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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS- GRADUAÇÃO LATU SENSO INSTITUTO A VEZ DO MESTRE MARIANA BAÍA AFONSO REGO ALVIM OS PROFESSORES DIANTE DAS CRIANÇAS COM TDAH E DAS TÉCNICAS DA PSICOMOTRICIDADE Rio de Janeiro Agosto de 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS- GRADUAÇÃO LATU SENSO

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

MARIANA BAÍA AFONSO REGO ALVIM

OS PROFESSORES DIANTE DAS CRIANÇAS COM TDAH E DAS TÉCNICAS

DA PSICOMOTRICIDADE

Rio de Janeiro

Agosto de 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS- GRADUAÇÃO LATU SENSO

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

OS PROFESSORES DIANTE DAS CRIANÇAS COM TDAH E DAS TÉCNICAS

DA PSICOMOTRICIDADE

MARIANA BAÍA AFONSO REGO ALVIM

Monografia apresentada à universidade Candido

Mendes, como requisito parcial à obtenção do

título de especialista em psicopedagogia.

Orientadora: Marcelo Saldanha

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2011

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Agradecimentos

Aos professores pelos ensinamentos, fundamentais para conclusão deste trabalho.

Aos meus amigos, pelo incentivo, força, amizade e carinho.

Aos meus familiares por todo apoio, confiança e amor.

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A Deus, por ter me dado força para continuar minha

caminhada.

Aos meus pais, Maria Luísa e Antônio, que, com

carinho, apoio e confiança não mediram esforços para

que eu chegasse até esta etapa de minha vida.

A minha irmã, Renata pelo exemplo, amizade e

carinho essenciais nessa trajetória.

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Resumo

Esta monografia tem como tema a psicomotricidade como terapia para crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e pretende mostrar como os professores lidam com alunos portadores de tal transtorno na sala de aula e se incorporam, em seu planejamento didático, atividades ligadas à área da psicomotricidade. O objetivo principal é esclarecer os principais pressupostos teóricos da psicomotricidade, contrapondo-os com o TDAH, além de refletir sobre o valor que o professor dá à psicomotricidade e aos benefícios de seus fundamentos no processo de ensino-aprendizagem da criança, em geral. Ela também objetiva, de modo mais específico, discutir de que forma tal prática ajuda a criança portadora de TDAH, em especial. Esse trabalho visa mostrar como a psicomotricidade pode ajudar o portador do transtorno com hiperatividade, seja estimulando seu desenvolvimento motor, seja melhorando sua capacidade de atenção/concentração e, em conseqüência, seu aproveitamento escolar. Palavras chaves: Psicomotricidade; TDAH; Processo Ensino-Aprendizagem.

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METODOLOGIA

Para realização deste trabalho, houve o levantamento bibliográfico cujo objetivo

maior foi entrar em contato com o que se já produziu sobre os dois temas principais:

psicomotricidade e TDAH. Alguns autores foram privilegiados, em especial Alves e

Peçanha, e os principais dados bibliográficos foram registrados e dispostos na

fundamentação teórica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………………………………………………………..……..

I- Definição de psicomotricidade.........................................................................

1.1 Corpo e desenvolvimento psicomotor...............................................................

II- Educação psicomotora na escola……………………………………………....

2.1 Papel do professor na psicomotricidade............................................................

III –TDAH e as técnicas da psicomotricidade........................................................

3.1 Transtorno do déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH)................................

3.2 Tratamento do TDAH........................................................................................

3.3 O TDAH e a escola............................................................................................

3.4 A Psicomotricidade como terapia para crianças com TDAH..........................

CONCLUSÃO........................................................................................................

REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS...............................................................

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INTRODUÇÃO

A importância da psicomotricidade na sala de aula tem sido bastante discutida por

diversos profissionais da educação. Esse já antigo debate gira em torno do fato de que, por

um lado, alguns educadores não dão o devido valor ao trabalho psicomotor, nem,

tampouco, valorizam-no como meio de prevenção de certos problemas na aprendizagem e

também como auxílio para crianças com o Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade (TDAH). Por outro lado, como desprezar as contribuições que essa ciência

tem trazido para o desenvolvimento integral da criança? Não é difícil constatar que a

educação psicomotora tornou-se uma fundamental aliada para o processo de ensino-

aprendizagem da criança.

O presente trabalho tem, pois, como objeto de estudo o tema da psicomotricidade

como terapia para crianças com TDAH, bem como mostrar como os professores lidam com

os alunos com TDAH na sala de aula e se incorporam, em seu planejamento diário,

atividades ligadas à área da psicomotricidade.

O objetivo principal centra-se em reforçar a importância da psicomotricidade,

principalmente quando incorporada cotidianamente em sala de aula, como meio de

propiciar à criança o desenvolvimento do autoconhecimento e de uma imagem corporal

positiva. Também procura refletir sobre o valor que o professor dá à psicomotricidade e

aos benefícios de seus fundamentos no processo de ensino-aprendizagem da criança, em

geral. Além disso, de modo mais específico, objetiva discutir de que forma as atividades da

psicomotricidade ajudam a criança portadora de TDAH, em especial.

O interesse pelo tema surgiu após dois a ida ao I Fórum de Psicomotricidade da

UFRJ, no campus da Ilha do Governador (Fundão). A partir disso, comecei a estudar vários

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teóricos da psicomotricidade e a voltar meu interesse para a possibilidade de atuação da

psicomotricidade nas dificuldades de aprendizagem, em especial com crianças com TDAH.

O tema é relevante por esclarecer e definir os pressupostos teóricos da

psicomotricidade em relação com o TDAH. Além disso, visa mostrar ao professor as

intervenções que ele pode fazer na sala de aula para ajudar a criança com TDAH a incluir-

se no cotidiano escolar. Em outras palavras, a psicomotricidade é vista como ferramenta de

auxílio, uma vez que pode ajudar o portador do transtorno com hiperatividade, seja

estimulando seu desenvolvimento motor, seja melhorando sua capacidade de

atenção/concentração e, em conseqüência, seu aproveitamento escolar.

Assim, alguns fundamentos teóricos da pscicomotricidade serão abordados, em

especial, quanto ao desenvolvimento psicomotor da criança, ao mesmo tempo em que se

consideram os aspectos cognitivos, emocionais e sociais próprios dela.

O papel do professor diante dos recursos disponibilizados pela psicomotricidade

também será discutido, já que não se concebe mais, em sala de aula, uma mera transmissão

de conhecimentos ou o reforço dos já estabelecidos; ao contrário, o professor, há muito,

precisa propiciar uma aprendizagem verdadeiramente significativa, bem como assumir o

papel de facilitador do desenvolvimento.

Através das atividades psicomotoras, pode-se prever e identificar dificuldades

específicas de aprendizagem da criança. Muitas vezes, essas dificuldades têm origem na

má formação do desenvolvimento psicomotor, com desdobramentos na escrita e na leitura,

entre outros, constituindo-se num problema de solução complexa.

Cabe ressaltar que as adequadas intervenções psciomotoras possibilitam à criança

sair do papel de receptora para tornar-se agente de sua aprendizagem, num processo

contínuo de vivência corporal e de autoconhecimento.

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I - Definição de psicomotricidade

Desde o século XVII, quando Descartes concebeu o homem como ser dual – corpo

= coisa externa que não pensa + alma = sede da estrutura pensante –, ficaram estabelecidos

os princípios básicos da psicomotricidade – ciência que “tem como objeto de estudo o

homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo,

bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e

consigo mesmo; está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das

aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas” (Sociedade Brasileira de Psicomotricidade,

19991).

Dentro dessa perspectiva, é preciso estar consciente de que a psicomotricidade não

é um novo método de trabalho; pelo contrário, é uma ciência constituída no início do

século XX, que tem como objeto de estudo básico o homem e sua relação com o corpo em

movimento.

Segundo Fonseca (1993), a psicomotricidade não se constitui apenas de técnicas do

movimento corporal, mas visa a fins educativos pelo emprego correto delas. Tal

perspectiva vem ao encontro das palavras de Mendonça (2007), que relaciona

psicomotricidade à história de vida do indivíduo, refletida no próprio corpo, seja ela social,

política, econômica etc.

Para Peçanha (2008), é a ciência que tem como objeto de estudo o corpo humano,

visto que ele é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. Ela favorece a

criança a estabelecer uma relação consigo mesma, com o outro e com o mundo que a cerca,

possibilitando um desenvolvimento global e um melhor conhecimento do corpo, cuja ação

1 Disponível em http://www.psicomotricidade.com/PSICOMOTRICIDADE.pdf.

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é resultante da construção do mundo interior, ou seja, envolve a individualidade, a

linguagem e a socialização próprias de cada ser.

Pode-se afirmar, portanto, que a psicomotricidade é um termo empregado para

descrever o movimento organizado e integrado em função das experiências vividas pelo

homem.

Para Alves (2003), o psicomotricista deverá cuidar do desenvolvimento da

afetividade, do pensamento, da motricidade e da linguagem do indivíduo, num processo

para facilitar os meios de capacitá-lo ao máximo. De acordo com a faixa etária, ele terá

condições de estimular a linguagem, a inteligência e a interação com o corpo, de forma

equilibrada, visto ser um facilitador do desenvolvimento global e psicomotor da criança.

Como etapa fundamental, deve investigar a história familiar do sujeito, promover reuniões

de observação, analisar se não há incidência de atitudes dignas de nota.

Para Rocha (2007) essa ciência trabalha com o corpo (ação) e com a mente

(pensamento) do ser humano, sua aplicação abrange, atualmente, três áreas: Educação

psicomotora; Reeducação psicomotora; Terapia psicomotora.

Para Le Boulch2, a educação psicomotora deve ser considerada como básica para a

escola primária, pois condiciona a criança a tomar consciência do corpo, do espaço, bem

como a dominar o tempo e a adquirir a coordenação de seus gestos e movimentos. Deve ter

início na educação infantil, quando existe a oportunidade de entrar em contato com o

mundo e um universo de coisas até então desconhecidas. O domínio do corpo se dá ao

longo da trajetória de vida do ser, abrangendo da infância à idade adulta. Conduzida com

perseverança, a educação psicomotora permite prevenir problemas difíceis de corrigir

quando já estruturados na criança.

2 Le Boulch, 1982 apud Peçanha, 2008.

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Considerando o corpo como o instrumento de estudo da psicomotricidade, Sanches

(2007) também aponta a importância de concebê-la como resultante da relação movimento

(postura e posicionamento diante da vida) + intelecto (raciocínio lógico) + afeto (relações

do sujeito com os outros, com o meio e consigo mesmo).

A fim de facilitar o desenvolvimento global e uniforme da criança, os principais

elementos a serem focados na psicomotricidade, de acordo com Alves (2003), são:

Esquema Corporal, Lateralidade, Estruturação Espacial, Orientação Temporal, Pré-escrita,

Coordenação Motora Ampla, Coordenação Motora Fina. Qualquer problema num destes

elementos irá prejudicar o desenvolvimento psicomotor da criança e, consequentemente,

sua aprendizagem.

Se a educação psicomotora atua de forma preventiva, objetivando o

desenvolvimento pleno da criança e fazendo do seu corpo e dos seus sentimentos (medo,

angústia, alegria) aliados que atuam diretamente na formação de sua personalidade, a

reeducação psicomotora vem, já numa etapa posterior, para aliviar algum problema já

instalado, reduzir seus sintomas e contribuir para uma adaptação mais fácil a ele.

A terapia psicomotora é resultante da ampliação do seu campo de ação por diversas

áreas, ou seja, mais um avanço da psicomotricidade. Trata do que o sujeito diz com seu

corpo, com sua motricidade, com seus gestos, sob o ponto de vista simbólico.

A partir dessas reflexões, pode-se dizer que a psicomotricidade é importante aliada

no desenvolvimento integral da criança, cabendo aos profissionais da educação reforçarem

sua importância na sala de aula, desde os primeiros contatos do aluno com a escola. Em

casos de constatação de desajustes nos mecanismos perceptivos e de movimento da

criança, ela deve ser encaminhada para tratamento, a ser realizado com o psicomotricista,

após testes avaliarem seus movimentos quer no nível macro (caminhar, por exemplo), quer

no nível micro (escrita, por exemplo).

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1.1 Corpo e desenvolvimento psicomotor

É importante salientar que o movimento corporal faz parte indissolúvel da vida do

ser humano, desde a fase embrionária até a maturidade, se consideradas suas inúmeras

influências no comportamento do indivíduo. Não é por acaso que a educação psicomotora

tornou-se fundamental para o processo intelectivo da criança, considerando-se que algumas

dificuldades de aprendizagem podem ter sua raiz na má formação do desenvolvimento

psicomotor. A criança cujo desenvolvimento psicomotor é mal constituído poderá

apresentar problemas na escrita, na leitura, na distinção de letras, na ordenação de sílabas,

na análise gramatical, entre outras.

Para Mieiro (2007), as atividades motoras associadas à aprendizagem fazem com

que a criança tome conhecimento de seu esquema corporal, de sua lateralidade (noções de

direita e de esquerda), de sua coordenação global, fina, visual, de sua estruturação espacial

e de sua orientação temporal. Tais atividades, além de facilitarem a linguagem, permitem à

criança desenvolver suas habilidades motoras, afetivas e mentais – peças indispensáveis ao

processo ensino-aprendizagem. A psicomotricidade tem, pois, o objetivo de facilitar a

aprendizagem da criança, estando ela sob diversas condições: em fase de alfabetização, nas

primeiras séries do Ensino Fundamental, ou mesmo apresentando sintomas do Transtorno

do Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Para Alves (2003), o psicomotricista deverá cuidar do processo de afetividade,

pensamento, motricidade e linguagem, enfatizando os principais aspectos do

desenvolvimento psicomotor. De acordo com a faixa etária da criança, ele terá condições

de estimular-lhe a linguagem, a inteligência e o corpo, de forma equilibrada, cumprindo o

papel de um facilitador do desenvolvimento global e psicomotor. Quando bem

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desenvolvido, cada ato motor irá influenciar no sistema de aprendizagem da criança,

possibilitando melhores condições de aprendizagem e de autoconhecimento e formando a

base para uma boa aprendizagem da leitura e escrita.

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II- Educação psicomotora na escola

Segundo Alves (2003), a educação psicomotora visa ao desenvolvimento integral

do indivíduo nas várias etapas de seu crescimento, permitindo-lhe expandir a afetividade e

equilibrar sua relação com o mundo.

Segundo Mendonça (2007), a aplicação dos exercícios psicomotores, por meio de

brincadeiras, jogos, dinâmicas, atividades livres ou direcionadas para trabalhar as áreas

psicomotoras, tem por finalidade despertar na criança o interesse em atividades propostas,

em cooperar com os colegas nas atividades em grupo. Também garante ao professor a

oportunidade de observar e anotar diariamente as dificuldades e as necessidades de cada

criança, sem falar nos progressos de cada elemento básico da psicomotricidade.

Para Rocha (2007), a psicomotricidade pode utilizar jogos, dinâmicas, atividades

livres, para trabalhar as áreas psicomotoras, desde que o professor tenha o cuidado de não

utilizar tais atividades como objeto de exclusão, ou seja, valer-se dos recursos para

propiciar competições entre “vencedores” e “perdedores”. É necessário mostrar à criança

sua capacidade de gerar bons resultados.

Peçanha (2008) classifica assim os elementos básicos da psicomotricidade:

• Coordenação motora ampla – trabalho que irá desenvolver os movimentos dos

membros superiores (braços, ombros, pescoço, cabeça) e inferiores (pernas,

pés, quadris).

• Coordenação motora fina – trabalhos executados com auxílio das mãos e dos

dedos; garantem o bom traçado da letra.

• Lateralidade – capacidade de a criança poder olhar e agir para todas as

direções, com equilíbrio, coordenação corporal e noções de espaço.

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• Percepção espacial – capacidade de o aluno reconhecer, interferir e agir com

autonomia sobre os espaços e dentro deles.

• Percepção temporal – noções e domínio do tempo pela criança.

• Percepção corporal – capacidade do aluno para reconhecer e perceber

questões estruturais do seu corpo, incluindo seus limites e suas ações

corporais.

Sendo assim, de acordo com Alves (2003) é de suma importância desenvolver esses

elementos em sala de aula, pois eles propiciam experiências que favorecerem a motricidade

fina e auxiliam os alunos de ritmo normal e os de aprendizagem lenta a vencerem melhor

os desafios da leitura e da escrita.

Segundo Rocha (2007) as atividades motoras desempenham na vida da criança um

papel importantíssimo, pois elas contribuem para o seu desenvolvimento global. Essas

atividades deverão ir de um nível mais fácil para um nível mais difícil, até o momento onde

a criança começa a apresentar dificuldades, impossibilidades para realizar tal atividade.

Dessa maneira de acordo com Mendonça (2007) detectadas as dificuldades nas etapas

psicomotoras, entra-se com exercícios para reeducação (essa abordagem tem por finalidade

uma programação de atividades motoras que visa melhorar o desenvolvimento corporal da

criança, além de sua aprendizagem) aonde a psicomotricidade também trabalha com

crianças com TDAH.

Para Cruz e Oliveira3, a psicomotricidade como terapia trabalha com a

movimentação da criança hiperativa objetivando um melhor controle da criança sobre seus

movimentos, prevenindo ou corrigindo dificuldades apresentadas. A psicomotricidade

como reeducação psicomotora é aplicada através de dinâmicas, exercícios psicomotores

com o objetivo de reeducar a criança com TDAH.

3 Cruz & Oliveira. Op. cit. Disponível em www. ciepre.puppin.net/sindrometdah.html.

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Segundo Fonseca (1993), “o movimento como meio terapêutico, e na perspectiva

da sua aplicação em crianças com dificuldades (escolares, emocionais, sociais, etc.),

merece ser considerado como um meio de descoberta e de estruturação da personalidade e

como meio de reintegração grupal” (p.332).

Com base nesse contexto, para Salles (2007) a educação psicomotora é

indispensável a toda criança normal ou com dificuldades uma vez que a ausência de

exercícios psicomotores focando o seu desenvolvimento, acarreta em crianças com déficit

de aprendizagem ou TDAH.

De acordo com Peçanha (2008), a razão dos insucessos de muitas experiências

educacionais, além das dificuldades comuns de aprendizagem, pode estar na dificuldade de

a escola construir ambientes educativos. Um bom trabalho de psicomotricidade precisa

unir fatores como: concepção, comportamento, compromisso, materiais e espaço.

O primeiro fator, a concepção do professor, liga-se ao planejamento do seu

trabalho, com objetivo de avaliar se as atividades executadas surtiram ou não o efeito

desejado e se as ações que ele desencadeou valeram ou não a pena. Dessa forma, é

imprescindível que o professor construa uma concepção e, a partir dela, execute seu

planejamento diante de qualquer realidade.

O segundo fator, o comportamento do professor que trabalha com

psicomotricidade, exige postura de um observador, pois é nas atividades diárias que ele vai

introduzindo práticas com objetivos psicomotores determinados.

O terceiro fator, o compromisso do professor com sua prática docente, implica o

total aproveitamento do tempo de trabalho. Dessa forma, as práticas executadas pela

escola, como planejamento e operacionalidade, se tornam mais claras e, consequentemente,

o compromisso do professor mais limpo e mais consciente.

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O quarto fator, materiais importantes na prática docente, visa a ampliar as ações do

professor, possibilitando as crianças intervirem e se relacionarem com os objetos

concretos, tornando o processo educativo mais próximo e pertinente. Entretanto, a

realização do trabalho não pode estar condicionada à existência de recursos materiais, visto

que o professor capacitado pode tornar um espaço pobre de recursos num rico ambiente

educativo. Materiais não funcionam por si só; pelo contrário, precisam ser humanizados

pelo professor.

O quinto e último fator, os espaços e os ambientes psicomotores educativos,

proporcionam toda uma possibilidade de exploração por parte da criança. É no ambiente

educativo que a criança poderá experimentar, testar, errar e construir o seu espaço no

mundo. Essa exploração dos ambientes educativos psicomotores poderá ocorrer tanto com

alunos regulares quanto com alunos com dificuldades, ou seja, todos podem aproveitá-la

para facilitar o processo de ensino-aprendizagem.

Ainda de acordo com Peçanha (2008), o trabalho psicomotor encontra muitas

resistências nos ambientes educativos. Escolas deixam a psicomotricidade para segundo

plano e, com isso, a criança acaba perdendo o momento certo para desenvolver

coordenações motoras, percepções temporais, espaciais e corporais e a lateralidade.

2.1 Papel do professor na psicomotricidade

Segundo Salles (2007), no trabalho da psicomotricidade, deve-se ressaltar o papel

do professor que, com sua capacidade técnica, conhecimento, experiência profissional e

didática, tem condições de promover um desenvolvimento cognitivo e propiciar uma

aprendizagem verdadeiramente significativa.

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Para Alves (2003), o papel do professor não é somente transmitir conhecimentos e

reforçar os já estabelecidos; ele deve assumir o papel de facilitador do desenvolvimento,

dando à criança tempo para as próprias descobertas, permitindo que ela vivencie situações

e estímulos cada vez mais variados, para que possa construir sua aprendizagem global.

Dessa maneira, a partir do conhecimento do aluno, o educador poderá estimulá-lo de

maneira que todas as áreas educacionais – psicomotricidade, cognição, afetividade e

linguagem – estejam interligadas. É importante ressaltar que também o psicomotricista vê

o indivíduo como um todo, procurando detectar se existe problema no corpo, na área da

inteligência ou na afetividade.

De acordo com Mendonça (2007), após serem detectadas as dificuldades de

aprendizagem, ou possíveis falhas nas etapas da educação psicomotora, entra-se com

exercícios para reeducação. São comuns algumas crianças com déficit de aprendizagem

devido à ausência de estímulos focados em certas habilidades motoras. Dentro dessa

perspectiva, a atuação do professor com noção de psicomotricidade contribui para

melhores condições de aprendizagem e de autoconhecimento, formando na criança a base

para uma boa aprendizagem da leitura e escrita. Nas palavras de Fonseca (1993), “dotar as

crianças com a maior disponibilidade motora e verbal possível é um dos nossos objetivos

terapêuticos, dado que reconhecemos, no meio privilegiado do movimento, um excelente

dado de reconstrução e reintegração da pessoa” (p. 333).

Como exemplo, Cruz e Oliveira4 lembram que a boa relação do psicomotricista

com crianças hiperativas é de suma importância, pois esse diferencial as levará a conterem

seu pensamento e se engajarem verdadeiramente na ação, saindo da atividade motora

impulsiva em que se encontravam.

4 Cruz & Oliveira. Op. cit. Disponível em www. ciepre.puppin.net/sindrometdah.html.

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Da mesma forma, o professor precisa demonstrar carinho e aceitação integral com o

aluno de TDAH para que este passe a confiar mais em si mesmo e consiga expandir-se e

equilibrar-se de maneira a alcançar seu melhor desenvolvimento.

Nesses casos, pode-se observar a psicomotricidade como intervenção de ajuda no

tratamento tanto da hiperatividade quanto do déficit de atenção.

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III- TDAH e as Técnicas da Psicomotricidade

3.1- Transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)

Atualmente, crianças, adolescentes e adultos diagnosticados com TDAH são

freqüentemente rotulados de "problemáticos", "desmotivados", "avoados", "malcriados",

"indisciplinados", "irresponsáveis" ou, até mesmo, "pouco inteligentes".

Segundo Barkley (2002), esse transtorno diz respeito à falta do autocontrole da

criança quanto aos seus movimentos, provocando desatenção, inquietação e impulsividade.

Em geral, é na escola que aparecem as manifestações mais evidentes da

hiperatividade. A criança não consegue aprender a ler normalmente, possui dificuldades de

concentração, apresenta problemas em tarefas que exijam coordenação visomotora. Sua

escrita, cópia e desenhos são inadequados e com problemas perceptivos-motores. É

considerada uma criança desajeitada, sem equilíbrio e sem ritmo, ou seja, sua coordenação

é deficitária.

Esse difícil processo de aprendizagem das matérias escolares, por sua vez, agrava a

hiperatividade; a criança sente-se desmotivada, frustrada, com sua auto-estima baixa,

acarretando intensa excitação e menor controle das reações.

De acordo com Phelan (2005), há dois tipos de TDAH: um sem e outro com

hiperatividade. Ambos envolvem dificuldade de atenção, mas as crianças que se

enquadram no TDAH com hiperatividade são excessivamente ativas e impulsivas.

Manifestado em, pelo menos, dois ambientes diferentes (escola e casa, por exemplo) e

comprometendo significativamente a vida do indivíduo, o TDAH com hiperatividade

traduz-se por sintomas constantes, como: movimentos com as mãos e os pés ou com o

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corpo contorcendo-se na cadeira, dificuldade em permanecer sentado, corrida sem destino

de um lado para o outro, dificuldade de brincar em silêncio, fala em excesso, dificuldades

de esperar a vez, ato de intrometer-se com os outros, interrompendo-os.

Já as crianças sem hiperatividade apresentam os seguintes sintomas: não

conseguem prestar muita atenção em detalhes, cometem erros por descuido, têm

dificuldade em manter atenção no trabalho ou no lazer, não ouvem quando diretamente

abordadas, não conseguem terminar as tarefas escolares, têm dificuldade em organizar

atividades, evitam tarefas que exijam um esforço mental prolongado, perdem,

freqüentemente objetos, distraem-se facilmente.

De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) 5, ainda não

existe uma causa única estabelecida. Porém, inúmeros estudos em todo o mundo

demonstram que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indica

que o transtorno não é secundário a fatores culturais, ao modo como os pais educam os

filhos ou a conflitos e traumas psicológicos.

As pesquisas têm apresentado como possíveis causas do TDAH a hereditariedade

dos pais, substâncias ingeridas na gravidez (como nicotina, álcool), problemas durante a

gravidez ou no parto, exposição da criança a determinadas substâncias (chumbo) e

problemas familiares.

Na hereditariedade, os genes podem ser responsáveis por certa predisposição ao

TDAH não pelo transtorno em si. Dessa maneira, a participação dos genes foi inicialmente

levantada como uma das causas do TDAH a partir de análises em famílias de portadores de

TDAH cuja presença de parentes igualmente afetados era mais freqüentes do que nas

famílias que não tinham crianças com TDAH.

5 Disponível em: www.tdah.org.br.

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Pesquisas também indicam que mães que ingeriram, durante a gravidez, nicotina,

álcool ou outras substâncias químicas têm mais chance de terem filhos com problemas de

hiperatividade e desatenção. Da mesma forma, mulheres que tiveram problemas de saúde

durante a gravidez ou no parto possuem mais chance de terem filhos com TDAH – fato

decorrente do sofrimento físico e emocional que também atingiria o feto.

Mais dois fatores estão implicados nas causas do TDAH: crianças pequenas que

sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas parecidos aos do TDAH e

aquelas que seriam afetadas por problemas familiares, como o alto grau de discórdia

conjugal, a ausência do pai ou da mãe, estrutura familiar totalmente desestabilizada.

É preciso ter muita cautela ao se caracterizar uma criança como portadora de

TDAH. Somente médicos (psiquiatras) ou psicólogos especializados podem confirmar a

suspeita de outros profissionais – fonoaudiólogos, educadores ou psicopedagogos –

geralmente responsáveis por encaminhar a criança para o devido diagnóstico.

Muitas vezes, os professores são os primeiros a detectarem o problema. Quando se

suspeita que a criança possa estar sofrendo do TDAH, deve-se procurar um profissional

especializado.

Segundo Phelan (2005), para se iniciar um diagnóstico, o médico precisa coletar

informações bastante detalhadas de diversas fontes, sendo pais e professores os maiores

aliados, visto que interagem dia a dia com a criança e podem descrever sua conduta social.

As informações devem incluir um histórico cuidadoso do desenvolvimento da criança,

assim como uma descrição completa das principais preocupações dos pais.

O médico, em geral, cuida de formular aos pais indagações mais especificas a

respeito de outros possíveis sintomas ainda não mencionados. Sua conversa com a criança

tem por objetivo excluir outros distúrbios mais sérios e obter o máximo possível de

informações sobre como a criança vê a sua escola, sua casa, e sua vida social.

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De acordo com Phelan (2005), o pós-diagnóstico é o momento mais importante do

processo, uma vez que: todas as informações já estão coletadas; as entrevistas com os pais

e a criança, coletadas; e a avaliação, terminada. É o momento de explicar o resultado para

todos os envolvidos e encontrar o melhor tratamento possível para o TDAH, visando a um

futuro de sucesso e felicidade.

3.2 Tratamento do TDAH

De acordo com Goldstein (2006)6, o transtorno de déficit de atenção e

hiperatividade é um problema crônico, não sendo superado com o tempo. O tratamento

permite uma redução dos sintomas, para que a criança possa desenvolver seu potencial e

construir uma vida bem sucedida. É feito por um período mínimo de dois anos, sendo que,

em casos leves, o distúrbio pode ser tratado apenas com terapia e reorientação pedagógica;

em casos mais graves, o tratamento é feito com medicamentos.

O tratamento de crianças com TDAH exige um esforço coordenado entre os

profissionais das áreas médica, saúde mental e pedagógica, em conjunto com os pais. Esta

combinação de tratamentos oferecidos por diversas fontes é denominada de intervenção

multidisciplinar e inclui: treinamento dos pais quanto à verdadeira natureza do TDAH,

desenvolvimento de estratégias de controle efetivo do comportamento, programa

pedagógico adequado e uso de medicação, quando necessário.

Goldstein (2006) 7 também ressalta que o ambiente escolar é fundamental para um

melhor tratamento, pois, apesar de não produzir os sintomas, ele pode minimizar seus

efeitos. Cabe ao professor o papel de construir um ambiente em que a criança se sinta

segura e confiante. 6 Disponível em: www.hiperatividade.com.br/. 7 Disponível em: www.hiperatividade.com.br/.

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A maneira mais eficiente de tratar o TDAH, segundo Goldstein8 (1994), é através

de trabalhos em grupo, porque envolve: abordagens individuais, acompanhamento

psicológico, técnicas pedagógicas adequadas e terapias específicas, incluindo fisioterapia

com exercícios de psicomotricidade, os quais visam aprimorar a atenção, concentração,

memorização, ritmo e coordenação motora ampla. Outras estratégias também são

reforçadas, como terapia para os pais ou a família, esclarecimento sobre o assunto para pais

e professores, treinamento de profissionais especializados,

Logo, acredita-se que o diagnóstico e o tratamento correto e o trabalho coletivo

entre pais, professores, psicólogos e médicos permitirão à criança incluir-se numa rotina

diária estruturada, criando possibilidades de desenvolver uma vida normal.

3.3 O TDAH e a escola

De acordo com Araújo e Silva9, para incluir o aluno no cotidiano escolar é

necessário que o professor desenvolva um repertório de intervenções para atuar

eficientemente no ambiente da sala de aula com uma criança portadora do TDAH.

As intervenções que o professor pode fazer para ajudar a criança com TDAH a se

ajustar melhor na sala de aula são: trabalhar em pequenos grupos, a fim de as crianças

conseguirem melhores resultados; dar tarefas curtas, para que elas possam concluí-las antes

de se dispersarem; usar jogos e desafios para motivá-los; dar uma função oficial às

crianças, como ajudantes do professor – isso faz com que elas melhorem e ampliem os

espaços para o relacionamento com os demais colegas; mostrar limites de forma segura e

tranqüila, sem entrar em atrito; proporcionar estrutura e organização no ambiente da sala

de aula, visando sempre à mesma arrumação das cadeiras, dos programas diários; elogiar

8 Goldstein, 1994 apud Araújo e Silva, 2003. 9 Revista Digital. Buenos Aires, ano 9, n° 62. Disponível em: www.efdeportes.com.

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os resultados, encorajar e ser afetuoso; proporcionar um ambiente acolhedor,

demonstrando calor e contato físico de maneira equilibrada; recompensar os esforços, a

persistência e o comportamento bem sucedido da criança; proporcionar avaliações

freqüentes que ajudem na capacitação; permanecer em constante comunicação com o

psicólogo, funcionando como elo de ligação entre a escola, os pais e o médico.

O professor que possui um aluno com TDAH deve ter um conhecimento amplo

sobre o distúrbio, saber lidar com as crianças e, além disso, ter muita paciência e

disponibilidade para que elas se sintam confiantes no seu potencial.

3.4 A psicomotricidade como terapia para crianças com TDAH

De acordo com Poeta e Neto (2005) 10, a psicomotricidade pode intervir e ajudar as

crianças hiperativas, estimulando o desenvolvimento motor, a atenção/concentração e o

aproveitamento escolar. Para avaliar a eficiência dessas intervenções motoras numa criança

com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, são realizadas as

seguintes atividades:

• Motricidade fina – dobradura, recorte - cole, desenhos, pintura, atividades

com canudinhos e cordões;

• Motricidade global – atividades com bola, arcos, cordas, corrida, rolamento,

circuito;

• Equilíbrio – caminhar sobre linhas da quadra, sobre cordas, banco, trave,

amarelinha, bem como atividades de equilíbrio estático;

• Esquema corporal – jogos de mímica de profissões, animais, artistas,

formação de números e letras com o corpo, relaxamento;

10 Poeta e Neto, 2005. Revista Digital Bueno Aires, ano 10, n° 89. Disponível em: www.efdeportes.com.

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• Organização espacial – atividades de guiar com os olhos abertos e

vendados, passagem entre cordões, jogos de quebra-cabeça;

• Organização temporal – andar no ritmo, pular corda, brinquedo cantado.

Cada uma das áreas citadas será trabalhada por sessão, num total de 25 sessões de

intervenção motora.

Estudo de caso feito por Poeta e Neto (idem), com um aluno de 10 anos com

diagnóstico clínico de TDAH, constatou que essas intervenções motoras mostraram

avanços positivos no desenvolvimento motor, atenção, concentração e aproveitamento

escolar.

Após o período das sessões de intervenção motora, foi realizada entrevista com a

mãe e com a professora da criança a respeito das mudanças observadas. Ambas relataram

que houve melhoria no aproveitamento escolar, na atenção e na concentração da criança,

embora o comportamento hiperativo permanecesse. O avanço constatado no

desenvolvimento motor e na concentração pode ter contribuído para o crescimento

acadêmico. Os benefícios da atuação da psicomotricidade em crianças com TDAH também

estão de acordo com dados de outros autores.

Portanto, as intervenções motoras numa criança com características indicativas do

TDAH influenciam positivamente na melhora do seu controle motor, auxiliando-a a evitar

uma atividade motora impulsiva e hiperativa para, dessa forma, obter melhor

aproveitamento escolar.

De acordo com Costa (2007), a prática reeducativa da psicomotricidade e da

psicopedagogia resgata o desejo de aprender da criança, eliminando os possíveis

obstáculos no decorrer do processo de aprendizagem. A psicomotricidade, voltada para o

corpo em movimento, tem sua contribuição indispensável no processo de aprendizagem, já

que todo crescimento depende da relação saudável com o próprio corpo.

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Na verdade, a psicomotricidade, embora trabalhe com técnicas mecânicas de

movimentos motores, considera também que o indivíduo ultrapassa tais questões de ordens

cognitivas, intelectuais e afetivas, para desenvolver algo além que o complete.

Finalizando, as palavras de Costa resumem a diretriz que se quis imprimir a este

trabalho:

Não se concebe um psicopedagogo que trabalhe com o corpo estático e que desconheça os movimentos desse no aprender. Não se concebe um psicomotricista que trabalhe com o corpo em movimento e não conheça o corpo discursivo do sujeito que aprende. É preciso que haja uma interdisciplinaridade na ação ensinar-aprender para que o sujeito que aprende seja compreendido em sua totalidade, mesmo dentro de uma abordagem específica (Costa, 2007, p.8).

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CONCLUSÃO

Este trabalho procurou discutir um tema que, embora antigo e de conhecimento já

amplamente difundido, parece estar restrito aos teóricos e a poucos professores da

Educação Infantil, como se sua importância não tivesse sido já muito comprovada. E como

se a teoria e a prática fossem incompatíveis ou não fosse possível uni-las em favor dos

aprendizes com ou sem necessidades especiais.

A psicomotricidade é uma ciência e, portanto, possui todos os requisitos para atuar

como instrumento facilitador do desenvolvimento da individualidade, da linguagem e da

socialização, em função das experiências vivenciadas pelo sujeito, através de uma relação

afetiva e positiva com o corpo e o espaço onde atua.

Existe toda uma clientela que pode vir a beneficiar-se por ela: bebês de alto risco,

crianças com dificuldades/atrasos no desenvolvimento global, portadores de necessidades

especiais, deficiências sensoriais, motoras, mentais e psíquicas, e as pessoas da terceira

idade. Além disso, todas as crianças em fase de desenvolvimento deveriam ser estimuladas

pelos exercícios psicomotores, e não só as com dificuldade de aprendizagem.

Assim, causa estranhamento não ser obrigatória no currículo escolar, cabendo

unicamente ao professor a tarefa de adotar ou não suas técnicas. Talvez por isso, ela não

seja tão popular quanto deveria, já que, aparentemente, teria todos os componentes para ser

bastante conhecida: promove o sujeito e emprega estratégias de movimento corporal,

sempre tão lúdicas e prazerosas em qualquer idade.

Assim, procurou-se, ao longo desta monografia, comprovar que existem tentativas

de alguns professores de conhecer a psicomotricidade melhor e de incorporá-la de maneira

eficaz na sala de aula; entretanto, isoladas de um todo, que, por desconhecimento, não dão

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o devido valor ao trabalho psicomotor com crianças, em geral, e com os portadores do

TDAH, em especial.

Durante este trabalho também ficou comprovado que alguns professores até

identificam o aluno com TDAH na sala de aula, porém, devido a uma falta de estrutura

educacional, eles não tomam qualquer providência em conjunto com a equipe pedagógica

para que a criança tenha uma aprendizagem efetiva.

Portanto, o tema ainda precisa ser muito debatido, haja vista que o professor precisa

conscientizar-se da importância da psicomotricidade na sala de aula, principalmente no

Ensino Fundamental I. Com isso, certamente será dada à criança a oportunidade de ter

acesso a um bom desenvolvimento global e a uma aprendizagem verdadeiramente

significativa.

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BIBLIOGRAFIA

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editora, 2003.

ALMEIDA, Geraldo Peçanha. Teoria e prática em psicomotricidade: jogos, atividades

lúdicas, expressão corporal e brincadeiras infantis.4 ed. Rio de Janeiro: Wak editora,

2008.

FONSECA, Vitor. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

ALVES, Fátima (org). Como aplicar a psicomotricidade: Uma atividade multidisciplinar

com amor e união. 2 ed. Rio de Janeiro: Wak editora, 2007.

COSTA, Auredite Cardoso. Psicopedagogia e psicomotricidade: Pontos de intersecção

nas dificuldades de aprendizagem. 5 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

PHELAN, Thomas W. TDA/TDAH - Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade:

sintomas, diagnósticos e tratamentos. 1 ed. São Paulo: M. Books, 2005.

BARKLEY, Russel A. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade – TDAH. 1 ed.

Brasil: Artmed, 2002.

Fontes:

http://www.psicomotricidade.com.br/apsicomotricidade.htm

http://www.efdeportes.com/tdah.htm http://www.efdeportes.com/atencao.htm http://www.ciepre.puppin.net/sindrometdah.html http://www.tdah.org.br http://www.hiperatividade.com.br/

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