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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS NAS AÇÕES DE ALIMENTOS RAFAELA BUENO PERES Itajaí, junho de 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS NAS AÇÕES DE ALIMENTOS

RAFAELA BUENO PERES

Itajaí, junho de 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS NAS AÇÕES DE ALIMENTOS

RAFAELA BUENO PERES

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Direito. Orientadora: Msc. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes

Itajaí, junho de 2010

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AGRADECIMENTO

Inicialmente a Deus, por me permitir sobreviver e compartilhar este momento com todos aqueles que

amo, após tantas dificuldades, provações e riscos sofridos.

A meus pais, Dirson e Flávia, por estarem sempre ao meu lado, de forma incondicional, me apoiando e

auxiliando nas horas de maiores dificuldades.

Aos meus avós maternos Giercy e Ieda Maria (in memória), apesar de não tê-los conhecido por terem sido parte integrante da minha história. Ao meu avô

paterno Dirson (in memória) por também não tê-lo conhecido e igualmente fazer parte da minha história

e avó paterna, Liana Mabel por ter mostrado tanta força e determinação.

Agradeço as minhas irmãs Gabriela e Juliana por me apoiarem e auxiliarem nas horas de dúvidas e

desconforto, meu cunhado Luiz e sobrinhos Gabriel, Bárbara e Maria Antônia pela paciência e apoio nos

momentos de desabafo e extrema inquietação.

Não poderia ainda deixar de agradecer aos meus amigos, colegas de curso, e orientadora Fernanda

com os quais dividi todos os momentos desta longa caminhada que aqui se finda, para que nos seja

proporcionada outra ainda mais gloriosa.

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DEDICATÓRIA

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, junho de 2010

Rafaela Bueno Peres Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Rafaela Bueno Peres, sob o título Ação

de Prestação de contas nas ações de alimentos, foi submetida em 11 de maio à

banca examinadora composta pelos seguintes professores: Patricia Elias Vieira

(Ezaminadora), e aprovada com a nota [Nota] ([nota Extenso]).

Itajaí, junho de 2010

Professora MSc. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Alimentos1

Alimentos são prestações destinadas à satisfação dos direitos fundamentais de

quem não os pode prover por si. Compreende o que é imprescindível à vida da

pessoa como forma de alimentação, vestuário, habitação, tratamento médico,

transporte, diversões, e, se a pessoa alimentada for menor de idade, ainda verbas

para a sua instrução e educação (CC, art. 1.701), incluindo parcelas despendidas

com sepultamento, por partes legalmente responsáveis pelos alimentos.

Irrepetibilidade2

Os alimentos quer sejam provisionais, quer definitivos, uma vez fixados judicialmente

não são restituíveis.

Prestar Contas3

Fazer alguém a outrem, pormenorizadamente, parcela por parcela, a exposição dos

componentes do débito e crédito resultantes de determinada relação jurídica

concluindo pela apuração aritmética do saldo credor ou devedor ou de sua

inexistência.

legitimidade4

Estão legitimados para ação, ativa e passivamente, aquele que tem o direito de

exigir a prestação de contas.

1 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Direito de família. 22. ed. rev. e atual. De

acordo com a Reformado CPC. – São Paulo:Saraiva, 2007. v. 5. p. 535 2 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Família, 2005, p. 451. 3 FURTADO. Fabrício. Comentários ao Código de Processo Civil. nº. 249, p.387-388. 4 MARCATO. Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. p.137

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... IX

INTRODUÇÃO .................................................................................. 10

CAPÍTULO 1 ..................................................................................... 12

ALIMENTOS ..................................................................................... 12

1.1 HISTÓRICO ................................................................................................... 12

1.2 CONCEITO DE ALIMENTOS ........................................................................ 14

1.3 BINOMIO NECESSIDADE X POSSIBILIDADE ............................................. 17

1.4 CARACTERÍSTICAS DOS ALIMENTOS ...................................................... 20

1.4.1 Direito personalíssimo .............................................................................. 21 1.4.2 Da irrenunciabilidade ................................................................................ 23 1.4.3 Da impenhorabilidade .............................................................................. 25 1.4.4 Da divisibilidade ........................................................................................ 26 1.4.5 Da imprescritibilidade .............................................................................. 27 1.4.6 Da irrepetibilidade ..................................................................................... 28

CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 31

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS ............................................. 31

2.1 HISTÓRICO ................................................................................................... 31

2.2 CONCEITO .................................................................................................... 32

2.2.1 Ação de exigir contas ............................................................................... 34 2.2.2 Ação de dar contas ................................................................................... 36

2.3 NATUREZA JURIDICA .................................................................................. 38

2.4 CABIMENTO .................................................................................................. 41

2.5 LEGITIMIDADE DA PARTE .......................................................................... 44

CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 47

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS NAS AÇÕES DE ALIMENTOS .......................................................................................................... 47

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viii

3.1 (IM) POSSIBILIDADE DA PRESAÇÃO DE CONTAS NOS ALIMENTOS .... 47

3.2 ARGUMENTOS DESFAVORAVEIS A PRESTAÇÃO ................................... 52

3.3 POSIÇÃO DOS TRIBUNAIS BRASILEIROS ................................................ 56

3.3.1 Tribunal de Justiça de Santa Catarina..................................................... 56 3.3.2 Tribunal de Justiça do Rio Grande Do Sul .............................................. 61 3.3.3 Tribunal de Justiça de São Paulo ............................................................ 62 3.3.4 Superior Tribunal De Justiça .................................................................... 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 64

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 67

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RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como fundamento

discorrer sobre a ação de prestação de contas nas ações de alimentos. As ações

alimentícias, instituto no qual será estudada a ação de prestação de contas, tem a

finalidade de proporcionar a subsistência de outrem, estando divididos em alimentos

naturais e civis, correspondendo o primeiro ao estritamente necessário à

sobrevivência do indivíduo e o segundo as possibilidades do obrigado a prestar os

alimentos e a necessidade do beneficiário da prestação. Para uma melhor

compreensão do tema, será abordado no primeiro capítulo desde a história dos

alimentas, seu surgimento no sistema jurídico e os meios pelo qual se pode postular

ta beneficio. Será ainda explanado quanto aos conceitos, princípios norteadores do

instituto e os sujeitos da relação e proteção do direito alimentar. O segundo capítulo

terá como objeto a ação de prestação de contas, onde serão abordadas suas

características, peculiaridades e objetivos da ação. Regulada pelo art. 914 e

seguintes do Código Processual Civil, trata-se de um procedimento especial, pelo

qual deve-se considerar as situações e procedimentos específicos. No terceiro

capítulo será abordada a ação de prestação de contas no instituto dos alimentos,

onde serão abordados os princípios e características cerceados em detrimento da

utilização em comum de ambos os institutos. Serão ainda abordadas as teses

levantadas pelos julgadores e doutrinadores que venham em conformidade com a

sua utilização bem como os fundamentos defendidos para a negativa de cumulação

dos procedimentos de alimentos e prestação de contas. Por conseguinte, colaciona-

se alguns julgados de diferentes Tribunais do País, objetivando melhor elucidar as

teses levantadas no presente estudo.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto Processo Civil.

O seu objetivo institucional é a produção de monografia para

obtenção do grau de bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, abordando o tema processo civil para concessão de benefícios.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base os seguintes

problemas:

Qual a função da Ação de prestação de contas?

Características, meios e fins?

Há no ordenamento Jurídico algum princípio que denegue à

ação de prestação de contas como inconstitucional?

O que efetivamente se pretende com a ação de prestação de

contas nas ações de alimentos e quais as alegações existentes a esse respeito?

Diretamente relacionadas a cada problema formulado, foram

levantadas as seguintes hipóteses:

A ação de prestação de contas serve para ter o controle de

todos os lançamentos efetuados por quem administra bens de outrem. Sua principal

característica é a duplicidade da ação, através de um procedimento especial, cuja

finalidade é facilitar uma possível ação revisional, possibilitando a minoração dos

valores devidos à título de alimentos.

No ordenamento jurídico é plenamente viável e amparado

judicialmente a ação de prestação de contas na ação de alimentos.

A pretensão maior é a obter uma decisão judicial, que ressalte

os meios onde estão sendo empregados os alimentos, para em casos de má

utilização, possibilitar o ingresso de uma ação revisional de alimentos, buscando

minorar o valor pago.

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Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia

é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas

do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, oportunidade em que

apresenta-se uma abordagem histórica do direito alimentar, bem como o momento

pelo qual passou a ser juridicamente tutelado, passando à regulamentação deste

ramo do direito e por conseguinte trata-se dos princípios norteadores dos alimentos

aliados aos meios de sua utilização.

No Capítulo 2, tratando da ação de prestação de contas,

apresenta-se uma abordagem histórica da estudada ação, sua previsão legal, e

princípios, proporcionando uma distinção quanto ao seu exercício que passa a ser

analisado, desde o direito de prestar as contas chegando ao direito de exigir-las. Por

conseguinte, aborda-se os meios de tutela da presente ação e os entendimentos

jurisprudenciais a cerca de sua aplicabilidade, apontando suas principais

características e meios para atuação.

No Capítulo 3, aborda-se os argumentos levantados pelos

julgadores e doutrinadores quanto á aplicabilidade ou não da ação de prestação de

contas nas ações de alimentos, por conseguinte, traz-se diferentes julgados, dos

diversos tribunais do País demonstrando as divergências entre os seus

entendimentos, colacionando ainda decisão do Superior Tribunal de Justiça,

demonstrando sua posição no caso em estudo.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre Direito

Processual Civil.

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CAPÍTULO 1

ALIMENTOS

1.1 HISTÓRICO

Inicialmente, aborda-se o tema alimentos sob um aspecto

geral, bem como aponta-se a visão de alguns doutrinadores, e em continuidade, a

evolução histórica do direito que disciplina o presente instituto, observando as

concepções da palavra ora questionada.

Sabe-se que o sistema Jurídico Brasileiro é derivado do

sistema jurídico Romano. No entanto no direito Romano, não havia qualquer menção

ao direito alimentar na forma atualmente tutelada, sua omissão devia-se em virtude

dos direitos e deveres oriundos do vínculo familiar5. Quanto ao tema assevera

Yussef Said Cahali6.

Segundo se ressalta, essa omissão seria reflexo da própria constituição da família romana, que subsistiu durante todo período arcaico e republicano; um direito a alimentos resultante de uma relação de parentesco seria até mesmo sem sentido, tendo em vista que o único vínculo existente entre os integrantes do grupo familiar seria o vínculo derivado do pátrio poder; a teor daquela estrutura o paterfamilias concentrava em suas mãos todos os direitos , sem que qualquer obrigação o vinculasse aos seus dependentes (...) tais dependentes não poderiam exercitar contra o titular da pátria potestas nenhuma pretensão de caráter patrimonial (...).

O que existia no direito Romano era uma relação familiar, onde

os direitos concentravam-se nas mãos de um único membro, qual seja o detentor do

poder familiar. Assim via-se, a possibilidade de o detentor de tal poder encontrar-se

vinculado a uma obrigação mediante aos demais entes familiares como algo

5 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 4. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com o Novo Código Civil.

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 41 6 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 41

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incoerente, independente de quais sejam estes, e especialmente, por ser esta uma

obrigação de caráter patrimonial.

De acordo com Áurea Pimentel Pereira7 nos primórdios das

civilizações, os alimentos constituíam um dever moral, sendo concedidos sem

qualquer obrigatoriedade ou regra jurídica a impor-lhes tal prestação.

Outrora, as transformações culturais decorrentes da evolução

histórica da sociedade acarretaram muitas mudanças na estrutura familiar, criando

um novo modelo de instituição familiar, agora bem mais restrito. Desta feita, com o

advento do novo instituto aliado aos destaques dos laços consangüíneos, começam

a surgir, de acordo com as necessidades, normas disciplinadoras da convivência em

comum, bem como das relações de parentesco.

No entanto, não há um marco determinando o momento em

que o instituto do direito de alimentos passa a vigorar e a produzir efeitos no sentido

obrigacional, o que se tem, é uma mudança gradativa de acontecimentos que

tornam viável tal interpretação, conforme preceitua Yussef Said Cahali.8

Não há uma determinação precisa do momento histórico a partir do qual essa estrutura foi se permeabilizando no sentido do reconhecimento da obrigação alimentar no contexto da família.

Alega ainda Yussef Said Cahali, a oportunidade em que se

passa a reconhecer juridicamente os alimentos como um direito tutelável

jurisdicionalmente:

Terá sido a partir do principado, em concomitância com a progressiva afirmação de um conceito de família em que um vínculo de sangue adquire uma importância maior, quando então se assiste a uma paulatina transformação do dever moral de socorro, embora largamente sentido, em obrigação jurídica própria, a que corresponderia o direito alimentar, tutelável através da cognitio extra ordinem; a controvérsia então se desloca para a extensão das pessoas vinculadas à obrigação alimentar.

7 PEREIRA, Áurea Pimentel. Alimentos no Direito de família e no direito dos companheiros. Rio

de Janeiro: Renovar, 1998. p. 2. 8 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p. 42.

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Não obstante, foi no direito Justiniano que se deu de forma

segura o reconhecimento da obrigação alimentar recíproca entre os ascendentes e

descendentes em linha reta, entre pai e descendentes na família ilegítima, como

obrigação de assistência e socorro, conforme prepondera Yussef Said Cahali9 além

da probabilidade de sua concessão entre irmãos e irmãs.

Assim, o que antes era tão-somente um dever moral, passou a

ser uma obrigação juridicamente tutelável.

1.2 CONCEITO DE ALIMENTOS

Ressalta-se que o vigente Código Civil, embora disponha de

um capítulo destinado ao instituto dos Alimentos, em momento algum o define. Para

tanto valemo-se do conceito dado no artigo 1.920 do respectivo diploma legal, que

trata respectivamente do direito sucessório.

Art. 1.920. O legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor.

Assim, tem-se como alimentos o necessário para a

conservação da vida do ser humano. Por outro lado, na esfera Jurídica, tem-se uma

visão mais ampla do significado da palavra alimentos, seu conceito não subsiste

apenas em alimentação, mas compreende também habitação, vestuário, educação e

etc.

Neste contexto aduz Maria Helena Diniz10 :

Alimentos são prestações destinadas à satisfação dos direitos fundamentais de quem não os pode prover por si. Compreende o que é imprescindível à vida da pessoa como forma de alimentação, vestuário, habitação, tratamento médico, transporte, diversões, e, se a pessoa alimentada for menor de idade, ainda verbas para a sua instrução e educação (CC, art. 1.701), incluindo parcelas despendidas com sepultamento, por partes legalmente responsáveis pelos alimentos.

Não obstante tal entendimento preceitua Yussef Said Cahali11:

9 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p. 44. 10 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Direito de família. 22. ed. rev. e atual. De

acordo com a Reformado CPC. São Paulo:Saraiva, 2007. v. 5. p. 535

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Alimentos são, pois as prestações devidas, feitas para que quem as recebe possa subsistir, isto é, manter sua existencia, realizar o direito à vida, tanto física (sustento do corpo) como intelectual e moral (cultivo e educação do espírito, do ser racional).

Roberto Senise Lisboa conceitua os alimentos como “as

necessidades para a subsistência humana”12.

Ressalta-se que a obrigação alimentar pode ter origem de 3

formas distintas, quais seja: em detrimento de lei, da vontade humana ou ainda

através de Sentença Judicial.

Quanto às suas derivações, distingue Roberto Senise Lisboa13.

A obrigação alimentar pode originar:

a) da lei, como as verbas de natureza alimentar pagas pelo poder público. Exemplos: pensão por morte, aposentadoria por invalidez. b) da vontade humana, mediante o contrato ou, ainda, o legado (clausula testamentária que beneficia determinado sucessor, que pode era pessoa estranha a família ou não);c) de sentença judicial.

No entanto restringe-se o presente trabalho monográfico aos

alimentos oriundos de sentença judicial, fazendo parte os alimentos em favor de

entes consangüíneos, em especial pais e filhos

Importante salientar que com o advento do Novo Código Civil,

entra também em vigor uma diferenciação entre alimentos Naturais e alimentos

Civis.

Assim a interpretação da palavra alimentos, passou a ter maior

complexidade, merecendo amplos cuidados. Para tanto Orlando Gomes14 distingue as

duas dimensões, e pondera.

Alimentos são prestações para a satisfação das necessidades vitais de quem não pode prove-las por si. A expressão designa medidas diversas. Ora significa o que é estritamente necessário à vida de

11 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p. 16 12 LISBOA. Roberto Senise. Manual elementar de direito civil. 2. ed. Ver e atual. Em conformidade

ao nove Códogo Civil. São Paulo: Revista dos tribunais, 2002. p. 47. 13 LISBOA. Roberto Senise. Manual elementar de direito civil. p. 47.

14 GOMES. Orlando, Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 427.

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uma pessoa, compreendendo tão somente, a alimentação, a cura, o vestuário e a habitação, ora abrange outras necessidades, compreendidas as intelectuais e morais, variando conforme posição social da pessoa necessitada. Na primeira dimensão os alimentos limitam-se ao necesarium vitae; na segunda, compreendem o necesarium personae. Os primeiros chamam-se de alimentos naturais, os outros, civis ou côngruos.

Destarte, conforme entendimentos retro, compreendem os

alimentos naturais ao mínimo necessário à sobrevivência do indivíduo, sem o qual

não teria o alimentando condições de prosseguir com sua vida; enquanto que os

alimentos civis derivam das possibilidades econômicas do alimentante, sendo

incluso nas prestações um grau mais elevado de condições a fim de se equiparar às

condições do alimentante.

Yussef Said Cahali15 conceitua as espécies de alimentos da

seguinte maneira:

(...) aquilo que é estritamente necessário para a mantença da vida de uma pessoa, compreendendo tão-somente a alimentação, a cura, o vestuário, a habitação, nos limites do nessessárium vitae são alimentos naturais; toda via, se abrangentes de outras necessidades, intelectuais e morais, inclusive recreação do beneficiário, compreendendo assim o necessário personae, e fixados segundo a qualidade do alimentando e os deveres da pessoa obrigada, diz-se que são alimentos civis.

Roberto Senise Lisboa distingue os alimentos naturais dos

Civis da seguinte maneira16:

a) alimentos naturais, que são aqueles devidos para a subsistência do organismo humano. b) alimentos civis, que se consubstanciam em verbas para: a habitação, o vestuário, educação, o lazer, a saúde e o funeral.

Da mesma forma pondera Lopes Herrera, cujas nomenclaturas

utilizadas foram os alimentos côngruos, correspondente aos alimentos naturais e os

alimentos necessários que corresponde aos alimentos civis17;

15 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p.16. 16 LISBOA. Roberto Senise. Manual elementar de direito civil. p. 47.

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(...) por alimentos congruos entende-se o dever de ministrar comida, vestuário, habitação e demais recursos econômicos necessários, tomando-se em consideração a idade, a condição social e demais circunstancias pertinentes ao familiar em situação de necessidade; de modo diverso, os alimentos necessários, se bem que igualmente compreensivos da comida, do vestuário, da habitação, reclamados pelo alimentando, devem ser calculados à base do mínimo indispensável para qualquer pessoa sobreviver, sem tomar em consideração as condições próprias do beneficiário.

Já para Fábio Ulhoa Coelho, “os alimentos se destinam ao

cumprimento, pela família, de sua função assistencialista e das relacionadas ao

provimento dos recursos reclamados pelo sustento e manutenção de seus

membros”18

Por derradeiro, exulta ao presente estudo, que para fins de

Alimentos entende-se todo recurso que for necessário para satisfazer as

necessidades da vida e habitação, não apenas no âmbito moral, mas igualmente no

âmbito social entre pessoas ligadas por laços consangüíneos.

Com isto deve-se considerar as condições econômicas e

sociais de ambas as partes, alimentante, sendo aquele obrigado ao pagamento da

prestação de alimentos, e do alimentado, sendo respectivamente aquele que recebe

os alimentos. Tal proporcionalidade objetiva evitar qualquer mudança drástica, ao

alimentado, a fim de que este possa continuar sua vida ao máximo de igualdade aos

parâmetros anteriormente gozados. Para tanto passa-se ao estudo do principio

norteador do instituto dos alimentos, binômio necessidade x possibilidade.

1.3 BINOMIO NECESSIDADE X POSSIBILIDADE

Conforme já estudado, a obrigação de sustento tem sua origem

no pátrio poder.

Nas palavras de Yussef Said Cahali19:

17 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p.19 18 COELHO. Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2006. v. 5. p. 196. 19 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. , p.

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18

Para permitir aos pais o desempenho eficaz de suas funções, a lei provê os genitores do pátrio poder, com atribuições que não se justificam, senão por sua finalidade; são direitos a eles atribuídos, para lhes permitir o cumprimento de suas obrigações em relação à prole; não há pátrio poder senão porque deles se exigem obrigações que assim se expressam: sustento, guarda e educação dos filhos.

Não obstante, o Código Civil em seus arts. 1.63020 e 1.63121,

tratam sobre o instituto sob a denominação de poder familiar.

Ato contínuo prevê o art. 1.63222, que ainda que desfeita a

relação matrimonial, o poder familiar em nada se altera, ficando a cargo de ambos

os pais o resguardo da dignidade dos filhos, devendo ambos contribuírem para a

sua subsistência, enquanto deste, necessite.

Esta obrigação conforme assinala Yussef Said Cahali23 não se

altera diante da precariedade da condição econômica do genitor.

No entanto para que o alimentando possa exigir o direito à

prestação alimentícia, é necessário que este não possua bens e tão pouco possa

prover seu sustento unicamente com o seu trabalho. Mas para que em uma ação de

alimentos sejam estes deferidos, deve-se comprovar que o alimentante não sofrerá

desfalque do necessário ao seu próprio sustento.

Os alimentos devem ser fixados na proporção das

necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. Estes são termos

do parágrafo 1 do art. 1.964, do Código Civil brasileiro, que determina a

obrigatoriedade na utilização do respectivo principio;

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. § 1o. Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

20 Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores. 21 Art. 1.631. Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou

impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade 22 Art. 1.632. A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações

entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos.

23 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. , p.

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19

Quanto ao entendimento jurisprudencial24, encontra-se este

pacificado quanto à obrigatoriedade da observância do princípio binômio

necessidade x possibilidade, ou seja, a necessidade do alimentado x a possibilidade

do alimentante.

APELAÇÃO CÍVEL - INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM ALIMENTOS - FIXAÇÃO DA VERBA ALIMENTAR - OBSERVÂNCIA DO BINÔMIO LEGAL (NECESSIDADE E POSSIBILIDADE) - SINAIS EXTERNOS DE RIQUEZA - QUANTUM ADEQUADO - MARCO A QUO DO ENCARGO - CITAÇÃO - INEXISTÊNCIA DE SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - RECURSO DESPROVIDO. 1. "No arbitramento da pensão alimentícia, mister sopesar a NECESSIDADE do alimentado e as possibilidades do alimentante, devendo ser mantido o montante fixado pelo magistrado singular, na hipótese de o conjunto probatório acostado ao caderno processual demonstrar a POSSIBILIDADE do devedor em suportá-lo" (Desa. Salete Silva Sommariva). 2. Os sinais externos de riqueza devem ser considerados na fixação do quantum alimentar, mormente quando os comprovantes de renda apresentados pelo alimentante são sensivelmente incompatíveis com o seu patrimônio e padrão de vida. 3. Conforme entendimento iterativo dos Tribunais Superiores e desta Corte, os ALIMENTOS fixados nas ações de investigação de paternidade retroagem à data da citação, ex vi do art. 13, § 2º, da Lei n. 5.478/68. 4. O valor dos ALIMENTOS pleiteado na peça preludial pelo demandante, a exemplo do quantum pedido nas ações que buscam o ressarcimento pelos danos morais sofridos, servem tão-somente como parâmetro para magistrado, que detém a faculdade de fixá-lo considerando as peculiariedades do caso concreto.

Para Yussef Said Cahali25 “os alimentos devem ser fixados na

proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”.

Complementa Maria Helena Diniz26.

Imprescindível será que haja proporcionalidade na fixação dos alimentos entre as necessidades do alimentando e os recursos econômico-financeiros do alimentante, sendo que a equação desses dois fatores deverá ser feita, em cada caso concreto, levando-se em conta que a pensão alimentícia será concedida sempre ad necessitatem.

24 TJSC, AC n. 2007.025523-5, rel. Des. Moacyr de Moraes Lima Filho, D.J.U. em 20-5-2003. 25 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p. 129 26 DINIZ. Maria Helena. Código Civil Anotado, 10. ed., São Paulo: Saraiva, 2004. p. 1.258

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20

Em continuidade ao entendimento ora exarado, corrobora o

presente decisium27:

APELAÇÃO CÍVEL ¿ AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS ¿ PEDIDO DE MAJORAÇÃO ¿ VERBA INSUFICIENTE PARA SUPRIR AS NECESSIDADES DA ALIMENTANDA ¿ RENDIMENTOS DECLARADOS PELO ALIMENTANTE QUE NÃO SE COADUNAM COM A SUA SITUAÇÃO PATRIMONIAL PROVA DOCUMENTAL. RIQUEZA EXTERIOR CAPAZ DE DEMONSTRAR QUE POSSUI RENDA MENSAL MUITO SUPERIOR A ALEGADA. OBSERVÂNCIA DO BINÔMIO NECESSIDADE/POSSIBILIDADE. QUANTUM MAJORADO. ALTERAÇÃO DA VERDADE DOS FATOS. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CARACTERIZADA. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. "I - Para a fixação da verba alimentar, devem ser observadas não somente as necessidades dos alimentandos, mas também a capacidade de quem irá provê-las. Desta forma, o dever de prestar alimentos está condicionado ao binômio necessidade/possibilidade. "II - Em demandas dessa ordem, entre outros elementos de prova, é fator decisivo a verificação do padrão de riqueza exteriorizado pelas partes. No caso em apreço, a prova documental produzida demonstra fortes indícios de que o apelado possui renda mensal muito superior a indicada por ele na contestação, podendo contribuir perfeitamente para o sustento da filha com a quantia pleiteada. "III - Portanto, há uma desproporção evidente entre o patrimônio do Apelado e os alegados rendimentos percebidos mensalmente, restando manifesto o propósito do Réu em prejudicar a parte contrária. Desta forma, há de se reconhecer a má-fé do Recorrido, porquanto agiu com intuito de modificar a verdade dos fatos

Por conseguinte, se uma vez fixados os alimentos sobrevier

mudança nas condições econômicas tanto do alimentante, quanto do alimentando,

poderá o interessado requerer judicialmente o que lhe couber, desde a exoneração,

majoração ou redução do encargo28.

1.4 CARACTERÍSTICAS DOS ALIMENTOS

Conforme já explanado nos itens anteriores a obrigação

alimentar é o direito à satisfação das necessidades vitais de quem não pode prove-

las pelo próprio esforço. Para tanto há dois meios que propiciam a concessão do

27 TJSC. AC n. 2004.025666-3, de Lages, rel. Des. Joel Dias Figueira Júnior, j. em 24.4.07 28 Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre,

ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.

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21

instituto: o vínculo consangüíneo, e a relação marital, ainda que de fato, como a

União Estável.

Assim a obrigação alimentar possui suas características

próprias, sendo um direito pessoal, irrenunciável, impenhorável, divisível, irrepetível

e imprescritível.

Passa-se assim a análise de cada uma de suas características

norteadoras de forma individual.

1.4.1 Direito personalíssimo

Conforme entendimento de Yussef Said Cahali29 a

pessoalidade é a característica fundamental do direito alimentar, e sendo dela várias

outras decorrentes. Pelo qual complementa:

Visando preservar a vida do indivíduo, considera-se direito pessoal no sentido de que a sua titularidade não passa a outrem, seja por negócio jurídico, seja por fato jurídico.

Pactuando com o mesmo entendimento, Orlando Gomes,30

alega ser “direito pessoal no sentido de que a sua titularidade não passa a outrem

por negócio jurídico ou por fato jurídico”.

Concordando assim, com as explanações de Yussef Said

cahali, quando alega ser a pessoalidade do direito alimentar objeto de outras

características; quais sejam a intransmissibilidade, a imprescritibilidade e a

impenhorabilidade.

Logo a pessoalidade do direito alimentar encontra-se traçada

em virtude de possuir como objeto de tutela a integridade física do indivíduo, o que

torna defesa a sua transmissão por todo e qualquer ato.

Por derradeiro considera-se o direito personalíssimo, como

uma das manifestações do direito à vida, vale dizer, um direito que se destina a

tutelar a própria integridade física do indivíduo.

29 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p. 49/50 30 GOMES. Orlando, Direito de família, p. 433.

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Nesse contexto, merecem destaque os ensinamentos de Maria

Berenice Dias31, que conceitua o princípio do direito personalíssimo no presente

instituto.

O direito a alimentos não pode ser transferido a outrem, na medida em que visa a preservar a vida e assegurar a existência do indivíduo que necessita de auxílio para sobreviver. Como decorrência direta de seu caráter personalíssimo, trata-se de direito que não pode (1.707): a) ser cedido. O credito alimentar não se sujeita a b) compensação, qualquer que seja a natureza da dívida que venha a lhe ser oposta. A pensão alimentar é c) impenhorável, uma vez que garante a subsistência do alimentado. Tratando-se de direito que se destina a prover o sustento de pessoa que não dispõe, por seus próprios meios, de recursos para sobreviver, inadmissível que credores privem o alimentado dos recursos de que necessita.

Assim, deduz-se que a obrigação alimentar extingue-se com a

morte de um dos agentes da obrigação, posto sua intransmissibilidade.

Todavia Maria helena Diniz32 ao se referir a transmissão da

obrigação alimentar, destoa dos demais doutrinadores, uma vez que defende a

viabilidade desta em caso excepcional.

É transmissível a obrigação alimentar, pois o art. 1.700 (c/c o art. 1.694; RT, 729:233, 717:133, 616:177) do Código Civil prescreve que o credor de alimentos (parente, cônjuge, ou companheiro) pode reclama-los de quem estiver obrigado a pagá-los , podendo exigi-los dos herdeiros do devedor , se este falecer, porque a estes se transmite o dever de cumprir a obrigação alimentar, passando, assim, os alimentos a ser considerados como dívida do falecido, cabendo aos seus herdeiros a solução até as forças da herança (CC, art. 1.792 c/c os arts. 1.821 e 1.997), no limite do quinhão que cada um deles couber.

Por outro lado, ainda que a obrigação alimentar recaia sobre os

herdeiros do de cujus, conforme reza o art. 1.70033 do Novo Códico Civil, não estão

estes obrigados à sua quitação integral, mas até o limite de seu quinhão hereditário,

assim, nos casos de ser a obrigação alimentar superior à herança deixada pelo

devedor, não estão seus herdeiros obrigados à sua quitação.

31 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Família 2005, p.450-451 32 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 535 33 Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do

art. 1.694.

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Portanto inexiste a transmissão da obrigação, tendo em vista

que esta continuará sendo do de cujus, pela qual responderá seu espólio consoante

o art. 1.79234 me referido Diploma Legal.

1.4.2 Da irrenunciabilidade

De tranqüila aceitação doutrinária, a irrenunciabilidade do

direito alimentar encontra-se fundamentada no Código Civil em seu art. 1.707, que

prescreve:

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

Dado dispositivo não apenas veda de forma taxativa a renúncia

aos alimentos, posto que igualmente ressalta quanto a faculdade de exerce-lo ou

não.

Quanto à tratada faculdade no que se refere ao exercício ou

não dos alimentos, esclarece Roberto Senise Lisboa alegando que a possibilidade

de renuncia aos alimentos não alcançar o direito alimentar propriamente ditos,

recaindo assim quanto ao seu exercício35.

Quanto ao fato esclarece Maria Helena Diniz36, alegando que

“(...) quem renunciar ao exercício poderá pleiteá-los ulteriormente, se dele vier a

precisar para seu sustento”.

Valendo ressaltar a lição de Orlando Gomes37:

O que ninguém pode fazer é renunciar a alimentos futuros, a que faça jus, mas aos alimentos devidos e não prestados o alimentando pode renunciar, pois lhe é permitido expressamente deixar de exercer o direito a alimentos; a renúncia posterior é, portanto, válida.

Consubstancia Cahali38: 34 Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe,

porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados.

35 LISBOA. Roberto Senise. Manual elementar de direito civil. p. 49. 36 DINIZ. Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro p.547. 37 GOMES. Orlando, Direito de família, p. 433.

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24

Não se admite a renúncia porque predomina na relação o interesse público, o qual exige que a pessoa indigente seja sustentada e não consente que agravemos encargos das instituições de beneficência pública.

Logo a simples inércia no recebimento dos alimentos admite-se

como uma desistência voluntária, mas em momento algum como causa para a

exoneração da obrigação em virtude do princípio da irrenunciabilidade.

Embora defesa à renúncia aos alimentos, oportuno salientar

quanto à existência de uma exceção à regra, que corresponde a obrigação alimentar

entre os divorciados.

A renúncia ao direito aos alimentos decorre, via de regra, de

mera liberalidade dos cônjuges, os quais entendem possuir condições financeiras

suficientes para sua subsistência mesmo após a separação.

Já de forma pacifica, a jurisprudência assentou39:

(...)admissível a renúncia ou dispensa a alimentos por parte da mulher se esta possuir bens ou rendas que lhe garantam a subsistência, até porque alimentos irrenunciáveis, assim os são em razão do parentesco (iure sanguinis) que a qualificação permanente e os direitos que dela resultam nem sempre podem ser afastados por convenção ou acordo. No casamento, ao contrario, o dever de alimentos cessa, cessada a convivência dos cônjuges

Admitindo a renúncia aos alimentos entre os cônjuges, decidiu

a Egrégia Corte40:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. PEDIDO POSTERIOR À DECRETAÇÃO DO DIVÓRCIO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. RENÚNCIA TÁCITA AOS ALIMENTOS. ADMISSIBILIDADE EM SE TRATANDO DE RELAÇÕES MATRIMONIAIS. FIXAÇÃO DE URH'S. PROCURADOR CONSTITUÍDO. IMPOSSIBILIDADE. VEDAÇÃO LEGAL. ART. 17, II, DA LEI COMPLEMENTAR 155/97. REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS. RECURSO DESPROVIDO. I - Os cônjuges separados de fato ou judicialmente podem pleitear do outro consorte pensão alimentícia, em sintonia com o binômio possibilidade/necessidade.

38 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p. 50. 39 STJ. RE 95267. nº 1996.00.29697-9/DF; rel. Min. Waldemar Zveiter. DJU 25/02/1998. 40 TJSC ac. n. 2005.025983-5. Primeira Câmara de Direito Civil. Rel. Dês. Joel Figueira Júnior. D.J.U.

08/01/2008

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25

Por sua vez, a decretação do divórcio põe termo a todos os laços decorrentes da relação matrimonial, com os seus consectários, entre outros, o direito de postular ALIMENTOS, salvo se fixados anteriormente e ainda persistirem as necessidades do alimentando que deram azo a sua percepção. II - A irrenunciabilidade aos ALIMENTOS de que trata o art. 1.707 do Código Civil refere-se somente à obrigação alimentar originada de vínculo de parentesco sangüíneo, não abrangendo as relações matrimoniais ou união estável desconstituídas. Nessa linha, se a mulher RENUNCIA, ainda que de forma tácita, ao direito de percepção de ALIMENTOS em ação de divórcio, não poderá mais, a posteriori, requerer ao ex-cônjuge pensão alimentícia. III - Comparecendo a parte em juízo representado por procurador previamente constituído sem observância dos requisitos específicos contidos na Lei Complementar 155/97, art. 8º, inadmissível a fixação de URH's diante de vedação expressa contida no art. 17, inciso II da aludida norma.

Esclarece Yussef Said Cahali que, “como os cônjuges são

maiores e capazes, podem eles, de comum acordo, dispensar a prestação,

reconhece-se ser lícito (...) renunciar à pensão, sem direito de exigi-la

posteriormente”.

Desta forma a renúncia aos alimentos feita por cônjuge ou por

companheiro é legítima. Os alimentos somente são irrenunciáveis se decorrentes de

parentesco (jus sanguinis), do qual não fazem parte os cônjuges e os companheiro.

1.4.3 Da impenhorabilidade

A impenhorabilidade dos alimentos, antes de qualquer preceito,

é um direito constitucional, qual seja, o direito a vida41. Tal fundamento encontra-se

intimamente ligado ao direito alimentar, em virtude da destinação do mesmo.

Não obstante a Carta Magna, a impenhorabilidade dos

alimentos vem determina pelo já tratado art. 1.707 do Código Civil brasileiro.

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

41 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

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26

Neste diapasão Maria Helena Diniz42, considera serem

impenhoráveis os alimentos em virtude “da finalidade do instituto, uma vez que se

destina a prover a mantença do necessitado, não pode, de modo algum, responder

pelas suas dívidas, estando a pensão alimentícia isenta de penhora”.

Para Orlado Gomes43 “Seria absurdo admitir que os credores

pudessem privar o alimentando do que é estritamente necessário a sua mantença”.

Ressalta ainda quanto à pretendida dissolução dos alimentos,

que a pretensão legal não se estenda sobre os alimentos em sua totalidade pelo

fundamento de que há sempre uma quantia que não corresponde ao necessárium

vitae, no entanto tal atividade é inadmissível.

Comenta ainda Orlando Gomes44, que a penhora pode

controvertidamente recair na soma dos alimentos condizentes a prestações

passadas, posto não haver regras quanto tal situação, mas defende a orientação por

parte dos Magistrados pelo principio da impenhorabilidade instituída em função da

finalidade.

1.4.4 Da divisibilidade

No tocante à divisibilidade dos alimentos, prescreve o Código

Civil em seus arts. 1.696 e 1.697 respectivamente:

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.

Os artigos alhures ao ditar a reciprocidade entre pais e filhos,

bem como sua extensividade aos demais parentes, guardada a ordem sucessória,

viabilizam a existência de mais de um alimentante, uma vez que havendo mais de

um filho, todos estarão obrigados ao pagamento da obrigação, logo, na ausência de

42 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 549. 43 GOMES. Orlando, Direito de família, p. 432 44 GOMES. Orlando, Direito de família, p. 433.

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condições de um dos filhos em fornecer toda a importância devida, é determinada a

complementação do restante aos demais.

Nesse sentido ensina Maria Helena Diniz45:

E divisível (CC, arts. 1.696 e 1.697) entre os parentes do necessitado, encarregados da prestação alimentícia, salvo se o alimentando for idoso, visto que a obrigação alimentar passará, então, a ser solidária ex lege, cabendo-lhe optar pelos prestadores (Lei n. 10.741/2003, art. 12).

Sustenta ainda Yuseff Said Cahali, que “em realidade, o caráter

divisível da obrigação representa o entendimento doutrinário dominante”46.

Desta forma, se há a reciprocidade dos alimentos, bem como

existente a possibilidade de mais de uma pessoa atuar como devedora de alimentos,

tem-se a divisibilidade dos alimentos.

1.4.5 Da imprescritibilidade

A imprescritibilidade aqui tutelada, relaciona-se ao direito de

postular em juízo o pagamento de pensões alimentícias, ainda que o alimentando

venha a anos necessitando e destes sem tê-los pugnado.

Nesse contexto ensina Orlando Gomes47:

Há que distinguir três situações: 1º) aquela que ainda não se conjuminaram os pressupostos objetivos, como, por exemplo, se a pessoa obrigada a prestar os alimentos não esta em condições de ministra-los; 2º) aquela em que tais pressupostos existem, mas o direito não é exercido pela pessoa em que faz jus aos alimentos; 3º) aquela em que o alimentando interrompe o recebimento das prestações, deixando de exigir do obrigado a divida a cujo pagamento está este adstrito.

E Complementa:

Na primeira situação, não há cogitar prescrição, porque o direito ainda não existe. Na segunda, sim. Consubstanciado pela existencia de todos os seus pressupostos, seu exercício não se tranca pelo decurso do tempo. Diz-se, por isso, que é imprescritivel. Na terceira,

45 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 550. 46 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p.162. 47 GOMES. Orlando, Direito de família, p. 432

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admite-se a prescrição, mas não do direito em si, mas sim das prestações vencidas. (...). Prescrevem no entanto no prazo de 5 anos.

Destarte, aliado ao princípio da imprescritibilidade, tem-se a

irrenunciabilidade, em virtude de ser considerara nula a cláusula ou convenção pela

qual alguém se obriga a não reclamar alimentos, uma vez que impossível renunciar

juridicamente a própria vida. Logo se não se pode renunciar tal direito, não há que

se falar em prescrição do mesmo.

Corroborando com o respectivo entendimento assinala

Cahali48:

Considera-se, assim, o direito de alimentos imprescritível no sentido daquele poder de fazer surgir, em presença de determinadas circunstancias, uma obrigação em relação a uma ou mais pessoas (direito potestativo).

Ressalta ainda Maria Helena:

Não há, portanto, incidência do lapso prescricional sobre o direito dos alimentos, mas sim sobre as prestações já vencidas, mas não cumpridas pelo executado, extinguindo a pretensão de exigi-las ante a inércia do exeqüente.

Desta forma, deduz-se que recai a imprescritibilidade sobre do

direito aos alimentos, por quanto são as prestações vencidas plenamente

prescritíveis.

1.4.6 Da irrepetibilidade

A irepetibilidade dos configura-se conforme salientado alhures

pela proibição da restituição dos valores pagos, ainda que sejam negados ao final do

litígio.

Vale dizer, quem satisfaz a obrigação alimentar não

desembolsa soma susceptível de reembolso, mesmo que tenha havido extinção da

necessidade dos alimentos.

48 CAHALI, Yusseff Said. Dos alimentos. p. 111.

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Há, porém, uma exceção quanto à irrepetibilidade dos

alimentos, pelo qual afirma Yuseff Said Cahali49:

Não será, porem, de excluir-se eventual repetição de indébito se com a cessação ope legis da obrigação alimentar, a divorciada oculta dolosamente seu novo casamento, beneficiando-se ilicitamente das pensões que continuaram sendo pagas: com o novo casamento a divorciada perde, automaticamente, o direito à pensão que vinha recebendo do ex-marido, sem necessidade de ação exoneratória; as pensões acaso recebidas a partir do novo casamento deixam de ter caráter alimentar e, resultando de omissão dolosa, sujeitam-se à repetição.

Neste vértice, aquele que fornece alimentos pensando

erradamente que os devia, pode exigir a restituição do seu valor do terceiro que

realmente devia fornece-los.

Compartilha do mesmo entendimento Arnoldo Wald:50

Admite-se a restituição dos alimentos quando quem os prestou não os devia, mas somente quando se fizer a prova de que cabia a terceiro a obrigação alimentar, pois o alimentado utilizando-se dos alimentos não teve nenhum enriquecimento ilicito.

Desta sorte, adverte Moura Bittencourt51, que a regra da

irrestituibilidade deve ser entendida em termos:

O que não se admite é a restituição de prestações fndadas no fato de vir o alimentando a obter recursos com que possa devolver o que recebeu. Também não cabe restituição do que foi pago a título provisório, durante a demanda a final julgada improcedente, mas admite-se que os alimentos provisionais possam ser computados na partilha em ação de desquite se a mulher for vencida, o que é uma forma de restituição.

O princípio da irrepetibilidade dos alimentos já é entendimento

pacificado pelos doutrinadores, não havendo discordância quanto a sua aplicação.

Assim vem decidindo o Egrégio Tribunal de Santa Catarina52

com pacificidade. Pelo qual, traz-se o entendimento.

49 CAHALI. Yuseff Said. Dos alimentos, p. 126. 50 WALD. Arnoldo. Direito de família. Colaboração de Luiz Murillo Fábregas. 4. ed. São Paulo: ED.

RT, 1981. p. 32 51 DOS TRIBUNAIS. Revista RT. p. 309/281. 52 TJSC. ai n. 2009039440-9. Rel. Dês. Henry Petry Junior. D.J.U. 21/01/2010.

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30

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS PROVISIONAIS. SENTENÇA DEFINITIVA EM AÇÃO DE ALIMENTOS. MINORAÇÃO. - MARCO INICIAL DA NOVA VERBA. RETROATIVIDADE À CITAÇÃO. - APELAÇÃO. RECURSO RECEBIDO NO EFEITO DEVOLUTIVO, EXCLUSIVAMENTE. ART. 520, II, DO CPC. NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA DO NOVO VALOR NA EXECUTIO. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. - "Fixados os ALIMENTOS definitivos em valor inferior ao dos provisórios, retroagirão à data da citação, ressalvadas as possíveis prestações já quitadas em virtude da IRREPETIBILIDADE daquilo que já foi pago." (STJ. Resp N. 209.098/RJ, relª Minª NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, j. em 14.12.2004). - Por força do art. 522, II, do Código de Processo Civil, sentença condenatória proferida em ação de ALIMENTOS, seja para majorar, reduzir ou exonerar o encargo alimentar fixado liminarmente, deve ser recebida tão somente no efeito devolutivo, sendo mister respeitar o novo quantum alimentar na execução em curso.

Quanto a matéria, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça53.

Direito civil e processual civil. Alimentos. Provisórios. Definitivos. Fixação em valor inferior. Termo inicial. Citação. - Fixados os alimentos definitivos em valor inferior ao dos provisórios, retroagirão à data da citação, ressalvadas as possíveis prestações já quitadas em virtude da irrepetibilidade daquilo que já foi pago. Recurso especial provido.

Assim, uma vez pagos, não mais serão restituídos, qualquer

que seja o motivo da cessação do dever de presta-los54.

53 STJ. Resp 209.098/RJ, Relª Minª Nancy Andrighi. Órgão julgador: Terceira Turma. Julgado

em14.12.2004. 54 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 565.

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CAPÍTULO 2

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS

2.1 HISTÓRICO

Originalmente, a ação de prestação de contas era regida pelo

procedimento comum no direito romano e germânico, tendo somente recebido rito

próprio após a Idade Média55.

Antonio Carlos Marcato56 delimita o advento da prestação de

contas da seguinte forma.

Sujeita, nos direitos romano e germânico, ao processamento no rito comum, a ação de prestação de contas, só passou a ter um processamento específico após a Idade Media, em alguns estatutos legais, como o de Castiglione di Lago, de 1571.

Tais evoluções deram-se em virtude da ausência de ditames

legais a cerca desta tutela jurisdicional, haja vista, que “o direito comum deixava ao

juiz abundante margem de arbítrio para decidir se as contas estavam ou não

prestadas”, conforme explica Antonio Carlos Marcato57.

A partir de então, modifica-se o procedimento da ação de

prestação de contas, passando-a para um procedimento especializado como o que

temos hoje.

55 MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. 13 ed. Atualizada até a lei n. 11.441, de 4-

1-2007. São Paulo: Atlas, 2007. p.135. 56 MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos Especiais, p.135. 57 MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. P. 135.

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2.2 CONCEITO

Para um melhor esclarecimento do instituto da Prestação de

Contas, vale lembrar dos preceitos constitucionais, que norteiam o ordenamento

Jurídico como um todo. Em assim sendo, ressalta-se quanto à capacidade jurídica.

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de raça cor, ou

religião, conforme reza o art. 5° da Constituição da Republica Federativa do Brasil58.

No entanto ainda segundo os preceitos constitucionais, deverão ser tratados de

forma igual os iguais e desigualmente os desiguais.

No entanto, nem todos os portadores de direitos podem exerce-

los, haja vista a prévia previsão do art. 5° do vigente Código Civil, onde prevê serem

inteiramente capazes, ou seja, capazes de praticar todos os atos da vida civil, tão-

somente os maiores de 18 anos.

Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

Tem-se, destarte, que os menores de 18 (dezoito) anos não

podem exercer plenamente os atos da vida civil, assim, nas situações em que um

menor por motivos diversos tem-se a frente dos negócios familiares, bem como na

administração de bens, lhe é nomeado um tutor ou curador, dependendo da situação

etária deste, posto sua incapacidade civil, seja ela relativa59, aos menores de 18

anos e maiores de 16, ou ainda absoluta60, aos menores de 16 anos de idade.

Nestas situações, em que o menor detentor de bens ou

valores, e por previsão legal não pode geri-los, há de ter resguardado o direito de

conhecer todos os atos praticados pelo seu representante legal, desde os valores

gastos até os valores adquiridos através da administração do seu patrimônio. 58 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes

59 Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 60 Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

I - os menores de dezesseis anos;

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Para tanto, vale-se da estudada ação, que consiste no

relacionamento e na documentação comprobatória de todas as receitas e de todas

as despesas referentes a uma administração de bens, valores ou interesses de

outrem, realizada por força de uma relação jurídica emergente da lei ou do

contrato61.

Ou seja, sempre que alguém estiver sob o domínio dos bens e

valores de outrem por qualquer que sejam os motivos, dá-se lugar a ação de

prestação de contas, a fim de justificar todos os atos praticados pelo administrador,

desde compras, vendas, lucros ou ainda prejuízos auferidos.

Assim, conforme Luiz Rodrigues Wambier, a estudada ação

terá respaldo jurídico sempre que alguém seja por força de lei ou contrato estiver

sob a administração dos bens de outrem62.

Sempre que alguém tiver a administração de bens de outrem, ou de bens comuns, surge a obrigação de prestar contas, ou seja, demonstrar o resultado da administração , com a verificação da utilização dos bens seus frutos e rendimentos. Essa obrigação pode decorrer de lei ou contrato.

Por outro lado, inúmeras são as situações em que a ação de

prestação de contas é o remédio cabível para a extinção de uma obrigação, e a fim

de melhor esclarecer o referente, enumera Fabrício Furtado63.

Prestar contas significa fazer alguém a outrem, pormenorizadamente, parcela por parcela, a exposição dos componentes do débito e credito resultantes de determinada relação jurídica concluindo pela apuração aritmética do saldo credor ou devedor ou de sua inexistência.

Em continuidade ao descrito por Fabricio Furtado, Antonio

Carlos Marcato demonstra algumas situações pacíveis da presente ação64:

61 THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de Direito processual Civil. 38 ed. Rio de Janeiro:

Forense. 2007. v. 3. p. 92. 62 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. p. 178 63 FURTADO. Fabrício. Comentários ao Código de Processo Civil. v.8, n. 249, p.387-388. 64 MARCATO. Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. p.136

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Nessa situação encontra-se o tutor em face do tutelado (CC, arts. 1.755 a 1.762), o Curador em face do Curatelado (arts. 1.774 e 1.783, c.c arts. 1.755 ss), o sucessor provisório em relação aos bens do ausente (art. 33), o mandatário em face do mandante (art. 668), o testamenteiro em face dos herdeiros (art. 1.980 e CPC, art. 1.135), o administrador em face do credor (CPC, art. 728, III), o inventariante em face dos herdeiros (CPC, arts. 991, VII, e 995, V), o curador em relação aos bens que integram a herança jacente (CPC, art. 1.144, V), o advogado em relação ao constituinte (Estatuto da OAB, art. 34, XXXI), entre outros.

Contudo, o instituto da prestação de contas tem lugar em duas

situações distintas, quais sejam, a ação de exigir e a ação de prestar contas,

estando ambas reguladas pelo art. 914 do Código Processual Civl.

Art. 914. A ação de prestação de contas competirá a quem tiver: I - o direito de exigi-las; II - a obrigação de prestá-las

Para melhor compreensão dos institutos, passa-se ao estudo

de cada um deles de forma individual.

2.2.1 Ação de exigir contas

A ação de exigir contas, mais comum no ordenamento jurídico,

dá-se quando o credor das contas as solicita ao administrador que ao se negar a

prestá-las, viabiliza o ingresso jurisdicional, para ter saciado o direito de ter suas

contas apresentadas. Senão vejamos.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PRIMEIRA FASE. CONTA CORRENTE. CABIMENTO. ART. 914 DO CPC. SÚMULA 259 DO STJ. PRELIMINARES DE INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL E COISA JULGADA REJEITADAS. Havendo dúvida sobre valores, índices e critérios dos encargos aplicados pela instituição financeira, mostra-se evidente o interesse do autor no manejo da ação de exigir contas, independentemente do recebimento de extratos bancários de movimentação da conta corrente. Dever do banco de prestar contas pormenorizadas e detalhadas dos lançamentos a débito realizados na conta corrente titularizada pelo autor. VERBA HONORÁRIA. MAJORAÇÃO. DESCABIMENTO. Considerada a singeleza da primeria fase da ação de prestação de contas, aliada à célere tramitação, o valor arbitrado na sentença sentença atende ás diretrizes do § 3º do art. 20 do CPC, remunerando condignamente o trabalho desenvolvido pelo causídico. APELAÇÕES DESPROVIDAS. (Apelação Cível Nº 70021488705,

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Primeira Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Miguel Ângelo da Silva, Julgado em 25/06/2008)..65.

Mais complexa que a ação de dar contas, a ação de exigir

contas é composta de duas fases, sendo a primeira destinada à verificação quanto à

existência ou não da obrigação de prestar contas, assim, solucionada a primeira

fase, passa-se a discussão das contas propriamente ditas, onde será verificado o

saldo final do relacionamento patrimonial entre as partes66.

No caso, entretanto, em que a conta e proposta pela parte que invoca para si o direito de exigir contas, a causa torna-se mais complexa, provocando o desdobramento do objeto processual em duas questões distintas. Em primeiro lugar, ter-se-á que solucionar a questão prejudicial sobre a existência ou não do devedor de prestar cotas, por parte d réu.somente quando for positiva a sentença quanto a essa primeira questão é que o procedimento prosseguira com a condenação do demandado a cumprir uma obrigação de fazer, qual seja, a de elaborar as contas a que tem direito o autor. Exibidas as contas, abre-se uma nova fase procedimental destinada a discussão de suas verbas e a fixação do saldo final do relacionamento patrimonial existente entre os litigantes.

Ainda durante a primeira fase, exigidas as contas, o réu terá o

prazo de 5 (cinco dias) para apresentar-las ou contestar a ação mediante solicitação

do autor.

É o que determina o art. 915 do Código Processual Civil.

Art. 915. Aquele que pretender exigir a prestação de contas requererá a citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, as apresentar ou contestar a ação.

Uma vez silente, será este desde já condenado á apresentação

das contas no prazo de 48 horas, onde a transcrição deste sem a sua manifestação

inviabiliza a futura impugnação quanto aos valores apresentados futuramente pelo

autor67.

65 TJRS. ap 70021488705 .Relator Dês. 1�. Câmara especial cível. Rel. Dês. Miguel Ângelo da Silva,

DJU 25.06.08. 66 THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de Direito processual Civil. p. 93 67 Art. 915. Aquele que pretender exigir a prestação de contas requererá a citação do réu para, no

prazo de 5 (cinco) dias, as apresentar ou contestar a ação. (§ 2o Se o réu não contestar a ação ou não negar a obrigação de prestar contas, observar-se-á o disposto no art. 330; a sentença, que julgar procedente a ação, condenará o réu a prestar as contas no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de não Ihe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.

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Caso contrário, será o autor instado a se manifestar sobre as

contas apresentadas pelo réu, sendo posteriormente designada audiência de

instrução e julgamento ou proferirá desde já sua decisão, conforme ditames legais.

Art. 915. Aquele que pretender exigir a prestação de contas requererá a citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, as apresentar ou contestar a ação.

§ 1o Prestadas as contas, terá o autor 5 (cinco) dias para dizer sobre elas; havendo necessidade de produzir provas, o juiz designará audiência de instrução e julgamento; em caso contrário, proferirá desde logo a sentença.

Oportuno salientar que conforme prevê o art. 917 do Código

Processual Civil68, as contas devem ser apresentadas na forma mercantil

especificando-se as receitas e a aplicação das despesas, bem como o respectivo

saldo; e serão instruídas com os documentos justificativos.

2.2.2 Ação de dar contas

Proposta por aquele que tem a obrigação de prestá-las

fundamenta-se no art. 916 do CC.

Art. 916. Aquele que estiver obrigado a prestar contas requererá a citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, aceitá-las ou contestar a ação.

Diferencia-se esta da ação de exigir contas, haja vista que a

ação de dar contas dispensa a primeira fase destinada à ação de exigi-las, em

virtude de sua apresentação espontânea pelo próprio autor-obrigado na petição

vestibular.

Nesse sentido se expressa Antonio Carlos Marcato69.

Diferente do procedimento da ação de exigir contas que comporta as duas fases distintas já examinadas o rito da ação sob exame apresenta unidade estrutural, dispensando a decisão que condena o

68 Art. 917. As contas, assim do autor como do réu, serão apresentadas em forma mercantil,

especificando-se as receitas e a aplicação das despesas, bem como o respectivo saldo; e serão instruídas com os documentos justificativos.

69 MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos Especiais.p.142.

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réu a apresentar contas (art. 915, § 2°, parte final), pois estas são apresentadas pelo próprio autor na petição inicial.

Menos utilizada, a ação de dar contas terá lugar sempre que

por qualquer motivo a entrega das contas por parte do devedor não puder ser

realizada de forma extra judicial, seja por exigência legal, que obrigue o devedor das

contas a prestá-las através das vias judiciais, ou ainda diante da recusa pela parte

que deva recebe-las70.

PRESTAÇÃO DE CONTAS. CORRENTISTA DE BANCO. PEDIDO GENÉRICO. INTERESSE DE AGIR.Segundo a doutrina, "O oferecimento ou a exigência das CONTAS por via das ações correspondentes só se justifica quando haja recusa ou mora da parte contrária em recebê-las ou em dá-las, ou quando a forma amigável se torne impossível em razão de dissídio entre as partes quanto à composição das parcelas de 'deve' e 'haver'." Ainda que não se verifique, no caso vertente, uma impossibilidade jurídica absoluta do pedido, ocorre, no entanto, uma impossibilidade relativa, decorrente do confronto entre a exposição da inicial e o petitum. Recurso desprovido.

Quanto ao objetivo maior da discutida ação vale ressalvas, haja

vista que não é uníssono no ordenamento jurídico.

Há, entretanto, o entendimento de que o objetivo maior da ação

de prestação de contas seja o ato da apresentação das contas devida pela parte

devedora da apresentação. Neste sentido resume Ernani Fidelis dos Santos71:

Na prestação de contas, o objetivo da lide é o acertamento, sem importar o resultado. Poderá até ocorrer que aquele que pede contas ou aquele que pretende prestá-las, a final, tenha contra si saldo devedor, não importa. O objetivo do pedido, que limita e caracteriza a lide, é a prestação de contas.

O que destoa em suma ao entendimento de Humberto

Theodoro Junior que prima como sendo o principal objetivo da presente ação a

obtenção da condenação ao pagamento da soma que resultar o débito de qualquer

das partes no referido acertamento das contas72.

70 MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos Especiais.. p.143. 71 SANTOS. Ernani Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil. Procedimentos Especiais

codificados e da legislação esparsa, jurisdição contenciosa e jurisdição voluntaria 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 3. p.36.

72 THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de Direito processual Civil. p. 92

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Oportuno salientar que em meio ao atual ordenamento jurídico,

prevalece o entendimento adotado pelo Humberto Theodoro Junior.

Tal entendimento deve-se frente ao pressuposto transcrito no

Código Instrumental Civil, em seu artigo 918, onde dispõe que “o saldo credor

declarado na sentença da ação de prestação de contas, poderá ser cobrado por

meio de execução forçada: “Art. 918. O saldo credor declarado na sentença poderá ser

cobrado em execução forçada”.

Assim, de todo o seu rito, esta ação apresenta uma

peculiaridade bastante polêmica e que provoca calorosa discussão na doutrina, qual

seja a existência de duas fases processuais distintas, sendo que ambas são

devidamente finalizadas com uma decisão terminativa – duas sentenças, conforme

estudaremos com mais profundidade a seguir.

2.3 NATUREZA JURIDICA

O Código de Processo Civil brasileiro regula, a partir do seu

artigo 890, os chamados procedimentos especiais. A própria nomenclatura desta

parte da Lei Processual já demonstra que a maior diferença entre ela e as demais é

justamente a forma instrumental com a qual o processo é realizado durante o

exercício da jurisdição��

A ação de prestação de contas pressupõe divergência entre as

partes, seja quanto à existência da obrigação de dar contas, seja sobre o estado

delas, vale dizer, sobre a existência, o sentido ou o montante do saldo, Conforme

explana o Consagrado Humberto Theodoro73;

A ação de prestação de contas é uma ação de conhecimento predominante função condenatória, porque a meta última de sua sentença é dotar aquele a que se reconhecer a qualidade de credor, segundo o saldo final do balanço aprovado em juizo, de título executivo judicial para executar o devedor, nos moldes da execução por quantia certa (CPC, Art.918).

Quanto a sua legitimidade, O titular do bem ou interesse gerido

ou administrado por outrem, assim como se legitima à propositura da ação para

exigir contas, é também legitimado passivo à ação para dar contas; em 73 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p.93.

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contrapartida, o que administrou ou geriu tem legitimação ativa para esta ação e

passiva para aquela74 .

Desta feita, tem-se que qualquer um dos sujeitos de uma

relação patrimonial, que envolva a obrigação de prestar contas de atos praticados no

interesse comum, ou de outrem, pode ser forçado ao procedimento da ação de

prestação de contas75.

Regulada pelo Código Processual Civil, em seu art. 914,

prescreve:

Art. 914. A ação de prestação de contas competirá a quem tiver: I - o direito de exigi-las; II - a obrigação de prestá-las.

Verifica-se assim suas duas modalidades, quais sejam a de

exigir e a de prestar contas, diferenciadas pela hipótese da recusa da apresentação

por parte do obrigado.

A ação para exigir contas compreende duas fases, que se

encerram uma e outra por sentença, ambas passíveis de recurso de apelação:

sendo a primeira destinada ao exame da obrigação de prestar contas e a segunda, à

prestação de contas propriamente dita. Se o réu, citado, desde logo apresenta suas

contas, fica suprimida a primeira fase.

Sendo por esse motivo caracterizada como uma ação dúplice,

posto, que ambos os sujeitos da relação litigiosa pode indistintamente ocupar o pólo

passivo ou o pólo ativo da relação processual. Sendo este o entendimento do

consagrado doutrinador Humberto Theodoro Junior76, onde afirma:

Vê-se, assim, que a demanda para provocar a apresentação, discussão e aprovação das contas tanto pode partir da iniciativa de quem tem a obrigação de dar contas como daquele a quem cabe o direito de exigi-las. Diz-se, por isso, que se trata de ação dúplice, já que qualquer dos sujeitos da ação pode ocupar indistintamente a posição ativa ou passiva da relação processual.

74 FURTADO, Adroaldo Fabrício. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro,

Forense, 2001. p. 329. 75 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p.92. 76 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p.92

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Corroborando com tal entendimento festeja Marcato77:

A ação de prestação de contas poderá ser proposta tanto por quem tenha o direito de exigi-las (ação de exigir contas – infra, nº 54), quanto por aquele que esteja obrigado a presta-las (ação de dar contas – infra, nº 56).

Ato contínuo tem-se a duplicidade da ação de prestação de

contas, em virtude da ausência da necessidade de reconvir, posto que tanto o autor

quanto o réu podem formular pedidos quanto às verbas oriundas do saldo das

contas prestadas pela parte.

Quanto ao tema detém-se Humberto Theodoro Júnior78.

Na ação simples, as posições das partes são completamente distintas: só o autor formula pedido e o réu apenas resiste, passivamente, ao pedido do autor. Nas dúplices, como as de prestação de contas, a formulação de pedidos é comum ao autor e ao réu. Daí afirma-se que não há distinção entre as posições processuais dos litigantes em tais ações, ambos atuam a todo tempo como autor e réu.

Pactuando do mesmo entendimento, esclarece Marcato79:

[...] deve o juiz, em regra, julgar o pedido formulado pelo autor (CPC arts. 128 e 459, conjugados), pois a defesa do réu amplia apenas o âmbito de cognição do processo, não o de decisão. E na sentença o Juiz limitar-se-á à apreciação e julgamento do pedido do autor, acolhendo-o ou rejeitando-o, sendo irrelevante tenha o réu formulado na sua contestação, pedido em face do primeiro; querendo o réu deduzir sua própria pretensão, deverá normalmente valer-se de reconvenção, quando cabível (...). todavia, como nas chamadas ações dúplices ambas as partes assumem, simultaneamente e reciprocamente , as posições de sujeitos ativo e passivo da relação jurídica processual, inexistirá interesse instrumental, por parte daquele que figure formalmente como réu, em deduzir pedido pela via reconvencional, pois a rejeição do pedido formulado pelo autor bastará por si só, para garantir a vitória dele, réu (...).

Em continuidade ao ora exposto, exemplifica o Doutrinador

supra.

77 MARCATO. Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. p.136 78 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p.93 79 MARCATO. Antonio Carlos. Procedimentos Especiais. p.137

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[...] ajuizada a prestação de contas espontânea por aquele que se encontra na obrigação de apresentá-las, este (autor) exibe demonstrativo e prova dos lançamentos, apontando saldo em favor do réu, o qual, citado, não oferece contestação oportuna, sendo então decretada sua revelia. Não obstante isso, o juiz devera homologar as contas apresentadas pelo autor, que será, então, condenado ao pagamento do saldo; e o réu, apesar de revel, terá obtido título executivo judicial conta o autor. Aliás mesmo que a sentença não contenha condenação expressa do autor devedor, ainda assim ela será exeqüível, bastando, para tanto, a declaração de saldo, pois a eficácia executiva da sentença advém da lei.

Outrora, conforme se constata ante tais explanações, é que a

ação de prestação de contas não se detém unicamente à verificação das contas,

mas é igualmente utilizada como forma de cobrança, haja vista, que se procedente,

gera título executivo judicial, autorizando a execução forçada, independentemente

do pólo em que atuam as partes, seja este autor ou réu da presente ação, conforme

prescreve o artigo 918 do Código Processual Civil80.

2.4 CABIMENTO

A ação de prestação de contas consubstancia-se na pretensão

de esclarecer litígios provenientes de relação contratual, onde há a administração de

bens alheios.

Tem-se destarte, que todos aqueles que têm ou tiveram bens

de outrem sob sua administração devem se submeter aos tramites processuais da

ação de Prestação de contas, sendo este também o entendimento de Humberto

Theodoro Junior81:

Na verdade, todos aqueles que tem ou tiveram bens sob sua guarda e administração devem prestar contas, isto é, devem “apresentar a relação discriminada das importâncias recebidas e despendidas, ordem a fixar o saldo credor, se as despesas superam a receita, ou o saldo devedor, na hipótese contraria”, ou até mesmo a inexistência de saldo, caso as despesas tenham se igualado às receitas.

80 Art. 918. O saldo credor declarado na sentença poderá ser cobrado em execução forçada. 81 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p. 94.

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Quanto ao objetivo maior da discutida ação vale ressalvas, haja

vista que não há uma conformidade meio ao entendimento doutrinário. Para Ernani

Fidelis dos Santos, o objetivo maior a ação de prestação de contas é o ato da

apresentação das contas devida por parte de quem as deve apresentar82.

Na prestação de contas, o objetivo da lide é o acertamento, sem importar o resultado. Poderá até ocorrer que aquele que pede contas ou aquele que pretende prestá-las, a final, tenha contra si saldo devedor, não importa. O objetivo do pedido, que limita e caracteriza a lide, é a prestação de contas.

O que destoa em suma ao entendimento de Humberto

Theodoro Junior que prima como sendo o seu principal objetivo o de obter a

condenação do pagamento da soma que resultar o débito de qualquer das partes no

referido acertamento das contas83.

Sendo este último entendimento compartilhado pelos

julgadores, haja vista que suas decisões no Egrégio Tribunal de Santa Catarina84

entendem como objetivo principal a condenação de uma das partes no pagamento

dos valores apurados da prestação das contas.

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS PROPOSTA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO EM FAVOR DE MENOR TUTELADA PELO TIO PATERNO. PRELIMINAR DE NULIDADE FACE A NÃO CITAÇÃO DA EX-ESPOSA DO TUTOR COMO LITISCONSORTE. TUTELA. RESPONSABILIDADE PESSOAL. NÃO ACOLHIMENTO DA PRELIMINAR. FIXAÇÃO DA GRATIFICAÇÃO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. VIA IMPRÓPRIA PARA TANTO. RECURSO DESPROVIDO. "A ação de PRESTAÇÃO de CONTAS pressupõe, como norma geral, a existência de divergência no acerto de CONTAS, possuindo como fim último a fixação de um saldo devedor ou credor, por parte de quem as exige ou de quem as presta. Ou seja, seu OBJETIVO é pôr fim ao relacionamento jurídico-econômico das partes, determinando a existência, ou não, de um saldo, e fixando o seu montante." (apelação cível n. 98.015210-0, de São José, rel. Des. Carlos Prudêncio).

82 SANTOS. Ernani Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil. p.36. 83 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p.92. 84 TJSC. ac n. 1999. Relator Dês. Eládio Torret Rocha. Câmara – Processos Civis Especial D.J.U.

30/08/2000.

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Respectivo entendimento deve-se frente ao pressuposto

transcrito no Código Instrumental Civil, em seu artigo 91885, onde dispõe que “o

saldo credor declarado na sentença da ação de prestação de contas, poderá ser

cobrado por meio de execução forçada”.

Assim, de todo o seu rito, esta ação apresenta uma

peculiaridade bastante polêmica e que provoca calorosa discussão na doutrina, qual

seja a existência de duas fases processuais distintas conforme já estudado

Uma vez silente o ordenamento jurídico quanto aos específicos

casos em que a ação de prestação de contas é o remédio processual cabível, sua

especificação torna-se inviável, haja vista os inúmeros casos em que uma pessoa se

sente na obrigação de prestar contas ou ate de exigi-las.

Quanto ao tema relata Humberto Theodoro Junior86:

Há situações interessantes em que os recursos investidos não são propriamente do terceiro, mas embora sendo do gestor, são aplicados no interesse contratual de terceiro. Uma abertura de crédito, por exemplo, em que o credor aplica recurso no custeio de obrigações do devedor; ou o prestador de serviços que aplica bens e valores próprios na realização de obras de outrem; ou o banco que periodicamente efetua lançamentos na conta de depósito de seu cliente, são casos em que a ação de prestação de contas tem cabimento, não obstante os recursos manejados sejam daquele que faz os lançamentos. O importante é que o resultado dessas operações afeta a esfera jurídica de outrem e, surgindo dúvida, reclamam acertamento através de procedimento próprio para apuração de contas.

Vale-se ainda Ernani Fidelis dos Santos87 quanto ao cabimento

da presente ação de prestação de contas:

Em determinados casos, poderá existir vínculo entre as partes que obrigue acertamento posterior, a fim de que seja revelado, concretamente, o resultado do negócio jurídico encetado ou da situação jurídica criada. Quando tal acontece, nasce para qualquer dos interessados o direito ao acerto. E se qualquer deles se nega a fazê-lo, surge um litígio, caracterizado não pela pretensão resistida de reconhecimento de credito ou débito, mas a simples prestação de contas. sendo para tanto esta cabível.

85 Art. 918. O saldo credor declarado na sentença poderá ser cobrado em execução forçada. 86 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p. 95 87 SANTOS. Ernani Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil. p. 35.

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Em conformidade a ambos os entendimentos supra citados

todo e qualquer contrato, que gere operações de crédito entre as partes

contratantes, preconiza a prestação de contas, uma vês que ausentes às

especificações das despesas pelo outro efetuada.

Em continuidade ao entendimento abordado, afirma Humberto

Theodoro Junior88.

[...]. Não pode haver dúvida quanto ao direito de exigir e o dever de prestar contas, sempre que em jogo estiver uma relação contratual em que há, de um lado, a administração dos bens que ensejam a repartição posterior das rendas, como na espécie. Não importa de quem sejam os recursos aplicados pelos parceiros, se o resultado da operação interessa a ambos os contratantes. Há, em suma, de prestar contas todo aquele que efetua e recebe pagamentos por conta de outrem, movimentando recursos próprios ou daqueles em cujo interesse se realizam os pagamentos.

Entende-se igualmente em concordância ao entendimento

jurisprudencial que, “a acão de prestação de contas, embora alicerçando-se, de

modo geral, na aplicação de bens alheios, é própria, também, para a verificação de

parcelas relacionadas em extratos encaminhados por um contratante ou outro, uma

vez que, em substancia, o que se colima é o exame de receitas e despesas relativas

a um determinado negócio jurídico”89.

Enfim, todo e qualquer contrato, que gere operações de crédito

entre as partes contratantes, preconiza a prestação de contas, uma vês que

ausentes às especificações das despesas pelo outro efetuada.

2.5 LEGITIMIDADE DA PARTE

Conforme anteriormente salientado, a ação de prestação de

contas, compete tanto a que tem bens sob os cuidados de outrem, onde exige-se a

exibição das contas, como é também legítimo aquele que tem sob seu domínio bens

de terceiros, os quais não querem ou inviável é a apresentação das mesmas por

vias extra-judiciais.

88 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p. 95 89 TJSP, AP.nº 47.394-2. (p.95)

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Com o mesmo pensamento, Humberto Theodoro Junior

descreve que compete indiferentemente tanto ao que tem a obrigação de dá-las

como ao que tem direito de exigi-las90.

Respectivo entendimento deriva de determinação expressa no

vigente Código Processual Civil em seu art. 914 e incisos.

Art. 914. A ação de prestação de contas competirá a quem tiver: I - o direito de exigi-las; II - a obrigação de prestá-las.

Afirma Antonio Carlos Marcato, quanto a legitimidade da

referida ação.

Estão legitimados para a ação, ativa e passivamente, respectivamente, aquele que tem o direito de exigir a prestação de contas (titular do interesse, bem ou negócio) e o obrigado a presta-las (administrador ou gestor).

Contudo, oportuno salientar quanto as ações de dar as contas,

uma vez que quem administra bens alheios fica obrigado a prestar contas de sua

administração, o que não implica a obrigatoriedade de serem prestadas em juízo.

Se a parte adversa se dispõe ao acerto extrajudicial, não pode

a autora impor o acertamento em juízo, haja vista faltar-lhe interesse processual,

uma vez que o mesmo resultado seria facilmente atingido sem a intervenção do

judiciário, bem como sem os incômodos e sucumbência processual91.

De tal sorte que nos casos apreciados pelo Egrégio Tribunal de

Santa Catarina92 a busca anterior pelo acerto extrajudicial é imprescindível para a

aceitação da presente demanda.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PRIMEIRA FASE DO PROCEDIMENTO. ART. 915 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. LANÇAMENTOS EM CONTA CORRENTE. FORNECIMENTO DE EXTRATOS BANCÁRIOS E AUSÊNCIA DE PEDIDO EXTRAJUDICIAL DOS CONTRATOS CELEBRADOS. PRESCINDIBILIDADE. DEVER DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE

90 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p. 96 91 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito processual Civil. p. 97 92 TJSC. ac n. 2003.027142-2. 1 Câmara de Direitos Comercial. Rel. Dês. Jânio Machado. D.J.U.

25/10/2007.

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PRESTAR AS CONTAS E EXIBIR CÓPIA DOS DOCUMENTOS. ÔNUS SUCUMBENCIAL NA PRIMEIRA FASE DA AÇÃO. CABIMENTO. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. ART. 20, § 4º DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 1. A simples remessa de extratos ao correntista e a ausência de pedido EXTRAJUDICIAL de exibição dos contratos não vedam o acesso ao Judiciário por intermédio da ação de PRESTAÇÃO de CONTAS. 2. Arca com o ônus sucumbencial a parte que deu causa ao ajuizamento da ação, arbitrando-se os honorários advocatícios em conformidade com a eqüidade, considerando-se, dentre outros fatores, a importância da causa, o trabalho desenvolvido pelo profissional e o tempo de realização dos serviços.

Exige, destarte, a estudada ação para sua instauração a

recusa na dação ou aceitação das contas particulares ou a controvérsia quanto à

composição das verbas que integram a relação.

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CAPÍTULO 3

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS NAS AÇÕES DE ALIMENTOS

3.1 (IM) POSSIBILIDADE DA PRESAÇÃO DE CONTAS NOS ALIMENTOS

Passa-se aqui a análise quanto à possibilidade ou

impossibilidade da utilização da ação de prestação de contas nas ações de

alimentos.

Conforme observou-se diante dos capítulos anteriores, não

apenas a ação de prestação de contas segue um rito diferenciado, mas o instituto

dos alimentos, ainda que regido pelo ordenamento comum, possui suas

peculiaridades e princípios que devem ser observados.

A ação de prestação de contas, conforme já estudado,

apresenta como principal característica, a sua duplicidade, ou seja, a capacidade de

ter a prolação de duas sentenças em apenas uma ação. A primeira destina-se a

condenação ou não a prestação de contas e a segunda averigua, caso exista, o

saldo devedor, dando a este força de título executivo.

Não obstante, deve-se considerar nas ações que envolvam

prestações alimentícias, os princípios a este inerente, oportunamente tratados, quais

sejam, a irrepetibilidade, pessoalidade, impenhorabilidade, irrenunciabilidade,

divisibilidade, imprescritibilidade.

Desta feita, passa-se a análise dos argumentos levantados

pelos julgados e doutrinadores quanto à possibilidade ou não da utilização da

prestação de contas nas ações de alimentos.

Muitas são as lacunas encontradas pelos juristas ao se

confrontar com a presente demanda. Isto porque ambos os institutos possuem

características próprias divergindo do senso comum, os alimentos devendo manter

hígido seus princípios e o instituto da prestação de contas, que por ser um

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procedimento especial, deve-se maior atenção ao seu procedimento, bem como

utilização.

Carlos Fernando Fecchio dos Santos93, manifesta-se de forma

favorável á utilização da respectiva ação de prestação de contas em face do genitor

que detém a guarda do menor, frente à análise do art. 1.589 do Código Civil, que

determina.

Art. 1.589. O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação.

Entende o referido doutrinador94, que ainda que divorciados, os

ex-cônjuges não perdem a titularidade do poder familiar, sendo este o fundamento

da manifestação do legislador ao conceder o direito de fiscalização aos pais em cuja

guarda não estejam os filhos.

Nesse diapasão, torna-se plenamente viável aos pais estando

estes ou não com a guarda do menor, postular judicial ou extrajudicialmente em prol

dos interesses do menor. Ato contínuo, havendo previsão legal para determinada

ação, não cabe aos juristas negarem sua utilização.

Logo sendo a ação de prestação de contas o meio pelo qual se

pugna pela demonstração de todas as receitas provenientes da administração dos

bens de outrem, não há embasamento legal para negar ao genitor de postular em

prol dos interesses do filho menor em face do detentor da guarda e administrador do

menor95.

Ainda quanto ao dispositivo acima, Yussef Said Cahali96

destaca:

(...) no direito de fiscalização da guarda, criação, sustento e educação da prole atribuída ao outro cônjuge, ou a terceiro, está ínsita a faculdade de reclamar em juízo a prestação de contas

93 http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14007 94 http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14007 95 http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14007 96 CAHALI. Yuseff Said. Dos alimentos, 4. ed., São Paulo, RT, 2002, p. 572)

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daquele que exerce a guarda dos filhos, relativamente ao numerário fornecido pelo genitor alimentante.

Ainda que em menor proporção, respectivo entendimento faz

parte das decisões que vem sendo exaradas pelos Tribunais brasileiros, vale frisar

que a cada dia conquista maior número de julgadores, que passam a adotar tal

posicionamento em seus julgados. Como exemplo do explanado traz-se a baila o

entendimento que colhe-se97:

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PEDIDO AJUIZADO PELO ALIMENTANTE EM FACE DA EX-MULHER, GUARDIÃ DA ALIMENTÁRIA. Extinção do feito pronunciada em primeiro grau na forma do artigo 267, VI, do Código de Processo Civil, reconhecida a inadequação da via eleita. Desacerto do decisório. Se a cada direito deve corresponder uma ação que o assegure, não há como negar ao autor apelante o direito de exigir da acionada esclarecimentos precisos acerca da administração da prestação alimentícia recebida por conta da filha menor, máxime diante da fundada suspeita de malversação. Incidência, no particular, do disposto no artigo 1.589 do Código Civil de 2002. Direito de exigir contas que,Se a cada direito deve corresponder uma ação que o assegure, não há como negar ao autor apelante o direito de exigir da acionada esclarecimentos precisos acerca da administração da prestação alimentícia recebida por conta da filha menor, máxime diante da fundada suspeita de malversação. Incidência, no particular, do disposto no artigo 1.589 do Código Civil de 2002. Direito de exigir contas que, in casu, decorre do chamado poder familiar, sendo certo que o divórcio em nada modifica os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos (artigo 1.579, também do Código Civil de 2002). Recurso provido.

Observa-se que o julgado supra ressalta inicialmente o

princípio do devido processo legal, desse modo, observado o direito á fiscalização

da manutenção da guarda do menor, a este obrigatoriamente deve corresponder

uma ação.

Consubstancia-se ainda o mencionado julgado no art 1.579 do

Código Civil, que determina a inalterabilidade dos direitos e deveres dos pais em

relação à prole através do divórcio98.

Yussef Said Cahali, em observância ao dispositivo supra, bem

como ao prescrito no artigo 1.589 do Código Civil Brasileiro, afirma ser plenamente 97 TJSP, AC n. 262.041-4/3-00, rel. Des. Paulo Dimas Mascaretti, j. em 20-5-2003). 98 Art. 1.579. O divórcio não modificara os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos.

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viável a presente ação de prestação de contas em face do detentor da guarda do

alimentando, tendo em vista as atribuições a ele dispensada pelo legislador, ao

tratar como direito seu, a fiscalização da guarda, criação, sustento e educação de

sua prole atribuída ao outro cônjuge99.

Ainda neste diapasão, Diego Richard Ronconi100, ao tratar da

possibilidade de prestação de contas nas ações de alimentos, observa o disposto no

artigo 1.589 do Código Civil , concluindo:

O artigo retrata, portanto, a possibilidade de o genitor que não tem a guarda dos filhos e que paga alimentos aos mesmos, fiscalizar a manutenção de tais filhos “manutenção” tem o significado de despesa com a subsistência de (alguém ou algo); sustento, mantença mantimento´, ou seja, tem o referido genitor a possibilidade, a possibilidade, também como detentor do poder familiar, de fiscalizar a aplicação dos recursos destinados a mantença do filho menor, cuja administração é realizada pelo outro genitor, que tem a gurda do filho. E, como administrador do bem do filho, tem o referido genitor o dever de prestar contas dessa administração.

Em tese, diante dos argumentos trazidos à baila, tem-se que

em nada adiantaria a atribuição do direito de fiscalização atribuído ao genitor

devedor dos alimentos, se este não puder exercê-lo, posto que este é o único

remédio processual cabível na presente situação, considerando ainda que para cada

direito, corresponde uma ação que o assegure.

Por outro lado, ensina Theotonio Negrão101:

(...) A ação de prestação de contas se estende a todas as situações em que seja a forma de acertar-se, em face de um negócio jurídico, a existência de um debito ou um crédito(jtj 162117). A prestação de contas é devida por quantos administram bens de terceiros, ainda que não exista mandato (stj – 3. Turma, Ag. 33.211-6-SP – Ag.Reg. rel. min. Eduardo Ribeiro., 13.4.93, negam provimento, .u., DJU 3.5.93, p. 7.798, 2� . col., em).

Observa-se assim, que o genitor devedor dos Alimentos, possui

interesse jurídico, sendo assim parte legítima para a propositura da Ação de

Alimentos e a Ação de Prestação de Contas contra o genitor administrador dos bens 99 CAHALI.Yuseff Said. Dos alimentos. p. 398 100 http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14007 101 BRASIL. Código de Processo Civil e Legislação porcessual em vigor. Organização , seleção e notas Theotonio Negrão. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 636

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do filho menor é medida possível juridicamente, cujos efeitos podem ser saudáveis

com relação não só à pessoa do menor, mas também de seu patrimônio102.

Por derradeiro, salienta o disposto por Theotonio Negrão que

afirma haver o dever de prestar contas quem efetua e recebe pagamentos por conta

de outrem, movimentando recursos próprios ou daquele que em cujo interesse se

realizam os pagamentos e recebimentos103.

Não obstante tal diretriz é consabido que a ação de prestação

de contas é dividida em duas fases: a primeira destina-se a verificar a obrigação ou

não da prestação de contas; a segunda consiste no julgamento das contas, podendo

gerar eventual saldo credor a favor do autor ou do réu. Nesse caso, a sentença que

reconhecer o saldo, constitui-se de título executivo judicial e autoriza a execução

forçada104.

Por tal fundamento é que parte dos doutrinadores e julgadores

entendem incabível a prestação de contas nas ações de alimentos, tendo em vista

os princípios norteadores do direito alimentar, qual seja, o principio da

Irrepetibilidade dos alimentos, que conforme já explanado no presente estudo, visa a

não devolução dos valores pagos, por se tratarem de bens consumíveis.

Contudo, a compatibilidade entre a ação de prestação de

contas e o princípio basilar do direito alimentar, qual seja, o da irrepetibilidade dos

alimentos é assunto tratado por Yussef Said Cahali 105 que traz-se a baila:

(...) parece-nos porém que – induvidoso o direito do próprio filho de reclamar as contas daquele (genitor ou terceiro) que o tem sob sua guarda e recebe, em seu nome, os alimentos prestados pelo obrigado – também o alimentante-genitor tem legitimidade para exigir deste a prestação de contas, desde que: a) o beneficiário dos alimentos seja exclusivamente o filho posto sob guarda, afastada, assim, a hipótese de terem sido concedidos os alimentos englobadamente, para a genitora e filhos sob sua guarda; pois a concessão nesses termos terá sido intuitu familiae e com a cisão da sociedade conjugal, cada um dos cônjuges terá assumido de

102 http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5085. 103 BRASIL. Código de Processo Civil e Legislação porcessual em vigor. Organização , seleção e

notas Theotonio Negrão. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 636 104 TJSC. ap 2007.059088-5, Rel. Min. Fernando Carioni, D.J.U. 26/05/2008 105 CAHALI.Yuseff Said. Dos alimentos. p. 399/400.

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maneira autônoma a direção e chefia do fragmento societário que lhe foi atribuído, não se sobrepondo a antiga autoridade marital à autoridade da mulher; b) a prestação de contas não tenha por finalidade a apuração de credito ou de debito, com vistas a uma eventual restituição ou execução forçada (do artigo 918 do CPC), uma vez que embora assim prestados por intermediação de terceiro da genitora ou de terceiro, os alimentos são irrepetíveis: a pretensão, assim, terá natureza cautelar,esvaindo-se a ação cominatória em sua primeira fase (artigo 915 do CPC), objetivando apenas a verificação e comprovação da exata e correta aplicação das pensões recebidas do autor. É que, de outro modo, estaria frustrada a própria fiscalização da manutenção e educação dos filhos, direito que o artigo 15 da Lei do Divórcio assegura em termos incontroversos. Sem limitação.

Desse modo, tem-se que nas situações em que se tratar de

prestação de contas em ações de alimentos, dissipa-se a duplicidade da ação,

extinguindo a mesma assim que encerrada a primeira fase, haja vista que o objetivo

da demanda não é a realização de acerto analítico de contas, mas, sim, a

constatação de que os alimentos vêm sendo empregados em necessidades que

revertam em benefício da prole, exaurindo a má administração da verba.

3.2 ARGUMENTOS DESFAVORAVEIS A PRESTAÇÃO

Não raras são as situações em que as ações de prestação de

contas nas ações de alimentos são extintas sem resolução do mérito, por considerar

inexistente uma das condições da ação, qual seja a ilegitimidade ad causam,

prevista no artigo 267, inciso VI do Código Processual Civil Brasileiro:

Art.267. extingue-se o processo ,sem resolução de mérito: VI – quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual.

Tal situação deve-se pelo entendimento de grande parte dos

juristas, que denegam o pleito alegando ser ilegítimo para a propositura da presente

ação o genitor devedor de alimentos, haja vista que este não é titular dos bens cujas

contas pretende ter prestadas.

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A ação de prestação de contas conforme já estudada, é devida

por quantos administram bens de terceiros, ou por aqueles que tem seus bens

administrados ainda que não exista mandato106.

Respectivo entendimento deriva também do enunciado art. 914

do Código Instrumental Civil que prescreve.

Art. 914. A ação de prestação de contas competirá a quem tiver: I - o direito de exigi-las; II - a obrigação de prestá-las

Por assim considerar, o Relator Sérgio Fernando de

Vasconcellos Chaves, entende ser parte ilegítima o alimentante que atua no pólo

ativo das referidas ações de prestação de contas oriundas das ações alimentícias

em face da genitora detentora da guarda do menor alimentando. Alega em suas

decisões que uma vez repassados os alimentos, estes deixam de ser de propriedade

do alimentante e passam a pertencer do alimentando, extinguindo-se assim qualquer

vínculo entre os alimentos prestados e sua administração por quem quer que seja107.

EMENTA: REVISIONAL DE ALIMENTOS. PRESTAÇÃO DE CONTAS. IMPOSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA PELO ALIMENTANTE. 1. O alimentante não tem legitimidade para pedir a prestação de contas dos alimentos que presta ao filho, contra a representante legal dele, pois, uma vez alcançados os alimentos ao filho, deixam de ser propriedade do alimentante, passando a pertencer ao alimentando e se exaurem no próprio sustento. 2. Se a pensão não estiver sendo canalizada para o alimentando e, em razão disso, o sustento dele estiver prejudicado, não será o caso de apenas buscar um crédito, que é o desiderato da ação de prestação de contas, mas de medidas tendentes a amparar o alimentando. 3. Fere a razoabilidade pretender que a mãe deva comparecer a juízo para prestar contas, e de forma contábil, de todas as inúmeras pequenas despesas que consistem no sustento e na própria administração do cotidiano do filho menor. Recurso provido. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Agravo de Instrumento Nº 70024106304, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 24/09/2008)

Assim diante do exposto pelo Relator Min. Sergio Fernando

Vasconcelos Chaves, observa-se seu entendimento literal á legislação, onde afirma

ser legítimo tão-somente aquele que tem seus bens administrados por outrem,

106 STJ, AG. 33.211-6-sp-ag. 3� Turma. Relator Min Eduardo Ribeiro.,j. DJU 3/5/1993. 107 TJRS - 7�. Turma civel, AG. 70024106304 .Relator Min. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves

negaram provimento, v.u., DJU 2.10.08.

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afastando assim a legitimidade do alimentante, uma vez que ausente a titularidade

dos bens administrados pela titular da guarda do menor alimentando.

Compartilhando do mesmo entendimento, o Relator Min. Luiz

Felipe Brasil Santos, diz ser parte legítima para a propositura da presente demanda

apenas o menor alimentando em desfavor do administrador de seus bens, por ser

este o único proprietário dos bens administrados pelo detentor da sua guarda108:

APELAÇÃO CÍVEL. PRESTAÇÃO DE CONTAS. ALIMENTOS. Tratando-se de verba alimentar, destinada para filho, sua guardiã possui, tão-só, o poder de administração de tal verba, que pertence ao alimentando. Desta forma, somente este poderia, eventualmente, requerer a prestação de contas de quem a administra, e não o alimentante, carecendo este, pois, de legitimidade para tanto. PROVERAM PARCIALMENTE. UNÂNIME. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Apelação Cível Nº 70018606368, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 11/04/2007).

Pode-se observar dos julgados trazidos à baila, é que a

ilegitimidade ativa do alimentante deve-se pelo fato que ao serem pagos os

alimentos, estes passam a ser de propriedade do menor alimentando, finalizando ali

seus efeitos mantendo vínculo apenas com sua prole. Findada tal relação,

estabelece-se uma nova situação jurídica, onde um menor tem seus bens

administrados por terceiro, podendo agora ser exigida a ação de prestação de

contas, figurando no pólo ativo o alimentando e no pólo passivo o genitor detentor de

sua guarda.

Assim, quem poderia figurar no pólo ativo desta ação seria tão-

somente o alimentando, exigindo contas de seu genitor que detém sua guarda e

administra seus valores.

Há ainda o entendimento que leva em consideração o instituto

da prestação de contas, que por sua vez trata-se de um procedimento especial, e

por assim ser, rege-se por normas diversas dos demais procedimentos.

Um dos elementos característicos da presente ação, conforme

estudado no momento oportuno, é a sua duplicidade. Ainda que não unânime, tem-

108 TJRS - 7�. Turma civel, AP. 70018606368 .Relator Min. Luiz Felipe Brasil Santos proveram

parcialmente, v.u., DJU 11.0407.

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se como seu objetivo principal a apuração de um débito, que terá ao final sua

declaração de título executivo. Valem-se ainda do princípio da irrepetibilidade dos

alimentos, alega ser defeso a devolução dos valores pagos à título de alimentos,

posto que consumíveis.

Faz-se mister assim a impossibilidade de cumular tais

princípios em uma única demanda.

Sob tais fundamentos a Relatora Dês. Mazoni Ferreira109, em

suas decisões profere suas decisões alegando a incompatibilidade processual dos

institutos conforme observa-se.

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS - ALIMENTOS - ADMINISTRAÇÃO DA VERBA PELA GENITORA, DETENTORA DA GUARDA DOS ALIMENTADOS - AÇÃO PROPOSTA PELO ALIMENTANTE - ILEGITIMIDADE ATIVA E FALTA DE INTERESSE DE AGIR - EXEGESE DO ART. 914 E SEGUINTES DO CPC - PROCESSO EXTINTO, SEM JULGAMENTO DE MÉRITO (ART. 267, VI, DO CPC) - SENTENÇA REFORMADA - RECURSO PROVIDO. O alimentante não possui legitimidade ativa para propor ação de prestação de CONTAS contra a mãe dos alimentados, administradora dos ALIMENTOS. Somente os beneficiários da verba podem, em tese, requerê-la, a teor do disposto no art. 914 e seguintes do CPC. "Aquele que presta ALIMENTOS não detém interesse processual para ajuizar ação de prestação de CONTAS em face da mãe da alimentada, porquanto ausente a utilidade do provimento jurisdicional invocado, notadamente porque quaisquer valores que sejam porventura apurados em favor do alimentante, estarão cobertos pelo manto do princípio da IRREPETIBILIDADE dos ALIMENTOS já pagos" (STJ - Resp. n. 985.061/DF, Rela. Ministra Nancy Andrigui, DJ de 20-5-08). A ilegitimidade de parte e a falta de interesse de agir acarretam a extinção do processo, sem julgamento de mérito, nos termos do art. 267, VI, do CPC.

Em continuidade ao ora exposto tem-se o princípio da

impossibilidade de julgamento extra petita, ou seja, a impossibilidade de julgar além

do que lhe foi pedido na peça vestibular.

Alegando o princípio do julgamento extra petita, sustenta o

Des. Mauricio Vidigal:

109 TJSC AC n. 2008. 002387-5. Segunda Câmara de Direito Civil . Rel. Dês. Mazoni Ferreira. DJU

11/08/2010.

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Se a mãe não age em nome do pai ao fazer os gastos com o menor, não há o dever de prestar contas. Se a intenção do autor é probatória, outro seria o remédio jurídico a ser utilizado. Alias, o conteúdo da pretensão admitida pela maioria esta em desacordo com o pedido inicial, criando-se estranha situação, que implicitamente afastou a condenação da Ré a pagar eventual saldo devedor, ao dizer que a ação cominatória se esvairia na primeira fase.

Por fim, encerra-se o presente tópico onde restaram

descriminados os argumentos utilizados tanto pelos doutrinadores, quanto pelos

Meritíssimos Julgadores a cerca do tema objeto do presente trabalho monográfico,

passando assim a análise dos julgados em diferentes tribunais e instâncias, para

melhor elucidar todos os argumentos aqui estudados e explanados.

3.3 POSIÇÃO DOS TRIBUNAIS BRASILEIROS

Em virtude dos divergentes entendimentos jurisprudenciais

quanto ao estudado tema, traz-se à baila entendimentos de diferentes tribunais do

País, bem como, julgado do Superior Tribunal de Justiça.

3.3.1 Tribunal de Justiça de Santa Catarina

Muitos são os entendimentos exarados pelos juristas quanto à

possibilidade da interposição da ação de prestação de contas em desfavor do

genitor, portador da guarda do menor alimentado, conforme observou-se mediante

todo o exposto.

Conforme verifica-se no Egrégio Tribunal de Santa Catarina,

ainda que de forma não unânime, grande parte dos entendimentos tem sido

favorável ao alimentante que postula em juízo a prestação de contas.

Um dos fundamentos adotados pela Colenda Corte, baseia-se

no direito do alimentante em fiscalizar a aplicação dos valores recebidos pela

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representante legal do alimentado em detrimento do poder familiar. corroborando

com o ora alegado traz-se à baila respectivo entendimento110.

PRESTAÇÃO DE CONTAS. ALIMENTOS. ACOLHIMENTO. CONTAS CONSIDERADAS BOAS. 'DECISUM' CORRETO. CONFIRMAÇÃO. IRRESIGNAÇÃO APELATÓRIA DESATENDIDA. I O prestador de ALIMENTOS tem legitimação para ingressar com pedido de PRESTAÇÃO de CONTAS, na modalidade rendição de CONTAS, não com o desiderato de obter uma apuração de débito ou de crédito, diante da irrepetibilidade da verba, mas, apenas, para fiscalizar a exatidão e a correteza das aplicações dos valores recebidos pela representante legal da alimentária. Isso porque, ainda que dissolvido o casamento dos litigantes, o pai não perde o poder familiar sobre a filha menor, poder esse do qual continua ele co-titular. É a compreensão que, segundo os intérpretes, resulta do art. 1.589 do CC/02, que confere aos pais que não tenham os filhos sob sua guarda o direito de fiscalizar a manutenção e a educação dos mesmos. II Não tendo o alimentante produzido qualquer elemento probatório, por mínimo que fosse, a fortalecer a alegação de estar a mãe da menor alimentanda se utilizando da verba paga mensalmente para satisfazer suas necessidades pessoais, há que se ter como boas as CONTAS por ela prestadas. E o só fato de ter a genitora da menor alimentária comprovado documentalmente a feitura de gastos inferiores aos importes recebidos mensalmente não assume relevância ímpar, vez que, a par dos gastos passíveis de comprovação documental, outros existem que não possibilitam essa comprovação, tais como, a alimentação, o vestuário e o lazer, cujas despesas são presumidas, mormente pelo fato de a menor estar em pleno desenvolvimento físico, moral e intelectual. III Arbitrada a verba honorária dentro dos critérios de proporcionalidade e equanimidade, observados a contento os requisitos apontados nas alíneas 'a' a 'c' do art. 20, § 3º do CPC, não se entrevê razões de direito a recomendar-lhe a redução.

De outra turma julgadora se abstrai111:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE "PRESTAÇÃO DE CONTAS". DESTINAÇÃO DE VERBA ALIMENTAR. DEMANDA AJUIZADA PELO ALIMENTANTE E PELOS ALIMENTADOS, QUE ESTÃO SOB A GUARDA DA GENITORA. EXEGESE DO ART. 1.589 DO CÓDIGO CIVIL. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. DECISÃO EQUIVOCADA. DIREITO DE FISCALIZAÇÃO DA MANUTENÇÃO E EDUCAÇÃO DOS FILHOS DECORRENTE DO PODER FAMILIAR. NECESSIDADE DE PROCESSAMENTO DO FEITO. RECURSO PROVIDO.

110 TJSC. ac n. 2007.028489-6. Quarta Câmara de Direito Civil. Relator Dês. Trindade dos Santos.

DJU 25/11/2008. 111 TJSC ac n. 2007.010023-9. Primeira Câmara de Direito Civil. Rel. Dês. Joel Figueira Júnior. DJU

11/01/2008.

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I - O genitor obrigado ao pagamento de ALIMENTOS possui legitimidade para o ajuizamento de "ação de PRESTAÇÃO de CONTAS" (fiscalização) contra a pessoa que detém a guarda de seus filhos - e que, por conseguinte, administra a destinação da verba alimentar recebida pela prole. Não se pode olvidar que o alimentante encontra-se investido no direito de fiscalizar a manutenção e educação dos filhos em decorrência do poder familiar. Entendimento diverso é manifestamente inconstitucional por violar o direito de acesso à jurisdição, na exata medida em que o alimentante haveria de ficar impossibilitado de fiscalizar a pessoa responsável pela administração da verba alimentar no que concerne ao seu adequado destino. Nessa linha, afigura-se inconteste o direito do pai que presta ALIMENTOS aos filhos de acompanhar e fiscalizar a correta utilização dos ALIMENTOS prestados, donde exsurge o seu direito de pedir PRESTAÇÃO de CONTAS daquele que administra os ALIMENTOS da prole. II - Igualmente legitimados para a propositura da demanda são os próprios alimentandos, destinatários da verba, motivo pelo qual deve ser admitido o processamento do feito, com todos os seus desdobramentos legais. III - A "ação de PRESTAÇÃO de CONTAS" em exame funda-se em direitos atinentes ao pátrio poder, nos termos do disposto no art. 1.589 do Código Civil, e não em qualquer espécie de direito obrigacional. Ademais, não se pode olvidar que o nomem iuris da ação conferido pelo autor na peça inaugural nenhum efeito, direto ou reflexo, apresenta para o deslinde da causa, na exata medida em que os contornos da lide configuram-se através do pedido e da causa de pedir. Nada obstante, é de boa técnica jurídica que a demanda ajuizada esteja corretamente nominada. No caso, trata-se de "ação de fiscalização de despesas alimentícias". IV - Por conseguinte, dadas as peculiaridades do caso, não se pode pretender que as "CONTAS" (comprovação das despesas de manutenção do alimentando) sejam prestadas nos moldes do art. 914 e seguintes da Lei Instrumental, fazendo-se mister transcender os estritos limites do procedimento especial, adequando a tutela jurisdicional às pretensões do autor garantidas pelo direito material, tal como preconiza o princípio da elasticidade processual. Em outras palavras, adequa-se a ação processual à ação de direito material, com o escopo de satisfazer a pretensão articulada pelo jurisdicionado nos planos jurídico e fatual. V - Tratando-se de processo de conhecimento de puro acertamento, afigura-se de bom alvitre que se imprima ao feito o rito ordinário, porquanto considerado procedimento modelo. Diferentemente, se preferir o autor, poderá fazer uso da tão-somente da primeira fase do procedimento especial previsto para a "ação de PRESTAÇÃO de CONTAS", no que couber. VI - Significa dizer que o direito material chancelado no art. 1.589 do CC (assim como todo e qualquer direito) haverá de encontrar ressonância instrumental, notadamente nesta fase evolutiva da ciência processual, em que se preconiza o processo civil de resultados e a imprescindível adaptabilidade do procedimento à realização efetiva do direito (princípio da flexibilidade do processo).

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Aliás, o processo não é fim em si mesmo, servindo de mero instrumento à realização do direito material violado ou ameaçado.

Igualmente responsável por grande parte dos julgados, faz-se o

entendimento que ainda que descaracterizada a ação de prestação de contas, uma

vez que sua principal característica em seu procedimento ser composto por duas

fases, comportando a segunda fase a apuração de um possível débito, a ser

posteriormente considerado como título executivo.

Fundamentam os julgadores que o progenitor, em cuja guarda

não estejam os filhos, possui legitimidade para, em nome próprio, exigir contas de

quem as detém, com o fim de averiguar o correto emprego dos valores alimentares

entregues.

Entretanto, não deixam de considerar a impossibilidade da

cumulação dos procedimentos, para tanto declaram exaurir-se na primeira fase do

procedimento, ante a irrepetibilidade conferida aos alimentos. Entendimento este

que colaciona-se112:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS - DIREITO DE FISCALIZAR O EMPREGO DA PENSÃO ALIMENTAR - ART. 1.589 DO CÓDIGO CIVIL - IRREPETIBILIDADE DOS ALIMENTOS - PROCEDIMENTO QUE SE ESGOTA NA PRIMEIRA FASE - LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM RECONHECIDA - PEDIDO JURIDICAMENTE POSSÍVEL - AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DA MALVERSAÇÃO DOS ALIMENTOS - FALTA DE INTERESSE DE AGIR - EXTINÇÃO DA AÇÃO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO - SENTENÇA MANTIDA POR FUNDAMENTO DIVERSO - RECURSO DESPROVIDO. O progenitor, em cuja a guarda não estejam os filhos, possui legitimidade para, em nome próprio, exigir CONTAS de quem as detém, com o fim de averiguar o correto emprego dos valores alimentares entregues. Tal ação exaure-se na primeira fase do procedimento, ante a IRREPETIBILIDADE conferida aos ALIMENTOS. Apresenta-se de extrema necessidade que o autor da ação de PRESTAÇÃO de CONTAS, que envolva administração da verba alimentar, instrua a ação com indícios mínimos da malversação dos ALIMENTOS, a fim de evitar que este tipo de demanda torne-se mais um instrumento de ataque a já conturbada relação familiar pós-separação do casal

112 TJSC. ac. n. 2007.059088-5. Terceira Câmara de Direito Civil. Rel. Dês. Fernando Carioni. D.J.U.

26/05/2008.

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Ainda que em maior proporção, os entendimentos destacados

não são unanimidade nos Tribunais. Parte dos Julgadores entendem ser ilegítimo o

alimentante na presente prestação de contas, em detrimento do exposto no art. 914

do Código Processual Civil113, que prevê serem legítimos para a solicitação das

contas somente os beneficiários da verba, nesse caso, tão-somente o alimentado.

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS - ALIMENTOS - ADMINISTRAÇÃO DA VERBA PELA GENITORA, DETENTORA DA GUARDA DOS ALIMENTADOS - AÇÃO PROPOSTA PELO ALIMENTANTE - ILEGITIMIDADE ATIVA E FALTA DE INTERESSE DE AGIR - EXEGESE DO ART. 914 E SEGUINTES DO CPC - PROCESSO EXTINTO, SEM JULGAMENTO DE MÉRITO (ART. 267, VI, DO CPC) - SENTENÇA REFORMADA - RECURSO PROVIDO. O alimentante não possui legitimidade ativa para propor ação de PRESTAÇÃO de CONTAS contra a mãe dos alimentados, administradora dos ALIMENTOS. Somente os beneficiários da verba podem, em tese, requerê-la, a teor do disposto no art. 914 e seguintes do CPC. "Aquele que presta ALIMENTOS não detém interesse processual para ajuizar ação de PRESTAÇÃO de CONTAS em face da mãe da alimentada, porquanto ausente a utilidade do provimento jurisdicional invocado, notadamente porque quaisquer valores que sejam porventura apurados em favor do alimentante, estarão cobertos pelo manto do princípio da IRREPETIBILIDADE dos ALIMENTOS já pagos" (STJ - Resp. n. 985.061/DF, Rela. Ministra Nancy Andrigui, DJ de 20-5-08). A ilegitimidade de parte e a falta de interesse de agir acarretam a extinção do processo, sem julgamento de mérito, nos termos do art. 267, VI, do CPC114.

Bastante divido os entendimentos do presente Tribunal suas

decisões variam ao máximo, desde a improcedência, pela alegada ilegitimidade ativa

do alimentante até a aceitação das contas, atribuindo meios especiais para sua

admissibilidade, como a extinção da segunda fase da ação de prestação de contas,

até a simples aceitação pelo princípio da fiscalização da criação de sua prole,

oriundo do poder familiar.

113 Art. 914. A ação de prestação de contas competirá a quem tiver:

I - o direito de exigi-las;

II - a obrigação de prestá-las 114 TJSC ac n. 2008. 002387-5. Segunda Câmara de Direito Civil . Rel. Dês. Mazoni Ferreira. DJU

11/08/2010.

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3.3.2 Tribunal de Justiça do Rio Grande Do Sul

O Tribunal de Justiça Gaúcho filia-se ao pressuposto da

ilegitimidade do alimentante em postular as contas em detrimento da genitora do

alimentado, por entender finda qualquer relação existente entre os mesmos a partir

do momento em que os alimentos são pagos passando a ser legítimo apenas o

alimentado115.

EMENTA: ALIMENTOS. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS AJUIZADA PELO ALIMENTANTE CONTRA A EX-MULHER QUE ADMINISTRA A VERBA ALIMENTAR DESTINADA AOS FILHOS. DESCABIMENTO. ILEGITIMIDADE ATIVA. Carece de legitimidade o alimentante para propor ação de prestação de contas contra a ex-mulher que tem a guarda dos filhos menores, cabendo a estes postular eventual prestação de contas de quem administra a verba alimentar. RECURSO IMPROVIDO.

Compartilhando do mesmo entendimento do Rel. Dês. Claudir

Fidelis Faccenda decide Rui Portanova116.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. ALIMENTOS. DESCABIMENTO. O alimentante não tem legitimidade para propor ação de prestação de contas contra o responsável pela administração dos alimentos do filho menor comum. Não tem direito á gratuidade judiciária a parte que comprovadamente desfruta de condições financeiras para arcar com as custas processuais sem prejuízo do próprio sustento ou se sua família. NEGARAM PROVIMENTO.

Aliado a entendimento diverso do entendimento acima, decidiu

o Rel. Dês. Rui Portanova117.

APELAÇÃO. PRESTAÇÃO DE CONTAS. ALIMENTOS. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. Os alimentos são irrepetíveis. Logo, eventual saldo credor a ser apurado em ação de prestação de contas não poderia ser exigido. Inutilidade do provimento jurisdicional a demonstrar a falta de uma das condições da ação: interesse de agir. O dever de fiscalização da manutenção e educação dos filhos pelo genitor que não detém a guarda se atende pelos instrumentos processuais próprios do direito de família. NEGARAM PROVIMENTO.

115 TJRS AC n. 70031149982. . Rel. Des. Claudir Fidelis Faccenda. DJU 24/09/2009. 116 TJRS. AC n. 70020305876. Rui Portanova. 29/11/2007 117 TJRS. AC n. 70011072907. Oitava Câmara Cível Rui Portanova. 13/04/2005.

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Como entendimento majoritário desta Colenda Corte, observa-

se a negativa quanto a aceitação das contas nas causas de alimentos, decidindo

seus Desembargadores pela ilegitimidade ativa do alimentante, aliado ao principio

da irrepetibilidade.

3.3.3 Tribunal de Justiça de São Paulo

Sob o prisma da obrigatoriedade da contribuição para a

mantença do alimentado, aliado ao princípio da irrepetibilidade dos alimentos, as

decisões na Egrégia Corte de São Paulo tem decidido pela improcedência da

prestação de contas nas ações de alimentos118.

Prestação de contas. Pensão alimentícia. Inadmissibilidade. Alimentante está obrigado a contribuir para criação e formação da prole. Alimentos são incompensáveis e irrepetíveis, consequentemente, nenhuma relevância teria a prestação de contas. Falta de interesse de agir caracterizada. Ausência de uma das condições da ação impossibilita a entrega.

Compatível ao Estado do Rio Grande do Sul, o Tribunal do

Estado de São Paulo vem decidindo em desfavor da aplicação da estudada ação

nos casos alimentícios. Como visto, alegam a ilegitimidade ativa, aliada a

irrepetibilidade dos alimentos.

3.3.4 Superior Tribunal De Justiça

Busca-se com o presente acervo jurisprudencial, demonstrar de

forma mais precisa os entendimentos de cada tribunal haja vista a divergência de

entendimentos existentes.

Contudo observa-se que em grande parte dos tribunais o

entendimento predominante é pela ilegitimidade do alimentante da pretendida

prestação de contas, divergindo apenas do Tribunal de Santa Catarina, onde

predomina a sua aplicabilidade em procedimentos especiais, como já demonstrado.

118 TJSP ac n 994093212685 (6702014400). 4ª Câmara de Direito Privado. Rel Des. Natan Zelinschi de Arruda . DJU 17/03/2010.

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A negativa quanto a admissibilidade do instituto da prestação de contas estende-se

a instância superior.

Deste modo, imperioso faz-se demonstrar o entendimento de

instância superior haja vista que uma vez sucumbente nas decisões de segunda

instância, caberá recurso ao Superior Tribunal de Justiça, que no tema em estudo

julga pela improcedência das contas haja vista a ilegitimidade da parte119.

Direito civil e processual civil. Família. Recurso especial. Ação de prestação de contas. Alimentos. Ausência de interesse de agir. - No procedimento especial de jurisdição contenciosa, previsto nos arts. 914 a 919 do CPC, de ação de prestação de contas, se entende por legitimamente interessado aquele que não tenha como aferir, por ele mesmo, em quanto importa seu crédito ou débito, oriundo de vínculo legal ou negocial, nascido em razão da administração de bens ou interesses alheios, realizada por uma das partes em favor da outra. - O objetivo da ação de prestação de contas é o de fixar, com exatidão, no tocante ao aspecto econômico de relacionamento jurídico havido entre as partes, a existência ou não de um saldo, para estabelecer, desde logo, o seu valor, com a respectiva condenação judicial da parte considerada devedora. - Aquele que presta alimentos não detém interesse processual para ajuizar ação de prestação de contas em face da mãe da alimentada, porquanto ausente a utilidade do provimento jurisdicional invocado, notadamente porque quaisquer valores que sejam porventura apurados em favor do alimentante, estarão cobertos pelo manto do princípio da irrepetibilidade dos alimentos já pagos. - A situação jurídica posta em discussão pelo alimentante por meio de ação de prestação de contas não permite que o Poder Judiciário oferte qualquer tutela à sua pretensão, porquanto da alegação de que a pensão por ele paga não está sendo utilizada pela mãe em verdadeiro proveito à alimentada, não subjaz qualquer vantagem para o pleiteante, porque: (i) a já referenciada irrepetibilidade dos alimentos não permite o surgimento, em favor do alimentante, de eventual crédito; (ii) não há como eximir-se, o alimentante, do pagamento dos alimentos assim como definidos em provimento jurisdicional, que somente pode ser modificado mediante outros meios processuais, próprios para tal finalidade. Recurso especial não conhecido

Com isto encerra-se o presente estudo, quanto a

admissibilidade da ação de prestação de contas nas ações de alimentos, valendo

salientar que embora muitas inúmeros os casos de incidência, poucas são as

abordagens quanto ao tema e muitas as divergências e possíveis abordagens.

119 REsp 985061. DF. Rel. Min. Nancy Andrighi (1118). Terceira Turma. DJE 16/06/2008.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral do presente trabalho monográfico foi a

averiguação dos limites tacitamente estipulados nas ações de prestação de contas

nas ações de alimentos.

A escolha do presente tema, deve-se, frente ao grande

interesse pela área processual do Direito Civil, acrescido pelo fato de ser este um

tema consideravelmente instigante e de certa forma polêmico, atual, e de grande

valia para a população, em especial aqueles cujos alimentos são devidos.

Desta forma a pesquisa será desenvolvida no âmbito do Direito

Processual Civil, posto que busca a possibilidade ou não da utilização das ações de

prestação de contas, em um caso especifico: a ação de alimentos. Considerando a

desproporcional fundamentação da ilegitimidade ativa, em meio aos Tribunais de

Justiça de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e por fim o Superior

Tribunal de Justiça.

O desenvolvimento lógico desta monografia decorreu pela sua

divisão em três capítulos.

No primeiro, abordou-se a prestação de alimentos, como um

direito daquele que não possui condições de prover seu próprio sustento, discorreu-

se quanto aos aspectos históricos, passando pelo conceito, princípios e situações

em que se pode pleiteá-los.

Sua importância da-se frente a identificação dos princípios

norteadores do instituto alimentar que posteriormente ao serem analisados em

conjunto a ação de prestação de contas resultará nas manifestações apresentadas

no último capítulo.

O segundo capítulo explorou-se a ação de prestação de

contas, desde seu intróito no ordenamento jurídico, passando pelos seus

pressupostos, características, cabimento, legitimidade ativa e passiva da estudada

ação.

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No terceiro e último capítulo, tratou-se especificamente quanto

a possibilidade ou não da utilização da ação de prestação de contas nas ações de

alimentos, onde abordou-se os principais argumentos para a sua admissibilidade, o

que demonstrou-se através das decisos dos Tribunais brasileiros, e da mesma forma

abordou-se as fundamentações desfavoráveis à prestação de contas nas ações

alimentícias.

Vasto é o entendimento, que denega segmento a prestação de

contas nas ações de alimentos, alegando ser o alimentante parte ilegítima para

postular tal ação.

Por outro lado, há o entendimento, que concede ao alimentante

o direito de obter a prestação de contas, no entanto deve-se ater a algumas

peculiaridades, que irão em desconformidade a uma das características da

prestação de contas, qual seja a sua dupla fase. Haja vista que devido ao principio

da irrepetibilidade dos alimentos, a segunda fase seria desconforme.

Assim sendo, as hipóteses argüidas para a realização do

presente trabalho acadêmico findaram-se da seguinte forma:

a) A ação de prestação de contas serve para ter o controle de

todos os lançamentos efetuados por quem administra bens de outrem. Sua principal

característica é a duplicidade da ação, através de um procedimento especial, cuja

finalidade é facilitar uma possível ação revisional, possibilitando a minoração dos

valores devidos à título de alimentos.

b) No ordenamento jurídico é plenamente viável e amparado

judicialmente a ação de prestação de contas na ação de alimentos.

c) A pretensão maior é a obter uma decisão judicial, que

ressalte os meios onde estão sendo empregados os alimentos, para em casos de

má utilização, possibilitar o ingresso de uma ação revisional de alimentos, buscando

minorar o valor pago.

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Tecidas tais considerações, cumpre o presente trabalho

acadêmico sua finalidade institucional, qual seja, a produção de Monografia para

obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI e investigatória, buscando através de pesquisa bibliográfica, jurisprudencial

e doutrinária o exame do tema proposto

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