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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
EDUCAÇÃO CORPORATIVA: Emancipação Humana ou solução
à crise do sistema capitalista, qual a sua cara?
Por: Alliny Marques de Freitas
Orientadora
Prof. Ms. Adélia Maria Oliveira de Araújo
Rio de Janeiro
2008
2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
EDUCAÇÃO CORPORATIVA: Emancipação Humana ou solução
à crise do sistema capitalista, qual a sua cara?
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Gestão de
Recursos Humanos.
Por: . Alliny Marques de Freitas
3
AGRADECIMENTOS
A minha professora e orientadora Adélia Araújo pela
dedicação, carinho, paciência, e não menos, pelos
incentivos acadêmicos, os quais foram de extrema
relevância para este trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu marido Flávio, pela compreensão, carinho e apoio
que se fizeram sempre presentes.
Aos meus amigos e familiares pelo apoio e consideração
durante esta minha jornada.
5
RESUMO
Os objetivos do presente trabalho foram apresentar uma perspectiva
histórico-cultural dos processos de escolarização em contextos
organizacionais; situar o campo da Educação Corporativa quanto à sua origem,
princípios e projetos de implantação; e, finalmente, analisar, através de um
estudo exploratório e de uma entrevista não estruturada, a prática de algumas
Universidades Corporativas, bem como apresentar alguns centros de estudos
que pesquisam e prestam serviços a respeito do tema em questão.
As principais questões norteadoras deste estudo foram: as
Universidades Corporativas constituem um espaço eficaz de retificação de
lacunas, desenvolvendo, portanto, um processo de aprendizagem e
desenvolvimento democráticos a serviço do trabalhador; ou a Educação
Corporativa pode ser considerada como um meio de ratificação da retórica
neoliberal, uma vez que submete suas ações prioritariamente às necessidades
do mercado globalizado, e portanto, a serviço do capital?
Os principais resultados obtidos referem-se a abrangência perceptiva e
crítica quanto a compreensão de um tema de tamanha relevância e
contemporaneidade a estudantes e profissionais das áreas educacional e
empresarial. Assim como remetem a uma reflexão crítica e devida
problematização dos postulados neoliberais a fim de se obter uma efetiva
análise da educação de trabalhadores realmente comprometida com a
emancipação humana.
6
METODOLOGIA
Segundo seus objetivos, esta pesquisa classifica-se como exploratória.
Seu universo compreenderá empresários, gestores, consultores, como também
estudantes e profissionais da área de RH ou quaisquer pessoas que desejem
se aprofundar nos conceitos e práticas acerca da Educação Corporativa.
Este trabalho será fundamentado por meio de Pesquisa Bibliográfica e
documental, com a predominância e interpretação de dados qualitativos. Como
apoio, buscou-se complementá-la com uma pesquisa exploratória e fontes
secundárias, representada através de livros, periódicos, revistas, teses e
material colhido por meio eletrônico
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................... 8
CAPÍTULO I – A EMERGÊNCIA DO CONHECIMENTO: IMPACTO E MUDANÇAS EM UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA ...........................................................................
12
1.1 – Processo de mudança no contexto organizacional ........................................ 14 1.2 – Evolução histórica da aprendizagem nas organizações ............................... 16 1.3 – As novas tendências no contexto organizacional........................................... 19 1.4 – Em pauta: a educação e a formação humana ............................... 22 1.5 – O conhecimento como base de transformação .............................................. 24 CAPÍTULO II – A UNIVERSIDADE CORPORATIVA: DA CONCEPÇÃO A AÇÃO...................................................................
30
2.1 – Princípios básicos de uma Universidade Corporativa .................................... 32 2.2 – A importância do Diretor de Aprendizagem como Líder................................. 41 2.3 – Como projetar uma Universidade Corporativa ............................................... 43 CAPÍTULO III – ESTUDOS EXPLORATÓRIOS – O CASO ALGAR .............................................................................................
53
3.1 – O caso GE (General Eletric) ........................................................................... 56 3.2 – O caso McDonalds ......................................................................................... 60 3.3 – Centros de Estudos/ Pesquisas sobre Universidades Corporativas .............. 62 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 71
FOLHA DE AVALIAÇÃO ..................................................................... 73
8
INTRODUÇÃO
É fato que cada vez mais os recursos tangíveis, tais como: capital,
equipamentos, instalações, matérias-primas entre outros, têm cedido espaço
discursivo para o considerado ativo primordial das empresas modernas: as
pessoas. Estas que se destacam por ser o único recurso vivo e inteligente, de
caráter eminentemente dinâmico e incrível potencial de desenvolvimento.
No mundo dos negócios, não basta apenas possuir o conhecimento,
faz-se mister aliá-lo à educação e desenvolvimento constante de seus
profissionais, a fim de garantir a excelência organizacional e a satisfação dos
colaboradores da instituição.
Aliado a isto, contamos com a insuficiente demanda de
profissionais qualificados, capazes de acompanhar as oportunidades
globais e responder com adequação e competência aos desafios do
tempo presente. E quando encontrados, surge uma outra preocupação
aos empresários: quais as competências que darão sustentação ao
seu negócio; como desenvolvê-las; como comprometer os
colaboradores com o objetivo da organização; como sensibilizar
fornecedores para as necessidades de sue negócio; como fidelizar
clientes em um mercado competitivo; como transformar a empresa em
um espaço de aprendizagem contínuo; quais os treinamentos
necessários para sua empresa e como mensurar a questão custo X
benefício dos investimentos em treinamento e educação.
Com o objetivo de acompanhar esta nova onda de transformações que
se configura no mundo do trabalho e da formação profissional, as empresas
modernas investem alto em treinamento onde todos os colaboradores são
9 preparados para crescerem juntos com a organização, utilizando para isto
diversos programas de capacitação e retenção de talentos.
Para adaptar-se a esta nova concepção, faz-se indispensável a
mudança de mentalidade com geração de novos valores, os quais
podem ser desenvolvidos através da Educação Corporativa que
emerge como uma possibilidade ao processo de aprendizagem
contínua alinhada à sua missão, objetivos, políticas e estratégias de
ação, tornando-se assim, importante agente de estímulo ao fluxo do
Capital Intelectual e de rápida difusão do conhecimento estratégico,
agregando valores ao cliente, acionistas, colaboradores, fornecedores
e a própria sociedade na qual estão inseridas.
Enquanto o departamento de treinamento tende a ser reativo,
descentralizado, buscando atingir um grande público, com uma
razoável variedade de programas "abertos", nem sempre voltados
para a solução de problemas do "negócio", a Universidade Corporativa
centraliza as soluções de aprendizado para cada "família" de cargos e
funções dentro da organização, tornando-se facilitadora desta nova
abordagem educacional, na tentativa de preencher as lacunas e
descompassos causados pelas Universidades Tradicionais.
Este estudo, dividido em três capítulos, pretende abordar a questão da
formação profissional dentro do contexto organizacional, tendo a Educação
Corporativa como vértice da problemática aqui discutida.
O primeiro capítulo demonstra em uma perspectiva histórica e crítica,
todo o processo de evolução no que tange ao desenvolvimento de
trabalhadores no contexto organizacional, desde o início da Revolução
Industrial, quando se deu o surgimento do treinamento de maneira mais efetiva,
até os dias atuais.
10 São abordadas aqui, todas as mudanças e evoluções ocorridas em
decorrência da emergência do conhecimento, que se torna cada vez mais
presente a partir dos avanços tecnológicos, sociais, econômicos. São
apresentadas também, a mudança de paradigmas e as concepções que
levaram à percepção holística da empresa com relação aos seus
colaboradores, o que se traduziu na valorização do Capital Intelectual, na
reconfiguração do desenvolvimento profissional e, por conseguinte, nas
Universidades Corporativas. Demonstrando que o novo padrão flexível de
acumulação de capital, advindo da globalização de caráter neoliberal, tem
trazido propostas de educação profissional cada vez mais voltadas ao
atendimento das exigências do mercado, contradizendo, portanto, em alguns
aspectos, sua concepção filosófica e conceitual.
O segundo capítulo aborda a questão do surgimento das organizações
de aprendizagem e suas características essenciais, as quais foram base para o
desenvolvimento do conceito de Educação Corporativa. Demonstra a
importância da incisiva participação do Diretor de Aprendizagem como líder na
dinâmica de sua realização, como também analisa de maneira sucinta os
princípios básicos, o projeto, o currículo e amplitude das Universidades
Corporativas.
O terceiro capítulo aborda, através de estudos exploratórios, casos de
algumas UC, sendo que um deles com maior abrangência e complementado
por uma entrevista não estruturada, concedida pelo seu respectivo executivo.
Esta permitiu uma análise comparativa e crítica com o trabalho desenvolvido,
estabelecendo uma relação concreta entre a teoria e a prática.
Logo em seguida, são apresentados mais dois casos, apenas como
base para referência, finalizando com a apresentação de alguns centros de
estudos que pesquisam e prestam serviços relativos a temática da presente
pesquisa.
11 Na conclusão, buscou-se demarcar algumas questões centrais do
trabalho no seu conjunto, estabelecendo uma relação dialética e crítica entre os
autores e obras, remetendo a reflexão e devida problematização a fim de se
pensar uma efetiva qualidade em educação realmente comprometida com a
emancipação humana.
12
CAPÍTULO I
A EMERGÊNCIA DO CONHECIMENTO: IMPACTO E
MUDANÇAS EM UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
Ao fazermos uma analogia entre o modelo Taylorista de produção e o
modelo atual de gestão (Toyotismo), percebemos uma pequena semelhança
quanto a preocupação das organizações em relação ao desenvolvimento de
sua força de trabalho. Contudo, sua principal discrepância encontra-se na
contradição de paradigmas.
“Os paradigmas são uma forma de expressar valores,
crenças, referenciais e mitos que orientam nossas vidas,
dando consistência às nossas ações individuais, grupais e
empresariais”. (Boog, 1999, p.3)
Muito embora a necessidade de formação profissional se fizesse
presente em ambas as épocas, seus enfoques e necessidades apresentavam-
se de maneira bem distinta. Enquanto na época da industrialização
predominava o paradigma mecanicista, traduzido pela “racionalização” do
indivíduo, atualmente, o paradigma holístico, apesar de ainda não dominante,
preocupa-se com a “compreensão” do indivíduo a nível estrutural, pessoal,
emocional e profissional.
O quadro a seguir sintetiza de maneira objetiva as alterações ocorridas
entre os paradigmas do treinamento e da aprendizagem corporativa:
13
Fonte: Pacheco (2005)
A percepção do profissional como um ser holístico, é de vital
importância às organizações que visam o real desenvolvimento de seus
colaboradores, com vistas a melhoria de seus padrões de excelência, visto que
são reconhecidos aspectos do ser totalizado em suas diversas dimensões.
Estas por sua vez, apresentam-se como uma gama de oportunidades e
alternativas, já que por evidenciarem não apenas as necessidades e
CONCEITO ANTIGO PARADIGMA PARADGIMA DA
APRENDIZAGEM DO SÉC
XXI
Local Prédio Aprendizagem disponível
sempre que solicitada, em
qualquer lugar, a qualquer
hora
Conteúdo Atualizar qualificações técnicas Desenvolver competências
básicas do ambiente de
negócios
Metodologia Aprender ouvindo Aprender agindo
Público-Alvo Funcionários Internos Equipes de funcionários,
clientes, fornecedores de
produtos
Corpo Docente Professores/consultores de
universidades externas
Gerentes seniores internos
e um consórcio de
professores universitários e
consultores
Freqüência Evento único Processo contínuo de
aprendizagem
Meta Desenvolver o estoque de
qualificações do indivíduo
Solucionar problemas
empresariais reais e
melhorar o desempenho no
trabalho
14 habilidades técnicas propiciam o desenvolvimento e mudança de completas
atitudes e comportamentos sócio-emocionais, os quais acarretarão numa maior
compreensão da cultura organizacional e melhoria e harmonia do clima
organizacional.
1.1 – Processos de mudança no contexto organizacional
Jamais se falou tanto em educação no contexto organizacional como
agora. Porém, estes dois conceitos, educação e trabalho, historicamente,
nunca coexistiram de forma harmônica, ou pelo menos de maneira que sua
articulação correspondesse concomitantemente às necessidades de ambas.
Como bem nos assegura Frigotto (1995),
“... os novos conceitos abundantemente utilizados pelos
homens de negócio e seus assessores – globalização,
integração, flexibilidade, competitividade, qualidade total,
participação, pedagogia da qualidade e defesa da
educação geral, formação polivalente e valorização do
trabalhador...” (p.144)
modificam drasticamente o atual conceito de qualificação ou capacitação, ou
melhor dizendo, de desenvolvimento, ultrapassando o simples domínio de
habilidades motoras e técnicas e disposição para o cumprimento de ordens.
Englobam a si uma ampla formação geral e sólida base tecnológica, como
também qualidades pessoais capazes de fazer interagir interesses, alinhando
suas ações às necessidades e objetivos da empresa para a qual trabalha. Esta
não sacia-se mais apenas com o “saber fazer” (know how), mas também com o
“conhecer” e o “saber aprender” (Know why).
15 Ainda que estudos envolvendo o âmbito organizacional e suas
peculiaridades já tivessem sido realizados, sua sistematização de fato ocorreu
a partir do processo de Revolução Industrial, através da qual surgiram as
principais invenções e aperfeiçoamentos tecnológicos do século XVIII.
Segundo Bowditch & Buono (1999),
“a escola clássica de administração e a teoria
organizacional que se desenvolveram durante este
período foram, assim, influenciadas por forças sociais,
econômicas e tecnológicas mais amplas, que precipitaram
a transição de uma sociedade agrária para uma
sociedade industrial” (p.7).
Sendo assim, esta primária habilidade técnica e braçal, pautada no
modelo taylorista-fordista e no paradigma mecanicista, já não correspondia às
necessidades desta nova era. Surge então o treinamento, de maneira mais
sistematizada, cujo objetivo, como bem nos assevera Malvezzi (1999), era “... a
garantia da atualização dos trabalhadores em suas habilidades, da diminuição
de seus erros e da ampliação de sua capacidade para realizar outras tarefas...”
(p.17).
A partir desta sistematização, fomentaram diversas iniciativas a
respeito da capacitação profissional e de estudos relativos às ciências
comportamentais, permitindo uma mudança de paradigmas, concepções e
ações, os quais, pautados na valorização constante do envolvimento,
engajamento, desenvolvimento e comprometimento, transformaram o
profissional que antes era conhecido como “elemento técnico” em um
“elemento estratégico” de valor agregado às atividades empresariais.
16 Esta percepção de um novo mundo, com novas exigências e
necessidades, causou algumas reestruturações no que diz respeito aos
processos educacionais. Contudo,
“é importante destacar que quando os neoliberais
enfatizam que a educação deve estar subordinada às
necessidades do mercado de trabalho, estão se referindo
a uma questão muito mais específica: a urgência de que o
sistema educacional se ajuste às demandas do mundo
dos empregos. Isto não significa que a função social da
educação seja garantir esse emprego e, menos ainda,
criar fontes de trabalho. Pelo contrário, o sistema
educacional deve promover o que os neoliberais chamam
de empregabilidade. Isto é, a capacidade flexível de
adaptação individual às demandas do mercado de
trabalho. A função ‘social’ da escola esgota-se neste
ponto [...] A educação deve apenas oferecer essa
ferramenta necessária para competir nesse mercado. O
restante depende das pessoas” (Gentilli, 1996, p.26-27).
O que se trata aqui é de se estruturar uma formação de excelência
verdadeiramente alicerçada na preocupação de se desarticular a
“...racionalidade natural do discurso neoliberal...” (id, p.42). Lembrando sempre
que a educação é veículo de democratização e disseminação de saberes e não
de alienação, exclusão e personificação social.
1.2 – Evolução histórica da aprendizagem nas organizações
Conforme Teixeira (apud Boog, 1999), “não se trata, simplesmente, de
capacitar pessoas para atender aos novos padrões desejados no domínio do
conhecimento[...] o que se deseja é debater idéias, confrontá-las com os
17 princípios e valores da empresa para mantê-los ou revê-los...” (p.158) a
medida que estes se tornarem obsoletos, garantindo assim a excelência
organizacional.
Na época da Revolução Industrial, o homem foi obrigado a maquinizar-
se para garantir seu emprego. Já na era da Revolução Intelectual e
Tecnológica, de acordo com Castro (apud: Frigotto, 1995),
“a mutação qualitativa consiste no seguinte: [...]
agora a transformação da matéria pode ser feita de
forma mais rápida, barata e perfeita, graças à
utilização de informação codificada, memorizada,
através de linguagens e sinais que automatizam
saber e saber-fazer humano, com baixos custos de
energia e de trabalho vivo” (p.148).
A mecanização advinda do modelo industrial distanciou o homem de
sua própria realização e evolução. Estes eram programados a executar tarefas
que objetivassem o sucesso e o lucro empresariais, independente de suas
aspirações, desejos, necessidades e valores.
Entretanto, como nos assegura Malvezzi (1999) e Bowditch & Buono
(1999), a desumanização dos trabalhadores, que até então eram vistos como
meras extensões das máquinas, causou uma certa inquietação em algumas
escolas de administração, levando-as a reavaliarem e implantarem o espaço
humano nas organizações.
A princípio, foram redimensionadas as relações de trabalho a nível
técnico e social, o que de fato não traduziu uma significativa melhora nesta
relação. Logo, a Psicologia entrou neste cenário com o objetivo de regular o
trabalho, a fim de que este se desenvolvesse de acordo com as exigências
empresariais.
18
“No comportamento humano estão estreitamente inter-
relacionadas atitudes, valores e motivações. A teoria
psicológica moderna reconhece um conceito geral de
energia psicológica que é canalizada para as orientações
particulares do comportamento, através de atitudes
aprendidas e de predisposições” (McDavid & Harari, 1980,
p.110).
Portanto, seu objetivo era reconhecer esses motivos e habilidades
relativos aos profissionais, a fim de estabelecer uma efetiva integração destes
no contexto das atividades empresariais a desempenhar.
Através de suas teorias e instrumentos de aferição, eram traçados
perfis que se transformaram em indicadores das necessidades de cada
indivíduo, direcionando, assim, as ações do treinamento. Àqueles que
apresentassem alguma defasagem quanto ao perfil pré-determinado, era
indicado a um programa de treinamento “... tendo em vista aproximar o
desempenho do padrão esperado no planejamento” (Malvezzi, 1999, p.23).
Estes, contudo, se subdividiram em dois aspectos. Primeiro, os que
condicionavam as habilidades motoras, pertinentes à mão-de-obra fabril;
segundo, os que correspondiam às habilidades cognitivas, pertinentes aos
cargos de liderança, gerência e demais serviços que não dependessem da
condição física para sua realização.
Todavia, não apenas os perfis, como também as atividades que
estruturavam os programas de treinamento, deviam ser constantemente
revisados, reavaliados e refeitos, a fim de mantê-los sempre válidos e atuantes,
haja vista a gama de incapacidades, insuficiências e necessidades
apresentadas.
19 No entanto, como podemos perceber nas discussões de Bowditch &
Buono (1999) e Malvezzi (1999), as experiências de Hawthorne apresentaram
significativa relevância no que tange à compreensão das pessoas nas
organizações. Este conjunto de experiências foi realizado na fábrica Western
Eletric situada em Hawthorne, inicialmente com mulheres, a fim de avaliar
como e quanto as variações das condições de trabalho afetavam a
produtividade. As operárias eram alocadas em salas especiais e ali eram
submetidas as mais diversas mudanças, desde a variação de iluminação a
variação da jornada de trabalho. Porém, surpreendentemente, estas
demonstraram que a excelência do desempenho não depende apenas de sua
capacidade física ou de seu local de trabalho, mas também de sua capacidade
social, o que em outras palavras, traduz-se num intenso e sadio
relacionamento sócio-afetivo dentro do grupo no qual estão inseridos, incutindo
ao contexto empresarial um novo pensamento a respeito das pessoas.
A partir daí, o colaborador é visto como sujeito físico, social, emocional,
que traz consigo desejos, motivações, aspirações, valores, expectativas,
aflições, as quais influenciam diretamente no exercício de suas atividades.
Portanto, o que realmente importa é como as pessoas são geridas e não onde.
1.3 – As novas tendências no contexto organizacional
Com base neste contexto, as empresas se viram obrigadas a
reformularem seus conceitos e estratégias de ação, orientando-as à uma
política de modernização.
O treinamento que antes pautava-se em uma estrutura formal e
racional, visando apenas o aperfeiçoamento das habilidades técnicas sem
pretensão de ascensão hierárquica, agora passa a ser difundido como
desenvolvimento. Pautado em uma abordagem sistêmica, visa a ampliação das
habilidades tendo em vista a promoção e desenvolvimento dentro da
20 organização; portanto, exigindo muito mais responsabilidade, autonomia,
criatividade, participação, levando a uma maior identificação do colaborador
com a missão, com o objetivo e com a filosofia empresariais. Agora o controle
das ações corresponde ao nível dos resultados e não mais dos processos.
(Malvezzi, 1999).
“Forçado pela vulnerabilidade e complexidade de
sua base tecno-organizacional o capital passou a
se interessar pela apropriação de qualidades sócio-
psicológicas do trabalhador coletivo através dos
chamados sistemas sócio-técnicos de trabalho em
equipes, dos círculos de qualidade etc. Trata-se de
novas formas de gestão da força de trabalho que
visam a garantir a integração do trabalhador aos
objetivos da empresa” (Castro, apud Frigotto, 1995,
p.154).
Há, portanto, como pode-se perceber, uma grande e constante
valorização do ser humano como valor agregado e ativo, como capital
intelectual, sendo aqui abstraídos da Teoria do Capital Humano. Esta teoria
teve início na década de 50 nos EUA a partir de estudos realizados por Schultz
(1973), que assim a descreve:
“É humano porquanto se acha configurado no homem, e
é capital porque é uma fonte de satisfações futuras, ou de
futuros rendimentos, ou ambas as coisas [...] Pode, sem
dúvida, ser adquirido, não como um elemento de ativo,
que se adquire no mercado, mas por intermédio de um
investimento no próprio indivíduo” (p.53).
Ainda complementado por Frigotto (1995),
21 “... a idéia de capital humano é uma ‘quantidade’ ou um
grau de educação e de qualificação, tomado como
indicativo de um determinado volume de conhecimentos,
habilidades e atitudes adquiridas, que funcionam como
potencializadoras da capacidade de trabalho e de
produção”. (p.41)
A partir de pesquisas realizadas por Junqueira e Vianna (1999),
constata-se que o patrimônio tangível de uma organização é representado por
apenas 15% de todo seu valor econômico, sendo os 85% restantes referentes
ao “ativo intangível não contabilizado”, ou seja, do capital intelectual. Portanto,
para atender a esta atual realidade, faz-se necessário uma eficiente política de
gestão deste capital para o alcance da almejada “excelência organizacional”.
De acordo com as dissertações de Stwart & Edvinsson, citados por
estes mesmos autores, o capital intelectual de qualquer organização divide-se
em três blocos: capital humano, capital estrutural e capital de clientes.
O primeiro, refere-se exclusivamente às pessoas, podendo ainda ser
desmembrado em capital cognitivo (intelecto), capital motivacional (aspirações,
desejos) e capital ideológico (crenças, valores, paradigmas).
O segundo, diz respeito aos fatos da organização e pode ser dividido
em capital organizacional e capital de rede de conhecimentos.
O terceiro e último, denominado por Junqueira & Vianna (1999) como
capital de mercado, engloba o capital de clientes propriamente dito e o capital
estratégico, que se subdivide em capital de inovação (criatividade, flexibilidade)
e capital de futuro (visão estratégica, futurista, analítica).
Entretanto, em meio a tantas transformações e inovações, é preciso ir
aquém das necessidades de mercado, atingindo o patamar das necessidades
22 humanas e sociais, analisando sob um olhar mais crítico o como e o por quê
estas se configuraram.
Como nos sintetiza Frigotto (1995), a “... passagem do feudalismo para
o sistema capitalista não representou a superação de uma sociedade marcada
pela opressão, servilismo e desigualdade de classes por uma sociedade livre e
igualitária...” (p.27), como sugerem os neoliberais e os “homens de negócio”.
Apenas serviram como pano de fundo para que a nova sociedade capitalista
instaurasse suas novas bases ideológicas, políticas e econômicas, reforçando
ainda mais a exclusão social, de maneira, por assim dizer ‘legal’.
Ainda complementado por este mesmo autor, “perfilamos uma relação
de submissão. No passado mais remoto, essa submissão se dava em relação
aos conquistadores e colonizadores. Hoje, continuamos a ser colonizados
mediante a integração subordinada ao grande capital” (id, p.36).
1.4 – Em pauta: a educação e a formação humana.
Como já pode ser percebido anteriormente, a educação vem se
tornando peça-chave de qualquer organização que almeje seu contínuo
desenvolvimento e o alcance da excelência empresarial.
É pautado nesta nova realidade que o conceito de Universidade
Corporativa toma forma e ganha força, difundindo suas teorias, princípios e
estratégias de implantação. Portanto, assume como força propulsora o que
Frigotto (2000) denomina por “pedagogia das competências” e “pedagogia da
empregabilidade”, as quais compreendem uma metodologia, concepção e
proposta voltadas ao atendimento de um “... ideário particularista e imediatista
do mercado e dos empresários...” (p.47). Estes mesmos que consolidam o
novo padrão de acumulação flexível do capital, sustentado pelo toyotismo
neoliberal.
23
“O discurso pedagógico e educacional é substituído pelo discurso
econômico e administrativo e o/a expert em educação, currículo e pedagogia é
substituído/a pelo/a expert em gerência, reengenharia e padronização” (Silva,
1996, p.179).
Ainda com base nas afirmações de Frigotto (2000), o impasse não
encontrasse na percepção quanto ao tipo de pedagogia e educação vigentes,
mas sim, se estas correspondem a um nível quantitativo capaz de estabelecer
uma constante busca e edificação democrática a nível político, econômico,
social e cultural. Não que a “racionalidade econômica” não deva ser
considerada, mas sim problematizada, a fim de que a educação e seus
princípios e objetivos básicos tenham uma real e ideal abrangência,
considerando não apenas o resultado, mas também o local, o processo e o
desenvolvimento deste trabalho.
Contudo, alguns autores ainda alertam para o fato de que não se pode
atribuir única e exclusivamente à educação, o pesado fardo da escassez de
talentos humanos. De um lado, configura-se uma crise de “... eficiência,
eficácia e produtividade...” (Gentilli, 1996, p.17), ou seja, de baixa qualidade e
pouco resultado provenientes da má distribuição e expansão dos recursos e
serviços educacionais oferecidos durante a década de 60. De outro,
apresentam-se as insuficientes e ineficientes políticas geradoras de emprego e
renda, pois como bem nos assevera Frigotto (2000), “... se não houver
empregos, de que adianta ter as características ou as propaladas
competências ou habilidades para a propalada empregabilidade?” (p.50).
A empregabilidade tornou-se qualidade essencial àqueles profissionais
que desejem estar sempre à frente, atualizados e desejáveis no ambiente
globalizado do mercado de trabalho. Este termo empregabilidade, torna-se na
concepção de Frigotto (2000), uma extensão e conseqüente operacionalização
da tendência tecnicista na educação. Sua ênfase encontra-se na forma e não
24 no conteúdo, sua função consiste em preparar os “recursos humanos” para
sua atividade profissional, focando o ritmo de aprendizagem a nível individual.
Possui como características a racionalidade, a eficiência, a produtividade, o
controle, a objetivação operacional do que se pretende alcançar. Seu interesse
imediato é produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho.
(Bonfim, 1995)
Entretanto, consoante às teorias de Meister (1999), é através da
educação e constante processo de desenvolvimento e especialização dos
indivíduos, que as necessárias aptidões, sejam elas físicas, mentais ou sócio-
emocionais, capazes de torná-los competitivos e antenados às novas e fugazes
oportunidades globais, poderão ser apreendidas.
1.5 – O conhecimento como base de transformação
A dinâmica empresarial, social, cultural e econômica do século XX, foi
marcada por drásticas e profundas mudanças, as quais o caracterizaram por
“século das burocracias”, assim denominado por Chiavenato (1999).
Para uma melhor abrangência perceptiva e relação direta entre as
idéias anteriormente apresentadas e os conceitos que ainda serão abordados,
faz-se necessário uma sucinta apresentação das três grandes eras
organizacionais sintetizadas no quadro a seguir:
25
Era da
Industrialização
Clássica
Era da
Industrialização
Neoclássica
Era da Informação
Período 1900-1950 1950-1990 Após 1990
Estrutura
Organizacional
Predominante
Funcional, burocrática,
piramidal,
centralizadora, rígida e
inflexível. Ênfase nos
órgãos.
Matricial enfatizando
departamentalização
por produtos/serviços
ou unidades
estratégicas.
Fluída e flexível,
totalmente
descentralizada.
Ênfase nas redes de
equipes multifuncionais.
Cultura
Organizacional
Predominante
Teoria X Foco no
passado, nas
tradições e nos
valores. Ênfase na
manutenção do status
quo. Valor à tradição e
à experiência anterior.
Transição. Foco no
presente e no atual.
Ênfase na adaptação
ao ambiente. Valor à
renovação e à
revitalização.
Teoria Y. Foco no futuro
e no destino. Ênfase na
mudança e na inovação.
Valor ao conhecimento e
à criatividade.
Ambiente
Organizacional
Estático, previsível,
poucas e gradativas
mudanças. Poucos
desafios ambientais.
Intensificação e
aceleração das
mudanças.
Mutável, imprevisível,
turbulento, com grandes
e intensas mudanças.
Modo de lidar com as
pessoas
Pessoas como fatores
de produção inertes e
estáticos sujeitos a
regras e a
regulamentos rígidos
para serem
controlados.
Ênfase nas regras e
nos controles rígidos
para regular as
pessoas.
Pessoas como
recursos
organizacionais que
precisam ser
administrados.
Ênfase nos objetivos
organizacionais para
orientar as pessoas.
Pessoas como seres
humanos proativos e
dotados de inteligência e
habilidades e que devem
ser impulsionados.
Ênfase na liberdade e no
comprometimento para
motivar as pessoas.
26 Administração das
Pessoas Relações Industriais
Administração de
Recursos Humanos Gestão Com Pessoas
Fonte: www.chiavenato.com.br (20fev2008)
Logo, a dinâmica organizacional sofreu relevantes transformações
conceituais e práticas no que tange ao gerenciamento e desenvolvimento das
pessoas, como nos mostra o quadro abaixo:
Relações
Industriais
Administração de
Recursos Humanos Gestão Com Pessoas
Formato do
trabalho
Centralização total
das operações.
Responsabilidade de linha
e função de staff.
Descentralização rumo
aos Gerentes e às suas
equipes.
Nível de Atuação Burocratizada e
operacional.
Departamentalizada e
tática.
Focalização global e
estratégica.
Comando da ação
Decisões vindas da
cúpula da
organização e ações
centralizadas no
órgão de RI.
Decisões vindas da cúpula
da área e ações
centralizadas no órgão de
RH.
Decisões e ações do
Gerente e de sua equipe
de trabalho.
Tipo de Atividade
Execução de
serviços
especializados.
Centralização e
isolamento.
Consultoria interna e
serviços especializados.
Consultoria interna.
Descentralização e
compartilhamento.
Principais
Atividades
Admissão, demissão,
controle de
freqüência,
legislação do
trabalho, disciplina,
Recrutamento, seleção,
treinamento,
administração de salário,
benefícios, higiene e
segurança, relações
Como os gerentes e suas
equipes podem escolher,
treinar, liderar, motivar,
avaliar e recompensar os
seus participantes.
27 relações sindicais,
ordem.
sindicais.
Missão da Área
Vigilância, coerção,
coação, punições.
Confinamento social.
Atrair e manter os
melhores funcionários. Ter a melhor empresa.
Fonte: www.chiavenato.com.br (20fev2008)
O mundo globalizado das relações empresarias encontra-se na
chamada Era da Informação, que pautada na Gestão do Conhecimento, se
difundi e baseia em conceitos como: empregabilidade, talento, competências,
desenvolvimento, conhecimento.
“Conhecimento é uma mistura fluida de experiência
condensada, valores, informação contextual e insight
experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a
avaliação e incorporação de novas experiências e
informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos
conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar
embutido não só em documentos ou repositórios, mas
também em rotinas, processos, práticas e normas
organizacionais” (Davenport, 1998, p.6).
Muito embora os gerentes já façam uso do conhecimento e de
experiências e competências de seus profissionais há muito tempo, Davenport
(1998) nos afirma: somente agora, com a explosão do conhecimento, estes
gestores conscientizaram-se de que não basta apenas possuir o conhecimento,
mas torná-lo, definitivamente, um ativo corporativo. “Um ativo intangível que
está na cabeça das pessoas: são elas que pensam, interpretam, raciocinam,
tomam decisões e agem [...] criam novos produtos e serviços, visualizam a
concorrência, tocam os processos internos e servem aos clientes" (Chiavenato,
1999, p.11).
28 É neste contexto que se solidifica a gestão do Conhecimento, a qual
procura orientar a empresa inteira para produzir o conhecimento, aproveitá-lo,
combiná-lo, disseminá-lo, aplicá-lo e lucrar com ele, com o objetivo de agregar
valor aos processos e produtos da empresa.
Esta nova dinâmica traz acoplada a si o conceito das “organizações
que aprendem”, as quais, segundo Chiavenato (1999), possuem como
objetivos e metas principais:
# O alargamento do conhecimento individual dentro da organização
através da interatividade das experiências;
# O compartilhamento do conhecimento tácito, ou seja, experiências e
conhecimentos individuais e implícitos;
# A criação de uma infra-estrutura e cultura de aprendizagem próprias
e atuantes na organização;
# A administração dos resultados a fim de descobrir qual a estratégia
de gestão mais adequada;
# A criação de uma rede de conhecimento que crie, cristalize e
justifique os conceitos e filosofias a serem praticados.
Para tanto, a educação torna-se chave de ignição desta ação, pois é
através dela que todo conhecimento, seja ele formal ou informal, pode ser
desperto, compreendido, transformado, incorporado, institucionalizado.
Entretanto, Silva (1996) afirma que independente do modelo adotado, a
educação não está somente subordinada ao capital, mas também organizada
consoante a forma capitalista do trabalho predominante à sua época.
“Essa visão da educação e da escola como
mercado onde se confrontam provedores de um
serviço, de um lado, e consumidores, de outro, a
exigirem a qualidade de um produto, não constitui
29 apenas uma teorização social inadequada, mas
também uma visão político-pedagógica bastante
questionável” (p.175).
É com base nessas concepções e teorias que se sedimenta o conceito
atualmente muito divulgado e difundido de Educação Corporativa, que
comentado por Junqueira & Vianna (1999) “... centraliza as soluções de
aprendizado para cada família de cargos e funções dentro da organização
(tracks), utilizando o treinamento como instrumento de massa crítica, reduzindo
custos...” (p.95), tornando-se parte integrante da própria instituição.
No entanto, este conceito será tematizado com uma maior abrangência
no capítulo que se segue.
30
CAPÍTULO II
A UNIVERSIDADE CORPORATIVA: DA CONCEPÇÃO A
AÇÃO
É notável a crescente valorização de aspectos como participação,
iniciativa, raciocínio lógico e discernimento. Não basta apenas que os
profissionais se enquadrem no perfil típico do “operário padrão”, pronto para
“vestir a camisa da empresa”, mas que, além disto, sejam capazes de “pensar
com a cabeça da empresa”. Estamos, segundo os teóricos da Educação
Corporativa, na era da multifuncionalidade e alta rotatividade e velocidade de
transformações e inovações tecnológicas, por isso é preciso ser mais que
especialistas em determinadas áreas operacionais. Há que se priorizar fatores
como: grande amplitude de conhecimentos, formação sólida e consistente,
profissionais que sejam polivalentes, multifuncionais, alertas, curiosos, com
capacidade de abstração e de trabalho em equipe, e, principalmente, que
possuam visão lúcida dos macroproblemas econômicos, sociais e políticos.
Como bem nos descreve Chiavenato (1999), faz-se mister que as
organizações elaborem um programa sistematizado e desenvolvido no sentido
de definir perfis profissionais que proporcionem maior produtividade e
adequação ao negócio, identificando os pontos de excelência e os pontos de
carência, suprir lacunas e agregar conhecimento e tendo por base certos
critérios objetivamente mensuráveis.
Desta forma passam a exigir novas competências pessoais e
profissionais, descritas por Meister (1999), conforme segue:
31 • Comunicação e colaboração, permitindo a criação de uma rede
interativa de conhecimento;
• Raciocínio crítico e capacidade para solucionar problemas, a fim de
otimizar suas atividades bem como os processos da empresa;
• Espírito empreendedor e de liderança, profissionais inovadores,
ativos, proativos, independentes;
• Conhecimento global dos negócios, como também do ambiente no
qual a organização está inserida;
• Conhecimento tecnológico, ou seja, capacidade de fazer uso dos
recursos de informação, destinados a conexão direta com outros profissionais
em todo o mundo;
• Capacidade e iniciativa em aprender sempre, sendo flexível e aberto
às novas e necessárias informações, apreendendo-as e codificando-as,
transformando o conhecimento abstrato em resultado concreto;
• Autogerenciamento da carreira, ou seja, profissionais
responsáveis pela busca de seu próprio desenvolvimento, com visão de futuro,
disposto a aprender sempre que este se fizer necessário a sua qualificação
atual e futura.
Logo,
“a educação e qualificação da força de trabalho será o
principal vantagem competitiva do século vinte e um.
Motivo: está surgindo um conjunto totalmente novo de
tecnologias que exigirão que o trabalhador médio, seja no
setor administrativo ou de produção, adquira qualificações
que não eram obrigatórias no passado. Essas
qualificações vão além das responsabilidades limitadas de
determinado cargo e alcançam um amplo conjunto de
habilidades necessárias para que o trabalhador se adapte
às novas tecnologias e mudanças no mercado de
trabalho” (Meister, 1999, p.7).
32
O conhecimento, célula-mãe do capital intelectual, constitui-se num
bem que além de infinito e irrefutável, não se desgasta nem se deteriora, pelo
contrário, quanto mais utilizado, mais se desenvolve, aumenta e se ramifica.
Chiavenato (1999) ainda afirma que toda vez que um alto funcionário
sai da empresa, ela perde uma parte daquilo que representa o maior diferencial
competitivo para qualquer companhia que pretenda durar no mercado. Perde
talento, perde conhecimento, perde cérebro e perde parte de seu impulso para
a ação e inovação. Perde também tudo o que foi investido no funcionário,
desde o processo de provisão, manutenção e desenvolvimento. Essa perda é
dobrada quando se precisa formar e preparar outra pessoas para substituir
aqueles que saíram, mas o último e pior dos prejuízos é o fato de que ao deixar
a empresa, o executivo em geral vai fortalecer o lado do concorrente.
Faz-se necessário, portanto, a interpenetração e conseqüente
homogeneização destes conhecimentos e habilidades, para que possam, em
conjunto, agregar valores e lucros concretos a organização.
Estes efeitos vêm gerando momentos de intensa concorrência e
instabilidade mundial, provocando assim, uma perceptível mudança na filosofia
e cultura de muitas organizações. E é neste contexto que se desenvolve o
conceito de Universidade Corporativa.
2.1 – Princípios básicos de uma Universidade Corporativa
A globalização da economia, os ventos da competitividade, o
desenvolvimento tecnológico e os intensos programas de produtividade e
qualidade estão modificando o papel da gestão de pessoas. O que vem
causando profundas e drásticas alterações no perfil dos profissionais, bem
como na estrutura, cultura e comportamento organizacionais.
33
Frigotto (1993), ainda afirma que o capital "... forçado pela
vulnerabilidade e complexidade de sua base tecno-organizacional..." (p.123),
passou a priorizar o lado humano dos trabalhadores, o qual foi ignorado pelo
sistema taylorista de produção. A este, passou a ser mais conveniente o
desenvolvimento e adaptação das qualidades sócio-psicológicas de seus
profissionais, uma vez que estes sistemas sócio-técnicos de trabalho, facilitam
a integração e homogeneização dos objetivos individuais aos empresariais.
Portanto,
"a súbita descoberta e valorização humana do
trabalhador está muito mais afeta a sinais de limite,
problemas e contradições do capital na busca de redefinir
um novo padrão de acumulação com a crise de
organização e regulação fordista, do que a autonegação
da forma capitalista de relação humana" (id, p.116).
Esta nova abordagem leva a crer que as empresas mais bem
sucedidas serão aquelas que se transformarem em “organizações de
aprendizagem”, ou seja, “...aquelas nas quais as pessoas expandem
continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam,
onde a aspiração coletiva é libertada e onde as pessoas aprendem
continuamente a aprender em grupo.” (Senge, apud: Nogueira, 1998, p.51).
A partir desta concepção nasce o conceito de Universidade Corporativa
que, descrita por Meister (1999), é "... um guarda-chuva estratégico para
desenvolver e educar funcionários, clientes, fornecedores e consumidores, a
fim de cumprir as estratégias empresariais da organização" (p.29).
O desafio das empresas neste limiar do século XXI não é
simplesmente produzir bens e serviços, mas desenvolver atividades que gerem
34 alto valor agregado aos objetivos empresariais. Estas atividades, segundo
Davenport (1998), estão direta e intimamente ligadas com a geração, absorção,
aplicação, difusão e gestão do conhecimento. Contudo, reconhecendo a rápida
obsolescência do conhecimento e a necessidade de gerarem aqueles
vinculados ao que é crítico para o sucesso organizacional, a resposta de
muitas empresas tem sido no sentido de implantar projetos de Educação
Corporativa.
O objetivo principal das Universidades Corporativas consiste em formar
talentos humanos, promovendo a gestão do conhecimento organizacional,
através de um processo de aprendizagem contínua. Este processo não envolve
apenas os funcionários, mas inclui também os consumidores, fornecedores e
comunidade com que interage a empresa.
Não satisfeitas com a bagagem do currículo tradicional, as
organizações têm assumido um papel proativo no papel de reciclagem e
complementação educacional, abandonando o caótico e efêmero treinamento
em áreas específicas para oferecerem um enfoque mais estratégico aos seus
negócios. Neste caso, o antigo departamento de treinamento cede lugar a uma
cultura de aprendizagem sistêmica e contínua, de aprendizado prático, coletivo
e interativo, como nos mostra a figura a seguir:
DEPARTAMENTO DE
TREINAMENTO
UNIVERSIDADE CORPORATIVA
LOCAL Prédio Aprendizagem disponível sempre que
solicitada - em qualquer lugar a
qualquer hora
CONTEÚDO Atualizar qualificações
técnicas
Desenvolver competências básicas do
ambiente de negócios
METODOLOGIA Aprender ouvindo Aprender agindo
35 PÚBLICO-ALVO Funcionários internos Equipes de funcionários, clientes e
fornecedores de produtos
CORPO DOCENTE Professores/Consultores de
faculdades externas
Gerentes Seniores internos e um
consórcio de professores
universitários e consultores
FREQÜÊNCIA Evento único Processo contínuo de aprendizagem
META Desenvolver o estoque de
qualificações do indivíduo
Solucionar problemas empresariais
reais e melhorar o desempenho no
trabalho
FOCO Reativo Proativo
ORGANIZAÇÃO Fragmentada &
Descentralizada
Coesa & Centralizada
ALCANCE Tático Estratégico
ENDOSSO/
RESPONSABILIDADE
Pouco/Nenhum Administração e funcionários
APRESENTAÇÃO Instrutor Experiências com viárias tecnologias
RESPONSÁVEL Diretor de Treinamento Gerentes de unidades de negócio
AUDIÊNCIA Público-alvo
amplo/Profundidade limitada
Currículo personalizado por família de
cargos
INSCRIÇÕES Inscrições abertas Aprendizagem no momento certo
RESULTADO Aumento das qualificações
profissionais
Aumento no desempenho no trabalho
OPERAÇÃO Opera como função
administrativa
Opera como unidade de negócios
(centro de lucros)
IMAGEM “Vá para o treinamento” "Universidade como metáfora de
aprendizado"
MARKETING Ditado pelo Departamento de
Treinamento
Venda sob consulta
Adaptado de: Educação Corporativa - SP - Jeanne Meister
36 Muito embora os modelos de Universidade Corporativa sejam
diversos no que tange ao tamanho, formato e grau de amadurecimento, estas
devem organizar-se com base em dez princípios básicos, descritos por Meister
(1999), a fim de alcançarem seu objetivo elementar: tornarem-se instituições
onde o processo de aprendizagem seja constante.
1. Oferecer diversas oportunidades de aprendizagem que sustentem
as questões empresariais relevantes à organização. A exemplo, o Learning
Success, programa desenvolvido pelo Bank of Montreal Institute for Learning
(apud: Meister, 1999) e elaborado a partir de idéias obtidas através de vários
encontros onde foram diagnosticadas as necessidades de clientes e
funcionários. Foram montados dois cursos, direcionados aos caixas e aos
representantes de serviço ao cliente, com duração de 12 a 18 meses e 15 a 21
meses, respectivamente. Organizado em cinco etapas, tem por objetivo o
desenvolvimento de habilidades técnicas e conhecimentos necessários a
respeito de seus serviços e produtos. Sua premissa é elevar a satisfação dos
clientes e aumentar a efetiva participação da organização no mercado. Este é
composto por uma avaliação de desenvolvimento pessoal, que lhe confere ou
não, a aprovação para a fase subseqüente e um guia de planejamento para
cada um dos cargos descritos. Este guia consta de uma ferramenta de
avaliação que aponta as necessidades da área a ser desenvolvida com relação
às exigências apresentadas e uma ferramenta de planejamento que auxilia a
incorporação das melhores táticas de intervenção adequadas ao perfil do
profissional.
2. Considerar a Universidade Corporativa como um processo,
desvinculado da idéia de uma estrutura física própria a aprendizagem. Esta,
diferente das universidades tradicionais, é bastante flexível e dinâmica, não
necessitando, portanto, de um campus ou estrutura física. Suas atividades
podem ocorrer tanto em salas de aulas, quanto no próprio ambiente de trabalho
ou fora dele e até mesmo virtualmente, utilizando-se de recursos como Internet,
Extranet, Intranet etc.
37
"Na GMU (General Motors University), queremos fazer
mais do que apenas compartilhar um conhecimento tribal
e as melhores práticas com toda a organização.
Queremos sair e descobrir novos conhecimentos fora da
corporação, trazê-los para a corporação e distribuí-los
pela rede. Por exemplo, estamos convidando vários
repórteres automobilísticos para falar sobre as relações
com a mídia do seu ponto de vista. A idéia é buscar novos
conhecimentos e idéias e usa a GMU como veículo para
alavancar essas perspectivas através da rede global" (id,
p.34).
3. Elaborar um currículo consoante aos três Cs básicos:
• Cidadania Corporativa - estudo dos principais valores, crenças,
tradições organizacionais, a fim de tornar ainda mais estreitos os objetivos
individuais, vínculos e grau de envolvimento dos funcionários com a empresa.
• Estrutura Contextual - cursos elaborados com o intuito de apresentar
aos funcionários: as melhores práticas e estratégias para a obtenção do capital;
seus principais clientes, fornecedores, revendedores e concorrentes; o grau de
importância de cada cargo para o alcance dos objetivos traçados; as táticas
mais comuns utilizadas pelos concorrentes. Enfim, incutir-lhes a consciência de
que quanto mais ampla e profunda for sua visão da estrutura global da
empresa, mais fácil será seu entendimento sobre os problemas organizacionais
e maior será seu comprometimento e iniciativa em minimizá-los.
• Competências Básicas - conhecimentos, habilidades, atitudes,
interesses, traços, valores ou qualquer outro aspecto pessoal capaz de,
quando devidamente motivados e desenvolvidos, tornarem-se a vantagem
competitiva da empresa.
38 As palavras de Rita Baley, diretora da Universidade Corporativa da
Southwest Airlines, ainda complementam:
"procuramos pessoas com atitude, personalidade. Para
nós, isso vem antes da qualificação [...] pessoas com
capacidade para trabalhar em time, motivadas e com
iniciativa [...] preferimos contratar as pessoas com a
atitude certa e depois treiná-las para exercer sua funções"
(apud: Fontana, 2001, p.73-74).
4. Treinar a cadeia de valor, ou seja, estender seu programa de
aprendizagem (cursos, palestras, debates, workshops, fóruns, seminários etc.)
àqueles externos a organização, porém, fundamentais para o seu crescimento
e sucesso. Clientes, fornecedores, parceiros, atacadistas, lojistas,
revendedores, distribuidores, são trazidos para o seio da organização a fim de
conhecerem sua filosofia de ação, pontos de excelência em qualidade,
podendo assim aprimorar seus serviços e produtos em prol do
desenvolvimento mútuo.
5. Tornarem-se laboratórios de aprendizagem, propiciando o
conhecimento e compartilhamento de diversas práticas, internas ou externas à
organização, a toda sua cadeia de valor. Esta pode ser desenvolvida através
de Internet, Intranet, satélites, multimídia, áudio, vídeo, bibliotecas, viagens,
entrevistas, visitas, estudos de caso, avaliação de empresas benchmarking,
leituras complementares etc., que devem estar constantemente acessíveis e
disponíveis a todos. Seu maior objetivo é criar uma cultura de aprendizagem
contínua, adequada às necessidades de espaço e tempo e alinhadas aos
objetivos e motivação individuais.
6. Motivar os líderes empresariais a estarem cada vez mais
comprometidos com este processo, cedendo parte do seu tempo para
tornarem-se facilitadores e diretores de aprendizagem, os quais devem,
39 segundo Junqueira & Vianna (1999), dispor de no mínimo 5% auxiliando a
corporificação da universidade. Sua participação, percebida em workshops, na
orientação dos funcionários quanto ao contexto estrutural, na elaboração de
ferramentas e material de apoio que facilitem esta rede de conhecimento, é de
grande relevância, visto que além de apresentarem aos funcionários as
melhores experiências e modelos de atuação, estarão também aprimorando
sua capacidade como gestores e educadores. Aproveitando a oportunidade
para reciclar seus conhecimentos a partir das experiências e conhecimentos
trazidos pelos participantes.
7. Compreendê-la como centro de lucros e fonte de recursos
próprios, capaz de sustentar-se através de serviços que devem responder com
satisfação às necessidades dos clientes. Este modelo mais agressivo e enxuto
via pagamento pelos serviços prestados, onde serão apenas ministrados
cursos que atendam diretamente as suas necessidades e exigências (cursos in
company) e que promovam valor ao negócio dos clientes (sejam eles internos
ou externos), são menos dispendiosos e suscetíveis a justificação constante de
sua existência à organização.
8. Assumir um foco global no desenvolvimento de soluções de
aprendizagem. O objetivo principal é fazer com que os profissionais entrem em
contato com as práticas e iniciativas de outras regiões, mercados e economias,
selecionando e incorporando apenas aquelas que responderem as questões
relativas ao desempenho empresarial. Estudar o global para que se possa
selecionar o que efetivamente responde ao local.
9. Elaborar um sistema de avaliação que não saliente apenas os
resultados obtidos ao final do treinamento e relacionados apenas as melhorias
do desempenho no cargo, mas que acompanhe os resultados e investimentos
pautados em três questões: o impacto provocado no capital humano, nos
clientes e nas estratégias e metas empresariais; todos a longo prazo. Portanto,
o antigo sistema de avaliação pautado no estímulo-resposta, focado apenas no
40 resultado prático e imediato no exercício da função está fadado a
desaparecer. O essencial é aprender conhecimentos que possam auxiliar no
que tange às mudanças substanciais de suas realizações.
10. Utilizá-la como meio de obtenção de vantagem competitiva e
vínculo de inserção das organizações em novos mercados e economias,
tornando-se consultoras e benchmarking para outras empresas. Sua
abrangência conceitual deve permear assuntos como educação, qualidade,
produtividade e inovação.
A Universidade Corporativa, através da educação "...permitirá ouvir e
ver com vários olhos e ouvidos o que está acontecendo e levar essas
informações de volta para a organização" (id, p.58).
Contudo Junqueira & Vianna (1999), ainda alertam para o fato de que
as Universidades Corporativas, devem antes de tudo, comprometerem-se com
a responsabilidade social, pois
"a qualquer momento, uma mudança no mercado,
das tecnologias, da gestão ou da própria
concorrência pode obrigar à descontinuidade da
relação entre um colaborador e a empresa. Por
isso mesmo, qualquer UC que queira efetivamente
cumprir sua missão deverá desenvolver a
capacitação empreendedora em seus clientes, de
modo a prepará-los para a vida como um exercício
de melhoria contínua e jamais somente na visão
mesquinha de um mero objetivo de maximizar
lucros a curto prazo de sua empresa" (p.98).
Consoante a esta afirmativa, Silva (1996) levanta uma questão:
41 "... queremos uma escola e uma pedagogia que sejam
espaço de prática e exercício da política, no seu sentido
mais amplo e democrático, ou espaço da prática das
habilidades estreitas e restritas do indivíduo econômico e
do consumidor? [...] Da resposta a esta pergunta
depende, evidentemente, nossa opção em relação à
concepção de qualidade que queremos adotar" (p.176).
Portanto, a qualidade em educação deve, através de uma análise
política, engendrar valores necessários ao mercado globalizado, a fim de
adequar-se às constantes transformações ocorridas no cenário econômico e
social. Porém, deve buscar o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos
capazes de não apenas atender, mas também compreender a realidade,
articulando democrática e harmoniosamente os interesses políticos,
econômicos e culturais dos profissionais e das organizações.
2.2 – A importância do Diretor de Aprendizagem como Líder
Sendo este considerado como mentor da Universidade Corporativa,
suas ações devem se dar no intuito de reforçar um ambiente de aprendizagem
contínua, exercendo o papel de educador pelo exemplo pessoal e
estabelecendo padrões de gerenciamento de pessoas que estejam alinhados
com a filosofia e objetivos empresariais.
Na concepção de Meister (1999), para um Diretor de Aprendizagem
tornar-se líder da UC, faz-se mister a compreensão de quatro papéis a
desempenhar. São estes:
a) Parceiro de Negócios – considerada pela autora como função
mais importante, significa conhecer a empresa em que atua em todos os níveis,
englobando sua filosofia, cultura, produtos e serviços, estratégias de ação,
42 cadeia de valores, objetivos, concorrentes, posição no mercado global etc.
Significa também estar consciente dos problemas e questões empresariais, “...
participar de reuniões estratégicas, ler os planos, das unidades de negócio,
desenvolver relacionamentos operacionais com os gerentes seniores e
recomendar soluções de aprendizagem...” (p.87), ações desenvolvidas a fim de
perceber as melhores estratégias de superação das dificuldades.
b) Pensador do sistema – elaborar, junto ao Conselho Consultivo,
programas e ações de aprendizagem que estabeleçam uma conexão e relação
direta com os objetivos empresariais. Estes devem obedecer uma lógica de
integração que vincule “... visão, desenvolvimento, organização, uso da
tecnologia, estratégia de financiamento, abordagem de avaliação e veículo de
comunicação” (id, p.88).
c) Especialista em Educação – com o objetivo de difundir a
concepção de aprendizagem contínua, este precisa ser proativo,
empreendedor, estando sempre a frente de estudos, projetos e programas que
sejam capazes de inovar e atender as necessidades e perspectivas de toda
sua cadeia de valores e de suas unidades de negócio.
d) Formador de Alianças – estabelecer rede de parcerias com
clientes internos e externos a organização como Sindicatos e Instituições de
Nível Superior, difundindo e promovendo planos e programas que, criando uma
interatividade coletiva, atendam as necessidades emergentes no sentido de
minimizar os problemas mútuos.
Como menciona Meister (1999),
“a verdadeira meta da universidade corporativa é
preparar todos os funcionários de uma organização para
que eles aproveitem ao máximo essas novas mudanças e
institucionalizar uma cultura de aprendizagem contínua
43 alinhada com as estratégias da empresa” (p.88).
2.3 – Como projetar uma Universidade Corporativa
Muitas empresas americanas já vêm desenvolvendo seus modelos há
mais de quarenta anos, tendo a Crotonville, centro de treinamento da General
Eletric fundada em 1955, como pioneira deste processo.
Segundo Meister (1999),
“... o lançamento de uma universidade corporativa é
interativo; passa por várias fases, sendo que cada uma
delas gera outra e dura em média 18 meses. Pular etapas
pode criar a ilusão de velocidade, mas não produzirá um
resultado final que permita à organização [...] ‘fortalecer a
capacidade de aprendizado do seu pessoal” (p.62).
A princípio, um projeto como este conta com dez passos básicos e
essenciais, os quais precisam obedecer uma seqüência lógica e receber
investimentos de recursos e de tempo necessários a cada etapa, a fim de ser
finalmente implantada com absoluta segurança e sucesso.
Estes, portanto, serão apresentados a seguir, a partir das afirmativas
abordadas por Meister (1999):
1) FORMAR UM SISTEMA DE CONTROLE:
Estrutura-se um conselho de controle composto por gerentes médios
de vários segmentos e/ou unidades de negócios (vendas, manufatura,
engenharia de produção), que juntamente ao Diretor de Aprendizagem, que
ficam responsáveis por :
44 • Identificar e priorizar as necessidades de aprendizagem atuais e
futuras;
• Vincular o treinamento a essas principais estratégias empresariais;
• Assegurar um projeto, desenvolvimento, apresentação e avaliação
consistentes;
• Oferecer orientação no sentido de desenvolver uma filosofia de
aprendizagem contínua.
A este conselho fica a missão de constantemente sugerir, aconselhar,
examinar e gerenciar a educação desenvolvida em suas corporações, a fim de
"... conferir uma perspectiva informada e objetiva e criar um foco padronizado e
guiado pelos negócios para todo o processo de educação e desenvolvimento"
(id, p.236-237).
Porém, cada integrante deste órgão possui um papel e
responsabilidades respectivas a saber: a exemplo da National Semiconductor
University, a Central NSU é responsável pelo gerenciamento dos programas
universais, pela seleção das políticas e procedimentos de aprendizagem, como
dos programas piloto a serem implantados e pela seleção e gerenciamento de
seus fornecedores. Já a cargo das filiais, estão a elaboração de políticas,
procedimentos e treinamentos locais, obedecendo as especificidades de cada
região, como também o contato estabelecido com as parcerias locais.
2) CRIAR UMA VISÃO:
Agora, faz-se imperativo que este conselho consultivo se reúna a fim
de, em conjunto e consenso, ouvindo também aqueles que estão diretamente
ligados ao processo (chefes de treinamento), elaborarem uma visão, uma
proposta de aprendizagem "... inspiradora, memorizável, confiável e concisa"
(id, p.70), que seja capaz de transmitir a todos o porque e como esta
sustentará uma vantagem competitiva à empresa. Algo como um jargão ou
logomarca que traduza sua filosofia de ação.
45
3) RECOMENDAR O ALCANCE E A ESTRATÉGIA DE OBTENÇÃO
DE RECURSOS:
É de extrema importância que, desde o começo, a Universidade
Corporativa já estabeleça o alcance de suas operações, ou seja, o que irá
oferecer e a quem estes irão atender. Porém, para que obtenha excelência em
suas atividades as empresas
"... estão arcando com a responsabilidade de aprimorar
todo o seu capital humano oferecendo treinamento a toda
a sua rede de negócios, isto é, funcionários, clientes,
fornecedores e, mais importante, as universidades cujos
graduados algum dia serão recrutados" (Meister, 1999,
p.245),
comunicando-lhes a respeito de sua estratégias, picos de excelência, padrões
de qualidade etc.
Desta maneira estará promovendo as mudanças culturais necessárias,
baseada nas informações obtidas através desta interatividade, como também
desenvolvendo as qualificações, conhecimentos e competências essenciais
desde a matéria-prima até a distribuição de seus produtos e serviços.
4) CRIAR UMA ORGANIZAÇÃO:
Aqui serão estabelecidas quais as funções de aprendizagem e
desenvolvimento a serem centralizadas e descentralizadas em função dos
custos e da relação aprendizado/objetivos.
Para tanto, a Corporate University Xchange - INC (apud: Meister,
1999), elaborou um quadro explicativo descrito a seguir:
46
CENTRALIZAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃO
• Conselho Consultivo de treinamento
• Filosofia de aprendizagem
• Processos e procedimentos comuns
de aprendizagem
• Aprovação de mapas para famílias
de cargos
• Seleção & gerenciamento de
fornecedores
• Identificação de necessidades
futuras de aprendizagem
• Tradução da filosofia de
aprendizagem para programas locais
• Recomendações dos parceiros
locais de aprendizagem
• Apresentação no local
• Fóruns para o compartilhamento das
melhores práticas/ comunidades de
prática
Adaptado de: Educação Corporativa – SP – Jeanne Meister
5) IDENTIFICAR INTERESSADOS:
Já estabelecida a amplitude de sua clientela, o próximo passo será
identificar as necessidades de seus clientes, analisá-las e somente enfocar
aquelas que exercerão uma grande influência na sua projeção.
Para tanto, é preciso que se identifiquem os objetivos, as questões
empresariais e as lacunas a serem preenchidas atual e futuramente. "Para que
o treinamento tenha êxito, precisamos que você ofereça orientação e preparo
adequados e mostre um profundo conhecimento de como isso será diferente
de tudo o que eles já fizeram antes", complementa Rush (apud: Meister, 1999,
p.75).
47 6) CRIAR PRODUTOS E SERVIÇOS:
Elaborar, com base em todos os itens já abordados, os produtos,
serviços e modelos que serão oferecidos como soluções de aprendizagem e
resposta às necessidades que se fizerem relevantes.
A título de exemplo, o Bank of Montreal Institute of Learning, montou
uma equipe de profissionais divididos em três categorias: a) Gerentes de
Relacionamento com Clientes - trabalham diretamente com os clientes a fim de
perceber e apontar as necessidades, perfis e exigências; b) Especialistas no
Assunto - definem o que deverá ser aprendido e c) Gerentes de Aprendizagem
- determinam como acontecerá o processo de aprendizagem, recomendando
as metodologias, tecnologias e ambientes mais adequados a cada caso.
7) SELECIONAR PARCEIROS DE APRENDIZAGEM:
Torna-se cada vez mais comum o fato das organizações proporem
alianças as Instituições de Ensino Superior, com o objetivo de obter o
reconhecimento no mercado através da chancela universitária. As UC
apresentam quais as qualificações, competências e conhecimentos que seus
profissionais necessitam, e a instituição elabora cursos feitos a quatro mãos,
sob medida para cada caso e com conhecimento profundo das estratégias da
empresa.
Também chamados de cursos "in company", ou cursos fechados, são
planejados com base na realidade da corporação. O horário é adaptado à
disponibilidade do executivo e da flexibilidade da empresa. Estes contam ainda
com a bagagem pedagógica e de pesquisa próprias das universidades
tradicionais. Aqui no Brasil, podemos citar instituições como a Fundação
Getúlio Vargas (FGV), pioneira deste programa, Universidade de São Paulo
(USP), Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Instituto MVC,
entre muitas outras.
48
8) ESBOÇAR UMA ESTRATÉGIA TECNOLÓGICA:
Atualmente, o prazo de validade do conhecimento torna-se cada vez
mais curto, como também o é o tempo e a disponibilidade dos profissionais. O
uso da tecnologia como facilitadora dos processos de aprendizagem
permanente, portanto, torna-se vital, permitindo aos participantes um
aprendizado interativo, rápido, compartilhado por toda a cadeia de valor e que
atenda as necessidades de todos, a qualquer hora e em qualquer local.
Como bem nos assegura Fernandes (1999), “além da velocidade na
disseminação das informações, temos de nos preocupar cada vez mais em
tornar esse aprendizado mais eficaz” (p.242). Portanto, o primeiro passo é
definir certos critérios essenciais a seleção dos meios que serão utilizados.
Estes devem considerar: a abrangência do assunto, com que freqüência estes
meios precisarão ser utilizados, o orçamento disponível, o projeto do curso, a
duração do treinamento, a quantidade de pessoas envolvidas, se este se dará
presencial ou a distância, o grau de motivação dos participantes, se os
funcionários tem acesso ou até mesmo se eles sabem fazer uso das novas
tecnologias, o grau de eficácia e eficiência desejados e a possibilidade de se
ter uma pessoa ou grupo responsável pelo suporte técnico, pois como sinaliza
este mesmo autor, “...a simples pirotecnia eletrônica, sem uma fundamentação
pedagógica/instrucional, não ensinará nada a ninguém” (id, p.242).
Fernandes (1999), portanto, subdivide essas “tecnologias de
aprendizagem” em dois momentos, demonstrando como a informação é
apresentada e distribuída aos profissionais.
Os métodos de apresentação incluem: texto eletrônico, TBC
(Treinamento Baseado em Computador), multimídia (texto, figuras, áudio,
animações, vídeo), teleconferência, suporte on-line, Groupware (aplicativos que
permitem o compartilhamento entre o grupo de informações como agendas,
49 cronogramas de projetos, preparação de documentos multi-departamentais,
correio eletrônico), realidade virtual (ambientes tridimensionais com exemplos
realistas do sistema), áudio, vídeo, EPPS (Sistemas Eletrônicos de Suporte ao
Desempenho, ou seja, combinações interligadas de textos eletrônicos ou
recursos multimídia que auxiliam os usuários na realização de tarefas
específicas).
Os métodos de distribuição englobam: CD-ROM, correio eletrônico (e-
mail), extranet (conecta a organização aos seus clientes, parceiros e
fornecedores), internet, intranet (conexão interligada e interna à organização),
LAN (Rede Local, ou seja, rede de computadores que compartilham
conhecimentos em uma área específica), simulador, Teia Digital (World Wide
Web, ou seja, conjunto de recursos que utiliza uma linguagem padrão HTTP –
hypertext transfer protocol – para a transmissão de textos, figuras, áudio, vídeo
e animações), TV a cabo, TV por satélite.
Complementado por Meister (1999), estes recursos permitem que a
aprendizagem seja simultânea, interativa e em tempo real, independente do
local em que o profissional se encontre, possibilitando uma maior flexibilidade,
controle e registro do aprendizado, reduzindo custos e estimulando o interesse
e a motivação dos envolvidos. Permitem o acesso momentâneo ao
conhecimento necessário, como também a troca de informações e idéias tanto
virtual como presencialmente, estabelecendo uma rede informal de
conhecimento a partir das conversas e interações estabelecidas em meio a
uma aprendizagem cooperativa. O profissional, portanto, tem a oportunidade
de personalizar seu processo de aprendizagem, fazendo escolhas de acordo
com suas necessidades e/ou preferências.
A exemplo, a maioria dos revendedores da Ford são assinantes da
FORDSTAR, sistema de rede via satélite que “... oferece treinamento, acesso a
especialistas e informações sobre produtos, bem como oportunidades de
relacionamento direto com o revendedores” (Meister, 1999, p.136).
50
Logo a seguir, pode-se visualizar um quadro referente ao treinamento
na Verifone University que demonstra alguns componentes envolvidos em uma
instrução via Web.
Verifone University : Treinamento Just-in-Time
A Verifone University combina vários componentes familiares com
alguns recursos novos para criar um centro completo de
aprendizagem e desenvolvimento. Assim, os funcionários encarregam-
se de seu futuro. Os recursos disponíveis são:
• Grupo de Aprendizagem e Desenvolvimento: Ajuda a avaliar as
necessidades de aprendizagem, elabora ferramentas e programas de
treinamento a ajuda a implementá-los. Oferece desenho instrucional,
desenvolvimento de publicações, produtos de vídeo e desenvolvimento de
equipe.
• Catálogo de Cursos On-line: Um menu de cursos e materiais de
aprendizagem que podem acompanhar o ritmo determinado pelo aluno.
• Biblioteca Virtual: Avalia informações dos bancos de dados de
conhecimento da própria Verifone.
• Auxílio Financeiro: Reembolsa aos funcionários o valor pago pela compra
de hardware e software e também por atualizações, manutenção ou conserto
dos sistemas existentes.
• Sistema de Oferta de Empregos On-line: Resumo de vagas, locais e
responsabilidades dos cargos.
• Centros de Aprendizagem: combinação de biblioteca e laboratório de
aprendizagem. Alguns centros possuem equipamentos audiovisuais e
multimídia, livros e materiais didáticos.
Fonte: Educação Corporativa – SP – Jeanne Meister
51 9) CRIAR UM SISTEMA DE AVALIAÇÃO:
Estabelecer meios e ferramentas quantitativas e qualitativas,
complementares, as quais permitam verificar o impacto que a UC exerce sobre
os negócios da empresa e se o alcance das metas e objetivos pretendidos
estão sendo atingidos. A exemplo, a Kirkpatrick realiza sua avaliação em
quatro níveis. Em primeira análise, o curso é avaliado pelo participante quanto
a sua relevância, em seguida avalia-se o nível de aquisição dos conhecimentos
e qualificações abordados. Depois, verifica-se se estes cursos estão sendo
devidamente aplicados na rotina de trabalho e para finalizar, procura-se
investigar quais os retornos, a nível financeiro, que este possa estar gerando
para a empresa.
A partir desta análise, podem ser identificados os pontos a serem
retificados, como também aqueles a serem ratificados, resultando num
constante aprimoramento de suas atividades e serviços.
10) COMUNICAR... COMUNICAR... COMUNICAR...:
Difundir em todos os setores da organização, inclusive à sua cadeia de
valores, o conceito, a proposta, as proposições básicas, os benefícios e os
resultados obtidos com a UC. Este processo deve se iniciar com o empenho
dos membros do Conselho no sentido de criar veículos marcantes e
audaciosos de comunicação, que demonstrem clara e sucintamente sua
relevância e objetivo através de conferências e encontros, onde sejam
discutidos temas atuais e vitais à organização; criar uma logomarca de rápida
associação; bem como divulgar constantemente aos clientes internos e
externos a respeito dos princípios, estratégias, andamento e resultados
obtidos.
Analisando o projeto de uma UC à luz das teorias e tendências
comentadas por Bonfim (1995) e Silva (1996), percebe-se que a tão propalada
52 qualidade em educação, baseada na GQT (Gestão da Qualidade Total),
“tende a produzir uma pedagogia, uma educação – e um indivíduo – de uma
qualidade específica...” (Silva, 1996, p.176) favorecendo “... uma domesticação
da educação pelos objetivos do mercado e da grande empresa capitalista” (id,
p.181).
Conclui-se, portanto, que esta praticidade relativa a qualidade
educacional no ambiente empresarial, remete a uma visão moderna e
adaptada da pedagogia tecnicista vivenciada desde o início das relações de
trabalho. O processo educacional não foi transformado, mas sim “maquiado” a
fim de se estabelecerem os objetivos capitalistas baseado num “discurso
democrático”, no mínimo, questionável.
53
CAPÍTULO III
ESTUDOS EXPLORATÓRIOS – O CASO ALGAR
O Grupo Algar opera em vários setores, os quais podem ser
visualizados no quadro abaixo:
Fonte: http://www.algar.com.br/estrutura/inicio.htm (08jan2008)
A UNIALGAR (Universidade Algar de Negócios), universidade
corporativa do Grupo Algar, possui um site que permite uma visão global a
respeito do seu processo de funcionamento e desenvolvimento, onde também
são encontrados: as diretrizes e procedimentos do grupo, uma biblioteca on-
line, artigos, um banco de multiplicadores internos e de projetos, um sistema de
54 Gestão de Performance, a descrição de todas as competências necessárias
a seus profissionais, como também dos programas e dos eventos, os quais
englobam: orçamento de T&D (Treinamento e Desenvolvimento), programas de
consultoria, eventos abertos e internos, eventos “in company” e um shopping
virtual.
Embora, desde 1989, o Grupo Algar já venha realizando atividades
com o objetivo de criar um “time” de profissionais “empreendedores, proativos,
ousados e criativos”, colocando a sua disposição uma aprendizagem
desenvolvida por várias e renomadas Instituições de Ensino, consultorias e
programas de gestão dos mais modernos, sua efetiva implantação se deu
apenas em setembro de 1998.
Sua principal meta é promover um espaço de constante formação,
reciclagem e aperfeiçoamento de habilidades, conhecimentos, como também
das atitudes exigidas pela chamada “Era da Informação”.
Seu principal objetivo é cuidar do processo de aprendizagem
continuada de todos os associados das empresas do Grupo Algar. Garantir que
os investimentos em educação e treinamento sejam adequados com a real
necessidade de cada talento e estejam em sintonia com as necessidades dos
negócios das empresas do Grupo Algar. Zelar pela cultura ALGAR e cuidar
para que os princípios e os valores do Grupo sejam disseminados e
internalizados por todos os associados
A UNIALGAR possui autonomia orçamentária, sendo considerada uma
entidade educacional sem fins lucrativos. Esta possui, para a regulamentação
de suas atividades, um estatuo próprio e é composta por uma diretoria e um
conselho educacional.
A UNIALGAR não tem prédio próprio nem campus universitário, os
programas são elaborados por consultorias especializadas. Não tem
55 “professores” próprios, toda a operação é terceirizada. A Universidade tem
03 associados (empregados) e eles são profissionais altamente qualificados,
com uma visão bem moderna da atividade de educação corporativa. Cuidam
fundamentalmente do planejamento, das políticas e do processo de
aprendizagem.
O primeiro passo para efetivação da matrícula do profissional nos
eventos é a análise, em conjunto com seu superior, das suas necessidades
atuais e futuras e quais os programas mais indicados para atendê-las. Logo
após, este deve inscrever-se no site e fazer seu cadastro de acordo com a
análise previamente estabelecida. A partir daí, realiza-se uma Avaliação de
Performance, a qual analisa os objetivos e missão do cargo de cada talento do
grupo. Essas informações são enviadas a empresa do candidato para sua
devida aprovação e validação. Em seguida, elabora-se um Plano de
Desenvolvimento Individual e uma agenda programática, os quais são enviadas
com antecedência ao profissional.
No valor dos programas, geralmente estão incluídos gastos relativos a
consultorias, coffe-breaks, material didático e logística. Os gastos relativos a
hospedagem, almoço e transporte são assumidos pela empresa do funcionário.
Os eventos acontecem sempre em dias úteis e para a sua efetiva
conclusão e emissão do certificado UNIALGAR, faz-se necessário, como em
qualquer outra instituição de ensino, freqüência igual ou superior a 75% da
carga horária pré-estabelecida para cada módulo.
Caso haja impossibilidade de comparecimento por parte dos
profissionais, este poderá permutar sua vaga com outro profissional que esteja
inscrito no mesmo evento, tendo esta que ser informada com no mínimo uma
semana de antecedência.
56 Os programas oferecidos pela UNIALGAR são: ACE – Algar
Capacitação Essencial; PGA I – Programa de Gestão Avançada I; PGA II –
Programa de Gestão Avançada II; PEF – Programa Estratégico de Formação;
PCC – Programa de Cidadania Corporativa; PGP – Programa de Gestão de
Processos e PTI – Programa de Tecnologia de Informação.
Contudo, para se tornar um executivo Algar, segundo a própria
empresa, os profissionais devem possuir e desenvolver sete competências
essenciais, as quais são:
� Visão de futuro
� Gestão de Resultados (fazer acontecer)
� Gestão de Mudanças
� Liderança Educadora
� Inovação
� Foco do Cliente
� Negociação
Todas estas competências são devidamente descritas, conceituadas e
tem como apoio artigos e módulos à disposição dos executivos para que
possam desenvolvê-las.
A UNIALGAR, portanto, proporciona aos seus funcionários a
oportunidade de se desenvolverem e se aprimorarem, acompanhando e
comprometendo-se com os objetivos e metas empresariais, de uma maneira
dinâmica e flexível.
3.1 – O caso GE (General Eletric)
A General Eletric é uma empresa diversificada que opera, há mais de
120 anos, em mais de cem países, possui em média 340 mil funcionários,
57 abrangendo vários segmentos tais como: doméstico, industrial, público,
automotivo etc.
Esta foi pioneira na implantação de escolas de administração
corporativa, atualmente denominadas Universidades Corporativas, fundando
seu centro de treinamento Crotonville em 1956, o qual, segundo Jacomino
(2001), tornou-se “...referência mundial em desenvolvimento de líderes [...]
descrita pela revista de negócios americana Fortune como a ‘Harvard da
América Corporativa’” (p.40).
Fonte: www.ge.com.br (25fev2008)
Situado entre as cidades de Boston, Filadélfia e Nova Iorque,
Crotonville possui um campus com quatro prédios e um heliporto, sendo que
dois deles constituem-se de salas de aula, auditórios e espaços para trabalho
em grupo. Também possui um hotel, para acomodação dos executivos, que
fica no prédio central. Este compreende 188 apartamentos, um restaurante, um
centro de negócios equipado com computadores conectados a Internet, uma
academia de ginástica e uma cozinha com sistema 24 h por andar. Em um
outro prédio localiza-se o centro de recreação onde os participantes podem
desfrutar de gamão, mesas de sinuca, piano, lareira e bar.
Os cursos oferecidos aos funcionários são subdivididos em três
categorias, descritas a seguir:
58
�Cursos técnicos – voltados para Finanças, Recursos Humanos e
Tecnologia da Informação;
�Educação para Liderança – orientados para os líderes em ascensão
na empresa, compreendem seis modalidades para cada nível de suas carreiras
com duração média de 1 a 4 semanas;
�Temas estratégicos para a empresa – oferecidos ao início de cada
ano, apresentando as metas e objetivos a alcançar durante o período.
Alguns cursos e modalidades são ministrados fora do campus de
Crotonville, em outros países ou mesmo pelas próprias unidades de negócio,
pois como diz Kerr (apud: Jacomino, 2001), “nossa meta não é ensinar
estatística relativa ao Seis Sigma ou técnicas para consertar uma turbina. Isso
tem de ser feito em cada unidade, de acordo com as necessidades do negócio”
(p.41).
Estes cursos estão sempre em consonância com as prioridades dos
negócios. Segundo as palavras de Howard & Disch (apud: Jacomino, 2001),
“ao montar um programa, consideramos a estratégia da companhia naquele
ano e as necessidades dos clientes, sem esquecer, é claro, dos valores da GE”
(p.40).
Com uma receita estimada em 800 milhões de dólares de investimento
por ano, estes programas educacionais são ministrados por professores das
Universidades próximas ao campus em conjunto com os executivos da própria
companhia. Contudo, para a escolha dos professores universitários, a GE é
bastante rigorosa, pois além de possuírem as características necessárias
devem também estar conscientes dos negócios e da linguagem que permeia a
empresa.
A cada ano, cerca de 1,5% de seus profissionais, ou seja, em média
5.000 a 6.000 pessoas, passam pelo seu centro de treinamento para liderança.
59 Mas, para fazer parte deste “time”, é preciso antes uma avaliação por parte
dos líderes e do departamento de RH. Os profissionais são avaliados, durante
todo o ano, por seus superiores, colegas e clientes a respeito de sua
performance profissional.
A estes são aplicados vários instrumentos, os quais avaliam sua
adesão aos valores da empresa, sua evolução na carreira, sua rede de
relacionamentos, busca por resultados, etc., e como afirma Pezeiro (apud:
Jacomino, 2001), “um dos aspectos mais difíceis dos cursos de liderança é a
escolha dos participantes certos, que tenham o perfil adequado e que
realmente estejam precisando daquele treinamento naquele momento da
carreira” (p.42).
Seus cursos também se estendem a sua cadeia de valores, onde são
discutidas, de maneira mais específica, as relações cliente-organização e
oferecidas noções sobre as estratégias mais usuais na organização, como por
exemplo o “Seis Sigma” e “Administração de Mudanças”.
As experiências vivenciadas em Crotonville permitem o
compartilhamento de experiências e conhecimentos de vários lugares do
mundo, proporcionando uma visão global da empresa.
Contudo, segundo Jacomino (2001), o sucesso desta renomada
organização deve-se a dedicação e ao empenho de Jack Welch, CEO (Chief
Executive Officer) da organização desde a década de 80, pois ele investe parte
de seu tempo lá. No mínimo duas vezes ao mês, Welch visita o centro para
ministrar palestras, aulas e entrar em contato direto com os executivos que
estão participando dos processos de treinamento, a fim de “...ouvir críticas e
buscar soluções de seus funcionários” (id, p.40). Através desta atitude, pode-se
obter as melhores estratégias e soluções, visto que são estes os maiores
envolvidos na rotina e na problemática diária da organização.
60 3.2 – O Caso McDonalds
Fonte: www.mcdonalds.com.br (13mar2008)
A Universidade do Hambúrguer, inaugurada em outubro de 1997 e
localizada em Alphaville (São Paulo), possui um prédio de quatro pavimentos
com total infra-estrutura, o qual representa um investimento de 7 milhões de
reais. Suas outras unidades encontram-se nos Estados Unidos, Alemanha,
Japão, Austrália e Inglaterra.
Esta ministra cursos de especialização atendendo a todos os
segmentos de seus restaurantes e fast foods, com capacidade para atender até
240 treinandos em até três cursos simultaneamente.
Todos os funcionários do McDonalds cursam a Universidade do
Hambúrguer ao início e decorrer de sua carreira. Seu processo de
desenvolvimento de profissionais é contínuo e abrange desde o atendimento
até cargos mais altos de gerência. Antes de assumir o cargo de atendente, por
exemplo, o funcionário deve concluir com excelência um treinamento de no
mínimo 30 h.
Os investimentos relativos a este processo abrangem cerca de 20
milhões de dólares por ano, os quais permitem que a Universidade do
Hambúrguer ofereça seus cursos a mais de 800 funcionários anualmente.
61 Estes cursos são direcionados ao atendimento a clientes, a gerência
e as franquias. Este último recebe um treinamento específico, o Curso
Avançado de Operações (CAO), que com cerca de 250 participantes de toda a
América Latina e de países de língua portuguesa, destina-se à formação de
gerentes operadores ou empresários que pretendam abrir uma franquia.
A busca constante pelo aprendizado é uma das filosofias do
McDonalds, a qual é considerada por todos aqueles que fazem parte da
organização. Esta atitude, portanto, tenta garantir aos seus restaurantes um
“tipo de excelência” na qualidade de todos os seus serviços e produtos.
A dinâmica de desenvolvimento de carreira estabelecida pela empresa
é assim orientada: o funcionário inicia como atendente ou trainee. À proporção
que este obtêm excelências na realização de suas atividades, vão sendo
gradativamente promovidos, podendo alçar os cargos de treinador,
coordenador de equipe, trainee de gerente, segundo-assistente, primeiro-
assistente e gerente operador respectivamente, recebendo um treinamento de
reforço nos Centros de Treinamento Regionais para cada etapa conquistada.
Aqueles que ainda assim obtiverem um reconhecimento ainda maior no seu
desenvolvimento, podem se tornar consultores ou até mesmo executivos da
empresa.
Àqueles ingressos pelos programas de trainee, é ministrado um
Programa de Desenvolvimento Gerencial, no período de 13 semanas, o qual
lhes conferencia o cargo de segundo-assistente.
Portanto, percebe-se que o McDonalds oferece possibilidades de
desenvolvimento e crescimento constante aos seus funcionários, permitindo o
acesso a qualquer cargo, seja ele primário ou de alto nível, bastando para isto,
segundo a empresa, o empenho, o esforço e a dedicação de cada um.
62 3.3 – Centros de Estudos/Pesquisas sobre Universidades
Corporativas
Através dos estudos exploratórios realizados, pode-se conhecer alguns
centros que realizam pesquisas, consultorias, eventos, publicações entre
outros serviços, a respeito das UC, os quais serão descritos a seguir.
� CORPORATE UNIVERSITY XCHANGE, INC
Tendo como presidente a principal referência mundial no que tange a
Universidade Corporativa, Jeanne Meister (autora de uma das obras
analisadas nesta pesquisa), e com sede em Nova Iorque, possui como missão
“... oferecer pesquisas sobre as melhores práticas demonstradas no projeto e
desenvolvimento de universidades corporativas de classe mundial” (Meister,
1999, p.XXIII).
Suas atividades englobam o seguinte:
• Serviços de consultoria em lançamento e desenvolvimento de
Universidades corporativas e em estruturas para formar parcerias
Organização/Mundo acadêmico;
• Pesquisas anuais como o Anual Survey of Corporate University Future
Directions (relatam as melhores práticas realizadas por cem UC) e o Chief
Learning Officer Xchange (pesquisas e fóruns de benchmarking para reitores
de UC);
• Eventos como o Symposium Series – Corporate Universities Enter the
Twenty-First Century e Desingning a Virtual Corporate University. Realizados
anualmente, apresentam as melhores sugestões e orientações sobre como
obter excelência no gerenciamento de uma UC;
• Publicações como o Corporate Universities International, boletim
bimestral que relata o resultado das pesquisas, sugestões, tendências,
estratégias e perfis de fornecedores e instituições educacionais.
63 � CEDUC (Centro de Estudos em Educação Corporativa)
O CEDUC é um órgão do Instituto UNIEMP (Fórum Permanente das
Relações Universidade-Empresa), composto por um Conselho Diretivo, uma
Coordenadoria Executiva, um Núcleo Científico, algumas Unidades
Tecnológicas e um Conselho Consultivo.
Seu objetivo é incentivar, desenvolver, promover e apoiar projetos de
pesquisa, desenvolvimento e tecnologia referentes a Educação Corporativa.
Sendo assim, suas atividades são:
� Estimular atividades de educação corporativa em organizações;
� Promover projetos e atividades que objetivem o alcance da
excelência empresarial;
� Promover campanhas e movimentos de conscientização sobre a
importância da educação corporativa;
� Apoiar e possibilitar o encontro de estudantes e profissionais das
mais diversas áreas realizando trocas e integrações, a fim de divulgar e
incrementar conhecimentos relativos a educação corporativa;
� Promover estudos, pesquisas, produção e divulgação a respeito da
finalidade do CEDUC;
� Organizar, promover, realizar e participar de eventos, congressos,
palestras, seminários, etc., que discutam e busquem soluções ao que tange a
educação corporativa;
� Produzir e divulgar publicações relatando as atividades e conteúdos
desenvolvidos pelo CEDUC;
� Assessorar e prestar serviços de consultoria em projetos de
organizações públicas ou privadas.
Este centro desenvolve um Projeto de Educação Corporativa que
pretende desenvolver e implantar o SIA (Sistema Integrado de Aprendizagem),
o qual é composto por três escolas corporativas de capacitação e
64 desenvolvimento formando uma Universidade Corporativa. Estas três
escolas são:
1. Escola da Empresa – aqui são ministrados aos participantes cursos
que apresentam a organização, seus objetivos, sua missão, seus valores.
Desta fazem parte o Módulo de Desenvolvimento e o Módulo de Carreiras dos
Colaboradores da Organização.
2. Escola de Relações - estabelece um canal entre a empresa e seus
revendedores, fornecedores, representantes e funcionários. Seu programa
envolve módulos de caráter estratégico (direcionados aos diretores, gerentes,
com o intuito de disseminar práticas de negociação e de valor agregado) e de
caráter tático (aborda tema específicos as atividades desenvolvidas pelos
membros da cadeia de valores da organização).
3. Escola de Líderes – aborda temas como competitividade e atende
aos talentos em potencial das organizações; seu cumprimento total conferencia
aos participantes um certificado de MBA Corporativo, oferecido em parceria
com uma renomada Instituição de Ensino Superior.
Este projeto ainda conta com alguns produtos e serviços como um
Newsletter Interativo; uma Extensão de Cursos, que promove um fluxo
contínuo através de um espaço virtual, relatando as melhores práticas e
desenvolvendo avaliações que permitam saber a compreensão e aplicação do
curso estendido na rotina da empresa; e um Livro-Vivo, apresentando textos de
apoio.
� PROGEP (Projeto de Estudos em Gestão de Pessoas)
Um programa realizado pela FIA/USP (Fundação Instituto de
Administração da Universidade de São Paulo) que tem por objetivo contribuir
para o alcance da excelência das atividades relativas a Gestão de Pessoas nas
organizações públicas e privadas. Suas atividades referem-se a: diagnosticar
cultura e mudança organizacionais; gerir subsistemas de capacitação, carreira,
65 compensação e desenvolvimento de pessoas; gerir competências e
desenvolver as relações de trabalho e de qualidade de vida no trabalho.
O PROGEP é composto por diversos professores de diversos
departamentos da USP, como também de professores de outras instituições
nacionais e internacionais, técnicos, gestores e pesquisadores que façam parte
do setor de administração das organizações. Dispõe ainda de um Conselho
Consultivo que tem por objetivo orientar e dinamizar o trabalho realizado.
Suas atividades são desenvolvidas nos campos de consultoria,
pesquisa e educação continuada. Este último conta com a realização de cursos
de curta duração, um Workshop Best Practices e um Seminário Anual.
Sua coordenadora em Projetos sobre Universidade Corporativas
Marisa Eboli, organizou o primeiro trabalho editado no Brasil, relativo ao tema
de educação corporativa cujo título é: “Universidades Corporativas: educação
para as empresas do século XXI”. A coletânea reúne textos e artigos que
relatam as principais tendências em educação empresarial, como também o
contexto, a missão, os objetivos e princípios das Universidades Corporativas.
Ainda conta com um CD-ROM, quatro estudos de casos e duas entrevistas,
com a finalidade de estabelecer uma relação mais estreita entre a teoria e a
prática.
66
CONCLUSÃO
Com base na revisão de todo o contexto histórico-cultural em que se
realizaram os processos de escolarização no contexto empresarial, bem como
na conceituação e análise dos princípios, projetos, currículos, amplitude e
centros de pesquisas que compreendem a temática principal deste estudo, e a
partir das revisões literárias e dos estudos exploratórios realizados durante
todo o processo, pode-se perceber a relevância desta pesquisa, posto que
emergem questões as quais respondem com criticidade tanto as necessidades
empresariais quanto as profissionais.
Esta pesquisa pretendeu realizar mais que simplesmente a
organização das informações coletadas, procurou remeter uma análise
dialética e crítica no sentido de se distinguir e, ao mesmo tempo, estabelecer
uma congruência entre as necessidades das organizações e dos profissionais,
a fim de, consoante as palavras de Silva (1996), se aprofundar “... a discussão
sobre uma noção de qualidade que seja política e não técnica, sociológica e
não gerencial, crítica e não pragmática” (p.171).
Esta “noção de educação”, portanto, mais do que compreender e
considerar as necessidades e dinâmica do economicismo, deve também
dialogá-las critica, política e socialmente, a fim de se comprometer com a
formação de “seres humanos” e não apenas de “profissionais competentes e
polivalentes”.
Através das análises de autores como Boog (1999), Bowditch & Buono
(1999), Chiavenato (1999), Crawford (1994), Davenport (1998), Schultz (1973)
e Malvezzi (1999), percebeu-se como foram realizadas as mudanças no
contexto educacional das empresas desde a Revolução Industrial até a
atualmente denominada “Era da Informação”. Muitos foram os antagonismos e
67 os conflitos estabelecidos no processo de desenvolvimento, qualificação e
formação humana.
Dos autores com os quais debateu-se o contexto das Universidades
Corporativas , “filhas” do processo de “Terceira Revolução Industrial”, assim
denominado por Frigotto (1995), Meister (1999) é incisiva ao afirmar que estas
impõem-se como unidades (virtuais ou presenciais) educativas internas de
treinamento, que pretendem desenvolver profissionais diferentemente
qualificados e internamente fortalecidos, que se inserem nas relações sociais e
que são responsáveis pela contínua construção e aprimoramento de sua
própria realidade. Pretendendo também participar a seus parceiros,
fornecedores, funcionários, clientes e até mesmo a comunidade na qual estão
inseridas suas estratégias, valores, pontos de excelência, objetivos etc.
A real função da Educação Corporativa é desenvolver profissionais que
não apenas “vistam a camisa da empresa”, mas que efetivamente “pensem
com a cabeça da empresa”, a fim de agregarem valores e soluções
satisfatórias às necessidades e dificuldades organizacionais.
É no contexto do discurso estabelecido pelos “homens de negócios” e
baseados em termos como: empregabilidade, flexibilidade, competitividade,
competências, habilidades, qualidade total, polivalência, assertividade,
conhecimento, capital intelectual, talento, que a retórica neoliberal ganha
espaço e densidade ideológica, ratificando lacunas que correspondem com
adequação e competência as necessidades do sistema capitalista.
Aos profissionais parece restar apenas acompanhar estas mudanças,
internalizar estes conceitos e premissas a fim de não serem excluídos do
mercado de trabalho.
Porém, os intensos investimentos dos “homens de negócio” na
formação e qualificação humana, não traduzem efetivamente uma preocupação
68 com a emancipação humana, mas sim uma “solução” à crise do sistema
capitalista em estabelecer-se diante a tantas transformações e inovações do
mundo globalizado.
Sendo o trabalho fundamental ao homem, por representar a
oportunidade de realização profissional com profundas implicações na sua
individualidade, faz-se necessário não apenas compreender e realizar as
necessidades e características demandadas pelo intenso processo de
globalização e de inovações tecnológicas. Mais do que isso deve-se, como
orientam Frigotto (1995, 2000, 2001), Silva (1996) e Gentilli (1996),
problematizá-las e discuti-las à luz das relações de poder relativas às
transformações dos processos políticos, econômicos, culturais e sociais em
que estas se desenvolvem, a fim de responderem com adequação as múltiplas
necessidades e especificidades humanas.
Esta “alienação” reproduz todo o discurso neoliberal criticado por
autores como Frigotto (1993, 1995, 2000), Silva (1996) e Gentilli (1996), sendo
denominado por este último como um processo de “mcdolnadização da
escola”.
Deste modo, significa dizer que as instituições educacionais precisam
ser tão flexíveis, competitivas e dinâmicas quanto uma empresa na “produção”
de seu produto: o profissional.
Para os neoliberais, assim como o McDonalds inovou suas atividades
ao implantar o sistema fast food, correspondendo às demandas pós-industriais,
a educação deve também se basear na “pedagogia fast food”, ou seja, “...
sistemas de treinamento rápido com grande poder disciplinador e altamente
centralizados em seu planejamento e aplicação” (Gentilli, 1996, p.34).
69 Gentilli (1996) ainda faz uma irônica comparação entre o processo
de preparação do Big Mac e o processo educacional aqui discutido, dizendo
que ambos os processos são
“...resultado de uma criativa planificação centralizada e
uma não menos criativa descentralização das funções
exigidas para a elaboração de um produto cujos insumos
são fornecidos por um número variável de produtores. A
aplicação de uma série de rígidos controles de qualidade
(também centralizados) garante uma alta produtividade,
além da redução dos custos de produção e, em
conseqüência, um aumento da rentabilidade obtida...” (p.
35).
Esqueceu-se, entretanto, que o “produto final” são as pessoas, e sendo
assim, como nos assegura Frigotto (1995), mercantilizar seus direitos e
necessidades humanas seria o mesmo que insultar a própria condição
humana.
O processo educacional discutido aqui, não foi transformado, mas sim
“maquiado” a fim de se estabelecerem os objetivos capitalistas baseado num
“discurso democrático”, que visa o ajustamento das relações de trabalho ao
modelo neoliberal.
Portanto, as propostas de alternativas neoliberais ao campo da
educação longe de serem democráticas, assumem um papel de reprodutoras
da exclusão e alienação dos trabalhadores, a medida que transformam o
cenário educacional num “mercado”, subordinando-o à “qualidade” de sua
própria formação.
O que espera-se, como nos salienta Frigotto (1995, 2000, 2001) é que
a partir da compreensão dos limites e ambigüidades em que se realiza o
70 discurso neoliberal, se estabeleça uma qualificação da qualidade em
educação, a qual esteja política, econômica, cultural e socialmente
comprometida com a emancipação humana.
71
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