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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PRECATORIO JUDICIAL, A ESPERANÇA DE MUITOS
POR: DALTON NENO ARAUJO
ORIENTADOR
PROF. JEAN ALVES PEREIRA ALMEIDA
RIO DE JANEIRO
2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PRECATORIO JUDICIAL, A ESPERANÇA DE MUITOS
Apresentação de monografia à Universidade Cândido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Direito Processual Civil.
Por: Dalton Neno Araujo
RIO DE JANEIRO
Abril/2010
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AGRADECIMENTOS
À estrutura oferecida pelo
Instituto a Vez do Mestre, aos
professores, ao Prof. Jean Alves,
por sua orientação, ao André Costa
de Sousa, Diretor da Divisão de
Precatórios do TRF da 2º Região e
aos Juízes e meus colegas da 14ª
Vara Federal da Seção Judiciária
do Rio de Janeiro.
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DEDICATÓRIA
À Sônia, minha mulher, aos meus
irmãos, Maria Lúcia e Luis Antônio,
e aos meus pais, Antônio e
Terezinha.
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RESUMO
A sociedade recorre à Justiça em busca dos seus direitos, e ao final do
devido processo legal, conseguir a expedição do seu precatório judicial, quando
for o caso.
Acontece que por muitas vezes o caminho trilhado pelos Autores pode se
torna árduo e demorado, principalmente quando há interposição de inúmeros
recursos, alguns meramente procrastinatórios.
Os processos demoram por vezes dezenas de anos, ocorrendo muitas das
vezes o falecimento de alguns Autores, o que gera a necessidade da promoção de
sucessões, inclusive com a abertura de inventários, podendo o resultado da ação
ser recebido até pela terceira geração da família. Há casos de as partes
comparecem ao balcão da justiça em situação de puro desespero, com a demora
do desfecho do seu processo.
Esta presente monografia pretende lançar um foco de luz, chamar a
atenção de alguns problemas que ocorrem no curso da expedição dos precatórios
judiciais. O fato de trabalhar na Justiça Federal possibilitará de trazer exemplos de
casos complexos e demorados, inclusive pela própria natureza da ação.
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METODOLOGIA
O desenvolvimento deste estudo será realizado no ambiente da Justiça
Federal com o estudo da evolução dos métodos de expedição dos precatórios,
promovidas pelas resoluções expedidas pelo Presidente do TRF da 2ª Região que
alteraram o modo de envio e incluíram sucessivas exigências tanto para as partes
quanto aos patronos. Serão levados em consideração, também, pesquisa
bibliográfica, incluindo as referidas resoluções editadas, juntamente com a
legislação em vigor referente aos temas abordados, como no caso de sucessão
processual, cessão de crédito e mais recentemente na retenção de PSS.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................08
CAPÍTULO 1
1.1 Conceito de Precatório Judicial........................................................................11
1.2 Natureza Jurídica do Precatório ......................................................................11
1.3 A Formação do Precatório...............................................................................12
1.4 As Requisições de Pequeno Valor...................................................................16
CAPÍTULO 2
2.1 EC nº 30/2000 e EC nº 62/2009.......................................................................18
2.2 EC nº 37/2002...................................................................................................24
2.3 Evolução Histórica dos Precatórios na Justiça Federal....................................26
2.4 Critérios de Processamento no Período de 2001/ 2002...................................37
2.5 Casos Concretos no Âmbito da Justiça Federal...............................................39
CONCLUSÃO.........................................................................................................47
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................50
ÍNDICE....................................................................................................................52
ANEXOS.................................................................................................................53
FOLHA DE AVALIAÇÃO.......................................................................................59
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INTRODUÇÃO
O meio de defesa para aqueles que se sentem lesados por atos do governo
federal, estadual e municipal é a propositura de uma ação na Justiça Estadual ou
Federal. Ao final do processo e em caso de sucesso na fase de conhecimento, o
autor proporá a execução do julgado para finalmente obter o tão almejado
precatório.
As ações no âmbito da justiça federal que ao seu término originarão o
precatório judicial são na sua maioria, causas relativas à indenizações de
militares, reajustes de aposentadorias, implementação de índices de atrasados de
civis ou militares, ações de repetição de indébito, empréstimo compulsório e ainda
algumas reclamações trabalhistas remanescentes, não redistribuídas para a
Justiça do Trabalho.
Nem sempre a Fazenda Pública esteve sujeita a arcar com o ônus
decorrente dos danos por ela causados aos particulares. Inicialmente, vigorava a
teoria da irresponsabilidade do Estado, em que o Rei nunca erraria. Vindo após, a
fase da responsabilidade estatal, com base na culpa civil ou subjetiva e logo após
a teoria da culpa administrativa no âmbito da atuação estatal.
Segue-se à teoria da culpa administrativa a teoria do risco administrativo, a
partir da qual se responsabiliza a Administração Pública não mais pela
demonstração de culpa administrativa em relação ao dano causado, mas pela
simples demonstração causal entre o prejuízo e a ação ou omissão do Estado.
Ocorreram, até a implementação nos dias de hoje da aplicação da teoria do
risco administrativo, tentativas de aplicação da teoria do risco integral, para a qual
bastaria a existência de uma lesão vinculada a qualquer atuação do Estado,
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indiferentemente de ter esta sido causada por culpa exclusiva da vítima, o que
seria um abuso.
Na atual Constituição ficou delineada a responsabilidade civil do Estado no
art. 37, §6º, onde se estabelece tanto para a Administração direta quanto para a
indireta e, ainda, para as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de
serviços públicos, o dever de responderem por eventuais danos causados a
terceiros por seus agentes, enquanto agindo com essa qualidade.
Interessante observar que, caso tenha o montante da indenização ao
terceiro sido atribuído à entidade a qual se aplica o regime do precatório, e desde
que o montante não seja fixado como de pequeno valor; poderá ocorrer que a
execução da sentença obtida na regressiva finalize antes mesmo de que se faça o
pagamento do precatório correspondente. Porém, mesmo nesta situação não
poderá ocorrer a antecipação do pagamento daquele precatório, a pretexto de que
o montante recebido pela entidade estatal estaria ao mesmo vinculado.
Praticamente reconhecendo a falência desse modelo de pagamento das
condenações que recaem sobre os entes públicos, alterou-se o sistema dos
precatórios, subdividindo-se em débitos de pequeno valor, débitos de natureza
alimentar e outros não pertencentes as duas categorias anteriores.
Em se tratando de débitos de pequeno valor econômico, o que se objetiva,
com a sua exclusão no rol comum de pagamento de débitos originados de decisão
judicial, é que não ocorra o descrédito por parte dos titulares desses direitos frente
ao Estado motivado pela desilusão com a possibilidade de pagamento apenas em
prazos enormes, em especial quando referente a quantias baixas para o ente
público, mas muitas vezes de alguma ou muita importância para o interessado no
seu recebimento.
A presente monografia pretende analisar com exemplos práticos do dia a
dia cartorário, etapas da expedição de um precatório, desde a fase executiva,
contando, inclusive, com a possibilidade da expedição da parte incontroversa,
antes mesmo de terminada esta fase. Toda a sistemática da confecção dos ofícios
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requisitórios será analisada, inclusive a evolução do modelo em papel para
transmissão eletrônica.
Serão abordados casos complexos que já duram três décadas, em função
da grande quantidade de litisconsortes, hoje há o limite de dez autores por ação. A
questão humanitária será abordada, pois a vida de várias pessoas depende do
desenlace positivo das ações e o pior que pode acontecer é uma espera
desnecessária devido à inércia seja do cartório, das partes ou dos patronos das
causas.
A monografia está dividida em dois capítulos: no primeiro, serão abordados
o conceito dos precatórios, a sua natureza jurídica, a sua formação e a introdução
das Requisições de Pequeno Valor. No segundo capítulo serão analisadas as
Emendas Constitucionais nº 30, 37 e 62, a evolução dos precatórios judiciais no
âmbito da Justiça Federal e alguns exemplos de julgados, com a aplicação da
legislação abordada.
O objetivo fundamental do precatório judicial é satisfazer um desejo de
reparação de ato, omissão ou uma arbitrariedade que o Estado impôs ao cidadão
que paga os seus impostos, e se sentiu prejudicado a ponto de contratar um
advogado para representá-lo em juízo. Por vezes será uma contenda árdua e
demorada, e que só será satisfeita com desenlace positivo da demanda.
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CAPÍTULO 1
1.1 Conceito de Precatório Judicial
Inicialmente, vale frisar que precatório não é ato com características
administrativas, apesar de praticado por membro do Poder Judiciário, que nesse
caso exerce funções tipicamente administrativas, sem cunho decisório.
Trata-se de comunicação emitida pelo chefe do Poder Judiciário ao titular
da administração da entidade pública sucumbente em ação de conhecimento e
que foi conduzida até as últimas conseqüências no âmbito processual civil.
Luiz Guilherme Marinoni assim descreve o precatório:
“O precatório se assemelha a uma carta de sentença, com a
diferença do que sua função não é a de iniciar procedimento
judicial, devendo ser enviado à entidade condenada para a
inclusão do valor necessário no orçamento respectivo.”
(MARINONI, 2008, p. 406).
Pode-se afirmar que precatório é ato administrativo de comunicação,
possuindo, mais especificamente, a característica de ato de comunicação interna,
por intermédio do qual o Poder Judiciário comunica-se com o Poder Executivo
dando-lhe notícia da condenação a fim de que, ao elaborar o orçamento-programa
para o próximo exercício, o valor correspondente tenha sido incluído na previsão
orçamentária.
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1.2 Natureza Jurídica do Precatório
Trata-se o precatório de ato administrativo, sendo essa a característica que
lhe sobressai, por não possuir carga decisória, não poderia ser classificado como
ato judicial, muito menos podendo ser caracterizado como ato legislativo, por não
fixar norma de ordem geral.
Apesar de a expedição ocorrer no Judiciário, o requisitório corresponde a
ato não judicial, mesmo porque ocorre posteriormente ao término da fase judicial
do processo de execução contra a Fazenda Pública, conforme perceptível na
sistemática adotada pelo Código de Processo Civil, arts. 730 e 731:
“Art. 730. Na execução por quantia certa contra a
Fazenda Pública, citar-se-á a devedora para opor embargos
em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo legal,
observar-se-ão as seguintes regras: (Vide Lei nº 9.494, de
10.9.1997)
I - o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente
do tribunal competente;
II - far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do
precatório e à conta do respectivo crédito.
Art. 731. Se o credor for preterido no seu direito de
preferência, o presidente do tribunal, que expediu a ordem,
poderá, depois de ouvido o chefe do Ministério Público,
ordenar o seqüestro da quantia necessária para satisfazer o
débito.”
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Nesse sentido, escreve Luiz Guilherme Marinoni:
“A atividade realizada pelo Presidente do Tribunal é
meramente administrativa, limitada ao exame dos aspectos
formais do precatório e ao controle da sua ordem cronológica,
com a aplicação de eventuais sanções decorrentes de sua
violação. Por isso, não se cogita de coisa julgada nesta
atividade, que pode ser controlada por via jurisdicional
própria.” (MARINONE, 2008, p. 406).
Ainda neste sentido, o Supremo Tribunal de Justiça definiu na
súmula de nº 311: “Os atos do Presidente do Tribunal que disponham sobre
processamento e pagamento de precatório não têm caráter jurisdicional.”
É possível, e plenamente admitido pela doutrina, que em cada um dos
Poderes integrantes do Estado pratiquem-se atos administrativos, legislativos e
até mesmo judicantes, porém, o que se deve ter em mente é que, em vez de
marcar-se o exercício de determinado Poder pela exclusividade na prática de seus
atos específicos, este se acha caracterizado sim, pela predominância de atos
típicos de sua condição de Poder Legislativo, Executivo e Judiciário.
1.3 A Formação do Precatório
O precatório não se inicia, em regra, no próprio tribunal do qual caberá ao
respectivo presidente exercer a atribuição, que lhe foi determinada pela
Constituição Federal de 1988, de expedir o ofício requisitório, mas, quase sempre
em Juízo de Instância inferior; onde corre a maioria das ações de conhecimento e
de execução contra a Fazenda Pública. Sobre este tipo de execução, nos escreve
Alexandre Freitas Câmara, “A execução por quantia certa contra a Fazenda
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Pública terá no pólo passivo apenas pessoas jurídicas de direito público, ou seja, a
União, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios, os Municípios e as suas
respectivas autarquias” (CÃMARA, 2006, p.356), nesse sentido, também escreve,
Humberto Theodoro Júnior, “Nota-se, por fim, que as regras especiais de
execução imprópria, via requisitório, só se referem à execução por quantia certa,
como expressamente dispões o art. 730 do CPC” (THEODORO JÚNIOR, 2001, p.
240). No caso de decisão ocorrida na justiça comum estadual, a competência para
a expedição é do presidente do Tribunal de Justiça do Estado; ou, no caso de
decisão trabalhista, o presidente do Tribunal Regional do Trabalho.
Consoante o inciso I do art. 730, a requisição de pagamento será feita pelo
Presidente do Tribunal competente. Em se tratando de Fazenda Pública Federal,
competente é o Presidente do Tribunal Regional Federal da Região respectiva; em
se tratando de Fazenda Pública Estadual, Municipal ou Distrital, do respectivo
Tribunal de Justiça. Será competente para expedir o ofício requisitório, ou
precatório, o presidente do tribunal a que se encontra adstrito o juízo prolator da
decisão que culminou com este tipo de execução.
A respeito do procedimento da execução contra a Fazenda Pública, escreve
Luiz Guilherme Marinoni:
“A execução contra a Fazenda Pública pode assentar-se em
título executivo judicial ou extrajudicial. Também pode dar
base a esta execução a sentença proferida em ação monitória
contra a Fazenda Pública. De todo modo, e não obstante o
título que sustente a execução contra a Fazenda Pública, ser-
lhe-ão sempre inaplicáveis os regimes comuns das execuções
de título judicial e extrajudicial, haja vista não apenas as
particularidades apontadas (no item antecedente), como a
circunstância de o CPC ter edificado disciplina própria para a
execução contra a Fazenda Pública (arts. 730 e 731).”
(MARINONI, 2008, p. 402/403).
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O art. 100, §2º determina que “As dotações orçamentárias e os créditos
abertos serão consignados ao Poder Judiciário”, bem como que “as importâncias
respectivas” serão recolhidas “às repartições competentes”, a invés de apenas
dizer que serão abertas dotações no orçamento de ente devedor para o
pagamento dos precatórios.
Deste modo, o precatório será expedido pelo presidente do tribunal de onde
originou a decisão, enquanto a dotação orçamentária destinada ao seu
pagamento, ou será consignada à dotação correspondente no orçamento do
Poder Judiciário que integra o ente federado, ou ficará em dotação própria para a
efetuação de transferência através de repasse, com a finalidade de solver débito
oriundo de decisão judicial.
O juiz da causa deverá instruir o precatório com os dados necessários para
que o presidente do tribunal tenha subsídios para efetuar o pagamento do
requisitório. É atribuição do Poder Judiciário a apuração do montante de cada
precatório, no caso ao tribunal de onde se originou a decisão exeqüenda, neste
sentido o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar pedido de medida cautelar na
ADIn nº 2.535-MT, expressou entendimento de que:
“que incumbe com exclusividade ao Poder Judiciário a
apuração do montante de cada precatório, para fins de
inclusão no orçamento fiscal...” (Informativo do STF, n.255).
Os pagamentos requisitados até 1º de julho de cada ano deverão ser pagos
até o final do exercício seguinte, com os valores devidamente atualizados (CF, art.
100, §1º). É dizer por outras palavras: todos os valores requisitados até o dia 1º de
julho de 2007, por exemplo, deverão ser pagos até o dia 31/12/2008. Os valores
requisitados a partir daquela data deverão ser pagos até o dia 31/12/2009.
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1.4 As Requisições de Pequeno Valor
De acordo com o art. 100, §3º da Constituição Federal, as obrigações
definidas em lei como de pequeno valor serão pagas independentemente de
precatório, embora o trânsito em julgado da decisão respectiva seja exigido pelo
dispositivo, o qual é, nitidamente, de eficácia contida, pressupondo legislação
específica de cada entidade federada para sua aplicação. De acordo com a
introdução do art. 87 do ADCT dada pela EC nº 37/2002, a qual foi elogiada por
Cássio Scarpinella Bueno, “Foi oportuna, por isso mesmo, a introdução do art. 87
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias pela EC nº 37/2002”
(BUENO,2009, p.405), determinando que enquanto não houvesse disciplina
específica de cada ente federado com relação ao valor que impõem o pagamento
direto pelas Fazendas (CF, art. 100, §3º).
“Art. 87 – Para efeito do que dispõem o §3º, do art. 100 da
Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno
valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis
definidoras pelos entes da Federação, observando o disposto
no §4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou
obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham
valor igual ou inferior a:
I – 40 (quarenta) salários-mínimos, perante a Fazenda dos
Estados e do Distrito Federal.
II – 30 (trinta) salários-mínimos, perante a Fazenda dos
Municípios.
Parágrafo único. Se o valor da execução ultrapassar o
estabelecido neste artigo, o pagamento far-se-á, sempre, por
meio de precatório, sendo facultada à parte exeqüente a
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renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar
pelo pagamento do saldo sem o precatório da forma prevista
no §3º do art. 100.”
No âmbito federal, há algumas normas que tratam do assunto, disciplinando
o referido §3º do art. 100 da Constituição Federal. Está em vigor na Justiça
Federal a Resolução 55 de 14/05/2009 que no seu art. 2º, I, considera requisição
de pequeno valor, o crédito cujo valor seja igual ou inferior à 60 (sessenta)
salários-mínimos.
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CAPÍTULO 2
2.1 EC nº 30/2000 e a EC nº 62/2009
A Fazenda Pública tem seus bens regidos, por disciplina distinta daquela
que trata dos bens particulares, porque em princípio afetado a uma finalidade
pública, não pode ser livremente alienado ou onerado (Art. 100 do CC).
A Constituição Federal dedicou um artigo ao regime de pagamento de
condenações contra a Fazenda Pública, o artigo nº 100, disciplinando que todas
as dívidas da Fazenda Pública originárias de condenação judicial somente serão
pagas mediante precatório. Luiz Guilherme Marinoni faz uma observação sobre o
art. 100 da CF:
“O art. 100 da Constituição Federal parece apontar para outra
exceção, de crédito não submetido ao regime dos precatórios,
referente aos créditos de natureza alimentar. Esta norma, já
em sua primeira parte, diz que “à exceção dos créditos de
natureza alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda
Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença
judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de
apresentação dos precatórios...”. Porém, não é essa
orientação pacífica nos tribunais. Segundo entendimento
assente no Supremo Tribunal Federal, os créditos de natureza
alimentar – aí incluídos os previdenciários, acidentários e
ainda as condenações por ato ilícito e vantagens angariadas
por servidores públicos – também serão pagos por meio de
precatório, com a única diferença de que estes créditos
possuem ordem preferencial de pagamento, não se sujeitando
à ordem dos créditos comuns.” (MARINONI, 2008, p. 402).
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A Emenda Constitucional nº 30/2000 promoveu modificações no art. 100 e
introduziu o art. 78 no ADCT. Em função destas modificações o regime do
precatório sofreu alterações tanto no que tange a à regularização dos débitos da
Fazenda Pública em atraso, como no que diz respeito àqueles débitos atuais e
futuros, oriundos de condenações judiciais.
O art. 100 da Constituição, cuja mudança já havia sido pedida por Leonardo
Greco, “Já tive oportunidade de afirmar que a reforma do artigo 100 da
Constituição é um imperativo moral” (GRECO, 2001, p.537), que estabelece a
forma do pagamento dos créditos originados de decisões judiciais proferidas em
face da Fazenda Pública, sofreu uma grande nova modificação através da
Emenda Constitucional nº 62/2009, que alterou mais ainda o referido artigo da
Constituição, acrescentando novos parágrafos, perfazendo um total de dezesseis
parágrafos, que acrescentaram determinações e desmembraram e suprimiram
alguns temas, ficando com a seguinte redação:
“Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas
Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude
de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem
cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos
créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de
pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais
abertos para este fim. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).
§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem
aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos,
pensões e suas complementações, benefícios previdenciários
e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em
responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial
transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre
todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no §
20
2º deste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
62, de 2009).
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares
tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data de
expedição do precatório, ou sejam portadores de doença
grave, definidos na forma da lei, serão pagos com preferência
sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao
triplo do fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste
artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo
que o restante será pago na ordem cronológica de
apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à
expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de
obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as
Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença
judicial transitada em julgado. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser
fixados, por leis próprias, valores distintos às entidades de
direito público, segundo as diferentes capacidades
econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício
do regime geral de previdência social. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 62, de 2009).
§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das
entidades de direito público, de verba necessária ao
pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças
transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários
apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o
final do exercício seguinte, quando terão seus valores
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atualizados monetariamente. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).
§ 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos
serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo
ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exequenda
determinar o pagamento integral e autorizar, a requerimento
do credor e exclusivamente para os casos de preterimento de
seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária
do valor necessário à satisfação do seu débito, o sequestro da
quantia respectiva. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).
§ 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato
comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação
regular de precatórios incorrerá em crime de responsabilidade
e responderá, também, perante o Conselho Nacional de
Justiça. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).
§ 8º É vedada a expedição de precatórios
complementares ou suplementares de valor pago, bem como
o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução
para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispõe
o § 3º deste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
62, de 2009).
§ 9º No momento da expedição dos precatórios,
independentemente de regulamentação, deles deverá ser
abatido, a título de compensação, valor correspondente aos
débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e
constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública
devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos,
ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em
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virtude de contestação administrativa ou judicial. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 62, de 2009).
§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal
solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em até
30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento,
informação sobre os débitos que preencham as condições
estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).
§ 11. É facultada ao credor, conforme estabelecido em
lei da entidade federativa devedora, a entrega de créditos em
precatórios para compra de imóveis públicos do respectivo
ente federado. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de
2009).
§ 12. A partir da promulgação desta Emenda
Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após
sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente
de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração
básica da caderneta de poupança, e, para fins de
compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo
percentual de juros incidentes sobre a caderneta de
poupança, ficando excluída a incidência de juros
compensatórios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62,
de 2009).
§ 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente,
seus créditos em precatórios a terceiros, independentemente
da concordância do devedor, não se aplicando ao cessionário
o disposto nos §§ 2º e 3º. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).
§ 14. A cessão de precatórios somente produzirá
efeitos após comunicação, por meio de petição protocolizada,
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ao tribunal de origem e à entidade devedora. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 62, de 2009).
§ 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei
complementar a esta Constituição Federal poderá estabelecer
regime especial para pagamento de crédito de precatórios de
Estados, Distrito Federal e Municípios, dispondo sobre
vinculações à receita corrente líquida e forma e prazo de
liquidação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de
2009).
§ 16. A seu critério exclusivo e na forma de lei, a União
poderá assumir débitos, oriundos de precatórios, de Estados,
Distrito Federal e Municípios, refinanciando-os diretamente.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).”
As principais mudanças ocorreram nos §§ 2º e do 9º ao 14º. O § 2º introduz
um benefício para os titulares da verba, que tenham idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos, será antecipado um valor igual ao triplo da requisição de
pequeno valor, sendo que o restante do valor continuará na ordem cronológica de
apresentação do precatório, não havendo este benefício no caso de cessão de
crédito para terceiros nos termos do § 13º. Ainda em relação à cessão de crédito
os §§ 13º e 14º permitem que a mesma seja feita sem a anuência do devedor,
bastando mera comunicação por petição nos próprios autos do processo.
A mais significativa alteração foi introduzida ao longo dos §§ 9º a 11º,
tratando da compensação de débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida
ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública.
Já o § 12º vincula a correção dos valores dos requisitórios, até o efetivo
pagamento, à remuneração da caderneta de poupança, com a incidência dos
mesmos juros aplicados, para fins de compensação da mora.
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2.2 EC 37/2002
As discussões relativas à possibilidade de expedição do que sempre se
chamou de “precatório complementar” ou “precatório suplementar” foram
devidamente equacionadas diante do § 4º que a EC nº 37/2002, hoje com nova
redação dada pela EC nº 62/2009 ao §8º do art. 100 da Constituição Federal. De
acordo com o dispositivo, é vedada a expedição de precatório complementar ou
suplementar de valor pago.
São duas únicas as exceções admitidas pelo sistema constitucional. A
primeira refere-se aos casos definidos como de “pequeno valor” (CF, art. 100,
§3º). A segunda é prevista no art. 86, §1º, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, também incluído pela EC nº 37/2002.
De acordo, com este último dispositivo, “os débitos a que se refere o caput
deste artigo, ou os respectivos saldos, serão pagos na ordem cronológica de
apresentação dos respectivos precatórios com precedência sobre os de maior
valor”. Assim, é necessária a expedição de precatório para pagamento dos saldos
de débitos de precatórios já expedidos, mas não cumpridos, total ou parcialmente,
até o dia 13 de junho de 2002, quando promulgada a EC nº 37. Para tanto, estes
valores deverão ter sido definidos como de pequeno valor pela lei referida pelo §3º
do art. 100 da Constituição Federal ou pelo art. 87 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT, art. 86, I, II e III).
Dispondo sobre a regra de precedência ocorreu violação ao direito
adquirido daqueles que já se encontravam em ordem de preferência mais
vantajosa, daí se afirmar conter a emenda em questão de inconstitucionalidade
insanável, posto que violadora, nesse aspecto, de cláusula pétrea. O mesmo
ocorrendo com a regra do §2º que permite o parcelamento em duas parcelas
anuais dos débitos que ainda não tiveram iniciado a sua liquidação, porquanto,
viola o direito ao recebimento em quota única, anteriormente aplicável ao, em
razão da ausência de autorização do fracionamento.
25
Não obstante as considerações dos parágrafos anteriores, importa
evidenciar que a vedação constitucional não pode ser interpretada e aplicada sem
levar em conta o amplo descumprimento dos precatórios por boa parte dos entes
públicos e a farta jurisprudência do STF e do STJ em admitir, nas situações acima
destacadas, uma forma mais eficiente de pagamento pelas fazendas públicas e,
nem por isto, agressiva às garantias materiais e processuais da Fazenda Pública.
Correto, por isso mesmo, o entendimento que veda a aplicação retroativa da EC
nº 37/2002 para evitar o pagamento de precatórios complementares pendentes na
data de sua promulgação. É o que vem decidindo os Tribunais Superiores, como
fazem prova os seguintes julgados:
“PRECATÓRIO-DEPÓSITO PARCIAL - COMPLEMENTAÇÃO
DO DEPÓSITO - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 37/2002 -
IRRETROATIVIDADE. Descabe empolgar a Emenda
Constitucional nº 37/2002, no que veio a vedar o precatório
complementar, para desobrigar-se da liquidação total do
débito. AGRAVO - ARTIGO 557, § 2º, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL - MULTA. Se o agravo é manifestamente
infundado, impõe-se a aplicação da multa prevista no § 2º do
artigo 557 do Código de Processo Civil, arcando a parte com
o ônus decorrente da litigância de má-fé. (STF, 1ª Turma, AI-
AgR 455.937/SP, rel. Min. Marco Aurélio, j.un.29.11.2005, DJ
17.2.2006, p-56).”
“PROCESSUAL - AGRAVO REGIMENTAL - EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 37/2002.- A EC 37/2002 não se aplica
aos casos ocorridos antes da sua vigência. Entendimento
majoritário no STJ. (STJ, CE, AgRg nos EAg 384.716/SP, rel.
Min. Humberto Gomes de Barros, j.un.25.10.2004, DJ
16.11.2004, p.173).”
26
2.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS PRECATÓRIOS NA JUSTIÇA
FEDERAL
A Lei Complementar nº 101/2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal, trouxe
a necessidade de serem identificados todos os beneficiários das requisições de
pagamento, conforme o seu art. 10, abaixo transcrito:
“Art. 10: A execução orçamentária e financeira identificará os
beneficiários de pagamento de sentenças judiciais, por meio
de sistema de contabilidade e administração financeira, para
fins de observância da ordem cronológica determinada no art.
100 da Constituição.”
A Lei nº 10.259/2001, com vigência a partir de janeiro de 2002, além de
instituir os Juizados Especiais Federais, definiu o limite dos débitos considerados
de pequeno valor, fixando-o em 60 salários-mínimos por beneficiário, como
determinado nos art. 3º e no §3º do art. 17º, abaixo transcritos:
“Art. 3º, caput: Compete ao Juizado Especial Federal Cível
processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça
Federal até o valor de sessenta salários-mínimos, bem como
executar as suas sentenças.
Art. 17, § 1º: Para os efeitos do §3º do art. 100 da Constituição
Federal, as obrigações ali definidas como de pequeno valor, a
serem pagas independentemente de precatório, terão como
limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei para a
27
competência do Juizado Especial Federal Cível (art.3º,
caput).”
A Emenda Regimental TRF 2ª REGIÃO nº 17, no seu Capítulo III, publicada
no DJ – Seção 2, fls. 184, de 25 de janeiro de 2002, instituiu o precatório
eletrônico, nos seguintes termos:
“CAPÍTULO III – Da Requisição de Pagamento
“Art. 331. Os precatórios de requisição de pagamento das
somas a que a Fazenda Pública for condenada serão
enviados eletronicamente pelo Juízo da execução ao
Presidente do Tribunal.
Parágrafo único. A requisição prescindirá do envio de
documentos, devendo o Juízo da execução informar apenas
que constam dos autos originários todas as peças julgadas
necessárias à expedição e ao pagamento do precatório
requisitado.
Art. 332. O Tribunal formará arquivo eletrônico de propostas a
partir dos registros eletrônicos dos precatórios enviados,
atestará a ordem cronológica e requisitará verba ao Conselho
da Justiça Federal.
Art. 333. A decisão do Presidente sobre a inscrição do
precatório, a ordem cronológica e a requisição da verba será
publicada no Diário da Justiça, sendo o inteiro teor remetido
ao Juiz requisitante, para que a faça constar dos autos de que
se extraiu o precatório.
Parágrafo único. As importâncias respectivas poderão ser
depositadas em estabelecimento de crédito oficial, à
disposição do Juiz requisitante, a fim de serem levantadas na
28
forma da lei. O Presidente baixará, a respeito, instrução
normativa.”
Seguindo a determinação da Emenda Regimental nº 17 foi editada a
Resolução nº 258/2002 do Conselho da Justiça Federal de 21 de março de 2002,
que regulamentou as normas já existentes e uniformizou procedimentos relativos à
expedição e ao processamento das requisições de pagamento, fixando a
competência dos órgãos envolvidos. O ponto principal introduzido, foi a mudança
da sistemática da confecção dos precatórios, que até então eram formados como
autos de um precatório, ou seja, com termo de autuação (anexos 1 e 2), e peças
xerocopiadas extraídas dos autos da ação original, fornecidas pelos interessados,
com um certo número de peças obrigatórias, tais como: a petição inicial,
procuração, a sentença de 1º grau, a certidão de trânsito em julgado da mesma,
acórdão do Tribunal, STJ ou STF, no caso de oferecimento de embargos à
execução a cópia da sua sentença e o trânsito em julgado e os cálculos que
embasaram a execução. A partir da Resolução nº 258 foi abolido a formação do
precatório como autos de um processo, sem a necessidade de peças para instruí-
lo.
A Resolução nº 258 instituiu os ofícios requisitórios (anexo 3), nos termos
do art. 1º e seu parágrafo único, abaixo transcritos:
“Art. 1º - O pagamento de quantia certa a que for condenada a
Fazenda Pública será requisitado ao Presidente do Tribunal,
facultada a utilização de meio eletrônico, conforme
regulamentação a ser expedida em cada Região.
Parágrafo único. Compete ao Presidente do Tribunal aferir a
regularidade formal das requisições, bem como assegurar a
obediência à ordem de preferência de pagamento dos
créditos, nos termos preconizados na Constituição Federal e
na presente Resolução.”
29
Já o art. 5º da Resolução nº 258 apresenta o rol de elementos que deverão
constar do ofício requisitório, abaixo transcrito:
“Art. 5º- O juiz da execução indicará, nas requisições, os
seguintes dados:
I – natureza do crédito (comum ou alimentar) e espécie da
requisição (requisição de pequeno valor – RPV – ou precatório
a ser pago em parcela única ou de forma parcelada);
II – número do processo de execução e data do ajuizamento
do processo de conhecimento;
III – nomes das partes e de seus procuradores;
IV – nomes e números de CPF o CNPJ dos beneficiários,
inclusive quando se tratarem de advogados e peritos;
V – valor total da requisição e individualização por beneficiário;
VI – data-base considerada para efeito de atualização
monetária dos valores;
VII – data do trânsito em julgado da sentença ou acórdão no
processo de conhecimento;
VIII – data do trânsito em julgado da sentença ou acórdão nos
embargos à execução ou indicação de que não foram opostos
embargos ou qualquer impugnação aos cálculos;
IX – em se tratando de precatório complementar, data da
expedição e valor dos alvarás anteriores;
X – natureza da obrigação a que se refere o pagamento e, em
se tratando de pagamento de indenização por desapropriação
30
de imóvel residencial, indicação do seu enquadramento ou
não no art. 78, § 3º, do ADCT.
Parágrafo único. Ausente qualquer dos dados especificados, a
requisição não será considerada para quaisquer efeitos,
cabendo ao Tribunal restituí-la à origem.”
Outras resoluções foram editadas no ano de 2002, a Resolução nº 265
padronizou os procedimentos e formulários relativos à expedição do Alvará de
levantamento (anexo 4) e ao ofício de conversão em favor da Fazenda Pública, no
âmbito da Justiça Federal. A expedição dos Alvarás de precatórios ficava, até em
então, a cargo do Tribunal, passando a ser expedido pelos juízos das execuções.
A Resolução nº 270 promoveu a alteração dos arts. 2º, 3º e 5º da
Resolução nº 258, regulamentando as Requisições de Pequeno Valor, nos
seguintes termos:
“Art. 1º Os arts. 2º, 3º e 5º da Resolução nº 258, de 21 de
março de 2002, passam a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 2º Considera-se Requisição de Pequeno Valor (RPV)
aquela relativa a crédito cujo valor atualizado, por beneficiário,
seja igual ou inferior a:
I - sessenta (60) salários mínimos, se devedora for a Fazenda
Pública Federal (art. 17, § 1º, da Lei nº 10.259, de 12 de julho
de 2001);
II - quarenta (40) salários mínimos, ou o valor estipulado pela
legislação local, se devedora for Fazenda Pública Estadual ou
a do Distrito Federal (art. 87 do ADCT - Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição Federal); e
31
III - trinta (30) salários mínimos, ou o valor estipulado pela
legislação local, se devedora for Fazenda Pública Municipal
(art. 87 do ADCT - Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição Federal).”
“Art. 3º Os pagamentos de valores superiores aos limites
previstos no artigo anterior serão requisitados mediante
precatório.
Parágrafo único. Serão também requisitados mediante
precatório os pagamentos parciais, complementares ou
suplementares de qualquer valor quando a importância total do
crédito executado, por beneficiário, for superior aos limites
estabelecidos no artigo anterior.”
“Art.
5º............................................................................................
I - ...
II - ...
IX - em se tratando de requisição de pagamento parcial,
complementar ou suplementar, o valor total do crédito
executado, por beneficiário.”
Uma nova Resolução foi editada em 29 de outubro de 2002, a de nº 19, que
veio a disciplinar no âmbito do Tribunal Regional Federal da 2º Região, o
processamento das requisições de pagamento a que a Fazenda Pública tivesse
sido condenada, definindo novos procedimentos para expedição dos ofícios
requisitórios, a mudança central foi a obrigatoriedade do envio eletrônico das
requisições de pagamento ao Tribunal (anexos 5 e 6), sendo inseridos no sistema
eletrônico todos os dados elencados no § 2º do art. 1º da Resolução nº 19, abaixo
transcrito:
32
“Art. 1º. Tornar obrigatório o envio eletrônico, a este Tribunal,
dos requisitórios de pagamento expedidos pelos Juízos de
Execução, incluindo-se os Juízados Especiais Federais.
§ 1º. Os requisitórios que forem enviados por outro meio que
não o eletrônico, serão restituídos à origem sem atuação por
parte do Tribunal, ressalvados os casos dispostos no § 4º e §
5º deste artigo.”
A Resolução nº 263, de 21 de maio de 2002, regulamentou, no âmbito do
Conselho e da Justiça Federal de Primeiro e Segundo Graus, os procedimentos
atinentes ao cumprimento de sentenças proferidas pelos Juizados Especiais
Federais, destacando-se a delimitação do prazo para depósito dos valores
relativos às Requisições de Pequeno Valor, conforme transcritos:
“Art. 6º O valor devido será depositado no prazo de 60
(sessenta) dias na agência bancária indicada na requisição.
Parágrafo único. Desatendido o prazo para o depósito, o juiz
determinará o seqüestro, à conta da entidade devedora, do
numerário suficiente ao cumprimento da decisão.”
A Resolução nº 559, de 26 de junho de 2007, regulamentou nos seus arts.
4º e 5º a expedição dos requisitórios em relação aos litisconsórcios e ao valores
da condenação comprometidos com os honorários advocatícios contratados. O
art. 4º, no seu parágrafo único, atribuiu ao advogado a qualidade de beneficiário, o
que leva por vezes o valor a ser recebido pelo patrono deixar de ser uma
requisição de pequeno valor passando à precatório, pois se o total dos valores da
parte somados aos dos honorários for maior que 60 salários-mínimos, ambos
serão expedidos como precatório. O art. 5º, no § 1º determina que os honorários
contratados só poderão ser destacados antes do envio das requisições ao
33
Tribunal, e o § 2º destaca que a parcela comprometida com os honorários
contratados, ou de cessão de crédito, deve seguir a natureza do valor devido à
parte, segue, abaixo, a transcrição dos artigos:
“Art. 4º Em caso de litisconsórcio, para efeito do disposto nos
arts. 2º e 3º desta Resolução, será considerado o valor devido
a cada litisconsorte, expedindo-se, simultaneamente, se for o
caso, RPV’s e requisições mediante precatório.
Parágrafo único. Ao advogado é atribuída a qualidade de
beneficiário, quando se tratar de honorários sucumbenciais, e
seus honorários devem ser considerados como parcela
integrante do valor devido a cada credor para fins de
classificação do requisitório como de pequeno valor.
Art. 5º Se o advogado quiser destacar do montante da
condenação o que lhe cabe por força de honorários, deverá
juntar aos autos o respectivo contrato, antes da expedição da
requisição.
§ 1º Após a apresentação da requisição no Tribunal, os
honorários contratuais não poderão ser destacados (art. 22, §
4º, da Lei nº 8.906, de 1994), procedimento este vedado no
âmbito da instituição bancária oficial, nos termos do art. 10 da
Lei Complementar nº 101/2000.
§ 2º A parcela da condenação comprometida com honorários
de advogado por força de ajuste contratual não perde sua
natureza, e dela, condenação, não pode ser destacada para
efeitos da espécie de requisição; conseqüentemente, o
contrato de honorários de advogado, bem como qualquer
cessão de crédito, não transforma em alimentar um crédito
comum, nem substitui uma hipótese de precatório por
requisição de pequeno valor, ou tampouco altera o número de
34
parcelas do precatório comum, devendo ser somado ao valor
do requerente para fins de cálculo da parcela.
§ 3º Em se tratando de RPV com renúncia, o valor devido ao
requerente somado aos honorários contratuais não pode
ultrapassar o valor máximo para tal modalidade de
requisição.”
Em 16 de janeiro de 2006, foi editada a Resolução nº 2, disciplinando no
âmbito do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, o acesso à internet para
consulta às fases de processamento das requisições de pagamento, para consulta
aos dados necessários à intimação das partes ou expedição dos alvarás de
levantamento, e para bloqueio dos depósitos. Neste sentido, determinam os arts.
3º e 4º da Resolução nº 2, abaixo transcritos:
“Art. 3º Após a expedição do requisitório, caso o juízo aponte
para a necessidade de suspensão, cancelamento, alteração
de dado cadastral ou conversão dos valores à disposição do
juízo, este deverá dirigir solicitação por ofício ao Presidente do
Tribunal, cujo atendimento será dado a conhecer por meio de
consulta à página do Tribunal na internet.
Art. 4º Alternativamente ao disposto no artigo anterior,
considerando a necessidade de a referida solicitação ser
enviada imediatamente, e a fim de garantir que o saque não
seja efetuado, o juízo encaminhará, por meio da página do
Tribunal na internet, solicitação eletrônica de bloqueio dos
valores depositados, dispensando o envio de ofício.
§ 1º. A solicitação eletrônica de bloqueio a ser encaminhada
pelo juízo em substituição ao envio do ofício será feita de
35
ordem do juiz, por meio da página do Tribunal na internet, em
área de acesso restrito por senha do juízo.”
A Resolução que hoje está em vigor é a nº 55, de 14 de maio de 2009, que
alterou a disposição de alguns pontos da Resolução nº 559, tendo sido o art. 5º, o
mais atingido, conforme abaixo transcrito:
Art. 5º Se o advogado quiser destacar do montante da
condenação o que lhe couber por força de honorários
contratuais, na forma disciplinada pelo art. 22, § 4º, da Lei nº
8.906/1994, deverá juntar aos autos o respectivo contrato
antes da expedição da requisição.
§ 1º Juntado o contrato, cabe ao juízo requisitante efetuar o
destaque na mesma requisição de pagamento do exequente, e
ao tribunal, efetuar o depósito em nome do advogado.
§ 2º Após a apresentação da requisição no tribunal, os
honorários contratuais não poderão ser destacados,
procedimento este vedado no âmbito da instituição bancária
oficial, nos termos do art. 10 da Lei Complementar nº
101/2000.
§ 3º O contrato particular de honorários celebrado entre o
advogado e seu constituinte não
obriga a Fazenda Pública a antecipar o pagamento ou a fazê-lo
de forma integral quando o crédito do exequente estiver
submetido ao parcelamento de que trata a Emenda
Constitucional nº 30/2000; consequentemente, o contrato de
honorários de advogado, bem como qualquer cessão de
crédito, não transforma em alimentar um crédito comum, nem
36
substitui uma hipótese de precatório em requisição de pequeno
valor, tampouco altera o número de parcelas do precatório
comum, devendo ser somado ao valor do requerente para fim
de cálculo da parcela.
§ 4º Em se tratando de RPV com renúncia, o valor devido ao
requerente somado aos honorários contratuais não pode
ultrapassar o valor máximo estipulado para tal modalidade de
requisição.
Outra novidade surgida com a Resolução nº 55 aparece no art. 6º, VIII, que
atenta para a necessidade de se informar o valor da contribuição para o Plano de
Seguridade do Servidor Público Civil – PSS, com a indicação da condição do
servidor, se ativo, inativo ou pensionista.
A determinação da retenção do PSS nos valores pagos de decisão judicial
foi promovida pela Medida Provisória nº 449, de 3 dezembro de 2008, que no seu
art. 35, introduziu o art. 16-A na Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004, abaixo
transcrito:
“Art. 35. A Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004, passa a
vigorar acrescida do seguinte art. 16-A:
Art. 16-A. A contribuição do Plano de Seguridade do Servidor
Público – PSS, decorrente de valores pagos em cumprimento
de decisão judicial, ainda que decorrente de homologação de
acordo, será retida na fonte, no momento do pagamento ao
beneficiário ou seu representante legal, pela instituição
financeira responsável pelo pagamento, por intermédio da
quitação da guia de recolhimento, remetida pelo setor de
precatórios do Tribunal respectivo.
37
Parágrafo único. O Tribunal respectivo, quando da remessa
dos valores do precatório ou requisição de pequeno valor,
emitirá guia de recolhimento devidamente preenchida, que
será remetida à instituição financeira juntamente com o
comprovante da transferência do numerário objeto da
condenação.”
2.4 CRITÉRIOS DE PROCESSAMENTOS NO PERÍODO DE 2001/2002
2.4.1 Precatórios inscritos na proposta de 2002.
Os beneficiários de requisições de pequeno valor eram credores de valores
até R$ 5.181,00.
A disponibilização dos valores era feita nos mesmos autos do precatório.
Estes requisitórios foram pagos com recursos financeiros disponibilizados
pelo Conselho da Justiça Federal, referente à execução do orçamento previsto
para o pagamento de requisições de pequeno valor previsto para o exercício de
2001.
Foram pagos por este critério as Requisições de Pequeno Valor incluídas
nos precatórios autuados de 02/07/2000 a 01/07/2001, bem como aqueles de
exercícios anteriores que foram reincluídos administrativamente pelo Tribunal na
proposta orçamentária para o exercício de 2002.
Muitos dos autos destes precatórios encontravam-se nas varas de origem
aguardando a disponibilização de verba para pagamento dos beneficiários de
precatório remanescentes, cujos créditos foram incluídos no passivo, tendo em
vista que a entidade devedora não havia efetuado o depósito.
38
2.4.2 Precatórios inscritos entre 02/07/2001 e 25/03/2002.
Os beneficiários das requisições de pequeno valor eram credores de
valores de até 60 salários mínimos.
A disponibilização da verba nos autos extraídos dos precatórios.
Estes requisitórios foram pagos com recursos financeiros disponibilizados
pelo Conselho da Justiça Federal, referente à execução do orçamento previsto
para o pagamento das requisições de pequeno valor previsto para o exercício de
2002.
Foram pagos por este critério as requisições de pequeno valor incluídas nos
precatórios autuados de 02/07/2001 a 25/03/2002. Inicialmente, as Requisições de
Pequeno Valor incluídas nos precatórios autuados entre 02/07/2001 e 13/01/2002
(data anterior à vigência da Lei nº 10.259/2001, lei que instituiu os Juizados
Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal) foram pagos no limite
de R$ 5.181,00. Após à entrada em vigor da Lei 10.259/2001, que majorou esse
limite para 60 salários-mínimos, tendo em vista a disponibilidade financeira
apontada pelo Conselho da Justiça Federal, este limite se estendeu aos
beneficiários dos precatórios autuados entre 02/07/2001 a 13/01/2002, cujos
créditos eram superiores a R$ 5.181,00 e inferiores a 60 salários-mínimos,
evitando-se, com isso, uma situação anti-isonômica.
Quanto ao processamento, existiram 3 tipos de processos de precatórios:
as requisições de pequeno valor com capa amarela; os precatórios em que não
havia beneficiário de requisição de pequeno valor, que permaneceram inalterados
e com a capa verde e por último os precatórios que possuíam os dois tipos de
beneficiários, dos quais foram geradas requisições de pequeno valor.
2.4.3 Requisitórios autuados de 26/03/ 2002 a 17/10/2002.
Não apresentavam peças, sendo formado apenas pelo ofício requisitório,
em conformidade ao art. 5º da Resolução nº 258/2002. Alguns requisitórios ainda
continham vários beneficiários.
39
A disponibilização da verba era feita por intermédio de ofício aos Juízos de
Origem.
Estes requisitórios retratavam a fase de transição entre aqueles
processados por autos, antes da Resolução nº 258/2002, e aqueles enviados pelo
meio eletrônico, após a Resolução nº 19/2002.
2.4.4 Requisitórios autuados a partir de 18/10/2002.
A sua expedição começou a ser feita por meio eletrônico.
As Requisições passaram a ser individualizadas por beneficiário, em
respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal.
A disponibilização da verba era feita por intermédio de ofício aos Juízos de
Origem.
2.5 CASOS CONCRETOS NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL
O deferimento de sucessão processual para fins de expedição de
precatórios, possui um grande índice de incidência no âmbito da Justiça Federal,
há casos em que a sucessão é concedida para a viúva e seus filhos e outros em
que a única beneficiária será a viúva, neste sentido segue decisão proferida no
juízo da 14ª Vara Federal:
“Ante o disposto na Lei e no art. 112 da Lei da Lei 8.312/91, e
tendo em vista fls. 409, 412, 415 e 431/432, defiro a sucessão
processual do autor falecido Arthur Gregório Pena por sua
viúva Alzira Alves Pena.
Nesse sentido”
RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. VIOLAÇÃO.
ARTS. 1037, 1055 A 1062, DO CPC; ART. 1º DA LEI 6858/80;
40
ART. 112 DA LEI 8213/91. DESNESSIDADE. INVENTÁRIO.
ARROLAMENTO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NÃO
CONFIGURAÇÃO. AUSÊNCIA. INDICAÇÃO. REQUISITOS
ESSENCIAIS.
Prescreve o já mencionando art. 112 da Lei nº 8.212/91, ad
litteram: “O valor não recebido em vida pelo segurado só será
pago aos seus dependentes habilitados à pensão por morte
ou, na falta deles, aos seus sucessores na forma da lei civil,
independentemente de inventário ou arrolamento.” Como se
observa, poderão os valores devidos e não pagos ao segurado
falecido ser percebidos pelos seus dependentes ou
sucessores, desde que, evidentemente, provada essa
condição, independentemente de inventário ou arrolamento. A
letra da lei é clara e, a bem da verdade, apenas ratifica regra
que já estava consagrada no regime previdenciário anterior
(reproduzida no art. 212 do Decreto 83.080/79).
Em suma, o artigo consagra verdadeira exclusão do ingresso
dos valores no espólio e introduz regra procedimental e
processual específica que afasta a competência do Juízo de
Sucessões, conferido legitimação ativa ao herdeiro ou
dependente para, em nome próprio e em ação própria,
postular o pagamento das parcelas.
De lado outro, a tese de que o mencionado artigo somente
teria aplicação em sede administrativa não merece, salvo
melhor juízo, procedente.
Recurso provido.
(STJ, 5ª Turma, RESP 513.150, rel. min. José Arnaldo da
Fonseca, j. 07/10/04).”
41
A expedição de precatório de parte incontroversa merece destaque dentre
os procedimentos processuais. A matéria foi brilhantemente abordada por Luiz
Guilherme Marinoni:
“ Não é possível confundir a execução de decisão provisória
com a execução de parcela de crédito exequendo que não foi
impugnada ou controvertida nos embargos à execução
apresentados pela Fazenda Pública. Trata-se da hipótese em
que os embargos deixam de controverter parte do crédito
exigido na execução.
Ora, se o processo deve continuar, não obstante a evidência
de parcela de direito, a impossibilidade de execução imediata,
evitando a postergação da satisfação deste direito, estaria em
total desacordo com os direitos fundamentais à tutla
jurisdicional efetiva (art. 5º, LXXVIII, da CF) e à duração
razoável do processo (art. 5º, XXXV, da CF). Assim, a
execução de parcela do crédito não controvertida nada mais é
do que exigência imposta pelos direitos fundamentais
processuais sobre a estrutura técnica do processo e a sua
compreensão pelo juiz.” (MARINONI, 2008, p. 406).
Cada vez mais os advogados fazem uso desta possibilidade jurídica para
garantir aos seus clientes, o recebimento antecipado de parte do valor que terá
direito, nesse sentido segue-se decisão proferida no Juízo da 14ª Vara Federal:
“2) Defiro a expedição do precatório da parte incontroversa,
aludida às fls. 02/03 dos autos dos embargos à execução, com
a dedução da quantia de R$ 873,91, correspondente a 10% do
alegado excesso, a fim de garantir os honorários advocatícios,
42
no caso de eventual procedência dos embargos à execução,
importando a requisição de precatório do principal no valor de
R$ 127.736,40 e a de RPV no valor de R$ 1.981,95, relativo
aos honorários advocatícios, observando que no caso de
cumprimento do item 1º, será deduzido do principal o valor R$
25.547,28, a título de honorários contratados (20% de R$
127.736,40), perfazendo a importância de R$ 102.189,12.
Nesse sentido:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXPEDIÇÃO DE
PRECATÓRIO EM RELAÇÃO AOS VALORES
INCONTROVERSOS DA EXECUÇÃO – POSSIBILIDADE –
RETENÇÃO DE VALORES DESTINADOS A COBRIR OS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, SE HOUVER SUCESSO NA
AÇÃO DE EMBARGOS À EXECUÇÃO POR PARTE DOS
EMBARGADOS.
I – Nada obsta a expedição do precatório em relação aos
valores incontroversos da Execução, de acordo com a
inteligência do art. 739, § 2º., do CPC;
II – Não se pode deferir a expedição de precatório sem antes
reter valores destinados a cobrir os honorários, devidos pelos
Embargados, ora Agravantes, num eventual sucesso na Ação
de Embargos à Execução;
III – Precedentes dos TRF`S e do STJ.
IV – Agravo de Instrumento provido e agravo interno – Pet. nº
8816/2002 – prejudicado.
(TRF/2ª. R. 4ª. Turma, AG nº 2001.02.01.045061-0, rel.
Desembargador Federal Arnaldo Lima, j. 19/11/2003, DJ
19/02/2004).”
43
A questão relativa à incidência de juros compensatórios e moratórios era
controvertida na jurisprudência, em relação aos juros moratórios o Supremo
Tribunal Federal possui o entendimento de que não são devidos juros de mora no
período compreendido entre a data da elaboração dos cálculos e a data da
expedição do ofício requisitório, nesse sentido:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. PRECATÓRIO. JUROS DE MORA. NÃO
INCIDÊNCIA.
Não incidência de juros de mora no período compreendido
entre a data da elaboração dos cálculos e a data de expedição
do ofício precatório, desde que se observe o que preceitua o
disposto no art. 100, § 1º da Constituição do Brasil. Agravo
regimental a que se nega provimento.
(STF, RE 431.214-0/SP, 2ª Turma, rel. Min. Eros Grau, j.
29/04/2008)
“AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.
2. Recurso que não demonstra o desacerto da decisão
agravada. 3. Juros de mora entre as datas de expedição e do
pagamento do precatório judicial. Não incidência.
Precedentes. 4. Descabimento, pelos mesmos fundamentos,
de juros de mora entre a data de elaboração dos cálculos
definitivos e a data de apresentação, pelo Poder Judiciário à
respectiva entidade de direito público, do precatório (§ 1º do
art. 100 da Constituição). 5. Agravo regimental a que se nega
provimento.
(STF, AI 492.779 – Agr/DF, 2ª Turma, rel. Min. Gilmar
Mendes, j. 13/12/2005)”
44
A respeito do tema decidiu o Superior Tribunal de Justiça e o Tribunal
Regional Federal da 2ª Região, conforme ementas a seguir transcritas:
“TRIBUTÁRIO – JUROS MORATÓRIOS – CÁLCULO DE
ATUALIZAÇÃO – PRECATÓRIO COMPLEMENTAR – ART.
100 DA CF/88 – IMPOSSIBILIDADE – PRECEDENTES.
1 – A controvérsia essencial dos autos restringe-se à inclusão
de juros moratórios, no período compreendido entre a data da
elaboração dos cálculos e a data da expedição do precatório
ou do ofício requisitório, em execução de título judicial contra a
União.
2 – Encontra-se em desacordo com a jurisprudência do STJ o
entendimento da aplicação de juros moratórios no lapso
compreendido entre a homologação da conta de liquidação e
seu registro, pois somente haverá mora que determine sua
dezembro do ano seguinte ao da apresentação do precatório.
Agravo regimental improvido.
(STJ, AgRG no REsp 990340/SP, 2ª Turma, rel. Min.
Humberto Martins, j. 04/03/2008, DJ 17/03/2008)
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
PRECATÓRIO. JUROS DE MORA ENTRE A ELABORAÇÃO
DA CONTA E A EXPEDIÇÃO DA REQUISIÇÃO. NÃO
INCIDÊNCIA. 1. Encontra-se pacificado no Supremo Tribunal
Federal o entendimento no sentido de não serem devidos
juros moratórios no lapso entre a data da elaboração dos
cálculos definitivos e a apresentação do precatório pelo Poder
Judiciário à respectiva entidade de direito público (art. 100, §
1º, da CF), uma vez que esse período também integra o item
45
constitucional necessário à realização do pagamento sob a
forma de precatório, procedimento de observância obrigatória
pelo Poder Público, nos termos do art. 100 da Constituição da
República. 2. Agravo interno improvido.
(TRF/2ª Regiáo, AGTAG 162683/RJ, 6ª Turma Especializada,
rel. Juiz Federal Convocado José Antonio Lisbôa Neiva, j.
18/08/2008, DJU 02/09/2008; p. 186).”
A questão envolvendo precatório complementar, cabe destacar, também
não são devidos, segundo jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, abaixo
transcrita:
“PROCESSUAL CIVIL, CÁLCULOS, PRECATÓRIO
COMPLEMENTAR.
1. Na expedição de precatório complementar é impossível
instaurar-se discussão sobre índices inflacionários e
períodos a sofrerem incidência que não foram abrangidos
pela decisão homologatória de cálculos.
2. ..............................................................................................
3. Embargos de Divergência rejeitados.
(STJ, 1ª Seção, Embargos de Divergência em REsp.
193681/PR, rel. Min. José Delgado, un., j. 09/08/2000, Seção
1, pag. 85).
PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA –
CORREÇÃO MONETÁRIA – PRECATÓRIO
COMPLEMENTAR – INCLUSÃO DOS ÍNDICES APÓS A
HOMOLOGAÇÃO DOS CÁLCULOS – IMPOSSIBILIDADE –
VIOLAÇÃO À COISA JULGADA – PRECLUSÃO –
46
PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL (ERESP 163.681/RS,
DJ 19/04/99).
Homologados os cálculos e tendo a sentença transitado em
julgado, com a inclusão de determinado índice para correção
monetária dos mesmos, não pode haver a substituição do
índice considerado por isso que importaria em violação à coisa
julgada.
Embargos de divergência acolhidos.
(STJ, Corte Especial, Embargos de Divergência em REsp.
200701/RS, rel. Min. Francisco Peçanha Martins, un., j.
20/10/2000, DJ 18/12/2000, Seção 1, pag. 149).”
O não cabimento de execução de honorários advocatícios de sentença
transitada em julgado anteriormente à Lei nº 8906/94 foi devidamente na decisão
transcrita abaixo:
“É inaplicável a norma do art. 23 da Lei nº 8906/94 pois já
havia trânsito em julgado da sentença, quando da entrada em
vigor do novo Estatuto da OAB.
A sentença condenatória foi atribuidora do direito ao crédito,
diante do art. 20 do CPC, sendo incabível retroação do novo
estatuto para atingir situação consolidada em sentença
transitada em julgado.
Ressalte-se que antes da Lei nº 8906/94 “era dominante a
jurisprudência no sentido de que a condenação em honorários
advocatícios era feita em favor do litigante e não de seu
advogado, pois esse receberia o que ajustou com seu cliente.”
(Yussef Said Cahali, “Honorários advocatícios”, Revista dos
Tribunais, 3ª edição, 1997, p. 712).”
47
CONCLUSÃO
As mudanças promovidas pelas resoluções do Conselho da Justiça
Federal, promoveram melhorias na expedição dos precatórios, até 2002 os
precatórios eram formados como autos de um processo, com cópias de todos os
documentos importantes dos autos principais. As cópias eram fornecidas pelos
autores e conferidas uma a uma pela Secretaria do Cartório da Justiça Federal, e
a assinatura do juiz tinha de ser reconhecida num cartório de registro civil,
havendo a necessidade dos advogados fazerem carga dos autos do precatório.
Os precatórios, eram então desapensados dos autos principais e enviado para o
Tribunal Federal da 2ª Região, aonde eram autuados e analisados, havendo
qualquer incorreção eram baixados à vara de origem para o seu saneamento.
Outras mudanças sobrecarregaram os juízos das execuções, os alvarás
que antes eram expedidos e levantados no próprio Tribunal, quando a Resolução
nº 265/2002 foi editada, passaram as Varas Cíveis a expedir os alvarás de
levantamento dos depósitos dos valores referentes aos precatórios comuns. Os
autos dos precatórios também passaram a ser baixados às Varas Federais,
aguardando os depósitos remanescentes, comunicados por intermédio de ofícios
do Presidente do Tribunal Federal da 2ª Região. Hoje, as comunicações de
depósitos, tanto dos precatórios comuns para fins de expedição de alvará, como
as comunicações dos depósitos das Requisições de Pequeno Valor e a dos
precatórios alimentares, levantados independentemente de alvarás, são
comunicadas às partes pelos Juízos de Origem.
O grande número de litisconsorte por ação ainda é um fator prejudicial às
expedições dos precatórios, pelo fato de muitas das partes já terem idade
avançada, até mesmo à época da propositura da ação, muitas não conseguiram
viver o suficiente para ver a sua ação vitoriosa. Por vezes um autor original já foi
sucedido pela sua terceira geração, ou seja, o seu neto. As sucessões em que há
espólio, precisam ser regularizadas, e algumas delas sequer foram promovidas na
48
Justiça Estadual, o que gera um grande atraso na expedição dos ofícios
requisitórios.
No segundo semestre de 2009 foi implementada a Meta 2 da CNJ com o
intuito de Identificar os processos judiciais mais antigos e adotar medidas
concretas para o julgamento de todos os distribuídos até 31/12/2005. Neste ano
de 2010, além dos processos que ficaram pendentes na Meta 2, foram incluídos
os distribuídos até 31/12/2006, num esforço para redução nos atrasos dos
processamentos cartorários.
Alguns atrasos poderiam ser evitados com combinação da melhoria do
sistema de gerenciamento cartorário, com a implantação de cursos de
aperfeiçoamento, pois a legislação relativa aos precatórios é bastante dinâmica
gerando uma necessidade de o servidor da justiça estar sempre preocupado com
as atualizações dos procedimentos. O mesmo se aplica aos patronos das causas
que deveriam sempre estar alertas às mudanças implementadas, e as
possibilidades de antecipar a expedição dos precatórios dos seus clientes, como
no caso do pedido de expedição de precatório de quantia incontroversa.
Por tudo o que foi abordado, chega-se a conclusão de que as ações
processadas na Justiça Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro poderiam
ter um ritmo mais célere e devido à combinação de vários fatores, acabam
ocorrendo atrasos.
Um melhor gerenciamento por parte dos Juízes e de seus Diretores de
Secretaria, com a melhor distribuição do trabalho pelos servidores que trabalham
nos Cartórios das Varas Cíveis Federais, ajudaria em muito na solução de alguns
entraves que provocam falhas desnecessárias, como por exemplo alertá-los sobre
o momento crítico do envio do precatório, pois há um prazo fatal para envio,
devendo ficar atentos quanto ao término dos embargos à execução ou da
certificação da não interposição dos mesmos.
É necessário, também, que os advogados se preocupem em se atualizar
sobre os novos procedimentos na expedição dos precatórios, e que o Tribunal
disponibilize tanto para os servidores, como para os patronos uma página na
49
Internet com toda a legislação em vigor e todo o desenvolvimento da expedição
dos precatórios ao longo do tempo.
Em conclusão ao estudo que aqui se encerra é de se constatar que
infelizmente os precatórios judiciais demoram muito mais do que deveriam,
trazendo muitas das vezes desesperança e até revolta para aqueles que buscam
na Justiça a resolução dos seus problemas.
50
BIBLIOGRAFIA
BUENO, Cássio Scarpinella; Curso sistematizado de direito processual civil: tutela
jurisdicional executiva, 3/ Cássio Scarpinella Bueno – 2. ed. rev. ed. atual – São
Paulo : Saraiva, 2009.
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constitucionais, financeiros e processuais. / Antônio Flávio de Oliveira. 1. ed., 2.
Tiragem. Belo Horizonte: Fórum, 2007.
SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da; Precatórios e requisições de pequeno
valor – RPV / Conselho da Justiça Federal; Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva,
coord. – Brasília: CJF, 2003.
Manuais de Procedimento da Justiça Federal; Curso III, 2004, Requisitórios de
Pagamento: Legislação Aplicável.
Manuais de Procedimento da Justiça Federal; Curso Requisitórios de Pagamento,
2005: Normas e Procedimentos Aplicáveis ao Processameno.
Manuais de Procedimento da Justiça Federal; Processamento de Precatórios e
Requisições de Pequeno Valor, 2009.
Vade Mecum compacto / obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a
colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos
Windt e Lívia Céspedes – 3 ed. atual. E ampl. – São Paulo : Saraiva, 2010.
51
Theodoro Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil : Humberto
Theodoro Júnior. Rio de Janeiro : Forense, 2001.
Greco, Leonardo, O Processo de Execução, volume II / Leonardo Greco. – Rio de
Janeiro : Renovar, 2001.
Câmara, Alexandre Freitas, Lições do Direito Processual Civil, volume II /
Alexandre Freitas Câmara. Rio de Janeiro : Lúmen Júris, 2006.
Marinoni, Luiz Guilherme: curso de Processo Civil, volume 3 : execução / Luiz
Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart, - 2 ed. rev. e atual. 3. tir. – São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2008.
52
ÍNDICE
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................08
CAPÍTULO 1
1.1 Conceito de Precatório Judicial.................................................................................................11
1.2 Natureza Jurídica do Precatório...............................................................................................11
1.3 A Formação do Precatório.......................................................................................................12
1.4 As Requisições de Pequeno Valor...........................................................................................14
CAPÍTULO 2
2.1 EC nº 30/2000 e a EC nº 62/2009..............................................................................................15
2.2 EC nº 37/2002.............................................................................................................................20
2.3 Evolução Histórica dos Precatórios na Justiça Federal..............................................................22
2.4 Critérios de Processamentos no Período de 2001/2002............................................................33
2.4.1 Precatórios Inscritos na Proposta de 2002..............................................................................33
2.4.2 Precatórios Inscritos entre 02/07/2001 e 25/03/2002..............................................................34
2.4.3 Requisitórios Autuados de 26/03/2002 a 17/10/2002..............................................................35
2.4.4 Requisitórios Autuados a Partir de 18/10/2002.......................................................................35
2.5 Casos Concretos no Âmbito da Justiça Federal.........................................................................39
CONCLUSÃO...................................................................................................................................47
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................50
ÍNDICE..............................................................................................................................................52
ANEXOS...........................................................................................................................................53
FOLHA DE AVALIAÇÃO..................................................................................................................59
53
ANEXO 1
54
ANEXO 2
55
ANEXO 3
56
ANEXO 4
57
ANEXO 5
58
ANEXO 6
59
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – INSTITUTO A VEZ
DO MESTRE
Título da Monografia: O PRECATORIO JUDICIAL, A ESPERANÇA DE MUITOS
Autor: DALTON NENO ARAUJO
Data da entrega: 08/04/2010
Avaliado por:
Conceito: