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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE Analise da situação das mulheres encarceradas na Cidade do RIO DE JANEIRO Por: Magaly da Silva Cruz Esteves de Sá Orientador Professora: Diva Nereida Maranhão Rio de Janeiro 2007 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Analise da situação das mulheres encarceradas na

Cidade do RIO DE JANEIRO

Por: Magaly da Silva Cruz Esteves de Sá

Orientador

Professora: Diva Nereida Maranhão

Rio de Janeiro

2007

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Analise da situação das mulheres encarceradas na

cidade do Rio de Janeiro

Objetivos: Esta publicação atende a complementação

didático-pedagógica de Metodologia da

Pesquisa e a produção e desenvolvimento

de monografia, para o curso de pós-

graduação em Psicologia Jurídica.

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AGRADECIMENTOS

A minha família que com paciência e fé, colaboraram me dando todos recursos necessários a feitura deste. Pois o percurso sendo árduo é preciso que a virtude da perseverança se instale em nossas mentes e coração. Aos colegas e professores pelo otimismo de brasileiros.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu Pai Nelson Cruz Filho que certamente, na sua atual morada se orgulhará de mais uma co-produção, foi com a força incomensurável e o exemplo deste homem brilhante é que pude ser realmente uma representante da raça humana. Com muita alegria envio-lhe meus mais estimados abraços e beijos.

Minha mãe e meus filhos que juntos e fortes estamos mais do que envolvidos na causa da superação. Dos quais vem toda minha força.

HOMENAGEM

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Aos dedicados professores desta conceituada instituição, colegas e servidores, que com sua atenção e paciência conseguem transmitir a motivação necessária à conclusão de mais uma etapa da vida.

RESUMO

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A pesquisa tem o intuito, sobretudo, em analisar e criticar as condições do

sistema penitenciário e, particularmente, da mulher presa.

Através de estudos sérios de pesquisa de campos feito por cientistas

sociais, sociólogos, psicólogos e estudantes verificamos o quanto anda as prisões

para mulheres no Estado.

Levanta alternativa e sugere, mais ou menos explicitamente, possíveis

reformas para as situações exposta no decorrer do trabalho.

No plano convencional o homem e a mulher se confundem no desempenho

dos papeis, mas a confusão não acarreta uma total inversão dos mesmos.

Disso resulta, no plano da criminalidade, certa negligência de estudos

específicos sobre a delinqüência feminina, não obstante a existência de estudos,

nos quais a criminalidade feminina é vista sob a mesma perspectiva da masculina.

È pretendido com isso desmistificar essa relação de dominação no campo

especifica da criminalidade, do direito penal e de ciência penitenciária, a partir daí,

estabelecer ou restabelecer, tão somente, a igualdade social entre os sexos na

construção, nos desvios a até mesmo na destruição do meio social.

A pesquisa ganha importância pela pouca bibliografia disponível sobre o

universo feminino nos presídios brasileiros.

Mais importantes são as relações entre mercado e a aplicação da pena

privativa de liberdade, em uma sociedade por si só injusta.

A questão que norteia este trabalho é a de procurar saber por que, apesar

da visível incompatibilidade do cárcere com o humano, a sociedade insiste em

não produzir uma alternativa para prisão, que lancem nova dimensão ao problema

da reclusão e da criminalidade.

METODOLOGIA

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A metodologia utilizada será a leitura de teóricos, livros e análise de

pesquisas, encontradas nas bibliotecas.

A análise dos recursos adotados como também as observações feitas

pelas autoras, buscando recursos necessários a mudanças no Sistema.

Investigação de suposta proposta pedagógica viável a aplicação em curto prazo.

Tendo em vista a melhor adequação para o bem, estar e readaptação

destas mulheres na sociedade e por já terem cumprido seu débito, faça mister um

programa de reintegração social e humana, como direito do cidadão após sua

passagem por um Sistema Prisional.

Fato que fica comprovado até presente data não se elaborou.

A proposta deste trabalho é tentar conhecer e refletir questões tão

próximas de nós mais que mesmo assim procuramos ignorá-las.

Entre várias razões que me levou a escolher o tema prepondera, sem

dúvida, a minha condição de mulher e o interesse pelos problemas sócio-

jurídicos diretamente pertinentes á parte feminina da população.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................9

CAPÍTULO I- Mulher e o crime........................................................................... 11

1.1-Teoria da criminalidade Feminina..................................................11 1.2-A Mulher e o crime.........................................................................12 1.3-Conceito de crime em direito.........................................................13 CAPÍTULO II- A Violência.....................................................................................15

2.1- A violência......................................................................................15 2.2- A violência doméstica....................................................................16 2.3- Pena de Prisão...............................................................................17 2.4- Homossexualismo..........................................................................18 2.5-Construção do Feminino.................................................................21 CAPÍTULO III – Vida Carcerária

3.1-Trabalho na prisão............................................................................23 3.2-Algumas considerações..................................................................24

CONCLUSÃO.......................................................................................................25

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA..........................................................................28

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INTRODUÇÃO

A pesquisa inicia-se depois de várias indagações sobre a criminalidade e

sua divisão por gênero.

Levanta-se a questão da motivação e intenção como parte integrante da

criminalidade feminina, buscar teorias e em pesquisas de campo explicar porque

determinado número de mulheres chega realmente ao crime.

Alguns autores têm visto como conseqüências o Movimento de Libertação

da Mulher a explicação para o crescimento das taxas de criminalidade feminina,

argumentando que ofensas cometidas por mulheres, estão tornando-se

masculinas, mais violentas e que a medida que elas procuram se igualar aos

homens tendem ao crime com maior freqüência.

O que parece mais provável, entretanto, é que na medida em que as

mulheres conquistam maior independência e se equiparam aos homens no

desempenho dos papéis sociais, a condescendência em relação ás suas práticas

criminosas tende a ser cada vez menor. Neste sentido, o aumento do número

absoluto de mulheres presas poderia estar expressando não só uma elevação

real dos índices de criminalidade de ambos os sexos, mas uma redução dos

níveis condescendência do sistema de justiça criminal em relação às mulheres

infratoras.

A tendência verificada nas taxas de criminalidade nos últimos anos levam a

crer que á medida que há maior participação da mulher nas estatísticas criminais,

também aumenta. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre 1960 e 1972, o

número de detenção para mulheres aumentou três vezes mais rapidamente do

que para os homens. No Canadá duplicou em nove anos. Na Índia o número de

presidiárias quadruplicou entre 1962 e 1965.

. No Brasil, entre 1957 e 1971 as condenações de mulheres cresceram duas

vezes mais rapidamente do que as de homens e, paralelamente a participação

da mulher na população economicamente ativa passa de 14,7% em 1950, para

17,9% em 1960 e, finalmente, 21,0% em 1970.

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De qualquer forma, nenhuma forma, nenhum dado relativo ás mulheres

encarceradas fornece indícios de uma elevação substancial da participação

feminina no universo dos crimes tipicamente praticados por homens.

A questão insistente é como entender o fato de as mulheres raramente

praticarem os mesmos crimes que levam os homens á cadeia,

que são atribuídos a pobreza, a falta de perspectiva, a falta de acesso aos

recursos sociais básicos, se elas, no fim das contas experimentam as mesmas

dificuldades financeiras e sociais?

Em suma pode-se dizer que á proporção que as disparidades a sócios-

econômicas entre os sexos diminuem há um aumento recíproco da criminalidade

feminina.

Assim faz-se mister atentar para uma série de problemas, que hoje não

estão sendo equacionados no que diz respeito a mulher detenta, pois a pena

prisão embora reconhecidamente falida, não parece estar a beira da extinção.São

algumas destes problema que estarão ao longo da elaboração deste trabalho de

pesquisa e possíveis soluções.

CAPÍTULO I

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Mulher e o Crime

1.1- Teorias da criminalidade feminina

Os estudos crimino lógicos consagrados á criminalidade feminina são

raros.E quendo existem, aparecem como títulos acessórios em curtos capítulos

subsidiários, de obras que privilegiam sempre o criminoso masculino. Nesse

campo, destaca-se o pensamento do fim do século XIX, enunciado pelas teorias

de C.Lombroso e G. Ferreiro sobre a mulher delinqüente, datadas de 1896, além

de algumas refrências em estudos de G. Tarde, de 1898, e dos ensaios

criminologico de Durkheim, de 1897. Outros teóricos do século XX- incluindo

alguns brasileiros, cujo principal expoente foi Lemos de Brito- discorreram sobre

as especialidades do crime “feminino” na mesma linha de argumentação de seus

precursores, referindo-se á “natureza” da mulher, a partir de uma visão tradicional

do seu papel na família e na sociedade.

Diversas explicações de ordem biológica, psicológica e sociológica foram

utilizadas para justificar as especialidades do fenômeno, segundo a natureza das

infrações que as mulheres cometiam o seu modo de participação no crime e sua

menor reincidência em comparação ao sexo masculino. Tais fatores serviam para

justificar “ cientificamente” a sub- representação das mulheres na população

prisional e a sua super – representação no inventário dos “típicos delitos

femininos”.

A base das explicações bio psicológicas dos pensadores da virada do

século XX residia na noção de uma influência dos “estados fisiológico” pelos quais

a mulher passaria nas fases da puberdade, da menstruação, da menopausa, do

parto ( estado puerperal)- períodos em que estaria mais propensa á prática de

crimes .Durante a vigência desses fenômenos biológicos que atingem o corpo da

mulher, o seu estado psicológico ficaria alterado pela irritabilidade, instabilidade e

agressividade. Por isso ela estaria mais facilmente sujeita á prática de delitos (

cujas vítimas típicas seriam as crianças) como o aborto, o infanticídio, o abandono

de incapaz etc., ligados á sua condição de mulher e sua associação natural á

maternidade.

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Vale ressaltar que Lombroso e Ferrero associavam a prostituição á

criminalidade típica das mulheres. A sexualidade feminina a serviço da

prostituição equivaleria á criminalidade que Lombroso denominou de “atávica”

inata e , por isso infame perante a oposição pública, capaz de colocar em risco a

moral familiar e os bons costumes.

O problema da participação ativa da mulher no sistema produtivo nos

remete ao ponto inicial ao ponto inicial deste trabalho: a questão da delinqüência

feminina. Deixando de lado as discuissões lombrosianas e suas derivações sobre

os fatores anátomo- patológicos supostamente responsáveis pela ação delituosa,

centramos nossa atenção no discurso que privilegia apontar a diferença

estatística entre a incidência de crimes cometidos por homens e mulheres,

fenômeno notável em toda a sociedade ocidental.

O tema em questão é controvertido. Para ilustrar a polêmica de que se

reveste, vejamos o que diz Roberto Lyra sobre o assunto:

Não há mulher criminosa e sim mulher que comete crime(..) o sexo não é

criador e , muito menos, especializador de criminalidade.

Não há criminalidade feminina ou masculina. A criminalidade há de ser

praticada por homens e mulheres. Os crimes considerados femininos comportam

a concorrência masculina, até principal.

1.2- A mulher e o crime

Diversos autores têm procurado interpretar as desigualdades nas taxas de

criminalidade feminina e masculina. Por muito tempo as explicações centraram-se

nas diferenças de características físicas e psicológicas entre homens e mulheres

e pouca atenção foi dada a fatores sócio-estruturais.

Para Freud, o crime feminino representa um rebelião contra o natural papel

biológico da mulher e evidencia um “ complexo de masculinidade”.Esta posição de

certa maneira, endossa algumas colocações de Lombroso que situam a

verdadeira mulher criminosa como biologicamente anormal. Este mito lembra

Carol Smart, produz uma situação na qual as mulheres que infringem as leis são

duplamente condenadas: legalmente, através de um processo criminal e ,

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socialmente, consideradas biológica e sexualmente anormais. Nas palavras de

Lombroso e Ferrero “ Como uma dupla exceção, a mulher criminosa é um

monstro.”

Recentemente, autores diversos têm visto nas conseqüências do Movimento de

Libertação da Mulher a explicação para o crescimento das taxas de criminalidade

feminina. O argumento destes autores mantém que as ofensas cometidas por

mulheres estão-se tornando mais masculinas, particularmente mais violentas e

que á medida que elas procuram igualar-se aos homens tendem o crime com

maior freqüência. Em relação a esta abordagem, dois principais aspectos

necessitam exame detalhado.

Primeiro em relação às estatísticas de criminalidade que sugere uma

mudança em sua definição, mais do que do comportamento em si. Desse modo,

os agentes de controle social, tendem a definir o comportamento desviante de

mulheres e jovens do sexo feminino como violento ou masculino, porque a

posição das mulheres em termos sociais econômicos está sofrendo mudança na

sociedade, em geral.

Segundo ponto, os teóricos que consideram os Movimentos de Liberação

da Mulher têm uma relação causal com o aumento da criminalidade feminina,

ignoram que as mudanças materiais e estruturais que estão ocorrendo na vida

das mulheres não estão meramente ligadas á luta pela igualdade entre os sexos,

mas á própria demanda pela mão de obra feminina no mercado de trabalho,

principalmente em épocas de crise ou de expansão econômica.

1.3- Conceito de crime no direito

O conceito formal ressalta uma contradição entre o comportamento do

agente e a norma penal.È uma analise do crime sob o aspecto da técnica

jurídica.O crime “é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena”.

Seu ponto de referencia á a lei: crime á a conduta humana que infringe a lei

penal.

O conceito analítico estabelece três fases para a ação delituosa: a

tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade. Assim o crime é uma “ ação ou

omissão típica, antijurídica e culpável”. Para que uma ação seja considerada

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criminosa, deve corresponder claramente á conduta descrita pela lei, contrariar a

ordem jurídica e ser objeto de reprovação social.

A ação responde pela “vontade” e a “ manifestação da vontade”. O crime é

a realização “dessa vontade.” È a ação o primeiro movimento objetivo ou material

do delito. Sem ela, este não existe.”Uma ação é típica quando há perfeita

adequação entre o fato e a previsão legal, ou seja, quando ela coincide com o tipo

descrito na norma.A tipicidade se denomina pelo ajustamento humano ao tipo

criado pelo legislador no momento da definição do delito.

Assim não existe crime sem tipicidade, ou melhor, sem que o fato se

encaixe perfeitamente em um tipo. A antijuridicidade é uma ação que contaria o

direito é ilícita.Se reduz a um juízo , uma avaliação do comportamento humano,

posto que o direito penal consiste em um complexo normas que visa tutelar e

salva guardar a ética social.Uma ação culpável quando há reprovação

pessoal;quando este forma um juízo de valor negativo sobre sua própria conduta,

por não estar em conformidade com a norma.O elemento culpabilidade é

subjetivo; se exprime como vinculo psicológico que une o sujeito ao

resultado.Duas teorias concorrem na formulação do conceito de culpabilidade a

psicológica e a normativa.Na psicológica a culpabilidade se resume no dolo e na

culpa,na normativa se reduz a um juízo de reprovação contra o autor de uma

ação, porque todos devem agir conforme a norma, segundo o deve jurídico, que

protege os interesses sociais.

Na conceituação de crime, dada pelo direito penal, é estreita a relação

entre crime e lei: um não existe sem o outro.

CAPITULO II

A violência

2.1- A violência

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“ Eles me bateram, não faz chegar e conversar não, vão logo espancando. Foi

você, é acusando, não quer saber o que foi, o que aconteceu, a realidade, quer

saber se espancam, se tá fazendo o serviço deles. Me pegaram pela bitaca da

blusa assim.Aí me prenderam, fui presa ás 10:15 da manhã pra prestar queixa

4:30 da tarde.Então um policial, eu acho que o dever dele é quando pegam uma

presa da justiça é pegar e levar imediatamente pra delegacia e prestar

depoimento. Eles ficaram andando comigo dentro do carro rodando,

espancando.Foram dizendo que tinha sido eu mesma que tinha matado o homem,

onde é que eu tinha feito, como é que eu tinha armado, que isso tinha sido

premeditado que eu era vagabunda, prostituta, e eu dizendo que não, que não.....”

( mulher assassina do ex- marido da amiga).

Esse tratamento violento não específico á mulher pobre. Homens e

mulheres pobres são “diabolizados” pelo sistema jurídico, porque, na sociedade

de consumo, não faz mais sentido constituí-los como alvos dos programas de

integração e recuperação do Estado de bem – estar social, experiência já

vivenciada pelos países capitalistas centrais. Pelo contrário, os excluídos são,

cada vez mais, alvos tradicionais da violência e da rejeição da convivência social,

havendo uma tendência, nas políticas de segurança publica a uma redução do

Estado à função penal e não recuperadora.

A trajetória das presas no estado do Rio de janeiro praticamente se

confunde coma a historia de violência. são poucas as mulheres que não foram,

em algum momento anterior á prisão, vitimadas pela violência (física, psicológica

ou sexual) dos responsáveis, dos parceiros ou dos Agentes da lei.Apenas 4,7%

chegaram a prisão sem trazer na bagagem uma experiência prévia de vitimização

.Mais de 95% sofreram violência em pelo menos uma destas três ocasiões: na

infância/adolescência, no casamento ou nas mãos da policia;75% foram vitimadas

em pelo menos duas das ocasiões; e 35% em todas as três situações .

2.2- Violências Domésticas

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Dados internacionais revelam a existência de uma relação, particularmente

problemática para as mulheres, entre vitimização e entrada no Sistema de Justiça

Criminal.

Nas prisões estaduais, um em cada 20 homens e uma em cada quatro

mulheres disseram ter sido sexualmente agredida antes dos 18 anos. Um em

cada 10 homens e uma em quatro mulheres foram vitimas de abusos físicos antes

de ingressar na prisão.

Entre as mulheres presas no Estado do Rio de Janeiro, o que chama a

atenção. Além da magnitude da violência, é o fato de grande parte das vitimadas

na infância ter repetido mais tarde a experiência de vitimização na relação com os

maridos e companheiros: 79,3% das que sofreram violência física, 84,5% das que

sofreram violência psicológica e 83,1% das que sofreram violência sexual por

parte dos responsáveis sofreram , posteriormente, alguma forma de violência

conjugal.

Além das agressões físicas, sexuais e psicológicas diretamente sofridas ao

longo da existência a proporção de mulheres que experimentaram perdas

violentas de parentes próximos e/ ou de parceiros conjugais.Isso retrata o

ambiente de violência em que muitas dessas mulheres se encontravam imersas

antes da prisão, devendo notar, ainda, que 31% das mulheres disseram que seus

maridos ou companheiros também se encontravam presos no momento da

pesquisa, a maioria deles (57%) condenada por tráfico de drogas.

2.3- Pena de Prisão

O modo como a sociedade lida com aquele que infringem suas leis

conheceu variações através dos tempos e a pena de prisão é o resultado de toda

uma evolução da “arte de punir”.

A idéia central da pena - prisão é a privação da liberdade, daí, lembrar

Foucault, constituir-se na pena por excelência, já que a liberdade um bem que

pertence a todos da mesma maneira, e desse modo sua perda traduz

concretamente a idéia de que a infração lesou não só a vitima, mas a sociedade

inteira.Porém, privar o criminoso da liberdade não bastava: era preciso

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transforma-lo, torná-lo “dócil e útil” para que sua reintegração á sociedade não

viesse causar danos.Assim sendo, diferentes sistemas corretivos vão se

seguindo, uns substituindo os outros, para no final voltar-se á mesma

constatação: a do malogro.

Diz-se que a pena – prisão tem basicamente quatro objetos: reformar,

retribuir, incapacitar e deter.No entanto, tais objetos resultam confitante se, dentre

eles, o único que a prisão consegue realizar é o de retribuir, ou seja, meramente

punir.

“ punir é castigar, fazer sofrer. A intimidação, a ser obtida pelo castigo demanda que este seja apto a causar terror.Ora, tais condições são reconhecidamente impeditivas de levar ao sucesso uma cão pedagógica”

Para que esta ação pedagógica- que a prisão deveria cumprir- resultasse

eficiente, seria necessário que, pelo menos, o tempo passado no presídio abrisse

ao detento perspectivas de uma real possibilidade de melhoria de sua condição

sócias- econômica, através de um aprimoramento educacional e aprendizado de

oficio que melhorasse as dificuldades encontradas na luta por sua sobrevivência

fora dos muros.

A prisão visa deter o crime, ou seja, evitar que o individuo depois de

cumprida a pena tornar-se residente e intimidar outros, que por ali não passaram,

impedindo que se tornem criminosos.Ora as taxas de reincidência nos mais

diversos países situam-se entre 60% e em alguns casos, 80%.Daí dizer-se que a

prisão, antes de mais nada, “ fabrica delinqüentes”.Por outro lado, não há

qualquer indícios de que os presídios venham funcionando para deter o crime, já

que as taxas de criminalidade aumentam consistentemente ano a ano.

Como lembra Foucouault, a prisão fabrica delinqüentes por não

proporcionar trabalho adequado e educação eficaz, como já foi discutido.

Como não há qualquer separação entre primários e reincidentes e assim,, os

“inexperientes” no mundo do crime encontram o “lócus” propicio para o

desenvolvimento não só de suas técnicas, mas de toda uma atitude desviante, um

posicionamento frente á sociedade.

Segue-se comentários sobre tal situação:

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_ “Isto aqui é uma escola de marginalização integral. Tido que eu não sabia fazer

lá fora, aprendi aqui.”

-“ A prisão é uma escola do crime e só não se perde quem tem a cabeça muito no

lugar.”

- “ Eu aprendi das antigas que não adianta mesmo procurar trabalho quando a

gente sai daqui. O negócio é voltar a roubar ou morrer de fome, por que trabalho

pra ex-presidiário ninguém dá.”

2.3- Homossexualismo

“... o que ocorre na situação prisional tanto para homens como para mulheres,

não é problema de alivio da tensão sexual propriamente, mas antes de mais nada

é a utilização relações sexuais com o objetivo de criar uma comunidade de

relacionamentos para satisfazer que a prisão deixa de prover de alguma outra

forma.”

A pratica homossexual organiza-se em torno da díade formada pela “ guria”

e pela “ fanchona” que representam, respectivamente, os papeis feminino e

masculino nos moldes da relação heterossexual.

Para algumas, a relação homossexual não implica necessariamente na

escolha de um papel feminino ou masculino.

- “ No que eu entendo não tem fanchona ou guria, Uma mulher completa outra

mulher.”

A figura da fanchona ora pode ser identificada à do “marido”, cuja

obrigação seria a de suprir as necessidades de sua “ mulher”, ora à de ‘ cafetão”

ou do “ malandro” sustentado pela fêmea. No entanto, na opinião da maior parte

das internas a situação mais comum seria a última.

Uma vez estabelecida a relação, diz-se que duas internas estão ” casadas”

. O “casamento” não está sujeito a qualquer cerimônia formal- a concordância é

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suficiente para “legalizar” a relação. Por outro lado, não é costume a troca de

objetos entre as duas como símbolo da união, embora algumas vezes isto

aconteça.

Em primeiro lugar, a prisão é por si mesma, pelo menos na forma atual, uma

escola de violência, e o fato podem ser observados tanto em estabelecimentos

correcionais para menores, como em prisões para adultos, não importando o

sexo. Em seguida, observa-se que a prisão também se constitui num instrumento

da violentação do ser humano, não importando aqui se ela é justa ou injusta: a

essa violentação da liberdade correspondem mecanismos de auto-defesa, entre

os quais, esta situado o comportamento obsceno e exibicionista de fundo

sexual.Finalmente, a estrutura de poder de uma prisão, como” instituição total”,

que impedem qualquer alteração em seu mecanismo por parte dos presos, pode,

perfeitamente, canalizar a insatisfação, ou até mesmo o sentimento de revolta,

contra a rigidez do controle sexual para a prática da obscenidade: e nessa dúvida,

ser considerados mais como “mecanismos de fuga” do que mesmo como “atos de

indisciplina”. (Maud)

Infelizmente, no entanto, além de observações realizadas por autores

consagrados, ( algumas delas duvidosas), nossas prisões não foram ainda objeto

de pesquisas cuidadosas que possibilitem afirmações mais categóricas. Neste

campo, como em inúmeros outros, apenas podemos levantar hipóteses sugeridas

por estudos estranhos ao campo especificamente penitenciarista.

A sexualidade está ligada ao campo da afetividade. Sendo assim, a

segregação sexual prolongada conduz o individuo quase que inconscientemente a

uma exacerbação do fator afetividade, fazendo-se desejar e exercer uma prática

homossexual, única forma possível de satisfação de sua necessidade sexual

dentro da prisão segregacionista.

A atividade sexual é uma necessidade natural da pessoa humana da

mesma forma como o ato de respirar, de se alimentar ou de dormir. Na prisão. A

prática sexual deve se constituir num direito inalienável do preso e não num

privilégio ou regalia obtida através de bom comportamento como, alias, já o

admite o próprio Código Penitenciário de 1978.

Frusta-se uma das poucas alternativas viáveis que a mulher poderia utilizar

para manter seu equilíbrio emocional, já tão prejudicado pela própria

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condenação.nem todas mantém contato fora dos muros e, assim, a extrema

carência afetiva torna-se ainda mais dolorosa.

Em condições tão adversas, não surpreende que nem sempre é possível

manter o equilíbrio emocional e psíquico. Assim, é gerada uma sensação de

insegurança tal, que muitas preferem ”viver sós e isoladas”.

Além de todas as privações impostas ela ainda deve suportar as danosas

conseqüências resultantes da obsessão no combate ao homossexualismo.

Nenhuma proposta de solução para o complexo problema discutido.O

propósito deste trabalho, foi o de constatação interpretação e posicionamento

teórico. Parece-me evidente, que alvo de mais efetivo deveria ser feito tanto a

respeito da atividade sexual normal quanto da prática do homossexualismo na

prisão. O problema é difícil, não podendo ser entendido isoladamente mas, antes,

dentro do contexto mais geral do universo carcerário.

2.4-Construção do Feminino

O estudo sobre a instituição de uma natureza feminina nos remete ao

problema da diferenciação sexual porque passa a criança no processo de

socialização e de afirmação significativa existencial no mundo, que principia no

interior da família.

Para entendermos a diferença sexual é necessário entender como se

organiza a dinâmica edipiana em ambos os sexos, e como se instaura esta

diferença.

Tendo em vista que FREUD, em suas teorias a respeito da sexualidade,

usou o estudo mitológico de Édipo, na qual a psicanálise explica o

desenvolvimento sexual infantil.

O complexo de masculinidade conseqüente á inveja do pênis consiste na

esperança de poder algum dia obtê-lo. A conseqüência psíquica da inveja do

pênis, quando não absorvida pela formação reativa do complexo de

masculinidade, origina o sentimento de inferioridade, caracterizada como a cicatriz

da ferida narcísica (falta do pênis)

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As conseqüências psíquicas da diferença sexual surgida a partir do

complexo de Édipo no homem e na mulher se revestem de um “contraste

fundamental” , indicando caminho diverso: no menino, o complexo de Édipo é

destruído pelo complexo de castração. Diante da ameaça de castração, as

catexes ligadas ao objeto original são dessexulaizadas, sublimadas e tornadas

núcleo do super ego.

Na menina, o complexo de Édipo torna-se possível e é introduzido pelo

complexo de castração; o Édipo é mantido reprimido, lentamente abandonado, ou

permanece forte na vida mental norrmal das mulheres.

O complexo de castração sempre opera no sentido implícito em seu

conteúdo: ele inibe e limita a masculinidade e incentiva a feminilidade.

O que se privilegia apontar na leitura freudiana da diferenciação sexual é o

caráter fantasmático e simbólico da experiência edipiana, e como esta relacionada

com o complexo de castração, de modo a permitir a estruturação de uma

identidade feminina. Não se depreende dessa leitura a pretensão de apresentar

um “papel natural e biológico da mulher”, mas antes uma forma particular da

mulher representar simbolicamente suas experiências infantis no mundo.

CAPITULO III

Vida carcerária

3.1- Trabalho na Prisão

No Brasil o trabalho na prisão acompanhou o sentido da evolução da pena,

passando de um caráter aflitivo a um caráter educativo nos dias atuais, refletindo,

na legislação, a orientação das regras mínimas ditadas pela ONU sobre o

trabalho dos recolhidos. Por outro lado, a organização do trabalho tendo por base

concepção moderna, procura fazer com que os condenados compreendam o

valor intrínseco do trabalho e isso é possível se administração. Ela própria,

compreender a função educativa do trabalho e sua importância fundamental

dentro de um programa que vive a recuperação social do delinqüente.

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Somente desse modo, o trabalho comandará os outros aspectos do tratamento

individual: se o detento passa a maior parte do dia ocupado em seu trabalho e se

compreende o sentido real desse trabalho , certamente se mostrará receptivo aos

métodos de tratamento aplicados fora das horas de trabalho.

O Código Penal vigente, no seu art.29, parágrafo 1°, determina:

“ O sentenciado fica sujeito a trabalho, que deve ser remunerado, e a isolamento

durante o repouso noturno.”

Na verdade o trabalho exercido pelas recolhidas. Além de monótono e

insignificante do ponto de vista de treinamento profissional, não reflete as

condições efetivas que serão enfrentadas mais tarde quando chegar o momento

da libertação.

Assim, as presas trabalham e preferem mesmo fazê-lo, mais como uma forma de

“passar o tempo” e obter um magro salário do que mesmo como um tipo de

“reeducação” como prevê o Código Penitenciário.

3.2 – Algumas Considerações

A partir dos dados levantados pela pesquisa, destacaram-se as seguintes

características da população carcerária feminina no Rio de Janeiro:

_ Apesar de reincidirem mais, as mulheres condenadas por crimes não-violentos

disseram ter sofrido menos violência policial do que as outras mulheres.

_ Mulheres jovens, não brancas e com baixa escolaridade estão sobre-

representadas entre as presas.

_ Entre as presas, prevalecem as católicas, provenientes do próprio estado do Rio

de Janeiro e das áreas urbanas.

_ Cerca de 50% das presas eram domésticas ou trabalhavam no comércio

_ Quase metade das mulheres faz uso abusivo de drogas.

_ As mulheres presas estão imersas em historias de violência.

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Este levantamento consiste, entre outras coisas, numa tentativa destinada

a chamar a atenção para as especificidades da população prisional feminina, que

por seu tamanho reduzido comparativamente á masculina, não tem merecido uma

atenção particular dos formuladores de políticas publicas. Assim como não tem

havido esforços efetivos no sentido de compreender as motivações e as

circunstâncias em que ocorrem os crimes praticados por mulheres, não existem

iniciativas no sentido de prevenir a criminalidade feminina e , tampouco, de

conceber uma política penitenciaria especifica para mulheres só serem lembradas

quando participam de um crime de grande repercussão, que chega ás manchetes

de jornal. Nesses momentos, produz-se uma atmosfera sensacionalista, em

relação a uma suposta escalada da participação das mulheres no crime. Até que

a violência praticada por homens retorne á cena e elas voltem a ser novamente

esquecida.

CONCLUSÃO

O que se conclui deste breve estudo, baseado nos relatos das mulheres

pressas, é que a maior parte delas chega ás prisões trazendo uma história prévia

de maus tratos e/ou abusos de drogas (próprio ou de familiares próximo). Isso

não significa que tais experiências possam ser consideradas indutoras de

criminalidade ou diferentemente responsáveis pela entrada no sistema penal, pois

certamente a maior parte das mulheres vitimas de agressão, assim como das

dependentes de álcool e de outras drogas, esta fora das cadeias e penitenciarias.

O que os dados mostram é que a prisão, tanto pela privação de liberdade, quanto

pelos abusos que ocorrem em seu interior, parece ser apenas um elo na cadeia

de múltiplas violências que ocorrem na trajetória de uma parte da população

feminina.Na melhor das hipóteses, ela não favorece em nada a interrupção da

violência e da criminalidade O ciclo da violência que inicia na família e nas

instituições para crianças e adolescentes perpetua-se no casamento, desdobra-se

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na ação policias e se completa nas penitenciarias, para recomeçar,

provavelmente, na vida das futuras egressas.

Esta amostragem é uma tentativa de chamar atenção para especificidade

da população prisional feminina, que por seu tamanho reduzido

comparativamente á masculina, não tem merecido uma tenção particular dos

formuladores de políticas publicas.

A prisão como” instituição total” , baseada no poder imposto de fora,

apresenta inúmeros e interessantes problemas no aspecto das relações internas

e, especificamente, no que diz respeito a disciplina carcerária.

Considerando o grave problema da reincidência jurídica e criminológica,

ficou contatado que quase uns terços das condenadas são reincidentes, o que

parece demonstrar o reduzido efeito do cárcere intimidante da pena sobre a

população carcerária estudada. O fato deve ser também relacionado com as

condições sócio- econômicas em que vivem crônicos da vida prisional, já

apontados no decorrer do trabalho, que, mesmo uma legislação avançada, não

consegue solucionar.

Em outros termos, a pena além de não intimidar, tampouco contribuir para a

ressocialização da presa. Alias, a respeito do problema da chamada

“ressocialização” do condenado, seria interessante refletir sobre a própria

“indisposição” do preso em “se ressocializar”, isto é, em se ver novamente

inserido no meio social que lê muitas vezes rejeitou. Não teria o preso o direito de

se negar a uma “ressolização” que, na maior parte das vezes, não passa de uma

repetição da própria que o levou ao crime?

O trabalho exercido pelas recolhidas, além de monótono e insignificante do

ponto de vista de treinamento profissional, não reflete as condições efetivas que

serão enfrentadas mais tarde quando chegar o momento da libertação. Assim, as

presas trabalham e preferem mesmo fazê-lo, mais como uma forma de “passar o

tempo” e obter um magro salário do que mesmo como um tipo de “redução” como

prevê o Código Penitenciário.

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“ A prisão não cura, corrompe.” O exercício da liberdade, no entanto, plena,

consciente e responsável, talvez constitua a única alternativa viável. (Maud)

Diz-se que a pena-prisão tem basicamente quatro objetivos: reformar,

retribuir, incapacitar e deter. No entanto, tais objetivos resultam conflitantes e ,

dentre eles, o único que a prisão consegue realizar é o de retribuir, ou seja,

meramente punir.

“Punir é castigar, fazer sofrer. A intimidação, a ser obtida pelo castigo

demanda que este seja apto a causar terror. Ora, tais condições são

reconhecidamente impeditivas de levar ao sucesso uma ação pedagógica”

A prisão visa deter o crime, ou seja, evitar que o individuo depois de

cumprida a pena torne-se reincidente e intimidar outros, que por ali não

passaram, impedindo que se tornem criminosos. Ora, as taxas de reincidência

nos mais diversos paises situam-se entre 60% e, em alguns casos 80%. Daí

dizer-se que prisão, antes de mais nada, “fabrica delinqüentes”. Não há qualquer

indício de que os presídios venham funcionando para deter o crime, já que as

taxas de criminalidade aumentam consistentemente ano a ano.

Por outro lado não há qualquer separação entre primários e reincidentes e,

assim, os “inexperientes” no mundo do crime encontram o “lócus” propicio para o

desenvolvimento não só de suas técnicas, mas de toda uma atitude desviante, um

posicionamento frente á sociedade.

“A sociedade ainda não aprendeu a perdoar”

“ A construção de um sistema de justiça criminal justo, numa sociedade injusta, é

uma contradição”

A autora de um dos trabalhos de pesquisa Julita Lemgruber, sugere:

A- Minorar os efeitos perniciosos do confinamento;

B- Analisar alternativas á pena-prisão.

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1. Dinamizar o trabalho prisional de tal forma que:

a) O direito ao trabalho seja assegurado, pois haver trabalho abundante para

todos os detentos que desejam é obrigação das autoridades que dirigem

um sistema penitenciário.

b) O trabalho realizado dentro dos muros de uma prisão seja considerado,

antes de mais nada, como o aprendizado de um oficio que proporcione ao

detento melhores condições de vida, uma vez reencontra a liberdade.

c) O trabalho seja amparado por uma legislação especifica que garanta aos

detentos seus direitos trabalhistas.

Em alguns paises vem sendo experimentadas alternativas, e as taxas de

reincidência, quando a pena-prisão é substituída por outras modalidades de

punição, é deveras inferior. Em relação ás taxas de criminalidade, em geral, uma

diminuição significativa na população aprisionada parece corresponder a taxas

que se elevam com menor rapidez.

Em nosso país, a alternativa à pena – prisão utilizada pelos tribunais e permitir pelo Código penal é a suspensão condicional da pena-sursis- ampliada em sua aplicação pela Lei n° 6.416, de 24 de maio de 1977. Assim é que o referido Código em seu Capítulo III dispõe sobre tal medida:

“Art. 57- A execução de pena de liberdade, não superior a dois anos, pode ser

suspensa, por dois a seis anos, desde que:

I- O sentenciado não haja sofrido no País ou no estrangeiro,

condenação irrecorrível por outro crime a pena privativa de liberdade

II- os antecedentes e a personalidade do sentenciado, os motivos e as

circunstâncias do crime autorizem a presunção de que não tornará a

delinqüir.”

A prisão, como última etapa de todo esse processo, funciona

eficazmente para aviltar e estigmatizar para sempre os que por ela

passam e, na medida em que não se visualiza sua extinção em futuro

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próximo, há que se lutar para que suas influencias tornem-se menos

degradantes.E, por fim, se alternativas à pena-prisão são viáveis, urge

analisá-las com seriedade, ajustá-las a nossa realidade e exigir sua

implementação.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Bastos, Maruza – Cárcere de Mulheres – Editora Diadorim

Lemgruber, Julita- Cemitério de Vivos- Analise Sociológica de uma prisão de

mulheres- Editora forense, 1998, 2° ed.

Perruci, Maud Fragoso de Albuquerque- Mulheres Encarceradas- Teses de

Direito- Editora Global.

Soares, Bábara Musumesi- Prisioneiras:Vida e violência atrás das grades- Rio de

Janeiro- Editora Garamound - CESeC, 2002.