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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL DA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN Por Mônica Santos de Carvalho Orientador Prof a . Edla Trocoli Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A EDUCAÇÃO ESPECIAL DA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN

Por Mônica Santos de Carvalho

Orientador Profa. Edla Trocoli

Rio de Janeiro 2011

AGRADECIMENTOS

A Deus, que me fortalece, a meus

pais, que me deram as bases morais, a meu marido, pelo incentivo e ajuda e a meus alunos, que me ensinam a cada dia a aceitar as diferenças.

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todas as

crianças com Síndrome de Down e a todos os profissionais que lutam pela Inclusão.

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi pesquisar os problemas da Síndrome de

Down, a importância da educação inclusiva para o desenvolvimento da

criança e a influencia da estimulação precoce em relação à aquisição da

linguagem. A pesquisa científica do autor passou por abordagem

neurológica, psicológica e pedagógica ampliando, assim, o campo de

estudo.

Através de fundamentos teóricos e metodológicos, descritos ao longo

desse trabalho, busca-se oferecer métodos que venham facilitar o

aprendizado de crianças e adolescentes portadoras da síndrome de Down.

O objetivo a ser alcançado é a integração da criança na escola e na

comunidade. Há muitas razões para que uma criança com Síndrome de

Down deva ter a oportunidade de freqüentar uma escola comum. Cada vez

mais pesquisas têm sido publicadas e o conhecimento sobre as

capacidades das crianças com potencial para uma inclusão social com

sucesso tem aumentado. Ao mesmo tempo, os pais tem se informado mais

sobre os benefícios da inclusão, incentivando seus filhos nesta sistemática

de ensino. Além disso, a inclusão é não discriminatória e traz tanto

benefícios acadêmicos quanto sociais.

Diante do exposto, pode-se observar a relevância da presente

pesquisa, na medida em que se propõe a estudar os impactos que a adoção

desta proposta educacional terá na aprendizagem das crianças com

Síndrome de Down.

METODOLOGIA

Trata-se de trabalho exploratório, baseado principalmente em dados

bibliográficos, tendo sido consultadas as seguintes fontes: livros, artigos,

legislação e outros, buscando-se os necessários aprofundamentos para

desenvolvimento do tema proposto.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................... 7

CAPÍTULO I- A SÍNDROME DE DOWN ........................................................ 9

I.1- Incidência e Prevalência ..................................................................... 11 I.2 - Características Fenotípicas dos Portadores de SD ........................... 12 I.3 - O Sistema Nervoso e a SD ............................................................... 14 I.4 - Deficiência Mental e Síndrome de Down ........................................... 15

CAPÍTULO II- A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS COM SD .............................. 18

II.2- Propostas Educacionais para Crianças com SD ............................... 20

CAPÍTULO III- EDUCAÇÃO INCLUSIVA ..................................................... 29

III.1- Inclusão Social e Cidadania das Pessoas com Alguma Deficiência 30 III.2- Intervenção Pedagógica ................................................................... 33 III.3- A Família e a Educação ................................................................... 35

CONCLUSÃO .............................................................................................. 36

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 38

7

INTRODUÇÃO

A humanidade, ao longo de sua História, empreende eterna busca

pela explicação dos fenômenos naturais, que representa, em síntese, o

Conhecimento. Busca esta motivada pela necessidade de se desvendarem

os mistérios e encontrar respostas para questões tais como a nossa origem,

a criação do universo, se somos únicos, que, no fim e ao cabo, conduzem-

nos para o aprofundamento do conhecimento o que, por sua vez, nos leva a

outros questionamentos, em um ciclo interminável de perguntas e respostas.

Inicialmente, estas explicações eram fornecidas por mitos como os

da Criação, com enfoque religioso e dogmático. Com o passar do tempo e o

surgimento da Filosofia, procurou-se explicações racionais para as

perguntas, resultando no surgimento da Ciência, que se utiliza da

observação e experimentação metódica para o entendimento dos

fenômenos.

Nesta caminhada, a humanidade se deparou com fenômenos os

mais variados, desde aqueles associados ao universo até os relacionados à

sua própria natureza, incluindo os seus aspectos físicos e mentais. Ao olhar

para si, percebe diferenças que espantam, assustam, embevecem,

provocam reações diversas, opostas até, de preconceito, admiração,

compaixão, curiosidade e solidariedade. Geram atitudes perversas, insanas,

que tentam eliminar os “impuros”, os “defeituosos”, na procura pela “raça

pura”; uma forma de resolver o “problema”. Mas geram, também, por outro

lado, reações de curiosidade, compreensão e de fé nas pessoas, no que

elas possuem de melhor e, principalmente, de aceitação das diferenças.

Ao se aplicar a Ciência, com investigação baseada em metodologias

científicas, sobre estes indivíduos diferentes, especiais, joga-se luz sobre as

trevas da ignorância e derrubam-se preconceitos, ao se conhecer melhor

suas origens, causas e possíveis ações mitigadoras. Este é o caso dos

8

portadores da síndrome de Down (SD), fenômeno já conhecido desde

tempos idos e que recebeu tratamentos os mais variados, desde a sua

adoração religiosa, passando pela discriminação e preconceito, ao serem

considerados seres inferiores, “mongolóides”, e chegando aos dias atuais,

em que se compreende de forma mais abrangente essa síndrome, sua

origem de ordem genética e a crescente aceitação desses indivíduos por

parte da sociedade, com a sua inclusão no tecido social como uma pessoa

com características próprias.

Este trabalho procura contribuir de forma simples, mas significativa,

na formação do conhecimento sobre estes indivíduos, em especial no que

concerne à sua educação e formação para que possam, efetivamente, se

integrarem à sociedade e contribuírem, à sua maneira, para o

engrandecimento da humanidade.

Para tanto, inicia-se pela descrição da SD, com ênfase na sua

origem de ordem genética, a sua incidência entre os nascidos e a sua

prevalência na população em geral, seus sinais fenotípicos e seu impacto no

sistema nervoso central. Em seguida, serão abordados os aspectos

relacionados ao arcabouço legal que regem as relações de indivíduos

portadores de necessidades especiais, principalmente no que diz respeito à

legislação educacional brasileira, consubstanciada na Política Nacional de

Educação. Posteriormente, serão apresentadas as dificuldades de

aprendizagem das crianças e adolescentes portadores de SD para, na

seqüência, ser discutido de que maneira a educação inclusiva pode afetar a

formação e o aprendizado dessas crianças e adolescentes.

9

CAPÍTULO I- A SÍNDROME DE DOWN

Segundo Schwartzman (2003), a síndrome de Down (SD), que

possivelmente sempre esteve presente na espécie humana, é decorrente de

uma alteração genética ocorrida durante ou imediatamente após a

concepção, sendo observada de modo regular em toda a humanidade,

afetando um em cada 700/900 nascidos vivos, independentemente de

classe social, raça, credo, cor ou clima. Foi a primeira doença a ser

acompanhada por graus variáveis de Deficiência Mental associada a uma

anormalidade cromossômica.

A SD caracteriza-se, em cerca de 95% dos casos, pela presença

mais de um autossomo 21, formando um cariótipo 47, XX,+21 (feminino) ou

47, XY,+21(masculino) denominada trissomia simples, ou seja, ao invés do

indivíduo apresentar dois cromossomos 21, possui três. Os demais casos

ocorrem devido à translocação, pela qual o autossomo 21, a mais, está

fundido a um outro autossomo. O erro genético também pode ocorrer pela

proporção variável de células trissômicas, presentes ao lado de células

citogeneticamente normais.

Estas anomalias genéticas são conseqüência de falhas na geração

de um dos gametas que formaram o indivíduo. Em condições normais, os

gametas deveriam conter um cromossomo apenas e assim a união do

gameta materno com o gameta paterno geraria um gameta filho com dois

cromossomos, como toda a espécie humana. Porém, durante a formação do

gameta podem ocorrer alterações e, por meio do fenômeno da não-

disjunção cromossômica, que é realizada durante o processo de

reprodução, podem ser formados gametas com cromossomos duplos que,

ao se unirem a outro cromossomo pela fecundação, resultam em uma

alteração cromossômica.

O resultado dessa anomalia é que todo o desenvolvimento e

maturação do organismo são alterados afetando, ainda, a cognição do

10

indivíduo portador da SD, além de lhe conferirem outras características

relacionadas à síndrome.

Outro aspecto importante está relacionado elevado número de

gestações que não chegam a bom termo devido a esta anormalidade

cromossômica (Warburton e colaboradores, 1991, apud Schwartzman,

2003). Estima-se que os produtos sobrevivam ao nascimento em apenas

25% das gestações com trissomia 21, 5% com trissomia 18 e 2,5% com

trissomia 13. (Hook, 1002, apud Schwartzman, 2003).

Os índices de mortalidade pós-natal, no que se refere à trissomia

simples, são relativamente baixos, com cerca de 85% dos bebês

sobrevivendo até um ano de idade e mais de 50% de indivíduos afetados

vivendo mais de 50 anos. Já para os casos de trissomias 18 e 13 os índices

de mortalidade são excepcionalmente elevados (Baird e Sadovnick, 1988;

Mikkelsen e colaboradores, 1990, apud Schwartzman, 2003).

Entre as causas das mortes, destacam-se os defeitos cardíacos

congênitos, por vezes em combinação com outras malformações congênitas

e infecções respiratórias. Já as leucemias são responsáveis por menos de

10% das mortes nestes indivíduos (Scholl e colaboradores, 1982, apud

Schwartzman, 2003).

Nos últimos anos tem-se observado uma redução nesses índices de

mortalidade, em função, segundo Schwartzman (2003), do diagnóstico

precoce e dos avanços nas técnicas terapêuticas, tanto clínicas quanto

cirúrgica, proporcionando a estes indivíduos uma sobrevida muito maior e

melhor qualidade de vida.

Para melhor compreender estes aspectos, será realizada, a seguir,

uma breve explanação sobre a incidência e a prevalência nos portadores de

SD.

11

I.1- Incidência e Prevalência

Define-se prevalência como sendo a razão entre o número de

indivíduos que possuam determinada característica e o número de

habitantes. Já a incidência consiste na razão entre estes indivíduos e o

número de nascimentos. Naturalmente que a prevalência é influenciada de

forma direta pela incidência, porém outros fatores podem afetá-la como, por

exemplo, a taxa de mortalidade de indivíduos com determinada condição.

A incidência de crianças com SD é estimada, na maioria dos países,

em um para 800/1.000 (0,125% a 0,10%) nascidos vivos, enquanto que a

prevalência seria de um para 2.000/3000 habitantes (0,05% a 0,03%)

(Zellweger, 1977, apud Schwartzman).

Segundo Schwartzman, a incidência de SD pode ser influenciada por

alguns fatores, classificados em exógenos (ambientais) e endógenos, sendo

que a idade materna é o principal fator endógeno, devido ao fato que a

mulher já nasce com todos os óvulos e estes, portanto, envelhecem com

ela. Já o mesmo não ocorre com os espermatozóides, que são produzidos

na medida em que são utilizados.

Entre os fatores ambientais estão inclusos a exposição à radiação e

a possibilidade do diagnóstico pré-natal, o qual fornece condições de

identificar até cerca de 60% das gestações afetadas, o que poderia reduzir

significativamente a incidência de nascidos com SD, por meio da interrupção

destas gestações. Neste sentido, como a maior parte das gestações ocorre

em mulheres jovens, embora estas possuam menor risco de incidência de

SD, seria de grande importância o desenvolvimento de testes de fácil

aplicação, de menor custo e menos invasivos do que a amniocentese e a

coleta de vilo corial, que possam ser aplicados de forma rotineira em todas

as gestações, independentemente da idade materna.

Quanto à exposição à radiação, estudos realizados junto a 124.015

partos em população de determinada área geográfica da Inglaterra, no

período de 1957 a 1991, apresentaram um aumento significativo na

12

prevalência de SD entre as crianças concebidas durante os anos de 1963 e

1964, período em que foi detectada uma alta correlação com níveis de

radiação decorrentes de testes atômicos realizados na época, o que levou a

se apontar essas radiações ionizantes, em baixas doses, como possível

fator etiológico da SD (Bound e colaboradores, 1995, apud Schwartzman,

2003).

No que concerne à prevalência por idade e sexo, estudos

conduzidos no Reino Unido (Inglaterra, Escócia e País de Gales) por Steele

e Stratfor (1995) levaram à conclusão de que a prevalência geral seria de

6,7/10.000 da população. Dentre os fatores que podem afetar esta relação,

os autores destacaram a crescente longevidade dos pacientes, a

conscientização acerca do aumento do risco na proporção direta do

aumento da idade materna e a existência de exames que possibilitam a

identificação de gestações de alto risco. Seus estudos levaram à conclusão

de que esta relação será pouco afetada, apontando como possíveis razões

questões morais e filosóficas quanto à interrupção da gravidez, o alto custo

e dos exames existentes, que dificultam o seu acesso, e até mesmo o

posicionamento de casais e profissionais de saúde sobre o tema.

Como conseqüência da maior longevidade dos portadores de SD,

haverá um incremento de indivíduos com problemas de saúde, pois estes

indivíduos tendem a apresentá-los com maior freqüência á medida em que

se tornam mais velhos.

I.2 - Características Fenotípicas dos Portadores de SD

De forma geral o diagnóstico da SD pode ser realizado até mesmo

antes do nascimento, devido à existência de diversas características

fenotípicas, com destaque para a prega palmar única, clinodactilia, defeitos

do septo cardíaco e baixo comprimento, os quais, quando observados em

conjunto, indicam a possível presença de trissomia 21, conforme Stephens e

Sheperd (1980).

13

Na verdade estas características não permitem um diagnóstico

seguro, mas indicam a possibilidade da ocorrência de SD em gestantes, as

quais devem ser objeto de exames mais conclusivos de diagnóstico pré-

natal.

Já para os recém nascidos a ocorrência de, pelo menos, seis entre

dez sinais cardíacos constantes do quadro a seguir, definidos por Hal

(1966), justifica o diagnóstico de SD.

SINAL % CRIANÇAS AFETADAS

Reflexo de Moro Hipoativo 85

Hipotonia 80

Face com perfil achatado 90

Fissuras palpebrais com inclinação para cima 80

Orelhas pequenas, arredondadas e displásicas

60

Excesso de pele na nuca 80

Prega palmar única 45

Hiperextensão das grandes articulações 80

Pélvis com anormalidades morfológicas aos Raios-X

70

Hipoplasia da falange média do 5o dedo 60 Quadro I – O Diagnóstico de SD em recém nascidos Fonte (SCHWARTZMAN, 2003, adaptado de Hal, 1966)

De forma geral, o portador desta síndrome é um indivíduo calmo,

afetivo, bem humorado e com prejuízos intelectuais; porém podendo

apresentar grandes variações no que se refere ao seu comportamento. A

personalidade varia de indivíduo para indivíduo e estes podem apresentar

distúrbios do comportamento e desordens de conduta, as quais variam

conforme o potencial genético e características culturais, determinantes no

comportamento.

14

I.3 - O Sistema Nervoso e a SD

O sistema nervoso da criança com SD apresenta anormalidades

estruturais e funcionais, que resultam em disfunções neurológicas variando

quando à manifestação e intensidade.

Segundo Schwartzman, nas crianças mais velhas foram observadas

anormalidades nos neurônios piramidais pequenos, especialmente nas

camadas superiores do córtex (...) (SCHWARTZMAN,1999,p.54).

O processo de desenvolvimento e maturação do sistema nervoso é

complexo, no entanto, a criança com SD ainda no estágio fetal, já apresenta

alterações no desenvolvimento do sistema nervoso central.

Segundo SCHMIDT, citado por SCHWARTZMAN (1999), em seus

estudos com fetos normais e fetos com SD, não se observaram alterações

significativas no desenvolvimento e crescimento do sistema nervoso.

Outros estudiosos, como WISNIEWSKI (1999), concluem que, até os

cinco anos, o cérebro das crianças com síndrome de Down encontra-se

anatomicamente similar ao de crianças normais, apresentando apenas

alterações de peso, que nestas crianças encontra-se inferior a faixa de

normalidade, que ocorre devido uma desaceleração do crescimento

encefálico iniciado por volta dos três meses de idade.

Esta desaceleração encontra-se de forma mais acentuada em

meninas, onde são observadas, também, freqüentes alterações cardíacas e

gastrointestinais.

WISNIEWSKI, citado por SCHWARTZMAN, (1999, P.47), relata que

há algumas evidencias de que, durante o último trimestre de gestação existe

uma lentificação no processo da neurogênese.

Apesar desta afirmação, as alterações de crescimento e

estruturação das redes neurais após nascimento são mais evidentes e estas

se acentuam com o passar do tempo.

15

Segundo SCHWARTZMAN (1999,P.51) as medidas de inteligência

geral e as habilidades lingüísticas normalmente encontram-se alterados e

então não possuem padrão definido, além de não se relacionarem com o

volume encefálico, podendo apresentar em diversos níveis intelectuais.

Também observamos no sistema nervoso do paciente Down,

alterações de hipocampo e, a partir do quinto mês de vida, quando o

processo de desaceleração do crescimento e desenvolvimento do sistema

nervoso ocorre uma diminuição da população neuronal.

ROSS e colaboradores (1984) puderam observar “uma perda de

neurônios granulados no córtex cerebral” e WISNIEWSKI (1990) confirma a

proposta de ROSS e também relata “uma diminuição no número de

neurônios granulares nas camadas II e IV do córtex (...)”.

O desenvolvimento braquicefálico também é marcante no paciente

com SD e ainda podemos observar uma hipoplasia do lobo temporal. No

paciente recém-nascido, muitas alterações não são evidenciadas, porém

com o passar dos anos se evidenciam tornando visíveis às reduções de

volumo dos hemisférios cerebrais e hemisférios cerebelares, da ponte,

corpos mamilares e formações hipocampais.

Desta forma, observa-se que as inúmeras alterações estruturais e

funcionais do sistema nervoso da criança com SD, determinam algumas de

suas características mais marcantes como distúrbios de aprendizagem e

desenvolvimento.

I.4 - Deficiência Mental e Síndrome de Down

Segundo descreve Ferreira, na obra Miniaurélio, o termo deficiência

significa falta, carência ou insuficiência. Assim, podemos entender por

deficiência mental a insuficiência funcional das funções neurológicas. O

16

cérebro da criança com Down não atingiu seu pleno desenvolvimento e

assim todas suas funções estão alteradas:

O conceito de deficiência mental apóia-se, basicamente, em três idéias

que têm sido utilizadas para definir este termo. É essencial examiná-las

do ponto de vista interativo. A primeira diz respeito ao binômio de

desenvolvimento-aprendizagem (]). A segunda idéia se refere aos

fatores biológicos e a última tem a ver com o ambiente físico e social

(...). (SCHWARTZMAN, 2003, P.243)

Os três conceitos a que o autor citado acima se refere podem ser

explicados como bases das atividades mentais. Na verdade o cérebro de

uma criança recém-nascida possui capacidades de aprendizagem, no

entanto, estas serão desenvolvidas através da internalização de estímulos e

esta se da através da aprendizagem e esta intimamente associada aos

fatores biológicos, como integridade orgânica e ainda sofre influencias

diretas dos fatores ambientais e sociais.

Esta afirmação feita por SCHWARTZMAN (1999) é muito aceita e

presente em inúmeros trabalhos de outros autores coerentes com esta

abordagem. Um exemplo é Piaget, que afirma que os indivíduos nascem

apenas com potencialidades (capacidade inata): a capacidade de aprender.

Assim, todo conhecimento e todo desenvolvimento da criança depende de

exposição ao meio e dos estímulos advindos deste. Para Jean Piaget, a

base do conhecimento é a transferência e assimilação de “estruturas”.

Assim, um conhecimento, um estímulo do meio é encarado como uma

estrutura que será “assimilada” pelo indivíduo através de sua capacidade de

aprender.

A aprendizagem é realizada com sucesso se as capacidades de

assimilação e acomodação estiverem integras, assim vão se dando as

aquisições ao longo do tempo. Estes três processos acontecem para que

um indivíduo esteja sempre adquirindo novas informações, assim quando se

depara com um dado novo, para a internalização do mesmo, o indivíduo

deve reorganizar as aquisições já adquiridas, para acomodar os novos

17

conhecimentos sendo por este processo de linguagem e cognição se

desenvolve.

Considerando a grande influencia do ambiente e a competência da

criança para as atividades cognitivas, para estimularmos uma criança, temos

que torná-la mais competente para resolver as exigências que a vida quer

em seu contexto cultural.

O portador da SD possui certa dificuldade de aprendizagem que, na

grande maioria dos casos, afetam todas as capacidades: linguagem,

autonomia, motricidade e integração social. Estas podem se manifestar em

maior ou menor grau.

18

CAPÍTULO II- A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS COM SD

A educação é o principal agente transformador de qualquer

sociedade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (L.D.B.), DE 20/12/96,

foi elaborada com o propósito de ligar a escola à realidade do mundo,

exigida pela globalização.

A educação de criança com SD, por ser complexa, exige adaptações

de ordem curricular que requerem acompanhamento de professores, dos

pais, da sociedade e são indispensáveis para melhor definir objetivos. Os

distúrbios de conduta, as dificuldades de aprendizagem, a dificuldade de

integração completam, mas não esgotam o quadro da educação do aluno

com SD.

A LDB estabeleceu, entre outros princípios, o de “igualdade de

condições para o acesso e permanência na escola” e adotou nova

modalidade de educação para “educandos com necessidades especiais”.

Resta saber até que ponto a LDB cumprirá os objetivos da Educação

Especial.

II.1- As Dificuldades de Aprendizagem do Portador de SD

A criança com síndrome de Down tem idade cronológica diferente da

idade funcional, desta forma, não devemos esperar uma resposta idêntica à

resposta das “normais”, que não apresentam alterações de aprendizagem.

Esta deficiência decorre de lesões cerebrais e desajustes funcionais do

sistema nervoso:

O fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou

demonstrar conduta imatura em determinada idade,

comparativamente a outras com idêntica condição genética, não

significa impedimento para adquiri-las mais tarde, pois é possível

que madure lentamente. (SCHWARTZMAN, 1999,p.246).

19

A prontidão para aprendizagem depende da complexa integração dos

neurológicos e da harmoniosa evolução de funções específicas como linguagem,

percepção, esquema corporal, orientação temporo-espacial e lateralidade.

É comum observarmos nas crianças SD alterações severas de

internalizações de conceitos de tempo e espaço, que dificultarão muitas

aquisições e refletirão especialmente em memória e planificação, alem de

dificultarem muito a aquisição de linguagem.

Crianças especiais como as portadoras de SD, não desenvolvem

estratégias espontâneas e este é um fato que deve ser considerado em seu

processo de aquisição de aprendizagem, já que esta terá muitas dificuldades em

resolver problemas e encontrar soluções sozinhas.

Outras deficiências que acometem a criança Down e implicam dificuldades

ao desenvolvimento da aprendizagem são: incapacidade de organizar atos

cognitivos e condutas, debilidades de associar e programar seqüência.

Estas dificuldades ocorrem principalmente por que a imaturidade nervosa

e não mielinização das fibras pode dificultar funções mentais como: habilidade

para usar conceitos abstratos, memória, percepção geral, habilidades que

incluam imaginação, relações espaciais, esquema corporal, habilidade no

raciocínio, estocagem do material aprendido e transferência na aprendizagem.

As deficiências e debilidades destas funções dificultam principalmente as

atividades escolares:

“Entre outras deficiências que acarretam repercussão sobre o desenvolvimento

neurológico da criança com síndrome de Down pode determinar dificuldade na

tomada de decisões e iniciação de uma ação, na elaboração do pensamento

abstrato; no calculo; na seleção e eliminação de determinadas fontes

informativas; no bloqueio das funções perceptivas (atenção percepção); nas

funções motoras e alterações da emoção e do afeto”.(SCHWARTZMAN,

1999,p.247)

20

No entanto, a criança com síndrome de Down tem possibilidades de se

desenvolver e executar atividades diárias e ate mesmo adquirir formação

profissional e no enfoque evolutivo, a linguagem e as atividades como leitura e

escrita podem ser desenvolvidas a partir das experiências da própria criança.

Do ponto de vista motor, hipocinesias associadas à falta de iniciativa e

espontaneidade ou hipercinesias e desinibição são freqüentes. E estes padrões

débeis também interferem a aprendizagem, pois o desenvolvimento psicomotor é

a base da aprendizagem.

As inúmeras alterações do sistema nervoso repercutem em alterações do

desenvolvimento global e da aprendizagem. Não há um padrão estereotipado

previsível nas crianças com síndrome de Down e o desenvolvimento da

inteligência não depende exclusivamente da alteração cromossômica, mas é

também influenciada por estímulos provenientes do meio.

No entanto, o desenvolvimento da inteligência é deficiente e normalmente

encontramos um atraso global. As disfunções cognitivas observadas neste

paciente não são homogêneas e a memória seqüencial auditiva e visual

geralmente é severamente acometida.

II.2- Propostas Educacionais para Crianças com SD

As crianças com SD precisam de um currículo mais diluído, elas têm, em

geral, um perfil de aprendizagem específico. Saber dos fatores que facilitam e

inibem o aprendizado permite aos professores planejar os programas de

trabalho. Devem ser considerados o perfil e o estilo de aprendizado de cada

criança com SD.

Fatores comuns a várias crianças com SD. Algumas têm complicações

físicas, outros comprometimentos cognitivos. Muitas têm ambos.

FATORES QUE FACILITAM O APRENDIZADO

- Forte conhecimento visual

21

- Habilidade de usar sinais

- Habilidade em usar a palavra escrita

- Aprendizado com currículo prático e material e com atividades de

manipulação

- Imitação de comportamento dos colegas.

FATORES QUE INIBEM O APRENDIZADO

- Dificuldade no discurso e na linguagem

- Desenvolvimento tardio de habilidades, tanto fina quanto grossa

- Dificuldade na audição e visão

- Capacidade de concentração mais curta

- Déficit na memória auditiva recente

- Dificuldade em seguir seqüencia

- Dificuldade com generalizações, pensamento abstrato e raciocínio

A seguir será realizada uma breve discussão sobre os principais fatores

inibidores:

a) DIFICULDADE NA VISÃO

Muitos têm dificuldade de visão: de 60 a 70% usam óculos antes dos 7

anos e é importante diagnosticar e sanar as dificuldades que eles possuem.

Estratégias

- Colocar o aluno mais a frente,

- Escrever com letras grandes

- Fazer apresentações simples e claras.

b) DIFICULDADE NA AUDIÇÃO

22

Outra dificuldade e com audição, muitas crianças tem perda auditiva, É

importante checar a audição da criança porque ela afetará sua fala e linguagem,

às vezes as respostas inconsistentes podem ser fruto da deficiência auditiva e

não falta de atendimento ou atitude indesejada.

Estratégias

- Coloque o aluno na frente

-. Reforce o discurso com expressões faciais, sinais e gestos

- Reforce o discurso com material de apoio visual- figuras, fotos, objetos

- Diga de outra forma ou repita palavras e frases que possam ter sido mal

entendidas

- Quando outros alunos responderem repita suas respostas alto

c) SISTEMA MOTOR FINO E GROSSO

Várias crianças com SD têm flacidez muscular (hipotonia), o que pode

afetar sua habilidade motora fina e grossa. Na sala de aula, o desenvolvimento

da escrita é afetado.

Estratégias:

- Oferecer exercícios extras

- Fortalecer pulso e dedos, fazendo atividades de alinhavar, seguir

tracinhos com lápis, desenhar, separar, apertar cortar etc.

- Usar materiais multi-sensoriais

d) DIFICULDADE DE FALA E DE LINGUAGEM

Problemas com a fala é típico da criança com SD, elas devem ser

atendidas por fonoaudiólogos.

Alguns fatores causam o atraso da linguagem que podem ser físico e

alguns devido a problemas cognitivos e de percepção. Qualquer atraso em

23

aprender a entender e usar a linguagem pode levar a um atraso cognitivo.

Habilidades receptivas são mais desenvolvidas do que habilidades de expressão.

As crianças com SD entendem mais do que podem expressar.

e) ATRASO NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

- Dificuldade de aprender regras gramaticais, resultando num estilo

telégrafo de discurso

- Vocabulário menor, levando a um conhecimento geral menor

- Maiores problemas em aprender e usar linguagem social

- Dificuldade em compreender instruções

- Maiores problemas em entender linguagem específica apresentada no

currículo.

Além disso, quanto maior as frases maiores ficam os problemas de

articulação, por ter a boca menor e músculos da boca e da língua mais fracos

torna a formação das palavras mais difíceis.

Problemas na fala e linguagem para essas crianças normalmente

significam que menos oportunidades lhe serão oferecidas para manter uma

conversação. É mais difícil para eles pedir informação ou ajuda.

A conseqüência disso é uma criança com menos experiência de linguagem

que lhe de oportunidade de aprender novas palavras e estruturas de período,

tem menos oportunidade de praticar para tentar falar com mais clareza.

Estratégias:

- Escutar atentamente

- Falar frente a frente e com os olhos nos olhos do aluno

- Usar linguagem simples e familiar

- Reforçar a fala com expressões faciais, gestos e sinais

- Ensinar a ler e usar palavras impressas para ajudar a fala e a pronúncia

24

- Ensinar gramática com material impresso, cartões de figura, jogos,

figuras de preposição, símbolos, etc.

- Evitar perguntas fechadas e encorajar o aluno a falar além da frase

monossilábica

- Encorajar o aluno em falar em voz alta na sala dando a ele estímulos

visuais. Permitir que eles leiam a informação pode ser mais fácil para eles do que

falar espontaneamente

- O uso de um diário para casa e escola pode ajudar a contar as novidades

- Criar oportunidades onde ele possa falar com outras pessoas, por

exemplo, levar mensagens, etc.

Providenciar materiais visuais e táteis para reforçar a linguagem oral e

fortalecer as habilidades auditivas.

f) CAPACIDADE DE CONCENTRAÇÃO MAIS CURTA

As crianças têm a capacidade de concentração mais curta e são muitos

distraídos. Além disso, a intensidade do aprendizado com apoio, especialmente

quando ele se dá individualmente, é muito maior e a criança se cansa mais

facilmente.

Estratégias:

- Varie o nível de demanda de tarefa para tarefa

- Use outros colegas para manter o aluno trabalhando

- Construa tarefas curtas

- Na hora da rodinha situe o aluno ao lado do professor (sem sentar no

colo)

- Trabalhe no computador às vezes, ajuda manter o interesse do aluno

- Caixa de atividades, para ser usada quando o aluno terminou sua tarefa

antes dos colegas, essa caixa terá atividades que o aluno gosta de fazer,

25

incluindo livros, cartões, etc. Deixar que outra criança participe é uma maneira de

encorajar amizade cooperação.

g) ESTRUTURA E ROTINA

Situações informais e sem estrutura são geralmente mais difíceis para

eles, a rotina e mais fácil. Eles podem se sentir constrangidos com qualquer

mudança, pois levam mais tempo para se adaptar às mudanças na sala de aula

e nas transições.

Estratégias

- Explique sobre rotinas e regras escolares

- Crie uma grade de horários atraente: use palavras, desenhos e fotos

- Certifique que a criança sabe qual a próxima atividade

- Atenha-se a rotina sempre que possível

- Se houver alguma mudança prepare a criança antecipadamente e avise

aos pais

- Solicite a ajuda da criança na preparação das atividades dando uma

tarefa específica

Apresentados os fatores facilitadores e inibidores cabe, neste momento,

discorrer as práticas de sala de aula.

PRÁTICAS DE SALA DE AULA

Muitos alunos não se adaptam a algumas práticas da sala de aula.

Portanto os professores precisam analisar suas aulas e todo ambiente de

aprendizado na classe de forma que as atividades e os alunos sejam levados em

conta. As habilidades serão menos importantes do que os estilos de aprender de

cada aluno. É importante, por exemplo, utilizar a oportunidade e a motivação

para aprender com bons modelos que surgem quando o aluno com SD está

26

trabalhando em grupo com colegas. Estudos mostram que não apenas os alunos

com necessidades educacionais especiais preferem trabalhar em grupo, mas o

grupo cooperativo fomenta o aprendizado.

Estratégias

Decida quando a criança deve trabalhar:

- Em grupo ou em pares na classe

- Em atividades com toda classe

- Individualmente independente ou individualmente com o professor

- Decida quando a criança deve ficar:

- Com apoio do professor assistente

- Com apoio dos colegas

- Com apoio do professor da turma

- Faça um plano de educação individual para atingir determinadas áreas

que necessitam atenção.

LEITURA

A leitura é uma área do currículo em que muitas crianças podem se sair

muito bem. Como a palavra escrita faz com que a linguagem se torne visual, os

textos impressos superam a dificuldade do aprendizado pela audição.

A leitura pode ser usada para:

- Ajudar a acessar o currículo

- Ajudar o entendimento

- Melhorar as habilidades de fala e linguagem

Um fator chave ao ensinar uma criança co SD a ler é utilizar o método de

aprender a palavra completa e muitas crianças são capazes de começar a

construir um vocabulário visual de palavras familiares.

27

Isso pode significar um problema quando a exigência de que o método

fônico seja utilizado na alfabetização. Mas uma noção básica do método fonético

pode ser adquirida por muitas crianças com SD e isso deve ser introduzido

enquanto elas estão construindo seu vocabulário visual.

ESCRITA

O desenvolvimento da escrita para muitos alunos com SD é uma tarefa

muito complexa, as dificuldades de memória curta, fala e linguagem, sistema

motor e organização seqüenciamento de informação provocam um impacto

considerável na aquisição da escrita.

Áreas de especial dificuldade:

- Colocar as palavras em seqüência para formação da frase

- Organização de pensamento e informação relevante no papel

- Colocar informação em seqüência na ordem correta

Estratégias

- Oferecer apoio visual (cartão de leitura com figura ou foto e palavra),

palavras-chaves e símbolos gráficos escritos em cartões

- Oferecer métodos alternativos de memorização: sublinhar a resposta

correta, seqüência de frases com cartões, programas de computadores

específicos,

- Ajudar com recursos físicos- diferentes tipos instrumentos para escrever,

apoio tátil para empunhar o lápis, linhas grossas, quadrados no papel para limitar

o tamanho da letra, papel com pauta, quadro individual para escrever.

- Ao copiar no quadro, sublinhe ou destaque uma versão mais curta que

focalize o que é essencial para o aluno.

- Encorajar o uso da letra cursiva para ganhar fluência.

ORTOGRAFIA

Não é indicado confiar só na fonética para resolver problemas de

ortografia, a partir de uma memória visual as crianças com SD estarão

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soletrando. Porém o desenvolvimento nesta área pode ser mais lento do que o

de seus colegas, porque elas vão ter que aprender algumas noções de fonética.

Estratégicas:

Devido às habilidades de linguagem e fala mais fraca e o vocabulário

limitado, é importante:

- Ensinar palavras que eles entendam e necessárias para matérias

específicas

- Ensinar ortografia da maneira mais visual possível

- Usar método multi-sensoriais, por exemplo, olhe-cubra-escreva-cheque,

cartões com figuras e palavras, acompanhar com o dedo as letras

- Colorir grupos e padrões de letras similares dentro da palavra

- Reforçar os significados das palavras abstratas com figuras e símbolos

- Trabalhar atividades de ortografias no computador

- Ensinar famílias de palavras simples e básicas

O CURRÍCULO

A criança com SD merece uma atenção especial quando ela passa da

primeira para a segunda série. Algumas metas devem ser alcançadas nos

primeiros anos.

As atividades devem ser modificadas e adaptadas para se adequar ao

nível de aprendizado e desenvolvimento da criança. Em alguns casos, a criança

com SD estará trabalhando num nível muito diferente, não quer dizer que o

assunto ou tópico seja diferente dos demais colegas. Com planejamento e apoio

do professor ajudante isso pode ser feito com sucesso muitas vezes.

29

CAPÍTULO III- EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Para que possamos incluir, devemos respeitas as diferenças e querer

desenvolver o indivíduo em todos os aspectos dentro do processo de

aprendizagem. Deve haver a inclusão social, respeitar as crianças com

necessidades especiais, possibilitando a convivência com os indivíduos ditos

normais, dando-lhes assim condições necessárias para a aprendizagem e o

convívio social.

Devemos proporcionar a essas crianças um ambiente saudável, longe do

preconceito.

Incluir, quer dizer que podemos deixar pertencer, adaptando-os em todos

os aspectos, fazendo aprender através de atividades não só específicas, mas

transformadas e adaptadas.

Não podemos esquecer o agrupamento do físico, intelectual, emocional e

social e trabalhar em conjunto, pois a idéia é ajudar este indivíduo, conhecer,

reconhecer socializar e se emocionar através do aprendizado.

“Mais do que nunca, não podemos ficar de fora dos acontecimentos,

precisamos entender o que significa a educação de inclusão, democrática,

voltada ao desenvolvimento das potencialidades e habilidades da criança, e

não para aquilo que o portador de necessidades especiais não consegue

fazer”. (1o ESEI)

O mérito da escola inclusiva não é apenas proporcionar uma educação de

qualidade. Sua criação constitui passo decisivo para qualquer tipo de

discriminação, criar comunidades escolares que acolham todos e conscientizar a

sociedade. Implica um processo de mudança que requer tempo para um bom

funcionamento do ensino inclusivo.

Criar escolas que atendam aos alunos especiais, exige entre outras

mudanças em diferentes áreas, reorganização das classes, da modalidade de

ensino a ser ministrado, e do papel da equipe escolar, requer um envolvimento

dos pais, alunos e da comunidade escolar no processo.

30

A inclusão resulta de um complexo processo de integração, de mudanças

quantitativas e qualitativas, necessárias para definir e aplicar soluções

adequadas.

III.1- Inclusão Social e Cidadania das Pessoas com Alguma Deficiência

Incluir quer dizer fazer parte, inserir, introduzir. E inclusão é o ato ou

efeito de incluir.

A inclusão social das pessoas com deficiências significa torná-las

participantes, assegurando o respeito aos direitos no âmbito da Sociedade,

do Estado e do Poder Público.

Algumas legislações foram fundamentais para garantir a condição de

inclusão das pessoas com deficiência, dentre elas destacamos:

A- A Declaração Universal dos Direitos Humanos

Aprovada em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), relaciona os

seguintes direitos que valem para todos, isto é os direitos humanos ou da

cidadania: Diretos Civis, Direitos Político, Direitos Econômicos e Direitos Sociais

B- Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiências

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu em 1975 o ponto

de chegada de uma luta histórica de entidades nacionais e internacionais,

a Declaração tornou-se, em todo o mundo, o ponto de partida para defesa

da cidadania e do bem estar destas pessoas, assegurando os seguintes

direitos:

• O direito essencial a uma vida humana. Independente da

origem, natureza e gravidade de suas incapacidades, têm os

31

mesmos direitos que os outros cidadãos, o que implica no

direito de uma vida decente, tão normal quanto possível;

• Desenvolver capacidades que as tornem, tanto quanto

possível, autoconfiantes;

• Tratamento médico, psicológico e reparador;

• À segurança social econômica e um nível de bem estar

digno, segundo suas capacidades, têm direito ao emprego

ou de participar de ocupação útil e remunerada;

• Viver com a família e de participar das atividades sociais;

• À proteção contra toda a exploração e todo o tratamento

discriminatório, abusivo e degradante;

• Apoio jurídico qualificado;

• Suas famílias e a comunidade devem ser plenamente

informadas, pelos meios apropriados, dos direitos contidos

na Declaração. Percebe-se que a inclusão social depende do

seu reconhecimento como pessoas, que apresentam

necessidades especiais geradoras de direitos específicos,

cuja proteção e exercício dependem do cumprimento dos

direitos humanos fundamentais.

C- Constituição Federal

Logo no artigo 1o da constituição são mencionados dois dos fundamentos que

amparam os direitos de todos os brasileiros, incluindo,é claro, as pessoas com

deficiência: a cidadania e a dignidade.

Assim, a Constituição estabelece as seguintes normas relativas:

• Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros

que visam à melhoria de sua condição social:

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• XXXI. Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios

de admissão do trabalhador com deficiência.

• Art. 37 – Administração pública direta, indireta ou fundamental, de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e também ao seguinte:

• VII. A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as

pessoas com deficiência e definirá os critérios de sua admissão.

• Art.23 – é competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios:

II cuidar da saúde a assistência publica, da educação e dar proteção e

garantia das pessoas com deficiência exercitarem a cidadania.

Algumas medidas devem ser tomadas para assegurar a educação

especializada, como: aumento da oferta de serviços de educação

especial com equipamentos, equipe qualificada, material didático

especializado e espaço físico adequado às necessidades especiais,

assim como criação de programas de preparo para o trabalho, estímulo

e aprendizagem informal e orientação a família.

O acesso de muitas crianças especiais ao ensino especializado

vem sendo prejudicado pela falta de atendimento especial

principalmente em pré-escolas, carência de recursos e equipe

qualificada, inadequação do ambiente físico, falta de novas propostas de

ensino descontinuidades de planejamento e ações.

33

III.2- Intervenção Pedagógica

A criança com SD apresenta muitas limitações, assim o trabalho

pedagógico deve respeitar o ritmo de cada criança para desenvolver suas

habilidades.

A importância de criança freqüentar a escola e dela progressivamente

adquirir conhecimento cada vez mais complexos que serão exigidos da

sociedade.

Segundo a psicogênese, o indivíduo é considerado como instrumento

essencial à interação e ação. E como descreve Piaget, o conhecimento não

procede, em suas origens, nem de um sujeito consciente de si mesmo, nem de

objetivos já constituídos e que a ele se imponham. O conhecimento resulta da

interação entre os dois.

A escola deve adotar uma proposta curricular que desenvolva a interação

sujeito objeto, envolvendo o desenvolvimento desde o começo

O ensino não deve ser teórico, deve ser de forma agradável que desperte

o interesse da criança, o lúdico e um recurso muito utilizado, pois permite o

desenvolvimento global da criança através da estimulação de diferentes áreas

Acriança com SD não consegue absorver grande numero de informação

por isso o atendimento tem que ser de forma gradual, o aprendizado deve

ocorrer de forma facilitada, através de momentos prazerosos.

É comum observarmos evolução de movimentos estereotipados. A

atividade física na escola tem proporcionado um grande desenvolvimento global

que será a base para as demais aquisições A educação física regata a

importância do corpo e seus movimentos.

Antes de a criança adquirir qualquer conhecimento ela precisa descobrir

seu corpo e seus seguimentos, relação do corpo com objeto, espaço entre o

corpo e o objeto, percepção dos planos horizontal e vertical entre outros. São

fundamentais para a relação sujeito-meio, que será pano de fundo de toda

aprendizagens.

34

Todas as atividades proporcionadas à criança devem ter por objetivo a

aprendizagem ativa, que possibilite a criança a desenvolver suas atividades. O

professor deve conhecer as dificuldades de aprendizagem de cada criança de

forma a organizar seu trabalho e programação didática. A partir daí o professor

escolhe a técnica que mantenham a criança atenta e motivada. Em termos de

ambiente procura-se evitar o aparecimento de variáveis que possam bloquear o

processo e por isso muitas vezes são utilizados salas de recurso, que são

classes especiais inseridas na escola comum.

A sala de recursos é um local apropriado a receber as crianças especiais,

que deverão ter assistência pedagógica especializada. Assim a sala de recursos

funciona desenvolvendo com as crianças especiais as atividades, que já

trabalhou com seus demais colegas. O professor de recurso deve priorizar as

dificuldades da criança que precisa de auxilio. É fundamental que esse professor

da sala de recurso esteja preparado para as necessidades das crianças e

sempre em sintonia com o professor da classe regular.

Alguns princípios básicos devem ser considerados:

• As experiências devem ser adquiridas no ambiente próprio do

aluno;

• Situações estressantes devem ser evitadas;

• A criança deve ser respeitada;

• As atividades devem ser centradas em coisas concretas, que

devem ser manuseadas pelos alunos;

• A família da criança deve participar do processo intelecto.

A classe especial é a estratégia atualmente mais indicada para o trabalho

com crianças especiais, pois permite a integração destas na sociedade.

35

III.3- A Família e a Educação

É de fundamental importância que a família esteja presente em todos

os momentos, participando em conjunto com os profissionais.

Os pais e familiares da criança com SD necessitam de informações

sobre a natureza da excepcionalidade; quanto aos recursos existentes para

tratamento e educação. Auxiliar aos familiares requer prestar informações

adequadas que permitam aliviar a ansiedade e diminuir as dúvidas.

O objetivo principal é ajudar os pais a lidar com os problemas,

decorrente com as deficiências, alguns pontos são importantes: ouvir as

dúvidas e questionamentos, utilizar termos mais fáceis e que facilitem a

compreensão, promover melhor aceitação do problema, trabalhar os

sentimentos e atitudes, aconselhar a família inteira, e facilitar a interação

social do portador de necessidades especiais.

Através de ações a família e os profissionais passam a trocar

experiências, fazendo assim aproximação ficar mais atenuante e a própria

mudança de olhar em relação ao ser, despertando a importância da

solidariedade e da afetividade.

A superproteção dos pais pode influenciar de forma negativa no

processo de desenvolvimento da criança e normalmente os pais dão mais

atenção às deficiências da criança de modo que o fracasso receba mais

atenção que os sucessos e a criança fica limitada nas possibilidades que

promovam a independência e a integração social.

“As habilidades de autonomia pessoal e social

proporcionam melhor qualidade de vida, pois

favorece a relação, a independência, interação,

satisfação pessoal e atitudes positivas”.

(BROWN,1989)

36

CONCLUSÃO

O presente trabalho objetivou analisar os aspectos educacionais

associados às crianças e adolescentes com síndrome de Down,

principalmente no que concerne à sua inserção na sociedade como

verdadeiros cidadãos, por meio da educação inclusiva. Para tal, foi realizada

pesquisa do tipo bibliográfica junto a especialistas nas áreas médica e

educacional.

Com relação ao aspecto clínico, foi possível caracterizar a doença,

suas origens de ordem genética, os dados estatísticos de incidências e

prevalências, que mostram a evolução da síndrome em escala global, suas

características fenotípicas, que facilitam o diagnóstico já na fase neonatal, e

as questões ambientais, como a influência da idade materna no aumento da

incidência.

No que tange aos aspectos educacionais, foi analisado o marco

regulatório existente no Brasil, com ênfase na LDB, bem como a visão da

Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a questão dos direitos dos

portadores de deficiências.

Em seguida discutiu-se a educação das crianças com SD, com

enfoque nos fatores que dificultam a aprendizagem desses indivíduos e as

possíveis estratégias educacionais, com maior destaque para a educação

inclusiva e o papel da família neste processo.

Os dados obtidos levaram à constatação de que a família é primordial

para a aquisição da linguagem oral, principalmente nos primeiros anos de

vida. Para o desenvolvimento normal da criança, a estimulação na fase

inicial da vida é extremamente importante, pois minimiza as ocorrências de

déficits de linguagem na primeira infância, que poderão trazer sérias

conseqüências futuras.

Outro ponto observado é o de que a educação inclusiva é

determinante no processo de estimulação inicial e cabe aos professores de

turmas especiais trabalharem suas crianças desenvolvendo, nestas, a

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capacidade de participar das atividades familiares e cotidianas, a

desenvolverem seu direito de cidadania e até mesmo a desenvolver uma

atividade profissional. Para isso, profissionais especializados devem ser

utilizados e cuidados especiais ser tomados, a fim de facilitar e possibilitar

um maior rendimento e desenvolvimento educacional dos portadores da tal

síndrome.

Enfim, as necessidades da criança de vivenciar experiências e a

importância da estimulação possibilitariam seu desenvolvimento,

respeitando suas deficiências e explorando suas habilidades. Este estudo

permite aos familiares aumentarem suas possibilidades de intervenção e

observação, objetivando aprimorar a aprendizagem de seus filhos, que têm

dificuldades como qualquer outra criança, mas que são capazes de vencê-

las e se desenvolverem.

Observa-se, dessa maneira, que a presente proposta facilitará o

aprendizado das crianças e adolescentes com SD, possibilitando a sua

inserção na sociedade como verdadeiros cidadãos, possuidores de direitos

específicos, previstos pela Constituição Federal.

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BIBLIOGRAFIA

SCHWARTZMAN, José Salomão. Síndrome de Down. – 2ed. São Paulo:Memnon,2003. CRUICKSHANK; Johnson. A Educação da Criança e do Jovem Excepcional. Porto Alegre: Globo, 1975. ALVES, Fátima. Inclusão: muitos olhares, vários caminhos e um grande desafio – 4. ed. - RJ: Wak Editora, 2009.