universidade candido mendes pÓs – graduaÇÃo … gomes amigo.pdfcomigo todos os dias,me...
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
CRIANÇAS HIPERATIVAS:
A IDENTIFICAÇÃO E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
POR:LILIAN GOMES AMIGO
Orientador:
PROF°: Maria Poppe
Rio de Janeiro
2004
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
CRIANÇAS HIPERATIVAS:
A IDENTIFICAÇÃO E A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA.
A apresentacão de monografia à Universidade Candido Mendes Como condicão prévia para a Conclusão do curso de Pós-Graduacão “Lato
Sensu” em Psicopedagogia. Por:Lilian Gomes Amigo
3
AGRADECIMENTOS
Áqueles que compartilharam a meu
ideal,me incentivando,apoiando,lutando
comigo em busca de uma conquista para a
realização de um sonho,dedico a todos com
muito carinho e admiração.
4
DEDICATÓRIA
Acima de tudo,a Deus,que esteve
comigo todos os dias,me
fortalecendo.
Ao meu querido pai que
diretamente contribuiu para que eu
alcance esse objetivo.
Aos professores,a expressão do
meu reconhecimento pelos
ensinamentos recebidos,sem os
quais a conquista não se
concretizaria.
.
5
Resumo
Diante da realização da pesquisa, baseada no levantamento
bibliográfico e nos objetivos propostos, e após organização e análise dos
dados, foi possível perceber que o TDAH é um transtorno de difícil
diagnóstico. Devido a algumas de suas características, esse transtorno pode
ser confundido com outros, o que gera uma grande incógnita.
Foram observados que os primeiros sinais do TDAH podem surgir
muito cedo, quando o bebê tem sono sempre agitado, choro fácil e intensa
movimentação no berço. Entretanto, muitas vezes o problema só é
investigado a partir da alfabetização, motivado pela dificuldade de
aprendizagem, que pode levar a criança a ter baixa auto-estima, depressão
ansiedade, irritabilidade, adiamentos e inconstâncias de interesses.
O tratamento envolve o grupo familiar, e muitas vezes requer sessões
de psicoterapia. O uso de medicamentos deve seguir rigorosamente as
orientações médicas. A auto medicação é totalmente condenável, pelos
riscos gravíssimos que representa para o paciente.
Pais e professores precisam ser compreensivos, evitar castigos, impor
limites, estimular e valorizar conquistas, sempre de modo simples e claro.
6
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliogràfica. Foram
analisados documentos em busca dos elementos que exerceram papel
fundamental na constituição do trabalho, com o objetivo de poder abordar o
assunto de forma coerente.
Foram feitas consultas na Internet, leituras de artigo de revista e de
livros cujos autores são especializados no assunto.
7
Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................8
CAPÍTULO I -Retratando a hiperatividade.................................................10
CAPÍTULO II - Pais e Professores: Sujeitos Presentes na Identificação e
Intervenção do TDAH..................................................................................20
CAPÍTULO III A necessidade de vários tratamentos..............................32
CONCLUSÃO...............................................................................................44
BIBLIOGRAFIA............................................................................................46
ÍNDICE.....................................................................................................................48
8
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade é conhecido há
aproximadamente cem anos. Contudo, sua caracterização clínica não está
finalizada. Em 1902, o médico inglês G. Still descreveu pela primeira vez as
características desse transtorno, desde então denominado “Disfunção
Cerebral Mínima”, passando posteriormente a ser chamado de
“Hipercinesia” ou “Hipercinese” e, logo a seguir, “Hiperatividade”, segundo a
quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM IV), da Associação Americana de Psiquiatria (APA).
Esse transtorno envolve a apresentação de níveis acima da média de
desatenção, impulsividade e hiperatividade. É um transtorno de início
precoce, ou seja, os sintomas geralmente se apresentam antes dos sete
anos, e são notáveis na maioria dos ambientes como lar, escola e
comunidade.
As crianças com TDAH possuem características comportamentais
inadequadas que as diferenciam de outras. Na escola, a criança comumente
se torna um estorvo a mais numa classe já tumultuada. E, provavelmente,
não só deixará de receber atenção adequada, como também será
marginalizada pelos colegas, educadores e pais. Com a progressão do
quadro, não é raro que a criança seja convidada a se retirar da escola e que,
ao ingressar em outra, o ciclo se repita. Nesse quadro, notamos que a
formação dos educadores brasileiros pode ser deficitária e, em função disso,
a maioria deles, provavelmente, não está preparada para diagnosticar e/ou
encaminhar adequadamente as crianças com o TDAH.
9
É de suma importância, para os educadores, possuírem esse
conhecimento, pois avaliações errôneas sobre o comportamento de crianças
com TDAH são feitas freqüentemente, havendo uma grande rotulação dos
alunos.
No 1o capítulo a abordagem refere-se ao conceito, classificacão,
sintomas e causas da hiperatividade, auxiliando no reconhecimento das
características que preocupam os pais e professores possibilitando
diagnóstico e avaliacão.
O 2o capítulo possibilita entender a relacão da crianca hiperativa no
ambiente familiar e escolar, as possíveis dificuldades no relacionamento e
na aprendizagem.
O 3o capítulo refere-se às necessidades de vários tratamentos
provacadas pelo comportamento inconstante e imprevisível da crianca
hiperativa, as possibilidades de intervencão psicopedagogica e a importancia
de um trabalho multidiciplinar.
A importancia da conscientizacão da hiperatividade como transtorno
de comportamento auxiliarà todos que estão envolvidos com alguma crianca
hiperativa ajudando na superacão das dificuldades,contribuindo para
melhoria da qualidade de vida,o desenvolvimento global e a interação
escolar e social.
10
CAPÍTULO I
Retratando a Hiperatividade
A hiperatividade é responsável pela enorme frustração que pais e
professores experimentam a cada dia. Crianças, adolescentes e adultos,
diagnosticados hiperativos são freqüentemente rotulados de “problemáticos”,
“desmotivados”, “irresponsáveis” ou, até mesmo, pouco “inteligentes”. A
maioria daquilo que lemos ou ouvimos sobre o assunto, tem uma conotação
negativa.
O transtorno interfere na habilidade da pessoa de manter a atenção,
de controlar adequadamente as emoções e o nível de atividade, de enfrentar
conseqüências consistentemente e, talvez o mais importante, na habilidade
de controle e inibição. Elas, até podem saber o que deve ser feito, mas não
conseguem fazer aquilo que sabem, devido à inabilidade de realmente poder
parar e pensar antes de reagir, não importando o ambiente ou a tarefa.
Supõe-se que os sintomas sejam catalisadores, tornando as crianças
vulneráveis ao fracasso nas duas áreas mais importantes para um bom
desenvolvimento – a escola e o relacionamento com as demais crianças.
Estudos revelam que o aparecimento dos sintomas está ligado à
genética. São mostradas diferenças significativas na estrutura e no
funcionamento do cérebro dos portadores, principalmente no hemisfério
direito, no córtex pré-frontal. O que parece está alterado nesta região é o
funcionamento de um sistema de substâncias químicas. Está claro que o
fator mais importante é a hereditariedade. Se olharmos a família de uma
pessoa hiperativa, vamos verificar que existem outros membros com o
mesmo problema.
11
1.1 O que é Hiperatividade/TDAH ?
A criança hiperativa representa uma tarefa, um desafio para pais e
professores. A hiperatividade compromete de modo marcante o
comportamento da criança, provocando um impacto em suas atuações. É
um desvio comportamental, caracterizado pela excessiva mudança de
atitudes e de atividades, com pouca consistência em cada tarefa a ser
realizada.
Em 1902, pesquisadores descreveram pela primeira vez as
características dos problemas de hiperatividade, impulsividade e falta de
atenção apresentadas para crianças com TDAH. Desde então, o distúrbio foi
denominado de várias maneiras, entre elas, Disfunção Cerebral Mínima e
Distúrbio de Déficit de Atenção. Atualmente é conhecido como Transtorno de
Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH).
O TDAH é caracterizado por problemas relacionados com a falta de
atenção, hiperatividade (agitação) e impulsividade. É comum dizer que elas
“vivem no mundo da lua”, parecem estar sempre pensando em outras
coisas. Também são inquietas, não permanecem sossegadas por muito
tempo e além de serem um tanto impulsivas no seu dia-a-dia. Estão
constantemente trocando de interesses e planos, têm dificuldades em
finalizar as tarefas e possuem um baixo desempenho escolar.
Apresentam algumas características muito prejudiciais, é um
transtorno bastante comum que tem início na infância e atinge entre 3% a
5% de todas as crianças em idade escolar. Existem grupos de crianças que
apresentam características particulares que não são observadas nas
crianças em geral. Este é o caso das crianças com TDAH (em torno de 5%
da população). Elas têm em comum vários sintomas que não são
observados nas demais crianças, na mesma intensidade e freqüência. Cada
caso tem suas particularidades e uma criança não é igual à outra.
12
A maioria das crianças hiperativas apresenta o nível de inteligência
normal, sendo que algumas podem até apresentar acima da média. A
hiperatividade é uma manifestação que não ocorre somente em crianças
com inteligência normal. Crianças com a síndrome de Down são,
particularmente, hiperativas na maior parte das vezes; muitos pacientes com
deficiência mental também necessitam de uma atenção especial quanto ao
tratamento, pois o comportamento hiperativo numa criança com deficiência
mental passa a ser um fator complicado.
Em adultos, ocorrem dificuldades com a atenção para coisas do
cotidiano e trabalho, bem como com a memória (são muito esquecidos). São
também inquietos, vivem mudando de uma coisa para outra e também são
impulsivos. Têm dificuldade em avaliar seu próprio comportamento e o
quanto isto afeta os demais à sua volta. São freqüentemente considerados
egoístas. Apresentam uma grande freqüência de outros problemas
associados, tais como: o uso de drogas e álcool, ansiedade e depressão.
Muitos adultos de hoje, não foram diagnosticados como crianças com TDAH.
Cresceram lutando com uma deficiência que, freqüentemente, passou sem
diagnóstico, foi mal diagnosticada ou, então, incorretamente tratada. Os
portadores de TDAH têm realmente problemas parecidos, seja durante a
infância e a adolescência ou na vida adulta.
Em geral, os indivíduos também possuem muitas habilidades e uma
capacidade intelectual de “driblar” o TDAH na maioria das situações. Muitos
portadores de TDAH são vistos como intuitivos, com razoável senso de
humor e criatividade.
É comum que se diga que o TDAH é um distúrbio essencialmente
infantil. Não é raro que médicos digam aos pais de uma criança com TDAH,
que os sintomas irão desaparecer com o tempo. Sabe-se hoje em dia que
isto não é verdade. O transtorno não tem cura, porém pode ser
administrado. A maioria das crianças com TDAH na infância, terão os
13
sintomas por toda a vida. Esses sintomas poderão ou não interferir de modo
significativo na vida profissional, social e familiar. Por isso, a grande
importância de um diagnóstico correto, precoce, possibilitando à criança um
atendimento adequado o mais cedo possível.
1.2 Quais os sintomas da Hiperatividade / TDAH ?
O TDAH caracteriza-se por dois grupos de sintomas: desatenção e
hiperatividade/impulsividade, de acordo com o DSM IV (Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação de Psiquiatria). Adotado
também no Brasil, como padrão para a definição de doenças.
Para que os sintomas se definam realmente como TDAH é necessário
que aconteça freqüentemente, sendo constantes, com duração mínima de 6
meses e não estarem limitados a uma situação apenas. Devem se
manifestar em vários ambientes (escola, casa, viagens, etc.). O sintoma que
só aparece em um ambiente, como por exemplo, só em casa, só na escola,
etc., devem ser investigados com mais cuidado, obrigatoriamente, trazer
algum tipo de dificuldade na realização de tarefas ou devem causar algum
tipo de impedimento para a realização das mesmas.
Os seguintes sintomas fazem parte do grupo de desatenção:
1. Prestar pouca atenção e cometer erros por falta de atenção;
2. Dificuldade de se concentrar (tanto nos deveres e na sala de aula
quanto em jogos e brincadeiras);
3. Não prestar atenção ao que lhe é dito (“estar no mundo da lua”);
4. Dificuldade em seguir as instruções até o fim ou então deixar tarefas e
deveres sem terminar;
5. Dificuldade de se organizar para fazer algo ou planejar com
antecedência;
6. Evitar atividades que exijam um esforço mental prolongado;
14
7. Distrair-se facilmente com coisas que não tem nada a ver como que
está fazendo (“sonhar acordado”);
8. Perder os mais variados objetos ou esquecer compromissos;
9. Esquecer coisas no dia-a-dia.
Os seguintes sintomas fazem parte do grupo de hiperatividade /
impulsividade:
1. Mover de modo incessante pés e mãos quando sentado;
2. Dificuldade de permanecer sentado em situações em que isso é
esperado (sala de aula, mesa de jantar, etc.);
3. Correr ou trepar em objetos freqüentemente, em situações nas quais
isto é inapropriado;
4. Dificuldade para se manter em atividades de lazer (jogos ou
brincadeiras) em silêncio;
5. Responder perguntas antes de elas serem concluídas. É comum
responder a pergunta sem ler até o final;
6. Interromper freqüentemente os outros em suas atividades ou
conversas;
7. Não conseguir aguardar a sua vez (nos jogos, na sala de aula, em
fila, etc.);
8. Falar demais;
9. Ser muito agitado (“a mil por hora” ou “foguete”).
Para que se possa pensar no diagnóstico de TDAH é necessário que
pelo menos seis dos sintomas listados de desatenção e ou seis de
hiperatividade / impulsividade estejam presentes.
É possível que algumas pessoas apresentem uma combinação de
características dos dois grupos, é o chamado Tipo Combinado. Na forma
combinada, é preciso apresentar pelo menos seis sintomas de cada um dos
dois grupos. Este tipo parece estar associado a prejuízos globais maiores na
vida da criança.
15
Os sintomas de TDAH podem manifestar-se desde uma idade muito
precoce, desde o berço (sono agitado, choro fácil e intensa movimentação).
O TDAH é mais comum em meninos do que em meninas. A forma hiperativa
é mais comum nos meninos, que tendem a “criar mais confusão” e
incomodar mais. As meninas têm mais freqüentemente a forma desatenta;
portanto, incomodam menos.
Infelizmente as crianças com TDAH apresentam também com maior
freqüência outros problemas relacionados à saúde mental. É o que
chamamos de Comorbidade. Comorbidade é a ocorrência simultânea de
dois ou mais problemas com o TDAH.
Entre os problemas mais comuns estão a depressão, ansiedade,
baixa auto-estima, etc. Problemas comportamentais também aparecem,
entre eles: o Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD), caracteriza-se por
desobediência muito grande em varias situações, o Transtorno de Conduta,
apresenta comportamento anti-social (roubos e furtos, mentiras, agressões,
etc.) e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), rituais que passam por
“manias”, por exemplo (fechar a porta três vezes).
Esses transtornos devem ser tratados ao mesmo tempo, embora de
maneira diferente e específica, de acordo com as recomendações próprias
para cada um.
Existem também outras dificuldades que aumentam os problemas na
escola. As dificuldades de aprendizagem que podem coexistir como TDAH:
Transtorno da leitura (dislexia) existindo graus variáveis desde uma forma
mais grave até formas mais leves, Transtorno da Expressão Escrita
(disgrafia) uma grafia ruim e uma incapacidade de expressar por escrito,
Transtorno da Matemática (discalculia) dificuldade em operar conceitos
matemáticos e os Transtornos da Linguagem (expressivo) dificuldade de
16
expressão tanto oral quanto por escrito e o (expressivo-receptivo) além das
dificuldades de expressão, existe a dificuldade de compreensão.
Esses transtornos do aprendizado ocorrem na população em geral, e
aparecem em associação ao quadro do TDAH, com maior freqüência do que
o esperado. Mas é preciso ter cuidado, para não atribuir tudo, ao TDAH.
1.3. Quais as causas de Hiperatividade ?
O TDAH tem várias possíveis causas. Não existe uma causa única.
Existem várias evidências que foram sendo acumuladas com as descobertas
científicas das últimas décadas. E a principal evidência é a forte influência
genética. Ao examinar uma criança com TDAH freqüentemente reconhece a
existência do mesmo transtorno, ou pelo menos alguns sintomas dele, no pai
ou na mãe. Em outras ocasiões, os próprios pais percebem em si os
sintomas. A incidência do TDAH em parentes de crianças com este
diagnóstico é, no mínimo, duas vezes maior que o encontrado no restante da
população. Esse número pode chegar até 10 vezes!
Não se sabe exatamente qual o gene ou quais os genes que estariam
envolvidos com o aparecimento do TDAH. De qualquer forma, estes
supostos genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas
por uma susceptibilidade ao TDAH, e o seu desenvolvimento parece
depender da interação destes genes com diversos outros fatores ambientais.
São fatores considerados importantes: uso de cigarro e álcool durante a
gravidez, problemas no parto, exposição ao chumbo e problemas familiares.
a) Substâncias ingeridas na gravidez:
Tem-se visto que a nicotina e o álcool quando ingeridos durante a
gravidez, podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê.
Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos
com problemas de hiperatividade e desatenção. É importante lembrar que
17
muitos destes estudos somente mostram uma associação entre estes
fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.
b) Sofrimento fetal:
Alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no
parto, que acabaram causando sofrimento fetal tinham mais chance de
terem filhos com TDAH. A relação de causa, não é clara. Talvez mães com
TDAH sejam mais descuidadas e assim possam estar mais predispostas à
problemas na gravidez e no parto. Ou seja, a carga genética que ela própria
tem (e que passa ao filho) é que estaria influenciando a maior presença de
problemas no parto.
c) Exposição a chumbo:
Há algumas evidências científicas de que altos níveis de chumbo em
crianças pequenas, podem estar associados com maior risco para TDAH.
Esta relação parece mais importante quando a exposição ao chumbo ocorre
entre o 1º e 3º ano de vida. Sabe-se por estudos em animais, que o chumbo
funciona como um irritante no cérebro, prejudicando-o.
d) Problemas familiares:
Algumas teorias sugeriam que problemas familiares (alto grau de
discórdia conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos
pais, funcionamento familiar caótico e famílias com nível socioeconômico
mais baixo) poderiam ser a causa do TDAH nas crianças. Estudos recentes
têm desmanchado esta idéia. As dificuldades familiares, podem ser mais
conseqüência do que causa. É claro que problemas familiares podem ser
desencadeadores de problemas de saúde mental nas crianças, mas isto é
válido para vários distúrbios, incluindo o TDAH.
Quem herda a predisposição para o TDAH ocorre uma disfunção em
uma área do cérebro conhecida como região orbital frontal em crianças e
adolescentes. Essa região é situada na parte da frente do cérebro, logo atrás
da testa. É uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação
com outras espécies. Parece ser a responsável pela inibição do
18
comportamento, pela atenção sustentada, pelo autocontrole e pelo
planejamento para o futuro. Existe na verdade, a existência de alterações no
sistema nervoso, alterações bioquímicas. Um desequilíbrio nas substâncias
que passam as informações entre as células nervosas, os
neurotransmissores. Os neurotransmissores são responsáveis em passar
informação entre um neurônio e outro, permitindo a interligação entre
diversas partes de uma área e entre uma área e outra. Os
neurotransmissores que parecem estar deficitários, em quantidade ou
funcionamento, são basicamente a dopamina e a noradrenalina.
Já existiram teorias das mais variadas no que diz respeito as causas
do TDAH. Essas são algumas que foram abandonadas:
a) Aditivos alimentares:
Nas últimas três décadas muitas dúvidas já foram levantadas sobre a
possibilidade de algum tipo de constituinte alimentar estar ligado ao quadro
de TDAH. Corantes e conservantes foram investigados em vários estudos e
nenhum destes, mostrou relação entre aqueles e o TDAH. Nunca foi
encontrado uma taxa maior do que é esperado se encontrar na população
em geral, em torno de 5%.
b) Excesso de açúcar:
Depois veio a moda do açúcar. Muito açúcar na dieta deixaria as
crianças mais inquietas. Também neste caso, todos os estudos realizados
falharam em mostrar esta relação.
c) Deficiências de vitaminas:
Também houve o período em que se acreditava que deficiências
vitamínicas poderiam causar alterações comportamentais nas crianças. Não
há evidência de que altas doses de vitaminas podem ajudar no tratamento
da TDAH. Inclusive que altas doses de vitaminas acrescentadas à
alimentação da criança podem ser prejudiciais para a saúde.
d) Problemas na tireóide:
19
Outro,é a associação entre deficiência de hormônio da tireóide e o
TDAH. Depois que este tema foi levantado, todos os estudos mostraram não
haver nenhuma relação.
e) Luz fluorescente:
No início da década de 70, um pesquisador pensou na possibilidade
de que a radiação proveniente das lâmpadas fluorescentes pudesse ter
alguma influência no comportamento das crianças na sala de aula. Estudos
bem feitos mostraram que aquela idéia não tinha sentido.
O futuro dessas crianças depende de um conhecimento real quanto à
natureza do TDAH. O TDAH provoca um impacto bastante significativo na
vida da criança. Compreendê-lo, é encontrar formas, fazendo um controle
eficaz sobre os sintomas.
Quando nos transformamos, o meio se transforma. O verdadeiro
professor é aquele que se indaga e busca. Buscando, passa a transformar a
realidade. A criança precisa se ajustar às suas dificuldades, com um
tratamento diferenciado, que aumente suas chances de ser bem sucedida.
Dar a ela, o que realmente precisa.
Uma das características positivas do TDAH é o desenvolvimento
acentuado da criatividade, que não é percebida ou aproveitada pelo
professor. O educador, inovando suas aulas, conhecendo novas estratégias
de ensino, utilizando diversos jogos, etc, terá condições de desenvolver de
forma intensa essa habilidade.
20
CAPÍTULO II
PAIS E PROFESSORES:
SUJEITOS PRESENTES NA IDENTIFICAÇÃO E
INTERVENÇÃO DO TDAH
As intervenções precoces podem representar um grande passo para
minimizar o impacto negativo que o TDAH traz à vida da criança.
Os pais e professores precisam compreender que a frustração que
essas crianças sentem por causa de seus fracassos é real. Essas
frustrações afetam a integração da criança em casa, na escola e na
comunicação em geral.
A busca pela leitura, é o caminho para o conhecimento. É essencial a
leitura porque mantém uma boa relação de comunicação entre os pais e a
escola. A partir da informação, há uma maior reflexão, percepção sobre o
TDAH. Com a orientação, as características são percebidas e os rótulos e as
críticas são evitados.
Realmente é um enorme desafio. E cabe a cada um, pais e a escola,
assumirem os seus papéis. Um conhecimento correto, ajuda a criança
vencer os seus obstáculos, em busca de uma qualidade de vida melhor.
2.1. Atuação dos pais
Uma educação apropriada é essencial, nunca é demais enfatizar a
importância dela. Ela é importante, pois os pais não apenas devem saber
como proceder, mas também, como interpretar tanto as informações
desejadas e espontâneas sobre os problemas da criança, quanto as suas
soluções. De uma maneira ou outra, a criança hiperativa continuará a
21
vivenciar mais problemas durante toda a sua infância e adolescência que a
maioria das outras crianças. É necessário que os pais estejam cientes dos
recursos que são úteis na identificação dos problemas e das estratégias
para enfrentá-los, pois a criança hiperativa precisará da ajuda de seus pais
para ter êxito. “Os pais não causam hiperatividade, mas o modo como
interagem com seus filhos pode aumentar ou diminuir a gravidade dos
problemas hiperativos”. (GOLDSTEIN, p. 145)
Quando os pais percebem a importância da informação, a
necessidade de se tornar um consumidor informado, fica menos desgastante
e as queixas também diminuem. Porque agora já sabem o que é o TDAH,
suas causas e como ele se manifesta nas diferentes situações do dia-a-dia e
nos diferentes locais que a criança freqüenta. Entende também, que a
criança está tendo certas dificuldades não porque ela é ruim ou teimosa e
sim porque o TDAH a leva a agir diferentemente do esperado. “Uma coisa é
ser mal-educada, não saber comportar-se em determinadas situações; outra
bem diferente é ter um transtorno bem específico que é o motivo de
pesquisa em todo o mundo”. (MATTOS, p. 49)
Embora não existam “receitas prontas” é necessário que utilize
estratégias específicas para o manejo de comportamentos. De nada vai
adiantar exigir mais do que ela pode dar. “Não se esqueça de que você é o
modelo de identificação para o seu filho. É difícil pedir para ele pensar antes
de agir se você age antes de pensar”. (ROHDE e BENCZIK, p. 75)
Ao se tornarem verdadeiros especialistas no assunto, os pais devem
manter um diálogo franco escutando também as opiniões de seu filho sobre
aqueles aspectos do seu comportamento que facilitam ou dificultam as
coisas para ele. As normas sobre os comportamentos precisam ser sempre
claramente estabelecidas. Um meio familiar que tenha rotinas, que seja
previsível e que especifique exatamente o que é esperado dele. As regras
devem fazer sentido e serem constantes para todas as pessoas que se
22
relacionam com o portador do TDAH. Qualquer norma só deve ser
implementada se todos os responsáveis que lidam com a criança ou
adolescente concordarem com ela. Todos os prêmios e castigos também
devem ser conhecidos por todos. Mas qualquer discussão, acerca das
regras, não deve acontecer na frente da criança.
2.1.1. Como começar a planejar o que fazer ?
Algumas dicas importantes, estratégias que podem ajudar os pais de
crianças com TDAH.
Estabelecer prioridades
Tentar estabelecer prioridades, estratégias de manejo. Qual incomoda
mais? Tentar estabelecer prioridades, estratégia de manejo para dificuldade
maior. Resolver um problema e só então passar a dar atenção para o
próximo.
Pensar antes de agir
O comportamento hiperativo e impulsivo destas crianças levam muitas
vezes os pais a reagirem de forma rápida. Frente a cada dificuldade da
criança, é preciso pensar qual é a melhor alternativa de manejo. Quanto
mais se pensa, mais chance o bom senso tem de prevalecer. É bom não
esquecer que os pais são modelos de identificação dos seus filhos. É muito
difícil pedir para ele pensar antes de agir, se os pais agem antes de pensar;
não conseguindo administrar suas emoções.
Uso do reforço positivo antes da punição
As crianças hiperativas precisam mais do que as outras de constante
reforço positivo do que as estratégias punitivas. Em vez de criticá-la por
aquilo que não consegue fazer, é melhor elogiá-la no momento em que
consegue fazer as coisas de forma adequada. Desse modo, em vez de
ressaltar as falhas, estará sendo evidenciado o que ela tem de bom, seus
progressos e a capacidade de melhorar se houver empenho. Assim, quando
ela consegue esperar a sua vez na fila, os pais devem elogiar ou premiar
23
(um brinquedo desejado, um passeio ou um abraço). Tais estratégias
refletem um princípio básico da relação interpessoal, ou seja, o da obtenção
de direitos na medida em que os deveres são cumpridos. Os elogios sempre
ajudam a promover a auto-estima, enquanto as críticas e os castigos geram
frustração e sentimento de inadequação.
Manter constância de estratégias
É importante os pais se comportarem sempre do mesmo modo em
situações semelhantes. Não fazer de jeito em uma ocasião e em outra,
completamente diferente. O mesmo comportamento que o incentiva a ter em
casa, seja incentivado em todos os outros locais. Assim, ao decidir por uma
estratégia de reforço positivo, ao invés de punição, para reforçar um
comportamento desejado, mantenha a mesma estratégia por pelo menos um
mês, independente dos resultados obtidos no início.
Ao decidir por manter uma constância de estratégias significa:
a) Não abandonar rapidamente a estratégia proposta;
b) Mantê-la constante, independente do ambiente. Os pais
conseguem manejar bem a impulsividade da criança em casa, mas se
atrapalham quando o sintoma aparece em outro local.
c) Certificar-se de que os pais estão executando-a de forma similar.
Não adianta a estratégia ser executada por um dos pais e pelo outro não.
Tentar estabelecer um mínimo de prioridades e estratégias em que ambos
estejam de acordo, fazendo de forma privada e só tentando implementar
qualquer estratégia quando houver consenso.
d)
Estas crianças tendem a funcionar melhor em ambientes
estruturados, constantes e previsíveis. Um ambiente com rotina diária (hora
fixa para o dever de casa, para o almoço e jantar e para outras tarefas).
Qualquer mudança que quebre essa rotina, a criança precisa ser preparada.
24
Antecipação dos problemas
Muitas vezes, os pais conseguem prever com bastante precisão o
comportamento do seu filho, em situações que estão por acontecer. Ao
exercitar a capacidade de antecipação de problemas, ajuda a buscar o
melhor manejo com a criança. Por exemplo, que ele vai rapidamente se
desinteressar pela tarefa proposta, dispersar-se com outros estímulos, etc.
Antes de iniciar a tarefa, é bom que se discuta o que ele acha que vai
acontecer (quanto tempo necessita para acabar a tarefa, onde ela deve ser
feita, etc.). A idéia é formar uma equipe para enfrentar as dificuldades e não
a de que estão jogando uma partida em lados opostos. “A orientação
psicológica muitas vezes é interessante e necessária para os pais, pois os
ajuda a entender e lidar com o problema do filho de modo mais adequado...”
(TOPCZEWSKI, p. 44)
Estabelecer uma comunicação
Estabelecer de forma clara os limites toleráveis para o comportamento
da criança. Muitas vezes, é útil que a família de crianças com TDAH tenha
em algum ambiente da casa um cartaz, um quadro negro, onde as regras
mínimas de funcionamento estejam claramente escritas, bem como as
instruções de cada dia.
Proporcionar uma atividade física regular
A atividade física é fundamental para qualquer criança. Pode ser
ginástica, esporte, andar de bicicleta. Escolher atividades e jogos nos quais
ela possa aprender e conviver com regras e limites. Esta é uma
oportunidade da criança gastar energia de uma forma bem produtiva.
Como escolher a escola ?
É fundamental que a escola tenha uma equipe de professores e
orientadores educacionais que estejam familiarizados com conceitos básicos
sobre TDAH, ou que pelo menos, tenham interesse em discuti-lo. Acima de
tudo, é importante que a escola tenha disponibilidade para receber um aluno
25
que poderá apresentar dificuldades de aprendizagem ou de comportamento
e para desenvolver um trabalho em equipe com pais e com o profissional da
área de saúde mental. Procurar escolas que valorizem o desenvolvimento
global da criança e que a avaliem individualmente levando em conta seus
progressos ao longo do tempo do que a comparação rígida com a média dos
colegas. Assim, escolas voltadas de modo exclusivo para o resultado em
termos de conteúdo, podem não ser um ambiente adequado para essas
crianças.
2.2. Intervenção do professor
O professor tem um papel fundamental no processo de aprendizagem
e na saúde mental de crianças com TDAH. A busca pela informação é de
grande importância. A leitura é parte integrante desse processo porque pode
manter uma boa relação de comunicação entre a escola e os pais.
Conhecendo os sintomas, fica fácil diferenciar de “má educação”,
“indolência” ou “preguiça” e também distingüir entre “incapacidade para
atender as regras” com “falta de vontade em atendê-las”.
O professor precisa ser um grande estimulador que se assuma em
constante construção e busque novos caminhos para sempre integrar o seu
aluno. Uma busca constante de vir a ser, um professor pesquisador,
reflexivo e determinante.
“Aprender a ser retoma a idéia de que todo ser humano
deve ser preparado inteiramente – espírito e corpo,
inteligência e sensibilidade, sentido estético e
responsabilidade pessoal, ética e espiritualidade – para
elaborar pensamentos autônomos e críticos e também para
formular os próprios juízos de valores, de modo a poder
decidir, por isso mesmo, como agir em diferentes
circunstâncias da vida”. (ANTUNES, p. 15)
26
Realmente quando falamos de TDAH é preciso saber mais e mais.
“Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. ... Pesquiso para
conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”.
(FREIRE, p. 32). É necessário descobrir novas respostas e possibilidades.
Uma vez que uma criança não é igual a outra e não existe uma “receita
pronta” que sirva para todos.
O TDAH pede inquietação e indagação por parte do professor. Um
comprometimento com esses alunos, uma reflexão sobre a sua prática
pedagógica. “A reflexão ajuda o professor a compreender cada vez melhor o
que está em jogo e a ter controle sobre ele,permite antecipar fatos, prever
eventualidades, construir cenários...” (PERRENOUD, p. 55).
O educador não pode fechar os seus olhos se conformando e se
acomodando. Há uma necessidade de olhar cada vez mais, um olhar
curioso, um olhar amoroso, um olhar sensível. Um olhar que rompa com as
insuficiências do saber, ampliando o pensamento e principalmente esse
olhar. Olhares que possam vir a fazer a diferença na vida dessas crianças.
Enxergando além das barreiras, com o compromisso de não desistir de
mudar. “Participação da formação de alguém é contribuir para afastá-lo de
ser objeto, é ajudar a humanizá-lo.” (FREIRE, apud CAMPOS, 1992, p. 90)
Algumas dicas são importantes para que o professor possa estruturar e
organizar sua sala de aula.
É preciso manter uma rotina constante e previsível. Uma
criança com TDAH requer um meio estruturado que tenha regras claramente
estabelecidas e que estabeleça limites ao seu comportamento. Evitar mudar
os horários e as regas de avaliação;
O professor deve sempre deixar claro o que é esperado dos
alunos desde o primeiro dia. Pode até colocar as regras por escrito em um
cartaz no mural da sala;
27
Deve também se expressar claramente de modo conciso e,
de preferência, apresentar aquilo que está sendo dito também sob forma
visual (slides, pôsteres), em função das dificuldades de manutenção da
atenção;
A criança com TDAH necessita de um nível um pouco mais
alto de estimulação para funcionar melhor. Embora as rotinas sejam
necessárias, é interessante introduzir novidades, desde que isso seja feito
com preparo prévio;
É importante conversar com a criança sobre suas dificuldades
e ouvir sugestões sobre como as coisas poderiam ficar mais fáceis.
Envolvendo-as nas discussões, faz com que as mudanças se tornem um
projeto conjunto, percebendo as atitudes do professor de forma mais
positiva;
O professor deve tentar modificar o comportamento do aluno
gradualmente. Após fazer uma lista dos comportamentos inadequados, ele
deve escolher inicialmente alguns que sejam mais prejudiciais para o
desempenho da aula ou que mais atrapalhem a aula. Quando o aluno tiver
apresentado melhora nesses comportamentos ele pode estabelecer novas
metas. O professor não deve tentar modificar simultaneamente todos os
comportamentos do aluno;
Ele tem que saber equilibrar exigência de cumprimentos das
regras e flexibilização de comportamento. Quando houver infração as regras,
é importante sempre estar atento à existências de fatores atenuantes as
penas pelo não cumprimento das regras, podem então ser abrandadas ou
até mesmo retiradas, mas somente e exclusivamente quando houver
atenuantes;
Tentar sempre descobrir a melhor forma de utilização do
material ou a melhor adaptação do conteúdo;
Permitir que o aluno ajude a compensar os erros cometidos.
Assim, se ele desarrumou, ele pode ser estimulado a arrumar. Ele pode,
inclusive, ter uma função oficial na sala de aula, ser o “ajudante”. Isto, além
28
de melhorar a qualidade do relacionamento dentro da sala de aula, permite
que ele se movimente um pouco mais;
O professor pode desenvolver um sistema de sinais com a
criança para avisá-la de que está se “desligando” ou agindo de forma
inadequada;
Assim como os pais, o professor deve procurar elogiar ou
premiar quando apresentar comportamento adequado. Não puni-la quando
apresentar comportamentos inadequados;
O professor deve sinalizar quando estiver trocando de tarefa
ou atividade e ressaltar diferencialmente pontos importantes.
Acima de tudo, para que todas as intervenções realmente funcionem,
basicamente é necessária a interação professor-aluno. Segundo
(Vygotsky,p.188), a presença do outro faz parte da constituição de cada ser
como um facilitador para que a criança tenha confiança em conseguir o que
deseja. A presença do outro é estímulo para que sinta confiança em
experimentar a vida, desenvolvendo-se como ser integral e integrado ao
meio social.
São as condições ambientais, históricas ou familiares que determinam
as oportunidades para o desenvolvimento de cada um. “O conhecimento é
construído na tensão entre o mundo da experiência física, social e cultural,
permitindo que tanto a experiência cognitiva estejam em permanente diálogo
direcionando e organizando as possibilidades de conhecer criativamente a
realidade”. (VYGOTSKY, apud SOUZA, 1996, p. 41)
Vygotsky enfatiza o papel fundamental da imaginação na constituição
do conhecimento, que é a base de toda a atividade criadora criar novas
possibilidades para estimular, favorecendo a manutenção do nível de
atenção e impulsividade. “O desenvolvimento pode parar em qualquer ponto
de seu complexo; é possível uma variedade infinita de movimentos
progressivos e regressivos, de caminho que ainda desconhecemos.”
(Vygotsky, p. 188)
29
Na busca de novos caminhos, penso a minha própria ação.
Reexaminando os meus objetivos e os meus saberes, na criação de um
novo ciclo permanente de aperfeiçoamento.
2.3. Intervenção da escola
“É através da aprendizagem que se desenvolvem
habilidades, apreciações e raciocínios em toda a sua gama,
bem como as esperanças, as aspirações, as atitudes e os
valores do homem. Assim é que o desenvolvimento
humano, em todas as suas manifestações, depende de dois
fatores – crescimento e aprendizagem – e de suas
interações”. (NISKIER, p. 171)
A escola constitui um espaço privilegiado, onde circulam idéias,
pensamentos, informações e saberes. É nesse centro, que deve acontecer a
construção coletiva e colaboradora do trabalho docente, resultando em uma
modificação da prática.
É nesse contexto que a escola deve possibilitar ao professor um
programa pedagógico adequado. Uma reorganização do planejamento, da
prática e do espaço físico para receber essas crianças. A escola precisa
promover encontros para reflexões, leituras e análises para fundamentar os
processos de ensino-aprendizagem. De nada adianta somente a atuação do
professor. É preciso uma equipe integrada, preparada e que esteja
familiarizada com os conceitos básicos do TDAH. Equipe são todos os
membros que se relacionam com essa criança. Possuindo um
esclarecimento as críticas e os rótulos, serão evitados.
(FREIRE, apud CARNEIRO)
“estudar é também e sobretudo pensar a prática e pensar a
prática é a melhor maneira de pensar certo. Desta forma,
quem estuda não deve perder nenhuma oportunidade, em
30
suas relações com os outros, com a realidade, passa a
assumir uma postura curiosa. A de quem pergunta, a de
quem indaga, a de quem busca” (1982, p. 263)
Ao escolher uma escola para a criança como o TDAH, é importante
levar em consideração as seguintes características:
As escolas que levam em conta as diferenças individuais de
aprendizagem e que apresentam alguma possibilidade de adaptar o método
de ensino às necessidades da criança;
As escolas que utilizam critérios diversificados ao avaliar o
aluno e que consideram seus progressos individuais em vez de compará-lo à
média da turma. A avaliação de aquisição de conhecimentos é importante,
mas não pode ser o único critério utilizado;
Em geral, classes com poucos alunos permitem uma maior
individualização das atenções;
Mesmo em classes com grande número de alunos o portador
do TDAH deve fazer seus trabalhos em pequenos grupos;
Se possível, procurar fazer com que o portador do TDAH
sente-se longe da janela. O banheiro ideal deve ficar no fim da sala ou então
no corredor, o mais próximo possível da sala;
A decoração não deve ser muito estimulante, mas também
não pode ser uma coisa completamente sem graça. As paredes podem estar
cobertas de cartazes que especifiquem as regras gerais de comportamento,
lembram de compromissos (provas, afazeres, etc.). O esquema do que será
realizado no dia deve estar especificado no quadro negro;
As mesas não devem ficar muito juntas;
Algumas crianças com déficit atentivo saem-se melhor nas
primeiras fileiras, onde o professor pode supervisionar melhor. Mas isto não
é uma regra; outras, apresentam melhor resultado quando estão no final da
sala onde elas podem se mover sem prejudicar muito a aula;
Em geral, a melhor sala de aula permite o máximo de contato
com o professor com o mínimo de transtorno para a classe. Isso depende
muito do estilo do professor, se ele fica parado na frente, se ele se move ao
31
longo da sala de aula. O ideal é que ele possa manter proximidade física
sem ser onipresente.
Todo trabalho precisa ser questionado para que se descubra os erros
e as formas de melhorar, dando sentido à prática.
A escola precisa atuar junto com os professores na solução de
problemas, na tomada de decisão, na avaliação e na compreensão do que
está acontecendo. Todos ganham quando a escola e o educador investem
na mudança de idéias, na busca do como e do porquê das coisas. Nenhum
conjunto isolado de diretrizes e sugestões funcionará para todos. Há
necessidade de se tentar intervenções diferentes antes de se conseguir
algum sucesso.
32
Capítulo III
A NECESSIDADE DE VÁRIOS TRATAMENTOS.
O tratamento do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade
exige um esforço coordenado entre os profissionais das áreas médicas,
saúde mental e pedagógica, em conjunto com os pais.
Essa combinação de tratamentos oferecidos por diversas fontes é
denominada de intervenção multidisciplinar.
Um tratamento com esse tipo de abordagem inclui:
— Esclarecimento e orientação para a família; entendimento da
hiperatividade e desenvolvimento de estratégias para controle
efetivo do comportamento;
— intervenção psicoterápica individual e familiar, para evitar o
aumento de conflitos na família;
— intervenção psicopedagógica auxiliando a adequação do
programa pedagógico escolar e a parceria com os pais e
professores;
— Intervenção fonoaudiológica, nos casos onde se observam
dificuldades relacionadas à linguagem;
— uso de medicação.
O esclarecimento e a orientação para os pais têm início a partir do
conhecimento correto dos distúrbios e de suas complicações, ou seja,
devem aprender o que é a hiperatividade.
33
Através da orientação aos pais, inclui-se a modificação do ambiente
de casa e o aconselhamento sobre a forma de se lidar com o transtorno.
A psicoterapia está indicada quando existem problemas secundários à
hiperatividade, seja na escola, no trabalho, em casa ou socialmente, que são
considerados graves ou de difícil solução. A psicoterapia pode estar indicada
quando existe:
— Dificuldade muito grande de aceitar limites e respeitar regras;
— baixa auto-estema;
— depressão ou ansiedade importantes;
— dificuldades muito significativas de relacionamento interpessoal.
A psicoterapia não deve ser vista como uma alternativa ao tratamento
farmacológico, e sim, como uma medida complementar, especial para
alguns casos.
O tratamento fonoaudiológico se faz necessário quando existem
dificuldades relacionadas ao desenvolvimento da linguagem oral ou escrita.
Todas as pesquisas que foram realizadas demonstraram que os
medicamentos são a forma de tratamento mais eficaz. Os medicamentos
mais utilizados, os estimulantes, são considerados seguros e trazem
benefícios enormes em poucas semanas.
Os estimulantes agem aumentando a quantidade de dopamina e
noradrenalina que se encontram diminuídas em determinadas regiões do
sistema nervoso central, mais especificamente na região frontal e suas
conexões. A dopamina e a noradrenalina são substâncias normalmente
produzidas e liberadas pelas células nervosas e servem para transmitir as
informações entre elas, sendo chamadas de neurotransmissores. Uma
deficiência justamente na área do lobo frontal e suas conexões com demais
regiões do cérebro vai ocasionar todos os sintomas já mencionados
anteriormente.
34
A medicação disponível no Brasil de maior eficácia é o metilfenidato,
um estimulante conhecido por seu nome comercial Ritalina.
Este medicamento diminui ou mesmo elimina os principais sintomas da
hiperatividade (desatenção, hiperatividade e impulsividade) em uma enorme
parcela das crianças tratadas com ele. Para aqueles que não se dão bem,
existem outras opções:
— Antidepressivos: imipramina (Tofranil) e nortriptilina
(Pamelor). Os antidepressivos podem ser utilizados mesmo
quando não existem sinais de depressão.
— Clonidina (Atensina): é um medicamento normalmente utilizado no
tratamento da hipertensão arterial; ele age mais na hiperatividade do
que na desatenção.
No exterior existem também outros medicamentos: dextroanfetamina
(Dexedrin), o pemoline (Cylert) e uma mistura de vários estimulantes
(Aderall). Também existem as formas de longa duração da dextroanfetamina
e do metilfenidato, chamadas de “retard” (ação retardada).
Os medicamentos não curam a hiperatividade, apenas ajudam a normalizar
os neurotransmissores enquanto estão sendo tomados; uma vez
interrompidos tudo volta a ser como antes.
O tratamento de uma criança deverá persistir enquanto os sintomas
forem evidentes, o que pode fazer com que o medicamento necessite ser
tomado na vida adulta. Quando os sintomas melhoram muito ou
desaparecem o médico pode tentar interromper o tratamento e observar se
ainda existem sintomas significativos que exijam a reintrodução do
medicamento. Isto em geral ocorre no final da adolescência, não há razões
para tentar fazer isto poucos anos após o início da medicação. Antes de
interromper a medicação, é prudente fazer pequenos intervalos para avaliar
a criança sem efeito da medicação.
35
3.1. POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
Cerca de 25 à 30% das crianças hiperativas apresentam problemas de
aprendizagem secundárias ou associadas ao transtorno. A intervenção
psicopedagógica ocorre como assistência às pessoas que apresentam
dificuldades de aprendizagem, através de diagnóstico e terapêutica.
O aluno, ao manifestar suas dificuldades, revela uma situação mais
ampla, onde também se inscreve a escola, parceira no processo de apren-
dizagem.
Portanto, analisar a dificuldade de aprender inclui, necessariamente, o
projeto pedagógico escolar, nas suas propostas de ensino no que é
valorizado como aprendizagem.
A intervenção psicopedagógica amplia a compreensão sobre as
características e as necessidades de aprendizagem do aluno, abrindo
espaço para que a escola viabilize recursos para atender as necessidades
de aprendizagem.
A intervenção deve possibilitar a orientação psicopedagógica, auxiliar os
professores nas possibilidades de aprendizagem e, paralelamente, incluir os
pais no processo. A comunicação freqüente entre a escola e a família
possibilitará a troca de experiências, a formação de uma parceria para tentar
solucionar as dificuldades da criança hiperativa.
O sucesso na sala de aula freqüentemente exige uma série de
intervenções. A maioria das crianças hiperativas pode permanecer na classe
normal com pequenos arranjos na arrumação da sala, na utilização de um
auxiliar e programas especiais a serem utilizados fora da sala de aula. As
crianças com problemas mais sérios exigem salas de aulas especiais.
36
Uma sala de aula eficiente para crianças desatentas deve ser organizada
e estruturada. A estrutura supõe regras claras e um programa previsível. A
avaliação do professor deve ser freqüente e imediata. O material didático
deve estar adequado a habilidade da criança. Estratégias cognitivas que
facilitam a auto-correção, assim como melhoram o comportamento nas
tarefas, deve ser ensinadas. As tarefas devem variar mas continuar sendo
interessantes.
As crianças hiperativas precisam sentir-se necessárias e valorizadas,
devem ser elogiadas e encorajadas, através de responsabilidades que
possam cumprir. O ambiente precisa ser acolhedor e favorecedor do contato
aluno/ professor. Devem ser proporcionados trabalhos de aprendizagem em
pequenos grupos, favorecendo oportunidades sociais. Os professores
devem ter conhecimento do conflito incompetência X desobediência, e
aprender a descriminar entre os dois tipos de problema.
Paralelamente, relacionando o referencial teórico de Vygotsky às
relações entre família X aluno X escola, aponta-se para a importância da
atuação do grupo social no desenvolvimento individual e,
conseqüentemente, no aprendizado. O aprendizado possibilita o despertar
de processos internos de desenvolvimento, que se não fosse o contato do
indivíduo com determinado ambiente cultural, não ocorreria.
Segundo a teoria de Vygotsky, na escola o aprendizado é o próprio
objetivo de um processo que pretende conduzir a um tipo de
desenvolvimento. A intervenção pedagógica é intencional e dirigida à uma
cultura específica. A intervenção do professor tem papel central na trajetória
dos indivíduos que passam pela escola, e a escola, como espaço sócio-
cultural deve buscar promover o desenvolvimento do aluno e dos
professores buscando uma prática pedagógica direcionada às funções
interpessoais e às relações recíprocas dos sujeitos.
37
A escolha da escola para uma criança hiperativa é fundamental. A equipe
de professores e orientadores educacionais devem ser familiarizadas com o
conceito de hiperatividade, ou pelo menos, devem ser interessados em
discutí-los, para que junto aos especialistas e a família possam criar meios
de minimizar as dificuldades.
3.2. Dificuldades secundárias significativas
Crianças hiperativas correm o risco de desenvolver outros problemas
infantis significativos. O comportamento pode parecer hiperativo, mas deve-
se determinar se a hiperatividade é a fonte dos outros problemas ou se os
outros problemas é que fazem a criança parecer hiperativa. É possível
também que uma criança em particular possa ter uma série de problemas
específicos, isto é, hiperatividade e incapacidade de aprender ou
hiperatividade e depressão, em combinação, que significativamente
deterioram a capacidade da criança de lidar com o mundo.
3.2.1. Problemas de contestação
Neste caso, a característica essencial é um padrão de comportamento
negativo e hostil sem as violações mais graves dos direitos básicos dos
outros como ocorre com as crianças com distúrbios de conduta.
Crianças contestadoras estão sempre discutindo com os adultos, muitas
vezes perdem a paciência e parecem iradas, ressentidas ou facilmente
irritadas. Outras características da criança contestadora incluem perda da
paciência, com freqüência e sem provocação, discussão com adultos,
desafio às regras, irritação deliberada de outras pessoas, culpar os outros
pelos erros, manifestação de raiva, ressentimento ou desprezo.
A criança hiperativa tem uma probabilidade maior que as outras crianças
de desenvolver esse padrão contestador porque freqüentemente não
38
consegue atender as demandas dos outros, normalmente fracassa e torna-
se frustrada, infeliz e negativa. Segundo pesquisas, aproximadamente 50%
à 70% das crianças hiperativas são também contestadoras.
3.2.2. Problemas de conduta
Crianças com problemas de conduta são normalmente agressivas,
cruéis, fisicamente violentas, destruidoras e podem enfrentar suas vítimas.
Algumas crianças com significativos problemas de conduta não possuem
histórias pregressas de hiperatividade. É seguro afirmar que há um grupo
significativo de crianças e adolescentes com distúrbios de conduta cujos
problemas começaram com uma série de dificuldades incluindo desatenção,
impulsividade e superexcitação. Os problemas comportamentais desse
grupo podem se agravar como resultado de um descompasso entre o
temperamento da criança e o dos pais, uma má interpretação da causa,
realizada por pais, professores, ou outras figuras de autoridade, desajuste
familiar ou falta da necessária e eficaz intervenção multidisciplinar.
Acima de tudo, pesquisas recentes têm demonstrado que, embora a
hiperatividade e o distúrbio de conduta possam se influenciar mutuamente,
são distúrbios infantis distintos e provavelmente possuem causas e cursos
de desenvolvimento diferentes.
3.2.3. Depressão
Alguns pesquisadores têm sugerido que muitas crianças
diagnosticadas como hiperativas experimentam depressão ou maníaco-
depressão. As crianças hiperativas também parecem manifestar mais
tristeza, sentimentos de desamparo e baixo auto- estima em comparação
com crianças normais por causa da deficiência de capacidade. No entanto,
pesquisas científicas cuidadosas sugerem que a maioria das crianças que
39
está, de fato, deprimida manifesta muito poucos sintomas de hiperatividade.
A maioria das crianças deprimidas não possui longas histórias de
desatenção ou dados de testes objetivos que reflitam claramente um
problema de desatenção.
Crianças hiperativas com uma longa história de fracasso ambiental
parecem correr os maiores ricos quanto ao desenvolvimento de problemas
depressivos crônicos.
3.2.4. Ansiedade
Os problemas de ansiedade na infância normalmente envolvem
dificuldade de se separar dos pais, tendência a evitar os outros ou
preocupação excessiva quanto a eventos específicos. Os pais e
profissionais insensíveis ao comportamento inquieto, aparentemente ansioso
das crianças hiperativa correm o risco de interpretar comportamentos tais,
como puxar a roupa, esfregar um braço sobre a carteira ou agitar –se em
uma cadeira como sinais de ansiedade excessiva. De fato, estes são
sintomas da hiperatividade. O inverso também pode ser verdadeiro.
Entretanto, em geral, para a criança hiperativa, o nervosismo aparente está
associado a um estado físico que ocorre com constância e é normalmente
independente do que esteja ocorrendo no seu ambiente.
Não é raro que uma criança hiperativa desenvolva sintomas graves
associados á ansiedade. Contudo, a pesquisa sugere que cerca de 25% de
crianças e adolescentes hiperativos podem experimentar alguns sintomas
associados a ansiedade e, em última análise, receberem um diagnóstico de
distúrbios de ansiedade. Normalmente, esses sintomas refletem
preocupação ou cuidado em relação á escola e ao curso social. Também é
raro que a criança com significativos problemas de ansiedade tenha o
mesmo grau de problemas de atenção e nível de atividade que caracteriza a
40
maioria das crianças hiperativas. Quando estão presente sintomas de
ansiedade, é essencial uma avaliação profissional.
3.2.5. Problemas de ajustamento
Um período de inquietação ou perturbação emocional ocorre na vida
de todo mundo quando a pessoa é defrontada com uma tenção relevante. A
tenção pode resultar da perda de um ente querido, uma mudança de escola
ou uma experiência traumática, como um acidente. As dificuldades de
ajustamento normalmente duram de três á seis meses.
Podem prejudicar a capacidade de uma criança de atuar na escola e
socialmente, e podem variar de criança para criança, mas representam uma
clara mudança para pior no comportamento geral da criança.
Muitas crianças hiperativas podem desenvolver um padrão de
dificuldade emocional em reação á tenção escolar.Normalmente, tais
problemas não são fortes o bastante para confirmar um diagnóstico de
depressão, ansiedade ou problemas de conduta. Contudo, os sintomas
representam uma mudança para pior no ajustamento da criança. Os
problemas de ajustamento começam as aulas e melhoram quando chegam
as férias.Esses problemas refletem as diversas forças que atuam na criança
hiperativa e a incapacidade de a criança lidar adequadamente com elas.
É raro que uma criança que experimente apenas problema de
ajustamento possa ter uma história de hiperatividade. Tal como muitos
outros distúrbios da infância, as crianças hiperativas com distúrbios de
ajustamento que surgem de uma tensão especifica, como, por exemplo, uma
morte próxima na família, normalmente possui um padrão persistente de
problemas hiperativos. No entanto, as dificuldades de ajustamento derivam
das demandas colocadas á criança hiperativa e não da hiperatividade.
41
3.2.6. Problemas de linguagem
Os pesquisadores têm sugerido que, quando as crianças com
problemas graves de fala e linguagem crescem, muitas desenvolvem
padrões de comportamento desatento e hiperativo.Muitas dessas crianças
desenvolvem tais padrões de comportamento em reação á tenção e á
frustração decorrentes de sua dificuldade de comunicação.
Quando as crianças novas desenvolvem a linguagem, desenvolvem
também a capacidade de ser controlarem. Quando aumentam as
capacidades verbais, as crianças são capazes de compreender seu mundo e
expressar suas necessidades de modo mais eficaz, e a linguagem torna-se
um substituto para a ação.Quando o desenvolvimento da linguagem é
anormal, o desenvolvimento do controle é interrompido. Existe um elo crítico
entre desenvolvimento da linguagem e comportamento adequado. Crianças
com deficiências de linguagem são normalmente colocadas em situações
nas quais não conseguem reagir eficazmente, não por causa de uma falta de
motivação ou mesmo hiperatividade, mas por causa de incapacidade
específica de linguagem. Quando pais e professores inadvertidamente
continuam a fazer pressão sobre a criança com dificuldades de linguagem
para que tenha comportamento adequado, esta criança pode desenvolver
um padrão de longo prazo de problemas de comportamento condizentes
com aqueles observados em crianças hiperativas. A frustração dos pais em
relação à capacidade da criança com dificuldades de linguagem em seguir
as orientações pode levar à raiva e exacerbar a frustração da criança,
gerando piores comportamentos e acessos temperamentais da parte da
criança.
Crianças da educação infantil (pré-escola) que manifestam
hiperatividade deveriam ser rotineiramente consideradas quanto ao
desenvolvimento da linguagem e encaminhadas a tratamento específico
adequado (terapia fonoaudiológica).
42
A importância da linguagem é claramente evidenciada na teoria de
Vygotsty, como um produto sócio-histórico do trabalho de interação dos
homens. Os indivíduos se constituem à medida que se interagem através do
uso da linguagem. Logo, interfere nas representações que os sujeitos fazem
do mundo e, consequentemente, na constituição dos próprios sujeitos.
3.2.7. Problemas de memória
Se uma criança tem dificuldade de se lembrar, pode parecer que ela não
preste atenção. As crianças hiperativas não processarão tantas informações
e, portanto, não terão a oportunidade de armazenar e recuperar tantas
informações quanto as outras. Normalmente, as crianças hiperativas
parecem ter deficiência de memória. As crianças com distúrbios de memória,
por causa da sua dificuldade de recordar, muitas vezes, são acusadas de
não prestar bastante atenção. As crianças com dificuldades de memória,
mas não com hiperatividade, normalmente desempenham bem as tarefas
que exigem persistência e não demonstram o curso instável e imprevisível
da criança hiperativa.
3.2.8. Problemas de aprendizagem
As crianças com a aprendizagem prejudicada, desanimadas por anos de
fracasso escolar, podem apresentar problemas que imitam a hiperatividade.
Alguns pesquisadores sugerem que as crianças hiperativas, com e sem
incapacidade de aprender, experimentam problemas quanto a conservar a
atenção. Contudo, as crianças com incapacidade de aprender e que não são
hiperativas não têm problemas de conservar a atenção, mas têm maior
dificuldade em decidir sobre em que prestar atenção e em recordar as
informações a que estão atentas.
43
A dificuldade para controlar as emoções, a atividade excessiva e a
desatenção podem ser sintomas característicos da frustração resultante da
incapacidade da criança que não consegue aprender a responder às
demandas escolares. As crianças hiperativas, na maioria, podem não ter
bom desempenho escolar, mas são capazes de aprender.
3.2.9. Inteligência
Embora a inteligência e o alcance da atenção não estejam
estreitamente associados, pode-se afirmar que as crianças com menores
habilidades intelectuais, principalmente aquelas na faixa dos deficientes,
não são tão estimuladas pelos eventos no ambiente e, acabam por não
prestar atenção. A dificuldade de prestar atenção é um sintoma de
inteligência deficiente. Quando avaliadas, parecem ter todos os
problemas e habilidades características de uma criança hiperativa,
porém, contudo, não apresentam deficiência primária da atenção.
3.3 Prognóstico
Atualmente, a hiperatividade é um dos assuntos mais amplamente pes-
quisados e estudados nas áreas de saúde mental e desenvolvimento da
criança.
Embora não se possa falar em cura, a hiperatividade é um transtorno que
pode ser controlado com tratamento adequado, permitindo ao portador uma
vida mais tranqüila e realizadora.
Com a crescente conscientização e compreensão da sociedade em
relação ao impacto significativo dos sintomas da hiperatividade, o futuro
parece mais promissor.
44
CONCLUSÃO
Infelizmente, as crianças hiperativas são crianças pouco compreendidas
e, muitas vezes, classificadas de preguiçosas, não inteligentes e
problemáticas. Na realidade, se esforçam para mudar o comportamento,
mas seu esforço nunca é eficiente para modificar a impressão que se tem
delas, e acabam sentindo-se tão frustrados quanto seus pais e professores.
Será indispensável a escolha de uma escola que esteja mais próxima
possível dos valores da família, que dê importância as mesmas coisas que
os pais dão, que siga o caminho que os pais pretendem trilhar, ou seja, uma
escola que complemente a Educação que o aluno recebe em casa.
A escola deve ter a preocupação com o desenvolvimento global do
aluno, desenvolver o potencial específico de cada aluno, atendendo às suas
características únicas, em perceber seus pontos fortes e tentar a superação
dos pontos fracos.
Os professores são freqüentemente aqueles que mais facilmente
percebem quando um aluno está tendo problemas de atenção,
aprendizagem, comportamental ou emocional/afetivo e social. No entanto, os
professores devem ter o cuidado de não diagnosticar ou rotular, apenas
descrevendo o comportamento e o rendimento do aluno. Depois de um
encontro com os pais para transmissão das preocupações da escola com o
aluno deve-se fazer necessário a busca de um trabalho multidisciplinar —
pais, professores e especialistas, devem fazer um planejamento quanto a
estratégias e intervenções para atendimento do aluno (modificações do
ambiente, adaptação do currículo, flexibilidade na realização e apresentação
das tarefas, adequação do tempo das atividades, uso de medicação, etc.).
A escola, seus professores e orientadores, devem ter conhecimentos
sobre a hiperatividade e, também, devem estar dispostos a aprender e
45
auxiliar, possibilitando um trabalho multidisciplinar com a abertura e
cooperação de outros especialistas.
Ainda não existe cura, mas existe controle eficaz.
Um futuro de qualidade para as crianças hiperativas será possível se
houver estreita colaboração entre a família e a escola. Ambos, pais e
professores, devem ser parceiros de uma mesma empreitada, e não rivais
de uma disputa.
Através deste estudo constata-se a importância da conscientização da
hiperatividade como um transtorno, propiciando tratamento adequado,
facilitando a integração da criança hiperativa na escola e na sociedade.
A continuação de novos estudos e pesquisas sobre hiperatividade
serão de grande importância, pois, a busca de novas informações, auxiliará
os pais e professores na convivência diária, na utilização de novos métodos
que facilitem a aprendizagem e a socialização.
46
BIBLIOGRAFIA
ANTUNES, Celso. Como desenvolver as competências em sala de aula.
Petrópolis: Vozes, 2001. V. 8, p. 15.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 32-106.
GOLDSTEIN, Sam; GOLDSTEIN, Michael. Hiperatividade: Como
desenvolver a capacidade de atenção da criança. São Paulo: Papirus, 2000.
p. 145.
CARNEIRO. Transformações pessoais e profissionais: influências da
Pedagogia de Paulo Freire. In: SAUL, Ana Maria (org.) Paulo Freire e a
formação de educadores: Múltiplos olhares. São Paulo: Articulação, 2000. p.
263
CAMPOS. A ação educativa em Paulo Freire: um misto de encantamento e
transformação. In: SAUL, Ana Maria (org.) Paulo Freire e a formação de
educadores: Múltiplos olhares. São Paulo: Articulação, 2000. p. 90
MATTOS, Paulo. No mundo da lua: Perguntas e respostas sobre Transtorno
de Déficit de Atenção com Hiperatividade em Crianças, Adolescentes e
Adultos. São Paulo: Lemos Editorial, 2001. p. 49
ROHDE, Luís Augusto; BENCZIK, Edyleine B. P. Transtorno de Déficit de
Atenção Hiperatividade: O que é ? Como ajudar ? Porto Alegre: Artes
Médicas, 1999. p. 75
PERRENOUD, Philippe. É preciso construir hipóteses. Nova Escola, São
Paulo, nº 150, p. 55, Março 2002.
NISKIER, Arnaldo. Educação e a solução: O homem é a meta II. Rio de
Janeiro: Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 1980. p. 171
47
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes,
1987. p. 188
SOUZA. A Psicologia do desenvolvimento e as contribuições de Lev
Vygotsky. In: ASSUNÇÃO, Maria Tereza Freitas (org.) Vygotsky um século
depois. Juiz de Fora: EDUFJF, 1998. p. 41
TOPCZEWSKI, Abram. Hiperatividade: Como lidar ? São Paulo: Caso do
Psicólogo, 1999. p. 44
INTERNET: Disponível em: www.tdah.org.br. Acesso em 26 nov. 2002.
48
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO.........................................................................................2
AGRADECIMENTO.........................................................................................3
DEDICATÓRIA................................................................................................4
RESUMO.........................................................................................................5
METODOLOGIA..............................................................................................6
SUMÁRIO........................................................................................................7
INTRODUÇÃO................................................................................................8
CAPÍTULO I
Retratando a hiperatividade.........................................................................10
1.1 O que é hiperatividade / TDAH ?............................................................11
1.2 Quais os sintomas da hiperatividade / TDAH ?......................................13
1.3 Quais as causas da hiperatividade ? .....................................................16
CAPÍTULO II
Pais e Professores: Sujeitos Presentes na Identificação e Intervenção do
TDAH..........................................................................................................20
2.1 Atuação dos Pais no TDAH..................................................................20
2.1.1 Como começar a planejar o que fazer ? ..................................22
2.2 Intervenção do professor......................................................................25
2.3 Intervenção da escola..........................................................................29
CAPÍTULO III
A necessidade de vários tratamentos.......................................................32
3.1 Possibilidades de Intervenção Psicopedagógicas..............................35
49
3.2 Dificuldades Secundárias Significativas..........................................37
3.2.1Problemas de Contestação.....................................................37
3.2.2 Problemas de Conduta...........................................................38
3.2.3 Depressão..............................................................................38
3.2.4 Ansiedade...............................................................................39
3.2.5 Problemas de Ajustamento.....................................................40
3.2.6 Problemas de Linguagem.......................................................41
3.2.7 Problemas de Memória..........................................................42
3.2.8 Problemas de Aprendizagem................................................42
3.2.9 Inteligência............................................................................43
3.3 Prognóstico........................................................................................43
CONCLUSÃO..........................................................................................44
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................46
ÍNDICE................................................................................................................48