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Universidade Cândido Mendes Pós-Graduação “Latu Sensu” TURISMO SUSTENTÁVEL X MEIO AMBIENTE – UMA GESTÃO INTEGRADA. Por:Carla Barbosa Batista Cosme Orientadora: Professora Maria Esther Araújo RIO DE JANEIRO 2011

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Universidade Cândido Mendes Pós-Graduação “Latu Sensu”

TURISMO SUSTENTÁVEL X MEIO AMBIENTE –

UMA GESTÃO INTEGRADA.

Por:Carla Barbosa Batista Cosme

Orientadora: Professora Maria Esther Araújo

RIO DE JANEIRO

2011

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Universidade Cândido Mendes Pós-Graduação “Latu Sensu” Faculdade Integrada AVM

TURISMO SUSTENTÁVEL X MEIO AMBIENTE – UMA GESTÃO INTEGRADA.

O trabalho a seguir pretende enfocar ante uma análise científica, política e organizacional um conceito de idéias e ações sobre como a atividade turística aliada às práticas de sustentabilidade pode fazer com que o turismo sirva de exemplo para a gestão de uma atividade sócio-econômica sem que esta cause impactos negativos ao meio ambiente.

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Agradecimentos

Agradeço a todos

que me ajudaram a chegar até aqui para concluir

mais esta etapa e me incentivaram a ter esforço,

dedicação, amor e carinho pelo que faço.

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Dedicatória

Dedico este trabalho aos

meus pais, amigos e mestres, cuja sabedoria,

amor ao trabalho e disciplina me inspiraram para

que eu concluísse mais esta etapa.

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Resumo

O presente trabalho analisa a relação direta entre a atividade

turística e o meio ambiente, abordando a importância da gestão

integrada entre uma e outra, discutindo os aspectos legais,

políticos, sociais e culturais acerca do tema em questão, com

enfoque na sustentabilidade a longo prazo e na responsabilidade

sócioambiental que envolve o governo, o setor privado e a

sociedade em todos os níveis.

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Metodologia

A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho foi a pesquisa

bibliográfica em livros, periódicos e sites governamentais utilizando os

fundamentos de autores, tais, como: Zysman Neiman, Antonio Carlos Brasil

Pinto, Antônio Beltrão, Mario Carlos Beni e outros. Não foi realizada a pesquisa

de campo, porém a visão holística foi um dos instrumentos utilizados para a

realização deste trabalho, pois a observação do cenário turístico e social do

país, especialmente da Cidade do Rio de Janeiro, também compõe a

metodologia científica do cenário turístico e ambiental para uma abordagem

acadêmica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1 – Turismo Sustentável e Sua Relação com o Meio Ambiente 10

1.1 – O Conceito de Sustentabilidade 11

1.2 – Turismo: Definição 12

1.2.1 – O Turismo de Massa 12

1.2.2 – Turismo Alternativo – O Que Significa? 13

1.2.3 – Turismo Sustentável ou Ecoturismo 14

CAPÍTULO 2 – Ambientalismo, Turismo e a Premissa do Desenvolvimento

Sustentável 18

2.1 – O Desenvolvimento Sustentável e Suas Contradições 20

2.2 – Turismo X Sustentabilidade 21

2.3 – Planejamento e Gestão: Turismo e Meio Ambiente 22

2.3.1 – Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) 23

2.3.2 – Instrumentos da PNMA 23

2.3.3 – Políticas Públicas para o Turismo 24

2.3.4 – Gestão Participativa 28

CAPÍTULO 3 – Turismo e Meio Ambiente no Contexto da Responsabilidade

Social – Marketing Responsável e Certificação 29

3.1 – Marketing Responsável 30

3.1.1 – Marketing Verde 31

3.2 – Certificação 32

3.2.1 – Vantagens e Desvantagens da Certificação 34

CONCLUSÃO 36

ANEXO I 37

ANEXO II 39

ANEXO III 40

BIBLIOGRAFIA CITADA 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 44

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INTRODUÇÂO

Ultimamente, as constantes preocupações e discussões que a sociedade

tem debatido sobre o meio ambiente e questões afins têm contribuído para

enfatizar a necessidade de alcançarmos o desenvolvimento sustentável.

Por ser uma atividade que necessita do meio natural para a sua existência, o

turismo pode causar danos ao meio ambiente e por este motivo a atividade

necessita de uma gestão eficiente e integrada com a gestão ambiental para

que ambas possam atuar de forma a mitigar os impactos negativos em suas

respectivas ações.

O turismo é uma atividade econômica em potencial e contribui muito para o

aumento do PIB de um país. Porém, enxergar a atividade apenas com a visão

de negócios implica numa atitude arcaica e nada positiva no que diz respeito

aos cuidados e à preservação do meio ambiente, tão importante para a nossa

sobrevivência em condições dignas.

A Eco-92, realizada aqui na cidade do Rio de Janeiro em junho deste

mesmo ano, serviu para alertar os políticos, os economistas e a sociedade de

modo geral sobre a importância do bem-estar e da análise custo-benefício das

ações que envolvem as questões ambientais. Em decorrência, a idéia de se

associar questões ambientais com o desenvolvimento sustentável passou a ser

mais difundida, tanto nos segmentos sociais, quanto nas organizações públicas

e privadas. Deste modo, o turismo passou a ter uma importância maior por

parte do governo brasileiro, o qual passou a regulamentar a prestação de bens

e serviços, utilizando o viés do ambientalismo como instrumento para justificar

os esforços de conservação do meio natural, em especial no setor da

economia.

No entanto, mesmo com a crescente preocupação por parte do governo e da

sociedade com as questões que envolvem a preservação ambiental, o turismo

no Brasil ainda está longe de poder ser considerado uma atividade sustentável.

Isto ocorre porque parte das organizações públicas e privadas ainda não têm a

visão holística para planejar e administrar a atividade, de modo que esta não

vise apenas o lucro econômico, mas também o lucro sócioambiental, com a

mitigação dos impactos negativos e a conservação do ambiente natural

existente.

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O presente trabalho pretende abordar de forma lúdica como o turismo é

desenvolvido no Brasil, enfatizando os aspectos econômicos, sociais, políticos

e culturais que envolvem o mesmo, bem como os aspectos ambientais, os

quais são de suma importância para a execução da atividade.

Também serão abordadas as questões legais que envolvem tanto o turismo,

quanto o meio ambiente, através da legislação vigente, das políticas públicas e

da participação do poder público e do setor privado na economia do país

relativa ao turismo.

Portanto, pensar no turismo apenas como lazer hoje em dia é ter uma visão

simplista e equivocada da atividade, pois esta deve estar em harmonia com o

meio ambiente e, para tanto, necessita da conscientização de que a educação

e a preservação ambiental fazem parte das nossas vidas em qualquer

instância.

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CAPÍTULO 1

1. O Turismo Sustentável e Sua Relação com o Meio Ambiente

“Há uma crescente tendência do mercado turístico em

ofertar viagens e atividades que possibilitem vivenciar

coisas novas e diferentes, nas quais o que menos importa

é o destino. A preocupação com o social e o ambiental é a

tônica dessa tendência.”

Andréa Rabinovici (2009)

A expressão meio ambiente é redundante, uma vez que “meio” e “ambiente”

são sinônimos e designam o âmbito que nos cerca, o nosso entorno, o lugar

onde estamos inseridos e vivemos.

De fato, “meio” significa um conjunto de elementos materiais e

circunstanciais que influenciam um organismo. “Ambiente”, por sua vez,

consiste no que rodeia ou envolve por todos os lados constituindo o meio no

qual se vive.

O meio ambiente possui em nosso ordenamento jurídico uma definição legal,

prevista pelo art. 3.º, I, da Lei 6.938/1981, correspondendo ao “conjunto de

condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica,

que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Dessa forma, o meio ambiente não corresponde apenas ao ambiente natural

abrangendo também outras perspectivas, nas quais a vida esteja inserida.

Assim, tradicionalmente, classificamos o meio ambiente a partir de quatro

aspectos: o físico, o artificial, o cultural e o ambiente de trabalho e o turismo se

enquadra em todos eles.

A) Meio Ambiente Natural ou Físico

Constituído pelo ar, atmosfera, água, solo, subsolo, fauna, flora e

biodiversidade, ou seja, corresponde aos elementos naturais que são

tradicionalmente associados ao meio ambiente independente da ação humana.

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B) Meio Ambiente Artificial

Corresponde ao espaço urbano construído, abrangendo o conjunto de

edificações e equipamentos públicos abertos, tais como: ruas, praças,

avenidas, etc.

Deriva desse aspecto urbano a necessidade de planejamento e

ordenamento territorial, avaliando os processos de urbanização para reduzir os

impactos negativos e assim poder alcançar o equilíbrio ambiental (EIA/RIMA).

Neste contexto, o Estatuto da Cidade – Lei 10.257/2001 faz parte do art. 2º,

I, garantindo o direito da sustentablilidade como uma de suas diretrizes.

C) Meio Ambiente Cultural

Consiste nas intervenções humanas, materiais ou imateriais, que possuem

valor cultural no que se refere à identidade, à ação, à memória e ao patrimônio

dos diferentes grupos formadores de uma sociedade. Abrange, portanto, o

patrimônio histórico, artístico, paisagístico, arqueológico, ecológico, etc.

D) Meio Ambiente do Trabalho

Compreende a qualidade do ambiente em que o trabalhador exerce sua

atividade profissional contribuindo para a harmonia e o desenvolvimento da

produção e do respeito à dignidade das pessoas.

1.1 O Conceito de Sustentabilidade

O que significa ser sustentável? Como a própria palavra sugere, sustentar é

a habilidade se suportar algo por um determinado prazo e em condições

adequadas. É um processo de permanência, de existência.

Quando falamos em sustentabilidade no contexto atual estamos nos

referindo não somente ao meio natural/físico, pois este contexto abrange todos

os segmentos sociais e também se destaca no cenário urbano, político e

econômico e organizacional (empresas).

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Para que algo seja e/ou se torne sustentável precisamos entender que a

satisfação das nossas necessidades atuais não pode comprometer as

necessidades de satisfação das gerações futuras. A partir deste princípio

passamos a atuar sob o conceito do desenvolvimento sustentável, colocando-o

em prática no nosso dia-a-dia.

1.2 Turismo: Definição

Segundo a OMT (Organização Mundial do Turismo):

“Turismo é o deslocamento do seu local de vivência para

um outro, onde haja pelo menos um pernoite e a

consumação de algum produto turístico (hotel,

restaurante, pacote de viagem, etc).”

Turismo e meio ambiente possuem uma estreita relação de dependência,

pois toda atividade turística necessita de um ambiente para acontecer. O

ambiente por sua vez, natural ou artificial, sofre um processo de

descaracterização em seu cenário natural para que a infra-estrutura da

indústria do turismo possa ser instalada, fazendo com que muitas vezes

ocorram impactos negativos em decorrência do emprego de tais

empreendimentos e/ou da atividade mal planejada.

1.2.1 O Turismo de Massa

De acordo com Cruz, o turismo de massa é:

“Uma forma de organização do turismo que envolve o

agenciamento da atividade, bem como a interligação entre

agenciamento, transporte e hospedagem, de modo a

proporcionar o barateamento dos custos da viagem e

permitir, consequentemente, que um grande número de

pessoas viaje.” (Cruz, 2005, p.6)

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Para Luchiari (1999, p. 3), o turismo de massa: “induz a produção de

atrações inventadas que valorizam mais a técnica de produção do que a

autenticidade”, ou seja, lugares e atrativos são criados meramente para o que

o olhar do turista deseja ver. O marketing e o embelezamento do local se

fazem imprescindíveis, o que pode ser notado, por exemplo, na segmentação

do território classificado como “local para turistas.”

Observando-se a trajetória do turismo, o elitismo e a imitação são

características constantes e recorrentes. Os impactos sociais, econômicos e

ambientais negativos advindos da atividade turística são observados,

estudados e apontados, porém muitas vezes não são eliminados. Alguns

desdobramentos do turismo de massa, tais como: a sazonalidade, o desgaste

dos recursos naturais, a especulação imobiliária, a segmentação territorial e

etc correspondem estritamente aos interesses econômicos de determinados

grupos econômicos e/ou políticos, fazendo com que as contradições entre a

economia e as práticas sustentáveis fiquem ainda mais evidentes.

Quando analisamos atentamente o termo “turismo de massa”, podemos

perceber que a atividade turística continua excludente, uma vez que, apesar

de uma parte da população mundial que antes era ausente poder praticá-lo,

boa parte dessa população, especialmente nos países em desenvolvimento ou

subdesenvolvidos, continuam a não vislumbrar a atividade turística como uma

forma de melhorar sua qualidade de vida, seja por usufruir dele, ou para

torná-lo uma fonte de renda.

A prática do “turismo predatório” ainda é o vilão que impede a prática do

turismo sustentável, tanto pela ganância do setor econômico, quanto pelo

descaso do poder público no que diz respeito à preservação do patrimônio

natural e cultural que possuímos.

1.2.2 Turismo Alternativo – O Que Significa?

Os impactos derivados do turismo de massa refletem momentos pelos quais

a sociedade está ainda está passando, tais como: consumo exagerado,

poluição, crescimento da frota de veículos, classes menos favorecidas com

maior poder aquisitivo, etc.

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Nesse contexto, a sustentabilidade permeou as discussões ambientalistas e

dos movimentos de contracultura surgiu o “turismo alternativo”, o qual sugere

uma alternativa de mudança ecologicamente mais benéfica para o

desenvolvimento do turismo de massa.

Dessa maneira, o turismo alternativo possui características que o

diferenciam do turismo de massa por permitir, por exemplo, que a comunidade

envolvida participe da tomada de decisões e do fomento da atividade. Para que

esse tipo de turismo seja alcançado é preciso modificar as atitudes dos turistas,

dos destinos e, principalmente do trade, que é o maior responsável pelo fato de

o turismo concentrar-se efetivamente nos ganhos econômicos e só querer

atender a um número elevado de pessoas, o que causa maior impacto

negativo.

O turismo alternativo surge com a visão de ser um turismo local, em menor

escala, o qual serviria para incentivar o desenvolvimento de uma determinada

localidade e não cópia de modelos estrangeiros para o planejamento da

atividade, que algumas vezes não se adequa à realidade existente no Brasil.

Assim, o turismo começaria a ser realmente planejado, de forma comunitária,

na qual as populações teriam vez e voz e seus pensamentos fariam parte do

conjunto do trade local.

Do turismo alternativo surgiram ainda outras expressões, tais como: turismo

ecológico, verde, sustentável, de aventura, entre outros, porém o termo que se

tornou mais utilizado e conhecido é o ecoturismo.

Um dos principais motivos para a crescente visibilidade do ecoturismo é a

capacidade que o mesmo possui de ser reproduzido e replicado, atraindo o

interesse daqueles que desejam ter experiências diferentes daquelas que são

praticadas no turismo convencional, proporcionando um lazer saudável em

meio natural, porém sem causar impactos ao meio ambiente.

1.2.3 Turismo Sustentável ou Ecoturismo

O rápido desenvolvimento da atividade turística, embora bem-visto pela

iniciativa pública e privada, vem acarretando uma série de problemas de ordem

social, econômica e ambiental, desencadeados, principalmente, pelo turismo

de massa.

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Como conseqüência do crescimento desse tipo de prática, seus

pressupostos foram colocados em xeque, ao mesmo tempo que buscava uma

maneira menos impactante de conceber o desenvolvimento de atividades

econômicas, o respeito às culturas e a conservação da natureza das

sociedades. Dentro desse contexto, as práticas predatórias tendem a ser

abolidas, dando lugar ao turismo sustentável e/ou alternativo.

Sendo o ecoturismo uma prática que se enquadra nessas novas metas,

como conceituá-lo? E o mais importante, como praticá-lo?

Como conseqüência de uma grande diversidade de entendimentos

conceituais sobre seu significado, vários termos são utilizados para se referir à

mesma atividade, como “turismo de natureza”, “turismo responsável”, “turismo

verde” e outros, onde cada um apresenta aspectos bem próximos, senão

idênticos uns dos outros. Nesse caso, como definir um ponto de vista comum a

todos?

Entre todas as definições existentes para o termo “ecoturismo”, três

características estão sempre presentes, no que constitui o chamado tripé da

sustentabilidade dessa atividade:

I. garantia de conservação ambiental;

II. educação ambiental

III. benefícios às comunidades receptoras

Os interesses dos diversos setores envolvidos com a atividade fazem com

que ela englobe a interação de muitos atores sociais. Assim, o significado de

ecoturismo é diferente para um morador da comunidade local e para um dono

de pousada, por exemplo. No entanto, espera-se que seja uma atividade

vinculada à sustentabilidade, constituindo-se num turismo de valores e atitudes.

A busca pelo turismo alternativo desencadeou uma série de ramificações do

segmento, o qual foi se dividindo de acordo com as motivações que levam os

indivíduos a se deslocarem. Porém, todas as segmentações em questão se

relacionam com o ecoturismo por terem características e finalidades em

comum.

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A) Turismo Cultural

Prática que permite que o turismo seja um meio pelo qual se alcance a

valorização do patrimônio de determinadas localidades, seja ele histórico,

cultural, ou ambos, destacando a cultura e a diversidade.

O turismo cultural, histórico, ou histórico-cultural se relaciona com o

ecoturismo pelo fato de que este último tem, como um de seus pilares, a

integração com as comunidades locais. Assim, além dos benefícios que a

atividade proporciona, quando bem planejada e executada, também promove a

valorização de culturas tradicionais.

B) Turismo Educacional

O turismo educacional, ou pedagógico, tem por objetivo executar viagens

que promovam estudos do meio, ou seja, traçar um paralelo entre o

conhecimento teórico discutido em sala de aula e uma experiência prática mais

próxima daquela realidade.

Esse tipo de prática visa relacionar lazer com conhecimento para que a

diversidade seja reconhecida, o que justifica a relação desse segmento com o

turismo sustentável e a proximidade com o ecoturismo, uma vez que este

também tem como um de seus objetivos promover a educação ambiental e o

reconhecimento de culturas diferentes.

C) Turismo Científico

A motivação para esse tipo de prática reside no interesse ou necessidade de

estudos e pesquisas, sendo as viagens, em sua maioria, pesquisas de campo

ou participações em eventos científicos. Nesse segmento, deve-se salientar

que há uma grande preocupação com a conservação do local, já que este vem

a ser um objeto de estudo e, dessa forma, é possível considerar o turismo

científico como uma prática de turismo alternativo. A ligação com o ecoturismo

se justifica pelo fato de que essa prática utiliza os mesmos ambientes e

também tem preocupação com a conservação desses locais e com o bem-

estar da comunidade.

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D) Turismo de Aventura

A procura por atrativos, assim como uma gama maior de atividades a serem

praticadas, revela a necessidade que o mercado tem de buscar novos clientes.

Vários tipos de atividades estão relacionadas à prática do turismo de

aventura: rafting, rapel, mountain bike, trekking, arborismo, entre outras. É uma

atividade altamente especializada e exige capacitação profissional adequada,

treinamento, segurança e qualidade na prestação dos serviços.

A confusão com o ecoturismo se dá quando as agências vendem pacotes

deste tipo como atividades ecoturísticas. Porém, no caso do ecoturismo a

natureza é valorizada por si só, enquanto que o turismo de aventura necessita

de uma modalidade esportiva realizada no ambiente natural sem causar danos

ao mesmo.

E) Turismo Rural

O turismo rural propõe que a atividade ofereça serviços, produtos e

equipamentos que utilizam o meio rural dotado de práticas agrícolas,

biodiversidade, cultura e outros.

Dessa forma, a atividade compreende uma relação mais próxima do turista

com as atividades agrícolas, ou seja, há um vínculo entre o que é produzido na

terra, com a produção agropecuária, assim como a valorização dos costumes,

do artesanato, da arquitetura e da cultura local contribuindo para firmar o

compromisso que o turismo tem com a sociedade.

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CAPÍTULO 2

2. Ambientalismo, Turismo e a Premissa do Desenvolvimento

Sustentável

A preocupação com as questões ambientais surge por conta da crise

ocasionada pela escassez dos recursos naturais, decorrente do uso

descontrolado e irracional dos mesmos, que, por sua vez, é motivado pelo

ritmo desenfreado e frenético do crescimento sócioeconômico global.

Como conseqüência, a biodiversidade torna-se alvo dos interesses mais

variados, caracterizando-se como uma moeda de troca (vide os créditos de

carbono, por exemplo), porém sua importância e significado são ignorados,

muitas vezes em prol do suposto progresso e desenvolvimento tecnológico das

nações. Passa-se a falar de uma crise associada a uma crise civilizatória, bem

como de uma sociedade de risco. Isso nos impede de resgatar primórdios do

pensamento conservador brasileiro, uma vez que sua identidade e

enraizamento constituem a manifestação de um novo movimento social, que

acompanha e determina os dilemas e estratégias de acordo com as questões

ambientais.

Apesar de originalmente possuir uma preocupação política, social e

ambiental, obviamente, o movimento ambientalista também se expressa em

diversas formas de pensamentos e correntes sociais, as quais foram

denominadas por Pádua (1997, p. 51 ) como :

• ambientalismo estético – aquele que provém da criação artística e da

preocupação em estabelecer uma relação com a natureza por meio da

valoração da arte e da cultura;

• ambientalismo – inserido nas ciências naturais ou sociais (visão

biocêntrica ou antropocêntrica) por meio da reflexão científica;

• ambientalismo ético – aquele que investiga a compreensão existente

entre sociedade humana e mundo não humano (fauna e flora).

Pádua (1997, p. 53) divide o ambientalismo em duas vertentes. A primeira

tem uma visão antropocêntrica, preocupa-se com um meio ambiente saudável

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para o ser humano e a segunda, conhecida como biocêntrica ou

preservacionista, busca atribuir direitos iguais ao ser humano, aos animais, às

plantas e à paisagem. O autor afirma que o ambientalismo brasileiro tem uma

grande tendência para o desenvolvimentismo e para o social. Tal constatação

revela-se verdadeira uma vez que retoma o ambientalismo de 1820 a 1920, no

qual o movimento era intelectual e visionário. Questões como o destino da

sociedade brasileira eram consideradas antropocêntricas, enquanto a questão

ética e o direito dos seres humanos eram o foco das preocupações.

Por este motivo, no Brasil uma boa parte da sociedade ainda acredita que a

destruição ambiental não é o preço do progresso e sim a herança do nosso

passado colonial. No início do século XIX, a natureza era encarada como um

empecilho ao desenvolvimento da sociedade e do mundo civilizado. Assim, era

necessário ultrapassar os limites da natureza para que o progresso urbano

pudesse ocorrer.

Em decorrência do acelerado e pouco racional processo de

desenvolvimento, por volta dos anos 1970 o mundo deparou-se com uma forte

crise ambiental causada pelos efeitos da poluição, do processo desordenado

de urbanização e da consciência da escassez dos recursos naturais. Por outro

lado, a década é lembrada por uma estagnação econômica mundial, onde o

movimento ambientalista brasileiro ganhou força com o crescimento da

consciência ambiental engajado por personalidades como Chico Mendes.

No período de 1990 ocorreu a divisão de práticas entre o conservacionismo

e o preservacionismo. Desse modo, pode-se dizer que a reforma econômica e

o processo de globalização marcaram a década até o início do século XXI. O

ambientalismo passa a ser inserido em um contexto multissetorial e

policêntrico, onde a responsabilidade sócioambiental e o uso sustentável dos

recursos naturais tornam-se componentes das práticas de atuação do setor

privado e da indústria do consumo.

No século XXI, o ambientalismo se depara com o desafio de conciliar uma

participação efetiva dos governos no tocante aos problemas sócioambientais e

na necessidade de ampliar o alvo de sua atuação por meio de parcerias

estratégicas que envolvam outros atores sociais. É nesse momento que o

turismo passa a ser aceito como alternativa de conservação ambiental no

cenário da economia mundial e nacional.

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2.1 O Desenvolvimento Sustentável e Suas Contradições

O processo de desenvolvimento econômico, fundamentado no avanço

técnico e científico e no acúmulo de bens e capitais, ao fazer uso

indiscriminado dos recursos naturais levou ao que Tavolaro (2001, p.122)

denominou hipoteticamente de “preocupação de perpetuação da espécie

humana no globo terrestre”, tendo em vista que cada vez mais esse suposto

desenvolvimento econômico e industrial caminha para a exaustão dos recursos

naturais e da capacidade regenerativa dos ecossistemas. Em meio a esse

cenário de tensão surge o conceito de desenvolvimento sustentável, que pode

ser entendido, basicamente, como aquele que busca uma harmonia entre o

desenvolvimento econômico e a conservação ambiental, fazendo uso

consciente dos recursos naturais e com baixos impactos sócio-ambientais, uma

vez que ambos não podem ser vistos isoladamente.

Conforme publicado no texto de Malheiros et al:

“a sociedade possui condições suficientes para se

desenvolver de forma sustentável, porém é necessário

garantir as necessidades das gerações contemporâneas

sem prejudicar as gerações futuras.” (Malheiros, 2008,

p.56)

Segundo Sachs (2004, p. 30), a sociedade está inserida em um contexto de

“mal desenvolvimento” e afirma que, por mais que se confunda, crescimento e

desenvolvimento não são sinônimos. O autor diz que:

“enquanto persistirem enormes disparidades sociais, o

crescimento permanecerá, com certeza, como uma

condição necessária, embora de modo algum suficiente,

do desenvolvimento, cujos aspectos distributivos e

qualitativos não podem ser negligenciados. É um erro

dizer que os exorbitantes custos sociais e ecológicos de

certas formas de crescimento econômico constituem os

danos inelutáveis do progresso.” (Sachs, 2004, p. 31-32)

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Sachs afirma ainda que “há necessidade de esclarecer que desenvolvimento

e crescimento econômico são coisas distintas”, tendo em vista que este

configura apenas uma condição necessária e não suficiente. Desse modo,

entende-se que crescimento foca somente o acúmulo de riquezas, enquanto

que o desenvolvimento envolve a melhoria da qualidade de vida da população

de modo geral.

2.2 Turismo X Sustentablidade

Desde o inicio da década de 1960, com o arrefecimento dos movimentos

sociais, entre eles o ambientalista, as questões sobre desenvolvimento e

globalização orientam como as pessoas devem realizar suas atividades, de

maneira que possam obter eficiência e lucro gastando o menor tempo

possível. Essa é a prerrogativa do sistema capitalista, cujos elementos que o

envolvem exigem constante planejamento e ingerência.

Deste modo, discussões sobre o futuro do nosso planeta passaram a fazer

parte dos gabinetes de governo não só aqui no Brasil, como no mundo afora.

Alguns critérios de conservação ambiental para determinadas certificações

foram agregados às empresas, os quais avaliam a qualidade e o

comprometimento da empresa nos cuidados com o meio ambiente.

Nesse contexto, todas as atividades e áreas do conhecimento envolvidas

com o conceito de sustentabilidade devem entender e apropriar-se de todas as

discussões decorrentes das melhores ações a serem postas em prática para

que se supere o discurso transformando-o em realidade para torná-lo prático e

viável tanto no setor empresarial, quanto no nosso dia-a-dia.

O turismo por ser “um elaborado e complexo processo de decisão sobre o

que visitar, onde, como e a que preço” (Beni, 2006, p.37), possui poder de

degradação dos recursos naturais, culturais, sociais e do patrimônio edificado,

principalmente quando o nível de atratividade é alto. Esse poder é intensificado

quando há uso ou planejamento inadequado para a implantação da atividade e

também quando há falta de interesse da parte gestora de gerenciar

corretamente os recursos da atividade e esta poderá facilmente esgotar-se ou

até mesmo deixar de existir.

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22

Devemos considerar que os princípios da sustentabilidade, quando

aplicados ao turismo, podem transformá-lo em uma atividade completamente

distinta da sua prática mais comum: o turismo de massa. No que tange a forma

de gerir o turismo, a sustentabilidade deve prevalecer como um ideal, com

propósitos de crescimento pessoal e comunitário, em prol do bem-estar

comum pela conservação do meio ambiente.

2.3 Planejamento e Gestão do Turismo e do Meio Ambiente

Uma característica comum dos recursos naturais é a escassez. Desta

escassez decorre o choque de interesses dos diversos setores da sociedade

acerca de como devemos utilizá-los. Como conseqüência, o planejamento

racional é essencial para assegurar que as melhores decisões sejam tomadas

com o intuito do atender aos interesses coletivos e não apenas de uma parte

da sociedade e/ou setor.

Dessa forma, o poder público é o ator principal na elaboração e execução

dos processos de planejamento e gestão da atividade turística e ambiental

através da legislação e regulamentação das atividades, da criação das

diretrizes e bases governamentais, bem como das políticas públicas e demais

instrumentos de gestão.

O histórico das políticas públicas para o turismo e o meio ambiente no Brasil

começou no final da década de 1960, como já foi mencionado anteriormente, e

não teve qualquer participação da sociedade civil ou da iniciativa privada.

A pouca influência das políticas públicas tanto para a área do turismo, como

para a do meio ambiente, conduz à referida participação das ONGs

(Organizações Não Governamentais) em ambos os setores, que passam a ter

importância crucial no desenvolvimento, integração, princípios e

recomendações realmente sustentáveis.

Por outro lado, há um claro protagonismo do setor empresarial para conduzir

o desenvolvimento sustentável. Esse aspecto econômico predomina e a

natureza quase sempre é vista como um recurso, uma mercadoria de

articulação para acelerar a economia sob um ponto de vista meramente

capitalista.

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23

2.3.1 Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)

A PNMA foi instituída através da Lei 6.938/1981. Logo, consiste no primeiro

diploma legal do direito positivo brasileiro que disciplina de forma sistematizada

o meio ambiente e as atividades que o envolvem, definindo: meio ambiente,

degradação da qualidade ambiental, poluição, poluidor, usuário-pagador e

recursos ambientais. Cria também o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio

Ambiente), o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Mais tarde, o

IBAMA (Instituto Nacional do Meio Ambiente), o Instituto Chico Mendes e

outros órgãos públicos administrativos nas esferas estadual e municipal como

instrumentos legais.

2.3.2 Instrumentos da PNMA (Política Nacional do Meio Ambiente)

A Lei 6.938/1981, com suas modificações subseqüentes, atribui em seu art.

9º, treze instrumentos da PNMA. Alguns destes instrumentos já se

encontravam ou se encontram razoavelmente regulados no direito positivo,

enquanto outros ainda aguardam por um melhor disciplinamento legal. Como

exemplo de instrumentos da PNMA podemos citar:

• os padrões de qualidade ambiental (da água, do ar, etc);

• o EIA ou EPIA/RIMA (estudo de impactos ambientais/relatório de

impactos no meio ambiente;

• o licenciamento ambiental;

• o zoneamento ambiental;

• a auditoria ambiental;

• a criação de espaços territoriais especialmente protegidos;

• o Plano de Manejo

No caso do turismo, os debates socioambientais das últimas décadas têm

gerado um aumento do número de áreas naturais protegidas. No Brasil, desde

a criação do Parque Nacional de Itatiaia, em 1937, o número de Unidades de

Conservação (UCs) cresceu significativamente.

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Em 18 de julho de 2000, foi a provada a Lei. 9.985, conhecida como “Lei de

SNUC” (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), a qual visa ordenar a

criação e a gestão das áreas protegidas. Esse documento sugere que, no seu

conjunto, as UCs possam redundar em um futuro promissor para a atividade

turística. No entanto, para que se obtenha resultados positivos é fundamental

que haja um intenso trabalho de planejamento e participação da sociedade

junto ao poder público e privado para que as melhores estratégias de gestão

possam ser colocadas em prática.

Cabe ressaltar que os planos de manejo devem ser elaborados para cada

uma das UCs individualmente, pois as mesmas diferem tanto em aspectos

físicos, quanto em suas categorias e formas de uso. Para cada um desses

grupos existe um artigo distinto na Lei 9.985, que aponta para as diferentes

formas de planejamento.

2.3.3 Políticas Públicas para o Turismo

Dentre os principais problemas que afetam a máquina administrativa do

turismo podemos citar:

• fraca articulação com outras políticas setoriais;

• centralização de poderes (planejamento e gestão);

• ausência de definição clara dos objetivos, metas e prioridades a serem

alcançadas;

• ausência de ordenamento urbanístico;

• capacitação inadequada dos profissionais que atuam na área

Para Beni :

“o setor de turismo nunca esteve entre as prioridades das

políticas públicas em quaisquer dos níveis de governo. E

o que é mais lamentável: frequentemente, o órgão público

de turismo tem servido de moeda de troca nas

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composições políticas da base de apoio do Legislativo ao

Executivo.” (Beni, 2006, p.87)

A) Década de 1970

As primeiras estruturas institucionais públicas para o turismo foram criadas

no ano de 1966. A antiga Empresa Brasileira de Turismo, atual Instituto

Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), e o Conselho Nacional de Turismo

(CNTur), a partir dos quais foi possível definir a primeira política nacional para o

setor, embora, anteriormente, alguns documentos sobre a atividade já tivessem

sido proclamados, vinculados ao Ministério da Atividade e Comércio, o qual

considerava o turismo como parte integrante do sistema produtivo.

Coube à Embratur o gerenciamento de recursos e benefícios provenientes

de incentivos fiscais e financeiros reservados ao setor, até que se criaram

fundos destinados exclusivamente para o financiamento de projetos turísticos

que se enquadrassem em programas de desenvolvimento.

A possibilidade de financiamentos facilitados atraiu empreendedores

nacionais e estrangeiros na edificação de hotéis de luxo, o que confirma o

equívoco no direcionamento e posicionamento do mercado, bem como a

ausência de estudos de localização e de viabilidade socioeconômica.

Esse período também foi marcado pelo incentivo ao turismo interno. Assim,

estradas foram criadas e houve um grande estímulo ao turismo de sol e praia.

O setor imobiliário foi o principal favorecido em função dos planos isolados e

desarticulados propostos pelo próprio governo.

B) Década de 1980

A partir da década de 1980 o turismo sustentável, ou pelo menos um esboço

do que ele seria, começou a ser pensado, iniciando as primeiras articulações

do setor de turismo com as políticas nacionais do meio ambiente.

Acreditou-se que o estabelecimento de um colegiado do setor seria o modo

ideal de administrar a política de turismo no país, embora a iniciativa privada e

a sociedade civil continuassem a não participar deste processo.

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C) Década de 1990

A década de 1990 foi marcada por mudanças fundamentais no que diz

respeito à questão da participação da sociedade civil e da iniciativa privada nas

decisões governamentais.

Como exemplos concretos de políticas públicas dessa década, aponta-se a

criação do Plano Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), modelo

recomendado pela OMT, que tem como principal objetivo aprimorar o turismo

regional. Porém, mais uma vez tais políticas foram avaliadas como

equivocadas do ponto de vista do seu planejamento e execução, uma vez que

não foi realizado um relatório do inventário turístico nacional precedente à

execução do projeto. Além disso, não se atentou às peculiaridades e vocações

de cada município individualmente.

Uma parceria entre a Embratur e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis culminou na formulação do programa

Parques do Brasil, cuja intenção era a de compor um estudo sobre o uso

público do potencial ecoturístico em unidades de conservação.

D) Início do Século XXI

O setor de turismo passou a contar com uma instituição própria, o Ministério

do Turismo (MTur), criado em 2003. Ganhou também uma estrutura específica,

composta pela Secretaria Nacional de Políticas para o Turismo, a Secretaria

Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, entre outros órgãos

menores.

Beni (2006, p. 31) destaca que “o panorama do setor para o início do século

XXI é favorável”, tendo em vista sua estrutura nacional bem formulada e apta a

planejar o espaço turístico nacional com diretrizes norteadoras, embora

também aponte que a transparência na exposição dos objetivos é

extremamente necessária. Além disso, tendo em vista a debilidade e

inabilidade das instituições gestoras do turismo e a constante falta de recursos

humanos especializados, fica clara a dificuldade de interpretar, empregar e dar

continuidade às questionáveis políticas municipais e estaduais envolvidas com

a atividade turística.

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Por fim, o autor chama a atenção para a prática contestável de roteirização

regionalizada, que toma o lugar da regionalização sustentável. A primeira,

naturalmente, não é capaz de solidificar o turismo como recurso sustentável

por suas práticas predatórias e pela ausência de planos diretores municipais e

estaduais que a determine. Para Beni:

“cenários da produção, identificação e integração dos

atores sociais e agentes institucionais, gestão

compartilhada e participação mútua em custos e tomada

de decisões compreendem corretamente os impactos

turísticos e a distribuição justa de custos e benéficos [...];

que contemplem devidamente a estimulação de negócios

e, finalmente, abranjam a coesão social e política, cultura

associativa e a rede de empresas com vantagens

comparativas e compensativas.” (Beni, 2006, p.33)

O desenvolvimento sustentável do turismo no Brasil está sendo alcançado

timidamente e ainda está longe de contemplar as demandas do

desenvolvimento sustentável com as ofertas da natureza.

Da união dos órgãos IBAMA (Instituto Nacional do Meio Ambiente) e

Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) surgiram: a Agenda Ambiental para o

Turismo, o Plano de Ação Conjunta e a mudança de subordinação do

Proecotur do Ministério do Meio Ambiente para o Ministério do Turismo, em

2004. Neste mesmo ano também foi estabelecido o Programa de

Regionalização do Turismo, o qual enfatiza o macro desenvolvimento da

atividade com a diversificação da oferta turística tendo um enfoque maior para

os pólos de ecoturismo regional.

Em 2008, o Ministério do Turismo implementa uma nova Política Nacional de

Turismo, disposta na Lei. 11.771, de 17 de setembro desse mesmo ano. Essa

lei define as atribuições do Governo Federal no planejamento, desenvolvimento

e estímulo ao setor turístico, classificando e fiscalizando os prestadores de

serviços turísticos que cometem infrações sob a forma de penalidade. A lei

também revoga a Lei 6.505/1977 e os dispositivos da Lei 8.181/1991.

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2.3.4 Gestão Participativa

A participação do governo, da sociedade civil e da iniciativa privada é um

caminho e um pressuposto para a busca da qualidade de vida e constitui a

prática dos princípios de sustentabilidade e educação ambiental propagados e

perseguidos pelos atores sociais e políticos interessados na conservação do

meio ambiente, incluindo as organizações não governamentais (ONGs).

Processos participativos mal conduzidos podem acarretar problemas graves e

impulsionar novos conflitos, ameaçando todo e qualquer processo de

emancipação já conquistado pela comunidade.

Para Vianna, envolvimento/participação sustentável é:

“o conjunto de políticas e ações direcionadas para

fortalecer o envolvimento da sociedade com os

ecossistemas locais, fortalecendo e expandindo os seus

laços sociais, econômicos, culturais, espirituais e

ecológicos, com o objetivo de buscar a sustentabilidade

em todas as suas dimensões.” (Vianna, 200, p.25)

Dentro dessa concepção, mais do que implantar UCs, as políticas públicas

deveriam preocupar-se com o estabelecimento de novos modelos de gestão

das áreas de interesse turístico e ambiental.

O desenvolvimento sustentável seria formado pelas ações voltadas para a

transformação da realidade, fortalecendo o envolvimento das relações

humanas com os ecossistemas locais, sem desrespeitar o direito à propriedade

e ao manejo dos recursos naturais.

O grande desafio seria substituir a gestão não-participativa dos atores

envolvidos no processo e incorporar a diversidade de práticas e discursos, de

modo a buscar um manejo participativo que contribua a longo prazo para a

conservação não só da biodiversidade, como também da sociodiversidade,

garantindo a equidade social e estabelecendo uma relação de conhecimento

da comunidade com as UCs e seu entorno. Este é um dos maiores desafios da

prática do desenvolvimento sustentável e da gestão integrada do meio

ambiente com a prática do turismo.

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CAPÍTULO 3

3. Turismo e Meio Ambiente no Contexto da Responsabilidade Social:

Marketing Responsável e Certificação

A sustentabilidade pode ser considerada o objetivo maior da preservação

ambiental, pois consiste na possível conciliação entre o desenvolvimento e a

melhoria da qualidade de vida.

Embora a sustentabilidade possua diversas interpretações, a maioria dos

especialistas concorda que esse conceito deve compreender equidade social,

prosperidade econômica e integridade ambiental.

A Agenda 21 é um extenso documento, de conteúdo programático, que tem

como objetivo preparar o mundo para os desafios do século XXI. Esse

documento foi apresentado oficialmente na Eco- 92 e apresenta um plano de

ação a ser executado global, nacional e localmente por organizações do

sistema das Nações Unidas, governos e grandes corporações em cada área

onde haja impactos humanos no meio ambiente.

Dessa forma, a OMT cria o Código Mundial de Ética do Turismo, em 1999, o

qual é composto por dez artigos que retratam os princípios éticos que devem

ser seguidos pelos profissionais que atuam na indústria do turismo em nível

mundial (vide anexo I).

Nota-se a preocupação da Organização Mundial do Turismo acerca dos

princípios éticos envolvidos na relação da atividade turística, abrangendo

desde as comunidades de destino até os empregados e empresários do setor,

bem como o próprio turista. Vale lembrar que este documento desmembra

cada um dos princípios atingindo um nível de detalhamento compatível as

atividades que devem ser realizadas para o atendimento pleno do princípio

ético previamente estabelecido.

A certificação é outro instrumento de gestão que tem ajudado muito na

busca pelo desenvolvimento sustentável e o turismo, por ser uma atividade

potencialmente econômica e impactante, está inserido no contexto das ISO

(International Organization for Standardization) e das NBR (Norma Brasileira

Regulamentadora).

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3.1 Marketing Responsável

Um plano de marketing responsável vai além da divulgação de produtos

e serviços. É um conjunto de estudos com a finalidade de colocar o produto

certo no melhor local, caminhando além da simples negociação entre

produtores e distribuidores. Por isso, o marketing é fundamental para alcançar

os objetivos organizacionais, já que identifica as necessidades e desejos do

consumidor, proporciona eficiência e eficácia na satisfação de seus clientes e

dá um passo à frente em relação aos concorrentes.

Na sociedade contemporânea houve uma mudança no consumo de bens e

serviços. Os consumidores dos produtos turísticos estão cada vez mais

exigentes quanto aos empreendimentos e isto faz com que o governo e as

empresas assumam uma postura correta em relação ao meio ambiente,

posicionando seus produtos de modo que possam assumir posturas legalmente

corretas e responsáveis.

Ser responsável não envolve apenas o próprio empreendimento, mas todos

os agentes que atuam no processo. Deve-se evitar a falsa propaganda e

interligar todos os participantes do trade para que o empreendimento não se

torne apenas mais um a usar a sustentabilidade como atrativo econômico.

Portanto, podemos afirmar que os principais motivos para adotarmos o

marketing responsável são:

• modificar comportamentos prejudiciais ao meio ambiente;

• contribuir para a formação de valores na sociedade;

• estimular ações que beneficiam o meio ambiente e informar sobre

ações sociais e desenvolvimento sustentável

• conquistar uma nova parcela de consumidores que sejam fiéis aos

objetivos citados acima

Um novo posicionamento de um produto no mercado pode garantir o seu

diferencial, reduzir custos pela diminuição dos impactos ambientais e melhorar

a qualidade do produto.

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3.1.1 Marketing Verde

Uma das ferramentas utilizadas no marketing responsável é o marketing

verde, que supre a necessidade de informar aos consumidores, clientes,

fornecedores e funcionários sobre as práticas e políticas adotadas em relação

ao meio ambiente e ao meio social. O principal objetivo da comunicação verde

é mostrar um artigo ecologicamente correto, bem como ações em prol do meio

ambiente, sensibilizando o consumidor para que ele também participe desse

processo, mostrando que a responsabilidade é de todos.

Ter um bom produto turístico é o primeiro e mais importante passo para

atender às expectativas dos consumidores. Segundo Sancho:

“a estruturação do produto turístico é complexa, uma

vez que se caracteriza por englobar elementos intangíveis

e tangíveis - bens e serviços -, além de estar baseado na

interação entre o provedor do serviço e o consumidor do

mesmo.” (Sancho, 2003, p.42)

O produto turístico, por causa de suas singularidades, deve adequar sua

política de preços e prestação de serviços. A praça é a união de todos os

agentes envolvidos na disponibilização do produto para o mercado-alvo, de

forma que este esteja acessível quando o cliente precisar.

O produto ecoturismo não possui um diferencial no que se refere à praça. O

mais importante é lembrar dos elos que os participantes do trade turístico têm

uns com os outros, escolhendo canais de distribuição atrelados às questões

ecológicas para garantir a confiabilidade no produto.

Portanto, podemos concluir que é fundamental para o sucesso do

empreendimento a análise dos elementos de marketing, de maneira a garantir

a autenticidade do produto, seu posicionamento correto no mercado e seu

preço justo, garantindo a sustentabilidade do projeto, a transparência com o

mercado, com o consumidor e a responsabilidade social, cabendo ao governo

garantir à população uma infra-estrutura básica (saneamento, condições de

transporte, limpeza, etc) para que a atividade aconteça.

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3.2 Certificação

Os Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) visam a redução dos impactos

negativos das atividades humanas no meio ambiente. Para que se atinja esse

objetivo, os processos de certificação estão tendo uma importância cada vez

maior nas organizações.

As certificações ganharam força na década de 1990. Configuram-se pela

criação e aplicação de ações que têm como meta o aperfeiçoamento dos

negócios, os quais são representados em forma de um selo, que nada mais é

do que um logotipo de marketing.

No setor ecoturístico, as empresas passíveis de certificação podem ser:

• meios de hospedagem;

• operadores;

• agências de viagens;

• parques naturais;

• restaurantes e afins

Para iniciar um processo de certificação é necessário o levantamento e

diagnóstico (inventário) de tudo o que é necessário ser feito para que se

obtenha o selo desejado. O segundo passo consiste em traçar meios de se

atingir os objetivos e metas recomendados pelo órgão certificador. Por parte da

empresa a ser certificada, deve haver comprometimento e cumprimento dos

prazos.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) representa o Brasil no

grupo das organizações de certificação internacionais, porém nem todas as

certificações no Brasil são vinculadas aos sistemas da ISO. Boa parte delas

possui métodos próprios e diversas maneiras para a construção de SGA.

Como exemplo nacional, há o “Programa Aventura Segura”, implantado

inicialmente em quinze destinos, que exige que sejam estabelecidas normas

para a qualificação profissional no setor, a assistência técnica, o SGS (Sistema

de Gestão de Segurança) e o apoio na parte técnica no que tange aos

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equipamentos utilizados. A adesão a esta certificação se dá de forma

voluntária.

A ISO emitiu a norma ISO 14001, específica para o SGA, apontando os

requisitos para implantação, manutenção, auditoria e melhoria. A ABNT adotou

essa norma como brasileira, dando–lhe o nome de NBR ISO 14001. Somente

empresas que adotam uma série de procedimentos para evitar danos ao meio

ambiente obtêm esse certificado.

O Instituto de Hospitalidade (IH), em estreita colaboração com o Conselho

Brasileiro de Turismo Sustentável (CBTS), coordenou o desenvolvimento de

normas no âmbito do Programa de Certificação em Turismo Sustentável

(PCTS). Em primeiro lugar, é necessário planejar e estabelecer metas para tal

empreendimento. Após o planejamento, composto pelas seguintes etapas:

• análise;

• diagnóstico;

• prognóstico;

• elaboração do plano;

• execução do plano;

• reavaliação

vem a fase da implementação. Só depois da realização de ações para

melhoria, ciclo denominado de PDCA (Plan, Do, Check, Action) é que se pode

obter o certificado.

PDCA

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3.2.1 Vantagens e Desvantagens da Certificação.

No caso do ecoturismo, a qualidade do serviço não depende apenas de

selos, padronização e serviços bem prestados. Depende também das

condições climáticas e outros fatores, o que pode comprometer toda a cadeia

produtiva. Segundo Salvati:

“no caso da certificação do turismo, o estabelecimento

de padrões a serem seguidos pode diminuir a chance de

os produtos de autenticidade diferenciada e que ofereçam

conceitos inovadores de qualidade de serviço, se

desenvolvam e se mantenham no mercado.” (Salvati,

2004, p. 88)

Nesse sentido, eis a análise de algumas vantagens e desvantagens de um

SGA no turismo:

A) Vantagens

• aperfeiçoamento dos processos tecnológicos das empresas e

diminuição do consumo de energia, de matérias-primas e recursos

naturais;

• minimização do impacto ambiental das atividades da empresa e

melhoria da imagem perante a opinião pública;

• acesso a determinados mercados e concursos em que a certificação

ambiental é obrigatória;

• melhoria da posição competitiva em face dos concorrentes não

certificados;

• melhoria da organização interna e aumento da motivação e

envolvimentos dos colaboradores internos;

• redução de riscos e redução de auditorias por parte de outras

entidades;

• Incentivo a melhoria contínua.

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B) Desvantagens

• dificuldades no cumprimento dos requisitos legais (base de qualquer

SGA) e de sensibilização/formação interna para a necessidade de

alterar hábitos (desde a gestão de topo até às bases da organização);

• questões avaliadas que não dependem das próprias empresas

(formalização e celeridade dos licenciamentos);

• descumprimento das bases legais quando houver mudança(s) na

legislação vigente.

As vantagens sobrepõem às desvantagens e, como pudemos observar ao

longo deste trabalho, a gestão ambiental e a gestão do turismo sempre estarão

intrinsecamente ligadas.

Para que se possa promover a conservação ambiental e a sustentabilidade

ampla é necessário que a comunidade também participe do processo de

certificação, com influência das políticas públicas e privadas que apóiem a

criação de instrumentos de regulamentação e certificação do turismo

responsável.

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CONCLUSÃO

Não cabe somente a uma pessoa ou instituição, seja esta governamental ou

privada, a responsabilidade de despertar para uma nova visão que inclua os

ambientes naturais junto aos demais ambientes. Toda a nação é responsável,

pois todos nós dependemos dos recursos naturais para garantir a nossa

sobrevivência e até mesmo a permanência da nossa espécie.

É necessário um planejamento contínuo e detalhado, com regras muito bem

definidas, conhecimento total sobre os impactos, participação da população e

acompanhamento dos processos de execução, onde toda a verba gerada com

a atividade possa ser revertida para o bem-estar social.

No entanto, estamos à mercê de uma mudança voluntária de valores e

pensamentos, pois sem essas atitudes espontâneas, por mais que sejam

garantidas por lei, não seria possível transformar nada. Se os valores que

construímos agora não forem passados para as próximas gerações o discurso

pode esvaziar e se transformar em uma utopia, sem nenhum propósito e/ou

comprometimento com o que estamos fazendo aqui e agora.

A proposta central é começar com pequenos gestos, praticar valores como a

simplicidade, a solidariedade, o respeito à diferença, o olhar crítico sobre o

consumo de bens em excesso, a preservação de ambientes naturais, de

pessoas, além de considerar a necessidade de ações concretas rumo aos

objetivos que desejamos alcançar.

O patrimônio turístico está incluído na noção de patrimônio cultural. O

recente escândalo que ocorre no MTur, com denúncias de corrupção e

lavagem de dinheiro, é uma demonstração clara de que o patrimônio público

não pode ser lesado e, para tanto, é imprescindível que a participação civil

esteja presente e que a população tenha conhecimento do seu histórico

cultural para que, dessa forma, possa escolher melhor seus representantes do

poder público evitando que práticas ilegais e corruptas se tornem constantes.

Retomar a dimensão ética no contexto da sustentabilidade socioambiental é

uma necessidade urgente para que possamos fazer valer o conceito e as

práticas do verdadeiro turismo sustentável e assim possamos usufruir de uma

atividade econômica menos impactante para o meio ambiente e mais justa

para a sociedade.

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ANEXO I

CÓDIGO MUNDIAL DE ÉTICA DO TURISMO – OMT

INTERESSADO

(membro do ambiente interno ou externo)

COM O QUE O

INTERESSADO

CONTRIBUI

O QUE O INTERESSADO

ESPERA DA EMPRESA

PRINCÍPIO DO

CÓDIGO MUNDIAL

DE ÉTICA DO

TURISMO-OMT

Acionista da

Empresa

• Capital • lucro

• preservação de

patrimônio

Artigo 2o

Artigo 3o Artigo 5o Artigo 6o Artigo 10o

Empregados • Mão-de-Obra

• Criatividade

• Idéias

• Salário justo

• Segurança

• Estabilidade

• Realização pessoal

• Condições de

trabalho

Artigo 2o

Artigo 9o Artigo 10o

Fornecedores • Bens e serviços • Respeito aos

contratos

• Negociação Leal

• Estabilidade

Artigo 1o

Artigo 2o Artigo 6o Artigo 9o Artigo 10o

Clientes • dinheiro • Segurança

• Qualidade

• Preço Acessível

• Propaganda honesta

Artigo 6o

Artigo 7o Artigo 8o Artigo 10o

Concorrentes • Competição

• Referencial de

mercado

• Lealdade na

Concorrência

Artigo 1o

Artigo 2o Artigo 6o Artigo 9o

Artigo 10o.. Governo • Suporte

Institucional,

jurídico e político

• Obediência as lei

• Pagamento de

tributos

Artigo 1o Artigo 2o Artigo 3o Artigo 4o

Artigo 5o Artigo 6o Artigo 10o

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ONGS • Aportes Sócio-

culturais diversos

• Respeito às

minorias e questões

ambientais

• Espaço para

comunicação

Artigo 1o Artigo 2o Artigo 3o Artigo 4o

Artigo 5o Artigo 6o Artigo 10o

Comunidade • Infra-estrutura

• Clientes

• Respeito ao

interesse

comunitário;

• Contribuição à

melhoria da

qualidade de vida

na comunidade;

• Conservação dos

recursos naturais

(direto ou indireto)

Artigo 1o ao 10o

Bancos • Suporte Financeiro • Desenvolvimento

Econômico;

• Aplicações

Financeiras;

• Honrar

Compromissos

Artigo 2o Artigo 3o Artigo 5o Artigo 6o Artigo 10o

Meio de

Comunicação

• Veiculação de

notícias, imagens,

fatos.

• Espaços

publicitários;

• Material

informativo

Artigo 1o Artigo 5o

ao Artigo 10o

Universidades • Desenvolvimento

de tecnologia e

qualificação de

mão de obra

• Investimento e

apoio financeiro;

• Integração

mercado-academia

Artigo 1o ao 10o

Entidades de Classe • Respaldo cada

uma das categorias

do trade turístico

• Respeitosamente,

Espaço para

comunicação;

• Busca pela

integração das

categorias

Artigo 1o ao 10o

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ANEXO II

LOGOTIPO DO PRODUTO TURÍSTICO BRASILEIRO

MINISTÉRIO DO TURISMO

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ANEXO III

MODELO DE GESTÃO PARTICIPATIVA

GOVERNO

Sociedade Civil Setor PrivadoGestores

ATORES

• Poder público

• Gestores

• Empresa(s)

• Infraestrutura de apoio

• Comunidade anfitriã

• Atrativos em potencial

• Visitantes

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41

BIBLIOGRAFIA CITADA

BENI, M.C., Política e planejamento de turismo no Brasil. São Paulo: Aleph,

2006 (Série Turismo).

CRUZ, R.C.A., Introdução à geografia do turismo, 2.ed. São Paulo: Roca,

2003.

LUCHIARI, M.T.D.P. Urbanização turística: um novo nexo entre o lugar e o

mundo. In: LIMA, L.C (Org). Da cidade ao campo: a diversidade do saber-fazer

turístico. Fortaleza: UECE, 1999.

MALHEIROS, T.F.; PHILIPPI Jr., A.; COUTINHO, S.M.V., Agenda 21 nacional

e indicadores de desenvolvimento sustentável: contexto brasileiro. Saúde e

Sociedade, São Paulo, v.17, mar-abril, p. 7-32, 2008.

[OMT] Organização Mundial do Turismo. Introdução ao turismo. Trad. Dolores

Martin Rodriguez Córner. São Paulo: Roca, 2001.

PÁDUA, J.A. Natureza e projeto nacional: nascimento do ambientalismo

brasileiro (1820-1920). In: ISA. Ambientalismo no Brasil: passado, presente e

futuro. São Paulo: SMA/ISA, 1997.

SACHS, I., Desenvolvimento sustentável: desafio do século XXI. Ambiente &

Sociedade, Campinas, v.7, n.2, dez.2004.

SALVATI, S.S. (Org). Turismo responsável: manual para políticas locais.

Brasília: WWF-Brasil, 2004.

SANCHO, A. Introdução ao turismo. São Paulo: Aleph, 2003.

TAVOLARO, S.B.F., Movimento ambientalista: do perigo do futuro ao risco da

decisão. In: TAVOLARO, S.B.F. Movimento ambientalista e modernidade:

sociabilidade, risco e moral. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2001, p.122-128.

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42

VIANNA, V.M. Envolvimento sustentável e conservação das florestas

brasileiras. In: DIEGUES, A.C. e VIANNA, V.M. (orgs.) comunidades

tradicionais e manejo dos recursos naturais da Mata Atlântica. São Paulo:

Nupaub-USP e Esalq-USP, 2000, p.23-26.

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43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BELTRÃO, A. F.G., Curso de direito ambiental. São Paulo: Método, 2008.

NEIMAN, Z., MENDONÇA, R. Ecoturismo no Brasil, São Paulo: Manole, 2009.

PINTO, A.C.B., Turismo e meio ambiente: aspectos jurídicos, 6.ed. São Paulo:

Papirus, 2006.

SWARBROOKE, J., O Setor Público. In: Turismo sustentável: meio ambiente e

economia. Vol. 2 . Trad. Esther Eva Horovitz. São Paulo: Aleph, 2000, p.3-27.

www.turismo.gov.br, programas e ações, Brasília – Ministério do Turismo –

2011, acesso em 30/07/2011.

www.turisrio.rj.gov.br, portal, Rio de Janeiro – Companhia de Turismo do Rio

de Janeiro -2011, acesso em 04/08/2011.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO 1 – Turismo Sustentável e Sua Relação com o Meio Ambiente 10

1.1 – O Conceito de Sustentabilidade 11

1.2 – Turismo: Definição 12

1.2.1 – O Turismo de Massa 12

1.2.2 – Turismo Alternativo – O Que Significa? 13

1.2.3 – Turismo Sustentável ou Ecoturismo 14

CAPÍTULO 2 – Ambientalismo, Turismo e a Premissa do Desenvolvimento

Sustentável 18

2.1 – O Desenvolvimento Sustentável e Suas Contradições 20

2.2 – Turismo X Sustentabilidade 21

2.3 – Planejamento e Gestão: Turismo e Meio Ambiente 22

2.3.1 – Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) 23

2.3.2 – Instrumentos da PNMA 23

2.3.3 – Políticas Públicas para o Turismo 24

2.3.4 – Gestão Participativa 28

CAPÍTULO 3 – Turismo e Meio Ambiente no Contexto da Responsabilidade

Social – Marketing Responsável e Certificação 29

3.1 – Marketing Responsável 30

3.1.1 – Marketing Verde 31

3.2 – Certificação 32

3.2.1 – Vantagens e Desvantagens da Certificação 34

CONCLUSÃO 36

ANEXO I 37

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ANEXO II 39

ANEXO III 40

BIBLIOGRAFIA CITADA 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 44

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FOLHA DE AVALIAÇÃO