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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO EM DISLEXIA Por: Beatriz Custódio da Silva Orientador Prof. Dayse Serra Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO EM DISLEXIA

Por: Beatriz Custódio da Silva

Orientador

Prof. Dayse Serra

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO EM DISLEXIA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicopedagogia.

Por: Beatriz Custódio da Silva

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AGRADECIMENTOS

Aos parentes e amigos, sempre

fundamentais em cada conquista.

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DEDICATÓRIA

Aos meus alunos do Ensino fundamental,

constante fonte de inspiração e busca

pelo saber.

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RESUMO

Em tempos onde o fracasso escolar é constantemente discutido entre

profissionais da educação, o estudo a respeito do diagnostico e intervenção

em dislexia é de fundamental importância para entendermos as dificuldades

dos alunos.

Este trabalho no sentido de investigar e discutir a respeito das

dificuldades de aprendizagens caracterizadas como distúrbios sendo restritas

àquelas causadas devido à dislexia, poderá chamar atenção dos educadores e

também contribuir para auxiliar aos professores que estão diante de classes

com algumas crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem neste

sentido.

O estudo a respeito da Dislexia e o seu reconhecimento como um

distúrbio da aprendizagem, nos guiará a percorrer um caminho para uma

intervenção onde unindo família, escola e psicopedagogo o sujeito trilhe um

caminho de sucesso.

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METODOLOGIA

A metodologia empregada para a realização deste trabalho foi baseada

em estudos bibliográficos de autores que contribuíram com suas obras para o

aprofundamento do tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Dificuldades, transtornos e distúrbios 10

CAPÍTULO II - Dislexia 22

CAPÍTULO III – Diagnóstico e intervenção 30

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 40

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INTRODUÇÃO

Este trabalho foi construído com o objetivo de dar uma pequena

contribuição para o preenchimento de algumas das muitas lacunas existentes

em torno das discussões que envolvem as temáticas relacionadas às

dificuldades, transtornos e distúrbios da aprendizagem.

A proposta inicial era apenas refletir sobre o sujeito que possui

dificuldade de aprendizagem por causa da Dislexia. Porém na pesquisa

preliminar para a elaboração deste trabalho, constatei a carência de

conhecimentos e conteúdos relacionados a este distúrbio dentro da área de

educação por parte de alguns profissionais. Isso foi determinante na

construção de um trabalho mais abrangente e aprofundado. Os dados

apresentados como conteúdo demostram ao mesmo tempo a importância da

discussão, suas dimensões e o grande interesse que é capaz de despertar.

Nesse sentido a explanação do trabalho foi feita nas seguintes etapas:

no primeiro capitulo levantei algumas considerações a respeito da

aprendizagem, sua importância e a visão de alguns autores a seu respeito.

Serão ainda feitas algumas considerações da distinção dos vocábulos

dificuldades, transtornos e distúrbios da aprendizagem esclarecendo quando

cabe a terminologia mais adequada para cada situação, ainda neste momento

será explanado as principais causas das dificuldades de aprendizagem.

No capitulo seguinte será apresentado o principal assunto do trabalho:

a Dislexia. Passando pelo significado e definição do distúrbio, vamos caminhar

pela análise de diferentes visões e discussões em que se insere a dislexia,

refletir sobre outros distúrbios que possuem características semelhantes e

distúrbios que se somam a este primário.

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O capitulo que conclui o trabalho é responsável por esclarecer como o

psicopedagogo pode diagnosticar e intervir em casos que apresentam tal

distúrbio. Ainda tão importante serão analisados o papel da família e da escola

no apoio às crianças diagnosticadas disléxicas.

Todas as indagações aqui reunidas são pertinentes e necessárias, por

este motivo a expectativa é que a análise dessa temática possa apontar

caminhos para promover uma reflexão acerca da qualificação de profissionais

em relação à Dislexia e capaz de fornecer informações que ajudem no

entendimento deste distúrbio assim como a construção de conhecimento e de

reflexões metodológicas.

Desta forma tenho a esperança de contribuir para estimular futuras

reflexões de trabalhos acadêmicos, que considerem a importância dos temas

relacionados às dificuldades de aprendizagem ocasionadas pela Dislexia.

Evidentemente o conteúdo deste trabalho não diz tudo sobre os temas

discutidos em seu decorrer, por isso se faz necessário e valoroso o estudo

permanente das questões aqui abordadas.

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CAPÍTULO I

DIFICULDADES, TRANSTORNOS E DISTÚRBIOS

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

Cora Coralina

Muitas são as circunstâncias que interferem negativamente na

aprendizagem do sujeito, entre elas dificuldades, transtornos e distúrbios,

ambos com inúmeras definições.

“Há muito tempo, educadores vêm realizando pesquisas e

investigando as causas que possam justificar o mau

rendimento escolar ou os problemas de aprendizagem.

Sabemos que o conhecimento do sujeito é construído na

interação com o seu meio, seja o familiar, o escolar o

mesmo o bairro, e, deste meio, depende para se

desenvolver como pessoa. Entretanto, quando o meio é

qualificado como inadequado para um desenvolvimento

sadio, tanto físico quanto psicológico, o sujeito poderá

encontrar obstáculos, mas poderão ser superados à

medida que encontramos na família, na escola e no

próprio sujeito uma porta, que nos permita entrar e (re)

construir junto a estes uma nova aprendizagem.”

(SAMPAIO, 2011)

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1.1 – O que é aprendizagem?

Todo ser humano nasce com uma capacidade de aprender e esta

capacidade será desenvolvida durante a vida de cada pessoa. Existe uma

grande quantidade de estudos e pesquisas científicas que trabalham no

objetivo de compreender o que é aprendizagem e quais são suas

características.

A respeito disso, os estudos de Moreira (2010) em relação a Piaget e

Vygotsky revelam que os dois autores caminham em sentidos opostos em

relação ao conceito de aprendizagem onde:

“Piaget concebia a aprendizagem como sendo

subordinada ao desenvolvimento, sendo que este vem

em um movimento de dentro para fora do sujeito ...

Vygotsky centra-se na transmissão dos conteúdos

escolares (saberes culturais), dando grande importância à

construção social e à intervenção do educador no

processo de aprendizagem; para ele, a aprendizagem

interage com o desenvolvimento.” (p.49)

Lou de Olivier (2011) explica que a aprendizagem ocorre basicamente

em três estágios. São eles a subaprendizagem que se dá quando a pessoa

entra em contato com o assunto, mas devido a falta de atenção não assimila.

O próximo estágio denomina-se aprendizagem simples, onde em contato com

o assunto existe uma atenção, mas não há memorização. E por fim o último

estágio considerado pela autora, a subaprendizagem ou aprendizagem ideal,

quando em contato com o assunto há atenção, assimilação e memorização.

Já Samaia Sampaio (2011) se utiliza da visão de Jorge Visca para

explicar que:

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“a aprendizagem representa uma construção

intrapsíquica, considerando os componentes genéticos e

as diferenças advindas da evolução da espécie,

resultantes das precondições biológicas, das condições

energético-estruturais (condições afetivas) e das

circunstâncias do meio, ou seja, todos os aspectos do ser

humano, convergindo para um único ponto, que é a

aprendizagem.” (p.11)

O campo da neurociência também irá estudar esse processo e dizer

que “O aprendizado é um processo complexo e dinâmico que resulta em

modificações estruturais e funcionais do sistema Nervoso Central. As

modificações ocorrem a partir de um ato motor e perceptivo que, elaborado no

córtex cerebral, dá origem à cognição.” (RELVAS, 2011, p.54)

A conclusão sobre aprendizagem fica por conta de BOSSA (2011) que

afirma que :

“A aprendizagem, afinal, é responsável pela inserção da

pessoa no mundo da cultura. Mediante a aprendizagem, o

individuo se incorpora ao mundo cultural, com uma

participação ativa, ao se apropriar de conhecimentos e

técnicas, construindo em sua interioridade um universo de

representações simbólicas.” ( p.45)

Muitas contribuições acerca da aprendizagem e todo o seu processo

estão presentes em nossa literatura. Áreas da saúde e educação fazem suas

descobertas e nos fornecem cada vez mais informações importantes, nos

deixando mais conscientes da complexidade dos estudos a respeito da

aprendizagem.

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Embora possamos contar com um vasto material de estudos na área,

seus avanços tem nos mostrado a necessidade de mais investigações sobre

os fatos da aprendizagem e mais pesquisas, para que tenhamos uma sólida

concepção sobre o conceito da aprendizagem.

1.2 – Dificuldades de aprendizagem

A dificuldade de aprendizagem é um fator que pode levar o aluno ao

fracasso escolar e desta forma causar a preocupação de pais e educadores,

também ocasionando sentimentos negativos no aluno que não consegue

atingir os objetivos propostos pela instituição de ensino.

Pesquisas na área de educação tem nos informado e alarmado uma

quantidade crescente de alunos que apresentam em alguma fase de seu

desenvolvimento escolar dificuldades em aprender.

Muitos estudos contribuem para a compreensão da definição do que

seria dificuldade de aprendizagem. Nesse sentido temos inúmeras

designações para este fenômeno que por conta da sua complexidade, nos

fornece inúmeras fontes de estudos.

“Dificuldades de aprendizagem é um termo geral que se

refere a um grupo heterogêneo de desordens

manifestadas por dificuldades significativas na aquisição

e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura,

da escrita e do raciocínio matemático. Tais desordens,

consideradas intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que

sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso

central, podem ocorrer durante toda vida. Problemas na

autorregulação do comportamento, na percepção social e

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na interação social podem existir com as dificuldades de

aprendizagem. Apesar de as dificuldades ocorrerem com

outras deficiências (por exemplo, deficiência sensorial,

deficiência mental, distúrbios socioemocionais) ou com

influências extrínsecas (por exemplo, diferenças culturais,

insuficiente ou inapropriada instrução etc.), elas não são o

resultado dessas condições.” (FONSECA, 1995, p.71)

Podemos observar na definição acima que alguns conceitos aliados à

teorias e até mesmo hipóteses, formam uma linha de investigação própria do

autor que auxiliam na busca por respostas para o entendimento da questão

abordada.

Estudiosos da área relacionada à neurociência irão buscar a causa das

dificuldades de aprendizagem focalizando outra linha de investigação. Como

podemos analisar na abordagem de Marta Pires Relvas.

“O ato de aprender é um ato de plasticidade cerebral,

modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e

extrínsecos (experiências). Então, conceituando-se a

aprendizagem dessa maneira, pode-se dizer que

dificuldades para a aprendizagem são resultados de

algumas falhas intrínsecas ou extrínsecas desse

processo. Dificuldades para a aprendizagem abrangem

um grupo de problemas capazes de alterar as

possibilidades de a criança aprender, independentemente

de suas condições neurológicas para fazê-lo.” (2011, p.

58 -59)

Geralmente as contribuições dessa área possuem um olhar voltado

para a avaliação do desenvolvimento neurológico do sujeito. No entanto ainda

que seus estudos estejam voltados para a área neurológica, a neurociência

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reconhece que as dificuldades de aprendizagem também podem ser causadas

por disparadores passageiros e não somente por consequência de problemas

nos sistemas biológicos cerebrais como muitos podem crer.

Contamos tanto com interesse da área da saúde como com o interesse

da área da educação para a busca de respostas que nos deem uma visão

adequada para que possamos identificar e intervir a fim de que o sujeito

supere as dificuldades.

1.3 – Causas das dificuldades de aprendizagem

Será abordado nesse tópico, o detalhamento dos fatores que

contribuem com o fracasso escolar de uma criança que apresenta dificuldades

de aprendizagem.

Existem inúmeros fatores que podem contribuir para que uma criança

tenha uma alteração nas suas possibilidades de aprendizagem, culminando

com a apresentação de dificuldades no desenvolvimento do seu aprendizado.

Por isso a importância de uma intervenção especializada para identificar as

reais causas dos problemas de aprendizagem apresentado pela criança.

Relvas (2010, p.53) em relação aos fatores envolvidos nas

dificuldades para a aprendizagem, faz uma divisão onde destaca: os fatores

relacionados com a escola, os fatores relacionados com a família e os fatores

relacionados com a criança. Para a autora as dificuldades de aprendizagem:

“... podem ser secundárias para outros quadros avaliados,

tais como: alterações das funções sensoriais, doenças

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crônicas, transtornos psiquiátricos, deficiência mental e

doenças neurológicas. As doenças neurológicas mais

frequentes que causam dificuldades de aprendizagem são

a paralisia cerebral e o transtorno de déficit de

atenção/hiperatividade.”

Dentre as principais causas que podem ocasionar dificuldades de

aprendizagem, o psicopedagogo irá analisar: as causas educacionais, causas

emocionais, causas físicas, causas sócio-econômicas, causas neurológicas,

causas sensoriais, causas intelectuais ou cognitivas.

Para que haja maior compreensão das causas acima citadas, faz-se

necessário que as mesmas sejam mais detalhadas, especificando cada

característica contida em cada uma delas, o que será feito a seguir.

Causas educacionais: podemos incluir nesse tópico as falhas do

processo educativo que a pessoa recebe na infância, que refletirão

futuramente, pois o tipo de educação poderá condicionar distúrbios de fundo

educacional.

Causas emocionais: podem ser compreendidas como os distúrbios

psicológicos, relacionados aos sentimentos e emoções do sujeito. São

problemas que dificilmente aparecem sozinhos, pois estão quase sempre

ligados a problemas de outras áreas como a sensorial e motora.

Causas físicas: estão relacionadas aqui as perturbações relativas ao

corpo, passageiras ou permanentes. São consideradas doenças que afetam o

físico do sujeito, onde este possui sua saúde prejudicada. São exemplos:

febre, dores, asma entre outras enfermidades.

Causas socioeconômicas: neste caso não existe um distúrbio

identificado, mas sim a revelação de causas oriundas do meio social e

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econômico do sujeito. Podendo se tornar um fator desfavorável à

aprendizagem.

Causas neurológicas: são as alterações do sistema nervoso, este é o

responsável por ordenar tanto as ações físicas como as ações mentais dos

indivíduos. O que significa dizer que qualquer perturbação nesse sistema irá

culminar com a apresentação de um problema.

Causas sensoriais: aqui temos os problemas que afetam os órgãos dos

sentidos. Como esses órgãos são responsáveis pela percepção que o sujeito

tem do mundo que o cerca, qualquer dano poderá fazer com que a pessoa

tenha dificuldades em entender o que se passa à sua volta.

Causas intelectuais ou cognitivas: está relacionado a este último tópico

as causas relacionadas à capacidade do sujeito compreender o mundo em que

vive, relacionadas à sua inteligência.

Partindo da análise minuciosa das causas acima explicitadas, o

Psicopedagogo poderá iniciar de melhor maneira a intervenção que melhor se

adeque a cada caso.

“Após a detecção dos principais problemas que interferem

na aprendizagem, o escolar é encaminhado para o

tratamento específico, e deve ser acompanhado

constantemente, pois, a cada momento, o foco deve estar

centrado nas dificuldades da criança.” (RELVAS, 2010,

p.62)

Com base nas informações descritas neste capítulo é possível concluir

que a dificuldade de aprendizagem não é somente uma condição simples e

muito menos possui uma única causa. Elas se constituem de uma junção de

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problemas e condições, dos mais variados sintomas e por isso mesmo

necessitam de diferentes tipos de intervenção.

1.4 – Transtornos e distúrbios de aprendizagem

Da mesma forma como a aprendizagem e suas dificuldades, os

distúrbios ou os transtornos da aprendizagem tem sido alvo de inúmeros

estudos que seguem por diferentes linhas de pesquisa, sendo cada vez mais

presentes publicações que abordem essa questão.

É importante antes de qualquer coisa entender suas nomenclaturas,

pois os termos usados tais quais distúrbios, transtornos, problemas,

dificuldades, presentes em estudos, muitas vezes são utilizados de maneira

imprópria. Podemos dizer que isso ocorre devido à existência de inúmeras

definições para os termos que dão nome ao capítulo.

As definições dos transtornos e dificuldades de aprendizagem são

encontrados em manuais internacionais de doenças, dentre eles a

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados

à Saúde (CID-10) que foi elaborada por clínicos e pesquisadores da

Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais (DSM- IV) produzido pela Associação de Psiquiatria

Americana, sendo o DSM-IV publicado no ano de 1994.

Cabe analisar cada uma das definições apresentadas oficialmente

para consolidar uma opinião. Para isso é fundamental destacar quais são as

características gerais dos Transtornos de aprendizagem segundo o CID-10

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“Na maioria dos casos, as funções afetadas incluem

linguagem, habilidades visuoespaciais e/ou coordenação

motora. É característico que os comprometimentos

diminuam progressivamente à medida que a criança

cresce (embora déficits mais leves frequentemente

perdurem na vida adulta). Em geral, a história é de um

atraso ou comprometimento que está presente desde tão

cedo quanto possa ser confiavelmente detectado, sem

nenhum período anterior de desenvolvimento normal. A

maioria dessas condições é mais comum em meninos que

em meninas.” (in SAMPAIO, 2011, p.23)

Nesse aspecto também contamos com a contribuição do DSM-IV em

relação à abordagem da temática.

“Os transtornos de aprendizagem são diagnosticados

quando os resultados do indivíduo em testes

padronizados e individualmente administrados de leitura,

matemática ou expressão escrita estão substancialmente

abaixo do esperado para sua idade, escolarização ou

nível de inteligência... Os transtornos de aprendizagem

podem persistir até a idade adulta.” (in SAMPAIO, 2011,

p.22)

É interessante ressaltar que os dois manuais admitem a falta de

precisão do termo transtorno. Ambos justificam sua utilização como forma de

evitar maiores problemas relacionados à utilização das palavras doenças e

enfermidades. Também se pode perceber que a caracterização geral dos

transtornos não se modificam muito entre os dois.

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A análise de RELVAS (2011) esclarece que o transtorno de

aprendizagem está relacionado a uma falta de habilidade especifica em

algumas áreas. A autora destaca ainda que em relação à classificação dos

transtornos da aprendizagem os manuais internacionais não consideram a

base anatomopatológica da área cerebral incluída no processo.

Em mais uma definição por parte de outros autores, encontramos os

seguintes esclarecimentos:

“Distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se

refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas

por dificuldades significativas na aquisição e uso da

audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades

matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao

individuo e presumivelmente devidas à disfunção do

sistema nervoso central. Apesar de um distúrbio de

aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com

outras condições desfavoráveis ( por exemplo, alteração

sensorial, o retardo mental, distúrbio social ou emocional)

ou influencias ambientais (por exemplo, diferenças

culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores

psicogênicos), não é resultado direto dessas condições

ou influências.” (COLLARES E MOYSÈS in SAMPAIO,

2011, p.21)

Já em relação aos Distúrbios de Aprendizagem, Olívia Porto (2011)

avalia ser complicado classificar os distúrbios que prejudicam a aprendizagem,

pela falta de existência de uma definição entre o que seja um distúrbio de

comportamento e o que seja considerado um comportamento normal.

A autora considera que o ambiente cultural, social e histórico em que o

indivíduo se insere podem ser apontados como causadores de mudanças ou

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variação de um comportamento. Uma pessoa que age de acordo com os

modos comportamentais da maior parte das pessoas de seu grupo social,

pode ser considerada como tendo um comportamento normal. Caso ocorra o

contrário, e a pessoa não haja de acordo com as normas sociais vigentes, o

seu comportamento será considerado fora do padrão e, portanto anormal.

“A criança tem um distúrbio de comportamento quando

ela apresenta desvios da expectativa de comportamento

do grupo etário a que pertence. Ou seja, quando ela não

está ajustada aos padrões da maioria desse grupo e,

portanto, seu comportamento é perturbado, diferente dos

demais. Nesse caso a criança pode até sofrer punições

por parte de seus companheiros ou de seus superiores. E

muitas vezes seu comportamento pode se manifestar

como um problema para a sua aprendizagem.” (DROUET

in PORTO 2011, p.64)

Quando a criança apresenta um comportamento que não está de

acordo com as normas sociais vigentes, seu comportamento não é

socialmente aceito e essa criança não é considerada normal.

Para Sampaio (2011) o Distúrbio de Aprendizagem irá afetar a maneira

pela qual a criança com inteligência média ou acima da média irá receber,

processar ou expressar as informações que serão conservadas por toda a

vida. O que causaria um problema na capacidade para aprender habilidades

básicas em matemática, leitura ou escrita.

Em seus estudos a autora aponta a definição de “uma desordem

neurológica na qual o cérebro da pessoa trabalha ou é estruturado de uma

maneira diferente” considerada pela Coordinated Campaign for Learning

Disabilities (CCLD), que é uma coalizão de organizações nacionais ligadas aos

distúrbios de aprendizagem.

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CAPÍTULO II

DISLEXIA

Para compreender as pessoas devo tentar escutar o que elas não estão

dizendo, o que elas talvez nunca venham a dizer.

John Powell

1.1 – Definição

A dislexia ganha cada vez mais espaço entre os inúmeros distúrbios de

aprendizagem, sendo entre eles um dos mais estudados e divulgados nos

últimos tempos.

A primeira análise deste distúrbio será em torno do vocábulo,

examinando cada pedaço que juntos formam a palavra Dislexia. Sendo de

origem grega, o prefixo dis está relacionado à dificuldade, enquanto o termo

lexia é definido como linguagem. Desta forma podemos dizer que de acordo

com esta primeira análise, o significado da palavra gira em torno de algo como

dificuldade na aquisição da linguagem.

É preciso também ressaltar que a definição deste distúrbio é algo mais

complexo do que a simples análise da sintaxe do termo que o nomeia, e por

este motivo existe a necessidade de outras definições para que se chegue a

uma compreensão mais próxima do seu real significado.

Durante anos de estudos, profissionais tentaram definir o distúrbio,

produzindo inúmeras denominações que ao longo do tempo foram sendo

substituídas por outras, por não especificarem ao certo o que seria a dislexia.

Todas as denominações e definições ao longo dos anos apenas foram reflexos

dos conhecimentos que os profissionais possuíam na época de seus estudos.

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Nos tempos atuais muito se avançou no que diz respeito a pesquisa em

relação aos distúrbios.

Atualmente a definição de dislexia reflete os inúmeros estudos,

pesquisas e experiências na área. Entre esses profissionais o conceito mais

aceito e divulgado é que se trata de um distúrbio da aquisição e do

desenvolvimento da aprendizagem da leitura e escrita, culminando com um

rendimento inferior ao que é esperado para a idade.

Observa PADULA (2011) que:

“Dislexia é um distúrbio neurológico de origem congênita

que acomete crianças com potencial intelectual normal,

sem déficits sensoriais, com suposta instrução

educacional apropriada, mas que não conseguem

adquirir ou desempenhar satisfatoriamente a habilidade

para leitura e ou escrita. É um dos muitos distúrbios de

aprendizagem, no qual o rendimento da leitura é

substancialmente inferior ao esperado para a idade

cronológica, a inteligência medida e a escolaridade d

criança.” ( p.305)

Na visão de ALVES (2011) não se caracteriza como o resultado direto

do comprometimento da inteligência geral, lesões neurológicas, problemas

visuais ou auditivos, distúrbios emocionais ou escolarização inadequada.

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1.2 – Tipos de Dislexia

A neuropsicologia acredita que quando existe Dislexia os

processamentos periférico e central se alteram. Esta área segundo Olivier

(2011) estuda as Dislexias Centrais, Dislexias Periféricas e suas subdivisões.

Primeiro as classificações das Dislexias Centrais são ramificadas em:

Dislexia de Superfície: quando há falha de leitura de palavras não

regulares, apresentando um comprometimento da via lexical.

Dislexia Fonológica: é classificada como a falta de capacidade na

leitura de não palavras e habilidade para leitura de palavras reais. Esta

situação sugere a existência de lesões no caminho de mudança de grafema

para fonema.

Dislexia Profunda: é parecida com a dislexia fonológica, com a

diferença da presença de paralexias semânticas e maior habilidade na leitura

de palavras concretas.

Em relação às Dislexias Periféricas, também estão classificadas em

três subdivisões:

Dislexia Atencional: encontrada em pessoas com lesões no lobo

parietal esquerdo, é considerada presente quando há leitura de palavras

separadas, mas dificuldade na leitura de várias palavras ao mesmo tempo.

Dislexia por negligência: neste caso a lesão encontra-se na região da

artéria cerebral média do hemisfério direito. Existe a dificuldade de leitura no

campo visual contralateral à lesão cerebral.

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Dislexia Literal ou Pura: é atribuída a lesões occipitais inferiores

extensas à esquerda. O sujeito não consegue ler letras individuais mas tem

dificuldades em ler palavras.

Para a neuropsicologia as dislexias e outros distúrbios originam-se de

uma lesão que podem ocorrer em pontos diferentes do cérebro.

O campo da Psicopedagogia também apresenta suas contribuições

para reforçar o entendimento da Dislexia. Veremos agora que dentro desta

área existem três classificações para o distúrbio discutido.

Dislexia Congênita ou Inata: é considerada a dislexia que nasce com a

pessoa. Suas causas são variadas, mas tem como uma de suas

características a inversão dos hemisférios no cérebro. É apontada como

irreversível, porém sendo possível ser controlada se tratada por profissionais

adequados.

Dislexia adquirida: ocasionada por acidentes como por exemplo a

ausência de oxigenação no cérebro e Acidente Vascular Cerebral. Precisa de

tratamento multidisciplinar.

Dislexia Ocasional: atribuída a fatores externos, que surgem de modo

ocasional. O estresse ou esgotamento físico/mental oriundos de excesso de

atividades são bons exemplos para caracterizar este tipo de dislexia, que ao

ser diagnosticada não necessita de um tratamento específico, bastando que o

individuo se mantenha em repouso.

Padula (2011, p.306) em seu artigo intitulado “Dislexia e comorbidades

na infância e na adolescência”, diz que existem três tipos básicos de dislexia:

“Dislexia Disfonética ou Fonológica: caracterizada por

uma dificuldade na leitura oral de palavras pouco

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familiares, na qual a dificuldade encontra-se na conversão

de letra em som. Normalmente está associada a uma

disfunção do lobo temporal.

Dislexia Desidética: é uma dificuldade na leitura

caracterizada por um problema de ordem visual, ou seja,

o processo visual é deficiente. Está associada a

disfunções do lobo occipital.

Dislexia Mista: caracterizada por leitores que apresentam

problemas dos dois subtipos disfonéticos e diseidéticos,

sendo associadas s disfunções dos lobos pré-frontal,

frontal, occipital e temporal.”

Lou de Olivier (2011) chama a atenção para o que ela classifica como

características disléxicas. Que ocorre quando uma pessoa possui

características da dislexia, mas que separadas, podem ser caudadas por

outros distúrbios ou não apresentam maiores significados. Essas

características podem confundir profissionais pouco preparados, causando

confusão e diagnostico errôneo.

1.3 – Distúrbios com sintomas parecidos com a Dislexia

Existem inúmeros distúrbios que apresentam sintomas semelhantes

com a Dislexia. Por este motivo é necessário o acompanhamento do

Psicopedagogo e equipe multidisciplinar na investigação dos sintomas para

que se tenha um diagnóstico preciso, evitando prejudicar o paciente e os

envolvidos em seu processo de aprendizagem.

Nas linhas abaixo, encontram-se descritos os distúrbios mais

comumente parecidos com a Dislexia, segundo os estudos de Oivier (2011).

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Disgrafia: compreendida como a dificuldade na aquisição da escrita. A

pessoa não tem apenas letra feia, como muitos acreditam. O sujeito apesar de

falar normalmente, e em inúmeros casos conseguir ler, ele não é capaz de

transmitir informações visuais ao sistema motor, por isso é provável que essas

pessoas apresentem problemas de equilíbrio e motores. Em sua grande

maioria está associado a distúrbios neurológicos.

Disortografia: bastante definida como letra feia, esse distúrbio é mais

complexo do que esta definição errônea. O indivíduo possui dificuldade em se

expressar na linguagem escrita, escrevendo palavras de maneira errada e

também construindo frases de formas incorretas.

Limitrofia: considerada uma deformidade do sistema nervoso, pode ser

provocada por falta de oxigenação no cérebro durante o partol ou síndromes

não identificadas. Tem como características dificuldade na leitura e de

concentração

Dislalia: caracteriza-se pela ocorrência de erros na articulação dos

sons da fala. Por exemplo, quando ocorre a substituição, distorção e omissão

de fonemas, o que pode afetar também a escrita. Os erros na linguagem

podem ser considerados normais até os quatro anos de idade. Após essa

época persistindo a fala errada é aconselhável encaminhamento pra que

através de exames adequados seja apurada a causa para um tratamento

específico.

Existem outros distúrbios além dos acima citados, que também

possuem sintomas que são semelhantes com os da Dislexia e por isso

confundem professores, pais e até mesmo profissionais mal informados. Com

inúmeros distúrbios existentes é necessário que o profissional da área

psicopedagógica tenha bastante cuidado antes de trabalhar com a

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possibilidade de uma Dislexia, já que existem tantos distúrbios tão complexos

como a própria Dislexia.

1.4 – Comorbidades Associadas à Dislexia

Devemos compreender comorbidades como acontecimento de uma

patologia qualquer em uma pessoa já portadora de uma doença ou transtorno.

Ou seja, quando existem transtornos ou doenças que se somam ao já

existente.

Estudos demostram a existência de alguns transtornos que

frequentemente podem ocorrer associados à Dislexia. Serão destacados a

seguir para um melhor entendimento.

Transtorno de Déficit de atenção com Hiperatividade – TDAH –

caracteriza-se por um comportamento recorrente de desatenção, podendo

apresentar ou não hiperatividade e impulsividade. Para que seja diagnosticado

é preciso que os sintomas persistam por um período superior a seis meses.

Transtornos do humor – podendo ser caracterizado como depressão

e/ou ansiedade, esses tipos de transtornos algumas vezes são associados à

Dislexia.

Transtornos ansiosos – são classificados como fobias, transtorno de

pânico, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade de

separação e transtorno obsessivo-compulsivo.

Discalculia – é um distúrbio neurológico com causas diversas, que

afeta a habilidade com números, onde entre outros aspectos, são frequentes

erros na formação de números, com representação em forma invertida.

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Para se alcançar bons resultados na intervenção da Dislexia é preciso

também uma análise detalhada das comorbidades vinculadas a este distúrbio,

só desta forma será possível um diagnóstico correto e consequentemente um

melhor retorno na terapia aplicada.

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CAPÍTULO III

DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

Se uma pessoa não pode aprender da maneira que é ensinada,

É melhor ensiná-la da maneira que pode aprender.

Marion Welchman

1.1 – Intervenção Psicopedagógica

A Psicopedagogia é considerada nos dias atuais uma área de

prestação de serviços pelo fato de ainda não ser reconhecida como uma

profissão e isso talvez se deva ao fato de ser considerada uma área nova de

estudo embora existam registros e atividades desenvolvidas desde os anos 80.

Fruto da demanda das dificuldades de aprendizagem amplamente

estudada, divulgada e difundida nos últimos anos a Psicopedagogia surgiu da

necessidade de uma área que desse conta das questões que estavam além

dos limites da Pedagogia e da Psicologia, por isso considerada uma área de

estudo nova.

“Do seu parentesco com a Pedagogia, a Psicopedagogia

traz as indefinições e as contradições de uma ciência

cujos limites são os da própria vida humana. Envolve,

simultaneamente, a meu juízo, o social, o individual em

processos tanto transformadores quanto reprodutores. Da

Psicologis, a Psicopedagogia herda o velho problema do

paralelismo psicofísico, um dualismo que ora privilegia o

físico (o observável) ora o psíquico (a consciência)”

(BOSSA, 2000, p.23).

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O Psicopedagogo ao trabalhar com o processo da aprendizagem

humana tem a obrigação de ser um profissional especialista em diversas áreas

da aprendizagem. Seus conhecimentos devem ser apropriados para que se

possa intervir de maneira adequada, contribuindo para o progresso do aluno

avaliado, como relata BOSSA:

“A investigação diagnóstica envolve a leitura de um

processo complexo, no qual todas as ambiguidades de

atribuições de sentido a uma série de manifestações

conscientes e inconscientes se fazem presentes.

Interjogam aí o pessoal, o familiar atual e passado, o

sociocultural, o educacional, a aprendizagem sistemática.

O decifrar do sentido da dificuldade de aprendizagem

repercute sobre o problema que estamos interpretando: a

nossa linguagem sobre a linguagem da enfermidade nos

leva a um compromisso, ou seja, ao diagnóstico, promotor

de decisões acerca do tratamento.” (2011, p.45-46)

Os esclarecimentos da autora nos levam a entender a seriedade com

que deve ser encarada cada etapa que antecede o diagnóstico. Pois cada

profissional fará uma leitura de acordo com seus referenciais, sua linha de

investigação e sua prática. Para corroborar com as afirmativas a respeito do

diagnóstico, Rubinstein destaca que:

“durante e após o processo diagnóstico, serão

construídos um conhecimento e uma compreensão a

respeito do processo de aprendizagem. Isso permite que

o psicopedagogo tenha maior clareza a respeito dos

objetivos a serem alcançados no atendimento

psicopedagógico” (in PORTO, 2011, p.93)

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O diagnóstico psicopedagógico é uma investigação do que está

acontecendo com o sujeito, neste caso em relação à sua dificuldade de

aprendizagem. O diagnóstico que irá esclarecer aos familiares, á escola qual o

motivo da queixa relatada, através da coleta de informações e observações.

Diversos procedimentos realizados pelo psicopedagogo servirão como

embasamento para sua atuação no diagnóstico e intervenção. Procedimentos

esses que podem ser realizados através de jogos, desenhos, brincadeiras,

enfim são diversas estratégias desenvolvidas com o propósito de observar,

avaliar o sujeito.

1.2 – O papel da família

A família desempenha um papel extremamente importante no apoio à

criança disléxica. Embora a escola seja o local responsável por uma grande

parte da aprendizagem do indivíduo, não podemos esquecer que esta é um

produto da sociedade em que este indivíduo se insere. Em relação a isto Jorge

Visca nos revela sua conclusão:

“Eu não acho que a aprendizagem esteja restrita à escola.

Eu acho que esta é a melhor forma de se transmitir

algumas aprendizagens, mas não é só na escola que se

aprende. A aprendizagem acontece no sujeito (...). A

cultura, o que faz é, de todos os objetos culturais,

selecionar alguns e os transformar, então, em objetos

pedagógicos, no sentido de que são geradores de

conduta ou estimulantes para fazer este sujeito ingressar

na cultura. ( in BOSSA, 2011, p.141)

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A partir deste ponto de vista compreendemos que cada indivíduo

possui sua história pessoal e nessa história está contida a relação desse

sujeito com sua família e por isso essas relações são consideradas tão

importantes, pois é na convivência com a família que o individuo dá inicio às

suas primeiras aprendizagens.

A família registra suas marcas no indivíduo e este é moldado de

acordo com o que esta família acredita ser correto.

“Observamos, pois, que a base se dá na família. É por

meio dela que o sujeito se estrutura, cria vínculos afetivo,

inicia seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Não é

na escola que o desenvolvimento começa como pensam,

erroneamente, muitos pais, e grande parte dos problemas

e conflitos entre escola e família reside aí, quando alguns

pais querem atribuir somente à escola o dever de educar

e ensinar, sem participar desta educação.”

Especialistas destacam a importância de um vinculo afetivo familiar no

crescimento da criança. Este vínculo, porém não é formado de um momento

para o outro. Deve ser alimentado desde os primeiros momentos de vida. Um

dos caminhos para o fortalecimento desse vinculo é o diálogo, que mantido

aberto é fundamental para uma boa relação familiar.

A família se constitui como um importante núcleo afetivo, onde a

criança precisa encontrar apoio e proteção. Deve ser um espaço de confiança

e respeito que irá tornar possível a construção de um vínculo saudável entre

pais e filhos.

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1.3 – Refletindo o papel da escola

A escola e o professor possuem um papel extremamente importante

no acompanhamento e acolhimento ao aluno disléxico. Alunos que manifestam

problemas de aprendizagem devem ser alvos de preocupação por parte de

educadores e instituição educacional. Situações como essa podem servir até

mesmo como oportunidades para que o professor repense sua prática

pedagógica. Como sustenta Weiss: “É preciso que o professor competente e

valorizado encontre o prazer de ensinar para que possibilite o nascimento do

prazer de aprender. A má qualidade do ensino provoca um desestímulo na

busca do conhecimento. ( in SAMPAIO, 2011, p.37)

O professor precisa resgatar o prazer do aluno na escola, e para isso

um bom início seria começar a resgatar o vínculo afetivo deste aluno. Este

aluno precisa ser estimulado com desafios adequados para seu

desenvolvimento.

A escola precisa também buscar parceria com a família e a

comunidade escolar. Pois a instituição não será capaz de dar conta de todas

as questões que envolvem as dificuldades de aprendizagem sozinha, por isso

as parcerias são fundamentais.

Estudos também alertam a necessidade de um trabalho

multidisciplinar. A equipe composta deve possuir diferentes profissionais que

troquem informações e experiências. Todos esses saberes trabalhando em

função da resolução de problemas relacionados à aprendizagem. A respeito do

espaço dado ao psicopedagogo nas instituições de ensino, Weiss destaca que:

“Existem diferentes enfoques em relação ao que se

entende por Psicopedagogia na escola. Adotarei a

posição de considerá-la como um trabalho em que se

busca a melhoria das relações com a aprendizagem,

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assim como a melhor qualidade na construção da própria

aprendizagem de alunos e educadores.” ( in Bossa, 2011,

p.143)

Sempre que temos o trabalho em conjunto da escola, especialistas e

família existe uma maior possibilidade de se chegar ao sucesso em uma

intervenção.

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CONCLUSÃO

Embora tenhamos diversos avanços voltados ao diagnóstico e à

intervenção para as pessoas disléxicas, ainda existe um longo caminho a ser

percorrido. Muitas descobertas ainda precisam ser feitas para que possamos

evoluir no que se refere à intervenção da dislexia.

A falta de investimento na área de pesquisas e prevenção, como

medidas de identificação precoce, chama atenção. A consequência disso é o

distanciamento e o despreparo dos profissionais para lidar com as questões

relacionadas à dislexia, e esta situação acaba por comprometer a existência de

uma educação voltada para atender as diversidades em todas as suas formas

e sentidos.

Outra decorrência desta situação, possivelmente a mais influente, é o

reforço à reprodução de hábitos e práticas errôneas tanto em relação ao

diagnóstico como em relação à intervenção. Toda essa situação acaba sendo

um desrespeito à memória de grandes pesquisadores e autores que

contribuíram com suas obras para o enriquecimento do tema.

Esses são aspectos que precisam de desenvolvimento para que se

diminua a distancia entre teoria e prática, ponto fundamental no tratamento

eficaz. A obtenção de resultados positivos está atrelada à solução dos

problemas diagnosticados durante a produção deste trabalho.

Profissionais da área da saúde e da educação precisam estar

sempre atentos às novas descobertas e se posicionando constantemente de

forma crítica frente a essas novas informações. Só assim poderão produzir

uma base de informações sólidas que os capacitarão para a abordagem deste

distúrbio.

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Partindo do ponto de vista de que a análise crítica da realidade que

existe é fundamental para sua transformação, desejo com o presente trabalho,

colaborar para essa análise, proporcionando probabilidades e opções ainda

pouco exploradas no que diz respeito à dislexia.

Certamente este trabalho não esgota os temas, os questionamentos e

os problemas abordados, mas o considero um passo importante em direção à

construção coletiva de uma prática que seja transformadora e que caminhe

sempre em direção ao diálogo, para que desta forma venha estimular

discussões mais vastas, reflexões mais profundas e investigações futuras em

torno dos assuntos abordados. A continuidade de estudos a esse respeito

somente tem em vista enriquecer ainda mais a reunião de investigações já

existentes e as que ainda existirão.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALVES, Luciana Mendonça, MOUSINHO, Renata e CAPELLINI, Simone

(organizadoras) Dislexia: Novos Tempos, Novas Perspectivas. Rio de Janeiro:

Wak Ed.2011.

BARBOSA, Laura Monte Serrat. A psicopedagogia no âmbito da instituição

escolar. Curitiba: Expoente, 2001.

BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.

4ª edição. Rio de Janeiro: Wak Ed.2011.

BOSSA, Nadia A. Dificuldades de Aprendizagem: O que são? Como trata-las?

Porto Alegre: ArtMed Editora, 2000.

MAIA, Heber (org.) Neuroeducação e Ações Pedagógicas. Rio de Janeiro: Wak

Ed.2011.

MAIA, Heber (org.) Necessidades Educacionais Especiais. Rio de Janeiro:

Wak Ed.2011.

OLIVIER, Lou. Distúrbios de aprendizagem e de comportamento. 6ª edição.

Rio de Janeiro: Wak Ed.2011.

PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem.

Tradução de Ana Maria Netto Machado. 4ª edição. Porto Alegre, Artes

Médicas, 1985.

PORTO, Olívia. Bases da Psicopedagogia: diagnóstico e intervenção nos

problemas de aprendizagem. 5ª edição. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.

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RELVAS, Marta Pires. Neurociência e transtornos de aprendizagem: as

múltiplas eficiências para uma educação inclusiva. 4ª edição. Rio de Janeiro:

Wak ED., 2010.

RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação: despertando

inteligências e afetividade no processo de aprendizagem. 4ª edição. Rio de

Janeiro: Wak ED., 2009.

SAMPAIO, Simaia. Dificuldades de aprendizagem: a psicopedagogia na

relação sujeito, família e escola. 3ª edição. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.

SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e Realidade Escolar: O problema escolar de

aprendizagem. 12ª edição. Petrópolis: Vozes,2005.

SAMPAIO, Simaia e FREITAS, Ivana Braga de (orgs) Transtornos e

dificuldades de Aprendizagem: entendendo melhor os alunos com

necessidades educativas especiais. Rio de Janeiro: Wak ED., 2011.

WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica – uma visão diagnóstica

dos problemas de aprendizagem escolar. 13.ed.rev.e ampl. – Rio de Janeiro:

Lamparina, 2008.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

(DIDICULDADES, TRANSTORNOS E DISTÚRBIOS) 10

1.1 – O que é aprendizagem? 11

1.2 – Dificuldades de aprendizagem 13

1.3 – Causas das dificuldades de aprendizagem 15

1.4 – Transtornos e distúrbios de aprendizagem 18

CAPÍTULO II

(DISLEXIA) 22

1.1 – Definição 22

1.2 – Tipos de Dislexia 24

1.3 – Distúrbios com sintomas parecidos com a Dislexia 26

1.4 – Comorbidades associadas à Dislexia 28

CAPÍTULO III

(DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO) 30

1.1 – Intervenção Psicopedagógica 30

1.2 – O papel da família 32

1.3 – Refletindo o papel da escola 34

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CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 40