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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE A Educação Especial da Criança Portadora da Síndrome de Down Maria Cataldi Fernandez Orientadora Profª. Fabiane Muniz Rio de Janeiro Março/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A Educação Especial da Criança Portadora da

Síndrome de Down

Maria Cataldi Fernandez

Orientadora

Profª. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

Março/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A Educação Especial da Criança Portadora da Síndrome de Down

Trabalho monográfico apresentado por Maria Cataldi Fernandez como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicopedagogia.

Rio de Janeiro Março/2004

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me permitido, nesta viagem,

dedicar-me ao exercício do magistério;

à minha amiga Nilcéa Siqueira, diretora do Ciep Henfil,

por ter confiado no meu trabalho, dando-me a regência

da Classe Especial RM;

aos meus amiguinhos Camila, Damiana, Geisiane, Maria Jociara,

Thais, Paulinho e Paulo Ricardo, pelas trocas que realizamos, todas

as tardes;

aos meus filhos Daniele, Rodrigo e Marieta, por existirem;

ao Roberto e à minha mãe, pelo apoio.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Maria Jociara,

ponto de partida para minha pesquisa

e meus estudos.

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“ Foi assim como ver o mar

a primeira vez que meus olhos

se viram no seu olhar.

Não tive a intenção, de me apaixonar

Mera distração e já era

Momento de se gostar.”

(Flávio Venturine)

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RESUMO O objetivo desta pesquisa é buscar conhecimento e aprofundar

conteúdos sobre a importância da educação especial para a formação e

desenvolvimento de crianças portadoras da Síndrome de Down. O estudo

também discute a influência da estimulação precoce em relação à aquisição da

linguagem.

A pesquisa passa por abordagens neurológicas, psicológicas,

anatômicas e pedagógicas, com o objetivo de ampliar o campo de estudo, pois

entende-se que a contribuição das várias ciências nunca é demais para ajudar

compreender essas crianças e poder realizar um trabalho, objetivando torná-las

cidadãs participativas e críticas em nossa sociedade.

A aprendizagem é um processo complexo e sobre ela existem muitos

conceitos e definições, por isso procurei manter uma linha de trabalho,

seguindo uma seqüência, passando primeiro pela etapa da educação infantil,

descrevendo, também, a relação entre o cérebro e a linguagem. Para finalizar,

é necessário enfatizar o papel da família para as aquisições e ressaltar, que em

toda bibliografia pesquisada, a importância da família, nos processos de

construção da linguagem e do conhecimento, é citada.

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METODOLOGIA

Após trabalhar, no período de abril a agosto de 2003 no levantamento

bibliográfico sobre o tema, dediquei-me à leitura do material coletado e a cada

leitura percebia que era preciso ir mais fundo no assunto, pois Educação é

sempre um assunto muito complexo, em todos os níveis, já que muitas teorias

foram desenvolvidas.

A metodologia utilizada foi a da pesquisa bibliográfica e o trabalho tem

por objetivo dar uma contribuição reflexiva aos profissionais de ensino que

estão regentes em classes especiais, com crianças portadoras da Síndrome de

Down .

Durante a pesquisa, foram consultados livros, sites, artigos de jornais e

revistas. Também foi utilizada a observação direta em sala de aula,

considerando a minha prática pedagógica com alunos na Rede Municipal do

Município do Rio de Janeiro, em turma de crianças portadoras de retardo

mental, mais especificamente, portadores da Síndrome de Down.

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SUMÁRIO INTRODUÇÂO 9

CAPÍTULO I 12 O QUE É A SÍNDROME DE DOWN 12 CAPÍTULO II 17 A CRIANÇA DOWN 17 CAPÍTULO III 27 AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA DOWN 27 CAPÍTULO IV 30 A EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA AS CRIANÇAS DOWN 30 CAPÍTULO V 45 PROPOSTA EDUCACIONAL PARA OS PORTADORES DA SÍNDROME DE DOWN 45 CONCLUSÃO 48 BIBLIOGRFIA 49 ÍNDICE 52

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INTRODUÇÃO A presente pesquisa monográfica vai discutir uma proposta educacional

voltada para a criança portadora de Síndrome de Down e a possibilidade

desses alunos partilharem com os demais, o mesmo processo educacional.

O tema é de grande importância, na medida que esclarece aos

profissionais de ensino, principalmente aos regentes de classe especial, que

uma educação inclusiva é possível baseada na premissa de que a

aprendizagem é um dos agentes responsáveis pela integração social dos

alunos especiais , na sociedade.

Meu esforço teórico, nesta monografia, busca a reflexão sobre uma

proposta educacional que supera modelos mecânicos para dar lugar às

relações sociais.

Os textos que compõem esta monografia estão apresentados em cinco

capítulos.

O primeiro capítulo enfoca o que é a Síndrome de Down e as pesquisas

que foram feitas, a partir do século XIX; como a síndrome ocorre e quais as

causas que, possivelmente, fazem com que um bebê seja portador dessa

anomalia. Nele, faço um estudo dos termos com que esta síndrome foi definida,

por muito tempo, na literatura médica: era representativa da raça mongólica e

as razões pelas quais este termo foi abandonado.

O segundo capítulo é dedicado ao estudo da criança Down, quais as

suas características e as alterações orgânicas que acompanha a síndrome,

passando pelos aspectos psíquicos, como se processa o desenvolvimento do

sistema nervoso dessas crianças e as conseqüências que essas alterações

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10determinam no seu desenvolvimento global. A tarefa do educador será exigir

dessa criança o que estiver dentro das suas possibilidades. Para compreender

a criança Down, o segundo capítulo aborda aspectos como: expectativa de

vida, os mitos e os preconceitos que as envolvem , completando, desta forma,

o perfil da criança Down. No final do capítulo, discute-se o déficit mental que

esta síndrome acarreta aos seus portadores.

Em conseqüência desse déficit mental vão surgir as dificuldades de

aprendizagem. Esse é o tema do terceiro capítulo. A primeira dificuldade para a

aprendizagem é a idade mental diferente da idade cronológica, além de outras

dificuldades que acometem essas crianças, que ocorre porque existe uma

imaturidade nervosa, afetando a memória e a percepção.

No final do capítulo, percebe-se que o desenvolvimento da inteligência é

deficiente e por isso há um atraso global nos seus portadores.

No quarto capítulo, sinalizo que a educação especial é uma modalidade

de ensino e tem como objetivo o desenvolvimento do aluno, respeitando as

diferenças individuais. Além disso, é um dever constitucional do Estado.

Finalmente, no quinto capítulo, apresento uma Proposta Educacional

para o portador da Síndrome de Down alicerçada em princípios que a

aprendizagem propulsiona o desenvolvimento humano e é responsável pela

integração social do aluno e pela inserção do mesmo, até mesmo se for

possível, no mercado de trabalho.

As considerações finais, do quinto capítulo, são sobre a família do aluno

especial, primordial para a aquisição da linguagem oral e que deve caminhar

junto com o professor, respeitando as deficiências e explorando as habilidades

da criança.

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CAPÍTULO I

O que é a Síndrome de Down

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121.1- Os primeiros estudos

Segundo DANIELSKY (2001), a denominação Síndrome de Down surgiu

com os estudos de John Langdon Down, médico inglês que descreveu em

1866, pela primeira vez, as características de uma criança com a síndrome.

A Síndrome de Down é uma condição genética caracterizada pela

presença de um cromossomo a mais nas células de quem é portador e

acarreta um variável grau de retardo no desenvolvimento motor, físico e

mental. Esse cromossomo extra se acrescenta ao par de número 21, daí o

termo também utilizado para sua denominação, entre todos o mais correto, de

Trissomia 21.

Langdon Down definia essa forma de retardo mental como “repre-

sentativa da raça mongólica”. Tal termo, “mongolismo”, difundiu-se, apesar de

a hipótese etiopatogênica que o justificava e que estava na base da sua

classificação ser claramente errada e conhecida por poucos. Ao sugerir este

termo, Down afirmava que nem todas as raças eram iguais, mas que existiria

uma evolução; e afirmava também que certa forma de retardo mental, poderia

ser explicada à base da regressão de uma raça “mais evoluída” (a ariana) a

uma “menos evoluída” (a raça mongólica).

Na literatura médica, bem como no uso corrente, os termos mongolismo

e mongolóide tiveram uma grande difusão e todas as teorias que se sucederam

no tempo para explicar o surgimento do “mongolismo” foram definitivamente

superadas quando, em 1959, Lejeune, Gauthier e Turpin descobriram que as

pessoas afetadas pela Síndrome de Down tinham 47 cromossomos,

principalmente no par 21.

Em 1966, foi celebrado o centenário daquela que é considerada a

primeira descrição do “mongolismo”, com um congresso mundial na Fundação

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13Ciba de Londres. Essa data pode ser lembrada, como data oficial em que o

termo “mongolismo” cedeu espaço à expressão “Síndrome de Down”.

Várias foram as razões que levaram ao abandono do termo

“mongolismo”:

1) A hipótese racial, na base da introdução do termo, é cientificamente errada.

2) O termo “mongolóide” poderia fazer pensar em um nexo com a Mongólia ou com o Oriente em geral, ou levar a crer que naquela região a

Síndrome de Down não existia, ambas as possibilidades privadas de fundamento.

3) Enfim, mas não por último, é que poucas palavras como”mongolismo” e “mongolóide” foram usadas de modo tão impróprio e carregado

de preconceito, esteriotipado e com significados errôneos. Há assim motivos científicos, históricos e culturais que impõem considerar o

termo “mongolóide” completamente superado. ( DANIELSKI, 2001, p.20, 21)

1.2- Como ocorre a Síndrome de Down

O portador de Síndrome de Down pode ter um dos três tipos de

anomalias cromossômicas, todas caracterizadas por um cromossomo a mais

no par 21.

A Trissomia 21 livre está presente em 94% dos casos, como afirma

DANIELSKY (2001), e ocorre quando há uma anomalia numérica devida à falta

de disjunção durante a meiose. O patrimônio genético da mãe, que era normal,

não se dividiu exatamente na metade e o ovócito ficou com um cromossomo a

mais. Nesse caso pode ocorrer um aborto espontâneo ou o nascimento de uma

criança com Trissomia 21 livre ou regular.

Na maior parte dos casos, a Trissomia 21 é um incidente: o pai e mãe

têm cromossomos normais e o problema se verifica na hora da formação da

primeira célula do novo ser.

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14 A Trissomia 21 em translocação é mais rara e verifica-se de 3 a 5% dos

casos. Existe uma anomalia numérica dos cromossomos de um dos pais: por

exemplo, um dos pequenos cromossomos 21 se liga a um outro cromossomo

__ este fenômeno chama-se Translocação.

É normal as pessoas terem dois cromossomos unidos, mais existe um

risco ao fabricar as células reprodutoras, pois naquele momento não são 46

cromossomos, e , sim 45 e 45 não é divisível por dois, haverá um resto. No

momento em que esta pessoa está fabricando as células reprodutoras, em vez

fabricá-las todas com 23 cromossomos as fabrica com um cromossomo a mais,

por isso, o risco de Trissomia é mais elevado.

Na Translocação do 15-21, a responsável seria a mãe, que clinicamente

sã, tem um desequilíbrio no seu cariótipo (45 cromossomos); no 21-22 o pai

seria o responsável por apresentar esse desequilíbrio, que pode se apresentar,

principalmente, na idade avançada.

O estudo do cariótipo dos pais pode tornar possível diagnosticar a

possibilidade de ter um segundo filho Down, porque neste caso a Translocação

é mais freqüente.

A Trissomia 21 em mosaicismo pode se verificar, também, depois da

fecundação por causas que ainda não estão muito claras. A primeira célula do

embrião é normal e no momento da primeira duplicação ocorre o erro e se

repete em cada célula, enquanto o feto se desenvolve. O nome é dado porque

o fenômeno ocorre, estando presentes, como num mosaico, dois tipos

diferentes de células: um tipo com 46 cromossomos e um tipo com 47

cromossomos.

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151.3 – Causas da Síndrome de Down

Não se conhece a causa da Síndrome de Down, mas muitos fatores

podem concorrer para este risco. Smith e Berg fizeram um estudo e levantaram

a hipótese de existência de causas diversas: agentes ambientais poderiam

impedir a perfeita distribuição dos cromossomos, como as irradiações, o vírus

da hepatite viral (hipótese de uma certa relação vírus-cromossomo ), o

momento da concepção, uma predisposição observada em mulheres com

patologia de tireóide, em que a incidência de filhos Down é maior do que em

outras mulheres e a idade da mãe ( para as mães com idade avançada, pode

se pensar na ocorrência da involução senil dos órgãos reprodutores ).

Há, ainda, outros fatores de risco verificados: longo intervalo estéril,

práticas abortivas, abortos pregressos, fatores que alteram a mucosa uterina e

o alcoolismo.

As alterações genéticas causadas vão alterar o desenvolvimento e

maturação do organismo, além de prejudicar a cognição do indivíduo portador

da síndrome e dar-lhe características próprias.

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CAPÍTULO II

A criança Down

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17 2.1 – Características das crianças Down

Segundo DANIELSKY (2001), as crianças portadoras da síndrome de

Down, apesar de serem muito parecidas, apresentam características diferentes

entre si, como cor dos olhos e dos cabelos, estrutura corporal e padrões de

desenvolvimento.

As principais alterações orgânicas, que acompanham a síndrome são:

cardiopatias, prega palmar única, baixa estatura, atresia duodenal,

comprimento reduzido do fêmur e úmero, dismorfismo da face e dos ombros,

bexiga pequena e hiperecongênica ventriculomegalia cerebral e hidronefrose.

São observadas, ainda, outras alterações como: braquicefalia; fissuras

palpebrais; hipoplasia da região mediana da face; diâmetro fronto-occiptal

reduzido; pescoço curto; língua protusa e hipotônica; distância aumentada

entre o primeiro e segundo dedo dos pés; crânio achatado, mais largo e

comprido; narinas normalmente arrebitadas por falta de desenvolvimento dos

ossos nasais; quinto dedo da mão muito curto, curvado para dentro e formado

apenas com uma articulação; mãos curtas; ouvido simplificado; lóbulo auricular

aderente e coração anormal.

Nos primeiros dias de vida, a criança Down apresenta algumas

alterações fisiológicas, como: grande sonolência, dificuldade de despertar,

dificuldade de sucção e deglutição, porém essas dificuldades vão se atenuando

ao longo do tempo, à medida que a criança vai ficando mais velha.

Essas crianças apresentam grande hipotonia e à medida que o tempo vai

passando, a hipotonia vai se atenuando, também, o treino muscular precoce da

musculatura poderá diminuí-la. O atraso no desaparecimento de alguns

reflexos como o de preensão, de marcha e de Moro é patológico e resulta no

atraso das aquisições motoras e cognitivas deste período, já que muitas

atividades dependem desta inibição reflexa para se desenvolverem, como a

marcha voluntária, que substitui o reflexo de Moro.

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2.2 – O aspecto psíquico da criança Down

Segundo DANIELSKY (2001), como em todas as pessoas não existe uma

“personalidade única” e esteriotipada, acontece, também, com a criança Down.

Cada uma tem seu modo de ser, de pensar, de falar. A personalidade

dessas crianças é a soma dos fatores positivos e de outros menos positivos,

que tem por base fundamental, o tempo vivido no útero materno, o parto e o

processo de sua aceitação por seus genitores e pela sociedade que os cerca.

Os fatores positivos são: o gosto pela brincadeira, o comportamento e o

dinamismo afetivo, a capacidade de imaginação, a facilidade dos automatismos

e, na maioria das crianças Down, a socialização, que tem um lugar

predominante ( este, muito condicionado ao processo de aceitação da família ).

Os fatores negativos são: teimosia, pouca confiança na própria

capacidade mental, lentidão, ingenuidade, tendência ao infantilismo,

hiperatividade, vários medos, fuga na fantasia, falar sozinha, “eu” oscilante,

cansaço e apatia, manifestações afetivo-sexuais, vontade de fazer muito

volúvel, tendência ao “emudecimento” mental, inabilidade de atenção e

concentração e indisciplina ( não muito típica na criança Down ).

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192.3 – O Desenvolvimento do Sistema Nervoso da criança Down

O sistema nervoso da criança Down apresenta anormalidades estrutuais

e funcionais que resultam em disfunções neurológicas variando quanto à

manifestação e intensidade.

Nas crianças mais velhas foram observadas anormalidades nos

neurônios piramidais pequenos especialmente nas camadas superiores do

córtex .(SCHWARTZMAN),1999, p54. ).

O processo de desenvolvimento e maturação do sistema nervoso é um

processo complexo, no entanto, a criança com Síndrome de Down, ainda está

no estágio fetal, já apresenta alterações no desenvolvimento do sistema

nervoso central.

SCHIMIDT, citado por SCHWARTZMAN (1999), em seus estudos com

fetos formais e fetos com Síndrome de Down, não observou alterações

significativas no desenvolvimento e crescimento do sistema nervoso.

Outros estudiosos, como WISNIEWSKI (1900), concluíram que até os

cinco anos, os cérebros das crianças com Síndrome de Down , encontra-se

anatomicamente similar ao de crianças normais, apresentando apenas

alterações de peso, que nestas crianças encontra-se inferior a faixa de

normalidade, que ocorre devido a uma desaceleração do crescimento

encefálico iniciado por volta dos três meses de idade. Nas meninas, essa

desaceleração encontra-se mais acentuada e observamos, também freqüentes

alterações cardíacas e gastrintestinais.

WISNIEWSKI, citado por SCHWARTZMAN, (1999, p.47) observa que há

algumas evidências que durante o último trimestre de gestação existe uma

lentidão no processo da neurogênese .

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20 Apesar da afirmação descrita por WISNIEWSKI, as alterações de

crescimento e estruturação das redes neurais, após o nascimento, são mais

evidentes e estas se acentuam com o passar do tempo.

As medidas de inteligência geral e as habilidades lingüísticas, segundo

SCHWARTZMAN, encontram-se alteradas e não possuem padrão definido,

além de não se relacionarem com o volume encefálico, podendo apresentar-se

em diversos níveis intelectuais.

Nestes estudos, também observou-se que o sistema nervoso dos

portadores da Síndrome de Down, alterações de hipocampo e a partir do quinto

mês de vida, quando se inicia o processo de desaceleração do crescimento e

desenvolvimento do sistema nervoso, ocorre uma diminuição dos neurônios.

Uma perda de neurônios granulares no córtex cerebral, foi observada por

ROSS e colaboradores (1984) e WISNIEWSKI (1994) confirma a proposta de

Ross e relata uma diminuição no número de neurônios granulares nas

camadas II e IV do córtex.

No paciente Down, o desenvolvimento braquicéfalo é marcante e ainda

podemos observar uma hipoplasia do lobo temporal. No paciente recém-

nascido, muitas alterações não são evidenciadas, porém com o passar do

tempo se evidenciam, tornando-se visíveis as reduções de volume dos

hemisférios cerebrais e hemisférios cerebelares, da ponte, corpos mamilares e

formações hipocampais.

Desta forma concluímos, que as inúmeras alterações estruturais e

funcionais do sistema nervoso da criança portadora da Síndrome de Down,

determinam algumas de suas características mais marcantes como distúrbios

da aprendizagem e do desenvolvimento.

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212.4- O Desenvolvimento da Criança Down

Segundo SOLER (2002), a Síndrome de Down afeta diretamente o

desenvolvimento psicomotor, por isso, é muito importante que ela tenha espaço

para correr e brincar exercitando sua coordenação global. Esse trabalho deve

ser realizado num clima de brincadeira, em que o lúdico servirá para motivar a

criança a cada vez querer aprender mais, do mesmo modo como é feito com as

crianças não portadoras.

Há uma preocupação generalizada, sobre quais são as perspectivas

futuras para a pessoa com Síndrome de Down. Acredita-se que a partir de

programas que visem considerá-las como seres humanos, e como tal

merecedoras de toda atenção, pode-se colaborar para sua formação integral.

Com melhores condições de vida, a pessoa Down pode ter melhor

desenvolvimento, resultando maior independência e autonomia. Não se pode

precisar, ainda, até que grau de autonomia a pessoa Down pode atingir.

Para garantir a inclusão social dessas pessoas, devemos, em primeiro

lugar, não tratá-las como doentes, estimular as suas relações sociais, recebê-

las, com naturalidade em locais públicos e garantir o seu direito de educação,

lazer, turismo e recreação.

Com novos tratamentos e menos preconceitos, o portadores da

Síndrome de Down podem viver melhor e os educadores devem desmistificar a

imagem de incapacidade que sempre esteve associada ao Down.

A tarefa principal do educador será exigir da criança, somente o que tiver

dentro das suas possibilidades, a fim de que se sinta mais segura na escola.

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22 2.5- Expectativa de Vida

A Revista Veja (março/2000, p. 172 ) publicou os resultados de uma

pesquisa realizada pelo CEPEC ( Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de

São Paulo ) quanto à expectativa de vida dos portadores de Síndrome de

Down:

• Na década de 1920, era de 10 anos.

• Na década de 1950, era de 15 anos.

• Na década de 1970, era de 30 anos.

• Hoje é de 60 anos.

Como se pode perceber, a expectativa de vida está bem próxima à

população brasileira, em geral.

Ainda, segundo a Revista Veja ( março/2000, p. 173 ):

• 80% das crianças e dos adolescentes estudam, sendo que 1 em

cada 2 está matriculado em escolas comuns.

• 95% estudam música.

• 58% praticam esportes.

• 18% sabem utilizar computador.

• 8 em cada 10 têm autonomia para realizar, sozinhos, atividades

corriqueiras, como tomar banho ou arrumar a cama.

• 10% trabalham, sobretudo em instituições beneficentes e em

estabelecimentos comerciais.

Analisando estes dados, concluímos que o portador de Síndrome

de Down, também pode tornar-se um cidadão capaz, porque como já foi

citado, o desenvolvimento da criança Down é semelhante ao da criança

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23não portadora, porém o seu desenvolvimento obedece a um ritmo mais

lento.

2.6 – Mitos e Preconceitos

Segundo BONFIM (1994), ainda existem alguns mitos e preconceitos que

envolvem os portadores da Síndrome de Down.

É preconceito afirmar que “eles não aprendem”. Como já foi estudado, os

Downs revelam inteligência, sensibilidade e têm capacidade de aprendizagem,

desde que estimulados precocemente.

“Morrem cedo, logo que principiam a vida adulta”. Têm o tempo de vida

que for possível, de acordo com o tratamento recebido.

“Começam a falar e andar muito tarde, devido à sua hipotonia

generalizada”. Se forem estimulados adequadamente, começam a andar entre

quinze meses e dois anos e a falar, entre dezoito meses e dois anos e meio, se

não houver problemas paralelos.

“Estão impossibilitados de praticar exercícios físicos”. Podem e devem

praticar exercícios físicos, supervisionados por um profissional qualificado.

“Todos têm problemas cardíacos”. Trinta a quarenta por cento dos casos

têm problemas cardíacos.

“Acomete apenas a etnia branca”. A Síndrome de Down pode se

apresentar em qualquer etnia.

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24 “Todas as pessoas portadoras da Síndrome de Down são iguais”. Na

realidade, é um erro achar que todas as pessoas portadoras da Síndrome de

Down são iguais, elas revelam uma individualidade ímpar.

“Engordam com facilidade”. Isto é verdade. Acontece com qualquer

pessoa não educada para alimentar-se de modo parcimonioso.

2.7- Deficiência mental e a Síndrome de Down

O conceito de deficiência mental apóia-se, basicamente, em três idéias que

têm sido utilizadas para definir esse termo. É essencial examiná-las do ponto de vista

interativo. A primeira diz respeito ao binômio de desenvolvimento-aprendizagem(...). A

segunda idéia se refere aos fatores biológicos(...). A última tem a ver com o ambiente

físico e social(...).

(SCHWARTZMAN, 1999, p. 243)

Os três conceitos a que o autor citado se refere podem ser explicados

como bases das atividades mentais. O cérebro de uma criança recém-nascida

possui capacidades de aprendizagem, que serão desenvolvidas através de

internalização de estímulos, e esta se dá através da aprendizagem, que está

intimamente associada aos fatores biológicos, com integridade orgânica e que

ainda sofre influências diretas dos fatores sociais e ambientais.

A afirmação feita por SCHWARTZMAN (1999), é coerente com Piaget,

que afirma que os indivíduos nascem com potencialidades à capacidade de

aprender. Assim todo conhecimento e todo desenvolvimento depende de

estímulos advindos do meio. Para Piaget, a base do conhecimento é a

transferência e assimilação de “estruturas”. Um estímulo do meio é encarado

como uma estrutura que será “assimilada” pelo indivíduo através da sua

capacidade de aprender. A aprendizagem é realizada com sucesso se

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25capacidades de assimilação, reorganização e acomodação estiverem íntegras ,

assim vão se dando aquisições ao longo do tempo. Estes três processos

acontecem para que o indivíduo esteja sempre adquirindo novas informações,

assim quando se depara com um dado novo, para internalização do mesmo, o

indivíduo deve reorganizar as aquisições já adquiridas, para acomodar novos

conhecimentos sendo por este processo que linguagem e cognição se

desenvolvem.

Para as atividades cognitivas, devemos considerar a grande influência do

ambiente e a competência da criança. Um dos objetivos é tornar a criança mais

competente para resolver as exigências que a vida apresenta e o portador da

Síndrome de Down possui certa dificuldade de aprendizagem que na grande

maioria dos casos são dificuldades generalizadas, que afetam todas as

capacidades: linguagem, autonomia, motricidade e integração social.

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CAPíTULO III

As dificuldades de aprendizagem da criança Down

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27 3.1 – Deficiência Mental e a Síndrome de Down

Segundo SCHUWARTZMAN (1999), a criança com Síndrome de Down

tem idade cronológica diferente da idade funcional, por isso, não devemos

esperar uma resposta idêntica à resposta das crianças não portadoras. Esta

deficiência decorre de lesões cerebrais e desajustes funcionais do sistema

nervoso.

O fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou demonstrar conduta

imatura em determinada idade, comparativa a outras com idêntica condição genética,

não significa impedimento para adquiri-la mais tarde, pois é possível que madure

lentamente.

(SCHWARTZMAN, 1999, p. 246)

A prontidão para a aprendizagem depende da complexa integração dos

processos neurológicos e da harmoniosa evolução de funções específicas

como linguagem, percepção, esquema corporal, orientação têmporo-espacial e

lateralidade.

Nas crianças Down, podemos observar dificuldades de internalização de

conceitos de tempo e espaço, que as levam à dificuldade de aquisição de

conhecimentos e que refletirá especialmente em memória e planificação, além

de dificultar a aquisição da linguagem.

As crianças portadoras de Síndrome de Down têm dificuldades em

desenvolver estratégias espontâneas, fato este que deve ser considerado no

processo de aprendizagem por dificultá-las na resolução de problemas e

encontrar soluções para os mesmos, sozinhas.

Existem, ainda, outras deficiências que acometem a criança Down e que

dificultam a aprendizagem: alterações auditivas e visuais, incapacidade de

organizar condutas e atos cognitivos, debilidade de associar e programar

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28seqüências. Essas dificuldades ocorrem porque a imaturidade nervosa e a não

mielinização das fibras nervosas dificulta funções mentais como: habilidade

para usar conceitos abstratos, memória, percepção geral, habilidades que

incluam imaginação, relações espaciais, esquema corporal, habilidade no

raciocínio, estocagem do material apreendido, transferência na aprendizagem.

Por conseguinte, as deficiências nessas habilidades dificultam as atividades

escolares.

No entanto, a criança Down tem possibilidade de executar atividades

diárias e até de adquirir formação profissional, e no enfoque evolutivo, pode

desenvolver, a partir das próprias experiências, a linguagem e atividades como

leitura e escrita.

Resta-nos ainda sinalizar que as hipocinesias, associadas à falta de

iniciativa e espontaneidade e as hipercinesias e desinibição são freqüentes.

Estes padrões também interferem, pois sabe-se que o desenvolvimento

psicomotor é a base da aprendizagem.

As inúmeras alterações do sistema nervoso repercutem em alterações

do desenvolvimento global. Não há um padrão esteriotipado previsível para a

criança Down e o desenvolvimento da inteligência não depende

exclusivamente da alteração cromossômica, mas é também influenciada por

estímulos proveniente do meio.

O desenvolvimento da inteligência é deficiente e normalmente

encontramos um atraso global. As disfunções cognitivas encontradas não são

homogêneas e a memória, a memória seqüencial auditiva e visual, geralmente

são severamente acometidas.

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CAPÍTULO IV

A Educação Especial para crianças Down

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30 4.1 – A Educação Especial, uma modalidade de ensino

A Educação Especial é uma modalidade de ensino que visa promover o

desenvolvimento global dos alunos portadores de deficiência, que necessitam

de atendimento especializado, respeitando as diferenças individuais, de modo

a lhes assegurar o pleno exercício dos direitos básicos de cidadão e efetiva

integração social e neste contexto, o aluno portador da Síndrome de Down está

incluído.

A LDB (Lei 9394/96) afirma que a Educação Especial deverá ser

oferecida na rede regular de ensino, para educandos portadores de

necessidades especiais, O atendimento será feito em classes, escolas ou

serviços especializados, sempre atendendo às condições específicas do aluno

e quando não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino

regular.

A oferta da educação especial é dever constitucional do Estado e terá

início na educação infantil e tem início na faixa etária de 0 aos 6 anos, durante

a educação infantil.

A Lei Orgânica (1990), no seu artigo 322, inciso 7o afirma que o

atendimento aos portadores de necessidades especiais deverá ser feito em

escola mais próxima de sua residência, em turmas comuns ou

quando especiais, seguindo critérios determinados por cada tipo de deficiência

e, sempre que possível, estar integrado nas atividades comuns da escola.

São objetivos da Educação Especial: o desenvolvimento pleno da

personalidade do aluno; a sua participação ativa na vida social e no mundo do

trabalho; assim como, o seu desenvolvimento bio-psico-social , proporcionando

à criança portadora, aprendizagem que a conduza a maior autonomia.

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31 A prática pedagógica vem sendo promovida dentro das escolas de

ensino regular e o Núcleo Curricular Básico deve ser o mesmo para todos os

alunos, sendo necessário promover adaptações curriculares de modo que o

aluno portador de necessidades educativas especiais seja atendido em suas

especialidades.

O professor especializado deve valorizar as relações afetivas de seus

alunos e estar atento ao seu desenvolvimento global.

Outro fato de extrema importância é que o professor deve considerar o

aluno como uma pessoa inteligente, que tem vontades e afetividades e estas

devem ser respeitadas, pois o aluno não é apenas um ser que aprende.

A Educação Especial atualmente é prevista por lei e foi um direito

adquirido, ao longo da conquista dos direitos humanos. A garantia de acesso à

educação e permanência na escola refere-se à prática de uma política de

respeito às diferenças individuais.

4.2 – A Política Nacional de Educação Especial

A Educação Especial está prevista na Constituição Federal e garante aos

portadores de necessidades educativas especiais atendimento educacional

especializado, preferencialmente na rede regular de ensino. ( art.208, caput III,

CF )

No Município da Cidade do Rio de Janeiro, o órgão da SME responsável

pela Educação Especial é o Instituto Helena Antipoff (IHA) . Esse departamento

atua na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e na modalidade Projeto de

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32Jovens e Adultos (PEJA), em parceria com as Coordenadorias Regionais de

Educação.

O IHA é responsável por implantar e implementar políticas voltadas para

o atendimento do aluno com necessidades educacionais matriculado na rede

pública municipal. Tem também como objetivo, acompanhar o trabalho

educacional realizado com os alunos que apresentam necessidades

educacionais especiais, desenvolvendo estratégias voltadas para: capacitação

de profissionais, avaliação de alunos, pesquisa e produção de material.

O acompanhamento das escolas da rede pública municipal de ensino é

realizada por 10 equipes, que fornecem subsídios aos profissionais das

Coordenadorias e, juntas, supervisionam o trabalho realizado nas escolas, que

atendem alunos com necessidades educacionais especiais.

A entrada do aluno com alguma deficiência na rede municipal de ensino

( matrícula inicial ) pode ocorrer em qualquer nível de escolaridade, desde a

Educação Infantil ( incluindo o período de creche ) até a 8a série do Ensino

Fundamental.

Para favorecer o pleno desenvolvimento das crianças com deficiência,

desde que nascem, elas podem receber atendimento educacional

especializado nos Pólos de Educação Infantil que existem nas áreas de todas

as Coordenadorias.

A opção pela Escola Inclusiva foi oficialmente assumida na Declaração

de Salamanca (1994), documento oficial da Confederação Mundial de

Educação Especial. Nela o encaminhamento central é a garantia de matrícula

de todas as crianças em escolas comuns, promovendo, no entanto, um ensino

de qualidade, através do conhecimento real das necessidades educacionais de

todos os alunos e buscando, portanto, uma resposta educativa adequadas a

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33elas e garantindo assim, educação para todos, acesso ao conhecimento a todo

e qualquer cidadão, seja ele portador de alguma deficiência ou não.

4.3.1 _ A proposta curricular e o atendimento à criança Down

Como já foi citado, a criança Down apresenta algumas debilidades e

limitações, assim o trabalho pedagógico deve respeitar o ritmo da criança e

propiciar-lhe estimulação adequada, para o desenvolvimento de suas

habilidades.

Segundo MILLS (apud SCHWARTZMAN, 1999, p. 233), a Educação

Especial é uma atividade complexa, sendo assim, exige adaptação curricular e

requer cuidados e acompanhamento por parte dos pais e professores.

Freqüentar a escola permitirá a criança Down adquirir, progressivamente,

conhecimentos, cada vez mais complexos que serão exigidos na sociedade e

cujas bases são indispensáveis para qualquer indivíduo.

Segundo a psicogênese, o indivíduo é considerado como instrumento

essencial à interação e à ação. Piaget afirma que o conhecimento não procede,

em suas origens, nem de um sujeito consciente de si mesmo, nem de objetos

já constituídos e que a ele se imponham. O conhecimento resulta da interação

entre os dois. Desta forma, a escola deve adotar uma proposta curricular que

se baseie na interação sujeito-objeto, envolvendo o desenvolvimento desde o

começo.

O ensino da criança Down deve ocorrer de forma sistemática e

organizada, seguindo passos previamente estabelecidos e de uma forma

lúdica, que atrai muito as crianças na 1a infância. O lúdico é um recurso

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34utilizado, pois permite o desenvolvimento global através da estimulação das

diversas áreas.

Uma das maiores preocupações em relação à educação da criança

Down, se dá na fase que se estende desde do nascimento até o sexto ano de

idade. Neste período, tem-se como objetivos dar à criança maior autonomia,

experiências de interação social e adequação, permitindo que esta se

desenvolva em relação aspectos afetivos, volitivos e cognitivos, que sejam

espontâneas e antes de tudo que sejam “crianças’.

O atendimento à criança Down deve ocorrer de forma gradual, pois estas

crianças não conseguem absorver grande número de informações e deve-se

estar atendo em não apresentar a elas informações isoladas ou

Mecânicas e de forma que a aprendizagem ocorra de forma facilitada, através

de momentos prazerosos. Inicialmente a criança adquiri uma gama de

conhecimentos livres que vão transformar-se em conhecimentos mais

complexos, como o caso das regras.

Não é adequado pularmos etapas ou exigirmos da criança atividades que

ela não possa realizar. É importante que o profissional promova o

desenvolvimento da aprendizagem no dia-a-dia da criança e a sua evolução

gradativa deve ser respeitada. Exigir atividades que ela não possa realizar,

podem lhe causar estresse.

É comum observarmos nas crianças Down, uma evolução desarmônica e

movimentos esteriotipados. Esta defasagem pode ser compensada através de

um planejamento psicomotor bem direcionado para proporcionar-lhes

experiência para a sua adaptação.

O indivíduo possui um corpo que está sob o seu domínio e todas as

partes desse corpo constituem o sujeito, de forma que o corpo precisa se tornar

sujeito pela integração da mente ao corpo se construímos elos quebrados.

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35Para que as aquisições ocorram de forma íntegra, é preciso que o indivíduo

vivencie experiências e a partir destas, formule os seus conceitos e internalize

as informações adquiridas.

Descobrir o seu corpo e construir uma imagem corporal, que é uma

representação mental, perceptiva e sensorial de si mesma é o que a criança

necessita antes de adquirir qualquer conhecimento, pois o esquema corporal

compreende uma representação organizada dos movimentos necessários à

execução de uma ação. Estes conceitos vão sendo construídos e reformulados

ao longo da vida.

Existem funções necessárias para que exista a relação sujeito-meio e

que servirão de pano de fundo de toda a aprendizagem, e que, ainda, levará o

indivíduo a desenvolver atividades específicas como: capacidade de dissociar

movimentos, individualizar ações, organizar-se no tempo e no espaço e a

coordenação motora.

A relação quantidade, qualidade e forma, que o sujeito experiência e

internaliza as informações, determinará a qualidade da formulação de seus

conceitos. Se reduzirmos as atividades lúdicas na vida da criança, as

experimentações ficaram restritas , pois é necessário que elas interajam com a

realidade, usando todos os seus sentidos e todo o seu corpo.

Segundo SOLER (2002), o papel do professor de educação física na

educação especial, como em qualquer outra modalidade de ensino, é o de

criar desequilíbrios, apresentando ao seu aluno o novo, o desconhecido, pois

diante do desafio, a criança tende a assimilar o conhecimento, utilizando os

recursos motores e mentais que possui. Provocar desequilíbrios, porém, não é

deixar a criança à deriva, ela deve poder estabelecer uma ligação entre o

conhecido e o desconhecido.

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36 Todas as atividades proporcionadas à criança devem ter por objetivo a

aprendizagem ativa que possibilite à criança a desenvolver suas habilidades.

Frente a grande variação das habilidades e dificuldades da Síndrome de

Down, programas individuais devem ser considerados e nestes enfatiza-se as

possibilidades de aprendizagem de cada criança e a motivação necessária

para o desenvolvimento destas. Para tanto, o professor deve conhecer as

diferenças de aprendizagem de cada criança de forma a organizar o seu

trabalho e a programação didática.

Um bom currículo deve considerar todas as características do portador

de deficiência em termos de pedagogia para que a partir destas sejam

escolhidas técnicas, que mantenham a criança atenta e motivada. Em termos

de ambiente de aprendizagem procurar-se á evitar o aparecimento de variáveis

que possam bloquear o processo e por isso, muitas vezes, são utilizadas salas

de recursos, que são classes especiais inseridas nas na escola comum.

Segundo instruções do Instituto Helena Antipoff, a sala de recursos deve

consistir de um local apropriado para receber as crianças especiais, que

deverão receber assistência pedagógica especializada. Normalmente

encontramos as salas de recursos especiais em escolas normais, onde

crianças “normais” ficam juntas com as especiais. Assim, a sala de recursos

funciona, desenvolvendo com crianças especiais, as atividades , que já

trabalhou com os seus demais colegas.

O professor de recursos deve priorizar as atividades em que o portador

de deficiência tenha dificuldades e precise de auxilio. Este pode servir como

tutor dos estudantes excepcionais em suas classes e deve cuidar de que os

professores das crianças excepcionais e de estas recebam os materiais e

equipamentos didáticos que se façam necessários.

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37 Um fato determinante para uma boa assistência às crianças especiais é

não sobrecarregar demais as salas de recurso especiais para que o professor

possa trabalhar bem. É fundamental que professor indicado esteja preparado,

para ser capaz de atender às necessidades de seus alunos e trabalhar em

harmonia com o professor da classe regular.

Alguns princípios básicos devem ser considerados em relação ao ensino

de crianças especiais, como as portadoras de Síndrome de Down:

__ as atividades devem ser centradas em coisas concretas e devem ser

manuseadas pelos alunos;

__ as experiências devem ser adquiridas no ambiente do próprio aluno;

__ devem ser evitadas situações que venham causar estresse;

__ a criança deve ser respeitada em todos os aspectos de sua

personalidade;

__ a família da criança deve participar do processo intelectivo.

A classe especial é a estratégia atualmente mais indicada para o

trabalho com as crianças especiais, pois permite a integração destas na

sociedade.

Podemos encontrar classes, parcialmente, integradas, ou seja, onde as

crianças e professores passam parte do dia nas classes regulares e a outra

parte do tempo em classes especiais.Este método é usado no ensino dos

alunos de quinta a oitava séries e permite aos portadores de deficiência

participarem as aulas de arte, música, educação física, trabalhos práticos e

economia doméstica, enquanto outras mais complexas como matemática,

gramática, ciências e outras são destinadas ao ensino especializado com

professores especiais.

Existem, também escolas especiais, dentro da rede do município do Rio

de Janeiro. Estas escolas estão preparadas para receber os alunos portadores

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38de deficiências múltiplas. Nestas escolas, normalmente, existem instalações e

equipamentos especiais, os profissionais recebem orientação do IHA, são

especialmente treinados e garantem assistência e instrução a essas crianças.

Quanto ao fato de separar as crianças excepcionais das crianças ditas

normais, tem por objetivo promover a educação especial e diferenciada. No

entanto, faz-se necessário a integração dessas crianças, por isso, as

desvantagens das escolas especiais são muitas: ambiente muito segregado,

que não favorece a integração social; estigma de classe especial e isolamento

social e físico dos alunos.

4.3.2- A Educação Básica e a criança Down

Os fins da Educação Nacional, expressos no art. 1o da Lei nº 4 024/61,

refletem os ideais de liberdade, solidariedade e valorização do homem, que

devem orientar toda educação no País. Mantendo estes princípios, a Lei nº 5

692/71, no seu art. 1o , estabelece o objetivo geral do ensino.

De forma geral, o objetivo consiste em proporcionar ao educando a

formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades, como

elemento de auto-realização, na qualificação para o trabalho e preparo para o

exercício consciente da cidadania.

O desenvolvimento, ampliação e especialização das possibilidades

motoras da Criança Down permitem que elas realizem atividades

didáticas simples e assim se inicia o processo de alfabetização, onde a

criança não só está criando, mas também formando conceitos e

categorias conceituais para perceber a realidade e ordenar o mundo que

a rodeia.

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39

Nesta fase, a participação da criança com Síndrome de Down é ativa e é

fundamental que a escola desenvolva o máximo as potencialidades do

conhecimento, as habilidades atuais e futuras de aprendizagem do aluno, em

todas as áreas.

O trabalho deve se centrar no contato e na interação com o outro e as

atividades pedagógicas desenvolvidas devem ser informais, através do jogo

espontâneo e da relação com o colega, usando o material adequado. Assim, de

forma agradável e prazerosa, a criança vai desenvolvendo atividades físicas,

emocionais e cognitivas que possibilitam a elaboração do pensamento.

Nesta fase, a manutenção da fluidez e flexibilidade neuropsicológica é

fundamental para se evitar rigidez precoce, que acarreta a redução da

utilização de estratégias no âmbito da aprendizagem. ( SCHWARTZMAN,

1999, p. 24 ) .

O professor deve conhecer cada dificuldade e cada habilidade do seu

aluno, com o objetivo de suprir as necessidades, para que haja

aprendizagem, além disso, procurar identificar o rendimento, atitudes,

motivação, interesse, relações pessoais, forma de assumir tarefas e enfrentar

situações de cada um e a partir dos resultados dessa observação, será feito,

então, o planejamento, as intervenções e as adaptações necessárias de

currículo.

O trabalho pedagógico com essas crianças é um processo complexo e

resulta em uma dinâmica evolutiva baseada nas capacidades do indivíduo.

Alguns pontos que devem ser considerados, quanto à educação do

portador da Síndrome de Down: estruturação do seu auto-conhecimento;

desenvolvimento do seu campo perceptivo e da compreensão da realidade;

desenvolvimento da capacidade de expressão; aquisição de hábitos de bom

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40relacionamento; trabalho cooperativo; destreza com materiais de uso diário;

atuar bem em situações do dia-a-dia; aquisição de conceitos de forma,

quantidade, tamanho, espaço, ordem e tempo; familiarização com os recursos

da comunidade onde vive; conhecimento e aplicação de regras básicas de

segurança física; desenvolvimento de interesses, habilidades e destrezas que o

oriente em atividades profissionais futuras; leitura crítica de textos expressos

em frases diretas; desenvolvimento das habilidades e aquisição de

conhecimentos práticos que o levem a descobrir valores que favoreçam seu

comportamento no lar, na escola e na comunidade.

Com relação à alfabetização, não existe um método voltado

especificamente para as crianças com Síndrome de Down e cada criança

requer uma forma de intervenção específica, de acordo com as suas

necessidades.

Todo esse processo deve atender às características de cada aluno,

propiciar o desenvolvimento do seu equilíbrio emocional e da autoconfiança, da

capacidade de criação e expressão, de condições essenciais à sua integração

e harmonia na sociedade. O professor deverá trabalhar a alfabetização

naturalmente, que será dinamizada, passo a passo, na ocasião em que o

trabalho começar a ser desenvolvido. Não é necessário que o aluno seja capaz

de discriminar sons ou identificar semelhanças e diferenças entre sons finais e

iniciais de palavras para se começar o processo, mas participar de atividades

lúdicas e prazerosas que o leve a construir o processo de leitura e escrita.

Estabelecer relações símbolos e significados, participar de conversas,

organizar idéias em seqüência lógica, demonstrar controle muscular,

reconstruir ações passadas e prever ações futuras,demonstrar criatividade e

estabelecer pensamento crítico são habilidades que serão trabalhadas, junto

com as atividades de alfabetização. É difícil para estas crianças desenvolverem

habilidades de leitura e escrita, no entanto, esse processo será mais facilitado

se for permitido à criança vivenciar, interagir e experimentar.

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CAPÍTULO V

Proposta Educacional para o portador da Síndrome de

Down

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42 5.1-Proposta Educacional

Segundo BLANCO (2003), durante muito tempo a Escola Especial foi

considerada a única opção educacional para os portadores de necessidades

especiais e neles estão incluídos os portadores de Síndrome de Down, por não

se acreditar nas possibilidades de partilharem com os demais alunos o mesmo

processo educacional.

Atualmente, com a descoberta de que a aprendizagem propulsiona o

desenvolvimento humano influenciando inclusive na arquitetura cerebral, as

propostas educacionais precisam superar os modelos mecânicos nos quais

estavam pautadas para dar lugar às relações sociais. A nova educação

pressupõe que, sendo a escola o local privilegiado de aprendizagem, é nela,

respeitando-se a diversidade de culturas e de características individuais, que

cada indivíduo, constitui, cooperativamente, novos saberes e formas de se

relacionar com as múltiplas realidades.

Baseada, também, na premissa de que a aprendizagem é um dos

agentes responsáveis pela integração social dos alunos especiais na

sociedade, a proposta educacional para a criança Down deve utilizar um

planejamento e ir mais além do que alfabetizar, mas estar preocupada em

inserir este aluno na sociedade. Dentro deste contexto, deve-se valorizar o

contato com a natureza e incentivar a preservação do meio ambiente, construir

junto com eles os temas da sala de aula, vivenciar as experiências, além de

trabalhar o mais perto do possível do convencional, para não aumentar a

exclusão. A diferença é que, muitas vezes, um assunto tem que ser repetido

muitas vezes, até ser fixado, ou trabalhado com recursos alternativos, como

recortes de jornais, jogos, músicas e sucatas.

Na educação especial, não se tem compromissos com prazos, trabalha-

se com estimativas, respeitando as limitações de cada aluno. O importante é a

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43escola estar preparada para o aluno e não o aluno para a escola. As avaliações

deverão ser feitas a partir das observações diárias em classe.

As atividades devem trabalhar os objetivos dentro dos domínios afetivo,

cognitivo e psicomotor.

A sensibilidade e a experiência do educador deverão orientá-lo na

determinação de estratégias a serem adotadas. Cabe a ele adequar as

propostas à realidade da sua sala de aula, de forma a proporcionar ao aluno

experiências de aprendizagem significativas que lhe oportunize a prática dos

comportamentos implicados nos objetivos.

A proposta curricular está dividida em quatro etapas que vão se

desenvolver em objetivos integradores.

A primeira etapa tem como objetivo principal “ O Corpo”. Na segunda,

visa-se trabalhar “Como me expresso”, na terceira, “ Minhas Coisas” e na

quarta, “Meu mundo”.

Na primeira etapa, trabalha-se “O corpo” e o conhecimento do “eu”, os

objetivos são:

• identificar diferentes movimentos do seu corpo, posicionando-se

no espaço;

• identificar as diferentes partes do seu corpo e suas funções

correspondentes;

• orientar-se no tempo e no espaço;

• desenvolver hábitos de vida em grupo;

• reconhecimento do seu nome;

• desenvolver hábitos de higiene.

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44 Na segunda etapa, trabalha-se “Como me expresso”. Deve-se alcançar

os seguintes objetivos:

• desenvolver a discriminação perceptual que o habilita ao

conhecimento e à comparação dos elementos do meio que o cerca;

• expressar suas necessidades, seus interesses e sentimentos

utilizando diferentes formas de linguagem;

• desenvolver, funcionalmente, o seu vocabulário;

• formar hábitos e atitudes de relacionamento e comunicação

interpessoal;

• reconhecer os nomes dos colegas da turma.

Na terceira unidade trabalha-se “Os objetos”e estes têm função

integradora. Os objetivos desta unidade são:

• descobrir propriedades comuns dos objetos;

• reconhecer a utilidade das diferentes coisas do mundo;

• descobrir que as coisas se transformam;

• explorar o potencial dos objetos através de experiências criativas;

• evidenciar aquisições dos conceitos de propriedade e cooperação;

• reconhecimento dos nomes dos objetos da sala de aula e do material

escolar.

Na quarta unidade, quando trabalha-se “O Mundo”, os objetivos

principais são:

• reconhecer que seu mundo é dinâmico e diversificado;

• distinguir uma situação real de uma imaginária;

• situar-se como pessoa, num mundo de pessoas;

• passar do egocentrismo à aceitação de referenciais externos;

• ampliar perspectiva espaço-temporal;

• situar o mundo de pessoas numa área geográfica determinada;

• identificar produções econômicas e culturais de sua comunidade;

• reconhecer que o trabalho do homem modifica o meio;

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45• preservar o ambiente e o equilíbrio entre seus diversos elementos;

• reconhecer a importância da vida em grupo;

• identificar palavras de textos significativos para o aluno.

• representar o seu mundo criativamente.

Para que esta proposta curricular seja viabilizada e os objetivos

alcançados, torna-se necessário que os recursos estejam disponíveis e

o professor esteja capacitado. Além disso, a escola deve estar pronta

para receber uma classe especial e o educador deve integrar o portador

de Síndrome de Down na comunidade e trabalhar a sua aceitação social

e, até mesmo, a absorção no mercado de trabalho.

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5.2- A família e a educação

A família deve ser orientada e motivada a colaborar e participar do

programa educacional, promovendo, desta forma, uma interação maior

com a criança.Também é necessário que a família incentive a prática de

tudo que a criança assimila.

“A qualidade da estimulação no lar e a interação dos pais com a

criança se associam ao desenvolvimento e aprendizagem de crianças

com deficiência mental”. (CRAWLEY; SPIKER,1983).

Assim é fundamental o aconselhamento da família, que deve

considerar, sobretudo a natureza da informação e a maneira como a

pessoa é informada, com o propósito de orientá-la quanto a natureza

intelectual, emocional e comportamental.

Os pais e familiares do portador da síndrome necessitam de

informações sobre a natureza e a extensão da excepcionalidade ,

quanto aos recursos e serviços existentes para assistência, tratamento e

educação, e quanto ao futuro que se reserva ao portador de

necessidades especiais.

No entanto, a informação puramente intelectual, é notoriamente

insuficiente, pois o sentimento das pessoas tem mais peso do que seus

intelectos. Portanto, auxiliar os familiares requer prestar informações

adequadas que permitam avaliar a ansiedade e diminuir as dúvidas.

Os conselhos devem se preocupar com os temores e as

ansiedades, sentimento de culpa e vergonha, dos familiares e

deficientes . Devem reduzir a vulnerabilidade emocional e as tensões

sofridas, aumentando a capacidade de tolerância

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47 A superprodução dos pais em relação à criança pode influenciar

de forma negativa no processo de desenvolvimento da criança e

normalmente estes se concentram suas atenções nas deficiências da

criança, de modo que os fracassos recebam mais atenção, que os

sucessos e a criança fica limitada nas possibilidades que promovem a

independência e a interação social.

“As habilidades de autonomia pessoal e social proporcionam,

melhor qualidade de vida, pois favorecem a relação, a independência

interação, satisfação e atitudes positivas. (BROWN, 1989 ) .

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CONCLUSÃO

Os dados obtidos nos levaram a conclusão de que a família é primordial

para a aquisição da linguagem oral, principalmente nos primeiros anos de vida,

quando a criança encontra-se em período de maturação orgânica e seu

sistema nervoso está sendo moldado, pelas experiências e estímulos recebidos

e internalizados. A estimulação do portador de deficiência na fase inicial da

vida é extremamente importante para o desenvolvimento normal da criança e

minimiza as ocorrências de déficits de linguagem na primeira infância, que

poderão trazer sérias conseqüências futuras, pois nesse período, o cérebro

humano é altamente flexível.

A educação especial é determinante no processo de estimulação inicial e

cabe ao professor de turma especial trabalhar suas crianças, desenvolvendo

nelas capacidades de praticar atividades diárias, participar da vida familiar,

desenvolver o seu direito de cidadania, e até mesmo desenvolver uma

atividade profissional. Para isso, profissionais especializados e professores de

classes especiais devem caminhar juntos a fim de possibilitar um maior

rendimento e desenvolvimento educacional dos portadores de tal síndrome.

Enfim, a importância da estimulação se dá pela grande necessidade da

criança de vivenciar experiências que permitam seu desenvolvimento,

respeitando suas deficiências e explorando suas habilidades. Este estudo

permite aos familiares (pai, mãe, irmãos, cuidadores...) aumentar suas

possibilidades de observação e de intervenção, objetivando aprimorar a

aprendizagem de seus filhos, que são crianças capazes de vencer suas

dificuldades e se desenvolverem.

Até o momento presente, baseado nos conhecimentos sobre a

Síndrome de Down , as principais características, habilidades e dificuldades do

portador desta síndrome, aceitamos por verdades a proposta acima.

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BIBLIOGRAFIA

DANIELSKI, Vanderlei. Síndrome de Down: uma contribuição à

habilitação da criança Down, Trd. Jeanne Borgerth Duarte Rangel

ISBN 85-276-0825-1, São Paulo: Ed.Ave-Maria, 1999

GLAT, R. A integração social dos portadores de deficiência: uma

reflexão. Rio de Janeiro: Agir, 1995.

JANUZZI, G. A luta pela educação do deficiente mental no Brasil. São Paulo: Cortez, 1985.

LAROSA, Marco Antônio; AYRES, Fernando Arduini . Como produzir uma monografia passo a passo...siga o mapa da mina. Rio de Janeiro: Wak, 2002.

MOREIRA, Jaciara. Projetos Pedagógicos desmistificam o ensino especial, JORNAL EDUCAR, Rio de Janeiro, Junho/Julho, 2002, Educação Inclusiva, os. 6,7,8,9. PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, Secretaria Municipal de Educação, Departamento Geral de Educação, Instituto Helena Antipoff, Apostila: Classes Especiais, 7 páginas, 2003. SCWARTZAN, J. S. Síndrome de Down. São Paulo: Mackienze, 1999.

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SILVA, Roberta Nascimento Antunes. A Educação Especial da

criança co Síndrome de Down. In BELLO, José Luiz de Paiva.

Pedagogía em Foco. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: www.

pedagogiaemfoco.pro.br.

SOLER, Reinaldo. Brincando e Aprendendo na Educação Física Especial: Planos de Aula, Rio de Janeiro: WAK, 2002. THOMPSON, M. W; Wcines, R.R; Williard, H.F. Genética Médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993. WWW. fsdown.org.br.- Fundação Síndrome de Down.

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ÍNDICE

INTRODUÇÂO

CAPÍTULO I

O QUE É A SÍNDROME DE DOWN

1.1 Os primeiros estudos

1.2 Como ocorre a Síndrome de Down

1.3 Causas da Síndrome de Down

CAPÍTULO II

A CRIANÇA DOWN

2.1 Características da criança Down

2.2 O aspecto psíquico da criança Down

2.3 O desenvolvimento do Sistema Nervoso da Criança

Down

2.4 O Desenvolvimento da Criança Down

2.5 Expectativa de Vida

2.6 Mitos e Preconceitos

2.7 Deficiência Mental e a Síndrome de Down

CAPÍTULO III

AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA

DOWN

3.1 Idade Mental diferente da idade cronológica

CAPÍTULO IV

A EDUCAÇÂO ESPECIAL PARA AS CRIANÇAS DOWN

4.1 A Educação Especial, uma modalidade de ensino

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524.2 A política Nacional de Educação Especial

4.2.1 A proposta curricular e o atendimento à criança Down

4.2.2 A Educação Básica e a criança Down

CAPÍTULO V

PROPOSTA EDUCACIONAL PARA O PORTADOR DA

SÍNDROME DE DOWN

5.1 Proposta Educacional

5.2 A família e a Educação

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

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FOLHA DE AVALIAÇÂO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO VEZ DO MESTRE

PÓS- GRADUAÇÃO “ LATO SENSO”

Título da Monografia: A Educação Especial da Criança Portadora da

Síndrome de Down

Data da Entrega ______________________________

Auto Avaliação: Como você avaliaria esta monografia ?

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Avaliado por: _______________________________ Grau ______

____________________, ______ de _____________ de _______