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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE BUSCANDO CAMINHOS PARA MINIMIZAR O BULLYING ESCOLAR Por: Monique Ferreira d’ Oliveira Mendes Orientador Profª Flávia Cavalcanti Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

BUSCANDO CAMINHOS PARA MINIMIZAR O BULLYING ESCOLAR

Por: Monique Ferreira d’ Oliveira Mendes

Orientador

Profª Flávia Cavalcanti

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

BUSCANDO CAMINHOS PARA MINIMIZAR O BULLYING ESCOLAR

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Administração e Supervisão Escolar.

Por: Monique Ferreira d’ Oliveira Mendes

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AGRADECIMENTOS

À minha família e ao meu namorado Renato pelo

incentivo e força, à minha amiga Jaqueline por

ter incentivado o meu crescimento profissional e

à minha companheira de trabalho Beth por toda

a ajuda durante a minha pós.

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DEDICATÓRIA

À minha família e ao Renato.

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RESUMO

O bullying é um problema presente em todas as escolas, causa dor

angústia, medo e sofrimento aos alunos vitimizados e pode ter graves

consequencias em suas vidas, provocando enormes traumas, marcando-os

prejudicialmente no seu lado psicológico, emocional e sócio-educacional.

Muitos procuram ajuda dos seus professores, porém poucos possuem

consciência que este problema existe e mesmo aqueles que o conhecem, na

maioria das vezes, não sabe como lidar com ele. Diante desta realidade

enfocamos neste trabalho monográfico a importância do supervisor escolar

estimular a formação continuada dos seus professores. Visando uma prática

pedagógica mais humanizante, que escute, dialogue e que possa transformar

esta realidade escolar, vivenciada pelos alunos..

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METODOLOGIA

Este trabalho foi pensado visando uma modificação da prática

pedagógica, pois como ex-aluna do Município do Rio de Janeiro e vitima de

bullying percebi o quanto pode ser difícil para o aluno procurar o apoio em seu

professor, que deveria resguardar os seus direitos fundamentais citados na:

Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Constituição Federal, na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação e no Estatuto da Criança e do Adolescente, e

não encontrá-lo. Hoje formada, como professora, ainda continuo percebendo

esta dificuldade dos profissionais da educação em prevenir o bullying em suas

escolas. Buscando melhor compreensão sobre o tema recorri a autores que

trabalham a temática do bullying, o seu conceito, histórico, causas e

conseqüências e importância da formação continuada, da reflexão da prática

docente e a humanização dos profissionais da educação. O trabalho é

apresentado em três capítulos.

No primeiro capítulo, Fante (2005) contribui com informações sobre o

conceito e o histórico do bullying, para o classificação dos agressores e vítimas

do bullying e suas conseqüências; Chalita (2007) integra autores, vítimas e

expectadores em um único grupo, o de vítimas da violência; Cury (2003)

esclarece que o comportamento agressivo tem suas experiências registradas

na memória. Fante e Pedra (2008) apontam o despreparo dos educadores

frente ao bullying.

No segundo capítulo, Ronca e Gonçalves (1988, p.31) apontam que

compete ao supervisor criar condições para que os educadores possam refletir

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sua prática contribuir para a melhoria da escola; Saviani (2008), Imbernón

(2010), Silva (2002), defendem a importância da formação continuada no

cotidiano escolar; Nóvoa (1997) e Freire (1996) destacam a importância de

refletir a prática docente; Cury (2003) esclarece a importância de uma prática

pedagógica humanizante.

O terceiro capítulo apresenta um plano de ação que defende a

importância de se estimular a formação continuada para contribuir na redução

do bullying escolar e criando uma cultura de prevenção dentro do ambiente

escolar.

A pesquisa foi realizada por meio bibliográfico proveniente de livros,

revistas e artigos científicos, tendo como principais contribuições os autores:

Fante (2005), Cury (2003), Chalita (2008), Imbernón (2010), Martins e Pimentel

(2009), Nóvoa (1997) e Freire (1996) o que possibilitou uma reflexão sobre o

assunto e ampliando a minha compreensão.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................9

CAPÍTULO I - BULLYING.................................................................................11

CAPÍTULO II – FORMAÇÃO CONTINUADA....................................................29

CAPÍTULO III – PREVENÇÃO DO FENÔMENO BULLYING ATRAVÉS DA FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR...............................................36

CONCLUSÃO....................................................................................................41

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................44

ANEXO I............................................................................................................49

ANEXO II...........................................................................................................52

ÍNDICE...............................................................................................................55

FOLHA DE AVALIAÇÃO....................................................................................57

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INTRODUÇÃO

Este trabalho monográfico tem com justificativa produzir uma pesquisa

que mostre a importância da formação continuada para minimizar ou mesmo

solucionar o problema do bullying nas escolas, já que no Brasil o tema ainda é

pouco estudado e trabalhado.

O bullying é um problema antigo, presente em todas as escolas, porém,

poucas possuem consciência que este problema existe e mesmo aquelas que

o possuem não sabem lidar com ele. Em muitos casos o bullying é confundido

com brincadeiras próprias da idade ou indisciplina, mas precisamos ficar

atentos, pois o bullying pode ter graves consequências na vida desses alunos,

provocando enormes traumas, marcando-os prejudicialmente no seu lado

psicológico, emocional e sócio-educacional, além de segundo Fante (2005)

levar a trágicos assassinatos e suicídios nas escolas.

Pensando em mudar esta realidade escolar temos como objetivo geral

promover uma reflexão sobre o papel fundamental da formação continuada

como auxílio no combate e prevenção do fenômeno bullying.

A formação continuada contribui para a atualização e o embasamento

teórico dos docentes o que favorece o melhor desempenho dos professores.

“Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz

educador, a gente se forma, como educador permanente, na prática e na

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reflexão da prática.” (FREIRE, 1991 P. 58) O supervisor escolar consciente

sabe que a formação do professor não deve terminar na Universidade, ela deve

ser permanente, constante, sempre em busca de novos caminhos, idéias e

estratégias que contribuam para o dia-a-dia dos professores em sala de aula.

Os objetivos específicos deste trabalho são: elucidar a importância do

supervisor escolar estimular a formação continuada dos professores e criar

estratégias de combate e prevenção do fenômeno bullying.

O primeiro capítulo aborda: o que é o bullying, suas causas e

conseqüências para a vida dos estudantes vitimizados e a dificuldade dos

professores em lidar com esta questão na escola.

O segundo capítulo traz a importância da formação continuada e o papel

do supervisor no estímulo destes profissionais, fornecendo subsídios para que

os mesmos possam trabalhar este problema em sala de aula.

Por fim, o terceiro capítulo irá apresentar um plano de ação com

propostas de trabalho que contribuam para o enfrentamento do bullying dentro

do ambiente escolar através da formação continuada do professor.

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CAPÍTULO I

BULLYING

1.1 – Conceito de bullying

O termo bullying “vem do adjetivo bully, que, em inglês significa

valentão.” (CHALITA, 2008, p. 27) e define um conjunto de comportamentos

agressivos e intimidantes que ocorrem principalmente entre estudantes,

geralmente no ambiente escolar ou nas proximidades da escola.

Diversos estudiosos têm contribuído para os estudos e conceituações do

fenômeno bullying ao longo dos anos.

Olweus (1991) define o bullying ou vitimação numa perspectiva abrangente: “um estudante está sendo vítima de bullying ou vitimizado quando ele ou ela está sendo exposto repetidamente a ao longo do tempo, a ações negativas por parte de um ou mais estudantes.” O “bulying” parte, pois, de uma vontade consistente e desejo de magoar ou amedrontar alguém quer física, verbal ou psicologicamente. Smith & Sharp (1994b, p.2) descrevem-no como “sistemático abuso de poder”. Madsen & Smith (s/d) definiram o bullying como um comportamento que poderia ser físico ou verbal, tendo um efeito de “etiquetagem” para a vítima. (PEREIRA, 2002, p. 17)

Para Fante (2005), o bullying é um conjunto de atitudes repetitivas,

intencionais e agressivas, adotado por um ou mais alunos contra outro(s)

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aluno(s), que ocorre sem motivação evidente, causando dor, angústia e

sofrimento. O mesmo conceito é trabalhado no Programa de redução do

comportamento agressivo entre estudantes, organizado pela Abrapia e

publicado no site observatório da infância, sendo que a Abrapia destaca o fato

de que o bullying ocorre dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os

atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as

principais características, que tornam possível a intimidação da vítima.

Clemente (2008) concorda que caracteriza o bullying são as ações

intencionais e repetitivas, com o objetivo de deixar a vítima abalada.

1.2 – Histórico do bullying

Diversos pesquisadores têm estudado o fenômeno bullying, mas tudo

teve início com o Professor Dan Olweus que começou a investigar o problema

na Universidade de Bergen na Noruega, realizando pesquisas com estudantes,

professores e pais.

O bullying na escola é, assim, um problema que tem vindo a ser objeto de estudo na Europa, na América e no Japão, e a sua gravidade e implicações levaram à realização de estudos por todo o mundo. Estes estudos começaram por ser realizados na Noruega e Suécia. Olweus (1979, 1989), pioneiro nestes estudos que se baseavam na aluno, verificou que 15% dos estudantes tinham estado envolvidos em incidentes de agressão/ vitimação (Olweus, 1989). (PEREIRA, 2002 p. 2)

Os primeiros diagnósticos sobre o bullying foram informados por Olweus

e por Roland (1989) e através de suas pesquisas se verificou que 1 em cada 7

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estudantes estavam envolvidos em casos de bullying. Em 1993 Olweus, com o

apoio do governo Norueguês, realizou um campanha nacional que reduziu

aproximadamente 50% dos casos de bullying. Segundo Olweus (apud Fante,

2005, p. 46), "os dados de outros países indicam que as condutas Bullying

existem com relevância similar ou superior as da Noruega, como é o caso da

Suécia, Finlândia, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Países Baixos, Japão,

Irlanda, Espanha e Austrália".

Fante (2005, p. 46), complementa dizendo que os pesquisadores

americanos já estão classificando o bullying como "um conflito global" e

enfatizam que se essa tendência continuar haverá muitos jovens que "se

tornarão adultos abusadores e delinqüentes".

Na década de 1990 aconteceram com maior frequência casos de

assassinatos e suicídios derivados do bullying, chamando a atenção para o

problema. Como nos diz Fante (2005, p. 21) “o que antes ocorria de forma

esporádica, após a década de 1990 transformou-se numa sequência de

trágicos assassinatos e suicídios no interior das escolas.”

Fante (2005) cita alguns casos de bullying que chegaram a casos

extremos de assassinatos e suicídio:

Em 1997, na cidade de West Paducah, Kentucky, um adolescente de 14 anos matou a tiros três companheiros de escola, após a oração matinal, deixando mais cinco feridos. Em 1998, em Jonesboro, Arkansas, dois estudantes, de 11 e 13 anos, atiraram contra a sua escola, matando quatro meninas e uma professora. Também em 1998, em Springfield, Oregon, um adolescente de 17 anos matou a tiros dois colegas e feriu mais vinte. Em 1999, dois adolescentes, de 17 e 18 anos, provocaram a tragédia de Columbine, em Littleton, Colorado. Com explosivos e armas de fogo, assassinaram 12

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companheiros, um professor e deixaram dezenas de feridos. Em seguida, suicidaram-se. Ainda em 1999, uma semana após o massacre de Columbine, em Taber, Canadá, um adolescente de 14 anos disparou ao seu redor, matando um colega de escola. Outros massacres ainda foram noticiados na década de 1990, na Escócia, no Japão e em vários países africanos. Em novembro de 1999, na Alemanha, um estudante de 15 anos matou a facadas uma professora. Em março de 2000, um aluno de 16 anos matou a tiros o diretor da escola e depois tentou o suicídio. Em fevereiro de 2001, um jovem de 22 anos matou a tiros o chefe de sua empresa; depois se dirigiu à sua ex-escola, matou o diretor e suicidou-se com explosivos. Na Alemanha, em abril de 2002, na cidade de Erfurt, um jovem de 19 anos chacinou 16 pessoas: duas garotas, 13 professores, uma secretária e um policial que atendeu ao chamado de emergência; em seguida, suicidou-se. (FANTE, 2005, p. 21-22).

O site do Sinpro/RS, Sindicato dos Professores do Ensino Privado do

Rio Grande do Sul, cita alguns casos que ocorreram no Brasil como o de um

estudante de Remanso, na Bahia, que foi assassinado após jogar um balde

com lama em um companheiro de aula e o do ocorrido em Taiúva, São Paulo,

onde um ex-aluno, que era obeso e motivo de piada no colégio, retorna à

escola com um revólver, fere gravemente cinco pessoas e comete suicídio. Os

dois episódio ocorreram em 2004 e 2003, respectivamente, e foram

desdobramentos do bullying. Esses acontecimentos chocaram e chamaram

atenção para os problemas do bullying presentes no Brasil.

Hoje, no Brasil, já existe uma preocupação maior com o fenômeno

bullying, o tema tem sido tratado por instituições como a ABRAPIA (Associação

Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência), em

programas antibullying como o “Educar para a Paz” da pesquisadora Cléo

Fante e até pelo governo com leis como a Lei nº 14.651 de 12 de janeiro de

2009, do Estado de Santa Catarina e o projeto de Lei 94/2009 do vereador

Cristiano Girão, do Município do Rio de Janeiro.

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1.3 –Bullying não é brincadeira e machuca

O que sempre foi considerado uma brincadeirinha normal que acontece em

qualquer escola, não tem nada de engraçado. O bullying ocorre quando um ou mais

alunos se reúnem para perseguir um colega, geralmente mais fraco, tímido ou que

está em desvantagem.

Segundo Fante (2005), Na maioria das vezes, o bullying é visto como

brincadeira do amadurecimento da criança. Essa interpretação equivocada pode

trazer sérias consequências na vida do estudante. Por outro lado, não devemos

generalizar todas as brincadeiras como bullying. Em primeiro lugar, devemos

conhecer o fenômeno e saber diferenciá-lo das brincadeiras próprias da idade.

Em uma reportagem a Folha de Alphaville a pesquisadora Cléo Fante foi

perguntada sobre qual seria o limite entre a brincadeira e o bullying e respondeu:

É uma linha muito tênue. Nas brincadeiras, todos participam, todos se divertem e todos gostam, porque cria-se um ambiente descontraído, propício para amizades e para o aprendizado. Já o bullying se caracteriza pelo desequilíbrio, quando um indivíduo ou um grupo se diverte às custas de um outro, que é humilhado ou envergonhado. Aí deixa de ser brincadeira. Mas para que essa violência seja caracterizada como bullying, é preciso observar algumas características que são próprias dele, como a repetição dessas atitudes, a ausência de motivos que justifiquem os ataques e no desequilíbrio de poder, quando a vítima não se defende por se sentir acuada diante de um grupo ou da dominação de quem pratica. Além disso, há a intencionalidade no bullying. Os ataques são sempre premeditados.

Marilise Brockstedt Lech, em entrevista à revista Direcional Educador

afirma que é difícil estabelecer uma diferenciação entre o que é comportamento

antissocial de uma brincadeira dentro do contexto escolar.

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Os limites entre “normalidade” e “problema” são muito tênues. Ao observarmos crianças e jovens discutindo ou brigando podemos ficar em dúvida se o que vemos é sério ou só uma brincadeira. Considero um dos possíveis limites entre a brincadeira e a agressão o grau de tolerância entre as partes. Quando um dos indivíduos passa a demonstrar irritação, impaciência e frustração acaba a brincadeira e começa a agressão. (LECH, 2008, p.7).

O que leva uma criança ou jovem a praticar o bullying? A psicóloga e

jornalista Henar L. Senovilla escreveu em seu artigo, intitulado “Bullying: um

medo de morte”, que as causas que levam a agressão são incalculáveis, tanto

nas formas em que se manifestam, como nos prejuízos que ocasionam. As

causas ou fatores que provocam a agressão podem ser pessoais, familiares e

escolares.

Para Constantini (2004), o bullying é considerado como: atitudes de

transgressão e falta de respeito ao outro, que inicia pela irrupção e falta de

controle no sentimento de intolerância nos primeiros anos de vida.

Segundo alguns estudos o bullying tem origem na irrupção e falta de controle no sentimento de intolerância nos primeiros anos de vida, cuja as conseqüências nas faixas etárias seguintes (estando ausentes reações educativas duras), são atitudes de transgressão e de falta de respeito ao outro as quais tendem a consolidar-se, transformando-se em esquemas mentais e ações de intimidação sistemática contra aqueles que são mais fracos. (CONSTANTINI, 2004, p. 68)

De acordo com Cury (2003, p. 95) o comportamento agressivo tem suas

experiências registradas na memória, levando o indivíduo fragilizado por

experiências anteriores a reproduzir um comportamento agressivo.

A consciência do ”eu” se dá a partir do arcabouço das memórias registradas ao longo da vida, criando zonas de registros que poderão, em determinados momentos, “ancorar” os pensamentos a um tipo de emoção, fazendo com que o “eu” se torne fragilizado e escravizado a construção de pensamentos negativos, os quais não encontram outra forma de expressão a não ser pelo comportamento agressivo.

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Em um artigo escrito no site da AIP (Academia Internacional de

Psicologia) a pesquisadora Cléo Fante aponta algumas causas que levam a

prática do bullying:

Segundo especialistas, as causas desse tipo de comportamento abusivo são inúmeras e variadas. Deve-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus-tratos físicos e explosões emocionais violentas. Em nossos estudos constatamos que 80% daqueles classificados como “agressores”, atribuíram como causa principal do seu comportamento, a necessidade de reproduzir contra outros os maus-tratos sofridos em casa ou na escola. Em decorrência desse dado extremamente relevante, nos motivamos em pesquisas e estudos, que nos possibilitou identificar a existência de uma doença psicossocial expansiva, desencadeadora de um conjunto de sinais e sintomas, a qual denominamos SMAR - Síndrome de Maus-tratos Repetitivos.

A autora também alerta, sem generalizar, em seu livro, “Fenômeno

Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”, sobre a

possibilidade de que um aluno vitimizado pelo bullying escolar também pode

vir à reproduzi-lo. Segundo Fante, o bullying “tem grande poder desencadeador

de transtorno psíquico e que pode se transformar em tragédia social” (FANTE,

2005, p. 25). Para a pesquisadora:

as vítimas que foram submetidas às situações constrangedoras e as formas de exclusão socioeducacionais produziram registros traumáticos em seus arquivos de memória, devido à carga emocional que sofreram, criando zonas doentias, que funcionam como “vírus psíquico” da mente, ou “janelas killers”, que aprisiona emoções humanas, impedindo-a de adquirirem habilidades de auto-defesa e socialização, além de prejudicar o seu desenvolvimento socioeducacional na medida em que promove seu isolamento. (FANTE, 2005,p.24)

Diversos pesquisadores apontam diferentes causas para o fenômeno

bullying, como ausência de limites, a carência afetiva, os maus-tratos físicos e

explosões emocionais violentas por parte dos pais, fazendo com que seus filhos

reproduzam a violência vivida ou o fato de terem sido vitimas de bullying.

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1.4 –Quem são os agressores e as vítimas do bullying

De acordo com Fante (2005), para classificar os alunos, devemos

observar e identificar alguns comportamentos comuns como: dificuldade de se

expressar diante da turma, tristeza, insegurança, aflição, último a ser escolhido

nos jogos, perder seus objetos, fazer ameaças, dar ordens, tomar pertences

dos outros, rir com desdém, empurrar os colegas, pichar a escola, ridicularizar,

menosprezar, etc.

A partir das características comportamentais os alunos são subdivididos

em cinco grupos: vítima típica, vítima provocadora, vítima agressora, agressor

e testemunha (FANTE, 2005). Segue abaixo a descrição de cada grupo,

segundo Fante:

• Vítima típica: São alunos tímidos, sensíveis, com pouca

coordenação motora, submissos, ansiosos, baixa auto-estima,

insegurança, possuem geralmente biótipos com diferenças físicas ou

deficiência, etc.;

Sofrem repetidamente com as agressões e não possuem

habilidades para defenderem-se e sem motivos evidentes, são alvos de

condutas violentas de outros alunos, são ameaçados, humilhados,

intimidados e agredidos fisicamente, ficando passivos diante destas

agressões.

Muitas vezes não pedem ajuda, pois crêem que são merecedores desse sofrimento ou têm medo da retaliação. A dor e a angústia são prolongadas, até incentivadas, pela falta de intervenção dos adultos. Prejudicados, sofrem as consequências de ações desumanas sem reagir. São vítimas silenciosas que não dispõem de recursos, habilidades ou status para fazer cessar ou impedir os atos danosos contra si mesmo. Sofrem calados e buscam cada vez mais o isolamento. (CHALITA, 2008, p. 87-88).

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• Vítima provocadora: São alunos hiperativos, imaturos, ofensivos,

dispersivos e inquietos.

A vítima provocadora estimula atos violentos, cria situações de

conflito onde quer que se encontre e não consegue resolvê-los

adequadamente, briga e responde frequentemente aos insultos, atrai

para si reações agressivas por seu comportamento impróprio.

• Vítima agressora: São alunos que sofrem agressões e as

reproduzem contra outro geralmente mais fraco, espalhando o bullying,

com a intenção de transferir suas angústias e sofrimentos aumentam o

número de alunos que sofrem com o fenômeno.

Segundo Chalita (2008, p.89), a vítima agressora nunca teve a

oportunidade de aprender que não devemos fazer com o outro o que

não desejamos para nós.

• Agressor: São alunos geralmente impulsivos, dominadores,

manipuladores, não aceitam regras, apresentam irritabilidade,

normalmente mais fortes que as vítimas, podem ter a mesma idade ou

ser um pouco mais velhos, apresentam-se mais fortes fisicamente

(principalmente meninos) nas brigas, brincadeiras e esportes.

Costumam mostrar seu poder e superioridade sobre os outros,

normalmente vem de famílias desestruturadas, recebem pouco afeto e

possuem como modelo comportamentos violentos para resolver seus

problemas. Um aluno agressor também precisa de ajuda, pois está

agredindo o outro para se sentir melhor.

Segundo Schafer, os longos anos de trabalho revelaram que os agressores podiam ser identificados cedo na escola fundamental: mesmo com pouca idade, eles são capazes de organizar um assédio contra determinadas crianças. Os chamados bullies parecem estar sempre observando para eleger novas vítimas. Tendem a continuar intimidando ao longo de muitos meses e até anos, e encontram dificuldade para

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abandonar seu papel com o passar do tempo, pois esta ação lhes confere cada vez mais poder, fama e prestígio. (CHALITA, 2008, p. 139-140)

Apesar de os estudos não serem conclusivos, pesquisadores

como Fante (2002) e Chalita (2008) chamam atenção para os

agressores usuário de drogas e de álcool, que na fase adulta podem

cometer atos violentos e criminosos.

• Espectador: São todos aqueles alunos que têm ciência dos

acontecimentos cruéis e violentos, porém, como não sofrem com os atos

e nem os praticam, optam pelo silêncio. Ficam neutros muitas vezes

com medo de se tornarem vítimas, sentem-se aliviados por não serem

os alvos dos agressores e temem represálias, mas geralmente se

sentem culpados por ficarem omissos diante da agressão.

1.5 –Consequências psicológicas do bullying

Podem ocorrer diferentes implicações psicológicas em crianças e jovens

vítimas do bullying, causando danos que podem ser irreversíveis. “O trauma

permanece e gera uma baixa auto-estima no menor, que leva cerca de três

anos para se recuperar. Algumas nem se recuperam”, alerta a psicopedagoga

Maria Irene Maluf em uma entrevista à revista ISTOÉ Independente. Entre as

consequências do bullying, estão os danos à capacidade de aprendizado e

dificuldades de concentração nas tarefas escolares, pois sente-se perseguida e

acha que vai ser abordada pelo agressor a qualquer momento. A omissão das

escolas na solução do bullying torna os casos cada vez mais graves. E quando

eles explodem, podem chegar a consequências fatais.

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Chalita (2008, p.85) afirma que “as experiências de dor, de angústia e de

humilhação, vividas solitariamente, deixam cicatrizes e podem trazer

consequências para os adultos que essas crianças serão.”

Antunes e Zuin também chamam atenção para as conseqüências do

bullying:

A intimidação e a vitimização são processos de grande complexidade que se produzem no marco das relações sociais e com freqüência no meio escolar, podendo agravar progressivamente o problema com severas repercussões a médio e longo prazos para os implicados. (ANTUNES e ZUIN,2008,p.39).

Fante (2005) destaca que o bullying produz cidadãos deprimidos,

estressados, com baixa auto-estima.

Este fenômeno estimula a delinqüência e induz a outras formas de violência explícita, produzindo em larga escala, cidadãos estressados, deprimidos, com baixa auto-estima, capacidade de auto-aceitação e resistência à frustração, reduzida capacidade de auto-afirmação e de auto-expressão, além de propiciar o desenvolvimento de sintomatologia de estresse, de doenças psicossomáticas, de transtornos mentais e psicopatologias graves. (FANTE, 2005, p.9)

No seu Programa de Redução do Comportamento Agressivo dos

Estudantes, a ABRAPIA aponta como principais consequências do bullying,

quando não há intervenções efetivas, o ambiente escolar torna-se totalmente

contaminado, onde todas as crianças, sem exceção, são afetadas de forma

negativa, passam a sentir ansiedade e medo. Além de que alguns alunos,

quando testemunham os atos de agressão e percebem que o comportamento

agressivo não traz nenhuma consequência a quem os pratica, podem também

querer praticá-lo.

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A exposição e a repetição dos atos de crueldade para as vítimas causam

sofrimento e dor, com o tempo as mesmas vão se sentindo anestesiadas. E o

sentimento de medo e de insegurança se transforma passando para o

sentimento de ódio e muitas vezes, o ofendido se torna o ofensor.

De vítimas a vilões. Acuados e isolados, os alunos vítimas de bullying passam a ter pensamentos destrutivos alimentados pela raiva reprimida. Nasce o desejo de .matar. a escola, de destruir o registro da dor, de tornar-se importante e lembrado de alguma forma. Em dramas como esse, apagam-se as linhas divisórias que classificam autores, vítimas e expectadores. Todos passam a integrar um único grupo: vítimas da violência. (CHALITA, 2008, p.142).

O suicídio e o homicídio entre alunos envolvendo o fenômeno bullying,

tem crescido de forma considerável e ganhou destaque na mídia internacional,

como a tragédia de Columbine, em Littleton, Colorado, que foi transformada em

documentário por Michael Moore. O documentário nos mostra conseqüências

trágicas e extremas envolvendo vítimas de bullying. Onde dois jovens

buscaram a solução mais radical para se livrarem do desespero que passavam

na escola.

Cury (2003, p.145) faz um apelo aos professores:

Não permita em hipótese algumas que os alunos chamem seus colegas de “baleia” ou “elefante” por serem obesos. Você não imagina o rombo emocional que esses apelidos provocam no solo do inconsciente. Não lhes permita falarem pejorativamente dos defeitos físicos e da cor da pele dos outros. Essas brincadeiras não são ingênuas. Produzem graves conflitos que não se apagam mais, só se reeditam.

1.6 –Direitos fundamentais violados pelo bullying

O bullying é um fenômeno que viola a integridade física, social e

psicológica do indivíduo. Na Declaração Universal dos Direitos

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Humanos adotada e proclamada na Assembléia Geral das Nações Unidas em

10 de dezembro de 1948, encontram-se dois artigos que prezam por essa

integridade e que são violados com o fenômeno bullying

Artigo III

Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo V

Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Apesar do bullying não ser abordado diretamente em uma lei de âmbito

federal, podemos perceber que encontra-se de forma implícita na Constituição

Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e no Estatuto da Criança e

do Adolescente, destacamos trechos das leis que nos apontam os direitos

fundamentais do indivíduo de não ser vitimizado pelo bullying.

• Na Constituição Federal de 1988:

TÍTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais CAPÍTULO I

Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; (...)

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X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (...) XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei (BRASIL, 1998)

• No Estatuto da Criança e do Adolescente, lei nº 8.069, de 13 de julho de

1990.

Título I

Das Disposições Preliminares

(...) Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (...) Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Título II

Dos Direitos Fundamentais

Capítulo II

Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

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I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;

II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei;

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Título III

Da Prevenção

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.

• Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394, de 20 de

dezembro de 1996:

CAPÍTULO II Da Educação Básica Seção I Das Disposições Gerais Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

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Em Brasília-DF no ano de 2006 ocorreu o I Fórum Brasileiro sobre

Bullying Escolar com o objetivo de promover a redução do bullying e resultou

na elaboração da Carta Aberta de Brasília, onde são abordados os seguintes

temas:

• Necessidade de conscientizar a sociedade sobre o bullying escolar e

suas consequências;

• Desenvolvimento de políticas públicas emergenciais;

• Criação de comissão permanente de estudos sobre o bullying escolar.

No I Fórum Brasileiro sobre o Bullying Escolar, o fenômeno bullying foi

discutido sob vários aspectos como familiar, escolar, social, cultural, saúde,

ética e legalidade.

1.7 –Dificuldades dos professores frente ao bullying

Os professores tem encontrado dificuldades em trabalhar a temática do

bullying na escola, não conseguem detectar os problemas e as vezes, também

demonstram desgaste emocional com as situações do dia-a-dia da sala de

aula, sobrecarregados de trabalhos e dos conflitos em seu ambiente

profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns professores contribuem com o

agravamento do quadro por não saberem o que fazer diante do bullying.

Para Oliveira e Martins (2007), diante do cenário de violência na escola,

alguns professores sentem-se desorientados enquanto outros se colocam

numa postura de indiferença.

Um professor, quando entra em uma sala de aula, tem de saber estimular cada um desses universos. Naquele espaço há

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pessoas com traumas, com medos, com inseguranças; há aquelas tomadas por um vulcão de emoções e problemas cujas lavas enfeiam em vez de enfeitar a vida, queimam quando deveriam aquecer. (CHALITA, 2008, p.53)

Fante (2005) aponta aos professores a necessidade de mudar a prática

do ensino não humanizante, tradicional e autoritário ainda adotado por muitos,

pela busca da realização de uma educação pela paz. Fante também aponta:

Ouvimos ainda, de alguns educadores, que esse tipo de relação baseada na submissão sempre existiu, sendo “normal” encontrar nas escolas os grupos que dominam e os que se deixam dominar, e que isso faz parte da vida, devendo os alunos aprender sozinhos as conviver e a lidar com essas situações impostas por seus agressores, pois, afinal, experiências assim os tornarão fortes para enfrentarem os desafios futuros. Acreditamos oportuno fazer aqui um apelo a todos os profissionais de educação: por favor, valorizem os sentimentos que as vítimas expressam e entendam que para elas é muito difícil falar sobre o que lhes está ocorrendo! Não pensem que aprenderão aos trancos se desvencilharem de situações difíceis como essas. Se estão pedindo sua ajuda é porque já não suportam mais o peso do sofrimento e podem estar propensas a cometer um desatino. (FANTE, 2005, p. 51)

Fante e Pedra (2008), apontam o despreparo dos educadores e o fato

de alguns deles chegarem a reproduzir preconceitos e discriminações, fazendo

piadas, imitações, insinuações e brincadeiras com os alunos fora das salas de

aula, constrangendo-os, comparam alunos, mostrando a preferência por

determinados alunos em detrimento de outros, humilham. Rebaixam a

autoestima e capacidade cognitiva, agridem verbal e oralmente. Para os

autores os professores podem ser em alguns momentos também os

agressores. Eles apontam também que em alguns casos os professores

também podem ser vítimas dos seus alunos.

Segundo Granville-Garcia (2009), os professores, em virtude do contato

direto e diário com os seus alunos, possuem maior chance de identificação.

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Embora, haja o medo dos profissionais de se envolver em conflitos particulares,

por represálias e o não conhecimento do seu papel no problema.

O supervisor escolar deve estar atendo ao que ocorre na escola e deve

estimular a formação continuada dos seus profissionais para atuar de modo a

contribuir para o desenvolvimento de atividades preventivas com os alunos,

afim de evitar o fenômeno bullying no seu ambiente escolar. Precisam fornecer

ferramentas que possibilitem aos educadores observar, identificar, diagnosticar,

intervir e encaminhar corretamente os casos de bullying.

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CAPÍTULO II

FORMAÇÃO CONTINUADA

2.1 –Conceito

João Formosinho (1991, p.237), aponta que:

o conceito de formação contínua distingue-se essencialmente do de formação inicial não pelos conteúdos ou metodologias de formação, mas pelos destinatários", sendo que é oferecida a pessoas em condição de adultos, com experiência de ensino, o que influencia os conteúdos e as metodologias desta formação por oposição às da formação inicial oferecida geralmente a jovens sem experiência de ensino.

García Álvarez (1987), citado por Marcelo (1999), conceitua a formação

continuada do professor da como:

actividade que o professor em exercício realiza com uma finalidade formativa – tanto de desenvolvimento profissional como pessoal, individualmente ou em grupo – para um desempenho mais eficaz das suas tarefas actuais ou que o preparem para o desempenho de novas tarefas (GARCÍA ÁLVAREZ, 1987 apud MARCELO 1999, p. 136).

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2.2 –A importância da Formação Continuada no contexto escolar

A pouca formação e experiência profissional, aliadas a falta de

continuação dos estudos referentes à formação acadêmica e profissional, são

fatores que podem influenciar negativamente na maneira de o educador lidar

com desafios e problemas que surgem no seu dia-a-dia na escola,

principalmente na sala de aula com seus alunos. A falta de atualização e

aperfeiçoamento de seus conhecimentos reduz a possibilidade de reverem

suas práticas e analisarem o cotidiano escolar, onde ocorre as manifestações

de violência na escola e o bullying.

O que se percebe é que a falta de orientação e da formação continuada

dificultam a prática docente em lidar com problemas que ocorrem no contexto

escolar, como por exemplo o bullying.

Neste sentido, Ronca e Gonçalves (1988, p.31) colocam que, “ (...)

compete ao supervisor criar condições para que os educadores (...) possam

rever a sua atuação; não só constatar que a escola vai mal, mas

principalmente, perceber o seu papel neste contexto e o que fazer para

melhorar a situação.”

Dermeval Saviani (2008), defende que a formação continuada é

importantíssima para uma melhor qualidade de ensino.

Imbernón(2010), ressalta a importância de desenvolver a formação

continuada dentro da escola e promover uma reflexão sobre as situações

práticas reais da Instituição.

Por isso é tão importante desenvolver uma formação na instituição educativa, uma formação no interior da escola. Como a prática educativa é pessoal e contextual, precisa de uma formação que parta de suas situações problemáticas. (IMBERNÓN, 2010, p.17)

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A formação do professor deve estar ligada a tarefas de desenvolvimento curricular, planejamento de programas e, em geral, melhoria da instituição educativa, e nelas implicar-se, tratando de resolver situações problemáticas gerais ou específicas relacionadas ao ensino em seu contexto. Em decorrência disso, o professor precisa adquirir conhecimentos e estratégias específicas (planejamento curricular, pesquisa sobre a docência, estratégias para formar grupos, resolução de problemas, relações com a comunidade, atividade sociocultural etc.). Tudo isso suões a combinação de diferentes estratégias de formação e uma nova concepção do papel do professor nesse contexto, o que obviamente não pode ser feito sem o envolvimento concreto dos docentes. (IMBERNÓN, 2010, p.18)

Em entrevista à Revista Nova Escola (2001), Antônio Nóvoa nos diz que

“Todo professor deve ver a escola não somente como o lugar onde ele ensina,

mas onde aprende.” Ou seja a escola também deve ser um local onde o

professor possa estar sempre buscando novos conhecimentos para a sua

formação. Nóvoa também destaca que “o aprender contínuo é essencial em

nossa profissão.”

Silva (2002) também defende a importância da formação continuada

ocorrer dentro do contexto escolar. Onde através da construção coletiva dos

saberes, os professores possam acompanhar as transformações. O que

seguramente contribuirá na vida do aluno, transformando-o em cidadão

consciente, crítico e atuante na comunidade e na sociedade.

2.3 –Reflexão da prática

A formação continuada deve favorecer uma reflexão sobre a prática

docente, onde os professores possam descobrir novos caminhos para lidar

com as situações, como o bullying, que ocorrem no ambiente escolar

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Nóvoa na sua entrevista para Revista Nova Escola (2001) ressalta na

formação continuada a reflexão da prática docente: “A atualização e a

produção de novas práticas de ensino só surgem de uma reflexão partilhada

entre os colegas. Essa reflexão tem lugar na escola e nasce do esforço de

encontrar respostas para problemas educativos.”

Nóvoa (1997, p. 25) também cita que:

A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou se técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexidade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência.

Freire (1996, p.18) destaca: “na formação permanente dos professores,

o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando

criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima

prática.”

Libâneo (2002), também defende a importância da formação continuada

possibilitar a reflexividade e a mudança nas práticas docentes e com isso

contribuir para que os professores a tomem consciência das suas dificuldades,

compreendendo-as e criando formas de enfrentá-las. O autor também destaca

que é preciso buscar soluções mediante ações coletivas.

Imbernón (2010, P.73), afirma que a formação permanente se

caracteriza por estar fundamentada no futuro em “Aprender mediante a

reflexão individual e coletiva e a solução de situações problemáticas da prática.

Ou seja, partir da prática do professor, realizar um processo de prática teórica.”

O autor também destaca “ A partir dessa perspectiva, a docência incorpora um

conhecimento profissional que permite criar processos próprios, autônomos, de

intervenção, em vez de buscar uma instrumentação já elaborada.”

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2.4 –Formação continuada com enfoque na humanização da prática pedagógica

Muitos educadores apontam a humanização da prática pedagógica

como um fator fundamental a ser trabalhado nas escolas. “Professores e

alunos dividem o espaço da sala, mas não se conhecem. Passam anos muito

próximos, mas estranhos uns para os outros.” (CURY, 2003, p. 139).

Autores como Cury (2003), Martins e Pimentel (2009) destacam a

importância do diálogo, do ouvir e do olhar humanizante sobre os educandos.

Rubem Alves e Madalena Freire, em vários de seus artigos relacionam o olhar com o ato educativo e coincidem na afirmação de que ele precisa ser aprendido, além do que não fomos educados para ver nem para escutar, o que significa que podemos aprender a ampliar essa condição de ver mecânica e passivamente o objeto a ser observado. (...) Indagar a respeito do olhar do educador sobre o aluno nos dá condições para afirmarmos que algo a mais desse olhar encontra-se justamente na capacidade reflexiva, esta que ativa o trânsito recíproco de idéias, um intercâmbio entre aquele que olha e aquele que é olhado. E o mesmo se dá com o ouvir, cuja ação reflexiva é o escutar. E que queremos afirmar é que: inserida nesses atos reflexivos, há uma intencionalidade, bem como possibilidade de conhecer de modo significativo o que o olhar e o escutar nos oferecem. Ambos tornam-se saberes e competências fundamentais no educar, impossíveis de serem dissociados, correspondentes diretos da própria concepção que o educador tem de ser humano-aluno e de educação, bem como o que entende por inclusão. (MARTINS e PIMENTEL, 2009, p.35-36-37)

Cury (2003, p. 141), nos aponta a importância de uma educação voltada para a humanização, que ouça ao aluno:

Certa vez, uma coordenadora pedagógica de uma grande escola, que assistiu a uma das minhas conferências, motivada pela exposição, levantou-se diante da platéia e contou uma história comovente. Disse que há alguns meses uma das alunas a procurara para conversar sobre um problema.

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A aluna estava visivelmente abatida, mas a coordenadora disse que não tinha tempo naquele momento e adiou a conversa para outro dia. Infelizmente não houve tempo, pois a jovem tirou sua vida antes. Nunca alguns minutos foram tão importantes. Quantos conflitos não serão evitados através de uma educação humanizada! Tenho convicção de que os professores ao lerem este livro e começarem a entrar no mundo dos seus alunos agressivos, ansiosos ou represados evitarão não apenas muitos suicídios, mas também massacres em que jovens pegam armas e saem atirando em seus colegas e professores. (...) Quando nós as ouvimos, elas também se ouvem e encontram seus caminhos. Mas são muitos os que têm medo de ouvir.

Ainda segundo Cury (2003, p. 139), “A educação moderna está em crise,

porque não é humanizada, separa o pensador do conhecimento, o professor da

matéria, o aluno da escola, enfim, separa o sujeito do objeto.” E o autor faz um

apelo aos professores:

Caros professores, cada um de vocês tem uma fascinante história que contém lágrimas e alegrias, sonhos e frustrações. Contem essa história em pequenas doses para os seus alunos durante o ano. Não se escondam atrás do giz ou da sua matéria. Caso contrário, os temas transversais – responsáveis por educar para a vida, como a educação para a paz, para o consumo, para o trânsito, para a saúde – serão uma utopia, estarão na lei, mas não no coração. (CURY, 2003, p. 139)

Martins e Pimentel (2009, p.32), enfocam:

Só um educador aberto a estas novas visões da sala de aula – com muitas janelas para o mundo e menos espaço para o trabalho rígido dos conteúdos elencados em seus planejamentos – e com clareza de qual é o seu papel e qual é o dos alunos poderá construir uma relação dialética entre mundo e aula por meio das interações que ali se criam.

Os problemas e desafios da educação ainda são muitos, porém com o

aperfeiçoamento profissional dos educadores podemos obter uma melhoria na

educação. E é nesse sentido que percebemos a necessidade da formação

continuada e de uma prática docente humanizante que estimule o diálogo, o

ato de ouvir e de olhar dos educadores sobre seus alunos para uma melhor

relação dentro de sala de aula, onde haja uma relação de confiança e respeito

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entre educadores e educandos, e com isso minimizar ou mesmo solucionar o

problema do bullying nas escolas.

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CAPÍTULO III

PREVENÇÃO DO FENÔMENO BULLYING ATRAVÉS DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES

Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. ( Paulo Freire, 2000, p.31 )

O bullying é um fenômeno mundial que se encontra presente no

cotidiano escolar e o principal local onde deve acontecer à prevenção do

mesmo é a escola. Esta deve ser um local de formação do indivíduo como um

todo, não só do desenvolvimento de sua inteligência, mas do seu

desenvolvimento social e emocional.

Como exposto no primeiro capítulo, muitos professores ainda encontram

dificuldades para lidar com o problema do bullying. Mas para que possamos

minimizar ou mesmo solucionar este fenômeno em nossas escolas, faz-se

necessário preparar os professores, proporcionando uma reflexão de sua

prática pedagógica e buscando, em conjunto, com os outros professores

caminhos que possibilitem o enfrentamento do bullying. Proporcionando um

ambiente agradável para os seus alunos, onde os mesmos possam ter um

desenvolvimento pleno, sendo ouvidos e respeitados.

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De acordo com o exposto acima, proponho um plano de ação

pedagógico a ser desenvolvido pelas escolas junto aos seus professores, afim

de prepará-los para a prevenção do bullying escolar.

3.1 - PLANO DE AÇÃO

3.1.1 – TEMA GERADOR: Bullying e formação continuada.

3.1.2 – OBJETIVO:

• Promover através da formação continuada nas escolas a prevenção do

fenômeno bullying, através da reflexão e humanização da prática

docente.

3.1.3 – FOCO: Minimizar ou mesmo solucionar o problema do fenômeno

bullying nas escolas.

3.1.4 – PÚBLICO ALVO: Professores da rede pública do município do Rio de

Janeiro.

3.1.5 – JUSTIFICATIVA:

O fenômeno bullying traz angústia, dor e sofrimento a milhares de

estudantes em diferentes países, inclusive o Brasil, o trauma permanece na

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memória para o resto da vida. Durante a vida escolar contribui para as

dificuldades no processo de ensino-aprendizagem e do rendimento escolar.

Devemos promover através da formação continuada uma reflexão da prática

docente voltada para a humanização e conscientização dos professores, para

criar uma estratégia de prevenção do fenômeno na escola.

3.1.6 – PROCEDIMENTOS E RECURSOS:

• Capacitar os professores por meio de palestras com profissionais como

psicólogos, pedagogos e psicopedagogos.

• Criar debates entre professores e alunos com a temática do bullying. E

proporcionar aos professores um momento de escuta e diálogo com os

alunos.

• Realizar centros de estudos com os professores voltados para a

temática utilizando como recursos estudos de caso, filmes e textos.

• Confeccionar com os professores um planejamento estratégico para o

enfrentamento do bullying.

3.1.7 – CONTEÚDO:

a) Documentário: “Tiros em Columbine” – O documentário conta a história

trágica de dois adolescentes que eram vitimas de bullying e atiraram contra

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professores e alunos da escola onde estudavam e depois cometeram o

suicídio.

b) Mensagem: “O valor de uma amizade” – Retrata o quanto um pequeno gesto

de amizade e de atenção pode contribuir enfrentamento do problema.

c) Mensagem: “Srª Tompson” – Mostra a importância de uma prática

pedagógica humanizante, para a vida escolar do aluno e para uma melhor

compreensão de suas dificuldades e angústias.

d) Filme: Bullying: Provocações sem limites – O filme apresenta as dificuldades

passadas por um adolescente, recentemente transferido, que se torna alvo de

bullying na escola.

e) Filme: Klass - Retrata a história de um aluno que é perseguido por um grupo de

valentões, sob a complacência da classe, em uma escola na Estônia.

f) Filme: Elefante - Ganhador da Palma de Ouro em Cannes, o filme narra o

ataque que dois estudantes fizeram a uma escola secundária do Oregon,

matando dezenas de alunos, com um arsenal de armas automáticas. a questão

do bullying é tratada como um detalhe pequeno, mas está lá, concentra-se no

ato final, de vingança fria e desapaixonada. O título refere-se à facilidade de

ignorar um 'elefante' simbólico na sala, apesar do seu tamanho.

3.1.8 – TEMPO: 12 meses.

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3.1.9 – AVALIAÇÃO: Será realizada mensalmente através de questionários

preenchidos pelos professores apontando as dificuldades em lidar com o

fenômeno e as contribuições da formação continuada para o enfrentamento da

temática no seu cotidiano escolar.

O plano de ação apresentado acima estimula a formação continuada, a

prevenção e o enfrentamento do bullying no cotidiano escolar. E representa um

trabalho a ser realizado com os professores, favorecendo a construção coletiva

de saberes que possam contribuir para minimizar ou mesmo solucionar o

problema do bullying nas escolas.

3.2 – PLANO DE AÇÃO: RESULTADOS ESPERADOS

Vítima de bullying em uma escola da rede municipal de ensino da cidade

do Rio de Janeiro, procurei por ajuda com os meus professores e com a equipe

pedagógica da escola em que estudava. Porém não foi apresentada nenhuma

solução ou atitude que pudesse me retirar daquela situação e continuei,

durante minha permanência na escola, sofrendo com o fenômeno. Hoje, após

me formar como professora, percebi que está realidade não mudou e muitos

profissionais ainda estão despreparados para lidar com este problema.

A confecção de um plano de ação como trabalho preventivo, busca

transformar esta realidade e promover uma prática pedagógica reflexiva que

estimule a escuta, o diálogo e a humanização da prática docente.

Proporcionando a discussão entre os professores para uma elaboração

conjunta de atitudes e práticas que possam acolher, compreender e ajudar este

aluno vitimizado.

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Construir em conjunto uma escola livre do bullying, que ouve, dialoga e

enxerga o aluno, envolve um melhor preparo e uma transformação da prática

docente. Prática essa que como foi apontada por diversos autores

anteriormente deve ser mais humanizante, Pois só assim poderemos modificar

esta realidade tão cruel vivenciada por diversos alunos.

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CONCLUSÃO

Este estudo científico constituiu-se tomando como base a problemática

do bullying, suas causas e consequências, a dificuldade encontrada pelos

professores em lidar com o fenômeno no cotidiano escolar e a importância do

supervisor escolar estimular a formação continuada dos seus professores,

visando construir com os mesmos estratégias que possam minimizar ou

mesmo solucionar o problema do bullying na escola.

O bullying é um fenômeno que está presente no dia-a-dia das escolas e

não pode ser ignorado, pois o mesmo fica registrado na memória e traz

consequências para o resto da vida. Para se prevenir a ocorrência do bullying é

fundamental que o professor conheça o seu contexto, suas causas, seus

personagens, suas consequências e a importância de seu papel para a

prevenção do mesmo.

Todavia não podemos atribuir exclusivamente ao professor a

responsabilidade de prevenir e combater o bullying na sala de aula, apesar de

ter papel fundamental para minimizar ou mesmo solucionar esse problema. A

Escola (Direção, Supervisores, Coordenadores e Orientadores) também possui

um papel de grande responsabilidade, pois deve fornecer para os seus

professores condições de enfrentarem os problemas que surjam em seu

cotidiano escolar, é nesse aspecto que podemos visualizar a importância das

escolas estimularem a formação continuada, contribuindo com a ampliação dos

conhecimentos e proporcionando uma reflexão da prática pedagógica, onde o

professor possa se perceber como parte essencial para o enfrentamento e

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prevenção do bullying, possibilitando ao professor a consciência de seu papel

neste processo, pois ele é a pessoa mais próxima do aluno e é para quem

muitas vezes o aluno recorre para pedir socorro, porém, quando os mesmos

encontram-se despreparados para lidar com esta situação, podem achar que o

bullying não passa de uma brincadeira própria da idade e ignorá-lo, perdendo

com isso a confiança do aluno, além de deixa-lo muitas vezes em uma situação

vulnerável.

Outro fator importante para o educador é que ao prevenir e combater o

bullying ele também estará contribuindo para um ambiente mais agradável em

sua sala de aula, onde os alunos se sentirão bem, contribuindo para o

processo educativo.

Penso que para solucionarmos o problema do bullying nas escolas e

efetuarmos uma verdadeira transformação no cotidiano escolar, devemos

proporcionar aos professores condições para que reflitam sua prática

pedagógica e para que percebam a importância de se ir além dos conteúdos

científicos e trabalharem com os nossos alunos valores sociais, que contribuam

para a sua formação enquanto cidadãos e que estimulem o desenvolvimento

social e emocional.

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BIBLIOGRAFIA

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ANEXO I

Mensagem: O valor da Amizade

Um dia, quando eu era calouro na escola, vi um garoto de minha sala

caminhando para casa depois da aula.

Seu nome era Kyle. Parecia que ele estava carregando todos os seus livros. Eu

pensei: 'Por que alguém iria levar para casa todos os seus livros numa Sexta-

Feira?

Ele deve ser mesmo um C.D.F'! O meu final de semana estava planejado

(festas e um jogo de futebol com meus amigos Sábado à tarde), então dei de

ombros e segui o meu caminho.Conforme ia caminhando, vi um grupo de

garotos correndo em direção a Kyle.

Eles o atropelaram, arrancando todos os livros de seus braços, empurrando-o

de forma que ele caiu no chão. Seus óculos voaram e eu os vi aterrissarem na

grama há alguns metros de onde ele estava. Kyle ergueu o rosto e eu vi uma

terrível tristeza em seus olhos.

Meu coração penalizou-se! Corri até o colega, enquanto ele engatinhava

procurando por seus óculos.

Pude ver uma lágrima em seus olhos. Enquanto eu lhe entregava os óculos,

disse: 'Aqueles caras são uns idiotas! Eles realmente deviam arrumar uma vida

própria'.

Kyle olhou-me nos olhos e disse: 'Hei, obrigado'! Havia um grande sorriso em

sua face. Era um daqueles sorrisos que realmente mostram gratidão. Eu o

ajudei a apanhar seus livros e perguntei onde ele morava.

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Por coincidência ele morava perto da minha casa, mas não havíamos nos visto

antes, porque ele freqüentava uma escola particular. Conversamos por todo o

caminho de volta para casa e eu carreguei seus livros. Ele se revelou um

garoto bem legal.

Perguntei se ele queria jogar futebol no Sábado comigo e meus amigos. Ele

disse que sim. Ficamos juntos por todo o final de semana e quanto mais eu

conhecia Kyle, mais gostava dele.Meus amigos pensavam da mesma forma.

Chegou a Segunda-Feira e lá estava o Kyle com aquela quantidade imensa de

livros outra vez! Eu o parei e disse: 'Diabos, rapaz, você vai ficar realmente

musculoso carregando essa pilha de livros assim todos os dias!'.

Ele simplesmente riu e me entregou metade dos livros. Nos quatro anos

seguintes, Kyle e eu nos tornamos mais amigos, mais unidos. Quando

estávamos nos formando começamos a pensar em Faculdade.

Kyle decidiu ir para Georgetown e eu para a Duke. Eu sabia que seríamos

sempre amigos, que a distância nunca seria problema. Ele seria médico e eu ia

tentar uma bolsa escolar no time de futebol. Kyle era o orador oficial de nossa

turma.

Eu o provocava o tempo todo sobre ele ser um C.D.F. Ele teve que preparar

um discurso de formatura e eu estava super contente por não ser eu quem

deveria subir no palanque e discursar. No dia da Formatura Kyle estava ótimo.

Era um daqueles caras que realmente se encontram durante a escola. Estava

mais encorpado e realmente tinha uma boa aparência, mesmo usando óculos.

Ele saía com mais garotas do que eu e todas as meninas o adoravam! Às

vezes eu até ficava com inveja.

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Hoje era um daqueles dias. Eu podia ver o quanto ele estava nervoso sobre o

discurso. Então, dei-lhe um tapinha nas costas e disse: 'Ei, garotão, você vai se

sair bem!' Ele olhou para mim com aquele olhar de gratidão, sorriu e disse:-

'Valeu'!

Quando ele subiu no oratório, limpou a garganta e começou o discurso: 'A

Formatura é uma época para agradecermos àqueles que nos ajudaram durante

estes anos duros. Seus pais, professores, irmãos, talvez até um treinador, mas

principalmente aos seus amigos.

Eu estou aqui para lhes dizer que ser um amigo para alguém, é o melhor

presente que você pode lhes dar.

Vou contar-lhes uma história:' Eu olhei para o meu amigo sem conseguir

acreditar enquanto ele contava a história sobre o primeiro dia em que nos

conhecemos. Ele havia planejado se matar naquele final de semana! Contou a

todos como havia esvaziado seu armário na escola, para que sua mãe não

tivesse que fazer isso depois que ele morresse e estava levando todas as suas

coisas para casa.

Ele olhou diretamente nos meus olhos e deu um pequeno sorriso. 'Felizmente,

meu amigo me salvou de fazer algo inominável!' Eu observava o nó na

garganta de todos na platéia enquanto aquele rapaz popular e bonito contava a

todos sobre aquele seu momento de fraqueza. Vi sua mãe e seu pai olhando

para mim e sorrindo com a mesma gratidão.

Até aquele momento eu jamais havia me dado conta da profundidade do

sorriso que ele me deu naquele dia.

Nunca subestime o poder de suas ações. Com um pequeno gesto você pode

mudar a vida de uma pessoa. Para melhor ou para pior. Deus nos coloca na

vida dos outros para que tenhamos um impacto, uns sobre o outro de alguma

forma.

(Autor desconhecido)

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ANEXO II

Mensagem: História da Sra. Thompson e Teddy

Relata Sra. Thompson, que no seu primeiro dia de aula, parou em frente

aos seus alunos da Quinta série primária e, como todos os demais professores,

lhes disse que gostava de todos por igual.

No entanto, ela sabia que isso era quase impossível, já que na primeira

fila estava sentado um garoto chamado Teddy. A professora havia observado

que ele não se dava bem com os colegas de classe e muitas vezes suas

roupas estavam sujas e cheirando mal. Houve até momentos em que ela sentia

prazer em lhe dar notas vermelhas ao corrigir suas provas e trabalhos.

Ao iniciar o ano letivo, era solicitado a cada professor que lesse com

atenção a ficha escolar dos alunos, para tomar conhecimento das anotações

feitas em cada ano. A Sra. Thompson deixou a ficha de Teddy por último. Mas

quando a leu foi grande sua surpresa.

A professora do primeiro ano escolar de Teddy havia anotado o

seguinte: Teddy é um menino brilhante e simpático. Seus trabalhos sempre

estão em ordem e muito nítidos.Tem bons modos e é muito agradável estar

perto dele.

A professora do segundo ano escreveu: Teddy é um aluno excelente e

muito querido pelos seus colegas, mas tem estado preocupado com a mãe que

está com uma doença grave e desenganada pelos médicos. A vida em seu lar

deve estar muito difícil.

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Da professora do terceiro ano constava a anotação seguinte: a morte de

sua mãe foi um golpe muito duro para Teddy. Ele procura fazer o melhor, mas

seu pai não tem nenhum interesse e logo sua vida será prejudicada se

ninguém tomar providências para ajudá-lo. A professora do quarto ano

escreveu: Teddy anda muito distraído e não mostra interesse algum pelos

estudos. Tem poucos amigos e muitas vezes dorme na sala de aula.

A Sra. Thompson se deu conta do problema e ficou terrivelmente

envergonhada.Sentiu - se ainda pior quando lembrou dos presentes que os

alunos lhe haviam dado, envoltos em papéis coloridos, exceto o de Teddy, que

estava enrolado num papel marrom de supermercado.

Lembra - se de que abriu o pacote com tristeza, enquanto os outros

garotos riam ao ver uma pulseira faltando algumas pedras e um vidro de

perfume pela metade. Apesar das piadas, ela disse que o presente era

precioso e pôs a pulseira no braço e um pouco do perfume sobre a mão.

Naquela ocasião Teddy ficou um pouco mais tempo na escola do que o de

costume.

Lembrou - se ainda, que Teddy lhe disse que ela estava cheirosa como

a mãe. Naquele dia, depois que todos se foram, a professora Thompson

chorou por longo tempo.... Em seguida, decidiu- se a mudar sua maneira de

ensinar e passou a dar mais atenção aos seus alunos, especialmente a Teddy.

Com o passar do tempo ela notou que o garoto só melhorava, e quando

mais ela lhe dava carinho e atenção, mais ele se animava. Ao finalizar o ano

letivo, Teddy saiu como o melhor da classe. Um ano mais tarde a Sra.

Thompson recebeu uma notícia em que Teddy lhe dizia que ela era a melhor

professora que teve na vida.

Seis anos depois, recebeu outra carta de Teddy, contando que havia

concluído o segundo grau e que ela continuava sendo a melhor professora que

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tivera. As notícias se repetiram até que um dia ela recebeu uma carta assinada

pelo Dr. Theodore Stoddard, s eu antigo aluno, mais conhecido como Teddy.

Mas a história não terminou aqui. A Sra. Thompson recebeu outra carta,

em que Teddy a convidava para seu casamento e noticiava a morte de seu pai.

Ela aceitou o convite e no dia do casamento estava usando a pulseira que

ganhou de Teddy anos antes.

Quando os dois se encontraram, abraçaram-se por longo tempo e Teddy

lhe disse ao ouvido: obrigado por acreditar em mim e me fazer sentir

importante, demonstrando-me que posso fazer diferença.

Mas ela, com os olhos banhados em pranto sussurrou baixinho: você

está enganado ! Foi você que me ensinou que eu podia fazer diferença, afinal

eu não sabia ensinar até que o conheci.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO..........................................................................................02

AGRADECIMENTOS........................................................................................03

DEDICATÓRIA..................................................................................................04

RESUMO...........................................................................................................05

METODOLOGIA................................................................................................06

SUMÁRIO..........................................................................................................08

INTRODUÇÃO...................................................................................................09

CAPÍTULO I

BULLYING.........................................................................................................11

1.1 – Conceito de bullying..................................................................................11

1.2 – Histórico do bullying..................................................................................12

1.3 .Bullying não é brincadeira e machuca......................................................15

1.4 ...Quem são os agressores e as vítimas do bullying....................................18

1.5 ...Consequências psicológicas do bullying...................................................20

1.6 ...Direitos fundamentais violados pelo bullying............................................22

1.7 ...Dificuldades dos professores frente ao bullying.......................................26

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CAPÍTULO II

FORMAÇÃO CONTINUADA.............................................................................29

2.1 – Conceito....................................................................................................29

2.2 –A importância da formação continuada no contexto escolar.....................30

2.3 – Reflexão da prática...................................................................................31

2.4 –Formação continuada com enfoque na humanização da prática pedagógica........................................................................................................33

CAPÍTULO III

PREVENÇÃO DO FENÔMENO BULLYING ATRAVÉS DA FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR.....................................................................37

3.1 – Plano de ação...........................................................................................35

3.2 – Plano de ação: Resultados esperados.....................................................40

CONCLUSÃO....................................................................................................41

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................44

ANEXO I............................................................................................................49

ANEXO II...........................................................................................................52

ÍNDICE...............................................................................................................55

FOLHA DE AVALIAÇÃO....................................................................................57

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da instituição: Universidade Candido Mendes/Instituto A vez do mestre

Título da monografia: Buscando caminhos para minimizar o bullying nas escolas.

Autor: Monique Ferreira d’ Oliveira Mendes

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

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