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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA ALIMENTOS A MAIORES:UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA Por: Ana Suely Brasil de Araujo Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ALIMENTOS A MAIORES:UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA

Por: Ana Suely Brasil de Araujo

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

ALIMENTOS A MAIORES: UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito Privado Civil

Por: Ana Suely Brasil de Araujo

AGRADECIMENTO

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3

....ao estimado professor Francis por

auxiliar no alcance de mais uma etapa

profissional.

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DEDICATÓRIA

.....dedico esse trabalho a minha filha

Amanda, companheira e amiga fiel, que

sempre me incentivou, ora com palavras

de apoio ora financeiramente, a não

desistir dos projetos de vida, e, acima de

tudo de ser feliz. .

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RESUMO

.

O presente trabalho traz à tona a indagação comum no meio

jurídico e de grande controvérsia. Foi intensamente analisado o instituto dos

alimentos, qual sua definição, natureza jurídica e seu procedimento. O tema

nos leva a reflexões mais profundas sempre que nos deparamos com

processos judiciais, ou mesmo em meras consultas jurídicas. Quando se atinge

a maioridade civil, extingue-se o direito à obrigação de prestação alimentar?

Qual o procedimento adequado para essa exoneração? Existem algumas

situações onde se impõe a continuidade dessa prestação. A ideia de atender

às necessidades vitais e sociais do alimentando deve ser a alavanca para a

manutenção do pensionamento, mas não pode se tornar um fardo eterno para

o alimentante. Justifica-se sim o prolongamento nos casos de ensino de

graduação ou casos de deficiência física do alimentado, onde em tais

situações, mesmo maior de idade deve continuar a ser recebida. Por outo lado

é demonstrado na pesquisa que existem os casos onde o alimentado tenta o

prolongamento do recebimento, por conta de estender infundadamente a

graduação, fazendo com que o alimentante, por vezes, seja ludibriado por anos

a fio.

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METODOLOGIA

As posições de juristas mais atuais e algumas decisões nos julgados

de nossas Colendas Câmaras, tanto no procedimento usado para a

exoneração ou revisão de alimentos após a maioridade do alimentando, quanto

às situações excepcionais em que deve ser mantido o pensionamento foram

minuciosamente pesquisadas e de grande importância para encerrar dúvidas

frequentes. Foi então demostrado que alguns consideram que se faz

imprescindível uma ação própria para se desobrigar o alimentante de tal

prestação. Ademais a pesquisa de livros de autores de expressão, como Silvio

Venosa, Yussef Said Cahali e Silvio Rodrigues, trouxe ao presente estudo

um vasto material didático e elucidativo, transmitindo ao leitor um

posicionamento claro, capaz de esclarecer qualquer dúvida quanto a matéria

aqui tratada.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Alimentos 10 CAPÍTULO II- Procedimentos 17 CAPÍTULO III – Maioridade 23 CONCLUSÃO 34 ANEXO 36 BIBLIOGRAFIA 43 ÍNDICE

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INTRODUÇÃO

Não é por acaso que o tema alimentos é sempre tão polêmico. Assunto

deveras atual e instigante. Alimentos se fazem necessários para todo e

qualquer ser. Eles são essenciais e imprescindíveis à sobrevivência do homem.

Nas relações familiares, entre acordos e descumprimentos destes, algumas

vezes ocorrem situações conflitantes as quais somente o judiciário pode ajudar

na solução. Mas o tema nem sempre é de solução fácil. Em alguns casos, o

pensionamento pode perpetuar-se em decorrência de situações adversas e

não possíveis de serem evitadas, como é o caso do maior que esteja em

situação de impossibilidade física de auto sustento, e exemplo de casos de

doença grave ou deficiência física.

Porém também há casos em que o maior encontra-se cursando ensino

de graduação e se faz indispensável a continuidade dos recebimentos

percebidos enquanto menor de idade.

E são exatamente dessas exceções que o presente estudo está sendo

apresentado.

No início do presente trabalho, em seu primeiro capítulo serão

analisados de forma geral o conceito, natureza jurídica e a diferença entre

relação de parentesco e poder familiar.

No segundo capítulo, será feita uma análise sobre a obrigação

alimentar e os procedimentos de implementação, ação exoneratória e

revisional.

No último capítulo será exposto que no entendimento doutrinário e

jurisprudencial, a maioridade por si só não é causa extintiva da obrigação

alimentar, pois os casos mostrados corroboram a necessidade da continuidade

baseada em circunstâncias específicas. Enfocado nesses casos onde deve ser

imperioso aos pais o dever de alimentos a filhos maiores, baseia-se a presente

pesquisa.

Avaliando os julgados e repensando opiniões doutrinárias, é elaborada

aqui uma pesquisa fincada em fatos corriqueiramente encontrados em nossos

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escritórios diariamente, e que mesmo passando anos continuarão a fazer parte

do cotidiano de vários operadores de direito.

Esperando que com este seja esclarecido um importante ponto no

direito de família que é o relativo ao direito de alimentos. Um desse direito

advém do poder familiar que é aquele em o filho está enquadrado enquanto

menor e o outro tem sua origem na relação de parentesco, e nesta se

enquadram os casos do filho maior aqui apresentado.

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CAPÍTULO I – ALIMENTOS

1.1 CONCEITO

O termo alimentos pode ter entendimento em sua vulgar conotação,

como aqueles itens necessários para a existência humana. Juridicamente

falando, tal termo tem em si o sentido de obrigação de socorrer alguém nas

necessidades essenciais para que se viva em sociedade e se possa alcançar,

satisfatoriamente, uma vida digna sem estar relegado ao infortúnio. O instituto

dos alimentos destaca-se no meio jurídico pela sua importância incontestável.

A melhor definição técnico-jurídica de alimentos significa dizer que é o

conjunto de meios necessários à subsistência de uma pessoa. Desta forma,

adquirem um sentido amplo que dá a ideia de que não engloba somente os

gêneros alimentícios em espécie. Vai além, tudo aquilo que envolva as

necessidades de um ser humano. Deve estes suprir as carências vitais e

também as necessidades sociais básicas, quais sejam: saúde educação,

vestuário, habitação, os próprios gêneros alimentícios e também o lazer, tão

importante, mas muitas vezes negligenciado.

Aquele que não tem condição de auto sustento básico, e não tendo

como manter-se integralmente por si, tem direito de receber prestações

alimentares, seja devido a atividades educacionais, doença, deficiência física,

ou basicamente por conta de dependência da menoridade.

As normas que regem o direito alimentar são normas de caráter público,

haja vista sua importância, pois tem por escopo a proteção e preservação da

vida humana. Não há o que se discutir sobre isso, especialmente quando estes

advêm da obrigação de parentesco, ou seja, jus sanguinis.

Se falarmos em alimentos, estaremos nos referindo ao direito de pedi-

los e na obrigação de prestá-los. Desta feita há a demonstração do caráter

protetivo do instituto.

Nas irretocáveis palavras de WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO

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“Muitas vezes, entretanto, por idade avançada, doença,

falta de trabalho ou qualquer incapacidade, vê-se ele

impossibilitado de pessoalmente granjear os meios

necessários à subsistência”

Conforme se pode interpretar as palavras de Rolf Madaleno, a expressão

alimentos engloba o sustento, a cura, o vestuário e a casa, reza o artigo 1.920 do Código

Civil brasileiro, e, se o alimentando for menor, também tem o direito à educação, tudo

dentro do orçamento daquele que deve prestar estes alimentos, num equilíbrio dos

ingressos da pessoa obrigada com as necessidades do destinatário da pensão

alimentícia..

Não menos elucidativa a definição de alimentos vem das palavras de

Orlando Gomes.

“Alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si. A expressão designa medidas diversas. Ora significa o que é estritamente necessário à vida de uma pessoa, compreendendo, tão somente, a alimentação, a cura, o vestiário e a habitação, ora abrange outras necessidades, compreendidas as intelectuais e morais, variando conforme a posição social da pessoa necessitada.”

Como bem dito por Maria helena Diniz:

“ A finalidade do direito de alimentos seria: fornecer a um parente tudo aquilo necessário a sua manutenção assegurando-lhes meios de subsistência, se ele, em razão de idade avançada, enfermidade ou incapacidade, estiver impossibilitado de produzir recursos materiais com o próprio sustento.

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E lindas são as palavras de Silvio de Salvo Venosa:

“O ser humano, desde o nascimento até sua morte, necessita de amparo de seus semelhantes e de bens essências ou necessários para a sobrevivência. Nesse aspecto, realça-se a necessidade de alimentos. Desse modo, o termo alimentos pode ser entendido, em sua conotação vulgar, como tudo aquilo necessário à subsistência.”

E complementando o mesmo autor fala

“A essa noção o conceito de obrigação que tem uma pessoa de fornecer esses alimentos a outra e se chegará facilmente a sua noção jurídica. No entanto, no Direito, a compreensão do termo é mais ampla, pois a palavra, além de abranger os alimentos propriamente ditos, deve referir-se também à satisfação de outras necessidades essenciais da vida em sociedade”

Cada autor, a sua melhor maneira faz a definição desse termo de tão

profunda importância nas ações de família que se avolumam nos cartórios de

todo o país, seja em pedidos de fixação ou exoneração dos mesmos.

Após brilhantes definições, pode-se extrair que alimentos devem ser

usados para que a pessoa necessitada e que não tenha condições de prover o

seu sustento. Um direito que traz em si uma beleza impar direcionado para o

ser humano com conteúdo patrimonial e com a finalidade pessoal.

1.2. NATUREZA JURÍDICA

Essa concepção de natureza jurídica nem sempre encontra

unanimidade em vários ramos do direito, não poderia ser diferente na tentativa

de classificação do termo alimentos.

A natureza jurídica dos alimentos é abarcada pela defesa de sua

inclusão em três grupos distintos em opiniões. Cada um deles merece atenção

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e questionamento por parte dos estudantes e operadores de direito para que

assim, escolham a corrente a seguir.

A primeira corrente aglutina as duas seguintes correntes, sendo por

isso mais abrangente. Defende que o direito a essa prestação seria um Direito

Patrimonial com o intuito de Direito Pessoal. Esta é a corrente mais aceitada e

de maiores adeptos.

A segunda corrente defende que a natureza jurídica desse direito é a de

Direito Extrapatrimonial, haja vista que o alimentante não teria interesse

econômico nas prestações de alimentos, pois tal valor fixado não teria o

objetivo de se adquirir patrimônio, ou mesmo, aumenta-lo. O objetivo precípuo

é o do direito a vida, e este é um direto personalíssimo.

A última corrente entende sim, como um direito patrimonial, foi é

incorporada em prestação pecuniária ou em espécie, não se dissipando o

caráter econômico dele.

Vale lembrar que é de suma importância fazer uma análise profunda

delas para que após isto se tenha uma filiação a uma destas correntes.

1.3 PODER FAMILIAR E RELAÇÃO DE PARENTESCO

O fato de vivermos em sociedade leva-nos a sermos solidários com o

sofrimento alheio. Essa solidariedade se acentua quando o alheio está ligado a

nós por laços de fraternidade e afinidade.

A solidariedade humana é o aspecto mais relevante para que o

legislador tenha se esmerado em contemplar deferentes situações de

necessidade de sustento em que venha passar a pessoa.

Tal solidariedade acentua-se, ou deveria acentuar-se, quando o

necessitado é um filho ou alguém ligado por parentesco.

A matéria tratada se apresenta clara, precisa e elucidativamente

disposta em nossa Constituição Federal no seu artigo 229 onde diz que ‘’os

pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos

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maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou

enfermidade. ’’

Tratando então do tema o dever de alimento tem brilhante definição de

Yussef Said Cahali:

‘’a doutrina, de maneira uniforme, inclusive com respaldo na lei, identifica duas ordens de obrigações alimentares, distintas, dos pais para com os filhos: uma resultante de o pátrio poder, consubstanciada na obrigação de sustento da prole durante a menoridade, e outra, mais ampla, de caráter geral, fora do pátrio poder e vinculada à relação de parentesco em linha reta’’.

Sobre o tema mais uma vez o brilhante Yussef Said Cahai se posiciona.

“...o dever de sustento diz respeito ao filho menor, e vincula-se ao pátrio poder; como dever de ambos os cônjuges em relação à prole, como obrigação precípua do genitor, de mantença da família; cessado o pátrio poder, pela maioridade ou pela emancipação, cessa consequentemente aquele dever”( CAHALI, pág. 504).

Então se pode concluir que existem artigos no Código Civil,

interpretados nas palavras do ilustre jurista, dispondo que o dito acima é um

dos vários efeitos jurídicos do casamento. E um deles é a obrigação dos

cônjuges, e ambos têm o dever de guarda e educação dos filhos, e caso não

cumprida por justo motivo, pode haver a perda do poder familiar por ser

considerado abandono.

O artigo 1630 do Código Civil diz que “Os filhos estão sujeitos ao poder

familiar enquanto menores”. Tal artigo aborda implicitamente os direitos e

deveres de pais e filhos, estes enquanto menores e não emancipado ou por

outra razão jurídica.

Aos pais são dados diversos direitos para criarem os filhos, e também

deveres como o de sustento dos mesmos. Essa obrigação de prestar aos filhos

menores todas as possibilidades de sustento, boa educação, alimentação

adequada, morada, diversão entre outras, decorre do poder familiar. São os

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menores que estão sujeitos a esse poder. Perdura tal na constância do

casamento e união estável por ambos os pais. Até depois que se separem

esse direito permanece incólume. Enquanto há o poder familiar há então o

dever de educação e outras necessidades básicas dos pais perante os filhos.

Esse dever dos pais é diferente então, daquelas em que a obrigação tem como

fundamento na relação de parentesco.

O artigo 1694 diz que “podem os parentes, os cônjuges ou

companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver

de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender as

necessidades de sua educação”.

Extrai-se então, que os parentes podem pedir alimentos uns dos

outros. Porém nem todos são obrigados a fazê-lo. Isso se aplica aos parentes

em linha reta que são os ascendentes e descendentes. Também incluídos

estão os colaterais até o 2º grau, que incluem os irmãos.

O princípio da solidariedade é o norteador dessa obrigação entre

parentes. Nas relações de parentesco existe aquele alimentado que não possui

formas de auto sustento e necessita de pensionamento porquanto durar essa

impossibilidade.

Existe, por consequência diferença entre o dever de sustento e o de

prestar alimentos. Esta é baseada ao afeto e solidariedade dos membros de

um grupo familiar, no caso a necessidade de ajuda é recíproca. Devendo ser

assumida por todos os entes da família. Já o dever de sustento se baseia na

imposição legal, sua ação é incondicional enquanto durar o poder familiar. Não

se fala em dever de dinheiro, mas sim da obrigação de alimentá-lo,

exemplificando-se aqui genericamente.

Mas deve-se avaliar sempre o tão falado binômio possibilidade e

necessidade, onde não se pode sobrecarregar aquele obrigado, de forma que

não possa suportar o que lhe foi pedido sem que haja prejuízo de sua

subsistência.

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E aí residem várias questões sobre a necessidade de permanência

deste pensionamento a partir do momento que o alimentado alcança a

maioridade.

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CAPÍTULO II- PROCEDIMENTOS

2.1 AÇÃO DE ALIMENTOS

O procedimento disposto na Lei específica de que tratam os alimentos,

Lei 5578/68, tem sua finalidade em alcançar maior rapidez devido a clara e

imediata carência apresentada pelo então alimentado. Por tanto, o

procedimento é especial. Esse procedimento célere tem por escopo garantir

direito essencial ao ser humano, de forma mais rápida possível, o direito a vida.

Proposta a ação, e provado o vínculo de parentesco, o juiz de logo

concede alimentos provisórios. A necessidade do autor não carece de prova

imediata, admite-se que quem pleiteia por eles tem como presunção de

necessidade. A isso é conhecido com o nome de juris tantum. Cabe ao

alimentado provar somente o vínculo de parentesco e a consequente obrigação

do alimentante. E ao alimentado cabe demostrar seus rendimentos para que

assim, o juiz determine o valor com base na possibilidade dele.

Até em caso de somente ser anexado o rendimento do alimentante na

contestação são fixados desde logo os alimentos provisórios.

Na Lei, o artigo 4º determina que “ Ao despachar a inicial, o juiz fixará

desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o

credor expressamente declarar que deles não necessita”

Outro ponto inquestionável é a data inicial de imposição da obrigação.

Eles são devidos antes mesmo do alimentante ser citado, são devidos desde o

momento que são fixados pelo juiz. Tal fato se deve a característica de

obrigação preexistente. Exigir que existisse citação antes para que se

concedam os alimentos provisórios vai contra a disposição da lei que diz que a

concessão é imediata, pois a exigibilidade já foi comprovada.

O que seria pior nesse caso, privar um ser de seu direito indiscutível a

vida ou pagar por um período a quem dele não necessite?

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2.2 AÇÃO REVISIONAL

Diz o artigo 1699 do Código Civil:

“Se fixados os alimentos, sobrevier mudanças na situação financeira

de quem os supre, ou na que quem os recebe, poderá o interessado reclamar

ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do

encargo.”

Na prática este artigo veio a corrigir a primeira parte do artigo 15 da

Lei 5478/68 que alegava a sentença de alimentos não transitava em julgado, o

que era considerado como um erro processual.

O que ocorre é que a coisa julgada em questões de alimentos, em

ação revisional, veda o questionamento de fatos iguais às da ação de pedido

de alimentos.

Isso prova que não há dependência na ação fixadora e a revisional.

Em texto de Yussef Said Cahali

“ Com invocação do artigo 15 da Lei de Alimentos, tem-se permitido que a revisão da obrigação alimentar, reconhecida na sentença, possa ser ajuizada mesmo na pendência de recurso contra o julgado que fixou a pensão, ainda que tal recurso tenha por objeto fatores que poderiam determinar eventualmente a modificação do quantum, se atendida a impugnação recursal do reclamante, a pretensão estaria prejudicada.

Fica vedado a revisão dos alimentos nos casos em que o se quer

rediscutir fatos julgados na ação em que estes foram fixados.

Processualmente falando a regra do artigo 333 do Código de

Processo Civil deve ser mantida através da garantia probatória, não permitindo

ou admitindo qualquer inversão do ônus da prova, ou seja, quem requerer

alteração de sentença, seja por qual motivo alegado, terá a incumbência de

prová-lo.

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Se for feita uma interpretação literal do artigo 1699 do Código Civil,

significa dizer que o binômio possibilidade necessidade estaria sendo

ignoradas de forma sistemática pelos julgadores e doutrinadores.

O artigo 1568 fala em contribuição para educação dos filhos em razão

de sua possibilidade.

Se o valor fosse determinado de modo a esbarrar na capacidade

financeira do alimentante, o deixaria perturbado e fadado a um sacrifício

deveras superior as suas forças.

Por outro lado o adimplemento de valor inferior aquele que o

alimentado deveria e poderia receber, fere o preceito Constitucional

estabelecido no artigo 229 que diz respeito a obrigação dos pais em criar aos

filhos dignamente.

Deve-se lembrar de que a ação revisional é alcançada por fatos

contemporâneos, ou não citada à época da fixação dos alimentos e que no

momento presente, estes contribuem para provar uma mudança de condição

fática.

Mas em casos de transação não cabe ação revisional, pois neste caso

a fixação foi feita através de transação, havendo aqui uma vontade das partes,

que acordam o que deve ser pago de forma justa e necessária para ambos.

2.3 EXONERAÇÃO DA PRESTAÇÃO ALIMENTAR

A coisa julgada no direito de família não é absoluta e no dia a dia várias

posições e opiniões aparecem fazendo com que o operador de direito tenha

que estar sempre atualizado sobre o assunto. Dessa característica de não ser

absoluta dá-se o nome de relativização da coisa julgada.

Tal relativização do direito de família ocorre nos casos de questões que

dizem respeito aos alimentos, mas também em casos de investigação de

paternidade, quando o podido for improcedente por ausência de provas.

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A Lei que trata dos alimentos é a Lei 5478/68 e o artigo 15 ela nos

ensina:

"A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode

a qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira

dos interessados”.

Por conta desse artigo surgem dúvidas de como proceder para que

exonere a obrigação quando os filhos menores passam a maioridade: é

necessário que seja oferecido o direito ao contraditório?

Alguns acreditam que sendo os alimentos estipulados em sede de

sentença se extinguem de forma absoluta quando os filhos deixam de ser

menores. Essa extinção pode ser alcançada de ofício pelo julgador ou mesmo,

por uma petição do alimentante, sem, contudo, haver aqui nesses casos o

direito ao contraditório ou mesmo a ampla defesa. O alimentado neste caso

tem seu direito de ceifado, direito esse que lhe é assegurado pela nossa

Constituição no seu artigo 5º, inciso LV.

Outros têm a opinião de que para tanto se faz imprescindível que o

alimentante peticione ao juiz, nos mesmos autos que foram fixados o valor de

alimentos com o direito assegurado a produção de provas e oitiva do

alimentado.

Também a exoneração pode ser proposta em um processo autônomo,

da mesma forma nos casos de revisão de valores fixados.

O objetivo dos alimentos que é o de suprir as básicas necessidades

sociais e as vitais daquele a que se alimenta, mas parece incabível tanto a

ampliação quanto a restrição sem a garantia do devida ampla defesa e do

contraditório.

Na maioria das vezes o alimentante faz o pedido de cancelamento ou de

redução nos próprios autos originários em caso de maioridade do alimentado,

sendo este citado e caso concorde com o pedido o juiz defere o pedido.

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Mas ocorrem situações em que o alimentado não concorda com essa

exoneração com a alegação de que há necessidade da continuidade. Aí então

o procedimento costume se valer de dois caminhos. Um, onde é dado o direito

ao contraditório, nos mesmos autos, decidindo o juiz pela procedência ou não

das alegações formuladas, e outro caminho é o de indicar ao alimentante a

necessidade de uma ação autônoma de exoneração.

Muitos julgados demonstram que o fato de ter terminado a menoridade

não seria causa por si só para que, automaticamente, cesse o dever que fora

estipulado ao alimentante. Por isso mesmo haveria a necessidade da ação de

exoneração. Parece mais coerente que seja aberto sim, ao alimentado, o

direito ao contraditório. Parece-me incontestável que seja dado sempre o

direito a ampla defesa e o contraditório.

Os doutrinadores, de modo geral, não concordam com a exoneração

imediata de a obrigação alimentar, quando da maioridade.

O fato da maioridade nem toda vez significa que, o agora maior, não

continue a precisar dessa continuidade. Caso isso ocorra, não é razoável que

se cancele automaticamente a prestação.

E ai então, fazer com que o beneficiário ingresse com outra ação de

alimentos para que estes sejam mantidos seria um contrassenso, pois se trata

de simples continuidade de uma situação preexistente.

O melhor é a solução dada por muitos juízes que atuam de modo a

extinguir a obrigação após solicitação do alimentante, nos autos do processo

em que esteja a obrigação. Após a oitiva do Ministério Público, e este concorde

o juiz opta pela extinção.

Caso discorde se mostra cabível a produção de provas. A partir então, a

sentença decide pelo cancelamento ou dando o provimento a continuidade da

assistência anteriormente dada.

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Somente quando não houver a possibilidade de decisão nos mesmos

autos é que se opta pela ação de alimentos, intentada pelo filho, ou para que

se cesse esse encargo, que é direito do pai.

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CAPÍTULO III- MAIORIDADE

3.1 GRADUAÇÃO E PENSÃO

Como bem preceitua nossa Constituição Federal em seu artigo 229 os

pais tem a obrigação de assistir, criar, educar os filhos menores. Esse dever

tem vinculação ao poder familiar. Esse poder deve ser divido entre ambos os

pais.

Arnaldo Rizzardo descreve.

“Não se pode limitar seu dever de prestar alimentos, ou a sustentar os filhos. Incumbe-lhes dar todo o amparo, envolvendo a esfera material, corporal, espiritual, moral, afetiva e profissional, numa constante presença em suas vidas, de acompanhamento, orientação, de modo a encaminhá-los a saberem e terem condições de enfrentar a vida sozinhos.

Como já dito anteriormente, termina o dever da obrigação alimentar dos

genitores no momento em que o alimentado adquira a maioridade civil, já que

este dever é baseado do dever de sustento inerente ao poder familiar. Já a

pensão paga a filhos maiores é decorrente da relação de parentesco. Nota-se

que apenas o filho menor está sujeito ao poder familiar.

Por tal argumento é fácil entender que os filhos não perdem o direito a

alimentos de forma definitiva pelo fato de terem alcançado a maioridade civil,

caso necessite. Para tanto, o pedido se baseia na relação de parentesco, e

claro, com robustas provas dessa necessidade, que não deve ser presumida

nem pode ser dispensada. E isto deve ser postulado em ação própria.

É fácil e compreensível entender que ao filho cabe se sustentar quando

maior. Por isso muito se diz que pensionamento nesse caso é uma exceção.

Isso significa dizer que termina uma obrigação absoluta e se inicia a uma

excepcional. Os genitores tem um dever quase que absoluto de criar, assistir, e

educar os filhos até a maioridade destes em decorrência do poder familiar.

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O recebimento pelo filho maior aos alimentos enquanto estudante

universitário justifica-se pelo fato de na realidade conseguir um emprego que

garanta auto sustento aos dezoito anos parece bem pouco provável. Também

se mostra menos crível que conciliar um subemprego com pagamento dos

altos custos de estudos universitários possa realmente existir.

O mercado competitivo requer profissionais qualificados, e essa

qualificação só se referenda com dedicação e vontade. Muitos têm a vontade,

porém a dedicação absoluta fica prejudicada em razão de ter que manter-se de

forma a garantir o pagamento dos estudos e outros gastos correlatos.

As palavras de Arnaldo Rizzardo descrevem de forma clara o que ocorre

na realidade com os jovens.

“É de todos conhecida a dificuldade em se conseguir uma colocação no mercado de trabalho. Pouco importa que o filho se encontre habilitado a exercer uma profissão se não lhe são abertas a s portas para desempenhar a profissão. Quem ignora o número excedente de pessoas aptas para toda a espécie de trabalho que exige alguma habilitação? Ademais, longos anos de tentativa e prática se extinguem antes de conseguir qualquer profissional liberal alguma solidez econômica na carreira escolhida. De sorte que, nos tempos que correm, persiste a obrigação enquanto não se concretizam as perspectivas de segurança econômica.”

Não há regra legislativa que direcione qual rumo tomar nesses casos,

mas de forma a garantir uma qualificação a esses jovens, os julgadores tem

favorecido a prorrogação de a prestação alimentar.

De maneira majoritária tem se visto a jurisprudência estipular a

prorrogação ao filho maior estudante em graduação até os vinte e quatro anos,

mas também pode ser até que se complete o curso, como no caso de

faculdade de medicina onde, dificilmente um estudante teria completado a

faculdade antes dos vinte e quatro anos.

Tem que ser observado que de maneira uniforme essa obrigação se

estende até os vinte e quatro anos. Tal idade foi analogicamente estabelecida à

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Lei do Imposto de Renda, 1474/51, pois essa é a idade em que os

dependentes do contribuinte devem ser declarados.

Em realidade é mais difícil instituir como limite a faixa etária de até vinte

e quatro anos para o maior receber alimentos, já que a duração do encargo

alimentar, nesse caso é baseada na dependência que o maior tem enquanto

completa seu curso. Em muitos casos, a necessidade ultrapassa essa idade,

devendo durar por algum tempo a mais. Logo, existem situações em que o

filho, mesmo aos vinte e quatro anos, ainda não se encontra em condições de

prover seu auto sustento. É por esse motivo que muitos são os doutrinadores

que defendem a exceção dos pais continuarem a provê-los até que tenham sua

graduação completa, independente da idade alcançada.

O que os doutrinadores afirmam é que esta extensão deve se basear

no dever de solidariedade, de conscientização como ser humano, de amor ao

filho e na relação de parentesco, nunca esquecida.

Conforme Yussef Cahali:

“A maioridade do filho estudante que não trabalha, a exemplo do que acontece com as famílias abastadas, não justifica a exclusão da responsabilidade do pai quanto a seu amparo financeiro para o sustento e os estudos.”

Sendo um estudante e não possuindo condições de provar a própria

subsistência, e por outro lado, tendo o conjunto probatório claro que mostre a

inexistência de alteração no binômio |necessidade/possibilidade, adequada se

mostra a manutenção do pagamento da prestação alimentar. Claro deve ser

também que o alimentante somente pode continuar a fazê-lo sem qualquer

prejuízo de seu sustento ou de sua família.

Esse posicionamento deixa claro que o dever de alimentos não se

destina unicamente a educação do filho menor, não há dependência entre

cessação e menoridade. No caso de haver a comprovação de que o filho maior

não tenha rendimentos para sua subsistência, e que, necessite além, para seu

estudo, essa obrigação se estende. Os pais não podem se exonerar dessa

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obrigação. Eles devem contribuir para que o filho se desenvolva com

dignidade, lhe dando a chance de se adaptar à vida social e profissional sem

sacrifícios desmedidos, que só levarão a um cansaço emocional e físico,

desnecessário e injusto.

O que importa sempre nesses casos é que deve ser avaliado de forma

individual cada caso concreto, e a partir de cada situação específica dar

sempre chance a produção de provas e ao contraditório, e assim evitar que

aquele que não tenha essa necessidade absoluta venha a usurpar de um

direito baseando-o no ócio, na não vontade de progresso e no comodismo de

ter seu sustento pago de forma indigna.

Yussef Cahali fala que “em regra, toda pessoa maior e capaz de

trabalhar deve fazê-lo para seu próprio sustento; o instituto dos alimentos visa

a socorrer os necessitados e não a fomentar a ociosidade.”.

3.2 DEFICIÊNCIA FÍSICA E PENSÃO

Sabe-se que a Constituição federal traz em sua essência a socialização

do direito dando condições aos hipossuficientes para que eles tenham

resguardados a vida. Não foi feito qualquer tipo de diferenciação entre estes

hipossuficientes. Venham de que grupo for a todos são asseguradas as

garantias de vida digna, levando assim a efetivação da sociedade justa e

humana.

Nas palavras de Alexandre de Moraes:

“ Os poderes públicos devem buscar os meios e instrumentos para promover condições de igualdade real e efetiva e não somente contentar-se com a igualdade formal, em respeito a um dos objetivos fundamentais da República: construção de uma sociedade justa.”

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Esse conceito não poderia ser então, diferente no âmbito do privado.

Como já dito anteriormente o fato de se alcançar a maioridade não

exclui de imediato os pais da prestação alimentar. Deve-se imaginar que

alcançar uma idade pré-fixada não é sinônimo de independência financeira.

Ninguém automaticamente adquire poder de sustentar-se pelo simples fato da

lei determinar o fim de uma ajuda financeira dos pais. Para tanto há que se

precisar de mais. Isso já foi mencionado. Porém há outros tipos de

dependência que podem perdurar por anos, e até por toda a vida do

alimentado.

A obrigação alimentar que advém do parentesco é um encargo que

vem da lei e engloba pais e filhos maiores. Ocorrem casos que os pais tem a

obrigação de assistir aos filhos, independente de serem civilmente maiores.

Existem situações, infelizmente, em que um filho menor que sempre

gozou de saúde perfeita apresente de forma inesperada uma doença crônica

que se torna incurável. E outras em que no decorrer da maioridade elas

simplesmente aparecem sem enviar pedido para tal.

Nas palavras de Yussef Cahali :

“A impossibilidade de prover o alimento a sua própria mantença pode advir da incapacidade física ou mental para o trabalho; doença, inadaptação ou imaturidade para o exercício de qualquer atividade laborativa; idade avançada, calamidade pública ou crise econômica de que resulte absoluta falta de trabalho.”

Existem, de forma geral, três acasos em que o alimentante deve

continuar a pensionar o filho mesmo ele sendo maior. Primeiro é a do filho

maior que cursa curso superior ou profissionalizante, segundo é o caso do filho

maior e indigente e por último o filho maior e incapaz.

O filho maior e incapaz pode ter essa obrigação prolongada por toda a

vida, como nos casos de doenças incuráveis, que por óbvio parece

absolutamente justa essa posição.

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No artigo 16 da Lei do divórcio 6515/77, por exemplo, é dito que os

alimentos e a guarda dos filhos menores são estendidos aos incapazes, já que

a necessidade do filho incapaz é indiscutível.

Afirma o estudioso Yussef Cahali:

É que, tratando-se de filho acometido de grave enfermidade, não propicia a exoneração do encargo alimentar a extinção do pátrio poder pela aquisição da maioridade, eis que a necessidade de recebimento dos alimentos não deriva mais da faixa etária e sim de seu precário estado de saúde.

Sobre o tema incapacidade não existem grandes discussões

doutrinárias a cerca da obrigação alimentar. Mas o que deve ser lembrado

sempre é que essa necessidade deriva da incapacidade e não da menor ou

maioridade.

3.3 JURISPRUDÊNCIAS

Apresento as jurisprudências abaixo, como forma de corroborar os

aspectos narrados a cerca das possibilidades de se manter a prestação

alimentar em casos de filhos maiores, seja em quais circunstâncias se

enquadrem.

A mostra faz com que se comprove o que foi levantado na pesquisa

doutrinária feita. Tem sido pacífico pelos julgadores que em caso do maior

cursar graduação ou outro ensino técnico os alimentos são estendidos até a

idade de 24 anos.

O marcante também é que muitas vezes esse benefício vai além de

uma graduação, alcança também uma especialização específica da área, como

nos casos de pós-graduação. Até mesmo nestes casos, os julgadores têm se

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mostrado sensíveis aos anseios dos jovens que pretendem se preparar para

uma carreia profissional, de forma a terem maiores condições de competir por

um mercado cada vez mais seletivo.

0000023-39.2003.8.19.0000 (2003.001.06664) - APELACAO 1ª Ementa DES. LUIZ FERNANDO DE CARVALHO - Julgamento: 17/08/2004 - TERCEIRA CAMARA CIVEL MAJORACAO DA PENSAO ALIMENTICIA FILHO MAIOR ESTUDANTE BINOMIO NECESSIDADE -POSSIBILIDADE CIVIL E FAMÍLIA. AÇÃO DE MAJORAÇÃO DE ALIMENTOS. Alimentanda que embora tenha 23 (vinte e três) anos de idade, encontra-se cursando faculdade de pedagogia, custeada apenas pela sua genitora. Pensionamento anteriormente acordado, quando a alimentanda contava 6 anos de idade, no valor de 30% (trinta por cento) do piso nacional de salário ou 20% sobre os ganhos mensais do alimentante, trabalho exercido por este último na economia informal, em oficina mecânica, havendo elementos de informação reveladores de sua possibilidade em arcar com certo valor de reajuste, sem prejuízo de sua manutenção e da nova família por ele constituída. sentença de procedência parcial para majorar os alimentos de 30% para 50% do salário mínimo, permanecendo o percentual anterior (20%) na hipótese de estabelecimento de vínculo empregatício. Presença de maiores necessidades por parte da autora. IMPROVIMENTO DO APELO.

0000037-21.1986.8.19.0064 (2006.001.39471) - APELACAO 1ª Ementa DES. ROBERTO DE ABREU E SILVA - Julgamento: 13/02/2007 - NONA CAMARA CIVEL ALIMENTOS. EXONERAÇÃO. MAIORIDADE CIVIL. ESTUDANTE. MANUTENÇÃO DA PENSÃO ALIMENTÍCIA. DEVER DE PARENTESCO. O art. 1694 e seguintes do Código Civil impõem o dever de prestar alimentos por força do parentesco. Na ação de exoneração de pensão alimentícia cabe analisar se ainda permanece a necessidade de quem recebe os alimentos bem como a possibilidade do alimentante. A jurisprudência é assente quanto à possibilidade de manutenção do dever alimentar para o filho maiorde idade que esteja cursando faculdade, prorrogando-se a obrigação até que o alimentando atinja 24 anos, porquanto evidencia-se, ainda, a necessidade de receber os alimentos. A tese proclamada na sentença de que a exoneração do dever alimentar é automática com a maioridade e de que caberia ao alimentando propor nova ação de alimentos a fim de comprovar que ainda necessita de alimentos, não merece prosperar por afronta aos princípios da economia e celeridade

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processual. É pacífico que nos mesmos autos em que se fixou a obrigação alimentar requeira-se tanto a exoneração quanto a continuidade da prestação. Restou comprovado nos autos que o filho, embora maior de idade, cursa faculdade de odontologia, em período integral, impossibilitando-o de exercer atividade laboral. Em tais circunstâncias, impõe-se a reforma do decisum para manter a pensão alimentícia ora pactuada, até que o alimentando complete 24 anos de idade. PROVIMENTO DO RECURSO. 0002407-67.2009.8.19.0063 -APELACAO 1ª Ementa DES. MARILENE MELO ALVES - Julgamento: 06/04/2011 - DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL D E C I S Ã O Trata-se de recurso de apelação tempestivamente ofertado em que se veicula irresignação com a sentença de fls. 36/38 em que se julgou improcedente o pedido de exoneração de pensão movida por genitor em face de filha que atingira maioridade. O pedido foi desacolhido, porque - entendeu a MM. Juiza a quo -, embora maior a alimentanda, necessita esta da prestação alimentícia, pois ainda ostenta a condição de estudante. Apela o autor, sustentando, em resumo, que a alimentanda é jovem saudável, não está matriculada em curso superior e possui perfeitas condições físicas para se inserir no mercado de trabalho; que o apelante possui mais dois filhos menores e que vivem sob sua dependência; e que a alimentanda, em nenhum momento, faz prova de que necessita continuar receber a pensão, além do que, esta última há tempos que reside com seu companheiro. Culmina por pedir a reforma integral da sentença. As contra-razões ao recurso vieram às fls. 55/59, em prestígio do decisum. A D. Procuradora de Justiça opina pelo provimento do recurso, como se bem verifica do parecer de fls. 87/90. Se afiguraria até razoável a permanência da obrigação alimentar, caso a alimentanda maior se encontrasse cursando o ensino médio. Neste contexto e considerando-se que a apelada não oferece resistência à pretensão de seu genitor, a hipótese é de acolher-se o pedido exoneratório a ela direcionado. Isto posto, nos termos do § 1º-A do art. 557 do CPC, DOU PROVIMENTO ao presente recurso, na forma supra-expendida. Rio de Janeiro, 05 de abril de 2011. Marilene Melo Alves Desembargadora Relatora 0002415-10.2009.8.19.0042 -APELACAO 1ª Ementa DES. ROBERTO GUIMARAES - Julgamento: 02/02/2011 - DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL APELAÇÃO CÍVEL. PEDIDO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS AO ARGUMENTO DE ADVENTO DA MAIORIDADE CIVIL DA ALIMENTANDA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA QUE SE REFORMA. FILHE QUE COMPLETOU 26 ANOS DE IDADE, PORÉM, ESTÁ CURSANDO FACULDADE DE DIREITO, COM PREVISÃO DE TÉRMINO PARA JULHO DE 2011. NECESSIDADE EVIDENCIADA DA PENSÃO PARA FINS DE EDUCAÇÃO. INTELIGÊNCIA DO

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ARTIGO 1694 DO CÓDIGO CIVIL. O dever de sustento decorrente do poder familiar finda com a maioridade ou emancipação, independentemente do ajuizamento de ação exoneratória pelo devedor. Todavia, se o filho, conquanto maior, mostra-se incapaz de prover a própria mantença, exsurge a obrigação alimentar decorrente do parentesco - e não mais do poder familiar - nos termos do art. 1.694 do Código Civil. PROVIMENTO DO RECURSO PARA MANTER O PENSIONAMENTO À APELANTE ATÉ O TÉRMINO DO CURSO UNIVERSITÁRIO.

0001076-89.2003.8.19.0021 (2004.001.07129) - APELACAO 1ª Ementa DES. LUIZ EDUARDO RABELLO - DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL DECISAO MONOCRATICA Apelação Cível. Ação de Redução de Alimentos e Ação de Exoneração de Pensão alimentícia. Conexão, decisão conjunta. Sentença que julgou improcedente o pedido de exoneração e, parcialmente procedente o de redução de pensão alimentícia, passando esta, de um salário mínimo (acordada em ação de divórcio) para meio salário mínimo, enquanto permanecer o alimentado (maior de idade) cursando faculdade. Apelo. A alteração do termo inicial da maioridade civil, pelo novo Código, não alteou ou revogou o direito ao pensionamento de filhos universitários, até 24 anos de idade, conforme entendimento pretoriano. Não há sustentação convincente quanto à alteração da capacidade econômica do alimentante e, por outro lado, ficou demonstrado que o alimentado, embora maior e trabalhando, não tem condição de arcar com o seu sustento e de seu curso superior. O juiz a quo bem enfrentou a dificuldade de se aferir, com precisão, a capacidade econômica do alimentante em face da sua condição de trabalhador autônomo, decidindo, corretamente, de acordo com a experiência e o senso comum. A sentença deve ser mantida. Negado provimento ao apelo. 0012173-59.2002.8.19.0203 (2004.001.10343) – APELACAO 1ª Ementa DES. CLAUDIO DE MELLO TAVARES - Julgamento: 01/09/2004 - DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL ALIMENTOS PENSAO DESTINADA AO CUSTEIO DE ESTUDOS CESSACAO COM A MAIORIDADE ALIMENTOS. MAIORIDADE DO FILHO. INEXISTÊNCIA DE INCAPACIDADE LABORAL. O dever alimentar do pai para com o filho cessa com a superveniência da maioridade, admitindo a jurisprudência a mantença do pensionamento do filho maior, quando este se encontra frequentando curso superior, até que complete 24 (vinte e quatro) anos de idade. Entretanto, há hipóteses em que o dever alimentar persiste quando o filho maior for incapacitado para o próprio sustento, o que não é o

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caso em apreço. A autora, embora esteja cursando faculdade, possui 27 (vinte e sete) anos de idade, e não demonstrou ser incapaz para exercer atividade laboral, de modo a arcar com seu sustento. Outrossim, decorreu tempo suficiente para que ela tivesse encerrado o curso superior, o que incorreu por desídia com seus estudos. Portanto, não se justifica a manutenção do encargo por parte do réu. Recurso conhecido e improvido.

0030681-38.2006.8.19.0001 (2007.001.48818) - APELACAO 1ª Ementa DES. NANCI MAHFUZ - Julgamento: 06/05/2008 - DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL Apelação cível. Revisão de alimentos. Ainda que não haja elementos que autorizem concluir pela alteração da possibilidade do alimentante, que recebe vencimentos brutos em valor muito acima da média nacional, a pensão alimentícia estabelecida em acordo representa cerca de 50% dos seus ganhos líquidos. Percentual excessivo. Redução para 25% dos ganhos líquidos do pai, mantidas as despesas de educação e plano de saúde e a moradia para o filho. Filha maior, que já completou 24 anos e não consegue aprovação em todas as matérias da faculdade, devendo cessar a obrigação de pagar alimentos, mantido o pagamento da universidade até o final deste ano letivo e o plano de saúde. Parcial provimento do recurso. 0018369-33.2006.8.19.0000 (2006.002.22825) - AGRAVO DE INSTRUMENTO 2ª Ementa DES. NANCI MAHFUZ - Julgamento: 25/09/2007 - DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL Agravo inominado em agravo de instrumento. Decisão agravada que negou seguimento a recurso do ora agravante, aplicando o caput do art. 557 do CPC. Agravante que requer o prosseguimento de seu agravo, para que seja apreciado seu pedido de cancelamento de alimentos para a filha e pagamento direto para o filho. A permanência da pensão tem por fim permitir que o filho aplicado e esforçado se dedique aos estudos e estágios para obter sucesso. A jurisprudência caminhou para a manutenção dos alimentos, mesmo após a maioridade, para assegurar ao filho que deseja se formar em faculdade condições de estudar. É bem verdade que, adotando a legislação do imposto de renda, a maior parte das decisões mantém a pensão até os 24 anos, apenas. Ocorre que neste caso, a primeira agravada é filha maior de idade que cursa medicina, carreira em que os anos de estudo são maiores, não havendo concordância da filha, nem indícios de ociosidade. Neste caso, esta Relatora entende que a questão deve ser resolvida em processo que permita instrução probatória. Não há comprovação de que a mesma já tenha completado o curso de graduação, como alegado pelo agravante, havendo apenas uma declaração de previsão do término do curso em dezembro de 2006. No que se refere ao filho do agravante, o entendimento desta Relatora é no sentido de que se este prefere que o pagamento permaneça com a genitora, a modificação de cláusula deve ser discutida pela via própria. Manutenção da decisão agravada. Recurso não provido.

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0011061-53.2005.8.19.0202 (2007.001.09164) - APELACAO 1ª Ementa DES. MIGUEL ANGELO BARROS - Julgamento: 06/03/2007 - DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL CIVIL - ALIMENTOS - FILHO MAIOR QUE CONFESSOU NÃO ESTARW CURSANDO FACULDADE E ESTAR ENGAJADO NO SERVIÇO MILITAR MEDIANTE REMUNERAÇÃO IMPROCEDÊNCIA - APELAÇÃO ALEGANDO QUE O CURSO NA FACULDADE FOI SUSPENSO POR MORA -DESPROVIMENTO POR ATO MONOCRÁTICO. Se o apelante recebia pensão, a qual foi cancelada depois que ele atingiu a maioridade e não comprovou que estivesse estudando, afigura-se correta a sentença de improcedência da nova ação de alimentos que ele propôs meses depois do cancelamento da primeira e após ter obtido matrícula em Curso chamado de superior (mas na verdade meramente profissionalizante) que depois abandonou e cujas mensalidades não pagou, embora estivesse recebendo alimentos provisórios em valor suficiente.

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CONCLUSÃO

Falar em alimentos é levantar debates acalorados. Por sua

importância e, também, por englobar dúvidas e questionamentos, essa

discussão ainda não encontrará unanimidade tão cedo.

Dentre vários pontos, destaquei aqui a possibilidade e a necessidade

de o civilmente maior continuar a receber seu pensionamento.

Foi esclarecido que a maioridade civil por si só não é motivo de

cancelamento automático do mesmo, existindo várias situações em que este

pensionamento se faz imprescindível, como a daquele o alimentado que quer

ter acesso a uma qualificação profissional.

Tal aspecto tem sido levado em conta pelos julgadores e,

normalmente, a manutenção nestes casos tem sido mantida, e só cessaria aos

24 anos em média.

Chega-se a conclusão que os julgadores têm sido suficientemente

cautelosos em casos específicos de estudantes que prolongam sua graduação

apenas para se beneficiar do recebimento da referida pensão. Cada caso é

avaliado de forma individual para que se evite uma longa e penosa obrigação

para o alimentante.

Maior e indiscutível ainda é a questão da necessidade do filho maior

que requeira cuidados específicos.

Tal situação apresentada diz respeito a incapacidade física

apresentadas pelo alimentado após a maioridade. Casos de acidentes,

doenças progressivas ou similares. Nestes, os julgadores tem-se mostrados

sensíveis às necessidades apresentadas, e baseado no aspecto de

solidariedade familiar tem mantido o pensionamento até que cesse essa

necessidade. Há casos desse dever perdurar por toda a vida do alimentado, já

que existem certas situações que essa deficiência é progressiva ou incurável.

Não importando, no caso, a faixa etária do filho, mas tão-somente a

precariedade do incapaz.

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Em todas as situações mostradas em momento algum pode ser

esquecido o binômio alimentar possibilidade necessidade; a necessidade do

alimentado não pode ultrapassar a possibilidade do alimentante. Agindo assim,

atentos a esse binômio, os julgadores estão mostrando uma sensibilidade na

solução dos conflitos, atuando de acordo com os princípios de razoabilidade e

proporcionalidade.

Chega-se a conclusão que o dever de sustento dos filhos termina com a

maioridade, cessado por conta da extinção do poder familiar. Porém deve-se

atentar que a obrigação alimentar decorrente de parentesco pode ser mantida

desde comprovado, pelo alimentado, sua necessidade.

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ANEXO A PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS AOS FILHOS SOB A ÓTICA DA

JURISPRUDÊNCIA DO STJ

O dever dos pais de pagar pensão alimentícia aos filhos não é novidade

na legislação brasileira. Mas a aplicação do Direito é dinâmica e

constantemente chegam os tribunais questões sobre a obrigação da prestação

de alimentos. Em 2011, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) enfrentou

controvérsias ligadas ao tema – se avós devem pensão aos netos; se filho

cursando pós-graduação tem direito à pensão; se a exoneração é automática

com a maioridade; se alimentos in natura podem ser convertidos em pecúnia.

O Código Civil de 2002 estabeleceu, em seu artigo 1.694, a

possibilidade de os parentes pedirem “uns aos outros” os alimentos de que

necessitem para viver de modo compatível com sua condição social, inclusive

para atender as necessidades de educação. Abriu-se a possibilidade de que

pais, sem condições de proverem sua própria subsistência, peçam aos filho o

pagamento de alimentos.

Não há um percentual fixo para os alimentos devidos pelos pais, mas a

regra do CC/02 que tem sido aplicada pelos magistrados para determinar o

valor estabelece que se respeite a proporção das necessidades do reclamante

e dos recursos da pessoa obrigada. Em diversos julgamentos, o STJ tem

admitido que a mudança de qualquer dessas situações (do alimentante ou do

alimentado) é motivo para uma revaloração da pensão alimentícia. E, caso

cesse a necessidade econômica do alimentado o alimentante pode deixar de

pagar a pensão por não ser mais devida.

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SÚMULAS

A primeira súmula editada pelo STJ, em 1990, já dizia respeito ao

pagamento de pensão alimentícia. Foi nessa época que o Tribunal passou a

julgar casos de investigação de paternidade definidos pelo exame de DNA.

Gradativamente, a popularização do teste e a redução do custo do exame de

DNA levaram filhos sem paternidade reconhecida a buscarem o seu direito à

identidade. A Súmula 1 estabeleceu que “o foro do domicílio ou da residência

do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade,

quando essa passa a ser cumulada com a ação de alimentos”.

Anos mais tarde, em 2003, a Segunda Seção, órgão responsável por

uniformizar a aplicação do Direito Privado, editou a Súmula 277: “Julgada

procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da

citação”. A dúvida sobre a possibilidade ou não de cobrança retroativa dos

alimentos à data do nascimento da criança era resolvida.

Em 2008, novamente a Segunda Seção lançou mão de uma súmula

para firmar a jurisprudência da Corte. Neste caso, os ministros estabeleceram

que “o cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade

está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios

autos”(Súmula358).

O CC/02 reduziu para 18 anos a maioridade civil. A partir daí, extingue-

se o poder familiar, mas não necessariamente a obrigação dos pais em pagar a

pensão alimentícia. A legislação não determina o termo final, cabendo à

doutrina e à jurisprudência solucionar a questão. Em novembro de 2011, a

Terceira Turma definiu que a necessidade de sustento da prole por meio da

pensão alimentícia se encerra com a maioridade, exigindo a partir daí que o

próprio alimentando comprove sua necessidade de continuar recebendo

alimentos.

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No STJ, o recurso era do pai. Os ministros decidiram exonerá-lo do

pagamento de pensão por concluírem que a filha não havia comprovado a

necessidade de continuar recebendo pensão após ter completado 18 anos. Ela

alegava de forma sistemática que queria prestar concurso vestibular.

A relatora, ministra Nancy Andrighi, afirmou que há entendimento na

Corte de que, “prosseguindo o filho nos estudos após a maioridade, é de se

presumir a continuidade de sua necessidade em receber alimentos” e que essa

situação “desonera o alimentando de produzir provas, ante a presunção da

necessidade do estudante de curso universitário ou técnico”. No entanto, a

ministra destacou que “a continuidade dos alimentos após a maioridade,

ausente a continuidade dos estudos, somente subsistirá caso haja prova, por

parte do filho, da necessidade de continuar a receber alimentos” (REsp

1.198.105).

PÓS-GRADUAÇÃO

Em geral, os tribunais tem determinado o pagamento de alimentos para

o filho estudante até os 24 anos completos. Mas a necessidade se limitaria à

graduação. Em setembro de 2011, a Terceira Turma desonerou um pai da

obrigação de prestar alimentos à sua filha maior de idade, que estava cursando

mestrado. Os ministros da Turma entenderam que a missão de criar os filhos

se prorroga mesmo após o término do poder familiar, porém finda com a

conclusão, pelo alimentando, de curso de graduação do aimentado.

A filha havia ajuizado ação de alimentos contra o pai, sob a alegação de

que, embora fosse maior e tivesse concluído o curso superior, encontrava-se

cursando mestrado, fato que a impede de exercer atividade remunerada e

arcar de forma absoluta e razoável apenas com suas despesas.

No STJ, o recurso era do pai. Segundo a relatora, ministra Nancy

Andrighi, o estímulo à qualificação profissional dos filhos não pode ser imposto

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aos pais de forma perene, sob pena de subverter o instituto da obrigação

alimentar oriunda das relações de parentesco – que tem por objetivo apenas

preservar as condições mínimas de sobrevivência do alimentado – para torná-

la eterno dever de sustento(REsp 1.218.510).

PARENTES

Não existem dúvidas sobre a possibilidade de pedido de alimentos

complementares a parente na ordem de sua proximidade com o credor que não

possua meios para satisfazer integralmente a obrigação.

Também em 2011, o STJ consolidou a jurisprudência no sentido de que

é possível ao neto pedir alimentos aos avós, porém, somente quando provada

a incapacidade do pai. Em julgamento realizado em outubro, a Terceira Turma

decidiu que os avós não poderiam ser chamados a pagar pensão alimentícia

enquanto não esgotados todos os meios processuais disponíveis para forçar o

pai, alimentante primário, a cumprir a obrigação. A incapacidade paterna e a

capacidade financeira dos avós devem ser comprovadas de modo efetivo.

No STJ, o recurso era dos netos. Para a relatora, ministra Nancy

Andrighi, os parentes mais remotos somente serão demandados na

incapacidade daqueles mais próximos de prestarem os alimentos devidos. A

obrigação dos avós é subsidiária e complementar, e não se pode ignorar o

devedor primário por mero comodismo ou vontade daquele que busca os

alimentos(REsp1.211.314).

Em março, a Quarta Turma já havia definido que, além de ser

subsidiária, a obrigação dos avós deve ser diluída entre avós paternos e

maternos. No STJ, o recurso era do casal de avós paternos de três netos,

obrigados ao pagamento de pensão alimentícia complementar. Eles queriam o

chamamento ao processo dos demais responsáveis para complementar o

pagamento daqueles 15(quinze) salários mínimos devidos pelo pai.

Em seu voto, o relator, ministro Aldir Passarinho Junior, afirmou que,

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com o advento do novo Código Civil, demandada uma das pessoas obrigadas

a prestar alimento, poderão as demais ser chamadas a integrar o feito(REsp

958.513).

PAI E MÃE:

OBRIGAÇÕES.

Também em março de 2011, a Quarta Turma atendeu recurso de um pai

para que a mãe do seu filho também fosse chamada a responder a ação de

alimentos (integrar pólo passivo da demanda). O filho, já maior de idade, pedia

a prestação de alimentos. O relator, ministro João Otávio de Noronha,

entendeu que, ainda que o filho possa ajuizar a ação apenas contra um dos

coobrigados, a obrigação é conjunta: proposta a demanda apenas em desfavor

de uma pessoa, as demais que forem legalmente obrigadas ao cumprimento da

dívida alimentícia poderão ser chamadas para integrar a lide.

“A obrigação alimentar é de responsabilidade dos pais, e, no caso de a

genitora dos autores da ação de alimentos também exercer atividade

remunerada, é juridicamente razoável que seja chamada a compor o polo

passivo do processo, a fim de ser avaliada sua condição econômico-financeira

para assumir, em conjunto com o genitor, a responsabilidade pela manutenção

dos filhos maiores e capazes”, afirmou. De acordo com Noronha, cada um dos

supostos responsáveis assume condição autônoma em relação ao encargo

alimentar(REsp964.866).

ALIMENTOS INNATURA

Por vezes, os alimentos arbitrados judicialmente podem ser in natura,

não apenas em pecúnia. É o caso da obrigação dos pais de arcar com plano de

saúde, mensalidade escolar ou outras despesas domésticas. O tema foi

debatido no STJ em setembro de 2011, quando a Terceira Turma desobrigou

um homem de pagar despesas de IPTU, água, luz e telefone de imóvel

habitado pelos seus filhos e pela ex-mulher, que vive com novo companheiro.

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Seguindo o voto da relatora, ministra Nancy Andrighi, a Turma entendeu

que a beneficiária principal desses pagamentos é a proprietária do imóvel,

sendo o benefício dos filhos apenas reflexo. “Os benefícios reflexos que os

filhos têm pelo pagamento dos referidos débitos da ex-cônjuge são absorvidos

pela obrigação materna em relação à sua prole, que continua a existir, embora

haja pagamento de alimentos pelo pai”, afirmou a ministra, destacando que a

obrigação de criar os filhos é um tipo de obrigação a ser exercida de forma

conjunta.

Andrighi afirmou que não se pode perenizar o pagamento de parte da

pensão à ex-esposa nem impor ao alimentante a obrigação de contribuir com o

sustento do novo companheiro dela.(REsp1.087.164)

Noutro caso, julgado em outubro também pela Terceira Turma, foi

definido que é possível a conversão de alimentos prestados in natura, na forma

de plano de saúde, para o equivalente em pecúnia no âmbito de ação de

revisão..

No caso julgado, a filha afirmou que, além das dificuldades

anteriormente impostas pelo alimentante à utilização do plano de saúde, foi

recentemente desligado do referido plano. A relatora, ministra Nancy Andrighi,

esclareceu que a variabilidade - característica dos alimentos -, além de

possibilitar a majoração, redução, ou mesmo exoneração da obrigação,

“também pode ser aplicada à fórmula para o cumprimento da obrigação que

inclui a prestação de alimentos in natura, notadamente quando a alimentada

aponta dificuldades para usufruir dessa fração dos alimentos” (REsp

1.284.177).

EXONERAÇÃO

O dever de pagar pensão alimentícia decorre da lei e não pode ser

descumprido enquanto o filho for menor. A maioridade, o casamento do

alimentado ou o término dos seus estudos podem significar o fim da obrigação,

desde que também o fim da dependência econômica seja reconhecido

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judicialmente. Mas, para tanto, é necessário ingressar com uma ação de

exoneração de alimentos.

Em agosto de 2011, a Terceira Turma decidiu que a obrigação alimentar

reconhecida em acordo homologado judicialmente só pode ser alterada ou

extinta por meio de ação judicial própria para tal aspiração (seja a revisional,

seja a de exoneração da obrigação alimentar, respectivamente). A questão foi

enfrentada no julgamento de um habeas corpus que pretendia desconstituir o

decreto de prisão civil de um pai que ficou dois anos sem pagar pensão

alimentícia.

O relator, ministro Massami Uyeda, destacou que o entendimento do

STJ é no sentido de que a superveniência da maioridade não constitui critério

para a exoneração do alimentante, devendo ser aferida a necessidade da

pensão nas instâncias ordinárias. “A alegação de que os alimentandos não

mais necessitam dos alimentos devidos, sem o respectivo e imprescindível

reconhecimento judicial na via própria [ação de exoneração de alimentos],

revela-se insubsistente”, afirmou o relator (HC 208.988).

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BLIBIOGRAFA

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Família. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2005. DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Malheiros, 5ª ed, 2005 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 22ª ed. São Paulo: Saraiva,2007

GOMES, Orlando. Direito de Família, 11º ed. Rio de janeiro: Revista Forense, 1999

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. Saraiva. São Paulo. 33ª ed. 1996

MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 15 ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2004.

MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 8ª ed., São Paulo: Atlas, 2007.

NUNES, Luiz Antônio Rizzato. Manual de Introdução ao Estudo do Direito, 3ª ed. São Paulo. Saraiva. 2006 .RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Direito de família. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. . VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 5ed. São Paulo: Atlas, 2005.

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Í NDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Alimentos

1.1 Conceito 10

1.2 Natureza Jurídica 12

1.3 Relação Familiar e Parentesco 13

CAPÍTULO II

Procedimentos

2.1 Ação de Alimentos 17

2.2 Ação Revisional 18

2.3 Ação de Exoneração 19

CAPÍTULO III

Maioridade

2.1 Ação de Alimentos 23

2.2 Ação Revisional 26

2.3 Ação de Exoneração 28

CONCLUSÃO 34

ANEXOS 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 44

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