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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA ANSIEDADE NO AMBIENTE ESCOLAR Por: Andreia Correa de Barros Orientadora Prof. Marta Pires Relvas Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA ANSIEDADE NO

AMBIENTE ESCOLAR

Por: Andreia Correa de Barros

Orientadora

Prof. Marta Pires Relvas

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA ANSIEDADE NO

AMBIENTE ESCOLAR

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Neurociência Pedagógica.

Por: Andreia Correa de Barros

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais pelo amor, confiança e

incentivo.

À minha irmã pelo companheirismo e

amizade infinita.

Aos amigos que conquistei ao longo

dos anos.

Aos meus professores e orientadores

por me direcionar e compartilhar

conhecimento, em especial a Profa.

Dra Ana Cristina Barros da Cunha.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a turma de

Neurociência Pedagógica e aos

professores do curso que proporcionaram

mais do que um aprendizado na área, me

fizeram refletir sobre o papel da Educação

no desenvolvimento das nossas crianças.

A todos que buscam mudar e melhorar a

Educação brasileira.

.

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RESUMO

Com a evolução dos conhecimentos sobre os efeitos fisiológicos

da ansiedade nas etapas do processamento da informação no cérebro, é

possível verificar o prejuízo causado pela ansiedade no rendimento escolar por

afetar hábitos de sono, provocar doenças somáticas e interferir em funções

cognitivas como percepção, atenção e memória. Tais efeitos afetam a saúde e

a autoestima do aluno perturbando seu cotidiano, tanto dentro ou fora da

escola, o que interfere no processo de apreensão, fixação e recordação do

conteúdo acadêmico. Compreender como a ansiedade afeta o processo de

aprendizagem possibilita aos membros da comunidade escolar elaborar formas

de diminuir o impacto da ansiedade na aprendizagem e modificar as práticas

pedagógicas de modo a promover o bem estar melhorando as condições de

ensino-aprendizagem.

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METODOLOGIA

A proposta do presente trabalho é verificar os efeitos da

ansiedade no processamento das funções mentais superiores realizando uma

reflexão acerca dos eventos que causam ansiedade em crianças no ambiente

escolar. O foco será a neurobiologia da ansiedade e como ela interfere no

funcionamento dos circuitos neurais necessários para mudanças neuronais

que caracterizam a aprendizagem.

A pesquisa será delimitada no estudo de alunos do ensino

fundamental que freqüentam regularmente classes regulares sem distinção

entre alunos com/sem problemas familiares ou de saúde que possam

influenciar no nível de ansiedade.

Para realizar este trabalho foi realizada inicialmente uma

pesquisa de livros científicos com o objetivo de estudar os efeitos da

ansiedade no processamento cognitivo de forma geral.

Posteriormente foi realizada pesquisa de artigos científicos em

portais brasileiros de divulgação destes materiais, tais como: Scielo, Google

Acadêmico e Portal Capes. Estes artigos deveriam discutir ansiedade e seus

efeitos no desempenho escolar.

Após leitura e análise deste material foram traçados os objetivos

desta monografia e sua divisão em capítulos.

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7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

08

CAPÍTULO I - Definindo ansiedade

11

CAPÍTULO II - Efeitos da ansiedade no processamento cognitivo

32

CAPÍTULO III - Detecção e manejo da ansiedade na escola

46

CONCLUSÃO

61

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

65

BIBLIOGRAFIA CITADA

66

ÍNDICE

71

FOLHA DE AVALIAÇÃO

73

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INTRODUÇÃO

Problemas emocionais podem prejudicar o funcionamento

cognitivo de crianças e adolescentes ocasionando falta de concentração e

dificuldade em memorizar ou evocar informações. A ansiedade provoca

emoções que deflagram reações fisiológicas, cognitivas e comportamentais. As

reações fisiológicas englobam taquicardia, palpitações, tremor, dor de cabeça,

etc; as cognitivas são hipervigilância, queda na concentração, pensamento

catastrófico, dentre outras; já as comportamentais envolvem inquietude,

isolamento e paralisação (Jarros, 2011; Friedberg e McClure, 2004).

Nos relacionamentos interpessoais a ansiedade serve como

alarme que motiva o comportamento adequado dentro de um grupo. Isto

porque a sobrevivência de um grupo dependia da colaboração de todos e que

suas ações não prejudicassem os demais. Aqueles que realizavam ações

prejudiciais ou desagradáveis para a maioria do grupo eram rechaçados e o

temor pela expulsão ou isolamento gerava ansiedade, obrigando-os a se

adaptar as regras sociais. No ambiente escolar pode-se considerar que a

necessidade em atender a regra de bom desempenho exigido pela sociedade

e fazer parte do grupo dos bons alunos pode gerar ansiedade frente a

avaliações de desempenho (Gazzaniga e Heatherton, 2005).

Jatobá e Bastos (2007) investigaram a presença de depressão e

ansiedade em adolescente de escolas públicas e privadas. Utilizando as

escalas Hamilton de ansiedade e depressão, verificaram que 80,2% dos

participantes apresentaram grau leve de ansiedade; 19,9% apresentaram

ansiedade moderada e severa, principalmente meninas. Também encontraram

que medo, comportamento ansioso, humor ansioso e tensão foram os itens

marcados com mais frequência e sintomas fisiológicos foram presentes em

aproximadamente 10% dos participantes. Os autores não investigaram as

causas dos sintomas observados, mas este estudo demonstra a grande

quantidade de alunos ansiosos no ambiente escolar.

“A socialização é a influência predominante sobre as emoções

morais” (Gazzaniga e Heatherton, 2005, p.320). O sentimento de culpa

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derivado do fracasso escolar advém das características da escola em relação

ao que significa ser bom aluno. Este problema deve ser tratado pela escola

para oferecer um espaço de acolhimento e a escola também deve trabalhar

para não ser mais um estímulo que cause ansiedade.

Na sociedade moderna as mudanças ocorrem rapidamente sem

que o homem consiga fazer significação do que tais mudanças representam

em sua vida. O ritmo para acompanhar os demais muitas vezes não consegue

ser alcançado proporcionando pressão e medo do fracasso. A competição

gerada por esse sistema causa insegurança e incerteza tornando o homem

ávido por tornar-se competente e infalível desde a infância (Lipp, 2001).

Uma das consequências do ritmo acelerado na sociedade

contemporânea é a ansiedade crônica experimentada desde a infância. A

maturação do sistema nervoso é apontada como fundamental no estudo da

aprendizagem, porém o processamento das informações no cérebro pode ser

prejudicado por um número de fatores, dentre eles a ansiedade. Assim, a

ansiedade é um dos problemas que leva a baixo rendimento escolar, pois afeta

a atenção, a memória, o desempenho motor e outras funções ainda não muito

esclarecidas na literatura.

A dificuldade em manter um bom rendimento escolar afeta a

autoestima do aluno provocando emoções de medo que irão por sua vez afetar

o processamento cognitivo e a saúde tornando o problema cíclico. “A maioria

dos problemas de saúde da sociedade ocidental pode ser atribuída a

comportamentos poucos saudáveis, muitos dos quais ocorrem quando as

pessoas estão estressadas” (Gazzaniga e Heatherton, 2005, p. 336).

Verifica-se a necessidade de estudar como a ansiedade está

relacionada com a aprendizagem. A maioria dos estudos define os efeitos

psicológicos do fracasso escolar além de descrever a fisiologia da ansiedade,

porém poucos definem como o cérebro é afetado e como ele processa a

experiência de ansiedade. Este trabalho tem como objetivo verificar como a

ansiedade prejudica o processamento da informação nas redes neurais

acarretando em disfunções cognitivas e baixo rendimento escolar.

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Desta forma, este trabalho foi dividido em três capítulos, sendo o

primeiro voltado para a definição de ansiedade e como é classificada. Este

capítulo apresenta, ainda, a discussão sobre o que pesquisas já conseguiram

descobrir sobre sua relação com fracasso escolar e a descrição da

neurobiologia da ansiedade e como ela altera o funcionamento cerebral ao

ativar de forma disfuncional o sistema nervoso autônomo.

O segundo capítulo relaciona o funcionamento do cérebro com o

processamento de informações descrevendo as principais disfunções

cognitivas relacionadas aos efeitos da ansiedade nas redes neurais. É

discutido como a capacidade de concentração e de consolidação de memórias

pode ser prejudicada e como a ansiedade ainda afeta o desempenho motor e

desregula o sono contribuindo ainda mais para o baixo rendimento escolar.

Já o terceiro capítulo finaliza com uma discussão de como a

escola pode ser agente causador de ansiedade e como ela mesma pode

elaborar estratégias o manejo da ansiedade infantil promovendo melhores

condições de ensino-aprendizagem.

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CAPÍTULO I

DEFININDO ANSIEDADE

“Será a ruína do espírito andarmos

ansiosos pelo futuro, desgraçados

antes da desgraça, sempre na angústia

de não saber se tudo o que nos dá

satisfação nos acompanhará até ao

último dia”.

Sêneca

Ansiedade, medos e preocupações são comuns na infância e o

mundo contemporâneo possui vários estressores, sendo o desempenho

acadêmico um deles. Crianças ansiosas esperam que o pior aconteça e julgam

não ter capacidade para enfrentar a situação deixando-as mais inibidas e

sensíveis a crítica negativa, o que cria uma espiral descendente no

desempenho escolar (Friedberg e McClure, 2004).

Em revisão de literatura Friedberg e McClure (2004) verificaram

que há mais meninas ansiosas do que meninos. Citam que uma hipótese é

que as meninas são socializadas para expressarem com mais frequência suas

emoções enquanto que os meninos são mais reprimidos. Outra questão muito

presente na infância é a preocupação com o corpo. Crianças ansiosas

frequentemente se queixam de dores ou sensações estranhas. Assim, é

comum verificar queixas somáticas no público infantil, sobretudo quando a

criança é ansiosa.

Dados de uma pesquisa americana indicam que mulheres têm

maior probabilidade de manifestar transtornos de ansiedade do que homens

(Kinrys e Wygant, 2005 citados por Vieira et. al., 2009). Resultados

preliminares apontam que uma das razões para mulheres serem mais

propensas a transtornos de ansiedade seria que o córtex anterior do giro do

cíngulo é maior e mais ativo em mulheres com alta resposta ao medo e com

altos escores de esquiva de dano do que homens com essas características.

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Fatores genéticos e hormônios sexuais femininos também influenciam na

diferença de gênero da ansiedade (Vieira et. al., 2009).

Estudos brasileiros sobre ansiedade, sobretudo sua ocorrência no

público infantil ainda são escassos, porém uma referência é o estudo

epidemiológico de Almeida Filho et. al. (1999). Os autores utilizaram critérios

do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 3ª edição (DSM-

III) para verificar presença de ansiedade em três cidades brasileiras: Brasília,

São Paulo e Porto Alegre. Verificaram que dentre os transtornos mentais, os

ansiosos eram mais frequentes em Brasília e São Paulo, porém ficavam em

terceiro lugar em Porto Alegre. Também apontou que 9 a 18% dos brasileiros

apresentam transtorno de ansiedade em algum momento da vida.

Estudos com a população mundial indicam que transtornos de

ansiedade, assim como no Brasil, são os transtornos mentais mais prevalentes

atingindo até 25% da população mundial (Vianna et al, 2009; Dalgalarrondo,

2000).

A versão mais recente do DSM, o DSM-IV-TR, aponta que os

transtornos de ansiedade na população infanto-juvenil ocupam o segundo

lugar dentre as doenças psiquiátricas mais comuns – ficam atrás do TDAH –

afetando até 10% de crianças e adolescentes.

O DMS-IV-TR também indica que na maioria das vezes a procura

por um profissional de saúde ocorre por iniciativa dos pais, que reconhecem o

problema com maior freqüência, provavelmente porque em casa crianças e

adolescentes tendem a realizar mais rituais para minimizar a ansiedade. Outra

característica muito presente nos transtornos de ansiedade é o declínio gradual

no rendimento escolar devido à dificuldade de manter a concentração.

A ansiedade é dividida em vários componentes que variam na

literatura, porém é possível identificar a recorrência dos seguintes fatores

componentes da ansiedade: psicológicos, comportamentais, cognitivos e

interpessoais. Pessoas ansiosas estão constantemente preocupadas, irritadas,

com medo e pânico. Tendem a evitar lugares e/ou situações que as deixam

ansiosas além de apresentarem compulsões como tiques, roer unha, chupar

dedo, dentre outros. O prejuízo cognitivo mais frequente é déficit de atenção.

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Acredita-se que há queda na capacidade de manter atenção

porque o sujeito monitora constantemente o ambiente a procura de estímulos

que julga perigosos e não foca a atenção em outros estímulos mais relevantes

– tal manifestação é conhecida como hipervigilância e tem grande influência no

rendimento escolar e nas interações sociais. Com frequência crianças ansiosas

são descritas como inquietas, distraídas e desatentas.

Resultados de pesquisas epidemiológicas tanto mundiais quanto

brasileiras apontam que a ansiedade já faz parte da vida contemporânea.

Como a velocidade das mudanças tecnológicas afeta diretamente o modo de

vida os homens tentam se adequar as mudanças na mesma velocidade, porém

o organismo humano não está equipado para isso, deixando as pessoas

sempre em estado de alerta e preocupadas com o que virá no futuro (Lipp,

2001). Desta forma o estilo de vida atual provoca ansiedade constante e seu

efeito no organismo traz prejuízos à saúde física e mental, à vida escolar ou

profissional e à interação social.

1. O que é ansiedade

1.1 Definição

Ansiedade é uma manifestação mental de desconforto

relacionado a antecipação de algum perigo. Trata-se de um estado de humor,

inquietação, sinal de alerta que prepara o organismo para lidar com algum

perigo potencial. É uma reação normal necessária que garante a sobrevivência

do organismo, porém pode se tornar patológica quando as reações

desencadeadas são desproporcionais a situação real ou quando as reações

são muito intensas e duradouras prejudicando atividades de vida diárias

(Landeira-Fernandez e Cheniaux, 2010; Dalgalarrondo, 2000).

São descritos diversos aspectos que constituem a ansiedade,

como: aspectos subjetivos ou psicológicos, aspectos cognitivos, aspectos

comportamentais e aspectos fisiológicos (vide tabela 1).

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Fatores da ansiedade Sintomas

Subjetivos/Psicológicos Sensação vaga, difusa e inespecífica de apreensão; tensão

antecipatória; ameaça ao bem estar.

Cognitivos Dimiunição da capacidade de concentração ocasionando

prejuízo na atenção e memória.

Comportamentais Atividade motora intensa; evitação.

Fisiológicos Dispnéia, taquicardia, vasoconstrição/dilatação, tensão

muscular, parestesias, tremores, sudorese, tontura, etc.

Tabela 1. Sintomas referentes a fatores da ansiedade

Os sintomas mais presentes em crianças são: choro, ataques de

raiva, dependência de um membro da família, imobilidade, inibição, diminuição

na comunicação chegando ao mutismo, recusa em participar de atividades

sociais. É necessário verificar se a criança é capaz de se relacionar

socialmente com seus pares e o tempo de manifestação dos sintomas.

Fatores ambientais e sociais podem contribuir para produção e manutenção

dos sintomas como: ameaça física ou psicológica, falta de segurança,

cuidados exagerados ou ausência deles, sistemas de punição e recompensa

inadequados (DSM-IV-TR).

1.2 Classificações

Com o avanço dos estudos sobre ansiedade e seus transtornos

foi observado que algumas pessoas apresentavam ansiedade somente por

alguns dias/horas como conseqüência de algum evento específico enquanto

outras pessoas apresentavam características ansiosas desde pequenos.

Uma das primeiras formas de compreender a ansiedade veio da

classificação de Catell (1966, citado por Bazi, 2000) em dois tipos: ansiedade

como estado ou como traço de personalidade. O primeiro tipo se refere à

atividade mais intensa de sintomas psicológicos e fisiológicos que ocorrem de

forma transitória e variam em intensidade e com o tempo. Já o segundo tipo

indica um padrão ao longo da vida na forma de responder a situações

ansiogênicas. Catell sugeriu que algumas pessoas estavam mais propensas a

reagir de forma mais intensa e mais vezes do que outras pessoas

caracterizando um tipo de personalidade ansiosa.

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O processo de reação no tipo ansiedade-estado se inicia no

julgamento de uma situação como ameaçadora que irá ativar as reações

fisiológicas dependendo do grau de ameaça por tanto tempo quanto indivíduo

considerar estar em estado de perigo. Após o período crítico o organismo

retorna ao seu funcionamento normal já que o fator psicológico indica que não

há mais necessidade de se preocupar (Bazi, 2000).

Já o processo do tipo ansiedade-traço é diferente porque

indivíduos com estas características tendem a perceber situações

ameaçadoras com mais freqüência e não se julgam capazes em lidar com as

mesmas. Apresentam grande preocupação com fracasso, baixa auto-estima,

são mais sensíveis a críticas negativas e tendem a evitar ambientes ou

situações ansiogênicas. (Bazi, 2000).

O desenvolvimento da ansiedade como traço de personalidade

está ligado à história de vida e é potencializado nas experiências cotidianas,

principalmente naquelas ocorridas na infância. Daí a importância de

proporcionar o máximo de estabilidade e conforto durante este período.

Crianças que vivem em locais estressantes ou possuem pais

ansiosos tendem a desenvolver estas características. Os primeiros contatos

com a escola podem iniciar ou intensificar traços de ansiedade já que este

processo é estressante devido à necessidade em mudar padrões

comportamentais. Situações que proporcionem avaliações negativas

relacionadas a própria capacidade em lidar com ameaças podem dificultar a

aprendizagem no inicio da escolarização.

1.3 Ansiedade X Estresse

Por terem sintomas parecidos, sobretudo em relação aos

fisiológicos, ansiedade e estresse muitas vezes são confundidos. Ambos são

de fato muito semelhantes já que são reações normais inerentes ao ser

humano que promovem sua sobrevivência. Entretanto, o estresse é a reação a

algo real e a ansiedade é a antecipação de uma situação potencialmente

perigosa (Lent, 2005).

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O estresse foi descrito em 1936 pelo fisiologista Hans Seyle e foi

classificado como uma “resposta geral e inespecífica do organismo a um

estressor ou a uma situação estressante.” (Margis et. al., 2003, p.65).

Atualmente a definição de estresse engloba um estado de tensão que

desequilibra o estado interno do organismo que pode ser causada por fatores

externos ou internos ao corpo.

Assim como na ansiedade o estresse também apresenta fatores

fisiológicos, psicológicos e cognitivos além de sua duração depender de como

o indivíduo julga a gravidade da situação e seus recursos para lidar com ela.

Esta resposta é adaptativa até certo nível, pois quando o sujeito

atinge o limite de capacidade para lidar com a situação, seus esquemas

entram em colapso sendo as reações fisiológicas as mais intensas e que são a

maior causa de doenças (Margis et. al., 2003; Lemes et. al., 2003).

O enfrentamento da situação estressora também é influenciado

pela genética e por modelos aprendidos na infância dependendo da

capacidade de seleção de componentes cognitivos, comportamentais e

fisiológicos mais adequados para cada situação. A reativação freqüente do

sistema fisiológico precipita o esgotamento da capacidade de seleção do

indivíduo o que propicia o desenvolvimento de transtornos mentais.

A relação entre estresse e ansiedade ainda é pouco explorada,

porém o estudo de Margis et. al. (2003) indicou que eventos de vida

estressores podem ser preditivos ao desenvolvimento de transtornos de

ansiedade. Assinalam também que os sintomas de ansiedade estão presentes

anos antes do desenvolvimento de algum transtorno. Desta forma, quanto mais

fatores estressantes forem presentes maior a probabilidade de o sujeito ser

ansioso.

A maioria dos estudos sobre ansiedade tem como participantes

pessoas já adultas, mas quando eventos estressores ocorrem com frequência

nos estágios iniciais do desenvolvimento esta pessoa tem maior probabilidade

de apresentar problemas emocionais e de comportamento. Estudos sugerem

que os vínculos afetivos formados na escola afetam diretamente a qualidade

de aprendizagem (Margis et. al., 2003).

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Pessoas ansiosas tendem a se estressar com facilidade porque

julgam o mundo como um lugar ameaçador e recheado de riscos além de

apresentarem poucas estratégias de solução de problemas e baixa autoestima.

Logo, assumem que irão enfrentar com muita freqüência situações de risco e

não terão capacidade para vencer os desafios, o que leva o organismo a um

estado de alerta constante prejudicando o funcionamento adequado do corpo.

Mudanças exigem adaptações do organismo e isto causa

estresse. Diariamente as pessoas tendem a se estressar porque mesmo

quando há uma rotina diária alguma coisa pode sofrer mudança inesperada

(Lipp, 2001). Para diminuir a carga de estresse é necessário organizar o

ambiente e manter um padrão na rotina, no entanto, apontando para a questão

escolar algumas experiências podem ser estressantes quando o aluno não

pode prever as mudanças ou quando não lhe é fornecida oportunidade em

lidar com seu fracasso (caso este ocorra). Podemos concluir que atividades

escolares que apresentam constantes mudanças são estressoras e facilitam o

aparecimento da ansiedade.

2. Ansiedade e fracasso escolar

2.1 Histórico do fracasso escolar

Desde que o fracasso escolar começou a ser estudado diferentes

formas de interpretar suas causas foram investigadas. Basicamente as

pesquisas foram e ainda são divididas em duas vertentes: uma aponta que o

fracasso ocorre devido a problemas internos do aluno como atraso no

desenvolvimento, deficiência intelectual ou comprometimento psicológico; a

outra atribui o fracasso a fatores externos ao aluno como condições sociais e

privação cultural (Bazi, 2000).

Nos anos 70 fatores culturais e psicológicos começaram a ser o

foco das pesquisas. No final desta década começou a investigação sobre o

papel da escola no processo de aprendizagem, porém a didática e dinâmica

interna da instituição não foram exploradas. Mesmo com tais mudanças a

capacidade individual do aluno tanto em aspectos biológicos, culturais, sociais

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ou psicológicos ainda predominaram por muito tempo e o papel da escola

como agente estressor não foi explorado (Lemes et. al., 2003; Bazi, 2000).

Nos anos 80 a capacidade cognitiva e a pobreza passaram a

justificar a não aprendizagem. Já a década de 90 foi marcada pela

medicalização escolar e esta ganha força até hoje por ter sucesso em controlar

o comportamento de alunos além de tranquilizar a escola e a sociedade.

O problema do fracasso e do baixo rendimento escolar, portanto

é de longa data e explicado por muitos como um fenômeno decorrente de

problemas internos do aluno seja na esfera da saúde, socioeconômica ou

familiar. O papel da escola já foi investigado, mas não é muito aprofundado

principalmente em relação a como a escola interpreta que ela pode

(des)estimular o desejo de aprender (Bazi, 2000).

2.2 Novos rumos das pesquisas

Autores que utilizam o modelo de processamento da informação

indicam que o fenômeno de aprendizagem é complexo e multideterminado e

não depende somente da capacidade intelectual do aluno. A aprendizagem

vem sendo mais relacionada ao estado emocional experimentado pelos alunos

nas escolas dando ênfase a interpretação que o aluno faz dos eventos

acadêmicos (Bazi, 2000; Costa e Boruchovitch, 2004).

Segundo Costa e Boruchovitch (2004) a ansiedade no contexto

escolar é pesquisada pela Psicologia Cognitiva com o objetivo de delinear

estratégias de aprendizagem mais adequadas além da promoção de satisfação

e bem estar dos alunos. Verificam-se papel importante da motivação,

estratégias de controle da ansiedade e situações de sucesso ou fracasso

escolar no desempenho dos alunos.

Crianças com histórico de fracasso escolar aprendem a duvidar

de sua capacidade e não tem mais interesse nas atividades o que contribui

para menos esforço e confiança em si no futuro. O fracasso tem grande peso

na vida social e os alunos enfrentam esta expectativa sem muito apoio da

escola ou da família para superar suas dificuldades. Este estado de constante

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tensão pode provocar ansiedade e sentimentos negativos dificultando a

motivação para o estudo.

A tendência atual das pesquisas sobre fracasso escolar é

relacionar aspectos emocionais e aprendizagem englobando aspectos da

Psicologia Cognitiva de como o aluno interpreta o mundo, assim como

procuram compreender como autoestima, auto regulação, motivação e

afetividade na escola podem promover a aprendizagem (Rosário et. al. 2005;

Costa e Boruchovitch, 2004). Mesmo com poucos estudos sobre o papel da

afetividade e das emoções no processo de aprendizagem Yaegashi (1997

citada por Bazi, 2000) apontou que crianças com problemas de aprendizagem

apresentaram função intelectual bloqueada. A autora concluiu que o fracasso

escolar não é exclusivo a problemas no aluno ou de sua família, mas que pode

ser atribuído também ao educador e finaliza afirmando que o rendimento

escolar é influenciado pelo estado emocional do aluno principalmente no início

do processo de escolarização.

Enquanto pesquisadores e os educadores apresentarem uma

visão de a solução para o problema da não aprendizagem estar somente no

aluno, o fracasso escolar não terá resposta, como ilustram Almeida et. al.

(1995 citado por Bazi, 2000, p.5) “o fracasso do aluno traduz também um

fracasso da escola e do sistema social como um todo”. Experiências no campo

das neurociências vêm apontando para como as emoções motivam ações e

objetivos (Gazzaniga, Ivry e Mangun, 2006).

É importante aprofundar o conhecimento de como o suporte

psicológico pode auxiliar alunos com problemas de aprendizagem e ainda

como as emoções afetam a motivação dos alunos.

2.3 O papel das emoções

O estado de apreensão presente na adolescência é considerado

na teoria psicanalítica como algo normal, porém nem todas as pessoas

apresentam o mesmo grau de ansiedade. A ansiedade, segundo Freud (1976),

confunde o sistema intelectual e quando ocorre de forma intensa paralisa as

ações. A função da ansiedade seria proteger o individuo de ameaças externas,

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seria uma reação ao medo e a dor, sobretudo quando o ego não está

preparado para lidar com as ameaças.

O cognitivismo enfatizou o papel do julgamento que o próprio

indivíduo faz de ter capacidade para lidar com as ameaças. A ansiedade seria

gerada pela antecipação de que algo ruim está para acontecer, portanto seria

uma avaliação simbólica da relação entre pessoa e ambiente (Bazi, 2000).

Atualmente a ciência cognitiva aponta que as emoções refletem

uma tríade constituída por: avaliação subjetiva (sentimentos), processos

fisiológicos (mudanças no corpo) e crenças cognitivas (pensamentos). A

capacidade em lidar com as demandas do ambiente é influenciada pelas

emoções e geram estresse; o estresse está mais relacionado aos padrões

comportamentais e fisiológicos (Gazzaniga e Heatherton, 2005).

A qualidade dos processos emocionais para a vida cotidiana

influencia a capacidade de manejar o estresse originado nas demandas do

ambiente. A função da emoção é preparar e orientar comportamentos

motivados. Muitas emoções envolvem a dinâmica das relações interpessoais,

logo processos cognitivos como tomada de decisões, memória e

comportamentos são orientados por avaliações instantâneas de situações

socialmente construídas. As neurociências vêm expandindo a compreensão da

relação entre sentimentos, corpo e pensamento.

2.3.1 Como o cérebro processa as emoções

Estudos sobre desenvolvimento infantil ressaltam o papel das

emoções nos estágios iniciais da vida e como através da interação social as

estruturas cerebrais se reorganizam. O desenvolvimento do cérebro é

programado geneticamente e organizado em estágios hierárquicos que serão

ativados dependendo do ambiente pós-natal, ou seja, o bebê nasce com uma

grande quantidade de conexões entre as células cerebrais (sinapses) que

serão ativadas conforme a interação do bebê com os estímulos externos. As

conexões que não forem usadas enfraquecerão (Ferreira, 2006).

As emoções podem ser referidas como interação de alterações

fisiológicas e avaliações cognitivas (se as reações ao evento são desejáveis ou

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não). Há uma antiga discussão sobre a relação entre cognição e emoção.

Inicialmente acreditava-se que a emoção ocorria primeiro e era independente

dos processos cognitivos. Esta teoria foi combatida com o argumento de que o

tipo de emoção gerada dependia do julgamento que o indivíduo fazia da

situação. Atualmente sabe-se a emoção possui conexões distintas as

cognitivas, mas que interagem e são influenciadas por sistemas cerebrais que

gerenciam diversos processos cognitivos (Gazzaniga, Ivry e Mangun, 2006).

Dentre esses processos a memória tem papel importante na

aprendizagem, pois é a ponte entre emoção e cognição. O estudo do

processamento cerebral das emoções é complexo, pois as estruturas

envolvidas também ativam outras atividades cerebrais.

Acreditava-se que as emoções eram processadas por um sistema

fechado e independente composto por uma rede de estruturas cerebrais mais

primitivas. Nos estudos atuais o conceito de um sistema único de

processamento emocional - o sistema límbico - foi modificado devido a

dificuldade em especificar o papel de cada estrutura e de confirmar suas

funções na emoção (Gazzaniga, Ivry e Mangun, 2006).

Estruturas básicas do sistema límbico vêm sendo mais

relacionadas a outras funções mentais como, por exemplo, o hipocampo, que

parece ser mais relacionado à memória. Estudos atuais sobre emoção

envolvem aspectos mais específicos uma vez que diferentes redes são

ativadas dependendo da situação emocional. Entretanto, duas regiões que se

mostram centrais no processamento da emoção são amígdala e córtex

orbitofrontal.

2.3.1.1 Sistema Límbico

A primeira tentativa de compreender como as emoções são

processadas no cérebro humano foi proposta por James Papez por volta de

1930. Ele delineou um circuito envolvendo estruturas subcorticais que seriam

responsáveis pela emoção (figura 1). Este circuito ficou conhecido mais tarde

como Circuito de Papez (Gazzaniga, Ivry e Mangun, 2006).

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As informações emocionais chegariam ao hipocampo e suas

fibras levariam a informação para os corpos mamilares e deste para o núcleo

anterior do tálamo através do feixe mamilo-talâmico. Após as informações

percorrem o giro do cíngulo (este recebe informações tanto do núcleo anterior

do tálamo quanto das áreas somatossensoriais e pré-frontais, no entanto,

Papez não atribuiu partes corticais ao processamento emocional) chegando ao

córtex entorrinal, que é o principal sistema de fibras que levam informação ao

hipocampo fechando o circuito (Lazaros, 2008).

Vale ressaltar que muitas dessas estruturas estão ligadas a

memória apesar de na época Papez desconhecer a função exata das

estruturas que classificou como límbicas. Apesar de apresentarem outras

funções essas estruturas eram ativadas em situações com cunho emocional

significante. As estruturas do circtuito de Papez fazem parte do cérebro mais

primitivo e na época não se havia descoberto o envolvimento de áreas

cerebrais envolvidas com o raciocínio lógico havendo uma separação entre

emoção e razão.

Figura 1. Estruturas cerebrais do Circuito de Papez.

Fonte: http://pt-br.infomedica.wikia.com

Por volta de 1950, Paul MacLean expandiu a rede cerebral

responsável por emoções adicionando algumas estruturas a proposta de

Papez, acrescentando amígdala, porções dos núcleos da base e o córtex pré-

frontal. A nova configuração da rede cerebral de processamento das emoções

ficou conhecida como Sistema Límbico (figura 2). O grande salto no conceito

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de MacLean foi a inclusão do córtex pré-frontal indicando que as emoções

apresentam comunicação com a área cerebral mais racional e

comportamental.

A expressão “sistema límbico” originalmente era usada para

representar o centro das emoções. Com o avanço das pesquisas foram

verificados outros circuitos envolvidos no processamento das emoções além

das estruturas anatômicas já conhecidas. Portanto o conceito de sistema

límbico vem sendo abandonado, pois há dificuldade em definir quais estruturas

ou conexões são exclusivamente emocionais. A grande contribuição de

MacLean foi iniciar a idéia de que existe uma parte do cérebro especializada

em detectar e processar as emoções, um cérebro emocional. Ainda, duas

regiões que ele acrescentou ao sistema límbico são atualmente o foco das

pesquisas sobre emoção: amígdala e córtex orbitofrontal.

Figura 2. Sistema límbico de acordo com P.MacClean

Retirado de Gazzaniga, Ivry e Mangun. Neurociência Cognitiva, 2006, p.563.

2.3.1.2 Amígdala

Esta estrutura está localizada ao lado do hipocampo e é o centro

de resposta ao medo que modula o armazenamento e a intensidade das

memórias. Atualmente a capacidade de memorizar algo é muito relacionada a

aprendizagem. Estudos sobre o papel da amígdala e memória demonstram

como pode ocorrer aprendizado sem a participação de sistemas de

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processamento mental superior (pensamento, raciocínio e consciência) isso

porque a amígdala tem duas vias de processamento de informações (ver figura

3).

A primeira via é mais rápida e viaja do tálamo diretamente para a

amígdala que processa imediatamente a informação e prepara o organismo

para responder. A segunda via também é iniciada no tálamo, porém passa pelo

córtex sensorial que irá interpretar com mais precisão a informação, após o

reconhecimento dos estímulos é que a informação chega a amígdala

(Gazzaniga, Ivry e Mangun, 2006; LeDoux, 2001).

A resposta fisiológica envolve a ativação do sistema nervoso

autônomo que irá preparar o corpo para a reação conhecida como luta ou fuga.

Eventos que geram uma carga emocional alta têm mais probabilidade de

serem relembrados devido a liberação de hormônios que atuam também na

regulação da amígdala. O sistema capaz de reduzir a liberação contínua de

hormônios do estresse envolve o córtex pré-frontal e o hipocampo (LeDoux,

2001).

Figura 3. Vias do estímulo emocional para amígdala.

Fonte: LeDoux, Joseph. O Cérebro Emocional, 2001, p.150

Por ter conexões com o tálamo, córtex e hipocampo a amígdala

torna-se importante na compreensão a aprendizagem emocional. Mesmo que

a via mais rápida seja processada de forma inconsciente a amígdala se

comunica com o processamento mais detalhado através do córtex e esta via

pode ser fundamental para a relação entre emoção e cognição.

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2.3.1.3 Córtex Orbitofrontal

Trata-se de uma região localizada no córtex pré-frontal cujo papel

ainda não foi completamente definido, porém é ativada na tomada de

decisões, principalmente em situações sociais. Várias decisões são feitas

todos os dias de acordo com a tarefa a ser realizada. Para perceber novas

informações é necessário saber interpretar sinais emocionais internos,

externos e sociais além de ser flexível em relação ao comportamento.

Lesões no córtex orbitofrontal ocasionam dificuldade para

controle das emoções, mudanças na personalidade, falta de preocupação com

o futuro e irresponsabilidade. As porções lateral e medial, conhecidas como

córtex orbitofrontal lateral e córtex pré-frontal ventromedial, respectivamente

(ver figura 4), estão envolvidas na mudança de padrão comportamental como

resposta aos estímulos ambientais fazendo uma conexão entre cognição e

emoção provavelmente porque conexões diretas com a amígdala (LeDoux,

2001).

Figura 4. (a) córtex orbitofrontal. (b) divisões do córtex orbitofrontal, a parte verde corresponde

a porção lateral e a vermelha corresponde a porção ventromedial. Fonte: Gazzaniga, Ivry e Mangun. Neurociência Cognitiva, 2006, p.564.

O córtex orbitofrontal “está envolvido na avaliação do valor

potencial de recompensa das situações e dos objetos” (Gazzaniga e

Heatherton, 2005, p.331). Não se sabe exatamente como esta região cerebral

controla as tomas de decisão, porém como está envolvido com análises sobre

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o meio social influencia o funcionamento de aspectos emocionais importantes

como prazer, recompensa, punição, etc, direcionando quais comportamentos

seriam mais adequados a cada tipo de situação.

2.3.2 Emoção e aprendizagem

No campo da psicologia do desenvolvimento o estudo da

aprendizagem foi muito influenciado por teorias da filosofia que separaram a

emoções de processos racionais. Desta forma, a emoção era vista como algo

a ser controlado para que o sujeito pudesse melhor expressar seu lado

intelectual.

Entretanto, alguns autores ressaltaram a importância dos

aspectos afetivos no desenvolvimento intelectual. Vygostky, Piaget e Wallon

compreenderam que as emoções fazem parte do funcionamento humano e

promovem as ações tornando-se fundamentais na motivação para

aprendizagem. Antonio Damásio (1996) utilizou-se da visão dos três autores

supracitados correlacionados as idéias a achados da neurociência.

Damásio defende que razão e emoção não são processos

completamente distintos e que, apesar de serem geradas por redes neurais

distintas, há muitas interseções entre emoção e razão tornando a emoção um

impulso para ações racionais. A utilidade de sua teoria para a aprendizagem

vem da hipótese de que as emoções iniciam o processo de aprendizagem.

Damásio demonstrou que pessoas com lesão na parte cerebral responsável

pelas emoções apresentam dificuldade de aprendizagem.

Emoções influenciam o estado do humor e segundo Bazi (2000),

pessoas com bom humor tendem a ser mais persistentes, decidir mais rápida e

eficazmente além de apresentarem soluções mais criativas aos desafios

diários. Verifica-se, portanto a importância de investigar como as emoções

influenciam os processos de aprendizagem.

Na literatura há descrição de diversos tipos de aprendizagem:

emocional, consciente, motora, dentre outras. Um exemplo utilizado para

explicar como emoções afetam a aprendizagem é o condicionamento.

Condicionamento consiste em associação de dois estímulos sendo um deles

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emocionalmente significativo (aversivo ou prazeroso) e outro sem significado.

Após ocorrer a associação entre eles é possível obter resposta ao apresentar

somente o estímulo que não tinha significado. Por exemplo, um rato é

colocado em uma caixa com fundo eletrificado que irá lhe dar um choque

(estímulo aversivo) toda vez que uma luz na frente da caixa acender.

Inicialmente a luz não causava reações no rato, mas após o condicionamento

com o choque o rato passa a reagir (alterações fisiológicas) quando a luz

acende, antecipando o choque, mesmo quando o choque não ocorre

(Gazzaniga e Heatherton, 2005; LeDoux, 2001).

Neste tipo de condicionamento (aversivo) a amígdala tem papel

fundamental uma vez que processa estímulos gerados pelo medo. Esta

estrutura é responsável pelo aprendizado emocional e possui forte conexão

com o hipocampo podendo fazer relações rápidas de informações

potencialmente aversivas com conteúdos armazenados na memória (LeDoux,

2001).

A amígdala ainda modularia a força emocional da memória

mesmo sendo memória implícita (aquelas que não conseguimos explicar com

palavras) ou explícita (memórias que conseguimos descrever verbalmente).

Um estudo de Oschner (2000 citado por Gazzaniga e Heatherton, 2005)

apontou que pessoas lembram com mais clareza de fotografias com maior

impacto negativo. Isto indica que a excitação aumentada potencializa a

capacidade de memorização e de recaptação de lembranças.

Os eventos emocionais têm maior probabilidade de serem

relembrados porque são liberados hormônios que interagem com as amígdalas

e facilitam o processo de memória. Durante estes eventos a amígdala está

mais ativa e relaciona a situação atual com elementos armazenados na

memória de longo prazo para aquele tipo de evento. Esta estrutura também

atua no processo de reconhecimento do significado de expressões faciais,

principalmente as de medo, atuando também na percepção de estímulos

sociais através da sua conexão com o córtex pré-frontal. As emoções

influenciam na memória dependendo do impacto emocional gerado e ocorre

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tanto em aprendizados que ocorreram de fato com a pessoa ou em situações

que ela ouviu falar ou que ela viu ocorrer com outra pessoa.

Discutindo o papel das emoções na vida escolar pode-se verificar

o impacto das experiências julgadas como desagradáveis no bloqueio

emocional para aprender. Ambientes com grande exigência sem oferecimento

de oportunidade para o erro podem causar medo e ansiedade além de

deflagrar reações no cérebro que bloqueiem os canais de processamento da

informação. O aluno em constante tensão pode redirecionar a atenção para

outros elementos vivenciados que tem mais a ver com a experiência

desagradável do que com o objeto da aprendizagem. As funções atribuídas ao

córtex orbitofrontal, como a recompensa, poderiam ser estimuladas no

ambiente escolar com o objetivo de potencializar a aprendizagem, porém esse

tipo de abordagem somente é possível quando a escola compreende que tipo

de emoções seus alunos vivenciam na escola.

3. Fisiologia da ansiedade

As emoções são uma função da interconexão do cérebro com o

resto do corpo. Originam-se no cérebro, mas são potencializadas pelos

hormônios que prolongam a ativação dos sistemas cerebrais responsáveis pelo

controle das reações corporais como batimentos cardíacos, respiração, etc. A

ansiedade provoca emoções como raiva, angústia e medo ativando os

sintomas fisiológicos que englobam o sistema nervoso autônomo, endócrino e

imunitário. Quando há uma emoção ocorre ativação fisiológica e na ansiedade

há ativação prolongada das reações fisiológicas já que as emoções são

prolongadas (Bazi, 2000; Lent, 2005).

Estruturas cerebrais envolvidas no processamento da emoção

também recebem estímulos do tronco cerebral que regula o sistema nervoso

autônomo (SNA). O SNA é dividido em simpático e parassimpático (vide figura

5) e regula as atividades vegetativas, como: respiração, vigília, sono, tônus

muscular, etc. e ainda, atua sobre o sistema endócrino, que libera hormônios.

Ao ocorrer ativação dessas áreas em situações emocionalmente fortes e/ou

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repetitivas toda a rede fica em estado de alerta e desencadeia respostas ao

longo de todo o sistema interligado, que engloba não só a atividade emocional

como, também, o controle do estado vegetativo (Guyton e Hall, 2002).

Figura 5. Funções do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático.

Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso4.asp

A ativação desse sistema tem uma estrutura central, que é o

hipotálamo. Ele dá o alerta às glândulas adrenais, que ficam sobre os rins. As

adrenais liberam no sangue dois hormônios que acentuam e prolongam as

reações fisiológicas do sistema nervoso: adrenalina e noradrenalina. A

adrenalina é que será responsável pelas reações corporais de luta e fuga e

mobiliza o corpo para liberar glicose das reservas de energia. Durante o

processo de luta e fuga o cérebro libera analgésicos naturais, as endorfinas,

para que dores não sejam registradas.

Por estimulação da amígdala e devido ao aumento na corrente

sanguínea dos hormônios adrenalina e noradrenalina o hipotálamo é ativado.

O hipotálamo é a ponte entre sistema endócrino e nervoso controlando as

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funções vegetativas (sono, fome, temperatura, dentre outras) e tem ligações

com o sistema límbico o que o torna importante nas reações emocionais. Esta

estrutura secreta diversos hormônios e um deles libera outro hormônio

chamado adrenocorticotrófico (ACTH) que é responsável pela continuidade da

secreção de hormônios adrenais a adrenalina e noradrenalina (Lent, 2005).

Hormônios da glândula adrenal são responsáveis pela produção

de glicocorticóides (cortisol, coticosterona e hidrocortisona) que ficam

armazenados no fígado com o objetivo de fornecer mais energia ao corpo. Os

glicocorticóides provocam a queda da defesa do organismo contra infecções, o

que pode explicar a úlcera e o aumento da probabilidade de viroses em

pessoas com estresse crônico uma vez que o ciclo se repete tão quanto o

organismo é ativado pela situação causadora da ansiedade, seja ela real ou

imaginária. A liberação crônica dos glicocorticóides está na base das doenças

respiratórias e cardiovasculares em pessoas ansiosas (Lent, 2005; Guyton e

Hall, 2002).

As estruturas envolvidas na ativação dos sintomas fisiológicos da

ansiedade também participação em funções mentais importantes a

aprendizagem como a memória. A memória é um dos aspectos mais

importantes de defesa do organismo já que para perceber alguma coisa como

ameaçadora é necessário lembrar se os estímulos já foram processados

anteriormente, quais foram as emoções e sensações experimentadas no

contato anterior e se o organismo deseja evitar tal experiência. Esse processo

não começa em áreas corticais, mas no sistema límbico (Lent, 2005; LeDoux,

2001).

Duas estruturas são importantes tanto na emoção quanto na

memória são inseparáveis na reação ao estresse são o hipocampo e amígdala.

Assim, verifica-se a conexão da ansiedade com prejuízos cognitivos. Situações

que geram ansiedade podem provocar, de forma aguda ou crônica, dificuldade

em manter a atenção, problemas em evocar memórias além de doenças

gastrintestinais. Os efeitos do desequilíbrio do funcionamento emocional

decorrido de situações estressantes refletem no bom funcionamento geral do

cérebro e prejudicam as funções mentais superiores. Até o momento as

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funções mais básicas como atenção e memória são as que mais geram

estudos sobre o impacto do estresse agudo e o crônico, assim como a

ansiedade, na atividade mental e serão objeto do segundo capítulo deste

trabalho.

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CAPÍTULO II

EFEITOS DA ANSIEDADE NO PROCESSAMENTO

COGNITIVO

“O futuro é construção da nossa mente. Portanto, O que existe é o presente

O resto é criação humana”

Gabriel Garib

Pessoas submetidas a ansiedade crônica apresentam problemas

de saúde. Nem todos foram traçados definitivamente, porém experimentos

apontam para problemas no sono, dificuldade em manter a atenção e

concentração, prejuízo na memória, depressão e doenças somáticas – devido

a excitação prolongada do sistema nervoso autônomo. Crianças com

diagnóstico de transtorno de ansiedade apresentam desempenho inferior em

tarefas de atenção e memória verbal. Problemas de saúde verificados em

pessoas ansiosas podem afastar o aluno da escola além de prejudicar o

aprendizado de conteúdos escolares (Gazzaniga e Heatherton, 2005; Jarros,

2011).

Segundo Bandura (1997 citado por Andrade et. al., 2004) o

aprendizado depende de quatro fatores: atenção, retenção, produção e

motivação. Este autor ressaltou a importância das crenças subjetivas sobre a

própria capacidade da pessoa na resolução de problemas e como a noção de

competência influencia na atenção dada aos estímulos o que irá determinar o

tipo de resposta, o esforço aplicado na tarefa além de persistência para

concluir e atingir objetivos. Ao perceber que não tem competência para realizar

determinada tarefa o aluno reduz seu estado de atenção devido ao aumento

de ansiedade, o que prejudica ainda mais a aprendizagem.

Cada vez mais as pesquisas envolvendo problemas na

aprendizagem indicam que o processamento das funções mentais é o ponto

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chave para compreensão do baixo rendimento escolar. A Psicologia Cognitiva

indica que os comportamentos somente são expressos quando ocorre a

maturação nervosa do mecanismo cerebral responsável por ele. As funções

mentais dependem do desenvolvimento das conexões neurais e seguem uma

divisão feita por Luria na qual o cérebro é dividido em unidades funcionais que

processam diferentes tipos de informações (Andrade et. al., 2004; Gonçalves,

2003).

O processo de aprendizagem depende de como o cérebro

desenvolve suas conexões dentro das unidades funcionais através da

interação com o meio ambiente. As mudanças ocorridas no sistema nervoso

central permitem o aparecimento de comportamentos mais complexos e mais

adaptados, assim a aprendizagem de novos conceitos depende da integridade

dos sentidos e das redes neurais. As funções cognitivas são comparadas ao

modelo computacional em que o processamento da informação é dividido em

fases de entrada (input), representação, processamento e saída (output), estas

funções seriam os programas (software) que rodam em uma máquina

(hardware), o cérebro.

1. Teoria do Processamento das Informações

É feita uma analogia entre mente humana e o computador, sendo

o cérebro o centro de processamento de informações vindas do ambiente.

Para cada tipo de informação ambiental haveria uma rede neural específica

para processá-lo. A capacidade de processamento aumenta de acordo com o

desenvolvimento da criança e da interação de fatores externos com os

internos. As redes neurais também interagem com outras redes formando o

processamento de um tipo de informação complexo que envolve a atenção,

percepção e resgate na memória do significado, correlação dos estímulos e

busca de informações necessárias para a decisão da resposta (Costa e

Boruchovitch, 2004).

Crianças podem ter dificuldade no processamento da informação

quando há problemas em alguma das fases de processamento, como ocorre

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em casos de déficit de atenção e ansiedade. A ansiedade prejudica o resgate

da informação devido a super ativação do sistema límbico, que é fundamental

para o bom funcionamento da memória (Andrade et. al., 2004).

A fase de entrada da informação envolve sistemas funcionais

relacionados a percepção, atenção e sentidos. Cada informação sensorial é

interpretada em regiões cerebrais específicas para aquele estímulo como, por

exemplo, a visão no lobo occipital e a audição no lobo temporal. Nesta fase de

interpretação cada tipo de estímulo é subdividido e depois reintegrado já com

sua significação para posteriormente ser associado com os demais estímulos.

Na fase de saída da informação é necessário integrar a informação final com

informações armazenadas na memória e planejar a melhor forma de resposta

(Gonçalves, 2003). Para cada fase de processamento o cérebro é dividido em

áreas funcionais como mostra a figura 6.

Figura 6. Fases do processamento de informação.

Fonte: Fonseca, Vitor. Cognição, Neuropsicologia e aprendizagem, 2009, p.155

1.1 Unidades funcionais de Luria

De acordo com Luria (1981 citado por Gonçalves, 2003) o cérebro

é dividido em sistemas funcionais que integram áreas cerebrais e produzem

comportamentos que são reflexos do processo cognitivo. A visão de Luria

sobre aprendizagem indica que ela decorre da conexão neural formada entre

neurônios localizados em diferentes áreas cerebrais, portanto é uma interação

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dos sistemas funcionais. Para cada função cognitiva – linguagem, por exemplo

– há uma interação entre diferentes áreas cerebrais, porém suas ligações

constituem um sistema funcional específico. Os sistemas são fluidos podendo

ser reorganizados refletindo a potencialidade de modificações funcionais no

cérebro. Este conceito ilustra a possibilidade em estimular e modificar funções

cognitivas deficitárias promovendo plasticidade cerebral (Fonseca, 2009).

Os sistemas funcionais são complexos e formados de acordo

com a interação com o meio sendo dividido em três unidades funcionais. A

primeira unidade é responsável pela atenção e estado de alerta; a segunda

unidade, pela recepção, integração, codificação e processamento sensorial; já

a terceira, é responsável pelo planejamento, execução motora e avaliação do

resultado (Fonseca, 2009).

A primeira unidade funcional (figura 7) é formada por estruturas

subcorticais envolvidas no sistema reticular ascendente e descendente que

regulam o sono e vigília, funções vegetativas, tônus muscular e reação

emocional. Esta unidade seria a porta de comunicação do cérebro com o

mundo e do cérebro com o corpo. Atualmente os estudos sobre o transtorno do

déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) têm investigado como disfunções

nesta área prejudicam a regulação da atenção, e, como não consegue captar

com precisão os estímulos ambientais, a criança não é capaz de responder de

forma adequada configurando a hiperatividade e impulsividade (Fonseca,

2009; Gonçalves, 2003).

Figura 7. Primeira unidade funcional de Luria.

Fonte: Fonseca, Vitor. Cognição, Neuropsicologia e aprendizagem, 2009, p.48

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A segunda unidade funcional (figura 8) é a maior e mais

complexa, pois envolve três dos quatro lobos cerebrais – occipital, temporal e

parietal – sendo responsável pela interpretação dos estímulos. Essa unidade é

dividida em áreas primárias, secundárias e terciárias. Ocorre um

processamento em sequência das informações sendo a recepção inicial dos

estímulos sensoriais feita pelas áreas primárias, a análise e comparação da

informação com outras já armazenadas na memória é feita pela área

secundária com o objetivo de identificar o que é e para que serve a

informação. As áreas terciárias são responsáveis pela síntese das informações

(Fonseca, 2009; Gonçalves, 2003).

Nas habilidades de leitura e escrita é necessário que esta

unidade esteja bem integrada uma vez que ela coordena e hierarquiza as

trocas de informações entre diferentes regiões cerebrais e entre os dois

hemisférios. A compreensão da gramática, rotações espaciais, análise lógica,

dentre outras são funções das áreas terciárias que irão finalizar a identificação

das informações.

Figura 8. Segunda unidade funcional de Luria.

Fonte: Fonseca, Vitor. Cognição, Neuropsicologia e aprendizagem, 2009, p.52

Já a terceira unidade funcional (figura 9) está envolvida com a

parte de expressão de comportamentos e para isso é necessário realizar

análise de objetivos, planejamento de movimentos e monitorar a execução dos

mesmos realizando correções quando necessário. Esta unidade é composta

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pelo lobo frontal do cérebro e controla os movimentos voluntários, o que

envolve tanto a praxia quanto a execução linguística, configurando um centro

de controle do corpo e suas atividades. Portanto, o controle da atenção,

planejamento, pensamento, decisões, controle emocional, criatividade e

funções específicas da espécie humana ocorrem devido à terceira unidade

funcional (Fonseca, 2009).

Figura 9. Terceira unidade funcional de Luria. Fonte: Fonseca, Vitor. Cognição, Neuropsicologia e aprendizagem, 2009, p.56

1.2 Maturação cerebral e aprendizagem

A maturação cerebral é o reflexo das transformações bioquímicas

e neurofisiológicas que ocorrem em função do tempo. O desenvolvimento

neurológico é o produto destas transformações que engloba o crescimento e

multiplicação das células nervosas, conexões entre elas e mielinização dos

axônios. O desenvolvimento das estruturas cerebrais depende da qualidade

das experiências sensoriais e social além de outros fatores como alimentação

e oportunidades de aprendizagem (Fonseca, 2009; Gonçalves, 2003).

Os estágios de maturação são caracterizados com a finalização

da mielinização do sistema. No sistema nervoso central os axônios são

mielinizados, o que permite uma condução mais eficiente da informação e as

redes neurais estabelecidas são consolidadas quando é finalizada a

mielinização daquele sistema. Mielinização consiste em uma membrana que

envolve os axônios e aumenta a velocidade de condução do impulso nervoso

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entre os neurônios. À medida que a mielinização vai acontecendo a criança vai

controlando cada vez mais seu próprio corpo e movimentos, completando-se

na adolescência.

Alguns períodos de desenvolvimento são considerados críticos

para a aprendizagem por conta da mielinização, logo a privação de estímulos

importantes pode levar a disfunções permanentes já que será mais difícil

consolidar novas redes após os axônios estarem com bainha de mielina. Os

períodos críticos se referem a estágios do desenvolvimento em que ocorre

migração celular, mielinização, aumento no número de conexões, multiplicação

de células da glia ou formação de estruturas, ou seja, neste período uma

determinada região está finalizando sua formação essencial e distúrbios neste

período causam problemas graves.

O sistema nervoso é fluido, porém ele depende de uma formação

básica que é realizada até o período crítico. Após este período reorganizações

mais profundas são muito difíceis de ocorrer, portanto caso não haja

estimulação adequada, as sinapses não funcionais podem ser perdidas,

prejudicando o desenvolvimento adequado. A maturação cerebral permite ao

sistema nervoso manifestar as funções mais complexas devido à interação

entre as unidades funcionais. Supondo que um cérebro esteja em maturação

de forma adequada, fatores externos podem prejudicar o processamento da

informação, dentre eles a ansiedade (Miranda e Muzkat, 2004).

2. Efeitos da ansiedade nas funções cognitivas

Dividir o cérebro em sistemas funcionais permite compreender

como as funções mentais são formadas no ser humano. Os sistemas são

organizados em zonas ou áreas funcionais que interagem entre si de forma

que cada uma exerça um papel diferente. A ansiedade tem relação direta com

o funcionamento do sistema límbico e este está ligado a memória.

Como foi descrito no capítulo um o ser humano tende a

armazenar na memória eventos emocionalmente relevantes e este

armazenamento envolve as conexões do sistema límbico com córtex pré-

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frontal que irá influenciar no planejamento e programação comportamental, ou

seja, na aprendizagem do significado daqueles estímulos. Ao se confrontar

novamente com tais estímulos o córtex pré-frontal direciona a atenção para o

que é importante baseado no significado das experiências anteriores (Andrade

et. al., 2004).

Um transtorno na organização funcional do sistema nervoso

central pode causar problemas na aprendizagem visto que a informação não

será processada de forma eficaz. A ansiedade desregula o processamento da

informação ao acrescentar mais informações ao sistema e este excesso

prejudica o funcionamento do córtex frontal, logo quando uma pessoa está

ansiosa há dificuldade em lembrar algum fato. Terelak (1990 citado por

Andrade et. al., 2004) estudou a relação entre ansiedade e desempenho em

atividades motoras. Verificou que o tipo de ansiedade influencia na

competência motora, sendo que pessoas com ansiedade-traço tendem a

executar a tarefa motora com mais eficiência do que pessoas com ansiedade-

estado. Este fenômeno é visível no ambiente escolar quando os alunos

enfrentam as provas ou testes. Assim, a ansiedade específica para aquele

momento prejudica a coordenação entre visão e coordenação motora.

O sono parece estar envolvido na consolidação de informações

adquiridas no período de vigília. Crianças com ansiedade apresentam

dificuldade para dormir e podem ter a consolidação das informações afetada.

O sono de onda lenta e o sono REM atuam na aprendizagem; segundo

pesquisas (Stickgold e cols, 2000 citados por Gazzaniga e Heatherton, 2005)

as mudanças necessárias nas redes neuronais ocorrem durante o sono; e

após dormir a consolidação é mais eficiente. Alunos em período de prova

apresentam mais sono REM, que é quando realizam mais consolidação de

conteúdo mnemônico. A mudança do padrão de sono ao longo da vida

demonstra a influência do sono, mais especificamente do sono REM, no

desenvolvimento de circuitos cerebrais para aprendizagem; visto que bebês e

crianças na primeira infância – período de grandes aprendizagens – dormem

mais horas e tem mais sono tipo REM.

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Apesar de os fatores externos a escola que prejudicam o

desempenho escolar terem sido muito estudados ainda são escassos dados

sobre como condições médicas afetam a aprendizagem como privação de

sono, doenças respiratórias, desnutrição, etc (Araujo, 2002). A ansiedade

causa prejuízos médicos como cefaléia e doenças gastrintestinais uma vez que

envolve ativação prolongada de estruturas límbicas como amígdala e

hipocampo que também estão envolvidas com o funcionamento fisiológico do

organismo através do hipotálamo, prejudicando o direcionamento da atenção e

memorização adequada dos conteúdos escolares (Asbahr, 2004).

A interação entre as informações que entram de forma constante

no sistema nervoso proporciona a aprendizagem, sendo esta um processo

contínuo que depende de uma rotina de hábitos de vida diária saudáveis para

configurar bom funcionamento das funções cognitivas. Tal processo depende

basicamente da atenção e memória, pois é necessário saber quais estímulos

devem ser objeto da concentração e conjugá-los com outras informações já

adquiridas.

2.1 Efeitos da ansiedade na atenção

Atenção é definida como a capacidade de se concentrar numa

tarefa, selecionando estímulos relevantes ao mesmo tempo em que descarta

estímulos irrelevantes. Pode ser classificada como vigília ou atenção

sustentada, atenção dividida ou atenção seletiva. Anatomicamente a atenção

envolve estruturas subcorticais e porções do córtex frontal devido a ativação do

sistema reticular ativador que é responsável pela regulação da vigília

conectando estruturas do sistema límbico e o córtex (Guardiola, 2006; Jarros,

2011).

Estudos sobre desempenho na execução de tarefas mostram que

a ansiedade prejudica o desempenho porque aumenta a distração uma vez

que a atenção que deveria ser direcionada a tarefa passa a ser dividida com

outros estímulos detectados como perigosos. Da mesma forma, pessoas

ansiosas teriam dificuldade de deixar de prestar atenção aos estímulos do

ambiente, pois estariam sempre a espera que algo ruim aconteça e este

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comportamento impede a concentração além de sobrecarregar o cérebro com

mais informações (Bazi, 2000).

Algumas pesquisas indicam que pessoas ansiosas possuem

sistema atencional hipersensível e assim que detectam estímulos

ameaçadores seu organismo prioriza tais informações que são processadas

por sistemas automáticos de entrada de informações. Neste circuito a

amígdala ativa o sistema nervoso autônomo causando os sintomas fisiológicos

da ansiedade antes de o hipocampo relacionar os novos estímulos com

informações já armazenadas. Assim, a ansiedade inibe o processamento

detalhado do estímulo e impede a concentração adequada para atribuir

significado a experiência.

O efeito da ansiedade na atenção é descrito como um ciclo

vicioso uma vez que a pessoa ansiosa tende a prestar mais atenção em vários

estímulos para detectar com mais rapidez as ameaças, o que provoca queda

na concentração. As sensações experimentadas na ansiedade alimentam a

sensação de perigo e de desconforto levando a pessoa a continuar a procura

por estímulos ameaçadores no ambiente. A diferença no funcionamento neural

entre pessoas ansiosas e não ansiosas é a capacidade em deslocar o foco da

atenção (Montagnero et. al., 2008).

2.2. Efeitos da ansiedade na memória

A memória talvez seja a função mais importante para o homem.

Ela garante sua sobrevivência porque indica o que já ocorreu com aquela

pessoa e compara informações novas com antigas. Os sentidos captam

informações externas e ativam neurônios de forma sistemática devido a

passagem do impulso nervoso que estabelece a conexão entre redes e

permite a reorganização das memórias ao agregar novas informações (Relvas,

2009).

Essa combinação entre informações novas e antigas é iniciada

por uma estrutura cerebral conhecida como hipocampo que serve como filtro

de dados ao armazenar informações pouco relevantes por um tempo e enviar

informações mais importantes para o córtex que finaliza a combinação das

informações tornando-se fundamental na consolidação das memórias. As

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áreas corticais por sua vez são regidas pelo córtex pré-frontal que é o

executivo central do cérebro identificando e planejando o que fazer com as

informações recebidas além de programar respostas mais adequadas e

armazenar novas memórias (Relvas, 2009).

O córtex pré-frontal tem papel importante na seleção de quais

informações armazenadas serão apropriadas para solucionar algum problema.

Pessoas com lesão nessa área apresentam dificuldade em selecionar qual a

melhor alternativa para alguma questão já que esta região controla as

informações necessárias para codificar (hemisfério esquerdo) e recuperar

(hemisfério direito) memórias que já haviam sido consolidadas (Guardiola,

2006). Além disso, o córtex pré-frontal regula a inibição do sistema de reação

ao medo que afeta a consolidação da memória realizada pelo hipocampo.

A memória é compreendida em dois níveis. O primeiro engloba a

definição geral de memória que pode ser dividida em fases sequenciais:

aquisição/codificação, armazenamento/consolidação e recuperação/evocação;

e o segundo implica que diferentes tipos de informações geram diferentes tipos

de memória sendo que um estímulo visual forma uma memória visual, uma

informação emocional forma uma memória emocional e assim em diante.

Desta forma, diferentes redes neurais estariam envolvidas no processamento

da memória gerando uma classificação de acordo com o sistema envolvido –

um deles depende do tempo de duração, ou seja, memória ultra rápida, de

curta duração e de longa duração; e o outro, do conteúdo: declarativa, não

declarativa, de procedimento ou operacional – sendo atribuídas a diferentes

estruturas cerebrais de acordo com a classificação da memória como, por

exemplo, o hipocampo realiza a consolidação de memória declarativa

enquanto que o sistema límbico – mais precisamente a amígdala – armazena

memórias emocionais não declarativas e o cerebelo é responsável pela

memória não declarativa de procedimentos (Izquierdo, 2002; Guardiola, 2006).

No caso de informações emocionais a amígdala, que está

localizada ao lado do hipocampo, detecta e modula a intensidade do

processamento emocional sendo o centro de resposta ao medo. Os sistemas

de processamento do medo são foco dos estudos do impacto da ansiedade na

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memória. A resposta fisiológica indicada pela amígdala envolve a ativação do

sistema nervoso autônomo que irá preparar o corpo para a reação conhecida

como luta ou fuga. Eventos que geram uma carga emocional alta têm mais

probabilidade de serem relembrados devido a liberação de hormônios que

atuam também na regulação da amígdala (figura 10). Estudos comprovam que

um nível adequado de ansiedade é necessário para que se possa alcançar

desempenho máximo em tarefas, no entanto, níveis elevados de ansiedade

prejudicam a capacidade de adquirir e consolidar memórias, principalmente em

evocar memórias de longo prazo (Guardiola, 2006).

Estudos sobre o papel da amígdala e memória demonstram como

pode ocorrer aprendizado sem a participação de sistemas de processamento

mental superior, ou seja, sem que haja consciência de que o sujeito está

aprendendo; logo algumas aprendizagens não são decodificadas através da

linguagem, mas são expressas por meio de reações emocionais ou atos

motores. Haveria ainda diferença de gênero na ativação da amígdala em que

as mulheres apresentam maior capacidade em armazenar memórias

emocionais devido à ativação diferencial na amígdala esquerda para as

mulheres e na amígdala direita para os homens (LeDoux, 2001).

Um efeito importante da memória na aprendizagem é a

capacidade de consolidar o que foi aprendido. Este processo é realizado pelo

hipocampo que recebe os componentes da informação e tem ligações com

diversas áreas corticais responsáveis pelo armazenamento da memória. Os

hormônios liberados na ansiedade atuam no hipocampo chegando a causar

atrofia nesta estrutura quando presentes por um longo tempo e causam

prejuízos na consolidação da memória assim como na comunicação do

hipocampo com áreas corticais que armazenariam a memória ou atuariam no

processo de evocação (Guardiola, 2006).

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Figura 10. Atuação da amígdala na memória.

Fonte: Lent, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios, 2005, p.614

Um tipo específico de memória tem sido relacionado diretamente

com a capacidade de aprendizagem, a memória operacional. Ela realiza um

arquivamento temporário de informações enquanto outra tarefa é realizada

simultaneamente, logo o sujeito poderia escutar e escrever ao mesmo tempo

alternando a atenção para o significado do que escutar e para o que está

escrevendo (Jarros, 2011).

A evocação das informações memorizadas também influencia na

capacidade de aprendizagem e é prejudicada na ansiedade devido ao

aumento de entrada de informações provocando um bloqueio no

processamento. A retroalimentação do sistema de inibição das reações de

ansiedade fica afetada uma vez que o córtex pré-frontal e hipocampo não

funcionam normalmente devido a atuação do neurotransmissor GABA (ácido

gama-aminobutirico), principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso

central, que é um dos principais moduladores da memória e é estimulado pela

amígdala na ansiedade. O efeito desta cadeia de reações é a diminuição da

capacidade de selecionar informações importantes mediado pelo córtex pré-

frontal e prejuízo na consolidação de memórias, realizada pelo hipocampo

(Lent, 2005; Izquierdo, 2002).

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3. Memória no ambiente escolar

Atualmente a capacidade de memorizar algo é muito relacionada

a aprendizagem. Do ponto de vista neurobiológico a aprendizagem é a

mudança ocorrida após a integração da nova informação (adquirida através da

atenção) ao sistema já consolidado. Já a memória é a fixação da

aprendizagem, ocorre em três fases – aquisição, consolidação e evocação – e

regula quando e como a informação aprendida deve ser usada afetando

diretamente o desempenho em tarefas (Guardiola, 2006; Izquierdo, 2002).

Ansiedade é gerada por emoções de medo e é influencia por

outras emoções relacionadas ao julgamento de a pessoa ser capaz ou não de

enfrentar seu medo. Os mecanismos fisiológicos ativados na ansiedade

também fazem parte da regulação vegetativa do corpo que controla o sistema

imunológico e endócrino que ficam disfuncionais na ansiedade crônica. Uma

das estruturas comum a esses sistemas e que também atua na reação a

ansiedade é o hipocampo, que participa na consolidação da memória

declarativa, ou seja, de memória que são conscientemente adquiridas e que

podem ser traduzidas por palavras.

Este tipo de memória é o mais valorizado na escola uma vez que

o método para verificar desempenho escolar são as provas e estas nada mais

são do que perguntas sobre conteúdos científicos que devem ser memorizados

por um longo tempo. Os efeitos da ansiedade na memória são mais

impactantes em pessoas com ansiedade traço, quando as tarefas são difíceis

e quando já houve fracasso na sua execução. Em contrapartida a ansiedade

não prejudica a aprendizagem quando a tarefa é simples e quando a pessoa

confia em suas habilidades para solucionar o problema (Bazi, 2000).

Portanto deve-se pensar nos métodos de avaliação de

desempenho para alunos considerando que as provas mais simples e que

sugestões dos professores de modo a ajudar os alunos em suas fraquezas

diminuem o impacto negativo da ansiedade no processamento das

informações no sistema nervoso central.

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CAPÍTULO III

DETECÇÃO E MANEJO DA ANSIEDADE NA ESCOLA

"Não basta acumular dados. É preciso articular, deduzir uma coisa de outra.

O conhecimento é um entrelaçamento de significados." Nilson José Machado

Ansiedade representa um estado de tensão ou apreensão sobre

um evento futuro que não é necessariamente ruim. Esse estado deflagra

emoções positivas ou negativas de acordo com o julgamento do sujeito, sendo

que há uma tendência a repetir o prazer experimentado por emoções positivas

ou evitar o desprazer causado por emoções negativas. Como exemplo de

emoções positivas pode-se citar a alegria e amor e para as negativas, medo e

ansiedade – que são descritos atualmente como níveis diferentes da mesma

emoção (Venâncio et. al., 2008).

Com relação a ansiedade na infância acreditava-se que ela era

sempre passageira configurando uma emoção benigna, porém estudos atuais

indicam que a ansiedade experimentada na infância pode ser indicativa de

sofrimento uma vez que prejudica a realização das atividades diárias,

sobretudo quando a ansiedade é frequente e a criança não tem como expor

suas preocupações (Asbahr, 2004).

Não há muitos estudos sobre a prevalência do transtorno de

ansiedade em crianças e adolescentes brasileiros, porém sabe-se que aqueles

que desenvolvem o transtorno já apresentavam sinais de ansiedade anos

antes do diagnóstico. Cabe, então, àqueles que convivem com a criança

observar a gravidade das reações a estímulos negativos uma vez que a

detecção precoce de ansiedade pode diminuir a probabilidade de

desenvolvimento de transtorno na vida adulta.

Na infância as experiências de vida têm forte influência na

personalidade e crianças que convivem com medo podem gerar traços de

personalidade ansiosa que podem ser potencializados ao enfrentar as

mudanças ocorridas com a entrada na escola. Viver em ambientes com altos

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índices de violência também favorece o desenvolvimento de transtorno de

ansiedade, logo escolas em zonas urbanas devem estar atentas a mais este

fator estressor (Asbahr, 2004; Caíres e Shinohara, 2010).

São verificadas, ainda, constantes visitas ao pediatra que

envolvem queixas somáticas como dor de cabeça, bruxismo, diarréia,

problemas gastrintestinais, dentre outras (Friedberg e McClure, 2004). Os

educadores devem ficar atentos a manifestações de ansiedade em seus

alunos já que as mudanças ocorridas no desenvolvimento infantil geram

ansiedade.

Dentre as mudanças ocorridas na infância a escolarização é

marcadamente um evento de vida estressor devido a modificação da rotina da

criança. Quanto mais fatores estressantes presentes maior a probabilidade de

o sujeito ser ansioso, logo a escola também deve se preocupar com este

fenômeno considerando que se os problemas de aprendizagem somente

ocorrem no ambiente escolar o problema não é do aluno e sim da escola

(Margis et. al., 2003).

1. Detectando sinais de ansiedade

Segundo o DSM-IV-TR as pessoas ansiosas estão sempre

irritadas, preocupadas e com medo. Elas procuram evitar lugares ou situações

que as deixam ansiosas, principalmente situações em que serão avaliadas por

outras pessoas. Na ansiedade o sujeito tende a esperar que o pior aconteça e

que ele não tenha capacidade para lidar com a situação criando um ciclo no

qual a pessoa, ao evitar tais situações, também não desenvolve sua

capacidade para lidar com elas ficando mais sensível e vulnerável, o que o faz

evitar ainda mais a situação, iniciando o ciclo novamente (Friedberg e McClure,

2004).

A ansiedade reflete como o desenvolvimento emocional permite o

enfrentamento de medos e preocupações. Em crianças, o enfrentamento do

medo pode ser mais complicado porque elas não reconhecem suas

preocupações como irracionais e exageradas (Asbahr, 2004). A aprendizagem

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vem sendo mais relacionada ao estado emocional experimentado pelos alunos

nas escolas dando ênfase a interpretação que o aluno faz dos eventos

acadêmicos (Bazi, 2000; Costa e Boruchovitch, 2004).

O medo gerado pela escolarização engloba a experimentação de

situações que não ocorriam no ambiente familiar. As regras para convivência

no ambiente escolar são diferentes das de casa e, neste momento, as crianças

passam a conviver com um número de pessoas muito maior do que estavam

acostumadas. Tais mudanças podem causar ansiedade no início da

escolarização, porém após alguns anos na escola a ansiedade também é

observada devido a importância atribuída ao bom desempenho em provas

(Oliveira e Sisto, 2002).

Alguns fatores são precursores de ansiedade em alunos (vide

tabela 2), o que aponta para a importância de investigar como as emoções

estão envolvidas na aprendizagem. Um autor que defende a conexão entre

emoção e aprendizagem é Antonio Damásio cujas pesquisas sobre as redes

neurais das emoções indicam que a emoção impulsiona ações racionais, logo

um aluno deve sentir prazer para se motivar a aprender (Costa e Boruchovitch,

2004).

Situação Consequência

Feedback negativo do professor Queda na atenção e concentração do aluno.

Déficit de memória Com o avanço da idade aumenta o medo do fracasso.

Clima competitivo e hostil Queda nas habilidades sociais do aluno; medo.

Método de avaliação impróprio Queda na autoestima; medo.

Tempo curto para provas Aumento da preocupação, falta de concentração.

Estratégias de estudo ineficazes Insegurança.

Tabela 2. Fatores geradores de ansiedade na escola (baseado em Costa e Burochovitch, 2004)

Quando a escola compreende que tipo de emoções seus alunos

vivenciam na escola ela pode elaborar medidas de intervenção e verificar como

as emoções propiciadas pela escola podem inibir o desejo de aprender para

reverter este quadro. Entender o papel do cérebro na ansiedade possibilita

elaborar as estratégias de estimulação com mais cuidado. Circuitos que

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processam o medo e as emoções explicam como a ansiedade prejudica a

consolidação e a evocação de memórias assim como situações emocionais

fortes influenciam memória e atenção (Andrade et. al., 2004).

1.1 Medo e aprendizagem

Os circuitos de ativação do medo são os mais estudados para a

compreensão da ansiedade. Estímulos causadores de medo são transitórios e

necessários a sobrevivência sendo detectados pela amígdala, porém alguns

estímulos tornam-se recorrentes seja porque continuam presentes na vida do

individuo ou porque o impacto daquela situação foi tão forte que o sujeito cria

uma expectativa em relação ao estímulo em eventos futuros (Venâncio et al,

2008; LeDoux, 2001).

Viver em estado de apreensão é uma característica do homem

contemporâneo que deve procurar o sucesso profissional a todo custo. Por sua

vez é feita uma relação entre adquirir conhecimento na escola e sucesso

profissional, logo o desempenho dos alunos durante os anos escolares

determinaria quem teria os melhores empregos na vida adulta. A importância

dada à aprendizagem e a escolarização decorrem dos conceitos e valores

formulados pela sociedade na qual o sujeito está inserido e direcionam as

interpretações que os alunos constroem sobre o mundo (Caíres e Shinohara,

2010; Rosário e Soares, 2003)

As metas educacionais passam a depender do tipo de sistema

econômico, que nos últimos 20 anos, visa a preparar os alunos para o

mercado de trabalho ensinando mais de um idioma e informática aumentando

a quantidade de conteúdos a serem aprendidos. Assim, a ansiedade

experimentada no homem do século XXI tem mais influência do

desenvolvimento psicológico do que do biológico (Duarte e Hübner, 1999).

Pode-se relacionar a evitação de situações ansiogênicas com o

desenvolvimento de fobias a estímulos ou situações de aprendizagem já que a

teoria sugere que os medos que deflagram fobias específicas são adquiridos

por experiências traumáticas pessoais ou pela observação de reações de

medo em outros. Situações frequentes que provoquem medo no aluno podem

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desencadear um processo de condicionamento naquele aluno que apresenta

constantes notas abaixo do esperado, alunos que passam por situações

humilhantes ou até mesmo quando o ambiente é desestimulante (Gazzaniga e

Heatherton, 2005).

A associação de sensação e estímulos – condicionamento – é a

base de um tipo de aprendizagem cuja extinção ou controle é difícil. O

condicionamento é uma associação entre dois estímulos sendo um deles,

inicialmente, gerador de emoções e o outro, neutro. Porém após o

condicionamento o estímulo neutro passa a ativar emoções similares a do

gerador de emoções. Na escola situações que eram neutras como responder

uma questão em voz alta, por exemplo, podem se tornar ansiogênicas caso

ocorra associada a estimulação negativa como humilhação ou deboche, que

são estímulos socialmente aprendidos. Se o aluno errar a questão ou sentir-se

humilhado pelo professor ou pelos colegas, a probabilidade de o aluno querer

evitar responder novamente em voz alta aumenta. Este condicionamento pode

ocorrer somente com um professor ou disciplina específica ou pode ser

generalizado para qualquer situação parecida (Gazzaniga e Heatherton, 2005).

O medo experimentado por estímulos condicionados é ativado

pela amígdala que é responsável pelo aprendizado emocional e possui forte

conexão com o hipocampo podendo fazer relações rápidas de informações

potencialmente aversivas com conteúdos armazenados na memória. A via de

interpretação dos estímulos de medo também ativa áreas responsáveis pela

regulação fisiológica do corpo, conforme descrito no capítulo um, e os

hormônios liberados na corrente sanguínea justificam o bloqueio de funções

cognitivas importantes para a aprendizagem escolar como a memória e

atenção (LeDoux, 2001).

Processos simples de aprendizagem como a habituação –

diminuição de resposta comportamental após exposição ao estímulo não

ameaçador – e sensibilização – aumento de resposta comportamental após

exposição ao estímulo ameaçador – operam por meio de neurotransmissores

que modificam as conexões entre neurônios. O fortalecimento destas

conexões aumenta o tempo de resposta dos neurônios pós-sinápticos, sendo a

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base celular da aprendizagem, e depende da potenciação a longo prazo (PLP)

no hipocampo. O condicionamento provoca a PLP indicando alta probabilidade

de armazenamento na memória daquele evento (Gazzaniga e Heatherton,

2005).

Além da atividade de neurotransmissores nas redes neuronais

outros fatores influenciam na memória de eventos geradores de medo. Em

animais que realizavam atividades triviais não foram observadas

manifestações de memória, porém ao receberem doses de adrenalina a

excitação fisiológica aumentou e a liberação de glicose no sangue provocou

maior atividade da memória no cérebro. Isto indica que “Eventos importantes

levam a mudanças neuroquímicas que produzem experiências emocionais”

(Gazzaniga e Heatherton, 2005, p.236). As experiências emocionais, portanto

estão estritamente conectadas com o armazenamento e evocação de

memórias.

O bloqueio da evocação de informações armazenadas ocorre

porque o funcionamento do hipocampo torna-se disfuncional quando o sujeito

está constantemente estressado. Pessoas ansiosas experimentam reações de

estresse com mais freqüência porque acreditam que o mundo é cheio de

perigos e acreditam que elas não são capazes de enfrentar as situações

perigosas (Ballone e Moura, 2008).

Reações de medo são iniciadas pela amígdala (porção direita no

sexo masculino e esquerda no sexo feminino) que recebe do tálamo

informações sensoriais. O tálamo direciona, também, os estímulos para as

áreas corticais correspondentes que irão processar os estímulos e direcionar a

informação já decodificada ao hipocampo. No hipocampo ocorre a comparação

entre a informação que chega e as já armazenadas na memória para definir o

que de fato está ocorrendo, no entanto, antes de os estímulos serem

devidamente interpretados e correlacionados pelo hipocampo, a amígdala já

inicia as reações de luta ou fuga ao ativar o sistema nervoso autônomo.

Começam as reações fisiológicas que deixam o corpo alerta e pronto para

ações de defesa (Gazzaniga e Heatherton, 2005; Ballone e Moura, 2008).

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Uma dessas reações, que está ligada ao bloqueio na recuperação

de informações, é a liberação de hormônios, sendo o cortisol (um

glicocorticóide) o hormônio que atua no hipocampo. O hipocampo tem outra

função que é sinalizar à amígdala que os estímulos já processados pelas áreas

corticais não são ameaçadores realizando uma função inibitória da reação

fisiológica do medo, porém, ao ser constantemente ativado pelo cortisol, esta

função fica deficiente o que não interrompe a ativação do hipotálamo

provocando super ativação do hipocampo e este não consegue mais realizar

suas diversas funções, dentre elas a evocação de memória declarativa de

longo prazo – este tipo de memória é a mais utilizada por alunos – e a

consolidação deste mesmo tipo de memória. Assim, em situações

excessivamente estressantes o aluno não consegue consolidar a informação

que seu professor transmite e nem realizar correlações entre novas e antigas

informações (Gazzaniga e Heatherton, 2005; Ballone e Moura, 2008).

No caso de ansiedade em situações escolares, como responder a

perguntas em voz alta ou realizar testes, os alunos ansiosos são

constantemente submetidos a essas reações fisiológicas e o bloqueio do

funcionamento normal do hipocampo provoca os “brancos” no resgate de

informações potencializando ainda mais a ansiedade na sala de aula. Ao

mesmo tempo a ativação repetida e desenfreada do sistema nervoso

autônomo provoca o aparecimento de problemas de saúde. Tendo em vista

que pessoas ansiosas também apresentam prejuízos na saúde é possível

utilizar o histórico médico como um indicador de ansiedade na escola.

1.2 Impacto da ansiedade na saúde dos alunos

A visão da teoria de processamento da informação acerca da

ansiedade é multidimensional, envolvendo aspectos cognitivos como

percepção de si, preocupação com as consequências de ações; e emotivos –

sentimentos de desprazer, ativação fisiológica e nervosismo. Mesmo alunos

com alto desempenho escolar podem ficar ansiosos devido a preocupação em

atender às expectativas dos pais, amigos e professores enquanto alunos com

baixo desempenho escolar apresentam ansiedade devido ao sentimento de

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fracasso (Costa e Burochovitch, 2004). Os dois fatores atuam na reação

fisiológica da ansiedade.

Como discutido anteriormente, o século XXI é marcado pelo

adoecimento psíquico, sendo a ansiedade um dos problemas mais frequentes

em adultos e crianças. Provavelmente o maior evento estressor para crianças

e adolescentes é o desempenho escolar, o que provoca adoecimento daqueles

que são mais sensíveis a crítica negativa uma vez que pessoas ansiosas

parecem ter maior predisposição para ativação do sistema nervoso autônomo

simpático e lentidão para adaptação das respostas fisiológicas (Margis et. al.,

2003).

Com a presença de muitos estímulos estressores crianças

desenvolvem mais cedo problemas de saúde. O estresse é a reação fisiológica

de uma perturbação ao organismo, enquanto que a ansiedade é a

manifestação psíquica ao estresse, ou seja, estrutura a interpretação e a

antecipação do que será estressor ao organismo visando prevenir-se de tais

reações. Altos níveis de ansiedade provocam reações exacerbadas de

estresse provocando gastrite, dor de cabeça, desmaios, etc. (Ballone e Moura,

2008).

Estímulos ambientais ansiogênicos presentes de forma constante

estressam o organismo e suscitam ativação crônica do hipotálamo

desencadeando as reações de luta e fuga. Na fase inicial do estresse o corpo

reage produzindo catecolaminas. As catecolaminas (adrenalina e

noradrenalina) afetam as reações imunológicas, seja por reação fisiológica,

como, por exemplo, a contração do baço, seja por estímulo celular através de

receptores específicos (adrenérgicos) na membrana celular; o aumento de

catecolaminas inibe as respostas de anticorpos afetando o sistema de defesa

dor organismo e proporciona o aumento de doenças infecciosas, alergias e

úlceras (Lent, 2005; Guyton e Hall, 2002).

A fase consecutiva seria a adaptação do organismo com a

regulação das respostas do eixo HPA – hipófise, pituitária, adrenal. Com a

continuidade dos estímulos estressores ocorre a liberação crônica de

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corticóides, que estão na base das doenças respiratórias e cardiovasculares

em pessoas ansiosas (Lent, 2005; Guyton e Hall, 2002).

Professores e educadores devem ficar atentos ao aparecimento

de doenças nos alunos que podem sinalizar o esgotamento dos mesmos ao

tentarem se adaptar a estímulos ansiogênicos. A promoção do bem estar, em

contrapartida, pode melhorar o rendimento escolar uma vez que a cognição e

emoção estão relacionadas (Ballone e Moura, 2008).

1.3 Ansiedade frente aos testes

Rosário e Soares (2003) investigaram como a ansiedade

prejudica o desempenho de alunos em provas. Mostraram que a ansiedade na

hora da realização de provas aumenta em alunos do 1º ao 7º ano do ensino

fundamental e diminui nos dois últimos anos deste segmento. Os alunos que

experimentaram ansiedade relatam medo de segregação devido ao baixo

desempenho em provas refletindo a competição gerada por esse sistema de

avaliação.

Os autores explicam que o aumento da ansiedade em provas

ocorre porque o aluno avalia a prova como ameaçadora após sentir-se incapaz

de realizar as primeiras questões e redireciona sua atenção para outros

pensamentos mais relacionados ao estado emocional negativo como

incompetência e medo do fracasso. Ao se deparar com a primeira questão da

prova o aluno inicia o processamento da informação tentando localizar na

memória as informações necessárias para responder a questão e o resultado

deste processo é fundamental para assegurar ao aluno sua capacidade de

resolver questões subsequentes. Caso o aluno não tenha armazenado na

memória informações suficientes aumenta a preocupação em relação ao

desempenho como um todo, retirando o foco individual da questão que ele

está resolvendo, redirecionando os pensamentos para situações não

relacionadas à prova, o que aumenta a ansiedade. Caso o aluno já tenha

traços de ansiedade a situação passa a ser ainda mais ameaçadora

comprometendo a evocação de diversas informações (Rosário e Soares,

2003).

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Há duas hipóteses vigentes nos estudos sobre ansiedade em

situações de prova. Uma delas é a Interferência na qual o aluno ao sentir

ansiedade na realização da prova transfere sua atenção para outros

pensamentos não relacionados e não consegue focar sua atenção na

resolução da prova prejudicando o processamento cognitivo ao não conseguir

evocar as memórias dos conteúdos relacionados às questões. A outra hipótese

é chamada de Déficit e relaciona ansiedade em situação de testes à falta de

estratégias de estudo tanto na aquisição de conteúdos quanto na evocação

deles (Costa, 2000).

Entretanto, as investigações acerca deste assunto apontam que o

baixo rendimento escolar em alunos ansiosos parece ser uma combinação

entre as duas hipóteses. A ansiedade teria efeito indireto na aprendizagem e é

significativa em pessoas com problemas de aprendizagem dificultando ainda

mais o processo, pois interfere nos processos cognitivos – percepção, atenção,

memória – que direcionam o conteúdo do que será aprendido. No início da

aprendizagem conteúdos mais difíceis aumentam o estado de ansiedade nos

alunos.

Alunos com alto grau de ansiedade não apresentam estratégias

adequadas de estudo causando problemas de recuperação do conteúdo uma

vez que dedicam muitas horas para estudar, mas não sabem organizar as

horas de estudo e não têm conhecimento sobre estratégias de estudo para

preparação para provas. A ativação fisiológica é experimentada tanto por

alunos com alto ou baixo desempenho escolar, porém o impacto dessas

alterações no funcionamento cognitivo de alunos inseguros em relação a suas

capacidades é mais influente no desempenho em provas (Costa e

Burochovitch, 2004).

A utilização de escalas de ansiedade nas escolas tem sido

defendida por alguns pesquisadores da área, com a finalidade de avaliação do

grau de ansiedade e para avaliação da melhor estratégia de intervenção.

Essas escalas também influenciariam a visão que o professores tem sobre os

alunos com baixo rendimento possibilitando melhor relacionamento com os

alunos (Oliveira e Sisto, 2002).

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Conhecer traços de personalidade de crianças tem ajudado a

compreender a relação entre aprendizagem e ansiedade. Traços como

controle, cautela e confiança foram mais presentes em crianças com bom

desempenho em tarefas de memória, atenção e habilidades verbais; já

crianças impulsivas e com falta de confiança em si apresentaram níveis altos

de ansiedade e os piores desempenhos nas mesmas tarefas. Ao investigar as

características de personalidade e de superação de obstáculos dos alunos é

possível modificar o modelo de avaliação utilizado e diminuir o impacto da

ansiedade em testes escolares (Oliveira e Sisto, 2002).

2. Estratégias para manejo da ansiedade

Oliveira e Sisto (2002) indicam que a utilização de escalas de

ansiedade nas escolas possibilitaria a detecção precoce de ansiedade infantil

permitindo uma intervenção adequada além de modificar a visão dos

professores sobre seus alunos.

Estratégias apontadas por alunos com bom desempenho escolar

demonstram que a ansiedade está presente também nestes alunos, porém

eles possuem maior conhecimento sobre como estudar para provas. Os alunos

apontaram como boas estratégias: administração do tempo de estudo,

estruturação do ambiente e frases de automotivação. Situações de avaliação

que não exijam alto desempenho e que ocorram em ambientes confortáveis

foram essenciais para que alunos com alto nível de ansiedade apresentassem

bom desempenho em provas, porém alunos com baixo nível de ansiedade

apresentam melhor desempenho em ambientes competitivos ou quando

motivados (Oliveira e Sisto, 2002; Costa, 2000).

No estudo de Duarte e Hübner (1999) foram verificados índices

de bruxismo como sinal de ansiedade em alunos de duas escolas. Ao

entrevistarem professores, alunos e pais os autores concluíram que a escola

com maior índice de bruxismo não apresentava uma estratégia pedagógica

definida, o que pode transmitir insegurança tanto para professores quanto para

alunos, aumentando o nível de ansiedade. Já a escola com menor índice de

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bruxismo apresentava estrutura pedagógica definida com planejamento de

atividades e clareza nos pressupostos teóricos. Esta postura permitiu aos

alunos e professores saber com antecedência o que lhes aconteceria ao longo

do ano. A participação dos pais e alunos no planejamento do ano escolar

auxiliou, também, nos baixos índices de bruxismo uma vez que, ao tornarem-

se ativos no processo de aprendizagem, os alunos puderam controlar melhor

seus hábitos de estudos e expressar seus sentimentos.

Uma boa estratégia para a escola seria criar espaços para

atividades relacionadas a habilidades de manejo da ansiedade desviando o

foco da aprendizagem do conhecimento científico. Algumas estratégias

mostram-se efetivas no alívio do estresse e da ansiedade, como: possibilidade

de falar sobre seus problemas, exercício físico regular, estratégias de estudo,

técnicas de relaxamento e treinamento de habilidades sociais e de resiliência.

Assim, a educação emocional torna-se um fator importante a ser considerado

no processo de escolarização do século XXI (Ballone e Moura, 2008).

Em estudo realizado por Benjamin et. al. (1981 citados por Costa,

2000) foi verificado que alunos ansiosos podem ser divididos em dois grupos:

aqueles que possuem bons hábitos de estudo, mas não sabem lidar com a

pressão em avaliações; e o grupo que não sabem lidar com os conteúdos

escolares devido a maus hábitos de estudos. O primeiro grupo necessitaria de

diferentes formas de avaliação enquanto que o segundo, de treinamento em

estratégias de estudo, porém em ambos os grupos foi observado que a

motivação extrínseca – gerada por fatores ambientais – é privilegiada para a

maioria dos alunos.

A motivação extrínseca pode ser exemplificada por recompensas,

pressão social e punição, indicando que o padrão de motivação dos alunos é

relacionado à comparação e competição. Os alunos da pesquisa supracitada

também indicaram que a vivência escolar é desmotivante e que desconhecem

estratégias de auto motivação – estratégias que estariam mais relacionadas a

motivação intrínseca, como interesse e curiosidade pelo conteúdo acadêmico

em si. Professores podem organizar o ambiente escolar e suas aulas de modo

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a promover o interesse pelo aprendizado, o que estimularia a motivação

intrínseca (Costa, 2000).

Dentre estratégias de motivação podem-se indicar estratégias de

aprendizagem como: memorização, imagem mental, administração de tempo,

autoregulação e metacognição. A própria escola pode promover o debate entre

seus alunos sobre a forma como eles se organizam para estudar e como eles

aprendem. Isto despertaria a consciência da importância de organizar o

ambiente e tempo de estudo, valorizar e desenvolver habilidade de

concentração e memorização além de promover disciplina e estratégias para

lidar com a ansiedade.

Uma disciplina que pode tornar-se central para o alívio da

ansiedade no ambiente escolar é a Educação Física. Muitas escolas não

apresentam programas de exercício físico baseado em atividades aeróbicas e

estas vêm sendo foco de pesquisas que buscam estratégias de combate a

depressão e ansiedade. Vieira et. al. (2009) verificaram que um programa de

exercícios aeróbicos regular de 12 semanas foi suficiente para reduzir níveis

de depressão e ansiedade, porém o grupo que, além dos exercícios, fez uso

de medicamentos apresentou os melhores índices de queda na ansiedade. A

prática de exercícios físicos tem sido apontada como solução mais econômica

na redução da ansiedade provavelmente devido a liberação de endorfinas

(responsável pela sensação de prazer) e o aumento da transmissão sináptica

de monoaminas (que funcionam como antidepressivos).

William e Lord (1997 citados por Mello et al, 2005) compararam o

desempenho cognitivo entre dois grupos de idosos, sendo um deles submetido

a um programa de exercício físico aeróbico por 12 meses. Verificaram que o

grupo que praticou exercícios apresentou aumento significativo em funções

cognitivas como atenção, memória, agilidade motora e humor. Neste artigo é

formulada a hipótese que pessoas mais ativas diminuem o risco de doenças

físicas e mentais devido ao aumento do transporte de oxigênio para o cérebro,

diminuição da pressão arterial, dos níveis de colesterol e triglicerídeos, síntese

e degradação de neurotransmissores mais eficientes, dentre outros.

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Exercícios aeróbicos reduzem os níveis de ansiedade em

pessoas ansiosas e a prática de atividades físicas em crianças promove o

desenvolvimento de habilidades psicomotoras. Logo, as escolas podem

desenvolver programas de atividades físicas visando o desenvolvimento global

de seu aluno.

Outro aspecto importante na diminuição dos níveis de ansiedade

em escolares é o envolvimento da família no processo de aprendizagem. Pais

excessivamente críticos e com baixa tolerância a erros, perfeccionistas, podem

provocar alto nível de ansiedade nos filhos ao esperar resultados fora da

realidade e ao comparar seus filhos com irmãos ou outras crianças. A escola

pode orientar os pais apontando a importância de ajudar os filhos não só nas

séries iniciais, mas em todo o período de escolarização. Os pais também

podem ajudar supervisionando o ambiente no qual o filho estuda permitindo o

silêncio e organização necessários para a concentração. Pais devem estimular

o sentimento de competência fornecendo elogios e desenvolver a importância

da escola na vida do filho (Costa, 2000; Rosário e Soares, 2003).

Na sala de aula os professores podem ajudar seus alunos a

diminuir o nível de ansiedade provendo oportunidade de responder questões

em pequenos grupos ou responder questões com respostas simples (sim ou

não), esclarecer objetivo das provas, variar tipos de avaliação e fornecer tempo

suficiente para realizar as questões (Costa e Burochovitch, 2004).

Alunos que não estão preparados para responder

adequadamente às provas e não conseguem responder as primeiras questões

sentem-se mais tensos aumentando a reação fisiológica da ansiedade

contribuindo para a visão de que a prova é uma experiência desagradável e

ameaçadora. Colocar questões mais simples no início da prova geraria estado

de tranqüilidade. Além disso, os professores poderiam ensinar estratégias de

confronto com o objetivo de desenvolver a autoconfiança de seus alunos uma

vez que alunos com estas competências apresentam alto grau de certeza nas

respostas dadas em provas o que aumenta a percepção da sua capacidade de

enfrentamento (Rosário e Soares, 2003).

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Devido ao estilo de vida atual algumas doenças mentais têm

apresentado aumento de incidência. Dentre elas, a ansiedade é uma das mais

frequentes tanto em adultos quanto em crianças, porém no público infantil o

transtorno propriamente dito pode demorar um pouco mais a ser detectado.

Desta forma, aqueles que mantêm contato com crianças devem estar atentos

para os sinais de ansiedade para desenvolver práticas de prevenção de

doenças mentais. A escola tem papel fundamental na vida das crianças e

adolescentes e deve ser mais um agente na promoção da saúde física e

mental considerando que a instituição também gera ansiedade e deve procurar

minimizar estes efeitos.

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CONCLUSÃO

O ritmo de vida acelerado e mudanças constantes são

características do estilo de vida do século XXI. Por conta da vivência frenética

experimentada a incerta sobre o futuro ocasiona ansiedade e estressa os

organismos das pessoas. A ansiedade crônica tem efeitos fisiológicos

importantes como dores de cabeça, gastrite, bruxismo, déficit de atenção, etc.,

e por isso muitas pessoas apresentam problemas de saúde física, porém não

procuram tratamento para sua saúde mental. Em 2000 a Associação de

Psiquiatria Americana estimou que os transtornos de ansiedade são a segunda

doença mental mais prevalente em crianças e adolescentes, ficando atrás do

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (Lipp, 2001; Duarte e

Hübner, 1999).

No público infanto-juvenil a ansiedade está relacionada a

sensação de vulnerabilidade devido a diversos fatores como violência urbana e

bom rendimento escolar. Este último apresenta grande importância uma vez

que as metas educacionais estão dirigidas ao mercado de trabalho e englobam

oferecer aos alunos os mais variados temas sobre o conhecimento: idiomas,

noções de tecnologias, habilidades musicais. Com o aumento de informações

oferecidas pelas escolas e a pressão para que o aluno domine todas as

disciplinas que cursa, essas crianças passam por situações de cobrança por

bons resultados em avaliações – que são as provas escolares – que nem

sempre avaliam o desempenho do aluno ou sua progressão ao longo do ano

letivo, mas são avaliações que promovem comparação de notas entre os

alunos gerando um ambiente hostil e altamente competitivo, que pode causar

medo nos alunos (Rosário e Soares, 2003; Caíres e Shinohara, 2010)

O medo é uma emoção primitiva que desencadeia no corpo uma

série de reações fisiológicas e estas, por sua vez, desorganizam o

pensamento. Isto porque é no cérebro que as informações advindas do meio

ambiente e do próprio funcionamento mental, são processadas. Avanços nos

estudos das Neurociências vêm apontando para a melhor compreensão do ser

humano, como ele pensa, sente e planeja sua vida.

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O cérebro possui redes neuronais interconectadas que exercem

diferentes funções, mas que atuam de forma conjunta para adaptar

comportamentos e habilidades humanas. A aprendizagem é diretamente

afetada pela qualidade de organização do cérebro e pelos vínculos afetivos

(Margis et al, 2003).

Pensar sobre quais emoções influenciam o processo intelectual

pode proporcionar à Educação uma nova visão de como transmitir

conhecimento. Freud (1976) já postulava que a ansiedade paralisava a ação

confundindo o sistema intelectual; o cognitivismo investigou o impacto da

ansiedade nos esquemas mentais focando como a interpretação do mundo

afeta os sentimentos e, ultimamente, Damásio (1996) tem encontrado

evidências nas redes neurais que comprovam o impacto das emoções na

aprendizagem (Bazi, 2000).

Uma estrutura cerebral conhecida como amígdala é responsável

pela ativação do sistema de defesa do organismo, o que engloba ativação do

sistema nervoso autônomo e provoca a aceleração do ritmo cardíaco, da

respiração, dentre outros. O corpo entra em estado de alerta para enfrentar a

situação potencialmente perigosa enquanto outras áreas cerebrais processam

as informações de forma mais refinada para comprovar o que realmente está

acontecendo. A sinalização de que o perigo é iminente ou não é

responsabilidade de outra estrutura, o hipocampo, que reúne aspectos da nova

informação com memórias passadas e compara as situações. Com suas

conexões para o córtex pré-frontal são feitos ajustamentos comportamentais e

planejamento de como o sujeito irá resolver a situação de perigo (LeDoux,

2001; Lent, 2005; Gazzaniga e Heatherton, 2005).

Esse sistema, entretanto, falha na medida em a ativação do

sistema é constante. Na ansiedade os estímulos são julgados como perigosos

com muita frequência sobrecarregando o funcionamento cerebral já que as

estruturas – hipocampo e córtex pré-frontal – que realizam a apuração afinada

do que está ocorrendo também são responsáveis por outras funções (Andrade

et al, 2004; Jarros, 2011).

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No ambiente escolar estas descobertas esclarecem como os

alunos apresentam dificuldade em manter a atenção, consolidar novas

memórias e resgatar informações já armazenadas, porque seu funcionamento

cerebral está sendo afetado pela reação fisiológica da ansiedade.

A própria escola fornece estímulos potencialmente estressores e

ansiogênicos. A interação em sala de aula com outros alunos ou com

professores pode ser definitiva na reação do aluno a situações de

aprendizagem. Emoções desagradáveis neste ambiente podem bloquear o

desejo de aprender (Margis et al, 2003).

Cabe então a escola buscar meios de detectar e diminuir o

desconforto experimentado pelos alunos considerando que a própria escola é

mais um fator de vida estressante para a população infanto-juvenil e as

medidas para lidar com a ansiedade podem ser vistas como ações de

prevenção do adoecimento mental. Um programa de educação física voltado

para exercícios aeróbicos pode auxiliar na diminuição das reações físicas da

ansiedade, pois este tipo de exercício promove melhor oxigenação do cérebro

e a liberação de substâncias no sangue envolvidas no bem estar. Pessoas que

praticam exercícios regularmente apresentam aumento significativo em

funções cognitivas como atenção, memória, agilidade motora e humor. (Mello

et al, 2005).

Como a ansiedade aumenta devido a antecipação do futuro a

escola pode elaborar junto aos professores, alunos e pais, o plano pedagógico

do ano letivo, pois ambientes previsíveis e bem estruturados diminuem o

estresse. Da mesma forma, estratégias de estudo como controle do tempo,

estruturação do ambiente, frases de auto motivação, apoio dos pais, técnicas

de concentração e memorização foram citadas por alunos com bom

desempenho acadêmico como essenciais para diminuir o nível de ansiedade

no momento de avaliações. Estratégias para professores utilizarem dentro da

sala de aula englobam formação de grupos pequenos para debates, respostas

simples como sim e não para questões em voz alta, fornecer tempo suficiente

para resolução de problemas, esclarecer os objetivos das aulas e fazer

revisões. (Duarte e Hübner, 1999; Costa, 2000; Costa e Burochovitch, 2004).

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Problemas em uma das funções mentais podem atrapalhar o

processo de aprendizagem visto que as informações não serão processadas

de forma adequada e o não domínio acerca de um assunto provoca ansiedade

no aluno. A ansiedade desregula o bom funcionamento das funções mentais

ao acrescentar mais informações no sistema prejudicando o desempenho de

áreas funcionais essenciais para o processo de aprendizagem como

comparação de informações novas com antigas, evocação de memórias

declarativas, redirecionamento da atenção e consolidação da memória. Ao

compreender que a ansiedade tem um componente fisiológico que interfere no

bom funcionamento de redes essenciais de processamento de informações

mais importantes para o ambiente escolar, os profissionais que lidam com a

aprendizagem podem elaborar estratégias de ensino que melhor estimulem

funções mentais promovendo emoções que favoreçam seus alunos e não

prejudiquem a saúde física e mental do corpo estudantil.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Definindo a Ansiedade 11

1 – O que é ansiedade 13

1.1 – Definição 13

1.2 – Classificações 14

1.3 – Ansiedade x Estresse 15

2 – Ansiedade e fracasso escolar 17

2.1 – Histórico do fracasso escolar 17

2.2 – Novos rumos das pesquisas 18

2.3 – O papel das emoções 19

2.3.1 - Como o cérebro processa as emoções 20

2.3.1.1 – Sistema Límbico 21

2.3.1.2 – Amígdala 23

2.3.1.3 – Córtex Orbitofrontal 25

2.3.2 – Emoção e Aprendizagem 26

3 – Fisiologia da Ansiedade 28

CAPÍTULO II

Efeitos da Ansiedade no Processamento Cognitivo 32

1 – Teoria do Processamento das Informações 33

1.1 – Unidades funcionais de Luria 34

1.2 – Maturação cerebral e aprendizagem 37

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2 – Efeitos da ansiedade nas funções cognitivas 38

2.1 – Efeitos da ansiedade na atenção 40

2.2 – Efeitos da ansiedade na memória 41

3 – Memória no ambiente escolar 45

CAPÍTULO III

Detecção e Manejo da ansiedade na escola 46

1 - Detectando sinais de ansiedade 47

1.1 – Medo e aprendizagem 49

1.2 – Impacto da ansiedade na saúde do aluno 52

1.3 – Ansiedade frente aos testes 54

2 – Estratégias para manejo da ansiedade 56

CONCLUSÃO 61

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 65

BIBLIOGRAFIA CITADA 66

ÍNDICE 71