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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ANÁLISE DE RISCO DE CRÉDITO - EMPRESTAR BEM PARA EMPRESTAR SEMPRE Por: Edson Souza de Andrade Orientadora Prof. Ana Paula Ribeiro Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ANÁLISE DE RISCO DE CRÉDITO -

EMPRESTAR BEM PARA EMPRESTAR SEMPRE

Por: Edson Souza de Andrade

Orientadora

Prof. Ana Paula Ribeiro

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ANÁLISE DE RISCO DE CRÉDITO -

EMPRESTAR BEM PARA EMPRESTAR SEMPRE

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Gestão em Instituições Financeiras

Por: Edson Souza de Andrade

3

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, amigos, colegas de

turma, de trabalho e a Orientadora Ana

Paula pela paciência e ajuda na

elaboração e formatação desta

monografia.

4

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha esposa

Deni, companheira de todas as horas.

Compartilhando o sabor das alegrias e

das conquistas, e dividindo o peso dos

desafios que encontramos pelo caminho.

5

RESUMO

Este trabalho descreve o processo de análise de risco e concessão de crédito para o segmento de Micro e Pequenas Empresas em Instituições Financeiras, mais especificamente no Banco do Brasil. Apresenta os conceito de intermediação financeira, de crédito, as principais etapas do processo de análise e concessão, incluindo o estabelecimento de limite bem como as principais linhas disponíveis no Banco. Enfoca o conceito de risco, no que diz respeito ao cliente, em seus diversos níveis. Exemplifica com estudo de caso as fases que desde o primeiro contato com a empresa até a formalização das operações. Conclui que um cuidadoso trabalho de análise de risco, limites de crédito bem dimensionados e uma adequada formalização dos créditos concedidos são condições para melhoria na qualidade das carteiras de crédito de qualquer instituição financeira.

6

METODOLOGIA

Utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso. Além

disso, aproveitamos a experiência do dia a dia de trabalho no atendimento a

empresas no Banco do Brasil. Atemo-nos a alguns autores tais como: Eduard

Altman, José da Silva, Eduardo Fortuna e Amador Paes. Utilizamos a Apostila

de Risco de Clientes do BB. Verificamos também a existência de material na

internet e em revistas especializadas. Comparamos esse material com a

política de crédito adotada pelo Banco do Brasil e suas normas no que tange a

concessão de crédito para as pequenas e médias empresas.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Intermediação Financeira 09

CAPÍTULO II

Análise de Crédito 17

CAPÍTULO III

Análise de Crédito de Micro e Pequenas Empresas 34

CAPÍTULO IV

Estudo de Caso 42

CONCLUSÃO 51

BIBLIOGRAFIA 52

ANEXOS 54

8

INTRODUÇÃO

A longa série de quebradeiras, inadimplência, insolvências, concordatas

e falências ocorridas recentemente pegou de surpresa muita gente.

Fornecedores, clientes, bancos, credores, investidores, enfim, vastos

segmentos da sociedade e empresas que movimentam a economia do país, e

do mundo, amargaram grandes prejuízos por terem sido surpreendidos com a

notícia de que seus créditos dificilmente seriam recebidos a contento.

Somente depois da explosão da crise dos devedores é que se detecta

que os problemas financeiros destes não eram novos. Riscos elevados eram

assumidos e empréstimos concedidos além da capacidade do cliente.

Nesse contexto o presente trabalho demonstra as fases de análise de

risco crédito de Micro e Pequenas Empresas que possuam, ou pretendam

iniciar, relacionamento comercial com o Banco do Brasil.

Procuramos compreender a atuação dos agentes financeiros na

intermediação e concessão de empréstimos, além de tentar conhecer os

fatores que podem influenciar na inadimplência no pagamento de empréstimos

concedidos as empresas. Tentamos demonstrar que detectar esses fatores é

de suma importância para dar mais segurança na aplicação dos capitais sob

responsabilidade das instituições financeiras.

Visamos também analisar os modelos utilizados na classificação de risco

das Micro e Pequenas empresas no Banco do Brasil, a implantação de limite

de crédito bem como a principais linhas de crédito disponíveis para as Micro e

Pequenas Empresas. Para facilitar essa análise utilizamos um caso prático

dando um tom mais dinâmico a nossa aprendizagem.

Objetivamos com este estudo demonstrar que uma análise criteriosa, e

dentro dos normativos da instituição, tende a minimizar os riscos na concessão

de empréstimos, diminuindo a grau de inadimplência e conseqüentemente

garantindo o retorno do capital aplicado pelo banco.

9

CAPÍTULO I

INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

A intermediação financeira é o grande cenário do qual a atividade de

crédito faz parte. Segundo Pereira da Silva (2003): “as operações passivas de

um banco consistem em captar dinheiro junto aos depositantes. As operações

ativas consistem em emprestar o dinheiro que captou (pag.26)”. As funções de

captar e emprestar caracterizam a atividade de intermediação financeira.

Para percebermos melhor essa dinâmica devemos, inicialmente,

revisar alguns conceitos.

Agentes Econômicos e suas posições orçamentárias

No ambiente econômico, temos os chamados agentes econômicos, que

são representados pelas famílias, pelas empresas, pelo governo e por outras

entidades. Esses agentes podem assumir as seguintes posições

orçamentárias:

• Situação de equilíbrio: esses agentes têm seus gastos iguais às

rendas correntes

• Situação deficitária: Esses agentes têm suas rendas correntes

inferiores aos seus gastos.

• Situação superavitária: esses agentes têm suas rendas correntes

superiores aos seus gastos (Silva, 2003; Paiva, 1997).

Os agentes financeiros com situação orçamentária superavitária buscam

alternativas para a aplicação de seus recursos, ou seja, pretendem comprar

promessas de pagamentos. Nessa condição desejam obter o melhor

rendimento possível sobre suas aplicações, porém querem minimizar o risco

assumido.

10

Conceito de Risco

Segundo Carlos Paiva (1997): “o risco permeia a atividade humana.

Tudo que fazemos ou dizemos tem a possibilidade de gerar conseqüência

diferente daquela que imaginamos (pág. 5).”

John Caouette (1999) reforça que o risco de crédito é a mais antiga

forma de risco nos mercados financeiros. “Se podemos definir crédito como a

expectativa de uma quantia em dinheiro, dentro de um espaço de tempo

limitado, então o risco de crédito é a chance de que a expectativa não se

cumpra”.

Outra definição é de Pereira da Silva (2003) onde o conceito de risco,

em finanças, é entendido como a instabilidade dos possíveis retornos obtidos

pelo investidor num projeto de investimento. Abrange as diversas

probabilidades relacionadas a uma aplicação, ou seja, tanto as probabilidades

de ganho quanto de perda.

Gitman (1997) refere-se a risco, em seu sentido fundamental, como a

possibilidade de prejuízo financeiro. Os ativos que possuem grande

possibilidade de prejuízos são vistos como mais arriscados que aqueles com

menos possibilidades de prejuízo (pág.202).

Não podemos, entretanto, confundir risco com incerteza.

Resumidamente podemos dizer que:

- Risco – existe quando o tomador da decisão pode embasar-se em

probabilidades para estimar diferentes resultados, de modo que sua

expectativa se baseie em dados históricos. Isto é, a decisão é tomada a partir

de estimativas julgadas aceitáveis.

- Incerteza – ocorre quando o tomador não dispõe de dados históricos

acerca de um fato, o que poderá exigir que a decisão se faça de forma

subjetiva, isto é, através de sua sensibilidade pessoal.

11

Pereira da Silva define: no risco, as probabilidades de ocorrência de

um dado evento são conhecidas, enquanto que, na incerteza, não há dados

suficientes para calcularmos tais probabilidades.

Carlos Paiva (1997) nós dá um exemplo bem interessante: “um carro

de competição em alta velocidade dirigido por um piloto experiente e em pista

apropriada é risco, dirigir no trânsito de uma cidade de olhos vendados é

incerteza (pág. 07)”.

Nessa condição, o ofertante de fundos, ou agente superavitário, deseja

obter o melhor rendimento possível sobre suas aplicações, porém, quer

minimizar o risco que assume.

Recorrendo a Pereira da Silva temos o seguinte exemplo: “aplicar o

dinheiro numa caderneta de poupança, recebendo 6% de juros ao ano, ou

emprestar o mesmo dinheiro para uma pessoa que precisa de fundos e está

disposta a pagar 10% ao mês? Seguramente, aquela pessoa que paga 10% ao

mês propicia um rendimento maior, porém o risco da caderneta de poupança

será menor.”

No que tange a intermediação financeira temos a mesma questão.

Carlos Paiva exemplifica: “emprestar visando apenas ao máximo que o

empréstimo possa gerar de lucro, mas não receber, é um passaporte para a

falência. Por outro lado, emprestar visando apenas à segurança do negócio

pode reduzir a rentabilidade e, consequentemente, dificultar a geração de

recursos para satisfazer os custos, o que, da mesma forma fragiliza a

empresa".

Assim a excessiva preocupação com o lucro pode inviabilizar o

recebimento, gerando prejuízo, e a excessiva preocupação com o recebimento

reduz margens de lucro, conduzindo ao prejuízo.

12

Intermediários Financeiros

O sistema financeiro consiste em um conjunto de instrumentos e

instituições financeiras que funcionam como meios pelos quais os agentes

financeiros podem maximizar o lucro, criando e trocando direitos de receber

moeda ou outros ativos.

Segundo John Caouette (1999) “os intermediários financeiros

tradicionais de crédito são os bancos, as instituições financeiras, as

seguradoras, as indústrias e o governo” (pág. 11).

Os intermediários financeiros, segundo Pereira da Silva, são

instituições como os bancos, que emitem títulos contra si mesmo para obterem

fundos junto aos agentes econômicos. Em seguida, usam esses fundos para

fazer empréstimos a terceiros. Nisto consiste sua principal fonte de renda, ou

seja, na diferença entre as taxas de juros pagas aos fornecedores de fundos e

as taxas de juros cobradas dos demandadores.

Em nosso trabalho vamos nos ater ao papel dos bancos no processo

de intermediação financeira.

Segundo Eduardo Fortuna (2002) os principais benefícios decorrentes

da intermediação financeira são:

• Avaliação de risco. Os agentes econômicos em geral não são

especialistas em avaliar riscos decorrentes de atividades

econômicas. Nesse sentido, o intermediário financeiro deverá

estar muito preparado para essa tarefa, propiciando maior

segurança ao aplicador de recursos.

• Custos de cobertura e riscos. Dada a amplitude de atuação do

intermediário financeiro, quanto às regiões geográficas e aos

seguimentos de atuações econômicas, é possível que os custos

de cobertura dos diversos riscos existentes sejam barateados.

13

• Facilidade na obtenção de recursos. A existência de

intermediários financeiros facilita o processo de localização

pelos agentes econômicos deficitários a encontrarem os

recursos de que necessitam no momento exato e de forma

adequada às suas necessidades, ou seja, quanto aos volumes,

prazos e formas de pagamento.

• Incentivo à poupança. Na esfera macroeconômica, é possível

elevar o nível de formação de capital, estimulando a poupança.

• Maiores ganhos de eficiência. Para igual volume de formação

de capital, a intermediação financeira pode conduzir a ganhos

de eficiência de produção.

Pereira da Silva (2003) destaca outros papéis importantes na

intermediação financeira:

• Volume de recursos. Capta em montantes diferentes, variando

de unidades de milhões de reais e aplica em volumes

compatíveis com as necessidades dos tomadores.

• Adequação de prazos. Capta em prazos variados e aplica em

prazos adequados a realidade e necessidade dos tomadores.

• Maior liquidez. A facilidade com que os ativos dos ofertadores

de fundos pode ser convertido em dinheiro é reforçada pela

intermediação financeira.

• Menor custo. Os intermediários financeiros são capazes de

produzir ativos financeiros a um custo inferior ao que os

indivíduos produziriam.

Levando em consideração que os intermediários financeiros captam dos

agentes superavitários para conceder empréstimos aos agentes deficitários

todo cuidado deve ser tomado para que o recebimento seja honrado. Sendo

assim é de suma importância que a mensuração do risco seja feita para de

forma adequada visando diminuir a probabilidade de inadimplência garantindo

assim o capital aplicado pelos agentes superavitários.

14

Crédito – Conceito e Relevância

A palavra crédito, dependendo do contexto do qual se esteja tratando,

tem vários significados. Num sentido restrito e específico, Crédito consiste na

entrega de um valor presente mediante uma promessa de pagamento.

Segundo Carlos Paiva (1997) a palavra Crédito deriva do latim credere,

que significa acreditar confiar, ou seja: acreditamos nos compromissos de

alguém conosco.

Adriano Blatt (1999) tem um conceito parecido. Segundo ele crédito é

“crer”, e crer é “confiar”. A palavra crédito tem sua origem no vocábulo latino

credere, que significa: crer, confiar acreditar, ou ainda, do substantivo,

creditum, o qual significa literalmente “confiança”. Um credor gasta fluxo de

caixa para trabalho, materiais e outros custos inerentes ao negócio para

fabricar ou revender um produto ou fornecer um serviço. Estas mercadorias ou

serviços são então fornecidos a um cliente a crédito, com uma promessa de

pagamento em alguma data (pág. 23).

Tal relação é baseada em confiança. Um credor confia que um cliente

pagará integralmente quando a compra a crédito for devida. O cliente confia

que a mercadoria comprada ou serviços fornecidos serão satisfatórios para

seus propósitos e, no caso de produtos, estarão em bom estado para uso.

Sobre esse conceito Pereira da Silva faz o seguinte comentário:

Encontramos, com freqüência, a definição de crédito como sendo algo do tipo... “é a confiança de que a promessa de pagamento será honrada”. Entendemos que a confiança é um elemento necessário, porém não é suficiente pra uma decisão de crédito. (Pereira da Silva, 2003, p. 63)

Ninguém confia em desconhecido, em pessoa que acabou de conhecer,

ou em alguém sobre quem tem poucas informações. Para que confiemos em

15

pessoas, precisamos conhecê-la. Para conhecê-las precisamos basicamente

de tempo e informação.

Trazendo esse conceito para dentro de uma instituição financeira,

crédito representa à ação de colocar uma quantia em dinheiro a disposição do

cliente, mediante promessa de pagamento em data e condições previamente

pactuadas. Nos bancos, o crédito é uma das pontas da intermediação

financeira.

Pereira da Silva assim define: “em um banco, que tem a intermediação

financeira como sua principal atividade, o crédito consiste em colocar a

disposição do cliente (tomador de recursos) certo valor sob a forma de

empréstimos, mediante uma promessa de pagamento numa data futura” Na

verdade, o banco está comprando uma promessa de pagamento, pagando ao

tomador um determinado valor para, no futuro receber valor maior.

Em um banco, o crédito é o elemento tradicional na relação cliente-

banco, isto é, é o próprio negócio. Em uma empresa comercial ou industrial,

por exemplo, é possível vender a vista ou a prazo. Em um banco, não há como

fazer um empréstimo ou financiamento a vista. A principal fonte de receita de

um banco deve ser proveniente de sua atividade de intermediação.

Quando um banco está captando recursos, quem assume o risco de

crédito é o cliente. Nessa condição, para fins do depósito, o banco tende a não

exigir cadastro do cliente. Todavia, para o cliente tomador, é indispensável um

completo processo de crédito que permita ao banco saber o risco que está

assumindo com o cliente. Por mais sólido que possa ser um banco, no

processo de intermediação financeira é necessário que não sejam assumidos

riscos indevidos e que venham a pôr em dúvida a solidez e a reputação do

banco, deixando seus depositantes duvidosos quanto à possibilidade de terem

seus recursos de volta nos prazos combinados.

Essas funções de depósito e crédito é que caracterizam a intermediação

financeira e devem ser uma parcela representativa da receita do banco.

Daí, em finanças e segundo Pereira da Silva, o vocábulo crédito define

um instrumento de política de negócios a ser utilizado por uma empresa

16

comercial ou industrial na venda a prazo de seus produtos ou por banco

comercial, por exemplo, na concessão de empréstimos, financiamentos ou

fiança.

O crédito que alguém dispõe, portanto, é sua capacidade de obter

dinheiro, mercadoria ou serviço mediante compromisso de pagamento num

prazo acordado. Conforme já mencionamos, para um banco comercial, as

operações de crédito se constituem em seu próprio negócio, na sua razão de

ser.

Também já mencionamos que, na sociedade como um todo, existem

pessoas cujas rendas excedem seus consumos e investimentos, o que resulta

em situação orçamentária superavitária. Há, entretanto, outros agentes

econômicos (famílias, empresas e governos) com situação orçamentária

deficitária, necessitando de recursos para aproveitarem oportunidades de

investimentos ou para financiarem consumo. A função do intermediário

financeiro é de atuar como receptor de recursos, com o objetivo de canalizá-los

para fontes produtivas. Numa sociedade em que os recursos são escassos, se

determinado individuo guardar sua poupança no “colchão”, esse dinheiro

parado não estará gerando os benefícios que poderiam propiciar a sociedade

se estivesse sendo canalizado para expansão dos meios de produção, onde

poderia criar novos empregos, gerar impostos e trazer uma série de benefícios

sociais, além de contribuir na produção de bens e serviços.

Essa função de intermediário financeiro torna o crédito um dos fatores

de maior importância num banco comercial. A concessão de crédito num banco

comercial, portanto, consiste em emprestar dinheiro, isto é, colocar a

disposição do cliente determinado valor monetário em determinado momento,

mediante promessa de pagamento futuro, tendo como retribuição por essa

prestação de serviço determinada taxa de juros, cujo recebimento poderá ser

antecipado, periódico ou mesmo ao final do período, juntamente com o

principal emprestado. Existem, além da operação de empréstimo, diversas

ouras operações de crédito, como financiamento de bens para os clientes,

concessão de fiança, desconto de duplicatas, aplicações compulsórias, como o

caso do crédito rural.

17

CAPÍTULO II

ANÁLISE CRÉDITO

Objetivo e abrangência

O maior problema de uma concessão de crédito é definir quanta

confiança o credor poderá ter em seus clientes, e traduzi-la em valores

numéricos, ou seja, em linhas de crédito.

Segundo Blatt (1999): “a análise de crédito é uma das ferramentas

indispensáveis para uma boa decisão de crédito. A análise de crédito consiste

em um estudo da situação global de um cliente (devedor) em perspectiva

visando à elaboração de um parecer que retrate de forma clara e objetiva o

desempenho econômico-financeiro do mesmo (pag. 24).” Tal estudo é

realizado não só mediante a avaliação de suas demonstrações financeiras,

como também das condições do grupo do qual faz parte, do seu setor de

atuação, além de aspectos políticos e econômicos.

Desta forma para que se possa elaborar um parecer consistente, é

necessário que se obtenham os dados econômico-financeiros mais recentes e

também que se considere até que ponto as mudanças no panorama econômico

poderão refletir no contexto operacional da empresa

Blatt (1999) reforça:

Não é somente em números e demonstrativos financeiros que uma

análise de crédito se baseia. Existe necessidade de um bom conhecimento do

cliente, além de uma forte dose de bom senso, critério técnico e discernimento,

para que a transformação de dados quantitativos possa ser feita de maneira

adequada e inteligente (Blatt, 1999, pag. 29).

18

Uma análise pode ser feita para as seguintes finalidades:

- novos negócios;

- acompanhamento da situação do cliente.

Como a análise de crédito é feita com vista a possíveis negócios com o

cliente, dizemos que as análises de crédito e de negócios são complementares

e interdependentes. Assim não existe negócio sem análise de crédito e não

existe análise de crédito sem que se vislumbrem negócios.

Para identificar a profundidade que uma análise requer, é necessário:

conhecer e estimar o risco que o credor já tem com o devedor, no caso de

acompanhamento da situação do cliente, ou que virá a ter, no caso de novos

negócios.

Por um lado, o credor responde junto aos seus respectivos credores

pelo integral pagamento de suas obrigações. Por outro lado, o cliente tem que

responder pela integral quitação das suas obrigações. Isso não ocorrendo, a

operação fica descasada, comprometendo o caixa do credor. Para Silva (2003)

é importante imbuir-se desse conceito elementar de risco para que se dê a

devida importância à análise e a concessão de crédito (pag. 31).

Riscos que Interferem na Análise de Crédito

De maneira geral, podemos dizer que um tomador crédito pode vir a

não honrar seus compromissos por razões que decorrem de sua vontade –

pode pagar, mas não quer – ou por razões alheias à sua vontade – que pagar,

mas não pode. O primeiro grupo está diretamente ligado ao caráter. O

segundo, por sua vez, é afetado pelos riscos a que o tomador está sujeito.

“Vê-se, assim, que o tomador de crédito também está sujeito a riscos:

de perder um contrato, de ser surpreendido por despesas extras, risco de

perder mercado e outros tantos mais (Apostila Risco de Crédito BB, 2005, pág.

23)”

19

Assim, para avaliarmos os riscos envolvidos na atividade de crédito,

devemos também conhecer os riscos que possam afetar o tomador e, por

conseqüência, comprometer sua capacidade de honrar seus compromissos.

Relacionamos alguns deles.

Risco de Mercado

É o risco de mudanças no comportamento de taxas de juros e câmbio,

nos preços das ações, commodities1 e na incompatibilidade entre taxas,

prazos, moedas e índices, entre outros fatores.

Esta definição alinha-se com a da FGV (2005) onde defini-se como o

risco de perdas de variação dos preços de mercado dos ativos: risco de títulos

de dívida, de ações e outros instrumentos de participação societária, de câmbio

e de mercadorias. O risco de mercado também se refere à possibilidade de que

ocorram movimentos adversos nos valores da carteira negociável de uma

instituição por causa de variações nos preços dos títulos que a compõem (pág.

203).

A Apostila de Risco de Crédito BB (2005) nos lembra do ocorrido em

1999, quando a maxidesvalorização de nossa moeda levou a situação de

dificuldades financeiras muitas empresas que possuíam dívidas indexadas ao

dólar. Algumas delas, inclusive, deixaram de honrar seus compromissos com o

banco, porque o seu endividamento em reais tornou-se muito maior do que sua

capacidade de geração de receita (pág. 24).

Ocorre risco de mercado, por exemplo, quando uma empresa com

créditos ou receitas em reais, tenha seus compromissos em dólar americano,

ou vice-versa. Oscilação da moeda americana poderá sujeitá-la a forte

prejuízo, com risco até de falência.

1 Commodities - termo em inglês que significa “mercadoria”. Usado em transações comerciais internacionais para designar um tipo de mercadoria em estado bruto ou com pequeno grau de industrialização (produto primário) com grande importância comercial (café, milho, algodão, cobre, petróleo, etc.).

20

Os riscos de mercado não estão presentes apenas na estrutura de

ativos e passivos da empresa, mas também, em sua atividade. Imagine uma

indústria cujo custo de produção dependa grandemente de um tipo especial de

matéria-prima. A alta significativa no custo desse insumo poderá reduzir sua

margem operacional, ou provocar alta nos preços do produto que fabrica, com

conseqüente redução de vendas.

Risco de Liquidez

É a possibilidade de ocorrer falta dos recursos necessários ao

cumprimento de uma ou mais obrigações, em função do descasamento entre

entradas e desembolsos.

Segundo a FGV (2005): é o risco de não conseguir mobilizar recursos

monetários para honrar obrigações quando apresentadas para liquidação. É o

mais característico dos riscos incorridos por bancos comerciais já que qualquer

aplicação feita pelo banco para obter receitas reduz a liquidez de seus ativos

(pág. 203).

Uma empresa com patrimônio sólido pode não dispor de caixa para

honrar suas dividas em determinado mês. Isso ocorre, por exemplo, quando

vem trabalhando com prazos de pagamentos aos fornecedores menores que

os prazos de recebimento de suas vendas.

Existe um segundo fator muito importante, segundo a FGV (2005), para

o risco de liquidez. É a possibilidade de faltar contrapartes em número

suficiente para negociar a quantidade desejada de ativos financeiros, ou da

falta de interesse do mercado em negociá-las, afetando de forma anormal o

valor das mesmas.

21

Risco Legal

É o risco de perdas pela falta de cumprimento das leis, normas e

regulamentos. É a possibilidade de perdas decorrentes da inobservância de

dispositivos legais ou regulamentos.

A apostila de Risco de Crédito do BB (2005) nos mostra que a

inobservância dos dispositivos legais ou regulamentares, além das sanções a

que a empresa está sujeita pelo descumprimento da lei, pode ensejar pedidos

de indenização por danos a terceiros. (pág. 25).

Vamos exemplificar: empresas que desrespeitem as normas de

controle ambiental e, em decorrência, provoquem danos ao meio ambiente

poderão sofrer pesadas multas ou, até, ter suas atividades encerradas por

determinação da autoridade competente. Podem, também, vir a ser objeto de

pedidos de indenização em valores que podem fragilizar sua estrutura

financeira.

O que dizer, então de empresas que se dediquem a atividades cujo

objeto não seja lícito ou exista controvérsia quanto à legalidade de exploração.

“Assim, ao analisar um cliente ou realizar negócio com ele, o Banco

deve apurar a conformidade com os principais legais na forma como conduzem

as atividades, pois, mesmo que não venha a sofrer prejuízo financeiro com

negócio, estará contrariando o princípio de responsabilidade sócio-ambiental,

que condena o financiamento de atividades que prejudiquem o crescimento

sustentável do País” (Apostila de Risco de Crédito BB, 2005, pág. 26).

Devemos levar em conta que ao realizar operações com empresas

cujas atividades não tenham conformidade legal, além do elevado risco de

crédito, o Banco corre também o risco de ter sua imagem arranhada ou, até

mesmo, de vir a ter que enfrentar ações judiciais por responsabilização indireta.

22

Risco de Imagem

Pode ser definido como o risco de perdas decorrentes de alterações da

reputação junto a clientes, concorrentes, governo, etc. A FGV (2005)

exemplifica que boatos sobre a saúde financeira de uma instituição pode

desencadear uma corrida para saques.

A Apostila de Risco de Clientes do BB conceitua como a possibilidade

de o cliente ter seu nome desgastado em razão de publicidade negativa,

verdadeira ou não.

Risco Operacional

É a Possibilidade de ocorrerem perdas associadas à atividade

operacional da empresa, como sistemas inadequados ou inoperantes, pessoal

pouco qualificado, fraudes, etc.

Risco de Conjuntura

É a possibilidade de ocorrerem mudanças nas condições políticas,

sociais, econômicas ou financeiras internamente ou em outros países. A

apostila de Risco do BB (2005) exemplifica: em 2002, noticias de que a doença

da febre aftosa estava presente em nossos rebanhos provocaram o bloqueio

de exportações de carne brasileira. A diminuição das exportações gerou queda

nos preços no mercado interno, pelo excesso de oferta, comprometendo a

liquidez de vários bovinocultores e de empresas inseridas nessa cadeia

produtiva (pág. 26).

Os Cs do Crédito

A base teórica para análise de clientes está contida no que se

convencionou chamar os “Cs do Crédito”, há algum tempo utilizados pelos

23

bancos em geral para análise de crédito. Aos quatro elementos iniciais (caráter,

capacidade, condições e capital), os estudiosos vêm acrescentando outros,

conforme seja o enfoque. O Banco do Brasil entendeu trabalhar com mais dois

(conglomerado e colateral), somando, assim, seis elementos para análise.

Vejamos então esses princípios:

Caráter

O caráter faz menção ao risco moral, ou seja, a intenção ou a

determinação do cliente de honrar ou não seus compromissos assumidos. É

sem dúvida alguma, o primeiro fator de seleção da clientela.

Pereira (2003) refere-se ao caráter como a intenção do devedor (ou

mesmo garantidor) de cumprir a promessa de pagamento (pág. 79).

Segundo Blatt (1999), diz respeito à honestidade do cliente, se ele é

íntegro nos seus negócios e se cumpre habitualmente seus pagamentos

independentemente de fatores adversos que possam ocorrer (pág. 42).

As pessoas são diferentes e agem diferentemente em situações

similares e é isso que determina seu caráter. Se uma pessoa em dificuldades

se prontificar a desfazer de bens para honrar compromissos, ou a propor

alternativas junto aos credores, estará demonstrando claramente sua boa-fé.

Se agir contrariamente, estará dando sinais de que seu caráter não é dos mais

confiáveis.

A apostila do BB (2005) é enfática: não interessa conceder crédito a

pessoas, cujo histórico e informações não permitam formar conceito positivo

sobre seu caráter. A primeira condição para alguém pagar uma divida é querer

pagá-la. Se não tivermos convicção de que o cliente realmente tem intenção de

pagar, se não estivermos seguros de que seu caráter recomenda a

concretização de negócios, devemos evitar operar com ele (pág. 65).

O caráter é, assim, um princípio crítico. De nada adiantará alguém

poder, se não quiser pagar. Por isso, o caráter é determinante na disposição

em se conceder crédito.

24

E na pessoa jurídica? Como analisar seu caráter? Na medida em que o

caráter é algo inerente ao individuo, como avaliar o conceito de uma pessoa

jurídica? Como apurar?

Segundo definição da Apostila de Risco do Banco do Brasil (2005),

para as empresas valem os princípios até agora descritos, com algumas

particularidades (pág. 67). Por regra geral, o caráter de uma empresa é reflexo

do caráter de seus donos e de seus administradores, pois é impossível separar

uma coisa da outra.

Capacidade

Blatt (1999) resume: consiste nas qualidades curriculares do indivíduo

em gerir sua vida pessoal e/ou profissional (pág. 44).

Na pessoa jurídica, a capacidade refere-se à maior ou menor

habilidade dos administradores em gerir estratégica e operacionalmente os

negócios da empresa e, também, ao potencial de produção e comercialização

do empreendimento. A apostila de risco de crédito do BB (2005) recomenda

que para uma melhor análise desses aspectos, faz-se recomendável uma visita

à empresa, por meio da qual poderão ser reconhecidas as instalações, os

métodos de trabalho, o grau de tecnologia que utiliza, entre tantos outros

aspectos (pág. 71).

Temos em Pereira (2003), os conceitos de capacidade física e

administrativa. A capacidade física diz respeito as suas instalações, seus

métodos de trabalho e o grau de tecnologia utilizado. Já a capacidade

administrativa refere-se ao currículo de seus administradores, seus

conhecimentos e experiência no mercado que atuam.

25

Condições

Todos, empresas ou pessoas físicas, estão inseridos num determinado

contexto, num determinado ambiente. As condições deste ambiente exercem

influência no desempenho de suas atividades.

Pereira (2003) resume como os fatores não controláveis pela empresa,

como a concorrência, as flutuações econômicas e os eventos naturais (pág.

79).

As condições fazem menção aos aspectos gerais e conjunturais do

negócio e ramo de atividade. Blatt (1999) ressalta que para tal avaliação

interessam o conhecimento dos concorrentes, a conjuntura econômica e

política do país, do setor e da região, segmento de atividade, qualidade dos

produtos e serviços, retrospectiva histórica e perspectiva futura (pág. 46).

Refere-se ao meio ambiente no qual a empresa está inserida, ou seja,

refere-se aos fatores externos e macroeconômicos. Fatores como

sazonalidade, desaquecimento setorial ou geral.

Se as condições de mercado forem favoráveis, a empresa terá impulso

a mais para levar o empreendimento ao sucesso e, com isso, saldar com folga

seus compromissos. Ao contrário, condições desfavoráveis irão constituir

empecilho ao bom desenvolvimento da atividade e, em conseqüência, poderão

gerar dificuldades na hora de pagar.

Capital

O capital refere-se à situação econômico-financeira da empresa, no

que diz respeito aos seus bens e recursos possuídos para saldar seus débitos.

É medido mediante análise dos índices financeiros.

Blatt complementa: é um dos “Cs” mais significativos. Trata-se da

mensuração e qualificação da situação econômico-financeira da empresa,

inclusive por meio dos demonstrativos financeiros. (1999; pág. 45).

26

Para a pessoa jurídica, utiliza-se todo um conjunto de conceitos e

técnicas de análise de demonstrações financeiras fornecidas pela empresa

(balanço patrimonial, demonstrações do resultado do exercício, entre outros

documentos). Segundo Pereira (2003) a análise dos demonstrativos contábeis

oferece informações valiosas sobre o desempenho e solidez da empresa, por

isso, constitui eficiente ferramenta para decisão do crédito.

Conglomerado

Refere-se à análise financeira de controlada(s), controladora(s),

coligada(s) e interligada(s) para que se possa fazer uma análise mais apurada

com relação ao pleiteante do crédito.

Pereira (2003) faz menção como à análise não apenas de uma

empresa específica que esteja pleiteando crédito, mas ao exame do conjunto,

do conglomerado de empresas no qual a pleiteante de crédito esteja contida.

Algumas vezes, deparamos com um conjunto de empresas controladas

por uma família ou por um grupo de pessoas. Nesta condição, é preciso ter

uma visão global, para sabermos qual o risco que esse conjunto representa e

quais as transações existentes entre as empresas que o integram.

Recorrendo a Blatt (1999), não basta conhecer a situação de uma

empresa isolada, é necessário o exame de sua controladora ou de suas

controladas, interligadas e coligadas (pág.47). Muitas vezes uma empresa em

si não comporta o crédito, mas o grupo ao qual pertence sim. Outras vezes a

situação negativa de uma empresa do grupo pode determinar insolvência das

demais.

Colateral

São as garantias. Estas são tratadas como decorrência do risco que o

cliente representa. Sendo assim, à medida que o risco aumenta, deverá haver

maior preocupação com a qualidade e liquidez das garantias.

27

Segundo Blatt (1999) colateral faz menção as garantias oferecidas pelo

cliente para compensar fraquezas ou simplesmente para reforçar e

complementar outros aspectos de crédito (pág. 45). Trata-se do oferecimento,

por parte do devedor, de garantias que confiram maior segurança ao crédito.

Pereira (2003) completa: colateral refere-se à capacidade do cliente em

oferecer garantias complementares (pág. 98). A garantia é uma segurança

adicional.

Muitos ficam tentados a considerar que boas garantias asseguram o

tranqüilo retorno dos capitais emprestados. Devemos ter sempre em mente que

a verdadeira garantia de uma operação é a convicção de que o cliente irá

liquidá-la com os recursos gerados pela sua atividade.

Classificação de risco do cliente.

Segundo Silva (2003) cada banco, na qualidade de depositário dos

recursos dos agentes financeiros ofertadores de fundos, necessita avaliar

cuidadosamente a capacidade de pagamento dos tomadores de recursos (pág.

81).

E complementa: no gerenciamento do crédito, a diferença é muito

grande entre uma empresa classificada como risco mínimo e outra classificada

como risco máximo numa determinada escala de avaliação (pág. 82),

A avaliação de risco do cliente tem por finalidade básica calcular o

perfil de risco de crédito a estabelecer limites para o cliente. O risco do cliente

define a probabilidade de inadimplência no segmento a que ele pertence.

“A cada faixa de freqüência esperada de inadimplência associa-se um

risco. Ou seja, quando falamos que um cliente pertence a uma categoria de

risco de crédito, indiretamente estamos dizendo que, para sua faixa de risco, o

banco espera um percentual de inadimplência previamente conhecido com

base em técnicas estatísticas.

28

Existem diversos tipos de escalas de classificação de risco, entretanto

vamos nos ater a utilizada no Banco do Brasil. Os riscos são atribuídos de

acordo com uma metodologia com base numa Freqüência Esperada de

Inadimplência (FEI). De acordo com a FEI obtida, será atribuído um risco para

o cliente, com classificação em nove faixas, que são: AAA, AA, A, B+, B, C+,C,

D e E. Essa escala é feita na ordem crescente de risco, onde o cliente A

oferece menor riscos que um cliente B e assim sucessivamente. Na prática, no

Banco do Brasil, dizemos apenas se o cliente é A, B, C, D ou E.

Como o risco é a probabilidade de inadimplência, as definições acima

permitem algumas inferências:

• Clientes riscos A e B estão numa zona confortável de

classificação, ou seja, a probabilidade de inadimplência com

clientes nessa faixa de risco é baixa.

• Clientes risco C apresentam média probabilidade de

inadimplência. Situam-se numa zona intermediaria: tanto podem

estar mais próximos dos clientes risco B como dos clientes risco

D. Nessa faixa tanto podem existir clientes de menor risco como

de maior risco;

• Clientes enquadrados os níveis D e E apresentam significativa

probabilidade de inadimplência. São merecedores de cuidados

especiais. Na prática os clientes com risco D só operam em

alguns tipos específicos de linhas de crédito, enquanto os de

Risco E somente em operações de recuperação de crédito.

Informações para análise

A matéria-prima para a decisão de crédito é a informação. A obtenção

de informações confiáveis e o competente tratamento das mesmas constituem

uma base sólida para uma decisão de crédito.

29

Neste caso é necessário o uso de formulários que permitam adaptar os

dados de um determinado cliente aos padrões do credor. Veremos a seguir

alguns deles.

Ficha cadastral

Segundo Pereira (2003) a ficha cadastral constitui-se num valioso

instrumento de decisão de crédito, propiciando ao analista, e aos gestores de

crédito em geral, diversas informações relevantes sobe a empresa e alguns

fatores que afetam seu desempenho (pág. 153).

As informações contidas no cadastro são, muitas vezes, suficientes

para a concessão de empréstimos. Por isso, e para que possamos operar

crédito com qualidade, ele deve conter informações autênticas, exatas e

confiáveis e atualizadas. Em outras palavras, a ficha cadastral deve espelhar a

real situação do cliente, nem mais e nem menos.

Em Blatt (1999), o cadastro deve ser renovado periodicamente para os

clientes já existentes, e preparado para os novos negócios, com base em

fontes adequadas (credores, fornecedores, etc.) (pág. 137).

E necessário que a ficha cadastral contenha as informações

efetivamente importantes para a análise e concessão de crédito. Entretanto, o

excessivo número de informações pode, além de não ser usado no processo

decisório de concessão, como dificultar o preenchimento pelo cliente.

Veremos abaixo as principais informações contidas no formulário de

cadastramento de pessoa jurídica no Banco do Brasil. Este formulário, e outros,

são encontrados no site do Banco do Brasil

(http://www.bb.com.br/portalbb/page45,108,3373,8,0,1,2.bb?codigoNoticia=793&codig

oMenu=539).

30

Dados básicos

Fornecem informações sobre a experiência da empresa,

principalmente quanto a:

• Data do registro - tempo de existência e de atuação no mercado;

• Cliente desde - tempo de relacionamento da empresa com o

Banco;

• Data da situação - tempo em que a empresa está operando;

• Grupo econômico – participação em grupo empresarial ou

econômico.

Dados complementares

Outras informações para análise, como:

• Contato – pessoa que representa a empresa nos contatos com o

Banco;

• Faturamento anual;

• Quantidade de funcionários – peso na folha de pagamento e

importância social.

Endereços e telefones

Fornecem informações sobre onde como contatar o cliente.

Referências

Fornecem informações sobre a empresa, sócios, dirigentes e

negócios da empresa.

31

Relacionamentos

Identificam os diretores/sócios-gerentes, pessoas que

efetivamente tem o poder de decisão na empresa, principais

acionistas/sócios da empresa e eventual participação em outras

empresas.

Relatórios Contábeis

Os relatórios contábeis constituem importante fonte de

informações, pois resumem a situação econômico-financeira da

empresa no respectivo período (Apostila Risco BB; 2005; pág. 99).

Devem, entretanto, sempre que possível, ser complementados,

retificados ou ratificados em visita ao cliente, por meio da qual se torna

possível buscar informações sobre os diversos fatores que refletem na

situação econômico-financeira da empresa.

Autorização para Levantamento de Informações Cadastrais – SCR

A central de Risco do BACEN (Banco Central do Brasil) é,

atualmente, uma das mais importantes fontes de informações para os

próprios bancos. Conforme Pereira (2003) cada banco fornece ao

BACEN a relação das operações de seus clientes pessoas físicas ou

jurídicas. Isso permite ao BACEN conhecer quem são os grandes

devedores no mercado de crédito, a qualidade desses devedores e

também quais são os bancos que estão suprindo recursos de tais

tomadores (pág. 87).

Cada banco pode consultar a Central de Risco sobre as dívidas e

coobrigações e seus clientes junto ao sistema financeiro. Por outro

lado, é necessário que o cliente forneça por escrito uma autorização a

seu banco para que o mesmo possa consultar a referida base de

informações do BACEN.

32

Visita ao Cliente

Como podemos perceber, a visita é o momento mais adequado

para se identificar eventuais riscos e potencialidades de negócios com

o cliente.

Conforme Blatt visitar o cliente é absolutamente essencial para:

• Conhecer cada vez mais profundamente nossos clientes atuais

e em perspectiva;

• Obter dados, identificar situações e detectar sinais de perigo que

só podem ser observados in loco, e que as vezes podem

justificar números que vemos nos demonstrativos financeiros, ou

mesmo antecipar possíveis problemas;

• Compreender cada vez melhor nossos riscos de crédito;

• Estabelecer, entre o cliente e o credor, uma atmosfera de

confiança mútua que possibilite um relacionamento duradouro e

lucrativo;

• Vender nossos produtos e identificar oportunidades de novos

negócios (Blatt; 1999; pág. 168).

Para Pereira as visitas a clientes cumprem dupla missão. Primeiro,

permitem o conhecimento mais de perto do cliente e de suas instalações,

fornecendo subsídios para oportunidades de negócios e para avaliação de

riscos. Segundo, constituem uma oportunidade para fortalecimento das

relações de negócios.

Na prática a visita ao cliente é insubstituível. É uma oportunidade única

de obter uma imagem real do nível de atividade do cliente, em seus aspectos

quantitativo e qualitativo, bem como avaliar a sua força e eficiência. E em

alguns casos verificar se a empresa realmente existe e está operacionalmente

ativa.

Entretanto a mais frutífera das visitas perdera sua eficácia se não for

registrada. No Banco do Brasil existe relatório próprio. Nele devem estar

33

contidos, de forma objetiva e clara todos os assuntos julgados relevantes e que

possam trazer subsídios as decisões.

34

CAPITULO III

ANÁLISE DE CRÉDITO DE MICRO E PEQUENAS

EMPRESAS

Micro e Pequenas Empresas

Antes de continuarmos devemos classificar as Micro e Pequenas

Empresas, pois estas serão o objeto de nosso estudo. Existem alguns critérios

de classificação, vamos a eles.

No estatuto da Micro e Pequena Empresa, de 1999, o critério adotado

para conceituar micro e pequena empresa é a receita bruta anual, cujos valores

foram atualizados pelo Decreto nº 5.028/2004, de 31 de março de 2004, são os

seguintes:

• Microempresa: receita bruta anual igual ou inferior a R$ 433.755,14

(quatrocentos e trinta e três mil setecentos e cinqüenta e cinco reais e

quatorze centavos);

• Empresa de Pequeno Porte: receita bruta anual superior a R$

433.755,14 e igual ou inferior a R$ 2.133.222,00 (dois milhões, cento e

trinta e três mil, duzentos e vinte e dois reais).

É importante ressaltar que o regime simplificado de tributação -

SIMPLES, que é uma lei de cunho estritamente tributário, adota um critério

diferente para enquadrar micro e pequena empresa. Os limites, conforme

disposto na Medida Provisória 275/05, são:

• Microempresa: receita bruta anual igual ou inferior a R$ 240.000,00

(duzentos e quarenta e mil reais);

• Empresa de Pequeno Porte: receita bruta anual superior a R$

240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$

2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais).

35

Já classificação de porte de empresa adotada pelo Banco Nacional de

Desenvolvimento Social (BNDES) e aplicável a indústria, comércio e serviços

está resumida abaixo:

• Microempresa – Receita operacional bruta anual inferior R$ 1,2 milhão;

• Pequena Empresa – Receita operacional bruta maior que R$ 1,2 milhão

e menor ou igual a 10,5 milhões;

• Média Empresa – Receita operacional bruta anual maior que R$ 10,5

milhões e menor ou igual R$ 60 milhões;

• Grande empresa – Receita operacional bruta anual maior que R$ 60

milhões.

No Banco do Brasil existe uma classificação própria para o porte de

empresas tendo como base o disposto na Medida Provisória 275/05 e elencada

abaixo:

• Micro Empresa – faturamento bruto anual até R$ 240 mil;

• Pequena Empresa - faturamento bruto anual maior que R$ 240 mil e

menor que R$ 2.400 mil;

• Média Empresa: Faturamento bruto anual maior que R$ 2.400 mil e

menor que R$ 35 milhões;

• Grande Empresa: Faturamento bruto anual maior que R$ 35 milhões.

ANÁLISE DE CRÉDITO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO BANCO

BRASIL

A metodologia para análise de risco e estabelecimento de limite de

crédito para micro e pequenas empresas, no Banco do Brasil, é

operacionalizada pela própria agência detentora do cadastro. A análise é

efetuada inteiramente em ambiente informatizado e que chamaremos de

Programa do Banco do Brasil, que atribui nível de risco e calcula limite de

36

crédito. Entende-se aqui limite de crédito como o valor máximo que o Banco

está disposto a conceder para o cliente.

Segundo a Apostila Risco BB (2005), as informações para análise são

obtidas das fontes: dos cadastros da empresa e dos sócios, de informações

comportamentais obtidas nos sistemas do Banco, sistema SCR (BACEN) além

dos formulários de coleta de dados e de faturamento (pág. 71).

O faturamento anual é constituído pela relação mensal das vendas de

bens ou serviços prestados pela empresa no exercício social considerado

(faturamento anual bruto).

Embora estejamos lidando com clientes que, por suas características,

demandam menores volumes de crédito, os referenciais para crítica das

informações contidas no cadastro são os mesmos contidos nos Cs do crédito

vistos anteriormente.

Além disso, a análise de micro e pequenas empresas reveste-se de

certas particularidades, uma vez que elas geralmente confundem-se com as

pessoas de seus proprietários. Neste tipo de empreendimento:

• Normalmente, existe apenas a obrigatoriedade de manutenção do livro

Caixa. Assim, o balanço patrimonial e demais relatórios contábeis,

quando existentes, podem não refletir a verdade;

• A administração, na maioria das vezes, é tipo familiar, com cônjuge,

filhos e parentes próximos no quadro de funcionários;

• É comum a ocorrência de retiradas informais de recursos financeiros do

caixa da empresa pelos sócios ou proprietários;

• Inversamente, é também comum os sócios ou proprietários injetarem

recursos financeiros diretamente no caixa da empresa, sem qualquer

registro contábil;

• Não existe um critério bem definido para retiradas a título de pró-labore.

O que se verifica normalmente são constantes “vales”, que não são

registrados nos controles contábeis;

37

• Os sócios ou proprietários possuem geralmente estreita ligação com a

empresa, participando ativamente do dia-dia de suas atividades. Muitas

vezes são sócios, gerentes e funcionários ao mesmo tempo (Pereira,

2003; Apostila Risco BB, 2005).

Ter conhecimento dessas particularidades é importante para auxiliar na

análise e definição do risco de crédito da empresa. A análise, das micro e

pequenas empresas, está embasada em informações (da empresa e de seus

sócios). Assim, a crítica aos dados impostados no cadastro, a relação de

faturamento e aos dados fornecidos por meio do formulário de coletas de

dados da empresa é o procedimento que se reveste de extrema importância.

Vale ressaltar que outro fator de extrema relevância, embora não

obrigatório, é a visita ao cliente e às suas instalações, principalmente quando

ele for novo no Banco ou estiver iniciando suas atividades.

Fontes de Informações para Análise

Vimos que o Programa do Banco do Brasil utiliza, para análise, as

informações cadastrais e comportamentais, as informações obtidas pelo

formulário de coleta de dados, obtidas no SCR (BACEN) e, também, os dados

relativos ao faturamento anual da empresa (informado no cadastro).

Seguindo o roteiro da Apostila de risco BB (2005) o primeiro passo será

verificar a suficiência, a autenticidade e atualidade das informações cadastrais.

Como segundo passo, criticamos as informações prestadas no

formulário de coleta de dados e, finalmente, confirmamos a legitimidade do

faturamento, comparando-o com o de empresas similares.

Se permanecerem dúvidas, ou se for necessário complementar as

informações, devemos realizar visita às instalações da empresa com a

finalidade de eliminar pontos questionáveis.

38

Além das informações complementares, devemos ainda consultar as

fontes de referência, bancária e comerciais, da empresa e dos sócios. A

informação sobre o conceito pode ser confirmada por meio de consulta a

referências sugeridas pelo cliente e outras sabidamente idôneas, inclusive

empresas de seu relacionamento.

Uma boa fonte de referência são os principais fornecedores e clientes da

empresa. Podemos, a partir daí, saber se ela vem pagando suas compras em

dia ou se tem apresentado atrasos e se os produtos fornecidos são de

qualidade.

Vamos nos deter agora nas informações prestadas. Analisaremos as

mais significativas, cuja qualidade pode comprometer o resultado final da

análise.

Sede da empresa – se própria ou pertencente aos sócios, a empresa tem um

ponto forte no quesito capital, por não se obrigar a desembolso com aluguéis,

nem ver seus negócios descontinuados por obrigar-se a entregar o imóvel.

Principais clientes – nesse item, é possível identificar para quem a empresa

vende, ou seja, seu público alvo. Permite também analisar o nível de

concentração de clientes.

Vendas a prazo – da mesma forma que é importante conhecer para quem a

empresa vende, devemos identificar como são efetuadas suas vendas. Se a

prazo, qual a proporção sobre as vendas a vista, que modalidades utiliza

(cheque pré-datado, cartão de crédito, duplicata). Essa informação, capturada

do cadastro irá influenciar o portifólio de negócios.

Faturamento – vimos que a relação de faturamento é um dos elementos

constitutivos da análise de crédito das micro e pequenas empresas e constitui

importante informação. Sua crítica não é tarefa fácil. Somente conhecendo a

empresa e seu mercado de atuação, poderemos comparar o faturamento

analisado com o de empresas de mesmo setor e porte.

39

O valor do faturamento subdimensionado pune o cliente, por forçar a

estimativa de um limite de crédito aquém de suas necessidades. E pune o

Banco, que fica impedido de aproveitar o potencial de negócios do cliente.

O valor do faturamento superestimado pune o Banco, por disponibilizar

crédito superior à capacidade de pagamento do cliente, o que expõe seus

capitais a riscos desnecessários. E pune o cliente, por favorecer seu

endividamento excessivo, o que poderá, inclusive, a continuidade de seus

negócios.

Segundo Blatt (1999) não devemos esquecer que os Cs do crédito

andam juntos. Não é porque o cliente demonstra caráter que devemos colocar

a sua disposição valores superior a sua capacidade de pagamento.

Criticadas as informações cadastrais, a relação de faturamento e as

demais informações prestadas no formulário de coleta de dados do cliente,

estaremos prontos para iniciar o processo de análise, com a impostação dos

dados no Programa próprio do Banco do Brasil e, assim sugerir o portifólio de

negócios adequado à realidade do cliente.

Definição do Risco e Estabelecimento do Limite de Crédito

Como resultado da análise, o programa do Banco do Brasil apresenta

valor calculado para os sublimites do portifólio de negócios. Informa também o

limite total e o nível de risco calculado pra o cliente.

É a fase conclusiva. É o momento de observar se os valores calculados

pelo sistema guardam coerência com a realidade da empresa. Podemos

registrar as conclusões da análise. É a oportunidade para tecer comentários

sobre valores e garantias sugeridas.

Linhas de Crédito para Micro e Pequenas Empresas.

Demonstraremos agora algumas das principais linhas de crédito

oferecidas pelo Banco do Brasil para as Micro e Pequenas empresas.

40

Capital de giro

São operações tradicionais de empréstimos vinculadas a um contrato

especifico que estabelece prazo, taxas, valores e garantias necessárias. As

principais são:

- BB Giro Rápido – Crédito pré-aprovado; prazo de 18 meses; renovação

automática e reutilização dos valores amortizados.

- Cheque Ouro Empresarial – Crédito rotativo e renovação automática.

- BB Giro Automático – Crédito pré-aprovado; prazo de 12 meses; utilização

através do cartão de crédito empresarial e pode ser utilizado no pagamento de

tributos.

- BB Giro Empresa Flex – Crédito pré-aprovado; prazo de até 24 meses;

reutilização dos valores amortizados; data do pagamento a escolher e

destinados a empresas com faturamento superior a 2,133 milhões.

Antecipação de Recebíveis

É o adiantamento de recursos aos clientes sobre valores vendidos a

prazos e referenciados em duplicatas de cobrança, cartões de crédito e

cheques pré-datados. São eles:

- Desconto de cheques – antecipação em conta corrente dos cheques pré-

datados.

- Antecipação de Crédito ao Lojista (ACL) – antecipação das vendas feitas

pelo cartão de crédito.

- Desconto de Títulos – antecipação das receitas das vendas realizadas por

meio de duplicatas.

Financiamento

São linhas de crédito destinadas à ampliação e modernização das

empresas através da aquisição de equipamentos e obras de melhoria.

41

Possuem longo prazo para pagamento e, em alguns casos, carência para

pagamento da primeira parcela. São elas:

- Proger – destina-se a implantação, reformas, aquisição de máquinas e

equipamentos e veículos. Financia até 80% do valor do projeto; prazo de 72

meses para pagar e carência de até 12 meses. A taxa de juros é composta

pela TJLP2 mais encargos.

- Finame – financiamento de longo prazo para a aquisição e produção de

máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional, cadastrados da

Agencia Especial de Financiamento Industrial – FINAME. Financia 100% do

bem; prazo de pagamento de até 60 meses e taxa de juros composta de TJLP

mais encargos.

- Cartão BNDES – financia a compra de máquinas, equipamentos e outros

bem diretamente dos fornecedores credenciados no portal do cartão BNDES.

Financiamento de até 100% do bem, prazo de até 48 meses e taxa prefixada

divulgada no portal do cartão BNDES.

- Leasing – ou arrendamento mercantil, é uma operação realizada mediante

contrato na qual o dono do bem (arrendador) concede a outrem (arrendatário) o

direito de utilização do mesmo, por prazo previamente determinado e o

pagamento de parcelas. Prazo de até 36 meses e financiamento de 100% do

bem.

Existem outras linhas de crédito, entretanto optamos por elencar as mais

utilizadas no nosso dia a dia e mais procuradas pelas Micro e Pequenas

Empresas. Outras podem ser consultadas no site do Banco do Brasil

(http://www.bb.com.br/portalbb/home4,108,108,8,1,1,2.bb).

2 TJLP - Taxa de Juros de Longo Prazo. É válida para os empréstimos de longo prazo, seu custo é variável, mas permanece fixo por período mínimo de três meses.

42

CAPÍTULO IV

ESTUDO DE CASO

Nesta parte mostraremos um exemplo prático de análise de crédito de

pequena empresa para que possamos demonstrar, e unificar, o que foi visto

nos capítulos anteriores.

Abordaremos desde o primeiro contato como a empresa até a análise de

risco e o cálculo do limite de crédito. Incluindo, também as linhas de crédito

mais utilizadas pelas micro e pequenas empresas no Banco do Brasil.

A empresa

A empresa em questão é um atacadista de bijuterias, jóias e acessórios

femininos a qual vamos chamar de Empresa Biju.

O primeiro contato deu-se através de indicação. Um dirigente de outra

empresa, em conversa com o proprietário da Empresa Biju, disse estar muito

satisfeito com o atendimento e o relacionamento com o Banco do Brasil.

Elogiou os produtos e serviços prestados. Foi acordado que o dirigente

solicitaria que seu gerente entrasse em contato.

O Gerente responsável ligou para a empresa e agendou uma visita para

demonstrar os produtos e serviços do banco, bem como conhecer um pouco da

mesma. Paralelamente informamos que seriam necessárias algumas

informações cadastrais, preenchimento de formulários e cópias de

documentos. Acordamos o envio da relação dos documentos via e-mail.

Quanto aos formulários enviamos os links do site do Banco do Brasil onde os

mesmos podem ser acessados. Segue abaixo formato do e-mail enviado:

43

Boa tarde Sr.

Conforme contato telefônico, segue abaixo os documentos necessários para

abertura de conta corrente/limite de crédito empresa:

Da empresa

- CNPJ/MF – Atualizado

- Documento de Constituição (Contrato Social, Declaração de Firma Individual,

etc) devidamente registrado

- Formulário Ficha Cadastral – “Pessoa Jurídica” – preenchido e assinado

- Faturamento dos últimos 12 meses, ou dos meses de atividade, discriminando

vendas à vista e a prazo.

- Formulário de Coleta de Dados da Empresa

- Assinar Autorização Consulta SCR

Dos sócios

- Cópia da identidade e CPF

- Comprovante de residência (água, luz, telefone ou gás)

- Comprovante de renda ( Contra cheque, Decore ou Imposto de Renda)

- Formulário Ficha Cadastral – “Pessoa Física” – preenchido e assinado

- Assinar Autorização Consulta SCR

ATENÇÃO: apresentar a mesma documentação para o cônjuge, caso seja

casado(a), inclusive certidão de casamento.

Este é o link dos os formulários:

http://www.bb.com.br/portalbb/page45,108,3373,8,0,1,2.bb?codigoNoticia=793

&codigoMenu=539

Att

Funcionário

Gerente PJ

44

A Visita

Na visita a empresa fomos atendidos e recepcionados pelo

sócio/dirigente. Ele prestou as seguintes informações sobre a empresa:

- a Empresa Biju está no mercado há mais de dois anos e nesse período seu

faturamento tem crescido mês a mês.

- Comercializa seus produtos no atacado, possuindo uma boa carteira de

clientes. Seus recebimentos são feitos em sua maioria através de boletos

bancários e, às vezes, por cheque pré-datado.

- Seus produtos são importados da Tailândia onde possui uma boa rede de

fornecedores. Costuma viajar para procurar novos fornecedores e estreitar o

relacionamento com os atuais.

- Tem interesse em conhecer as linhas de capital de giro, principalmente no

que diz respeito à antecipação de recebíveis, visando alavancar mais as

vendas.

Prestamos informações sobre as linhas de crédito de seu interesse, bem

como de outras que poderia necessitar futuramente. Demonstramos como seria

a operacionalização, as taxas e os prazos. Dissemos que iríamos precisar dos

documentos solicitados anteriormente para analisar seu pleito. Os documentos

foram entregues e demos por finalizada a visita.

Considerações sobre a visita

Percebemos muitos pontos positivos nesse encontro. Verificamos que os

equipamentos utilizados (computadores, mobiliário, etc.) eram modernos e

adequados a seu ramo de atuação. Seu estoque é diversificado e organizado.

Seu dirigente mostrou ter boa capacidade administrativa e conhecedor do

mercado que atua. Embora a empresa tenha cerca de dois de atividade ele já

atua na área há muito mais tempo.

45

Ressaltamos também o fato do contado com a empresa ter sido feito por

indicação. Neste caso a indicação veio de cliente idôneo e com um bom tempo

de relacionamento. Esse meio de contato é bom para ambas as partes. Para o

cliente traz mais confiança no serviço prestado e no produto a ser oferecido.

Quanto ao banco traz um pouco mais conforto na análise de crédito.

Análise da Empresa.

Nesta parte vamos dar ênfase aos itens mais relevantes para a análise

de risco e estabelecimento de limite de crédito, ou seja, os itens que servem de

subsidio e alimentam o programa utilizado no Banco do Brasil.

Cadastro da empresa

Nesta fase todas as informações da empresa são inseridas no sistema

do Banco. É muito importante verificar a autenticidade dos documentos

fornecidos e do correto preenchimento dos formulários. Deve-se ter cuidado

para não para ocorrer erros de digitação, estes podem prejudicar a análise.

A data de registro da empresa, o tempo que ela está operando e o ramo

de atividade são dados importantes e devem ser corretamente preenchidos.

O faturamento anual é outra informação de suma importância. Os

valores das vendas a prazo e a vista devem ser separados. O prazo médio de

vendas a prazo também deve ser colocado bem como os tipos de recebimento

e seu percentual. Ex. cartão de crédito – 60% das vendas a prazo e boleto

bancário – 40%. Esta divisão é necessária visto que sem ela não será possível

calcular limite de crédito para operações com recebíveis. No caso da Empresa

Biju seu faturamento nos últimos 12 meses foi de R$ 1.227.500,00 e suas

vendas estavam assim divididas:

• Títulos - 80%

• Cheques pré-datados - 20%

46

Não vende no cartão, visto que atua no atacado, e seu prazo médio de

vendas é de 45 dias.

Os endereços devem ser inseridos com atenção e atualizados sempre

que possível. Dessa forma poderemos contatar o cliente sempre que

necessário. Além disso, devemos informar se o imóvel e próprio ou alugado.

Neste caso o tipo de imóvel irá influenciar na análise. A empresa analisada

situa-se em imóvel alugado com contrato de locação válido por 5 anos.

Outra informação importante diz respeito às referências. Podemos

verificar se a empresa realmente vende para determinado cliente e se cumpre

os prazos, bem como a qualidade de seus produtos. Bancos e fornecedores

também podem consultados para dirimir quaisquer outras dúvidas.

Os sócios e dirigentes devem ser identificados e seus percentuais de

participação na empresa corretamente preenchidos.

Pesquisas aos órgãos reguladores de crédito (Serasa, cadin) são

necessárias. Verificamos assim se empresa possui restrições cadastrais em

seu nome ou histórico de inadimplência.

Foi feito também consulta a Central de Risco do BACEN, com prévia

autorização do cliente, para verificar o nível de endividamento bem como

possíveis atrasos no sistema financeiro. Verificamos baixo endividamento, se

comparado com o seu faturamento, e inexistência de histórico de atrasos.

Cadastro dos sócios

Este é mais simplificado e enxuto. É composto basicamente pelos dados

pessoais, profissionais e financeiros.

Como no cadastramento da empresa é necessário verificar a existência,

ou histórico, de restrições nos órgãos reguladores de crédito e o endividamento

na Central de Risco BACEN.

47

O cadastramento de bens móveis e imóveis em nome dos sócios, caso

existam, também é um fator positivo na análise, pois demonstram a existência

de lastro para amparar operações que venham a ser contratadas.

Fatores como idade, escolaridade e estado civil são itens que também

influenciam a análise do risco.

Resultado da análise

Após a impostação de todos os dados, da empresa e dos dirigentes, o

sistema faz o calculo do risco do limite de crédito a ser concedido. No caso da

Empresa Biju o resultado foi o seguinte:

Limite calculado - R$ 241.023,49

Risco calculado - B

O risco calculado, como visto anteriormente, encontra-se numa zona

com baixa probabilidade de inadimplência. Entretanto como o cliente está

iniciando seu relacionamento com o banco devemos ter atenção na análise.

Os valores foram distribuídos em sublimites específicos para cada linha

de crédito. Vamos resumir para tornar mais fácil a compreensão. São eles:

Antecipação de Recebíveis

• Desconto de Cheques 126.444

• Desconto de Títulos 126.444

Operações de Curto Prazo

• Capital de Giro 45.824

• Financiamento 13º salário 45.824

• Cartão de crédito 2.000

Operações de Longo Prazo

• Investimento / Leasing 76.000

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• Capital de giro longo prazo 22.000

Esses foram os valores calculados pelo sistema, entretanto é necessária

uma inferência sobre os mesmos. Existem situações em que o limite fica

aquém do esperado pelo cliente, neste caso informamos que após iniciar o

relacionamento outra análise poderá ser feita. Em outras situações o limite fica

acima do esperado pelo Banco neste caso deferimos um valor menor.

Após a análise refinamos os valores e com base na visita definimos os

limites concedidos em cada linha. Não devemos esquecer que estamos

iniciando o relacionamento com o cliente, então é prudente impostarmos um

valor um pouco menor do que o calculado. Teremos também margem para

aumentar caso o cliente demande.

Sendo assim o limite da empresa Biju ficou assim definido:

Antecipação de Recebíveis

• Desconto de Cheques 80.000

• Desconto de Títulos 80.000

Operações de Curto Prazo

• Capital de Giro 20.000

• Financiamento 13º salário 10.000

• Cartão de crédito 2.000

Operações de Longo Prazo

• Investimento / Leasing 50.000

• Capital de giro longo prazo 20.000

Após o cálculo do risco e a impostação dos limites de crédito vem o

momento do deferimento, ou seja, a aprovação por parte do comitê de crédito.

Com a aprovação comunicamos ao cliente os valores e as operações que

serão contratadas conforme acordado na visita.

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Não informamos detalhes técnicos nem dados específicos do limite de

crédito. Apenas o que dizem respeito às operações a serem contratadas.

O portifólio proposto ficou na seguinte forma:

Contrato para desconto de títulos R$ 80.000,00

Contrato para capital de giro R$ 20.000,00

Vale lembrar que essa proposta é para iniciarmos o relacionamento e

outras oportunidades de negócios poderão surgir dessa parceria.

Disponibilizamos também linha para investimento onde o cliente pode

adquirir máquinas e equipamentos com prazos e taxas atraentes, evitando

assim a utilização de capitais próprios o que é comum em Micro e Pequenas

Empresas.

Devemos agora acompanhar a contratação e orientar a empresa nos

procedimentos iniciais para sua utilização. No caso do desconto de títulos e

necessário a emissão dos boletos de cobrança pelo Banco. Quando houver

necessidade é possível a antecipação desses títulos direto em conta corrente.

O valor é rotativo e limitado ao teto do contrato. Quanto ao capital de giro pode

ser utilizado a qualquer momento. É dividido em 18 meses e tem por finalidade

a cobertura de descasamento de fluxo de caixa ou na aquisição de

mercadorias com desconto para pagamento a vista.

Após conversa com o dirigente da empresa procuramos saber se esses

produtos e valores estariam dentro do esperado por ele e se atenderia suas

necessidades. Disse-nos que o limite e os produtos, principalmente o desconto

de títulos, a princípio estava de “bom tamanho”. Ficou contente com o limite

para investimento, pois pensa em trocar seus computadores e adquirir uma

caminhonete para agilizar as entregas.

Consideramos bastante promissores os negócios entabulados com

cliente além de outros que poderão surgir. Neste caso os limites calculados,

50

com alguns ajustes, ficaram dentro do que o banco estava disposto a conceder

e do que o cliente esperava obter.

Esperamos com esse estudo de caso ter demonstrado de forma prática

os conceitos vistos no decorrer desse trabalho. Vale lembrar que a análise de

risco e o limite de crédito são dinâmicos e devem ser revistos sempre que

necessários. Seja para uma mera revisão cadastral, para amparar o aumento

de determinada linha de crédito ou para evitar maiores perdas com clientes

inadimplentes.

51

CONCLUSÃO

A atividade de gerir e analisar crédito, e o risco a ele inerente, tem um

importante papel no contexto socioeconômico do País. As empresas precisam

de recursos para atender as suas necessidades de investimento e capital de

giro e cabe aos bancos cumprir a função de supridores desses recursos, no

desempenho de sua função de intermediação financeira.

Na outra ponta o banco, enquanto depositário dos recursos dos clientes,

tem o compromisso de administrar esses recursos de forma competente e

responsável.

Nesta relação, aparentemente simples, aparece a função de Análise de

Crédito com o papel de entender a atividade do demandador de recursos, de

identificar suas necessidades, de avaliar o risco e de subsidiar a decisão e

formalização da operação.

Nesse contexto podemos concluir que uma análise de risco feita dentro

das políticas de crédito da instituição, seguindo seus procedimentos e normas,

aproveitando a experiência de seus profissionais e bem dimensionada quanto à

atividade e porte da empresa pode minimizar, ou mesmo dirimir, a possibilidade

de ocorrer à inadimplência nos empréstimos concedidos as Micro e Pequenas

Empresas.

Com isso é possível obter maior segurança na aplicação dos recursos

sob a responsabilidade da instituição, aumentando a probabilidade de

recebimento e visando melhor rentabilidade dentro de limites de riscos

aceitáveis. Ou seja emprestar bem para emprestar sempre.

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BIBLIOGRAFIA

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edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2004.

BLATT, Adriano. Avaliação de Risco e Decisão de Crédito: Um Enfoque

Prático. 1ª edição. São Paulo: Editora Nobel, 1999.

CAOETTE, John B., ALTMAN, Eduard I. e NARAYANAM, Paul. Gestão do

Risco de Crédito: O Próximo Grande Desafio Financeiro. 1ª edição. Rio de

Janeiro: Qualitymark Editora. 1999.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: O

Dicionário da Língua Portuguesa. 3ª edição. Rio de janeiro: Editora Nova

Fronteira, 1999.

FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro: Produtos e Serviços. 15ª edição. Rio

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GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 7ª edição. São

Paulo: Editora Harbra, 1997.

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Monografia Passo a Passo... Siga o Mapa da Mina. 7ª edição. Rio de Janeiro:

Editora Wak, 2008.

PAIVA, Carlos Alberto de Carvalho. Administração do Risco de Crédito. 1ª

edição. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1997.

SILVA, José Pereira da. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 4ª edição. São

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Economia e Finanças – Programa de Certificação Interna em Conhecimentos.

Fundação Getúlio Vargas, 2008.

53

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11 e 12/07/2009.

Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), www.bndes.gov.br, link

classificação e porte de empresas, Rio de Janeiro, acessado em 08/07/2009.

Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE),

www.sebrae.com.br, link classificação e porte de empresa, Rio de Janeiro,

acessado em 08/07/2009.

Receita Federal, www.receita.fazenda.gov.br, Medida Provisória 275/05, Rio de

Janeiro, acessado em 08/07/2009.

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ANEXOS

Links dos Formulários

Cadastramento de Pessoa Jurídica

http://www.bb.com.br/portalbb/frm/fw0701413_1.jsp

Formulário de Coleta de Dados da Empresa

http://www.bb.com.br/portalbb/frm/fw0702681_1.jsp

Relação de Faturamento

http://www.bb.com.br/portalbb/frm/fw0702312_1.jsp

Cadastramento de Pessoa Física (sócios/dirigentes/representantes legais)

http://www.bb.com.br/appbb/portal/frm/fw0701316_1.jsp

Autorização para levantamento de informações cadastrais – SCR

http://www.bb.com.br/portalbb/frm/fw0702827_1.jsp