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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE USO INTELIGENTE DA ÁGUA Por: Rosa Maria Dalva Tabera da Cunha Orientador Prof. Francisco Carrera Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

USO INTELIGENTE DA ÁGUA

Por: Rosa Maria Dalva Tabera da Cunha

Orientador

Prof. Francisco Carrera

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

USO INTELIGENTE DA ÁGUA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Gestão Ambiental.

Por Rosa Maria Dalva Tabera da Cunha.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por estar sempre

comigo, por ter me dado uma família

maravilhosa e pela grande alegria que

tenho em viver.

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DEDICATÓRIA

A meus filhos, Bruno, Priscila e Roberto,

por tantas alegrias, por tanto amor, por

tanta força.

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RESUMO

Esta monografia aborda o uso inteligente da água e o problema da escassez. Comenta os

diversos recursos hídricos brasileiros ressaltando suas águas subterrâneas. Faz um estudo da

água como fonte de vida, sua qualidade, seu uso na indústria, na agricultura, na pecuária e no

saneamento básico. Objetiva discutir uma gestão integrada das águas que garanta a qualidade

da água, que supra as necessidades humanas básicas, sem destruir o meio ambiente.

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METODOLOGIA

O trabalho será desenvolvido através de pesquisa bibliográfica,

recorrendo-se à analise de livros, artigos, periódicos, teses e consultas em

sites da Internet.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Recursos Hídricos no Brasil 12

CAPÍTULO II - Água 21

CAPÍTULO III – Gestão Integrada das Águas 29

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34

ÍNDICE 35

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INTRODUÇÃO

Morder o fruto amargo e não cuspir

mas avisar aos outros quanto é amargo,

cumprir o trato injusto e não falhar

mas avisar aos outros quanto é injusto,

sofrer o esquema falso e não ceder

mas avisar aos outros quanto é falso;

dizer também que são coisas mutáveis...

E quando em muitos a noção pulsar

— do amargo e injusto e falso por mudar —

então confiar à gente exausta o plano

de um mundo novo e muito mais humano.

(Geir Campos, 2003, p.89)

Segundo Emoto, o corpo humano tem em média 70% de água.

Enquanto somos fetos, essa porcentagem de água é de 99%. Quando

nascemos, ela é de 90% e quando chegamos à idade adulta, ela baixa para

70%. Se morrermos de velhice, ela provavelmente ficará em torno de 50%. Do

ponto de vista físico, os seres humanos são água. Em outras palavras, ao

longo da vida, existimos basicamente como água (EMOTO,2006)

Água elemento vital, água purificadora, água recurso natural renovável

são alguns dos significados referidos em diferentes mitologias, religiões, povos

e culturas, em todas as épocas. Além disso, a Terra é o único corpo do

universo, até agora conhecido, onde a água ocorre, simultaneamente, nos três

estados físicos fundamentais: líquido, sólido e gasoso.

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Água doce é elemento essencial ao abastecimento do consumo

humano e ao desenvolvimento de suas atividades industriais e agrícolas e é de

importância vital aos ecossistemas, tanto vegetal como animal, das terras

emersas (BRAGA, 2006).

Para Rebouças, fatores como o crescimento desordenado de nossas

cidades, o fornecimento pouco eficiente da água disponível onde as perdas

totais da água tratada na rede de distribuição ficam entre 30% e 60%, grandes

desperdícios dos usuários e o lançamento de esgotos não tratados nos rios e

outros corpos de água, causam uma degradação da qualidade da água

disponível em níveis nunca imaginados (REBOUÇAS, 2004)

Focaremos neste estudo, como o uso inteligente da água pode

resolver problemas de escassez, preservando o meio ambiente.

A questão do uso inteligente de nossos recursos hídricos é de grande

relevância, pois dados geológicos disponíveis indicam que a quantidade de

água da Terra permaneceu praticamente constante durante os últimos milhões

de anos, porém, os volumes estocados em cada um dos grandes reservatórios

de água da Terra – oceanos, calotas, geleiras, águas subterrâneas – podem

ter variado durante esse tempo, em níveis nunca imaginados.

Dependendo de fatores como o crescimento da população e do

desenvolvimento de políticas públicas de uso e conservação da água, bilhões

de pessoas estarão enfrentando falta de água ainda na metade deste século.

O desenvolvimento sustentável já não se faz com a utilização dos

abundantes recursos naturais ou com o aumento da oferta de água, mas

buscando uma produtividade cada vez maior, com ênfase no uso mais

eficiente da água.

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O ritmo acelerado de desmatamento das últimas décadas, e o

crescimento urbano e industrial, que necessita sempre de mais água, vem

alterando o ciclo hidrológico. O desmatamento diminui a capacidade do solo de

atuar como esponja , absorvendo águas das chuvas e liberando seus

conteúdos lentamente. Na ausência de coberturas vegetais, e com solos

compactados, a tendência das chuvas é escorrer pela superfície e escoar

rapidamente pelos cursos de água, o que traz como conseqüência as

inundações, aceleração do processo de erosão e diminuição da estabilidade

dos cursos de água, que ficam diminuídos fora do período de cheias,

comprometendo, assim, a agricultura.

Não faltam sinais de escassez de água doce. O nível dos lençóis

freáticos baixa constantemente, muitos lagos encolhem e pântanos secam. Na

agricultura, na indústria e na vida doméstica, as necessidades de água não

param de aumentar, paralelamente ao crescimento demográfico e ao aumento

de água nos padrões de vida, multiplicando, dessa forma, o uso da água.

Nesta monografia, trataremos de mostrar as relações diretas existentes

entre a eficiência da gestão integrada da água e os problemas de escassez.

Mostraremos, ainda, a relevância de estratégias e desafios no uso inteligente

da água.

No 1º capítulo faremos um estudo dos recursos hídricos no Brasil,

nossas bacias hidrográficas, nossas águas subterrâneas, ressaltando o

Aquífero Guarani.

No 2º capítulo conceituaremos e trataremos da água em seus diversos

aspectos, tais como fonte de vida, de energia, seu uso na saúde, na indústria,

na agricultura. Abordaremos, também, problemas como aquecimento global,

poluição, hidropirataria e escassez.

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No 3º capítulo abordaremos as variáveis de gestão da qualidade das

águas, gestão de aqüíferos, o uso inteligente e também o reuso da água.

Tratando a preservação do meio ambiente como um processo contínuo.

Nas conclusões apresentamos algumas considerações que julgamos

importantes.

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CAPÍTULO 1

RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

“Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas

duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras

palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São

Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os

grandes rios, pois são profundos como a alma de um

homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas

nas profundezas são tranqüilos e escuros como o

sofrimento dos homens.”

(João Guimarães Rosa, publicado no Projeto Releituras)

1.1 – Água doce

Para BRAGA (2006), na avaliação da qualidade de uma água,

considera-se a composição de uma amostra cujas constituintes são referidas

em termos de características físicas, microbiológicas e químicas, a depender

do objetivo a ser alcançado.

O uso da “água doce” para consumo humano está sujeito aos

condicionantes específicos de qualidade, que são definidos pelos padrões de

potabilidade. No Brasil, esses padrões são estabelecidos pelo Ministério da

Saúde.

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O Brasil é, atualmente, o quinto país do mundo, tanto em extensão

territorial como em população. Um país-continente, terra de contrastes, assim

é que muitos estudiosos de sua realidade consideram o Brasil.

Efetivamente, possui uma ampla diversificação climática,

predominando os tipos equatorial úmido, tropical e subtropical úmidos, e semi-

árido sobre menos de 10% do território. Em termos pluviométricos, mais de

90% do território brasileiro recebe abundantes chuvas – entre mil e 3 mil

mm/ano.

A interação desse quadro climático com as condições geológicas

dominantes gera importantes excedentes hídricos que alimentam uma das

mais extensas e densas redes de rios perenes do mundo.

Segundo SERRA (2003), o Brasil é dotado de uma vasta, densa e

possante rede hidrográfica, sendo que alguns rios se destacam pela sua

extensão (Amazonas e Paraná), largura e profundidade, bem como pelos seus

débitos anuais, o que se justifica pela pluviosidade geralmente abundante.

Devido à barreira montanhosa de oeste (Cordilheira Andina), os cursos

d’água vão ter diretamente no Oceano Atlântico, caracterizando uma

drenagem exorreica – diretamente aberta para o oceano. Em nenhum ponto do

país aparecem drenagens endorreicas (interiores) ou arreicas (desérticas).

A maior parte dos rios brasileiros apresentam condições favoráveis

quanto aos recursos de energia elétrica, decorrentes principalmente dos

acidentes de relevo ligados à morfologia e das boas condições de alimentação

fluvial.

Os rios brasileiros têm origem em regiões não muito elevadas, com

exceção do Amazonas e alguns afluentes, isso por ser o Brasil um país de

relevo modesto, constituído, principalmente por planaltos.

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Em termos gerais, pode-se dividir a rede hidrográfica brasileira em

sete principais bacias, a saber: a bacia do rio Amazonas; a do Tocantins -

Araguaia; a bacia do Atlântico Sul - trechos norte e nordeste; a do rio São

Francisco; a do Atlântico Sul - trecho leste; a bacia Platina, composta pelas

sub-bacias dos rios Paraná e Uruguai; e a do Atlântico Sul - trechos sudeste e

sul. (SERRA, 2003)

O volume de água do rio Amazonas é extremamente elevado,

descarregando no Oceano Atlântico aproximadamente 20% do total que chega

aos oceanos em todo o planeta. Sua vazão é superior a soma das vazões dos

seis próximos maiores rios, sendo mais de quatro vezes maior que o rio

Congo, o segundo maior em volume, e dez vezes o rio Mississipi. Por exemplo,

em Óbidos, distante 960 km da foz do rio Amazonas, tem-se uma vazão média

anual da ordem de 180.000 m3/s. Tal volume d'água é o resultado do clima

tropical úmido característico da bacia, que alimenta a maior floresta tropical do

mundo.

Na Amazônia os canais mais difusos e de maior penetrabilidade são

utilizados tradicionalmente como hidrovias. Navios oceânicos de grande porte

podem navegar até Manaus, capital do estado do Amazonas, enquanto

embarcações menores, de até 6 metros de calado, podem alcançar a cidade

de Iquitos, no Peru, distante 3.700 km da sua foz.

O rio Tocantins desemboca no delta amazônico e embora possua, ao

longo do seu curso, vários rápidos e cascatas, também permite alguma

navegação fluvial no seu trecho desde a cidade de Belém, capital do estado do

Pará, até a localidade de Peine, em Goiás, por cerca de 1.900 km, em épocas

de vazões altas. Todavia, considerando-se os perigosos obstáculos oriundos

das corredeiras e bancos de areia durante as secas, só pode ser considerado

utilizável, por todo o ano, de Miracema do Norte (Tocantins) para jusante.

A bacia do rio São Francisco, de grande importância política, econômica

e social, principalmente para a região nordeste do país, é navegável por cerca

de 1.800 km, desde Pirapora, em Minas Gerais, até a cachoeira de Paulo

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Afonso, em função da construção de hidrelétricas com grandes lagos e

eclusas, como é o caso de Sobradinho e Itaparica.

Na bacia do Atlântico Sul - trecho leste, por exemplo, o rio Paraíba do

Sul está localizado entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas

Gerais, os de maior significado econômico no país, possui ao longo do seu

curso diversos aproveitamentos hidrelétricos, cidades ribeirinhas de porte,

como Campos, Volta Redonda e São José dos Campos, bem com industrias

importantes como a Companhia Siderúrgica Nacional

A bacia platina, ou do rio da Prata, é constituída pelas sub-bacias dos

rios Paraná, Paraguai e Uruguai, drenando áreas do Brasil, Bolívia, Paraguai,

Argentina e Uruguai.

A bacia do Atlântico Sul, nos seus trechos sudeste e sul, é composta

por rios da importância do Jacuí, Itajaí e Ribeira do Iguape, entre outros. Os

mesmos possuem importância regional, pela participação em atividades como

transporte hidroviário, abastecimento d'água e geração de energia elétrica.

1.2 – Águas subterrâneas

No Brasil, as águas subterrâneas ocupam diferentes tipos de

reservatórios, desde as zonas fraturadas do embasamento cristalino até os

depósitos sedimentares cenozóicos. Dessa diversificação, resultam sistemas

aquíferos que, pelo seu comportamento – porosidade, podem ser reunidos em

(BORGHETTI, 2004):

Aquífero poroso ou sedimentar - é aquele formado por rochas sedimentares

consolidadas, sedimentos inconsolidados ou solos arenosos, onde a circulação

da água se faz nos poros formados entre os grãos de areia, silte e argila de

granulação variada. Constituem os mais importantes aquíferos, pelo grande

volume de água que armazenam, e por sua ocorrência em grandes áreas.

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Esses aquíferos ocorrem nas bacias sedimentares e em todas as várzeas onde

se acumularam sedimentos arenosos. Uma particularidade desse tipo de

aquífero é sua porosidade quase sempre homogeneamente distribuída,

permitindo que a água flua para qualquer direção, em função tão somente dos

diferenciais de pressão hidrostática ali existente. Essa propriedade é

conhecida como isotropia.

- Aquífero fraturado ou fissural - formado por rochas ígneas, metamórficas

ou cristalinas, duras e maciças, onde a circulação da água se faz nas fraturas,

fendas e falhas, abertas devido ao movimento tectônico. A capacidade dessas

rochas de acumularem água está relacionada à quantidade de fraturas, suas

aberturas e intercomunicação, permitindo a infiltração e fluxo da água. Poços

perfurados nessas rochas fornecem poucos metros cúbicos de água por hora,

sendo que a possibilidade de se ter um poço produtivo dependerá, tão

somente, desse poço interceptar fraturas capazes de conduzir a água. Nesses

aquíferos, a água só pode fluir onde houverem fraturas, que, quase sempre,

tendem a ter orientações preferenciais. São ditos, portanto, aquíferos

anisotrópicos. Um caso particular de aquífero fraturado é representado pelos

derrames de rochas vulcânicas basálticas, das grandes bacias sedimentares

brasileiras.

- Aquífero cárstico - formado em rochas calcáreas ou carbonáticas, onde a

circulação da água se faz nas fraturas e outras descontinuidades (diáclases)

que resultaram da dissolução do carbonato pela água. Essas aberturas podem

atingir grandes dimensões, criando, nesse caso, verdadeiros rios subterrâneos.

São aqüíferos heterogêneos, descontínuos, com águas duras, com fluxo em

canais. As rochas são os calcários, dolomitos e mármores.

Quanto à superfície superior (segundo a pressão da água), os

aquíferos podem ser de dois tipos

- Aquífero livre ou freático - é aquele constituído por uma formação geológica

permeável e superficial, totalmente aflorante em toda a sua extensão, e

limitado na base por uma camada impermeável. A superfície superior da zona

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saturada está em equilíbrio com a pressão atmosférica, com a qual se

comunica livremente. Os aquíferos livres têm a chamada recarga direta. Em

aquíferos livres o nível da água varia segundo a quantidade de chuva. São os

aquíferos mais comuns e mais explorados pela população. São também os

que apresentam maiores problemas de contaminação.

- Aquífero confinado ou artesiano - é aquele constituído por uma formação

geológica permeável, confinada entre duas camadas impermeáveis ou

semipermeáveis. A pressão da água no topo da zona saturada é maior do que

a pressão atmosférica naquele ponto, o que faz com que a água ascenda no

poço para além da zona aqüífera. O seu reabastecimento ou recarga, através

das chuvas, dá-se preferencialmente nos locais onde a formação aflora à

superfície. Neles, o nível da água encontra-se sob pressão, podendo causar

artesianismo nos poços que captam suas águas. Os aquíferos confinados têm

a chamada recarga indireta e quase sempre estão em locais onde ocorrem

rochas sedimentares profundas (bacias sedimentares).

O aquífero semi-confinado que é aquele que se encontra limitado na

base, no topo, ou em ambos, por camadas cuja permeabilidade é menor do

que a do aquífero em si. O fluxo preferencial da água se dá ao longo da

camada aqüífera. Secundariamente, esse fluxo se dá através das camadas

semi-confinantes, à medida que haja uma diferença de pressão hidrostática

entre a camada aqüífera e as camadas subjacentes ou sobrejacentes. Em

certas circunstâncias, um aquífero livre poderá ser abastecido por água

oriunda de camadas semiconfinadas subjacentes, ou vice-versa. Zonas de

fraturas ou falhas geológicas poderão, também, constituir-se em pontos de

fuga ou recarga da água da camada confinada.

Existem cerca de 20 bacias ou grupo de bacias sedimentares que

ocupam uma área correspondente a 42% da superfície do país. A estruturação

geológica, com alternância de camadas permeáveis e impermeáveis,

assegura-lhes condição de artesianismo. Entre elas se destacam as bacias do

Paraná, Amazonas, Parnaíba e Potiguar-Recife.

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A mais extensa, a bacia sedimentar do Paraná, cobre uma área da

ordem de 1.000.000 km², sendo 1.000.000 km² no Brasil. O principal sistema

aquífero é o Guarani, que representa cerca de 80% das reservas da província

do Paraná. Esta, por sua vez, detém cerca de 45% das reservas de água

subterrânea do território nacional.

As maiores espessuras de sedimento são encontradas nas bacias de

São Luís-Barreirinhas (MA) e do Tucano (BA). Os principais aquíferos são

Marizal, São Sebastião e Ilhas e as águas até uma profundidade de 800m são

normalmente de boa qualidade.

Durante o percurso no qual a água percola entre os poros do subsolo

e das rochas, ocorre a depuração da mesma através de uma série de

processos físico-químicos (troca iônica, decaimento radioativo, remoção de

sólidos em suspensão, neutralização de pH em meio poroso, entre outros) e

bacteriológicos (eliminação de microorganismos devido à ausência de

nutrientes e oxigênio que os viabilizem) que agindo sobre a água, modificam as

suas características adquiridas anteriormente, tornando-a particularmente mais

adequada ao consumo humano (SERRA, 2003).

As águas subterrâneas apresentam algumas propriedades que tornam

o seu uso mais vantajoso em relação ao das águas dos rios: são filtradas e

purificadas naturalmente através da percolação, determinando excelente

qualidade e dispensando tratamentos prévios; não ocupam espaço em

superfície; sofrem menor influência nas variações climáticas; são passíveis de

extração perto do local de uso; possuem temperatura constante; têm maior

quantidade de reservas; necessitam de custos menores como fonte de água;

as suas reservas e captações não ocupam área superficial; apresentam

grande proteção contra agentes poluidores; o uso do recurso aumenta a

reserva e melhora a qualidade; possibilitam a implantação de projetos de

abastecimento à medida da necessidade.

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1.3 – Aquífero Guarani

O aquífero se constitui pelo preenchimento de espaços nas rochas

(poros e fissuras), convencionalmente denominadas Guarani. As rochas do

Guarani constituem-se de um pacote de camadas arenosas depositadas na

bacia geológica do Paraná, entre 245 e 144 milhões de atrás. A espessura das

camadas varia de 50 a 800 metros, estando situadas em profundidades que

podem atingir até 1800 metros. Em decorrência do gradiente geotérmico, as

águas do aqüífero podem atingir temperaturas relativamente elevadas, em

geral entre 50 e 85ºC.

Segundo BORGHETTI (2004), as reservas permanentes de água do

aquífero são da ordem de 45.000 km3 (ou 45 trilhões de metros cúbicos),

considerando uma espessura média aquífera de 250m e porosidade efetiva de

15%. As reservas explotáveis correspondem à recarga natural (média

plurianual) e foram calculadas em 166 km3/ano ou 5 mil m3/s, representando o

potencial renovável de água que circula no aqüífero. A recarga natural ocorre

por meio da infiltração direta das águas de chuva nas áreas de afloramento

das rochas do Guarani; e de forma indireta, por filtração vertical ao longo de

descontinuidades das rochas do pacote confinante sobrejacente, nas áreas

onde a carga piezométrica favorece os fluxos descendentes.

A proteção contra os agentes de poluição que comumente afetam os

mananciais de água na superfície, que decorre de mecanismos naturais de

filtração e autodepuração bio-geoquímica que ocorrem no subsolo, resulta

numa água de excelente qualidade. A qualidade da água e a possibilidade de

captação nos próprios locais onde ocorrem as demandas fazem com que o

aproveitamento das águas do aquífero Guarani assuma características

econômicas, sociais e políticas destacadas para abastecimento da população.

Aspectos relativos ao desenvolvimento e uso das funções do aquífero

são ainda incipientes. O uso da energia termal de suas águas poderá resultar,

eventualmente, em economia de energia de outras fontes e em processos de

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co-geração de energia elétrica. Atualmente, destaca-se o uso energético em

balneários e indústrias agropecuárias.

Um dos principais problemas existentes é o risco de deterioração do

aquífero em decorrência do aumento dos volumes explotados e do

crescimento das fontes de poluição pontuais e difusas. Essa situação exige

gerenciamento adequado por parte das esferas de governo federal, estadual e

municipal sobre as condições de aproveitamento dos recursos do aquífero.

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CAPÍTULO 2

ÁGUA

“...Não sei, me faltava alguma coisa, entende? Aí fui

andando em outra direção que não a do ônibus. O

descampado parecia não acabar. Até que dei de cara

com um riacho limpinho, ali, bem no caroço do ermo.

Num instante tirei a roupa. E entrei”.

(Noll, 2003, p.110)

2.1- O elemento água.

“O que você sabe que é possível com o coração é o que é possível.

Com vontade, podemos tornar possível qualquer coisa. O que imaginamos

torna-se o mundo para nós. Isso é apenas uma das muitas coisas que aprendi

com a água” EMOTO (2006, p.20).

A necessidade de água é tão grande que, sem ela, nada que tenha

vida pode viver. Nenhuma erva ou planta pode se desenvolver sem a umidade

da água. Nela se encontra a virtude seminal de todas as coisas, principalmente

dos animais cuja semente é aquosa (NETTESHEIM,2008).

Também as sementes das árvores e plantas, embora da terra,

precisam estar enraizadas na água antes de serem frutíferas, sejam elas

embebidas na umidade da terra ou com orvalho, chuva ou qualquer outra fonte

de água que lhe sirva a esse propósito.

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Tal é a eficácia desse elemento água, que a regeneração espiritual

não pode subsistir sem ele. Muito grande é a virtude dela na adoração religiosa

a Deus, em expiações e purificações. Os benefícios são infinitos e seu uso,

diverso, pois graças a ele todas as coisas subsistem, são geradas, alimentadas

e aumentadas.

De acordo com NETTESHEIM (2008, p.91), “Tales de Mileto e

Hesíodo concluíram que a água era o princípio de todas as coisas, e disseram

que ela era o mais potente, e por isso mesmo tinha o domínio sobre todos os

demais elementos. Pois, como dizia Plínio, as águas engolem a terra, apagam

o fogo, ascendem ao alto e, com a formação de nuvens, desafiam o céu, e sua

queda se torna a causa de todas as coisas que crescem na terra”.

A água é uma força vital. Se perdermos 50% da água que temos no

corpo, não sobreviveremos. Transportada pelo sangue e pelos fluidos

corporais, a água é o meio pelo qual o alimento circula em nosso corpo. Esse

fluxo, nos permite viver de modo ativo. A água serve para transportar a energia

por todo o corpo.

A água tem o poder de copiar e memorizar informações

(EMOTO,2006). Podemos dizer inclusive que a água dos oceanos guarda as

lembranças das criaturas que nelas vivem. As geleiras da Terra podem muito

bem conter milhões de anos de história do planeta.

A água circula pelo globo, fluindo pelo nosso corpo e espalhando-se

para o resto do mundo. Se pudéssemos ler as informações contidas na

memória da água, leríamos uma história de proporções épicas.

Entender a água é entender o cosmos, as maravilhas da natureza e a

própria vida.

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2.2- Água na agricultura e pecuária.

A agricultura irrigada ocupa, no Brasil, de 5% a 6% das terras

cultivadas, sendo responsável, no entanto, por 16% do volume da produção e

35% do valor arrecadado com a comercialização de produtos agrícolas.

Diferentes impactos ambientais são associados à utilização da água

em sistemas de produção agrícola e pecuário. Tal irrigação pode, por exemplo,

acarretar salinização de solos, propiciar lixiviação de agroquímicos para a água

subterrânea e carregamento de partículas de solo e fertilizantes para corpos

d’água, bem como promover a deterioração da qualidade dos rios a jusante

das captações pelo descarte de águas de drenagem.

Por sua vez, a exploração de animais pode poluir os mananciais pela

disposição de efluentes no solo ou diretamente nos rios e lagos. Como fonte

pontual, se dá também pelo escoamento de água da chuva em áreas de

pastagens, em sistemas de criação intensiva.

Efluentes da agricultura e da pecuária podem causar danos à saúde

humana e animal.

A significativa demanda de água por área irrigada tem acarretado uma

série de conflitos entre irrigantes, e de irrigantes com outros setores usuários,

principalmente nas bacias com baixa relação disponibilidade/demanda (TELES

E DOMINGUES in BRAGA, 2006).

Embora o uso da água na agricultura e na pecuária possam resultar

em poluição ambiental, não se pode desprezar a importância dessas

atividades para o crescimento econômico do Brasil.

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2.3- Água e saneamento básico.

No Brasil, o abastecimento de água no setor urbano cobre apenas

85% enquanto no setor rural, a população abastecida com água potável é de

31%. Entretanto, no que concerne à cobertura de saneamento, a situação

brasileira é crítica. No setor urbano, a percentagem atendida é de apenas 55%.

Na área rural a cobertura brasileira é de apenas 3% (HESPANHOL in

BRAGA,2006).

A desigualdade na oferta dos serviços é marcante. As regiões Sul e

Sudeste são marcadamente beneficiadas em relação às do Norte, Nordeste e

Centro-Oeste. As maiores carências situam-se nas faixas de renda mais

baixas.

Ainda que preocupante, o fato não reflete a realidade dos serviços

efetivamente prestados, uma vez que não levam em conta o abastecimento

intermitente e as correspondentes implicações sociais e de saúde pública,

particularmente nas áreas periféricas e bairros de baixa renda, assim como a

baixa qualidade da água distribuída. Não reflete, também, o elevado nível de

deterioração dos sistemas de abastecimento de água e coleta de esgotos, o

reconhecimento e o respeito ao usuário e a generalizada desconsideração à

preservação e à conservação dos recursos hídricos, utilizados como

mananciais.

2.4- Hidropirataria.

Navios-tanque estão retirando sorrateiramente água do Rio

Amazonas. Empresas internacionais até já criaram novas tecnologias para a

captação da água, que geralmente é feita no ponto que o rio deságua no

Oceano Atlântico. Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250

milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa e Oriente

Médio. É grande o interesse pela água farta do Brasil, considerando que é

mais barato tratar águas usurpadas (US$ 0,80 o metro cúbico) do que realizar

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a dessalinização das águas oceânicas (US$ 1,50)

(www.portaldomeioambiente.org.br).

O transporte internacional de água já é realizado através de grandes

petroleiros que saem de seu país de origem carregados de petróleo e retornam

com água. Nesse comércio, até uma nova tecnologia já foi introduzida no

transporte transatlântico de água: as bolsas de água.

A captação é feita pelos petroleiros na foz do rio ou já dentro do curso

de água doce. Somente o local do deságue do Amazonas no Atlântico tem 320

km de extensão e fica dentro do território do Amapá. Neste lugar, a

profundidade média é em torno de 50 m, o que suportaria o trânsito de um

grande navio cargueiro. O contrabando é facilitado pela ausência de

fiscalização na área.

Pesquisadores brasileiros questionam o real interesse em se levar as

águas amazônicas para outros continentes. O que suscita novamente o maior

drama amazônico, o roubo de seus organismos vivos.

A cobertura de nuvens em toda Amazônia é intensa e os satélites de

sensoriamento remoto não conseguem obter imagens do local. Já os satélites

de captação de imagens via radar, que conseguiriam furar o bloqueio das

nuvens e detectar os navios, estão operando mais ao norte.

Até agora, ao que se sabe nada de concreto foi feito para coibir a

hidropirataria, prática ilegal que não pode ser negligenciada pelas autoridades

brasileiras, tendo em vista que são considerados bens da União os lagos, os

rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio.

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2.5- Poluição das águas.

Desde os tempos mais remotos o homem costuma lançar seus detritos

nos cursos de água. Até a Revolução Industrial, porém, esse procedimento

não causava problemas, já que os rios, lagos e oceanos têm considerável

poder de autolimpeza, de purificação. Com a industrialização, a situação

começou a sofrer profundas alterações. O volume de detritos despejados nas

águas tornou-se cada vez maior, superando a capacidade de purificação dos

rios e oceanos, que é limitada. Além disso, passou a ser despejada na água

uma grande quantidade de elementos que não são biodegradáveis, ou seja,

não são decompostos pela natureza. Tais elementos - por exemplo, os

plásticos, a maioria dos detergentes e os pesticidas - vão se acumulando nos

rios, lagos e oceanos, diminuindo a capacidade de retenção de oxigênio das

águas e, conseqüentemente, prejudicando a vida aquática.

Um fato que ficou claro desde os anos 70 é que o problema ambiental,

embora possa apresentar diferenças nacionais e regionais, é antes de mais

nada planetário, global. A longo prazo, de nada adianta, por exemplo, transferir

indústrias poluidoras de uma área (ou país) para outra, pois do ponto de vista

da biosfera nada se altera. Não podemos esquecer que a atmosfera é uma só,

que as águas se interligam (o ciclo hidrológico), que os ventos e os climas são

planetários.

Também a poluição dos mares e oceanos (e até dos rios, que afinal

desembocam no mar), mesmo realizada na litoral de algum país, acaba se

propagando, atingindo com o tempo outros países. As enormes queimadas de

florestas não dizem respeito unicamente aos países que as praticam; elas

fazem diminuir a massa vegetal sobre o planeta ( e as plantas, pela

fotossíntese, contribuem para a renovação do oxigênio do ar) e, o que é mais

importante, liberam enormes quantidades de gás carbônico na atmosfera, fato

que acaba por atingir a todos os seres humanos.

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A água empregada para resfriar os equipamentos nas usinas

termelétricas e atomelétricas e em alguns tipos de indústrias também causa

sérios problemas de poluição. Essa água, que é lançada nos rios ainda quente,

faz aumentar a temperatura da água do rio e acaba provocando a eliminação

de algumas espécies de peixes, a proliferação excessiva de outras e, em

alguns casos, a destruição de todas.

2.6- ESCASSEZ.

A possibilidade concreta da escassez de água doce começa a tornar-

se, cada vez mais, a grande ameaça ao desenvolvimento econômico e à

estabilidade política do mundo nas próximas décadas. As disputas pelo uso da

água poderão, inclusive, desencadear conflitos e guerras em escala

imprevisível.

A Organização das Nações Unidas (ONU) já alertou: em 2025, cerca de 2,7

bilhões de pessoas, em todo o mundo, enfrentarão a falta d’água se as

populações continuarem a tratá-la como um bem inesgotável.Os paises que

detêm grandes reservas naturais de água doce -como o Brasil - são

acompanhados de perto como potenciais fornecedores.

A disponibilidade de água, a demanda por água e o ciclo hidrológico global

são componente essenciais em qualquer avaliação sobre o futuro dos recursos

hídricos.

As demandas de água estão aumentando devido ao crescimento

populacional e à urbanização, ao rápido aumento das remoções de água dos

rios, lagos e represas e nos aquíferos, produzindo problemas locais, regionais

e continentais.

Vale assinalar que o Brasil ostenta as maiores descargas de água doce do

mundo nos seus rios significando uma taxa de 35.000 m³/hab/ano e mais de

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cerca de 5.000 m³/hab/ano de água subterrânea, correspondente a uma

parcela das taxas de recarga anuais de seus aquíferos (REBOUÇAS, 2004).

No Brasil, a “crise da água” revela-se uma “crise de eficiência” dos serviços

de saneamento básico caracterizada pelas faltas frequentes de água na rede

de distribuição, pela falta de garantia da qualidade da água que chega na

torneira do usuário, pela falta de compromisso com o menor custo possível da

água fornecida, pelas práticas de lançamento dos esgotos não tratados nos

rios, açudes e outros mananciais, pelo fato de se conviver com a maior parte

do lixo que se produz, pelas formas desordenadas de uso e ocupação do meio

físico, tanto urbano como rural, principalmente.

As águas de nosso rios, açudes, lagos e similares, onde a população

normalmente se abastece, já perderam as suas características de potabilidade

natural, exatamente lá onde se fazem mais necessárias. Nesse quadro os

mananciais de água doce estão ficando cada vez mais raros e distantes dos

consumidores e os processos de tratamento para torná-las potáveis estão

ficando cada vez mais complexos, menos eficientes e mais caros.

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CAPÍTULO 3

GESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS

“Se deixarmos de levar nosso planeta a sério, seremos

como crianças que acham que seus lares estarão

sempre lá e nunca duvidam que o café da manhã inicia o

dia”.

(Lovelock, 2010, p.17)

Como a demanda por água potável cresce em todo mundo, este é um

mercado de dimensões ainda incalculáveis. Para a solução desse problema, o

passo inicial é o completo conhecimento do ciclo hidrológico, que vai

possibilitar correta avaliação da disponibilidade dos recursos hídricos de uma

determinada região. Uma das partes mais importante desse estudo é entender

o que acontece com as águas subterrâneas, sem dúvida a menos conhecida

do referido ciclo.

A grande novidade neste caso é fazer a gestão integrada numa bacia

hidrográfica, quer seja aquela que escoa visível pelos rios; a água que infiltra

nos terrenos e dá suporte ao desenvolvimento da sua cobertura vegetal natural

ou cultivada; as águas que infiltram e circulam pelo subsolo da bacia

hidrográfica e que vão desaguar nos rios durante os períodos sem chuvas; as

águas de chuvas captadas pelas cisternas e reuso das águas nas cidades, na

indústria e na agricultura.

Segundo Rebouças, é preciso acabar com a idéia de que todas as

bacias hidrográficas podem ser regidas por uma legislação única que, por

natureza, não dá conta da complexidade de cada sistema em particular

(REBOUÇAS, 2004).

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Verifica-se uma rápida adesão das empresas aos princípios de

cobrança pelo uso da água ou de sua reciclagem ou reuso. Deve-se levar em

conta que esta opção significa uma perspectiva de duplo benefício econômico

à empresa. Primeiro, verifica-se que a opção da empresa por um uso mais

racional da água disponível acaba por significar mais água para o processo

produtivo. Em segundo lugar, tem-se o benefício econômico da boa imagem no

mercado, aspecto muito importante às empresas cuja produção se destina,

fundamentalmente, ao mercado internacional, onde esta opção é considerada

politicamente mais correta em termos de desenvolvimento sustentável.

Devido às características ambientais de interconexão dos corpos hídricos

superficiais e subterrâneos, para que seja possível promover a gestão

integrada destes recursos é necessário que se tenha conhecimento da

ocorrência e do potencial hídrico dos aquíferos do país. Mais ainda, é

necessário fomentar o desenvolvimento do conhecimento das interrelações

entre os sistemas atmosférico, subterrâneo e superficial (ciclo hidrológico).

Cerca de 97% da água doce disponível para uso da humanidade

encontra-se no subsolo, na forma de água subterrânea. No entanto, pelo fato

de ser um recurso invisível, a grande maioria das pessoas, incluindo

governantes e políticos, nunca a levam em consideração quando falam em

água.

Mais da metade da água de abastecimento público no Brasil provém

das reservas subterrâneas. A crescente preferência pelo uso desses recursos

hídricos, nos mais diversos tipos de usos, se deve ao fato de que, em geral,

eles apresentam excelente qualidade e menor custo. Entretanto, também aqui,

cuidados devem ser tomados com eventuais possibilidades de contaminação,

tais como: devastação de cobertura vegetal, uso inadequado e desordenado

do solo, utilização excessiva de agrotóxicos, entre outras.

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Ainda importantes são os cuidados que se devem ter com as obras de

captação que, quando construídas sem o devido acompanhamento de

profissional capacitado, e fora dos padrões das normas técnicas, se constituem

em fontes de possível contaminação natural, ou induzida, dos aquíferos.

Grandes cidades brasileiras já são abastecidas, total ou parcialmente,

por águas subterrâneas. No Estado de São Paulo estima-se que 75% das

cidades são abastecidas por poços. Ribeirão Preto é um bom exemplo de uma

grande cidade onde a água subterrânea tem sido bem gerenciada, garantindo

o abastecimento de toda a população com uma água de ótima qualidade. Nos

Estados do Paraná e Rio Grande do Sul, 90% das cidades são abastecidas por

águas subterrâneas.

Entre as vantagens do uso das águas subterrâneas, em relação às

águas superficiais, podemos apontar as seguintes:

- São mais protegidas da poluição;

- O custo de sua captação e distribuição é muito mais barato. A

captação pode ser próxima da área consumidora, o que torna mais barato o

processo de distribuição;

- Em geral não precisam de nenhum tratamento, o que, além de ser

uma grande vantagem econômica, é melhor para a saúde humana;

- Permitem um planejamento modular na oferta de água à população,

isto é, mais poços podem ser perfurados à medida que aumente a

necessidade, dispensando grandes investimentos de uma única vez.

Obviamente que a água subterrânea, apesar de muito importante, nem

sempre é suficiente para abastecer grandes centros populacionais. Por isso,

deve ser encarada sempre como um complemento importante à utilização da

água superficial. Poucos sabem, mas na cidade do Rio de Janeiro, por

exemplo, há muitas indústrias que se abastecem unicamente por água

subterrânea.

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CONCLUSÃO

Possuímos uma ampla diversificação climática e a interação desse

quadro climático com as condições geológicas dominantes gera importantes

excedentes hídricos que alimentam uma das mais extensas e densas redes de

rios perenes do mundo.

Podemos dizer que não há falta de água para consumo humano em

nosso país, seja nas cidades, no campo, ou mesmo no nosso semi árido

nordestino. Apenas ela precisa ser tratada como bem econômico que é,

essencial à vida, à saúde, à economia, na indústria, na agricultura e por todos

os setores da sociedade.

No Brasil, a captação da água subterrânea para abastecimento das

populações vem sendo realizada desde os primórdios dos tempos coloniais e

nas duas últimas décadas houve um grande crescimento do uso deste recurso,

mas estamos longe dos níveis de uso e gerenciamento alcançados pelos

países da Europa e os Estados Unidos.

O fato de a água subterrânea ser um recurso que não pode ser visto,

implica quase sempre que ela seja ignorada.Só o seu conhecimento científico

pode nos capacitar a formar uma imagem de sua existência real e de suas

características físicas e químicas.

As empresas públicas ou estatais de abastecimento deveriam ter

preocupação com o custo da água disponível, a eficiência do seu

fornecimento, os grandes desperdícios das formas de uso múltiplo, tanto nas

cidades quanto na agricultura, e a degradação da sua qualidade.

Portanto, o Brasil, apesar de possuir grande disponibilidade de água

doce em estado líquido (cerca de 12% das reservas mundiais), deve, através

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de uma real e eficaz política de gestão dos seus recursos hídricos e

ambientais, educar e conscientizar a sua população sobre a importância de

proteger e preservar o meio ambiente natural, utilizando-se para tanto, de

instrumentos gerenciais e de ações que permitam manter os padrões de

qualidade adequados às necessidades de suas gerações futuras.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BORGHETTI, N. R. B.; ROSA, E. F. F. Aquífero Guarani: a verdadeira

integração dos países do Mercosul. Curitiba: Moderna, 2004.

CAMPOS, Geir. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial,

2003.

EMOTO, Masaru. Hado – Mensagens Ocultas na Água. São Paulo: Cultrix,

2006.

LOVELOCK, James. Gaia: Alerta Final. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.

NETTESHEIM, Henrique C. A. Três Livros de Filosofia Oculta. São Paulo:

Madras, 2008.

NOLL, J. G. Mínimos,Múltiplos,Comuns. São Paulo: Francis, 2003.

REBOUÇAS, Aldo da Cunha. Uso Inteligente da Água. São Paulo: Escrituras,

2004.

BRAGA, Benedito; TUNDISI, J. G.; REBOUÇAS, A C.. Águas Doces no Brasil.

São Paulo: Escrituras, 2006.

SERRA, C. A. T. Geografia, Ecologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro:

Princeps, 2003.

SITES CONSULTADOS:

www.portaldomeioambiente.org.br

www.releituras.com

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Recursos Hídricos no Brasil 12

1.1 – Água Doce 12

1.2 – Águas subterrâneas 15

1.3 – Aquífero Guarani 19

CAPÍTULO II

Água 21

2.1 – O elemento água 21

2.2 – Água na agricultura e pecuária 23

2.3 – Água e saneamento básico 24

2.4 – Hidropirataria 24

2.5 – Poluição das águas 26

2.6 – Escassez 27

CAPÍTULO III

Gestão Integrada das Águas 29

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34