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Quantidade de “enter” para posicionar o cabeçalho, apague em seguida <> <> <> <> UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA <> <> <> <> <> O papel do professor diante da dificuldade de aprendizagem <> <> <> Por: Viviane Souza Mazur Mourelle <> <> <> Orientador Prof. Andréa Serra Niterói 2011

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Quantidade de “enter” para posicionar o cabeçalho, apague em seguida

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

<>

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<>

O papel do professor diante da dificuldade de aprendizagem

<>

<>

<>

Por: Viviane Souza Mazur Mourelle

<>

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Orientador

Prof. Andréa Serra

Niterói

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

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<>

O papel do professor diante da dificuldade de aprendizagem

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Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicopedagogia

Por: . Viviane Souza Mazur Mourelle

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais pelo cuidado, pelo amor, pelos valores que

construíram em mim, pela pessoa que me formaram.

À minha irmã pela amizade, e por ter me dado os melhores presentes que a

vida poderia me dar, Gaya e Rodrigo.

À minha amiga, Carolina Fátima, por me apresentar à amizade e todo o

cuidado e amor que ela deve ter.

E ao meu amor, Rodrigo, por trazer vida a minha vida, por me fazer uma

pessoa melhor e estar me fazendo viver “Os anos Dourados”.

4

DEDICATÓRIA

Dedico minha monografia aos meus pais que me possibilitaram ter uma

educação de qualidade e terem contribuído na minha formação de professora,

sempre me lembrando da importância da profissão.

Ao meu marido e companheiro, Rodrigo, por tornar a minha vida mais poética

e bela e por ter insistido até o fim nessa formação.

5

RESUMO

O presente trabalho surgiu a partir da minha inquietação acerca da

dificuldade de aprendizagem. Afinal como professores e psicopedagogos

atuam frente a essa constante problemática educacional?

A partir de um estudo teórico sobre o fracasso escolar busquei

compreender como ela ocorre. A fundamentação teórica foi baseada nos

estudos de Maria Teresa Esteban (, Maria Helena de Souza Patto

Para compreender o papel do professor frente ao insucesso escolar fui

à campo pesquisar, a partir da queixa realizada por uma professora em relação

a um aluno com suspeita de sofrer Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade (TDAH).

A pesquisa realizada sobre a prática do professor foi entrelaçada pelo

trabalho realizado pela psicopedagoga. Ambas profissionais atuavam juntas

em todo o processo. Tentei separar o papel de ambas nesse trabalho, mas

nesse processo pude observar o trabalho em conjunto e como é difícil separar

quando ocorre em parceria.

Como resultado desse processo investigatório observei a importância do

trabalho do professor ser em conjunto com a comunidade escolar,

principalmente com psicopedagogo, que tem a função de mediador nessa

relação do aluno, o professor e a aprendizagem.

Diante da dificuldade de aprendizagem apresentada elo aluno, cabe a

escola e seus profissionais da educação refletirem sobre a estrutura curricular

que está sendo oferecida e a compatibilidade desta com as estruturas

cognitiva, afetiva e social do discente, pois para a psicopedagogia, a

aprendizagem baseia-se no equilíbrio dessas estruturas.

“Todos os seres humanos são capazes de aprender, mas é

necessário que adaptemos nossa forma de ensinar”. Vigotsky (2007)

6

METODOLOGIA

A pesquisa se desenvolve a partir da intervenção no cotidiano escolar,

com o acompanhamento de uma turma dos anos iniciais de escolarização da

rede privada.

Minha pesquisa parte de questões presentes em meu cotidiano escolar.

Eu, professora, me deparo constantemente com alunos que apresentam

dificuldade no processo de aprendizagem, mas como a aprendizagem é um

processo que caminha junto com o ensino, será que a dificuldade está no

processo de ensino?

Afinal, como o professor pode contribuir para o sucesso escolar do

aluno? Em que lugar o psicopedagogo atua no processo de

ensinoaprendizagem?

Em busca de respostas para essas minhas questões, iniciei minha

pesquisa partindo do questionamento sobre como ocorre o fracasso escolar,

busquei fundamentação teórica em livros e estudos acerca do tema.

Como professora e estudante do curso de Psicopedagogia, procurei

acompanhar o trabalho da professora Maria, a partir de uma queixa relizada

pela mesma em um conselho de classe de uma escola particular da zona sul

do Estado do Rio de Janeiro, instituição a qual trabalho. Tendo como objetivo

buscar compreender o trabalho realizado com esta turma em torno das

dificuldades de aprendizagens apresentadas.

Passei a acompanhar o trabalho dessa professora semanalmente,

levando comigo o meu caderno de campo, para nele relatar o que via, o que

sentia, relatando como se realizava a prática da docente, como era construído

o processo de ensinoaprendizagem naquela turma e como ela atuava em

relação ao fracasso escolar.

Os módulos do curso de Psicopedagogia contribuíram no conhecimento

de teorias e teóricos sobre o tema, a cada aula questões eram respondidas ao

tempo que questões novas surgiam, em um movimento constante de prática-

7

teoria-prática. Possibilitando-me reflletir sobre o movimento que acontece no

cotidiano escolar em relação a forma que o aluno recebe e adquire o

conhecimento.

Em paralelo a essa pesquisa, busquei compreender o trabalho da

psicopedagoga da escola frente a questões que surgiam em torno do tema. A

partir do lamento da docente, a psicopedagoga Jona, realizou a anamnese,

que é o levantamento de dados, de informações sobre o aluno.

Durante o processo, eu conversei com as profissionais envolvidas:

professora e psicopedagoga e realizei a EOCMEA (Entrevista Operativa

Centrada na Modalidade de Ensino e Aprendizagem (anexo 1).

Esses foram os recursos utilizados para construção dessa pesquisa

monográfica, pautada em uma pesquisa ação, em que ao pesquisar uma

situação ocorrida em outra turma da escola a qual trabalho, pude rever a

minha própria prática em função de produzir determinadas mudanças ou

melhorias no processo de ensino-aprendizagem.

SUMÁRIO

8

INTRODUÇÃO

09

CAPÍTULO I - O que conduz ao insucesso escolar

11

CAPÍTULO II - O papel do professor diante da dificuldade de aprendizagem

20

CAPÍTULO III – Compreendendo o trabalho do psicopedagogo

34

CONCLUSÃO

38

ANEXOS

40

BIBLIOGRAFIA

46

ÍNDICE

48

9

INTRODUÇÃO

Muitas questões surgem no cotidiano escolar. Sou professora do

terceiro ano do Ensino Fundamental e me deparo a cada dia com a

complexidade existente no ambiente educativo. São múltiplos saberes que

chegam à escola, e cabe a docente saber trabalhar com eles, utilizá-los de

forma favorável à aprendizagem.

Ao reconhecer o diferente e as diferenças presentes na sala de aula, a

heterogeneidade é trabalhada e vista como algo positivo, pois possibilita a

troca de saberes, a troca de conhecimentos entre indivíduos. Essa é uma

questão que deve ser valorizada no âmbito educativo, fazendo da diferença

elemento de aprendizagem e desenvolvimento, individual e coletivo.

(ESTEBAN: 2008, p. 75)

Essa complexidade presente nos ambientes escolares ns traz ritmos de

aprendizagem diferenciados, ocorrendo por vezes o surgimento de dificuldades

de aprendizagem durante o processo de conhecimento. Esse fato me levou a

estudar o fracasso escolar com o intuito de buscar meios de transformar o

insucesso em sucesso escolar.

Durante esse movimento de estudo, me deparei em um Conselho de

Classe na escola em que trabalho com a queixa de uma docente sobre um

aluno, que apresentava sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade (TDAH).

A questão levantada me levou a freqüentar as aulas dessa professora, a

fim de investigar a prática da mesma em função de descobrir como ela

trabalhava com esse aluno e conhecê-lo melhor. Essa minha função na sala

10

dessa professora, a qual ao longo do trabalho chamaremos de Maria, me

possibilitou estar mais atenta e envolvida com os movimentos na sala de aula

e compreender o percurso traçado pelo aluno em busca do conhecimento.

Essa dinâmica da pesquisa contribuiu em reflexões sobre a minha

própria prática. Durante esse movimento, estive constantemente em um

movimento de prática-teoria-prática, a partir da minha ação em sala, eu refletia

e transformava a minha ação em função de uma aprendizagem significativa

para o aluno.

Ao passo que eu pesquisava o trabalho da professora com a sua turma,

eu buscava compreender a função da psicopedagoga dentro da instituição

escolar e como ela agia em relação as dificuldades de aprendizagem que

apareciam na escola.

Durante essa pesquisa monográfica ao passo que eu aprendia, adquiria

conhecimentos, eu me entendia mais, e mais contribuía na minha formação de

professora, como diz Boaventura de Souza Santos: “Todo conhecimento é

auto-conhecimento”.

11

CAPÍTULO I

O que conduz ao insucesso escolar

À partir da prática realizada no cotidiano escolar e dos estudos teóricos

no curso de psicopedagogia, passei a me indagar sobre o fracasso escolar e o

papel exercido pelo professor acerca do processo de ensinoaprendizagem –

termo usado por ZACCUR (1996), através do qual ela defende que não há

ensino sem aprendizagem e não há aprendizagem sem ensino.

A partir desse momento passei a ter um outro olhar para o tema e a

buscar respostas para o fracasso escolar. O que é, como se produz, e quais

seriam as soluções para o insucesso escolar? Com um olhar aguçado de

professora-pesquisadora em formação, procurei no cotidiano escolar, em

diálogo com a teoria, respostas para as minhas questões.

Quando entramos no ambiente da escola, observamos a quantidade de

alunos ditos repetentes, ou seja, que já repetiram algum ano letivo e que estão

vendo os conteúdos pela segunda vez. Esse fato ocorre, na maioria das vezes,

quando o aluno não responde ao esperado pela escola, quando não aprende

no tempo proposto.

Essa prática de reter o aluno com a justificativa de ser ausência de

conhecimento tende a causar uma baixa auto-estima no aluno repetente, que

vê a sua turma, os seus colegas de classe seguindo para outro ano escolar

enquanto ele permanece ali, no mesmo, porque não alcançou o patamar que

deveria. Ele passa a ser visto e a se ver como aquele que obteve fracasso no

processo de aprendizagem.

Esse aluno, em muitos, casos acaba por sofrer uma marginalização por

estar cursando novamente o mesmo ano letivo, e tende a levar o curso com

menos prazer e interesse no processo de ensino e aprendizagem.

12

A identidade do/ a repetente se constitui como negativa segundo argumentos de uma lógica binária que a opõe a um outro estudante tomado como normal, certo, verdadeiro – aquele ou aquela que se encaixa e atua de acordo com os parâmetros do processo civilizatório que se abate sobre todos nós ao longo de nossas vidas. (COSTA: 2001, p. 27)

A repetência escolar acaba por gerar uma exclusão. A palavra

repetência significa, no contexto escolar, o incompetente, o lento, aquele que

não conseguiu acompanhar a dinâmica ensinoaprendizagem no tempo

proposto. Encontramos constantemente no universo escolar julgamentos

construídos a partir da repetência com caráter negativo – são os alunos

incapazes, anormais, deficientes – pré-conceitos que acabam hostilizando o

aluno e distanciando-o da participação no processo ensino-aprendizagem, sem

dar possibilidade dele mostrar o que sabe.

Neste sentido, Costa discute a exclusão construída a partir dessa fuga

ao padrão esperado pela instituição escolar:

Em sociedades e culturas orientadas pela noção de que as identidades são unas, estáveis e “verdadeiras”, é perfeitamente lógico esperar que as diferenças, as inadaptações, as discrepâncias do que é tomado como desejável sejam consideradas erradas, anormais, deficitárias, más. (p. 27)

A partir daí, o aluno opta por um distanciamento na relação escolar em

decorrência da marginalização construída em relação ao seu “não-saber”, que,

com base em ESTEBAN (2001) entendemos que é na realidade um “ainda

não-saber”.

Em cima do aluno repetente é construída a responsabilidade de estar na

situação em que o mesmo se encontra, afinal foi ele que não estudou, é ele

que não tem condições físicas, psicológicas ou sociais que permitem um bom

aprendizado.

PATTO (1999) chama atenção para as explicações construídas acerca

do fracasso escolar a partir de teorias sociais, em que as crianças pobres não

conseguem aprender na escola por conta de suas deficiências, sejam elas de

natureza biológica, psíquica ou cultural (p.157). Nessas teorias acaba-se

transportando a “culpa” do baixo rendimento para o aluno, evidenciando o

13

mérito pessoal, um dos princípios da ideologia liberal em que o mérito seria o

único critério de seleção educacional e social.

A autora destaca em seu trabalho, que é a formação do professor que é

voltada para trabalhar com um aluno ideal,

limpo, sadio, disciplinado e inteligente, em suma, preparado para assimilar um determinado quantum de informações sistemáticas e com condições de aprimorar as atitudes que traz do ambiente familiar. (p. 157)

Contudo, ao se deparar com a realidade escolar e com as realidades

sociais, os professores tendem a se distanciar da criança concreta que

encontram, muitas vezes bem diferentes desse estereótipo.

O estudante ideal, geralmente, foge da realidade dos alunos oriundos

das classes populares. São os alunos das classes menos favorecidas que

possuem uma maior dificuldade em responder as exigências escolares

estabelecidas. Apesar do aumento de vagas nas instituições educacionais

públicas, o qual podemos perceber nesses últimos anos, ocorre a dificuldade

em manter esses alunos na escola. E essa é uma preocupação que trago em

minha pesquisa. Como manter esses alunos na escola e contribuir em seu

sucesso escolar?

Essa é uma questão que vem sendo estudada por inúmeros

pesquisadores, objetivando uma resposta ao fracasso e procurando uma saída

ao insucesso. Nas pesquisas escolares realizadas surgem razões diversas

para explicar o fracasso, porém a maioria centra as justificativas em razões

individuais, fazendo uso de um modelo de aprendizagem e desenvolvimento

que contribui apenas para definir o porquê do insucesso escolar daquele

estudante, tomado pontualmente.

São esses alunos que não respondem ao padrão estabelecido pela

escola que constantemente são condenados ao fracasso, são esses os alunos

in (incapazes, inaptos, inaptados) que sofrem marginalização no espaço

educativo por não se adequarem ao perfil padrão.

Nesse estudo, ao falar de marginalização, utilizo esse termo para

designar quem está à margem da sociedade, no qual seu conhecimento e suas

14

formas de vida são definidos como inválidos e ilegítimos, fora dos limites

socialmente aceitos.

Dessa forma, a escola passa a assumir um papel de estigmatizadora,

pois constrói a imagem do bom aluno e a perpetua, e os que não se

enquadram a ela são excluídos do processo ensinoaprendizagem. Geralmente,

a participação desses discentes das classes menos favorecidas na dinâmica

educativa se faz apenas como receptor de conhecimento, o saber que esse

aluno traz para a escola não é visto e aceitável como válido, afastando dessa

forma uma relação dialógica no processo da aprendizagem.

Estudar o fracasso escolar nos leva a ir além dos tradicionais

diagnósticos reducionistas baseados em teorias de diferenças culturais e de

déficits, que têm um caráter preconceituoso. Investigar a dinâmica pedagógica

e da aprendizagem nos dá a possibilidade de compreender os caminhos de

construção do conhecimento que as crianças estão desenvolvendo.

Em seu estudo, Patto revê as propostas e orientações curriculares,

refletindo sobre as práticas do docente de acordo com as características dos

discentes. Segundo a autora, é importante estar voltado às reais condições de

aprendizado dos alunos que freqüentam a instituição escolar, alterando

métodos e práticas, para que assim de fato estejam a favor da produção de

conhecimento do aluno e, logo, de seu sucesso escolar.

PERRENOUD (2000), por sua vez, discute e esmiuça o conceito

construído em cima do insucesso escolar. Fracasso escolar, no senso comum,

é “falta objetiva” de conhecimento. O autor nos atenta em relação a esse olhar,

pois, ao afirmarmos o fracasso como ausência concreta, tendemos a

naturalizá-lo e apontar o aluno como responsável pelo insucesso escolar.

De acordo com essa visão, quem fracassa é o aluno. A escola dá a

mesma oportunidade a todos, e o estudante que não consegue acompanhar a

aprendizagem é que é o “culpado”. Essa forma de ver o fracasso, escamoteia

as inúmeras realidades encontradas na complexidade do universo escolar.

O mesmo autor nos orienta em relação à escola, a responsável pelo

decreto do fracasso. Como ela determina o quanto e o quê o aluno sabe? Essa

determinação é envolvida por uma cultura escolar definida, que

15

constantemente julga, classifica e exclui o saber apresentado pelo aluno. O

fracasso passa a ser então um julgamento da escola sobre o saber do aluno.

ARROYO (2003) contribui para esse estudo indicando algumas

hipóteses para o fracasso escolar. Segundo ele, a primeira seria o fato de que

existe entre nós uma cultura do fracasso que dele se alimenta e o reproduz. Cultura que legitima práticas, rotula fracassados, trabalha com preconceitos de raça, gênero e classe, e que exclui, porque reprovar faz parte da prática de ensinar-aprender-avaliar (p. 12)

O autor parte da suposição de que estamos inseridos em uma cultura

excludente, em que não apenas a escola faz parte, mas também as

instituições sociais do nosso país. Essa cultura da exclusão tende a manter a

desigualdade social, determinado os lugares ocupados dentro da sociedade. A

escola é só mais um local que faz parte da pirâmide social. A segunda

hipótese é a de que a cultura da exclusão está materializada na organização e

na estrutura do sistema escolar, o qual está moldado para excluir.

Essa cultura do fracasso existente na nossa cultura escolar tende a

silenciar vozes, expressões e conhecimentos das culturas dos alunos, esse

processo excludente tende a calar os múltiplos saberes que chegam à escola.

Esse fato acaba por manter a hierarquização social, delimitando os espaços

ocupados na sociedade. Os saberes que não correspondem com os saberes

valorizados pela escola, acabam por ser ignorados e classificados como

ausência de conhecimento.

De acordo com Arroyo, a cultura da exclusão está materializada na

organização escolar, ou seja, no currículo, na didática, nas disciplinas, e acaba

por legitimar essas formas de exclusão fazendo com que os processos

excludentes sejam explicáveis e válidos, tanto para a escola quanto para a

sociedade.

A instituição escola como parte da sociedade é mais um meio de

manter a estrutura social. A solução para o fracasso escolar seria a construção

de mudanças efetivas na organização da escola e reformas que possibilitem a

materialização de uma nova cultura educacional, que seja favorável à

educação e à aprendizagem das crianças.

16

A escola é procurada pelas famílias dos alunos e alunas das classes

populares em busca de qualificar a criança, de dar a ela a oportunidade de “ser

alguém na vida”, pois é este o discurso utilitarista da própria escola. Entretanto,

ao chegar na instituição educativa, a criança não é compreendida e não é

aceita com o conhecimento com o qual ela chega. O conhecimento desejado

pela escola não é aquele que a criança traz. Esse fato acaba por acarretar a

evasão escolar, onde a criança evade por não se reconhecer como parte

integrante daquele lugar, ela se sente um ser externo, não se reconhecendo

como parte daquilo.

Essa escola estigmatizadora, que acredita em um modelo único de

processo de conhecimento e em um único saber, tem como objetivo uma

educação homogeneizadora, uma educação linear, igual para todos. A lógica

estabelecida é a de que a escola dá as mesmas chances a todos os alunos, e

são os alunos que não conseguem responder ao que é proposto e que

possuem alguma espécie de deficiência.

Nessa visão sobre o fracasso criticada por Perrenoud, com base em

quê, respaldado em que princípios a escola determina o que sabe e o que não

sabe o aluno? Como é construído esse processo avaliativo que estipula o

conhecimento do aluno? O fracasso escolar é estipulado a partir do erro, é o

erro e o acerto do aluno que em geral orientam a prática escolar.

O erro, constantemente, é apresentado na escola como um fracasso, é

ele que revela ao professor o desconhecimento, é, portanto, negativo, e a

solução a ele seria o acerto, a apresentação do seu conhecimento. O erro e o

acerto são instituídos como opostos, ou você erra ou você acerta, construindo

assim um processo hierárquico entre os que “sabem” e os que “não sabem”.

ESTEBAN (2001) nos orienta nesse estudo sobre o saber que possui

quem erra. O erro, segundo a autora, nos sinaliza possibilidades de enxergar o

caminho percorrido pelo aluno em busca do aprendizado, nos dá pistas para

compreender como o aluno está organizando seu pensamento e seus saberes.

Ao invés de ver o erro como oponente do acerto, ele é visto como um caminho

para chegar ao aprendizado, ele nos dá informações sobre o que a criança

17

sabe e o que ela ainda não sabe, sobre o que ela está ainda em processo de

aprender.

O professor, ao utilizar o erro para compreender o saber já consolidado,

encontra possibilidades de refletir e orientar melhor a sua prática em

favorecimento do processo de conhecimento do aluno. Essa postura contribui

para a dinâmica ensinoaprendizagem, ao contrário de práticas em que o

professor apenas estabelece que o aluno errou e não o leva a pensar sobre o

motivo do “erro”, apenas recriminando-o e aconselhando-o a estudar mais.

Como o estudante alcançará a sua emancipação sem se fazer sujeito nas

relações?

A relação do erro com o acerto só nos é possível a partir de uma relação

dialógica na sala de aula, entre professor e aluno. O docente, ao possibilitar ao

discente compreender o próprio caminho percorrido em busca do

conhecimento, favorece uma maior participação e interação na dinâmica

ensinoaprendizagem e no processo avaliativo, tornando as relações educativas

mais democráticas e tornando a aprendizagem mais significativa.

Nessa perspectiva, o docente adquire uma postura de mediador no

movimento de aprendizagem ao transformar o não saber em ainda não saber.

VIGOTSKI (2007) nos ajuda a compreender esse aspecto a partir de seus

estudos sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). O autor nos orienta

que o conhecimento que a criança já possui é a Zona de Desenvolvimento

Real (ZDR), e a ZDP é o conhecimento possível a partir da ajuda, da

colaboração de outro sujeito.

Nesse caso, o sujeito que contribui no processo de desenvolvimento

proximal é o professor, que trabalha em função de mediar o conhecimento

construído pela criança, mostrando a ela o saber que está desenvolvendo.

Quando a criança já estiver com o saber consolidado, ela alcançará a Zona de

Desenvolvimento Real, pois já é capaz de realizar a atividade sozinha, sem a

ajuda de outro sujeito.

Esse conceito defendido por Vigotski nos ajuda a pensar a

aprendizagem como um processo e não como algo já pronto e determinado. O

18

professor é visto por ele como uma figura de suma importância, pois possui o

papel de mediador nessa dinâmica da busca do conhecimento.

A compreensão do pensamento do autor nos leva a pensar na

necessidade do diálogo durante a dinâmica da aprendizagem e nos permite

pensar em possibilidades de re-significar a avaliação escolar a partir dessa

interação com o outro. Ao refletir sobre a avaliação escolar que vem sendo

desenvolvida nas escolas, e no fracasso que surge nesse âmbito, pensamos

em uma verificação de aprendizagem que se transforme em um instrumento

favorável a aprendizagem de todos, construída com base no diálogo entre os

atores e os não-atores que da escola fazem parte.

O primeiro passo é compreender a escola como um espaço múltiplo, é

reconhecer a diversidade presente nas instituições educativas e buscar

práticas que favoreçam o entendimento da lógica e do universo do outro.

Minha pesquisa é construída com base no conceito de que a avaliação é

um processo de investigação (ESTEBAN: 1999) e de contínuo de

questionamento. Uma das formas de conceber a avaliação como um processo

investigatório é acabar com o distanciamento entre os sujeitos envolvidos no

processo ensinoaprendizagem, e entre os conhecimentos presentes no

cotidiano escolar. Essa prática contribui para a construção de novos

conhecimentos, favorecendo o processo da aprendizagem, que se torna mais

significativa e dá a possibilidade de romper com o processo excludente

existente na escola em torno do saber válido e não válido.

Ao reconhecer a multiplicidade presente na escola, percebemos que

nesse espaço encontramos óticas diferentes, maneiras diversificadas de ver e

entender um mesmo ponto, e, conseqüentemente, diferentes processos de

conhecimento na sala de aula. Podemos assim, a partir desse prisma, pensar

em uma avaliação democrática com caráter inclusivo, aberto às diferentes

culturas e conhecimentos que chegam à escola:

Esta percepção implica numa mudança radical na lógica que conduz às práticas de avaliação porque supõe substituir a lógica da exclusão, que se baseia na homogeneidade inexistente, pela lógica da inclusão, fundamentada na heterogeneidade real. (ESTEBAN: 1999, p.14)

19

Pensar em uma avaliação atenta a pluralidade de saberes presentes,

uma avaliação investigativa, como defende ESTEBAN (2003), significa pensar

o processo de avaliar como o de questionar e se questionar sobre o movimento

de construção de conhecimentos dos alunos, atento aos indícios que

compreendem toda essa dinâmica, aos sinais que apontam o saber e o ainda

não saber consolidado, objetivando uma melhoria na aprendizagem, a fim de

buscar uma sociedade mais democrática.

O presente trabalho foi construído a partir da necessidade de buscar

possibilidades que superem o fracasso escolar, e um dos caminhos possíveis

encontrados foi repensar a prática do professor e transformar o processo

avaliativo, já que a avaliação está diretamente ligada ao fracasso escolar.

Para ir além do ato avaliativo como prática excludente, se fazem

necessárias práticas includentes, atentas às singularidades, à pluralidade e

aos diferentes saberes dos sujeitos que da escola fazem parte. O diálogo

nessa relação é a espinha dorsal para uma mudança significativa.

20

CAPÍTULO II

O papel do professor diante da dificuldade de

aprendizagem

Após um estudo teórico sobre o fracasso escolar, inicio minha pesquisa

com a seguinte questão: Como o professor pode contribuir para evitar o

fracasso escolar e possibilitar a aprendizagem?

O meu interesse pelo assunto parte do objetivo do meu trabalho

profissional, a educação, o processo de conhecimento e aprendizagem do

sujeito. Dessa forma, busco pesquisar e compreender práticas educativas e

pedagógicas que contribuam no processo de ensino e aprendizagem,

possibilitando o sucesso escolar do aluno.

Para dar início à pesquisa, busquei me fundamentar teoricamente

partindo dos estudos de Piaget sobre o pensamento, a inteligência e o

desenvolvimento intelectual da criança. A teoria piagetiana defende que as

formas de pensamento são construídas a partir da interação da criança com os

objetos, através da ação.

Piaget (1998) introduz três conceitos fundamentais no estudo sobre o

desenvolvimento intelectual: assimilação, acomodação e equilibração. O

sujeito ao conhecer o objeto, ele o assimila com os conhecimentos já

existentes e a partir dessa relação, ocorre a acomodação.

A assimilação é definida como um mecanismo de incorporação das

particularidades, é o processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o

ambiente e o organiza possibilitando, assim, a ampliação de seus esquemas.

Na assimilação o indivíduo usa as estruturas que já possui. Já a acomodação é

a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das

particularidades do objeto a ser assimilado. Por fim, a equilibração é o

processo da passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de

maior equilíbrio.

Piaget (1998, p.13) diante de seus estudos, defende que o

desenvolvimento intectual da criança ocorre à partir de: “uma equilibração

21

progressiva, uma passagem contínua de um estado de menos equílibrio para

um estado de equilíbrio superior.” Cada estágio de desenvolvimento é uma

forma particular de equilíbrio. É por meio dos constantes desequilíbrios e

equilíbrios que ocorre o desenvolvimento cognitivo.

Outro teórico que contribuiu no meu estudo acerca da aprendizagem foi

Vigotsky (1991), defensor da relação sócio-interacionista como possibilitadora

do desenvolvimento intelectual, ele afirma que o processo de aprendizagem

acontece a partir da interação do sujeito com o meio social.

Vigotsky chama de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), quando a

criança aprende com a ajuda de um outro que está em um nível de

conhecimento acima, podendo assim ajudá-lo. O que a criança é capaz de

fazer hoje em cooperação, será capaz de fazer sozinha amanhã (VIGOTSKY,

2007, p. 89). O autor descreve a fase de desenvolvimento como:

A zona de desenvolvimento (...) é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (p. 97)

O estágio em que a criança já pode realizar sozinha, já tem o saber

consolidado é a Zona de Desenvolvimento Real. O professor nessa dinâmica

ocupa o papel de mediador entre os conteúdos e o aluno, o sujeito da

educação, constrói seus conhecimentos a partir de sua relação com os objetos

e o meio social. Cabe ao professor organizar ambientes de aprendizagem

estimulantes que facilitem essa construção cognitiva.

É importante conhecer as diferentes teorias de aprendizagem, mas é

imperativo que compreendamos o modo como as pessoas aprendem e as

condições necessárias para a aprendizagem, bem como identificar o papel de

um professor nesse processo. Essas teorias são importantes porque

possibilitam ao professor adquirir conhecimentos, atitudes e habilidades que

lhe permitirão alcançar melhor os objetivos do ensino.

Cabe ao professor conhecer as etapas de desenvolvimento da criança,

pois se a criança ainda não estiver com uma estrutura cognitiva de acordo com

22

o que está sendo ensinado pelo docente, pode ocorrer a falta de interesse e de

estímulo, ocorrendo rejeição por parte do aluno m relação ao que está sendo

ensinado.

“Identificar estes períodos é de grande relevância para o trabalho pedagógico, pois é baseado neles que o professor saberá quais atividades mais adequadas para cada idade.” Araújo(2003)

Na aprendizagem escolar, existem os seguintes elementos centrais,

para que o desenvolvimento escolar ocorra com sucesso: o aluno, o professor

e a situação de aprendizagem. As teorias de aprendizagem têm em comum o

fato de assumirem que indivíduos são agentes ativos na busca e construção

de conhecimento, dentro de um contexto significativo.

O processo de aprender exige uma integração entre cognição,

afetividade e a ação e, nas pessoas que não apresentam dificuldades, esta

integração flui, permitindo a aprendizagem. Já aqueles que por algum motivo

apresentam dificuldades, esta integração aparece obstaculizada,

desorganizada, o que provoca muita tensão diante das situações de aprender.

Maturana (1999) contribuiu em minha pesquisa trazendo uma maior

reflexão e compreensão sobre a relação existente entre o corpo e a

aprendizagem, um entendimento biológico sobre motivos que podem levar a

ocorrer o fracasso escolar.

O biólogo defende a importância das emoções como o grande

referencial do agir humano, emoções para ao autor “são disposições corporais

dinâmicas que definem os diferentes domínios de ação em que nos

movemos”. (Maturana, 1999, p. 15)

Ele ressalta a importância de trabalhar as emoções e o afeto para o bom

funcionamento das funções superiores do sistema nervoso. O afeto é que faz a

ligação entre a estrutura somática e a organização psicológica. Dessa forma,

se a pessoa está emocionalmente abalada, pode acontecer, por exemplo, da

memória, da concentração, do raciocínio ou da atenção não acontecerem,

simplesmente ter um bloqueio.

Esse fato nos tira do senso comum e nos leva a ciência, a filosofia,

quando falamos no educar com amor, na importância do afeto para a

23

educação. Nesse sentido, é importante refletir sobre a construção das relações

humanas realizadas na escola, na sala de aula. Afinal, como o professor está

mediando essas relações? Como o mesmo está se relacionando com o sujeito

da educação, o aluno?

Muitos alunos não conseguem se concentrar, apresentam dificuldade na

linguagem, e a escola fica atenta para as questões que aquele aluno possui.

As questões, na maioria das vezes, seguem para a procura de um profissional

que descubra qual é o déficit. Porém, cabe ao professor e a escola

conhecerem melhor o aluno, sua família e levantar dados que indiquem o

motivo da criança estar agindo daquela forma, será que o sistema emocional

está abalado? Fatos diversos podem desestruturar as emoções e travar o

processo de aprendizagem, tornando essa dinâmica desprazerosa e sem

significado.

Atualmente podemos observar a ausência da família no

desenvolvimento dos filhos. A contemporaneidade nos diz que “tempo é

dinheiro”, e com esse slogan do mundo moderno, os pais ficam cada vez mais

distantes dos filhos, com menos tempo para conversar, para acompanhar o

crescimento, a aprendizagem dos mesmos. Esse é um motivo que faz com que

cada vez mais há descobertas de déficits e questões novas no universo

escolar.

Ao mesmo tempo, faz parte do trabalho do docente rever

constantemente a própria prática, em movimento dialético de prática-teoria-

prática, sempre objetivando a aprendizagem dos alunos e revendo a relação

que está construindo com os mesmos. A aprendizagem está relacionada ao

afeto, às emoções. Piaget defende a afetividade como fonte de energia para o

funcionamento da inteligência. Existem dois tipos de condições de

aprendizagem: as externas, referindo-se ao aspecto social, cultural em que o

sujeito está imerso e as internas, ligadas ao corpo como organismo mediador

da ação.

É em função do corpo, que se é harmônico ou rígido, compulsivo ou abúlico, ágil ou lerdo, bonito ou feio, e com esse corpo se fala, se escreve, se tece, se dança, resumindo, é como o corpo que se aprende. As condições do mesmo sejam constitucionais, herdadas ou

24

adquiridas, favorecem ou atrasam os processos cognitivos e, em especial, os de aprendizagem. (PAIN, 1992, p.22)

A dificuldade de aprendizagem apresentada pelo aluno é um mau

encontro, é quando o corpo não responde ao esperado, pois o corpo não

aceita, não gosta do que se depara. A partir dessa definição, nos leva a pensar

sobre a importância de conhecer a criança, de mergulhar no seu próprio

universo e construir relações horizontais com a mesma.

O estudo realizado nos dá um olhar científico em relação a

aprendizagem, a qual sabemos que é um fenômeno biológico, o organismo

que aprende, sendo assim, é subjetivo. Dessa forma, o nosso olhar nesse

processo é atento para as singularidades que os sujeitos nos apresentam, pois

todos os seres vivos são dotados de um aparelho cognitivo, um modo próprio

de estar no mundo e relacionar-se com ele.

O não conseguir aprender por repetidas vezes faz com que o aprendiz

forme de si uma imagem de fracasso e se iniba ou se afaste de novas

situações de aprendizagem. O professor deve estar preparado para identificar

possíveis distúrbios/dificuldades no processo de conhecimento, enfocando

aspectos orgânicos, afetivos e pedagógicos, durante todo o processo.

Considerando-se as diversas causas que podem interferir no processo

ensino-aprendizagem, investigar o ambiente no qual a criança vive e a

metodologia abordada nas escolas é importante antes de se traçar o enfoque

terapêutico, uma vez que a criança pode não apresentar o distúrbio de

aprendizagem, mas apenas não se adaptar ou não conseguir aprender com

determinada metodologia utilizada pelo professor, como também a carência de

estímulos dentro de casa. Por outro lado, muitas crianças podem não

apresentar nenhum fator externo a ela e mesmo assim não conseguir

desenvolver plenamente suas habilidades pedagógicas. É o caso das crianças

com distúrbio de aprendizagem, cujas limitações intrínsecas se manifestam

através de déficits lingüísticos, alteração no processamento auditivo e outros

vários fatores que podem prejudicar significativamente o aprendizado da leitura

e da escrita.

25

A partir desse estudo teórico fui a campo buscar a prática de um

professora frente a dificuldade de aprendizagem apresentada por um aluno. A

pesquisa iniciou-se a partir de uma queixa surgida em um Conselho de Classe

na Escola X, situada na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro.

A escola tem o seu projeto político pedagógíco pautado em uma

perspectiva construtivista, acreditando que o aluno produz o conhecimento, e

ao professor cabe o papel de mediador, de orientador nesse processo.

Após 2 meses de aula, de convivência e observação diária do aluno, a

professora responsável pela turma, Maria, resolveu levar à equipe pedagógica

as questões que o aluno apresentava. A docente por estar atuando há pouco

tempo na instituição, ainda se mostrava insegura de levantar hipóteses sobre

os docentes de sua turma, e por isso, apesar de dizer que desde a primeira

semana de aula notou uma questão comportamental no aluno, esperou o

Conselho para levar o fato à equipe da escola.

A queixa que a professora trouxe para o conselho de Classe foi a

seguinte: o aluno Y, que chamaremos de Eduardo, não consegue se

concentrar, ele desvia sua atenção com muita facilidade durante as atividades

em sala, um possível caso de Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade (TDAH). Iniciamos a queixa a partir de questionamentos como:

por que esta criança não consegue se concentrar? Por que não consegue

seguir regras e manter-se em uma atividade até o final, seja ela em sala de

aula, seja na quadra de esportes ou até mesmo em momentos de recreação?

Eduardo tem sete anos e está cursando o segundo ano do ensino

fundamental. É uma criança que consegue ler e escrever precariamente, com

coordenação motora comprometida. A inquietação deste é constante, não

conseguindo se manter sentado ou mesmo parado quando preciso; seu olhar é

aéreo, como se estivesse alheio a tudo que está ao seu redor, além de não

conseguir manter contato visual com uma outra pessoa; está sempre

apontando e mordendo seu material; pede incessantemente para ir ao

banheiro.

O aluno citado perdeu o pai a pouco tempo e além da falta do mesmo,

conta com a mãe inconformada com o acontecido, o que acaba prejudicando

26

muito qualquer tipo de intervenção, já que a mesma não aceita as questões

que seu filho apresenta.

Todas estas questões impedem que Eduardo evolua cognitivamente e

socialmente, ao contrário de seus problemas de aprendizagem. A docente o vê

como um aluno imaturo que sente uma certa dificuldade na escuta e como

decorrência disso, no seu próprio desenvolvimento comportamental. Porém é

um aluno carente, carinhoso, e pode-se observar que muitas atitudes

cometidas em sala com seus colegas de classe são para chamar a atenção

das professoras.

Diante dessa observação, as docentes da turma procuram convocar o

aluno para ser o responsável, o organizador, o monitor durante as atividades. E

através do afeto, do diálogo, procuram trazer o prazer na aprendizagem,

fazendo com que o aluno participe efetivamente do planejamento do dia, e tem

se notado uma melhoria na auto-estima do mesmo.

A partir dessa queixa realizada pela docente, busquei observar a aula

para conhecer o contexto em que o aluno está habituado a vivenciar, e dessa

forma, passei a ter elementos que contextualizem o problema. Esse

instrumento avaliativo nos permite conhecer o processo de ensino e

aprendizagem construído naquela sala e perceber as interações estabelecidas

entre os diferentes sujeitos desse ambiente. É necessário conhecer o

funcionamento da sala de aula em um todo.

O recreio foi também um dos espaços utilizados para acompanhar o

aluno, tendo em vista que é um momento em que a criança se expressa

corporalmente, trabalha a imaginação, manifesta espontaneamente as suas

afinidades pessoais e se relaciona com os outros.

Esse meio avaliativo me permitiu o acesso à dinâmica da sala de aula e

traz a possibilidade de apresentar dados relevantes para trabalhar com o

problema apresentado pela professora, porém

A utilidade da observação para a avaliação psicopedagógica não deve levar a engrandecê-la, nem a considerá-la o instrumento por excelência, pois esta deve ser complementada com outros igualmente importantes. Por outro lado, deve-se proceceder com prudência ao interpretar os dados que ela proporciona. (SOLÉ, 2001, p. 200)

27

Pude observar que o aluno pede ajuda o tempo inteiro, pede colo,

atenção, afeto. Ele quer fazer parte daquele meio inserido, mas se vê

fragilizado e sozinho, como se os outros não enxergassem as suas

necessidades. Durante as brincadeiras durante o recreio, observei a forma de

interação que era construída entre ele e seus colegas, quando a regra não

respondia ao que o aluno desejava, a forma que ele respondia ao fato, era se

esquivando, se retraindo ou agredindo, mordendo os colegas.

Neste encontro da comunidade escolar, ao ouvir o lamento da

professora, outros profissionais relataram o conhecimento que tinham sobre o

aluno Y e contribuíram na construção de estratégias que favorecessem o

processo de aprendizagem do estudante. Professores de séries (hoje em dia

titulamos como ano) anteriores, trouxeram para o Conselho estratégias

utilizadas, porém o falecimento do pai do aluno recentemente agrava a

desatenção do aluno, justamente por envolver questões emocionais e a mãe

por se encontrar em um momento delicado se mostra ausente e

Antes de investigar a questão, conversei com professoras, orientadoras

e coordenadora sobre o saber que elas tinham em relação à dificuldade de

aprendizagem e como elas lidavam com o não saber na sala de aula.

As professoras defenderam o erro como caminho da aprendizagem, em

que cada aluno tem um ritmo, encontra o próprio caminho para chegar ao

conhecimento e a partir disso, elas se desafiam a compreender o trajeto feito

pelo aluno, mergulhar nele para contribuir na aprendizagem. Mas quando

essas ações do docente não bastam?

Nessa instituição escolar em cada ano há 4 turmas, e em cada turma há

1 professora regente e 1 auxiliar, e em média há 28 alunos por turma, são

turmas bem grandes o que fica difícil o professor conhecer realmente as

dificuldades, os limites de cada sujeito da educação presente em sua sala.

Maria relata que o aluno ainda não consegue escrever em letra cursiva,

que aglutina palavras, troca fonemas, e encontra uma certa dificuldade na

produção de textos, na interpretação tanto de textos como de problemas

matemáticos. Ela contou que a mãe não consegue ver as dificuldades do filho.

A escola já a orientou em levá-lo a um psicólogo, a um fonoaudiólogo, porém a

28

mãe não vê motivos suficientes para isso e joga para cima da professora e da

escola a responsabilidade no desenvolvimento do próprio filho.

O aluno Eduardo tem 7 anos, nasceu no dia 19 de novembro de 2003,

está cursando o 2º ano do Ensino Fundamental da Escola X. Ele é filho único,

mora apenas com sua mãe, o pai é falecido. Sua mãe se chama Carmem, tem

38 anos, é publicitária e mora com seu filho no bairro do Jardim Botânico, RJ.

O menino tem uma bábá que cuida dele enquanto a mãe trabalha e nos fins de

semana, geralmente eles vão para a casa dos avós no bairro de Ipanema, RJ.

O aluno estuda nessa mesma escola desde a Educação Infantil, mas

como a escola é dividida em segmentos, a Educação Infantil é localizada na

mesma rua em que está o Ensino Fundamental, porém em outro espaço, com

outra equipe pedagógica, outra rotina. O 1º ano do E. F. também se localiza no

espaço da Educação Infantil, ou seja, é o 1º ano do aluno no espaço escolar

em que ele está inserido, onde a relação professor/ aluno muda de acordo com

o trabalho com a autonomia que está sendo construído e com as

responsabilidades, os comprometimentos que vão surgindo com o estudo.

Tudo isso certamente contribuiu nas dificuldades de aprendizagem que o aluno

está apresentando, pois surgiram muitas novidades ao mesmo tempo em

apenas alguns meses.

Após conversar com a professora da turma e participar das atividades

na escola para observar o aluno, pedi para a coordenação um espaço durante

as atividades diárias na escola para poder conversar com o aluno e fazer a

Entrevista Operativa Centrada na Modalidade de Ensino e Aprendizagem -

EOCMEA (anexo1). O momento que ela escolheu para eu poder sair da sala

com aluno para a conversa, foi durante uma atividade de leitura que a

professora realizava com o resto da turma.

O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social. (Weiss, 2003, p. 23)

Durante o meu encontro com esse aluno, eu trouxe para ele a queixa

feita pela professora em relação ao aluno e perguntei se ele sabia me

29

responder porque aquilo acontecia, afinal, por que o aluno não conseguia se

concentrar? ?Ele me respondeu dizendo que muitas vezes a aula não é

interessante, que ele não gostaria de estar ali. A professora se queixou que

além dele ter essa dificuldade na concentração, ele brinca e fala muito e assim,

acaba por atrapalhar outros colegas de classe.

Em um momento em que conversávamos sobre as matérias que ele

mais gostava ou não, pedi ao aluno que fosse até a sala e me mostrasse seus

cadernos, livros e materiais de turma. Ao manuseá-los, observei uma falta de

organização com os mesmos. No material de português, eram letras trocadas,

aglutinadas, fonemas invertidos. Em todo o material notava-se manchas nas

folhas que mostravam a quantidade de vezes que aquele espaço da folha

foram apagados, ou seja, certamente por erros que o aluno cometeu nas

atividades realizadas.

O erro é constantemente trabalhado na escola como uma coisa ruim,

errada, e que não pode acontecer, A partir daí, o aluno opta por um

distanciamento na relação escolar em decorrência da marginalização

construída em relação ao seu “não-saber”, que, com base em ESTEBAN

(2001) entendemos que é na realidade um “ainda não-saber”, onde o aluno

está em processo de conhecimento, está adquirindo o saber. A avaliação como

prática investigativa não trabalha a partir de uma resposta única, mas sim

questiona as respostas encontradas, os diferentes caminhos traçados e

conhecimentos sinalizados, objetivando a ampliação dos mesmos. O

conhecimento apresentado pelo aluno é reconhecido como provisório, como

meio para alcançar outro. Assim consideramos o dito “não-saber” em “ainda

não-saber”, o saber é parcial e está em desenvolvimento.

Esse foi um ponto conversado com a professora, em como ela trabalha

a questão do “ainda não saber” como o aluno Eduardo. Pude perceber a

presença de uma auto-estima baixa no aluno. Ele faz as atividades pelo

mínimo, como se já esperasse uma reprovação da professora ao término da

atividade.

Ao final do meu trabalho de observação, de conversas com a

professora, com a equipe pedagógica e com o próprio aluno pude perceber o

30

quanto esse aluno pede ajuda a todo o momento. Durante meu processo de

pesquisa tentei entrar em contato com sua mãe, explicando o motivo do meu

trabalho de investigação, porém ela se mostrou indiferente e sem tempo para

conversar comigo. A princípio ela não entendeu o motivo da minha ligação e

interesse em logo fazer esse trabalho com seu filho, eu expus a ela a queixa

feita para a professora (a qual ela já sabia) e considerei importante fazer essa

pesquisa participativa para encontrar um caminho que ajudasse esse aluno

diante de sua dificuldade de aprendizagem.

Com a ajuda da professora, pude observar a presença no aluno de uma

auto-estima baixa, onde já carregava o peso do “não-saber”, em que tudo que

o aluno fazia estava errado, não estava bom o suficiente. Esse fato foi

conversado com a professora para a mesma rever a própria prática e sua

relação construída com o aluno. Da mesma forma, a mãe deveria contribuir

com a professora nesse processo de estímulo a aprendizagem do aluno.

Diante das queixas feitas pelo aluno, é importante a professora realizar

em sala atividades lúdicas que tornem a aprendizagem prazerosa e traga

sentido a mesma.

É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self). ( WINNICOTT, 1975, p.80)

É nesse momento da brincadeira, do lúdico, que a criança trabalha a

alteridade, o se colocar no lugar do outro. A criança inverte e cria papéis, se

coloca no lugar do outro, pensa, e passa ser um espaço transicional, entre o

mundo interno e externo, experimentando e criando. A queixa realizada pelo

aluno nos mostra a insatisfação com o estudo, com a escola, a forma que lhes

é ensinado algo, talvez essa queixa seja compartilhada com outros colegas de

turma, porém para o Eduardo isso afete mais.

A mãe do aluno se mostra ausente e perdida com a morte do marido,

pai do aluno, e nesse movimento se distancia do filho. O que o discente quer é

31

atenção, afeto, muitos de seus atos são gritos de alerta a quem o cerca, são

chamados de dor.

A professora do ano anterior confirmou à atual a dificuldade que o aluno

apresenta em prestar atenção, se concentrar, porém sabemos que desvios

anteriores só aumentaram nesse semestre que passou. Eduardo perdeu o pai,

tem uma mãe ausente, são fatos que abalam as emoções do aluno e travam

seu processo de aprendizagem, tornam essa dinâmica desprazerosa e sem

significado. É um dos motivos que levam o aluno a não conseguir se

concentrar, a não conseguir parar quieto, em sala, sentado.

O aluno ao pedir constantemente para sair da sala de aula, ao

permanecer durante minutos aéreo sem conseguir fixar a atenção no que é

apresentado nos dá sinais de que algo está errado e aquela prática do

professor ao mudar pode dar possibilidades de melhoria na aprendizagem.

Simaia Sampaio( 2010) nos apresenta algumas soluções de como

trabalhar com um aluno com TDAH. Uma das ações é melhorar o vinculo

afetivo dessa criança.

Uma das principais necessidades do ser humano é o sentimento de

pertencimento a um determinado grupo, como uma parte de uma família ou se

uma sociedade. A família é o grupo mais básico, onde são desenvolvidas

relações mais afetivas e duradouras.

Em instituições de abrigo, como a escola ou a creche, ainda que exista

uma infra-estrutura ideal, sempre haverá uma lacuna relativa à necessidade de

afeto por parte das crianças, que têm como modelo as relações construídas no

universo familiar. A criança que por algum motivo tem de se distanciar de sua

família e permanecer por um grande tempo por dia nesse tipo de instituição,

sofre uma interferência direta na formação de sua identidade, e no

desenvolvimento de sua sociabilidade.

A importância do carinho com o aluno na educação infantil é muito

grande, e ainda maior quando o indivíduo apresenta características de déficits

de atenção, uma vez que ele, naturalmente, necessitará de um apoio maior de

seu professor, ao invés de rótulos e julgamentos. A partir desse quadro, são

sugeridas atividades e jogos para que o aluno identifique os próprios

32

sentimentos e consiga expressá-los melhor partilhando-os com um grupo; para

que acriança com TDAH se sinta parte de um grupo.

Outra ação apresentada pela autora é melhorar a auto-estima do aluno.

A auto-estima é a visão e o sentimento que o indivíduo desenvolve em relação

a si mesmo, bem como é a impressão que ele espera que os outros tenham

também em relação a ele.

A criança com baixa auto-estima não apresenta segurança frente a

novos desafios e possibilidades, e pode não ter a mesma facilidade que os

outros têm para interagir. Ela pode também repetir muito as mesmas ações,

como uma forma de ter certeza do que está fazendo, já que não acha que é

capaz de realizar aquela determinada tarefa.

Deste modo, tanto os pais quanto os professores devem agir no sentido

de estimularem o aluno a confiar em sua capacidade, e incentivá-lo a ir além

dos seus limites aparentes, superando os desafios do cotidiano.

Em geral, crianças que recebem o rótulo de “avoadas”, dispersas,

desinteressadas e inquietas, são aquelas que não param, raramente aceitam

regras e limites. Elas não conseguem se concentrar e focar numa atividade

específica, e sua atenção muda constantemente de uma atividade para outra.

Desta maneira, para melhorar a concentração do aluno com TDAH, a solução

buscada é desenvolver ações e atividades que chamem a atenção deste

aluno, de forma que ele se envolva e tenha interesse.

Faz-se necessário realizar adaptações metodológicas. A preparação

consiste em evitar dispor o aluno nos cantos da sala, onde é maior a

reverberação do som. Ele deve, preferencialmente, ficar nas primeiras fileiras e

no centro da sala, e de costas para os colegas, permitindo um contato direto

somente com o professor.

O dia-a-dia da classe deve ser claro e previsível, já que crianças com

TDAH apresentam sérias dificuldades para se adaptarem a possíveis

mudanças. Da mesma maneira, deve-se investir em atividades e jogos que

permitam a estes alunos conviver com regras e limites, gastando energia de

uma forma produtiva. Essas atividades devem fazer com que ele aprenda o

conteúdo sem perder a atenção a todo o momento.

33

Todo professor almeja querer que os alunos acertem sempre, porém se

faz necessário ter um novo olhar sobre o erro na aprendizagem, estuda-se que

o erro é um indicador de como o aluno está pensando e como ele

compreendeu o que foi ensinado. Analisa-se com mais cuidado os erros dos

alunos, pode-se elaborar a reformulação e práticas docentes de modo que elas

fiquem perto da necessidade dos alunos e atender as dificuldades que o

mesmo apresenta.

É importante que o professor reflita sobre as causas do fracasso escolar

e procure alternativas para solucionar o problema, buscando compreender

como ocorre o conhecimento, os que interferem na aprendizagem, seus

diferentes estágios, e as diferentes teorias que podem transformar o próprio

trabalho em processo científico e assim ele percorrerá o caminho prática-

teoria- prática, que é a práxis educativa, o movimento reflexivo contínuo da

própria prática.

Ao docente, cabe refletir em conjunto com a comunidade escolar e a

intervenção do psicopedagogo, sobre a estrutura curricular que está sendo

oferecida e a compatibilidade desta com as estruturas cognitiva, afetiva e

social do aluno com transtorno de déficit de atenção. Afinal, para a

psicopedagogia, a aprendizagem baseia-se no equilíbrio dessas estruturas.

Para Vigotsky (2007, p.33): “Todos os seres humanos são capazes de

aprender, mas é necessário que adaptemos nossa forma de ensinar”.

CAPÍTULO III

Compreendendo o trabalho do psicopedagogo

No momento em que iniciei o curso de psicopedagogia, ainda

desconhecia o papel do profissional nas instituições escolares. No entanto,

durante meus estudos pude compreender a função do psicopedagogo como

mediador entre o aprendente (o aluno), o conhecimento e o ensinante (o

34

professor). Através de um olhar e uma escuta diferenciados, ele trabalha a

socialização na sala de aula, observando a prática do professor e como isso

reflete na aprendizagem do aluno.

O foco do psicopedagogo é a aprendizagem, buscando caminhos que

tornem a mesma prazerosa, trabalhando com a criatividade, o questionamento,

objetivando tornar os alunos seres pensantes, autores da própria história.

Esse profissional surge para dar conta de um vácuo existente na relação

entre professor, aluno e conhecimento, e cria estratégias com a função de

construir um espaço de confiança, trazendo o prazer no processo de ensino-

aprendizagem.

“Na instituição escolar, ele desvela o que está oculto, intervindo nas modalidades de aprendizagem, no enfrentamento e prevenção: permitindo que as diferenças apareçam e sejam trabalhadas no grupo.”(NETO e ALMEIDA, p.18)

Bossa (2000) diz que o psicopedagogo vem

“Preencher um espaço que não poderia ser ocupado nem por

pedagogos nem por psicólogos (...), objetivando resolver o fracasso escolar e trabalhar memória, percepção, atenção, motricidade e pensamento. Este profissional deveria orientar o processo educativo nas suas mais diversas falhas, como métodos inadequados, evasão escolar e crise na escola”. (p.40)

O papel do psciopedagogo é observar como o sujeito aprende, como é o

seu modo particular, original. A especificidade da avaliação psicopedagógica

exige articulação do todo, não acontece isoladamente, ele ocorre entre as

várias instâncias e vários saberes, há a compreensão do sujeito enquanto

aprendente.

Mas como o psicopedagogo atua frente às dificuldades de

aprendizagem que surgem no âmbito escolar?

À partir dessa queixa feita pela professora (capítulo 2), pude observar o

trabalho da psicopedagoga, que chamaremos de Joana, dessa escola em

relação a esse aluno. O primeiro momento foi de ouvir a docente, compreender

melhor a questão que ela trazia referente a esse aluno. Após a escuta, Joana

35

foi observar o aluno em sala de aula para conhecer melhor o aprendente e

compreender a queixa que Maria trazia.

A pesquisa realizada por mim era observar o papel do professor e do

psicopedagogo diante da dificuldade de aprendizagem, porém sendo uma

estudante de psicopedagogia, muitas vezes pegava para mim as funções e

responsabilidades do trabalho da Joana, com o objetivo de aprender com a

profissional e poder de alguma forma ajudar aquela criança e aquela

professora angustiada. Dessa forma, quem fez a EOCMEA fui eu, como já foi

citado no capítulo anterior.

Porém ao observar, ou como algumas vezes, tomar a frente de ações

que cabiam a Joana pude observar algumas tarefas que são próprias do

psicopedagogo, como identificar sintomas de dificuldades no processo

ensinoapredizagem e fazer a mediação entre os sujeitos envolvidos nesse

processo (pais, professores, alunos e funcionários); trabalhar com grupos; a

importância da equipe, do outro; administrar ansiedades e conflitos; fazer

encaminhamentos e orientações; ter um olhar clínico, uma escuta diferenciada;

e como diz Alicia Fernandez “transformar queixas em pensamento”.

Antes de fazer a avaliação psicopedagógica, é necessário contextualizar

o sujeito na sua história escolar e clínica, fazer um levantamento de questões

da instituição escolar que tem reflexos na aprendizagem do aluno, realizar

entrevistas e fazer estudo da realidade escolar vivida pela criança.

Joana quando escutou o lamento de Maria em relação ao aluno,

realizou a anamnese, que é um instrumento que nos dá informações

relevantes e necessárias para consecução das hipóteses diagnósticas. A partir

dela, o psicopedagogo tem uma ampla observação dos fatos cotidianos da

história do aprendente segundo sua família. É um conjunto de situações que

investigadas vão proporcionar ao psicopedagogo compreender a questão do

discente e entender como essas relações com a família contribuem ou não

para manter os sintomas decorrentes dos obstáculos de aprendizagem.

Alguns aspectos que conduzem ao fracasso escolar podem ser

detectados através da avaliação feita pelo psicopedagogo, o que acontece na

estrutura individual de um sujeito para que seja vítima do não aprender? A

36

resposta a essa interrogação encontra-se na relação particular entre o

organismo, o corpo, a inteligência e o desejo desse sujeito, transversalizados

por uma particular situação vincular e social.

“Os problemas de aprendizagem podem se apresentar em razão de uma metodologia inadequada, método de alfabetização inadequado, privação cultural e econômica, má formação docente, falta de planejamento das atividades, desconhecimento da realidade cognitiva dos alunos.” Sampaio (2011, p.90)

A psicopedagogia não lida diretamente com o problema, lida com as

pessoas envolvidas, ou seja, a criança, seus familiares e com os professores,

levando em conta aspectos sociais, culturais, econômicos e psicológicos.

Em sua avaliação, no encontro inicial com o aprendente e seus

familiares, utiliza a “escuta psicopedagógica”, que o auxiliará a captar através

do jogo, do silêncio, dos que possam explicar a causa de não aprender.

Segundo Alícia Fernandes (1990 p. 117)

“a [...] intervenção psicopedagógica não se dirige ao sintoma, mas o poder para mobilizar a modalidade de aprendizagem, o sintoma cristaliza a modalidade de aprendizagem em um determinado momento, e é a partir daí que vai transformando o processo de ensino aprendizagem.”

O papel que a psicopedagoga dessa escola teve em relação ao aluno

dessa instituição foi de conhecer melhor o aluno, ter um olhar diferenciado,

pesquisar fatos que possam trazer um diagnóstico do aluno. O trabalho em

parceria com a comunidade escolar, em especial a professora, me mostrou a

importância do trabalho em equipe, são diversos saberes que ao trabalharem

juntos, aumentam a possibilidade de transformar o processo de ensino e

aprendizagem em função do sucesso escolar.

A troca com o outro é condição para o conhecimento.

Na troca, há uma interação e uma interlocução com o outro, um fazer/pensar ‘independente’. É importante não esquecer que, mesmo quando o sujeito exerce, de forma independente, determinadas capacidades ou funções, sem ajuda de outras pessoas,

37

o outro está presente na ausência, pois a troca com o outro é constitutiva para o conhecer. (SAMPAIO,C.S.:2008, p. 170)

CONCLUSÃO

Diante desse processo investigatório tive a oportunidade de rever a

minha prática e buscar alternativas em função de uma aprendizagem eficaz.

Acompanhar o trabalho dessa professora e dessa psicopedagoga foram de

grande importância para a minha formação, a qual está constantemente em

processo, é continuada., me possibilitando alcançar novos saberes.

A partir de um olhar e uma escuta diferenciados, a professora pôde

encontrar indícios, descobertas despercebidas por outros, mas que ela

38

consegue observar a partir de um olhar mais atento, minucioso, investigativo

sobre a própria prática educativa construída e sobre os saberes e não-saberes

apresentados pela turma. Ginzburg (1991), através do paradigma indiciário,

contribui com esse processo ao sinalizar a importância de observar e

interpretar as pistas deixadas pelos alunos na dinâmica da aprendizagem,

onde questões sem importância, ao serem estudadas e refletidas, podem

mostrar uma realidade complexa, a qual não é facilmente observável. Nesse

caso, só foi possível pelo olhar atencioso de uma professora comprometida

com a aprendizagem.

Com o decorrer da pesquisa aprendi a importância da reflexão sobre a

própria prática em função do aprendizado e do trabalho em parceria com a

psicopedagoga para a resolução de situações em torno da dificuldade de

aprendizagem.

O aluno pesquisado nesse trabalho não nos apresentou algum

diagnóstico. Atualmente observamos a necessidade de rotular e dar nome às

questões que as crianças e alunos nos apresentam e que fogem do padrão

desejado sobre comportamento infantil.

Porém a partir do trabalho investigativo da psicopedagoga pude

observar que algumas “questões” são construídas e desconstruídas. Nessa

pesquisa em especial, a criança precisava de atenção, de afeto, e se no

momento ela sente falta desse abrigo dos pais, a mãe ao saber disso e mudar

em função das necessidade de seu filho, ela contribui para o sucesso escolar

de seu filho.

Encerro meu trabalho de pesquisa, concluindo a importância do

trabalho em parceria da professora com a psicopedagoga objetivando o

sucesso escolar.

39

ANEXOS

ANEXO 1

EOCMEA – Entrevista Operativa Centrada na Modalidade de Ensino e

Aprendizagem

Nome do aluno: Eduardo Santos Dias

Idade: 7 anos

O que o aluno sabe, o que aprendeu:

40

Iniciei nossa conversa perguntando ao aluno o que ele aprendeu nesse

último semestre, já que estávamos chegando ao fim do mesmo, o que ele

ainda está com dificuldade e precisa rever depois das férias, no próximo

semestre. Ele disse que sabe ler, escrever, a fazer contas, a desenhar, que

sabe muita coisa, só não sabe escrever com letra cursiva. Ele reclamou que

não gosta de caderno de caligrafia e que quando a mãe está brava com ele,

pede para escrever um texto no caderno de caligrafia para aprender a escrever

direito. O aluno disse que aprende muita coisa na escola, mas acha a escola

chata.

Após o aluno responder a minha proposta de início de conversa, dei

folhas em branco, lápis, canetas coloridas (hidrocor) e tesoura, para ele

produzir com aquele material (caso ele quisesse) a minha curiosidade sobre o

que ele sabe, o que aprendeu. No momento o aluno riu e me respondeu:

-Eu já disse para você o que eu sei e o que eu não gosto na escola.

Nesse momento eu confirmei a fala dele em relação ao que ele

aprendeu, mas sobre o que ele não gosta na escola, ele não tinha me contado.

No mesmo momento ele começou a contar e disse que não queria desenhar,

pois estava cansado e nem escrever, pois sua letra era feia. Eu insisti para ele

escrever, pois eu não acreditava que a letra dele era feia, e que ele estava

aprendendo a escrever e se ele tinha essa preocupação com a letra, aos

poucos ele ia se aperfeiçoando, que isso era um processo que acontecia

paulatinamente.

Eduardo me contou que os amigos dele às vezes eram chatos com ele e

isso o deixava triste. Também disse que não gostava de ter que fazer dever,

ficar quieto, ele gostava de brincar, de falar, de jogar “bafo” ( uma brincadeira

realizada com figurinhas) e jogar futebol e na sala de aula a professora tinha

que prestar atenção no que a professora dizia e queria que eles fizessem.

Escolaridade do aluno: 2º ano do Ensino Fundamental

O aluno não teve nenhuma repetência nos anos anteriores, até porque nessa

escola a repetência só pode acontecer a partir do 2º ano do E. F., na

Educação Infantil e no !º ano do E. F. não pode.

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Disciplina favorita: Matemática, pois ele gosta de fazer contas, acha fácil, ele

gosta de fazer problemas. Essa disciplina é a que ele mais gosta desde o ano

anterior.

Disciplina que não gosta: Português. O aluno acha chato escrever, cansa o

braço e acha muito difícil aprender português. Ele não gosta dessa disciplina

desde o início do 2º ano, pois ficou mais difícil.

Disciplinas indiferentes: Ciências, História e Geografia. O aluno acha as

disciplinas fáceis. Nesse momento ele lembrou que gosta de Ciências também,

pois durante as aulas os alunos fazem experiências na sala do lado de fora

(onde é o laboratório de ciências). O aluno disse que não se importa com

essas disciplinas porque a professora quase não trabalha com elas na sala.

O que deseja fazer quando crescer? Ser lutador de judô e tocar violão.

Essas são atividades extras que o aluno faz na escola.

Como foi a sua entrada na escola atual? Foi legal, mas ele não lembra

direito, pois era pequeno. (O aluno estuda na escola desde o Jardim I).

Você sabe porque está comigo aqui hoje? Ele disse que não, e perguntou

se era porque ele escrevia errado. Eu respondi que não era esse o motivo. Eu

expliquei a ele que eu estava ali para ajudá-lo, porém eu precisava que ele se

abrisse comigo, me contando as suas dificuldades, os seus gostos, pois eu

estava ali para poder contribuir na sua aprendizagem, e para isso eu teria que

entender a sua própria dinâmica no processo de aprendizagem e o aluno teria

que me ajudar, participando, contando, respondendo ao que fosse solicitado.

Eu perguntei se ele gostava da idéia, se estava gostando de estar ali, ele disse

sim.

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Você quer estar aqui, ou veio porque sua mãe, o colégio ou o professor o

obrigou?

Ele disse que não sabe, pois a coordenadora foi na sala e chamou ele para vir

conversar comigo. Perguntei se o fato dela ter o tirado de sala o incomodou,

ele disse que não, porque não queria ficar na sala quieto ouvindo história.

(Nesse momento percebi que ele não entendia mesmo porque eu estava

durante aqueles dias em sua sala, ajudando-o, conversando com ele).

Se pudesse e tivesse que fazer algo para um aluno que se parecesse com

você em sala de aula, o que aconselharia, a fazerem:

Aos pais: (o aluno ficou muito tempo pensando nessa questão) Ele

respondeu: eu conversaria com meu filho, ajudaria ele nos deveres e explicaria

as tarefas em casa para o aluno não ter mais dificuldades com o ensinado.

Aos professores: Para dar mais tempo livre para as crianças, passarem

menos deveres, fazerem mais atividades legais na sala de aula.

O aluno não quis fazer nada com o material que lhe ofereci, perguntou se

era obrigado a fazer, eu respondi que não, então ele disse que não ia

fazer porque estava com preguiça, estava cansado de escrever.

ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO

Marque as questões observadas

Em relação à temática:

( ) fala muito durante todo o tempo da sessão ( X ) fala pouco durante todo o tempo da sessão ( X ) verbaliza bem as palavras ( ) expressa com facilidade ( X ) apresenta dificuldades para se expressar verbalmente ( X ) fala de suas idéias, vontades e desejos ( X ) mostra-se retraído para se expor ( X ) sua fala tem lógica e sequência de fatos ( ) parece viver num mundo de fantasias

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( X ) tem consciência do que é real e do que é imaginário ( X ) conversa com o terapeuta sem constrangimento

Observação: Durante a nossa conversa o aluno respondia ao que eu

perguntava, quando não entendia a proposta ele pedia para eu repetir, e

levava algum tempo pensando na resposta. Não mostrou constrangimento em

estar ali, em um lugar separado conversando comigo. Ele também não

compreendeu o motivo de eu estar alguns dias acompanhando as atividades

da turma. No final ele perguntou se eu ia chamar outros colegas de classe

também e eu disse que talvez, mas que por enquanto seria só ele. O aluno

entende as suas dificuldades na escrita, mas a justificativa que ele mesmo dá

é que não gosta de português, por isso, tem essa dificuldade na

aprendizagem.

Em relação à dinâmica (consiste em tudo que o cliente faz)

( ) o tom de voz é baixo ( ) o tom de voz é alto ( X ) sabe usar o tom de voz adequadamente ( ) gesticula muito para falar ( X ) não consegue ficar assentado ( ) tem atenção e concentração ( ) anda o tempo todo ( X ) muda de lugar e troca de materiais constantemente ( X ) pensa antes de criar ou montar algo ( ) apresenta baixa tolerância à frustração ( X ) diante de dificuldades desiste fácil ( ) tem persistência e paciência ( ) realiza as atividades com capricho ( X ) mostra-se desorganizado e descuidado ( ) possui hábitos de higiene e zelo com os materiais ( X ) sabe usar os materiais disponíveis, conhece a utilidade de cada um ( ) ao pegar os materiais, devolve no lugar depois de usá-los ( X ) não guarda o material que usou ( ) apresenta iniciativa ( X ) ocupa todo o espaço disponível ( ) possui boa postura corporal ( ) deixa cair objetos que pega ( ) faz brincadeiras simbólicas ( X ) expressa sentimentos nas brincadeiras ( X ) leitura adequada à escolaridade

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( X ) interpretação de texto adequada à escolaridade faz cálculos ( ) escrita adequada à escolar Observação: Apesar de apresentar dificuldade para a resolução de problemas

de matemática, o aluno consegue fazê-los, como eles ainda estão aprendendo,

considerei o seu ritmo natural. Da mesmo forma considerei a leitura, pois notei

um esforço pelo aluno, um entusiasmo no ato de ler, e seu ritmo é de acordo

com a maioria dos alunos da turma. São atividades que estão sendo

trabalhadas pela professora com a turma. Eduardo é espaçoso,

desorganizado, sente dificuldade em se concentrar, perde a atenção fácil. A

professora está constantemente trazendo ele para participar das atividades

para o aluno assim, focar a atenção em determinada tarefa proposta. O aluno

brinca com o material escolar, fala muito, brinca muito em sala com os colegas.

Em relação ao produto (é o que o sujeito deixa registrado no papel)

( ) desenha e depois escreve

( ) escreve primeiro e depois desenha

( X ) apresenta os seus desenhos com forma e compreensão

( ) não consegue contar ou falar sobre os seus desenhos e escrita

( ) se nega a descrever a sua produção para o terapeuta

( ) sente prazer em mostrar a sua atividade e mostrar

( X ) demonstra insatisfação com os seus feitos

( ) sente-se capaz para executar o que foi proposto

( X ) sente-se incapaz para executar o que foi proposto

( X ) os desenhos estão no nível da idade do entrevistado

( X ) prefere matérias que lhe possibilite construir, montar, criar

( ) fica preso no papel e lápis

( ) executa a atividade com tranqüilidade

( ) demonstra agressividade de alguma forma em seus desenhos e suas

criações ou no comportamento

( ) é criativo.

Observações: Como anteriormente já citei, o aluno não produziu nenhum

material e nem desenho durante o nosso encontro, nossa entrevista. A

questões que eu marquei foram as observadas durante os dias que eu

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observei seu comportamento, a produção de conhecimento e a execução de

atividades na sala de aula. O nosso encontro foi realizado em uma sala de

atendimento na escola onde acontecem reuniões individuais com os pais dos

alunos que apresentam alguma questão. A sala é colorida, com aspecto lúdico,

nas paredes há trabalhos, produções textuais realizadas por crianças da

escola. O aluno observava a sala e seus materiais, quando eu questionada ao

mesmo se ele tinha vontade de fazer algum desenho, ou história, algum

material para aquela sala ou para ele mesmo, ele dizia que não.

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47

WINNICOTT, D.M. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I 11

CAPÍTULO II 20

CAPÍTULO III 34

CONCLUSÃO 38

ANEXOS 40

48

BIBLIOGRAFIA 46

ÍNDICE 48