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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE AÇÕES GOVERNAMENTAIS PARA CAPACITAÇÃO DA GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS DA AMAZÔNIA AZUL Por: Cesar Lopes Marques Orientador Prof. Ana Claudia Morrissy Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AÇÕES GOVERNAMENTAIS PARA CAPACITAÇÃO DA GESTÃO

SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS DA AMAZÔNIA AZUL

Por: Cesar Lopes Marques

Orientador

Prof. Ana Claudia Morrissy

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AÇÕES GOVERNAMENTAIS PARA CAPACITAÇÃO DA GESTÃO

SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS DA AMAZÔNIA AZUL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Engenharia da

Produção

Por: Cesar Lopes Marques

AGRADECIMENTOS

3

Agradeço à Marinha do Brasil a

oportunidade do convívio profissional e

pessoal com os melhores mestres,

enquanto engenheiro Junior, com os

melhores companheiros, enquanto

engenheiro pleno, e com os melhores

aprendizes, enquanto engenheiro sênior,

durante os vinte e seis anos nos quais

tenho servido a esta conceituada Força.

Esta convivência muito contribuiu para

lapidar os meus conhecimentos técnicos,

incrementar a minha capacitação

profissional e forjar o meu caráter.

Agradeço também aos mestres do AVM e

a minha orientadora, Professora Ana

Claudia Morrissy, que, tal qual Polaris,

auxiliou este marujo de primeira viagem a

traçar o rumo para o porto do

conhecimento.

DEDICATÓRIA

4

Dedico este trabalho de pesquisa à minha

esposa Monica, aos meus queridos filhos

Ricardo e Raphaela, meu projeto de

futuro, às minhas duas mães, Irene e

Palmyra, ao meu sogro José (in

memorian) e, em especial, ao meu pai

Arnaldo (in memorian), que sempre soube

dar aos seus filhos exemplos de

honestidade de propósitos, firmeza de

caráter, espírito investigativo e gosto pela

leitura. À minha esposa, dedico também

tudo o que nesta empreitada resulta do

esforço advindo das muitas ausências a

que submeti nossa família, sempre

incentivado por seu incansável apoio e

dedicação altruísta. Se, ao meu pai, além

de todos os valores, devo a existência,

certamente à minha esposa devo a razão

e o sentido desta.

RESUMO

O tema desta monografia é a Amazônia Azul, denominação cunhada

pela Marinha do Brasil para as Águas Jurisdicionais Brasileiras.

5

Este estudo questiona a capacidade atual do governo brasileiro de

fiscalizar, controlar e defender a Amazônia Azul, de forma a viabilizar a

exploração e explotação dos recursos vivos e não-vivos desta imensa área,

abrangendo 4.500.000 km2, cerca de metade da extensão territorial do país,

garantindo o fomento das indústrias com sustentabilidade e o cumprimento das

leis ambientais, mantendo o respeito a nossa soberania.

Inicialmente, mostra a importância do mar para o Brasil apresentando as

suas principais riquezas, tais como os recursos minerais e biológicos, a

importância das vias de transporte marítimo, turismo, esportes náuticos e o

potencial futuro de exploração dos nódulos polimetálicos existentes no leito do

mar. Em decorrência, apresenta também as vulnerabilidades e ameaças as

quais a nossa nação encontra-se submetida em virtude destas mesmas

riquezas, bem como as ações governamentais adotadas para o

estabelecimento da Política Nacional de Recursos para o Mar e os aspectos da

legislação federal e ambiental que implicam em atribuições para a Marinha do

Brasil.

Com base nestas informações, constata-se que, atualmente, apesar do

planejamento e a adoção de legislação moderna, o governo brasileiro falha em

não prover os meios e os equipamentos necessários a execução das tarefas

que atribui a Marinha do Brasil, em virtude da falta de uma política de estado

que priorize a questão da segurança, bem intangível, a ser considerado como

um fator de produção e viabilização da cadeia de negócios que exploram as

riquezas da Amazônia Azul. A partir desta constatação, propõe a adoção de

uma política continuada de investimentos que permitam a implantação do

Plano de Articulação e Equipamentos da Marinha do Brasil, previsto na

Estratégia Nacional de Defesa, sugerindo as possíveis fontes de recursos.

METODOLOGIA

Este trabalho foi desenvolvido mediante pesquisa bibliográfica em livros,

revistas, periódicos e sites da internet pertencentes a órgãos governamentais e

entidades públicas e privadas de estudo e fomento da exploração e explotação

6

dos recursos do mar, bem como dos múltiplos atores governamentais que têm

como responsabilidade a implementação das medidas necessárias ao controle,

fiscalização, vigilância e defesa da Amazônia Azul.

Para a pesquisa relativa à importância do mar, conceito de mar territorial

ao longo da história e negociação entre as nações até a obtenção da

legislação vigente atualmente, conforme regulamentado pela Organização das

Nações Unidas (ONU) foi muito útil a consulta a tese de mestrado “A

Constituição das Fronteiras Marítimas Brasileiras: Do Mar Territorial à

Amazônia Azul” de autoria de Andrea Ribeiro Mendes e a farta documentação

obtida no site da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do

Mar (SECIRM), bem como os excelentes livros “Amazônia Azul: o mar que nos

pertence”, “O Mar no Espaço Geográfico Brasileiro” da Coleção Explorando o

Ensino - volume 8 e “A Importância do Mar na História do Brasil” da Coleção

Explorando o Ensino - volume 13, ambos disponibilizados gratuitamente em

arquivo digital no site da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

(CIRM).

Com relação às riquezas da Amazônia Azul, foi fundamental o acesso

ao site da CIRM e o material obtido no stand da Agência Nacional de Petróleo

(ANP), na feira Rio, Óleo e Gás 2010. Com relação à pesca, foi muito útil o

relatório da Produção Pesqueira e Aquícola de 2008-2009, obtido no site do

Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).

Quanto a Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) e as leis

de regulamentação do uso do mar e atribuições da Marinha do Brasil (MB),

bem como as leis ambientais aplicáveis às Águas Jurisdicionais Brasileiras

(AJB), foram consultados os sites dos órgãos governamentais diretamente

envolvidos no assunto, entre os quais a CIRM, Planalto, Ministério do Meio

Ambiente (MMA), Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), etc.

Com relação à Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Plano de

Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil (PAEMB), bem como as

questões relativas a orçamento e defesa, foram obtidas informações preciosas

no site do Ministério da Defesa (MD), na Secretaria de Orçamento Federal e,

principalmente, a farta documentação e informações obtidas no seminário

7

“Amazônia Azul”, realizado na Escola Naval, no Rio de Janeiro, entre 14 e 15

de outubro de 2010, ao qual tive a honra de comparecer.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................ 09

CAPÍTULO I – A Amazônia Azul............................................................. 11

CCAPÍTULO II – Ações governamentais – A Política Nacional para os

Recursos do Mar..................................................................................... 73

8

CAPÍTULO III – Capacitação para a gestão sustentável da Amazônia

Azul......................................................................................................... 99

CONCLUSÃO......................................................................................... 158

ANEXOS................................................................................................. 163

BIBLIOGRAFIA

CONSULTADA.............................................................. 172

ÍNDICE.................................................................................................... 176

FOLHA DE AVALIAÇÃO......................................................................... 178

INTRODUÇÃO

O mar territorial (MT) e a Zona Econômica Exclusiva (ZEE) brasileira, já

reconhecidos pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar

(CNUDM), acrescido da área correspondente a extensão do limite exterior da

Plataforma Continental (PC) até 350 milhas náuticas (648,2 km) a partir da

linha de base da costa do Brasil, conforme pleito apresentado a Comissão de

Limites da Plataforma Continental (CLPC) da CNUDM em setembro de 2004,

9

corresponde a uma área total de aproximadamente 4.500.000 km2, cerca de

metade da extensão territorial do país. Esta grande área, extremamente rica

em recursos minerais e biológicos, com importantes vias de transporte

marítimo através das quais escoam 95 % do nosso comércio exterior, a

navegação de cabotagem, o turismo marítimo, os esportes náuticos, aliado ao

potencial futuro de exploração dos nódulos polimetálicos existentes no leito do

mar, fizeram com que esta região fosse denominada pela Marinha do Brasil de

“Amazônia Azul”, vindo a ser literalmente a última fronteira a ser estabelecida

para o nosso país.

Tendo em vista o atual cenário político e econômico do Brasil, bem

como seu papel como nação não tão somente emergente, mas já com

representatividade marcante no bloco denominado BRIC e no palco mundial,

avolumam-se as dificuldades de investimento nos níveis necessários para

atender aos requisitos exigidos pelos empreendimentos localizados na

Amazônia Azul e as correspondentes necessidades de meios suficientes de

fiscalização, controle e defesa, fundamentais a garantia da continuidade

dessas atividades, em face da enorme pressão pela demanda de outros

investimentos essenciais para um país em desenvolvimento, tais como nas

áreas de saúde, educação, habitação, entre outros. Outrossim, como toda a

riqueza desperta a cobiça, cabe ao seu detentor o ônus da proteção, buscando

recursos oriundos das próprias riquezas geradas para investir simultaneamente

na exploração e na fiscalização/vigilância ostensiva que intimide as ações

ilícitas que sejam originadas quer sejam por agentes internos ou externos.

Em vista do acima exposto, é de fundamental relevância conhecer as

políticas de exploração, explotação, controle e vigilância deste enorme

patrimônio, em especial a Política Nacional para os recursos do Mar (PNRM) e

a legislação que confere atribuições a Marinha do Brasil para a gestão

sustentável e a fiscalização ambiental desta área, de forma a compreendermos

perfeitamente a sua importância econômico-estratégica para o futuro do Brasil

e auxiliarmos com a participação efetiva da sociedade atuando pro-ativamente

junto a empresários e a classe política na tomada de decisões e no apoio as

medidas que venham a propiciar a exploração responsável dos recursos vivos

10

e não-vivos existentes, identificando, com base na análise dos meios

disponíveis atualmente pela Marinha do Brasil, as principais dificuldades,

vulnerabilidades e ameaças ao desenvolvimento e a soberania da nossa

nação, incentivando as ações governamentais no sentido de viabilizar o

investimento necessário a implementação de um novo paradigma de

visibilidade e dotação de meios modernos e eficazes, conforme proposta da

Estratégia Nacional de Defesa (END), que permita a Marinha do Brasil exercer

o seu papel constitucional e auxiliar no desenvolvimento sustentado e na

vigilância adequada a preservação das nossas riquezas.

CAPÍTULO I

A AMAZÔNIA AZUL

Num amanhecer, meados de 1600, no pequeno povoado paulista

apertado pela Serra do Mar, de costas para o litoral, a tropa apresta-se a tomar

o rio em seu curso para o interior do sertão, com destino a bacia do Rio da

Prata. São os bandeirantes, vestindo os seus gibões de algodão acolchoado,

grandes chapéus de abas largas, coletes e armaduras, muitos descalços,

apenas alguns com botas, poucas de couro, armados com arcabuzes e

bacamartes, pistolas, chumbo, pólvora, machados, facas, foices, cordas, muita

coragem e a necessidade em seu encalço. Caminham em fila indiana,

11

alimentam-se de mandioca cozida e compactada, chamada não por acaso de

“farinha de guerra”, complementando com o que mais puderem retirar da mata.

Quando adoecem, curam-se com o que a fauna e a flora lhes oferecem.

Quando lhes falta os mantimentos, assentam acampamento e plantam,

aguardando a natureza repor os seus estoques. Muitos destes acampamentos

deram em pequenos arraiais, quiçá em novos municípios. Desta forma, à caça

de índios e pedras preciosas, estes brasileiros ajudaram a desbravar e povoar

o país, de tal forma que, dos 8,5 milhões de km2 de território brasileiro, atribui-

se cerca de 5 milhões de km2 à determinação destes grupos de exploradores,

que a golpes de facão e com muita fibra, traçaram as linhas de demarcação de

ocupação da terra que iriam consolidar uma nova configuração geográfica,

empurrando para a bacia do Rio da Prata a velha linha do Tratado de

Tordesilhas, dando à Colônia Lusitana na América o mapa de onde iria surgir

uma nova nação – o Brasil moderno.

“Depois de cerca de 280 anos, um outro processo está em curso, desta

feita com a finalidade de alargar as fronteiras marítimas do Brasil, em direção

ao Leste, fruto do trabalho inteligente, pertinaz e patriótico de um punhado de

especialistas da Marinha do Brasil, da Petrobras e da Comunidade Científica,

cognominados, reconhecidamente, de “Bandeirantes das Longitudes

Salgadas” (ALBUQUERQUE, 2005, p. 23).

“A voz que canta o mar resgata um povo, que nasceu marítimo, na saga

do Descobrimento... Herdeiros de tal mar e de tal tradição, andamos distraídos,

muito tempo, a viver qual caranguejos, arranhando as costas, como disse frei

Vicente do Salvador, e, depois, no esforço de domar o corpo continental deste

país, percorremos, bandeirantes, as brenhas do sertão, em trilhas de

esmeraldas. Navegamos, precursores, o caudal de rios, norte a sul, leste a

oeste. Atravessamos morros e florestas, cerrados e caatingas. Fundamos

povoações e plantamos cidades, na faina de ocupar e definir esta nação

gigante. Consolidamos, por fim, a marcha dos pioneiros, ao construir Brasília

no coração da pátria, um sonho acalentado desde a Independência.

12

Neste início do século XXI, outra tarefa, de grande dimensão, está a

exigir um trabalho inadiável: incorporar ao nosso território o mar que nos

pertence, como faculta a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do

Mar, e promover o uso sustentado de seus recursos naturais. A essa extensão

Atlântica, que se projeta para além do litoral e das ilhas oceânicas, e

corresponde a cerca de metade da superfície do Brasil, se tem chamado de

Amazônia Azul” (VIDIGAL ... [et al], 2006, p.17 e 18).

Este capítulo tem como objetivo mostrar a relevância econômico-

estratégica das Águas Jurisdicionais Brasileiras, a nossa Amazônia Azul,

visando apresentá-la como a razão da questão central enfocada neste estudo,

partindo-se do pressuposto que, mesmo intuitivamente, desejamos sempre

investir em um negócio que está prosperando, porém devemos nos preocupar

também com o controle, a fiscalização, a vigilância e a segurança deste

negócio, uma vez que preservá-lo é condição “sine qua non” para proteger o

nosso investimento que, neste caso, representa o futuro de várias gerações de

brasileiros. Talvez não por acaso a extensão de 4,5 milhões de km2 da nossa

Amazônia Azul assemelhe-se a outrora incorporada pelos velhos bandeirantes.

Talvez seja o chamado destes antepassados, a clamar que se complete o seu

trabalho.

1.1 - O que é a Amazônia Azul?

1.1.1 - A importância do mar

“O espaço oceânico mundial abrange uma superfície de 361 milhões de

quilômetros quadrados ou 71% da superfície terrestre” (ANDRADE, 1975:106,

apud MENDES, 2006, p. 11). “O hemisfério Norte é constituído por 60,7% de

mar e o hemisfério Sul é constituído por 80,9%. A profundidade média dos

oceanos é de aproximadamente 3 733 metros, sendo o ponto mais profundo a

11 022 metros” (MENDES, 2006, p. 11).

“...o oceano, principalmente o seu fundo, continua sendo uma região tão

desconhecida quanto boa parte do sistema solar. Conhecê-lo é mais que uma

13

questão de mera curiosidade. Sem ele, nosso planeta seria inabitável. O

oceano atenua os extremos sazonais, evapora e fornece água doce para a

vida terrestre e a vida marinha e é um elo-chave na cadeia alimentar global.

Ele contém 96 % do total de água do planeta, fornece 86 % da evaporação

total e recebe 78 % de todas as precipitações. Além disso, tem forte influência

sobre o clima” (VIDIGAL...[et al], 2006, p.55).

A profundidade média do Oceano Atlântico, que banha o litoral do Brasil,

é de 3310 metros.

“O Oceano Atlântico limita-se a leste com os continentes europeu e

africano, e a oeste com a América. Ao norte, limita-se com o Círculo Polar

Ártico” (MENDES, 2006, p.12).

Apesar da descoberta do Brasil ter ocorrido a partir do mar e das

maiores ameaças ao país terem o mar como principal meio de acesso às

forças inimigas, o povo brasileiro não desenvolveu uma mentalidade marítima,

ou seja, a compreensão da essencial dependência do mar para a sua

sobrevivência quer seja na perspectiva econômica ou na estratégica, no que

toca a sua soberania. Cerca de 80 % da população brasileira vive a menos de

200 km do mar e, somente agora, com a divulgação das riquezas minerais da

Amazônia Azul e os avanços obtidos pela Petrobrás, estamos começando a

ver o mar não somente de forma lúdica, como área de lazer e de prática de

esportes. Porém, falta-nos ainda a compreensão do potencial das riquezas por

explorar e, principalmente, a percepção da importância estratégica que o mar

assume para a soberania do país, agravada paradoxalmente justamente pelas

riquezas descobertas, que passam a ser também as nossas maiores

vulnerabilidades, em face da grande dependência que passamos a ter

relativamente ao seu desenvolvimento.

Devemos então tentar compreender se já tivemos uma mentalidade

marítima e, caso afirmativo, porque deixamos de desenvolvê-la.

Inicialmente, cabe ressaltar que a descoberta do Brasil, em 1500, foi

feita por Portugal, uma das potências marítimas dominantes à época. Razões

estratégicas levaram Portugal a desenvolver a sua maritimidade; “O século XIV

encontrou Portugal com seu reino estruturado de maneira estável dentro do

14

cenário de final de Idade Média e necessitando penetrar no momento

mercantilista europeu” (VIDIGAL...[et al], 2005, p.23). Paralelamente, sua

posição geográfica e a necessidade de explorar os recursos ao seu alcance

forçaram o caminho para o mar; “... é digno de destaque que, além da

agricultura, o comércio marítimo e a pesca eram das mais importantes

atividades praticadas em Portugal, país de solo nem sempre fértil e produtivo.

A atividade pesqueira destacou-se como fundamental para complemento da

alimentação de sua população. Situado em posição geográfica estratégica, à

beira do Oceano Atlântico e próximo ao Mediterrâneo, era de se esperar que

desenvolvesse grande devotamento à navegação e, conseqüentemente, à

construção naval” (ALBUQUERQUE...[et al], 2006, p. 27). Fruto deste

desenvolvimento, gerado pela necessidade de subsistência e pelo espírito

aventureiro, Portugal revolucionou a tecnologia de navegação marítima; “Toda

a evolução tecnológica obtida por Portugal nessa época o conduziu a um

avanço de quase cem anos em relação ao resto do mundo. Embora fosse um

pequeno e frágil país, desenvolveu uma mentalidade marítima superior, que

lhe permitiu ter mais de quatro séculos de sucesso na preservação de colônias

do tamanho de Angola e Moçambique e na manutenção de pontos na China,

na Índia e no Timor” (VIDIGAL...[et al], 2005, p. 23).

Segundo Albuquerque (2005), fruto da vocação de nossos colonizadores

e pela facilidade de acesso, a ocupação do Brasil se fez beirando o litoral,

fixando-se a população entre dois grandes vazios; a oeste a selva inóspita e

repleta de índios muitas vezes hostis, e a leste pelo vasto Oceano Atlântico.

Vidigal (2006) ressalta que as condições climatológicas beneficiaram os

Portugueses, facilitando o acesso a nossa costa por mar, utilizando-se dos

ventos alísios que sopram direto da África para o Brasil, e garantindo o retorno

à África, pelos ventos contra-alísios. Entretanto, esta vantagem também foi

percebida por comerciantes franceses e espanhóis, que logo organizaram

expedições de exploração clandestina de pau-brasil. Outras incursões

motivadas por interesses econômicos fizeram-se presentes nesta época; “De

fato, a terra era realmente muito rica, tanto que atraiu a cobiça de outros

países, que para cá enviaram expedições invasoras, como aconteceu, por

15

exemplo, com os franceses e holandeses. Pelo mar vieram os nossos

primeiros invasores” (www.mar.mil.br). Vidigal (2006) prossegue relatando a

reação Portuguesa, fundando uma feitoria em Pernambuco, visto como ponto

estratégico de apoio logístico local aos navios de sua bandeira, propiciando

descanso seguro e acesso a víveres, água e serviços de pequenos reparos

nas embarcações, estabelecendo desta forma a primeira atividade sub-

industrial no Brasil, voltada naturalmente para o atendimento das necessidades

conseqüentes da mentalidade marítima Portuguesa. Outros fatores auxiliaram

a incutir na nova população uma mentalidade marítima, dentre eles a

dificuldade de acesso ao interior, devido às cadeias de montanhas, clima e

insalubridade tropicais, e nativos hostis. Acresce a estes fatores as

características das capitanias hereditárias que “... em sua forma de pente,

reservando a cada donatário uma estreita costa marítima e faixas paralelas de

propriedade para o interior, propiciou que cada um deles buscasse estabelecer

um porto de acesso dentro de seus próprios domínios, pontilhando a nossa

costa oeste, com isso, incentivando um tráfego local desde os primeiros

tempos e inculcando desde então uma inexorável mentalidade marítima nessa

região” (VIDIGAL...[et al], 2006, p. 25).

Desta forma, consolidávamos uma mentalidade marítima pela

dependência de utilização do mar para a nossa sobrevivência; “A grande

mobilização pelo mar foi um dos principais fatores de coesão territorial, em

toda a nossa história... Embora restritos ao comércio exterior pela

exclusividade de Portugal, tivemos sempre portos ativos e habitados, e

comunicando-se entre si, inicialmente por mar e, depois, pela circulação

interior” (VIDIGAL...[et al], 2006, p. 25). Ainda, segundo Vidigal (2006), uma

vez estabelecidos os limites territoriais continentais para muito além do traçado

pelo Tratado de Tordesilhas, em virtude do grandioso feito promovido pelas

Entradas e Bandeiras, sucedeu o Tratado de Madri, que consolidou estes

limites, fato que estimulou o Rei de Portugal a promover o Brasil a categoria de

vice-reinado, nomeando, em 27 de Junho de 1763, Vice-Rei e Capitão-

General-de-Mar-e-Terra Dom Antônio Álvaro da Cunha, que tomou posse em

19 e, já em 29 de dezembro de 1763, fundou o Arsenal Real da Marinha, hoje

16

Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, mostrando claramente que intentava

dispor de adequados meios navais para impor a sua autoridade em terra. Este

Arsenal teve papel relevante na Independência do Brasil, quando a reação de

Portugal, tardia face às dificuldades impostas pelas guerras napoleônicas,

permitiu ao governo brasileiro constituir suas forças e, firmado na mentalidade

marítima herdada dos Portugueses, logo incorporada ao sentimento nacional,

forneceu os meios que favoreceram a brilhante campanha naval de João das

Botas, na defesa de Itaparica na Bahia. “Para consolidar a nossa

independência, e enfrentar as diversas lutas, internas e externas, em que o

então Brasil Império se viu envolvido, tivemos que criar uma Marinha, e, mais

do que isso, dar a ela a capacidade de utilizar o mar, em proveito das ações

que tinha que empreender. Na Guerra do Paraguai, o maior conflito em que

estivemos envolvidos durante o Império, embora o teatro de operações não

tenha sido marítimo, o controle das vias fluviais, garantido pelos heróis de

Riachuelo, foi primordial para a vitória final. Não devemos nos esquecer,

também, que uma das causas para a sua eclosão foi o apresamento de um

navio brasileiro, o “Marquês de Olinda”” (www.mar.mil.br).

Segundo Albuquerque (2005), em que pese a litoraneidade como marca

original da formação nacional, não faltou aos pioneiros o sentido de ocupação

necessário para preservar a faixa costeira e, a partir dela, vencer os caminhos

do interior consolidando o território terrestre. Nisto, busca explicação para a

desatenção com as coisas do mar; “... devido a fatores conjunturais, ocorreu

uma migração do interesse econômico nacional para o interior do País, com a

população brasileira voltando “as costas para o mar”. Dessa forma, houve uma

degradação da mentalidade marítima, a ponto de, nos dias atuais, os

brasileiros, em sua grande maioria, pensarem no mar apenas de forma lúdica”

(ALBUQUERQUE...[et al], 2006, p.167). Vidigal (2006) aponta a velocidade da

revolução industrial no século XIX como vetor para forçar a atenção da nação,

cuja economia na ocasião era basicamente agrícola, para o interior, visando à

consolidação territorial. Assim sendo, canalizaram-se os investimentos

prioritariamente para os projetos de desenvolvimento no continente. As duas

guerras mundiais complicaram ainda mais a situação, devido à diminuição dos

17

níveis de comércio e ao risco de ataques por submarinos. Posteriormente, na

década de 60, a marcha para o interior foi incentivada pela construção de

Brasília e pelos grandes investimentos na indústria automobilística e no modal

rodoviário de transportes, que substituiu gradativamente a navegação costeira.

Quanto à navegação de longo curso, desenvolveu-se desde 1941 até 1973,

com a crise do petróleo, que provocou uma mudança no panorama financeiro,

gerando graves impactos na área de construção naval, provocando a falência

de vários estaleiros, a inadimplência do Fundo de Marinha Mercante e, por fim,

a extinção da Superintendência Nacional de Marinha Mercante (SUNAMAM).

Devido a estes fatores, agravados pela incompetência na administração dos

portos, inabilidade em estabelecer uma política trabalhista adequada e má

gestão das empresas governamentais de navegação, houve grande

deterioração das atividades marítimas, redundando na perda do parque de

construção naval e consequente cessão da cota brasileira de transporte

marítimo do nosso próprio comércio às bandeiras estrangeiras.

A chamada mentalidade marítima deve ser inerente a qualquer nação,

especialmente as litorâneas. Com o desenvolvimento da tecnologia, abriram-se

as portas para a exploração cada vez mais eficaz dos recursos do mar,

somando-se a isso uma visão mais significativa da urgência de fazê-lo de

forma sustentável, aumentando sobremaneira a importância que devemos

atribuir ao mar. “O mar sempre foi elemento de fundamental importância no

desenvolvimento, na manutenção da sobrevivência e no exercício do poder

das nações. Desde épocas mais remotas, o mar vem sendo usado não apenas

como via de transporte, mas também como importante fonte de recursos

biológicos. Mais recentemente, com o desenvolvimento da tecnologia marinha,

a Comunidade Científica internacional deu-se conta de que o mar, tanto nas

suas águas fecundas quanto no seu rico solo ou subsolo, dispõe de recursos

naturais, vivos e não vivos, de importância capital para a humanidade. Com a

descoberta de tais recursos, cresceu de importância a necessidade de

delimitar os espaços marítimos em relação aos quais os Estados costeiros

exercem soberania e jurisdição” (ALBUQUERQUE...[et al], 2005, p. 19 e20).

18

Com base no que foi explanado, é possível afirmar que nos primórdios

de nossa nação havia uma forte mentalidade marítima, muito provavelmente

derivada da extrema dependência dos recursos vindos pelo mar e por ser uma

via de acesso fácil a outras localidades, ainda que oferecesse, justamente pela

facilidade, o risco de acesso não autorizado. Com o passar do tempo, esta

mentalidade esteve mais associada a eventos belicosos do que ao

desenvolvimento de fatores de produção, tornando-se novamente significativa

a partir do maior intercâmbio comercial via navegação de longo curso, quando

então, fatores econômicos externos levaram a derrocada deste modal de

transporte no Brasil.

Atualmente, as atenções têm se voltado novamente para o mar em

função dos resultados obtidos pela Petrobrás na exploração de petróleo e gás

nesta área, atividade que iniciou em 1968, mas que somente começou a

ganhar visibilidade a partir da descoberta do pré-sal pela Petrobrás, em 2006.

Conclui-se que a mentalidade marítima da sociedade civil, ainda que

latente, se acentua pelo apelo da necessidade de subsistência, quer seja pela

garantia de sua defesa, quer seja pelo desenvolvimento de atividades

produtivas que garantam a sua sobrevivência e o seu progresso. Entretanto,

confirmadas as projeções atuais, as riquezas produzidas a partir do uso

sustentado do mar atrelam-se a necessidade de estabelecer um círculo de

segurança que garanta a contínua exploração destes recursos, alinhando-se

assim as necessidades de desenvolvimento e segurança, que devem ser

compreendidas como uma relação simbiótica, sendo necessário conscientizar

a sociedade da necessidade de sua participação efetiva no estabelecimento

das condições político-econômicas que viabilizem este modelo.

Uma vez cientes da importância do mar e do estabelecimento de uma

mentalidade marítima que abranja a nossa necessidade de subsistência,

devemos nos preocupar, no próximo tópico, com a forma como se pode definir

o mar que nos pertence, o propriamente dito mar territorial, e a forma como as

nações têm visto os direitos sobre o uso do mar, tendo em mente que este

conceito será valioso na análise da questão central deste estudo.

19

1.1.2 - O conceito de Mar Territorial

Historicamente, logo as nações descobriram a importância do mar para

o deslocamento de seus povos e de suas forças, evitando o trajeto por terra,

que muitas vezes forçava a passagem por caminhos tortuosos e de difícil

acesso. Assim sendo, desde cedo se desenvolveu a navegação costeira, como

forma de alcançar novas paragens para fins de comércio ou para subjugar os

inimigos.

Mendes (2006) relata que se atribui ao povo fenício, já uma

talassocracia atuante no Mediterrâneo em 1550 AC, as primeiras normas para

regulamentação do uso do mar para fins de navegação, surgindo,

posteriormente, em Rodes, em virtude do intenso comércio marítimo nesta

região, um bem-sucedido e o mais completo código de direitos do mar, tendo

sido adotado por gregos e romanos, influenciando o mundo atual. Após o

colapso do império romano, as leis marítimas foram postas de lado por quase

dois mil anos, somente tornando a ser lembradas na Idade Média, devido ao

intenso comércio marítimo promovido pelas cidades-estado representadas

pelas guildas na Itália e pela liga hanseática na Alemanha, que perdurou

durante o século XIII. Nesta época, havia grande preocupação em controlar o

assédio de piratas e sarracenos, obrigando estas cidades a se imporem

mediante a cobrança de tributos aos navios que rodeavam o que consideravam

seus distritos marítimos, fazendo com que a noção de mar territorial

começasse a ser lógica.

Após a primeira metade do século XVI, outros países emergem como

potências efetivas, tais como a Holanda e a Inglaterra. A primeira é o berço do

mais importante tratado sobre o direito marítimo: “Mare Liberum” (o Mar Livre),

obra que foi escrita para defender a liberdade dos mares para a navegação e o

comércio holandês nas Índias Orientais, contra os interesses Portugueses, que

argumentavam que o mar, tal como a terra, estaria sujeito ao domínio exclusivo

do Estado soberano. Ainda que a tese holandesa tenha saído juridicamente

vencedora, em contraposição é lançada a obra Inglesa “Mare Clausum” (o Mar

20

Fechado), que pregava que os Estados costeiros tinham o direito de se

apropriar de extensas áreas marítimas. No final do século XVII, a polêmica é

resolvida a favor da teoria da “Mare Liberum”, na medida em que se

reconheceram as suas vantagens, porém começa a ganhar consistência a

noção de mar territorial, evitando-se o equívoco de vinculá-la a teoria do ”Mare

Clausum”.

“O princípio da liberdade dos mares traduzia um sentimento geral da

época, uma vez que seria muito mais lucrativa uma política de liberdade

universal dos oceanos e, por este motivo, os Estados poderosos abriam mão

daquilo que já não precisavam mais. Como exemplo, desde o início do século

XIX, a Grã-Bretanha (A Grã-Bretanha surge em 1707, a partir da constituição

do Reino Unido, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte),

principal Estado marítimo, defendeu veementemente a liberdade que antes,

mais precisamente no século XVI, não lhe parecia conveniente. Tal reação foi

seguida pela maioria das nações marítimas, justificando o predomínio do poder

marítimo sobre o poder costeiro durante o século e meio seguinte, quando

então veremos ressurgir o Estado costeiro” (COSTA, 1992, MUEHE, 2000,

apud MENDES, 2006, p. 34). “Com o desenvolvimento das colônias, a partir do

século XVII, a tendência foi a de defender a filosofia da liberdade de uso do

mar para fins estratégicos de mobilidade militar, de garantia do transporte de

mercadorias, da pesca em áreas distantes e do lançamento de materiais

poluentes” (Muehe, 2000, p. 149, apud MENDES, 2006, p. 35).

“Em relação ao Mar Territorial, para Mello, (1972), a sua delimitação só

começou a surgir de modo preciso no século XVIII, uma vez que, até então, os

critérios eram os mais variáveis possíveis: alcance da vista, linha mediana,

etc.” (MENDES, 2006, p. 36). “Em 1703, Cornelius van Bynkersholk, na sua

obra “Dissertação sobre o Domínio dos Mares”, estabeleceu que o Estado

estenderia seu domínio sobre o mar até onde alcançasse as forças das armas.

Em 1782, Ferdinando Galiani, em um livro intitulado “Dos Deveres dos

Príncipes Neutros em Relação aos Príncipes Beligerantes e Destes em

Relação aos Neutros” levando em consideração a força das armas fixou a

21

largura do Mar Territorial em três milhas. (op.cit.:121-5, apud MENDES, 2006,

p. 36)”.

Assim, sendo o mar visto como porta de entrada e saída, logo ocorreu

às nações defendê-lo com fortalezas estrategicamente localizadas na costa ou

em ilhas próximas, formando-se a partir destas uma faixa de proteção que

atingia cerca de 3 milhas marítimas (5.556 metros), equivalente ao alcance dos

canhões da época, sendo esta uma das principais regras práticas de limitação

do alcance do mar territorial durante muito tempo.

“No século XIX a largura é definitivamente consagrada em três milhas

de largura, medida aceita, sem muitas contestações até meados do século XX

e assim, no início desse século foi estabelecida uma zona limitada a três

milhas pela maioria dos Estados da época, inclusive a Grã-Bretanha, os

Estados Unidos, a Alemanha, a França e outras – muitas - potências

marítimas. O limite original de três milhas surgiu da regra do “tiro de canhão”,

atribuindo ao Estado costeiro as áreas marítimas que pudessem estar

realmente sob a proteção de baterias costeiras. Em 1818 o Tratado de Grand,

entre EUA e a Inglaterra, foi o primeiro a adotar o limite de 3 milhas para

delimitar a zona de pesca e uma zona de segurança marítima” (MATTOS,

1996, apud MENDES, 2006, p. 36).

Ainda que o conceito de mar territorial de 3 milhas tenha sido aceito no

início do século XX pela maioria das nações, vários Estados costeiros

passaram a reivindicar distâncias de até 12 milhas. Neste ponto, Mendes

(2006) ressalta a ocorrência das várias alterações da compreensão do

significado de mar territorial e sobre os direitos relativos ao mesmo em função

das modificações das forças de produção, novas atividades econômicas,

novas tecnologias, exigindo alterações também na respectiva legislação, sendo

este processo dinâmico e dependente da política externa e,

consequentemente, da política interna do estado: “A afirmação de que “no

relacionamento entre nações, o progresso da civilização pode ser visto como

um movimento da força para a diplomacia e da diplomacia para a lei” adquire

hoje uma formação preliminar, pois o movimento não se detém no direito, mas

segue no encalço das instituições. Por outro lado, o movimento recua das

22

instituições para as normas, do direito para a diplomacia e da diplomacia para

a força. Por isso, é notória a influência de elementos da política internacional

resultante das diversas políticas externas. E tanto quanto a internacional

condiciona a política externa, esta condiciona a política interna” (CNIO, 1998:

25, apud MENDES, 2006, p. 38).

“Por estarem naturalmente ligados, sem divisões facilmente

perceptíveis, os mares aparentam-se indivisíveis e, portanto, as questões a

eles relacionadas não poderiam deixar de ser polêmicas” (MENDES, 2006, p.

38).

Depreende-se do acima exposto que a questão da delimitação do mar

territorial mostra-se tarefa bastante complexa, tanto no aspecto jurídico -

quando os diferentes interesses dos Estados frequentemente conflitam entre si

e, por vezes, para um mesmo estado, modificam-se no tempo segundo a ótica

político-econômica vigente no momento, cada qual buscando legislar a seu

favor - quanto no operacional, haja vista as dificuldades para controlar,

fiscalizar e defender o cumprimento das regras estabelecidas, o que requer o

emprego de meios e equipamentos, normalmente de alto custo, que sejam

capazes de monitorar o cumprimento das leis, geralmente privilegiando as

nações que possuem maior capacidade de defender os seus interesses,

justamente por serem capazes de apoiar seus pleitos com a força, numa ação

de diplomacia dissuasória. A partir deste contexto, desenvolve-se o próximo

tópico deste estudo com os principais passos seguidos até obter-se uma

formulação jurídica que contemplou os pleitos e conciliou os interesses da

maior parte dos Estados, prevalecendo até hoje, ainda que já tenhamos

percebido a sua temporalidade.

1.1.3 - A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar

– CNUDM

Como vimos no tópico anterior, o estabelecimento do conceito de mar

territorial e os direitos sobre o tráfego e uso de seus recursos varia em função

23

da interpretação de cada estado ou grupo de Estados, bem como pode variar

no tempo, para um mesmo estado, em função da modificação dos parâmetros

analisados, geralmente alterados pela descoberta de novos recursos, pelo

acesso a novas tecnologias ou por mudanças na situação geopolítica da

região. Logo, parece bastante lógico que os Estados viessem a procurar

árbitros para estas questões, visando, em consenso, criar regras que fossem

respeitadas por todos os signatários do acordo.

A evolução do quadro de liberdade dos mares (Mare Liberum) para o

estabelecimento de um código de direito marítimo acompanhou as mudanças

econômicas, políticas e sociais provocadas pela revolução industrial,

aceleradas pelo aumento da capacidade de produção e do comércio entre os

Estados: “Com o desenvolvimento das colônias, a partir do século XVII, a

tendência foi a de defender a filosofia da liberdade de uso do mar para fins

estratégicos de mobilidade militar, de garantia de transporte de mercadorias,

da pesca em áreas distantes e do lançamento de materiais poluentes

(MUEHE, 2000:149 apud MENDES, 2006, p. 40)”. “As mudanças significativas

ocorridas em âmbito econômico, político e social no fim do século XVIII trazem

também a necessidade de distinção entre o Direito Público e o Privado,

incluindo a área de Direito Marítimo, uma vez que o século XIX apresentará um

ritmo econômico, influenciado pela evolução da indústria, pelo volume de

produção, assim como pela extensão e variedade de comércio, bem mais

complexo do que os séculos anteriores. Esse panorama geral foi igualmente

importante para as modificações ocorridas em todas as relações

internacionais” (MENDES, 2006, p. 40).

Após a derrota da França Napoleônica, ocorreu o Congresso de Viena

(1814-1815), reunindo Áustria, Rússia, Prússia e Reino Unido, visando

reorganizar as fronteiras européias e restaurar a ordem absolutista do Antigo

Regime. Assim sendo, foi adotada uma política legitimista e de compensações

territoriais e foi criado um instrumento de ação, a Santa Aliança, aliança

político-militar reunindo exércitos feudais prontos para intervir em qualquer

situação que ameaçasse o Antigo Regime, incluindo a hipótese de intervir nas

independências da América. Contra isso foi criada a "Doutrina Monroe"

24

(América para Americanos): “Afirmava que os Estados Unidos não tinham

nenhum interesse sobre colônias de países europeus na América, porém se os

europeus buscassem aumentar os seus domínios na América, esta atitude

colocaria em risco a paz e a segurança do próprio país. Com essa medida

objetivava-se, assim, a não recolonização dos recém-independentes países

americanos” (COSTA, 1990 apud MENDES, 2006, p.41).

Ainda, segundo Mendes (2006), ao término da guerra civil, os Estados

Unidos da América surgem como potência imperialista, necessitando importar

matérias-prima e exportar seus produtos manufaturados, o que aumentou

significativamente o seu interesse em desenvolver estratégias para dominação

do mar e do poder marítimo. É significativa a contribuição de Alfred Thayer

Mahan, oficial da marinha norte-americana e professor da “Naval War College

at Newport”, através da sua obra “The Influence Of Sea Power Upon History”,

escrita em 1890, desenvolvendo a teoria do poder marítimo, concebendo os

oceanos e mares como espaço social e político, distintos dos espaços

terrestres, porém articulados aos mesmos através dos portos e vias de

comunicações interiores, aconselhando que os Estados guarneçam suas

costas e os citados pontos de acesso. É interessante ressaltar que se atribui a

Mahan a idéia de conclamar a população de um país a envolver-se nas

atividades marítimas, política adotada pela CIRM através do Programa de

Mentalidade Marítima (PROMAR), pertencente ao PNRM, conforme veremos

mais a frente.

“O domínio da navegação mundial era disputado pela Alemanha e a

Inglaterra, essa última aliada aos Estados Unidos. Ao fim da Primeira Guerra

Mundial, tendo sido derrotada a Alemanha, as relações no Direito Internacional

e as regulamentações sobre o uso do mar fizeram surgir vários acordos,

influenciados pela ascensão estadunidense crescente e a “(...) sua influência

no continente latino-americano, no Atlântico e no Pacífico” (LIMA, 1997: 58

apud MENDES, 2006, p. 43).

Segundo Coelho (2006), até a segunda metade do século XIX não

existiu qualquer diferenciação jurídico-conceitual entre o leito do mar, o

respectivo subsolo, e a camada líquida sobrejacente situada fora da jurisdição

25

dos Estados, em virtude deste assunto ainda não estar suficientemente

amadurecido na altura dos trabalhos preparatórios da Conferência de Haia, de

1930, fazendo com que a matéria relativa aos fundos marinhos para lá do mar

territorial não tivesse particular atenção. Entre os assuntos então tratados

destacam-se o princípio da liberdade de navegação, a natureza jurídica do mar

territorial (3 milhas), os direitos dos Estados costeiros, a definição das linhas de

base, a regulação do direito de passagem inofensiva e o reconhecimento da

zona contígua (12 milhas).

O primeiro passo dado no sentido de aproveitar os recursos do subsolo

marinho numa área que se situava para além da soberania de um Estado foi

dado em 1942 pelo Reino Unido, potência administrante de Trindade e

Tobago, e a Venezuela, ao celebrarem um tratado tendo em vista a exploração

dos recursos do Golfo de Paria. O Tratado de Paria constitui um instrumento

jurídico-internacional original, uma vez que, pela primeira vez, apareceu na

literatura jurídica o termo “plataforma continental” tal como se viria

posteriormente a desenvolver, independente da noção de proteção das zonas

de pesca para lá das respectivas águas territoriais, tendo alcançado os efeitos

pretendidos mesmo antes de existir, a nível internacional, um conceito jurídico

consolidado de plataforma continental.

Poucos anos mais tarde, num contexto de pós-guerra e carência de

matérias primas, diante da possibilidade iminente de uma depressão, somado

a informação de que haviam sido descobertas importantes jazidas de petróleo

e outros minerais, o Secretário de Estado do Interior dos Estados Unidos da

América, Harold Ickes, recomendou ao Presidente Roosevelt que tivesse em

consideração a possibilidade de reclamar o acesso aos recursos naturais do

solo e subsolo da plataforma continental e das águas suprajacentes, fazendo

com que, na gestão do presidente Truman, fossem assinadas em 28 de

setembro de 1945 duas proclamações, uma sobre a pesca e outra sobre a

plataforma continental. Mendes (2006) ressalta as vertentes econômica e de

segurança na atitude dos EUA: “Esse reconhecimento revela a pretensão

norte-americana de obter direitos de soberania sobre os recursos minerais ao

largo da costa, acompanhada da reivindicação de reserva de pesca além das

26

três milhas, até então limite reconhecido e apoiado pelos Estados Unidos.

Desta forma, a Declaração estaria calcada em dois pontos: o primeiro, de

natureza econômica, declara que os recursos naturais da plataforma

continental pertenciam aos EUA.; e o segundo, por razões de segurança,

imporia uma estreita vigilância sobre as atividades nas costas daquele país,

que representava um dos mais fortes aliados das chamadas potências

marítimas... A partir desse momento, fica expressa a estratégia geopolítica

norte-americana de defesa e segurança, apoiada pelo grande poder marítimo

desse país” (MENDES, 2006, p. 43 e 44).

De acordo com Coelho (2006), da Proclamação de Truman resultaram

como elementos fundamentais as regras que passaram a constituir por via do

costume internacional, relativamente a cada Estado costeiro, o direito de

exercer em condição de exclusividade poderes de jurisdição e controle sobre

os recursos existentes sob o alto-mar, nos fundos marinhos contíguos às

respectivas águas territoriais: “(...) as terras submersas, contíguas ao território

terrestre e cobertas por não mais que 100 braças (200 metros) de água, são

consideradas Plataforma Continental” (op.cit: 46, apud MENDES, 2006, p. 44).

Outro aspecto não menos importante consiste no fato de os limites geográficos

ao exercício de tais direitos serem incertos, determinados apenas com base

em critérios puramente geomorfológicos, apesar da referência ao

prolongamento natural.

Neste ponto, Mendes (2006) ressalta a mudança de paradigma na visão

do mar: “Ainda que a largura do Mar Territorial permanecesse fixada em três

milhas, a Plataforma Continental era considerada prolongamento da massa

terrestre do Estado Ribeirinho, sendo, portanto, a ele pertencente, assim como

os recursos nela contidos. A velada capacidade tecnológica de explorar

petróleo e outros minerais de águas rasas iria provocar uma espécie de efeito

dominó, por desencadear uma conscientização do potencial econômico dos

mares. É o início de uma nova forma de ver o mar, embasada no seu potencial

econômico” (MENDES, 2006, p. 44).

Fruto desta mudança de paradigma, com o crescimento do número de

nações interessadas no assunto, as incertezas ainda resultantes da ausência

27

de codificação de um regime jurídico para regulamentar os direitos sobre os

fundos marinhos adjacentes ao mar territorial deram origem, em 1958, a

primeira Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que não

registrou avanços significativos na matéria: “A Primeira Conferência concluiu

algumas considerações sobre o Mar Territorial (MT) e a Zona Contígua (ZC);

sobre o Alto Mar; sobre a pesca e conservação dos recursos vivos aí contidos;

e sobre a Plataforma Continental (PC). Porém não conseguiu fixar a largura do

Mar Territorial e nem da Zona Contígua e assim, dada a relevância desse item,

uma nova, a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar,

reuniu-se, também em Genebra, a 16 de março de 1960, para examinar tanto

a questão da largura do Mar Territorial quanto a dos limites de pesca”

(MENDES, 2006, p. 49).

Segundo Mendes (2006), a segunda conferência igualmente não obteve

sucesso na regulamentação pretendida, devido a não haver concordância por

parte dos Estados costeiros e marítimos com relação aos aspectos

econômicos, sobretudo a pesca, com os Estados costeiros reivindicando um

mar territorial mais extenso e os Estados marítimos desejando maior liberdade

no acesso aos mares.

Coelho (2006) aponta o rápido desenvolvimento tecnológico para a

percepção dos Estados costeiros de que a exploração de recursos minerais na

plataforma continental logo ultrapassaria a cota isobatimétrica de 200 metros e,

num futuro próximo, atingiria a profundidade de milhares de metros, abrindo

esta possibilidade aos Estados que detivessem tal tecnologia e que, em

detrimento dos demais alijados deste desenvolvimento, poderiam se interessar

em explorar estes recursos no leito do mar e no fundo dos oceanos, além dos

limites da sua jurisdição. Tal percepção provocou a chamada Declaração de

Parvo, na Assembléia Geral das Nações Unidas, de 1967, que basicamente

defendia em curto prazo a qualificação do leito do mar e respectivo subsolo

como patrimônio comum da humanidade, interromper as reivindicações

vigentes até uma clara definição do conceito de plataforma continental, a

criação de um órgão para redigir um projeto de tratado que salvaguarde a

natureza internacional do leito do mar e respectivo subsolo, e a criação de uma

28

agência internacional para a gestão da área. Em longo prazo, a proposta

pleiteava a criação de um tratado que definisse os limites exteriores da

plataforma continental sujeita às jurisdições nacionais e a definição de

princípios reguladores do uso do fundo do mar e respectivo subsolo, cuja

gestão ficaria a cargo duma agência internacional. “Em 1970, a Assembléia

Geral das Nações Unidas adotou a Declaração de Princípios na qual afirma

que o leito dos oceanos e seu subsolo situado além das jurisdições nacionais,

assim como seus recursos minerais, constituem-se patrimônio comum da

humanidade” (GOLD, 1976: 15, apud MENDES, 2006, p. 51).

Devido a não se ter chegado a um entendimento relativo aos assuntos

do mar nas Convenções anteriores, ficou claro a necessidade de um novo

ordenamento e, em função deste fato, foi realizada, em 1973, a III Conferência

das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. A necessidade de tornar finitos, do

ponto de vista prático, os limites da plataforma continental promoveu os

trabalhos que estiveram na origem desta conferência. Segundo Mendes

(2006), a conferência tinha como objetivos dar continuidade ao regime para a

Área Internacional do Fundo do Mar, definir os limites e o regime jurídico de

todos os diferentes espaços marinhos, e regulamentar os mais variados tipos

de atividade no mar.

Desta vez, nenhum órgão jurídico ficou encarregado de elaborar um

projeto de Convenção, visando privilegiar os critérios político-econômicos, em

detrimento dos jurídicos, uma vez que, até então, todas as codificações

relacionadas ao Direito Marítimo Internacional atendiam aos interesses e às

práticas comerciais das grandes potências marítimas e, desta vez, os países

em desenvolvimento deveriam ter seus interesses considerados, externando o

conflito entre a soberania dos países subdesenvolvidos e a liberdade dos

Estados marítimos. Logo, alguns dos interesses dos países latino-americanos,

que já haviam ampliado suas jurisdições marítimas em decisões unilaterais,

incluindo o Brasil, foram atendidos.

A tarefa de elaborar uma proposta que abrangesse todos os temas e

questões relativas ao direito do mar, atribuição inicial da Conferência, mostrou-

se uma atividade árdua e prolongada. A tese das duzentas milhas foi

29

incorporada e teve grande apoio, obviamente, dos países primordialmente de

terceiro mundo. O Governo Reagan, dos EUA., declarou sua contrariedade em

relação ao texto que vinha sendo posto em negociação pela Convenção, no

entanto, os países do “terceiro mundo” decidiram pela votação das medidas,

ao invés da discussão pelo consenso.

Marcada principalmente pelas motivações políticas e econômicas que

sempre estiveram presentes em todas as fases de negociação anteriores,

desde o início da década de 50, essa Convenção também teve como ponto

alto, segundo Muehe (2000) apud MENDES (2006), a possibilidade dos países

em desenvolvimento, em especial os do leste da África, participar da

exploração dos recursos minerais do subsolo marinho.

Com relação à determinação do limite do Mar Territorial, surgiram duas

correntes divergentes: uma formada pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha,

Japão, República Federal da Alemanha, Bélgica e União Soviética, favoráveis

a um Mar Territorial de doze milhas e com reconhecimento de alguns direitos

como pesca além deste limite; a outra corrente contava com a presença do

Brasil e era favorável ao estabelecimento de duzentas milhas para o Mar

Territorial, porém, a maioria dos participantes, com uma opinião intermediária,

passou a estabelecer os conceitos do que viria a ser a Zona Econômica

Exclusiva: “Tratava-se, em síntese, de reconhecer ao Estado costeiro o direito

a manter um Mar Territorial até o limite de doze milhas e de estabelecer, entre

este limite e o das duzentas milhas, uma zona na qual exerceria direitos de

soberania e jurisdição exclusiva sobre os recursos vivos e não-vivos do mar,

sem prejuízo da liberdade de navegação de que iriam continuar a gozar, nessa

área, os outros Estados” (op. cit: 40, apud MENDES, 2006).

Segundo Coelho (2006), a Convenção também definiu o conceito de

plataforma continental, as condições em que a mesma pode se estender para

lá das 200 milhas, a constituição, composição e funções da CLPC e as

formalidades que devem ser seguidas pelos Estados costeiros para a fixação,

de um modo definitivo e obrigatório, dos limites exteriores da respectiva

plataforma continental. Definiu também a natureza dos direitos do Estado

costeiro sobre a plataforma continental, a colocação de cabos e dutos

30

submarinos, e os aspectos referentes a delimitações entre Estados com costas

adjacentes ou situadas frente a frente.

Cabe ressaltar que a elaboração dos critérios para a definição dos

limites exteriores da plataforma continental conduziu à criação do texto

normativo, porventura mais complexo, da CNUDM, tendo sido necessário

encontrar uma solução de compromisso devido aos interesses contraditórios

manifestados pelos vários grupos de Estados que integravam a Conferência e

a impossibilidade de se chegar a um critério simples e único para a delimitação

da plataforma continental, uma vez que a aplicação de regras muito restritivas

colocaria numa situação desvantajosa os Estados costeiros com plataformas

continentais amplas, que poderiam ver as suas áreas de jurisdição reduzidas,

com grave prejuízo, já que tinham efetuado grandes investimentos através de

“mining ventures”, tendo em vista a exploração de recursos existentes em

áreas que, face ao novo regime, poderiam vir a ficar fora das respectivas áreas

de jurisdição. Por outro lado, manter a possibilidade de fixação de limites

exteriores excessivamente longos teria como consequência imediata esvaziar o

espólio de recursos submarinos que constitui o patrimônio comum da

humanidade, contrariando a Declaração de Parvo já citada anteriormente.

A Convenção foi assinada por 119 delegações em Montego Bay,

Jamaica, em 10 de dezembro de 1982, passando a vigorar internacionalmente

em 16 de novembro de 1994. O Brasil ratificou a Convenção em 22 de

dezembro de 1988. Atualmente, a Convenção encontra-se ratificada por 160

Estados, inclusive a União Européia, sendo que mais 18 países já assinaram,

porém não ratificaram, entre eles, os mais importantes são os EUA e os

Emirados Árabes Unidos. Dentre os que não assinaram, merece destaque a

Venezuela, pelo grande potencial de reservas provadas de petróleo e gás

natural. Como já visto anteriormente, o fato de se possuir um tratado e tê-lo

ratificado ou assinado não é absolutamente garantia de compromisso eterno.

Historicamente, quer seja por razões geopolíticas, econômicas ou de

segurança, os Estados buscam garantir os seus direitos, segundo o seu

entendimento, utilizando a diplomacia apoiada no seu poder naval, decidindo

primeiro, através de legislação própria, e, se possível, regulamentando depois.

31

A seguir, serão descritos, conforme definido na CNUDM, os conceitos

de mar territorial, zona contígua, zona econômica exclusiva e plataforma

continental. A soma das áreas correspondentes a cada um destes setores

constitui as Águas Jurisdicionais Brasileiras, denominadas pela Marinha do

Brasil por Amazônia Azul.

De acordo com Albuquerque (2006), o mar territorial compreende uma

faixa de 12 milhas marítimas (1 milha marítima = 1.852 metros) de largura,

medidas a partir das linhas de base do litoral continental e insular brasileiro. No

mar territorial, o Estado costeiro exerce soberania ou controle pleno sobre a

massa líquida e o espaço aéreo sobrejacente, assim como sobre o leito e o

subsolo deste mar, sendo facultado a qualquer outro Estado o trânsito

inocente, obedecidas as ressalvas previstas na Convenção.

A zona contígua compreende uma faixa de 12 milhas marítimas

medidas a partir do limite exterior do mar territorial. Na zona contígua, o Brasil

poderá tomar as medidas de fiscalização necessárias para evitar e reprimir as

infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou

sanitários.

A zona econômica exclusiva é uma zona situada além do mar territorial

e a este adjacente e não se estenderá além de 200 milhas marítimas das

linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial. A

convenção garante ao Estado costeiro direitos de soberania para fins de

exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais,

vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e

seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vista à exploração e

aproveitamento da zona para fins econômicos, como a produção de energia a

partir da água, das correntes e dos ventos.

Com o objetivo de promover a utilização ótima dos recursos vivos da

ZEE, o Estado costeiro fixará as capturas permissíveis desses recursos.

Quando o Estado costeiro não tiver capacidade para efetuar a totalidade da

captura permissível, deve dar a outros estados acesso ao excedente dessa

captura, mediante acordos ou outros ajustes entre as partes, daí a importância

de explorarmos de forma racional e sustentável os recursos naturais das águas

32

jurisdicionais brasileiras. A convenção também prevê que o estado costeiro,

tendo em conta os melhores dados científicos de que disponha, assegurará,

por meio de medidas apropriadas de conservação e gestão, que a preservação

dos recursos vivos de sua ZEE não seja ameaçada por um excesso de

captura.

Na ZEE, o estado costeiro tem jurisdição para regulamentar a

investigação científica marinha, a proteção e preservação do meio ambiente, e

tem o direito exclusivo de construir e de autorizar e regulamentar a construção,

a operação e a utilização de ilhas artificiais; instalações e estruturas com

finalidades econômicas ou para fins de investigação científica. É importante

frisar que a CNUDM, em seu artigo 60, permite a delimitação de uma zona de

segurança ao redor destas construções, com alcance máximo de 500 metros a

partir de cada ponto do seu bordo exterior, nas quais o Estado pode tomar

medidas adequadas para garantir tanto a segurança da navegação como a

destas estruturas.

Qualquer investigação científica na ZEE brasileira por instituições

nacionais ou internacionais somente poderá ser realizada com o consenti-

mento do governo brasileiro.

A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e o

subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial,

em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, até o

bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas

marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar

territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja

essa distância, sendo que o limite exterior não deve exceder 350 milhas a

partir das linhas de base. Na PC, o Estado costeiro exerce direitos de

soberania para fins de exploração e aproveitamento dos seus recursos

naturais e esses direitos são exclusivos, ou seja, se o Estado costeiro não

explora a PC ou não aproveita os seus recursos naturais, ninguém pode

empreender essas atividades sem o expresso consentimento desse Estado.

A soberania, para fins de exploração econômica, poderá ir além desse

limite, até o bordo exterior da margem continental, o que equivale a dizer até o

33

limite da PC. No caso, só englobará os recursos minerais e outros recursos

não vivos do leito do mar e subsolo, assim como os organismos vivos

pertencentes a espécies sedentárias, isto é, aquelas que no período de

captura estão imóveis no leito do mar ou no seu subsolo, ou que só podem

mover-se em constante contato físico com esse leito ou subsolo.

A CNUDM determina que o Estado costeiro que tiver a intenção de fixar

o limite exterior da plataforma além das 200 milhas, apresente à CLPC da

ONU as características de tal limite, juntamente com informações técnicas e de

apoio.

A CNUDM também define a Área, que significa o leito do mar, os fundos

marinhos, e o seu subsolo além dos limites da jurisdição nacional. A Área e

seus recursos são patrimônio comum da humanidade. Todos os direitos sobre

os recursos da Área pertencem à humanidade em geral, em cujo nome, atuará

a Autoridade Marítima Internacional. Esses recursos são inalienáveis, no

entanto, os minerais extraídos da Área só poderão ser alienados de

conformidade com a presente Parte e com as normas, regulamentos e

procedimentos da referida Autoridade.

Para melhor compreensão destes conceitos, ver a figura 1 do Anexo 2.

1.1.4 – A estratégia brasileira relativa a CNUDM

Antes mesmo de a CNUDM entrar em vigor, o Brasil, através do Decreto

Lei nº 1098 de 25 de março de 1970 estabeleceu o mar territorial de 200

milhas, sendo relevante citar que nosso país havia iniciado em 1968 a

prospecção de petróleo no mar em águas rasas, na sua plataforma continental.

A partir de 1970, o Brasil participou de todas as reuniões de discussão sobre a

questão do mar. Representantes da Marinha e do Itamaraty estiveram sempre

presentes nos encontros da ONU.

Cerca de um ano após o início das discussões na CNUDM, em 12 de

setembro de 1974, através do Decreto nº 74.557, é criada a CIRM, para

coordenar os esforços de diversos organismos governamentais na integração

34

do mar ao espaço brasileiro em prol do desenvolvimento econômico e social

do País. Logo em seguida, a CIRM editou as diretrizes gerais da PNRM,

baixadas pelo governo brasileiro em 12 de maio de 1980. Em 10 de dezembro

de 1982, o Brasil assina a CNUDM e a ratifica em 22 de dezembro de 1988.

Estrategicamente, considerando-se o longo tempo de trabalho que seria

necessário para efetuar o levantamento da PC nos termos do artigo 76 da

CNUDM, o governo brasileiro, de forma a assegurar imediatamente os seus

direitos, antecipou-se, e, através da Lei nº 8.617 de 4 de janeiro de 1993,

regulamentou as principais normas relativas a soberania, jurisdição, tráfego e

exploração de recursos, bem como a extensão do mar territorial, zona contígua

e zona econômica exclusiva, precavendo-se em deixar em aberto a fixação dos

limites exteriores da plataforma continental.

Em junho de 1987, o Brasil, por iniciativa da CIRM e da MB, já havia

iniciado o trabalho de levantamento da plataforma continental, visando, com

base no já citado artigo 76 da CNUDM, pleitear limites exteriores além das 200

milhas, desde que, segundo a convenção, não ultrapassassem as 350 milhas

marítimas das linhas de base de onde se mede o mar territorial, ou

ultrapassassem as 100 milhas marítimas além da profundidade de 2,5 mil

metros. Este pleito somente poderia ser feito mediante levantamento detalhado

que pudesse ser submetido a apreciação do CLPC da CNUDM no prazo de 10

anos contados a partir da entrada em vigor da convenção. Este projeto

gigantesco, denominado Plano de Levantamento da Plataforma Continental

(LEPLAC), criado pelo Decreto nº 98.145 de 15 de setembro de 1989,

envolveu especialistas da Petrobrás, da comunidade científica e da MB,

representada pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), tendo sido

gastos 17 anos até a sua conclusão em 2004. “Durante toda a fase de

aquisição de dados, que terminou em 1996, foram coletados cerca de 230.000

km de perfis geofísicos (sísmicos, batimétricos, magnetométricos e

gravimétricos) ao longo de toda a extensão da margem Continental Brasileira”

(ALBUQUERQUE, 2005, p. 266).

Outro aspecto interessante relativo a estratégia com relação a aplicação

das regras da CNUDM refere-se aos rochedos, que, conforme o disposto no

35

artigo 121, por não prestarem-se a habitação humana e a vida econômica, não

devem ter zona econômica nem plataforma continental. Há mais de quatro

décadas, portanto muito antes da CNUDM, a Marinha já havia ocupado, em

caráter permanente, a Ilha da Trindade, distante cerca de 540 milhas

marítimas do porto de Vitória (ES). Para efeito de aplicação da CNUDM, a

ocupação de Trindade representa um acréscimo de cerca de 450.000 km2 à

ZEE. Em 1998, o Brasil providenciou a ocupação contínua do Arquipélago de

São Pedro e São Paulo, afastado cerca de 500 milhas do litoral nordeste do

Rio Grande do Norte. Na ilha Belmonte, a principal do arquipélago, foi

instalada uma estação com capacidade para abrigar quatro pesquisadores de

cada vez, que lá desenvolvem mais de 40 projetos científicos. O arquipélago,

vale ressaltar, acha-se posicionado na rota de peixes migratórios, além de

situar-se em região muito rica em recursos do mar. Sua ocupação permanente

representa um acréscimo de mais 450.000 km2 à ZEE brasileira.

Com a conclusão do LEPLAC, o Brasil protocolou, no dia 17 de maio de

2004, a sua proposta de limites da plataforma continental na CLPC da ONU.

Nessa proposta, o Brasil apresentava uma área de 3.540.000 km2 de Águas

Jurisdicionais, e tencionava incorporar mais 950.000 km2, representados por

cinco áreas (cone do Amazonas, cadeia Norte brasileira, cadeia Vitória -

Trindade, platô de São Paulo e margem continental Sul) correspondentes ao

limite exterior da plataforma continental, totalizando, aproximadamente,

4.490.000 km2 de Plataforma Continental Jurídica Brasileira, uma área

equivalente a 52% de sua extensão terrestre (ver figura 2 do Anexo 2).

O Brasil foi o segundo país a apresentar sua proposta a ONU. O

primeiro país foi a Rússia, que teve seu pedido negado.

Após deliberações, em 2007 a CLPC formalizou sua decisão ao

Governo brasileiro, autorizando a incorporação de 712.000 km2, porém com

recomendações segundo as quais o Brasil poderia apresentar nova proposta,

uma vez que a comissão não concordou com as proposições dos limites

referentes ao Cone do Amazonas, às Cadeias Norte - Brasileira e Vitória –

Trindade e à Margem Continental Sul, correspondente a 238.000 km2, cerca de

25 % da área pleiteada. Em março de 2009, o Brasil apresentou novas

36

alegações em defesa de seu pleito, mas a CLPC não alterou a sua decisão.

Assim, ainda em 2009, o Brasil iniciou a coleta de novos dados, que, após

serem, processados e interpretados, subsidiarão a prontificação da nossa nova

proposta, a qual está prevista para 2011. Uma vez concluída, a proposta será

encaminhada à CLPC. Devido à significativa carga de trabalho à qual no

momento está submetida a CLPC, não se pode precisar, no momento, quando

será concluído o exame desta proposta. Com a aprovação definitiva, o Brasil

poderá ser o primeiro país no mundo a ter sua proposta de ampliação de

limites da PC aceita pela ONU.

Preventivamente, o governo brasileiro, por intermédio da CIRM, editou a

Resolução nº 3, de 26 de agosto de 2010, aprovando as recomendações do

LEPLAC para a PC, independentemente do reconhecimento pela CLPC da

CNUDM, visando preservar o direito do Brasil avaliar previamente os pedidos

de autorização para a realização de pesquisas na sua PC além das 200 milhas

náuticas, tendo como base os limites constantes da sua proposta original.

1.2 - As riquezas e potenciais da Amazônia Azul

1.2.1 - O mar como sétimo bioma

Já conhecemos a importância do mar nos aspectos geopolítico,

econômico e de segurança. Neste tópico conheceremos um pouco da sua

importância como bioma brasileiro.

Bioma é um conjunto de diferentes ecossistemas, que possuem certo

nível de homogeneidade. São as comunidades biológicas, ou seja, as

populações de organismos da fauna e da flora interagindo entre si e

interagindo também com o ambiente físico chamado biótopo.

O Brasil detém uma enorme diversidade biológica e por isso é chamado

de país megadiverso, abrigando cerca de 13 % (1,8 milhão de espécies) da

biota mundial, sendo 3.500 espécies de peixes. As Unidades de Conservação

(UC), regulamentadas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação

37

(SNUC), representam a principal estratégia para proteger toda essa riqueza.

Para atender às metas da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB),

estabelecidas em 2002 com prazo para 2012, 10 % da zona costeira tem que

estar protegidos por UC, e 10 % da zona marinha têm que estar protegidas

com áreas de exclusão de pesca, temporárias ou permanentes, integradas a

UC, criadas para proteção dos estoques pesqueiros. Em 2009, somente 0,8 %

do bioma marinho (ZEE) estavam protegidos por UC, sendo este percentual

inferior ao de todos os demais biomas brasileiros. Comparativamente, a

Amazônia Verde tem mais de 27,5 % de sua área sob algum tipo de proteção,

enquanto a meta é de 30 %.

De acordo com o excelente artigo “Pesquisa no Oceano: Desafios e

Oportunidades”, publicado na revista Scientific American, os oceanos, com

seus 1,3 bilhão de km3, possuem riquezas biológicas tais como as

cianobactérias fotossintetizantes, responsáveis por cerca de 40 % da clorofila

existente nas regiões oceânicas com poucos nutrientes, e as fontes

hidrotermais e o seu papel no abrigo de microorganismos capazes de

converter o carbono de fontes de monóxido ou dióxido de carbono em matéria

orgânica. Os oceanos são também um compartimento fundamental dos

principais ciclos geoquímicos (carbono, nitrogênio, fósforo) essenciais para a

manutenção das características que configuram a biosfera, como o clima e a

temperatura. Entre os serviços ecossistêmicos fornecidos pelos oceanos,

temos a produção de oxigênio e de recursos pesqueiros, assim como a

regulagem da temperatura do planeta (80 % do calor proveniente das

mudanças globais já foi absorvido pelos oceanos). A biodiversidade marinha

supre 20 % da proteína animal consumida por 1,5 bilhões de pessoas e 15 %

de outros 4,5 bilhões.

O conhecimento sobre a biodiversidade marinha do Brasil ainda está em

sua primeira infância. Como principais atividades para obtenção de

informações e conhecimento nesta área podemos citar o Programa de

Avaliação do Potencial dos Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva

(REVIZEE), sobre o qual falaremos mais a frente, as operações do navio

hidrográfico Cruzeiro do Sul, investimentos no Programa Arquipélago e Ilhas

38

Oceânicas pelo CNPq, e implementação do Programa Ciências do Mar, pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Uma das formas de proteção contra o mau uso dos recursos pesqueiros

e ecossistemas costeiros são as Áreas Marinhas de Proteção (AMP), por

basearem a gestão dos recursos naturais em objetivos ambientais e sociais,

bem como espaços e público-alvo explicitamente definidos. No caso do Brasil,

destacam-se as Reservas Extrativistas (RESEX), que são AMP onde o direito

de uso dos recursos naturais é concedido com exclusividade às populações

locais, com normas de acesso propostas por um conselho e estabelecidas em

um plano de manejo. Entre 1990 e 2000, foram criadas duas RESEX marinho-

costeiras e, nesta década, já foram criadas mais duas dezenas, sendo que,

infelizmente, boa parte dessas unidades ainda não dispõe de plano de manejo

e estrutura mínima para gestão. A criação de reservas extrativistas não deve

ser propalada como fórmula mágica, requerendo, assim como as AMP em

geral, investimentos continuados, integração com outras políticas públicas e

ferramentas efetivas de gestão marinha e costeira. Os avanços na pesquisa e

conservação da biodiversidade marinha brasileira têm sido lentos, porém

consistentes. O meio marinho do nosso país ainda é uma fronteira pouco

conhecida, reservando um enorme potencial para o desenvolvimento

sustentável do Brasil.

Com base no acima exposto, podemos ver a enorme importância de

assumirmos a gestão dos recursos do mar, desenvolvendo projetos específicos

e provendo meios de fiscalização e controle das atividades, e como ainda não

atribuímos prioridade a essa questão, face ao desnível dos investimentos e

ações destinados aos biomas continentais, em comparação com o marítimo.

1.2.2 - Navegação de longo curso e cabotagem

Segundo Vidigal (2006), o navio é um dos principais elementos

que compõe a moderna cadeia de transportes, sendo esta tanto mais eficaz

quanto seja o emprego da multimodalidade (transporte aquaviário, rodoviário e

39

ferroviário), onde cada um destes modais seja mais competitivo, minimizando

os custos totais de transporte. Neste estudo, apresentaremos maiores detalhes

do modal aquaviário, tratando especificamente do transporte nas águas da

Amazônia Azul, referentes a navegação de longo curso e a navegação de

cabotagem.

A navegação de longo curso é a que se faz com propósitos comerciais,

entre portos de um país e portos estrangeiros, quer sejam marítimos, fluviais

ou lacustres, em navios mercantes. A necessidade de transportar cargas pelo

mar tem aumentado em função do intenso comércio entre os países e pelas

vantagens agregadas por este tipo de transporte, tais como: é mais econômico

a médias e longas distâncias e no transporte de grandes volumes, é menos

agressivo ao meio ambiente (um navio substitui centenas de caminhões),

requer menos investimento em infra-estrutura e é mais seguro no que tange a

roubo de cargas. O frete representa em média cerca de 10 % do custo de um

produto, daí a importância de barateá-lo, aumentando a competitividade. O

modal marítimo é responsável por cerca de 95 % das exportações brasileiras

em peso, e cerca de 83 % em valores, tendo alcançado em 2009 a cifra

estimada de 127 bilhões de dólares. Quanto às importações, o modal marítimo

responde por cerca de 88 % em peso e 69 % em valores, com a cifra estimada

em 2009 de 93 bilhões de dólares. Estudos do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior indicam que o transporte marítimo já é o mais

utilizado no comércio internacional. A navegação de longo curso movimentou

cerca de 530 milhões de toneladas de produtos nos portos brasileiros, 73 % do

total em 2009 (ver figuras 3 e 4 do Anexo 2), e o movimento de embarcações

nos portos organizados e terminais de uso privativo atingiu 19.265

movimentações.

A navegação de cabotagem é a que se realiza entre portos ou pontos do

território de um mesmo país, utilizando exclusivamente a via marítima ou esta

e as vias marítimas interiores, com propósitos comerciais. Com relação a

movimentação de cargas nos portos brasileiros em 2009, a navegação de

cabotagem movimentou 170 milhões de toneladas de produtos, representando

23 % do total, cabendo a navegação interior os 4 % restantes (ver figura 4 do

40

Anexo 2), e o movimento de embarcações nos portos organizados e terminais

de uso privativo atingiu 15.163 movimentações.

Ainda que o objetivo deste tópico seja dar ênfase as riquezas envolvidas

na atividade de transporte marítimo e a sua importância estratégica para o

Brasil, cabe ressaltar que os portos brasileiros ainda se encontram em 41º

lugar no mundo em funcionalidade portuária, fruto das dificuldades

burocráticas para a liberação das cargas e da falta de dragagem, da má

integração entre os vários modais de transporte, especialmente a falta de

investimento nas hidrovias (atendem somente 4 % do total de cargas

transportadas) e da supervalorização das rodovias (atendem 61 % do total das

cargas transportadas), que com suas estradas em estado precário, implicam

em aumento do frete, diminuindo a competitividade dos produtos brasileiros a

serem exportados e aumentando os custos dos importados.

A navegação de cabotagem (atende a 13,6 % do total de cargas

transportadas) tem seu potencial pouco explorado no Brasil, considerando os

mais de 12 mil km navegáveis (costa brasileira e rios amazônicos) e o grande

volume de cargas movimentadas por distâncias superiores a 1.000 km, isto

sem considerar as importantes implicações da consolidação do Mercosul para

este segmento. O transporte de carga geral por cabotagem no Brasil está

sendo ocupado por empresas estrangeiras, uma vez que a frota nacional

existente é incapaz de atender toda a demanda do mercado, abertura essa

que seria impensável em outros países. Quanto a isso, Vidigal (2006) ressalta

a importância estratégica de possuir uma significativa frota mercante de

bandeira nacional exemplificando com o seu emprego como frota de apoio e

manutenção do fluxo logístico na campanha inglesa das Malvinas e na guerra

do Golfo, na coligação com os Estados Unidos da América (EUA).

“Não é demais citar a importância do transporte marítimo como fator de

segurança nacional. Lembremos que, nos momentos de crise e conflito, o mar

é o grande palco onde muitas das ações se desenvolvem. Tais ações afetam

todos os setores nacionais, sejam políticos, estratégicos ou econômicos, uma

vez que a circulação de bens e mercadorias é feita majoritariamente por via

marítima” (VIDIGAL, 2006, p. 106).

41

Os órgãos federais mais atuantes na área de transportes marítimos são

o Ministério dos Transportes, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários e

a MB, que tem papel de fundamental responsabilidade e relevância, devido ao

Comandante da Marinha ser a Autoridade Marítima, respondendo pela

Diretoria de Portos e Costas (DPC), que atua na fiscalização para o

cumprimento da legislação internacional referente à segurança do tráfego

aquaviário, inspeção naval, segurança das embarcações, praticagem e

combate a poluição das águas, e pela Diretoria de Hidrografia e Navegação

(DHN), que produz as cartas náuticas, instala e mantém a sinalização náutica e

faz previsões meteorológicas e oceanográficas.

1.2.3 - Pesca - A guerra da lagosta

A despeito do tamanho do nosso litoral, as condições ambientais das

águas marinhas sob jurisdição nacional são típicas de regiões tropicais e

subtropicais, ou seja, dominadas por águas de temperatura e salinidade

elevadas, além de baixas concentrações de nutrientes. Encontramos locais

com melhor produtividade, como é o caso da presença de correntes marinhas

ricas em nutrientes, associada às zonas de ressurgência, na Região

Sudeste/Sul. Nesse caso, observa-se maior abundância de recursos

pesqueiros. De forma similar, a boa produtividade identificada na região norte

se dá em função da elevada quantidade de matéria orgânica oriunda da

descarga do rio Amazonas, influenciando toda a zona oceânica daquela

região.

Ainda que em caráter preliminar, informações do Programa REVIZEE,

apontam para a inexistência, na ZEE brasileira, de estoques pesqueiros de

grande magnitude. Mesmo assim, o REVIZEE apresenta indícios de que é

possível o aumento da produção pesqueira nacional pela explotação de novos

recursos, que poderão abrir novas frentes de trabalho, diversificando o uso do

esforço de pesca e incrementando a produção pesqueira marinha.

42

A produção brasileira total de pescado aumentou 25% nos últimos oito

anos, passando de 990.899 toneladas anuais para 1.240.813 no ano de 2009,

enquanto que o crescimento mundial foi de 14 %, porém esta produção ainda

representa apenas 0,76 % da mundial. A aquicultura apresentou, no mesmo

período, uma elevação 49 %, passando de 278.129 toneladas/ano para

415.649 toneladas/ano, enquanto que o crescimento mundial no período foi de

45 %, porém a nossa produção representa apenas 0,5 % da mundial. A

produção da pesca extrativa, tanto marítima quanto continental (rios, lagos,

etc), passou no mesmo período de 712.144 toneladas para 825.164

toneladas/ano, um aumento em torno de 15,8 %, sendo que esta produção

representa 0,9 % da mundial. A pesca marítima representa 71 % da extrativa

total. A relação entre a aquicultura e a pesca extrativa, no Brasil, está em 50 %,

enquanto que no mundo esta relação é de 75 % (ver figura 5 do Anexo 2).

A análise da balança comercial do pescado nos últimos anos evidencia

a tendência de déficits comerciais que se processa desde 2006, após cinco

anos seguidos de superávits (2001 a 2005). De acordo com o documento

“Balança Comercial Brasileira de Pescado – série 2007/2010” (ver figura 6 do

Anexo 2), divulgado pelo Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura

(CONEPE), a importação de pescado em 2009 foi de 239.000 toneladas, com

a grande maioria na forma de salgado/filé/eviscerado, de forma que, utilizando-

se um fator de 0,6 para transformar o pescado importado processado em

pescado inteiro, teremos um equivalente de 398.000 toneladas. Assim,

considerando-se que em 2009 as capturas totais brasileiras foram de

1.241.000 toneladas, as importações em 2009 representaram 32% do total

produzido no Brasil. Em 2008, as importações representaram 30,7 % do total

produzido, e em 2007, 32,6 %, mostrando que a relação entre importações e

produção vem se mantendo em cerca de 32 %, porém as importações estão

aumentando a uma taxa de 9,6 % nos últimos dois anos. Com relação às

exportações, estamos no caminho inverso, tendo exportado, em toneladas,

59.000 em 2007, caindo para 46.000 em 2008, 37.000 em 2009 e com

previsão de 30.000 em 2010, com uma perda média anual de 20 %. Com isso,

o déficit da balança comercial vem aumentando progressivamente, sendo em

43

2009 106 % maior do que em 2007, com projeção de aumento em 2010 de

51,9 % em relação a 2009, o que levaria a diferença entre 2010 e 2007 para

213 %. Em 2009 gastamos 520 milhões de dólares (FOB) para manter o nosso

mercado, e projetamos gastar 790 milhões de dólares em 2010.

Comparando-se o valor médio das importações entre 2007 e 2010,

somente até junho, constata-se um aumento de 33 %, enquanto que este valor

para as exportações caiu 3 %, mostrando que, além do crescimento das

importações, estamos importando produtos de maior valor agregado, o que

significa um aumento da mão-de-obra externa, agravado pela queda do valor

agregado das nossas exportações.

Quanto ao consumo per capita, a base de cálculo considera o

equivalente a pescado inteiro e a população total, que é de 191 milhões de

habitantes. Considerando que a produção nacional, em toneladas, foi de

1.241.000 em 2009 (pescado inteiro), que a importação foi de 239.000 e a

exportação foi de 37.000, que transformadas em pescado inteiro representam,

em toneladas, respectivamente 398.000 e 62.000, podemos calcular o

consumo per capita do Brasil em 2009, que é de 8,26 kg/pessoa. Comparado

ao índice de 2007, que era de 7,2 kg/pessoa, houve um crescimento de 14,7

%, sendo que a média mundial é de 17,0 kg/pessoa. A “Food and Agriculture

Organization” (FAO) projeta para 2030 um consumo desejado de 22,5

kg/pessoa/ano, apontando um futuro promissor para este mercado.

Com base no supracitado, conclui-se que, para atingir a média de

consumo mundial em 2009, não necessitar importar e manter as exportações

nos níveis requeridos precisaríamos produzir 3.247.000 toneladas, as quais

devemos somar as exportações estimadas em 37.000, que representam

61.670 toneladas de pescado inteiro, totalizando 3.308.670 toneladas.

Descontadas a produção deste ano e as exportações, teríamos que o aumento

de produção em 2009, para atingir o consumo de 17,0 kg/pessoa, deveria ter

sido cerca de 2.000.000 toneladas, que se tivesse que ter sido importada,

representaria uma despesa de 5,98 bilhões de dólares.

Cabe ressaltar que atingir estas metas exigirá um investimento

considerável por parte do governo e empresas privadas do setor, bem como a

44

substituição gradativa do modelo de pesca artesanal para um modelo

industrial. A frota pesqueira marinha e estuarina que opera no litoral brasileiro,

tanto na zona costeira quanto na pesca oceânica, está estimada em torno de

30.000 embarcações, 10% das quais, consideradas de médio e grande porte, e

conhecidas como frota industrial, o que significa que cerca de 27.000

embarcações são utilizadas pela pesca dita artesanal, composta por

embarcações de pequeno porte (jangadas, canoas, botes, etc.) que, pelas

suas características, têm pouco raio de ação e, conseqüentemente, limitada

autonomia de mar. A frota estrangeira arrendada apresenta características

distintas e diferenciadas da frota nacional, variando conforme a modalidade de

pesca e a espécie alvo a capturar. No geral, apresentam-se com

características médias superiores às da frota brasileira, e com melhor nível

tecnológico, seja de captura, ou de acondicionamento a bordo.

No que tange a produção, em vista da necessidade de controle da

pesca extrativa para evitar a sobreexplotação, o caminho apontado é o da

aquicultura - a exemplo do continente Asiático, em especial a China que, em

2008, respondeu por cerca de 63 % da produção mundial - com a Amazônia

Azul oferecendo amplas oportunidades para o desenvolvimento deste negócio.

Na outra ponta do processo produtivo, está a fiscalização e o controle das

áreas de pesca, de forma a impedir a sobreexplotação dos recursos garantindo

a época do defeso das espécies, papel este a ser exercido principalmente pela

MB, que deverá possuir meios que permitam um patrulhamento eficaz.

Diante deste cenário, podemos aferir a importância da pesca para o

Brasil e o quanto precisa melhorar a produção, fiscalização e controle de uma

atividade tão importante em uma área tão extensa como a nossa Amazônia

Azul.

Para encerrar com um exemplo desta importância, cabe citar a chamada

guerra da lagosta que, mesmo tendo ocorrido há muito tempo, ainda encerra

os mesmos pré-requisitos de um evento que pode acontecer a qualquer

momento, conforme relato a seguir obtido na WIKIPEDIA: “A Guerra da

Lagosta, como denominado jocosamente à época pela imprensa, foi um

contencioso entre os governos do Brasil e da França, que se desenvolveu

45

entre 1961 e 1963. O episódio ocorreu devido a captura ilegal de lagostas, por

parte de embarcações de pesca francesas, em águas territoriais no litoral

Nordeste do Brasil. Alertada por pescadores brasileiros, uma embarcação da

Marinha do Brasil flagrou barcos de pesca franceses pescando lagosta

clandestinamente na costa de Pernambuco, em águas territoriais brasileiras,

sendo convidados a se retirar. Na imprensa francesa, diante dos protestos dos

pescadores de lagostas sobre os seus supostos direitos de pesca, travou-se

um aceso debate sobre o enquadramento da lagosta enquanto item de pesca e

outras considerações sobre sua classificação como bem patrimonial do Brasil.

À época, a crise extrapolou as relações diplomáticas entre os dois países, de

tal modo que ambos chegaram a mobilizar os seus recursos bélicos. O

primeiro a fazê-lo foi a França, que deslocou um contingente naval, mantido

em prontidão, para uma área vizinha à região em conflito. No Brasil, a opinião

pública percebeu a situação como uma agressão da França aos direitos de

soberania brasileiros. O presidente João Goulart (1961–1964), após reunião do

Conselho de Segurança Nacional, determinou o deslocamento, para a região,

de considerável contingente da Esquadra, apoiado pela Força Aérea Brasileira.

Em terra, o 4° Exército, com sede em Recife, então sob o comando do general

Humberto de Alencar Castello Branco, também se mobilizou. “A mobilização foi

rápida mas intempestiva, revelando as grandes restrições materiais dos nossos

navios, principalmente no aspecto logístico, na manutenção precária e na

necessidade de muitos reparos. As restrições de munição e torpedos eram tão

críticas que não permitiam aos navios manter um engajamento por mais de

trinta minutos... A França imaginava que a postura firme do governo brasileiro

estaria sendo respaldada pelos Estados Unidos, num apoio não declarado. Era

uma suposição equivocada. Na época, o Departamento de Estado americano

enviou mensagem ao Brasil lembrando que nossos navios de guerra – na

época arrendados aos Estados Unidos – por contrato não poderiam se

envolver em conflito com países amigos dos norte-americanos. Ordenava por

isso que eles voltassem imediatamente às suas bases. O Brasil recusou-se a

atender ao pedido americano, mencionando o Tratado Interamericano de

Assistência Recíproca (TIAR) e usando um argumento caro aos brios militares

46

daquele país: por ocasião do ataque à base de Pearl Harbor, em 1941, o Brasil

declarara guerra ao Japão, em solidariedade aos Estados Unidos” (Claudio da

Costa Braga, Revista de História da Biblioteca Nacional, 2009).

Embora a frase "le Brésil, ce n’est pas un pays serieux" ("O Brasil não é

um país sério"), seja tradicionalmente atribuída ao então presidente da França,

general Charles de Gaulle, neste contexto, na realidade foi pronunciada pelo

embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza Filho, referindo-se à

inabilidade com que o governo brasileiro conduzia este contencioso.

À época, na imprensa francesa, suscitou-se uma polêmica curiosa: se a

lagosta andava ou nadava. Caso nadasse, poder-se-ia considerar que estava

em águas internacionais, o que favoreceria a França; caso andasse, estaria

em território nacional brasileiro, uma vez que se admitia à época que o fundo

do mar pertencia ao Estado Brasileiro. Cabe ressaltar que discussão girava em

torno da interpretação do artigo 2 da Convenção sobre a Plataforma

Continental de Genebra, assinada em 1958, vigente à época.

No debate diplomático entre o Brasil e a França, a comissão brasileira

foi assessorada pelo então Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva,

especialista da Marinha do Brasil na área de Oceanografia. Durante os

debates, os especialistas da França defendiam que a lagosta era apanhada

quando estava nadando, ou seja, sem contato com o assoalho submarino

(considerado território brasileiro), momento em que, longe do contato com a

plataforma continental, poderia ser considerado um peixe. Nesse momento, o

Almirante Paulo Moreira tomou a palavra, argumentando que para o Brasil

aceitar a tese científica francesa de que a lagosta podia ser considerada um

peixe quando dá seus "pulos" se afastando do fundo submarino, então teria,

da mesma maneira, que aceitar a premissa do canguru ser então considerado

uma ave, quando dá seus "pulos", ou seja, se lagosta é peixe, então canguru é

passarinho. A questão foi assim encerrada a favor do Brasil.

“A crise foi uma demonstração de que, mesmo entre países

tradicionalmente amigos, os Estados não estão isentos de serem ameaçados,

até pelo uso da força, quando estão em jogo interesses econômicos...

Descobriu-se recentemente que barcos japoneses não-autorizados –

47

verdadeiros navios-fábrica – freqüentavam as águas brasileiras para capturar

espécies valiosíssimas, como o calamar, um molusco de águas geladas

vendido como iguaria, ou o caranguejo de águas profundas, comercializado

nos mercados de Tóquio a mais de R$ 60 o quilo.” (Claudio da Costa Braga,

Revista de História da Biblioteca Nacional, 2009).

O episódio supracitado, ainda que contenha pitadas de ironia, é

emblemático quanto às circunstâncias e realidades envolvidas. Constata-se

que a existência de acordos internacionais não é garantia de entendimento,

fazendo com que um Estado que interprete litígios de ordem econômica como

questão de segurança ou direito de soberania, não pense duas vezes em

utilizar o poder militar como forma de dissuasão. Nossa frota pesqueira

mostrou não possuir capacidade de exploração dos recursos disponíveis, o

que viabilizou a investida de um país mais bem preparado, sendo que este

mesmo dispositivo é previsto atualmente na CNUDM. Nossas forças não

possuíam capacidade real de enfrentar a ameaça, devido à precariedade dos

meios navais, bem como dependiam da boa-vontade de terceiros (EUA), por

operarem equipamentos não fabricados no país. Qualquer semelhança com a

situação atual no Brasil não é mera coincidência.

1.2.4 - Nódulos polimetálicos e crostas minerais

Segundo Ferreira (2008), com o surgimento de novas técnicas e o

financiamento por inúmeros países, obteve-se um maior conhecimento a

respeito da potencialidade mineral dos oceanos. Dos recursos minerais

existentes nas profundezas oceânicas, os que primeiro despertaram o

interesse de empresas e governos foram os nódulos polimetálicos, quando em

1950, John Mero, pesquisador da Universidade de Berkeley, analisou sua

rentabilidade, demonstrando que o teor de níquel, cobre, cobalto e manganês

existentes eram iguais ou superiores aos encontrados na exploração em terra.

Os nódulos polimetálicos ou nódulos de manganês estão presentes na

maior parte dos oceanos do mundo, cobrindo em alguns lugares, mais de 70%

48

do fundo marinho. São concreções rochosas formadas por camadas

concêntricas de hidróxidos de ferro e de manganês em torno de um núcleo,

formados pelo processo de sedimentação dos oceanos. De forma geral, são

objetos esferóides de cor enegrecida, possuindo tamanho e pesos variáveis e

são encontrados em profundidades que variam de 3000 a 5000 metros.

As crostas cobálticas constituem-se num outro tipo de recurso mineral

que incorpora metais de origem continental e marinha, encontrados em todos

os oceanos do mundo, precipitando a partir das massas de águas profundas

em forma de camadas delgadas de até 25 centímetros de espessura sobre

rochas vulcânicas de montes submarinos e cordilheiras vulcânicas

submergidas a profundidades de 400 a 4.000 metros. Segundo estimativas, a

exploração destes minerais poderia abastecer até 25% do mercado mundial de

cobalto, minério utilizado, dentre outras coisas, na fabricação de materiais

metálicos resistentes à corrosão. Estima-se que cerca de 6.350.000 km² (1,7%

do fundo do mar) estão cobertos de crostas de alto conteúdo de cobalto, o que

equivale a, aproximadamente, um bilhão de toneladas.

Além do cobalto, as crostas são uma importante fonte potencial de

muitos outros elementos como o titânio, césio, níquel, platina, manganês,

fósforo, tálio, telúrio, zircônio, tungstênio, bismuto e molibdênio. As crostas

possuem um alto teor de cobalto, de até 1,7%, e as vastas extensões de

montes submarinos individuais podem ter crostas com um conteúdo médio de

cobalto de até 1%. As proporções de cobalto são muito mais elevadas que as

das minas de terra, cujo conteúdo oscila entre 0,1 e 0,2%.

Os sulfetos polimetálicos constituem-se em outra variedade de recurso

mineral existente no fundo do mar. Descobertos em 1979, os sulfetos se

depositam ao redor das fontes de águas termais situadas nos fundos marinhos

sendo aquecidas pelas colunas de magma que ascendem por debaixo de uma

cordilheira vulcânica submergida. O encontro da água quente sulforosa com a

água do oceano, que está em temperatura próxima aos dois graus centígrados,

produz a precipitação sobre a superfície dos fundos marinhos. Desta maneira,

os metais que se encontram em pequenas quantidades nas rochas vulcânicas

são dissolvidos, precipitando outros metais presentes na água e concentrando

49

elementos como o cobre, ferro, zinco, prata e ouro em forma de depósitos de

sulfetos marinhos a uma profundidade média de 1 até 4 mil metros.

Atualmente, é conhecida a existência de mais de cem jazidas destes

minerais, sendo estimado que apenas 5% dos oceanos de todo o mundo foi

objeto de estudos detalhados. Dos depósitos conhecidos, cerca de 10 %

teriam porte e volume suficiente para se realizar a explotação.

A sistemática adotada pela CNUDM para a exploração destes recursos

minerais consiste numa divisão entre fases, cada uma possuindo

procedimentos diferenciados, destinados a regular e organizar a mineração

nos fundos marinhos. A fase de prospecção é a que se refere a busca por

jazidas de nódulos polimetálicos na Área, incluindo a estimação de sua

composição, tamanho, distribuição e valor econômico, não garantindo nenhum

direito de exclusividade na área prospectada.

Quanto à exploração, é compreendida como a busca por jazidas de

nódulos polimetálicos na Área, derivada de direitos exclusivos sobre o bloco a

ser explorado, englobando as atividades de análise das jazidas, ensaio do

sistema de extração, transporte, além da realização de estudos técnicos,

ambientais e econômicos.

Em relação à fase de aproveitamento, denominada explotação, se

entende como a extração e recuperação de minerais na Área com finalidades

comerciais, incluindo a construção e a utilização de sistemas de extração

mineira, o tratamento e o transporte da produção, como também a

comercialização dos respectivos minerais.

A sustentabilidade e a manutenção do equilíbrio ecológico do meio

ambiente também são aspectos norteadores para a realização das atividades

na região dos fundos marinhos, sendo previsto na CNUDM os requisitos de

proteção e preservação do meio marinho. Cabe a Autoridade Internacional de

Fundos Marinhos (AIFM) fiscalizar e tomar as medidas cabíveis para o

cumprimento destes requisitos. Todos os empreendedores de atividades na

região dos fundos marinhos deverão adotar mecanismos necessários para

prevenir, reduzir e controlar a poluição e outros riscos ecológicos ao meio

marinho.

50

Nota-se nos últimos anos o envolvimento de dezenas de empresas de

mineração e agências governamentais, em atividades relacionadas à

exploração mineral de nódulos polimetálicos do fundo oceânico, submetendo

seus planos de trabalho à AIFM, de maneira que, atualmente, mais de

1.800.000 Km² estão sendo explorados, o que equivale a uma área superior a

20% de toda a superfície do território brasileiro, percentual que tende a

aumentar, assim que a AIFM concluir seus trabalhos a respeito da regulação

quanto aos sulfetos polimetálicos e às crostas cobálticas.

Dado a situação atual da economia mundial, que se encontra cada vez

mais entrelaçada e integrada, as explorações minerais oceânicas encontram-

se em condições de poder influenciar nos mercados de comércio dos recursos

minerais, atingindo interesses diretos, tanto de produtores, quanto de

consumidores. Outrossim, a exploração dos fundos marinhos além das

jurisdições nacionais não se refere a uma atividade de interesse restrito aos

que se encontram em condições de exercê-la, tendo repercussões que

atingem a perspectiva global, haja vista a consideração do fundo do mar como

Patrimônio Comum, cuja utilização repercute nos interesses de toda a

humanidade.

Neste contexto, observa-se que o interesse quanto aos recursos

minerais dos fundos marinhos, extrapola a vertente exclusivamente econômica,

tendo em vista a importância social, política e ecológica destas atividades,

cabendo a toda a humanidade, através da AIFM, assegurar a equidade e a

racionalidade em seu aproveitamento garantindo a manutenção da

sustentabilidade, possibilitando a repartição de seus benefícios e a satisfação

das necessidades das futuras gerações.

De acordo com artigo do jornal O Globo de 31 de março de 2008 (PAUL,

Jornal O Globo, p. 16), no Brasil, há pelo menos dezessete variedades de

minérios, entre ferro, níquel, carvão, estanho, ouro, diamante, calcário, areia,

fósforo e cobre.

Algumas iniciativas já foram tomadas para tentar mensurar a área e

estabelecer estratégias de exploração. Em 1997, foi lançado o Programa de

Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica

51

Brasileira (REMPLAC), mas só em 2005 ele começou efetivamente a se

desenvolver. Este ano, estão previstas ainda sondagens no litoral da Região

Sul, para identificação de fósforo e metais pesados, e no Espírito Santo.

Um dos programas já implementados prevê a sondagem da existência

de ouro na região da foz do Rio Gurupi, na divisa entre o Maranhão e o Pará,

numa parceria entre o Serviço Geológico do Brasil – Companhia de Pesquisa

de Recursos Minerais (CPRM) e a Universidade Federal do Pará. O CPRM

também está estudando a existência de diamantes no Sul da Bahia, próximo à

foz do Rio Jequitinhonha.

Na Região Sul, por exemplo, existem reservas de fosforita, rocha rica

em fósforo. A exploração delas é tida como uma atividade urgente e de grande

importância. O Brasil importa cerca de US$ 1 bilhão de fosfato por ano para

correção de solo agrícola e ração animal. O fósforo marinho é muito mais

concentrado do que o explorado em terra firme.

Já existem pesquisas apontando a viabilidade econômica de exploração

de areia e cascalho em praticamente todo o litoral brasileiro, em distâncias que

vão de algumas centenas de metros a dezenas de quilômetros. Segundo os

geólogos, esses materiais são úteis na reposição e contenção da costa

brasileira, anulando os efeitos da erosão do mar. Eventualmente, a areia e o

cascalho também ajudariam na recuperação de praias e podem suprir a

demanda da construção civil em cidades costeiras, reduzindo a retirada do

fundo dos rios.

O Brasil tem também a maior plataforma de calcário marinho do planeta,

entre o Rio Pará e Cabo Frio (RJ). Formado por algas mortas há milhares de

anos e conchas, esse calcário é considerado superior ao que é explorado em

terra firme. O país ainda importa esse mineral, usado em fertilizantes agrícolas,

implantes ósseos, indústrias de cosméticos e dietéticos, nutrição animal e

tratamento da água de lagos. Nas últimas décadas foram feitos 150 pedidos

para lavra subaquática de areia e calcário, mas até agora só um direito de

lavra foi autorizado - no Espírito Santo.

Atualmente, a tecnologia para exploração mineral em alto mar é toda

estrangeira, mas o Brasil tem um trunfo: a técnica de exploração de petróleo e

52

gás em águas profundas, desenvolvida pela Petrobras, que pode ser adaptada

para o setor de mineração marinha.

Recentemente, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, manifestou

preocupação com relação ao prazo de dois anos (até 2011) estabelecido pela

AIFM para terminar a regulamentação da exploração das crostas cobaltíferas e

sulfetos polimetálicos, quando então iniciará a distribuição das concessões no

Atlântico Sul aos Estados que tiverem efetuado pesquisas sobre estas jazidas.

O Ministro preocupa-se especialmente com a chamada “elevação do Rio

Grande”, localizada na zona oceânica em frente ao Rio Grande do Sul e Santa

Catarina, que se encontra além da PC, e que já vem sendo objeto de pesquisa

de entidades alemãs e russas. Caso sejam autorizadas a explorar estes

recursos, poderão ser reservados blocos de até 100 km2 para a instalação de

plantas de exploração e beneficiamento dos minerais, sendo permitido

estabelecer zonas de segurança com apoio militar para garantir o

desenvolvimento das atividades. Naturalmente, esta situação, em região tão

próxima da costa brasileira, não é desejável, dificultando as rotas marítimas de

interesse do Brasil, além dos aspectos estratégicos relativos a defesa do nosso

país.

Em razão disto, o Ministro da Defesa tem apoiado a iniciativa do

Ministério das Minas e Energia na estratégia de atrair países africanos e sul-

americanos para a realização de um levantamento de dados científicos sobre a

geografia do Atlântico Sul e Equatorial, bem como para a realização pelo Brasil

de pesquisas sobre crostas cobaltíferas na elevação do Rio Grande e uma

pesquisa-piloto sobre depósitos minerais e biodiversidade nos arquipélagos de

São Pedro e São Paulo.

Com base no acima exposto, é possível observar a extrema importância

de planejarmos cuidadosamente e implementarmos o quanto antes linhas de

ação que permitam ao Brasil garantir a exploração futura dessas riquezas e,

com isso, evitar a presença de Estados estrangeiros em regiões tão próximas a

nossa costa, que venham a representar um aumento das nossas

vulnerabilidades.

53

1.2.5 - Petróleo e gás natural

De acordo com a revista eletrônica ComCiência (2002), datam de 1864,

as primeiras tentativas de encontrar petróleo no Brasil, sendo que apenas em

1897 o fazendeiro Eugênio Ferreira de Camargo perfurou, na região de Bofete

(SP), o que foi considerado o primeiro poço petrolífero do país, muito embora

apenas 2 barris tenham sido extraídos. Nesta época o mundo conheceu os

primeiros motores à explosão que expandiriam as aplicações do petróleo,

antes restritas ao uso em indústrias e iluminação de residências ou locais

públicos. No final do século XIX, dez países já extraíam petróleo de seus

subsolos.

As iniciativas mais importantes dos órgãos públicos para a organização

e profissionalização da atividade de perfuração de poços no país foram a

criação do Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro (SGMB), em 1907, e do

Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), órgão do Ministério de

Agricultura, em 1933. Muito embora as iniciativas tenham sido importantes

para atrair geólogos e engenheiros estrangeiros e brasileiros para pesquisar

nos estados do Alagoas, Amazonas, Bahia e Sergipe, a falta de recursos,

equipamentos e pessoal qualificado dificultaram a chegada de resultados

positivos.

Durante a década de 30, já se instalava no Brasil uma campanha para a

nacionalização dos bens do subsolo, em função da presença de trustes que se

apossavam de grandes áreas de petróleo e de minérios, como o ferro. Nesta

ocasião, o escritor Monteiro Lobato desempenhou importante papel engajando-

se na defesa das riquezas naturais do Brasil e na sua capacidade de produzir

petróleo, enviando cartas ao presidente Getulio Vargas, elaborando artigos

para jornais e ministrando palestras para promover a conscientização popular e

a necessidade de defesa da soberania nacional. O interesse do autor pelo

assunto datava de 1927, quando viajou aos Estados Unidos e associou o

desenvolvimento econômico daquele país, com suas imensas fábricas de

automóveis, à exploração do petróleo.

54

Curiosamente, o primeiro poço de petróleo perfurado no País foi

encontrado na cidade de Lobato, na Bahia, que nada a tinha a ver com o

escritor. Em 1939, uma sonda enviada pelo DNPM jorraria petróleo

abundantemente, sendo este considerado o primeiro poço comerciável do

país, dois anos depois. Ainda em 1939, o governo de Getúlio Vargas instala o

Conselho Nacional do Petróleo (CNP), com a primeira Lei do Petróleo do país,

para estruturar e regularizar as atividades envolvidas, desde o processo de

exploração de jazidas até a importação, exportação, transporte, distribuição e

comércio de petróleo e derivados. Este decreto tornou o petróleo patrimônio da

União.

Nos anos 50, a pressão da sociedade e a demanda por petróleo se

intensificavam, com o movimento de partidos políticos de esquerda que lançam

a campanha "O petróleo é nosso". O governo Getúlio Vargas responde com a

assinatura, em outubro de 1953, da Lei 2004 que instituiu a Petróleo Brasileiro

S.A (Petrobras) como monopólio estatal de pesquisa, lavra, refino e transporte

do petróleo e seus derivados. Infelizmente, Monteiro Lobato já não vivia mais

para ver o principal marco da luta que travara.

Em função do desenvolvimento industrial e da construção de rodovias

que interligavam as principais cidades brasileiras, o consumo de combustíveis

fósseis aumentou significativamente na década de 50. Nesta época, a

produção nacional era de apenas 2.700 barris por dia, com duas refinarias

(Mataripe, na Bahia, e Manguinhos, no Rio) e vinte petroleiros, enquanto o

consumo totalizava 170 mil barris diários, quase todos importados na forma de

derivados (combustível já refinado).

Em 1961, os resultados de um relatório divulgado pelo geólogo norte-

americano Walter Link, contratado pela Petrobras, concluíram pela inexistência

de grandes acumulações petrolíferas nas bacias sedimentares brasileiras.

Ainda assim, a Petrobrás cresceu num ritmo constante e, em 1961, instalou

seu primeiro posto de abastecimento para automóveis, em Brasília. Em 1967,

criou sua primeira subsidiária, a Petrobras Química (Petroquisa) e em 1971

criou a BR Distribuidora.

55

Até 1968, os técnicos vindos de outros países foram, gradativamente,

sendo substituídos por técnicos brasileiros, que eram enviados ao exterior para

se especializarem. Em 1968, a área de exploração atingiu Guaricema (SE), o

primeiro poço offshore, e o Campo de São Matheus (ES), em 1969. Mas

Guaricema, fruto de investimentos em dados sísmicos e sondas marítimas,

injetou novos ânimos nas perspectivas de um Brasil auto-suficiente, que

passaria a redirecionar suas pesquisas agora para o mar. Ao final de 1968, a

indústria brasileira produzia mais de 160 mil barris por dia.

Devido a alta competitividade do mercado internacional, frente ao

declínio das reservas em terra e a baixa produtividade no mar, incapaz de

atender a demanda crescente, a produção nacional estagnou-se, abrindo

caminho para a importação. Neste contexto, em 1972, é criada a Braspetro,

com a finalidade de buscar alternativas de abastecimento de petróleo em

outros países.

A primeira crise do petróleo, em 1973, modificou profundamente as

relações de poder das empresas multinacionais, dos países consumidores e

dos países produtores de petróleo. Em meio à crise mundial, em 1974, o Brasil

descobre o campo marítimo de Ubarana, na bacia de Potiguar (ES) e o campo

de Garoupa, na Bacia de Campos (RJ), que marcaria o início de uma segunda

fase dentro da Petrobras, aquela em que a empresa se diferenciaria pela

exploração do petróleo em águas profundas e ultra-profundas. Em função da

bacia de Campos, a produção petrolífera brasileira chega aos 182 mil barris ao

dia, sendo reconhecida até os dias atuais como a mais produtiva bacia do país

e uma das maiores produtoras de petróleo de águas profundas do mundo.

Os primeiros tratados de risco são assinados em 1975, abrindo as

portas para as multinacionais explorarem petróleo com a promessa de

trazerem um aporte financeiro que fosse significativo para o país. Apesar das

empresas estrangeiras terem o direito de atuar em 86,4% das bacias

sedimentares do país, deixando apenas o restante nas mãos da Petrobras, os

contratos não produziram e nem trouxeram o capital que prometeram.

Em 1978, a segunda crise do petróleo volta a mexer com as relações

internacionais e o cenário petrolífero brasileiro parecia estar condenado.

56

Porém, ao contrário do que se esperava, o choque do petróleo e os preços

quintuplicados, sacudiram a indústria nacional, forçando grandes investimentos

na prospecção de jazidas em território brasileiro para reduzir a dependência

externa. Os primeiros frutos surgiram em 1981, quando a produção marítima

superou a terrestre e, em 1984, quando a produção brasileira se iguala à

importada, com meio milhão de barris diários.

A promulgação da Constituição em 1988 estabeleceu o fim dos

contratos de risco. Neste momento os geólogos e engenheiros da Petrobras já

utilizavam a tecnologia da sísmica tridimensional (3D) de maneira rotineira, o

que diminuiu o custo exploratório e trouxe importantes descobertas de gás e

petróleo nas bacias de Santos (SP), do Solimões (AM) e na região do rio

Urucu.

A Lei do Petróleo, de 1997, inicia uma nova fase na indústria petrolífera

brasileira. Entre as mudanças está a criação da Agência Nacional do Petróleo

(ANP), que substituiu a Petrobras como órgão executor do gerenciamento do

petróleo no país e exerce as atividades regulatórias, e o Conselho Nacional de

Política Energética (CNPE) desempenha a função de definição da política

energética. Esta Lei permitiu a formação de parcerias com empresas

interessadas em participar do processo de abertura do setor, numa tentativa de

trazer novos investimentos para o país.

Em palestra pronunciada no II Seminário de Direito Internacional e

Geopolítica do Petróleo, realizado na EGN em julho de 2010, o Professor Lier

Pires Ferreira, da Universidade Gama Filho, dissertando sobre os resultados

do modelo adotado pelo Brasil, afirmou que “O arcabouço institucional do

Brasil para o setor de petróleo e gás natural – ao atender aos objetivos de

ampliação do conhecimento sobre o potencial do País em hidrocarbonetos e,

como resultado, de incremento das reservas e da produção – constitui hoje

uma referência para os estudos e debates em vários países sobre a reforma

do papel do Estado nesse setor. As Rodadas de Licitações também têm efeito

positivo e contínuo sobre as receitas públicas nos níveis federal, estadual e

municipal. Cerca de 900 municípios e pelo menos 10 estados da Federação,

além da União, recebem royalties mensalmente. Além dos royalties, as

57

concessionárias estão sujeitas ao pagamento de Participação Especial,

compensação financeira extraordinária estabelecida pela Lei do Petróleo para

campos de grande volume de produção ou de grande rentabilidade, e ao

pagamento pela ocupação ou retenção de área. Desde 2005, a ANP vem

incentivando o ingresso de pequenas e médias empresas no setor de

produção de petróleo e gás natural por meio da concessão, mediante Rodadas

de Licitações específicas, de áreas inativas com acumulações de petróleo e

gás natural com interesse marginal para grandes empresas. A reativação dos

chamados campos marginais de petróleo e gás natural tem impacto positivo no

desenvolvimento econômico e social de regiões distantes dos grandes centros,

em particular, na geração de empregos e renda” (www.egn.mar.mil.br).

“As descobertas do pré-sal motivaram o Governo Federal a propor, por

intermédio do PL nº 5938 de 2009, um novo modelo para a exploração e a

produção nestas áreas, baseado nos contratos de partilha da produção, que

está em discussão no Congresso Nacional. O novo modelo – em geral usado

quando há exploração com baixo risco e elevado potencial –, na medida em

que prevê a apropriação pelo Estado do óleo extraído, permite um controle da

produção que se ajuste ao crescimento da indústria, prevenindo assim a

chamada “doença do petróleo”. A proposta do Governo também prevê a

criação de um Fundo Social para as receitas advindas da atividade petrolífera,

que permitirá investimentos maciços na educação e em projetos de

desenvolvimento regional. Dessa forma, o novo modelo para o setor deverá

garantir a industrialização do Brasil, proporcionar maior participação da

sociedade na renda proveniente do petróleo e a aplicação desse recurso na

melhoria dos indicadores sociais do País” (ANP, 2010, p.5).

Inicialmente, com base no Anuário Estatístico 2010 da ANP, será

apresentado um panorama da indústria mundial de petróleo e gás natural,

destacando seus níveis de reservas, produção, capacidade nominal de refino e

consumo. Estes dados servem como referência à contextualização da indústria

nacional no cenário internacional.

O Anuário apresenta as estatísticas por regiões geográficas e blocos

econômicos formados pelos seguintes países:

58

- América do Norte: Canadá, EUA e México;

- Américas Central e do Sul: Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Peru,

Trinidad e Tobago, Venezuela e outros;

- Europa e ex-União Soviética: Azerbaijão, Cazaquistão, Dinamarca, Itália,

Noruega, Reino Unido, Romênia, Rússia, Turcomenistão, Uzbequistão e

outros;

- Oriente Médio: Arábia Saudita, Catar, Coveite, Emirados Árabes Unidos,

Iêmen, Irã, Iraque, Omã, Síria e outros;

- África: Argélia, Angola, Chade, Congo (Brazaville), Egito, Gabão, Guiné-

Equatorial, Líbia, Nigéria, Sudão, Tunísia e outros;

- Ásia-Pacífico: Austrália, Brunei, China, Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia,

Vietnã e outros.

As reservas provadas mundiais de petróleo atingiram a marca de 1,3

trilhões de barris no ano de 2009, com um crescimento de 0,1% em relação a

2008. As do Oriente Médio, região que concentra a maior parte das reservas

de petróleo do mundo, apresentam volume equivalente a 754,2 bilhões de

barris ou 56,6% do total. As reservas provadas brasileiras, de 12,9 bilhões de

barris de petróleo, tiveram um incremento de 0,4% e situaram o Brasil na 16ª

posição no ranking mundial de reservas em 2009.

O crescimento das reservas provadas do Brasil no período de 2000 a

2009, ou seja, em dez anos, foi de 51,7 %, enquanto o crescimento das

reservas mundiais no mesmo período foi de 20,6 %. Neste período, as

reservas dos EUA (-6,5 %), da China (-2,6 %) e do Reino Unido (-34 %)

decresceram, enquanto que as da Rússia (+24,5 %) e da Índia (+9,4 %)

cresceram. O crescimento mais significativo de reservas provadas foi de 124

%, alcançado pela Venezuela, atingindo 172,3 bilhões de barris de petróleo em

2009 (13,2 % da mundial).

Entre 2008 e 2009, o volume de petróleo produzido no mundo caiu

2,5%, passando de 82 milhões de barris/dia para 79,9 milhões de barris/dia.

Com relação ao volume e percentual da produção mundial, a parcela mais

significativa cabe aos países da OPEP, que atingiram 33,1 milhões de

barris/dia (41,4 %), sendo que a América do Norte alcançou 13,4 milhões de

59

barris/dia (16,7%) e a Europa e ex-União Soviética, 17,7 milhões de barris/dia

(22,1%).

Vale ressaltar que a produção brasileira de petróleo cresceu 6,9% em

2009, atingindo 2 milhões de barris/dia (2,5 % da produção mundial). Com o

acréscimo no volume de óleo produzido, o Brasil alcançou a 14ª posição entre

os maiores produtores mundiais de petróleo em 2009. A Rússia passou a ser o

maior produtor de petróleo do mundo, extraindo uma média de 10 milhões de

barris/dia.

O crescimento da produção de petróleo do Brasil no período de 2000 a

2009 foi de 60 %, enquanto o crescimento da produção mundial no mesmo

período foi de 6,8 %. Neste período a produção dos EUA decresceu 6,9 %, do

Reino Unido decresceu 45,7 %, da Rússia cresceu 57,8 %, da Índia cresceu

3,8 % e da China cresceu 16,5 %. Cabe ressaltar que, no período citado, a

produção da Venezuela decresceu 24,7 %.

Em 2009, o consumo mundial de petróleo foi 0,5% inferior a 2008,

totalizando 83,6 milhões de barris/dia. Com relação ao volume e percentual do

consumo mundial, a região Ásia-Pacífico consumiu 26 milhões de barris/dia

(31,1%), com a China, apresentando um consumo de 8,6 milhões de barris/dia

(10,3 %), a América do Norte atingindo 22,8 milhões de barris/dia (27,3%),

sendo os Estados Unidos o maior consumidor mundial, com 18,7 milhões de

barris/dia (22,4 %), a Europa e ex-União Soviética com um consumo de 19,4

milhões de barris/dia (23,2%) e o Oriente Médio com 7,1 milhões de barris/dia

(8,5 %). As Américas Central e do Sul atingiram um consumo de 5,2 milhões

de barris/dia (6,2%).

Em 2009, o Brasil consumiu 1,9 milhões de barris/dia de petróleo – 2,3%

do total mundial e 0,1% a mais do que o consumido em 2008 – ocupando a 11ª

posição entre os consumidores de petróleo.

O crescimento do consumo de petróleo do Brasil no período de 2000 a

2009 foi de 6,6 %, enquanto o crescimento do consumo mundial no mesmo

período foi de 10,2 %, o consumo dos EUA decresceu 5,1 %, do Reino Unido

decresceu 5 %, da Rússia cresceu 4,3 %, da Índia cresceu 41,2 % e da China

cresceu 80,7 %.

60

Em 2009, a capacidade efetiva de refino instalada no mundo foi de 90,7

milhões de barris/dia, para uma produção mundial de petróleo de 79,9 milhões

de barris/dia. Os Estados Unidos mantiveram o primeiro lugar no ranking de

capacidade mundial de refino (19,5%), seguidos de China (9,5%), Rússia

(6,2%), Japão (5,1%) e Índia (3,9%). Juntos, estes cinco países responderam

por 44,3% da capacidade mundial de refino. O Brasil alcançou o 10º lugar no

ranking mundial de capacidade de refino, com 2,1 milhões de barris/dia (2,3%).

O crescimento da capacidade de refino de petróleo do Brasil no período

de 2000 a 2009 foi de 11,7 %, enquanto o crescimento da capacidade mundial

no mesmo período foi de 9,9 %, sendo significativo também o crescimento da

capacidade da Índia (61 %) e da China (59,7 %), enquanto que a do Reino

Unido e da Rússia decresceu levemente.

No que diz respeito aos preços do petróleo, entre 2002 e 2008, os

valores médios no mercado internacional seguiram uma tendência de alta:

25,8% de elevação média anual do petróleo Brent e 24,8% do West Texas

Intermediate (WTI). Os acréscimos acumulados foram de 296% e 278%,

respectivamente. No final de 2008, o óleo do tipo WTI foi cotado no mercado

spot a uma média anual de US$ 99,6/barril. Em relação ao petróleo do tipo

Brent, a cotação média registrada foi de US$ 99/barril. Esta tendência foi

revertida em 2009, quando o WTI e o Brent tiveram uma cotação média de

US$ 61,9/barril e US$ 61,7/barril.

Em 2009, houve um crescimento contínuo dos preços médios mensais

do barril ao longo do ano. Dessa forma, o petróleo do tipo Brent passou de

US$ 43,7 em janeiro para US$ 74,3 em dezembro. Já o petróleo do tipo WTI

passou de US$ 41,8 em janeiro para US$ 74,2 em dezembro.

Quanto ao Gás Natural, Em 2009, as reservas provadas mundiais

somaram 187,5 trilhões m³, registrando um crescimento de 1,2% em

comparação com 2008. As reservas localizadas nos países da Opep

concentram 48,7% do total, somando 91,2 trilhões m³, sendo que 40,6 % estão

no Oriente Médio. A Europa e ex-União Soviética detêm 33,6 % das reservas

mundiais, correspondendo a 63,09 trilhões de m³, com destaque para a

Rússia, com 44,38 trilhões de m³ (23,6 %).

61

Entre 2008 e 2009, o Brasil registrou crescimento de 0,6% das reservas

provadas de gás natural, chegando a 366 bilhões m³. O País está em 39º lugar

na lista dos detentores de reservas provadas de gás natural.

O crescimento das reservas provadas de gás natural do Brasil no

período de 2000 a 2009 foi de 68 %, enquanto o crescimento da capacidade

mundial no mesmo período foi de 21,5 %, sendo relevantes o crescimento da

capacidade dos EUA (38 %), da Índia (47 %) e, especialmente, da China (79,5

%), enquanto a capacidade do Reino Unido decresceu 75,8 %.

Em 2009, a produção mundial de gás natural alcançou 3 trilhões m³,

sendo que, quando comparado a 2008, o Oriente Médio exibiu a maior taxa de

crescimento regional (6,2%), atingindo o volume de 407,2 bilhões m³. Já

Europa e ex-União Soviética apresentaram o maior decréscimo em valores

absolutos, 113,4 bilhões m³, equivalente a uma queda de 10,4%, com esta

região ainda se mantendo como a maior produtora mundial, tendo atingido 973

bilhões m3 (32,5 %), com destaque para a Rússia, que atingiu 527,5 bilhões de

m3 (17,6 %). A América Central e do Sul apresentou decréscimo de 2,3 %, com

apenas 160,8 bilhões de m3 (5,3 % da produção mundial).

O Brasil, com uma produção de 21,1 bilhões m³, registrou uma queda de

2,1% comparativamente a 2008, ainda assim subindo para a 29ª posição entre

os maiores produtores mundiais de gás natural. Os Estados Unidos produziram

o maior volume de gás natural registrado em 2009 (19,8% do total), seguido da

Rússia (17,6%) e do Canadá (5,4%).

O crescimento da produção de gás natural do Brasil no período de 2000

a 2009 foi de 59 %, enquanto o crescimento da produção mundial no mesmo

período foi de 24 %, cabendo ressaltar a queda na produção do Reino Unido (-

45 %) e o crescimento da produção da Índia (+49 %) e da China (+214 %).

O consumo mundial de gás natural foi de 2,9 trilhões m³ em 2009, 2,3%

menor que em 2008. Os consumos das diferentes regiões do mundo, de

acordo com a ordem de importância, foram: Europa e ex-União Soviética (36%,

sendo que 13,3% correspondeu à Rússia, segundo maior consumidor

mundial); América do Norte (27,6% do total, sendo que 22% referem-se

somente aos Estados Unidos, maior consumidor mundial); Ásia-Pacífico

62

(16,9%); Oriente Médio (11,8% do total, com consumo 4,1% maior que em

2008, o maior crescimento relativo regional); Américas Central e do Sul (4,6%);

e África (3,2%).

O consumo de gás natural, assim como o consumo de petróleo, reflete

as características econômicas estruturais e conjunturais das diferentes regiões

do mundo, mas também é fortemente influenciado pela distribuição geográfica

das reservas, excetuando-se os EUA.

Em 2009, o Brasil teve consumo de gás natural de 20,3 bilhões m³,

0,7% do total mundial e 19,4% a menos do que o consumido pelo País em

2008. Em 2009, o País ocupou a 34ª posição entre os consumidores de gás

natural.

O crescimento do consumo de gás natural do Brasil no período de 2000

a 2009 foi de 116 %, enquanto o crescimento do consumo mundial no mesmo

período foi de 22 %, cabendo ressaltar o crescimento do consumo da Índia (96

%) e da China (262 %).

Uma vez conhecido o panorama mundial, serão apresentados em

seguida os indicadores do desempenho em 2009 da indústria brasileira de

petróleo e gás natural.

Uma das atribuições da ANP é promover licitações para concessão de

blocos de petróleo e gás natural, os quais, após a conclusão da fase de

exploração e a eventual declaração de comercialidade, passam para as etapas

de desenvolvimento e produção. Até 31/12/2009, 778 áreas estavam sob

concessão, sendo 404 blocos (52 %) ainda na fase de exploração, 61 campos

(8 %) em fase de desenvolvimento da produção e 313 campos (40 %) em fase

de produção.

Até a data supracitada, a ANP aceitou a devolução de 720 blocos

exploratórios – sendo 50 em 2009 – que não alcançaram as etapas de

desenvolvimento e produção, ou seja, onde não houve descobertas e/ou

acumulações comerciais.

Em decorrência das rodadas de licitação promovidas pela ANP entre

1999 e 2009, 68 concessionárias estavam realizando atividades exploratórias

nas bacias sedimentares brasileiras em 31/12/2009. Dos 404 blocos

63

exploratórios sob concessão em atividade, 113 estavam sendo explorados

somente pela Petrobras (28 %), 175 pelos demais concessionários (44 %) e

116 (29 %) por parcerias entre Petrobras e outras companhias. Ainda, destes

404 blocos, 199 (49 %) são no mar e 205 (51 %) são em terra.

Nos 61 campos em desenvolvimento, a Petrobras possuía, sozinha, a

concessão de 35 e participava de 26 parcerias com outras empresas do ramo.

Destes 61 campos, 35 (57 %) são no mar e 26 (43 %) são em terra.

Com relação aos 313 campos em fase de produção, a Petrobras não

participava de 35; outros 24 campos eram parcerias entre esta empresa e

outras concessionárias. Os 254 demais campos produtores (81 %) eram

concessões à Petrobras sem parcerias. Destes 313 campos, apenas 80 (26 %)

são no mar e 233 (74 %) são em terra.

Com relação às atividades exploratórias, em 2009, foram levantados

pouco mais de 36 mil km de sísmica 2D não-exclusiva – um acréscimo de

11,4% em comparação a 2008 – e 7,5 mil km de sísmica exclusiva – número

61,9% maior que em 2008.

Quanto à sísmica 3D, foram realizados 22,57 mil km2 de levantamento

não-exclusivo – 83,6% a mais que em 2008 – e 13,1 mil km² de levantamento

exclusivo – um aumento de 112,2%. Com relação aos métodos potenciais,

foram utilizados a gravimetria, método geofísico que envolve medidas do

campo gravitacional terrestre, buscando identificar distribuições de massas e

seus contrastes de densidade nos materiais em sub-superfície, e a

magnetometria, método que emprega campos eletromagnéticos, gerados por

correntes alternadas de origem artificial ou natural, criando um campo

magnético secundário que é analisado relativamente ao campo primário.

Em 2009 houve o levantamento de 232,5 mil km de gravimetria – quase

31 mil km do tipo exclusivo e 201,5 mil km do não-exclusivo – e 225,1 mil km

de magnetometria – 33,7 mil km do tipo exclusivo e 191,3 mil km do não-

exclusivo.

De um modo geral, é possível identificar em 2009, comparado com os

dados dos últimos oito anos, uma intensificação das atividades exploratórias.

64

Quanto à perfuração de poços, em 2009, foram perfurados 854, um

aumento de 3,4 % comparativamente a 2008, sendo 662 (77,5 %) em terra e

192 (22,5 %) no mar. Dos poços perfurados em terra, 575 (67,3 %) são do tipo

explotatório e 78 (9,1 %) são do tipo exploratório. No mar, foram perfurados 78

(9,1 %) do tipo explotatório e 61 (7,1 %) do tipo exploratório. O número de

descobertas foi de 37, 41,3% menor que em 2008, sendo 18 em terra e 19 no

mar. A taxa de sucesso exploratório, ou seja, o percentual de descobertas por

perfurações de poços pioneiros foi de 56,3 % para os poços em terra e 55,9 %

para os poços no mar.

As reservas totais de petróleo são a soma das reservas provadas,

prováveis e possíveis.

As reservas provadas são as reservas de petróleo e gás natural que,

com base na análise de dados geológicos e de engenharia, se estima

recuperar comercialmente de reservatórios descobertos e avaliados, com

elevado grau de certeza, e cuja estimativa considere as condições econômicas

vigentes, os métodos operacionais usualmente viáveis e os regulamentos

instituídos pelas legislações petrolífera e tributária brasileiras.

Reservas Prováveis são as reservas de petróleo e gás natural cuja

análise dos dados geológicos e de engenharia indica uma maior incerteza na

sua recuperação quando comparada com a estimativa de reservas provadas.

Reservas possíveis são as reservas de petróleo e gás natural cuja

análise dos dados geológicos e de engenharia indica uma maior incerteza na

sua recuperação quando comparada com a estimativa de reservas prováveis.

As reservas totais de petróleo do Brasil foram contabilizadas em 21,1

bilhões de barris no fim de 2009, refletindo uma taxa de crescimento anual de

5,6% nos últimos 10 anos e um crescimento de 63 %, comparado ao existente

em 2000. As reservas totais correspondem, em valores, a 1,3 trilhões de

dólares. É importante frisar que 93 % das reservas totais se encontra no mar,

algo equivalente a 1,21 trilhões de dólares.

Já as reservas provadas de petróleo aumentaram 0,4% e atingiram a

marca de 12,9 bilhões de barris, volume que representou 60,8% das reservas

totais. Das reservas provadas, 92,8% se localizam no mar (com destaque para

65

o Rio de Janeiro, que deteve 87% das reservas provadas offshore e 80,7% do

total), e 7,2% se situavam em terra. Neste caso, temos no mar, em reservas

provadas, o equivalente a 736,3 bilhões de dólares. O maior crescimento foi

registrado nas jazidas terrestres do Ceará, que aumentaram 46,8%, chegando

a 15,3 milhões de barris.

No tocante ao gás natural, as reservas provadas nacionais cresceram

0,6% e chegaram a 366,5 bilhões m³ em 2009, o que representou 61% dos

600,3 bilhões m³ de reservas totais, que tem valor equivalente a 157,5 bilhões

de dólares, com 80 % destes recursos localizados no mar. No período entre

2000 e 2009, as reservas provadas e as reservas totais apresentaram uma

taxa média de crescimento de 5,8% ao ano, sendo que, em relação ao

apurado em 2000, as reservas totais tiveram um crescimento de 66 %.

Similarmente ao petróleo, a maior parte (82,1%) das reservas provadas

de gás natural do Brasil se encontra em reservatórios marítimos, ou seja, o

equivalente a 78,9 bilhões de dólares. O Rio de Janeiro, estado com maior

participação nestas reservas (166,2 bilhões m³ em reservatórios offshore),

concentrou 45,3% do volume nacional, seguido do Amazonas, cujas jazidas

terrestres (52,4 bilhões m³) corresponderam a 14,3% das reservas provadas

nacionais.

Em 2009, 8.560 poços foram responsáveis pela produção nacional de

petróleo e gás natural. O número de poços terrestres é de 7.761 (90,7% do

total), enquanto o de poços marítimos é de 799 (9,3% do total). A produção

nacional diária de petróleo - incluindo óleo cru e condensado, mas excluindo

líquido de gás natural (LGN) e óleo de xisto - aumentou 7,3% e chegou a 711,9

milhões de barris em 2009, apresentando, nos últimos 10 anos, um

crescimento médio anual de 5,2%. A relação reserva/produção (R/P) de

petróleo passou de 18,8 anos em 2000 para 18,1 anos em 2009.

A maior parte da produção nacional de petróleo, sem contar o LGN, foi

extraída de campos marítimos, responsáveis por 90,8% do total produzido. O

Rio de Janeiro respondeu por 93,6% da produção marítima e por 85% da total,

concentrando 554 poços no mar (69,3 % do total de poços no mar). A Bahia

registrou o maior crescimento offshore em 2009 (19,2%), enquanto que, em

66

terra, o Rio Grande do Norte foi o estado que mais produziu (18,3 milhões de

barris ou 27,9% da produção terrestre nacional).

Em 2009, foram produzidas no Brasil 44 correntes de petróleo com

densidade média de 24,03 graus API e teor de enxofre de 0,55% em peso.

Com referência ao LGN, foram produzidos 28,7 milhões de barris, 9,2%

a menos que em 2008. Apesar de ter registrado queda, em 2009, o principal

produtor foi o Estado do Rio de Janeiro, com 15,5 milhões de barris, ou 53,9%

da produção nacional. A segunda posição foi ocupada pelo Amazonas, com

6,8 milhões de barris, ou 23,5% do total nacional.

No período entre 2000 e 2009, a produção nacional de gás natural

apresentou crescimento médio de 5,3% ao ano, atingindo 21,1 bilhões m³ em

2009. Este volume incluiu gás reinjetado, queimado, perdido e consumido nas

áreas de produção, refino, processamento e movimentação de gás natural,

bem como o volume condensado na forma de LGN. Os campos marítimos

foram responsáveis por 71,4% do gás natural produzido no País, com um

volume de 15,1 milhões m³. O Estado do Rio de Janeiro foi o maior produtor,

com 10,5 milhões m³, concentrando 49,7% do total nacional e 69,5% da

produção marítima. O segundo maior foi o Amazonas, responsável por 3,8

milhões m³, ou 17,9% da produção nacional e 62,5% do total onshore.

A relação reservas/produção (R/P) de gás natural subiu de 16,6 anos

em 2000 para 17,3 anos em 2009. Em média, este índice cresceu a uma taxa

de 0,5% ao ano no período.

Do volume total de gás natural produzido em 2009, 3,4 bilhões m³, ou

16,2% da produção total, foram queimados e perdidos, sendo 80,7 % no Rio

de Janeiro, correspondendo a 892 milhões de dólares. Ainda, 4,4 bilhões m³,

ou 20,6% do total, foram reinjetados, sendo 69,3 % deste volume no

Amazonas. O volume de queimas e perdas de gás natural registrou acréscimo

de 56,6% em 2009. De 2000 a 2009, foi constatado um acréscimo anual médio

de 4,2% nas queimas e perdas de gás natural. Nos campos com gás

associado ao petróleo, parte do gás natural produzido que não for reinjetado

no poço (com vistas a aumentar a recuperação do petróleo) nem tiver mercado

consumidor próximo acaba sendo queimado.

67

Em 2009, como resultado das atividades de produção de petróleo e de

gás natural, foram arrecadados aproximadamente R$ 8 bilhões em royalties.

Deste montante, 29,9 % destinaram-se aos estados produtores ou

confrontantes, 33,8 % aos municípios produtores ou confrontantes, 12,3 % ao

Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), 15,8 % ao Comando da Marinha

(desde 2000, o CM já deveria ter recebido 7,7 bilhões de reais), e 28,1 % ao

Fundo Especial dos Estados e Municípios. Ao Estado do Rio de Janeiro, maior

produtor nacional de petróleo e de gás natural, juntamente com seus

municípios, destinaram-se 44,9 % do total arrecadado no País a título de

royalties, cabendo à esfera estadual 21,4 % desse percentual.

Quanto à participação especial, seu recolhimento atingiu R$ 8,5 bilhões.

Deste valor, conforme definido pela Lei do Petróleo, couberam 40% (R$ 3,4

bilhões) aos estados produtores ou confrontantes, 10% (R$ 845,3 milhões) aos

municípios produtores ou confrontantes, 40% (R$ 3,4 bilhões) ao Ministério de

Minas e Energia (MME) e 10% (R$ 845,3 milhões) ao Ministério do Meio

Ambiente (MMA). Assim sendo, a União arrecadou 4,2 bilhões de reais com

ambos ministérios.

Para viabilizar a movimentação de petróleo, derivados e etanol no

território nacional, em 2009, o Brasil dispõe de 100 terminais autorizados,

sendo nove centros coletores de etanol, 62 terminais aquaviários e 29

terminais terrestres, totalizando 1.556 tanques. Os terminais aquaviários

concentram a maior parte da capacidade nominal de armazenamento (8,2

milhões m³ ou 69,5% do total) e o maior número de tanques autorizados (1.157

ou 74,4% do total). Em relação às Unidades da Federação, São Paulo é a que

apresenta a maior capacidade de armazenamento em terminais e o maior

número de tanques, com 4,8 milhões m³ (40,7% da capacidade nacional) em

628 tanques (40,4% dos tanques disponíveis no País).

Para complementar o suprimento nacional, o Brasil importou 143,5

milhões de barris de petróleo em 2009, com um dispêndio de 9,2 bilhões de

dólares, e exportou 191,9 milhões de barris em 2009, com uma receita de 9,4

bilhões de dólares. Em 2009, o Brasil teve um resultado superavitário no

comércio internacional de petróleo e derivados, revertendo o resultado do

68

último ano e reafirmando a auto-suficiência de abastecimento de petróleo e

derivados alcançada em 2006 e 2007. Assim, a dependência externa que, em

2000, era de 29,3 %, passou a ser -3,7 % em 2006 e em 2009, atingiu -6,2 %.

As importações brasileiras de gás totalizaram 8,5 bilhões m³, dos quais

8,1 bilhões m³ (94,9 %) se originaram da Bolívia. O dispêndio com a

importação de gás natural foi de 1,7 bilhões de dólares.

É de conhecimento público que a Petrobras fez uma recente

capitalização de 70 bilhões de dólares, elevando o seu valor de mercado para

220 bilhões de dólares. Esta capitalização tem como objetivo sustentar o plano

de investimentos da empresa, que contempla a aplicação de 224 bilhões de

dólares no período 2010-2014. De acordo com artigo da revista eletrônica

Portos e Navios (www.portosenavios.com.br), considerando-se um índice de

nacionalização de 55 %, 122 bilhões de dólares poderão ser investidos

diretamente no Brasil, acarretando na mobilização de uma ampla cadeia de

fornecimento de bens e serviços que deve movimentar cerca de 242 bilhões de

dólares. Ainda, segundo o artigo, o fato da economia brasileira já ser bastante

diversificada e a sociedade ser organizada o suficiente para exigir a apropriada

adequação da renda gerada pelo setor petrolífero, evitará que o país sucumba

a chamada “doença holandesa”, que faz com que, na maior parte das vezes, a

exploração destas riquezas naturais não se traduza em benefícios para o

conjunto da sociedade dos países detentores.

Neste capítulo que se encerra, constatamos que a mentalidade marítima

de um povo, ainda que imanente, revitaliza-se e reveste-se de importância

tanto mais quanto aumente a sua dependência dos recursos provenientes do

mar e, por conseqüência, da necessidade de estabelecimento de uma zona de

segurança, com limites bem definidos e uma capacidade de defesa compatível

com esta tarefa. Assim sendo, tendemos a negar importância ao mar quando

dele não dependemos, ou quando não compreendemos esta importância em

sua totalidade.

Vimos as dificuldades para obter-se uma definição de Mar Territorial

aceitável, identificando que, frequentemente, os Estados moldam as regras em

69

conformidade com os seus interesses, não hesitando em utilizar a força como

meio dissuasório. Tomamos conhecimento de todo o processo de evolução

das negociações entre as mais variadas nações no sentido de obter uma

formulação aceitável, redundando na CNUDM, que estabeleceu regras

bastante específicas para a definição das Águas Jurisdicionais, contemplando

todos os direitos, deveres e requisitos necessários ao bom uso do mar e de

seus recursos, visando ao desenvolvimento dos Estados sem abdicar da

preservação do meio-ambiente e do patrimônio da humanidade. Observamos

também que o governo brasileiro tomou ações no sentido de viabilizar a futura

exploração destes recursos, iniciando um imediato levantamento da PC e, no

prazo estabelecido, apresentou a sua proposta a CLPC da CNUDM, pleiteando

cerca de 4.490.000 km2 de AJB, área que a MB sabiamente cognominou

“Amazônia Azul”, associando-a ao grande patrimônio brasileiro, a nossa

Amazônia continental, tão rica quanto a azul em diversidade biológica e

riquezas minerais. Em vista da negativa relativa a uma área de 238.000 km2,

em que pese já haver o reconhecimento de 4.252.000 km2 pleiteados, o Brasil

editou uma resolução específica para fins de garantia do direito de avaliar e

decidir pela viabilidade de efetuação de pesquisas na área pleiteada em sua

totalidade, independentemente da decisão futura da CLPC.

Uma vez definidos os limites das AJB, discorremos sobre suas

riquezas e, dentre as mais importantes, elencamos: a biodiversidade marinha,

de valoração incalculável, relatando a sua importância e a pouca atenção que

este bioma tem recebido das autoridades, ainda que algumas iniciativas

tenham redundado na criação de Unidades de Conservação e Áreas Marinhas

Protegidas; a navegação de longo curso, por onde circulam 95 % das nossas

exportações e 88 % das importações, transportando produtos no valor de 220

bilhões de dólares/ano, e a navegação de cabotagem, pela qual foram

movimentados 170 milhões de toneladas de produtos, além da importância

estratégica face ao risco de colapso do país no caso de uma paralisação

destas atividades; a pesca, que apesar do potencial reduzido das AJB indicado

pelo REVIZEE, pode ter a sua produção enormemente incrementada pela

aquicultura, a exemplo do realizado na China, que responde por 63 % da

70

produção mundial, evitando que o Brasil apresente déficit na balança comercial

de pescado, como em 2009, de 520 milhões de dólares, com previsão de

déficit de 790 milhões de dólares em 2010, podendo levar o brasileiro ao

patamar de consumo médio mundial de 17 kg/pessoa, que para ser atingido

hoje, obrigar-nos-ia a importar ao custo de 5,98 bilhões de dólares; os nódulos

polimetálicos, cujas riquezas já vêm sendo mapeadas através do REMPLAC e

de iniciativas da CPRM, cuja exploração poderia aliviar o Brasil de grandes

despesas na importação destes minerais, como por exemplo, o fosfato, que

nos custa 1 bilhão de dólares ao ano, além do aspecto estratégico, haja vista a

possibilidade de empresas estrangeiras habilitarem-se a explorar estes

minerais em águas muito próximas as AJB, caso o Brasil não antecipe seu

pleito, cujo prazo extingue-se em 2011; e, finalmente, a exploração de petróleo

e gás natural, cujas atividades no mar concentram 90,8 % da produção de

petróleo e 71,4 % de gás natural, cerca de 93 % das reservas totais de

petróleo e 80 % de gás natural, um patrimônio de 1,46 trilhões de dólares,

sendo que ainda queimamos 3,4 bilhões de dólares, por falta de infra-estrutura

para aproveitá-lo, e importamos 1,7 bilhões de dólares para atender a

demanda. Caso as estimativas para o futuro se confirmem, as reservas totais

do Brasil podem atingir em 10 anos a marca de 50 bilhões de barris de

petróleo, no valor de 3,085 trilhões de dólares.

CAPÍTULO II

AÇÕES GOVERNAMENTAIS – A POLÍTICA NACIONAL

PARA OS RECURSOS DO MAR

No capítulo I, vimos a importância do mar para os Estados costeiros,

tomamos conhecimento de parte significativa das riquezas que ele contém, sua

relevância para o desenvolvimento do Brasil e das futuras gerações de

brasileiros, os aspectos geopolíticos, econômicos e estratégicos.

Neste capítulo, o objetivo é apresentar as ações governamentais que

envidaram esforços no sentido de regulamentar as nossas AJB, desenvolver a

71

exploração das suas riquezas de forma sustentável e com respeito ao meio-

ambiente, além de fiscalizar, controlar, vigiar e defender os nossos direitos,

sem descuidar dos nossos deveres. É nossa meta, particularmente, identificar

as tarefas atribuídas a MB e apresentar resumidamente as diversas atividades

desenvolvidas por esta instituição, principalmente as que entendemos serem

de grande importância para a viabilização das atividades de produção no mar.

2.1 – Constituição da CIRM e suas atribuições

Como visto no capítulo I, item “1.1.4”, antes mesmo de a CNUDM entrar

em vigor, o Brasil, através do Decreto Lei nº 1098 de 25 de março de 1970

estabeleceu o mar territorial de 200 milhas, sendo relevante citar que nosso

país havia iniciado em 1968 a prospecção de petróleo no mar em águas rasas,

na sua plataforma continental. Cerca de um ano após o início das discussões

na CNUDM, é criada a CIRM através do Decreto nº 74.557, de 12 de setembro

de 1974, alterado pelo Decreto nº 3.939, de 26 de setembro de 2001, com a

finalidade de coordenar os assuntos relativos à consecução da PNRM. Em

consequência do Decreto nº 86.830, de 12 de janeiro de 1982, a CIRM passou,

também, a gerenciar o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR).

No artigo 2º do Decreto nº 3.939, são elencadas as competências da

CIRM:

- Submeter ao Presidente da República as propostas para a consecução da

PNRM;

- Efetuar o planejamento das atividades ligadas aos recursos do mar, propondo

ao Presidente as prioridades para os programas e projetos do PNRM;

- Coordenar, em ligação com a Secretaria da Presidência, a elaboração de

plano e programas plurianuais e anuais, comuns e setoriais;

- Sugerir a destinação de recursos financeiros para incrementar o

desenvolvimento das atividades relativas aos recursos do mar, por meio de

dotações orçamentárias ou de outras fontes, internas ou externas;

- Acompanhar os resultados e propor alterações da PNRM;

72

- acompanhar os resultados e propor as alterações na execução do Programa

Antártico Brasileiro (PROANTAR); e

- Emitir pareceres e sugestões relativas aos assuntos e atividades relacionadas

com os recursos do mar, quando determinado pelo Presidente da República.

O artigo 3º define a composição dos membros da CIRM, determinando

que a coordenação seja do Comando da Marinha, designado como Autoridade

Marítima. Neste ponto, cabe ressaltar que, na ocasião da promulgação do

decreto 74.557, a MB tinha status de ministério, com acesso direto ao

Presidente da República, o que certamente facilitava o diálogo e, de certa

forma, apressava as soluções. “Com a criação do Ministério da Defesa em

1999, desapareceram os ministérios militares, dando lugar aos Comandos da

Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Sendo o Comandante da Marinha a

autoridade coordenadora da CIRM, houve necessidade de reformular a

comissão, baixando-se o nível de representação dos ministérios. A análise da

atuação desse órgão, antes e depois dessa mudança, indica que ele perdeu

muito da sua importância e de sua eficácia” (VIDIGAL...[et al], 2006).

Atualmente, a CIRM compõe-se de representantes de vários ministérios

(defesa; relações exteriores; transportes; agricultura, pecuária e

abastecimento; educação; saúde; desenvolvimento, indústria e comércio

exterior; minas e energia; planejamento, orçamento e gestão; ciência e

tecnologia; meio-ambiente; esporte; turismo; integração nacional; pesca e

aquicultura), casa civil e secretaria especial de portos da Presidência da

República, e do Comando da Marinha, sendo da competência do Ministro da

Defesa a designação dos membros da CIRM.

A Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

(SECIRM) foi criada pelo Decreto nº 84.324, de 19 de dezembro de 1979,

alterado pelo Decreto nº 93.910, de nove de janeiro de 1987, com o propósito

de assessorar o Comandante da Marinha e executar as atividades pertinentes

aos encargos técnicos e administrativos da referida Comissão. Para a

consecução de seu propósito, cabem à SECIRM as tarefas relativas às

atividades administrativas da CIRM e de suas Subcomissões, Comitês

Executivos, Grupos de Trabalho e demais organismos.

73

Com relação à disponibilidade de recursos para os programas, o artigo

6º do Decreto nº 3.939 esclarece que serão assegurados pelo Comando da

Marinha, mediante dotações orçamentárias alocadas para a Unidade

Orçamentária SECIRM.

2.2 – A Política Nacional para os Recursos do Mar

A PNRM é parte integrante da Política Marítima Nacional (PMN), assim

sendo, é necessário conhecer os fatores condicionantes e objetivos da PMN.

A PMN, aprovada inicialmente em 1984 e posteriormente atualizada

pelo Decreto nº 1.265 de 11/10/1994, tem por finalidade orientar o

desenvolvimento das atividades marítimas do País, de forma integrada e

harmônica, visando à utilização efetiva, racional e plena do mar e de nossas

hidrovias interiores, de acordo com os interesses nacionais.

A PMN tem como objetivo gerir as atividades nacionais no setor

marítimo, aproveitando-lhes os pontos comuns, identificando seus pontos de

estrangulamento, fortalecendo-lhes a base humana e econômica e garantindo-

lhes a segurança, dentro da grande moldura que é o meio ambiente marítimo.

A PMN visa, assim, à aplicação inteligente do Poder Marítimo e de seu

componente naval, em benefício dos interesses do País. Segundo a PMN,

entende-se como Poder Marítimo o componente do poder nacional de que a

nação dispõe para atingir seus propósitos ligados ao mar ou dele dependentes.

Esses meios são de natureza política, econômica, militar e social e incluem,

entre vários outros, a consciência marítima do povo e da classe política, a

Marinha Mercante e a Marinha de Guerra, a indústria de construção naval, os

portos e a estrutura do comercio marítimo. O Poder naval é o componente

militar do Poder Marítimo.

A PMN tem como fatores condicionantes: o conceito estratégico

nacional; as diretrizes de ação governamental; a política nacional de segurança

(defesa); as diretrizes gerais para mobilização; as políticas setoriais em seus

segmentos marítimos e os atos internacionais dos quais o Brasil é parte.

74

Os objetivos da PMN são: o desenvolvimento de uma mentalidade

marítima nacional; o racionamento e a economicidade das atividades

marítimas; a independência tecnológica nacional no campo das atividades

marítimas; a pesquisa, exploração e explotação racional dos recursos vivos

(em especial no tocante a produção de alimentos) e não vivos da coluna

d’água, do leito e subsolo do mar e de rios, lagoas e lagos navegáveis, onde se

exerçam atividades comerciais significativas para o Poder Marítimo; a

produção, no País, de navios, embarcações, equipamentos e material

especifico, relacionados com o desenvolvimento das atividades marítimas e

com a defesa dos interesses marítimos do País; o aprimoramento da infra-

estrutura portuária, aquaviária e de reparos navais do País; a otimização do

transporte aquaviário no comércio interno e externo; a proteção do meio

ambiente, nas áreas em que se desenvolvem atividades marítimas; a

formação, valorização e aproveitamento racional dos recursos humanos

necessários às atividades marítimas; a privatização de atividades marítimas,

sempre que a sua manutenção pelo Estado não constituir em imperativo

estratégico ou de Segurança Nacional; a obtenção de benefícios decorrentes

da participação em atos internacionais, no campo das atividades marítimas; a

segurança das atividades marítimas e salvaguarda dos interesses nacionais no

mar; a imagem favorável do País no exterior, em apoio à ação diplomática

brasileira; e, finalmente, a garantia da existência de um Poder Naval eficaz e

em dimensões compatíveis com os demais componentes do Poder Marítimo.

Visando o atendimento da PMN, a CIRM desenvolve programas e

projetos consoantes com a PNRM e com a Política Nacional para os Assuntos

Antárticos (POLANTAR).

A PNRM, elaborada pela CIRM, aprovada em 1980 e atualizada pelo

Decreto nº 5.377 de 23/02/2005, tem por finalidade orientar o desenvolvimento

das atividades que visem à efetiva utilização, exploração e aproveitamento dos

recursos vivos, minerais e energéticos, do MT, ZEE e PC, de acordo com os

interesses nacionais, de forma racional e sustentável, para o desenvolvimento

socioeconômico do País, gerando emprego e renda e contribuindo para a

inserção social.

75

A PNRM é consolidada por Planos e Programas plurianuais e anuais

decorrentes, elaborados pela CIRM, que se desdobram em projetos

específicos e constituem os documentos básicos de trabalho. Esses projetos

são aprovados pela CIRM e os recursos necessários são repassados, pelos

diversos órgãos, mediante convênio, para as Instituições executoras

(Universidades, Institutos de Pesquisa e organizações governamentais ligadas

aos recursos do mar), conforme o desenvolvimento das várias fases. Os

planos integrantes do PNRM são:

- Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM);

- Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC);

- Plano de Levantamento da Plataforma Continental (LEPLAC); e

- Programa de Mentalidade Marítima (PROMAR).

O PSRM, com vigência plurianual, é um desdobramento da PNRM e

consubstancia todas as atividades relacionadas aos recursos do mar.

Ao longo das seis versões anteriores do PSRM, o foco esteve centrado

na geração de conhecimento sobre o ambiente marinho e na formação de

recursos humanos, com o propósito de oferecer suporte para o uso sustentável

pelos diversos segmentos da sociedade brasileira. Apesar de a fase de

levantamento de informações não ter sido plenamente superada e que, ainda

persistam lacunas de conhecimento, faz-se necessário dar continuidade e

maior ênfase para a dimensão do uso sustentável e na vertente do

desenvolvimento científico-tecnológico. O VII PSRM, aprovado pelo Decreto nº

6.678 de 08/12/2008, com vigência de 2008 a 2011, enfatiza a dimensão

socioeconômica, o aproveitamento sustentável, a qualidade do ambiente

marinho, o reconhecimento do papel dos oceanos nas mudanças climáticas, a

necessidade de articulação do governo, da comunidade científica, da iniciativa

privada e da sociedade civil, para o aproveitamento sustentável dos recursos

do mar.

Resumidamente, os programas e projetos pertencentes ao PSRM,

conforme relatado pela CIRM (www.mar.mil.br/secirm) são os seguintes:

- REVIZEE: Este Programa, iniciado em 1995 e concluído em 2006, atendeu

ao compromisso assumido com a ratificação da CNUDM e teve como objetivo

76

principal proceder ao levantamento dos potenciais sustentáveis de captura dos

recursos vivos na ZEE, que se estendeu desde o limite exterior do MT até 200

milhas náuticas da costa, abrangendo uma extensão de cerca de 3,5 milhões

de km2. O Programa foi essencial para que o nosso País pudesse garantir os

seus direitos de soberania para fins de exploração, aproveitamento,

conservação e gestão dos recursos vivos da nossa ZEE, dentro da ótica de

uso sustentável dos recursos do mar. As principais informações obtidas foram:

a determinação das distribuições, sazonalidade, abundâncias e potenciais

sustentáveis de recursos vivos na ZEE, utilizando técnicas de prospecção

pesqueira e avaliação de estoques; a obtenção de um quadro referencial

climatológico e de uma visão oceanográfica de caráter abrangente, para as

áreas física, química, geológica e biológica, que subsidiem a compreensão da

dinâmica dos recursos vivos na ZEE; e a análise dos potenciais sustentáveis e

suas perspectivas de exploração, a partir da integração das informações de

abundância e características ambientais.

O programa esteve a cargo de um Comitê Executivo, cuja coordenação

geral foi exercida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com a participação

da MB, entre outros, e coordenação operacional do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

- REVIMAR: O Programa de Avaliação do Potencial Sustentável e

Monitoramento dos Recursos do Mar é uma ação que foi prevista no VI PSRM,

instituído pelo Decreto nº 5.382 de 3 de março de 2005. O REVIMAR tem

como objetivo, em prosseguimento ao REVIZEE, avaliar o potencial

sustentável e monitorar de forma sistemática e permanente os estoques

presentes nas áreas marítimas sob jurisdição nacional, com vistas a subsidiar

políticas pesqueiras que garantam a sustentabilidade e a rentabilidade da

atividade, garantindo a obtenção, a sistematização e a divulgação das

informações necessárias para o processo de co-gestão das pescarias

nacionais, minimização dos danos ambientais e para o cumprimento dos

compromissos frente à comunidade internacional.

Estima-se que nas áreas marítimas sob jurisdição do Brasil, do ponto de

vista econômico e social, a atividade da pesca e derivados gera 800 mil

77

empregos que, direta e indiretamente, servem de sustento para 4 milhões de

pessoas, sem falar no crescente desenvolvimento da aquicultura.

O REVIMAR é coordenado pelo IBAMA e é composto por

representantes de vários ministérios e várias instituições e empresas, sendo a

MB representada pelo Estado Maior da Armada (EMA), pela SECIRM e pelo

Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM).

- PROARQUIPÉLAGO: O Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo

tem como objetivo desenvolver pesquisas científicas no Arquipélago de São

Pedro e São Paulo, abrangendo as áreas de geologia, geofísica, biologia,

recursos pesqueiros, oceanografia, meteorologia e sismologia. A coordenação

é da SECIRM, com a participação de vários ministérios e universidades

brasileiras, e da MB através do EMA, Comando do 3º Distrito Naval e da Base

Naval de Natal.

Foi construída uma Estação Científica no local, ocupada por três ou

quatro pesquisadores civis que são substituídos a cada quinze dias. A

substituição é realizada por embarcações fretadas pela SECIRM, que

permanecem nas imediações do Arquipélago em tempo integral, prontas para

atuar em situações anormais ou de emergência.

O desafio do PROARQUIPELAGO é continuar mantendo as ilhas

efetivamente guarnecidas, o que gera inúmeros benefícios para o país, como

por exemplo, a incorporação da ZEE de 200 milhas ao redor do Arquipélago e

a realização de pesquisas de alto nível em diversos ramos da ciência.

- AQUIPESCA: O Programa de Aquicultura e Pesca tem o propósito de trazer

para o fórum da CIRM os programas selecionados do MPA, dentro das

diversas atividades do Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável de

Aquicultura e da Pesca, que necessitem de cooperação interministerial para

sua execução, contribuindo, dessa forma, para a execução das ações

prioritárias do PSRM, tais como a maricultura sustentável, a capacitação

tecnológica e profissional na atividade pesqueira e o desenvolvimento e

difusão de novas tecnologias de pesca e do pescado. A coordenação é do

MPA, com a participação de vários ministérios, sendo a MB representada

principalmente pelo EMA e a SECIRM.

78

Espera-se que a execução dessas ações contribua para a promoção do

aprimoramento e formulação de políticas e estratégias governamentais para o

desenvolvimento dos setores de aqüicultura e pesca, com reflexos positivos

para a inclusão social e econômica, para o aumento do consumo interno per

capita de pescados, para a redução de desperdícios, para a geração de

trabalho, renda e divisas para o país, e para a ocupação de modo racional e

sustentável das águas do MT, da ZEE e do Alto Mar.

Os principais programas em andamento são o Programa Nacional de

Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite, o Programa Nacional

de Observadores de Bordo da Frota Pesqueira, os programas de formação,

capacitação e qualificação de pescadores artesanais e trabalhadores da

pesca, as Unidades de Gestão de Atuns e Afins e Demersais de Profundidade,

e diversas ações de pesquisa pesqueira.

- PROTRINDADE: O Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade

tem o propósito de promover, gerenciar e divulgar os resultados das pesquisas

científicas nas Ilhas da Trindade, Arquipélago de Martim Vaz e na área

marítima adjacente. O Arquipélago de Martin Vaz e a Ilha da Trindade são a

nossa fronteira leste, o ponto extremo a oriente do território do Brasil. A MB

ocupa a Ilha da Trindade, de forma contínua, desde 1958. Por sua localização,

em latitude próxima às principais bacias petrolíferas e à região de maior

desenvolvimento econômico e concentração populacional do País, a Ilha é

uma sentinela estratégica para o Brasil. Sua posição geográfica propicia não

só a obtenção de dados para previsão meteorológica, mas desperta também o

interesse da comunidade científica para o conhecimento dessa região tão

peculiar, com suas espécies endêmicas, que muito podem nos ensinar sobre

preservação. Cabe ainda ressaltar que a Ilha da Trindade permitiu ao Brasil

ampliar as suas AJB em conformidade com a CNUDM (ver item “1.1.4” do

capítulo I, página 36).

Este programa é coordenado pela SECIRM, com a participação de

vários ministérios e instituições, sendo a MB representada principalmente pelo

EMA, Comando do 1º Distrito Naval e a DHN.

79

- GOOS/Brasil: O Sistema Global de Observação dos Oceanos, criado pela

Comissão Oceanográfica Intergovernamental, em cooperação com a

Organização Meteorológica Mundial e com o Programa das Nações Unidas

para o Meio Ambiente, tendo em vista os dispositivos da CNUDM e da Agenda

21, tem como propósito implementar, ampliar e consolidar um sistema

operacional de informações oceanográficas, climatológicas e meteorológicas,

composto de redes de observação, com o objetivo de produzir conhecimento e

gerar produtos que possam subsidiar as previsões oceanográficas e

meteorológicas na área marítima de interesse nacional, e que auxiliem nos

processos decisórios sobre a utilização eficaz dos recursos marinhos, bem

como na previsão e mitigação dos efeitos de fenômenos naturais extremos que

possam afetar a população e a economia da região costeira do Brasil.

Os seguintes projetos estão inseridos no escopo do GOOS/Brasil: Pilot

Research Moored Array in the Tropical Atlantic (PIRATA); Programa Nacional

de Bóias (PNBÓIA); Sistema de Observação do Nível do Mar (GLOSS/Brasil);

Projeto de caracterização da estrutura térmica a partir de linhas de alta

densidade de XBT– MOVAR; e Rede de Monitoramento de Ondas em Águas

Rasas.

O PIRATA, através de 14 bóias fixas fundeadas na zona equatorial,

possui o objetivo de avaliar o ciclo sazonal de larga escala no Oceano Atlântico

Tropical, modificado pelo acoplamento oceano-atmosfera, como o “El Niño”,

cujos impactos econômicos e sociais são expressivos para os Estados

Costeiros.

O PNBÓIA foi criado com o objetivo de fornecer dados de meteorologia

marinha e de superfície dos oceanos para previsão de tempo e de clima,

utilizando dados coletados a partir de uma rede de bóias de deriva e bóias

fixas. Os dados coletados por este programa são operacionalizados e

disponibilizados à comunidade usuária, aos cientistas, aos órgãos

governamentais, aos institutos de pesquisas, por meio de redes internacionais,

via satélite, pelo Sistema Global de Telecomunicações.

O projeto GLOSS-Brasil compreende as atividades relacionadas ao

monitoramento do nível do mar nas AJB. Esta Ação está sendo Coordenada

80

pelo Centro de Hidrografia da Marinha com a participação de instituições

públicas e empresas privadas.

O projeto de caracterização da estrutura térmica a partir de linhas de

alta densidade de XBT–MOVAR prevê o monitoramento da estrutura térmica

entre o Rio de Janeiro e a Ilha de Trindade, uma vez que, sendo a Corrente do

Brasil parte importante da circulação anticiclônica do Atlântico Sul, seu

monitoramento é extremamente relevante, pois contribui na elucidação das

variações de intensidade do próprio giro subtropical, bem como das suas

implicações climáticas.

Finalmente, a Rede de Monitoramento de Ondas em Águas Rasas, que

deverá proporcionar melhoria na previsão meteorológica realizada pela DHN e

a disponibilização dos dados para diversos projetos científicos ligados ao

estudo das mudanças climatológicas mundiais e estudos levados a cabo pelo

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O Coordenador do GOOS/Brasil é a MB, por intermédio da DHN, com

participação da SECIRM, vários ministérios e a comunidade científica

relacionada aos módulos do GOOS.

- REMPLAC: O Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da

Plataforma Continental foi criado pela CIRM, por meio da Resolução nº 04 de

03/12/1997. Este programa tem como propósito avaliar a potencialidade

mineral da Plataforma Continental Brasileira e são seus objetivos específicos

caracterizar o meio físico da plataforma continental, avaliar os recursos

minerais, identificar e detalhar áreas de relevante potencialidade mineral,

levantar informações geológicas de base para o manejo e a gestão integrada

da plataforma e da zona costeira associada; implementar um banco de dados

para utilização pela comunidade científica, órgãos governamentais e empresas

brasileiras, consubstanciando as informações sobre os recursos minerais da

PC, propor metodologia e normas para a execução de levantamentos

sistemáticos e temáticos e induzir atividades de pesquisa que contemplem o

desenvolvimento tecnológico e a inovação aplicadas à exploração desses

recursos minerais. A importância destes minerais para o Brasil já foi explicitada

no capítulo I, item “1.2.4”, página 48 deste trabalho.

81

O planejamento e a gerência operacional são realizados pelo Serviço

Geológico do Brasil, com supervisão da CIRM, e a participação de vários

ministérios e departamentos governamentais, sendo que pela MB participam o

EMA e a DHN.

- PROAREA: o Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais

da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial tem como propósito

identificar e avaliar a potencialidade mineral de áreas com importância

econômica e político-estratégicas para o Brasil, localizadas além do limite das

AJB. Seus objetivos são a ampliação da presença brasileira no Atlântico Sul e

Equatorial, a coleta de dados para subsidiar futuras requisições brasileiras de

áreas de prospecção e exploração mineral junto à AIFM, a obtenção de

informações técnicas, econômicas e ambientais necessárias para que

empresas e órgãos governamentais possam desenvolver atividades de

exploração mineral e gestão ambiental na área internacional do Atlântico Sul e

Equatorial, e o preparo e a qualificação de recursos humanos nos diversos

níveis de formação necessários à implementação de atividades na “Área”.

O PROAREA se constitui, na prática, em uma extensão do REMPLAC.

A implementação deste programa em áreas distantes do litoral e a grandes

profundidades, demandará navios, equipamentos e pessoal qualificado para a

realização de atividades de pesquisa em profundidades que podem atingir

6.000 metros. Considerando a relevância do tema, o Comandante da Marinha

determinou que fosse priorizada a realização de comissões para a Elevação do

Rio Grande, a fim de efetuar levantamentos com vistas a subsidiar uma futura

requisição brasileira de área de exploração junto à AIFM, atendendo aos

anseios do Ministério da Defesa, conforma já explanado no capítulo I, item

“1.2.4”, página 53. Assim, o Navio Hidrográfico Sirius (H21) iniciou, em 03 de

novembro de 2009, uma viagem de reconhecimento geológico para o

levantamento da potencialidade mineral dos depósitos de crosta cobaltífera

desta área. A pesquisa vai empregar, pela primeira vez, o ecobatímetro

multifeixe EM302, um equipamento para mapear o fundo do mar em três

dimensões. Além de dimensionar as reservas de um valioso recurso mineral

numa região próxima às nossas Águas Jurisdicionais, a viagem do NHi Sirius

82

servirá também para reforçar a presença brasileira no Atlântico Sul e

Equatorial.

A coordenação é do Ministério das Relações Exteriores, sob supervisão

da CIRM, com a participação de vários ministérios e departamentos

governamentais, a Petrobras, a comunidade científica e a MB.

- BIOMAR: O Programa de Biotecnologia dos Organismos Marinhos tem como

propósito fomentar o aproveitamento sustentável do potencial biotecnológico

dos organismos marinhos existentes nas zonas costeiras e de transição e nas

áreas marítimas sob jurisdição e de interesse nacional, com foco no

desenvolvimento de conhecimentos, absorção de tecnologias e promoção da

inovação, nas áreas de saúde humana, ambiental, agropecuária e industrial.

O programa é coordenado pelo Ministério das Ciências e Tecnologia,

com a participação de vários ministérios e institutos governamentais, e a MB,

por intermédio da SECIRM e EMA.

- PNGC: O Plano Nacional para Gerenciamento Costeiro, instituído pela Lei nº

7.661 de 16/05/88 como parte integrante da PNRM e da PNMA, tem como

principais objetivos: a promoção do ordenamento do uso dos recursos naturais

e da ocupação dos espaços costeiros, subsidiando e otimizando a aplicação

dos instrumentos de controle e de gestão pró-ativa da Zona Costeira; o

estabelecimento do processo de gestão, de forma integrada, descentralizada e

participativa, das atividades sócio-econômicas na Zona Costeira, de modo a

contribuir para elevar a qualidade de vida de sua população, e a proteção de

seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural; o desenvolvimento

sistemático do diagnóstico da qualidade ambiental da Zona Costeira,

identificando suas potencialidades, vulnerabilidades e tendências

predominantes, como elemento essencial para o processo de gestão; a

incorporação da dimensão ambiental nas políticas setoriais voltadas à gestão

integrada dos ambientes costeiros e marinhos, compatibilizando-as com o

PNGC; o efetivo controle sobre os agentes causadores de poluição ou

degradação ambiental sob todas as suas formas, que ameacem a qualidade

83

de vida na Zona Costeira; e a produção e difusão do conhecimento necessário

ao desenvolvimento e aprimoramento das ações de Gerenciamento Costeiro.

Alguns projetos e estudos em andamento são a Agenda Ambiental

Portuária, o Plano de Contingência a derramamento de Óleo nas AJB, o

Projeto Orla, a cooperação Brasil-Espanha sobre a modelagem costeira e o

Plano de ação Federal da Zona Costeira.

O PNGC é supervisionado pela SECIRM, com a participação de vários

ministérios, institutos e secretarias governamentais, ONGs, Petrobras e a MB,

com o EMA.

- LEPLAC: O Levantamento da Plataforma Continental Brasileira é o programa

de Governo pertencente ao PNRM, instituído pelo Decreto nº 98.145 de

15/09/1989, com o propósito de estabelecer o limite exterior da nossa

Plataforma Continental no seu enfoque jurídico, ou seja, determinar a área

marítima, além das 200 milhas, na qual o Brasil exercerá direitos de soberania

para a exploração e o aproveitamento dos recursos naturais do leito e subsolo

marinho.

Sob a coordenação da CIRM, essas atividades foram desenvolvidas

conjuntamente pela DHN, Petrobras e a Comunidade Científica Brasileira.

Durante toda a fase de aquisição de dados, que terminou em novembro

de 1996, da qual participaram 4 navios da Marinha do Brasil, foram coletados

cerca de 230.000 km de perfis sísmicos, batimétricos, magnetométricos e

gravimétricos ao longo de toda a extensão da margem continental brasileira.

Este programa auxiliou o Brasil no seu pleito junto a CNUDM, conforme

já comentado no capítulo I, item “1.1.4”, página 35 deste trabalho.

- PROMAR: O Programa de Mentalidade Marítima pertence ao PNRM e tem

como objetivo estimular, por meio de ações planejadas, objetivas e

continuadas, o desenvolvimento de uma mentalidade marítima na população

brasileira, consentânea com os interesses nacionais, e voltada para um maior

conhecimento do mar e seus recursos, sua importância para o Brasil, a

responsabilidade de sua exploração racional e sustentável e da consciência da

84

necessidade de preservá-lo. Conceitua-se Mentalidade Marítima como a

convicção ou crença, individual ou coletiva, da importância do mar para a

nação brasileira e o desenvolvimento de hábitos, atitudes, comportamentos ou

vontade de agir, no sentido de utilizar, de forma sustentável, as

potencialidades do mar.

Este programa é coordenado pela SECIRM, e tem a participação de

vários ministérios e organizações da MB, entre elas o EMA, a DPC e a

Secretaria de Comunicação Social da Marinha (CCSM).

- PPG-MAR: O Programa de Consolidação e Ampliação dos Grupos de

Pesquisa e Pós-graduação em Ciências do Mar tem como objetivo apoiar,

consolidar e avaliar a formação de pessoal em Ciências do Mar, por meio de

cursos de Graduação e Pós-Graduação, criando uma base para o

desenvolvimento destas ciências no País.

Além de criar um site para servir de Portal das Ciências do Mar no

Brasil, possui grupos de trabalho para fazer um diagnóstico da experiência de

embarque das instituições de ensino superior em ciências do mar, elaborar um

programa específico de apoio a periódicos sobre o tema, elaborar um livro

texto para utilização nos cursos de graduação e pós-graduação da área, entre

outros.

O programa é coordenado pelo Ministério da Educação, com a

participação de vários ministérios e instituições governamentais, e da MB,

através do EMA e da SECIRM.

O programa integrante da POLANTAR é o Programa Antártico Brasileiro

(PROANTAR), cujos projetos foram atribuídos a CIRM pelo Decreto nº 86.830

de 12/01/1982.

- PROANTAR: O Programa Antártico Brasileiro, iniciado há 28 anos,

desenvolveu um substancial programa de pesquisas científicas.

Em 06 de fevereiro de 1984, foi instalada a Estação Antártica

"Comandante Ferraz" (EACF), na Península Keller, Baía do Almirantado, Ilha

Rei George, Ilhas Shetlands do Sul. A EACF foi ampliada, passando para 33

módulos no ano seguinte. O evento de maior importância veio a ocorrer em

85

1986, na Operação Antártica IV, com o início da ocupação permanente da

Estação durante os 365 dias do ano, representando o ápice de um esforço

contínuo e progressivo, desenvolvido desde o início das atividades.

Hoje, a EACF conta com 63 módulos, podendo acomodar um Grupo de

Apoio de 10 militares da Marinha do Brasil, que lá permanecem por um período

ininterrupto de 12 meses, além de 24 pesquisadores no verão e 6

pesquisadores no inverno. O apoio é feito por mar, através de navios polares e

helicópteros da MB e aviões da Força Aérea Brasileira, sendo que a

manutenção, modernização e ampliação das instalações são feitas pelo

Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ).

O PROANTAR, respeitado pela comunidade antártica, garantirá a

participação brasileira no processo decisório relativo ao futuro do Continente

Antártico, essa imensa região gelada com 14 milhões de km2, situada a 550

milhas marítimas do sul da América do Sul e que tem enorme influência sobre

o nosso clima e sobre o regime dos mares brasileiros.

2.3 – GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS DO MAR –

LEGISLAÇÃO

Neste tópico, pretendemos abordar os objetivos e competências

previstos nas principais leis brasileiras que regulamentam as questões

referentes ao uso do mar, a exploração e explotação de recursos marinhos, a

fiscalização e o controle do meio ambiente marinho e a defesa da nossa

soberania, interessando-nos particularmente as atribuições e tarefas

delegadas a MB, de forma a, posteriormente, fazermos uma análise da

disponibilidade de meios que permitam a essa força a eficiente consecução

das atividades decorrentes destas atribuições.

Inicialmente, a atividade primeira de uma força armada é a defesa da

soberania do país, sendo este o fundamento primordial para a garantia dos

demais fundamentos previstos no artigo 1º da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 (CRFB). Este aspecto é abordado mais

86

enfaticamente no artigo 21 da CRFB, item III, onde se afirma que compete a

União assegurar a defesa nacional. Para a garantia da defesa nacional, a

CRFB, em seu capítulo III, artigo 142, afirma que “as Forças Armadas,

constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições

nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na

disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-

se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa

de qualquer destes, da lei e da ordem”.

Segundo Albuquerque (2006), com base no artigo supracitado, a

destinação das forças armadas possui duas componentes: “a primeira, refere-

se à defesa da pátria, defesa externa, relacionada à soberania, à

independência e ao patrimônio nacionais; a segunda, refere-se à atuação

interna no País, relacionada à garantia dos poderes constitucionais e à

garantia da lei e da ordem.

A defesa da pátria é a componente principal e essencial da destinação

constitucional das Forças Armadas brasileiras, sendo a atividade-fim para a

Marinha do Brasil. Em decorrência, a missão da Força é “Preparar e aplicar o

Poder Naval, a fim de contribuir para a defesa da Pátria”. Lei Complementar

definiu que a atuação na área interna somente se dará após esgotados os

instrumentos da Segurança Pública e quando expressamente decidido pelo

Presidente da República. Portanto, esse emprego será episódico, temporário e

de curta duração” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 204).

Dentre os bens da União, patrimônios nacionais previstos no capítulo II,

artigo 20 da CRFB, constam: os lagos, rios e quaisquer correntes de água em

terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites

com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham,

bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; as ilhas fluviais e

lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas

oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de

Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade

ambiental federal, e as consideradas do Estado; os recursos naturais da

plataforma continental e da zona econômica exclusiva; o mar territorial; e os

87

terrenos de marinha e seus acrescidos, cabendo ressaltar aqui a importância

da região próxima ao litoral, conforme constante no parágrafo 2º: “a faixa de

até cento e cinqüenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres,

designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do

território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei”.

Assim, cabe a Marinha do Brasil atuar, conjuntamente com as demais

forças armadas, no sentido de preservar os preceitos constitucionais, sendo os

assuntos afetos ao mar de responsabilidade direta da MB, incluídos as águas

interiores e a Amazônia Azul.

A CRFB também foi a primeira Constituição a dedicar um capítulo inteiro

à tutela do meio ambiente (capítulo VI), podendo ser denominada “verde”, tal o

destaque dado a este assunto. Pode ser considerada a Constituição mais

abrangente e atual do mundo sobre a tutela do meio ambiente. No capítulo VI,

artigo 225, consta que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá- lo para as presentes e futuras gerações”. No parágrafo 4º, consta

que “A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o

Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua

utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a

preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”.

De acordo com a Lei Complementar nº 97 de 09/06/1999, artigo 16,

“Cabe às Forças Armadas, como atribuição subsidiária geral, cooperar com o

desenvolvimento nacional e a defesa civil, na forma determinada pelo

Presidente da República. Para os efeitos deste artigo, integra as referidas

ações de caráter geral a participação em campanhas institucionais de utilidade

pública ou de interesse social, conforme disposto na Lei Complementar nº 117,

de 02/09/2004.

Ainda, no artigo 16-A, complementa: “Cabe às Forças Armadas, além de

outras ações pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas

as competências exclusivas das polícias judiciárias, atuar, por meio de ações

preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas

88

interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de

qualquer gravame que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e

ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder

Executivo, executando, dentre outras, as ações de:

I - patrulhamento;

II - revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves;

e

III - prisões em flagrante delito.

As Forças Armadas, ao zelar pela segurança pessoal das autoridades

nacionais e estrangeiras em missões oficiais, isoladamente ou em

coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, poderão exercer as

ações previstas nos incisos II e III deste artigo”.

E, no artigo 17, finaliza citando diretamente a MB: “Cabe à Marinha, como

atribuições subsidiárias particulares:

I - orientar e controlar a Marinha Mercante e suas atividades correlatas, no que

interessa à defesa nacional;

II - prover a segurança da navegação aquaviária;

III - contribuir para a formulação e condução de políticas nacionais que digam

respeito ao mar;

IV - implementar e fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos, no mar e

nas águas interiores, em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo,

federal ou estadual, quando se fizer necessária, em razão de competências

específicas.

V – cooperar com os órgãos federais, quando se fizer necessário, na

repressão aos delitos de repercussão nacional ou internacional, quanto ao uso

do mar, águas interiores e de áreas portuárias, na forma de apoio logístico, de

inteligência, de comunicações e de instrução. (Incluído pela Lei Complementar

nº 117, de 2004)

Pela especificidade dessas atribuições, é da competência do Comandante

da Marinha o trato dos assuntos dispostos neste artigo, ficando designado

como "Autoridade Marítima", para esse fim”.

89

Assim sendo, de acordo com Albuquerque (2006), mesmo em período

de paz, a tarefa da Marinha do Brasil é de grande relevância, decorrendo das

citadas atribuições subsidiárias as seguintes atividades principais:

- Patrulhar cerca de 40 mil km de rios navegáveis, de nove diferentes bacias

hidrográficas, que, por não estarem interligadas, exigem inúmeros navios e

embarcações de diversos tipos;

- Fiscalizar e inspecionar os navios que chegam aos nossos 36 portos e 83

terminais hidroviários e marítimos, e os que deles saem;

- Proteger cerca de 100 plataformas de exploração de petróleo situadas na

Amazônia Azul, particularmente na Bacia de Campos, de onde se extrai 91 %

do petróleo produzido no Brasil;

- Prover o socorro de emergência às pessoas acidentadas no mar e nos rios,

operando o Serviço de Busca e Salvamento (Salvamar) – atividade conhecida

mundialmente pela sigla SAR (Search and Rescue);

- Acompanhar cerca de 750 navios, sendo 70 de bandeira brasileira, que

trafegam diariamente de/para portos nacionais em uma extensa área no

Atlântico Sul (área SAR de responsabilidade do Brasil), caracterizando a

atividade denominada internacionalmente como Controle Naval do Tráfego

Marítimo;

- Autorizar a atividade de pesquisa e de exploração de recursos naturais por

navios e embarcações estrangeiras na Amazônia Azul;

- Executar ações preventivas e repressivas nos navios brasileiros ou

estrangeiros, quando navegando na área SAR do Brasil e submetidos a

ataques terroristas, após decisão de autoridade competente;

- Fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos, na Amazônia Azul,

exercendo a função de Autoridade Marítima;

- Executar a inspeção naval e a vistoria da qualificação do pessoal de bordo, a

fim de verificar o cumprimento de todos os requisitos de segurança da

navegação aquaviária;

- Cooperar com os órgãos de segurança pública, na repressão aos crimes de

repercussão nacional ou internacional, quando ocorridos no mar e nas águas

interiores;

90

- Contribuir para a formulação e a condução de políticas nacionais que digam

respeito ao mar, particularmente, nas áreas de pesca, pesquisa científica no

mar, mentalidade marítima e modernização dos portos.

- Efetuar levantamentos hidrográficos, sinalização, balizamento e manutenção

dos faróis no litoral e no mar brasileiros;

- Prover a prevenção e a fiscalização ambiental de poluições causadas por

embarcações ou plataformas petrolíferas no mar brasileiro;

- Qualificar os profissionais aquaviários, levando Ensino Profissional Marítimo

para aqueles que guarnecerão as embarcações e os navios em todo o mar

brasileiro e nas comunidades ribeirinhas situadas nas nove bacias

hidrográficas;

- Regulamentar o serviço de praticagem e estabelecer as zonas em que a

utilização desse serviço seja obrigatória; conduzir o Programa Antártico

Brasileiro, mantendo a Estação Antártica Comandante Ferraz;

- Cooperar com o desenvolvimento nacional, por meio de projetos elaborados

pelas organizações de pesquisa científica e de desenvolvimento tecnológico;

- Cooperar com o Sistema Nacional de Defesa Civil, por meio de ações

preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas, destinadas a evitar ou

atenuar os efeitos causados por catástrofes naturais;

- Prover assistência médica e odontológica às populações ribeirinhas na Bacia

Amazônica e do Rio Paraguai, que não têm acesso a esses serviços de outra

forma;

- Executar Assistência Cívico-Sociais nas comunidades carentes,

particularmente nas áreas ribeirinhas da Bacia Amazônica e do Rio Paraguai;

- Participar de campanhas institucionais de utilidade pública ou de interesse

social, determinadas pelo governo federal.

A maior parte das atividades supracitadas encontra respaldo legal no

Decreto nº 1.285 de 11/10/1994, que aprova a PMN, e no Decreto nº 6.703 de

18/12/2008, que aprova a Estratégia Nacional de Defesa. Adicionalmente,

vários dispositivos legais prevêem a atuação da MB, por intermédio de alguma

das suas Organizações Militares, tais como a possibilidade de prestar apoio ao

IBAMA, mediante convênio, nas ações de fiscalização relativas à PNMA (lei nº

91

6.938 de 31/08/1981), as Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental

(lei nº 99.724 de 06/06/1990), apoio a ANP, nas ações de fiscalização nas AJB

(lei nº 9.478 de 06/08/1999), pela atuação direta da DPC na fiscalização e

aplicação de sanções para as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente

(lei nº 9.605 de 12/02/1998 e lei nº 6.514 de 22/07/2008), no cumprimento da

Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário (LESTA) nº 9.537 de 11/12/1997, na

prevenção, controle e fiscalização da poluição causada pelo lançamento de

óleo e outras substâncias nocivas nas AJB (lei nº 9.966 de 28/04/2000), entre

outras.

O papel da MB na questão da prevenção da poluição ambiental nas AJB

é extremamente relevante, tendo em vista possuir a vocação e uma maior

disponibilidade dos meios para efetuar esta tarefa, ainda que, em primeira

análise, mostrem-se insuficientes devido à imensidão desta área. Segundo

Vidigal (2006), em contraponto a visão tradicional prevalecente em muitos

setores produtivos, que prega que as medidas de controle ambiental são

barreiras ao desenvolvimento industrial, há uma abordagem revisionista, a qual

“...considera que a imposição de padrões ambientais estimula a busca de

inovações tecnológicas para melhorar a utilização dos insumos (matérias-

primas, energia e trabalho). Isso reduziria os custos e compensaria os

investimentos na adequação ambiental, melhorando a competitividade das

empresas. É uma atitude eficaz de melhoria contínua e uma situação de

ganha-ganha. Assim, os sistemas produtivos que identificam as adequações

ambientais como custos geralmente são aqueles que atuam na remediação

dos efeitos. Com certeza não acreditam no adágio popular que afirma:

“prevenir é melhor que remediar”. Além das perdas financeiras, é preciso

lembrar que existem danos irremediáveis, como as perdas de vidas humanas e

de espécies marinhas, que não podem ser desconsideradas. Em muitos casos,

essas perdas são de tal ordem que colocam em risco a sobrevivência de

espécies” (VIDIGAL, 2006, p. 198).

É importante ressaltar também a atuação de algumas Organizações de

Marinha que contribuem enormemente com a disponibilização de dados que

auxiliam uma vasta de gama de atividades produtivas no mar. Inicialmente,

92

citamos a DHN, segundo Vidigal (2006), a quem cabe desenvolver as

atividades relacionadas a hidrografia, oceanografia, cartografia, meteorologia,

navegação e sinalização náutica, visando garantir a qualidade das atividades

de segurança de navegação que lhe couberem, na área de interesse do Brasil

e nas vias navegáveis interiores, e, ainda, contribuir para os projetos nacionais

de pesquisa nas AJB e dos resultantes de compromissos internacionais.

Quanto à coleta de dados oceanográficos e meteorológicos no mar, as

necessidades nacionais são supridas pelo PNBOIA, cujas decisões

operacionais são de responsabilidade do Centro de Hidrografia da Marinha

(CHM). Ressalta-se também a importância do trabalho de sinalização náutica,

executado pelo Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego (CAMR)

por delegação da DHN, responsável pelo planejamento, coordenação e o

controle da sinalização náutica da MB, além de orientar a execução desta

tarefa para as entidades extra-Marinha. Ainda, com projetos de pesquisa e

desenvolvimento científico e tecnológico nas áreas de Oceanografia,

Meteorologia, Geologia e Geofísica Marinhas, Acústica Submarina e

Engenharia Costeira e Oceânica, o Instituto de Estudos do Mar Almirante

Paulo Moreira (IEAPM) contribui para o melhor conhecimento e a eficaz

utilização do meio ambiente marinho no interesse da MB e do Brasil.

Também, em apoio à política externa brasileira, a Marinha do Brasil atua

em ações internacionais que ratificam o compromisso do País em participar do

concerto das Nações e dá clara demonstração da capacidade de o Brasil atuar

eficientemente, com suas Forças Armadas, o que contribui para a busca do

efeito de dissuasão, como comentado neste livro, fundamental para evitar

conflitos armados.

A Marinha do Brasil participou de Operações de Paz com envio de

militares para vários países, de diversas formas: observadores militares, em

grupos isolados, verificando o cumprimento dos acordos de paz, com tropas de

infantaria, unidades médicas, equipes de desminagem, pelotões de engenharia

e transporte de contingente brasileiro por navios, entre outros.

Certamente a Marinha exerce diariamente inúmeras atividades,

rotineiramente, em prol da sociedade brasileira e que muito contribuem para o

93

desenvolvimento do País, mas nem todas aparecem para o público de maneira

geral. A maioria dessas ações não fica ao alcance da visão dos cidadãos, pois

estão em alto mar.

Encerrando este capítulo, pudemos identificar as ações governamentais

que, na esteira das necessidades impostas pela CNUDM, criaram a CIRM, a

PNM e a PNRM, cujos projetos e programas propiciaram enorme abrangência

aos interesses do país quanto aos assuntos ligados ao mar, no

estabelecimento dos limites das AJB, e no desenvolvimento, fiscalização e

controle das atividades produtivas que dependem do mar. Tomamos

conhecimento da importância que o governo brasileiro deu a preservação do

meio ambiente, concretizando esta preocupação na CRFB de 1988 e,

posteriormente, em todo um arcabouço legal que faz da legislação ambiental

brasileira uma das mais modernas do mundo. Neste contexto, percebemos

também que, especialmente no mar, a vastidão associada a uma enorme

demanda de serviços de fiscalização e controle, fruto da tentação de burlar os

mecanismos legais em prol do lucro fácil, dificultam sobremaneira a tarefa da

MB. Passamos também a conhecer a Marinha de paz, a outra face da Marinha

de guerra, atuante em várias frentes de trabalho, subsidiando as atividades

produtivas no mar, propiciando informações de grande valor para o seu

desenvolvimento e a segurança das suas instalações.

De acordo com o trabalho “O Ambiente Marinho – Uma visão da

Marinha” apresentado na 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e

Inovação”, realizado em 2010, “Para países como o Brasil, com uma extensa

costa e imensas bacias hidrográficas plenamente navegáveis, a ameaça se

multiplica por sua própria grandiosidade física. Assim sendo, a única garantia

de controle eficaz sobre a proliferação do crime transfronteiriço, como

contrabando de bens materiais e imateriais, biopirataria e narcotráfico, está na

consolidação das redes de inteligência e vigilância desenvolvidas pela Marinha

do Brasil. O impacto sobre emprego, renda, patentes, etc l possui uma das

suas chaves na capacidade de transformar as fronteiras brasileiras em locais

vivos de trocas legítimas, geradoras de riqueza e de renda para todos e não

94

em couto de criminosos que prejudicam a imagem do País e a prosperidade

geral.

Em outra dimensão, na qual a poluição e a degradação ambiental

ameaçam o futuro da humanidade, a capacidade de garantir e vigiar a

preservação das nossas águas oceânicas é uma tarefa hercúlea, para a qual a

Marinha possui vocação histórica. Soma-se a isso a clara e indiscutível

escassez de recursos naturais, em especial a água potável, um bem cada vez

mais raro e que, na opinião de estrategistas renomados, poderá ser, no

horizonte deste século, uma causa de conflito bélico.

Apesar de o Brasil ser um país com longa tradição de pacifismo e não

intervenção, tendo se envolvido pela última vez em uma guerra com um Estado

vizinho há mais de 140 anos, é preciso que esteja preparado para enfrentar

agressões e ameaças externas. Em um ambiente de escassez, sempre haverá

cobiça em relação aos recursos dos outros, especialmente se o Estado

detentor destes recursos não possuir os meios necessários para defender a

sua soberania. A “Amazônia Azul” é um alvo potencial dessa cobiça. Além de

possuir inúmeras riquezas, trata-se de uma região estratégica para o controle

das linhas de comunicações marítimas no Atlântico Sul.

A proteção do imenso patrimônio marítimo presente na “Amazônia Azul”

é uma tarefa complexa. São 4,5 milhões de quilômetros quadrados de área a

ser vigiada. Se a ação for tímida, ilícitos como pirataria, contrabando, despejos

ilegais de material poluente, exploração da fauna, dentre outros, encontram

terreno fértil de propagação. Por outro lado, a exploração das riquezas

marítimas deve ser realizada de maneira inteligente e sustentável, para que

não se esgotem e privem o País dessa grande fonte de recursos, que contribui

significativamente para o desenvolvimento do Brasil.

Apenas com esse quadro superficial pode-se considerar o quão

fundamental é a existência de uma Marinha capacitada para executar as ações

afetas à defesa da soberania nacional na “Amazônia Azul”, nas quais se

incluem, também, o gerenciamento e o monitoramento das atividades que

nelas estiverem em curso.

95

Agora que temos conhecimento das riquezas e da importância da

Amazônia Azul descritas no capítulo I deste trabalho, e das várias ações

governamentais e as decorrentes atribuições da MB em tempos de guerra ou

de paz, descritas neste capítulo, temos condições de avaliar no capítulo III se

os meios físicos estão à altura da envergadura das tarefas atribuídas, se

somos capazes de estender as palavras aos atos, se temos como garantir a

segurança das AJB, gerenciando sistemas de informação e controle que

auxiliam diretamente aos que do mar tiram o seu sustento, mantendo o

respeito e a preservação do meio ambiente visando uma exploração

sustentável dos seus recursos, bem como se temos a capacidade de exercer o

Poder Naval, missão primeira atribuída pela CRFB, de forma a manter a

soberania da nossa nação.

CAPÍTULO III

CAPACITAÇÃO PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL DA

AMAZÔNIA AZUL

Com base no apresentado nos capítulos anteriores, é chegado o

momento de analisarmos se a MB possui a capacidade necessária para

executar as tarefas que lhe foram atribuídas, as quais certamente se

avolumarão na medida em que o desenvolvimento da indústria de exploração

dos recursos do mar progrida, e, caso negativo, avaliar se as medidas

necessárias para obter esta capacitação estão sendo tomadas de forma

adequada, abordando o aspecto temporal, qualitativo e quantitativo da adoção

dessas medidas. É intenção também, de forma simplificada, defender a tese

de que os gastos com a capacitação da nossa MB não devem ser encarados

como despesa, mas sim como custo.

Quanto a proposta de capacitação, será apresentada de forma resumida

a END, o PAEMB e a possibilidade de utilização dos meios obtidos com a sua

96

implementação nas tarefas da Marinha de paz, empregando os equipamentos

e sistemas primariamente adquiridos para defesa, no monitoramento,

fiscalização, controle e vigilância da Amazônia Azul, sem abdicar da missão

primeira, que é a defesa da soberania da nossa pátria.

Em caráter complementar, serão apresentadas noções gerais sobre

como é feito o Orçamento Geral da União, e uma simples comparação dos

recursos destinados às principais pastas do governo em relação a pasta da

Defesa, visando sinalizar a importância de atuar diligentemente na destinação

dos recursos orçamentários adequados a implementação do PAEMB,

passando literalmente da retórica à ação.

É pretensão também abordar algumas possibilidades de obtenção de

receitas adicionais para a MB, objetivando o estabelecimento de relações

comerciais entre esta organização e os stakeholders que se beneficiam dos

serviços prestados pela mesma.

3.1 – Capacidade da Marinha do Brasil – Uma história que se

repete

Neste tópico, pretendemos apresentar como se desenvolveu ao longo

do tempo a Marinha do Brasil, visando identificar a recorrência de problemas

que afetaram e ainda afetam a sua capacidade de atuar eficientemente na

consecução das tarefas que lhe são atribuídas.

De acordo com Albuquerque (2006), devido às guerras napoleônicas

(1804-1815), a Família Real, juntamente com todo o aparato burocrático e

administrativo, foi transferida para o Rio de Janeiro. Entre as primeiras

decisões de Dom João VI, já no dia 11/03/1808, está a instalação do Ministério

dos Negócios da Marinha e Ultramar, com o mesmo regulamento instituído

pelo Alvará de 1736. A seguir, foram sucessivamente criadas ou estabelecidas

várias repartições necessárias ao funcionamento do Ministério da Marinha, tais

como: Quartel-General da Armada, Intendência e Contadoria, Arquivo Militar,

Hospital de Marinha, Fábrica de Pólvora e Conselho Supremo Militar. No

tocante à infra-estrutura já existente no Rio de Janeiro, observamos que o

97

Arsenal Real da Marinha, localizado então ao pé do morro do Mosteiro de São

Bento, cuja criação data de 1763, teve sua capacidade ampliada para poder

apoiar a recém-chegada esquadra.

Diante da invasão do território continental português pelas tropas de

Napoleão, Dom João declara guerra à França, considerando nulos todos os

tratados assinados com este país. Assim, os limites entre o Brasil e a Guiana

Francesa voltaram a ser questionados, de forma que imediatamente a

esquadra, composta por treze embarcações, foi acionada para conduzir as

tropas às margens do Rio Oiapoque, com ordens para ocupar a Guiana

Francesa e tomar Caiena, o que ocorreu em 12/01/1809. A ocupação

Portuguesa da Guiana durou oito anos e serviu para a fixação dos limites

brasileiros do Oiapoque.

Outro movimento importante de Dom João VI na política externa foi a

ocupação da Banda Oriental (futuro Uruguai) que, recusando-se a fazer parte

das Províncias Unidas do Reino da Prata, invadiu as fronteiras portenhas e

brasileiras. Na ocupação, foi de grande importância o papel que desempenhou

a Marinha, não só no transporte das tropas, desde Portugal (já liberado do

domínio francês), como também em todo o desenrolar da ocupação.

Em paralelo ao que ocorria no Sul, a Corte teve que se mobilizar para

fazer frente ao movimento separatista que eclodiu em Pernambuco, em março

de 1817. As primeiras providências para o restabelecimento da ordem legal

foram tomadas pelo Conde dos Arcos, governador da Bahia, que fez armar

para a guerra alguns navios mercantes, e mandou-os seguir para Pernambuco.

A esquadrilha era composta por três navios e tinha como missão o bloqueio do

porto do Recife, enquanto que, da Bahia, seguiram por terra dois regimentos

de cavalaria e dois de infantaria. Em 4 de maio, outra Divisão Naval partiu do

Rio de Janeiro. O cerco da cidade do Recife por terra e o bloqueio efetuado

por mar fizeram com que os rebeldes abandonassem a cidade em 20 de maio,

dando fim ao movimento separatista.

Contrariamente ao que o povo Português esperava, a queda de

Napoleão não trouxe de volta a Corte Portuguesa. Tendo permanecido no Rio

de Janeiro, Dom João VI eleva o Brasil a uma condição equivalente a de

98

Portugal, o que, somado a um clamor pela flexibilização do absolutismo

monárquico, leva o povo português a um movimento revolucionário liberal com

uma proposta de monarquia constitucionalista. Ainda que Dom João VI tenha

voltado a Portugal, persistiu o movimento, inclusive pregando a reativação da

subordinação política e econômica do Brasil, nesta altura tendo como príncipe

regente Dom Pedro I, reerguendo o pacto colonial. Em conseqüência, Dom

Pedro I, negando-se a retornar a Lisboa, reage com o pronunciamento do Dia

do Fico, nomeando um novo gabinete de ministros, encabeçado por José

Bonifácio de Andrada e Silva, que defendia a emancipação do Brasil sob uma

monarquia constitucional encabeçada pelo príncipe regente.

Consequentemente, em 7/09/1822, Dom Pedro declara a independência do

Brasil. Em 1822 a Armada Nacional contava então com 38 embarcações de

variados tipos.

“O governo brasileiro, constituído por José Bonifácio, percebeu que só o

domínio do mar manteria a unidade da ex-colônia portuguesa, pois as ligações

entre as províncias litorâneas, onde estava concentrada a maior parte da

população e da força produtiva brasileira, eram inteiramente pelas vias

marítimas, ao longo de um extenso litoral de mais de 8 mil quilômetros. A

rápida formação de uma Marinha de Guerra nacional constituía-se no melhor

meio de transportar e concentrar tropas leais e suprimentos para as áreas de

embate com os portugueses, com a rapidez e a segurança que os caminhos

terrestres não permitiam. Ainda, esse conjunto de navios de guerra, a

Esquadra, promoveria o bloqueio aos portos das cidades brasileiras ocupadas

pelos portugueses, impedindo a chegada de reforços da metrópole e isolando

as guarnições portuguesas de suprimentos vindos por mar, bem como

fustigando-as com o fogo dos canhões embarcados. O nascimento da Marinha

Imperial se deu nesse regime de urgência, aproveitando os navios deixados no

porto do Rio de Janeiro pelos portugueses, em mau estado de conservação, e

os oficiais e praças da Marinha portuguesa que aderiram à Independência.

Os navios foram reparados, em um intenso trabalho do Arsenal de

Marinha do Rio de Janeiro, e foram adquiridos outros, tanto pelo governo como

por subscrição pública. E as lacunas encontradas nos corpos de oficiais e

99

praças foram completadas com a contratação de estrangeiros, sobretudo

experientes remanescentes da Marinha inglesa. A necessidade de dispor da

Força Naval como eficiente elemento operativo e como fator de dissuasão para

as pretensões de reconquista portuguesa fez com que o governo imperial

contratasse Lorde Thomas Cochrane, um brilhante e experiente oficial de

marinha inglês, como Comandante-em-Chefe da Esquadra” (ALBUQUERQUE,

2006, p. 75 e 76).

De acordo com Albuquerque (2006), declarada a independência, Dom

Pedro logo vê-se acuado entre os portugueses do Brasil, que queriam uma

monarquia absolutista, e os brasileiros, liberais, que pregavam uma monarquia

constitucionalista. O embate entre portugueses e brasileiros na Assembléia

Geral Legislativa transparece na imprensa, que ataca o imperador e vai para

as ruas, onde partidários do imperador entram em choque com defensores do

Partido Brasileiro. Preocupava Dom Pedro I não somente a oposição ao seu

reinado, que crescia entre os brasileiros, mas também a situação política em

sua terra natal, Portugal, onde ele próprio e seus descendentes tinham direitos

sobre o trono.

Em 7/04/1831, Dom Pedro I abdicou do trono em favor de seu filho,

Dom Pedro de Alcântara, então com cinco anos de idade. No período

regencial, o conturbado ambiente político da Corte se refletiu nas províncias do

Império, em movimentos armados que explodiram por todos os principais

centros regionais, desde 1831 até os anos de consolidação do reinado de Dom

Pedro II. A Marinha da Independência e da Guerra Cisplatina, de 1828,

constituída por cerca de 96 navios de guerra modernos e de variados tipos, até

1852 foi sendo transformada em uma Marinha de unidades menores, próprias

para enfrentar as conflagrações nas províncias e também de acordo com as

limitações orçamentárias.

Já em 1864, a livre navegação nos rios e os limites entre o Brasil e o

norte do Paraguai eram motivos de discordância entre os dois países. Não se

chegou a um acordo satisfatório até a conclusão da Guerra da Tríplice Aliança.

Cabe ressaltar que, entre os atos hostis do Paraguai, houve o apresamento do

vapor brasileiro Marquês de Olinda, em 12/11/1864, e a invasão do sul de Mato

100

Grosso por tropas paraguaias, em 28/12/1864. A Argentina possuía, durante

essa guerra, apenas uma pequena Marinha e o esforço naval foi quase

totalmente da Marinha do Brasil.

No início da Guerra da Tríplice Aliança, a Marinha do Brasil dispunha de

45 navios armados. Destes, 33 eram navios de propulsão mista, a vela e a

vapor, e 12 dependiam exclusivamente do vento. A propulsão a vapor, no

entanto, era essencial para operar nos rios. Todos tinham casco de madeira.

Muitos deles já estavam armados com canhões raiados de carregamento pela

culatra. Os navios brasileiros, no entanto, mesmo os de propulsão mista, eram

adequados para operar no mar e não nas condições de águas restritas e

pouco profundas dos Rios Paraná e Paraguai, sendo a possibilidade de

encalhar um perigo sempre presente. Além disso, esses navios, com casco de

madeira, eram muito vulneráveis à artilharia de terra, posicionada nas

margens. A estratégia naval adotada pelo Comandante das Forças Navais

Brasileiras, Almirante Tamandaré, foi a de negar o acesso ao território

paraguaio através do bloqueio, efetivamente imposto pelo então Chefe-de-

divisão Francisco Manoel Barroso da Silva que, atacando a cidade de

Corrientes, flanqueou a direita dos invasores, forçando os paraguaios a reagir

na tentativa de anular esta ação, levando os contendores à chamada Batalha

Naval de Riachuelo. Ainda que o fator surpresa favorecesse inicialmente os

paraguaios, em ação destemida, após a perda de três embarcações, Barroso

retorna ao cenário de batalha à bordo da fragata Amazonas e, sob fogo

inimigo, mesmo sabendo que seu barco não havia sido construído para tal,

abalroa as embarcações paraguaias, dando início à vitória brasileira.

Entretanto, tal vitória não encerrava a guerra, uma vez que o Paraguai estava

bem preparado, tendo sido necessário o Brasil adquirir às pressas

embarcações adequadas ao teatro de combate, sendo o encouraçado Brasil (o

primeiro do Brasil) o primeiro a chegar à frente de combate, em 1865. Durante

a guerra, 17 encouraçados seriam incorporados à armada brasileira, sendo 3

construídos no Brasil, no Arsenal de Marinha da Corte. Durante o resto da

campanha, até 1869, a participação da armada brasileira foi decisiva no

combate às fortificações ribeirinhas e no apoio pelo transporte e desembarque

101

de tropas. Ao término deste conflito, o governo brasileiro reparou os danos

sofridos pelas embarcações e reequipou-as, passando a ter, àquela época, a

quarta mais poderosa marinha de guerra do mundo, atingindo o ápice em

1885.

Entretanto, à partir de 1870, as pesadas despesas geradas pela guerra

da Tríplice Aliança provocaram uma crise econômica no Brasil, que somou-se

aos efeitos da insatisfação dos grandes fazendeiros com a abolição da

escravatura sem a pretendida indenização, ao desejo da classe média

emergente em ter mais liberdade e uma maior participação nos assuntos

políticos, e ao fato do Imperador Dom Pedro II não possuir sucessor

masculino, o que daria o trono à Princesa Izabel, casada com um Francês,

gerando o receio de que o país passasse a ser governado por um estrangeiro.

Assim, ainda que o povo, de um modo geral, simpatizasse com o Imperador, já

não via mais com bons olhos o seu Império. Estes fatos levaram à

Proclamação da República em 15/11/1889.

Os primeiros anos da República foram marcados pela progressiva

desmobilização da Esquadra brasileira, cujos militares de prestígio eram em

grande parte fiéis ao Imperador.

“As revoltas que assolaram a Nação e o desgaste econômico conhecido

como encilhamento provocaram o gradativo desmantelamento das unidades

da Força Naval. A situação interna do País se refletia nos orçamentos

insuficientes que negavam à Marinha os recursos necessários à modernização

dos meios flutuantes e à criação de uma infra-estrutura de apoio. Essa

situação se manteve por toda a década final do século XIX. A sucessão de

quatro ministros da Marinha em apenas seis anos contribuiu negativamente

para a elaboração de um programa naval condizente com o litoral e os

interesses a defender.

Em 15 de novembro de 1902, o Almirante Júlio de Noronha assumiu a

pasta da Marinha, encontrando uma Força Naval composta de navios

reformados, sendo, na sua maioria, modelos obsoletos perante as classes

mais modernas que estavam em processo de construção pelas potências

industriais da época.

102

Procurando satisfazer a justa aspiração brasileira em constituir uma

Marinha bem aparelhada, o deputado Dr. Laurindo Pitta apresentou à Câmara,

em julho de 1904, projeto que continha o programa naval do Almirante Júlio de

Noronha, o qual poderia atender a tais expectativas” (ALBUQUERQUE, 2006,

p. 129). Depois de uma entusiasmada defesa e tendo encabeçado grande luta

nos bastidores da política, seu projeto finalmente foi aprovado e se

transformou no Decreto no 1.296, de 14/11/1904.

Prosseguindo em seu relato, Albuquerque (2006) cita que em

15/11/1906, assumiu a Presidência da República o conselheiro Afonso Pena,

sendo a pasta da Marinha ocupada pelo Almirante Alexandrino Faria de

Alencar, que logo conseguiu obter do Congresso a reforma do programa de

1904, cuja alteração mais marcante foi a adição de três novos encouraçados

do tipo dreadnought, de 20.000 toneladas. Nesse programa, foi cancelado o

projeto de um novo arsenal, optando-se por modernizar as instalações da Ilha

das Cobras, porém, admitia-se a construção de bases secundárias, em Belém

e em Natal, e um porto militar de pequeno porte em Santa Catarina.

Como conseqüência direta deste programa, a Esquadra de 1910

representou um verdadeiro revigoramento militar e tecnológico da MB. Dessa

forma, o Brasil obteve uma frota de alto-mar ofensiva, podendo levar a outros

rincões o Pavilhão Nacional e, principalmente, apoiar a ação diplomática do

governo brasileiro em qualquer local em que se fizesse necessário. A

incorporação de navios como os encouraçados Minas Gerais e São Paulo,

pertencentes à classe dos dreadnoughts, os mais poderosos do mundo,

encheu de orgulho e confiança os cidadãos brasileiros.

Além dessas embarcações, também chegaram os cruzadores Bahia e

Rio Grande do Sul e os contratorpedeiros Amazonas, Pará, Piauí, Rio Grande

do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso.

Posteriormente ao ano de 1910, o contratorpedeiro Maranhão, os

submarinos F1, F3, F5 e Humaitá, o tender Ceará e outros navios auxiliares

complementaram os efetivos navais da Marinha.

De acordo com Albuquerque (2006), iniciada a Primeira Grande Guerra,

o Brasil permaneceu neutro durante o três primeiros anos. O bloqueio

103

submarino efetuado em 1917 pelo governo alemão aos países Aliados, trouxe

mal-estar a todos os países neutros, e especialmente preocupou o governo

brasileiro, que dependia fundamentalmente do mar para escoar a sua

produção e importar produtos de que necessitava, cabendo ressaltar que

naquela oportunidade, não existiam estradas ligando o Sul e o Sudeste com o

Norte e Nordeste, sendo as comunicações entre essas regiões feitas por mar,

daí nossa grande vulnerabilidade estratégica. Inicialmente, o Brasil apresentou

seu protesto formal à Alemanha, seguido do rompimento das relações

comerciais, mantendo ainda, porém, a sua neutralidade, postura que veio a ser

modificada, em 11/04/1917, devido ao afundamento do navio mercante Paraná

ao largo da costa francesa, ocasião na qual o governo brasileiro rompeu as

relações diplomáticas com o governo alemão. Após o ataque a mais três dos

nossos mercantes, em 26/10/1917, o Brasil reconheceu e proclamou o estado

de guerra com o Império alemão. A participação da MB na Primeira Grande

Guerra formalizou-se com o envio, para o teatro de operação, da Divisão Naval

em Operações de Guerra (DNOG), com a missão de efetuar o patrulhamento

da área entre Dakar–São Vicente–Gibraltar na costa da África, cumprida com

êxito, e era composta pelos seguintes meios navais da esquadra de 1910:

cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul, contratorpedeiros Piauí, Rio Grande do

Norte, Paraíba e Santa Catarina, cruzador-auxiliar Belmonte e rebocador

Laurindo Pitta. Adicionalmente, o porto do Rio de Janeiro recebeu uma linha de

minas submarinas e foram enviadas tropas para a proteção das ilhas de

Trindade e Fernando de Noronha. É importante frisar que a MB era

dependente de suprimentos vindos do exterior. Não existiam estaleiros

capacitados, nem fábricas de munição e estoques logísticos adequados.

Dessa forma, a preparação da DNOG foi muito dificultada por limitações que

não eram só da Marinha, mas também do Brasil.

O período de 1918 a 1939 caracterizou-se pelo abandono a que foi

submetida não só a Marinha de Guerra como praticamente toda a atividade

nacional relacionada com o mar. A ausência de mentalidade marítima do povo

brasileiro revelou-se em toda a sua intensidade, cabendo registrar apenas

104

algumas modestas ações, como a criação da Escola Naval de Guerra, da

Flotilha dos Submarinos e da Escola de Aviação Naval.

“A revolução de 30 representou para a Marinha um divisor de águas

entre duas épocas distintas. Em relatório do ministro da Marinha, no ano de

1932, em que foi feita análise da situação da Marinha, encontra-se registrada a

seguinte declaração: “Estamos deixando morrer a nossa Marinha. A Esquadra

agoniza pela idade (a maior parte dos navios era da Esquadra de 1910), e,

perdido com ela o hábito das viagens, substituído pela vida parasitária e

burocrática dos portos, morrem todas as tradições... Estamos numa

encruzilhada: ou fazemos renascer o Poder Naval sob bases permanentes e

voluntariosas, ou nos resignamos a ostentar a nossa fraqueza provocadora....

estamos completamente desaparelhados....”” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 143).

Cita Albuquerque (2006) que, em 1940, a nossa força naval era

composta por navios em sua maioria já obsoletos, muitos oriundos da

esquadra de 1910, totalmente despreparados para enfrentar a guerra anti-

submarina, sendo a nossa doutrina baseada ainda nas lições da Primeira

Guerra Mundial. As verbas requeridas anteriormente para equipamento e

treinamento das forças navais eram seguidamente preteridas pelo governo

Getúlio Vargas.

As grandes preocupações do nosso Estado-Maior da Armada eram a

defesa de nossa enorme e desprotegida costa marítima e, essencialmente, a

proteção das linhas de comunicação, vitais para a conservação de nossas

artérias comerciais com o exterior e para a manutenção das linhas de

cabotagem, sendo que, nesta época, esse tipo de transporte era fundamental,

pois não existia uma única comunicação terrestre entre Belém e São Luís,

Fortaleza e Natal, e Salvador e Vitória.

Na Segunda Guerra Mundial, inicialmente também mantivemo-nos

neutros. Devido aos interesses comuns aos Estados Unidos, nos solidarizamos

quando do ataque japonês a Pearl Harbour, em 7/12/1941. Em represália,

nossa Marinha Mercante começou a ser agredida pelos submarinos alemães.

Em 22/03/1941, no Mar Mediterrâneo, o navio mercante (NM) Taubaté foi

metralhado pela Força Aérea alemã. Em 28/01/1942, o Brasil rompeu relações

105

diplomáticas com os países do eixo. A primeira perda foi o navio mercante

Cabedelo, em fevereiro de 1942, seguindo-se a perda de mais 12 navios

brasileiros até julho deste ano. Em vista das claras atitudes de alinhamento do

Brasil com os aliados, os alemães planejaram uma ofensiva aos portos

brasileiros visando atacar as linhas de navegação de longo curso e de

cabotagem, ocorrendo então, no período de 15 a 19/08/1942, o ataque

fulminante do U-507, que, em cinco dias, levou a pique seis embarcações

nacionais dedicadas à linha de cabotagem nas costas de Sergipe, com 607

vítimas, inclusive soldados do Exército. Esse ato levou o Brasil a declarar

guerra, em 31/08/1942, às potências do eixo.

Imediatamente a Marinha mobilizou-se, criando a Força Naval do

Nordeste (com navios já em operação e meios recebidos do Acordo Lend

Lease com os EUA). A missão da Marinha, cumprida desde o primeiro dia de

guerra até o armistício, era a proteção de comboios internacionais e nacionais,

garantindo a segurança de mais de 4 mil navios, de muitas nacionalidades,

contra a ameaça submarina germânica, garantindo-se o suprimento, vital na

época, de combustível, insumos, até alimentos, sem que o Brasil sofresse as

agruras da guerra.

Ainda durante o ano de 1942, foram torpedeados mais 5 navios

brasileiros, totalizando 24 navios afundados neste ano. Em 1943, os ataques

diminuíram devido a forte escolta e intenso patrulhamento das forças aliadas,

tendo sido afundados 8 navios brasileiros. Ao término da guerra, 30 navios

mercantes (21 % da frota) e 3 navios de guerra brasileiros haviam sido

perdidos, contabilizando 982 civis e 492 militares mortos ou desaparecidos.

De acordo com Albuquerque (2006), a Lei de Empréstimo e

Arrendamento (Lend Lease) propiciou ao Brasil um crédito de 200 milhões de

dólares, dos quais 50 milhões couberam a MB, sendo 2 milhões utilizados no

armamento dos navios mercantes brasileiros. Durante a guerra o Brasil

recebeu 16 navios caça-submarinos, 8 contratorpedeiros de escolta e 1 navio-

transporte de tropas, tendo sido construídos no país 3 contratorpedeiros e 6

corvetas, além de ter sido desenvolvido intenso trabalho de adaptação dos

antigos navios, na medida do possível, para viabilizar a campanha anti-

106

submarino. Data desta época a criação dos Comandos Navais, visando

setorizar as ações de defesa da fronteira marítima e costas.

Como conclusões da participação da MB neste conflito, Albuquerque

(2006) ressalta: a aquisição de uma maior capacidade para controlar áreas

marítimas e maior poder dissuasório, sem esquecer que tal situação foi fruto

do auxílio norte-americano, fundamental na manutenção segura de nossas

linhas de comércio marítimo; a mudança de mentalidade na Marinha, com a

assimilação de novas técnicas de combate e a incorporação de meios

modernos para as forças navais tornando-a bem mais profissional; a

oportunidade de participar de ações de guerra e adquirir experiências da

refrega, das adversidades, do medo e da dor com a perda de navios e

companheiros, fundamental para forjar os futuros almirantes, oficiais e praças;

a percepção de que a logística ocupa um lugar de suma importância na

manutenção de uma força combatente operando eficientemente; a nossa

aproximação franca com os EUA, alinhando-nos com a sua doutrina, com

ênfase na guerra anti-submarina, percepção somente mudada a partir da

denúncia do Acordo Militar com esse país em 1977, quando optamos por uma

tecnologia relativamente autóctone; e, por fim, a guerra no mar mostrou que,

no caso do Brasil, em uma conflagração generalizada, as nossas linhas de

comunicação serão os alvos prioritários, como já havia acontecido em 1917.

Na década de 1950, o Brasil limitou-se a construir no AMRJ algumas

barcas de óleo e 3 navios hidrográficos, que tiveram como novidade a

superestrutura de alumínio, sendo fato relevante citar que o governo Juscelino

Kubitschek adquiriu em 1956 o primeiro porta-aviões brasileiro, o NAeL Minas

Gerais, incorporado ao final de 1960, tendo sido desativado somente em 2001.

Na década de 1960 a construção naval militar no Brasil construiu, no

AMRJ, apenas balsas, chatas de diversos tipos, entre outros barcos menores,

e foi incorporado o navio-tanque Marajó, construído pelo estaleiro Ishikawajima

do Brasil.

A década de 1970 foi mais ativa, tendo sido modernizado o NAeL Minas

Gerais e construídos no AMRJ 6 Navios-Patrulha Costeiros da Classe Piratini,

2 Navios-Patrulha Fluviais da Classe Pedro Teixeira, 3 Embarcações de

107

Desembarque de Carga Geral Classe Guarapari e 2 Fragatas Classe Niterói,

tendo sido adquiridas da Inglaterra pela MB outras 4 novas Fragatas Classe

Niterói, que serviram de modelo para as construídas pelo AMRJ.

A década de 1980 também foi consideravelmente ativa para os padrões

brasileiros, tendo sido executado no AMRJ o primeiro Programa de

Manutenção Geral das Fragatas, e construídos o Navio-Patrulha Classe Itaipu,

tornando-se o primeiro navio de guerra brasileiro para exportação, o Navio

Escola Brasil, derivado do projeto das Fragatas Classe Niterói, 2 Navios de

Assistência Hospitalar, 2 Corvetas da Classe Inhaúma, o Dique Flutuante

Almirante Schieck, entre outras embarcações de menor porte. Foram

adquiridos dos EUA pela MB os Navios de Desembarque Doca Ceará e Rio de

Janeiro, e da Noruega, o Navio de Socorro Submarino Felinto Perry.

Na década de 1990 foram construídos pelo AMRJ 2 Navios-Patrulha da

Classe Grajaú, 2 Lanchas-Patrulha e Polícia Naval, 2 Lanchas Balizadoras, e 3

submarinos da Classe Tupi, tendo sido incorporados o Navio de Transporte

Gastão Motta, construído pelo estaleiro Ishikawajima do Brasil, e 4 Navios-

Patrulha Classe Grajaú, sendo 2 construídos pelo estaleiro Mauá e 2

construídos pelo estaleiro INACE. A MB ainda adquiriu da Inglaterra 4 Fragatas

da Classe Greenhalgh (todas em operação, exceto a Fragata Dodsworth, que

deu baixa em 2004) e 4 Navios-Patrulha da Classe Bracuí, 6 Navios-Patrulha

da Classe Grajaú da Alemanha, e dos EUA, o Navio de Desembarque de

Carros de Combate Matoso Maia.

Na década de 2000, foram construídos no AMRJ a Corveta da Classe

Barroso e 1 submarino da Classe Tikuna, e pelo estaleiro INACE o Navio-

Patrulha Macaé, encontrando-se encomendados desta classe mais 1 navio ao

INACE e mais 4 ao EISA. Foram também adquiridos da Inglaterra pela MB os

Navios de Desembarque de Carros de Combate Almirante Sabóia e Garcia

D’Ávila.

Em resumo, com base no acima exposto, constatamos os seguintes

fatos principais:

- Na guerra contra o Paraguai, nossos navios não eram adequados a operação

em rios, tendo sido necessário o sacrifício de muitos brasileiros nos primeiros

108

combates, situação que somente foi remediada à custa de um esforço de

guerra na construção e aquisição de melhores meios. Nossa esquadra atingiu

o seu ápice logo após a guerra contra o Paraguai, obviamente motivada pela

necessidade de equipar-se para estar a altura de combater a ameaça.

Entretanto, ainda que bem equipados, por volta do início da Primeira Grande

Guerra não possuíamos infra-estrutura de apoio logístico adequada, com

grande dependência do exterior;

- Durante quase 20 anos (1918-1939), os investimentos foram irrisórios ou

nulos, provocando a obsolescência da frota, que não estava preparada para a

guerra anti-submarina, deixando-nos praticamente a mercê do inimigo na

Segunda Grande Guerra Mundial, de tal forma que, com um único submarino,

os Alemães praticamente paralisaram as linhas de comércio marítimo nas

águas adjacentes ao Brasil, somente defendidas adequadamente após o apoio

dos EUA. Cabe ressaltar que esta vulnerabilidade ainda é uma ameaça nos

dias de hoje, haja vista o explanado no capítulo I, item “1.2.2”;

- Após a Segunda Guerra Mundial, esforços foram feitos no sentido de equipar

minimamente a MB, sendo relevante a aquisição do NAeL Minas Gerais, que

nos levou ao NAe São Paulo, e as décadas de 1970 e 1980, que propiciaram a

formação da escolta de Fragatas e Corvetas, bem como a capacitação na

construção de submarinos convencionais. Levando-se em conta os recursos

alocados, pode-se considerar que fez-se muito com tão pouco;

- Desde a década de 1990, o AMRJ vêm sendo alvo de restrições

orçamentárias que têm acelerado o sucateamento das suas instalações. Em

pior condição se encontra a política de recursos humanos, cujo

enquadramento dos funcionários no Regime Jurídico Único, em 1990, desfez a

ligação direta entre os interesses do estaleiro, tais como a produtividade e o

mérito funcional, e os dos funcionários que, em grande parte, uma vez

transformados em servidores públicos, se acomodaram a uma política do “você

finge que me paga que eu finjo que trabalho”, devido ao fato da política salarial

e de carreira passar a ser ditada pelo Governo Federal, cujos burocratas

desconhecem a importância estratégica do trabalho executado no AMRJ. Em

decorrência desta desconexão, a política de treinamento dos funcionários,

109

após a conversão em servidores, foi abandonada, tendo como consequência

inevitável o início do sucateamento das mentes, com graves reflexos na

renovação de pessoal, cuja maior fonte atualmente têm sido a EMGEPRON,

mediante a contratação de funcionários por concurso público, cujo treinamento

e adequação ao trabalho depende fundamentalmente destes servidores mais

experientes, que encontram-se desmotivados, à espera da aposentadoria.

Outro fato relevante, que muito têm dificultado a execução dos serviços pelo

AMRJ é o engessamento do setor de compras, que, regulamentado pela lei nº

8.666 e fiscalizado pela Advocacia Geral da União, é incapaz de agilizar as

aquisições de materiais, o que inviabiliza a prontificação das obras nos prazos

almejados. Entendo que o AMRJ deva ser reestruturado em todas as áreas

supracitadas, ainda que fundindo-se com outras OM da área de projeto e

reparação naval militar, para capacitar-se novamente a executar um papel

relevante como centro de excelência e reserva tecnológica de conhecimento

da MB, se não pelos fatos históricos que o associam ao desenvolvimento do

Brasil como nação, pelo menos pelo aspecto estratégico de manter sob

controle direto da MB uma força de trabalho capaz de executar e/ou gerenciar

os programas de manutenção geral e reparos/modernização de meios, sem

ficar totalmente à mercê da iniciativa privada que, geralmente, tão logo

arrefecem as contratações, não demora em demitir os excedentes de pessoal;

- Desde a criação da MB, nunca tivemos um planejamento de aparelhamento

que tenha sido desenvolvido de acordo com as necessidades compatíveis com

as ameaças e vulnerabilidades existentes na época, e, de modo geral, o

planejamento efetuado com restrições não pôde ser implementado a contento

devido a sucessivas recusas ou postergações de aporte financeiro por parte do

governo. O aparelhamento das forças navais têm sido feito em surtos, sem

uma sequencia que permita a manutenção da esquadra e a paulatina

substituição dos meios por unidades mais modernas. Não há fomento à

indústria nacional de defesa, forçando os índices de nacionalização para baixo,

especialmente quanto a armamento e sensores (hardware e software), onde as

ações de P&D são extremamente dependentes da iniciativa da própria MB,

devido a não haver demanda que atraia a iniciativa privada; e

110

- Analisando somente os meios de esquadra da MB, observamos que a vida

média dos navios existentes é de 30 anos, quando nas forças navais mais

avançadas dificilmente ultrapassa 20 anos. Metade destes navios é de

fabricação estrangeira, e mesmo os navios construídos no Brasil dificilmente

ultrapassam o índice de nacionalização de 40 %. Quanto aos meios distritais, a

idade média é de 22 anos, sendo que há, no momento, grande demanda por

navios patrulha, para fiscalização das AJB. Como a dependência externa é

mais acentuada nos navios mais bem armados, do tipo escolta, é possível

equipar a MB com os navios patrulha necessários em tempo relativamente

curto, desde que os recursos financeiros necessários sejam liberados a

contento.

“O passado recente da construção naval militar no Brasil tem apontado

um desenvolvimento modesto, com surtos de construção, sem estratégia

definida para engajamento dos estaleiros privados mas, apesar disso,

considerando as condições, os resultados são bons, vistas as construções das

fragatas da classe Niterói, das corvetas da classe Inhaúma e dos submarinos

da classe Tupi ... Do ponto de vista comercial, mesmo que seja uma opinião

corrente de que este não é enfoque de interesse da Marinha do Brasil (MB),

não podemos esquecer de que ele está intimamente vinculado a estratégia,

pois promove a indústria naval militar do País, o que é visão bem clara do

“grupo dos que vendem”. Sob esse enfoque, a regra simples é: quem não

constrói para si mesmo, não vende. A regra é clara e auto-explicativa, pois

quando um país dispõe de uma marinha que possui os meios navais sem

construí-los, faz parte do desconfortável grupo dos que apenas os compram,

antípoda do grupo dos que os vendem (o mundo dividido entre os que

compram e os que vendem é uma visão do ponto de vista comercial), e

acredita-se que seria melhor, pelo menos, estar no grupo dos que não

compram, sem estar necessariamente no dos que vendem, isto é, dos que tem

auto-suficiência e independência tecnológica e militar, sem mencionar a de

natureza econômica. E ainda mais, quem apenas constrói, mas não projeta,

também tem pouquíssima chance de vender, não somente por prescindir da

aquiescência do detentor do projeto para comerciar o produto que nasceu de

111

sua concepção, mesmo que pagando royalties, como também pela dificuldade

de convencer o cliente de que é detentor da tecnologia e qualidade na

construção, sem tê-las no projeto, pois as duas atividades estão intimamente

vinculadas, como se observa com os tradicionais vendedores mundiais.

Dos pontos de vista estratégico, militar e tecnológico, os três muito

interligados, não construir significa dependência e impossibilidade de obter os

meios plenamente de acordo com os requisitos impostos pelas

vulnerabilidades do País; dos pontos de vista econômico e social, é perder

divisas sem gerar empregos e deixar de estimular a indústria nacional.

Se ao fato de não construir, acrescermos a prática do não projetar, esta

última vacuidade acrescentará à primeira uma inevitável condição para que a

Marinha do Brasil continue a estar em estágio de relativa subordinação técnica,

intelectual e econômica, pois nada inova por si própria e pouco nacionaliza,

condenando-se à dependência logística, não podendo especificar e nem

executar tão bem a manutenção, pela inexistência da retaguarda técnica de

quem projeta e seleciona os equipamentos, não praticando assim o que se faz

nas marinhas mais avançadas” (ALBUQUERQUE, 2006, p.59, 60 e 61).

Como já identificado anteriormente no capítulo I, nossas riquezas no

mar são também nossas vulnerabilidades. A imensidão das águas a patrulhar

nos colocam diante da dificuldade de empreender esta tarefa de forma

eficiente, com o menor custo possível, sendo necessário efetuar um

planejamento que permita, mediante técnicas de pesquisa operacional, por

exemplo, à partir de informações precisas de localização dos meios navais e

das ameaças e sinistros, disponibilizar as embarcações que, consideradas as

suas características de emprego e a logística de apoio, encontrem-se na

melhor situação para efetuar a abordagem do problema e resolvê-lo,

preferencialmente sem uso da força, mas se necessário, com a capacidade de

fazê-lo.

Identificamos também no capítulo I, itens “1.1.2” e “1.1.3”, que o

estabelecimento de limites para as águas jurisdicionais reveste-se de caráter

temporário, ainda que regulamentado e ratificado por grande parte dos

Estados, quanto mais conflitem com os interesses de outras nações que

112

considerem em perigo a sua sobrevivência, quer seja pela necessidade de

lançar mão de recursos que entendam serem patrimônio da humanidade, quer

seja por sentirem-se ameaçadas militarmente, não hesitando em utilizar a

força, na sua forma dissuasória ou pela agressão direta, para fazer prevalecer

os seus interesses. “Tal qual uma pessoa, o Estado depende da sua vontade e

de sua capacidade de enfrentar desafios no relacionamento com os outros

“organismos biológicos”, em meio a disputas por espaço e ante invejas,

amizades, alianças, perdedores e ganhadores ... O mundo nunca deixou de

ser uma arena de competições, ainda que variem com o tempo as formas

pelas quais as disputas ocorrem. Por isso mesmo, o planeta continua e

continuará inseguro, sendo ele a própria essência da luta pela sobrevivência

entre os Estados” (BERGO, 2008, p.26 E 27). É bastante ilustrativa a

constatação, feita através da observação da figura 8 do Anexo 2, da

importância estratégica do Atlântico Sul para os países desenvolvidos, haja

vista terem a preocupação de manter um cinturão de bases à partir das quais

podem alcançar tanto as águas brasileiras quanto às africanas. Se tal fato é

importante para estes países, que não habitam estes continentes, o que dirá

para nós que deles fazemos a nossa morada e vizinhança. Podemos observar

também nesta figura a presença estrangeira no continente Sul-Americano, nas

Guianas, e no continente Africano, a presença de interesses da China.

Além das riquezas do bioma marítimo e a necessidade da preservação

do seu meio ambiente, a exploração dos recursos do mar confronta o Brasil

com duas grandes vulnerabilidades, em face da sua importância estratégica:

as linhas de comércio marítimo, detalhadamente abordadas no capítulo I, item

“1.2.2”, que, se interrompidas, como ocorrido nas duas Guerras Mundiais,

podem paralisar o Brasil em curto prazo; e o petróleo e gás, detalhado no item

“1.2.5” do mesmo capítulo, fruto de pesados investimentos, com grande

impacto nas indústrias que, direta ou indiretamente exploram este recurso,

que, em caso de interrupção das suas operações, provocariam graves

consequências ao país. Em termos de riquezas, preocupa também a garantia

da possibilidade de exploração e explotação dos recursos pesqueiros, pelo

113

grande potencial da maricultura, e dos nódulos polimetálicos, como visto nos

itens “1.2.3” e “1.2.4” do capítulo I.

Quanto a segurança, segundo Bergo (2008), transcrevendo a definição

da ONU, “... é uma condição na qual os Estados consideram que não há perigo

de ataque militar, pressão política e coerção econômica, de modo que possam,

livremente, buscar o seu próprio desenvolvimento e progresso. A segurança

dos indivíduos e das comunidades que compõem os Estados é assegurada

pela garantia do exercício da liberdade e dos direitos políticos, sociais e

econômicos individuais, bem como pela preservação ou restauração de um

meio ambiente saudável para as gerações presentes e futuras”.

Bergo (2008) prossegue relatando que, na pirâmide de Maslow, que

retrata a hierarquia das necessidades humanas, a segurança está logo após

as necessidades fisiológicas. A segurança é um estado, uma situação, um

sentimento que evoca a proteção dos direitos dos cidadãos, permitindo que se

desenvolvam em busca da felicidade. A segurança é sentida e desfrutada,

sendo preocupação permanente, enquanto a defesa é o conjunto de medidas

ou ações, planejadas e executadas preventiva ou reativamente, que visam

evitar ou neutralizar as ameaças à segurança.

Com relação ao Brasil, Bergo (2008) cita o dito pelo General Meira

Mattos, que alerta não ter passado despercebido pelos nossos geopolíticos o

fato de que um maior desenvolvimento representa um aumento de poder, e

que o mesmo gera competitividade e, portanto, maior necessidade de

segurança externa e interna. Neste contexto, Bergo (2008) prossegue

alertando que, se ainda não há excessiva pressão dos problemas de fora para

dentro, há um conjunto de fatores internos que alinha-se e estão ajustados

com as ameaças. Especificamente no caso da Amazônia Azul, destaca-se a

diferença entre o tratamento que o governo federal dispensa aos

investimentos, por exemplo, na área do petróleo e gás natural, onde não faltam

recursos, e a falta de implementação de uma política de Estado que valorize a

prevenção e o planejamento prévio, que venha a capacitar adequadamente e

permanentemente a MB a garantir a segurança no mar, pondo assim em risco,

paradoxalmente, todo o investimento realizado.

114

Complementarmente, ainda que nenhuma ameaça tenha se

concretizado em fatos até o presente momento, é importante frisar que, de

uma relação de 23 fontes de conflito e insegurança apontadas por Bergo

(2008), 16 foram consideradas como ocorrentes ou passíveis de ocorrência no

Brasil. “Talvez seja crível admitir que, hoje, não temos segurança como política

de Estado. Ainda que a Política de Defesa Nacional venha tentando resgatar

restos perdidos, ficamos realmente com o que ela é, simplesmente, uma

Política de Defesa, sem contarmos com uma política de Segurança.

No que diz respeito a exploração sustentável dos recursos do mar, a

preservação do meio ambiente e as ações de salvamento e socorro marítimo,

o papel da MB é fundamental. A PNRM e a legislação brasileira, como já visto

nos itens “2.2” e “2.3” do capítulo II, delegam um grande número de atribuições

e tarefas a MB. Desta forma, recordando, as ações da MB devem inibir: a

poluição do mar, especialmente das zonas costeiras, haja vista a concentração

da população ser maior justamente nesta área; a regulamentação e

fiscalização dos portos e o tráfego marítimo; a pesca irregular, especialmente

em época de defeso das espécies; o controle dos navios quanto a

possibilidade de transferência de espécies exóticas, provenientes de outros

ecossistemas, através de incrustações no casco (um navio pode transportar

em suas obras vivas cerca de 2 milhões de organismos marinhos) ou através

da água de lastro, que pode inclusive servir como veículo de transferência de

agentes patogênicos, que podem causar prejuízos à biodiversidade, à

economia e à saúde pública; a manutenção de cartas náuticas atualizadas,

sistema de sinalização náutica e previsão meteorológica adequados e o

serviço de busca e salvamento marítimo, em conformidade com a Convenção

Internacional de Busca e Salvamento Marítimo; os atos ilícitos, tais como o

narcotráfico, contrabando de armas, ações terroristas, pirataria, etc.

“Para países como o Brasil, com uma extensa costa e imensas bacias

hidrográficas plenamente navegáveis, a ameaça se multiplica por sua própria

grandiosidade física. Assim sendo, a única garantia de controle eficaz sobre a

proliferação do crime trans-fronteiriço, como contrabando de bens materiais e

imateriais, biopirataria e narcotráfico, está na consolidação das redes de

115

inteligência e vigilância desenvolvidas pela Marinha do Brasil. O impacto sobre

emprego, renda, patentes, etc l possui uma das suas chaves na capacidade

de transformar as fronteiras brasileiras em locais vivos de trocas legítimas,

geradoras de riqueza e de renda para todos e não em couto de criminosos que

prejudicam a imagem do País e a prosperidade geral.

Em outra dimensão, na qual a poluição e a degradação ambiental

ameaçam o futuro da humanidade, a capacidade de garantir e vigiar a

preservação das nossas águas oceânicas é uma tarefa hercúlea, para a qual a

Marinha possui vocação histórica. Soma-se a isso a clara e indiscutível

escassez de recursos naturais, em especial a água potável, um bem cada vez

mais raro e que, na opinião de estrategistas renomados, poderá ser, no

horizonte deste século, uma causa de conflito bélico. Apesar de o Brasil ser um

país com longa tradição de pacifismo e não intervenção, tendo se envolvido

pela última vez em uma guerra com um Estado vizinho há mais de 140 anos, é

preciso que esteja preparado para enfrentar agressões e ameaças externas.

Em um ambiente de escassez, sempre haverá cobiça em relação aos recursos

dos outros, especialmente se o Estado detentor destes recursos não possuir

os meios necessários para defender a sua soberania.

A “Amazônia Azul” é um alvo potencial dessa cobiça. Além de possuir

inúmeras riquezas, trata-se de uma região estratégica para o controle das

linhas de comunicações marítimas no Atlântico Sul. A proteção do imenso

patrimônio marítimo presente na “Amazônia Azul” é uma tarefa complexa. São

4,5 milhões de quilômetros quadrados de área a ser vigiada. Se a ação for

tímida, ilícitos como pirataria, contrabando, despejos ilegais de material

poluente, exploração da fauna, dentre outros, encontram terreno fértil de

propagação. Por outro lado, a exploração das riquezas marítimas deve ser

realizada de maneira inteligente e sustentável, para que não se esgotem e

privem o País dessa grande fonte de recursos, que contribui significativamente

para o desenvolvimento do Brasil.

Apenas com esse quadro superficial pode-se considerar o quão

fundamental é a existência de uma Marinha capacitada para executar as ações

afetas à defesa da soberania nacional na “Amazônia Azul”, nas quais se

116

incluem, também, o gerenciamento e o monitoramento das atividades que

nelas estiverem em curso” (O Ambiente Marinho – Uma visão da Marinha,

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha, 2010).

Assim, considerando-se que a exploração sustentável dos recursos do

mar depende essencialmente do apoio da MB, quer seja no aspecto

operacional, haja vista produzir informações e tecnologias que auxiliam

diretamente aos que produzem neste ambiente, bem como no aspecto

segurança, que propicia a condição fundamental para a garantia do retorno

dos pesados investimentos assegurando a posse dos equipamentos e o

usufruto da exploração e explotação dos recursos do mar, e que a área a ser

controlada, fiscalizada e protegida é de dimensões gigantescas, concluímos

que, em resposta a questão central deste trabalho, a MB, em que pese possuir

competência reconhecida na execução de suas atividades, ainda não dispõe

de meios, quer sejam humanos ou equipamentos, para executar com eficiência

as atribuições primárias, ligadas a defesa da soberania, e mesmo as

secundárias, ligadas a geração de informações e proteção ao meio ambiente,

que lhe são delegadas, especialmente levando-se em conta a esperada

expansão dos negócios na Amazônia Azul. Pelo histórico apresentado, é

notória a falta de uma política de Estado que capacite preventivamente a MB

cumprir eficientemente a sua missão constitucional e as suas atribuições

subsidiárias, que pelo vulto e significância que têm assumido, já demandam

tanta atenção quanto a dispensada à tarefa primária, confundindo-se ambas

em uma única força, a do desenvolvimento do Brasil. Fica claro também que

não há organização mais especializada do que a MB para tratar dos assuntos

do mar, quer sejam ligados a defesa ou ao controle e fiscalização dos que

labutam no mar.

Vários ministérios e entidades do governo federal possuem, ou deveriam

possuir, ligações com os assuntos do mar, tais como, Ciência e Tecnologia,

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Meio Ambiente, Minas e

Energia, Relações Exteriores, Saúde, Trabalho e Emprego, Transportes,

Turismo, Agricultura, Pesca e Aquicultura, Fazenda, Polícia Federal, IBAMA,

ANTAQ, entre outros. “Ao longo dos anos, os ministérios e instituições citados

117

têm desenvolvido sua cultura de trabalho e procuram estruturar-se para tratar,

com competência, dos assuntos de sua responsabilidade, especialmente na

parte terrestre do território nacional. O mesmo não tem acontecido em relação

à parte “molhada” do território. Nem todos os ministérios foram aparelhados

para isso, nem contam com pessoal especializado em número suficiente e com

meios adequados para exercer sua autoridade no mar. Apenas o MD, por

intermédio do Comando da Marinha, e o MME, por intermédio da estatal

Petrobrás e de suas subsidiárias, têm conhecimento adequado, pessoal

experiente e meios flutuantes próprios; embora, para a Marinha, por restrições

orçamentárias, em níveis inferiores até mesmo aos necessários ao perfeito

cumprimento de sua missão constitucional de defender a pátria. ... A solução

adotada pela maioria dos países é manter as responsabilidades distribuídas

pelos órgãos especializados, mas concentrar os meios navais sob os cuidados

de uma única instituição federal. Entretanto, tal solução implica que deve ser

atribuída a tal instituição, ou a quem ela estiver subordinada, a necessária

autoridade e a devida responsabilidade pela orientação e o apoio aos demais

órgãos envolvidos e pela coordenação das demais atividades marítimas,

promovendo a eficácia da atuação pública. A ela devem ainda ser garantidos,

sem cortes ou contingenciamentos, os recursos financeiros indispensáveis”

(VIDIGAL, 2006, p. 278 e 279).

Como capacitar a MB, em um prazo relativamente curto, a defender a

soberania do Brasil, protegendo as nossas AJB e as instalações e setores

produtivos que exploram e que venham ainda a explorar as suas riquezas, com

um planejamento que contemple uma estratégia nacional e um aparelhamento

factível e condizente com a tarefa? A resposta a esta pergunta é a adoção de

uma Política de Estado que concretize de forma absoluta os planos de

aparelhamento das forças armadas de forma consoante com a Estratégia

Nacional de Defesa, objetivos a serem tratados respectivamente nos itens “3.2”

e “3.3” seguintes.

3.2 – Capacitação da Marinha do Brasil – Visão como Processo

118

É pretensão apresentar neste tópico a Estratégia Nacional de Defesa e

o Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil, analisando a

viabilidade de adequação e utilização dos meios de defesa no controle,

fiscalização, vigilância e proteção dos recursos da Amazônia Azul.

Será enfocada a importância do reaparelhamento, modernização e

manutenção dos meios da Marinha do Brasil e dos recursos de fiscalização e

defesa da Amazônia Azul serem vistos como um processo contínuo de

atualização, compatibilizando-se sempre a capacidade de resposta aos novos

desafios gerados pelo desenvolvimento das atividades de produção e novas

ameaças e vulnerabilidades, alocando os recursos necessários em tempo

hábil, de forma a não permitir que a defasagem torne penosa a adequação dos

meios às necessidades.

A END foi aprovada pelo Decreto nº 6.703 de 18/12/2008. No resumo

apresentado pelo Ministro da Defesa e pelo Ministro Chefe da Secretaria de

Assuntos Estratégicos da Presidência da República, são ressaltados os

seguintes pontos:

- O Brasil desfruta, a partir de sua estabilidade política e econômica, uma

posição de destaque no contexto internacional, o que exige nova postura no

campo da Defesa, a ser consolidada através do envolvimento do povo

brasileiro. À sociedade caberá, por intermédio de seus representantes do

sistema democrático e por meio da participação direta no debate, aperfeiçoar

as propostas apresentadas;

- O Plano é focado em ações estratégicas de médio e longo prazo e objetiva

modernizar a estrutura nacional de defesa, atuando em três eixos

estruturantes: reorganização das Forças Armadas, reestruturação da indústria

brasileira de material de defesa e política de composição dos efetivos das

Forças Armadas;

- A reorganização das Forças Armadas passa pela redefinição do papel do

Ministério da Defesa e a enumeração de diretrizes estratégicas relativas a cada

uma das Forças, com a especificação da relação que deve prevalecer entre

119

elas. Ao lado dessas diretrizes aborda-se o papel de três setores decisivos

para a defesa nacional: o cibernético, o espacial e o nuclear;

- A reestruturação da indústria brasileira de material de defesa tem como

propósito assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das

Forças Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio nacional; e

- Finalmente, orienta-se a relação da sociedade com suas Forças Armadas e

discute-se a composição dos efetivos militares, com sua consequência sobre o

futuro do Serviço Militar Obrigatório. O propósito é zelar para que as Forças

Armadas reproduzam, em sua composição, a própria Nação. O Serviço Militar

Obrigatório deve, pois, funcionar como espaço republicano, no qual possa a

Nação encontrar-se acima das classes sociais;

É ressaltado também pela END que a iniciativa do governo, colocando

as questões de defesa na agenda nacional e formulando um planejamento de

longo prazo para a defesa do País é fato inédito no Estado brasileiro,

marcando uma nova etapa no tratamento de tema tão relevante,

intrinsecamente associado ao desenvolvimento nacional, reafirmando o

compromisso de todos nós, cidadãos brasileiros, civis e militares, com os

valores maiores da soberania, da integridade do patrimônio e do território e da

unidade nacionais, dentro de um amplo contexto de plenitude democrática e de

absoluto respeito aos nossos vizinhos, com os quais mantemos e manteremos

uma relação cada vez mais sólida de amizade e cooperação.

Assim, percebemos claramente, já na apresentação do documento, que

alguns aspectos extremamente relevantes mostram-se numa abordagem

totalmente diferente da adotada no passado. Em primeiro lugar, destaca-se o

planejamento de longo prazo, denotando uma abordagem de Política de

Estado e não mais de Governo, estendendo a responsabilidade ao povo

brasileiro e, consequentemente, aos futuros dirigentes do país, que,

independentemente de ideologias ou posições partidárias, devem colocar os

interesses da nação acima de todos os demais, permitindo que o equipamento

e o preparo das forças de defesa seja efetuado de forma progressiva e

permanente, em conformidade com a disponibilidade de recursos e com a

conveniência estratégica. Em segundo lugar, porém não menos importante, é o

120

estabelecimento de um vínculo entre as forças de defesa e o desenvolvimento,

uma vez que estão intrinsecamente interligados, devendo as forças de

produção às de defesa, a segurança necessária ao seu desenvolvimento e,

consequentemente, o retorno do capital investido, enquanto, em contra-partida,

os stakeholders que beneficiam-se deste desenvolvimento, incluído o próprio

governo federal, devem preocupar-se com a capacitação daquelas, visto serem

as garantidoras da continuidade dos negócios, no caso da MB, exercendo o

Poder Naval, além de contribuir expressivamente com as atividades

operacionais, através da disponibilização das informações e dados coletados

por suas organizações, bem como pela regulamentação, fiscalização e controle

das diversas atividades no mar.

Em sua introdução, a END reafirma os princípios de pacifismo e bom

relacionamento que o Brasil mantém nas suas relações internacionais, e que

ascenderá ao primeiro plano no mundo sem exercer hegemonia ou dominação.

Reconhece que, possivelmente devido a esta veia pacifista, nunca tenha sido

realizado no Brasil, em toda a sua história, amplo debate sobre os assuntos de

defesa, sendo que, apenas periodicamente, os governos autorizavam a

compra ou a produção de novos materiais de defesa e introduziam reformas

pontuais nas Forças Armadas. Cita ainda que, se o Brasil quiser ocupar o lugar

que lhe cabe no mundo, precisará estar preparado para defender-se não

somente das agressões, mas também das ameaças. Vive-se em um mundo

em que a intimidação tripudia sobre a boa fé. Nada substitui o envolvimento do

povo brasileiro no debate e na construção da sua própria defesa.

O documento afirma que a Estratégia Nacional de Defesa é inseparável

da Estratégia Nacional de Desenvolvimento, reforçando o conceito supracitado

de uma interligação intrínseca entre as forças de produção e a segurança. Um

projeto forte de defesa favorece um projeto forte de desenvolvimento, de forma

que, sejam quais forem suas demais orientações, se guie pela independência

nacional, efetivada pela mobilização de recursos físicos, econômicos e

humanos, para o investimento no potencial produtivo do País, alcançada pela

capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial,

cibernético e nuclear e assegurada pela democratização de oportunidades

121

educativas e econômicas e pelas oportunidades para ampliar a participação

popular nos processos decisórios da vida política e econômica do País. O

Brasil não será independente enquanto faltar para parcela do seu povo

condições para aprender, trabalhar e produzir.

A Estratégia Nacional de Defesa organiza-se em torno de três eixos

estruturantes: o primeiro, diz respeito a como as Forças Armadas devem se

organizar e se orientar para melhor desempenharem sua destinação

constitucional e suas atribuições na paz e na guerra. Ao lado da destinação

constitucional, das atribuições, da cultura, dos costumes e das competências

próprias de cada Força e da maneira de sistematizá-las em estratégia de

defesa integrada, aborda-se o papel de três setores decisivos para a defesa

nacional: o espacial, o cibernético e o nuclear. Descreve-se como as três

Forças devem operar em rede – entre si e em ligação com o monitoramento do

território, do espaço aéreo e das águas jurisdicionais brasileiras; o segundo,

refere-se à reorganização da indústria nacional de material de defesa, para

assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das Forças

Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio nacional; o terceiro, versa

sobre a composição dos efetivos das Forças Armadas e, consequentemente,

sobre o futuro do Serviço Militar Obrigatório, com o propósito de zelar para que

as Forças Armadas reproduzam, em sua composição, a própria Nação – para

que elas não sejam uma parte da Nação, pagas para lutar por conta e em

benefício das outras partes. O Serviço Militar Obrigatório deve, pois, funcionar

como espaço republicano, no qual possa a Nação encontrar-se acima das

classes sociais.

A Estratégia Nacional de Defesa pauta-se pelas seguintes principais

diretrizes, afetas a este trabalho:

- Dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras terrestres, nos limites

das águas jurisdicionais brasileiras, e impedir-lhes o uso do espaço aéreo

nacional;

- Organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio

monitoramento/controle, mobilidade e presença;

122

- Desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o espaço aéreo, o

território e as águas jurisdicionais brasileiras a partir da utilização de

tecnologias de monitoramento terrestre, marítimo, aéreo e espacial que

estejam sob inteiro e incondicional domínio nacional;

- Desenvolver, lastreado na capacidade de monitorar/controlar, a capacidade

de responder prontamente a qualquer ameaça ou agressão mediante a

mobilidade estratégica e tática. Considerando-se a vastidão dos espaços a

defender e a escassez dos meios de defesa, a mobilidade estratégica (aptidão

para se chegar rapidamente ao teatro de operações) reforçada pela mobilidade

tática (aptidão para se mover dentro daquele teatro) é o complemento

prioritário do monitoramento/controle e uma das bases do poder de combate,

exigindo das Forças Armadas ação que, mais do que conjunta, seja unificada;

- Aprofundar o vínculo entre os aspectos tecnológicos e os operacionais da

mobilidade, de forma a melhor combinar os meios terrestres, marítimos e

aéreos para obter, em função da sua capacitação operacional, a capacidade

de alternar a concentração e desconcentração de forças com o propósito de

dissuadir e combater o inimigo;

- Fortalecer três setores de importância estratégica: o espacial, o cibernético e

o nuclear, assegurando o atendimento ao conceito de flexibilidade. Como

decorrência de sua própria natureza, esse setores transcendem a divisão entre

desenvolvimento e defesa, entre o civil e o militar. Os setores espacial e

cibernético permitirão, em conjunto, que a capacidade de visualizar o próprio

país não dependa de tecnologia estrangeira e que as três Forças, em conjunto,

possam atuar em rede, instruídas por monitoramento que se faça também a

partir do espaço. O Brasil tem compromisso – decorrente da Constituição

Federal e da adesão ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares –

com o uso estritamente pacífico da energia nuclear. Entretanto, afirma a

necessidade estratégica de desenvolver e dominar essa tecnologia. O Brasil

precisa garantir o equilíbrio e a versatilidade da sua matriz energética e

avançar em áreas, tais como as de agricultura e saúde, que podem se

beneficiar da tecnologia de energia nuclear, e levar a cabo, entre outras

123

iniciativas que exigem independência tecnológica em matéria de energia

nuclear, o projeto do submarino de propulsão nuclear;

- Unificar as operações das três Forças, muito além dos limites impostos pelos

protocolos de exercícios conjuntos. Os instrumentos principais dessa

unificação serão o Ministério da Defesa e o Estado-Maior de Defesa, a ser

reestruturado como Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas;

- Reposicionar os efetivos das três Forças, sendo que as preocupações mais

agudas de defesa estão no Norte, no Oeste e no Atlântico Sul. Sem

desconsiderar a necessidade de defender as maiores concentrações

demográficas e os maiores centros industriais do País, a Marinha deverá estar

mais presente na região da foz do Amazonas e nas grandes bacias fluviais do

Amazonas e do Paraguai-Paraná. O Exército deverá posicionar suas reservas

estratégicas no centro do País, de onde poderão se deslocar em qualquer

direção. Deverá também o Exército agrupar suas reservas regionais nas

respectivas áreas, para possibilitar a resposta imediata na crise ou no conflito

armado;

- Adensar a presença de unidades do Exército, da Marinha e da Força Aérea

nas fronteiras, utilizando as informações disponibilizadas pelos sistemas de

monitoramento/controle e a mobilidade dos meios de defesa. Nas fronteiras

terrestres e nas águas jurisdicionais brasileiras, as unidades do Exército, da

Marinha e da Força Aérea têm, sobretudo, tarefas de vigilância;

- Estruturar o potencial estratégico em torno de capacidades, não em torno de

inimigos específicos. O Brasil não tem inimigos no presente. Para não tê-los no

futuro, é preciso preservar a paz e preparar-se para a guerra;

- Preparar efetivos para o cumprimento de missões de garantia da lei e da

ordem, nos termos da Constituição Federal. O País cuida para evitar que as

Forças Armadas desempenhem papel de polícia. Efetuar operações internas

em garantia da lei e da ordem, quando os poderes constituídos não

conseguem garantir a paz pública e um dos Chefes dos três Poderes o requer,

faz parte das responsabilidades constitucionais das Forças Armadas;

- Estimular a integração da América do Sul;

124

- Preparar as Forças Armadas para desempenharem responsabilidades

crescentes em operações de manutenção da paz, sob a orientação das

Nações Unidas ou em apoio a iniciativas de órgãos multilaterais da região, pois

o fortalecimento do sistema de segurança coletiva é benéfico à paz mundial e

à defesa nacional;

- Ampliar a capacidade de atender aos compromissos internacionais de busca

e salvamento, aprimorando os meios existentes e a capacitação do pessoal

envolvido com estas atividades nas águas jurisdicionais brasileiras e nas áreas

pelas quais o Brasil é responsável, em decorrência de compromissos

internacionais;

- Desenvolver o potencial de mobilização militar e nacional para assegurar a

capacidade dissuasória e operacional das Forças Armadas. Diante de eventual

degeneração do quadro internacional, o Brasil e suas Forças Armadas deverão

estar prontos para tomar medidas de resguardo do território, das linhas de

comércio marítimo e plataformas de petróleo e do espaço aéreo nacionais. As

Forças Armadas deverão, também, estar habilitadas a aumentar rapidamente

os meios humanos e materiais disponíveis para a defesa; e

- Capacitar a indústria nacional de material de defesa para que conquiste

autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa. Neste ponto, a END prevê

a criação de regimes jurídicos especiais para regulamentação das

contratações na indústria nacional de materiais de defesa, porém assegurando

ao Estado, mediante instrumentos de direito, exercer o poder estratégico sobre

estas empresas. Afirma-se ainda que cabe ao setor estatal de material de

defesa operar no teto tecnológico, desenvolvendo as tecnologias que as

empresas privadas não possam alcançar ou obter, a curto ou médio prazo, de

maneira rentável. A indústria nacional de material de defesa será incentivada a

competir em mercados externos para aumentar a sua escala de produção.

Serão buscadas parcerias com outros países, com o propósito de desenvolver

a capacitação tecnológica e a fabricação de produtos de defesa nacionais, de

modo a eliminar, progressivamente, a compra de serviços e produtos

importados.

125

Quanto às atribuições específicas e os objetivos estratégicos e táticos

relativos a MB, a END destaca o seguinte:

- Na maneira de conceber a relação entre as tarefas estratégicas de negação

do uso do mar, de controle de áreas marítimas e de projeção de poder, a MB

se pautará por um desenvolvimento desigual e conjunto, com prioridade em

assegurar os meios para negar o uso do mar a qualquer concentração de

forças inimigas que se aproxime do Brasil por via marítima. Essa prioridade

tem implicações para a reconfiguração das forças navais, uma vez que, ao

garantir seu poder para negar o uso do mar ao inimigo, precisa o Brasil manter

a capacidade focada de projeção de poder e criar condições para controlar, no

grau necessário à defesa e dentro dos limites do direito internacional, as áreas

marítimas e águas interiores de importância político-estratégica, econômica e

militar, e também as suas linhas de comunicação marítimas.

A negação do uso do mar, o controle de áreas marítimas e a projeção

de poder devem ter por foco, sem hierarquização de objetivos e de acordo com

as circunstâncias: defesa pró-ativa das plataformas petrolíferas; defesa pró-

ativa das instalações navais e portuárias, dos arquipélagos e das ilhas

oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras; prontidão para responder à

qualquer ameaça, por Estado ou por forças não convencionais ou criminosas,

às vias marítimas de comércio; e capacidade de participar de operações

internacionais de paz, fora do território e das águas jurisdicionais brasileiras,

sob a égide das Nações Unidas ou de organismos multilaterais da região;

A construção de meios para exercer o controle de áreas marítimas terá

como foco as áreas estratégicas de acesso marítimo ao Brasil. Duas áreas do

litoral continuarão a merecer atenção especial, do ponto de vista da

necessidade de controlar o acesso marítimo ao Brasil: a faixa que vai de

Santos a Vitória e a área em torno da foz do rio Amazonas.

- A doutrina do desenvolvimento desigual e conjunto tem implicações para a

reconfiguração das forças navais. A implicação mais importante é que a

Marinha se reconstruirá, por etapas, como uma arma balanceada entre o

componente submarino, o componente de superfície e o componente

aeroespacial;

126

- Para assegurar o objetivo de negação do uso do mar, o Brasil contará com

força naval submarina de envergadura, composta de submarinos

convencionais e de submarinos de propulsão nuclear. O Brasil manterá e

desenvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar tanto submarinos de

propulsão convencional como de propulsão nuclear. Acelerará os

investimentos e as parcerias necessários para executar o projeto do submarino

de propulsão nuclear. Armará os submarinos, convencionais e nucleares, com

mísseis e desenvolverá capacitações para projetá-los e fabricá-los. Cuidará de

ganhar autonomia nas tecnologias cibernéticas que guiem os submarinos e

seus sistemas de armas, e que lhes possibilitem atuar em rede com as outras

forças navais, terrestres e aéreas;

- Para assegurar sua capacidade de projeção de poder, a Marinha possuirá,

ainda, meios de Fuzileiros Navais em permanente condição de pronto

emprego, para a defesa das instalações navais e portuárias, dos arquipélagos

e das ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras, e para atuar em

operações internacionais de paz, em operações humanitárias, em qualquer

lugar do mundo;

- A força naval de superfície contará tanto com navios de grande porte,

capazes de operar e de permanecer por longo tempo em alto mar, como de

navios de porte menor, dedicados a patrulhar o litoral e os principais rios

navegáveis brasileiros, sendo requisito para a manutenção de tal esquadra a

capacidade da Força Aérea de trabalhar em conjunto com a Aviação Naval,

para garantir superioridade aérea local em caso de conflito armado;

Entre os navios de alto mar, a Marinha dedicará especial atenção ao

projeto e à fabricação de navios de propósitos múltiplos que possam, também,

servir como navios-aeródromos. Serão preferidos os navios-aeródromos

convencionais e de dedicação exclusiva.

A Marinha contará, também, com embarcações de combate, de

transporte e de patrulha, oceânicas, litorâneas e fluviais. Serão concebidas e

fabricadas de acordo com a mesma preocupação de versatilidade funcional

que orientará a construção das belonaves de alto mar. A Marinha adensará

sua presença nas vias navegáveis das duas grandes bacias fluviais, a do

127

Amazonas e a do Paraguai-Paraná, empregando tanto navios-patrulha como

navios-transporte, ambos guarnecidos por helicópteros, adaptados ao regime

das águas. A presença da Marinha nas bacias fluviais será facilitada pela

dedicação do País à inauguração de um paradigma multimodal de transporte,

que contemplará a construção das hidrovias do Paraná-Tietê, do Madeira, do

Tocantins-Araguaia e do Tapajós-Teles Pires. As barragens serão, quando

possível, providas de eclusas, de modo a assegurar franca navegabilidade às

hidrovias;

- O monitoramento da superfície do mar, a partir do espaço, deverá integrar o

repertório de práticas e capacitações operacionais da Marinha. A partir dele, as

forças navais, submarinas e de superfície terão fortalecidas suas capacidades

de atuar em rede com as forças terrestre e aérea;

- A constituição de uma força e de uma estratégia navais que integrem os

componentes submarino, de superfície e aéreo, permitirá realçar a flexibilidade

com que se resguarda o objetivo prioritário da estratégia de segurança

marítima: a dissuasão com a negação do uso do mar ao inimigo que se

aproxime, por meio do mar, do Brasil. Em amplo espectro de circunstâncias de

combate, sobretudo quando a força inimiga for muito mais poderosa, a força

de superfície será concebida e operada como reserva tática ou estratégica.

Preferencialmente, e sempre que a situação tática permitir, a força de

superfície será engajada no conflito depois do emprego inicial da força

submarina, que atuará de maneira coordenada com os veículos espaciais

(para efeito de monitoramento) e com meios aéreos (para efeito de fogo

focado). Esse desdobramento do combate em etapas sucessivas, sob a

responsabilidade de contingentes distintos, permitirá, na guerra naval, a

agilização da alternância entre a concentração e a desconcentração de forças

e o aprofundamento da flexibilidade a serviço da surpresa;

- Um dos elos entre a etapa preliminar do embate, sob a responsabilidade da

força submarina e de suas contrapartes espacial e aérea, e a etapa

subsequente, conduzida com o pleno engajamento da força naval de

superfície, será a Aviação Naval, embarcada em navios. A Marinha trabalhará

com a indústria nacional de material de defesa para desenvolver um avião

128

versátil, de defesa e ataque, que maximize o potencial aéreo defensivo e

ofensivo da Força Naval;

- A Marinha iniciará os estudos e preparativos para estabelecer, em lugar

próprio, o mais próximo possível da foz do rio Amazonas, uma base naval de

uso múltiplo, comparável, na abrangência e na densidade de seus meios, à

Base Naval do Rio de Janeiro; e

- A Marinha acelerará o trabalho de instalação de suas bases de submarinos,

convencionais e de propulsão nuclear.

Quanto aos setores estratégicos elencados pela END, a saber, o

espacial, o cibernético e o nuclear, as prioridades são o projeto e fabricação

nacionais de veículos lançadores guiados remotamente e satélites de

telecomunicações e sensoriamento remoto de alta resolução, o

desenvolvimento de tecnologias de comunicação em rede, acelerar o

mapeamento, prospecção e aproveitamento das jazidas de urânio, e completar

o programa da MB para a propulsão nuclear, dominando completamente o

ciclo de enriquecimento do urânio e a tecnologia de construção de reatores

nucleares e, como extensão às aplicações civis, desenvolver o potencial de

projetar e construir usinas termelétricas.

Para atender a estas prioridades, será incentivada pelo Estado a

formação de recursos humanos nas ciências relevantes, mediante

financiamento de programas de pesquisa e formação nas universidades e

centros de pesquisa brasileiros, aumentando a oferta de bolsas de doutorado e

pós-doutorado.

A END prossegue ainda afirmando que podem ser considerados como

principais aspectos positivos do atual quadro da defesa nacional:

- Forças Armadas identificadas com a sociedade brasileira, com altos índices

de confiabilidade;

- adaptabilidade do brasileiro às situações novas e inusitadas, criando situação

propícia a uma cultura militar pautada pelo conceito da flexibilidade; e

- excelência do ensino nas Forças Armadas, no que diz respeito à metodologia

e à atualização em relação às modernas táticas e estratégias de emprego de

129

meios militares, incluindo o uso de concepções próprias, adequadas aos

ambientes operacionais de provável emprego.

Por outro lado, somente para relatar o que se identifica com este

trabalho, segundo a END configuram-se como principais vulnerabilidades da

atual estrutura de defesa do País:

- pouco envolvimento da sociedade brasileira com os assuntos de defesa e

escassez de especialistas civis nesses temas;

- insuficiência e descontinuidade na alocação de recursos orçamentários para

a defesa;

- obsolescência da maioria dos equipamentos das Forças Armadas, elevado

grau de dependência em relação a produtos de defesa estrangeiros, e

ausência de direção unificada para aquisições de produtos de defesa;

- inexistência de planejamento nacional para desenvolvimento de produtos de

elevado conteúdo tecnológico, com participação coordenada dos centros de

pesquisa das universidades, das Forças Armadas e da indústria;

- falta de inclusão, nos planos governamentais, de programas de aquisição de

produtos de defesa em longo prazo, calcados em programas plurianuais e em

planos de equipamento das Forças Armadas, com priorização da indústria

nacional de material de defesa. Essa omissão ocasiona aquisições de produtos

de defesa no exterior, às vezes, calcadas em oportunidades, com desníveis

tecnológicos em relação ao “estado da arte” e com a geração de indesejável

dependência externa;

- inexistência de regras claras de prioridade à indústria nacional, no caso de

produtos de defesa fabricados no País;

- dualidade de tratamento tributário entre o produto de defesa fabricado no

País e o adquirido no exterior, com excessiva carga tributária incidente sobre o

material nacional, favorecendo a opção pela importação;

- deficiências nos programas de financiamento para as empresas nacionais

fornecedoras de produtos de defesa, prejudicando-as nos mercados interno e

externo;

- falta de garantias para apoiar possíveis contratos de fornecimento oriundos

da indústria nacional de defesa;

130

- bloqueios tecnológicos impostos por países desenvolvidos, retardando os

projetos estratégicos de concepção brasileira; e

- sistemas nacionais de logística e de mobilização deficientes.

Ainda, segundo a END, a identificação e a análise dos principais

aspectos positivos e das vulnerabilidades permitem vislumbrar as seguintes

oportunidades a serem exploradas:

- maior engajamento da sociedade brasileira nos assuntos de defesa, assim

como maior integração entre os diferentes setores dos três poderes do Estado

brasileiro e desses setores com os institutos nacionais de estudos estratégicos,

públicos ou privados;

- regularidade e continuidade na alocação dos recursos orçamentários de

defesa, para incrementar os investimentos e garantir o custeio das Forças

Armadas;

- aparelhamento das Forças Armadas e capacitação profissional de seus

integrantes, para que disponham de meios militares aptos ao pronto emprego,

integrado, com elevada mobilidade tática e estratégica;

- otimização dos esforços em Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa;

- maior integração entre as indústrias estatal e privada de material de defesa,

com a definição de um modelo de participação na produção nacional de meios

de defesa;

- estabelecimento de regime jurídico especial para a indústria nacional de

material de defesa, que possibilite a continuidade e o caráter preferencial nas

compras públicas;

- integração e definição centralizada na aquisição de produtos de defesa de

uso comum, compatíveis com as prioridades estabelecidas;

- condicionamento da compra de produtos de defesa no exterior à

transferência substancial de tecnologia, inclusive por meio de parcerias para

pesquisa e fabricação no Brasil de partes desses produtos ou de sucedâneos a

eles;

- articulação das Forças Armadas, compatível com as necessidades

estratégicas e de adestramento dos Comandos Operacionais, tanto singulares

131

quanto conjuntos, capaz de levar em consideração as exigências de cada

ambiente operacional, em especial o amazônico e o do Atlântico Sul;

- fomento da atividade aeroespacial, de forma a proporcionar ao País o

conhecimento tecnológico necessário ao desenvolvimento de projeto e

fabricação de satélites e de veículos lançadores de satélites e desenvolvimento

de um sistema integrado de monitoramento do espaço aéreo, do território e

das águas jurisdicionais brasileiras;

- aperfeiçoamento do Serviço Militar Obrigatório, na busca de maior

identificação das Forças Armadas com a sociedade brasileira, e estudos para

viabilizar a criação de um Serviço Civil, a ser regulado por normas específicas;

- expansão da capacidade de combate das Forças Armadas, por meio da

mobilização de pessoal, material e serviços, para complementar a logística

militar, no caso de o País se ver envolvido em conflito; e

- otimização do controle sobre atores não-governamentais, especialmente na

região amazônica, visando à preservação do patrimônio nacional, mediante

ampla coordenação das Forças Armadas com os órgãos governamentais

brasileiros responsáveis pela autorização de atuação no País desses atores,

sobretudo daqueles com vinculação estrangeira.

A END prevê ainda um planejamento de elaboração de documentos que

auxiliarão a implementação das suas diretrizes, cujos mais importantes para a

abordagem deste trabalho são os seguintes:

- Planos de Equipamento e Articulação das Forças Armadas (2009-2030);

- Proposta de estabelecimento de ato legal que garanta a alocação, de forma

continuada, de recursos financeiros específicos, para viabilizar o

desenvolvimento integrado e a conclusão de projetos relacionados à defesa

nacional;

- Proposta de dispositivos necessários a viabilizar investimentos nas Forças

Armadas a partir de receitas eventualmente geradas pelos bens imóveis da

União, administrados pelas Forças;

- Proposta de uma legislação específica que possibilite a aplicação, nas Forças

Armadas, dos recursos provenientes do recolhimento de taxas e serviços;

132

- Proposta de modificações na Lei nº 8.666 e legislação complementar,

possibilitando regime jurídico e econômico especial para compras de produtos

de defesa junto às empresas nacionais; e

- Proposta de modificações na legislação referente à tributação incidente sobre

a indústria nacional de defesa, por meio da criação de regime jurídico especial

que viabilize incentivos e desoneração tributária à iniciativa privada na

fabricação de produto de defesa prioritário para as Forças Armadas.

Uma vez conhecida a Estratégia Nacional de Defesa, vamos conhecer o

Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil (PAEMB).

Em linhas gerais, no PAEMB, já apresentado ao MD, a MB, de acordo

com o constante no site desta organização, procurou levantar todas as ações a

serem implementadas para ser dotada das organizações militares, meios

navais, aeronavais e de fuzileiros navais, sistemas, armamento, munição e

efetivos de pessoal necessários ao atendimento das diretrizes estabelecidas

na END.

Considerando que a tarefa de “negar o uso do mar ao inimigo” deve

orientar, de modo preponderante, a estratégia de defesa marítima do País, a

MB dará prosseguimento à construção dos submarinos convencionais e ao

projeto de desenvolvimento do submarino de propulsão nuclear, e construirá

uma Base e um Estaleiro em Itaguaí (RJ), com vistas à construção e ao apoio

a seus submarinos.

Além disso, com base na premissa de que a Força deve organizar-se

sob a égide do trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença, a

Marinha ampliará o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz),

incluindo aeronaves, radares fixos e veículos aéreos não-tripulados (VANT), e

modernizará os seus recursos de comunicações militares. Para assegurar

maior ação de presença nas proximidades da foz do Rio Amazonas, nas

Bacias Amazônica e do Paraguai-Paraná e maior controle da faixa litorânea

entre Santos (SP) e Vitória (ES), implantará uma 2ª Esquadra e uma 2ª Divisão

Anfíbia na Região N/NE do País, ampliará ou criará novas OM operativas, do

Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA) e de apoio logístico, as

quais serão estrategicamente distribuídas pelo território nacional, e renovará

133

sua frota mediante a obtenção de meios navais, aeronavais e de fuzileiros

navais adequados.

No encalço dessas providências, estará, também, assegurando o

incremento de sua capacidade para compor força de manutenção de paz, de

realizar ações humanitárias e de resgate de não combatentes no exterior, de

executar operações de busca e salvamento (SAR) e de contribuir para a

garantia da lei e da ordem.

Tendo em vista a necessidade de rever, a partir de uma política de

otimização do emprego de recursos humanos, a composição dos efetivos das

três Forças, de modo a dimensioná-las para atender adequadamente ao

disposto na END, a MB incrementará sua capacidade de obtenção, formação e

capacitação de recursos humanos, por meio da ampliação, modernização e

construção de novas Escolas e Centros de Instrução.

Adicionalmente, aperfeiçoará o atendimento da Família Naval,

propiciando a elevação do nível de satisfação profissional de seu pessoal,

mediante a construção de Próprios Nacionais Residenciais (PNR) e a

ampliação, modernização e construção de hospitais e núcleos do Sistema de

Assistência Integrada.

O estabelecimento do conjunto de ações e respectivas metas físico-

financeiras não esteve condicionado a questões de ordem orçamentária e de

capacitação do parque industrial – nacional e estrangeiro. Nos estudos sobre o

dimensionamento, procurou-se responder às necessidades estratégicas da

Marinha, de modo a torná-la apta a assegurar os interesses do País.

Releva mencionar que não consta do referido Plano projeto para dotar a

Força de segmento espacial próprio, haja vista que a necessidade de cobertura

por satélite, tanto para monitoramento/controle quanto para comunicações,

deve ser integrada e formulada pelo Ministério da Defesa, por envolver as três

Forças Armadas.

Pensou-se em uma Marinha crível, que deixe claro aos possíveis

opositores a nossa capacidade de sobrepujar as forças antagônicas.

134

O prazo para execução do PAEMB é até 2030, subdividido em ações de

curto prazo (2010-2014), de médio prazo (2015-2022) e de longo prazo (2023-

2030).

Tendo em vista a complexidade e grandeza do empreendimento, a

obtenção de alguns meios para o atingimento da Quantidade Estratégica

Necessária só poderá ser concluída após 2030.

Da mesma forma, a carreira militar tem a duração de trinta anos. A

obtenção de todo o efetivo requerido pelo PAEMB, em espaço temporal de

vinte anos, criaria uma distorção indesejável no fluxo de carreira. Assim, torna-

se necessário considerar que as ações de longo prazo tenham uma duração

que ultrapasse o ano previsto de 2030.

Não obstante as considerações de ordem estratégica conexas à

Segurança Nacional, valem, também, as de cunho econômico e social. A

consecução do PAEMB impulsionará de forma ímpar a indústria nacional. A

indústria naval é considerada uma indústria de base e seu incremento implica

no crescimento de outros segmentos, com intenso reflexo na cadeia produtiva

de vários outros campos de atividade econômica, tais como o eletro-eletrônico,

metalúrgico, mecânica pesada, motores de propulsão marítimos, armamentos

e informática, entre outros, tamanha a diversidade de equipamentos existentes

a bordo dos navios de guerra. A alta tecnologia utilizada na construção e na

manutenção dos navios e a necessidade de auto-suficiência para manter os

meios militares operativos fazem com que o País procure sua independência

tecnológica nas mais diversas áreas.

Na vertente social, estima-se a criação de 30.000 novos empregos

diretos e de 100.000 indiretos, adicionalmente às oportunidades geradas em

decorrência do aumento do efetivo pleiteado, de cerca de 70.000 novos cargos

de civis e militares. Tal acréscimo se traduzirá na geração anual de

expressivas oportunidades de trabalho direto, promovendo a inclusão e o

aprimoramento na formação de milhares de cidadãos oriundos das mais

diversas classes sociais, contribuindo substancialmente para o

engrandecimento do País.

135

Tudo isso representará, ainda, um incremento na arrecadação de

impostos da ordem de R$ 7,5 bilhões/ano.

Atualmente, o PAEMB encontra-se em análise no Ministério da Defesa,

de modo a constituir, juntamente com os Planos das outras Forças, o Plano de

Articulação e Equipamento das Forças Armadas.

Em termos mais práticos, o PAEMB pode ser traduzido em

equipamentos e sistemas da seguinte forma:

- Força de submarinos

A MB, atendendo a prioridade estabelecida pela END, já iniciou as obras

para a construção do estaleiro e da base de operações dos submarinos em

Itaguaí, em parceria com a França, mediante contratação de financiamento

externo, com valor total de 6,79 bilhões de euros, incluídos 4 submarinos

convencionais da Classe Scorpene (previsão de entrega entre 2017 e 2021) e

1 submarino nuclear (previsão de entrega em 2023). Posteriormente, o PAEMB

prevê a construção de outros 11 submarinos convencionais e 5 nucleares,

além da modernização dos 5 submarinos existentes, que já está em

andamento.

A escolha dos submarinos para iniciar o aparelhamento da MB decorreu

do princípio de negação do uso do mar, preceituado na END. Os submarinos

possuem grande capacidade de ocultação, mobilidade tridimensional e grande

poder de destruição, sendo que o submarino nuclear, devido à sua fonte de

energia, pode manter elevadas velocidades por tempo indeterminado, operam

a maiores profundidades e independem do ar atmosférico, o que aumenta

consideravelmente a sua taxa de discrição. “A área onde se vislumbra, de

maneira mais efetiva, a atuação dos submarinos componentes da esquadra

brasileira é a Amazônia Azul ... Ela se configura em um espaço marítimo de

grandes proporções onde se constata a existência de diversos interesses

político-estratégicos, incluindo os de natureza econômica. Constituem-se em

exemplo destes interesses o petróleo contido na plataforma continental, o

intenso tráfego marítimo oceânico e a grande quantidade de recursos vivos e

não-vivos” (MACHADO, 2010, p. 15).

136

O MD e a MB vislumbraram que a força de submarinos seria a melhor

forma de prover segurança contra as vulnerabilidades da Amazônia Azul. Aqui,

é importante reforçar o conceito de vulnerabilidade estratégica, que “...pode ser

entendida como uma importante capacidade que o Estado possui e que, com a

sua perda, a sensação de segurança é significativamente afetada. ...De outra

forma, vulnerabilidade estratégica pode ser considerada tudo aquilo que

estando à mercê da ação de forças oponentes é capaz, se atingida, de abalar

a força produtiva, o ethos nacional, e de enfraquecer a própria expressão do

poder político” (MACHADO, 2010, p. 23). É possível deduzir que qualquer

ameaça às forças de produção localizadas na Amazônia Azul, ainda que não

concretizadas, dependendo do aumento da possibilidade de concretização,

influenciarão a continuidade da produção, não somente do negócio

diretamente afetado, mas de todos os negócios de toda a área ameaçada.

Naturalmente, ninguém investiria em um negócio sob ameaça de perder o seu

patrimônio. Assim, somente a presença da ameaça já constitui a agressão,

uma vez que afetaria os investimentos em todos os negócios direta ou

indiretamente ligados à área ameaçada, com influências negativas no mercado

financeiro e na vida econômica do país.

As ameaças, hoje em dia, não provêm exclusivamente de outros

Estados, e seu alvo não mais pode ser distinguido entre Estado e indivíduos.

“As ameaças hoje, no entanto, se aproximaram mais do cidadão comum.

Existe a nítida impressão de que a qualquer momento você, ou pessoas do seu

convívio, podem de alguma forma ser afetados por atos que possam provocar

uma sensação de insegurança. Portanto, as percepções de ameaças têm hoje

um outro espectro: suas fontes e origens são bem mais amplas e não se

restringem mais as que emanam de outros Estados. Além disso, são

reconhecidas de outra forma e atingem a sociedade em múltiplos aspectos”

(MACHADO, 2010, p. 24).

A melhor forma de combater as ameaças é impor insegurança a quem

ameaça, e neste quesito o submarino é uma arma ímpar, dadas as suas

características de discrição. “Na verdade, o submarino, em determinadas

situações, não precisa nem surpreender e nem, como já visto, estar presente à

137

cena de ação para inibir atos de agressão. A simples dissuasão que a sua

posse enseja reduz o ímpeto das ações inimigas e confere ao inimigo um risco

demasiado se o mesmo optar em implementar suas ações” (MACHADO, 2010,

p. 28). A utilização de submarinos convencionais e nuclear não é excludente,

ao contrário, complementam-se, uma vez que os convencionais são mais

eficientemente empregados em águas rasas, enquanto o nuclear é mais

adequado às águas profundas, especialmente abaixo de 100 metros, quando

torna-se praticamente indetectável.

Quanto ao histórico das aplicações da energia nuclear no Brasil, deve-

se ressaltar que a MB esteve presente desde 1946, com um representante na

Comissão de Energia Atômica das Nações Unidas, um oficial-general na

presidência da Comissão Nacional de Energia Nuclear entre 1956 e 1961, e a

criação do Programa Nuclear da Marinha em 1979. Já em 1984, a MB atingia o

objetivo de capacitar-se no enriquecimento isotópico de urânio mediante o

processo de ultra-centrifugação, cabendo ressaltar que a tecnologia

desenvolvida no Brasil utiliza rotor totalmente levitado, aumentando

sensivelmente o desempenho e a durabilidade do sistema. Em 2006 entrou em

funcionamento a unidade industrial de enriquecimento de urânio na Indústrias

Nucleares do Brasil (INB). Já encontra-se implantada a fábrica de hexa-fluoreto

de urânio, em fase de testes, e encontra-se em implantação o Laboratório de

Geração Nucleo-Elétrica (LABGENE), com previsão de prontificação para

2012, onde será instalado um reator nuclear idêntico ao que será utilizado no

submarino, e todos os demais sistemas necessários ao funcionamento de uma

planta de propulsão naval, de forma a realizar testes com segurança, antes da

instalação final na embarcação. É importante frisar que o desenvolvimento

desta tecnologia terá implicações significativas para o país fora do âmbito

militar, tornando o Brasil independente também na produção de combustível

para as usinas nucleares de geração de energia elétrica e na indústria de

equipamentos médicos, entre outros.

- Força de superfície

Estão previstos no PAEMB a construção das seguintes unidades, em

complementação às já existentes, devidamente modernizadas e/ou reparadas:

138

2 Navios Aeródromos, 30 Navios Escolta, 5 Navios de Apoio Logístico, 4

Navios de Transporte de Apoio, 50 Navios-Patrulha (500 e 200 toneladas), 12

Navios-Patrulha de 1800 toneladas, 4 Navios de Propósitos Múltiplos, 48

Aeronaves de Interceptação e Ataque Embarcadas, 8 Aeronaves de Alarme

Aéreo Antecipado Embarcadas, 8 Aeronaves de Vigilância Marítima

Embarcadas, 8 Aeronaves de Transporte/Reabastecimento em Vôo, 50

Helicópteros de Múltiplo Emprego, 10 Veículos Aéreos Não Tripulados, 60

Helicópteros de Pequeno Porte de Emprego Geral, 60 Helicópteros de Médio

Porte de Emprego Geral, 30 Helicópteros de Instrução, 84 Veículos Blindados

de Transporte de Pessoal, 22 Carros de Combate, 78 Carros sobre Lagarta

Anfíbios, entre outros.

Em reportagem publicada no caderno especial do jornal “O Dia” de

16/05/2010, página 9, são apresentadas algumas informações sobre este

programa, como o custo previsto de 70 bilhões de euros, com índices de

nacionalização em torno de 40 % para as unidades mais complexas e de 50 a

60 % para as unidades menos complexas, construção em estaleiros nacionais

associados a estaleiros projetistas internacionais, gerando milhares de

empregos no Brasil.

- Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz)

Segundo o trabalho “O Ambiente Marinho – Uma visão da Marinha”

apresentado na 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”,

realizado em 2010, “para bem entender o cenário que se apresenta, cabe uma

pequena comparação com a Amazônia Verde: nesta as fronteiras são

fisicamente demarcáveis e estão sendo efetivamente ocupadas com pelotões e

obras de infra-estrutura; na “Amazônia Azul”, entretanto, os limites das águas

jurisdicionais são linhas sobre o mar, que não existem fisicamente, o que as

definem e fazem serem respeitadas são os navios da Marinha patrulhando-as

ou realizando ações de presença.

À semelhança do que existe na Amazônia Verde, o SIPAM (Sistema de

Proteção da Amazônia), que é uma organização sistêmica de produção e

veiculação de informações que visa a proteção, a inclusão e o

desenvolvimento sustentável da região, a Marinha, pela responsabilidade que

139

tem na “Amazônia Azul”, projetou e está desenvolvendo o “Sistema de

Gerenciamento da Amazônia Azul” (SisGAAz).

O SisGAAz compreende um conjunto de atividades ligadas ao mar,

envolvendo, dentre outros conhecimentos e aplicações, vigilância, segurança,

gestão de recursos naturais, prevenção à poluição, soberania e reação às

situações adversas, integradas e coordenadas pela Marinha, na qualidade de

Autoridade Marítima. Esse sistema, contando com vários subsistemas, fará o

monitoramento e o controle das águas de interesse do Brasil, contribuindo com

a sua segurança, proteção e defesa, desde o tempo de paz, e terá a

capacidade de efetuar o monitoramento contínuo, a detecção, identificação e

acompanhamento de alvos, com integração, fusão, análise e disseminação das

informações relevantes com a máxima agilidade. Também, contará com a

flexibilidade para interagir com órgãos governamentais extra-Marinha.

Quando o SisGAAz estiver implantado, o País contará com um sistema

que possibilitará, dentre outros:

- monitorar as águas de interesse do Brasil, a fim de garantir a exclusividade

dos recursos e impedir a sua utilização não autorizada por outros países;

- garantir o comércio marítimo pelo acompanhamento do tráfego mercante;

- orientar as embarcações que necessitem de apoio, por meio da troca de

informações e pela presença naval em pontos focais;

- reduzir ou eliminar os efeitos de incidentes que venham a poluir o ambiente

marinho, bem como aqueles consequentes de acidentes naturais;

- garantir a segurança da navegação;

- garantir a salvaguarda da vida humana, resgatando pessoas de maneira mais

rápida;

- combater os ilícitos transnacionais; e

- prevenir fenômenos naturais extremos”.

A descrição acima dá bem a dimensão da importância da implantação

deste sistema, que, uma vez integrado aos de mais sistemas disponíveis no

Brasil e aos meios da MB, permitirá a presença das forças constituídas onde

se fizer necessário defender os interesses do Brasil, quer seja pela dissuasão

das ameaças, quer seja pela constante vigilância, fiscalização, controle e

140

gestão sustentável dos recursos e do meio ambiente marinho na nossa

Amazônia Azul.

Como vimos neste tópico, a necessidade de recursos financeiros para a

implementação do PAEMB é significativa, exigindo uma programação dos

gastos compatível com as necessidades de prontificação dos meios, que, se

postergados, colocam em risco todo o planejamento, retornando á situação

existente anteriormente, onde adequávamos o aparelhamento ao recurso

financeiro disponível, quando, ao contrário, devemos adequar a disponibilidade

de recursos às necessidades impostas pelo requisito de segurança que se

apresenta no momento. Cabe ainda observar que, num verdadeiro sistema

PDCA (Plan, Do, Check, Act), o aparelhamento das forças deve ser

constantemente revisto, em conformidade com o aumento das vulnerabilidades

e as possibilidades de ameaça, mantendo-se permanentemente a capacidade

de cumprir a missão estabelecida na END, na sua forma mais atual. Assim

sendo, no próximo tópico, devemos lançar um olhar sobre a forma de planejar

o orçamento brasileiro e como os gastos com a defesa têm sido considerados.

3.3 – Defesa brasileira e o orçamento da União

Neste tópico, será feita uma breve descrição de como se faz a previsão

orçamentária no Brasil. Em seguida, será feita uma análise histórica da

destinação dos recursos orçamentários para a pasta da defesa,

comparativamente às pastas de Minas e Energia e da Fazenda. Serão

apresentadas também as previsões de destinação de recursos em 2011 para

algumas pastas do Governo Federal, a título de comparação com a situação

da Defesa.

Será efetuada uma simples comparação dos investimentos em defesa

no Brasil relativamente aos demais países do grupo denominado BRIC, EUA e

Inglaterra, de forma a obtermos uma amostragem de países com dimensões e

características econômicas similares, comparativamente aos países

141

desenvolvidos, especialmente os EUA, por ser a potência hegemônica, e a

Inglaterra, como representante militar mais significativo da Europa.

Serão traçadas considerações sobre orçamento e defesa e as

implicações da falta de atribuição de prioridade aos investimentos nesta área.

Serão aventadas possibilidades de origem e alocação dos recursos

financeiros para a implementação do PAEMB e demais planos da END, bem

como para a manutenção/reparo dos meios existentes.

O Orçamento Geral da União (OGU) é formado pelo Orçamento Fiscal,

da Seguridade e pelo Orçamento de Investimento das empresas estatais

federais. Existem princípios básicos que devem ser seguidos para elaboração

e controle do Orçamento que estão definidos na Constituição, na Lei nº 4.320,

de 17/03/1964, no Plano Plurianual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias.

A Constituição Federal de 1988 atribui ao Poder Executivo a

responsabilidade pelo sistema de Planejamento e Orçamento que tem a

iniciativa dos seguintes projetos de lei:

- Plano Plurianual (PPA)

- De Diretrizes Orçamentárias (LDO)

- De Orçamento Anual (LOA)

O Projeto de Lei do PPA define as prioridades do governo por um

período de quatro anos e deve ser enviado pelo Presidente da República ao

Congresso Nacional até o dia 31 de agosto do primeiro ano de seu mandato.

De acordo com a Constituição Federal, o Projeto de Lei do PPA deve

conter as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as

despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos

programas de duração continuada. O PPA estabelece a ligação entre as

prioridades de longo prazo e a Lei Orçamentária Anual.

O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deve ser enviado

pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril de cada ano.

A LDO estabelece as metas e prioridades para o exercício financeiro

subsequente, orienta a elaboração do Orçamento, dispõe sobre alteração na

142

legislação tributária e estabelece a política de aplicação das agências

financeiras de fomento.

Com base na LDO aprovada pelo Legislativo, a Secretaria de

Orçamento Federal elabora a proposta orçamentária para o ano seguinte, em

conjunto com os Ministérios e as unidades orçamentárias dos poderes

Legislativo e Judiciário. Por determinação constitucional, o governo é obrigado

a encaminhar o Projeto de Lei do Orçamento ao Congresso Nacional até o dia

31 de agosto de cada ano. Acompanha o projeto uma Mensagem do

Presidente da República, na qual é feito um diagnóstico sobre a situação

econômica do país e suas perspectivas.

O governo define no Projeto de Lei Orçamentária Anual as prioridades

contidas no PPA e as metas que deverão ser atingidas naquele ano. A Lei

Orçamentária disciplina todas as ações do governo federal. Nenhuma despesa

pública pode ser executada fora do Orçamento, mas nem tudo é feito pelo

governo federal. As ações dos governos estaduais e municipais devem estar

registradas nas leis orçamentárias dos Estados e municípios.

No Congresso, deputados e senadores discutem na Comissão Mista de

Orçamentos e Planos a proposta enviada pelo Executivo, fazem as

modificações que julgam necessárias através das emendas e votam o projeto.

A Constituição determina que o Orçamento deve ser votado e aprovado até o

final de cada Legislatura. Depois de aprovado, o projeto é sancionado pelo

Presidente da República e se transforma em Lei.

A Lei Orçamentária brasileira estima as receitas e autoriza as despesas

de acordo com a previsão de arrecadação. Se durante o exercício financeiro

houver necessidade de realização de despesas acima do limite que está

previsto na Lei, o Poder Executivo submete ao Congresso Nacional projeto de

lei de crédito adicional. Por outro lado, crises econômicas mundiais obrigam o

Poder Executivo a editar Decretos com limites financeiros de gastos abaixo dos

limites aprovados pelo Congresso. São chamados de Decretos de

Contingenciamento, pelos quais somente são autorizadas despesas no limite

das receitas arrecadadas.

143

De acordo com o site DEFESA BR (www.defesabr.com), a execução do

Orçamento da União nos últimos 10 anos apresenta uma expressiva redução

dos gastos com o Ministério da Defesa. Ao término da gestão de FHC, o

orçamento da defesa era de 43,17 bilhões de reais, e no primeiro ano do

governo Lula, apresentou uma queda de 27 %, passando a 31,43 bilhões de

reais. De 2004 a 2008, manteve a média de 35,87 bilhões de reais, sendo que,

em 2009, iniciou uma recuperação, passando a 51,3 bilhões de reais, e atingiu

em 2010 o maior valor da década, de 59 bilhões de reais. A previsão para

2011 é de 60,23 bilhões de reais.

Apurando-se os dados referentes ao Orçamento da União do período de

2008 a 2011, cujo projeto de lei foi encaminhado ao Congresso em 31 de

agosto de 2010, obtivemos a seguinte tabela:

ANO PIB (R$) Orçamento da

Defesa

Despesas da Defesa

Pessoal e Encargos Sociais Investimentos

R$ % PIB R$ % Orçto R$ % Orçto % PIB

2008 3.004.881 42.729 1,42 31.149 72,90 3.247 7,60 0,11

2009 3.143.015 51.382 1,63 38.275 74,49 4.110 8,00 0,13

2010 3.548.700 59.006 1,66 42.678 72,33 7.471 12,66 0,21

2011 3.890.000 60.230 1,55 44.317 73,58 6.345 10,53 0,16

Valores em milhões de reais Fonte: Secretaria da Receita Federal (www.portalsof.planejamento.gov.br)

Constatamos que o orçamento da defesa representa, em média, 1,55 %

do valor do PIB brasileiro. Quanto às despesas, os gastos com pessoal e

encargos sociais consomem em média 73 % do orçamento, e os investimentos

representam somente 0,15 % do PIB. Desta forma, os gastos com pessoal e

encargos sociais consomem praticamente todos os recursos,em função do

grande contingente de inativos e pensionistas, relativamente aos servidores

ativos. “No governo Lula, a prioridade conferida à Defesa se manteve baixa e

estável. Desde 2003, as verbas da pasta ficaram em torno de 7,5% da receita

disponível do governo federal. E o cenário não muda no primeiro Orçamento

144

após a nova END. São somente as despesas com pessoal que vêm

apresentando grande crescimento. O contraste é visível, em um ministério que

destina 3/4 de sua verba total à folha de pagamentos, e é de longe a maior

proporção da Esplanada. Cada militar da ativa custa, em média, R$ 1.942, o

menor valor entre os quadros da União. Entre os civis da administração direta,

a média é de R$ 6.301, e no Ministério Público, onde se pagam os maiores

salários, de R$ 15.717. No entanto, há um alto custo por causa do número de

militares ativos - 430 mil, quase 40% do quadro da União. Além, é claro, das

condições oferecidas aos 330 mil aposentados e pensionistas, que, mesmo

inferiores numericamente, consomem 62% das despesas com pessoal da

pasta. A previdência dos militares vem sendo poupada das reformas feitas na

previdência brasileira há anos. Com as modernizações da Reforma da

Previdência, esses aspectos deficitários de Defesa (75 % do Orçamento)

deverão decrescer, pois haverá reduções de dispêndios de várias espécies nos

próximos anos (como a pensão de filhas solteiras e até de netos de

marechais), além da redução dos contingenciamentos, liberando-se verbas

fundamentais para os melhores e reais objetivos constitucionais, hoje muito

pouco respeitados pelo governo federal” (www.defesabr.com).

Outro dado importante, é a atenção dispensada pelo governo aos

investimentos na pasta de Minas e Energia, leia-se Petrobrás, que,

historicamente, têm consumido praticamente 90 % dos recursos destinados,

conforme pode ser visualizado na tabela abaixo:

ANO PIB

Despesa do Orçamento de Investimento das Empresas Estatais

Defesa Minas e Energia Fazenda Previsto pelo Governo

R$ % R$ % R$ % R$ 2008 3.004.881 1.658 2,67 56.122 90,34 3.092 4,98 62.122

145

2009 3.143.015 1.039 1,31 73.380 92,56 3.513 4,43 79.281 2010 3.548.700 1.475 1,56 87.424 92,60 3.965 4,20 94.406 2011 3.890.000 2.208 2,05 99.441 92,46 3.851 3,58 107.548 Valores em milhões de reais Fonte: Secretaria da Receita Federal (www.portalsof.planejamento.gov.br)

Cabe ressaltar que até mesmo os investimentos feitos na pasta da

Fazenda ultrapassam os destinados a Defesa. Este quadro sugere que fatores

políticos influenciam também a destinação destes recursos, uma vez que ligar

as ações do partido do governo ao sucesso da Petrobras oferece enorme

retorno propagandístico, além dos cargos de primeiro escalão da empresa

poderem ser utilizados como moeda de troca, uma vez que, comumente, são

cargos políticos e não técnicos. No caso da pasta da Fazenda, obviamente os

investimentos estão ligados à capacidade de gerar receitas, com reflexos

imediatos na capacidade do governo de executar as obras de maior impacto,

como por exemplo os PAC, que, ainda que representem avanços na área

social e na diminuição da taxa de desemprego, servem também como

plataforma para a projeção positiva das ações governamentais. Quanto à

Defesa, observamos que, na prática, ainda não se concretizou o ideal proposto

na END, que é a inseparabilidade das estratégias nacionais de

desenvolvimento e de defesa, haja vista a disparidade entre o tratamento

dispensado pelo governo a ambas. Há um forte projeto de desenvolvimento

das forças produtivas na área de petróleo e gás, porém, não há a contra-

partida equivalente na área de defesa, contrariando o proposto na END, como

já visto no item “3.2” deste capítulo. Procedendo desta forma, cada vez

dispomos de menos meios para defender maiores riquezas, ou seja, cada vez

aumentamos mais o que temos a perder, caso as ameaças futuras venham a

se concretizar. Procedendo desta forma, mantemos a prática anterior de atuar

corretivamente, quando a ameaça já se concretizou, inevitavelmente

dependendo do apoio de terceiros, ao invés de preventivamente, situação na

qual poderíamos abdicar da tutela que, em troca da segurança que somos

incapazes de propiciar, tolhe o nosso desenvolvimento.

146

Outra fonte de recurso que ainda não tem sido disponibilizada a

contento para a MB, são os recursos provenientes dos royalties sobre a

produção de petróleo e gás natural, que têm sido sistematicamente

contingenciados pelo governo, como, por exemplo, em 2009: “Sobre os

Royalties da Marinha, de R$ 1,8 bilhão em 2009, foi contingenciado R$ 1,02

bilhão, restando somente R$ 780 milhões para investimentos e custeio (43%

do valor inicial)” (www.defesabr.com). Vale recordar que, conforme explanado

no item “1.2.5” do capítulo I, desde 2000, o CM já deveria ter recebido 7,7

bilhões de reais. O contingenciamento desta verba deve-se ao disposto no

parágrafo segundo do artigo 45 da Lei nº 9478 de06/08/1997, que determina:

“As receitas provenientes das participações governamentais definidas no

caput, alocadas para órgãos da administração pública federal, de acordo com

o disposto nesta Lei, serão mantidas na Conta Única do Governo Federal,

enquanto não forem destinadas para as respectivas programações”

(www.planalto.gov.br) . Por esta lei, os royalties devidos correspondem a 10 %

da produção comercial de petróleo e gás natural, sendo que a participação da

MB é de 1 % dos primeiros 5 % do total de royalties devidos, e, com relação à

parcela que exceder os 5 %, a MB terá direito a 15 %, quando a lavra ocorrer

na PC. Cabe ressaltar que a MB não entra na partilha de participação especial

e nem no pagamento pela ocupação e retenção de área, previstos

respectivamente nos itens III e IV do artigo 45 da Lei 9478. Caso venha a ser

aprovado o Projeto de Lei da Câmara nº 16/2010, as receitas de royalties

referentes aos itens III e IV supracitados deixarão de existir, e os royalties

serão pagos em montante correspondente a 15 % da produção de petróleo e

gás natural, sendo que, quando a lavra ocorrer na PC, caberá à União 19 % do

total, para destinação ao CM e MCT. Como não há definição de como se fará a

distribuição entre CM e MCT do valor disponibilizado, não temos como avaliar

como ficará a situação da MB relativamente à situação vigente atualmente,

entretanto, somente pelo fato de sairmos de uma situação na qual a

participação da MB é bem definida para uma situação na qual não é definida,

já permite inferir dificuldades futuras de captação destes recursos.

147

Em que pese a situação descrita acima, o Brasil tem dificuldades a

enfrentar que ameaçam a destinação de maiores recursos para a defesa. O

documento “Orçamento Federal ao Alcance de Todos”

(www.portalsof.planejamento.gov.br) mostra que, para o orçamento da União

de 2011, estima-se que o PIB será de 3,89 trilhões de reais. As receitas e

despesas propostas correspondem a aproximadamente R$ 2,05 trilhões,

sendo que o orçamento da seguridade social, que contempla as despesas com

saúde, previdência e assistência social, é de R$ 512,7 bilhões (25 % do total).

Quanto ao orçamento fiscal, é de aproximadamente R$ 1,4 trilhão, e

nele estão incluídas as despesas dos Poderes Judiciário, Legislativo, Executivo

e o Ministério Público da União compreendendo os órgãos da administração

pública federal, direta e indireta, abrangendo os fundos, autarquias, fundações,

e as empresas estatais dependentes, não contempladas nos outros

orçamentos, além dos valores que financiam a dívida pública federal, que é de

R$ 953,8 bilhões, dos quais R$ 678,5 bilhões correspondem a rolagem da

dívida e R$ 275,3 bilhões correspondem a juros e amortização.

Das despesas previstas, no valor de R$ 1,94 trilhão de reais (49 % do

PIB), R$ 1,026 trilhões (53 %) referem-se a encargos financeiros (juros e

principal das dívidas), e R$ 913,9 bilhões (47 %) referem-se a despesas

primárias. Considerando-se que as receitas primárias esperadas são de R$

967,6 bilhões, levando-se em conta a meta de resultado primário estimada em

R$ 49,8 bilhões, o valor das despesas obrigatórias poderá atingir R$ 716,1

bilhões (18,4 % do PIB), sendo que o valor de despesas discricionárias (que

podem ser contingenciadas pelo governo, caso necessário) é de R$ 201,8

bilhões (5,18 % do PIB).

Quanto aos investimentos do governo federal em 2011, como já visto na

tabela anterior, serão destinados R$ 107,5 bilhões, sendo R$ 91,3 bilhões para

a Petrobras, R$ 8,2 bilhões para a Eletrobras, totalizando R$ 99,5 bilhões (92

% do total investido) para a pasta de Minas e Energia, que, quando

comparados com os irrisórios R$ 2,2 bilhões destinados para o MD,

evidenciam a falta de prioridade no atendimento ao preconizado na END.

148

Complementarmente, podemos informar ainda, com base no documento

citado, que o orçamento da pasta Educação, em 2011, é de R$ R$ 56,7

bilhões, dos quais, 33 % são para pagamento de pessoal. Na Saúde, estão

previstos R$ 68,5 bilhões, dos quais cerca de 13 % são para pagamento de

pessoal. Já para a pasta de Ciência e Tecnologia, vital para auxiliar a

capacitação da indústria bélica e a tecnologia nacional, foram previstos

somente R$ 7,5 bilhões (0,2 % do PIB). A pasta de Transportes será

contemplada com R$ 23,2 bilhões, sendo 56 % dos recursos destinados ao

modal rodoviário, 12,5 % ao ferroviário e apenas 7 % ao hidroviário.

Com relação aos recursos de R$ 31,3 bilhões alocados para a Defesa,

53 % são para pagamento do pessoal ativo, sendo R$ 3,5 bilhões para a Força

Aérea, R$ 1,4 bilhões para o Exército e R$ 3,2 bilhões para a MB, dos quais,

R$ 2,3 bilhões são destinados ao reaparelhamento e adequação (meios novos)

e R$ 1 bilhão destinado ao emprego do poder naval (manutenção dos meios

existentes).

Quanto a situação mundial, é apresentada abaixo uma lista dos quinze

países com os maiores orçamentos em defesa previstos para o ano de 2008. A

informação foi retirada do Stockholm International Peace Research Institute

(www.sipri.org), que é usado para calcular os gastos em defesa pelo Ministério

da Defesa britânico e muitos outros ministérios governamentais da União

Européia.

149

NOTA: As comparações entre os valores na tabela acima devem ser feitas

com cautela. Há casos de comparações incompatíveis, como por exemplo, a

França e a Itália, que incluem nos seus gastos militares as despesas de

manutenção das forças policiais nacionais. Por outro lado, a China e a Rússia

classificam as despesas de armas nucleares, mísseis e desenvolvimento de

aeronaves, entre outras, como despesas científicas, os gastos em treinamento

são classificados no orçamento para a educação, e as pensões dos veteranos

são pagas pelo orçamento do bem-estar social. Os gastos militares chineses e

russos normalmente são superiores aos valores publicados oficialmente.

É possível identificar na tabela acima, como era de se esperar, que os

EUA concorrem em 2008 com 40 % dos gastos mundiais, correspondentes a

4,25 % do seu PIB. Ainda que os dados apresentem algumas inconsistências,

como dito na nota acima, observamos que a China, Rússia e Índia, países com

grandes dimensões, como o Brasil, encontram-se acima deste, cabendo

ressaltar que a China investiu 1,9 % do seu PIB, e a Rússia e Índia, investiram

respectivamente 3,5 % e 2,5 % do seu PIB de 2008. O Reino Unido investiu

2,5 % do PIB, e o Brasil, como já vimos anteriormente, investiu somente 1,4 %

do PIB.

150

Ainda que pareça que os investimentos em defesa são gastos não

compatíveis com países em desenvolvimento, há que se ressaltar os

desdobramentos que o fortalecimento de uma indústria de defesa podem

trazer para o país, como observado no site DEFESA BR (www.defesabr.com):

“... serviu como um dos alicerces do desenvolvimento científico, tecnológico e

industrial dos EUA por todo o Século XX. É um dos segredos de seu fantástico

e inigualável sucesso econômico e social, certamente. Isso funciona como o

maior programa de política industrial do mundo, em que 16%, ou mais de US$

75 bilhões ao ano, são gastos em PD&I com fins militares. Grande parte das

invenções tenderá a ser de uso DUAL, em que enormes benefícios das novas

tecnologias também alcançarão o setor privado e o cidadão comum (como

internet e celular). Ressalte-se que, hoje, os EUA têm 5% da população, 30%

da economia e 50% das despesas militares do mundo. São investidos mais de

US$ 210 bilhões em PD&I, ao ano. Trata-se de uma HEGEMONIA

inquestionável”.

De acordo com Moraes (2009), a alocação dos recursos para a defesa

deveria pautar-se nas necessidades frente às ameaças, e não nas

possibilidades financeiras do país, visto como investimento no bem-estar da

sociedade, fator imprescindível para o desenvolvimento nacional, e não como

custeio da máquina pública, e complementa: “Como observa Ball (2002), “na

ausência de políticas bem pensadas e claramente articuladas, é impossível

dirigir as finanças do setor militar de uma maneira racional [...] os países

arriscam a não obter um nível de segurança militar de acordo com suas

condições financeiras. Faz-se necessário estabelecer firmes prioridades entre

gastos de defesa e não-defesa e decidir quais os programas merecem mais

recursos. Quanto o País deveria pagar hoje para se proteger contra perigos

desconhecidos no futuro? O quão importante os gastos de Defesa são

comparados com outras necessidades nacionais do País?” (MORAES, 2009,

p. 8).

Complementarmente, discorrendo sobre a apropriada inserção do tema

defesa no orçamento e a importância do relacionamento entre a sociedade civil

e os seus soldados no que tange a este assunto, temos que: “O orçamento

151

como a economia, também empresta seus conceitos e princípios à análise do

tema da defesa. Uma vez ser o orçamento, por excelência, o instrumento de

concretização da atividade governamental, muito da adequada definição do

perfil da defesa depende de sua apropriada inserção no contexto do

orçamento nacional. Assim, a análise das questões de defesa segundo a ótica

orçamentária tende a aproximar o assunto dos demais interesses nacionais.

Em especial no que se refere às questões da legitimidade e do controle, a

integração da ótica essencialmente militar à ótica orçamentária, ao impulsionar

o controle cidadão sobre a defesa, acena para um importante passo na

redefinição bem-sucedida das relações entre a sociedade civil e seus

soldados” (ALMEIDA, 2001, apud MORAES, 2009, p.7).

De acordo com o site DEFESA BR (www.defesabr.com), destacam-se

como possíveis novas fontes de receita, principalmente, os royalties sobre a

exploração das jazidas de petróleo, gás e minérios, que, com alíquotas

sugeridas de 20 % para a exploração na PC e 15 % para a exploração em

terra, poderiam gerar num prazo de 15 anos, até 2025, 505 bilhões de dólares,

valor mais do que suficiente para executar o planejado no PAEMB, desde que

a União responsabilize-se pelos recursos previdenciários correspondentes às

forças armadas. Vale lembrar que, no Chile, 10% da receita do cobre estão

vinculados à defesa há anos.

Outras possíveis fontes seriam a taxação em 1 % (em média) sobre as

importações em geral, podendo gerar, em 15 anos, 59 bilhões de dólares, e

sobre o faturamento bruto das companhias geradoras de energia elétrica,

possíveis alvos estratégicos em potencial.

Mesmo assim, segundo Moraes (2009), é possível que nos próximos

anos o montante alocado para a defesa brasileira comece aos poucos a se

estabilizar numa proporção de 2,5% do PIB. Com certeza, a Estratégia

Nacional de Defesa, para alcançar seus objetivos, dependerá de um aporte de

recursos muito além do que o Orçamento Anual poderá proporcionar. Sendo

assim, com um planejamento econômico e financeiro a médio e longo prazos,

com uma política de governo consciente e saudável, com visão de futuro e

152

com o apoio da sociedade brasileira, a Defesa do País proporcionará o lugar

de destaque que a Nação merece, isto é, junto às grandes potências mundiais.

Merecem citação também as sugestões apresentadas pelo trabalho “O

Ambiente Marinho – Uma visão da Marinha”, tais como: o apoio a

disseminação da mentalidade marítima na sociedade, especialmente os

setores governamentais e privados; apoiar as ações de investimento em

tecnologia e infra-estrutura e formação de recursos humanos para adaptação

pública e empresarial aos padrões ambientais e de gerenciamento

participativo, com vistas ao desenvolvimento sustentável e controle da poluição

na Amazônia Azul; apoiar o estabelecimento da infra-estrutura e recursos

humanos necessários à modernização tecnológica dos portos e ao

soerguimento do transporte marítimo e multimodal brasileiro em busca da

redução do custo Brasil; e apoiar o estabelecimento da infra-estrutura

tecnológica necessária à implementação do Sistema de Gerenciamento da

“Amazônia Azul – SisGAAz voltada para o monitoramento e controle desse

espaço marítimo como ação fundamental para a consecução da visão da

Estratégia Nacional de Defesa de médio e longo prazos.

Ainda, complementarmente, em termos de eficiência na gestão dos

recursos do mar, outra idéia interessante seria a modificação do status da

CIRM para uma espécie de conselho, como o proposto por Vidigal (2006), o

Conselho Nacional para o Gerenciamento do Mar, a ser presidido pela

Autoridade Marítima, o Comandante da Marinha, visando centralizar a

coordenação das atividades ligadas ao mar, haja vista a MB possuir os meios e

a experiência adequados, além de recompor o nível hierárquico apropriado

para um acesso mais direto à Presidência da República, aproximando mais os

problemas da área a quem pode efetivamente resolvê-los. Particularmente,

contrariamente ao proposto pelo mesmo autor, sou de opinião que as

entidades privadas e representantes das áreas acadêmicas e tecnológicas

envolvidas devam participar da formulação da Política Marítima Nacional, de

forma a promover a perfeita integração entre as ações de segurança e defesa,

e de fomento a P&D dos setores produtivos ligados ao mar.

153

CONCLUSÃO

Quando iniciei este trabalho de final de curso, inspirei-me inicialmente

no grande potencial de exploração de petróleo e gás natural nas Águas

Jurisdicionais Brasileiras, o denominado pré-sal, já na ocasião bastante

veiculado pela imprensa brasileira e até mundial, compreendendo de imediato,

tendo servido à Marinha do Brasil, até hoje, por 26 anos, a importância do

devido aparelhamento desta Organização Militar na defesa deste patrimônio. O

desejo de estudar o assunto somente aumentou quando, no módulo de direito

ambiental do meu curso, percebi que a MB estava na raiz das ações de

fiscalização e controle da poluição ambiental e preservação da biodiversidade

desta enorme área. O que eu não esperava é que as riquezas, provadas ou

potenciais, fossem tão diversas e vastas quanto o mar que as abriga, e que a

ligação da MB com as atividades do mar fosse tão profunda e proficiente, em

tempos de paz. Ao longo da pesquisa logo me ocorreu que, se eu que estou

próximo das atividades de construção e reparo dos meios navais no AMRJ,

desconheço grande parte dos assuntos tratados neste singelo estudo, é de se

esperar que muitos não conheçam as atividades da denominada por mim,

Marinha de Paz, que complementa e não prescinde da Marinha de Guerra,

quando for clamada a sua presença.

Surpreendi-me com a intensa interligação entre as ações de

desenvolvimento das forças de produção das diversas atividades executadas

no mar e as atividades da MB, como Autoridade Marítima e ator principal no

estabelecimento da segurança e preservação desta área, cada qual

necessitando fomentar a outra, mutuamente dependentes, porquanto não há

sentido em investir no que não se pretende manter, nem defender o que não

tem valor, estabelecendo-se um círculo virtuoso, uma vez que uma beneficia a

outra, cabendo ainda ressaltar que o fortalecimento das forças armadas e da

indústria nacional de defesa certamente induzirá o desenvolvimento de

indústrias correlatas, aumentando a oferta de empregos e incrementando a

154

geração de conhecimento e tecnologia que, geralmente, é de aspecto dual,

migrando rapidamente para a utilização pela sociedade civil.

Desenvolvimento e segurança estão inevitavelmente associados. Quem

já não sentiu no Brasil, especialmente nas grandes metrópoles, a sensação de

insegurança associada ao crime, organizado ou não, que incapacita a nossa

mobilidade, afeta a nossa disponibilidade, altera a nossa rotina, enfim, limita o

nosso potencial?

A esse respeito mostra-se emblemático o episódio ocorrido no Rio de

Janeiro, em 28 de novembro de 2010, quando, com o apoio das forças

armadas, em especial da MB, as forças federais, estaduais e municipais

invadiram o complexo do Alemão retomando para o Poder Público uma

comunidade que se encontrava praticamente em estado de sítio há anos.

Ainda que toda a ação tenha sido planejada em detalhes e perfeitamente

coordenada, tudo teria sido bem mais complicado sem o apoio popular. O

apoio e aprovação da população, mostrado abertamente com bandeiras

brasileiras às janelas, suporte logístico no suprimento de água e apoio moral,

além da participação efetiva na informação da localização de armas e

criminosos escondidos, foram vitais para a auto-estima das forças constituídas

e estendeu-se ao longo dos dias, no auxílio para a captura dos fugitivos.

Entendo que isto sinaliza que, ainda que tenhamos um planejamento

extremamente bem elaborado na END e que os Planos de Articulação e

Equipamento das forças armadas sejam os melhores dentro das possibilidades

financeiras do país, somente sairemos da retórica para a ação mediante o

efetivo apoio da população brasileira. A participação da sociedade brasileira,

em todos os seus níveis, é vital no sentido de conhecer, compreender e apoiar

as medidas que se fazem necessárias, pressionando a classe política a

cumprir o seu papel, que é governar para o povo, seguindo o preceito

Constitucional previsto no parágrafo único do artigo primeiro da CFRB, que é

“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes

eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

Entretanto, para obter este apoio, é necessário que os assuntos que

envolvem a segurança do Brasil, ressaltando riquezas e vulnerabilidades,

155

capacidades e necessidades de capacitação, estratégias de desenvolvimento

e de defesa, sejam expostos ao público geral. Neste aspecto, parece-me que

um melhor uso das redes sociais seria bem-vindo, desmistificando o tema pela

sua popularização em fóruns de debate e blogs, favorecido pelo diálogo rápido

e em linguajar acessível, aproveitando-se o grande alcance e flexibilidade

desta forma de comunicação. Desejável também é que a rede de ensino,

desde cedo, inclua na educação dos nossos pequenos a importância de

reconhecer os valores brasileiros, as nossas riquezas, e como podemos e

devemos defendê-las em prol das gerações futuras, e em honra das gerações

que, com esforço e perseverança, nos trouxeram até aqui. Espero que este

trabalho singelo, fruto do aprendizado da compreensão das técnicas e valores

que permitem ao engenheiro de produção visualizar e atuar em sistemas

integrados visando à produção de bens e serviços de forma econômica e ética,

da admiração e afeto pelos assuntos do mar, e pelo orgulho de pertencer ao

corpo civil da Marinha do Brasil, em especial do AMRJ, seja capaz de auxiliar

na divulgação destes assuntos, e, embora, provavelmente, não tenha

acrescido fatos novos ao tema, ao menos buscou concentrá-los, atualizá-los e

adequá-los da melhor forma possível a um linguajar acessível e um estilo que

visasse à motivação da sua leitura.

Não se iluda quem pensa que o Brasil não tem inimigos ou ameaças a

temer. Internamente, nosso inimigo mais imediato, transparente para a maior

parte da sociedade, é a nossa própria inércia em prover meios de defesa que

propiciem a segurança compatível com o avolumamento dos investimentos no

desenvolvimento das forças de produção nos mais variados locais do nosso

país, especialmente no mar, foco deste trabalho.

Externamente, convém lembrar, inimizades são circunstanciais, surgindo

frequentemente da imposição de necessidades que se apresentam no

momento, tornando situações aparentemente pacificadas em questionamentos

normalmente associados à soberania ou a sobrevivência do Estado, segundo

ótica estritamente particular, inicialmente colocados na forma diplomática,

porém sempre apoiados pela demonstração de força, e, quando considerado

156

esgotados os argumentos, não hesitando em utilizá-la para impor a sua

posição.

De acordo com o exposto no excelente trabalho “Panorama

Internacional Ominoso – Estímulo a Reflexões na Marinha do Brasil”,

apresentado pelo Senhor Embaixador Marcos Henrique Camillo Côrtes em

palestra na Escola de Guerra Naval, em 2006, a terceira revolução industrial,

criando um novo paradigma onde a informação é a matéria-prima, alterou de

forma radical os parâmetros de relativização do Poder Nacional de todos os

países, reduzindo ainda mais a capacidade de atuação dos países menos

desenvolvidos no campo externo. Esta evolução, associada a uma nova

postura organizacional, com mudanças fundamentais nas expressões do

Poder Nacional, conduziu a Revolução em Assuntos Militares (RAM),

consistindo na adoção de um novo paradigma na natureza e conduta das

operações militares – em conjugação com inovações tecnológicas – que torna

obsoleta ou irrelevante uma ou mais capacidades do opositor, em quaisquer

das dimensões da ação bélica. São características deste processo o

encurtamento do tempo de resposta e as delimitações espaciais, antes

restritas às três dimensões conhecidas, e agora ampliadas para um contexto

multidimensional, incluídas, por exemplo, as dimensões espacial, cibernética e

a psicológico-propagandística. Ainda que alguns autores e estudiosos do tema

refutem a eficiência das forças baseadas na RAM, o fato é que o investimento

na geração de conhecimento e inovação leva ao domínio de tecnologias que

situam as ameaças onde não podemos detectá-las rapidamente, caso não

tenhamos capacidade para tal. O emprego de programas interferentes, que

podem atuar danosamente contra sistemas de identificação e rastreamento de

ameaças, pode conferir aos agressores vantagens que lhes permitiriam

“enxergar”, enquanto permanecemos no “escuro”, ter precisão enquanto

somente podemos contar com a sorte e a valentia dos nossos soldados, que,

vale dizer, nunca faltou aos brasileiros.

Prossegue o Embaixador, citando que, no Pós-Modernismo Militar, os

conflitos armados são de curta duração, sendo os objetivos imediatos, do

ponto de vista bélico, limitados, com ínfimas perdas materiais e humanas para

157

o agressor. Consequentemente reduz-se significativamente a pressão da

opinião pública interna e internacional, o que facilita a adoção de atitudes

belicosas e o intervencionismo como modo plausível de resolução de

controvérsias.

Diante do exposto, cumpre recordar que perdas aumentam

vulnerabilidades, vulnerabilidades ampliam riscos, e debilidades estimulam

ameaças. É necessário, afinal de contas, identificar qual é o inimigo. A melhor

resposta está em uma premissa objetiva: No relacionamento internacional, não

há amigos nem inimigos, existem (apenas e sempre) interesses, conciliáveis

ou conflituosos.

Não há mais tempo a perder. É necessário conscientizar a população

brasileira a envolver-se em um intenso debate sobre a importância que

devemos atribuir à garantia do desenvolvimento do nosso país através do

fortalecimento, não apenas dos meios físicos e tecnológicos para tal, mas,

principalmente, do estado de espírito que promova a ação proativa de todos no

estabelecimento de um ambiente seguro que favoreça o progresso da nação

ao patamar que lhe é possível alcançar, o de uma das grandes nações no

concerto mundial.

ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1: Siglas e Abreviaturas

Anexo 2: Figuras

158

ANEXO 1

Siglas e Abreviaturas

AIFM – Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos

AJB - Águas Jurisdicionais Brasileiras

AMP - Áreas Marinhas de Proteção

ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

AQUIPESCA - Programa de Aquicultura e Pesca

CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica

CHM – Centro de Hidrografia da Marinha

159

CIRM - Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

CLPC - Comissão de Limites da Plataforma Continental

CM – Comando da Marinha

CNUDM - Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar

CONEPE - Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - Serviço Geológico do

Brasil

CRFB - Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CTMSP - Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo

DHN - Diretoria de Hidrografia e Navegação

DPC - Diretoria de Portos e Costas

EACF - Estação Antártica "Comandante Ferraz"

EGN – Escola de Guerra Naval

EMA – Estado Maior da Armada

END - Estratégia Nacional de Defesa

EUA - Estados Unidos da América

FAO - Food and Agriculture Organization

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IEAPM - Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira

LEPLAC - Plano de Levantamento da Plataforma Continental

MB – Marinha do Brasil

MD – Ministério da Defesa

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura

MT – Mar Territorial

NAe – Navio Aeródromo

NAeL – Navio Aeródromo Ligeiro

OM – Organização de Marinha

ONU – Organização das Nações Unidas

OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo

160

PAEMB - Plano de Articulação e Equipamento da Marinha do Brasil

PC - Plataforma Continental

PL – Projeto de Lei

PNMA - Política Nacional do Meio Ambiente

PMN – Política Marítima Nacional

PNRM - Política Nacional para os Recursos do Mar

PROARQUIPÉLAGO - Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo

POLANTAR – Política Nacional para Assuntos Antárticos

PROMAR – Programa de Mentalidade Marítima

PROANTAR – Programa Antártico Brasileiro

RAM - Revolução em Assuntos Militares

REMPLAC - Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma

Continental Jurídica Brasileira

RESEX - Reservas Extrativistas

REVIZEE - Programa de Avaliação do Potencial dos Recursos Vivos na Zona

Econômica Exclusiva

CCSM - Secretaria de Comunicação Social da Marinha

SECIRM - Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SUNAMAM - Superintendência Nacional de Marinha Mercante

UC – Unidades de Conservação

ZC – Zona Contígua

ZEE - Zona Econômica Exclusiva

161

ANEXO 2

Figuras

Figura 1 – Limites marítimos de acordo com a CNUDM

(www.mar.mil.br/secirm)

162

Figura 2 – Amazônia Azul (X Encontro Anual de Estudos Estratégicos)

Figura 3 - Movimentação de cargas no longo curso-comércio exterior (Anuário

Estatístico Portuário 1996-2009, ANTAQ)

163

Figura 4 - Evolução da movimentação de cargas, por navegação e total

(Anuário Estatístico Portuário 1996-2009, ANTAQ)

Figura 5 – Produção nacional de pescados – série 2003/2009 (MPA)

164

Figura 6 - Balança Comercial Brasileira de Pescado – série 2007/2010

(CONEPE)

165

Figura 7 – Área do pré-sal na ZEE e PC da Amazônia Azul (Petrobras)

166

Figura 8 – Presença estrangeira no Oceano Atlântico Sul (O Emprego do

Poder Naval na Defesa da Amazônia Azul – Seminário Amazônia Azul)

Figura 9 – Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz)

167

BIBLIOGRAFIA

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Territorial a Amazônia Azul, Dissertação de mestrado para a ENCE (Escola

Nacional de Ciências Estatísticas), orientada pelo professor Dr. Eli Alves

Penha, 2006, 178 p.

2 - Albuquerque, Alexandre Tagore Medeiros de... [et al]: História: Ensino

Fundamental e Ensino Médio: A Importância do Mar na História do Brasil.

Coordenado por Carlos Frederico Simões Serafim; organizado por Armando de

Senna Bittencourt, Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação

Básica, 2006, 216 p. (Coleção Explorando o ensino - volume 13).

3 - Albuquerque, Alexandre Tagore Medeiros de... [et al]: Geografia: Ensino

Fundamental e Ensino Médio: O Mar no Espaço Geográfico Brasileiro.

Coordenado por Carlos Frederico Simões Serafim; Organizado por Paulo de

Tarso Chaves, Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação

Básica, 2005, 304 p. (Coleção Explorando o Ensino , volume 8).

4 - Vidigal, Armando Amorim Ferreira... [et al]: Amazônia Azul: O mar que nos

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Editorial Ltda, 2010, Edição Especial nº 39: Biodiversidade, 82 p.

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Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, 2010.

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Janeiro: o autor, 2010, 78 p.

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10 - Öberg, Vice-Almirante Elis Treidler: Sistema de Gerenciamento da

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11 - Monteiro, Almirante-de-Esquadra (FN) Alvaro Augusto Dias: O Emprego

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12 – Marinha do Brasil: A Estratégia Nacional de Defesa,

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16 - Coelho, Paulo Domingos das Neves, EMEPC - FDUP – CIMAR: Aspectos

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17 - Centro de Comunicação Social da Marinha: A nossa última fronteira

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18 – Rocha, Itamar de Paiva, Associação Brasileira de Criadores de Camarão

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169

http://www.abccam.com.br/download/Panorama_da_Producao_Mundial_e_Bra

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19 - Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura – CONEPE: Balança Comercial

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http://www.conepe.org.br/2010/sistema/arquivos_pdf/bcbp_2007_a_2010.pdf

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21 - Ferreira, Gabriel Luiz Bonora e Natália Bonora Vidrih Ferreira: Regulação

Internacional dos Recursos Minerais do Fundo do Mar, Revista Âmbito

Jurídico, 2008, Editora Âmbito Jurídico.

22 – Barata, Germana: História do Petróleo no Brasil, Revista eletrônica

ComCiência, 2002, http://www.comciencia.br/comciencia/ acessado em

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23 – Revista eletrônica Portos e Navios: Setor de petróleo vai representar 14 %

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24 - 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação: O Ambiente

Marinho – Uma visão da Marinha, Secretaria de Ciência, Tecnologia e

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25 – Secretaria de Orçamento Federal (SOF): Orçamento Federal ao Alcance

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170

26 – Côrtes, Marcos Henrique Camillo: Panorama Internacional Ominoso -

Estímulo a reflexões na Marinha do Brasil, palestra apresentada na Escola de

Guerra Naval em 2006, www.egn.mar.mil.br, acessado em 05/10/2010.

171

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO................................................................................ 02

AGRADECIMENTO................................................................................ 03

DEDICATÓRIA....................................................................................... 04

RESUMO................................................................................................ 05

METODOLOGIA..................................................................................... 06

SUMÁRIO............................................................................................... 08

INTRODUÇÃO........................................................................................ 09

CAPÍTULO I

A AMAZÔNIA AZUL................................................................................ 11

1.1 – O que é a Amazônia Azul?............................................................ 13

1.1.1 – A importância do mar.................................................................. 13

1.1.2 – O conceito de mar territorial....................................................... 19

1.1.3 – A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar –

CNUDM................................................................................................... 23

1.1.4 – A estratégia brasileira relativa a CNUDM................................... 34

1.2 – As riquezas e potenciais da Amazônia Azul.................................. 37

1.2.1 – O mar como sétimo bioma.......................................................... 37

1.2.2 – Navegação de longo curso e cabotagem................................... 40

1.2.3 – Pesca – A guerra da lagosta...................................................... 42

1.2.4 – Nódulos polimetálicos e crostas minerais................................... 49

1.2.5 – Petróleo e gás natural................................................................. 54

CAPÍTULO II

AÇÕES GOVERNAMENTAIS – A POLÍTICA NACIONAL PARA OS

RECURSOS DO MAR............................................................................ 73

2.1 – Constituição da CIRM e suas atribuições...................................... 73

2.2 – A Política Nacional para os Recursos do Mar............................... 75

2.3 – Gestão sustentável dos recursos do mar – legislação.................. 88

CAPÍTULO III

172

CAPACITAÇÃO PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA

AZUL....................................................................................................... 99

3.1 – Capacidade da Marinha do Brasil – Uma história que se repete.. 100

3.2 – Capacitação da Marinha do Brasil – Visão como processo........... 122

3.3 – Defesa brasileira e o orçamento da União.................................... 145

CONCLUSÃO......................................................................................... 158

ANEXOS................................................................................................. 163

Anexo 1 – Siglas e Abreviaturas............................................................. 164

Anexo 2 – Figuras................................................................................... 167

BIBLIOGRAFIA

CONSULTADA..............................................................

172

ÍNDICE.................................................................................................... 176

173

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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Avaliado por: Conceito: