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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTODESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A RELEVÂNCIA DO PLANEJAMENTO NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM GILMAR BARBOSA DA SILVA Orientadora Profª: Fabiane Muniz da Silva Posse - Go. 2008 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTODESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELEVÂNCIA DO PLANEJAMENTO NO

PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

GILMAR BARBOSA DA SILVA

Orientadora

Profª: Fabiane Muniz da Silva

Posse - Go.

2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTODESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELEVÂNCIA DO PLANEJAMENTO NO

PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Especialista em Orientação Educacional

Por:. Gilmar Barbosa da Silva.

POSSE - GO.

2008

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, presença viva na minha

vida, que me ensina com paciência a

prática da justiça, da paz e do amor.

E a todas as pessoas que de forma

direta ou indireta contribuíram com

este trabalho.

4

DEDICATÓRIA

Dedico à minha esposa e aos meus

filhos que trazem alegria e sentido à

minha vida. Dedico ainda aos meus

pais que durante toda a vida

compreendeu e ajudou-me a dar os

primeiros passos para que eu

pudesse alcançar a vitória.

5

EPÍGRAFE

“Senhor dá-nos esta sabedoria que julga do

alto e prevê longe. Dá-nos o espírito que negligencia

o insignificante em favor do essencial. Dá-nos a

atividade calma que abrange com um só olhar a

totalidade. Ajuda-nos a aceitar a crítica e a

contradição. Faze-nos evitar a dispersão na

desordem”. (Sertillanges)

6

RESUMO

A noção de planejamento é tão antiga quanto a humanidade.

Nossos ancestrais, das cavernas, não conseguiriam capturar um animal que

lhes fornecesse alimento ou defender-se dos perigos do ambiente hostil se não

atuassem em conjunto e organizassem, previamente, o que cada um faria. A

construção das pirâmides do Egito não teria se concretizado se não tivessem

sido elaborados, para isso, vários planos e projetos. Pode-se dizer o mesmo

em relação a várias outras construções importantes ao longo do tempo, como

os aquedutos construídos pelos romanos, os templos astecas na América do

Sul, as muralhas chinesas, entre outros. A conquista de territórios e as guerras

entre grupos hostis também podem ser citados como exemplos marcantes da

necessidade de prévia organização antes de agir. Os guerreiros estudavam,

detalhadamente, as forças que dispunham o inimigo e suas próprias forças.

Nessa época, o planejamento, como se denomina hoje era conhecido como

“estratégia” ou a “arte dos generais”. O ato de planejar tornou-se importante

para o homem a partir do momento em que o mesmo estabeleceu uma relação

direta entre sua capacidade de pensar e o agir. Planejar é um procedimento

que implica a formulação de um conjunto de decisões sobre as ações futuras.

Deve, pois, ser entendido como sendo um processo racional, através do qual

se pode introduzir um maior grau de eficiência às atividades. O planejamento é

fundamental para a prática escolar. Na perspectiva mais usual, o planejamento

com freqüência é entendido como uma lista de passos, etapas e procedimentos

organizados que o professor deve seguir linearmente, um processo quase

burocrático. No entanto, para quem conhece o seu verdadeiro valor, o

planejamento é um elemento estratégico essencial para a organização das

ações docentes. Ele se caracteriza pela intenção de alcançar o máximo de

sucesso possível no trabalho educacional, mediante a seleção cuidadosa das

atividades, do material necessário, dos esforços, do tempo disponível e dos

objetivos a alcançar.

Palavras-chave: planejamento; educação; aprendizagem.

7

METODOLOGIA

Pesquisa bibliográfica é aquela que se desenvolve tentando explicar

um problema, utilizando o conhecimento disponível a partir de teorias

publicadas em livros e obras congêneres. [...] O investigador irá levantar o

conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas,

analisando e avaliando sua contribuição para auxiliar na compreensão ou

explicação do problema: objeto de investigação (HORN, 2001, p.10).

Este estudo mostra que o ato de planejar faz parte da história do ser

humano, pois o desejo de transformar sonhos em realidade objetiva é uma

preocupação marcante de toda pessoa. Em nosso dia-a-dia, sempre estamos

enfrentando situações que necessitam de planejamento, mas nem sempre as

nossas atividades diárias são delineadas em etapas concretas da ação, uma

vez que já pertencem ao contexto de nossa rotina. Entretanto, para a

realização de atividades que não estão inseridas em nosso cotidiano, usamos

os processos racionais para alcançar o que desejamos.

Em “Plano escolar: caminho para a autonomia”, Akiko e Eny Maia

afirmam que o planejamento é um trabalho, simultaneamente, individual e

coletivo, integrando esforços em busca de um melhor desempenho no

processo ensino-aprendizagem. E Danilo Gandin dá a sua contribuição,

enfocando que o ato de planejar não é uma ação exclusiva da área

educacional, pelo contrario, todos os setores devem planejar seus trabalhos.

8

Gandim (2000, p. 23) analisa que, na prática escolar existe grande

dificuldade em compreender a necessidade de um processo de planejamento

e, mais ainda, de torná-lo real. Após um rápido momento de exuberância,

sobretudo na década de 60 do século 20, o planejamento foi sendo,

gradativamente rejeitado por professores e por outros profissionais das

escolas.

Um dos motivos que levam o professor a rejeitar o planejamento é que o

processo escolar é estruturado de cima para baixo, com idéias de educação e

a busca por resultados que estão em dissonância aos das pessoas ligadas

diretamente ao processo educativo e ao que se debate, normalmente, nos

simpósios educacionais. Isso significa que a prática na sala de aula é

determinada por um processo com um modelo vindo de fora para dentro da

escola e que, consciente ou inconscientemente, se organizou objetivando

domesticar crianças e adolescentes, e para classificá-los segundo suas

condições sócio-econômicos. Daí a importância da participação do orientador

educacional na reversão deste quadro.

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................10

CAPÍTULO I – Abrangência e finalidade do planejamento..............................12

CAPÍTULO II – Etapas do planejamento: como, quando e por quê planejar...21

CAPÍTULO III – A contribuição do Orientador Educacional no Processo de

planejamento.....................................................................................................28

CONCLUSÃO ...................................................................................................36

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................38

10

INTRODUÇÃO

O tema deste estudo é demonstrar a relevância do planejamento no

processo ensino-aprendizagem, tendo como principais objetivos, reconhecer a

importância e o papel do planejamento como uma ferramenta que pode

fortalecer e enriquecer a prática pedagógica; refletir sobre a importância do

orientador educacional no processo de planejamento; identificar as etapas e

componentes do planejamento de ensino; e analisar as abordagens tradicionais

de planejamento e suas limitações. Através deste, buscamos responder as

seguintes questões: O ato de planejar a ação docente traz maior rendimento no

processo de ensino-aprendizagem?

O mesmo está sendo desenvolvido com a pretensão de destacar a

importância do planejamento no processo educacional, no sentido de favorecer

uma educação de melhor qualidade, estimulando a aprendizagem e

promovendo a permanência dos alunos na escola, através da reversão dos

altos índices de reprovação e repetência.

No decorrer dos capítulos, veremos que o planejamento é uma ação que

fazemos constantemente, seja nas atividades do dia-a-dia ou a longo prazo.

Sempre estamos planejando com a finalidade de concretizar e satisfazer

determinado objetivo, só que o fazemos, muitas vezes, de forma inconsciente.

Planejar é prever, é pensar como deve ser como pode ser e como posso fazer

para realizar o que pretendo. É questionar e, acima de tudo, procurar meios e

soluções. Por essas razões, em educação, é indiscutível a necessidade do

planejamento.

É também papel do orientador educacional conscientizar a todos os

profissionais em educação que o planejamento deve ser enfocado como uma

ferramenta necessária ao desenvolvimento dos trabalhos cotidianos da escola

com um todo, bem como nas aulas desenvolvidas pelo docente, possibilitando

11a este diagnosticar, analisar, concluir, agir, criar e avaliar todo o processo

educativo de uma maneira prática e eficiente.

O planejamento é uma atividade indiscutível para assegurar eficiência

de desempenho. Ele dá oportunidade de se mapear o conhecimento em

pequenas porções e unidades, ajustando a informação à condições de

aprendizagem, para assegurar o domínio do que é essencial, organizando o

material a ser estudado em seqüências lógicas e significativas. O planejamento

possibilita a distribuição eqüitativa da atividade do professor e do aluno, de

forma a evitar que em qualquer momento, o ensino assuma as características

de um monólogo sem sentido.

Enfim, a grande preocupação deste trabalho residirá na análise da forma

como são normalmente elaborados os planejamentos, que em geral, são

criados de acordo com as exigências das secretarias de educação, não

existindo na maior parte das vezes, uma reflexão crítica necessária, uma

adequação a estas exigências e a realidade vivida no universo escolar.

Portanto a questão principal, em discussão, gira em torno da necessidade de

se planejar e a importância da participação do Orientador Educacional neste

processo.

12

CAPÍTULO I

ABRANGÊNCIA E FINALIDADES DO

PLANEJAMENTO

O ato de planejar tornou-se importante para o homem a partir do

momento em que o mesmo estabeleceu uma relação direta entre sua

capacidade de pensar e o agir. Planejar é um procedimento que implica a

formulação de um conjunto de decisões sobre as ações futuras. Deve, pois, ser

entendido como sendo um processo racional, através do qual se pode

introduzir um maior grau de eficiência às atividades.

O planejamento é tão antigo quanto a espécie humana e inerente a ela.

Somente o homem é capaz de planejar, ou seja, prever suas ações. O termo

planejar, segundo qualquer dicionário, remete a: “fazer o plano, a planta, o

esboço de: projetar” (LUFT, p. 524,2000). Nesse sentido, somente o homem é

capaz de fazê-lo.

Porém isso não significa que o homem atue em todos os momentos de

sua vida de modo arquitetado, projetado. O homem pode agir aleatoriamente

ou de modo planejado. Mas qual é o real significado de agir de modo aleatório

ou planejado? Agir de modo aleatório significa “ir fazendo as coisas”, sem ter

clareza de onde se quer chegar; agir de modo planejado significa estabelecer

fins e construí-los por meio de uma ação intencional (LUCKESI, 2005, p. 102.).

A prática educativa também precisa ser planejada: é preciso saber

aonde se quer chegar, quais são os caminhos existentes, quais os recursos

disponíveis e quais as ações encadeadas que devem ser desenvolvidas.

Quando a prática educativa não nasce de um planejamento bem construído,

corre-se o risco de prejudicar o processo, queimar etapas, avançar os passos

antes da hora ou usar de subterfúgios, quando se deveria seguir o processo

padrão.

131.1 - Conceituação de planejamento.

O planejamento permite que se definam os resultados que se querem

alcançar em que espaço de tempo, com recursos materiais e humanos e

mediante que procedimentos e quais as estratégias e técnicas serão usadas. O

planejamento enseja a oportunidade de prever instrumentos de trabalho e de

medidas, de forma a controlar o processo de execução e corrigi-lo

periodicamente, a fim de melhor ajustá-lo às metas perseguidas, pelas

atividades que se desenvolvem. (VIANNA, 2000, p.32).

Para Vasconcellos (1995, p.56), planejar é uma decisão antecipada do

que fazer e também estará presente na sala de aula, na medida em que cabe

ao professor selecionar conteúdos, definir a metodologia, preparar o material

didático, e outras ações, com vistas ao desenvolvimento do conteúdo do

currículo escolar. È uma preparação para a ação, na medida em que organiza,

ordena, sistematiza procedimentos, passos e etapas das atividades a serem

desenvolvidas, tanto por professores quanto pelos alunos em sala de aula.

Planejar é o oposto de improvisação, na medida em que,

antecipadamente, estabelecerá uma programação a ser desenvolvida em um

determinado tempo, com vistas ao alcance de objetivos claros e precisos. È a

intervenção em uma realidade que deve ser previamente conhecida, na medida

em que o professor, ao planejar suas atividades, encontra-se, sempre, diante

de uma variedade de alternativas e opta por uma ou outra.

O planejamento conduz à eficiência, isto é, à execução perfeita de uma

tarefa. Mas, além da eficiência, deve-se levar em conta a eficácia: não basta

fazer bem feito, é preciso fazer algo que leve a alguma coisa concreta, seja a

construção de uma casa, uma viagem a fazer ou um projeto educativo a

colocar em prática. Assim, podemos dizer que “o planejamento deve alcançar

não só que se façam bem as coisas que se fazem (chamaremos isso de

eficiência), mas que se façam as coisas que realmente importa fazer, porque

14são socialmente desejáveis (chamaremos isso de eficácia)”. (GANDIM, 1993,

pág.16)

Planejar é um processo dinâmico, na medida em que se concretiza na

sala de aula, modificando-se em função das necessidades dos alunos. É um

processo participativo, na medida em que só será eficiente se contemplar as

sugestões e opiniões dos alunos, sujeitos a quem, em última instância, destina-

se todo o esforço do professor.

O planejamento é um instrumento de fundamental importância,

pois serve para guiar à prática de produzir uma realidade, prever uma

ação antes de torná-la real, ou seja, uma bússola para dirigir bem o dia-a-

dia. Como diz Tatiana Maria Sant´ana “é um processo de tomada de

decisões bem informadas que visam à racionalização das atividades do

professor e do aluno, na situação ensino-aprendizagem, possibilitando

melhores resultados e em conseqüência, maior produtividade”.

Segundo Veiga (1997 p.68), “uma previsão bem feita do que será

realizado em classe melhora e muito o aprendizado dos alunos e

aprimora a sua prática pedagógica”. E isso no planejamento é

fundamental porque uma previsão inteligente e bem calculada de todas as

etapas do trabalho escolar que envolve as atividades docentes e

discentes torna o ensino seguro, econômico e eficiente. O professor que

deseja realizar uma boa atuação docente sabe que deve participar

elaborar e organizar planos em diferentes níveis de complexidade para

atender, em classe, seus alunos.

Nesse sentido, o planejamento garante unidade e integração entre as

finalidades da educação e as ações educativas, sem o qual a ação educativa

pode se tornar pouco eficaz. A tarefa de ensinar requer um trabalho metódico,

organizado e coerente, o que só acontece através do planejamento. Planejar é,

15pois um dever do professor tendo em vista a importância de sua atuação no

processo ensino-aprendizagem.

Planejar é uma atividade inerente à função do professor e que o

acompanha ao longo de sua vida profissional, como um desafio permanente,

bem como os ingredientes de que é formado, pois planejar requer um amplo

conhecimento da área da ciência ou da técnica que se ensina, da própria

técnica de planejar e ainda dos avanços quanto à metodologia educacional.

Por isso, só um professor atualizado consegue fazer um bom planejamento,

pois a chave de bem fazer, não está apenas em saber planejar, mas em

manter-se em dia com tudo que é relevante à área específica, à qual o

professor dirige sua atividade profissional.

Planejar é um exercício que adquire, de acordo com o objeto ou a

atividade a que se aplique, diferentes peculiaridades. Na prática docente há

uma grande dificuldade em se entender a necessidade de um planejamento e,

mais ainda, em torná-lo real. Vários são os motivos que contribuem para que o

planejamento seja assim, tão rejeitado. “O mais evidente é a dimensão

autoritária que traz consigo, tendo em vista que em geral, é elaborado por

autoridades competentes” para realidades diferentes.

Planejar é a arte de pensar, e pensando sobre o que queremos e

precisamos mudar é que teremos a possibilidade de transformar em ação e em

resultados todas as propostas que forem viáveis, dando um destino positivo de

concretização ao processo. A tarefa de ensinar requer um trabalho metódico,

organizado e coerente, o que só acontece através do planejamento. Planejar é,

pois um dever do professor tendo em vista a importância de sua atuação no

processo ensino-aprendizagem. Planejar o ensino é prever os objetivos a

alcançar, como alcançá-los e os recursos a utilizar. (DALMÁS, 2002, p.56)

Planejamento é processo contínuo que se preocupa com o “para onde ir”

e “quais as maneiras adequadas para chegar lá”, tendo em vista a situação

16presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da educação

atenda tanto as necessidades da sociedade, quanto as do indivíduo.

(SANT’ANNA, 1995, p.14).

Planejar é uma atividades que está dentro da educação, visto que esta

em como características básicas, evitar a improvisação, prever o futuro,

estabelecer caminhos que possam nortear mais apropriadamente a execução

da ação educativa, prever o acompanhamento e a avaliação da própria ação.

Planejar e avaliar andam de mãos dadas.

Segundo Padilha (2001, p.30), planejamento é processo de busca de

equilíbrio entre meios e fins, entre recursos e objetivos, objetivando o melhor

funcionamento de empresas, instituições, setores de trabalho, organizações

grupais e outras atividades humanas. Desta forma, planejar é uma ação;

processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de meios

(materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de

objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos resultados

das avaliações.

Planejar, então, é um processo que “visa a dar respostas a um

problema, estabelecendo fins e meios que apontem para sua superação, de

modo a tingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente

o futuro.” Este “prever o futuro” deve considerar as condições do presente, as

experiências vividas no passado, o contexto ou realidade a que se refere e os

pressupostos filosófico, cultural, econômico e político de quem planeja e com

quem se planeja.

1.2 - A importância do ato de planejar.

Para Menegolla (2001, p.31), o planejamento educacional torna-se

necessário, tendo em vista as finalidades da educação (...) é o instrumento

básico para que todo o processo educacional desenvolva a sua ação, num todo

17unificado, integrando todos os recursos e direcionando toda ação educativa. É

o planejamento educacional que estabelece as finalidades da educação, a

partir de uma filosofia de valores educacionais.

Através do ato de planejar, deve-se analisar os problemas e as

necessidades existentes e, diante de seus questionamentos, elaborar um

trabalho que contemple os anseios e as necessidades de todos, visando à

melhoria do trabalho pedagógico como um todo. Esse é um fator

importantíssimo no planejamento, portanto, deve haver uma sondagem inicial

da realidade para verificar quais são os problemas e quais as necessidades

mais urgentes que devem ser enfocadas, a partir de seu conhecimento,

procurando utilizá-los adequadamente através de recursos e propostas

capazes de lhes propiciar uma aprendizagem real, significativa, plena de

sentido.

O ato de planejar não é uma ação exclusiva da área educacional, pelo

contrário, todos os setores devem planejar seus trabalhos, e, ao planejá-los,

devem analisar tanto as falhas, impedimentos e restrições quanto os sucessos,

facilidades e acertos, buscando obter uma idéia sobre a trajetória do processo.

Todo empreendimento humano deve ser planejado para sua completa

realização. Quanto mais complexo e importante for o trabalho a realizar, tanto

maior será a necessidade de planejamento.

Nas instituições que estão ligadas às questões sociais, o planejamento é

imprescindível, porque todos os envolvidos no processo devem juntos discutir

as decisões que cabem a conquista de melhores modificações na estrutura

social. Portanto, o planejamento só terá validade quando a escola, como um

todo, colocar em prática o que decidiram coletivamente. Não deve ser apenas

utópico, mas, sim, algo que esteja ao alcance ou que tenha possibilidade de se

concretizar, tendo a certeza que esse é um processo que não pode ser visto

apenas como um produto acabado, mas como uma realidade aberta a

inferências e ajustes ao seu transcurso.

18

O plano não pode ser uma atividade abstrata do exercício docente. De

nada adianta definir de forma ideal as funções dos professores, sem considerar

o contexto em que estão inseridos como um todo. Os modelos mais difundidos

sobre como planejar, ao não levarem em conta os contextos reais, são apenas

propostas neutras e que podem vir a desprofissionalizar os docentes, ao

proporem formulas impossíveis de serem praticadas. (SACRISTÁN, 1998,

p.98).

É de suma importância reconhecer que o planejamento é uma função

compartilhada por diferentes agentes dentro do sistema educativo, e o

professor é apenas o último elo desta cadeia de determinações. Porém, tão

certo como o planejamento e a prática são decididos, antes que os docentes

possam nela atuar, é que os professores devem concentrar o trabalho com

atividades que tornem possível transformar qualquer planejamento em

experiência de aprendizagem, por parte dos alunos.

Portanto, é preciso que o planejamento esteja voltado para uma ação

educativa que liberte os homens para a vida com atos conscientes e críticos,

que proporcione superação de limites do conhecimento, ou seja, a superação

de limites do conhecimento, ou seja, a capacidade de criar e assumir novos

paradigmas. Que não contribua para a formação de indivíduos estáticos e

conformistas, sem iniciativa e sem consciência da importância de sua

participação. O que se deve privilegiar é uma formação onde cada sujeito

busque solucionar os problemas que surjam no decorrer de suas vidas de

forma coerente e autônoma, planejando a educação para uma convivência

social mais adequada, envolvendo princípios e valores morais relevantes em

oposição à aceitação de regras impostas, deixando prevalecer uma ética

voltada para o resgate da condição humana, frente à responsabilidade de sua

existência planetária.

19

O planejamento de ensino se constitui na previsão das atividades a

serem realizadas pelo professor junto aos alunos. Estas previsões são feitas de

modo a direcionar positivamente o processo do ensino, em conseqüência, a

aprendizagem do aluno. O registro das decisões que orientam a ação do

professor e do aluno, se constitui no plano de ensino, instrumento que

operacionaliza, a nível de sala de aula no que se refere ao processo de ensino-

aprendizagem.

A escola atual visa o preparo de pessoas de mentalidade flexível e

adaptável para enfrentar as rápidas transformações do mundo. Pessoas que

aprendem e, conseqüentemente, estejam aptas a continuar aprendendo

sempre. Portanto o currículo de hoje de ser funcional. Deve promover a

aprendizagem do conteúdo e de habilidades específicas e as condições

favoráveis à aplicação e integração desses conhecimentos. Devem ser

propostas situações que favoreçam o desenvolvimento das capacidades do

aluno para solucionar problemas do dia a dia.

É indispensável considerar a importância do planejamento da aula. O

preparo das aulas é uma das atividades mais importantes do trabalho do

profissional-professor. Cada aula é um encontro único no qual, nó a nó, vai

sendo tecida a rede de significados, dentro do currículo escolar proposto para

determinada faixa etária.

Na opinião de Sant’Anna (1995, p.19) o plano de ensino se constitui no

detalhamento do plano curricular, traduzindo em termos mais próximos e

concretos, os objetivos e conteúdos nele contidos. Desta forma, sendo o plano

de ensino o documento que orienta a ação do professor e do aluno na sala de

aula, deve ser voltado para cada classe em particular.

O planejamento deve ser uma tarefa permanente desde a formação

inicial do professor, quando ele aprende a organizar o próprio trabalho. Existe

20uma condição técnica, que é a de dominar objetivos educacionais. O docente

precisa ver o objetivo como um ponto de chegada e trabalhar a questão do

conhecimento em função dele. Isso acontece quando se dá um novo

significado tanto na formação inicial quanto na formação em serviço. O

educador deixa de ser um mero executor e transforma-se em alguém capaz de

dar sentido a seu trabalho. (FREIRE, 2000,p.18)

O planejamento é uma atividade corriqueira na vida de todas as

pessoas, por mais que nem sempre seja sistematizado: muitas vezes, em

atividades simples e cotidianas, planejam-se ações sem parar para pensar em

todos os passos a serem dados. Em outros momentos, para decisões mais

exigentes, as pessoas se vêem quase forçadas a parar para pensar e planejar

cuidadosamente cada passo que devem dar ou cada atitude a tomar.

O ato de planejar é fundamental para a prática escolar. É assumir e

vivenciar a prática social docente como um processo de reflexão permanente; é

o processo de repensar as ações de sala de aula de modo amplo e

abrangente. Trata-se de um recurso para facilitar a organização do trabalho e o

atendimento às necessidades dos alunos.

Portanto, o planejamento, nessa perspectiva, é indispensável, pois o ato

de planejar requer reflexão, análise, ação e avaliação. E quando temos

consciência que somos profissionais da educação capazes de formar pessoas

para uma transformação, atuando de forma competente, técnica e

politicamente, é que percebemos a importância do planejamento. Não

planejado por planejar, mas sim fazendo do planejamento uma proposta de

trabalho, de pesquisa, de busca, querendo sempre mais, entendendo que há

sempre mais a se aprender, e o aprendizado deve ser contínuo e permanente,

principalmente para um educador.

21

CAPITULO II

ETAPAS DO PLANEJAMENTO: COMO, QUANDO E

POR QUÊ PLANEJAR.

O planejamento é de complexa e contínua preparação. Requer muita

pesquisa, estudo e uma constante investigação da realidade e dos avanços

técnicos, principalmente na área educacional. Constitui por suas

características, todo o alicerce do trabalho. A dinamização e conexão da escola

como uma célula viva da sociedade, que trilha certos caminhos de acordo com

a linha filosófica adotada, é o pressuposto essencial a sua estruturação.

Os planejadores devem estar atentos para novas descobertas e para

novos recursos disponibilizados nas escolas. Estes devem ser detalhadamente

analisados para averiguar sua real validade dentro daquele âmbito escolar.

Assim sendo, fica clara a necessidade dos planejadores de pesquisar, aceitar,

adaptar, enriquecer ou até mesmo rejeitar tais inovações.

O planejamento de aula deve ser feito pelo professor em função das

atividades a serem realizadas pelos alunos de acordo com um conteúdo

previamente estabelecido, pois “cada aula é uma situação didática específica,

na qual objetivos e conteúdos se combinam com métodos e formas didáticas,

visando fundamentalmente propiciar a assimilação ativa de conhecimentos e

habilidades pelos alunos.” (LIBÂNEO, 1994, p. 179) Desta forma, o professor

deve selecionar e organizar atividades que possibilitem ao aluno desenvolver o

gosto pelo estudo.

O planejamento nem é somente político-social, nem somente técnico,

mas ele precisa ser concebido como político-social (comprometido com as

finalidades sociais e políticas), científico (na medida em que há necessidade de

22um conhecimento da realidade) e técnico (exige uma definição de meios

eficientes para se obter resultados).

Deste modo, será demonstrado a seguir, as várias etapas do processo

de planejamento. Embora essas etapas configurem momentos distintos, elas

precisam estar integradas, a fim de que as ações planejadas se tornem ações

efetivamente colocadas em prática.

2.1 - Formulação de objetivos e seleção de conteúdos.

A primeira etapa do planejamento é a formulação de objetivos. O

professor deve estabelecer claramente o que o aluno deve fazer ao final do

processo de ensino-aprendizagem. Ao responder a pergunta “para que

ensinar”, o professor estará definindo os objetivos de ensino. Objetivo é a

descrição do que se pretende alcançar.

É importante que o professor tenha clareza do ponto que pretende

alcançar com seus alunos e que formule isso claramente. O professor não deve

se esquecer de que seus objetivos não devem se restringir à área da cognição.

É importante que ele estabeleça também, objetivos voltados para as áreas

afetiva e psicomotora, lembrando de que o aluno deve ser visto como um todo

harmônico.

Formular objetivos é uma tarefa que consiste, basicamente, em

descrever os conhecimentos a serem assimilados, as habilidades, hábitos e

atitudes a serem desenvolvidos, ao término do estudo de certos conteúdos de

ensino. Objetivos refletem, pois, a estrutura do conteúdo da matéria. Devem

ser elaborados com clareza, expressando o que o aluno deve aprender. Devem

ser realistas, isto é, expressar resultados de aprendizagem realmente possíveis

de serem alcançados no tempo que dispõe e nas condições em que se realiza

o ensino. Sua formulação e seu conteúdo devem corresponder à capacidade

23de assimilação dos alunos, conforme a sua idade e nível de desenvolvimento

mental.

É de competência do educador, em sintonia com seus alunos,

determinar os objetivos de ensino que devem ser alcançados. Sendo assim, os

alunos tomam conhecimento do que se espera deles ao final do processo de

ensino. Porém o que se percebe muitas vezes, é que o professor, em

decorrência de todo o contexto político-econômico no qual está inserido, é

intimamente excluído desse processo de concepção dos objetivos, sendo, na

maioria das vezes, um reprodutor dos livros didáticos, limitando, assim, a

autonomia didático-pedagógica.

O professor é o mediador entre o aluno e o conteúdo escolar, ou seja, a

ele cabe aproximar esses dois elementos, permitir que o aluno o aprenda,

tome-o para si, incorpore-o ao que já sabe. Pra que essa aproximação

aconteça de maneira satisfatória, o planejamento é fundamental.

(MENEGOLLA, 2001,p.86).

Os conteúdos de ensino representam o corpus de conhecimento

necessários aos estudantes para que atinjam os objetivos propostos. São

conseqüências dos objetivos e não suas causas. Na maioria das vezes,

acontece de listarmos os conteúdos e depois criarmos os objetivos, quando na

verdade deveria ser feito o movimento contrário. Quando elencamos os

conteúdos, estamos cumprindo a função de veiculação dos saberes

sistematizados cientificamente e que foram produzidos histórica e socialmente.

É importante destacar que alguns critérios precisam ser cumpridos: seqüência

lógica, gradualidade na distribuição adequada em pequenas etapas,

continuidade e integração entre as diversas disciplinas do currículo.

Para Perrenoud (2000, p.26) conhecer os conteúdos a serem ensinados

é a menor das coisas, quando se pretende instruir alguém. Porém, a verdadeira

competência pedagógica não está aí; ela consiste, de um lado, em relacionar

os conteúdos a objetivos e, de outro, a situações de aprendizagem. Ele lembra

24ainda que, traduzir o programa de ensino em objetivos de aprendizagem e

estes em situações e atividades realizáveis, não pode ser uma tarefa linear,

padronizada, que permita que cada objetivo seja honrado separadamente. A

maior competência hoje é o domínio dos conteúdos de modo que se tornem tão

claros e familiares ao professor, que este saiba como aplica-lo em seu dia-a-dia

e é isso que deve ser ensinado ao aluno.

Uma aula é considerada ideal quando o aluno aprende de forma

prazerosa, o conteúdo pretendido. “Uma aula que se atenha exclusivamente ao

conteúdo, seguida de testes objetivos para verificação do que foi exposto ou

apresentado seja lá de que forma, torna-se uma aula técnica, árida e, muitas

vezes, cansativa.” (LIBERATO, 2005, p.67).

Assim que as etapas de formulação de objetivos e de seleção de

conteúdos serem cumpridas, chega o momento de perguntar: “como ensinar?”.

Esta é a pergunta que ajuda o professor a selecionar e organizar as atividades.

A forma como o conteúdo será desenvolvido determinará em grande parte, o

alcance dos objetivos.

2.2 - Desenvolvimento metodológico e avaliação.

Ministrar aulas envolve o domínio de técnicas especificas e um tipo de

competência profissional, a pedagógica que deve ser aprendida e desenvolvida

como qualquer outra competência e não simplesmente ser considerada como

um “dom”. (VASCONCELLOS, 1999, p.12).

A metodologia do ensino é o estudo dos métodos, dispostos a alcançar

um fim e especialmente para chegar a um conhecimento didático, o qual é

utilizado pelo professor para estimular o processo de ensino e aprendizagem

dos alunos. Os métodos de ensino são procedimentos didáticos utilizados pelo

professor para facilitar a aprendizagem dos discentes.

25Para Libâneo (1994, p. 152), os métodos de ensino “são ações, passos

e procedimentos vinculados ao método de reflexão, compreensão e

transformação da realidade, que sob condições concretas de cada situação

didática asseguram o encontro formativo entre o aluno e as matérias de

ensino.”

O desenvolvimento metodológico é o componente do planejamento que

dará vida aos objetivos e conteúdos. Indica o que o professor e os alunos farão

no desenrolar de uma aula ou conjunto de aulas. O professor poderá lançar

mão de inúmeras atividades: excursões, trabalhos em grupo, experiências,

exposição oral, entrevistas, narração de histórias, dramatizações, etc. A

natureza do conteúdo a ser ministrado e as características de seus alunos

constituir-se-ão em referenciais básicos na seleção dessas atividades. Além

disso, o professor deve considerar o local e o tempo disponível, ao escolher as

atividades.

Para a fase do planejamento, seleção/ preparação de recursos, deve ser

utilizada a pergunta: “por meio de quê?” Ela indica que está na hora de

selecionar os recursos a serem usados no desenvolvimento das atividades

para alcançar os objetivos.

Recurso didático é todo e qualquer recurso utilizado no contexto de um

procedimento de ensino, visando estimular o aluno e objetivando o

aprimoramento do processo ensino-aprendizagem. Isto é, são componentes do

ambiente de aprendizagem que dão origem à estimulação do aluno.

O professor utiliza dois tipos recursos em sala de aula: os humanos e os

materiais. O professor, o aluno, o pessoal da escola, as pessoas da família e

da comunidade em geral constituem-se recursos didáticos, dos quais o

professor poderá recorrer em seu planejamento. Os recursos materiais podem

ser do próprio ambiente de aprendizagem: recursos naturais, recursos

escolares, ou da comunidade.

26

É importante que o professor selecione recursos adequados às

atividades de forma a desenvolver os conteúdos para alcançar os objetivos. O

planejamento dos recursos evita improvisações e prejuízos para o processo,

pois o professor se antecipa às dificuldades quanto à utilização desses

recursos.

Como verificar se os alunos aprenderam ou como avaliá-los? Com esta

pergunta você estará definindo os procedimentos de avaliação. Ao longo de

todo o processo de ensino-aprendizagem, fazemos avaliações para verificar se

os objetivos estão sendo ou não alcançados. Se houver algum problema, é

preciso mudar os procedimentos.

A avaliação é um elemento do planejamento, que gera muita discussão

pela forma como é conduzido. Muitos professores aproveitam a avaliação como

forma de controle, e até mesmo punição de alguns alunos; quando, na

verdade, ela deveria servir de suporte para buscar meios de ajudar esses

alunos a dar um salto qualitativo no que se refere ao seu desenvolvimento

pessoal.

A avaliação deve ser uma atividade sistemática e contínua, integrada ao

processo educativo e que tenha por finalidade conhecer melhor o aluno e todos

os componentes do processo, verificando se a aprendizagem está ou não

ocorrendo. A avaliação visa estabelecer uma averiguação do cumprimento dos

objetivos para garantir o alcance do que se planejou e redirecionamento do

processo, caso não tenha sido alcançados alguns dos objetivos. Ao professor

cabe a responsabilidade de definir o sistema de avaliação, respeitando as

políticas e legislações internas e externas à escola.

Após decidir sobre objetivos, conteúdos, estratégias e avaliação, o

professor deverá proceder ao registro das tomadas de decisões para que tenha

sempre à mão, um roteiro seguro para as suas aulas. Essas etapas do

27planejamento devem estar registradas em um plano didático ou plano de aula.

O plano didático abrange uma unidade maior de trabalho e o plano de aula

refere-se a apenas às atividades que serão desenvolvidas em cada dia. Eles

devem guardar entre si estreita coerência.

É importante lembrar que todos esses elementos só farão sentido se

contextualizados e sintonizados com a realidade sociopolítica dos estudantes e

com o projeto político pedagógico da instituição e, claro, adequado à identidade

de cada educador, ou seja, o “eu” professor-cidadão precisa estar bem claro e

definido.

O docente, ao longo de toda sua carreira profissional, necessita dominar

metodologias, métodos, técnicas e recursos de ensino, visto que, por meio

dessas “ferramentas”, o professor tem condições de se aperfeiçoar

constantemente, dando agilidade suficiente para interagir com os discentes em

sala de aula.

28

CAPÍTULO III

A CONTRIBUIÇÃO DO ORIENTADOR

EDUCACIONAL NO PROCESSO DE PLANEJAMENTO

Quando se reflete sobre a prática educativa, percebemos o quanto o

modelo de educação, que se realiza na maioria das escolas e salas de aula,

está distante dos ideais de educação: as escolas têm programas abstratos,

formalistas distantes da vida, e a atuação dos educadores é, ao mesmo tempo,

autoritária e passiva. Isso ajuda a explicar o desinteresse dos alunos e os

elevados índices de reprovação e de evasão escolar. Isso ajuda a refletir

também sobre a perda de sentido da tarefa de educar: muitos educadores vão

perdendo o encanto, a motivação, pois caminham ao léu, sem um instrumento

que norteie seu trabalho educativo.

É fundamental que o orientador educacional se posicione como

personagem importante na ação de colocar o valor do planejamento no seu

devido lugar, pois, a educação é uma longa viagem em direção ao futuro. Não

dá para simplesmente por o pé na estrada sem saber direito a direção para a

qual se está seguindo ou os caminhos possíveis. Se é verdade que todos os

caminhos levam à Roma, não é verdade que todos os caminhos se prestam a

uma boa educação: há caminhos que são deseducativos e, por isso, precisam

ser conscientemente evitados. O planejamento em educação não se restringe

ao problema da eficiência e da eficácia educativa (se os alunos aprendem ou

não): ele diz respeito à responsabilidade de formar bons cidadãos, pessoas

capazes de assumir compromissos na construção de uma sociedade mais justa

para todos.

Os técnicos de planejamento esmeram-se na elaboração do “melhor

modelo de projeto”: tópicos, divisões, subdivisões, numerações, delimitação de

recursos, fluxos cronogramas. Porém pouco ou nada se discute a respeito do

significado social e político da ação que se está planejando. Não se pergunta

29pelas determinações que estão na base do problema a ser enfrentado, assim

como não se discute as possíveis conseqüências político-sociais que

decorrerão da execução do projeto em pauta. Não se pergunta a que tipo de

sociedade o planejamento está servindo, esta permanece oculta. Dessa

maneira, essa ´´e uma forma de resguardar o “modelo de sociedade” ao qual

serve esse planejamento. É uma forma de escamotear a realidade, por não a

questionar (LUCKESI, 2005, p.106).

O planejamento educativo esbarra na ambigüidade já acenada: embora

os professores concordem com a necessidade de planejar suas atividades,

reconhecem que muitas vezes o planejamento acaba sendo uma mera

atividade burocrática que não chega a inspirar de fato, a ação docente. É

preciso, portanto, que reencontremos caminhos para dar novo significado à

prática e à utilização do planejamento. O Orientador Educacional deve estar

engajado neste processo de mudança de concepção em relação ao

planejamento.

“O planejamento só tem sentido se o sujeito coloca-se numa perspectiva

de mudança” (VASCONCELLOS, 1999, p.38). O planejamento contribui para a

definição das práticas necessárias à mudança, com o apoio de teorias que

ajudam a tornar efetivas tais práticas. O processo não é estanque, mas

dinâmico e permanente: à medida que são identificadas necessidades que

geram mudança, novas necessidades se apresentam, de modo a fazer com

que o planejamento seja sempre revisto e atualizado. Devemos destacar que é

preciso sustentar as novas práticas com teorias, isto é, com fundamentos

racionais que as iluminem e inspirem. Sem teorização, as práticas podem

descambar para um ativismo frágil e estéril.

É preciso que o orientador educacional saiba que o planejamento

conduz o professor a um ensino mais eficaz. Ele possibilita o atendimento de

necessidades, capacidades e interesses dos alunos; dá unidade e continuidade

ao trabalho; permite ao professor atualizar-se, com a devida antecedência,

30quanto ao conteúdo e as técnicas a empregar; proporciona economia de

tempo; e traz maior segurança ao professor, que conduz melhor o ensino.

De acordo com Libâneo (1994, p.221) o planejamento tende a prevenir

as vacilações do professor, oferecendo maior segurança na consecução dos

objetivos previstos, bem como na verificação da qualidade e quantidade do

ensino que está sendo orientado pelo mestre e pela escola.

Com certeza existem muitos caminhos, muitas recomendações técnicas

para se elaborar um planejamento didático. O professor certamente recebeu,

em sua formação docente ou em reuniões pedagógicas promovidas pela

direção da escola, por supervisores ou orientadores, inúmeros esquemas,

roteiros, modelos, tópicos ou itens que devem ser seguidos e respeitados na

hora de elaborar o planejamento. Em algumas situações, essas orientações

tornam-se verdadeiras camisas-de-força que limitam o professor. Entretanto, os

condicionantes de cada situações escolar específica, parece claro que, antes

de simplesmente executar essa dimensão técnica do planejamento, o professor

deve conhecer muito bem os dois principais elementos que tem como

responsabilidade aproximar – o aluno e o conteúdo.

Tomando como ponto de partida a orientação dosa Parâmetros

Curriculares Nacionais, a educação escolar deve ser compreendida como o

conjunto de atividades planejadas para ajudar o aluno a assimilar conteúdos

considerados em nossa cultura, essenciais para o seu crescimento pessoal e

atuação responsável na sociedade em que vive. É comum, por exemplo, exigir-

se uma conduta cooperativa entre os alunos que realizam uma determinada

atividade em grupo, sem que nenhum trabalho específico tenha sido

desenvolvido pelo professor neste sentido.

O planejamento é um instrumento de trabalho que disciplina os esforços

de professores e alunos, no sentido de racionalizar as atividades de ensino e

aprendizagem. Todo planejamento de ensino, como processo de tomada de

31decisões, se concretiza num plano definitivo de ação que constitui um roteiro

seguro para conduzir progressivamente os alunos aos resultados desejados. O

plano é um instrumento de trabalho de cada professor. O seu valor principal

reside precisamente na elaboração pessoal de quem irá executá-lo.

É de suma relevância que o orientador educacional reflita com a

comunidade escolar a importância do planejamento, pois quando o professor

concretiza suas decisões, num plano bem definido e coerente, terá sempre à

mão o roteiro seguro da marcha a seguir e das providências a tomar no seu

devido tempo, relacionando todos os pormenores de sua atuação com os

objetivos traçados.

Segundo Padilha (2001, p.33) o plano é apenas um roteiro, um

instrumento de referência e, como tal, é abreviado, esquemático, sem colorido

e aparentemente sem vida. Compete ao professor que o confeccionou dar-lhe

vida, relevo e colorido no ato de sua execução, impregnando-o de sua

personalidade dinâmica, sua vibração e seu entusiasmo, enriquecendo-o com

sua habilidade e expressividade.

O orientador educacional é peça fundamental na tarefa de

conscientização de que a prática educativa precisa ser planejada: é preciso

saber aonde se quer chegar, quais são os caminhos existentes, quais os

recursos disponíveis e quais as ações encadeadas que devem ser

desenvolvidas. Quando a prática educativa não nasce de um planejamento

bem construído, corre-se o risco de prejudicar o processo, queimar etapas,

avançar os passos antes da hora ou usar de subterfúgios, quando se deveria

seguir o processo padrão.

O professor ao planejar o ensino antecipa, de forma organizada, todas

as etapas do trabalho escolar. Cuidadosamente, identifica os objetivos que

pretende atingir, indica os conteúdos que serão desenvolvidos, seleciona os

procedimentos que utilizará como estratégia de ação e prevê quais os

32instrumentos que empregará para avaliar o progresso dos alunos. Embora

detalhe suas decisões, numa previsão inteligente, calculada e alicerçada no

conhecimento da realidade que envolve os alunos, é com eles que compartilha

a responsabilidade da execução.

O planejamento requer que se pense no futuro. É composto de várias

etapas interdependentes, as quais, através de seu conjunto, possibilitam à

pessoa ou grupo de pessoas atingir os objetivos. É a base para a ação

sistemática. É utilizado na área econômica, social, política, cultural e

educacional, permitindo o maior progresso possível, dentro da margem de

operação definida pelos condicionamentos do meio.

O orientador educacional deve estar envolvido na ação do planejamento,

já que, o professor que deseja realizar uma boa atuação docente sabe que

deve participar elaborar e organizar planos em diferentes níveis de

complexidade para atender, em classe, seus alunos. Pelo envolvimento no

processo ensino-aprendizagem, ele deve estimular a participação do aluno, a

fim de que este possa, realmente, efetuar uma aprendizagem tão significativa

quanto o permitam suas possibilidades e necessidades. O planejamento, neste

caso, envolve a previsão de resultados desejáveis, assim como também os

meios necessários para alcançá-los. A responsabilidade do mestre é imensa.

Grande parte da eficácia de seu ensino depende da organização, coerência e

flexibilidade de seu planejamento.

O planejamento de ensino é uma previsão inteligente e bem calculada

de todas as etapas do trabalho escolar que envolvem as atividades docentes e

discentes, de modo a tornar o ensino seguro, econômico e eficiente. É o

processo de tomada de decisões bem informadas que visam à racionalização

das atividades do professor e do aluno, na situação ensino-aprendizagem,

possibilitando melhores resultados e, em conseqüência, maior produtividade.

33Lamentavelmente, quando alguém descobre que através do

planejamento flexível é possível propor caminhos de transformação na

educação, novamente surge a resistência à sua realização pelo medo da

criação do novo e da mudança. Por tal motivo, o planejamento necessita

buscar a eficiência e a eficácia de uma ação para que ela seja

reconhecidamente necessária e aceita. (GANDIN, 1993, p. 35).

O ato educativo é marcado pela intencionalidade do professor que se

externaliza em ações concretas. Desejar algo querer chegar a algum lugar, ter

um propósito a alcançar e, para isso, arrolar e selecionar caminhos, modos,

recursos marcam a própria natureza humana. E, organizar as ações envolve

um plano preliminar e um sentido futuro. O planejamento é um

predelineamento de uma realidade futura. Nesse sentido, ele é completo. E,

nesse sentido, o ser humano é, por essência, um planejador.

Não planejar a ação docente implica marcar a educação pela

improvisação. A improvisação tem seu lugar, sim, na ação docente, mas a

partir de um plano estabelecido. Para cumprir seu objetivo, atingir sua meta,

muitas vezes, o professor deverá ser criativo bastante para, com competência,

lançar mão de recursos, idéias, estratégias não programadas anteriormente.

Entretanto essa improvisação situa-se dentro do contexto definido no

planejamento.

O professor, concretizando suas decisões, num plano bem definido e

coerente, terá sempre à mão o roteiro seguro da marcha a seguir e das

providências a tomar no seu devido tempo, relacionando todos os pormenores

de sua atuação com os objetivos traçados. A tarefa de educar, por sua

importância e complexidade, não pode ser feita de modo aleatório. Daí a razão

do planejamento. Não se trata de um instrumento para fixar a educação em um

“burocratismo”, mas para estabelecer caminhos seguros para o pleno

desenvolvimento da ação educativa.

34É necessário que o orientador educacional tenha consciência de que o

planejamento escolar, de acordo com a tendência participativa, deixou de ser

uma ação isolada do professor, tornando-se uma ação da comunidade

educativa. Essa tendência rompe com o planejamento meramente funcional ou

normativo. Ele é visto, então, como um instrumento de transformação da

realidade, em vista da construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Planejamento na sua acepção mais ampla, sempre abrange uma gama

de idéias. Por si só não constitui a fórmula mágica que soluciona ou muda a

problemática a ser resolvida. Exige uma busca cada vez maior de estudos

científicos que favoreçam o estabelecimento de diretrizes realistas. Nunca

devemos pensar num planejamento pronto, imutável e definitivo. Devemos

antes acreditar que ele representa uma primeira aproximação de medidas

adequadas a uma determinada realidade, tornando-se, através de sucessivos

replanejamentos, cada vez mais apropriado para enfrentar a problemática

desta realidade. Estas medidas favorecem a passagem gradativa de uma

situação existente para uma situação desejada. Planejamento é então, um

processo que consiste em preparar um conjunto de decisões tendo em vista

agir, posteriormente, para atingir determinados objetivo (FERREIRA, 2002, p.

27).

Nessa abordagem, o planejamento tem como função auxiliar o

professor e demais profissionais em educação a estabelecer rotas de ação,

visando o desenvolvimento das competências individuais de cada aluno.

Considerando que, em diferentes idades ou estágios, os alunos possuem

necessidades diferentes e desenvolvem noções e conteúdos com base em

distintas estruturas motivacionais e cognitivas, o planejamento das ações

escolares deve levar em conta esses fatores.

Enfim, cabe ao orientador educacional contribuir na conscientização de

que o planejamento pode apontar para a transformação, ainda que temida,

gerando resistência, porém, é seu papel prevê-la e criar condições para que se

35realize. O caráter político do planejamento dá conta do compromisso com a

mudança, com a busca de melhores condições de trabalho, mas principalmente

com o desejo de construir um mundo melhor.

36

CONCLUSÃO

Falar sobre planejamento de ensino, hoje, com o professor tem se

constituído em uma tarefa não muito fácil. O planejamento traz à tona

formalismo, exigências, fiscalização, tecnicismo, controle, etc. Realmente esse

foi o rastro deixado pelo furor planificador que marcou um bom período da

educação brasileira. Modelos, formulário, etapas, procedimentos, seqüências,

interfaces, tudo tão tecnicamente arrumadinho e “a priori” estabelecido parece

ter asfixiado o verdadeiro sentido do planejamento.

Sacristán (1998, contracapa) salienta que, sem compreender o que se

faz, a prática pedagógica é uma reprodução de hábitos e pressupostos dados,

ou respostas que os professores dão a demandas ou ordens externas.

Conhecer a realidade herdada, discutir os pressupostos de qualquer proposta e

suas possíveis conseqüências é uma condição da prática docente ética e

profissionalmente responsável.

Planejar é se antecipar ao futuro, porém não pode de modo algum ser

confundido com a determinação desse futuro. O planejamento, por mais

contextualizado que seja, é marcado por sua dimensão estática, mas a

realidade sobre a qual ele intervirá é essencialmente dinâmica. Assim, não se

pode pensar em executar rigidamente um planejamento, como se ele fosse

uma camisa-de-força na qual a realidade deve se encaixar. A tão propalada

flexibilidade do planejamento é para ser efetivamente praticada.

O aluno constitui-se o centro da ação educativa e, portanto, também do

planejamento docente. A partir dele, de seus interesses, suas potencialidades,

suas limitações, suas perspectivas, suas características, seu contexto

socioeconômico, todo o planejamento deve ser elaborado. E a referência

deverá ser sempre criar condições para apoiar o aluno a se deslocar de uma

37situação atual para outra na qual seja melhor para ele em termos pessoais e

sociais. Nesse sentido, não se pode conceber planejamento em uma proposta

de aceleração da aprendizagem sem envolver o aluno nesse planejamento.

È preciso se compreender que uma coisa é entender o planejamento,

outra é ser coerente e contribuir para transformá-lo em realidade. É óbvio que

uma coisa está intimamente relacionada à outra, pois o fazer prático do

planejamento contribui para que as pessoas possam saber com clareza o que

desejam e, assim, realizam seus planos de forma mais eficiente e eficaz.

Para finalizar, é importante ressaltar que os orientadores educacionais

precisam estar conscientes de seu papel de formadores e, por este motivo, é

tão importante que se coloquem como estimuladores do processo de ensino-

aprendizagem que ocorre na escola. É obrigação da escola, em uma visão

transformadora da educação, preparar da melhor maneira o cidadão do futuro,

para que haja com ética, respeitando a si mesmo, os outros e o meio em que

vivem.

38

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