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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
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EXECUÇÃO DE ALIMENTOS
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Por: Bruna Pacheco Rinaldi de Carvalho
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Orientador
Prof. Jean Almeida
Rio de Janeiro
2007
FOLHA DE ROSTO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
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EXECUÇÃO DE ALIMENTOS
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Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Processo Civil
Por: . Bruna Pacheco Rinaldi de Carvalho
AGRADECIMENTOS
A todos os autores, corpo docente do Instituto “A
Vez do Mestre”, ao professor Jean Almeida por ter
inúmeras vezes paciência de nos informar sobre as
questões da monografia, dedico também ao meu
marido e toda minha família, assim como aos meus
amigos.
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia antes de tudo a Deus
por me dar tantas oportunidades boas na vida.
Dedico ao meu marido Luciano que sempre
acreditou no meu potencial e foi quem mais me
estimulou a fazer a pós-graduação. Dedico aos
meus pais Clarita e José Luiz, por tudo que
fizeram por mim na vida. Dedico as minhas irmãs
Ana Paula e Bebel por tudo que me ensinaram e
por tanta amizade. Dedico a minha vózinha
Violeta por ser tão alto astral. E claro, dedico ao
meu mestre Frei Damião por me dar conselhos
para ser cada dia um ser humano melhor.
RESUMO
O presente trabalho trata da execução de alimentos. Assunto
este muito discutido, devido ao fato de que se alguém está
passando por necessidades básicas para sobrevivência e outro
que tem obrigação de ajudar não o faz, será severamente
punido.
A sanção mais rigorosa que tem é a prisão, mas antes de se
falar em prisão, fala-se em execução. Esta monografia, vai
mostrar desde o começo da execução, dando as idéias básicas
até o momento em que se fala em prisão.
A execução é um meio eficaz de fazer com que o devedor de
uma prestação pague aquilo que lhe é obrigado. Não há como
fugir disso, a lei é bem clara para aqueles que devem.
Sempre quando se fala em processo executivo, há uma ordem
do juiz mandando que o devedor cumpra com sua obrigação.
Esta ordem tem que ser do juiz. Não existe execução sem uma
ordem judicial obrigando seu cumprimento.
Se o devedor insistir em não obedecer uma ordem judicial,
onde lhe obriga a cumprir certa obrigação, será mais uma vez
prejudicado, tendo que pagar multa diária por inadimplemento
e descumprimento.
Todos os modos e meios de execução que serão vistos neste
trabalho, têm como único objetivo fazer com que os devedores
se sintam coagidos e assim não prejudiquem quem na maioria
das vezes somente briga por necessidade de viver e não tem
como se sustentar, até porque, a maior parte dos casos de
execução de alimentos o maior interessado ou o maior
necessitado é um menor de idade.
O primeiro capítulo fala da lide e satisfação, o segundo capítulo
fala da obrigação alimentar, o terceiro capítulo trata do título
executivo e obrigação alimentar. Já o quarto e último capítulo
tem como tema os alimentos e os meios executórios.
METODOLOGIA
Para a escolha do presente tema, tive a idéia de juntar duas
matérias interessantes e habituais. Execução é um tema em
processo civil muito discutido. Já alimentos é um tema em
direito civil sempre atual na vida das pessoas. Por ter uma
certa afinidade com o ramo de direito de família e trabalhar
nesta área, decidir juntar os dois temas e fazer uma monografia
sobre execução de alimentos. Para desenvolvimento do
trabalho, fiz inúmeras pesquisas em livros de autores
conceituados, incluindo código de processo civil e código civil.
Além disso, as matérias em sites de tribunais e pesquisa da
internet foram essenciais para dar a o grand finale a minha
monografia.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................9
CAPÍTULO I ..................................................................................................................10
CAPÍTULO II .................................................................................................................16
CAPITULO III ................................................................................................................26
CAPÍTULO IV ...............................................................................................................29
CONCLUSÃO ...............................................................................................................50
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................52
ÍNDICE ...........................................................................................................................53
FOLHA DE AVALIAÇÃO ...........................................................................................55
9
INTRODUÇÃO
O tema da presente monografia é a execução de alimentos. O assunto
citado, se presta ao exame genérico da tutela executiva. Isso se dá porque os
alimentos dispõem de vários meios executórios.
A monografia divide-se em duas partes. A primeira parte tem como foco
a execução, mostrando passo a passo os conflitos, o processo, a natureza
executiva e as espécies de execução.
Já a segunda parte aborda os diversos tipos de execução no que se
refere aos alimentos. O foco é mostrar a obrigação alimentar, que se não for
cumprido por quem se obriga a fazer, será executado. E para isso, a lei possui
vários meios de coerção para que seja satisfeita a obrigação alimentar.
Este trabalho é rico em detalhes e informações a respeito da execução
de alimentos.
Este assunto, está diante de uma área sensível do direito por atingir
diretamente as pessoas, envolvendo a própria vida, à convivência e ao
tratamento mútuo, com importantes repercussões na esfera patrimonial.
Neste trabalho, haverá referência aos seguintes temas:
Lide e satisfação na execução, classificação das ações, ato executivo,
espécies de execução, meios executórios de coerção, tutela executiva do
crédito alimentar, obrigação alimentar, titulo executivo e obrigação alimentar,
alimentos e meios executórios, aspectos fundamentais dos ritos, incluindo
prisão do devedor e execução por expropriação. Todos esses títulos muito bem
fundamentados, baseados nas pesquisas de grandes juristas.
10
CAPÍTULO I
LIDE E SATISFAÇÃO
Considerando as extraordinárias transformações deste século,
Francesco Carnelluti iniciou suas lições de direito processual escrevendo o
seguinte: se o “interesse é uma situação favorável à satisfação de uma
necessidade; se as necessidades humanas são ilimitadas; se, ao invés,
limitados são os “bens”, ou seja, a porção do mundo exterior apta a satisfazê-
las, produto necessário da convivência do homem com outros homens é o
conflito de interesses”.1
Esta passagem, transcrita acima constitui o núcleo daquilo que
posteriormente Carnelutti transformaria num completo “sistema” capaz de
amparar, já que suas opiniões naquela época eram consideradas polêmicas e
muitas vezes intransigentes, porém a única teoria geral do direito verdadeira.
Esse pensamento de Carnelutti na área de processo civil, mostrava pela
primeira vez o conflito entre direito e sociedade. A sociologia do direito buscou
inspiração na teoria conflitualista e emprega, largamente a noção de conflito.
Pode-se concluir, que o mérito inicial do método criado por Carnelutti, é
imprescindível, pois consiste em propiciar explicações de fundo sociológico
para elementos básicos como o processo e a jurisdição, na ciência processual.
Conforme assinala Ângelo Bonsignori,2 através das técnicas executivas
o órgão judiciário privará o executado, do direito constitucional de gozar daquilo
que é seu, imputando desta forma, bens à satisfação do crédito. Essa tutela
pode ser alcançada através de processo único, e quando cognição e execução
se encaixam, para vantagem da execução. A tutela executiva pode ser
1 Francesco Carnelutti, Lezioni di diritto processuale civile, vol. 1, p. 13. 2 Ângelo Bonsignori, L’ esecuzione forzata, p. 5.
11 postergada para relação processual subseqüente, podendo se verificar na
condenação.
Quando se trata de execução haverá o emprego da força estatal na
estrutura dos meios executórios. Como exemplo pode-se citar a execução da
prestação de dar coisa certa, importando desapossamento, compulsório (art.
625 CPC) ou voluntário (art. 622 CPC); assim como, há perda da posse no
primeiro ato da alienação forçada, melhor dizendo a penhora (art. 652). Há
também a transformação (art. 634), que executa prestação de fazer fungível.
Há outros casos como a alienação (art. 693), a adjudicação (art. 714) e o
usufruto (art. 716).
Quando fala-se em execução direta que é dita como a “autêntica” , é o
tipo de execução forçada que se realiza independentemente da vontade do
executado. Já quando se tratar de execução indireta tem-se qualquer tipo de
conduta para restabelecer o império do direito, inclusive através da coerção
contra o executado.
Em toda execução sempre haverá a invasão da esfera jurídica do
executado. E será necessária à vista de certos bens personalíssimos, como a
intimidade, e de alguns direitos de valores expressivos como o crédito
alimentar que o CPC de maneira conservadora utiliza violenta pressão
psicológica.
1.1 Classificação dos atos executivos
Os atos executivos têm várias classificações, quais sejam: Atos de
apreensão, ou constrição, que tem como exemplo a primeira etapa da penhora
(art.644 do CPC) e a do desapossamento (art. 625). Há também os atos de
transformação, execução esta do facere fungível (art. 633 do CPC). Atos de
custódia, como exemplo o depósito de coisa penhorada (art.665 do CPC) e a
mais dura de todas que é a prisão do executado (art. 733 parágrafo 1º CPC).
12 Sobrando os atos de dação, transferência, de pressão, todos citados,
prevalecendo a coerção, submetida ao controle do juiz.
Conforme o disposto no art. 577 do CPC os atos executivos dependem
de provisão judicial e compete ao oficial de justiça realizar tais atos.
Normalmente a lei exige apenas um oficial para cumprir as diligencias, porém
em alguns casos, quando há resistência do executado, necessita-se de um
segundo oficial para arrombar uma porta em caso de penhora por exemplo.
1.2 Documentação do ato executivo
A escrita exerce quase que absoluto um domínio dos atos e termos
processuais. Desta forma, o “processo” de execução compartilha do sistema de
documentação para as ações transitáveis no processo de conhecimento (arts
166 -171 CPC), tanto a forma quanto em relação ao agente. Os atos serão
sempre documentados por escrivão, porteiro, leiloeiro, ou ao chefe da
secretaria.
1.3 Encadeamento dos atos executivos
O ato executivo desloca de modo coativo, pessoas e coisas, e provoca
transferência, também forçada, de valores para outro círculo patrimonial.
Assim, mantida a fidelidade ao objetivo de qualquer execução, que nada mais é
do que a satisfação do exeqüente, os atos executivos se encadeiam e se
mostram em grandes operações, chamadas de meios executórios.
Os bens a serem executados podem ser uma coisa certa ou
determinada (corpus); dinheiro, ou uma quantidade de coisas em dinheiro
passiveis de conversão (genus); e por fim, uma atividade ou uma abstenção do
executado (facere e non facere). Ora, é fácil distinguir qual o meio de
execução que será utilizado, sendo os três métodos – corpus, genus e facere –
bem distintos entre si. Como exemplo, despoluir as águas do açude, compelir o
13 executado a entregar determinada quantia são coisas completamente
diferentes, não há como confundir as técnicas para a realização da execução.
Em algumas hipóteses, o legislador criou até mesmo algumas vantagens
para o devedor. Como é o caso da penhora, que durante a procura dos bens
penhoráveis para serem nomeados, a lei permite que o devedor escolha,
dentro de cada classe de bens e na ordem previamente estabelecida, o mais
conveniente para ser penhorado (art. 652, caput).
1.4 Meios executórios de coerção
Antigamente, a manus injectio era caracterizada como um emprego de
força contra o obrigado. Naquela época o obrigado era acorrentado em plena
praça pública até que sua divida fosse satisfeita, caso contrário, a pior das
sanções ocorria – a morte -. Esse tipo de execução é o que podemos nomear
como execução pessoal, pouco importava o patrimônio.
Hoje, não fala-se mais nesse tipo de coerção pessoal e sim a
patrimonial. Amaral Santos, dizia que somente as particularidades do facere
infungivel, exigindo a insubstituível participação do executado, explicam dita
espécie de demanda.3 Na ação cominatória, o juiz despachando inicial de
semelhante ação, comina pena pecuniária ao réu, com a intenção de forçá-lo
ao cumprimento e desestimular a defesa, sendo claro portanto que o
demandado tem a faculdade de opor-se à execução. Amaral Santos, afirma
ainda que “tanto quanto as obrigações de dar, as de fazer, ou as de não fazer,
poderiam ser acertadas por ação ordinária de conhecimento”.4
Quando fala-se em remédio monitório, primeira característica desta
multa é o vencimento do prazo de cumprimento, fixada pelo juiz na ação
executiva derivada do efeito condenatório (art. 632), a liminar ou na ação
3 Moacyr Amaral Santos, Ações cominatórias no direito brasileiro, vol. 1, p. 185 4 Idem, vol.1, p. 191
14 fundada em titulo extrajudicial. A pena quase sempre ultrapassa a medida
econômica da prestação, sujeitando-se a modificações.
Esse meio executório é na maior parte das vezes bem eficaz, exceto nos
casos em que o executado não dispõe de patrimônio, sendo assim, não se
intimida com a imposição de sanções pecuniárias. Infelizmente, é inócua a
multa perante o devedor que não possui patrimônio, pois não responderá pelo
cumprimento da obrigação, faltando na nossa lei um tipo penal claro para
sancionar o descumprimento das ordens judiciais.
1.5 Coerção pessoal
Há dois casos em que o descumprimento da obrigação do devedor, o
leva à prisão. Tais como, a obrigação pecuniária alimentar, bem como a
obrigação de entregar a coisa depositada ou seu equivalente em dinheiro.
1.6 Meios executórios de sub-rogação
Nos casos em que não há mais vinculação da pessoa à dívida, a técnica
executiva sub-rogatória da conduta do devedor, assumiu papel de grande
envergadura. Exceção feita quando se tratar de deveres em que o
cumprimento no tempo, no modo e no lugar devidos desperta tensão peculiar.
Ou seja, no facere infungível, mostra-se factível contra e independentemente
da vontade do executado, entregar ao exeqüente o corpus e o genus
almejados.
O meio do desapossamento é o tipo de execução em que obriga a
entrega de coisa certa e de direitos reais, o desapossamento implica em
atividade simples e imediata. Tudo se resume a procurar, se a coisa for móvel,
encontrar, tomar e entregar a res ao exeqüente. O art. 625 do CPC faz esta
distinção entre a busca e apreensão, dirigida às coisas móveis, da imissão na
posse, restringida a imóveis. Quando se tratar de meio de transformação a
15 esfera patrimonial do executado é invadida para executar obrigações de fazer
fungíveis ou direitos a ela equiparados (art. 633 ao 639 do CPC).
Quando de tratar de meio de expropriação, a execução das obrigações
pecuniárias consiste no corte da porção patrimonial correspondente ao valor da
dívida. Tal modalidade inicia-se através da penhora com exceção nas dívidas
alimentares, como o desconto. A expropriação se desenvolve de três maneiras
que denotam técnicas de conversão da coisa penhorada em dinheiro, tais
como: alienação, adjudicação e usufruto.
No que se refere ao meio do desconto, o juiz vai ordenar a à fonte
pagadora o desconto da quantia devida e seu imediato pagamento ao
alimentário. Este, é o principal mecanismo da tutela executiva dos alimentos.
Meio da alienação – A diferença entre o objeto da prestação e o da
penhora desaparece com a alienação coativa deste último, em hasta pública, e
depois com a entrega do produto da venda ao credor (art. 708, I, CPC). A
alienação é um meio mais demorado, pois primeiro tem-se que avaliar
corretamente o bem, para que este não saia por um preço vil. No caso em que
a alienação se frustar pelo desinteresse completo do público, ao invés de tentar
colocar à venda mais uma vez, o credor pode adquirir o bem, mediante o preço
avaliado anteriormente (art. 714 e 715 do CPC).
Meio do usufruto – No caso do bem penhorado ser frutífero, o credor
poderá satisfazê-lo, através da expropriação desse direito parciário, mediante
sua adjudicação, durante certo período, dos rendimentos do objeto da
constrição judicial (art. 716 CPC). Usufruto nada mais é do que a expropriação
do direito à fruição e uso da coisa (art. 708, III).
16
CAPÍTULO II
OBRIGAÇÃO ALIMENTAR
O art. 1687 do antigo Código Civil enumerou diversas notas que
compõem o conteúdo da obrigação alimentar, tais como, o sustento, a cura, o
vestuário, e a casa do recebedor de alimentos, e acrescentou a elas a
educação, se menor o legatário; dificultava o transporte e a generalização de
tal comando legislativo dois motivos tormentosos: o primeiro deles, a educação,
que refoge ao conteúdo mínimo da obrigação, porque ao menos uma das
espécies de alimentos não a contempla, ademais maiores de idade também
merecem ser educados. O CC atual foi alterado em algumas regras para que
ficasse mais claro a obrigação alimentar.
Conforme adverte Pontes de Miranda, alimentos possui o sentido amplo
de compreender tudo quanto for imprescindível ao sustento, à habitação, ao
vestuário, ao tratamento das enfermidades e às despesas de educação e
criação.5
Não pode ser esquecido que hoje em dia é acrescido aos alimentos, o
lazer, fator este essencial ao desenvolvimento equilibrado, sadio, e à
sobrevivência da pessoa humana.6 O art. 1649, caput do CC estipulou que
entre parentes, cônjuges ou companheiros, os alimentos servirão para o
necessitado “viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive
para atender às necessidades de sua educação”. Todavia, o parágrafo 2º, do
art. 1.694 do CC reduz os alimentos ao indispensável à subsistência, “quando a
situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia”, combatendo a
estroinice do alimentando.
Os elementos que são destinados ao implemento das necessidades
básicas do ser humano, de acordo com o entendimento atual, correspondem à
5 Pontes de Miranda, Tratado de direito privado cit. , vol. 9, p. 207 6 José Cratella Jr., Comentários...cit., vol. 8, p. 4.538-4.539.
17 obrigação alimentar, na medida em que a lei, a convenção e o ato ilícito
ostentam a virtualidade de impor a alguém o dever de prestar alimentos a
outrem. Desta forma, pode-se concluir que alimentos, são prestações para
satisfazer as necessidades vitais de quem não pode provê-las por si.7
Face o exposto, o objeto da prestação alimentar poderá ser oscilar entre
maior ou menor, podendo ficar reduzida a simples pecúnia, ou admitir
adimplemento in natura.
2.1 Natureza do crédito alimentar
Os alimentos constituem crédito porque participam na estrutura
concebida pelo CPC, ou seja do processo executivo. O caráter patrimonial dos
alimentos é ponto discutido, através da visão de Giorgio Bo que distingue
alimentos derivados de negócio jurídico e do devedor recíproco dos cônjuges; 8
e em relação àqueles, invoca a lição de Cicu 9, e arrola características como a
impenhorabilidade, a incompensabilidade, indisponibilidade, e assim por diante
e assim por diante que a seu juízo, indicam a finalidade própria da relação
jurídica, concentrada na proteção à vida.
Mas é óbvio e manifesto, que a obrigação alimentar implica intercâmbio
patrimonial. O alimentário se beneficia de bens prestados pelo alimentante. E
se por acaso, o cumprimento do dever desfalca o patrimônio, como na espécie,
e o respectivo direito aproveita patrimonialmente a quem recebe, há neste caso
a relação creditícia. A finalidade da obrigação alimentar está totalmente ligado
na tutela à vida, sem renegar o evidente caráter patrimonial do vínculo.10
7 Orlando Gomes, Direito de família, p. 455, Maria Helena Diniz, Curso de direito Civil
brasileiro, vol. 5, p. 280. 8 Giorgio Bo, II diritto degli alimenti, vol. 1, p. 3-8 9 Antonio Cicu, Natura giuridica dell obbligho alimentare, Scritti minori, n. 2, p. 713. 10 Maria Helena Diniz, op. cit., vol. 5, p. 282
18 Em relação às classificações das obrigações na lei processual, o
legislador visou correlacionar obrigações e meios executórios de modo
inteligível aos operadores. Dentro dessas classificações temos as obrigações
de dar e de fazer (arts. 621, 632 e 646 do CPC). Esta última, é separada em
duas classes: tanto que omissivo ou comissivo o comportamento exigido do
obrigado. A obrigação pode ser positiva ou negativa, se for esta suscita na via
executiva vários problemas. Sua tônica consiste na atividade pessoal do
devedor.
Com razão dizia Orlando Gomes “que o perfeito discrímen das
obrigações de dar e das obrigações de fazer, quando as prestações envolvem,
como não raro acontece a prestação concomitante de coisas e de fatos, reside
no interesse do credor. Assim, quem contrata seu auto-retrato com um célebre
especialista põe ênfase, decerto, nos dotes futuros do pintor, diversamente do
que sucederia caso escolhesse obra-prima em exposição já pronta e
acabada.”11
Deve-se lembrar da fungibilidade subjetiva ou não da prestação
alimentícia, ou seja, infungível é o fazer dependente em altíssimo grau das
aptidões pessoais do obrigado e “só por ele exeqüível” conforme pode-se
analisar na parte final do art. 247 do CC. Nestes casos, a execução voluntária
ou sub-rogação do executado não satisfazem o credor, em cujo proveito, cita o
art 642 do CPC, se desenrola o processo executivo.
Ocorrendo controvérsia se o caso é motivo de execução, caberá
somente ao juiz decidir se o caso pode ser executado por terceiro. A execução
das obrigações de fazer fungíveis comporta sub-rogação de terceiro, ou seja, a
conduta do obrigado, enseja substituição satisfatória por outrem, escolhido
mediante licitação pública (art. 634 CPC).
11 Orlando Gomes, Obrigacões cit., p. 49
19 No sistema da lei processual, obrigação de dar coisa certa é aquela cujo
objeto se identifica por sinais característicos que nenhuma das outras coisas
têm de dar coisa incerta (determinável), aquela em que o objeto da dação se
determina pelo gênero e quantidade, segundo estatui o art. 629 do CPC. 12
Cumpre observar, que a coisa determinável não se ostenta passível de
execução. Exeqüíveis se figuram as obrigações pecuniárias seja a divida de
simples quantia, ou seja impropriamente pecuniária, porque convertida em
moeda nacional. 13
Os meios executivos das obrigações de fazer se ostentam insuficientes
porque, protegida a intangibilidade física do obrigado, o mecanismo da pressão
psicológica, único aplicável ao fazer infungível, nem sempre conduz ao êxito. 14
Face o exposto, tudo isso impele o demandante a alterar seu pedido na
ação condenatória, como observa Theodoro Jr.15, já transformando no
comando sentencial a obrigação em pecuniária. A pretensão de executar
obrigação de fazer só nasce de sentença.
2.2 Objeto da prestação alimentar
O art. 1701, caput do CC permite ao devedor de alimentos pensionar o
credor ou dar-lhe, em casa, hospedagem e sustento, sem prejuízo de prestar o
necessário à sua educação, quando menor. A obrigação alimentar tanto pode
ser dada em dinheiro, sob a forma de pensão mensal, quanto através de coisa
determinável como morada e sustento. Pode-se conferir, que a obrigação
alimentar assume natureza alternativa.
12 Candido Rangel Dinamarco, Execução... cit., p. 312-313 13 Orlando Gomes, Obrigações cit., p. 58. 14 Alcides de Mendonça Lima, op. Cit., p. 738. 15 Humbeto Theodoro Jr., Processo ...cit., p. 225.
20 Pode ocorrer uma dúvida em torno do objeto da prestação consistente
na hospedagem e no sustento. Segundo Pontes de Miranda16, “o dever
alimentar pode ser cumprido com o facere”. Logo, dar hospedagem fica como
sendo a entrega de coisa determinável. Assim, o juiz irá determinar a forma de
cumprimento da obrigação alimentar.
A lei enseja o dispositivo menos gravoso ao obrigado. Há uma exceção
quando se tratar de alimentário incapaz, portanto a escolha incumbe ao credor.
Deve-se ressaltar que o poder do alimentante não é absoluto. Razoes de
convivência do alimetário restringem a liberdade de opção do obrigado. Como
por exemplo, a distancia do lugar onde se situa a escola, a perigosa freqüência
das ruas pertos de sua casa, e até mesmo os maus costumes do alimentante
são causas justas para evitar prestação sob forma de coisa determinável.
Sendo assim o juiz terá que arbitrar, controlando eventuais abusos cometidos
no momento da escolha 17.
Quando se trata de prestação alimentar pecuniária, poderá se originar
do usufruto de certos bens. Na maioria das vezes, o alimentante paga em
moeda corrente os alimentos e periodicamente, ou seja, mensal, trimestral,
semestral ou de semana em semana, da forma como tiver sido convencionada.
Na prática, o alimentante suporta eventual desvalorização da moeda,
obrigando-se a reajustar tal quantia determinada em razão da perda do poder
aquisitivo. Este caso de reajuste, no âmbito executivo, o ponto se mostra
secundário, pois o titulo executivo necessariamente dotado de liquidez, já
contém todos os elementos de cálculo e o critério de reajustamento. Esse
cálculo ou melhor dizendo, esse reajuste de pensão deverá ser demonstrado
na inicial, cabendo ao executado controverter tais diretrizes.
Conseqüentemente, se há a divida alimentar e o titulo não resolve, há a
admissibilidade de dupla correção monetária. Se ocorrer inadimplemento da 16 Pontes de Miranda, Tratado de direito privado,cit., vol. 9 p. 241. 17 Marcos Aurélio S. Vianna, op. Cit., p.11; Arnold Wald, Direito de família, p. 42.
21 obrigação desde seu vencimento, a prestação já indexada sofre reajuste por
conta do atraso. O índice aplicável será aquele vigorante no momento do
cálculo estabelecido pelo juiz.
2.3 Prestação alimentar de entrega de coisa
Não ignora a jurisprudência casos de prestação alimentar em coisa
determinável. Teve a ocasião a 7 Câmara do TJRS de admiti-la, haja vista a
situação de extrema penúria do alimentante, que, pequeno agricultor, ofereceu
produtos da terra em lugar de moeda corrente.18
Devendo tal espécie de prestação debitória constar no titulo executivo, a
fim de propiciar a escolha e o controle do juiz, conviverá na maior parte das
vezes, com alguma forma de prestação pecuniária.19 Mesmo que o alimentante
dê morada e sustento ao alimentário é necessário que haja o adimplemento em
moeda. Por exemplo, lazer e saúde, são necessidades cujo cumprimento se
distingue da simples da simples entrega de casa, roupa lavada e comida. Por
este motivo, o art 1701 Caput do CC, acrescentou a educação, sob forma de
prestação pecuniária.
Por outro lado, a prestação em sustento e hospedagem comporta
conversão no equivalente em pecúnia. Em respeito à hospedagem, o meio
executório adequado é o desapossamento, recairá a execução na casa do
obrigado, mas no que diz respeito ao sustento do credor pelo obrigado, os atos
executivos visando à execução em natura abrangerão gêneros, antecedidos do
incidente previsto no art. 629 do CPC.
Cabe notar, que é excepcional, o meio executório da prestação alimentar
de entrega da coisa, porque a preferência no âmbito jurídico é que seja
18 TJRS, 7, Camara Civel HC 591058425, 02.10.1991, rel. Des Guido Waldemar Welter, JCCTJRS, vol.1, t, VII, p. 171-173, 1992 19 Araken de Assis, Da execução de alimentos e prisão do devedor, 6 edição, p. 124.
22 estipulado em dinheiro. Os privilégios legislativos que multiplicaram e
especializaram os meios de execução beneficiam as obrigações pecuniárias.
2.4 Classificação da obrigação alimentar
O CPC poderia privilegiar determinado tipo de alimentos, dotando-o de
meio executório especialíssimo, e relegar os demais à vala comum das
obrigações pecuniárias inespecíficas. Um bom exemplo dessa “liberdade”
executória se encontra na exceção da prisão civil, que serve para beneficiar
aos alimentos.
Como distinguir os alimentos naturais dos civis? Os alimentos naturais,
são os essenciais como a alimentação, a cura, vestuário e habitação. São as
necessidades básicas e tradicionais do ser humano, todos precisam delas para
sobreviver. Já os alimentos civis que também são chamados de côngrus,
englobam alem dessas características já citadas, como também o atendimento
moral e intelectual do ser humano. Em outras palavras, alimentos civis se
“taxam segundo os haveres do alimentante e a qualidade de situação do
alimentado”.20 Portanto, são naturais os alimentos que se destinam a prover a
subsistência do alimentário (art. 1694, parágrafo 2, do CC)
Pontes de Miranda diz que pode-se considerar “naturais”, os alimentos
prometidos, que se tenham de regular pelo direito das obrigações, porque no
direito antigo, alimentos “legítimos”equivaliam a “civis”. 21 Já Yussef Said
Cahali invoca julgados em que a distinção é realizada, arbitrados em proveito
do cônjuge alimentos naturais, que todavia são reputados civis. 22 Em
princípio, os alimentos devidos aos cônjuges e aos companheiros são civis,
porque sua fixação atenderá à condição social do alimentário. Conforme
mostra o art. 1.694 do CC , via de regra os alimentos entre parentes, cônjuges
20 Pontes de Miranda, Tratado de direito privado cit., vol. 9, p. 207. 21 Pontes de Miranda, Tratado de direito privado cit., vol. 9, p. f208. 22 Yussef Said Cahali, Dos alimentos cit., p. 6-7.
23 e companheiros são côngruos, reduzindo-se a alimentos naturais no caso de
culpa na criação da situação de necessitado.
Há algumas classes dentro da obrigação alimentar tais como: alimentos
legítimos, voluntários ou indenizativos. O primeiro citado, são os devido por
forca de norma legal, tanto por vinculo sangüíneo, por exemplo, o dever do filho
em prestar alimentos para o pai, como em decorrência do matrimônio ou da
união estável.
De outro lado, os alimentos voluntários se constituem por negócio
jurídico inter vivos ou mortis causa. Entre os dois o mais comum, são os
alimentos deixados mortis causa em legado, no entanto, nada exclui que
alguém assuma a obrigação de prestar alimentos mediante constituição de
renda (art. 803 do CC). Os alimentos podem servir à indenização de atos
ilícitos, sendo que a melhor designação para tal é a de alimentos indenizativos.
Os alimentos impróprios receberam tutela especial no campo
executivo,o que basta para garantir a pertinência do seu estudo e do seu
confronto com os meios executórios.
2.5 Alimentos definitivos e provisionais
Os alimentos podem ser arbitrados pelas partes ou pelo juiz. Os
alimentos definitivos, decorrem de acordo ou de ato decisório final do juiz.
Desta forma, os alimentos definitivos ostentam “caráter definitivo, ainda que
sujeito a eventual revisão”. 23
Já nos alimentos provisionais, estes são fixados previamente às ações
de separação, de divórcio, de nulidade ou de anulação de casamento, ou até
mesmo quando se tratar de dissolução de união estável, ou à própria ação
alimentaria, para manutenção de sua prole durante a litispendência. Na
23 Yussef Said Cahali, Dos alimentos cit., p. 13.
24 maioria das vezes, os alimentos provisionais, incluem verba suplementar
destinada às despesas do processo (art. 852 parágrafo único do CPC). Esses
alimentos, serão fixados pelo juiz, nos termos da lei processual.
Alimentos provisionais são distintos dos provisórios. O que há em
comum, é que ambos estão na categoria de alimentos antecipados, são
deferidos pelo juiz sob forma de postulação de liminar e freqüentemente não
ocorre audiência com a parte contrária. A diferença entre um e outro está no
seu rito.
Os alimentos provisórios concedidos com base no art. 4º, caput da lei
5.478/1968, são os definitivos conquanto antecipados à fase postulatória da
demanda; os provisionais permitem a inclusão de verba para custeio da
demanda. 24
Porém , o que distingue realmente um do outro, é que a concessão de
alimentos provisórios depende da prova pré-constituída do parentesco ou da
obrigação alimentar, o que poderá ser estipulado no contrato de convivência.
Enquanto isso, os alimentos provisionais, incumbem ao juiz perceber o perigo
de dano, ver se no curso do processo poderá faltar recurso à subsistência do
postulante.
Embora os alimentos provisionais e provisórios tenham a mesma função
antecipatória Sergio Gilberto Porto pondera assim: “a boa técnica recomenda a
aplicação das expressões nos momentos certos.” 25 Nenhum deles é cautelar.
Quando se fala de alimentos, inspira a divisão destes em futuros e
pretéritos. Alimentos futuros são aqueles que “se prestam em virtude de
sentença, transita em julgado e a partir da coisa julgada, ou em virtude de
acordo e a partir deste”. 26 “Já os pretéritos são alimentos anteriores a esses
24 Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários ...cit., p.466 25 Sergio Gilberto Porto, op. Cit., p. 69 26 Pontes de Miranda, Tratado de direito privado cit.., vol. 9, p. 210.
25 momentos” 27 , e acumulados, considerando a oportunidade da sua
constituição e a da exigência mediante demanda executiva. Cabe lembrar, que
o alimentante não deve alimentos pelo período anterior à demanda em juízo.
Porém os alimentos podem retroagir até certo ponto, caso algumas dividas
tenham sido contraídas por causa imputável ao obrigado. 28
27 Idem, p. 13 28 Zeno Veloso, op. Cit., vol. 17, p.63
26
CAPITULO III
TÍTULO EXECUTIVO E OBRIGAÇÃO ALIMENTAR
O art. 583 do CPC dispôs que “toda execução” basear-se-á em titulo
executivo judicial ou extra-judicial – Nulla executio sine titulo.
Segundo Dinamarco, a exigência se prende à excepcionalidade da
invasão da esfera jurídica do indivíduo, que dependerá do prévio
reconhecimento de situação dotada de elevado “grau de probabilidade de
existência de um preceito jurídico material descumprido” então a própria lei
aponta certos documentos representativos de tais situações, e modela-os, nos
arts. 584-585 do CPC.29
Sendo a execução limitada àquela decorrente da sentença condenatória,
prolatada contra o obrigado, adverte Pontes de Miranda, o legislador
promoveria drástica e indébita redução do campo executivo, adscrevendo-o,
arbitrariamente ao efeito executivo das sentenças de condenação, que leva à
ação. 30
O CPC dispensa tratamento especial à execução do crédito alimentar.
Existem vários meios executórios, então, terá que se verificar se a execução
será judicial ou extra-judicial, especialmente no âmbito do meio de coerção.
Geralmente, quando se trata de crédito alimentar, aponta-se na direção do
titulo judicial.
O crédito alimentar, se mostra a primeira vista com o titulo extrajudicial.
Os alimentos podem ser convencionados pelas partes de acordo com suas
vontades. O alimentante pode se obrigar a prestar alimentos em documento
emoldurado no art. 585, II, CPC. Esses casos ocorrem geralmente quando
houve uma dissolução amigável das uniões estáveis.
29 Candido Rangel Dinamarco, Execução... cit., p. 455. 30 Pontes de Miranda, Comentários ...cit., vol. 9, p.15.
27
A nova redação do art. 585, II do CPC, deixa claro que o alimentante
terá que contemplar qualquer tipo de obrigação (dar ou fazer). Falava-se muito
nos outros códigos que a execução de alimentos sempre se apoiaria em títulos
judiciais, discordando de tal opinião Leonardo Grecco.31
Ocorre que os alimentos provisionais são vistos como um meio de
coação pessoal. Já os alimentos definitivos, são aqueles que já foram
esgotados na demanda condenatória, resultando no titulo judicial. Há os que se
originam do mútuo consentimento das partes (art. 585 CPC). O entendimento
das turmas do STJ, é que não cabe execução de alimentos baseada em titulo
extrajudicial, nem pode ensejar prisão do devedor com base no art. 733 do
CPC, pois a execução deve vir de sentença ou de decisão.
Certo é que, admitido o titulo extrajudicial, o executado eventualmente
se sujeitará à privação de liberdade a partir de documento obtido sem o crivo
judicial, ainda que sumário, quanto à existência do crédito. Mas tais
inconvenientes podem ser diminuídos por um controle mais rigoroso do órgão
judiciário, relativamente à admissibilidade da execução. Assim ocorre na União
Estável em que se figura lícito utilizar o instrumento particular para pôr fim à
relação, não sendo algo razoável negar eficácia executiva a este documentado
supra citado, nos moldes do art 585, II do CPC.
Paulo Furtado, contraditoriamente ao que foi dito, diz o seguinte: “O
reconhecimento desse direito se pleiteia por intermédio da ação de alimentos
(pressuposto da qual é a prova de parentesco, ou do vinculo familiar). Mas
derivada a obrigação alimentar do testamento (por força de legado); de
sentença judicial que condene ao pagamento de alimentos para cobrir danos
decorrentes de ato ilícito; ou de contrato, normalmente seguir-se-á a execução,
31 Leonardo Grecco, op. Cit., vol.2, p. 256.
28 se o titulo – liquido, certo e exigível, de que se tirem a obrigação e o direito – é
titulo judicial passado em julgado, autorizando portanto à execução.”32
Equiparando sentença, testamento e contrato, a passagem exposta
acima se excede, mas o equívoco aumenta de grau quando sugere trânsito em
julgado. Na sentença que condena o pagamento de alimentos, será desde já
exeqüível, não cabendo efeito suspensivo na apelação. De resto, sempre
caberá tutela antecipada.
Em síntese, o título extrajudicial será autorizado ao idoso (art. 13 da lei
10.741/2003) e normalmente quando se tratar de execução de crédito alimentar
se referirá ao título judicial.
32 Paulo Furtado, Execução, p. 269.
29
CAPÍTULO IV
ALIMENTOS E MEIOS EXECUTÓRIOS
4.1 Classificação das obrigações alimentares e meios
executórios
Na disciplina processual não se identificam quaisquer restrições a
alguma classe de alimentos (naturais, civis, legítimos, voluntários, definitivos,
provisórios ou provisionais), no emprego dos meios executórios. Se há
possibilidade do juiz mandar prender o alimentante, desconsiderando a espécie
de alimentos devidos, ergueram-se resistências ao uso indiscriminado dos
meios executórios. Por isso, é necessário investigar os pólos de controvérsia.
Em virtude do disposto no art. 4º da Lei 6.014, de 17/12/73, que adaptou
os arts. 16 e 18 da Lei 5.478/68 ao CPC, caiu a única dúvida originada da
própria lei: a coação pessoal se aplica também aos alimentos definitivos. O art.
733, CPC, aludindo somente a provisionais, conduziria, talvez, a entendimento
oposto. Após o advento do CPC, a letra fria do art. 733 perturbou a
jurisprudência, que, logo em seguida, corrigiu-se. Desta forma, a 3ª Câmara
Cível do TJRS, através do Des. Pedro Soares Muñoz, inverteu sua orientação
contrária, atenta ao fato de que passara a incidir a prisão civil,
“indiferentemente, tanto ao não pagamento de alimentos provisionais, quanto à
falta de pagamento de prestação alimentar definitiva” (TJRS, 3ª Câm. Cível,
Agr. 20.033, 12.05.1977, rel. Des. Pedro Soares Muñoz, RJTJRS, vol. 63,
p.206), desde a Lei 6.014/73. O raciocínio do julgado percorreu as seguintes
etapas: o art. 16, da Lei 5.478/68, permite a “execução da sentença ou do
acordo nas ações de alimentos”, ou seja, julgada definitivamente a dívida
alimentar, através do desconto (art. 734, CPC); o art. 17 contempla a
expropriação de aluguéis e de outros rendimentos, e o art. 18 define que, não
sendo possível, “ainda assim”, a satisfação do débito, o credor poderá requerer
a execução na forma dos arts. 732, 733 e 735, CPC; logo, o art. 733, relativo à
30 coação, incide na “execução da sentença ou do acordo” da ação alimentar
(alimentos definitivos).
Enfrentando problema análogo, agora quanto à inadmissibilidade da
execução de alimentos indenizativos através de desconto (art. 734,CPC),
Pontes de Miranda assinalou que os alimentos exeqüíveis são “quaisquer
alimentos a que foi condenada alguma das pessoas a cuja classe ele se refere,
sejam alimentos de direito de família, ou alimentos de origem negocial, ou em
virtude de indenização por ato ilícito, se o condenado não pagou e nela se
incluiu prestação de alimentos”.33
Em que pese o capitulado no art. 602, CPC, a notável prestabilidade do
desconto importou a substituição da garantia própria dos alimentos
indenizativos, quando idôneo o condenado – por exemplo, pessoa jurídica de
direito público – admitindo-se, assim, a averbação dos alimentos futuros na
folha de pagamento do devedor.(Neste sentido, Humberto Theodoro Jr.,
Processo... cit., p.172, invocando a 1ª Turma do STF, no RE 82.238-BA,
04.11.1975, rel. Min. Bilac Pinto, RTJ, vol.75, p.980: “Segundo a nossa
jurisprudência”, votou o relator, “está dispensada de aquisição de títulos para
garantia de pensão. Para este fim, faz-se a inclusão do beneficiário na folha
mensal de pagamento.”). Invocando o “espírito da lei”, Wilard de Castro Villar
refuta o cabimento dos alimentos indenizativos dentro do mecanismo da
coação.34
Não há, todavia, motivo para dela afastar os alimentos indenizativos.
Tornados definitivos, mercê da respectiva sentença condenatória – o critério da
fonte, que inspira os indenizativos, não exclui o da finalidade, situado na base
33 Pontes de Miranda , Comentários... cit., vol. 10, p./485
34 Wilard de Castro Villar, Processo de execução, p. 267. No mesmo sentido Yussef Said Cahali, Dos alimentos cit., p.631 e José Amir do Amaral, Aspectos da prisão civil, Ajuris, n.50, p.161.
31 daqueles – prestam-se, nesta última qualidade, a sujeitar o obrigado à ameaça
psicológica da prisão. E o uso de semelhante mecanismo para haver alimentos
definitivos, como acentua Vicente Greco Fº. (Vicente Greco Fº., op, cit., vol.3,
p.96.Em sentido contrário, Leonardo Greco, op. Cit., vol.2, p.526, exclui do
âmbito dos procedimentos da execução alimentar os alimentos indenizativos,
sem apresentar justificativa.), agora desconhece impugnações.
O verdadeiro espírito da lei é franquear meios executórios mais lestos e
eficazes aos alimentários em geral, deixando de discriminá-los em razão da
fonte da obrigação alimentar.
4.2 Alimentos pretéritos e coerção pessoal
Mais recentemente, a jurisprudência repele os alimentos pretéritos, há
muito acumulados (TJRS, 1ª Câm. Cível, HC 586037905, 16.09.1986, rel. Des.
Elias Elmyr Manssour, JCCTJRS, vol.1, t. VIII, p. 55-59, 1987), por vezes
alvitrando hipotética mudança na sua natureza, que assumiria conteúdo
indenizatório.(TJRS,3ªCâm.Cível, Agr. 587005406, 26.03.1987, rel. Des.
Galeno Lacerda RJTJRS, vol. 123, p. 243). Em tal hipótese, exceto quando o
devedor se revela relapso e contumaz (TJRS, 3ªCâm. Cível, Agr. 587061169,
25.02.1988, rel. Des. Galeno Vellinho de Lacerda, RJTJRS, vol. 128, p.360),
apenas as três últimas prestações vencidas são admissíveis na demanda
executiva regulada pelo art. 733 (TJRS,5ª Câm. Cível, Agr. 586056053,
17.02.1987, rel. Des. Décio Antônio Erpen, JCCTJRS, vol. 1, t. XI, p. 190-192,
1989). Recentemente, se pronunciou no mesmo sentido a 6ª Turma do STJ,
visto não haver “mais sentido, anos depois, prender o inadimplente de
prestações remotas.”(STJ, 6ª Turma, REsp 39.829-SP, 15.12.1993, rel. Min.
Adhemar Maciel, DJU 07.03.1994, p. 3.683) . Fica relegada a execução dos
pretéritos à expropriação comum – ART. 732 – (STJ, 4ª Turma, RHC 10.201-
PB, 17.08.2000, rel. Min. Barros Monteiro, DJU 09.10.2000, p. 148) .
Entretanto, a orientação comporta inúmeras exceções e distinções. Por óbvio,
o pedido abrangerá prestações vincendas, nos termos do art. 290, e, portanto,
32 o pagamento do executado talvez deva incluir prestações subseqüentes
àquelas três já vencidas na abertura da execução. E, de resto, se o credor
executou a dívida “logo após o trânsito em julgado da sentença, e se a pessoa
obrigada tornou-se recalcitrante, ao caso não se aplica a orientação segundo a
qual a exigência do pagamento sob pena de prisão diz respeito às três últimas
prestações .”35 Existindo transação, desaparece o caráter pretérito da dívida.
(STJ, 4ª Turma, HC 11.919-PR, 25.04.2000, rel. Min. Sálvio de Figueiredo
Teixeira, DJU 05.06.2000, p. 161).
Tal concepção revive, no fundo, lamentável e caduca ojeriza ao meio
executório da coerção pessoal. Conforme afirma Leonardo Greco, tal
jurisprudência é “paradoxal e arbritária”.36 Em primeiro lugar, convém ressaltar
que, “tecnicamente, o envelhecimento da dívida” não muda seu caráter
alimentício, como enfatizou, com razão, a 6ª Câmara Cível do TJRS. (TJRS, 6ª
Câm. Cível, Agr. 58605240, 03.02.1987, rel. Des. Adroaldo Furtado Fabrício,
JCCTJRS, vol. 1, t. III, p. 227-230, 1987). Os alimentos pretéritos não deixam
de constituir “alimentos” com o decurso do tempo. Neste sentido, asseverou a
4ª Turma do STJ: “O decurso do tempo não retira o caráter alimentar da
prestação que, não satisfeita oportunamente, repercute no padrão de
subsistência do alimentando.” 37
E, do ponto de vista prático, que provavelmente inspira a restrição, o uso
do mecanismo é recomendável. Nenhuma ameaça ilegal à liberdade do
executado ele, na verdade, provocará, se bem entendido e bem aplicado.
Erra a jurisprudência alinhada, e passível de grande crítica, partindo da
inflexível pressuposição de que o devedor, em atraso há muito tempo, jamais
ostentará recursos para pagar toda a dívida de uma só vez. Se for este o caso,
certamente sua defesa elidirá o aprisionamento, demonstrando a
35 STJ, 3ª Turma, HC 10.326-SP,03.12.1999, rel. Min. Nilson Naves, DJU 21.02.2000, p. 118 36 Leonardo Greco, op.cit, vol. 2, p. 533. 37 STJ, 4ª Turma, RHC 9.718-MG, 27.06.2000, rel. Min. César Asfor Rocha, DJU 18.09.2000, p. 129)
33 impossibilidade, que se evidenciará temporária, jungida à sorte momentânea
de sua fortuna. Mas, na hipótese contrária, ou seja, fracassando o executado
na demonstração de que lhe falta dinheiro para solver a dívida, no todo ou em
parte, e patenteadas, talvez, suas amplas condições financeiras, constranger o
alimentário aos outros caminhos mais demorados e difíceis importa inversão
dos valores que presidem a tutela executiva dos alimentos. Na realidade, a
jurisprudência restritiva torna justo quem “não tem bens em seu nome, não tem
renda fixa e não paga pensão. Este goza de toda a proteção jurídica. No
máximo, será forçado a pagar os últimos três meses de pensão.”38 Ante o
desuso do crime de abandono material (art. 244, CPC), o devedor também
escapa à repressão penal. Esta privilegiada situação contrasta com a do
alimentando, na hipótese de não receber o crédito, na medida em que ele “não
desfruta de qualquer proteção social, pois inexistem no país planos de
assistência social que amparem condignamente a infância, a velhice e a
invalidez”.39
Em última análise, emite-se juízo a priori acerca da impossibilidade do
alimentante, quando o certo é julgar a posteriori, apreciando a defesa
porventura apresentada no tríduo previsto no art. 733, caput, CPC. Se for este
o caso, e talvez constitua a regra, sua defesa certamente elidirá a prisão,
porque demonstrará a impossibilidade temporária prevista no art. 733, caput,
exceção dilatória relacionada à sorte momentânea de sua fortuna.40 No
entanto, provando-se a existência de recursos para solver toda a dívida,
somente sua pirronice justifica não fazê-lo, e, neste caso, há que ser preso.
Exame prudente do meio executório insculpido no art. 733, principalmente dos
seus efeitos perante o executado, indica que nenhuma classe de alimentos, em
princípio, se exclui do seu âmbito, inclusive os alimentos vencidos há mais de
três meses.
38 Leonardo Greco, op.cit., vol.2, p. 535. 39 Idem, vol.2, p. 534. 40 Sergio Gilberto Porto, op. cit., p.99.
34 4.3 Elenco dos meios executórios da obrigação alimentar
Foi pródiga a disciplina legal em relação aos meios executórios da
obrigação de prestar alimentos. Três mecanismos tutelam a obrigação
alimentar: o desconto (art. 734, CPC), a expropriação (art. 646) e a coação
pessoal (art. 733). O legislador expressou, na abundância da terapia executiva,
o interesse público prevalente da rápida realização forçada do crédito
alimentar.
Em dois lugares o elenco é regulado: nos arts. 732-735, CPC e nos arts.
16-19, da Lei 5.478/68. Neste último diploma, ademais, se encontra a chave do
problema fundamental, hoje, do credor de alimentos, qual seja, o da escolha do
meio executório. Avulta logo inquestionável a estipulação de certa gradação
entre os meios executórios, presumindo-se, não sem o clássico grão de sal, a
presteza do mecanismo preferencial, em nome das urgências e necessidade
do alimentante.
O art. 16 da Lei 5.478/68 dispõe que, “na execução de sentença ou
acordo nas ações de alimentos”, obedecer-se-á ao meio executório do
desconto. Faz remissão explícita ao art. 734, CPC. Esta clara preferência do
texto da lei se baseia nas usanças do tráfico jurídico, em que o desconto –
modalidade de expropriação caracterizada pela ablação direta de dinheiro
integrante do patrimônio do executado na fonte pagadora – se revelou
prodigiosamente eficiente. Na experiência pretoriana, a implantação do
desconto, no comando da sentença condenatória ou no acordo da separação
consensual, previne execuções futuras. A doutrina não economiza encômios à
providência. Efetivamente, no mínimo se assevera que “a consignação em
folha de pagamento é, sem dúvida, a melhor forma de execução da obrigação
alimentar.” 41
41 João Claudino de Oliveira e Cruz, Dos alimentos... cit., p. 133
35 Em seguida, o art. 17 da Lei 5.478/68, “quando não for possível a
efetivação executiva da sentença ou do acordo mediante desconto em folha”,
prevê a expropriação de “aluguéis de prédios”e de “quaisquer outros
rendimentos.” Duas proposições centrais, no fundo, caracterizam a inteligência
do dispositivo. A cláusula inicial – “quando não for possível” – acentua, em 1º
lugar, a idéia de ordem e prioridade. Ela também demarca o âmbito da cifrada
preferência ao da “efetivação executiva”: o emprego dos meios executórios do
desconto, contemplado no art. 16 antecedente, e da própria expropriação, nela
mencionada, sucederá na demanda (= processo) executória do alimentário. No
enunciado final, o art. 17 esclarece, outrossim, que a expropriação terá por
objeto créditos – “alugueres de prédios” e “outros rendimentos” - , observando-
se, então, o art. 671, CPC. Em outras palavras, a expropriação, situada depois
do desconto (art. 17, lei 5.478/68) e antes da coação (art. 18), dependerá da
comprovada existência de cômodos de capital e de prédios frutíferos do
devedor. Cingida a tais bens, reputados convenientes ao credor, que levantará
incontinenti o dinheiro penhorado (art. 732, § único, CPC), tal expropriação em
nada se distingue, de resto, do meio executório comum e geral das obrigações
pecuniárias. (não se trata, porém, de “seqüestro”, como pretendem João
Claudino de Oliveira e Cruz, Dos alimentos ... cit., p.341, e Orlando Gomes,
Direito... cit., p.422, porque possui caráter satisfativo.)
Finalmente, o art. 18 da Lei 5.478/68 estatui que, “ainda assim”(de novo
evocando a idéia de grau e de escalonamento) não sendo possível a satisfação
da dívida, “poderá o credor requerer a execução da sentença, na forma dos
arts. 732, 733 e 735, CPC”. Ora, os arts. 732 e 735 apenas consagram a
execução de alimentos, provisionais ou definitivos, via de expropriação (art.
647, I-III, CPC). E o art. 733 prevê a coação pessoal.
Mostra-se evidente, assim, o intuito dos arts. 16-18, da lei 5.478/68, de
estabelecer certa ordem no uso dos meios executórios, como já ressaltado.
Das cláusulas cuidadosamente dispostas nos textos legislativos resulta a
seguinte gradação: 1º, o desconto em folha; em seguida, a expropriação (de
36 aluguéis e de outros rendimentos); por último, indiferentemente, a expropriação
(de quaisquer bens) e a coação pessoal.
Entre a coação e a genérica expropriação do patrimônio do alimentante
não há qualquer ordem prévia: a indicação dos arts. 732, 733 e 735, observou,
agudamente, Sérgio Gischkow Pereira (Ainda os alimentos e prisão civil, Ajuris,
n. 24, p. 160. Curiosamente, Sebastião Luiz Amorim, A execução da prestação
alimentícia e alimentos provisionais – Prisão do devedor, RT, vol. 558, p. 30,
não enxerga tabela de prioridades nos dispositivos da lei 5.478/68), denota
simples disposição numérica crescente dos artigos no estatuto processual. Por
conseguinte, na impossibilidade de desconto e da expropriação de aluguéis e
de rendimentos, o credor escolherá, a seu exclusivo talante, a coação ou a
expropriação. 42
4.4 Garantias do crédito alimentar e sua influência nos meios
executórios
Consistindo os alimentos, conceitualmente, prestação relacionada à
sobrevivência básica do alimentário, quanto a eles sobressaem, e de modo
singular, os cuidados do legislador de dotá-los de privilégios e de garantias. O
item precedente inventariou a multiplicidade de meios executórios do crédito
alimentar, o que é sintoma da busca incessante de eficiência e de rapidez, e
representa vantagem inestimável do credor. Neste rumo constante, e já no
terreno da expropriação , rememore-se que os vencimentos, o soldo e o
salário, tornados impenhoráveis, sujeitam-se, porém, à penhora quando o
42 Neste sentido, Sergio Gischkow Pereira, Ação..., cit., p. 99-103; idem, Ainda os alimentos...,
cit., p. 158-160; Paulo Lúcio Nogueira, op. cit.,p. 37; Marco Aurélio S. Viana, op. cit., p. 100-01;
José Amir do Amaral, op. cit., p. 164-165; Yussef Said Cahali, Dos alimentos cit., p. 637;
Leonardo Greco, op. cit., vol. 2, p. 531. Pugna pelo acesso imediato à coação Sergio Carlos
Covello, Ação de alimentos, p.46-47 e Aniceto Lopes Aliende, Questões sobre alimentos, p. 28,
sustenta o contrário, propugnando o exaurimento da expropriação.
37 crédito for alimentício (art. 649, IV, parte final, CPC). Também os frutos dos
bens inalienáveis, que são passíveis de constrição na falta de outros bens,
deixam de sê-lo se destinados a “alimentos de incapazes, bem como de mulher
viúva, solteira, desquitada, ou de pessoas idosas” (art. 650, I): enumeração que
compreende, por identidade de motivos, a mulher divorciada e a companheira.
A impenhorabilidade da remuneração do obrigado, recebida em virtude de um
vínculo estatutário ou empregatício, constitui uma regra universal. Todavia, no
direito português a impenhorabilidade é parcial, não abrangendo, em princípio,
dois terços da remuneração.43 E no direito espanhol anterior à LEC vigente, o
legislador também limitou a penhora, através de um sistema complexo. 44
Faltaria complemento de capital importância ao estatuto dos alimentos
se não estivessem preceituadas garantias específicas ao crédito alimentar,
originando a correspondente pretensão.45
O art. 602, CPC, tangente aos alimentos indenizativos, e o art. 21 da lei
6.515/77 contemplam o capital gerador de renda, a caução e o usufruto.
Tutelam a comodidade da execução futura. Paralela e independentemente da
cautela típica da obrigação pecuniária, que é o arresto, em que se supõe a
presença de situação de perigo, sem dúvida manejável pelo alimentário à vista
dela, a lei erigiu contrapesos automáticos ao descumprimento imputável do
obrigado. Em geral, as garantias refogem ao âmbito da cautelaridade.
Decorrem da eficácia da própria sentença, a exemplo do art. 602, §, 2º, CPC 46.
O provimento aí estipulado não arreda nenhum perigo, nem se assenta em
juízo de verossimilhança acerca do direito do credor, como sói ocorrer à
autêntica demanda cautelar. Todavia, o elemento segurança, às vezes, se
imiscui na medida, preponderando no pronunciamento judicial que outorga
proteção alimentos. O art. 21, § 2º, da lei 6.515/77 torna cabível a garantia se o
credor justificar a possibilidade do não recebimento regular de pensão. 43 Miguel Teixeira de Souza, Ação executiva singular, p.220-221. 44 Miguel-Jésus Cachón Cadenas, El Embargo, p.340-341. 45 Galeno Lacerda e Carlos Alberto Álvaro de Oliveira, Comentários...cit., p. 111. 46 Galeno Lacerda e Carlos Alberto Álvaro de Oliveira, Comentários...cit., p. 111.
38 Essas garantias não respeitam de modo direto aos meios executórios,
nem à execução de alimentos. Elas emanam, observa Yussef Said Cahali, do
“juízo da ação de alimentos ou da separação judicial” 47, da demanda de
divórcio – a inicial do divórcio consensual e direto “indicará as garantias para o
cumprimento da obrigação assumida”, assevera o art. 40, §2º, II, da lei
6.515/77 – e da ação de reparação de ato ilícito, eis que integram ou se
anexam à eficácia do pronunciamento judicial. E, posteriormente, às sentenças
aludidas, o alimentário obterá a conveniente proteção ao crédito através de
uma ação autônoma preventiva e satisfativa (logo, à revelia de processo
“principal”, previsto no art. 806, CPC, salvante a hipótese do art. 21, §2º, da lei
6.515/77), cujo procedimento se adscreverá aos arts. 829 e ss do CPC. Mas,
desde que instituídas, as garantias condicionam e influem na execução e,
particularmente, na escolha do meio executório. Por exemplo, existindo
usufruto, toca ao alimentário, em primeiro lugar, expropriar os cômodos, por
força do capitulado no art. 17, da lei 5.478/68. Tal peculiaridade justifica a
inserção do assunto, neste passo, e os comentários acerca das medidas em
espécie.
4.5 Capital em títulos da dívida pública ou imóveis
O art. 602, caput, CPC, toda vez que a demanda de reparação de ato
ilícito incluir a prestação de alimentos, impõe ao órgão judiciário condenar o
alimentante a “constituir um capital, cuja renda assegure o seu cabal
cumprimento.” Com semelhante estipulação, este art. sepultou antiga
controvérsia, permitindo, em síntese, o adimplemento dos alimentos mediante
“capital que dê renda”48. Títulos da dívida pública ou imóveis representarão o
capital (art. 602, §1º). Essa modalidade de garantia se aplica só aos alimentos
indenizativos, exceção feita àqueles devidos por pessoas jurídicas de direito
público e sociedades de economia mista, consoante jurisprudência tradicional,
porque, nesses casos, mostra-se cabível o desconto em folha. Em princípio,
47 Yussef Said Cahali, Dos alimentos cit.,p.617. 48 Pontes de Miranda, Comentários... cit., vol.9,p.490.
39 presumem-se tais pessoas jurídicas solváveis e pontuais. É bem verdade que
se suprimiu o privilégio expresso na fase de elaboração legislativa do CPC. No
entanto, ocorreu uma profunda reviravolta na jurisprudência anterior, haja vista
a privatização das empresas concessionárias de serviços públicos. Assim, a 2ª
Seção do STJ proclamou o seguinte: Diante da realidade da economia dos
nossos dias, não há razão suficiente para substituir a constituição do capital
prevista no art. 602, CPC, pela inclusão em folha de pagamento.”49 E de fato,
na situação atual desapareceu a presunção de solvência.
4.6 Caução real ou fidejussória
Na hipótese de alimentos indenizativos, o art. 602, §2º, CPC, permite
sub-rogar o capital por caução fidejussória. Evidentemente, ao invés de
substituir o capital já constituído, o alimentante poderá, desde logo, prestar
caução.50 Em sentido contrário, Alcides de Mendonça Lima, op.cit., p.540).
escreveu-se com acerto que retrataria “gravame enorme e inútil obrigar o
devedor a constituir capital, muita vez desmobilizando recursos e empenhando
esforço em sua obtenção , para só depois permitir-se a mudança da garantia. 51
Igualmente, o art. 21, caputl, lei 6.515/77 – regra inovadora52 contempla
idêntico modo de asseguração da “pensão alimentícia”, acrescentando a
caução real. Logo, além dos alimentos indenizativos, amparados pelo art. 602,
§2º, CPC, quaisquer outras classes de alimentos, quanto à natureza, à causa e
à finalidade, desfrutam desta valiosíssima tutela. De nenhuma maneira se
mostra aceitável – relativamente à caução, aliás, o erro assume graves
proporções – a exegese pobre e literal que, motejando a locução “cônjuge
credor” utilizada no art. 21, §1º, lei 6.515/77, no tocante ao usufruto, limita o
campo de incidência da garantia, dela excluindo a prole e outros alimentários.53
49 STJ, 2ªS.,REsp 302.304, 22.05.2002, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJU 02.09.2002, p.144. 50 Pontes de Miranda, Comentários...cit., vol.9, p.496. 51 Galeno Lacerda e Carlos Alberto Álvaro de Oliveira, Comentários... cit., p.111. 52 Yussef Said Cahali, Dos alimentos cit., p.610. 53 Exatos, contra a exegese mutiladora, Sergio Gischkow Pereira, Ação...cit., p.105;Rubens Limongi França, A lei do divórcio, p.102.
40 Em sentido contrário, porém, Yussef Said Cahali.54 O texto legal repele a
discriminação odiosa, pois o art. 21, caput, sequer menciona a qualidade do
alimentário a ser beneficiado pela caução: a dúvida habita no §1º e no
referente usufruto. Segundo se depreende do art. 21, caput, no julgamento da
ação apropriada o juiz poderá impor a caução de ofício.55 Omitida a providência
na sentença respectiva, ao credor é lícito pleitear a caução mediante a
demanda prevista no art. 829, CPC.56
Com relação à caução fidejussória – fiança ou cessão condicional de
créditos e outros direitos - , não basta o próprio devedor firmar o termo
respectivo. Somente obrigação assumida por terceiro, patrimonialmente apto,
denota verdadeira utilidade. Também na caução real- hipoteca, penhor,
anticrese e penhor de título de crédito (art.1451,CC) -, o título emitido pelo
alimentante se afigura inócuo na condição de garantia do crédito, cabendo ao
juiz rejeitá-lo.
4.7 Usufruto de determinados bens
O art. 21, §1º, lei 6.515/77 autoriza a instituição de usufruto, em lugar da
caução, se houver preferência manifestada pelo credor, ou haja risco de não
perceber regularmente os alimentos (art.21, §2º). Embora aluda a “cônjuge
credor”, qualquer alimentário, que faz jus à caução (art.21, caput), poderá
pleitear a substituição, especialmente a prole. Na hipótese de risco (art.
21,§2º), como já assinalou, o elemento cautelar se torna preponderante,
ostentando a demanda ajuizada, então, caráter cautelar. Na opinião de Yussef
Said Cahali57. No mesmo sentido, Domingos Sávio Brandão de Lima,58 o
usufruto do art. 21, §1º, lei 6.515/77 semelha o meio executório que o direito
54 Dos alimentos cit., p.611. 55 João de Matos Antunes Varela, Dissolução...cit., p.113. 56Yussef Said Cahali, Dos alimentos cit., p.612. Mais detalhes em Galeno Lacerda e Carlos Alberto
Álvaro Oliveira, Comentários... cit., p.111-112 57 Dos alimentos cit.,p.617. 58 Alimentos do cônjuge na separação judicial e no divórcio, p.213.
41 luso-brasileiro chamava de “adjudicação de rendimentos”, e, hoje, o estatuto,
por influência de Carnelutti 59, designa de usufruto forçado(art. 716, CPC). No
entanto, a garantia se harmoniza melhor ao gabarito do usufruto de segurança,
perfeitamente elaborado, entre nós, por Pontes de Miranda (Tratado de direito
privado cit., vol.19,p.236), e possui o nítido escopo de assegurar o
adimplemento. Entre as diferenças que vincam o usufruto de segurança e o
usufruto forçado que é meio executório, situa-se a temporariedade deste
último, submetido a termo (finda com a solução da dívida executada), o que
não ocorre naquele, atrelado à incerta extinção da obrigação. Assim, o usufruto
do art. 21, §1º, da lei 6.515/77 vincula-se àquele insculpido no art. 1.391, CC, e
dispensa registro no álbum imobiliário.(Como, por exemplo, o do pai sobre os
bens do filho.60 Naturalmente, nada impede ao alimentário, tendo escolhido a
expropriação, e presentes os requisitos da eficiência e da pouca gravosidade
do meio, o emprego do usufruto forçado para excutir determinado
crédito.(TJRS,2ª Câm.Cível, Agr.34.458,21.05.1980, rel.Des.Ruy Ruben
Ruschel, RJTJRS, vol.82,p.210).
Inconfundível com o usufruto contemplado no art. 21, §1º, lei 6.515/77 é
a entrega ao alimentário, junto aos alimentos provisórios, de “parte da renda
líquida dos bens comuns” do cônjuge casado pelo regime da comunhão
universal (art. 4º, § único, lei5.478/68). Trata-se, curialmente, de cômodos
pertencentes ao próprio credor.61. Essas garantias da obrigação de alimentos
ostentam o poderoso efeito de impedir o inadimplemento e, assim, elidem a
propositura da ação executiva na maioria dos casos. Nada obstante,
concebem-se o descumprimento do obrigado e do seu garante; danos ao
imóvel e o desaparecimento dos títulos da dívida pública, anulando o valor
econômico do capital; incidentes envolvendo o objeto do usufruto; e assim por
diante: úteis que sejam quaisquer garantias adicionais aos alimentos, não
constituem terapia milagrosa e definitiva. Nessas contingências, e na falta de
qualquer cautela instituída, o alimentário terá de executar seu crédito.
59 José Carlos Barbosa Moreira, Aspectos...cit.,p.148. 60 Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, vol.19, p.47-49. 61 Nestor José Forster, Alimentos e rendas dos bens comuns, Ajuris, n.20, p.121.
42 4.8 Escolha entre a expropriação e a coerção pessoal
Contra o meio executório da coerção pessoal se opõe a força do
preconceito, ignoradas a utilidade e a natureza do mecanismo. Entretanto, o
estudo científico dos meios executórios, avaliados e pesados como
expedientes práticos, predispostos com o único propósito de realizar as
operações materiais destinadas ao implemento executivo da eficácia sentencial
condenatória, revela a verdade. A prisão civil do alimentante não merece o
opróbrio de coisa obsoleta, de entulho autoritário e violento, e, portanto a custo
tolerado e admitido no ordenamento jurídico contemporâneo. Em nome da
ideologia liberal, assaz preocupada em preservar o princípio da intangibilidade
física do executado, ainda que provoque a dor, a penúria e mesmo a morte do
alimentário, avalia-se desfavoravelmente o aprisionamento do executado. A
rejeição se expressa na tese de certa doutrina62 por exemplo,largamente
aplaudida nos tribunais, que exige o prévio esgotamento dos meios executórios
“normais” –assim se designa a expropriação -, como deflui de julgado da 3ª
Câm.Cível do TJRS (HC40.445,11.03.1982,rel.Des.Gervásio Barcellos,
JCCTJRS, vol.2,t.VIII, p. 198-208, 1982). “A prisão do inadimplente só se
justifica como último recurso, depois de esgotados todos os outros meios de
constrição”, prega a 1ª Câm. Cível do TJRS.(HC 586038838,07.10.1986,rel.
Des. José Vellinho de Lacerda, JCCTJRS, vol2., t.X, p.256-260, 1986. No
mesmo sentido, TJRS, 6ª Câm. Cível, Agr. 586054868, 24.02.1987, rel. Des.
Adalberto Libório Barros, JCCTJRS, vol.1, t.III, p.161-163, 1987.) E isso,
porque a custódia “em lugar de remediar, agrava a situação do devedor e dos
credores, pondera a 2ª Câm. Cível do TJRS(HC 584050991, 13.02.1985, rel.
Des. Silvino Joaquim Lopes Neto, RJTJRS, vol. 109, p.251), olvidando que,
previamente, o obrigado expôs suas dificuldades e alegações, decorrendo a
pena da improcedência da defesa, e a 3ª Câm. Cível do TJRS, em outra
ocasião, assinalou que a existência de “bens suficientes a serem penhorados”
desautoriza a prisão(TJRS, 3ª Câm.Cível, HC37.063,27.11.1980, rel. Des. 62 Domingos Sávio Brandão Lima, Alimentos do cônjuge...cit.,p.127-128; Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários...cit.,p.503-504; Aniceto Lopes Aliende, op.cit., p.28;Nelson Carneiro, A nova ação de alimentos,p.135-137.
43 Gervásio Barcellos, JCCTJRS, vol.1, t. V., p.242-250, 1981), condenando o
credor aos longos, intrincados e dispendiosos trâmites expropriatórios.
Escrevendo ao tempo do CPC derrogado, Amílcar de Castro averbou a
prisão de “remédio heróico, só aplicável em casos extremos, por violento e
vexatório.” 63 Nesta linha de argumentos, o liberalismo clássico, repudiando a
custódia por dívidas, combatia os poderes de imperium outorgados ao órgão
jurisdicional, impondo-lhe as funções modestas concernentes à iuris+dictio. 64 A
contraite par corps teve reduzido seu campo de aplicação no direito francês,
após diversas reviravoltas (abolida pela Convenção, em 09.03.1793, foi
restabelecida pelo Diretório, em 04.041798, e hoje se restringe à esfera penal),
por razões análogas. Segundo apostrofou Luigi Mattirolo65 de resto a prisão
representa absurdo econômico, porque o obrigado preso nunca solverá suas
dívidas. Tal crítica, convém não esquecer, abrangia custódia civil de extensão
bem diversa da atual.66
Mas, o preceito do art. 5º., LXVII, da CF/88 enfoca a questão em
diferente perspectiva axiológica. Mesmo na Carta Política vigente, filha da
diástole política do seu tempo e inçada de liberdades públicas e de direitos
fundamentais, ao “responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável
de obrigação alimentícia”, acompanhado do “depositário infiel”, se mostra lícita
a reprimenda do encarceramento pela dívida. Talvez os valores em jogo
tornem discutível a prisão de quem assumiu o dever de restituir coisa
depositada, jamais se nivelando a este obrigado, porém, o devedor de
alimentos. Note-se, à 1ª vista, que “a fome não pode aguardar”67 Por outro
lado, acentua Sergio Gischkow Pereira, Alimentos e prisão civil, Ajuris, n.10,
p.37, ante a ameaça de prisão, o dinheiro “sempre aparece”, enquanto o
interesse do depositante, obviamente, não habitua urgência análoga. Por outro
63 Comentários ao CPC(1939), p.147. 64 Ovídio A.Baptista da Silva, Curso...,cit.,vol.2,p.247-252. 65 Instituciones de derecho procesal civil, vol.2, p.218. 66 Francesco Ricci, Commento al Códice di Procedura Civile italiano, vol.4, p.477-478). 67 (Jorge Franklin Alves Felipe, Prática das ações alimentares, p.58.
44 lado, à necessidade prevalente do alimentário antepõem-se freqüentes
obstáculos na expropriação68 desde o acendrado e compreensível controle em
tal meio à penetração do ato executivo na esfera jurídica do executado,
desqualificando-o como terapia própria do caso.
Assim, não sendo possível a inadmissibilidade da pretensão creditícia,
agasalhada em título executivo judicial, e garantida a ampla defesa ao
alimentante (art. 5º, LV, CF/88), no prazo de 3 dias, previsto no art. 733, caput,
CPC, o mecanismo se mostra apto à efetivação do crédito. E outra vez a
experiência indica que o executado, exceto em raras exceções , não possui
razão plausível e relevante para retardar o adimplemento da prestação. Em tal
situação, “só o remédio poderoso da prisão, pela coação pessoal, agindo
psicológica, ou mesmo materialmente, dá resultado” 69 A preterição do meio
executório da coação , a favor da expropriação de quaisquer bens, contraria a
ordem estampada nos arts. 16,17 e 18 da lei 5.478/68. Ademais, acentua
Sergio Gischkow Pereira, “é exegese que colide frontalmente com as
características da obrigação alimentar, com a urgência de que se reveste o
crédito de alimentos, com a relevância social do tema, com o significado
humano que impregna o assunto.
Comentando o CPC em vigor, Amílcar de Castro ressalvou a ordem
legal, porquanto citou o art. 7º, §único, do del 3.200, 19.04.1941; e,
espantosamente, o diploma consagrava a ordem disposta na lei 5.478/68: 1º, o
desconto em folha; depois, excluído aquele, a execução dos créditos do
devedor.
Se algum consenso se mostra necessário, a lei parece tê-lo adotado de
modo exemplar. Não franqueou ao credor todos os meios executórios,
indistintamente. Cumpre ater-se ao roteiro dos arts. 16,17 e 18 da lei 5.478/68,
segundo insiste jurisprudência mais arejada (TJRS, 5ª Câm. Cível, Agr.
585030869,08.10.1985, rel. Des. Ruy Rosado de Aguiar Jr. 68 Domingos Sávio Brandão Lima, Alimentos do cônjuge...cit.,p.115 69 Mario Guimarães de Souza, Da prisão civil, p.102.
45 JCCTJRS,vol.1,t.III,p.292-295;TJRS,7ªCâm.Civ.,Agr.591027453,18.09.1991,
rel. Des. Waldemar Luiz de Freitas Fº., JCCTJRS, vol.1,t.VI,p.21-23,1992), e
independentemente da natureza dos alimentos devidos.
4.9 Aspectos fundamentais dos ritos
Sendo o caso de execução de alimentos, o credor poderá valer-se de
quatro meios executórios, consoante a natureza do objeto da prestação
alimentar: desconto, coaçãp pessoal, expropriação e desapossamento.
O desconto em folha pode ser conferido no art. 734 do CPC. Esta
providência, depois da ordem do juiz, será expedido ofício, onde constarão os
nomes do credor, do devedor e a impotância da prestação e o tempo de
duração. O descumprimento à comunicação de desconto ou ao dever de
informar ao juizo é capitulado como delito penal.
Só haverá desconto em folha, se for o obrigado tiver uma estabilidade
social ou percebendo pro labore da empresa em que for sócio. Profissional
liberal não tem como ser decontado em folha.
Não cabem descontos retroativos, mas o desconto futuro poderá se
referir a alimentos pretéritos, conforme dispõe o art. 1.118-1, letra d, do CPC.
São cabíveis embargos no meio executório do desconto, valendo a averbação
da medida como “segurança do juízo”.
O art. 733 do CPC estatui procedimento específico em que o meio
executório é a coação pessoal, exclusivamente no que se refere a crédito
alimentar, cuja prestação seja pecuniária.
46 4.10 Execução por coerção pessoal
Competência da demanda executiva – arts. 614, caput e 282, I, CPC a
inicial da demanda executiva é endereçada ao órgão judiciário competente.
Requisitos da inicial, pedido e coerção pessoal – obrigatoriedade do
roteiro do art. 282, CPC, na inicial da demanda executória. Pedido formulado
com base no art. 733, CPC, pode ser transformado com vistas à expropriação.
Controle da petição inicial – submete-se ao controle oficioso do órgão
jurisdicional.
Defesa sumária do executado - 3 dias da juntada do mandado de
citação – art. 214, I, CPC – 3 opções: adimplir obrigação, quedar-se inerte ou
oferecer defesa. Art. 733, caput, CPC, defesa – conteúdo sumário – 2
possibilidades: pagamento e impossibilidade do cumprimento.
Pagamento pelo executado – 3 dias – prazo para cumprimento
voluntário da obrigação pelo executado, ou por 3º, interessado ou não.
Defesa do executado – art. 733, caput, CPC, - defesa do alimentante
restrita às provas do pagamento e da impossibilidade de fazê-lo.
Decisão do incidente – salvo exceções – a resposta do alimentante
institui incidente que, de acordo com o art. 162 § 2º , é resolvido mediante
decisão interlocutória.
Natureza do ato decisório – ato previsto no art. 733, §1º, CPC, não se
enquadra em sentença(art. 162, §1º). Sua natureza é interlocutória – art. 733,
§§ 2 e 3.
47 Recurso cabível. Efeito suspensivo – decisão do juiz – objeto a defesa
do alimentante – desafia agravo (art. 522, caput, CPC; art. 19,§2º, lei
5.478/68).O agravo é desprovido de força inibidora quanto à eficácia do ato
(art. 497, CPC). O art. 19, § 3 da lei 5,478/68 dispôs sobre a não suspensão da
eventual interposição do recurso a “execução da ordem de prisão”. Combate à
custódia ilegal: 2 caminhos: HC ou agravo de instrumento.
Motivação do ato decisório – art. 165, 1ª parte, - motivação concisa e
suficiente do provimento. Art 733, § 1, CPC – fundamentação completa e
minuciosa, sobretudo, ante os valores compostos no litígio.
Efeitos da decisão – prisão decretada – expedição imediata do
mandado. Cumprimento – polícia judiciária.
Prisão do devedor – cumprimento dos requisitos legais – juiz decreta
prisão civil do devedor, objetivando o adimplemento.
Prazo da prisão – art. 733, § 1: 1 a 3 meses (alimentos provisionais); art.
19, caput, lei 5.478/68: máximo de 60 dias (alimentos definitivos)
Regime da pena – art. 733, §1, CPC e art. 19, caput, lei 5.478/68 –
prisão natureza civil.
Suspensão e revogação da pena – art. 733, § 3- pagamento da dívida
implica suspensão imediata da pena.
Meios para o executado revogar a pena – agravo sem suspensão da
execução do ato decisório (art.19, §3, lei5.478/68 c/c art. 558, CPC).
Coerção pessoal e embargos do executado – art. 741, CPC : o
procedimento da coerção pessoal não exclui o ajuizamento da demanda de
embargos. Art. 731, I: embargos pressupõem penhora.
48 4.11 Execução por expropriação
Créditos pecuniários – execução através da via expropriativa comum –
art. 647. Art. 732 – alimentos definitivos e art. 735 – alimentos provisionais.
Escolha compulsória da expropriação – art. 4§ único, lei 5.478/68 –
metade da renda líquida. Art. 17, lei5.478/68 –expropriação.
Escolha voluntária da expropriação – excluindo-se a hipótese,contrária à
hierarquia legal (arts. 16,17 e 18,lei 5.478/68) do juiz compelir o alimentário à
expropriação de quaisquer bens do alimentante, em lugar de meios mais
rápidos, não há nenhum estímulo concreto para o credor utilizar o mecanismo
expropriativo. Só é interessante no caso de caução pessoal.
Levantamento do dinheiro penhorado – expropriação comum – dinheiro
penhorado (art.655, I, CPC) ou depositado pelo devedor para garantia do
juízo(art.737, I)e a importância resultante da penhora sobre dívidas de dinheiro
a juros, de direito a rendas ou de prestações periódicas (art.675), só podem ser
recebidas pelo credor no momento culminante do rito, na fase
satisfativa(art709, caput), superados os embargos opostos à execução.
Encaminhamento normal da expropriação- salvo art.732, §único, há
obediência ao rito comum, iniciando com petição inicial, com todos os
requisitos legais, inclusive na hipótese de escolha compulsória da
expropriação. Só há uma particularidade, que está no objeto da penhora recair
em crédito do devedor. Feita a penhora, o executado pode embargar a
execução (art. 736)
Crédito alimentar no concurso das preferências – art. 612, CPC: credor –
realizada a 1ª penhora – direito de preferência sobre o produto da venda do
bem.
49 4.12 Execução por desapossamento
Art. 1.701, CC – alimentante poderá dar casa e sustento ao alimentário.
Executado citado – art. 621 – 10 dias – 3 opções: inércia do devedor; devedor
entrega o objeto da prestação, cumprindo o comando do título judicial,
lavrando-se o competente termo (art.624, initio); o devedor deposita a coisa
(art.622), para embargar a execução (art.737,II,CPC). Se o executado tiver sido
desapossado compulsoriamente (art.625) cabem os embargos. Se não houver
embargos, rejeitados ou julgados improcedentes, o credor poderá levantar a
coisa (art.623).
50
CONCLUSÃO Após tudo que foi explicado e estudado sobre execução de alimentos,
lícito se mostra arrolar algumas conclusões:
O presente trabalho expôs vários temas como a lide e satisfação na
execução, os meios executórios de coerção, a obrigação alimentar, objeto da
prestação alimentar, título executivo e obrigação alimentar, coerção pessoal
dentre vários outros tópicos.
Pode-se concluir que o crédito alimentar se presta à exploração de
inúmeras vias executivas. Na ação executiva que nasce do efeito executivo da
sentença condentória, contido no título ou que até mesmo decorre de título
extrajudicial, há interesse de segundo grau, gerando o conflito executivo.
A lei, às vezes, pode resolver o conflito outorgando a pretensão de
executar ao interessado, assim como pode postergar a cognição.
A execução direta é a regra, pois em geral os meios executórios
prescindem da participação do executado. Caso o executado não “ajude” na
execução direta, ou seja relute contra ela, a execução terá que ser “indireta”,
que será por meio de coerção.
Quando se fla em obrigação alimentar, a lei está querendo dizer que há
uma constituição de crédito, o que engloba despesas com saúde, vestuário,
alimentação, habitação, educação e lazer. Podendo ser o objeto da obrigação
através de coisa determinável ou pecúnia.
Os alimentos se classificam quanto à natureza, podendo ser civis ou
naturais, os alimentos podem ser legítimos, voluntários e indenizativos. Os
alimentos podem ser definitivos ou provisionais, e futuros e pretéritos. A ação
executiva do crédito alimentar se baseia em título judicial e extrajudicial. Os
51 três tipos narrados acima são executados mediante coerção pessoal, conforme
demonstra art. 733 do CPC.
Caso existam garantias vinculadas ao crédito alimentar, a escolha do
meio executório é predeterminada. Em primeiro lugar caberá desconto em
folha, depois expropriação de rendas e de aluguéis e por fim a expropriação de
quaisquer bens e a coação pessoal. Obviamente, que o desconto em folha é o
meio executório mais eficiente, seguindo este a coerção pessoal, pois oferece
enorme celeridade à realização do crédito.
52
BIBLIOGRAFIA
Código de Processo Civil e Constituição Federal – Editora Saraiva – 2006. Código Civil - Editora Revista dos Tribunais – 2006. VENOSA ,Silvio de Salvo, Direito de Família, 3. ed., Editora Atlas – 2003. RIZZARDO, Arnaldo, Direito de Família, 2. ed., Editora Forense – 2004. ASSIS, Araken de., Da execução de alimentos e prisão do devedor, 6. ed., Editora Revista dos Tribunais – 2004. CARNEIRO, Athos Gusmão. Ação de alimentos e prisão civil. Ajuris, n.14, 1978. CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. 6. ed. São Paulo RT, 1992. GRECO, Leonardo. O processo de execução. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991. SITE, STJ – RJ, SP, BH – www.stj.gov.br SITE, PLANALTO – RJ- www.planalto.gov.br
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO .......................................................................................................1
RESUMO .........................................................................................................................5
METODOLOGIA.............................................................................................................7
SUMÁRIO ........................................................................................................................8
INTRODUÇÃO................................................................................................................9
CAPÍTULO I ......................................................................................................................
LIDE E SATISFAÇÃO.................................................................................................10
1.1 Classificação dos atos executivos .............................................................11 1.2 Documentação do ato executivo.................................................................12 1.3 Encadeamento dos atos executivos ..........................................................12 1.4 Meios executórios de coerção .....................................................................13 1.5 Coerção pessoal ..............................................................................................14 1.6 Meios executórios de sub-rogação ............................................................14
CAPÍTULO II .....................................................................................................................
OBRIGAÇÃO ALIMENTAR..............................................................................16 2.1 Natureza do crédito alimentar......................................................................17 2.2 Objeto da prestação alimentar.....................................................................19 2.3 Prestação alimentar de entrega de coisa..................................................21 2.4 Classificação da obrigação alimentar........................................................22 2.5 Alimentos definitivos e provisionais..........................................................23
CAPITULO III ....................................................................................................................
TÍTULO EXECUTIVO E OBRIGAÇÃO ALIMENTAR............................................26
CAPÍTULO IV ...................................................................................................................
ALIMENTOS E MEIOS EXECUTÓRIOS .................................................................29
4.1 Classificação das obrigações alimentares e meios executórios .......29 4.2 Alimentos pretéritos e coerção pessoal ...................................................31 4.3 Elenco dos meios executórios da obrigação alimentar........................34
54 4.4 Garantias do crédito alimentar e sua influência nos meios executórios ..............................................................................................................36 4.5 Capital em títulos da dívida pública ou imóveis .....................................38 4.6 Caução real ou fidejussória..........................................................................39 4.7 Usufruto de determinados bens ..................................................................40 4.8 Escolha entre a expropriação e a coerção pessoal ...............................42 4.9 Aspectos fundamentais dos ritos ...............................................................45 4.10 Execução por coerção pessoal .................................................................46 4.11 Execução por expropriação .......................................................................48 4.12 Execução por desapossamento................................................................49
CONCLUSÃO ...............................................................................................................50
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................52
ÍNDICE ...........................................................................................................................53
FOLHA DE AVALIAÇÃO ...........................................................................................55
55 FOLHA DE AVALIAÇÃO
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