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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
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SIM, FALHAMOS!
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Por: Gabrielle Espósito Cavalcanti<>
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Orientador
Prof. Francis Rajzman
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
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SIM, FALHAMOS!
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Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Direito Penal e Processo
Penal.
Por: . Gabrielle Espósito Cavalcanti
3
AGRADECIMENTOS
A minha mãe, minha avó e ao meu
noivo por estarem sempre presentes,
ajudando a auxiliar meus estudos e me
incentivando a alcançar meus
objetivos. Agradeço a eles também
pela compreensão e apoio.
Aos meus amigos de “seminários” por
sempre incentivarem os estudos, por
terem ajudado na conclusão dessa
monografia e na especialização.
4
DEDICATÓRIA
A minha mãe e minha avó pelo incentivo
de estar sempre estudando. Ao meu
noivo por estar sempre ao meu lado.
5
RESUMO
O propósito deste estudo é demonstrar as questões acerca da falência do sistema penitenciário desde sua evolução histórica até os dias atuais, considerando os contextos históricos e ideológicos. E desta forma iremos destacar principais falhas na execução do sistema carcerário, como também, mostraremos que o Estado é omisso quando se fala em ressocializar o preso, não se preocupando com a sociedade e que a sociedade também faz parte dessa omissão, no sentido de deixar o Estado se impor com a política que melhor o convêm.
6
METODOLOGIA
O proposto trabalho surge da realidade do sistema penitenciário, marcada pela notória falência. Diante dessa realidade busca-se a partir de livros, doutrinas, leis e internet compreender o sistema carcerário e buscar analisar as falhas. Na evolução histórica, destaca-se o livro do doutrinador Rodrigo Duque Estrada Roig, que com sua obra, contribuiu significativamente para o desenvolvimento do primeiro capitulo. Podendo também destacar o livro do doutrinador Augusto Thompson, que ajuda a demonstrar as verdadeiras sombras iniciais do sistema penitenciário.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Aspectos Históricos do Sistema Carcerário 11
CAPÍTULO II - O Sistema Penitenciário e suas contradições 22
CAPÍTULO III – O Problema não é falhar, é persistir no erro! 33
CONCLUSÃO 40
ANEXO 1 – Internet 43
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44
BIBLIOGRAFIA CITADA 45
ÍNDICE 46
FOLHA DE AVALIAÇÃO 47
8
INTRODUÇÃO
Qual o intuito do Estado em relação ao crime, fazer justiça ou fazer o
criminoso sofrer? Responder a sociedade ou penalizar a qualquer custo?
Para entendermos a questão da falência no sistema penitenciário, não
temos como excluir e nem deixar de avaliar o Estado e o crime
separadamente.
O Estado tenta impor uma solida idéia no inconsciente da sociedade,
de que o crime quando acontece é uma manifestação alheia ao conjunto
social, ou seja, o fato depende somente da vontade do agente, assim, não
incluindo os problemas culturais, sociais, familiares, econômicos e etc.
Entretanto esta filosofia dogmática já esta mudando, pois há poucos anos
atrás só era preso quem era de classe baixa, pois eram considerados os
“doentes” da sociedade.
Para esses que desvirtuam o conjunto social, penas cada vez mais
rigorosas e sofredoras são criadas e para a outra classe social, a alta, que são
os considerados vacinados contra a doença do crime, existe o perdão judicial e
a compreensão.
Hoje predomina no nosso país como resposta ao crime à prisão, como
se fosse resolver todo o problema do Brasil. Penitenciarias cada vez mais
desenvolvidas tecnologicamente são criadas e cada vez são mais severas,
tratando o preso pior que animal selvagem.
Ao invés do Estado buscar evitar o crime e o delito, eles buscam criar
sanções severas para castigar o agente que infringiu a lei. Essa é a cultura que
o Estado impõe: “reprimir e não assistir”.
Apesar do Estado ter um grande aliado que é a imprensa, onde
buscam alcançar o sensacionalismo e reprimir a honra do agente, sem ter ética
profissional e sempre desrespeitando o próximo, a sociedade já critica esse
comportamento dos jornalistas. Já foi tempo em que a sociedade, repassava
as informações que recebiam e ouviam nos jornais, claro que hoje ainda tem
gente que acredita e faz jus a essa informação, todavia o conjunto social
possui mais cultura. Há também de falar que a sociedade já esta cansada de
9
ver penas rigorosas e não ver resultados, assim, podemos destacar que a
sociedade esta exausta e desacreditada da melhora do Estado.
A imprensa não limita-se de passar a informação, ela acusa e implora
por uma condenação a qualquer preço. Não admite o principio da ampla
defesa, condena sem provas, não prevê o principio da presunção de inocência,
aniquila o réu.
A televisão tornou-se o inimigo da justiça, visto que os jurados do
tribunal do júri a maioria são cidadãos que não possuem embasamento jurídico
e com isso o sensacionalismo da televisão impera sobre as decisões. Mas
também é com muita tristeza e desgosto saber que alguns promotores usam a
imprensa para aparecer e fazer carreira. Ao invés de cumprirem suas funções,
eles acusam e condenam independentemente da situação. Já alguns juízes na
hora de sentenciar deixam-se levar pela pressão da imprensa, não agindo com
independência decisória. Contudo cabe ressaltar que juízes e promotores
possuem compromisso legal perante a justiça e a mídia não, é somente
atividade jornalística. Deveriam acima de tudo, olhar o direito de todos e buscar
a justiça limpa.
O presente trabalho não visa defender o crime e sim defender o
contraventor, pois o Estado impõe leis rigorosas sendo inflexível e a sociedade
mantém-se calada.
A própria sociedade já entendeu que não adianta castigar o
contraventor para ele sofrer, pois um dia esse condenado, voltará para o
convívio social. Caso ele não tenha apoio durante o cumprimento da pena e
seja abandonado no presídio, ao sair à tendência será à volta para o crime.
Contudo, o homem moderno perdeu o senso de critica. Resmunga,
comenta, mas não vai contra o Estado. O homem moderno não pensa no
coletivo, é egoísta. O homem moderno tem como única fonte de informação os
veículos de comunicação e como já falamos, esse tipo de veiculo de
comunicação induz a sociedade conforme a opinião daquele dia.
E assim, ninguém se manifesta em falar sobre a falha desse sistema
penitenciário implantado.
10
A sociedade ao omitir-se dá a oportunidade para o Estado cada vez
mais criar o seu próprio sistema, sem pensar na liberdade das pessoas.
Sabemos que o primeiro passo é cuidar e mudar a cultura do país,
passando a não conjeturar o contraventor, como de costume fazemos.
O segundo passo é compreender que criar mais sistemas carcerários
não acaba com o crime, pois o crime não é fato alheio e sim fato social, ou
seja, um problema de todos e não somente de cada um.
Precisamos ter planejamento, o Estado necessita conseguir reintegrar
o condenado na sociedade, pois essa é a função dele e a não reintegração é
culpa exclusiva do mesmo, que não investe.
O Poder Legislativo tem que caminhar junto com a evolução da
sociedade e evitar leis que empurram o problema para debaixo do tapete,
“cobrir o sol com a peneira”.
O Poder Judiciário não pode ter como regra, que a prisão é a única
resposta para o crime.
Precisamos acima de tudo ter a imprensa como cúmplice e não como
inimigo!
.
CAPÍTULO I
11
ASPECTOS HISTÓRICOS DO SISTEMA CARCERÁRIO
“A história da regulamentação carcerária no Brasil é, sem
duvida alguma, marcada pela infâmia. Os métodos legais
de controle e de punição disciplinar dos reclusos refletem
os valores reinantes na sociedade brasileira ao longo das
diversas conjunturas históricas vividas pelo país,
constituindo confiável parâmetro de aferição da essência
antidemocrática do sistema penitenciário brasileiro”. 1
Rodrigo Duque Estrada Roig, em uma analise sobre a pratica histórica
da execução penal no Brasil, afirma que a regulamentação carcerária brasileira
é resultado essencial da época imperial, visto que nesse período vigorava um
sistema penal privado, ou seja, nessa época os senhores constituíam suas
próprias punições sobre os escravos, na maioria das vezes pública, como
imposição de trabalhos forçados, pena de morte, açoites e etc. Ainda segundo
o referido autor, o fim do período colonial e o inicio do Império, destaca-se
também a utilização de prisões com instalações precariamente adaptadas, tais
como ilhas, fortalezas, quartéis e navios, substituindo ainda as prisões
eclesiásticas, estabelecidas especialmente em conventos.2
1.1- A HISTÓRIA DO SURGIMENTO DAS PRISÕES
Uma das primeiras prisões, situada na ilha de Santa Barbara,
destinava-se aos criminosos e condenados de crimes mais cruéis.
Ainda que, dotada de condições menos precárias que as demais, a
prisão de Santa Barbara localizava-se distante da cidade, dificultando a
visitação e, consequentemente, a provisão de gêneros aos reclusos. Conforme
relatos históricos, os prisioneiros consideram aquela prisão como um “castigo
rigoroso”. Outro revés enfrentado pelos reclusos encontra-se relato em oficio
1 ROIG, 2005, p. 27. 2 ROIG, 2005, p.28 e 29.
12
de 15 de fevereiro de 1842, enviado à Secretaria de Estado dos Negócios da
Justiça por João Thomaz Coelho, então administrador da Ilha de Santa
Barbara, informando que a iluminação em toda a cadeia fora cortada por
determinação do Chefe de Policia.3
Tão logo surgiu a chamada prisão das Cobras, localizada onde hoje
funciona o Arsenal da Marinha. Tal prisão teve suas masmorras construídas
pelos padres jesuítas, destinando-se inicialmente ao recolhimento de militares.
Todavia, a partir de 1834, perante a extrema carência de penitenciarias na
capital do Império, passou também a abrigar presos civis e escravos. Não
abrigava apenas os escravos criminosos, também abrigam aqueles escravos
que eram enviados pelos seus donos, com o fito de serem corrigidos, ou seja,
deviam aprender a ficarem sob guarda de seus donos, assim, não fugindo e
nem contraindo doenças incuráveis. Os escravos enviados para serem
corrigidos, só podiam sair da prisão com autorização do seu dono, sem essa
autorização nem o Estado podia perdoá-los, pois não haviam cometido nem
um crime. Com isso, os escravos muito das vezes ficavam abandonados e
esquecidos na Ilha das Cobras.
A Ilha das Cobras, possuía solitárias com vinte e nove palmos de
comprimento e dez e meio de largura, com poucas frestas de luz e ventilação,
voltadas para o pátio. A pequena dimensão dos cubículos e a escassez de ar e
luz tornavam a estadia na solitária um período de agonia para os que
desafiassem o regime de unidade.4
Assim como a Ilha das Cobras, surgiu também a prisão do Calabouço5.
Essa prisão recebia os escravos que eram capturados por caçadores, tendo o
fito de corrigi-los e também para passarem uma temporada na prisão, como
também recebia os escravos que fugiam, mas a pena para esse caso tinha
como finalidade o açoite.
Vejam que nessa época o Estado reportava-se aos senhores com a
finalidade de saber qual a pena se destinava a cada escravo. O Estado apenas
3 ROIG, 2005, p. 30. 4 ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, CÓDICE 48-3-42, p. 37 apud ROIG, 2005, p. 30. 5 ROIG, 2005, p. 31.
13
aplicava o que os senhores ditavam. Para controlar as severas punições,
entrou em vigor o Aviso em 1836, limitando o numero de açoites por dia.
O criminoso passou a ser processado e julgado em audiência,
presidida pelo Juiz de Paz, o qual sentenciava e acompanhava a execução da
pena, cabendo a autoridade determinar o numero de açoites, o tempo e a
maneira de usas os ferros.
Conforme já foi citado, o doutrinador Rodrigo Duque Estrada Roig
narra que o Calabouço era considerado um buraco para animais selvagens, ao
invés de ser um lugar para seres humanos6. Muitos prisioneiros morriam
sufocados no verão, devido à alta temperatura e a falta de janelas nas
solitárias, outros já adquiriam doenças e quando eram soltos, contaminavam a
sociedade.
Por sua vez, o Aljube, foi inicialmente uma prisão eclesiástica e que
posteriormente passou a ser o Tribunal do Júri. A prisão Aljube, tornou-se
comum com a chegada da Família Real, em 1808, abrigando todos os internos
da Cadeia Velha7·. Nessa época foi considerada o melhor sistema prisional
pelo Ministério Publico, todavia também não possuía o mínimo de condições.
1.2- A FAMOSA CASA DE CORREÇÃO DA CORTE
Dentro desse conjunto histórico, surge à Casa de Correção da Corte
em 1850, com o intuito de abrigar cativos insurgentes e capoeiristas, assim
como reprimir a mendicância, acostumar os vadios ao trabalho, e corrigi-los de
seus vícios8. A Casa de Correção significaria ainda, para o Brasil, a
possibilidade de deixar para trás um tempo em que predominava a crueldade e
ingressar no clube dos civilizados, tais como França, Inglaterra e Estados
Unidos, com o fito de abandonar os métodos arcaicos de punição vigente no
período colonial e nos primórdios do Império em prol dos mesmos paradigmas
utilizados pelos países europeus.
6 ROIG, 2005, p. 33. 7 ROIG, 2005, p. 33. 8 ROIG, 2005, p. 38.
14
O projeto de edificação da Casa de Correção, iniciado em 1833,
passou por uma seria de polemicas acerca do sistema prisional a ser adotado.
Para uma parte que participava dos debates, a edificação deveria seguir o
modelo da Pensilvânia, de isolamento absoluto e trabalho nas celas. Para a
parte contraria, pugnavam pela adoção do sistema de Auburn, adaptando a
arquitetura prisional à necessidade de implementação de oficinas de trabalho
em comum durante o dia, perdurando o isolamento noturno9. Contudo, a
preocupação não era o preso, pois ele era somente o acessório da arquitetura.
Relatos da época confirmam que o edifício seria projetado conforme o
sistema de trabalho em comum durante o dia e o isolamento a noite.
Entretanto, pretendeu-se adotar uma construção panóptica, todavia, tal
construção saiu errada e no fim foi adotado o sistema de Auburn para a
construção do primeiro raio.
Curiosamente, antes do inicio da construção dos demais raios, a
polemica acerca do sistema prisional mais adequado à Casa da Correção
voltou à tona. Por fim, depois do governo enviar comissários para visitar
penitenciaria norte-americana, o governo resolveu alterar novamente o projeto
original da edificação, pretendendo construir o segundo raio conforme o
modelo da Pensilvânia, a fim de estabelecer uma arquitetura moral.
Tal complexidade em que sistema adotar, estava ali evidenciando um
sentido hierarquizante e discriminatório. Aos presos comuns, destinava-se um
modelo ressocializante, já aos presos escravos a funcionalidade do sistema
prisional continuava com as mesmas praticas que os senhores usavam, sendo
assim, não visavam regenerar essa categoria de presos e sim de puni-los em
caráter de vingança. O suplicio publico foi substituído pelo açoitamento
reservado nas dependências da Casa de Correção, tornando as sessões
privadas de punição em doses comedidas por trás dos muros da prisão.
A Casa de Correção passou a ser regulamentada pelo Decreto nº 678,
de 1850. O Decreto foi essencialmente inspirado no modelo auburbiano. O
Decreto citado elege a Casa de Correção como o estabelecimento destinado à
execução da pena de prisão com trabalho. Uma das características marcantes
9 ROIG, 2005, p. 39.
15
era a imposição de um rígido dever de silêncio para os apenados. Os recém
chegados à Casa de Correção, cuja à pena fosse superior a 6 (seis) meses,
passariam por uma prova. Estes, antes do ingresso ao trabalho, deveriam ficar
isolados para refletirem acerca dos delitos praticados. As mulheres também
ficavam isoladas e em silencio, para não serem influenciadas dentro do
cárcere.
O regulamento, com o objetivo de constituir um modelo meritocrático e
progressivo de cumprimento de pena e incutindo no meio carcerário os valores
estratificantes da sociedade brasileira no século XIX, estabeleceu para a
divisão criminal da Casa de Correção, uma rígida hierarquia entre os
reclusos10. Quando o preso ingressava na Casa de Correção, ele era
submetido a um processo de categorização, com o fito para determinar a qual
classe pertencia. Para a escolha da classe, levaria em conta a idade, a pena, o
delito cometido e o comportamento na prisão, mas a ordem social que o preso
pertencia fora do cárcere, também era levado em conta. A estatificação entre
os presos era viabilizada por meio de um sistema discriminatório de concessão
de privilégios e imposição de punições disciplinares. Quanto maior a classe do
preso, menos rigoroso era o seu regime. A primeira classe era a que mais
sofria. Geralmente tinham punições severas e com castigos maiores. A terceira
classe era tratada diferente. Eram punidos, todavia a punição era aplicada de
forma que o preso fosse reformado.
1.3- O SURGIMENTO DA CASA DE DETENÇÃO
Com a extinção da cadeia do Aljube e de outras prisões, tornou-se
evidente a escassez de estabelecimento de detenção. Diante de tal situação, o
governo imperial optou pela transferência, dos indiciados e pronunciados para
a Casa de Correção da Corte, estabelecendo ali a Casa de Detenção,
enquanto não fosse construído um edifício adequado a esta finalidade.
Portanto, começam a aglomerar, na Casa de Correção, presos e sentenciados
de todos os gêneros.
10 ROIG, 2005, p. 47.
16
Nesse contexto, o Decreto nº 1.774, de 02 de julho de 1856, vem
justamente estabelecer o regulamento para a Casa de Detenção e
estabelecida provisoriamente na Casa de Correção da Corte11. Este
regulamento destinou uma parte desocupada do primeiro raio da Casa de
Correção para abrigar a Casa de Detenção.
Como na Casa de Correção, os presos da Casa de Detenção também
eram submetidos a um processo classificatório, a fim de apurarem as divisões
a que pertenciam e, consequentemente, as dependências onde seriam
alocados.
1.4- DO PERÍODO REPUBLICANO
Com a chegada da Republica, tornou-se imperiosa uma reestruturação
normativa no sentido de adequar o sistema penal pátrio às exigências da nova
ordem republicana. Edifica-se nessa conjuntura, o Código Penal de 1890, que
buscou romper com certas praticas punitivas do império, tidas como arcaicas e
degradantes. Com isso, são extintas as penas de morte, de galés, de açoite e
perpetua, subsistindo para quase todos os delitos a pena de prisão celular com
trabalho obrigatório, com a limitação do isolamento absoluto ao período
máximo de dois anos e com o enfoque no trabalho em comum, com a
segregação noturna e silencio durante o dia (Art. 45 CP de 1890). Assim, com
o Código Penal de 1890, a pena privativa de liberdade passa a ser vista como
a punição por excelência, generalizada.
O novo sistema estabeleceu também um regime progressivo de
cumprimento de pena, desde o período de prova inicial, onde se estabelecia o
confinamento absoluto, passando pela transferência para uma penitenciaria
agrícola, até a derradeira obtenção do livramento condicional (Art. 50), cumpre
consignar, todavia, que tais medidas não tiveram qualquer impacto sobre a
rígida estratificação da sociedade brasileira, nem sequer afetaram a verdadeira
essência do sistema penal, acobertada por uma roupagem pseudoprogressiva
dada pelo Código de 1890 aos mesmos paradigmas traçados pelo código
11 ROIG, 2005, p. 61.
17
criminal de 1830, tendentes a alcançar determinados segmentos sociais
indesejados12.
1.4.1- DO REGULAMENTO DA CASA DE CORREÇÃO DA CAPITAL
FEDERAL
O Decreto nº 3.647, de 1900, foi exarado em meio às agitações
políticas decorrente da abolição da escravidão, em 1888, e da proclamação da
Republica, em 1889. O regulamento editou imprescindívelmente as leis
anteriores.
Esse regulamento também inova a natureza das atividades laborativas
a serem desenvolvidas na Casa de Correção. No que concerne ao regramento
disciplinar, apesar de mantidas as sanções disciplinares de privação de visitas,
correspondência e outros favores e alteradas outras regras, o decreto visou
manter a linha de disciplina do primeiro decreto.
Em 1910, entrou em vigor no mundo jurídico o Decreto nº 8.296, que
passa a regulamentar a Casa de Correção do Rio de Janeiro. Apesar de entrar
em vigor, ainda se debatia no país qual modelo carcerário iria ser adotado no
nosso país: O modelo pensilvaniano ou o modelo auburniano.
1.5- CÓDIGO PENITENCIÁRIO PARA O BRASIL
O primeiro projeto de Código Penitenciário, que foi concedido ao Brasil
a condição de pioneiro na defesa da tripartição dos Códigos em sede penal13,
foi concebido em 1933 por Candido Mendes, Lemos Brito e Heitor Carrilho14.
A parte mais importante do projeto de 1933 reside, no entanto, na
minuciosa organização antropológica, medica e psiquiátrica dos
estabelecimentos penais. Todo o arquétipo legal do projeto de 1933 conspira
para viabilizar uma investigação etiológica, isto é, uma pesquisa do ponto de
12 ROIG, 2005, p. 80. 13 PROJETOS E ANTEPROJETOS DE CÓDIGO PENITENCIÁRIO. RIO DE JANEIRO. ED. UFRJ. 1978, P.08. apud ROIG, 2005. 14 ROIG, 2005, p. 103.
18
vista clinico daquelas condutas consideradas desviantes pela política
penitenciaria vigente, e uma intervenção utilitarista sobre os indivíduos
apenados, destacando-se em relação ao ultimo aspecto, o papel do trabalho.
Em 1940, é publicado o nosso atual Código Penal (Decreto Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940).
Em 1956, diante da necessidade de harmonização da normatização
penitenciaria com o Código Penal de 1940, o Ministério da Justiça designou
uma comissão de juristas e técnicos para elaborar uma nova proposta de
código penitenciário para o Brasil15
O novo anteprojeto prescreveu significativas inovações para a
regulamentação carcerária, contemplando preceitos ate então carentes de
positivação em âmbito penitenciário, como os princípios da legalidade e da
individualização judicial e executiva da pena.
Analisando o projeto percebe-se que nele, há uma índole teleológica
mais humanizadora.
O terceiro anteprojeto foi elaborado em 1963 por Roberto Lyra16.
Nesse projeto destacam-se os que preceituam que a lei penal executiva terá a
aplicação imediata e retroagirá para beneficiar o sentenciado, podendo ser
aplicado também por analogia, e que a interpretação da lei penal executiva
admitirá a extensão, bem como o suplemento da ciência e da técnica
especializada. Segundo esse projeto, a execução da pena deveria ser
encarada de modo eminentemente finalístico.
A preocupação com a judicialização da execução também é recorrente
no projeto em tela. Cumpre consignar que a presença de dispositivo
estabelecendo que as margens do critério administrativo serão preenchidas
sempre com o senso da dignidade e solidariedade humanas.
Este projeto representou ainda a mudança no olhar teórico sobre o
crime e o criminoso, embora não tenha abandonado o eixo criminológico e
etiológico. Lyra passa a investigar a origem do crime, pelo meio social em que
o criminoso vive.
15 ROIG, 2005, p. 112. 16 ROIG, 2005, p. 116.
19
Em 1970 foi apresentado o projeto do Benjamim Moraes Filho. A nova
proposta pretendeu estruturar um ordenamento não assentado em
generalidades (projeto 1963), nem muito casuístico (projeto 1933)17.
Este ultimo projeto, optou por firmar um critério eclético, atribuindo
também à autoridade administrativa os poderes de execução, em especial o de
excesso. Juntamente com a administração da execução penal, o anteprojeto
tutela a classificação do apenado como um dos alicerces do regime penal a ser
implementado.
O regime carcerário proposto seguiria ainda o modelo progressivo,
escalonado em três fases, destinadas aos processos de classificação,
tratamento e livramento condicional do apenado.
A disciplina segundo o anteprojeto constitui um instrumento para
despertar no apenado o habito da ordem e o sentimento de respeito ao seu
semelhante, o que demonstra a inflexibilidade deste axioma em sede
penitenciaria18.
O anteprojeto de 1970 se absteve de detalhar as faltas disciplinares
em espécie, deixando esta tarefa a cargo dos regulamentos estaduais. Arrolou,
no entanto, os diversos tipos de sanção disciplinar, bem como a forma de sua
aplicação, no intuito de federalizar o poder de regulamentação punitiva,
evitando, assim, as cominações excessivas, os ritos discricionários e a
condução tendenciosa do procedimento de apuração das faltas e injunção das
sanções disciplinares carcerárias19.
Sem êxito os projetos apresentados não tinham força para se tornarem
lei. A Republica continuava crescendo, todavia possuía déficit nos
regulamentos do sistema penitenciário.
O modelo penitenciário que vigora hoje no Brasil é resultado das
transformações, sofrida pela nossa sociedade, ao longo do período da história.
Até 1964, com a Lei nº 3.274 de 1957, coligiam normas gerais acerca do
regime penitenciário, normas estas de caráter eminentemente programático e
organizacional, sem significativos reflexos na realidade carcerária. Com o
17 ROIG, 2005, p. 121. 18 ROIG, 2005, p. 123.
20
Golpe Militar, o sistema penitenciário retoma seu poder, assumindo peculiar
função de destaque para abrigar também aqueles considerados subversivos
em relação à ideologia que se pretendia implantar.
Nem mesmo a Carta de 1988 foi capaz de desatar esse verdadeiro nó
à justiça penal, visto que desde que começou o sistema carcerário, ele não
sofreu a necessária adequação.
1.6- AS PRIMEIRAS FALHAS
Nas três épocas sucessivas do Brasil Colônia, Brasil Reino Unido e
Brasil Império incipiente, não obedeceram às prisões a qualquer principio de
ordem, de higiene e de moralização.
Os melhoramentos que foram feitos nas prisões, foram só para aliviar
temporariamente a situação.
Na medida em que a prisão representava uma importante instância no
processo de controle social, é de se esperar que além de refletir, a prisão seja
um instrumento de consolidação das relações de poder na sociedade.
Conforme já falado nesse capitulo, a Europa possuía outra visão do
significado pena de prisão. O Brasil quando adotou a prisão, infelizmente fez
um mau uso desta pena. Enquanto nos países Europeu e nos Estados Unidos
a pena da prisão estava atrelada ao desenvolvimento produtivo e ao desejo de
restabelecimento da ordem abalada, o Brasil fazia uso da prisão como uma
resposta ao acaso e a ameaça sofrida pela ordem escravista.
Com a criação da Casa de Correção, parecia que as coisas iam
melhorar ou tomar outro rumo, entretanto não foi o que ocorreu. Em meio de
debates sobre que modelo usar no sistema prisional, os presos mais uma vez,
ficavam esquecidos. A preocupação era somente com a arquitetura e não com
o preso. Não era pensado no que o preso poderia se tornar, ou seja, o que
poderia acontecer no futuro com o preso, quando ele saísse da prisão.
Enquanto a Europa e os Estados Unidos já se preocupavam com os problemas
sociais futuros, o Brasil se preocupava só com a construção. Por fim, essa
19 ROIG, 2005, p. 124.
21
tamanha preocupação com a arquitetura, tornou o sistema prisional totalmente
desfigurado e cheio de riscos, à vista disso, ninguém chegou a um acordo e
assim, foram criados raios com diversos modelos. O governo não conseguiu
nem criar uma construção saudável e com isso não conseguiu ter sistema
algum.
Fácil notar, que a Casa de Correção criada se transformou em
bagatela. E nessa época já se iniciava a hierarquia e a discriminação, ou seja,
a nossa sombra de hoje.
Quem tinha como se manter (com roupa, próprios alimentos e etc.),
recebia o modelo ressocializante e os que não tinham como se manter perante
o governo, recebia o modelo de extermínio. Uns eram tratados pelo projeto
liberal, outros eram tratados de forma desigual. Uns recebiam penas baixas,
outros recebiam penas de morte, açoites ou outras marcas corporais. A
estatificação entre os presos era viabilizada por meio de um sistema
discriminatório de concessão de privilégios e imposição de punição disciplinar.
Desigualmente não visavam regenerar pelo menos uma parcela dos detidos.
Os excessos na punição, sua publicidade e o seu caráter ritual davam a
punição dos escravos um caráter de vingança exemplar e de intimação.
As prisões existentes até a primeira metade do século XIX eram, em
geral, espaços improvisados, adaptados e insalubres, valendo ressaltar, que
eram também mal construídos, sendo herança do período colonial.
O homem foi feito para viver em sociedade. O próprio condenado é
destinado a voltar a ela e há achar ali os vícios e as tentações que o
desviaram. A vida artificial da cela da prisão é um mau preparativo para essa
luta.
22
CAPÍTULO 2
O SISTEMA PENITENCIÁRIO E SUAS
CONTRADIÇÕES
“A penitenciaria não pode recuperar criminosos nem pode ser recuperada para tal fim”. (Augusto Thompson).
Por melhores que sejam as intenções que o amparem, por mais
entusiastas, dedicados e doutos que se mostrem os técnicos convocados para
a missão, por mais liberal a atitude do Governo, no sentido de destinar verbas
com vistas à obra, nenhuma melhoria real será obtida, se o planejamento se
dirigir a uma reforma exclusivamente penitenciária.
Para haver uma ampla reforma no sistema penitenciário devemos
atingir dois objetivos: O primeiro seria na questão da construção, devendo
construir penitenciárias habitáveis, a fim de receber o número máximo de
presos que compõe cada presídio e torná-las salubres. O segundo requisito
seria criar um modelo com a finalidade de reformar o preso, ou seja, criar
oportunidade do preso aprender a ser uma pessoa melhor fora do sistema
carcerário.
Diz o art. 1º da Lei de Execução Penal nº 7.210 de 1984: “a execução
penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal
e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e
internado”. E o art. 10º da mesma lei citada diz: “a assistência ao preso e ao
internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à
convivência em sociedade20”. Contudo, quando se coloca o preso na
penitenciária, o objetivo é punir e intimidar. Punir é fazer o preso sofrer,
castigá-lo e intimidar é fazer terror psicológico. Assim a idéia exposta na lei, é
enganosa. Não há como estabelecer uma reeducação, fazendo torturas. Cria-
se um monstro, praticando tais atos citados.
20 Lei de Execução Penal nº 7.210 de 1984, art. 1º e art. 10º.
23
Seria esse modelo de punição o mais correto? Ou há possibilidades de
criar um modelo que supra a idéia de castigo, devolvendo os valores ao
homem preso?
O sistema criado hoje é com a finalidade de que o preso não fuja
enquanto estiver dentro dele e do preso não cometer atos que irão fazer com
que ele volte a fazer uso do sistema. Assim, o sistema mostra que falhou no
seu objetivo, sobretudo no que atende a intimidação e à recuperação21·. Visto
que alguns que já cumpriram a pena e foram posto em liberdade, um dia
retornam ao cárcere.
Conforme relata Augusto Thompson22, é paradoxal a combinação de
objetivos tão conflitantes:
“Ainda o nosso moderno sistema prisional procede numa
direção muito incerta, porque sua administração tem,
necessariamente, uma serie de compromissos. De um
lado, espera-se que as prisões punam; de outro, supõe-
se que reformem. Espera-se que disciplinem
rigorosamente ao mesmo tempo em que ensinem
autoconfiança. São construídas para operar como
grandes maquinas impessoais, mas se espera que
ajustem os homens a viver vidas comunitárias normais.
Operam de acordo com o uma rígida rotina autocrática,
mas se espera que desenvolvam a iniciativa individual.
Todas as regras restritivas, por demais freqüentes,
obrigam o preso à ociosidade, a despeito do fato de que
um de seus objetivos primários é ensinar aos homens
como ganhar uma vida honesta. Recusam ao preso
qualquer possibilidade de autogoverno, mas esperam que
ele se transforme em um homem consciente, numa
sociedade democrática. Para alguns, as prisões não são
mais do que clubes campestres, a prover as fantasias e
21 THOMPSON, 2002, p. 8. 22 THOMPSON, 2002, p. 9.
24
os caprichos dos internos. Para outros, a atmosfera
prisional parece carregada somente de amargura, de
rancor e de sentimento pervertido de frustração. E assim
o esquema paradoxal prossegue, porque nossas idéias a
respeito da função das instituições correcionais, na nossa
sociedade, são confusas, vagas e nebulosas23”
Discute-se que é improvável estabelecer uma coerência no sistema,
pois em nenhuma época já foi visto alguém conseguir fazer a prisão punitiva
ser reformativa.
O sistema hoje implantado é um fracasso, pois são transparentes as
falhas. Tentam amenizar a situação, quando consideram o preso apto a viver
fora do intramuros. Se o preso possui um bom comportamento dentro do
cárcere e cumpriu a pena mais de um terço (quando primário) e mais da
metade (quando reincidente), é dado à concessão do livramento condicional.
Consideram o preso adaptado a vida livre, bastando o mesmo ter cumprido os
requisitos citados acima. Cumpre consignar que esse raciocínio é
extremamente falso. O preso dentro do cárcere fica submetido às regras
impostas. O cárcere pune e tortura, além de aterrorizar – não existe nada mais
incongruente que esse raciocínio.
Primeiro, porque o mundo da prisão é completamente diferente do
mundo civil e segundo, ajustar alguém a controles institucionais fornece
mínima segurança de que tal ajustamento permanecerá existindo.
Ora, como ter certeza que uma pessoa que passa dez anos dentro da prisão,
longe do convívio social, esta apta a ingressar novamente no mundo civil, por
apenas ter sido considerada reformulada por cumprir o bom senso da prisão?
Como diz Augusto Thompson, afigura-se tão absurdo como alguém se
preparar para uma corrida, ficando na cama por semanas24.
23 CF. DAVID DESSLER, READINGS IN CRIMINOLOGY AND PENELOGY, COLUMBIA UN. PRESS, 2ª ED., P. 575 apud THOMPSON, 2002, p. 10. 24 THOMPSON, 2002, P. 13.
25
No momento gostaria de salientar, que a prisão implica em
desadaptação à vida livre, pois o que o ocorre, é que o preso se adapta ao
meio em que esta. Assim, ele aprende para poder cumprir todas as regras, não
podendo em momento nenhum se distrair, para não cometer nenhuma falta,
prova para o diretor que ele tem receio, que colabora com a administração,
tenta mostrar que ele aprendeu muito naquele local, todavia, apenas soube lhe
dar com a pressão e as regras, mas não entendeu o que seria regeneração,
pois não foi apresentado a ele. Não houve solução para o problema, houve
uma pausa.
Diversos recursos são implantados no sistema prisional. Uns para trazer
mais segurança, outros para ajudar a punir mais – Uns para inovar a
tecnologia, outros para suprir gastos. Entretanto, nunca foi definido qual seria o
verdadeiro recurso para dar suporte aos presos, para ajudá-los a conviver fora
do intramuros. Psicólogos, policiais, professores, padres e pastores, médicos,
são contratados para dar suporte dentro do cárcere. Em nenhum momento se
preocupam se os profissionais de tratamento têm condições de desenvolver,
com possibilidade de êxito, suas atividades, dentro do sistema especial da
prisão – Se a guarda, por melhor instruída e treinada que seja, pode conciliar
sua tarefa custodial com a missão terapêutica – E se algum país, em alguma
época, terá possibilidade de aplicar no sistema penitenciário o momento de
verbas capaz de provê-lo de suficiência de recursos25. Apenas contratam.
No que consiste sistema social da prisão a característica mais marcante
da penitenciaria, é que ela representa uma tentativa para a criação e
manutenção de um grupamento humano submetido a um regime de controle
total, ou quase total26. A penitenciaria é uma sociedade dentro de uma
sociedade, afirma Augusto Thompson.
O que vem a perturbar os indivíduos dentro do cárcere é a vida em
massa, ou seja, eles vivem aglomerados, angustiados e forçados a viver numa
intimidade restrita. Cabe ressaltar, que os presos não são os únicos a habitar a
prisão, pois dividem o lugar com guardas, diretores e especialistas terapeutas.
25 THOMPSON, 2002, P. 18. 26 THOMPSON, 2002, P. 22.
26
Os que ingressam na vida da sociedade penitenciaria submetem-se ao
processo de prisionização. Assim, todos se submetem as condições e
organizações do presídio.
Afirmam que se tentassem (os que são livres, mas habituam o presídio)
levar os valores da sociedade livre para a comunidade prisional, entrariam em
choque com a instituição. Afirmam também que existem os chamados,
tratamento em choque, para punirem com severidade os presos, pois os
valores dentro do cárcere são diferentes. Augusto Thompson diz na sua obra
já citada que “cadeia é cadeia!”. Todavia, vejo isso como uma outra grande
falha. No próprio livro do autor, ele afirma: “A penitenciaria é uma sociedade
dentro da sociedade27”. Então como pode ser tão insignificante os valores do
sistema prisional? A prisão não é um outro planeta, mas sim outra cultura, que
faz parte ainda da grande sociedade – do grande sistema social. Assim
podemos dizer, que a cadeia não é simplesmente um outro mundo, cadeia é
um anexo da sociedade civil e que deveria haver valores nela inserida.
A seguir irei dividir e expor a população carcerária:
1) A DIREÇÃO: Os membros da direção são recrutados de
preferência com nível universitário. São advogados, médicos,
engenheiros, oficiais militares, altos funcionários da administração
publica, membros do MP e etc.
O cargo de diretor dura no máximo quatro anos. O presídio da Marinha,
normalmente o diretor fica em torno de dois anos, podendo ser
prorrogados por mais dois anos também, tendo em vista que exercem
cargo de confiança.
Quando um diretor assume o cargo, ele já encontra o sistema em
andamento. Ao entrar no presídio o diretor quer desenvolver seu
trabalho da melhor maneira, com o fito de marcar sua passagem
logrando êxito. O diretor tem a sensação de estar no poder absoluto,
entretanto o sistema é muito limitado e através disso é que vêm as
dificuldades.
27 Augusto Thompson, 2005, p. 22.
27
Os especialistas e os guardas sempre vão tentar adequar o diretor ao
sistema que já esta em andamento. Vão lhe confidenciar as soluções e
advertências que o antigo diretor fazia uso. Simplesmente vão tentar
colocar o novo diretor no eixo do sistema.
O diretor tem que estar em pleno equilíbrio e procurar julgar todos os
acontecimentos no sistema prisional de forma imparcial. Assim, não
acreditando plenamente nos guardas e nem nos presos. O diretor
precisa ser justo sempre.
2) OS GUARDAS: A figura do ISAP (Inspetor de Segurança e
Administração Penitenciária),tem como atividade-fim, o contato
permanente com o preso, observando sempre os direitos e deveres do
apenado, tudo em consonância com a LEP (Lei de Execuções Penais),
tendo como um do objetivo principais da pena a ressocialização, visando
seu retorno ao convívio social.
Nesse passo é que à atividade exercida pelo Inspetor Penitenciário,
diga-se, mais conhecido popularmente como "guarda", é de suma
importância, pois será ele que, enquanto o interno se mantiver
custodiado, terá contato permanente com o detento, atendendo as suas
necessidades prementes, bem como mantendo a ordem e a disciplina
dentro dos estabelecimentos prisionais. Em regra, passa o inspetor
penitenciário 24(vinte e quatro) horas de plantão por 72(setenta e duas)
de descanso. Desde que chega para trabalhar desenvolve pleno
contato com os internos. Dentre as atividades podemos citar:
Confere da manhã, soltura dos faxinas das celas (presos classificados
pela direção da Unidade Prisional que trabalhão no estabelecimento
prisional tendo direito a remição da pena pelo trabalho), pagarem café
da manhã, almoço, lanche e janta, retirada de presos da cela para
atendimentos nos setores de: jurídica, assistente social, psicólogo,
psiquiatra, médico, enfermeiro, dentista, classificação, direção,
segurança, banho de sol, escolta a diversos órgãos tais como: hospitais,
28
fórum, etc., visitas de pátio, visitas íntimas, confere noturno, revistas,
custodia, geral, dentre tantos outros contatos com os presos.
A guarda visa muito a segurança, uma vez que acham que os internos
estão sempre pensando em meios que levem a empreender fuga do
estabelecimento prisional.
Cabe ressaltar, ainda, que o inspetor penitenciário, dentro do
estabelecimento esta sempre interagindo com o corpo auxiliar, também
exercendo papel relevante para a ressocialização do interno. Tal corpo é
composto de psicólogo, psiquiatra, assistente social, médico, dentista,
enfermeiro dentre tantos outros que contribuem sobremaneira para a
recuperação do interno, garantindo aos mesmos, direitos básicos
assegurados na Constituição Brasileira.
Finalmente, e nunca é demais lembrar que, por estas e outras tarefas
exercidas pelo inspetor penienciário, tendo sempre em mente o objetivo
da lei que é o da ressocialização do preso visando seu retorno a
sociedade é que o papel do inspetor penitenciário se faz cada vez mais
importante na sociedade, dando sua contribuição, uma vez que todo
preso sai da sociedade, e todo preso um dia retornará para o convívio
social. (Depoimento pessoal, ANTONIO CLAUDIO BRITES, agente
penitenciário - ISAP) .
3) OS TERAPEUTAS: O Estado, cobra dos especialistas uma plenitude
na desenvoltura do trabalho no ambiente do cárcere e cobram deles a
transformação dos criminosos em não-criminosos. Acredito que para
isso acontecer e trazer resultado, o Estado tem que investir e ampliar o
quadro de especialistas e também dar condições tanto para o trabalho a
ser realizado, quanto para os presos vir a fazer uso dos ensinamentos e
aprender.
Mesmo os especialistas não concordando com o trabalho e a maneira
que o Estado impõe o sistema, eles tem que acatar as ordens, pois
existe hierarquia.
29
Augusto Thompson28 relata que a posição do terapeuta na penitenciaria,
é encarada, pelos presos, pela guarda e pela direção, como a de um
dilatante. Contudo, não deveria na pratica ocorrer tal situação, pois os
especialistas estão ali para ajudar e tentar transformar o criminoso em
não-criminoso. Eles tentam cooperar com a vida intramuros,
apresentando não só os valores da vida, mas como devia ser uma vida
normal. O problema dos presos não aceitarem os terapeutas, uma parte
da culpa são dos guardas e da diretoria que não concordam dos presos
transitarem na penitenciaria para ir à escola, igreja, psicólogos e etc.,
achando que eles podem prejudicar o andamento da segurança do
sistema. Ora, se a direção e os guardas não gostam dos terapeutas ou
acham que o trabalho deles não funcionam sendo sempre pessimistas,
como os presos vão confiar nos terapeutas se o próprio sistema não
confia? Se o próprio sistema que cessá-los? Realmente não existirá
plenitude no trabalho a ser desenvolvido. E a outra parte da culpa cabe
ao Estado, que fica omisso a essa situação.
4) OS PRESOS: São os rejeitados, considerados doentes e alienígenas.
O Estado tem convicção que eles pertencem a outro mundo, outro
planeta. E por isso fazem questão do isolamento total.
Não pertencem a nenhuma classe, não fazem parte de nenhum status
na sociedade, até mesmo porque não são considerados parte da
sociedade.
Não possuem reputação, são inferiores.
O encarcerado possui dupla privação de liberdade: confinamento na
instituição e confinamento dentro da cela. O preso fica ilimitado,
perdendo até o direito à intimidade.
Os próprios presos se julgam: os homicidas olham com desprezo os
ladrões. Os infratores dos crimes contra o patrimônio vêem os
28 Augusto Thompson, 2005, p. 56.
30
assassinos como pessoas frias, sanguinárias. Os assaltantes que
matam para roubar acham os homicidas idiotas.
Os presos tentam ajudar ou serem “amigos” dos guardas, para assim
terem favores em troca ou uma maior liberdade dentro do sistema.
Há vida intramuros é realmente bem difícil. Os presos não podem
sustentar a família, não podem dizer o que querem ou o que não
querem e também não podem possuir mulher dentro do presídio. Assim,
com essa circunstância de não poder ter mulher intramuros, muitos dos
presos acabam cedendo à vida sexual dentro do presídio. Os,
chamados “escrachados”, mantêm a cadeia o desvio que trazem da
liberdade. Continuam a saga de procurar um macho, antes de serem
procurados, e de lhes dar vantagens, antes de as receberem. Mostram
diretamente o seu lado feminino. Geralmente são desprezados e não
constituem problema para a administração. Há também os chamados
“violentados”, que são os indivíduos submetidos à força, pela violência
física. E os chamados “enrustidos”, mantém a aparência masculina e
são discretos. Quando saem da prisão, continuam com a sua vida no
mundo externo normalmente, continuando a serem o que eram antes de
fazerem parte no mundo interno. Na cadeia, são os mãos procurados e
disputados. Recebem vantagens e proteção29.
Já dividimos, apresentamos e analisamos a população do cárcere,
agora será divididos os papéis sociais dos internos, na prisão:
a) Aqueles que tendem a romper:
a.a) Os Malucos: psicopatas, débeis mentais e solitários – Buscam
total isolamento. Provocam os guardas sem motivos.
a.b) Os Arrochadores: são ferozes e agem em grupo. Usam meio de
forma cruel, com o fito de satisfazer seu próprio desejo. São
considerados os terroristas da cadeia.
b) Aqueles que tendem a sustentar o sistema:
29 Ob. Cit. 2005, p. 70.
31
b.a) O Preso-Homem: representado por internos de criminalidade
madura, ou seja, cumprem penas longas, por crime de violência.
Costumam falar pouco, mas são espontâneos. Não demonstram
emoção. Raramente reclamam. Evitam os atritos.
b.b) O Caguete: Faz parte da rotina da prisão. Seu papel dá-lhe
defesa eficiente contra os sofrimentos da cadeia. Faz a ligação entre
a liderança dos internos e a guarda. O caguete se encarrega de fazer
avisos.
Encarregam-se de transmitir à guarda as denuncias propiciadoras
de uma boa fiscalização. Ou seja, os caguetes devem desvendar
para a guarda, os segredos, apenas dos presos disruptivos e revelar
os segredos da guarda. Assim, fazendo jogo “lá e cá”.
b.c) Os Políticos: Dotados de observar as pessoas. São simpáticos,
oportunistas e dominam. Quase sempre arranjam boas faxinas30.
Cabem servir de veículo de comunicação entre presos e direção,
presos e guarda e outros grupos.
b.d) Os Negociantes: para esses, a penitenciaria nada mais
representa do que uma fonte de ganhar dinheiro. Exploram o trafico
de cigarro, bebida, alimentos e etc.
Consiste em prover o sistema tranqüilo.
b.e) Os Bacanas: Constituem uma boa posição social. Não se
envolvem em problemas31.
A classificação exposta é um mero esboço. Apenas uma
esquematização com o objetivo de se compreender o sistema social da
penitenciaria.
Integram-se, também a esse sistema social os Processados e os
Condenados. Os processados são os indivíduos que devem aguardar em
confinamento a apuração e a decisão a respeito dos delitos de que são
30 Faxina é o preso classificado para qualquer ocupação laboral. 31 Ob. Cit. 2005, p. 88.
32
acusados. Os condenados são aqueles que, julgados por uma sentença
definitiva, têm de cumprir a pena corporal ali imposta.
Percebe-se, conforme acima exposto, que presos e guardas se
misturam no sistema carcerário. A guarda tenta tirar vantagens, ter os mais
perigosos ao seu lado para assim, tentarem evitar confusões no sistema
intramuros. Os presos, por sua vez, tentam tirar também vantagens da guarda
e com isso evitam revistas extraordinárias e conseguem exercer papel perante
os outros presos. Se analisarmos tais fatos, conseguiríamos compreender com
total clareza, que o sistema falhou. A ordem intramuros e os valores estão
completamente alterados. A guarda é quem devia cumprir papel reforçado no
presídio e não os presos. Os presos é quem deviam ter medo de haver
problemas no presídio e não os guardas. Quem devia entrar no sistema da
prisionização era os presos e não guardas, especialistas e direção. Os presos
é quem deve respeito e consideração e não os guardas se indisporem dessa
forma.
Quando é dito nessa monografia que o sistema falhou, é porque não há
ordem no sistema prisional. O que ocorre é que cada um, tenta dar uma
“mãozinha” ao outro, com a finalidade de não ser perturbado. Ora, não era
para acontecer isso. A direção deveria se impor, claro que não penalizando
ainda mais o preso, mas com o objetivo de haver ordem no sistema de uma
maneira que houvesse hierarquia e imparcialidade. A guarda deveria mostrar
porque esta ali e qual deveria ser o objetivo dela. Quanto aos presos, deveriam
eles saber que, o presídio não é uma colônia de férias e nem um lugar para se
fazer negócios, mas sim, um lugar onde eles deveriam se integrar dos valores
que a sociedade livre segue.
O objetivo de transformar criminosos em não criminosos ainda não
logrou êxito. Me perdoe, mas não ira lograr se não mudar. Sim, falhamos e
continuamos a falhar!
33
CAPÍTULO 3
O PROBLEMA NÃO É FALHAR, É PERSISTIR NO
ERRO!
O que se vê nesse sistema falho, é que contraventores adentram o sistema
e saem mais “tortos” do que entraram. Ou seja, o contraventor sai mais
revoltado e contaminado por outros presos, pior do que entrou.
Deveria haver prisões diferentes para cada caso – O contraventor que ainda
está respondendo uma ação criminal e deve ser mantido no cárcere com o
intuito de prever a ordem publica, deveria esperar a sentença transitar em
julgado numa prisão separada daqueles que já estão condenados. O
contraventor, que ainda aguarda a finalização do inquérito, deveria ser mantido
em uma prisão dentro da delegacia em que foi autuado. E aqueles que já estão
condenados, deveriam ir para uma prisão especial, própria para eles. Com o
intuito agora, de realmente ajudá-los a retornar a sociedade livre.
Assim, conseguiríamos manter a ordem no sistema prisional e na sociedade
livre, que passaria a respeitar o sistema imposto.
Conseguiríamos também, separar todos os contraventores e adotaríamos
melhores medidas de ensiná-los a voltarem para a sociedade.
34
3.1- DA RESSOCIALIZAÇÃO
Um dos grandes dilemas do sistema prisional hoje é saber se o preso
consegue ser renovado, ou melhor, ressocializado para retornar a vida normal
perante a sociedade.
A LEP prevê, que o preso quando vai para a prisão ele vai com o intuito
de ser ressocializado pelo sistema, adequando nele todos os valores da
sociedade livre. E assim, o contraventor não voltaria à infringir a lei
novamente.
A ressocialização torna-se uma utopia. Verifique que faltou educação ao
contraventor quando ele infringiu a lei e ao direito alheio. Ao desrespeitar o
direito alheio, o contraventor mostra que não sabe se socializar, e assim a
ressocialização tornar-se-á difícil.
O artigo 1º da LEP32, diz que a execução tem como função também de
reintegrar o apenado a sociedade, de forma progressiva. Tinha tudo para dar
certo, contudo não é o que se vê na pratica. Ninguém vê resultado e com isso,
observa-se mais uma falha do sistema prisional.
Cumpre ressaltar, que ninguém toma providências. Há pedidos de paz,
de controle de “guerra”, menos violência, mas ninguém pede mais educação e
mais integridade social no nosso país. O povo pede para a violência acabar e o
Estado impõe severas punições para aqueles que desobedecem à lei. Ou seja,
o Estado abandona quem mais precisa.
Quando o agente não tem onde ficar, é retirado da rua e jogado em um
abrigo com o intuito de não incomodar a sociedade. Porém, o Estado não
deveria só dar abrigo, deveria dar educação e conceder respeito. O Estado
deveria entender, que a partir daí começam a metade dos problemas, pois
esses agentes ficam revoltados com a maneira que são tratados. E para
chamarem a atenção, fazem o pior.
32 Artigo 1º da Lei de Execução Penal: A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.
35
Cumpre consignar, que a violência imposta pelo Poder Executivo fere os
direitos humanos, assim violando os direitos de Ir e Vir dos agentes. Com tudo
isso, a questão da ressocialização vai ficando distante.
Por que ao invés de jogar pessoas no abrigo, não ajudam a ser educados? Por
que ao invés de impor, não oferecem ajuda? Difícil é responder.
Quando um ex detento sai da prisão, ninguém quer empregá-lo. Quem
vai conceder emprego para quem já roubou ou matou? O Estado faz com que
a sociedade discrimine essas pessoas, não oferecendo condições mínimas
para a ressocialização e com isso o ex detento fica mais revoltado e se afasta
do convívio junto à sociedade.
Conforme uma publicação33 no site da globo.com, um detento fez prova
para o Enem e ingressou em uma faculdade, todavia ninguém podia saber que
ele era um apenado, cumprindo pena no semiaberto. Na reportagem o mesmo
questiona: “Todos falam em ressocialização, mas quem acredita que um preso
volte a ser cidadão? O jovem afirma que estar preso é como se estivesse
vegetando. Perde tempo, crescimento e documento. Por medo de preconceito,
o jovem prefere viver em silêncio. O jovem também disse na entrevista, que
todos os presidiários deveriam ter acesso aos estudos para poder aprender e
ser alguém, todavia essa informação pouco chega ao presídio.
Ora, mas não deveria chegar às informações? Estudos não fariam parte
do sistema de ressocialização? Realmente, não é o interesse do Estado. Falta
apenas, incentivo. Educação e ressocialização estão literalmente ligados, não
podendo os separar.
Algumas pessoas, tentam induzir a sociedade afirmando que certas
pessoas são incapazes de ser ressocializados, todavia, todo ser humano é
passivo de ser ressocializado.
Os legisladores adoram copiar as leis editadas no País Norte-
Americano, contudo, esquecem que a cultura do nosso país é bem diferente.
Outra questão importante que é valido comentar nesse tema é quando o
apenado é transferido de um presídio de segurança máxima para outro igual,
todavia em outro Estado. O que o Estado argumenta para transferi-lo, é que o
33 Anexo 1.
36
contraventor é perigoso para aquele convívio. Assim, o Estado discrimina
aquele réu e mais uma vez o condena fora a sentença que ele já recebeu. O
inimigo na verdade não é o criminoso que já esta fora da sociedade e sim, o
Estado, que impõe o que o melhor convém.
Apenar severamente um agente, não evita a reincidência, pelo contrário,
voltam a praticar outros crimes por pura revolta ou pelo descaso que foram
tratados.
O que observo quando leio textos e doutrina, chego à conclusão que
algumas leis foram criadas para atenderem o anseio político e que a questão
da ressocialização que é tanto falada, não existe!
3.2- DO DESEQUILIBRIO NO CARCERE
É sem duvidas, que o sistema carcerário se encontra desequilibrado.
Uma penitenciária ou um presídio que comporta 3.000 presos, hoje deve ter
em torno de 5.000 presos. São tratados de forma desumana, em um
alojamento que muita das vezes caberiam apenas 5 ou 7 camas
razoavelmente e por sorte se fossem camas do tipo beliche, entretanto, o que
acontece é que o mobiliário é retirado para caber em torno de 25 presos,
fazendo com que esses homens durmam em cima do piso de cimento do
alojamento ou no máximo é colocado um estrado para poderem dormir. O que
é revoltante, pois nem bicho é tratado desse jeito. Nem animal fica amontoado
em cima do outro, em cima de um piso frio, num cubículo.
O que seria razoável, é o Estado antes de pegar um preso e inseri-lo em
uma prisão, primeiramente verificasse se aquele cárcere pode recebê-lo de
forma humana, caso a prisão encontra-se lotada, o preso deve ser transferido
para outro tipo de prisão, não podendo ultrapassar o limite máximo de cada
cárcere para receber seus habitantes. Ressalto que isso seria razoável, todavia
não é o que o Estado faz.
O Estado simplesmente retira o preso de um xadrez (delegacia) e o coloca
em um presídio qualquer, sem interessar saber quantos presos já obtêm
aquela “casa”. Também não pensa se os guardas e especialistas irão dar
37
conta da quantidade de habitantes transitando naquele presídio e por fim, não
querem saber se a verba destinada para a alimentação daquele presídio é o
suficiente para alimentar o dobro de habitantes, já que a verba está destinada
para a metade, por muita das vezes.
3.3- DA REFORMA
A quem duvide na reforma do sistema penitenciário. A quem diga que
mesmo com a reforma, iremos continuar falhos. A quem acredite que podemos
mudar para melhor.
O ponto chave para uma reforma no sistema prisional brasileiro seria o de
provê-lo de capacidade para absorver a clientela de sua atribuição.
Primeiramente, a reforma deveria começar pela substância e não pela fachada
como Augusto Thompson34 afirma. Não adianta sofisticar o estabelecimento,
com sacrifícios e altas verbas, para tratar de uma grupo mínimo e deixando os
outros na miséria do sistema. O que atrai as campanhas e publicidades é o
que chama a atenção, ao invés do progresso, infelizmente.
Em segundo lugar, o Estado deveria mudar os sistemas. Criando
prisões diferentes para cada caso. Os presos que ainda aguardam a
condenação, deveriam esperar numa prisão de tipo “x”. Os presos primários e
os condenados de pena leve deveriam ficar numa prisão de tipo “y”. Os presos
reincidentes ou internos que já cometeram infração disciplinar deveriam ficar
numa prisão de tipo “z”. E os processados por crimes graves, deveriam ficar
em uma penitenciária de segurança máxima e assim evitaríamos que todos
fossem tratados de forma igual, quando deviam ser tratados de forma
imparcial.
Cabe ressaltar que se conseguíssemos criar grupos distintos de presos
e apenados, conseguiríamos separar os melhores dos piores e assim,
colocaríamos o sistema em prática.
Desde as primeiras prisões citadas, já podíamos perceber que o intuito
do Estado era fazer com que o preso sofresse e sentisse pelo ato que ele fez.
34 Ob. Cit. 2005, p. 105.
38
O Estado fala em ressocialização, mas não age para o preso se ressocializar.
Precisamos mudar imediatamente esse pensamento de agir sob política. O
país precisa se unir para haver mudanças na sociedade.
O condenado de hoje, amanhã pode ser um advogado, um juiz, um
médico ou talvez um homem de negócio. O Estado tem o dever de ajudar a
transformar esses homens e essas mulheres que hoje estão apenadas. Se
existe um sistema de condenação, deveria ter um sistema também de
recuperação. Isso, sabemos que demandará tempo e gerações, mas um dia
tem que haver o inicio.
A contratação de guardas e especialistas, não será suficiente, se o
projeto não for mudado. Se as prisões e penitenciárias continuarem com
excessos de presos, esses guardas e especialistas continuarão de mãos
atadas. O que deve haver é a criação de mais sistema prisional, separando as
classes de presos e ai sim, contratando mais guardas e especialistas
suficientes para atenderem a demanda do sistema.
O tráfico, não corresponde a cem por cento do sistema. Por isso, o
estado não tem o direito de implantar sistema altamente sofisticado para essa
classe. Ao invés de gastar a verba tornando os presídios de segurança máxima
em atração política, poderia vir a criar institutos para reformular pessoas que
consomem drogas. E assim, quando essas pessoas obtiverem as suas
liberdades de novo, não voltariam ao consumo, pois aprenderiam que além de
fazer mal a saúde, faz mal a sua própria liberdade de ir, vir e permanecer.
É com total clareza, que além de mudar as prisões e penitenciarias, o
legislador tem que alterar a lei. Vejamos o exemplo hipotético abaixo, mas que
não é muito diferente do que acontece na realidade:
Um homem comete um crime de homicídio qualificado e é
condenado mais de trinta anos de prisão. Sendo que o
homem cometeu o crime aos vinte e oito anos. Este
homem, só sairá da prisão, próximo aos seus sessenta
anos.
O mesmo homem acha que foi vitima de uma “cama de
gato” e tenta provar que não cometeu o crime. Recorre,
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mas não consegue responder em liberdade e é preso.
Com a sua revolta dentro do presídio, acaba cometendo
alguma infração. É colocado de castigo na solitária para
passar trinta dias, podendo ser prorrogado por mais trinta
dias. Ele sai da solitária e recebe a noticia pelo advogado
que na turma ele foi absolvido. Demora-se, mais um mês
para conseguir o alvará de soltura e a própria soltura.
No que, a justiça e a prisão transformou esse homem? Em um homem
revoltado, angustiado, ignorante e miserável, talvez, pois por mais falho que a
justiça foi, o sistema prisional não o preparou para voltar à sociedade. Agora
imagine outro fato hipotético, que geralmente ocorre:
Um homem pratica o assalto a mão armada. É
condenado há oito anos de prisão. No cotidiano da vida
intramuros, sofre bulling pelos outros grupos de presos,
diversas revistas pelos guardas e também sofre abuso
sexual por alguns presos. Nunca esteve na solitária, pois
sempre procurou ter um bom comportamento. Falava de
forma respeitosa quando se referia aos guardas. Passa
os anos e o contraventor é solto.
Analisando a vida cotidiana desse agente, será que o Estado o ajudou?
O contraventor foi retirado da sociedade, pois o Estado lhe aplicou uma sanção
(prisão) para o mesmo não voltar a infringir a norma e o durante, será que o
contraventor teve ajuda?
Percebe-se que não precisamos falar do passado, pois o contraventor
infringiu a norma e não há o que se falar disso. Todavia, muitos falam no
futuro, contudo o futuro é incerto. Não se vê ninguém falar do presente, do
cotidiano do preso. As pessoas falam do que o contraventor fez e questiona o
que ele vai fazer quando sair da prisão. Mas cabe ressaltar, que o mais
importante é o estado presente do preso.
40
A lei tem que ser aplicada de forma que o preso saiba que ele fez algo
errado e por isso ele esta recebendo essa sanção. Deve ser aplicada usando o
equilíbrio e a imparcialidade.
Entretanto, leis e penas cada vez mais severas são criadas. O
sensacionalismo toma conta do país, fazendo seres humanos sofrer.
Temos certeza que o crime não irá acabar, mas poderão vir a diminuir.
É Brasil, ou corrigimos nossos erros, ou iremos continuar o naufrágio.
Vamos errar sim, mas não persistir, nos mesmos erros. Errar para melhorar é
importante, mas errar e continuar no mesmo lugar, não leva a nada. E iremos
continuar a falhar!
CONCLUSÃO
No decorrer com a evolução do trabalho conclui-se, o que deverá
primeiramente ser alterado é o tratamento do principio da dignidade humana,
visto que os infratores são tratados pior que bichos e de maneira também
desrespeitosa. Modificando a forma de pensar, a sociedade de modo geral,
dará um passo importante. Em seguida, aí sim, podemos começar as
reformas, ou melhor, mudanças no sistema penitenciário.
O problema do sistema se arrasta ao longo de décadas, sendo que
nunca houve uma melhoria, o que o Estado sempre fez, foi “tapar o sol com a
peneira”.
Já foi destacado que a intenção da monografia não é defender o crime e
sim a dignidade da pessoa, até mesmo porque, muitos afirmam que “crime é
crime”. Me espanto quando leio isso, já que empresários de alta classe ou
políticos quando cometem alguma infração, além de apenas serem
denominados como “infrator”, são também considerados ter um desvio de
conduta e quando os famosos PPP´s (pobre, preto e puta) cometem infrações,
são considerados “vagabundos”. Se crime é crime, por quê as denominações
divergem de classe e raça? Ou simplesmente podemos responder: - É Brasil?
Acho que não. Devíamos ter vergonha do nosso sistema de leis que criam
conflitos na mesma esfera.
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Quando alguém diz que Fernandinho Beira Mar ou o Linho são
perigosos, eu fico em estado de choque. Afinal, deveríamos ter medo era do
Estado, já que quem é terrorista e perigoso é o próprio Estado. Eles, infratores,
são apenas o reflexo da decadência do sistema implantado. Cometem infração
sim, mas que providências o Estado age para precaver isso? Nenhuma. As
providências que o Estado diz providenciar, é divulgando informações no
veículo de comunicação e distorcendo os fatos com o intuito de inflamar o
pensamento da sociedade, para poder vir também a condenar aquele sujeito,
além da justiça. Contudo, não é falado para a sociedade que o desvio que
aquela pessoa tem, é simplesmente culpa do próprio Estado, que não cumpre
a Carta Magna, pois na Constituição Federal diz que: toda criança tem direito a
educação, tem direito a ter um tratamento de saúde de forma respeitosa, tem
direito a moradia, mas que o Estado não dá isso. A própria Constituição
Federal diz que as pessoas têm que ser tratadas com dignidade, mas não é o
que acontece. Haja vista, que esses infratores que estamos citando, um dos
problemas que os levam a serem infratores é o fato deles não terem nada na
vida.
O presente trabalho começou com a indagação de qual seria o intuito do
Estado perante o crime. E a mesma dúvida ainda persiste. Será que o
propósito do Estado é aniquilar as pessoas?
O estudo da questão penitenciaria é complexo, pois não envolve
somente os problemas dentro do cárcere, mas também os problemas políticos,
envolvendo o Poder Executivo e o Poder Legislativo.
A sanção sempre foi utilizada para manter organização na sociedade,
fazendo com que seus habitantes cumprissem as leis em rigor. Contudo, como
pudemos ver na evolução histórica, a pena sempre foi aplicada com caráter
vingativo, punitivo e de forma que fizesse o contraventor sofrer. Sendo que, a
pena deveria ser aplicada como caráter social.
O que não temos em comum com há época passada, é que nossos
infratores são punidos dentro de um estabelecimento fechado e não em praça
publica.
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Vale ressaltar também, que nossos infratores hoje, são tratados pior que
animais. Vivem em meio à sujeira, pois muito das vezes, não existe a higiene
básica dentro do cárcere. Dormem e convivem no piso frio, já que os
alojamentos, não possuem cama para não ocuparem espaço. A superlotação
no presídio transtorna e revolta quem habita o lugar.
Como tentar recuperar alguém se não há condições? Como ajudar uma
pessoa se não há suporte? O Estado é obrigado assegurar essas pessoas.
O Estado acusa os guardas e os especialistas de não conseguirem
organizar a cadeia, todavia, essa obrigação não é dos colaboradores e sim, do
próprio Estado. Não adianta contratar mais guardas e especialistas, pois os
problemas vão continuar. O Estado deve respeitar o número máximo de presos
que comportam cada presídio e não inserindo mais pessoas, pois ai sim, os
colaboradores não irão dar conta. Como um grupo de oito guardas, vai
organizar uma prisão com dois mil homens? Impossível! Deve-se criar prisões
de diversos tipos, como já foi falado, para conseguir separar a classe de
presos. O Estado tem que organizar o sistema carcerário.
O desafio de tornar o criminoso em não criminoso parece quase
impossível, devido às condições que hoje são adotadas no nosso sistema. É
de se duvidar, se o sistema realmente quer que o ex apenado seja
ressocializado para voltar a conviver na sociedade livre. Cumpre ressaltar, que
a ressocialização não irá acabar com o crime, mas irá conter, pois o índice de
reincidentes irá diminuir.
A prisão é imposta na sociedade como a resposta para quem comete
uma infração à lei. O Estado impõe como se fosse resolver o crime no país e
impõe para amedrontar a sociedade. Contudo, a prisão não é uma resposta
para o crime, visto que é cheio de falhas.
Acredito que somente a sociedade vai poder alterar esse quadro de
falências que temos, todavia, a sociedade deverá esquecer a vingança, a
punição como forma de fazer o contraventor sofrer e apreender a compreender
um pouco a situação em que vivemos. Se não estiver bom para um, não estará
apto para ninguém.
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A cadeia deve ser tratada como um anexo da sociedade e não como
algo que não pertence a esse mundo. Afinal, eles são cidadãos e pertencem a
sociedade, todavia sua identidade será suspensa enquanto perdurar sua vida
intramuros.
Devemos tentar construir um país melhor, caso contrário, ficará pior o
índice de criminalidade e será difícil conter essa explosão.
44
ANEXO 1
INTERNET
http://g1.globo.com/parana/noticia/2011/11/detento-aprovado-no-enem-diz-que-
ha-preconceito-no-meio-universitario.html
45
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
FOCAULT, Michel – Vigiar e Punir. Petrópolis. 38ª Ed. Petrópolis, RJ. Vozes.
2010.
JESUS, Damásio – Direito Penal – Parte Geral. São Paulo. Saraiva. 1999.
MORAES, Alexandre de – Constituição do Brasil interpretada e Legislação
Constitucional. São Paulo. Atlas. 2011.
NICOLITT, André – Manual de Processo Penal. Rio de Janeiro. Elsevier. 2009.
46
BIBLIOGRAFIA CITADA
FOCAULT, Michel – Vigiar e Punir. Petrópolis. 38ª Ed. Petrópolis, RJ. Vozes.
2010.
MORAES, Alexandre de – Constituição do Brasil interpretada e Legislação
Constitucional. São Paulo. Atlas. 2011.
ROIG, Rodrigo Duque Estrada – Direito e Prática Histórica da Execução Penal
no Brasil. Rio de Janeiro. Revan. 2005.
THOMPSON, Augusto – A Questão Penitenciária. 5ª ed. Rio de Janeiro.
Forense. 2002.
47
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
Aspectos Históricos do Sistema Carcerário 11
1.1 – A história do surgimento das prisões 12
1.2 – A famosa casa de correção da corte 15
1.3 – O surgimento da casa de detenção 17
1.4 – Do período republicano 16
1.4.1 – Do regulamento da casa de correção da capital
Federal 17
1.5 – Código penitenciário para o Brasil 17
1.6 – As primeiras falhas 20
CAPÍTULO II
O Sistema Penitenciário e suas Contradições 22
CAPÍTULO III
O Problema não é Falhar, é persistir no erro 33
3.1 – Da ressocialização 33
3.2 – Do desequilíbrio do cárcere 36
3.3 – Da reforma 36
CONCLUSÃO 40
ANEXO 1 43
48
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44
BIBLIOGRAFIA CITADA 45
ÍNDICE 46