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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E OS BRINQUEDOS CANTADOS
COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO NA
PSICOPEDAGOGIA
Por: Elisângela Nascimento de Araújo
Orientador
Prof. Dayse Carla Gênero Serra
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E OS BRINQUEDOS CANTADOS
COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO NA
PSICOPEDAGOGIA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicopedagogia.
Por: . Elisângela Nascimento de Araújo
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus alunos da Rede municipal de
Belford Roxo, grande inspiração para
este trabalho, fazendo-me
compreender o quanto o mundo
mágico da literatura infantil e os
brinquedos cantados podem ser ricos e
aproveitável como instrumento de
intervenção na psicopedagogia em seu
contexto lingüístico através das
músicas, e das brincadeiras e jogos
extremamente lúdicos e criativos. A
grande contadora de história e artista
Bia Bedran e tantos outros contadores
de histórias que levam as melodias que
despertam a criatividade, a
espontaneidade, o censo crítico e a
harmonia infantil.
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DEDICATÓRIA
Ao meu Deus, por mais uma conquista. Ao meu esposo Alexandre Lins, Lincoln Vinícius e Tamires(filhos) por estarem sempre ao meu lado nos grandes momentos de minha vida. Aos meus professores, por sua sabedoria, paciência e direcionamento durante todo o percurso do curso de psicopedagogia, dando-me, assim muito incentivo e determinação para estar estudando e preparando-me cada vez mais para me tornar um profissional com dignidade. Aos meus pais João da Silva e Jandira Nascimento da Silva, meus sogros Jair Palmeira e Conceição Lins de Araujo e minha Pastora Vanilda Sampaio por compreender por algumas vezes a minha ausência em meu Ministério. Ao corpo docente da Universidade Cândido Mendes e funcionários pelo seu empenho em manter esse trabalho tão bonito e valoroso. Aos meus colegas de turma e, em especial minha amiga Teresa e a vocês, o meu eterno carinho.
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RESUMO
Aborda-se nesta monografia a contação de histórias a importância e a
contribuição dos brinquedos cantados como um novo instrumento de
intervenção psicopedagógica. A presente monografia desenvolve-se à luz da
psicopedagogia tomando-se de empréstimo conceitos da dislexia, da
psicopedagogia, da filosofia, da psicologia do desenvolvimento, da ludoterapia
e da musicoterapia. Faz-se um breve estudo sobre a contação de histórias e
segue-se a descrição dos brinquedos cantados, paralelos ao desenvolvimento
infantil segundo Piaget, enumerando-se os estágios propostos por este autor e
delimitando-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda, como objeto de
interesse maior da população pesquisada. Fala-se da formação do professor
contador de histórias, as modalidades dos contos fazendo-se referência às
vivências através da contação de histórias e dos brinquedos cantados no
contexto psicopedagógico. Na culminância deste estudo, propõe-se a
diferenciação entre motivação e educação, na área da psicopedagogia e
terapia psicomotora, esboçando-se a elaboração das estruturas, através da
contação de história e interpondo-se os brinquedos cantados como recursos
plausíveis a este trabalho.
Palavras-Chave: Psicopedagogia, Contação de histórias, Brinquedos cantados.
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“O meu trabalho se presta a um prolongamento da magia da infância,
desenvolvendo a criança a ingenuidade e, ao mesmo tempo, o seu lado
moleque”
Bia Bedran
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8
CAPÍTULO I - A PSICOPEDAGOGIA E A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO, DA
LINGUAGEM E DA DISLEXIA........................................................................... 13
CAPÍTULO II - FORMAÇÃO DO PROFESSOR CONTADOR DE HISTÓRIAS..........43
CAPÍTULO III - BRINQUEDOS CANTADOS ................................................................57
CONCLUSÃO ..................................................................................................71
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................74
ÍNDICE..............................................................................................................78
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INTRODUÇÃO
A contação de histórias nas últimas décadas do século XX vem
acontecendo e fazendo parte do processo integrante da Educação básica, tem
despertado discussões, e em muitos locais já integra o currículo escolar, como
atividade, vemos também como um instrumento novo para intervenção
psicopedagógica.
A contação de histórias agrada e entretém, mas a função não é
somente esta, ela também transforma o ambiente num espaço agradável e
estimulante, e o principal, educa.
Segundo historiadores, contar histórias sempre esteve presente na
sociedade, desde as mais primitivas até as atuais. Quer seja uma
manifestação estritamente social ou também artística. O contador de histórias
que em outros tempos tinha seu lugar garantido no interesse coletivo, se revela
nos dias de hoje,sobretudo nas sociedades urbano industriais do mundo
moderno, como alguém que necessita reconquistar e ampliar seu espaço de
atuação.
O contador é aquele que conta histórias, não aquele que as canta,
caso contrário, seria cantador. A arte de contar histórias é uma atividade que
por milênios tem conservado o poder de suscitar o sonho e a fantasia nos
ouvintes.
Café (2000) diz que:
O contador de histórias tem uma linguagem corporal
própria, individual, marca de suas experiências, de sua
cultura corporal, de sua atuação no mundo e na vida, de
suas histórias base de sua existência. Alguns gestos
pertencem a uma linguagem comum. Têm um mesmo
significado para todos os que pertencem a uma
sociedade. Entretanto, sendo iguais, não são idênticos,
9
pois a forma de vivenciá-los é própria de cada sujeito, em
sua individualidade.
A contação de histórias possibilita, o estimulo à imaginação, o acesso as
diferentes culturas e o convívio com outros. É visto que hoje estamos
passando por um processo de globalização e diante disto há alguns privilégios,
como o desenvolvimento de redes de comunicação, o progresso da
informática, da medicina, da ciência e o acesso à informação em tempo real. É
necessário saber se este desenvolvimento possibilita outros valores e culturas,
respeito às adversidades, e não permitir que a classe dominante, queira que,
continue a história, como função somente de preservá-la, como,
acontecimentos cotidianos, as memórias transmitidas por seus ancestrais, as
dúvidas, alegrias angústias e prazeres de sua existência e como principal
objetivo desse estudo que é o da intervenção psicopedagógica.
O contador de histórias do século XXI apresenta seu trabalho por meio
de espetáculos de narração oral, performances artísticas elaboradas, com
domínio de técnicas corporais e vocais e critérios de seleção para a escolha de
histórias.
O contador de histórias, na verdade, atua numa área muito
próxima as artes cênicas. O que difere a contação de história do espetáculo
cênico são marcas quase imperceptíveis, a relação estabelecida pelo olhar de
quem conta e seus ouvintes provavelmente é a mais nítida. É olhar o fio que
conduz, o elo que liga o narrador à platéia.
Soei (2004), diz que:
Histórias estão presentes a cada momento da vida do ser
humano, de maneira que onde quer que haja
comunicação, ali está presente uma história: no teatro, no
cinema, em uma paisagem, em um outdoor, na leitura de
um artigo, em um relato de experiência, em um conselho,
em um segredo compartilhado.
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Hoje em dia como no passado a mente da criança pode se encantar
pelos contos de fada, obras literárias que chamam a atenção pela sua
qualidade, o próprio conto que é uma arte.
É bem sabido que é necessário ter uma verdadeira consciência de
nossa existência, encontrar um significado em nossa vida, pois aqueles que
não encontraram nenhum significado acabaram perdendo a vida.
Hoje, como no passado, a tarefa mais difícil na criação de uma criança
é ajudar a dar significado para sua vida.
É necessário criar imagens no ar materializando assim o verbo e
transformando ele próprio nesta matéria que é palavra, assim o texto deixa de
ser signo para se tornar significado.
Segundo Busatto (2003), a contação de histórias nos leva ao mundo
da imaginação, à palavra, ao texto que deixa de ser signo e passa a ter
significado e possibilidade ainda de ter acesso e valorização das diferentes
culturas e auxilia o aluno disléxico.
Já o canto está presente no universo simbólico de todas as culturas.
Vive-se um processo de massificação da cultura brasileira, onde a música
infantil está mesclada de sensualidade e cultuação a um corpo estético grego.
Tem-se então, a incumbência de preservar e formar a criança que nasce
ingênua, sonhadora e necessita de cuidados afetuosos neste contexto a
criança disléxica consegue se socializar.
Visto que o som tem propriedades físicas que incidem sobre o corpo
humano de forma objetiva e subjetiva, movendo o sujeito a partir da sua
emoção; e que, as crianças disléxicas são estimuladas em sua afetividade, se
apropriando do uso destes elementos lúdico-sonoros para investimento
pessoal e social, supõe-se que os brinquedos cantados interferem de forma
significativa no desenvolvimento psicopedagógico dessas crianças e através
da psicopedagogia pode ser um grande instrumento para auxiliá-los nas
aprendizagens significativas.
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Faz-se assim a relevância deste estudo, para pesquisar a importância
dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianças de 0
à 7 anos de idade; e ainda, demonstrar a contribuição destes elementos lúdico
sonoros na psicopedagogia para crianças com dislexia .
Assume-se a investigação da importância e contribuição dos
brinquedos cantados, articulados entre si pelo viés dos brinquedos cantados e
dos interesses infantis, conforme o exposto a seguir.
No primeiro capítulo descreve-se um breve histórico sobre a
psicopedagogia e a construção do pensamento e da linguagem e a dislexia.
Definindo linguagem; a leitura e a oralidade; a narrativa; conto de fadas; a
lenda; as fabulas.
Prossegue-se no segundo capítulo um estudo sobre o professor
contador de histórias; como contar historias na sala de aula; aprendizagens
significativas e a contribuição são do contador de historias; como a contagem
de historia se transforma em instrumento psicopedagógico para formação do
ser humano. Por fim, mostra-se no terceiro capitulo um breve estudo sobre os
brinquedos cantados. Organizam-se idéias sobre as três possibilidades dos
brinquedos cantados: musicar, brincar, movimentar. Dar-se a ver a importância
dos brinquedos para o desenvolvimento global da criança como novo
instrumento psicopadagógico.
Finalizando esta introdução e abrindo os estudos desta monografia,
deixa-se à contemplação a música Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Júnior, 1980, interpretado pela cantora Elis Regina no Cd “Música: O melhor de
Elis Regina” WEA, 2000com efeito de auxilio as crianças com dislexia:
“REDESCOBRIR”
Como se fora brincadeira de roda (memória)
Jogo do trabalho na dança das mãos (macias)
O suor dos corpos na canção da vida (história)
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O suor da vida e no calor de irmãos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memória)
Redescobrir o sal que está na própria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das línguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memória)
Renascer da própria força própria luz e fé (memória)
Entender que tudo é nosso sempre esteve em nós (história)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Não tenha medo meu menino bobo (memória)
Tudo principia na própria pessoa (lembrança)
Vai como a criança que não teme os tempos (mistério)
Amor se fazer é tão prazer que é como fosse dor (magia)
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CAPÍTULO I
A PSICOPEDAGOGIA E A CONSTRUÇÃO DO
PENSAMENTO, DA LINGUAGEM E DA DISLEXIA.
Algumas das principais idéias de Vygotsky analisando seus
métodos de sua aplicação na clinica psicopedagógica, ou na intervenção
terapêutica das dificuldades de aprendizagem. Essa aplicação das idéias
Vygotskianas na psicopedagogia é um fator não muito encontrado que precisa
ser desenvolvido, dada a importância dos trabalhos do autor para a psicologia
da Educação e para a compreensão dos processos de aprendizagem e
desenvolvimento que incluem as dificuldades de aprendizagem.
Scoz (1992) salienta em dizer que para alcançar a compreensão a
respeito das dificuldades de aprendizagem e intervir corretamente e
conscientemente, o profissional precisa se informar sobre o processo de
aprendizagem em seus mais detalhados aspectos, precisa conhecer com
profundidade os mecanismos que envolvem a formação dos pensamentos e as
dinâmicas afetivas envolvidas no processo de desenvolvimento da
aprendizagem vivido pela criança, por isso, desde a década de 80, a
psicopedagogia vem se transformando em um campo de estudo
“multidisciplinar”com o objetivo de “resgatar” uma visão mais globalizada no
processo de aprendizagem que conseqüentemente nos problemas decorrentes
desse processo.
É, portanto, senso comum entre os profissionais da psicopedagogia
que o conhecimento multidisciplinar das ciências envolvidas nas descrições e
reflexões do processo de Aprendizagem seja fator obrigatório para a formação
profissional, isto porque, para realizar uma intervenção clinica ou institucional
eficaz, é preciso conhecer e compreender a dinâmica psíquica das crianças o
que inclui os fatores inconscientes, outro fator é pesquisar as referencias sócio
culturais que as envolvem a dimensionar as características da historia de suas
aprendizagens.
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Nesse sentido, os trabalhos desenvolvidos por L.S.Vygotsky e seus
colaboradores parecem ser essenciais, uma vez que apresentam as idéias
referentes a importância dos fatores sócio culturais na formação da identidade
do aprendiz e esclarecem muito a respeito do desenvolvimento do pensamento
de conceito como um processo onde a interação e os fatores sócio históricos
são fundamentais.
O conhecimento psicopedagógico tem sido intensamente construído
nas ultimas décadas. Nesse esforço muitos profissionais têm registrado os
resultados de seus trabalhos e realizado discussão a respeito das aplicações
das varias ciências no campo psicopedagógico.
É o caso do psicopedagogo argentino Jorge Visca (1987) que reúne os
conhecimentos da escola psicanalítica Jacques Riviére; ou Sara Paín que
trabalha com as teorias dos psicanalistas Jacques Lacar e de Piaget sobre a
aprendizagem para desenvolver suas contribuições para o fazer
psicopedagogico.
Nesse contexto, apesar dos inúmeros trabalhos sobre as teorias de
Vygotsky e a educação como: Boquero(1998), Moll(1996), Van de Ver e
Valsiner(1996) e muitos outros ainda são poucos os trabalhos que apresentam
as possíveis aplicações dos ensinamentos desse grande pesquisador na
pratica da clinica das dificuldades de aprendizagem.
O pensamento Vygotskiano é completo por conceito que, em conjunto,
configuram uma abordagem especifica da questão da aprendizagem infantil. O
pensamento Vygotskiano é composto por conceitos que, em conjunto
configuram uma abordagem especifica da questão da aprendizagem infantil,
enfatizando sua relação com a linguagem e a importância do contexto sócio-
histórico para o desenvolvimento.
No presente trabalho abordamos algumas das idéias desenvolvidas
por Vygotsky e seus seguidores: As relações entre pensamento e linguagem, o
desenvolvimento infantil e o contexto social, a formação dos processos
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mediados e o desenvolvimento de conceitos como complexos. Esse eixo do
pensamento Vygotskiano foi escolhido em função de sua importância para a
compreensão da problemática da dificuldade de aprendizagem.
Jean Piaget apresentou, em seus trabalhos, suas concepções a
respeito da função da linguagem no desenvolvimento do pensamento,
especialmente o pensamento lógico. Segundo ele, o pensamento lógico surge
a partir da apresentação da linguagem para a criança. É na vida social que a
criança aprende a utilizar artifícios da linguagem como “porque”, “apesar de“,
etc, muito antes de entender o que estar dizendo. Para Piaget, ao utilizar à
linguagem a criança passa a pensar sobre o significado do que esta dizendo e
então desenvolve o pensamento lógico. Alem desse pensamento, o que existe
na criança pequena, é pensamento ilógico, sem palavras, sem significados,
mais interno e inerente a própria criança.
Vigotsky discorda dessa abordagem, pois acredita que a criança
pequena possui um pensamento complexo muito antes de adquirir a linguagem
social. Afirma que “uma oração de uma palavra” emitida por uma criança de
um ano, pode ser equivalente a varias orações de um adulto. É fácil confirmar
essa hipótese, basta observar um bebê de 18 meses brincando com o pai:
Imaginemos que todos os dias a brincadeira consista em jogar aquela bola
amarela que fica no cesto, La no canto da sala. Após algumas semanas a
brincadeira com o pai torna-se um aspecto importante na relação: quando o
bebê entra na sala e avista o cesto diz entusiasmado “bó”, temos valor de
varias orações para um adulto: O bebê parece estar comunicando que quer a
bola amarela, de dentro do cesto no canto da sala, para brincar com seu pai
como costuma fazer todos os dias e que isso é muito gostoso, divertido e parte
da relação dos dois.
Por isso Vygotsky afirma que a linguagem possui dois aspectos: o
verbal ou fonético expresso no exterior, e o semiótico ou semântico,
significativo formado pelos significados que atribuímos a tudo que vemos aos
objetos, pessoas e situações com os quais nos relacionamos.
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Em seus estudos Vygotsky descreve caminhos diferentes para o
desenvolvimento dos aspectos semióticos e fonéticos da linguagem infantil.
Discordas das palavras à frases e das frases simples as frases complexas e
combinadas. Para Vygotsky, no que se refere aos aspectos semióticos da
linguagem, o que ocorre é a passagem de uma combinação de frases ao
destaque de uma frase solta, e da frase solta ao destaque de uma combinação
de palavras, para, só no final, aparecer o destaque de uma palavra solta.
Assim afirma que os aspectos fonéticos e semânticos do pensamento através
da linguagem, apesar de estarem muito estreitamente ligados entre si e de
representarem, propriamente falado, dois momentos de uma complicadíssima
atividade única, e não coincidem, contudo, um com outro.
Ele é categórico quando afirma que o trabalho de significação de uma
palavra não termina com sua compreensão e inclusão na linguagem fonética.
“(...) A velha idéia de que o desenvolvimento da linguagem infantil termina aos
cinco anos, quando a criança já domina o léxico, a gramática e a sintaxe da
língua materna é falsa; aos cinco anos o que termina não é o trabalho
principal, mas o trabalho prévio”. No mesmo texto, o autor afirma que a
psicologia deve se ocupar do processo oculto do desenvolvimento e explica
(...). “Podemos afirmar que todos os sistemas fundamentais das funções
psíquicas da criança dependem do nível alcançado por ela no desenvolvimento
do significado das palavras. Portanto, o que é central para toda a estrutura da
consciência e para todo o sistema de atividade das funções psíquicas e o
desenvolvimento do pensamento, há uma dependência entre toda a atividade
da criança, a realidade externa e o desenvolvimento do aspecto semântico da
linguagem infantil”.
A conclusão do significado da palavra como uma unidade tanto do
pensamento generalizando quanto do intercambio social é de valor inestimável
para o estudo do pensamento e da linguagem.
Compreender a importância do contexto social e das interações no
processo de desenvolvimento infantil é, portanto, essencial para conhecer a as
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características do pensamento semiótico e da linguagem da criança e
descobrir, no caso de uma intervenção clinica psicopedagógica, as possíveis
origens de seus bloqueios de pensamento. Conclui que atitudes como
observação da interação e do discurso entre a criança e os adultos
significativos para o seu desenvolvimento, tais como os pais, professores e
outros são fundamentais para uma intervenção profissional eficaz.
Beatriz Scoz, confirma essa idéia, ao discutir o problema de
aprendizagem da escrita na escola onde desenvolveu sua pesquisa. É
fundamentalmente na interação com pessoas capazes de ajudar a criança a
atribuir significado ao símbolo escrito compreendendo seu valos social que a
aprendizagem se realiza mas adiante, explicita qual deve ser a característica
dessa interação. É imprescindível observar que muitas crianças não deixam de
aprender simplesmente por não terem lápis á disposição ou por não saberem
como utilizá-lo, mas por não compreenderem a função desse instrumento. A
recíproca é verdadeira, aqueles que tem sucesso não o fazem porque seguram
o lápis corretamente e escrevem nas linhas dentro da margem, mas porque
vêem e escutam, porque elaboram e transformaram as informações que
recebem, porque trabalham cognitivamente com o que o meio lhes oferece.
Nesta pesquisa prioriza-se o estudo sobre a dislexia que pode ser
definida como dificuldade de aprendizado da Linguagem: em leitura,
soletração, escrita, em linguagem expressiva ou receptiva, em razão e cálculos
matemáticos, com na linguagem corporal e social. Não tem como causa de
falta interesse, de motivação, de esforços ou de vontade, como nada tem a ver
com acuidade visual ou auditiva como causa primária. Dificuldade no
aprendizado da leitura, em diferentes graus, é característica evidenciada em
cerca de 80% dos disléxicos.
Dislexia é então um jeito de ser e de aprender; reflete a expressão
individual de uma mente, muitas vezes astuta e até genial, mas que aprende
de maneira diferente...
A dislexia é um problema que se detecta em crianças que sofrem com
dificuldades de leitura. Os testes psicopedagógicos, com uma relativa precisão,
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diagnosticam as dificuldades de aprendizagem relacionadas à linguagem.
Todavia, qual a origem da dislexia ou das dislexias? Os maus leitores são
conseqüências de maus métodos de ensino da leitura? A dislexia é
hereditária?
O disléxico tem mais desenvolvida área especifica de seu hemisfério
cerebral lateral direito do que leitores normais.Condição que, segundo
estudiosos, justificaria seus “dons” como expressão significativa desse
potencial, que esta relacionado à sensibilidade, artes, atletismo, mecânica,
visualização em 3 dimensões,criatividade na solução de problemas e
habilidades intuitivas;
Segundo Capovilla (pág 59, 2000) a avaliação do individuo disléxico
dever tanto qualitativa quanto quantitativa. A avaliação qualitativa deve
abranger entrevistas com os pais ou responsáveis e com a criança,
observação clínica, e analise de relatos e registros escolares. Conforme
diretrizes da British Dyslexia Association, a avaliação qualitativa deve incluir a
observação de sinais que podem indicar a dislexia. Os sinais que podem
indicar dislexia em crianças são: Histórico familiar de problemas de leitura e
escrita; Atraso para começar a falar de modo inteligível; Frases confusas, com
migração de letras: “A gata preta prendeu o filhote”em vez de “ a gata preta
perdeu o filhote”; Impulsividade no agir; Uso excessivo de palavras substitutas
ou imprecisas (como”coisa”, “negocio”); Nomeação imprecisa (como
“helóptero” para “helicóptero”; Dificuldade para lembrar os nomes de cores
objeto; Confusão no uso de palavras que indicam direção, como dentro/fora,
encima/embaixo, direita/esquerda; Tropeços, colisões com objetos ou quedas
freqüentemente.
Quando feita a avaliação do aluno disléxico deve-se realizar
intervenção que são: A criança disléxica deve sentar-se próxima à professora,
de modo que a professora possa observá-lo e encorajá-lo a solicitar ajuda;
Cada ponto do ensino deve ser revisto varias vezes. Mesmo que a criança
esteja atenta à explicação, isso não garante que ela lembrará o que foi dito no
dia seguinte; Professores e pais devem evitar sugerir que a criança é lenta,
preguiçosa ou pouco inteligente, bem como evitar comparar o seu trabalho
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escrito aos de seus colegas; Não solicitar que ela não leia em voz alta na
frente da sala de aula; Suas habilidades e conhecimentos devem ser julgados
mais pelas respostas orais que escritas; Não esperar que ela use corretamente
um dicionário para verificar como é a escrita correta das palavras. Tais
habilidades de uso de dicionário devem ser cuidadosamente ensinadas; Evitar
dar varias regras escritas numa mesma semana. Por exemplo, os vários sons
do “c” ou do “g”. Dar listas de palavras com uma mesma regra para a criança
aprender; Sempre que possível a criança deve repetir, com suas próprias
palavras, o que a professora pediu pra ela fazer, pois isso ajuda a
memorização.
A apresentação de material escrito deve ser cuidadosa, com cabeçalhos
destacados, letras claras, maior uso de diagramas e menor uso de palavras
escritas; A escrita cursiva é mais fácil do que a de forma, pois auxilia a
velocidade e a memorização da forma ortográfica da palavra; Esforços devem
ser feitos para auxiliar a autoconfiança da criança, mostrando suas habilidades
em outras áreas( música, esporte,artes,tecnologia etc.).
1.1 - A leitura
Diante de tanta teoria nos perguntamos o que seria o “conhecimento”
afinal? Essa é uma pergunta feita por muitos professores quando a questão é
a leitura, escrita e a oralidade representações que interessam à escola, sendo
que a mesma aparece seguida de outras questões “crianças com
dificuldades”..., o que trabalhar nas sérias iniciais? Quais devem ser os
critérios de avaliação, etc.?Tais questões nos levam a refletir sobre discursos
que tomamos como dados, verdadeiros com suas respostas sobre o que é
“conhecimento”, entretanto, poderíamos dar outro rumo a essa reflexão,
discutindo as origens, começo desse discurso, questionando-os,
problematizando-os. Isto é julgamos que ,quando determinados discursos
passam a circular como “verdades”,precisam ser questionados quantos às
diferenças e articulações que passam ter entre si e em relação a outros
20
discursos. Exemplificando em que medida os discursos sobre letramento se
diferenciam daqueles sobre os métodos, dos da psicogênese da língua
escrita? Ou em que medida os discursos atuais sobre a produção textual se
deslocam daqueles formulados sobre o ensino da redação e da gramática?
Ao dar visibilidade a discursos sobre leitura, escrita e oralidade que
circulam em diferentes instâncias e segundo concepção diversas, no ensino
fundamental e na educação infantil, também oferecemos visibilidade aos
deslocamento porque passaram esses discursos, localizando assim a
“invenção” de determinadas concepções quanto à aquisição e usos da língua
escrita.Tal possibilidade nos exige apresentar aqui o que se entende por
discurso e representações.
HALL(1997:25) considera que:
Nem as coisas por si próprias nem os usuários da
linguagem podem fixar sentido na linguagem. Coisas não
significam: Nós construímos sentido usando sistemas de
representação conceitos e signos (...) não é o mundo
material que confere significado é o sistema de linguagem
ou qualquer que seja o sistema que estamos usando para
representar nossos conceitos.”
Para o autor a representação é produção de sentido através da
linguagem; sendo que a linguagem não trabalha como espelho, por não existir
uma simples relação de reflexo, imitação ou correspondência um a um entre
linguagem e mundo real.
Exemplificando quando dizemos que o aluno escreve e lê texto, o
fazemos a partir de discursos que privilegiam representações diferenciadas
entre se do que é ler e escrever e que podem ser conhecidas como caráter
lingüístico, psicolingüístico, etc,ou seja, pensamos sobre a aquisição da
linguagem e seus usos através de vários sistemas representacionais e
reconhecemos alguns desses sistemas como “verdadeiros” ou mais
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verdadeiros em determinadas épocas e contextos culturais ,assim as
representações de leitura escrita e oralidade são construídas a partir de
determinadas práticas culturais e estruturas sociais e de acordo com as
demandas e necessidades da escola.
“Diz-se: Quanto mais se lê, melhor se “escreve” ele sabe muito
“português”, não têm um erro de ortografia”, “as pessoas falam errado”, a
leitura suscita multiplicidade de significados, é desejável que a escrita seja
significativa para interlocuções reais entre outras.
A mudança de discursos behavioristas (comportamentais) para
discursos psicolingüísticos da linguagem renomeou o aluno como um usuário
da linguagem inatamente criativo, já o discurso sociolingüístico acentua o
caráter social da linguagem, sendo que a terceira e mais recente virada nos
estudos discursivos se baseia na análise pós-estruturalista de Michael
Foucault, que descreve o “caráter” construtivo da linguagem”. Texto e discurso
(e incluíamos também oralidade) passam a ser visto como artefatos produtivos,
construtivos de formações sociais, comunidades e identidades sociais dos
sujeitos. Nesse sentido a própria construção do conceito de sujeito é cultural e
toda prática social tem seu caráter discursivo (LUCKE,1996).
Saber decifrar, interpretar, ler copiar, redigir, escrever... São práticas
que nos constituem, pois conhecer e representar são processos inseparáveis.
VEIGA NETO (1996:28) Diz que:
No caso sobre leitura, escrita, oralidade-Não são as próprias coisas,
nem somente um espelho da “realidade” dela, as produziu como parte de
correntes de discursos que constituem e reforçam determinadas “verdades”.
CHARTIER (1998) observa que a alfabetização não é uma atividade
que se dê fora da história. Considera, então que por trás daquilo que se chama
“saber ler” estão competências específicas de cada época. Portanto,
precisamos entender como se deu a redefinição dos métodos e metodologia
de alfabetização criados para suprir e contextualmente por sociedades
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diversas, tomando como exemplo a França, a autora distingue quatro etapas
que nós identificaríamos como sistema de representações no processo
histórico ocidental de definição de expectativas em torno da alfabetização:
1. Apenas saber ler;
2. Saber ler- escrever- contar;
3. Adquirir os conhecimentos elementares da cultura escrita;
4. Dominar a cultura escrita da escolarização primária.
Desde o Brasil Colônia e imperial, o ensino da leitura antecedia o da
escrita, possivelmente por razões econômicas, sendo que o barateamento do
custo do papel ,no final do século xIx , teria possibilitado, então, o ensino
simultâneo da leitura e da escrita.Em nosso país o esforço republicano de
escolarizar a escrita e a leitura suponha escolarizar o corpo daquele que lê e
escreve, construindo também uma posição corporal adequada à escrita e à
leitura através de teorias” higiemistas”, inscrevendo o discurso escolar no
campo da cientificidade (VIDAL,GVIRTZ,1998).Diz que:
A “disciplinarização” pode ser percebida em uma outra área como a da
saúde, sendo que a estratégia da educação em saúde foi regulamente,
enquadrar ,controlar todos os gestos, atitudes, comportamentos, hábitos e
discursos das classes subalternas e destruir ou apropriar-se de modos de uso
e saber estranhos a sua visão de corpo, da saúde, da doença, em fim ,do bom
modo de amor á vida”.
Nos anos 1900, a leitura em voz alta passaria a objetivar não mais o
decifrado, mas a explicação do seu sentido a um auditório.A leitura expressiva
como etapa final da aprendizagem dava um passo a mais em relação à
escolarização, a alfabetização passava a ser o meio de iniciar os alunos nos
conhecimentos científicos.
Com o movimento escolanovista, a leitura e a escrita ganham novos
significados, a partir da valorização da leitura silenciosa reconhecida como
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“leitura inteligente” por privilegiar o conteúdo do que foi lido ,o qual.
Posteriormente passaria pelo processo de redação criação de um novo
texto.Quanto à alfabetização prescrevia-se o ensino simultâneo da leitura oral
e expressiva substituindo pela silenciosa e explicada(através de comentários
orais e escritos de pequenos trechos literários com o decorrer da
escolarização(VIDAL,1999:347).
A crise da escolarização dos anos 1970 vem a ser também a “crise da
leitura”, as normas da alfabetização mudam. A escola primária passa a
redefinir suas exigências, visando á escolaridade prolongada e a leitura
corrente deve ocorrer o mais precocemente possível.a alfabetização começa a
ser considerada também como uma área de ensino que mereceria uma
formação particular e que não poderia ser entregue a professores
iniciantes.Nas décadas seguintes passa a ser feito em nosso país um forte
investimento na formação continuada, assim como há o prolongamento da
formação docente inicial.A preocupação com a relação entre linguagem oral e
escrita e a importância da expressão livre surgem como questões desse
período que se atualizam em nossos dias, com a preparação da produção da
escrita através da produção de textos orais ou oralizados,temos hoje as
crianças narrando e ditando textos, passamos a ter, assim como ponto
decisivo do aprendizado, não mais a leitura, mas a escrita precoce.
“Não identificar leitura com decifrado, não identificar escrita com cópia
de um modelo”,por exemplo, são enunciados que posicionam
,localizam,definem e em alguns casos regulam leitores e ouvintes. Ferreiro e
Teberosky(19995),ao apresentarem estudos em uma perspectiva cognitivista
teorizam sobre a apropriação da língua escrita da perspectiva do sujeito que
aprende, colocando essas negações como princípios metodológicos que
orientam a crítica aos tradicionais métodos de alfabetização para apresentá-las
como afirmações teóricas ao discutirem o entendimento que a criança pode ter
do que a escrita representa e da estrutura desse modo de representação ,logo
esses enunciados visibilizam de certo modo o deslocamento de um discurso
comportamentalista para outro cognitivista ou inatamente criativo.
24
Nos anos 80, temos a invenção de um novo conceito a do letramento,
apontando uma diferenciação de expectativas em torno da alfabetização. O
letramento passaria a ser o estado ou condição que um indivíduo ou um grupo
social passaria a ter sob o impacto dessas mudanças(KATO 1987-kleiman
1995;Soares1996/1998) Soares observa que a diferenciação entre ser
alfabetizado e ser letrado só recentemente se configuraria como uma realidade
em nosso contexto social com o primeiro referindo-se à aquisição da leitura e
da escrita e o segundo aos usos que se faz das mesmas enquanto práticas
sociais.
Tais interpretações e deslocamentos nos discursos nos permitem
sublinhar que não podemos imaginar que primeiro as crianças devam adquirir
essas tecnologias (saber ler, saber escrever) para depois ,então, passar a usá-
las.A própria manipulação de tantos artefatos poderia, inclusive favorecer a
aquisição e o domínio dessas tecnologias.
Mey (1998) pondera que é o discurso social que designa ao letramento
em seu papel apropriado, logo, outras perguntas que nos fazemos como
professores e formadores de professoras dizem respeito à função que o
letramento ganha na sociedade, ou seja, para que o mesmo serve em contexto
e épocas diversas.Com isso, passaríamos a nos preocupar com o modo como
o discurso sobre os diversos tipos de letramento e como funcionam na
sociedade.
“Conforme dito anteriormente ,o discurso pedagógico em cada época
e em função das demandas sociais e culturais que discuti, apresenta e
prescreve” os bons métodos os bons gestos as boas leituras
“(FRAISSE,1997:14).E poderíamos pensar como sustentar desenvolver as
práticas pedagógicas sem a utilização desses significados, conhecimentos
produzidos como “conhecimento” na educação e mais especificamente na área
de língua materna? Parece-nos necessárias então a discussão do que tem
sido dito se diz sobre oralidade leitura e escrita, historicamente para a
25
identificação dos conteúdos e práticas de linguagem ensinados na escola
enquanto espaço educativo instituído também para esse fim.
Segundo (FOUCAULT,1998) ele afirma que o discurso sofre controle
externo e interno dentro de sistema de apropriação, doutrinas e sociedades de
discurso, sendo que as proibições podem ser sobre o assunto a ser explorado
a circunstância de fala os sujeitos envolvidos os comentários produzidos e a
coerência da nossa identidade como autores,conforme regras aceitas
“verdadeiras” para produzi-los.
KLEIMAN (1995) concorda afirmando que a escrita também não é uma
modalidade fixa que também não precisa ser sempre formal, sofisticada e
planejada, assim como a fala não é em todas as situações de comunicação
informal ou coloquial e sem planejamento. Em nossa cultura acadêmica uma
conferência, por exemplo, suscita planejamento no que se refere ao assunto e
aos recursos expressivos a serem mobilizados durante a exposição do tema, já
um bilhete ou um telefonema para uma pessoa mais íntima não supõe esse
grau de planejamento.
A partir dessa perspectiva, o trabalho escolar poderia abrir espaço para
multiplicidade de discursos bem como abordar relativizando a questão do
“certo ou errado” em linguagem conforme vem postulando estudos lingüísticos
cujos efeitos de sentido ainda não foram mobilizadores de novas práticas
pedagógicas.
Considerando-se essa multiplicidade de interlocução poder-se-ia
pensar em um trabalho pedagógico que atentasse para uma exploração mais
dinâmica e contextualizada dos textos escritos, por exemplo. Assim ao
tomarmos um material de leitura parece-nos importante enfatizar alguns
aspectos durante o trabalho contexto, tipo de texto, título, subtítulo, quantidade
de informação, tamanho e tipo de letras, letras maiúsculas, tamanho de frases,
imagens, cores, significados, ,possíveis leitores. Esse tipo de relação e
interação com textos acreditamos que permitirá aos usuários da língua ampliar
26
suas condições para o enfrentamento das diferentes práticas sociais de leitura
e escrita.
Outros aspectos que merece destaque os significados circulantes nos
textos de leituras. Os discursos neles representados não ensinam conteúdos
apenas, mas constituem subjetividades e identidades. Outros propósitos
interessantes seria uma abordagem que levasse em conta a variedade de
materiais de leitura. Essa variedade poderia incluir desde peças publicitárias
até os clássicos da literatura, que hoje nos apresentam inclusive através de
adaptações e traduções sem dúvida um repertório histórico da literatura oral e
escrita, inesgotável em possibilidade de abordagens que deu origem a vários
contos, lenda,filmes,poemas,aos quais hoje temos acesso.
Evidentemente que podemos mudar esse quadro, precisamos
questionar não somente quem são os alfabetizados e quem são os letrados,
nem o que os torna alfabetizados ou letrados, mas a “invenção” dessa
necessidade não precisamos nos questionar apenas se devemos deslocar o
trabalho pedagógico da alfabetização para o letramento da redação ao texto ou
ainda da crença no discurso monossêmico ao polissêmico, do monofônico ao
polifônico etc,mas buscar entender por um lado o quanto as nossas aulas
nossos planos não são produzidos de forma tão autônoma e criativa como
imaginávamos ,mas que decorrem de discursos e representação que nos
constituem ao mesmo tempo que constituem possível entendimento do que é
ler, escrever e oralizar. Porém Silveira(1998:55)discorda e em resposta ela diz
que a resposta das teorias reprodutivista de educação e de certas abordagens
analíticas que vêem o sujeito aprisionados nas injunções de um discurso
autoritário e numa posição fixa no jogo escolar nos parece insatisfatória e
estreita.
Ainda é necessário salientar a pertinência de discussões mais amplos
a respeito dos discursos sobre currículo, planejamento, avaliação e seus
desdobramentos no contexto escolar enquanto reguladores das nossas
expectativas em torno da leitura, escrita e oralidade em sala de aula. Em uma
27
sociedade marcada pelas diferenças e pela desigualdade pela complexidade
das relações sociais não é tarefa fácil promover interações culturalmente
positivas nas salas de aula. A idéia do significado e da provisoriedade dos
conhecimentos selecionados e de projetos didáticos diferenciados, articulados
e contextualizados para cada aluno e para o coletivo da sala de aula entre
outros aspectos evidentemente parece uma estratégia pedagógica adequada
para fomentar políticas educacionais de inclusão, ainda falando em
aprendizagem veja o que Amélia Hanze nos fala abaixo.
Amélia Hanze define a aprendizagem com um processo de mudança
de comportamento obtido da experiência construída por fatores emocionais,
neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação
entre estruturas mentais e o meio ambiente. De acordo com a nova ênfase
educacional, centrada na aprendizagem, o professor é co-autor do processo de
aprendizagem dos alunos. Nesse enfoque centrado na aprendizagem, o
conhecimento é construída e reconstruída continuamente.
Quando a educação é construída pelo sujeito da aprendizagem, no
cenário escolar prevalecem a ressignificação dos sujeitos, novas coreografias,
novas formas de comunicação e a construção de novas habilidades,
caracterizando competências e atitudes significativas.Nos bastidores da
aprendizagem há a participação, mediação e interatividade, porque há um
novo ambiente de aprendizagem,re-modelização dos papéis dos atores e co-
autores do processo, desarticulação de incertezas e novas formas de interação
mediadas pela orientação, condução e facilitação dos caminhos a seguir .
A educação como interatividade contempla tempos e espaços novos,
diálogo problematização e produção própria dos educandos.O professor
exerce a sua habilidade de mediador das construções de aprendizagem.E
mediar é intervir para promover mudanças como mediador, o docente passa a
ser comunicador, colaborador e exerce a criatividade do seu papel de co-autor
do processo de aprender dos alunos.
28
Na relação desse novo encontro pedagógico, professores e alunos
interagem usando a co-responsabilidade a confiança, a dialogicidade fazendo
a auto-avaliação de suas funções.Isso é fundamental, pois nesse encontro,
professor e alunos vão construindo novos modos de se praticar a educação.É
necessário que o trabalho escolar seja competente para abdicar a cidadania
tutelada, ultrapassar a cidadania assistida, para chegar á cidadania
emancipada que exige sujeitos capazes de fazerem história própria.Saber
pensar é uma das estratégias mais decisivas, o ser humano precisa saber
fazer e, principalmente saber fazer-se oportunidade.(DEMO,Política Social do
conhecimento).
Os objetivos da aprendizagem são classificados em: domínio cognitivo
(ligados a conhecimentos, informações ou capacidades intelectuais); domínio
afetivo, (relacionados a sentimentos, emoções, gostos ou atitudes); domínio
psicomotor (que ressaltam o uso e a coordenação dos músculos). No domínio
cognitivo temos as habilidades de memorização, compreensão, aplicação,
análise, síntese e a avaliação. No domínio afetivo temos habilidades de
receptividade, resposta, valorização, organização e caracterização. No domínio
psicomotor apresentamos habilidades relacionadas a movimentos básicos
fundamentais, movimentos reflexos, habilidades perceptivas e físicas e a
comunicação não discursiva.
A educação vista sobre o prisma da aprendizagem representa a vez da
voz, o resgate da vez e a oportunidade de ser levado em consideração. O
conhecimento como cooperação, criatividade e criticidade, fomenta a liberdade
e a coragem para transformar, sendo que o aprendiz se torna no sujeito ator
como protagonista da sua aprendizagem. ”Porque nós estamos na educação
formando o sujeito capaz de ter histórias próprias, e não história copiada,
reproduzida, na sombra dos outros ,parasitária.
Uma história que permita ao sujeito participar da sociedade “(DEMO,
Política social do conhecimento).
29
E para que uma “nova aprendizagem “acontecesse foi necessário que
as escolas mudassem sua pedagogia. Novas tecnologias e metodologias
ingressaram no cotidiano escolar.
Professores e planos de curso tornam-se defasados, necessitando de
atualização, paradigmas ultrapassados ou estes ou inovadores- o que não
diminui consideravelmente o compartimento e isolamento da escola em
relação à realidade de cada educando. Muitas vezes desmotivados e
amedrontados pela reprovação, num local em que as necessidades individuais
de aprendizagem não são atendidas.
É neste contexto atual que o psicopedagogo conquista espaço. Uma
observação minuciosa e uma escuta atenta sem “pré conceitos”, assinalada
pela imparcialidade pode detectar a real problemática da instituição
escolar.”Esse é o papel do psicopedagogo nas instituições:Olhar em detalhe,
numa relação de proximidade, porém não de cumplicidade”, afirma
Césaris(2001);facilitando o processo de aprendizagem.
Afinal, a psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor
compreensão do processo da aprendizagem humana e assim estar resolvendo
as dificuldades da mesma ou mesmo prevenindo-as, visando ao interesse e ao
prazer do aluno e do professor pelo processo de ensinar e aprender,
garantindo o sucesso escolar para todos.
Com vasto cabedal teórico a psicopedagogia têm diversos e diferentes
fatores nos quais se basearam, para tentar explicar eventuais entraves no
processo de aprendizagem, passando a assumir um papel mais abrangente. A
linha de trabalho definida pelo psicopedagogo é a forma de ação e
investigação para identificar as possíveis defasagens no processo de aprender.
Tamanha a complexidade deste saber, todas as variáveis devem ser
consideradas, desde uma disfunção orgânica até uma falha no processo de
compreensão que pode estar comprometendo a aprendizagem.
30
Ferreira (2002) ressalta que as necessidades individuais de
aprendizagem não podem ser definidas por apenas um fator, estando ele na
própria criança no meio familiar ou no ambiente escolar.
Devido à complexidade dos problemas de aprendizagem, a
psicopedagogia se apresenta com um caráter multidisciplinar, que busca
conhecimento em diversas outras áreas de conhecimento, além da psicologia
e da pedagogia. É necessário ter noções de lingüística, para explicar como se
dá o desenvolvimento da linguagem humana e sobre os processos de
aquisição da linguagem oral e escrita. Também são necessários
conhecimentos sobre o desenvolvimento neurológico, sobre suas disfunções
que acabam dificultando a aprendizagem; de conhecimentos filosóficos e
sociológicos, que nos oferecem o entendimento sobre a visão de homem ,seus
relacionamentos a cada momento histórico e sua correspondente concepção
de aprendizagem.
A psicopedagogia Educacional pode assumir tanto um caráter
preventivo bem como assistencial. Na função preventiva , segundo Bossa
(2000) cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo
de aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa
favorecendo a integração promovendo orientações metodológicas de3 acordo
com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando
processos de orientação.Já no caráter assistencial o psicopedagogo participa
de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contextos
teóricos/prático das políticas educacionais, fazendo com que professores
diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua
docência e as necessidades individuais de aprendizagem da criança ou da
própria “ensinagem”.
Participando da rotina escolar, o psicopedagogo interage com a
comunidade escolar, participando das reuniões de pais esclarecendo o
desenvolvimento dos filhos; dos conselhos de classe avaliando o processo
didático metodológico acompanhando a relação professor-aluno sugerindo
31
atividades ou oferecendo apoio emocional e finalmente acompanhando o
desenvolvimento do educando e do educador no complexo processo de
aprendizagem que estão compartilhando.
Apesar desta dinâmica, Ferreira (2002),adverte(...) Mesmo que a
escola passe a se preocupar com os problemas de aprendizagem, nunca
conseguiria abarcá-los na sua totalidade, algumas crianças com problemas
escolares apresentam um padrão de comportamento mais comprometido e
necessitam de um atendimento psicopedagógico mais especializado em clínica
.Sendo assim , surge a necessidade de diferentes modalidades de atuação
psicopedagógica;uma uma mais preventiva com o objetivo de estar atenuando
ou evitando os problemas de aprendizagem dentro da escola e outra a clínico-
terapêuta, onde seriam encaminhadas apenas as crianças com maiores
comprometimentos, que não pudessem ser resolvidos na escola.
E sabendo que muitos casos de distúrbios de aprendizagem passam
despercebidos e muitos sem condições até financeiras para um tratamento
eficaz, professores optam por instrumentos que vem de encontro para
contribuir para um possível ajuda nas tais dificuldades de aprendizagem.
Hoje vários profissionais psicopedagogos, psicólogos, pedagogos e
outros profissionais estão utilizando como um recursos psicopedagógicos de
levar a importância de contar história para crianças com intuito de abrir espaço
para a alegria o prazer de ler ,compreender e interpretar.
Segundo Cláudia Marques Cunha Silva mestra em Produção com
ênfase em mídia e conhecimento pela UFSC;Psicopedagoga coordenadora do
núcleo sul mineiro da ABPP; e docente da vários cursos de Pós-graduação em
psicopedagogia no sul de Minas. Neste contexto explora dizendo, o porquê de
contar história é uma narrativa que se baseia num tipo de discurso calcado no
imaginário de uma cultura. As fábula, os contos , as lendas são organizados de
acordo com o repertório de mitos que a sociedade produz. Quando estas
narrativas são lidas ou contadas por um adulto para uma criança, abre-se um
parâmetro de diferença entre ler e contar histórias, mas mesmo sendo
32
definições muito diferentes, porém ambas muito importantes. Um texto escrito
segue as normas da língua escrita, que são completamente diferentes
daquelas da linguagem falada.
Quando uma criança ouve a leitura de uma história ela injeta funções
sintáticas da língua, além de aumentar seu vocabulário e seu campo
semântico, porém ,aquele que lê a história deve dominar a arte de contá-
la,estar preparado suficientemente para fazê-lo com apoio no texto, sabendo
utilizar o livro como acessório integrado à técnica da voz e do gesto.
Além disso, quem lê para uma criança não lhe transmite apenas o
conteúdo da história; promovendo seu encontro com a leitura, possibilita-lhe
adquirir um modelo de leitor e desenvolve nela o prazer de ler e o sentido de
valor pelo livro.
Há opiniões divergentes neste campo: Alguns autores consideram que o
contador sem o livro tem mais liberdade de acentuar emoções, modificar o
enredo segundo as reações da criança e, portanto, melhor comunicação com o
público infantil, teria ainda mais disponibilidade para trabalhar sua voz e seu
gesto.
Neste aspecto de que o importante é como ler e como contar, porque é
preciso que se tenha técnica e preparo para despertar o desejo e o prazer das
crianças.
É através deste fantástico mundo um dos principais objetivos de se
contar histórias é o da recreação, mas, a importância de contar histórias vai
muito além. Por meio delas podemos enriquecer as experiências infantis
desenvolvendo diversas formas de linguagem, ampliando o vocabulário,
formando o caráter, desenvolvendo a confiança na força do bem,
proporcionando a ela viver o imaginário.
Além disso, as histórias estimulam o desenvolvimento de funções
cognitivas importantes para o pensamento, tais como a comparação (entre as
figuras e o texto lido ou narrado) o pensamento hipotético, o raciocínio lógico,
33
pensamento divergente, as relações espaciais e temporais (toda história tem
princípio, meio e fim) os enredos geralmente são organizados de forma que um
conteúdo moral possa ser inferido das ações dos personagens e isso colabora
para a construção da ética e da cidadania em nossas crianças.
Segundo Luiza Lameirão, existem dois tipos de histórias aquelas que
servem de alimento para a alma, permitindo a transmissão de valores e de
imagens arquetípicas fundamentais para a construção da subjetividade, e
aquelas que sevem para despertar o raciocínio e o interesse da criança para
formas de agir e estar no mundo , e assim são chamadas histórias matéria
importantes para estruturação dos aspectos objetivos de nossa
personalidade.Estas últimas devem ser selecionadas de acordo com o
desenvolvimento cognitivo do ouvinte porque exigem maior compreensão
racional e analítica, mas para isso exigisse uma competência necessária para
se contar histórias que é adquirida em cursos de capacitação com técnicas
básicas de postação de voz, gesto, materiais de apoio e dentre outras.
Nesses cursos se destaca algumas orientações básicas para se contar
histórias:
• Escolha leituras que tenham ligação direta com o sexo, a idade,
o ambiente familiar e o nível sócio econômico da clientela;
• Incentive as crianças diariamente, contando pequenas histórias
sem mesmo ter o livro nas mãos;
• Use entonação de voz atraente, sem exagero, faça suspense,
faça drama, se emocione, expresse sua opinião sobre o tema e
dê oportunidade para que a criança também apresente sua
opinião;
• Enriquecer a narração com figuras de linguagem (onomatopéia).
• Movimente o corpo (olhos, mãos, braços), mas sem exagero.
34
• Evite cacoetes ou vícios de linguagem como: aí, ai... Então...
Entenderam...
• Crie a “hora da história”,na escola, um bom horário é após o
recreio para acalmar a ternura, em casa pode ser à noite antes
de dormir;
• Determine um dia ou horário para cada aluno ler ou contar uma
história, não force ninguém;
• Em casa estimule a criança a recontar a história que ouviu,
compre livros, dê livros de presente em aniversários, natal e
outras festividades;
• Sempre que possível sente-se no nível das crianças
• Explique quando necessário o significado das palavras novas;
• Preserve a atenção das crianças no local em que a história está
sendo contada. (muito barulho, pessoas estranhas
interrompendo, etc);
E o que tudo isso implicaria na psicopedagogia do ato de contar
história? Como já foi dito a história possibilita a articulação entre objetividade e
subjetividade, espaço “entre” no qual se situa o trabalho psicopedagógico. É
,portanto, um recurso que pode ser usado tanto no diagnóstico como na
intervenção psicopedagógica em instituições clínicas.
O conteúdo mítico, as ações praticadas pelos personagens, os valores
morais implícito na narrativa, permitem projeções que facilitam a elaboração de
questões emocionais, muitas vezes expressas com sintomas que se
apresentam na aprendizagem. A compreensão dos enredos, a análise dos
35
conteúdos, a estrutura lingüística subjacente ao texto, permitem ao profissional
investigar questões cognitivas presentes nas dificuldades do processo de
aprendizagem.
Como recurso psicopedagógico a história abre espaço para a alegria e
o prazer de ler, compreender, interpretar a si próprio e a realidade.
1.2 - A Narrativa
Contar história, repetimos,é uma grande arte. E, na arte de contar
história, como em todas as artes, há os gênios, que nascem feitos, mas
também há aqueles que têm apenas tendências naturais que podem ser
aperfeiçoado. Estes precisam tão somente de técnicas e exercícios para se
tornarem especialistas naquilo para o que já têm jeito especial.
A arte de contar histórias, como as demais artes, tem a sua técnica
que deve ser observada para garantir o sucesso aos interessados, cabe
também usar da criatividade, expressão corporal e disponibilidade para contar
histórias. A título de auxílio para os novatos nesta linda arte, a fim de orientar
seus primeiros passos, até que se desenvolva e adotem seus próprios
métodos e adquirem estilo próprio, é preciso estar abertos para o
aperfeiçoamento das qualidades e antes de contar uma história, o narrador
deve prepará-la bem observando os passos formais que a técnica aconselha
no preparo de uma fábula, tais como: Na preparação de uma história deve ter
clareza e ser nítido no seu objetivo, pois a história tem mensagem e o narrador
não será ciente se ignorar sua mensagem; na mente do contador de história,
deve estar clara, e perfeitamente estabelecida, a virtude que ele quer salientar
ou o erro que deseja corrigir; A mesma história pode ser usada com objetivo
diferente em ocasiões diversas. Tudo depende da capacidade de adaptação
do narrador; a narrativa surge a partir dos relatos de idéias e vivências
contadas pelos mais diferentes grupos de pessoas; nesse sentido a presença
de elementos mágicos e o recurso à fantasia têm sido procedimentos
36
recorrentes na literatura infantil para conquistar o leitor; se, portanto, queremos
usar uma história para fim diferente daquele o qual ela foi usada, precisamos
prepará-la de novo, para que ela se ajuste a nova finalidade.
A preparação de uma história requer aprender bem. Aprender bem
uma história, não significa poder recitá-la, saber de cor, mas ter exata noção
de seu conjunto, compreender. É saber apreciar no que ela tem de emotivo, é
ser senhor dos acontecimentos, ou eventos que ela encerra e em ordem
lógica. É ter dela uma visão global como uma unidade compreensiva. É
analisar cuidadosamente a história. Começa a análise da história por
determinar-lhe o clímax. Isto porque o clímax é o coração da história, é a sua
mensagem real, é o ponto central para o qual todos os eventos devem
convergir. Tendo o clímax bem focalizado, analisando os acontecimentos para
verificar se todos eles conduzem ao clímax e se estão na melhor ordem, de
modo a fortalecer analisar os acontecimentos para verificar se todos eles
conduzem ao clímax e se estão na melhor ordem, de modo a fortalecer e
tornar mais impressionante. Depois de fazer a análise cuidadosamente dos
eventos e colocá-los na melhor ordem, formulando assim a conclusão.
Ao ouvir histórias, a criança com dislexia começa a perceber que nela
há começo, meio e fim e que elas estão contando alguma coisa que aconteceu
primeiro, e que elas estão contando alguma coisa que aconteceu primeiro, e
que gerou outros fatores e que levou a um determinado final.
Recontar uma história é contar o que se lembra da mesma após sua
leitura ou adição, ela percebe a sua seqüência e, ao reconstruírem
mentalmente suas partes, quer para relembrá-la, quer para recontar para
outrem, desenvolvem um esquema de histórias, que é a representação mental
que nós temos do que seja uma história, isto é, uma representação das suas
partes (cenário – onde e quando aconteceu e quem são os personagens).
O nosso esquema de história não é inato; ele se desenvolve à medida
que crescemos e somos expostos a muitas histórias bem construídas.
37
Para que o ouvinte possa sentir a história e construir suas imagens,
interagindo com o texto, o contador deve também sentir, enxergar com
detalhes e cores as cenas da história, enquanto narra. O contador de história,
por sua vez tem necessidade de incorporar o texto, senti-lo como se tivesse
acontecido com ele próprio, para conquistar a confiança de seu público.
Perspectiva do narrador nas condições de hoje, a posição colocada pela
professora Argentina, Ana Padovani (1999) também contadora de história, a
respeito do aparecimento do contador/narrador, encontra eco nas idéias de
Walter Benjamim, destacando os valores de simplicidade e grandeza, ao
mesmo tempo, como características que poderão enriquecer o entendimento e
a descoberta do verdadeiro narrador de ontem e de hoje, cada um no seu
contexto.
A oralidade primeira, de raiz assentada na memória, dava-se
dinamicamente, sem rigidez, estrutura para ser memorada. Valia a pena
guardar, pois essa oralidade era compartilha por toda a comunidade, como um
ritual. Essa experiência acontecia em torno da celebração da palavra. Esta é
capaz de trazer ao presente o passado para construir uma comunidade
enquanto tal, ritmo, na marcação e na música. Linguagem dessa primeira
narrativa que identifica cada tribo seus costumes e contextos.
O mundo hoje, diante das novas tecnologias tem afastado o individuo
do ouvir, pensar, criatividade e da fantasia. A atividade de contar história,
sobretudo nas sociedades urbano industriais, parece ter desaparecido, mas há
um movimento que já começou a tomar corpo e se espalhar, numa perspectiva
atual de incentivar leitura e oralidades. As maiorias dos contadores hoje tiram
experiências dos primeiros narradores, aqueles de origem. A narrativa surge a
partir dos relatos de idéias e vivências contadas pelos mais diferentes grupos
de pessoas. O gênero narrativo classifica e reúnem obras da mesma espécie,
isto é obras que apresentam os mesmos traços. Os contos populares são
narrativos de tradição oral. Sua origem e continuidade se dão no imaginário
coletivo, por isso muitas vezes as histórias surgem de situações contadas no
dia-a-dia.
38
1.3 - Contos de Fadas
Os contos de fadas, histórias que tem acentuadas características
morais as quais se revelam nos fatos de serem sempre recompensada a
virtude e punir o mal.
Este é um princípio verdadeiro na vida real, mas sua verificação é
impossível a criança principalmente a disléxica, pois demanda longo período
de experiência e uma existência já vivida, o que é impossível a criança. Os
contos de fadas são considerados mais satisfatórios do que todas as outras
histórias infantis. Os contos de fadas têm um sentido bem mais profundo do
que outros tipos de leitura começam onde a criança realmente se encontra no
seu psicológico e emocional. Falam de suas pressões internas graves de um
modo que ela inconscientemente compreende e sem menosprezar as lutas
mais sérias. Os contos de fadas devem levar a criança a lutar contra as
dificuldades da vida, visto nas histórias de contos de fadas, sempre há o bem e
o mal, mas visto que o bem sempre vence o mal.
Os contos de fadas, em contraste confrontam a criança honestamente
com os predicamentos humanos básicos. Os contos de fadas permitem À
criança aprender o problema em forma mais essencial, o contrário do que
acontece em muitas histórias infantis modernas, nos contos de fadas o mal é
tão onipresente quanto à virtude.
Em praticamente todos os contos de fadas o bem e o mal recebem
corpo na forma de algumas figuras e de suas ações, já que bem e mal são
onipresentes na vida e as propensões para ambos. Para as crianças o mais
importante é compreender que não se deve fazer o mal e que o bem sempre
vence no final. Bettelhein, (1980:20), afirma que o poder regenerador dos
contos de fadas que, por conterem na sua estrutura elementos simbólicos,
criam uma ponte com o inconsciente, integrando os conteúdos arquetípicos1 e
proporciona à criança conforto e consolo em termos emocionais.
39
Considera-se que as figuras dos contos de fadas não são
ambivalentes, não tem um só sentido, elas não são boas ou más, ao mesmo
tempo, como somos todos na realidade, mas transmite uma luz que domina a
mente da criança, também domina os contos de fadas uma pessoa boa ou má.
Há alguns contos de fadas amorais onde a bondade ou a
apresentação das polarizações de caráter permitem a criança compreender
facilmente a diferença entre as duas, o que ela não poderia fazer tão
prontamente se as figuras fossem retratadas com mais semelhança à vida. Os
contos de fadas transmitem a criança de forma múltipla uma mensagem que
diz que uma luta contra as dificuldades graves, na vida é inevitável, mas é
necessário que a pessoa não se intimide, mas se defronta de modo firme com
as opressões inesperadas e muitas vezes injustas. Segundo Bettelhein, À
criança aprende o problema em sua forma, mas essencial, onde uma trama
mais complexa confundirá o assunto para ela. Os contos de fadas são
bastante convenientes, durantes os problemas.
A criança confia no que o conto de fada diz, estas histórias funcionam
como ensinamento e permitem que a criança vivencie seus problemas
psicológicos, de modo simbólico, saindo mais feliz dessa experiência.
Os contos de fadas diferentes de qualquer outra forma de literatura
dirigem a criança para a descoberta de sua identidade e comunicação, e
também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver ainda
mais seu caráter. Os contos de fadas declaram que uma vida compensadora e
boa está ao alcance da pessoa apesar das adversidades – mas apenas se ela
não se intimidar com as lutas do destino, sem as quais nunca se adquire
verdadeira identidade.
Num conto de fada, os processos eternos são externalizados e tornam-
se compreensíveis enquanto representados pelas figuras da história e seus
incidentes.
40
Mas a verdadeira importância dos contos de fadas para o indivíduo em
crescimento reside em algo mais do que ensinamentos sobre as formas
corretas de se comportamento neste mundo,auxilia muito o aluno com dislexia
Sabemos que o conto encanta isto ninguém tem dúvida, chegamos ter
algumas idéias expostas por estudiosos. Bruno Bettelhein é um deles, e afirma
que os contos de fadas encantam, antes pelas suas qualidades literárias e o
próprio conto como uma obra de arte. Os contos de fadas não poderiam ter
seu impacto psicológico sobre a criança se não fosse primeiro e antes de tudo
uma obra de arte.
1.4 – A Lenda
É a história imaginária que embora tenha origem num fato, e este a tal
ponto foi fantasiado, modificado ou ampliado. Afinal, pode distinguir o elemento
fictício da verdade original. Em geral, são histórias que pertencem a épocas
primitivas e que, por séculos e séculos, têm sido transmitidos oralmente, de
geração em geração, sofrem algumas modificações até de forma inconsciente.
É necessário conhecer características desses gêneros antes de contá-
las valorizando o que a narrativa tem de melhor para formação do indivíduo, é
necessário acreditar nos mistérios, numa cumplicidade manifestada no olhar e
na emotividade, encontro com o inesperado. É importante valorizar, realçar o
momento do encontro com os elementos que dão força ao texto, como o
encontro com o boto cor de rosa ou com a Vitória Régia, surgindo nas águas,
com a mandioca ou o pajé, e muitos outros personagens que fará do sonho
uma realidade.
O contador de histórias tem que ler, entender e entrar no mundo da
imaginação, viver a história com prazer e alegria. As lendas trazem o mistério,
a curiosidade, neutralidade nos momentos de humor, traz ao leitor/ouvinte à
41
vontade para expressar seus sentimentos e compartilhar, ou não, as opiniões e
valores ali presentes.
A lenda é também uma criação popular. Seu surgimento se dá pela
necessidade de encontrar explicação para aquilo que se desconhece ou que
seja de difícil compreensão. Possui uma estrita relação com o momento real
vivido e, diferentemente dos contos maravilhosos, os protagonistas são seres
humanos e há pouca interferência de seres imaginários. As lendas entre os
povos são as tradições e vive do pensamento primitivo e do desenvolvimento
intelectual das épocas. A lenda deleita encantamento e educa. Quase sempre
o mito da origem à lenda e caracteriza o seu desenvolvimento moral.
Outros estudiosos afirmam que a lenda é o meio termo entre a história
imaginária e a real, tendo um pouco de cada uma delas, como nos demais
casos de histórias imaginárias, as lendas podem ser usadas como instrumento
psicopedagógico, desde que se não ponha ênfase no elemento fictício
querendo emprestar-lhe caráter de realidade, mas na significação moral que
ela tem.
1.5 - Fábulas
As fábulas são narrativas simbólicas, que tem origem no séc. VI a.C;
como criação do escravo grego Esopo(escravo grego do século VI a.C.).
Inspiradas em histórias da mitologia greco-romana.
As fábulas de Esopo só foram escritas a 200 anos depois de sua
criação, por Demétrio e somente no século XVII, tornaram-se mais conhecidas,
através da sua reescrita por La Fontaine(La Fontaine viveu no Séc.XVII, era
freqüentador do palácio de Versalles. Sua gentileza cética favorecia o convívio
com os nobres. Em “suas” fábulas, fala da humanidade, em especial dos
franceses de sua época.) As fábulas, sugerindo sempre algo. Ela tem a função
de estimular e frustrar a verdade. A presença dos animais neste estilo narrativo
42
se justifica pelo fato de, na antiguidade, eles simbolizavam as virtudes e
identificavam as qualidades dos heróis e deuses que às vezes encarnavam;
Júpiter era representado pela águia, Juno pelo pavão, Minerva pela coruja e
Diana pela força.
As fábulas apresentam semelhanças com apólogo (seres inanimados
que adquirem vida para transmitir uma situação) e alegoria (transmite idéias a
partir de imagens). Na literatura as alegorias são expressões de duplo sentido
e podem ser representados pelos provérbios. É o tipo de história nas quais os
animais tomam características humanas, raciocinam, falam, choram, cantam,
sentem e encarnam as virtudes ou defeitos da natureza humana. Em geral,
apontam as fraquezas dos homens e são de grande valor como aviso, como
advertência contra tais fraquezas.
As fábulas falam da humanidade usando das figuras de animais,
onde podemos nos encontrar representado, tais como: o leão, a força e o
poder; a formiga traduz o trabalho; a raposa e o coelho, a astúcia e esperteza;
e o lobo, o despotismo.
No Brasil, Monteiro Lobato (século XX) foi quem trabalhou com as
fábulas recriando-as. Em seguida o escritor carioca Melar Fernandes também
recriou as fábulas de Ensopo e La Fontaine, de forma satírica e muito
engraçada. Em estudos foi percebido que a fábula se divide em duas partes:
• 1ª parte – a história (o que aconteceu)
• 2ª parte – a moral da história (o significado da história)
43
CAPÍTULO II
FORMAÇÃO DO PROFESSOR CONTADOR DE
HISTÓRIAS
Nos últimos anos têm-se discutido muito sobre a formação dos
professores, sua importância para a sociedade e na formação das crianças e
dos alunos com dislexia. “Numa sociedade contemporânea onde cada vez
mais é necessário o seu trabalho enquanto mediador dos processos segundo
Pimenta (2005, p.15)” constitutivos da cidadania dos alunos, para o que
concorre a superação do fracasso e das desigualdades escolares”. Sendo,
assim nos leva a refletir sobre a formação dos professores e suas práticas
pedagógicas nas organizações escolares.
Nesse contexto sobre a prática pedagógica dos professores é que
iremos fazer algumas reflexões, sobre a didática dos cursos de formação dos
professores, a importância de buscar diferentes linguagens e saberes
diferenciado para o exercício profissional da docência. O que se espera dos
cursos de formação inicial (licenciatura) é que forme professores criativos,
inovadores, reflexivos e que contribuam no processo de construção de um
sujeito situado no seu contexto e no momento histórico.
Professores que sejam capazes de desenvolver nos alunos
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que possibilitem a construção
permanente de saberes e fazeres no dia a dia sabendo lidar com todas as
dificuldades encontradas. Ao professor do século XXI, cabe a ele buscar novas
propostas de trabalho, estar aberto à aprendizagem, criatividade, a arte, a
contação de história, a tecnologia, e tantas outras inovações metodológicas.
Ele deve tomar a sua profissão como estimulador da imaginação dos alunos e
a contação de história é a forma natural para o desenvolvimento e descobertas
do mundo da leitura. O professor que trabalha com a contação de histórias faz
um elo entre “a criança e o livro.” (SILVA e ROCHA, 2006).
44
O professor contador de histórias promove o encontro da criança com
o livro, aguça a curiosidade, possibilita a ela o desejo de folhear, observar as
ilustrações, ler a parte que mais gostou na história, mudar partes da história,
nomes de personagens, enfim trilhar outros caminhos para a história contada.
Segundo Silva e Rocha (2006), é comprovado na prática que, depois
de ouvir uma história bem trabalhada, o aluno pede o livro para folhear e ler.
Então, a formação do professor é muito importante na percepção das
experiências práticas, para este ser sensível e perceptivo da importância da
história contada para a formação de leitores não só nas atividades da escola,
mas o transformar para a vida. Pois, a atividade de contação de histórias
enquanto recurso pedagógico possibilita o processo de formação de leitores.
Segundo Bettelhein, a fantasia ajuda a formar a personalidade e por
isto não pode faltar na educação. ”A criança aumenta seu repertorio do
conhecimento sobre o mundo e transfere para os personagens seus principais
dramas.”, diz a terapeuta Mariúza Pregnolato Tanouye, de São Paulo. O
professor contador de história deve estar apito preparado para as novas
tecnologias, mas traindo com sigo a cultura tradicional, para levar as escolas o
prazer encantador que é a arte de contar histórias. Torna-se cada vez mais
raro o encontro com pessoas que sabem contar histórias, e que se preocupam
com a formação do futuro leitor.
Em muitas pesquisas, foi analisada a grande importância da contação
de histórias na sala de aula, visto que em relatos e experiências de seu
cotidiano mostra-nos como as histórias infantis podem enriquecer o
conhecimento do aluno a respeito de si mesmos e do mundo que o cerca.
A sociedade esta vivendo uma mudança estrema onde é necessário
que nós acompanhemos esta mudança, visto que é necessário que
comecemos por nós mesmos, consultando o nosso EU, interior para que
depois possamos conhecer o nosso exterior. E, por isto que a contação de
histórias é importante visto que através da história a criança imagina, sonha,
45
sorri e chora fica irritada, sente a diferença entre o bem e o mal, ritualiza sua
memória, nos conecta com algo que se perdeu e faz com que ela sinta o
prazer na vida.
A contação de história na sala de aula estimula a capacidade de
raciocínio do aluno e de relacionar fatos, pessoas, objeto e ações no tempo e
no espaço.
Defendem a recriação de lugares por meio da literatura e de desenhos
como uma forma de exercer várias das utopias que a educação
contemporânea tem buscado alcançar, colocando em relevo e experiência das
crianças e estimulando a criticidade, a criatividade e o auto conhecimento.
Desde as antigas civilizações existe o hábito de contar história. Na
Grécia antiga, por exemplo, havia os aedos, que narravam episódios de heróis
e suas conquistas. Na idade média, os crônicos divertiam os nobres com seus
relatos. No século XVII ,nasceram os primeiros contos para crianças. No Brasil,
a tradição de contar histórias já existia entre os índios e continua até hoje.
A figura do contador de histórias reapareceu com grande vigor nas
últimas décadas do século XX, havendo um grande interesse de pessoas em
aprender técnicas destas ocupações. Nas instituições escolares há uma
grande demanda pela contação de histórias. Em muitos locais já integra o
currículo escolar, com atividades com horários determinado. Há ainda um
estímulo pela capacitação de professores e bibliotecários escolares a
incorporarem essa prática no seu cotidiano e, para isto contrata-se pessoas
para realizar esta tarefa.
Barcellos e Neves(1995) afirmam que a criança que ouve histórias com
freqüência educa sua atenção, desenvolve a linguagem oral e escrita, amplia
seu vocabulário e principalmente, aprende a procurar nos livros novas histórias
para o seu entretenimento, e visto que a contação de histórias possibilitam o
estímulo á imaginação, o acesso ás diferentes culturas e o convívio com o
outro.
46
A narração de histórias na escola também tem uma função de
“animação de leitura”, desperta o gosto pela leitura, embora nem sempre isto
seja alcançado. Há unanimidade em torno do fato de que ouvir muitas histórias
é importante para a formação de qualquer criança.
O professor deve aproveitar o momento de contação de histórias para
desenvolver a criatividade do aluno e leva-los a imaginação, brincando de faz-
deconta, também permitindo a criança viver papéis, isto é importante para sua
socialização. A criança aprende a lidar com seus medos e
expectativas. E é ouvindo histórias que se pode sentir emoções importantes,
como a raiva, a alegria, a insegurança, a tristeza, o medo, a alegria, a
insegurança, a tranqüilidade. Estamos vivendo um importante momento que é
a capacidade dos profissionais que atuam na educação.
2.1 - Como contar histórias?
São muitas as indagações: A partir de que idade pode-se entregar à
criança um livro infantil? Existe uma idade adequada para a criança brincar de
ler? Hoje sabemos que a criança deve ser estimulada desde os 3 meses com
atividades que oportunizem o desenvolvimento das percepções auditivas,
visuais, tátil, temporal, a memória e outras operações mentais.
É importante contar histórias, pois por meio dela as crianças
descobrem palavras novas, entram em contato com a musicalização, com
locais, com fatos históricos e geográficos e datas. Trabalha-se com melodia,
harmonia, ritmo, expressão, oralidade e tantas outras formas interdisciplinares
de socialização e aprendizagem.
O ambiente de aprendizagem é essencial para o aprendizado do aluno,
Bruno Bettelhein, reconhecido psicólogo infantil e autor do livro: A psicanálise
dos contos de fadas, afirma que o conto encanta, antes pelas suas qualidades
literárias, pois “o conto de fadas não poderia ter seu impacto psicológico sobre
47
a criança se não fosse primeiro e antes de tudo uma obra de arte”. (Bettelhein,
1980, p.20).
O momento do ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o
sair, o ficar, o pensar, o dramatizar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o
escrever, o querer ouvir de novo.
Entretanto, sabemos que ainda há educadores que não se dão conta
de que a literatura e o lúdico estão entrelaçados de que podem ser
desenvolvidas atividades mesmo com bebês ou crianças pequenas dos
berçários e das creches. Ao contar histórias para as crianças pequenas no
berçário, estas ficam mais tranqüilas, e desenvolvem a percepção sensorial,
auditiva, o comportamento, a comunicação e o gosto pela leitura. Quando se
trabalha a história com estas crianças pequenas é preferencial que usemos o
livro para trabalharmos com as imagens, e assim estimular a atenção e
memória visual.
Há resultados positivos divulgados, quando a história faz parte de
processos informais de educação, justificam a necessidade de esclarecer o
conceito de histórias e estabelecer relação de afinidades entre a contação de
histórias e a educação formal, uma proposta com possibilidades de tornar
efetivo a contação de histórias na sala de aula, utiliza-se o processo de
investigação interdisciplinar.
Considera-se que a contação de histórias, quando for respalda-se pela
interdisciplinaridade, terá lugar seguro na educação formal. Ao protagonizar as
práticas sensíveis, será valorizada e solicitada a contribuir com a realização do
anseio educacional de proporcionar educação completa ao ser humano.
Juntas, educação e contação de histórias têm a missão de levar o ser humano
a desenvolver a própria potencialidade sensível, para desempenhar, com
autenticidade, o papel que lhe cabe na sociedade contemporânea como um
instrumental capaz de dar uma dimensão sensível á progressão de
conhecimento.
48
É importante que o professor faça da história um pretexto para outras
atividades, como desenhar, escrever, fixar conteúdo, é necessário que o
professor aproveite a história, para fazer algo a partir dela, e não proporcionar
um momento rico, de prazer que ela própria proporciona, é preciso que o
professor seja sensível e utilize o máximo do momento de contar história para
o conhecimento.
Segundo Bettelhein (1980), enquanto a criança diverte, o conto de
fadas esclarece sobre ela mesma e favorece o desenvolvimento de sua
personalidade e oferece significados de muitos modos.
A leitura de histórias pode ser uma forma de brincar com palavras e
figuras e é uma atividade prontamente prazerosa para crianças e adultos, além
de propiciar uma rica fonte para a imaginação, pois as histórias transportam o
ouvinte para uma viagem, onde palavras novas são aprendidas, músicas são
ouvidas, cantadas e culturas são conhecidas.
Educar é também desfrutar o prazer de estar junto numa atividade
gostosa. É descobrir que sempre há mais energia do que pensamos ter. Contar
histórias ainda está excessivamente ligado ao livro. Geralmente, enquanto o
professor lê, ele aproveita as figuras para ilustrar sua leitura, o que por si
descaracteriza a narrativa, que pressupõe a voz sendo oferecidos aos ouvintes
sem que nenhum outro elemento que interfira nesse desempenho.
2.2 – Aprendizagens Significativas.
Todo mundo aprecia histórias, mas pouca gente conhece o valor real
da história. Muitos que a usam para diferentes fins, como entretenimento,
despertar atenção ou descansar a mente, ignora que, mesmo quando usada
com estes objetivos em vista, a história é elemento poderoso na formação do
caráter daqueles que a ouvem.
49
Podemos, pois, afirmar, diante do que já lemos que, o valor real da
história é ser instrumento educativo.
A história, do ponto de vista educativo, atende às necessidades
humanas em todos os seus aspectos.
a) Físico – A história tem sido usada para a satisfação de uma
necessidade de repouso. No fim de um dia de atividades, de exercícios físicos
e trabalhos escolares, a criança se aclama ouvindo histórias. Se a história que
lhe foi contada agradou-lhe o espírito, seu sono é mais tranqüilo. Muitas vezes
o professor percebe o cansaço mental do aluno, sua desatenção ou
inquietude, lança mão da história que teve o poder mágico de acalmá-los.
b) Moral – A história não só vale como meio de descanso físico e
repouso mental, mas como estímulo dos sentimentos. Ouvindo uma história a
criança distingue entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, através das
emoções que são despertadas.
c) Intelectual – Através da história ministrada são adquiridos vários
conhecimento que enriquecem a mente e os desenvolvem.
É a história a forma literária mais expressiva, de mais fácil
compreensão, tanto para criança como para o adulto. A média da
intelectualidade humana não atende discursos nem argumentos, porém
compreende perfeitamente uma história.
Quem ouve ou lê uma história, participa imaginariamente de uma
experiência de primeira mão. Não se imagina um imitador do personagem,
mas assume atitude, coloca-se no lugar do herói, sofre os seus sofrimentos,
goza as suas alegrias, toma parte nos eventos das histórias.
A história também é de fácil adaptação a qualquer matéria de
ensino.Assim a história pode ter caráter histórico, científico, ético ou lingüístico.
50
d) Social – A história interpreta a ciência da vida humana nas suas
relações sociais. Virtudes sociais como a simpatia, o altruísmo, a solidariedade
e outras, são por meio dela, ensinadas de maneira objetiva, eficaz.
O uso da história através dos séculos como instrumento pedagógico
prova o seu valor educativo.
Desde os tempos mais remotos o homem, percebendo que cada
habilidade que possuía era um recurso à sua disposição para conquistar o
respeito e a veneração dos seus semelhantes, começou a cultivar o seu
talento e a especializar-se nas artes.
A arte de contar histórias deve ser cultivada, poucos pais e educadores
não sabem a capacidade que a história tem, o prazer que ela dá a criança, é
necessário que os educadores e pais cultivem, mostrem a criança como é bom
ouvir histórias, como é bom imaginar, brincar com os livros, viajar no mundo da
imaginação.
Segundo Bettelhein (1980), para que uma história realmente prenda a
atenção da criança, essa história deve de fato entretê-la e despertar sua
curiosidade. Mas, para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação:
ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas aspirações.
Além de deixar o ambiente escolar mais alegre, podendo ser usada
para proporcionar uma atmosfera mais receptiva, oferece um efeito calmante,
além de ser usada como um aprendizado de diversas disciplinas. O educador
pode selecionar histórias conforme a idade do aluno.
A escola deve ampliar o conhecimento do aluno disléxico
principalmente, para que ele se torne mais crítico. O importante é que nós,
educadores, devemos continuar cativando esse jovem sábio contador de
histórias que há dentro de nós e das crianças, despertando nelas o gosto pela
leitura.
51
A história é um elemento importante na formação do ser humano,
através da literatura descobrimos o mundo, os outros, através da imaginação
da brincadeira, do faz-de-conta. São respostas, novas perguntas, achadas de
questões perdidas. É busca, é procura, é divertimento, é vibração, pura
emoção.
É necessário que educadores compartilhem novas experiências, e que
a história tenha continuação nas escolas, que os educadores descubram qual
valoroso é a arte de contar histórias.
Segundo Bettelhein (1980), para que uma história realmente prenda a
atenção da criança, essa história deve de fato despertar sua curiosidade. Mas,
para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a
desenvolver ser intelecto e a tornar clara suas aspirações.
Foi constatado que a atividade de contação de histórias é de natureza
cultural, artística e lúdica, mas também pedagógica que pode estar ao alcance
do professor e como intervenção psicopedagógica . Por esta razão, o
professor, que se utiliza de tal recurso em sala de aula, aguça a imaginação
dos leitores ouvintes, desenvolve a capacidade cognitiva de percepção do
objeto literário como instrumento de informação e experiência estética, suscita
interesse pela leitura e concorre para a formação do leitor a partir do instante
em que os alunos são motivados a ouvir histórias para daí recorrer ao suporte
escrito dos textos literários, implementando-se a cultura livresca, tal argumento
nos autoriza a afirmar o quanto é necessário sistematizar a atividade de
conotação de histórias como recurso psicopedagógico.
Utilizando a leitura para alunos disléxicos é, a nosso ver, uma dessas
questões que ainda merecem ser amplamente investigada em face da difícil
realidade que se mostram debilitados em sua prática leitoras, auxiliares de
bibliotecas escolares ainda distanciados do papel relevância que
desempenham na formação dos leitores. É necessário o professor
compreender que a linguagem é um fator decisivo para o desenvolvimento
52
psíquico da criança, pois permitirá outras formas de exploração do mundo.
Com a linguagem aparece a possibilidade de objetivação dos desejos.
A permanência e a objetividade da palavra permitem à criança
separar-se de suas motivações momentâneas, prolonga na lembrança uma
experiência, antecipa,combina, calcula, imagina, sonha (Wallon, 1990:144)
Psicologia Educacional.
Segundo Bussato (2003), “a arte de contar histórias traz o contorno a
forma, reatualiza a memória e nos conecta com algo que se perdeu no tempo
nas brumas do tempo”.
Diante disto é imprescindível que os professores busquem na contação
de histórias como um grande e poderoso instrumento pedagógico para
melhorar a sua prática na sala de aula. Ler histórias para os alunos é uma
prática que ocupa um significativo espaço no processo pedagógico, porém
contar histórias vem a ser outra técnica, e nos remete aquela figura ancestral,
que, ao redor do fogo, ou ao pé da cama, contava histórias para quem
quisesse ouvir, narrar contos do seu povo, aquilo que havia sido gravado da
realidade. Falo do contador de histórias primitivas, um contador ainda ligado às
culturas primárias. É necessário que o professor recupere este traço de
oralidade, conservando assim o patrimônio cultural da raça, e despertando,
nas novas gerações, o desejo de imitar os bons exemplos dos antepassados.
E assim, formar seres humanos que virão dar continuação a este processo.
2.3 – Contagem de História
Busatto (2006) afirma que o poder da história é a compreensão
essencial de que o importante não é o que acontece na história. O que vale é o
que acontece dentro de nós durante uma escuta narrativa, nos é dado pelo
texto tornando a fala significativa pelo contador, este capaz de expressar, pôr
para fora, aquilo que estava no interior. As pesquisas de Bruno Bettelhein
mostram que os contos tradicionais, como os contos de fadas, por natureza
53
dotados de uma linguagem simbólica, auxiliam a criança nos seus momentos
de angústia e insegurança emocional, pois trazem o conforto e alivia as
pressões internas.
Maricato (2005) diz que, quanto mais cedo às histórias orais e escritas
entrarem na vida da criança maior será a probabilidade dela gostar de
ler. E mais, desafiarem “o código escrito” que é tarefa difícil. Porém, a criança
lê do seu jeito, antes mesmo de ser alfabetizada, quando trabalhamos com
atividades de folhear livros e observar as imagens, mesmo antes de decodificar
letras, palavras e frases escritas. O processo de leitura já inicia através da
percepção da existência de coisas, expressões e sinais gráficos.
Para Magda Soares (2005), esse convívio da criança desde bem
pequena com a literatura, com o livro, a revista, e com as práticas de leitura e
da escrita, esse aprendizado chama-se letramento. Ela também coloca a sua
preocupação com os cursos de formação de professores, pois estes precisam
formar um professor leitor, pois se este não utilizar e conviver com material
escrito, ter prazer em ler será muito difícil passar para criança o prazer da
leitura.
A professora possui papel importante, o qual é intermediar o contexto
do aluno com a escrita e a leitura, disponibilizar livros e ser orientador para o
seu uso e aprendizado. Conviver com o livro, atividades em sala, como: a
contação de história, a leitura de histórias, o reconto oral, reconto em
desenhos e outras diferentes experiências.
Existem crianças que não possuem ambiente que as favoreçam à
leitura em casa, porém há outras que ouvem histórias lidas pela família desde
bem pequenas.
Os autores colocam sobre a importância de se criar um ambiente de
leitura nas escolas, pois com está vivência as crianças levarão a prática para
suas casas, e existe também o contrário da criança levar a prática da leitura
para a escola.
54
A escola deve investir no ambiente de leitura e escrita através das
diferentes situações, como: atividades lúdicas, leitura de livros de história,
contação de histórias, brincadeiras com trava-línguas, parlendas, poesia e
outras.
Portanto, as histórias para serem contadas deverão ser adequadas
para a idade, pois “as crianças precisam muito de fantasia e de imaginação”
que serão encontradas nos livros de literatura infantil, contos de fadas, fábulas
e contos do folclore que irão favorecer a fruição e estética.
De acordo com Rosa apud Maricato (2005), a criança na escola deve
ser rodeada por livros e outros materiais que desenvolvem a leitura, a
biblioteca, sala ou cantinho de leitura na própria sala de aula.
A linguagem é importante para a criança, inicia-se nos primeiros meses
de vida da criança, contribuindo assim para as atividades intelectuais. A
linguagem é um fator decisivo para o desenvolvimento da criança, pois permite
outras formas de exploração do mundo. Com a linguagem aparece a
possibilidade de objetividade dos desejos.
A permanência e a objetividade das palavras permitem à criança
separar-se de suas motivações momentâneas, prolongar na lembrança, uma
experiência, antecipar, combinar, calcular, imaginar e sonhar (Wallon
1990,p.144).
Sabemos que o conto de literatura oral se perpetuou na história da
humanidade através da voz dos contadores de histórias, até o dia em que
antropólogos, folcloristas, historiadores, literatos, lingüistas e outros
entusiastas do imaginário popular saíram a campo para coletar e registrar
estes contos, fosse através da escrita ou outras tecnologias.
A contação de história desenvolve o afeto e inicia-se os pequenos na
cultura letrada. “A leitura é um valor e se desenvolve da mesma maneira que
outros bons ou maus” resume Maria Antonieta Antunes Cunha, professora
especializada em Educação e Letras. Ela fez parte da Comissão responsável
55
por avaliar os resultados da pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, do Instituto
Pró-livro, que investiga o comportamento dos leitores brasileiros,
especialmente em relação aos livros. Ela como despertar o interesse das
crianças pela leitura.
A criança de até 6 a 7 anos é naturalmente envolvida
pelos livros, em especial pelos atuais, tão bem produzidos
graficamente. Nos primeiros contatos, ele é sentido como
um brinquedo, mas cheio de mistérios, porque tem
desenhos incompreensíveis, no caso, as palavras. Os
pequenos que lêem o manipulam, esperando que alguém
desvende aqueles mistérios. Cabe a família ou à escola
ler esses livros e contar histórias, tanto para estimular o
imaginário quanto para ampliar o referencial de vida das
crianças. MARIA ANTONIETA (2007).
Segundo algumas pesquisas as crianças que crescem em ambiente
com livros, revistas, jornais estão sempre presentes, são mais estimuladas a
ler, os leitores mais assíduos foram incentivados na infância pela família, em
especial pelas mães. Ver os pais lendo, ouvir histórias lidas e contadas por
eles, receber livros como presente são experiências fundamentais na formação
do leitor, são criadores de valores. A leitura feita pelo professor cumprira o
mesmo papel.
A literatura infantil tão usada na contação de histórias, valoriza a
fantasia, o lúdico e a expressão dos sentimentos. O professor precisa ser
crítico e capaz de ter um olhar diferenciado para determinadas histórias que
possam ser negativas para a formação das crianças, principalmente histórias
que ressaltam preconceitos étnicos, sociais e que não respeitem as diferenças
entre as pessoas.
O Processo de alfabetização é um grande passo para a criança se
tornar um leitor assíduo.
56
Durante o processo de alfabetização, o interesse da criança pela
leitura será ampliado, depende do quanto ela é estimulada a vencer as
dificuldades próprias. Se no primeiro momento, a atuação da família é básica,
no segundo a escola tem papel preponderante. E não é apenas o professor: O
psicopedagogo e outros profissionais do universo escolar devem se sentir
ligados às questões do incentivo ao hábito de ler. A escola deve ser o espaço
privilegiado da leitura, tanto de jornais, revistas, como dos mais diversos tipos
de livros: de muita literatura a dicionários e enciclopédias. A leitura é um valor,
o envolvimento ou não com ela está marcado por razões afetivas, tanto as
motivações quanto o seu afastamento são variadíssimas e muitas vezes
insondáveis. Poderíamos dizer que há casos nos quais se lê pela necessidade
de conhecer determinado assunto, seja escolar ou não. Mas há também a
leitura que exige gratuidade, definida pelo prazer e que, mais do que as outras,
é uma escolha pessoal, ela parece desenvolver-se mal com imposições,
prazos, restrições: tentar o caminho da obrigatoriedade costuma dar mau
resultado.
Rosseto (2007) afirma que:
A possibilidade de permitir que o pequeno leitor descubra
esse poder que vem dos livros deve ser interpretada pelo
professor como um desafio constante, pois forma bons
leitores significa, antes de tudo, encantar, seduzir,
despertar a vontade de mergulhar em muitos mares de
histórias.
57
CAPÍTULO III
BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgiram da cultura popular. São cantigas
anônimas acompanhadas de movimentos expressivos saltitantes e ou
dramatizados.
Ao definir o brincar é pensar numa forma de manifestação característica
da infância, entretanto, como pensa Huizinga (1980), a essência do jogo é o
prazer, ele ultrapassa os limites da realidade física e assim se aplica a
qualquer fase da vida.
Os vocábulos brincar e jogar são conhecidos como sinônimos por
Cascudo (1988) e Ferreira, A. (1988). Nos principais idiomas (Inglês, Francês,
Alemão e espanhol), brincar e jogar também servem para definir atividades
artísticas como a interpretação teatral ou musical. (Santa Roza,1993)
Na nossa língua portuguesa o vocábulo"brincar" vem do latim vinculum
e significa laço, união. No entanto é o vocábulo lúdico da nossa língua,
também proveniente do latim "ludus", que melhor abrange e define as
atividades artísticas, culturais, brincadeiras e jogos.(ibid.)
Nas brincadeiras tradicionais infantis, encontra-se os jogos de ronda,
cantados, declamados, ritmados ou não, de movimento etc. Brinquedo é ainda
o objeto material usado para brincar, como o carro, a boneca. Diz-se também
da própria ação de brincar (de cabra cega, de chicotinho queimado e etc.)
(Cascudo,1988).
Das três etnias que inicialmente formaram a cultura brasileira, o
português trouxe maior influência para os brinquedos cantados, os quais
sofreram modificações de acordo com a cultura local (Cascudo,1988.). Diga-se
ainda que os ritmos e danças africanas, juntamente com a alegria e marcação
ritmica-corporal indígena, deu um tempero mais brejeiro ao legado lúdico
brasileiro.
58
3.1 – Brincar, o que é?
Para compreender o brincar é como sonhar acordado, brincar é expor-
se de dentro para fora, tradução das impressões da criança sobre o mundo
que a cerca e os seus sentimentos. O brincar se desenvolve junto com o
crescimento do sujeito; as etapas iniciais vão perdendo o significado, para o
acréscimo do novo modo de explorar cada vez mais aperfeiçoado.
Em cada grupo social há brincadeiras pertinentes às necessidades
expressivas de cada cultura. O tempo se encarrega de transformar suas
estruturas, mas, é certo que as crianças precisam de tempo, espaço e
companheiros para brincar.
Sheridam (1990), afirma que as brincadeiras são: ativas, exploratórias,
manipulativas, imitativas, construtivas, faz-de-conta, jogos com regras,
recreações sofisticadas. Priorizando os brinquedos cantados, que na prática
psicopedagógica revelam valores e costumes culturais, pontos de referência
para a comunicação e o relacionamento com o outro. Estas manifestações
envolvem a emoção e o movimento que, permeados pela música, exploram as
defesas e fazem crescer a essência do ser.
Os brinquedos cantados possuem diversas formas de classificação,
pois, em face de sua riqueza dinâmica, são brincadeiras ativas (ex.Chep
Chep), imitativas(ex.: Samba Lê Lê), construtivas(ex.:A minha velha tem),
priorizam o faz-de-conta, possuem regras específicas, e vão desde as mais
simples como “Atirei o pau no gato”, até as mais elaboradas como “A linda rosa
juvenil”.1
Os autores Lapierre e Aucoutourrier (1986,p.29) pontuaram que “A
expressão sonora está necessariamente ligada à relação com o outro”; sabe-
se, que ainda na barriga da gestante a função auditiva se instaura no embrião
e ele ouve os batimentos cardíacos dele e da mãe, e todo um mundo de sons
através do líquido amniótico. Com a relação do outro ser através dos sons, que
situa a criança no espaço, no tempo e na afetividade.
59
3.2 - E a Música?
Para definir o musicar observe o que diz Gainza (1988), “a ação musical
implica num movimento, seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele
que fala ou canta, seja do próprio corpo”. No último caso, o corpo aparece
como "instrumento" produtor de som ou se "prolonga" através de um
instrumento musical propriamente dito”.
Sob a visão musical as teorias apontam para as estruturas físico-
sonoras. Encontra-se nestas, a formação de todo contexto musical que é
igualmente correspondente para os brinquedos cantados. Fala-se então dos
elementos inevitáveis de qualquer música: Ritmo, Melodia, Harmonia. Eis a
definição de Costa(1989,p.61) “Numa definição muito simples, música é a
organização de relações entre sonoridades simultâneas ou não, no decorrer do
tempo. Sons e silêncios são combinados e encadeados entre si, formando
ritmos melodias e harmonias”.
Ao definir ritmo pode-se dizer que é basicamente a ordenação do
movimento, formando um elo entre espaço e tempo. Para falar de melodia é
uma seqüência de sons, notas musicais graves e agudas. A harmonia é a
verticalidade ou a simultaneidade dos sons, parte mais intelectualizada da
música.(Costa, op.cit. mesma página).
Definir as músicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento
afetivo, motor, cognitivo e social da criança. Observa-se que existem
brinquedos cantados mais simples, contendo sílabas repetitivas, estrutura
musical mínima, e que são preferidos pelas crianças entre 2 e 3 anos por ex. :
CAI CAI BALÃO(folclore)
Cai cai balão, cai cai balão, aqui na minha mão Não vou lá, não vou lá,
não vou lá, tenho medo de apanhar A música dos brinquedos cantados altera a
sensibilidade, o humor, faz aflorar a criatividade, a expressividade do corpo e
60
da alma revelando as habilidades e dificuldades da criança, se convertendo
então, em instrumento de trabalho na psicopedagogia.
3.3 - Brinquedos Cantados e o Movimento
O que é movimentar? É através do choro aos acalantos (músicas de
ninar), dos cantos culturais as brincadeiras-de-roda, há uma trajetória que
vincula o som da voz ao movimento corporal, conforme afirma
Fregtman(1988,p.17), isto ocorre “porque a música é feita, dita, tocada e
cantada como manifestação corporal”.
As formas de comunicação se dá através de códigos estabelecidos,
linguagens por assim dizer. Fregtman, (op.cit.), conceitua a partir da
musicoterapia, que, três níveis de manifestação expressiva simultâneos podem
se dar quando usamos a música. Caracterizando-os como:
1) Linguagem sonora (sons, silêncios, entonações, melodias, ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos, posturas, trejeitos, tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala, a letra, a poesia)...
Através dos conceitos didáticos, se consegue separar estes três níveis
de linguagem. A linguagem sonora necessariamente, trás expressões
corporais, estimula a emoção, que se revela através dos gestos, posturas,
movimentos, voz e etc. A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou
musical, os quais soam determinados significados simbólicos, apreendidos nas
relações sócio-afetivas. Então, a linguagem verbal é inserida para nomear as
ações sejam elas musicais ou corporais.
Os brinquedos cantados são também conhecidos mediante sua
aplicação em determinadas funções na recreação. Os brinquedos cantados
podem ser de marcha, de grupos opostos, de palmas, de roda, de ninar ou
alternados. Modificações diversas quanto ao andamento (lento, moderado,
61
rápido), à formação (rodas simples, complexas, fileiras), e à movimentação dos
brinquedos cantados (marcha, roda, dramatização) são descritas por
Leitão(2001).
Falar-se-a sobre os acalantos e as brincadeiras-de-roda, tendo em vista
que a população estudada, crianças de 0 à 7 anos, podem ser atendidas em
suas necessidades de acolhimento afetivo, comunicação expressiva e
socialização, através destes elementos. A Simbologia do movimento de
Lapierre & Aucoutourrier (1986,p.41), sustenta a nossa analise através da
seguinte citação: “A música pode nos ajudar muito a redescobrir essa
dimensão do movimento... desde que não seja restringida aos estereotipos da
‘dança’, mesmo a ‘expressiva’ “
“O JACARÉ” (folclore)
O jacaré, o jacaré, o jacaré é amigo ele é Oi jacaré, oi jacaré, vem cá
cumpadre, que a lagoa não dá pé O jacaré tem os olhos muito grandes, tem o
rabo muito grande Mas as pernas são curtinhas O jacaré tem a boca muito
grande, tem os dentes muito grande mas as pernas são curtinhas
3.4 - Segundo Piaget: O que é Desenvolvimento Infantil?
Segundo Piaget (2003) o desenvolvimento humano é o resultado das
ações e relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive, e vai sendo
elaborado desde o nascimento, até suas vivências com os objetos, pessoas e
situações que procura conhecer, sejam elas do mundo físico ou cultural.
Piaget formulou importantes analises que explicam o desenvolvimento
das funções cognitivas. A interação entre a assimilação (informações do
mundo exterior recebidas através dos sentidos, movimento de fora para
dentro) e a acomodação (informação processada, respostas dadas ao mundo
exterior, movimento de dentro para fora) sobre uma ação, são validadas pelo
processo de equilibração. (Piaget,op.cit.)
62
Piaget,(2003) fala das perturbações exteriores que se mostram a
criança a partir do que ela não conhece; assim, oportunizadas pelo processo
de equilibração, e por meio de suas atividades, vai respondendo a estas
perturbações vencendo a mais uma etapa cognoscível. A equilibração é
dinâmica e nunca cessa; ela norteia a passagem de um conhecimento ao
outro.
Há dois outros conceitos Piagetianos que são imprescindíveis ao tenro
desenvolvimento infantil, e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontânea de vivenciá-los: A Imitação e a noção de Permanência do Objeto.
Imitação: É na gênese da imitação que inicia o movimento lúdico da criança.
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor, a criança apreende e treina suas
novas aquisições. Ferreira, I.(1994, p.47) afirma que “A imitação é uma das
manifestações da função simbólica. Constitui-se num dos elementos básicos,
que permitem a criança uma assimilação de realidade ao seu próprio “eu”, bem
como, Acomodação de suas estruturas mentais e de ação às exigências da
realidade física e social”
Para haver a imitação é necessário um espelho, alguém que sirva como
exemplo. Alguns brinquedos cantados propõem ações simbólicas que copiam
o mundo adulto, sem impor aos pequenos o fardo da responsabilidade que
este teria na realidade. Vejam um exemplo interessante, onde as crianças
imitam os afazeres dos mais velhos:
PASSA, PASSA, GAVIÃO(folclore)
Passa, passa, gavião todo mundo é bom passa, passa, gavião todo
mundo é bom As lavadeiras fazem assim Assim, assim, assim, assim Passa
,passa, gavião todo mundo é bom Passa, passa, gavião todo mundo é bom As
passadeiras fazem assim Assim, assim, assim, assim Passa, passa, gavião,
todo mundo é bom Passa, passa, gavião todo mundo é bom As cozinheiras
fazem assim, assim, assim Assim, assado, carne seca com ensopado
63
Objeto permanente: Nos primeiros dois anos de vida, a criança
apresenta um comportamento em constante adaptação, pois, está sempre se
modificando para responder aos estímulos do meio. A criança inicialmente, não
tem noção da permanência dos objetos, ela pensa que eles só existem
enquanto estão ao alcance dos seus olhos; caso sejam escondidos a sua
frente, achará que estes acabaram ou se desintegraram. Entre os 18 e 24
meses, a criança já consegue elaborar mais este conhecimento; e, apesar de
não vê-lo, ouvi-lo, ou tocá-lo, ela vai compreender que os objetos independem
da sua vontade e presença para existirem.
Para melhor apreensão dos brinquedos cantados, a prática pelo ensaio
e erro ou aparecer desaparecer, vão treinar e orientar os pequenos na
aquisição das noções de espaço, tempo e causalidade necessárias à
construção da realidade como afirma Ferreira,I.(1994,p.35): “O esquema do
objeto permanente é básico para a construção das noções de espaço, tempo e
causalidade.”
Sabe-se que as crianças nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde, pulam, correm. Seu próprio corpo é posto à prova,
escondendo o rosto ou as mãos atrás de uma almofada por exemplo. A música
das palminhas talvez possa auxiliar nesta etapa.
PALMINHAS, PALMINHAS (folclore)
Palminhas, palminhas, nos vamos bater Depois as mãozinhas pra trás
esconder Assim, assim, pra trás esconder Assim, assim, pra trás esconder Em
cima, em cima, nós vamos bater Depois as mãozinhas pra trás esconder
Assim, assim, pra trás esconde Assim, assim, pra trás esconder Em baixo, em
baixo, nós vamos bate Depois as mãozinhas pra trás esconde Assim, assim
pra trás esconder Assim, assim, pra trás esconder
64
Os conceitos estudados até aqui se realizam dentro dos estágios do
desenvolvimento organizados por Piaget. Passar-se-á neste momento à
lucidação dos estágios pertinentes à faixa etária da população pesquisada
nesta monografia, estágios Sensório-motor e Pré-operacional.
- Estágio Sensório Motor (0 à 2 anos)
Vai do nascimento até a aquisição da linguagem, e é dividido em 6 sub
estágios. Esta é a fase do comportamento inteligente antes da aquisição da
linguagem; a criança organiza a informação obtida através dos sentidos e
desenvolve respostas aos estímulos ambientais com comportamento
adaptativo e constante modificações dos esquemas de ação em resposta ao
meio. A aquisição mais importante deste período é o Objeto Permanente.
Manifesta-se ainda a imitação, que alcançará o seu auge no próximo estágio.
1º Sub Estágio – Exercício dos reflexos (0 a 1 mês): Conseguinte da sua
imaturidade biológica, a criança se relaciona com o meio através dos
movimentos reflexos hereditários, que se aprimoram pelo exercício tornando-
se cada vez mais eficientes. Ainda não há a distinção entre o eu e o outro.
2º Sub Estágio – Reação circular primária (1 a 4 meses):Esta é a fase,
onde os exercícios reflexos se transformam em esquemas e começam a
coordenar seus movimentos. Inicia-se a construção dos primeiros esquemas
vocais. A noção de tempo é primitiva, sua duração só é sentida no decorrer da
própria ação. O final do período é marcado pela coordenação entre três
esquemas fundamentais, audição, fonação e visão.
3º Sub Estágio – Reação circular secundária (4 a 8 meses): O bebê
apresenta interesse pelo mundo externo, os esquemas se diferenciam
surgindo novos esquemas de coordenação viso-motora, unindo-se as
aquisições já realizadas. Os movimentos começam a ser repetido pelo prazer
da repetição. Observa-se o início da noção do Objeto Permanente, entretanto,
65
ela está condicionada ao movimento da criança, pois, as coisas ainda não
seguem uma trajetória independente.
4º Sub Estágio – Coordenação de esquemas secundários (8 a 12
meses):
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes,
surgindo adaptações sensório-motoras intencionais, onde o bebê combina
esquemas conhecidos a novas situações, e ainda diferencia os meios e os fins
de uma ação. Aparece nesta fase o comportamento antecipatório, caso o bebê
veja sua mãe se afastar, chora; a imitação de sons e ações são agora
intencionais e conscientizadas, no entanto, ainda condicionadas ao esquema
visual. Revelam-se os primórdios da memória e da representação mental.
Começa a permanência do objeto independente do “eu”. Quanto à noção de
espaço e tempo, a criança começa a ordenar os próprios deslocamentos em
relação aos objetos.
5º Sub Estágio – Reação circular terciária (12 a 18 meses): A criança
gradua seus movimentos, varia e experimenta novos padrões de
comportamento, observando os diferentes efeitos da sua ação sobre o objeto,
o qual já é dotado de permanência. Pode-se afirmar que o mecanismo da
inteligência prática está definitivamente constituído. A cada estruturação da
inteligência corresponde uma nova estruturação do espaço, do tempo, da
causalidade, etc. Agindo por “ensaio e erro”, os resultados das ações ainda
são por acaso, pois, as representações mentais de fatos externos ainda não se
incluem, ou seja, o pensamento ainda não está formado.
6º Sub Estágio – A invenção dos novos meios por combinação mental
(18 a 24 meses): Esta fase caracteriza o momento de transição entre a
inteligência prática (sensório-motora) e a inteligência representativa, quando
começa a função simbólica. Inicia-se a representação mental imaginativa e
criativa. No jogo simbólico a criança usa símbolos na linguagem e na
brincadeira do faz-deconta; recorda-se de fatos passados e os representa
66
depois de algum tempo. O final deste período é marcado pela primeira noção
de conservação.(Ferreira,I.1994)
Os primeiros momentos da vida da criança são marcados pelas
inúmeras formações e transformações físicas, mentais e emocionais, conforme
descritas acima. Os acalantos (músicas de ninar), são cantados por mães de
todo o mundo, numa primeira inserção da criança ao universo musical de sua
cultura. 3.2.ESTÁGIO PRÉ-OPERACIONAL (2 à 7 anos): A criança vive um
tempo em que usa a intuição, ela passa todos os seus atos para o
pensamento, sob a forma de imagens e diante de uma situação prática; suas
respostas vão se basear no que ela vê, sente, mexe, ou seja, nas aparências
dos fatos que observa. A criança possui a capacidade de representar uma
coisa por outra, e esta representação pode se dar por um gesto, um desenho,
uma palavra, etc. A verbalização tem destaque neste período, e a linguagem
conduz à socialização das ações. Este estágio compreende duas formas de
pensamento a saber: O Pensamento Simbólico e o Pensamento Intuitivo.
Pensamento simbólico (2 à 4 anos): Para Piaget a função simbólica
consiste na capacidade da criança representar objetos e fatos conhecidos,
porém ausentes por um substituto qualquer, seja este concreto ou imaginário.
Uma característica fundamental desta fase é a diferenciação entre significante
e significado, que é manifestada por várias condutas, sendo elas: O jogo
simbólico ou faz-de-conta, a imitação, o desenho, a imagem mental, a
linguagem, a criatividade etc. Para “significante” leia-se objeto concreto, e para
“significado” a idéia compreensiva do que foi percebido. (Piaget, 2003)
Sobre a visão simbólica, Ferreira,I.(1994,p.43), complementa: “A função
simbólica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da
criança, usada para compreender e representar o mundo. O símbolo é
subjetivo e aos poucos vai sendo substituído por signos da linguagem social”.
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade, é egocentrado.
A visão da realidade é centrada no ponto de vista do próprio sujeito, sendo
67
este incapaz de relacioná-lo ou de coordená-lo a pontos de vistas diferentes do
seu.
A aquisição da linguagem tem destaque nesta fase, e coincide com a
formação do jogo simbólico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta.
Através do que discute Ferreira, I. (1994,p.43) “Os símbolos podem ser
socializados, como os brinquedos coletivos, e se tornar um símbolo coletivo”,
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema
valorização sócio-afetiva e cultural. Com a ludicidade que lhe é peculiar, os
brinquedos cantados nesta fase, encantam, ensinam, desenvolvem a memória,
a auto estima,
O esquema corporal, a imagem corporal, a Coordenação Motora, a
socialização, entre outras funções essenciais à formação dos pequenos. Eis
um bom exemplo:
O GIGANTE E O ANÃO(autor desconhecido)
O pé do gigante é grande Do anão pequenininho O gigante pisa forte O
anão pisa mansinho O gigante fala grosso O anão fala fininho Porque gigante
come muito E o anão come pouquinho
Pensamento Intuitivo (4 à 7 anos): Subdividido em Intuitivo Simples e
Intuitivo Articulado, é um estágio marcado pela crescente formação de
conceitos. O pensamento intuitivo é uma espécie de ação executada em
pensamento: encaixar, seriar, deslocar, etc. A criança no intuitivo simples
representa mentalmente, assimila e entende o mundo real, porém, de forma
limitada, pois, só consegue coordenar um único ponto de vista com base nas
aparências do que vê. Centrado em si mesmo, não admite a reversibilidade;
falta-lhe ainda a noção de conservação das substâncias.
68
Quando se sugere à criança que desenhe, ela desenha o que sabe e
não o que vê. Este egocentrismo que lhe é peculiar, deverá evoluir para a
descentração, bem como, haverá progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar, seriar etc.). Ao final do pensamento intuitivo articulado, a criança
começa a levantar dúvidas e questionamentos, percebendo a mobilidade das
situações.Veja a seguir uma cantiga do folclore brasileiro.
A BARATA”(folclore)
A barata diz que tem, 7 saias de filó É mentira da barata, ela tem é uma
só Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ela tem é uma só Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ela tem é
uma só
A barata diz que tem, um anel de formatura É mentira da barata, ela tem
é casca dura Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ela tem é casca dura Ah, ah, ah, ah, ah,
ah , ela tem é casca dura
A barata diz que dorme, numa cama de cetim É mentira da barata, ela
dorme é no capim Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ela dorme é no capim Ah, ah, ah, ah,
ah, ah, ela dorme é no capim
Na música da barata as crianças brincam com a tentativa de mentir
deste inseto. A propósito das “mentirinhas” contidas nas brincadeiras infantis,
funcionam como uma mediação para a experimentação do que é verdadeiro e
real. As palavras de cascudo(1988,p.491) discorrem sobre os deslimites da
mentira: “As estórias mentirosas,(...) são muito populares e constituem um
gênero especial, onde a imaginação exagerada e livre se liberta dos limites da
lógica.” Acredita-se que as crianças exigem a verdade para terem o domínio do
que aprendem.
69
3.4.1 - Bia Bedran
Beatriz Martini Bedran, conhecida pelo nome artístico de Bia Bedran é a
precursora da contagem de histórias utilizando brinuedos cantados. Nascida
em Niterói no dia 26 de novembro de 1955, Bia Bedran é compositora, cantora,
atriz e educadora musical brasileira. Formou-se em musicoterapia pela
Faculdade de Musicoterapia no Rio de Janeiro e em Educação Artística com
habilitação em música.
Trabalhou durante dez anos como atriz e compositora no "Quintal
Teatro Infantil". Dentro outros trabalhos de destaque, Bia também participou do
"Bloco do Palhoça", com quem gravou seu primeiro disco na década de 1980.
Em carreira solo, gravou 10 discos, escreveu e montou diversos espetáculos
premiados pela critica.
Nos Anos 80 foi a apresentadora do programa Canta Conto, realizado
pela TVE do Rio de Janeiro. Participou também do "Lá Vem História", da TV
Cultura de São Paulo.
Atualmente é uma referência em arte e educação, com públicos cativos
em shows, peças de teatro infantil e palestras para adultos.
Bia Bedran traz atualmente em sua bagagem um grande repertório de
canções e atividades pedagógicas envolvendo brinquedos cantados e contos
de histótias com dinâmicas e vivencias que resgatam o lúdico e o processo de
sensibilização nas crianças.
A História do Boi (Bia Bedran)
Catirina sentiu um desejo
E quis comer a língua do boi
O boi é do patrão de Mateus
O que é que Mateus vai fazer
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Se o boi morrer
Se o boi morrer
Ah! Catirina
A língua do boi quer comer
Catirina tanto pediu
Que Mateus obedeceu
Cortou a língua do boi
E então o boi morreu
O boi morreu
O boi morreu
Mateus chora ai, ai, ai
Que o boi morreu
Mateus desesperado
Muita ajuda foi pedir
Vieram padre, delegado
Enfermeiro acudir
Levanta meu boi
Levanta meu boizinho
Dou-lhe um abraço e um beijo
Com carinho
Mateus bem no ouvido do boizinho sussurrou
Cortei a tua língua e o meu coração cortou...
E o boi urrou
E o boi urrou urrou
71
CONCLUSÃO
A psicopedagogia hoje vem em busca de novas intervenções. O contar
historias e os brinquedos cantados são muitos importantes desde os
primórdios da humanidade, contar histórias é uma atividade privilegiada na
transmissão de conhecimentos e valores humanos, mas para muitos o ato de
contar histórias se perdeu nos tempos, um tempo que para muitos, que vivem
no urbano e seu desdobramento, está quase esquecido, pois somos
envolvidos pela nova tecnologia, onde não se acha mais sentido na
comunicação oral proveniente da tradição e da experiência direta.
Desde sua origem é trabalhado a contação de história através da
literatura infantil, que teve como alvo educar a criança e nesta pesquisa é o de
auxiliar crianças disléxicas.
Sabendo que a literatura infantil é um recurso recorrente nas salas de
aula, ela deve ser considerada como um fator educativo para a criança que
ainda não sabe ler, pois apesar de não poder ler um livro, as crianças podem
ouvir histórias.
As crianças têm o primeiro contato com os livros através da contação de
história é este fator é culminante para a psicopedagogia poder fazer
intervenções utilizando da contação de histórias para o aluno disléxico.
A história representa um incentivo à leitura, colocando em contato direto
com novos conhecimentos, novas experiências, ao ouvir os contos de fada a
criança sente um estímulo encorajador na luta de viver, em que se valoriza os
princípios éticos na relação como outro: “O mal é denunciado e o bem é
valorizado”. O educador deve entender a importância da contação de histórias
não só como um fator psicopedagógico significativo para o educando, o
professor enquanto mediador desse percurso entre o imaginário e o real
precisa se relacionar com a literatura. Para educar apaixonados pela literatura
é preciso ser um deles, a história esta em muitos lugares, e não só nos
72
museus e documentários para o aluno disléxico a busca desta ferramenta vai
auxilia-lo a vencer barreiras..
Encontramos marcas do tempo nas brincadeiras que aprendemos com
os nossos avós, nos objetos deixados por outros povos e tanto nas roupas de
antigamente como nas super modernas. Devemos entender que ao ouvir uma
história a criança em uma aventura, transforma-se no Pequeno Polegar ou em
um sapo e virar príncipe. Contar histórias é um hábito mais antigo do que
qualquer fada ou príncipe.
Sempre teremos, alguém que pede: “Conta de novo?”
E pesquisando sobre os brinquedos cantados, necessariamente
discorreu-se sobre o musicar, brincar e movimentar, que com certeza é uma
ferramenta psicopedagógica que devemos utilizar na nossa prática diária,
estruturas que despontam no interesse infantil e em: comunicar-expressar-
relacionar com certeza para o disléxico tudo fica mais fácil.
O desenvolvimento infantil segundo Piaget, observa-se a relação
vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas, e na dialética dos jogos a interação social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda. Concluiu-se então, que os
estímulos devem ser compatíveis ao tempo mental e às necessidades da
criança.
Delineou-se a constituição do sujeito em sua emoção, que sob a ótica
dos brinquedos cantados se dá numa área intermediária, onde é possível o
acontecer das artes, do ludus, da criatividade, da terapia e do prazer. Pontuou-
se o valor dos acalantos como acolhimento afetivo seja na relação com a mãe
ou na função psicopedagogica. Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda
como facilitadores da elaboração de conflitos, nomeando as percepções e
expressando os sentimentos.
73
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
intervenção psicopedagogica como instrumento de trabalho no cantar, dançar,
brincar, interagir, expressar, criar, vivenciar e integrar pelo prazer.
Constatou-se ainda que, o material pesquisado como contação de
histórias e os brinquedos cantados tem grande importância para intervenção
psicopedagogica por inserir o indivíduo em sua cultura, estimular a
socialização, oferecer bases para a construção de um sujeito integral, dar
suporte aos elementos da terapia, encaminhar a aquisição do conhecimento, e
propiciar o desenvolvimento das estruturas psicomotoras.
Lançou-se o contar histórias, brincar e o cantar como caminhos para
redescobrir a essência do ato, da mente e da voz humana tratando-se dos
alunos com dislexia; propondo-se que o brinquedo cantado e as histórias
pudessem se dar no jogo do trabalho e na dança as mãos entrelaçadas,
inventando o prazer de sonhar, brincar, cantar e ser feliz fatores esses tão
importante para o dislexico!
74
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ZANOTTO, Maria Angélica. Revista do Professor, Porto Alegre: 2003.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO............................................................................................2
AGRADECIMENTO............................................................................................3
DEDICATÓRIA....................................................................................................4
RESUMO............................................................................................................5
SUMÁRIO...........................................................................................................7
INTRODUÇÃO....................................................................................................8
CAPÍTULO I
A PSICOPEDAGOGIA E A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO E DA
LINGUAGEM.....................................................................................................13
1.1 - A Leitura ...................................................................................................19
1.2 – Narrativa ..................................................................................................35
1.3 - Contos de Fadas ......................................................................................38
1.4 - A Lenda ...................................................................................................40
1.5 - As Fábulas ...............................................................................................41
CAPÍTULO II
FORMAÇÃO DO PROFESSOR CONTADOR DE HISTÓRIAS....................................43
2.1 – Como Contar Histórias? ..........................................................................46
2.2 – Aprendizagens Significativas ..................................................................48
2.3 – Contagem de Histórias ............................................................................52
CAPÍTULO III
BRINQUEDOS CANTADOS .................................................................................57
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3.1 – Brincar, o que é? .....................................................................................58
3.2 – E a Música? ............................................................................................69
3.3 – Brinquedos Cantados e o Movimento .....................................................60
3.4 – Segundo Piaget: O que é o Desenvolvimento Infantil?............................61
3.4.1 – Bia Bedran .................................................................................69
CONCLUSÃO ..................................................................................................71
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................74
ÍNDICE..............................................................................................................78