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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS LIVROS, JORNAIS, PERIÓDICOS E DO PAPEL DESTINADO À SUA IMPRESSÃO Por: Risoleta Maria da Silva Barbosa Orientador Prof. Carlos Afonso Leite Leocadio Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS LIVROS, JORNAIS,

PERIÓDICOS E DO PAPEL DESTINADO À SUA IMPRESSÃO

Por: Risoleta Maria da Silva Barbosa

Orientador

Prof. Carlos Afonso Leite Leocadio

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS LIVROS, JORNAIS,

PERIÓDICOS E DO PAPEL DESTINADO À SUA IMPRESSÃO

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez

do Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Direito Público e Tributário.

Por: Risoleta Maria da Silva Barbosa

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, a minha família e ao

professor orientador.

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DEDICATÓRIA

Às minhas filhas Renata e Raissa, e ao

meu esposo Renato, por todo carinho e

dedicação.

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RESUMO

O presente trabalho monográfico pretendeu analisar o instituto da

imunidade contido no artigo 150, inciso VI, letra “d” da Constituição Federal, o

qual torna imune em relação à cobrança de impostos, os livros, jornais,

periódicos e o papel destinado à sua impressão. A referida norma surgiu com a

finalidade de proteger a livre divulgação de idéias, de conhecimentos e o

acesso à cultura. Logo, as imunidades tributárias por protegerem valores e

direitos fundamentais contidos em princípios constitucionais, deveriam ser

interpretadas de maneira ampla.

A extensão da imunidade aos chamados “livros eletrônicos” é uma

questão polêmica e de grande relevância. Alguns doutrinadores não admitem a

referida imunidade, pois sustentam que somente o livro de papel é imune aos

impostos; outros, diversamente, entendem que a imunidade tributária em

questão deve ser estendida aos CDs-Rom e disquetes, desde que possuam o

mesmo conteúdo dos livros convencionais, ou seja, veículo difusor de cultura,

de liberdade de expressão do pensamento, de manifestação de idéias, não

importando o suporte material e sim, a finalidade.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a conclusão deste trabalho foi a

pesquisa bibliográfica, a busca por doutrina especializada dos grandes

tributaristas, como o saudoso mestre Aliomar Baleeiro, e os mestres Ricardo

Lobo Torres, Regina Helena Costa, Hugo de Brito Machado, Luciano Amaro; e

também, a pesquisa jurisprudencial nos tribunais superiores, sendo possível

coletar informações suficientes para a elaboração do tema proposto “A

Imunidade Tributária dos livros, jornais, periódicos e do papel destinado à sua

impressão”.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO 1 - Imunidade Tributária 10

CAPÍTULO 2 - A imunidade tributária dos livros, jornais, periódicos

e do papel destinado à sua impressão 16

CAPÍTULO 3 – A extensão da imunidade aos livros, jornais e periódicos

eletrônicos 29

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA 43

ÍNDICE 45

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INTRODUÇÃO

Apesar da imperiosa necessidade que o Estado tem de cobrar tributos,

a Constituição Federal de 1988, no capítulo intitulado “Das limitações

constitucionais ao poder de tributar”, prevê no artigo 150, inciso VI, alínea d, a

imunidade tributária em relação aos livros, jornais, periódicos e o papel

destinado à sua impressão. A referida norma surgiu com a finalidade de

proteger a liberdade de pensamento, de expressão e a liberdade de imprensa,

bem como facilitar a difusão da cultura e a própria educação do povo, fator

primordial para o desenvolvimento da Nação.

Inicialmente, a pesquisa abordou o conceito de imunidade tributária,

atribuindo uma visão ampla ao assunto. A norma imunizante está vinculada a

princípios constitucionais e o seu fundamento está na idéia de liberdade e

igualdade, asseguradas no artigo 5º da CF/1988.

Como objetivo principal foi abordado a importância da imunidade

tributária conferida aos livros, jornais, periódicos e ao papel destinado à sua

impressão. A finalidade da norma imunizante é a proteção a liberdade de

expressão, a divulgação de idéias e conhecimentos. Da leitura da referida

norma, percebe-se que a imunidade refere-se apenas a impostos.

A seguir, analisou-se à luz da doutrina e jurisprudência, a extensão da

imunidade tributária aos livros, jornais e periódicos eletrônicos. Foi identificado

que existe divergência entre os doutrinadores, em relação a extensão da

imunidade aos livros eletrônicos: porém, a grande maioria admite a exoneração

tributária, pois o que realmente importa é o conteúdo, e não, o meio onde está

contido o livro.

A pesquisa foi embasada em obras de grandes doutrinadores do

Direito Tributário e, também, na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e

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Tribunais de Justiça; está disposta em três capítulos. O primeiro capítulo

refere-se ao conceito de imunidade tributária; o segundo trata da referida

imunidade em relação aos livros, jornais, periódicos e ao papel destinado à sua

impressão; e, por fim, a análise referente a extensão da imunidade tributária

disposta no art. 150, VI, d da CF/1988 aos livros, jornais e periódicos

eletrônicos.

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CAPÍTULO 1

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

A Constituição Federal de 1988, no titulo VI, capítulo I, seção II

intitulado “Das Limitações do Poder de Tributar”, prevê no artigo 150, inciso VI,

alíneas “a” a “d”, a imunidade tributária em relação a pessoas, bens, fatos,

coisas, que deixam de ser alcançadas pela tributação.

O referido artigo protege o patrimônio, a renda ou os serviços dos

entes federativos entre si; os templos de qualquer culto; o patrimônio, renda ou

serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades

sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência

social, sem fins lucrativos; e os livros, jornais, periódicos e o papel destinado à

sua impressão.

1.1 - Conceito

No Estado Democrático de Direito, o tributo é o combustível que

movimenta a máquina estatal, pois é, através da arrecadação que o Estado

oferece aos cidadãos serviços essenciais.

Entendemos que, a imunidade tributária está diretamente expressa no

texto constitucional. É espécie de exoneração tributária, porém diversos são os

conceitos dos doutrinadores em referência ao instituto da imunidade tributária

em nosso ordenamento jurídico-tributário. Segundo alguns doutrinadores, a

imunidade é sempre norma constitucional denegatória de poder tributário,

estão relacionadas ao conceito de limitação ao poder de tributar, outros

doutrinadores relacionam as referidas imunidades a princípios constitucionais,

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expressos nos artigos 1º e 5º da Constituição Federal de 1988 (Direitos

Fundamentais).

Luciano Amaro conceitua a imunidade tributária como sendo:

a qualidade da situação que não pode ser atingida pelo tributo

em razão de norma constitucional que, à vista de alguma

especificidade pessoal ou material dessa situação, deixou-a

fora do campo sobre que é autorizada a instituição do tributo.

(AMARO, 2007, p. 151)

O fundamento das imunidades é a preservação de valores que a

Constituição Federal reputa relevantes: a atuação de certas entidades, a

liberdade religiosa, o acesso a informação, a liberdade de expressão, etc; que

faz com que se ignore a eventual ou efetiva capacidade econômica revelada

pela pessoa ou revelada na situação, proclamando-se, independentemente da

existência dessa capacidade, a não tributabilidade das pessoas ou situações

imunes.

Neste sentido, Ricardo Lobo Torres, conceitua que:

a imunidade tributária se expressa como princípio vinculado à

idéia de liberdade, ou seja, as imunidades estão

compreendidas nos princípios que declaram os direitos

fundamentais (art. 5º da CF) e os direitos fundamentais do

contribuinte (art. 150, incisos IV, V e VI). (TORRES, 2005, p.

49).

Hugo de Brito Machado conceitua que:

imunidade é o obstáculo decorrente de regra da Constituição à

incidência de regra jurídica de tributação. O que é imune não

pode ser tributado. A imunidade impede que a lei defina como

hipótese de incidência tributária aquilo que é

imune.(MACHADO, 2007, p.304)

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Para Regina Helena Costa, a imunidade tributária pode ser definida

como:

a exoneração, fixada constitucionalmente, traduzida em norma

expressa impeditiva da atribuição de competência tributária ou

extraível, necessariamente de um ou mais princípios

constitucionais, que confere direito público subjetivo a certas

pessoas nos termos por ela delimitados, de não se sujeitarem

a tributação.(COSTA, 2006, p. 52)

Segundo o saudoso mestre, Aliomar Baleeiro, a imunidade tributária é

conceituada como:

regra expressa da Constituição Federal (ou implicitamente

necessária), que estabelece a não-competência das pessoas

políticas da Federação para tributarem certos fatos e situações,

de forma amplamente determinada, delimitando

negativamente, por meio de redução parcial, a norma de

atribuição de poder tributário. (BALEEIRO, 2001, p. 16)

Segundo Roque Carrazza, a imunidade tributária é um fenômeno de

natureza constitucional e tanto em sua acepção ampla como na restrita,

alcança em princípio qualquer tributo: imposto, taxa e contribuição de melhoria.

A Carta de 1988 criou algumas situações de imunidade a taxa (art. 5º, XXXIV,

“a” e “b”). Ensina o ilustre mestre que:

as normas constitucionais que tratam das imunidades

tributárias fixam a incompetência das pessoas políticas para

fazerem incidir a tributação sobre determinadas pessoas , seja

pela natureza jurídica que elas têm, seja , ainda, por estarem

relacionadas com dados bens ou situações. (CARRAZZA,

2008, p. 707)

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Sendo assim, apesar do Estado necessitar cobrar impostos, sabe-se

que o tributo é o combustível que movimenta a máquina estatal, o legislador

entendeu que determinados bens, pessoas ou situações devem ser protegidos

pelo instituto das imunidades, recebendo tratamento diferenciado, pelos fatores

que representam para uma sociedade de um Estado Democrático de Direito.

1.2 – A imunidade tributária e os princípios constitucionais

A imunidade tributária, segundo alguns doutrinadores, está ligada

diretamente à princípios constitucionais, sendo, na verdade, a imunidade, um

princípio constitucional assegurado na Constituição Federal.

Segundo Ricardo Lobo Torres, o fundamento primordial das

imunidades está vinculado a idéia de liberdade e igualdade asseguradas no

artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Afirma o nobre doutrinador que o

tributo é o preço da liberdade. (TORRES, 2005, p.159)

Sustenta ainda, o grande mestre, que a liberdade individual é o valor

mais relevante a fundamentar as imunidades tributárias, sendo que valores

como o da justiça e o da segurança também podem complementar esse fim.

Por fim, conclui o ilustre tributarista que é por intermédio das

imunidades que as liberdades se afirmam como direitos absolutos diante do

poder tributário. (TORRES, 2005, p. 47-48)

Ensina, Regina Helena Costa, que:

todos os valores mais prestigiados pela Constituição – a

segurança jurídica, a justiça e o bem comum, antes apontados

– estão presentes na essência das imunidades tributárias.

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A segurança jurídica é um supraprincípio que se manifesta no

campo tributário por intermédio dos princípios da legalidade, da

anterioridade, da irretroatividade da lei tributária e da isonomia.

(COSTA, 2006, p. 72)

Segundo entendimento da ilustre mestre, a imunidade tributária não é

um princípio jurídico, mas aplicação ou manifestação de um princípio

denominado “princípio da não-obstância de direitos fundamentais por via da

tributação”.

1.3 – A imunidade tributária como limitação ao poder de

tributar

A Constituição Federal de 1988 dispõe as regras referentes às

imunidades no capítulo dedicado às “limitações constitucionais ao poder de

tributar”.

Aliomar Baleeiro, precursor do Direito Tributário no Brasil, ensina que a

imunidade tributária é uma exclusão da competência de tributar proveniente da

Constituição. O mestre já afirmava que toda imunidade é uma limitação

constitucional ao poder de tributar. (BALEEIRO, 2001, p. 16)

A mestra Regina Helena Costa entende que:

A afirmação segundo a qual a imunidade tributária é limitação

constitucional ao poder de tributar é absolutamente vaga, já

que a expressão abriga outras categorias jurídicas que com ela

não se confundem. As limitações (como o seu próprio nome

diz) tem função negativa, condicionando o exercício do poder

de tributar e correspondem a barreiras que não podem ser

ultrapassadas pelo legislador infraconstitucional, ou seja,

apontam para algo que o constituinte quer ver não atingido ou

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protegido. Em suma, enquanto os princípios indicam um

caminho a seguir, as limitações nos dizem para onde não

seguir. (COSTA, 2006, p. 37).

Em síntese, entendemos que a imunidade tributária é uma limitação

constitucional ao poder de tributar, vez que está contida em dispositivo

constitucional. Logo, as pessoas ou bens protegidos pela Constituição Federal,

não podem sofrer tributação; pois as referidas imunidades protegem as

liberdades, os valores de uma determinada sociedade.

Sendo assim, apesar da imperiosa necessidade que o Estado tem de

cobrar tributos, o legislador entendeu que as pessoas e os bens protegidos

pelo instituto das imunidades devem receber um tratamento diferenciado em

relação a tributação, pois em uma sociedade democrática a que se proteger

valores que somente engrandecem um Estado Democrático.

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CAPÍTULO 2

A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS LIVROS, JORNAIS,

PERIÓDICOS E DO PAPEL DESTINADO À SUA

IMPRESSÃO

A Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 150, VI, d, que:

ART. 150- Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

VI – instituir impostos sobre:

(...)

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua

impressão.

Através deste dispositivo constitucional, o legislador constituinte decidiu

proibir à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios de instituírem

impostos sobre livros, jornais, periódicos e ao papel destinado à sua

impressão.

No entendimento doutrinário, o legislador constituinte ao estabelecer a

referida imunidade, procurou tutelar a liberdade de expressão, a liberdade de

pensamento e a liberdade de imprensa, e também, facilitar a difusão da cultura

e o amplo acesso às informações.

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Esta imunidade está fundamentada na idéia de proteção a direitos

fundamentais, entre eles o direito à liberdade e à igualdade, expressos no art.

5º, caput, CF/1988.

2.1 – Evolução Histórica

No Estado Patrimonial, séculos XIII ao século XIX, as imunidades eram

formas de limitação do poder da realeza, consistindo no impedimento de se

tributar a nobreza e a igreja.

No Estado Fiscal, a partir dos grandes revoluções do século XVIII, as

imunidades deixam de ser forma de limitação do poder do Rei pela igreja e

nobreza, para se transformar em limitação ao poder de tributar pela existência

de direitos preexistentes dos indivíduos.

No Brasil, inicialmente, a imunidade dos livros, jornais, periódicos e o

papel destinado à sua impressão, foi prevista na Constituição de 1946 (art. 31,

V, c), restrita apenas ao papel destinado exclusivamente à impressão de

jornais, periódicos e livros.

A Constituição de 1967, além de manter a imunidade do papel

destinado à sua impressão, estendeu à imunidade aos livros, jornais e

periódicos (art. 19, III, d).

A Constituição de 1988 manteve o instituto das imunidades tributárias

dos livros, jornais, periódicos e do papel destinado à sua impressão no inciso

VI, letra “d” do artigo 150.

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2.2 – Natureza Jurídica

Ricardo Lobo Torres ensina que:

A proteção do art. 150, VI, d, não é vera imunidade tributária.

Falta-lhe o traço característico: ser atributo dos direitos

fundamentais e constituir garantia da liberdade de expressão.

O seu fundamento está na idéia de justiça ou de utilidade.

Caracteriza-se melhor, portanto, como privilégio constitucional,

podendo em alguns casos, como no dos jornais assumir o

aspecto de privilégio odioso. (TORRES, 2005, p. 297)

Através deste entendimento, deduz-se que se a intributabilidade dos

livros e jornais tem a natureza de não-incidência constitucional ou de mero

privilégio, não se lhe estendem as conseqüências das verdadeiras imunidades,

entre as quais a irrevogabilidade.

Por outro lado, Regina Helena Costa, afirma que:

Prestigia esta imunidade diversos valores: a liberdade de

comunicação, a liberdade de manifestação do pensamento, a

expressão da atividade intelectual, artística, científica, visando

ao acesso à informação e à difusão da cultura e da educação,

bem como o direito exclusivo dos autores de utilização,

publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos

herdeiros pelo tempo que a lei fixar (arts. 5ª, IV, IX, XIV e

XXVII, 205, 215 e 220). (COSTA, 2006, p. 186).

Como observou a ilustre mestra, o verdadeiro fundamento da

imunidade dos livros, jornais e periódicos, é a proteção a valores, a um bem

maior, a direitos fundamentais expressos na própria Constituição.

Percebe-se, portanto, a existência de uma imensa relação entre a

imunidade sobre os livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua

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impressão, e os princípios constitucionais. O legislador constituinte

estabelecendo a referida imunidade estava na verdade garantindo a livre

manifestação das idéias, procurando dar amplo acesso às informações e a

cultura em geral.

24 – Interpretação da norma imunizante

Em relação a interpretação da norma constitucional referente as

imunidades tributárias há divergência entre os doutrinadores. Alguns afirmam,

que, a interpretação das imunidades tributárias dos livros, jornais, periódicos e

do papel destinado à sua impressão deverá ser feita de maneira objetiva e

literal, outros acreditam que a melhor forma é a interpretação ampla.

No entendimento de Regina Helena Costa, a imunidade conferida aos

livros, jornais, periódicos e ao papel destinado à sua impressão reveste-se de

natureza objetiva. Ensina a mestra:

Devido a esse caráter objetivo, a imunidade que estamos

examinando não alcança outros tributos que não os impostos

que incidiriam sobre os objetos da tutela constitucional.

Alargar-se o alcance da imunidade em tela é transformar seu

caráter objetivo em subjetivo – de maior abrangência, como

sabido.

Por isso, a empresa jornalística, a editora, a empresa

fabricante do papel para a impressão de livros, jornais e

periódicos, o vendedor de livros e o autor não são imunes,

como também são devidos os demais impostos que não

incidam sobre os objetos expressamente indicados na Lei

Maior, além das taxas e contribuições em geral. (COSTA,

2006, p. 187)

Para Ricardo Lobo Torres os privilégios do art. 150, VI, d, são objetivos,

eis que se aplicam a coisas e não a pessoas. Abrangem os livros, os

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periódicos, os jornais e o papel destinado à sua impressão.(TORRES, 2005, p.

300).

O Supremo Tribunal Federal em seus julgados defende uma

interpretação ampla para as imunidades.

Segundo alguns doutrinadores os livros, jornais, periódicos e o papel

destinado à sua impressão estão livres da exigência de impostos que recaiam

nas operações e prestações que os tenham por objeto – imposto de

importação, imposto de exportação, imposto sobre circulação de mercadorias,

imposto sobre produtos industrializados e imposto sobre serviços.

Hugo de Brito Machado enfatiza, ainda, que a imunidade não seria

apenas em relação a impostos, mas a todo e qualquer tributo. Nesse sentido o

mestre ensina:

Embora a imunidade, em face da expressão literal do art. 150,

inciso VI, da Constituição, diga respeito apenas a impostos,

existem fortes razões para entender-se que também é vedada

a cobrança de taxas e contribuições de melhoria. Os princípios

que inspiram a imunidade tributária não permitem que a

pessoa ou a coisa imune fique submetida a qualquer tributo,

pois tal submissão poderia ensejar o amesquinhamento da

imunidade. (MACHADO, 2007, p. 303)

Pelo exposto, entendemos que a imunidade consagrada no art. 150, VI,

d da Constituição Federal deve ser interpretada de modo amplo, atingindo não

somente o papel utilizado na impressão dos livros, jornais e periódicos, mas

também todo e qualquer insumo, serviço e máquinas utilizados na confecção

dos produtos mencionados pelo legislador constituinte no referido artigo. É o

entendimento de grande parte de doutrinadores e do Supremo Tribunal federal.

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2.4 – Aspectos Objetivos

2.4.1 – Conceito de Livro

Conceitua Roque Carrazza que um livro é um objeto elaborado com

papel, que contem em várias páginas encadernadas, informações, narrações,

comentários, etc, impressos por meio de caracteres. (CARRAZZA, 2008,

p.774).

O ilustre doutrinador acima entende que:

a palavra livro está empregada no texto constitucional não no

sentido restrito de conjunto de folhas de papel impressas

encadernadas e com capa, mas sim, no de veículo de

pensamento, isto é, de meios de difusão da cultura.

(CARRAZZA, 2008, p. 775).

Ricardo Lobo Torres conceitua livro como o resultado da impressão em

papel, de idéias, doutrinas ou informações com finalidade cultural. Aproxima-

se, em acepção ampla, do conceito que o senso comum admite e os

dicionários registram. (TORRES, 2005, p. 307).

Aliomar Baleeiro definiu com muita clareza:

Livros, jornais e periódicos são todos os impressos ou

gravados, por quaisquer processos tecnológicos, que

transmitam aquelas idéias, informações, comentários,

narrações reais ou fictícias sobre todos os interesses humanos,

por meio de caracteres alfabéticos ou por imagens e, ainda,

por signos Braille destinados a cegos. A Constituição não

distingue nem pode o interprete distinguir os processos

tecnológicos de elaboração dos livros, jornais e periódicos,

embora os vincule ao papel como elemento material de seu

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fabrico. Isso exclui, pareceu-nos, outros processos de

comunicações do pensamento, como a radiodifusão, a TV, os

aparelhos de ampliação de som, a cinematografia, etc, que não

tem por veículo o papel. (BALEEIRO, 2001, p. 354).

Regina Helena Costa estabelece que:

nem todo livro poderá ser objeto da excludente de tributação.

Invocando, uma vez mais, a interpretação finalística, se não se

tratar de livro que se consubstancie em veículo de idéias, de

transmissão de pensamento, ainda que formalmente possa ser

considerado como tal, descabida a aplicação da imunidade. Tal

entendimento exclui do alcance da norma imunizante o livro de

ponto, o livro de bordo, o livro-razão e o livro de atas – dentre

outros. (COSTA, 2006, p. 191-192).

Por conseguinte, vale dizer que tudo que se aplicam aos livros e seus

sucedâneos aplicam-se, do mesmo modo, aos jornais e aos periódicos, assim

como aos sucedâneos destes. A proteção da norma imunizante atinge a mídia

escrita, esteja ela materializada em papel, disquete, etc.; a mídia falada ou

vista, portanto, escapa ao alcance da norma exonerativa.

2.4.2 – A imunidade dos jornais

Preceitua Ricardo Lobo Torres:

Os jornais gozam de amplo privilégio fiscal. Não só o preço da

venda exemplar é insuscetível de tributação, como também a

propaganda por ele veiculada, como reconheceu

generosamente o STF, por constituir parcela substancial para a

sobrevivência do jornal. Excluem-se do campo do privilégio

constitucional os veículos de radiodifusão, neles

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compreendidos os “jornais da tela” ou os “jornais da televisão”,

que apenas metaforicamente podem ser considerados jornais.

(TORRES, 2005, p. 309-310).

O referido doutrinador caracteriza a imunidade tributária concedida aos

jornais como um privilégio odioso.

No entanto, o Supremo Tribunal Federal classificou como imunidade e

declarou insuscetível de alteração por emenda constitucional, considerando-a

norma imutável.

2.4.3 – A imunidade dos periódicos

Segundo Ricardo Lobo Torres, periódicos são as revistas, técnicas ou

não, e os impressos que se editam repetidamente dentro de certos intervalos

de tempo.

O ilustre doutrinador ensina que:

Excluem-se do privilégio, entretanto, as publicações de fins

meramente comerciais, de propaganda ou de interesse interno

de empresas, sem nenhum objetivo cultural ou político.

Escapam igualmente do âmbito da imunidade as listas

telefônicas, que, apesar de periódicas, não veiculam idéias

nem se propõem a expressar conteúdos valorativos.

(TORRES, 2005, p. 308-309)

Hugo de Brito Machado entende que a Jurisprudência dos Tribunais

Superiores evoluiu no sentido de estender a imunidade para os periódicos que

prestam serviços essenciais de informação à coletividade, independe se haja

publicidade paga, como os catálogos telefônicos; entende, também que a

imunidade deve ser interpretada amplamente e objetivamente.

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O ilustre mestre entende que até as revistas pornográficas estão

protegidas pelo art. 150, inciso VI, letra “d” da Constituição Federal.

O Supremo Tribunal Federal entendeu que cabe a imunidade em

relação as listas telefônicas, usando como argumento a utilidade e não, a

liberdade ou finalidade cultural, já o Superior Tribunal de justiça, se mantém fiel

a anterior jurisprudência, não atribuindo a imunidade as referidas listas

telefônicas.

2.4.4 – O papel de imprensa

Ricardo Lobo Torres preceitua que a intributabilidade protege ainda o

papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos. Mas só o papel de

imprensa se beneficia da franquia. (TORRES, 2005, p. 310).

O papel de imprensa é o único insumo protegido pelo entendimento

literal da norma imunizante, se exclui da referida norma o papel com outra

destinação, por exemplo, o papel de embrulho.

Roque Carrazza preceitua que:

A expressa alusão ao papel de imprensa deve-se a razões

históricas: o Governo, durante o Estado Novo, impedia que os

jornais de oposição recebessem papel de imprensa. Tal prática

arbitrária teria inspirado o Constituinte de 1946 a proibir que as

pessoas políticas tributassem, por via de imposto, o papel

destinado exclusivamente a impressão de jornais, periódicos e

livros (art. 41,V, ”c”). Foi, na verdade, o festejado escritor

baiano Jorge Amado, então deputado constituinte pelo Partido

Comunista Brasileiro, que teve a feliz idéia de propor, à

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Assembléia Nacional Constituinte que fizesse inserir tal

imunidade na Carta de 1946. A salutar norma foi reproduzida,

embora com outras palavras na CF de 1967/1969 e na atual

(art. 150, VI, d). (CARRAZZA, 2008, p. 787).

Atualmente, o Supremo Tribunal Federal vem reconhecendo a não-

incidência de impostos sobre os filmes e o papel fotográfico; e também

reconheceu a extensão do benefício para as apostilas, por ser um veículo de

transmissão de cultura simplificado.

2.4.5 – Insumos

Questão polêmica é a referente a inclusão dos insumos sob à proteção

da imunidade tributária do art.150, VI, d da CF.

Primeiramente, entendemos por insumo, tudo o que é empregado para

a confecção de determinado produto, a matéria-prima, instrumentos, etc.

Hugo de Brito Machado adotou uma linha de interpretação ampla

acerca do tema. Preceitua que:

A imunidade do livro, jornal ou periódico, e do papel destinado

a sua impressão, há de ser entendida em seu sentido

finalístico. E o objetivo da imunidade poderia ser frustrado se o

legislador pudesse tributar qualquer dos meios indispensáveis

à produção dos objetos imunes. Ou qualquer ato que tenha por

fim colocar esses objetos em seu destino final. A venda ou

distribuição, a qualquer título, de livro, jornal ou periódico, não

podem ser tributadas. Assim, a imunidade, para ser efetiva,

abrange todo o material necessário à confecção do livro, do

jornal ou do periódico. Não apenas o exemplar deste ou

daquele, materialmente considerado, mas o conjunto. Por isto

nenhum imposto pode incidir sobre qualquer insumo, ou

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mesmo sobre qualquer dos instrumentos, ou equipamentos,

que sejam destinados exclusivamente à produção destes

objetos.

Na interpretação da norma imunizante tem-se de atualizar o

seu significado, ampliando-se quando necessário o seu

alcance para que não reste a mesma inutilizada por uma

espécie de esclerose que a dominaria se prevalente o sentido

literal. (MACHADO, 2007, p. 309)

No entendimento de Regina Helena Costa a principal matéria do livro

tradicional, ou seja, o papel, já é imune, sendo também imune a tinta de

impressão, os tipos gráficos e as máquinas impressoras. (COSTA, 2006, p.

192).

Justifica a ilustre mestra:

Se o próprio produto acabado e sua matéria-prima são imunes,

não há sentido para que os demais insumos também não o

sejam. Uma vez mais, se a finalidade da norma imunizante é

incentivar a divulgação do pensamento, o acesso à cultura, à

informação, então apresenta-se injustificável apequenar-se sua

importância com a exclusão dos insumos do abrigo da

imunidade. (COSTA, 2006, p. 192).

O Supremo Tribunal Federal reconheceu à extensão da imunidade aos

insumos utilizados na confecção dos livros, jornais e periódicos. A construção

jurisprudencial deu-se no sentido de interpretação ampla, de modo a assegurar

a livre manifestação do pensamento e o amplo acesso à cultura, valores

essenciais para um Estado democrático de Direito.

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2.5 – Jurisprudência do STF

- SÚMULA 657

“A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF abrange os filmes e

papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos”.

O STF editou a referida súmula para consolidar o entendimento de que

a interpretação da imunidade consignada no artigo 150, VI, “d” da Constituição

Federal deve ser ampla, abrangendo outros materiais, não somente o papel de

imprensa.

Decisões da Suprema Corte:

Imunidade tributária (CF, art. 150, VI, d): filmes destinados à

produção de capas de livros. É da jurisprudência do Supremo

Tribunal que a imunidade prevista no art. 150, VI, d, da

Constituição, alcança o produto de que se cuida na espécie

(Filme Bopp) (AI 597.746-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,

DJ 07/12/06)

Papel, papel fotográfico e papel para artes gráficas

consumidos no processo produtivo do jornal estão cobertos

pela imunidade tributária do art. 150, VI, d, da Constituição

Federal. II. Precedentes do Supremo Tribunal Federal: RREE

190.761-SP e 174.476-SP. (RE 276.842-ED, Rel. Min. Carlos

Velloso, DJ 15-03-02).

Álbum de figurinha. Imunidade tributária. (...) Precedentes da

Suprema Corte. Os álbuns de figurinhas e os respectivos

cromos adesivos estão alcançados pela imunidade tributária

prevista no art. 150, VI, d da Constituição Federal. (RE

179.893, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 15-4-08,

DJE de 30-5-08).

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Extensão da imunidade tributária aos insumos utilizados na

confecção de jornais. Além do próprio papel de impressão, a

imunidade tributária conferida aos livros, jornais e periódicos

somente alcança o chamado papel fotográfico – filmes não

impressionados. (RE 203.859, Rel. Min. Carlos Velloso,

julgamento em 11-12-06, DJ de 24-8-01). No mesmo sentido:

RE 273.308, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 22-8-00,

DJ de 15-9-00.

O preceito da alínea d do inciso VI do artigo 150 da Carta da

República alcança as chamadas apostilas, veículo de

transmissão de cultura simplificado. (RE 183.403, Rel. Min.

Marco Aurélio, julgamento em 7-11-00, DJ de 4-5-01).

Imunidade tributária (livros, jornais e periódicos): listas

telefônicas. Firmou-se a jurisprudência do STF no sentido de

que a imunidade constitucional assegurada à publicação de

periódicos impede a cobrança de ISS sobre a edição de listas

telefônicas.’’ (RE 114.790, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,

julgamento em 12-8-97, DJ de 3-10-97).

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos Recursos

Extraordinários nº 190.761 e 174.476, reconheceu que a

imunidade consagrada no art. 150, VI, d, da Constituição

Federal, para os livros, jornais e periódicos, é de ser entendida

como abrangente de qualquer material suscetível de ser

assimilado ao papel utilizado no processo de impressão.’ (RE

193.883, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 22-4-97, DJ de

1º-8-97).

Jornal. Imunidade tributária. CF, art. 150, VI, d. O Supremo

Tribunal Federal decidiu que apenas os materiais relacionados

com papel (papel fotográfico, papel telefoto, filmes fotográficos,

sensibilizados, não impressionados, para imagens

monocromáticas, papel fotográfico p/ fotocomposição por laser)

é que estão abrangidos pela imunidade tributária do art. 150,

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VI, d, da CF.’’ (RE 178.863, Rel. Min. Carlos Velloso,

julgamento em 25-3-97, DJ de 30-5-97).

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CAPÍTULO 3

A EXTENSÃO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA AOS

LIVROS, JORNAIS E PERIÓDICOS ELETRÔNICOS

A extensão da imunidade tributária aos livros, jornais e periódicos

eletrônicos é uma questão polêmica e de muita relevância para a doutrina e

jurisprudência do Direito Tributário. Vários doutrinadores têm se preocupado

com a questão, pois estamos vivendo um tempo de inovações tecnológicas, no

qual livros não são necessariamente impressos em papel, mas gravados em

disquetes, CDs-Rom e outros meios eletrônicos.

Parte da doutrina sustenta que somente o livro feito de papel é imune a

impostos, pois interpretam literalmente a norma imunizante. Desse modo,

estender-se a exoneração constitucional a outros meios de divulgação de

idéias, seria ampliar, a norma constitucional para abranger item por ela não

cogitado.

Outros doutrinadores, diversamente, entendem que o livro deve ser

visto como veículo de manifestação de idéias, de transmissão de pensamento;

assim, tornando-se irrelevante, para efeito de se aplicar a norma imunizante, se

o mesmo é feito em papel ou se está contido em disquete, em CD-Rom, etc.;

para fins de imunidade são considerados livros, tanto os tradicionais, quanto os

chamados livros eletrônicos.

3.1 – Entendimento doutrinário

Hugo de Brito Machado afirma, em relação a questão da extensão da

imunidade, que:

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A imunidade dos livros, jornais e periódicos tem por fim

assegurar a liberdade de expressão do pensamento e a

disseminação da cultura. Como é inegável que os meios

magnéticos, produtos da moderna tecnologia, são hoje de

fundamental importância para realização desse mesmo

objetivo, a resposta afirmativa se impõe. O entendimento

contrário, por mais respeitáveis que sejam, e são, os seus

defensores, leva a norma imunizante a uma forma de esclerose

precoce, inteiramente incompatível com a doutrina do moderno

constitucionalismo, especialmente, no que concerne à

interpretação especificamente constitucional. (MACHADO,

2007, p. 309)

Conclui o ilustre mestre:

È certo que o constituinte de 1988 teve a oportunidade de

adotar redação expressamente mais abrangente para a norma

imunizante, e não o fez. Isto, porém, não quer dizer que o

intérprete da CF, não possa adotar, para a mesma norma, a

interpretação mais adequada, tendo em vista a realidade de

hoje. Realidade que já não é aquela vivida pelo constituinte,

pois nos últimos anos a evolução da tecnologia no setor de

informática, tem sido simplesmente impressionante. Não pode,

pois o intérprete, deixar de considerar essa evolução. Nem

esperar que o legislador modifique o texto. O melhor caminho

sem dúvida, para que o Direito cumpra o seu papel na

sociedade, é a interpretação evolutiva. (MACHADO, 2007, p.

311-312).

Complementando o entendimento acima, Regina Helena Costa, aduz

que, a imunidade insculpida no artigo 150, VI, d, abarca também o livro

eletrônico, assim compreendido o livro materializado em disquete, CD-Rom ou

qualquer outra mídia. (COSTA, 2006, p. 280).

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Ives Gandra da Silva Martins adotando a mesma linha de pesquisa

entende que:

O “livro eletrônico” está, protegido pela imunidade tributária,

como o estão os livros impressos em papel, que, em duas ou

três gerações deverão ter desaparecido ou estar reduzida sua

edição aos colecionadores e bibliógrafos. (Martins, 2001, p.38).

O ilustre doutrinador entende que a imunidade prevista no art. 150, VI,

d, CF deverá ser estendida aos livros e periódicos eletrônicos.

Luciano Amaro esclarece que:

Por longo estágio da ciência, o papel foi o mais importante

meio físico para registro, preservação e divulgação de obras

literárias, artísticas e científicas, e nesse contexto histórico se

firmou a expressão da imunidade constitucional, não se pode

esvaziar o conteúdo desta, diante da evolução tecnológica, que

leva o mesmo bem protegido pela imunidade (ou seja, a obra)

a expressar-se através de outra estrutura física. A imunidade,

portanto, deve ser referida à obra e não ao meio físico que a

contenha. (AMARO, 2001, p. 146)

De forma contrária, Ricardo Lobo Torres, entende que a imunidade

tributária não deve ser estendida aos livros eletrônicos.

Preceitua o ilustre mestre:

Na interpretação do sentido e alcance da imunidade que

protege os livros, jornais e o papel de imprensa é necessário

que se evitem a banalização do seu conceito, o

comprometimento do futuro da fiscalidade na informática e a

analogia ingênua entre a cultura tipográfica e a eletrônica.

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De feito, torna-se necessário que não se banalize o conceito de

imunidade, que adviria do abandono dos valores jurídicos e

éticos que a fundamentam. (TORRES, 2001, p. 203).

Conclui o ilustre doutrinador:

A não incidência constitucional (art. 150,VI, d) só protege os

livros e jornais impressos em papel, não se projetando da

“cultura tipográfica” para a “cultura eletrônica”, nem do “espaço

público” para o “espaço cibernético”. Segue-se daí que não se

estende ao CD-Rom, ao hipertexto para navegação nas redes

de computadores e aos “livros eletrônicos”, metáfora que

compreende tanto o CD-Rom como o hipertexto na network.

(TORRES, 2001, p. 204).

Tal posicionamento também é defendido pelo tributarista Bernardo

Ribeiro de Moraes, preceituando que:

Embora se reconheça o enorme desenvolvimento que se vem

operando na área do livro; embora se reconheça que “livros” no

passado foram executados em barro, argila, pedra, papiro,

cascas de árvores ou com embasamento em outros materiais;

embora existam outros veículos essenciais de transmissão e

difusão do pensamento, conhecimentos e informação, com a

mesma função dos livros; embora o “livro” possa não perder a

sua natureza e essência quando em outra base que não o

papel; para efeitos da imunidade tributária consagrada na letra

“d” do inc.VI do art. 150 da Constituição, não se pode imunizar

o denominado “livro eletrônico”, com suporte em disquetes ou

CD-Rom, ou disponível na Internet, por não ser livro, com base

na escrita e no papel de impressão.

Conseqüentemente, se a norma constitucional visou a não

tributação por imposto de livro impresso em papel, é de

entender que outros meios de comunicação não são atingidos

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pela regra de imunidade. Esta não pode ser ampliada para

alcançar o que livro não é.

A imunidade tributária consagrada no art. 150, VI, d, da

Constituição de 1988, não alcança o “livro eletrônico”, em CD-

Rom, disquetes, etc. visto não ser impresso em papel como

exige o conceito de livro adotado pela Constituição para efeitos

de imunidade (impresso em papel). (MORAES, 2001, p. 138-

139).

3.2 – Os programas de computador

O programa de computador, geralmente expresso em CD-Rom ou

disquete para ser lido por máquina, recebeu o mesmo tratamento legal

reservado aos direitos autorais, conforme ocorre em outros países, conforme

determina os dispositivos da Lei nº 9609/98.

Ricardo Lobo Torres afirma que:

Quanto à tributação, a doutrina e as legislações vêm admitindo

a incidência do ICMS sobre o software de prateleira ou

fechado, que é produto acabado colocado no comércio, e o ISS

sobre a prestação de serviço consubstanciada na realização de

encomenda ou contrato de cessão. (TORRES, 2005, p. 314).

Segundo o ilustre jurista acima, aos produtos da chamada cultura

eletrônica não se aplicam os princípios e as vedações constitucionais

pertinentes aos produtos da cultura tipográfica. O doutrinador entende que os

programas de computador não são abrangidos pelo instituto da imunidade

prevista no art. 150, inciso VI, letra d da Constituição Federal, pois não tem a

mesma natureza e finalidade dos livros, e ,além disso, porque os computadores

são máquinas caras e sofisticadas, utilizados por grupo restrito de pessoas

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dotadas de capacidade contributiva, que não carecem da proteção da

intributabilidade.

3.3 – As redes de computadores

Ricardo Lobo Torres entende que:

A comunicação entre computadores ligados em redes por

intermédio de telefones e satélites, traz interessantíssimos

problemas de fiscalidade. As compras efetuadas através da

internet caem no campo de incidência dos impostos sobre

valor acrescido. (TORRES, 2001, p. 201).

Segundo o doutrinador, as redes de computadores operam com o

hipertexto, que não se confunde com o texto impresso; o objetivo de baratear o

acesso aos novos meios de comunicação não pode ser invocado porque as

redes de informática são instrumentos de tecnologia sofisticada e cara,

utilizadas por um público de alta capacidade econômica. Esclarece que a

proteção da liberdade é desnecessária, posto que a Internet é livre por

definição.

3.4 – Jurisprudência do STF e Tribunais

Apresentamos a seguir alguns julgados referentes a extensão da

imunidade tributária aos livros, jornais e periódicos eletrônicos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO

AI 220503/RJ – RIO DE JANEIRO

RELATOR: Min. Cezar Peluso

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Julgamento: 09/09/2004

Publicação: DJ 08/10/2004 – pp00027

Partes:

Agte: Estado do Rio de Janeiro

Adv: PGE – RJ – Arthur José Faveret Cavalcanti

Agda: Editora Nova Fronteira S/A

Adv: Deborah Barreto Mendes e outros

DECISÂO: 1- Trata-se de agravo de instrumento contra

decisão que, na instância de origem, indeferiu processamento

de recurso extraordinário contra acórdão que reconheceu a

imunidade tributária de dicionário eletrônico, contido em

software. Sustenta o recorrente, com base no art. 102,III,a,

violação ao art. 150,VI,d, da Constituição Federal. 2-

Consistente o recurso. O acórdão recorrido está em

desconformidade com a orientação sumulada desta Corte, no

sentido de que a imunidade prevista no art. 150,VI,d, da Carta

Magna, não alcança todos os insumos usados na impressão de

livros, jornais e periódicos, mas tão-somente, os filmes e

papéis tidos por necessários à sua publicação, tais como o

papel fotográfico, inclusive o destinado a fotocomposição por

laser, os filmes fotográficos sensibilizados, não

impressionados, para imagens monocromáticas, e o papel para

telefoto (SÚMULA 657). 3- Isto posto, invocando o art. 544, § §

3º e 4º, do Código de Processo Civil, com a redação dada pela

Lei nº 9756/98 e pela Lei nº 8950/94, acolho o agravo, para,

desde logo, conhecer do recurso extraordinário e lhe dar

provimento, para indeferir a segurança. Custas ex-lege.

Publique-se. Int. , Brasília, 09 de setembro 2004. Ministro Cezar

Peluso. Relator. (Supremo Tribunal Federal)

MANDADO DE SEGURANÇA. AGRAVO RETIDO.

TRIBUTÁRIO. LIVRO. CD-ROM. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA.

ARTIGO 150, INCISO VI, ALÍNEA “D”, DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL.

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- Agravo retido não conhecido por falta de requerimento da sua

apreciação por este Tribunal.

- O conceito de livro deve ser entendido como meio de

transmissão de informações, tendo em vista que a evolução

histórica mostra que o material utilizado para se expressar

idéias foi modificado ao longo do tempo, sendo sua impressão

em papel mera circunstância.

- Deve-se priorizar a interpretação teológica, a qual possibilita a

efetividade da norma imunizante, tendo em vista que o objetivo

de se excluir a tributação ao livro é estimular a leitura e,

conseqüentemente, o nível de instrução, cultura e formação da

população brasileira.

- Desta forma, a imunidade abrange também o CD-ROM, que

constitui apenas suporte físico para a disseminação do

conhecimento.

- Agravo não conhecido e apelação a que se dá provimento.

(Tribunal Regional Federal – 2ª região – Classe: AMS –

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA – 38592 –

Processo: 200002010711644 – UF: RJ – Órgão Julgador: 5ª

turma – Data da decisão: 25/06/2003).

MANDADO DE SEGURANÇA – TRIBUTÁRIO E

CONSTITUCIONAL – IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DE CDs-

ROM EDUCATIVOS – INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 150, VI, d,

DA CF.

1. O artigo 150, VI, d, da CF deve ser interpretado

teleologicamente, observando-se a intenção do legislador

de estimular a cultura e garantir a liberdade de expressão.

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2. O CD-ROM possui a mesma finalidade dos livros, jornais e

periódicos de difundir idéias e conhecimentos, motivo pelo

qual está abrangido pela mesma imunidade tributária.

3. Remessa necessária e apelação improvidas. (TRIBUNAL –

SEGUNDA REGIÃO – Classe: AMS – APELAÇÃO EM

MANDADO DE SEGURANÇA – 44309 – Processo:

200202010330750 – UF: RJ – Órgão Julgador: 3ª turma –

Data da decisão: 29/04/2003).

MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE DE

IMPOSTOS PARA LIVROS. ART. 150, VI, “D” DA CARTA

MAGNA. EXTENSÃO A “ÁUDIO LIVRO” IMPORTADO PELO

IMPETRANTE.

1. Se a finalidade precípua da imunidade de impostos

conferida aos livros (art. 150, VI, “d” da Carta Magna) é

incentivar a divulgação do conhecimento, não é menos

verdade que se imaginava a sua divulgação pela forma

escrita, pois, se a lei não emprega palavras inúteis, esta é a

conclusão a que se chega com a leitura da parte final do

dispositivo transcrito. Isto se deve ao fato de que o

Constituinte de 88 legislou a parir do conceito tradicional de

livro, a de objeto escrito, impresso.

2. Desde então novas tecnologias surgiram, a informática

popularizou-se, tornando-se poderosa ferramenta para a

divulgação de idéias e de cultura. CDs-ROM, livros virtuais

etc, eram desconhecidos ou incomuns há 15 anos, mas

agora, são de uso frequente. Se, se a sociedade e a

técnica evoluem, ocasionando novas demandas, é função

do operador do direito interpretar as normas a fim de

adequá-las à nova realidade social, emprestando feição

conforme as novas exigências que se apresentam.

Destarte, o “áudio CD”, ainda que não incluído no conceito

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tradicional de livro, se presta ao mesmo objetivo, pelo que

entendo estar abrangido na imunidade do art. 150, IV, “d”,

da Lei Maior.

3. Dessa forma privilegia-se o fim objetivado (divulgação do

conhecimento), não o meio utilizado (livro escrito).

(TRIBUNAL – QUARTA REGIÃO – Classe: REO –

REMESSA EX OFFICIO – 14131 – Processo:

200270000086963 – UF: PR – Órgão Julgador: 2ª TURMA

– Data da decisão: 15/04/2003).

AMS – APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA.

TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. ART.150, VI, “D” DA CF/88.

“LIVRO ELETRÔNICO”.

1- O conteúdo da imunidade prevista no art. 150, VI, “d”, da

CF/88, não alcança equipamento de informática que serve

de suporte para “livro eletrônico”.

Decisão: Vistos e relatados estes autos em que são partes as

acima indicadas, decide a Egrégia 1ª Turma do TRF-4ª Região,

por unanimidade, negar provimento ao apelo, nos termos do

relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte

integrante do presente julgado. (TRIBUNAL – QUARTA

REGIÂO – Classe: AMS – APELAÇÃO EM MANDADO DE

SEGURANÇA – Processo: 20077000002999-0 – UF: PR –

Órgão Julgador: 1ª TURMA – Data da Decisão: 30/01/2008.)

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CONCLUSÃO

A imunidade tributária é um princípio constitucional através do qual a

Constituição Federal veda à União, aos Estados, aos Municípios e ao Distrito

Federal instituírem impostos sobre certas pessoas, bens, coisas, fatos ou

situações, considerados de grande relevância para a sociedade de um Estado

Democrático de Direito.

A doutrina consagra que a imunidade tributária decorre exclusivamente

de norma constitucional.

A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu artigo 150, inciso

VI, letra “d” a imunidade tributária dos livros, jornais, periódicos e do papel

destinado à sua impressão.

Esta imunidade está fundamentada na idéia de justiça, liberdade e

igualdade asseguradas no artigo 5º da Carta Magna, pois o objetivo do

legislador constituinte com a presente imunidade foi a proteção e incentivo à

cultura e à educação, ou seja, permitir o acesso mais barato à informação.

Todavia, a vedação constitucional diz respeito exclusivamente aos

impostos que incidem sobre o preço (II – Imposto de Importação, IE – Imposto

de Exportação, IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, ICMS – Imposto

sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), não se aplica a outras espécies

tributárias.

A referida imunidade é classificada como objetiva, pois incide sobre

coisas, e não sobre pessoas. São alcançados pela imunidade os livros, os

jornais, os periódicos e o papel destinado à sua impressão, por outro lado, a

norma imunizante não alcança a empresa jornalística ou de publicidade, a

editora, o autor, o livreiro.

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Entretanto, para que seja alcançado o objetivo da presente imunidade,

ou seja, baratear o acesso à cultura e à informação, somente é imune o livro

que contenha finalidade cultural.

Portanto, a imunidade consignada no artigo 150, inciso VI, letra “d”

deve ser interpretada de forma ampla, a englobar outros insumos que não

apenas o papel destinado à impressão dos livros, jornais e periódicos, como

forma de dar efetiva aplicação aos princípios constitucionais que procurou o

legislador constituinte atender ao instituir a referida imunidade, quais sejam, o

amplo acesso à cultura, a livre manifestação do pensamento, das idéias.

A extensão da imunidade tributária aos livros, jornais e periódicos

eletrônicos é uma questão polêmica e de grande relevância. Vários

doutrinadores tem com ela se preocupado, pois estamos vivendo um tempo de

inovações tecnológicas, no qual livros não são necessariamente impressos em

papel, mas gravados em disquetes, CDs-Rom e outros meios eletrônicos.

Existe divergência entre os doutrinadores. Alguns doutrinadores não

admitem a exoneração tributária em relação aos chamados “livros eletrônicos”,

pois sustentam que somente o livro em papel é imune aos impostos. No

entanto, a grande maioria dos doutrinadores entendem que a imunidade em

questão deve ser estendida aos CDs-Rom e disquetes, desde que seja um

veículo difusor de cultura, de liberdade de expressão, de manifestação de

idéias, não importando o suporte material e sim, a finalidade, qual seja, o amplo

acesso à cultura e à informação.

Portanto, a norma constitucional de imunidade tributária interpreta-se

para alcançar também os chamados “livros eletrônicos”, pois o que o legislador

pretendeu imunizar não é o meio físico em que as idéias e pensamentos são

escritos, mas qualquer suporte físico em que estejam gravados.

Sendo assim, apesar da imperiosa necessidade que o Estado tem de

cobrar tributos, o legislador constituinte entendeu que determinados bens,

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pessoas ou situações devem ser protegidos pelo instituto das imunidades,

recebendo tratamento diferenciado pelos valores que representam para uma

sociedade de um Estado Democrático de Direito, pois uma nação que não

possibilita a livre manifestação das idéias e o amplo acesso do povo à

informação e à cultura, não pode ser considerada uma verdadeira Nação

Democrática.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

CAPÍTULO 1 – Imunidade Tributária 10

1.1 – Conceito 10

1.2 – A Imunidade Tributária e os Princípios Constitucionais 13

1. 3 – A Imunidade Tributária como Limitação ao Poder Tributário 14

CAPÍTULO 2 – A Imunidade Tributária dos Livros, Jornais, Periódicos e do

Papel Destinado à sua Impressão 16

2.1 – Evolução Histórica 17

2.2 – Natureza Jurídica 18

2.3 – Interpretação da Norma Imunizante 19

2.4 – Aspectos Objetivos 21

2.4.1 – Conceito de Livro 21

2.4.2 – A Imunidade dos Jornais 22

2.4.3 – A Imunidade dos Periódicos 23

2.4.4 – O Papel da Imprensa 24

2.4.5 – Insumos 24

2.5 – Jurisprudência do STF 27

CAPÍTULO 3 – A Extensão da Imunidade aos Livros, Jornais e Periódicos

Eletrônicos 30

3.1 – Entendimento Doutrinário 30

3.2 – Os Programas de Computador 34

3.3 – As Redes de Computadores 35

3.4 – Jurisprudência do STF e Tribunais 35

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CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA 43

ÍNDICE 45