesa. O
documento “Orçamento Federal ao Alcance de Todos”
(www.portalsof.planejamento.gov.br) mostra que, para o orçamento da União
de 2011, estima-se que o PIB será de 3,89 trilhões de reais. As receitas e
despesas propostas correspondem a aproximadamente R$ 2,05 trilhões,
sendo que o orçamento da seguridade social, que contempla as despesas com
saúde, previdência e assistência social, é de R$ 512,7 bilhões (25 % do total).
Quanto ao orçamento fiscal, é de aproximadamente R$ 1,4 trilhão, e
nele estão incluídas as despesas dos Poderes Judiciário, Legislativo, Executivo
e o Ministério Público da União compreendendo os órgãos da administração
pública federal, direta e indireta, abrangendo os fundos, autarquias, fundações,
e as empresas estatais dependentes, não contempladas nos outros
orçamentos, além dos valores que financiam a dívida pública federal, que é de
R$ 953,8 bilhões, dos quais R$ 678,5 bilhões correspondem a rolagem da
dívida e R$ 275,3 bilhões correspondem a juros e amortização.
Das despesas previstas, no valor de R$ 1,94 trilhão de reais (49 % do
PIB), R$ 1,026 trilhões (53 %) referem-se a encargos financeiros (juros e
principal das dívidas), e R$ 913,9 bilhões (47 %) referem-se a despesas
primárias. Considerando-se que as receitas primárias esperadas são de R$
967,6 bilhões, levando-se em conta a meta de resultado primário estimada em
R$ 49,8 bilhões, o valor das despesas obrigatórias poderá atingir R$ 716,1
bilhões (18,4 % do PIB), sendo que o valor de despesas discricionárias (que
podem ser contingenciadas pelo governo, caso necessário) é de R$ 201,8
bilhões (5,18 % do PIB).
Quanto aos investimentos do governo federal em 2011, como já visto na
tabela anterior, serão destinados R$ 107,5 bilhões, sendo R$ 91,3 bilhões para
a Petrobras, R$ 8,2 bilhões para a Eletrobras, totalizando R$ 99,5 bilhões (92
% do total investido) para a pasta de Minas e Energia, que, quando
comparados com os irrisórios R$ 2,2 bilhões destinados para o MD,
evidenciam a falta de prioridade no atendimento ao preconizado na END.
148
Complementarmente, podemos informar ainda, com base no documento
citado, que o orçamento da pasta Educação, em 2011, é de R$ R$ 56,7
bilhões, dos quais, 33 % são para pagamento de pessoal. Na Saúde, estão
previstos R$ 68,5 bilhões, dos quais cerca de 13 % são para pagamento de
pessoal. Já para a pasta de Ciência e Tecnologia, vital para auxiliar a
capacitação da indústria bélica e a tecnologia nacional, foram previstos
somente R$ 7,5 bilhões (0,2 % do PIB). A pasta de Transportes será
contemplada com R$ 23,2 bilhões, sendo 56 % dos recursos destinados ao
modal rodoviário, 12,5 % ao ferroviário e apenas 7 % ao hidroviário.
Com relação aos recursos de R$ 31,3 bilhões alocados para a Defesa,
53 % são para pagamento do pessoal ativo, sendo R$ 3,5 bilhões para a Força
Aérea, R$ 1,4 bilhões para o Exército e R$ 3,2 bilhões para a MB, dos quais,
R$ 2,3 bilhões são destinados ao reaparelhamento e adequação (meios novos)
e R$ 1 bilhão destinado ao emprego do poder naval (manutenção dos meios
existentes).
Quanto a situação mundial, é apresentada abaixo uma lista dos quinze
países com os maiores orçamentos em defesa previstos para o ano de 2008. A
informação foi retirada do Stockholm International Peace Research Institute
(www.sipri.org), que é usado para calcular os gastos em defesa pelo Ministério
da Defesa britânico e muitos outros ministérios governamentais da União
Européia.
149
NOTA: As comparações entre os valores na tabela acima devem ser feitas
com cautela. Há casos de comparações incompatíveis, como por exemplo, a
França e a Itália, que incluem nos seus gastos militares as despesas de
manutenção das forças policiais nacionais. Por outro lado, a China e a Rússia
classificam as despesas de armas nucleares, mísseis e desenvolvimento de
aeronaves, entre outras, como despesas científicas, os gastos em treinamento
são classificados no orçamento para a educação, e as pensões dos veteranos
são pagas pelo orçamento do bem-estar social. Os gastos militares chineses e
russos normalmente são superiores aos valores publicados oficialmente.
É possível identificar na tabela acima, como era de se esperar, que os
EUA concorrem em 2008 com 40 % dos gastos mundiais, correspondentes a
4,25 % do seu PIB. Ainda que os dados apresentem algumas inconsistências,
como dito na nota acima, observamos que a China, Rússia e Índia, países com
grandes dimensões, como o Brasil, encontram-se acima deste, cabendo
ressaltar que a China investiu 1,9 % do seu PIB, e a Rússia e Índia, investiram
respectivamente 3,5 % e 2,5 % do seu PIB de 2008. O Reino Unido investiu
2,5 % do PIB, e o Brasil, como já vimos anteriormente, investiu somente 1,4 %
do PIB.
150
Ainda que pareça que os investimentos em defesa são gastos não
compatíveis com países em desenvolvimento, há que se ressaltar os
desdobramentos que o fortalecimento de uma indústria de defesa podem
trazer para o país, como observado no site DEFESA BR (www.defesabr.com):
“... serviu como um dos alicerces do desenvolvimento científico, tecnológico e
industrial dos EUA por todo o Século XX. É um dos segredos de seu fantástico
e inigualável sucesso econômico e social, certamente. Isso funciona como o
maior programa de política industrial do mundo, em que 16%, ou mais de US$
75 bilhões ao ano, são gastos em PD&I com fins militares. Grande parte das
invenções tenderá a ser de uso DUAL, em que enormes benefícios das novas
tecnologias também alcançarão o setor privado e o cidadão comum (como
internet e celular). Ressalte-se que, hoje, os EUA têm 5% da população, 30%
da economia e 50% das despesas militares do mundo. São investidos mais de
US$ 210 bilhões em PD&I, ao ano. Trata-se de uma HEGEMONIA
inquestionável”.
De acordo com Moraes (2009), a alocação dos recursos para a defesa
deveria pautar-se nas necessidades frente às ameaças, e não nas
possibilidades financeiras do país, visto como investimento no bem-estar da
sociedade, fator imprescindível para o desenvolvimento nacional, e não como
custeio da máquina pública, e complementa: “Como observa Ball (2002), “na
ausência de políticas bem pensadas e claramente articuladas, é impossível
dirigir as finanças do setor militar de uma maneira racional [...] os países
arriscam a não obter um nível de segurança militar de acordo com suas
condições financeiras. Faz-se necessário estabelecer firmes prioridades entre
gastos de defesa e não-defesa e decidir quais os programas merecem mais
recursos. Quanto o País deveria pagar hoje para se proteger contra perigos
desconhecidos no futuro? O quão importante os gastos de Defesa são
comparados com outras necessidades nacionais do País?” (MORAES, 2009,
p. 8).
Complementarmente, discorrendo sobre a apropriada inserção do tema
defesa no orçamento e a importância do relacionamento entre a sociedade civil
e os seus soldados no que tange a este assunto, temos que: “O orçamento
151
como a economia, também empresta seus conceitos e princípios à análise do
tema da defesa. Uma vez ser o orçamento, por excelência, o instrumento de
concretização da atividade governamental, muito da adequada definição do
perfil da defesa depende de sua apropriada inserção no contexto do
orçamento nacional. Assim, a análise das questões de defesa segundo a ótica
orçamentária tende a aproximar o assunto dos demais interesses nacionais.
Em especial no que se refere às questões da legitimidade e do controle, a
integração da ótica essencialmente militar à ótica orçamentária, ao impulsionar
o controle cidadão sobre a defesa, acena para um importante passo na
redefinição bem-sucedida das relações entre a sociedade civil e seus
soldados” (ALMEIDA, 2001, apud MORAES, 2009, p.7).
De acordo com o site DEFESA BR (www.defesabr.com), destacam-se
como possíveis novas fontes de receita, principalmente, os royalties sobre a
exploração das jazidas de petróleo, gás e minérios, que, com alíquotas
sugeridas de 20 % para a exploração na PC e 15 % para a exploração em
terra, poderiam gerar num prazo de 15 anos, até 2025, 505 bilhões de dólares,
valor mais do que suficiente para executar o planejado no PAEMB, desde que
a União responsabilize-se pelos recursos previdenciários correspondentes às
forças armadas. Vale lembrar que, no Chile, 10% da receita do cobre estão
vinculados à defesa há anos.
Outras possíveis fontes seriam a taxação em 1 % (em média) sobre as
importações em geral, podendo gerar, em 15 anos, 59 bilhões de dólares, e
sobre o faturamento bruto das companhias geradoras de energia elétrica,
possíveis alvos estratégicos em potencial.
Mesmo assim, segundo Moraes (2009), é possível que nos próximos
anos o montante alocado para a defesa brasileira comece aos poucos a se
estabilizar numa proporção de 2,5% do PIB. Com certeza, a Estratégia
Nacional de Defesa, para alcançar seus objetivos, dependerá de um aporte de
recursos muito além do que o Orçamento Anual poderá proporcionar. Sendo
assim, com um planejamento econômico e financeiro a médio e longo prazos,
com uma política de governo consciente e saudável, com visão de futuro e
152
com o apoio da sociedade brasileira, a Defesa do País proporcionará o lugar
de destaque que a Nação merece, isto é, junto às grandes potências mundiais.
Merecem citação também as sugestões apresentadas pelo trabalho “O
Ambiente Marinho – Uma visão da Marinha”, tais como: o apoio a
disseminação da mentalidade marítima na sociedade, especialmente os
setores governamentais e privados; apoiar as ações de investimento em
tecnologia e infra-estrutura e formação de recursos humanos para adaptação
pública e empresarial aos padrões ambientais e de gerenciamento
participativo, com vistas ao desenvolvimento sustentável e controle da poluição
na Amazônia Azul; apoiar o estabelecimento da infra-estrutura e recursos
humanos necessários à modernização tecnológica dos portos e ao
soerguimento do transporte marítimo e multimodal brasileiro em busca da
redução do custo Brasil; e apoiar o estabelecimento da infra-estrutura
tecnológica necessária à implementação do Sistema de Gerenciamento da
“Amazônia Azul – SisGAAz voltada para o monitoramento e controle desse
espaço marítimo como ação fundamental para a consecução da visão da
Estratégia Nacional de Defesa de médio e longo prazos.
Ainda, complementarmente, em termos de eficiência na gestão dos
recursos do mar, outra idéia interessante seria a modificação do status da
CIRM para uma espécie de conselho, como o proposto por Vidigal (2006), o
Conselho Nacional para o Gerenciamento do Mar, a ser presidido pela
Autoridade Marítima, o Comandante da Marinha, visando centralizar a
coordenação das atividades ligadas ao mar, haja vista a MB possuir os meios e
a experiência adequados, além de recompor o nível hierárquico apropriado
para um acesso mais direto à Presidência da República, aproximando mais os
problemas da área a quem pode efetivamente resolvê-los. Particularmente,
contrariamente ao proposto pelo mesmo autor, sou de opinião que as
entidades privadas e representantes das áreas acadêmicas e tecnológicas
envolvidas devam participar da formulação da Política Marítima Nacional, de
forma a promover a perfeita integração entre as ações de segurança e defesa,
e de fomento a P&D dos setores produtivos ligados ao mar.
153
CONCLUSÃO
Quando iniciei este trabalho de final de curso, inspirei-me inicialmente
no grande potencial de exploração de petróleo e gás natural nas Águas
Jurisdicionais Brasileiras, o denominado pré-sal, já na ocasião bastante
veiculado pela imprensa brasileira e até mundial, compreendendo de imediato,
tendo servido à Marinha do Brasil, até hoje, por 26 anos, a importância do
devido aparelhamento desta Organização Militar na defesa deste patrimônio. O
desejo de estudar o assunto somente aumentou quando, no módulo de direito
ambiental do meu curso, percebi que a MB estava na raiz das ações de
fiscalização e controle da poluição ambiental e preservação da biodiversidade
desta enorme área. O que eu não esperava é que as riquezas, provadas ou
potenciais, fossem tão diversas e vastas quanto o mar que as abriga, e que a
ligação da MB com as atividades do mar fosse tão profunda e proficiente, em
tempos de paz. Ao longo da pesquisa logo me ocorreu que, se eu que estou
próximo das atividades de construção e reparo dos meios navais no AMRJ,
desconheço grande parte dos assuntos tratados neste singelo estudo, é de se
esperar que muitos não conheçam as atividades da denominada por mim,
Marinha de Paz, que complementa e não prescinde da Marinha de Guerra,
quando for clamada a sua presença.
Surpreendi-me com a intensa interligação entre as ações de
desenvolvimento das forças de produção das diversas atividades executadas
no mar e as atividades da MB, como Autoridade Marítima e ator principal no
estabelecimento da segurança e preservação desta área, cada qual
necessitando fomentar a outra, mutuamente dependentes, porquanto não há
sentido em investir no que não se pretende manter, nem defender o que não
tem valor, estabelecendo-se um círculo virtuoso, uma vez que uma beneficia a
outra, cabendo ainda ressaltar que o fortalecimento das forças armadas e da
indústria nacional de defesa certamente induzirá o desenvolvimento de
indústrias correlatas, aumentando a oferta de empregos e incrementando a
154
geração de conhecimento e tecnologia que, geralmente, é de aspecto dual,
migrando rapidamente para a utilização pela sociedade civil.
Desenvolvimento e segurança estão inevitavelmente associados. Quem
já não sentiu no Brasil, especialmente nas grandes metrópoles, a sensação de
insegurança associada ao crime, organizado ou não, que incapacita a nossa
mobilidade, afeta a nossa disponibilidade, altera a nossa rotina, enfim, limita o
nosso potencial?
A esse respeito mostra-se emblemático o episódio ocorrido no Rio de
Janeiro, em 28 de novembro de 2010, quando, com o apoio das forças
armadas, em especial da MB, as forças federais, estaduais e municipais
invadiram o complexo do Alemão retomando para o Poder Público uma
comunidade que se encontrava praticamente em estado de sítio há anos.
Ainda que toda a ação tenha sido planejada em detalhes e perfeitamente
coordenada, tudo teria sido bem mais complicado sem o apoio popular. O
apoio e aprovação da população, mostrado abertamente com bandeiras
brasileiras às janelas, suporte logístico no suprimento de água e apoio moral,
além da participação efetiva na informação da localização de armas e
criminosos escondidos, foram vitais para a auto-estima das forças constituídas
e estendeu-se ao longo dos dias, no auxílio para a captura dos fugitivos.
Entendo que isto sinaliza que, ainda que tenhamos um planejamento
extremamente bem elaborado na END e que os Planos de Articulação e
Equipamento das forças armadas sejam os melhores dentro das possibilidades
financeiras do país, somente sairemos da retórica para a ação mediante o
efetivo apoio da população brasileira. A participação da sociedade brasileira,
em todos os seus níveis, é vital no sentido de conhecer, compreender e apoiar
as medidas que se fazem necessárias, pressionando a classe política a
cumprir o seu papel, que é governar para o povo, seguindo o preceito
Constitucional previsto no parágrafo único do artigo primeiro da CFRB, que é
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Entretanto, para obter este apoio, é necessário que os assuntos que
envolvem a segurança do Brasil, ressaltando riquezas e vulnerabilidades,
155
capacidades e necessidades de capacitação, estratégias de desenvolvimento
e de defesa, sejam expostos ao público geral. Neste aspecto, parece-me que
um melhor uso das redes sociais seria bem-vindo, desmistificando o tema pela
sua popularização em fóruns de debate e blogs, favorecido pelo diálogo rápido
e em linguajar acessível, aproveitando-se o grande alcance e flexibilidade
desta forma de comunicação. Desejável também é que a rede de ensino,
desde cedo, inclua na educação dos nossos pequenos a importância de
reconhecer os valores brasileiros, as nossas riquezas, e como podemos e
devemos defendê-las em prol das gerações futuras, e em honra das gerações
que, com esforço e perseverança, nos trouxeram até aqui. Espero que este
trabalho singelo, fruto do aprendizado da compreensão das técnicas e valores
que permitem ao engenheiro de produção visualizar e atuar em sistemas
integrados visando à produção de bens e serviços de forma econômica e ética,
da admiração e afeto pelos assuntos do mar, e pelo orgulho de pertencer ao
corpo civil da Marinha do Brasil, em especial do AMRJ, seja capaz de auxiliar
na divulgação destes assuntos, e, embora, provavelmente, não tenha
acrescido fatos novos ao tema, ao menos buscou concentrá-los, atualizá-los e
adequá-los da melhor forma possível a um linguajar acessível e um estilo que
visasse à motivação da sua leitura.
Não se iluda quem pensa que o Brasil não tem inimigos ou ameaças a
temer. Internamente, nosso inimigo mais imediato, transparente para a maior
parte da sociedade, é a nossa própria inércia em prover meios de defesa que
propiciem a segurança compatível com o avolumamento dos investimentos no
desenvolvimento das forças de produção nos mais variados locais do nosso
país, especialmente no mar, foco deste trabalho.
Externamente, convém lembrar, inimizades são circunstanciais, surgindo
frequentemente da imposição de necessidades que se apresentam no
momento, tornando situações aparentemente pacificadas em questionamentos
normalmente associados à soberania ou a sobrevivência do Estado, segundo
ótica estritamente particular, inicialmente colocados na forma diplomática,
porém sempre apoiados pela demonstração de força, e, quando considerado
156
esgotados os argumentos, não hesitando em utilizá-la para impor a sua
posição.
De acordo com o exposto no excelente trabalho “Panorama
Internacional Ominoso – Estímulo a Reflexões na Marinha do Brasil”,
apresentado pelo Senhor Embaixador Marcos Henrique Camillo Côrtes em
palestra na Escola de Guerra Naval, em 2006, a terceira revolução industrial,
criando um novo paradigma onde a informação é a matéria-prima, alterou de
forma radical os parâmetros de relativização do Poder Nacional de todos os
países, reduzindo ainda mais a capacidade de atuação dos países menos
desenvolvidos no campo externo. Esta evolução, associada a uma nova
postura organizacional, com mudanças fundamentais nas expressões do
Poder Nacional, conduziu a Revolução em Assuntos Militares (RAM),
consistindo na adoção de um novo paradigma na natureza e conduta das
operações militares – em conjugação com inovações tecnológicas – que torna
obsoleta ou irrelevante uma ou mais capacidades do opositor, em quaisquer
das dimensões da ação bélica. São características deste processo o
encurtamento do tempo de resposta e as delimitações espaciais, antes
restritas às três dimensões conhecidas, e agora ampliadas para um contexto
multidimensional, incluídas, por exemplo, as dimensões espacial, cibernética e
a psicológico-propagandística. Ainda que alguns autores e estudiosos do tema
refutem a eficiência das forças baseadas na RAM, o fato é que o investimento
na geração de conhecimento e inovação leva ao domínio de tecnologias que
situam as ameaças onde não podemos detectá-las rapidamente, caso não
tenhamos capacidade para tal. O emprego de programas interferentes, que
podem atuar danosamente contra sistemas de identificação e rastreamento de
ameaças, pode conferir aos agressores vantagens que lhes permitiriam
“enxergar”, enquanto permanecemos no “escuro”, ter precisão enquanto
somente podemos contar com a sorte e a valentia dos nossos soldados, que,
vale dizer, nunca faltou aos brasileiros.
Prossegue o Embaixador, citando que, no Pós-Modernismo Militar, os
conflitos armados são de curta duração, sendo os objetivos imediatos, do
ponto de vista bélico, limitados, com ínfimas perdas materiais e humanas para
157
o agressor. Consequentemente reduz-se significativamente a pressão da
opinião pública interna e internacional, o que facilita a adoção de atitudes
belicosas e o intervencionismo como modo plausível de resolução de
controvérsias.
Diante do exposto, cumpre recordar que perdas aumentam
vulnerabilidades, vulnerabilidades ampliam riscos, e debilidades estimulam
ameaças. É necessário, afinal de contas, identificar qual é o inimigo. A melhor
resposta está em uma premissa objetiva: No relacionamento internacional, não
há amigos nem inimigos, existem (apenas e sempre) interesses, conciliáveis
ou conflituosos.
Não há mais tempo a perder. É necessário conscientizar a população
brasileira a envolver-se em um intenso debate sobre a importância que
devemos atribuir à garantia do desenvolvimento do nosso país através do
fortalecimento, não apenas dos meios físicos e tecnológicos para tal, mas,
principalmente, do estado de espírito que promova a ação proativa de todos no
estabelecimento de um ambiente seguro que favoreça o progresso da nação
ao patamar que lhe é possível alcançar, o de uma das grandes nações no
concerto mundial.
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1: Siglas e Abreviaturas
Anexo 2: Figuras
158
ANEXO 1
Siglas e Abreviaturas
AIFM – Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos
AJB - Águas Jurisdicionais Brasileiras
AMP - Áreas Marinhas de Proteção
ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
AQUIPESCA - Programa de Aquicultura e Pesca
CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica
CHM – Centro de Hidrografia da Marinha
159
CIRM - Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
CLPC - Comissão de Limites da Plataforma Continental
CM – Comando da Marinha
CNUDM - Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
CONEPE - Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - Serviço Geológico do
Brasil
CRFB - Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
CTMSP - Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo
DHN - Diretoria de Hidrografia e Navegação
DPC - Diretoria de Portos e Costas
EACF - Estação Antártica "Comandante Ferraz"
EGN – Escola de Guerra Naval
EMA – Estado Maior da Armada
END - Estratégia Nacional de Defesa
EUA - Estados Unidos da América
FAO - Food and Agriculture Organization
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IEAPM - Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira
LEPLAC - Plano de Levantamento da Plataforma Continental
MB – Marinha do Brasil
MD – Ministério da Defesa
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura
MT – Mar Territorial
NAe – Navio Aeródromo
NAeL – Navio Aeródromo Ligeiro
OM – Organização de Marinha
ONU – Organização das Nações Unidas
OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo
160
PAEMB - Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil
PC - Plataforma Continental
PL – Projeto de Lei
PNMA - Política Nacional do Meio Ambiente
PMN – Política Marítima Nacional
PNRM - Política Nacional para os Recursos do Mar
PROARQUIPÉLAGO - Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo
POLANTAR – Política Nacional para Assuntos Antárticos
PROMAR – Programa de Mentalidade Marítima
PROANTAR – Programa Antártico Brasileiro
RAM - Revolução em Assuntos Militares
REMPLAC - Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma
Continental Jurídica Brasileira
RESEX - Reservas Extrativistas
REVIZEE - Programa de Avaliação do Potencial dos Recursos Vivos na Zona
Econômica Exclusiva
CCSM - Secretaria de Comunicação Social da Marinha
SECIRM - Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SUNAMAM - Superintendência Nacional de Marinha Mercante
UC – Unidades de Conservação
ZC – Zona Contígua
ZEE - Zona Econômica Exclusiva
162
Figura 2 – Amazônia Azul (X Encontro Anual de Estudos Estratégicos)
Figura 3 - Movimentação de cargas no longo curso-comércio exterior (Anuário
Estatístico Portuário 1996-2009, ANTAQ)
163
Figura 4 - Evolução da movimentação de cargas, por navegação e total
(Anuário Estatístico Portuário 1996-2009, ANTAQ)
Figura 5 – Produção nacional de pescados – série 2003/2009 (MPA)
166
Figura 8 – Presença estrangeira no Oceano Atlântico Sul (O Emprego do
Poder Naval na Defesa da Amazônia Azul – Seminário Amazônia Azul)
Figura 9 – Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz)
167
BIBLIOGRAFIA
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Nacional de Ciências Estatísticas), orientada pelo professor Dr. Eli Alves
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Fundamental e Ensino Médio: A Importância do Mar na História do Brasil.
Coordenado por Carlos Frederico Simões Serafim; organizado por Armando de
Senna Bittencourt, Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2006, 216 p. (Coleção Explorando o ensino - volume 13).
3 - Albuquerque, Alexandre Tagore Medeiros de... [et al]: Geografia: Ensino
Fundamental e Ensino Médio: O Mar no Espaço Geográfico Brasileiro.
Coordenado por Carlos Frederico Simões Serafim; Organizado por Paulo de
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5 - Revista Scientific American Brasil. São Paulo, Editora Ediouro Duetto
Editorial Ltda, 2010, Edição Especial nº 39: Biodiversidade, 82 p.
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Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, 2010.
7 - Machado, Roberto Loiola: O Submarino nuclear brasileiro. 1ª edição, Rio de
Janeiro: o autor, 2010, 78 p.
8 - Bergo, Marcio Tadeu Bettega: O pensamento estratégico e o
desenvolvimento nacional – Uma proposta de projeto para o Brasil. 2ª edição,
São Paulo: MP Editora, 2008, 176 p.
9 - Moraes, Marco César de: A Estratégia Nacional de Defesa e o Orçamento
da União. Cel. Marco César de Moraes, ECEME – Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, 2009
168
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10 - Öberg, Vice-Almirante Elis Treidler: Sistema de Gerenciamento da
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11 - Monteiro, Almirante-de-Esquadra (FN) Alvaro Augusto Dias: O Emprego
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16 - Coelho, Paulo Domingos das Neves, EMEPC - FDUP – CIMAR: Aspectos
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169
http://www.abccam.com.br/download/Panorama_da_Producao_Mundial_e_Bra
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19 - Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura – CONEPE: Balança Comercial
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http://www.conepe.org.br/2010/sistema/arquivos_pdf/bcbp_2007_a_2010.pdf
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21 - Ferreira, Gabriel Luiz Bonora e Natália Bonora Vidrih Ferreira: Regulação
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ComCiência, 2002, http://www.comciencia.br/comciencia/ acessado em
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24 - 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação: O Ambiente
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170
26 – Côrtes, Marcos Henrique Camillo: Panorama Internacional Ominoso -
Estímulo a reflexões na Marinha do Brasil, palestra apresentada na Escola de
Guerra Naval em 2006, www.egn.mar.mil.br, acessado em 05/10/2010.
171
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO................................................................................ 02
AGRADECIMENTO................................................................................ 03
DEDICATÓRIA....................................................................................... 04
RESUMO................................................................................................ 05
METODOLOGIA..................................................................................... 06
SUMÁRIO............................................................................................... 08
INTRODUÇÃO........................................................................................ 09
CAPÍTULO I
A AMAZÔNIA AZUL................................................................................ 11
1.1 – O que é a Amazônia Azul?............................................................ 13
1.1.1 – A importância do mar.................................................................. 13
1.1.2 – O conceito de mar territorial....................................................... 19
1.1.3 – A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar –
CNUDM................................................................................................... 23
1.1.4 – A estratégia brasileira relativa a CNUDM................................... 34
1.2 – As riquezas e potenciais da Amazônia Azul.................................. 37
1.2.1 – O mar como sétimo bioma.......................................................... 37
1.2.2 – Navegação de longo curso e cabotagem................................... 40
1.2.3 – Pesca – A guerra da lagosta...................................................... 42
1.2.4 – Nódulos polimetálicos e crostas minerais................................... 49
1.2.5 – Petróleo e gás natural................................................................. 54
CAPÍTULO II
AÇÕES GOVERNAMENTAIS – A POLÍTICA NACIONAL PARA OS
RECURSOS DO MAR............................................................................ 73
2.1 – Constituição da CIRM e suas atribuições...................................... 73
2.2 – A Política Nacional para os Recursos do Mar............................... 75
2.3 – Gestão sustentável dos recursos do mar – legislação.................. 88
CAPÍTULO III
172
CAPACITAÇÃO PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA
AZUL....................................................................................................... 99
3.1 – Capacidade da Marinha do Brasil – Uma história que se repete.. 100
3.2 – Capacitação da Marinha do Brasil – Visão como processo........... 122
3.3 – Defesa brasileira e o orçamento da União.................................... 145
CONCLUSÃO......................................................................................... 158
ANEXOS................................................................................................. 163
Anexo 1 – Siglas e Abreviaturas............................................................. 164
Anexo 2 – Figuras................................................................................... 167
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA..............................................................
172
ÍNDICE.................................................................................................... 176